duas provaveis ocasioes para o exodo

Duas provveis ocasies para o xodo

e suas implicaesTwo possible ocasions for the exodus

and its implications

Ozeas C. Moura1

Resumo / Abstract

Quanto s duas datas para o xodo, v-se que um assunto de muita importncia dat-lo de cerca de 1445 a.C. ou 1250 a.C. A primeira data est de acordo com as informaes bblicas; a segunda, alm de estar

contra as informaes bblicas, especialmente a de 1 Reis 6:1, fruto de mui-ta suposio com respeito tanto histria egpcia quanto israelita. Deve-se aceitar as informaes bblicas quanto ao xodo ou acreditar em informaes extrabblicas sobre o assunto?Palavras-chave: xodo; Data; Historicismo; Alta Crtica

As for the two dates for the Exodus, about 1445 BC or 1250 BC, its kno-wn that its a subject of much importance to define which is the most accurate. The first date is lined to the biblical information. The second,

besides being against biblical information, especially relate in 1 Kings 6:1, is the result of assumptions including elements of both the Israeli and Egyptian history. Should biblical information about the Exodus be accepted or should we believe in informations of other sources about the subject? Keyword: Exodus; Date; Historicism; Biblical Critisism

1 Doutor em Teologia Bblica, rea de Antigo Testamento, e professor de teologia no Cen-tro Universitrio Adventista de So Paulo (Unasp). E-mail: [email protected]

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Centro Universitrio Adventista de So Paulo Unasp

Entre os assuntos mais debatidos entre os estudiosos das Escrituras est a data do xodo. primeira vista, pode parecer algo de pouca importncia datar o xodo no sculo 15, no tempo de Amenotepe II (1450-1425 a.C.) ou no sculo 13, no tempo de Ramss II (1299-1232 a.C.), ou ainda durante o reinado de Mernept (1232-1198 a.C.). Mas tal no o caso. Datar o xo-do no sculo 13 implica em datao incongruente com informaes bblicas para outros eventos, tais como a ocorrncia de apenas um xodo, os 40 anos de caminhada pelo deserto, os 300 anos para o perodo dos juzes, os 480 anos desde o xodo at o incio da construo do Templo, no quarto ano de reinado de Salomo, entre outros. Como se v, essa datao diferente acaba por negar a veracidade histrica da Bblia. Iniciemos, portanto, com a an-lise do xodo como tendo ocorrido no sculo 15.

No tempo de Amenotepe II (1450-1425 a.C.), sendo Tutmsis III (1482-1450 a.C.) o fara da opresso

Essa ocasio baseada na informao bblica de 1 Reis 6:1, a qual per-mite situar o xodo por volta de 1447 a.C.: No ano quatrocentos e oitenta, depois de sarem os filhos de Israel do Egito, Salomo, no ano quarto do seu reinado sobre Israel, no ms de zive (este o ms segundo), comeou a edificar a Casa do Senhor. Apesar de pequenas variaes quanto ao 4 ano de Salomo, pode-se dat-lo de 967/966 a.C (NICHOL, 1976, v. 2, p. 749). Assim, 967+480 = 1447 a.C.

O Comentrio Bblico Adventista (NICHOL, 1976, v. 1, p. 191-192) data o xodo em 1445 a.C. Essa diferena de dois anos em relao contagem

cheia (967+480=1447 a.C.) deve-se ao fato da contagem do ano civil is-raelita ser de outono a outono (no hemisfrio norte), com o primeiro ms sendo Tishri. Assim, pelo ano civil israelita, o segundo ms, Zive, do 4 ano do reinado de Salomo, caiu na primavera de 966 a.C (NICHOL, 1976, v. 2, p. 134-135), quando se iniciou a construo do Templo. Alm disso, data de 966 a.C. so somados 479 anos completos, pois o 480 ano ainda estava no incio (2 ms). A meno bblica que diz no ano quatrocentos e oiten-ta inclusiva (maneira de contar dos israelitas), pois, na verdade, desde a sada dos israelitas do Egito at o incio da construo do Templo haviam se

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Kerygma, Engenheiro Coelho, SP, volume 8, nmero 2, p. 69-75, 2 sem. de 2012

passado 479 anos e 2 meses. Assim, soma-se 966+479 e chega-se data de 1445 a.C. Ento, pelo apego preciso dos cmputos na cronologia bblica, empregamos 1445 a.C. como a provvel data do xodo.

A data de 1445 a.C.:1. Concorda com a informao contida em 1 Reis 6:1, de que, desde o

xodo at ao incio da construo do templo salomnico, havia transcorrido um perodo de 480 anos.

2. Concorda com a informao bblica de que os israelitas moravam na Palestina j h 300 anos, desde o incio da conquista de Cana (1405 a.C.) at o tempo de Jeft (c.1106 a.C.) (NICHOL, 1976, v. 2, p. 48). Diz o texto b-blico: Enquanto Israel habitou trezentos anos em Hesbom e nas suas vilas, e em Aroer e nas suas vilas, e em todas as cidades que esto ao longe do Arnom, por que vs, amonitas, no as recuperastes durante esse tempo? (Jz 11:26). Esses 300 anos se encaixam bem nos 480 anos de 1 Reis 6:1, com o xodo por volta de 1445 a.C., e no em 1250 a.C. Aceitar 1250 a.C. para o xodo limita o perodo dos juzes a apenas uns 150 anos (UNGER, 2002, p. 72). Porm, de acordo a cronologia bblica, o perodo total dos juzes foi de aproximadamente 350 anos, de 1405-1050 a.C. (Saul comeou a reinar por volta de 1050 a.C.).

3. Concorda com dados arqueolgicos como a Estela de Mernept (1232-1198 a.C.), na qual esse fara menciona uma invaso Palestina, no 5 ano de seu reinado (HARRISON, 2005, p. 172), citando Israel como uma das naes atacadas e vencidas: Israel est desolado, Ele no tem descendncia (BOADT, 1984, p. 174). Ora, se os israelitas saram do Egito em c. de 1250 a.C., no tempo de Ramss II (1299-1232 a.C.), ou no tempo de seu filho Mernept (1232-1198 a.C.), no haveria tempo nem para os 40 anos de caminhada pelo deserto, nem para o povo de Israel j haver se estabelecido firmemente na Palestina e se tornado forte, a ponto de poder se opor ao fara Mernept e ser derrotado por ele.

4. Concorda com a invaso dos Habiru (provavelmente hebreus, sob o comando de Josu)2, mencionados pelo governador de Jerusalm, Hab-di-Heba, nas Cartas de Amarna (1400-1360 a.C.) (HARRISON, 2005, p. 122) ao fara Akenaton (1375-1366 a.C.). Esse governador pedia ao fara

2 Textos cuneiformes se referem aos Habiru, provavelmente os Apiru ou Aperu dos escri-tos egpcios. Eram geralmente nmades, de origem semita (ou no). Pela razo do nome Habiru ser quase equivalente foneticamente a Hebreu, pode-se identificar Abrao e seus descendentes como Habiru, sendo o caso dos israelitas que invadiram a Palestina no tempo de Josu (ver HARRISON, 2005, p. 63, 64).

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que enviasse, com urgncia, os arqueiros. Se isso no ocorresse, os Habiru tomariam tudo (UNGER, 2002, p. 74).

Os Habiru saqueiam todas as terras do rei.Se os arqueiros estiverem aqui este ano,Ento as terras do rei, meu senhor, sero poupadas;Mas se os arqueiros no estiverem aqui,Ento as terras do rei, meu senhor, esto perdidas.

5. Concorda com dados histricos sobre a rainha Hatshepsut (1504-1482 a.C.), provvel me adotiva de Moiss (NICHOL, 1976, v. 1, p. 505), que no tinha filhos do sexo masculino. Da sua tentativa de adotar Moiss como filho.

6. Concorda com a morte dos primognitos dos egpcios, incluindo a do filho do fara (x 12:29) e a ascenso ao trono de Tutmsis IV (1425-1412 a.C.), que no era o filho primognito do fara do tempo do xodo, Ame-notepe II (1450-1425 a.C.). O filho primognito de Amenotepe II deve ter morrido na dcima praga. interessante mencionar o sonho de Tutmsis IV (antes de ser rei). Ele no era o primognito e, como tal, no era o sucessor legal de seu pai (Amenotepe II). Certa ocasio sonhou que, aps retirar a areia que estava sobre os ps da Esfinge, esta, por gratido, teria dito que um dia ele seria rei (NICHOL, 1976, v. 1, p. 554-555). Assim, com a morte do irmo primognito, ele reinou com o nome de Tutmsis IV.

7. Concorda com o perodo dos 40 anos de peregrinao pelo deserto at a chegada em Cana (x 16:35; Js 5:6 etc.).

8. Concorda que houve apenas um xodo, esse havido no tempo de Moiss, sendo Josu seu ajudante. Os defensores de 1250 a.C. como data para o xodo falam em dois xodos, um no tempo de Josu (15 sc.) e outro no tempo da 19 dinastia, quando Moiss teria liderado a invaso da Palestina pe-los hebreus (NICHOL, 1976, v. I, p. 505). Dessa forma, acabam por colocar Josu uns dois sculos antes de Moiss.

9. Concorda que todas as tribos israelitas migraram para o Egito (como a Bblia menciona em Gnesis 46:1-27 e xodo 1:1-5). Os defen-sores da data de 1250 a.C. (para harmonizar a histria dos israelitas com os dados da Estela de Mernept) falam que nem todas as tribos israelitas migraram para o Egito (NICHOL, 1976, v. 1, p. 505).

10. compatvel com o perodo de 430 anos, nos quais a semente de Abrao foi afligida (ver x 12:40, 41). Tal perodo teria comeado com a alian-a feita entre Deus e Abrao (quando este estava com 75 anos, ocasio em que


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Deus lhe pediu que sasse de Har), indo at a sada dos israelitas do cativeiro egpcio em 1445 a.C.. De acordo com essa cronologia, Abrao teria nascido por volta de 1950 a.C (NICHOL, 1976, v. 8, p. 9). Assim, 215 anos foi o pero-do de peregrinao dos patriarcas em Cana e os outros 215 foram os anos em que os filhos de Israel passaram no Egito (parte deles como escravos). Isaque teria nascido por volta de 1850 a.C., Jac em c. 1790 a.C., Jos em c. 1699 a.C. e Moiss em c. 1525 (NICHOL, 1976, v. 1, p. 185-186; v. 8, p. 762).

11. compatvel (apesar da controvrsia sobre o nvel de ocupa-o sedentria na Transjordnia, de 1900-1300 a.C., conforme estu-dos levados a efeito por Nelson Glueck) com a destruio de Jeric, por volta de 1400 a.C (UNGER, 2002, p. 74-75).

Devido a todas essas informaes histricas e arqueolgicas, possvel aceitar o xodo como tendo ocorrido em 1445 a.C.

xodo em 1250 a.C., no tempo de Ramss II (1299-1232 a.C.), ou durante o reinado de Mernept (1232-1198 a.C.)

Os defensores dessa teoria baseiam-se principalmente em xodo 1:11 (meno cidade-celeiro chamada Ramesss, edificada com trabalho es-cravo israelita). Por isso, deduzem que, se a cidade chamada de Ramesss porque teria sido edificada no perodo desse rei.3

Dadas as razes apresentadas acima, incongruente e antibblico situar o xodo no tempo de Ramss II ou no de seu filho Mernept. Assim, as menes ao nome Ramesss, tanto para a cidade edificada com trabalho escravo israe-lita quanto terra onde moravam os israelitas podem ser vistas como atualizao ou modernizao do nome antigo de um lugar ou cidade (PFEIFFER. 1990, p. 192), feitos por algum copista bblico (NICHOL, 1976, v. 1, p. 510).

A cidade de Ramesss, mencionada em xodo 1:11, identificada com Tnis, a Zo bblica (Nm 13:22). Os hicsos fizeram dela sua capital e a chamavam de Avaris. Muito tempo depois da expulso deles, o faro Ramss II aumentou-a, embelezou-a e deu seu prprio nome a ela. Ento,

3 Veja, ainda, o aparecimento desse nome em Gn 47:11; x 12:37; Nm 33:3, 5, na expresso terra de Ramesss

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Ramesss modernizao do antigo nome dessa cidade (NICHOL, 1976, v. 1, p. 510). O fato que Ramss II era dado a atribuir-se feitos de faras anteriores. O mesmo processo de atualizao ou modernizao ocorreu com a terra de Ramesss. Dessa forma, encontra-se diversos textos que comprovam que o nome antigo da regio onde os israelitas moraram no Egito era terra de Gsen (ver Gn 45:10; 46:28; 47:1, 4, 6; x 9:26).

Um bom exemplo de atualizao ou modernizao de um nome o relata-do em Gnesis 14:14, onde dito que Abrao perseguiu reis invasores at D. Acontece que no tempo de Abrao no havia cidade com esse nome, pois essa seria assim nomeada somente quando os danitas tomaram a cidade de Las (Jz 18:7, 14, 27, 29) ou Lesm (Js 19:47), outra maneira de grafar esse nome.

A data para o xodo em 1250 a.C. (tempo de Ramss II) ou no reinado de seu filho Mernept (1232-1198 a.C.):

1. Discorda do texto bblico (1Rs 6:1), que fala de 480 anos desde a sada dos filhos de Israel do Egito at o incio da construo do Templo, no 4 ano do reinado de Salomo.

2. Discorda da informao bblica (Jz 11:26) sobre um perodo de 300 anos desde a invaso da Palestina pelos israelitas at o tempo de Jeft, redu-zindo esse perodo metade.

3. incongruente com a afirmao contida na Estela de Mernept, a qual menciona que no 5 ano de seu reinado ele invadiu a Palestina e atacou vrias naes, incluindo Israel. Se Israel houvesse deixado o Egito nos dias de seu pai Ramss II (RENDTORFF, 1991, p. 11) ou em seus dias, e pere-grinado 40 anos pelo deserto (conforme x 16:35; Js 5:6 etc.), no haveria tempo suficiente para que Israel tivesse se estabelecido como nao a ser atacada e enfrentada por algum fara.

4. Nega a peregrinao dos israelitas, durante 40 anos, at a chegada deles Palestina. Discorda da informao bblica da existncia de um nico xodo, e de que todas as tribos israelitas migraram para o Egito.

Consideraes finaisO xodo em cerca de 1250 a.C. tornou-se a posio dos telogos e his-

toriadores da chamada Alta Crtica, a qual desmerece o texto bblico como indigno de confiana histrica em suas afirmaes. Para eles, o texto bblico mero produto da comunidade na qual seus escritores viveram e suas menes


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histricas no so totalmente confiveis. Depois dessa anlise quanto s duas datas para o xodo, v-se que assunto de muita importncia dat-lo de cerca de 1445 a.C. ou de c. 1250 a.C. A primeira data est de acordo com as infor-maes bblicas; a segunda, alm de ser antibblica, fruto de muita suposio, tanto quanto histria egpcia quanto dos israelitas.

RefernciasBOADT, L. Reading the Old Testament: na introduction. Mahwah: Paulist Press, 1984.

HARRISON, R. K. Old Testament times: a social, political, and cultural context. Grand Rapids: Baker Books, 2005.

NICHOL, F. D. (Ed.). The Seventh-day adventist bible commentary. Hagerstown: Review and Herald Publishing Association, 1976. v. 1.

. The Seventh-day adventist bible commentary. Hagerstown: Review and Herald Publishing Association, 1976. v. 2.

. The Seventh-day adventist bible commentary. Hagerstown: Review and Herald Publishing Association, 1976. v. 8.

PFEIFFER. C. F. Old Testament history. Grand Rapids: Baker Books, 1990.

RENDTORFF, R. The Old Testament: an introduction. Philadelphia: Fortress Press, 1991.

UNGER, M. F. Arqueologia do Velho Testamento. So Paulo: Editora Batista Regular, 2002.

Enviado dia 18/03/2012Aceito dia 15/05/2012

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