drake chronicles 02 blood feud alyxandra harvey

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2

Blood

Feud

Livro 2

ALYXANDRA HARVEY

Page 3: Drake chronicles 02 blood feud alyxandra harvey

3

Sinopse

A ação e o romance continuam enquanto os Drakes enfrentam um

novo vampiro com um ressentimento de 200 anos.

Passaram-se vários séculos desde que Isabeau St. Croix sobreviveu

à Revolução Francesa. Agora que ela está de volta entre os vivos, deve

enfrentar a última prova, confrontando o malvado britânico que a deixou

morrer no dia em que ela converteu-se em um vampiro. Isso se puder

controlar a atração que sente por Logan Drake, um vampiro cuja mordida

é tão doce quanto a vingança que procura.

Os Clãs se reúnem para a coroação Real de Helena como a próxima

Rainha vampiro, e novas alianças começam a se formar agora que as

desavenças do reinado de Lady Natasha começaram a cicatrizar. Mas

com um novo inimigo em comum, Leander Montmartre: um líder cruel

que espera obrigar Solange a se casar com ele e usurpar o poder do trono.

Os Clãs devem se manter unidos para conservar a paz que ele ameaça

destruir.

Esta segunda aventura dentro das Crônicas dos Drakes, contada

pelas perspectivas de Logan e Isabeau, tem muita ação, traseiros chutado

e romance que chegará a seu coração assim como o humor sarcástico que

os leitores desfrutaram em “Heart at Stake”, como também,

emocionantes novas revelações sobre as Dinastias dos Vampiros que

mantém os leitores voltando por mais.

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O Guia de Logan da Tribo

“Hound”

Por Logan Drake.

Em primeiro lugar, se você é alérgico a cachorros1, esqueça. É sério.

Você não só vai ser infeliz, como também a Tribo suspeitará

incrivelmente de você. Inclusive poderiam pensar que você é uma maldição.

CWM Mamau:

Cwn Mamaus significa: Os Cães de caça da Mãe no antigo Galês. Eu

procurei, é de um velho conto de Fadas sobre cães fantasmas que percorrem

os céus com o Rei de Annwn (Annwn é o Rei do Mundo Subterrâneo). Se eles

são comandados por uma rainha, são conhecidos como os Cães de caça da

Mãe. De qualquer forma, todos os demais só lhes chamam de HOUNDS. Eles

têm conexão espiritual com os cachorros, quase como Totens2. Tenho ouvido

Lucy falar o suficiente dos animais Totem, para saber que eles agem como

um guia. Portanto, se está entre os Hounds, não chamem seus cães de

animais de estimação, e não mencione as coleiras e guias. Eles pensarão que

você é um bárbaro, o que é irônico já que isso é o que os outros vampiros

pensam sobre eles.

Os Hounds e Montmartre:

Eles só nos toleram porque agora temos um inimigo em comum:

Leander Montmartre.

Montmartre continua atrás de minha irmã mais nova, Solange. Ainda

continua lhe enviando presentes brilhantes, que ele provavelmente 1Lembremos que HOUND neste contexto significa: Cão de caça.

2O Totem pode ser a figura de um animal, de uma planta, de uma pessoa ou mesmo de um objeto.

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considera que são encantadores. Ele não tem ideia do pouco que os

diamantes impressionam Solange. Se ele tivesse lhe enviado uma jarra de

cerâmica, provavelmente ela teria falado com ele.

Os Hounds odeiam-no também, por toda aquelas pessoas que ele

transformou durante séculos, as deixando lidar com a transformação em

vampiro por conta própria. O que nunca termina bem. Os que sobrevivem, às

vezes são convertidos em Host. Os demais se tornam violentamente loucos e

são chamados de Hel-Blar.

Os Hounds têm o costume de resgatar a maior quantidade possível de

vítimas de Montmartre, antes que a loucura os converta em selvagens ou

que ele volte por eles.

Ele não esta impressionado.

O resto de nós sim.

As Tradições Tribais:

Os Hounds são um povo notavelmente afastado da sociedade com

muito pouco interesse na comunicação intertribal. Vivem em cavernas

remotas sem celulares, internet, ou dispositivos tecnológicos (que só usam

para viagens e batalhas).

Eles não são fieis à uma linhagem particular de vampiro, e sim seguem

à uma Shamanka (Shaman feminina). Podem ser reconhecidos pelos

apetrechos ósseos que usam em seus cabelos. Os poucos privilegiados usam

também os apetrechos feitos das presas de uma Shamanka anterior.

As tranças são parte de sua iniciação. Sete tranças significam um

número de sorte e poder para a Shamanka, cinco para seu aprendiz, quatro

para o garanhão da Tribo, três para o guerreiro comum. O recém-convertido

não usa trança até seu primeiro resgate ou matança e depois usa uma só

trança.

E para todos aqueles que acham que seus ritos e cerimônias são

apenas vagas superstições, deixe-me dizer: Vi muitos de seus poderes para

pensar de outra maneira novamente. Sem sua magia, Solange agora poderia

estar perdida para Montmartre e seus exércitos. E não há simplesmente uma

explicação científica para o que alguns deles podem fazer. Pensam que o

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resto de nós está louco por pensar que o vampirismo é apenas sobre sangue

e não também sobre magia.

Kala:

Kala é sua Shamanka atual. Tem cabelos grisalhos nas tranças e rasta3

e colocado em um manto ritual de cervo pintado. Tem pelo menos 300 anos

de idade, há rumores de que tem 2000. Passou várias centenas de anos

vivendo sozinha nas montanhas, até que pegou o manto de Shamanka,

quando o ultimo Rei Shaman foi assassinado. O rumor é que Lady Natasha

teve algo a ver com isso.

Os cachorros da bruxa Kala tem a fama de rastrear e encontrar os

vampiros abandonados durante o processo de transformação para

converter-se em Host ou Hel-Blar.

Isabeau St. Croix:

Isabeau (que se pronuncia ee-za-BOH) é a criada de Kala, o que

significa que é uma aprendiza em treinamento para ser Shamanka. Nós lhe

chamaríamos de “Princesa”, mas não há nada como isso para os Hounds.

Viveu em Paris durante a Revolução Francesa antes que fosse convertida em

vampiro. Viaja com um enorme cachorro-lobo cinza, chamado Charlemagne.

Ela é ardente. Ao meu parecer.

3 http://www.marijuana.pl/pt/chapeu-rasta-com-dreadlock-p-4633.html

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Prólogo

Inglaterra, 1795.

Se Isabeau St. Croix soubesse que essa ia ser a sua última noite de

Natal, ela teria comido uma terceira porção de pudim natalino.

Assim como estava, tratou de evitar os salões. Nunca imaginou que

um salão pudesse estar tão abarrotado e mal ventilado, mas ainda quando

ela o teria mencionado a Benoit, ele só fez rir e lhe disse que esperasse pelo

verão, quando a neblina cobriria a cidade.

— Não pense que não te vejo aí, repolho. — ele comentou secamente.

Era alto e magro com um bigode elegante. Muitos cavalheiros ricos tinham

fugido da França durante a Revolução, portanto cada casa em Londres agora

ostentava um Chef Francês. Não importava se a maior parte desses Chefs

ainda não tivesse aprendido a servir um ovo. Certamente podiam tentar. —

Mais non4, você esta assassinando as minhas cenouras. — ele afugentou um

de seus ajudantes.

Aproveitando-se de sua distração momentânea, Isabeau colocou-se

entre as sombras da barulhenta cozinha. Ela parecia ter melhor critério.

Benoit estava decidido a vê-la dançar com sandálias de seda, como se fosse

filha de algum nobre. Não faz muito tempo atrás, ela teria suplicado por

aquela oportunidade. Antes, ela teria esperado isso com expectativa.

Mas, passar um ano nas ruas de Paris a tinha mudado.

Os vestidos de seda e as perolas, pareciam decadentes agora, assim

também como o se preocupar com a moda e as ridículas fofocas. Benoit

queria pensar que ela preferia sua companhia a opera. Mas ela amava o 4 Mais non: Francês que significa: Sem dúvida não ou Mas não.

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crepitar da fogueira na lareira, os pesados odores de assar pão e carne.

Nesta noite tinha cascas de ostras, pratos de Foie Gras5, um peru recheado

com castanhas, creme de amêndoa e pequenos pastéis perfeitos, com forma

de sol e folhas de azevinho6

Benoit era a única pessoa com que ela, verdadeiramente podia

conversar. Seu tio era muito amável, assim como sua mulher, mas ele não

tinha vivido na França por quase duas décadas. Benoit tinha vivido em Paris

durante a Tomada da Bastilha. Ele a conhecia. Mas ele não ia deixá-la se

esconder na cozinha durante toda a noite, não importava quanto lhe

implorasse.

— Uma pequena porção de Galette7. — ele deu a ela um prato e um

talher. Era um tradicional Galette Des Rois8, que se servia em cada casa

francesa durante os dias de festa. Ela lhe deu uma generosa mordida. O

segundo pedaço revelou o escondido feijão seco, recheando o pastel. Sugou o

recheio para fora e o deixou cair sobre seu prato.

— Voilá!9— Benoit sorriu abertamente. — Eu sabia que você tiraria o

feijão. Agora você é a Rainha da noite. — ele arrancou o talher de sua mão,

apesar de seus protestos. Ela não tinha terminado de lamber cada grama de

açúcar das pontas da prata. — E é por isso que você deve dançar até o

amanhecer. Allez-y!10

Ela deslizou do banco de madeira, sabendo que já não poderia evitar

as festividades. Seria grosseria de sua parte e ela tinha muitas razões para

estar grata a seu tio. Não tinha sido nada fácil roubar dinheiro suficiente

para a passagem para a Inglaterra e ele poderia tê-la recusado quando ela

chegou a sua porta. Ele nunca a havia visto, além de tudo; ela era a filha de

seu nada amistoso irmão. Seu irmão-nada amistoso-morto, quem não havia

5 Foie Gras: Francês que significa "fígado gordo".

6 http://driller.blogs.com/photos/uncategorized/azevinho_2.jpg

7 Galette: Emapanada.

8 Gallete dês Rois: Empanada do Rei (usualmente recheada de feijões, carne e outros vegetais.). Lembremos que no tempo da Revolução Francesa, comer carne ou legumes era impossível, devido a pobreza na qual França estava.

9 Voilá: Aí esta.

10 Allez-y: Vamos.

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falado com ele desde antes de Isabeau nascer. E se não fosse por seu tio

Olivier, ou Olivier St. Cross comoera conhecido aqui, ela teria passado este

Natal da mesma maneira que havia passado o anterior: Encolhida debaixo

do toldo de um café, esperando que algum cidadão cedesse ante o espírito

natalino e lhe comprasse uma refeição. Mas não, ela teria roubado as moedas

do bolso de alguém e teria comprado algo, por si mesma. Havia aprendido a

fazer o que se deve, ao viver nos calçadões de Paris durante o “Grande

Terror”.

— Allez, allez. — Benoit lhe instou. — Insisto em que você deve

encontrar um homem jovem e arrojado, para paquerar.

Ela não poderia imaginar que algum jovem pudesse olhá-la, mesmo

com aquele vestido branco de seda que tinha sido obrigada a usar. Ainda

assim, ela sentia-se fraca, faminta, coberta de sujeira e não tinha a menor

noção de como dançar. Apenas confiava em suas habilidades para roubar

comida e encontrar os melhores telhados em que possa se esconder quando

os distúrbios explodiam.

Obrigou-se a deixar a cozinha, especialmente porque o pensamento

das dezenas de convidados, lá em cima, a aterrorizava. Antes de Paris, ela

havia vivido em uma grandiosa fazendo familiar no campo. A casa tinha

pisos de mármore, sofás de seda e vinhedos poeirentos, de onde podia

comer uvas até que seus dedos se machucassem. Mas então seus pais tinham

sido levados.

O que era uma bola de Natal contra a ameaça da guilhotina?

Ela encontrou seu caminho até a sala, onde os convidados tinham se

reunido para a ceia de meia noite. Seu tio havia aproveitado a oportunidade

para recriar suas recordações de sua infância, durante o Réveillon com o

pretexto de fazer sua sobrinha mais confortável. Não estava enganando

ninguém. Todos podiam ver o quão emocionado ele estava, por servir

tourtiere11 e campanha para seus amigos. Colocou-se de pé junto a lareira, a

qual estava coberta de ramos de folha de perenne12, e lírios brancos do

jardim de inverno. Sua cobertura era vermelha de azevinho, apenas

contendo seu alegre perímetro.

11 Torta de pão.

12 http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Lolium_perenne_Engels_raaigras.jpg

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— Ah! Aqui esta ela. — ele disse.

Isabeau se concentrou em sorrir, em não tropeçar com a dobra de seu

vestido de noite, não secar suas palmas empapadas de suor em suas saias e

em olhar fixamente nos olhos curiosos e compassivos que seguiam seus

movimentos.

— Minha sobrinha Lady Isabeau St. Croix. — seu tio anunciou.

Em Paris ela havia se apresentado como Isabeau Citoyenne. Era mais

seguro.

— Oh! Querida. — uma mulher anciã disse para ela, a pluma de

avestruz em seu cabelo flutuando com simpatia. — Que horror! Que

barbaridade!

— Madame. — ela não sabia o que mais dizer, então fez uma

reverência.

— Esses bárbaros. — continuou a senhora. — Mas isso já não importa

agora, você esta a salvo aqui. Nós, os Ingleses, conhecemos a ordem natural

das coisas. Outra frase para a qual não tinha resposta. A mulher pareceu

sincera, sem dúvida, ela cheirava a essência de menta. Suas luvas de cetim

estavam enfeitadas com laços vermelhos, que ela pode ver quando pegou a

mão de Isabeau.

— Meu sobrinho esta por aqui, em algum lugar, eu tenho certeza que

ele gostaria de ser seu par em um baile.

— Merci13, madame. — ela tinha a intenção de se esconder atrás de

um das pregas de folhas de perenne gigante, antes de aceitar aquele destino.

O salão era mais bonito do que Isabeau podia ter imaginado. Ela tinha

ajudado a colocas as sete taças de pinhas de pinho douradas e a polvilhar as

folhas de azevinho com prata e a unir as tiras ao redor dos ramos de pinho,

as quais estavam presas em cada janela. Mas a noite, com dezenas de velas

ardendo e o vento gelado de inverno que empurravam os cristais, foi mágico.

13 Obrigada.

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E graças ao ar abafado e azeites florais, enchendo cada canto do cômodo. Ela

se aproximou das portas que levavam até os jardins.

Os rosais e as cercas do teto foram recobertos por um delicado brilho,

como encaixes que tivessem sido lançados de todas as partes. A lua era um

brilho tênue por trás das densas nuvens. Ela tremeu um pouco quando a

neve começou a cair suavemente, mas não voltou para dentro. Podia ouvir

rodas das carruagens moendo a congelada via e a musica vinda do cômodo

em suas costas. A neve fez tudo empalidecer, como uma perola. Ela sorriu.

— Com um sorriso como esse, eu te proíbo de franzir o cenho outra

vez.

Ela virou-se para a voz, seus ombros tensos. Só estava vivendo na

mimosa casa por pouco tempo e já tinha perdido a vantagem da percepção.

Ela deveria ter ouvido seus passos ou pelo menos a porta sendo aberta.

— Perdoe minha intromissão. — ele disse suavemente, inclinando-se.

— E minha impertinência, já que ainda não fomos apresentados

corretamente. Imagino que você deva ser a misteriosa Isabel St. Croix.

— Isabeau. — ela corrigiu suavemente. Ela nunca tinha conhecido um

homem como ele. Parecia estar com seus vinte anos, mas carregava uma

elegância e uma confiança de alguém muito mais velho. Seus olhos eram

cinza, quase incolores, como um jardim no inverno.

— Philip Marshall. Conde de Greyhaven, a suas ordens. — quando ele

beijou o dorso de sua mão, seu toque foi frio, como se tivesse estado de pé na

neve por muito tempo. Repentinamente, ela se sentiu nervosa e

inexplicavelmente presa, como da vez em que tinha ficado presa em um

incêndio provocado nas ruas, para manter os guardas da cidade na baia.

— Eu deveria voltar. — murmurou. Só tinha dezoito anos de idade,

além de tudo e a única razão pela qual havia sido autorizada a assistir a

festa, foi porque era Natal. Provavelmente era impróprio para ela estar fora

sem vigilância, mesmo que ele fosse um Conde. Ela não podia lembrar. Sua

tia havia lhe enumerado tantas regras, até sangrarem juntas. Ela sabia delas,

mesmo antes da Revolução. Agora apenas sabia que sentia um estranho

desejo de estar muito mais perto dele e não apenas porque tinha esquecido

seu agasalho do lado de dentro.

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Ele soltou sua mão e arqueou uma sobrancelha. A luz tremula da sala,

refletiu nos botões prateados de seu casaco bordado. — Espero que, uma

moça que sobreviveu às multidões francesas, não tenha medo de mim;

certo?

Ela levantou seu queixo defensivamente.

— Mais, monsieur. Je n’ai pas peur14. — tive que me concentrar para

falar inglês; a irritação ou a distração sempre a escorregam de volta ao

francês. — Desculpe. — ela sacudiu a cabeça, irritada com seu engano. —

Não tenho medo.

— Eu gosto de ouvi-lo. — ele assentiu. — Vinho? — ele entregou uma

taça que ela não havia percebido que estava segurando. Benoit não a tinha

empurrado para conversar e paquerar? As moças normais de sua idade

estariam emocionadas por estar de pé junto a um lindo Conde. Ela deveria

beber e comer violetas confeitadas e também deveria danças até que suas

sandálias de seda se desgastassem? Então, aceitou a taça.

— Merci, monsieur. — o vinho estava quente e misturado com canela

e algum outro sabor indefinível, como cobre ou alcaçuz. Ou sangue. Ela

franziu o cenho intimamente. Estava deixando que suas dúvidas a fizessem

ver como boba.

— Você é bonita. — ele disse. — E estou tão cansado destas rosas

inglesas, muito mansas para desfrutar de qualquer coisa, exceto a

contradança e a limonada. Você é uma mudança bem vinda, Senhorita Cross.

Certamente uma mudança bem vinda.

Ela se soltou. O vinho a fazia se sentir quente, atordoada. Era muito

agradável. Os flocos de neve aterrissaram em suas pálpebras e se

dissolveram instantaneamente. Aterrissaram em seus lábios e ela os lambeu

como se fossem açúcar. Seus olhos prateados brilharam como se fossem de

animais, como uma raposa em um galinheiro.

— Se esta fosse uma novela gótica. — ele arrastou as palavras. —

Existiriam os fantasmas e os vampiros, e você teria medo.

14 Mas senhor, eu não tenho medo.

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Ela pensou nos livros que tinha lido até altas horas da noite na

biblioteca, os contos sensacionalistas como os de Ann Radcliffe15 e os

Mistérios de Udolpho e Lenore Burguer16, cheios de vilões e criaturas não

mortas que vagavam pelas noites, com seu apetite insaciável.

— Não seja bobo. — ela se lançou a rir. — Não acredito em vampiros.

15 Escritora Gótica da década de 1790.

16 Escritora Gótica.

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Capítulo Um

Tinha sido um inferno de semana.

Limpar a confusão de uma rainha vampira psicótica não foi agradável

na melhor das hipóteses. Era muito pior quando sua mãe era quem tinha

despachado a velha rainha, você e seus irmãos de repente eram príncipes e

sua irmã mais nova estava sendo perseguida por um vampiro homicida de

um século de idade.

Como eu disse, um inferno de semana.

Pelo menos todos sobrevivemos, mesmo tia Hyacinth, cujo rosto

agora estava tão assustado que não iria levantar o véu do chapéu vitoriano

ou sair de seu quarto. Os caçadores de vampiros Helios-Ra fizeram isso com

ela, logo antes de um de seus novos agentes começar a namorar minha irmã

mais nova.

Isso era simplesmente estranho.

Ainda assim, ele salvou a vida dela a menos de duas semanas atrás,

por isso estamos dispostos a esquecer um pouco esse pequeno incidente.

Contanto que eu nunca, nunca tenha que saber sobre isso. Quero dizer, com

certeza Kieran é um cara bom o suficiente, mas Solange é a minha única

irmã. Basta.

— Meio pensativo, Lord Byron. — meu irmão Quinn sorriu para mim,

empurrando-me com o ombro. — Não há meninas aqui para impressionar

com a sua rotina de Príncipe das Trevas.

— Como se eu fizesse isso. — Quinn era quem usava toda a coisa

mística de vampiro para pegar as garotas. Aconteceu de eu gostar de vestir

um fraque velho e camisa de pirata; fato de algumas garotas gostarem foi

acidental. Bem, na maior parte.

— Nenhuma palavra ainda sobre a Princesa Hound? — Quinn

perguntou.

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— Nada ainda. — papai tinha convidado a reclusa Tribo Hound à

mesa de negociações, agora que mamãe era a nova Rainha dos vampiros,

governante de todas as diferentes Tribos. Soa melodramático e medieval,

mas isso é um vampiro para você.

— Acha que ela é bonita?

— Não são todas elas?

Quinn sorriu. — A maioria.

As cavernas reais atrás de nós haviam sido deixadas em ruínas depois

da batalha que derrubou Lady Natasha. O pó de vampiros estacados foi

varrido e os cacos de espelhos quebrados preencheram caixas inteiras.

Havia ainda pelo menos uma dúzia deles deixados pendurados na parede.

Lady Natasha realmente gostava de olhar para si mesma. Alguns dos

corvos esculpidos em seu trono de espinheiro branco estavam lascados,

alguns decapitados. Todo mundo estava ocupado com uma tarefa ou outra,

limpando, organizando ou apenas olhando para a minha mãe enquanto ela

se sentava no final da sala olhando brava para meu pai, que não parava de

falar sobre os tratados de paz.

A tensão que vibrava no ar era mais difícil de limpar do que as cinzas

de nossos mortos.

Todo mundo estava cuidando de suas costas: os velhos monarquistas

fiéis à Lady Natasha, os leais à Casa dos Drake e à minha mãe e os que

estavam em cima do muro. Lucy estaria correndo em volta com sálvia

branca cantando um mantra védico para purificar nossas auras se estivesse

aqui. Mas ela estava proibida de vir para as cavernas até que o pior da

política tivesse sido resolvido. Ela não deveria ficar conosco também, mas a

volta de seus pais para casa foi interrompida, o carro de seus pais era uma

antiga camionhete que se quebrou na rodovia. Eles estavam presos em uma

pequena cidade e Lucy estava presa conosco. Os seres humanos eram frágeis

na maioria das vezes e a melhor amiga de Solange tinha a auto-preservação

básica de um mosquito. Se havia problemas, ela sempre tomava um passo a

frente. Se não os tivesse começado em primeiro lugar, é claro.

Entre ela e minha irmã, tivemos nossas mãos sempre ocupadas.

Política Vampirica empalidecia em comparação.

— Agora, ela é bonitinha. — Quinn murmurou apreciando enquanto

uma das cortesães arrastava uma caixa do que parecia ser os restos de uma

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mesa quebrada.

— Só vou ajudá-la. É o certo a um Principe fazer.

— Você é um asno. — eu disse carinhosamente.

— Você está apenas com inveja porque sou muito mais bonito. —

falou por cima do ombro, enquanto ia embora para encantar uma outra

garota. Ele nunca chegou até ela.

Ela se endireitou de repente, subiu em um escabelo17, o que lhe deu

uma boa visão do comprimento da sala e meus pais em particular. Ela puxou

um besta18, carregada com três estacas perversamente apontadas, para fora

da caixa. Não era uma mesa quebrada afinal.

E não importa o quanto você está preparado, ou quão cuidadoso é, há

sempre uma abertura em algum lugar.

Mamãe nos ensinou isso.

A menina apontou e aperteu o gatilho, mal fazendo som. Nós nem a

teríamos notado entretanto, se não estivessemos ativamente olhando para

ela. As estacas assobiaram para fora do arco, lançando-se no ar com precisão

mortal. Ou o que teria sido precisão mortal se Quinn não estivesse perto o

suficiente para agarrar sua perna e derrubá-la do escabelo.

O tiro passou longe, mas não suficientemente longe. Ela caiu para o

tapete bordado à mão, as presas de Quinn sairam tão rápido que foram

capturadas pela lamparina. As minhas próprias picavam minha gengiva,

meus lábios se levantaram do resto dos meus dentes.

Eu não tive tempo para alcançá-la ou aos meus pais.

Só tive tempo suficiente para tirar o punhal no meu cinto e jogá-lo na

trajetória das estacas. Ele pegou uma e dividiu-a em duas partes, as peças

fincaram um enorme armário de madeira, a faca nas costas de uma cadeira.

Minhas narinas queimaram.

Veneno.

Todo mundo parecia estar se movendo em câmera lenta. Guardas se

17Um escabelo é um banco pequeno que serve de apoio aos pés

18Besta (pronuncia-se bésta) ou balestra é uma arma com a aparência de uma espingarda, com um arco de

flechas acoplado no lado oposto da coronha, accionada por gatilho, que projecta dardos similares a flechas,

porém mais curtos.

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viraram, arregalando os olhos, piscando. Espadas brilhavam, fitas de laço

vibravam e botas colidindo com a parede quando o melhor deles capotou

para fora do caminho das outras duas estacas. Um candelabro de ferro foi

derrubado, derramando os tocos de velas semi-queimadas.

A cera de abelha se juntou ao cheiro afiado e doce do veneno. Uma das

estacas pegou um magro e pálido cortesão no ombro quando ele não

conseguiu se inclinar para trás com rapidez suficiente. Ele gritou e até

mesmo o som parecia lento demais, distorcido. Seu sangue respingou sobre

os azulejos, entre as bordas dos tapetes colocados no chão.

A terceira estaca foi infalível em seu caminho, em linha reta na

direção do coração de minha mãe.

A menina sorriu uma vez, mesmo enquanto lutava para se libertar do

aperto sombrio de Quinn.

O qual foi apenas para mostrar o quão pouco ela conhecia minha mãe.

Meu pai virou-se para colocar-se entre ela e a estaca, enquanto meus dois

outros irmãos, Marcus e Connor, deram um salto mortal ao seu lado para

formar uma grande barreira.

Mesmo quando minha mãe saltou no ar e caiu sobre suas cabeças,

recusando-se a usar um escudo feito de seu marido e filhos.

Ela se lançou um pouco para a esquerda e esticou o braço,

seguramente encerrado em um bracelete de couro e bateu a estaca no ar

para fora da trajetoria. Bateu em uma tapeçaria e caiu em um cesto,

parecendo inofensiva.

Guardas entraram. Estavam rosnando tanto, que as cavernas reais

soavam mais como um recinto do puma no zoológico. Mamãe lutou à sua

maneira para se livrar de seus ávidos guardas enquanto a menina era

arrastada para longe de Quinn.

— Quero ela viva! — papai estava gritando. Tarde demais.

A garota assassina estava claramente preparada, e sabia o suficiente

para não ser capturada e interrogada pelo inimigo. O interior do seu colete

estava equipado com uma fina estaca escondida. Ela puxou um pequeno

pedaço de corda costurada na cava de seu colete e sorriu.

Houve um pequeno som de paulada e em seguida ela se desfez em

cinzas. Suas roupas caíram em uma pilha.

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18

Papai amaldiçoou, muito alto e muito criativo.

Mamãe de punhos cerrados. — Quinn, Logan. Comigo. Agora. — ela

jogou um olhar para Marcus e Connor. — Vocês também. Mamãe não

gostava de ser salva por seus filhos.

Nós a seguimos em uma pequena antecâmara privada. A adrenalina

ainda estava correndo através de mim. A mandíbula de Quinn estava tão

rígida que ele se parecia com uma estátua de mármore, pálido e frio. Eu

sabia exatamente como ele se sentia.

Nós tivemos um curto alívio quando papai pegou o rosto de mamãe e

passou as mãos pelo seu pescoço, sobre os ombros. — Helena, você está

ferida?

Ela acenou. — Eu estou bem. — ela sorriu brevemente, então virou os

duros olhos para nós. Cada um de nós deu um passo saudável para trás e

ninguém se sentiu menos viril pela sábia retirada.

— Eu distintamente me lembro, — ela disse suavemente, sua longa

trança preta balançando quando ela cruzou os braços sobre o peito. — após

os acontecimentos da semana passada, de ordenar para nunca ficarem entre

mim e uma arma de novo.

— Mãe. — Quinn gruniu. — Dá um tempo.

Seu olhar poderia ter assado um bife. — Eu não terei meus filhos

mortos por algum assassino de terceira categoria.

— E não teremos a nossa mãe morta por qualquer um. — eu

acrescentei.

Ela fechou os olhos por alguns instantes. Parecia menos com uma

antiga Fúria, pálida como o fogo e tão irritada, quando abriu-os de novo.

— Obrigada, rapazes. — ela disse finalmente. — Estou muito

orgulhosa de vocês. Mas não façam isso de novo. — ela se encostou em meu

pai. — Você também, Liam.

— Calma, querida. — ele disse carinhosamente, beijando o topo de

sua cabeça. Ele olhou para a guarda parada na porta, sob a fileira de

pequenas lanternas de vidro. As velas tremeram. — Bem?

Eu reconheci Sophie quando ela se aproximou. Ela tinha uma massa

de cabelos castanhos encaracolados e cicatrizes no lado do rosto de quando

ela era humana. Ninguém sabia como as tinha conseguido.

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19

Ela inclinou bruscamente. — A menina pertencia a Montmartre. Seu

brasão estava costurado no interior do seu colete.

— E?

— E isso é tudo o que sabemos.

— Isso não é o suficiente. — Helena estalou.

— Eu concordo, Vossa Alteza.

Helena suspirou. — Sem Vossa Alteza para mim.

— Sim, Vossa Alteza.

— Espere. — Quinn franziu o cenho. — Ela tinha uma tatuagem.

— Você tem certeza? — mamãe perguntou. — Onde?

— Sob a sua clavícula, acima do peito esquerdo. — para seu crédito,

ele não corou. Exatamente.

Os olhos de minha mãe se estreitaram em seu rosto. — Você estava

olhando para dentro de sua camisa?

Quinn engoliu. — Não senhora.

— Mmm hmmm. Qual era a tatuagem?

— Uma rosa vermelha, com três punhais ou estacas passando por ela.

Eu não consegui uma boa olhada.

Papai franziu o cenho. — Não conheço esse brasão. Eu me pergunto se

é novo.

Ele olhou para Sophie. — Descubra. E dobre o patrulhamento e um

outro conjunto de guardas para minha esposa.

Sophie inclinou-se e deixou a antecâmara logo quando mamãe

começou a dizer.

— Liam Drake, eu posso cuidar de mim.

— Helena Drake, eu te amo, aceite a guarda extra.

Encararam um ao outro. Eu sabia que meu pai iria ganhar. Mamãe era

agressiva quando encurralada, mas meu pai tinha um jeito de cuidar disso,

como uma cobra que hipnotiza a sua comida. Seu olhar suavizou. — Por

favor, amor.

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20

Seus dentes alongaram com seu aborrecimento. — Não faça isso. —

ela murmurou, mas nós sabíamos que papai conseguiria de seu jeito. — Só

até a coroação. — ela disse finalmente, com firmeza.

Papai concordou. — Fechado. — ele ia encontrar outro argumento

depois da coroação. O walkie-talkie no cinto balbuciou uma frase ilegível. Ele

apertou o botão. — Repita.

— Você nos pediu para avisá-lo quando fosse meia-noite.

Papai olhou para o relógio. — Certo. — ele disse para o resto de nós.

— A delegação Hound deve estar aqui a qualquer minuto. Logan, você vai

encontrá-los. Se o que sabemos sobre esta Isabeau é verdade, ela foi

transformada logo após a Revolução Francesa. Você será mais familiar para

ela nesse fraque.

— Ok. — ignorei os sorrisos dos meus irmãos. Eles eram estritamente

do tipo jeans e camiseta. Eu não podia fazer nada se não tinham estilo.

— Os guardas de montanha esperam por eles, mas ninguém mais faz.

— acrescentou. — Nós não queríamos drama.

— Tudo o que temos é drama. — revirei os olhos, partindo para fazer

o meu caminho até a entrada da caverna principal. O walkie-talkie do papai

chioou novamente. Sua voz era preocupada quando ele me chamou.

— Logan?

— Sim?

— Corra.

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21

Capítulo Dois

Eu não esperava a emboscada. E isso está dizendo algo.

Eu não tinha me tornado uma princesa Hound no ano e meio desde

que eu fui desenterrada porque eu era uma que confiava. Se a Revolução

Francesa não tivesse me curado disso; ser mordida e abandonada por um

dos Host de Montmartre teria.

E eu podia ter sido pega de surpresa, mas não era uma idiota.

Estava, no entanto, armada até os dentes.

Os guardas nos superavam em número. Eu só viajava com outros dois,

Magda e Finn, uma vez que era difícil encontrar um Hound que tivesse

temperamento para lidar com as Cortes Reais de vampiros e com a

implacável arrogância dos associados. O temperamento de Magda era

praticamente estável, mas ela era bonita e justa, o que em sua maioria

equilibrava todo o resto. Finn era sereno como as madeiras de cedro que ele

tanto amava. E eu era apenas eu: solitária e vingativa, mas ainda tão educada

como a Lady francesa a qual eu tinha sido criada para ser. Eu tinha ambos,

dezoito anos e mais de 200 anos de idade. Como se isto não fosse

suficientemente confuso, eu tinha sido puxada para fora da cova por uma

matilha de cães bruxos.

Kala preferia Shamanka à bruxa. A maioria dos Príncipes e pequenos

lordes a respeitavam e desde que ela tinha sido a única a mandar-me para a

reunião, ninguém tinha argumentado ou se oferecidos para tomar meu

lugar. Eu era a sua aprendiz e isto era o suficiente para os outros, mesmo

que eu não tivesse certeza se era suficiente para mim. Eu teria sido mais feliz

sumindo no fundo, mas eu devia à Kala a minha vida, tal como era. Ela me

tirou da loucura e fez com que eu não virasse uma selvagem ou uma presa

de Montmartre. Ela alegou que se eu era forte o suficiente para durar 200

anos em um caixão, era forte o suficiente para não me tornar uma selvagem.

Não me lembrava dos séculos no cemitério, apenas breves imagens antes de

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22

perder a consciência. Mas eu, definitivamente, me lembrava da dor de ser

puxada para fora e revivida. E não foi a força de caráter que me fez passar

por tudo, nem mesmo a magia considerável da Kala. Foi a necessidade de

encontrar o Conde de Greyhaven e minha sede de vingança.

Por causa dos estrangeiros, eu tinha sido rotulada como uma

"Princesa" Hound, embora não tivéssemos Princesas e outros nobres. Era

um título muito útil, uma vez que a nova Rainha estaria mais disposta a me

ouvir, mesmo que eles estivessem, provavelmente, esperando uma menina

selvagem com lama no rosto que comia bebês no jantar.

Foi por isso que Kala tinha me enviado para os tribunais para a

coroação de Helena Drake e seu marido, Liam Drake. Isso e o fato de que eu

e os outros Hounds tínhamos mais ou menos salvo a vida de sua da filha.

Infelizmente Montmartre tinha fugido então eu não considerei a missão um

sucesso, mesmo que todo mundo parecesse considerar.

Eu estava aqui para representar o melhor dos Hounds, e eu tinha um

filhotinho wolfhound19 para apresentar como um presente. Os wolfhounds

de Kala eram lendários, eu tinha um adulto como companhia: Charlemagne.

E ele estava roncando baixo em sua garganta, músculos agrupados

sob seu pelo rijo cinza.

— Lá. — murmurei, apontando para ele ficar atrás de mim. Eu não

tinha nenhum problema libertando-o para o ataque, mas só se eu soubesse

que não seria ferido. E agora havia uma lança apontada para a sua garganta.

— Hounds. — um dos guardas zombou. Eu conhecia aquele tom

revoltado e temeroso intimamente. Nós não éramos exatamente famosos

por nossos elegantes modos à mesa. Pouco importava que metade dos

rumores não fosse verdadeiro. Nós os utilizávamos para a nossa vantagem.

Quanto mais os outros desdenhavam de nós, mais eles nos deixavam

sozinhos, o que era tudo o que eu realmente queria, em primeiro lugar.

Deixe-os se preocupar com a política e com os caçadores. Nós só queríamos

as cavernas e a calma.

Bem, a maioria de nós.

19A lébrel irlandês (em inglês: Irish Wolfhound), também chamada wolfhound irlandês, é uma raça canina

oriunda da Irlanda. Considerada a maior raça do mundo.

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O cachorrinho na cesta pendurada no meu ombro latiu e eu o coloquei

no chão. Tirei a longa e fina espada amarrada às minhas costas, a qual os

guardas não tinham notado ainda. No momento em que toquei o punho,

tanto Magda quanto Finn entrou em ação.

Aprender a lutar não foi diferente do que aprender a dançar valsa, em

minha opinião. Tudo isto é sobre a tensão entre você e seu parceiro, sobre o

movimento dos pés, equilíbrio e timing.

E eu preferia a longa espada mortal a qualquer vestido de seda que eu

já tenha usado. Não estava certa do que isso dizia sobre mim, mas tinha

preocupações maiores. Como a estaca de mogno polido voando pelo ar em

direção ao meu coração.

Eu me inclinei para trás tanto quanto podia. Passou por cima de mim,

perto o suficiente para que pudesse ver as veias da madeira. Acredita que os

malditos da realeza poliam suas estacas até um alto brilho? Nós apenas

amolávamos pedaços de pau.

Movi-me subitamente de novo, para acertar o meu adversário na

lateral da cabeça com o punho da minha espada. Poderia tê-lo transformado

em uma pilha de cinzas, mas Kala tinha nos avisado várias vezes que

estávamos aqui para as negociações.

Alguém poderia tentar dizer isso aos guardas.

Magda pegou um antes que eu pudesse impedi-la. Era difícil sentir

arrependimento uma vez que ele estava a ponto de estourar seu o pescoço.

Charlemagne reclamou, com a necessidade de saltar para a luta.

— Não. — eu disse a ele bruscamente. — Fomos convidados! —

adicionei, gritando quando golpeei com minha bota o calcanhar do guarda.

Ele tropeçou, deixando cair sua estaca.

— Parem! — alguém se meteu na confusão. Ótimo, exatamente o que

precisávamos. Ele saltou entre nós, com seus punhos de renda esvoaçantes.

Ele era bonito, como os meninos que eu tinha conhecido nas festas do

meu tio, mas não tão suave, mesmo em seu casaco de veludo. Suas presas

estavam prolongadas, brilhando como opalas. Eu não sabia quem ele era,

mas os guardas recuaram, com as armas levantas respeitosamente, mesmo

que eles ainda estivessem rosnando.

— Ela matou Jonas. — um deles falou.

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24

— Porque ele estava tentando me matar. — Magda cuspiu de volta sem

se arrepender.

O guarda rosnou. O menino se virou para ele, falando suavemente. —

Você não os reconhece? — apontou para mim. — Esta menina salvou a sua

vida, não muito tempo atrás.

Isto dificilmente fez os rosnados pararem.

Ele parecia ter uns dezoito anos, o mesmo que Magda e eu, embora

tecnicamente eu tivesse 232 anos de idade. Só Finn aparentava estar na casa

dos trinta anos, embora tivesse quase 800 anos de idade. Kala o tinha

enviado para nos manter com a cabeça no lugar. Ele não era um Hound,

apenas um vampiro comum, mas está conosco há tanto tempo que nós o

tratamos como se fosse um de nós, especialmente porque ele odiava

Montmartre tanto quanto nós.

— Minhas desculpas. — acrescentou ele, inclinando-se para nós. —

Minha mãe é Rainha há apenas alguns dias e todos estão ainda em estado de

alerta. Alguém tentou assassiná-la a menos que dez minutos atrás. — ele

deve ser um dos lendários irmãos Drake. Havia sete deles, e uma única filha

que tinha acabado de mudar. — Mas você estará segura. — ele apressou-se a

garantir-nos.

— Eu sei. — eu não precisava de sua proteção. Seus olhos eram

verdes como os meus; como o musgo. Eu não gostei do jeito que ele estava

me olhando, como se eu estivesse vestindo um dos meus vestidos antigos, ao

invés de uma túnica de couro com uma cota de malha por cima do meu

coração.

— Isabeau. — disse ele. — Magda e Finn, eu presumo? — ele demorou

em cada uma das palavras. — Sou Logan Drake. — seu cabelo castanho caído

sobre a testa, o formato do seu queixo e o nariz estreito eram nitidamente

aristocráticos. Ele teria ficado mais em casa entre os nobres do meu tempo

do que neste lugar moderno. Isto me fez desconfiar dele e sentir-me

estranhamente atraída. Alonguei a minha espinha. Eu não estava aqui para

admirar lindos rapazes, estava aqui como emissária de Kala. Era

imperdoável me distrair, mesmo que por um instante.

— Estamos aqui para a coroação. — expliquei rigidamente.

— Só é daqui a duas semanas. — afirmou outra guarda.

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25

Logan fez um som de frustração. —Calma Jen. — disse ele, antes de

oferecer-nos um sorriso encantador. — Se você me seguir.

Estalei os dedos e Charlemagne saltou para andar ao meu lado. O

cesto cheio com o cachorrinho se contorcendo estava sobre o meu ombro

novamente. Levaram-nos por um corredor esculpido, a pedra cinza quase

encostando sobre as nossas cabeças. Magda estava carrancuda.

— Essas cavernas costumavam ser nossas. — ela sibilou

— Cem anos atrás. — eu sibilei. — Você não tinha nascido ainda,

então não importa. — ela virou-se.

— E daí? Eles ainda roubaram as nossas casas. — sua longa saia

florida fluiu em torno de seus tornozelos, bordados a fio de prata brilhando à

luz das tochas.

— Lady Natasha roubou as cavernas. — Logan disse, sem virar para

nos olhar.

— Você está planejando devolvê-las? — Magda bufou, antes que eu

pudesse impedi-la. Agarrei o braço dela. Ela se esquivou, mas não disse mais

nada. Na verdade, ela disse muito, mas estava resmungando, por isso fomos

capazes de fingir não a ouvir.

A sala ampliou-se e, finalmente, trouxe-nos a uma caverna com

estalactites pingando. Velas queimadas em candelabros de prata e lustres de

ferro20. Havia inúmeros bancos e um palco com os restos de um trono

branco e dezenas de espelhos quebrados.

E os vampiros por toda parte

As conversas foram interrompidas abruptamente. Todos se viraram

para nos olhar, como se fôssemos os cogumelos venenosos crescendo de

repente em um jardim bem cuidado. Eles eram pálidos e perfeitos, com

dentes brilhando e olhos rígidos. Vi todo tipo de roupa, desde couro,

espartilhos e até jeans. Um deles usava um poncho, como Magda muitas

vezes usava. Encontrar conforto no estilo dos humanos jovens era comum a

todos os vampiros. Isto era uma semelhança entre nós, mas quase não era

suficiente para compensar os rosnados e os olhares suspeitos.

20Iron birdcage : são aqueles lustres antigos que eram pendurados no teto, tinham pés. No lugar de lâmpadas,

eram colocadas velas.

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26

Até mesmo Finn endureceu e Magda estava praticamente vibrando

com a necessidade de atacar. As orelhas de Charlemagne voltaram-se

quando ele sentiu a tensão, espessa e pegajosa como mel. Só Logan saltou

para frente como se estivéssemos aqui para nada mais do que chá e bolo.

— Trouxe os nossos convidados. — anunciou. Ninguém deixou de

perceber a inflexão na última palavra. E o aviso. As conversas recomeçaram,

mas em sua maioria eram murmúrios e sussurros. Ninguém queria perder a

apresentação entre a Rainha e a Princesa Hound que ajudou a salvar sua

filha. Não vi Solange em nenhum lugar. Coloquei meus ombros para trás e

jurei a mim mesma, mais uma vez, que não iria desapontar Kala.

Logan parou na frente de uma mulher baixa e esbelta, com uma longa

trança. Eu lancei um olhar de inveja aos punhais alinhados em sua alça de

ombro. O homem ao lado dela tinha ombros largos e um sorriso calmo.

— Mamãe, papai, esta é Isabeau St. Croix. — Logan me apresentou

com certa eloquência, eu quase me esqueci e fiz uma reverência. Ele

apresentou-me a eles e não o contrário, sutilmente, alegando que seus pais

tinham um maior prestígio social. Eu tinha certeza que ele tinha feito isso de

propósito, mas fiquei surpresa que alguém nascido neste século soubesse

dessas regras especiais de etiqueta. Elas não tinham sobrevivido ao longo

dos séculos, o que significava que eu tinha de aprender todo um novo

conjunto de regras. Como se não tivesse sido cansativo o suficiente na

primeira vez. — Isabeau, esta é a Rainha Helena e o Rei Liam Drake.

— Bem-vinda. — disse Liam, com sua voz suave e rica como conhaque

cremoso. Eu sabia que eles estavam olhando para minhas presas. Eu tinha

dois conjuntos, afiadas e brancas como a concha de abalone21. Quanto mais

selvagens fossem os vampiros, mais as suas presas cresciam. Até nós

evitávamos os Hel-Blar, que tinham a boca cheia de dentes pontudos como

navalha e pele de cor azul. Antes de Montmartre, eles eram raros. Você

poderia viver a sua vida inteira sem nunca ver um. Eles eram, na sua

maioria, criados por acidente ou ignorância, especialmente séculos atrás,

quando a mudança de sangue era ainda mais um mistério do que é hoje.

Mas agora, por causa de Montmartre, eles eram como formigas de

fogo despejando de um formigueiro, onde costumava haver um agora havia

uma centena. Ele estava tão ansioso para criar o seu próprio exército, que

21Os abalones são moluscos, espécie de caracóis marinhos, que vivem preferencialmente em águas frias.

Pertencem ao gênero Haliotis, da família Haliotidae.

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devastou as antigas cidades de pedra da Europa durante centenas de anos,

transformando os humanos em vampiros, com uma ganância

indiscriminada.

Porém, isso não era bom o suficiente para ele. Ele queria seu exército

pessoal para ser o melhor, o mais forte e o mais cruel. Ele começou a deixar

as pessoas meio transformadas debaixo da terra para provarem ser capazes

de sobreviver à mudança de sangue sozinha. Aquelas que não morriam,

ficavam loucas com a fome ou eram recrutadas para fazer parte dos seus

Hosts. O resto era abandonado como Hel-Blar.

E Hounds ou CWN Mamau; como chamamos a nós mesmos, não nos

encaixamos facilmente em qualquer lugar. Não somos vampiros normais,

não somos Hel-Blar, e definitivamente não somos Host, fato que tanto irrita

Montmartre. Somos um incômodo para ele, procurando os vampiros que ele

deixou enterrados e reabilitando-os antes que ele possa reclamá-los como

seus.

— É um prazer conhecê-lo. — eu disse educadamente. — Finn, Magda,

gostaria de apresentar Helena e Liam Drake. — a boca de Logan se

contorceu um pouco e eu sabia que ele tinha percebido o que eu tinha feito.

Finn inclinou-se ligeiramente. Magda inclinou a cabeça duramente. Seus

longos cabelos castanhos e roupas leves a faziam parecer uma princesa de

fadas, mas ela era o oposto por natureza, e admitir estar nervosa ou inferior,

em uma Corte Real, especialmente esta, estava totalmente fora de questão.

Coloquei a cesta sobre o tapete e esperava que nosso presente não fosse

aliviar-se nas rosas bordadas à mão. — Trago um presente da nossa

Shamanka, Kala.

O sorriso de Liam era genuíno quando ele se abaixou para ajudar o

cachorro a sair da cesta. Observei cuidadosamente Charlemagne, que estava

estudando cuidadosamente Liam. Quando Charlemagne não rosnou ou ficou

tenso, relaxei. Seus instintos eram investigadores. O cachorro virou, gritou, e

então saltou a seus pés, assustado. Até mesmo Helena sorriu. Isto suavizou

suas feições consideravelmente.

— Os cães bruxos de Kala são lendários. — disse ela.

— Sim, eles são. — concordei com orgulho. Eu não tinha certeza se ela

sabia exatamente o quão lendário eles são. Foram os cães gigantes de Kala

que tinham me cheirado no cemitério e cavaram-me com as suas garras. Eles

têm sido fiéis a mim desde então. E, sinceramente, eu preferia a sua

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companhia aos da minha própria espécie. Era menos complicado. — E Kala

não é uma bruxa, ela é uma Shamanka.

— Eu peço o seu perdão. Ela diz que o seu dom em treiná-los é

lendário.

Tentei não corar, isto era inadequado para um vampiro. Ainda assim,

Kala não era fácil com os seus louvores e senti-me um pouco acima disso.

— Será nossa convidada em nossa casa. — isto não era um pedido.

Mesmo se tivesse sido, não havia uma forma educada de evitá-lo. Eu não

tinha certeza do que era pior, permanecer nestas cavernas com aqueles que

claramente não nos queriam aqui ou ficar na casa da Rainha. Ela estava

fazendo com que todos soubessem que nós estávamos sob sua proteção, mas

havia outra coisa, além disto, eu tinha certeza. Ela não confia plenamente

nos Hounds, seja o que for que seu marido tenha dito sobre querer tratados

e reconciliação. Isto era um teste.

— Claro. — os amuletos que Kala tinha me dado brilhavam à luz

suave, quando eu levantei meu queixo.

— Logan vai te levar lá para descansar. Seus amigos podem

permanecer aqui e se familiarizar com o pátio.

Outro teste.

— Obrigada. — ignorei a carranca de Magda, ela ficou carrancuda

desde que Kala mencionou pela primeira vez esta visita. Finn cedeu uma vez

e não disse nada, então eu assumi que ele não tinha objeções graves. Eu

ainda não estava acostumada com a atitude cavalheiresca com as meninas

desacompanhadas. É verdade, eu não tinha um acompanhante em Paris, mas

estive vivendo nos becos fingindo não ser uma St. Croix. De qualquer forma,

nós tínhamos assumido que íamos nos separar, e teríamos feito o mesmo se

um grupo de membros da Realeza ou antigos tivessem sido convidados para

as cavernas. Eles ainda podem, se os tratados e as negociações corressem

bem. Isso me deu uma pausa.

— Vou te levar para a casa. — Logan sorriu agradavelmente para

mim. Ele não parecia perturbado pelo meu conjunto extra de presas ou pelas

cicatrizes em meus braços nus e no lado esquerdo da minha garganta. Os

poucos não Hounds que eu conhecia não poderiam evitar ficar olhando

fixamente.

Eu odiava ser encarada.

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Eu não podia evitar, mas acho que os olhos de Logan estavam

sabendo, como se ele soubesse o que eu estava pensando, quando ele fez

sinal para eu seguir pelo estreito corredor da caverna com uma cortina, uma

tapeçaria de uma floresta enluarada. O bordado era familiar. Nós temos

tapeçarias semelhantes penduradas no castelo para manter os desenhos fora

de alcance. Charlemagne parou suavemente ao meu lado, alerta, mas calmo.

Enfiei os dedos em sua pele com força quando Logan não estava olhando.

— Eu acredito que, pelo seu sotaque, você é francesa?

— Oui. — eu não disse mais nada.

— Vire aqui. É mais rápido. — explicou ele, conduzindo-nos para

baixo, várias passagens mais e para fora em uma clareira. Ele não ia se

intrometer, mas eu podia ver a especulação em seu olhar rápido. Ele teria

mais perguntas em breve, ele e toda sua família. Eu tentei me lembrar de que

eu era emissária de Kala e forte o suficiente para lidar com os Drake, realeza

ou não, ridiculamente bonito ou não. O luar brilhava nos botões de prata de

seu casaco. Ele realmente parecia como se pertencesse a um romance de

Victor Hugo, bebericando vinho claret22 em frente à uma lareira. — E, desta

forma, nós não teremos que descer a montanha.

As escadas eram grossas e densas, visíveis apenas quando o vento

empurrava folhas e galhos para o teto da catedral. A montanha era uma

sombra negra desmedida atrás de nós. Um lobo uivou em algum lugar

distante. Charlemagne jogou a cabeça para trás e abriu suas mandíbulas

para uivar de volta. Eu estalei meus dedos. — Não. — não estava nem de

perto confortável o suficiente para deixá-lo revelar a nossa localização. Não

tinha uma maneira de saber quem mais andava na floresta conosco. Achava

difícil acreditar que iriam enviar o jovem filho da Rainha com uma Princesa

selvagem sem algum tipo de guarda.

— A casa é através da floresta. Podemos ir pelos túneis, se você

preferir ou...

— Ou o quê?

— Você consegue acompanhar? — seu sorriso era encantador.

— Mais oui. — eu estava imediatamente em guarda. — Eu quero dizer,

é claro.

22Diz-se de um vinho tinto pouco colorido; CLARET (inglês) = CLARETE (francês) - vinho tinto de Bordeaux na

França.

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— Ótimo. — ele piscou e depois foi embora. As folhas flutuavam.

Charlemagne zuniu animado. Eu me sentia da mesma maneira. Liberei-o

com um movimento com a mão e depois nós dois estávamos correndo pela

floresta, passando por entre enormes carvalhos e bordos, esquivando-nos de

galhos de pinheiro, saltando sobre samambaias gigantes. Eu nunca tinha

visto árvores como estas. Estava acostumada com os jardins imponentes e

antigos vinhedos da minha infância ou, mais recentemente, as cavernas dos

Hounds, árvores gigantescas, tão altas que eu não podia ver seus topos.

Brumas serpenteavam em nossos tornozelos, elevando-se até soprarem um

bafo fresco em minha cintura. Nos trechos limpos, o ar quente de verão batia

contra mim. Meu cabelo se soltou de seus grampos e balançou por trás de

mim como uma bandeira de guerra. Eu teria rido em voz alta, se não tivesse

certeza que Logan sorriria se me ouvisse. De alguma forma ele soube como

me centrar e acalmar novamente. Eu só estava na Corte Real a pouco menos

de meia hora, vigiada por apenas um quarto do seu contingente e já estava

me coçando pelo isolamento das cavernas e pela companhia simples dos

wolfhounds da Kala. Isso era quase tão bom. Eu ri quando Charlemagne

saltou sobre um rio, espirrando em mim sem remorso.

Logan ainda estava à frente. Ele era um borrão e eu estava

determinada a alcançá-lo, se não passá-lo completamente. Eu já conhecia o

seu cheiro, como o incenso que eles usavam na igreja quando eu era uma

menina, reforçado com vinho. Mesmo sob a densidade dos cheiros da

floresta, de barro úmido, vegetação em decomposição e cogumelos, eu

poderia reconhecê-lo.

Minhas botas mal tocavam o chão. Um coelho saltando para a

segurança no meio dos arbustos. Sua voz voltou-se para mim. — Vamos,

Mademoiselle St. Croix, quase lá.

Abri caminho através de um grosso ramo de sempre-vivas e então

podia vê-lo, quase a um metro de distância de mim. Corri mais rápido,

sentindo a minhas pernas queimando, me lembrando de como meu coração

poderia ter batido se eu fosse capaz de me mover tão rápido quando era um

ser humano. Nós pulamos para fora da floresta e para dentro de um campo,

ao mesmo tempo em uma poça de lama escondida sob um tapete de agulhas

de pinheiro e folhas murchas de carvalho. Apenas Charlemagne foi

inteligente o suficiente para navegar direito sobre ela.

Logan suspirou. — Estas calças custam uma fortuna para lavar a seco.

— elas eram negras, brilhantes, como plástico ou couro gasto. Esses

vampiros preocupam-se com as coisas mais estranhas.

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A lama chupou minhas botas quando eu saí para a grama. Latidos

saíram da casa e eu toquei a cabeça de Charlemagne, sussurrando um

comando. Seus músculos da perna tremeram com a necessidade de

continuar correndo, para enfrentar o desafio, mas ele permaneceu perto

mim. Logan sacudiu a cabeça.

— Eles não estavam brincando quando disseram que você tinha um

jeito com cães.

Eu encolhi os ombros. — Nós entendemos um ao outro.

— Ele não tem sequer uma coleira.

— Não há necessidade. Ele não é meu servo, só meu companheiro, e

isto sempre foi sua escolha.

— Bem, talvez ele possa ensinar aos nossos cães algumas maneiras.

Especialmente Sra. Brown.

— Sra. Brown?

— É um terror. E apenas cerca de quinze libras de pug .

— Pug? — ecoei, apesar de interessada. — Eu acho que nunca vi um.

— Cruze um cão pequeno com um porco e você tem um pug.

— Por que alguém faria isso? — eu me perguntava.

— Lucy afirma que eles são bonitos.

— Lucy é sua namorada...? — agora, por que eu perguntei isso a ele?

De repente, eu estava com vergonha de ter orgulho por ter me lembrado da

palavra moderna em inglês para "namorada".

Ele me olhou de esguelha. — Lucy é a melhor amiga da minha irmã e

praticamente como uma segunda irmã para mim. Ela é uma matraca, difícil

de perder.

— Oh.

— E você? Você é casada com um Príncipe Hound?

— Nós não temos príncipes.

— Mas vocês têm Princesas?

— Não realmente, mas é a palavra mais próxima para descrever a

minha posição entre o meu povo.

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32

— Então você vai se casar pela política?

Eu balancei minha cabeça. — Nós raramente casamos e nunca pela

política. Os ossos nos levam a nossos companheiros.

— Os ossos?

— Um ritual transmitido através dos séculos.

— E os ossos já te levaram a alguém?

— Não. — eu não tinha absolutamente nenhuma intenção de dizer-lhe

que os ossos disseram a Kala que eu iria encontrar meu companheiro nas

Cortes Reais. Ou que ela raramente errava nestes assuntos. Afinal, sua magia

era tão forte que ela tinha andado em sonhos para encontrar o meu túmulo,

projetando seu espírito através do oceano para encontrar-me com nada

mais do que um presságio e o fio de um sonho. Ela poderia tê-los ignorado

para trabalhar suas magias para algum propósito, um propósito mais

pessoal. Magia toma tanto quanto ela dá, e uma pessoa simplesmente não

envia o espírito de alguém em uma viagem tão distante e perigosa sem

qualquer custo adicional.

Assim, quando Kala me disse que meu companheiro seria das Cortes

Reais, ela realmente quis dizer isso.

E nenhum Hound no mundo iria desacreditá-la. Isto era uma coisa

para nem pensar.

Nenhuma outra Shamanka ou um servo de alguma Shamanka já tinha

se juntado com alguém de fora da tribo.

Eu prefiro ficar sozinha.

Além disso, presságios ou não, eu estava aqui com outra finalidade.

— Ei, você está bem? — Logan estendeu a mão para tocar em meu

cotovelo, acima de uma cicatriz feita pela boca de um dos cães que haviam

me tirado de minha sepultura. Cheguei para trás. Ele levantou uma

sobrancelha.

— Eu estou bem. — deliberadamente segui em direção à fazenda. O

alpendre era grande, com várias cadeiras e um balanço. Rosas selvagens

cresciam sob as janelas. O latido ficou mais alto, pontuado com rosnados.

Logan pareceu preocupado pela primeira vez desde que evitou que uma

espada perfurasse as minhas costelas.

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33

— Os cães nunca conheceram um Hound antes. — disse ele sem jeito.

Mesmo com meu conhecimento limitado sobre ele, eu sabia que, de fato, ele

não era muito ruim. Era agradável, mais que seus sorrisos encantadores.

Subi as escadas com confiança. Cães não escondem os seus humores,

não jogam jogos de costumes ou intriga. A mão de Logan estava na maçaneta

da porta. — Não há necessidade de se preocupar. — eu assegurei a ele.

Senti-me melhor com três enormes Bouviers peludos me rodeando. Se

Benoit ainda estivesse vivo, ele teria mostrado a língua para eles. Eu não

falei com os cães, apenas direcionei-lhes um olhar. Eu apenas mantive minha

posição e deixei-os cheirar-me uma vez antes de estalar os dedos e apontar

para o chão. Três traseiros peludos bateram no chão de mármore.

Logan ficou boquiaberto. — Cara.

Percebi pelo seu tom que ele ficou impressionado. Quando eu tinha

certeza que os Bouviers aceitaram que sou superior na hierarquia do bando,

deixei Charlemagne passar por mim para que eles pudessem se conhecer.

O hall de entrada era espaçoso, cheio de botas, casacos e bolsas. As

lâmpadas e os candelabros ao redor estavam acesos. Tentei não encarar. Eu

ainda estava meio impressionada com a eletricidade. Eu poderia ter

acordado no século XXI, mas eu ainda morava em uma caverna com todas as

comodidades parecidas com as da Idade Média. Recentemente permiti a

Magda arranjar um celular para mim, mas ainda não estou inteiramente

certa de como funciona corretamente. A primeira vez que tocou, tentei

enfiar uma estaca nele.

— Whoa. — uma menina interrompeu a minha inspeção. Assumi que

ela era Lucy, como era a única com batimentos cardíacos. Eu me lembrava

vagamente dela da noite que Solange sofreu a mudança, a qual ficou próxima

a ela e tentou chutar quem se aproximava. Não foi inteiramente bem

sucedida, mas nunca desistiu. — Você deu Hypnos aos cães ou algo assim?

— perguntou ela. Tinha cabelo castanho de corte no queixo e olhos

castanhos por trás dos óculos escuros. Usava uma quantidade excessiva de

joias de prata e turquesa. Tinha uma bolsa pendurada do ombro esquerdo ao

quadril direito. Não era para colocar um telefone celular ou gloss, mas sim

para estacas.

Dois vampiros seguiram-na para fora da sala de estar, Solange, a

quem eu tinha visto pela última vez deitada, pálida e morta nos braços de

Montmartre, e outro de seus muitos irmãos. Os dois pararam, me olhando

Page 34: Drake chronicles 02 blood feud alyxandra harvey

34

cautelosamente. Lucy demorou um pouco mais. Ela olhou para eles e então

para mim.

— O quê? O que eu perdi? — ela parecia descontente. Inclinou a

cabeça. — Ei, nós conhecemos você. Isabel, né?

— Isabeau. — eu corrigi rigidamente. Eu odiei quão educada e

pomposa eu soei. É como fui criada, mas eu sabia muito bem que este não

era o jeito das pessoas modernas da minha idade, vampiros ou não.

— Legal. — ela aprovou. — Você não se parece com uma Isabel de

qualquer maneira. Eu sou Lucy, e este é Nicholas. Há muitos deles que às

vezes é difícil de acompanhar. Ela disparou para frente, com os braços

abertos. Eu tropecei para trás, esperando uma estaca, dobrando os joelhos

em um agachamento de luta. — Ah, desculpe. — disse ela. — Eu estava indo

abraçá-la por salvar a vida da minha melhor amiga. Eu acho que você não é

do tipo que abraça.

Parecia que Logan estava reprimindo uma risada. Solange e Nicholas

ainda não tinham dito uma palavra. Lucy voltou a olhar para eles. — O que

há de errado com vocês dois? Ela salvou a vida de Solange. — a ironia de que

a humana estava mais confortável perto de mim do que os outros vampiros

não fazia sentido para mim.

— Sou uma Hound. — eu murmurei.

Lucy deu de ombros. — Você poderia cantar canções de alguma banda

de garotos durante todo o dia que eu não me importaria. — ela estremeceu.

— Não há chances, né? — isso pareceu afetá-la mais do que o fato de que os

Hounds eram acusados de ser assassinos loucos.

Logan revirou os olhos. — Eu não acho que ela tenha visto alguma

banda de garotos, Lucy.

— Mas você usa miçangas de osso. — disse ela, ignorando-o e

balançando as pontas penduradas nas tranças torcidas na nuca do meu

cabelo. — Maneiro. — ela inclinou a cabeça.

— Você não parece louca.

— Você é como um trem desgovernado. — Logan gemeu para ela. —

Você não pode calá-la? — ele pediu suplicante, a seu irmão.

— Como? — disse Nicholas, um pouco desamparado.

— Beije-a, seu idiota.

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35

Acontece que aprecio a honestidade, por isso era impossível não

gostar dela. Ela me lembrou um pouco de Magda. — Acho que você também

não parece louca. — disse a ela.

Nicholas resmungou. Ela deu-lhe uma cotovelada no estômago. —

Seja legal.

— Você primeiro. — esfregou o esterno. — Ai.

Solange adiantou-se. — Sinto muito. — disse ela calmamente. — Você

me pegou de surpresa. — lambeu os lábios. Ela ainda parecia frágil, para um

vampiro, de qualquer jeito. Eu me perguntava como ela poderia resistir à

tentação dos batimentos cardíacos de Lucy enchendo a casa. — Obrigada. —

disse ela. — Estou em dívida com você.

— Nós todos estamos. — Nicholas concordou.

— Não foi nada. — desviei o olhar, envergonhada. — Não temos amor

por Montmartre.

— Imbecil. — murmurou Lucy. Ela adiantou-se, quebrando o silêncio

desconfortável, ligando seu braço com de Solange e com o meu;

cautelosamente. Surpreendentemente, eu a deixei.

— Vamos lá. — disse ela, alegremente. — Vocês podem me ver

comendo chocolate.

A porta da frente abriu-se atrás de nós.

— Solange, você está...

Ele não terminou o seu cumprimento.

Era um caçador de vampiros.

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Capítulo Três

Eu não pensei, só reagi.

Um agente da Helios-Ra não deveria ser capaz de romper a segurança

da casa dos Drake agora que são a família reinante, especialmente quando o

mesmo tinha um braço quebrado. Eu não poderia considerar-lhes a minha

família governante particularmente, mas não ia deixar Solange ser estacada

por um caçador após todas as dificuldades que eu tinha passado para salvá-

la.

Chocante. Eu era a única que se sentia assim.

Se eu tivesse um momento para perceber a reação deles, ou a falta

dela, poderia ter pensado nisso. Eles simplesmente olharam para o intruso e

agora estavam positivamente horrorizados porque eu estava voando pelo ar,

com as presas arreganhadas.

Não gosto de caçadores.

Este foi rápido, eu poderia dizer isso. Ele colocou os clips de nariz que

pendurava em seu pescoço e levou muito menos tempo para perceber que

eu atacava do que os outros. O olhar de surpresa em seu rosto poderia ter

sido cômico se não tivesse tentado alcançar o botão de liberação do pó

Hypnos. Eu sabia que estava escondido em sua manga. Uma vez que o

segredo foi revelado sobre sua nova droga, ele se espalhou como fogo

selvagem através dos informantes.

— Não! — Solange gritou, mas eu não tinha certeza de para quem ela

estava gritando.

Caí na frente do caçador antes que o pó Hypnos elevasse em frente a

ele, só um pouco. Agachei-me e rolei para fora do caminho. Eu nunca tinha

realmente experimentado Hypnos, mas tinha ouvido falar bastante sobre

para querer evitá-lo. Havia sido criado pela Helios-Ra como mais uma arma

em seu arsenal na luta contra a nossa espécie.

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Os feromônios de um vampiro poderiam confundir os seres humanos,

poderiam fazê-los esquecer o que tinham visto ou feito, e poderiam até fazê-

los sucumbir a nós, sem a menor ameaça de violência, se o vampiro fosse

bastante forte. A Helios-Ra tinha ficado cansada das batalhas terminando

com os seus caçadores vagando perplexos e sem armas, ou simplesmente

mortos, enquanto esperavam humildemente por uma presa ou uma faca.

Certamente nem todos os vampiros eram tão civilizados quanto os Drake

pretendiam ser.

E agora o pó Hypnos estava começando a viajar entre as tribos de

vampiros, tornando-nos vulneráveis de uma maneira que nunca tínhamos

sido antes. Os outros feromônios não funcionavam em vampiros, mas

Hypnos, sim ele funcionava.

Eu não tive tempo de cobrir o nariz e a boca. O pó era tão fino, como o

delicado açúcar de confeiteiro em uma torta envenenada. Tentei alcançar

uma de minhas estacas, com os dedos atrapalhados.

— Não. — o caçador disparou. — Não se mexa. Quieta.

Eu apenas recebia ordens de Kala. Eu tentei pular sobre os meus pés,

mas não consegui. A droga era realmente tão nefasta quanto eu tinha ouvido

falar. Ele ordenou que eu ficasse onde estava, e isso era tudo que eu podia

fazer, nem podia mexer a boca para falar. Mesmo que cada parte de mim

gritasse pela liberação, todos os músculos doíam com a pressão e minha

mente tagarelava como um texugo acuado, com todos os dentes e garras e a

necessidade de violência.

Mas tudo que eu podia fazer era ficar ali.

Charlemagne estava em cima de mim, rosnando, pelos eriçados. Os

cães dos Drake rosnaram em resposta, mas claramente ainda não tinham

decidido quem era o inimigo.

Logan tentou se aproximar de mim, movendo-se devagar e com

cautela. — Isabeau, não entre em pânico.

Não entre em pânico? Não entre em pânico? Eu estava praticamente

presa dentro de meu próprio corpo, incapaz de fazer o que eu queria. Estava

à mercê de vampiros reais e um caçador.

Sou uma idiota.

Não tinha aprendido nada com Kala para me proteger nesta situação

depois de deixar as cavernas dos Hounds. Eu, provavelmente, merecia

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38

morrer aqui em uma nuvem de poeira. Mas isto deixaria Greyhaven livre,

minha primeira e segunda morte, totalmente impunes. Inaceitável. Na

verdade, eu rosnava como os cães, com a minha necessidade desesperada de

ser livre.

— Isabeau, me escute. — Logan se agachou para olhar para mim, pois

Charlemagne não iria deixá-lo chegar mais perto. Seus olhos estavam muito

verdes, muito intensos. Sua mandíbula estava apertada. Atrás dele, Solange

tocou o braço do caçador, como se ela estivesse preocupada com ele. Ele

pegou a mão dela em resposta.

Esta família não faz sentido.

— Os efeitos vão desaparecer em breve. — Logan prometeu-me

suavemente, dando-me toda a sua atenção. A luz das lâmpadas fez sua

gravata parecer neve congelada. — Você não corre nenhum perigo. Não vou

deixar nada acontecer a você.

Olhei pra ele, e depois por cima de seu ombro incisivamente. Ele

lançou à sua irmã e seu caçador um olhar breve. — Kieran é um amigo. —

explicou. — Ele não vai te machucar, eu prometo.

Eu queria dizer a ele que eu podia cuidar de mim mesma.

Mas eu não podia.

Eu nunca poderia perdoar a qualquer um deles por me ver assim.

— Sinto muito. — Solange disse a Kieran, e então para mim. —

Realmente. Ele não é como os outros Helios-Ra. — Kieran não parecia

particularmente lisonjeado com isso. Ele usava o dedutível preto como a

maioria dos caçadores. Ele parecia como os outros Helios-Ra para mim. —

Ela é uma Hound? — perguntou ele, parecendo surpreso. Seu braço estava

envolto em um molde macio.

— Ela é uma convidada. — Logan disparou. Lucy agachou ao lado

dele, olhando simpática. Charlemagne não se mexeu. Uma gota de sua saliva

bateu no meu pescoço.

— Eu sei que é uma merda, Isabeau. — disse Lucy. — Kieran fez isso

comigo há duas semanas.

— Merda. — ele murmurou. — Vocês tinham me amarrado a uma

cadeira.

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Lucy fez um gesto como se isso não fosse uma desculpa suficiente. —

Tanto faz. — ela virou-se para mim. — Você vai se sentir normal novamente

em alguns minutos. Prometo. — ela quis dizer o que disse, eu podia sentir o

cheiro da verdade nela, mesmo que eu não estivesse totalmente convencida.

Eu não podia aguentar o jeito que todos estavam olhando para mim.

Sabia o que deveria parecer em meus couros de batalha, minhas cicatrizes,

minhas presas duplas; e meu cão raivoso do meu lado. Estava orgulhosa por

ser serva de Kala, por ser uma Hound, mas o resto das tribos de vampiros

evidentemente não nos via da mesma maneira.

— Vamos dar-lhe algum espaço. — disse Logan em silêncio, como se

ele soubesse o que eu estava pensando. — Vou ficar aqui. Por que o resto de

vocês não espera na sala.

— Você tem certeza? — Solange perguntou.

— Vão acho que ela vá ficar muito contente quando sair disso. —

acrescentou Kieran duvidosamente.

— Apenas vão. — Logan quase suspirou.

Quando eles saíram, foi um pouco menos horrível. Eu preferiria estar

completamente sozinha. O pensamento de Logan me vendo como uma fraca

não me agradou. Mas, ainda assim, houve certo tipo de conforto com a sua

presença, que não fazia sentido, uma vez que acabara de conhecê-lo. Deve

ser outro efeito do Hypnos.

Tentei me mexer de novo, mas não conseguiu. Eu podia falar,

entretanto, o que foi um alívio. Deve estar começando a passar. —

Charlemagne. — murmurei. — Ça va23.

Ele sentou no meu pé, obediente, mas não convencido. Logan ficou

onde estava.

— Você quer que eu te leve lá para cima ao seu quarto? — perguntou

ele.

— Não. — eu disse duramente. Eu não era uma flor delicada, havia

sobrevivido à Revolução e estive enterrada por mais de 200 anos. Podia

lidar com mais dez minutos deitada no chão. É melhor não demorar mais do

que dez minutos. Embora eu não conseguisse lembrar exatamente o que era

como estar em um caixão, eu imaginava que me sentia um pouco como isso.

23ça va (Frances) significa: tudo está bem.

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Eu estava contente por ter superado isso, ou deitada em coma durante

séculos. Suor acumulou-se sob o meu cabelo, frio na parte de trás do meu

pescoço. É preciso muito para fazer um vampiro suar. Minha expressão deve

ter sido selvagem, pois Logan amaldiçoou.

— Não é assim que pretendíamos apresentá-la à nossa família. Espero

que você não use isto contra nós por muito tempo. O caçador é um pouco

exuberante. Ele não está acostumado a nós ainda.

Eu bufei quando o controle sobre a minha voz finalmente voltou. —

Eu não posso acreditar que um caçador da Helios-Ra sinta que possa apenas

entrar pela porta da frente.

— Ele e Solange ficaram..., próximos.

— Ela tem um desejo de morte? Nós não a salvamos para entregá-la

aos desejos deles.

Ele balançou a cabeça, seus cabelos despenteados caindo sobre a testa

pálida.

— ...Ele a ama. Bem, ele está apaixonado, de qualquer modo.

Eu não conhecia o termo, mas eu entendi o seu significado bem o

suficiente. Eu suspirei.

— Pensei que ela fosse mais inteligente.

Ele ergueu as sobrancelhas. — Ela é muito inteligente. — ele olhou

pensativo. — Você não acredita no amor, então?

— Não. — eu queria olhar para longe, não podia. — Eu não sei.

Seu sorriso era decididamente dissoluto. Eu tinha visto isso em jovens

aristocratas na casa do meu tio. Eu tentei ignorá-lo. Flexionei meus dedos,

mas não era capaz de fazer muito mais.

Quando a porta da frente se abriu, tanto Charlemagne quanto eu,

ficamos tensos. Lutei para sentar-me, para alcançar uma arma, qualquer

arma. Logan se levantou e ficou entre mim e os recém-chegados. Os quatro

que entraram tinham que ser seus irmãos, as semelhanças físicas eram

muito pronunciadas. Charlemagne resmungou, levantando-se novamente.

Eles pararam no meio da conversa, olharam para a menina selvagem

prostrada no mármore.

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Eu apertei os dentes. Esta dificilmente era a maneira de fomentar o

respeito pela minha tribo.

— Logan. — um deles demorou. — Sua técnica está declinando se

você precisa de cães para impedi-las de fugir.

— Muito engraçado, Quinn. — Logan murmurou. — Esta é Isabeau.

Eles congelaram olhando um para o outro.

— Isabeau, meus irmãos: Quinn, Marcus, Connor e Duncan. Sebastian

ainda está nas cavernas.

— Un plaisir24. — eu disse secamente. Meu treinamento de Hound

pode não ter me preparado para ser cortês, sob qualquer circunstância, mas

a minha educação aristocrática tinha.

— Prazer em conhecê-la. — Connor piscou. — Por que você está no

chão?

— Hypnos. — disse eu.

Quinn bufou. — Cara, Hypnos e cães? Eu pensei que você era a pessoa

que deveria ser boa com as meninas, Darcy25. — eu reconheci o apelido. Eu

tinha lido vorazmente quando eu tinha me acostumado ao meu novo corpo e

seus apetites. Eu precisava me acostumar com as centenas de anos de

história também.

— Cale a boca. — disse Logan. — Kieran soprou Hypnos sobre ela.

Quinn arreganhou as presas. — Por que diabos ele fez isso?

— Bem, para ser justo, ela tentou chutá-lo na cabeça.

Quinn sorriu para mim. — Eu já gosto de você.

Tentei levantar novamente. Eu não podia ficar lá por mais nenhum

segundo, enquanto eles olhavam para mim com curiosidade. Estava muito

ansiosa para poder retirar as minhas presas duplas. Se eu fosse humana,

teria hiperventilado até agora. Logan olhou para mim, amaldiçoando.

24Um prazer em francês.

25*Ele se refere ao Mr. Darcy de Orgulho e Preconceito de Jane Austin.

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— Eu vou levar você lá para cima. — ele murmurou. — Chame o seu

cão. — acrescentou ele, escavando-me em seus braços. Charlemagne estava

ali, pressionado os joelhos de Logan.

— Ça va. — eu sussurrei, mesmo que eu não tivesse certeza se

acreditava inteiramente. Charlemagne trotou ao nosso lado quando Logan

subiu as escadas, carregando-me suave e facilmente. Eu fiquei envergonhada

e agradecida. As emoções contraditórias não faziam a atual situação mais

fácil de lidar.

— Eu sei que você disse que não quer que eu faça isso. — ele

sussurrou. — Mas é melhor do que todos os meus irmãos fazendo piadas

sobre sua cabeça; certo?

Eu balancei a cabeça, porque eu não confiava em minha voz. O fato de

que eu pudesse movimentar a minha cabeça o suficiente para concordar com

ele foi animador. Ele percebeu o pequeno movimento.

— A qualquer momento. — prometeu.

O segundo andar da casa cheirava ainda mais como fumaça e água. A

parede em frente estava fracamente queimada. Ele seguiu o meu olhar.

— Esperança. — ele disse de forma sucinta.

Esperança comandou uma unidade perigosa da Helios-Ra, que tinha

raptado Solange e tentou queimar a fazenda de seus pais. Isto só tinha sido

há uma semana no máximo, e os prejuízos ainda eram visíveis.

Logan me levou a um corredor e chutou uma porta aberta para um

quarto de hóspedes. As janelas tinham persianas espessas de madeira com

fortes fechaduras de ferro no interior. Havia uma estreita escrivaninha e

uma cadeira acolchoada perto da lareira. A cama de mogno era enorme e

com aparência macia, com uma geladeira pequena e discreta no final da

mesa. Eu sabia que seria abastecida com sangue. Eu ainda era jovem o

bastante para precisar me alimentar imediatamente ao acordar, algo que

todas as crianças Drake também deviam estar lidando. Isto melhorou

drasticamente a minha opinião sobre as suas capacidades de hospedagem

até o momento.

Logan me deitou suavemente na cama, inclinando-se tão perto que eu

podia ver as manchas verdes mais escuras em sua íris. Engoli em seco.

— Eu sinto como se te conhecesse. — ele murmurou. — Isso é

estranho?

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Eu não sabia o que dizer. Charlemagne pulou para deitar ao meu lado

na colcha, quebrando o momento antes que eu pudesse encontrar uma

resposta. Logan deu um passo atrás.

— Vou te deixar sozinha. — disse ele. — Quando Lucy saiu do Hypnos,

quebrou o nariz de Nicholas. Eu aposto que você tem um forte impulso e

acontece que eu gosto do meu nariz exatamente onde ele está. Ninguém vai

incomodá-la. — acrescentou ele ferozmente.

— Desça quando estiver pronta. Estarei esperando.

Ele se curvou. — Mademoiselle.

A porta se fechou silenciosamente atrás dele. Quando eu pude ouvir

seus passos descendo as escadas para a sala, permiti a mim mesma um

suspiro muito pequeno. Charlemagne inclinou a cabeça curiosamente.

— Isso não está indo de acordo com os planos. — eu disse a ele.

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Capítulo Quatro

Meus irmãos são uns idiotas.

Qualquer um pode ver que por sob as cicatrizes e a atitude, Isabeau é

mais frágil do que parece. E como uma solitária Princesa Hound, sua

primeira apresentação à família Real não devia ser com uma dose de Hypnos

e quatro idiotas encarando-a como estúpidos.

Se eu conseguia não fitá-la como um estúpido, certo como um inferno

que eles também podiam fazer; ela era formosa, fera e completamente

diferente de qualquer uma que jamais houvesse conhecido.

Era realmente difícil não fitá-la como um estúpido.

Era muito melhor passear fora da sua porta enquanto um dos nossos

Bouviers26 me observava com curiosidade, sentado no alto das escadas.

— Isto é uma merda, Boudicca. — lhe disse. — Não acredito que a

diplomacia de papai seja hereditária.

Ela colocou sua mandíbula sobre suas patas. E podia ter jurado que

ela rodou seus olhos.

Rondei a porta de Isabeau por outros quinze minutos até que comecei

a me sentir um perseguidor. Solange veio pelo corredor de seu quarto e me

encontrou nas escadas.

— Ela vai ficar bem, Logan.

— Eu sei.

Ela inclinou sua cabeça. — Trocou de camisa?

— Não.

26Bouviers: é uma raça de cão nativo da região dos Flandres, onde é conhecido como Bouvier des Flandres em

francês e Vlaamse Koehond em flamenco. Tradicionalmente usado como um cão pastor de gado e como um cão

de guarda. É um cão grande com o corpo coberto de pelos longos e abundantes.

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— Trocou sim, totalmente. — ela sorriu. — Pena que sua namorada

tentou matar ao meu namorado.

Bufei. — Pena que ele lhe lançou drogas. E ela não é minha namorada.

Simplesmente a encontrei. E poderia baixar a voz?

Ela arqueou uma sobrancelha. — Nunca tinha te visto dessa maneira.

— Cala a boca, Princesa. — fiz uma careta zombeteira. Ela estreitou os

olhos para o termo "princesa".

— Terá todas as suas camisas tingidas de rosa. — ela ameaçou.

Simplesmente sorri. — Continuaria com bom aspecto.

Ela se deteve na descida, sua expressão se voltou séria. — É certo que

um assassino tentou estacar a mamãe?

— Quem te disse isso?

Ela empurrou meu ombro. Forte.

— Ow. — eu disse, esfregando o hematoma. — Por que fez isso?

— Por pensar que sou uma estúpida e evitar me dar uma resposta.

— Não acredito que seja uma estúpida.

— Então deixe de tentar me proteger, Logan.

— Não.

Ela fez um som de frustração na parte traseira de sua garganta.

Suspirei. — Bem. Sim. Uma garota tentou estacar a mamãe. Ninguém

foi ferido.

— Montmartre?

— Sim, usava uma insígnia dele. — odeio admiti-lo. Especialmente

quando sua cara se voltou dura e seus olhos planos. — Mas estacou a si

mesma antes que pudéssemos obter alguma resposta.

— Merda. — ela esmurrou a parede, sacudindo ruidosamente o

candelabro de cristal em cima de nós. — Está tentando me fazer Rainha

matando a mamãe.

— Assim que parece. — admiti. Coloquei um braço em seu ombro. —

Mas isso não vai acontecer.

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Ela esfregou seus braços como se tivesse frio. Os vampiros realmente

não sentem frio, assim, era mais hábito do que necessidade. — Espero que

tenha razão, Logan.

— Eu sempre tenho razão.

Ela riu entre dentes, o qual era minha intenção. — Cuidado, logo será

tão vaidoso quanto Quinn.

— Ninguém é tão vaidoso quanto Quinn. — Lucy disse do pé das

escadas. Ela estava carregando um copo de chocolate quente e um montão

de biscoitos. Tomando vantagem de sua estadia conosco, estava se atirando

no açúcar e no fastfood. Ela tinha mais problemas ao pensar na caçarola de

tofu da sua mãe que o fato de todos aqui frequentemente beberem sangue.

— Onde estão todos? — perguntei. O fogo crepitava na lareira, mas a

sala estava vazia. Assim como a cozinha.

— Fixando a parede exterior. — Lucy respondeu.

O lado norte da fazenda era uma bagunça de lenha carbonizada e

estropiada pela água. O contorno da varanda havia pegado o peso do ataque

quando Hope fugiu do quarto e voltou com seus agentes loucos e desonestos

da Helios-Ra.

Bruno passou muito tempo nas lojas de departamentos, desde então,

resmungando em seu celular, para nosso constrangimento, que havíamos

começado a escutar ruídos no bosque, assim, ele permanecia em casa e

patrulhava os perímetros. Hope tinha muito ao que responder. Igual a

Montmartre. Realmente uma merda não termos tido uma oportunidade para

fazê-los pagar horrivelmente e prolongadamente. Frustrar seus planos não

parecia ser o suficiente. Um pouco de vingança poderia ter sido agradável,

apesar do que papai disse em seu discurso de "reconstrução mais forte".

Para dizer a verdade, todos nós estávamos simplesmente contentes que

Solange havia sobrevivido à troca de sangue e às várias tentativas de

sequestrá-la ou matá-la.

Estava feliz porque já não tinha dezesseis anos.

Porque ao ter dezesseis anos em nossa família apenas se pensa em

morder.

— Suponho que deveríamos ajudá-los. — disse relutantemente. O

trabalho manual era brutal em escapar.

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— Demônios; sim deveria. — Nicholas gritou, surgindo do sótão com

uma caixa de ferramentas extras e uma serra. Lucy lhe sorriu enquanto ele

fechava de novo a porta aberta.

— Cinturão de ferramenta. — ela disse, lambendo o chocolate quente

de seu lábio. — Hmm.

O vento mudou e pude cheirar o sangue quente movendo-se por baixo

de sua pele. Todos nós podemos. Nicholas deu um passo para trás,

parecendo vagamente ferido.

Ela franziu o cenho. — O que acontece com você? Parece como se

tivesse náuseas.

— Estou bem. — ele disse através de seus dentes. — Fique aqui

dentro. Não é seguro.

Ela rodou seus olhos. — Deixe de se preocupar. É perfeitamente

seguro, está você e um zilhão de guardiões.

— Isso não é o que queria dizer. — ele murmurou, voltando para o

exterior, dentro das sombras para se ocupar ele mesmo de um montão de

lenha cortada.

A tensão fez com que os tendões da parte traseira de seu pescoço se

tencionassem. Lucy lhe seguiu com o olhar por um longo momento antes de

fechar a porta atrás dele.

O segui, pegando uma garrafa térmica de aço inoxidável cheia de

sangue da geladeira. Joguei-a. Ele pegou e se voltou para beber. Não é fácil

para um vampiro jovem resistir ao sabor do sangue humano fresco.

Inclusive era mais difícil quando sua nova namorada ficava em sua

casa enquanto lutava para acalmar sua prejudicial sede. Agora que Solange

estava recém-transformada, havia começado a sentar-se no final oposto da

habitação e Lucy havia sido forçada a mudar-se a um dos quartos de

hóspedes, com tranca dentro da porta. Nós crescemos com ela e nunca a

machucaríamos intencionalmente, mas um vampiro jovem era mais animal

que humano em um desses momentos de vigília depois que o sol se põe. Era

um tipo de classe imperativo biológico27. Nosso corpo nos forçava a beber o

que nossos cérebros lutavam contra. Do contrário, morreríamos.

27Os imperativos biológicos são as necessidades dos organismos de vida requerem para perpetuar sua

existência: para sobreviver.

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— Hey, homem, o está fazendo bem. — disse a ele silenciosamente

enquanto ele limpava sua boca com o dorso de sua mão.

— Ela não entende. — disse. — Não realmente.

— Ela entende mais do que ninguém jamais poderia.

— Mesmo assim.

— Sim. — adicionei. — Mesmo assim.

Quinn, Connor, Marcus e Duncan estavam arrancando a parte das

lenhas que era irresgatável. Peguei um martelo e tentei não estar consciente

de Isabeau dentro da casa.

Nicholas passou uma mão por seu cabelo; frustrado. — Quando isso

tudo ficou tão complicado?

— As garotas sempre são complicadas. — lhe disse. — Você sabe

disso.

Ele deu um meio sorriso. — Algumas mais do que outras.

Pensei nas cicatrizes dos braços de Isabeau e o olhar encantado em

seus olhos. — E nisso tem razão.

Colocamo-nos a trabalhar, principalmente seguindo as indicações de

Duncan, porque ele quase tinha uma pista de como levantar uma parede.

Quando precisamos de gesso, por alguma razão que realmente não

pude entender, fui para a garagem encontrar algo. No meu caminho de volta,

me detive, de repente senti arrepios.

Um ruído no bosque.

Algo quieto, sutil.

E não desejado.

Não podia alertar meus irmãos sem alertar a quem quer que estivesse

espreitando no bosque também. Coloquei o balde de gesso em pé e retornei

para a porta principal do outro lado do caminho. Olhei com atenção para as

sombras das roseiras e cedros. A fraca luz da lua refletia no Jeep na estrada.

As lâmpadas queimavam suavemente nas janelas. Senti o cheiro de rosas, os

troncos de carvalho recém cortados, sangue e lírios.

Os lírios nunca eram um bom sinal.

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Montmartre cheirava a lírios. E enquanto duvidava que ele estivesse

vagando pelo bosque fora de nossa fazenda, não tinha problemas em

acreditar que ele havia enviado servos para fazer seu trabalho sujo.

Ele ia atrás de Solange outra vez, justo como ela havia dito.

Ele a queria fazer Rainha, como a velha profecia afirmava e o mais

importante, ele a queria fazer sua Rainha. Ele pensava que poderia mandar

no lugar dela, usando-a como uma suplente sem autoridade. E depois desta

noite, ele aparentemente pensou que se tirasse mamãe do caminho, Solange

tomaria o controle.

Ele não conseguiria as mulheres Drake assim.

Realmente desejava que o estacassem.

Eu estaria encantado de fazê-lo..., se ele simplesmente permanecesse

imóvel por muito tempo.

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Capítulo Cinco

Quando pó de Hypnos finalmente se dissipou, foi rápido como o

relâmpago de verão. Coloquei-me de pé como se tivesse sido eletrocutada.

Charlemagne latiu uma vez e eu soltei uma gargalhada. A capacidade de

controlar meus membros novamente era embriagadora. Sentia-me como

uma debutante em seu primeiro baile. Até mesmo o celular que vibrava em

meu bolso não me irritou.

— Magda. — sorri para o aparelho receptor. Ninguém mais poderia

estar me ligando.

— Isabeau? É você? — Magda perguntou.

— É claro, quem mais poderia ser? — estiquei-me para me assegurar

de que podia fazê-lo. Depois fiz um salto mortal.

— Você está rindo? — perguntou-me com incredulidade. — O que te

fizeram?

— Hypnos.

Houve uma pausa e uma tosse afogada. — E isso é divertido, por quê?

— Não é. — eu lhe assegurei. — Mas o efeito acaba de desaparecer.

— Está com problemas? O que estão te fazendo? Não sabem que você

é uma Princesa, ou o que seja? Vou buscar Finn.

— Não! — a detive antes que pudesse colocar-se a caminho. — Estou

bem. Foi um acidente.

— Tem certeza? — pressionou-me com receio. — Eles não são como

nós, Isabeau.

— Eu sei. — disse. — Acredite em mim. Mesmo seus seres humanos

são estranhos. — mesmo que eu não tivesse conhecido muitos seres

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humanos desde que tinha sido tirada do túmulo, mas tinha certeza de que

Lucy era única.

— Têm humanos aí?

— Uma garota e alguns guardas.

— Você provou-a?

— Não acho que isso lhe agrade. — quase podia imaginar a cara de

Nicholas.

— O Hypnos é tão ruim quanto dizem?

— Sim. — esse não era um momento para hesitação. — Pior ainda.

— Bastardos.

— Mantenha a voz baixa. — eu lhe disse. — Supõe-se que nós

devemos estar aqui como Diplomatas. Lembra?

Magda bufou. — Não sou do tipo Diplomata.

Bufei, sentindo-me melhor. — Eu sei. — antes que me aceitasse como

irmã, Magda estava com ciúmes por minha proximidade com sua mentora,

Kala. Tentou cortar meu cabelo em um ataque de ressentimento. Depois eu

quebrei seus dedos, e desde aí, tinha se tornado muito próxima a mim e

imensamente leal desde então.

— Como estão as coisas por aí? — perguntei.

— Os Drake estão bem, até agora. — ela admitiu de má vontade. —

Mas a maioria dos outros cortesões não quer que estejamos aqui.

— Devo ir? — perguntei preocupada.

— Por mais que eu preferisse que você estivesse aqui, estamos bem.

Nós nos vemos amanhã. Vou ouvir o máximo que possa até então.

— Bem. — ela era muito hábil nisso. — Farei o que puder aqui.

— Cuide das suas costas.

— Você também.

Deslizei o celular de volta ao meu bolso e então olhei cuidadosamente

o cômodo, procurando armadilhas, as frestas na persiana de madeira

podiam deixar entrar a luz do sol, nada fora do comum. Inclusive cheirei o

sangue na geladeira, e cheirava bem. Eu parecia uma paranoica, mas nós, os

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Hounds, estávamos acostumados a cuidar de nós mesmos. Entre

Montmartre, seus Hosts e o desprezo do resto da comunidade de vampiros,

não podíamos nos dar ao luxo de baixar a guarda.

E eu não podia me sentar neste cômodo por muito mais tempo. Tinha

trabalho a fazer. — Vamos. — disse a Charlemagne, empurrando a porta. —

Em frente.

Em um primeiro momento, tinha planejado descer as escadas, mas

mudei de rumo quando ouvi o bater do coração humano de Lucy do lado

extremo da sala, ao redor do canto. Eu a encontrei de pé junto à janela, com

Solange.

— Isabeau. — Solange examinou meu rosto com olhos preocupados.

— Sente-se melhor?

Concordei com a cabeça. — Onde está seu caçador?

Ela estremeceu. — Foi para casa. Pensamos que era o mais

conveniente. — seus olhos passaram de preocupação a alerta. — Está sob a

proteção dos Drake.

— Igual a mim, ou isso me deram a entender.

— É claro que sim. — disse Lucy, com o nariz grudado na janela. —

Foi um mal entendido. Não é grande coisa.

Solange deu-lhe um meio sorriso. — Você poderia tentar formar

frases completas, Lucy.

— Não posso. Ocupada.

Apesar de tudo, estava curiosa. — O que está fazendo?

— Babando. — explicou Solange, com carinho.

— Completamente. — Lucy admitiu sem arrependimento. — basta

olhar para eles.

Lucy ficou de lado para me dar espaço. Ela estava observando cinco

dos sete garotos Drake consertando a parede externa do galinheiro debaixo

da nossa janela. Tive que admitir que era um quadro impressionante,

bonitos, pálidos e sem camisa, os músculos brilhando sob a luz da lua. Não

pude evitar procurar Logan, mas ele, bem nesse momento, estava se

afastando.

Solange apoiou-se contra a parede, aborrecida. — Já terminou?

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— Maldição, não. — disse Lucy. Ela tinha deixado vestígios de seu

nariz no vidro. Nicholas sorriu-lhe satisfeito. Ela corou. — Ooops, pega.

— Eu te disse que podia ouvir as batidas de seu coração. — disse

Solange. — Mesmo daqui de cima.

— Não posso evitar. Mesmo todos eles sabendo que são charmosos e

insuportavelmente arrogantes. — acrescentou falando mais alto. — Podem

ouvir isso?

— Sim.

— Bem. — ela me olhou. — Gostosos, não é?

— Tenho certeza que Isabeau prefere se recuperar, e não comer meus

irmãos com os olhos. — disse Solange. — Lembra-se de como você ficou mal

depois do Hypnos?

— Por favor. — Lucy riu. — Isso foi totalmente bobo.

Quando Lucy finalmente se deixou levar para longe da janela,

descemos para a sala principal. Uma das janelas estava fechada com madeira

e o cheiro de fumaça era espesso também. Lucy falava sem parar, o que foi

uma benção. Solange parecia tão reservada quanto eu, e sem a alegre

humana, eu teria me sentido desconfortável e tímida.

— Suas tatuagens são magníficas. — disse. — Estou desesperada para

conseguir uma, mas minha mãe está me fazendo esperar até que eu faça

dezoito anos. — ela fez uma careta. — Escolhem as coisas mais estranhas

para ser restritas. Quero dizer, mamãe tem três e papai uma. Não é

exatamente muito justo de sua parte, não é?

Meu vestido sem mangas deixava meus braços descobertos, os quais

tinham tatuagens escuras. Não tinha sido fácil conseguir que fossem

permanentes. Tinha tido que refazê-las em três ocasiões. O dom de cura

rápida dos vampiros eliminava a tinta e o carbono vegetal.

— Nunca vi um trabalho como esse. — ela continuou. — Você não foi

a um estúdio de tatuagens, certo?

— Não, Kala fez estas com carbono e uma agulha. — a maioria delas

foi feita no ritual que me colocava a seus serviços. Na primeira delas, haviam

feito antes que eu despertasse totalmente, depois que os cachorros me

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54

encontraram. Era um Galgo28 circulando meu braço esquerdo, prendendo

seu rabo em sua boca e estava enfeitado com um nó celta.

Todos os Hounds tinham uma igual. — Ouch. — Lucy fez uma careta

de dor ante o pensamento do lento processo da tatuagem. A maioria das

outras tatuagens também era de cachorros que perseguiam uns aos outros,

em meus braços, acentuados com enfeites de videiras. — Sem dúvida são

totalmente geniais.

— Eu não te dou medo. — não foi uma pergunta e sim uma

declaração. Ela se mostrou surpresa pelo que eu havia dito.

— Não. Deveria? Você salvou Solange.

— Até mesmo os vampiros, ficam nervosos quando estão perto dos

Cwn Mamau. — assinalei. Não estava certa do porque queria que ela tivesse

medo de mim. Pensei que era porque nunca tinha tido experiência com a

aceitação incondicional, pelo menos, não com os Revolucionários em Paris e,

não com os outros vampiros. Senti a necessidade de acotovelar a estranha

experiência, como se, se tratasse de uma dor de dente.

— É porque você usa ossos, faz rituais estranhos nas cavernas e tem

barro em seu rosto? — ela perguntou sorrindo. — Por favor, meus pais

fazem isso o tempo todo. Estão totalmente imersos em rituais shamânicos e

dançam nus sob a lua cheia.

— Isso explica tudo, certo? — Solange me olhou com um sorriso

tímido, convidando-me a desfrutar do momento.

— Ela é única... — eu concordei.

— “Ela” está bem aqui. — Lucy jogou sua queixa com bom humor. —

E inclusive com embananado ouvido humano, eu posso ouvi-las.

Era tudo muito surrealista. Como se minha vida tivesse dado um giro

diferente e o normal fosse estar sentada com as namoradas, usando vestidos

de seda fina, bebendo chá e comendo frangos. Assim como as coisas

estavam, nunca tinha feito isto antes. Perguntei-me o que estaria fazendo

Magda neste momento, se ela estava percorrendo as cavernas ou discutindo

com um guarda.

Apostaria que estava discutindo com algum guarda.

28 Os Galgos, também conhecidos como Lebréis, são cães esguios, originários de um tipo de cão primitivo

chamado Canis Familiaris Leineri, que tinha sua estrutura anatômica similar à das atuais raças de Galgos.

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— Posso te dar um conselho? —Lucy perguntou.

— Suponho que sim.

— Você tem um grande sotaque francês. Se um homem te pede que

use uma roupa de serviçal francesa, dê-lhe uma patada na canela.

— Especialmente se for um de meus irmãos. — concordou Solange.

Charlemagne começou a rosnar. Eu franzi o cenho para ele, avaliando

rapidamente todo o espaço em busca da fonte de alarme. Não pude

encontrar nada, até que houve uma batida na porta principal. Corremos pelo

vestíbulo, Lucy consideravelmente mais devagar atrás de nós. Solange olhou

pela vigia, e depois alcançou a maçaneta.

— Outro presente. — ela suspirou. — Honestamente, pensei que uma

vez que o pior dos feromônios se desvanecesse após a troca de sangue eles

desistiriam.

Na escada de entrada tinha um pacote envolto em papel laminado

vermelho, as pétalas de uma rosa branca espalhados ao seu redor. Ela

agachou-se para pegá-lo, mas eu segurei seu braço.

— Não. — disse. — É de Montmartre. Posso cheirá-lo nele. — me

aproximei dela, tentando alcançar minha espada. — Vá para dentro.

Não esperei para ver se ela tinha escutado, só chutei a porta em seu

rosto. Estava caminhando até a varanda quando uma sombra pálida estava

de repente ao meu lado.

Por pouco estive a ponto de decapitar Logan. Ele se inclinou para o

lado, fora do alcance de minha espada, com a graça de um bailarino. Seu

lindo rosto era sombrio.

— Há alguém no bosque. — ele disse.

— Eu sei. Host. — adicionei. Eu conhecia o cheiro, apenas perceptível,

o sangue, os lírios, e o vinho. O exercito pessoal de Montmartre sempre

cheirava igual.

— Fique aqui. — me ordenou.

— Sou um Hound. — eu lhe disse. — Isto é o que eu faço. Você fique

aqui.

— Como um inferno.

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— Então fique fora do meu caminho.

— Como um inferno. — repetiu.

Nós nos movemos como a fumaça entre os cedros e as árvores que

cobriam o caminho, até os campos que bordeavam do bosque. Mantive

minha espada muito baixa para que a luz da lua não emitisse reflexo algum

na lâmina e delatasse nossa posição. Charlemagne corria suavemente ao

meu lado, ansioso, mas em silêncio. As árvores se levantavam sobre nós com

seus vestidos de musgo, galhos coroados com folhas, corujas e falcões

adormecidos. O solo era mole sob nossos pés, as samambaias tocavam

nossas pernas e nosso caminho. Mesmo os insetos ficaram em silêncio, nem

um só grilo ou gafanhoto revelou sua posição. Apenas o rio cantava em voz

baixa, à distância.

Logan parou, sacudiu sua cabeça para a direita, com força. Segui seu

olhar e assenti para lhe dizer que vi o que ele viu.

Uma pétala de rosa branca, pisoteada no lodo.

Para alguém que usava punhos de renda quando não estava com o

torso nu, Logan sabia como rastrear. O vento mudou e queimou meu nariz. O

cheiro dos lírios com sangue era mais forte agora, espesso como o incenso.

Nós o seguimos, nos dividindo com um acordo tácito, no bosque de

carvalhos. Logan foi para a esquerda, eu fiquei à direita. Isto, pelo menos, era

algo com que eu me sentia confortável. Rastrear o Host era comum para

mim. Isto aderiu em minha pele, muito mais fácil que uma cortês conversa

de política real. Estava quase o desejando.

Havia dois deles que tinham ido, embora cheirasse como se tivesse

tido mais. Eram rápidos, mas não o suficientemente rápidos. Logan se

adiantou para bloqueá-los enquanto eu rastejava atrás deles. Um deles

sibilou.

— Você os ouve...

Não terminou sua pergunta. Em vez disso, ele virou com um pé para

mim com um olhar lascivo. Não perdeu tempo olhando de lado para trás, de

um só salto, eu lhe ataquei com minha espada que brilhava sob a lua.

— Um cachorro Hound. — cuspiu. — Um pouco longe de casa, não

acha?

— Não mais do que você.

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Virou com um punho pronto, confiante em sua força. Dancei para trás,

levantando uma sobrancelha em sua direção.

— Estar aos serviços de Montmartre te deixou gordo e pesado. — me

safei dele. Com seu rosto manchado de raiva, ele rugiu, atacando de novo. A

raiva lhe deixou desajeitado e fácil de evitar. Eu me movi rapidamente ao

seu redor como um colibri. Charlemagne estava ao meu lado, esperando um

comando.

Logan atacou seu companheiro antes que pudessem unir forças. —

deixe de brincar com ele e o destrua. — grunhiu, agachando-se enquanto

evitava uma adaga.

O Host que estava fazendo todo o possível para me quebrar; tinha

uma adaga similar, curvada e quase tão longa quanto uma espada. Não

tinham arsenais, nem sequer uma arma carregada com balas de água benta.

Essa era uma das armas favoritas dos Hosts, que as tinham copiado dos

Hélios Ra.

No entanto, estavam vestidos para caçar e se infiltrar, não para lutar.

Percebi estes detalhes indiferentes, enquanto me concentrava em mexer

meus pés. Nossos movimentos ficaram mais rápidos, mais cruéis, até que,

provavelmente, parecíamos como um borrão no ar, só uma secessão de cor,

como manchas de tintas em um lenço unido. Logan despachou seu oponente,

as cinzas voaram para as samambaias mais distantes. Agachou-se para pegar

algo da roupa que ficou para trás.

Esquivei-me de uma punhalada em meu coração, o remendo

costurado, de malha elástica, em meu casaco caía debilmente sobre meu

peito. Apontei para sua cabeça, me movendo com uma lentidão deliberada e

enganosa. Ele me bloqueou, se lançando para trás instintivamente. Tomei

vantagem de sua posição e me balancei, fazendo um corte em sua perna. Eu

o peguei de surpresa e ele cambaleou para trás, xingando. O sangue saiu

descendo por sua perna, espirrando no mato. Tentei dar-lhe um golpe fatal,

mas ele já havia ido embora, correndo pelo bosque. Provavelmente poderia

persegui-lo, seguindo o rastro dos pingos de sangue.

— Qual era o ponto? — Logan limpou o sangue de sua ferida no braço,

negando com sua cabeça. — Você é tão boa como dizem que é. — disse. —

Surpreende-me que não o tenha transformado em pó.

— É melhor dar-lhe um pouco de dianteira, por alguns minutos.

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— Por quê? Sua mãe não te ensinou que é grosseiro brincar com a

comida?

— Eu não beberia dele nem se estivesse morrendo de fome. Ele está

ferido e já vai voltar para seu esconderijo. Se tivermos sorte, o corte não

curará até que nos leve até lá.

Logan ficou me olhando, depois dirigiu seu olhar para o mata verde.

Ainda que devagar, o Host movia-se rápido o suficiente para não deixar

traços. Não voava, exatamente, mas sem dúvida flutuava, devido a sua

velocidade melhorada, o que era difícil de rastrear.

Muito mais difícil foi seguir o rastro de seu sangue, principalmente em

um denso bosque com diversos cheiros e as marca de vampiros e animais.

— Definitivamente estou impressionado. — pegou o celular de seu

bolso. — Permita-me fazer uma ligação e depois seguiremos o bastardo. Que

diabo queriam desta vez? Solange já se transformou.

— Montmartre. — disse categoricamente. — Deixavam um presente

para sua irmã na porta principal.

— Filho da puta. Isto é um símbolo dos Host? — mostrou-me o

pequeno disco de madeira que tinha arrancado das cinzas de seu atacante.

Estava gravado com uma rosa e três adagas. — A assassina que tentou fazer

pó da minha mãe esta noite, tinha uma tatuagem como esta.

— Nunca vi antes. — eu disse.

— Há algo mais acontecendo aqui, algo que nos escapa. — falou

secamente no celular e depois afastou o cabelo dos olhos. — Vamos.

— Eu posso fazer isto sozinha. — lhe assegurei. — Sou muito capaz.

— Mmm-Hmmm. — murmurou sem se comprometer.

Fugimos velozmente, mas não com tanta rapidez para nos delatar ao

que fugia, antes que tivesse tido a oportunidade de nos levar a nenhum lugar

interessante. Era um trabalho sem complicações.

A surpresa chegou em forma de pedaço de pano, cravado em uma

árvore de vidoeiro29 estreito, pálido como a neve brilhante. A seda era de cor

anil, antigo, desbotado pelos anos e com bordados de prata. A delicada

29O vidoeiro ou bétula é uma árvore até 25 m de altura, com ritodoma branco, destacando-se em anéis. Folhas

ovadas a triangulares.

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costura mostrava uma flor de lis e em uma ponta havia uma desgastada e

rasgada fita.

Conhecia aquele pedaço de seda, eu o conhecia intimamente.

Estremeci, buscando minha espada novamente.

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Capítulo Seis

O closet de sua mãe era o lugar favorito de Isabeau em todo o

chateau30. Ela amava esse lugar, inclusive muito mais que aos cachorros e os

estábulos, mais até que a dispensa onde o cozinheiro escondia os preciosos

pedaços de chocolate e os frascos de violetas confeitadas. Não a deixavam

entrar em nenhum outro lugar, assim que tratou, com todas as suas forças,

de ficar quieta e discreta; sentada sobre um banquinho azul de seda

enquanto as criadas de sua mãe revoavam entrando e saindo com os

cosméticos e os diversos trajes de noite.

Sua mãe, Amandine, estava sentada em frente à sua penteadeira,

aplicando pó compacto em suas bochechas. Seu cabelo estava recolhido

debaixo de uma elaborada peruca branca da qual caiam cachos em espiral e

enfeites feitos de miçangas e plumas reais. Isabeau havia escutado algumas

histórias sobre a beleza de Maria Antonieta e do visual incrementado de

suas perucas, algumas delas tão altas que ela tinha de se inclinar para passar

pelas portas. Isabeau não imaginava a rainha sendo mais bela que sua mãe,

ao menos, nessa noite. A roupa de baixo de Amandine estava cheia de tela

branca e seda enfeitada com pequeninos laços de cetim. O traje de noite que

ela havia escolhido para o baile dessa noite era da cor anil, como um céu de

verão ao entardecer. Os botões eram feitos de pérolas e os bordados de

prata, uma flor de lis31 rodeava o decote. O baile anual da Sra. Croix era

famoso em todo lugar; aristocratas viajavam de longe, inclusive de fora de

Paris, para assistir a ela. Em seus dez anos, Isabeau era muito jovem para se

integrar ao grupo, mas finalmente era suficientemente grande para, por

exemplo, se livrar da atenção de sua babá. Ela já havia encontrado um lugar

perfeito, dentro de um armário pintado com o olho de fechadura quebrado.

Ela poderia ver todos os finos trajes de noite, os broches de diamante e os 30Castelo em francês.

31A flor de lis (pré-AO 1990: flor-de-lis) é uma figura heráldica muito associada à monarquia francesa,

particularmente ligada com o rei da França. Ela permanece extra-oficialmente um símbolo da França, assim

como a águia napoleônica.

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cachorros com coleiras de ouro. Deu pequenos saltos, devido sua agitação. A

olhada que sua mão lhe dirigiu a fez, então, ficar quieta em um instante.

— Está muito bonita mamãe. — ela disse.

— Obrigada, chouette32. — Amandine sorriu para ela pelo espelho,

abotoando um colar com três fileiras de diamantes, pérolas e uma safira do

tamanho de um ovo de um pintarroxo33. Ela tomou um gole de vinho tinto,

secando seus lábios delicadamente com um guardanapo. — Acho que você é

mais bonita que a rainha e que nossa casa é melhor que Versalles. —

Amandine parecia divertida.

— Verdade que pensas assim, chouette?

— Todo mundo diz isso. — Isabeau assegurou-lhe com orgulho.

— Dizem que os nobres fazem xixi atrás das escadas, mamãe! Nós

nunca urinaríamos no piso. — Amandine riu. — Tem toda razão, Isabeau.

— Com exceção de Sabot. — ela se sentiu obrigada a admitir. — Mas é

só um cachorro.

A criada principal de Amandine tirou o traje de noite do cabide.

Madame Amandine se pôs de pé para que outra de suas criadas lhe

colocasse e abotoasse o corpete. O vestido deslizou por sua cabeça. Isabeau

se reclinou rapidamente para alçar a barra, assim ela não se prenderia na

borda da mesa. Era surpreendentemente pesada e ela se perguntou como

sua mãe podia suportar e se manter reta debaixo de tanto peso. Sua peruca

inclinou precariamente para um lado, logo ela a corrigiu com uma mão

muito cuidadosa.

— Francine. — disse. — Precisaremos de mais alfinetes.

— Sim Madame.

Quando a peruca foi presa novamente, Amandine virou para se

admirar no grande espelho móvel de corpo inteiro. — Oh, mamãe. —

sussurrou Isabeau. — Você é a mulher mais bela!

Quando fosse adulta, ia colocar cor em seus lábios e um pouco de cor

em suas bochechas assim como sua mãe.

32Coruja em francês.

33Pequeno pássaro da família do tentilhão. O pintarroxo comum vive na Europa e no norte da Ásia. Via de

regra, é castanho, com listras escuras no dorso.

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Amandine sorriu. — Lembro-me de ter visto a sua avó se preparando

para os bailes. — ela tratou de alcançar um pedaço de tecido da cor do seu

vestido. — Aqui, pequenina. Não vou precisar disso depois de tudo. Pode

guardá-lo.

Isabeau o pegou surpresa, mas ampliou seu sorriso. — Merci. — ela

passou o tecido em sua bochecha respeitosamente. Seguiu sua mãe por seu

quarto até que ela começou a descer a escada de mogno, ficando assim atrás

das criadas. Seu pai, Jean Paul St. Croix, esperava ao pé da escada. O duque

estava perfeitamente arrumado, desde sua peruca enrolada até as fivelas de

ouro que sustentavam seu sapato de salto.

— Ma Chere. — cumprimentou Amandine. — Espetacular como

sempre.

Isabeau manteve-se perto das criadas, escondendo-se atrás de uma

árvore que estava em um vaso, quando a abandonaram para cuidar de

outros afazeres. Ela correu para o salão de baile assim que pôde,

esquivando-se de todos os lacaios que carregavam jarras de vinho e

espumante e dos serventes que levavam canastras e vasilhas douradas de

frutas açucaradas. Ela entrou sigilosamente no armário, no qual usualmente

se armazenavam os mantimentos excedentes. Cada unidade havia sido

necessária para a mesa de Buffet no fundo da sala e o salão de jantar que

ficava na sala principal, de modo que o armário estava vazio. Ela encaixava

perfeitamente em seu interior, já que havia puxado seus joelhos contra o

peito. Deixou a porta aberta, só um pouquinho, já que era melhor ver por ali

do que pelo olho da fechadura.

Não passou muito tempo para que os primeiros convidados

chegassem. Ela só podia imaginar os bonitos coches subindo o caminho de

pedra calcário, puxados por magníficos cavalos com penachos em suas

crinas. Os lacaios atravessaram em toda velocidade o salão de baile,

acendendo as últimas velas e lamparinas. Os candelabros de cristal

brilhavam intensamente sobre as mesas, nas quais havia todo tipo de

delicias: morango, aves de maçarão, cascas de laranja açucaradas, ganso

assado, ostras, galinhos de lavanda, doces e chocolate com glacê. Isabeau

esfregou o estômago, o qual grunhia ao ver tantos pratos. Ela havia perdido

seu jantar, escondendo-se de sua babá. Mas esqueceu de sua fome no justo

momento que os convidados começaram a entrar através da porta. As

mulheres riam por trás de seus leques de renda pintada, os homens se

inclinavam em uma reverência com precisão bem definida. Ela podia sentir o

passar dos perfumes se misturando com o que estava sendo servido em

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bandejas de prata. O champanhe fluiu como rios de primavera. A orquestra

começou a tocar e a música encheu todos os cantos, até o espaço escuro no

armário. Ela disse para si mesma que a música dos anjos deveria soar

daquela maneira, todo piano, harpa e a voz que pairava no ar, uma voz

etérea como a do cantor de ópera.

Seus pais se uniram à multidão assim que as mesas de jogos

começaram a encher. As cartas pintadas e as moedas mudavam de mãos. O

cachorro poodle de alguém grunhiu para o cantor. Isabeau sentiu que seu

estômago faminto voltava a reclamar avidamente e se perguntou se seria

capaz de fugir do seguro esconderijo. Se fosse apanhada não só seria

mandada direto para a cama, o que era muito mortificante, como também

nunca mais poderia usar o armário como esconderijo de novo. Ela mordeu

seu lábio inferior, pensando. Finalmente o cheiro de toda a comida chegou a

ser forte demais, uma tentação.

Abriu a porta alguns centímetros, esperando para ver se havia sido

descoberta. Um casal passou perto, entrelaçado. Fizeram uma pausa, se

beijaram apaixonadamente. Isabeau fez uma cara de nojo. O homem parecia

como se estivesse tratando de comer a cara da mulher. Não era uma visão

confortável. Ele deveria comer algo no jantar já que estava tão faminto.

Saiu imperceptível, caminhando depressa para se esconder atrás do

vestido da mulher. Seus alforjes eram notáveis a cada lado dela, ela era da

largura de três pessoas. Nem ela nem seu companheiro a notaram. Parecia

que estavam com dificuldade para respirar, como se tivessem corrido uma

maratona ao redor do jardim. Isabeau os deixou, dirigindo-se para as

grossas cortinas, saltando de uma janela para a outra. A maior parte dos

convidados ria alto demais, bebendo champanhe adornado com morangos e

pedindo dinheiro com grandes gritos nas mesas de jogo. Ninguém a notou.

Sentiu-se como se estivesse dentro de um caleidoscópio, com redemoinhos

de cores, sons e odores.

Acalmou-se um pouco e se alegrou com a relativa segurança das

mesas do Buffet. Ela rolou debaixo da primeira mesa que pode alcançar, bem

escondida atrás dos enfeites flutuantes brancos. Desse ângulo, o efeito do

espumante se mostrou nas marcas de arraste dos pés com sapatos finos e

também nas gotas de cera das velas que caiam no chão. Ela nunca tinha visto

tantas sapatilhas de seda e fivelas de prata em sua vida. Não podia esperar

para ser anfitriã de suas próprias festas, iguais à essa. Ela deslizou sua mão

até a parte superior da mesa que estava quase contra a parede, e pegou um

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punhado sem ver. Havia esperado poder "colher" um cupcake34 ou uma

massa folheada recheada de creme. A ostra era grudenta e viscosa, apesar de

sua concha ser muito bonita. Talvez pudesse mantê-la em seu quarto e exibí-

la como um de seus tesouros: uma pedra com um buraco perfeito no centro,

um talho de lavanda seca e Sabot, seu cachorro.

O segundo punhado foi muito mais valioso que o risco de ser

descoberta. Os bolos eram leves e estavam untados com creme de

framboesa. As pontas dos seus dedos estavam tingidas de vermelho, como o

sangue. Pensou que seus dentes deveriam estar tingidos também e os deixou

descobertos como um animal sorrindo abertamente. Tinha que se lembrar

desse truque da próxima vez que brincasse com Joseph, um dos jovens

moços da quadra. Assustaria esse tonto e ela se vingaria da brincadeira que

ele havia pregado nela mês passado com esse balde de água fria.

Comeu até ficar cheia, sonolenta e com dor de estômago devido a

todos os doces. Encolheu-se em uma pequena bola e encostou suas

bochechas em suas mãos, como se fossem almofadas. Um dos cachorros a

cheirou e se recostou junto a ela, lambendo o que restava da cobertura de

framboesa em seus dedos. Um a um os pequenos cães a encontraram,

arrastando-se de baixo da mesa com seus colares de diamantes para lamber

sua cara e se acomodar entre os outros para dormir junto à ela. Sorrindo, ela

ficou ali dormindo debaixo de sua manta canina, abraçando o pedaço do

vestido de sua mãe.

34É um bolo pequeno projetado para servir uma pessoa, muitas vezes cozido em uma forma de papel pequena

e fina ou num copo de alumínio. Pode ser confeitado.

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65

Capítulo Sete

O Host conduziu-nos através da floresta em um ritmo confortável.

Estava tropeçando o suficiente para deixar um rastro de galhos quebrados e

sangue. Recuperou-se rapidamente e pelo tempo em que parou em uma

clareira na sombra, ainda havia cheiro de sangue, mas só muito vagamente.

Logan assentiu com a cabeça a um emaranhado de arbustos de amora-preta.

Os espinhos iriam rasgar e arranhar, mas oferecia a melhor proteção, todo o

resto eram samambaias plumosas e delicadas. Nós ficamos agachados em

silêncio, esperando. Tentei não me lembrar de como minha mãe tinha

amado tortas de amora mais que tudo, eu tentei não sentir os resíduos

desgastados da seda queimando em meu bolso. Rangi os dentes tão alto que

Logan me cutucou, franzindo a testa.

Atei-me firmemente ao presente, com foco na lama sob nossos pés, o

emaranhado de folhas, as flores brancas brilhando na beira do campo, o Host

em pé na grama alta.

O mármore brilhando e arabescos dourados do palácio de minha

juventude desapareceram lentamente. Empoeiradas uvas tornaram-se

amoras maduras, música de piano tornou-se o silêncio dos grilos

sensoreando predadores nas proximidades, campos de lavanda tornaram-se

uma floresta escura.

O Host não ficou sozinho por muito tempo, logo mais dois se juntaram

a ele na direção das fazendas dos Drake.

— Eles têm Nigel. — um deles cuspiu. Estava pálido o suficiente para

brilhar na luz do luar, como se tivesse sido coberto de pérolas esmagadas.

— Têm-me também. — aquele que tinha rastreado murmurou. —

Isabeau me apunhalou, a cadela. Rasgou a minha maldita camisa. Desde

quando as cortes têm filhotes Hound como suporte?

— Tudo está mudando, Jones. — o terceiro Host encolheu os ombros

de forma pragmática. — O presente de Montmartre foi entregue?

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66

— Na porta. — Jones confirmou. — Como solicitado.

Os lábios de Logan se separaram; suas presas salientes, mas não fez

nenhum barulho. Fiquei impressionada com seu controle. Eu tinha assumido

que os irmãos Drake eram muito selvagens; indisciplinados, sendo da família

real e tudo. Teria sido fácil esquecer-se de sua fina educação por terem sido

exilados da corte real desde que Solange nasceu e fortemente

desencorajados a participar há pelo menos um século antes. Todos eles

comportaram-se com certo charme e confiança.

Jones estava completamente curado e agora fazendo um buraco no

chão.

— Alguma palavra de Greyhaven?

O nome me bateu com tanta força que estremeci como se tivesse sido

atingida, então fiquei imóvel como um leão faminto espiando uma gazela.

Uma névoa vermelha cobriu meus olhos, como se eu olhasse através de uma

névoa de sangue. Se tivesse uma batida de coração, teria sido tão alta quanto

um martelo de ferreiro na sua bigorna. O tempo parecia andar para trás,

acelerar, e depois parar completamente.

— Ele está com Montmartre, esperando o momento certo.

— Nós esperamos por muito tempo, não é? — Jones resmungou.

— Ele quer que tudo seja perfeito neste momento. Sem surpresas.

O primeiro sorriu. — Bem, não para nós de qualquer maneira. Os

Drake ficarão muito surpresos.

Eu sabia que eles ainda estavam falando, mas suas palavras eram mal

registradas. Tudo o que eu ouvia era uma palavra. Greyhaven.

Greyhaven.

Meu crânio parecia um sino de igreja, tocando o mesmo som

repetidamente.

Assobiei, com a intenção de pular para fora dos arbustos, minha

vingança mais perto do que nunca tinha estado antes. Eles sabiam onde

estava Greyhaven, poderiam levar-me a ele, assim poderia matá-lo por me

assassinar.

Eu nunca saí da minha posição.

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67

Logan estava sobre mim, rápido como uma vespa. Sua mão apertou

minha boca, os olhos queimando um aviso em cima de mim. Ele estava perto

o suficiente para que eu pudesse tê-lo mordido, se não tivesse meus

maxilares travados juntos. Seu corpo prendendo o meu no chão. Ele era mais

forte do que eu tinha considerado, mas eu era mais rápida e poderia tê-lo

jogado em uma árvore mais próxima.

Somente a percepção de que estava prestes a nos entregar me fez

parar.

Mesmo Charlemagne era inteligente o suficiente para ficar quieto,

apesar de ele tremer com a necessidade de me proteger. Eu queria brigar

com Jones, com todos eles, mesmo que isso significasse perder a nossa única

vantagem tática: a mera sugestão do plano sussurrado por um grupo de

Hosts na floresta. Não era muito, mas era certamente mais do que nós

tínhamos tido no início da noite.

E eu não me importei. Teria jogado tudo isso fora por uma chance

com Greyhaven.

E Logan sabia.

Ele ficou onde estava, esticado como se estivesse me protegendo de

uma chuva de flechas de fogo, uma montanha desabando, um perigo

invisível. Mas o perigo não estava em qualquer lugar, mas dentro do meu

peito, dando voltas como um abutre.

Levou toda a força que consegui reunir para não arremessá-lo de cima

de mim. Forcei meu corpo para suavizar infinitesimalmente, moldando-me

no mato. Mesmo com essa pequena rendição, Logan não se mexeu. Seu

cheiro era forte: vinho, anis, um leve rastro de hortelã. Eu sabia que cheirava

a vinho escaldado e açúcar para ele. Kala me disse que eu cheirava sempre

assim, quando estava furiosa além da lógica.

A fúria fervendo na minha pele não o perturbou. Suas presas não se

retraíram, seu rosto ficou a poucos centímetros do meu. A maioria dos

vampiros se encolhia à alguma distância de uma serva Shamanka, quando

ela estava nesse estado. Logan estava muito ocupado ouvindo os outros se

acovardarem.

— Alguma notícia da velha guarda?

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68

— Sim, a maioria dos fiéis à memória de Lady Natasha fugiu quando a

mulher Drake assassinou-a, mas alguns ficaram para trás para um ataque

mais sutil. Vão se juntar a nós quando for a hora.

— Ótimo. Vamos dar o fora daqui. Os meninos Drake provavelmente

ainda estão à nossa procura.

Os Hosts se foram entre as árvores, em direção à montanha.

Logan ficou onde estava e nos olhamos por um momento, muito

estranho. Nas sombras, seus olhos eram da cor limão com açúcar.

Encantador e perturbador, mas não tão perturbadores para mim. Quando os

nossos inimigos estavam longe o suficiente, eu soltei-o de mim com um

safanão violento.

Levantei-me em uma curva, ofegante. Meu corpo podia não precisar

de ar, mas a respiração continuou sendo um hábito, especialmente em

momentos de estresse. Logan bateu no tronco de uma bétula e girou no ar

para a terra sobre a ponta de seu pé direito diante de mim. Ambos

abaixamos, presas a mostra, músculos tensos para o ataque.

Poderíamos ter ficado lá pelo resto da noite, se não fosse por

Charlemagne, que choramingou uma vez, confuso. Era como se uma chama

fosse apagada.

Logan se levantou, toda a graça selvagem e um sorriso irônico. Ele

parecia mais confortável e bonito como um convidado em um dos bailes dos

meus pais, mesmo sem camisa. Eu ainda estava ofegante, quase enjoada do

redemoinho de emoções inundando meu estômago: a antecipação, raiva,

arrependimento, humilhação. O vestido da minha mãe, Greyhaven. Era quase

demais. Eu parei devagar, como uma mulher velha. Charlemagne pressionou

seu nariz frio na palma da minha mão para maior conforto e eu não tinha

certeza se precisávamos de mais conforto.

— Você está bem? — Logan perguntou baixinho.

Concordei com a cabeça irregularmente. — Eu sinto muito. — eu

estava acostumada a ser elogiada por meu foco e controle.

— O que aconteceu? Você conhece esse cara, Greyhaven?

— Oui.

Seus olhos se estreitaram em meu rosto. — Quem é ele? O que ele fez

para você?

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— O que faz você pensar que ele fez alguma coisa? — saí da moita de

amora, farejando o ar por qualquer vestígio de Host. Estávamos sozinhos.

A expressão de Logan era sombria. — Isabeau, eu vi o olhar no seu

rosto.

Dei de ombros. — Estou bem agora. Devemos voltar.

Virei-me para voltar por entre as árvores, mas ele segurou meu braço.

— Você quase se perdeu lá atrás.

Enrijeci. Não se fazia mais agradável que ele estivesse certo. — Mas

não me perdi.

— Da próxima vez, você poderia colocar em perigo a minha irmã com

o seu temperamento.

Engoli uma réplica quente. — Isso não vai acontecer novamente.

— Eu sei. — ele suspirou, deixando cair a sua mão. Por alguma razão

indiscernível, senti sua ausência. Era como se eu estivesse fria agora, e eu

nunca tenho frio.

Eu não sabia o que era isso com Logan, que me afobava assim. Eu teria

que encontrar uma maneira de ficar longe dele. Ele claramente não era bom

para mim.

— Posso ver que não está em sua natureza se entregar assim. Você

poderia me dizer o que ele fez para você, afinal? Por favor?

Eu levantei meu queixo, recusando a ser merecedora de pena.

— Ele é quem me transformou e me deixou em um caixão debaixo do

solo por dois séculos.

Não falamos novamente no nosso caminho de volta para a fazenda.

Enquanto as missões diplomáticas iam, a minha já era um desastre. Eu

ataquei um amigo da família, tinha sido dopada com Hypnos e quase

enlouqueci com fúria— tudo em uma noite.

Não me admira que esteja tão exausta.

Nós mal tínhamos andado por meia hora, mas tudo isso parecia dias.

Os irmãos de Logan estavam todos vestidos e sentados em círculo ao redor

de um pacote embrulhado na sala.

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70

Solange estava franzindo as sobrancelhas para ele, tocando os dedos

sobre os joelhos.

Lucy estava dormindo no sofá, a cabeça apoiada sobre a perna de

Nicholas. Ele tinha um cobertor de lã estendido sobre ela que parecia

pequena e indefesa em um quarto de predadores que não podiam evitar em

escutar a tentação dos seus batimentos cardíacos. Ela adormeceu

absolutamente confiante.

— Você encontrou algum deles? — Quinn rosnou.

— Sim, seguimos um, graças a Isabeau — Logan respondeu cansado,

caindo para sentar em uma cadeira.

— E?

— E temos informações mínimas e nada que já não tivéssemos

adivinhado: traidores e ataques, surpresa.

— Não posso acreditar que o bastardo passou por nossas defesas. —

Quinn continuou a fervilhar. Pôs-se de pé e rondava a sala, sua agitação

acordando Lucy. Piscou com olhos turvos para ele, então para Logan e para

mim.

— Você está de volta. — ela bocejou, olhou para Solange. — Pare de

olhar para ele tão arduamente, vai conseguir uma enxaqueca. — Solange

piscou virando seu olhar para longe com esforço visível, voltando-se para

mim.

— É seguro abri-lo? Quero dizer, Bruno scaneou e tudo, por isso

sabemos que não é uma bomba ou antraz ou qualquer outra coisa, mas ainda

assim.

— O que você acha?

— Eu sempre prefiro saber com o que estou lidando. — eu disse.

Logan gemeu. — Você teria aberto a bomba o tempo todo, mesmo que

ela estivesse fazendo tique-taque para você.

Eu não estava inteiramente certa com o que ele quis dizer. Eu ainda

estava me acostumando com a língua moderna do país, e inglesa, mas

Solange assentiu fervorosamente para mim. — Exatamente. Esses caras só

querem que eu brinque de Branca de Neve cantando em sua pequena casa,

enquanto eles fazem todo o trabalho.

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Lucy bufou. — Branca de Neve e os Sete Anões. Você poderia dar a

Disney uma ideia para fazer dinheiro.

Nicholas cutucou minhas costelas. — Eu não sou um anão cantor!

— Não, você é um idiota. Não estava prestando atenção? — ela sorriu

e beijou-o rapidamente.

— Vou abrir. — Solange anunciou de repente, pegando o pacote.

Cada um de seus irmãos começou a falar ao mesmo tempo,

expressando a mesma variação de base em dois temas: — Deixe-me! E —

Não!

E ela ignorou e rasgou o papel em seu lugar. A caixa de baixo era de

papelão branco simples, o tipo de transporte para bolos. Ela mordeu o lábio,

parando brevemente.

Nicholas estendeu para tomá-la e ela deu um tapa em sua mão sem

nem mesmo olhar para ele. Ela levantou a tampa, ligeiramente inclinada

para trás, como se esperasse algo pular para fora dela, como um malvado

jack-dentro-da-caixa35. Os irmãos fizeram o oposto e todos se inclinaram

mais perto. Depois ficaram imóveis, como só vampiros poderiam,

preparados para o ataque, preparados para qualquer coisa exceto para o que

estava realmente na caixa.

Lucy estremeceu. — Vocês estão me assustando. Parem com isso.

— Só isso? — Solange perguntou, finalmente quebrando o suspense.

No centro da caixa estava uma almofada de veludo vermelho exibindo um

pequeno caroço envolvido em linha vermelha. Tinha um cheiro forte de água

de rosas e canela. Meu nariz coçava. — O que é isso? — ela perguntou.

Eu sabia exatamente o que era.

— Isabeau? — Logan se virou para olhar para mim. Gostaria de saber

o que o fez tão sensível aos meus humores.

— É um feitiço de amor. — eu disse categoricamente.

— O quê? — Solange recuou. — Eca. Deus. Será que essas coisas ainda

funcionam?

— Às vezes.

35 Brinquedo infantil. Uma caixa de dar corda de onde um palhaço salta.

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Seus olhos se arregalaram. — Sério? — levantou-se para pôr mais

distância entre ela e a caixa. — Por que ele não me deixa? Eu pensei que isso

iria finalmente parar depois do meu aniversário.

— Ele não parará, nunca. — eu disse. Como uma Hound, eu conhecia

Montmartre e seus Host melhor do que ninguém. — Ele tem a paciência de

uma cobra e é isso que o torna tão perigoso, mais do que sua crueldade,sua

força ou seu egoísmo.

— Ele nunca vai entender isso, que não quero ser Rainha e com

certeza não quero me casar com ele?

— Não. — respondi com sinceridade. — A não ser que você diga a ele

com a ajuda de uma estaca no coração.

Ela estava pressionando as costas contra a parede mais distante, um

pouco mais distante e ela estaria saindo através da janela e no jardim. —

Um, é a minha imaginação, ou eu realmente me sinto engraçada?

— É possível. — levantei-me, farejando o encanto. — É muito forte.

Essas são duas sementes de maçã envolvidas na linha vermelha e uma

mecha de seu cabelo. Ele deve ter conseguido isso naquela noite em que o

detivemos nas cavernas. E isso é um coração de beija-flor, está todo

perfurado.

— O que nós fazemos? — o branco dos olhos dela estava aparecendo

agora, como um cavalo selvagem.

— Não entre em pânico. — Lucy disse suavemente. — E o que há com

vocês e os corações nojentos?

— Lucy, eu não odeio ele neste momento! Não como eu deveria!

— Eu vou odiá-lo o suficiente por nós duas, até resolvermos isso. —

ela prometeu severamente.

— Vamos queimá-lo. — Quinn disse, pegando a caixa e jogando em

direção ao fogo o diminuto coração.

— Não! — gritei, saltando para pegá-lo antes que ele caísse. O encanto

estava preso ao travesseiro do coração, que eu peguei no ar. A caixa

desembarcou na brasa e pegou fogo quase que instantaneamente. Luz

queimava a sala. Todos olharam para mim. — O fogo só o fará mais forte. —

eu expliquei. — O fogo é paixão.

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— E sobre a água? — Lucy perguntou. — Minha mãe sempre molhava

as coisas na água para purificar, limpar ou algo assim. Ela canta nua no

bosque também.

Logan inclinou a cabeça, considerando36. Eu o ignorei; grata pelos

vampiros não corarem facilmente. — Não, água também não. — eu disse

friamente. — Isso alimentará a emoção amarrada no feitiço: amor.

Solange engoliu em seco. — Podemos fazer algo rápido? Por favor?

— Preciso de sal. — eu disse. — Duas sacolas térmicas, gelo, e linha

branca.

Logan desapareceu e voltou dentro de momentos com o meu material.

— Tem certeza que você sabe o que fazer? — Connor perguntou em

dúvida. — Talvez devêssemos perguntar, fazer mais algumas pesquisas? Eu

poderia procurar online.

— Eu sei o que fazer. Isto é o que significa ser uma serva CWN

Mamau.

— Pensei que isso era sobre chutar o traseiro dos Host.

— Isso também. — eu meio que sorri. — Somos mágicas tanto quanto

somos aberrações e mutação genética. — joguei sal em ambas as bolsas

térmicas. — Certamente, você percebeu o quanto?

— Eu..., acho.

Eu me senti mal por eles, por ter tanto conhecimento e tão pouco

instinto. Magda tinha me dito vezes suficientes que a magia e a oração não

são invocadas no presente século. Parecia um desperdício de ferramentas

para mim. Qualquer um que já tenha visto o trabalho de Kala e sua magia

nunca pensaria de outra forma. Eu não tinha nem perto sua experiência, mas

sabia que poderia lidar com um encanto, mesmo um comprado por

Montmartre. E não havia dúvidas de que ele tinha comprado de uma bruxa,

ninguém mais seria capaz de fazer estes pedaços de corda e cortar uma

maçã desta forma.

— E agora? — Logan perguntou.

A mecha de cabelo de Solange era longa, envolvida e amarrada na

linha vermelha. Eu trabalhei para tirar isso fora com cuidado, puxando

36Logan estava imaginando Isabeau dançando nua no bosque para purificar o feitiço.

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delicadamente, pacientemente desembrulhando, mesmo quando Quinn

chegou a ficar atrás de mim carrancudo. Logan o cutucou para dar um passo

para trás.

Libertei o cabelo e o coloquei entre dois cubos de gelo. Amarrei-os no

lugar com o fio branco. — Isso irá protegê-la. — murmurei a Solange,

concentrando-me em sentir a magia, como tinha sido ensinada. Imaginei o

segmento tão impenetrável como um escudo, tão forte e afiado como uma

espada, tão implacável como o inverno. — O branco representa proteção e

purificação.

Solange assentiu. — Tudo bem. Use o carretel todo, você poderia?

Quinn rosnou. — Rápido.

Deixei os cubos de gelo em uma das bolsas e selei. Enterrei as

sementes da maçã, o fio da trama vermelha e coração do beija-flor com sal

na segunda bolsa e acrescentei uma camada de cubos de gelo até o topo.

Fechei essa também.

— Eles precisam ser congelados.

Várias mãos esticaram em minha direção. Solange foi mais rápida,

embora pálida e tensa em volta da boca. — Eu vou fazer isso. — ela disse,

seu tom duro, que não admitia discussão.

Ela saiu e a podíamos ouvir resmungar e a bater a porta da geladeira.

Forte.

— Em três dias coloque-o em uma jarra de vinho azedo e sal e

enterre-o em uma encruzilhada. — eu a aconselhei quando ela voltou. — E

não deixe ninguém ver você fazer isso.

— Posso cuspir nele?

— Por todos os meios.

— Obrigada, Isabeau. Esta é a segunda vez que esteve entre mim e

esse traseiro de cavalo.

— De rien37. — bocejei.

37 De nada em francês.

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Não tinha notado o amanhecer na nossa concentração. Estava exausta

antes do trabalho com o encanto, agora estava além da fadiga, embora ainda

satisfeita por ter me resgatado do meu erro mais cedo na floresta.

Os outros não estavam se saindo melhor, jovens o suficiente para não

ser capazes de lutar contra a letargia que vinha com o nascer do sol. Eu me

senti fraca como a água, me amassando para deitar no tapete. Charlemagne

se enrolou na minha cabeça para proteger o meu sono. Vi Logan bocejar

também e esticar-se no tapete ao meu lado.

Nicholas estava encostado no sofá, Connor caiu desconfortavelmente

em uma cadeira próxima.

Só Marcus conseguiu se arrastar para cima, mas não tinha ideia se ele

tinha chegado a seu quarto. Estava consciente somente o tempo suficiente

para ouvir Lucy resmungar.

— Vampiros, claro que são a vida da festa.

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Capítulo Oito

Eu não sabia se outros vampiros tinham pesadelos, mas o meu

sempre vinha nesse nebuloso lugar entre o sonho morto e a súbita vigília.

Era o mesmo sonho todo o tempo.

Havia passado uma semana inteira desde a última vez que o havia

tido, o mais longo período passado. Nunca havia dito a ninguém, ainda que

estivesse bastante certa de que Kala suspeitasse. Ela me encontrou uma vez

metida no laço do medo, com olhos muito abertos e lamuriosos, uma

multidão de cachorros me lambendo no rosto e tentando conseguir me

mover. Agora eu era forte o suficiente para me arrancar do sonho, até

mesmo antes que o crepúsculo o fizesse.

Ainda que não me recordasse todo aquele tempo presa sob a terra, o

sonho era sempre o mesmo. Estava dentro do caixão forrado em cetim

branco, com o tecido sujo e com insetos rastejando. A terra desmoronava

através das frestas da madeira e as raízes pendiam como cabelo. Vestia o

traje de noite, de seda, que havia vestido na festa de Natal do meu tio, mas

não o colar que ele havia feito a partir da faixa do vestido de minha mãe. Isso

era tão preocupante quando ser sepultada viva, usava esse pedacinho de flor

de lis de cor anil comigo por todas as partes, inclusive nos becos de Paris.

Vasculhei o caixão e chutei com meus pés até meus calcanhares

estarem machucados, mas não podia encontrar o caminho para fora. Nem

sequer sabia se jazia em um cemitério Londrino ou se estava na França. Não

podia cheirar nada exceto barro, chuva e a escuridão que deveria ser

completa, parecia menos do que deveria. Não podia ver claramente, claro,

mas podia perceber a estranha raiz, um talo branco de cherovia38 e o voo de

besouros de cor azul.

38 Raíz que se usa como hortaliça.

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Gritei até que saboreei o sangue no fundo de minha garganta e mesmo

assim, ninguém me ouviu.

E não tive fome, nem sequer uma vez.

A sede, no entanto, era enlouquecedora. Arranhava em mim como

uma besta desesperada e em chamas, raspava através de minha garganta,

queimando todo o caminho até abaixo, dentro de minha barriga. Minhas

veias estavam secas em meus braços. Estava para lá de fraca, para lá de viva,

para lá de morta. Neste momento de lucidez, senti a ferida de dentes afiados

em meu pescoço, senti uma boca sugando ali até que estivesse branca como

uma boneca de trapo. E então, o mínimo sabor de sangue enlameando meus

lábios, o qual me fez silenciar, ou teria se houvesse tido a força. E o saboreei

como o vinho que Greyhaven havia me dado.

Greyhaven.

Ele os deixou me enterrar, mesmo sabendo que havia tomado

bastante de meu sangue para me corromper muito além do que qualquer

morte humana normal.

Greyhaven.

Não forte o suficiente para arranhar até sair da terra, nem sequer

havia notado que era o que significada que eu devia fazer. Tudo parecia

como algum acidente horrível, algo tirado de uma história gótica. A terra

enchia minha boca, os vermes rodeavam meus pulsos como braceletes, as

formigas caminhavam por meu cabelo.

Greyhaven.

E os cachorros uivando, arfando, cavando com suas garras.

Aí é quando eu acordo; todas as vezes.

Os cachorros eram suficientemente reais; tinham sido os que haviam

me encontrado e me tirado, mesmo antes que Kala tivesse encontrado o

túmulo certo no Cemitério Highgate.

E o nome de Greyhaven foi meu primeiro pensamento, ainda era meu

primeiro pensamento quando acordava deste pesadelo.

O nariz de Charlemagne levantou meu rosto quando deixei de

choramingar. Odiava esse som, odiava que ele esperasse até que estivesse

suficientemente consciente para controlá-lo.

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Estava em uma cama, alguém deve ter colocado todos para fora da

sala de estar. As persianas de madeira estavam aparafusadas firmemente

através das janelas. Saí da cama e me arrastei até a geladeira, puxando a

porta aberta. A luz feriu meus olhos e tateei às cegas por uma garrafa de

vidro cheia de sangue, a sede era mais aguda durante a noite, tão aguda que

havia treinado Charlemagne para se defender de mim se eu dissesse uma

determinada palavra. A fome não era facilmente dominada em nossas

primeiras noites. Ainda me fazia engolir o sangue avidamente, da forma em

que uma criança comeria um bolo, mas eu havia me detido energicamente,

ao me preocupar pela segurança de Charlemagne. Esta seria a mesma razão

que Lucy havia resmungado mais cedo sobre ser movida para um quarto de

hospedes com um ferrolho de segurança dupla por dentro e um botão de

alarme conectado a Bruno, o chefe de detalhes de segurança dos Drake. Os

vampiros recém-transformados tinham pouco controle sobre eles mesmos

ao acordar.

Quando tinha bebido sangue suficiente para tê-lo gotejando em minha

barriga, alisei a túnica do meu vestido e deixei a relativa segurança de meu

quarto. Solange e seus irmãos ainda dormiriam uma hora mais, assim, fiz

meu caminho escadas abaixo para deixar Charlemagne ir para fora e eu

vigiar o cachorro.

— Isabeau.

Parei ante a voz desconhecida. A silhueta de uma mulher estava de pé

contra uma alta janela levantada na biblioteca que dava para o jardim. O

rosado da luz do sol caía no quarto. Eu havia esquecido que os vidros na casa

estavam especialmente tratados, as persianas de madeira nos dormitórios

deviam ser para agregar mais segurança e comodidade aos hospedes

vampiros. Certamente eu não teria confiado em uma janela de vidro e

cortinas de encaixe.

A mulher virou seu rosto escurecido atrás de um véu negro fixado no

chapéu de veludo pousado sobre sua cabeça. Ela vestia um antiquado

vestido sobre um espartilho e luvas sem dedos.

— Você é Hyacinth Drake? — perguntei cordialmente imobilizada em

meu lugar. Havia ouvido Connor e Quinn falando dela. Ela era sua tia e tinha

sido ferida por um caçador Helios-Ra. A água benta que usavam, recarregada

com raios UV, tinha queimado seu rosto. Não tinha sarado ainda e ninguém

estava certo se o faria. As cicatrizes eram raras em um vampiro, mas

certamente eram possíveis. Meus braços nus eram prova suficiente disso.

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— Sim. Eu sou. Enchantee39. — ela deu uma olhada nas cicatrizes

sobre meus braços, depois se virou de volta para a janela. Foi aí que percebi

que ela tinha estado observando Lucy correndo pelo jardim com o cachorro,

que estava latindo com histérico regozijo. O sorriso de Lucy era quase tão

ruidoso. Charlemagne deixou ansiosos traços de nariz sobre a porta de

vidro, então me olhou pateticamente.

— Vá. — murmurei, deixando-o sair para unir-se ao alvoroço. O

cachorro deu voltas no ar por sua excitação. Lucy riu mais alto.

— Tuas cicatrizes não te incomodam. — ela disse. Não era uma

pergunta, era mais uma plena declaração. Encolhi os ombros.

— Não realmente. — as meia luas e círculos desconexos deixados por

dentes afiados, tinham clareado pela brilhante pele pálida, como

madrepérola. — Carrego estas orgulhosamente. — toquei as cicatrizes

perfuradas sobre minha garganta. — Estas eu gostaria de queimar se

pudesse. — já que queimá-las não ajudaria, Kala tinha tatuado esse lado de

meu pescoço com uma flor de lis.

— Eu fui bonita há muito tempo. — ela murmurou.

— Ainda é bonita. — eu disse francamente.

— A pena não é de você, Isabeau. — ela disse e podia ouvir o baixo

sorriso em sua voz. — Acho isso muito reconfortante.

— Minha gente mede a beleza em como você pode caçar em silêncio.

— expliquei. — E por quão bem treina um cão ou com que rapidez você

corre. Temos provas para testarmos a nós mesmos, sermos dignos e

nenhuma delas tem algo a ver com a cor de nosso cabelo ou o formato de

nosso nariz.

— Então quem sabe, eu deveria fugir para viver nas cavernas depois

de tudo. — seu tom mudou, a ironia mostrava a dor. — Mas eu amo tanto

minhas comodidades de criatura.

Lucy estava arquejando no pátio, limpando o suor de seu rosto. Os

cachorros corriam ao redor dela como um carrossel. Quando ela vinha para

casa, Hyacinth retrocedeu imediatamente.

— Foi um prazer te conhecer. — ela me disse, antes de desaparecer

nas profundidades da casa. 39Encantada em francês.

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80

— Isabeau, já está acordada. — Lucy exclamou, sobressaltada. A porta

do jardim se fechou atrás dela. Ela trouxe os aromas da chuva de verão,

folhas e sangue fresco bombeando sob a pele. Cerrei meus dentes. — Nem

sequer está completamente escuro ainda. — ela continuou

descuidadamente. Os cachorros acomodaram-se a seus pés.

— Às vezes, acordo cedo. — eu disse. Não tinha intenção de

compartilhar minhas debilidades e a violência de meus pesadelos. Como

Hyacinth, não podia tolerar a pena.

Charlemagne me bloqueou repentinamente ao som da porta principal

se abrindo e fechando. Retesei-me. Lucy inclinou-se para trás.

— Wow, você dá medo quando faz isso com seu rosto.

— Coloque-se atrás de mim.

— Os outros cachorros não estão latindo. — ela disse quietamente. —

Não acho que haja algo com que se preocupar. — um homem calvo e tatuado

em uma jaqueta de couro entrou com passo firme no cômodo, sua mandíbula

fixada sombriamente. Senti sua postura suavizar-se imediatamente. —

Bruno.

— Lassie40. — ele encontrou meus olhos. — Quero falar com você.

— Bruno é o chefe de segurança. — Lucy explicou.

— Mas você é..., humano.

— Sim. Os caçadores gostam do dia com a maioria dos vampiros

dormindo ao redor, esperando ser estacados. Iguala a briga. — mesmo que

discordando com sua expressão, seu sotaque Escocês me tranquilizou; os

Franceses e os Escoceses geralmente tinham sido aliados. E entendi sua

desconcertante frustração. Seu coração estava praticamente atingido com

exasperação. — Temos a melhor segurança, equiparada com a de

presidentes e reis, quero saber porque em uma semana sangrenta, uma

facção de vampiros e uma unidade de canalhas Helios-Ra, ambos tem dado

um grande passo. Isto é ridiculamente sangrento.

— A Montmartre não importa se seus Hosts morram. É considerada

uma honra, uma prova de lealdade. — disse-lhe. — Deduzo que levaria a mal

se sua gente morresse.

40No original Lassie é um termo originário da Escócia, significa menina ou senhorita, mas as vezes é

considerado como um termo ofensivo.

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81

— Sim.

— Montmartre apenas faz mais Host. E ontem à noite enviaram

quatro com a finalidade de que somente um deles atravessasse a porta

principal. Se atacassem de imediato, não sei se poderiam pegar você de

surpresa.

Ele suspirou. — Aí você tem razão, Lassie. Estava esperando uma

grande quantidade de violência, não algum presente ijit41. — ele sacudiu a

cabeça. — Ainda assim, não é desculpa. — ele desenrolou desenhos azuis da

fazenda e do composto de mil acres dos Drake com outros edifícios sortidos.

— Mostre-me o ponto fraco, poderia?

Passei os olhos pelos desenhos, combinando-os com o que eu sabia da

topografia circundante. — Eles teriam se movido de uma copa de árvore à

outra. É mais lento, mas mais sigiloso.

— Eles vieram de cima. — ele exalou.

Bruno estava preso em si mesmo quando Solange e seus irmãos

começaram a se mover e se arrastar escadas abaixo.

— Você está pronta? — Logan me perguntou.

Eu assenti. Lucy fez careta para Nicholas. Ele levantou suas mãos

defensivamente.

— Não é minha culpa. — ele insistiu. — Mamãe e papai pensam que

você deve permanecer fora da Corte até depois da coroação.

— Isso é tão injusto. — Lucy disse. — Não é como se não tenha estado

ali.

— Wow, você estava sequestrada por uma malvada Rainha vampiro.

Alo? Não é exatamente um ponto ao seu favor.

— Quando meus pais voltarem para casa na próxima semana, vou

obrigar meu pai a me ensinar a montar sua motocicleta e então já não

precisarei de carona em sua bicicleta fedorenta.

Nicholas sorriu zombeteiramente. — Você acredita que seu pai vai te

deixar pilotar pelo bosque para ficar com um monte de vampiros em uma

caverna?

41Termo escocês que significa idiota.

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82

— Ele me deixa ficar com você.

— Porque eu não sou a má influência nesta relação.

Ela pareceu suavizar-se um pouco pela palavra, “relação”. Então

imediatamente endireitou sua coluna vertebral.

— Ainda estou irritada. — Lucy resmungou para ele.

— Você está tão linda também. — ele respondeu; imperturbável. Ele

se encostou a ela e a beijou até que ela estivesse quase estrábica.

Connor tossiu.

— Cara, vai para um quarto.

Nicholas se afastou, sorrindo.

— São sempre dessa maneira? — eu perguntei a Logan quanto

deixávamos a fazenda.

— Você deveria tê-los visto antes que decidissem se gostavam um do

outro.

Era consideravelmente mais fácil ter acesso às Cortes Reais desta vez.

A presença de cinco dos irmãos Drake suavizava o caminho, mesmo que não

apagasse completamente os curiosos ou furiosos olhares suspeitos e

desgostosos. Não me incomodavam, mas notei que Logan estava olhando

com fúria para cada vampiro solteiro que se atrevia, até mesmo a pestanejar

em meu caminho. Era de alguma forma doce, desnecessário. Ele estava perto

o suficiente para que seu braço roçasse no meu.

— Isabeau! — Magda saiu rapidamente de trás de um grupo de

árvores nuas de bétulas em vasos de ouro. Estava vestindo umas anáguas

rosa sob uma antiquada saia cor creme. Ela enfiou seu braço no meu, dando

uma cotovelada em Logan para longe de mim com um silvo. Magda não sabia

dividir. Logan não devolveu o silvo, ele era muito bem educado para isso,

mas, me olhou como se o estivesse considerando. — Está tudo bem? —

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83

Magda perguntou, olhando furiosamente para cada um dos irmãos. Quinn

sorriu de forma satisfeita para ela. Ela franziu o cenho mais ferozmente. —

Eles não te injetaram Hypnos outra vez, certo?

— Não, é lógico que não.

Os cortesões se moviam para fora de nosso caminho enquanto

atravessávamos o vestíbulo principal, onde eles haviam trabalhado duro.

Desde a noite anterior, o trono quebrado de couro, que pertenceu a última

Rainha, tinha sido tirado. Havia menos espelhos também, assim não parecia

como se a multidão fosse duas vezes mais do que seu tamanho real. Eu já me

sentia melhor.

— Como foi por aqui? — perguntei-lhe baixinho.

— Bem, eu acho, Finn está em sua glória. De fato ele disse três orações

completas seguidas.

Tive que sorrir com isso. Os longos silêncios de Finn eram

legendários. — Isso é praticamente um monólogo.

— Eu sei. — ela franziu o cenho para um jovem vampiro que ficou

olhando e não saiu do seu caminho rápido o suficiente. — Sinto como se

fossemos algum tipo de show de circo. Alguns garotos pediram para ver

minhas presas. Você pode acreditar nisso? E ele me perguntou se não

pintávamos a nós mesmas, com barro.

Quinn riu baixo atrás de nós. — Isso se chama paquerar.

Ela o ignorou; mesmo sendo de má educação ignorar aos filhos de seu

anfitrião quando estava em uma visita diplomática. Era de pior educação

atacar o namorado de sua filha, portanto, eu não estava em posição de

criticar. Não obstante, me perguntei outra vez, porque Kala havia me

enviado.

Todos, com exceção de Logan e Magda, se afastaram para suas

próprias tarefas. Passamos por vários quartos, cada um mais decadente que

o último. Um estava decorado em seda vermelha e veludo com douradas

pinturas emolduradas na parede. Logan fez uma careta.

— Os gostos de Lady Natasha não eram exatamente sutis. — ele disse.

— Mas conservamos as pinturas e começamos a juntar novas. Eles são uma

linhagem de antigos Reis, Rainhas e o que seja.

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Havia dezenas de retratos, emoldurados e sem molduras, a maioria

era a óleo, mas alguns eram de aquarela e desenhos em tinta. Havia umas

quantas fotografias próximas do final da linha. Era como estar em um

museu. Reconhecia algumas das casas pelas lendas e historias que Kala nos

havia contado: A família Amrita, a família Joiik, Sebastian Cowan, quem havia

amado um caçador no século dezenove.

— Essa é Veronique DuBois, nossa matriarca. — Logan apontou para

uma pequena pintura de uma mulher que parecia muito digna em um

vestido medieval e uma touca.

— Finn está desenhando um de Kala. — Magda acrescentou

orgulhosamente, para não ser superada.

Mas eu já não estava ouvindo.

No final da fileira abaixo, estava uma pintura a óleo sem moldura, de

um rosto familiar. Eu conhecia o curto cabelo preto, os pálidos olhos cinza, o

sorriso presunçoso.

Philip Marshall, Conde de Greyhaven.

Dei um passo para mais perto, sentindo-me distante de todos. exceto

desse rosto, como se estivesse sob a água. A pintura ainda estava úmida em

um canto, brilhando umidamente. Este retrato tinha sido feito recentemente,

pendurado antes que estivesse completamente seco.

Não sabia o que pensar disso. Senti meus lábios levantar minhas

presas esticadas, senti um grunhido ecoar em meu peito. No principio pensei

que fosse Charlemagne. Levei um momento para perceber que o doloroso

som vinha de mim. Fechei minhas mãos em punhos, desejando não explodir.

— Isabeau? — Logan deu um passo para mais perto, preocupado. — O

que é?

Magda se insinuou entre nós, empurrando Logan ferozmente para

fora do caminho. — Eu me ocuparei dela. — disse-lhe sombriamente,

colocando uma mão reconfortante sobre meu ombro.

— Estou bem. — murmurei, mal reconhecendo minha própria voz.

Estava rouca, mas suave como a água. Forcei-me a dar as costas ao muro de

retratos, mesmo que sentisse os olhos pintados de Greyhaven perfurando

atrás de meu pescoço. Eu precisava de tempo para pensar. Era óbvio para

mim, mesmo sem o quente formigamento dos amuletos em torno de minha

garganta, que alguma coisa estava acontecendo.

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— Vamos. — eu disse, recusando me encontrar com qualquer que um

de seus olhares.

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86

Capítulo Nove

Conduzi Isabeau para a antecâmara que meus pais tinham reservado

para as reuniões particulares. Ela parecia pálida, seus dedos pressionavam

os pelos cinza de seu cachorro, como se estivesse procurando algum

conforto. Acho que ela nem sequer sabia que o estava fazendo. Mas eu sim

havia percebido. Algo na galeria de retratos a tinha assustado. Mas eu sabia

que mesmo que perguntasse muitas vezes, ela não me responderia.

Portanto, apenas esperaria pelo momento oportuno.

Por hora, era suficiente me ocupar da imagem de Solange trocando

caricias com Kieran em um canto escuro da sala, onde pensaram que

ninguém poderia vê-los. Entre Solange e seu caçador e Nicholas beijando

Lucy, Isabeau ia pensar que não fazíamos nada além de acariciar e paquerar.

O que parecia muito bom para mim, mas acho que a ela não

interessava. — Oh, amigo... — murmurei enquanto a mão de Kieran passava

por debaixo da bainha da blusa de Solange. O gesso branco em seu braço era

notavelmente forte contra suas roupas pretas. O fato de que tinha um de

seus braços machucado por Solange era a única razão pela qual ele

atualmente não estava se jogando diretamente sobre ela. —... Essa é minha

irmã.

Solange apareceu por sobre o ombro de Kieran. — Vá Logan. Só está

com ciúmes porque não tem ninguém para beijar. Olá Isabeau.

Eu poderia matá-la. Estava se vingando por meu comentário de

“Princesa”, na noite anterior. E Isabeau se assustaria mais fácil do que uma

fêmea de cervo na temporada de caça se pensasse, por um segundo, que eu

queria sentir seus lábios sob os meus. Entrecerrei meus olhos como aviso

para Solange. — Você não deveria estar na reunião?

Kieran se afastou, limpando-se e se arrumando um pouco com

discrição. Não gostei do ritmo dos batimentos de seu coração, ou a direção

em que seu sangue fluía. — Tenho que esperar Hunter. — ele disse. — Esta é

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a sua primeira vez em território vampiro e eu prometi que não entraria sem

ela.

Solange lhe beijou mais uma vez, simplesmente para me irritar e

depois foi para a antecâmara.

— Pedi um gato para mamãe e papai. — murmurei em suas costas. Ela

me lançou um sorriso sobre seu ombro, ao me ouvir perfeitamente, como eu

havia previsto. Devolvi-lhe o sorriso.

— Os Helios-Ra realmente estão permitidos nas cavernas Reais. —

Isabeau murmurou enquanto caminhávamos atrás de Solange. Ela e Kieran

deram-se um grande abraço.

— É uma loucura. — Magda negou com a cabeça.

Encolhi um ombro. — Meus pais querem fazer as coisas de forma

diferente. Papai é bom com os tratados.

— E sua mãe? — Isabeau perguntou.

— Ela é boa fazendo os homens adultos chorarem. — respondi-lhe

secamente.

O sorriso de Isabeau foi breve e torto, e eu estava praticamente

babando. — Eu gosto dela. — disse. Soltou Charlemagne. — Posso ter um

momento? — disse suavemente. — Estamos sendo aguardados

imediatamente?

Olhei para o relógio de bolso pendurado em minha calça jeans preta.

— Temos uma boa meia hora. Só mencionei a reunião para manter Kieran

longe do rosto da minha irmã.

— Eles estão noivos?

Eu quase engasgo. — Eu desde já..., não acredito. Conhecem-se há

apenas algumas semanas.

— Ah! — ela e Magda trocaram um olhar feminino que eu não tinha a

menor intenção de decifrar. Decidi fingir que não tinha visto.

— Você quer um tour pelas cavernas? — perguntei para nos distrair.

— Oui. Se não for muito trabalho.

— De forma alguma. — estendi meu braço, da mesma forma que

fazem nos filmes de época. Ela suavizou. Teria sido excelente, só se Magda

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não tivesse franzido o cenho para depois colocar-se no meio de nós, a

empurrões.

— Eu também vou.

Teria que me conformar com o consolo de ter vislumbrado um pouco

da suave Isabeau, embora agora mesmo parecesse confusa, como se na

verdade tivesse querido segurar meu braço. Foi repentinamente muito fácil

imaginá-la em uma roupa de noite com anáguas, cachos em seus cabelos e

diamantes em sua garganta. Também me foi fácil imaginar Magda com

chifres e um tridente.

— Voltemos até o salão principal, para começar de lá. — levei-lhes de

volta, evitando a galeria de retratos.

A sala fervilhava de atividades e havia guardas em cada corredor.

Virei para a esquerda atrás de uma tapeçaria com o brasão da família Drake.

Madame Veronique nos enviou-a na noite depois que mamãe matou Lady

Natasha. Foi bordada a mão e tem pelo menos meio século, com a marca

Real de um rubi incrustado em uma coroa por toda a base. Veronique o

havia feito ela mesma, muito antes que Solange tivesse nascido.

Aparentemente prestou mais atenção à política vampiro e nas profecias em

comparação a todo mundo

— Este túnel muda de direção e passa pela maior parte dos cômodos.

— indiquei-lhes; enquanto nos enfiávamos no estreito corredor de pedra.

Estava iluminado com velas, colocadas em cristais vermelhos em forma de

globos que pendiam do teto, mas o piso era simples e as paredes estavam

úmidas. Magda olhou com desconfiança, mas eu a ignorei. — Todas estas

portas que estamos passando conduzem às câmaras dos convidados. —

apontei com a cabeça para uma grade de ferro fechada sobre uma porta

grossa com pesadas dobradiças. — O fornecimento de sangue está ali. —

expliquei. — No caso de um ataque e que fiquemos presos. Foi a primeira

solicitação que minha mãe fez.

— C’est bon42. — Isabeau aprovou. — Temos algo parecido em nossas

cavernas.

— Há muitas salas do conselho por este caminho e um armazém de

armas que atualmente está em fase de inventário.

42 Isto é bom em francês.

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— É lindo. — disse Isabeau educadamente. — Mas onde estão suas

histórias sagradas, suas pinturas? O sangue tem magia, certamente vocês

sabem; certo?

— Temos tapeçarias. — disse, mas não tinha a menor ideia do que ela

se referia.

— É verdade que sua mãe venceu Lady Natasha sem ajuda de

ninguém? — Magda interrompeu, como se não pudesse evitar.

— Sim. — eu disse orgulhoso. — Mais ou menos. Nada disso teria

acontecido se Isabeau não tivesse chegado, bem a tempo.

— Portanto, você está admitindo que todos estão em dívida conosco?

— Magda, cale-se. — disse Isabeau. — Todos nós queremos deter

Montmartre. Agora mesmo ele é muito poderoso.

— E uma dor na bunda. — concordei desagradavelmente. — Sem

mencionar que é um pervertido que rouba crianças. Ele é o que,

quatrocentos anos mais velho que Solange?

Isabeau afastou o olhar. — Tecnicamente eu sou duzentos anos, mais

velha que você.

— Não é a mesma coisa. — disse rapidamente. — Em absoluto.

Merda. Se eu tentasse, talvez pudesse enfiar meu pé com um

empurrão em minha enorme boca. Muita estupidez.

Magda sorriu de orelha a orelha.

Eu não tinha ideia de como recuperar esse território perdido. — Acho

que todos nós estamos em acordo de que você não é como Montmartre.

Isabeau inclinou sua cabeça, um brilho de humor em seus olhos

verdes. — Não quero a coroa. — ela concordou. — Nenhum Cwm Mamau a

quer.

E a coroa era tudo o que, mais ou menos, Montmartre queria. Além de

minha irmã mais nova.

Esta ideia me fez pressionar os dentes, forte o suficiente para que o

ruído assustasse Charlemagne. Relaxei minha mandíbula forçosamente,

graças à minha força de vontade. Depois percebi que havia nos levado à uma

câmara sem saída. Tinha ficado tão distraído pelo perfume de Isabeau, o som

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de sua voz e a maneira em que seu cabelo negro engolia a luz oscilante das

velas, que praticamente iam conosco pela parede.

Difícil de acreditar, mas aparentemente Isabeau tinha gostado de todo

o assunto de meu desastroso flerte.

Ela deu meia volta e notei que ela sorria, um verdadeiro sorriso

surpreso, como se não estivesse acostumada a ele. — Oh, Logan, c’est

magnifique43.

Aparentemente, ela gostava das paredes da caverna, a umidade

pegajosa e o mofo. Então eu percebi que as pontas de seus dedos estavam

tremulando sobre a pintura de um ocre vermelho desbotado. A cor era tão

fraca que eu nunca a teria notado. Portanto, pude somente distinguir a

impressão de uma mão.

— O que é isso? — perguntei.

— É uma historia Cwn Mamau sagrada. — ela explicou. — É mais

antiga do que qualquer coisa que jamais tenha visto.

— Isto é porque os membros da família Real nos roubaram as

cavernas. — Magda sentiu a necessidade de somar.

— Hey, eu só sou parte da Realeza há uma semana. — senti a

necessidade de me defender.

— Shhh. — Isabeau acrescentou suavemente, como se estivéssemos

discutindo por bobagens, como crianças. — Este é um lugar sagrado. Não

podem sentir?

Senti a qualidade do silêncio, o peso de pedra pressionando em todo

nosso redor. E se me concentrasse, os vestígios muito fracos de uma espécie

de incenso.

— Essa mão impressa é a marca de uma Shamanka antiga. E aqui,

estas linhas, representam as treze luas cheias em um ano. — ela sinalizou o

desenho de tal forma que eu pude ver claramente, ver as fracas linhas se

solidificando, ver a dança de luz das antigas tochas, o cheiro dos ramos de

cedro sob nossos pés. Uma onda leve de vertigem me pegou, deixando-me

tenso. Devo ter feito algum tipo de som enquanto olhava os arredores,

porque ela sorriu com um sorriso torto outra vez. — Você os vê agora, não

é?

43 Isto é magnífico em francês.

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Concordei, voltando a desfrutar das pinturas rochosas e a historia que

contavam. — Vocês fazem isso? — perguntei atordoado. — Mas como?

— É muito simples para uma serviçal. — ela respondeu. — Eu só

tenho que encontrar o fio da história desta Shamanka, a energia que ela

deixou presa nesta pintura. — ela sinalizou o contorno da mão impressa,

feita com manchas vermelhas. — Esta é sua marca.

— Então eu não estou louco?

— Não. — Isabeau respondeu.

Enquanto Magda bufava. — Sim.

— Olhem. — Isabeau nos incitou.

Uma mulher, que assumi ser a Shamanka, brilhou fracamente à nossa

vista. Parecia da mesma idade de Solange, mas com várias e longas tranças

loiras, símbolos em seu rosto e braços com uma espécie de tinta azul. Usava

um colar que era feito com ossos, cristais e garras de cachorros. Tirava a

tintura de ocre vermelho de uma taça de argila e a imprimiu nas paredes.

Cantava enquanto o fazia, mas eu não pude ver ninguém mais do que meia

dúzia de cachorros peludos gigantes aos seus pés, e um que parecia um lobo.

A fumaça do incenso se elevava de um monte de pedras brancas.

Tudo aconteceu tão rápido, até que as pinturas terminaram

abruptamente. Tinha cachorros que pareciam como se respirassem e se

moviam ligeiramente, como se o vento agitasse seus pelos. Havia vampiros

com sangue em seus queixos e uma lua vermelha no alto. Também havia um

coração humano, uma jarra de sangue, uma mulher com uma barriga

enorme, grávida de filhotinhos que se contorciam.

— Cwn Mamau. — explicou Isabeau em um sussurro reverente. — Os

Hound da Mãe

Havia uma percepção religiosa na obra de arte, tão simples e primitiva

como era. Os cachorros pintados levantaram suas gargantas ao mesmo

tempo e deixaram sair um lamentoso uivo, que levantou os cabelos na parte

de trás do meu pescoço.

E depois tudo ficou escuro, exceto por uma marca irregular de luz

vermelha na borda do teto baixo, no canto traseiro. O cachorro ocre pintado

de baixo grunhia.

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Isabeau desembainhou sua espada. O sentimento santo dentro da

caverna se fez em pedaços em um instante. Tratei de alcançar minha adaga,

mesmo não tendo ideia alguma de onde estava o perigo. Tentei dar um passo

diante de Isabeau para protegê-la. Ela chutou meu tendão de Aquiles e eu

xinguei.

— Eu te atravessarei com minha espada. — disse distraidamente, sem

deixar de olhar para cima, para a luz vermelha. Era pulsante, como um dente

quebrado. Tinha algo de ameaçador nela.

— Isabeau, tenha cuidado. — Magda disse enquanto Isabeau se

aproximava. Fiquei ao seu lado, apesar dela assobiar para mim.

— Que diabo é isso? — perguntei.

— Um aviso. — ela respondeu, baixando sua espada lentamente. —

Quando me conectei com a energia deste lugar rompi algum tipo de feitiço

oculto.

— Feitiço oculto? — repeti. — Isso não soa bem.

— É um feitiço pronto. — ela disse encolhendo os ombros. — Você

pode comprá-lo de qualquer bruxa ou feiticeira.

— Bruxas ou feiticeiras. — murmurei. — Esqueço que acordei em

algum tipo de conto de Fadas.

Ela negou com a cabeça. — Vampiros que não acreditam na magia. —

disse. — Eu nunca os compreenderei.

— Eu não disse que não acredito nisso. — respondi. — É que eu

simplesmente não esperava tantas malditas provas. — eu nem sequer

gostava da percepção da luz em meu rosto. Retrocedi um passo. — Então. O

que é que estava oculto?

— Uma pergunta muito boa.

Ela roçou a luz com aponta de sua espada, como se não quisesse tocar.

Charlemagne grunhiu uma vez. Houve um som de gemido e uma pedra solta,

então outro e depois outro. Uma grande rocha do tamanho de uma melancia

caiu no chão de uma tacada de pó. A estranha luz vermelha saiu, como uma

tocha em uma tempestade de vento.

Não antes de fazer brilhar, intermitentemente, uma abertura estreita

na parede. — Filho da puta. — murmurei, pegando uma vela e colocando-a

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no interior da abertura. O túnel atrás da abertura era longo, escuro e recém-

feito entre a pedra calcaria.

— Alguém está planejando uma visita não anunciada. — disse Isabeau

com seriedade.

— Montmartre. — cuspi.

— Ele está muito determinado. — Isabeau concordou. — Parece que

tem muitos planos.

Levantei a enorme e redonda rocha e a empurrei em seu lugar,

bloqueando o túnel novamente.

— O que fazer? — Magda perguntou.

— Não quero que saibam que encontramos sua passagem secreta, até

que tenhamos decidido o que fazer a respeito. — respondi limpando as mãos

para me desfazer do pó. Os coletes não são baratos e eu já havia arruinado

um ao correr pelo bosque, enquanto éramos perseguidos pelos caçadores de

recompensas e desertores Hélios Ra, no aniversário de Solange.

— Oh! — Magda disse, soando relutantemente impressionada. — Bom

ponto.

— Temos que voltar. — disse, esperando na entrada regular, para que

passassem através dela. Não quis dar as costas para aquele túnel, mesmo

sabendo que estava vazio. — A excursão terminou oficialmente.

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Capítulo Dez

Helena, Liam, Finn, e outros dois que eu não conhecia estavam à nossa

espera na antecâmara de uma caverna cheia de estantes com portas de

vidro para proteção contra a umidade inevitável. Uma lâmpada de óleo

queimava sobre uma mesa. Guardas acenaram para nós quando passamos

pela da entrada. Eu mal notei. Estava tentando manter minha compostura,

para ser a serva forte e confiável que Kala tinha me treinado para ser. Este

trabalho é importante, mesmo que não me sentisse adequada para ele.

Mesmo que o pesadelo de mais cedo estivesse circulando no meu cérebro de

novo como corvos sobre um cadáver fresco. Sem mencionar a tentativa de

decifrar o inesperado sonho com as pinturas rupestres. Sinceramente, não

esperava que ele funcionasse tão bem com um vampiro tão inexperiente

como Logan.

Liam levantou-se quando entramos. — Isabeau. — disse

calorosamente. Helena levantou a cabeça das pilhas de papéis e livros à sua

frente. Finn acenou para mim uma vez.

— Liam. — cumprimentei, a minha voz cuidadosamente vaga.

— Eu acredito que você dormiu bem?

— Sim, obrigada.

— Peço desculpas pelo evento infeliz com o Hypnos. — ele adicionou

sobriamente.

— Como eu.

— Agradeço por livrar as nossas florestas dos Host e quebrar o feitiço

contra a nossa filha.

— Disponha.

— Devemos-lhe por isso. — Helena concordou. Empurrou os livros à

distância. — Agora podemos dispensar esta cortesia e começar?

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Liam olhou para ela com tristeza. — Amor.

Ela atirou-lhe um olhar arrependido. — Desculpe. — virou para mim.

— Espero que você não esteja ofendida, Isabeau.

— Não. — assegurei. Na verdade, fiquei um pouco aliviada ao ouvi-la

falar aquilo. Estava começando a me perguntar se isso era parte da razão

pela qual eu fora escolhida: não necessariamente por causa de quem eu era,

mas por causa de quem era Helena Drake. Qualquer outra pessoa, incluindo

Magda, teria assumido que pensava que Hounds não eram dignos do

protocolo habitual. Entendi que ela era muito direta para se preocupar com

os jogos políticos. Fez-me de repente esperançosa sobre a aliança entre

nossas tribos. Estávamos cansadas de jogos e política.

— Estou com um pouco de inveja de você, é verdade. — acrescentou.

Pisquei. — Desculpe?

— Teria gostado de ter perseguido um Host na noite passada. Ao

invés disso estou cercada por tratados, protocolos e guardas hiperativos. —

ela sacudiu a cabeça. — Vou sair esta noite para caçar, Liam, então você vai

ter que fazer todo mundo simplesmente lidar com isso.

Ela não parecia como qualquer mãe que eu já conheci. Minha própria

tinha sido mais interessada em rendas e dançar até o amanhecer.

Logan sorriu. — Não acho que as Rainhas devam caçar; mãe.

— Então eu vou levar Isabeau comigo. — ela direcionou um sorriso

seco em minha direção. — Então não vai ser uma caçada, será

aprimoramento da aliança.

— Nós ainda vamos fazer de você uma política. — disse Liam.

— Não há necessidade de insultar. — ela se sentou em sua cadeira,

sua longa trança negra caindo atrás dela.

— Mãe, nós encontramos um túnel secreto. — Logan disse a ela

seriamente. — Muito novo, atrás das cavernas vazias do outro lado da sala

de armas.

Seus olhos se estreitaram perigosamente. — Mais um?

Ele piscou para ela. — Há mais deles?

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96

— Dois, que tenhamos encontrado até agora. — respondeu ela. — Seu

pai não vai deixa-me enchê-los com dinamite.

— Prefiro não ter o complexo inteiro caindo sobre nossas cabeças. —

ele disse secamente. — Vou cuidar disso. — falou em seu telefone celular em

um discreto sussurro e logo um dos guardas abriu a porta.

De repente, o quarto parecia demasiado pequeno e restritivo. Hart, o

líder da Helios-Ra, passeava com Kieran e uma menina com longos cabelos

loiros. Seus ombros eram pequenos, a mão pairando sobre uma estaca no

cinto. Ela usava uma calça cargo preta e camisa que praticamente qualquer

outro agente usava quando estava em missão. Procurei pelo frasco de pó

Hypnos que eles prendiam dentro de suas mangas, mas não consegui

encontrá-lo.

— Hart. — Liam cumprimentou o outro homem com um amável

aperto de mão. — Ainda bem que você conseguiu vir.

Eu e a menina loira fomos as únicas que observaram isso como se não

achássemos que fosse totalmente normal. Bem, e Magda, é claro. Ela foi para

mais perto de mim, o segundo conjunto de presas ligeiramente salientes.

Hart era bonito, vestido com uma simples camisa de abotoar cinza e jeans no

lugar das camuflagens. Tinha uma cicatriz em sua garganta.

— Você conhece Kieran, é claro. — disse ele. — Esta é Hunter Wild. —

apontou para a loira. — Os Wild têm sido parte da Liga desde o século XI.

— Como vai você? — Liam murmurou calmamente. — Sente-se.

Hunter concordou com a cabeça rígida, os olhos arregalados. Kieran

pigarreou, empurrando-a em uma cadeira ao lado dele. O resto dos irmãos

Drake acompanharam, roubando a última gota de ar e do espaço deixado no

quarto. Hunter olhou para eles fixamente. De todos na sala, a caçadora de

vampiros era quem eu mais poderia me identificar nesse momento. Meus

olhos saltariam da minha cabeça também se eu os deixasse. Este tipo de

grupo se reunindo pacificamente era sem precedentes, fora as velhas

famílias do Conselho.

— Nós podemos fazer um bom trabalho. — Liam disse calmamente.

— Se nos permitíssemos. Chamamos o Conselho. Eles estarão aqui em dois

dias. Entretanto, Hart já concordou em trabalhar conosco.

— O que, e simplesmente desistir de matar vampiros? — Magda

perguntou. — E você acredita nele?

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97

Hart meio que sorriu. — Estamos todos aprendendo que um pouco de

discrição é tudo. Temos um inimigo comum, afinal.

— Montmartre? — eu perguntei. Não tinha pensado que Helios-Ra

estavam particularmente interessados na política dos vampiros.

Ele balançou a cabeça. — Não, o Hel-Blar. Algo os tem posto em

corajosa execução. Nós nunca interceptamos tantas chamadas para a polícia

sobre pessoas estranhas usando tinta azul44. Acho que estamos de acordo

que eles precisam ser caçados.

Magda concordou com relutância. Ela não tinha amor pelo Hel-Blar;

nenhum de nós tinha. Era muito fácil para os Hounds lembrar que poderiam

ter sido como eles, mas por um pouco de sorte e um pouco de fortaleza

interior escondida...

— Estamos recebendo relatos preocupantes durante toda a noite

também. — Helena disse. — Os Hel-Blar estão de repente por toda parte.

Magda assobiou. — Eles são como baratas.

— Só que um pouco mais mortais. — Finn concordou.

— Montmartre está por trás disso? — Hunter perguntou. — Não acho

que ele poderia controlá-los. Não é essa a verdadeira razão para sua

existência?

— Não sabemos. — Helena respondeu sombriamente. — Eu

realmente gostaria de alimentá-lo com seu próprio...

— Querida. — Liam a parou suavemente.

— Bem, eu faria. — insistiu ela. — Hel-Blar ou não, precisamos cuidar

disso.

— Concordo.

— Podemos parar Montmartre. — eu disse-lhes com confiança. —

Nós quase fizemos na semana passada. Ele não é invulnerável.

— Essa é a melhor coisa que alguém disse para mim a noite toda. —

Helena me disse. — Mas me diga a verdade, Isabeau, os Hounds se aliariam a

nós?

44Os Hel-Blar são pessoas de pele azul. Daí as pessoas acharem que pintaram suas peles.

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98

— Todos nós queremos parar os Hel-Blar. — lhe assegurei. — E

Montmartre.

— E depois que ele for parado?

— Os Hounds não reconheceram ninguém, a não ser a nossa

Shamanka como a nossa líder legítima. — disse eu delicadamente. — Nunca

faremos parte dos tribunais.

Helena levantou uma sobrancelha. — Tenho bastantes vampiros. Eu

não preciso de mais.

— Na verdade, isso é tranquilizador. — Finn murmurou. — Você pode

tentar salientar esse ponto tão frequentemente quanto você queira quando

se trata dos Hounds. Eles estão bastante empenhados no direito de

governar a si mesmos. Acho que você entende isso, dada a sua história.

— Não cederemos à Montmartre ou qualquer outra pessoa. — Magda

concordou fervorosamente.

— Você acha que nossas Tribos seriam capazes de formar uma

aliança? — Liam perguntou. — Uma que reconheça a autonomia de todos.

— Eu acho que sim. — apesar da minha desconfiança natural em

relação aos Tribunais Reais e aos não Hounds em geral, eu realmente gostei

do Drake. Acreditava que eles eram de confiança, mesmo que eu não tivesse

nenhuma prova real dela. Era algo que sentia. — Há muitas superstições e

rituais que são especiais ao nosso povo. — disse. — Alguns Hounds nunca

concordarão em trabalhar com vocês, porque vocês não foram iniciados,

mas eles não vão contra Kala também.

Hunter estava olhando para Magda e para mim tão atentamente que

Kieran a reprendeu.

— Desculpe. — ela murmurou.

— Ela nunca viu Hounds. — disse nos Kieran.

— Eu posso falar por mim mesma. — Hunter disse a ele.

— Bem, você está sendo rude.

Olhei para ele. — Pelo menos ela não me cumprimentou com um rosto

cheio de pó Hypnos.

Kieran ficou vermelho.

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99

Quinn sorriu abertamente, descansando em sua cadeira. — Ela lhe

pegou nessa.

— Crianças. — disse Helena, metade acentuadamente, metade com

carinho.

O telefone celular de Hart vibrou discretamente. Ele olhou para o

display. — Desculpe-me, tenho que atender isso. Hart falando. — sua

mandíbula se contraiu. — Quando? — ele olhou para Liam. — Outro Hel-

Blar a vista. está no limite da cidade.

Liam amaldiçoou.

— Temos implantado uma unidade. — garantiu-lhe Hart.

Liam acenou para Sebastian. — Leve um guarda e veja se você

consegue ajudar.

Sebastian saiu pela porta sem dizer uma palavra.

— Eu vou também. — Finn se levantou. — Devemos começar a

trabalhar juntos imediatamente. Além disso, temos um certo conhecimento

neste assunto que ninguém mais tem.

— Mas você não é um Hound, certo? — Hunter apontou;

honestamente confusa. — Você não tem tatuagens ou qualquer coisa.

— Não, mas eu vivo com eles há quase 400 anos. — ele lhe disse antes

de seguir Sebastian. Era estranho não ir com ele, mas eu sabia que era mais

necessária aqui, por muito que pudesse preferir correr e bater em alguns

Hel-Blar.

— Vamos voltar a nos reunir em meia hora. — Liam sugeriu para o

resto de nós. — Podemos comparar anotações e continuar daqui.

— Vamos lá, Buffy. — Quinn falou para Hunter. — Vou te dar um tour.

Aproveitei a oportunidade para deixar a pequena sala. Estava

acostumada a cavernas escuras e isolada, mas as nossas não eram cheias até

a borda com pessoas. Logan e Magda me seguiram, como se eu tivesse um

plano. Estávamos caminhando para fora quando fiz uma pausa, franzindo a

testa. Toquei com meus dedos o amontoado de amuletos na minha garganta.

Eles estavam quentes e vibrando ligeiramente, como se eles sentissem um

tremor de terra que ninguém mais sentia.

— Algo está errado. — eu sussurrei.

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100

Eu e Magda estendemos a mão para os nossos telefones, que tocaram

exatamente no mesmo momento. Não me incomodei em atender o meu. A

corrente de meu amuleto quebrou e espalhou os pingentes pelos tapetes. O

dente wolfhound coberto com prata e pintado com um corante azul feito da

planta woad45 quebrou ao meio. Olhei para cima para ver a expressão

selvagem de Magda.

— Kala está machucada. — ela confirmou. — Os Host atacaram nossas

cavernas. — ela silvou. Se ela fosse um gato, sua pele teria levantada em

linha reta para o ar.

Senti-me estranhamente entorpecida. — Tenho que ir. — disse a

Logan, pegando os amuletos e enfiando-os em meus bolsos. Charlemagne

estava ao meu lado antes de eu falar o comando. Os cortesões sussurraram

um ao outro quando corríamos por eles para o outro lado do salão

decorado. — Estaremos de volta para a Coroação.

Logan pegou o casaco pendurado em um cabideiro. — Vou com vocês.

Não tinha tempo para discutir com ele e estava estranhamente

consolada pelo fato de que ele viesse comigo. Mesmo que não precisasse

dele.

E não discuti.

— Diga a meus pais que estamos indo para os Hounds. Sua Shamanka

foi ferida. — ele falou para um dos guardas na entrada.

Eu e Magda já estávamos na descida da encosta. Algo caiu do bolso de

Logan quando nos alcançou. Ele pegou perplexo. — O que é esta coisa?

Ele estava segurando a pata de um cão cinzento, as unhas enroladas

dentro. Foi envolto em fio preto e espinhos de rosa sem flores. Gelei.

— Isso é um encanto de morte. — eu disse. — Um raro feitiço CWN

Mamau. — eu continuei quando ele apenas olhou para mim.

— É a pata de um cão. — ele disse muito claramente, deixando-a cair

no chão. — Isso é nojento. Pensei que vocês gostassem de cães.

45Planta que possui um pigmento azul. Foi muito usada na época medieval para tintura de roupas. Também

usada pelos Pictus para colorirem a pele. Woad eventualmente foi substituído pelo anil mais forte e então por

anil sintéticos.

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— Ele não foi morto por causa de seu pé. — disse a ele. — Quando os

nossos cães morrem de causas naturais. — eu expliquei — Ou em um

ataque, os usamos no emprego de feitiços, após os ritos de sepultamento.

— Sim, continua sendo nojento. — murmurou ele.

— E vê isso? — eu apontei um disco de osso liso pintado com um

wolfhound e uma flor-de-lis azul. — Essa é a minha marca pessoal. Alguém

está tentando me culpar.

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Capítulo Onze

Paris, 1793

— Papai, eu não entendo. — Isabeau suplicou. — Porque tenho que

usar este vestido horroroso? Ele me pinica. — o vestido em questão era de lã

cinza sem um pingo de enfeite. Ela podia ser confundida com uma

empregada ou uma garota do povo. Até seu cabelo estava preso para trás em

um complicado redemoinho sem um só enfeite de pérolas ou algum grampo

de diamantes.

— Chouette, já não é seguro. — respondeu Jean Paul.

Ela nunca o havia visto assim antes. Nada o assustava, nem Versalles,

nem os lobos uivando no bosque, nem sequer as enormes aranhas que

entraram no Castelo justo no inverno. Ela o havia visto lutar em um duelo

uma vez, quando se supunha que ela deveria estar dormindo em sua cama.

Agora ele parecia desfigurado e cansado e quase cinza de tristeza. Sua mãe

estava sentada chorando no canto. Não tinha parado de chorar por dias. Seu

cabelo estava perdendo seus cachos, seu rosto estava sem empoar. Isabeau

estremeceu.

— Trata-se do Rei, certo? — sussurrou.

Ele lançou-lhe um olhar. — O que você sabe; chouette?

— Que o povo tomou a Bastilha e que Paris já não é segura,

— Não se trata apenas de Paris. — disse em voz baixa; empurrando

outra rodela de queijo no saco de couro que tinha diante dele. Eles estavam

na cozinha, agrupados junto ao fogo da lareira. Sua velha babá Martine,

estava na porta, com a coluna reta. Usava um vestido de lã marrom e seu

cabelo estava penteado para trás, com um gorro de pano. Isabeau nunca a

tinha visto tão simples e comum antes. Ela estremeceu novamente.

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— Eles ganharam força e número. Criarão a guilhotina como uma

forca permanente. E o Rei foi executado ontem. A França já não tem realeza

agora.

Ela o olhou surpresa. — Mataram o Rei?

— Você sabe o que isso significa Isabeau?

Ela negou com a cabeça, em silêncio.

— Isso significa que nenhum de nós está a salvo. — envolveu um

grosso manto sobre os ombros dela. — Aqui, mantenha isto. Faz frio agora.

Fechou o cinto com força. — Aonde nós vamos?

— Vamos para a casa de meu irmão em Londres.

— Inglaterra? — repetiu. Sua mãe chorou mais fortemente, afogando-

se em soluços. — Mas você não fala com ele há anos.

Ela foi interrompida pelo som de vidros quebrados vindo da parte

frontal do Castelo. Virou-se para o som. Sua mãe jogou-se no chão, suas

mãos cruzadas sobre a boca trêmula. Seu pai ficou rígido.

— Merde46. Não há tempo. — seus olhos estavam decididos,

profundos quando encontraram os dela. — Isabeau, eu preciso que você se

esconda. Vá com Martine, leve sua mãe. Lembra-se da pedra quebrada que

eu te mostrei?

Isabeau assentiu; seu coração batendo tão rápido que revirou seu

estômago.

— Remova-a e enfie-se dentro. A passagem às levará para fora. Ao

bosque, pelos campos de lavanda. — mais sons de vidros quebrados e

alguma coisa dura tinha sido jogada, contra a porta fechada. Ouviam gritos,

com voz fraca.

— Entendeu Isabeau?

Obrigou-se a olhá-lo. — Oui, papai. — ela entendia perfeitamente.

Tinha dezesseis anos e estava mais bem preparada para proteger sua frágil

mãe.

— Então vá! Vá agora!

46Merde: Francês que significa Merda.

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104

— Não. — Amandine gritou, agarrando seu braço com tanta força que

o tecido de sua camisa rasgou sob suas frenéticas unhas. A porta estilhaçou-

se com um forte e agudo rangido, que ecoou por todo o Castelo. O rosto de

Martine parecia assustado enquanto agarrava o ombro de Isabeau.

— Temos que ir. — o ruído de passos ia se aproximando deles. A

multidão gritou, derrubou os quadros da parede, uivou com a fome e a

frustração. Os candelabros de ouro no corredor poderiam ter comprado

alimentos por um inverno para uma família inteira. Mas não importava se

tinham dinheiro suficiente para comprar ou não. A geada de Janeiro cobriu

os campos e as hortas, as colheitas do Verão tinham sido mais fracas do que

o habitual, devido ao mal tempo e a agitação política.

Jean Paul tentou sair do agarre de Amandine, empurrá-la aos

cuidados de Isabeau, mas sua esposa estava louca de medo e não se moveria.

Ele não a deixaria salvá-lo e ele não podia arriscar sua filha. Nem todos

poderiam escapar, seriam perseguidos pelo campo até serem encontrados.

— Cherie47, por favor! — rogou a sua esposa. — Por favor, você tem

que ir.

A multidão estava quase sobre eles. Não havia tempo, não havia mais

opções. Lançou um olhar desesperado a Martine. — Pegue Isabeau.

— Papai, non! Todos nós sairemos! — Isabeau lutava para convencê-

lo, mesmo quando sua mãe caiu completamente inerte em seus braços.

Os irritados aldeões entraram como furações na cozinha, em busca de

alimento, deixando alguns outros para quebrar e saquear o que pudessem.

— O Duque! — uma mulher de cabelo cinza gritou. Ela estava tão

magra, suas costelas eram visíveis por debaixo do vestido rasgado. Alguém

gritou, mais como animal do que humano. As chamas de uma tocha pularam

em uma toalha de mesa que o aceitou de forma instantânea; O cheiro de

tecido queimado misturou-se com óleo de pinheiro em chamas.

Martine empurrou Isabeau para trás e se encaminhou para o escuro

jardim da cozinha antes do amanhecer, antes que ela pudesse resistir.

Caíram no manjericão, amassando os arbustos secos enquanto rolavam para

as sombras da parede de pedra decorada.

— Vem. — Martine puxou sua mão com força. — Je vous en prie48.

47Cherie: Querida.

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105

— Meus pais. — disse Isabeau através das lágrimas que obstruíam

sua garganta. — Temos que ajudá-los.

— É tarde demais para eles.

— Non. — mas ela podia ouvir os gritos, o rasgar das mãos através

dos barris de carne salgada e cestas de maçãs frescas. Ela podia ouvir os

estranhos gemidos de sua mãe, como um gato aterrorizado, e os

xingamentos de seu pai, enquanto lutava para protegê-la.

— Seu pai nunca nos perdoaria se você não ficar em segurança. —

Martine disse em voz baixa, com urgência.

Isabeau sabia que ela tinha razão. Martine se aproveitou dessa pausa

para arrastá-la até a beira do bosque. Luzes de tochas brilhavam da janela da

cozinha, assim como mais tecidos queimavam pelo fogo. A fumaça saía pela

porta aberta.

Viu seus pais, da copa alta de uma árvore de carvalho. A multidão os

arrastou até um caminhão de fazenda e os prendeu pelos lados. O pai de

Isabeau olhou para frente, negando-se a procurar por sua filha para não

delatá-la. Isabeau, de alguma forma, sabia que ele podia senti-la ali na

árvore, prendendo sua boca com uma das mãos para não gritar. Martine

segurou-se no tronco ao seu lado, com o rosto banhado em lágrimas

silenciosas.

— Vou para Paris. — Isabeau jurou. — E vou encontrar uma maneira

de salvá-los.

Isabeau esperou até que Martine estivesse adormecida antes de

escapar. Haviam encontrado um refúgio em uma fazenda abandonada, as

tábuas de madeira estavam separadas sob o vento e não havia neve nos

cantos, mas era melhor do que estarem expostas em uma noite de Janeiro.

Fizeram uma pequena fogueira, suficiente apenas para esquentar seus pés

em suas botas caseiras. Isabeau levou os joelhos até o peito e deixou cair um

grosso casaco ao seu redor como uma tenda. Fechou os olhos e fingiu estar à

margem, até que ouviu Martine roncar novamente.

Ela estava tremendo, ligeiramente, e a cinza em seu cabelo parecia

mais aparente, as linhas ao redor dos olhos mais profundas. Isabeau não

podia suportar a ideia de deixá-la para trás, mas também não podia deixar

que sua babá fosse com ela para Paris, era uma armadilha mortal.

48 Je vous en prie: Por favor.

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106

Mas não havia modo possível de que ela pudesse ir para outro lugar.

Seus pais tinham sido presos e arrastados. Neste momento, estavam na rua,

condenados por crimes monárquicos e logo seriam executados.

Tinha que defendê-los.

E tinha certeza que Martine tentaria detê-la.

Portanto, o melhor seria que ela se fosse agora mesmo, antes que lhe

fosse ainda mais difícil. Seus olhos estavam ásperos e inchados, seu

estômago estava em chamas pelo nervoso, mas no fundo sabia que estava

fazendo a coisa certa. Deixou a maioria das moedas que seu pai havia

costurado em seu casaco para Martine, ficando apenas com o suficiente para

ir para a cidade. Martine precisava mais do que ela. Poderia ir para a

Inglaterra ou Espanha, ou se hospedar com um aldeão. Talvez alguém se

casasse com ela. Era gordinha, bonita e dedicada, e merecia ser amada e

protegida da mesma forma em que havia cuidado de Isabeau durante toda a

vida. Deveria ter sido trabalho de Isabeau encontrar uma nova colocação

para sua babá, uma nova família para morar, ou melhor, pedir a seus pais

que a mantivessem com ela até que se casasse e tivesse seus próprios filhos.

Nada disso era provável agora. O matrimonio era o mais distante na

mente de alguém. O Rei estava morto, Maria Antonieta está presa e a maior

parte da aristocracia tinha sido assassinada ou havia fugido para fazer

molhos cremosos e pastéis para os ingleses.

Isabeau tinha dezesseis anos e ela era inteligente, engenhosa e faria

tudo o que tinha que fazer. Encontraria seus pais e depois encontraria um

barco para levá-los a alguma parte, em qualquer lugar.

Ela abriu a porta, fazendo uma careta ante o vento frio que entrava no

interior, agitando a resto da fogueira. Martine gemeu e se moveu

desconfortável. Isabeau fechou a porta rapidamente e esperou,

pressionando-se contra o outro lado, ouvindo o som da voz de Martine.

Satisfeita de que sua babá não havia acordado, Isabeau deslizou para

fora da cabana. A noite estava especialmente escura, sem lua para iluminar

seu caminho. Estava sozinha no silêncio gelado com apenas uma capa de

neve como companhia. Ela caminhou tão rápido quanto seus pés frios

permitiram, tropeçando nos galhos, mantendo-se a beira do bosque, pela

estrada.

Caminhou a noite toda e não parou até o amanhecer filtrar-se através

das nuvens. Seus pés e suas panturrilhas doíam, e estava convencida de que

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107

nunca recuperaria a sensibilidade na ponta do nariz. Continuou caminhando

com a dor, pelo vento frio e com seu estômago vazio e roncando. Escondeu-

se entre os arbustos quando ouviu o som das rodas de um coche, não

confiaria em ninguém para pedir um lugar na parte de trás de um coche. Ela

podia se misturar com seu casaco de lã e vestido cinza, mas sabia que seu

sotaque era muito culto, muito obviamente aristocrático, e que só podiam

fazer dela um objetivo.

Quanto mais próxima estava de Paris, mais obstruído o caminho se

tornava, especialmente com as pessoas que fugiam para o campo. Apenas os

radicais, os aventureiros e os loucos se dirigiam para a cidade nestes dias.

Colocou o capuz sobre seu cabelo e baixou os olhos, mantendo-se entre as

árvores. Com o tempo, reduziram-se a irregulares arbustos e logo em

campos, para depois passar à periferia da cidade, onde tudo era de pedra

com tetos cinza sob a luz do sol de inverno.

Tinha caminhado durante três dias com muito pouco sono e apenas

água do córrego congelado, que ela derretia e bebia. Sua cabeça nadava e

sentia-se como se estivesse com febre; tudo era muito brilhante ou muito

opaco, muito forte ou muito suave.

Parou o tempo suficiente para comprar comida e um copo de café

forte, para assim se fortalecer. Encolheu-se em seu casaco, tentando não

olhar para todos e tudo. Pequenas casas aglomeradas deram espaço aos

edifícios, torres altas e de pedra cor manteiga. O rio Sena ondulava através

da cidade, mais a frente, as Tuileries49, onde uma vez o Rei havia vivido,

antes que cortassem sua cabeça.

Obrigou-se a ficar em pé e seguiu o rio. A água agitava-se sob uma

grossa camada de gelo quebrado. Esfregou as mãos para esquentá-las, tendo

cuidado de não chamar atenção de ninguém. Os homens acotovelando-se em

grupos consumiam café e distribuíam panfletos, enquanto as mulheres com

flores cobriam seus gorros nas esquinas conversando. Seus rostos estavam

sérios, com um propósito. Isabeau podia cheirar a fumaça persistente e viu

montes de lixo queimados nos distúrbios e nas lutas que se apoderaram das

ruas durante a noite. Ela tinha ouvido seu pai falar de mais e mais,

especialmente no outono passado, quando muitos haviam sido massacrados.

49O Palácio das Tulherias (em francês Palais des Tuileries) foi um palácio parisiense, cuja construção

começou em 1564 sob o impulso de Catarina de Médicis, num local ocupado anteriormente por uma fábrica de

telhas (tuiles). Hoje só existem os jardins, pois o palácio foi demolido após um incêndio.

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Ela tinha ouvido falar que a guilhotina havia sido estabelecida em uma

das praças da cidade, mas não sabia onde estava. Seus pais não tinham ido à

casa de Paris desde o Natal, quando tinha onze anos. Lembrou-se que passou

pela casa de opera em sua carruagem e também da neve que caia nas ruas.

Ela podia andar em círculos e nunca encontrar o caminho.

Finalmente percebeu que a multidão parecia ir para a mesma direção.

Parou atrás de um grupo de mulheres com as mãos apertadas, embaixo de

um poste apagado. Prestando atenção nas duas senhoras que se

aproximavam lentamente.

— Perdão, senhora?

Uma das mulheres virou a cabeça para olhar-lhe raivosamente.

— Cidadã. — corrigiu ela, sombriamente.

Isabeau se corrigiu. — Perdão, cidadã. Poderia me dizer como se

encontra A Praça da Concórdia?

A mulher concordou com a cabeça. — está visitando Louisette50,

certo?

— Oh! Hm, sim.

— Você não é daqui, não é?

Isabeau deu um passo para trás, perguntando-se se devia colocar-se

rapidamente em segurança no labirinto de vielas. — Sim, eu sou.

A mulher negou com a cabeça, de uma forma pouco amável. — Por

esta rua, vire à direita.

— Obrigada.

— Se você for depressa, pegará a última execução. Só tem que seguir a

multidão e o barulho. Robespierre51 prendeu um Duque e uma Duquesa

muito gordos52. — sua companheira assentiu presunçosamente. Uma delas

cuspiu na sarjeta.

50Louisette: Rua próxima a Praça da Concórdia.

51Robespierre: Foi um político Francês (apelidado de “O Incorruptível” por sua dedicação a Revolução e por

sua resistência aos subornos.) e um dos mais importantes lideres da Revolução Francesa.

52N.T: É uma expressão, como quando dizem: Prenderam um peixe gordo, faz referência ao fato de que eram

pessoas muito importantes.

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O estomago de Isabeau caiu como uma pedra. Lançou-se a correr, se

esquivando de mesas de café e latidos de cães e carros rodando lentamente

pela rua. Ouviu um clamor de varias ruas mais, mesmo com os batimentos

de seu pulso em seus ouvidos. Os paralelepípedos estavam escorregadios

com o gelo, escorregou e caiu contra o pilar de um grande edifício. Levantou-

se, olhando freneticamente ao redor. Todos os edifícios pareciam iguais, as

mesmas pedras e grandes janelas colunas e calçadas. Respirou lenta e

profundamente. O burburinho ecoou, desta vez mais forte. Em seguida

correu novamente.

Ela chegou ao momento em que a guilhotina caiu, a lâmina brilhante

sob o sol. Houve uma pausa silenciosa e então mais gritos. A terra parecia

tremer com todo o barulho dos pés batendo no chão. A pressão do barulho

fez-lhe ter náuseas. Nunca tinha visto tanta gente em sua vida. Tinha

guardas com baionetas, centenas de cidadãos e cidadãs, bebês, moleques,

trombadinhas e prostitutas com bochechas vermelhas.

Isabeau abriu caminho entre a multidão, fazendo pouco caso dos pés

que pisava e nos xingamentos que jogavam em seu caminho. Lutou contra a

parede de pessoas, dirigindo-se para o cercado no centro da praça. Era

quente, com tantos corpos e tochas acesas em fogareiros. Na parte da frente,

fixada alta e estranha, estava a guilhotina, havia mulheres tecendo, sentadas

em frente a uma grande cesta, para onde rodavam as cabeças. Sentavam-se

muito próximas, o sangue as salpicava. Haviam descoberto há muito tempo,

a distância perfeita e exata. Isabeau podia ouvir suas agulhas batendo

enquanto tentava se empurrar no meio delas. No justo momento em que a

lamina caiu pela segunda vez.

A cabeça de seu pai rolou até a grande cesta, parando boca a boca

com a cabeça de sua mãe. Seus longos cabelos presos juntos. O sangue

filtrava através do vime, a madeira do estrado estava manchada com o

mesmo.

Os gritos de Isabeau foram afogados pelos expectadores

entusiasmados, Gritou até ficar rouca e sentiu a queda, e nem sequer tentou

deter o choque de sua cabeça contra o pavimento frio.

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110

Capítulo Doze

Não ia deixar que Isabeau fosse sem mim.

Não me importava desde quando ela conhecia Magda, nem mesmo me

importava que ela fosse voltar à Tribo que amava. Seu escudo havia se

rompido e não podia esquecer o que havia conseguido descobrir sobre ela. E

não havia dito uma frase barata quando lhe disse que sentia como se já nos

conhecêssemos. Algo em mim, alguma coisa reconheceu algo nela.

Mas eu não era estúpido.

Sabia que ela nunca admitiria, e não apenas porque eu era um Drake e

da Realeza. Ainda me sentia estranho ao pensar em mim mesmo como

alguém da Realeza. Eu era um dos muitos garotos Drake, com um rosto

bonito e uma boca inteligente. Não me destacava particularmente, não tinha

habilidade com os computadores como Connor, o gancho direito de Quinn,

ou o dom de Marcus para os negócios. Sou apenas o que se veste melhor.

— Posso assumir que você não está tentando me matar? — perguntei-

lhe enquanto corríamos, deixando a garra de cachorro para trás;

— Não fiz esse encanto. — disse Isabeau. — Mas quero saber quem

está desgraçadamente, tentando sujar meu nome.

— E me matar. — lembrei-lhe secamente.

Ela parecia distante e fria, mas eu podia ver a tensão de preocupação

sob seu delicado rosto. Nunca tinha conhecido ninguém mais autossuficiente

do que ela, correndo junto ao seu cachorro, sua espada presa em suas costas.

Magda me deu um olhar assassino, o qual eu ignorei. Alguém se materializou

ao meu lado.

— Jen, fique aqui. — eu lhe disse. A última coisa que precisava era

alguém nervoso como ela, irrompendo em território Hound. Ela estava

armada até os dentes, estacas lotando a cinta de couro que se ajustava

apertada entre seus peitos e havia adagas em seu cinturão.

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111

— Alguém tem que vigiar suas costas. — disse teimosamente.

— Eu vou ficar bem. — insisti irritado. Não era como se eu fosse

Solange com algum vampiro louco de amor vindo atrás de mim, ou um

menininho. Podia cuidar de mim mesmo. Tenho dezoito anos, pelo amor de

Deus!

— Você é da Realeza. — disse me seguindo pelo bosque escuro. — Eu

sou uma Guarda Real.

Suspirei irritado. Não tinha tempo para encantá-la ou tirá-la de cima

de mim. — Muito bem. — rebati. — Mas vamos ser os convidados dos

Hounds, portanto não procure uma briga.

— Contanto que eles não comecem nada, eu também não.

— Preciso que você jure.

Seus olhos azuis brilharam. — Eu juro.

— Menos conversa. — Isabeau nos disse novamente. — Mais ação.

Ela estava correndo como um relâmpago pelo bosque, como um

cometa, sua pele pálida brilhava ligeiramente quando a luz da lua abria

caminho através das grossas árvores. Ela não tinha ideia de quão linda

estava, mesmo sinistra e mortal como estava neste momento.

E provavelmente não deveria ver sua bunda tão detalhadamente, mas

não podia me impedir.

O bosque ficou em silêncio por causa da nossa aproximação. Cinco

vampiros movendo-se rapidamente podiam silenciar até mesmo as cigarras.

Uma coruja piou em uma árvore, mas não voou. Eu não sabia o que esperar

nas cavernas dos Hounds. Ninguém tinha colocado os pés lá em quase um

século, sem ser convidado, mesmo quando eles estavam em cavernas

reservas e não na residência principal. Eu tinha ouvido histórias sobre os

selvagens Hounds desde que era pequeno. Isabeau tinha sido uma surpresa

para todos nós. Finn também, que agora pensando bem, já era tecnicamente

um Hound, absolutamente. Ele tinha optado por aliar-se a eles e eles o

haviam permitido. Eu não tinha certeza qual parte era mais estranha.

Ficamos perto da montanha, beirando os enormes carvalhos. O vento

era quente, inclusive aqui. Agosto quase havia terminado; logo as folhas

mudariam de cor e cairiam. Isto tornava mais difícil permanecer sem ser

detectado no bosque, mas não impossível.

Page 112: Drake chronicles 02 blood feud alyxandra harvey

112

— Vocês cheiram algo? — Magda perguntou repentinamente,

parando e franzindo o cenho. Ela cheirou o ar como um gato desconfiado.

Sua expressão estava em branco. — Sangue.

Minhas narinas queimaram. Definitivamente sangue. Muito dele.

Apesar da situação, meu estômago queimou. Minhas presas estenderam-se

instintivamente.

— E mais alguma coisa. — acrescentei, ouvindo um som como gelo em

um copo. — Alguém ouviu isso?

Isabeau assentiu gravemente. Movi-me para mais perto dela, apesar

de Magda tentar me bloquear. Ela agia como se eu fosse uma ameaça, como

se eu estivesse tentando estacar Isabeau quando ela não estivesse olhando.

Como se eu pudesse e como se Isabeau não pudesse me deter. Não sei o que

dizia isso sobre que tipo de classe de pessoa eu havia me transformado que

ela provavelmente poderia chutar meu traseiro se quisesse. Ela podia

parecer uma boneca de porcelana, mas eu sabia por experiência própria, que

era dura como as lanças de ferro. Teria que encontrar uma forma mais

agradável de lhe dizer isso. Eu não acho que esteja acostumada a elogios,

mas eu podia muito bem começar a conseguir que ela se sentisse confortável

com isso, porque eu tinha planejado elogiá-la e muito. Tão logo ela deixasse

de me olhar como se estivesse tentando descobrir alguma coisa, que era o

que eu realmente queria.

Que era ela. Apenas ela.

Quase me queixei em voz alta. Ter uma tia que havia dormido com

Byron53 e insistido em que lêssemos todos os poetas românticos, teria

apodrecido, obviamente, meu cérebro. Meus irmãos não me deixariam viver

se soubessem que eu havia me apaixonado por uma princesa Hound depois

de apenas uma noite, sem sequer beijá-la. E eu ainda não tinha intenção de

dizê-lo. Você não sobreviveria a cinco irmãos mais velhos e uma mais nova,

dando na cara sobre coisas como esta. Era uma habilidade básica de

sobrevivência.

Deslizamos em torno de uma alameda de pequenos carvalhos em um

reduzido espaço. Era o mesmo de onde tínhamos observado ao Host ferido,

depois que Solange recebera o presente de Montmartre. Isso não podia ser

uma coincidência. Vi o brilho de reconhecimento no rosto de Isabeau.

53Lord Byron: Foi um poeta inglês, considerado um dos escritores mais versáteis e importantes do

Romantismo.

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113

Mas não tivemos tempo de falar dele.

No inicio, nenhum de nós sabia o que dizer. Eu nunca tinha visto nada

igual. O cheiro de sangue era tão forte, que de fato, tive que tampar meu

nariz até que me acostumasse a ele. Os músculos da parte de trás do meu

pescoço estavam tensos.

A grama alta era uniforme, pontilhada de flores silvestres. A lua a

deixava tudo prateado, como se estivesse molhado. Não havia corpos,

nenhum ser humano ou animal drenado, sem sinais de luta.

Apenas garrafas abertas por toda parte, penduradas em cordas e

arames nos galhos. O som que eu havia escutado era o tilintar do vidro

tocando vidro quando a brisa agitava o macabro vento campestre. Havia

dezenas delas.

— O que diabo é isto? — Jen murmurou.

Cada uma delas, desde as garrafas de vinho verde até frascos de

geleias, estava cheio até a borda de sangue. Fresco, sangue quente. Todos os

nossos dentes estavam para fora agora, os dois de Isabeau, inclusive os

antigos opalas afiados de Finn. Eu dei um passo para perto de uma garrafa

de suco, engolindo um bocado. Daria tudo para prová-lo. A mão de Jen bateu

em meu braço, me forçando a retroceder.

— Poderia estar envenenado. — disse.

Ela estava certa. Todos nós congelamos. Isabeau virou-se fazendo um

circulo lento sobre seu calcanhar. — Cheira familiar, mas não está

envenenado. — disse por último, em espécie de espanto horrorizado em sua

voz francesa.

— Não está? — repeti.

Ela negou com a cabeça. — É uma armadilha. — disse. — Igual a uma

jarra de água com açúcar para atrair as abelhas para longe da cozinha.

Franzi o cenho. — Uma armadilha para quem? Nós?

— Oui. — ela alcançou sua espada justo quando Charlemagne rosnou

com a parte de trás de sua garganta.

Hel-Blar.

Estavam por toda parte. Nós teríamos que tê-los ouvido se não tivesse

sido pelo ar saturado de sangue ao nosso redor. Tinham um cheiro muito

Page 114: Drake chronicles 02 blood feud alyxandra harvey

114

característico: putrefação, mofo e fungos. Sua pele azulada os fazia parecer

machucados. Cada dente em sua boca era uma presa, afiada até a ponta

como a ponta de uma agulha. E sua mordida era contagiosa.

E vinham até nós através das árvores como os rios de primavera

correndo no mesmo lago, como besouros azuis mortais na fruta caída.

Maldição, se eles acreditavam que eu ia ser um pedaço de maça madura

esperando para ser devorado.

— Merda. — tratei de pegar uma de minhas adagas. Não havia parado

para pegar uma espada, o que foi estupidez. Tinha pensado que uma adaga e

um molho de estacas seriam suficientes.

Realmente estupidez.

Não tinha sentido correr, já que não havia caminho claro na pradaria.

Podíamos ouvir os grunhidos e assobios, cuspindo como animais raivosos.

Isto fez a minha mandíbula se apertar. O sangue não apenas estava nos

tentando do modo em que estava, estava nos deixando loucos.

— Alguém queria que eles nos atacassem. — disse aos demais. —

Alguém sabia que viríamos por este caminho.

— Host. — Isabeau concordou, com uma voz como inverno nas

planícies. — Quem atacou Kala deve ter planejado isso.

Eu saltei próximo a ela, caindo atrás para proteger suas costas antes

que os Hel-Blar chegassem até nós. Ela lançou-me um olhar, meio surpresa e

meio agradecida. A lua brilhava sobre sua espada e sobre o ferro na malha

costurada no couro de sua túnica sobre seu coração. — Fique perto. — eu

lhe disse.

Ela bufou. — Eu tenho uma espada e você uma faca de manteiga.

Manter-se perto é sua única opção.

E então realmente não havia mais tempo para piadas geniosas.

O desconcertante som que o ar fazia, como se este cortasse ao redor

deles, me fez compreender as velhas superstições sobre vampiros

transformando-se em morcegos. Eu mostrei minhas presas. Tinha toda

intenção de arrancá-los do mesmo céu, se tivesse que fazê-lo. A primeira

onda bateu forte, mas pelo menos a metade deles estava distraída com as

garrafas balançando-se sobre nossas cabeças. Eles as esvaziaram, engolindo

freneticamente como se fossem garotos em uma festa de uma fraternidade.

O sangue escorria por seus queixos, pendendo nas flores. Isto foi apenas por

Page 115: Drake chronicles 02 blood feud alyxandra harvey

115

um momento muito rápido e então todos eles queriam matar e não ser

dissuadidos por garrafas de sangue de vaca.

A luta foi rápida e selvagem. Nós tínhamos a habilidade do nosso lado,

mas éramos superados em número. E os Hel-Blar tinham o frenesi da

batalha como arte. Matei um antes que ele pudesse se aproximar demais,

mas perdi minha estaca na grama alta. Estava muito longe para que pudesse

recuperar minha arma sem deixar Isabeau sem vigilância. Mas eu tinha mais

duas estacas.

— Merda, não seja um mártir. — Jen gritou para mim por entre

dentes. Ela me jogou uma de suas espadas. Ainda tinha um na mão e outra

na cintura.

— Obrigado! — peguei-a sorrindo. Já me sentia melhor. Então me

joguei na luta, mesmo sendo um espadachim enferrujado.

— Ameixas reais prontas para ser colhidas. — disse um deles com

desprezo. Uma garrafa vazia estalava sob suas botas. — É esta a forma que

vocês têm para decorar os arredores para suas festas luxuosas?

Então eles não tinham sido enviados apesar de tudo, foram apenas

atraídos e manipulados sem saberem.

Isso era algo a se pensar...

Uma estaca roçou meu ombro esquerdo, deixando uma queimadura

em carne viva em seu trajeto.

... Depois.

— Porra Logan!! — Isabeau gritou. — Presta atenção. Franchement54.

— acrescentou em Francês. Percebi pelo tom que isso não significava

“amante carinhoso”.

Ela ficou rígida e bloqueou o ataque de um guinchante Hel-Blar. O

braço dele, agora solto, navegou pelo ar e aterrissou com um ruído seco. Este

ainda agarrava uma estaca longa encharcada em veneno. Eu podia cheirá-lo,

como sal, ferro e óxido. Afastei-o com um chute.

54Franchement: Francamente.

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116

Jen havia despachado dois deles e Magda estava gritando com um

como uma psicótica banshee55. Ela podia parecer como uma Fada das flores,

mas também tinha uma boa pontaria. Poeira levantou-se diante dela e ela

virou-se para o próximo. Jen estava perto, esfaqueando com arrogância letal

em cada golpe.

Uma Hel-Blar empurrou sua adaga para mim. Eu lhe chutei,

quebrando seu pulso. A adaga caiu, ela gritou e então saltou por sobre minha

cabeça. Nós dois caímos no chão. Uma garrafa soltou-se de sua corda e caiu

sobre minha cabeça. O sangue escorreu para o chão.

A Hel-Blar mostrou as presas que brilhavam como agulhas. Eu

encaixei meu cotovelo debaixo de seu queixo e ela quase mordeu sua

própria língua. A saliva caiu em meu pescoço. Lutei fortemente até que me

estabilizei o suficiente para conseguir liberar minha perna para me livrar

dela.

Saltei sobre meus pés. Mais tarde, me sentiria mal por tê-la matado.

Neste momento o ensinamento de minha mãe era muito forte, mais forte até

do que as atenções cavalheirescas que o resto de minha família havia me

incutido. Eu poderia usar Levita e recitar poesia melhor do que as

estatísticas esportivas, mas sabia as regras: lute e sobreviva. E os Hel-Blar

não faziam prisioneiros.

Jen era a prova disso.

Mal tive tempo de me virar e o Hel-Blar que estava lutando com ela,

pegou suas pernas por debaixo e enterrou a ponta afiada de uma estaca em

seu peito.

— Filho da puta! — gritei, usando a espada emprestada de Jen para

arrancar sua cabeça para fora de seus ombros. Então apunhalei seu coração,

empurrando através de sua caixa torácica. Mas Jen estava reduzida a cinzas,

em top de pétalas primaveris e roupa estampada com o brasão Drake. Eu

nem sequer podia parar para chorar por ela ou me odiar por ser a razão pela

qual ela estava aqui em primeiro lugar.

Isabeau estava cansando, eu podia ver o arco em seu braço da espada,

ainda mortal, mas infinitesimalmente mais lento. Magda estava mancando,

segurando a si mesma sobre a espada roubada, com o cabelo sujo de sangue.

Não íamos nos manter neste ritmo por muito mais tempo.

55Fada maligna que anuncia a morte da mitologia escocesa.

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117

— Temos que sair daqui. — disse a Isabeau. — Agora. Pulando nas

árvores talvez.

— Charlemagne não pode voar. — disse ela, e eu sabia que esse era o

final de um plano meio arquitetado. Isabeau nunca deixaria seu cachorro.

Ela deitaria no chão e seria estacada antes disso.

— Muito bem — disse, pegando a espada de Jen debaixo de sua roupa

vazia e derrubando sorrateiramente uma garrafa de sangue em minha

camisa. — Então, faremos de outra maneira. — saí do circulo de segurança

que eu, Isabeau e Magda havíamos formado.

Isabeau sussurrou para mim. — O que você está fazendo?

— Salvando seu lindo traseiro. — sussurrei-lhe de volta. Então sorri

com meu sorriso mais arrogante para os Hel-Blar. — Sabiam que o sangue

Real é mais doce? — levei a lâmina até o interior do meu antebraço,

cuspindo um palavrão. Nos filmes ninguém mencionava quanto tinha que se

cortar para abrir uma maldita ferida. Levantei meu braço, o sangue

pingando por meu cotovelo e respingando sobre o chão. A maioria dos Hel-

Blar parou, virando-se para me olhar, famintos.

Para que isso fosse uma missão de resgate e não uma missão suicida,

eu ia ter que me mover rápido.

— Venham e me peguem. — gritei para eles antes de me lançar dentro

das sombras entre as árvores, longe de Isabeau e as cavernas da montanha.

Ouvi sua ladainha de xingamentos, todos em Francês e todos vindos a plenos

pulmões. A maioria dos Hel-Blar me seguiu, impulsionados pela sede de

sangue. Não eram exatamente estúpidos, apenas imbecis quando se tratava

de se alimentar. Apenas alguns poucos ficaram para lutar contra os outros,

com o que, me senti seguro de que eles podiam lidar.

Assegurei-me de que meu sangue pingasse por toda parte, deixando

um rastro que até um cachorro cego e sem olfato pudesse seguir. Um

maldito desperdício de sangue também. Os Hel-Blar se moviam tão rápido

que mal podia ouvir seus passos. Eu os ouvia deslizando como os insetos.

Eram realmente bons na perseguição.

Portanto, eu só teria que ser melhor em escapar.

Empurrei minhas pernas tão rápido quanto pude, até que o bosque

tornou-se embaçado, com manchas de cor verdes e pretas em ambos os

lados. O fedor de putrefação caía pesado no ar quente. Quando estava certo

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118

de que estavam distraídos pelo voo, inclinei meu braço e apertei o interior

contra meu bíceps para parar o fluxo de sangue. O corte já estava

formigando bastante, o que significava que estava sarando. Não queria

deixar um rastro sem fim, já era hora parar por aqui.

Desacelerei ligeiramente, no interesse da precisão. Joguei a garrafa

para um lado, me assegurando que esta rolasse pela ribanceira, derramando

seu conteúdo sangrento. Depois fui em direção oposta. Ziguezagueando um

pouco até que estive certo de que estava fora de vista de qualquer um de

meus perseguidores e então subi em uma árvore de carvalho. Movi-me até a

árvore seguinte e seguinte e a seguinte, antes de encontrar um galho grande

o suficiente para ter certa confiança. Olhei para baixo, dentro do verde

escuro, em busca de pele tingida de azul e dentes pontudos.

Havia pelo menos três Hel-Blar movendo-se através das altas

samambaias. Pinhos e galhos rangiam sob seus pés. Eles não estavam

tentando ser silenciosos desta vez. Seus dentes brilhando. Um deles parou,

cheirou o ar de uma forma surpreendentemente delicada.

— Ele está aqui.

Coloquei minhas mãos em minha espada e me movi ligeiramente.

Provavelmente poderia saltar para baixo e cair sobre sua cabeça se

calculasse corretamente.

Em troca, ele chilreou e se transformou em cinzas. Uma estaca caiu na

grama onde ele estava de pé. Seu companheiro se virou e caiu também.

Isabeau abriu passagem pelos arbustos, parando sob minha árvore. Ela me

olhou, seu rosto era ilegível.

— Não volte a fazer isso.

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Capítulo Treze

Nunca havia visto tantos cães em toda a minha vida.

Embora não soubesse o que esperar, o silêncio; asseguro, não estava

nos meus planos. Havia entradas na caverna, a principal estava guardada

por dois Hound com rottweilers. Os rottweilers pareciam mais felizes de me

ver que os Hound. Eles riram de mim, mas em frente à Isabeau se inclinaram

com respeito.

Dentro havia uma ampla abertura que conduzia à parte traseira e

para várias portas esculpidas na rocha em ambos os lados. Alguns destes

foram resguardados com portões de ferro negro, o tipo que você encontra

nas cavernas da Europa antiga.

— Lares particulares. — explicou Isabeau, com tom cortante. Sua

testa estava marcada pela preocupação. Correu pelo corredor principal,

desceu algumas escadas e logo saltou por uma estranha pedra de borda.

Foi bonito.

Toda a sociedade vampírica havia murmurado sobre os Hound, como

se vivessem em buracos e tocas na terra, como texugos. Mas esse tipo de

caverna parecia saída do set do filme Senhor dos Anéis e encaixava com o

apelido que eles mesmos haviam se colocado, CWM Mamau. As tochas e

fogueiras mantinham a umidade longe e pegavam o brilho das ametistas e

quartzo incrustados nas paredes como vaga-lumes piscando em um frasco.

As pinturas de ocre vermelho de cães e pessoas com chifres sobressaiam sob

as luzes das tochas. À nossa direita, uma cachoeira caindo em uma piscina de

água azul leitosa. Havia pelo menos duas dezenas de cães, que levantavam a

cabeça quando passávamos. Pegamos as escadas irregulares, que foram

esculpidas por um caminho sinuoso. Isabeau praticamente saltou os últimos

degraus, correndo para uma mulher que estava deitada sobre um leito de

peles na piscina subterrânea.

— Kala!! — gritou.

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120

Kala era a infame shamanka Hound que, conforme os rumores, tinha

cães bruxos e poderes mágicos. Também era a coisa mais próxima que

Isabeau tinha de uma Rainha, ou uma mãe. Possivelmente ambas as coisas. A

anciã tinha um cabelo comprido branco preso em tranças e rastas; dele

pendiam contas de ossos talhados de rosas e caveiras. Tinha tatuagens azuis

com padrões espirais fortes que iam desde sua fronte esquerda através de

seu braço e clavícula. Seus olhos eram tão pálidos que eram quase incolores.

Havia sangue em seus dentes quando sorriu.

— Isabeau.

Os Hound saíram das grutas e rincões como mariposas que se

convergem para uma chama, para nós. Mantive minha mão sobre minha

espada pronta, mas não a desembalei. Tratei de dar um dos meus mais

encantadores sorrisos.

Nada.

Troquei de posição para não empurrar Isabeau se tivesse que lutar.

— Este é seu homem? — Kala sussurrou com voz rouca. Isabeau me

lançou um olhar.

— Este é Logan Drake. — disse. — Logan, ela é Kala.

— Encantado em te conhecer. — meu treinamento era tal que poderia

me inclinar para fazer uma reverência enquanto, ao mesmo tempo, manteria

o controle sobre minha arma.

Kala riu. Não havia outra palavra para descrevê-lo.

— Eu te disse que os ossos não mentem nunca. — disse. Teria jurado

que Isabeau ruborizou. Magda a olhou bruscamente e depois para mim.

— O que? — perguntei.

— Este não é o momento. — murmurou Isabeau. — E não é assim.

Não sabia do que estava falando mas ante a dúvida, eu estaria de

acordo com ela.

Isabeau retirou uma mecha do rosto de Kala. — Onde você está

ferida? O que aconteceu?

Kala lhe afagou o braço. — Vou ficar bem. É apenas um pouco de

sangue e meu tornozelo já está se restabelecendo. Não tinha que voltar.

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— Sim, tinha. — contestou Isabeau com firmeza. — Quem te fez isso?

Host?

Ela suspirou. — Sim. Fui colher cogumelos sagrados para o chá e eles

me emboscaram.

Se ela precisava de cogumelos, quase disse, ela bem que poderia ter

conseguido o que queria enquanto vagava pelas ruas de Violet Hill à noite.

Violet Hill não era nada se não um povoado hippie progressista.

— Foi sozinha? — Isabeau franziu o cenho. — Devia ter levado

alguém com você, Kala, você não é boa em uma luta.

Surpreendeu-me ouvir isso. Já que presumi que a líder de uma feroz

tribo seria mortal com todas as armas inimagináveis.

— Apenas porque sou uma vampira não quer dizer que sou uma

guerreira. — disse Kala para mim. Estava claro que tinha outros talentos,

como ler a mente.

— Reconheceu alguns deles? — perguntou Magda.

Kala se endireitou, reacomodando-se contra a parte superior de um

enorme cachorro negro de raça indeterminada. — Não, havia muitos deles.

Suas auras eram estranhas e me distraíram. Os cães os afugentaram antes

que pudesse conseguir uma boa olhada. Oh! Olá, garoto. — adicionou

quando Charlemagne lambeu um lado de seu rosto. — Poderiam ter me

estaqueado. Eles decidiram não fazê-lo.

Isabeau sentou-se sobre os calcanhares. — Merda. — olhou meus

olhos com preocupação. Tive que segurar o impulso de colocar minha mão

sobre seu ombro para confortá-la. Provavelmente ela quebraria meu braço

se o tentasse. Porra, e isso me fazia gostar dela ainda mais. Estava fodido por

completo. — Se não queriam matar a Kala, então sua intenção foi criar uma

distração.

— Para nos tirar das cavernas reais e colocar-nos sobre a armadilha

dos Hel-Blar.

— Não gosto de ser uma marionete. — Isabeau disse sombriamente.

— Não pensei gostasse. — lhe disse secamente.

Ela se colocou de pé. — Está certa de que está bem? — perguntou

Isabeau a Kala.

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Kala assentiu. — Vou ficar bem.

— Então tenho que ir e pensar. — disse mais para si mesma, antes de

partir, Charlemagne permaneceu a seu lado, como sempre.

Magda ia segui-la, mas Kala a deteve. — Deixe-a. — disse ela, mas seu

olhar se dirigia para mim. — Fedem a vaca. — murmurou Kala para nós. —

Que diabos têm feito?

— Caímos em uma armadilha. — disse Magda com amargura.

Choramingando, virou-se para mim. — Por sua gente.

Todos os Hound se voltaram para mim, mostrando os dentes. Eu

estava dolorosamente ciente do meu único par de presas. Cerrei os olhos

para Magda. Havia sido educado por ser amável com as garotas, mas ainda

assim, tinha vontade de estapeá-la. Estava certo de que Byron ou Shelley56 o

teria desejado também.

— Não colocamos a maldita armadilha. — falei. — Porque dançaria

uma valsa no meio de uma armadilha mortal se sabia que estava ali?

— Não foi feita para você estar ali. — disse. — Sua família pode tê-la

posto sem que você soubesse.

— Os Drake não enviaram os Hel-Blar atrás de vocês. — enfureci-me,

meu temperamento queimava. — Temos tratado-a com muita cortesia. E sou

eu que estou marcado por algum tipo de feitiço assustador de Hounds.

Era curioso como aquele agudo silêncio poderia ser descrito, como

uma agulha raspando sua pele.

Kala se levantou para se sentar em frente à uma grande pedra pintada

com espirais triplos. — Qual feitiço garoto?

— A pata do cão. — lhe disse. Estava começando a sentir verdadeira

preocupação. Não tive muito tempo para pensar nele com o ataque dos Hel-

Blar e no começo pensei que era apenas uma forma de me assustar. Mas

estava esquecendo que essas coisas mágicas realmente poderiam funcionar.

Não é nada agradável, na realidade.

— O tem com você? — perguntou Kala. Seus olhos brilhavam

56Percy Shelley: Foi um escritor, ensaísta e poeta romântico. Shelley é famoso por obras tais como Ozymandias,

Ode to the West Wind, To a Skylark, e The Masque of Anarchy, que estão entre os poemas ingleses mais

populares e aclamados pela crítica.

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123

intensamente, como o gelo se derretendo em uma lagoa na primavera.

— Não.

— Isso o fará mais difícil de quebrar, mas não impossível. Está certo

de que estava dirigido para você?

— Isabeau disse que sua marca estava nele.

— Está acusando Isabeau? — Magda perguntou indignada. — Veja o

que a lealdade significa para alguém da sua Família Real. — ela espetou.

— Nunca acusei Isabeau. — gritei. — Eu nem sequer sabia que era sua

marca até que ela me disse.

Mas ela já estava balançando um punho sobre mim que quase colidiu

contra mim. Aborrecido por ter sido pego de surpresa com meus reflexos

lentos. Seu punho roçou meu ouvido, enquanto eu me virava tentando não

lhe dar as costas. Não retribui seus socos, não podia, era uma garota embora

uma louca descabelada. Mas a fiz tropeçar e me senti muito bem por isso.

— Porra. Qual é seu problema agora? — lhe gritei.

— Isabeau é muito boa para você! — ela gritou. — E você a levará

para viver em sua Casa Real estúpida.

Eu estava muito aturdido para me esquivar do próximo golpe. Mas

apenas o senti.

— Levar Isabeau para casa? — repeti. — Ela esqueceu-se de me dizer

essa parte.

— Como esqueceu que os ossos disseram que ia encontrar seu

consorte dentro da Família Real. — tentou me quebrar a rótula com o pé,

mas eu me afastei.

— Está louca! — lhe disse. Não podia negar que estava intrigado, é

claro, não podia negar que gostava da ideia de Isabeau prometendo-se a

mim e eu a ela. Embora soubesse que ela era muito espinhosa e

independente para me amar apenas porque sua shamanka o havia dito. Mas

ainda assim.

— Quer ler os ossos para mim? — perguntei para Kala, esquivando de

uma vasilha que Magda lançou em minha cabeça. Quebrou em pedaços

contra a parede. Um dos cães perseguiu aos fragmentos, com a esperança de

conseguir um bocado.

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Kala bufou uma risada.

— Vem aqui, menino. — pegou um punhado de ossos pintados de uma

bolsa em seu cinturão. Parecia um cruzamento entre runas e espirais. Não

pude decifrar tudo. Ela as entregou para mim. — Sacuda entre suas mãos em

conchas e depois os jogue no solo entre estes dois cristais. — ela colocou os

dois cristais.

— Kala, você não está bem. — protestou Magda. — Este estorvo Real

pode esperar.

Ela tinha um ponto, por muito que odiasse admitir.

Kala apenas fez gestos com as mãos para se calar. — Jogue-os! —

gritou ela para mim. Os joguei mais por reflexo, o chicote agudo de sua voz

me sobressaltou. Porque todas as senhoras de idade que eu conhecia tinham

uma voz assustadora? Os ossos caíram e se esparramaram no solo poeirento.

Para Kala ao que parece estes ossos contavam uma história. Alguns

dos outros Hound se aproximaram, esticando a cabeça para ver melhor.

Houve murmúrios, um grito de assombro. Magda franziu o cenho como se

houvesse chutado um cachorro. Kala assentiu com ar de arrogância.

— O vê agora? Todos vocês veem. Este é o garoto. — eu não vi nada

absolutamente.

— Vá correr com os cães. — me mandou, como se isso fosse de grande

ajuda. Logo tossiu e cuspiu saliva com sangue entre os lábios.

— Deixe-a em paz agora. — me alfinetou Magda, recolhendo as pedras

de Kala e me dando as costas para me bloquear.

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Capítulo Catorze

Encontrei Isabeau sentada sobre uma pedra sob as estrelas e um

pinheiro atrofiado. Subi em direção a ela, afastando seixos com minhas

botas. Havia alguém muito grande sentado à sua esquerda, todo pelos e

imensidão.

— Que diabo é isso? — perguntei.

— É um cachorro. — ela respondeu de forma casual.

— Isabeau, isso não é um cachorro, isso é um alce.

Ela meio que sorriu. — É um Mastim Inglês57. Seu nome é Ox-Eye58

Ox-Eye levantou a cabeça. Tinha visto cavalos muito menores.

— Ox-Eye, porque ele se parece com um boi? — perguntei, agachando

ao seu lado.

— Não, é porque ele é como a margarida.

— Você chamou esta besta com o nome de uma flor?

Ela acariciou-lhe a orelha carinhosamente. — Ele é muito educado.

Très sympathique59.

— Claro que é. — disse duvidando. Ela esfregava um pedaço de seda

desbotada entre seu polegar e indicador. Ele estava desfiando nas barras. —

Seu amuleto de sorte? — perguntei em voz baixa.

Fez uma pausa e deslizou o tecido em sua manga. — Sim, acho que

sim. Pensei que tinha perdido há muito tempo. 57Ou mastiff inglês ou simplesmente mastiff (em inglês: English Mastiff) é considerado uma raça de cães

tradicionalmente inglesa. Seu antepassados devem ser buscados entre os mastins assírios, descendentes por

sua vez do mastim do Tibete.

58 Ox-Eye: tradução literal: ‘Margarida’. Faz referencia a uma flor.

59Très Sympathique: Muito simpático.

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— O que aconteceu Isabeau? — perguntei.

— O que você quer dizer?

— Isabeau. — eu não tinha certeza de como sabia, mas tinha certeza

de que tinha algo mais em jogo. Ela mordeu o lábio inferior, finalmente

parecendo uma garota de dezoito anos.

— Eu usava este amuleto de sorte, como você chama, no dia em que

morri. No dia em que me transformaram e me deixaram morrer, eu diria. —

disse soando triste; amargurada e muito frágil, de uma maneira que eu

nunca pude imaginar. Fez-me querer encontrar o bastardo e arrancar sua

cabeça diretamente de seus ombros. — Não o via desde essa noite.

Franzi o cenho. — Onde o encontrou?

— No bosque, fora dos limites de sua casa. — ela respondeu. —

Quando rastreávamos o Host.

— Merda.

— Oui. Foi deixado para mim.

— Por quem?

— Greyhaven. Ou isso eu creio. Eu o usava na noite que ele me matou.

Remexi-me em meu assento. — Por isso você perdeu o controle

quando eles disseram seu nome ontem à noite no bosque.

— Oui. — disse novamente, com seriedade. — Ele está de volta. E

agora, finalmente, posso matá-lo.

— Isabeau, ele tem o que, trezentos ou quatrocentos anos?

— E?

— Portanto, você é quase uma recém-nascida, por maior que tenha

sido o tempo que foi deixada nesse túmulo. — eu realmente queria arrancar

a cabeça desse cara. — Você ainda não é forte o suficiente.

— Nós não somos como os outros vampiros, Logan. — insistiu

calmamente.

— Sim. Acredite em mim, eu te entendo. — arqueei a sobrancelha em

sua direção. Será que pensava que eu era um idiota?

Page 127: Drake chronicles 02 blood feud alyxandra harvey

127

— Antes eu não podia localizar Greyhaven. Sempre se matinha

distante dos assuntos de Montmartre. Não podia me aproximar dele, nem

sequer sabia se ele estava no mesmo continente. — ela voltou a pegar a seda

de cor anil. — Mas agora eu sei. Posso rastreá-lo.

— Como? Sei que você é boa Isabeau, mas ele é um dos principais

Tenentes de Montmartre. Até eu tenho ouvido falar de seu nome.

— Há rituais.

Passei a mão com força pelo meu cabelo. — Aposto que há.

— Agora tenho isto. Posso cheirá-lo nele.

— Mas para que? Simplesmente para ele zombar de você? Há algo

acontecendo aqui.

— Eu sei. — ela admitiu. — Mas não saberei se apenas me sentar aqui

e esperar que ele faça seu próximo movimento. O que eu posso fazer é voltar

para onde encontrei a seda e fazer funcionar o Dreamwalk.

— Dreamwalk?

— É algo assim como um transe. Parecido ao que vimos nas pinturas

rochosas.

— E onde, exatamente, você fará isso?

Ela fez uma careta. — No campo onde colocaram a armadilha.

Minha boca se abriu. — No campo onde enfrentamos os Hel-Blar e

tinha sangue por toda parte? É ali onde você vai deitar e entrar em transe?

— Oui.

— Wow. Essa é a pior ideia que já ouvi. E praticamente conheci Lucy

durante sua vida inteira.

— Você não entende.

Bufei. — Eu entendo completamente. Você está louca.

Ela encolheu os ombros. — Sou a serviçal de uma Shamanka. Isso é o

que eu faço.

— Você já notou que só diz isso quando está prestes a fazer algo

imprudente? — a suave luz da lua brilhou sobre suas inúmeras cicatrizes. —

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128

Ele te fez isso? — surpreendeu-me que minha voz soara mais como um

grunhido. Ox-Eye levantou a cabeça com curiosidade.

— Non, os cachorros o fizeram.

Eu a olhei fixamente. — Teus próprios cachorros te atacaram?

— Não. — ela sorriu pela primeira vez, suavizando as apertadas

linhas de seu rosto. — Eles me resgataram. Os cachorros de Kala me tiraram

da terra. Eu nunca seria capaz de fazê-lo por mim mesma. Greyhaven apenas

me deu sangue suficiente para me transformar, não o suficiente para me

reviver. Fiquei inconsciente por séculos nesse caixão.

— Na França?

— Não, eu fui enterrada em Londres, no terreno particular de meu tio.

— E Kala foi atrás de você?

— Não, ela nunca deixa as montanhas, ou este bosque. É seu centro de

poder e os cachorros são seus Totens, por assim dizer. Para todos nós.

A única razão pela qual eu podia entender o que ela estava me

dizendo, era por Lucy e seus pais. Lucy falava de totens e auras e rituais de

lua cheia, da mesma maneira em que as outras pessoas falavam de aulas de

balé e churrascos de verão.

— Então quem te encontrou?

— Ela enviou Finn através do oceano, com três de seus cachorros de

maior confiança. Eles têm uma forma de chamar a outros cachorros para que

se unam. Finn me disse que no momento em que ele me encontrou no

cemitério de Highgate, tinha quase uma centena de cachorros de rua lá

também.

Eu podia imaginar: Névoas no meio da noite em um antigo e luxuoso

cemitério no inicio do século; Londres sob a luz das tochas, o som dos

cavalos e carruagens por cima dos muros. Ela usando uma espécie de traje

de noite com cintura acentuada, pérolas em sua garganta e suas luvas até o

cotovelo.

Ela era feita totalmente para mim.

— Então os cachorros me encontraram e me desenterraram. Lembro-

me do som de suas garras e seus dentes mordendo meus braços. O ar

finalmente era real e podia respirá-lo. Aí foi quando eu percebi que, na

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129

realidade, eu não respirava e que não estava despertando de algum pesadelo

na casa de meu tio em 1795. Eram duzentos anos mais tarde e nada tinha

sentido. — ela tremeu, seus olhos estavam distantes.

Eu tinha pensado que nossa transformação era ruim, mas sabíamos

que ia acontecer e nossa família tinha tido muitos séculos para adaptar-se e

preparar-se. Ficávamos doentes e fracos, e alguns de nós, às vezes, ficava a

ponto de morrer; mas normalmente tínhamos sangue perto e melhorávamos

rapidamente. E nos transformávamos em vampiros, e tudo voltava a ficar

bem, muito melhor do que quando não éramos não mortos. De fato, a única

preocupação de Connor tinha sido se ele teria que começar a se vestir como

eu. Eu o havia presenteado com um casaco longo negro de veludo para seu

aniversário neste mesmo ano e ele o tinha pendurado na parte traseira de

sua porta, para que fosse a primeira coisa que veria quando acordasse.

— Finn me deu sangue para beber. — Isabeau continuou. — Pensei

que ele estava doido. Ele teve que me forçar a bebê-lo e eu finalmente acabei

vomitando em suas botas. Depois de uma hora, eu estava tão sedenta que

teria bebido um barril de sangue. Ele me trouxe aqui tão logo fiquei bem o

suficiente para viajar em um barco com um dormitório sem janelas e com

um Capitão que não fez perguntas. Logo que vi Kala sabia que finalmente

estava em casa.

Assobiei. — Então, não é apenas uma história que nos contam para

assustar? — ela negou com a cabeça. Estendi minha mão e passei um dedo

sobre uma de suas cicatrizes em forma de meia lua que estava por cima de

seu pescoço. Esperei o momento em que ela afastasse meu braço, ou ao

menos que se afastasse de mim. Mas ela continuava ali.

— Sua tia acha que minhas cicatrizes são horríveis.

E não é que fossem boas, também. — Você falou com minha tia

Hyacinth? — fiquei boquiaberto. — E com isso eu quero dizer, a tia Hyacinth

realmente falou com alguém?

— Sim. Ela parece..., angustiada.

— Essa é justamente a palavra. Ela mal sai de seu quarto desde que os

bastardos desertores dos Hélios Ra lhe queimaram com água benta e a

deixaram quase morta. Ela não fala com qualquer um de nós e

absolutamente nunca mais levantou seu véu. Nem sequer para tio Geoffrey,

quem é praticamente um médico. Você devia tê-la visto antes do ataque. Era

Page 130: Drake chronicles 02 blood feud alyxandra harvey

130

incontrolável, não se assustava com ninguém e era cheia de cortesia e modos

adequados.

— Portanto, é dali que veio.

— O que?

— Sua forma de se vestir, a forma em que se inclina em uma

reverência, como se estivesse no século dezoito.

— Acho que sim. — encolhi os ombros, perguntando-me se isso lhe

agradava ou não. Mas eu não ia perguntar.

— Se você tivesse me desenterrado em vez de Finn, não teria

percebido que não estava mais no século dezoito.

No geral, eu teria tomado isso como um grande elogio; mas com ela,

eu não estava seguro totalmente.

— Entre nossa Matriarca Madame Veronique e as lições medievais de

tia Hyacinth, eu suponho que era inevitável que isso se aderisse em um de

nós.

— Você é diferente de seus irmãos. — Isabeau insistiu. — Eles não se

comportam como você. Percebi isso de imediato.

— Notou isso nas poucas horas em que os viu? — e de nenhuma

forma, eu iria lhe perguntar quem ela achava que era o mais bonito. Quinn

sempre teve êxito com as garotas, ele sabia lidar com elas. Repentinamente

me deu vontade de bater em meu irmão.

— Não, mas você me parece simpático. — ela murmurou e

repentinamente o rosto de Quinn estava a salvo do meu punho. — Você é

como os garotos que conheci na França.

Eu não estava muito satisfeito com a palavra “garoto”.

— Não sei dizer, mas sentia saudade disso. — ela continuou, como se

estivesse surpresa por sua confissão.

Eu nunca antes tinha desejado tanto alguma coisa como naquele

momento, só queria beijá-la. Desejei tanto quanto desejei Christina Ricci

depois de ver Sleepy Hollow60. Eu gostava das garotas com espartilho. O

cabelo longo, preto e grosso de Isabeau, era como a cascata nas cavernas que

60Sleepy Hollow: Filme conhecido na Espanha e América Latina como “A Lenda do cavaleiro sem cabeça”.

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131

estavam debaixo de nós, seus olhos verdes, seus braços cheios de cicatrizes e

sua cruel espada. Era quente. Até o último pedaço.

Decidi tomar minha vida em minhas mãos e me inclinei lentamente.

Sem pressa, dei-lhe tempo suficiente para que se afastasse, mas

implacavelmente, a distância entre nós, pouco a pouco foi se fechando. Ela

cheirava a chuva, terra e vinho. Se a tivessem servido em um copo, teria

bebido cada gota, até a última. Agora estava tão perto e ela ainda não havia

se afastado.

Queria enterrar minhas mãos em seu cabelo e trazê-la até mim, mas

sabia que ela ainda não estava pronta para isso. Ela era, um pouco, como um

animal selvagem, indomada, intacta e tão sem correntes, como um falcão no

céu. E eu não queria que isso mudasse.

Coloquei meus lábios sobre os seus e pareceu muito bom, correto.

Beijei-a profunda e lentamente, como se tivéssemos todo o tempo do mundo.

Sua boca se abriu e sua língua tocou a minha, com hesitação e doçura. Tive

que pressionar meus punhos para não tocá-la. O beijo ficou mais profundo,

mais selvagem, um de nós fez um pequeno som, mas honestamente, eu não

soube quem de nós foi.

E de repente, tinha uma cosquinha atrás da minha cabeça, uma onda

de calor ardente sobre meu corpo inteiro. Eu me afastei a contragosto. Sua

boca estava curvada com um de seus raros sorrisos.

— Está amanhecendo. — ela sussurrou

Alisei seu lábio inferior inchado com meu polegar. — Está

amanhecendo. — concordei.

O bosque estava ligeiramente menos escuro do que havia estado. Era

mais cinza do que negro.

— Deveríamos entrar. — ela disse; seus dois dentes sobressaiam

ligeiramente. E isso era sexy como o inferno.

— Você tem algum lugar seguro para que possa dormir? — perguntei.

Ela entrelaçou seus dedos nos meus. — Sim.

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132

Capítulo Quinze

— Tenho que voltar a mencionar que essa é a pior ideia? Pela

centésima vez Isabeau girou os olhos. Charlemagne olhou como se estivesse

considerando também.

— Se te dissesse mil e uma vezes te convenceria?

— Não. — se escondeu de baixo de um ramo que se curvava baixo. —

Você me trata pior que a minha velha babá.

— Tenho um pouco de compaixão por sua velha babá — sussurrei.

Era uma bela noite, quente, cheia de estrelas e com o canto dos grilos e das

rãs. Flores brancas brilhavam no pasto. Era uma noite de poesia. Deveríamos

estar nos beijando. Muito. Ao invés disso, estamos saindo às escondidas das

cavernas até uma clareira empapada de sangue onde fomos emboscados, a

apenas vinte e quatro horas atrás. Realmente não era um encontro como

qualquer outro!

— Tudo vai ficar bem, eu garanto. — seu longo e negro cabelo

balançava em suas costas. — Só se trata de transe, nada com que deva se

preocupar.

— Sério? — perguntei sarcasticamente. — É por isso que estamos

escapando sem dizer a ninguém o que estamos fazendo, nem mesmo a

Magda?

— Não quero que se preocupem, e de todo modo ela não entenderia.

— Eu não entendo. — retruquei.

— Eu sei. Mas ainda assim está aqui, me ajudando. E não está

tentando me impedir.

Neguei com a cabeça. — Estou tentando te deter, só que parece que

nenhuma merda adianta.

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133

Quando acordei junto á Isabeau em sua cova, sua mão em meu peito,

tinha pensado que essa noite seria muito diferente. Devia ter previsto algo

como isso. Isabeau não era suave nem mesmo nos sonhos. Bom, isso não era

exatamente verdade. Eu havia visto um flash da sua vulnerabilidade, depois

de tudo, um flash que estou certo nem se quer ela saber possuir Ela era a

criada da shamanka, toda guerreira e correta. Mas essa era sua casa e estava

suficientemente cômoda para perder algumas quantas capas de seu duro

exterior.

Seu quarto era simples, quase escasso. Um puff coberto por uma

manta e várias camas de cachorros nos cantos, grossas almofadas e uma

pequena pintura de um vinhedo francês. Não havia pôsteres de shows ou um

armário com vestidos de noite, só um baú com roupas, outro para suas

armas e uma caixa cheia de joias e amuletos de contas de osso. Tudo sobre

ela era diferente. E definitivamente ela havia me arruinado com as meninas

normais. Inclusive agora, enquanto espreitava através do bosque,

hipervigilante seguindo o fedor dos Hel-Blar ou sendo cuidadosa para se

houvesse um ataque de Host.

— Estamos perto. — murmurou.

— Eu sei.

Podia sentir a coceira no nariz, o forte odor de sangue seco. Cristais

vermelhos que brilhavam na vegetação rasteira. Charlemagne cheirou o

caminho a seu redor e logo se sentou; sua língua pendurada no canto da

boca. Era evidente que estávamos sozinhos. Que desperdício de uma noite

de luar! Segui seu olhar até um arbusto pisoteado, havia marcas de patas.

— Charlemagne?

— Não, há muitas e estão frescas.

Fiz um olhar mais atento. — Alguém veio aqui depois de nós só para

adicionar pegadas de cachorro? — e me detive seco, compreendendo. — É

para que acreditem que os Hounds fizeram o ataque, da mesma forma que o

fizeram com o feitiço de morte.

Ela assentiu mecanicamente. — Montmartre, provavelmente.

— Ele não quer que tenhamos um tratado. — estava de acordo. —

Prefere que lutemos uns contra os outros. — suspirei.

— E agora o que?

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134

Ela caminhou pelo perímetro como fez Charlemagne, com a cabeça

inclinada, cheirando com o nariz suavemente. — Agora o ritual.

Franzi o cenho. — Está certa disso? Montmartre pode estar em

qualquer lugar. E nem sequer sabia que a magia era real até antes de seu

truque como feitiço do amor.

Ela negou com a cabeça, perplexa. As contas de osso em seu cabelo

ressonaram juntas. — Nunca vou entender como os vampiros podem

desconhecer a magia que está em suas próprias veias, em seus próprios

corpos.

Encolhi os ombros, incomodado.

— Eu posso fazer isso, Logan. — disse com confiança — Kala me

treinou para isto.

— O que acontece se algo sair mal? Não é como se eu pudesse agitar

uma varinha mágica sobre você. Não sou o Harry Potter.

— Quem?

— Não importa. — disse.

— Tudo o que tem que fazer para me acordar é dizer meu nome três

vezes. Se isso não funcionar, enterre minhas mãos na terra.

— Acho que não devia ter perguntado.

— Isso me trará de volta ao meu corpo. Honestamente, o que a sua

família te ensina?

Ela tirou ervas secas de uma bolsa presa em seu cinto e as jogou no

meio do prado. Poderia cheirar a menta, o cravo, a pimenta e algo

desconhecido. Tinha colocado um novo amuleto ao redor de seu pescoço:

esse era banhado de prata e estava enfeitado com sininhos e pérolas

vermelhas61 como gotas de sangue congeladas. Tinha símbolos gravados nas

pontas.

Depois sacou o que pareciam ser tíbias de sua mochila e as enterrou

na terra. Essas eram suaves, polidas e pintadas com mais símbolos. Uma

estava envolta em um fio de cobre e pérolas.

61No original Garnet Beads. São pedrinhas arredondas vermelha com as quais fazem joias.

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135

— São de humanos? — franzi o cenho. — Os vampiros não deixavam

osso, só cinzas.

— Cachorro — respondeu. — E lobo.

— Oh. — não sabia o que mais dizer em relação a isso.

Recostou-se sobre os ossos, um estava em sua cabeça, o outro em seus

pés. As árvores que nos rodeavam brilhavam com garrafas quebradas. Seus

braços estavam desnudos como de costume, as cicatrizes eram exibidas com

orgulho, um pedaço de malha cobria o coração. Ela fechou os olhos,

parecendo uma Bela Adormecida selvagem.

Saquei minha espada e caminhei lentamente ao seu redor, escutando

atentamente os barulhos de outra possível emboscada, fazendo com que o

suor fizesse meu cabelo baixar. Ela mudou de posição, parecendo muito mais

cômoda enquanto murmurava algo em voz muito baixa para que pudesse se

escutar.

Permaneceu ali por muito tempo, em silêncio e misteriosamente

quieta.

Justo quando estava começando a pensar que não havia nada mágico

em sua cesta, cada uma das minhas terminações nervosas estremeceu e os

pelos dos meus braços se arrepiaram. Repentinamente, me senti como se

estivesse coberto por eletricidade estática.

Virei-me para Isabeau, minha espada balançando sobre ela de forma

protetora. Estava só e segura. Mas podia jurar que um resplendor de prata

saía de sua pele, fazendo-a brilhar. Ela não parecia preocupada, na verdade

sorria, os cantos de seus lábios estavam elevados ligeiramente.

Admito que isso me aliviou. Mas não estava muito seguro do que fazer

para lutar com um inimigo invisível.

Era evidente que havia deficiências na famosa educação Drake. Só

pude imaginar o que mamãe diria a respeito disso. Então a grama ao seu

redor se planificou em um circulo, com se fosse empurrada por um vento

forte. Quando algo me bateu, retrocedi rapidamente, chocando-me contra a

árvore. Uma garrafa caiu de seus ramos e derramou sangue na grama.

Endireitei-me, amaldiçoando.

Isabeau se colocou de pé. Ela brilhava muito mais que antes. Era algo

espetacular.

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136

— Suponho que não funcionou. — disse.

Ela piscou na minha direção. — Na verdade funcionou bem demais.

Comecei a notar que tudo em minha volta parecia não substancial,

descolorido. E que eu parecia um pouco vermelho também, como nesses

filmes sobre a natureza abaixo da superfície do mar.

— Creio que é melhor não saber a que se refere.

— Está comigo no caminhante do sonho, Logan.

— Shiiiu, isso é o que não quero saber.

Ela parecia confusa. — Isso nunca aconteceu antes.

— Sim, isso é o contrário de um consolo. — podia ver através da

minha mão. Não era nada bom.

Tratei de pressionar meus dedos ao redor da espada. Tudo brilhava

nas bordas, como se o céu tivesse tocado em tudo. Por último, o céu parecia

muito mais perto do que devia.

— Guarda isso. — Isabeau me disse. — Não te servirá de nada de todo

jeito. As armas são inúteis quando só um pensamente caprichoso pode matá-

lo.

— Bom, merda, isso é simplesmente genial.

— A melhor arma é um espelho.

— Uh? Estava apenas prestando atenção nela.

— Aqui pode ver o verdadeiro rosto de uma pessoa. É melhor que não

confie nas aparências, Logan, o que te acontecer aqui, te acontecerá em seu

corpo real.

— Oh, genial.

As árvores tinham um esplendor verde, pulsando lentamente, como

uma batida de um coração. No todo, tudo parecia ter uma espécie de aura

brilhante de cor caramelo. — Colocou algo desse chá de cogumelo no sangue

que bebi quando acordei?

— Não, isso é perfeitamente natural. — me assegurou.

— De acordo. — contestei com um ar duvidoso.

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— Bom, não exatamente normal, se corrigiu, nunca antes havia estado

com mais alguém em Dreamwalk.

— Sinto-se totalmente estranho. — disse a ela, olhando meu corpo,

que estava disparando faíscas.

— Logo se acostumará. No entanto, devemos nos apressar, não é bom

ficar muito tempo em sua primeira viagem.

— Por quê?

— Pode se tornar um sapo.

Fiquei assombrado devido o horror de suas palavras, tentei formular

uma resposta, mas não pude nem sequer foram às palavras. Levou um par

de segundos para me dar conta que ela estava brincando. Um segundo

depois começou a rir em voz alta.

— Sim, claro, agora você ri como uma criança. Tem um humor bem

sádico.

Ela sorriu, destemida.

— Não é o primeiro a me dizer isso.

Virei e me vi apoiado em uma árvore, os punhos das minhas mangas

desarrumados, a ponta da minha espada descansando sobre um grupo de

violetas. Tudo brilhava como nas cenas que as pessoas que haviam tido uma

experiência de quase morte relatavam em programas psíquicos. Só que eu já

estava tecnicamente morto. Não me movia e meus olhos estavam abertos

fixando no nada.

— Excelente; isso é simplesmente lúgubre.

— Não olhes a ti mesmo por muito tempo. — sugeriu. — Te dará

náuseas.

— Posso ver por que. — ajeitei-me, voltando ao foco

deliberadamente. — E agora?

— Agora temos que rastrear ondas psíquicas, qualquer coisa que

pareça fora do lugar, qualquer coisa que não brilhe ou tenha um cheiro

estranho.

O sangue das garrafas que havia servido para a emboscada tinha uma

coloração diferente, como se estivesse olhando através de um negativo

fotográfico. Brilhava como a prata derretida e isso fez com que tudo mais

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tivesse um aspecto mais escuro, mais transparente. Isabeau estava

agachada, vasculhando o mato com os dedos, arrancando pedaços de vidros

soltos como se fossem pétalas de uma flor. Tentei não me distrair pela forma

em que seus olhos havia se tornado verde, como as folhas de menta, a

maneira com que as estrelas pareciam filtrar a luz, nem tampouco pelas

centenas de aranhas, escaravelhos e mariposas que se moviam ao nosso

redor.

Ela se colocou de pé, limpando as mãos. — Nada. — disse frustrada.

Prestei mais atenção ao nosso redor, aos cheiros. Podia sentir a cheiro

de barro, do rio, das agulhas de pinho e o zumbido da pele de Isabeau. E

além do fato de que tudo parecia estar coberto por uma pintura

fosforescente, tudo era bastante normal. Marcas de passos, patas na terra,

pegadas. As marcas de nossa batalha estavam em seu devido lugar.

Exceto.

Fiz uma pausa. O lugar onde Jen havia se desintegrado estava tênue,

como se a brilhante luz houvesse se impregnado de poeira. Senti-me doente

do estomago.

— Isabeau.

Ela apressou-se, surpreendida pelo meu tom. — O que é? — deteve-

se.

— Oh, uma morte violenta pode deixar ondas psíquicas que podem

levar anos para desaparecer. — disse em voz baixa.

— Mas ela não está presa aqui, não é? — perguntei bruscamente. —

Só há essa poeira?

Ela assentiu.

Soltei minha respiração, como se tivesse estado contendo-a mesmo

quando não precisava respirar. — Bem, bom.

Ela tinha uma expressão estranha no rosto, suas fossas nasais se

dilataram. — Isabeau?

— Não me dei conta antes. — murmurou. — Se os vampiros

pudessem se tornar verdes por causa de náuseas ela o teria feito.

— O que houve?

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— Não há somente sangue de vacas nas garrafas. — disse. — Há

sangue de Montmarte também ali. O suficiente para fazer com que um Hel-

Blar siga seu aroma.

Franzi o cenho. — Sabe, isso parece não ter sentido. Só por uma vez

gostaria de ter as respostas, sem mais perguntas. Sabemos que Montmartre

está atrás de Solange e se ele conseguir fazer com que o resto de nós não

negocie um tratado. Posso assumir que Greyhaven está fazendo o trabalho

sujo aqui, mas isso ainda não explica o porquê de ele está atrás de você.

— Eu realmente gostaria de matá-lo. — disse Isabeau como se

estivesse pedindo um segundo pastel em um café local.

Seus amuletos faziam barulhos. — Hmmm, você parece muito

entusiasmada.

Baixou a vista para seu amuleto e tremeu. O amuleto era como um

dente que cai de nós quando somos pequenos, graças a esse ela havia sabido

do ataque a Kala. Era brilhante e recoberto de prata, com pequenos cristais

que brilhavam como os fogos de artifício de julho.

— OK. — disse tirando o colar e envolvendo-o ao redor de seu punho

para que o dente de cachorro ficasse em cima de seu polegar. Ela esticou o

braço e o girou em círculos, como os ponteiros de um relógio e depois em

sentido contrário. Tinha visto Lucy utilizar o pêndulo da mesma forma só

que ela estava tratando de averiguar onde sua mãe tinha escondido seus

presentes de aniversário.

— Há algo aqui. — disse. — Uma conexão que me falta. — ela

espreitou pelo perímetro com esse propósito, muito concentrada, franzindo

a testa em direção às ervas, árvores e gastando um tempo extra sobre o que

sobrou das garrafas quebradas. Ela se deteve, amaldiçoando com fervor e

fluência. Tudo era em francês, mas não havia dúvida devido o seu tom.

Extraiu um pedaço de cristal verde de uma raiz de carvalho que estava

exposta.

— O que é? — perguntei, agarrando minha espada apesar dela ter me

assegurado ser inútil.

— Conheço isso. — ela disse, descascando a etiqueta pintada de

amarelo com a unha do seu polegar. Seus olhos estavam perigosamente

aquosos, quase se tornando fulminantes. — Isto é a vinha da minha família.

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Dei um passo em sua direção. — Definitivamente é pessoal. — disse

sombriamente.

— Oui.

— Não deixe, Isabeau. — segurei seus ombros pressionando-os

fortemente até que ela tirou os olhos do fragmento de garrafa de vinho e

piscou para mim. — Não deixe que esse filho da puta ganhe.

Houve um breve momento em que me perguntei o que ela ia fazer

então. Ela era totalmente imprevisível.

— Tem razão. Ele está fazendo isso por um motivo. — ela levantou a

cabeça e novamente era a Isabeau que havia conhecido desde a primeira

vez: feroz, forte e um pouco assustadora. — Tenho que averiguar qual é o

motivo.

— Temos que averiguá-lo. — corrigi com um tom grave. — Você não

está sozinha.

— Mas é claro que estou. — ela sorriu com nostalgia, mas afrouxou

seus dedos em torno do fragmento. O sangue brotou em sua pele, mas era

prateado. Havia assumido que não podíamos ser machucados fisicamente

quando estávamos no meio de uma viagem astral ou que diabos fosse o que

estávamos fazendo.

Parecia justo.

Ela franziu o cenho para o sangue prateado.

— Não. — gritou. Deixou cair o fragmento e freneticamente começou

a limpar suas mãos, limpou os dedos em suas calças até que ficassem em

carne viva.

— Merda.

Mas depois seus olhos ficaram brancos e caiu.

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Capítulo Dezesseis

Paris, 1793.

Depois que os distúrbios alimentares acabaram Isabeau foi para os

telhados de Paris.

Ela se moveu ate o telhado de uma robusta fromagerie62 para fugir da

multidão de parisienses famintos e dos moradores locais que como eles

invadiram as calçadas das ruas com baionetas, tridentes (pitchforks) e

tochas. Sua patisserie63 favorita, uma que os revolucionários nunca se

preocuparam e que o dono normalmente lhe dava croissants velhos,

queimava ate o chão em questão de minutos. Uma fumaça preta enchia o ar;

tosse e xingamentos enchiam os becos.

O fogo deslocou perto da porta do extrator de dente e rastejou muito

perto do café popular. Baldes de água eram pegos e passados de mão em

mão. Isabeau voltou para o chão para ajudar, colocando sua gola no rosto.

Ela usava uma calça de operários revolucionários e um cocar tricolor no seu

chapéu.

Ela prendeu os cabelos e tentou abafar sua voz quando falava; o que

era raramente. Ela aprendeu a olhar como um menino e gritar “Fraternite”

sempre quando alguém a fazia uma pergunta direta, era o caminho mais

seguro para permanecer despercebida e desinteressante. Uma garota com

sotaque aristocrático, mãos suaves e um cabelo longo nunca sobreviveria.

E seu pai tinha morrido para que ela sobrevivesse.

62 Tipo de queijo.

63 A pâtisserie é um tipo de padaria francesa especializada em bolos e doces.

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142

Então ela iria sobreviver.

Por mais que ela quisesse o contrário.

Era no final de fevereiro e as ruas estavam escorregadias com a chuva

e o frio, a fumaça entranhando pelas portas. O fogo ardia assim como a fome

dos desordeiros. Isabeau penetrou para mais perto, fechando seus olhos ao

sentir o calor no seu rosto. Ela não se moveu ate que a viga quebrou e pairou

sobre o beco, caindo queimando a haste e madeira. Suas mãos sentiram

calor pela primeira vez no mês. Mesmo com a queimadura no dedo valeu à

pena.

Ela foi para o lado. Mais água arqueou dentro das chamas que

crepitaram indignamente. Não demorou muito antes que a patisserie

estivesse uma pilha de brasas fumegantes, o proprietário de cabelo escuro

gritando obscenidades do outro lado da rua.

Quando os gendarmes64 chegaram, Isabeau fugiu. Não tinha levado

muito tempo para aprender a evitar qualquer pessoa com poder: policiais,

magistrados e até mesmo o guarda noturno que estava sentado na rua

bebendo vinho ate que caiu no sono, roncos dentro do peito. Os moleques

gostavam de colocar aranhas no seu peito e fugir rindo.

Ela transportou-se novamente para cima de um telhado próximo e se

agachou, ficando fora de vista.

Enfiou os dedos nos punhos desgastados de sua camisa. Estava segura

aqui, quieta. Havia apenas que lidar com pombos e um velho e magro gato.

Ela poderia andar ao longo de um telhado de um ponto extremo da cidade a

outro, desde que ela tomasse cuidado e evitasse as camadas mais pobres

onde o telhado cederia completamente. Podia escutar os revolucionários

gritar amavelmente um com outro no café e as batidas dos tambores da La

Place de La Concorde quando outro prisioneiro era arrastado para a

guilhotina. Ela não poderia ficar olhando as execuções, apenas ouvindo a

multidão gritando e aqueles tambores fazendo-a mal.

Algumas horas mais tarde quando seu estomago roncou mais alto que

os desordeiros inválidos, ela deslizou para baixo e caiu agilmente em um 64 Soldado de uma corporação especial encarregado de manter a ordem.

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143

beco que tinha cheiro de urina e água de rosas. Uma vez que o sol se foi, as

prostitutas do salão estavam em um canto, piscando para homens. Ela tinha

uma hora ainda antes que ficasse escuro para que ela pudesse encontrar um

telhado.

Ela encurvou os ombros e manteve os olhos para o chão quando

voltou para a calçada lotada. Cavalos faziam meio giro, andando, seus cascos

clicando nas pedras. Alguém tinha colocado fogo no caldeirão de ferro

dentro do café. Ela diminuiu o seu passo, lançando um olhar oculto nos

pratos abandonados com alimentos não consumidos. Um dos garçons olhou

para ela com raiva e estalou os dedos. Ela estava suja, um menino de rua sem

rosto que afastava os clientes.

Parecia como se fosse anos atrás quando ela estava escolhendo um

vestido novo e perguntando quando ela iria ter um noivo, quem seria e se ele

seria gentil e ainda teria todos seus próprios dentes. Agora ela fedia e

cheirava como telhas mofadas.

Ela fez careta. — Um rosto de menina tão bonito.

Isabeau congelou, então encurvou mais os ombros.

— Você nunca vai passar por um menino se você continuar a andar

assim, chouette65.

Isabeau virou a sua cabeça ligeiramente. A prostituta sorriu.

Um dos seus dentes estava faltando e suas bochechas estavam

vermelhas parecendo maçãs.

— E eu não sei o que você quer dizer. — Isabeau disse com a voz mais

grossa que podia. Ela cuspiu no chão em uma boa distância e mal evitando o

seu próprio pé.

— Melhor. — a prostituta aprovou. — Mas você precisa dar passadas

maiores, como se estivesse pronta para lutar com qualquer um que entrasse

no seu caminho.

65 Coruja.

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144

— Eu não quero brigar. — ela protestou, alarmada.

— Você não terá se todo mundo achar que você quer.

— Eu não sei se isso faz sentido.

Ela sorriu. — Sentido não tem muito haver com ser um homem. — seu

peito estava perigosamente perto de escapulir do corpete manchado. Sua

longa saia estava dobrada ate o seu quadril, mostrando meias com vários

furos robustos, e um par delicado de botas. A contradição fez Isabeau piscar.

— Meu nome é Cerise. — a mulher se autoapresentou.

— Oh. — ela não poderia acreditar que estivesse cuspindo e falando

com uma prostituta. A velha Isabeau teria inalado um lenço de rendas

encharcado com óleo de lavanda para disfarçar o cheiro do lugar se ela

passasse com a carruagem da família. Ela nem mesmo teria notado Cerise

com suas mãos frias rachadas e seu cabelo crespo. Isabeau estremeceu com

o vento frio vindo da esquina.

— Você precisa de um casaco.

Ela encolheu os ombros. — Eu estou bem. — ela apertou os dentes

juntos para não conversar mais.

— Mmm hmmm. — Cerise disse secamente. — Se você seguir a

carroça ate o rio, é onde eles despejam os corpos depois das execuções.

Isabeau engoliu seco. Cerise afagou seu ombro. — É melhor que

congelar até a morte.

— Obrigada. — ela respondeu cautelosamente.

Isabeau não estava muito convencida, mas ela foi ensinada para ser

educada.

— Se você for agora, talvez ache algum antes de escolherem os limpos.

Isabeau acenou e puxou sua gola para cobrir a parte de trás do

pescoço.

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145

— E Cherie? — Cerise chamou atrás dela. — Fique longe do café no

fim da rua. Não é seguro para jovens garotas ou jovens garotos.

— Obrigada. — ela disse novamente. Mas dessa vez com mais

cordialmente.

Ela se encontrou andando para o rio, mesmo que com o pensamento

de roubar de um corpo decapitado fizesse sua bile subir pela garganta. A

verdade era; ela não tinha um único centavo no seu nome e nada valioso

além de um pedaço de seda do vestido favorito da sua mãe. Isso

provavelmente não era suficiente para comprar uma refeição e mesmo se

fosse ela se recusava a vender. Isso era tudo que sobrou de sua família, sua

casa, sua vida real.

Ela viu a carroça no final da rua, as rodas rangendo quando bateu em

direção ao rio de Seine.

A maioria dos comerciantes nem mesmo se incomodaram em tirar os

olhos do deu trabalho. Crianças e cachorros a perseguiam cantando músicas

que Isabeau nunca tinha ouvido antes. Isso soava como canção de ninar, mas

com palavras obscenas. A carroça sacudiu sobre a calçada quebrada e o

braço escorregou para o lado. Isabeau estremeceu, mas de algum modo

continuou andando. A chuva começou a cair intermitentemente, mais como

pelotas de gelo do que a chuva suave da primavera. Ainda estavam no

inverno. Ela estremeceu violentamente, tentando dizer a si mesma que a sua

blusa era grossa o suficiente para a manter aquecida, ela só tinha que se

acostumar com o frio. Ela era delicada, muito acustumada a lareira, cozidos

quentes e vinho quente a qualquer hora do dia ou da noite.

O rio movia-se lentamente, como se fosse muito frio para ele fazer seu

trabalho bem. Ela sabia que as rodas moinho estariam rangendo mais

lentamente, nas vilas. Existia uma roda exatamente como aquela perto da

casa dos seus pais no seu país. Aqui o rio estava lamacento e emendado com

uma parede de pedra quebrada.

Isabeau não era a única passando nos becos como uma carroça parada

no banco. Ela tentou dizer a si mesma para dar a volta e encontrar um

telhado escondido para que ela pudesse aquecer suas mãos com a fumaça

saindo da chaminé. Em vez disso, ela viu; congelada, como dois homens

começaram a atirar a cabeças decepadas no rio. Sangue escorreu para a

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146

sujeira para debaixo da carroça. Corpos estavam rolando para a água

cinzenta. Havia meia dúzia deles. Então o homem levantou-se para a carroça

e bateu no cavalo para começar a andar.

Isabeau pulou a parede e arrastou-se ao longo das pedras quebradas

como dentes podres, andando devagar. A cabeça balançava na água gelada,

girando ao fazer caretas para ela com o olhar grotesco. Ela colocou a mão na

boca para não gritar. Sentiu-se tonta, como se não estivesse no seu corpo.

Ela viu a si mesma abordando um cadáver decapitado preso no banco e virá-

lo. Esse homem tinha sido delgado o suficiente para o casaco caber nela. Ele

era cinza escuro e de lã, já tinha perdido alguns botões. Só tinha um pequeno

rasgo em seu ombro e estava relativamente livre de sangue. O lenço que ele

usava tinha absorvido a maior parte.

Ela não poderia pensar nisso. Só poderia continuar seguindo, como

marionete, consciente apenas do vento frio e que suas unhas estavam

ficando azul de frio. Os outros corpos tinham sido escolhidos por uma

gangue de meninos e uma menina que não deveria ter mais de cinco anos

que continuava pedindo algo brilhante. Ela tinha que ser rápida. Arrancou e

puxou até o casaco estar livre, lágrimas congelando nos seus cílios. Ela caiu e

em seguida correu de volta para as vielas, parando apenas para vomitar em

um beco escuro e transportar-se para um telhado. O sol morreu lentamente,

sangrando a luz vermelha e roxa sobre a cidade.

Na primavera os botões afloram com a proposta de verde em todas as

copas de árvores, Isabeau tinha aprendido as leis das ruas, graças a Cerise,

quais bairros evitar completamente, mesmo a luz do dia. Encontrou um

frasco de azeitonas embalado e folhas de espinafre sobrando no mercado.

Eles só estavam um pouco pisoteados e lembraram–na o molho de espinafre

com alho que o cozinheiro fazia em ocasiões especiais. Ela comeu com os

dedos, agachada no telhado de uma livraria. Tinha parado de ver os corpos

no rio toda vez que fechava os olhos e estava agradecida com o calor do

casaco quando as chuvas começaram.

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147

Deixou algumas azeitonas e colocou o pacote no bolso, pulando no

chão. Se tivesse tido carnaval por ai, ela gostaria de pensar que poderia ter

sido uma acrobata ou uma equilibrista. Deixou um amplo espaço para o café

conhecido por disputas políticas e abaixou-se para debaixo do cimo

rangendo da farmácia. A cadeira tinha arrebentado na última noite com a

tempestade e o sino estava balançando embriagado, batendo na armação de

madeira em volta da janela. Ela achou Cerise inclinada para fora da janela

com outras cinco prostitutas.

— Fancy a go, citoyen66? — uma mulher magra com hematomas nos

braços sorriu para ela. Isabeau deu um passo para trás.

— Nem pense Francine. — Cerise falou baixo. — Ele está aqui por

mim.

— Você sempre pega todos os bonitos. — Francine fez beicinho, indo

para longe.

Isabeau ficou vermelha até a ponta dos seus dedos. Cerise riu alto. —

Eu esqueço o quão nova você é. — ela disse.

Isabeau fez uma careta para ela e usou a depressão do balcão para

impulsionar-se ate a varanda de Cerise. Era mais uma saliência de madeira

do lado de uma janela quebrada que uma varanda realmente, mas serviu

com um truque.

— O que você trouxe para mim agora? — Cerise perguntou

ansiosamente. As colegas de quarto roncavam alto na escuridão do cômodo

atrás delas. Ela parecia cansada, as linhas em volta dos olhos estavam mais

escuras.

Isabeau algumas vezes esquecia que ela era alguns anos, mais nova

que sua mãe era quando ela nasceu. Amandine tinha uma espécie de

inocência que Cerise havia superado pelo tempo que ela perdeu seu último

dente de leite.

— Aqui. — Isabeau entregou as azeitonas. 66 Quer me seguir, cidadão?

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148

Cerise as agarrou. — Eu não como azeitonas há semanas.

— Eu trouxe algo melhor. — Isabeau assegurou, pescando outro

tesouro do seu bolso, embrulhado em um velho papel de embrulho. Ela tinha

roubado do jardim de uma casa chique da rua da casa de seus pais

antigamente.

Cerise arregalou os olhos quando Isabeau puxou o papel de cima. —

Isso é...?

Isabeau confirmou, entregando o pacote nos dedos trêmulos de

Cerise.

— Morangos.

— Eu nunca comi morangos antes.

— Coma-os rápido antes que você tenha que dividir.

Cerise os colocou na boca antes que as colegas de quarto pudessem se

mexer e perguntar sobre o cheiro adocicado. Seus olhos se fecharam como

se ela estivesse comendo mousse de chocolate pela primeira vez.

— Celestial. — ela declarou em uma voz suave. Algumas sementes

presas entre seus dentes.

— Eu sabia que você iria gostar deles. — o sol estava no alto, alto pela

primeira vez desde o outono. Isabeau virou seu rosto para ele.

— Mal posso esperar pelo verão.

— Marc falou para eu te falar que eles estão dando um grande comício

no La Place de La Concorde hoje.

Isabeau a olhou, esperançosa. — Quão grande?

— Ele disse que você poderia trabalhar com seus olhos fechados. Eu

nunca vi alguém com dedos tão hábeis quanto os seus. — ela balançou as

sobrancelhas. — Aposto que ele poderia pensar em algumas maneiras de

trabalhar com as suas mãos delicadas.

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149

— Cerise! — Isabeau abaixou sua voz. — Você não falou para ele que

eu sou uma menina, certo?

— Não, chouette. Ele definitivamente pensa que você é um menino.

— Então porque ele estaria interessado em... — ela parou confusa.

Cerise riu tão alto que engasgou. — Não se preocupe, vou te dizer

mais tarde. — ela enxugou os olhos. — Como você sobreviveu tanto tempo?

— Por sua causa. — Isabeau respondeu séria.

Cerise enxugou os olhos com mais vigor. — Você está me fazendo

chorar.

— Por que está me ajudando, Cerise? — Isabeau sempre quis

perguntar, mas não quis assustar o único amigo que tinha. Não se faz

perguntas atrás de becos.

— Eu já tive uma filha uma vez. — Cerise respondeu; sua voz tão

suave que era quase abafada por pombos bicando o mato do lado do edifício.

— Ela teria mais ou menos sua idade agora.

— O que aconteceu com ela?

— Ela teve febre em um inverno quando ainda era um bebê. Eu não

podia pagar um médico. Quando quebrei a janela de uma farmácia para

pegar alguns medicamentos, os gendarmes a tiraram de mim e a levaram

para a Bastille. Ela morreu antes deles me deixaram sair.

Isabeau mordeu seu lábio. — Sinto muito.

Cerise assentiu, tocou os minúsculos brincos de vidro que ela nunca

tira. — É por isso que eu uso eles.

— Isso é vidro da Bastille, não é? — tinha se tornado moda usar

brincos e joias com pedras ou vidro da Bastille, para comemorar o assalto a

prisão quatro anos antes.

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150

Ela assentiu com a cabeça fortemente. — Sim, eu nunca estive tão feliz

no dia em que destruíram aquela prisão em pedaços. — engoliu duramente,

sacudiu a cabeça. — Foi o suficiente disso agora, não se vive do passado. —

olhou de soslaio para a direção do Sol. — É melhor você ir para a praça

agora.

Isabeau transportou-se para cima do telhado, virando sua cabeça para

trás.

— O que vai querer hoje, Cerise? — perguntou, forçando uma nota de

alegria na sua voz.

— Uma fita para o meu corpete. — Cerise sugeriu, sorrindo de novo.

Tinha se tornado um jogo, para ver que pequena bugiganga Isabeau poderia

pegar para ela, uma vez que ela tinha acabado trabalhando em amontoando

mercadorias caras.

Isabeau correu ao longo dos telhados, seguindo o barulho do comício.

Como prometido, a praça estava lotada de pessoas, crianças, cachorros e

vendedores esperando vender. A chuva tinha lavado a calçada e as ruas e o

vento levou o fedor de tantos corpos mortos e lixos nos becos. Havia um

homem no palco vestido com calças favorecidas pelos revolucionários em

vez de calças aristocráticas, daí o nome “sans-culottes.”. Ele tinha um cocar

tricolor preso no chapéu, como Isabeau fez.

Quase todo mundo em Paris usava um, como se fosse secretamente

monarquistas. Todo mundo queria evitar atenção indesejada. Foi à única

maneira de sobreviver à guerra da Guarda Nacional e os gendarmes e aos

revolucionários.

Ele estava gritando apaixonadamente sobre Fraternite e Liberte e

ensinando ao publico de crianças. Isabeau não prestou muita atenção no que

ele estava falando. Não estava aqui para se unir à causa ou mesmo lutar

contra isso.

Estava aqui para roubar moedas dos bolsos de anônimos. Ela tinha um

pequeno esconderijo debaixo de um telhado de uma loja de fitas que viu

poucos consumidores esses dias. Em breve, se o verão fosse gentil com ela,

poderia ter dinheiro suficiente para comprar uma passagem para a

Inglaterra. Se ela fosse antes do verão, poderia andar desde a costa ate

Londres, para encontrar a casa do seu tio. Estava tentando convencer a

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Cerise de ir com ela, mas a mulher se recusava absolutamente a deixar a

França e cuspiu com a menção da Inglaterra.

Isabeau usou a vantagem da visão de cima para descobrir a

movimentação da multidão, onde estavam aglomerados e onde pudesse

descer. Uma vez que ela tinha marcado o melhor ponto de entrada, pulou no

beco, assustando um gato e nitidamente evitando uma poça com um liquido

não identificado. Ela passeou casualmente na direção da parte principal da

praça, olhando para todo mundo como se estivesse prestando atenção no

discurso. Alguém lhe entregou um panfleto.

Ela se deixou ser empurrada, pisando em pés e pedindo desculpa. O

homem deu os ombros, checando seus bolsos.

Eles estavam tão completamente gratificados que a esqueceram,

instantaneamente. O homem do seu lado não pensou em checar os seus

bolsos e ela escondeu o sorriso, deixando cair à moeda de prata do seu

casaco. Ela pendurou um casaco em uma chaminé e praticou por vários dias

até que ela pudesse escolher um bolso sem nem mesmo perturbar os

pombos em cima de si. Ela estava tão orgulhosa de si mesmo, como estava

quando tocou pela primeira vez uma música no piano sem parar ou errar.

Mais orgulhosa até mesmo, quando ganhou elogios do seu professor de

dança.

Qualquer um podia dançar.

Roubar bolsos era a habilidade mais difícil de aprender e

eminentemente a mais útil.

No fim da praça ela conseguiu outra moeda de prata, uma corrente de

cobre com o fecho quebrado, um saco de nozes e uma pena do gorro de uma

mulher. Ela teria que encontrar uma fita vermelha mais tarde. Se ela

continuasse por mais tempo as chances de ser descoberta eram maiores.

Ganância levaria a morte.

Ela viu Marc encostado no pilar, seu rosto sujo meio escondido pelo

chapéu. Ele piscou para ela quando passava, mas não fez nenhum sinal de

que a conhecia. Ela deslizou a corrente de cobre como agradecimento, pegou

um amontoado de uma cesta de rabanete e desapareceu sobre o labirinto de

telhas e chaminés quebradas sobre a cidade.

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152

Capítulo Dezessete

— Que diabos é isso? — engasguei quando fomos jogados de volta na

clareira. Já não estávamos em Paris em 1793, mas não estávamos em nossos

corpos. Ambos brilhávamos como fantasmas sobre a erva, nossos corpos

estavam jogados a vários metros de distância. Não pude imaginar a imagem

de Isabeau, abandonada, órfã e em cima dos telhados.

— Isso nunca me ocorreu antes. — Isabeau murmurou surpresa e

envergonhada.

— Sabe, continua dizendo isso.

Tragou saliva, afastando-se um pouco como se estivesse muito

envergonhada para me olhar. Isso definitivamente era algo novo. — Então...

já conhece o que fui.

Pisquei. — Engenhosa; inteligente e autossuficiente. Como agora.

Ela piscou de novo. — Logan, não estava prestando atenção? Eu

roubei dos cadáveres e também roubei carteiras.

— Sobreviveu. — não havia um pingo de censura em minha voz,

exceto talvez a sugestão de que não gostava do que ela pensava, que eu

pudesse pensar menos dela.

— Não fui melhor que Madame Tussaud. — disse desgostosa.

— O que tem a ver isto com os museus de cera?

— Refiro-me a Madame Tussaud que fez máscaras mortuárias. Li que

ela escavou entre os cadáveres das vitimas da guilhotina, para encontrar

cabeças decapitadas e fazer máscaras. De quem você está falando?

— Uma atração turística. Fazem réplicas de cera, de personagens

famosos. Suponho que foi chamado assim por causa da Madame Tussaud.

— Este século é estranho. — murmurou.

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— Isso vindo de uma garota que sobreviveu à Revolução Francesa.

— Estamos azuis. — ela murmurou. Foi então que notei que a luz que

emanava dos nossos corpos estava mais brilhante, ligeiramente azul ao

redor das extremidades nebulosas. — Não temos tempo a perder, temos

que retornar aos nossos corpos antes que nossos espíritos esqueçam o

caminho.

— Sinto-me um pouco estranho. — como se a atração por meu corpo

estivesse brigando com a necessidade de flutuar para longe.

— Está bem? Ainda tenho que conseguir uma conexão com

Montmartre. — ela ajoelhou-se e passou a mão sobre o sangue prateado. —

A qual eu apenas posso conseguir fazendo isto. — suas mãos estavam

manchadas de uma capa grossa de sangue prateado, como se fosse uma

pintura a óleo. Tinha os dentes apertados, enquanto se untava na testa, entre

as sobrancelhas, com o sangue metálico. Vacilou como se estivesse olhando

através do calor. Estava a ponto de desaparecer de novo e desta vez, eu não

estava tocando-a, o inferno que eu ia ficar para trás e flutuar. Peguei sua mão

e o sangue prateado correu sobre minha pele.

— É perigoso. — ela grunhiu desaparecendo.

— Cale-se. — grunhi em resposta, de repente senti uma sacudida de

vertigem. Isto não era como quando havíamos ido para uma de suas

lembranças, em sua cabeça, isto estava nos levando a um lugar diferente e

não tinha a menor ideia de onde era. Tudo era uma mancha de cores turvas,

de repente negras, para depois sentir um golpe doloroso na cabeça. — Ai,

maldição!

Estávamos em tempo real, pressionados contra o teto de uma casa,

como se a gravidade tivesse se invertido. E tudo o que sabia era que

estávamos ali. Ela praticamente vibrava com raiva. Enquanto eu tentava não

vomitar. Poderia os espíritos incorpóreos vomitar? Era melhor não pensar

nisso.

— Olha. — ela disse, sua voz era quase um eco de dor.

Embaixo de nós havia uma luxuosa sala com um bar que tinha uma

bancada de mármore verde e garrafas de sangue em fila como se fosse vinho

Vintage. Uma mulher humana chorava no canto, agachada em uma bola, o

sangue manchava seus pulsos e a dobra interior de seus cotovelos. Dois

guardas estavam a postos na usual porta principal dos Hosts, recoberta com

couro e outros dois estavam na porta traseira que conduzia a um pátio de

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154

telhas. No centro do quarto, Montmartre estava reclinado em uma poltrona

de couro, parecendo como um príncipe escuro de algum filme. Seu cabelo

negro estava recolhido para trás, e seus olhos estavam estranhamente

pálidos. A última vez que o vi, ele tentava sequestrar minha irmã que estava

inconsciente.

Dei um olhar de soslaio a Isabeau, enquanto tentava manter minha

voz suave. — Se continuar a ranger os dentes fará que suas presas quebrem

imediatamente.

Ela não sorriu, mas ao menos já não parecia alguém que estava

tentando quebrar o crânio.

— Pode nos escutar? — perguntei

Ela negou com a cabeça. — Apenas uma bruxa ou um Shamanka

poderia ouvir-nos e nesse momento não alguém assim ali embaixo.

— Finalmente, um pouco de sorte. Rato filho da puta! — sussurrei

para Montmartre. — Cachorro sarnento filho de uma cabra com escorbuto67.

— Isso não faz sentido. — Isabeau murmurou.

— Apesar disso, faz-se se sentir bem. Tente-o.

Ela entrecerrou seus olhos na parte superior do perfeito cabelo de

Montmartre. — Asno, burro! Espero que fique careca.

— Genial.

— Chorão! Fezes de macaco raivoso cheio de pulgas!

— Claramente nota-se que tem talento. — franzi o cenho. — Porque

ele parece tão vermelho?

— Está vendo a sua aura. — Isabeau explicou. — É mais fácil se ver

quando está nesse estado e essa matiz de vermelha é única nele. Vê os

guardas ali? Suas auras são únicas também, mas tem um matiz de vermelho,

no exterior. — ela estava certa. Via-se como um nebuloso caramelo

Jawbreaker68, e havia muitas camadas de cor. — Isso os marca como parte

da tribo de Montmartre.

67No original scurvy goat. É uma aberração, pois o leite de cabra é rico em vitamina C, tornando impossível

uma cabra ter escorbuto.

68Caramelo americano coberto por muitas camadas de caramelos coloridos. Como um arco-íris:

http://chemed.chem.wisc.edu/~tsts/McMahon/McMahonImages/McMahon9thru12/jawbreaker.jpg

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— Espera. Então todos nós temos isso? — não podia deixar de notar

que a aura de Isabeau e a minha tinham o mesmo e tênue tom azul opala que

rodeava nossos corpos que estavam muito próximos.

— Sim.

— De que cor são a dos Drake?

— Azul Cinzento, como a superfície de um lago quando uma tormenta

está próxima. Lucy é muito, muito rosa, como algodão doce. Os Hel-Blar tem

uma ausência de cor, o que faz com que minha cabeça doa.

— Isto realmente não fica menos estranho, fica?

Os guardas saudaram alguém e se colocaram de lado antes que ela

pudesse responder. Outro homem entrou no quarto, vestido com um traje

desenhado sobmedida ridiculamente caro. Tinha o cabelo castanho escuro e

ingenuamente estilizado, o tipo de estilo descuidado pelo qual tem que

trabalhar muito para conseguir.

Não era muito alto, era muito suave e aristocrático para parecer

ameaçador, se não fosse pelo sinistro poder que emanava dos seus poros.

Aproximei-me mais de Isabeau. E senti a repentina necessidade de protegê-

la, flutuando suavemente por cima dos predadores que já haviam tentado

matá-la mais de uma vez. Não reconheci ao novo vampiro, mas minha mãe

não havia criado a um idiota.

— Greyhaven? — sussurrei.

Ela assentiu com a cabeça uma vez, hesitante, como se tivesse um

colar de madeira no pescoço. Queria abraçá-la, inclusive mais do que queria

voltar ao meu corpo. Nem era uma opção imediata.

Greyhaven misturou algum sangue em seu copo de brandy e jogou o

conteúdo para trás antes de começar a falar. — Os Hel-Blar estão causando

uma agradável distração. — disse. O som de sua voz fez Isabeau dar um

passo atrás, como se ele tivesse tentado estacá-la.

Montmartre não parecia particularmente impressionado. Parecia

esgotado na verdade, quase cinza, devido à fadiga que o rodeava. Isso era

bom. — Colocamos o pacote por pura sorte. — disse. — Não temos tempo ou

homens para atacar a fazendo dos Drake. Precisamos do elemento surpresa

e não podemos fazê-lo, não agora. Já que não soltam a maldita garota.

Falavam de Solange.

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Ouviu-se um ruído estranho, um grunhido que não me dei conta que

vinha da minha própria garganta até que quase me engasgo devido ele.

— Ela estará na coroação. — Greyhaven assegurou-lhe

tranquilamente. — Você poderá tomá-la ali. E também a Coroa.

— Sim, já que funcionou tão bem da última vez. — disse secamente,

com sarcasmo.

— Se preocupa muito.

— Eles não estarão nos esperando na Coroação. — Montmartre disse

colocando-se de pé. — Vamos ter que agir mais rápido que isso. Posso raptar

a garota uma vez que ela tenha a Coroa. — ele sorriu e isso enviou um

calafrio através de mim. — Tenha seus homens prontos. Vamos enviar os

guardas humanos antes do entardecer de amanhã e os seguiremos.

— Mas... — Montmartre não viu o estranho olhar no rosto de

Greyhaven, mas eu podia ver claramente. E eu não tinha ideia de como

interpretá-lo, estava entre tenso, esperançoso, amargo, feroz, ciumento,

desprezível. Era muito para uma só expressão. E de repente foi banhada por

uma fina camada de pânico. Era evidente que Greyhaven não era do tipo

espontâneo. Não gostava das mudanças de plano.

E já que aqueles planos implicavam em matar a minha família, casar-

se com minha irmã caçula contra sua vontade, ele até poderia tentar69.

— Temos que adverti-los. — disse a Isabeau.

Então de repente uma rajada de névoa pairava sobre nós, esta era

muito incômoda. Eu estava muito furioso e tenso e já me incomodava

continuar flutuando, queria sentir o solo embaixo das minhas botas. Queria

sentir o aperto de uma boa espada em minha mão, também uma boa pegada

sobre uma estaca. Agora mesmo.

Greyhaven franziu o cenho ligeiramente e olhou com receio para os

escuros cantos do quarto.

— Merde. — Isabeau chegou a mim antes que pudesse alcançá-la. Seus

dedos cravaram em meu braço. — Pensa em seu corpo. — sussurrou. sua

boca tão próxima ao meu ouvido que pude sentir um roçar em meu lóbulo. A 69He could bite me ou morda-me, uma expressão muito utilizada nos Estados Unidos para ameaçar ou desafiar

alguém a tentar algo contra você ou terceiros.

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cabeça de Greyhaven balançou, mas então voltei a sentir um ataque de

vertigem. Não tinha a menor ideia se ele havia nos visto. Nem tinha ideia de

onde estávamos. Fui jogado pelo ar no que parecia ser anos e logo aterrissei

próximo ao meu corpo. Estava muito mais tranquilo do que na realidade

parecia.

Isabeau parecia totalmente exausta, como se seus membros astrais

fossem pesados como pedras. Sua aura piscou, como uma lâmpada a ponto

de explodir.

— Hey. — disse suavemente, me colocando de pé. — Isabeau. — ela

não recuou, nem me olhou, nem respondeu ao seu nome. — Isabeau. —

havia me dito que deveria chamar três vezes por seu nome para que pudesse

retornar ao seu corpo. Eu não sabia se isso ia funcionar nela, e muito menos

em mim. — Isabeau.

Nop. Não funcionou.

Ela permaneceu etérea e ainda parecia como se houvesse engolido a

lua. Senti-me cansado e desorientado.

— Isabeau, droga!

Ela virou a cabeça lentamente para mim. — Logan.

— Merda. Está me assustando. — me queixei, sentindo-me

embriagado. Minha aura parecia avariada, desvanecida.

— Deve retornar ao seu corpo. — disse com urgência. — Agora

mesmo.

— Boa ideia. — sorri lentamente. — Isabeau?

— Oui?

— O que é exatamente que devo fazer, ma belle70? — depois de tudo,

as aulas de francês haviam me servido de algo, e não apenas porque Madame

Veronique exigia um entendimento básico. Se não porque, agora podia usá-

lo para encantar Isabeau em sua língua nativa. Ela me sorriu. Estava certo de

que não havia imaginado. Bom, quase certo.

— Apenas deite em seu corpo, como se estivesse sentado em uma

cadeira.

70Ma belle: Minha bela.

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— Está bem. — toquei sua bochecha, ou o tentei. Nossas auras se

tocaram, brilhando. — Não sorri o suficiente.

— Flerte comigo mais tarde, Logan. — ela me empurrou e caí, para

trás aterrissando em meu corpo. Meus braços e pernas tremeram, como se a

eletricidade me atravessasse. Senti-me pesado e estranho, depois senti um

estranho formigamento em todas as partes. Charlemagne me cheirou,

deixando uma mancha úmida e fria em meu pescoço. Sentei-me, fazendo

uma careta. — Esse não era o beijo que eu esperava, cão. — disse. Deu-me

uma lambida novamente, e eu congelei. Agora sim, podia ouvi-los. Ruídos de

passos, corpos de vampiros se movendo entre as árvores rapidamente.

Em nossa direção.

Isabeau ainda estava deitada, não estava de volta ao seu corpo ainda.

Algo saltou no ar, e aterrissou de cócoras no espaço livre, com uma estaca

em sua mão. Charlemagne permaneceu próximo à cabeça de Isabeau.

Então relaxou quando viu que os que nos rodeavam eram guerreiros

Hound. Eu não o fiz.

Magda deu um passo à frente, com o rosto ilegível. — Logan Drake,

venha conosco.

— Uma merda.

Isabeau ainda não se movia e eu tinha que advertir aos meus pais, e

tinha que me assegurar de que Solange estivesse a salvo.

— Isto não é um pedido. — havia cães aos seus pés, orelhas erguidas,

que me mostravam os dentes.

Grunhi. — Olha, está na parte inferior da minha lista de prioridades

neste momento, Magda. Tem que pegar uma maldita senha.

— Foi convocado por Kala.

— Ela pode esperar também.

Isabeau se sacudiu uma vez e logo sentou bruscamente. Piscou

aturdida. — Magda? O que está acontecendo?

Magda ajeitou seus longos cachos sobre os ombros. — Ele foi

convocado para os ritos.

— O que? — Isabeau saltou sobre seus pés, e esteve quase a ponto de

bater na minha cara. — Não!

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Levantei-me lentamente. — Do que ela está falando?

— Não é ele. — Isabeau disse suplicando aos guerreiros.

— Kala voltou a ler os ossos. — disse um deles. — Ele tem que

demonstrar que é digno de você, dos Hounds. Tem que ser o suficientemente

forte para ser um de nós.

— Nunca me disse nada disto. — Magda adicionou, soando ferida.

Isabeau estremeceu. — Eu sei. Mas isso não significa que seja ele. E de

todas as formas, não temos tempo para isto.

— Não podem estar em Handfasted71 sem os ritos. — insistiu outro

guerreiro. — Ele tem que ser iniciado para ser seu Consorte.

— Consorte? — repeti. Olhando-a fixamente. — Consorte? É sério? É

isso que você queria dizer?

Ela corou levemente. — É uma das nossas tradições. — disse em voz

baixa. Moveu nervosamente seus pés, a fadiga havia formado escuras bolsas

debaixo dos seus olhos verdes. — Kala predisse que ia me comprometer com

um vampiro da Corte Real. Com um Drake.

— E eu pensei que você não gosta de mim.

— Não é assim. — ela afastou o cabelo do seu rosto. — Temos que

advertir aos demais. — disse.

— Kala já deu uma ordem.

Minhas presas estavam para fora, meus punhos cerrados. — Deixe-me

pelo menos telefonar para meus pais para adverti-los.

Isabeau parecia cabisbaixa. — Os telefones não funcionam aqui, não

depois de toda a magia que temos feito. É por isso que os telefones não

funcionam bem nas cavernas.

— Então envie alguém para que faça esse trabalho. — rapidamente

disse.

Tentei alcançar suas mãos, e lembrei a magra menina que havia

roubado moedas e havia comido pedaços de pão rançoso. Esta era a mesma

71Vem de handfasting. Nas tradições celtas, pode ser usado tanto no sentido informal noivado, ou pode ser

usado como um casamento legal, completos com licença de casamento. Dura um ano e um dia, renovável

"enquanto o amor durar" e para os outros o compromisso de estar juntos durante todo este tempo da vida, ou

através de muitas vidas.

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mulher que beijei essa manhã quando o sol havia nascido como uma vela

colocada muito próxima de uma cortina. — Se fizer isto. — perguntei com a

voz rouca. — Me coloco a prova por você?

Ela assentiu com timidez. — Sim, mas...

Cortei-a, me virando para o bando de guerreiros armados. — Vamos.

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Capítulo Dezoito

A marcha de volta às cavernas foi formal e irritante. Pelo menos

Magda não estava mais com um sorriso de satisfação para mim. Isabeau

estava desconcertada e envergonhada. Eu provavelmente deveria ter me

preocupado mais por meu bem estar, mas estava um pouco feliz de ter a

oportunidade de provar a mim mesmo com ela. Mesmo que este fosse o pior

momento possível. Eu já tinha sido testado antes, por Madame Veronique,

quem preferia o bordado à guerra, mas ainda assim era muito intimidante.

Possivelmente estava subestimando esta prova.

A maioria das tochas tinha sido apagada no interior das cavernas e

apenas algumas velas ficaram ardendo ao longo da borda do lago leitoso.

Kala parecia melhor, sentada sobre uma pedra gasta, seus amuletos e contas

de osso batiam juntas enquanto ela se movia. Os guerreiros se alinhavam

nas paredes juntos a seus cachorros. Só podia ver o brilho de seus olhos. A

terra estava limpa de pedras e pedaços quebrados de estalactites, mas

estava salpicada do que parecia ser sal e erva seca.

— Logan Drake, você veio aos ritos com boas intenções? — Kala me

perguntou, sua voz ecoava de uma maneira que não era de todo

consequência das cavernas.

Tirei a jaqueta e a camisa. — Estas coisas não são baratas. —

murmurei, dobrando-as em um canto.

Alguém riu. Só pude imaginar o que estavam pensando de mim ao me

ver em minha jaqueta estilo pirata e botas com ponta de aço. Era fácil

assumir que um tipo que se sentia confortável usando punhos de renda não

podia distinguir uma espada de um palito de dentes. Eu estava acostumado a

isso. E sabia como usá-lo a meu favor.

Isabeau engoliu em seco e me enviou um olhar que não pude decifrar.

Abriu sua boca com uma advertência, mas o homem junto a ela colocou a

mão sobre sua boca. Eu franzi o cenho.

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— Você conhece as regras. — Kala disse bruscamente. — Os ossos e

os sonhos não devem ser ignorados.

— Vou estar bem. — sussurrei para ela. Levantei uma sobrancelha

para o Hound que ainda a mantinha em silêncio. — Solte-a. — não podia

acreditar que o estivesse permitindo. Estas tradições deviam ser mais

profundas do que havia pensado. — Agora.

Ele sorriu e deixou a mão cair, mas não se moveu para longe dela.

Charlemagne não parecia como se sentisse a necessidade de morder e

arrancar a cara do homem, então deduzi que eu também não deveria fazê-lo.

Era provável que não seria bom que um cachorro tivesse melhor

autocontrole, quando se tratava de Isabeau, do que eu.

Kala sacudiu um chocalho de sementes, que pendia com um dente de

cachorro. O som era como a chuva sobre o telhado de zinco. Outros seis

Hounds levantaram seus próprios chocalhos e se uniram a oração. Kala

estava cantando em um idioma que soava como o sânscrito, acentuado com

sons guturais do tipo viking. Se eu tivesse fechado os olhos, bem poderia me

imaginar em um lindo templo em meio do deserto..., ou a ponto de ser

destroçado por um navio viking com uma armação de metal.

A canção terminou, os chocalhos silenciaram.

— Comecem. — Kala rosnou.

Fiquei tenso, quase esperando que os vampiros corressem para mim,

gritando. Não aconteceu nada. Estava apenas o frio silêncio das cavernas, o

gotejar constante da água no lago, o movimento dos cachorros. O

inquebrantável momento de tranquilidade era quase pior que um ataque de

entrada e saída, O qual pelo menos eu tinha uma vaga ideia de como lidar.

Isto era desconcertante.

Mas estava destinado a ser.

Levantei o queixo com arrogância, de pé com os joelhos frouxos,

pronto para saltar. Pronto para enfrentar o que seja que eles jogassem para

mim. E um inferno se eu ia deixar-lhes me ver contorcendo e suando.

E então, eu ouvi.

O rugido foi baixo o suficiente que quase pareceu retumbar no solo

sob meus pés.

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O cachorro era muito grande. Mais até que Ox-Eye era uma generosa

mistura entre Dobermann e Rottweiler. A baba caia até o solo enquanto seus

lábios se despregavam mostrando os dentes que teriam feito um Hel-Blar

sentir-se orgulhoso. Era todo músculo, nem um grama de dobrinhas macias

de cachorro em algum lugar. E ele estava treinado para lutar e matar, com

um colar de couro com pontas armadas para protegê-lo de sua presa. Eu

tinha ouvido que eles costumavam usar cachorros como este nos rings de

gladiadores na antiga Roma e para caçar javalis na Idade Média.

Sabendo que eu tinha apenas uma vantagem sobre ele, no entanto, só

senti uma injeção de adrenalina nas veias. Deveria ter sabido que eles iam

usar os cães. E se o ferisse mesmo para salvar minha própria pele,

provavelmente iam me matar por isso de qualquer modo. Os outros

cachorros reunidos ao redor, rosnaram em resposta.

Teste ou trapaça?

Muito tarde para lamentar minha decisão precipitada agora. Sabia que

não podia me afastar ou fazer contato visual. E não tinha a mão um pedaço

de carne com sonífero, com o que distraí-lo. Apenas meu próprio e

lamentável ser.

Toda esta negociação tribal realmente fedia. Para não mencionar que

isto era para me casar com uma garota que vinha de uma tribo de lunáticos

sedentos de sangue.

O cão moveu-se para mim, a cabeça baixa ameaçadoramente, me

perseguindo. E eu não tinha retrocedido nem corrido como uma gazela

assustada. Isso dificilmente podia lhe demonstrar o meu valor a Isabeau.

Muito possivelmente esta era a noite em que meu complexo de cavalheiro

branco, como Solange havia dito, conseguiria que me matassem. Alguém

teria que escrever um poema sobre isto. Era simplesmente justo.

Mantive meu objetivo na mira. Não tinha nenhum lugar para onde eu

podia escapar, em qualquer caso, estava rodeado por guerreiros e seus

cachorros. A luz brilhava fora dos botões de prata de minha jaqueta no

canto. Se eu tivesse muita sorte, poderia ser capaz de dar a volta e aterrissar

no monte de pedras estreitas e me afastar dele. Olhei novamente para o

baboso cão guerreiro e dobrei ainda mais os meus joelhos, esperando.

Todos os demais retrocederam, a expressão de Isabeau estava

cuidadosamente em branco, a reveladora forma na qual pressionava suas

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mãos juntas, a luz bruxuleante, o estrondo da cachoeira. Éramos apenas eu,

o cão e a pedra irregular.

Eu tinha uma chance.

Com muito cuidado fiz contato visual e mostrei os dentes. Ele não

desperdiçou um só minuto em latidos e rosnados. Suas pernas se

encolheram para então se jogar sobre mim, todo dentes e olhos

desorbitados. Saltei com graça pelo ar, quase sorrindo.

Na aterrissagem, no entanto, meu sorriso se foi. A ponta de aço de

minha bota prendeu na parede. Não havia espaço suficiente para o meu pé, e

nem aderência suficiente para me manter confortavelmente em posição

vertical. A pedra desmoronou sob meu calcanhar enquanto escorregava

xingando. Escorreguei e cai no chão. A rocha irregular arranhou meus

braços, arrancando rios espessos de sangue. Estive a ponto de perder um

dente ao bater um lado do meu rosto.

Ninguém estava olhando para mim de qualquer modo.

Houve um arranhar de dentes no ar e outro grunhido. Charlemagne

saiu de sua posição aos pés de Isabeau e aterrissou entre eu e o cão

guerreiro. Ele aterrissou com mais poder e graça do que eu havia mostrado.

Raspou seus dentes, rosnando. O cão guerreiro parou, baixou as orelhas e

rapidamente se sentou, gemendo.

Minha boca se abriu.

Kala inclinou a cabeça. — Muito bem. — disse.

Limpei o sangue e a sujeira das minhas mãos. — Que demônios

aconteceu?

— Você passou na primeira prova. — disse ela, como se eu fosse

lerdo, como se este tipo de coisas fossem perfeitamente normais. — E, muito

mais inesperado, já que um de nossos próprios cães te reclamou como seu. O

que não costuma acontecer.

Pisquei o suor para fora de meus olhos. A língua de Charlemagne

pendia alegremente fora de sua boca.

Kala pulverizou um punhado de ervas secas e o que parecia giz em um

ardente fogo pequeno no banco de pedra calcaria junto ao lago branco.

— Pó de ossos de alguns de nossos cachorros mais sagrados. —

explicou. Apontou as centenas de santuários de pedra que tinham sido

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cravados na rocha. Cada um deles sustentava uma vela ou algumas urnas de

argila. — Temos que manter todos muito perto, junto com as cinzas de

nossas mães.

Supõe-se que “Mãe” era outro termo para “Shamanka”.

A fumaça do fogo encheu meu nariz e deixei de me preocupar pela

semântica e os ossos no pó. Os Hounds pareciam se desvanecer a um

segundo plano e Isabeau parecia brilhar novamente. Brilhava como as

perolas, as estrelas e a lua. Estava ainda mais linda que de costume, seu

longo cabelo brilhante, sua postura elegante, quase coquete. Ela usava um

justo vestido de cetim com um profundo decote, mostrando uma perna

praticamente até o quadril. Sua perna delgada surgiu enquanto ela dava um

passo em frente. Minha boca secou. Ela não usava nenhuma joia, apenas

essas destemidas cicatrizes. E sorria para mim.

— Logan. — disse em voz baixa, seus olhos verdes brilhando com

diversão e o calor enquanto se aproximava.

— Isabeau. — eu disse. Minha voz se quebrou da forma que não o

havia feito desde que tinha treze anos. Senti-me quase tão suave como o

havia sido desde então. O fogo crepitava junto a nós, enviando cortinas de

fumaça perfumada que subiam ao ar, entre nós e os demais. Poderíamos

estar completamente sozinhos nas cavernas, no mundo inteiro, inclusive.

Ela parou quando esteve perto o suficiente para me beijar, se

inclinasse para frente.

O que ela fez.

Beijou-me tão profundamente que o cão de guerra poderia ter se

colado atrás de mim e mordido minha perna e eu não teria percebido. Sabia

ser doce, como vinho quente com especiarias e condimentos. Sua língua

tocou a minha e eu pressionei-a para mais perto contra meu peito, não havia

mais espaço entre nós, nem sequer para a fumaça subindo. Ela me mordeu

brincalhona para depois se tornar suave e flexível entre meus braços,

aferrando-se a mim e suspirando meu nome.

Isto me deu um momento para pensar coerentemente e me golpear.

Isabeau nunca suspirava, nem tampouco se aferrava desta maneira,

nunca teria enfiado sua mão debaixo de minha camisa, o qual estava fazendo

agora mesmo, enquanto sua tribo inteira estava nos olhando.

Não Isabeau.

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E isso exigiu de mim uma vontade extrema de poder me afastar. Ela

estava apenas a algumas polegadas de mim, nossos narizes quase se

tocavam. Ela umedeceu o lábio inferior. E eu voltei a perder a linha de meus

pensamentos.

Merda, homem acorda, Drake, eu disse a mim mesmo.

Ela acariciou meu ouvido até que um calafrio desceu por minhas

costas.

— Logan, vamos sair deste lugar. — murmurou. — Deixe os Hounds e

os Drakes com seus assuntos de política. Poderíamos ser apenas você e eu.

Sozinhos.

Provavelmente tinha uma boa razão pela qual eu não deveria estar de

acordo com ela e deixá-la me levar para fora das cavernas. E tão logo quando

o sangue voltasse ao meu cérebro, eu ia lembrar o que era. Mas agora não.

Ela mordiscou o lóbulo de minha orelha e eu sabia que estava em

problemas, sérios problemas. Vampiros megalomaníacos e guerras civis não

tinham nada haver com esta garota.

— Vem comigo, Logan.

Era fisicamente doloroso me separar dela. A fumaça parecia mais

grossa, grudava em meu cabelo e cravava em minha garganta. Ela percorreu

com uma pujante agulha de prata a delicada pele de seu pulso. Pude ver os

rios azuis de suas veias. O sangue quente perfumado se agrupou sobre sua

pele fresca invernal e começou a gotejar de seu braço, até o chão. Elevou seu

pulso, me oferecendo-o.

— Beba Logan. Quero que o faça.

O autocontrole em torno do sangue fresco não era precisamente fácil

para um vampiro muito jovem. Sabia que se não tivesse bebido até me

encher, nesta mesma tarde, eu teria estado totalmente perdido. Isabeau e o

sangue eram simplesmente muito para eu resistir quando se colocavam

juntos. Enquanto tive que manter meus molares retraídos, tentando deter

minhas presas para que parassem de sobressair. Mas mal tinha êxito.

Ela sorriu, lambeu uma gota de sangue de seu dedo. — Eu estou me

oferecendo, Logan.

Grunhi quando minhas presas ganharam a batalha com as gengivas e

minha mandíbula pressionada. Agarrei seu cotovelo e a arrastei para o lago.

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Ela riu.

Definitivamente não era a verdadeira Isabeau.

A fumaça nos seguiu. Seu sangue deixava faixas rosadas na água

leitosa. — O que você está fazendo? — questionei nervosamente. E ela se

moveu, descobrindo sua perna, tentadoramente.

Mas eu já tinha lembrado o que ela havia me dito antes, quando

estávamos em forma de espírito. O trio de velas de cera piscou a minha

esquerda enviando luz suficiente, que deslizou sobre a superfície perolada

do lago. Tentei aproximá-la um pouco mais, para assim poder ver seu

reflexo.

O lago não podia ser um espelho real, mas estava perto o suficiente.

Vi a fumaça na vaga forma de uma mulher. Era a primeira vez que

tinha chegado tão perto do velho mito de que os vampiros não tinham

reflexo.

Eu a soltei com uma maldição afogada, a empurrando para trás, tão

rápido que a teria feito girar frente a seus pés se tivesse sido real. E de

repente havia apenas fumaça em seu lugar, e eu virei para olhar os Hounds.

Eles já não estavam de pé nas sombras.

Kala não sorria, mas parecia sutilmente satisfeita. — Última prova. —

murmurou.

— O que é exatamente? — perguntei com receio.

— O julgamento pelo combate.

Estive a ponto de suspirar. — Claro que é. — eu disse sem surpresa.

Poderia estar mais preocupado se não estivesse defendendo a mim

mesmo de meus seis irmãos toda a minha vida. Juntem a isso, que eu tinha

uma mãe que pensava que era uma ninja.

— Morgan. — Kala indicou a uma mulher da multidão. Ela parecia

apenas com dezesseis anos, usava um vestido de pelo cinza, que caia a seus

pés descalços. Seu cabelo chegava até os joelhos em três grossas tranças,

todas com barulhentas contas de ossos, alguns pintados de azul, e outros

eram dourados. Ela era delicada, elegante, pequena como uma bailarina.

Não me deixei enganar.

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Especialmente quando ela saltou para mim, sem sequer um grito de

batalha como advertência, até mesmo o som revelador de sua espada

raspando a bainha enquanto ela desembainhava, libertando-a, foi

inexistente. Eu não ia ser capaz de dançar a minha maneira para sair dessa.

Fui abaixei, rodando sob meus pés antes que ela aterrissasse. Quando me

virei, colocando-me em posição, ela já estava girando para mim.

Tive que saltar para trás para que a ponta de sua espada não

arrancasse meu nariz de imediato. As pulseiras em seus pulsos soaram

lindamente. Desde que gostaria de manter meu rosto onde estava, virei

inclinando-me e a chutei. Eu a acertei no plexo solar, mas não havia lhe dado

com a força suficiente para lhe causar dano real. Ela adiantou-se e saltou

rápido suficiente para evitar o golpe completo do meu calcanhar. Agarrou

minha bota enquanto esta a ultrapassava e empurrou fortemente para longe

dela. Cai para trás, machucando o cotovelo e o ombro na rocha irregular. As

chamas das velas junto à minha cabeça tremeram.

Este era o ritual dos Hounds, não gritavam ou aplaudiam, apenas

cantaram e sacudiram o ocasional chocalho.

Era tão irritante e lúgubre.

Quando ela veio para mim de novo, tirei a perna e tentei derrubá-la,

Ela cambaleou, mas não caiu. Isto me deu uma pausa suficiente para me

afastar. Tirei o cabelo de meus olhos. O sangue manchava as rochas atrás de

mim, pingando por meu braço. Conjuntos de presas duplas e triplas se

estendiam ao meu redor. As narinas de Morgan se abriram.

E então não houve forma alguma de escapar de seu ataque.

Ela se lançou para mim como uma vespa, sua espada extraindo sangue

de meu pulso, braço, peito, músculo. Lutei contra ela, tanto quanto pude,

tentando dar alguns golpes, mas nada era definitivamente o suficiente para

ganhar a luta. E então, de alguma maneira, estava voando pelo ar. Cheguei

aos pés de Isabeau, sua bota pressionava minhas costelas.

Tenho que testar a mim mesmo com ela.

A ponta da espada de Morgan, já manchada com meu sangue, se

apoiou em meu pomo de Adão. Fiquei imóvel e tentei não engolir. Pareceu

uma eternidade antes que Morgan desse um passo para trás, embainhando

sua espada e então se afastou.

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Engoli saliva compulsivamente. Isabeau se agachou, meio sorrindo —

Isso foi genial.

Isso quase fez com que minha humilhação fosse totalmente

suportável. Coloquei-me de pé, saindo de minha posição desleixada. — Você

perdeu a parte em que ela chutou minha bunda?

Ela encolheu um ombro. — Morgan sempre ganha. Ela é nossa

campeã.

Franzi o cenho. — Eu não entendo.

— Não se trata de ganhar. Apenas dois Hounds conseguiram golpeá-la

nos últimos cento e cinquenta anos.

— Então de que diabo se trata? — levantei minha mão. — Quer saber?

Não importa. Não acho que a resposta me importe.

Kala aproximou-se de nós. — Bom feito, Logan Drake. Nós agora te

consideramos um irmão.

— Sim? Genial.

Ela entregou-me minha camisa, minha jaqueta e uma tira de couro

com o dente de um cachorro envolto em arame de cobre. — Este foi um dos

dentes de leite de Charlemagne. Isto marca você como um de nós e foi

magicamente trabalhado.

Deslizou-o por cima de minha cabeça, enquanto os chocalhos dos

Hounds foram substituídos por tambores. Os hematomas ao redor de meu

olho direito começaram a latejar. — Obrigado.

Os tambores fizeram eco e um fogo se acendeu no centro da caverna.

— Normalmente nós celebramos e dançamos até o amanhecer. — Kala

baixou a voz. — Mas entendo que você tenha assuntos a atender, certo?

Assenti com a cabeça. — Desculpe.

Isabeau virou-se para mim. — Sim, devemos ir. — ela deu-me um

rápido olhar enquanto subíamos os toscos degraus para fora.

— Logan?

— Sim? — estava vestindo minhas roupas novamente apesar de que o

tecido grudava em minhas feridas.

Tudo o que eu tinha feito para tentar mantê-la limpa.

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— Como você soube que não era realmente eu?

— Você está brincando? Seus olhos podem estar em chamas e você

não bate seus cílios para mim dessa maneira.

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Capítulo Dezenove

Chegamos à borda quando o latido começou. No início parecia que

estava vindo de longe, ecoando das passagens de pedra. Depois que chegou à

caverna principal, os outros cachorros se juntaram ao coro, latindo,

rosnando, uivando. Os cabelos do meu braço se arrepiaram. Os Hounds

entraram em alerta alto imediatamente, alcançando armas. Esforcei-me para

ouvir além do canto frenético dos cães. Kala bateu palmas e falou uma

palavra de comando, cortante como vidro quebrado. Eu teria que calar a

boca também se eu fosse um cachorro. Inferno, eu teria que calar a boca de

qualquer maneira.

Isabeau inclinou a cabeça. Eu ouvi uma batida leve, três longas, uma

curta, como se algo estivesse batendo na tubulação. E veio para nós, tão

estridente que eu pensei que a água do lago poderia ter ondulado

ligeiramente.

— Ataque. — disse Isabeau, principalmente para meu benefício. Eu

acreditava que todos ali soubessem exatamente o que as séries de sons

queriam dizer. Tudo que eu queria era sair e avisar à minha família sobre o

ataque de Montmartre. — Um aviso para a batalha e... — ela parou

claramente chocada ao ouvir mais dois curtos sons. — E para se esconder. —

ela acrescentou, finalmente, como se tal coisa nunca tivesse ocorrido a

nenhum deles antes.

Odiava pensar no que poderia fazer o grupo inteiro dos Hounds no

seu próprio território e com os seus cães de guerra amarelar.

Não estava ansioso para sair e descobrir.

Discrição era definitivamente a melhor parte da coragem algumas

vezes, mas alguém tinha que salvar Isabeau de si mesma.

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Eu sabia, de fato, que ela ia saltar para a briga, apesar do perigo.

Fiquei francamente surpreendido que ela ainda não tivesse se matado por

isso.

Morgan estava mantendo guarda perto de Kala, levando a Shamanka

em direção à uma fenda estreita em um dos muros agora, pendurado com

teias de aranha. A maioria dos cães foi com elas. Isabeau estalou os dedos e

apontou para Charlemagne se juntar a eles. Alguns dos mais ferozes ficaram

com os Hound. A forma eficiente que pisaram na formação da batalha teria

trazido lágrimas de alegria aos olhos de minha mãe.

Um grito ecoou em nossa direção. Eu saquei um dos meus punhais.

Isabeau ergueu a espada apreensivamente. Eu ouvi a briga, o grunhido, e

então um Hound sangrando por um ferimento na cabeça tropeçou na borda.

Eu quase o matei. O fato de ele ter caído aos meus pés salvou sua vida e o

futuro da aliança entre as nossas tribos.

— Hel-Blar. — ele borbulhava, sufocando. — Dúzias deles.

— Merda. — eu disse enquanto eu e Isabeau olhávamos um para o

outro com os olhos arregalados. Gelei completamente. — É um truque.

— O que você quer dizer? — ela perguntou enquanto os Hounds se

mexiam para esperar do outro lado do túnel. Alguém arrastou seu

compatriota ferido do caminho para que ele não fosse pisoteado quando o

combate começasse.

— É Montmartre. — eu disse. — Tem que ser. Ele quer desacreditar

nossas tribos uma da outra para garantir que nenhum de vocês venha para

nos ajudar. — fiquei com mais frio, se isso era possível. Não ficaria

totalmente surpreendido se gelo tivesse se formado em minha boca. — Ele

está indo para as Cortes Reais hoje à noite. — eu disse. — Agora. Eles

mudaram o ataque e assim ele vai manter os Hound fora do caminho.

As mãos dela se enrolaram em punhos. — Greyhaven pode ter

percebido que eu estava em Montmartre. Ele sabe a minha assinatura de

espírito. Eles reagiram em consequência.

— Eu tenho que sair. Tenho que chegar até minha família.

Ela assentiu com a cabeça. — Eu sei.

— Mostre-me a passagem mais próxima.

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— Por aqui. — levou-me para o outro lado da água e deslizou por uma

corda, balançando para trás da outra borda da cortina de água branca.

Quando a corda grossa balançou de volta, eu a agarrei e a segui. A saliência

estava escorregadia e os estrondos da cachoeira abalavam através de meus

ossos. Isabeau alcançou uma lanterna e ligou, emitindo o feixe saltando de

um túnel que não era realmente mais do que uma rachadura na rocha.

— Algumas partes são tão escuras que nem mesmo nós podemos ver.

— ela explicou, entregando-me outra lanterna com uma alça para se

encaixar na minha cabeça. Ela usava a sua própria, como uma tiara. A luz me

cegou ao ver sua expressão. — Você não deve ir sozinho. — ela disse.

O confronto das espadas pairava abaixo, quase inaudível.

Olhei para ela por alguns instantes. — Você vem comigo? — não tinha

esperado por isso, não teria imaginado por um momento único que ela

deixaria os Hounds para me ajudar. Ela virou-se para enfrentar o corredor,

balançando a luz.

— Espero fazer melhor indo com você do que aqui. Kala não me pediu

para acompanhá-la, o que significa que ela quer que eu salve a aliança. Por

qual outra razão ela teria insistido na sua iniciação logo após ter te

conhecido?

Eu realmente não tinha tempo falar com ela sobre isso. — Obrigado.

— murmurei enquanto entrávamos no túnel úmido, pedras raspando nos

meus ombros. Virei-me de lado. Mal havia espaço para passar. Eu realmente

esperava que a fenda nos levasse na direção certa. Todas pareciam iguais do

lado de fora. Realmente não gostava da ideia de ficar preso e morrendo de

fome dentro de uma montanha. Dificilmente uma forma eficaz de parar

Montmartre.

Nós nos arrastávamos lentamente, muito lentamente para os nossos

gostos, mas não havia nada que pudéssemos fazer sobre isso. Não havia

maneira de nos movermos mais rápido, pois o túnel parecia estar ainda mais

estreito, ao invés de ampliar para o céu.

— Espero que você saiba o que está fazendo. — murmurei enquanto

eu raspava outra camada de pele do lado de fora do meu pescoço e as costas

da minha mão. A lanterna iluminando as costas de Isabeau, a queda de seu

cabelo escuro, vislumbres de sua pele pálida. Ela virou a cabeça

ligeiramente, alcançando até a desligar a luz.

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174

— Estamos quase lá. Se as mantivermos acesas vamos mostrar nossa

posição à distância.

Desliguei a minha também. Após um momento piscando afastando a

mudança brusca de luz; podia diferenciar todos os tons de preto e cinza. Se

eu ainda fosse humano, teria sido um breu total. Podia sentir o cheiro de

uma mudança no ar também. E ainda estava frio e úmido, mas de vez em

quando um sopro quente de folhas e lama parecia no caminho para dentro,

não demorou muito para que eu pudesse ouvir o vento.

Tropeçamos para fora de uma caverna muito pequena que se abriu

para o brilho das estrelas e com a mudança de ramos de uma árvore

atrofiada perto da abertura. A saliência rochosa relativamente estreita,

teríamos que escalar nosso caminho para baixo. Peguei meu celular.

— Deveria telefonar para os meus pais. Consigo sinal aqui?

Isabeau assentiu. — Você deveria ser capaz. Não é confiável, mas pelo

menos não deveria ser bloqueado pela magia tão longe da caverna principal.

O painel do meu telefone estava quebrado e não ligaria totalmente. —

Só faltava essa. — eu disse frustrado. Não tinha certeza se acreditava na

mágica antes, mas acredito totalmente em maldições agora. Coloquei-o de

volta no bolso, irritado. — Devo ter caído sobre ele quando Morgan estava

chutando minha bunda. É inútil. — meio como eu estava começando a ser.

Não estava ajudando em nada para o meu humor.

Isabeau deu-me seu telefone. — Aqui, tenta o meu.

— Obrigado. — liguei rapidamente, ouvindo com crescente agitação,

uma vez que tocou e tocou. Eu tentei o número da minha mãe, do meu pai,

de Sebastian. Ninguém respondeu. Isso era virtualmente desconhecido a

menos que eles estivessem caçando ou lutando. Alguém sempre respondia.

— Isso não é bom. — eu disse, ligando para a fazenda.

Solange respondeu ao segundo toque. — Olá?

— Sol? O que está acontecendo? Porque não há ninguém respondendo

aos seus telefones?

Houve uma longa pausa, e quando ela falou de novo a sua voz rangia.

— Logan?

— Sim, quem mais? — respondi irritado.

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175

— Logan!! — ela gritou tão alto que quase deixei o telefone cair.

— Por que você está gritando? — Isabeau olhou para mim

interrogativamente e eu encolhi os ombros. Não poderia explicar a minha

família na maior parte do tempo.

— Você está vivo! Oh meu Deus.

— É claro que estou...

— Nicholas! É Logan. Ele está bem. Eu não se..., hei, você é uma dor no

meu..., pare com isso!

Eles estavam claramente lutando pelo telefone. Solange ganhou. Eu

podia ouvir os gritos de Nicholas: — Você me chutou!

— Oh, Logan, eu estou tão feliz de ouvir a sua voz. — sua própria voz

vacilou um pouco, como se ela estivesse chorando.

—Ei. — eu disse. — Estou bem. Não chore, Sol. Eu estou bem.

— Ok. — ela fungou uma vez. — Onde diabos você esteve?

Eu tive que colocar o telefone longe do meu ouvido novamente

quando ela ficou estridente. — Estou nas cavernas com Isabeau. Eu disse

para um dos guardas para que vocês soubessem. Jen veio comigo... — eu

parei. — Ela não sobreviveu.

— O que aconteceu?

— Nós fomos atacados por Hel-Blar. Mais ou menos como estamos

sendo agora, por isso não posso exatamente bater papo.

— Logan, todo mundo acha que você está morto. O guarda nunca nos

disse qualquer coisa, exceto que ele encontrou um feitiço da morte com seu

perfume sobre ele e a marca de Isabeau. Papai estava tentando parar mamãe

de atacar os Hounds. Finn foi acalmando-a.

— Merda. Escute, eu realmente não posso falar. Montmartre tem

mandado Hel-Blar sobre todos nós. É desorientador. Ele quer que a gente

lute entre nós, com isso não podemos lutar contra ele. Ele provavelmente

está nos tribunais agora. Você pode se comunicar com Kieran? Se nem a

mamãe ou o papai está respondendo seus telefones vamos precisar de ajuda.

E rápido.

— Vou ligar para ele agora.

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176

— Ótimo. Diga a ele que eu vou encontrá-lo lá.

— Você vai encontrar nós todos lá.

— Fique em casa, Solange. Eu falo sério.

— Estou feliz por você estar vivo, mas tente Logan. Eu falo sério.

— Montmartre quer você.

— Duh. Mas se as desorientações têm funcionado tão bem para ele,

podemos fazer a mesma coisa também.

— Eu não estou usando minha irmãzinha como isca. Não depois do

que aconteceu no seu aniversário. Ele quase teve você, Sol. Se não fosse por

Isabeau e os Hounds...

— Vejo vocês em breve. Tchau, Logan.

— Espere; você não pode..., argh! Ela desligou na minha cara. Criança.

— Você não pode esperar que ela se sente em casa enquanto sua

família está sendo ameaçada.

Olhei para Isabeau pensativo. — Talvez você possa ir sentar-se com

ela. Protegê-la.

Ela bufou. — Você é muito transparente, Logan.

— Por favor?

— Non. Absolument pas72.

Eu teria argumentado muito mais, se algo pesado não tivesse atingido

o lado da minha cabeça, me enviando à beira da borda do penhasco. Eu

tropecei para trás, o sangue escorrendo em meus olhos. Dor passou através

do meu crânio. Isabeau virou-se com a espada em mãos para o outro lado,

mas era tarde demais. Hel-Blar desceu do penhasco acima de nós e outros

subiram por baixo. Sua pele era de um tom estranho de azul na escuridão, os

seus dentes como ossos. O cheiro de podridão foi subitamente insuportável.

Isabeau sufocando, amaldiçoou em francês.

72 Não. Absolutamente não.

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177

Nós lutamos como gatos mergulhados em água fria. Praticamente não

pensamos, era o instinto e uma necessidade selvagem de sobreviver. Eu não

estava me movendo tão rapidamente como deveria. O ferimento na cabeça

me fez tropeçar, fazendo meus braços parecerem descoordenados e

pesados. Eu joguei uma estaca com mira ruim, mas com raiva suficiente para

catapultar a Hel-Blar fora do lado da montanha. Isabeau pressionou as

costas na minha, cortou um braço azul, uma mão azul.

— Nós estamos em desvantagem. — balbuciei. — E eu estou ferido.

Corra.

— Você não é um cavaleiro branco e eu não sou uma donzela em

apuros.

Ela era tão teimosa, eu assobiei. — Olhe ao redor, Isabeau. Isto

definitivamente se qualifica como apuros. Agora, corra, caramba. Eu só estou

lhe atrasando.

— Cala a boca e luta; Logan.

Toda garota que eu conhecia era totalmente insana. Infelizmente,

Isabeau provavelmente não poderia ter corrido mesmo se ela concordasse

com isso. A fuga só aconteceria se nos lançássemos do penhasco e nós

tínhamos de passar por três Hel-Blar. Minha cabeça parecia uma abóbora

podre, girando e não inteiramente funcionando. Conseguimos matar um dos

Hel-Blar que virou cinza, mas sua morte só serviu para enfurecer seus

companheiros já instáveis.

Eu tropecei, tonto, e quando caí sobre um joelho, outra pedra veio na

minha cabeça. Houve uma explosão de fogo e estrelas e depois nada.

Eu não sabia por quando tempo fiquei inconsciente.

Não poderia ter sido um dia inteiro, já que a minha cabeça ainda

latejava, mas pelo menos não parecia ainda estar rasgada. Os arranhões e

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hematomas tinham desaparecido. Minhas mãos e pés formigavam,

principalmente porque eles foram presos no local com correntes. Puxei.

Tentei mesmo, mas não se moveram.

— Isabeau. — eu assobiei. — Isabeau!

— Estou aqui. — disse ela. — Atrás de você.

Sua voz tinha aliviado meu sistema como champanhe. Eu poderia ter

ficado bêbado com o sentimento.

— Graças a Deus. Você está ferida? — eu tentei virar, mas não pude

muito de onde eu estava amarrado à cadeira. Raiva e dor substituíram o

alívio e cada um dos meus músculos estavam tensos até que minha

mandíbula ameaçou saltar. Eu testei as correntes novamente.

— Não adianta; Logan. — ela disse suavemente. — Eu tentei.

Se eu virasse um pouco poderia ver o lado do seu rosto e o pescoço

em um pesado espelho pendurado na parede ao nosso lado. Havia

hematomas em sua garganta e sobre sua face. Nós estávamos em uma

pequena sala com correntes na parede e várias cadeiras de madeira pesadas.

Na janela estava pendurada uma espessa cortina, mas eu não tinha dúvida

de que era de vidro comum, não o suficiente para impedir a luz solar de

enfraquecer-nos. Eu era jovem suficiente para que se eles me deixassem no

sol por algumas horas, eu desmaiaria e deixaria que eles me matassem sem

uma única tentativa de luta. Eu chutei o chão com minha bota, nervoso.

Então franzi o cenho.

— Desde quando Hel-Blar têm tapetes persas? Ou deixam as suas

vítimas sem mordê-las?

— Eles não o fazem.

Eu olhei seu reflexo com horror. — Você está me dizendo que um

deles te mordeu? — adrenalina correu por mim. O beijo de um Hel-Blar pode

transformar até mesmo um vampiro antigo. Seu sangue infectando o nosso,

nos faz tão loucos e cruéis quanto eles.

— Não. — assegurou-me Isabeau antes que eu perdesse

completamente a calma.

— Eu só estou dizendo que Montmartre tem melhor controle deles,

que nós tínhamos pensado.

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— Hypnos. — eu murmurei. — Aposto qualquer coisa que a causa

disso é aquela maldita droga.

Ela estremeceu.

— Eu não vou deixar que eles te levem. — grandes palavras de um

cara coberto com seu próprio sangue seco. Eu devo ter parecido ridículo

para ela. Eu falhei com ela, caramba. Eu deveria ter sido capaz de protegê-la.

— Montmartre nunca deixa um cão sem marcação. Nós somos a prova

que ele não é infalível, que ele não pode controlar tudo. Ele nos teme e diz a

si mesmo que o medo é o ódio.

— Nós o impedimos antes. Nós vamos pará-lo novamente. Desta vez

para sempre. — de jeito algum eu ia deixá-lo por aí ameaçando as pessoas

que eu amo pelos próximos 100 anos.

— Nobres palavras. — uma voz divertida nos interrompeu da porta.

Eu não o reconheci, mas vi todo o sangue do rosto de Isabeau desaparecer, vi

dor quase animal mexer as suas feições. Por um momento ela pareceu a

moça que eu vi lutando para sobreviver nas ruas do Grande Terror73. Esse

medo foi breve, rapidamente coberto por uma sede ardente de vingança.

Que só podia significar uma coisa.

Não foi Montmartre, afinal.

Foi Greyhaven.

73 Na Revolução Francesa, o Reino do Terror, ou simplesmente O Terror, foi um período compreendido entre

31 de maio de 1793 (queda dos girondinos) e 27 de julho de 1794. O partido jacobino, perseguiu e assassinou

seus adversários, um número indeterminado, entre 16.000 e 40.000 pessoas foram guilhotinadas.

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Capítulo Vinte

Londres, 1794

Levou quase um ano para Isabeau poupar, roubar e esconder dinheiro

o suficiente para comprar uma passagem para a Inglaterra. Mesmo assim,

não sabia o que faria quando colocasse os pés em Londres. Tinha o nome do

seu tio, que seu pai afirmava ser egoísta e arrogante, e os centavos que

deixaram em seu nome. Cerise havia se recusado a acompanhá-la pelo

motivo que a Inglaterra estava cheia de ingleses.

E os portos de Londres não eram como nada que houvesse visto antes.

Londres não era como nada que houvesse visto antes, era algo muito

distante das familiares ruas de Paris. Era cinza, azul e negro manchado de

fuligem e assentado por uma neblina de cor indeterminada que a fez tossir.

— Se acostumará logo, garoto. — tagarelou o senhor que tinha estado

quase toda viagem sentado próximo a ela, empurrando seu cotovelo ossudo

em suas costelas. Pensou que embora tenha mantido seu disfarce de garoto,

seria prudente não parecer como se estivesse viajando sozinha, embora

dificilmente esperasse que um ancião com os dentes podres a protegesse.

Algumas vezes, era a ilusão que contava.

Mas agora que ela estava na doca, sendo empurrada por mercadores

hostis e marinheiros ambiciosos pela cantina e a prostituta mais próxima, se

sentiu mais constrangida do que pensava. Ela tinha estado esperando tanto

tempo por esse momento, a tinha elevado como uma lanterna para ver

através das noites escuras.

A realidade era um pouco decepcionante.

As carroças que rodavam com crianças com roupas sujas e gastas se

enfiavam no barro do Tamisa74 para que as mercadorias abandonadas

pudessem ter um bom preço na rua. Vozes, cascos de cavalos e um

74Rio do sul da Inglaterra que banha Oxford e Londres e deságua no mar do Norte.

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incontável número de chaminés se amontoavam em uma mistura de sons e

cheiros que a faziam tapar o nariz.

— Você sabe aonde vive as pessoas da sociedade? — perguntou ao

seu companheiro de idade avançada.

— Procurando por luxo, verdade? Eles não são amáveis com os

meninos de rua e batedores de carteira; garoto.

— Eu não estava...

Ele limpou sua garganta. — Eu fui jovem uma vez, meu garoto. Não

tem necessidade de se preocupar pelo que te dão. — ele acenou para o

extremo oeste da cidade. — Mayfair é aonde a sociedade educada reside e

lhe desejo a melhor sorte.

— Obrigada. — ela ofereceu-lhe um de seus centavos. Ele aproximou-

se para comprovar o seu valor e o deslizou dentro do seu bolso com uns

dedos tão ágeis que ela teve que lhe dar crédito por isso. Eram nodosos e

dobrados, mas ainda assim rápidos.

— Preste atenção nos guardas, garoto. — disse se despedindo antes

de sair mancando. Parou o suficiente para colocar seus olhos em uma

verdureira gorda com seu avental sujo. Ela sorriu e voltou a gritar sobre os

peixes e as enguias.

Isabeau ajeitou-se em sua jaqueta e levantou seu queixo com

determinação. Se parecesse com uma presa, o mundo lhe trataria como tal.

Ela caminhou com facilidade e confiança, dando um passo para o oeste como

se soubesse exatamente para onde se dirigia como se vivesse ali toda sua

vida. Ninguém tinha que saber que seu coração estava batendo tão rápido

que a fazia se sentir mal e os músculos atrás do seu pescoço estavam tão

tensos que teria uma terrível dor de cabeça ao anoitecer. Todos tinham que

ver apenas um garoto com o passo rápido e olhar inteligente que poderia

cuidar de si mesmo.

Caminhou por algumas horas, tentando contar os cruzamentos à

direita e à esquerda para não ficar desesperadamente perdida. Havia garotas

com cestas de violetas e laranjas para vender, pães e batatas assadas e lojas

com torres de doces decorados com açúcar em cascatas, chapéus com

plumas amarelas, rosas e verdes, fitas com várias tonalidades, melados de

limão, livros, qualquer coisa que alguém houvesse pensado em comprar,

estava disponível. Não havia pedras queimadas nem janelas quebradas por

distúrbios, não cheirava a fogo ou gritos radicais em cada esquina. Era

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totalmente estranha, decadente e suave. Mas não podia se dar o luxo de

deixar sua guarda baixa ainda, se alguma vez o fizesse.

Começou a notar o estado das carruagens melhorando, as ruas

estavam mais limpas com garotos com vassouras limpando o caminho de

excrementos de cavalos por uma moeda. As casas se elevavam mais alto, o

cheiro era menos picante. As árvores estavam agrupadas em jardins. Quando

passou pelo enorme parque parou bruscamente. Havia se perdido na grama,

nas árvores de carvalho e flores por toda a parte. Ela não tinha percebido

tudo o que tinha perdido até agora. Pelo menos já sabia onde poderia dormir

esta noite se não encontrasse seu tio. O pensamento deu-lhe mais forças.

— Aqui agora, veja o que está fazendo. — sussurrou um cavaleiro,

quase caminhando em cima da figura imóvel de Isabeau. Ela fechou sua

mandíbula. Escondeu seu rosto nas sombras debaixo da aba do seu gorro e

foi para um lado para deixá-lo passar.

Ela desviou seu olhar longe, para os cavalos e seus muito bem

vestidos cocheiros fazendo seu caminho dentro do parque e seguidos por

suas bem arrumadas carruagens que passavam rodando. Uma grande

quantidade deles se dirigia para a mesma direção e ela levou como um bom

sinal. Ainda era de madrugada, não iriam aos bailes, festa ou comprar um

novo vestido de noite. Ela não pensava que a aristocracia inglesa fosse tão

distinta da francesa, as manhãs eram para longos cafés da manhã,

correspondência, e descansos dos excessos da noite anterior. Mas alguns dos

poucos ocupantes das carruagens provavelmente estavam a caminho de sua

casa já que não haviam ido para cama ainda.

As casas pareciam como palácios, com maçanetas de metal brilhante,

vasos gigantes derramando-se com todo tipo de flores. As criadas

caminhando com pequenos cachorros treinados em suas coleiras e algum

gato, ocasionalmente. Os garotos entregadores, carroças de pescados, e

vendedores de pão faziam seu caminho para as portas traseiras.

Ela parou um homem em farrapos. — A casa St. Croix? — perguntou

em um inglês carregado.

— Você é francesinho? Pode falar alto? — ele tapou o ouvido com sua

mão, parando rapidamente enquanto parava a carroça que puxava. Ela o

ajudou a manobrá-la sobre uma pedra que sobressaía.

— St. Croix? — ela repetiu.

— Quer dizer St. Cross? A casa está no final da rua com uma porta

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183

azul. — ele apontou nessa direção e continuou seu caminho sem olhar para

trás. Seu coração começou a disparar novamente.

Parte dela queria correr para lá, outra parte considerava correr na

direção oposta. Nunca deveria deixar que essa parte ganhasse. Forçou si

mesma a acalmar-se para tomar uma respiração.

A casa elevava-se à sua frente, com vários andares altos, com uma

porta frescamente pintada de azul e cortinas de pedras em cada janela.

Carruagens passavam atrás dela. As nozes de uma árvore caíram na rua,

rosas floresciam em urnas de cobre. Um caminho conduzia para a parte

traseira da casa, onde estavam localizadas as hortas, estábulos e entrada dos

empregados.

Subiu as escadas, as quais estavam varridas e limpas de qualquer

pétala. A maçaneta tinha o desenho de um leão com uma cruz na boca.

Isabeau percorreu com seus dedos a marca, antes de bater com os nódulos

dos dedos na porta. Esta se abriu e um homem de cabelo cinzento a viu com

seu nariz levantado para ela. Seu casaco negro estava perfeitamente

ajustado, seu uniforme imaculado.

— Tio Oliver? — perguntou cautelosamente. Ela não havia se

encontrado com ele antes, mas esperava que tivesse um semblante familiar,

as características de seu pai talvez, ou os famosos olhos verdes St. Croix. Este

homem era mais alto que qualquer um dos seus parentes e inalou pelo nariz

de forma desdenhosa.

— O senhor St. Cross não recebe garotos cheios de lama que cheiram

como você. — lhe informou. — Passa daqui. — ele ia fechar a porta. Ela o

impediu com seu pé.

— Attend, síl te plait75! — caindo seu gorro em sua agitação, deixando

seu cabelo se esparramar para fora. Ela sabia que devia ter uma aparência

meio selvagem com seu balbucio em outro idioma e sua imploração, olhos

chorosos. — No! Monsieur76!

— Vá para a porta traseira que a cozinheira lhe alimentará, garoto. E

depois segue seu caminho. — fechou a porta com um empurrão. Ela agarrou

bruscamente a maçaneta, mas estava fechada. Segurou as lágrimas de 75Espere, por favor.

76Não, senhor.

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184

frustração. Chorar não ia ajudar. Apenas tinha que encontrar outra forma de

entrar.

O mordomo havia apontado para o caminho ao longo da casa. Ela

passou por ele, recolhendo o barro com suas botas. Uma suave garoa

começou a cair, cobrindo toda a calçada. Uma das janelas estava

parcialmente aberta, as cortinas ondulando com o vento. Ela olhou ao redor

para se assegurar que ninguém a observava antes de se enfiar nas roseiras

para ter uma melhor vista. Os espinhos rasgavam a parte traseira de suas

mãos e lhe puxavam o cabelo. Rosas estúpidas. Pétalas caíram sobre ela,

enchendo seu nariz com o perfume baixo da cálida chuva.

A sala tinha muitas cadeiras com almofadas bordadas e um piano

grande em um canto. O teto estava pintado com querubins. Arrepiou-se.

Como se supõe que uma pessoa pudesse relaxar com bebês gordos flutuando

acima da sua cabeça durante todo o dia? Entre anjos, candelabros dourados

e abajures, o quarto estava excessiva e terrivelmente decorado.

Mas pelo menos estava vazio.

Ela empurrou a janela aberta um pouco mais e logo deslizou sua

perna através da abertura, abraçando o peitoril enquanto se retorcia em seu

caminho para dentro. Cheirava cera de limão e mais rosas. A casa estava

notavelmente tranquila para ser um lugar tão grande. Perguntou-se se teria

algum primo que houvesse sido enviado a uma creche no sótão.

Nenhum cachorro veio saudá-la, nenhum gato saiu à luz debaixo da

mesa. Seu coração voltou a sua tranquilidade regular.

Ela saiu para o corredor, pensando aonde poderia estar seu tio. Se já

havia se levantado certamente estaria em seu escritório. Ali era onde seu pai

passava a maior parte do seu tempo quando não estava a cavalo ou

escoltando a sua mãe em alguma festa. Inclusive a sala era bonita, com

pinturas emolduradas, desenhos dourados, mesas com superfície de

mármore e recipientes de flores. Teve que lutar com a necessidade de

guardar em seu bolso uma pequena tabaqueira de prata.

Virou em um canto e caminhou diretamente para o mordomo.

Ele deu gritos agudos e era muito mais rápido do que ela esperava,

levantando-a dos seus pés pela manga do seu casaco antes que ela pudesse

fugir do seu alcance. Seu instinto era correr e se esconder, mas isso

dificilmente ia levá-la para o que ela queria. O mordomo a sacudiu.

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— Vou chamar o magistrado. Não nos portamos com bondade com os

intrusos na Inglaterra. Não me importa se é uma garota!

Isabeau fez a única coisa em que pôde pensar.

Abriu sua boca e gritou o máximo que seus pulmões permitiram. —

Mon oncle! Mon oncle77!

O mordomo foi para trás por seu impressionante volume. O

candelabro acima balançava. Lacaios vieram correndo até eles. Uma porta

abriu de um golpe, batendo contra a parede.

— Que diabos esta acontecendo aqui? — a voz tinha alguns fracos

sotaques de Frances. O homem vestia um casaco de seda cinza esticado

suavemente sobre sua barriga. Seu cabelo cinza faltava sobre o alto da sua

testa.

— Imploro seu perdão, sua senhoria. — o mordomo respirou com

dificuldade. — Capturei um intruso.

— Mais non, arrete.78 — Isabeau lutava para sair do agarre. Ela

soprou seu cabelo para tirá-lo do seu rosto. — Sou eu. — ela disse. —

Isabeau St. Croix. Sua sobrinha.

— Minha sobrinha? — ele repetiu em inglês.

O silêncio os cobriu, grosso como fumaça. Seu tio pestanejou para ela.

O mordomo pestanejou para seu tio. Os lacaios pestanejaram para todos

eles. Uma mulher que ela presumia que seria sua tia fez um ruído

estrangulado na outra porta. Ela usava um gorro de corda e traje de manhã

ajustado com flores de seda.

— Sua senhoria? — o mordomo já não estava certo se estava

segurando um criminoso ou transportando a sobrinha de um Conde, pelo

colarinho.

— Solte-a. — o senhor St. Cross disse. — Deixe-me dar uma olhada.

Isabeau endireitou seu amassado e sujo casaco. Seu tio a olhou por

um longo tempo antes de bater ruidosamente suas mãos ao uni-las.

77Meu tio! Meu tio! - em francês.

78Não, pare. - em francês.

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— Por Deus, é ela!

— Tem certeza? — sua esposa perguntou, com seus dedos passando

por sua garganta. — Nunca a conheceu.

— Não o fiz, mas reconheceria esses olhos em qualquer lugar. São

como os de Jean-Paul. — ele balançou a cabeça. — Notável, onde ele está?

Isabeau tragou. — Está morto.

A boca de Oliver tremeu de emoção, se pôs pálido como a manteiga. —

Non. — escorregou no francês. — Como?

— Guilhotina.

Sua esposa abanou-se furiosamente.

— E sua mãe? — perguntou suavemente.

— Também. — ela engoliu fortemente. Não podia perder sua

compostura agora. Lutou duramente, pelo bem de seu pai, para ser uma

garota forte que havia sobrevivido. A quente palma de seu tio pousou sobre

seu ombro.

— Oh minha querida menina.

Sua esposa abaixou suas mãos trêmulas que tampavam sua boca. —

Senhor meu, olhe-a, está terrivelmente magra.

— Está fraca e ossuda, minha garota. Mandaremos que lhe tragam

chá. Traga biscoitos extras. — disse ao lacaio mais próximo. — Nosso

cozinheiro é francês. Faremo-lo fazer seu prato favorito para o jantar.

— Venha se aproximar do fogo. — chamou sua esposa bondosamente,

guiando-a para a sala. — Vou lhe levar ao banho após o chá.

Isabeau a seguiu, ligeiramente confusa. Esperava mais uma luta.

Sentiu-se fora de lugar, magra como a penugem de um dente de leão. Foi

acompanhada para uma profunda cadeira perto da lareira. O fogo queimava

alegremente. O calor deixou suas bochechas vermelhas, suas pálpebras

pesadas. Estava muito distante do calor dos reservatórios metálicos nas

esquinas, ou as chamas das pilhas de madeira quebrada usadas como

barricadas.

— Acredito que ela ainda está em choque. — sua tia murmurou.

Ele agitou sua cabeça. — Pobre Jean-Paul.

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187

— Oh! Esses franceses horríveis.

— Cuidado, amor. Casou-se com um. — brincou.

— Não seja ridículo. Você mal tem sotaque. Apenas um carinho

especial por esse patê horrível.

Isabeau beliscou sua perna para evitar dormir. — Papai estava

planejando nos trazer para cá. Antes que fossemos capturados.

— Não se preocupe querida, nós cuidaremos de você.

— Você não é em tudo como ele disse. — ela murmurou,

desconcertada.

Ele soltou uma risada afogada. — Não, imagino que não. Nós nunca

vimos um ao outro, explicitamente, inclusive pequenos. — ele suspirou. — A

senhora St. Cross e eu não fomos capazes de ter nossa própria família.

— Oliver, seriamente. — a senhora St. Cross murmurou, corando. —

Que coisas você diz.

Ele apalpou seu joelho, seu braço era grande o suficiente para

derrubá-la, mas ela apenas lhe sorriu. Virou para Isabeau. — O que quero

dizer é que será agradável ter uma jovenzinha em casa.

— Oh sim. — exclamou a senhora St. Cross. — Levaremos você a

todos os bailes, querida. Precisaremos de trajes de noite, claro, e um mestre

de baile, uma criada para lhe arrumar o cabelo. — seus olhos brilharam com

entusiasmo. Isabeau não estava certa se deveria estar nervosa.

— Não se preocupe. — seu tio disse alegremente quando a senhora St.

Cross estava distraída com a chegada do carrinho de chá. — Sobreviveu ao

terror, sobreviverá a ser uma debutante.

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Capítulo Vinte e Um

Greyhaven.

A última vez que eu o vi foi no baile de natal, seu imaculado

sobrecasaca, seu sorriso encantador. Eu não tinha experiência com um

homem como ele, cedendo à magia da noite e muitas taças de champanhe.

Pensei que tivesse visto todos os monstros aos meus dezoito anos:

prisioneiros, rebeldes, guardas com cruel poder, fome, cafetões e Condes

com muito dinheiro.

Mas como defender se contra um monstro que você nunca imaginaria

que pudesse existir?

Ele tinha contaminado meus primeiros mementos reais de conforto,

de confiança na felicidade que senti desde que a multidão tinha invadido o

castelo da minha família.

Eu queria matá-lo de novo.

Lutei contra as minhas restrições, sem me importar com os cortes em

carne viva. Eu estava cavando a minha pele, meu sangue manchando as

algemas de ferro. Logan estava dizendo alguma coisa, mas eu não podia

entendê-lo sobre o barulho nos meus ouvidos. Era como se minha cabeça

estivesse mergulhada embaixo da água.

Greyhaven soou tão culto e suave quanto a duzentos anos atrás. As

cicatrizes nos meus pulsos doíam.

— Um dos príncipes Drake. — ele disse agradavelmente para Logan.

Logan não respondeu. — Há rumores que nossa menina aqui o assassinou.

Logan zombou. — Você está aqui para corrigir esse engano? — ele não

soava assustado, apenas levemente entediado.

Eu era capaz de me concentrar de novo. Poças de sangue em minhas

mãos. Minhas presas picavam minha gengiva, muito extensas.

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— Certamente não. Você vale muito mais como um refém. Essas

pequenas revoluções não são fáceis de financiar, você entende.

— Eu pago o dobro do que você receber por mim se deixar a Isabeau

ir agora.

Greyhaven riu. — Você tem dezoito anos de idade Logan, e

dificilmente é um milionário. Você não tem recursos para pagar, mesmo se

eu estivesse inclinado a soltá-la.

Logan sacudiu na cadeira. Se movimentasse mais fortemente, iria

deslocar seu ombro.

— Logan, não. — eu disse. Minha voz estava seca, como se não tivesse

falado em anos.

— Ah! — Greyhaven virou-se na minha direção. Eu tentei não me

mover, não me afastar, ou expor minhas presas. Se eu reagisse agora isso só

lhe traria prazer.

E ele nunca iria ter nenhum momento de prazer de mim.

— Isabeau St. Croix. — ele disse — Você provavelmente já me causou

problemas de mais.

Eu não o tinha visto desde aquela noite no jardim do meu tio. Eu não

tinha ideia do que ele quis dizer.

— O que Montmartre quer comigo? — perguntei, mesmo sabendo a

resposta. O mesmo que eu queria com Greyhaven: Vingança. Eu tinha

frustrado seus planos de sequestrar Solange Drake e matei seus Hosts. E era

uma Hound, algo que era uma afronta para o seu senso de poder e direito.

Mesmo que ele me matasse – de novo – eu não estaria triste por isso.

Greyhaven cruzou os braços, inclinando-se negligentemente contra o

papel de parede, como se estivéssemos naquele baile. — Isso não é sobre

Montmartre, é sobre você.

— O que? Ele não está atacando o Tribunal? — Logan perguntou.

— Sim. — Greyhaven sorriu. — Ele está. E provavelmente se

perguntando onde eu estou. Mas eu tinha que parar para ver você. — ele

aproximou-se lentamente. Eu levantei meu queixo desafiadoramente. — Eu

preciso saber se você se lembra de mim.

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— Difícil esquecer um assassino. — eu cuspi. — Você me deixou no

mesmo caixão por duzentos anos.

— Sim, lamentavelmente. Se eu tivesse alguma ideia o quão forte você

era, eu teria feito mais esforço para recuperá-la. — ele lançou um olhar de

desprezo para a minha túnica e minhas botas altas. — Acho que se vestia

muito melhor em 1795.

Eu rosnei. — Por que me trouxe aqui? Só para se divertir?

Greyhaven balançou sua cabeça tristemente. — Seria tão melhor se você não

tivesse se lembrado de mim. Agora está tudo uma bagunça e eu não posso

suportar uma bagunça. Eu nunca poderia.

Eu estava confusa. Todos os meus sonhos caçando Greyhaven

envolviam uma estaca atravessada em suas cinzas, coração murcho e não

participando de conversas irritantes.

— Você fez tudo isso só para testar a minha memória? — eu perguntei

perplexa. — A fita do vestido da minha mãe. — adicionei lentamente. — A

pintura nos tribunais, a garrafa de vinho. É por isso?

— De fato.

— Não por Montmartre?

— Ele ordenou as armadilhas, certamente. Ele não gosta de você. Mas

eu fiz o trabalho, como o usual. — ele enfatizou. — Então porque não usar

você para meus próprios propósitos?

— Você está perseguindo ela, seu idiota? — Logan bufou, enojado. Eu

sabia o que ele estava tentando fazer. Ele queria deixar Greyhaven com raiva

para tirar o foco de mim. — Patético; você não acha? Especialmente para um

Host.

Seus lábios se ergueram no seu rosto, mas ele não tirou os olhos de

mim.

Ele tinha mais controle que Logan tinha dado crédito.

Não era especialmente positivo, na verdade.

De alguma forma, eu não iria implorar pela vida de Logan. Greyhaven

era perverso o bastante para matá-lo só para me fazer sofrer. Melhor que

Logan fosse valioso para sua ganância.

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— Aquilo não foi fácil para mim, sabe. — ele disse conversando, quase

se desculpando. — Você foi a minha primeira. Considero-me seu pai.

— Eu tinha um pai. — assobiei entre os dentes, cada palavra como um

punhal arremessado. — Você não é ele.

Ele acenou para o nada. — Eu te dei a vida eterna.

— Deu-me a morte.

— Semântica.

Uma névoa vermelha encheu os meus olhos. Raiva me inundava como

uma monção. O gosto de sangue na minha boca onde eu mordi minha língua.

— Eu não posso ter você andando por aí. — ele continuou, deslizando

uma estaca preta laqueada para fora do bolso interno do paletó risca de giz.

— Fique longe dela! — Logan gritou, as correntes chacoalhavam

freneticamente. — Eu por ela! Eu por ela, maldição!

Senti-me quase hipnotizada pela versão de Greyhaven na nossa

história, como se ele estivesse falando com outra pessoa. Choque emocional.

Eu senti isso na primeira noite na casa do meu tio, tocando seus livros, os

cobertores grossos, comendo demais no jantar. Como se tudo estivesse

finalmente certo, mas nada fizesse sentido. Eu me senti deslocada.

Mas eu ainda podia ouvi-lo, podia ver desapaixonadamente quando

ele aproximou; perto o suficiente para chutá-lo, mas ainda não.

— Eu tenho feito um grande esforço, planejado e sido paciente por

quase um século agora. Quando eu me uni pela primeira vez, o Host era

forte, organizado, poderoso. Subi de posto, paguei minhas dívidas. E ainda

assim Montmartre negava-me meus próprios aprendizes. Como se ele

pudesse me parar para sempre. Eu merecia meu próprio exército; meu

próprio Host.

— Há quanto tempo você tenta fazer isso? — Logan perguntou,

horrorizado, quando ele entendeu o que Greyhaven estava realmente

dizendo. — Você está fazendo Hel-Blar.

— Eu admito que tentei. Mas Hel-Blar são restos fracos e erros. Agora

eu tenho uma escolha melhor. Sou inteligente o suficiente para não repetir

os erros de Montmartre.

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— Inteligente? É disso que estamos te chamando agora?

— Você está me irritando, garotinho. E você não vai acabar com a

minha paciência. Mas se você não parar com essa birra infantil, eu vou

amordaçá-lo. — ele jogou a estaca em Logan e atravessou um pouco a manga

do seu ombro, o prendendo na cadeira.

— Agora, onde nos estávamos? — Greyhaven ainda não tinha parado

de olhar para mim, nem por um momento. Eu teria tremido se não estivesse

flutuando dentro da minha cabeça, desnorteada com memórias e ódio. —

Desculpe-me se eu ainda não cheguei a você Isabeau. Perdoa-me?

Isso afastou meu atordoamento. Ele tinha que estar brincando. Minha

resposta foi um monte de palavrões que aprendi com Cerise. O ar deveria ter

empolado.

— Eu só não posso deixar você andando por aí. Não quando eu estou

tão próximo. Se Montmartre descobrir antes de eu estar completamente

preparado… — ele parou com um tremor delicado. — Bem, como eu disse,

prefiro que as coisas sejam limpas e arrumadas. A batalha será nos meus

termos e os Hosts sobre o meu comando. — ele pegou outra estaca,

apontando para mim. — Você pode fazer suas orações, se quiser. Você

sempre foi a minha favorita. Você nunca esquece a sua primeira vez.

Quando ele estava perto o bastante para eu sentir o cheiro da sua

colônia cara e ver o grão na madeira envernizada da sua estaca, Logan

conseguiu enganchar seu pé em volta do banco de madeira do seu lado.

Balançou o pé com um estalo e o banco bateu sobre a sua cabeça. Isso travou

Greyhaven na parte de trás do joelho. Ele tropeçou, fúria formando no seu

rosto ossudo e pálido. Um pequeno disco gravado com uma rosa e três

adagas caíram do seu bolso. Um exatamente como nós tínhamos encontrado

na noite em que Solange recebeu o feitiço do amor. Ele não tinha mentido.

Ele realmente tinha seus próprios homens.

Eu o chutei o mais forte que eu pude.

Logan deu um grito de alegria. Ele soava como uma criança abrindo

seus presentes de Natal. Eu o chutei de novo. Meu único objetivo era fazer as

coisas mais difíceis possíveis para Greyhaven.

— Eu estava para te oferecer uma morte rápida e honrosa. — ele

disse. — Mas agora vocês irão sofrer. — estava com a estaca na sua mão de

novo, mas antes de cumprir sua promessa, a porta foi arrancada pelas

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dobradiças. — Greyhaven, pare de brincar com seu novo animal de

estimação. Você é necessário.

Greyhaven virou–se inclinado para o recém-chegado com um olhar

fervoroso. — Não vê que estou ocupado, Lars?

— Isso pode esperar. — Lars garantiu; sua voz fria e calma. —

Montmartre não pode. Você vai por tudo a perder porque não pode adiar

por uma pequena satisfação. A guerra começou e seu tenente está treinando

garotinhas. Isso não parece bom.

Greyhaven enrijeceu sua mandíbula, parecia como se pudesse rachar.

Então ele sorriu para mim. — Apenas um alivio momentâneo, eu asseguro.

— ele falou sombriamente. — Vigiem as portas. — ele disse aos guardas

antes de sair, batendo a porta atrás dele e de Lars.

— Essa foi malditamente perto. — Logan murmurou. — Essa será a

nossa única chance. Parece que a maioria dos Hosts está no tribunal. — ele

levantou-se. As correntes estavam penduradas no teto, não dava para ele

levantar muito seus braços. Ele puxou, então balançou com o peso do seu

corpo inteiro. Nada.

Eu estava bem, inspecionando as fechaduras das correntes. — Talvez

eu possa abrir uma dessas. — eu disse. — Mas preciso de algum pino ou algo

assim. — eu ia começar a usar presilhas de cabelos de novo o mais rápido

possível, assim que eu desse o fora daqui.

Nós procuramos pela sala: utensílios de lareira, almofadas, lâmpadas,

uma pilha de revistas. Nada útil.

— Você está usando sutiã? — Logan perguntou de repente.

Eu olhei para ele. — O que?

— Um sutiã. — ele repetiu. — Você está usando?

— Sim.

— Você pode tirar?

— Eu acho que sim. Mas como isso vai ajudar?

— O arame que vem por dentro. Nós podemos usar.

Eu estava realmente começando a gostar dele mais do que deveria.

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Eu tentei mover minhas mãos para as costas. Meus músculos gritaram

depois de alguns minutos. Eu era uma não morta, não uma desossada.

— Não consigo alcançar. — Disse finalmente.

— Vire-se. Deixe-me tentar. — ele rolou os olhos para a minha

expressão. — Eu não estou tentando ter uma sensação antes de morrer,

embora a ideia tenha mérito. — ele se esticou, jurando. — Não consigo

alcançar também. Suba na cadeira.

Eu subi na cadeira, tentando não me sentir ridícula. Suas mãos

tocaram minhas costas.

— Continue assim. — ele disse como se estivesse concentrando-se

mais do que se concentrou em toda sua vida. Seus feromônios de vampiro de

repente estavam fortes, inundando o quarto com cheiro de erva-doce e

incenso. Isso não estava me afetando, claro, mas isso cheirava bem. Ele

trabalhou rápido com o laço da parte de trás da minha túnica, expondo

minha pele nua. Seus dedos eram gelados e gentis na minha pele, estendeu a

mão para o meu fecho, abrindo em segundos.

— Você é realmente bom nisso. — eu disse secamente.

Ele empurrou minha túnica para baixo para puxar as alças. Eu me

senti quente de repente, formigando. Tinha que me lembrar de que nós

estávamos presos, acorrentados e sobre sermos mortos. Eu o ouvi engolir. E

então sua boca estava na parte de trás do meu pescoço. Ele pressionou um

beijo quente ali. Queimando dentro de mim.

Ele deu um passo para trás brutalmente.

— Você consegue alcançar agora? — ele perguntou com a voz rouca.

Eu assenti silenciosamente e não me virei. Eu não poderia olhar para

ele agora. Eu sabia que meu rosto estava vermelho, meus dedos tremendo.

Meus joelhos estavam moles quando desci do banco. Alcancei a abertura da

minha túnica sem mangas e puxei a alça do sutiã para baixo e fiz a mesma

coisa com o outro lado. Um tímido barulho; e o sutiã deslizou para baixo,

oscilando na minha mão. Era de renda branca, um presente de Magda. E por

alguma razão o ter depois que Logan o viu, me fez corar ainda mais.

Eu usei minhas presas para morder um furo no tecido e então tirar o

arame fino de um dos bojos. Logan estava me observando atentamente; suas

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bochechas vermelhas. Eu não era a única a corar sobre um pedaço de renda.

De alguma forma isso me fez sentir melhor.

Coloquei o final do arame na fechadura da algema no pulso direito e

me sacudi delicadamente, virando a minha cabeça para ouvir melhor o som

de metal com metal. Quando ouvi um delicado, quase inaudível ruído, sorri

fracamente. Outra virada e as algemas estavam abertas. Desci a minha mão e

repeti o mesmo processo na outra fechadura.

— Legal. — ele disse. — Você tem que me ensinar esse truque.

Os guardas ainda estavam quietos no outro lado da sala, mas nós não

demoraríamos muito tempo. Eu corri e destranquei as fechaduras para

libertá-lo também.

— Você vem? — Logan pegou a estaca que Greyhaven tinha

descartado fora no tapete e olhou por cima dos ombros quando não me

movi. — Você está bem?

— Eu estou bem, Logan. — respondi calmamente.

— Bem, eu não estou. — ele murmurou. — Nós temos que dar o fora

daqui.

— Ele não vai atrás de você, não tem nada com que se preocupar

sobre isso.

Ele sugou sua respiração, para expressar emoção tanto quanto ele

precisava de oxigênio. Quando falou, sua voz estava um pouco rouca. — Eu

não estou preocupado comigo.

Eu não sabia o que fazer com essa preocupação, o jeito que ele me

olhava, como se eu fosse importante. Eu precisava ser forte, focada e fria. Eu

não poderia me dar ao luxo de colocá-lo no meio do caminho. Eu estava

muito perto agora. Esperei um longo tempo pela minha chance.

E quando Greyhaven voltasse para me matar adequadamente, eu

tinha minha chance.

E não poderia me arrepender de não ter uma oportunidade de

explorar a conexão que eu sentia por Logan.

E eu sentia isso.

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Em poucas noites, ele tinha quebrado algumas das minhas defesas,

tinha me feito coisas que eu achava que eram impossíveis.

Ele era romântico, charmoso e amável. E convencido

Eu sabia que se dissesse uma única palavra de como ele me fazia

sentir, ele não levaria nem um minuto me convencendo que nós tínhamos

uma chance.

Mas seu tipo de vida simplesmente não tinha lugar para alguém como

eu, não importa o que o oráculo de ossos de Kala tivesse dito. Sua família era

civilizada. Eu era orgulhosa de ser uma Hound, mas não existia como negar

que eu era de uma raça de vampiros diferentes: selvagens, primitivos,

supersticiosos. Sem mencionar desdenhosos e temidos por outros vampiros.

E pensei que Logan tinha passado no seu teste, tinha sido iniciado

como um Hound, eu não poderia saber ainda se ele realmente entendeu o

que isso significava.

Assim como ele não poderia saber que fazer Greyhaven pagar tinha

sido a única coisa que me me fez atravessar meus primeiros dias como

vampira.

Como eu poderia desistir disso, agora que estava ao meu alcance?

— Eu tenho que ficar. — eu finalmente disse sem emoção. — Você

deveria ir embora.

— Não seja estúpida. Eu não vou sem você. — ele argumentou. — E se

você não vier comigo, meus pais..., droga, minha família inteira pode morrer.

Você conhece Montmartre e sabe como andar furtivamente dentro das

cavernas do tribunal. Eu preciso de você, Isabeau.

— Eu não posso. — eu disse de forma entrecortada. — Eu tenho que

matar Greyhaven. Eu preciso.

Ele estava me pedindo muito.

— Se você ficar irá morrer. Ele vai te matar.

— Provavelmente.

— Então, o que? Eu supostamente devo te deixar cometer suicídio?

— Isso não tem nada haver com você, Logan.

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— Covarde. — ele se enfureceu comigo, o charme jovem

desaparecendo. O seu predador, normalmente disfarçado em rendas e

roupas antiquadas, se libertou.

Em vez de ficar com medo, me inclinei para ele inconscientemente.

— Eu não posso. — sussurrei de novo, voltando para trás.

— Você tem. — ele disse com veemência. — Você é uma sobrevivente.

Eu vi o que você viveu; então você pode muito bem viver com isso também.

Sobreviva, Isabeau. Por favor.

— Você não entende.

— Eu entendo isso. E é estúpido. Agora, estou dando o fora daqui e

espero que você escolha lutar em vez de desistir. — seus olhos queimaram

com verde fogo. — A Isabeau que eu conheço nunca desistiria. Não agora.

Não quando sua tribo está lutando lá fora.

Ele estava certo. Insuportável, mas certo.

— Sua escolha. — ele disse finalmente.

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Capítulo Vinte e Dois

Minha opção era ficar e obter minha vingança, e possivelmente

morrer. Ou lutar e apenas eventualmente morrer.

Logan faz isso soar tão simples.

— Conheço você há apenas três dias. — disse. — E está me pedindo

que te escolha.

Perfurou-me com seu olhar. — Não estou pedindo que sinta por mim

o que sinto por você. Simplesmente peço que escolha a você. Não a

Greyhaven.

Não era tão forte como pensava que era. Porque parte de mim

realmente queria ficar. Era mais fácil, mais limpo e doía menos.

Mais fácil.

Greyhaven pensava dessa forma. Eu não.

Mas se eu não fosse a garota que derrotaria Greyhaven, quem eu

seria? Havia construído minha nova vida, nova identidade, essa era a única

meta. Mas este era um tipo diferente de batalha, uma que não poderia

ganhar com uma espada ou um feitiço. Do contrário, ele continuaria

ganhando, mesmo sem perceber. Havia sobrevivido a ele uma vez, mas

levava isso e deixava que me machucasse uma e outra vez. E essa parte era

sobre mim.

E esta era a única parte de toda essa bagunça, das emoções e

necessidades borbulhando dentro da caldeira do meu peito, que poderia

controlar.

Assim, eu estava malditamente disposta a controlá-la.

— Je viens79... — disse com firmeza. Quando me olhou fixamente,

79Eu vou.

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repeti a expressão em inglês. — Eu vou... — algo quebrou dentro de mim e

houve dor e tristeza e em seguida, surpreendente leveza. Ironicamente, era

como se eu pudesse respirar novamente.

Logan se aproximou de mim e deslizou suas mãos pelo meu cabelo,

pegando minha nuca, o colar suspenso entre seus dedos. Não me beijou, mas

me olhou com uma espécie de chama ardente que me senti queimada por

todas as partes.

E nua.

— Vamos nos apressar. — disse com voz rouca. — Assim poderei te

beijar por uma hora ou duas.

Foi surpreendentemente, um bom incentivo.

— A janela. — disse enquanto ele se afastava. — Soa como se a

maioria dos Hosts estivessem ocupados com Montmartre. Não poderíamos

pedir uma melhor oportunidade.

Arrastamos silenciosamente uma cadeira para a porta e muito

cuidadosamente a inclinamos para ficar prensada entre a maçaneta e o chão.

Movemo-nos com cuidado estudado já que os guardas nos ouviriam tão bem

como nós a eles. Quando ninguém deu o alarme, pegamos uma mesa e

colocamos debaixo da janela. Logo subimos nela. Podia apenas alcançá-la.

Logan me afastou para o lado e colocou sua cabeça para fora, olhando para a

direita e logo para a esquerda.

— Limpo. — articulou antes de se arrastar para fora. Manteve-se

abaixado no gramado, estendendo-se para me pegar. Nós ficamos lado a lado

por um tempo, apenas escutando. A noite era inofensiva, grilos, sapos e uma

coruja em algum lugar no bosque. Levantei o olhar, observando as estrelas.

— Estamos ao leste dos tribunais. — disse. — Terão guardas

posicionados apenas entre as árvores.

— Podemos passá-los?

— Talvez.

— Estamos tratando de um resgate sem armas. — ele murmurou. —

Nos deixaram nus.

— Eu sei. — estava muito consciente da bainha vazia presa as minhas

costas e dos laços nus em meu cinturão. Eles tinham tomado até a adaga

escondida em minha bota.

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— Está pronta?

Assenti sorrindo sombriamente. Tinha frustração suficiente

acumulada e tinha que extravasar com os guardas Host; e isso apenas

parecia ser um passatempo relaxante. Quase tão bom quanto um banho de

espuma.

Conseguimos nos arrastar até a árvore de Lilás antes que notássemos

alguém. A casa estava silenciosa, as janelas lançando quadrados amarelos de

luz sobre o gramado. Havia uma cocheira atrás do edifício principal, mas

estava escura. Estávamos pressionados sobre o barro, aguardando o vento

mudar as folhas. A luz da lua brilhou no zíper de metal da jaqueta de um

vampiro Host. Estava inclinado contra uma árvore, aborrecido. Estiquei-me

pegando um ramo da árvore. Não era exatamente uma arma sofisticada, mas

era melhor que minhas mãos nuas.

Logan pegou meu pulso, apontou com a cabeça para o pátio traseiro,

aonde a piscina fazia flutuar vapores de cloro até nossos narizes. Tive que

pressionar a língua contra o céu da boca para evitar um espirro. Dois

guardas mais vieram em nossa direção de trás do galpão da piscina.

Ficamos imóveis, dobrados contra as raízes. Viraram para a direita,

seguindo um caminho lajeado que virava para longe de nós. Esperamos um

pouco mais antes de descer da cobertura entre nós e o bosque. O guarda

bocejou, movendo-se na cerca, assustando um pássaro adormecido o

suficiente para perceber quando um predador que se move.

Logan pegou uma pedra grande, pesada em sua mão.

— Pronta? — murmurou em meu ouvido tão baixo que foi mais uma

cócega que um som real. Assenti, mudando a posição de cócoras. Jogou a

pedra para baixo, mas longe o suficiente para cair entre os arbustos na

esquerda do guarda. As folhas zumbiram.

O guarda saltou em ação, indo em direção ao som. Nós nos lançamos

em uma corrida, em direção à borda do bosque em seu extremo direito

enquanto ele estava momentaneamente distraído.

Ele não era o problema.

Um grito veio da casa, seguido de um raio brilhante de luz que

repentinamente passou sobre o gramado, brilhante como um raio de sol.

Cada folha de grama crescendo em relevo acentuado, a casca da Bétula, a

água da piscina de ondas azuis.

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Nós.

— Diabos. — Logan murmurou, pegando minha mão. — Corre!

Meus pés apenas tocavam o chão. A julgar pelas vozes, não havia

tantos Hosts atrás de nós como havia pensado.

Mas certamente o suficiente para nos assassinar.

Parei, dando a volta, jogando ramos para o alto. Logan caiu na terra.

— Está sorrindo? — perguntou incrédulo.

— Apenas um pouco.

— Bem, bom, poderia correr e sorrir ao mesmo tempo? — os guardas

saíram em demandada da casa, correndo através dos jardins para o bosque e

para os campos atrás da cocheira.

— Preferia lutar.

— Sim, eu entendo. — empurrou-me, obrigando-me a tropeçar para

trás. — Correremos assim mesmo.

— Ali! — alguém gritou. — Eu os vejo.

Logan continuou me empurrando até que tive que correr ou tropeçar

sobre meus próprios pés. Pulamos um tronco caído, nele floresciam fungos e

musgo. Ramos batia contra nós, bagunçando meu cabelo. As folhas caíam

sobre nós. Lançamo-nos ao redor das árvores, ziguezagueando para fazer

mais difícil seguir nosso rastro. Corremos, separando-nos em um momento e

nos reencontrando do outro lado, obscurecendo ainda mais nosso rastro.

Um coelho se precipitou em nosso caminho e logo estávamos

verdadeiramente no escuro secreto do bosque.

A salvo.

Eu estava perversamente decepcionada.

Logan me deu um sorriso de cumplicidade. — Animo. Pode cortar

alguém em pedaços muito em breve. — balançou a cabeça quando me

iluminei, encorajada.

Fiquei ainda mais animada quando ouvi um uivo lastimoso de um cão.

Parei. A mudança abrupta de uma corrida máxima para uma parada morta

me fez sentir tontura brevemente. Quando Logan se deu conta que não

estava mantendo o ritmo, se voltou sobre seus passos. Sustentei minha mão

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no alto antes que pudesse dizer algo, escutando com mais atenção. O uivo se

repetiu, arrastando-se para o final.

Conhecia esse uivo.

Sorrindo e com os olhos mareados ao mesmo tempo, coloquei meu

polegar e dedo indicador na boca e assoviei. Atravessou o bosque, o

suficientemente estridente para deixar uma careta de dor em Logan.

— Meus ouvidos estão sangrando. Obrigado por isso. — disse. — E

tanto que fizemos para nos ocultar.

— Deixamos os Hosts a milhas atrás. — lhe assegurei, assoviando

novamente. Uma série de lamentações, responderam. E logo, latido do outro

lado do rio. Um uivo diferente desde a ladeira da montanha.

Não passou muito tempo antes que Charlemagne viesse correndo

para mim de entre as árvores. Pulou em mim, sua língua suspensa em

felicidade. Passou-a sobre minha bochecha, balançando seu rabo

furiosamente. Logan lhe deu uma palmadinha em forma de saudação e, em

seguida, inclinou-se alegremente contra mim, cambaleei sob seu peso.

— Bom menino. — cocei suas orelhas, logo passei uma mão sobre seu

pelo, em busca de feridas. Ele estava sem marcas.

Mais cães vieram a nós de todas as direções até que estávamos

rodeados. Logan levantou suas sobrancelhas, impressionado. Havia seis ao

lado de Charlemagne, três deles eram cães Rottweiler enormes, treinados

para a guerra.

— Finalmente. — Logan comentou. — Temos armas novamente.

Exceto por esse que parece querer mastigar minha perna.

— Provavelmente o quer. — disse alegremente, estalando meus dedos

para chamar a atenção dos cachorros.

Logan levou o pacote onde ele marcou o encontro com seus irmãos e

irmã. Os cães farejadores à nossa frente, correndo atrás de nós, e de cada

lado.

Senti-me mais parecida comigo do que fazia a muito tempo.

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Capítulo Vinte e Três

Solange, Nicholas, Connor e Quinn nos esperavam. Connor andava de

um lado para o outro, Quinn estava agachado entre as samambaias. Ele se

levantou quando nos viu e Solange veio correndo até mim. Os cachorros se

giravam ao redor de nossos pés.

— Logan! — ela me abraçou tão apertado que grunhi, me libertei

depois de puxar-lhe carinhosamente o cabelo.

— Eu estou bem, pequeno diabinho. Oof. — falei entre dentes,

tropeçando em um dos ansiosos cachorros.

— Eu te disse que os rapazes Drake são mais duros de matar do que

isso. — Quinn sorriu zombeteiramente e me socou ruidosamente no ombro.

Nicholas e Connor fizeram o mesmo. Observaram Isabeau, cautelosamente.

— Isabeau! — exclamou Solange, educadamente.

Eu a golpeei com meu ombro. — Ela não me assassinou; como você

pode ver, portanto relaxe.

Solange se mostrava um pouco envergonhada. — Desculpe.

— Eu entendo. — Isabeau respondeu quietamente. — Alguém poderia

me emprestar um celular?

Solange lhe deu o seu e Isabeau discou rapidamente. — Magda? Estão

todos bem? Kala?

Pude ouvir a resposta de Magda. — Kala está bem. Enviamos alguns

dos cães soltos para te encontrar.

— Eu sei. Encontramos um ao outro. Livraram-se dos Hel-Blar? —

Isabeau perguntou.

Ouvimos sem pretensão de fingir não o fazer.

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— Sim, mas só agora. — respondeu Magda. — E não tivemos

oportunidade de voltar para as cavernas e nos certificar que nenhum deles

esteja escondido perto.

— Escuta, Montmartre fará sua jogada nesta noite, neste momento,

contra os Drake. Temos que detê-lo.

— Por quê? — Magda perguntou bruscamente. Isabeau me lançou um

olhar, estremecendo. — O que pode me importar o que acontece nas Cortes

Reais? Já temos muitos problemas nós mesmos esta noite, para o caso de

você não ter percebido.

— Acredite em mim, eu notei. — Isabeau devolveu o tiro. — E se você

quer saber por que, é porque nós somos os próximos.

— Maravilha. — ela se queixou.

— Eu te manterei informada. — Isabeau terminou a ligação.

— Onde está Lucy? — perguntei aos demais.

— Na fazenda. — Nicholas respondeu com sombria satisfação.

— Como você conseguiu mantê-la lá?

— Ela está em um armário. — Solange colocou os olhos em branco.

Cravei os olhos em Nicholas. — Você trancou sua namorada em um

armário? Sem problemas.

— Ela vai estripar ele. — Quinn acrescentou alegremente.

— Sim, bem, pelo menos estará viva para fazê-lo. — Nicholas replicou.

— E isso é todo o cuidado que terei neste momento.

— O que aconteceu os outros? Mamãe e papai se encontram na Corte?

Connor negou com a cabeça. — Não e não voltaram para casa. Falta

pouco para a saída do sol, portanto devem ter ficado presos no meio.

Sebastian e Marcus estão com eles.

Revisei meu relógio de bolso. — Não podem ter sido emboscados há

muito tempo. Ainda devem estar vivos. Tem que estar. — olhei para Solange.

— Você ligou para Kieran?

— Sim, mas os Helios-Ra não podem nos ajudar.

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205

— Porque diabos não? Qual é a vantagem em namorar um caçador se

não pode utilizá-lo?

— Eles têm as mãos ocupadas. — Connor explicou. — Os Hel-Blar

estão muito perto do povoado para causar verdadeiros problemas.

— Greyhaven. — respondi enojado.

— O que tem ele a ver com isso?

— Ele tem criado vampiros às escondidas. — respondi. — Garanto

que a maioria se tornou selvagem. Os que não, estão lhe ajudando a planejar

um golpe para tirar Montmartre do poder, enquanto os demais são

utilizados como distração.

— Merda. — Quinn exclamou. — Ele é um bastardo.

— Você não tem ideia. — olhei para Isabeau, mas sua expressão

estava cuidadosamente em branco. — Portanto, agora o problema é, como

estão mamãe e papai neste momento.

— Posso ajudar com isso. — Isabeau disse confiante. — Mas preciso

de alguma coisa deles. Um pedaço de roupa seria o ideal.

— Magia?

Ela negou com a cabeça, meio que sorrindo. — Cachorros.

— Oh! Concordo.

Solange e meus irmãos olharam um ao outro e agitaram suas cabeças.

— Não temos nada conosco e não há tempo para ir a casa e pegar. — Quinn

explicou.

— Um momento. — Solange abriu um pacote. — Tenho algo que

pertencia a Montmartre. Foi deixado esquecido nos limites da propriedade

perto do bosque. Os encontramos quando vínhamos para cá. — ela extraiu

uma fina e delicada coroa de prata, cravejada de diamantes e rubis. Franziu o

rosto. — Ele não aposta em metáforas sutis, certo?

— Ele te deu esta tiara? — fiz uma careta. — Que brega.

— Eu sei. ok?

— É perfeito! — Isabeau exclamou, pegando-a bruscamente nas mãos.

— Gwynn. — chamou um dos cães de caça. Era enorme, mais alto que

Charlemagne com um porte real. Ele se apoiou suavemente contra ela e ela

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206

lhe estendeu a coroa. — Cheire-a. — Isabeau mandou. Obedientemente ele

farejou o adorno cuidadosamente enfeitado, os rubis do tamanho de um ovo

e as perolas. — Bom menino. Agora, encontre Montmartre.

O cachorro latiu uma vez e pregou o nariz no chão, farejando através

da folhagem. Isabeau certificou-se que os demais cachorros recebessem as

mesmas instruções, dando-lhes uma boa dose do cheiro da tiara. —

Encontrem Montmartre! — ela repetiu.

— Seus cachorros “procurarão Montmartre” a seu mando? —

perguntei.

— Sim. — me respondeu com um sorriso sombrio. — Você se esquece

de quanta aversão temos por ele.

Arrastamo-nos atrás dos cães e não demorou muito antes que Gwynn

levantasse uma pata e logo voltou a farejar, mais ferozmente desta vez.

— Ele tem um rastro. — Isabeau murmurou.

— Muito bem. Vamos chutar alguns traseiros. — Quinn disse,

retirando uma das estacas guardadas na faixa de couro que atravessava seu

peito.

— Hey, dê-me uma dessas. — peguei uma de Connor também e a dei

para Isabeau. Ela tinha jogado fora o ramo de Lilás quebrado mais cedo.

— Esperem. — Isabeau exclamou intempestivamente enquanto

corríamos atrás dos cachorros. — Precisamos de um plano.

— Os encontramos, matamos os bastardos, resgatamos nossos pais.

— Quinn explicou sucintamente.

— Você não pode apenas correr para dentro e esperar que

Montmartre tropece com sua própria estaca. — Isabeau respondeu. — Ele é

realmente bom neste tipo de coisa, está fazendo isso há séculos e nós..., não.

Há unicamente seis de nós e a maioria de nós é recém-nascido. Uma vez que

o sol nasça ele pode continuar lutando. Nós não podemos.

— Precisamos unicamente distraí-lo. — replicou Solange

insistentemente. — Dar a mamãe, papai e os demais uma possibilidade de

contra atacar.

— Já é alguma coisa. — Isabeau concordou. — Mas não é suficiente.

Temos os cachorros. — ela disse enquanto aumentávamos nossa velocidade.

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207

— Enviarei os cães de caça em diferentes direções uma vez que saibamos

onde estão e poderão nos alcançar a tempo.

— Não podemos esperá-los. — Quinn discutiu.

— Eu sei. Só que nós não podemos irromper no que seja que esteja

acontecendo. — insistiu.

— Mas talvez possamos usar um de seus truques contra ele. Como

está o equilíbrio de vocês?

Nós a olhamos como se ela tivesse perdido o juízo.

— Nosso equilíbrio? Não nos unimos ao circo aqui.

— Apenas ouçam. Enviamos os cachorros para dentro e neste

momento ingressamos, mas do alto. Se pudermos nos mover de árvore em

árvores, teremos uma vantagem e o elemento surpresa.

— Não tenho me balançado em um trapézio ultimamente. — Quinn

replicou secamente, mas ele sorria abertamente. — Mas foda-se, eu aprendo

muito rapidamente. Você é ardilosa e cruel, Isabeau. — acrescentou. — Acho

que eu gosto de você.

— Acho que se dirigem à clareira entre os pântanos. — Connor

franziu o cenho, olhando no GPS de seu celular. — Estou enviando as

coordenadas a todos os que conhecemos neste momento.

— Envie também para Magda. — Isabeau deu-lhe o número. Dois

breves assobios suaves fizeram os cachorros moverem-se mais

silenciosamente, com as orelhas erguidas.

— Quase lá. — disse Connor.

— Subamos. — ela sugeriu. Quinn e Nicholas se afastaram, rodeando a

clareira até ficar do outro lado. Podia cheira os Host e suas vitimas agora, o

bosque estava encharcado em feromônios e sede de sangue. As presas se

estenderam por todas as partes. A de Isabeau não havia se contraído desde

que tínhamos sido emboscados. Ela balançou encima de um olmo,

assustando um esquilo no oco de um tronco. Avançou ligeiramente por um

galho alto, caindo embaixo, em um galho próximo de um carvalho e saltando

até outro olmo.

Usamos uma cortina de folhas para nos esconder enquanto

avaliávamos a situação abaixo. Um circulo externo de guardas Host com

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casacos marrons patrulhava com bestas80. Havíamos conseguido evitá-los

até agora. Tinha mais no interior da clareira e um grupo deles no centro

onde Montmartre estava de pé, uma flecha apontava o peito de mamãe.

Papai estava de joelhos, rosnando, a ponta de uma espada raspava sua

jugular. O sangue gotejava de um corte em sua têmpora. Sebastian e Marcus

estavam de pé, muito quietos. Montmartre sorria agradavelmente.

Greyhaven esperava atrás dele, impacientemente. Desejei ter minha própria

besta. Mas isso teria que esperar.

— Merde81. — Isabeau disse bruscamente. — Você não é o único

Drake com um complexo de mártir.

Solange atravessou o prado, com as maldições abafadas que vinham

das copas das árvores enquanto Nicholas, Quinn e Connor lutavam para não

se revelar. Só a mão de Isabeau em meu braço me impediu de afastar da

árvore.

— Montmartre. — Solange gritou, girando a coroa na ponta do dedo, a

fraca luz da lua brilhava com a luz tênue nos diamantes. — Vamos fazer um

trato.

80A arma. No original crossbows.

81Merda em francês.

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Capítulo Vinte e Quatro

Montmartre levantou os olhos, seu sorriso se alargou. — Solange

querida. Eu me alegro em ver que se recuperou.

Helena fechou os olhos brevemente. — Solange, não.

— Mantenha-se desgraçadamente longe da minha filha. — Liam

adicionou, enfurecido. Montmartre sacudiu sua mão com desdém. Solange

deu outro passo para frente, longe da proteção das árvores.

— Pequena idiota. — Logan soltou, — Da última vez que se entregou

por nós, quase morre.

— Eu sabia que voltaria a seu juízo. — Montmartre disse

amavelmente, seu cabelo longo caindo atrás de suas costas.

— Se você deixar minha família ir ilesa. — disse, enrolando suas mãos,

para esconder o tremor de seus dedos. — Eu ficarei com você.

— O inferno que você fará isso. — Logan gritou; finalmente se

balançando para dentro da clareira. Seus irmãos seguiram seu exemplo,

como macacos loucos. Mal tive tempo de assobiar para os cachorros para

que atacassem.

Cada um dos irmãos Drake era louco.

Não tínhamos ideia se os Hounds estavam próximos o suficiente para

nos ajudar; tínhamos armas suficientes entre nós e um traidor abaixo. O que

uma senhorita faria? Pulei para a briga, é claro.

Estaquei uma guarda ao aterrissar e ela se transformou em pó. Peguei

sua espada antes que caísse no chão com suas roupas vazias. Cravei o

fragmento de garrafa manchada com o sangue de Montmartre no chão. Os

Hel-Blar seguiram sua essência até nós. Fariam as coisas pior, não havia

dúvida sobre isso, mas atacariam a Montmartre e aos Hosts, pelo menos

tanto quanto atacariam a nós.

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Os Hosts não hesitaram, nem sequer esperaram pelas ordens. Helena

também não hesitou. No mesmo instante em que Montmartre olhou para sua

filha, ela chutou a besta de sua mão. Não poderia fazer muito mais do que

isso, havia muitos deles. Liam pulou aos seus pés, Sebastian e Marcus

viraram para lutar com seus captores. Os cachorros rosnaram e abriram seu

caminho através dos Hosts a mordidas. Nicholas e Connor estavam lutando

de costas a costas e Quinn estava abrindo caminho para o lado de Solange.

Greyhaven estava no meio disso tudo, com flores absurdamente ao redor de

seus joelhos. Eu o vi abrir seu celular e gritar uma ordem nele. Havia muitos

sons de luta para ouvi-lo corretamente, mas podia ler seus lábios.

Já é hora.

Ele estava chamando seus homens para o golpe.

E então, repentinamente essa era a última de nossas preocupações.

O cheiro de fungos nos golpeou primeiro, e um dos cachorros deixou

sair um grunhido que nos avisou dos Hel-Blar. E um minuto depois, estavam

em todas as partes, como besouros azuis comendo tudo em seu caminho.

Chamá-los tinha parecido uma boa ideia naquele momento. Bem, não

precisamente uma boa ideia, simplesmente a única que tínhamos.

Mas não era suficiente. Nem perto.

Lutei meu caminho até Logan, usando a espada e a estaca,

Charlemagne se manteve perto, atacando o joelho de um Host, o qual estava

muito perto. Ficou embaixo, agarrando sua perna. Pulei sobre ele, estacando

a outro Host, e consegui que me apunhalasse no braço esquerdo, para meu

desgosto.

— Logan. — chamei.

Seus olhos se estreitaram ante meu ferimento. — Está ferida,

maldição.

Encolhi meus ombros, fazendo com que mais sangue corresse por

meu antebraço. Esquivou-se de uma estaca, me agarrou e nos jogou no chão,

quando uma flecha roçou nossas cabeças.

— Preciso fazer o Dreamwalk. — eu lhe disse.

— O que? Agora?

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— Não podemos ganhar; não deste modo.

— Diabos. — ele disse, mas eu sabia que estava concordando comigo.

— Ali, — apontou um nicho de samambaias. Não estava completamente

escondida, mas era o melhor que, razoavelmente, podíamos esperar.

Charlemagne colocou-se sobre minha cabeça. Logan estava aos meus pés.

— Rápido. — grunhiu; estacando um Hel-Blar que estendeu sua

mandíbula.

Fechei meus olhos, o qual era um ato de vontade em si mesmo,

permanecer quieta e vulnerável como estava enquanto uma batalha rugia ao

meu redor, era a coisa mais difícil que eu havia feito; quase tão difícil quanto

abandonar minha vingança.

Dei três profundas respirações, contei-as lentamente, focada

intensamente na sensação do ar em meus pulmões, que não precisavam; era

o ritual isso que importava. Cantei as antigas palavras, então me sentei,

deixando meu corpo para trás, jazendo com cicatrizes e estranhamente

quieta nas samambaias.

O sangue prateado empapava a grama, cinzas estavam presas nas

pétalas de flores e as raízes expostas das nodosas árvores de carvalho. Os

Drakes somente tinham trazido três guardas com eles quando deixaram as

cavernas de sua casa e dois deles já estavam transformados em cinzas. O

terceiro estava gritando, sua pálida pele e cabelo, praticamente brilhando.

Montmartre espreitava Solange. Connor tentou bloqueá-lo e foi jogado

contra Nicholas. Ambos aterrissaram fortemente, quase deixando sem

sentido a Marcus no processo. Solange, de olhos selvagens, jogou sua última

estaca. Foi longe e somente bateu no pescoço de Montmartre. Jogou a Coroa

de sua cabeça, era a única coisa que lhe restava.

— Pela última vez, eu não quero a maldita Coroa. — gritou.

— Você pode parar toda essa batalha. — ele disse. — Se vier comigo

agora.

— Não se atreva, Solange Rose. — Helena gritou. — Ele não pode

controlar os Hel-Blar, e ele com certeza como o inferno, não vai cumprir sua

palavra.

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— E já não passamos por isto antes? — Quinn grunhiu; batendo seu

punho contra o globo ocular de um Host. — Não pode tê-la na semana

passada e não poderá tê-la agora.

Nós estávamos ficando sem tempo.

Flutuei sobre a campina e forcei a energia de meu espírito

resplandecente no ar, visualizei minha própria energia transformando-se em

névoa, visualizei-a se agarrando a um Host e um Hel-Blar, eu a visualizei

asfixiando Greyhaven com um brilho de luz. Visualizei tudo isso, tão forte

que até meu corpo astral gotejava suor. Estava usando minha própria

energia, empurrando e empurrando, até que fiquei fraca pelo cansaço e a

névoa tremulou sobre a clareira. Eu a enviei contra nossos inimigos,

apertando meus dentes astrais, devido a dor que atravessava meus dois

corpos. Nunca tinha sido capaz de sustentar a névoa por longos períodos de

tempo antes, era muito avançado, muito esgotante.

Não havia solução para isso.

— O que diabo é isto? — Greyhaven bateu na névoa a medida que caia

sobre ele. Não era espessa o suficiente ainda, ele ainda podia ver os outros.

Para que isto funcionasse adequadamente, tinha que fazer com que rodeasse

também os Hosts, para que assim eles não pudessem nos ver, mas sim, nós a

eles.

Pelo menos o avanço de Montmartre sobre Solange tinha sido

retardado, não só pela estranha névoa, mas também pelos Hel-Blar

enlouquecidos por sua essência. Logan estava esgotado, mas se negava a

render-se. Sabia que me protegeria até que virasse pó. Eu não tinha intenção

de deixar que isso acontecesse. Tinha que voltar ao meu corpo, e rápido.

Mas primeiro tinha que criar um pouquinho mais de névoa. O cabo de

luz, unindo meu espírito a mim mesma, diminuía e eu sabia que, quanto mais

ficasse incorpórea e usando esta quantidade de energia mágica, mais me

arriscava a ficar assim para sempre. Juntei um pouco mais de névoa e estava

dizendo a mim mesma que acreditasse um pouco mais, quando notei o

brilho de vagalumes entre os galhos e ao nosso redor.

Não eram vagalumes.

Eram Hounds.

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Para a visão de meu espírito, eles chegavam através das árvores como

faíscas de luz, como fogos de artifício explodindo.

Mas era muito cedo para comemorar.

Porque da outra direção, podia ver as faíscas manchadas de vermelho

que eram as auras dos homens de Greyhaven aproximando-se também. Não

podia separar a visão mágica da visão simples neste estado. As auras

mudavam, brilhavam e faiscavam, como aquarelas sobre um desenho em

carbono.

— Hounds! — Liam gritou com seriedade. — E quem diabos são

aqueles tipos?

— Greyhaven está tentando derrubar Montmartre. — Logan gritou.

— O que? Agora mesmo?

Os Hosts ainda leais a Montmartre estavam paralisados pela surpresa,

vendo alguns de seus irmãos se voltarem e ajudar aos recém-chegados

contra eles. O golpe inesperado os sacudiu.

Era vantagem suficiente para nosso lado, talvez nem todos nós

morrêssemos horrivelmente depois de tudo.

Vi o momento exato quando Greyhaven notou Logan, e quando viu

meu braço caído inerte nas samambaias.

Ele foi mais rápido que eu.

Lançou uma estaca para Logan e acertou-lhe bem do lado de seu

coração. Logan tremeu, a dor contorcia seu lindo rosto. O sangue escorria

através de seus dedos, manchando sua camisa. Ficaria louco pelo estrago em

sua roupa mais tarde.

Se sobrevivesse a noite.

Mais lhe valia sobreviver, já que ele tinha me forçado a fazê-lo.

Eu me lancei até meu corpo, mas estava tão cansada, era como me

mover através do mel. Não percebi que estava gritando até que Magda

levantou os olhos.

Greyhaven tinha chegado a Logan, que estava procurando uma estaca

com seus dedos úmidos. A que estava em seu peito ainda continuava ali,

presa em músculos e ossos. Charlemagne rosnou; seus lábios trêmulos.

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214

Greyhaven mostrou seus próprios dentes e estendeu sua mão, rápido

como uma vespa, para empurrar a estaca que já perfurava Logan. Ele a

empurrou mais fundo. Logan gritou. Greyhaven o golpeou forte o suficiente

para fazê-lo cair. Logan sacudiu a cabeça, gemendo e tentou se arrastar

entre Greyhaven e meu corpo indefeso.

Eu só podia flutuar inutilmente, muito devagar para impedir

Greyhaven de me assassinar novamente.

E a Logan.

Este pensamento foi o suficiente para me impulsionar à ação. Mas era

muito tarde. A espada de Greyhaven brilhou quando chutou as samambaias

para o lado, expondo-me completamente. Charlemagne saltou, mas

Greyhaven era um borrão de traje grife e espada.

Se ele machucasse meu cachorro, eu encontraria um modo de matá-lo

duas vezes. Magda foi mais rápida do que todos nós, sua espada bloqueou a

de Greyhaven bem quando cortou uma samambaia, roçando a malha sobre

meu coração.

— Ela é minha. — Greyhaven cuspiu.

— Vá para o inferno.

Os olhos dela encontraram os meus enquanto voava sobre eles. E

então conduziu sua espada através do coração de Greyhaven, girou-a e

retorceu.

Greyhaven teve tempo de parecer surpreso e então rompeu em cinzas.

Um de seus homens berrou.

Logan se arrastou ao meu lado, tirando a estaca da carne com uma

selvagem maldição.

Os Hounds desceram ao mesmo tempo e com algum sinal de Finn,

caíram em formação, despachando os Host e Hel-Blar, e aos homens de

Greyhaven, todos tropeçando cegamente na névoa. Os Hosts tinham a

dificuldade adicionada a lutar com seus próprios irmãos renegados. Tentei

afastar um pouco da névoa para os Hounds e os Drakes, mas estava muito

fraca.

— Retirada! — Liam gritou para a sua família. — Isto é uma ordem!

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Montmartre deu ordens, mas seus Hosts estavam muito afastados

para ajudá-lo. Tropeçou em Helena, meramente por acaso, bem quando ela

estava jogando seu braço para trás para estacar um Hel-Blar. Ele prendeu

sua mão e jogou seu outro braço ao redor de sua garganta, seus dentes

saltados. Ela foi surpreendida em um ângulo estranho, meio oculta pela

névoa. Todos estavam muito ocupados, muito feridos, ou muito longe para

ajudá-la.

Exceto Solange.

Ela acotovelou Montmartre na orelha, forte o suficiente para

arremessar sua cabeça para um lado. Ele virou-se rosnando. Mas ela já

estava pegando a Coroa descartada na grama, coberta de cinzas.

Solange enfiou os pedaços quebrados em suas costas, bem sobre o

coração. Não era suficiente para perfurar seu coração inteiramente. Helena o

girou e terminou o trabalho, empurrando uma estaca através de seu peito.

Ele gemeu e se desintegrou, deixando mãe e filha olhando uma para a

outra com as botas cheias de cinzas.

Quinn deu uma gargalhada triunfante e Magda virou como uma fada

louca, jogando as estacas de sua mão. Os Hosts, vendo seu líder derrotado,

tropeçaram em busca de fuga.

E eu ainda não estava dentro do meu corpo. Eu tinha ficado fora dele

muito tempo. A névoa estava desaparecendo, a batalha estava terminando e

eu pendurada sobre mim mesma, como se um painel de vidro proibisse

minha volta. As veias sob minha pele pareciam muito saltadas, minhas

presas muito afiadas. Minhas cicatrizes eram como sabão. Eu estava

desorientada, confusa.

Não era forte o suficiente para controlar a magia. Ela estava

controlando a mim.

O sol saiu, enviando flechas de luz entre as árvores. Os Hel-Blar

uivaram, em busca de refúgio. Os Hosts se dispersaram. Logan me recolheu,

correndo através das samambaias. Pássaros começaram sua canção matinal.

O céu ficou da cor da opala. Liam abriu-se diante de sua família enquanto

Helena abria uma porta de madeira escondida sob um arbusto. Sebastian

estava levando Solange, quem sendo a mais jovem, já havia desmaiado. Meu

espírito seguiu atrás deles, muito devagar, observando meu corpo ser levado

para longe do meu alcance.

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Os Drakes caíram dentro do túnel, um por um. Logan me entregou a

um de seus irmãos enquanto o sangue continuava escapando de sua ferida.

Senti sua boca roçar meu ouvido.

— Isabeau. — soava frenético, furioso. — Isabeau. — disse

novamente. — Isabeau!

Ele havia lembrado o que eu havia dito sobre repetir um nome para

retornar seu espírito a seu corpo.

Eu o teria beijado, se pudesse.

Aterrissei tão repentinamente e com tal violência que tremi sem

controle, meus olhos rodando atrás da minha cabeça.

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217

Epílogo

Na noite seguinte encontrei Isabeau sentada no teto da fazenda,

observando as estrelas que sobressaiam por cima do bosque. Ainda usava

seu vestido, um pouco rasgado na barra, mas limpo da lama. Não pude

deixar de me lembrar da visão que havia tido dela percorrendo os tetos de

Paris com seu casaco roubado. Sentei ao seu lado, sobre as telhas que ainda

conservavam o calor do sol. Ela não me olhava, como se não soubesse como

estar próxima a mim. Ia tomar aquilo como um bom sinal.

— Como se sente? — perguntei-lhe. Suas veias estavam

anormalmente azuis, seus olhos vermelhos, esses eram os efeitos

secundários de quase ter se consumido na magia.

— Ça va82. — ela respondeu. — Obrigada. — adicionou; tão

formalmente que um momento depois se sentiu desconfortável pelo feito.

Sorri um pouco. — Esse foi um bom truque com a névoa.

Ela assentiu. — Há tantas coisas que ainda não sabemos sobre nossa

magia. Não estava muito certa de poder manejar esse feitiço. Então não pude

simplesmente deixar de usá-lo, uma vez que já havia começado. Teria ficado

presa na minha forma de espírito se não fosse por você.

— Você se arrepende de não ter chegado a matar Greyhaven você

mesma? — perguntei calmamente.

Ela pensou e finalmente negou com a cabeça lentamente. — Não.

Suponho que isso não me faz uma guerreira melhor; certo?

— Eu não diria isso. — bufei. — Os cães e a magia com a névoa são um

inferno de estratégia de batalha. — tentei alcançar sua mão, entrelaçando

meus dedos com os dela. — Ficará para a Coroação?

— Oui.

82Ça va: estou bem.

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218

Eu a olhei. Ela suspirou um pouco. — Como faz isso?

— Fazer o que?

— Ninguém jamais no mundo me olhou da maneira que você me olha,

nem sequer Kala. Você viu o meu passado. Como era anteriormente. — sabia

que ela estava se lembrando das imagens nos telhados também. — E ainda

assim, continua me olhando como se eu importasse, como se de certa forma

eu fosse bonita.

— É bonita. — insisti. — Teimosa, muito reservada e excessivamente

independente, mas bonita.

— Oh!

Pensei que pudesse corar. — Eu te amo, Isabeau. — ela

definitivamente ia corar agora mesmo. Piscou para mim. Eu a observei

pacientemente. — Vamos, os ossos disseram que éramos feitos um para o

outro. — eu a lembrei.

— Quem te disse isso?

— Magda. Ela já não me odeia tanto quanto fazia.

— Ah!

Sorri. — Não se assuste Isabeau.

— Não me assusto. — ela insistiu indignada.

— Oh, por favor. Um pouco de 'eu te amo' te assusta. Nenhuma

espada, estaca ou besta pode conseguir que fique tão pálida e dura.

Ela parecia ter uma luta interna, uma que apenas pude observar. Não

tinha as armas para ajudá-la. Apenas ela as tinha.

— Tem um bom ponto, suponho. — ela apertou nossas mãos. — E o

que é um guerreiro se não alguém, que também é capaz de enfrentar aos

seus medos e derrotá-lo? — ela engoliu. — Je... — ela engoliu novamente. —

Je t´aime83.

Nunca havia conhecido esse tipo de satisfação que chegava

profundamente até os ossos, como nesse momento. Levantei nossas mãos

83Je t´aime: Eu te amo.

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219

unidas para minha boca, e beijei seus dedos.

— Não foi tão difícil, não é? — perguntei roucamente.

Ela sorriu. — Suponho que não.

Ela se encostou a mim, nossas laterais se tocando, seu cabelo

tremulante sobre meu braço, cheirando a frutas. Nós ficamos encostados sob

as estrelas por muito tempo.

— Me visitará nas cavernas? — ela sussurrou finalmente. — Depois

que as cerimônias e as reuniões do conselho terminarem.

— Claro.

— Mesmo que todo mundo desaprove?

Apoiei-me sobre meu cotovelo. Seus olhos estavam tão verdes que

quase brilhavam. — Não me importa o que os demais pensam. — abaixei

minha cabeça, minha boca cobrindo a dela. — Além do mais... — sorri

lentamente. — Pensa nisso como se fossem negociações de nossas tribos.

Ela tocou meu queixo, sorrindo, suavemente, rapidamente. — Como

criada, é meu dever promover uma boa relação entre os Cwn Mamau e a

Família Real.

— Exatamente. — fechei a última polegada entre nós e a beijei.

E quando ela devolveu o beijo, já não éramos nem um príncipe, nem

uma criada, nem sequer um Drake e um Hound, nós éramos apenas Logan e

Isabeau.

Juntos.

Fim

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220

A série continua em:

Out For Blood

Hunter Will é a mais jovem de uma longa linhagem de caçadores de

vampiros de elite, um legado que é uma benção, assim como também uma

maldição na secreta Academia dos Helios-Ra, onde ela se sobressaía em quase

tudo.

Graças a sua amizade com Kieran Black, Hunter recebe um convite especial

para assistir a coroação de Helena Drake, e pela primeira vez, ela vê a diferença

que há entre os vampiros — que devem ser caçados — e os vampiros que podem

chegar a ser amigos — ou inclusive mais.

Quando os estudantes da academia são vitimas de uma misteriosa doença,

Hunter suspeita que eles estejam sendo atacados do interior. Ela precisará de

alguém em quem confiar para que a ajude a salvar o futuro dos Helios-Ra... Ajuda

que surpreendentemente vem na forma de Quinn Drake, um vampiro-morto

maravilhoso.

Quem disse que o último ano ia ser muito mais fácil?

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Sobre a autora

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