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Muro 1

MURO07

eventos prosa poesia entrevistas artigos BD

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2 Muro

André Consciência

murenses

João Diogo

Pedro Miranda

Miguel Simões

Joana Sousa

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06081011

1420222427

0504Editorial

Notícias

A morte dentro de mim

Lira insubmissa

Estranha Magia

Grito de Silêncio

Artigo, Filosofia e Criatividade

Entrevista com... Guilherme Araújo

Música, Shhiu oiçam! The Gift

Música-Análise

Se fosse eu...

BD

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EditoriAlA Muro está de volta, após uma ausência noutros festivais.

Vivem-se tempos de Luta, daqueles em que a malta está animada e não receia ir para a rua manifestar o

descontentamento em relação às condições económico-sociais dos nossos dias.

À sua maneira, a Muro também luta. Lutamos pela prosa, pela fotografia, pela música, pela filosofia, pelo direito à diferença e pela vontade de partilhar tudo isto convosco. A Muro luta para que o empreendorismo não dê lugar à inércia, acolhendo as ideias daqueles que querem inscrever o seu nome neste muro. E por isso gostaríamos de contar convosco para um próximo número. Enviem as vossas sugestões e participações para [email protected].

Acompanhem-nos no twitter e na página do facebook. Mas, para já, espreitem este #7.

Joana SousaDesta vez, a Muro convida-vos a conhe cer o novo álbum dos portugueses The Gift, Explode. E a apreciarem os álbuns dos Hype e da Polly Jean.Apresenta-vos, também, o Guilherme Araújo, tatuador em Santo Tirso, bem como os porquês que sustentaram a realização do I Encontro de Filosofia para Crianças e Criatividade. Tempo ainda para Olhar a Palavra e para conhecer a insubmissão da lira. A Rita brilha com os seus textos e o Biscaia… também. Já o Pedro Miranda faz questão de nos brindar com uma BD.

A Muro é assim: um produto (in)acabado, construído com os contributos de homens e mulheres que acreditam que a Luta é o caminho. DESenrascados, seguimos em frente, com a Liberdade que a avenida nos dá. Com alegria, pah.

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notícias

The GraveFest! Festival comemorativo dos 5 anos das Graveyard Sessions!

De forma a comemorar de forma memorável os cinco anos de existência das Graveyard Sessions, a organização decidiu realizar o GraveFest.Entre dia 18 e 19 de Março, vamos dar palco aos projectos musicais que julga-mos poder proporcionar ao nosso públi-co um fim-de-semana inesquecível.Irá existir também espaço para expo-sições de arte, projecções de filmes e performance teatral.

Finalmente vamos realizar um sonho de já alguns anos!

Estão todos convidados!

Bilhetes à venda na loja Two Tones em Almada, na Carbono de Lisboa e na de Amadora!O preço para os dois dias é €30

Mais informações em:http://gravefest.graveyardsessions.net/

“Alquimia Nocturna - O Corvo e a Coruja” por Kahina Spirit

Apresentação de Gothic Bellydance por Kahina Spirit: Alquimia Nocturna - O Corvo e a Coruja no Castelo de Asgard em Sintra, 26 de Março. Com Workshop de iniciação à Dança Oriental. A não perder! Mais info: [email protected]

Workshop de Iniciação à Dança Oriental - 17:00 às 19:00Lanche/Pausa - 19:00 às 20:00Apresentação: “Alquimia Nocturna- O Corvo e a Coruja” - 20:00 às 21:00Inscrição - 5 shimmies

Reservas para:[email protected];[email protected];[email protected]

Pagamento no Castelo de Asgard.(Por favor, para as pre-incrições é indispensável o envio dos vossos dados: nome e e-mail, para um dos contactos acima referidos. O workshop das 17:00 às 19:00 só é facultado consoante reserva)

* Todo o dinheiro das inscrições reverte a favor do Projecto Gothic & Metal-Fusion Bellydance.

Inscrições limitadas!!Informação mais detalhada em:http://castelodeasgard.blogspot.com/2011/02/apresentacao-de-gothic-bellydance.html

ASTARTE: A QUE CRIA Celebração/ espectáculo do Equinócio da Primavera

20 de Março. Domingo, 15h-18hÍRIS E ALUNASConvidados especiais:Baltazar Molina, Marie Beatriz Lúcio, Teresa Gabriel

Ó Deusa Branca,...Senhora das fontes e dos lagos,esquecida nas brumas do tempo,chamo-te do mais recôndito do meu ser,em cada célula um apelo, no meu corpo,em cada átomo.Não sei porque te envolve esse véu diáfano,que te esconde na penumbra dos meus sonhos,onde às vezes por piedade me sorrisou me tocas com teu manto que te esconde de mim .Outras vezes,afagas-me o rosto com uma pena das tuas asase foges para longe.Queria amar-te mais se eu pudessee trazer-te para bem perto ...Pedir-te Senhora, nunca me esqueças...Tu és a razão única da minha vida,tu és a minha essência e cada nervo.A carne, o sangue e o tecido,cada fibra do meu ser te pertence!

in “ANTES DO VERBO ERA O ÚTERO”Rosa Leonor Pedro

BILHETES: 10€25% da receita da bilheteira será doada à Associação Ajuda de Berço

INFORMAÇÕES/ RESERVAS:www.malaposta .pt21 938 31 00 [email protected]

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Descobrir que se traz a morte cá dentro, num ponto específico e de-vidamente assinalado. Com registos. «A morte está aqui», pensei ao olhar para o exame que denunciou, finalmente, o porquê do meu can-saço e do meu mal com a vida.

Não era depressão. Era a morte que se fazia anunciar.

Pensei sempre que quando ela che-gasse não fosse sentir nada. Chega-va e pronto. Mas a morte escolheu-me para que fosse uma das pessoas a sentir o processo de forma lenta e faseada. Sim, fases. O médico já me explicou tudo. Ele sabe como gosto de saber, passo a passo, o que se vai passar. Mesmo que estejamos a fa-lar da morte.

— É cancro. Não estou a dizer-lhe que vai morrer por causa disto. – disse o médico.

prosa

A morte dentro de mim

— Prefiro chamar-lhe morte. Desculpe, mas é mais fácil para mim.

Reparei que o médico me olhava com estranheza. Sim, já tinha diagnostica-do cancro a outros pacientes, mas nunca ninguém tinha baptizado a do-ença com um nome cru e frio como morte.

Descobrir que se traz a morte cá den-tro, num ponto específico e devi-damente assinalado. Com registos. Olá, morte. Bem-vinda a este meu mundo. Prometo não te desiludir. Vou agir em conformidade com aquilo que pretendes (e que não é mais do que apreciar cada momento da sua irmã gémea, a vida).

Hoje sei que trago a morte dentro de mim. Aqui, neste ponto. Hoje sei que quero viver, mais do que nunca. E vou mostrar à morte como é que isso se faz.

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Site:

autores:

olhar de Marco A. Pirespalavras de Joana Sousa

http://olharapalavra.com/

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1 - Não há nenhuma questão de imigra-ção. Nós não crescemos onde nasce-mos. Nós não vivemos onde viveram os nossos antepassados. Não somos de lado nenhum, embora gostemos de turismo. Nós somos um convida-do dentro das nossas famílias.

2 - A maior prova do Império e, em contrapartida, da Máquina de Guerra, reside neste ponto: o poder decisivo não se encontra, já, em qualquer região do mundo. Assim sendo, a Máquina de Guer-ra não pretende ocupar território, mas ser o território.

3 - As organizações dividiram o que somos na trindade: O que és? O que fazes? No que te transformarás? Uma tentativa organizada (reforçar pon-tos fracos) de impedir a organização (eliminar pontos fracos) que nos dita que os três são apenas um.

4 - O indivíduo é uma ficção. A Lira Insubmissa declara a revolução como um ataque à ideia do que é o Homem. Até lá, distraiam-se sendo vós próprios (esse é o objectivo do homem moderno). O vosso eu per-

Lira insubmissa

prosa

tence-vos, o vosso corpo, a vossa mente, o vosso apartamento e os problemas pelos quais tiveram de passar para chegar até aqui, cabe-vos a vós o prémio e a recompensa por esses bens, porque o merecem e se comportaram como heróis. Quan-to mais investirem, mais depois vão receber (no final dos tempos).

5 - Seja auto-suficiente, encontre um patrão.

6 - A Lira Insubmissa aconselha as causas importantes a serem, em vez de trazidas ao público, oculta-das. Sermos, socialmente, um nada, é termos a liberdade, e a liberdade de atacar com um golpe irreversível e invulnerável.

7 - A necessidade de ser-se a si mes-mo dita-nos, na verdade, e tradu-zindo, que temos de ser fortes, termos de ser fortes dita-nos que somos fracos, termos de ser nós próprios afirma-nos que ainda não somos nós próprios, e no fim, nun-ca seremos (o que és?, o que

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Site:

autor

André Consciência

http://radioabismohumano.blogspot.com/

fazes?, no que te transformarás?), o amor é uma terapia para esta doença, a produção, a amizade, a conversa, o espectáculo, em que somos todos pacientes e o mundo um hospital. Ser-se a si próprio é estar constantemente à beira do colapso: é assim que se governa – mantendo a crise e organizando-a, num sistema de dependências.

8 - Eis o bramido da Lira Insubmissa: o Homem, na realidade, é tudo, excepto ele próprio (literalmente e salutarmente).

9 - O leitor da Lira Insubmissa não é diferente, não é separado, não é definido e etiquetado, qualificado nem controlado. É sim algo de pri-mordial. Não tem colegas, amigos cibernéticos, contactos, namoradas, conhecidos, companheiros, amigos, e nem é nenhum destes para nin-guém: é um estranho movendo-se no meio de estranhos. Mas em cada gesto existe verdade. Tudo o mais são palavras de comando, como as das linguagens de programação.

10 - A depressão é uma virtude menosprezada, sendo que ela é o primeiro sintoma de dissociação política e um passo tão importan-te quanto o do parto. A liberdade passa primeiro pelo tempo-morto, ou seja, não o tempo em que não temos nada para fazer, ou aquele das férias, mas o tempo que nos revelou que não há nada para fazer, evocando uma actividade tão poderosa que o tempo não a contenha nem a limite.

11 – Na sociedade do trabalho, dos desempregados, a Lira Insubmissa termina este fragmento (mas já se preparando para o próximo) com uma proposta em vigor: greve geral dos artistas a nível nacional, de um de Junho de 2011 a um de Junho de 2013. Mediante a ausência de arte, a presença da realidade.

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Cada vez que apareces é como se o sol entrasse dentro de mim. O dia pode ser cinzento, pode estar da cor mais escura que existe, mas se estás e se sorris esqueço tudo. esqueço do que estou a ouvir, do que se passa à minha volta, do local onde estou. es-queço me de mim e do mundo.Quando passas, tudo se torna dife-rente. Entro numa espécie de transe mágico que não consigo compreen-der. Como se a melhor parte do dia fosse exactamente esta, quando apa-reces nem que seja por breves segun-dos, ou quando andas de um lado para o outro na tua rotina normal e nao me impedes, involuntariamente de olhar nos teus olhos, de sentir o teu perfume doce, suave por apenas segundos. Porque nem sabes que existo, sou mais uma entre provavel-mente tantas. E mesmo sabendo isso sempre que isto acontece, o meu co-ração reage, a minha alma reage, o meu corpo reage virando-se na tua direcçao. os teus olhos, o teu sorriso.

Definitivamente nao serias o tipo de pessoa para quem olharia, nem aqui, nem em lado nenhum. mas essa tua estranha magia que me chama de uma forma que nao compreendo, faz-me sentir diferente... Algo que nunca senti antes... Não te conheço, mal ouvi o som da tua voz, pequenos ex-certos que me fizeram lembrar melo-dias. mas a tua alma, a quem perten-ce? o que pretendes? o que te faz vi-ver? o que te faz olhar para alguém? Provocador mas sem ser propositado, o teu olhar derrete as minhas pala-vras como fogo. Muitas vezes penso que isto não é real porque não faz sentido. Não sou eu... Quando estás aqui não me sinto. desapareço, e afundo-me num sentimento comple-tamente incompreensivel que não me deixa seguir ou pensar cada vez que te sinto perto de mim. Ridículo. nada disto faz o menor sentido. atrac-ção completamente descabida por alguém que não me pertence nem nunca pertencerá...

Estranha Magia

prosa

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Pela primeira vez senti frio quando estive lá fora. A tua ausência toma conta de mim e da minha mente. O calor desaparece dando lugar ao vazio. Vazio esse que me quebra por dentro, que me fragiliza, e que mesmo estando feliz, nao me dá forças suficientespara aguentar o dia. Falta-me um pedaço de mim que és tu que preenches. Quando não estás,

autora:

Rita Brilha

Grito de Silêncio

corrói-me a alma e o coração e por vezes não sei como lidar com isto. Hoje é um desses dias, em que me custa lidar com a tua ausencia, que me custa lidar com a tua indiferença. É daqueles dias em que me apetecia gritar estou aqui. Mesmo assimpor vezes já tenho a sensação que grito... Um grito de silêncio...

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Sentir Pensamentos | Pensar SentidosI Encontro de Filosofia para Crianças e Criatividade

artigo

No sentido de divulgar a filosofia para crianças em Portugal e promover o diálo-go entre os profissionais da área, o projec-to filocriatiVIDAde organizou no dia 19 de Fevereiro, em Aveiro, o I Encontro de Filo-sofia para Crianças e Criatividade.O encontro, intitulado «Sentir pensa-mentos | Pensar sentidos» conta com a parceria do Colégio D. José I, espaço que acolheu a iniciativa, para um dia de forma-ção multidisciplinar.O I Encontro de Filosofia para Crianças e Criatividade dirigiu-se ao público em geral, de forma a abranger um maior nú-mero de interessados nesta temática. No entender de Joana Sousa, Licenciada em Filosofia, Formadora e Responsável pelo projecto filocriatiVIDAde “a Filosofia para Crianças (FpC) consiste numa prática de competências do pensar. Costumo usar a

imagem do ginásio: nas sessões de FpC te-mos oportunidade de treinar os músculos do pensamento, questionando, reflectindo em grupo e assumindo posições”. Fizeram parte da equipa do «Sentir pen-samentos | Pensar sentidos», em conjun-to com Joana Sousa, Celeste Machado (formadora no projecto filocriatiVIDAde), Tomás Magalhães Carneiro (Responsável pela Oficina Jovens Filósofos FLUP), Dina Mendonça (Presidente da Associação Brin-car a Pensar), Ana Dominguez (educadora de infância no Colégio de Alfragide e uti-lizadora do twitter em sala de aula), Zaza Carneiro de Moura (Fundadora e Directo-ra do Centro Português de Filosofia para Crianças – CPFC) e Mário Pires (fotógrafo). O Institut de Pratiques Philosophiques , de Óscar Brenifier, apoiou a iniciativa, num acrescentar de valor à discussão. «The prac-

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Sentir Pensamentos | Pensar SentidosI Encontro de Filosofia para Crianças e Criatividade

tice of the philosophy consists in an active lis-tening of the other and in the comprehension of his speech. It implies also to think your own words and to be aware of them. Many libraries organize free philosophical workshops which deal with a question; some schools integrate sessions of philosophy in their program, where we propose different types of exercises», pode ler-se na página oficial do I Encontro de Fi-losofia para Crianças e Criatividade, com endereço em http://encontrofilosofiacriati-vidade.blogspot.com/“Mais importante do que os resultados dos ateliers (um desenho e uma frase, por exem-plo) é o observar o modo como as crianças descobrem que «trabalhar com a mente é divertido», afirma Joana Sousa.

Sobre a Organização do Evento: O projecto filocriatiVIDAde surge em 2008, tendo como responsável Joana Sousa. Dedica-se à formação na área da filosofia para crianças, filosofia aplicada e criativi-dade (para crianças e adultos). O projecto viaja um pouco por todo o país, tendo já marcado presença em Faial, Lousada, Lou-rinhã, Portalegre, Funchal, Odivelas, Rio de Mouro, Madeira, Amor e Lisboa.O Colégio D. José I situa-se na freguesia de Santa Joana, Concelho de Aveiro. É uma Instituição de Ensino Particular e Co-operativo com ensino Pré-escolar, 1.º, 2.º e 3.º Ciclos, Cursos de Educação e Formação, Cursos Profissionais e Cursos de Educação e Formação de Adultos.

Organização:Colégio D. José IfilocriatiVIDAde

APOIOS:Crédito AgrícolaImmensus Saberes

TB Storearsoft

APOIO INSTITUCIONAL:Institut de Pratiques Philosophiques (Óscar Brenifier)

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Gu

ilher

me

Ara

újo

Tatuar, tatuar…

oh minhas luvas pretas! entrevistaJoana Sousa

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Guilherme Araújo aka @GuiTattoo. Gui. Filho, pai, amigo, irmão. Tatuador de profissão.O seu palco é em Santo Tirso, na loja Art of Ink. Lá encontramos um sorriso encantador e um espaço acolhedor para quem decidiu cravar na pele algo que vai por lá permanecer pela eternidade fora. Queremos saber algo mais sobre o homem por detrás da agulha e das luvas pretas. E fomos perguntar-lhe!

Quando decidiste ser tatuador?Bem, na verdade, tatuador nunca foi a minha resposta, quando em garoto me perguntavam: “-Então, que queres ser quando fores grande?” Nem tão pouco a minha formação académica me orientou nesse sentido, uma vez que apenas dei por (in)concluído o secundário na área da electrotecnia… Surgiu de uma oportunidade que me foi proposta para ocupar um espaço livre e com um serviço pouco divulgado na área onde resido. Com o devido (e hoje agradecido) apoio, instruí-me e agarrei a oportunidade de começar a “facturar” por conta própria numa área que eu até já admirava e pela qual entretanto me apaixonei, mas nunca tinha pensado nela como sendo o meu ganha-pão. Sempre me disseram (e eu tinha alguma consciência

Site:http://tatuandohistorias.blogspot.com/

Twitter: @guitattoo

disso) que eu até tinha algum jeito para o desenho, como tal foi só juntar o útil ao agradável.Todo isto aconteceu há 10 anos atrás, depois de uma experiência no escritório de uma oficina de mecânica automóvel, de um ano na reposição de produtos num hipermercado e de uma curta passagem pelo mundo das entregas (mercearia, grades e barris de cerveja, etc.)

Como correu a tua 1ª vez, de agulha na mão? (falamos da 1ª vez que tatuaste, claro!)As primeiras “cobaias” dos tatuadores, estão por norma, conscientes da possibilidade de saírem dali com algo que não será a perfeição de um serviço executado por um profissional. Contudo, recordo-me de ter agarrado a máquina de forma segura e de ter tatuado um coração com uns simétricos efeitos, imagine-se: numa axila… de uma das minhas colegas de formação na altura.Senti-me orgulhoso, por um lado, por não lhe ter causado sofrimento, por outro, por confirmar a minha capacidade de tatuar no verdadeiro sentido

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da palavra e com um resultado “aplaudido” pela minha 1ª mestre.

Podes destacar alguma tatuagem que te tenha marcado?Ao longo de 10 anos, já foram muitas as experiências vividas com os clientes, com as suas reacções, os seus receios, comentários, perguntas cliché, etc. etc..Mas o mais marcante de tudo é realmente a razão que os leva ali para marcarem eternamente o seu corpo. E com base nisso, recordo sempre de forma sentida

e com muito respeito a história de uma Mãe (que hoje já tem 4 tatuagens) que decidiu tatuar algo que a fizesse aproximar mais do seu falecido Filho. Esta história faz parte do Episódio 50 do meu blog: “Por mais palavras que se

escrevam, nenhuma traduz na realidade a dor de perder alguém que se ama. Mas quando esse alguém é um filho que por triste força do destino termina a vida com apenas 21 anos vítima de leucemia... O nome dele era Luis, e dez anos depois da sua morte, a sua mãe encontra nesta tatuagem mais alguma força para suportar a irremediável perda do filho.”

Achas que nos últimos tempos a tatuagem se tornou mais uma moda do que propriamente uma (estranha) forma de vida?Ao longo dos últimos anos, o conceito de tatuagem tem evoluído de forma muito mais positiva e é neste momento aceite pela/na sociedade sem o “apontar do dedo” de outros tempos.Na minha opinião, a nova geração, facilmente se deixa influenciar pelos seus ídolos. Mas se noutros tempos se limitavam a

copiar o corte de cabelo, vestir de forma idêntica e a tentar seguir a mesma filosofia de vida das “Pop Stars”, hoje em dia isso vai mais longe. Apesar dos ídolos do

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novo século continuarem a ditar as modas como desde sempre fizeram, também as tatuagens entraram no cardápio dos pormenores a serem “copiados” pelos fãs, ditos incondicionais…Dos jogadores de futebol aos actores de cinema, passando pelos artistas do mundo da música até ao modesto apresentador de televisão, todos são responsáveis pela dita “moda”. Por isso é comum as pessoas chegarem ao estúdio e pedirem uma tatuagem como a do “jogador assim-assim” ou da “actriz assim ao sol”. Isto acontece, porque essas pessoas (famosas) são consideradas superiores, logo: tudo lhes é permitido, então se eles podem, nós também podemos. E desta forma se vão aceitando (e admirando) cada vez mais as tatuagens.Uma (estranha) forma de Vida ?Eu diria que é antes um afirmar de identidade na forma como cada indivíduo se mostra à sociedade. Um preconceito quebrado e assumido por aqueles que de alguma forma vivem para cumprir regras morais de valores diferentes. Uma pessoa que se tatua de forma consciente, é uma pessoa que sabe realmente aquilo que quer, sem o receio de ser criticado.Resumindo: a Tatuagem está de facto na moda, por estes aspectos/influências e tantos outros, mas ao mesmo tempo continua a ser uma forma de vida para aqueles

que continuam a vê-la como uma forma de Arte com a qual se identificam.

Como é o dia a dia de um tatuador?Um tatuador (falo por mim, claro) não tem forçosamente de passar o dia a tatuar ou a desenhar, como muita gente possa pensar. Eu pelo menos não sou desse género e assumo a minha diferença em relação àqueles que vivem quase de forma exclusiva para o desenho. Adoro a minha Arte e dedico-me de Corpo e Alma quando sou solicitado para tal.Quando não tenho muito trabalho na área das tatuagens, dedico-me a tratar das tarefas relacionadas com o estúdio, nomeadamente: esterilização do material utilizado, limpeza e manutenção dos espaços de trabalho e nas alturas mais calmas, aproveito ainda para fazer as compras inerentes à actividade e ao bom funcionamento da loja.Além disto, ainda tento arranjar tempo para divulgar o meu serviço no mundo virtual e manter o contacto com quem me vai procurando online para esclarecer dúvidas, pedir conselhos, opiniões e inevitavelmente: criar amizades.

Onde se pode obter formação nesta área? Como em qualquer área de

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formação/negócio, ninguém nasce ensinado, mas acredito que para tudo existe um dom que deve ser descoberto dentro de cada um.Apesar de ser cada vez mais fácil conseguir uma formação nesta área, nem sempre o resultado das formações é suficiente para seguir em frente sem receios.Muitas empresas de fornecimento de material para tatuagem, já disponibilizam formação em vários níveis de aprendizagem e com excelentes resultados nos aprendizados, contudo é fundamental manter uma ligação com tatuadores mais experientes e não deixar de praticar, pois só a prática faz um bom profissional.Além desta opção (cada vez mais procurada), é possível chegar ao mundo das tatuagens pela mão de um qualquer Mestre da área, que se disponibilize a acompanhar o aprendiz desde a sua simples vontade de querer, até ao momento de o deixar fazer sozinho o seu próprio trabalho.

De que forma as plataformas Twitter, Facebook e afins têm contribuído para divulgar o teu trabalho?As redes sociais, blogues e internet de forma geral, são sem dúvida o combustível que alimenta e faz mover o mundo neste século.É uma realidade, que a melhor forma de chegar a possíveis clientes é através dos nossos amigos, colegas de trabalho, familiares e ainda pelos clientes

satisfeitos. Mas se todos eles estiverem ligados entre si e tiverem acesso a toda a informação de forma facilitada e gratuita: tanto melhor. Não posso dizer que sobrevivo apenas com quem me procura depois de um primeiro contacto do meu trabalho através da internet, mas que a maior parte das pessoas acaba sempre por consultar a imagem que publico da sua tatuagem e que acabamos por ficar também amigos no facebook, é uma realidade.Depois de me integrar nas redes e de as pessoas terem conhecimento daquilo que faço, posso concluir que é sem dúvida mais um meio que continuo a usar para chegar mais longe… caso contrário, talvez nunca tivesse dado esta entrevista, nunca teria aparecido na televisão, nem nunca teria sido convidado para participar em eventos que eu julgava estarem fora do meu alcance.Conclusão: as redes sociais são sem dúvida uma mais-valia para o meu negócio e para a expansão da minha imagem, por isso sou cuidadoso com tudo o que publico e estou sempre atento ao feedback das pessoas em relação ao meu trabalho.

Fala-nos um pouco das tuas Crónicas Enrabuladas.As crónicas surgiram do convite de um bloguer (que veio a tornar-

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se amigo) que era “cusco atento” das publicações de um dos meus blogues (www.gui-tattoo.blogspot.com) e que achando graça ao meu tipo de humor me lançou o desafio de começar a escrever crónicas para animar também o seu blog de amigos (www.helderandfriends.blogspot.com). Depois de uma curta reflexão, decidi aceitar.Já consegui enrabular mais de 70 crónicas que abordam temas tão distantes e tão próximos como a política ou tampas de sanita… Enfim, uma forma de extrapolar ideias de forma absurda e nem sempre fácil de entender. Mas se me perguntarem o porquê disto ou daquilo, posso sempre repetir a explicação… Ainda que o leitor continue a franzir a testa e a achar que aquilo só pode ser um pensamento de… isso mesmo: de GuiTattoo (sentado numa sanita a pensar sobre a política da actualidade, ou sobre as cuecas que a vizinha continua a estender na varanda com a parte de dentro virada para fora).Sugiro que dêem lá uma espreitadela e que confirmem se é mesmo assim, ou se é mais ao lado um bocadinho. Obrigado !

A tua loja, Art of Ink, apoia a Operação Nariz Vermelho. Porque é que escolheste esta causa? Esta pergunta é sem dúvida pertinente. E a explicação é (da minha parte) muito suspeita.Desde que me conheço que adoro comédia, Circo, Alegria, Bom Humor e de me sentir de Sorrisos com a Vida.O primeiro sinal desse meu caminho surgiu naquela altura em que os jovens começam a ter de decidir que

rumo tomar em relação ao futuro. Estava eu no 9º ano, e como todos os outros, fui submetido àqueles testes de capacidade e inquéritos de avaliação psicológicos que (supostamente) nos orientam sobre qual a melhor área a seguir…Qual foi a área que me foi proposta? Artes Circenses, nem mais! Mas para infelicidade minha, não consegui reunir condições para estudar na escola que fazia esse tipo de formação, o Chapitô, já na altura.Depois de saber da existência da Operação Nariz Vermelho, encantei-me com as causas que apoiam e com os benefícios das suas acções no terreno. Durante anos fui acompanhando a evolução da Operação e sempre que aparecia um Doutor Palhaço (na televisão ou nas revistas) em acção com as crianças, eu pensava: - Quem me dera ser eu naquele papel!Como não posso interagir de forma mais directa, a minha costela Solidária falou mais alto e decidi que os meus clientes (através do meu trabalho) iriam contribuir para mais Sorrisos nas crianças hospitalizadas a quem os Doutores Palhaços ajudam na recuperação.E assim, ajudo de forma indirecta aquela que eu acredito ser a instituição que ajuda através de acções que encaixam na perfeição com a minha maneira de ver e estar no mundo.

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Oriundos de Alcobaça, os The Gift entraram no panorama musical com Digital Atmosphere, em 1997. Este álbum não foi alvo de edição comercial e muito menos da divulgação a que assistimos com o recente Explode.

A inovação da banda está presente na forma como Explode vem a público: disponível no site, o público pode adquiri-lo ao preço que entender. Através da inscrição no site da banda, os interessados receberiam uma música por dia, até completar as 11 deste álbum. RGB foi a primeira música que a banda nos deu a conhecer, de um álbum que se revela mais eléctrico, mas nem por isso menos profundo ou emocional.

Destaque para Primavera, uma música escrita em português, entre outras músicas que nos fazem lembrar os The Gift desempre, com uma pitada de «novidades novas». As cores que EXPLODEm nas fotografias

promocionais são made in Índia e o álbum é made in Madrid e tem a mão de Ken Nelson, na produção. Realçamos ainda o vídeo promocional de Made for you, no qual os actores Lukas Haas e Isabel Lucas apresentavam um novo projecto musical (Lukas/Lucas).

O vídeo não era mais do que uma forma de chegar a outro público, tendo sido realizado por Carleton Ranney, em Los Angeles.Explode: de Alcobaça a Madrid, passando pela Índia e Los Angeles. Uma viagem que conhece a forma de concerto nos próximos dias 17, 18 e 19 de Março, no Tivoli (Lisboa).

Joana Sousa

Shhiu oiçam!música

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The Gift: EX. PLODE.

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análise

O duo londrino é de poucas palavras, tanto em disco como na vida real. Podem ser a seca da vida ao vivo, caso seja fraco o estupefaciente. A música em disco é de extremo lo-fi, com alma de hip-hop quebrado e melodias de fim de linha. Os meios são mínimos. O espírito é naif, com utilização de sons e samples retirados de vinis perdidos nos anos 80. Tinha tudo para correr mal. É no entanto One Nation, a terceira edição em disco do duo, é já um dos meus álbuns favoritos do ano, só é ultrapassado em repetições pelo monumento Let England Shake. Porquê? Porque não há nada de mal com o naif,

Miguel Simões

música

especialmente o propositado. O que aqui se faz, um pouco há semelhança de outros lançamentos da editora Hippos in Tanks, não tem uma ponta de irónico e é fruto de amor genuíno às paisagens sonoras que nos assombravam as cassetes quando éramos putos (rever qualquer nota saída da boca de Laurel Halo). Se passarem essa fronteira com segurança, estarão mais à vontade para apreciar as paisagens ritmadas mas tão coesas que quase ambientais deste One Nation, banda sonora perfeita para uma longa caminhada solitária pela cidade, a mais delirante que terão em muito tempo.

Hype Williams – One Nation

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Apostada em relatar e comentar através da música a carnificina da Primeira Guerra Mundial e as nódoas negras que ficaram na consciência da Nação inglesa, Pj Harvey transformou-se naquilo que ambicionava ser, desde o início do projeto: o equivalente musical ao fotógrafo de guerra.

Para além da força temática, este conjunto de 12 canções estão também entre o melhor que Polly Jeane já compôs, indo buscar os tons ao folk britânico e polvilhando-a com uma entrega vocal mordaz e certeira na sua imperfeição. Obra-prima.

Pj Harvey – Let England Shake

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João Biscaia

Se fosse eu o dono dos lugares-co-muns, e fosse eu um homem normal e te tivesse comprado flores e chocola-tes, por ocasião de dias distintos e sin-gulares, sentir-me-ia completo e no total achar das minhas capacidades, mas como sou algo que se enrola entre escriba e cantor, dedico-te estas palavras:Ridículas serão todas as cartas de amor; regra universal lembrada em versos (vénia a Ele).Que seja assim e que o meu paleio trocado, tímido, esforçado, seja ape-nas um vento que sopra nos interva-los dele próprio, tentando achar a forma em que te escondes, mas que nada fale ele de amor, e nem sequer o cite.Saberemos, então, senhores, o que serão vontades e desejos. Quero-te tanto quanto Eva queria aquela maçã, meu amor. Quero-te mais que o escravo queira o descanso, ou o encar-cerado queira ver o pôr-do-sol fora de grades. Desejo cada cabelo teu poi-sado na minha almofada. Todos estes apetites, porém, estes quereres, dese-

se fosse eu...

jos, meio cegos, não serão mais que medo. Todas as noções de achar algo em alguma condição ou estar, pro-vêm do medo. Medo esse que, pelos caminhos sinuosos da metafísica que mora dentro de cada um, se acha em querer tocar.Pensemos numa criança, que não terá mais que três anos: é o medo que a faz avançar até à lareira, é o não saber o que é aquilo tão quente e tão bonito, oh. Paradoxalmente, o medo faz-nos avançar. Foi o medo que nos levou a desbravar os mares (e digo isto cha-mando toda a gente para o acto de des-bravamento marítimo, atentai, num acto involuntário, juro, sem querer des-concentrar o leitor, agarrando-me às réstias de gostar de chamar pátria a um bocado de terra). O medo é a forma mais fácil de chegar a algum lado, por-que, tendencialmente, sem darmos por isso, se transforma em ambição, desejo

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puro, sem escrúpulos. E depressa se transforma o medo em toque. E o toque atrasa-se na pele, satisfaz-se, regala-se, bebe de si próprio e de quem olha, e vai-se. Tenho medo que o medo te faça desaparecer.Julgo, porém, ser mais forte que o medo que me assombra o coração, bruma densa e matutina, frio e cheio do dor, como adagas de gelo, e teimo, sim, eu sei, não devia, mas sim, teimo, e sou teimoso, tudo o que quero, ins-pira, é tocar-te. Expira.Queira Deus, então, que seja eu a excepção que faz a regra, e que eu seja alheio às tentações da carne, não essas, as de querer mais, sempre mais,

não sou Alexandre Magno, não sou Napoleão, chega-me o lugar do teu coração. Se me permitirdes, se me acolherdes, quero-te, inteiramente, como o meu estar, o meu ser, o meu querer, o meu tentar.Tento querer ser algo que existe o melhor que pode.Não terá sido isto uma carta de amor, para quem quer que a leia, mas eu assumo, foi uma carta de amor o que aqui se escreveu, e algo me impede a despedida seca.Repito-o, portanto: quero-te. Tanto, tanto, tanto. Mais que a vida queira a água, amor, eu quero-te a ti. Aqui.

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