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T R I A L B Y F I R E ! A F I N A C O E S ! M O S H ! R E P O R T A G E M : A R C H E N E M YN

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E D I TO R I A L

E D I TO R I A L

DEVOÇÃO… E VOA!

Mais uma edição da VERSUS, com grande esforço e dedicação a esta causa. Por entre algumas di f iculdades cá estamos para vos apresentar uma mão cheia de entrevistas, ar t igos e opiniões sobre o que melhor se passa na cenda metaleira, internacional e nacional . Os BTBAM fazem a capa com o álbum a ser estreado no dia 7 de Julho. Em grande destaque temos também para vos oferecer uma excelente entrevista de David DeFeis dos Virgin Steele e dos Por tugueses WEB. Acerca do metal nacional é com agrado que vejo muitos músicos e bandas a apresentarem o seu trabalho para divulgação e promoção à VERSUS. Alguns vão sem resposta porque não temos tempo para tudo, fazemos o que podemos mas o nosso pessoal é pouco – por isso estamos à procura de colaboradores. Desde já pedimos desculpa por não conseguir abarcar todos os pedidos, nós sabemos que é impor tante e uma forma de moral izar o pessoal que tanto t rabalha em prol da música. A VERSUS conta com algumas colaborações paralelas e desde já o nosso agradecimento ao Miguel Ribeiro e Nuno Kanina. De vol ta à colaboração está, também, Ernesto Mar t ins, f i lho pródigio desta “casa” – um agradecimento muito especial . Fal ta um mês para o Vagos Open Air, o melhor fest ival por terras lusas, este ano com um excelente car taz e algumas estreias absolutas. A não perder! \m/

Eduardo Ramalhadeiro

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COLABORADORESAdriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Ernesto Martins, Hugo Melo, Jorge Ribeiro de Castro, Ruben Chamusca, Paulo Guedes, Victor Hugo, Miguel Ribeiro (Hintf) e Nuno Kanina (Hintf)

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I N D I C ENº33 JANEIRO / FEVEREIRO 2015

BETWEEN THE BURIED AND ME38 UM COMA COMO MAIS NENHUM

CONTEÚDO

08 NOT ÍC IAS VERSUS09 TR IAL BY F IRE12 AFINAÇÕES14 DAV ID F ITT17 MOSH34 IGNORÂNCIA56 GEORGE KOLL IAS

10 ABNORMAL THOUGHT PATTERNS

18 ADHOMINEM20 BONJOUR TR ISTESSE26 DEATH ALLEY30 KEN MODE32 KHAOS DEI36 MYTHOLOG ICAL COLD TOWERS

42 WEB46 ROTEM50 SATURNIAN MIST52 SHAPE OF D ISPA IR54 SPEEDEMON 58 TALES FOR THE UNSPOKEN60 V IRG IN STEELE

22 FLASH REV IEWS64 ALBÚM DO MÊS # ATP - Altered States of Consciousness

61 CR IT ICA VERSUS67 PLAYL IST VERSUS70 L IVE VERSUS # Arch Enemy # Blame Zeus # Web # Satanic Warmaster # Aesthetics of Hate # Thrashing Iberia

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N O T I C I A S

YES

GATES OF HELL

HEAVENWOOD

STEVEN WILSONO ROCK PROGRESSIVO

F ICOU MAIS POBRE

GATES OF HELL APRESENTARÃO NOVO VOCALISTA NO PRÓXIMO SINGLE

HEAVENWOOD COM MAIS UMA PARTICIPAÇÃO NO NOVO TRABALHO

O MESTRE EM PORTUGAL

Chris Squire, co-fundador da banda de rock progressivo Yes e reconhecido baixista, morreu aos 67 anos. Squire, que formou os YES com o cantor Jon Anderson em 1968, tinha sido submetido a um tratamento para leucemia aguda (um caso raro de cancro do sangue e medula óssea) na sua cidade natal, Phoenix, Arizona.Num comunicado divulgado pela banda, os restantes companheiros dos YES descrevem Squire como um baixista fenomenal e o “elo” que mantinha o grupo unido.Chris Squire faleceu pacificamente faleceu na sua cidade natal em Phoenix, Arizona, no dia 27 de Junho.

Os Gates Of Hell juntaram-se à Raising Legends para iniciar a gravação de um single que apresentará o seu novo vocalista, após Rui Alves (a.k.a “Raça”), também vocalista dos Revolution Within, ter anunciado a sua saída depois da participação no concerto Vagos Open Air 2014. A banda de thrash/death/hardcore garante que as novidades, a revelar já este mês, são “bombásticas”, ao que André Matos reforça: “Não posso revelar o futuro frontman dos Gates Of Hell, mas posso dizer que vai surpreender muita gente”. Em Dezembro, a banda afirmou: “Estamos de volta à parte que mais gostamos de fazer: a composição para o nosso próximo álbum. Vai ser muito trabalhoso, cansativo e desgastante, mas com calma tudo se consegue e é esse o nosso objectivo”.A banda tem lugar assegurado no 22º Mangualde Hardmetalfest que decorre a 9 de Janeiro de 2016 no Centro Cultural Santo André com os italianos Bulldozer, os checos Malignant Tumor, os finlandeses Lord Vicar, os austríacos Disastrous Murmur, os espanhóis Aposento e os nacionais Decayed, Booby Trap, Clockwork Boys, Tales For The Unspoken, Skinning e Hiperion.

Os Heavenwood, em Janeiro anunciaram a preparação do novo álbum “The Tarot Of The Bohemians”, com edição pela Raising Legends, e agora confirmam uma participação feminina, Sandra Oliveira (professora de canto, promotora e vocalista dos Blame Zeus) que segundo André Matos – produtor do disco – esta “é sem dúvida das melhores e mais versáteis vozes femininas do panorama nacional”, irá participar no tema “The High Priestess”. Este é o terceiro nome confirmado, após os bateristas Franky Constanza (Dagoba) – para os temas «The Lovers» e «Wheel Of Fortune» - e Daniel Cardoso (Anathema) – em «Redemption» e «Abyss Masterpiece».O lançamento de «The Tarot Of The Bohemians» está previsto para finais de Setembro. A bateria foi captada na Ultrasound Studios, em Braga, com Pedro Mendes (Sullen, W.A.K.O) e o restante trabalho será concluído por André Matos na Raising Legends, no Porto.Este álbum será composto por dozes faixas mais material bónus. A banda considera este álbum como “uma experiência musical e lírica única, carregada de sabedoria, simbolismo e humanismo”. Conceptualmente é inspirado em Gerard Encausse, também conhecido como Papus, um físico e hipnotista franco-espanhol que popularizou o ocultismo e fundou a corrente moderna do Martinismo.A formação dos HEAVENWOOD é hoje composta por Ernesto Guerra na voz, Ricardo Dias na guitarra e voz, Vítor Carvalho na guitarra e Ricardo Oliveira no baixo, depois da saída do guitarrista Bruno Silva em 2013.Em Julho de 2014 os HEAVENWOOD divulgaram a nova faixa «The Juggler» acompanhada de um vídeo (abaixo) baseado em imagens do filme mudo de horror «Häxan», de 1922, que aborda a Inquisição e a caça às bruxas no século XV.

Como indiscutível figura de proa e homem dos mil talentos do rock progressivo moderno, o britânico STEVEN WILSON já tem pouco a provar e, ainda assim, o seu quarto álbum solo afirma-se como uma aconchegante reafirmação dos valores base que têm dominado a sua carreira desde que, no final dos anos 70, começou a fazer música. Em contraste com as histórias de fantasmas vitorianos exploradas no muito elogiado «The Raven That Refused To Sing (And Other Stories)», editado em 2013, a novidade «Hand. Cannot. Erase.» revela-se um álbum enraizado na modernidade espiritual e sónica, evitando em grande parte os clichés do prog mais tradicional em favor de uma fusão altamente criativa e desafiante de paisagens sonoras de natureza industrial, tão sombrias como melancólicas, apoiadas na prestação robusta e musculada por parte dos virtuosos músicos que acompanham hoje o multi-facetado guru do som inglês. Menos jazzísticos que o material contido no seu antecessor, temas como «3 Years Older», «Home Invasion» ou «Happy Returns» reúnem tudo aquilo que de melhor o músico tem vindo a fazer ao longo da sua ilustre carreira, dando origem a um compêndio de temas de qualidade superior e a um sério candidato a melhor álbum de 2015 no espectro da música progressiva.

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C.R.O.W.N. Natron (Candlelight) MÉDIA: 3,7

A D R I A N O G .

E R N E S T O M .

E D U A R D O R .

ARCTURUS Arcturian (Prophecy Productions) MÉDIA: 4,1

D IABOL ICUM Ia Pazuzu (The Abyss Of The Shadows)

(Code666) MÉDIA: 1,5

PARAD ISE LOST The Plague Within (Century Media) MÉDIA: 3,6

DEW-SCENTED Intermination (Metal Blade) MÉDIA: 2,3

OSS ICLES Mantelpiece

(Karisma Records) MÉDIA: 3,0

PRO-PA IN Voice Of Rebellion (Steemhammer) MÉDIA: 3,5

STEVE ‘N ’ SEAGULLS Farm Machine (Spinefarm Records) MÉDIA: 3,9

BONG We are, we were and we will have been

(Ritual Productions) MÉDIA: 4,5

WEB Everything Ends (Raising Legends) MÉDIA: 3,5

T R I A L B Y F I R E

Obra - Prima

Excelente

Esforçado

Esperado

Básico

E D U A R D O R .

H U G O M .

A D R I A N O G .

E R N E S T O M .

C A R L O S F.

C A R L O S F.

C A R L O S F. C A R L O S F. C A R L O S F.

C A R L O S F. C A R L O S F.

C A R L O S F.C A R L O S F.

E D U A R D O R .

E D U A R D O R .

E D U A R D O R . E D U A R D O R . E D U A R D O R .

E D U A R D O R . E D U A R D O R .

H U G O M .

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H U G O M .

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A D R I A N O G .

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E N T R E V I S T A

“…ESTA CANÇÃO [“NOCTURNAL HA-VEN”] PEDIA EXACTAMENTE ALGUÉM COM O ESTILO DO TOMMY ROGERS”

ABNORMAL THOUGHT PATTERNSESTADOS ALTERADOS

DEPO IS DUMA ESTRE IA BR ILHANTE EM 2013, O QUE MAIS SE PODER IA ESPERAR DESTA FORMAÇÃO DE TALENTOS DA BAY AREA SENÃO OUTRA DOSE DE MÚSICA CAPAZ DE NOS DE IXAR DE QUE IXO CA ÍDO . O NOV ÍSS IMO ÁLBUM, «ALTERED STATES OF CONSCIOUSNESS» , É TUDO ISSO E MUITO MAIS , INCLU INDO DESTA VEZ A PART IC IPAÇÃO DE UM VASTO LEQUE DE NOMES SONANTES, ENTRE OS QUA IS SE DESTACAM MICHAEL MANRING, JEFF LOOMIS E TOMMY ROGERS. PARA PERCEBER O QUE LEVOU O COLECT IVO A JUNTAR TANTAS ESTRELAS NUM SÓ D ISCO, A VERSUS MAGAZ INE CHEGOU À FALA COM

O GU ITARR ISTA JASUN T IPTON.

Por: Ernesto Martins

«ALTERED STATES OF CONSCIOUSNESS» DESTACA-SE DESDE LOGO PELO NÚMERO S IGN IF ICAT IVO DE MÚSICOS CONVIDADOS QUE PART IC IPARAM NAS GRAVAÇÕES. POR QUE MOT IVO DEC ID IRAM CONVIDAR TANTOS MÚSICOS?

JASUN T IPTON: Eu comecei por convidar o Jeff Loomis para contribuir com alguns solos no tema “Nocturnal haven”. O Troy ficou todo entusiasmado quando lhe disse que o Jeff tinha aceite o meu convite e ele próprio decidiu convidar o Michael Manring e o John

Onder para participar no “Synesthesia”. E os convites foram-se somando uns atrás dos outros… A dada altura já estávamos a pedir ao Stefan da Lifeforce Records para nos pôr em contacto com o Tommy Rogers dos Between The Buried and Me. O último que convidei

“…ESTA CANÇÃO [“NOCTURNAL HA-VEN”] PEDIA EXACTAMENTE ALGUÉM COM O ESTILO DO TOMMY ROGERS”

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foi o Tim Roth dos Into Eternity. No final das gravações não podíamos estar mais contentes com o resultado.

PARECE QUE FO I O TROY QUE TEVE A IDE IA DE CONVIDAR O TOMMY ROGERS PARA CANTAR NO “NOCTURNAL HAVEN”. PORQUÊ O TOMMY?

JASUN T IPTON: Bem, nós somos grandes fãs dos Between The Buried and Me e por isso a escolha do Tommy foi natural. Gostamos muito de outros vocalistas mas esta canção pedia exactamente alguém com o estilo do Tommy Rogers. E foi fantástico trabalhar com ele. O Tommy escreveu e gravou as suas partes em apenas três semanas. O que ouves no “Nocturnal haven” é exactamente o que ele nos enviou.

PORQUÊ INCLU IR NO ÁLBUM UMA VERSÃO INSTRUMENTAL DESTE MESMO “NOCTURNAL HAVEN”. NÃO PODERÁ SOAR UM POUCO REDUNDANTE?

JASUN T IPTON: No formato instrumental o ouvinte tem uma perspectiva diferente da estrutura do tema. Nesta versão os solos do Jeff Loomis, do Tim Roth, do Troy, do Jason Montero e os meus são todos um pouco mais longos. O Matt Spall da PowerPlay Magazine disse-nos que o “Nocturnal haven” na versão instrumental é o seu tema favorito. O Rob da Progressive Music Planet indicou a “Delusions” como a sua faixa de eleição. Cada tema tem a sua própria identidade e cada uma das versões do “Nocturnal haven” tem os seus pontos fortes.

O MEU TEMA FAVOR ITO É O “SYNESTHES IA” . É UM AUTÊNT ICO SHOW DE GU ITARRA BA IXO! COMO É QUE FO I JUNTAR TRÊS BA IX ISTAS DE GRANDE CATEGOR IA – MICHAEL MANRING, JOHN

ONDER E TROY T IPTON – PARA COLABORAR NESTE TEMA?

JASUN T IPTON: O “Synesthesia” também é uma das minhas favoritas. O Michael e o John são duas das maiores influências do Troy no que diz respeito à guitarra baixo. Além de serem dois baixistas brilhantes são também pessoas fantásticas. Já vimos o Michael a tocar ao vivo em várias ocasiões, e nestes contactos ele foi sempre muito fixe com o meu irmão. O Troy contactou depois o John dizendo-lhe que era um fã dele e pediu-lhe para gravar alguns solos neste tema. A estrutura básica do “Synesthesia” foi toda escrita pelo Troy. Eu fiz apenas alguns arranjos. Penso que o tema ficou muito bom.

O TEU EST ILO DE TOCAR REVELA INFLUÊNC IAS CLARAS DE ALGUNS DOS MAIS FAMOSOS GU ITAR HEROES. SATR IAN I E MALMSTEEN SÃO DO IS NOMES QUE SALTAM À MENTE . RECONHECES ESTAS INFLUÊNC IAS? QUE OUTROS GU ITARR ISTAS CONSIDERAS COMO INFLUENTES?

JASUN T IPTON: O Satriani e o Malmsteen são de facto grandes guitarristas. Mas sinto-me inspirado e influenciado por muitos mais. David Gilmour, Pat Metheny, Jason Becker, Marty Friedman, Paul Gilbert, Shawn Lane, Gary Moore, John Sykes, Neal Schon e Buckethead contam-se entre as minhas maiores fontes de inspiração.

O PRESS-RELEASE QUE ACOMPANHA O ÁLBUM IND ICA O R ICHARD SHARMAN COMO SENDO O SEGUNDO GU ITARR ISTA DA BANDA. NO ENTANTO, ACTUALMENTE , ESSE SEGUNDO GU ITARR ISTA É O JASON MONTERO. AF INAL O QUE ACONTECEU AO R ICHARD?

JASUN T IPTON: Todas as partes de guitarra no nosso primeiro registo, o EP «Abnormal Thought Patterns», bem como

no álbum «Manipulation Under Anesthesia» (o nosso primeiro álbum lançado pela Lifeforce Records) foram executadas exclusivamente por mim. O Jason Montero só se juntou aos Abnormal Thought Patterns assim que o primeiro álbum foi lançado, em 2013, tendo acompanhado a banda na digressão que fizemos como suporte aos Into Eternity. Neste novo álbum o Jason já contribuiu com muitos solos e é hoje uma parte importante desta banda. Por isso fico surpreendido por saber que ele não é referido no press-release.

OS NOMES DAS MÚSICAS E O T ÍTULO DO ÁLBUM SUGEREM UM TEMA CENTRAL OU UM CONCE ITO SUBJACENTE . QUE TEMA É ESTE?

JASUN T IPTON: É algo relacionado com as alterações da mente. Uma condição muito diferente do estado cognitivo normal beta de vigília. A música inclui mudanças constantes; é algo dinâmico que se altera com frequência. Os nomes atribuídos às faixas estão em sintonia com o estado mental que a música pretende sugerir.

PARA TERMINAR, SERÁ QUE O NOME DA BANDA TEM ALGUMA RELAÇÃO COM O ÁLBUM DOS DEATH « IND IV IDUAL THOUGHT PATTERNS»?

JASUN T IPTON: O meu irmão é que inventou o nome da banda e ambos somos de facto grandes fãs dos Death. Penso que o nome Abnormal Thought Patterns exprime com rigor o nosso som e estilo musical.

“O MICHAEL [MANRING] E O JOHN [ONDER] SÃO DUAS DAS MAIORES INFLUÊNCIAS DO TROY”

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AFINACOES

A R T I G O V E R S U S

AO PERGUNTAR AO DAVE LOMBARDO COMO AF INAVA A BATER IA , ELE RESPONDEU-ME QUE ERA COMPL ICADO ESTAR A EXPL ICAR. DE FACTO, TAL COMO NA AF INAÇÃO DO PEDAL É ALGO QUE É PESSOAL E DEPENDE DE BATER ISTA PARA BATER ISTA.

No entanto, o pr imeiro instrumento que devem adquir i r será uma chave para af inar. Existem 3 t ipos pr incipais: A mais s imples, a “memo key” ou a “drum dial” .

A chave mais s imples, não tem qualquer ar tefacto que nos ajude a af inar, é o ouvido que nos manda parar – é barata. A “memo key” é uma chave com uma mola, onde poderemos ajustar a sua “força” para atingir o nível de tensão pretendido. A desvantagem neste tipo de chave é que, muitas vezes, os parafusos poderão não estar bem lubrificados ou os

aros empenados. Neste caso a “memo key” não é precisa. É um bom ponto de partida mas no fim, o “ouvido” e a chave simples terão que complementar e ajustar a afinação final – é mais cara que a chave simples, deverá andar à volta dos 35E. O “Drum dial” já é um instrumento profissional e bastante preciso para afinar

NUM DOS NÚMEROS PASSADOS, SE BEM SE RECORDAM, ENTREV ISTE I DAVE LOMBARDO E NESSA ENTREV ISTA FALOU-SE UM POUCO DE TUDO. UM DOS ASSUNTOS FALADOS FO I A AF INAÇÃO DO PEDAL – TEMA ABORDADO NO ART IGO ANTER IOR – E AF INAÇÃO DA BATER IA . MAIS UMA VEZ PARA QUEM PERGUNTA “QUEM É ELE?” BEM, SÓ VOS POSSO D IZER QUE NÃO SOU ALGUÉM IMPORTANTE , SE I LER MÚSICA MAS NÃO PAUTAS DE BATER IA – NESSE ASPECTO SOU AUTO-D IDACTA – NÃO TENHO ENDORSEMENTS, ISTO É , APO IOS POR PARTE DAS GRANDES MARCAS, S IMPLESMENTE TOCO BATER IA HÁ MAIS DE V INTE ANOS EM BANDAS DE GARAGEM – COM MAIS OU MENOS CONCERTOS.

Por: Eduardo Ramalhadeiro

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a tensão na pele. Não é preciso o “ouvido”, somente uma chave simples e afinar a tensão no mesmo valor pretendido – é cara pois custa acima dos 100E. Vistos os principais instrumentos para afinar outra questão “polémica” que se levanta é: que tom “dar” às peles?Bem, tal como os pedais e as diferentes técnicas de tocar, também, as afinações são diferentes. Se tentarem pesquisar pela rede verão que há diversas opiniões – se forem um pouco mais curiosos e virem o filme “Whiplash” o professor manda afinar a tarola em Si bemol. O grande problema é que mais de 90% da malta que toca bateria não sabe o que é um Si bemol. Há ainda os bateristas que afinam os diversos timbalões,

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partindo da tarola em Mi. Por exemplo, se virem um vídeo no youtube sobre Tico Torres, baterista dos Bon Jovi, ficam a saber que não é ele que afina a bateria mas sim o roadie; Terry Bozzio tem uma bateria absolutamente monstruosa afinada numa escala cromática de um lado e outra diatónica do outro.Sendo assim, para nós, comuns mortais que tom “dar” à bateria? Afinar com notas? Escala? Bem... depende. Por exemplo a minha tarola que já é um modelo antigo, com um som p r e d o m i n a n t e m e n t e metálico, afinei-a com a pele bem esticada, de forma a “disfarçar” esse som.Depende de vós, do vosso kit, do vosso gosto, da vossa sonoridade. Se tiverem o

“Drum dial” é pacífico – “o algodão não engana”. O resto necessita do ouvido “educado” e isto consegue-se com práctica.

Haverá mais algumas coisas a abordar, qual a pele que se afina primeiro, qual a pele que deverá ficar mais esticada, etc. … pois isto influencia na forma como o conjunto vai ressoar. Mas isto fiará para a próxima edição.

A R T I G O V E R S U S

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DAVID FITTOBSERVAÇÃO PARTICIPANTE DA REALIDADE

E N T R E V I S T A

“[…] O MEU CONHECIMENTO DA ILUSTRAÇÃO CIENTÍFICA MODERNA É MAIS LIMITADO, SOBRETUDO PORQUE JÁ NÃO TEM UM AR TÃO ARREPIANTE COMO AS GRAVURAS ANTIGAS.”

E IS UM TERMO TÉCN ICO DA ÁREA DA INVEST IGAÇÃO EM EDUCAÇÃO QUE ME PARECE DESCREVER A FORMA COMO DAVID F ITT DESCONSTRÓI A REALIDADE, OBSERVANDO-A EM SI OU À SUA REPRESENTAÇÃO POR OUTROS ARTISTAS, E , DE SEGUIDA, A RECONSTRÓI , PONDO NA SUA ARTE A SUA PERSPETIVA SOBRE O QUE OBSERVOU.

Por: CSA

OLÁ, DAV ID . GOSTAR IA DE SABER QUAL É A TUA NAC IONAL IDADE . ÉS FRANCÊS? BR ITÂN ICO? NENHUM DOS DO IS?

DAVID F ITT : Sou Francês, nascido e criado em França.

OS TEUS TRABALHOS APARENTEMENTE FOCAM-SE MUITO NA FOTOGRAF IA . COMO OS FAZES?

DAVID F ITT : A fotografia é realmente a minha atividade e

paixão principal. Trabalhar nesse domínio é algo absolutamente natural para mim. Aliás, até me parece que não estou a recorrer o suficiente à fotografia na minha arte. É muito difícil trabalhar com ela na cena do Metal extremo, porque, na sua maioria, as bandas são muito mais atraídas pelo desenho feito à mão.

CURIOSAMENTE , DOS TEUS TRABALHOS A QUE T IVE ACESSO, O

QUE ME CHAMOU MAIS A ATENÇÃO FO I A CAPA DE «REBEL ION» , DE DECL INE OF THE I . COMO F I ZESTE AQUELE DESENHO FANTÁST ICO? (SE NÃO É UM DESENHO, PARECE . )

DAV ID F ITT : Não é um desenho, mas sim uma fotografia que eu tirei. Depois alterei-a, recorrendo ao Photoshop, de forma que ficasse a parecer-se com uma fotografia analógica com um estilo “arranhado”. Na minha ideia, um processo desta

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natureza tem tudo a ver com a ilustração.

POR QUE USASTE A IMAGEM DE UM RATO PARA A CAPA DESTE ÁLBUM? É ALGUMA ALUSÃO AO FACTO DE O SEU TEMA ESTAR RELAC IONADO COM EXPER IÊNC IAS C IENT ÍF ICAS EM QUE FORAM USADOS RATOS DE LABORATÓR IO?

DAVID F ITT : Lembro-me de falar com o Judicael (A. K.) e de ele me ter explicado pormenorizadamente o conceito subjacente aos álbuns de Decline of the I. A banda é principalmente influenciada pelos trabalhos de Henri Laborit, que procurava explicar os vários tipos de reações a uma agressão a partir do comportamento de ratos. Esse conceito e também o facto de que ele queria ratos na arte do álbum estiveram na origem desse meu trabalho!

SABES ALGUMA CO ISA SOBRE I LUSTRAÇÃO C IENT ÍF ICA? A TUA I LUSTRAÇÃO PARA A CAPA DO ÁLBUM FAZ PENSAR NESSA TÉCN ICA , QUE PERS ISTE , DADO QUE APARENTEMENTE OS COMPUTADORES A INDA NÃO CONSEGUEM FAZER TUDO.

DAV ID F ITT : Tenho feito muita pesquisa no universo da ilustração anatómica, mas recorro sobretudo a gravuras antigas. O meu conhecimento da ilustração científica moderna é mais limitado, sobretudo porque já não tem um ar tão arrepiante como as gravuras antigas.

ONDE APRENDESTE A ARTE GRÁF ICA?

DAV ID F ITT : Estudei fotografia em Paris, durante dois anos. Tudo o resto veio mais tarde, já que aprendi a maioria do que sei sozinho, através da experiência. Se tiver ideias que não souber exprimir, arranjo uma maneira de chegar lá. Observar e estudar o trabalho de outros artistas parece-me a melhor forma de aprender.

Mas precisas de formular para ti próprio as questões adequadas, de conseguir compreender por que gostas daquele trabalho em particular e por que te parece tão bom.

CONSIDERAS QUE TENS ALGUMAS INFLUÊNC IAS ESPEC IA IS?

DAV ID F ITT : Não posso negar que fui influenciado pelo artista francês que usa o nome de Metastazis. Foi ele que me fez desejar criar arte. Tal aconteceu quando comprei o grande álbum de Antaeus intitulado «Blood Libels», que me levou a perceber que um desenho gráfico elegante, refinado mesmo, podia perfeitamente combinar com Metal. Esse trabalho ajudou-me a definir os padrões que pretendo atingir nas minhas próprias criações. Mas se te estás a referir ao aspeto estilístico, limitei-me a combinar tudo aquilo de que gosto: design de inspiração ocultista, obscuro e elegante.

ANDE I A FOLHEAR O TEU PORTEFÓL IO E CONSTATE I QUE TRABALHAS SOBRETUDO PARA BANDAS FRANCESAS. POR QUE ACONTECE ISSO?

DAVID F ITT : Como eu próprio sou Francês, é mais fácil conhecer pessoas dessa nacionalidade. Normalmente, se os meus clientes não são meus amigos, pelo menos temos amigos em comum. Além disso, são pessoas que posso encontrar facilmente em concertos, aproveitando para me apresentar. É um processo natural: começas sempre por trabalhar a nível local e nacional, antes de atingires uma craveira internacional.

QUE PROJETOS TENS EM MÃOS, NESTE MOMENTO?

DAVID F ITT : Um vídeo musical para King Dude e a arte para o próximo álbum de Temple of Baal.

CONSEGUES V IVER DA TUA ARTE? OU PREC ISAS DE TER OUTRO TRABALHO?

DAVID F ITT : Apesar de ser difícil, vivo da minha arte. Há já um ano que sou totalmente freelancer. Ainda é difícil, porque nunca sabes o que vai acontecer a seguir. Mas trabalhar arduamente é sempre a chave do sucesso e as coisas estão a ficar melhor para mim. É apenas um processo muito lento.

SE PUDESSES SER UM ART ISTA FAMOSO, QUEM QUERER IAS SER? E PORQUÊ?

DAVID F ITT : Talvez Jeff Koons ou Terry Richardson, para chatear as pessoas vivendo de fotos do meu próprio pénis.

WWW.DAVIDF ITT.COM

WWW.FACEBOOK.COM/DAV IDF ITT.ART

“PORTANTO, AS IMAGENS QUE CRIO SÃO INFLUENCIADAS PELO USO DA COR QUE É FEITO NESTES CAMPOS ARTÍSTICOS. […]”

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“[…] O MEU CONHECIMENTO DA ILUSTRAÇÃO CIENTÍFICA MODERNA É MAIS LIMITADO, SOBRETUDO PORQUE JÁ NÃO TEM UM AR TÃO ARREPIANTE COMO AS GRAVURAS ANTIGAS.”

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R E P O R T A G E M

MOSHPOR: NUNO KANINA (HINTF)

Os mot ivos para a ausência poderão ser vár ios, o Salamandra em Chamas pode ter levado algumas pessoas até lá, apesar de, na minha opinião, o cartaz ser mais fraco, mas, não vamos estar a alimentar polémicas, pois, decerto, que também por lá o publico escasseou (não sei, indago). Porém, a grande questão aqui é que o pessoal não se mexe. Se estes mesmos eventos fossem há 10/15 anos atrás, decerto que ambos os recintos estariam cheios ou, pelo menos mais compostos. Depois, é claro que chateia, porque depois voltamos a ouvir as conversas do «não se passa nada», «não há concertos» …. Desculpem, isso para mim são desculpas de quem não se quer mexer! Sim, vocês que são os novos velhos do Restelo. Porque

as coisas acontecem e, na grande maioria dos casos, vocês, publico, não aparecem e, é por isso, que as coisas depois não acontecem e, aí sim, depois não se faz nada. O ditado diz que quem corre por gosto não cansa… talvez, mas vai-se cansando. Onde está a união? Onde está o underground? Sabemos que a oferta é, talvez, um pouco maior que a procura… (ou será o contrário?!) mas, acho que existe muita falta de vontade por parte de um público que alega união e essas coisas todas!

Os eventos só se podem fazer, ou manter, se o público existir, por isso, o público tem de fazer a sua parte e comparecer, fazer-se ouvir e, pelo menos no caso do In Heaven & Hell e Salamandra em Chamas, entre outros, apoiar o nosso metal.A questão não é «E o Pessoal, pá?!», mas sim… «Bora lá Pessoal».

NO PASSADO D IA 30 REAL IZOU-SE A PR IME IRA ED IÇÃO DO IN HEAVEN & HELL METAL FEST, UM EVENTO QUE PRETEND IA SER UMA CELEBRAÇÃO DO QUE DE MELHOR SE FAZ POR ESTA TERRA. O OBJECT IVO ERA S IMPLES , UMA NO ITE BEM PASSADA ENTRE COPOS, TERTÚL IAS E CLARO, O NOSSO ADORADO EST ILO . PO IS BEM, O ESP ÍR ITO ESTAVA LÁ , AS BANDAS ESTAVAM LÁ , OS AMIGOS, AS AMIGAS… ENF IM, O NORMAL EM D IA DE CONCERTOS, OU DE FESTA. Pode-se dizer que, em termos organizat ivos e em termos quant i tat ivos, o evento esteve à al tura e, até se pode dizer que para uma pr imeira vez não esteve mal. Por um mesmo palco passou o sangue, quase l i teral , dos Frost Legion, o Stoner dos Low Torque e a boa disposição dos Shadowsphere, entre outros grandes, e bons momentos. O que fal tou, então? A resposta é s imples: pessoas!

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AD HOMINEMUMA ESTRANHA FORMA DE ECUMENISMO

E N T R E V I S T A

“[…] A ÚNICA COISA QUE PRETENDIA ERA MUDAR O CÉREBRO DAS PESSOAS QUE NÃO PERCEBEM NADA DO QUE SE PASSA À SUA VOLTA.”

PARECE -NOS UMA BOA FORMA DE DESCREVER A MISSÃO DESTA ONE MAN BAND FRANCESA, QUE COMBINA O ATAQUE ÀS TRÊS GRANDES REL IG IÕES MONOTE ÍSTAS COM A REFLEXÃO SOBRE GRANDES FLAGELOS QUE ATACAM A HUMANIDADE ATUAL – POR SUA CULPA – USANDO UM BLACK METAL TÃO ARRASADOR QUANTO MELOD IOSO.A PROMESSA ESTÁ CUMPRIDA : CÁ TEMOS O QU INTO ÁLBUM DE AD HOMINEM, LANÇADO PELA OSMOSE , UMA ED ITORA MUITO CONHEC IDA NO MUNDO DO METAL UNDERGROUND.

Por: CSA

VAMOS COMEÇAR POR UMA PEQUENA RECONST ITU IÇÃO H ISTÓR ICA . NO TEXTO SOBRE A TUA BANDA, OSMOSE EXPL ICA QUE ERA TUA INTENÇÃO EXPRESSA LUTAR CONTRA CERTAS CARACTER ÍST ICAS DO BLACK METAL . QUE ASPETOS QUER IAS COMBATER? SENTES QUE FOSTE BEM-SUCED IDO NESSE TEU INTENTO?

KAISER : Quando criei Ad Hominem, a maior parte das bandas apenas atacava o cristianismo, que, na realidade é a religião menos perigosa para o homem livre. Assim, apenas quis alterar as regras do Black Metal atacando também os dois outros dogmas.De facto, o meu intento concretizou-se, porque a banda adquiriu uma bela reputação desde o primeiro álbum. Como é óbvio, isto dá origem a polémicas. Mas eu sei muito bem onde quero ir e a única coisa que pretendia

era mudar o cérebro das pessoas que não percebem nada do que se passa à sua volta.

POR QUE ESCOLHESTE KA ISER W PARA SER O TEU PSEUDÓNIMO? INDUB ITAVELMENTE A FRANÇA NÃO TEM UMA BOA RECORDAÇÃO DESSA PERSONAGEM H ISTÓR ICA DO SÉC . XX .

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O QUE SER IA PREC ISO ACONTECER , PARA QUE V ISSES ESTE ÁLBUM COMO UM GRANDE ÊX ITO?

KAISER : Para mim, já o é. Não espero mais de Ad Hominem do que o que já fiz. Prosseguir com o projeto é já uma vitória em si. Há demasiada gente supostamente bem pensante a querer estragar-nos a vida, pelo que nunca podemos participar nos principais festivais. E o facto de a minha banda aparecer em revistas e listas de distribuição importantes é tudo o que eu queria.

TENS PLANOS PARA O PROMOVER? EM PORTUGAL , GOSTAMOS MUITO DE BLACK METAL FRANCÊS DE EXCELENTE QUAL IDADE .

KA ISER : Sei bem disso. Participei no SWR em 2009 e não me importava nada de participar novamente. Para já, não temos nenhuma data prevista em Portugal. Mas, a bom entendedor…

“ […] O SEU S IMBOL ISMO [DA CAPA] É MU ITO FORTE E APROPR IADO , ESTÁ MU ITO LONGE DA CAPA CLÁSS ICA DE UM ÁLBUM DE BLACK METAL…”

WWW.FACEBOOK.COM/ADHOMINEMOFF IC IAL

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KAISER : Provavelmente, estás a pensar em Guilherme II, mas o meu nome artístico não tem nada a ver com ele. Mas também não tenho nada a ver com o que a França pensa dessa personagem histórica ou de qualquer outra. Escolhi este pseudónimo, porque queria um nome que conotasse a força e o despotismo. Kaiser vem de César e significa “Imperador”. Mas isso é algo que todos sabem.

NÃO TENS SAUDADES DO TEMPO EM QUE AD HOMINEM ERA UMA ONE MAN BAND?

KAISER : Mas continua a ser uma one man band! Sempre compus tudo sozinho e depois tocava todos os instrumentos e arranjava um baterista de sessão. Só usei uma máquina no primeiro álbum da banda…

AD HOMINEM É UM NOME ESTRANHO PARA UMA BANDA DE BLACK METAL , NÃO TE PARECE?

KAISER : Estou a ver que ficas baralhada com todos os nomes que escolhi (risos)! Não acho esse nome mais estranho e mais ridículo do que os de todos esses grupos famosos que escolheram nomes tirados dos romances de Tolkien. E quando descobres que Dimmu Borgir significa “castelo negro”, ficas com a ideia de que nenhum nome de banda pode ser pior…“Ad Hominem” é uma locução latina que significa “relativo ao Homem”. É usada habitualmente para designar um argumento que rebaixa o Homem. Ainda achas que é um nome inadequado para o meu projeto?

QUE QUERES FAZER PELA HUMANIDADE?

KAISER : Que Humanidade? Não sou um político, sou um músico. Se passares 5 minutos a ler os meus textos, encontrarás a resposta a essa pergunta…

PELO CONTRÁR IO , O T ÍTULO DO ÁLBUM NÃO PARECE SURPREENDENTE . QUE ASPETOS DO TEU TRABALHO QUERES SUBL INHAR, PARA MOSTRAR A SUA OR IG INAL IDADE? É PREC ISO D IZER QUE SE TRATA DE UM ÁLBUM NOTÁVEL .

KA ISER : Obrigado pelo cumprimento (e aconselho-te a fazeres uma boa review!). Para já, o álbum destaca-se pelo seu lado rock and roll. Os fanáticos do “true Black Metal” bem underground vão indignar-se, mas as pessoas verdadeiramente conhecedoras vão

ver nele o desejo de evoluir. Além disso, é uma obra muito diversificada, com passagens muito diferentes umas das outras. Enquanto «Climax of Hatred», que dura 35 minutos, parece rebarbativo, um álbum de 53 minutos como «Antitheist» parece mais curto. Pensa, por exemplo, numa faixa como “Before You Turn Blue”. Corresponde a algo que eu nunca fiz antes e que vai surpreender muita gente: 7 minutos de Black Metal extremamente lento. Para mim, é a estrela do álbum.

QUE PAPEL DESEMPENHOU CADA MÚSICO EM «ANT ITHE IST»?

KAISER : Como já referi, eu compus tudo (incluindo a programação). G. Krusher tocou bateria e Jim the Blaster (com quem partilho o projeto Punishment Systems2) propôs-me uma série de incríveis intros e interlúdios. Os dois outros guitarristas – Milite K. e D. N. – só participam nos concertos.

DEHN SORAH – QUE JÁ ENTREV ISTE I PARA A SECÇÃO DA VERSUS MAGAZ INE CONSAGRADA AOS ART ISTAS GRÁF ICOS – FEZ UMA I LUSTRAÇÃO FANTÁST ICA PARA A CAPA DO ÁLBUM. QUE PAPEL DESEMPENHASTE NA SUA CONCEÇÃO?

KAISER : Estou plenamente de acordo contigo. D. S. é um artista extraordinário, o artwork [deste álbum] é simplesmente perfeito. Tinha-lhe pedido que fizesse um layout predominantemente branco, despojado, moderno. Ele encarregou-se do resto. À primeira vista, interroguei-me sobre se esta capa era uma boa representação visual do álbum. Mas, depois, concluí que estava 100% satisfeito com este trabalho. O seu simbolismo é muito forte e apropriado, está muito longe da capa clássica de um álbum de Black Metal…

OS T ÍTULOS SELEC IONADOS PARA ALGUMAS DAS MÚSICAS DO ÁLBUM LEMBRAM O OBJET IVO ATE ÍSTA SUBJACENTE A ESTE . OUTROS EVOCAM FLAGELOS QUE AFETAM A SOC IEDADE DO SÉC . XX I . QUE TENS A D IZER SOBRE ESTE MEU COMENTÁR IO?

KAISER : De facto, pretendia atacar os três grandes dogmas monoteístas que estão a arruinar o mundo. Quanto ao resto, foi mais ou menos improvisado. Por exemplo, a ideia para «Go Ebola» veio-me à cabeça, quando estava em férias em Málaga (Espanha), Vi lá um outdoor sobre uma campanha contra o Ébola. Foi como um flash.

“[…] OS FANÁTICOS DO “TRUE BLACK METAL” […] VÃO INDIGNAR-SE, MAS AS PESSOAS VERDADEIRAMENTE CONHECEDORAS VÃO VER NELE O DESEJO DE EVOLUIR. […]”

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BONJOUR TRISTESSEDA DEPRESSÃO COMO UMA FORÇA

E N T R E V I S T A

“[.. .] OS ESCRITOS DE ÉLUARD SÃO FASCINANTES, PORQUE SÃO, SIMULTANEAMENTE, TRISTES E ENCORAJADORES. [. . .] É ASSIM QUE EU QUERO QUE SEJA ESTA BANDA DE BLACK METAL [.. .]”

POR MUITO ESTRANHA QUE TAL IDE IA POSSA PARECER , É ESTE O CONCE ITO QUE MOVE BONJOUR TR ISTESSE (UMA BANDA ALEMÃ, APESAR DO NOME FRANCÊS) E O SEU ÚN ICO ÁLBUM (ATÉ AO MOMENTO! ) LANÇADO OR IG INALMENTE EM 2011, COM UMA NOVA ED IÇÃO (D IFERENTE) EM 2015. IMPERD ÍVEL !

Por: CSA

POR QUE ESCOLHESTE O T ÍTULO DE UM F I LME COMO NOME PARA A TUA ONE MAN BAND?

MATTH IAS : O nome da banda siau de um poema intitulado“À Peine Défigurée” escrito por Paul Éluard, um comunista francês e membro da Resistência (durante a II Guerra Mundial). Este poema tem uma atmosfera obsessivamente bela e melancólica – sem cair na lamechice. Lê-lo é uma experiência maravilhosa, porque tem

um significado muito profundo. Era assim que eu queria que fosse a música de Bonjour Tristesse. De um modo geral, os escritos de Éluard são fascinantes, porque são, simultaneamente, tristes e encorajadores. Este autor afirmou que é importante para os escritores elevarem as suas vozes contra as más ações, gritar, assinalar problemas que existam no nosso mundo e exprimir a esperança. É assim que eu quero que seja esta banda de Black Metal – e a música em geral.Há outras canções que também

receberam títulos inspirados neste e noutros poemas de Éluard.Este enquadramento torna claro o facto de que eu – enquanto anarquista – penso que é importante tomar posição contra o Black Metal nazi e ideologias fascistas, racistas e de direita, de um modo geral. Há demasiados músicos de Black Metal que consideram

ADORE I O TEU «PAR UN SOUR IRE» : É UMA OBRA DE ARTE MARAVILHOSA, NO UN IVERSO DO BLACK METAL . SE I

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“ […] PARA JÁ , NÃO ME VEJO NUM PALCO COM BONJOUR TR ISTESSE .”

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QUE HÁ UMA PR IME IRA VERSÃO DE 2011 E TAMBÉM QUE PREPARASTE ESTA NOVA ED IÇÃO PARA SA IR EM 2015. O QUE TE LEVOU A TOMAR ESTA DEC ISÃO?

MATTH IAS : Na realidade, dei Bonjour Tristesse por terminado nessa altura. Escrevi este álbum no âmbito desse projeto e não pretendia fazer mais nenhum, porque andava muito ocupado com as minhas outras bandas e um tanto dececionado com a cena Black Metal. De repente, recebi uma mensagem da MDD Records, que elogiava imenso a banda e afirmava querer lançar novamente o álbum. Foi quando eu pensei: Por que não?! Assim, pus-me a ouvir as antigas músicas, escrevi algumas linhas de guitarra novas, gravei-as e mandei remixar e remasterizar o álbum. Afinal, posso dizer que estou encantado com o resultado obtido.

ISTO S IGN IF ICA QUE BONJOUR TR ISTESSE VA I LANÇAR UM NOVO ÁLBUM EM BREVE? ESPERO QUE S IM.

MATTH IAS : Não sei se haverá um novo álbum em breve, apenas te posso dizer que tenho a intenção de fazer um novo longa duração. Na realidade, já acabei de escrever o segundo álbum de Bonjour Tristesse. Talvez lance um split antes de pôr cá fora este álbum. Mas afianço-te que vai haver material novo desta banda num futuro próximo.

ESTÁS EM DUAS BANDAS E AMBAS ESTÃO UM TANTO DESAT IVADAS DESDE 2011. O QUE ACONTECEU?

MATTH IAS : De facto, não estamos inativos de modo algum. Thränenkind passou de ser uma one man band a funcionar como uma verdadeir banda, com cinco membros, escrevemos o nosso primeiro álbum e um EP de 7” EP e fizemos imensos concertos, incluindo duas digressões e participações em alguns festivais. A propósito, neste momento, estamos a gravar o segundo álbum, que será uma mistura de Black Metal, Post Rock e Hardcore Punk. No que toca a Heretoir, é que és capaz de ter razão. Fizemos muitos espetáculos no ano passado e digressões na Alemanha. Mas os fãs continuam à espera do segundo álbum. Ainda não gravámos nada, mas o álbum está quase pronto e vamos entrar no estúdio no outono. Portanto, temos muito que fazer, apesar de parecermos um tanto adormecidos.

AS CAPAS DAS DUAS VERSÕES DE «PAR UN SOUR IRE» SÃO MUITO D IFERENTES . O QUE TENS A D IZER SOBRE ISTO?

MATTH IAS : Queria que a segunda versão tivesse uma nova capa, porque acabou por se converter numa espécie de novo álbum. Muitas coisas (tais como melodias de guitarra, estruturas de canções, samples, etc.) mudaram de uma versão para a outra, logo era lógico que a capa também fosse diferente.

ESTA CAPA PARECE REPRESENTAR UM MONTE DE L IXO , MAS É ASSUSTADORAMENTE BELA . QUEM A FEZ? QUE S IGN IF ICADO LHE DÃO?

MATTH IAS : Sascha Voss de writteninblack.com fez um trabalho maravilhoso e conseguiu incluir nele todas as minhas ideias.Mostra uma serpente a matar um corvo. Ambos os animais são símbolos da natureza e lutam em cima de um monte de resíduos, folhas, ramos. As duas criaturas representam a luta quotidiana pela sobrevivência. Devora e sê devorado. A serpente tem duas lâminas da barba espetadas no seu corpo, que simbolizam a Humanidade que se destroi a si própria, assim como ao planeta e a todas as criaturas vivas. É uma imagem depressiva, que contém em si uma crítica à civilização industrial e à forma como o Homem atual e a sua forma de vida desregrada destroem cada parcela do nosso planeta.

VAIS PROMOVER ESTE ÁLBUM? E COMO E ONDE O VA IS FAZER?

MATTH IAS : A MDD Records vai lançar uma versão digipak, um LP em vinil e uma edição especial para colecionadores, com um invólucro e um patch. E é tudo. Bonjour Tristesse é uma one man band e assim ficará para já. Portanto, não temos nenhuns concertos planeados, de momento. Talvez no futuro isso possa acontecer, mas, para já, não me vejo num palco com Bonjour Tristesse.

JÁ V IESTE A PORTUGAL? ALGUMA VEZ PENSASTE EM V IR CÁ DAR A CONHECER A TUA BANDA AOS METALHEADS PORTUGUESES? TEMOS UMA COMUNIDADE DE FÃS PEQUENA MAS F I EL .

MATTH IAS : Nunca estive em Portugal. Gostaria muito de ir ao vosso país e fazer alguns concertos, mas, como já disse, para já, não tenho planos dessa natureza para Bonjour Tristesse.

Obrigado pela entrevista e pela oportunidade de falar da banda e do seu enquadramento.

“[A CAPA] É UMA IMAGEM DEPRESSIVA [.. .] UMA CRÍTICA [.. .] À FORMA COMO O HOMEM ATUAL E A SUA FORMA DE VIDA DESREGRADA DESTROEM CADA PARCELA DO NOSSO PLANETA.”

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F L A S H R E V I E W S

AEZH MORVARC’H«Mare Humorum»(Emanations)Publicado pela primeira vez de forma independente, em 2013, em CD, vê agora a reedição no velhinho formato de cassette (!). A estética do dueto francês é toda construída em torno da figura do lendário cavalo Morvarc’h, do folclore da antiga Bretanha, e os quatro temas que compõem este EP de estreia são totalmente interpretados em Bretão e Celta antigo. A música é uma amálgama de Black e Pagan Metal, essencialmente genérico mas muito competente e até com alguns momentos melódicos salientes.[ 7,0 / 10 ] ERNESTO MARTINS

APOPHYS«Prime Incursion»(Metal Blade)Com a possibilidade de todos irmos desta para melhor graças ao asteroide chamado “Apophis”, que nas estimativas iniciais iria colidir o nosso planeta em 2029, estes Neerlandeses lembraram-se de criar esta atrocidade de álbum. Gente esta, relacionada com nomes como God Dethroned ou Prostitute Disfigurement, sabem do que se fala quando se fala em Death Metal. A brincadeira tornou-se séria e este trabalho dá-nos um bom álbum de Death, sem redefinir o género, mas com muita garra. Recomendado apenas aos fãs do género.[ 7,0 / 10 ] ADRIANO GODINHO

CAMEL OF DOOM«Psychodramas: Breaking the Knots of Twisted Synapse»(Voice of Azram)Um verdadeiro achado este obscuro projecto a solo de Kris Clayton (Imindain e live line-up dos britânicos Esoteric): fusão de Doom e Stoner alicerçada em riffs poderosos e serpenteantes, altamente aditivos, intercalados por longas passagens atmosféricas recheadas de elementos psicadélicos (incluindo melodias em saxofone) reminiscentes dos anos 70. Este segundo álbum, em versão revista do mesmo disco homónimo lançado em 2012 em edição de autor, tem tanto de pesado como de trippy e tanto de belo como de retorcido.[ 8,5 / 10 ] ERNESTO MARTINS

INQU IS IT ION«Ominous Doctrines of the Perpetual Mystical Macrocosm»(Season of Mist)Para completar a reedição de todo o fundo de catálogo desta formação norte-americana, aí está o registo (o 5º, originalmente lançado em 2011) que mais os aproxima dos noruegueses… Immortal. Estamos a falar, obviamente, de uma sonoridade caustica e maléfica feita de riffs abrasivos como serras rombudas disparados sem misericórdia, ganchos torcidos em tremolo, alguma melodia na mistura e um registo vocal igual ao crocitar de… Abbath, pois tá claro! Mas não se iludam com a comparação que não pretende ser depreciativa. O que falta aqui em originalidade há de sobra em competência técnica.[ 9,0 / 10 ] ERNESTO MARTINS

PROFUNDAE L IB ID INES«El Viaje Definitivo»(Emanations)Conceptualmente isto parece ser muito ambicioso (e até pretensioso): as temáticas vão desde a magia branca japonesa aos mitos do folclore mesoamericano, com interpretações em japonês na primeira parte, e em francês e espanhol na segunda. Infelizmente a música - black metal sujo e depressivo com grande diversidade vocal - só raras vezes (quatro temas de entre os dez) se mostra à altura de tão elevado propósito criativo, devido a uma composição genericamente pobre e a um excesso de idiossincrasias que acabam por comprometer seriamente o resultado final do trabalho.[ 6,0 / 10 ] ERNESTO MARTINS

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F L A S H R E V I E W S

TR IBULAT ION«The Children Of The Night»(Century Media)Tribulation não é uma banda simples de enquadrar e muito menos de catalogar. As bases e traço mais forte do seu carácter pode-se dizer, sem medo de errar, que é o som obscuro proveniente do death ou black, ou até música mais erudita. Nada disto ajuda a compreender o som que se ouve em «The Children Of The Night» pois é uma descrição bastante incompleta. Há um travo profundo de rock possuído, enegrecido, um som mais sofrido. Por vezes há momentos mais aclarados, com guitarras a lembrar deep purple ou ruídos do fundo de uma floresta da Suécia longínqua.[ 7,5 / 10 ] ADRIANO GODINHO

ROTEM«Nightmare Forever»(Rotem Records)Neste mais recente EP temos o Sr. de Rotem a orientar a sua música num caminho mais inclinado para o Death Metal. Não deixa de haver por aqui algumas toadas Black Metal, mas é a brutalidade que se destaca com pitadas de Thrash, tudo misturado num condimento progressivo. Em comparação com o «Dehumanization» a produção está diferente, talvez mais virada para o estilo que o músico quis explorar. Esperem momentos interessantes de Death, Thrash e solos de guitarra.[ 7,5 / 10 ] VICTOR HUGO

MOANAA«Descent»(Independente)Estes polacos criaram nada de novo na sua estreia por conta própria. Um shoegaze ambiental com linhas melódicas a tecer o pesado e gutural de um Sludge – um equilíbrio interessante que nos remete imediatamente para o universo dos Isis. Até agora nada há a favor destes Moanaa. Contudo, o que se houve no «Descent» é bom e bem feito. Os apreciadores deste género ficarão agradados, embora com bastantes reminiscências e sem grandes espantos de maravilhas.[ 6,5 / 10 ] VICTOR HUGO

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E N T R E V I S T A

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DEATH ALLEYTHE ROCKING DUTCHMEN

“NA MINHA OPINIÃO A NOSSA MÚSICA É POUCO CONVENCIONAL: NÃO ESTAMOS RESTRINGIDOS A UM ESTILO ÚNICO, UMA ÚNICA ÉPOCA MUSICAL, OU AO QUE QUER QUE SEJA.”

O ROCK ESTÁ V IVO! DA HOLANDA CHEGAM-NOS OS DEATH ALLEY. ESTA BANDA É INFLUENC IADA POR EST ILOS QUE VÃO DESDE O PROTOPUNK AO METAL , MISTURAM TUDO COM UMA P ITADA DE PS ICADÉL ICO , E COMO RESULTADO OFERECEM-NOS UMA VERSÃO REV ITAL IZADA E MUSCULADA

DO “BOM VELHO ROCK ´N ´ROLL” . ENERG IA MADE IN AMSTERDAM.

Por: Ivo Broncas

QUANDO EU V IS ITE I O VOSSO S ITE OF IC IAL DEPARE I -ME COM UMA DEF IN IÇÃO MUITO DETALHADA SOBRE O VOSSO SOM. CONTUDO, O QUE MAIS ME CHAMOU A ATENÇÃO FO I UMA ÚN ICA FRASE DEBA IXO DO NOME DA BANDA QUE D IZ IA PURA E S IMPLESMENTE : “PROTOPUNK WITH A H INT OF PSYCHEDEL ICS” (PROTOPUNK COM UMA P ITADA DE PS ICADÉL ICO) . CURTO E D IRETO . EMBORA N INGUÉM APREC IE CATALOGAR A MÚSICA QUE TOCA OU A QUE OUVE , SE T IVESSEM QUE DESCREVER O VOSSO EST ILO A ALGUÉM QUE NUNCA VOS OUV IU , SER IA ESSA A DEF IN IÇÃO QUE USAVAM? E PORQUÊ?

Isso dependeria muito de com quem eu estivesse a falar. Se tivesse de explicar a alguém cujos gostos musicais me são desconhecidos, e se não soubesse se aprecia ou não um estilo de música mais “agressivo”, iria sempre responder que se trata de rock ‘n’ roll. Rock ´n´ roll pesado. Porque no fundo, a essência é essa. Caso contrário, considero que “protopunk” é um termo muito adequado. Eu não tinha ouvido falar do mesmo até ao momento em que alguém catalogou o nosso Ep dessa forma (Ep “self titled”, gravado nos Motorwolf studios em Novembro de 2013 com Guy Tavares), e descreveu-o como Blue Öyster Cult sob o efeito de esteroides”. E considero que ainda hoje essa definição

abrange muito bem o que fazemos, isto porque o que temos em comum com as bandas que contruíram os alicerces para o estilo que se veio a tornar no punk rock, bandas como MC5, Iggy Pop, Pink Fairies, é a intensidade, a energia e a sensação de perigo que transportamos para forma como tocamos a nossa música. Mas também gostamos muito de nos deixar levar pelo envolvente som psicadélico que conhecemos das criações de (Jimmy) Hendrix ou de Hawkwind. Porém, e embora tenhamos todas estas influências clássicas, acho fulcral dizer que pegámos nelas, colocámo-las numa máquina do tempo, transportámo-las para o aqui, e o agora. Nós não queremos ficar

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presos na década de 70 “man”, nós somos uma banda de rock moderna.

O QUE MAIS ME CHAMOU A ATENÇÃO QUANDO OUV I AS VOSSAS MÚSICAS PELA PR IME IRA VEZ FO I O FACTO DE ASSEMELHAREM ÀQUELAS FE ITAS PELAS GRANDES BANDAS DE ROCK DA VELHA ESCOLA, MAS COM UMA NOVA ABORDAGEM QUE AS TORNAS ATUA IS . HÁ ALGUMAS INFLUÊNC IAS BEM V IS ÍVE IS E INCLUS IVAMENTE ASSUMIDAS POR VÓS DE BANDAS DOS F INA IS DOS ANOS 60 E ANOS 70 . POR ISSO GOSTAVA DE SABER SE A REV ITAL IZAÇÃO DESTE SOM “OLD SCHOOL” FO I UM OBJET IVO CLARO DA BANDA, OU ACONTECEU NATURALMENTE QUANDO SE REUN IRAM?

Nesse aspeto a atitude “protopunk” da banda entrou em ação: o som devia ser intenso! Considerando que prestamos homenagem às bandas a que te referes, não se trata de uma cópia. Eu acho que a homenagem é ainda maior quando mostras que esses conjuntos te conseguem inspirar em fazer algo novo da tua autoria, e não apenas ouvir com atenção e tocar algo muito semelhante. Na minha opinião a nossa música é pouco convencional: não estamos restringidos a um estilo único, uma única época musical, ou ao que quer que seja. Não há nada que nós idolatremos religiosamente. Desde a essência agitada do punk até aos coros do estilo de Crosby Stills Nash & Young, nós reunimos tudo aquilo que gostamos, digerimos da forma que nos parece mais adequada, e depois tocamos o nosso próprio rock ‘n’ rol, que é o resultado de tudo isto que foi descrito.

PARA ALÉM DESSAS REFERÊNC IAS JÁ REFER IDAS, HÁ ALGUMAS BANDAS MAIS RECENTES QUE VOS INSP IRARAM DE ALGUMA FORMA?

Sim, muitas bandas contemporâneas inspiram-nos bastante, e de diversas formas. Vejamos o caso dos The shrine, ou Dirty Fences por exemplo; a forma como eles dominam o palco e dedicaram as suas vidas às suas extraordinárias bandas é por si só muito inspirador. Sem dúvida que ter estado em tour com eles teve um impacto muito grande em todos nós. É difícil resumir uma lista de influências, mas aquilo que mais me inspira é sem dúvida o entusiasmo que há relativamente a novos projetos que vão surgindo, o público estar cada vez mais ávido por música, e o facto de este fenómeno estar a acontecer em ambos os lados do Atlântico. Conjuntos como Lecherous Gaze e Danava (“man”, nem me deixes começar a falar nestas duas bandas!) há uns anos atrás não tocavam em Amesterdão. Agora, eles tocam para uma plateia cheia e muito entusiástica, inclusivamente a dias de semana.

EU ACHO QUE O PÚBL ICO SENT IU FALTA DO EST ILO DE SOM QUE APRESENTAM, E ISSO É O QUE VOS FAZ D I FERENTES DE TODAS AS OUTRAS NOVAS BANDAS QUE COMEÇAM A S INGRAR NO ME IO . VOCÊS TÊM ESTADO EM TOUR, A TOCAR MUITO AO V IVO , POR ISSO D IGAM-ME: TÊM GOSTADO DA FORMA COMO O PÚBL ICO TEM REAG IDO À VOSSA MÚSICA?

Sim “man” tem sido muito bom mesmo (“really fucking cool” foram as palavras exactas) tocar para uma audiência completamente nova e que não faz a mínima ideia do que esperar dos nossos concertos. Nós vemos frequentemente o seguinte padrão: durante as primeiras duas canções o público costuma ficar no fundo da sala, curioso e expectante em relação ao que se vai passar. Na terceira música, volto-me e vejo que metade das pessoas já se colocaram mesmo à frente do palco. No final do concerto as pessoas então a dançar, a gritar, a aplaudir… E o melhor de tudo é que vemos raparigas (Girls, girls, girls….) a “rockar” tanto como os durões do punk, mesmo em frente aos “metaleiros”, que por sua vez estão muito próximos dos tipos de longas barbas grisalhas. É muito gratificante ver que a nossa música, para além de fundir muitos géneros musicais, também consegue agradar a uma audiência com gostos muitos abrangentes. Tal como expliquei antes, embora oiças que somos inspirados por muitas bandas de um estilo em particular, não estamos limitados a esse mesmo estilo musical. Mas essa afirmação está aparentemente muito ligada àquilo que que os Death Alley são na realidade. As pessoas ouvem na nossa música aquilo que querem ouvir. E é essa a razão por que os punkers, os metaleiros, os stoners e outros “rockers” estão lado a lado nos nossos concertos.

NÓS SABEMOS QUE V IERAM DE D IFERENTES BANDAS, NOMEADAMENTE THE DEV IL’S BLOOD, GEWAPEND BETON E MÜHR, MAS INFEL I ZMENTE NÃO SABEMOS MUITO MAIS SOBRE A H ISTÓR IA DOS DEATH ALLEY. PODEM ELUC IDAR-NOS UM POUCO MAIS SOBRE A VOSSA H ISTÓR IA , E COMO ESTE PROJETO V IU A LUZ DO D IA?

Se tivesses feito essa pergunta ao nosso baixista, Dennis, terias uma resposta completamente diferente. Não necessariamente mais ou menos verdadeira, apenas a mesma história vista de uma outra perspetiva. Mas aqui vai a minha versão dos acontecimentos: Oeds, Ming e eu tocámos juntos nos Gewapend Beton desde os nossos 13 anos e durante mais de uma década. Nós crescemos juntos musicalmente (e não só obviamente), mas o talento musical do Oed cresceu exponencialmente e foi convidado para tocar nos The Devil´s Blood. Durante esse período não houve grandes progressos com os Gewapend Beton. Não apenas porque Oeds tinha menos tempo, mas também porque nos indagávamos até onde esta banda nos poderia levar. Contudo, e apesar desta situação, a nossa motivação era enorme e agressiva (no bom sentido) – Nós queríamos mais! Então, de repente, os The Devil´s Blood anunciaram o fim da banda. Uma vez que o Oeds tinha agora muito mais tempo disponível, vimos nesta situação uma oportunidade para conseguirmos singrar no meio, mas não com a antiga formação. Oeds, Ming e eu demos por nós motivados, excitados e à procura de um novo baixista. O Oeds tinha feito umas jam-sessions com o Dennis durante algum tempo, mas nunca passou disso mesmo, nenhum projeto nasceu daquelas sessões. Por isso havia muito pouca

(se é que houve mesmo alguma) dúvida em relação a quem deveríamos fazer uma audição. Depois de tocarmos literalmente duas canções, as quais provavelmente nem as terminámos, olhámos uns para os outros e soltámos uma gargalhada. “Temos banda!” Deu a sensação que desde o primeiro instante que nos juntámos, e tornou-se imediatamente visível quando começámos a tocar, que nos inspirámos mutuamente ao ponto de, em poucas semanas, não se sentir que éramos uma colagem de uma banda e meia. Os Death Alley eram mais do que a soma das partes.

PRIME IRO LP + NOVA COMPANHIA D ISCOGRÁF ICA = GRANDES MUDANÇAS. SUPONHO QUE ESTÃO BASTANTE EXC ITADOS COM ESTA FASE DA VOSSA CARRE IRA E QUE ISSO SE REFLETE NA MÚSICA QUE CR IAM. ESTOU CERTO?

Ah sim! Absolutamente! Estamos muito satisfeitos pelo resultado final das gravações, e profundamente entusiasmados por ter sido lançado pela TeePee Records. Nós fomos ambiciosos desde o início, mas nunca esperei que o nosso álbum de estreia soasse desta forma, nem que que fosse lançado internacionalmente por esta editora em particular.

TODOS NÓS, DE VEZ EM QUANDO, OLHAMOS PARA TRÁS E PENSAMOS: “PROVAVELMENTE POD IA TER FE ITO ISTO OU AQU ILO DE UMA FORMA MUITO MELHOR.” ALGUMA VEZ F I ZERAM ESTE EXERC ÍC IO E TENTARAM MELHORAR ALGUMAS S ITUAÇÕES QUE , NA VOSSA OP IN IÃO , NÃO CORRERAM TÃO BEM COMO GOSTAR IAM NAS BANDAS ÀS QUA IS PERTENC IAM ANTES DE SE FORMAREM OS DEATH ALLEY? CASO TENHO ACONTEC IDO SERÁ QUE POD IAM, POR FAVOR, PART ILHAR ALGUNS EXEMPLOS?

Sabes, é claro que podemos sempre olhar para trás e atribuir uma conotação menos boa ao que se passou, contudo, de uma certa forma, eu sou um admirador da forma natural como as coisas se desenrolam e te levam a um determinado lugar. Tudo o que consegui atingir até hoje é o resultado de talvez cinco decisões e intenções tomadas conscientemente que se depararam com a oposição de mil coincidências, consequências não desejadas e erros, tudo isto combinado e fertilizado com muitos elementos desconhecidos. Por isso, embora eu pudesse arrepender-me de eventos passados, ou pudesse desejar que tivesse agido de outra forma, na realidade não queria que nada se tivesse alterado. Talvez o exemplo mais concreto é o de que nós podíamos ter terminado a nossa banda anterior, os Gewapend Beton, dois anos antes de o termos feito, pois estávamos a enfrentar algumas dificuldades e perdemos durante algum tempo a inspiração para fazer música. Mas eu não tenho a certeza que, se tal acontecesse, os Death Alley não teriam surgido da forma como surgiram. Aliás, neste momento tenho a certeza que tal não teria acontecido. A história da nossa criação é, em si, o exemplo perfeito de quatro caminhos que se cruzaram no momento certo e com a energia certa. Por isso eu dou valor aos acontecimentos passados pois permitiram-me (não só a mim, como a todos nós) atingir este patamar. Agora, consigo pegar nas experiências que tive anteriormente, e aplicar o conhecimento que me proporcionaram no presente, e no futuro.

“A HISTÓRIA DA NOSSA CRIAÇÃO É, EM SI, O EXEMPLO PERFEITO DE QUATRO CAMINHOS QUE SE CRUZARAM NO MOMENTO CERTO E COM A ENERGIA CERTA.”

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E N T R E V I S T A

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PODEM EXPL ICAR-NOS COMO SE DESENROLA O PROCESSO DE COMPOSIÇÃO DAS VOSSAS MÚSICAS? TEM IN ÍC IO NAS LETRAS? COMEÇA NORMALMENTE COM UM R IFF DE GU ITARRA? A SECÇÃO R ÍTMICA É QUE TOMA A IN IC IAT IVA? OU É ALGO DO GÉNERO “VAMOS TOCAR E LOGO VÊ O QUE ACONTECE”?

Um pouco de tudo na realidade, mas habitualmente é a última hipótese. Nós não temos uma “fórmula” para escrever canções. Eu acho que todos nós somos muito recetivos ao que os outros elementos criam, e tudo nasce daí. O que me dá mais prazer é quando começamos a tocar, e, de repente, criamos algo. Há uma energia positiva quando isso acontece, e como tal, é o meu método de composição preferido. Mas às vezes um dos guitarristas chega ao ensaio e diz: “Oiçam este riff! Vamos fazer alguma coisa com isto.” Não há um compositor principal nesta banda, porque mesmo que um de nós crie alguma coisa em casa, todos juntos desenvolvemos a ideia e tornamo-la melhor. Um dos momentos mais memoráveis de composição de músicas para este álbum aconteceu quando o Oeds disse: “Ainda nos falta uma canção como….” E então começou a tocar o riff da música “Supernatural Predator”. Todos nós acompanhámo-lo e a canção nasceu assim. Para além de alguns arranjos adicionais, a música em si praticamente não mudou nada desde aquele momento.

O FACTO DE SEREM DE AMESTERDÃO ALGUMA VEZ VOS FEZ SENT IR QUE ESTAVAM “FORA DO RADAR” DA MAIOR IA DAS ED ITORAS? E SE FO I ESSE O CASO, COMO ULTRAPASSARAM ESSA D IF ICULDADE?

Não, nem por isso. Como sabes, se as coisas não correm da forma como gostaríamos, podemos sempre culpar as circunstâncias. Eu tenho perfeita consciência que o que vou dizer pode parecer pretensioso, visto que já assinámos com a TeePee records, mas não acho que a nossa cidade natal tenha sido uma desvantagem. Na realidade Amesterdão não é uma má cidade para uma banda de rock estar sediada! Além disso nós estamos perto de grandes países nos quais podemos fazer digressões (Alemanha, Áustria e países Escandinavos estão já aqui ao lado). Há muita coisa a acontecer à nossa volta. Tenho de admitir que Holanda pode por vezes ser um bocadinho enfadonha, mas quando estamos em palco, ou na nossa sala de ensaios, estamos na nossa “Black Magick Boogieland”, e como tal, o que nos rodeia não nos impede de sermos quem nós queremos ser.

QUANDO SOUBE QUE ERAM DE AMESTERDÃO, ESTABELEC I IMED IATAMENTE UM PARALEL ISMO ENTRE O NOME DO ÁLBUM “BLACK MAGICK BOOG IELAND” E A C IDADE EM S I . PARECEU-ME HAVER IA ALGUMA RELAÇÃO. FO I SÓ IMAGINAÇÃO MINHA? HÁ ALGUMA H ISTÓR IA POR DETRÁS DO ÁLBUM E DO SEU NOME?

Sim, há uma história por detrás do nome, mas não tem muito a ver com a nossa cidade natal. Não quer isto dizer que quem oiça o disco não possa ter a sua própria interpretação acerca do que é, ou o que é falado em “Black Magick Boogieland”. Para mim, esta música que dá nome ao álbum é a conclusão perfeita do mesmo. Estão incluídas neste trabalho muitas histórias, tanto pessoais, como do grupo em si, que ocorreram durante o último

ano e meio desde que formámos os Death Alley. Todas as músicas foram criadas de forma espontânea e representam a nossa jornada. E ao invés de ser um conceito pensado de antemão e para o qual fomos trabalhando, foi apenas no final de todo o processo que percebemos que, por onde temos andado e tudo o que temos vivenciado enquanto banda pode ser chamada a “Black Magick Boogieland”. E dela (Black Magick Boogieland) fazem parte a sedução da própria música, a boa sensação que é conseguir fazer com que as raparigas que estão à frente do palco abanem as suas ancas, mas também um lado mais duro, negro e perturbante. Também representa para mim, a forma como gosto de encarar a minha vida: Deixar o futuro emergir das sombras do passado, aceitar a incerteza e sentir-me entusiasmado pelo seu encanto arrebatador.

COMO DESCREVER IAM A CENA ROCK/METAL NA HOLANDA? NA VOSSA OP IN IÃO ESTÁ A CRESCER, OU PREC ISA DE ALGUM INCENT IVO?

Como já tinha dito, há atualmente muita coisa a acontecer. Basta olhares para as outras bandas que também assinaram pela Teepee records para perceber como o rock ´n´ roll ainda é muito relevante e respeitado. A Holanda tem muito para oferecer, tanto em termos de bandas que cá tocam (ou têm tocado nestes últimos anos), como pelo público que estas atraem. Eu penso que a cena está em alta neste momento. Há muita atividade no meio, as pessoas estão mais curiosas e cada vez mais ávidas por música, o que faz com que o Rock e o Metal na Holanda estejam a crescer por mérito próprio.

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QUAIS SÃO AS BANDAS QUE CONSIDERAM DAS MAIS SUBVALOR IZADAS DE TODOS OS TEMPOS?

Pentagram. Não são completamente desconhecidos, obviamente, mas na minha opinião podiam, e deviam, ter sido tão grandes como os Black Sabbath.

AGORA DESAF IO -VOS A RESPONDEREM A DUAS PERGUNTAS, E AGRADEC IA QUE CADA UM DE VÓS PUDESSE RESPONDER ÀS MESMAS. JÁ IRÃO PERCEBER PORQUÊ .

1 . POR FAVOR COMPLETEM A FRASE : “MORRER IA FEL I Z SE PUDESSE PART ILHAR O PALCO COM….”

DOUWE: Captain Beyond, se eles tocassem o seu álbum homónimo na íntegra.

MING: Eu nem preciso de palco, eu só quero tocar bateria com o Ginger Baker.

OEDS: Ozzy Osbourne. Isto é, se eu fosse o guitarrista da sua banda, e se tocássemos o álbum “Blizzard of Ozz” na íntegra.

DENNIS : Já fiz coros para os Dirty Fences. Sou um homem feliz.

2. QUAL É A PERGUNTA QUE N INGUÉM A INDA VOS FEZ , E SEMPRE DESEJARAM QUE VOS T IVESSEM FE ITO? E CLARO, QUAL É A RESPOSTA.

DOUWE: Não é necessariamente uma resposta a uma pergunta, mas mais uma opinião. Eu considero que de todas coisas que o ser Humano conseguiu produzir com o seu intelecto, engenho e imaginação, as artes, e a música em particular, são o único produto verdadeiramente belo.

OEDS: “Com quem queres partilhar o palco antes de morrer?” E já te disse a resposta.

MUITO OBR IGADO PELA VOSSA COLABORAÇÃO. BOA SORTE PARA VOCÊS. ESPERO VÊ -LOS BREVEMENTE EM PORTUGAL . TEMOS BOM TEMPO, BOM V INHO, BOA COMIDA E MULHERES BONITAS. EU SE I QUE VÃO GOSTAR D ISTO AQU I .

Concordo plenamente.

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WWW.FACEBOOK.COM/DEATHALLEYBAND

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HTTP: / /TEEPEERECORDS.COM

“AS PESSOAS OUVEM NA NOSSA MÚSICA AQUILO QUE QUEREM OUVIR. E É ESSA A RAZÃO POR QUE OS PUNKERS, OS METALEIROS, OS STONERS E OUTROS “ROCKERS” ESTÃO LADO A LADO NOS NOSSOS CONCERTOS.”

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KEN MODEO SUCESSO DE SE ENCONTRAR A SI PRÓPRIO

E N T R E V I S T A

PARA ESTE NOVO TRABALHO CHAMADO «SUCESS» , OS KEN MODE DEC ID IRAM VOLTAREM-SE PARA O SOM QUE OUV IAM E OS INFLUENC IOU . É COMO OUV IR O ROCK EMERGENTE DOS PALCOS EM NYC DE ’88 MAS NO CONTEXTO ACTUAL . O QUE EVOLU IU PARA O IND IE , O NO ISE OU ATÉ O SHOWGAZE . É VOLTAR ATRÁS MAS “SABENDO O QUE SE I HOJE” . FALAMOS COM O VOCAL ISTA JESSE MATTHEWSON QUE NOS

DEU A INDA MAIS RAZÕES PARA OUV IR E GOSTAR DESTE NOVO CONCE ITO DE SUCESSO.

Por: Adriano Godinho

COMO JÁ O D ISSESTE , ESTE NOVO TRABALHO LEVA-NOS ATÉ ÀS VOSSAS OR IGENS. QUAL É A IDE IA POR DETRÁS DESSA INTENÇÃO?

JESSE MATTHEWSON: Essencialmente, pretendemos alcancar aquela emoção que sentíamos quando a música era algo de novo e de muito entusiasmante para nós; mostrar uma exuberância juvenil mais matura. Passamos por muito nestes últimos 16 anos na banda e quisemos fazer com que com as coisas se mantenham emocionantes na mesma; então porque não tentar lembrar-

nos do que nos fez à partida querer ter uma banda? Temos vindo a sentir-nos alienados pelas pessoas tentarem nos enquadrar em categorias já existentes, quando nunca encaixamos em nenhuma. Portanto para este trabalho quisemos dar um passo em direcção oposta aos géneros metal ou hadcore.

COMO VÊS OS KEN MODE HOJE? UMA BANDA MAI D ISPOSTA EM CR IAR UMA V ISÃO ALTERNAT IVA/FUTUR ISTA DA MÚSICA OU MAIS OR IENTADO ÀS OR IGENS?

JESSE MATTHEWSON: Apenas queremos criar música que seja inspiradora para nós e que nos dê gozo tocar; não temos um objectivo fixo com esta alteração de conceito para este trabalho. Até pode o próximo ser algo completamente diferente deste, algo post-punk, um festival de riffs electro fuzz! Quem sabe o que nos irá inspirar entre duas digressões?

COMPARANDO “SUCCESS” COM “ENTRECH”, O SOM PARECE -ME MAIS CONVENC IONAL . ESTOU ERRADO? TALVEZ MENOS “ IN YOUR FACE”?

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“(.. .) QUISEMOS FAZER COM QUE COM AS COISAS SE MANTENHAM EMOCIONANTES NA MESMA; ENTÃO PORQUE NÃO TENTAR LEMBRAR-NOS DO QUE À PARTIDA NOS FEZ QUERER TER UMA BANDA?”

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JESSE MATTHEWSON: Não estás errado em dizer que soa mais convencional. Foi uma decisão reflectida de compôr músicas mais catchy para este trabalho, pois foi mais este estilo de músicas que temos apreciado mais ultimamente. No entanto não diria que a música é menos “in your face”, é apenas menos influenciada por metal ou hardcore. Acho que a voz e as letras estão mais antagónicas e o som dos instrumentos estão ainda mais agressivos porque soam mais crus e verdadeiros do que antes. Passamos muito tempo a conseguir este som, dado que íamos trabalhar com o mestre da captura do som: Steve Albini.

HÁ ALGUMA D IFERENÇA ESTRUTURAL ENTRE A MÚSICA DE “SUCCESS”? NA FORMA COMO FO I COMPOSTA OU NAS MELOD IAS UT IL I ZADAS? É UM SOM MAIS PESSOAL?

JESSE MATTHEWSON: Nunca tivemos assustados de incluir melodia nas nossas músicas, mas para este álbum deixamos a coisa fluir livremente. Sempre fui fascinado por o que bandas como Jawbox ou Chavez conseguem ter tanta melodia em músicas tão ruidosas; é algo que nos tem influenciado há muito tempo, simplesmente nunca fomos tão claros nisso quanto neste álbum. Estruturalmente falando quisemos que este fosse um álbum de rock e as músicas seguem essa ideia como nunca o fizemos. Quis poder ser possível ter uma estrutura verus e refrão para terem o mais possível de factor catchy; e também trabalhei muito na voz e letras para conseguir alcançar o objectivo, mantendo o todo mesmo assim desafiante.

AS NOVAS MÚSICAS FORAM ESCR ITAS DURANTE ALGUMA D IGRESSÃAO OU FORAM ESCR ITAS NUMA ALTURA MAIS CALMA?

JESSE MATTHEWSON: O álbum foi totalmente escrito em período calmo, entre duas tours em 2014. Tínhamos acabado uma tour com os Russian Circles, Inter Arma e Helms Alee em Março 2014, o Scott Hamilton juntou-se a nós (no baixo) e começamos imediatamente a compôr novas músicas desde Abril até Agosto 2014, quando começou a nova digressão. Foi uma altura em que estávamos mesmo concentrados na composição, em que conseguimos gravar uma demo e retrabalhar uma e outra vez partes de músicas num gravador analógico de 4 pistas que a meu ver conseguiu destacar o melhor nestas composições. Estávamos melhor preparados para as gravações em Novembro do que alguma vez estivemos.

ALGUMA VEZ ESCREVESTE ALGUMA MÚSICA QUE NÃO F ICOU COMO QU ISESTE E NUNCA CHEGOU A ENTRAR EM NENHUM ÁLBUM?

JESSE MATTHEWSON: Já houve riffs que não ficaram bem na altura, só depois de conseguir juntas peças e fazerem sentido, para soarem a algo que faça sentido. Temos trabalhado em riffs para ”Book od Muscle” desde o “Mennonite”, mas só depois do álbum ter saído é que encontramos as ideias certas. Tivemos outra música sem título que temos andado a trabalhar desde o «Venerable» que simplesmente nunca conseguiu ser terminada porque não encaixava com o resto das músicas. Geralmente concluímos os riffs muito tempo antes de acabar a música ou retrabalhamos as ideais para que tudo seja coerente numa perspectiva geral do álbum. “Dead Actors” do álbum «Success» era bem

diferente quando começou a ser escrita e só mesmo uma parte da música é que sobreviveu desde a ideia de origem.

FO I VOSSA DEC ISÃO TRABALHAR COM STEVE ALB IN I? QUAL FO I A SUA INFLUÊNC IA NO PRODUTO F INAL? TER IA S IDO MUITO D IFERENTE SE T IVESSEM GRAVADO SOZ INHOS EM CASA?

JESSE MATTHEWSON: Claro! Escolhemos todos os engenheiros com quem trabalhamos e o Steve esteve sempre na nossa lista das pessoas com quem gostaríamos de trabalhar. Quem conhece a nossa história e influências sabe que esta foi uma união inevitável e estou muito contente de o ter finalmente conseguido. A sério, Steve fez o que o Steve faz; configura os micros, faz-te tocar e trabalha na mesa de mistura. Ele não é um produtor, ele não te diz como compores as tuas músicas, ele apenas captura o som da banda e fa-lo melhor do que qualquer um. Se outra pessoa o tivesse feito, as músicas em si teriam sido as mesmas, claro, mas não acredito que teriam acabado com um sentimento tão reais e honestas como estão neste álbum.

TÊM ALGUM CONVIDADO PARA ESTE TRABALHO, COMO O F I ZERAM NOS ANTER IORES?

JESSE MATTHEWSON: Sim, convidamos Natanielle Felicitas, que toca violoncelo nas faixas “Blessed” e “The Owl” que também trabalhou conosco em “Entrench”; convidamos Dylan Walker dos «Full of Hell» para o ruído em “Blessed” e temos vozes adicionais em “Blessed” por Eugene Robinson dos «Oxbow» e em “These Tight Jeans” por Jill Clapham.

DESDE QUE O “ENTRENCH” SA IU , HÁ DO IS ANOS, JÁ MUITA CO ISA ACONTECEU . MUITA GENTE CONHECEU KEN MODE , DAS D IGRESSÕES OU DAS CR ÍT ICAS POS IT ICAS DOS ÚLT IMOS TRABALHOS. . . ISTO TUDO CAUSOU ALGUM IMPACTO NA BANDA? . . .OU NA MÚSICA? ESTA DEC ISÃO DE VOLTAR AO S IMPLES FO I ALGUMA REACÇÃO A ISSO?

JESSE MATTHEWSON: Uma parte deste nosso “regresso às origens” nasceu de alguma amargura em relação ao facto de sermos associados à cena metal genérica. Nunca encaixamos na cena metal ou hardcore, muitas vezes mais importante para pessoas de outras bandas, do que para o público em geral. É certo que confrontamos-nos algumas vezes com a ignorância de alguns fãs desses sub-géneros durante estes últimos anos. Talvez este álbum seja uma forma de protexto contra a indústria musical no geral. Sinto que apesar de termos algum reconhecimento, continua a ser uma batalha para nós tentarmos “navegar” nesta indústria musical.

AS LETRAS EM “SUCCESS” SÃO MUITO D IFERENTES DOS ÚLT IMOS ÁLBUNS? QUA IS SÃO OS TEMAS? CONT INUAS A PROCURAR A PARTE CÓMICA NO HORR ÍVEL DAS CO ISAS?

JESSE MATTHEWSON: As letras em “Success” giram em torno de conceitos ocidentais altamente relativos sobre termos e conceitos do que é o sucesso. É uma análise e crítica cómica à pressão que as pessoas sofrem e como uma existência sciente nos vê encaixados neste palco universal. Na verdade passamos a visão cómico do

“UMA PARTE DESTE NOSSO “REGRESSO ÀS ORIGENS” NASCEU DE ALGUMA AMARGURA EM RELAÇÃO AO FACTO DE SERMOS ASSOCIADOS À CENA METAL GENÉRICA.”

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horrível nas coisas, onde grande parte das letras neste trabalho foi escrita com sarcasmo e humor negro. A maior diferença na escrita das letras para este álbum é que houve muito mais participação dos outros elementos da banda. Nos trabalhos anteriores, as minhas letras sempre foram muito pessoais e sinceramente é a única fonte de inspiração para escrever letras. Para “Success” fui guardando um registo de combinações de palavras que ia achando interessantes, conversas do dia-a-dia entre nós, e assim consegui criar letras concisas para as músicas. Outro elemento novo nas letras deste trabalho é que eu procurei mais as rimas do que anteriormente; algo que nunca me interessou mas que quis agora por causa da componente “agarradora” da prosa rimada. Por causa disto, somado com a forma como Steve Albini capturou as vozes, conseguiu-se a forma vocal mais crua e honesta que alguma vez consegui.

SABEMOS QUE PED ISTE A RANDY ORT IZ PARA TRABALHAR NO VOSSO GRAF ISMO, COMO É QUE FUNC IONOU? QUE TAL CORREU? SÃO IDE IAS QUE PASSAM E DE IXAM O ART ISTA CR IAR ALGO ATRAVÉS DE AUD IÇÕES DA VOSSA MÚSICA? ESTÃO SAT ISFE ITOS COM O RESULTADO?

JESSE MATTHEWSON: Esta foi a primeira vez onde o artista começou a trabalhar no grafismo antes de começarmos a gravar as músicas, e ele esteve presente desde os primeiros momentos de concepção do álbum. Discutimos as ideias com o Randy muito antes de começar e ele surgiu com ideias gráficas que todos nós achamos que eram exactamente o que pretendíamos. Não poderíamos estar mais satisfeitos com o resultado, assim como já há muito tempo queríamos trabalhar com ele, pois ele ajuda a extrair toda a escência do conceito. Randy também é um artista a tempo inteiro, um bom amigo, familiar com o estranho combate que é tentar sobreviver fazendo arte num estranho sítio como o é Winnipeg, MB, Canada.

JÁ F I ZERAM VÁR IAS D IGRESSÕES PELA EUROPA E PELOS ESTADOS UN IDOS (E CANADÁ, CLARO) , CONSEGUEM IDENT IF ICAR ALGUMA D IFERENÇA ENTRE OS DO IS PÚBL ICOS?

JESSE MATTHEWSON: Em termos de público, achamos que a nossa recepção é mais calorosa nos estados unidos, provavelmente pelas digressões mais visíveis que lá fizemos mas também a nossa capacidade em tocar lá inesgotavelmente. Temos tentado marcar presença na Europa, especialmente agora em 2015 com uma quantidade de festivais em que vamos participar mais umas pequenas digressões em torno destas. Espero que tenhamos algum retorno, até porque acho que não fomos muito bem representados aí nos passados anos.

TÊM PLANOS PARA O QUE SEGUE?

JESSE MATTHEWSON: Alguns festivais este verão, uma pequena digressão com os nossos amigos Fight Amp em Junho e uma enorme digressão nos meses seguintes até ao novo ano. Gostaríamos de tocar nos estados unidos, Europa e depois Australia. Veremos como corre!

WWW.KEN-MODE .COMHTTP: / /WWW.RESTLESSCELL IST.COM/

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KHAOS-DEIO SOM ENCONTRADO EM CAMPO DE BATALHA

E N T R E V I S T A

KHAOS-DEI É UM PROJECTO QUE REFLECTE O QUE SE VIVE EM ÁREA HOSTIL DE COMBATE. ESTE TRIO FRANÇÊS MOSTRA-NOS A MÚSICA QUE CRIARAM EM «TELL THEM LUCIFER WAS HERE», INFLUENCIADOS POR ALGO QUE POUCOS CONSEGUEM COMPREENDER; UM TRABALHO TAMBÉM INFLUÊNCIADO PELO BLACK METAL QUE OUVIRAM E NÃO ACREDITAM QUE AINDA EXISTA. FALAMOS

COM O FABRICE E O PATRICK SOBRE O QUE SIGNIFICA PARA ELES KHAOS-DEI.

Por: Adriano Godinho

PODES NOS FALAR SOBRE OS KHAOS-DE I , O QUE VOS UN IU E QUA IS FORAM OS VOSSOS PLANOS IN IC IALMENTE?

FABR ICE : Foi um amigo que nos apresentou no final de 2013. O Patrick veio a minha casa e começamos a trocar impressões e experiências de vida, os nossos objectivos. Deixamos a nossas almas falar e pensamos que estava tudo feito e acabado no mundo

do black metal. Ainda agora não sabemos no que vai dar. O Damian juntou-se a nós para finalizar o conceito Khaos-Dei, porque a sorte não existe.PATR ICK : Sem sorte, sentimos que poderíamos dar-nos bem em muitas coisas, de qualquer forma.

QUAIS SÃO AS VOSSAS INFLUÊNC IAS PARA ESTE ALBUM PARA A MÚSICA E PARA AS LETRAS?

FABR ICE : Não pensamos em influências quando estávamos a compôr, apenas deixamos sair a raiva que estava em nós. Certamente somos todos influenciados musicalmente mas acho que Khaos-Dei tem a sua própria identidade.PATR ICK : Nada desde que Jon Nödtveidt morreu. Quem nos dias de hoje ainda morre pelos seus princípios a não serem os soldados? No que toca às letras elas vão em direcção ao que é o black metal. Com isto, não posso ser

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“QUEM NOS DIAS DE HOJE AINDA MORRE PELOS SEUS PRINCÍPIOS A NÃO SEREM OS SOLDADOS?”

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mais claro.

PORQUE D IZEM (PODE-SE OUV IR NO ALBUM) QUE N INGUÉM ACRED ITOU QUE PODER IAM TERMINAR ESTE TRABALHO, NEM VÓS PRÓPR IOS? FO I ALGO MUITO COMPL ICADO FORMAR A BANDA E GRAVAR ESTE D ISCO?

FABR ICE : Sim, dito pelo Patrick surpreso durante a gravação. É verdade que fizemos isto sem acreditar que fosse possível, mas felizmente há pessoas que acreditaram em nós, incluindo o Hervé (Osmose Production) e hoje Khaos-Dei saiu da sombra.PATR ICK : Sim, parece que este álbum vive duas vezes em nós. A primeira numa atmosfera muito especial durante a gravação e agora desta vez, seis meses depois. Nunca pensamos que seria possível alguma vez ir a um estúdio gravar o que inicialmente era só para nós. Por isso sim, pareceu-nos impossível um dia conseguir, mesmo parecendo ter sido fácil.

VOCÊS V IVEM EM FRANÇA, ONDE A MEU VER ACONTECE MUITO EM MOVIMENTOS MAIS UNDERGROUND (COMPARAT IVAMENTE COM OUTROS PA ÍSES) , ACHAM QUE FO I ALGO FÁC IL FORMAR A BANDA, ENCONTRAR UMA ED ITORA, GRAVAR UM ÁLBUM E TOCAR AO V IVO NO VOSSO PA ÍS? ALGUMA VEZ SENT IRAM A NECESS IDADE DE MUDAREM-SE PARA A CAP ITAL OU OUTRA GRANDE C IDADE PARA CONSEGU IREM O QUE QUER IAM?

FABRICE : : Bem, é fácil começar uma banda mas é difícil encontrar quem seja consistente e corresponda à tua personalidade. Encontrar uma editora é outra história, nos dias de hoje. As editoras têm um pé atrás e não tomam riscos; algumas têm algumas dificuldades com bandas francesas que supostamente não vendem... ou então preferem manter-se nas tendências ou modas e assinar unicamente bandas comerciais. ...e mudar-me para Paris??? Para quê? Eu estou feliz no meu sul e detesto essas enormes cidades. Ir até lá para concertos é na boa, mas mais do que isso, que se lixe.PATR ICK : Tenho estado fora de tudo há quase 15 anos. Procurar para descobrir que não tem havido grande evolução não me agrada muito, principalmente no black metal. Fiquei preso a uma época, com pessoas que acreditam realmente na mensagem do black metal. Estamos muito satisfeitos com a Osmose Productions, em parte também por o que já fizeram no passado. Da minha parte tenho de ir a Paris porque sou guitarrista nos concertos dos Diapsiquir, mas como o Fabrice, sou do sul e não suporto as grandes cidades.

QUANTO TEMPO DEMOROU A COMPOR AS MÚSICAS DESTE ALBUM? FO I UM PROCESSO S IMPLES? COMO CORREU O PROCESSO DE COMPOSIÇÃO? QUERO D IZER , ALGUÉM TRAZ UMA IDE IA E OS OUTROS DEPO IS COMPLETAM OU É D I FERENTE?

FABR ICE : Gravar guitarras e baixo foi muito rápido, em casa, demorou três fins-de-semana, se bem recordo. Para as gravações embebedávamos-nos para mergulharmos numa nublina e não nos arrependemos do resultado. Após terminar as gravações apenas perdemos tempo com a masterização, feita por nós mesmos; é algo que não pode ser improvisado.PATR ICK : Pessoalmente não acho que tenhamos pré-calculado como fazer o álbum, no estado em que estávamos não teríamos conseguido masterizar as pistas. Passemos os detalhes sórdidos das nossas sessões de gravação.

DEVO D IZER QUE A FA IXA “LE CHANT DES MARAIS” É ALGO PERTURBANTE ; OS SAMPLES USADOS COM OS CÂNT ICOS DA VERSÃO FRANCESA DA MÚSICA DE PROTESTO CHAMADA “PEAT BOG SOLD IERS” (COMPOSTA POR PR IS IONE IROS DE UM CAMPO DE CONCENTRAÇÃO NAZ I ) , USADA PELA LEG IÃO FRANCESA. É UMA REFERENCÊNC IA MUITO INTERESSANTE , PODES NOS D IZER O QUE S IGN IF ICA PARA VÓS?

FABR ICE : “Le Chant des Marais” tem um significado muito profundo para nós e cantamo-la muitas vezes nos paramilitares. Para mim representa a liberdade e a honra de seremos seres livres. Livres de pensar por nós-mesmos, livres de fazeres o que quiseres sem que outros interfirem, seja nas nossas vidas seja na música.PATR ICK : Por outro lado é uma música muito obscura, cantada por pessoas que não têm nada a perder. Como nós. Isto pode ser entendido de duas formas.

SE NÃO ME ENGANO, PENSO QUE O PATR ICK É MIL ITAR E ESTEVE EM MISSÃO ANTES DAS GRAVAÇÕES. DESCULPEM POR PERGUNTAR MAS PODEM NOS D IZER MAIS SOBRE ISTO? PENSO QUE SERÁ UMA ENORME INFLUÊNC IA NO QUE PODEMOS OUV IR NESTE TRABALHO. COMO É COMBINAR UMA CARRE IRA MIL ITAR E MUSICAL?FABR ICE : Reformei-me da carreira militar há uns anos mas o Patrick ainda está activo…Khaos-Dei é um grupo com uma verdadeira ideia e valores profundos que apenas algumas pessoas conseguem compreender. Temos uma história e vivemos coisas que poucos conhecem, percebem ou simplesmente experienciaram. Trata-se de um algo carregado de horror e mais

“NUNCA PENSAMOS QUE SERIA POSSÍVEL ALGUMA VEZ IR A UM ESTÚDIO GRAVAR O QUE INICIALMENTE ERA SÓ PARA NÓS.”

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coisas...PATR ICK : Não antes, mas durante. Na verdade apenas gravamos os intrumentos e depois tive de ir embora. Regressei seis meses depois e comecei a trabalhar nas letras e nas vozes. Sim, influencia-me imenso, faz parte da minha vida, assim como Khaos-Dei portanto ambos são importantes para mim. Khaos-Dei começou a pedir mais tempo de nós, por isso não temos muito tempo livre. É muito emocionante pensar que não haverá segundo álbum, tudo depende como irão correr as coisas no futuro; é uma questão de balanço, um não vive sem o outro.

NO F INAL DO D ISCO PODE-SE OUV IR UM DE VÓS D IZER QUE SE L IXE ISTO TUDO, ISTO S IGN IF ICA QUE É UM PROJECTO PARA UM SÓ D ISCO?

FABR ICE : Album terminado, é o fim! Isto é o Khaos! Nada mais importa…até ao próximo!PATR ICK : Oh sim, por acaso estava a falar com dois bons amigos com quem partilho muito. John e Eric são dois irmãos. Fui principalmente eu que bazei por causa de uma gravação não estar a sair bem. No contexto dos Khaos-Dei significa que uma página foi virada e que foi algo de necessário. Este álbum pediu muito de nós, questionamos-nos imenso e no final conseguimos. Acabou. Não, isto não é um projecto de apenas um trabalho. Khaos-Dei é a nossa vida.

“F IQUE I PRESO A UMA ÉPOCA , COM PESSOAS QUE ACRED ITAM REALMENTE NA MENSAGEM DO BLACK METAL .”

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R E P O R T A G E M

O PAIS ONDE A IGNORANCIA E CHIQUE

NUNO COSTA (SOUND(/)ZONE)

decompõe de tanta asnice (e inveja).

De qualquer das formas, ainda se acredita que se vive num estado democrático. Sob esta feliz ilusão, digo sem qualquer tom blasfemo que o que o por aí vem de entretém balnear é nada mais nada menos do que o triste espelho de uma sociedade de consciência anémica, provocada por todo um sistema educacional que privilegia a falta de intelecto, ambição e cultura.

Esta missiva serve sobretudo para Portugal. Sim, aquele país cheio de potencialidades mas tendencialmente débil e ingénuo. O país onde o Governo fomenta a estupidez em prol de uma tirania camuflada, mas muito fácil de exercer. Mas o quem têm os meros festivais de Verão que ver com toda esta pretensiosa retórica? Já dizia Lobo Antunes: “A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

Mensagem. Recordo com grande saudosismo os tempos em que ouvir música extravasava o mero exercício auditivo. A arte é isto mesmo, um veículo para o pensamento erudito. O amor que a música mainstream apregoa seria algo de rejuvenescedor, caso alguém não se aproveitasse da

apatia que esse mesmo amor gera para combater a podridão que alastra a nossa sociedade. É paradoxal que com tanta sugestão musical ternurenta (ou mesmo sem ela, apenas som), este país continue tão turbulento. Guerra não deve ser combatida com guerra, mas parece uma inevitabilidade que o langor e a prostração que a música actual transmite (sim, porque o heavy metal é “desordeiro”) é invariavelmente um passo para o conformismo e o aproveitamento perverso por parte de quem tem poder constitucional. Que melhor altura do que esta para difundir uma mensagem de calma e abafar todas as formas de arte que se insurgem contra o absolutismo e a opressão?

Reitero: todas as formas de arte são legítimas e é a capacidade de respeitarmos a liberdade individual que nos constitui como povo civilizado. Todavia, o momento não é o de consentir o facilitismo e a subserviência. A arte é a melhor forma de superação e de

fomentar a justiça. E repito, superação. Ao constatarmos que a criatividade aparenta atravessar um momento estanque - em todos os géneros musicais -, não é isso que deve permitir que se baixe os braços e se ordene uma filosofia de entropia intelectual.

Sujeito que estou a partir de agora a muito hate mail, deixo as perguntas (é que não sei mesmo responder): sobre que versa a música electrónica, os DJs, o kizomba e o pimba? Que luz traz para a mente e o corpo as bandas de covers (a forma mais reles de reciclagem)? Sei que o heavy metal nem sempre é “católico” (mas na pior das hipóteses vejamos a coisa como um qualquer filme de terror que todos gostam de ver), mas comparando o pressuposto de exigência, rigor e versatilidade, estou quase certo que os “santos” estão trocados no altar. Ao fim de todos estes anos orgulho-me ainda muito desta “casa” e “família” que é o heavy metal.

NA MINHA HAB ITUAL D ISCR IÇÃO, DE QUEM SÓ FAZ D ISCORRER ALGUNS RAC IOC ÍN IOS QUANDO A CONSCIÊNC IA APELA A ALGUM DESENFADO (SÉR IO , NÃO OBSTANTE) , CONSTRANGE-ME OBSERVAR QUE MAIS UMA ÉPOCA VERANEANTE SERÁ PASSADA À BE IRA DE UMA BARRAQUINHA, DEV IDAMENTE MUNIDA DE CERVEJA, BEB IDAS ESP IR ITUOSAS, PET ISCOS (E ALGUMA ÁGUA TAMBÉM) , ENQUANTO O PANO DE FUNDO SERÁ P INCELADO DE MÚSICA CUJA SERVENT IA ART ÍST ICA AL INHA-SE COM UMA ASSUSTADORA DUB IEDADE A N ÍVEL CULTURAL . A esta al tura, já assumi todos os estereót ipos do ponto de vista do comentador de bancada que se sente lesado: af inal de contas, a histór ia, os comentár ios, os moral ismos, repetem-se ano após ano. Do outro lado, o grosso que adora este status quo já nem bufa de aborrecimento. Já nos toma por uma minor ia inofensiva e desvairada que só cospe tol ices e cuja massa cinzenta se

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MYTHOLOGICAL COLD TOWERSDE UMA ANTIGUIDADE MODERNA

E N T R E V I S T A

“[…] O NOME DA BANDA REFLETE NOSSA ADMIRAÇÃO E INTERESSE POR TEMAS SOBRE CIVILIZAÇÕES ANTIGAS E SEUS VESTÍGIOS. […]”

SENDO O BRAS IL UMA JOVEM NAÇÃO, É CUR IOSO O FASC ÍN IO QUE OS MYTHOLOG ICAL COLD TOWERS SENTEM PELA ANT IGU IDADE , AGORA REPRESENTADA PELOS MONUMENTOS QUE MANTÊM V IVA A SUA MEMÓRIA .

D ISTO NOS FALA FÁB IO CAMPOS (GU ITARR ISTA DA BANDA) NA SEGUNDA ENTREV ISTA DADA À VERSUS MAGAZ INE .

Por: CSA e Ernesto Martins

CSA – SAT ISFAZ A MINHA CUR IOS IDADE , POR FAVOR: EM QUE SE INSP IRARAM PARA ESCOLHER O NOME PARA A BANDA? QUE SENT IDO LHE ATR IBUEM?

FC: Saudações amigos portugueses! O nome da banda reflete nossa admiração e interesse por temas sobre civilizações antigas e seus vestígios. Mistérios de antigas raças que construiram megalíticas e colossais cidades de pedra e ouro. Sagas de vastos impérios esquecidos que, outrora, governavam raças de gigantes. Fortalezas e torres que exibiam sua esplendorosa magnificência em tempos imemoriais.

CSA – ESTE «MONVMENTA ANT IQVA» É UM ÁLBUM MUITO PESADO. ESTA CARACTER ÍST ICA É INTENC IONAL? OU RESULTOU DO ESP ÍR ITO QUE AN IMAVA A BANDA NO MOMENTO?

FC : Em nossa concepção, o Doom Metal é um estilo que enfatiza não só o andamento lento, como também seu aspecto extremamente pesado. Com a experiência que adquirimos através da nossa longa trajetória e dos álbuns anteriores, sentimos a necessidade de criar algo que priorizasse essa caracaterística do Doom, além de satisfazer nosso gosto por música pesada e marcante.

EM – APESAR DE SER CLARAMENTE UM ÁLBUM DE DOOM METAL , APRESENTA UMA FACETA GÓT ICA MAIS SAL IENTE DO QUE O ANTER IOR . COMO EXPL ICAS ISSO?

FC: Sem dúvidas, este novo álbum também teve alguma inspiração pela música gótica por conta de algumas bandas que gostamos muito, como, por exemplo, Dead Can Dance e Lycia. São inspirações que vem desde o nosso primeiro álbum. No entanto, transpareceu mais nesse novo álbum, devido a uma atmosfera de mistério e frieza que a própria temática sugere.

3 4 / VERSUS MAGAZINE

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EM – PELO QUE PUDE PERCEBER , O NOVO D ISCO É UM TRABALHO CONCETUAL QUE ASSENTA NUMA PERSPET IVAÇÃO POÉT ICA E ALGO TRANSCENDENTE DAS RU ÍNAS DE MONUMENTOS ANT IGOS. DE ONDE VOS VEM O FASC ÍN IO POR ESTE TEMA? FALA-NOS UM POUCO SOBRE ISTO .

FC : Diferente dos álbuns anteriores, a concepção do «Monvmenta Antqva» reflete o nosso fascínio pelo mundo clássico e sua magnífica arquitetura. Cada música transmite nossa contemplação a monumentos greco-romanos antigos que, ainda hoje, exibem sua beleza e onipotência. A visão deslumbrante desses vestígios e ruínas que marcam o berço da civilização ocidental.

CSA – ESSE FASC ÍN IO PODERÁ TER ALGO A VER COM O FACTO DE A BANDA SER OR IUNDA DO BRAS IL , UM PA ÍS SUL -AMER ICANO MUITO INFLUENC IADO POR UMA CULTURA DA VELHA EUROPA – A PORTUGUESA?

FC: Há alguma relação pois, nós brasileiros, herdamos essa cultura lusitana em vários aspectos, o que faz com que ainda estejamos conectados com o velho mundo, de alguma forma.

CSA – ADORE I A CAPA DO ÁLBUM, QUE ME PARECE TRADUZ IR BEM A VETUSTEZ DOS MONUMENTOS. ERA ESSA A IDE IA?

FC : Exatamente. Através da imagem da capa, pretendemos transmitir o efeito contemplativo dos monumentos clássicos, delineados pelos traços envoltos de beleza, visualizando sagas épicas e tragédias.

CSA – PODES DAR-NOS ALGUMA INFORMAÇÃO SOBRE O ART ISTA GRÁF ICO QUE A FEZ?

FC: O nome dele é Beto Martins e trabalha connosco desde o álbum «Remoti Meridiani Hymni», lançado em 2000. Ele soube absorver nossas intenções e proposta de forma absoluta.

EM – NÃO É VERDADE QUE O CONTRATO COM A CYCLONE EMPIRE PREV IA O LANÇAMENTO DE MAIS D ISCOS ALÉM DO « IMMEMORIAL»? (L I ISSO NA VOSSA PÁG INA DO FACEBOOK, PENSO) . POR QUE RAZÃO A BANDA NÃO SE MANTEVE COM ESTA ED ITORA?

FC: A Cyclone Empire fez seu ótimo trabalho com o lançamento do «Immemorial». No entanto, decidimos desfazer o contrato. Tudo ocorreu de forma tranquila.

EM – A NUKTEMERON PRODUCT IONS É UMA ED ITORA OPERADA POR MEMBROS DA BANDA? POR QUE OPTARAM PELO LANÇAMENTO DO NOVO D ISCO ATRAVÉS DESTA ED ITORA?

FC: Sim, A Nuktemeron Prod. existe há 10 anos, lançamos alguns materiais em formato tape e CD. Decidimos lançar o «Monvmenta Antiqva» por nós mesmos, para termos mais controle sobre as vendas e cuidar de todo o processo de divulgação da banda. Felizmente, as coisas estão acontecendo de forma correta e pretendemos relançar nosso primeiro álbum ainda este ano.

CSA – QUERES DE IXAR ALGUMA MENSAGEM ESPEC IAL AOS LUSÓFONOS DO OUTRO LADO DO ATLÂNT ICO?

FC: É um imenso prazer participar novamente do Versus Magazine e esperamos voltar a bela Portugal algum dia para rever velhos amigos e aliados. Abraços.

“ […] CADA MÚS ICA TRANSMITE NOSSA CONTEMPLAÇÃO A MONUMENTOS GRECO -ROMANOS ANT IGOS QUE , A INDA HOJE , EX IBEM SUA BELEZA E ON IPOTÊNC IA . […]”

WWW.FACEBOOK.COM/OFF IC IALMYTHOLOG ICALCOLDTOWERS

HTTPS: / /YOUTU.BE /5FT7ES4PNF I

3 5 / VERSUS MAGAZINE

“[…] ESTE NOVO ÁLBUM TAMBÉM TEVE ALGUMA INSPIRAÇÃO PELA MÚSICA GÓTICA […] DEVIDO A UMA ATMOSFERA DE MISTÉRIO E FRIEZA QUE A PRÓPRIA TEMÁTICA SUGERE.”

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BETWEEN THE BURIED AND MEUM COMA COMO MAIS NENHUM

E N T R E V I S T A

“ACHO QUE O FACTOR MAIS IMPORTANTE É A MELODIA, DEDICAMOS-NOS IMENSO Á MELODIA PARA ESTE ÁLBUM”

3 6 / B T B A M

O LANÇAMENTO DESTE ÚLT IMO «COMA ECL IPT IC» DOS BTBAM POD IA SER APENAS MAIS UM ÁLBUM ENTRE TANTOS, NESTE PROL ÍFERO 2015. MAS A VERDADE É QUE DESDE O «ALASKA» EM 2005 QUE ESTE PROJECTO DÁ MUITO QUE FALAR E EM CADA LANÇAMENTO CONSEGUEM IR SEMPRE MUITO MAIS LONGE . TÊM MANT IDO UMA L INHA CONSTANTE DE EVOLUÇÃO, UMA APT IDÃO INCR ÍVEL PARA CRESCEREM EM QUAL IDADE . SÃO UM NOME ASSOC IADO À COMPOSIÇÃO MUSICAL COMPLEXA E À MIXÓRD IA DE EST ILOS , GÉNEROS E INFLUÊNC IAS . APROVE ITAMOS PARA FALAR COM O TOMMY (VOZES) SOBRE COMPOSIÇÃO, COMO TRABALHAM, AS SUAS INFLUÊNC IAS E QUAL O OBJECT IVO DESTE COMA ECL ÍPT ICO . ESTA É A VERSÃO 2015 DOS BTBAM.

Por: Adriano Godinho & Eduardo Ramalhadeiro

HTTPS: / /WWW.FACEBOOK.COM/BTBAMOFF IC IAL

HTTP: / /WWW.METALBLADE .COM/BTBAM/

HTTPS: / /V IMEO.COM/127734366

Page 37: Versus Magazine #35 Junho / Julho '15

QUAIS FORAM AS PR IME IRAS IDE IAS OU ACÇÕES QUE LEVARAM À CR IAÇÃO DESTE “COMA ECL IPT IC”?

TOMMY: Começamos a escrever a música primeiro, sabíamos que queríamos fazer um álbum conceptual e desde o primeiro dia sentimos algo diferente em relação a este trabalho, com uma componente mais obscura; quisemos criar uma história que funcionasse bem com isso. A minha ideia foi perguntar-me “se tivesse de escrever mini histórias, do que falaria?”; com isto consegui começar a trabalhar no conceito. Esta foi a terceira ou quarta história que me veio à ideia e acho que encaixa bem na música. Gosto muito dela porque permite-me ser criativo sobre os mundos na história, dá-me mais liberdade do que alguma vez tive anteriormente, com álbuns conceptuais.

ENTÃO A MÚSICA CR IADA É A INSP IRAÇÃO PARA O CONCE ITO DO ÁLBUM.

TOMMY: Sim, a partir da música começo a encaixar as minhas letras, tudo depende da música e varia de música para música.

DO QUE TRATA ESTE ÁLBUM?

TOMMY: Este álbum é sobre um homem que se induz voluntariamente em coma para encontrar uma melhor forma de vida; esse coma fá-lo viajar por suas vidas passadas, em cenários e mundos estranhos. No final ele percebe que tudo foi em vão, na realidade esteve em coma e deixou um mundo magnífico que perdeu, ao mergulhar em coma, onde viveu pesadelos e mentiras. Acorda para apenas dar conta disso e morrer.

POR ISSO A PALAVRA “ECL IPT IC” EM “COMA ECL IPT IC” , PELOS C ICLOS DAS V IAGENS NAS V IDAS PASSADAS?

TOMMY: Sim, porque viaja por entre os diferentes mundos da sua vida passada.

QUAL A MAIOR D IFERENÇA ENTRE ESTE ÁLBUM E O QUE FO I PREV IAMENTE FE ITO PELOS BTBAM?

TOMMY: Bem, no que toca à composição é bastante parecido com o que fazemos, é muito orgânico, natural, inspiramo-nos uns aos outros, é exactamente o que quisemos compor naquele momento...e é a forma como trabalhamos a nossa música. Acho que é mais focado, realmente mais melódico; tivemos mais atenção á estrutura das músicas desta vez, penso que de uma forma mais tradicional. Parece mais coerente...e acho que o factor mais importante é a melodia, dedicamo-nos imenso á melodia para este álbum. As variações entre os momentos altos e baixos estão mais dramáticos, a música está mais dramática e gostamos do resultado final.

SIM, FO I O QUE ME PARECEU AO OUV IR O ÁLBUM, SOA A BTBAM MAS HÁ ALGO DE D I FERENTE DE ALGUMA FORMA, NÃO SE I COMO EXPL ICAR.

TOMMY: Sim, sim, é o que gosto neste trabalho. Quando paras para ouvir, no final de contas continua a soar a BTBAM e isso é importante para nós. Sabes, quando entramos no estúdio com Jamie King para apenas gravar os primeiros esboços de vozes para este álbum, para ver como ficava, tentamos ter algo que fosse reconhecível como sendo nosso. Gravámos uma música com ele, penso que foi a “Coma Machine” e o resultado final é uma música diferente, como que uma evolução do que somos, mas que soa a BTBAM. A partir daí houve muito mais confiança para trabalhar nas músicas restantes.

ESTE TRABALHO TEM MUITO MAIS SONS DE TECLADOS E S INTETIZADORES, FO I ALGO PREMED ITADO LOGO DE IN ÍC IO OU SURG IU NO EVOLU IR DAS COMPOSIÇÕES?

TOMMY: Não fizemos nada de muito intencional, apenas usamos uma outra forma de chegar ás músicas e calhou ser através de teclados. Muitas das partes de teclas foram compostas pelo Dan (n.t. Dan Briggs – Baixo, teclas e segundas vozes) e muitas das ideias que ele teve foram inicialmente compostas em teclas, por isso uma grande parte do que ele trouxe para a banda teve origem em teclados.

“SOMOS UMA EXCELENTE EQUIPA, NÃO PODERIA PEDIR UMA MELHOR EQUIPA COM QUEM COMPOR MÚSICA.”

3 7 / B T B A M

Também há uma pequena música electrónica que compus, a primeira música de todas dos BTBAM que não tem guitarras, que acho que encaixa tão bem no álbum, num momento da história que coincide com uma viagem e faz todo o sentido.

É SEMPRE ASS IM QUE COMPÕEM? PR IME IRO A MÚSICA E DEPO IS AS LETRAS?

TOMMY: Sim, gosto de trabalhar nas letras depois dos factos. Porque sou muito exigente no facto da letra encaixar nas músicas, no ambiente e na melodia. Porque, sabes, as nossas músicas mudam e passam por momentos diferentes, que deixam uma sensação tão diferente...e eu, quando escrevo histórias, gosto que a letra bata certo com a história e a música. Para conseguir isso tenho de ouvir a música primeiro e criar algo que flui com os sons.

L I NUMA ENTREV ISTA ANTER IOR QUE TODOS OS MEMBROS DOS BTBAM PART IC IPAM NA COMPOSIÇÃO DAS MÚSICAS. COMO FUNC IONA, C INCO PESSOAS COM FORTES OP IN IÕES SOBRE O QUE FAZEM, JUNTAREM-SE E TRABALHAR NA MESMA MÚSICA?

TOMMY: Nós trabalhamos muito bem juntos, não sei, é muito diferente de música para música...algumas são compostas por apenas dois membros, outras já pode envolver todos. Depende de muita coisa; ...somos pessoas que já fazemos isto há muito tempo, compreendemo-nos e apenas queremos conseguir a melhor música e o melhor álbum possível, modéstia à parte. Se compomos algo que gostamos mesmo, não ficamos obcecados com o que conseguimos. Há muitas partes que são retiradas ou incluídas, se uma parte de algum de nós é retirada, não há qualquer problema porque todos sabemos que não estava a resultar. Somos compreensíveis, todos temos os nossos pontos fortes e fracos, ajudamo-nos uns aos outros. Somos uma excelente equipa, não poderia pedir uma melhor equipa com quem compor música.

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E N T R E V I S T A

“EM CADA ÁLBUM PUXAMOS POR NÓS MESMOS MUSICALMENTE E TECNICAMENTE FALANDO. HÁ MOMENTOS CRIADOS POR UNS QUE TORNAM AS COISAS MAIS COMPLEXAS PARA OUTROS, MAS ISSO FAZ-TE MELHORAR”

3 8 / B T B A M

CONSIDERAS A FA IXA “FAMINE WOLF” TUDO O QUE GOSTAS DE BTBAM NUMA ÚN ICA MÚSICA . PORQUE D IZES ISSO?

TOMMY: Acho a música muito fixe! Tem um ambiente muito agressivo e heavy metal, mas também tem partes muito melódicas. Tem reviravoltas e passa por partes muito diferentes... não sei se consegue mostrar mesmo todos os aspectos da banda, mas definitivamente mostra muitos. Acho-a mesmo muito limpa. Não sei se será a minha música favorita...nem sei se tenho alguma...gosto do álbum todo, mas sim, esta música mostra bem a nossa vertente mais heavy metal e a versão 2015 do que são os BTBAM.

E O F INAL DESTA FA IXA É UMA DAS MINHAS PARTES PREFER IDAS DESTE ÁLBUM, COM ARPÉG IOS PERFE ITOS AO EST ILO NEO-CLÁSS ICO . É A VOSSA FA IXA MAIS CLÁSS ICA , NÃO?

TOMMY: Neste trabalho? Sim! É o Paul! O Paul é muito bom a compor estas partes; “Ants in the Sky” do “Colors” tem muitas partes dessas

também, é a cena dele.

ACRED ITO QUE NÃO DEVE SER MUITO FÁC IL PART IC IPAR NUM PROJECTO COMO BTBAM, SEMPRE A PUXAREM OS L IMITES UNS DOS OUTROS, EM TERMOS DE COMPOSIÇÃO E DE PERSPECT IVAS. É ALGO D IFERENTE PARA ESTE ÁLBUM? PENSO QUE MUDARAM UM POUCO O MODUS OPERANDI?

TOMMY: Não, penso que apenas procuramos compor as melhores músicas que podemos. Através dos anos aprendemos tanto sobre compor e sobre música. Em cada álbum puxamos por nós mesmos musicalmente e tecnicamente falando. Há momentos criados por uns que tornam as coisas mais complexas para outros, mas isso faz-te melhorar. Há momentos em que se bloqueia, não se consegue avançar, tanto tecnicamente ou nas letras, mas isso são problemas bons de se ter. Acabas sempre por aprender com isso e tornar-te melhor.

E A VOSSAS MÚSICAS SÃO BEM COMPLEXAS, CHE IAS DE R ITMOS E COMPASSOS COMPLEXOS. PENSO QUE TRABALHAM POR PARTES QUE ENCA IXAM PARA FORMAR UMA MÚSICA COMPLETA, ESTOU ERRADO? COMO FUNC IONA?

TOMMY: Depende mesmo da música. A questão aqui é que as nossas músicas não nos parecem estranhas, são mesmo naturais para nós. Vai muito do trabalhar juntos, todos sabemos o que os outros comporam. Dan, por exemplo, é muito bom a decorar todas as partes das músicas, consegue saber o que encaixa nas partes de quem, guarda um blueprint das músicas. No que toca a ritmos e transições o Blake é muito bom nisso, por isso traz muita ajuda nessa área. É muito diferente de música para música, nada é forçado. Se algo não está a resultar é que há uma razão e não há problema em deitar fora e recomeçar de novo outra vez.

HÁ MUITAS IDE IAS QUE SÃO DE ITADAS FORA?

“EM CADA ÁLBUM PUXAMOS POR NÓS MESMOS MUSICALMENTE E TECNICAMENTE FALANDO. HÁ MOMENTOS CRIADOS POR UNS QUE TORNAM AS COISAS MAIS COMPLEXAS PARA OUTROS, MAS ISSO FAZ-TE MELHORAR”

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E N T R E V I S T A

“APRENDEMOS AO LONGO DOS ANOS QUE CERTAS PARTES DIFERENTES PODEM REALMENTE ENRIQUECER A MÚSICA E ATÉ FAZER SOBRESSAIR OUTRAS PARTES MAIS “NORMAIS”. FOI ALGO QUE FOMOS APRENDENDO, TRABALHANDO EM DIFERENTES CAMADAS E TONALIDADES...O CÉU É O LIMITE.”

TOMMY: Oh sim! Tenho pastas e pastas de material que não foi aproveitado. Nós gravamo-nos a nós próprios antes da gravação em estúdio. Depois de ter a música mais ou menos feita, há partes que são alteradas, outras retiradas... É um longo processo.

JÁ AGORA, QUANTO TEMPO VOS DEMORA A COMPOR UMA MÚSICA?

TOMMY: Bem, depende. Algumas músicas...2 dias.

2 D IAS!?

TOMMY: Sim (risos), bem, depende. A forma como procedemos para este álbum foi: de segunda a quarta trabalhávamos para compôr as músicas e o resto da semana para analisa-las. Por isso, mais ou menos uma semana por música, à volta disso. Mas depois pode haver mais alterações...e a parte das vozes e letra também demora mais algum tempo. Por isso, em geral diria duas semanas por música.

E QUANDO TOCAM AO V IVO , COMO FAZEM PARA NÃO SE PERDEREM?

USAM ALGUM CL ICK?

TOMMY: Sim, tocamos os concertos todos com o som do click. Sim, até tenho pena do Blake porque ele não consegue mesmo fazer asneiras.

OUTRA CO ISA MUITO INTERESSANTE NAS VOSSAS MÚSICAS SÃO OS SONS QUE SE OUVEM NAS MÚSICAS, POR EXEMPLO O RU ÍDO DE UM BAR EM “ANTS OF THE SKY” OU DE FORMA D IFERENTE , NA NOVA FA IXA “THE ECTOP IC STROLL” ONDE SE OUVEM SONS DE S INTET IZADORES BEM D IFERENTES . QUA IS SÃO AS VOSSAS INSP IRAÇÕES PARA INCLU IR ESTES MOMENTOS QUE REFRESCAM OU ALTERAM A MÚSICA?

TOMMY: Trabalhamos por partes e conseguimos perceber o que cada secção precisa ou poderia ganhar com outros sons. Aprendemos ao longo dos anos que certas partes diferentes podem realmente enriquecer a música e até fazer sobressair outras partes mais “normais”. Foi algo que fomos aprendendo, trabalhando em diferentes camadas e tonalidades

...o céu é o limite..

JÁ QUE ESTAMOS A FALAR DE INSTRUMENTOS, HÁ ALGUM NOVO INSTRUMENTO NESTE ALBUM?

TOMMY: Na verdade não, são basicamente os instrumentos do costume; guitarras e teclas...apenas tivemos uma forma diferente de chegar ao resultado final, o que é normal.

AGORA QUE ESTÁ TUDO GRAVADO, QUAL É, DE UMA FORMA PREMATURA, O MOMENTO DESTE NOVO TRABALHO QUE MAIS APRECIAS?

TOMMY: Ui, isso é difícil de responder... Gostei imenso de gravar a “The Ectopic Stroll”, foi muito divertido para mim. Porque acho que a música sobressai mesmo. Mas no geral não acho que tenha uma música preferida, gosto do álbum todo.

SOUBEMOS QUE O TEU FILHO VOS AJUDOU A DAR O NOME A UMA DAS FAIXAS DO ÁLBUM ANTERIOR, ELE AJUDOU-VOS EM ALGUMA COISA PARA ESTE?

TOMMY: Ele ajuda-me e influencia-me em tudo, no que me diz respeito. Esteve comigo na cidade onde gravamos e acompanhou-me durante o processo. É uma grande componente daquilo que faço.

FAZ AGORA DEZ ANOS QUE ESTA FORMAÇÃO TRABALHA JUNTA, CINCO ÁLBUNS FORAM GRAVADOS. QUAL É QUE ACHAS QUE FOI A EVOLUÇÃO DA BANDA? MUDOU A VOSSA FORMA DE COMPOR E DE OUVIR MÚSICA?

TOMMY: Penso que nos tornamos melhores, espero. Conseguimos perceber melhor o que raio estamos a fazer (risos). Tem sido uma aventura fantástica, adoro compor com esta malta, aprendemos tanto. Cada álbum é uma lição, nada é forçado, crescemos juntos...agora temos mulher e filhos, estamos mais velhos, sim, mas são coisas que também nos motivam para criar um legado ainda maior e escrever melhor música.

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“APRENDEMOS AO LONGO DOS ANOS QUE CERTAS PARTES DIFERENTES PODEM REALMENTE ENRIQUECER A MÚSICA E ATÉ FAZER SOBRESSAIR OUTRAS PARTES MAIS “NORMAIS”. FOI ALGO QUE FOMOS APRENDENDO, TRABALHANDO EM DIFERENTES CAMADAS E TONALIDADES...O CÉU É O LIMITE.”

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WEBNEM TUDO ACABA MAL

E N T R E V I S T A

SÃO UMA DAS MAIORES INST ITU IÇÕES DO SOM ETERNO LUSO. CARREGAM ÀS COSTAS PRAT ICAMENTE TRÊS DÉCADAS DE BOM METAL E JÁ NADA TÊM A PROVAR, A NÃO SER A S I PRÓPR IOS . ESTÁ-LHES NO SANGUE FAZER MAIS E MELHOR. GOSTAM DE SER CONDUZ IDOS PELA MÚSICA , SEM SABER ONDE ESTA PODERÁ LEVÁ-LOS. SOBRE ESTES ASSUNTOS E OUTROS MAIS , COM ENFOQUE NO EXCELENTE TERCE IRO ÁLBUM, “EVERYTH ING ENDS”, FALÁMOS COM FERNANDO MART INS, VOCAL ISTA E BA IX ISTA DOS WEB.

Por: Dico

OS WEB SÃO UMA BANDA ASSUMIDAMENTE THRASH METAL , MAS “EVERYTH ING ENDS” REVELA , A INDA MAIS DO QUE O ANTER IOR “DEV IANCE” , UMA MAIOR ABERTURA EST IL ÍST ICA . O THRASH CLÁSS ICO CONT INUA A PREDOMINAR, MAS NUMA ABORDAGEM ATUAL , QUE POR VEZES TAMBÉM FAZ LEMBRAR O POWER METAL AMER ICANO. OUV IMOS AQU I UMA EXPLORAÇÃO MAIS REF INADA DE OUTRAS ABORDAGENS MUSICA IS , COMO O DOOM, O THRASH MODERNO COM GROOVE OU MESMO O GOTH IC METAL . ESTA AMPL ITUDE EST IL ÍST ICA FO I NATURAL , COMO PARTE DO PROCESSO EVOLUT IVO DA BANDA, OU QU ISERAM EXPLORAR MAIS A FUNDO OUTROS

SUBGÉNEROS?

FERNANDO MART INS: Assumidamente tivemos de encontrar um género em que pudéssemos ser catalogados sem dificuldade. As nossas raízes são o Heavy, o Thrash e o Doom (embora com predominância para o Thrash, em termos de composição), mas foi o Thrash que permaneceu enquanto identidade musical. “Everything Ends” é realmente distinto do “Deviance”, assim como este o é em relação ao “World Wild Web”. Cada um dos nossos álbuns apresenta as características próprias da época em que foi composto e de quem o compôs. Já no “Deviance” temos mais o estilo que nos define, e que em “Everything Ends” se torna

mais vincado, é um facto. No entanto, tudo isto nos é natural. Não forçamos seja o que for no processo de composição. Todos temos as nossas influências e é isso que se nota em cada tema do álbum. Na essência, todos estes temas são Web.

APESAR DAS MÚL IPLAS VAR IANTES EST IL ÍST ICAS OS WEB ALCANÇAM NESTE ÁLBUM UMA HOMOGENE IDADE SONORA INVEJÁVEL , MANTENDO DO IS ELEMENTOS H ISTOR ICAMENTE PRESENTES NA VOSSA MÚSICA : PESO E MELOD IA . É INST INT IVO PARA A BANDA MANTER ESTA FÓRMULA OU DURANTE O PROCESSO DE COMPOSIÇÃO DESCARTAM IDE IAS QUE POSSAM NÃO ENCA IXAR NA

4 0 / VERSUS MAGAZINE

[. . .] “A MORTE DO DAVID FOI ALGO QUE MUITO NOS AFETOU, MAS AINDA HOJE SOMOS CINCO EM PALCO - ELE ESTÁ SEMPRE PRESENTE”.

[.. .] “A MORTE DO DAVID FOI ALGO QUE MUITO NOS AFETOU, MAS AINDA HOJE SOMOS CINCO EM PALCO - ELE ESTÁ SEMPRE PRESENTE”.

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SONORIDADE DOS WEB?

FERNANDO MART INS: Nada é descartado quando compomos. Se gostamos fica, se não gostamos sai. É assim que gostamos de trabalhar. Peso e melodia são características inatas da nossa música, não o fazemos porque sabemos que as pessoas estão à espera disso. Fazemo-lo porque é assim que gostamos, é assim que nos sai. Faz parte do nosso ADN enquanto banda.

GRAVARAM O ÁLBUM NOS RA IS ING LEGENDS STUD IOS COM O ANDRÉ MATOS. QUE D I FERENÇAS ENCONTRAM ENTRE O PROCESSO DE ESTÚD IO DESTE ÁLBUM E DO «DEV IANCE» , QUE GRAVARAM NOS SOUNDVIS ION COM O PAULO LOPES?

FERNANDO MART INS: Não podemos comparar. Foram duas situações muito diferentes. Com o Paulo Lopes foi um processo exaustivo - dois meses metidos no estúdio, trabalhando quase todos os dias. Tanto a captação como a mistura e masterização fizeram-se lá. Com o André, o processo foi muito mais longo mas estivemos menos tempo em estúdio. As captações aconteceram realmente no Raising Legends Studios com o André, tendo a mistura e a masterização ficado a cargo do Christian Svedin nos Studios Haga, na Suécia.

PRETEND IAM AT ING IR OBJET IVOS ESPEC ÍF ICOS EM TERMOS DE SOM AO TRABALHAR COM O CHR IST IAN?

FERNANDO MART INS: O Christian surgiu como “plano b” e revelou-se uma aposta ganha. Ele é muito disponível, profissional, e, acima de

tudo, percebeu a forma como pretendíamos soar neste álbum - mais frescos e potentes, sem nunca perder a nossa identidade e som próprios.

NESTE ÁLBUM É NOTÓR IO QUE ALGUMAS PASSAGENS DE DETERMINADOS TEMAS EX IG IRAM UMA ABORDAGEM VOCAL D IFERENTE (COMO “EVERYTH ING ENDS - PART I” ) , O QUE SE REFLET IU NUMA MAIOR AMPL ITUDE DA TUA VOZ . QUÃO DESAF IANTE FO I PARA T I ESTA REAL IDADE ENQUANTO INTÉRPRETE?

FERNANDO MART INS: Essa parte de que falas foi de facto muito desafiante, nunca tinha feito nada igual. Já o tema “The Journey”, do «Deviance», começa com um som bastante mais limpo do que costumo fazer, mas é quase falado, com pouca melodia. No “Everything Ends - Part I” tive mesmo que dar um pouco de melodia à minha voz limpa. Tinha de ser assim, foi assim que ouvi a letra na minha cabeça quando a escrevi.

NESTE ÁLBUM TEMOS DO IS TEMAS CONCEPTUA IS - AS DUAS PARTES DE “EVERYTH ING ENDS” - , EXTENSOS, QUE SE ORGANIZAM EM C INCO PARTES . ESTA SERÁ UMA TENDÊNC IA A MANTER NO FUTURO?

FERNANDO MART INS: Nos WEB tudo está em aberto. Não recusamos ideias só porque não é o que “normalmente” fazemos. Como disse, se gostamos fica, se não gostamos sai. A base deste tema partiu do Filipe [Ferreira, guitarrista], que mesmo antes de termos os riffs prontos e estruturados nos disse que tinha imaginado um tema com cerca de 20 minutos. Não ficou com 20 mas com cerca de 21, dos quais para o álbum só gravámos 17.

OS WEB JÁ SE ENCONTRAM A RODAR ESTE ÁLBUM NA ESTRADA, TENDO UMA AGENDA RAZOAVELMENTE PREENCH IDA . EX ISTEM ALGUMAS DATAS PLANEADAS FORA DO PA ÍS OU VÃO MANTER UM PERCURSO ESTR ITAMENTE NAC IONAL?

FERNANDO MART INS: Neste momento estamos concentrados na promoção do álbum a nível nacional, mas não descartamos datas fora do país. Os contactos já estão a ser feitos e brevemente poderão surgir novidades!

EM OUTUBRO DE 2016 OS WEB FAZEM 30 ANOS DE AT IV IDADE , AO LONGO DOS QUA IS T IVERAM DE ULTRAPASSAR FASES ESPEC IALMENTE D IF ÍCE IS , COMO A DOENÇA E A MORTE DO DAV ID . OLHANDO EM RETROSPET IVA , QUE BALANÇO FAZES DA VOSSA CARRE IRA?

FERNANDO MART INS: Fazer o que gostamos, com quem gostamos, resulta sempre num saldo positivo, mesmo contando com algumas fatalidades e adversidades que fomos tendo ao longo do caminho. A morte do David foi algo que muito nos afetou, mas ainda hoje somos cinco em palco - ele está sempre presente.

HÁ ALGO DE QUE SE ARREPENDAM, QUE GOSTASSEM DE TER FE ITO DE OUTRA FORMA OU QUE GOSTASSEM DE A INDA AT ING IR?

FERNANDO MART INS: Sim, claro, se dissesse que não estaria a mentir. Gostaríamos de ter lançado o primeiro álbum mais cedo e de ter promovido mais o nosso trabalho lá fora. No passado fomos mais recativos que proativos, mas esse é um aspeto que mudámos. Temos

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consciência de que poderíamos ter sido mais reconhecidos se a promoção fosse mais intensa e frequente.

O NORTE SEMPRE DEU BANDAS EXTREMAMENTE RELEVANTES AO UNDERGROUND NAC IONAL E O CENÁR IO QUE AGORA SE V IVE NÃO É D I FERENTE . COMO ANAL ISAS ESTA REAL IDADE?

FERNANDO MART INS: No Norte, Centro, Sul e Ilhas! Todo o Portugal está cheio de boas bandas a fazer boa música, desde sempre. Da parte dos Web vai um grande abraço para todas as bandas e pessoas que nunca baixaram os braços e continuam a lutar pelo nosso Underground.

[ . . . ] “NO PASSADO FOMOS MA IS REACT IVOS QUE PROAT IVOS , MAS ESSE É UM ASPETO QUE MUDÁMOS” .

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ROTEMRETRATO DO ARTISTA QUANDO JOVEM

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“[…] QUIS, TAL COMO UM PINTOR, REPRESENTAR O MAIS FIELMENTE POSSÍVEL O QUE EU VEJO COM O SOM E AS LETRAS QUE FAÇO, PARA QUE O OUVINTE POSSA REFLETIR. […]”

AO LER A NOT ÍC IA B IOGRÁF ICA DA “ALMA” DE ROTEM, VE IO -NOS À IDE IA O T ÍTULO DESTE CÉLEBRE ROMANCE DE JAMES JOYCE , MAIS CONHEC IDO PELO SEU “UL ISSES” .ESPERAMOS PODER UM D IA – DAQU I A UNS ANOS – ENTREV ISTAR NOVAMENTE BRUNO RODR IGUES , PARA VER COMO EVOLU IU ESTE RETRATO QUE AQU I VOS DE IXAMOS.

Por: CSA

GOSTE I BASTANTE DESTE PR IME IRO ÁLBUM DE ROTEM. O SOM AGRADOU-ME MUITO .QUE TÓP ICOS ASSOC IAS A «DEHUMANIZAT ION»?

Bruno Rodrigues: Associo-lhe principalmente a decadência do Homem, tanto moral, como espiritual, devido à sociedade em que vivemos e também aos males que isso nos traz, como

a guerra – alimentada por motivos monetários e pela procura de oportunidades de lucro e também religiosos – e a corrupção política.

ESCREVESTE O ÁLBUM PORQUE TE SENTES V ÍT IMA DE DESUMANIZAÇÃO? OU QUERES APRESENTAR UMA REFLEXÃO SOBRE UM TEMA TÃO PRESENTE NA SOC IEDADE ATUAL?

Bruno Rodrigues: De certa forma, acho que todos nós nos sentimos vítimas dos tempos em que vivemos. Apesar do álbum apresentar a minha visão pessoal das coisas que ocorrem na sociedade atual, eu quis, tal como um pintor, representar o mais fielmente possível o que eu vejo com o som e as letras que faço, para que o ouvinte possa refletir. E pôr o ouvinte a refletir foi, sem dúvida, o

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principal objetivo de «Dehumanization».

QUEM VÊS COMO OR IGEM DO TEU SOM?

Bruno Rodrigues: É difícil dar exemplos, porque são muitas as influências que tenho acessíveis a um clique do rato. Mas posso afirmar, sem dúvida, que uma delas é Death, não tanto musicalmente, mas em termos líricos: teve um grande impacto, especialmente no que toca à forma como o Homem é encarado. Musicalmente, se bem me recordo, tive inspirações de Slayer, Celtic Frost (daí a cover), Nader Sadek, At The Gates e um tanto das bandas escandinavas de Black Metal. No entanto, creio que Rotem tem conseguido criar um som próprio e eu tenho trabalhado imenso para isso, porque acredito que, em termos artísticos, devemos sempre tentar elevar a fasquia e desenvolver algo que seja fresco ou fora do habitual

FAZES MESMO TUDO EM ROTEM? TAMBÉM ÉS O RESPONSÁVEL PELA PARTE GRÁF ICA?

Bruno Rodrigues: Sim, é tudo é feito por mim com a exceção de algumas colaborações: no tema “God Complex”, tive Pedro Moreira a solar; o Barros Onyx contribuiu com vocais adicionais; o Jorge Oliveira participou na mixagem e masterização do álbum. Para além de ser músico, também sou um artista visual, logo grande parte da arte foi feita por mim como, por exemplo, o logo do projeto e a capa. Mas também tive colaboração da editora nos layouts do booklet e na adição de mais alguns elementos nos fundos, etc.

QUE IDE IA PRETENDE A CAPA DO ÁLBUM TRANSMIT IR?

Bruno Rodrigues: A capa

pretende ilustrar a frieza que vivemos nesta sociedade que só vive de aparências. Por isso, está lá esta figura que sabemos que é humana, mas que, ao mesmo tempo, nos causa desconforto, porque não conseguimos ver o seu rosto humano e aproximar-nos dela. A máscara protege-a do mal que rodeia a humanidade e que é gerado por ela própria.

POR QUE LANÇASTE O TEU ÁLBUM NUMA ED ITORA CUJO NOME FAZ REFERÊNC IA A SONS ETÉREOS? VÊS ALGUM LADO ETÉREO NA TUA MÚSICA?

Bruno Rodrigues: É simples. O álbum foi lançado pela Ethereal Sound Works, porque foi das primeiras que demonstraram interesse pela minha música. O seu principal objetivo é lançar exclusivamente trabalhos de artistas portugueses e isso agrada-me imenso. Em relação ao lado etéreo e apesar da referência da editora a sons etéreos, considero a música que fiz para o «Dehumanization» é o contrário disso, ou seja: é agressiva, crua, direta e feia. E é assim que deve ser, para refletir a temática abordada no álbum.

TENS CONSEGU IDO FAZER CONCERTOS PARA DAR A CONHECER ESTE TEU TRABALHO?

Bruno Rodrigues: Não. Rotem ainda não fez um único concerto pelo simples facto de ser uma one man band. Não é que me oponha a tocar ao vivo, mas, de momento, é impossível e também não é o objetivo principal do projeto.

JÁ ESTÁS A TRABALHAR NUM NOVO ÁLBUM?

Bruno Rodrigues: Sim, já estou a trabalhar no segundo álbum. De momento, estou na fase de composição e arranjos. Aliás,

este mês lanço o segundo trabalho de Rotem, que é um EP intitulado «Nightmare Forever». Sai no dia 11 de Junho, pela minha editora: Rot’em Records.

QUAL É O TEU MAIOR SONHO NESTE MOMENTO?

Bruno Rodrigues: O meu maior sonho – pelo menos em relação a Rotem, até porque tenho outros sonhos – é continuar a lançar trabalhos, tentando sempre superar o anterior e criar algo original ou, pelo menos, com novas influências. estivesse a cantar do ponto de vista da velha alma dentro da segunda parte agonizante de um gémeo siamês.

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“A CAPA PRETENDE ILUSTRAR A FRIEZA QUE VIVEMOS NESTA SOCIEDADE QUE SÓ VIVE DE APARÊNCIAS. […]”

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ANUNCIA

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SATURNIAN MISTA UNICIDADE NA DIVERSIDADE

E N T R E V I S T A

“SOMOS OS MÚSICOS MÍSTICOS BIZARROS, QUE FAZEM O QUE É INTERDITO ATÉ OS OUTOS NÃO TEREM OUTRA OPÇÃO SENÃO ACEITAR O INEVITÁVEL […]”

É ESTA A IDE IA QUE A BANDA PRETENDE EXPR IMIR ATRAVÉS DE «CHAOS MAGICK» , QUE , LOGO NA CAPA, L IGA ENTRE S I VÁR IAS REL IG IÕES/CRENÇAS/CORRENTES F I LOSÓF ICAS E ESOTÉR ICAS EM QUE O HOMEM PROCURA UM SENT IDO PARA A V IDA .

Por: CSA

A F INLÂND IA NÃO É CERTAMENTE O PA ÍS MAIS CONHEC IDO NO QUE TOCA AO BLACK METAL , EMBORA SEMPRE TENHA S IDO UMA ESPÉC IE DE PARA ÍSO PARA A MÚSICA EXTREMA. QUE PAPEL DESEMPENHA SATURNIAN MIST NA CENA METAL F INLANDESA?

FRA ZETECK: Somos os músicos místicos bizarros, que fazem o que é interdito até os outos não terem outra opção senão aceitar o inevitável e mesmo autorizarem-no, porque nós não saímos daqui. Por outras palavras, fazemos o que nos apetece e acontece que

isso vai contra o status quo estabelecido. No que diz respeito à cena Metal… Pouco visível? Não estou nada de acordo. A Finlândia tem uma das cenas Black Metal underground mais fortes no mundo, se não for mesmo a mais forte. E penso que os nossos nomes sonantes desempenharam um papel de destaque na construção do que o Black Metal é hoje em dia. Barathrum, Beherit, Archgoat, Impaled Nazarene, não te dizem nada?

ESTE ÁLBUM TEM UM T ÍTULO QUE PODE SER FAC ILMENTE RELAC IONADO COM O SATANISMO. QUA IS SÃO AS PR INC IPA IS IDE IAS DO CONCE ITO

SUBJACENTE AO VOSSO LONGA DURAÇÃO?

FRA ZETECK: Este álbum fala da procura da luz, da verdade e dosentido da vida, tudo tópicos subjacentes ao conceito de magia do caos. Trata-se de um movimento e ideologia ocultista, com o qual podes relacionar escritores como Aleister Crowley, J. Carroll, Kenneth Grant, William S. Burroughs, etc. As suas ideias influenciaram-nos muito, tanto que fizemos este álbum. É o conceito de base do álbum, mas impregnado da nossa ideologia fortemente ligada ao caminho da mão esquerda e ao satanismo. A magia do caos em si não tem nada a ver com

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Satanismo, mas nós encarregámo-nos de criar essa ligação.

PODES LEVAR-NOS NUMA V IS ITA GU IADA AO VOSSO ÁLBUM? POSSO PED IR -TE QUE COMENTES O T ÍTULO QUE ESCOLHERAM PARA CADA UMA DAS FA IXAS?

FRA ZETECK: Sim, mas serei breve. Não quero estar a dizer aos ouvintes que sentido devem dar a cada canção. Nunca o faço, porque penso que a arte, a música, etc. estão abertas a inúmeras formas pessoais de as apreender e não quero estragar esse prazer a ninguém.A intro chama-se “612”, que é um valor alfanumérico para o caos na numerologia da gematria, tal como 666 é o número do Diabo;Em “The Heart Of Shiva”, queria concentrar-me na divindade Shiva, que é um arquétipo de Satã da mitologia hindu. Também se refere ao chacra “Anahata”, que é o do coração. Trata-se alegadamente de um centro de energia situado perto do coração.“The True Law”. Para perceber esta, basta ler a letra. “Do What Thou Wilt Shall Be The Whole Of Law – I am / You Are the True Law”. “Root Of The Coiled Serpent”. Refere-se ao chacra Muladhara também chamado “Chakra-Raiz”. Os chacras supostamente estão ligados ao “Kundalini”, que fica situado na medula espinal e é designado pela expressão “Coiled Serpent”. Quer gostem, quer não, quer seja coincidência ou não, a “Serpente” é o símbolo do Diabo, na mitologia europeia.“Chaos Unchained”. Como o álbum se chama «Chaos Magick», a perda de controle e a necessidade de se livrar de todos os obstáculos que limitam o corpo, a mente e a alma são ideias que o atravessam todo. Temos aqui uma espécie de prelúdio para a canção que corresponde ao título do álbum.“The Third Eye Contemplation”. Aqui não vejo qualquer simbolismo.“Bloodsoaked Chakrament”. Chakra, Sacrament. As religiões do mundo têm todas a mesma origem. A verdade é a mesma para todos e oculta-se atrás das palavras e dos termos.“Chaos Magick”. “Somos filhos dos Deuses? Ou são os deuses que são nossos filhos?”“Voodoo Satan”. A principal razão pela qual temos percussionistas na banda é porque somos muito inspirados pelo Voodoo. Os sacerdotes do voodoo têm tambores rituais que tocam para atingir o transe através de uma espécie de frenesim e não através da contemplação silenciosa, típica dos Cristãos.“Martial Theosis”. Esta canção foi escrita por um convidado, um bom amigo meu: Artifex IC, da banda IC Rex. Foi ele que escolheu o título, portanto eu não o vou comentar. Mas a canção foi escrita tendo em conta o conceito do álbum, logo deve haver uma boa razão para fazer parte dele.“Evoking God”. Quando era mais novo, ouvi falar de um método esotérico para realmente ver Deus. Experimentei-o e constatei que funcionava. Até hoje, continua a ser uma das experiências mais fantásticas que vivi. A canção fala desse método.“White Void Of All-Being”. Também convidei um amigo para escrever a letra desta canção: Johannes Nefastos, que é um autor ocultista muito conhecido na Finlândia e já publicou muitos livros sobre esta temática. Escrevemo-la a meias e refere-se ao estado que te permite passar pelo Sahasrara-chakra, dito “Chacra-Coroa”, o último estádio antes

da iluminação. Tenho de dizer que TODAS as canções deste álbum foram escritas de modo a corresponderem a Chacras, Sefiras, Runas, símbolos astrológicos e pretendem provar que vão dar todos ao mesmo, apenas decorrem de culturas diferentes. Mas o objetivo das canções não é falar deles. Eles são apenas os ingredientes que nos permitem fazer uma boa “história”, já que todos simbolizam aspetos da realidade quotidiana.“Yoga, Hate, Fuck”. Não vou comentar esta. Se tiveres apreendido a mensagem do álbum, vais certamente ter facilidade em compreendê-la.

A CANDLEL IGHT ELOG IOU A VOSSA HAB IL IDADE PARA COMBINAR VÁR IOS GÉNEROS DE METAL PARA CONSTRU IR O VOSSO PRÓPR IO EST ILO . O QUE PODEMOS OUV IREM «CHAOS MAGICK»?

FRA ZETECK: Não misturamos esses géneros intencionalmente, Tal como já referi, fazemos o que nos apetece e deixamos as canções fluir através de nós. Não nos preocupamos em encontrar etiquetas ou categorias que o nosso som deva respeitar, queremos criá-lo e fazer com que ele exprima o que queremos dizer, Não me sinto capaz de responder da forma mais adequada, mas, além de Black Metal, acho que vais encontrar Death Metal, Thrash Metal, Heavy Metal e, se alguém disser que se pode mesmo encontrar algumas influências de Hardcore Punk/Hard Rock, não sou eu que vou negar.

DO PONTO DE V ISTA MUSICAL , QUAL É A TUA CANÇÃO FAVOR ITA NESTE ÁLBUM? VÃO FAZER ALGUM V ÍDEO PARA ELA?

FRA ZETECK: É difícil dizer, porque eu vejo o álbum como um todo e não consigo pensar nele desse modo. Mas, quando tocamos ao vivo, as minhas favoritas são “The True Law” e “Root of the Coiled Serpent”. Fizemos um vídeo para “The True Law”, que foi dirigido aqui por este teu criado. Foi lançado como um single, antes do álbum sair.

QUEM ESCOLHERAM PARA FAZER A MAGNÍF ICA CAPA DESTE ÁLBUM? PODES EXPL ICAR O SEU S IGN IF ICADO AOS NOSSOS LE ITORES?

FRA ZETECK: Foi feita por mim e pelo pintor/artista finlandês Vesa-Antti Puumalainen, que também “pintou” a capa do nosso álbum de estreia, pelo que nos pareceu normal continuar a trabalhar com ele. V-A fez o sigil de dez pontas e eu encarreguei-me do resto. Também usámos o nosso símbolo Sol-Omega, redesenhado por “Eld”, de acordo com uma ideia original minha. Queria uma capa que incluísse todos os principais elementos simbólicos referidos no álbum, portanto eles figuram todos nela de forma mais ou menos aparente.

NÃO HÁ ALGUMA CONTRAD IÇÃO ENTRE A VOSSA S IMPAT IA PELO SATANISMO E A IDEIA DE FAZER CONCERTOS AO VIVO?

FRA ZETECK: Por que havia de haver? Já fizemos muitos concertos e continuaremos a fazer, se calhar cada vez mais. Posso mesmo dizer que não há ocasião em que sejamos melhores que quando estamos no palco, porque aquilo que queremos transmitir não pode ser compreendido apenas a partir das palavras, tem de ser experimentado, tem de ser sentido.

QUE PLANOS TÊM A BANDA E A CANDLEL IGHT PARA PROMOVER ESTE ÁLBUM?

FRA ZETECK: Entrevistas, críticas, concertos, anúncios. Os meios habituais. Por outro lado, recentemente, um monge tibetano confirmou que eu sou a reencarnação de Aleister Crowley. Penso que isso também vai ajudar. De qualquer modo, a editora faz o seu trabalho e nós, o nosso. Estamos a planear uma digressão europeia, mas não sei se vamos passar por Portugal. Portanto, se algum promotor português ler esta entrevista, já sabe o que pode fazer!

CONHECEM ALGUMA BANDA METAL PORTUGUESA COM QUEM GOSTASSEM DE PART ILHAR O PALCO?

FRA ZETECK: Não muitas, mas não me importava de o fazer com Moonspell!

VOCÊS – HOMENS DA “TERRA DOS MIL LAGOS” – JÁ V IS ITARAM O “PA ÍS À BE IRA-MAR PLANTADO” (COMO NÓS CHAMAMOS A PORTUGAL)?

FRA ZETECK: Não posso falar pelos outros. Eu não, infelizmente. Só cheguei a Espanha. Uma vez, alguém quis chamar-nos para tocar aí, mas houve um problema qualquer. Mas vamos esperar que desta vez vai tudo correr bem e que, em breve, Saturnian Mist estarão a dar o seu concerto de estreia no “país à beira-mar plantado”!

“ [ … ] Q U E R I A U M A C A P A Q U E I N C L U Í S S E T O D O S O S P R I N C I P A I S E L E M E N T O S S I M B Ó L I C O S R E F E R I D O S N O Á L B U M , [ … ] F I G U R A M T O D O S N E L A D E F O R M A M A I S O U M E N O S A P A R E N T E . ”

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“ESTE ÁLBUM FALA DA PROCURA DA LUZ, DA VERDADE E DO SENTIDO DA VIDA […]”

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SHAPE OF DESPAIRUMA NOVA PERCEÇÃO DA VIDA

E N T R E V I S T A

“[…] DEMORÁMOS ALGUM TEMPO A PÔR TUDO EM ANDAMENTO, MAS MAIS VALE TARDE QUE NUNCA.”

É O MAIS RECENTE MEMBRO DA ATUAL FORMAÇÃO DE SHAPE OF DESPA IR , O NOVO VOCAL ISTA DA BANDA, MAS FO I A ELE QUE COUBE A HONRA DE DEFENDER AS CORES DA MESMA NESTA ENTREV ISTA À VERSUS.NAS SUAS PALAVRAS, PERPASSA UMA NOVA V ISÃO – POS IT IVA – DA DETESTADA MONOTONIA .

Por: CSA

ESTE ÁLBUM APARECE 11 ANOS DEPO IS DO VOSSO ANTER IOR LONGA DURAÇÃO. O QUE ACONTECEU?

HENRI KO IVULA : Bem, aconteceram muitas coisas à banda. Muitos dos membros têm outras bandas que lhes ocupam tempo e não sentimos a necessidade de andar a

correr. Também houve uma grande mudança na formação da banda, quando o anterior vocalista saiu, porque queria concentrar-se nos seus próprios projetos. Eu vim substituí-lo, ao fim de algum tempo, e começámos a ensaiar e a compor músicas para este álbum. Demorámos algum tempo a pôr tudo em andamento, mas mais vale

tarde que nunca.

HÁ ALGUMA RELAÇÃO ENTRE ESTE ÁLBUM E O SPL IT QUE F I ZERAM COM BEFORE THE RA IN , EM 2011? PODE-SE CONSIDERAR QUE ESSE LANÇAMENTO FO I UMA ESPÉC IE DE PREPARAÇÃO PARA «MONOTONY F I ELDS»?

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HENR I KO IVULA : Não, não me parece. A canção que SOD interpretou nesse split era uma cover de «Lycia». Tenho a impressão de que nessa altura Pasi [Koskinen, anterior vocalista] já não fazia parte da banda e eu ainda não tinha chegado. As faixas para «Monotony Fields» foram escritas com os membros da nova formação. As primeiras canções que fizemos foram rapidamente descartadas, porque eram provavelmente demasiado diferentes do som familiar de SOD. Reparámos que as mais lentas nos agradavam muito mais e só deixámos no álbum as que gostávamos de tocar.

CONSIDERAM A MONOTONIA COMO UM IN IMIGO? OU , PELO CONTRÁR IO , É ALGO QUE VOS AGRADA?

HENRI KO IVULA : Nem uma coisa, nem a outra. De facto, depende do ponto de vista. Pessoalmente, vejo-a como algo que desperta os níveis mais profundos da consciência. Por exemplo, ouvir repetidamente um dado som ou pensamento ou qualquer outra coisa durante longos períodos de tempo altera a perceção e leva-te a ver as coisas de forma diferente. É por isso que – pelo menos para mim – o Doom Metal, o Dark Ambient, etc. são poderosamente inspiradores. A tua mente começa a ir à deriva e tu podes acabar em algum lado onde nunca tinhas estado antes.

VEEM-SE COMO UMA BANDA NEGAT IVA? OU PRETENDEM MOSTRAR QUE A V IDA TAMBÉM É FE ITA DE CO ISAS MENOS AGRADÁVE IS COMO O DESESPERO E A MONOTONIA?

HENRI KO IVULA : É óbvio que nos situámos em paragens mais tenebrosas no que toca à música. A vida é o que é,

tem de haver uma razão para gostarmos de fazer este tipo de música. Apesar de ser francamente negativa, também é muito compensadora. As pessoas que apreciam este tipo de música normalmente dizem-me que encontram uma espécie de alívio nestas canções, que sentem que conseguem estabelecer uma relação com elas.

COMO CONSEGUEM RELAC IONAR A CAPA DO ÁLBUM COM O CONCE ITO DE MONOTONIA?

HENRI KO IVULA : Trata-se de uma interpretação pessoal do artista que a fez. Mas, pela parte que me toca, não me foco muito no termo “monotonia”. Penso mais no conteúdo do álbum, nas suas canções e, francamente, não consigo imaginar uma capa melhor do que esta para o nosso trabalho. É abstrata e ligeiramente ominosa. Também gosto muito do facto de o artista ter usado tendencialmente cores quentes.

PENSARAM EM CONVIDAR O PEDRO DANIEL (AKA PHOBOS ANOMALY) , O BA IX ISTA DA BANDA PORTUGUESA BEFORE THE RA IN PARA FAZER A CAPA DO VOSSO ÁLBUM, UMA VEZ QUE ELE É TAMBÉM UM TALENTOSO ART ISTA GRÁF ICO?

HENR I KO IVULA : Vi alguns trabalhos do Pedro e tenho uma excelente opinião acerca da sua arte. Mas SOD tem contactado o mesmo artista já há algum tempo e tencionámos continuar a trabalhar com ele no futuro.

ALGUMA VEZ V I ERAM A PORTUGAL? CONHECEM A NOSSA CENA METAL?

HENRI KO IVULA : Não, infelizmente nunca estive em Portugal. Só conheço Moonspell e Before

the Rain.

ESTÃO A PREPARAR ALGUMA D IGRESSÃO PARA PROMOVER ESTE ÁLBUM? SER IAM CAPAZES DE CONSIDERAR A H IPÓTESE DE INCLU ÍREM PORTUGAL NA VOSSA L ISTA DE PA ÍSES A V IS ITAR?

HENRI KO IVULA : Provavelmente, vamos apenas fazer alguns concertos aqui e ali., não penso que venha a ser uma verdadeira digressão, porque fazê-lo com esta banda é muito complicado. É claro que estamos abertos a todo o tipo de convites, mas logo se verá. E de facto, gostaria muito de ir a Portugal com Shape of Despair.

DIZ TRÊS CO ISAS SEM AS QUA IS NÃO PODES PASSAR.

HENR I KO IVULA : Ar, café, água. álbum, que consigamos chegar a mais pessoas e até – quem sabe – ir tocar a Portugal.

“ […] AS PESSOAS QUE APREC IAM ESTE T IPO DE MÚS ICA NORMALMENTE D I Z EM-ME QUE ENCONTRAM UMA ESPÉC I E DE AL ÍV IO NESTAS CANÇÕES […]”

WWW.FACEBOOK.COM/SHAPEOFDESPA IROFF IC IAL

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“[…] PESSOALMENTE, VEJO-A [A MONOTONIA] COMO ALGO QUE DESPERTA OS NÍVEIS MAIS PROFUNDOS DA CONSCIÊNCIA. […]”

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SPEEDEMONÀ VELOCIDADE DO DEMO

O ATR IBULADO IN ÍC IO DE CARRE IRA COMO O QUE OS SPEEDEMON EXPER IMENTARAM ATÉ UM PASSADO MUITO RECENTE BASTAR IA PARA QUE MUITOS OUTROS GRUPOS BA IXASSEM OS BRAÇOS. NO ENTANTO, O QUARTETO DE V I LA FRANCA DE X IRA É FE ITO DE UMA F IBRA À PROVA DE AÇO (?) E ENCONTRA-SE EM VELOC IDADE DE CRUZE IRO . COM O BA IX ISTA RU I MARUJO A VERSUS FALOU SOBRE O EP DE ESTRE IA , “F IRST BLOOD”, AS AVENTURAS QUE A BANDA TEM V IV IDO E ATÉ SOBRE UM FUTURO ÁLBUM. E S IM, O NOSSO INTERLOCUTOR T INHA MUITO PARA D IZER .

Por: Dico

E N T R E V I S T A

O VOSSO EP DE ESTRE IA , “F IRST BLOOD”, T INHA DATA DE LANÇAMENTO PREV ISTA MUITO ANTER IOR ÀQUELA QUE VE IO A VER IF ICAR-SE . UMA DAS S ITUAÇÕES QUE CERTAMENTE ATRASOU O PROCESSO FO I O ABANDONO DO BATER ISTA ALEXANDRE BRANCO, QUE NO ENTANTO A INDA GRAVOU O TEMA «ROADS TO MADNESS» . O LU ÍS MECO DEU-VOS O AUX ÍL IO NECESSÁR IO PARA QUE PUDESSEM TERMINAR AS GRAVAÇÕES DA BATER IA , MAS NESSA ALTURA NÃO POD IA COMPROMETER-SE COM A BANDA, PELO QUE T IVERAM DE RECRUTAR UM NOVO HOMEM DAS PELES , NA PESSOA DO HUGO POTE . TODAV IA , O

HUGO NÃO CHEGOU A AQUECER O LUGAR, TENDO-SE O MECO COMPROMET IDO A ASSEGURAR A FUNÇÃO DE BATER ISTA COMO MÚSICO DE SESSÃO. FALA-NOS DE TODO ESTE PROCESSO. AF INAL O QUE É QUE SE PASSA COM OS VOSSOS BATER ISTAS? VOCÊS BATEM-LHES?

RU I MARUJO : Não lhes batemos, mas às vezes parece que dá vontade! A sorte deles é que não somos pessoas violentas, nem temos mau feitio [risos]! Não foi um processo fácil, é verdade. Tanto assim foi que, mesmo em relação aos temas que acabaram por surgir no alinhamento do EP, as coisas ficaram ligeiramente diferentes do que

estava planeado. Tudo estava mais ou menos delineado para gravarmos cinco ou seis temas, mas para não deixarmos arrastar o processo durante muito mais tempo decidimos ficar pelos quatro que acabaram por sair.Diversos factores contribuíram para esta situação, começando pelo período em que o Bruno [vocalista/guitarrista] adoeceu e foi obrigado a respeitar um longo período de repouso, a que se seguiu um novo arranque, limando e oleando os temas que estivemos sem tocar durante todo esse tempo. Quando finalmente começamos a registar alguma música, o Alexandre (baterista) saiu, o que nos lançou novamente para uma situação de estagnação e obrigou-nos não só a adiar todos os planos, mas também nos colocou na complicada posição de ter que encontrar o

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substituto ideal. Apesar de termos começado a trabalhar com o Meco para a gravação do EP, continuámos a procurar um baterista permanente. Chegámos mesmo a um bom momento com o Hugo, que fez connosco o concerto no Side B, com os brasileiros Imminent Attack e Claustrofobia, mas tal como quem anda nisto sabe bem, as dinâmicas de banda e os diferentes métodos de trabalho são por vezes difíceis de conciliar, motivo pelo qual as coisas acabaram por não resultar. Mas sem qualquer tipo de drama, foram decisões ponderadas e pensadas tendo em vista o que seria melhor para cada elemento individualmente e para a banda como um todo. Posto isto, voltámos a falar com o Meco.

O QUE É QUE MUDOU PARA QUE O MECO POSSA AGORA ASSEGURAR FUNÇÕES NA BANDA? SENDO ELE MÚSICO DE SESSÃO S IGN IF ICA QUE PONDERAM A MÉD IO PRAZO ENCONTRAR UM BATER ISTA DEF IN IT IVO?

RU I MARUJO : Além da partida do Hugo, o próprio Meco viu-se com um pouco mais de disponibilidade para poder trabalhar connosco, coisa que anteriormente se previa ser complicado. Ainda assim, temos sempre que gerir muito bem as agendas de todos, mas tudo se leva tranquilamente.Ainda não falámos nessa questão do baterista definitivo, mas provavelmente não vamos dedicar muito do nosso tempo e esforço nessa empreitada. Pode ser que apareça alguém no futuro, nunca se sabe. Para já, queremos apenas fazer o melhor que conseguirmos com o Meco a assumir o posto, quer seja em termos de concertos ou composição.

ENTRETANTO, A PAR DAS ALTERAÇÕES DE FORMAÇÃO, O SÚB ITO PROBLEMA DE SAÚDE QUE ACOMETEU O BRUNO OBR IGOU-VOS A CANCELAR ALGUNS CONCERTOS. NESTE MOMENTO A BANDA JÁ SE ENCONTRA APTA A RETOMAR A AT IV IDADE NORMAL?

RU I MARUJO : Pois é, o Bruno pregou-nos outra partida e teve que ser internado, mas agora está tudo bem. Não só ele está recuperado, como a banda já retomou os ensaios e estamos a preparar o próximo concerto, no final deste mês (Junho) no festival Sardinha de Ferro. Daqui para a frente vai ser sempre a levantar paralelos [risos].

PARA OS MESES QUE SE SEGUEM O QUE É QUE PODEMOS ESPERAR DOS SPEEDEMON EM TERMOS DE CONCERTOS E PROMOÇÃO EM GERAL? HÁ ALGO ESPEC ÍF ICO DEL INEADO?

RUI MARUJO : Não existe um plano estruturado, por assim dizer. Tentamos fazer com que toda a informação e a própria música chegue ao maior número de pessoas, seja através do contacto directo com fanzines, webzines, programas de rádio, promotores, etc., ou através das redes sociais. Mas como não temos uma pessoa inteiramente responsável pela parte da promoção, cada um de nós vai tentando chegar onde pode, dentro da disponibilidade que lhe for

sobrando. Vamos avançando mais num caminho de improvisação do que com uma estratégia delineada. No que toca à realização de concertos estamos sempre disponíveis, desde que não surjam imprevistos como recentemente [risos]!

APARENTEMENTE , É COM NATURAL IDADE QUE A BANDA AL IA PESO, MELOD IA E BRUTAL IDADE . SENDO O PROCESSO CR IAT IVO NOS SPEEDEMON BASTANTE DEMOCRÁT ICO , DE QUE FORMA CONJUGAM AS CONTR IBU IÇÕES DE CADA ELEMENTO NOS VOSSOS TEMAS?

RUI MARUJO : Tentamos que exista uma espécie de consciência colectiva sobre o que podemos aproveitar ou não. Ou seja, apesar de tentarmos trazer diversas influências para a nossa música, a ideia é que exista uma sonoridade que seja facilmente associada aos Speedemon e que, dessa forma, todas as ideias possam ser aproveitadas, a favor so melhor resultado final possível. Essas ideias podem vir de um grande leque de possibilidades, seja de coisas tão fulcrais como um riff de base ou detalhes como uma transição, uma paragem, uma frase para uma letra. Todos temos carta aberta para lançar sugestões para cima da mesa. Sabemos quase de imediato quando uma ideia resulta para quilo que pretendemos fazer. Nessas situações, ficamos entusiasmados como se fôssemos miúdos no recreio [risos].

E NO QUE SE REFERE ÀS INFLUÊNC IAS DE CADA EXECUTANTE? NO ATO DE COMPOR EV ITAM DE IXAR TRANSPARECÊ -LAS OU DE IXAM A CR IAT IV IDADE FLU IR L IVREMENTE , SEM IMPOREM RESTR IÇÕES AO PROCESSO CR IAT IVO?

RU I MARUJO : Julgo que não colocamos muitas barreiras quando se trata de compor. As influências pessoais de cada um acabam por encontrar o seu caminho, de uma forma ou de outra. Essa situação até pode ser interessante, em termos de resultado final, uma vez que cada um de nós pende mais para determinados campos da música pesada (e não só), pelo que a manifestação dessas influências pode originar coisas boas. Tentamos que a espinha dorsal esteja dentro desse universo Speed/Thrash Metal, mas existe sempre espaço para as influências mais clássicas do nosso guitarrista Jorge (Heavy Metal/Hard Rock) ou para algum Thrash mais moderno do Bruno. Não planeamos a forma como dado tema vai soar. Conjugamos as diferentes ideias, venham elas de onde vierem, e montamos as peças para ver se conseguimos chegar ao final com um bom tema entre mãos.

EMBORA ESTEJAM AGORA NATURALMENTE CONCENTRADOS NA PROMOÇÃO A “F IRST BLOOD” SABE-SE QUE JÁ SURG IRAM NOVOS R IFFS QUE PODERÃO DAR FORMA A FUTUROS TEMAS. QUE D IREÇÃO PODERÁ TOMAR O TRABALHO SEGU INTE? PODEMOS ESPERAR UM LONGA-DURAÇÃO?

RUI MARUJO : Já se vai falando nisso, mas para já ainda é prematuro. Não estamos a delinear uma linha temporal para que isso venha a acontecer a curto prazo, mas vamos começando a pensar de que forma

podemos, a pouco e pouco, orientar as coisas em termos de pré-produção, ir registando algumas ideias, trabalhando algumas coisas de temas mais antigos e que não chegaram a ser gravados para o EP, etc. Ainda estamos na fase de escolher algumas sementes para depois começar a trabalhar a sério na colheita...

DADO O EXCELENTE MOMENTO QUE O METAL NAC IONAL ATRAVESSA, QUER EM NÚMERO E QUAL IDADE DE ESPETÁCULOS E DE BANDAS, BEM COMO DE ÓRGÃOS DE COMUNICAÇÃO SOC IAL UNDERGROUND, PODER ÍAMOS JULGAR QUE TEMOS AS CONDIÇÕES NECESSÁR IAS PARA QUE A CENA LUSA SE TORNE UMA REFERÊNC IA A N ÍVEL EUROPEU. PORÉM, TAL A INDA NÃO SE VER IF ICA . NA TUA OP IN IÃO , O QUE É QUE NOS FALTA, APESAR DO CONTR IBUTO DE BANDAS COMO OS MOONSPELL OU OS HOLOCAUSTO CANIBAL?

RU I MARUJO : Esse campo de opinião é bastante diverso e, se colocares essa questão a dez pessoas, podes acabar com dez respostas diferentes. Não é certamente por uma questão de falta de qualidade das bandas nacionais, como o provam os diversos lançamentos que têm saído nos últimos anos. Actualmente temos inúmeros projectos e bandas a tocar e a gravar excelente música, nos mais variados géneros e com potencial suficientemente sólido para vingar lá fora. Tens os exemplos de Switchtense, Process of Guilt, Midnight Priest ou Corpus Christi, quatro bandas cujas armas surgem de ambientes diferentes, com excelentes lançamentos, magníficas prestações ao vivo e com o olhar naquilo que existe além-fronteiras. E existem mais casos assim. Saber por que motivo as bandas nacionais ainda não são consideradas uma referência a nível europeu é uma dúvida que vai subsistir. Talvez seja um misto entre falta de exposição, pouca dinâmica ou visão para além das zonas de conforto entre-fronteiras, sinceramente não sei... Existe qualidade, existe esforço e dedicação por parte de muita gente, mas talvez exista um ingrediente secreto ainda por descobrir.Honestamente, em especial para as bandas com os olhos postos para além dos limites do burgo lusitano, penso que a cena Punk/Hardcore nacional é um exemplo a seguir desde há vários anos atrás, pois não é raro saber de bandas nacionais a embarcar em tours europeias ou a receber convites para tocar em festivais. Agora, saber o que é que difere nos métodos de trabalho de promoção e divulgação de uns e de outros, se é uma questão puramente musical ou de personalidades, isso já me transcende.

WWW.FACEBOOK.COM/SPEEDEMON.BAND

“O ÁLBUM ESTEVE ‘NO ESTALEIRO’ DURANTE MUITO TEMPO E SENTIMOS QUE FIZEMOS O QUE PRETENDÍAMOS FAZER (…) ALGO GRANDE, AVENTUREIRO, PESADO.”

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GEORGE KOLLIASESTREIA INVICTA

É UM DOS MAIS PROEMINENTES BATER ISTAS E TECN IC ISTAS NA SENDA DO DEATH METAL . INCR IVELMENTE RÁP IDO E COM UM EST ILO MUITO PART ICULAR GEORGE KOLL IAS IN IC IOU-SE NUMA CARRE IRA A SOLO COM « INV ICTUS» , UM ÁLBUM BRUTAL E EXPLOS IVO . PARA OS AMANTES DA BATER IA (E NÃO SÓ) KOLL IAS RESPONDEU A ALGUMAS PERGUNTAS DO MIGUEL R IBE IRO PARA A H INTF E VERSUS MAGAZ INE

Por: Miguel Ribeiro

E N T R E V I S T A

A PR IME IRA QUESTÃO TEM NECESSAR IAMENTE QUE SER , PORQUÊ GRAVAR UM ÁLBUM A SOLO E COMO TE SENT ISTE COM O RESULTADO F INAL?

A razão por que decidi lançar este álbum foi, em primeiro lugar, porque os fans o pediram. Lancei algumas músicas no Youtube dos meus primeiro e segundo DVDs de bateria e as pessoas entraram na música rapidamente. Em pouco tempo começaram a pedir-me um álbum, que finalmente decidi fazer mas levou algum tempo porque eu escrevia e gravava nos intervalos das tournées. Começou por

ser um projeto engraçado e ainda é, mas agora é uma das minhas prioridades porque as pessoas gostaram e apoiaram. Ainda encaro como algo que faço por diversão por isso é que escolhi ser eu a escrever todas as músicas e a tocar todos os instrumentos. Quanto ao resultado, estou extremamente feliz e satisfeito. Adoro a produção, adoro as músicas, os convidados eram exatamente aqueles que eu queria também. Tenho uma excelente editora por trás deste projeto e os fans adoraram o álbum, por isso tudo é perfeito para mim. Não podia estar mais feliz, a sério!

QUANDO FALAMOS EM PROJETOS A SOLO NORMALMENTE PENSAMOS

NUM MÚSICO QUE CONVIDA OUTROS PARA APARECER OU PART IC IPAR NO ÁLBUM, NO ENTANTO TU LEVASTE O TERMO “A SOLO” MAIS ALÉM, TOCANDO E GRAVANDO TODOS OS INSTRUMENTOS. PORQUÊ ESSA OPÇÃO?

Porque era divertido e um “real” projeto meu e não uma segunda banda para vender mais alguns discos. Este projeto e este álbum foi algo que fiz para minha satisfação pessoal e que queria partilhar com os faz. Por isso queria que fosse “100% George”, queria que

“A RAZÃO POR QUE DECIDI LANÇAR ESTE ÁLBUM FOI, EM PRIMEIRO LUGAR, PORQUE OS FANS O PEDIRAM.”

“A RAZÃO POR QUE DECIDI LANÇAR ESTE ÁLBUM FOI, EM PRIMEIRO LUGAR, PORQUE OS FANS O PEDIRAM.”

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os fãs também ouvissem o que eu consigo escrever. Ser baterista é uma coisa, contribuis sempre para a banda mas normalmente pouco para as músicas e com este projeto eu quis ir mais além e exprimir-me através da música.

T IVESTE ALGUNS CONVIDADOS PARA O ÁLBUM. COMO ELES APARECERAM?

Sim, tive alguns convidados a fazer alguns solos de guitarra e de violino. Tive Rusty Cooley, Yiannis Papadopoulos, Karl Sanders, Dallas Toler-Wade, Theodore Ziras, George Emmanuel, Mike Papadopoulos, Andreas Trapalis e Bob Katsionis que contribuíram com solos e também o Efthimis Karadimas que cantou numa bónus track e o Mike Breazeale que fez o discurso de introdução do álbum. Estou extremamente honrado por ter estes fantásticos músicos no meu álbum e cada um deles fez um trabalho fabuloso. Era muito importante para mim ter alguns dos meus músicos favoritos e que são também meus amigos. Não queria apenas usar grandes nomes, queria também alguém que eu admirasse e todos eram meus grandes amigos, exceto um guitarrista do qual eu sou um grande fan mas que não conheço muito bem pessoalmente a quem eu pedi para fazer um solo mas acabou por não resultar porque ele estava bastante ocupado por isso não entrou.

QUAL O CONCE ITO POR TRÁS DE “ INV ICTUS” E ONDE FOSTE BUSCAR INSP IRAÇÃO PARA AS MÚSICAS?

Na realidade não existe nenhum conceito, apenas peguei na guitarra e escrevi umas músicas, meti-lhe uns vocais e bateria e as canções apareceram. O único “conceito”, se assim se pode chamar, era que fosse uma banda de um homem só. Era a única coisa que tinha em mente. Liricamente, o álbum tem uma grande variedade, todas as músicas são pequenas histórias que criei na minha cabeça. Normalmente faço isso ao contrário, primeiro arranjo um titulo e depois crio a história à volta disso. Não sou grande fan de “álbuns-conceito”, acho que demoram bastante tempo e depois tornam-se aborrecidos por volta da quarta ou quinta música, eu gosto de mais variedade, gosto de viajar com quem está a ouvir para diferentes lugares e não de prende-los demasiado.

QUAIS AS PR INC IPA IS D I FERENÇAS ENTRE TRABALHAR NUM ÁLBUM A SOLO E GRAVAR COM UMA BANDA COMO N ILE?

Para mim são duas coisas completamente diferentes, exceto as pistas da bateria que em ambos são semelhantes porque ambos são “extreme metal”. Tudo o resto é completamente diferente. Em Nile normalmente trabalho com pistas só com guitarra ou por vezes com algo básico de bateria que o pessoal faz usando programas para isso e eu depois trabalho com isso e faço a minha parte da bateria. Normalmente começo com uma estrutura básica e faço o principal, depois trabalho os detalhes e finalizo. Claro que trabalhamos como equipa por isso por vezes sugerem algumas alterações e fazem-se modificações em geral pelo que o meu trabalho é tentar que a bateria encaixe o melhor possível na música., No

meu projeto, a bateria é quase secundária, primeiro escrevo alguns riffs e a música, no entanto a bateria já está na minha cabeça, depois vou para o meu estúdio e gravo algo básico de bateria para completar a música. Depois trabalho nos pormenores tal como as intros, as pausas, as letras, etc. A responsabilidade é muito maior trabalhar sozinho numa música do que com uma banda, não diria mais difícil, pois para mim foi muito mais divertido. Gosto de começar do zero e ter controlo total de tudo mas apenas neste projeto, quando há mais gente envolvida gosto de partilhar este processo criativo com eles e claro que é muito mais divertido também. Como disse, são duas coisas diferentes. Cada situação tem momentos espetaculares e adoro ambos por razões diferentes, especialmente do trabalho em equipa porque é algo que eu acho que nasci para fazer, o meu projeto a solo é algo stressante e ao mesmo tempo relaxante por isso são situações diferentes.

QUAL FO I A REAÇÃO DA BANDA EM RELAÇÃO A ESTE PASSO NA TUA CARRE IRA E AO ÁLBUM PROPR IAMENTE D ITO?

Eles sabiam que o lançamento estava para breve mas depois que ele saiu ainda não falamos sobre isso porque estivemos ocupados com o novo álbum de Nile. Quando acabei de gravar a bateria eu deixei os Estados Unidos e fui para casa e eles começaram a gravar as guitarras, por isso quando saiu o primeiro teaser e os singles toda a banda estava super ocupada com o álbum e eu andava ocupado a fazer entrevistas por causa do “Invictus”. Eles sabem que é um projeto pessoal que faço por gozo e que não vai atrapalhar com Nile por isso acho que estão na boa com isso.

DO QUE ESTÁS À ESPERA COM ESTE ÁLBUM? JÁ T IVESTE ALGUM T IPO DE REAÇÃO DA PARTE DOS FANS OU DOS MÉD IA?

A reação dos fans e dos média foi simplesmente fantástica, foi melhor do que eu poderia esperar e fiquei muito feliz. Parece que toda a gente gostou e encarou como um álbum completo e não apenas uma “cena de baterista”. Quer dizer, dá a sensação que é algo que vais ouvir que até parece que vale a pena arranjado por um baterista que toca todos os instrumentos e depois de ouvir te esqueces disso e estás a ouvir uma banda completa. É o tipo de reação que tenho obtido e tem sido fabuloso. As minhas expectativas para este projeto não sou muito altas, tenho sempre os pés na terra e sei onde estou. Quero os fans felizes, quero que as pessoas gostem do que estão a ouvir. Eu também quero que a minha editora fique feliz e continue do meu lado para que eu possa continuar este projeto. Este projeto é parte de mim e quero continuar a trabalhar nele enquanto puder, ou melhor, enquanto os fans o quiserem.

ÉS UM DOS BATER ISTAS MAIS CONHEC IDO DO DEATH METAL , COMO É QUE VÊS ESTE GÉNERO NOS D IAS DE HOJE?

É como sempre foi, algumas grandes bandas

outras nem por isso, algumas grandes músicas outras nem tanto… o normal. Tento encontrar o que os meus ouvidos gostam e apoio, penso que é o que toda a gente devia fazer. É simples: gostas de algo, compras. Não gostas, deixas ficar. Infelizmente vemos muito dramatismo com os fans a criticar cada coisinha que uma banda faz menos bem e isso não é bom, é muito frustrante tocar e estar sempre a ser criticada por todas as coisinhas que possas imaginar em vez de teres aqueles poucos fans que realmente gostam e te dizem “bom trabalho”. Mas eu não tenho razões de queixa, tive algum apoio na minha carreira e se ouço algo negativo isso não me afeta em nada. Estou a falar de uma maneira geral, o que vejo é que aqueles que não gostam da tua música são aqueles que têm demasiado tempo livre e uma ligação à internet, ahahahah. Vejo muitos talentos por aí e algumas grandes músicas embora os mais fortes sobrevivam sempre… Sei que este género vai perdurar e iremos fazer força para isso também.

QUAIS FORAM AS TUAS PR INC IPA IS INFLUÊNC IAS NO IN ÍC IO DA TUA CARRE IRA? ALGUMA VEZ ESPERASTE AT ING IR ESTE T IPO DE RECONHEC IMENTO?

As minhas bandas favoritas, Metallica, Sepultura, Kreator, Slayer, etc. Esta será de qualquer forma sempre a razão por que toco um instrumento. Eu comecei a tocar porque a sentia muito enquanto fan e isso não mudou até hoje. No que diz respeito ao reconhecimento estou muito feliz onde estou e com o que faço na música. Estou muito orgulhoso de maior parte das coisas que fiz em todas as bandas que toquei assim como no meu projeto a solo e as minhas atividades relacionadas com bateria assim como os DVDs e os livros, embora sinta que é algo muito natural, não o vejo como nada grande para ser honesto. Eu acredito que as bandas vêm e vão, o objetivo é que enquanto cá estejas faças grandes coisas e deixes algum tipo de legado.

É “ INV ICTUS” O IN ÍC IO DE ALGO OU APENAS UMA EXPER IENC IA? QUE TE FALTA FAZER ENQUANTO MÚSICO?

É o início de algo que sempre quis fazer, sempre quis sentar-me e escrever/compor um álbum completo. Faço por satisfação pessoal e gosto disto como ninguém e continuarei a fazer enquanto puder. É diferente mas não é nenhuma experiência. Quero dizer, não pode ser uma banda ao vivo embora possas ver ao vivo, espero que se isto acontecer que seja algo muito especial por isso vou trabalhar o mais possível. Muitas coisas ainda estão por fazer enquanto músico, isso felizmente nunca acaba, ahahah. Já tenho quatro ou cinco coisas grandes na minha cabeça, apenas tenho que arranjar tempo para as fazer e quando as fizer será algo novo e realmente diferente daquilo que as pessoas estão habituadas que a gente faça. A música é uma viagem divertida que nunca acaba!!Gostarias de acrescentar alguma coisa ou ficou alguma coisa por dizer?Apenas gostaria de relembrar que “Invictus” está também disponível grátis no meu sítio da internet (www.georgekollias.com). Todos podem visitar e descarregá-lo, é a versão base sem as pistas de bónus claro, mas podem ouvir e decidir se as querem também ou não. É um álbum com 15 canções, feitas com muita paixão e acho que vai valer o vosso tempo.

WWW.GEORGEKOLL IAS .COMHTTPS: / /YOUTU.BE /SUL3MLQWI1M

“A N. K. V. D. ERA A POLÍCIA SECRETA DOS SOVIÉTICOS […] UMA ORGANIZAÇÃO CRUEL, DAÍ USARMOS A SIGLA PARA DESIGNAR A BANDA.”

5 3 / VERSUS MAGAZINE

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TALES FOR THE UNSPOKENMELODIA TÓXICA

PARECEM SER ESTAS AS PALAVRAS QUE MELHOR DESCREVEM O NOVO ÁLBUM DOS TALES FOR THE UNSPOKEN, S IGN IF ICAT IVAMENTE INT ITULADO «CO2» .

DA CAPA APOCAL ÍT ICA ÀS LETRAS RELAT IVAS A PROBLEMAS ATUA IS , PASSANDO PELA MÚSICA PESADA E CHE IA DE MELOD IA E GROOVE , NÃO FALTAM MOT IVOS PARA O LE ITOR DA VERSUS SE SENT IR TENTADO

A OUV IR O SEGUNDO LONGA DURAÇÃO DESTA BANDA NAC IONAL!

Por: CSA

E N T R E V I S T A

O QUE ANDARAM OS TFTU A FAZER DURANTE OS QUATRO ANOS QUE SE PASSARAM DESDE A MINHA ANTER IOR ENTREV ISTA CONVOSCO PARA A VERSUS?

MARCO FRESCO : Antes de mais, é com muito gosto que voltamos a participar nesta revista, que penso que seja uma referência a nível nacional do underground. Muitos parabéns por continuarem com o projeto. Respondendo à tua pergunta, desde a nossa última conversa, no verão de 2011, os Tales

For The Unspoken estiveram praticamente 2 anos a apresentar o «Alchemy» pelo país fora. Conseguimos a nossa primeira data no estrangeiro e tentámos divulgar o álbum o máximo que conseguimos. A partir de 2013, começámos a tocar menos – apesar de não termos estado parados – para nos concentrarmos na criação do «CO2». Devido às nossas agendas pessoais, tivemos mesmo de fazer as coisas deste modo, porque o tempo que tínhamos para nos juntar era aos fins de semana e era impossível compor o álbum a tocar nos mesmos. Durante esse período de tempo, também conseguimos o contrato para lançamento deste álbum, que era algo que procurávamos, porque não

queríamos continuar a trabalhar com a Casket. Foram dois anos estranhos para nós, porque estávamos habituados a um andamento de concertos e tivemos de reduzir bastante, mas, por outro lado, foi muito bom, para nos juntarmos como banda a criar algo de raiz.

AINDA ESTÃO A ESTUDAR EM CO IMBRA? OU JÁ ULTRAPASSARAM ESSA FASE DAS VOSSAS V IDAS?

MARCO FRESCO : Neste momento, infelizmente (hehehe), ninguém na banda

“[…] A BASE DO SOM É CRIADA SEMPRE PELO MIGUEL E PELO NUNO KHAN, QUE SURGEM COM IDEIAS PARA LEADS DE GUITARRA. […]”

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estuda. Já todos acabaram os cursos que estavam a tirar em 2011 e agora somos só mesmo músicos profissionais (heheheh). Não é bem assim, mas gostávamos! Neste momento, precisamente por causa dos nossos empregos, a nossa disponibilidade para a banda já não é aquela que tínhamos na altura em que estávamos a estudar. Mas continuamos a dar o máximo de empenho que podemos e temos conseguido conciliar bastante bem as duas atividades.

VEJO QUE MUDARAM A FORMAÇÃO DA BANDA. O QUE MOT IVOU A SA ÍDA DO GU ILHERME?

MARCO FRESCO : A saída do Guilherme é um pouco confusa de explicar. Ele estava com outro projeto, (espetacular, diga-se de passagem), que são os grandes Destroyers of All. Na altura, o projeto estava a começar e ele precisava de lhe dedicar mais tempo. O fator profissional também interferiu: deixou de ter tanto tempo para dedicar a duas bandas. Na altura, nós sabíamos que ele tinha de deixar uma das duas bandas para segundo plano e estávamos numa fase crítica, a começar a criar o «CO2». Sabíamos também que, a nível de estilo, Destroyers of All era mais a onda dele. Então, de mútuo acordo, achámos que o melhor seria ele sair, porque ia estar a prejudicar uma ou as duas bandas, se insistisse em continuar nos dois projetos. Foi com pena, porque ele era um dos cinco pilares de Tales For The Unspoken e um irmão para todos nós. Mas, felizmente, foi tudo a bem. Continuamos amigos como éramos e ele já veio tocar connosco ao vivo. A prova disso foi a surpresa que os Destroyers nos fizeram, quando, num concerto, convidaram o novo vocalista para cantar uma música surpresa e fizeram uma cover da “Possessed” do nosso primeiro álbum. É tudo malta boa onda e somos todos amigos, que é o mais importante.

COMO ENCONTRARAM O SEGUNDO NUNO?

MARCO FRESCO : Já todos nos o conhecíamos do tempo em que ele ajudou os Terror Empire. Tinha substituído o Sérgio Alves, numa altura em que ele foi estudar para Itália e nos acabámos por fazer umas datas com os Terror Empire e por ficar amigos dele, na altura. Quando o Guilherme saiu, metemos um anúncio no Facebook a dizer que procurávamos um baixista. O Nuno era guitarrista e, como tal, nem falámos com ele para a vaga. Entretanto, começámos a receber vídeos (era um dos requisitos) a tocar músicas nossas e, quando vimos os vídeos dele a tocar o nosso som, ficámos logo a pensar nele. De todas as propostas que recebemos, ele era, sem dúvida, o melhor e, além disso, era já nosso amigo. Não foi muito difícil escolher o Nuno e, até hoje, estamos muito contentes com ele, porque se enquadrou no nosso esquema rapidamente, tendo já participado na criação do novo álbum.

COMO É QUE CADA UM DOS MEMBROS DA ATUAL FORMAÇÃO CONTR IBU IU PARA CR IAR «CO2»?

MARCO FRESCO : Nós trabalhamos em conjunto, sendo que a base do som é criada sempre pelo Miguel e pelo Nuno Khan, que

surgem com ideias para leads de guitarra. Depois o som vai passando por todos, que acrescentam sempre alguma ideia, até termos o som final. Quando o Nuno entrou para a banda, tínhamos praticamente todos as leads de guitarra feitos. Ele meteu o baixo ao gosto dele, sendo já uma peça importante na construção do «CO2». Quando o som estava feito, eu fui tentando que a métrica vocal fosse do gosto de todos.

PARECEM MUITO L IGADOS À QU ÍMICA, JÁ QUE PASSARAM DE «ALCHEMY» PARA «CO2» . HÁ ALGUMA L IGAÇÃO CONCETUAL ENTRE OS DO IS ÁLBUNS?

MARCO FRESCO : Por acaso é engraçada a pergunta. Tanto num álbum como no outro, os nomes são metáforas. No «Alchemy», era uma alquimia de estilos e culturas num álbum apenas. Já no «CO2», o nome provém da poluição mental do ser humano, que é basicamente o tema das letras deste álbum: desde o rapto, tráfego humano, o extremismo religioso, etc... Falamos um pouco de todo o mal que o ser humano faz entre si, para tentar ter frutos usando o mal dos outros como arma. Muitas vezes, as pessoas não têm noção do mal que fazem em prol de algo que frequentemente não vale a pena.

E COMO RELAC IONAM A TESS ITURA MUSICAL DOS DO IS? O QUE TÊM DE SEMELHANTE? EM QUE SE D I FERENC IAM?

MARCO FRESCO : Este álbum é bastante diferente do anterior, tanto a nível de composição, como de estrutura. Foi gravado com guitarras de sete cordas, o que lhe dá maior peso e groove. Temos músicas mais pesadas, mas sempre a manter uma certa melodia, que é um pouco a nossa imagem musical. As letras estão mais diretas que as do anterior. A gravação deste álbum foi muito mais exigente do que a do anterior e isso nota-se. O que têm de semelhante é o nosso tipo de composição. Tentamos sempre não ser muito repetitivos e que os temas sejam diferentes uns dos outros. De resto, é um álbum bastante diferente do outro. No geral, acho que está mais maduro que o anterior e mostra a nossa evolução como banda. Tentámos fugir um pouco à mistura de raízes que temos na banda, neste álbum. Foi todo foi feito pela banda atual. No anterior, tínhamos músicas feitas antes de eu entrar, que foram adaptadas à minha voz. Neste já foi tudo feito com os membros atuais.

A ARTE DO ÁLBUM FO I FE ITA POR T I OU CONVIDARAM ALGUÉM EXTERNO À BANDA PARA A FAZER? SE OPTARAM POR ESTA ÚLT IMA H IPÓTESE , D IR IA QUE DERAM ALGUMAS INSTRUÇÕES AO ART ISTA, PORQUE O EST ILO DESTA CAPA É SEMELHANTE AO DA CAPA DE «ALCHEMY».

MARCO FRESCO : Para este álbum, eu apenas fiz a montagem da capa. O artwork foi feito pelo Samuel Lucas, um artista português que já trabalhou com bandas como Shadowsphere, Revolution Within, Moonspell, etc. A ideia surgiu num concerto

que demos no Metal Point. Antes do gig, estávamos a falar de como gostaríamos de ver a nossa capa e foi aí que surgiu a ideia de uma pessoa no meio de um mundo destruído pela própria humanidade, como se fosse dos poucos sobreviventes. Queríamos algo apocalítico, sombrio, mas, ao mesmo tempo, nada muito gore. Queríamos tristeza na pessoa e penso que o Samuel acertou na mouche. Estamos bastante felizes com o resultado final.

O QUE EXPR IME? NÃO DEVE SER FÁC IL TRADUZ IR ALGO COMO CO2 EM IMAGENS.

MARCO FRESCO : Como sabem, o CO2 é um gás muito tóxico. Quisemos fazer uma analogia a todo o mal que existe do mundo. Assim, a capa do álbum mostra um mundo destruído, que, basicamente, é para onde caminhamos. Se não fizermos nada para mudar isso, tememos que a direção para onde caminhamos todos os dias seja o princípio do fim.

HÁ ALGUM PARENTESCO ENTRE ESTA CAPA E UMA BD DE ÍNDOLE APOCAL ÍT ICA?

MARCO FRESCO : A BD foi uma questão que foi decidida quando considerámos quem nos iria fazer a capa. Já conhecíamos o trabalho do Samuel e sabíamos que, ao optar por ele, teríamos um capa deste estilo. Como queríamos esta ideia para a capa, teria de ter este tipo de impacto: um mundo em destruição, uma pessoa inocente a lutar pela sobrevivência. Por isso, a capa evoca realmente uma BD de índole apocalíptica.

COMO PREVEEM PROMOVER «CO2» NOS PRÓX IMOS TEMPOS?

MARCO FRESCO : Neste momento, o nosso objetivo é tentar correr o país inteiro a promover o álbum. Já começámos a nossa tour de lançamento e vamos tocar pelo país todo: Coimbra, Leiria, Aveiro, Porto, Lisboa, Paços de Ferreira, etc. Estamos também em alguns dos festivais de metal nacionais: Hard Metal Fest, Hell in Sintra, Casainhos, etc. E, no próximo ano, vamos tentar invadir os palcos internacionais, estando neste momento a ver a viabilidade de poder tocar além-fronteiras. Temos tido uma boa receção aos novos temas, que era algo de que já sentíamos falta: tocar novos temas. Até agora, tem sido espetacular.Queríamos deixar uma mensagem a todos os leitores, para continuarem a aparecer em peso nos eventos de bandas nacionais. Felizmente, neste momento, o movimento está saudável, com muitas bandas boas a percorrer o país de cima abaixo! Obrigado, malta!

“ESTE ÁLBUM É BASTANTE D I F ERENTE DO ANTER IOR , TANTO A N ÍVEL DE COMPOS IÇÃO , COMO DE ESTRUTURA . […]”

WWW.FACEBOOK.COM/TALESFORTHEUNSPOKEN

HTTPS: / /YOUTU.BE /YJTVMBES10W

“[…] TANTO UM ÁLBUM COMO NO OUTRO, OS NOMES SÃO METÁFORAS. […] NO «CO2», O NOME PROVÉM DA POLUIÇÃO MENTAL DO SER HUMANO […]”

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VIRGIN STEELE(NADA) VIRGENS AOS 32

E N T R E V I S T A

SÃO UM DOS “PESOS PESADOS” DO METAL E TÊM UMA CARREIRA RECHEADA DE ÁLBUNS QUE INFLUENCIARAM MUITOS DOS ART ISTAS DESTE NOVO MILÉN IO . SE OUV IREM, POR EXEMPLO, O MEGA PROJECTO DE TOB IAS SAMMET, AVANTAS IA , CEDO PERCEBERÃO DE ONDE VEM GRANDE PARTE DE TODO AQUELE POWER METAL MELÓDICO. APÓS CINCO ANOS DE INTERREGNO E IS QUE OS VIRGIN STEELE SE PREPARAM PARA REDIMIR DE UM NÃO MUITO BEM SUCED IDO «THE BLACK L IGHT BACCHANAL IA» . EU ATÉ ACHO QUE CONSEGU IRAM…

Por: Eduardo Ramalhadeiro

OLÁ, DAV ID ! ANTES DE MAIS , PARABÉNS POR ESTE NOVO ÁLBUM. PARECE -TE QUE «NOCTURNES OF HELLF IRE & DAMNAT ION» ESTÁ A SER BEM RECEB IDO PELOS FÃS?

DAV ID DEFE IS : Muito obrigado pelas tuas amáveis palavras! Fiquei muito sensibilizado. Sim, a reação ao novo álbum tem sido muito positiva e ainda nem sequer foi lançado. As pessoas ainda só ouviram uma pequena parte do álbum e já se mostram muito entusiasmadas por ele. É um momento muito feliz para nós…

VOCÊS SÃO UMA DAS BANDAS MAIS NOTÁVE IS NESTE GÉNERO EM PART ICULAR – E TAMBÉM

DE UM MODO GERAL . TENHO ANDADO A REV IS ITAR UM POUCO A D ISCOGRAF IA DE V IRG IN STEELE E F IQUE I COM A IMPRESSÃO DE QUE O VOSSO ÁLBUM ANTER IOR É UM DOS MENOS BEM SUCED IDOS (TODAS AS BANDAS TÊM UM OU DO IS ASS IM…). SERÁ QUE «NOCTURNES OF HELLF IRE & DAMNAT ION» É A VOSSA “DESFORRA” EM RELAÇÃO A «THE BLACK L IGHT BACCHANAL IA»?

DAV ID DEFE IS : Não se trata propriamente de uma desforra, mas este álbum provavelmente tem um som mais próximo do que eu ouço na minha cabeça, quando estou a compor, que o anterior. A maior parte do álbum foi feita num estúdio que não me era familiar e nunca

me soou como lá, quando o tirei desse estúdio. Estava mais familiarizado com o equipamento do estúdio onde fizemos o «Nocturnes», portanto consegui fazer com que soe sempre mais ou menos da mesma maneira, independentemente de onde o ponha a tocar… o que calhou mesmo bem. Queria fazer um álbum muito orgânico, com um som muito natural. Queria que soasse como um álbum ao vivo… Pessoalmente, sou um grande fã de álbuns como o «Physical Graffiti» dos Led Zeppelin e… de todos os álbuns (e especialmente os dois primeiros) e de tudo o que os Queen fizeram. Adoro o som poderoso de todas essas Obras. Procurei dar a este álbum um som mais semelhante ao de um concerto ao vivo do que ao de algo

5 6 / VERSUS MAGAZINE

VIRGIN STEELE © Axel Jusseit

“QUERIA FAZER UM ÁLBUM MUITO ORGÂNICO, COM UM SOM MUITO NATURAL. (. . .) PESSOALMENTE, SOU UM GRANDE FÃ DE ÁLBUNS COMO O «PHYSICAL GRAFFITI» DOS LED ZEPPELIN (.. .) E DE TUDO O QUE OS QUEEN FIZERAM.”

Page 57: Versus Magazine #35 Junho / Julho '15

feito no estúdio. Queria captar o suor e o barulho de quando as canções saem com toda a sua força. Queria tentar captar paixão e um sentimento de necessidade e trazer ao cimo a essência do que estas canções me diziam. Queria magia como a do voodoo, dos comedores de fogo, etc.

POR QUE DE IXARAM PASSAR C INCO ANOS ENTRE ESTES DO IS ÁLBUNS? O QUE ANDARAM A FAZER NESSE INTERVALO?

DAV ID DEFE IS : Quando assinámos com a SPV, em 2010, tínhamos estado envolvidos numa intensa campanha para relançar todos os álbuns de VS e estávamos a faze-lo de uma forma muito organizada, sistemática e atempada. Cada um dos álbuns que relançávamos continha uma grande quantidade de material bónus. Algumas dessas faixas bónus eram canções novas escritas especialmente para esses álbuns ou então covers de músicas de outros artistas, cujo trabalho nós respeitámos, que nós tínhamos reescrito, rearranjado ou ainda versões ao vivo de canções nossas. Fazer esse material demorou bastante tempo, tanto mais que remasterizámos tudo de novo, incluindo o conteúdo original de cada álbum. Se deres uma boa vista de olhos a todas essas reedições, verificarás que o material novo corresponde a um longa duração… Infelizmente, a maioria das pessoas não se apercebeu disso. Tenho a esperança de que, agora que vamos lançar um álbum novo, os nossos fãs venham a ouvir com atenção o que pusemos nessas reedições. Por exemplo, na reedição do «Invictus», temos um álbum acústico ao vivo de longa duração, que intitulámos «Fire Spirits». É um álbum verdadeiramente incrível. Espero que as pessoas o ouçam, assim como todo o material bónus em reedições como a de «Age of Consent». Por exemplo, a faixa “Another Nail in the Cross” é mesmo boa, assim como a “Under a Graveyard Moon” e estes são apenas dois exemplos… E, para além disso, eu já tinha escrito cerca de 40%/50% do material dos próximos dois álbuns de Virgin Steele e já tínhamos gravado também. Portanto, fizemos imensas coisas depois do lançamento do álbum anterior. E, por termos produzido muito material, resolvemos pôr muito material, pelo que incluímos imenso material neste álbum que está para sair… A versão digipack tem 29 faixas, Pensei com os meus botões… somos capazes de o gravar, portanto deixamo-lo como está, é melhor divulgar já este material… sabe-se lá o que pode acontecer depois… posso morrer na próxima semana ou no próximo mês… é fazer agora…

ÉS UM ADMIRÁVEL CONTADOR DE H ISTÓR IAS E JÁ O PROVASTE . «NOH&D» É MESMO UM ÁLBUM CONCETUAL? DE ACORDO COM O QUE L I SOBRE ELE , HÁ UMA “L INHA” QUE UNE AS FA IXAS. ISSO NOTA-SE NAS LETRAS?

DAVID DEFE IS : Obrigado pelo comentário simpático… fico muito contente! Não é um álbum concetual no sentido de as músicas estarem alinhadas de forma linear de forma a formarem uma intriga, que tu tens de seguir do ponto A ao ponto Z, como o «House of Atreus». É mais uma coleção de canções que ficam bem juntas, em termos musicais e atmosféricos, e têm uma ligação que estabelece relações entre elas e na qual as várias faixas se integram. O álbum trata fundamentalmente de relações e do que acontece quando alguém entra em contacto com o estilo de vida, a química, a esfera,

a órbita… aura… esse tipo de coisas… de outra pessoa. Também trata da relação que cada um de nós mantém consigo próprio… de todos os nossos amores de desamores… dos nossos desejos mais íntimos, paixões, obsessões… Também fala de ligações entre entidades… entre todo o tipo de seres, não forçosamente humanos… entidades como deuses e deusas, como se pode ver nas canções “Persephone” e “Devilhead”, por exemplo, até os espíritos, os elementos, etc. foram incluídos. Mas, para ser breve, o álbum trata sobretudo das relações entre pessoas. Tem em conta os seus variados sistemas de crenças, os seus deuses e deusas… e não me estou apenas a referir à sua espiritualidade… mas… também aos seus desejos… obsessões… filosofia de vida, substâncias químicas e outras que injetamos nos nossos rituais diurnos e noturnos. Em suma, é sobre a complexidade de tudo o que nos conduz, faz de nós o que somos e o que não somos… que nos leva onde podemos ir… ou onde não devíamos ir. É sobre a noite negra da alma e as variadas maneiras que os humanos têm de se envolverem e destruírem… portanto, o título do álbum traduz o espírito de tudo o que dele faz parte, tal como os títulos «Noble Savage» ou «Age of Consent» traduziam a essência dos álbuns a que foram dados. O título [de um álbum] proporciona ume enquadramento, mas cada canção é realmente algo único. A propósito de obsessões, a canção “Glamour” é sobre o encantamento. É uma daquelas canções que te levam logo a pensar “pois, deve estar a falar sobre uma mulher… sobre alguma relação que tem ou teve”… e pode realmente ser isso, mas, se a observares de mais perto, constatarás que estou a falar da minha relação com a música, do que ela me fez, fez por mim… o bem, o mal e as coisas desagradáveis… é a minha paixão… a minha obsessão…

VIRG IN STEEL É UMA BANDA CONHEC IDA PELO PESO DA SUA MÚSICA E POR UMA ATMOSFERA QUE COMBINA BARBÁR IE E ROMANTISMO – É A VOSSA IMAGEM DE MARCA. NO ENTANTO, ESTE NOVO ÁLBUM É VERSÁT IL , VAR IADO, MUITO APA IXONADO. ESTE T IPO DE “SENT IMENTOS” – AGRESS IV IDADE , MELANCOL IA , IRA , ETC . – ESTÁ INT IMAMENTE L IGADO ÀS LETRAS?

DAVID DEFE IS : Sim, as minhas letras também falam de coisas pessoais e, neste álbum, isso acontece mais do que nunca… portanto, sim, estas letras são pessoais… por vezes, mesmo muito pessoais… mas… eu escrevo de tal forma que o ouvinte se pode ver a si próprio nas minhas letras e dar-lhes o seu significado pessoal. Não vão ficar fechados no meu universo, porque não o conhecem intimamente… poderão certamente relacionar o que eu escrevo com a sua realidade e encontrar o seu próprio caminho na minha música, que é o que eu pretendo. O tom das músicas é planeado para combinar com as letras, por isso é que esta é alternadamente agressiva ou melancólica, terna ou bombástica. Tentei captar uma vasta variedade de dinâmicas e atmosferas, em termos musicais e líricos.

ONDE VA IS BUSCAR AS IDE IAS PARA ESCREVER AS LETRAS? LÊS L IVROS, VA IS AO C INEMA? QUA IS SÃO AS TUAS FONTES DE INSP IRAÇÃO?

DAVID DEFE IS : Encontro a minha inspiração na loucura que me rodeia… na vida que levo, com o seu caos, os seus altos e baixos e os momentos intermédios. É claro que adoro a literatura e leio tanto quanto posso e procuro

aprender coisas nas minhas leituras. Ando muito interessado no paganismo e na História antiga… que, aliás, andam juntos… Também gosto muito de ver filmes e de ir ao teatro. O meu pai sempre fez peças e continua a fazer… tenho vivido rodeado pelo teatro desde muito cedo. Teve sempre uma parte muito importante na minha vida.

DISSESTE QUE «NOH&D» POD IA SER O ÁLBUM QUE POD IAS TER FE ITO LOGO A SEGU IR A «NOBLE SAVAGE» . ENTÃO, PODEMOS DEDUZ IR QUE ESTÁS A REGRESSAR ÀS TUAS RA ÍZES?

DAV ID DEFE IS : Sim, em parte é um regresso às nossas raízes e o álbum também contém elementos dos que vieram depois desse, além de um espírito novo que se tem andado a introduzir sub-repticiamente na minha escrita. Trata-se daquilo a que eu chamo os Gothic Blues, um estilo que é representado pelas canções “Haunted Wolfshine”, “Glamour”, “Delirium” e mais algumas. Para fazer este álbum, quis criar algo que tivesse muita substância, muitas camadas, mas que pudesse ser facilmente compreendido à primeira audição, embora devesse ser também profundo e suficientemente intenso para revelar novos segredos a cada vez que se aprofundasse a sua exploração, se ouvisse, se imergisse nele…

ESTE NOVO ÁLBUM VA I SA IR EM TRÊS FORMATOS D IFERENTES . (ALÉM DO V IN IL ) AGRADOU-ME MUITO A VERSÃO QUE COMBINA CD + BÓNUS CD COM UM GRANDE L IVRO A ACOMPANHAR.REVELASTE UMA GRANDE AMBIÇÃO AO FAZERES UM ÁLBUM COM CATORZE CANÇÕES E QUASE 80 MINUTOS. HOJE EM D IA , ÁLBUNS ASS IM TÃO LONGOS SÃO RAROS. POR QUE INCLU ÍSTE NELE TANTAS CANÇÕES?

DAV ID DEFE IS : Porque surgiram juntas, de forma rápida e natural, e também porque queríamos regressar com algo estrondoso e mostrar a todos as várias cores e aspetos da experiência musical que é Virgin Steele. Como já referi, pensei para mim próprio: “Para quê guardar canções… chegou o tempo de as dar a conhecer… vamos a isso.”

O CD BÓNUS, A QUE NÃO T IVE ACESSO, TEM QU INZE CANÇÕES, ENTRE AS QUA IS «BLACK SABBATH» E « IMMIGRANT SONG» , COVERS DE DUAS CANÇÕES BEM CONHEC IDAS. QUE MAIS PODEMOS ENCONTRAR NELE?

DAV ID DEFE IS : O Disco 2 começa com um medley de seis canções que eu intitulei “The Samhain Suite” e que inclui temas de Black Sabbath, Bloodrock, e Led Zeppelin, sendo a primeira o “Halloween Theme” do filme de John Carpenter sobre Michael Myers, o miúdo assassino… (sempre adorei essa canção e tive vontade de a refazer ao estilo de Virgin Steele). No meio de toda essa insanidade, aparece uma peça do compositor clássico Vladimir Rebikov, intitulada “The Witch in the Forest”. Fiz arranjos para todos esses trabalhos e reescrevi algumas secções, acrescentando ideias musicais ou letras. É algo empolgante, para ser ouvido e experimentado de uma só vez. O resto do álbum é muito eclético… Apresenta sinais da nova tendência que anda a manifestar-se no nosso som… Já falei disso… é uma coisa que combina Metal puro e duro e blues, que eu chamo Gothic Blues e que é representada por canções como “Haunted Wolfshine”… ou “Riderless Horse”… também há uma faixa

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acústica tocada ao vivo no estúdio chamada “Great Burning of Innocence”, para a qual já fizemos um vídeo… Aparecemos apenas eu e o Edward (Pursino) a fazer o nosso número habitual… Estas filmagens estavam todas no arquivo em casa e mostram um lado bem porreiro dos bastidores. No segundo disco, também há uma canção épica e sombria intitulada “West of Summer”. É uma faixa muito grande que, na minha opinião, é o nosso “Stairway to Heaven”… Tem belas partes de bateria a cargo do Franck e montes de guitarra – acústica e elétrica – produzidos pelo Edward e o bom baixo do Josh. Começa de uma forma mais ou menos calma e vai seguindo num crescendo até a um clímax… antes de desaparecer no éter. Há faixas muito enérgicas, como “The Devil Drives” e “Anger Never Dies”, um par bem interessante… semelhantes a “Funeral Games” e “The Plot Thickens”… o Disco 2 termina com uma espécie de “Sky Hymn” talvez semelhante a “The Spirit of Steele” chamada “The Birth of Beauty”… é uma faixa muito emotiva… Todos os aspetos, tendências, cores de Virgin Steele são exibidos neste álbum. Ficou muito completo.

PREC ISO DE TE FAZER ALGUMAS PERGUNTAS SOBRE TRÊS ÁLBUNS QUE , NA MINHA OP IN IÃO REPRESENTAM GRANDES MOMENTOS DA VOSSA CARRE IRA : «THE MARRIAGE OF HEAVEN AND HELL» (PART I E PART I I ) E « INV ICTUS» . NUM NÚMERO ANTER IOR DA VERSUS, ESCREV I UMA CR ÍT ICA SOBRE «THE MARRIAGE …» E DE I - LHES 10/10 . SÃO FANTÁST ICOS! CONCORDAS COM A MINHA IDE IA DE QUE ESSES TRÊS ÁLBUNS FORAM GRANDES PASSOS NA VOSSA CARRE IRA?

DAV ID DEFE IS : Muito obrigada por essa crítica tão positiva!!! Sim, concordo contigo, quando dizes que esses álbuns representam grandes saltos na nossa carreira. Estava muito inspirado, quando fizemos os álbuns «Marriage». Nessa altura, tinha regressado à universidade e começado a estudar música muito a sério, incluindo composição, orquestração e até História da Música. Portanto, esses álbuns e tudo o que se lhe seguiu resultaram da espécie de Big Bang que ocorreu na minha cabeça. Ainda ando a seguir esse cometa… essa verdadeira supernova…

AO QUE PARECE , TEM-SE D ISCUT IDO SE « INV ICTUS» É OU NÃO A ÚLT IMA PEÇA DE UMA ESPÉC IE DE TR ILOG IA . É VERDADE?

DAV ID DEFE IS : Sim, é o último capítulo e a conclusão da saga «Marriage».

FALEMOS AGORA DE ALGO UM POUCO D IFERENTE : «THE MARRIAGE…» FO I REED ITADO EM 2014. QUA IS SÃO AS PR INC IPA IS D I FERENÇAS ENTRE ESTA ED IÇÃO E AS DE 94/95? O SOM MUDOU? F I ZERAM NOVAS MISTURAS? OU F ICOU TAL E QUAL COMO O OR IG INAL?

DAV ID DEFE IS : Remasterizei todas as faixas originais, diretamente a partir das masterizações originais. Felizmente, soa melhor… não sei bem como se define melhor neste caso… quero dizer que ficou mais claro… mais limpo, com um pouco mais de energia. São as mesmas misturas… apenas remasterizadas… aproveitei para acrescentar algumas faixas bónus.

PODEMOS CONTAR COM NOVAS REED IÇÕES NUM FUTURE PRÓX IMO? POR EXEMPLO, « INV ICTUS» OU «THE HOUSE OF ATREUS»?

DAV ID DEFE IS : «Invictus» foi reeditado no ano passado, junto com os álbuns «Marriage». Penso que mencionei numa das respostas anteriores que continha um longa duração bónus intitulado «Fire Spirits», composto essencialmente por versões acústicas tocadas ao vivo de faixas clássicas, e ainda incluía uma canção nova intitulada “Do You Walk With God?”… O próximo álbum a ser reeditado será «The House of Atreus», provavelmente como um digi-pack com três CDs, incluindo «Act I» e «Act II» num só pacote.

E AGORA, PARA TERMINAR: V IRG IN STEELE TEM 32 ANOS. LAMENTAS ALGO QUE TENHAS FE ITO… OU QUE NÃO TENHAS FE ITO?

DAV ID DEFE IS : Esforço-me sempre por não lamentar nada. Mas talvez lamente não ter decapitado certas pessoas, que estavam mesmo a precisar de uma execução sumária.

QUAL FO I O VOSSO CONCERTO MAIS MEMORÁVEL?

DAV ID DEFE IS : Houve muitos, para dizer a verdade… cada país tem a sua maneira especial de dar as boas vindas a uma banda e adorei visitar todos os países e sítios onde estivemos. Mas há uma visita que se destaca na minha mente… Quando chegámos à Grécia pela primeira vez, vindos de barco de Itália… Supostamente, a viagem demoraria dez horas, mas foram dezoito, devido a uma greve no lado grego. Não pudemos

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VIRGIN STEELE © Axel Jusseit

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desembarcar no sítio previsto. Quando o nosso barco finalmente apareceu no porto, a primeira visão que eu tive da terra foi ao nascer do sol… estava no exterior… e senti a Magia… Até gritei: “Estamos na pátria dos deuses!!!” Foi um momento muito especial para mim… senti-me como se tivesse regressado a casa. No que toca aos concertos em si… foram absolutamente incríveis. Onde quer que tocássemos, os promotores não nos queriam deixar sair do palco! Estavam quase sempre no palco connosco, a gritar… mais, mais… é sempre fantástico, mas, dessa primeira vez, foi realmente demais.

HÁ ALGUMA BANDA COM QUEM GOSTASSEM DE PART ILHAR O PALCO? E PORQUÊ?

DAV ID DEFE IS : QUEEN com o Freddie vivo e de boa saúde e o John no baixo. Adoro essa banda, foi uma incrível inspiração para mim, desde a minha adolescência. Álbuns como «Queen II» e »«Sheer Heart Attack», por exemplo, ajudaram-me a ver claramente como uma banda devia ser. Queen e Led Zeppelin são realmente as minhas bases e ajudaram-me a levantar-me e a ser o que sou hoje.

COMO DESCREVER IAS A TUA EXPER IÊNC IA COM AVANTAS IA DO TOB IAS SAMMET?

DAVID DEFE IS : Na realidade, não trabalhei diretamente com ele iu alguém que esteja nesse álbum. Mandaram-me as faixas e eu cantei/gravei a minha parte durante um dia de folga, quando andava a fazer o álbum «The House of Atreus»… Em suma, limitei-me a abrir a boca e a gritar do princípio ao fim, interpretando as letras que ele me enviou à minha maneira habitual. Depois, reenviei as

faixas e eles gostaram e usaram tudo. Foi divertido, fácil e agradável. A reação, quando o álbum saiu, foi muito, muito positiva. Sinto-me feliz por ter participado. O Tobias é um gajo simpático… e eu apreciei muito essa experiencia.

MUITO OBR IGADO POR ESTA OPORTUNIDADE DE TE ENTREV ISTAR. GOSTÁMOS MUITO DO VOSSO ÁLBUM E ESPERO QUE SE TORNE NUM ÊX ITO ESTRONDOSO. ATÉ À PRÓX IMA!

DAV ID DEFE IS : Muito obrigado por tanta gentileza, Eduardo. Agradeço todas as tuas Nobres perguntas e a conversa agradável… Fica bem. A proteção dos deuses para ti e para os teus leitores!!!Saudações!

“S IM , EM PARTE É UM REGRESSO ÀS NOSSAS RA Í Z ES E O ÁLBUM - «NOCTURNES OF HELLF IRE & DAMNAT ION» - TAMBÉM CONTÉM ELEMENTOS DOS QUE V I ERAM DEPO IS DESSE , ALÉM DE UM ESP ÍR I TO NOVO QUE SE TEM ANDADO A INTRODUZ IR ”

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VIRGIN STEELE © Axel Jusseit

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ABNORMAL THOUGHT PATTERNS«ALTERED STATES OF CONSCIOUSNESS»(Lifeforce Records)

A L B U M D O M E S

Depois do brilhante álbum de estreia «Manipulation Under Anesthesia», lançado em meados de 2013, os talentosos gémeos Jasun e Troy Tipton (guitarra e baixo, respectivamente) juntamente com o extraordinário Mike Guy (bateria; os três foram em tempos a espinha dorsal dos progsters Zero Hour) apresentam-nos mais um disco maravilha, que inclui desta vez o contributo de outros tantos virtuosos da praça: os guitarristas Jeff Loomis (Arch Enemy, Nevermore) e Tim Roth (Into Eternity) e os baixistas Michael Manring (Spastik Ink, Attention

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Deficit) e John Onder (Joey Taffola, Artension, MSG). Estes dois últimos dominam e enriquecem “Synesthesia” com as suas contagiantes texturas jazzísticas, protagonizando aqui um dos melhores momentos do disco. Tommy Rogers dos Between the Buried and Me regista magistralmente em “Nocturnal haven” o primeiro tema cantado dos ATP, proporcionando uma fuga refrescante ao formato puramente instrumental pelo qual a banda Californiana é conhecida. Este mesmo tema volta a aparecer mais à frente na sua versão instrumental, uma redundância (?) que deixa agora mais a descoberto as piruetas acrobáticas e melódicas nas seis cordas de Loomis, Roth e

Tipton que, diga-se, evidenciam a cada passo, e não só neste tema, claras influências de tudo o que é guitar hero: desde Satriani a Malmsteen a Macalpine. «Altered States of Consciousness» salda-se assim como um segundo disco do calibre do primeiro, mantendo portanto os padrões elevadíssimos de qualidade a que este prodigioso trio de músicos já nos habituou. Uma delicia para os ouvidos, que se recomenda a quem procura algo mais do que o Metal costumeiro.

[ 9,5 / 10 ] ERNESTO MARTINS

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A espera foi longa (dez anos!) mas os primeiros minutos de «Arcturian» sugerem de imediato que valeu bem a pena uma vez que este é o disco mais criativo e eclético de sempre da banda norueguesa. Pessoalmente não o considero qualitativamente superior a «The Sham Mirrors» (2002), mas tenho de reconhecer que «Arcturian» é muito mais arrojado nas fronteiras criativas que transpõe, lançando os Arcturus sobre territórios sónicos nunca antes explorados. Tudo isto feito com uma espontaneidade e fluência no mínimo desconcertantes! A composição é tão extravagante, psicadélica e, por vezes, esquizofrénica com antes, mas aqui tem a musicalidade e a abundância em momentos memoráveis que faltaram em «Sideshow Symphonies». Os traços mais agressivos continuam lá, inclusive as ocasionais blast beats, mas tudo isso é complementado com uma miríade de devaneios progressivos, arranjos orquestrais, violinos e elementos electrónicos que conferem a «Arcturian» um profundidade sem precedentes na história do grupo. Como sempre são as teclas de Steinar “Sverd” Johnsen que, em primeiro plano, comandam toda a música aqui presente, embora isso não oculte o contributo brilhante dos restantes músicos, em particular a excelente prestação na guitarra solo de Knut Valle. ICS Vortex é, no entanto, o elemento extraordinário a assinalar. A sua versatilidade vocal é um espectáculo só por si e um dom que lhe permite funcionar com igual eficácia quer no registo agressivo do black metal quer no tom anasalado que lhe é característico e nas melodias vocais em reviravoltas onde chega a fazer lembrar o ex-Fates Warning John Arch. Quem conhece minimamente os Arcturus já sabe que um novo disco é tudo menos uma reciclagem de glórias passadas. «Arcturian» é isso mesmo: um disco inteligente e criativo para quem procura algo de excepção.

[ 9,0 / 10 ] ERNESTO MARTINS

Uma pessoa que se induz voluntariamente em coma para fugir da vida que leva, para procurar outra vida melhor, este é o tema do novo álbum dos BTBAM. A vontade para este trabalho foi de dar um passo em frente ao que já conseguiram no passado. Como o diz Tommy na nossa entrevista, esta é a versão 2015 deles mesmos, onde procuraram uma outra forma de construir uma obra, sem

Gabriel. As falas de Rui Sidónio são mais viscerais e furiosas do que nunca e ao mesmo tempo mais expressivas e perturbadoras, particularmente nas partes sussurradas, como em “Foges-me em chamas” ou “O incal hermético”, que nos recordam a faceta mais ambiental e negra da banda. Em suma, este é o álbum mais sólido e consistente de sempre dos Bizarra Locomotiva. Um disco imperdível sobretudo para quem sempre apreciou mais o lado Metal do colectivo de Lisboa.

[ 9,0 / 10 ] ERNESTO MARTINS

«Rivals» é o quarto longa duração dos californianos Coal Chamber mas, mais importante que isso, é o disco que marca o regresso da banda aos discos, treze anos depois de «Dark Days» e da separação por motivos, mais ou menos, conhecidos. A banda foi, ao lado de bandas como Korn, Limp Bizkit, pioneiros do que se chamou de Nu Metal, um dos géneros mais odiados dentro do espectro Metálico, no entanto a banda sempre se tentou afastar do género, não só em termos de imagem como de conceito lírico ou estético e «Rivals» é o regresso de uma banda que deixou saudades e que, ao que parece, o tempo apagou os problemas. «Rivals» é um disco de recados, não só para dentro como, também, para fora. É um registo que, parece querer colocar um ponto final em torno de todas as polémicas, basta ouvir temas como «I.O.U Nothing», «Suffer in Silence» ou «Rivals» para se perceber que Dez Fafara tinha ainda umas coisas a dizer. É óbvio que existem momentos, em que o malfadado Nu Metal vem à tona, porém, são apenas momentos e que, no geral, não prejudicam em nada «Rivals». Poderá existir quem veja neste registo mais uma reunião de bandas que tiveram um passado luminoso e o futuro dirá de que lado estará a razão, mas parece que os Coal Chamber vieram para ficar. Como conclusão, podemos dizer que os californianos estão de regresso e que «Rivals» é, acima de tudo, um disco consistente, adulto e será, porventura, o mais equilibrado da banda. Não é, de todo, um regresso do Nu Metal pois, como os já referidos Deftones, a banda não estagnou no tempo e revela um crescimento, fazendo dela não uma banda deste ou daquele género, mas sim uma banda de Metal.

[ 8,0 / 10 ] NUNO KANINA

perder a sua identidade. É verdade que se reconhece imediatamente o som BTBAM, a diferença não está à superfíce, é preciso ouvir e sentir a evolução de que somos testemunhas. O álbum foca muito mais na melodia, há uma enorme atenção ao detalhe (como sempre houve), os teclados de Tommy e Dan estão muito mais presentes, criando um envolvimento às músicas que nos convence, nos leva mais para dentro da história. Há temas que são os fortes destaques do álbum, apesar de todo ele ser muito forte e conciso: “The Coma Machine”, o single de estreia tem uma melodia e uma presença muito forte e representa bem o álbum no seu contexto; a faixa “Dim Ignition” com uma atmosfera muito espacial é a primeira dos BTBAM alguma vez composta sem guitarras; e claro, as composições mais aprofundadas como “Famine Wolf”, “The Ectopic Stroll” (com grandes delírios de sintetizadores) ou “Memory Palace” são faixas que estão à nossa espera para maturarem e crescerem em nós. BTBAM é hoje considerado um nome muito importante no que se faz hoje de mais eclético, melódico, técnico mas também arrojado e experimental. Dez anos já, desde o Alaska, sempre a provar-nos que o céu é o limite... [ 9,0 / 10 ] ADRIANO GODINHO

Verdadeira instituição do rock industrial português com uma carreira que já passou as duas décadas, os Bizarra Locomotiva acabam de nos presentear com aquele que é o seu disco mais explicitamente rendido à estética Metal. Em parte a culpa deve ser atribuída a Thomas Eberger (Rammstein, Opeth, Amon Amarth) cuja masterização confere à sonoridade do álbum a pujança que a banda ostenta habitualmente em palco. Mas o importante, obviamente, é o material em oferta, que coloca este sétimo registo de originais muitos furos acima de discos como «Homem Máquina» ou «Ódio». Entre os 14 temas pouco há que não nos perturbe ou não nos faça pensar. Muito pelo contrário. Musicalmente tudo é mais intenso, especialmente as guitarras e a bateria. Os riffs, rasgados e monolíticos mas da maior eficácia, convidam à agitação. Ouçam-se os viciantes “Hecatombe” ou “Último aceno da carne” que têm tudo para se tornarem hits live, ou o arrepiante “Sudário de escamas” que inclui urros guturais e tudo. Às sonoridades frias e maquinais sempre omnipresentes (electrónica, samples...) junta-se agora uma generosa dose de experimentação cujos frutos resultam especialmente notáveis na interpretação em português do original de 1980 “Intruder”, de Peter

COAL CHAMBER Rivals

(Napalm Records)

DEATH ALLEY Black Magick Boogieland

(TeePee Records)

B I ZARRA LOCOMOTIVA Mortuário

(Rastilho Records)

BETWEEN THE BUR IED AND ME

Coma Ecliptic

(Metal Blade)

C R I T I C A V E R S U S

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ARCTURUS Arcturian

(Prophecy Productions)

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contacto é energético, com uma voz melódica com algo de diferente na colocação, no timbre. Este trabalho trata-se de um longa-duração, com onze faixas de duração média, até aqui, nada de revolucionário. Nem na música irão encontrar elementos de revolução, sendo o intuito da banda outro. A intenção é atingir o ouvinte com música simples e energética, mas com ingredientes de criatividade sufuciente para aguçar o interesse ao longo das faixas. Se na primeira faixa se nota mais a componente melódica, com uma intenção clara de criar um refrão agarrador, na segunda faixa que responde ao nome de “Degeneration” o contexto é diferente, sentindo-se mais a descarga energética, momentos que nos dá vontade de aumentar o volume da aparelhagem (sim, ainda tenho aparelhagem; sim, ainda compro CDs). A fórmula do denominado “power trio” responde bem aqui nesta faixa, onde os instrumentos e a voz mostram ser uma configuração bem poderosa nos géneros rock e metal. Recomendado a fãs de metal sem especial etiqueta, energético com toques de melodia e voz limpa.

[ 7,0 / 10 ] ADRIANO GODINHO

Embora a elaboração de um álbum conceptual não seja novidade, a forma como os Native Construct o fizeram é algo digno de registo. Estes estudantes da prestigiada escola de música de Berklee conseguiram elevar a fasquia em relação a este estilo de trabalhos. Quiet World conta-nos uma história de um rapaz mudo e estranho que se apaixona. Por não ver retribuído o seu amor, refugia-se num mundo imaginário. A melhor maneira de descrever o conjunto de músicas que conta esta narrativa é: ópera de metal. Recorrendo a programações feitas pelo próprio guitarrista e compositor da banda, este álbum apresenta uma diversidade de sons absolutamente arrebatadora: desde piano, violoncelo, saxofones, e até de sons instrumentos tribais. Toda esta panóplia de estímulos auditivos surge com um objetivo: permitir que através dos mesmos possamos quase que visualizar a narrativa, e diga-se que cumprem brilhantemente o seu propósito! Para além dos músicos serem excelentes executantes, conseguiram encaixar, de uma forma fluida e quase natural, toda esta diversidade de sons numa linha condutora de metal progressivo, na qual se baseia o álbum. Surgem não apenas como um complemento da música, mas sim como uma parte integrante das mesmas e indispensáveis para narrar a história em si. Ouvem-se guitarras

reavivar os Entrails, onde duas demos sao rapidamente gravadas (ambas em 2009). Depois veio um contrato com editora alema FDA e é lancado o primeiro album “Tales From The Morgue” em 2010. Desde entao o som dos Entrails bebe na fonte do death metal suéco, influenciados por nomes como Entombed, Dismember ou Grave. Os albums seguem-se a muito bom ritmo, em 2011 sai o segundo longa duracao “The Tomb Awaits”, em 2013 chamam a atencao da Metal Blade e assinam nesse ano, onde sai o álbum “Raging Death”, trabalho que agarrou a nossa atencao aqui na Versus pela energia e qualidade das músicas. Em 2014 saiu um “Demo Collection” com o nome “Resurrected From The Grave”. Neste novo trabalho “Obliteration” encontramos uns Entrails no seguimento do “Raging Death” mas com mais cuidado nas composicoes, nos arranjos. A energia continua presente, as guitarras sempre bem afiadas, um trabalho que consegue dar um passo mais á frente dos anteriores. Destaques para a “Epitome of Death” que tem melodia em forca, mas também “Midnight Coffin” ou “Skulls”. A faltar, apenas acusaria a semelhanca entre faixas, que tornam a audicao do album completo demasiado linear.demasiadamente centrada na voz e tudo o resto é secundário. Outra coisa que não gosto e passa um pouco pelo gosto pessoal é a utilização dos sintetizadores, algumas partes enervam e até acho que ficam despropositadas. Pela biografia houve algum trabalho – 5 anos – na criação dos temas – de certo não foi a tempo inteiro – e o álbum é produzido a meias por John Greatwood e James Martin e conta com uma série de músicos convidados, entre os quais: Daniel Palmqvist (Xorigin), Alessandro Del Vecchio (Hardline) ou Robert Sall (Work of Art), entre outros. Há um coro de vocalistas convidados onde se incluem Pete Newdeck (In Faith/Tainted Nation), Matt Black (Fahran) e Michael Kew (Vega), no entanto, como já

[ 7,5 / 10 ] ADRIANO GODINHO

Este é um novo projecto que nasceu na Alemanha, trata-se de um trio composto por Arkadius Antonik (membro fundador dos Suidakra e lá activo há mais de 20 anos) na guitarra, Martin Buchwalter (também ele membro fundador mas da banda de power metal Personal War, banda também com uma longevidade significativa) e Sascha Assbach que tem aqui o seu primeiro projecto. Esta mistura de sangue novo com experiência provada dá traz uma textura especial à música que os Fall of Carthage nos entreguam. O primeiro

Quantas vezes ouvimos dizer que o rock está morto? Nada disso! Há bandas com vontade e capacidade de o manter em boa forma, e inclusivamente de o revitalizar. Uma dessas bandas são sem dúvida os Death Alley. Ouvir este seu álbum de estreia remete-nos de imediato para a década de 70. Contudo, as suas músicas estão longe de ser uma cópia dos clássicos da altura. As influências em bandas como MC5, Iggy Pop, Pink Fairies são evidentes e assumidas, mas o seu rock ‘n’roll transcende-as. Conjugam um som muito “protopunk”, com, aqui e ali, umas pitadas de psicadélico, melodias, e riffs que nos fazem lembrar Black Sabbath ou mesmo Motörhead. E embora tudo isto pareça em papel uma colagem forçada de vários estilos de música, felizmente, na prática tal não se verifica. Não apresentam músicas repetitivas, quebradas ou com passagens forçadas. Há uma hegemonia entre todos os sons que introduzem, sendo natural a passagem de uma secção psicadélica para um riff pesado, passando por outras que nos recordam Jimmy Hendrix. O que obtemos é um rock ´n´roll moderno, quase que uma evolução natural do género. Algo que nos dias de hoje é muito bem-vindo. É um álbum enérgico do início ao fim, divertido de se ouvir, e que ao englobar as mais diversas influências consegue também agradar aos públicos mais díspares. Embora muito bem conseguido, é um álbum de estreia com tudo o que isso significa, ou seja: apesar da originalidade da música, ainda não se conseguiram descolar completamente das suas influências. Torna-se assim inevitável estabelecer algumas comparações. Porém, tal não compromete o bom trabalho que fizeram. Por estarem, e bem, a dar uma nova roupagem ao rock ´n´roll, e ajudá-lo a voltar a ter o seu espaço dentro do panorama musical atual, quem ainda vibra com os clássicos deve sem dúvida conhecer os Death Alley e a sua Black Magick Boogieland.

[ 8,0 / 10 ] IVO BRONCAS

Entrails é uma banda com uma história nao muito comum. A formacao inicial mesmo sem sequer conseguir gravar uma demo separa-se após quatro anos a tentar. Cada um vai para seu lado e trabalham nos seus projectos. O vocalista Jimmy Lundqvist continua mesmo assim a compor músicas mas também encosta o projecto em 98, por falta de meios para continuar. Dez anos depois o projecto é relancado, depois de Lundqvist encontrar velhas gravacoes que o deu vontade de

NAT IVE CONSTRUCT Quiet World

(Metal Blade)

FALL OF CARTHAGE Behold

(MDD Records)

ENTRA ILS Obliteration

(Metal Blade)

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sem ar; quando já estão perto do limite têm hipótese de dar uma golfada de ar fresco... e é só! Depois fazem o mesmo, catorze vezes! É isto, aqui não temos quase tempo de absorver o tema, pois já estamos a levar com outro! Os Napalm continuam a ser uma das mais brutais e ferozes bandas, aliando uma suprema e coesa técnica e velocidade; genuínos e sempre conduzidos por uma feroz inteligência. As letras continuam, como sempre, incisivas e críticas relativamente à agitação política, questões sociais, etc. «Apex Predator -Easy Meat» é brutal e inteligentemente... Napalm! Quem não ouvir, bem... “Metaphorically Screw

You”. [ 9,0 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

Para quem escreve sabe que às vezes a inspiração custa a aparecer. Nas reviews temos alguns factos, opiniões, gostos pessoais, etc e porque não, alguma inspiração. No que a mim me diz respeito, tento fazer passar para o leitor uma “imagem” daquilo que estou a ouvir, usando palavras. Isto é, ao lerem o que escrevo espero que fiquem com uma ideia da música. Às vezes podemos dizer tudo, sem dizer nada e mesmo assim, vocês conseguem ter uma ideia de quão bom (ou mau) é um determinado álbum, artista ou música e com base na minha “imagem” criada decidem se vão ouvir ou não. Há reviews que custam a escrever, as palavras são escolhidas e apagadas, as ideias não saem e a inspiração custa a aparecer. Por outro lado, há outras que se escrevem de uma forma tão natural como o respirar. Escrever uma review de Neal Morse é das coisas mais naturais do mundo, porque a música para este Sr. é algo de inato e intrínseco à sua existência. Sobre este álbum, posso dizer tudo sem dizer nada ou então, posso apresentar só os músicos: Mike Portnoy na bateria – com um trabalho muito sóbrio mas de enorme classe! - ou Randy George no baixo, ou então, dizer que The Neal Morse Band já tem mais de vinte álbuns, incluindo espetáculos ao vivo ou então, dizer que demorei cerca de dez minutos a escrever estas palavras ou então, que parece não haver um fim para a criatividade, paixão e magia na musicalidade que flui da mente e mãos de Morse ou acabar por dizer que ouvir The Neal Morse Band é uma grande, grande experiência!

[ 9,5 / 10 ] EDUARDO RAMALHADEIRO

Satyr deram as cartas e baralharam tudo de novo. Sendo uma das bandas pioneiras de Black Metal, os noruegueses sempre se mantiveram focados no que é importante: a música. Como que a celebrar o quarto de século o duo decidiu pegar no Coro da Orquestra Nacional da Noruega e fazer um espectáculo que acabou por originar este disco. Ao mesmo tempo, este acaba por ser uma prenda de Satyr para ele próprio, sendo este espectáculo descrito pelo próprio como «o seu sonho mais grandioso». Ao longo da sua carreira os Satyricon nunca esconderam o seu gosto e a sua aproximação à música clássica e derivados, como tal, este é um registo que acaba por não ser uma surpresa. No entanto, o que causa maior estupefacção é o resultado final e verificar a intensidade que as canções adquirem com a adição das vozes. Sem adquirir o formato best of. O disco surpreende pela escolha das canções e alinhamento, encaixando como uma luva. Basta colocar a rodela a girar e depressa somos levados para outra esfera, «Now Diabolical» é o mote e, a partir desse momento, todo o nosso corpo fica inerte e num frenesim louco, «The Infinity of Space And Time» é outro desses momentos em que o calor do coro norueguês desfaz o gelo sonoro da banda. Como é óbvio, canções como «K.I.N.G», «Mother North» ou a poderosíssima «Die By My Hand» que aqui ganha contornos ainda, mais sinistros. Numa banda que não tem nada a provar e que tem o toque gélido de Midas, os Satyricon provam que a sua música não tem. Um disco obrigatório para qualquer melómano e qualquer apreciador de Metal.

[ 10 / 10 ] NUNO KANINA

com distorção seguidas de um piano, ao qual depois se junta um violino, regressa-se a riff mais agressivo, e de repente passa-se para uma sonoridade jazz. Desta forma, através de músicas que embora, ecléticas, apresentam uma coesão assinalável, conseguem transmitir com mestria as emoções dos personagens, os conflitos com que se deparam, e até o ambiente em que se encontram. De notar que a produção ficou a cargo do próprio guitarrista à exceção das vozes. Por fazerem num álbum de estreia o que muitos nunca conseguiram numa carreira inteira, Quiet World é uma obra quase obrigatória para os fãs do género.

[ 9,0 / 10 ] IVO BRONCAS

O anúncio de que Nick Holmes gostaria de voltar a rosnar novamente não foi surpreendente depois de seu trabalho com os Bloodbath muito contribuiu para que «The Plague Within» dos Paradise Lost seja o seu álbum mais pesado e mais escuro desde o «Shades of God» de 1992. «The Plague Within» é uma combinação do peso sinistro do seu primeiro álbum «Lost Paradise» acompanhado pelo toque gótico de «Icon» e «Draconian Times» com uma abordagem moderna como «In Requiem». Além do desempenho de Nick Holmes, Mackintosh é o único que parece roubar-lhe o protagonismo com os seus riffs memoráveis após riff memorável, enquanto cria uma atmosfera triste e sombria. Podemos ter aqui o álbum mais memorável na discografia dos Paradise Lost. Quanto a faixas a destacar? Difícil não mencionar nenhuma faixa; «The Plague Within» tem um potencial enorme e pode ser mencionado ao lado de nomes como “Forever Failure”, “Gothic” ou “Hallowed Land” no futuro. Podem sentir que a banda se apresenta dentro da sua zona de conforto regressando às suas origens, não indo por novos caminhos como chegou a fazer em álbuns anteriores. «The Plague Within» é um retorno a uma era onde Paradise Lost governou o mundo do metal e influenciou muitas bandas. É um marco devido à sua qualidade e pelo facto de que os Paradise Lost conseguiram lançar um dos seus melhores álbuns de toda a sua discografia 27 anos após a

sua formação! [ 10 / 10 ] MIGUEL RIBEIRO

Se há coisa que o duo conhecido como Satyricon sempre fez foi arriscar, ao longo da sua extensa carreira Frost e

SATYR ICON Live at the Opera

(Napalm Records)

THE NEAL MORSE BAND The Grand Experiment

(InsideOut Records)

PARAD ISE LOST The Plague Within

(Century Media)

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CARLOS F I L IPEK I N G D I A M O N D « L i v e L u l l a b i e s »

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T E M P E L « T h e M o o n L i t O u r P a t h »

ADRIANO GOD INHO

D I A M O N D H E A D « W h a t ’s i n Yo u r H e a d ? »

K E N M O D E « S u c c e s s »

P A R A D I S E L O S T « T h e P l a g u e W i t h i n »

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MAIS UM ANO MAIS UM FEST IVAL .Nos dias 7, 8 e 9 de Agosto teremos a oportunidade de assistir ao VOA e tal como no ano passado o

festival mantém-se com três dias. Este ano será um dos melhores cartazes encabeçados pelos Within Temptation, Black Label Society e Bloodbath. Alguns velhos conhecidos do VOA também marcarão presença com destaque para os Overkill e Amorphis. Com grande expectativa aguardam-se as actuações dos australianos Ne Obvliviscaris – que fazem a sua estreia absoluta em terras lusas – e dos Orphaned Land. O metal nacional também está

muito bem representado com os Filli Nigrantium Infernalium, Ironsword ou Moonshade.

PODEM CONSULTARo cartaz completo e todas as informações que precisam para chegar à Quinta do Ega no sítio do festival: HTTP: / /WWW.VAGOSOPENA IR .EU / INDEX .HTML ou no sítio da Prime Artists: HTTP: / /WWW.PR IMEART ISTS.

EU/ INDEX .PHP/AGENDA/48-VOA15

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ARCH ENEMYUMA GUERRA ETERNA COM INIMIGOS A ALTURA

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No dia 21 e 22 de Maio de 2015 os Arch Enemy marcaram o seu regresso aos palcos Portugueses no Paradise Garage em Lisboa e no Hard Club no Porto. Além da apresentação do último disco “War Eternal”, lançado em 2014, estas datas marcaram também as primeiras datas no nosso país dos novos membros de Arch Enemy, com a vocalista Alissa White-Gluz (ex-The Agonist) e o guitarrista Jeff Loomis (ex-Nevermore e Conquering Dystopia).

Em Lisboa, os concertos tiveram início às 20h30 com Drone a abrir as hostilidades, ainda com o recinto a meio gás. Nada que impedisse o vocalista Moritz Hempel e os seus companheiros de proporcionar um bom espectáculo ao público Português nos seus trinta minutos de actuação. Músicas como “Welcome to the Pit” e “Hammered, Fucked & Boozed” arrancaram da plateia mosh pits e momentos de interacção entre alguns presentes na plateia e Moritz com este a propor “beber uns copos” após a atuação da banda com algumas das pessoas no recinto.

Seguiram-se os Unearth, banda já algo conhecida no nosso território e que

instintivamente gerou um circle pit assim que subiu ao palco. Os Unearth lançaram também um novo disco em 2014, mas apenas apresentaram dois temas desse mesmo registo. A actuação da banda foi intensa e calorosa, tal como o ambiente dentro da sala Lisboeta, e terminou com os dois guitarristas da banda a tocar o último tema da sua actuação em cima de um dos balcões do bar do Paradise Garage, mostrando assim a cumplicidade que os Unearth têm com os seus fãs mais fiéis.

Com a sala lotada e o calor a aumentar, subiram finalmente, ao palco os Arch Enemy. A actuação começou por volta das 22h00 da noite com um alinhamento escolhido essencialmente para mostrar o novo disco da banda aos seus fãs. A actuação foi bastante energética e competente, com Alissa a puxar constantemente pelo público. Não só mostrou que tem uma voz poderosa e que não fica nada atrás dos vocalistas anteriores como comunicou bastante com a plateia e viu como resposta a energia do público presente ao longo de toda a atcuação.

Houve vários mosh pits, circle pits, cantorias, headbangs, saltos, aplausos e até mesmo “crowdsurfing”. Por entre temas do novo disco, como “War Eternal”, “No More Regrets”, “You Will Know My Name” e “Stolen Life” ouviram-se também temas dos discos anteriores como “Nemesis”, “My Apocalipse”, “Ravenous”, “Never Forgive, Never Forget”, “Dead Eyes See No Future” entre muitos outros numa actuação bastante energética, onde a voz brilhou desde o começo, bastante emblemática e sem qualquer sinal de cansaço e sem deixar qualquer dúvida sobre a qualidade da actual formação dos Arch Enemy.

Reportagem: Ruben Chamusca

Fotografia: Sérgio Melo

Foto © Sérgio Melo

ARCH ENEMY + UNEARTH + DRONEPARADISE GARAGE – LISBOA21.05.2015

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Reportagem e Fotos: Eduardo Ramalhadeiro e Bruno Manarte

Reportagem e Fotos: João Fitas

Reportagem e fotos: CSA

BLAME ZEUS / THE 7RIOTS / HEAD:STONEDHARD BAR – OLIVEIRA DO BAIRRO30.05.2015

WEB / EQUALEFT / TALES FOR THE UNSPOKEN / CLAIM YOUR THRONEMETALPOINT – PORTO23.05.2015

SATANIC WARMASTER / INTHYFLESH / DOLENTIA / NEVOAHARD CLUB – PORTO26.06.2015

O REGRESSO DOS VETERANOS DO METAL PORTUGUÊS No passado Sábado, dia 23 de Maio, celebrou-se no Metalpoint o lançamento do novo álbum dos veteranos Web, “Everything Ends”. Uma noite de festa com a companhia de Claim Your Throne, Tales for the Unspoken e Equaleft.Claim Your Throne abriram o evento, cheio de peso. Uma banda que promete evoluir bastante e deixou todo o público com cada vez mais vontade de ouvir a finalidade do novo álbum, que será lançado no final do ano, pela Raising Legends. Com um vazio na frente, os membros “ameaçaram”, em tom de brincadeira, o público que caso não avançassem teriam de ser eles a descer do palco, e iria se pior. Então os espectadores assim o fizeram, e iniciaram a primeira mosh da noite. Os Claim Your Throne foram a melhor escolha para iniciar o primeiro concerto desta Tour.Tales for the Unspoken regressaram ao Porto, um ano depois do lançamento de “Adapt & Survive” dos Equaleft. A banda foi recebida de bom grado, e aproveitou para apresentar o novo álbum, “CO2”, lançado em Abril. A abertura ficou encarregue de “Soul for a Soul”, presente no novo álbum tal como: “I, Claudius”, - com a

NO RE INO DAS SOMBRAS! Pelas 21h, abriram as portas da Sala 2 e bem depressa a primeira banda entrou em palco. O ar dos seus membros dava vontade de perguntar se não tinha havido algum engano, porque os jovens em questão bem poderiam fazer parte de uma banda de Indie Rock. Mas, como nem sempre o hábito faz o monge, depressa o público presente percebeu que se tratava mesmo de uma banda de Black Metal, que poderíamos classificar de atmosférico. Apesar de terem vocalista, a sua prestação pautou-se pela parcimónia, já que a música era essencialmente instrumental. Assim, este músico usou sobretudo a sua guitarra, para criar uma atmosfera interessante, para a qual contribuía também um vídeo com imagens de uma floresta, que ia acompanhando o ritmo da música.Seguiu-se a atuação de Dolentia, cujos elementos – por falar de hábitos – vinham todos vestidos de monges. Desta vez, o público, que ia aumentando progressivamente – talvez por ser sexta e muita gente ainda vir do trabalho – acolheu os músicos com a atitude habitual nestas circunstâncias, parecendo familiarizado com o seu estilo. Luctus e seus companheiros proporcionaram a todos um momento de verdadeiro “recolhimento musical”.

participação de Miguel Inglês dos Equaleft - “Burned Alive” e “Mental Strength”; mas também se pôde ouvir malhas do primeiro álbum: “Possessed”, “Say My Name” e “Ntakuba Wena”. A prestação da banda foi, sem dúvida, extraordinária e conseguiram pôr toda a gente a mexer do início ao fim sem parar.Os Equaleft também tiveram presentes e causaram o caos no Metalpoint; uma banda que não necessita de apresentações, fez a festa toda com “We Are… The Chamelons” iniciaram a prestação da banda portuense. Com uma setlist dedicada ao álbum “Adapt & Survive” - “Tremble”, “Humans e “Invigorate” – os Equaleft recordaram “Erased” do demo “As The Irony PreVails” e ainda tocaram “Mortal Soul”, um cover dos Web, dedicando a Victor Matos e David Duarte (fundadores dos Web), com a ajuda de Fernando Martins, o atual vocalista da banda veterana; este cover surpreendeu toda a gente presente, deixando toda a plateia a cantar, todos os que estavam na primeira fila formaram um headbang sincronizado. Com Equaleft foi a festa total, como era de esperar, e como sempre não desiludiram… Para fechar, subiram ao palco os esperados Web com uma setlist maioritariamente focada no álbum de apresentação

E depressa se chegou à terceira banda da noite – Inthyflesh – que impressionou bastante o público com o seu Black Metal bem clássico, mostrando que a ideia de fazer acompanhar o cabeça de cartaz finlandês por três bandas portuguesas tinha sido excelente. A prestação foi discreta, mas marcada pela grande qualidade esperada, com uma boa interação entre o Sataere, o vocalista, e uma parte do público.A “estrela” primou pelo grande contraste com todos os seus antecessores, começando por uma entrada muito dramática: ao som de uma música solene, os vários elementos da banda foram ocupando os seus lugares no palco, sendo Werwolf o último a entrar. Fiquei a pensar como era curioso que os únicos nórdicos da noite fossem os artistas mais exuberantes, contrastando com a ideia feita que atribui aos latinos – de que nós fazemos parte – o gosto pelo espetáculo. Tudo no frontman de Satanic Warmaster chamava a atenção do público, desde a indumentária – bastante fantasista – até à atitude em palco – bem longe do ar taciturno que estamos habituados a ver em bandas de Black Metal. Ficámos a saber que não é boa ideia apostar em estereótipos. Foi tal a exuberância do conhecido vocalista que a parte

com “Taking the world”, “Vendetta”, “All turns to Dust”, “Death My Enemy” e “Everything Ends pt. 1”. Mas também “viajamos no tempo” até aos álbuns anteriores da banda – 1995, ano de “World Wide Web” e até “Deviance” (2005) - para ouvirmos “(In)sanity” e “Mortal Soul” (mais uma vez). Os veteranos do Heavy Metal Português provaram que quando se faz algo por paixão e esforço, fazemo-lo bem e os Web mostraram isso em palco. O momento que se destacou foi a Wall of Dance, em que a banda dividiu a sala em dois lados – igualmente à famosa Wall of Death – e pôs toda a gente a dançar ao som de “False Prophet”. Epic Moment of the Night.Uma noite memorável para todos que estiveram presentes. E esperamos receber mais álbuns deste calibre em trabalhos futuros dos grandes Web.

mais jovem da assistência acabou por se envolver num animado mosh, talvez levada pelo notório groove da música que ia saindo do palco, em que se ouvia um Black Metal bem temperado por Rock.Pela atitude do público, quando as hostilidades foram encerradas, deduzimos que – independentemente dos gostos de cada um dos presentes – que iam desde jovens fãs, provavelmente ainda pouco conhecedores do género, até pessoas que vinham rever as bandas convidadas (à exceção de Nevoa) – deu por bem empregue o tempo gasto no Hard Club, nesta noite de início de verão.

ALMA ACONCHEGADA! A noite estava amena e VERSUS respondeu ao convite da Sandra para assistir ao concerto dos Blame Zeus, no Hard Bar. Após duas “jolas” e alguns “dedos” de conversa, o ambiente lá foi aquecendo com os Head:Stoned. A banda do Porto como é seu timbre, proporcionou um espectáculo cheio de energia, muito bem liderados pelo vocalista Vítor Franco. Com os “motores já quentes” e após mais umas “jolas” eis que os The 7Riots subiram ao palco descarregando o seu Hard Rock com muita irreverência. Esta irreverência estende-se à frontwoman Érika Martins, de uma forma ainda mais vincada e cheia de personalidade. Apesar de não ser um estilo totalmente original, os The 7Riots elevaram ainda mais o nível de energia e contágio. No entanto, os cabeças de cartaz eram os Blame Zeus. A sala não estava cheia, muito antes pelo contrário. Porém, este facto não impediu que Sandra Oliveira e seus pares aquecem-se o ambiente, o corpo e a alma de uma forma aconchegante. O som estava impecável e os Blame Zeus tocaram grande parte do seu último álbum «Identity»: “Sick of You”, “Shoot Them Now” ou “The Apprentice” foram só algumas pérolas que tivemos a felicidade de ouvir. Aproveitando a partilha do palco com os Head:Stoned, o público

ainda teve direito a um “brinde”… Vítor Franco subiu ao palco para dividir o tema “Crazy” com Sandra Oliveira. A boa disposição e cumplicidade reinaram em palco. De resto, a qualidade e presença em palco dos músicos é excelente, profissionais e competentes a 110%. Os Blame Zeus merecem… e merecem muito mais! No fim, ainda tivemos a oportunidade de falar com a Sandra sobre o concerto e outras coisas que tais:Antes de mais parabéns pelo concerto. Vocês são excelentes e acima de tudo grandes profissionais!

Reparei que vocês tiveram uma grande cumplicidade com as bandas convidadas, especialmente os Head:Stoned. É sempre assim nos vossos concertos?Sim, tentamos que seja, pelo menos. Parte da diversão é convivermos com os nossos colegas e apoiarmos também os outros concertos. É importantíssimo fazer amigos no meio e valorizar essas amizades. Além disso, 2 membros de Head:Stoned participaram directamente no nosso álbum «Identity»: o Augusto foi responsável pelo design e o Vitor deu a sua voz na nossa «Crazy».

Como está a correr a vossa digressão?

Está a correr muito bem, os concertos têm sido cada vez melhores. Só temos pena de nem sempre termos casa cheia, mas isso é uma questão de oportunidades, muitas vezes. Há sempre concertos a acontecer e mesmo assim há pessoal que teima em ficar em casa, o que é uma pena. Mas tenho esperança que isso mude.

A sala não tinha muita gente mas vocês encheram e enriqueceram-na por completo com o vosso profissionalismo. A vossa forma de tocar e presença em palco é a mesma quer esteja a sala cheia ou meia vazia?É verdade, mas isso não nos demove. Quem lá está pagou bilhete e merece todo o nosso empenho, portanto não interessa se estão 10 pessoas ou 100. Neste concerto o público estava tão envolvido na música que sinceramente me senti a tocar para 1000!

Quais são os próximos concertos da digressão?Confirmados temos o concerto de dia 19 de junho no TOCA, em Braga com Deserto e Cinemuerte, e dia 4 de julho no Cave 45 com Head:Stoned e Nethergod. Há algumas confirmações pendentes que iremos anunciar atempadamente.

Sandra, obrigado pelo convite! Não demos o nosso tempo como perdido, muito antes pelo contrário. (Gostei e não parti nada no bar…!) Nós é que agradecemos pela vossa presença, a Versus é sempre bem-vinda! You rock!!!

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Reportagem e Fotos: Ricardo Moreira (Bulldozer ON Stage)

Foto: Retirada da página de Terror Empire

AESTHETICS OF HATE FESTMETALPOINT – PORTO14.06.2015

TERROR EMPIRE / SOLDIER / IN VEINMETALPOINT – PORTO05.06.2015

THRASHING ALL N IGHT LONG Durante 5, 6 e 7 de Junho, a Mosher organizou o Thrashing Iberia, com convidados como Terror Empire, Soldier, Strikeback e In Vein, passando por Vigo, Porto e Coimbra. Na passagem pelo Porto vieram Terror Empire, Soldier e In Vein – substituir Destroyers of All.A festa começou com In Vein, uma banda que está a começar uma carreira e deu o seu melhor em palco. Conseguiram mostrar o espírito certo para a noite que tivemos em frente. A banda conseguiu pôr todo o público a abanar a cabeça.Os seguintes foram os espanhóis Soldier, que deram um concerto pela primeira vez fora do seu país. Uma banda com um thrash espetacular, e já contam com 2 álbuns: Gas Powered Jesus (2012) e The Great Western Oligarchy (2015). Para além de temas como: Stand Your Ground, Corrupted (Sex in Prison) e Christoholic, ainda pudemos ouvir Holy Wars (Megadeth) e Cowboys from hell (Pantera). Os Soldier mostraram bastante experiência, e deram origem a várias mosh pits.A última banda a subir ao palco foram os Terror Empire, de Coimbra, com “The Empire Strikes Black” lançado

recentemente, aproveitou para fazer a sua apresentação no Metalpoint. Os conímbrigos trouxeram uma setlist bastante recheada com malhas como: “The Servant”, “Skinned Alive”, “Strings of Rebellion”, “Redemptive Punishment” – do álbum anterior, “Face the Terror” - e “Break the Cycle”. A banda foi recebida de braços abertos, com uma grande performance, e apesar de não estar lotação esgotada, o público ajudou e cantou junto com a banda.Foi uma noite cheia de Trash Metal, e esperamos voltar a ver estas bandas na nossa cidade brevemente. Melhor sorte para os artistas, e obrigado à Mosher por nos ter aceite neste evento. \m/

No dia 14 Junho, a Bulldozer ON Stage voltou com mais uma edição de Aesthetics of Hate Fest, desta vez em forma de matiné de Domingo, uma tarde acompanhada de bom Underground Português com: Happy Farm, Ashes & Waves, Punchdown, The Last of Them.Happy Farm uma banda formada por dois membros: Tiago Cardoso nos vocais e Nuno Pereira na guitarra e um iPod com gravações de bateria. Uma estreia no palco do Metalpoint, para a banda de Grindcore, que começaram recentemente, e ganharam alguns fãs com os temas musicais sobre Quintas e tudo relacionado à mesma.Ashes & Waves foi mais uma estreia, mas esta banda deu o seu primeiro concerto e com muita força. Apesar do curto tempo que tiveram em palco (ou pelo menos pareceu, pois surpreendeu bastante, pela positiva) ouvimos “Cancerous Fate”, “Soul”, “Survey” entre outros temas que banda escolheu partilhar connosco. Acreditamos que esta banda tem potência para se integrar perfeitamente no Metal Underground Nacional.Punchdown continuaram a festa com Nu/Thrash Metal e aproveitaram para apresentar o EP que será lançado brevemente juntamente com um videoclip do tema “Long Road Down To Hell”, tocado no evento tal como: “Turn

it Out”, tema este que teve ajuda de Dan, dos Sotz’. A banda promete estrear-se em grande no panorama Underground com este EP.The Last of Them, uma banda já com alguma reputação tendo uma discografia contida por três EPs: “Slow Motion Chaos” (2008), “Glamorous Chaos” (2009) editado pela Covil Productions e “At No One’s Mercy” (2013) gravado na Mstudio. A prestação desta banda foi extraordinária, tanto para quem conhecia banda como para os restantes que não os conhecia. Os The Last of Them foram recebidos em grande com muitos mosh pit’s a acompanhar temas como: “Deny & Reject”, “Murder Circus” ou mesmo “Kronic Impulse”.Uma tarde que os artistas não esperavam ver tanta gente numa tarde de Domingo, e ficaram bastante agradecidos porque todos os fãs presentes “poderiam ter combinado outras coisas, e ao contrário disso, preferiram aparecer no Metalpoint e curtir”.

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