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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE MEDICINA DENTÁRIA

– SEBENTA –

GNATOFISIOLOGIA

2º ANO, 1º SEMESTRE

MEDICINA DENTÁRIA

AUTOR: RITA RODRIGUES

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Índice

Anatomia Funcional e Biomecânica do Sistema Estomatognático............................................ 8

Anatomia Funcional .................................................................................................................. 8

Dentição e Estruturas de Suporte .......................................................................................... 8

Componentes Esqueléticos ................................................................................................... 8

Maxila ............................................................................................................................... 9

Mandíbula ......................................................................................................................... 9

Temporal ........................................................................................................................ 10

Zigomático ...................................................................................................................... 10

Esfenóide ........................................................................................................................ 10

Componentes Ligamentares ................................................................................................ 11

Ligamentos colaterais (discais) ........................................................................................ 11

Ligamento capsular ......................................................................................................... 11

Ligamento temporo-mandibular ..................................................................................... 12

Ligamento esfeno-mandibular ......................................................................................... 12

Ligamento estilo-mandibular ........................................................................................... 12

Componentes Musculares – Músculos da Mastigação ......................................................... 12

Masséter ......................................................................................................................... 14

Temporal ........................................................................................................................ 14

Pterigoideu Medial .......................................................................................................... 15

Pterigoideu Lateral .......................................................................................................... 15

Digástrico ........................................................................................................................ 16

Milo-hioideu ................................................................................................................... 17

Geni-hioideu ................................................................................................................... 17

Articulação Temporo-Mandibular........................................................................................ 17

Disco Articular ................................................................................................................. 18

Compartimentação Articular ........................................................................................... 18

Estrutura ......................................................................................................................... 19

Nutrição .......................................................................................................................... 20

Lubrificação..................................................................................................................... 21

Inervação ........................................................................................................................ 22

Vascularização ................................................................................................................ 22

Biomecânica ........................................................................................................................... 22

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Neuroanatomia Funcional e Fisiológica do Sistema Estomatognático .................................... 26

Anatomia e Função do Sistema Neuromuscular ...................................................................... 26

Músculos............................................................................................................................. 26

A unidade motora ........................................................................................................... 26

O músculo ....................................................................................................................... 26

Estruturas Neurológicas ...................................................................................................... 28

Neurónio ......................................................................................................................... 28

Tronco encefálico e cérebro ............................................................................................ 30

Recetores sensoriais ........................................................................................................ 32

Função Neuromuscular ....................................................................................................... 35

Função dos recetores sensoriais ...................................................................................... 35

Ação reflexa .................................................................................................................... 36

Inervação recíproca ......................................................................................................... 38

Influência dos centros superiores .................................................................................... 39

Funções Principais do Sistema Estomatognático ..................................................................... 40

Mastigação ......................................................................................................................... 40

O movimento da mastigação ........................................................................................... 41

Contacto dos dentes ....................................................................................................... 42

Forças da mastigação ...................................................................................................... 43

Função dos tecidos moles ............................................................................................... 43

Ciclo mastigatório ........................................................................................................... 43

Deglutição ........................................................................................................................... 44

Fases da deglutição ......................................................................................................... 46

Fonação .............................................................................................................................. 47

Articulação do som.......................................................................................................... 48

Respiração .......................................................................................................................... 48

Posicionamento e Oclusão Dentária ....................................................................................... 52

Fatores e Forças que Determinam a Posição do Dente ............................................................ 52

Alinhamento Dentário Intra-Arcada ........................................................................................ 52

Alinhamento Dentário Inter-Arcada ........................................................................................ 54

Relação Oclusal Comum dos Dentes Posteriores ................................................................. 55

Classe I ............................................................................................................................ 56

Classe II ........................................................................................................................... 56

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Classe III .......................................................................................................................... 56

Contatos Oclusais Comuns dos Dentes Anteriores ............................................................... 56

Contatos Oclusais durante o Movimento Mandibular .......................................................... 58

Movimento Mandibular Protrusivo ................................................................................. 58

Movimento Mandibular Laterotrusivo ............................................................................. 58

Movimento Mandibular Retrusivo ................................................................................... 59

Mecânica do Movimento Mandibular .................................................................................... 62

Tipos de Movimento ............................................................................................................... 62

Movimento de Rotação ....................................................................................................... 62

Movimento de Rotação em torno do Eixo horizontal de rotação ..................................... 63

Movimento de Rotação em torno do Eixo frontal (vertical) de rotação ............................ 63

Movimento de Rotação em torno do Eixo sagital de rotação ........................................... 64

Movimentos de Translação ................................................................................................. 64

Limites Anatómicos dos Movimentos Mandibulares................................................................ 64

Limites Anatómicos Posteriores – ATM................................................................................ 64

Movimento de Rotação ................................................................................................... 64

Movimento de Protrusão ................................................................................................ 64

Movimentos de Lateralidade ........................................................................................... 65

Limites Anatómicos Anteriores – Guia Anterior ................................................................... 66

Movimentos Bordejantes num mesmo Plano .......................................................................... 66

Plano Bordejante Sagital e Movimentos Funcionais – Diagrama de Posselt .......................... 67

Movimento Bordejante de Contacto Superior ................................................................. 67

Movimento Bordejante de Abertura Anterior .................................................................. 68

Movimento Bordejante de Abertura Posterior ................................................................ 68

Movimentos funcionais ................................................................................................... 69

Plano Bordejante Horizontal e Movimentos Funcionais – Arco Gótico ................................. 70

Movimento Bordejante Lateral Esquerdo ........................................................................ 70

Movimento Bordejante Lateral Esquerdo continuado com Protrusão .............................. 70

Movimento Bordejante Lateral Direito ............................................................................ 71

Movimento Bordejante Lateral Direito continuado com Protrusão .................................. 71

Movimentos funcionais ................................................................................................... 71

Movimentos Bordejantes Frontais (Verticais) e Movimentos Funcionais.............................. 71

Movimento Limite Lateral Superior Esquerdo .................................................................. 72

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Movimento Limite Lateral Esquerdo em Abertura ........................................................... 72

Movimento Limite Lateral Superior Direito ...................................................................... 72

Movimentos Limite Lateral Direitos em Abertura ............................................................ 72

Movimentos funcionais ................................................................................................... 72

Movimento de Envelope ..................................................................................................... 73

Movimento Tridimensional ............................................................................................. 73

Critérios para uma Oclusão Funcional Ideal ........................................................................... 76

História do Estudo da Oclusão ................................................................................................. 76

Critérios para uma Oclusão Funcional Ideal ............................................................................. 77

Critérios Referentes à ATM ................................................................................................. 77

Critérios Referentes aos Dentes .......................................................................................... 77

Resumo da Condição Oclusal Ideal .......................................................................................... 81

Determinantes da Morfologia Oclusal .................................................................................... 84

Fatores de Controlo Posterior (Guia Condilar) ......................................................................... 84

Fatores de Controlo Anterior (Guia Anterior) .......................................................................... 84

Compreendendo os Fatores de Controlo ................................................................................. 85

Determinantes Verticais da Morfologia Oclusal ....................................................................... 86

Efeito da Guia Condilar (Ângulo da Eminência Articular) na Altura da Cúspide ..................... 86

Efeito da Guia Anterior na Altura da Cúspide ....................................................................... 87

Efeitos do Plano de Oclusão na Altura da Cúspide ............................................................... 87

Efeito da Curva de Spee na Altura da Cúspide...................................................................... 88

Efeito do Movimento Mandibular de Translação Lateral na Altura da Cúspide ..................... 89

Efeito da quantidade de movimento da translação lateral na altura da cúspide ............... 90

Efeito da direção do movimento da translação lateral na altura da cúspide ..................... 90

Efeito do período do movimento da translação lateral na altura da cúspide .................... 90

Determinantes Horizontais da Morfologia Oclusal................................................................... 91

Efeito da Distância do Côndilo Orbitante na Direção das Cristas e Sulcos ............................. 91

Efeito da Distância do Plano Mediano na Direção das Cristas e Sulcos ................................. 91

Efeito da Distância do Côndilo Orbitante e do Plano Mediano na Direção das Cristas e Sulcos

........................................................................................................................................... 92

Efeito do Movimento Mandibular de Translação Lateral na Direção das Cristas e Sulcos ..... 92

Efeito da Distância Intercondilar na Direção das Cristas e Sulcos ......................................... 92

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Anexo #1: Embriologia do SE .................................................................................................. 96

Anexo #2: Morfologia Dentária Funcional ............................................................................ 104

Anexo #3: Guia Anterior ....................................................................................................... 112

Anexo #4: Dimensão Vertical de Oclusão ............................................................................. 122

Anexo #5: Dentes Posteriores e Relações Oclusais Excêntricas ............................................ 130

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OKESON – CAPITULO #1

ANATOMIA FUNCIONAL E

BIOMECÂNICA DO SISTEMA

ESTOMATOGNÁTICO

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OKESON – CAPÍTULO 1: ANATOMIA FUNCIONAL E BIOMECÂNICA DO S.E.

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ANATOMIA FUNCIONAL E BIOMECÂNICA DO S.E.

Sistema Estomatognático:

Unidade funcional complexa do corpo humano, responsável primariamente pela

mastigação, fala e deglutição, mas também com funções importantes ao nível do

paladar, respiração e estética. (situação eficiente)

Composto por dentes, ossos, articulações, ligamentos e músculos.

Associado a um sistema de controlo neurológico – sistema neuromuscular – que regula

e coordena todos os componentes estruturais

Anatomia Funcional

DENTIÇÃO E ESTRUTURAS DE SUPORTE

Dentição humana: 32 dentes permanentes.

Cada dente pode ser dividido em 2 partes:

Coroa – acima do tecido gengival

Raiz – submersa e circundada pelo osso alveolar

Ligamento Periodontal: conjunto de numerosas fibras de tecido conjuntivo desde a superfície

do cemento da raiz até ao osso alveolar.

Prende o dente ao seu alvéolo ósseo;

Ajuda a dissipar as forças aplicadas ao osso durante o contacto funcional dos dentes.

O arco maxilar é ligeiramente mais largo que o arco mandibular, o que faz com que os dentes

maxilares (superiores) se sobreponham aos mandibulares (inferiores) tanto vertical como

horizontalmente quando ocluidos.

Essa discrepância de tamanho resulta dos factos:

Dentes anteriores da maxila (superiores) são muito mais largos do que os mandibulares

(inferiores) – cria uma maior largura do arco

Dentes anteriores da maxila (superiores) têm uma maior angulação facial do que os

anteriores mandibulares (inferiores) – cria um trespasse horizontal e vertical

COMPONENTES ESQUELÉTICOS

Dos 3 componentes esqueléticos que compõem o SE, 2 suportam os dentes (maxila e

mandíbula) e 1 suporta a mandíbula na sua articulação com o crânio (temporal).

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OKESON – CAPÍTULO 1: ANATOMIA FUNCIONAL E BIOMECÂNICA DO S.E.

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Maxila (Maxilar Superior)

Embriologia:

o Origem: dois ossos maxilares fundem-se na sutura meso-palatina (a partir dos processos

maxilares e processo fronto-nasal – influenciada pelas cavidades orbital, nasal e oral);

o Processo nasal mediano:

Porção interna (medial): septo nasal

Bordo inferior: processo globular – centro do lábio sup (freio); porção ant do palato

o Processos nasais laterais: porções laterais do nariz

Unida aos ossos da base do crânio (zigomático, esfenóide, etmoide, ossos próprios do nariz e

palatino)

O bordo da maxila estende-se superiormente para formar o pavimento da cavidade nasal e o

pavimento de cada órbita;

Inferiormente, forma o palato e os rebordos alveolares, que suportam os dentes;

Como as maxilas estão pressionadas aos componentes ósseos vizinhos do crânio, os dentes

superiores são considerados como a parte fixa do crânio, e desta forma, a parte estacionária

do SE.

Mandíbula

Osso ímpar, em forma de “U”

Embriologia: aparece por volta da 6ª semana com o aparecimento da cartilagem de Meckel –

a partir do arco mandibular, formado pela fusão dos processos mandibulares;

Sustenta os dentes inferiores e forma a parte inferior do esqueleto facial;

É sustentada abaixo da maxila por músculos, ligamentos e tecidos moles, os quais

possibilitam a mobilidade necessária para a função com a maxila (não tem nenhuma

inserção óssea com o crânio – único osso móvel do SE);

O corpo da mandíbula:

o Apresenta: processos alveolares (conferem suporte aos dentes inf) e inserções musculares

o Estende-se posteriormente para formar o ângulo da mandíbula e póstero-superiormente

para o ramo ascendente;

O ramo ascendente:

o Apresenta: língula ou espinha de Spix e inserções musculares

o É formado por uma placa óssea vertical que se estende para cima em dois processos: o

anterior (processo coronóide) e o posterior (côndilo);

O côndilo:

o Tem forma ovoide;

o É a porção da mandíbula que se articula com o crânio, em torno do qual ocorrem os

movimentos;

o a superfície articular é maior posteriormente do que anteriormente e é mais convexa

antero-posteriormente do que latero-medialmente;

o Possui duas projeções (cujos eixos passam pelos dois polos e convergem para o bordo

anterior do foramen magno): o polo medial (geralmente mais saliente) e o lateral.

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OKESON – CAPÍTULO 1: ANATOMIA FUNCIONAL E BIOMECÂNICA DO S.E.

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Temporal

Osso par;

Unido ao occipital, parietal, zigomático e esfenoide;

Articula-se com o côndilo mandibular, na base do crânio, através da porção escamosa (ATM)

composta pela fossa mandibular côncava designada cavidade articular ou glenoide;

Posteriormente à cavidade está a fissura escamo-timpânica que se estende medio-

lateralmente e se divide em fissura petro-escamosa (anteriormente) e em fissura petro-

timpânica (posteriormente);

Anteriormente à cavidade há uma proeminência óssea (eminência articular), cuja

convexidade é variável mas importante pois a sua inclinação determina a trajetória do

côndilo quando a mandibula está posicionada anteriormente;

O teto posterior da cavidade mandibular é fino o que significa que esta área do temporal não

é destinada a suportar forças pesadas.

A eminência articular (anterior), por sua vez consiste num osso espesso e denso, logo mais

tolerante a forças pesadas.

Apresenta ainda: processo estiloide (inserções musculares e ligamentosas)

Zigomático

Osso par;

Unido ao temporal, frontal, esfenoide e maxila;

Inserções musculares.

Esfenoide

Osso ímpar da base do crânio;

Unido ao temporal, frontal, etmóide, maxila, palatino e vómer;

Inserções musculares.

Sistema Trajetorial:

Composto por:

Pilares/Colunas (Verticais)*

▫ Nasal

▫ Zigomático

▫ Mandibular anterior e posterior

Vigas/Arcos (Horizontais)*

▫ Maxilar

▫ Frontal

▫ Mandibular superior e inferior

▫ Bordo alveolar mandibular

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(*zonas de maior resistência, capazes de dissipar forças sem fraturar os ossos)

COMPONENTES LIGAMENTARES

Ligamentos da ATM:

Constituídos por tecido conjuntivo colagénico (resistência ao estiramento)

Têm um papel importante na proteção das estruturas: agem passivamente na função da

articulação como agentes limitadores ou de restrição de movimentos (evitando, por

exemplo que o côndilo saia da cavidade glenoide durante os movimentos)

3 principais (ligamentos funcionais que suportam a ATM):

Lig. Colateral

Lig. Capsular

Lig. Temporo-mandibular

2 acessórios:

Lig. Esfeno-mandibular

Lig. Estilo-mandibular

Ligamentos colaterais (discais)

Prendem o disco ao côndilo;

São 2: o ligamento colateral/discal medial e o ligamento colateral/discal lateral;

Ligamento colateral medial: prende o bordo medial do disco ao polo medial do côndilo;

Ligamento colateral lateral: prende o bordo lateral do disco ao polo lateral do côndilo;

Dividem a articulação medio-lateralmente em duas cavidades (superior e inferior);

Restringem o movimento do disco para fora do côndilo atuando passivamente nos

movimentos rotacionais antero-posteriores do disco sobre o côndilo;

São responsáveis pelos movimentos de abertura da ATM;

Têm suprimento vascular e são inervados (inervação dá informação acerca da posição e

movimento da articulação);

Esforço nestes ligamentos produz dor.

Ligamento capsular

Lateral ao ligamento colateral

As suas fibras são inseridas:

Superiormente: ao longo dos bordos das superfícies articulares da fossa mandibular e

eminência articular (temporal);

Inferiormente: no colo do côndilo mandibular;

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Age para resistir a qualquer força medial, lateral ou inferior que tende a separar ou deslocar

as superfícies articulares (ou seja, impede separações laterais ou inferiores das superfícies

articulares);

Envolve toda a articulação, retendo o líquido sinovial;

É inervado (inervação proporciona um estímulo propriocetivo sobre a posição e movimento

da articulação);

Ligamento temporo-mandibular

Composto por fibras fortes e densas, reforçando a parte lateral do ligamento capsular;

Composto por duas porções:

Externa (superficial) e oblíqua: estende-se desde a superfície lateral do tubérculo

articular e processo zigomático até à superfície lateral do colo do côndilo;

Interna (profunda) e horizontal: estende-se desde a superfície lateral do tubérculo

articular e processo zigomático até ao polo lateral do côndilo e parte posterior do disco

articular;

A porção oblíqua limita a extensão da abertura bucal, impedindo a queda excessiva do

côndilo, e influencia a abertura normal da mandíbula, uma vez que tornando-se rígido

impede o côndilo de rotacionar e assim caso a boca tenha que abrir mais amplamente este

tem que se mover para baixo e para a frente através da eminência articular (ou seja, limita o

movimento de rotação de abertura da boca);

A porção horizontal limita o movimento posterior do côndilo e do disco, protegendo os

tecidos retrodiscais de trauma causado pelo deslocamento posterior do côndilo, e protege o

músculo pterigoideu lateral de estiramento ou sobrextensão.

Ligamento esfeno-mandibular

Origina-se na espinha do esfenoide e estende-se para baixo até à língula da mandíbula;

Não tem nenhum significado como limitante do movimento mandibular.

Ligamento estilo-mandibular

Origina-se no processo estiloide e estende-se para baixo e para a frente até ao ângulo e

bordo posterior da mandíbula;

Limita os movimentos protrusivos excessivos da mandíbula ao tornar-se rígido.

COMPONENTES MUSCULARES – MÚSCULOS DA MASTIGAÇÃO

Os componentes esqueléticos do corpo são mantidos juntos e movimentados pelos músculos.

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Os músculos são constituídos por numerosas fibras, que por sua vez são compostas por

microfibrilhas, sendo que cada uma destas contém vários filamentos;

No final do músculo, as fibras fundem-se com um tendão, e os tendões por sua vez, juntam-

se em faixas para formar o tendão muscular que se insere no osso;

Cada fibra é inervada apenas por uma terminação nervosa, localizada mais ou menos a meio

do seu comprimento;

Os vários filamentos das microfibrilhas estão dispostos, lado a lado, sendo estes de niosina e

de actina. Estes constituem grandes proteínas polimerizadas responsáveis pela contração

muscular.

Tipos de Músculos:

Esquelético

Voluntário

Estriado

Liso

Involuntário

Não estriado

Cardíaco

Involuntário

Estriado

Auto-rítmico

As fibras musculares podem ser divididas em 2/3 tipos consoante a sua quantidade de

mioglobina:

Tipo I (fibras lentas):

Alta concentração de mioglobina;

São mais pequenas;

Cor vermelha forte;

Capazes de uma contração lenta e contínua;

Metabolismo aeróbio bem desenvolvido de ATP – oxidativo (resistência à fadiga)

Tipo II:

Baixa concentração de mioglobina;

Têm poucas mitocôndrias;

Dependem de atividade anaeróbia (capacidade de contração mais rápida mas menor

resistência à fadiga)

Tipo IIA (fibras rápidas)

Contração rápida;

Fadiga rápida.

Tipo IIB (fibras glicolípidas)

Contração rápida e forte;

Fadiga muito rápida.

Todos os músculos contêm uma mistura de fibras rápidas e lentas em proporções variáveis, o

que se reflete na função de cada músculo.

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OKESON – CAPÍTULO 1: ANATOMIA FUNCIONAL E BIOMECÂNICA DO S.E.

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Músculos da Mastigação: (4)

(são o motor da dinâmica mandibular e da ATM)

Masséter

Temporal

Pterigoideu medial

Pterigoideu lateral

Digástrico*, Geni-hioideus*, Milo-hioideus* e Infra-hioideus*

*embora não seja considerado um músculo da mastigação, desempenha um papel importante

na função mandibular.

Masséter (elevador)

Forma retangular;

Músculo multipenado (grande potência)

Origina-se no arco zigomático e estende-se para baixo até à porção lateral do bordo inferior

do ramo da mandíbula;

Constituído por 2 porções:

Superficial: fibras orientadas para baixo e para trás (62-72% fibras tipo I)

Profunda: fibras numa direção predominantemente vertical (70% fibras tipo I)

Inserção (mandíbula):

o Feixe superficial: desde a região do 2º molar ao nível do bordo inferior até ao ângulo da

mandíbula (inclusive);

o Feixe profundo: acima do superficial

Projeta a mandíbula para cima e os dentes entram em contacto, aquando da contração das

fibras;

Fornece a força necessária para uma mastigação eficiente;

A porção superficial pode ajudar na protrusão da mandíbula sendo que quando tal ocorre e

uma força de mordida é aplicada a porção profunda estabiliza os côndilos contra a

eminência articular.

Temporal (elevador)

Largo, em forma de leque;

Origina-se na fossa temporal e superfície lateral do crânio;

Entre o arco zigomático e a superfície lateral do crânio, as suas fibras aproximam-se para

formar um tendão que se insere no processo coronoide e bordo anterior do ramo

ascendente da mandíbula;

Pode ser dividido em 3 porções:

Anterior: fibras numa direção mais vertical

Média: fibras numa direção oblíqua (para a frente e para baixo)

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Posterior: fibras numa direção quase horizontal (que se dirigem para a frente, acima da

orelha, para se juntarem a outras fibras temporais à medida que passam o arco

zigomático)

Eleva a mandíbula e os dentes entram em contacto, aquando da contração das fibras;

Se apenas partes do músculo se contraírem, a mandíbula movimenta-se de acordo com a

direção das fibras ativadas:

Contração da porção anterior: mandíbula é elevada verticalmente;

Contração da porção média e posterior: mandíbula é elevada e retraída;

É um significativo posicionador da mandíbula, pois é capaz de coordenar movimentos de

fechamento;

Temporal superficial: 92% fibras tipo I e IIA

Temporal profundo: 81% fibras tipo I

Pterigoideu medial (interno) (elevador)

É um músculo fino

Origina-se na fossa pterigoide e estende-se para baixo, para trás e para fora para se inserir

ao longo da superfície interna do ângulo da mandíbula;

Juntamente com o masséter, forma uma alça que suporta a mandíbula no seu ângulo;

Eleva a mandíbula e os dentes entram em contacto, aquando da contração das fibras;

Encontra-se ativo aquando da protrusão da mandíbula;

A sua contração unilateral proporciona um movimento mediotrusivo (laterotrusão

contralateral – mandíbula desloca-se para o lado oposto da contração)

A sua contração bilateral proporciona um movimento de encerramento e protrusão (em

sinergia com o masséter)

64% fibras tipo I

Pterigoideu lateral (externo)

Está dividido em 2: m. pterigoideu lateral inferior e m. pterigoideu lateral superior.

A maioria das fibras que os constituem é do tipo I, o que significa que são músculos

relativamente resistentes à fadiga e podem ajudar a suportar os côndilos por longos períodos

de tempo sem dificuldades;

A tração destes no disco e no côndilo é significativa na direção medial, sendo que à medida

que o côndilo se move para a frente, a angulação medial da tração destes músculos torna-se

ainda maior. (na posição de abertura máxima da boca, a direção da tração é quase

inteiramente medial)

Pterigoideu lateral inferior: (depressor)

Origina-se na superfície lateral da placa pterigoide lateral e estende-se para cima, para trás e

para fora para se inserir no colo do côndilo;

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OKESON – CAPÍTULO 1: ANATOMIA FUNCIONAL E BIOMECÂNICA DO S.E.

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A sua contração bilateral provoca a protrusão da mandíbula uma vez que os côndilos são

trazidos para baixo, percorrendo a eminência articular;

A sua contração unilateral provoca um movimento mediotrusivo do côndilo homolateral e

provoca um movimento da mandíbula para o lado oposto – laterotrusão contralateral (isto é,

a contração do pterigoideu lat inf esq provoca um movimento mediotrusivo do côndilo esq e

um movimento da mandíbula para a dta);

Abaixa a mandíbula, aquando da contração bilateral, trazendo os côndilos para baixo e para

a frente nas eminências articulares, aquando do funcionamento conjunto com os

depressores.

(está ativo durante a abertura)

70% fibras tipo I

Pterigoideu lateral superior: (elevador)

Menor do que o pterigoideu lateral inferior;

Origina-se na superfície infra-temporal da asa maior do esfenoide e estende-se quase

horizontalmente para trás e para fora para se inserir na cápsula articular, no bordo anterior

do disco e colo do côndilo;

Torna-se ativo apenas em conjunto com os elevadores durante fortes mordidas* ou quando

os dentes são mantidos juntos com força (apertamento dentário – isotonia)

(está inativo durante a abertura)

90% fibras tipo IIB (movimento balístico do disco)

*fortes mordidas: referem-se aos movimentos que envolvem o fechamento da mandíbula

contra resistência (ex: na mastigação, apertamento dos dentes)

Digástrico (depressor)

É dividido em 2 feixes:

Posterior:

Origina-se na incisura digástrica, medial ao processo mastoide;

Fibras direcionadas para a frente, para baixo e para dentro;

Insere-se osso hioide através do tendão intermediário.

Anterior:

Origina-se numa fossa na superfície lingual da mandíbula, bem acima do bordo inferior

próximo da linha média;

Fibras direcionadas para baixo e para trás;

Insere-se osso hioide através do tendão intermediário (tal como o feixe posterior).

Aquando da sua contração bilateral e da fixação do hioide pelos músculos supra- e infra-

hioideus a mandíbula é abaixada e puxada para trás (retrusão) à medida que os dentes

perdem contacto;

Juntamente com os supra- e infra-hioideus, eleva o osso hioide, quando a mandíbula esta

estabilizada (função necessária para a deglutição).

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OKESON – CAPÍTULO 1: ANATOMIA FUNCIONAL E BIOMECÂNICA DO S.E.

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50% fibras tipo IIA e 50% fibras tipo IIB

Milo-hioideu (depressor)

Inserções: osso hioide e linha milo-hioideia;

Abaixa a mandíbula

Geni-hioideu (depressor)

Inserções: osso hioide e processos geni da mandíbula

Abaixa a mandíbula

A função mandibular não é limitada aos músculos da mastigação.

Outros músculos, como o digástrico, os supra-* e infra-hioideus**, o esternocleidomastoideu e

os cervicais posteriores, desempenham um papel importante na estabilização do crânio e

permitem os movimentos controlados da mandíbula.

*m. supra-hioideus: desde a mandíbula até ao hioide

**m. infra-hioideus: desde o hioide até à clavícula/esterno.

Agonismo VS Antagonismo

“Só são recrutadas as fibras musculares necessárias para estabilizar ou mover um osso contra

a gravidade ou outras forças resistentes ”

ARTICULAÇÃO TEMPORO-MANDIBULAR

A ATM é formada por:

Côndilo mandibular

Fossa mandibular (cavidade glenoide) do temporal

Disco articular (separa os dois ossos de um contato direto)

A ATM é considerada uma articulação Bi ginglimo artrodia composta.

Bi, pois são ‘2 articulações’ (direita e esquerda)

Ginglemoidal, pois proporciona um movimento de dobradiça num plano

Artrodial, pois proporciona movimentos de deslize

Composta, pois possui um disco articular que possibilita os movimentos complexos da

articulação

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OKESON – CAPÍTULO 1: ANATOMIA FUNCIONAL E BIOMECÂNICA DO S.E.

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Nota: Por definição, uma articulação composta requer, pelo menos, 3 ossos, no entanto,

apesar da ATM apenas seja constituída por 2, funcionalmente, o disco articular funciona como

um osso não calcificado (3º osso da art. composta).

O que torna a ATM uma articulação especial?

Disco articular

Compartimentação articular

Estrutura

Biomecânica (variabilidade e complexidade dos movimentos)

Disco articular:

Composto de tecido conjuntivo denso fibroso;

Destituído de vasos sanguíneos e fibras nervosas exceto na periferia onde é ligeiramente

inervado;

Espessura:

no plano sagital é dividido em:

zona intermediária (central) – mais fina

bordo anterior – mais espesso que a zona central

bordo posterior – mais espesso que a zona central e que o bordo anterior

numa vista anterior (frontal) o disco é mais espesso medialmente do que lateralmente.

Flexibilidade e adaptabilidade:

A morfologia precisa do disco é determinada pela morfologia do côndilo e da fossa

mandibular, sendo este flexível durante o movimento, podendo adaptar-se às demandas

funcionais das superfícies articulares (alterações reversíveis)

(ou seja, a atividade funcional/parafuncional obriga à adaptação morfológica – verifica-se

uma flexibilidade/elasticidade dentro de certos limites);

Caso forças destrutivas ou alterações estruturais ocorram na articulação a morfologia do

disco por ser alterada irreversivelmente (devido à ausência de fibras elásticas),

provocando mudanças mecânicas durante a função.

Compartimentação articular:

Inserção posterior do disco:

Tecido retrodiscal:

região onde o disco articular se insere posteriormente;

zona de tecido conjuntivo frouxo (fibroso laxo) altamente vascularizada e inervada;

a sua parte remanescente está inserida posteriormente a um grande plexo venoso, o

qual se enche de sangue quando o côndilo se move para a frente (importância ao nível

das alterações hemodinâmicas durante os movimentos)

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OKESON – CAPÍTULO 1: ANATOMIA FUNCIONAL E BIOMECÂNICA DO S.E.

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Lâmina Retrodiscal:

Superior:

lâmina de tecido conjuntivo elástico;

delimita o tecido retrodiscal superiormente;

prende o disco articular posteriormente à placa timpânica.

Inferior:

lâmina de tecido conjuntivo colagénico;

localizada no bordo inferior do tecido retrodiscal;

prende o bordo inferior do limite posterior do disco articular à margem posterior da

superfície articular do côndilo.

Inserção anterior do disco:

Fibras de colagénio

Pterigoideu lateral superior

Cápsula articular:

superiormente: margem anterior da superfície articular do temporal

inferiormente: margem anterior da superfície articular do côndilo

A existência do disco articular e suas inserções divide a ATM em duas cavidades distintas:

Superior: delimitada pela fossa mandibular e a superfície superior do disco

Inferior: delimitada pelo côndilo mandibular e a superfície inferior do disco

Estrutura

Histologia das Superfícies Articulares:

As superfícies articulares do côndilo e da fossa mandibular são compostas por 4 camadas ou

zonas distintas:

Zona articular:

Camada mais superficial, adjacente á cavidade articular, formando a superfície funcional

mais externa;

Constituída por tecido conjuntivo denso fibroso (em vez de cartilagem hialina como

acontece nas restantes articulações sinoviais);

As suas fibras são firmemente arranjadas e capazes de suportar as forças do movimento

(resistência a forças compressivas) e, geralmente, são menos suscetíveis aos efeitos do

envelhecimento e têm uma maior capacidade de reparação (do que a cartilagem

hialina);

Apresenta fibras colagénicas dispostas em feixes e orientadas quase paralelas à

superfície articular.

Zona proliferativa:

Camada essencialmente celular;

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OKESON – CAPÍTULO 1: ANATOMIA FUNCIONAL E BIOMECÂNICA DO S.E.

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Apresenta um tecido mesenquimal indiferenciado, responsável pela proliferação da

cartilagem articular em resposta às demandas funcionais (e a forças compressivas) das

superfícies articulares durante a carga funcional.

Zona fibrocartilaginosa:

As fibras colagénicas encontram-se arranjadas em feixes num padrão cruzado, podendo

algumas apresentar uma orientação radial;

A fibrocartilagem aparece numa orientação aleatória, dando uma cadeia tridimensional

que oferece resistência contra forças compressivas e laterais.

Zona de cartilagem calcificada:

Camada mais profunda;

Constituída por condrócitos e condroblastos distribuídos através da cartilagem articular;

É onde os condrócitos se tornam hipertrofiados, morrem e cujos citoplasmas são

expelidos, formando células ósseas dentro da cavidade medular a partir da morte destes

(ossificação endocondral);

Tem um lado ativo para uma atividade remodeladora, proporcionado pela superfície da

estrutura da matriz extracelular, na medida em que o crescimento ósseo endosteal

continua.

A cartilagem articular é composta por:

Condrócitos (que produzem o colagénio, proteoglicanos, glicoproteínas e enzimas que

formam a matriz)

Matriz intercelular

Proteoglicanos:

Moléculas complexas compostas por um núcleo proteico e uma cadeia de GAGs;

Formam agregados, que constituem uma grande proteína da matriz, conectando-se a uma

cadeia de ácido hialurónico;

Entrelaçam-se através de cadeias de colagénio;

São hidrofílicos e, assim, tendem a ligar-se à água, ocorrendo uma expansão da matriz, que

por sua vez aumenta a tensão nas fibrilhas de colagénio e a pressão dos agregados

proteoglicanos (fazendo a absorção do impacto e carga articular)

Assim…

O líquido intersticial contribui para suportar a carga na articulação*.

Nutrição

ATM: Articulação Sinovial

As superfícies internas das cavidades são revestidas por células endoteliais

especializadas que formam a membrana sinovial;

A membrana sinovial juntamente com uma outra sinovial especializada, localizada no

bordo anterior dos tecidos retrodiscais, produz o líquido (fluido) sinovial.

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OKESON – CAPÍTULO 1: ANATOMIA FUNCIONAL E BIOMECÂNICA DO S.E.

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Líquido sinovial:

Preenche ambas as cavidades articulares;

Tem 2 propósitos:

Prover as necessidades metabólicas* aos tecidos das superfícies articulares

(avasculares) (intercâmbio rápido e livre entre os vasos da cápsula, o líquido e os tecidos

articulares);

Lubrificar as superfícies articulares durante a função (minimizando a fricção durante os

movimentos).

*Nota: Durante a função da articulação geram-se forças entre as superfícies articulares que

levam a que uma pequena quantidade de líquido se desloque para dentro e para fora dos

tecidos (mecanismo pelo qual ocorrem as trocas metabólicas)

A pressão externa resultante da carga articular está em equilíbrio com a pressão interna da

cartilagem articular.

Quando a carga articular aumenta o líquido intersticial extravasa para fora até que um

novo equilíbrio seja alcançado.

Quando a carga articular diminui o líquido intersticial é reabsorvido e o tecido ganha o seu

volume original.

Então…

A difusão do líquido sinovial é a principal fonte de alimentação da cartilagem articular e

depende desta ação de bombeamento durante a atividade normal (base da lubrificação

saturada)

Lubrificação

A lubrificação tem 2 propósitos:

Redução do atrito

Proteção das superfícies articulares do desgaste e de aderências

A lubrificação das superfícies articulares ocorre por meio de 2 mecanismos:

1. Lubrificação periférica:

É o mecanismo primário da lubrificação articular;

Evita a fricção da articulação em movimento;

Ocorre quando a articulação se move sendo o líquido sinovial forçado de uma área da

cavidade para a outra (o líquido localizado na periferia ou áreas de recesso é forçado

para a superfície articular).

2. Lubrificação saturada

Refere-se à habilidade das superfícies articulares de absorverem uma pequena

quantidade de líquido sinovial (está então relacionada com as características hidrofílicas

dos proteoglicanos);

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OKESON – CAPÍTULO 1: ANATOMIA FUNCIONAL E BIOMECÂNICA DO S.E.

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Elimina uma pequena parte da fricção durante a compressão quando a articulação não

se movimenta (podendo, assim, esta fonte de lubrificação esgotar-se caso as forças

compressivas sejam prolongadas);

(Nota: atua principalmente nas forças de compressivas – sob estas forças uma pequena

quantidade de líquido é libertado, agindo como lubrificante e evitando as aderências.

Deste modo a lubrificação ajuda a eliminar a fricção durante a compressão quando a

articulação não se movimenta.)

Inervação

A ATM é inervada pelo mesmo nervo que fornece inervação motora e sensorial aos músculos

que a controlam: n. trigémeo.

A inervação aferente é fornecida por ramos do n. mandibular* sendo a maioria da inervação

feita pelo n. aurículo-temporal** (que envolve a região posterior da articulação);

Inervação adicional pode ser fornecida pelos nervos temporal profundo** e massetérico**

*ramo terminal do n. trigémeo

**ramos terminais do n. mandibular

Vascularização

A ATM é irrigada por uma variedade de vasos sendo que os mais importantes são:

A. temporal superficial (posteriormente)

A. meníngea média (anteriormente)

A. maxilar interna (inferiormente)

Artérias auricular profunda, timpânica anterior e faríngea ascendente

O côndilo recebe irrigação vascular pela a. alveolar inferior e por outros vasos que entram

diretamente dentro da cabeça condilar (anterior e posteriormente)

Biomecânica

Complexidade do sistema articular da ATM:

O facto de duas ATMs estarem conectadas pelo mesmo osso (mandíbula) complica bastante a

função de todo o SE, pois cada uma das articulações pode, ao mesmo tempo, agir de forma

diferente e separadamente mas não completamente sem alguma influência uma da outra

(duas articulações que funcionam em sinergia).

Ideias-Chave da Biomecânica da ATM (retirado da aula)

! O disco articular constitui o 3º osso (não calcificado da ATM);

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OKESON – CAPÍTULO 1: ANATOMIA FUNCIONAL E BIOMECÂNICA DO S.E.

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! A ATM consiste em 2 articulações individualizadas com cavidades articulares separadas;

! Observam-se diferentes movimentos em cada uma das cavidades articulares: rotação na

cavidade superior (complexo côndilo-disco) e translação na cavidade inferior (complexo

côndilo-disco com a fossa mandibular);

! O disco articular possibilita, ainda, a manutenção do contacto intimo entre as superfícies

articulares (papel importante do tónus muscular);

! Verifica-se um controlo do espaço discal, mediante a pressão interarticular;

! Durante o encerramento, há uma limitação do movimento anterior do disco pela lâmina

retrodiscal superior (fibras elásticas) e retração posterior do disco

! No movimento de encerramento e mordida forçada, há uma tração antero-medial do

disco pela inserção do músculo pterigoideu lateral superior no bordo anterior

! O movimento da ATM e do disco articular está dependente da atividade dos músculos

mastigadores e do equilíbrio entre pressão interarticular, tensão da lâmina retrodiscal

superior e tração do músculo pterigoideu lateral superior

Notas:

No estudo da biomecânica da ATM, e importante não esquecer:

1. Os ligamentos não participam ativamente na função normal da ATM

Agem como guias, restringindo certos movimentos da articulação e permitindo outros;

Esta restrição pode ser feita de 2 formas:

Mecanicamente;

Através de atividades reflexas neuromusculares.

2. Os ligamentos não estiram

O estiramento implica a habilidade de retornar ao comprimento original;

Caso uma força de tração seja aplicada, os ligamentos tornam-se alongados (aumentam

o comprimento) podendo, então comprometer a função articular.

3. As superfícies articulares da ATM devem ser mantidas em contato constantemente

Este contato é produzido pelos músculos que tracionam a articulação (elevadores)

Temporal;

Masséter;

Pterigoideu medial.

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OKESON – CAPITULO #2

NEUROANATOMIA FUNCIONAL E

FISIOLÓGICA DO SISTEMA

ESTOMATOGNÁTICO

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OKESON – CAPÍTULO 2: NEUROANATOMIA FUNCIONAL E FISIOLÓGICA DO S.E.

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NEUROANATOMIA FUNCIONAL E FISIOLÓGICA DO S.E.

Sistema Neuromuscular: Sistema composto por nervos e músculos que permite responsável

por um controlo neurológico altamente refinado que regula e coordena as atividades de todo

o sistema estomatognático.

Anatomia e Função do Sistema Neuromuscular

MÚSCULOS

A unidade motora

Constitui o componente básico do sistema neuromuscular;

Composta por numerosas fibras musculares inervadas por um neurónio motor, este por sua

vez ligado a elas através da placa motora;

O mesmo neurónio motor pode inervar várias fibras, sendo este número determinado pela

função da unidade motora (isto é, o nº de fibras inervadas por um único neurónio motor

varia de acordo com a função da unidade motora)

Quanto menos fibras por neurónio mais preciso é o movimento.

Ex:

m. pterigoideu lateral inferior: proporção relativamente baixa de fibras por neurónio, o

que o torna capaz de precisos ajustes;

m. masséter: maior número de fibras por neurónio, o que se adapta à sua função mais

grosseira (produzir força para a mastigação)

A placa motora liberta, quando o neurónio é ativado, pequenas quantidades de acetilcolina o

que inicia a despolarização das fibras musculares, o que resulta no seu encurtamento ou

contração;

O músculo

Conjunto de milhares de unidades motoras juntamente com vasos sanguíneos e nervos

interligados por tecido conjuntivo e fáscia;

Os músculos são necessários para compensar o peso e desequilíbrio da massa dos

componentes esqueléticos da cabeça e do pescoço;

Contração Muscular – Componentes

Sarcolema: membrana celular excitável, que delimita a fibra muscular, capaz de desencadear

e propagar potenciais de ação

Tubos-T: invaginações que se estendem até às regiões centrais da fibra muscular

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OKESON – CAPÍTULO 2: NEUROANATOMIA FUNCIONAL E FISIOLÓGICA DO S.E.

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Reticulo sarcoplasmático: estrutura de armazenamento de iões cálcio, que faz a associação

entre a excitação da fibra e a atividade contrátil

Miofilamentos proteicos: dispostos sequencialmente ao longo do comprimento da fibra,

formando as miofibrilas, cuja unidade básica é o sarcómero

Sarcómeros: estruturas responsáveis pela produção metabólica de energia, formadas por

diferentes tipos de miofilamentos (finos; espessos – no centro, rodeados pelos finos)

Miofilamentos finos: compostos por 3 proteínas diferentes:

▫ Actina: filamento em dupla hélice

▫ Tropomiosina: segue a forma da actina (2 moléculas ocupam o espaço dos sulcos formados

pela cadeia de actina, inativando-a e impedindo a ligação à miosina)

▫ Troponinas: sensíveis ao cálcio, o que leva a alterações no complexo quando a [ ] deste

aumenta no citosol

Miofilamentos espessos: formados pela miosina, e ao sofrer proteólise divide-se em duas

porções:

▫ LMM (meromiosina leve)

▫ HMM (meromiosina pesada) – é depois dividida em S1 e S2.

(S1 representa o local ativo de ligação à actina e o local que serve de união à molécula de

ATP que catalisa a sua hidrólise; liga-se reversivelmente à actina na presença de iões cálcio)

Contração Muscular – Etapas:

1. Excitação da fibra muscular esquelética

2. Acoplamento excitação/contração

Conjunto de mecanismos que desencadeia a atividade das proteínas contráteis, em

resposta à excitação da fibra muscular:

Potencial de ação –(Tubos-T)–> Retículo sarcoplasmático ––> Abertura dos canais de

cálcio –(aumento da [cálcio] citosólico)–> União cálcio-troponina –(alteração da forma

da tropomiosina)–> Ligação actina-miosina

3. Ciclo das pontes cruzadas

Interação entre a actina e a S1 da miosina, que juntos formam complexos actina-miosina

Ocorre:

Formação e rutura dos complexos

Deslizamento entre os filamentos finos e espessos

4. Relaxamento muscular

Função muscular

A unidade motora desempenha somente uma ação: contração ou encurtamento

O músculo inteiro tem três funções potenciais:

Contração isotónica/concêntrica

Há um encurtamento muscular durante a contração;

A força gerada pelo músculo é menor que a força máxima;

Tipo de encurtamento sob carga constante, aquando da estimulação de um

grande número de unidades motoras (há uma contração generalizada do

músculo);

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OKESON – CAPÍTULO 2: NEUROANATOMIA FUNCIONAL E FISIOLÓGICA DO S.E.

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Ocorre, i.e., no masséter quando a mandíbula é elevada, forçando os dentes

através do bolo alimentar.

Contração isométrica/estática

Tipo de contração sem encurtamento (ou seja, o comprimento muscular

mantém-se constante durante a contração), aquando da contração de um número

apropriado de unidades motoras em oposição a uma força aplicada;

Tem a função de segurar ou estabilizar a mandíbula;

Ocorre, i.e., no masséter quando um objeto é mantido entre os dentes.

Relaxamento controlado

Estiramento muscular preciso que ocorre pelo controle da diminuição da

estimulação da unidade motora (ou quando o estímulo da unidade motora é

interrompido), provocando o relaxamento das fibras desta e o seu retorno ao

comprimento normal;

Permite movimentos suaves e deliberados;

Ocorre, i.e., no masséter quando a boca abre para receber novo bolo alimentar

para a mastigação.

Aquando do uso destas três funções, os músculos da cabeça e do pescoço mantêm a cabeça

numa posição desejável constante;

Mesmo durante os menores movimentos, cada músculo atua em harmonia com os outros

para desempenhar o movimento desejável:

Por exemplo, na rotação da cabeça, enquanto alguns músculos devem encurtar

(contração isotónica), outros devem relaxar (relaxamento controlado) e outros ainda

devem estabilizar ou manter certas relações (contração isométrica)

Contração excêntrica:

Tipo de contração que se refere ao alongamento de um músculo ao mesmo tempo que

está a contrair (ou seja, apesar de o músculo estar contraído, existe distensão);

Não existe encurtamento real;

É frequentemente prejudicial para o tecido muscular;

Ex: movimento de chicote (extensão-flexão) durante um acidente.

ESTRUTURAS NEUROLÓGICAS

Neurónio

Constitui a unidade estrutural básica do sistema nervoso;

Composto de uma massa de protoplasma (corpo) e de processos protoplasmáticos derivados

desta (dendrites e axónio);

Os corpos das células nervosas podem ser encontrados:

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OKESON – CAPÍTULO 2: NEUROANATOMIA FUNCIONAL E FISIOLÓGICA DO S.E.

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Na substância cinzenta do SNC (quando localizados na medula espinhal);

Agrupados em gânglios (quando encontrados fora do SNC).

O axónio constitui o núcleo central que forma a parte essencial da transmissão de um

neurónio, sendo uma extensão do citoplasma deste.

Pode formar a fibra de um nervo, quando agrupado com outros neurónios;

Capaz de transferir impulsos elétricos e químicos, através dos seus eixos, permitindo a igual

passagem de informação para dentro e para fora do SNC.

Neurónio aferente: conduz o impulso nervoso em direção ao SNC

Neurónio eferente: conduz o impulso nervoso perifericamente

Interneurónio: permanece completamente dentro do SNC

Neurónios sensoriais/recetores:

São do tipo aferente;

Recebem e transmitem impulsos dos órgãos recetores.

Neurónios motores:

São do tipo eferente;

Transmitem impulsos para produzir efeitos musculares ou secretórios.

Neurónios de 1ª ordem (primários): primeiro neurónio sensorial

Neurónios de 2ª e 3ª ordem: interneurónios

Sinapse:

Junção na qual os processos de dois neurónios estão em estreita proximidade;

É onde ocorre a transmissão do impulso nervoso;

Todas as sinapses aferentes localizam-se dentro da substância cinzenta do SNC

(logo, não há conexões periféricas entre fibras sensoriais)

A transmissão periférica de um impulso sensorial de uma fibra para a outra é anormal.

Informação oriunda de tecidos fora do SNC precisa de ser transferida para este e para os

centros superiores no tronco encefálico e no córtex;

No córtex, a informação é interpretada e avaliada;

Após a avaliação, os centros superiores enviam impulsos descendentes para a medula

espinhal e de volta à periferia, para um órgão eferente a fim de realizar a ação desejada.

Mais precisamente:

O neurónio aferente primário recebe estímulos do recetor sensorial e conduz o impulso para

dentro do SNC através da raiz posterior;

(nota: os corpos celulares destes neurónios localizam-se nos gânglios da raiz posterior)

No corno posterior da medula espinhal, o neurónio primário faz sinapse com um neurónio

secundário;

O neurónio secundário, depois, conduz o impulso através da medula espinhal para o trato

espino-talâmico antero-lateral, ascendendo para os centros superiores;

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OKESON – CAPÍTULO 2: NEUROANATOMIA FUNCIONAL E FISIOLÓGICA DO S.E.

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Vários interneurónios podem estar envolvidos na transferência do impulso do tálamo para o

córtex;

Pode haver também interneurónios, localizados no corno posterior, que se envolvam com o

impulso durante a sinapse;

Alguns destes neurónios podem fazer sinapse diretamente com o neurónio eferente por

meio da raiz anterior, para estimular um órgão eferente.

Tronco encefálico e cérebro

Áreas importantes:

Núcleo do trato espinhal

Formação reticular

Tálamo

Hipotálamo

Estruturas límbicas

Córtex

Núcleo do trato espinhal

No caso de estímulos na face ou cavidade oral, o papel de neurónio aferente primário é

realizado pelo nervo trigémeo;

No entanto, o trigémeo conduz o impulso para dentro, diretamente no tronco encefálico na

região da ponte;

(nota: os corpos celulares dos neurónios aferentes do trigémeo localizam-se no grande

gânglio glasseriano)

A sinapse dá-se no núcleo espinhal do trigémeo.

O complexo nuclear trigeminal do tronco encefálico consiste:

Núcleo sensorial principal do trigémeo

Núcleo motor do trigémeo (envolvido na interpretação de impulsos que demandam

respostas motora, como atividades reflexas da face)

Núcleo do trato espinhal do trigémeo

O trato espinhal, por sua vez, está dividido em:

Subnúcleo oral: área significativa do complexo para mecanismos de dor oral

Subnúcleo interpolar

Subnúcleo caudal: implicado nos mecanismos nociceptivos do trigémeo

Formação reticular

Porção do tronco encefálico pela qual os interneurónios passam aquando da sua ascensão

para transmitirem o impulso aos centros superiores (após a sinapse no núcleo do trato

espinhal);

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OKESON – CAPÍTULO 2: NEUROANATOMIA FUNCIONAL E FISIOLÓGICA DO S.E.

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Apresenta no seu interior concentrações de células ou núcleos que representam “centros”

para várias funções;

Funções:

Monitorização dos impulsos que entram no tronco encefálico;

Controla as atividades no cérebro, intensificando ou inibindo os impulsos neste;

Tem uma influência importante na dor e noutros impulsos sensoriais.

Tálamo

Localizado no verdadeiro centro do cérebro, circundado por este acima e lateralmente e pelo

mesencéfalo abaixo;

Formado por numerosos núcleos que funcionam em conjunto para interromper impulsos;

Local onde quase todos os impulsos da região abaixo do cérebro são substituídos por

sinapses, antes de continuarem para o córtex;

Age como uma estação de mudança para muitas das comunicações entre o tronco

encefálico, o cérebro e o cerebelo;

Avalia os impulsos e dirige-os para regiões apropriadas dos centros superiores, para serem

interpretados e originar-se uma resposta.

Hipotálamo

Pequena estrutura localizada a meio da base do cérebro;

Principal centro do cérebro para controlar funções internas do corpo (temperatura, fome,

sede…);

A sua estimulação excita o sistema nervoso simpático por todo o corpo, aumentando o nível

da atividade de muitas partes internas, especialmente do coração causando a constrição dos

vasos;

Estruturas límbicas

O sistema límbico compreende as estruturas limite do cérebro e o diencéfalo;

Funcionam no sentido de controlar as atividades emocionais e comportamentais;

No seu interior encontram-se centros ou núcleos responsáveis por comportamentos

específicos como a raiva, violência e simpatia;

Controlam emoções como depressão ansiedade e paranoia;

Constituem um centro de dor/prazer que, instintivamente, conduz o indivíduo em direção a

comportamentos que estimulam o lado de prazer;

Porções destas estruturas parecem interagir e desenvolver associações com o córtex,

coordenando assim as funções do comportamento consciente do cérebro e subconsciente do

sistema límbico mais profundo;

Os impulsos do sistema límbico podem:

quando conduzidos para o hipotálamo, modificar funções corpóreas internas controladas

por este;

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OKESON – CAPÍTULO 2: NEUROANATOMIA FUNCIONAL E FISIOLÓGICA DO S.E.

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quando distribuídas no mesencéfalo e na medula, controlar comportamentos como sono,

insónia, excitação e atenção.

Córtex

Representa a região externa do cérebro;

Formado predominantemente por matéria cinzenta;

Porção do cérebro mais associada com o processo de pensamento, ainda que incapaz de o

criar sem a ação simultânea das estruturas mais profundas;

Região de armazenamento de praticamente todas as recordações;

Área mais responsável pelo adquirir de muitas habilidades musculares;

Diferentes regiões do córtex têm diferentes funções:

Área motora: envolvida primariamente com a função motora de coordenação;

Área sensorial: recebe os impulsos somato-sensoriais para avaliação;

Outras áreas para sentidos especiais (área visual, área auditiva…)

Recetores sensoriais

Recetores sensoriais: estruturas neurológicas ou órgãos, localizados em todos os tecidos do

corpo, que fornecem informação acerca do estado desses tecidos ao SNC através de neurónios

aferentes.

Os recetores podem ser:

Capsulados / não capsulados (mais sensíveis ao estímulo)

Adaptáveis (quando a partir de um certo nível de estimulação deixam de ser sensíveis ao

estímulo) / não adaptáveis;

Nociceptores: recetores específicos para o desconforto e dor.

Propriocetores: recetores que fornecem informação a respeito da posição e movimentação da

mandíbula e das estruturas orais associadas.

Interoceptores: recetores que conduzem informação sobre o estado de órgãos internos.

A constante informação, recebida a partir destes recetores, permite ao córtex e ao tronco

encefálico coordenar a ação de músculos individuais ou de grupos de músculos para gerar

respostas apropriadas no indivíduo.

O SE utiliza 4 tipos principais de recetores sensoriais:

1. Fusos neuromusculares (não adaptável, nos músculos)

2. Órgãos tendinosos de Golgi (mecanorrecetores de adaptação lenta, nos tendões)

3. Corpúsculos de Pacini (barorrecetores adaptáveis, na ATM, ligamentos, derme, tecido

celular subcutâneo, tendões e periósteo)

4. Nociceptores (não adaptável, em todos os tecidos do SE)

1. Fusos Neuromusculares

Os músculos esqueléticos consistem em 2 tipos de fibras musculares:

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OKESON – CAPÍTULO 2: NEUROANATOMIA FUNCIONAL E FISIOLÓGICA DO S.E.

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Extrafusais

Contráteis;

Formam a essência do músculo.

Intrafusais

Pouco contráteis;

Monitorizam o comprimento do músculo-esquelético;

Dispostas paralelamente às fibras extrafusais;

Podem ser de 2 tipos:

Fibras em saco nuclear:

▫ 1 a 3 núcleos por fuso;

▫ Núcleos dispostos ao longo do equador da fibra;

▫ Responsáveis pela contração lenta – manutenção do tónus

Fibras em cadeia nuclear:

▫ 3 a 7 núcleos por fuso;

▫ Núcleos dispersos pela fibra;

▫ Responsáveis pela contração brusca – “twitch”

Existem 2 tipos de nervos aferentes que suprem as fibras intrafusais:

São classificados de acordo com o seu diâmetro

(fibras com maior diâmetro conduzem os impulsos com maior velocidade e têm limiares

mais baixos);

Fibras Ia (A-α):

São o grupo maior;

Terminam na região central das fibras intrafusais;

Consideradas terminações primárias (ou anuloespirais).

Fibras II (A-β)

São o grupo menor;

Terminam nos polos do fuso;

Consideradas terminações secundárias (ou em inflorescência) ou espargidas ou

rociadas.

Existe 1 tipo de nervo eferente nas fibras intrafusais:

Fibras eferentes γ:

Originam-se no SNC;

Provocam a contração das fibras intrafusais (quando estimuladas);

Quando as fibras intrafusais se contraem, as cadeias e sacos nucleares são estirados, o

que é interpretado como estiramento do músculo inteiro (e a atividade aferente inicia-

se)

Existe 1 tipo de nervo eferente nas fibras extrafusais:

Fibras eferentes α:

Provocam contração das fibras extrafusais

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Então…

Fuso neuromuscular: grupo de fibras musculares intrafusais unidas por um invólucro de tecido

conjuntivo.

Atua, do ponto de vista funcional, como um sistema monitor de alongamento;

Informa constantemente o SNC sobre o estado de alongamento ou contração do músculo;

Dispostos através do músculo e alinhados paralelamente às fibras extrafusais*

Dentro de cada fuso, os núcleos de fibras intrafusais estão dispostos de 2 formas: como

coluna (tipo de coluna nuclear) ou agrupados no centro (tipo de saco nuclear)

*devido a esta distribuição das fibras intrafusais do fuso, quando o músculo estira, estas

estiram também.

Este estiramento:

é controlado nas regiões da coluna e saco nuclear;

ativa as terminações anuloespirais ou em inflorescência, sendo estes impulsos neurais

levados para o SNC pelos neurónios aferentes.

Existem, então, duas maneiras pelas quais as fibras aferentes dos feixes musculares podem ser

ativadas:

Estiramento generalizado do músculo inteiro (fibras extrafusais);

Contração das fibras intrafusais através das γ eferentes (pois as intrafusais quando se

contraem levam ao estiramento das áreas da coluna e saco nuclear, o que é interpretado

como um estiramento do músculo inteiro)

Assim, de uma maneira geral…

Quando um músculo é distendido repentinamente, tanto as suas fibras intrafusais como as

extrafusais alongam-se;

O alongamento do fuso estimula as terminações dos nervos aferentes do grupo I e II em

direção ao SNC;

Por outro lado, quando os neurónios eferentes α são estimulados as fibras extrafusais

contraem e o fuso encurta;

A estimulação das fibras eferentes γ também encurta o fuso por fazer contrair as fibras

intrafusais

(possibilita a atividade do fuso mesmo quando o músculo esta contraído);

O sistema eferente γ, apesar de não ter o seu mecanismo bem compreendido no SE:

Ajuda a manter a contração muscular;

Atua como um mecanismo sensibilizador dos fusos neuromusculares;

Age como um mecanismo propensor que altera o início de atividade do fuso neuromuscular

2. Órgãos Tendinosos de Golgi

Mecanorrecetor capsulado de adaptação lenta

Localizados no tendão muscular, entre as fibras musculares e as suas inserções no osso;

Consistem numa fina cápsula fibrosa que envolve um conjunto de fibras nervosas

mielinizadas que se ramificam e inserem entre as fibras colagénicas dos tendões;

Aparecem em série com as fibras musculares extrafusais;

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OKESON – CAPÍTULO 2: NEUROANATOMIA FUNCIONAL E FISIOLÓGICA DO S.E.

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As fibras eferentes entram mais ou menos a meio do órgão e espalham-se por toda a

extensão das fibras musculares;

São estimulados tanto pela contração como pelo estiramento completo do músculo (tensão

no tendão);

Muito sensitivos e ativos na regulação do reflexo durante a função normal;

Monitorizam a tensão enquanto os fusos neuromusculares primariamente controlam o

estiramento muscular.

3. Corpúsculos de Pacini

Órgãos grandes ovais formados por lamelas concêntricas de tecido conjuntivo;

Amplamente distribuídos mas frequentemente localizados nas articulações (razão pela qual

são considerados responsáveis principalmente pela perceção do movimento e da pressão

firme – não do toque leve);

No seu centro encontra-se um núcleo que contém a terminação de uma fibra nervosa,

sendo que a pressão feita nos tecidos deformam o órgão estimula a fibra nervosa.

4. Nociceptores

São estimulados por dano/lesão e transmitem esta informação ao SNC através de fibras

aferentes;

Funcionam primariamente para controlar a condição posição e movimento dos tecidos do SE;

Em presença de condições potencialmente perigosas ou que causem dano ao tecido, enviam

a informação a SNC como sensações de desconforto ou dor.

Existem diversos tipos de acordo com o estímulo a que reagem:

De resposta a estímulos nocivos mecânicos e térmicos;

De resposta a estímulos táteis e lesões nocivas

De resposta a toques leves, pressão ou contacto do cabelo na face (baixo limiar) –

também chamados de mecanorrecetores

FUNÇÃO NEUROMUSCULAR

Função dos recetores sensoriais

O equilíbrio dinâmico dos músculos da cabeça e do pescoço é possível através do estímulo de

vários recetores sensoriais.

Fusos musculares e órgãos tendinosos de Golgi: controlam a contração ativa do músculo

Corpúsculos de Pacini: estimulados pelo movimento das articulações e dos tendões

Todos os recetores sensoriais fornecem continuamente impulsos ao SNC.

Tronco encefálico e tálamo: monitorizam e regulam as atividades do corpo (informação

acerca da homeostase normal)

Córtex: não participa do processo regulador

(no entanto, se um estimulo tiver consequências significativas, o tálamo passa a informação

ao córtex para uma avaliação consciente e decisão).

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Atividade reflexa

Constitui a reposta resultante de um estímulo que passa como impulso ao neurónio aferente

e vai até à raiz posterior do nervo espinhal (ou equivalente craniano) onde é, então,

transmitido a um neurónio eferente que o leva de volta ao músculo esquelético;

Esta resposta, apesar de passar pelos centros superiores, é independente da vontade;

Ocorre sem a influência do córtex ou tronco encefálico.

A ação reflexa pode ser:

Monossináptica: quando uma fibra aferente estimula diretamente a fibra eferente do SNC

Polissináptica: quando o neurónio aferente estimula um ou mais interneurónios do SNC,

que por sua vez estimulam as fibras nervosas eferentes

Duas ações reflexas são importantes para o SE:

1. Reflexo miotático

2. Reflexo nociceptivo

Reflexo miotático (estiramento)

É um reflexo protetor;

É o único reflexo mandibular monossináptico;

É iniciado quando um músculo esquelético é estirado repentinamente, gerando a contração

deste (atividade eferente α);

Ex: m. masséter (força repentina para baixo aplicada no queixo)

Enquanto os fusos musculares estiram repentinamente os fusos neuromusculares geram

uma atividade nervosa aferente;

Os impulsos gerados passam do tronco encefálico para o núcleo motor do trigémeo,

passando pelo núcleo mesencefálico do trigémeo onde se encontram os corpos celulares

das células primárias aferentes;

As fibras aferentes Iα fazem sinapse com os neurónios eferentes α, dirigindo-se de volta as

fibras extrafusais do masséter;

Esta sinapse resulta na contração do músculo, que eleva a mandibula causando o contacto

dos dentes.

Ocorre sem uma resposta específica do córtex;

Importante na determinação da posição de descanso da mandibula (principal determinante

do tónus muscular);

Tónus muscular: estado médio de contração dos músculos elevadores (e outros) que evita o

abaixamento da mandibula e a separação das superfícies articulares por ação da gravidade.

O reflexo miotático é um importante determinante do tónus muscular dos m. elevadores.

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Enquanto a gravidade puxa a mandibula para baixo, os elevadores estão passivamente

estirados, o que gera também o estiramento dos feixes musculares;

Esta informação é reflexamente transferida, a partir dos neurónios que se originam no

fuso, para os neurónios motores α que retornam as fibras extrafusais dos elevadores;

Assim, o estiramento passivo provoca uma contração reacionária que alivia o estiramento

do fuso neuromuscular.

O reflexo miotático e o tónus muscular podem ser influenciados por:

Impulsos aferentes de outros recetores sensoriais como o da pele ou da mucosa oral;

Centros superiores (através do sistema fusimotor)*

*Os centros superiores podem utilizar o sistema fusimotor para alterar a sensibilidade do

reflexo miotático.

O córtex e o tronco encefálico geram um aumento da atividade eferente γ para as fibras do

fuso;

À medida que esta atividade aumenta, as fibras intrafusais contraem-se, provocando um

estiramento parcial das áreas de coluna e saco nuclear.

Com isto, a quantidade de estiramento necessário para o músculo, antes que a atividade

aferente do feixe seja ativada, diminui.

Assim:

Um aumento na atividade eferente γ aumenta a sensibilidade dos feixes musculares em

estirar-se (reflexo miotático)

Reflexo nociceptivo (flexor)

É um reflexo protetor;

É um reflexo polissináptico a um estímulo nocivo;

Ex: objeto resistente encontrado na mastigação

Este reflexo torna-se ativo quando um repentino estímulo nocivo é gerado pelo objeto

no(s) dentes(s), sobrecarregando as estruturas periodontais;

As fibras do nervo aferente primário conduzem a informação para o núcleo do trato

espinhal do trigémeo, onde fazem sinapse com os interneurónios;

Os interneurónios enviam a informação para o núcleo motor do trigémeo;

A resposta motora é executada coordenando a atividade de vários grupos de músculos:

Os músculos elevadores são inibidos (relaxam) para prevenir um maior encerramento

mandibular sobre o objeto duro;

Os músculos de abertura da mandíbula são ativados (contraem-se) para evitar danos

potenciais sobre os dentes

Assim:

Para desencadear esta resposta, duas ações distintas ocorrem, quando a informação

aferente dos recetores sensoriais alcança os interneurónios:

Estimulação de neurónios excitatórios (que se dirigem para os neurónios eferentes

no núcleo motor do trigémeo dos músculos de abertura da mandibula)

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Estimulação de neurónios inibidores (que se dirigem para os neurónios eferentes no

núcleo motor do trigémeo dos músculos elevadores da mandibula)

Resultado final: a mandíbula desce rapidamente e os dentes são afastados do objeto que

causou o estímulo nocivo.

Este processo é chamado de inibição antagónica, ocorrendo em muitas das ações reflexas

nociceptivas do corpo.

Em suma:

O reflexo miotático protege o SE do repentino estiramento de um músculo;

O reflexo nociceptivo protege os dentes e as estruturas de suporte dos danos criados por

uma força súbita muito pesada.

Inervação recíproca

Mecanismo de controlo neurológico para grupos musculares antagónicos;

Importante para o funcionamento diário do corpo e para o tónus muscular;

Permite um controlo exato e suave do movimento mandibular;

Para um equilíbrio muscular da cabeça:

Cada músculo que sustenta a cabeça e em parte controla a função tem um antagonista que

contrabalança esta atividade;

No caso da mandíbula:

Para ser elevada:

Temporal, pterigoideu medial e masséter (elevadores) devem contrair;

Supra-hioideus e pterigoideu lateral devem relaxar e distender.

Para a abaixar:

Supra-hioideus e pterigoideu lateral devem contrair;

Elevadores devem relaxar e distender.

Tónus muscular

Para se manter a relação esquelética do crânio, mandíbula e pescoço, cada grupo antagónico

de músculos deve permanecer num estado constante de tónus muscular.

Músculos que se encontrem totalmente contraídos ativam muitas fibras musculares as

quais podem comprometer o fluxo do sangue, resultando em fadiga e dor;

Em contraste, o tónus do músculo requer a contração de um número mínimo de fibras,

estando estas constantemente a ser revezadas, o que permite um fluxo adequado de

sangue e não produz fadiga.

Assim, o tónus muscular:

Consiste numa contração ligeira e permanente do músculo em repouso;

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Permite uma resistência passiva do músculo ao estiramento;

Requer a contração de um número mínimo de fibras, sendo estas constantemente revezadas

Permite o correto fluxo sanguíneo e não produz fadiga;

É alterado por vários factores:

Aprendizagem

Dor, cansaço, fadiga

Relaxamento mental

Posição corporal

Alterações bioquímicas/hormonais

Centros medulares (através de impulsos vindos de outros grupos musculares e recetores

cutâneos)

Posição Postural

É uma posição mandibular em que não existe atividade de mastigação, deglutição ou fonação

e em que não ocorre contacto entre os dentes das duas arcadas;

Na posição postural mandibular o espaço existente entre as superfícies oclusais apresentam

aproximadamente 1-3mm

É influenciada por:

Posição da cabeça e do corpo

Fatores psicogénicos

Alterações oclusais

Sensibilidade muscular

Influência dos centros superiores na função do músculo

O córtex, com influência do tálamo, hipotálamo, formação reticular, estruturas límbicas e

GPC determina a ação a ser tomada, em termos de direção e intensidade;

Esta ação é frequentemente automática, embora seja consciente;

Estados emocionais:

Na ausência de um estado significativo, a ação é normalmente previsível e acompanha a

tarefa eficientemente;

Em caso de altos níveis (medo, ansiedade, frustração e raiva) podem ocorrer as seguintes

principais modificações da atividade do músculo:

1.

Um aumento no stress emocional excita as estruturas límbicas e hipotálamo, ativando

o sistema γ eferente;

Esta atividade do sistema aumentada induz a contração das fibras intrafusais o que

resulta num estiramento parcial das regiões sensoriais dos fusos do músculo;

Aquando deste estiramento parcial, menor o estiramento total necessário para

desenvolver uma ação reflexa, o que afeta o reflexo miotático e resulta num aumento

do tónus muscular;

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Assim, os músculos tornam-se mais sensíveis a estímulos externos, os quais induzem a

uma maior tonicidade do músculo;

Estas condições conduzem a um aumento da pressão intra-articular da ATM.

2.

A atividade γ eferente aumentada pode também aumentar o total de atividade

irrelevante do músculo;

A formação reticular, com influência do sistema límbico e hipotálamo, pode gerar uma

atividade adicional do músculo, não relacionada com a realização de uma tarefa

específica;

Muitas dessas atividades assumem o papel de hábitos nervosos como morder as

unhas ou lápis, apertar os dentes ou bruxismo.

Funções Principais do Sistema Estomatognático

Funções principais do SE:

Mastigação

Deglutição

Fonação (Fala)

Funções secundárias: auxílio na respiração e expressão de emoções (expressão facial)

MASTIGAÇÃO

Representa o estágio inicial da digestão, quando a comida é dividida em pequenos pedaços

(sendo, portanto, o ato de mastigar os alimentos);

Precede a deglutição;

Função complexa/mecanismo neuromuscular que emprega músculos (mastigadores e peri-

orais), dentes, ATM, estruturas periodontais de suporte, lábios, língua, palato e glândulas

salivares;

Utiliza a sensação do paladar, tato e olfato;

É, na maioria das vezes, uma ação prazerosa e pode ter um efeito relaxante que diminui o

tónus muscular e atividades extenuantes;

É uma atividade funcional geralmente automática e praticamente involuntária (no entanto,

se necessário pode ser utilizada sob controlo voluntário)

Nota: músculos da mastigação

O temporal é o músculo mais activo na mastigação.

O masséter está activo quando existe alimento interposto na região molar (sendo quase

inativo quando sem alimento)

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Como se estuda a função mastigatória?

Kinesiografia:

▫ Técnica simples rápida e precisa

▫ Permite estabelecer traçados nos 3 planos do espaço para movimentos mastigatórios

▫ Quantifica a amplitude e a velocidade dos movimentos

Gnatofotografia:

▫ Técnica mais sensível, baseada nos princípios fotográficos

▫ Permite obter registos dos movimentos mandibulares e possibilita visualizar as alterações

feitas durante um tratamento reabilitador

▫ Começa a ORC, passa a MIC, protrusão, abertura máxima e encerramento

▫ Permite avaliar a intensidade dos traçados e a dificuldade para realizar movimentos e a

amplitude dos mesmos:

Traçados intensos: movimentos lentos e difíceis

Traçados ténues: movimentos rápidos e livres

O movimento da mastigação

A mastigação é composta por movimentos rítmicos e movimentos bem controlados dos

dentes superiores e inferiores, ou seja, é um movimento tridimensional resultante da

conjugação de movimentos de abertura, encerramento, lateralidade, protrusão e retrusão;

Força de mastigação: corresponde a cada movimento de abertura e encerramento realizado

pela mandíbula

O movimento de mastigação dá-se nos 3 planos:

Plano Frontal

Fase de abertura

Fase de encerramento

▫ fase de esmagamento

▫ fase de trituração

Plano Sagital

Lado de trabalho

Lado de não-trabalho

Plano Horizontal

Sequência do movimento de mordida, observando a mandíbula de um plano frontal:

Fase de abertura:

Intervenientes:

Pterigoideu lateral (feixe inferior), digástrico e gravidade;

Supra-hioideus, digástrico e elevadores (limitam a abertura).

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A partir da posição de intercuspidação, a mandíbula desce até um pontos onde os bordos

incisais dos dentes se encontram a uma distância de 16-18mm;

Daí, movimenta-se lateralmente 5-6mm da linha média, conforme o encerramento toma

início.

Fase de encerramento:

Intervenientes:

Quando ocorre contacto dos molares começa a atividade do masséter e pterigoideu medial

Sem alimento interposto a atividade é quase exclusiva das fibras verticais do temporal

1ª etapa: fase de amassamento

Quando a comida está segura pelos dentes;

Os dentes aproximam-se, diminuindo o deslocamento lateral, até ficarem a uma distância

de 3mm, ponto em que a mandíbula fica a 3-4mm para lateral da posição de início da

mordida;

2ª etapa: fase de trituração

Mandíbula é dirigida pelas superfícies oclusais de volta a posição de intercuspidação;

Durante este movimento, as vertentes das cúspides cruzam-se permitindo o corte e a

trituração do alimento.

Movimento mastigatório: Encerramento com alimento interposto

Movimentos de lateralidade

Atividade muscular:

Pterigoideus externos/internos (contralateral)

Feixe horizontal do temporal/masséter (ipsilateral)

Movimentos protrusivos

Contração simultânea das fibras dos pterigoideus (externo e interno)

Relaxamento das fibras do temporal

Contacto dos dentes

Estudos anteriores afirmam que, durante a mastigação, os dentes não se contactam devido:

À interposição do alimento entre os dentes;

Resposta rápida do sistema neuromuscular.

No entanto…

Outros estudos afirmam que há contacto sendo este:

Menor quando o alimento é levado à boca (inicialmente)

Aumentado à medida que o bolo alimentar é dividido

Maior nos estágios finais da mastigação, pouco antes da deglutição, ocorrendo contacto a

cada mordida.

(MAS segundo os prof.s NÃO HÁ CONTACTO)

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Forças de mastigação

A força máxima de mordida (que pode ir até aos 443 kg) varia de indivíduo para indivíduo, no

entanto, estudos mostram que esta:

É maior nos homens (53,6 – 64,4 kg) do que nas mulheres (35,8 – 44,9 kg);

Aplicada por um molar (41,3 – 89,9 kg) é, geralmente, muito maior do que a aplicada por

um incisivo (13,2 – 23,1 kg);

Parece aumentar com a idade até à adolescência;

Pode ser aumentada com a prática e exercícios (uma dieta com uma alta percentagem de

alimentos duros desenvolve a força de mordida);

Varia com as relações esqueléticas faciais (pessoas com divergências entre a mandíbula e

a maxila não têm a mesma força nos dentes como pessoas cujos arcos dentários são

relativamente paralelos)

Durante a mastigação:

A maior quantidade de força é aplicada na região do 1º molar, sendo que com alimentos

mais duros a mastigação ocorre predominantemente nas áreas do 1º molar e 2º pré-molar;

A mordida de indivíduos com próteses totais é apenas ¼ da dos indivíduos com dentes

naturais.

Função dos tecidos moles

Lábios:

Guiam e controlam a ingestão, à medida que o alimento é colocado na boca;

Encerram a cavidade oral;

Necessários à ingestão de líquidos.

Língua:

Fornece o paladar;

Distribui o alimento dentro da cavidade oral;

Inicia o processo de divisão do alimento apertando-o contra o palato duro;

Empurra o alimento para as superfícies oclusais para este ser amassado e dividido

(enquanto a língua atua do lado lingual, o músculo bucinador desempenha a mesma tarefa

do lado vestibular);

Limpa os dentes, removendo alguns resíduos de comida que tenham ficado aderidos à

cavidade oral.

Ciclo Mastigatório

A mastigação pode ser encarada como função autónoma com um centro de controlo

subcortical ou como a soma de reflexos, i.e., como um sistema complexo de biofeedback

com recetores musculares, periodontais e mucosos para além do núcleo da mastigação (V

par – n. trigémio)

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Durante a mastigação, existem 3 etapas cuja ordem nunca é alterada:

1. Incisão do alimento e reconhecimento

Abertura oblíqua adequada à dimensão do alimento;

Movimentos laterais de encerramento até ao contacto de caninos determinando o lado

de trabalho;

Recetores enviam a 1ª informação relativa à temperatura, dureza e consistência.

2. Redução do tamanho das partículas

Movimentos rápidos e amplos;

Esmagamento e redução do alimento;

Ocorre ao nível dos pré-molares;

Ciclos irregulares para análise de eventuais alimentos duros que não tenham sido

esmagados;

Começam a aparecer ciclos direitos e esquerdos.

3. Fase de trituração

Caninos continuam a atuar como guia;

Ciclos mais regulares e mais pequenos;

Ação dos molares;

Cúspides cruzam-se;

Ação intensa dos masséteres;

Alimentos fibrosos não permitem contacto dentário

Regresso a ORC*.

*ORC (Oclusão em Relação Cêntrica): relação de contacto interdentário quando os côndilos

estão em RC – raramente coincide com a posição de intercuspidação máxima.

DEGLUTIÇÃO (ENGOLIR)

Conceitos:

A deglutição é…

… uma série complexa de reflexos que, embora possam ser iniciados voluntariamente,

continuam independentemente da vontade;

… um reflexo iniciado por uma ação voluntária que reúne o conteúdo oral e transporta-o para

a parede posterior da oro-faringe;

… o acto de engolir, i.e., o transporte do bolo alimentar ou de liquido, da cavidade oral até ao

estomago.

Deglutição: Série de contrações musculares coordenadas que move o bolo alimentar da

cavidade oral até ao estomago através do esófago;

Inclui:

Atividade voluntária;

Atividade involuntária;

Reflexo muscular.

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A decisão de engolir depende:

Grau de diluição da comida;

Intensidade do sabor;

Grau de lubrificação do bolo alimentar;

Estado de vigília.

Presença do bolo alimentar

Estimulação das amígdalas, úvula, palato mole, base da língua, paredes posterior e

lateral da faringe e epiglote

Informação do centro da deglutição (região central do tronco cerebral)

Deglutição

Durante a deglutição:

Os lábios fecham-se, selando a cavidade oral;

Os dentes são levados até à sua posição de máxima intercuspidação, estabilizando a

mandibula (a mandibula deve estar fixa de forma a que a contração dos músculos supra- e

infra-hioideus possa controlar o movimento do osso hioide necessário para a deglutição).

Existem 2 tipos de deglutição:

(em ambas, o importante é a estabilização da mandíbula)

Deglutição somática: designação da deglutição adulta

Mandíbula é estabilizada através dos dentes;

Ocorre por contração dos músculos mastigadores;

Inicia-se quando os dentes posteriores decíduos erupcionam.

Deglutição visceral: designação da deglutição infantil

Mandíbula é estabilizada através interposição da língua (colocação da língua para a

frente entre os arcos dentários ou apoios gengivais);

Baseada num reflexo não condicionado, dirigido pelo n. facial (VII par)

Músculos: orbicular dos lábios, bucinador e músculos da língua;

Ocorre até à erupção dos dentes posteriores.

Por vezes a transição da deglutição visceral para a somática não acontece devido:

À falta de suporte dos dentes (desdentados);

A uma posição não propícia dos dentes;

A uma má posição do arco;

O desconforto durante o contacto dentário (cáries, sensibilidade dentária, dentados com

oclusão desconfortável)

Resultado da manutenção da deglutição infantil:

Possível deslocamento labial dos dentes anteriores pelos músculos da língua – mordida aberta

anterior.

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Músculos da deglutição:

Músculos principais:

Milo-hioideu

Genio-hioideu

Posterior da língua

Palato faríngeo

Constritores da faringe

Tiro-hioideu

Crico-tiroideu

Esquelético do esófago

Músculos facultativos:

Extrínsecos da língua

Faciais

Elevadores

Fases da deglutição:

Primeiro estágio: Fase Oral

Voluntário

Tónus muscular é mantido;

Observam-se movimentos mandibulares e movimentos da língua;

Começa com a divisão seletiva do alimento mastigado numa massa ou bolo alimentar;

O bolo alimentar é colocado no dorso da língua e ligeiramente pressionado contra o palato

duro;

A ponta da língua apoia-se no palato duro atrás dos incisivos;

Os lábios fecham-se e os dentes juntam-se;

Inicia-se uma onda reflexa de contração na língua, devido à presença do bolo alimentar na

mucosa do palato, que o pressiona para trás;

A protuberância anterior do palato evita que o alimento deslize para a orofaringe.

Transferência do bolo da parte de trás da língua para a orofaringe:

Ação do músculo milo-hioideu;

Ação dos constritores da faringe;

Selamento da nasofaringe;

Ação peristáltica.

Segundo estágio: Fase Faríngea

É consciente, mas involuntária

Há elevação do osso hioide, do pavimento da boca e do palato mole;

O palato mole eleva-se para tocar na parede faríngea posterior fechando a passagem nasal

(interrupção da respiração);

Contração dos músculos palato-faríngeos e elevação da faringe;

Durante esta fase, a atividade muscular faríngea abre o orifício faríngeo da tuba auditiva

(normalmente fechado);

A mandíbula adota uma posição próxima de ORC com contacto dentário;

Há encerramento das cordas vocais e epiglote;

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A epiglote bloqueia a passagem de ar faríngea até à traqueia (interrupção da respiração) e

mantém o alimento no esófago;

Terceiro estágio: Fase Esofágica

Consiste na passagem do bolo alimentar através do esófago até ao estomago.

O bolo alimentar é levado através do esófago por movimentos peristálticos;

Palato mole relaxa, laringe baixa, glote abre, língua move-se para a frente e mandíbula

volta à posição de repouso;

Respiração restabelece-se –> relaxamento do cárdia

Quando o bolo se aproxima do esfíncter da cárdia, este relaxa e deixa o alimento entrar no

estomago;

Nota:

Os músculos na porção superior do esófago são principalmente voluntários e podem ser

usados para devolver o alimento à boca quando necessário.

Os músculos na porção inferior são totalmente involuntários.

Frequência da deglutição:

Em 24 horas verificam-se cerca de 590 ciclos, dos quais:

146 são durante as refeições

394 são entre as refeições

50 são durante o sono

FONAÇÃO

Ocorre quando uma massa de ar é forçada dos pulmões pelo diafragma (que contrai) e sai

através da laringe e da cavidade oral;

Ocorre na fase expiratória da respiração, pois esta é longa, permitindo que uma série de

sílabas, palavras ou frases sejam ditas.

(a inspiração, relativamente rápida, é feita no fim de uma frase ou pausa)

O som com a tonalidade desejada é criado pela contração e relaxamento (controlados) das

cordas vocais;

A ressonância e articulação exata do som são determinadas, após a tonalidade produzida,

pela forma precisa articulada na boca;

A precisão do som é elaborada pela laringe, cavidade oral e nasal;

Músculos responsáveis: elevador do palato, palato-faríngeo e constritor superior da faringe

Não há contacto dentário*

Desenvolvimento da Fala:

Inicia-se com o choro do recém-nascido;

Emissão de sons confusos

Emissão de sons que exprimem alegria/desconforto (6 meses)

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OKESON – CAPÍTULO 2: NEUROANATOMIA FUNCIONAL E FISIOLÓGICA DO S.E.

48

Articulação de palavras (1 ano)

Mecanismo da fala desenvolvido (7/8 anos)

Articulação do som

Através da variação de posições dos lábios e língua no palato e nos dentes, é possível produzir

uma variedade de sons.

‘M’ ‘B’ ’P’

Formados pelos lábios quando estes se tocam e se juntam.

‘S’

Formado pela passagem de ar entre os bordos incisais dos incisivos superiores e inferiores

quando estes se aproximam (sem se tocarem).

‘D’

Formado pela ponta da língua quando esta toca no palato na parte posterior dos incisivos.

‘TH’

Formado pela língua quando esta toca nos incisivos superiores.

‘F’ ‘V’

Formados quando o lábio inferior toca nos bordos incisais dos dentes superiores.

‘K’ ‘G’

Formados quando a porção posterior da língua se eleva até tocar no palato mole.

*Durante a fala não ocorre contacto dentário.

Caso um dente mal posicionado contacte com um antagonista durante a fala estímulos

sensoriais do dente e ligamentos periodontais enviam a informação ao SNC que altera,

imediatamente, o modo da fala através das vias nervosas aferentes.

O ato de falar é considerado um reflexo condicionado no sentido em que é feito quase que

inteiramente sob o controlo inconsciente do sistema neuromuscular.

RESPIRAÇÃO

Está coordenada com a mastigação, deglutição e oclusão;

Nunca cessa durante a mastigação;

É interrompida durante a deglutição.

Como se impede a passagem de alimentos para as vias aéreas?

Pregas vocais vestibulares e cordas vocais unem-se;

Laringe eleva-se;

Epiglote cobre a laringe.

Se falhar: TOSSE

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OKESON – CAPÍTULO 2: NEUROANATOMIA FUNCIONAL E FISIOLÓGICA DO S.E.

49

Controlo respiratório:

É normalmente involuntário;

Pode ser voluntário:

Ex: obstrução nasal:

O encerramento dos lábios é impossível –> os movimentos de mastigação alteram-se –>

deglutição infantil

Respiração bucal

Causas:

Passagem nasofaríngea estreita (associada a uma membrana nasal inflamada);

Adenoides;

Cornetos inflamados;

Desvio do septo nasal.

Consequências:

Ausência de contacto entre a língua e o palato;

Lábios separados

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OKESON – CAPITULO #3

POSICIONAMENTO E

OCLUSÃO DENTÁRIA

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OKESON – CAPÍTULO 3: POSICIONAMENTO E OCLUSÃO DENTÁRIA

52

POSICIONAMENTO E OCLUSÃO DENTÁRIA

Fatores e Forças que determinam a posição do dente

Quando erupcionam, os dentes são levados para uma posição onde forças opostas estão em

equilíbrio. As principais forças opostas originam-se da musculatura circulante:

Na parte vestibular – lábios e bochechas (forças relativamente leves, mas constantes,

dirigidas para lingual)

Na parte lingual – língua (forças também relativamente leves, dirigidas para vestibular)

Espaço neutro: posição dentária na cavidade oral onde as forças vestíbulo-lingual e buco-

lingual são iguais.

Nesta posição ocorre a estabilidade do dente

Se o espaço for inadequado, as forças musculares circundantes não são usualmente

suficientes para posicionar o dente no alinhamento devido na arcada. O dente

permanece fora da posição normal da arcada e ocorre sobreposição até que uma força

externa adicional seja provida (ex: ortodontia)

Espaço neutro anterior:

Ausência de contacto dentário;

Equilíbrio da musculatura peri-oral/língua;

Inclinação tonicidade e forma do lábio inferior influenciam o alinhamento tridimensional de

todos os dentes antero-superiores.

Forças não derivadas da musculatura oral, mas associadas com hábitos orais também podem

influenciar a posição do dente.

Fatores que ajudam a estabilizar o dente no alinhamento normal:

Contacto proximal entre dentes adjacentes

Contacto oclusal (impede a extrusão ou super-erupção dos dentes)

Alinhamento Dentário INTRA-Arcada

Este alinhamento refere-se ao relacionamento dos dentes entre si na mesma arcada.

Plano de Oclusão:

Plano que inclui as pontas das cúspides linguais e se continua através da arcada para

incluir o lado vestibular oposto e as pontas das cúspides linguais;

Plano no qual se abre uma linha traçada em todas as pontas das cúspides vestibulares

e bordos incisais dos dentes inferiores;

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OKESON – CAPÍTULO 3: POSICIONAMENTO E OCLUSÃO DENTÁRIA

53

É curvado de maneira a permitir a utilização máxima dos contactos do dente durante o

funcionamento.

Curvatura resulta do facto de os dentes estarem posicionados nas arcadas em graus

variados de inclinação.

Inclinação dos dentes:

Vista lateral (que se traduz na Curva de Spee):

Arcada inferior:

Dentes anteriores e posteriores inclinados mesialmente;

2º e 3º molares mais inclinados que os pré-molares.

Arcada superior:

Dentes anteriores inclinados mesialmente;

Molares posteriores inclinados distalmente.

Vista frontal (que se traduz na Curva de Wilson):

Arcada inferior:

Dentes posteriores inclinados para lingual

Arcada superior:

Dentes posteriores inclinados para vestibular

Curva de Spee:

Curva antero-posterior que se estende da ponta do canino inferior ao longo das pontas

das cúspides vestibulares dos dentes postero-inferiores.

Linha curva que acompanha o plano de oclusão, convexa para a arcada superior e

côncava para a inferior (convexidade e concavidade permite o encaixe das arcadas

aquando da oclusão)

Nota: O grau de curvatura da curva de Spee vai influenciar a altura das cúspides dos dentes

posteriores (objetivo: harmonia com o movimento mandibular)

Curva de Wilson:

Curva formada pela ponta das cúspides de molares numa secção através do plano

frontal;

É côncava para os 1º molares inferiores numa dentição sem desgaste, mas torna-se

convexa numa dentição com abrasão;

É formada pela ausência de mecanismos de desoclusão dos dentes posteriores que

possibilita interferências fisiológicas que alinham os pré-molares;

Modifica-se do 1º para o 3º molar, assim como através do desgaste da dentição.

Mesa Oclusal: área do dente entre as pontas das cúspides vestibulares e linguais dos dentes

posteriores.

Onde são aplicadas as principais forças de mastigação;

É considerada o aspeto interno do dente.

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OKESON – CAPÍTULO 3: POSICIONAMENTO E OCLUSÃO DENTÁRIA

54

Aspetos e Vertentes:

A mesa oclusal é considerada o aspeto interno do dente. Da mesma forma, a área oclusal fora

das pontas das cúspides é considerada o aspeto externo.

Os aspetos interno e externo são compostos de vertentes que se estendem desde a ponta das

cúspides até às áreas da fossa central ou até à altura do contorno das superfícies lingual e

vestibular dos dentes.

Alinhamento Dentário INTER-Arcada

Este alinhamento refere-se ao relacionamento dos dentes numa arcada com os da outra

arcada.

Comprimento da arcada:

Representado pela distância de uma linha que começa na superfície distal do 3 molar,

estende-se mesialmente por todas as áreas de contacto proximal em torno de toda a

arcada e termina na superfície distal do 3 molar oposto;

É aproximadamente o mesmo nas duas arcadas (arcada inferior ligeiramente menor);

Diferença entre o comprimento das arcadas resulta da distância mesio-distal mais

estreita dos incisivos inferiores comparada com a dos superiores.

Largura da arcada:

É a distância através da arcada;

A da arcada inferior é ligeiramente menor que a da superior;

Diferença entre as larguras resulta, aquando da oclusão da arcada, no posicionamento

de cada dente superior mais vestibularizado do que o dente inferior com o qual oclui.

Uma vez que os dentes superiores são posicionados mais vestibularmente, a relação oclusal

normal para os dentes posteriores é:

Cúspides vestibulares inferiores ocluem ao longo das áreas da fossa central nos

superiores.

Cúspides palatinas superiores ocluem ao longo das áreas da fossa central dos inferiores.

Este relacionamento oclusal protege os tecidos moles circundantes:

Cúspides vestibulares dos superiores: evitam que a mucosa bucal da bochecha e dos

lábios penetre na superfície oclusal dos dentes durante o funcionamento;

Cúspides linguais dos inferiores: ajudam a manter a língua acomodada entre os dentes

superiores e inferiores

Mordida Cruzada:

Relacionamento inter-arcada em que os dentes ocluem de maneira a que as cúspides

vestibulares superiores contactam na área da fossa central dos inferiores;

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OKESON – CAPÍTULO 3: POSICIONAMENTO E OCLUSÃO DENTÁRIA

55

Causada por discrepância no tamanho esquelético da arcada ou de padrões de erupção.

Cúspides de Suporte/Cêntricas:

Cúspides vestibulares dos posteriores inferiores;

Cúspides palatinas dos posteriores superiores;

Ocluem com as áreas da fossa central oposta;

São amplas e arredondadas;

Responsáveis pela manutenção da distância entre a maxila e a mandíbula (DVO);

Exercem um papel importante na mastigação.

Cúspides-Guia/Não-Cêntricas:

Cúspides vestibulares dos posteriores superiores;

Cúspides linguais dos posteriores inferiores;

Relativamente pontiagudas;

Principal papel em minimizar o impacto no tecido e manter o bolo alimentar na mesa

oclusal para a mastigação.

Proporcionam estabilidade à mandíbula

Guiam a mandíbula para a posição de máxima intercuspidação

Cúspides cortantes: outra designação das cúspides não-cêntricas, devido à existência de uma

pequena área, localizada na vertente interna próxima da fossa central, que ajuda no corte do

alimento durante a mastigação.

Nota: a área localizada na vertente interna da cúspide não-cêntrica contacta com uma

pequena porção do aspeto externo da cúspide cêntrica oposta. Esta pequena porção da

cúspide cêntrica é a única área no aspeto externo da cúspide com algum significado funcional

(aspeto funcional externo).

Em cada cúspide cêntrica há um aspeto funcional externo que pode funcionar contra a

vertente interna da cúspide não-cêntrica.

Relação um-dente-para-dois-dentes:

Quando o relacionamento inter-arcada é visto lateralmente, observa-se que cada dente

oclui com dois dentes opostos (o correspondente na arcada oposta e um dente

adjacente);

Ajuda a distribuir forças oclusais para vários dentes e, depois, para toda a arcada;

Ajuda a manter a integridade da arcada

Exceções: (dentes que ocluem somente com o dente oposto)

Incisivos centrais inferiores

Terceiros molares superiores

RELAÇÃO OCLUSAL DOS DENTES POSTERIORES

Atenção centrada no primeiro molar.

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OKESON – CAPÍTULO 3: POSICIONAMENTO E OCLUSÃO DENTÁRIA

56

O 1º molar inferior está situado, em geral, ligeiramente a mesial do 1º molar superior.

Classe I – Oclusão Ideal (Neutroclusão):

Exprime a relação molar mais comummente encontrada na dentição natural

Característica Principal:

A cúspide mesio-vestibular do 1º M superior oclui no sulco mesio-vestibular do 1º M

inferior;

Nesta relação, cada dente inferior oclui com o seu antagonista e o dente mesial adjacente;

Os contactos entre molares ocorrem tanto em pontas de cúspide e fossas como em pontas

de cúspides e cristas marginais;

Classe II – Retrognatas (Distoclusão):

Quando a arcada superior é grande ou projetada anteriormente, ou a arcada inferior é

pequena ou posicionada posteriormente.

1M inferior posiciona-se distalmente comparativamente ao relacionamento molar na Classe I

Característica Principal:

A cúspide mesio-vestibular do 1º M superior oclui anteriormente ao sulco mesio-

vestibular do 1º M inferior;

Nesta relação, existem duas divisões:

Divisão 1: incisivos superiores em labioversão exagerada

Divisão 2: incisivos centrais superiores quase em posição normal antero-posteriormente

ou apresentam uma leve linguoversão, enquanto os incisivos laterais apresentam uma

inclinação labial e mesial

Classe III – Prognatas (Mesioclusão)

Corresponde frequentemente a um crescimento predominante da mandíbula;

Molares inferiores posicionados mesialmente aos molares superiores;

Característica Principal:

A cúspide mesio-vestibular do 1º M superior oclui posteriormente ao sulco mesio-

vestibular do 1º M inferior;

Nesta relação, quando a mesioclusão ocorre apenas de um lado do arco dentário, a

unilateralidade é expressa como uma subdivisão.

CONTACTOS OCLUSAIS COMUNS DOS DENTES ANTERIORES

Relação normal:

Dentes anteriores superiores posicionados na parte labial dos anteriores inferiores;

Bordos incisais dos incisivos inferiores contactam as superfícies palatinas dos incisivos

superiores (contactos ocorrem normalmente na fossa lingual dos incisivos superiores);

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OKESON – CAPÍTULO 3: POSICIONAMENTO E OCLUSÃO DENTÁRIA

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Inclinação e Função:

A inclinação labial dos dentes anteriores é indicativa de uma função diferente da dos dentes

posteriores

Nota: Função principal dos dentes posteriores:

Ajudar a dividir efetivamente o alimento durante a mastigação

Manter a DVO

(dentes posteriores estão alinhados de modo a que as forças verticais pesadas de

fechamento possam ser aplicadas neles sem efeito adverso)

A inclinação labial dos dentes anteriores superiores, e a maneira pela qual os inferiores

ocluem com eles, não favorece resistência a forças oclusais pesadas;

Numa oclusão normal, os contactos sobre os dentes anteriores, na posição de máxima

intercuspidação são mais leves que nos posteriores;

Finalidade dos dentes anteriores: guiar a mandíbula através dos movimentos laterais (guia

anterior);

Outras funções:

Cortar o alimento (mastigação)

Fala

Suporte aos lábios

Estética

Overject ou sobreposição horizontal: distância entre o bordo incisal labial do incisivo superior e

a superfície labial do incisivo inferior, na posição de máxima intercuspidação.

Overbite ou sobreposição vertical: distância entre os bordos incisais dos dentes anteriores

opostos.

Influência dos dentes anteriores nas Classes II e III:

Classe II – Retrognatas

Mordida profunda:

Relacionamento anterior em que os dentes anteriores inferiores contactam no terço

gengival das superfícies linguais dos superiores;

Ocorre em casos de mandíbula subdesenvolvida (Classe II);

Um caso extremo pode resultar num contacto com o terço gengival do palato para os

incisivos superiores.

Classe III – Prognatas

Relação topo-a-topo (bordo-a-bordo):

Dentes anteriores inferiores geralmente posicionados para a frente e contactam com os

bordos incisais dos anteriores superiores;

Ocorre em casos de um crescimento mandibular pronunciado (Classe III);

Em casos extremos os dentes anteriores inferiores podem ser posicionados tão para a

frente que nenhum contacto na posição máxima de intercuspidação ocorre.

Mordida-aberta anterior:

Relação anterior que tem uma sobreposição vertical negativa;

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OKESON – CAPÍTULO 3: POSICIONAMENTO E OCLUSÃO DENTÁRIA

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Com os dentes posteriores em máxima intercuspidação os dentes anteriores opostos

não se sobrepõem ou sequer contactam um com o outro.

Não existem contactos entre os dentes anteriores durante o movimento mandibular

CONTACTOS OCLUSAIS DURANTE O MOVIMENTO MANDIBULAR

As ATMs e musculatura associada permitem a movimentação da mandíbula em 3 planos

(sagital, horizontal e frontal). Juntamente com estes movimentos procedem os contactos

potenciais dos dentes.

Excêntrico: termo que descreve qualquer movimento da mandíbula a partir da posição de

máxima intercuspidação que resulta em contacto do dente.

Existem 3 movimentos excêntricos básicos:

Protusivo

Laterotrusivo

Retrusivo

Movimento Mandibular Protusivo

Ocorre quando a mandíbula se move para a frente a partir a posição de máxima

intercuspidação;

Nos dentes posteriores, este movimento leva as cúspides cêntricas inferiores

(vestibulares) a passarem anteriormente através das superfícies oclusais dos dentes

superiores.

Contacto protusivo:

Contacto entre qualquer área de um dente com o oposto durante o movimento

protusivo;

Numa relação normal de oclusão, os predominantes ocorrem sobre os dentes

anteriores, entre os bordos incisais e labiais dos incisivos inferiores contra as áreas da

fossa lingual e os bordos incisais dos incisivos superiores (vertentes-guia dos dentes

anteriores)

Nos dentes posteriores ocorre entre as vertentes distais das cúspides linguais superiores

e as vertentes mesiais das fossas e cristas marginais opostas. Pode ocorrer também

entre as vertentes mesiais das cúspides vestibulares inferiores e as vertentes distais das

fossas e cristas marginais opostas.

Movimento Mandibular Laterotrusivo

Ocorre movimentação dos dentes posteriores inferiores direitos e esquerdos através dos seus

dentes opostos em diferentes direções.

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OKESON – CAPÍTULO 3: POSICIONAMENTO E OCLUSÃO DENTÁRIA

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Ex: movimento lateral da mandíbula para a esquerda

Dentes posteriores inferiores esquerdos movem-se lateralmente através dos seus

dentes opostos.

Simultaneamente, dentes posteriores inferiores direitos movem-se medialmente

através dos seus dentes opostos.

Contactos laterotrusivos ou Contactos de trabalho: Contactos entre os dentes posteriores

do lado esquerdo que podem ocorrer em duas áreas de vertente:

Entre as vertentes internas das cúspides vestibulares superiores e as vertentes

externas das cúspides vestibulares inferiores (contacto laterotrusivo lingual-para-

lingual)

Entre as vertentes externas das cúspides palatinas superiores e as vertentes internas

das cúspides linguais inferiores

Contactos mediotrusivos ou Contactos de repouso ou Contactos de balanceio: contactos

entre os dentes posteriores direitos entre as vertentes internas das cúspides palatinas

superiores e as vertentes internas das cúspides vestibulares inferiores.

Ex: movimento lateral da mandíbula para a direita

Neste movimento os locais potenciais de contacto são os idênticos, porém opostos aos

do movimento lateral para a esquerda.

O lado direito é agora o lado de trabalho com contactos laterotrusivos

O lado esquerdo é agora o lado de repouso com contactos mediotrusivos.

Resumindo…

Os contactos laterotrusivos (de trabalho) dos dentes posteriores ocorrem nas vertentes

internas das cúspides vestibulares superiores opondo-se às vertentes externas das

cúspides vestibulares inferiores e nas vertentes externas das cúspides palatinas

superiores opondo-se as vertentes internas das cúspides linguais inferiores.

Os contactos mediotrusivos (de repouso) ocorrem nas vertentes internas das cúspides

linguais superiores opondo-se às vertentes internas das cúspides vestibulares

inferiores.

Movimento Mandibular Retrusivo

Ocorre quando a mandíbula se move posteriormente a partir a posição de máxima

intercuspidação;

Movimento comparativamente pequeno, uma vez que é restringido pelas estruturas

ligamentosas do SE

Movimento distal das cúspides vestibulares inferiores através da superfície oclusal dos

dentes superiores opostos

Contactos retrusivos:

Ocorrem nas vertentes reversas dos contactos protusivos (movimento oposto)

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OKESON – CAPÍTULO 3: POSICIONAMENTO E OCLUSÃO DENTÁRIA

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As áreas de contacto potencial ocorrem entre as vertentes distais das cúspides

vestibulares inferiores (cêntricas) e as vertentes mesiais das fossas e cristas marginais

opostas

Na arcada superior, os contactos retrusivos ocorrem entre as vertentes mesiais das

fossas centrais e cristas marginais opostas.

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OKESON – CAPITULO #4

MECÂNICA DO

MOVIMENTO MANDIBULAR

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OKESON – CAPÍTULO 4: MECÂNICA DO MOVIMENTO MANDIBULAR

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MECÂNICA DO MOVIMENTO MANDIBULAR

Cinemática: estudo do movimento dos corpos (sendo que por movimento se entende qualquer

alteração de posição ou lugar de um determinado corpo)

Tipos de Movimento

Dois tipos de movimento ocorrem na ATM:

Rotação

Cavidade inferior da articulação: complexo côndilo disco

(como o disco é firmemente inserido no côndilo pelos ligamentos medial e lateral o

único movimento que pode ocorrer é a rotação da superfície inferior do disco sobre a

superfície superior do côndilo)

Translação (não ocorre como movimento puro)

Cavidade superior da articulação: complexo côndilo disco na fossa articular

Roto-translação

MOVIMENTO DE ROTAÇÃO

Rotação:

Processo de girar em torno do eixo;

Ocorre, no sistema SE, quando a boca abre e fecha em torno de um ponto fixo ou eixo

dos côndilos;

Movimento de rotação mandibular:

Movimento de rotação efetuado pelo complexo côndilo disco;

Determinado por uma linha imaginária que une os 2 centros cineméticos* dos côndilos –

eixo terminal de charneira

Ocorre com abertura até 20-25mm;

Pode ocorrer em diferentes eixos.

*única zona no interior do côndilo que tem a capacidade de fazer rotação pura (centros de

rotação – zona imóvel)

Eixo terminal de Charneira:

Corresponde, na mandíbula, à zona a partir da qual se pode descrever um movimento de

rotação;

Pode ser determinado através de:

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OKESON – CAPÍTULO 4: MECÂNICA DO MOVIMENTO MANDIBULAR

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Axiógrafo1 (arco facial cinemático)

Pontos de referência2 e transferência para um articulador (através de um arco facial

estático)

Objetivo: simular os movimentos efetuados pelo indivíduo com o intuito de diagnosticar e/ou

avaliar a quantidade e qualidade de movimento e aplicar nos diversos tratamentos de

reabilitação.

1Axiógrafos (arcos faciais) – podem ser:

▫ Estáticos (erro: 5-6 mm)

▫ Dinâmicos (erro: 1 mm) 2Pontos de referência: canal auditivo externo ou trágus (dependendo do tipo de articulador)

▫ Plano de Camper: 11 mm adiante do trágus numa linha que se estende até à asa do nariz;

▫ Plano de Frankfort: 11 mm abaixo do trágus numa linha que se estende até à base da

órbita;

▫ Dentatus: 11 mm adiante do trágus numa linha que se estende até ao canto externo do

olho.

O movimento de rotação da mandíbula pode ocorrer nos três planos de referência:

Horizontal

Frontal (vertical)

Sagital

(em cada plano ele ocorre em torno de um ponto – eixo)

Nota: planos de referência

Se se adicionar um ponto de referência anterior ao eixo terminal de charneira, obtém-se um

plano. Ex: plano infra-orbitario (referência sagital); plano frontal (análise pela linha bi-pupilar)

Movimento em torno do Eixo Horizontal de Rotação

É um movimento de abrir e fechar;

Também designado de movimento de dobradiça, é provavelmente o único exemplo de

um movimento de rotação “puro” (nos outros movimentos a rotação em torno do eixo é

acompanhada pela translação do eixo)

Neste movimento, os côndilos encontram-se na sua posição mais superior da fossa

mandibular e a boca rotaciona para abrir ao redor do eixo terminal de rotação

(charneira).

Movimento em torno do Eixo Frontal (vertical) de Rotação

Ocorre quando um côndilo se move anteriormente para fora da posição terminal de

rotação com o eixo frontal do côndilo oposto permanecendo na posição terminal de

rotação;

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OKESON – CAPÍTULO 4: MECÂNICA DO MOVIMENTO MANDIBULAR

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Não ocorre naturalmente devido a inclinação da eminência articular que determina que

o eixo frontal se mova enquanto o côndilo orbitante vai para a frente.

Movimento em torno do Eixo Sagital de Rotação

Ocorre quando o côndilo se move para baixo, enquanto o outro permanece na posição

terminal de rotação;

Não ocorre naturalmente pelo facto dos ligamentos e musculatura da ATM evitarem um

deslocamento inferior do côndilo.

MOVIMENTOS DE TRANSLAÇÃO

Translação:

Movimento no qual todas as partes do objeto que se move têm velocidade e direção

simultâneas;

Ocorre, no sistema SE, quando a mandíbula se move para a frente, como na protusão

(os dentes, côndilos e ramos movem-se todos na mesma direção e angulação);

Movimentos puros são praticamente inexistentes (o que ocorre normalmente é a roto-

translação)

Limites Anatómicos dos Movimentos Mandibulares

LIMITES ANATÓMICOS POSTERIORES – ATM

Movimento de Rotação

Limite:

! Compartimento inferior da ATM (complexo côndilo disco)

Movimento de Protrusão

Limite:

! Compartimento superior da ATM (complexo côndilo disco com a fossa articular)

(mais precisamente este movimento é limitado pela angulação/anatomia da eminência)

No movimento de protrusão o complexo côndilo disco desloca-se para baixo e para a frente ao

longo da eminência articular (translação)

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OKESON – CAPÍTULO 4: MECÂNICA DO MOVIMENTO MANDIBULAR

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Fenómeno de Christensen:

Quanto maior a inclinação da eminência articular, maior o espaço posterior disponível

para a protusão (definição);

O movimento anterior da mandíbula processa-se ate ao contacto topo-a-topo entre

incisivos superiores e inferiores, ocorrendo desoclusão dos dentes posteriores.

Nota: em casos de uma fossa muito profunda, o trajeto condilar torna-se muito íngreme.

Nestas situações, durante os movimentos passivos não há contacto dos dentes posteriores.

Movimentos de Lateralidade

▫ Lado de não trabalho:

Limites:

! Plano horizontal: parede interna da cavidade glenoide; ligamentos; harmonia com áreas de

desoclusão dentária

! Plano frontal: parede interna e superior da cavidade glenoide; ligamentos; harmonia com

áreas de desoclusão dentária

Progressive Side-Shift: (deslocamento progressivo/movimento lateral progressivo)

Quando ocorre um deslocamento imediato em conjunção com um movimento excêntrico

(Okeson)

Côndilo movimenta-se para baixo, frente e dentro (mediotrusão)

1º movimento de rotação

2º translação sobre a parede da eminência articular

No plano frontal existe uma relação direta entre a anatomia da cavidade glenoide e a

altura cuspídea;

No plano sagital existe uma relação direta entre a angulação da eminência articular e a

altura cuspídea.

Imediate Side-Shift: (deslocamento imediato/movimento lateral imediato)

Quando ocorre um movimento de translação lateral precoce, onde pode ser observado um

deslocamento antes mesmo de o côndilo começar a transladar a fossa (Okeson)

O côndilo orbitante deve movimentar-se para baixo para permitir movimento lateral (para

dentro e para a frente)

No plano horizontal é possível observar o estiramento dos ligamentos até alcançar a

trajetória progressiva (implica trajetórias horizontais nas unidades de oclusão até se

alcançar o movimento progressivo).

Consequências clínicas: perda de contenções cêntricas e perda de estabilidade do sistema.

No plano frontal existe uma relação direta entre a anatomia da parede interna da fossa

glenoide e a altura cuspídea.

Consequências clínicas: alteração na direção dos sulcos e diminuição da altura cuspídea.

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OKESON – CAPÍTULO 4: MECÂNICA DO MOVIMENTO MANDIBULAR

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▫ Lado de trabalho:

Limites:

! Plano frontal: a parede do disco e seu apoio na cavidade articular influencia a altura

cuspídea (limite anatómico superior)

! Parede ligamentosa: influencia a orientação dos sulcos (limite anatómico posterior)

Movimento de Bennet:

Deslocamento do corpo da mandíbula, que ocorre nos movimentos de lateralidade,

correspondente ao movimento transversal do côndilo do lado de trabalho, visto de um

plano sagital (Okeson)

O côndilo de não trabalho orbita em torno do côndilo de trabalho sem o último executar

um movimento de rotação pura.

Movimento Imediato

Movimento Progressivo

Ângulo de Bennett:

Trajetória para baixo, frente e dentro da fossa mandibular do lado de trabalho no plano

médio

Distância intercondilar: distância entre os côndilos que vai determinar a abertura dos arcos

descritos pelo côndilo de não trabalho, influenciando a orientação dos sulcos dentários.

LIMITES ANATÓMICOS ANTERIORES – GUIA ANTERIOR

Os dentes posteriores são mais influenciados pelos fatores da guia anterior do que pelos

fatores impostos pela anatomia da ATM.

Assim…

Guia Anterior –> dita a desoclusão

ATM –> guia passivo do movimento

Movimentos Bordejantes num mesmo Plano

Movimento bordejante: resultado do movimento da mandíbula através dos limites externos

desse mesmo movimento

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OKESON – CAPÍTULO 4: MECÂNICA DO MOVIMENTO MANDIBULAR

67

PLANO BORDEJANTE SAGITAL E MOVIMENTOS FUNCIONAIS – DIAGRAMA DE POSSELT

O movimento mandibular no plano sagital tem 4 componentes móveis:

1. Bordejante de Contacto Superior

2. Bordejante de Abertura Anterior

3. Bordejante de Abertura Posterior

4. Movimentos Funcionais

O limite dos movimentos de abertura bordejantes posterior e anterior é determinado pelos

ligamentos e morfologia das ATMs;

Os movimentos de contacto bordejante superior são determinados pelas superfícies oclusais

e incisais dos dentes;

Os movimentos funcionais não são considerados movimentos bordejantes, pois não são

determinados por um limite externo de movimento, mas sim pelas respostas condicionadas

do sistema neuromuscular

Movimentos Bordejantes de Contacto Superior

É determinado pelas características oclusais dos dentes.

Durante todo o movimento há contactos dentários.

Como este movimento é somente determinado pelos dentes, mudanças nestes causarão

mudanças na natureza do movimento.

Na posição de RC, o contacto dentário ocorre normalmente num ou mais pares de dentes

antagonistas;

Se uma força for aplicada à mandíbula, um movimento antero-superior ou deslocamento

irá resultar até que a oclusão cêntrica seja alcançada;

Na posição de MIC, ocorre contacto dentário entre dentes anteriores antagonistas

Quando a mandíbula é protruída da MIC, o contacto entre os bordos incisais dos dentes

antero-inferiores e as vertentes palatinas dos dentes antero-superiores resulta num

movimento antero-inferior (trajeto incisal – overbite)

Processo continua até que os dentes anteriores superiores e inferiores estejam numa

relação topo-a-topo (durante o qual um traçado horizontal é seguido)

O movimento horizontal continua até ao bordo incisal dos dentes anteriores inferiores

ultrapassar o bordo incisal dos dentes anteriores superiores

A mandíbula move-se numa direção superior até os dentes superiores contactarem

A superfície oclusal dos dentes posteriores determina o trajeto restante até ao movimento

de protrusão máxima.

Em caso de não haver discrepância entre a RC e a MIC:

Descrição inicial do movimento é modificada:

De RC não há deslizamento superior para MIC

O movimento de protrusão inicial contacta imediatamente os dentes anteriores

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OKESON – CAPÍTULO 4: MECÂNICA DO MOVIMENTO MANDIBULAR

68

Mandíbula move-se inferiormente, num movimento determinado pela anatomia lingual

ou palatina dos anteriores superiores.

A delineação do movimento depende:

Do grau de variação entre a RC e a MIC (máxima intercuspidação)

Da angulação das vertentes das cúspides dos dentes posteriores

Da quantidade de trespasse vertical e horizontal dos dentes anteriores

Da morfologia palatina dos dentes anteriores superiores

Da inter-relação das arcadas dentárias

Movimentos Bordejantes de Abertura Anterior

Devido aos limites anatómicos dos movimentos mandibulares, a posição condilar está mais

anterior na abertura máxima, mas não na posição protrusiva máxima.

Este movimento anterior do côndilo causa a excentricidade no movimento bordejante

anterior. Desta forma não é um movimento de rotação puro.

Movimentos Bordejantes de Abertura Posterior

Ocorrem como um movimento de dobradiça em 2 estágios:

1º Estágio:

Côndilos encontram-se estabilizados na sua posição superior máxima na fossa articular.

Nota: posição de relação cêntrica:

Posição superior condilar máxima na qual um movimento de rotação pode ocorrer

(A mandíbula pode ser aberta num movimento exclusivo de rotação sem a translação dos

côndilos. Teoricamente, um movimento de dobradiça pode ser iniciado de qualquer posição

mandibular anterior à RC mas, para isso ocorrer, os côndilos devem ser estabilizados para que

a translação do eixo horizontal não ocorra.)

Em RC, a mandíbula pode ser rotacionada ao redor do eixo horizontal até 20-25mm

entre os bordos incisais dos dentes anteriores;

Neste ponto de abertura os ligamentos temporo-mandibulares estão tensos

A continuação da abertura resulta numa translação anterior e inferior dos côndilos

À medida que o côndilo é transladado, o eixo de rotação da mandíbula movimenta-se no

corpo do ramo

2º Estágio:

Enquanto a mandíbula se rotaciona em redor de um eixo horizontal, os côndilos

movem-se anterior e inferiormente e a porção anterior da mandíbula move-se

posterior e inferiormente;

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OKESON – CAPÍTULO 4: MECÂNICA DO MOVIMENTO MANDIBULAR

69

A abertura máxima (40-60mm entre os bordos incisais dos dentes superiores e

inferiores) é alcançada quando os ligamentos capsulares impedem movimentos

adicionais do côndilo.

Movimentos Funcionais

Ocorrem durante a atividade funcional da mandíbula

Não são considerados movimentos livres pois acontecem como parte dos movimentos

bordejantes

Posição clínica de repouso:

Posição na qual os músculos da mastigação estão aparentemente no seu menor nível de

atividade (posição na qual a mandíbula está posicionada aproximadamente 8mm para

baixo e 3mm para a frente da posição de MIC)

Nesta posição, a força da gravidade (que empurra a mandíbula para baixo) está

equilibrada com a elasticidade e resistência ao estiramento dos músculos elevadores e

outros tecidos moles que sustentem a mandíbula

Nesta posição, a pressão interarticular da articulação torna-se baixa e o deslocamento é

diminuído

Como a função não pode ocorrer rapidamente a partir da posição clínica de repouso…

Posição postural:

Posição na qual o reflexo miotático contrabalança as forças da gravidade e mantém a

mandíbula na posição mais pronta ao funcionamento

Efeito da Postura no Movimento Funcional

Quando a cabeça está numa posição ereta e alinhada, a posição postural da mandíbula

localiza-se ligeiramente abaixo da posição de MIC;

No entanto, se os músculos elevadores se contraírem, a mandíbula será elevada até à

posição intercuspidal.

Posição de beber

Se o rosto se virar 45° para cima, a posição postural da mandíbula será alterada para uma

posição ligeiramente retrusiva.

Esta mudança está relacionada com o estiramento e alongamento dos vários tecidos que

estão presos e sustentam a mandíbula

Se os músculos elevadores se contraírem, o trajeto de fechamento será ligeiramente

posterior ao trajeto de fechamento na posição ereta

O contacto dentário ocorrerá atrás da MIC

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OKESON – CAPÍTULO 4: MECÂNICA DO MOVIMENTO MANDIBULAR

70

Posição alerta de alimentação

Face dirigida para baixo 30°

Movimentação da mandibula para a frente até atingir a posição postural ereta

Se os músculos elevadores se contraírem, o trajeto de fechamento será ligeiramente

anterior ao trajeto de fechamento na posição ereta

O contacto dentário ocorrerá anteriormente à MIC

PLANO BORDEJANTE HORIZONTAL E MOVIMENTOS FUNCIONAIS – ARCO GÓTICO

Arco Gótico: aparelho usado para registar os movimentos mandibulares num plano horizontal

Os movimentos mandibulares no plano horizontal têm uma forma romboide e têm 4

componentes de movimentos distintos:

1. Lateral Esquerdo

2. Lateral Esquerdo continuado com Protrusão

3. Lateral Direito

4. Lateral Direito continuado com Protrusão

5. Movimentos Funcionais

Movimentos Bordejantes Laterais Esquerdos

Com os côndilos na posição de RC, a contração do pterigoideu lateral inferior direito faz

com que o côndilo direito se mova para a frente e para o meio.

Se o pterigoideu lateral inferior esquerdo ficar relaxado, o côndilo esquerdo permanecerá

em RC.

Resultado: movimento bordejante lateral esquerdo

Côndilo esquerdo: é o côndilo de trabalho/de rotação uma vez que a mandíbula

rotaciona em torno dele.

Côndilo direito: é o côndilo não trabalho/orbitante pois orbita em torno do côndilo de

rotação

Movimentos Bordejantes Laterais Esquerdos continuados com Protrusão

Com a mandíbula na posição bordejante lateral esquerda, ocorre a contração do

pterigoideu lateral inferior esquerdo juntamente com a contração continuada do

pterigoideu lateral inferior direito

Côndilo esquerdo levado a mover-se para a frente e para a direita

Como o côndilo direito já esta na sua posição anterior máxima, o movimento do côndilo

esquerdo até a mesma posição causará um deslize na linha média da face.

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OKESON – CAPÍTULO 4: MECÂNICA DO MOVIMENTO MANDIBULAR

71

Movimentos Bordejantes Laterais Direitos

A contração do pterigoideu lateral inferior esquerdo faz com que o côndilo esquerdo se

mova para a frente e para o meio.

Se o pterigoideu lateral inferior direito ficar relaxado, o côndilo direito permanecerá em

RC.

Resultado: movimento bordejante lateral direito

Côndilo direito: é o côndilo de trabalho/de rotação

Côndilo esquerdo: é o côndilo não trabalho/orbitante

Movimento Bordejante Lateral Direito continuado com Protrusão

Com a mandíbula na posição bordejante lateral direita, ocorre a contração do pterigoideu

lateral inferior direito juntamente com a contração continuada do pterigoideu lateral

inferior esquerdo

Côndilo esquerdo levado a mover-se para a frente e para a esquerda

Como o côndilo esquerdo já esta na sua posição anterior máxima, o movimento do côndilo

direito até a mesma posição causará um deslize na linha média mandibular para coincidir

com a linha média da face.

Movimentos Funcionais

Durante a mastigação a amplitude dos movimentos mandibulares começa um pouco

distante da MIC. No entanto, à medida que o alimento é quebrado, a ação mandibular move-

se para perto da MIC

A posição exata da mandíbula durante a mastigação é ditada pela configuração oclusal

existente.

MOVIMENTOS BORDEJANTES FRONTAIS (VERTICAIS) E MOVIMENTOS FUNCIONAIS

O movimento mandibular no plano frontal tem 4 movimentos distintos juntamente com a

componente funcional:

1. Limite Lateral Superior Esquerdo

2. Limite Lateral Superior Esquerdo em Abertura

3. Limite Lateral Superior Direito

4. Limite Lateral Superior Direito em Abertura

5. Movimentos Funcionais

O movimento mandibular no plano frontal apresenta um padrão em forma de escudo.

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OKESON – CAPÍTULO 4: MECÂNICA DO MOVIMENTO MANDIBULAR

72

Movimento Limite Lateral Superior Esquerdo

Com a mandíbula em MIC, um aparelho de registo mostra um traçado inferior e

côncavo;

A natureza deste traçado é determinada por:

Morfologia e relações entre-arcadas dos dentes superiores e inferiores que se

contactam (influência primária)

Contactos côndilo-disco-fossa e morfologia do lado da ATM que rotaciona (influência

secundária)

A extensão lateral máxima deste movimento é determinada pelos ligamentos da

articulação rotacionada.

Movimento Limite Lateral Esquerdo em Abertura

Traçado convexo;

Movimento mediano, produzido quando a abertura máxima se aproxima enrijecendo os

ligamentos, que leva a mandíbula a deslizar da linha média mandibular para a linha

média da face

Movimento Limite Lateral Superior Direito

Com a mandíbula em MIC, um movimento lateral é feito para a direita;

É semelhante ao movimento lateral bordejante superior esquerdo, com diferenças que

podem ocorrem devido aos contactos dentários envolvidos

Movimento Limite Lateral Direito em Abertura

Traçado convexo similar ao movimento de abertura esquerdo;

Movimento mediano, produzido quando a abertura máxima se aproxima enrijecendo os

ligamentos, que leva a mandíbula a um deslize da linha média da face para encerrar esse

movimento de abertura esquerdo

Movimentos Funcionais

Começam e terminam na posição de MIC

1. Durante a mastigação, a mandíbula desce até se conseguir a abertura desejada;

2. A mandíbula movimenta-se para o lado no qual o bolo alimentar se encontra e eleva-se;

3. Quando se aproxima da MIC, o bolo alimentar e dividido entre os dentes antagonistas

4. Nos milímetros finais do fechamento a mandíbula volta a posição de MIC

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OKESON – CAPÍTULO 4: MECÂNICA DO MOVIMENTO MANDIBULAR

73

Movimento de Envelope

Movimento produzido na combinação dos movimentos mandibulares bordejantes nos

três planos;

Representa a amplitude máxima do movimento mandibular

Neste movimento, a superfície superior é determinada pelos contactos dentais,

enquanto os outros movimentos bordejantes são determinados primariamente pelos

ligamentos e anatomia da articulação que restringem ou limitam os movimentos.

MOVIMENTO TRIDIMENSIONAL

Demonstração da complexidade do movimento mandibular:

Exemplo de movimento de excursão lateral

Quando a musculatura começa a contrair e a mover a mandíbula para a direita, o côndilo

esquerdo é empurrado para fora da sua posição de RC;

Enquanto o côndilo esquerdo está na órbita anterior em redor do eixo frontal do côndilo

direito, encontra a vertente posterior da eminência articular, o que causa um movimento

do côndilo para baixo em torno do eixo sagital com a oscilação resultante do eixo frontal;

Alem disso, o contacto dos dentes anteriores produz um movimento inferior ligeiramente

maior na parte anterior da mandíbula do que na posterior

Como o côndilo esquerdo está a mover-se para a frente e para baixo, o eixo horizontal

move-se anterior e posteriormente.

Este exemplo demonstra que durante um simples movimento de excursão lateral há

movimento em torno de cada eixo e, simultaneamente, cada eixo fica a oscilar para

acomodar-se aos movimentos que ocorrem em torno dos outros eixos.

Todo este processo ocorre dentro do movimento de envelope e é controlado pelo sistema

neuromuscular.

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OKESON – CAPITULO #5

CRITÉRIOS PARA UMA

OCLUSÃO FUNCIONAL IDEAL

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OKESON – CAPÍTULO 5: CRITÉRIOS PARA UMA OCLUSÃO FUNCIONAL IDEAL

76

CRITÉRIOS PARA UMA OCLUSÃO FUNCIONAL IDEAL

Oclusão:

Acão de fechar ou estar fechado

Relação dos dentes mandibulares e maxilares quando estão em contacto funcional

durante a atividade da mandíbula (Odontologia)

“Qual a melhor relação funcional ou oclusão para os dentes?”

Edward Angle (1899) – primeiro a descrever as relações oclusais dos dentes

História do Estudo da Oclusão

Oclusão balanceada:

1º conceito significativo para descrever a oclusão funcional ideal;

Defendia os contactos de balanceio bilateral (contactos bilaterais e simultâneos)

durante todos os movimentos de lateralidade e protusão (excêntricos);

Desgaste dentário –> GC, FC e OB –> predomínio dos ciclos de mastigação horizontais –>

desenvolvimento dos maxilares.

Controvérsias sobre a conveniência da oclusão balanceada na dentição natural dão origem:

Gnatologia: ciência exata do movimento mandibular e resultante dos contactos oclusais

Em que se defende:

Contacto unilateral excêntrico:

Conceito desenvolvido para a dentição natural

Sugeria que contactos laterotrusivos (contactos de trabalho) e contactos protusivos

devem ocorrer somente nos dentes anteriores, em que:

Movimentos de lateralidade: guia canina

Movimentos de protrusão: guia anterior

Por volta de 1990:

Oclusão individual dinâmica:

Conceito centrado na saúde e funcionamento do sistema estomatognático (como um

todo) e não numa configuração oclusal específica (pré-definida);

A configuração oclusal é considerada fisiologicamente aceitável se as estruturas do SE

funcionam eficientemente e sem patologias, não importando os contactos dentais

específicos.

Numa tentativa de determinar quais as condições que parecem menos prováveis de causar

qualquer efeito patológico examinam-se, neste capítulo, certas características anatómicas e

fisiológicas do SE.

Um acúmulo dessas características representa uma oclusão funcional ideal.

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OKESON – CAPÍTULO 5: CRITÉRIOS PARA UMA OCLUSÃO FUNCIONAL IDEAL

77

Critérios para uma Oclusão Funcional Ideal

CRITÉRIOS REFERENTES Á ATM

Para uma oclusão funcional ideal:

Posição ortopedicamente estável e reprodutível (–> RC)

Relação cêntrica: relação intermaxilar em que os côndilos estão na sua posição mais antero-

superior da fossa mandibular, apoiados nas vertentes posteriores das eminências articulares,

com os discos articulares adequadamente interpostos entre as superfícies articulares e in-

dependentes dos contactos dentários.

De volta ao critério em si, ‘posição ortopedicamente estável’…

A estabilidade posicional da articulação no entanto é determinada pelos músculos:

Cruzam a articulação

Impedem o deslocamento das superfícies articulares

Forças direcionais destes músculos determinam a posição ortopedicamente estável de

funcionamento da articulação

Principais músculos que estabilizam a ATM (mandíbula):

Masséteres e pterigoideus mediais:

Temporais

Principais músculos que estabilizam a ATM (côndilos):

Tónus muscular dos elevadores, em que:

Masséteres e pterigoideus mediais posicionam os côndilos antero-superiormente

Temporais posicionam os côndilos superiormente

Pterigoideus laterais (feixe superior e inferior) posicionam os côndilos anteriormente

contra a vertente posterior da eminência articular

Assim…

A posição ortopedicamente estável é também considerada uma posição músculo-esquelética

estável, pois, quando ocorre uma forte contração dos músculos elevadores (sem interferências

oclusais), a estabilidade é mantida

CRITÉRIOS REFERENTES AOS DENTES

Para uma oclusão funcional ideal:

Estabilidade oclusal compatível com posição articular fisiológica

Capacidade de suportar a intensidade das forças mastigatórias

Relativamente ao primeiro critério…

O tipo de contacto oclusal influencia o controlo muscular da posição mandibular.

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OKESON – CAPÍTULO 5: CRITÉRIOS PARA UMA OCLUSÃO FUNCIONAL IDEAL

78

Quando o fechamento da mandíbula na posição musculo-esqueletal estável cria uma

condição oclusal instável, o sistema neuromuscular inicia uma ação muscular apropriada

para localizar a posição mandibular que resulta numa condição oclusal mais estável.

A posição musculo-esqueletal estável das articulações só pode ser mantida quando em

harmonia com uma condição oclusal estável.

Condição oclusal estável: condição que permite o funcionamento efetivo enquanto minimiza o

dano a algum componente do sistema mastigatório.

As condições oclusais estáveis podem ser delineadas segundo as seguintes condições:

1. Paciente com apenas os 1M direitos superiores e inferiores:

Quando a boca fecha, esses dois dentes fornecem as únicas paradas oclusais para a

mandíbula;

Só havendo contacto do lado direito, as forças de oclusão aplicadas irão causar um

fechamento maior do lado esquerdo e um deslocamento na posição mandibular para

esse lado;

Esta condição não fornece estabilidade mandibular necessária para um funcionamento

efetivo

Existe um risco significativo de colapso das articulações, dentes e estruturas de suporte.

2. Paciente com apenas os quatro 1M:

Quando a boca fecha, os molares esquerdos e direitos tocam-se;

Havendo contacto de ambos os lados, quando a força muscular é aplicada os contactos

bilaterais dos molares devido aos dentes adicionais ajudam a diminuir a força aplicada

em cada dente;

Esta condição fornece uma posição mandibular mais estável que a anterior.

3. Pacientes com apenas os quatro 1M e os quatro 2PM

Quando a boca fecha, na sua posição mais musculo-esqueletal estável, todos os oito

dentes se contactam igual e simultaneamente;

O aumento do número de dentes a ocluir diminui a força em cada dente, minimizando

danos potenciais;

Esta condição fornece uma estabilidade ainda maior que a anterior.

Conclusão…

Uma condição oclusal ideal durante o fechamento da mandíbula deve ser fornecida pelo

contacto simultâneo e heterogéneo de todos os dentes possíveis;

As ausências dentárias impedem: oclusão mutuamente protegida e oclusão mutuamente

compartida (fundamentais para uma oclusão ideal)

Construção do Critério para a Oclusão Funcional Ideal:

Contactos heterogéneos e simultâneos de todos os dentes possíveis quando os côndilos

mandibulares estão na sua posição mais antero-superior, apoiados nas vertentes posteriores

das eminências articulares, com os discos apropriadamente interpostos.

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OKESON – CAPÍTULO 5: CRITÉRIOS PARA UMA OCLUSÃO FUNCIONAL IDEAL

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Relativamente ao segundo critério…

Observações aquando da análise das estruturas de suporte que envolvem os dentes:

1. Os tecidos ósseos não suportam forças de pressão.

Como os dentes estão constantemente a receber forças oclusais, um ligamento

periodontal está presente entre a raiz do dente e o osso alveolar para ajudar no

controlo destas forças;

O ligamento periodontal é capaz de converter uma força destrutiva (pressão) em uma

força aceitável (tensão).

Nota: pressão é um tipo de força que o tecido ósseo não consegue suportar. Tensão é

um tipo de força que estimula a formação óssea.

2. Os ligamentos periodontais aceitam várias direções das forças oclusais.

Quando o contacto de um dente é numa ponta de cúspide ou numa superfície

relativamente plana, a força resultante é dirigida através do longo eixo. (tipo de força

bem aceite e dissipado)

Quando um dente contacta numa vertente, a força resultante não é dirigida através do

seu longo eixo, mas é incorporado um componente horizontal, o qual tende a causar

deslocamento (firas do ligamento periodontal não estão alinhadas de forma a controlar

as forças horizontais, logo estas não são efetivamente dissipadas no osso.)

Carga axial: processo de dirigir as forças oclusais através do longo eixo do dente

Métodos para se conseguir a força axial:

Através do desenvolvimento dos contactos dentais entre superfícies perpendiculares ao

longo eixo do dente:

Cúspide/Fossa

Crista/Fossa

Método da tripodização: requer que cada cúspide que contacta uma fossa oposta esteja de

tal maneira desenvolvida que produza 3 contactos ao redor da ponta de cúspide verdadeira

Ambos os métodos eliminam forças fora do eixo, permitindo que o ligamento periodontal

receba efetivamente as forças potenciais de dano ao osso e possa reduzi-las.

Correto alinhamento dentário: Curvas de Spee e Wilson

Conclusão…

Contactos simultâneos, homogéneos e bilaterais de todos os dentes possíveis permitem uma

máxima estabilidade articular e uma mínima força aplicada em cada dente.

Construção do Critério para a Oclusão Funcional Ideal:

Contactos heterogéneos e simultâneos de todos os dentes possíveis quando os côndilos

mandibulares estão na sua posição mais antero-superior, apoiados nas vertentes posteriores

das eminências articulares, com os discos apropriadamente interpostos. Cada dente deve

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OKESON – CAPÍTULO 5: CRITÉRIOS PARA UMA OCLUSÃO FUNCIONAL IDEAL

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contactar de tal forma que as forças do fechamento sejam dirigidas através do longo eixo do

dente.

Revisão da ATM

A ATM permite excursões laterais e protrusivas, as quais permitem os dentes contactarem

durante diferentes tipos de movimentos excêntricos. Essas excursões laterais permitem que

forças horizontais (que não são bem aceites) sejam aplicadas aos dentes.

Sistema Quebra-Nozes:

À semelhança de um quebra-nozes, quando uma nós e colocada perto da dobradiça

(ATM) e da área das forças vetoriais (músculos masséter e pterigoideu medial) uma

força maior pode ser aplicada nos dentes posteriores do que nos dentes anteriores.

No entanto, enquanto o fulcro do quebra-nozes é fixo, o fulcro (ATM) do SE é livre.

Assim, quando forças pesadas são aplicadas a um objeto nos dentes posteriores, a

mandíbula é capaz de deslocar-se para baixo e para a frente com a finalidade de obter

o relacionamento oclusal que melhor desempenhe a tarefa desejada.

Esse movimento dos côndilos gera uma posição mandibular instável.

De maneira a estabilizar a mandíbula são acionados grupos musculares como os

pterigoideus laterais superiores e inferiores e os temporais

Assim:

As forças horizontais danosas dos movimentos excêntricos devem ser direcionadas para os

dentes anteriores, que estão posicionados mais longe do fulcro e forças vetoriais.

Como o total da força que pode ser colocada nos dentes anteriores é menor que aquela que

pode ser colocada nos posteriores, a probabilidade de colapso é minimizada

De todos os dentes, os caninos são os mais bem ajustados para receber as forças horizontais.

Porque:

Têm raízes mais compridas e maiores (melhor proporção coroa/raiz)

Estão envolvidos por osso denso e compacto (tolera melhor as forças do que os ossos

medulares que rodeiam os dentes posteriores)

Outra vantagem dos caninos está no impulso sensorial e no efeito que haverá nos músculos da

mastigação

Parece que menos músculos estão ativos quando caninos contactam durante

movimentos excêntricos do que quando contactam os dentes posteriores

Níveis menores de atividade muscular podem abrandar as forças aplicadas às estruturas

dentárias e articulares, diminuindo, assim, a patologia.

Conclusão…

Em movimentos laterotrusivos a guia mais favorável para aceitar forças com componentes

horizontais é a guia canina, devido:

Distância do fulcro

Proporção coroa raiz

Compactidade e densidade do osso

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OKESON – CAPÍTULO 5: CRITÉRIOS PARA UMA OCLUSÃO FUNCIONAL IDEAL

81

Atividade muscular diminuída

Outras guias para estes movimentos são: função de grupo posterior, função de grupo anterior

total ou parcial e guia anterior progressiva.

Resumo da Condição Oclusal Ideal

Condições que parecem ser as menos patogénicas para um grande número de pacientes por

um período de tempo maior:

1. Quando a boca fecha, os côndilos estão na posição mais antero-superior (posição músculo-

esquelética estável) apoiados nas vertentes posteriores das eminências articulares com os

discos propriamente interpostos.

Nesta posição, há contactos homogéneos e simultâneos entre o máximo número de dentes

possíveis (portanto, de todos os dentes posteriores e anteriores, sendo que estes

contactam mais levemente – oclusão mutuamente protegida

2. Todos os contactos oclusais dirigem as forças oclusais para o longo do eixo dos dentes

(durante o encerramento mandibular).

3. Quando a mandíbula se move numa posição laterotrusiva existem guias dentárias de

contacto no lado laterotrusivo (de trabalho) para desocluir o lado mediotrusivo (de

balanceio).

A guia mais favorável é a guia canina

4. Quando a mandíbula se move numa posição protrusiva existem contactos dentários

adequados dirigidos aos dentes anteriores para desocluir todos os dentes posteriores

5. Na posição habitual, os contactos entre os dentes posteriores são mais pesados do que os

contactos nos dentes anteriores.

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OKESON – CAPITULO #6

DETERMINANTES DA

MORFOLOGIA OCLUSAL

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OKESON – CAPÍTULO 6: DETERMINANTES DA MORFOLOGIA OCLUSAL

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DETERMINANTES DA MORFOLOGIA OCLUSAL

Quando saudável, a anatomia oclusal dos dentes funciona em harmonia com as estruturas

que controlam os movimentos da mandíbula (dinâmica mandibular);

Para se atingir a harmonia é necessário: (1) contactos oclusais homogéneos, (2) guias de

desoclusão e (3) ausência de prematuridades e interferências;

As estruturas que determinam os movimentos da mandíbula são:

ATMs (fatores de controlo posterior – influenciam o movimento da porção posterior da

mandíbula)

Dentes anteriores (fatores de controlo anterior – influenciam o movimento da porção

anterior da mandíbula)

Fatores de Controlo Posterior (Guia Condilar)

À medida que sai de RC, o côndilo desliza na eminência articular da cavidade glenoide.

Angulação da eminência articular:

Se a superfície for muito angulosa, o côndilo vai descrever um trajeto inclinado

verticalmente;

Se a superfície for mais plana, o côndilo descreve um trajeto menos inclinado

Ângulo de guia condilar:

Ângulo no qual o côndilo se move a partir de um plano horizontal de referência;

É geralmente maior quando a mandíbula se move lateralmente do que quando se

protrui para a frente (devido ao facto da parede mediana da fossa mandibular ser

geralmente mais angulosa do que a eminência articular da fossa anterior ao côndilo)

Guia Condilar:

Guia para a porção posterior da mandíbula fornecida pelas duas ATMs (responsáveis por

determinar o tipo de movimento mandibular posterior)

Considerada como um fator fixo pois é inalterável exceto em algumas condições (como

patologias, traumas ou cirurgias)

Fatores de Controlo Anterior (Guia Anterior)

Quando a mandíbula se protrui ou se move lateralmente, os bordos incisais dos dentes

inferiores ocluem com as superfícies palatinas dos dentes anteriores superiores.

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OKESON – CAPÍTULO 6: DETERMINANTES DA MORFOLOGIA OCLUSAL

85

A angulação destas superfícies lingual determina a quantia do movimento vertical da

mandíbula:

Se as superfícies forem muito angulosas, o aspeto anterior da mandibula descreve um

trajeto bem anguloso;

Se os dentes anteriores tiverem pouco trespasse vertical, ele vão fornecer pouca guia

vertical durante o movimento mandibular.

Guia Anterior:

Considerada como um fator variável;

Pode ser alterada por:

Procedimentos odontológicos (restaurações, ortodontia e extrações)

Condições patológicas (cáries, desgaste dentário)

Compreendendo os Fatores de Controlo

O movimento mandibular é determinado por:

Características anatómicas das ATMs (posteriormente)

Características anatómicas dos dentes anteriores (anteriormente)

A morfologia exata do dente é influenciada pelo trajeto que ele descreve sobre o dente ou

dentes opostos.

A relação do dente posterior com os fatores de controlo influencia o movimento preciso do

dente. Isto é:

Quanto mais perto o dente estiver da ATM, mais a anatomia articular e menos a

anatomia dos dentes anteriores vai influenciar os seus movimentos excêntricos;

Quanto mais perto o dente estiver dos dentes anteriores, mais a anatomia destes e

menos a anatomia da ATM vai influenciar o seu movimento;

As superfícies oclusais dos dentes posteriores consistem numa serie de cúspides com

dimensões verticais e horizontais. As cúspides são formadas por cristas convexas que variam

em angulação (dimensão vertical), e direção (dimensão horizontal)

O movimento mandibular tem dois componentes:

Componente Vertical – função do movimento súpero-inferior

Componente Horizontal – função do movimento antero-posterior

Ex: movimentos mandibulares

Se um côndilo se mover 2 unidades para baixo enquanto se move 2 unidades para a

frente, então ele movimenta-se num ângulo de 45° do plano horizontal de referência.

Se um côndilo se mover 2 unidades para baixo e 1 unidade para a frente, então ele

movimenta-se num ângulo de aproximadamente 64° do plano horizontal de referência.

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OKESON – CAPÍTULO 6: DETERMINANTES DA MORFOLOGIA OCLUSAL

86

Se a mandíbula se mover 4 unidades no plano horizontal e 0 unidades no plano

vertical, o resultado é um desvio horizontal de 0°.

Se a mandíbula se mover 4 unidades no plano horizontal e 4 unidades no plano

vertical, o resultado é um desvio horizontal de 45°.

Se a mandíbula se mover 4 unidades no plano horizontal, mas no plano vertical o fator

de controlo posterior (FCP) mover-se 4 unidades e o fator de controlo anterior (FCA)

mover-se 6 unidades, o resultado traduz-se num grau de movimento de 45° do FCP e

57° do FCA.

Os pontos entre esses fatores sofrem um desvio de diferentes valores do plano

horizontal consoante a sua proximidade com cada fator. Isto é, quanto mais perto

um ponto está do FCP, mais o seu movimento se vai aproximar de 45°. Da mesma

forma, quanto mais perto do FCA, mais o movimento se aproxima de 57°.

Um ponto equidistante vai mover-se no plano horizontal num ângulo de 51° (ângulo

intermédio).

Determinantes Verticais da Morfologia Oclusal

São os fatores que influenciam a altura das cúspides e a profundidade das fossas.

As cúspides cêntricas são desenvolvidas para desocluir durante os movimentos mandibulares

excêntricos, mas para contactar na posição de máxima intercuspidação.

Para tal acontecer, as cúspides devem ser longas q.b., para:

Contactar na posição de máxima intercuspidação

Mas não se contactarem durante os movimentos excêntricos

EFEITO DA GUIA CONDILAR (ÂNGULO DA EMINÊNCIA ARTICULAR) NA ALTURA DA CÚSPIDE

A descida do côndilo em relação a um plano de referência horizontal é determinada pela

angulação da eminência articular.

Quanto mais angulosa for a eminência, mais o côndilo é forçado a mover-se

inferiormente.

Isto resulta num maior movimento vertical do côndilo, da mandíbula e dos dentes

inferiores.

Quando o côndilo se afasta do plano horizontal de referência num ângulo de 45° (guia

anterior também a mover-se num ângulo de 45°), a cúspide do pré-molar inferior (A) vai-se

afastar do plano horizontal também num ângulo de 45°.

Para evitar um contacto excêntrico entre o pré-molar inferior (A) e o pré-molar superior (B)

num movimento protusivo, a inclinação da cúspide deve ter menos de 45°.

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OKESON – CAPÍTULO 6: DETERMINANTES DA MORFOLOGIA OCLUSAL

87

Quando as guias condilar e anterior se movem num ângulo de 60° do plano horizontal de

referência, o pré-molar inferior (A) vai-se afastar do pré-molar superior (B) num ângulo de

60°.

Resultado: cúspides mais longas

Assim:

Pode-se afirmar que um ângulo mais forte (maior) da eminência (guia condilar) vai provocar

um movimento mais vertical do côndilo, mandíbula e dentes, o que permite cúspides

posteriores mais altas.

EFEITO DA GUIA ANTERIOR NA ALTURA DA CÚSPIDE

Em relações anteriores que mantêm quantidades iguais de trespasse horizontal, constata-

se que à medida que o trespasse vertical aumenta, o ângulo (inclinação) da guia anterior

aumenta.

Em relações anteriores que mantêm quantidades iguais de trespasse vertical, constata-se

que à medida que o trespasse horizontal aumenta, o ângulo (inclinação) da guia anterior

diminui.

Como o movimento mandibular é afetado pela guia anterior, mudanças na transposição

vertical e horizontal dos dentes anteriores causam mudanças nas formas de movimento

vertical da mandíbula.

Assim:

Pode-se afirmar que:

Um aumento na transposição vertical cria um aumento no ângulo (inclinação) da guia

anterior, logo mais componentes verticais e cúspides posteriores mais altas.

Um aumento na transposição horizontal leva a uma diminuição do ângulo (inclinação) da

guia anterior, logo menos componentes verticais de movimento mandibular e cúspides

posteriores baixas.

EFEITO DO PLANO DE OCLUSÃO NA ALTURA DA CÚSPIDE

Plano de oclusão: linha imaginária que toca nos bordos incisais dos dentes ântero-superiores e

cúspides dos dentes póstero-superiores.

A relação do plano com o ângulo da eminência influencia a angulação das cúspides.

A influência do plano de oclusão pode ser vista quando se observa o movimento do dente

inferior em relação a este plano, em vez de ser em relação ao plano horizontal de referência.

Page 88: SEBENTA - cld.pt

OKESON – CAPÍTULO 6: DETERMINANTES DA MORFOLOGIA OCLUSAL

88

Quando as guias condilar e anterior produzem um movimento de um dente inferior de

45° em relação ao plano horizontal de referência, este movimento, quando comparado a

um plano oclusal pode corresponder a um ângulo diferente de movimentação do dente.

Quando um movimento de 45° é comparado a um plano de oclusão A, pode-se notar que o

dente se move do plano somente num ângulo de 25°, o que leva a necessidade de cúspides

posteriores mais planas, para que os dentes posteriores não se contactem;

Quando um movimento de 45° é comparado a um plano de oclusão B, pode-se notar que o

movimento para fora desse plano é de 60° o que leva a cúspides maiores.

Assim:

Pode-se afirmar que à medida que o plano de oclusão se torna quase paralelo ao ângulo da

eminência articular, as cúspides posteriores devem tender a ser mais curtas.

EFEITO DA CURVA DE SPEE NA ALTURA DA CÚSPIDE

Curva de Spee: curva ântero-posterior que se estende da ponta do canino inferior ao longo das

pontas das cúspides vestibulares dos dentes póstero-inferiores.

Curvatura da curva pode ser descrita em termos de comprimento do raio

(um raio mais curto, faz a curva mais aguda do que um raio mais longo)

O grau da curvatura da curva de Spee influencia a altura das cúspides posteriores que vão

funcionar em harmonia com o movimento mandibular.

Com um raio mais curto (curva mais aguda) as cúspides dos dentes posteriores poderão

ser mais altas.

A orientação da curva de Spee também vai influenciar na forma em que a altura da cúspide

de um dente posterior individual será afetada.

Numa curva em que o raio faça um ângulo de 90° com o plano horizontal de referência, os

molares (a distal do raio) vão ter cúspides menores, enquanto os pré-molares (a mesial)

vão ter cúspides mais longas.

Numa curva de Spee rotacionada anteriormente (isto é a concavidade ‘vira-se’ para

anterior) – B – todos os dentes posteriores (pré-molares e molares) terão cúspides mais

curtas;

Numa curva de Spee localizada posteriormente (isto é com a concavidade ‘virada’ para

trás) – C – os dentes posteriores (especialmente os molares) poderão ter cúspides mais

altas.

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OKESON – CAPÍTULO 6: DETERMINANTES DA MORFOLOGIA OCLUSAL

89

EFEITO DO MOVIMENTO MANDIBULAR DE TRANSLAÇÃO LATERAL NA ALTURA DA CÚSPIDE

Movimento Mandibular de Translação Lateral: deslocamento do corpo da mandíbula que

ocorre durante os movimentos laterais (movimento de Bennett)

Durante o movimento de excursão lateral, o côndilo orbitante move-se para baixo, para a

frente e para dentro da fossa mandibular ao redor dos eixos localizados no côndilo oposto

(que rotaciona).

O grau de movimento do côndilo orbitante para dentro é determinado por 2 fatores:

Morfologia da parede medial da fossa mandibular

Porção horizontal interna do ligamento temporo-mandibular (que se insere no polo

lateral do côndilo de rotação)

Se o ligamento temporo-mandibular for muito apertado e a parede medial muito próxima

do côndilo que rotaciona, será feito em torno do eixo de rotação do côndilo orbitante um

movimento somente de arco (não ocorre assim movimento mandibular de translação

lateral)

Quando há uma flacidez dos ligamentos temporo-mandibulares e a parede medial da

fossa permanece medial a um arco de ao redor do eixo de rotação do côndilo ocorre a

movimentação do côndilo orbitante para dentro da parede medial produzindo um

movimento de translação lateral.

O movimento de translação lateral tem 3 atributos:

Quantidade

Período

Direção

A quantidade e período são determinados:

Pelo grau em que a parede medial da fossa mandibular parte medialmente do arco em

torno do eixo do côndilo que rotaciona, i.e., pela distância do côndilo orbitante à

parede medial da cavidade articular;

Pelo grau de movimento lateral do côndilo de rotação permitido pelo ligamento

temporo-mandibular

Portanto:

Quanto maior a distância do côndilo à paredemaior é a quantidade de movimento de

translação lateral;

Quanto mais flácido o ligamento temporo-mandibular (ligado ao côndilo de rotação)

maior é o movimento de translação lateral.

A direção depende primariamente da direção tomada pelo côndilo que rotaciona durante o

movimento completo.

Page 90: SEBENTA - cld.pt

OKESON – CAPÍTULO 6: DETERMINANTES DA MORFOLOGIA OCLUSAL

90

Efeito da quantidade de movimento de translação lateral na altura da cúspide

(Quanto mais flácido for o ligamento e maior a distância do côndilo orbitante à parede medial

da cavidade articular, maior será a quantidade de movimento da translação da mandíbula.)

Assim:

À medida que aumenta o movimento de translação lateral, o desvio do corpo da mandíbula

determina que as cúspides posteriores sejam mais curtas, para permitir translação lateral sem

causar contactos entre os dentes posteriores superiores e inferiores.

Efeito da direção do movimento de translação lateral na altura da cúspide

A direção do deslocamento do côndilo de rotação durante o movimento de translação

lateral é determinada pela morfologia e inserções ligamentosas da ATM que sofre a rotação.

Além do movimento lateral, o côndilo de rotação pode também mover-se numa direção

superior, inferior, anterior ou posterior, podendo também ocorrer combinações entre si –

deslocamentos latero-superiores, latero-inferiores, latero-anteriores, latero-posteriores...

(o movimento ocorre dentro de um cone de 60°, ou menos, cujo vértice localiza-se no eixo

de rotação)

Movimento vertical do côndilo que rotaciona (p.e. movimentos superiores e inferiores):

Importante como determinante da altura da cúspide e profundidade da fossa

Um movimento latero-superior do côndilo de rotação requer cúspides posteriores

menores do que um movimento lateral

Um movimento latero-inferior do côndilo de rotação vai permitir cúspides posteriores

mais longas do que um movimento lateral

Efeito do período do movimento de translação lateral na altura da cúspide

(O período de movimento de translação lateral é uma função da parede medial adjacente ao

côndilo que rotaciona e da inserção do ligamento temporo-mandibular do côndilo de rotação)

Dos 3 (quantidade, direção e período), é o atributo que tem maior influência na morfologia

oclusal dos dentes posteriores.

Se o período ocorre muito tarde e as cúspides superiores e inferiores se encontram além

do limite funcional, a quantidade e direção do movimento terá pouca ou nenhuma

influência na morfologia oclusal.

Se o período ocorre muito cedo, a quantidade e direção do movimento irão influenciar a

morfologia oclusal

Deslocamento imediato: aquando de um movimento de translação lateral precoce, onde pode

ser observado um deslocamento antes mesmo de o côndilo começar a transladar a fossa.

Page 91: SEBENTA - cld.pt

OKESON – CAPÍTULO 6: DETERMINANTES DA MORFOLOGIA OCLUSAL

91

Deslocamento progressivo (ou movimento de translação lateral progressivo): quando ocorre

um deslocamento imediato em conjunção com um movimento excêntrico.

Quanto mais imediato o deslocamento menores serão os dentes posteriores.

Determinantes Horizontais da Morfologia Oclusal

Incluem as relações que influenciam a direção das cristas e sulcos nas superfícies

oclusais.

Influenciam a localização das cúspides, uma vez que durante os movimentos

excêntricos as cúspides deslizam entre as cristas e sobre os sulcos

Cada ponta de cúspide cêntrica gera ambos os trajetos laterotrusivo e mediotrusivo sobre os

dentes antagonistas.

Cada trajeto representa uma parte do arco formado pela cúspide ao rotacionar à volta do

côndilo de rotação.

Os ângulos formados por esses trajetos podem ser comparados e variam de acordo com a

relação do ângulo com as estruturas anatómicas

EFEITO DA DISTÂNCIA DO CÔNDILO ORBITANTE NA DIRECÇÃO DAS CRISTAS E SULCOS

Uma vez que a posição do dente varia em relação ao eixo de rotação da mandíbula (côndilo

de rotação/orbitante) ocorrem variações nos ângulos formados pelos trajetos latero e

mediotrusivos.

Quanto maior for a distância entre o dente e o eixo de rotação (côndilo de rotação),

maior será o ângulo formado pelos traçados latero e mediotrusivos.

Isto porque à medida que a distância aumenta, os ângulos aumentam devido aos

trajetos mandibulares estarem a ser gerados para medial e os maxilares para distal.

EFEITO DA DISTÂNCIA DO PLANO MEDIANO NA DIRECÇÃO DAS CRISTAS E SULCOS

À medida que o dente é posicionado além do plano médio-sagital, i.e., à medida que a

distância dos dentes ao plano mediano aumenta, os ângulos formados pelos trajetos latero

e mediotrusivos aumentam.

Page 92: SEBENTA - cld.pt

OKESON – CAPÍTULO 6: DETERMINANTES DA MORFOLOGIA OCLUSAL

92

EFEITO DA DISTÂNCIA DO CÔNDILO ORBITANTE E DO PLANO MEDIANO NA DIRECÇÃO DAS

CRISTAS E SULCOS

A combinação das posições do dente em relação ao côndilo de rotação/orbitante e em

relação ao plano mediano é o que determina o trajeto exato das pontas das cúspides

cêntricas.

Supostamente…

O posicionamento do dente numa distância maior do côndilo de rotação, mas perto do

plano médio-sagital faria com que o último determinante anulasse o efeito do primeiro.

O maior ângulo entre os trajetos latero e mediotrusivos seria gerado pelos dentes

colocados na arcada dentária a uma boa distância de ambos

Os menores ângulos seriam gerados pelos dentes mais próximos tanto do côndilo

orbitante como do plano mediano

No entanto…

Devido à curvatura do arco dentário, pode-se observar o seguinte:

Conforme a distância do dente ao côndilo de rotação aumenta, a sua distância ao plano

mediano diminui;

Mas, como a distância ao côndilo de rotação aumenta mais rapidamente do que a

diminuição da distância ao plano médio-sagital, os dentes em direção à região anterior

(ex: pré-molares) terão ângulos maiores entre os trajeto latero e mediotrusivos do que os

dentes localizados mais posteriormente (ex: molares)

EFEITO DO MOVIMENTO MANDIBULAR DE TRANSLAÇÃO LATERAL NA DIRECÇÃO DAS

CRISTAS E SULCOS

À medida que a quantidade de movimento de translação lateral aumenta, o ângulo entre

os trajetos latero e mediotrusivos gerados pelas pontas das cúspides cêntricas aumenta.

A direção para qual o côndilo de rotação se desloca durante o movimento de translação

lateral influencia a direção dos trajetos latero e mediotrusivos e dos ângulos resultantes.

Se o côndilo de rotação se deslocar numa direção lateral e anterior, o ângulo entre os

trajetos vai diminuir tanto nos dentes superiores como nos inferiores;

Se o côndilo de rotação se deslocar numa direção lateral e posterior, os ângulos

resultantes vão aumentar.

EFEITO DA DISTÂNCIA INTERCONDILAR NA DIRECÇÃO DAS CRISTAS E SULCOS

À medida que a distância intercondilar aumenta, a distância entre o dente e o côndilo na

configuração da arcada aumenta

Page 93: SEBENTA - cld.pt

OKESON – CAPÍTULO 6: DETERMINANTES DA MORFOLOGIA OCLUSAL

93

Tende a causar ângulos maiores entre os trajetos latero e mediotrusivos

No entanto…

À medida que a distância intercondilar aumenta, a distância entre o dente e o plano

mediano diminui em relação à distância entre o plano médio-sagital e o côndilo que

rotaciona.

Tende a diminuir os ângulos formados

Este último fator anula a frequência do primeiro a ponto de o efeito real aumentar a distância

intercondilar e diminuir o ângulo entre os traçados latero e mediotrusivos

Porém, esta diminuição é mínima, frequentemente, logo o efeito da distância intercondilar é o

menos influenciável dos determinantes.

Conclusões…

Compreender a relação entre as diversas estruturas anatómicas do SE conduz à compreensão

do seu funcionamento;

A Morfologia Dentária não é um acaso mas sim característica de cada indivíduo e permite

inferir acerca de diversas características funcionais e anatómicas das ATM’s.

Page 94: SEBENTA - cld.pt

OKESON – CAPÍTULO 6: DETERMINANTES DA MORFOLOGIA OCLUSAL

94

Resumindo…

Determinantes verticais da morfologia oclusal (altura da cúspide e profundidade da fossa)

Fator Condição Efeito

Guia condilar

Quanto maior a angulação Mais altas as cúspides post.

Guia anterior

Quanto maior o trespasse vert. Quanto maior o trespasse horiz.

Mais altas as cúspides post. Mais baixas as cúspides post.

Plano de oclusão

Quanto mais paralelo à guia condilar

Mais baixas as cúspides post.

Curva de Spee

Quanto mais aguda Mais baixas as cúspides mais post.

Movimento de translação lateral Quanto mais superior o movim. de rotação do côndilo

Quanto maior o deslocamento

Mais baixas as cúspides post. Mais baixas as cúspides post.

Determinantes horizontais da morfologia oclusal (direção das cristas e sulcos)

Fator Condição Efeito

Distância do côndilo de rotação

Quanto maior a distância Maior o ângulo entre os trajetos latero e mediotrusivos

Distância do plano médio-sagital

Quanto maior a distância Maior o ângulo entre os trajetos latero e mediotrusivos

Movimento de translação lateral

Quanto maior o movimento Maior o ângulo entre os trajetos latero e mediotrusivos

Distância intercondilar

Quanto maior a distância Menor o ângulo entre os trajetos latero e mediotrusivos

Page 95: SEBENTA - cld.pt

AULAS – ANEXO #1

EMBRIOLOGIA DO SE

Page 96: SEBENTA - cld.pt

AULAS – ANEXO 1: EMBRIOLOGIA DO SE

96

EMBRIOLOGIA DO SE – CRESCIMENTO E FORMAÇÃO DA OCLUSÃO

Ontogenia: estudo da formação e desenvolvimento do indivíduo, em todas as fases da sua

evolução

Filogenia: ciência que estuda a evolução pela qual as formas vivas se vão modificando, através

dos tempos, para produzirem outras cada vez mais complexas

Ontogenia

As primeiras semanas do desenvolvimento

Etapas:

Fecundação

Divisão celular e diferenciação

Formação das 3 camadas germinativas:

Ectoderme

Mesoderme

Endoderme

Formação da placa neural (dia 18)

Formação do tubo neural a partir da placa neural (dia 22)

Formação da membrana buco-faríngea através de 2 depressões que ocorrem na ectoderme

(semana 3)

Organogénese (semana 4)

Das 3 camadas germinativas formadas, a mesoderme vai dar origem a 3 porções:

Mesoderme lateral

Mesoderme intermédia

Mesoderme paraxial

(desta ultima originam-se os sómitos que vão dar origem aos músculos estriados da face,

mandíbula e pescoço)

Desenvolvimento dos maxilares e da ATM

Mandíbula:

Ocorre na 6ª semana com o aparecimento da cartilagem de Meckel*

Forma-se a partir do arco mandibular pela fusão dos processos mandibulares

Ossificação membranosa/endocondral: cartilagens secundárias (condiliana, coronóide e as

da sínfise)

Page 97: SEBENTA - cld.pt

AULAS – ANEXO 1: EMBRIOLOGIA DO SE

97

Nota: Cartilagem de Meckel

Porção média: degenera

Extremidades posteriores: originam martelo e bigorna

Extremidades anteriores: intervêm na formação endocondral da sínfise mandibular

2/3 anteriores: dão suporte para a ossificação intra-membranosa da mandíbula

Maxila:

Formada a partir da fusão dos processos maxilares e processos fronto-nasais (influenciada

pelas cavidades orbital, nasal e oral)

ATM:

Formada por volta da 7ª semana;

Cavidades articulares com origem nas fissuras do mesênquima existente entre o côndilo e o

osso temporal

Disco articular com origem na faixa de mesênquima entre as fissuras

Estruturas da articulação com origem em dois blastemas diferentes:

Côndilo:

Cartilagem condilar

Aponevrose do músculo pterigoideu lateral

Disco

Elementos capsulares da articulação inferior

Temporal:

Estruturas da articulação superior

Desenvolvimento dentário

6ª/7ª semana (fase de botão)

Primeiros sinais

Desenvolvimento da região mandibular anterior do embrião

8ª semana

A partir desta altura os dentes começam-se a desenvolver

11ª semana (fase de capuz)

Constitui-se o folículo e gérmen dentário

14ª semana (fase de campânula)

Gérmen dentário cresce

18ª semana

Formação dos tecidos duros do dente

Origem embrionária dos músculos

M. faciais, mastigatórios e laringofaríngeos: mesênquima dos arcos braquiais

M. Trapézio e ECM: massa muscular pós-braquial

Page 98: SEBENTA - cld.pt

AULAS – ANEXO 1: EMBRIOLOGIA DO SE

98

M. da língua: sómitos occipitais

Crescimento e desenvolvimento dos ossos da face

Consiste de 2 etapas principais:

Aumento de tamanho e remodelação

Reabsorção/deposição óssea

Deslocamento

Crescimento e expansão de músculos, epitélios e tecido conjuntivo

Membranas osteogénicas e cartilagem

Filogenia

Anatomia evolutiva dos vertebrados

Peixes:

Maxilares já com verdadeiros dentes e que guiam o movimento para a frente;

Boca com grande abertura

Anfíbios:

Invasão terrestre

Menos ossos no maxilar inferior (–> audição)

Articulação: osso articular (7 pequenos ossos) do maxilar inferior/quadrado do crânio

Répteis:

Ossos do crânio semelhantes aos ancestrais anfíbios

Dentes de estrutura complexa

Adaptações relacionadas com a dieta

Articulação: articular*/quadrado

(*articular: único elemento do maxilar inferior que é cartilagíneo; deriva da Cart. de Meckel)

Anatomia evolutiva dos mamíferos

Aumento gradual no tamanho do maxilar inferior

Maior simplicidade (apenas 1 osso que se articula com o osso escamoso)

Mandíbula estende-se para trás –> nova articulação

Aparecimento do ouvido

Separação da respiração e deglutição

Lábios verdadeiros e glândulas salivares complexas

Aparecimento do masséter –> aumento da força aplicada e estabilidade

Menos dentes e menor numero de substituições –> dentes mais complexos

Page 99: SEBENTA - cld.pt

AULAS – ANEXO 1: EMBRIOLOGIA DO SE

99

Carnívoros:

Caninos grandes e com diastema (para permitir oclusão)

Músculos mastigatórios desenvolvidos

Movimento de lateralidade reduzido ao mínimo (mas não completamente eliminado)

Movimentos simples de charneira (côndilo cilíndrico)

Côndilo fortemente suportado por arestas ósseas –> impede o deslocamento da mandíbula

durante a fixação da presa pelos caninos.

Herbívoros:

Mastigação prolongada

Alguns são ruminantes

Alguns animais (vaca, ovelha) sem incisivos superiores

Os caninos são pequenos (não impedem os movimentos da mandibula)

Dentes posteriores funcionam como mós

Faces oclusais são achatadas e roçam os antagonistas durante os movimentos horizontais

Omnívoros:

Capacidade para comer uma variedade de dietas

Todos os dentes têm tamanho semelhante

A arcada dentária é contínua, sem diastemas

ATM: articulação plana e cápsula espessa –> permite uma grande resistência e uma ampla

variação de movimentos

Homo Sapiens:

Com o desenvolvimento da cozinha deixa de ser necessária uma boa dentição

Os maxilares tornam-se menos robustos e os dentes mais pequenos

Têm uma maior capacidade craniana

A testa é alta e a abertura nasal pequena

Breve Reflexão…

! As forças que deram forma ao nosso sistema mastigatório funcionaram durante milhões

de anos e durante toda a evolução pode-se observar que a função e a forma estiveram

sempre associados.

! Filogeneticamente, a mandibula exibiu sempre uma grande plasticidade durante o

crescimento e adaptação.

CRESCIMENTO E FORMAÇÃO DA OCLUSÃO

A relação entre forma e função é evidente desde a vida fetal e nascimento:

▫ Vida intra-uterina

Sucção do polegar

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AULAS – ANEXO 1: EMBRIOLOGIA DO SE

100

▫ Nascimento

Choro

Alimentação líquida

Sucção

SE adaptado à função

Deglutição Infantil ou Visceral

Baseada num reflexo não condicionado, dirigido pelo nervo facial

A mandíbula é estabilizada pela interposição da língua

Músculos: orbicular dos lábios, bucinador e músculos da língua

Características do SE

Retrognatismo mandibular

Tubérculo zigomático pouco desenvolvido

SE adaptado a movimentos de abertura/encerramento e protrusão

(praticamente não existe lateralidade)

Movimentos antero-posteriores

Ausência de peças dentárias

Padrões de movimento horizontal e não repetível (não existem guias no movimento)

Plano oclusal ao nível da ATM

Padrões de movimento horizontal: antero-posterior

ATM como guia do movimento mandibular

Modela a futura forma dos arcos dentários – Curvas de Spee e de Wilson

Disco com forma uniforme (anterior e posterior) adaptando-se as superfícies articulares

Dentição Temporária

As necessidades metabólicas aumentam (a dieta líquida passa a semi-sólida e a sólida)

Os processos digestivos são favorecidos (maior variedade de nutrientes e maior tempo de

absorção intestinal)

Erupção dos incisivos (6 meses): ponto mais importante na organização dos futuros contactos

oclusais:

Tripoidia oclusal – estabilidade mandibular

Os contactos entre incisivos superiores e inferiores auto induzem os côndilos a uma posição

estável e de equilíbrio – relação cêntrica

Permite a repetibilidade dos movimentos – guia anterior da posição mandibular

Permite padrões verticais de mastigação

Determinam uma DV anterior

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AULAS – ANEXO 1: EMBRIOLOGIA DO SE

101

Nota: Características da dentição

Relação corono-radicular de 1:3

(resistência às forças de lateralidade produzidas pelos movimentos horizontais)

Facetas adaptativas

(alinhamento tridimensional – Flor de Lis)

Erupção dos molares:

Maior área oclusal (manutenção da DV – DV posterior)

Erupção dos caninos: dentição completa aos 2 anos

Proteção da ATM nos movimentos de lateralidade (lado de trabalho) – guia canina

Posição dentária perpendicular ao plano oclusal

Axialidade na transmissão das forças

Aumento do número de dentes:

Descida do plano oclusal (para baixo e para a frente)

Transição para a dentição mista:

Verifica-se a existência de um sistema para a abrasão e estímulo dos centros de crescimento

Ciclos mastigatórios horizontais

Menor quantidade e qualidade de esmalte

▫ Facetas adaptativas

Hiperatividade muscular

▫ Dieta sólida – HC

Bruxismo noturno fisiológico

▫ Abrasão dos caninos – perda da guia canina

▫ Guia feita à custa da cúspide disto-vestibular do 2º molar

▫ Função de grupo

▫ Oclusão balanceada bilateral

Oclusão Balanceada Bilateral:

Potencia padrões horizontais de movimento (estimula o crescimento e desenvolvimento

dos maxilares através do bruxismo noturno fisiológico)

Arredonda as cúspides dos molares definitivos (que quando erupcionam são agudas) –

facetas adaptativas – permitindo o alinhamento tridimensional

Estimula os centros de crescimento pela ação dos masséteres

Faz da ATM a guia nos movimentos excêntricos (o que vai modelar as curvas dos dentes

permanentes – Curvas de Spee e Wilson)

Produz movimentos laterais que desgastam a posição próxima de topo a topo da erupção

dos dentes anteriores (7 anos)

Page 102: SEBENTA - cld.pt

AULAS – ANEXO 1: EMBRIOLOGIA DO SE

102

Dentição Mista

1ª Etapa:

1º Molar permanente

Incisivos

2ª Etapa:

Pré-molares

Função de Grupo

3ª Etapa:

2º Molar permanente

Função de Grupo

Curva de Wilson formada

Erupção do 1º Molar permanente:

Melhor estabilização da oclusão

Manutenção da DV após a exfoliação do 2º Molar temporário

Aumento da capacidade de gerar a Curva de Wilson

Função de Grupo:

Erupção dos pré-molares: a ausência de mecanismos de desoclusão dos dentes posteriores

possibilita interferências fisiológicas que alinham os pré-molares

Erupção dos 2º molares: maior área oclusal (zona de máxima potência muscular) –

proteção da ATM pelos molares e pré-molares nos movimentos de lateralidade (Função de

Grupo Posterior)

O canino durante 2 anos participa na FGP até calcificar totalmente o seu apéx (demora 3

anos)

Após a calcificação do canino –> plus do canino –> desoclusão canina (15 anos)

Dentição Definitiva

ATM: simultaneamente com o final do desenvolvimento da oclusão dentária, atinge as

características de articulação adulta

Músculos: os dentes inclinam os seus eixos para assimilar as resultantes dos grupos

musculares.

Page 103: SEBENTA - cld.pt

AULAS – ANEXO #2

MORFOLOGIA DENTÁRIA

FUNCIONAL

Page 104: SEBENTA - cld.pt

AULAS – ANEXO 2: MORFOLOGIA DENTÁRIA FUNCIONAL

104

MORFOLOGIA DENTÁRIA FUNCIONAL

Anatomia Dentária Aplicada

Lamark: A função faz o órgão (função –> anatomia)

Darwin: A relação entre função e forma é biunívoca (função <–> anatomia)

Exemplos da relação Forma/Função em SE’s

Carnívoros:

Movimentos de charneira;

Processo coronoide impede movimentos de lateralidade;

Dentes são curvos e volumosos;

Não existe guia canina;

Não há trituração (–> poderosos ácidos gástricos).

Ruminantes:

Amplos movimentos de circunvolução;

ATM permite grandes movimentos de lateralidade;

SE bem adaptado à trituração de cereais – cápsula celulose;

Salivação é abundante.

Humanos:

Alimentação omnívora.

O Dente no seu Contexto Biológico e Biomecânico

DENTES NO GERAL

Constituição

O dente é constituído por:

Coroa

Anatómica (CA)

Cirúrgica (CC)

Raiz (R)

Sulco gengival (SG)

Colo dentário (CD)

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AULAS – ANEXO 2: MORFOLOGIA DENTÁRIA FUNCIONAL

105

Orientação

Faces:

Vestibular (V)

Lingual/Palatina (L/P)

Interproximais:

Mesial (M)

Distal (D)

Oclusal (O)

Ângulos:

Mesio-vestibular

Mesio-lingual/palatino

Disto-vestibular

Disto-lingual/palatino

Ocluso-mesial

Ocluso-distal

Ocluso-vestibular

Ocluso-distal/palatino

Características gerais

Faces vestibulares e linguais/palatinas

Convexas (exceto face L/P dos incisivos e caninos)

Convergentes para incisal/oclusal

Faces mesiais e distais

Convexas (com ligeira concavidade para cervical do ponto de contacto)

Convergentes para cervical

Ponto de contacto

No espaço interproximal ou ameia interdentária

Desloca-se de incisal/oclusal para cervical à medida que avança para distal na arcada

Linha cervical

Faces V e L/P: concavidade para incisal/oclusal

Faces M e D: concavidade para cervical

Quanto mais anterior o dente, mais acentuadas as curvaturas

Cúspides primárias/de contenção cêntrica: vestibulares inferiores e palatinas superiores

Cúspides secundárias/de balanceio: vestibulares superiores e linguais inferiores

Outras generalidades:

Área coronária

Área radicular

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AULAS – ANEXO 2: MORFOLOGIA DENTÁRIA FUNCIONAL

106

Ancoragem:

Em profundidade

À superfície

Forças horizontais

Forças verticais

Relação corono-radicular

Relação mecânica entre 2 porções segundo os princípios dos braços de alavanca;

Varia consoante:

▫ Tipo de dente: caninos (P) ≠ molares (P) ≠ molares (d)

▫ “Estado” do dente: normal ≠ com patologia/parafunção ≠ restaurado ≠ restaurado com

periodontite

Formas radiculares

Transmissão de forças aos pontos de maior resistência óssea

Vetores das forças musculares

Características de Grupos

INCISIVOS

Incisivos superiores

▫ Todas as faces com silhueta triangular;

▫ Face V com 3 lóbulos verticais e 2 sulcos;

▫ Face P com cristas marginais (mesial e distal), cíngulum e foramen cecum/sulco vertical;

▫ Bordo incisal inclinado de baixo para cima e de mesial para distal, com 3 mamelões;

▫ Ângulo distal mais arredondado que o mesial.

Incisivos superiores – Características diferenciais:

▫ Diâmetro vertical ligeiramente menor no lateral;

▫ Diâmetro horizontal muito menor no lateral;

▫ Cristas marginais mesial e distal mais marcadas no lateral;

▫ Foramen cecum mais frequente no lateral;

▫ Ângulo mesial mais agudo no lateral;

▫ Ângulo distal mais arredondado no lateral.

Incisivos inferiores

▫ Faces V e L estreitas (L mais estreita que V);

▫ Face V com 3 lóbulos verticais e 2 sulcos;

▫ Face L com cristas marginais (mesial e distal) pouco acentuadas, cíngulum pouco acentuado e

foramen cecum inexistente;

▫ Bordo incisal reto e sem inclinação, com 3 mamelões;

Incisivos inferiores – Características diferenciais:

▫ Lateral é maior que o central;

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AULAS – ANEXO 2: MORFOLOGIA DENTÁRIA FUNCIONAL

107

▫ Bordo incisal do lateral mantém-se sempre horizontal enquanto que o do central, por

desgaste, assume uma inclinação contrária à dos incisivos superiores (de cima para baixo e

de mesial para distal).

CANINOS

Caninos superiores e inferiores

▫ Forma semelhante a uma lança;

▫ Face V com 3 lóbulos e 2 sulcos, bem marcados;

▫ Face L/P com cristas marginais e cíngulum bem salientes;

▫ Bordo distal mais baixo;

▫ Bordo livre em forma de V, com a porção mesial mais curta;

▫ Vértice da cúspide arredondado e deslocado para mesial.

Caninos superiores e inferiores – Características diferenciais:

▫ Face V menos globulosa, mais estreita e mais alta no inferior;

▫ Face L/P com detalhes menos marcados no inferior (nunca tem foramen cecum);

▫ Diferença da altura dos bordos mesial e distal é mais acentuada no inferior;

▫ Bordo livre mais assimétrico no inferior;

▫ Vértice da cúspide mais deslocado para mesial no inferior.

Nota: Pré-molares e molares

Mesa oclusal

Vertentes:

Lisas

Triturantes

PRÉ-MOLARES

Pré-molares superiores

▫ Forma cuboide;

▫ Face V com 3 lóbulos e 2 sulcos, pouco nítidos;

▫ Face P lisa e muito convexa;

▫ Faces M e D com bossa no 1/3 oclusal e depressão no 1/3 cervical;

▫ Face O com forma de trapézio de base maior vestibular;

▫ 2 cúspides, sendo a vestibular mais forte que a lingual;

▫ Sulco principal retilíneo situado mais para lingual, que termina nas fossetas marginais mesial

e distal.

Pré-molares superiores – Características diferenciais:

▫ Face V um pouco menos alta no 1º PM;

▫ Face P com a mesma altura da face V no 2ºPM;

▫ Sulco na face O divide-a em 2 partes iguais no 2º PM

▫ Cúspides vestibular e lingual de igual tamanho no 2º PM.

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AULAS – ANEXO 2: MORFOLOGIA DENTÁRIA FUNCIONAL

108

Pré-molares inferiores

▫ Coroa inclinada no sentido lingual;

▫ Face V com 3 lóbulos e 2 sulcos, pouco nítidos;

▫ Face L lisa, pequena e convexa;

▫ Faces M e D semelhantes aos PM superiores (mais largas do que altas);

▫ 2 cúspides, sendo a lingual metade do tamanho da vestibular;

▫ Sulco pouco acentuado, situado mais para lingual, arredondado com convexidade lingual (U);

▫ Pequenos sulcos mesial e distal.

Pré-molares inferiores – Características diferenciais:

▫ 1º PM muito menos volumoso que o 2º PM;

▫ Coroa do 2º PM menos inclinada para lingual;

▫ Diferença de tamanho entre as cúspides vestibular e lingual é menos acentuada no 2º PM;

▫ 2º PM pode ter 3 cúspides (1 vestibular e 2 linguais);

▫ Sulco intercuspidiano pode ser em Y ou em H no 2º PM.

Pré-molares superiores e inferiores – Características diferenciais:

▫ 1º PM superior > 2º PM superior; 1º PM inferior < 2º PM inferior;

▫ PM inferiores têm coroa inclinada para lingual;

▫ PM superiores têm a face V menos oblíqua e a face P mais oblíqua;

▫ PM inferiores têm a face L vertical ou ligeiramente inclinada para lingual;

▫ PM superiores têm sulco retilíneo enquanto que os PM inferiores têm sulcos arredondados.

Nota: Molares

Sistema Sulcular:

Sulcos principais

Sulcos secundários

Sulcos de escape

Fossetas:

Central

Marginais

MOLARES

Molares superiores

▫ Face V com 2 lóbulos (mesial maior) e 1 sulcos

▫ Face P apresenta o lóbulo mesial mais largo que o distal;

▫ Face O com forma de paralelogramo (bordo lingual o mais longo), com 3 sulcos, 3 fossetas e

2 cristas marginais;

▫ 4 cúspides (2 vestibulares e 2 linguais);

▫ Ponte de esmalte (liga a cúspide MP à DV)

▫ Bordo livre vestibular em forma de 2 V’s abertos.

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AULAS – ANEXO 2: MORFOLOGIA DENTÁRIA FUNCIONAL

109

Molares superiores – Características diferenciais:

▫ 2º M menor que o 1º M;

▫ 1º M apresenta saliência no lóbulo mesial da face P no 1/3 oclusal – tubérculo de Carabelli;

▫ No 2º M as cúspides palatinas são ainda mais salientes a nível oclusal que as vestibulares;

▫ Cúspide MP muito mais pequena no 2º M.

Molares inferiores

▫ Face V com lóbulos, descendentes de tamanho para distal, divididos pelos sulcos de escape;

▫ Face L com lóbulo mesial mais largo que o distal;

▫ Face O com forma de trapézio de base maior vestibular com 4 sulcos, 2+3 fossetas e 2 cristas

marginais;

▫ 5 cúspides para o 1º M e 4 cúspides para o 2º M;

▫ Bordo livre vestibular em forma de V’s abertos.

Molares inferiores – Características diferenciais:

▫ 2º M é mais pequeno;

▫ Face V do 2º M com 2 lóbulos e 1 sulco;

▫ Face L tem o lóbulo mesial mais largo que o distal;

▫ Face O do 2º M tem 2 sulcos e 2+1 fossetas

Molares superiores e inferiores – Características diferenciais:

▫ Coroa dos M superiores apresenta inclinação vestibular e a dos inferiores inclinação lingual;

▫ Diâmetro VL é maior que o MD nos M superiores;

▫ Face O dos M superiores assemelham-se a um paralelogramo, enquanto que as dos M

inferiores se assemelham a um retângulo;

▫ M superiores apresentam a ponte de esmalte (CMP – CDV)

(continuação da aula – ver capítulo #3)

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AULAS – ANEXO #3

GUIA ANTERIOR

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AULAS – ANEXO 3: GUIA ANTERIOR

112

A IMPORTÂNCIA DA GUIA ANTERIOR NO SE

Guia Anterior: mecanismo de desoclusão que utiliza os dentes anteriores

DESENVOLVIMENTO DA OCLUSÃO E FORMAÇÃO DA GUIA ANTERIOR

Nascimento:

SE adaptado sobretudo a movimentos antero-posteriores

Erupção dos incisivos decíduos (6 meses):

Formação do 1º tripé oclusal formada por ambas as ATMs e pelos dentes anteriores;

Centricidade mandibular (permite que a oclusão e a desoclusão sejam definidos, isto é, que

ocorram sempre da mesma maneira);

Modificação dos padrões cinemáticos;

Início da formação da eminência articular (como consequência dos movimentos verticais)

Dentição decídua completa (± 2 anos)

Oclusão Balanceada Bilateral*

Guia Canina (Oclusão Mutuamente Protegida)

Relação corono-radicular:

▫ Dentição decídua: 1/3

▫ Dentição permanente: 1/1

ATM: simultaneamente com o final do desenvolvimento da oclusão dentária, a ATM atinge

características da articulação adulta

Músculos: os dentes inclinam os seus eixos para assimilar as resultantes dos grupos

musculares

Guia canina decídua

Função de Grupo

Desgaste do esmalte do canino

decíduo (pouca quantidade e dureza)

Erupção dos PM (± 12 anos) (2ª etapa)

Formação da Curva de Wilson

Erupção dos 1ºs M e incisivos definitivos (1ª etapa)

Só existe quando ocorre calcificação do 1/3 apical da raiz – Flor de Liz

(caso contrário, não tem capacidade para suportar as forças)

Page 113: SEBENTA - cld.pt

AULAS – ANEXO 3: GUIA ANTERIOR

113

ANATOMIA

Em profundidade

Grupo anterior: ancoragem em profundidade resistência às forças laterais

Incisivos

▫ Bordo incisal – projeção do canal

▫ Crista marginal – diminuição das forças de atrito

(se não existissem as cristas a área de contacto era maior logo, maior atrito)

Caninos

▫ Oclusão mutuamente protegida

▫ Ferulização anatómica (a vertente distal do canino invagina na face medial do 1º PM, para

que as forças de desoclusão do canino sejam distribuídas pelo 1ºPM – por esta razão pensa-

se que o 1ºPM superior tenha 2 raízes por esta razão)

Zona Neutra

▫ Zona onde ocorre a estabilidade do dente;

▫ Há equilíbrio da musculatura peri-oral/língua;

▫ Inclinação, tonicidade e forma do lábio inferior influencia o alinhamento tridimensional de

todos os dentes antero-superiores;

▫ Caso o espaço seja inadequado, as forças musculares circundantes não são usualmente

suficiente para posicionar o dente no alinhamento devido na arcada, ocorrendo sobreposição

ALINHAMENTO TRIDIMENSIONAL

Incisivos laterais

São mais curtos para permitir a passagem dos caninos inferiores no movimento protrusivo

Pontos de contacto

▫ Na arcada: cervical <– incisal –> cervical

(vão se aproximando da linha cervical à medida que se caminha para distal)

▫ Na sua ausência:

1. Extrusão dos antagonistas

2. Migração dos adjacentes

3. Perda de pontos de contacto na arcada

4. Perda de contenções cêntricas (oclusão das cúspides cêntricas – de trabalho)

Pode levar a:

Abertura em leque do maxilar superior

Apinhamento mandibular

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AULAS – ANEXO 3: GUIA ANTERIOR

114

Curva de Spee (plano sagital)

Curva (de concavidade superior) anatómica estabelecida pelo alinhamento oclusal dos

dentes;

Desde a ponta da cúspide do canino inferior, passando pelas pontas das cúspides vest. dos

PM e M, continuando-se pelo bordo anterior do ramo mandibular e terminando na porção

mais anterior do côndilo mandibular;

É um determinante da morfologia oclusal (quanto mais acentuada a curva mais altas terão

que ser as cúspides posteriores)

Curva de Wilson (plano frontal)

Curva (de concavidade superior) desenhada através das pontas das cúspides vestibulares e

linguais dos dentes posteriores esquerdos e direitos.

Curvatura oclusal – Importância

Movimentos mandibulares sem interferências (contactos oclusais indesejados);

Eficiência mastigatória no lado de trabalho mantida;

Melhor distribuição das cargas axiais;

Proteção contra a sobrecarga nas ATMs.

A falta do alinhamento tridimensional da guia anterior pode causar problemas estéticos,

principalmente no maxilar superior, funcionais ou ambos

COMO FATOR DE DESOCLUSÃO

Sistema de Alavancas

(toda a mudança para alavanca do tipo I ou II provoca falta de desoclusão)

Alavanca Classe I:

Ponto de apoio à interferência do lado de trabalho, a potência c/ origem na força muscular

e a resistência está na ATM

Alavanca Classe I:

Ponto de apoio é a ATM, a potência tem origem na força muscular e verifica-se resistência

nas peças dentárias do lado de não trabalho com perda óssea

O fulcro é livre de se mover, assim as forças pesadas são aplicadas a um objeto nos dentes

posteriores; a mandíbula é capaz de se deslocar para baixo e para a frente com o objetivo

de obter o relacionamento oclusal que melhor desempenha a tarefa desejada

A mandibula funciona como uma alavanca do tipo III:

Fulcro: ATM

Resistência: músculos

Resistência: dentes anteriores

Uma oclusão correta deve estar vinculada a uma desoclusão correta

Page 115: SEBENTA - cld.pt

AULAS – ANEXO 3: GUIA ANTERIOR

115

Guia anterior: dita a oclusão

ATM: guia passivo do movimento

(a guia ant é um fator de desoclusão mais importante que a ATM pela sua maior proximidade

com as peças posteriores a desocluir)

Ângulo de Desoclusão:

Trajetória Incisiva = Trajetória Canina + 5°

Permite que a guia canina induza uma guia condilar passiva

A guia anterior é aquela em que o ângulo de desoclusão é o mais pequeno possível capaz

de desocluir os dentes posteriores, para que os dentes anteriores nos movimentos

excursivos sofram o menor atrito possível e forças laterais muito menores

Em desdentados, diminui devido ao desgaste da ATM, que passa a ser a responsável por

guiar os movimentos da mandíbula

Oclusão mutuamente protegida

No encerramento mandibular, os dentes posteriores devem contactar com mais força, de

forma a protegerem os dentes anteriores do impacto oclusal

Aos dentes anteriores cabe a função de guiar a mandíbula e desocluir os dentes posteriores

durante os movimentos excursivos

Tipos de Guia

Lateralidade:

Função de grupo anterior total

(incisivos centrais, incisivos laterais*, caninos)

Função de grupo anterior parcial

(incisivos laterais*, caninos)

Função de grupo posterior

(caninos, pré-molares e, por vezes, cúspide MV do 1º molar superior)

Guia canina

Protrusão:

Contactos bilaterais e simultâneos

Grupo incisivo: suporta a oclusão

(incisivos centrais, incisivos laterais*)

Guia progressiva anterior: caninos iniciam a protrusão e a desoclusão final passa para o

grupo incisivo

*só no início do movimento

Porquê a Guia Canina?

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AULAS – ANEXO 3: GUIA ANTERIOR

116

Porque é a melhor para aceitar forças horizontais, devido:

1. Relação corono-radicular

2. Bossa canina (osso compacto)

3. Impulso sensorial*

4. Distância do fulcro e potência

*mecanismo de feedback periodontal necessita, nos caninos, de uma menor pressão para que

ocorra o reflexo inibitório dos neurónios motores dos músculos elevadores do que a função de

grupo.

Quando utilizar a Função de Grupo?

Caninos afetados periodontalmente ou com mobilidade;

Caninos inclusos ou não suficientemente erupcionados;

Caninos em mordida cruzada

Vestibuloversões

Relações sagitais desfavoráveis

Altura funcional = Desoclusão Inicial1 + Desoclusão Final2

1Trajetória do incisivo inf. desde o seu ponto de acoplamento até metade da altura funcional

(deve criar um espaço nos dentes posteriores do lado de trabalho e do não trabalho); 2Trajetória desde metade da altura funcional até à posição de topo-a-topo

Assim…

A desoclusão inicial dos dentes anteriores corresponde à altura da área funcional dos

dentes posteriores;

A desoclusão final gera um verdadeiro espaço oclusivo (devendo gerar espaços uniformes

nos dentes posteriores do lado de trabalho)

Protrusão:

O movimento protrusivo com desoclusão inicial e final corretas gera marcas ininterruptas nas

áreas funcionais superiores

Os dentes antero-superiores sobrepõem os dentes antero-inferiores em quase ½ das coroas

inferiores

Falta de desoclusão inicial – pode ser devido a uma incorreta relação interoclusal

Falta de desoclusão final – pode ser devido a uma altura funcional insuficiente

COMO FATOR DE ESTABILIDADE DA ATM

Oclusão mutuamente compartida:

O grupo canino é, de todas as peças dentárias a que tem menor trespasse horizontal

Page 117: SEBENTA - cld.pt

AULAS – ANEXO 3: GUIA ANTERIOR

117

Assim…

É um guia passivo no movimento de encerramento mandibular;

Os dentes posteriores controlam esta posição;

A ATM necessita destes pilares guia para atingir a estabilidade

OUTRAS FUNÇÕES

Estética – Planeamento 1

Estética: conceito altamente subjetivo

▫ Depende de fatores sociais, culturais, psicológicos

▫ Varia com tempo, valores, idade do paciente

▫ Deve ter-se em conta as espectativas, personalidade, grau de exigência

(a perspetiva do doente pode ser diferente da do médico, logo deve ter-se em atenção as

espectativas no paciente, mas não comprometendo a função)

Estética – Planeamento 2

▫ Lábio em repouso e a boca entreaberta: avaliação da exposição dos incisivos superiores;

▫ Lábio em repouso e a boca entreaberta (foto de perfil): visualização do posicionamento dos

dentes e do volume dos lábios;

▫ Sorriso frontal: observação da altura e largura do sorriso, inter-relação dos bordos incisais

dos dentes superiores com o lábio inferior;

▫ Dentes em MIH, de canino a canino: avaliação do posicionamento e simetria entre os dentes

anteriores

▫ Com fundo escuro, avaliar as formas e os contornos dentários e verificar as proporções entre

os dentes anteriores;

▫ Fotografia em “close-up” dos incisivos superiores para registar pequenos detalhes, como a

textura, definição dos mamelões dentários, áreas de translucidez…

Estética – Planeamento 3

Modelos de estudo da arcada superior e inferior:

▫ Visualização tridimensional dos dentes e tecidos adjacentes (impossível clinicamente)

▫ Detalhes gengivais

▫ Posicionamento e inclinações

▫ Formas dentárias

▫ Relações dos dentes em conjunto e com os seus antagonistas

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AULAS – ANEXO 3: GUIA ANTERIOR

118

Estética – Planeamento 4

▫ Enceramento diagnóstico nos modelos de estudo

▫ Ensaios diagnósticos intra-orais (ou mock-up)

São importantes em pacientes com dificuldade em imaginar as possíveis modificações que

podem ser realizadas

Análise Facial

Considera-se o centro do lábio superior como referência ideal para determinação da linha

média facial do paciente

Análise Dento-Labial

Exposição dos dentes antero-superiores em repouso:

Varia entre 1-5mm

Depende:

Altura do lábio

Idade (> em jovens)

Sexo (> em mulheres)

Bordo incisal:

Pode ser:

Plano/inverso

Convexo sem contacto/com contacto/coberto

Linha do sorriso

Pode ser:

Baixa: exposição ≤ 75%

Média: exposição 75 - 100%

Alta: exposição ≥ 100% + gengiva de altura variável (sendo que é considerada muito

estética uma linha de sorriso alta e ± 1mm de gengiva e pouco estética com mais de

3mm de gengiva)

Corredor bucal

Pode ser:

Normal (6 a 8 dentes visíveis)

Estreito (10 dentes visíveis)

Ausente (12 a 14 dentes visíveis)

Linha incisiva VS linha interoclusal

Uma variação entre elas que se limite a 4mm, não é percetível nem aos pacientes nem aos

profissionais em geral

Page 119: SEBENTA - cld.pt

AULAS – ANEXO 3: GUIA ANTERIOR

119

Plano oclusal

Vista sagital: plano oclusal // plano de Camper

Vista frontal: plano oclusal // plano horizontal

Análise Gengival

Contorno da margem gengival

Zénit (ponto mais alto da parábola na margem gengival do dente – distal ao longo eixo do

dente)

Ponto de contacto dente/ dente – crista óssea

Ponto de contacto dente/ implante – crista óssea

Ponto de contacto implante/ implante – crista óssea

≤ 5mm 6mm 7mm ≤ 5mm 3-4mm

Presença de papila

100% 55% 25% 100% 100%

REABILITAÇÃO

Da teoria à prática…

Curva de Spee:

Raio 110mm: curva muito plana

Altura da coroa do posterior superior muito pequena

Raio 60mm: curva muito acentuada

Altura da coroa do posterior inferior muito pequena

Raio 75mm: curva permite harmonia entre as coroas dos dentes posteriores

PERSONALIZAÇÃO DA GUIA ANTERIOR

1. Levantar o pino incisal 1 a 2 mm e lubrificar com vaselina a ponta do pino;

2. Misturar a resina acrílica segundo as indicações do fabricante e coloca-la na mesa incisal;

3. Inserir o pino quando o acrílico está em fase plástica;

4. Realizar os movimentos excursivos da mandíbula (dentro dos limites fisiológicos) até à

presa final

5. Remover os excessos

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AULAS – ANEXO #4

DIMENSÃO VERTICAL DE

OCLUSÃO

Page 122: SEBENTA - cld.pt

AULAS – ANEXO 4: DIMENSÃO VERTICAL DE OCLUSÃO

122

DIMENSÃO VERTICAL – CONCEITOS ESTÁTICOS E DINÂMICOS

DVO: altura do andar inferior da face, quando os dentes (ou equivalente) se encontram em

máxima intercuspidação.

DVR: altura do andar inferior da face, quando a mandíbula se encontra na sua posição de

repouso, i.e., numa posição de equilíbrio tónico dos músculos do SE

(nota: a DVO corresponde à distância entre 2 pontos de referência na maxila e na mandíbula

em posição de máxima intercuspidação)

Perda de DVO

Etiologia

A perda da DVO pode ter origem por várias causas:

(Anomalias congénitas)

Não são necessariamente uma causa, mas sim um fator de risco (aumentam a probabili-

dade de processos cariosos que podem levar a ausência dentária. Per si, não é um

responsável pela perda de DVO)

Ex: hipoplasia do esmalte

Degaste dentário

Tem uma etiologia multifatorial*

Inclui o bruxismo

Ausências dentárias

Só ocorre perda da DVO quando há ausência de dentes posteriores até ao 2ºPM (ao

perder qualquer um dos molares há manutenção da DVO devido aos dentes anteriores e

pré-molares)

Falta de higiene

Problemas medicamentosos

*desgaste dentário – etiologia multifatorial:

▫ Stress (microfratura/abfração)

Endógeno: deglutição, oclusão, parafunção

Exógeno: mastigação, comportamentos ocupacionais, uso de aparelhos dentários

▫ Corrosão (degradação química)

Endógeno: placa, fluido gengival crevicular, fluido gástrico

Exógeno: dieta, exposições ocupacionais, uso de certas drogas ou álcool

▫ Fricção (desgaste)

Endógeno (atrição): deglutição, parafunção

Exógeno (abrasão): mastigação, higiene dentária, comportamentos ocupacionais, uso de

aparelhos dentários

Page 123: SEBENTA - cld.pt

AULAS – ANEXO 4: DIMENSÃO VERTICAL DE OCLUSÃO

123

Alguns conceitos…

Atrição: desgaste devido ao contacto dentário (exógeno), durante a função (mastigação) e a

parafunção (bruxismo)

Abrasão: desgaste provocado por agentes mecânicos (exógeno); ex: trauma por escovagem,

causas profissionais

Erosão: desgaste provocado por agentes químicos (exógeno ou endógeno); ex: bulimia

(endo), refrigerantes (exo)

Abfração: desgaste devido a forças horizontais nos dentes posteriores, que vão fazer pressão

(como os dentes posteriores estão inseridos no osso, essa pressão leva ao “lascamento” dos

dentes); situação devida ao atress

Classificação de Turner-Missirlian

Categoria 1: desgaste excessivo com perda de DVO

Restabelecer a DVO providencia o espaço necessário

Categoria 2: desgaste excessivo sem perda de DVO e com espaço disponível

(desgaste localizado)

Categoria 3: desgaste excessivo sem perda de DVO e espaço insuficiente

Se o aumento da DVO for insuficiente para criar espaço, este deve ser ganho através de

outras técnicas (alongamento coronário ou intrusão ortodôntica)

É devido à compensação fisiológica alveolar

Consequências

Alterações na estética facial (não são instantâneas)

Rugas labiais mais acentuadas;

Diminuição da espessura dos lábios (especialmente do superior);

Diminuição do 1/3 inferior da face;

Inversão das comissuras labiais –> queilite angular (acumulação de saliva, que pode

contribuir para a proliferação bacteriana);

Diminuição do tónus muscular –> aparência facial flácida/envelhecida;

Prognatismo relativo (processo de reabsorção óssea);

Acentuação do sulco naso-geniano.

Alterações funcionais

Deslocamento posterior da língua –> colapso dos tecidos faríngeos –> obstrução das

trompas de Eustáquio –> Interferências auditivas

Alterações psicológicas

DTM (desordens temporo-mandibulares)

Estará realmente a perda de DVO associada à DTM?

Page 124: SEBENTA - cld.pt

AULAS – ANEXO 4: DIMENSÃO VERTICAL DE OCLUSÃO

124

Síndrome de Costen, 1934

Perda de suporte posterior

Sintomatologia auditiva

Dor na região do seio maxilar

TÉCNICAS DE DETERMINAÇÃO DA DVO

▫ Thompson;

▫ Silverman

▫ Smith

▫ Willis

▫ Boyanov

▫ Deglutição

▫ Fonético

▫ Electromiografia

▫ Cefalometrias

▫ T.E.N.S.

▫ Cinesiologia VS Registos interoclusais

▫ Registos antigos

▫ Distâncias anatómicas de referência

▫ Avaliação máxima da força de mordida

▫ Dispositivos hidráulicos

Técnica de Thompson

DVO = DVR – ELI

Posição fisiológica de repouso mandibular:

Posição mandibular em que os músculos se encontram em contração isotónica

A sua medição ditará uma dimensão vertical de repouso (DVR)

Espaço livre interoclusal (ELI):

Não deve ser usado como um valor taxativo (deve-se ter em conta os vários fatores que

possam influenciar esta medida – hiperextensão, tensão, stress)

Valor médio na Classe I:

Thompson: 2mm

Pleasure: 3mm

Shanan, Batarec e Boss: 2-3 mm

Técnica da deglutição (DVR – em pacientes desdentados totais)

O paciente deglute e depois relaxa, permitindo a determinação da DVR

Técnica de Willis (DVR)

Ângulo externo do olho/comissura labial = subnasal/gnation

Técnica de Boyanov (DVR)

Distância entre as comissuras labiais (em repouso) = ponto labial superior/gnation

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AULAS – ANEXO 4: DIMENSÃO VERTICAL DE OCLUSÃO

125

Técnica de Silverman (DVR)

Pronúncia de sons sibilantes (‘s’) cria espaço mais fechado da fala: ± 1-2 mm entre os bordos

incisais dos dentes anteriores superiores e inferiores (quando a distância é superior a 2mm

significa que há uma diminuição da DVO)

Só serve como confirmação da DVO já medida

Exige sempre a presença de dentes

Não existe nenhum método absoluto para a determinação da DVO

Resultados Clinicamente Aceitáveis

(deve-se recorrer a várias técnicas e fazer uma média ponderada)

Aumento da DVO

O aumento da DVO tem sido associado a disfunções, ao aumento da velocidade de reabsorção

óssea em pacientes e trauma dos tecidos de suporte protéticos em pacientes edentulos como

resultado de um hipotético aumento de pressão sobre os mesmos.

Porquê?

Motivos estéticos

Motivos funcionais

Como?

Restaurações fixas provisórias em resina;

Restaurações em compósito;

Splints oclusais removíveis de resina acrílica;

Onlays metálicos (não se desgastam);

Próteses removíveis de resina acrílica construída sobre os dentes existentes.

Aumento Imediato VS Aumento Progressivo

A capacidade de adaptação do sistema a um aumento de DVO é variável;

A reabilitação deverá visar o equilíbrio estrutural e facilitar a adaptação fisiológica;

Se o aumento planeado for superior a 3mm, este deverá ser efetuado de forma gradual, de

forma a evitar dor, tensão ou espasmo muscular, descoordenação articular e outras

disfunções no SE;

Um novo aumento só deverá ser efetuado quando a total adaptação ao aumento prévio for

constatada (nota: variação individual)

Page 126: SEBENTA - cld.pt

AULAS – ANEXO 4: DIMENSÃO VERTICAL DE OCLUSÃO

126

Efeitos histológicos

Aumentando 2mm a DVO ocorrem as seguintes alterações nos músculos mastigadores:

(masséter e pterigoideu externo/lateral são os mais afetados)

Às 12h:

Ligeira hiperémia e edema com presença de algumas células inflamatórias no músculo

masséter profundo.

Dia 1:

Infiltrado severo de células inflamatórias constituído maioritariamente por neutrófilos e

linfócitos.

Dia 2:

É atingido o estado máx. de inflamação e degeneração das miofibras: masséter profundo;

Os outros músculos mastigatórios começam a ter leves sinais de inflamação.

Dia 7:

Infiltrado inflamatório diminui consideravelmente (masséter profundo);

Começa a ocorrer regeneração das miofibras (masséter profundo);

No pterigoideu lateral ainda persiste algum infiltrado inflamatório.

Dia 14:

Aparecimento de um grande número de fibras imaturas dando origem a um grande número

de fibras maduras;

Ausência completa de infiltrado inflamatório.

Dia 42-84:

Achados histológicos idênticos ao que eram antes de se aumentar a DV.

Assim…

O fator mais importante para minimizar os efeitos sobre o SE consiste na distribuição bilateral

e equitativa das forças aplicadas com contactos simultâneos entre os dentes posteriores e

desoclusão anterior.

Consequências

Fonéticas

Pacientes edêntulos: contactos dentários anteriores durante a pronunciação do ‘s’

impedem o controlo de circulação de ar pela língua –> pronunciação defeituosa;

Não havendo ausências dentárias, a importância da fonética persiste, no entanto, a

propriocepção dentária maximiza o potencial de adaptação e reprogramação neuro-

muscular de forma a alterar o espaço mais fechado da fala.

Dentárias

Rácio coroa/raiz: embora o aumento da DVO leve a um aumento do rácio, estas

alterações raramente originam um dente maior que a possibilidade anatómica inicial

(não é uma preocupação)

Aumento da carga aplicada;

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AULAS – ANEXO 4: DIMENSÃO VERTICAL DE OCLUSÃO

127

Aumento da força dos contactos oclusais (no entanto, a longo prazo – 3 meses após o

aumento da DVO – a intensidade das forças regressa ao nível inicial).

Musculares

Não existem evidências de que um aumento da DVO se traduza numa hiperatividade

dos músculos elevadores da mandíbula;

No masséter, a sensibilidade dos fusos neuromusculares demonstra plasticidade,

adaptando-se ao aumento da DVO, dentro dos limites fisiológicos;

No máx, 5% dos pacientes sujeitos a um aumento de DVO reportou algum desconforto

muscular (consoante o aumento, o desaparecimento dos sintomas demorou entre 7 e

14 dias).

Articulares

(o aumento da DVO no tratamento da DTM)

A pressão intra-articular na ATM humana é significativamente reduzida após a utilização

de um aparelho interoclusal;

Embora a redução da pressão intra-articular possa aliviar a dor resultante de uma

disfunção intracapsular ou inflamação dos tecidos retrodiscais, a adoção deste método

deve ser abordado com cuidado uma vez que não existe qualquer evidência de

resultados semelhantes quando a origem da dor é extracapsular.

(o aumento da DVO induz DTM)

O acesso à posição de RC pelo côndilo não depende da DVO desde que o ponto de

partida para a reabilitação seja a posição de RC;

Embora o aumento da DVO possa conduzir a alguma remodelação da ATM, esta será

uma adaptação funcional;

Não existe qualquer evidência científica de uma correlação entre um aumento

moderado da DVO e DTM.

Os acontecimentos durante o crescimento e desenvolvimento da relação intermaxilar, torna

improvável que o paciente apresente uma DVO predestinada e ótima. Desta forma, a procura

de um valor ideal para a DVO poderá ser irrealista:

DVO = intervalo de tolerância

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AULAS – ANEXO 5: DENTES POSTERIORES E RELAÇÕES OCLUSAIS EXCÊNTRICAS

Page 129: SEBENTA - cld.pt

AULAS – ANEXO #5

DENTES POSTERIORES E

RELAÇÕES OCLUSAIS

EXCÊNTRICAS

Page 130: SEBENTA - cld.pt

AULAS – ANEXO 5: DENTES POSTERIORES E RELAÇÕES OCLUSAIS EXCÊNTRICAS

130

ATM

Oclusão

Periodonto

DENTES POSTERIORES E RELAÇÕES OCLUSAIS EXCÊNTRICAS

RELAÇÕES INTEROCLUSAIS

Relações Cêntricas: relações oclusais em RC e durante os movimentos fisiológicos do SE

(conceito de ORC)

Relações Excêntricas: relações oclusais durante os movimentos bordejantes da mandibula

Oclusão

As relações oclusais ideais deveriam estudar-se num paciente em ORC

No entanto…

Existe uma oclusão habitual própria de cada indivíduo que é dinâmica e que em 96% dos casos

não coincide com a ORC.

As alterações posicionais da mandibula para uma oclusão habitual não produzem grandes

alterações em relação à posição original (RC) à exceção de grandes discrepâncias ou falta de

alinhamento tridimensional.

A oclusão depende de:

Crescimento ósseo

Desenvolvimento e erupção dentária

Maturação neuromuscular

Equilíbrio que vai manter a oclusão habitual

Esta adequação do sistema, sempre que se realiza sem alterar o esquema de normalidade,

permite que 96% das pessoas convivam com duas posições de ORC e OH.

Importante: Manter um correto alinhamento tridimensional e uma correta desoclusão.

Relações Cêntricas – Alinhamento Tridimensional

Desenvolvimento e Formação da Oclusão – integração dos setores posteriores

A erupção dos incisivos (6 meses) é o ponto mais importante na organização dos futuros

contactos oclusais:

Triploidia oclusal;

Estabilidade mandibular;

Contactos entre os incisivos superiores e inferiores determinam uma DV anterior.

Page 131: SEBENTA - cld.pt

AULAS – ANEXO 5: DENTES POSTERIORES E RELAÇÕES OCLUSAIS EXCÊNTRICAS

131

Fatores que controlam o trajeto de intercuspidação dos dentes posteriores:

Sobremordida anterior;

Trajetória condilar;

Plano oclusal.

Os dentes inclinam os seus eixos para assimilar as resultantes dos grupos musculares

Há transmissão de forças aos pontos de maior resistência óssea

Formação das curvas tridimensionais

1. Relação de Contacto oclusal

Carga axial: direção da força aplicada aos dentes

Contactos entre superfícies perpendiculares ao eixo dentário

Cúspide/fossa (um dente a um dente)

Cúspide/crista (um dente a dois dentes)

Contactos simultâneos e de igual intensidade

Cúspides cêntricas inferiores:

Nas áreas dos pré-molares e molares, as cristas marginais são + largas e menos convexas

desempenhando um papel importante durante a mastigação;

A relação cúspide/crista pode ser mesial (ideal) ou distal

Área infra-contacto: desde o contacto até à fossa ou sulco

Área supra-contacto: desde a ponta da cúspide até ao contacto

Zona pela qual passam as cúspides antagonistas – desoclusão

Os contactos oclusais produzidos pela união cúspide/fossa ou cúspide/crista formam o sulco

protrusivo, o sulco do lado de não trabalho e o sulco do lado de trabalho.

1.1. Relações de contacto das unidades de oclusão (cúspides)

Estabilidade Oclusal – Tripoidismo:

Contactos simultâneos (de igual intensidade), homogéneos e bilaterais entre o máximo

número de dentes possível –> minimiza a força aplicada sobre cada dente –> protege a

ATM

1.1.1. Estabilidade V/P

As cúspides de contenção cêntrica relacionam-se sempre com uma cúspide de corte e com a

cúspide de contenção cêntrica antagonista

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AULAS – ANEXO 5: DENTES POSTERIORES E RELAÇÕES OCLUSAIS EXCÊNTRICAS

132

A perda destes contactos origina uma situação instável e poderá levar à migração dentária no

sentido V/P:

Abertura em leque no maxilar superior;

Apinhamento no maxilar inferior.

1.1.2. Estabilidade M/D

É dada pelo equilíbrio entre o contacto da cúspide de contenção cêntrica – perpendicular ao

arco de encerramento – e a superfície oposta que permite a estabilidade do contacto

(cúspide estabilizadora)

1.1.3. Primeiros PM

Área de transição da guia anterior para a zona molar –> estão preparados para se

comportarem como 2ºs caninos;

Cúspides linguais muito pequenas – não se consegue o 3º ponto de estabilidade (esta é

conseguida através da musculatura lingual que vai atuar de forma ortopédica)

1.1.4. Relação Molar

Classe I – Neutroclusão

Classe II – Distoclusão

Divisão 1

Divisão 2

Classe III – Mesioclusão

Subdivisão

Relações Excêntricas – Relações entre os dentes anteriores e posteriores

Importância da Guia Anterior e do correto alinhamento dos dentes posteriores

“Uma oclusão fisiológica é o ponto de partida para uma desoclusão correta.

Não devemos esquecer que a ponte biológica que une a oclusão e a desoclusão é o

alinhamento tridimensional e que todo o dente desalinhado poderá ocluir através das suas

relações oclusais, porém não irá ocorrer desoclusão.”

Oclusão Mutuamente Protegida

Guia nos movimentos excêntricos – desoclusão dos dentes posteriores

Proteção dos dentes anteriores – dentes posteriores nos movimentos fisiológicos

Guia Protrusiva –> Guia Incisiva

Guia de Lateralidade –> Guia Canina

Page 133: SEBENTA - cld.pt

AULAS – ANEXO 5: DENTES POSTERIORES E RELAÇÕES OCLUSAIS EXCÊNTRICAS

133

Oclusão Mutuamente Compartida

Caninos: atuam bilateralmente como verdadeiros guias centralizadores no movimento de

encerramento mandibular;

Dentes posteriores: consolidam esta posição

ATM: necessita destes pilares guia para atingir a estabilidade

Assim…

Oclusão Mutuamente Protegida + Oclusão Mutuamente Compartida = Oclusão Orgânica

Oclusão Orgânica = Oclusão + Desoclusão

Se os dentes posteriores estiverem bem alinhados e na presença de uma guia ant. eficiente as

relações interoclusais dos dentes posteriores nos movimentos excêntricos não existem.

Cúspide de contenção cêntrica: desocluir no movimento protrusivo, trabalho e não trabalho

Cúspide de corte: desocluir no movimento protrusivo e trabalho

Importância da Guia Anterior (guia anterior inabilitada)

Falta de altura funcional

Ângulo insuficiente

Facetas de abrasão

Ausências dentárias

Distoclusões (classe II)

Mesioclusões (classe III)

Bennet Imediato

Dentes posteriores desalinhados*

*A falta de alinhamento dos dentes posteriores pode levar a:

Perda de contenções cêntricas e formação de deflexões laterais (movimentos cêntricos)

Interferências (nos movimentos excêntricos), que podem levar à formação de alavancas

classe I, com as seguintes consequências:

Disfunção da ATM

Fratura coronária

Perda óssea vertical

Fratura radicular

Facetas de desgaste

Função de Grupo Posterior

Limitação: mais atrito; solicitam mais fibras musculares (maior ação muscular)

Quando utilizar em reabilitação?

Page 134: SEBENTA - cld.pt

AULAS – ANEXO 5: DENTES POSTERIORES E RELAÇÕES OCLUSAIS EXCÊNTRICAS

134

Caninos afetados periodontalmente ou com mobilidade;

Caninos inclusos ou não suficientemente erupcionados;

Caninos em mordida forçada;

Relações sagitais desfavoráveis;

Vestibuloversões.


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