Transcript

DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO III N.º 66 (II série) 21 de Janeiro de 2009 � 1 euro (iva incluído)

Telef.: 309 801 277Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

“Saúde emPortuguês”lança livrode E. Castela

15.º ANIVERSÁRIO

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CASA MIGUEL TORGA AMANHÃ EM COIMBRA

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Universidadedivulgaquem venceuo seu Prémio

Alzira Seixoprofereconferênciano dia 30

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COM MUNDO A VER

Obamajá éPresidentedos EUA

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Coimbraé caso únicona Saúdea nível mundial

AFIRMA CORREIA DE CAMPOS

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ESCRITORA E HISTORIADORA ESPANHOLAEM ENTREVISTA AO “CENTRO”

Livro sobrea Rainha Santa Isabelcom nova versãosobre o “Milagredas Rosas”

2 21 DE JANEIRO DE 2009ANIMAL

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNIF: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

ISSN: 1647-0540

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 2.º e 3.º - 3000-390 Coimbra

Telefone: 309 801 277 - Fax: 309 819 913

e-mail: [email protected]

Impressão: CORAZEOliveira de Azeméis

Depósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

CAMPANHA “COIMBRA ADOPCÃO”

A troco de nada ganhe um grande amigoO Canil/Gatil Municipal de Coimbra pros-

segue uma campanha intitulada “Adop-Cão”, com o seguinte lema: “Adoptemum animal no Canil Municipal”.

Trata-se de uma iniciativa muito me-ritória, que permite que pessoas que gos-tam de animais ali possam ir buscar umfiel companheiro, sem nada pagarempor isso.

São muitos os cães (e também algunsgatos) que esperam que gente com bomcoração os vá adoptar, tendo como re-compensa conquistarem um amigo paratoda a vida, já que estes animais rapi-

apenas custam uns minutos na deslocação,para escolher um companheiro (ou compa-nheira) para a vida, que será sempre fiel e deuma enorme dedicação e em troca apenaspede um pouco de atenção e de carinho.

O Canil/Gatil Municipal fica no Campodo Bolão, Mata do Choupal, onde os ani-mais esperam, ansiosos, por uma nova casae uma nova família.

Os interessados em obter mais informa-ções podem ligar para o telemóvel 927 441888 (a qualquer hora), ou para o Canil/Gatl(das 9 às 17h30 dos dias úteis) através dotelefone 239 493 200.

damente se adaptam aos seus novosdonos (que, para além do mais, os esta-rão a poupar a um fim muito triste e tre-mendamente injusto).

Um cão ou um gato é sempre um pre-sente bem recebido, desde que a pessoa aquem ele se oferece goste de animais, nãoos encare como um brinquedo ou um ob-jecto e tenha condições mínimas para delestratar convenientemente.

Se for o caso, não hesite em ir buscarum destes amigos muito valiosos em ter-mos materiais (basta ver os preços nas lo-jas de animais!...), mas que no Canil/Gatil

Podem também enviar um e-mail [email protected] consultar o sitewww.cm-coimbra.pt/741.htmOs dias e horas especificamente desti-

nados às adopções são os seguintes:- segundas-feiras, das 14h30 às 16h30;- quintas-feiras, das 10 às 12 horas.

Abaixo publicamos imagens de algunsdos bons aamigos de 4 patas que estão àespera de que alguém queira aproveitar todoo carinho que têm para dar. e não searrependerá!

Aos Assinantes do “Centro”Como tem sido bem evidente nas notícias vindas a público, o sector da comunicação socialé um dos mais afectados pela crise que se abateu sobre toda a sociedade, sobretudo pelo brutaldecréscimo nos investimentos publicitários.Perante isto, até os grandes grupos de comunicação social estão a fazer despedimentosem massa, para além de haver muitos jornais reguionais que se viram obrigadosa suspender a publicação.Aqui no “Centro” estamos a fazer um enorme esforço para superar as dificuldades.Mas esse esforço só será bem sucedido se conseguirmos receitas de publicidade e se os nossosAssinantes tiverem a gentileza de proceder ao pagamento da respectiva assinatura anual- que se mantém em 20 euros desde o início do jornal.Se quer que esta tribuna livre possa manter-se, muito agradecemos que nos envie o pagamentoda sua assinatura - uma verba que representa apenas o equivalente a cerca de 5 cêntimos por dia,menos de 40 cêntimos por semana!Outra forma de ajudar este projecto independente é conseguir-nos novos Assinantes,por exemplo entre os seus fSamiliares e amigos (veja a página ao lado).

Contamos consigo!

321 DE JANEIRO DE 2009 NACIONAL

Temos uma excelente sugestãopara uma oferta a um Amigo, a umFamiliar ou mesmo para si próprio:uma assinatura anual do jornal“Centro”

Custa apenas 20 euros e ainda re-cebe de imediato, completamentegrátis, uma valiosa obra de arte.

Trata-se de um belíssimo trabalhoda autoria de Zé Penicheiro, expres-samente concebido para o jornal“Centro”, com o cunho bem carac-terístico deste artista plástico – umdos mais prestigiados pintores portu-gueses, com reconhecimento mesmoa nível internacional, estando repre-sentado em colecções espalhadas porvários pontos do Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro,com o seu traço peculiar e a incon-fundível utilização de uma invulgarpaleta de cores, criou uma obra quealia grande qualidade artística a umprofundo simbolismo.

De facto, o artista, para represen-tar a Região Centro, concebeu umaflor, composta pelos seis distritos queintegram esta zona do País: Aveiro,Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é repre-sentado por um elemento (remeten-do para o respectivo património his-tórico, arquitectónico ou natural).

A flor, assim composta desta for-

ma tão original, está a desabrochar,simbolizando o crescente desenvolvi-mento desta Região Centro de Portu-gal, tão rica de potencialidades, de His-tória, de Cultura, de património arqui-tectónico, de deslumbrantes paisagens(desde as praias magníficas até às ser-ras imponentes) e, ainda, de gente hos-pitaleira e trabalhadora.

Não perca, pois, a oportunidade dereceber já, GRATUITAMENTE ,esta magnífica obra de arte (cujas di-mensões são 50 cm x 34 cm).

Para além desta oferta, o beneficiá-rio passará a receber directamente em

sua casa (ou no local que nos indicar),o jornal “Centro”, que o manterásempre bem informado sobre o que demais importante vai acontecendo nes-ta Região, no País e no Mundo.

Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo,por APENAS 20 EUROS!

Não perca esta campanha promo-cional e ASSINE JÁ o “Centro”.

Para tanto, basta cortar e preen-cher o cupão que abaixo publicamos,e enviá-lo, acompanhado do valor de20 euros (de preferência em chequepassado em nome de AUDIMPREN-SA), para a seguinte morada:

AUDIMPRENSAJornal “Centro”

Rua da Sofia. 95 - 3.º3000–390 COIMBRA

Poderá também dirigir-nos o seu pe-dido de assinatura através de:

� telefone 309 801 277� fax 309 819 913� ou para o seguinte endereço

de e-mail:[email protected]

Para além da obra de arte que des-de já lhe oferecemos, estamos a pre-parar muitas outras regalias para osnossos assinantes, pelo que os 20 eu-ros da assinatura serão um excelenteinvestimento.

O seu apoio é imprescindível paraque o “Centro” cresça e se desen-volva, dando voz a esta Região.

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ORIGINAL PRESENTE POR APENAS 20 EUROS

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Desejo oferecer/subscrever uma assinatura anual do CENTRO

PROSSEGUE CICLO DE CONFERÊNCIAS NA CASA-MUSEU MIGUEL TORGA

Maria Alzira Seixo no próximo dia 30vem falar sobre “O Senhor Ventura”

Prossegue no próximo dia 30 (sexta-feira da próxima semana), o Ciclo de

Conferências que está a ser promovidona Casa-Museu Miguel Torga, em Coim-

Professora Catedrática da Faculdade deLetras da Universidade de Lisboa, quese desloca a Coimbra para falar sobre“O Senhor Ventura”, uma das mais apre-ciadas obras de Miguel Torga.

A conferência inicia-se às 17 horas,na Casa-Museu Miguel Torga, e é aber-ta a todos os interessados.

Recorde-se que a primeira conferên-cia deste Ciclo foi proferida por ClaraRocha, Professora Catedrática da Facul-dade de Letras da Universidade Novade Lisboa, e filha do Escritor, que abor-dou o tema “A Casa de meus Pais”.

Está já confirmada a presença de di-versos outros conferencistas, entre osquais Mário Soares, em datas que opor-tunamente serão divulgadas.

Maria Alzira Seixo

bra, sob o título genérico de “Identidades”.Desta feita será Maria Alzira Seixo,

EVOCAÇÃO EM LISBOA

Entretanto, também em Lisboa a fi-gura de Miguel Torga foi evocada na

passada sexta-feira, por iniciativa da Es-cola Superior de Educação Almeida Gar-rett, e com a participação de Maria Bar-roso e Carlos Carranca, entre outros.

Miguel Torga

4 21 DE JANEIRO DE 2009OBAMA PRESIDENTE

O novo presidente dos Estados Uni-dos, Barack Obama, pediu ontem (terça-feira) “uma nova era de responsabilida-de” dos norte-americanos nas suas vidase para o seu país no mundo, como forçade cooperação e diálogo.

ACTO DE POSSE PROVOCOU ENTUSIASMO EM TODO O MUNDO

Presidente Obama pede“nova era de responsabilidade” do país

No seu discurso após o juramento comoPresidente dos Estados Unidos, Obamaapelou aos valores fundamentais do seu paíscomeçar um novo capítulo na sua história.

“A nossa economia está enfraquecida,como consequência da avidez e da irres-

ponsabilidade por parte de alguns, mas tam-bém pelo fracasso colectivo em tomar asdecisões difíceis e preparar a nação parauma nova era”, disse Obama.

Perante esses erros, Obama instou osnorte-americanos a retomar o que fez dos

Estados Unidos a nação que é: o traba-lho duro, a honestidade, a coragem, a jus-tiça, a tolerância e o patriotismo.

“O que nos é pedido agora é uma novaera de responsabilidade, o reconhecimen-to, por parte de cada norte-americano de

Antigos Presidentes Carter, George W. Bush e Clinton na cerimónia de posse(imagem acima), que foi acompanhada com entusiasmo em todo o Mundo (como éexemplo a foto ao lado)

521 DE JANEIRO DE 2009 OBAMA PRESIDENTE

que temos obrigações face a nós próprios,à nossa nação e ao mundo”, disse.

No plano internacional, o novo Presiden-te quis assinalar uma mudança em relaçãoà administração anterior, apesar de teragradecido seu antecessor pelo “seu ser-viço” aos Estados Unidos.

“A todos os povos e governos que nosvêem hoje, desde as maiores capitais àpequena localidade onde nasceu o meu pai:saibam que os Estados Unidos são um

amigo de cada nação e de cada homem,mulher e criança que procura um futurode paz e dignidade e que estamos prontospara liderar uma vez mais”, afimou.

Recordou que os Estados Unidos der-rotaram o facismo e o comunismo “comalianças sólidas e convicções fortes”

“O nosso poder só não nos pode pro-teger, nem nos dá direito a fazer o quenos apetece”, disse.

Obama assinalou que os desafios

actuais requerem que os Estados Uni-dos façam um esforço maior para pro-mover a cooperação e o entendimentoentre as nações, perante a ameaça nu-clear e o aquecimento global.

O presidente norte-americano ofe-receu “um novo caminho em direcçãoao futuro” ao mundo muçulmano.

“Aos líderes que procuram semearo conflito ou responsabilizam o Ociden-

te pelos problemas nas suas socieda-des - saibam que o vosso povo vos jul-gará pelo que conseguirem construir enão pelo que destroem. Aos que seagarram ao poder através da corrup-ção e do engano e silenciando a dis-senção, saibam que estão do lado er-rado da história, mas que estendere-mos a mão se estiverem dispostos aabrir o punho”, declarou.

Samuel Jackson e Denzel Washington (imagem acima) foram dois dos milharesde famosos que estiveram presentes na cerimónia de posse

Bush já passou para segundo plano

6 21 DE JANEIRO DE 2009INTERNACIONAL

Fiodor Lukyanov *

* in revista A Rússia na Política Global

O mundo olha com medo para o anorecém-nascido, receando imprevisíveisconsequências económicas e políticas dacrise global que deflagrou em 2008.

Em Abril, em foco estará a segundacimeira dos «Vinte Grandes». Nos me-ses que faltam, os maiores países nãoserão capazes de implementar a Decla-ração sobre os Mercados Financeiros ea Economia Mundial, aprovada em No-vembro de 2008 em Washington. O do-cumento prevê uma série de medidascolectivas destinadas a «elevar o nívelde transparência e controlo».

Vários analistas e investigadores apon-tam, faz muito, a contradição existenteentre o carácter global dos processos nonosso planeta e o pensamento político afluir por bitolas nacionais, entre a neces-sidade de acções colectivas e a impre-paração para tal actuação.

Uma confirmação disso será a Confe-rência da ONU sobre Mudanças Clima-téricas que abrirá em Novembro em Co-penhaga. O seu objectivo consiste emacordar um documento em substituiçãodo Protocolo de Quioto que expira em2012. Espera-se uma luta renhida, já queà ecologia estão estreitamente ligadosmuitos interesses egoístas, que os princi-pais jogadores – os EUA, a UE e a China– tentarão impor sob a capa de preocu-pação pelo futuro da Humanidade.

UM ANO DE ANIVERSÁRIOS

Em Julho, assinala-se o 300º aniversá-rio da Batalha de Poltava. Perto daquelacidade ucraniana o czar Pedro, o Grande

2009: um ano de problemas globaisobteve, em 1709, a vitória definitiva sobreo exército sueco do rei Carlos XII e umcorpo de cavalaria cossaca, comandadopelo cabo de guerra ucraniano Mazepa.A data será aproveitada para especula-ções políticas, envenenando ainda mais asrelações entre Moscovo e Kiev.

Em Abril, na cimeira da NATO (queterá lugar na fronteira franco-alemã) fes-tejar-se-á o 60.º aniversário da Aliança.Os promotores não querem ofuscar acimeira com temas capazes de pôr a nuas divergências entre os países membros,sendo pouco provável que a Geórgia e aUcrânia constem da agenda.

O evento é também excelente pretextopara a primeira viagem do Presidente dosEUA à Europa onde será recebido comeuforia. O futuro discurso de BarackObama sobre a unidade transatlânticapode entrar, de antemão, nos anais deArte Oratória.

No entanto, os problemas reais daNATO permanecerão. A Aliança não temuma missão bem definida e a situaçãono Afeganistão continua a piorar.

As relações com a Rússia continuarãono centro das atenções da NATO. E pelomenos alguns países membros tentarãoaprsentar Moscovo como uma ameaçacapaz de consolidar a Organização do Tra-tado do Atlântico Norte. A propósito, emMarço completam-se 10 anos sobre a pri-meira acção militar da NATO, nomeada-mente a guerra contra a Jugoslávia.

Duas datas – o 70º aniversário doPacto Molotov-Ribbentrop e do início daII Grande Guerra (Agosto-Setembro), eo 20º aniversário da queda do muro deBerlim – vão esimular a discussão histó-rica que se transforma num factor dasrelações internacionias. Os neófitos da

UE, em primeiro lugar a Polónia e osEstados Bálticos, aproveitarão a memó-ria do passado para apresentar a sua vi-são da política europeia contemporânea.

O segundo evento fará regressar osdebates sobre os vencedores e os venci-dos na «guerra fria». No Ocidente temsurgido um perigoso sentimento de triun-falismo, de absoluta supremacia moral epolítica, de um sortido de ideias sem al-ternativa. Na Rússia, acaba de apareceruma espécie de vontade de «desforra».Naturalmente, será difícil chegar a umentendimento sobre este assunto.

Em Outubro, assinala-se o 60º aniver-sário da proclamação da República Po-pular da China, que certamente servirápara lembrar a todos o papel que estepaís desempenha no mundo de hoje. AChina também terá duas datas menosagradáveis: em Março, o 50º aniversárioda rebelião no Tibete, e em Junho, o 20ºaniversário da sangrenta repressão dasmanifestações estudantis na Praça daPorta da Paz Celeste, em Pequim.

UM ANO DE ELEIÇÕES

As eleições que determinam em gran-de parte a política em 2009 realizaram-se nos EUA no fim do ano passado. Em20 de Janeiro (ontem) tomou posse oPresidente Barack Obama. As expecta-tivas com ele relacionadas são compa-ráveis apenas com as de representaçãode prestidigitador ou milagreiro. BarackObama terá, sem dúvida, um «ano demel». Mas é impossível prever como seráa «performance» real do 44º presidentenorte-americano.

Em Junho, os cidadãos dos 27 paísesda UE vão ter eleições para o Parlamen-

to Europeu. Pensava-se que os novoseurodeputados iriam representar umanova união, com base no novo Tratadode Lisboa e simbolizando uma maior in-tegração. A festa foi estragada pelos ir-landeses, que declinaram o documentono referendo em 2008. Mesmo em casode vitória do «sim» num novo referendoa realizar em 2009, durante a presidên-cia checa na UE, o Tratado de Lisboavai entrar em vigor apenas em 2010.

O ano de 2009 não verá resolvidos osproblemas da UE, que continua a enfer-mar da contradição entre política de alar-gamento ou de maior integração. A crisefinanceira apenas contribuirá para agra-var o processo de estratificação iniciadofaz algum tempo. A votação em 2009 écapaz de estabelecer um novo recordede absentismo que não pára de aumen-tar desde 1979.

As mais importantes eleições nacionaisterão lugar em Setembro, na Alemanha.Mais uma campanha eleitoral, prenhe detrambolhões à escala europeia, terá lugarna Ucrânia, onde decorrerão as presiden-ciais. Nem um possível colapso económi-co, nem a perspectiva de choques políti-cos são capazes de deter as elites ucrani-anas de uma luta fratricida.

As eleições gerais terão lugar na Ín-dia, onde a oposição nacionalista temchance de vencer. A população está des-contente com a actuação do governodurante os recentes ataques terroristasem Bombaim. Finalmente, no Irão vãoescolher presidente. A derrota do actualchefe de Estado (bem provável devido àdifícil situação económica no país) con-tribuiria para diminuir a tensão em tornodo problema nuclear iraniano.

Os ministros das Finanças de Portu-gal e Espanha reuniram ontem (terça-feira), em Bruxelas, para preparar a Ci-meira Ibérica que terá lugar amanhã(quinta-feira, dia22) em Zamora, tendoreafirmado o objectivo de consolidaçãoorçamental.

Segundo fonte governamental, Fernan-do Teixeira dos Santos e Pedro Solbes“trocaram impressões” sobre os planosde recuperação económica que os doispaíses estão a aplicar para contrariar aactual crise económica.

Segundo a mesma fonte, os dois minis-tros “reafirmaram” que a consolidaçãoorçamental continua a ser uma prioridadee que, depois de se resolver a actual cri-se, se retomará a trajectória que levaráao equilíbrio nas contas do Estado.

Os Estados-membros da União Euro-peia decidiram lançar planos nacionaisde recuperação económica que implicamum agravamento geral da sua posição

Cimeira Ibéria amanhã em Zamoraorçamental, pelo menos em 2009.

A Comissão Europeia prevê para 2009uma contracção da economia portugue-sa de 1,6 por cento, o dobro do estimadopor Lisboa (0,8 por cento), e um déficeorçamental de 4,6 por cento também su-perior em 0,7 pontos às estimativas doGoverno (menos 3,9 por cento).

Bruxelas também prevê que o déficepúblico espanhol atinja os 6,2 por centoeste ano, reflectindo a aplicação de me-didas de combate à crise, valor que cai-rá para 5,7 por cento do PIB em 2010.

Teixeira dos Santos e Solbes encon-traram-se à margem da habitual reuniãomensal dos ministros das Finanças daUnião Europeia.

BRINDE COM VINHO IBÉRICO

Os participantes na 24ª Cimeira luso-espanhola vão brindar com um vinho ‘ibé-rico’ que nasceu de um ‘coupage’ de

uvas dos dois lados da fronteira.O “Duradero” nasceu em 2005 quan-

do se decidiu reunir uvas da Quinta doPortal (Celeiros do Douro), no lado por-tuguês do Douro, com uvas das CavesLiberalia Enológica (Zamora), do ladoespanhol do rio transfronteiriço.

Especialmente bem acolhido pelo mer-cado, chegando a merecer 90 valores emalgumas das mais prestigiadas publica-ções enólogas de Portugal e Espanha, édescrito com um vinho “especial” fabri-cado com uvas Roriz portuguesa e uvas‘toro’ espanhol.

O nome do vinho foi retirado de ver-sos do mais famoso poeta zamorano,Claudio Rodríguez, que sempre dedicouespecial atenção ao Douro.

O primeiro encontro entre responsáveisdas duas produtoras ocorreu no âmbitodo encontro vitivinícola Vinos Duri, quedecorreu na cidade de Zamora em 2005.

Para os responsáveis da iniciativa tra-

ta-se de uma forma de colaboração im-portante entre os dois lados da fronteira,potenciando ao mesmo tempo a imagemvitivinícola do Douro.

“É um vinho de auréola negra, comaromas a fruta muito madura e com in-dícios de chocolate. Vinho encorpadocom boa persistência. Vale a pena guar-dar umas garrafas para daqui a uns ani-tos. Bom vinho”, lê-se numa critica aoDuradero no site WineCellar

Para a revista “Blue Wine” o Dura-dero nasce de um “casamento há muitodesejado”, assinado pelos enólogos PauloCoutinho e Sílvia Garcia, e que repre-senta “uma união transfronteiriça que sebaseia num legado histórico comum, deum rio que simbolicamente banha os doispaíses e os enlaça.

“É um vinho que tem um rio a corrernas veias. Consegue o nobre feito decasar dois países dentro de uma garrafae galgar fronteiras”, explica a revista.

721 DE JANEIRO DE 2009 NACIONAL

num dos melhores locais de Coimbra(Rua Pinheiro Chagas,

junto à Avenida Afonso Henriques)

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Por Sertório Pinho Martins

Num país onde de repente todas asconsciências despertaram ao mesmotempo para as impunidades que o regi-me tem consentido ao longo de muitosanos, não podia haver duas sem três:depois do BPN e do BPP, também o BPcaiu na arena das suspeições (e sabe-selá o tamanho do laudatório que aí vem).E só é pena que esta sigla de BP digarespeito ao Banco Popular e não ao Ban-co de Portugal, por tão simples quantoisto: ninguém acusa o seu governador deactos do foro criminal, mas tanta falhagrave de supervisão só tem um rosto eesse é o de Vítor Constâncio. E Cadilhefoi apenas o último a dizer que o rei vainu! Ora se um banqueiro (Tavares Mo-reira foi exemplo), se um magistrado(Fernando Negrão idem), ou outro qual-quer alto responsável público ou priva-do, foram impedidos durante anos deexercer funções em actividades onde seapontavam fortes indícios ou mesmo setiraram juridicamente conclusões dedesempenho gravoso, por que não pode umgovernador do banco central ou um mem-bro do governo da República, desatentosdas suas funções, serem igualmente impe-didos de exercer cargos de responsabili-dade nacional por um período correspon-dente às falhas cometidas? Mudá-los decargo ou de pasta, não dignifica o regimenem redime a asneira. E só faltava a As-sembleia da República não deixar VítorConstâncio e Teixeira dos Santos seremlivremente ouvidos em sede da ComissãoParlamentar de Economia e Finanças!

Estamos metidos numa camisa deonze varas, que veio para durar. E não ésó por causa dos salpicos da crise finan-ceira mundial! Sabe-se que assim é, eque a asneira nos entrou pela porta bemmais cedo do que as pitonisas do poderquerem fazer-nos crer. Mas também sesabe que o tempo não é de instalar pâni-cos que podem acabar com multidõesespezinhadas à saída de todos os túneispor onde navegaram enganadas com apromessa de luzes ao fundo! O momen-to é, antes de mais, de et pluribus unum– e, nesse aspecto, partilho da opinião e

a culpa solteirados actos consonantes de quem privile-gia a estabilidade. Mas a dúvida corroe:e os que ajudaram à queda no abismo,mesmo sabendo que estávamos à beiri-nha e que um passo a mais era a passa-gem para a outra dimensão? O preço dopetróleo só disparou para níveis caóticosem 2008, enquanto que a nossa dívidaexterna saltou de 7,4% do PIB em 1996,para uns assustadores 90% no fim do anopassado. Ah, mas o governo já prome-teu à UE que actuará severamente seos preços dos combustíveis não acom-panharem os do crude no longo prazo(???). Alguém decifra esta promessa ea sua utilidade “no longo prazo”?

É que já nesses distantes anos 90, oengº Guterres se via em palpos de ara-nha para fazer contas sobre o PIB – maslá o castigaram exemplarmente dando-lhe por penitência a função de alto-co-missário para os refugiados da ONU. Ehoje? Alguém assume a paternidade domonstrozinho? Quem levanta o dedo? Osenhor? Ou o senhor? Ou a senhora?!Ninguém!

E se em 2009 chegarmos aos 100%,com o endividamento externo debruadocom os respectivos juros (o que significaum país inteiro hipotecado ao estrangei-ro), alguém põe a corda do Egas Monizao pescoço? O senhor aí, não?... É queapós os 100%, senhor ministro, o passoseguinte é a escassez galopante daquilocom que se compram os melões e quetem alimentado o crédito às famílias (bens,serviços, alguma alimentação), ao inves-timento (PMEs, matérias-primas, imobili-ário), e por aí fora. E o nosso derrapar aolongo de anos, é filho único da crise finan-ceira externa? Ou é filho bastardo da vis-ta grossa que campeou à sombra do regi-me? Ninguém pergunta? Ninguém respon-de? Estamos amordaçados?!

Os tempos em que a França e a Ale-manha sustentavam uma CEE “dosDoze”, já foram: hoje é cada um a sacu-dir a chuvada que nos encharcou até aosossos, e que apanhou toda a gente a pas-sear de manga curta. Como vai ser atéao fim deste QREN, coxo e desperdiça-do desde o início de 2007, e desde então

com apenas 1,5% de execução? E de-pois de 2013, de que vamos viver quan-do o orçamento comunitário estiver nasencolhas e com 27 países a sugar a mes-ma teta magra e exausta? E quem ali-menta a vaca senil? Nesse dia, e comum intróito doloroso já em 2010, a ‘dívi-da externa’ vai ser o garrote do nossofuturo! E quando um país chega a estelimiar de inanição adivinhado, não acon-tece nada? A ninguém?

Tudo aponta para que, em termos derecessão mundial, falte apenas um pe-queno passo para algumas economiasdarem o estoiro, com réplicas gigantes-cas no plano social (mais pobreza, aban-dono escolar, desemprego, delinquênciae fuga de quadros), com uma derrocadados modelos jurídico e policial, com a dis-persão das famílias em busca de melhorvida (e consequente desmembramentoda célula-base das sociedades humanas),e com um clima propício a Estados mus-culados (Rússia, China, Irão, repúblicassul-americanas,…). E – but not the le-ast – pode até estar muito próximo um‘desespero’ global conducente a confron-tos militarizados, que começarão nas zo-nas do globo mais atingidas pela ressacae se alargarão depois na medida dosgrandes interesses mundiais: domínio dasfontes de energia, negócio de armas, for-necimento alimentar a países emergen-tes, e tudo o mais que os génios huma-nos sabem inventar para cavalgar a vidaàs costas dos mais desfavorecidos. Por-que o fervor dos nacionalismos patrióti-cos, esse ficou amarrado ao cadáver doséculo XX!

E neste contexto de camisa de onzevaras, a recente entrevista do primeiro-ministro na SIC exalou uma evidente pre-ocupação de não deixar instalar o pânico.Que se louva! Mas o pagode está dema-siado ansioso, para perder tempo a deci-frar entrelinhas bem-intencionadas: queré saber se vai comer amanhã e quantolhe toca nos aumentos salariais de 2009.E nem se apercebeu, durante a entrevis-ta, de eventuais lapsos de memória ou deperguntas-de-alhos com respostas-de-bu-galhos. Mas um erro de base – que o hou-

ve! – liquidou à partida o interesse da coi-sa, ao pôr em praça apenas jornalistas ‘dacasa’. Imagine-se um Miguel Sousa Ta-vares ou uma Constança Cunha e Sá tam-bém em palco, a deitar lume pelos olhos echamas pela língua! Por isso desde o iní-cio que o desfecho era mais ou menosprevisível, pese embora a lucidez política(há que reconhecê-lo) e a preparação queo entrevistado demonstrou relativamenteao que o esperava.

E voltando à vaca-fria das culpas sol-teiras, recorde-se o que para aí vai nossectores da Agricultura (um ministro-fan-toche, já questionado por deputados dasua própria bancada – e fica tudo comono reino dos anjos), Economia (milharesde empresas no fio da navalha, 150.000novos empregos na legislatura por água-abaixo, grupos-de-referência a despediràs centenas, projectos turísticos com bi-liões-UE a ser comidos pela prioridadede refinarias em território espanhol),Educação (eleições, a quantos recuos efugas à retaguarda obrigas uma pobreministra, disposta já a dar todos os-ditos-por-não-ditos), Obras Públicas (afinal hádinheiro ou não para Alcochete, TGV,novas autoestradas, mais o supremo ri-dículo de querer saber o calendário deinaugurações e lançamento de primeiras-pedras), Finanças (Orçamento, impostos,défice, dívida pública, troca de mãos pe-los pés a cada intervenção pública), Ad-ministração Interna (insegurança nasruas, criminalidade exponencial, saladade polícias). E por muito espírito de bom-beiro que o primeiro-ministro tenha, e lhesobre vontade de apagar fogos, nem osrigores polares que nos visitam se lhecomparam: a água das boas-intençõesgela à saída das mangueiras do discursopolítico, por mais sedutor que ele seja! Enem a lenga-lenga da nossa meninicenortenha se vislumbra no horizonte: “erauma bez um vombeiro boluntário quebinha da vandas de Velém com o vicoda vota a vater na varriga do vurro”!

E neste país esquecido por Deus, con-tinuará a haver filhos e enteados, en-quanto as culpas dos homens morreremsolteiras!

8 21 DE JANEIRO DE 2009OPINIÃO

AMÉRICA, AMÉRICA

Não sei se o remorso curva a espinhae ensombra o gesto. Nem sei o que pe-sou mais nos últimos dias de George W.Bush. Se a memória de como planeouvingar-se do pai, parecendo querer vin-gar o pai; se o intuito de refazer a apa-gada e vil imagem que a primeira meta-de da vida lhe traçou; se a pulsão da epo-peia, às vozes e tambores dos evangéli-cos; se o ter-se deslumbrado com a sim-ples e prática cupidez de Dick Cheeney.Estes são os condimentos principais que,num filme subestimado mas interessan-te, Oliver Stone nos propõe para dosea-mento su misura. Eu não tento o meu. Enão excluo uma abordagem mais singe-la: o que verga Bush são as sondagensde aceitação popular, nesse momentosem remédio que é a passagem aos ar-quivos da história americana. (...)

Nuno Brederode SantosDiário de Notícias 18/Janeiro/09

PSD EM DIFICULDADES

Manuela F. Leite parece queimar osúltimos cartuchos e, se houver engenho,será Passos Coelho o senhor que se se-gue.

Está em marcha o projecto de substi-tuição de Manuela Ferreira Leite à fren-te do PSD. Várias personalidades detopo do partido de Sá Carneiro têm-sereunido com bastante frequência paraanalisar a situação difícil em que o PSDse encontra e os efeitos negativos quedaí resultarão caso este partido tenha naspróximas eleições um resultado catastró-fico. É consensual no seio do grupo quese pôs em movimento, há cerca de ummês, a ideia de que Manuela FerreiraLeite não pode nem consegue protago-nizar uma candidatura vitoriosa.

Essa leitura negativa ganhou cores maisnegras após a entrevista de Manuela Fer-reira Leite a Judite de Sousa. A insegu-rança da líder dos social-democratas, adificuldade em dar respostas claras e con-vincentes sobre áreas fundamentais davida nacional, o pouco à-vontade eviden-ciado em sucessivas prestações no meiotelevisivo, as incongruências do discursoe o ziguezague do seu trajecto foram, emsíntese, as conclusões a que chegaram osbarões desse grupo. (...)

Emídio RangelCorreio da Manhã 17/Janeiro/09

A MAIOR RIQUEZA:SEMELHANTES

(...) Como recordava recentemente, emSanta Maria da Feira, num debate sobre odiálogo intercultural, o filósofo FernandoSavater, a semelhança entre os seres hu-manos é que cria a riqueza e funda a huma-nidade. Reconhecemo-nos, porque somossemelhantes. Só porque o fundamental é anossa semelhança é que há igualdade dedireitos e só porque não há diferença de di-reitos fundamentais é que há o direito à di-ferença. Afinal, “não há ninguém tão con-vencido da diferença como um racista”.

Claro que, no encontro com o outro, nun-ca se pode esquecer que o outro é um ou-tro eu e ao mesmo tempo um eu outro, detal modo que nunca nenhum de nós saberáo que é e como é ser outro enquanto outro,eu outro. Mas o que mais nos interessa é asemelhança, pois, nas diferenças, somostodos humanos, reconhecendo-nos.

Se me perguntam pelo fundamento últi-mo da dignidade humana, digo que é a nos-sa comum capacidade de perguntar. O quenos reúne é uma pergunta inconstruível, semlimites, que tem na raiz o infinito e nele de-semboca, sendo as culturas tentativas deformulá-la e perspectivar respostas.

Aqui, assenta a convivência fraterna edigna da Humanidade, reconhecendo to-dos como humanos. Mas, como tambémlembrou Savater, inimigos maiores destaconvivência são a pobreza e a ignorância.Rejeitamos os pobres, porque metem medo:nada nos dão e obrigam-nos a dar. A igno-rância é outra fonte de susto: quando senão reconhece a semelhança, teme-se odiferente.

Aí está, pois, a urgência da solidarie-dade, assente no reconhecimento da se-melhança. (...)

Anselmo BorgesDiário de Notícias (17/Janeiro/09)

A POLÍTICA DO MEDO

(...) Hoje em dia, quer os magistradosdo Ministério Público, quer os juízes, sen-tem receio na aplicação da prisão pre-ventiva.

E tudo acontece porque se trabalhacom meros indícios e não com prova se-gura e porque o governo introduziu umaautêntica mudança de paradigma no qua-dro da responsabilidade civil dos magis-trados pelas suas decisões, pretenden-do, com esta mudança, utilizar este ins-trumento como uma arma de controlo ede pressão sobre a actividade judicial.Sendo este o caminho, cedo chegará odia em que nos vão dizer como é quedevemos decidir. Já existia um quadrode responsabilidade civil, criminal e dis-ciplinar dos magistrados, semelhante aoque existe noutros países europeus. Daíque a mudança foi para apertar o cercoe fazer crescer o medo em detrimentoda razão, que vai ficando cada vez maisparalisada. (...)

Rui RangelCorreio da Manhã 14/Janeio/09

OBAMA E O MUNDO

A lista das nomeações da nova equi-pa da Casa Branca não entusiasmouaqueles que, durante o último ano, fize-ram de Barack Obama uma espécie de“bloquista” com talento e ginástica, avaticinarem uns Estados Unidos trans-formados numa super-UNESCO ouONG esquerdista, esgotada nas causascorrectas do luso-utopismo.

O novo Presidente foi buscar a maio-ria dos seus colaboradores à última Ad-ministração democrática - a de Bill Clin-ton. A começar pela secretária de Esta-do, Hillary Clinton, a continuar na equipado Tesouro e a acabar no novo director daCIA, Leon Panetta. Quanto ao ConselhoNacional de Segurança e ao Pentágono,Obama optou pela continuidade de RobertGates e foi buscar o general James, umrepublicano, ex-comandante dos marines.Um almirante, Denis Blair, ex-responsávelpelo Comando Militar do Pacífico, com-pletou o elenco à frente do NDI.

Mas mais que a questão da equipa, éimportante olhar o mundo que essa equipavai encontrar. Que como sempre é o mes-mo de ontem, mas também muito diferen-te: em 2000, George W. Bush herdava acontinuidade do “momento americano”, notermo da primeira década do pós-GuerraFria; os Estados Unidos eram a potência,a Rússia estava de rastos, a China cresciamas não incomodava muito, os europeusentretinham-se a discutir entre si projectosconfederais e federais para a União. OMédio Oriente vivia o velho conflito israe-lo-árabe e a África subsariana continuavamarginalizada. (...)

Maria José Nogueira PintoDiário de Notícias 15/Janeiro/09

DA FALTA DE SAÚDE

(...) No mais, para além de cerca de600 mil doentes em listas de espera narede hospitalar – no 26º lugar numa listade 31 países –, no sistema de cuidadosde saúde, com indicadores equiparáveisà Roménia e à Bulgária, também conti-nuam os encerramentos dos SAP e aextinção de serviços de urgência hospi-talar, sem alternativas assistenciais, es-

tando suspensos ou adiados os projectosde construção de dez novos hospitais. Sóentre 2006 e 2007, as taxas moderado-ras nas Urgências aumentaram cerca de23% e os processos de introdução nomercado de medicamentos inovadoreschegam a demorar três anos. O númerode médicos nos centros de saúde dimi-nuiu e o número de hospitais especiali-zados passou de 21 para 15; o númerode camas foi reduzido, sendo certo queo número de atendimentos aumentou.

Estou mesmo a falar de Portugal.Este. Onde a politização férrea de car-gos na Saúde e a violação das boas polí-ticas nos podem comprometer, muitasvezes, a vida. (...)

Paula Teixeira da CruzCorreio da Manhã 15/Janeiro/09

DESAFIOS DE UMAESTRATÉGIA NACIONAL

Para definir uma estratégia nacionalrealista e consequente, é preciso que te-nhamos consciência da situação de quese parte, avaliando os pontos fortes e ospontos fracos. Só com esta consciênciase pode potenciar as vantagens dos pri-meiros e atenuar os inconvenientes dossegundos. Só assim é possível valorizaro que é bom e transformar o que estámal. Acresce que num tempo de instabi-lidade e pessimismo generalizados comoé o nosso, em que todos os dias somossurpreendidos por notícias quase sempremás e de impacto negativo global, im-porta conciliar os vários tempos de con-cepção e de actuação, o curto e o médioprazo que o imprevisto e a emergênciaexigem, com o longo prazo, no duplo pla-no retrospectivo e prospectivo, que qual-quer visão estratégica pressupõe.

Por isso, para reflectir sobre os desa-fios de uma estratégia nacional, precisa-mos também de projectar num horizontetemporal suficientemente lato - de 10 ou15 anos - a ambição que se tem paraPortugal. (...)

Jorge SampaioDiário de Notícias 15/Janeiro/09

AS “REFLEXÕES”DE SAMPAIO

O documento que Jorge Sampaio fezpublicar, anteontem, no DN, sob o títulode “Cinco Reflexões sobre os Desafiosde uma Estratégia Nacional”, comportauma forma de revolta delicada, uma crí-tica mansa, e um pouco melancólica, aosegoísmos corporativos, e o desejo de queas fracturas sociais crescentes não atin-jam zonas irremediáveis. O texto possuia honestidade intelectual do autor e osentido de um apelo que desemboca emlargas inquietações.

Como se pode mobilizar um povo, con-vocá-lo para a causa comum, se a clas-se dirigente tem tripudiado sobre a cul-tura de relação de que se compõe a de-mocracia avançada? Nada nesse senti-do tem sido realizado, sequer tentado. O

921 DE JANEIRO DE 2009 OPINIÃO

próprio Sampaio, quando Presidente, aorejeitar Ferro Rodrigues, e abrir as por-tas a um intermezzo cómico, participou,activamente, no retrocesso histórico quefez aumentar a indiferença e o desen-canto portugueses. As desproporçõesobscenas entre os sacrifícios impostos eas regalias generosamente distribuídaspor uma casta de privilegiados não sãode molde a entusiasmar a população. Odiscurso oficial desloca—se numa falsaeuforia e passa para a depressão maisinquietante. Ninguém, de boa fé, acredi-ta nestes “políticos”, cuja representaçãoé diariamente demolida pelas evidênciasdos factos. E Jorge Sampaio bem o sabe.

As “Reflexões” não eliminam o senti-do crucial dos problemas, mas tambémnão indicam, ou sugerem, como serianatural, o combate ideológico contra aideologia que intimida os governos e osintima a praticar regras unilaterais. Há,em tudo isto, uma perversão moral quecondiciona o comportamento ético. Otexto de Sampaio é omisso nestes aspec-tos, e percorre-se em generalidades.

Baptista-BastosDiário de Notícias 14/Janeiro/08

EDUARDO LOURENÇO

(...) Sábado jantei com Eduardo Lou-renço. No fim disse que não queria bo-leia, que o hotel era mesmo ali e vi-o atra-vessar a rua em baixo, sozinho, um poucocurvado, no seu passo miúdo e comoveu-me vê-lo caminhar noite fora, de cache-col ao pescoço, a ferver de vida entre oscandeeiros. Eu passo o tempo a delirar,dizia ele, mas só deliro para dentro por-que se delirar para fora internam-me. Efico a assistir, calado, enquanto fala. Lem-bro-me que há uns anos, em Bordéus jul-go eu, falámos a quatro mãos de Litera-tura sem nada preparado, nada pensado,assim de improviso, nos divertimos imen-so e deu-me ideia que a assistência tam-bém. Na altura cochichei-lhe

– Devíamos dar um curso de Teoriada Literatura a meias

e que o projecto nos fez rir: conver-sarmos sem plano, ao sabor do que nosvinha à cabeça. Somos tão diferentes e,no entanto, que maravilha de sintonia in-terior. Acho que é das pessoas que me-lhor compreendem o que faço e que commais profundidade disso escreveu.

E depois a obra dele, inclassificável,única: o homem que pensa Portugal, di-zem, o ensaísta, dizem, e para mim oEduardo não é nada disso, ou antes cha-mar-lhe isso é tão redutor. Inventou umamaneira de imaginar, uma meta-lingua-gem irrepetível que nos contém a todos,criou um universo verbal em perpétuaexpansão, um continente, antes dele, porachar. E, de vez em quando, disso nosdá notícia nos seus livros e quem tiverouvidos para ouvir que oiça. Sempre medeu ideia de existirem equívocos sobreequívocos na apreciação do que faz eerros interpretativos de toda a ordem.Parece-me que o admiram sem o enten-derem, cola-se-lhe uma etiqueta, afir-

mam-se umas banalidades veementes epassa-se adiante, quando aquilo que eleconstrói é uma máquina do mundo. (...)

António Lobo AntunesVisão

O MEDO

O silogismo mais picante das últimassemanas é o seguinte: o PS, com os seusporta-vozes a fazerem imensas véniasmui atentas, veneradoras e obrigadas,mostrou-se absolutamente de acordocom o severíssimo diagnóstico feito peloPresidente da República na sua mensa-gem de Ano Novo; o PR, nos pontos prin-cipais da sua mensagem, reiterou posi-ções críticas que já tinham sido clara-mente assumidas por Manuela FerreiraLeite; logo, o PS está de acordo comManuela Ferreira Leite exactamentequanto a uma série de pontos em quetinha tentado refutá-la com as excitadasestridências do costume...

Agora que o Banco de Portugal se viuforçado a traçar o cenário mais negrodos últimos anos e a falar da entrada daeconomia portuguesa em recessão, amanobra consistiu em o primeiro-minis-tro abordar esse tema de véspera, numaentrevista à SIC Notícias, em que aca-bou por confirmar o que a oposição játinha dito. Tudo para que as palavras deConstâncio não fossem, como afinal fo-ram também, um desmentido terrível dasafirmações que o chefe do Governo an-dava por aí a fazer...

Depois de umas 150 sessões de des-pacho com Sócrates à quinta-feira, o PRdeve andar perfeitamente estarrecidocom o PM que nos saiu na rifa.

Vasco Graça MouraDiário de Notícias 14/Janeiro/09

PRISÕES

(...) Nos 50 estabelecimentos prisio-nais portugueses (28 regionais, 17 cen-trais e 4 especiais) estão actualmentecerca de 10 800 detidos, sendo cerca de2000 preventivos e 7% mulheres. Aquitrabalham perto de 6000 funcionários.Segundo a drª Clara Albino, directora-geral dos Serviços Prisionais, não sãofáceis as reformas estruturais para daràs prisões instrumentos de reabilitação eorganizar modos eficazes de reinserçãosocial.

A grande mudança a operar decorrede um processo interior, que o longo tem-po de reflexão pode permitir. A dimen-são espiritual é essencial para dar a vol-ta à vida, partir da verdade, assumir aresponsabilidade do mal, readquirir con-fiança, reorganizar-se, criar autonomia eindependência, gerar esperança. (...)

Bispo D. Carlos AzevedoCorreio da Manhã 16/Janeiro/09

O SANGUE DOS INOCENTES

No balanço do ano que findou, e queos analistas desejariam elaborar dando

espaço à esperança de que as coisas nãocorrerão pior no ano novo, não foi ex-cepção encontrar registada a convicçãode que a nova Administração americanareconhecerá que, sem uma solução jus-ta do conflito Israel-Palestina, será im-possível conseguir uma estabilidade emqualquer dos países onde cresce a acti-vidade dos movimentos islamitas. Pas-sados tantos anos sobre a criação doEstado de Israel, os mesmos anos daDeclaração Universal dos Direitos Hu-manos, parece difícil racionalizar as cau-sas que impedem a paz entre os doispovos, sendo que as premissas necessá-rias estão definidas. Designadamente,poucos observadores duvidam de que oquarteto liderado por Tony Blair, envia-do especial ao Próximo Oriente, estejaconsciente de que, sem a intervençãodecidida dos Estados Unidos da Améri-ca, a solução não será encontrada. (...)

Adriano MoreiraDiário de Notícias 13/Janeiro/09

REQUIEM POR ISRAEL?

(...) É PRECISO RECUAR NO TEM-PO. Não ao tempo longínquo da bíblia he-breia, o mais violento e sangrento livro al-guma vez escrito. Basta recuar 60 anos, àdata da criação do Estado de Israel. Nascondições em que foi criado e depois apoi-ado pelo Ocidente, o Estado de Israel é omais recente (certamente não o último) actocolonial da Europa. De um dia para o ou-tro, 750 mil palestinianos foram expulsosdas suas terras ancestrais e condenados auma ocupação sangrenta e racista paraque a Europa expiasse o crime hediondodo Holocausto contra o povo judeu.

Uma leitura atenta dos textos dos sio-nis- tas fundadores do Estado de Israelrevela tudo aquilo que o Ocidente hipocri-tamente ainda hoje finge desconhecer: acriação de Israel é um acto de ocupação ecomo tal terá de enfrentar para sempre aresistência dos ocupados; não haverá nun-ca paz, qualquer apaziguamento será sem-pre aparente, uma armadilha a ser desar-mada (daí que a seguir a cada tratado depaz se tenha de seguir um acto de violaçãoque a desminta); para consolidar a ocupa-ção, o povo judeu tem de se afirmar comoum povo superior condenado a viver rode-ado de povos racialmente inferiores, mes-mo que isso contradiga a evidência de queárabes e judeus são todos povos semitas;com raças inferiores só é possível um re-lacionamento de tipo colonial, pelo que asolução dos dois Estados é impensável; emvez dela, a solução é a do apartheid, tantona região como no interior de Israel (daí oscolonatos e o tratamento dos árabes israe-litas como cidadãos de segunda classe); aguerra é infinita e a solução final poderáimplicar o extermínio de uma das partes,certamente a mais fraca.

O QUE SE PASSOU NOS ÚLTI-MOS 60 anos confirma tudo isto mas vaimuito para além disto. Nas duas últimasdécadas, Israel procurou, com êxito, se-questrar a política norte-americana naregião, servindo-se para isso do lóbi ju-

daico, dos neoconservadores e, comosempre, da corrupção dos líderes políti-cos árabes, reféns do petróleo e da aju-da financeira norte-americana. A guerrado Iraque foi uma antecipação de Gaza:a lógica é a mesma, as operações são asmesmas, a desproporção da violência éa mesma; até as imagens são as mes-mas, sendo também de prever que o re-sultado seja o mesmo. E não se foi maislonge porque Bush, entretanto, se debili-tou. Não pediram os israelitas autoriza-ção aos EUA para bombardear as insta-lações nucleares do Irão? É hoje evidenteque o verdadeiro objectivo de Israel, asolução final, é o extermínio do povo pa-lestiniano.

Terão os israelitas a noção de que ashoah com que o seu vice-ministro daDefesa ameaçou os palestinianos pode-rá vir a vitimá-los também? Não teme-rão que muitos dos que defenderam acriação do Estado de Israel hoje se per-guntem se nestas condições e repito:nestas condições o Estado de Israel temdireito de existir?

Boaventura Sousa SantosVisão

A CAIXA

Ao contrário do que diz o anúncio,banco não é Caixa. Talvez seja o primei-ro caso de publicidade que peca por de-feito a gabar o seu produto. Na verdade,a Caixa é muito mais do que um banco –é uma espécie de mãe de todas as insti-tuições de crédito. Desde que a crisecomeçou, a Caixa tem andado a salvartantos bancos que receio sinceramenteque, em breve, seja preciso salvar a Cai-xa. Directa ou indirectamente, a Caixacontribuiu para ajudar primeiro o BPN edepois o BPP. O que, sendo preocupan-te (menos para quem tem o dinheiro noBPP), não surpreende. É certo que o BPPé um banco que gere grandes fortunas,mas a Caixa é um banco que gera gran-des fortunas. Sobretudo nas contas dosseus administradores. A diferença é subtilmas significativa.

De resto, não há dúvida, a Caixa é umbanco tão bom que até promove altosquadros de outros bancos. Ao que che-gou a concorrência no mundo das insti-tuições financeiras: o BCP convidou Ar-mando Vara para um cargo importante;a Caixa, um mês e meio depois da saídado seu antigo administrador, promoveu-o a um cargo ainda maior. A mensagemé clara: sim, o BCP oferece bons em-pregos aos seus funcionários, mas a Cai-xa oferece empregos ainda melhores afuncionários que já não trabalham lá.Mergulhados numa profunda crise, osbancos competem para aliciar os profis-sionais mais qualificados. Eles sabemque só os melhores têm a competêncianecessária para mergulhar os bancos quedirigem numa profunda crise. E assimsucessivamente. (...)

Ricardo Araújo PereiraVisão

10 21 DE JANEIRO DE 2009CRÓNICA

A OUTRA FACEDO ESPELHO

José Henrique Dias*

[email protected]

arte em café

* Professor universitário

É tão escuro este poço! Escuro e húmido. Os amigosmandam cartões de Feliz Ano Novo. Augúrios. Talvezseja noite. Amanhã irão celebrar o nascer do dia, haverácrianças a rir a caminho da escola, as mães vão prepararas merendas e fazer recomendações, nas missas as pes-soas vão pensar que saem mais limpas porque comunga-ram, o rapaz do supermercado arrumará caixas nas prate-leiras, na rádio canções de outras paragens, nas ruas enas lojas restos de Silent night, holy night, All is calm, allis bright.…tudo é paz, tudo é luz, sininhos e sorrisos, cho-colates e tempestades, uma rapariga dirá sim às palavrasde um colega enamorado, mudam o tempo, como nos ver-bos, ele fica de olhos cor de manhãs claras e ela sorri, nohospital acaba de nascer um rapazinho a que vão chamarGonçalo, as notas correram bem ao filho do senhor Adal-berto que sempre sonhou ver o filho advogado, quem sabeministro, a mulher que passa ao volante de um utilitárioleva os olhos molhados porque o marido foi de um egoís-mo que ela diz que não perdoa, só até mais logo quandochegar a casa e ele lhe disser não sabes que é tudo poramor, tudo vai funcionar, até a panela que ficou esquecidasobre o fogão e o arroz esturrado, porque ficaram a amar-se na carpete, não faz mal, querida, é um bom pretextopara mandarmos vir uma pizza, a vizinha do sexto andarparece que tem uma doença esquisita, dizem, se calhar ésida, não têm cuidado, coitado do namorado que se calharjá foi infectado, ou se calhar foi ao contrário, todos os dias,a todas as horas, sempre igual, uma bica bem quente fazfavor, curta, bem sabe que é sempre curta, sem açúcar,bebo sempre sem açúcar, senhor Flávio, com açúcar é omeu irmão gémeo, já viu o que aqui está no jornal?, estesgajos só lá estão para gamar, e a malta que se lixe, aindahá pouco tempo era o que era e já está rico, já leu, senhorFlávio?, andamos a trabalhar para esta malta se governarà nossa custa, para mim votar já era.

São oito e meia. Tenho de seguir para Coimbra. De-moro menos de duas horas a chegar, se tudo correr bem.Estou cansado. Não só destas conversas. Não é que elasnão tenham importância. Reflectem, obviamente, não digoo estado do país mas as características do que somos.Confesso que não tenho muita consideração pelo que so-mos. Não gosto. Tenho mesmo vergonha. Dizem-me comazedume que sou elitista, mas qual é o problema? Não éverdade que as pessoas estão ao mesmo tempo bem comtudo ou mal com tudo? Paspalham diante das televisões aver umas senhoras apresentadoras que guincham, salti-tam, insuflam rugas, injectam silicone, publicam livros ile-gíveis que as pessoas compram, pessoas que não sabemporque é que votam mas votam, só às vezes, naquele par-tido, sempre no mesmo, como se paixão ou talvez maisagência de futuro, futebol, futebol, futebol, o futebol pre-enche a vida dos homens e de algumas mulheres que pre-enchem por sua vez o futebol para uns senhores poucorecomendáveis terem protagonismo e serem ouvidos nastelevisões e nas primeiras páginas dos jornais desportivoscom fotografia a duas colunas, a minha política é o traba-lho, ficou do outro tempo, um milhão de analfabetos nãofalando dos milhões dos funcionais, aos domingos e feria-dos passeios nos centros comerciais a dizerem vamos aoshopping, ver montras e marcar viagens a prestações paratodas as puntascanas que lhes impingem, esta é a ditosapátria minha amada, como repetiam com salazares naponta da língua, empresários vão à falência com ferraris àporta da vivenda com santinhos de azulejo na fachada,gritam no fórum da TSF o que é preciso é que venhamdois ou três salazares depressa, endireitar isto, estes so-

Para variar, boas entradas…

mos nós e por muito que me esforce não consigo aturareste nós em que nos vamos atolando. E não parece quepossa haver gente capaz para governar tal gente que dizeste país como se fossem doutro e o país são eles e osfilhos deles ou os primos, os companheiros de escola ouos vizinhos que começam a viver e transformam definiti-vamente a vida em vidinha, de que falava o O’Neill, eubem gostava de arranjar maneira de não me preocuparmas a verdade é que acredito que é possível mudar muitacoisa, justiça social e ética, liberdade e participação, comodizer, as pessoas sentirem-se mais felizes, não terem o arbisonho e o rosário do queixume sempre que lhes pergun-tam como vai o negócio, vai sempre mal, nunca se ouveninguém dizer vai bem, estou bem, isto está a correr bem,sempre o precisamos que o Governo olhe por nós, a culpafoi do árbitro, quando muito também do guarda-redes,coitado, paga sempre as favas, ninguém culpa o avança-do que falhou o penalti ou o golo à boca da baliza, foi azar,mas no guarda-redes é frango, piu, piu, dizem os comen-tadores que não comentam nada, falam do que estamos aver e até conseguem não ver o que estamos a ver e dizemoutra coisa, as manifestações enchem avenidas da gran-deza de tecer insultos e abrir brechas para os meninosserem insolentes, tomates e ovos e guinchos e cadeadosnas portas e pistolas de plástico e telemóveis que filmam,quem semeia ventos colhe tempestades, brincadeiras demau gosto, dizem, irresponsáveis que irresponsabilizam,senhoras professoras de repente na ribalta sabe-se lá por-quê, a protestarem em conflito com a Língua Portuguesa,sindicalistas sem espaço a quererem sobreviver, engas-gados com dois raciocínios seguidos, diria o Joaquim Na-morado, um dia destes vem aí uma coisa mais ou menosdos subúrbios de Paris ou das ruas gregas e depois ondeestá a autoridade, perguntam, a polícia que lhes carregue,dizem, mas então o que queremos mesmo é a polícia quecarregue? Para o diabo que os carregue. Estão semprede consciência tranquila. Fazem tudo de consciência tran-quila. Adiam julgamentos com advogados caros. Todosde consciência tranquila. Não há patife bem falante quenão tenha a consciência tranquila. Não há pedófilo quenão tenha a consciência tranquila. Todos inocentes. Ascriancinhas é que são perversas. Transitam em julgado.Ainda hão-de pedir indemnizações aos nossos impostos.Por causa da consciência tranquila.

Farrapos de conversas a caminho da estação em trans-portes públicos. Eu aqui de pé, todo o dia a trabalhar, dizuma mulher, para estes velhos andarem sem fazer nada apassear de autocarro e ocuparem os lugares de quem estácansado de trabalhar. Mau sinal. Os velhos para o ve-lhão, já! Lembram-se como fizeram os Gato Fedorento?

O Alfa Pendular está a passar na ponte. O Choupal

anda coitado num triste desassossego. Fiquemos preo-cupados porque morreu afogado um rouxinol no Monde-go e o passarinho da ribeira que não seja inimigo. O Zecae o Adriano não passam. O Goes não se ouve. É tempode tonis qualquer coisa, marcos isto, mónicas aquilo, con-cursos gordos e morangos com açúcar. É tempo de dizerque os grandes escritores são insuportáveis. É tempo depromover a mediocridade e de autismo governativo.

O Alfa demora menos de duas horas a chegar a Coim-bra. Estação de Coimbra B. O comboio que deu entra-da na linha um é o Alfa Pendular proveniente de Lis-boa Santa Apolónia com destino a Braga. Só admitepassageiros com bilhete válido para comboios… Rou-fenhas, as palavras perdem-se. Logo regressam. Na li-nha “númaro” cinco encontra-se uma composição comdestino a Coimbra. De Coimbra para Coimbra. O ventocala a desgraça/ o vento nada me diz.

Que desolação e desconforto. Há quanto tempo as-sim? Mas a gente o que quer é ir, estar na sala deespera ou caminhar na plataforma, que pena não seconseguir viajar de borla, estudar de borla, ter carro deborla, tudo pela Nação, nada contra a Nação, outravez, em tom menor, quem o alheio veste na praça odespe, mas isso era dantes.

Quem o alheio despe que bem se veste. Figurinos efigurões. Montras e montes e vales e azevedos exportam-se e importam-se, para que se veja, um que seja, para quese saiba, parar a raiva, afinal a justiça funciona, os reitoresnão servem para gerir as universidades, é preciso gesto-res, como se viu nos bancos, os gestores é que sabem, umou dois, para exemplo, vão dentro pela imprudência deroubarem ricos, se roubassem pobres não passava nada,de fora outros com direito a excelência e conselhos deadministração. É bom ter espaço para dar conselhos. Equem seja capaz de os ouvir. Os conselhos valem mais doque os exemplos. Embalados. Como serenatas.

Estas guitarras, senhoras e senhores, vêm falar-vosde amor e de saudade, dum luar que deixa sombras so-bre coisas impossíveis. Toda a Coimbra da lenda, de co-ração e de feitiço, Coimbra antiga e íntima, feita de fili-granas e de poentes, pedaço romântico a recordar boé-mios e poetas.

Era mais ou menos assim que eu apresentava as sere-natas. Palavras minhas e de outros. Há quanto tempo foi?Se calhar foi ontem, à chegada do Alfa Pendular.

Ou quando acordei estremunhado. No fundo do poço.Há sempre alguém que resiste / há sempre alguém quediz não. Valham-nos os poetas. Que venham os poetas.Um poeta em quem possamos depositar a força de lutar.Que promova a Esperança.

1121 DE JANEIRO DE 2009 COIMBRA

Faleceu em Bordéus, no passado dia4 de Janeiro, o Prof. Robert Étienne, que,a 18, completaria 88 anos de idade.

Para a maior parte dos nossos leitores,o nome do Prof. Robert Étienne poucosignificará. Catedrático de História Anti-ga e de Arqueologia da Universidade deBordéus III, foi doutorado honoris cau-sa pela Faculdade de Letras de Coimbra,a 17 de Abril de 1983, tendo sido seu ‘pa-drinho’ o Prof. Jorge de Alarcão.

Na verdade, estavam estreitamenteligados na sua pesquisa estes dois do-centes, pois foi com ambos que, depoisda actividade aí desenvolvida por JoãoManuel Bairrão Oleiro, Conimbriga ga-nhou jus a um lugar de relevo no panora-ma arqueológico internacional, mormen-te após a publicação – e foi essa umadas primeiras publicações do género nomundo da investigação arqueológica –dos 7 volumes das Fouilles de Conim-briga (1974-1979), em que se deu con-ta dos relevantes aspectos dessa cidaderomana, postos a descobertos no decor-rer das campanhas luso-francesas, queambos dirigiram nas décadas de 60 e 70.

Depois de Conimbriga, o “itinerário

A morte de Robert Étienneurbano” dessa sua pesquisa sobre a His-tória Antiga peninsular, veio o itinerá-rio rural, com as campanhas na villaromana de São Cucufate (Vidigueira),de que R. Étienne nos legou, com J.Alarcão e F. Mayet, dois volumes so-bre os trabalhos aí realizados: Les Vi-llae Romaines de São Cucufate (Por-tugal), Paris, 1990. E podemos dizer quetambém essa pesquisa sistemática deuma villa romana, que pela primeira vezse levava a efeito entre nós, constituiuum marco decisivo na investigação daocupação do solo em tempo de Roma-nos na Lusitânia.

Se um traço primordial podemos rele-var na personalidade de R. Étienne é asua disponibilidade para ensinar e formarequipa. O Centre Pierre Paris, que criou,foi, sem dúvida, uma das primeiras uni-dades de investigação a dedicar a suaatenção especificamente à Hispânia ro-mana e, com a sua rica biblioteca, aco-lheu inúmeros estagiários idos dos maisdiversos países, designadamente de Co-imbra, muito antes de se ter pensado se-quer em programas ERASMUS ou equi-valentes!... E o Prof. Étienne assinou

mais de uma dezena de artigos sobre aPenínsula Ibérica com os seus parceirosde investigação (e, geralmente, orientan-dos de doutoramento).

De realçar, ainda, o seu papel deter-minante no desenvolvimento dos estudosepigráficos peninsulares, de que conce-beu um plano sistemático de publicações

em que se incluem, entre outros, o volu-me sobre as inscrições de Lugo (Paris,1979) e a colecção Inscriptions Roma-ines de Catalogne (I – 1984, V – 2002),a que lançaram ombros G. Fabre, MarcMayer e I. Rodà.

Conimbriga esteve sempre, porém,no centro das suas atenções e no livroHistoire et Archéologie de la Pénin-sule Ibérique (Vingt ans de recherches1968-1987) [Paris, 1993] são muitos ostextos referentes a esta cidade.

Entre as inúmeras condecorações re-cebidas, conta-se a de Comendador daOrdem do Infante D. Henrique o Nave-gador. Ao Instituto de Arqueologia daFaculdade de Letras legara já parte sig-nificativa das obras da sua biblioteca re-lativas à Península Ibérica.

Na memória de quantos com ele pri-varam fica a figura do trabalhador incan-sável, do investigador sagaz, do dirigen-te que era capaz de mover montanhaspara levar a água ao seu moinho, mastambém do alegre companheiro das ho-ras de convívio.

José d’Encarnação

O nome do vencedor da edição desteano do Prémio Universidade de Coim-bra vai ser anunciado amanhã (quinta-feira), em conferência de imprensa, peloReitor Fernando Seabra Santos.

O Prémio Universidade de Coimbra,que vai na sua sexta edição, é um dosmais valiosos galardões nacionais noscampos da cultura e da ciência, tendo jádistinguido áreas tão distintas como asneurociências, a história das instituições,as artes do palco, os estudos clássicos, amatemática e a engenharia de sistemas.

Na primeira edição, relativa a 2004,foi premiado o neurocientista FernandoLopes da Silva, considerado um dos 100cientistas mais influentes do mundo. Em

PRÉMIO UNIVERSIDADE DE COIMBRA 2009

Nome do vencedor será divulgado amanhã2005, o Prémio foi atribuído, ex-aequo,ao historiador António M. Hespanha eao actor e encenador Luís Miguel Cin-tra. A reconhecida classicista MariaHelena da Rocha Pereira foi premiadaem 2006 e o matemático luso-brasileiroMarcelo Viana em 2007. No ano passa-do, foi distinguido o investigador e em-preendedor José Epifânio da Franca.

O Prémio Universidade de Coimbra2009, no valor de 25 000 Euros, será en-tregue a 1 de Março, durante a SessãoSolene comemorativa do 719.º aniversá-rio da Universidade de Coimbra. Esteevento integra-se na XI Semana Cultu-ral da Universidade, que será dedicadaao tema “Velocidade e Movimento”, as-

sinalando assim os 100 anos do Mani-festo Futurista, os 200 anos do nascimen-to de Charles Darwin e os 40 anos domovimento estudantil de 1969.

O júri da edição deste ano do PrémioUniversidade de Coimbra integra, comotem vindo a ser hábito, 10 nomes de re-conhecido mérito da cultura e da ciênciaportuguesas: Alexandre Alves da Costa(arquitecto e docente da Universidade deCoimbra), Ana Tostões (arquitecta e do-cente do Instituto Superior Técnico),Carlos Robalo Cordeiro (docente daUniversidade de Coimbra), Guilherme deOliveira (docente da Universidade deCoimbra), Isabel Pires de Lima (docen-te da Universidade do Porto e antiga

ministra da Cultura), João Pinharanda(historiador de arte, crítico de arte e cu-rador), José Andrade Campos (docenteda Universidade de Coimbra), José deMiranda (ensaísta e docente da Univer-sidade Nova de Lisboa), Maria de Fáti-ma Sousa e Silva (docente da Universi-dade de Coimbra) e Maria FilomenaMolder (filósofa e docente da Universi-dade Nova de Lisboa). É presidido peloReitor Fernando Seabra Santos e temcomo vice-presidentes António V. Mon-teiro, administrador do Banco Santander-Totta, e José Leite Pereira, director doJornal de Notícias.

Reitor debate Universidade e CidadeA relação entre a Universidade e a ci-

dade de Coimbra será o tema da próximasessão do ciclo “Quintas na Quinta”, orga-nizado pela Fundação Inês de Castro. Oreitor da Universidade de Coimbra (UC),Fernando Seabra Santos, é o convidado dojantar-conferência, que terá lugar excep-cionalmente a uma sexta-feira, dia 30 deJaneiro, às 20h, na Quinta das Lágrimas.

Fernando Seabra Santos, que é o ac-tual Presidente do Conselho de Reitoresdas Universidades Portuguesas (CRUP),fará uma intervenção subordinada aotema “UNIVER(SC)IDADE: o sentido

da mudança permanente”.

SÍNTESE BIOGRÁFICA

Fernando Seabra Santos nasceu emCoimbra em 1955. Licenciado em En-genharia Civil pela Universidade de Co-imbra (UC), desde logo assumiu fun-ções de docência. Leccionou nas Fa-culdades de Ciências e Tecnologia daUniversidade de Coimbra (FCTUC) eda Universidade de Lisboa, na Univer-sité Scientifique et Médicale de Greno-

ble e no Institut National Polytechniquede Grenoble, onde defendeu a sua dis-sertação de Doutoramento em Enge-nharia Hidráulica.

Foi vice-reitor da UC entre 1998 e2003, ano em que foi eleito reitor da mes-ma universidade. Em 2007, voltou a serreconduzido no cargo, que desempenhaa par da presidência do Conselho deReitores das Universidades Portuguesas(desde Fevereiro de 2007). É ainda pro-fessor catedrático no Departamento deEngenharia Civil da FCTUC.

Fernando Seabra Santos

Robert Étienne

12 21 DE JANEIRO DE 2009PUBLICIDADE

1321 DE JANEIRO DE 2009 ENTREVISTA

Onde busca inspiração para assuas obras?

Fundamentalmente, no meu amorpela História. Sou historiadora, é a mi-nha área de formação… apenas come-cei a escrever romances no momentoem que percebi que era uma excelenteforma de ensinar a História aos demais.É uma área do conhecimento que sepode tornar pesada e dura; assim, o ro-mance vai-se entranhando pouco a pou-co e acaba por agradar muito mais.Quanto a este meu universo femininohistórico e literário, teve origem no meudesejo de contar a História do ponto devista das mulheres, pois creio que sãograndes desconhecidas e é necessáriotirá-las das sombras.

Porquê escrever sobre mulheresque nascem em Espanha e se nota-bilizam em Portugal?

Pela proximidade, interessam-me to-dos os temas relacionados com Espa-

nha e Portugal, além de que sempre meatraiu e agradou o vosso país. Penso queacabamos por viver de costas voltados,quando deveríamos olhar mais uns paraos outros; se não somos irmãos, no mí-nimo somos primos. Comecei com Inês

MARIA PILAR DEL HIERRO AUTORA DE TRILOGIA SOBRE RAINHAS PORTUGUESAS

Escritora espanhola com nova interpretaçãodo “Milagre das Rosas” da Rainha SantaInês, Leonor, Isabel. Três mulheres que em Espanha nascerame em Portugal se fizeram rainhas. Maria Pilar del Hierro, escritora,fala-nos do que tiveram em comum estas personagens históricas,as quais lhe inspiraram três obras. A mais recente, “Memóriasda Rainha Santa”, vai ser lançada em Lisboa no início de Fevereiro.Mas foi na Quinta das Lágrimas, em Coimbra (cidade pela quala escritora confessa ter-se enamorado, e de que a Rainha Santaé Padroeira), que o “Centro” a entrevistou, para que falasseda sua obra

de Castro, um mito que é tanto espa-nhol como português… é um mito uni-versal. Com ela descobri Coimbra, queme levou a descobrir a Rainha Santa.Acima de tudo quis fazer uma trilogiadaquelas que me pareciam ser as trêsmulheres-chave da Idade Média Portu-guesa. Inês de Castro, o mito românti-co; Leonor Teles, a mulher poderosa;Rainha Santa, o misticismo e a genero-sidade.

RAINHA SANTA SOFREUPOR NÃO SER AMADAPELO REI

Três mulheres diferentes mas queapresentam alguns traços co-muns…

Sim… além da época, a audácia, adeterminação em fazerem o que achamser seu dever, sacrificando, muitas ve-zes, a sua popularidade e a aprovaçãodos outros. Leonor Teles e a RainhaSanta partilham, ainda, o facto de te-rem sido grandes figuras maternas, deterem dado extrema importância à re-lação com os seus filhos. Para a Rai-nha Santa, Afonso IV, seu filho, foi asua vida e obra. Foram três mulheresmuito coerentes e firmes.

E o amor, acabou por ser o desti-no de todas?

Sim, claro. Sabemos que a Inês deCastro, o amor levou-a à morte… Tam-bém a Leonor Teles, o amor pelo ho-mem errado, foi a sua tradégia. A Rai-nha Santa, sofreu por não ser amada erespeitada pelo marido… É certo queos casamentos eram estratégicos e ser-viam o propósito de firmar alianças, ra-ramente aconteciam por amor. Contu-do, D. Dinis, tendo sido um poeta mag-nífico, não terá sido tão bom esposo…A rainha acabou por criar os filhos bas-tardos do rei, uma situação bastantedura.

A vida destas mulheres faz sentidopara as de hoje, salvaguardadas as dis-tâncias e o contexto histórico?

Sem dúvida. Inês de Castro desafiouas normas estabelecidas, tendo casadoem segredo. Enfrentou o mundo, algoque muitas mulheres deveriam fazerhoje, de forma a melhorar a sua situa-ção. Leonor Teles imiscuiu-se no mun-

do da Política, coisa que muitas não ar-riscam fazer actualmente. A RainhaSanta Isabel é um exemplo de genero-sidade para com os outros; no mundomaterialista e hedonista em que vive-mos fazem falta mulheres como ela.Isabel de Aragão, quando fundou o Con-vento de Santa Clara, fê-lo para que asjovens mulheres pobres pudessemaprender um ofício. Para mim a liçãoestá clara… uma mulher tem que serauto-suficiente.

REALIDADE E FICÇÃO

Dada a sua formação em História,é difícil escrever criativamente, li-bertar-se do rigor dos factos?

Eu escrevo em três géneros; a fic-ção pura e dura, o romance histórico eo ensaio histórico. É verdade que quan-do escrevo o romance histórico, sobre-tudo quando há pouca documentação,aproveito para dar asas à criatividade.Contudo, quando se trata de um temabem documentado, por exemplo perso-nagens históricas do séc. XIX em Es-panha, a minha especialidade, sinto-meatada, não me atrevo a fantasiar. Porisso escrevo na primeira pessoa, pensoque me garante uma narração mais sub-jectiva, menos constrangido pela factu-alidade. É verdade que muitos acadé-micos e historiadores não vêem combons olhos o romance histórico (aqueleque é escrito com uma boa base histó-rica e não os “Códigos daVinci” que por

aí andam)… Pessoalmente, parece-meum elemento pedagógico idóneo paraque cada um possa conhecer o seu pas-sado. Não temos por que deixar a His-tória circunscrita ao meio académico.Temos que explicar às pessoas de ondevimos, para que percebam para onde va-mos.

Como sabe, a Rainha Santa é apadroeira da cidade de Coimbra.Porquê a escolha desta personagempara o seu mais recente livro?

Em primeiro lugar, porque se enqua-dra bem na minha Trilogia Portuguesaenquanto mulher mística. Depois, ape-sar de já ter ouvido falar da Rainha San-ta e ter visto um filme dos anos 40 so-bre ela, foi aqui em Coimbra que co-nheci melhor a sua vida. Quando fui con-vidada a fazer parte da Fundação Inêsde Castro, sediada na Quinta das Lá-grimas, descobri a Rainha Santa. Porisso o livro é também dedicado à cida-de de Coimbra. Contaram-me que a Isa-bel de Aragão, com vista ao abasteci-mento de água so Convento de SantaClara, comprou aqueles terrenos para“ir, vir e estar”… Pareceu-me, logo aí,uma mulher muito interessante. Por ou-tro lado, estou muito ligada a Saragoça,cidade de origem da Rainha Santa, ondejá me haviam falado um pouco da suavida e de como foi uma mulher culta epreparada.

Texto de Filipa CarmoFotos de Gonçalo Ermida

A capa da mais recente obrada escritora espanholaeditada pela “Esfera dos Livros”

Maria Pilar del Hierro na Quinta das Lágrimas, quando falavapara o “Centro” sobra a sua obra literária

(continua na página seguinte)

14 21 DE JANEIRO DE 2009CULTURA

NOVA INTERPRETAÇÃOPARA O “MILAGREDAS ROSAS”

A Rainha Santa foi uma personagemque ficou nos anais da História pela suacompaixão e devoção a causas nobres.E os milagres, produziu-os?

Direi o mesmo que digo no livro…Há muitos segredos na vida de umamulher. Quanto a milagres, a Igreja éque está habilitada a decidir se existemou não. Eu acredito que possam acon-tecer milagres porque a mente é muitopoderosa… Claro que converter pãesem rosas, enfim… mas é uma lenda tãobonita, deixemo-la assim.

Muitos historiadores atribuemeste milagre não à Rainha Santa,mas à sua tia, Santa Isabel…

O tema dos milagres está muito liga-do à fé dos que querem acreditar ne-les… Não deixa de ser demasiada co-incidência darem o nome de Isabel à Ra-inha Santa, precisamente o nome da suatia, Santa Isabel de Hungria. Há algunsparalelismos na vida destas mulheres,nomeadamente as infidelidades dos ma-ridos e o pretenso milagre de transfor-mar pão ou moedas de ouro em rosas.No livro, dou um sentido diferente aomilagre; a rosa que a Rainha Santa ti-nha no regaço era a sua filha, Constan-ça… E o título do livro em Espanha é“A Rosa de Coimbra”, porque me pa-receu uma homenagem bonita a esta

(continuação da página anterior)

Maria Pilar Queralt del Hierro é uma escritora espanholalicenciada em História Moderna e Contemporânea.Na sua obra conta com vários títulos, incluindo a sua trilogia portuguesana área do romance histórico, dedicada a rainhas coroadas no nosso país.Inês de Castro (2003), Eu, Leonor Teles (2006)e o mais recente, Memórias da Rainha Santa (2009, que vai ser lançadono início de Fevreiro pela editora “Esfera dos Livros”)

Espanhola escreve livro sobre a Rainha Santa Isabel

cidade.Terá sido o milagre uma mitifi-

cação de uma mulher, a Rainha San-ta, pela sua bondade?

Creio que sim. O que é indiscutível

é que foi uma mulher de uma generosi-dade extrema, de inteligência conside-rável e bondosa como poucas. Está com-provado que ela própria limpava doen-tes, leprosos, o que não seria nada agra-

dável… Só por isso já mereceria ser San-ta. Por outro lado, o mito faz parte danatureza humana e é transversal à His-tória da Humanidade; é provável que al-guns milagres sejam fruto da sugestãoe outros mitificação de actos que, por sisó, já teriam alguma transcendêcnia eimportância suficiente para que a Rai-nha Santa chegasse aos nossos dias comeste apelativo.

COIMBRA E O SONHO

Que explicação encontra para queas vidas de reis e rainhas nos atrai-am, tendo em conta que os dadoshistóricos atestam que foi um perí-odo de fraca qualidade de vida?

As pessoas gostam de sonhar… Noentanto é verdade que as rainhas nãotinham uma vida tão privilegiada quan-to poderíamos pensar, a vida era muitodura para todos. As mulheres morriamfrequentemente de parto e sabemos queo papel das rainhas era gerar descen-dentes para o rei. A vida não era, detodo, maravilhosa…

Para além de Inês de Castro e daRainha Santa, que mais a liga à ci-dade de Coimbra?

Para mim é um local muito intimista…vim à Quinta das Lágrimas e encontreiamizade, reconhecimento e fontes de ins-piração. Acredito que são três coisas queum escritor não pode ignorar.

E no futuro?Tentarei manter-me com as mulhe-

res e com Portugal.

Pedro Nora

c i n e m ac i n e m ac i n e m ac i n e m ac i n e m a

Guy Ritchie, apesar de recentementese ter separado da cantora Madonna,mostra estar em grande forma cinema-tográfica no seu novo filme, intitulado“RockNRolla – A Quadrilha”. De facto,o filme não desilude aos fãs dos primei-ros filmes de Ritchie (“Snatch – Porcose Diamantes” e “Um Mal Nunca VemSó”), na medida em que não tenta sermais do que é: um filme sobre crime e aspessoas que o cometem. Passado emLondres, o filme aborda um negócio quese desenrola entre um dos maiores cri-minosos da cidade e a máfia russa. Porsua vez, uma pequena quadrilha, numajogada que pensavam dar lucro fácil,acaba por se envolver neste negócio...

Assim como em “Snatch”, Ritchie pro-va aqui que, assim como Tarantino, emtermos narrativos é um excelente joga-dor de cartas (ele é tanto argumentista

como escritor), pois consegue tomar to-dos os variados elementos (sejam estespersonagens, cenários e eventos impro-váveis e por vezes comédicos, músicasou locais), baralhá-los e voltar a dar ascartas, deixando sempre um ou dois trun-fos surpresa para o final. Apesar de nãoter muitos dos actores tradicionais de Ri-tchie, o filme conta com várias interpre-tações de peso, das quais destaco IdrisElba, Toby Kebbell, Jeremy Piven e MarkStrong (que volta a provar que está emgrande forma ultimamente).

Num registo diferente, recomendo ofilme “Como Perder Amigos e AlienarOutros”, uma comédia divertida que,apesar de começar como uma sátira dojornalismo do “Jet-Set”, para o final aca-ba por se virar um pouco para o campoda comédia romântica. Apesar disso, é

um filme recomendável, com umargumento bastante engraçado e umbom elenco de actores a consoli-dá-lo.

Igualmente recomendo um dosmelhores dramas periódicos dosúltimos anos: “A Troca”. O filmeretrata a história de Christine Co-llins, que, após o seu filho ter sidoraptado e supostamente resgatadopela polícia, reagiu contra tal farsa,afirmando que a criança que lhe foidada não era o seu filho. Clint Eas-twood volta a triunfar como reali-zador, retratando fielmente a Amé-rica dos finais da década de 1920, alturaem que decorre a trama do filme. Tam-bém é de se prezar o trabalho de Ange-lina Jolie no papel principal, juntando-seeste filme a um curriculum já prestigiado

com filmes como “Vida Inter-rompida” e “Um Coração Po-deroso”. Porém, o ponto dofilme que merece maior des-taque é o argumento, da au-toria de J. Michael Stra-czynski, que conseguiu pegarnuma história verídica e trans-pô-la para o ecrã com grandeimpacto, sem recorrer a dra-matismos exagerados.

Também já estreou “OEstranho Caso de Benjamin

Button”, o último trabalho de David Fin-cher. O filme é uma adaptação de umconto de F. Scott Fitzgerald (com o ar-gumento a cargo de Eric Roth, conheci-do pelo seu trabalho em Forrest Gump)que retrata a vida de um homem quenasce com um corpo de 80 anos e, àmedida que o tempo vai avançando, vairejuvenescendo. Fincher continua a es-pantar os espectadores com mais umagrande obra, em que se destaca não só arealização, mas também o protagonismode Brad Pitt (que, depois de “Seven” e“Clube de Combate”, volta a colaborarcom Fincher) e, sobretudo, de Cate Blan-chett. Um filme altamente recomendá-vel, que abre da melhor maneira a corri-da aos prémios de filme do ano.A Troca

1521 DE JANEIRO DE 2009 EDUCAÇÃO/ENSINO

* Professora e dirigente do SPRC

Isabel Dias *

Decorreu ontem (terça-feira), nasede da Alliance Française de Coim-bra, a assinatura de um protocolo decolaboração entre a Associação deEstudantes da Faculdade de Econo-mia “JEE FEUC” e a referida Allian-ce Française.

O Protocolo fomenta uma colabo-ração na divulgação das actividadesda cada entidade, no campo culturalou da formação, e oferece aos mem-bros da “JEE FEUC” uma oportuni-dade muito interessante, a preçosmuito especiais, de ingressarem numaturma direccionada para o Francês daEconomia, Gestão e Administração deEmpresas.

O percurso pedagógico será nego-ciado com os próprios formandos, le-vando em conta as suas específicasnecessidades linguísticas.

Outro ponto importante do Proto-colo é o de proporcionar a passagemde certificações oficiais do Governo

Há anos que são uma espécie de re-dacção da guidinha, apenas pontuados porvírgulas, nos quais não se consegue res-pirar e os acontecimentos se sucedem semponto final, sem nunca se chegar; e assimfoi dois mil e oito, uma travessia do deser-to para a quase totalidade dos professo-res, um ano civil que cruzou dois suplici-antes anos lectivos, memoráveis pela iné-dita incomunicação com a senhora minis-tra da educação, pelo absurdo desregra-mento das horas e da tipologia do serviçodocente, por violações sucessivas da pró-pria legislação, pelo anátema público quese tentou adensar, em determinados dis-cursos oficiais, ressuscitando ódios primá-rios que muito lembram estratégias mile-nares de dividir para reinar; este foi o anoda invenção, não do amor, mas de grelhasavaliativas insofríveis; o ano do sacrifíciodos titulares, essa casta de eleitos que tantojeito deu à economia, não por ganharemmais, mas porque simbolizaram o empo-brecimento de todos os outros, e que seviram promovidos a professores especi-alíssimos, a motores do absurdo, a únicoscapazes de fazer hoje o que todos faziamontem, numa ilusão própria de ópera bufa,não porque se tivesse provado que unseram menos habilitados, menos capazes,mais incompetentes, mas porque se inven-tou o incrível concurso que descredibili-zou essa coisa tão irrisória que é dar au-

Faremos um ponto final.las, leccionar, erigindo como actividade no-bre o exercício de cargos administrativos,e resumindo a sete anos os percursos pro-fissionais; dois mil e oito, o ano que saiucaro a todos os docentes, os que subirame os que desceram, porque tão gratuita eridícula foi a promoção, como o foi a des-promoção, e porque todos foram eleitoscomo dois gumes da mesma faca – a quecortou na despesa, cega aos custos queisso acarretará no futuro, se a desmotiva-ção falar mais alto do que o brio profissi-onal que vai prevalecendo; dois mil e oitofoi o ano em que a senhora ministra co-meçou a entalar entre a espada e a pare-de a casta que criou, sem direito a objec-ção de consciência, porque os titulares dasenhora ministra não devem dar provasde consciência, mas de absoluta obediên-cia, cega, surda, muda, acéfala; os titula-res e os professores da senhora ministrasó devem existir para cumprir aquilo queantes de ser já era, i.e., um modelo deavaliação que sempre foi inegociável, de-pois de um estatuto que foi inegociado,ambos a transformarem-se em leis, con-tra tudo e contra todos, numa política dequero, posso e mando; dois mil e oito foio ano das reformas, não da educação, masdos professores, porque só não vai quemnão pode, tamanha é a indignidade em quea senhora ministra da educação colocouos professores quando os tratou como sefossem a galinha dos ovos de ouro, semperceber que nem os ovos eram de ouro,nem era conveniente matar a galinha; estefoi o ano que nos ensinou que o que falta

aos professores é sentido de humor paraperceber que apontar uma pistola a umprofessor é uma brincadeira de mau gos-to, sim, senhora ministra e seus acólitos,hoje sei que quando um aluno me apontaruma arma, devo perguntar-lhe se pode-mos também jogar ao berlinde, jogo queaprecio sobremaneira; hoje, todos nossentimos mais tranquilos e se amanhã, emvez de nos oferecerem flores, nos aponta-rem uma pistola, vamos todos brincar; sefor mesmo a sério, não resistimos, entre-gamos o Magalhães, que não vale a penaperder a vida por ele, nem que seja a brin-car, e em última análise, consola-nos a ideiade que a senhora ministra da educaçãoachou muito tocante aquela criancinha quelhe dizia que depois de receber o fantásti-co computador estava ansiosamente a con-tar os anos para se poder filiar no ps, con-sola-nos que, finalmente, algo toque a se-nhora ministra e que a mesma consiga des-pertar tais vocações, pois todos fomosaprendendo, ao longo dos anos, que não éfácil tocar a senhora ministra; contudo, oque a tocará mesmo a sério, mas assim abater bem fundo, será encontrar a crianci-nha impoluta, a única suficientemente in-génua para dizer quando eu for grandequero ser professor; no dia em que a se-nhora ministra a encontrar, vai às lágrimas,não de comoção, mas de raiva, por aindanão ter conseguido acabar completamen-te com a raça dos professores; felizmente,os anos, tal como os textos e os ministros,acabam sempre por ter um ponto final.

Alliance Française de Coimbracom oferta de cursos diversos

francês, indispensáveis hoje em diapara estudos superiores em países

francofonos – como referiu o Direc-tor da Alliance Française de Coimbra,Paul Zimerlin, acrescentando:

“É de saleintar que,embora´existindo há vários anos cur-sos de Francês ministrados pela Alli-ance Française na FEUC, na verten-te das Relações Internacionais (exis-tindo até um curso franco-português,com o Instituto Superior de CienciasPolíticas de Bordéus), esta é a primei-ra vez que a Alliance Française pro-porciona um curso direccionado aosestudantes de Economia”.

Registe-se que a Alliance Françai-se de Coimbra (há 60 anos a desen-volver uma notável actividade nestacidade), para além dos cursos gerais,que habilitam com diplomas reconhe-cidos pelo Governo francês, tem ain-da uma vasta oferta de outros cursos,direccionados para necessidades es-pecíficas dos interessados e com pre-ços acessíveis.

Paul Zimmerlin, Directorda Alliance Française de Coimbra

16 21 DE JANEIRO DE 2009SAÚDE

MassanoCardoso

A Associação “Saúde em Português”,com sede em Coimbra, promove amanhã(quinta-feira, dia 22) uma série de iniciati-vas para encerramento das Comemoraçõesdo seu 15º Aniversário.

Segundo os responsáveis desta meritóriaAssociação, “15 anos depois Saúde em Por-tuguês continua... porque, infelizmente, ain-da há demasiadas crianças, mulheres e ho-mens que precisam de tudo o que possa-mos fazer para tornar as suas vidas maisdignas, com direito a todos os direitos hámuito consagrados como tal, indispensáveisà dignidade humana”.

O programa de amanhã inclui, pelas18h30, o lançamento do livro “Coisas quenão se esquecem...”, da autoria de Eduar-do Castela, médico e amigo da Associação.O lançamento decorre na sala de conferên-cias da Casa Municipal de Cultura deCoimbra. De registar que os lucros da vendado livro reverterão para o projecto de Tele-medicina que ligará o Hospital Pediátrico deCoimbra ao Hospital Dr. Baptista de Sousa,em Cabo Verde.

(Recorde-se que o cardiologista pediátri-

15.º ANIVERSÁRIO DA ASSOCIAÇÃO “SAÚDE EM PORTUGUÊS”

Lançamento de livro de Eduardo Castelaa anteceder “Jantar Solidário”– PROGRAMA INCLUI EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA E MÚSICA

co Eduardo Castela é pioneiro na utilizaçãoda telemedicina, a ele se devendo a concre-tização de projectos muito meritórios nestaárea).

Pelas 19h45, no Átrio do Hotel Ave-

nida, será inaugurada exposição de foto-grafia comemorativa dos 15 anos de exis-tência da “Saúde em Português”.

Pelas 20h00h realizar-se-á Jantar So-lidário, no Restaurante Indopaquistanês

MacGuls (no mesmo edifício do Hotel Ave-nida) que reunirá algumas das muitas pes-soas que têm oferecido o seu tempo livrecom todo o empenho e dedicação às cau-sas desta organização. Seguir-se-á momentode animação ‘Música, Tradição e Soli-dariedade’, pela Secção de Fado da Asso-ciação Académica de Coimbra, e um Lei-lão Solidário.

Ao final da noite, pelas 22.30h, será atri-buído Tributo de Mérito a cinco persona-lidades médicas e na área da saúde. A justi-ficar esta distinção dizem os responsáveisda Saúde em Português”:

“Consideramos de extrema importânciao reconhecimento do mérito destas perso-nalidades, no âmbito das acções destaONGD, nomeadamente na defesa e divul-gação da Associação Saúde em Português,na promoção, divulgação e intervenção naárea dos cuidados de saúde primários, nacooperação, ajuda humanitária e solidarie-dade, na Comunidade de Países de LínguaPortuguesa e outros e na formação e inves-tigação no âmbito das acções da Saúde emPortuguês”.

Eduardo Castela

A medicalização da sociedade é umarealidade altamente preocupante quepoderá acabar, mais tarde ou mais cedo,por rotular cada um de nós como doenteou portador de uma ou mais anomalias.Logo, teremos que nos “submeter”, comoquem diz, em muitos casos, à “ditadura”das terapêuticas e das medidas preven-tivas. Há quem ganhe com isto? Ai nãoque não há! E o negócio é mesmo demuitos e muitos milhões!

De tempos a tempos reduz-se o limiarde anormalidade de alguns parâmetros,porque se concluiu (cientificamente) quedesta maneira seria possível prevenir commais alcance certas doenças. Parafra-seando um reclame que aparecia há al-gum tempo na televisão com velhinhas acomentar: – “Eu ainda sou do tempo emque...”, também eu sou do tempo em queo colesterol, por exemplo, só era consi-derado elevado a partir dos 260 mg%.Depois, o limiar da anormalidade baixoupara os 240 mg%, porque se concluiu queos que estavam naquele intervalo tam-

Delegados de alimentos, de vinhosde chás, de sapatos....bém corriam riscos de virem a sofrerdoenças cardiovasculares. Passado unsanos nova descida, desta feita para os220 mg%. Argumento? O mesmo que jádescrevi para a primeira redução. Como tempo concluiu-se que deveria baixar-se ainda mais, desta feita para os 200mg%. Razão? A já citada. Em seguidapropuseram os 190 mg%, sempre com omesmo argumento científico que é in-questionavelmente correcto. Há de fac-to um risco acrescido. Pode não sermuito por aí além, mas existe e não édifícil de provar. Tudo leva a pensar quequalquer dia baixem para os 175 ou 170mg% invocando sempre os mesmos ar-gumentos. O que é certo é que cada vezque baixam o limiar de “anormalidade”apanham catrefadas crescentes de pes-soas com anomalias. E depois? Depoisé só puxar por meia dúzia de neuróniospara concluirmos que os “rotulados”como hipercolesterolémicos terão quefazer terapêuticas farmacológicas, die-téticas ou exercício. Terapêuticas nãofaltam.

Foi anunciado que em breve podemosvir a ter profissionais idênticos aos da

informação médica a ensinar, a esclare-cer e a motivar os médicos a “prescre-ver” ou a aconselhar, como preferirem,os nutracêuticos, alimentos que fazembem à saúde, baixam o colesterol, me-lhoram o funcionamento digestivo, pro-tegem os consumidores disto e daquilo,enfim uma interessante área de negócio.

Pergunto, se os industriais das águas

medicinais também não irão no mesmosentido, ensinando, esclarecendo ou mo-tivando os médicos a aconselhar a águaX ou Y com ou sem aditivos. Mas, jáagora, também não é de excluir a hipó-tese de aparecerem delegados de infor-mação vinícola para “ensinar, esclarecerou motivar” os médicos quanto às virtu-des de um vinho de determinada colhei-ta, porque está cientificamente compro-vado ter efeitos protectores cardiovas-culares de forma muito superior a qual-quer rival! Claro que as cervejeiras nãodeixariam de treinar pessoal com o mes-mo objectivo, o mesmo acontecendo comos industriais dos tomates, dos lacticíni-os, dos alhos e até das cebolas!

Assim, um dia destes, poderemos ou-vir a funcionária do serviço a anunciarque está na sala um senhor delegado. –Ai está? É delegado de quê? Fármacos,iogurtes, chás, vinhos, cervejas, tomates,chocolates ou águas? – Nenhum desses!Não?! – É delegado de sapatos senhordoutor. – De sapatos?! – Sim senhor!Parece que tem uns especiais que evi-tam calos e não atormentam os joane-tes. – Mande-o entrar já...

1721 DE JANEIRO DE 2009 SAÚDE

AFIRMOU EX-MINISTRO CORREIA DE CAMPOSNO ROTARY CLUBE DE COIMBRA / OLIVAIS

Coimbra é caso único no Mundoem termos de Saúde

O ex-Ministro da Saúde, Correia deCampos, afirmou anteonetm (segun-da-feira), que Coimbra é um cidadeúnica no Mundo em termos de Saúde,nomeadamente no que respeita à den-sidade de camas hospitalares em hos-pitais públicos relativamente à respec-tiva população, mas também com umpujante sector hospitalar privado.

Correia de Campos falava no de-

correr de um jantar-debate em queparticipou a convite do Rotary Clubede Coimbra / Olivais, presidido porHelena Goulão (ela própria médica eprofessora da Faculdade de Medici-na).

O ex-Ministro fez uma interessan-te exposição sobre o Serviço Nacio-nal de Saúde, citando dados estatísti-cos que mostram a extraordinária evo-

ilução verificada no nosso País nasúltimas três décadas, depois do 25 deAbril e sobretudo com a criação doServiço Naciona l de Saúde.

Muito crítico para o “numerus cla-usus” que em determinada altura im-pediu o ingresso de estudantes emquantidade adequada nas Faculdadesde Medicina, Correia de Campos re-feriu também que, ao contrário do que

muitos pensam, hoje há melhores cui-dados de saúde no interior do que nolitoral do País.

Após a palestra segui-se aniamdodebate, em que Correia de Camposreiterou o acerto das medidas quetomou enquanto responsável pelapasta da Saúde do governo de Só-crates, onde se manteve durante 3anos.

Correia de Campo com Helena Goulão e Santos Cabral, na saudação às bandeiras O ex- Ministro da Saúde proferindo a sua palestra

O Centro de Histocompatibilidade doCentro contribuiu, em 2008, com perto de10.800 novos dadores para o registo doCentro Nacional de Dadores de MedulaÓssea (CEDACE), revelou a directora da-quela estrutura regional.

Maria Luísa Pais, directora do Centro deHistocompatibilidade do Centro, disse àagência Lusa que este organismo angariou,no ano passado, 10.780 novos candidatos adadores de medula óssea.

Trata-se do maior número de colheitasde sempre feitas pelo Centro de Histocom-patibilidade do Centro, que acabou por ul-trapassar o objectivo de dez mil novos da-dores voluntários que se propunha para 2008.

“De forma inédita, o Centro abriu um fim-de-semana, num sábado, para facilitar adeslocação das pessoas, e, só nesse dia, ti-vemos perto de 1.500 dadores”, disse amédica à agência Lusa.

Ao explicar esta elevada adesão, MariaLuísa Pais referiu ainda o envolvimento de

Recorde de dadores de medula ósseafamiliares de doentes que, ao “darem o ros-to, potenciaram” o surgimento de novospotenciais dadores de medula óssea.

“Fizemos várias iniciativas em Estarreja,em Viseu, na Faculdade de Medicina deCoimbra”, exemplificou a directora do Cen-tro de Histocompatibilidade do Centro, des-tacando igualmente a adesão elevada re-gistada no âmbito de uma acção que teve oenvolvimento do grupo empresarial Lena,de Leiria.

No CEDACE, que faz parte do registointernacional, estão inscritos actualmentecerca de 142 mil dadores - adiantou.

Os três centros de histocompatibilidade,situados em Lisboa (CHS), Porto e Coim-bra, foram criados por Decreto-Lei datadode 21 de Fevereiro de 1983.

Entre outras competências, neles sãoestudados os candidatos a transplante detecidos, órgãos ou células, e os dadores, e éfeita a monitorização das terapêuticas e dospacientes transplantados.

A transplantação de medula óssea “é umaprática terapêutica reconhecida, que permi-te muitas vezes a cura de doenças graves eque podem ser frequentemente mortais”, lê-se no sítio na Internet do CHS.

“O leque de utilização das células proge-nitoras tem sido cada vez mais alargadodevido à sua capacidade de se diferencia-rem e de renovarem a medula óssea dodoente”, disse Maria Luísa Pais, destacan-do a sua importância nas patologias hema-to-oncológicas e hereditárias.

O Centro de Histocompatibilidade doCentro teve o seu processo de certificaçãoda qualidade concluído em 2008, de acordocom a norma ISO 9001:2000.

Para 2009, Maria Luísa Pais referiuque, apesar de no plano de actividadesestar inscrita a meta de conseguir oito milnovos dadores, é provável que se atinjamos dez mil.

Uma projecção dos novos dadores a re-gistar este mês aponta para o número deum milhar, adiantou a médica à Lusa

18 21 DE JANEIRO DE 2009A PÁGINA DO MÁ[email protected]

Mário Martins

IMPRESSÕESNA MUDANÇA DE ANO

JAIME SOARES não concorda coma decisão de Manuela Ferreira Leite deimpedir os candidatos autárquicos deconcorrerem à Assembleia da Repúbli-ca. Li as declarações no “Público”. Jai-me Soares diz que os autarcas que fo-rem eleitos para a Assembleia só lá po-dem estar seis meses; depois terão deoptar. Para ele é tudo claro. Penso quefaltou ao jornalista fazer duas perguntas:se optar pela Assembleia, não estará aenganar os eleitores do concelho (quevotaram para que ficasse na Câmara)?e se optar pela Câmara, não estará aenganar os eleitores do distrito (que vo-taram para ficasse na Assembleia)? Cla-ro que Jaime Soares nem sequer pensanisso. É por estas e por outras que a cre-dibilidade dos políticos está como está.Basta ler os comentários no “Público”para perceber como a realidade do dia-a-dia, das pessoas que trabalham e pa-gam impostos, é diferente da realidadepolítica.

OS “FOGUETES DE LÁGRIMAS”,como se dizia quando era miúdo, volta-ram a Coimbra na passagem de ano. Vià distância, no terraço de um amigo. Fo-ram 13 minutos a queimar, bem mais (emelhor) fogo do que nas Festas da Rai-nha Santa, quando dezenas de milhar depessoas visitavam a cidade. Crise?! Qualcrise? (A mesma Câmara que gastoumilhares de euros com os foguetes veio,dias depois, pedir aos cidadãos para ofe-recerem cobertores para distribuir aossem-abrigo. Parece que andamos a brin-car, num “país de malucos”...)

APROXIMAM-SE ELEIÇÕES e o“Diário As Beiras” foi ouvir os respon-sáveis concelhios dos partidos. Tenholido os títulos e olhado as fotos. (Prometia mim mesmo perder pouco tempo comas “tricas” da Política: eles dizem umacoisa, a malta vota neles e depois elesfazem outra, impunemente. Então, já quenão é possível puni-los, pelo menos nãome sinto enganado. Não leio, pronto. Equanto a ir votar... estou a reflectir.) Masvoltemos ao jornal e às entrevistas. Ma-nuel Oliveira: «Encarnação saberá ouvirConcelhia PSD na escolha dos vereado-res». Henrique Fernandes: «PS vai ga-nhar as eleições em Coimbra». Francis-co Queirós: «Candidato será conhecidoa 14 de Fevereiro». Luís Providência:«CDS garante estabilidade da coligaçãona Câmara de Coimbra». Estes foramos títulos de 1.ª página. Agora olhem paraas fotos que os acompanham e digam-me o que acham. Para mim, a única afir-

mação que acolho sem reservas é a dodirigente comunista.

A BRIOSA continua, imparável, acaminhar para o abismo. O clube per-deu identidade e, como resultado disso,as bancadas do estádio situado dentro doECC (Empreendimento Comercial doCalhabé) estão cada vez mais vazias.Esta semana, num jogo para a “Taça daLiga”, terão estado 615 espectadores(números oficiais) ou 287 (contagem daRádio Universidade). Ao que isto che-gou! Há um amigo meu que está con-vencido que o sistema de contagem deespectadores soma os pés, mas que de-pois esquece-se de dividir o número pordois... Cá por mim, há cerca de ano emeio que decidi deixar de me deslocarao estádio, porque não vou a sítios aon-de me sinta maltratado. E como me sin-to tratado de forma terceiro-mundista noestádio do Calhabé (se quiserem, eu ex-plico porquê), deixei de lá ir. Mas fui pa-gando as quotas de associado da Briosa.Até há pouco.

LIXO na cidade é muito. A cidade estáporca. Sobretudo em algumas zonas. Atépensei que tinha deixado de haver var-redores. Mas não, não acabaram. Nou-tro dia encontrei vários deles, em plenaactividade. Até tirei fotos aos homens,às vassouras e ao carro de mão. Sabemonde? Na Solum, nas imediações do“Dolce Vita”. Na minha rua, na fregue-sia de Eiras, nunca os vi - e já lá moro há13 anos. Ou seja, a “Coimbra dos ricos”tem varredores, a “Coimbra dos pobres”não tem. Porca miséria.

CORTEJO DOS REIS voltou às ruasde Coimbra. Li os dois diários, pela ma-nhã, e fiquei a saber que a cidade se alhe-ara da iniciativa. Afinal, as notícias dizi-am uma coisa e a realidade tinha sidooutra... Mais tarde, um amigo que sedeslocara aos Olivais, para assistir à che-gada dos Reis disse-me que muitas cen-tenas de pessoas enchiam por completoa escadaria da Igreja de Santo António.Afinal, os jornais - pressionados pela horatardia do cortejo e a necessidade de “fe-char” as edições - falavam do início docortejo; o meu amigo falou-me do finaldo cortejo. A “vida dos jornais” tem des-tes perigos.

O CHEQUE referia 25 euros em al-garismos e «trinta e cinco euros» porextenso. A instituição bancária onde ocheque foi depositado decidiu devolvê-lo e debitar mais de 13 euros ao titularda conta. A proceder assim, não tenhodúvidas de que os lucros da Banca vãocontinuar a ser substanciais. O “caso docheque” segue agora para o Banco dePortugal.

ASUS é marca de computadores deque nem quero ouvir falar. O computa-dor de secretária, comprado há dois outrês anos, necessita de uma fonte de ali-mentação nova. Ando há dois meses atentar comprá-la, já enviei uma dezena

A OBRA DO ANO 2008 em Coimbra, para mim, é indiscutível: a rotunda daEstrada de Eiras. Uma beleza! Volto a escrever o que já aqui escrevi: o autor doprojecto deveria ser distinguido e o seu nome conhecido de todos os conimbricen-ses. Foi construída, logo alterada e depois novamente alterada. Os acidentes suce-dem-se. Os trabalhadores da Câmara estão no local repetidamente para “remen-dar” os estragos. É, por isso, a obra mais acompanhada de sempre em Coimbra.Os veículos pesados vêm-se aflitos para a circundar, os camiões de abastecimen-to do “Minipreço” não conseguem entrar à primeira. É um óptimo local para reco-lher jantes, pára-choques e outros adereços automóveis. Basta passar perto das 8da manhã para ver o espólio da rotunda aumentar. Bem sei que é uma simplesrotunda. Mas é nas pequenas obras que, muitas vezes, se alicerçam as grandespolíticas. A rotunda da Estrada de Eiras é exemplar.

(publicado em 10/01)

A obra do ano

de e-mails para a Asus e... nada. Por-tanto, se comprarem um Asus, tiveremum problema como eu tive e ficarem comuma máquina quase nova inutilizada, nãose queixem, por favor. Estão avisados.

«CARTÃO DE CONTRIBUINTEno país do Simplex» bem poderia ser otema de um conto. Ou de uma novela. Ocidadão que requereu a emissão de umcartão de contribuinte em Fevereiro de2008 ainda continua à espera que as Fi-nanças lho enviem. Afinal, só se passa-ram 11 meses!!! As televisões mostaram-

nos um país de Empresa na Hora, Car-tão do Cidadão, Simplex e Magalhães. Arealidade, afinal, é bem mais negra. (Ali-ás, parece que uma televisão vai contarem breve este caso exemplar...).

CASO DO CONCURSO CAMA-RÁ-RIO. O tal que foi aberto durantetrês dias em pleno Verão. E que acabouem finais de Dezembro de forma poucohabitual. Prometo e cumpro: não falonele. Mas penso que alguém deveria in-vestigar.

(publicado em 10/01)

Dias depois de construída, as primeiras alterações

Os camiões andam para trás e para diante...

A famosa rotunda nas páginas do “Diário de Coimbra”

1921 DE JANEIRO DE 2009 MÚSICA

Distorções

José Miguel [email protected]

Continuando na senda de destacar oque de melhor aconteceu no ano passa-do, vamos eleger a Melhor Remisturade 2008, que, apesar da grande quali-dade do que ouvimos, “Golden Cage”da autoria de The Whitest Boy Alivena remistura de Fred Falke foi, sem dú-vida, a melhor. Mas há ainda que desta-car a mistura, ainda que não autorizadapela banda, de “Lights & Music” dos CutCopy, produzida por um português radi-cado em Munique, que assina comoMoulinex.

Quanto ao Remisturador de 2008a escolha não poderia recair noutro pro-dutor que não em Fred Falke, que, apósum interregno nas colaborações comAlan Braxe e nos primeiros tempos asolo, remisturou de tudo um pouco, pas-sando pelos Pnau, Ladyhawke, TheWhitest Boy Alive, Lykke Li, Justice ou

Hot Chip.No que toca ao Melhor Tema In-

ternacional de 2008 a escolha tambémnão se afigurava fácil, sobretudo dadoque estavam em disputa temas como:“Rock´n´roll Train” dos AC/DC, “Lights& Music” dos Cut Copy, “Paris is Bur-ning” de Ladyhawke, “Viva La Vida” dosColdplay, “Blind” dos Hercules & LoveAffair, “Ready For The Floor” dos HotChip, “Never Miss A Beat” dos KaiserChiefs, “Sex On Fire” dos Kings OfLeon, “Time To Pretend” dos MGMT,

“Black an Gold” de Sam Sparro, “Loveis Noise” dos The Verve ou “A-Punk”dos Vampire Weekend. Mas, após mui-tas indecisões decidi optar por “Time ToPretend” dos MGMT.

Já quanto ao Melhor Tema do AnoNacional´08, apesar de gostar bastantede temas como “On The Radio” dos X-Wife ou “Cantiga de Amor” dos RádioMacau, acabei por escolher “Perten-cer” da autoria dos Xutos & Ponta-pés e dos Oioai, editado no âmbito dacampanha “ UPA – Unidos Para Ajudar”..

Por fim, gostaria, ainda de salientar os30 anos de carreira dos Xutos & Pon-tapés, facto que continua a ser assina-lável, visto que a formação actual aindaé praticamente a mesma, o que, infeliz-mente não acontece com outras bandasportuguesas que já na altura davam pro-vas do seu talento. A fim de assinalar oevento da banda de Tim e Zé Pedro, aAntena 3 rodou o novo “single” da ban-da, “Quem é Quem”, cujo um excertodo “vídeo clip” já tinha sido mostrado pelo“Top +” da Rtp 1.

Fred Falke

MGMT

O director artístico do Teatro Académi-co de Gil Vicente (TAGV) manifestou em-penho em retomar, em 2010, o Festival In-ternacional de Blues de Coimbra, que nãose realiza este ano por falta de apoios.

“O festival é ‘a menina dos nossos olhos’,tem projecção nacional e internacional. Va-mos só interromper e, no próximo ano, pro-vavelmente, vamos retomá-lo”, disse Fran-cisco Paz à agência Lusa.

O evento, que começou a ser realizadoem 2003 no âmbito da “Coimbra, CapitalNacional da Cultura”, sob a direcção artís-tica de Paulo Furtado, não se vai realizareste ano.

“Este ano não havia condições para orealizar. Estamos com dificuldades emcumprir os nossos compromissos de 2008,nomeadamente o pagamento de ordena-dos”, considerou o director artístico doTAGV, que não quis comentar declaraçõesde Paulo Furtado, segundo as quais há tam-bém “falta de vontade” deste organismoda Universidade de Coimbra (UC) paralevar a cabo o festival.

Segundo Francisco Paz, as últimas duasedições do Coimbra em Blues realizaram-se com o apoio da Direcção-Regional deCultura do Centro, suporte que era, contu-do, assumido como provisório desde o iní-cio. Contactos efectuados com várias em-

presas “não foram bem sucedidos” paraconseguir um mecenato.

De acordo com o director artístico doTeatro Académico de Gil Vicente, o orga-nismo “depende, há três anos, exclusiva-mente da UC” e a crise que as universida-des atravessam não permitiu aumentar asua dotação.

Este responsável espera que a integra-ção do TAGV na nova Fundação Culturalda Universidade de Coimbra “crie as con-dições” para o evento “ter o apoio da Câ-mara e da Direcção-Geral das Artes”.

“No nosso entendimento, é um prejuízopara Coimbra. Os acontecimentos culturaisdão sempre animação e prestígio à cidade”,lamentou o vereador da Cultura da Câma-ra, Mário Nunes.

Espectador assíduo do festival desde2003, também o professor aposentado JoséAntónio Franco lamentou o cancelamentodo evento este ano, considerando que “éuma festa que Coimbra perde”.

“Não me quero deixar contaminar pelopessimismo da crise. Isto tem a ver comcrises que Coimbra sofre há muito tempoe não só com a crise em geral”, disse odocente à agência Lusa, ao adiantar queo festival proporcionou ao longo dos últi-mos anos “momentos fantásticos” em ter-mos musicais.

TAGV quer retomarno próximo anoFestival Internacionalde Blues de Coimbra

O músico João Aguardela, que morreuno passado domingo em Lisboa, era “umaforça muito positiva no meio musical”, disseZé Pedro, guitarrista dos Xutos & Ponta-pés, à agência Lusa.

Zé Pedro recorda-se de João Aguardelados tempos do Rock Rendez-Vous, ao qualos Sitiados concorreram em finais dos anos1980, e da participação do grupo na colec-tânea “XX anos XX bandas”, dedicada aosXutos & Pontapés.

Já a cantora Viviane, amiga de JoãoAguardela desde a génese dos Entre As-pas, definiu-o à Lusa como “um músico sin-gular que teve uma profunda paixão pelasraízes da cultura e da música portuguesa eisso reflectia-se na música que fazia”.

Carlos Moisés, vocalista da Quinta do Bill,conheceu João Aguardela num concurso doRock Rendez-Vous e mais tarde convidou-o para participar no álbum “Os filhos daNação” (1994).

“Era um critivo à procura de novos rou-pagens para as nossas raízes da música tra-dicional”, disse Carlos Moisés à agênciaLusa, recordando o trabalho de Aguardelano projecto a solo Megafone.

João Aguardela, que faria 40 anos emFevereiro, morreu no domingo, em Lisboa,vítima de cancro.

MORTE DE JOÃO AGUARDELA

Colegas recordamimportante trabalhodo músico

O funeral realizou-se ontem (terça-feira)para o Cemitério do Alto de São João, emLisboa.

Distinguido em 1994 com o Prémio Re-velação da Sociedade Portuguesa de Auto-res, João Aguardela liderou os Sitiados, gru-po pop-rock que se inspirava na música tra-dicional portuguesa.

A busca das raízes e da tradição musicalportuguesa levou-o também ao projectoMegafone, no qual recorria a recolhas etno-gráficas de Giacometti e José Alberto Sar-dinha, adicionando-lhes electrónica.

Liderou ainda o projecto “Linha da Fren-te” e desde 2004 integrava A Naifa, junta-mente com Mitó e Luís Varatojo, com quemeditou em 2008 o álbum “Uma inocente in-clinação para o mal”.

20 21 DE JANEIRO DE 2009CRÓNICA

* Docente do ensino superior

AO CORRER DA PENA...

Maria Pinto*[email protected]

“Estranha forma de vida”...

“Ajuda-me, Maria. Por favor!Da tua sempre Amiga,

Mema”

Tão profunda, tão de dentro esta tua car-ta, Mema! Que estado de amargura, de tor-por... um misto de abulia e de revolta quecondiz contigo, que te traduz...

Mema. Mistura de Amélia e de Amália.O fruto da amizade e da admiração que sin-to por ti desde que nos conhecemos naque-la tarde em que iniciámos o nosso percursopelo ensino superior.

Foi assim que nasceste. Amélia. Emoti-va e sensível. Talhada para o sofrimento.Conchinha do mar.

“Ai, Maria, esta angústia sem fim, estaminha solidão! Esta tão grande ansiedade, onão ter sossego”...

Quando te conheci, sempre te trocava onome. Amália. Era assim que te chamava.Era esta a forma como te via, eu que tinhapor hábito pesquisar a raiz e o significadodos nomes. Tu sorrias quando te chamavaAmália e eu sempre te mostrava como erasforte, querida Amiga, como agora vais terde ser, como trabalhavas e lutavas pelos teusdireitos. Para além de seres exímia canta-dora de Amália... lembras-te como anima-vas os convívios do nosso Curso, as pausasque fazíamos no nosso estudo?

E sempre linda, Mema! Tão linda! Pen-so até que nem davas conta da tua rara be-leza interior e exterior. Nem quando o nossoquerido amigo PN, a quem agora te referescom tanta mágoa, te dizia que eras uma peçade artesanato. PN. Ainda recordas comolhe ofereceste estas iniciais e como brincá-mos com elas na nossa primeira aula de Lín-gua Francesa? Como se chama o sênhorr,perguntou o professor e ele, olhando-te deforma cúmplice, com aquele sorriso de inte-ligência brilhante, apenas balbuciou: PN.

Perante o espanto do professor, tu escla-receste: “PN, de plusieurs noms, mon-sieur; il n’est pas une seule personne. Ilest une personnage de roman…il esttout…»

Foi nesse dia, no intervalo da aula, queentendi o quanto ele te amava. PA, cha-mou-te. Peça de artesanato. Peça única.Rara. Para guardar, porque não fabricadaem série, como te dizia. Fazendo jus aosacessórios com que te enfeitavas, tu querejeitavas os ouros e não te cansavas devasculhar anéis e colares que mais ninguémusasse. Que fossem o teu prolongamento.

Percebi sempre a importância que estehomem teve na tua vida. A capacidade quetinha de transformar a Amélia-quando-so-fredora na Amália-lutadora. Ao ponto de teirritares – antes de lhe dares um beijo – por

achares que tanto exigia de ti. E era verda-de. Porque só ele sabia onde podias chegar,só ele conseguia fazer de ti a “abelha rai-nha”, quando te cantava Caetano.

“Tínhamos tanto para dar um ao outro,Maria! Era como se o mundo fosse apenasnosso e quanto mais nos dávamos, mais tí-nhamos para nos dar... tudo estremecia emnós quando nos murmurávamos, quando nossilenciávamos. O magnetismo era total.Lembras-te, Maria, quando ele declamou,em pleno Bar da Faculdade de Letras, aque-le maravilhoso poema de Eugénio de An-drade?

A bocaOnde o fogoDe um verão

Muito antigo cintila,A boca espera

(que pode uma boca esperar senãooutra boca?)

espera o ardor do ventopara ser ave e cantar.

Levar-te à boca,Beber a água mais funda do teu ser

Se a luz é tanta, como se pode morrer?

Morrer, Maria, morrer. Esta palavra ecoaem mim e perpassa todos os meus poros,ainda que já lá vão quase dois anos...queserá feito dele, Maria? Ajuda-me, por fa-vor. Não acredito. Ele era imortal... il étaittout...”

Querida Amélia. Minha querida Amiga.

O quanto eu te entendo à medida que leioeste teu texto tão pungente, tão infinitamen-te sentido! Tão teu.

“Dele me resta um pequenino rolo depapel que aqui tenho enquanto te escrevo.Que me deixou em forma de dedo, no arode um anel que eu adorava, oferecido e com-prado por ele numa feira de antiguidades.Peça única que funcionou para nós como oselo do nosso amor...

...eu, minha Querida Amélia, minhaprincesa, de ti, quero a possibilidade desaber que posso existir o tempo de olhar-te e o milagre da imortalidade. Tenho-tefalado disto e tu podes não entender to-talmente. Sou, somos imortais porque denós existe algo que se não extingue. Pen-so que se fui a Pessoa, tu, minha adora-da Amélia, és mesmo a minha Mulher. Euvou partir. Vou mesmo ter de partir. Nãofiques triste. Há quem tenha vivido milvidas sem saber um instante o amor comoo que eu tenho em mim e te pertence. Prin-cesa do mar! Em ti me guardo como umnáufrago que pode tristemente morrer napraia. Dá-me a tua mão e vem comigo.Vamos partir num barco sem leme, paranavegar um mar sem regresso. Não es-tou preso a ti. Sou tu. Somos. Jangadade pedra se fôssemos Península. Só quemais que tudo, para mim és conteúdo enão consigo saber o tamanho do conti-nente. Vou sair, vou ter de sair. Com lá-grimas de emoção. Como agora, nestemomento em que te escrevo, sabendo que

daqui a pouco, quando esses teus olhoslindos acordarem, me vão ler...

Nunca te quis incomodar, Maria. Sabia-te fora do país em trabalho de doutoramen-to. Também senti que tinha de estar sozi-nha, fazer o meu luto de Amélia e tentarseguir em frente em tonalidades de Amália.Depois de muita revolta, de muito correr àtoa, depois de muito me sentir à beira dofundo, respeitei a decisão de PN.

Habituei-me a viver em solidão e a fazerdela o meu projecto. Com as fortalezas e asfragilidades que a solidão implica. Num pro-cesso de grande crescimento interior e deliberdade. Com a visita ocasional de Amé-lia, em demanda de um ombro protector eda vontade de partilhar. Enfim, queridaMaria, um percurso que me não tem sidonada fácil, até porque me habituei a criar ea povoar espaços e tempos que consideromuito íntimos, muito meus e que me ajudama ir em frente, lutando. Lutando sempre. Eolhando numa outra direcção quando mefazem sentir que estou errada, quando mequerem forçar a “vir por aqui”. Quando sur-gem homens de “falas doces”, como diziaTorga de Arlindo no seu conto “A Paga”.Lembras-te, Maria, desse texto? E do cole-ga que tínhamos com o mesmo nome e quese dava ares de lindo para todas as mulhe-res? “Rapariga em que pusesse o seu sen-tido, pronto. Tanto fazia saltar como correr:tinha de ser dele”. Desculpa este breve pa-rêntesis, querida Amiga, mas por momen-tos tive de sorrir. Porque os Arlindos exis-tem mesmo e por aí pululam, cantando deflor em flor, tentando captar as mais frá-geis.

Vem-me à cabeça o poeta Régio. ComoPN o declamava! Inesquecível o CânticoNegro, com o qual tanto me identifico nestemomento. De facto, a minha vida é umvendaval que se soltou e uma onda quese alevantou... não sei por onde vou,Maria. Não sei para onde vou. Sei quenão vou por aí.

Por vezes penso que já gastei as lágri-mas. As palavras não me saem. Já não sepassa absolutamente nada, como diria Eu-génio de Andrade.

Ajuda-me, Maria. Por favor!Da tua sempre Amiga,Mema”

Tentando refazer-me do impacto causa-do pela tua carta, Mema, lida, por coinci-dência, quando regressei a casa após o fil-me “Amália”, sinto que ecoa em mim, deforma profunda e arrepiante... a “EstranhaForma de Vida”...

Amália no palco. Amélia na vida. Memafundindo estes dois rostos lindíssimos, estasduas vozes arrebatadoras:

Coração independente,Coração que não comandoVive perdido entre a gente,Teimosamente sangrandoCoração independente”.

Fica tranquila, Mema. Eu estou aqui.

“Esferas”, pintura de Salvador Dali

2121 DE JANEIRO DE 2009 OPINIÃO

Renato Ávila

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

Joséd’Encarnação

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

Natal nacional

A investigadora decidiu realçar a ex-cepcional importância que detinha um por-menor duma tapeçaria patente ao públicono Museu Nacional de Machado de Cas-tro.

Dedicou ao tema largas horas e do re-sultado do seu intenso labor apresentoucomunicação a um congresso e houve porbem publicar o texto em conceituada re-vista científica. Claro que só ficava bemcom fotografia a ilustrar.

Confidenciou-me:«A imagem teve de ser comprada e

não foi nada barata: 50 euros! Eu até te-nho fotografias minhas e com melhor qua-lidade, mas… não me é permitido publi-cá-las!».

A entidade detém o exclusivo e pensaamealhar uns cobres com essas vendas.A quem quer que seja, sem excepção!

No Porto, o ensino médico-cirúrgico,vinha do Hospital D. Lopo, fundado em1605 e substituído pelo Hospital de San-to António, em 1770. Foi neste hospitalque se instalou, em reduzidas dependên-cias, uma Escola de Cirurgia, anteces-sora da Escola Régia de Cirurgia fun-dada em 1825. Por Decreto de 29 deDezembro de 1836, Passos Manuel deunova organização às Escolas de Cirur-gia de Lisboa e Porto, que passariam adenominar-se Escolas Médico-Cirurgi-cas de Lisboa e Porto e, mais tarde,Faculdade de Medicina da nova Univer-sidade do Porto, em 1911. Em Lisboa,sucede a este curso, a Escola Régia deCirurgia (Hospital de São José), criadano ano de 1825.

Ambas as Escolas nasceram a par poriniciativa de Teófilo Ferreira de Aguiar,cirugião-mór.

Com estas duas Escolas, deu-se umenorme passo na evolução da Cirurgiae da Anatomia em Portugal.

Faltam-nos palavras para expressar aamarga desilusão que nos vai na alma nobalanço da quadra festiva de Natal.

Suposto seria que celebrássemos a paz ea solidariedade entre todos, especialmenteos de boa vontade. Afinal, nas sombras dasfeéricas alegrias e da abundância de alguns,muitos sentiram na pele e na alma as agru-ras do frio e da fome, da miséria, da indife-rença, da violência e até do ódio.

Aquilo a que temos vindo a assistir nes-tes últimos tempos abala profundamente todoo edifício no qual nos habituámos a viver, aencontrar as nossas referências, a construiros nossos valores.

Fizemos âncora do trabalho e da discipli-na, da sobriedade e da poupança, da honrae do respeito pela autoridade, pela integri-dade moral, física e patrimonial do nossopróximo, com redobrada veemência quan-do, pela idade, pela doença ou diminuiçãofísica e mental e pela precariedade afecti-va, económica e cultural se encontram emespecial situação de fragilidade.

Acreditámos na nobreza, lucidez e efi-cácia da justiça e no primado e força da leisobre a marginalidade e o crime e na demo-crática abertura no acesso aos tribunais.

Acreditámos, ainda, na idoneidade e naseriedade dos que, na política, se candidata-ram ao nosso voto para honrada e sabia-mente servir a grei.

Acreditámos nos empresários e banquei-ros como promotores de riqueza sábia esolidariamente repartida por quem investe e

por quem trabalha.Acreditámos que os conflitos, a existirem,

se resolveriam com bom senso e clarividên-cia pelo diálogo e por uma justiça democrá-tica e parcimoniosa.

Acreditámos em tudo isto e em muitomais.

Construímos este edifício pautando asnossas cogitações, o nosso comportamen-to pelas sólidas e probas referências dasvelhas gerações que nos embalaram, dasapertadas conjunturas em que nos foi dadoviver e dos códigos comportamentais da-queles que nos educaram.

Os desvios eram moral e duramentepunidos com a reprovação pública e a con-denação em juízo marcava profundamentea credibilidade e o conceito social dos seusautores.

Os actos de nobreza e de generosidadeeram tidos em apreço e constituíam patri-mónio da comunidade em que se inseriampromotores e beneficiários.

Hoje, tudo parece estar posto em causa.Não propriamente porque sejam preconiza-das ou difundidas doutrinas contrárias às quea sociedade, durante muitos séculos, consa-grou como códigos de civilização; não pro-priamente porque se proponha sob formaconcreta e explícita uma outra moral, masporque, a pouco e pouco, por omissão oupor contemporização cívica e jurídica, seforam permitindo, por uso e abuso continu-ado, a sedimentação de determinados com-portamentos e, com ela, a emergência denovos conceitos, novas e estranhas atitudes,de novos e polémicos valores os quais, cala-mitosamente, estão a corroer, a arruinar asestruturas morais em que assenta o com-

plexo sistema das relações sociais.Falar, hoje, de honra, de seriedade, de

palavra, de sobriedade, de autoridade e dis-ciplina, de esforço e perseverança, de pou-pança e previdência, de zelo no trabalho, derespeito e afecto pelos mais velhos e dimi-nuídos, pela integridade física, moral e patri-monial de cada um… parece cheirar a re-trógrado, a obsoleto.

O laxismo e o facilitismo, o compadrio etráfico de interesses e influências, os abu-sos de confiança e as falcatruas, o descré-dito da autoridade democrática do estado eda justiça, desembocando na impunidade ena corrupção, vêm minando as respectivasestruturas.

O hedonismo desenfreado aliado ao con-sumismo militante parecem ditar as novasleis do comportamento social onde o suces-so do “ter” logra submergir a honra do “ser”;onde a astúcia e a desvergonha subalterni-zam o mérito; onde a dignidade e a culturasão ofuscadas pela mediocridade; onde ogozo anatemiza o sacrifício; onde os desfa-vorecidos pela pobreza, velhice, doença eincapacidade profissional parecem estar amais; onde as relações familiares e geraci-onais se destroem pela subversão dos afec-tos, do respeito e do espírito de sacrifício.

Assim é que os abandonos afectivos dascrianças, dos velhos e dos diminuídos en-grossa o caudal desse rio imenso e tristeque corre pelas nossas escolas, pelas azi-nhagas e ruelas de certos bairros suburba-nos, pelos “armazéns” da terceira idade,pelos corredores de hospitais e hospícios,pelas ruidosas avenidas das nossas cidadesonde em muitos corações há um deserto eem muitas gargantas um grito enovelado que

teima em não sair.Esta crise que nos atormenta pela porta da

economia, que nos aperta os bolsos, jamais securará com pazadas de milhões nas catedraisresponsáveis pelo fiasco, mas por um aperto,um safanão nas consciências de todos, espe-cialmente dos que, nas chancelarias e admi-nistraçõe, se banqueteiam sem atenderem àsdificuldades da grande maioria.

Esta quadra natalícia revelou bem a pro-fundidade e a singularidade dessa crise.Enquanto o desemprego com o seu prenún-cio de miséria e exclusão batia à porta dequase meio milhão de lares portugueses eos governantes profetizavam tempos difíceisde carência, os hotéis enchiam-se e, pre-nhes, os aviões enxameavam nos céus emdemanda das cálidas praias do Atlântico Sul.É clamorosa e chocante esta assimetria.

O novo ano começou cheio de sombrassadicamente marteladas por alguns respon-sáveis políticos que entendem ser a criseuma factura para os pobres pagarem. Tal-vez se enganem.

É que se não for feito um grande esforçono sentido de inverter este consumismo de-senfreado, de morigerar os insaciáveis ape-tites de alguns, de fortalecer e enobrecer apostura do Estado como salvaguarda dobem público, de refazer uma ordem de va-lores mais humanizados e mais próximos dadignidade humana, do mérito e da justiçasocial, esta crise poderá desembocar numagigantesca implosão de proporções e efei-tos incalculáveis e ser causa de muito maiorsofrimento para todos.

Imperioso se torna que cada cidadão par-ticipe na construção dum Natal nacionalonde a humildade do presépio, a messiânicahumanidade e a sabedoria dos reis e dosprofetas sejam a estrela a indicar o caminhoda dignidade, da solidariedade e da paz.

1937 – Emissão Comemorativado 1º Centenário da Fundaçãodas Escolas Médico-Cirurgicas

de Lisboa e Porto

Em 1937 foi feita uma emissão deselos comemorativa do 1.º Centenárioda Fundação das Escolas Médico-Ci-rúrgicas de Lisboa e Porto. Desenhoalegórico de Álvaro Duarte de Almei-da, que, ao querer apresentar o símboloda Medicina – vara delgada e lisa, ter-minada em duas asas e rodeada porduas serpentes –, recorreu, por enga-no, a uma cobra enroscada no pé deuma taça, que é o símbolo da Farmá-cia.

Impressos na Imprensa Nacional deLisboa, zincogravados sobre papel liso,em folhas de cem selos. A gomagem eo denteado 11,5, foram feitos na Casada Moeda. Foram emitidos 4 050 000selos azul claro de vinte cinco centa-vos, que circularam de 24 de Julho de1937 até 1 de Outubro de 1945.

(Baseado em Livros Electrónicosde Carlos Kulberg)

22 21 DE JANEIRO DE 2009OPINIÃO

J.A. Alves Ambrósio

OPINIÃO Angola em Saragoça (VI)

Vasco Paiva

A tragédia caiu sobre a Palestina.Mortos aos milhares. Só no remexer dosescombros é que vão poder apurar aocerto quantos morreram. Centenas decrianças entre os mortos.

As supostas bombas inteligentes doexército israelita não pouparam nada,foram destruídas escolas, hospitais e edi-fícios bem identificados com as NaçõesUnidas.

Gaza ficou sem alimentos, água, me-dicamentos, agravando-se o cerco huma-nitário que já dura há mais de 6 meses.

Gaza: milhão e meio de famintos e de-sempregados.

O massacre e a hipocrisia assumem

A paz devia passar por aquiproporções dantescas. Os jornalistas eobservadores são impedidos de entrar emGaza para não poderem relatar o queefectivamente acontece.

O Hamas praticamente não existiaquando se iniciou a primeira IntifadaPalestiniana em 1988. Já não é segredoo papel dos serviços secretos de Israelna criação do Hamas para dividir a re-sistência palestina então dirigida pelaOrganização de Libertação da Palesti-na (OLP). Mas o feitiço virou-se con-tra o feiticeiro! O Hamas cresceu e de-senvolveu-se nos sucessivos fracassosdos chamados processos de Paz.

Em Israel vão-se realizar brevemen-te eleições. Os partidos do governo es-tavam em declínio, com projecções devotações muito baixa, com esta ofensi-va melhoraram as sondagens e o seuprevisível resultado eleitoral. Nos Esta-

dos Unidos preparava-se a substituiçãodo Presidente, havia que aproveitar osúltimos dias de Bush e o à vontade deOlmert podia já não ser o mesmo. Ape-sar de tudo, conforme se vangloriou e aimprensa noticiou, Olmert até por tele-fone dava ordens a Bush e forçava aalteração do sentido de voto nas Na-ções Unidas.

Por toda a parte, nas principais capi-tais europeias, em todo o mundo, se mul-tiplicaram os protestos contra o massa-cre sobre as populações indefesas dafaixa de Gaza. Inclusive em Israel, comcoragem, as forças pela Paz se mani-festaram e jovens recusaram-se a servi-rem na guerra. Em Portugal houve ma-nifestações em Lisboa e no Porto.

E Coimbra? Pairou o silêncio, a apa-tia, a indiferença.

É chocante a falta de reacção dos ci-

dadãos de Coimbra, das estruturas so-ciais, associativas, políticas.

Pode-se constatar que em Coimbranão existem organizações “vocaciona-das” para as questões da luta pela Paz ea solidariedade internacional. Mas serábastante? Nem um grupo de cidadãos seconsegue juntar e escrever, subscreverum pequeno manifesto?

Será que as preocupações do dia-a--dia nem sequer permitem pensar no quese passa pelo mundo? Onde estão os va-lores, a solidariedade? Onde param osjovens? Onde para a nossa capacidadee dever de indignação?

Noutros tempos, em situações inter-nas de muito maior dificuldade e com-plexidade, Coimbra soube honrar os seuspergaminhos e levantar a bandeira daindignação e da solidariedade.

A luta pela Paz também devia passarpor Coimbra.

Um dos ingredientes da honrosa, ab-soluta, responsabilidade que é escreverpara o Público (com maiúscula) traduz-se por uma só palavra: “escrúpulo”. Es-crúpulo pela palavra certa na dose cer-ta. É da absoluta rectidão do verbo quese trata, da sua altaneira propriedade. OGoverno ou a Economia, v. g., são sem-pre uma questão espiritual; e esta reali-dade do pérfido – porque superficial –laicismo em que vivemos é responsávelpelo hic et nunc a nível mundial. Aliás,uma excelente ilustração do que acabode dizer está num texto “ridículo” (não éser-se desprimoroso, mas não encontrooutro adjectivo) que um conjunto de aca-démicos, há semanas, no “Público”, es-creveu sobre Economia. Ficámos a sa-ber o que é a amplidão de horizontes dealguns que habitam as “torres de mar-fim”… O leitor não pode alienar-se des-ta consciência.

… A intangível propriedade do verbo,disse. É que, no meu último artigo, preci-samente na última linha, a palavra “úni-ca” está a mais. A sólida garantia de fu-turo para Angola é suprimir todo o res-sentimento para com a que foi potênciacolonial. Só isso é que deve reter-se.

Não me cansarei de repeti-lo: confioabsolutamente em José Eduardo dosSantos, porque se converteu à religiãodo perdão. E da espiritualidade destapostura emanará uma directriz para todaa vida nacional – que é infinitamente maisque política – angolana, a começar, creiobem, pelos ministérios do Interior e daEducação. Como li recentemente, “ouaprendemos a viver como irmãos, ouvamos morrer juntos como idiotas”. De-clarou-o um visionário, o resultado de cuja

acção está também na eleição do gran-dioso Obama; declarou-o Martin LutherKing.

A questão enuncia-se com uma sur-preendente economia de palavra – maso tema daria infindáveis bibliotecas. Oeu-em-si não existe, diga-se desde já. Oeu, desde logo, é um resultado, um coro-lário do antanho; ainda por cima intera-ge com os outros, inter-depende, vive nasua época, no seu mundo. A alteridade éinerente a tudo o que existe; e pressu-põe respeito, humildade. Sucede é quetais sentimentos, como uma cultura mí-nima, sine qua non, para a relacionali-dade, por limitações das mais diversas,tais sentimentos, dizia, melhor, a ausên-cia de tais sentimentos tem sido a razãopara os mais hediondos conflitos.

Uma luminosa consciência e apreçopelo outro – nos antípodas da postura docolonizador-tipo (não importa qual eletenha sido) – será o norte da lídima vidaangolana, em Angola. Será a relaçãoharmoniosa e fraterna com que Angolase imporá ao mundo. E se a estrita pers-pectiva do eu domina todas as relaçõeshumanas desde sempre, digamos – e atodos os níveis – o desafio do acolhimen-to – e o acolhimento do desafio – são oque Angola terá como seu programa vi-tal e perene. Executá-lo-á, claro. Os de-safios são, alíás, o penhor de progressoda História.

É que José Eduardo dos Santos, ade-mais, prometeu lutar contra a corrupção.Acresce a “esmagadora” votação querecebeu e o carinho com que uma subs-tancial percentagem da população o quernum mandato a seguir ao actual. A for-çosamente breve análise grafológica

que fiz à sua letra, em Saragoça,deixou-me uma boa impressão, tal qualo referi a um casal amigo vindo de An-gola.

É necessário ter vivido em Angola (eufui “apenas” o alferes miliciano) parasentir o que é um paraíso; e o grandedrama dos nossos compatriotas, compe-lidos ao abandono na sequência do 25 deAbril, traduz-se laconicamente: a inter-rupção do mais belo dos sonhos. Doutromodo: a nostalgia que leva a sucessivasedições de obras sobre o tema é a maisinsofismável ilustração do que digo.

Mas mudemos de ângulo. Os mexi-canos têm um ditado: “o petróleo foi umpresente que o diabo deu ao México”. Eos reiterados tumultos e drama nigeria-nos, bem como a trágica e comoventerealidade timorense, tudo isso postula quedigamos muito simplesmente: que o pe-

tróleo seja um presente de Deus a An-gola. Dizemo-lo, do fundo da alma, pormais que uma razão: nenhum progressopode basear-se num produto cujas cota-ções são tudo menos estáveis (apenasum exemplo); o nosso amor a Angolaassim o determina.

Mais uma vez parece haver razão parao meu optimismo. Com efeito, o Presi-dente da República criou já uma comis-são instaladora do FSA (Fundo Sobera-no de Angola). Preservar e maximizaras reservas financeiras do país – aindapor cima numa época tão insólita, diga-mos – só pode ser visto como a pros-pectiva atitude de um governante. O pe-tróleo acautelará o futuro, em vez deestontear cabeças. Não se trata de “odinheiro mal ganhado, água o deu água olevou”, sim de considerar que o dinheirosó o é por se tratar de uma emanaçãoespiritual. Diferente interpretação é aruína.

A espiritualidade a presidir aos desti-nos de uma grande Nação acautelaráigualmente o património histórico rece-bido – nem que seja a muito singela ca-pela de Nambuangongo. O Dundo, dousó um exemplo, tinha no seu género, omelhor museu de África. Imagino asdestruições provocadas pelo conflito.Mas, Senhor Presidente, faça o obséquio– no mais tocante interesse de Angola eda Humanidade (lembre-se do Brasil) –de o restaurar no melhor e máximo quepuder. A arte africana tem uma crescentecotação e alguém que lecciona Históriada Arte sente muito bem o que afirma,tendo toda a autoridade para o pedido.

Por mim rezarei por Angola. Fiquecerto disso, Excelência.

2321 DE JANEIRO DE 2009 INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do Instituto Superior Miguel Torga

DIPLODOCS

CÓDIGOS POSTAIS DE PORTUGAL

PORTAL DO CONSUMIDOR

CV TV

TOM TOM ROUTER PLANNER

CAPZLES

Os manuais de instruções são geralmente entendi-dos como papel sem utilidade. Até ao dia em que sãoprecisos e já não estão na gaveta em que pensávamos.Daí a não conseguir utilizar os equipamentos vai poucotempo... O Diplodocs é a solução, já que se trata deum site com manuais de instruções online para imen-sas marcas.

Há manuais para tudo: electrodomésticos, televisões,carros... Os documentos estão organizados por cate-gorias e marcas. É possível procurar por palavras-chavese não se souber exactamente o modelo ou a marca domanual que se procura. Há ainda a possibilidade defazer upload de um manual e ainda um link para umfórum de ajuda.

DIPLODOCS

endereço: http://manual-de-instrucoes.comcategoria: Internet

A ideia não é nova, até porque os próprios CTTfornecem a informação. Mas como o site dos Cor-reios é confuso, fica a sugestão. Para ter a certezade que a correspondência vai parar aio sítio certo,o site Códigos Postais de Portugal é a solução.

Basta inserir uma morada e o site apresenta o

código postal completo, com os três números quehá uns anos foram introduzidos e que fazem toda adiferença.

CÓDIGOS POSTAIS DE PORTUGAL

endereço: http://www.codigospostais.comcategoria: utilidades

Está online o Ciência Viva Tv, um espaço quepromove a troca de experiências e ideias sobre Ci-ência e Tecnologia. O site assume uma vertente co-munitária e educativa.

O Ciência Viva Tv permite que os seus utiliza-dores façam upload de vídeos, imagens, documen-tos .doc e .pfd, entre outros. Há um separador depodcasts, o top vídeo, ciência em imagens, vídeos“Minutos de Ciência”, para além de outros recur-sos interessantes para os amantes das temáticas.

CV TV

endereço: http://www.cvtv.ptcategoria: televisão, Ciência

Os tempos de crise exigem um consumo respon-sável. O Portal do Consumidor fornece aos utili-zadores todas as informações necessárias para con-sumir de forma consciente.

Os utilizadores do site podem ter acesso à legis-lação, publicações, reclamações e dicas para pou-par. Há também notícias de que os consumidoresdevem estar a par, como novas directivas para brin-quedos ou o fim das “letras pequenas” nos contra-

A plataforma TomTom Router Planner permi-te aos utilizadores programar viagens. Essa é já umafuncionalidade possível com outros sistemas, masa vantagem deste é que faculta informação em tem-po real do tráfego.

Os utilizadores podem corrigir os dados dos ma-pas, o que permite que a cartografia fique sempreactualizada. O facto de apresentar informação emtempo real permite que seja possível planear via-gem e estimar quanto tempo esta demora e qual omelhor caminho a seguir.

TOMTOM ROUTER PLANNER

endereço: http://routes.tomtom.comcategoria: viagens

Não exactamente uma novidade, mas é uma fer-ramenta interessante. O Capzles permite compilarfotografias e vídeos, fazendo linhas de tempo inte-ractivas. Também é possível adicionar som.

O resultado pode ser uma espécie de scrapbo-oking, mas em formato digital e interactivo. É pos-sível deixar aberto ao público os seus conteúdos oulimitar a conhecidos. A utilização desta ferramentaimplica um registo.

CAPZLES

endereço: http://capzles.comcategoria: Internet

tos dos seguros. Estão ainda disponíveis links úteis.

PORTAL DO CONSUMIDOR

endereço: http://www.consumidor.ptcategoria: utilidades

24 21 DE JANEIRO DE 2009TELEVISÃO

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]

Façaumaassinaturado“Centro”e ganhevaliosaobrade arteAPENAS20 euros POR ANO- LEIA NA PÁG. 3

Esta é a reprodução da valiosa obra originalde Zé Penicheiro, alusiva aos 6 distritos da RegiãoCentro (Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu) que receberá, gratuitamente,quando fizer a assinatura do jornal CENTRO

SIC-NOTÍCIAS – OITO ANOS

A SIC-Notícias completou 8 anos.Não é apenas mais uma data. É um mo-mento importante para lembrar que oprimeiro canal de notícias da televisãoportuguesa se tem conseguido manternum plano muito consistente. Desde sem-pre líder na televisão por cabo, este é

um facto muito importante. Os canais denotícias, em quase todo o mundo, ape-nas conseguem a liderança das audiên-

cias nos momentos de crise, para depoisregressarem a uma posição secundária.A SIC-Notícias conseguiu, desde o iní-cio, uma dinâmica própria que a carac-terizou de imediato.

Um pouco como a TSF dos seus bonstempos, a SIC-Notícias passou a ser uma

referência no panorama nacional. Para-béns ao eterno empresário de Comuni-

cação Social que é Pin-to Balsemão, mas tam-bém ao seu actual di-rector, António JoséTeixeira, jornalista degrande ponderação quefoi deixado cair da TSFaquando da sua “refor-mulação” em 2003, mastambém ex-director doDiário de Notícias, e“ex” precisamente por-que não terá estadoaberto à postura algosimpática para com o

poder, tal como o DN agora parece estar.

RICARDOCOSTA

É, para mim, umagrande incógnita ofacto do jornalista Ri-cardo Costa, agoracom um enorme pesono grupo Impresa, seter tornado uma figu-ra omnipresente naantena da SIC. DaSIC generalista e daSIC-Notícias. Nãoque coloque em dúvi-da o seu profissiona-lismo, as suas quali-dades, mas sim a suapostura em antena.

Ricardo Costaquase nunca estábem em antena. Paralém de dizer “treu-ze” (imperdoávelpara um director), asua atitude é normal-mente quase displi-cente (não o é verda-deiramente, mas pas-sa por isso). Com fre-quência deixa no aralgumas “piadolas”que não fazem senti-

do em programas de informação e muitomenos ditas por alguém com as suas res-ponsabilidades.

Na última grande entrevista ao primei-ro-ministro José Sócrates, desta vez emdupla com José Gomes Ferreira, tevemomentos em que se esforçou por mos-

trar não estar ali para “fazer fretes” aochefe do governo. Não precisava mos-trar. Apenas se exigia que não o fizesse.

As suas prestações no programa “Ex-presso da Meia-Noite”, na SIC- Notícias,são muitas vezes uma enorme confusãoentre quem troca impressões com os convi-dados e a postura de jornalista/moderador.

Com estes apontamentos apenas pre-tendo dizer algo muito simples: RicardoCosta pode ser um excelente jornalista(e é), mas não é jornalista para ecrã. In-

felizmente parece ter uma enorme atrac-ção pela pequena janela e faz mal.

SERVIÇO PÚBLICOCONTINUAALVO DE CRÍTICAS

Aqui vos deixo algumas opiniões, pro-venientes de diversos quadrantes, que,mais uma vez, colocam em causa o Ser-viço Público de Televisão:

“Gostaria que a RTP examinasse se-riamente o seu papel, a sua função cul-tural e a sua missão informativa, sacu-dindo a dependência estreita do Gover-no em que se colocou voluntariamente,pensando na nobreza do serviço que po-deria prestar ao país, produzindo pro-gramas que não nos envergonhem e cul-tivando aquelas que poderiam ser assuas mais relevantes qualidades, a inde-pendência e a seriedade.” (AntónioBarreto, “Gostaria”, Público, 28/12/08).

Francisco Pinto Balsemão

António José Teixeira

“A Escola do Cerco voltou à RTP -Jornal da Tarde (4 JAN) nos mesmíssi-mos moldes em que por lá já havia an-dado. Voltaram a ser ouvidos alunos,pais e o representante dos pais veiomesmo em repetição... E voltou-se a nãofazer jornalismo, mas antes grave mis-tificação.

Da mesma maneira que DanielSampaio se referiu ao tema na Pú-blica - Escola: mais do mesmo, tam-bém em relação ao tratamento daRTP1 é isso – “mais do mesmo”. Oque é profundamente lamentável daparte de um serviço público de tele-visão. Daniel Sampaio seria justa-mente um dos especialistas que a RTPdeveria ouvir com toda a atençãosobre este assunto, que deveria termerecido um tratamento tecnicamen-te rigoroso por parte da RTP.” Fran-cisco Rui Cádima – IrrealTV, 5-1-09

Fernando Sobral, Serviço público vs.audiências (CM, 2/1): “O serviço públicoprecisa de um trabalho sério de reanáli-se. Mas ninguém está interessado nisso.(...) E por isso a RTP navega à bolina.”

Situações a serem urgentemente consi-deradas. Já nem digo discutidas, pois elassão por demais evidentes. O grande proble-ma da RTP é não conseguir libertar-se dopeso de quem está por trás. E, claro, não éde agora. Enquanto forem os governos anomear as Administrações e, por sua vez,estas a indicarem os directores de informa-ção e de programas, dificilmente se sairádisto.

No entanto, não sejamos inocentes: nãosão estes factos que devem conduzir a idei-as de privatização da RTP. Um serviço pú-blico de televisão é necessário e desejável.Há que corrigir o funcionamento destas, apa-rentemente, eternas e perigosas ligaçõesentre o poder político e o poder dentro daempresa pública. Como cidadãos e espec-tadores não podemos aceitar que isto sejaimpossível.

Ricardo Costa


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