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  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE BAURU

    PERLA DO NASCIMENTO MARTINS MUNIZ

    Pastores evanglicos: sintomas vocais e laringofarngeos, qualidade vocal e perfil de participao em atividades vocais

    BAURU

    2013

  • PERLA DO NASCIMENTO MARTINS MUNIZ

    Pastores evanglicos: sintomas vocais e laringofarngeos, qualidade vocal e perfil de participao em atividades vocais

    Dissertao apresentada Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Mestre em Cincias pelo programa de Fonoaudiologia. rea de concentrao: Fonoaudiologia Orientadora: Profa. Dra. Alcione Ghedini Brasolotto

    VERSO CORRIGIDA

    BAURU 2013

  • Nota: A verso original desta dissertao encontra-se disponvel no Servio de Biblioteca e Documentao da Faculdade de Odontologia de Bauru FOB/USP.

    Autorizo, exclusivamente para fins acadmicos e cientficos, a reproduo total ou parcial desta dissertao/tese, por processos fotocopiadores e outros meios eletrnicos. Assinatura: Data:

    Comit de tica da FOB-USP Protocolo n: 060/2011 Data: 26/05/2011

    Muniz, Perla do Nascimento Martins Pastores evanglicos: sintomas vocais e laringofarngeos, qualidade vocal e perfil de participao em atividades vocais/ Perla do Nascimento Martins Muniz. Bauru, 2013. 160p. : il. ; 31cm. Dissertao (Mestrado) Faculdade de Odontologia de Bauru. Universidade de So Paulo Orientador: Profa. Dra. Alcione Ghedini Brasolotto

    M925p

  • ERRATA

  • DEDICATRIA

    A Deus... Sempre! Em primeiro lugar! Acima de todas as coisas!

    Porque Dele e por Ele, e para Ele, so todas as coisas; Glria, pois, a Ele eternamente. Amm!"

    (Romanos 11.36)

    Aos pastores...

    Por pregarem a Palavra de Deus, utilizando dois instrumentos maravilhosos: a Bblia e a voz!

    Como pois invocaro aquele em quem no

    creram? E como crero naquele de quem no ouviram falar? E como ouviro, se no h quem

    pregue? E como pregaro, se no forem enviados? Assim como est escrito: Quo formosos so os ps dos que anunciam o

    evangelho de paz, que trazem alegres novas de coisas boas! (Romanos 10.14-15)

  • AGRADECIMENTOS

    A minha famlia... Pelo amor incondicional! Vocs nunca mediram esforos para que eu pudesse alcanar os meus sonhos... E, neste momento, mais um est se realizando! Famlia Nascimento, Martins, Muniz e agregados... Eu amo vocs!

    Aos meus amigos...

    Por serem to presentes, mesmo que estejam distantes! Obrigada pelo incentivo, horas de alegria e de tristeza, conselhos, ajuda, amor e amizade! Sempre regados a caf...,muito caf! Todos vocs so um presente de Deus em minha vida!

    A minha mestra...

    Profa. Dra. Alcione Ghedini Brasolotto! Que honra! A admirao e respeito que eu tenho por voc, no so s pela sabedoria e conhecimento que possui, mas principalmente pela mulher que voc ! Um verdadeiro exemplo! Por tudo o que eu tenho aprendido e vivido ao se lado..., principalmente, nas madrugadas de trabalho... Muito obrigada!

    As minhas mediadoras... Profa. Dra. Kelly Cristina Alves Silvrio! Pelas orientaes, confiana e sorriso cativante..., sempre cheio de expectativa! muito bom ter voc por perto! Profa. Dra. Leslie Piccolotto Ferreira! Por compartilhar seus conhecimentos em Voz Profissional, e por estar participando deste trabalho. Muito obrigada!

    Aos professores do Curso de Fonoaudiologia...

    Pelo incentivo... Sempre! Vocs tambm fazem parte da minha histria! Aos funcionrios do Departamento e da Clnica de Fonoaudiologia...

    Pelo carinho, ateno e prontido! Por sempre estarem dispostos a me ajudar no que for preciso!

    Aos funcionrios da Biblioteca e da Ps-Graduao... Pela ateno e disposio! Por todo esclarecimento dado para que eu pudesse desenvolver e concluir este trabalho!

    Pela ajuda especial...

    Do Prof. Dr. Jos Roberto Pereira Lauris, na realizao da anlise estatstica, e por esclarecer minhas dvidas. Da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES), pela concesso da bolsa para a realizao desta pesquisa.

    http://scholar.google.com.br/citations?user=Li979DAAAAAJ&hl=pt-BR

  • E Jesus, vendo a multido, subiu a um monte, e,

    assentando-se, aproximaram-se dele os seus

    discpulos; E, abrindo a sua boca, os ensinava,

    dizendo: Bem-aventurados...

    (Mateus 5.1-3)

  • RESUMO

    O presente estudo buscou: investigar sintomas vocais e laringofarngeos,

    qualidade vocal, autorreferncia a desconforto em trato vocal, e perfil de participao

    em atividades vocais de pastores evanglicos, comparando com os mesmos

    aspectos de homens no profissionais da voz; verificar a correlao entre o perfil de

    participao em atividades vocais e a qualidade vocal, autorreferncia a sintomas

    vocais, sensaes laringofarngeas e desconforto em trato vocal, tanto para pastores

    quanto para no profissionais da voz. Foram avaliados 60 indivduos, sexo

    masculino, divididos em grupos: experimental e controle. Foram aplicados os

    instrumentos: Condio de Produo Vocal (CPV) para caracterizao da amostra e

    verificao dos sintomas vocais e sensaes laringofarngeas; Escala de

    Desconforto em Trato Vocal (EDTV) e Perfil de Participao em Atividades Vocais

    (PPAV), bem como a anlise perceptivo-auditiva da voz dos participantes. Os

    resultados foram analisados estatisticamente, considerando o nvel de significncia

    5%. Pastores evanglicos referiram, em maior frequncia que homens no

    profissionais da voz: pigarro (p=0.019), tosse com catarro (p=0.015), ardor na

    garganta (p=0.028), secreo/catarro na garganta (p

  • sesses autopercepo da severidade, efeitos no trabalho, comunicao diria e

    comunicao social do PPAV; entre desconforto em trato vocal e as sesses

    autopercepo da severidade, restrio da participao na comunicao diria e

    emoes do PPAV; entre anlise perceptivo-auditiva da voz e a sesso

    comunicao social do PPAV. Correlaes negativas ocorreram: entre o sintoma

    falha na voz e a restrio de participao na comunicao social do PPAV; anlise

    perceptivo-auditiva da voz e as sesses efeitos no trabalho e comunicao social do

    PPAV. Pastores evanglicos apresentaram elevada ocorrncia de sensaes na

    laringofarngeas e maior percepo do impacto de uma alterao vocal na qualidade

    de vida, quando comparados a homens no profissionais da voz. No caso dos

    pastores, quanto maior o desconforto em trato vocal e a presena de uma alterao

    vocal, maior o impacto percebido nas atividades vocais.

    Palavras-chave: Religiosos. Pastores evanglicos. Distrbios da voz. Qualidade da

    voz.

  • ABSTRACT

    The present study sought to investigate the vocal and laryngopharyngeal

    symptoms, vocal quality, self-perception to vocal tract discomfort, and voice activity

    and participation profile of Evangelical pastors comparing the same aspects with

    non-professional users of the voice; to verify the correlation measure, both for

    pastors and for the control group, between participation profile between voice activity

    and participation profile (VAPP) and vocal quality, self-perception of vocal symptoms,

    sensations in the throat, and vocal discomfort. Sixty individuals were evaluated,

    male, divided into experimental and control groups. The following instruments were

    applied: Condition of Vocal Production (CVP) for sample characterization and

    verification of vocal symptoms and sensations in the throat, Discomfort in the Vocal

    Tract (VTD) and Voice Activity and Participation Profile (VAPP), as well as the

    perceptual voice analysis of the participants. The results were statistically analyzed

    with a significance level 5%. Evangelical pastors demonstrated a higher frequency

    than non-professionals: throat clearing (p=0.019), coughing up phlegm (p=0.015),

    burning in the throat (p=0.028), secretion/phlegm in throat (p< 0.001), dry throat (p<

    0.001), tiredness when talking (p< 0.001), effort to talk (p

  • communication of the PPAV; between discomfort in the vocal tract and sessions: the

    self-perception of severity, restriction participation in daily communication and

    emotions of the PPAV; between perceptual voice analysis and social communication

    session of the PPAV. Negative correlations occurred: between the failure in voice

    symptom and participation restriction and social communication of the PPAV;

    perceptual voice analysis and the effects in job and social communication of the

    PPAV. Evangelical pastors showed high occurrence of sensations in the throat and

    greater awareness in the impact of a vocal change in the quality of life, when

    compared to non-professionals. In the case of the pastors, the greater the discomfort

    in the vocal tract and the presence of a vocal change, the greater impact observed

    on vocals activities.

    Keywords: Clergy. Evangelical pastors. Voice disorders. Voice quality.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    QUADROS

    Quadro 1 - Denominaes protestantes e respectivas datas de organizao no Brasil (OLIVEIRA, 2011) ....................................................................

    40

    Quadro 2 -

    Classificao das profisses, baseada na qualidade e demanda vocais exigidas na funo desempenhada. (VILKMAN, 2000) .......

    45

    Quadro 3 -

    Resumo das correlaes entre o perfil de participao em atividades vocais e a condio de produo vocal, desconforto em trato vocal e parmetros da avaliao perceptivo-auditiva, para o grupo experimental.............................................................................

    99

    Quadro 4 -

    Resumo das correlaes entre o perfil de participao em atividades vocais e a condio de produo vocal, desconforto em trato vocal e parmetros da avaliao perceptivo-auditiva, para o grupo controle.....................................................................................

    100

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Indivduos dos grupos experimental e controle, de acordo com

    idade, estado civil e escolaridade..................................................... 75

    Tabela 2 - Indivduos dos grupos experimental e controle, no que se refere

    situao profissional......................................................................... 76

    Tabela 3 - Indivduos dos grupos experimental e controle, no que se refere

    demanda de trabalho........................................................................ 77

    Tabela 4 - Indivduos dos grupos experimental, em relao s atividades

    desenvolvidas como pastor evanglico............................................ 78

    Tabela 5 - Indivduos dos grupos experimental e controle, considerando a

    presena de alterao vocal............................................................. 79

    Tabela 6 - Indivduos dos grupos experimental e controle, considerando a

    percepo vocal, hbitos e outros aspectos vocais......................... 80

    Tabela 7 - Indivduos dos grupos experimental e controle, considerando a

    presena de sintomas vocais e sensaes laringofarngeas....... 81

    Tabela 8 - Comparao da mdia de pontuao do CPV (escala de 0 a 3)

    entre os grupos experimental e controle, com relao aos

    sintomas vocais................................................................................ 82

    Tabela 9 - Comparao da mdia de pontuao do CPV (escala de 0 a 3)

    entre os grupos experimental e controle, com relao s

    sensaes laringofarngeas....................................................... 83

    Tabela 10 - Comparao da mdia de pontuao do EDTV (escala 0 e 6) entre os grupos experimental e controle, com relao a frequncia e intensidade do desconforto em trato vocal................................ 84

    Tabela 11 - Comparao da mdia de pontuao da APA (escala de 0 a 100

    mm) entre os grupos experimental e controle, com relao s

    emisses vogal sustentada e contagem de nmeros.................. 85

    Tabela 12 - Comparao da mdia de pontuao do PPAV (escala de 0 a 10

    cm), entre os grupos experimental e controle, e pontuao

    mxima esperada em cada sesso.................................................. 86

    Tabela 13 - Comparao da pontuao do PPAV em porcentagem, entre os

    grupos experimental e controle, e pontuao mxima esperada

    em cada sesso................................................................................ 86

    Tabela 14 - Correlao entre o perfil de participao em atividades vocais e

    sintomas vocais, em pastores evanglicos...................................... 87

    Tabela 15 - Correlao entre o perfil de participao em atividades vocais e

    sintomas vocais, em homens no profissionais da voz.................... 88

    Tabela 16 - Correlao entre o perfil de participao em atividades vocais e sensaes laringofarngeas, em pastores evanglicos............. 89

    Tabela 17 - Correlao entre o perfil de participao em atividades vocais e sensaes laringofarngeas, em homens no profissionais da voz... 91

  • LISTA DE TABELAS (continuao)

    Tabela 18 - Correlao entre o perfil de participao em atividades vocais e a

    frequncia de desconforto em trato vocal, em pastores

    evanglicos....................................................................................... 93

    Tabela 19 - Correlao entre o perfil de participao em atividades vocais e a

    intensidade de desconforto em trato vocal, em pastores

    evanglicos. .................................................................................... 94

    Tabela 20 - Correlao entre o perfil de participao em atividades vocais e a

    frequncia de desconforto em trato vocal, em homens no

    profissionais da voz......................................................................... 95

    Tabela 21 - Correlao entre o perfil de participao em atividades vocais e a

    intensidade de desconforto em trato vocal, em homens no

    profissionais da voz.......................................................................... 96

    Tabela 22 - Correlao entre o perfil de participao em atividades vocais e os parmetros da avaliao perceptivo-auditiva (vogal sustentada e contagem de nmeros) da voz de pastores evanglicos.................. 97

    Tabela 23 - Correlao entre o perfil de participao em atividades vocais e os parmetros da avaliao perceptivo-auditiva (vogal sustentada e contagem de nmeros) da voz de homens no profissionais da voz..................................................................................................... 98

  • LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS

    ATM Articulao temporomandibular

    CCI Coeficiente de Correlao Intraclasses

    CIF Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade

    CPV Condio de Produo Vocal

    EDTV Escala de Desconforto do Trato Vocal

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    OMS Organizao Mundial da Sade

    PPAV Perfil de Participao em Atividades Vocais

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ................................................................................. 35

    2 CONSIDERAES INICIAIS ........................................................... 39

    2.1 Evanglicos: origem e principais denominaes .............................. 39

    3 REVISO DE LITERATURA ............................................................ 43

    3.1 O profissional da voz ........................................................................ 43

    3.1.1 A voz do lder religioso ..................................................................... 47

    3.1.2 A voz do pastor evanglico .............................................................. 50

    4 PROPOSIO ................................................................................. 61

    5 MATERIAL E MTODOS ................................................................. 65

    5.1 Casustica ........................................................................................ 65

    5.2 Metodologia ...................................................................................... 66

    5.2.1 Condio de Produo Vocal (CPV) ................................................ 66

    5.2.2 Escala de Desconforto do Trato Vocal (EDTV) ................................ 67

    5.2.3 Avaliao perceptivo-auditiva da voz ............................................... 67

    5.2.4 Perfil de Participao em Atividades Vocais (PPAV) ....................... 69

    5.2.5 Anlise estatstica e descrio dos resultados ................................. 70

    6 RESULTADOS ................................................................................ 75

    7 DISCUSSO ................................................................................... 103

    8 CONCLUSES ................................................................................ 123

    REFERNCIAS .............................................................................................. 127

    ANEXOS ......................................................................................................... 139

  • 111 IIInnntttrrroooddduuuooo

  • 1 Introduo 35

    1 INTRODUO

    Voz profissional uma forma de comunicao oral, utilizada por indivduos

    que dela dependem para exercer sua atividade ocupacional. Behlau et al. (2010)

    assim caracterizam esse uso profissional: quando o indivduo recebe seu sustento

    por meio da voz.

    Ferreira (1998) classifica os profissionais considerando os aspectos fsicos e

    psicossociais relacionados categoria profissional, s condies de produo vocal

    e ao ambiente profissional. Entre os profissionais que usam a voz como instrumento

    de trabalho encontra-se o pastor evanglico.

    Dados do IBGE (2010) apontam que atualmente so 42,3 milhes de

    evanglicos no Brasil. Cada grupo autnomo, conhecido como denominao

    protestante, orientado por um lder (OLIVEIRA, 2011).

    O principal lder no meio evanglico o pastor, que tambm pode ser

    chamado de bispo, reverendo, presbtero ou apstolo, isso de acordo com a

    denominao e sua ortodoxia - conjunto de doutrinas e princpios que regem a

    instituio e norteiam a prtica crist (SANCHES, 1986; LOTUFO NETO, 1997;

    EBERT e SOBOL, 2009).

    Dentro da prtica crist, a principal funo do pastor evanglico transmitir

    a palavra de Deus, de maneira clara e objetiva, com embasamento na Bblia

    Sagrada (STOTT, 2003). Para isso tem, como mecanismo principal de comunicao,

    a sua voz.

    Alm da pregao, a voz do pastor muito utilizada em outras atividades

    desenvolvidas: aconselhamentos individuais, reunies, palestras, aulas, programas

    de rdio e televiso, alm de us-la no canto, em diferentes situaes e de diversas

    maneiras (TITZE, LEMKE e MONTEQUIN, 1997; VERDOLINI e RAMIG, 2001;

    EBERT e SOBOLL, 2009; VIOLA, 2011).

    Nesse universo de infinitas possibilidades vocais, o pastor evanglico

    vivencia situaes de uso intensivo da voz e estresse que, associados, podem gerar

    distrbios da voz (BUCKLAND, 2003; EBERT e SOBOL, 2009; MIDDLETON e

    HINTON, 2009; CUTTS et al. 2012; GIANNINI, LATORRE e FERREIRA, 2012).

    importante considerar que nos profissionais, como no caso dos pastores

    evanglicos, um diagnstico tardio pode levar a um tratamento incorreto, resultando

  • 1 Introduo 36

    em aparecimento ou agravamento de leses larngeas, aumentando o risco de

    afastamento das atividades e possvel comprometimento da carreira profissional

    (DUARTE, 1987; SATALOFF, 1997; INGRAM e LEHMAN, 2000; FERREIRA,

    SANTOS e LIMA, 2009; VIOLA, 2011).

    A disfonia, no uso da voz profissional, pode ocorrer como resultado de uma

    interao entre fatores orgnicos, hereditrios, comportamentais e ocupacionais. No

    entanto, importante ressaltar que diversos fatores ambientais podem estar

    relacionados: climatizao de ambiente, poeira, exposio a produtos de limpeza e

    rudos de fundo (FERREIRA, SANTOS e LIMA, 2009).

    Na Fonoaudiologia, o nmero de estudos sobre a voz de pastores

    evanglicos ainda modesto. Viola (2011) realizou levantamento sobre a voz dos

    religiosos, e foi possvel observar que a maioria das referncias a pastores

    evanglicos traz informaes a respeito de perfil vocal, estilo do discurso e hbitos

    vocais.

    relevante, na atuao do fonoaudilogo, contribuir e orientar a produo

    efetiva da voz dessa populao. H necessidade de mais estudos, como forma de

    contribuio para o delineamento do perfil desse profissional, com dados baseados

    em evidncias, relacionados autopercepo e ao impacto do uso da voz, e ainda

    mais os relacionados ao ambiente de trabalho e a outras situaes que possam

    interferir na produo vocal. Assim, alm de colaborar para se conhecer melhor esse

    profissional, a fonoaudiologia ser atuante no campo da promoo sade.

  • 222 CCCooonnnsssiiidddeeerrraaaeeesss IIInnniiiccciiiaaaiiisss

  • 2 Consideraes Iniciais 39

    2 CONSIDERAES INICIAIS

    2.1 Evanglicos: origem e principais denominaes

    "Religio mais que um determinado estado emocional vivido em sua plenitude."

    (Detlef Linke, neurofisiologista)

    Desde o sculo XII, vrios foram os movimentos de oposio que ocorreram

    na Europa como forma de contestar a Igreja Catlica, seus dogmas e as atitudes

    tomadas pelo clero na poca.

    Nichols (1979) relata que a reforma protestante aconteceu na Era da

    Renascena, no sculo XVI, perodo marcado por uma srie de transformaes na

    sociedade, como a ascenso burguesa e a exploso das ideias humanistas. O

    marco inicial do movimento se deu em 31 de outubro de 1517, quando o monge

    Martinho Lutero afixa, na porta da catedral de Wittenberg, 95 teses que abordavam

    principalmente a questo das indulgncias estabelecidas pela Igreja Catlica.

    Olson (2001) aponta que, alm da reforma Luterana, tambm aconteceram

    as Reformas Calvinista, Anglicana e a Anabatista. Essas aconteceram com o objetivo

    de dar a todos o acesso s escrituras sagradas; e seguiam trs princpios bsicos: "a

    salvao pela graa mediante a f, a autoridade das Escrituras e o sacerdcio de

    todos os crentes".

    Oliven (2005) explica que, na Amrica, as instituies de ensino superior

    para lderes protestantes so decorrentes do Perodo Colonial. Eram conhecidas

    como College, e a primeira instituio nas colnias inglesas da Amrica foi Harvard,

    fundada em 1636 por orientao calvinista. Tinham como objetivo principal a

    formao de pastores e lderes religiosos para as novas comunidades.

    Behlau et al. (2010) comentam que, apesar dos anos de estudo e

    dedicao, so poucas as religies que oferecem orientao e preparao

    adequada para o uso profissional da voz.

  • 2 Consideraes Iniciais 40

    O protestantismo chegou ao Brasil em meados de 1550, porm se

    estabeleceu somente em 10 de maro de 1557, com a celebrao do primeiro culto

    protestante, realizado por calvinistas franceses no Rio de Janeiro (MATOS, 2011).

    A partir de 1850, comeou a ser difundido no pas com os primeiros

    missionrios, pessoas com conhecimento em Missiologia - ramo da teologia que

    estuda as misses, aes utilizadas na propagao de uma religio -, e capacitadas

    para viver em outras culturas.

    Souza (2005) explica que o objetivo das misses divulgar o Evangelho

    (ensinamentos cristos) e desenvolver atividades nas reas de educao, cultura,

    sade, artes, esportes e cursos profissionalizantes.

    Oliveira (2011) descreve a evoluo do protestantismo no Brasil, tendo como

    referencial as principais denominaes histricas e pentecostais (QUADRO 1).

    Quadro 1: Denominaes protestantes e respectivas datas de organizao no Brasil. (OLIVEIRA,

    2011)

    DENOMINAES HISTRICAS FUNDAO

    Igreja Evanglica de Confisso Luterana no Brasil 1823

    Igreja Presbiteriana do Brasil 1859

    Igreja Metodista do Brasil 1867

    Conveno Batista Brasileira 1882

    Igreja Presbiteriana Independente do Brasil 1903

    DENOMINAES PENTECOSTAIS FUNDAO

    Congregao Crist no Brasil 1910

    Assembleia de Deus 1911

    Igreja do Evangelho Quadrangular 1951

    Igreja Evanglica Pentecostal O Brasil para Cristo 1955

    Igreja Pentecostal Deus Amor 1962

    Igreja Universal do Reino de Deus 1977

  • 333 RRReeevvviiisssooo dddeee LLLiiittteeerrraaatttuuurrraaa

  • 3 Reviso de Literatura 43

    3 REVISO DE LITERATURA

    Com o intuito de auxiliar a compreenso da atividade profissional exercida

    pelo pastor evanglico e a sua demanda vocal, sero abordados os seguintes

    temas: O profissional da voz, A voz do lder religioso e A voz do pastor

    evanglico. Esse enfoque visa, principalmente, reforar a importncia do uso da voz

    como instrumento primordial nas atividades dirias desse lder religioso.

    3.1 O profissional da voz

    "Pessoas que usam a voz profissionalmente sempre existiram" (SOUZA e

    FERREIRA, 2000). Esta afirmao traz lembrana de que, desde a Grcia Antiga,

    com a performance de seus renomados oradores Demstenes e Aristteles, e em

    Roma, onde Marco Tlio Ccero e Quintiliano transmitiam seus conhecimentos por

    meio de tcnicas de retrica (PEREIRA, 2001), observa-se o uso da voz como

    ferramenta de auxlio em atividades profissionais.

    A famosa obra de Marco Tlio Ccero, O Orador, publicada no ano 55 a.C.,

    exemplifica a importncia da voz como instrumento de trabalho:

    Para que falar mais da prpria ao, que deve ser guiada pelo movimento corporal, pela gesticulao, pela expresso facial, pela conformao e variao da voz; que qualidade tenha sozinha, por si mesma, mostram-no a insignificante arte dos atores e o palco, onde, apesar de todos esforarem-se por controlar a boca, a voz, os movimentos, quem ignora quo poucos h e houve que possamos assistir tranquilamente? (SCATOLIN, 2009, p.151).

    Ccero tambm evidencia a sutileza da voz e a sua flexibilidade: De fato, os sons da voz visam a corresponder a cada toque: aguda, grave, rpida, lenta, grande, pequena. Contudo, entre cada uma delas h um meio-termo em seu gnero. E h ainda numerosos gneros que derivam destes: leve, spero, contrato, difuso, contendo a respirao, interrompendo-a, entrecortado, quebrado pelo som dobrado, extenuado, inflado. No h nenhum desses gneros que no seja tratado com arte e domnio. Essas cores esto disponveis para o orador, como para o pintor, para promover a variedade. (SCATOLIN, 2009, p.304).

    O uso da voz de maneira diferenciada, na rea da comunicao, desde o

    advento do telefone e dos meios de comunicao em massa, trouxe a necessidade

    de uma nomenclatura - Voz Profissional - para diferenciar o uso da voz em

    diferentes mbitos profissionais (SOUZA e FERREIRA, 2000).

  • 3 Reviso de Literatura 44

    De acordo com Behlau et al. (2010), classificado como profissional da voz

    todo aquele que depende de uma certa produo e/ou qualidade vocal especfica

    para sua sobrevivncia profissional, para seu sustento. Esse considerado um

    profissional diferenciado, pois utiliza a voz como ferramenta, de maneira contnua,

    em suas atividades profissionais (SATALOFF, 1997).

    Williams (2003) aponta que a voz o instrumento de trabalho de

    aproximadamente 25% da populao economicamente ativa. Vilkman (2004) declara

    que uma voz com qualidade ferramenta essencial para um tero da fora de

    trabalho. Seu carter fundamental, pois diversos profissionais dependem de suas

    vozes para alcanar o sucesso em suas ocupaes. O uso da voz e a comunicao

    vm assumindo um papel cada vez mais importante na vida pessoal e profissional

    dos indivduos (KYRILLOS, 2005).

    A literatura descreve dois grupos principais de profissionais que utilizam a

    voz como instrumento de trabalho: o grupo da voz falada e o grupo da voz cantada.

    Dentro deste universo, encontram-se diversas profisses no mercado de trabalho,

    cada uma com um estilo e particularidades especficas: professores, cantores,

    atores, radialistas, reprteres, polticos, lderes religiosos, dubladores, advogados,

    leiloeiros, fonoaudilogos, vendedores, telefonistas e operadores de telemarketing

    (SATALOFF, 1997; FERREIRA, 1998; VILKMAN, 2000).

    Pensando nessa distino, Benninger (2011) refora que a voz humana no

    apenas a chave para a comunicao, mas tambm atua como o principal

    instrumento musical. O autor destaca que vrias caractersticas vocais podem afetar

    a forma como ela percebida pelo ouvinte; e afirma que a voz deve ter uma

    qualidade agradvel, com sonoridade e equilbrio adequados entre os elementos

    orais e nasais, de acordo com a idade, sexo, altura, dialetos ou sotaques culturais.

    Vilkman (2000) reflete sobre a voz humana como portadora da comunicao

    e o papel dela na evoluo sociocultural da humanidade. Ainda relata que a

    modernidade e o uso de equipamentos com sistema de reconhecimento de fala

    podem gerar uma sobrecarga no aparelho fonador, por causa das exigncias sobre

    a qualidade de voz. Essas exigncias trazem, como consequncia, novos tipos de

    problemas ocupacionais relacionados ao uso da voz.

    Baseado nesse conceito, o autor prope uma classificao das profisses de

    acordo com a exigncia de qualidade e demanda vocais exigidas na funo

    desempenhada (QUADRO 2).

  • 3 Reviso de Literatura 45

    Quadro 2: Classificao das profisses, baseada na qualidade e demanda vocais exigidas na

    funo desempenhada. (VILKMAN, 2000)

    QUALIDADE DEMANDA PROFISSO

    Alta Alta Atores e cantores

    Alta Moderada Jornalistas de rdio e TV

    Moderada Alta Professores, operadores de telemarketing,

    militares e clrigos

    Moderada Moderada Pessoal de bancos, negcios e seguros,

    mdicos advogados e enfermeiros

    Baixa Alta Metalrgicos, soldadores, contramestres

    Com nfase na caracterstica do uso vocal, Costa et al. (2000) propuseram

    uma classificao funcional embasada em quatro fatores a serem observados:

    demanda, requinte, dependncia e repercusso. Segundo os autores, na demanda,

    so observados tempo e intensidade do uso da fala, local e condies de trabalho.

    No requinte, grau de controle e competncia necessrios para o uso da fala, da voz

    cantada e da voz interpretada. Quanto dependncia, observa-se a limitao de

    uma atividade profissional resultante de uma dificuldade vocal. Na repercusso,

    considera-se o impacto que a fala causa nos resultados da atividade profissional.

    Considerando a demanda vocal e o impacto de uma alterao vocal, Behlau

    et al. (2010) descrevem a classificao do uso da voz, apresentada por Koufman e

    Isaacson, em quatro nveis:

    Nvel I: profissionais da voz que apresentarem uma alterao vocal de grau discreto

    podem ter srios prejuzos em sua carreira (elite vocal).

    Nvel II: profissionais da voz que apresentarem uma alterao vocal de grau

    moderado podem ter um impacto negativo em sua profisso (usurio profissional de

    voz falada).

    Nvel III: profissionais que apresentarem disfonia em grau severo, no tm

    condies de exercer suas atividades profissionais (usurio no profissional da voz).

    Nvel IV: profissionais que, mesmo com leses vocais extremas, no sofrem impacto

    em sua profisso (usurio no profissional no vocal).

  • 3 Reviso de Literatura 46

    Behlau et al. (2010) destacam a diferenciao entre os termos uso

    profissional e uso ocupacional da voz. No uso profissional, h a necessidade de

    ajustes especficos, de forma diferente da utilizada na emisso habitual, para se

    atingir o melhor grau de performance vocal. Por esse motivo, o uso profissional

    requer cuidados particulares devido sua especificidade, para se evitarem possveis

    alteraes vocais. No uso ocupacional, geralmente no h preparo prvio e, por

    vezes, ocorre uma certa negligncia por parte dos profissionais em relao ao uso

    da voz.

    Vilkman (2004) alerta que possveis distrbios vocais podem ocorrer como

    consequncia tanto do uso profissional quanto do ocupacional, decorrentes

    principalmente da demanda, associados ou no a fatores ambientais. Verdolini e

    Ramig (2001) afirmam que, apesar de professores e cantores apresentarem mais

    propenso para realizar exame otorrinolaringolgico devido presena de

    problemas vocais, outras categorias ocupacionais tambm tm procurado exames

    especializados com frequncia, com destaque para os consultores, assistentes

    sociais, advogados e clero.

    Algumas alteraes observadas na qualidade vocal dos profissionais da voz

    so: qualidade vocal soprosa, rouca, spera, uso de tom e intensidade inadequados,

    quebras de sonoridade, dificuldades na projeo vocal, fadiga, padro respiratrio

    inadequado e alteraes musculoesquelticas de regio cervical (BEHLAU et al.,

    2001).

    Verdolini e Ramig (2001) tambm salientam que digitadores podem ter um

    risco especial para desenvolver problemas vocais, devido aos movimentos

    repetitivos dos membros superiores. A relevncia para a voz, segundo as autoras,

    que, alm de apresentarem alteraes iniciais nos membros superiores, os sintomas

    podem se espalhar para a laringe. Esse fator pode ser potencializado na associao

    do movimento com o uso de softwares de reconhecimento de fala.

    Em levantamento bibliogrfico realizado no perodo entre 1966 a 2000,

    Williams (2003) identificou o grupo de profissionais da voz com o maior risco de

    apresentar distrbios vocais. Nesse levantamento, ele observou que os professores

    e cantores foram os profissionais mais citados na literatura, devido alta incidncia

    de distrbios vocais; e comparando estudos realizados em diferentes pases,

    levantou dados sobre o tipo de profisso e a frequncia em clnicas para tratamento

  • 3 Reviso de Literatura 47

    da voz. Neste caso, o maior ndice foi o grupo de cantores, seguido pelo consultor,

    assistente social, professor, advogado, clrigo, operador de telemarketing e outros.

    Neste contexto, Williams (2003) alerta que a sade da voz ocupacional est

    se tornando cada mais importante devido ao aumento na quantidade de indivduos

    que usam a voz em seu trabalho.

    3.1.1 A voz do lder religioso

    Na poca do perodo colonial brasileiro, os sermes religiosos eram

    considerados importante fonte de transmisso cultural, modelo de mentalidade

    e comportamento, numa sociedade em que a oralidade era a principal forma de

    difuso dos conhecimentos (MASSIMI, 2006). A voz era o principal meio de

    transmisso da mensagem.

    O Sermo da Sexagsima, ministrado pelo Pe. Antnio Vieira, na

    Capela Real, em 1655, traz um relato interessante sobre o uso da voz pelo

    pregador religioso:

    No pregador podem-se considerar cinco circunstncias: a pessoa, a cincia, a matria o estilo e a voz. A pessoa que , a cincia que tem, a matria que trata, o estilo que segue, a voz com que fala (...) Ser finalmente a causa, que h tanto buscamos, a voz com que hoje falam os pregadores? Antigamente pregavam bradando, hoje pregam conversando. Antigamente a primeira parte de um pregador era boa voz e bom peito. E verdadeiramente, como o Mundo se governa tanto pelos sentidos, podem s vezes mais os brados que a razo. (AMORA, 1995, p.31 e 41).

    O lder religioso tem como principal responsabilidade veicular a

    mensagem de Deus, ou transmitir os ensinamentos e normas que regem a sua

    religio. Cada religio tem seu estilo prprio no que diz respeito forma de

    cultuar e de transmitir a mensagem:

    O povo brasileiro produto da miscigenao de trs culturas bsicas: indgena, a europeia portuguesa e a africana das quais se originou o ncleo da sua religiosidade, que forma uma espcie de matriz simblica, um denominador comum, sobre o qual foi sendo construda uma conscincia coletiva, uma identidade social, uma cultura religiosa nacional, uma teodiceia comum de natureza dualista. (OLIVEIRA, 2011, p.80)

    Panico (2005) afirma que a comunicao s efetiva se for possvel a

    um destinatrio entender a mensagem que est sendo transmitida.

    Viola (2011) relata que o exerccio religioso requer mltiplas atividades

    que envolvem a comunicao, a voz falada e a voz cantada. Neste contexto,

  • 3 Reviso de Literatura 48

    observa-se uma produo de fala com caractersticas especiais, como exemplo

    a voz salmodiada e emisso de mantras. Estas modificaes exigem diferentes

    ajustes vocais e corporais, para que sejam realizadas de forma efetiva.

    Behlau et al. (2010) comentam que o objetivo desse padro de

    emisso unir os fiis ouvintes, alm do aconselhamento, esclarecimento,

    ensinamento e apoio espiritual.

    Os religiosos desempenham suas funes em diferentes locais e

    situaes. comum a prtica de encontros religiosos em ambientes fechados

    (igrejas e sales) ou ambientes abertos (praas pblicas). Viola (2011) afirma

    que, nestas situaes, a voz e a fala podem ser utilizadas em uma conversa,

    leitura, transmisso de informao, fala decorada e automatizada, canto e

    oraes. O pblico nestas ocasies bastante variado, bem como as

    condies de acstica e temperatura do local (VIOLA e LAURINDO, 2000;

    BEHLAU et al., 2010; VIOLA, 2011). Titze, Lemke e Montequin (1997)

    acrescentam que comum o lder religioso realizar aconselhamentos

    individuais, sermes com regularidade, alm de reafirmar a importncia do uso

    da voz no canto.

    Em relao ao gnero, a predominncia de lderes e pregadores do

    sexo masculino, mas tambm a mulher ocupa um importante papel como lder

    espiritual no meio religioso (PENTEADO, HONORATO e NASCIMENTO, 2006;

    MIDDLETON e HINTON, 2009).

    Muitas religies solicitam que seus lderes tenham uma boa formao

    escolar e acadmica para conduzir os fiis. Behlau et al. (2010) comentam que,

    apesar dos anos de estudo e dedicao, so poucas as religies que oferecem

    orientao e preparao adequada para o uso da voz profissional. Essas

    orientaes so baseadas em tcnicas de oratria, retrica e homiltica

    (FIGUEIREDO, 1879; SHEPARD, 1939; BROADUS, 1960; MARINHO, 2008;

    MORAES, 2008).

    A arte de pregar sermes religiosos conhecida como Homiltica,

    derivada do grego homilo, relacionado ao verbo conversar. Esta deu origem

    ao termo homilia, que significa "falar de Deus aos homens". Moraes (2008)

    destaca o estudo do conjunto de regras que devem ser seguidas na elaborao

    e na transmisso de um sermo. A homiltica tem como bases a eloquncia e

    a retrica que, segundo Figueiredo (1879), so tcnicas que exprimem a

  • 3 Reviso de Literatura 49

    mensagem com convico e persuaso. Entre os recursos utilizados na

    transmisso de um sermo religioso, encontra-se, como o principal veculo da

    comunicao verbal, a voz humana.

    Viola e Laurindo (2000) analisaram 78 seminaristas da religio catlica,

    com o intuito de caracterizar o contexto de formao vocal dos sacerdotes,

    alm de analisar as caractersticas de fala e voz durante a emisso no

    profissional. As autoras observaram que, em relao s atividades vocais

    realizadas diariamente, foram consideradas situaes mais cansativas, pelos

    seminaristas: 40% referiram-se ao canto, 16% ao uso da voz salmodiada e

    12% referiram-se ao ato de falar baixo. Os fatores mais citados, considerados

    como responsveis pela piora da voz, foram: excesso na fala (23%), gelados

    (21%) e o canto (17%). A garganta foi a regio corporal mais sentida como

    dolorida (60%) pelos seminaristas, aps atividade vocal.

    Outro fator avaliado por Viola e Laurindo (2000) foi a condio das

    arcadas dentrias, em que destacava a presena de alterao em 74% dos

    sujeitos avaliados, sendo que 25% tambm apresentaram alteraes na

    articulao temporomandibular (ATM). Em relao voz, 58% dos seminaristas

    apresentaram qualidade de voz fluda com pitch normal (82%), ressonncia

    equilibrada (64%) e adequada ao falante (60%). As alteraes vocais

    encontradas foram consideradas discretas e moderadas (23% e 17%

    respectivamente). Noventa e trs por cento dos seminaristas avaliados nunca

    fizeram uma consulta com mdico otorrinolaringologista. As autoras reforam

    que os seminaristas recebem orientaes insuficientes, durante sua formao

    religiosa, quanto ao uso da voz falada e cantada.

    Hocvar-Boltear (2009) realizou um estudo com 340 padres

    eslovenos, em que pde constatar que 85,6% haviam sofrido algum problema

    de voz durante o sacerdcio, e quase 16% relataram ainda ter problemas de

    voz com frequncia. Infeces respiratrias foram declaradas como a causa

    mais comum dos problemas vocais (48,8%). Em relao prtica de dar aulas,

    94,1% dos participantes afirmaram ensinar lies religiosas com frequncia e

    53% relataram problemas de voz aps excesso de uso vocal. A autora

    tambm afirma que a falta de orientao adequada sobre o uso da voz

    profissional e sobre princpios de bem-estar vocal foi um fator expressivo para

    a ocorrncia de distrbios vocais com frequncia na populao estudada.

  • 3 Reviso de Literatura 50

    3.1.2 A voz do pastor evanglico

    O pastor evanglico, como um profissional da voz, depende de toda a

    sua capacidade vocal para exercer o ministrio. Como emissor, usa sua voz

    para transmitir os conceitos bblicos, por meio da expresso de pensamentos e

    ideias, de modo que o ouvinte receba e compreenda a mensagem com clareza

    (MORAES, 2008; KOESSLER, 2010).

    Desde 1939, Shepard j destacava a importncia da voz e da sade do

    pastor evanglico para a pregao da palavra:

    A voz depende em parte da fora fsica. Aquele que tem corpo forte, geralmente tem voz que alcana a todos os ouvintes. Muitas vezes o pregador fraco fala coisas ao plpito que as pessoas sentadas nos ltimos bancos do salo da assembleia no podem ouvir. O resultado natural que aqueles ouvintes, especialmente, se no tem conexo ntima com aquela igreja, deixaro de assistir aos cultos subsequentes (...) O homem no bom por ser forte, mas o bom pregador ainda melhor por ter um corpo forte e resistente. (SHEPARD, 1939, p.82 e 83).

    Essas caractersticas tambm so destacadas por Broadus (1960). Ele

    afirma que nada to importante como a voz, pois o grande instrumento do

    pregador. Tambm enfatiza a necessidade do conhecimento da anatomia e da

    fisiologia dos rgos vocais, principalmente para evitar certas doenas, e que a

    sade em geral tambm contribui para melhorar a voz.

    Alm da pregao, comum o pastor evanglico desenvolver

    atividades administrativas, de liderana, ensino e aconselhamento (AEZ,

    1989; e participar de debates e reunies em grupo, atividades essas em que

    possvel observar um acmulo de funes e um intenso uso da sua voz na

    fala e no canto (BEHLAU et al., 2010).

    Ebert e Sobol (2009) destacam que as funes desempenhadas so

    mltiplas, alm destas j citadas: os pastores desenvolvem tambm as

    funes de realizar cultos; preparar mensagens e estudos bblicos; realizar

    funerais, casamentos e batismos; elaborar relatrios; atender, orientar e

    acompanhar pessoas; treinar e formar outros lderes; visitar; pregar; ministrar

    cursos; ministrar em eventos; realizar eventos e participar em projetos sociais.

    Perry (1990) observa que, dependendo da situao, o pastor tem a

    necessidade de utilizar toda a sua potncia vocal e disposio fsica para

    pregar a mensagem bblica, em ambientes ao ar livre, para pequenas ou

  • 3 Reviso de Literatura 51

    grandes multides, onde preciso uma maior projeo vocal, tanto para o

    sermo quanto para conduzir as msicas e oraes com os fiis.

    Marinho (2008) afirma que a habilidade de utilizar a voz de forma

    equilibrada uma caracterstica necessria a um bom pastor, principalmente

    quando este se encontra conduzindo um culto, orando, ou durante a pregao

    da Palavra.

    Soares et al. (2009), em estudo realizado com 40 pastores evanglicos

    (31 sujeitos do sexo masculino e 9 do sexo feminino), analisaram os aspectos

    relacionados ao estilo de vida e aos hbitos de lazer dos pastores evanglicos.

    Observaram que somente 27,5% dos pastores desenvolvem alguma atividade

    fsica em momentos de lazer, em grau leve a moderado, principalmente em

    locais pblicos como praas, ciclovias e pistas de caminhada. Os autores

    destacam a importncia de prticas esportivas na preveno de doenas e no

    auxlio de um lazer ativo.

    Em concordncia, Behlau e Pontes (2001) confirmam a importncia de

    uma atividade fsica para a sade geral do corpo e para uma produo vocal

    mais resistente e com mais potncia.

    Viola (2011) aponta a intensa atuao do pastor evanglico em todas

    as classes sociais. Por este motivo, tem ampla funo em relao ao uso da

    voz, no plpito, e em visitas, reunies, aulas, casamentos, velrios e outros

    eventos, nos quais necessita utilizar sua comunicao e emoo de diversas

    maneiras (AEZ, 1989).

    Campos (2004) aponta outras duas situaes importantes, nas quais o

    pastor evanglico atua como profissional da voz: o rdio e a televiso. Segundo

    o autor, desde 1906 os evanglicos utilizam o rdio para a transmisso de

    mensagens religiosas. Comenta que, com o advento da televiso, as

    mensagens tambm passaram a ser transmitidas por meio desse veculo de

    comunicao, a partir da dcada de 50.

    Na atualidade, encontram-se, nos meios de comunicao (televiso e

    rdio) ou na internet, pregadores que so hbeis com as palavras. Behlau et al.

    (2010) afirmam que estas so situaes que podem causar uma demanda e

    estresse adicionais.

    Mesmo com a utilizao de microfones, equipamentos de amplificao

    e recursos eletrnicos, observa-se que o uso inadequado, esforo e demanda

  • 3 Reviso de Literatura 52

    vocal continuam os mesmos; utiliza-se o mximo da potncia vocal, com

    excesso de intensidade, durante a pregao e o canto (LIMA, 2011; STRANDT

    e JENNINGS, 2010).

    O ministro religioso, ao longo da histria da humanidade, exerce a

    funo de conselheiro espiritual e administrador da Igreja (PERRY, 1990).

    Dentro de sua atribuio profissional, tambm desenvolve o papel pregador,

    educador e pastor (SHEPARD, 1939). Desempenha uma funo fundamental

    no processo educativo e de desenvolvimento do ser humano, semelhante

    desenvolvida pelos professores (PRICE, 1975).

    O exemplo encontrado na Bblia, que foi deixado por Jesus Cristo,

    apresenta o modelo para o exerccio e desempenho das funes na prtica do

    ensino:

    Conclumos que Jesus foi considerado mestre na arte de ensinar, quando vemos que ele praticamente empregou (...) os mtodos usados hoje em dia - perguntas, prelees, histrias, conversas, discusses, dramatizaes, lies objetivas, planejamentos e demonstraes. (...) Vemos ainda que Jesus conhecia perfeitamente a arte de ensinar pelos processos de que lanou mo, pois, quando analisamos suas partes componentes, descobrimos que suas lies tinham exrdio, desenvolvimento e concluso sempre muito apropriados. (...) Ele tratava diretamente dos assuntos, com ilustraes mui adequadas, aplicando muito bem seu ensino a situao e ao momento. (PRICE, 1975, p.23).

    Verdolini e Ramig (2001) relatam que, nos Estados Unidos, o mercado

    de trabalho apresenta trabalhadores com problemas de voz diariamente, e que

    estes s percebem o problema quando h um impacto negativo sobre seu

    trabalho e sua qualidade de vida. Destacam que as principais categorias

    ocupacionais que apresentam alterao vocal so professores e cantores; mas

    outras profisses tambm so importantes, como os assistentes sociais,

    advogados e pastores, principalmente pela demanda vocal que apresentam.

    Ferro et al. (1998) avaliaram o perfil vocal de 70 pastores evanglicos

    de igrejas tradicionais e pentecostais; observaram que 70% dos pastores

    apresentam alterao vocal de grau leve a intenso e 75% alterao no pitch

    (grave ou agudo em excesso). Tambm relatam que 62,5% dos pastores

    referem sensao de pigarro, 75% referem garganta seca com frequncia e

    32,5% ardor na garganta. Somente 17,5% dos pastores referiram ter buscado

    orientao sobre o uso profissional da voz. O estudo salientou que 87% dos

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Verdolini%20K%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=11432413http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Verdolini%20K%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=11432413

  • 3 Reviso de Literatura 53

    pastores evanglicos no foram capazes de perceber a prpria alterao vocal

    e consideraram sua voz satisfatria.

    Quitanilha e Melo (2008) analisaram 12 pastores evanglicos atuantes

    em igrejas pentecostais e renovadas, e observaram que 25% dos pastores

    exercem outra profisso, 17% fazem uso da voz em atividades pastorais de 6 a

    10 horas por semana; e considerando os pastores que exercem atividades

    pastorais em tempo integral, 8,3% usam a voz mais de 30 horas por semana.

    Os autores tambm atestaram que 75% dos pastores evanglicos analisados

    apresentam queixa vocal, 58,3% referem rouquido por mais de dois dias e

    66,6% relatam que apresentam a sensao de mudana na voz, desde que

    comearam as atividades nos cultos. Considerando a intensidade vocal, 75%

    dos sujeitos analisados referiram falar alto e 25% falar muito alto; 100% dos

    entrevistados afirmaram utilizar microfone durante as pregaes. Quando

    questionados sobre tratamento, 41,6% referiram no fazer nada, 50% fazem

    uso da automedicao, e somente 8,3% procuram um especialista.

    Pino et al. (2009), em estudo com 18 pastores que exercem a funo

    de docncia, relatam que pastores docentes de seminrios pentecostais

    afirmam ter o hbito de falar muito (90%) e pigarrear (30%), hbitos tambm

    observados nos pastores docentes de linha tradicional (62,5% e 30%,

    respectivamente). Quanto presena de sintomas vocais, 70% dos

    pentecostais referiram presena de sintomas e 50% dos pastores tradicionais

    referiram alguma queixa vocal. O estudo destaca que 90% dos pastores

    pentecostais participaram de palestras e cursos sobre sade vocal, e somente

    50% dos pastores tradicionais receberam orientaes sobre o assunto. De

    modo geral, os pastores pentecostais relatam mais hbitos prejudiciais para a

    sade vocal do que os pastores de linha tradicional.

    Palheta Neto et al. (2009) analisaram a ocorrncia de distrbios vocais

    em 56 pastores da Igreja Adventista do Stimo Dia. Detectaram que 86% dos

    pastores analisados se dedicavam exclusivamente atividade religiosa e 14%

    exerciam outra atividade profissional. Os sintomas mais referidos pelos

    pastores desse estudo foram: pigarro (78,5%), rouquido (57,1%) e sensao

    de dor ou irritao na garganta (51,8%). No estudo, 66% pastores relataram

    ingerir menos de dois litros de gua diariamente e 34% relataram consumir

    mais de dois litros. Na associao dos principais sintomas com a ingesto de

  • 3 Reviso de Literatura 54

    gua, observou-se maior prevalncia de rouquido nos sujeitos que bebiam

    menos de dois litros diariamente, quando comparados ao grupo que ingeria

    maior quantidade diria. Um total de 8,9% dos pastores no apresentou

    nenhuma sintomatologia, independente do volume de gua ingerido.

    Em estudo realizado com 1.152 pessoas, (LIERDE et al., 2012) foram

    avaliados 832 profissionais da voz e 320 no profissionais da voz. O objetivo

    foi verificar a presena, frequncia e intensidade da dor durante a fonao, com

    o intuito de determinar se a presena de dor estava relacionada com o uso e a

    funo desempenhada pelo profissional da voz. Observa-se que vrios tipos de

    dor foram mais presentes em profissionais da voz, quando comparados aos

    no profissionais da voz (p=0,001); dores na garganta, cabea, pescoo,

    costas, ombro e dor de ouvido foram os sintomas mais relatados pelos

    profissionais da voz do que pelos no profissionais da voz. Os sintomas

    tambm foram relatados como mais intensos pelos profissionais da voz. Em

    relao intensidade, a dor de garganta foi considerada a mais intensa no

    grupo dos profissionais da voz (p=0,002), quando comparados aos no

    profissionais da voz.

    Fritzell (1996) realizou um estudo com 1212 pessoas, ativas

    profissionalmente, em que levantou dados sobre o perfil dos sujeitos,

    comparando o problema de voz apresentado, com a idade e funo profissional

    exercida por eles. De acordo com o autor, o conhecimento destas

    caractersticas facilitaria o desenvolvimento de intervenes mais diretivas na

    promoo da sade vocal dos profissionais da voz. Observou-se que o grupo

    mais expressivo de profissionais foi o dos professores, sendo 76% do sexo

    feminino. Ele comenta que, alm dos professores, os advogados, pastores e

    assistentes sociais precisam de orientao e preparao vocal para o melhor

    desempenho de suas funes profissionais. No estudo, foram avaliados

    somente cinco pastores, sendo quatro do sexo feminino. O autor destaca que a

    voz sofre perda em seu potencial quando uma mulher atua na carreira clerical.

    Outro fator que o autor considera o fato de a mulher estar desenvolvendo

    uma funo com perfil mais masculino, considerando-se o papel

    desempenhado nessa funo.

    Outro estudo realizado com voz de pastoras pentecostais da Igreja do

    Evangelho Quadrangular abordou questes sobre a atuao profissional,

  • 3 Reviso de Literatura 55

    situaes relacionadas ao trabalho, uso da voz e possveis mudanas ou

    variaes vocais percebidas (PENTEADO, HONORATO e NASCIMENTO,

    2006). Somente duas pastoras participaram dessa pesquisa em que relataram

    demanda de atividades excessiva, pelo acmulo das funes na igreja e os

    conflitos vivenciados na tentativa de administrar e conciliar esta atividade com

    o papel de esposa, me e dona de casa. Tambm demonstraram

    desconhecimento sobre aspectos de higiene e sade vocal, indicando que

    possuem um conhecimento bsico, superficial e fragmentado a respeito dos

    cuidados necessrios no uso da voz como instrumento de trabalho. As autoras

    concluram que o preparo da mulher pastora, para o uso profissional da voz,

    ainda se mostra insuficiente.

    Middleton e Hilton (2009) tambm realizaram um estudo com mulheres

    pastoras evanglicas, com o intuito de levantar dados sobre a sade, estilo de

    vida e autopercepo das caractersticas vocais. A avaliao foi feita por meio

    de questionrio autorreferido e uma gravao, realizada durante uso

    profissional da voz em um culto evanglico. No total foram avaliadas seis

    pastoras, que relataram algum tipo de comportamento vocal abusivo: grito, falar

    alto, choro, cantar, rir muito, falar em ambientes ruidosos e uso excessivo de

    telefone.

    Em relao a autopercepo vocal, Middleton e Hilton (2009) salientam

    que 50% das participantes classificaram suas vozes como excelentes

    (pontuao 5). Em contrapartida, os avaliadores classificaram a qualidade

    vocal de todas as participantes entre 2,5 (boa) e 4,3 (boa / muito boa), devido

    presena de alguma caracterstica desviante na voz das participantes.

    Rugosidade e soprosidade foram observadas em todas as vozes analisadas.

    Spina et al. (2009) afirmam que caracterizar o impacto de alguma doena ou

    desordem na qualidade de vida de um indivduo mais difcil que conceituar

    qualidade de vida.

    O ministrio pastoral envolve diversos aspectos psicossociais

    relacionados comunicao humana. A comunicao utilizada em todas as

    atividades de vida diria, sendo o mecanismo pelo qual as relaes

    interpessoais existem e se desenvolvem (KASAMA e BRASOLOTTO, 2007).

    Vrios fatores podem influenciar de maneira positiva e/ou negativa o seu uso e

    desenvolvimento, como fatores fsicos, socioculturais e emocionais.

  • 3 Reviso de Literatura 56

    Buckland (2003) destaca as principais atividades desenvolvidas no

    ministrio do pastor evanglico, que envolvem comunicao, situaes

    emocionais e contato com pessoas, e que podem se tornar fontes geradoras

    de estresse:

    dificuldade para separar horas de trabalho e lazer;

    produzir mensagens inditas para conquistar o interesse do ouvinte;

    relacionamento com pessoas que sempre apresentam problemas

    repetitivos;

    insegurana por no saber se os objetivos de seu trabalho foram

    alcanados;

    alternncia entre sentimentos de alegria, tristeza ou preocupao

    decorrentes de situaes que envolvem as atividades desenvolvidas;

    sentimento de solido por ter que desenvolver grande parte do trabalho

    sozinho;

    necessidade de guardar sigilo nos assuntos que envolvem as pessoas

    que participam da igreja.

    Estresse essencialmente o grau de desgaste total causado pela vida.

    Lipp, Pereira e Sadir (2005) relatam que, durante situaes de estresse, o

    organismo necessita de mecanismos de adaptao. Douglas e Fabichak (2002)

    afirmam que a emoo um estado peculiar de comportamento reativo ao se

    pensar em uma sensao. Deste modo, o indivduo assume uma postura de

    agrado ou desagrado, de prazer ou desprazer, de aceitao ou rejeio.

    O estresse pode influenciar a sade do indivduo, caso alguns limites

    sejam ultrapassados; e, em conjunto, o processo psicofisiolgico do estresse

    tem a durao prolongada. Buckland (2003) alerta que, diante de expectativas

    irreais, a pessoa desenvolve uma jornada de trabalho desbalanceada, o que

    inevitavelmente gera estresse e estafa.

    Cutts et al. (2012) comentam que o tipo de atividade desenvolvida

    pelos pastores e lderes pode influenciar de maneira negativa na sua sade ou

    no bem-estar geral. Os autores destacam estudos que apontam os pastores

    evanglicos como vtimas de alta incidncia de doenas crnicas, como

    doenas cardacas, diabetes, obesidade, asma e artrite, e com taxas mais

    elevadas que dos no evanglicos.

  • 3 Reviso de Literatura 57

    Giannini, Latorre e Ferreira (2012), em um estudo caso-controle com

    professores, tiveram como objetivo associar o distrbio de voz e estresse no

    ambiente de trabalho. Foram observados: maior presena de rouquido (93,4%

    casos e 51% controles, p=0,001); episdios de perda de voz (57,6% casos e

    20,4% controles, p=0,001); cansao ao falar (86,7% casos e 50,0% controles,

    p=0,001); e esforo ao falar (86,1% casos e 52,4% controles, p= 0,001). Os

    participantes tambm apresentaram queixas em relao a ambientes com

    acstica insatisfatria (p=0,010).

    Giannini, Latorre e Ferreira (2012) salientam que o estudo confirmou a

    associao entre distrbio de voz em professores e estresse no ambiente de

    trabalho docente. Os professores do grupo de caso relataram mais condies

    de alta exigncia em sua atuao profissional, quando comparados ao grupo

    controle (OR = 2,1; IC 95%: 1,1-3,9). Isto representa a alta demanda de

    atividades associadas ao baixo controle das situaes que envolvem o

    ambiente de trabalho, situao considerada com maior risco de presena de

    reaes adversas sade fsica e mental dos trabalhadores.

    Behlau (2008) comenta que, quando as demandas vocais requeridas

    pelo falante no so contempladas, desvios em determinados parmetros

    vocais podem caracterizar um distrbio de voz, seja na comunicao diria, na

    expresso das emoes, ou no uso profissional da voz.

  • 3 Reviso de Literatura 58

  • 444 PPPrrrooopppooosssiiiooo

  • 4 Proposio 61

    4 PROPOSIO

    Investigar sintomas vocais e laringofarngeos, qualidade vocal,

    autorreferncia a desconforto em trato vocal e perfil de participao em atividades

    vocais de pastores evanglicos, comparando com os mesmos aspectos de homens

    no profissionais da voz.

    Verificar se h correlao, tanto para pastores evanglicos quanto para

    homens no profissionais da voz, entre o perfil de participao em atividades vocais

    e:

    autorreferncia a sintomas vocais e laringofarngeos,

    a qualidade vocal,

    a autorreferncia a desconforto em trato vocal.

  • 4 Proposio 62

  • 555 MMMaaattteeerrriiiaaalll eee MMMtttooodddooosss

  • 5 Material e Mtodos 65

    5 MATERIAL E MTODOS

    5.1 Casustica

    O projeto de pesquisa foi submetido avaliao do Comit de tica em

    Pesquisa da Faculdade de Odontologia de Bauru, e aprovado de acordo com o

    protocolo n 060/2011 (ANEXOS 1 e 2).

    Para a realizao da pesquisa foram selecionados participantes do sexo

    masculino, com idade entre 20 a 59 anos, ativos profissionalmente, da regio de

    uma cidade de mdio porte do interior do estado de So Paulo.

    Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e

    Esclarecido para participar da pesquisa (ANEXO 3). Os sujeitos foram divididos em 2

    grupos: pastores evanglicos (experimental) e no profissionais da voz (controle),

    pareados em idade.

    Foram considerados como critrio de incluso:

    Grupo experimental

    ser pastor pertencente a qualquer denominao evanglica,

    ter tempo de ministrio pastoral igual ou superior a um ano.

    Grupo controle

    no exercer funo ministerial,

    no utilizar a voz profissionalmente, de acordo com os nveis III

    e IV da classificao de Koufman e Isaacson (1991 apud

    BEHLAU et al., 2010).

    Foram considerados como critrios de excluso para os dois grupos

    pesquisados:

    relato de problemas auditivos e/ou neurolgicos,

    cirurgia larngea pregressa,

    tabagismo atual ou pregresso h 5 anos.

    Estes dados foram coletados por meio de pergunta dirigida feita aos

    participantes, no momento da seleo dos sujeitos.

  • 5 Material e Mtodos 66

    5.2 Metodologia

    Todas as avaliaes foram realizadas no Laboratrio de Voz da Clnica de

    Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru, onde foram realizados os

    procedimentos de preenchimento dos questionrios e a gravao da voz.

    5.2.1 Condio de Produo Vocal (CPV)

    O CPV um questionrio brasileiro desenvolvido para caracterizar a

    condio vocal de professores. O questionrio levanta dados sociodemogrficos,

    aspectos relacionados ao ambiente fsico, organizao de trabalho, sintomas e

    hbitos vocais, aspectos gerais da sade e antecedentes familiares

    (FERREIRA et al., 2007).

    composto por 84 questes, divididas em seis domnios, a saber: I -

    identificao da escola, II - identificao do entrevistado, III - situao funcional,

    IV - aspectos gerais de sade, V - hbitos, e VI - aspectos vocais. A maioria

    das respostas s questes deve ser assinalada de acordo com a frequncia de

    sua ocorrncia, em escala Likert de quatro pontos: nunca (0), raramente (1),

    quase sempre (2), sempre (3). A alternativa no sei tambm consta entre as

    opes de resposta. O questionrio conta, ainda, com algumas questes de

    mltipla escolha, outras para assinalar sim ou no, e algumas questes

    abertas.

    Para a aplicao do CPV em pastores e em homens no profissionais

    da voz, no presente estudo, foram realizadas adaptaes nos domnios I e III

    no que se refere aos termos "escola" (por igreja, empresa, locais ou

    ambiente de trabalho) e professor (por pastor ou atividade profissional)

    (ANEXOS 4 e 5).

    O objetivo do questionrio e a forma de preenchimento foram

    explicados a cada participante de maneira individual, sendo orientado a

    assinalar a resposta mais adequada sua situao. Esse questionrio tem

    como caracterstica ser autoaplicvel, no havendo a necessidade da presena

    do avaliador.

    Para a anlise dos resultados, algumas questes dos domnios II e III,

    e todas as questes do domnio VI foram utilizadas na caracterizao dos

    grupos experimental e controle. Para isso, as respostas em escala Likert foram

  • 5 Material e Mtodos 67

    consideradas em duas categorias: NO (nunca, raramente, no sei) e SIM (s

    vezes, sempre). Foi considerada tambm, para as questes 76 (sintomas

    vocais) e 77 (sensaes na garganta) do domnio VI, a mdia da pontuao

    das respostas em escala Likert, nas anlises propostas no presente estudo.

    5.2.2 Escala de Desconforto do Trato Vocal (EDTV)

    Com base em estudos realizados por Mathieson et al. (2009), a EDTV

    uma ferramenta que est sendo desenvolvida para quantificar, de maneira

    qualitativa, a intensidade e a frequncia de um desconforto na regio

    laringofarngea. No Brasil, vem sendo utilizada a EDTV, traduzida por Behlau e

    colaboradores (ANEXO 7).

    uma escala composta por 8 itens que abordam tanto a frequncia

    quanto a intensidade do sintoma ou sensao percebida pelo indivduo. So

    verificados os seguintes aspectos: queimao, aperto, secura, garganta

    dolorida, coceira, garganta sensvel, garganta irritada e bola na garganta. As

    questes so assinaladas de acordo com a frequncia ou intensidade de sua

    ocorrncia, em escala Likert, composta de sete pontos. Em relao a

    frequncia do sintoma/sensao, as respostas so: nunca (0-1), s vezes (2-3),

    muitas vezes (4-5) e sempre (6). Em relao intensidade: nenhuma (0-1),

    leve (2-3), moderada (4-5) e extrema (6).

    Cada participante recebeu explicao sobre o preenchimento da

    escala e orientao para observar separadamente cada item, considerando a

    frequncia e a intensidade do sintoma/sensao, para assinalar a resposta

    mais adequada sua situao.

    Para a anlise dos resultados, foi considerada a mdia da pontuao

    das respostas em escala nas anlises propostas no presente estudo.

    5.2.3 Avaliao perceptivo-auditiva da voz

    Procedimento para gravao

    Foi realizada a gravao de duas tarefas: emisso de vogal

    sustentada e contagem de nmeros em sequncia. Na primeira tarefa, foi

    solicitado ao participante emitir a vogal /a/, em seu modo habitual de voz,

    durante 5 segundos, aproximadamente. Para a segunda tarefa, o

  • 5 Material e Mtodos 68

    participante foi orientado a contar os nmeros de 1 a 20, em sequncia,

    como se estivesse em uma situao de conversao normal.

    Todas as emisses solicitadas aos sujeitos foram gravadas

    diretamente no computador Intel Pentium (R) 4, CPU 2.040 GHz e 256

    MB de RAM, monitor LG Flatron E7015 17, placa de som modelo Audigy

    II, marca Creative, do Laboratrio de Voz da Clnica de Fonoaudiologia da

    Faculdade de Odontologia de Bauru.

    As emisses foram gravadas no computador por meio de um

    software de edio de udio profissional - Sound Forge 10.0, em taxa de

    amostragem de 44.100 Hz, canal Mono em 16 Bit; e microfone de cabea

    marca AKG modelo C444PP com amplificador modelo 3710 (KayPentax).

    Durante a coleta dos dados, o indivduo permaneceu sentado, em

    uma sala acusticamente tratada. O microfone esteve localizado a 45

    graus e a 4 cm de distncia lateralmente (lado direito) da boca do

    indivduo.

    Anlise das emisses e dos resultados

    As anlises das emisses vogal sustentada e contagem de

    nmeros foram realizadas por trs juzes, fonoaudilogos especialistas

    em voz, com experincia em anlise perceptivo-auditiva da voz. Nas duas

    emisses, foram analisados os parmetros grau geral do desvio vocal,

    rugosidade, soprosidade e tenso, por meio de uma escala analgico-

    visual, de 0 a 100 mm, sendo o extremo esquerda, ausncia da

    caracterstica vocal avaliada; e o extremo direita, presena em grau

    mximo.

    Cada juiz recebeu um CD contendo as emisses dos 60

    participantes, divididas em duas pastas especficas: vogal sustentada e

    contagem de nmeros. Todas as amostras foram apresentadas de forma

    cega e randmica, com o acrscimo de algumas repeties para a

    avaliao da confiabilidade intra e interjuzes. No total, foram 144

    amostras para serem analisadas.

    Junto com o CD, foi entregue um material especfico para a

    anotao dos resultados, dos parmetros referentes vogal sustentada e

    contagem de nmeros de cada participante (ANEXOS 8 e 9).

  • 5 Material e Mtodos 69

    Na anlise, os juzes indicaram o grau de desvio percebido em

    cada parmetro perceptivo marcando um trao verticalmente na escala.

    Para a anlise dos resultados, a marcao foi transformada em

    um valor correspondente em milmetros com o auxlio de uma rgua

    milimtrica. Foi calculada a mdia dos trs juzes, considerando os

    valores dos parmetros observados nos participantes.

    5.2.4 Perfil de Participao em Atividades vocais (PPAV)

    O PPAV um protocolo que tem por objetivo avaliar a percepo do

    problema de voz, a limitao de atividades e restrio de participao,

    utilizando a International Classification of Impairment, Disabilities and Handicap

    (ICIDH) da Organizao Mundial da Sade (OMS), conhecida no Brasil como

    CIF - Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade

    (OMS, 2004).

    No Brasil, esse instrumento foi validado por Behlau et al. (2009) a partir

    do protocolo desenvolvido por Ma e Yiu (2001), denominado Voice Active and

    Participation Profile - VAPP (ANEXO 6).

    O protocolo apresenta-se com 28 questes divididas em cinco sesses:

    autopercepo da severidade do problema de voz, efeitos no trabalho, efeitos

    na comunicao diria, efeitos na comunicao social e efeito na sua emoo.

    A resposta da questo deve ser assinalada de acordo com a frequncia de sua

    ocorrncia, em escala analgica-visual de 0 a 10cm, variando de normal a

    intenso (sesso autopercepo da severidade do problema de voz), e de nunca

    a sempre (demais sesses).

    A orientao sobre o preenchimento do protocolo foi realizada de

    maneira individual, destacando-se a necessidade de uma marcao, em

    qualquer ponto da linha, considerando a graduao da resposta de acordo com

    a prpria percepo do participante. Este protocolo tambm autoaplicvel,

    podendo ser preenchido sem a presena do avaliador.

    Para a anlise dos resultados, a marcao transformada em um valor

    correspondente, utilizando-se uma rgua milimtrica, sendo que cada 1cm

    passa a ser considerado como 01 ponto, e a pontuao de cada questo varia

    de 0 a 10. Sendo assim, a pontuao mxima obtida no protocolo e em cada

    sesso : escore total, 280 (28 questes); autopercepo da severidade do

  • 5 Material e Mtodos 70

    problema de voz, 10 (1 questo); efeitos no trabalho, 40 (4 questes); efeitos

    na comunicao diria, 120 (12 questes); efeitos na comunicao social, 40 (4

    questes); e efeito na emoo, 70 (7 questes).

    O clculo do resultado referente limitao de atividades e restrio

    de participao feito por meio de somatrio simples de questes especficas

    em algumas sesses do PPAV. Para calcular a pontuao de limitao de

    atividades, somam-se as questes das seguintes sesses: efeitos no trabalho

    (questes 2 e 4); efeitos na comunicao diria (questes 6,8,10,12,14 e 16); e

    efeitos na comunicao social (questes 18 e 20). Para calcular a pontuao da

    restrio de participao: efeitos no trabalho (questes 3 e 5); efeitos na

    comunicao diria (questes 7,9,11,13,15 e 17); e efeitos na comunicao

    social (questes 19 e 21).

    Para a anlise dos resultados, foram consideradas a mdia da

    pontuao mxima obtida no protocolo, a mdia da pontuao em cada sesso

    e a mdia dos resultados referentes limitao de atividades e restrio de

    participao.

    5.2.4. Anlise estatstica

    Os dados obtidos foram tabulados em planilha do programa Excel; e as

    anlises realizadas, por estatstico da instituio, pelo programa Statistica for

    Windows verso 10.0, StatSoft Inc.

    Foi realizado o clculo da mdia e desvio padro dos valores, bem

    como o clculo da porcentagem do nmero de sujeitos para caracterizao dos

    grupos experimental e controle.

    Para comparao entre os grupos, nas variveis ordinais, foi realizado

    o Teste de Mann-Whitney.

    Para comparao entre os grupos, nas variveis qualitativas, foi

    realizado Teste t.

    Para correlao dos dados, tanto para o grupo experimental quanto

    para o grupo controle, nas variveis ordinais, foi realizado o Teste de

    Spearman.

    Para correlao dos dados, tanto para o grupo experimental quanto

    para o grupo controle, nas variveis qualitativas, foi realizado o Teste de

    Pearson.

  • 5 Material e Mtodos 71

    Para verificar a concordncia intrajuzes, foi realizado o teste CCI

    (Coeficiente de Correlao Intraclasse).

    Em todos os testes estatsticos foi adotado nvel de significncia de 5%

    (p

  • 5 Material e Mtodos 72

  • 666 RRReeesssuuullltttaaadddooosss

  • 6 Resultados 75

    6 RESULTADOS

    6.1 Caracterizao dos grupos analisados

    No total, participaram do estudo 60 homens, dentro dos critrios

    estabelecidos para incluso na pesquisa, sendo 30 pastores evanglicos

    (experimental) e 30 homens no profissionais da voz (controle). Foram selecionados

    sujeitos pareados em idade, com mdia de idade de 42,3 anos, sendo o mnimo de

    24 anos e o mximo de 59 anos.

    De acordo com a Tabela 1, 68% dos participantes possuem ensino superior

    completo ou em andamento.

    Tabela 1 - Indivduos dos grupos experimental e controle, de acordo com idade, estado civil e escolaridade.

    VARIVEIS EXPERIMENTAL (n=30) CONTROLE (n=30)

    n (%) n (%)

    IDADE

    21-30 anos 3 (10) 3 (10)

    31-40 anos 10 (33,3) 10 (33,3)

    41-50 anos 9 (30) 9 (30)

    51-59 anos 8 (26,7) 8 (26,7)

    ESTADO CIVIL

    Casado/outra unio 29 (96,7) 19 (63,3)

    Solteiro --- 5 (16,7)

    Separado/divorciado --- 5 (16,7)

    Vivo 1 (3,3) 1 (3,3)

    ESCOLARIDADE

    Superior completo 19 (63,3) 18 (60)

    Superior incompleto 5 (16,7) 2 (6,7)

    Superior em andamento 2 (6,7) 2 (6,7)

    Sem nvel superior 4 (13,3) 8 (26,7)

    Em relao atuao profissional, 80% dos pastores e 7% dos no

    profissionais da voz desenvolvem outra atividade profissional. A mdia de tempo da

    carreira profissional (profisso atual) de 13,15 anos, com mnimo de 01 ano e

    mximo de 42 anos (TABELA 2).

  • 6 Resultados 76

    Tabela 2 - Indivduos dos grupos experimental e controle no que se refere situao profissional

    SITUAO PROFISSIONAL EXPERIMENTAL (n=30) CONTROLE (n=30)

    n (%) n (%)

    PROFISSO (**)

    Pastor evanglico ( titular ou auxiliar) 30 (100) ---

    Professor 8 (26,7) ---

    Funcionrio pblico 3 (10) 9 (30)

    Diretor de instituio 3 (10) 1 (3,3)

    Bancrio 2 (6,7) ---

    Auxiliar em setor de logstica e controle de qualidade

    2 (6,7) ---

    Capelania escolar 1 (3,3) ---

    Juiz trabalhista 1 (3,3) ---

    Advogado 1 (3,3) 3 (10)

    Consultor de negcios 1 (3,3) 2 (6,7)

    Empresrio 1 (3,3) 5 (16,7)

    Engenheiro civil 1 (3,3) ---

    Tcnico informtica 1 (3,3) ---

    Setor de construo e manuteno residencial

    1 (3,3) 2 (6,7)

    Mdico --- 1 (3,3)

    Gestor --- 2 (6,7)

    Arquiteto --- 1 (3,3)

    Publicitrio --- 1 (3,3)

    Designer --- 1 (3,3)

    Comerciante --- 3 (10)

    Policial --- 1 (3,3)

    TEMPO DE CARREIRA (profisso atual)

    at 5 anos 3 (10) 2 (6,7)

    6-10 anos 6 (20) 6 (20)

    11-15 anos 6 (20) 6 (20)

    16-20 anos 8 (26,7) 4 (13,3)

    mais de 20 anos 7 (23,3) 12 (40)

    ** Os grupos possuem sujeitos que desempenham mais de uma atividade profissional.

  • 6 Resultados 77

    Quanto demanda vocal, a populao foi composta por profissionais que

    permanecem em atividade profissional com carga horria que varia de

    aproximadamente 20 a 40 horas semanais.

    Em relao ao acmulo de funes, 80% dos pastores evanglicos

    desenvolvem 2 ou mais atividades profissionais simultaneamente (TABELA 3).

    Tabela 3 - Indivduos dos grupos experimental e controle no que se refere demanda de trabalho.

    DEMANDA DE TRABALHO EXPERIMENTAL (n=30) CONTROLE (n=30)

    n (%) n (%)

    ACMULO FUNES

    1 atividade profissional 6 (20) 28 (93,3)

    2 atividades profissionais 21 (70) 2 (6,7)

    mais de 2 atividades profissionais 3 (10) ---

    CARGA HORRIA

    menos de 20h/sem 1 (3,3) ---

    20h-30h/sem 3 (10) ---

    30-40h/sem 12 (40) 23 (76,7)

    mais de 40h/sem 14 (46,7) 7 (23,3)

    Em relao ao grupo experimental, a Tabela 4 mostra que 70% dos pastores

    evanglicos so de linha tradicional; a maioria desses pastores tem o cargo de

    pastor titular, geralmente atuando somente em uma igreja. Observa-se que 43,3%

    dos pastores dedicam menos de 20 horas semanais para as atividades ministeriais; isso

    ocorre devido necessidade de desenvolver outras atividades profissionais.

  • 6 Resultados 78

    Tabela 4 Indivduos do grupo experimental, em relao s atividades desenvolvidas como pastor evanglico.

    GRUPO EXPERIMENTAL n=30 (%)

    CARGO

    pastor titular 18 (60)

    pastor auxiliar 12 (40)

    DENOMINAO

    Batista 17 (56,7)

    Presbiteriana 3 (10)

    Luterana 1 (3,3)

    Pentecostal 7 (23,3)

    Neopentecostal 2 (6,7)

    TEMPO DE CARREIRA

    At 5 anos 13 (43,3)

    6-10 anos 3 (10)

    11-15 anos 3 (10)

    16-20 anos 7 (23,3)

    Mais de 20 anos 4 (13,3)

    CARGA HORRIA

    menos de 20h/sem 13 (43,3)

    20h-30h/sem 7 (23,3)

    30-40h/sem 5 (16,7)

    mais de 40h/sem 5 (16,7)

    IGREJAS QUE ATUA

    1 igreja 24 (80)

    2 igrejas 4 (13,3)

    Mais de 2 igrejas 2 (6,7)

    Considerando toda a populao analisada, 48% dos participantes referiu que

    j apresentou algum episdio de alterao vocal (pregressa ou atual), sendo que

    31,03% desses no souberam referir como foi o incio do problema. A causa de

    alterao vocal mais citada foi o uso intensivo da voz, e nenhum sujeito com

    alterao vocal atual afirmou realizar tratamento especializado para o seu problema

    (TABELA 5).

  • 6 Resultados 79

    Tabela 5 - Indivduos dos grupos experimental e controle, considerando a presena de alterao vocal (numerao referente ao CPV).

    ALTERAO VOCAL EXPERIMENTAL (n=30) CONTROLE (n=30)

    n (%) n (%)

    67. Alterao vocal

    Pregressa 14 (46,7) 11 (36,7)

    Atual 4 ( 13,3) ---

    68. Tempo de alterao vocal atual

    0 a 5 meses 2 (6,7) ---

    6 meses a 11 meses --- ---

    1 a 2 anos 1 (3,3) ---

    H mais de 2 anos 1 (3,3) ---

    69. Causa da alterao vocal

    Uso intensivo da voz 6 (20) 8 (26,7)

    Infeco respiratria 1 (3,3) 1 (3,3)

    Alergia 2 (6,7) 3(10)

    Estresse 3 (10) 1 (3,3)

    Gripe constante 3 (10) ---

    Exposio ao frio 4 (13,3) 4 (13,3)

    Exposio ao barulho --- 3 (10)

    No houve causa aparente 1 (3,3) 2 (6,6)

    No sei 4 (13,3) ---

    Outros 1 (3,3) 1 (3,3)

    70. Tratamento especializado para o problema

    Sim, realizo --- ---

    Sim, j realizei 4 (13,3) 6 (20)

    No --- ---

    Tipo de tratamento

    Terapia fonoaudiolgica 3 (10) 6 (20)

    Uso de medicamentos 1 (3,3) ---

    Cirurgia --- ---

    Outros --- ---

    71. Incio do problema

    Brusco 7 (23,3) 1 (3,3)

    Progressivo 5 (16,7) 2 (6,7)

    Vai e volta 4 (13,3) 1 (3,3)

    72. Estabilidade da alterao vocal

    Melhora 5 (16,7) 7 (23,3)

    Piora 1 (3,3) --- Igual 9 (30) 2 (6,7)

    73. Grau de alterao vocal

    Discreta 11 (36,7) 6 (20) Moderada

    6 (20) 4 (13,3)

    Severa 3 (10) ---

  • 6 Resultados 80

    Tabela 6 - Indivduos dos grupos experimental e controle, considerando a percepo vocal, hbitos e outros aspectos vocais.

    ASPECTOS VOCAIS EXPERIMENTAL (n=30) CONTROLE (n=30)

    n (%) n (%)

    74. Voz ao longo do dia

    rouca pela manh e vai melhorando 20 (66,7) 15 (50)

    melhor de manh e vai piorando 2 (6,7) 1 (3,3)

    de manh a voz no sai --- ---

    rouca de manh, vai melhorando e noite piora

    --- ---

    a noite a voz no sai --- ---

    75. Reao das pessoas em relao voz

    referem alterao de voz constante 2 (6,7) ---

    se espantam com sua voz 1 (3,3) 1 (3,3)

    no entendem o que voc diz 4 (13,3) 1 (3,3)

    confundem o sexo --- 1 (3,3)

    confundem a idade --- 1 (3,3)

    perguntam qual o problema --- ---

    nenhuma reao 17 (56,7) 20 (66,7)

    Outros --- 1 (3,3) 78. Faltar ao trabalho devido alterao na voz --- ---

    79. Satisfao com a prpria voz 21 (70) 23 (76,7)

    80. Orientaes sobre cuidados com a voz 23 (76,7) 16 (53,3)

    82. Hbitos vocais no ambiente de trabalho

    Poupar a voz quando no est trabalhando 18 (60) 6 (20%)

    Gritar 4 (13,3) 5 (16,7)

    Falar muito 23 (76,6) 17 (56,7)

    Falar em lugar aberto 19 (63,3) 13 (43,3)

    Falar realizando atividades fsicas 14 (46,7) 6 (20)

    Falar carregando peso 5 (16,7) 8 (26,7)

    Beber gua durante uso da voz 6 (20) 10 (33,3)

    83. Hbitos vocais fora do ambiente de trabalho

    Cantar em coral 9 (30) 3 (10)

    Cantar profissionalmente --- ---

    Cantar em igreja 25 (83,3) 14 (46,7)

    Fazer leituras pblicas 25 (83,3) 9 (30)

    Participar de debates 18 (60) 9 (30)

    Cuidar de alunos 20 (66,7) 3 (10)

    Trabalhar com vendas 7 (23,3) 7 (23,3)

    Fazer gravaes 6 (20) 1 (3,3)

    Dar aulas particulares 11 (36,7) ---

    Falar ao telefone 29 (96,7) 25 (83,3)

    Outros 1 (3,33) ---

    84. Casos de alterao de voz na famlia 4 (13,3) 1 (3,3)

  • 6 Resultados 81

    De acordo com a TABELA 6, 73% dos sujeitos esto satisfeitos com a

    prpria voz, e 65% j receberam algum tipo de orientao sobre cuidados com a

    voz. Nenhum sujeito referiu faltar no trabalho por questes vocais.

    Observando a Tabela 7, os sintomas vocais mais referidos pela populao

    estudada foram rouquido e voz grossa. Em relao s sensaes laringofarngeas,

    observam-se: pigarro (35%), tosse seca (28%) e garganta seca (25%), como os mais

    citados pelos sujeitos analisados.

    Tabela 7 - Indivduos dos grupos experimental e controle, considerando a presena de sintomas vocais e sensaes laringofarngeas.

    Aspectos Vocais EXPERIMENTAL (n=30) CONTROLE (n=30)

    n (%) n (%)

    76. Sintomas vocais

    Rouquido 8 (26,6) 3 (10)

    Perda de voz 1 (3,3) ---

    Falha na voz 3 (10) 3 (10)

    Falta de ar 3 (10) 2 (6,7)

    Voz fina 2 (6,7) 1 (3,3)

    Voz grossa 7 (23,3) 7 (23,3)

    Voz variando grossa/fina 2 (6,7) 1 (3,3)

    Voz fraca 2 (6,7) 3 (10)

    Outros 1 (3,3) ---

    77. Sensaes na garganta

    Picada na Garganta --- ---

    Areia na Garganta 1 (3,3) 1 (3,3)

    Bola na Garganta --- 1 (3,3)

    Pigarro 17 (56,7) 4 (13,3)

    Tosse Seca 12 (40) 5 (16,7)

    Tosse com Catarro 8 (26,7) 1 (3,3)

    Dor ao Falar --- 1 (3,3)

    Dor ao Engolir 1 (3,3) ---

    Dificuldade para Engolir 1 (3,3) ---

    Ardor na Garganta 4 (13,3) 1 (3,3)

    Secreo/ Catarro na Garganta 10 (33,3) 1 (3,3)

    Garganta Seca 11 (36,7) 4 (13,3)

    Cansao ao Falar 14 (46,7) ---

    Esforo ao Falar 4 (13,3) 1 (3,3)

    Outros 1 (3,3) ---

  • 6 Resultados 82

    6.2 Comparao entre os grupos experimental e controle

    6.2.1 Sintomas vocais e sensaes laringofarngeas

    Observando-se os valores referentes aos sintomas vocais, verificou-se

    que no h diferena significante entre o grupo dos pastores evanglicos e os

    homens no profissionais da voz, de acordo com os resultados apresentados

    na Tabela 8.

    Tabela 8 Comparao da mdia de pontuao do CPV (escala de 0 a 3) entre os grupos experimental e controle, com relao aos sintomas vocais.

    SINTOMAS VOCAIS Mdia ( Dp)

    p EXPERIMENTAL CONTROLE

    Rouquido 0,90 ( 0,96) 0,53 ( 0,68) 0,151

    Perda de voz 0,23 ( 0,50) 0,07 ( 0,25) 0,129

    Falha na voz 0,63 ( 0,76) 0,40 ( 0,67) 0,163

    Falta de ar 0,47 ( 0,68) 0,20 ( 0,55) 0,052

    Voz fina 0,13 ( 0,51) 0,17 ( 0,46) 0,451

    Voz grossa 0,87 ( 0,94) 1,07 ( 0,99) 0,266

    Voz variando grossa/fina 0,37 ( 0,81) 0,30 ( 0,53) 0,860

    Voz fraca 0,43 ( 0,73) 0,37 ( 0,81) 0,375

    Outros 0,43 ( 0,43) 0,00 ( 0,00) 0,081

    Obs: Comparao entre grupos (teste de Mann-Whitney)

    Considerando s sensaes laringofarngeas, observam-se diferenas

    significantes entre os grupos, sendo que os pastores evanglicos referiram, em

    maior frequncia, pigarro, tosse com catarro, ardor na garganta,

    secreo/catarro na garganta, garganta seca, cansao ao falar e esforo ao

    falar, que homens no profissionais da voz (TABELA 9).

  • 6 Resultados 83

    Tabela 9 Comparao da mdia de pontuao do CPV (escala de 0 a 3) entre os grupos experimental e controle, com relao s sensaes laringofarngeas.

    SENSAES LARINGOFARNGEAS Mdia ( Dp)

    p EXPERIMENTAL CONTROLE

    Picada na Garganta 0,07 ( 0,25) 0,07 ( 0,25) 0,986

    Areia na Garganta 0,17 ( 0,46) 0,13 ( 0,43) 0,710

    Bola na Garganta 0,13 ( 0,34) 0,10 ( 0,40) 0,434

    Pigarro 1,37 ( 1,09) 0,73 ( 0,69) 0,019*

    Tosse Seca 1,13 ( 0,97) 0,67 ( 0,76) 0,060

    Tosse com Catarro 0,90 ( 0,80) 0,43 ( 0,68) 0,015*

    Dor ao Falar 0,10 ( 0,30) 0,13 ( 0,43) 0,977

    Dor ao Engolir 0,20 ( 0,48) 0,23 ( 0,43) 0,580

    Dificuldade para Engolir 0,23 ( 0,50) 0,17 ( 0,38) 0,708

    Ardor na Garganta 0,63 ( 0,72) 0,27 ( 0,52) 0,028*

    Secreo/ Catarro na Garganta 1,04 ( 0,78) 0,30 ( 0,53) 0,000*

    Garganta Seca 1,40 ( 0,93) 0,57 ( 0,73) 0,000*

    Cansao ao Falar 1,23 ( 0,82) 0,13 ( 0,35) 0,000*

    Esforo ao Falar 0,73 ( 0,74) 0,13 ( 0,43) 0,000*

    Outros 0,07 ( 0,36) 0,00 ( 0,00) 0,334

    * Resultado significante da comparao entre grupos (teste de Mann-Whitney)

    6.2.2 Desconforto em trato vocal

    Em relao frequncia e intensidade do desconforto no trato vocal,

    observa-se diferena significante entre o grupo dos pastores evanglicos e

    homens no profissionais da voz; os pastores evanglicos referiram mais o

    sintoma secura, tanto na frequncia (p=0,009) quanto na intensidade (p=0,006)

    do sintoma (TABELA 10).


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