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PREVALÊNCIA DE ALTERAÇÕES POSTURAIS EM INDIVÍDUOS SEDENTÁRIOS
E PRATICANTES DE FUTEBOL
Daniel Miyazaki Namba, Ítalo Dany Cavalcante Galo, Jefferson Rodrigues Soares, Taís
Malysz Sarzenski
Unidade Acadêmica/Departamento: Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí/Ciências
Biológicas
Palavras-chave: postura, futsal, sedentários, posturograma.
1. INTRODUÇÃO:
A postura corporal ideal é um estado de bom alinhamento e equilíbrio
musculoesquelético importante tanto no repouso quanto em atividades corporais dinâmicas,
por diminuir a quantidade de estresse colocado sobre os ligamentos, músculos e tendões
(KEELY, 2003). Consequentemente a boa postura favorece a execução correta dos
movimentos, melhores resultados em diferentes modalidades esportivas, melhora o equilíbrio
pela igual distribuição de peso, prevenindo lesões decorrentes de exercícios.
O futsal é um esporte que vem crescendo no mundo, é uma modalidade do futebol que
é jogado em uma quadra coberta com superfície dura (YASIN; SINGH, 2009). Trata-se de um
esporte caracterizado por ações motoras intermitentes de alto impacto, alta intensidade e curta
duração, alternadas com períodos de ações motoras de menor intensidade e maior duração
(ANASTASIADIS et al., 2004). Nesse sentido, cabe ressaltar que alterações articulares e
desequilíbrios de força e flexibilidade nos músculos dos membros inferiores podem predispor
o atleta à perda de rendimento e a lesões musculares (MOREIRA et al., 2004; BERTOLLA et
al., 2007).
As exigências de treinamento intenso e repetitivo conduzem à hipertrofia muscular e à
diminuição da flexibilidade, provocando desequilíbrios entre músculos agonistas e
antagonistas, que favorecem a ocorrência de alterações posturais, dores e lesões
musculoesqueléticas. As alterações musculoesqueléticas resultam em efeitos deletérios para a
postura, o que, adicionado a gestos específicos da modalidade e erros na técnica de execução
dos movimentos, podem aumentar a prevalência de lesões durante a prática do esporte
(LADEIRA, 1999; RIBEIRO et al., 2003; KLEINPAUL et al., 2010).
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Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1010 - 1024
A incidência de lesões e seus fatores de risco em adultos praticantes de futebol são
objetos de muitos estudos (LADEIRA, 1999; NIELSEN; YDE; 1989), no entanto poucos
trabalhos têm abordado os desvios posturais decorrentes da prática desta modalidade
(RIBEIRO et al., 2003; KLEINPAUL et al., 2010) e não foram encontrados estudos que os
comparem com o de indivíduos sedentários.
2. OBJETIVOS
Através deste estudo pretendemos detectar a prevalência de alterações posturais
comparativamente entre grupos de indivíduos praticantes regulares de futebol e sedentários
3. METODOLOGIA
Fizeram parte desta pesquisa 131 indivíduos, do sexo masculino, com idade entre 18 e
21 anos, sedentários (n=80) ou praticantes de Futsal a mais de 1 ano (n=51), que concordaram
em participar da pesquisa através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (CEP/UFG 290/2010). Dentre os jogadores de Futsal e sedentários a média de
idade foi de 18,29±0,67 e 18,65±0,63 anos e a média do índice de massa corpórea (IMC) foi
de 22,61±3,6 e 22,43±3,79 Kg/m², respectivamente Os indivíduos que não se enquadraram
nos critérios de inclusão e os que tiveram histórico de lesão, doença ou anormalidade que
tenha dificultado ou impossibilitado a realização de movimentos por pelo menos quatro
meses, não fizeram parte deste trabalho. Foram considerados sedentários os que não
praticaram atividade física regular a mais de um ano e, os praticantes de futsal, os que nos
últimos doze meses, realizaram pelo menos três sessões semanais de treino, com duração de
no mínimo 90 min cada.
Para este estudo, os indivíduos foram questionados sobre qual membro superior era
utilizado como preferencial para escrever e qual membro inferior era utilizado
preferencialmente para chutar. De acordo com o relato de cada um, os que respondiam serem
os membros do lado direito ou lado esquerdo foram considerados destros ou sinistros,
respectivamente.
A avaliação foi realizada através do software Posturograma 3.0, onde dados referentes
a idade, peso, altura, prática de exercício físico e histórico clínico foram registrados.
Posteriormente foi realizada a aquisição de imagens para a avaliação postural. Foram obtidas
6 fotos digitalizadas (Sony® Cyber-shot DSC-N1), no formato de 640x480 pixels que
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permitiram avaliar a face ventral e dorsal, perfil direito, perfil esquerdo, flexão anterior (vista
face ventral) e flexão anterior (vista face perfil). Foram usadas etiquetas adesivas de 5 mm de
raio para marcação dos pontos anatômicos: glabela, acrômio, espinha ilíaca ântero-superior
(EIAS), bordo anterior do maléolo lateral e trago bilateralmente. Para fins de escala em
medições do programa, réguas de 10 cm de comprimento foram fixadas na superfície anterior
e lateral do braço direito e na superfície posterior e lateral do braço esquerdo.
As fotos foram realizadas no 41º. Batalhão de Infantaria Motorizada de Jataí – GO em
uma sala privada com uma parede branca e no vestiário do ginásio onde os praticantes
regulares de futsal treinavam, com os indivíduos trajados com roupa de ginástica. A máquina
fotográfica posicionada em um tripé a uma distância de 3 m da pessoa que foi avaliada que
esteve em posição ortostática com o pé a 20° (rotação lateral a partir da articulação de
quadril). Uma pessoa de cada vez foi fotografada e depois realizada a mensuração das
imagens na tela de edição do programa, verificando a distância entre os pontos anatômicos e
permitindo quantificar os desvios posturais.
Através do programa, na vista anterior, foi traçada uma linha no meio dos maléolos
mediais (representando o fio de prumo), esta deveria estar alinhada com a glabela (ponto
craniométrico localizado entre as sobrancelhas), se não alinhada, a distância foi calculada em
desvio da glabela. Ainda na vista anterior foram mensuradas a distância do acrômio direito e
esquerdo ao solo em vista anterior, distância das EIAS ao solo. Em vista posterior,
bilateralmente, foi traçada uma régua medindo a distância entre o epicôndilo medial do úmero
e o tronco, representando a distância do Triângulo do Talhe.
Em perfil direito e esquerdo também foram traçadas retas representando o fio de
prumo que começou na borda anterior do maléolo lateral e este deveria estar alinhado com o
ponto médio do acrômio e trago. Também foi traçada a linha posterior tangente à região mais
posterior de cada indivíduo. Para identificar os desalinhamentos e rotações foram calculadas
as distâncias bilaterais entre o acrômio e o trago ao fio de prumo e distância da EIAS a linha
posterior. Foi traçada uma régua partindo desta linha até o occipital para calcular a distância
do occipital a linha posterior (normalmente alinhados),e a distância do ápice da curva da
lordose lombar e a linha posterior.
Em flexão de tronco na vista anterior foi traçada bilateralmente uma régua para
mensurar as distâncias dos ápices das curvaturas torácicas ao solo, para detectar a presença de
gibosidade torácica. Em flexão de tronco em perfil foi traçada uma régua da espinha ilíaca
póstero-superior (EIPS) ao solo (distância do EIPS ao solo em flexão) e outra do ápice da
curvatura torácica ao solo (distância do ápice da curvatura torácica ao solo em flexão). O
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encurtamento de cadeia muscular posterior foi detectado neste trabalho, nos casos em que a
distância da espinha ilíaca póstero-superior ao solo foi maior que a distância do ápice da
curvatura torácica ao solo.
A avaliação postural observacional foi realizada, segundo Bienfait (1995) para
verificar alinhamento dos maléolos mediais e côndilos mediais, classificando assim o joelho
em varo, valgo ou normal. O indivíduo foi caracterizado com joelho varo se este apresentasse
alguma distância entre os côndilos mediais femorais e contato dos maléolos mediais na
tentativa de manter contatos entre as duas regiões, se o indivíduo teve contato entre os
côndilos mediais femorais e teve alguma distância entre os maléolos mediais, este foi
caracterizado como valgo. O alinhamento de joelho no plano sagital foi realizado segundo
Santos (2001), sendo considerado joelho em flexão aquele que mostra patela sem mobilidade
látero-lateral (indicando contração de músculo quadríceps femoral), e, em hiperextensão, o
joelho que apresenta valor menor que 170º no ângulo formado por retas que, numa vista
lateral, partem do trocânter maior do fêmur e do centro do maléolo lateral e que se cruzam ao
nível do centro do côndilo femoral.
A avaliação do arco longitudinal plantar foi realizada por meio da análise da impressão
plantar do pé direito e esquerdo de cada atleta, utilizando um Pedígrafo da marca SalvaPé. A
análise foi feita através do Índice de Chipaux – Smirak (ICS), conforme descrito por Pezzan
et al., (2009). Para a obtenção desse índice, foram traçadas duas tangentes, uma passando
pelos pontos mais mediais e outra passando pelos pontos mais laterais nas regiões das cabeças
dos metatarsos e do calcâneo. Em seguida foram traçadas duas retas paralelas, a primeira
ligando o ponto mais medial ao mais lateral na região das cabeças dos metatarsos, obtendo
nesse ponto a maior largura da impressão (segmento a); a segunda reta foi traçada sobre a
menor largura do arco longitudinal plantar (segmento b). Ambos os segmentos foram
medidos, e o valor de b foi divido por a. Para esse índice, os valores de referência foram: 0 -
pé cavo; 0,01 a 0,29 - pé normal; 0,30 a 0,39 - pé intermediário; 0,40 a 0,44 - pé rebaixado e
0,45 ou maior - pé plano.
A análise estatística foi realizada com o software SPSS® for Windows versão 17
(SPSS Inc., Chicago IL, EUA). Os dados foram apresentados por meio de estatística
descritiva (percentual e média±erro padrão da média). Padronizou-se utilizar o valor negativo
para indicar desvios da cabeça para o lado esquerdo e positivo para indicar desvio para o lado
direito. Utilizou-se o teste “t” Student pareado (p<0,05) para comparar as variáveis bilaterais
(Direito X Esquerdo) da postura estática tanto entre praticantes regulares de futsal quanto
entre sedentários. Para identificar possíveis diferenças posturais entre grupos de praticantes de
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praticantes de Futsal e sedentários foram comparadas entre os mesmos as seguintes variáveis:
desvio da glabela, distância do occipital à linha posterior, distância do ápice da curvatura
lombar à linha posterior, índice plantar direito e esquerdo. Além disso, foram comparados
entre os grupos os valores das diferenças existentes entre variáveis coletadas bilateralmente
(valor obtido do lado direito menos o valor obtido do lado esquerdo para cada variável). As
variáveis analisadas desta forma diferença entre as distâncias bilaterais do acrômio ao solo,
diferença entre as distâncias da EIAS ao solo, diferença entre as distâncias do triângulo do
Talhe, diferença entre as distâncias da EIAS a linha posterior, diferenças das distâncias do
trago ao prumo e do acrômio ao prumo. Para tais análises entre os grupos foi usado o teste “t”
Student para amostras independentes (p<0,05).
4. RESULTADOS
Dos 80 praticantes 95,92% apresentaram lateralidade à direita para membro superior e
87,76% para membro inferior. Dentre sedentários 92,5% apresentaram lateralidade à direita
para membro superior e 95% para o membro inferior.
Os resultados mostraram que todos os indivíduos tanto praticantes de futsal como
sedentários apresentaram protusão de cabeça e de ombros (Tabela 01). A maioria dos
praticantes de futsal apresentam desequilíbrios associados a presença da postura escoliótica
que incluíram diferenças nas alturas dos ombros (92,14% – sendo 45,09 % de inclinação para
a direita e 47,05% para a esquerda), diferenças nas alturas dos ossos do quadril (72,54% –
sendo 35,29% com o osso direito mais alto e 37,25% com o osso esquerdo mais alto), desvio
lateral da cabeça (92,15%, sendo 31,37% para a direita e 60,78% para a esquerda), diferença
na largura do triângulo do Talhe (84,31% sendo 27,45% maior no lado direito e 56,86% maior
no lado esquerdo). No entanto, somente 40% apresentaram gibosidade torácica (24% com
gibosidade à direita e 16% à esquerda). Nos sedentários a maioria também apresentou
diferenças nas alturas dos ombros (83,75% – sendo 45% de inclinação para a direita e 38,75%
para a esquerda), diferenças nas alturas dos ossos do quadril (68,75% – sendo 35% com
direito mais alto e 33,75% com o esquerdo mais alto), desvio lateral da cabeça (93,75% sendo
15% para a direita e 78,75% para a esquerda), diferença na largura do triângulo do Talhe
(87,5%, sendo 33,75% maior no lado direito e 53,75% maior no lado esquerdo). No entanto,
somente 48,75% apresentaram gibosidade torácica (23,75% com gibosidade na direita e 25%
na esquerda).
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Em relação aos desequilíbrios rotacionais 98,03% dos indivíduos praticantes de futsal
apresentaram rotação de cabeça para um dos lados (68,62% com rotação à esquerda e 29,41%
com rotação à direita), nos sedentários todos apresentaram rotação de cabeça (87,5% com
rotação à esquerda e 12,5% com rotação à direita). Todos os indivíduos avaliados
apresentaram rotação de tronco para um dos lados, sendo que dentre praticantes de futsal,
62,74% tiveram rotação para a esquerda e 37,25% apresentaram rotação para a direita e dentre
sedentários foram 78,75% com rotação para a esquerda e 21,25% com rotação para a direita.
A maioria dos avaliados também apresentou rotação pélvica, sendo 98,03% dos praticantes de
futsal (sendo 72,54% para a esquerda e 25,49% para a direita) e 97,5% dos sedentários
(76,25% para a esquerda e 21,25% para a direita).
Na comparação bilateral das médias das distâncias do trago e do acrômio ao prumo, da
distância do triângulo do Talhe e distância da EIAS a linha posterior, nos praticantes de futsal
foram evidenciadas diferenças estatisticamente significativas entre as do lado direito e as do
lado esquerdo (p=0,001, p=0,027, p=0,003, p=0,001 respectivamente; Tabela 01 e Fig 01). As
mesmas variáveis quando comparadas bilateralmente nos sedentários também apresentaram
diferença significativa (p=0,000, p=0,000, p=0,001, p=0,000 respectivamente; Tabela 01 e Fig
02). Estes resultados evidenciaram significativa rotação de cabeça, tronco e pelve para a
esquerda e inclinação de tronco para a esquerda.
As variáveis comparadas bilateralmente que não apresentaram diferenças
significativas foram a distância do acrômio ao solo, distância da EIAS solo e índice plantar,
tanto em praticantes regulares de futsal (p=0,363, p=0,827 e p=0,389 respectivamente) como
nos sedentários (p=0,642, p=0,655 e p=0,162 respectivamente; Tabela 01).
Na comparação de variáveis entre os grupos (praticantes de futsal X sedentários), não
foram encontradas diferenças significativas no desvio da glabela (p=0,135), a distância do
occipital e a linha posterior (p=0,66), a distância do ápice da curvatura lombar e a linha
posterior (p=0,08), a média das distâncias entre o trago e o acrômio ao prumo (p=0,45 e
p=0,59, respectivamente) e o índice plantar direito e esquerdo (p=0,1 e p=0,26
respectivamente; Tabela 01). Entre os valores de diferenças das variáveis coletadas
bilateralmente comparativamente entre os grupos de praticantes regulares de futsal e de
sedentários não foram encontradas diferenças significativas entre as distâncias do acrômio ao
solo (p=0,78), diferença entre as distâncias da EIAS ao solo (p=0,92), diferença entre as
distâncias do triângulo do Talhe (p=0,80) e diferença entre as distâncias da EIAS a linha
posterior (p=0,34; Tabela 01). Entretanto, foram encontradas diferenças significativas entre os
valores de diferenças das distâncias do trago ao prumo (p=0,01) e do acrômio ao prumo
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(p=0,0012) comparativamente entre os grupos de praticantes regulares de futsal e de
sedentários (Tabela 01; Fig 03). Estas diferenças indicaram que as rotações de cabeça e tronco
para a esquerda foram menores no grupo de praticantes de futsal em comparação com o grupo
de sedentários.
Tabela 01 – Tabela demonstrativa das variáveis posturais (média ± erro padrão da média) dos grupos de praticantes regulares de futsal e sedentários.
Variáveis posturais Futsal Sedentários Distância do acrômio direito ao solo 141,39±0,95 140,61±0,68 Distância do acrômio esquerdo ao solo 141,53±0,94 140,69±0,72 Diferença entre as distâncias dos acrômios ao solo** -0,14±0,15 -0,08±0,12 Distância do EIAS direita ao solo 99,35±0,77 99,01±0,72 Distância do EIAS esquerda ao solo 99,37±0,77 99,01±0,57 Diferença entre as distâncias da EIAS ao solo** -0,019±0,1 -0,006±0,08 Desvio da glabela -1,27±0,2 -1,82±0,2 Distância do Triângulo do Talhe direito 3,99±0,21# 3,68±0,14# Distância do Triângulo do Talhe esquerdo 4,38±0,22 4,11±0,18 Diferença entre as distâncias dos Triângulos do Talhe** 0,39±0,13 0,43±0,11 Distância do trago direito ao prumo 8,51±0,42# 9,55±0,36# Distância do trago esquerdo ao prumo 6,98±0,34 6,61±0,29 Diferença entre as distâncias dos tragos ao prumo** 1,53±0,45* 2,93±0,31 Média entre as distâncias dos tragos ao prumo 7,74±0,31 8,08±0,29 Distância do occipital a linha posterior 6,66±0,39 6,45±0,30 Distância do acrômio direito ao prumo 6,04±0,52# 7,82±0,38# Distância do acrômio esquerdo ao prumo 4,57±0,31 4,39±0,34 Diferença entre as distâncias dos acrômios ao prumo** 1,46±0,59* 3,36±0,31 Média entre as distâncias dos acrômios ao prumo 6,35±0,35 6,10±0,29 Distância da EIAS direita a linha posterior 21,99±0,27# 21,53±0,35# Distância da EIAS esquerda a linha posterior 21,16±0,29 20,38±0,25 Diferença entre as distâncias das EIAS a linha posterior** 0,83±0,22 1,14±0,22 Distância do ápice da lordose lombar a linha posterior 6,42±0,16 6,08±0,12 Índice Plantar Direito 0,32±0,016 0,35±0,012 Índice Plantar Esquerdo 0,31±0,016 0,34±0,016
# p<0,05 vs lado esquerdo * p<0,05 vs sedentários **Estes valores se referem às médias das diferenças obtidas através da subtração dos valores das variáveis posturais do lado direito com o do lado esquerdo. Assim o sinal negativo indica lado esquerdo.
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Figura 01 – Gráfico representando a média e desvio de erro padrão das variáveis posturais mensuradas bilateralmente em vista posterior na posição ortostática (triângulo do talhe) e em perfil direito e esquerdo (distância do trago ao prumo, distância do acrômio ao prumo, distância da EIAS à linha posterior) em praticantes regulares de futsal. * p<0,05.
Figura 02 – Gráfico representando a média e desvio de erro padrão das variáveis posturais mensuradas bilateralmente em vista posterior na posição ortostática (distância do triângulo do talhe) e em perfil direito e esquerdo (distância do trago ao prumo, distância do acrômio ao prumo, distância da EIAS à linha posterior) de indivíduos sedentários. *p<0,05.
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Figura 03 – Gráfico representando a média e desvio de erro padrão das diferenças entre variáveis posturais mensuradas bilateralmente em vista lateral na posição ortostática em indivíduos sedentários e praticantes regulares de futsal. * p<0,05.
Com base nas alturas da espinha ilíaca póstero-superior e do ápice da curva torácica,
estando o indivíduo em flexão anterior, os resultados mostraram que 74,5% dos praticantes de
futsal e 86,25% dos sedentários apresentaram encurtamento da cadeia muscular posterior.
Quanto ao posicionamento dos joelhos na vista anterior, 32% dos indivíduos
praticantes de futsal apresentaram joelhos com alinhamento normal, 60% mostraram ter
joelhos varos e 8% valgos, nos sedentários 31,25% apresentaram os joelhos normais, 51,25%
joelhos varos e 17,5% joelhos valgos. Na avaliação em perfil do joelho direito 60% dos
indivíduos praticantes de futsal apresentaram alinhamento normal, 10% apresentaram
hiperextensão de joelho, 30% flexão do joelho. Na avaliação do joelho esquerdo 68%
apresentaram normalidade, 12% hiperextensão e 20% flexão. Na avaliação em perfil dos
joelhos direito e esquerdo dos sedentários, os mesmos apresentaram 53,75% e 67,5%
classificados como normais, 16,25% e 15% hiperextendidos, 30% e 17,5% flexos,
respectivamente.
De acordo com a análise dos índices Chipaux – Smirak de ambos os pés dos
praticantes regulares de Futsal foi verificado que 68,61% dos indivíduos apresentaram
alterações no arco plantar direito (1,96% cavo, 41,17% intermediários, 13,72% rebaixados e
11,76% planos) e no pé esquerdo 64,69% apresentaram alterações (3,92% cavos, 41,17%
intermediários, 9,8% rebaixados e 9,8% planos). Nos sedentários 75% dos indivíduos
avaliados apresentaram alterações no pé direito (1,25% cavo, 36,25% intermediários, 25%
rebaixados e 12,5% planos) e no pé esquerdo 72,5% apresentaram alterações (5% cavos, 30%
intermediários, 20% rebaixados e 17,5% planos).
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5. DISCUSSÃO
Os resultados deste estudo mostraram que a maioria dos praticantes regulares de futsal
e sedentários apresentaram desequilíbrios associados à presença da postura escoliótica, no
entanto, 40 e 48,75% dos indivíduos atletas e sedentários, respectivamente apresentaram
gibosidade torácica. A presença da gibosidade torácica em associação a desequilíbrios laterais
é característica da escoliose (TRIBASTONE, 2001). O percentual de indivíduos com
gibosidade foi maior nos sedentários, possivelmente por menor fortalecimento muscular,
favorecendo o desequilíbrio corporal e sua estabilização através da rotação vertebral.
Corroborando com os nossos resultados a maioria dos nadadores do sexo masculino e
feminino também apresentou postura escoliótica (MANSOLDO; NOBRE, 2007; MELISCKI
et al., 2011), assim como a maioria dos praticantes regulares de musculação (BARONI et al.,
2010; FALQUETO et al., 2011), de praticantes de atletismo (BASTOS et al., 2009), de futebol
de campo (VEIGA et al., 2011) e de Taekwondo (TAMBORINDEGUY et al., 2011)
Neste trabalho foi constatado que a inclinação de tronco, assim como as rotações de
cabeça, tronco e pelve foram significativamente maiores para o lado esquerdo tanto nos
praticantes de futsal como nos sedentários. A inclinação e rotação de tronco
predominantemente para a esquerda em atletas, assim como em nosso estudo, também foi
descrita por outros autores (MELISCKI et al., 2011; TAMBORINDEGUY et al., 2011;
BASTOS et al., 2009; NETO JÚNIOR et al., 2004). Estes resultados podem estar indicando
que as alterações posturais rotacionais comuns entre indivíduos desta faixa etária. Segundo
Bienfait (1995) 60% das pessoas têm rotação horizontal pélvica com uma EIAS mais
anteriorizada que a outra, sendo preferencialmente à direita. Esta significativa rotação pélvica
para a esquerda também já foi identificada por outros autores (KLEINPAUL et al., 2010) e
pode ter correlação com o padrão de dominância destra da maioria dos indivíduos
(KENDALL et al., 1995).
Todos os praticantes de futsal e sedentários avaliados nesta pesquisa apresentaram
projeção anterior de cabeça e ombros, que segundo Santos (2001) está associada com
encurtamento da cadeia muscular anterior. De acordo com Kendall et al., (1995) na
anteriorização cefálica os músculos extensores de pescoço ficam em posição forte e
encurtada, com grande tendência de desenvolvimento do encurtamento adaptativo destes
músculos e postura cifótica, também descrita por outros autores (NETO JÚNIOR et al., 2004;
MANSOLDO; NOBRE, 2007; BASTOS et al., 2009; BARONI et al, 2010; FALQUETO et
al., 2011; VEIGA et al., 2011; TAMBORINDEGUY et al., 2011). Os desequilíbrios de
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cintura escapular com projeção anterior de ombros por retração da musculatura tônica anterior
e fraqueza da musculatura escapular posterior é praticamente comum na maioria dos
indivíduos (KENDALL et al., 1995; BIENFAIT, 1995) e pode estar associado com vícios
posturais e maior solicitação da musculatura anterior em atividades de vida diária.
Assim como encontrado em praticantes regulares de musculação (FALQUETO et al.,
2011) e em jogadores de futebol de campo (VEIGA et al., 2011), a maioria dos indivíduos
avaliados neste estudo, tanto de praticantes de futebol quanto de sedentários, apresentou
encurtamento muscular da cadeia posterior, que segundo Marques (2005) está associada a
alterações de posicionamento dos joelhos e dos pés, também encontrados neste estudo. O
maior percentual de indivíduos sedentários com encurtamento muscular pode estar associado
com a prática insuficiente de exercícios de alongamento muscular, praticada comumente pelos
praticantes de futsal durante os treinos. Os joelhos flexos podem indicar a retração dos
músculos isquiotibiais, os quais fazem parte da cadeia muscular posterior, e os joelhos varos
podem estar associados com pronação dos pés (característica de pés com redução de arco
plantar) e com rotação medial de fêmur e tíbia (KENDALL et al., 1995; SANTOS, 2001). O
joelho em varo de praticantes regulares de futsal também pode ser resultado da sobrecarga nos
treinos, podendo comprimir as epífises de crescimento na porção medial, causando
desenvolvimento assimétrico das mesmas (BOWEN; et al., 2002; IWAMOTO et al., 2005).
Esta maior prevalência de indivíduos com joelhos varos também foi identificada em
praticantes regulares de musculação (BARONI et al., 2010).e em jogadores de futsal (VIEGA
et al., 2011). Entretanto, no estudo realizado por Ribeiro et al. (2003) a maioria dos
praticantes de futebol de campo apresentou joelho em valgo e pés planos e, no estudo de Neto
Júnior et al (2004) a maioria dos praticantes de provas de potência muscular apresentou
tornozelos valgos e pés cavos.
Como descrito nos resultados os percentuais de indivíduos com redução do arco
plantar que foram maiores nos sedentários e do lado direito. Estes percentuais maiores
poderiam ser explicados pela maior fraqueza muscular plantar dos indivíduos sedentários,
maior descarga maior de peso no membro inferior dominante e como adaptação postural
associada a própria rotação pélvica esquerda, favorecendo redução do arco plantar.
Neste estudo, comparando os valores quantitativos da postura de praticantes de futsal
com os de indivíduos sedentários verificamos que as rotações de cabeça e tronco, presentes
em ambos os grupos, foram significativamente menores nos praticantes de futsal. No estudo
com atletas de ginástica olímpica verificou-se que as mesmas apresentam menor percentual de
joelho valgo, rotação medial de quadril e desnível de pelve em relação as não atletas, no
Capa Índice 1020
entanto maior incidência de inclinação pélvica anterior e aumento da hiperlordose lombar
(GUIMARÃES et al., 2007). Também neste contexto Figueiredo et al., (2012) através da
avaliação postural comparativa entre cadetes e pilotos da Academia da Força Aérea Brasileira
e verificaram que embora as alterações posturais estivessem presentes em ambos os grupos, o
desalinhamento horizontal das EIAS foi menor nos pilotos, alteração esta possivelmente
atribuída ao intenso treinamento físico dos mesmos. Sabe-se que a prática de atividade física
regular proporciona melhora da capacidade muscular e cardiorrespiratória, aumento na
longevidade, força e resistência muscular, ajuda na nutrição, controle de peso e prevenção de
doenças, e melhora nas funções cognitivas (WILMORE; COSTIL, 2001). Desta forma,
acreditamos que as rotações de cabeça e tronco menores no grupo de praticantes de futsal em
relação ao grupo dos sedentários estejam principalmente associadas à melhora da simetria,
mobilidade e estabilização corporal estimuladas pelo alongamento, resistência e
fortalecimento muscular durante os treinamentos.
6. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em conclusão, todos os indivíduos apresentaram protusão de cabeça e de ombros e a
maioria dos indivíduos avaliados apresentou postura escoliótica, desvio da cabeça para o lado
esquerdo, encurtamento da cadeia muscular posterior e redução do arco plantar longitudinal
medial. As rotações de cabeça, tronco e pelve e a inclinação de tronco foram
predominantemente para a esquerda em ambos os grupos e os praticantes de futsal
apresentaram menor rotação de cabeça e de tronco quando comparados aos sedentários.
Acreditamos que seja de fundamental importância a realização de um trabalho
personalizado no que se refere à postura de cada atleta, tanto do ponto de vista de avaliação e
abordagem fisioterapêutica como da realização de um programa de treinamento bem
elaborado, com grande quantidade de exercícios simétricos, assimétricos direcionados a
fortalecer a musculatura posterior do corpo e do lado esquerdo (frequentemente mais
enfraquecidos), a fim de tentar normalizar as assimetrias, aumentar a eficiência muscular,
diminuir o gasto energético e o risco de lesões.
Capa Índice 1021
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Revisado pelo Orientador
Capa Índice 1024
Evoluções do Estado CoerenteDanilo Pires Valverde e Célia M. A. Dantas
Instituto de Física, Universidade Federal de Goiás
Caixa Postal 131, CEP 74.001- 970 - Goiânia (GO), Brazil
E-mail: [email protected]; [email protected]
Palavras-chave: Estado Coerente, Coerência Quântica..
1 Introdução
A luz desempenha um papel muito importante na vida do ser humano, sem ela a
vida não seria possível. Até o século XIX todos os fenômenos relacionados à luz eram
explicados pelas equações de Maxwell, que mostrou ser a luz, uma onda composta por
campos elétricos e magnéticos. Até o início do século XX o tratamento dado a luz era
considerado semi clássico, mesmo após a quantização do campo eletromagnético feito por
Dirac em 1927.
Com a quantização do campo eletromagnético surgiu então a Óptica Quântica, que
estuda a luz utilizando um tratamento quântico. Esta teoria só ganhou importância a
partir de 1977 com a descoberta de alguns fenômenos puramente quânticos. Um desses
fenômenos cou conhecido através da experiêencia de Kimble Dagenais e Mandel [1],
que vericaram o efeito de antiagrupamento de fótons em luz uorescente emitida por
átomos de sódio excitado por laser, efeito este previsto teoricamente no ano anterior por
Carmichael e Walls [2]. Outro fenômeno também muito importante e que necessita, para
o seu entendimento, de uma teoria não clássica do campo eletromagnético é denominado
de compressão do ruído quântico.
Antes da descoberta dos fenômenos puramente quânticos da luz, os trabalhos na óp-
tica eram direcionados para estados semi- clássicos, onde podemos citar como exemplo o
Estado Coerente, que foi o objeto de nosso interesse neste trabalho. Este estado tornou-
se popular a partir de 1963 com o trabalho pioneiro de Glauber [3] e a partir daí daí
Capa Índice 1025
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1025 - 1037
vastamente investigado pela literatura. Neste trabalho mostraremos como alguns estados
quânticos da luz podem ser obtidos a partir do estado coerente.
2 Objetivos
Neste trabalho, estudamos algumas peculiaridades do Estado Coerente, assim como
discutimos alguns dos estados que já foram propostos na literatura e que são obtidos a
partir dele. Entre eles podemos citar: o Estado Coerente Comprimido [5] que é obtido
atuando o operador de compressão no Estado Coerente e a superposição de dois estados
coerentes com diferença de fase π, chamado Estado Coerente Par.
Para investigarmos as peculiaridades do estado coerente e dos estados que são evoluções
do estado coerente, utilizamos as propriedade estatísticas: distribuição de número de
fótons e função de Husime Q(β), que é uma das funções de distribuição no espaço de fase.
3 Metodologia
Nosso objetivo principal foi investigar as peculiaridades especícas do estado coerente
e sua evolução temporal, ou seja, os estados que são gerados a partir dele. Comparamos
estes estados com o estado coerente, através do estudo de suas propriedades estatísticas.
Desta forma, mostraremos as principais característica do estado coerente, obtemos seus
coecientes Cm da representação de número de fótons e mostramos a partir daí, sua dis-
tribuição de número de fótons e a função de Husime no espaço de fase Q(β). Em seguida
mostramos duas possíveis evoluções temporais, que é o estado coerente comprimido e o
estado coerente par. Para analisarmos as propriedades estatísricas dos estados menciona-
dos, zemos seu respectivos grácos usando o editor de grácos Origin e utilizando os
pontos obtidos através das simulações que zemos utilizando o compilador fortran 90.
4 Resultados
A seguir, mostraremos as propriedades estatísticas do estado coerente e alguns estados
obtidos como evoluções do estado coerente. Obteremos seus coecientes da representação
Capa Índice 1026
de número, a partir dos quais poderemos mostrar suas respectivas distribuições de número
de fótons e função Q(β).
4.1 Estado Coerente
Schrödinger tentando encontrar estados quânticos que apresentasse um comportamento
clássico, descobriu o estado coerente. Schrodinger estava interessado em encontar estados
quânticos que apressentassem as mesmas propriedades para outros potenciais além do
oscilador harmônico.
Os estados coerentes são denidos como auto-estado do operador de aniquilação:
a|αi = α|αi. (1)
Sabemos que:
a|αi =√α|α− 1i e a†|αi =
√α+ 1|α+ 1i
O operador a destroi fotóns de energia, e o operador a† cria fotóns de energia, onde a
energia criada ou destruída é E = ~ω, em que ~ = h2πno n−ésimo termo nivel de energia
.
Como o operador a não é Hermitiano, seu auto-valor será de modo geral complexo.
Expandindo em série de Fourier, estamos fazendo uma transformação nesse estado:
|αi =∞X
m=0
Cm|mi, (2)
onde Cm são os coecientes de Fourier da expansão. Temos a relação de completeza dos
estados de número |mi :
∞Xm=0
|mihm| = 1, (3)
Quando sabemos que a base é completa podemos expandir qualquer vetor nela, e o
estado de número é uma base completa por denição
Expandindo em série de fourier e usando (3) temos:
Capa Índice 1027
|αi = |αi
|αi =∞X
m=0
|mihm|| {z }1
αi =∞X
m=0
Cm(α)|mi, (4)
onde Cm(α) = hm|αi sendo Cm o coeciente de Fourier da expansão.
A probabilidade de encontramos o sistema em um estado coerente com n-fotóns é dado
por P (m) = |hm|αi|2.Sabemos que:
a|mi =√m|m− 1i , (5)
combinando (1) e (4) temos:
a|αi =∞X
m=1
Cm(α)|mi =∞X
m=1
Cm(α)√m|m− 1i =
∞Xm=1
αCm(α)|mi (6)
Fazendo m0 −→ m+ 1 temos que :
∞Xm0=0
Cm+1(α)√m+ 1|m0i =
∞Xm=0
αCm(α)hm0|mi
Como os estado de números são ortogonais, hn0|ni = δnn0 e está equação é diferente
de zero quando m = m0, portanto temos:
Cm+1(α)√m+ 1 = αCm(α)
Cm+1(α) =α√
m+ 1Cm(α). (7)
Analizando a equação (7) temos:
C1 =α√1C0
C2 =α√2C1 =
α2
√2√1C0 =
α2
√2!C0
Capa Índice 1028
C3 =α√3C2 =
α3
√3√2√1C0 =
α3
√3!C0
C4 =α√4C3 =
α4
√4√3√2√1C0 =
α4
√4!C0
Ao analizar temos :
Cm =αn
√m!
C0 (8)
Substituindo (8) em (4) temos:
|αi = C0
∞Xn=0
αm
√m!|mi (9)
Fazemos o conjugado temos:
|αi∗ = hα| = C∗0
∞Xm=0
(α∗)m√m!hm| (10)
Usando (9) e (10) e sabendo que hm|mi = 1 temos:
hα|αi = C0C∗0
∞Xm=0
αm(α∗)m
m!hm|mi
|C0|2∞X
m=0
(|α|2)mm!
= 1. (11)
Sabemos que:
ex = 1 + x+x2
2!+
x3
3!+ · · ·+ xn
n!=
∞Xn=0
xn
n!, (12)
substituindo (12) em (11) temos:
|C0|2e|α|2
= 1 =⇒ |C0|2 = e−|α|2
C0 = e−12|α|2 (13)
Capa Índice 1029
Substituindo (12) em (8) temos os coecientes da representação de número dados por
Cm =αm
√m!
e−12|α|2. (14)
4.1.1 Distribuição de número de fótons do estado coerente
Sabemos que a distribuição de número de fótons é dada por P (m) = |Cm|2, de ondeobtemos
P (m) =|α|2mm!
e−|α|2
(15)
Que é a probabilidade de encontrar n-fotóns em um sistema no estado coerente.
Na Figura 1 mostramos esta distribuição de número de fótons para o estado coerente
dado pela Eq.(15) para o parâmetro de coerência α = 5.
Figure 1: Distribuição de número de fótons do estado coerente para o parâmetro dedeslocamento α = 5
4.1.2 Função de Husimi do estado coerente
A função de distribuição no espaço de fase de Husimi Q(β) é denida para um estado
genérico |ψi como sendoQ(β) =
1
π|hβ|ψi|2 . (16)
Capa Índice 1030
Utilizando a relação de completeza dos estados estados de número dado pela Eq.(3) obte-
mos
Q(β) =1
π
¯¯¯∞X
m=0
hβ|mihm|ψi¯¯¯2
=1
π
¯¯¯∞X
m=0
C∗|βim · C |ψim
¯¯¯2
(17)
onde C∗|βim são os coecientes do estado coerente |βi dados por
C∗|βim =β∗m√m!
e−12|β|2, (18)
sendo β um número complexo e C |ψim os coecientes do estado genérico |ψi, denido comoC|ψim = hm|ψi. Para o estado coerente |αi eles são dados pela Eq.(14). Substituíndo asEqs.(14) e (18) na Eq.(17) obtemos a função de Husimi Q(β) para o estado coerente, a
qual está mostrada na Figura (2). Para ilustração, mostramos ao lado a sua respectiva
curva de nível.
Figure 2: Função de Husime Q(β) para o estado coerente com parâmetro de coerênciaα = 2. Ao lado sua respectiva curva de nível.
Capa Índice 1031
4.2 Estado Coerente Comprimido
O Estado Coerente Comprimido é gerado a partir do estado de vácuo pela atuação suces-
siva dos operadores de deslocamento e de compressão, ou seja [4]
|α, zi = S(z)D(α) |0i = S(z) |αi (19)
onde S(z) é o operador de compressão, dado por
S(z) = ezau2−z∗a2 (20)
S(z) é dito unitário porque bS (z) bS† (z) = bS† (z) bS (z) = 1 e z é um número complexo
arbitrário, z = r eiϕ.
Os coecientes Cm dos Estados Coerentes Comprimidos são dados por
Cm = < m|α, z >
=1√μm!
(ν
2μ)m2 e−
|β|22
+ ν∗β22μ Hm[β(2μν)
− 12 ]. (21)
onde Hm são os polinômios de Hermite, μ e ν são dados por
μ = cosh r, (22)
ν = e−iϕ sinh r. (23)
e
β = (μα+ να∗) . (24)
4.2.1 Distribuição de número de fótons do estado coerente comprimido
Na Figura 3 mostramos a distribuição de número de fótons para o Estado Coerente
Comprimido, dada por Pm = |Cm|2, onde Cm é dado pela Eq.(21) para o parâmetro de
deslocamento α = 5, θ = 0, e parâmetro de compressão: a) r = 0; b) r = 0, 5 e e c)
r = 1, 0 para ϕ = 0.
Capa Índice 1032
Figure 3: Distribuição de número de fótons do Estado Coerente Comprimido, con-siderando o parâmetro de coerência α = 5 e parâmetro de compressão r = 0, 0,5 e 1,conforme legenda.
4.2.2 Função de Husimi do estado coerente comprimido
Na Figura 4 mostramos a função de Husime denida pela Eq.(17) para o estado coerente
comprimido, cujos coecientes são dados pela Eq.(21), com parâmetro de coerência α = 2
e parâmetro de compressão r = 0, 5. Para comparação mostramos ao lado a sua respectiva
curva de nível.
Figure 4: Função de Husime Q(β) para o estado coerente comprimido com parâmetro decoerência α = 2 e parâmetro de compressão r = 0, 5. Ao lado sua respectiva curva denível.
Capa Índice 1033
4.3 Estado Coerente Par
O Estado Coerente Par é obtido a partir da superposição de dois estados coerentes
com uma diferença de fase de π, sendo este denido em termos do estado coerente, como
|+αi = N (|αi+ |−αi) , (25)
onde N é o fator de normalização obtido da condição h+α|+ αi = 1, dada por
N =h2(1 + e−2|α|
2
)i−1
2. (26)
os coecientes Cm da representação de nú,ero do estado coerente par são dados por
C+m = N e−
12|α|2 αn
√m!
[1 + (−1)m] . (27)
Pela Eq.(27) podemos notar facilmente que para todo m ímpar, [1 + (−1)m] = 0 o que
implica obtermos C+2m+1 = 0. Para todo m par, [1 + (−1)m] = 2, o que implica C+
2m 6= 0.
Daí o nome Estado Coerente Par. Neste estado todos os coecientes ímpares são nulos,
resultando daí uma oscilação na distribuição de número de fótons.
4.3.1 Distribuição de número de fótons do estado coerente par
Na Figura 5 mostramos a distribuição de número de fótons para o Estado Coerente
Par, onde Cm é dado pela Eq.(27) para o parâmetro de deslocamento α = 5.
Figure 5: Distribuição de número de fótons do estado coerente par para o parâmetro dedeslocamento α = 5
Capa Índice 1034
4.3.2 Função de Husimi do estado coerente par
Na Figura 6 mostramos a função de Husime denida pela Eq.(17) para o estado coerente
par, cujos coecientes são dados pela Eq.(27), com parâmetro de coerência α = 2 e
parâmetro de compressão r = 0, 5. Para comparação mostramos ao lado a sua respectiva
curva de nível.
Figure 6: Função de HusimeQ(β) para o estado coerente para com parâmetro de coerênciaα = 2. Ao lado sua respectiva curva de nível.
5 Conclusão
Como podemos ver na Figura 1, o máximo da distribuição de número de fótons do
estado coerente ocorre em torno do número médio de fótons hmi = |α|2 . À medida que seaumenta o parâmetro de deslocamento, aumenta o número médio de fótons e o máximo
da distribuição. Neste caso, a altura da curva também diminui a m de manter a área
sob a curva. A sua função de Husime, Figura 2 é uma gaussiana, suas curvas de níveis
sendo círculos.
Por outro lado, para o estado coerente comprimido, sua função de Husime, Figura
4 apresenta suas curvas de níveis na forma de elipses, mostrando que numa determinada
variável apresenta redução do ruído quântico menor que no estado coerente, enquanto na
outra canonicamente conjugada este ruído é maior, de forma a não violar o princípio de
Capa Índice 1035
incerteza de Heisenberg. Como podemos ver, dependendo da compressão, podemos ter
uma distribuição de número de fótons mais denida que o estado coerente, estatística
sub-poissoniana e também menos denida, dita estatística super-poissoniana, conforme
Figura 3. O interesse maior está na estatística sub-poissoniana, que é um efeito puramente
quântico e uma boa aproximação para o Estado de Número.
Na Figura 5 mostramos o gráco da distribuição de número de fótons do estado co-
erente par, para o parâmetro de deslocamento α = 5. Como podemos ver, esta distribução
apresenta oscilações, P2m+1 = 0, que é devido aos efeitos de interferência proveniente da
superposição dos dois estados, como pode ser também observado nos dois picos da função
de Husimi.
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Revisado pela orientadora
Capa Índice 1037
Evoluções do Estado CoerenteDanilo Pires Valverde e Célia M. A. Dantas
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E-mail: [email protected]; [email protected]
Palavras-chave: Estado Coerente, Coerência Quântica..
1 Introdução
A luz desempenha um papel muito importante na vida do ser humano, sem ela a
vida não seria possível. Até o século XIX todos os fenômenos relacionados à luz eram
explicados pelas equações de Maxwell, que mostrou ser a luz, uma onda composta por
campos elétricos e magnéticos. Até o início do século XX o tratamento dado a luz era
considerado semi clássico, mesmo após a quantização do campo eletromagnético feito por
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Com a quantização do campo eletromagnético surgiu então a Óptica Quântica, que
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Estado Coerente, que foi o objeto de nosso interesse neste trabalho. Este estado tornou-
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Capa Índice 1038
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1038 - 1050
vastamente investigado pela literatura. Neste trabalho mostraremos como alguns estados
quânticos da luz podem ser obtidos a partir do estado coerente.
2 Objetivos
Neste trabalho, estudamos algumas peculiaridades do Estado Coerente, assim como
discutimos alguns dos estados que já foram propostos na literatura e que são obtidos a
partir dele. Entre eles podemos citar: o Estado Coerente Comprimido [5] que é obtido
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3 Metodologia
Nosso objetivo principal foi investigar as peculiaridades especícas do estado coerente
e sua evolução temporal, ou seja, os estados que são gerados a partir dele. Comparamos
estes estados com o estado coerente, através do estudo de suas propriedades estatísticas.
Desta forma, mostraremos as principais característica do estado coerente, obtemos seus
coecientes Cm da representação de número de fótons e mostramos a partir daí, sua dis-
tribuição de número de fótons e a função de Husime no espaço de fase Q(β). Em seguida
mostramos duas possíveis evoluções temporais, que é o estado coerente comprimido e o
estado coerente par. Para analisarmos as propriedades estatísricas dos estados menciona-
dos, zemos seu respectivos grácos usando o editor de grácos Origin e utilizando os
pontos obtidos através das simulações que zemos utilizando o compilador fortran 90.
4 Resultados
A seguir, mostraremos as propriedades estatísticas do estado coerente e alguns estados
obtidos como evoluções do estado coerente. Obteremos seus coecientes da representação
Capa Índice 1039
de número, a partir dos quais poderemos mostrar suas respectivas distribuições de número
de fótons e função Q(β).
4.1 Estado Coerente
Schrödinger tentando encontrar estados quânticos que apresentasse um comportamento
clássico, descobriu o estado coerente. Schrodinger estava interessado em encontar estados
quânticos que apressentassem as mesmas propriedades para outros potenciais além do
oscilador harmônico.
Os estados coerentes são denidos como auto-estado do operador de aniquilação:
a|αi = α|αi. (1)
Sabemos que:
a|αi =√α|α− 1i e a†|αi =
√α+ 1|α+ 1i
O operador a destroi fotóns de energia, e o operador a† cria fotóns de energia, onde a
energia criada ou destruída é E = ~ω, em que ~ = h2πno n−ésimo termo nivel de energia
.
Como o operador a não é Hermitiano, seu auto-valor será de modo geral complexo.
Expandindo em série de Fourier, estamos fazendo uma transformação nesse estado:
|αi =∞X
m=0
Cm|mi, (2)
onde Cm são os coecientes de Fourier da expansão. Temos a relação de completeza dos
estados de número |mi :
∞Xm=0
|mihm| = 1, (3)
Quando sabemos que a base é completa podemos expandir qualquer vetor nela, e o
estado de número é uma base completa por denição
Expandindo em série de fourier e usando (3) temos:
Capa Índice 1040
|αi = |αi
|αi =∞X
m=0
|mihm|| {z }1
αi =∞X
m=0
Cm(α)|mi, (4)
onde Cm(α) = hm|αi sendo Cm o coeciente de Fourier da expansão.
A probabilidade de encontramos o sistema em um estado coerente com n-fotóns é dado
por P (m) = |hm|αi|2.Sabemos que:
a|mi =√m|m− 1i , (5)
combinando (1) e (4) temos:
a|αi =∞X
m=1
Cm(α)|mi =∞X
m=1
Cm(α)√m|m− 1i =
∞Xm=1
αCm(α)|mi (6)
Fazendo m0 −→ m+ 1 temos que :
∞Xm0=0
Cm+1(α)√m+ 1|m0i =
∞Xm=0
αCm(α)hm0|mi
Como os estado de números são ortogonais, hn0|ni = δnn0 e está equação é diferente
de zero quando m = m0, portanto temos:
Cm+1(α)√m+ 1 = αCm(α)
Cm+1(α) =α√
m+ 1Cm(α). (7)
Analizando a equação (7) temos:
C1 =α√1C0
C2 =α√2C1 =
α2
√2√1C0 =
α2
√2!C0
Capa Índice 1041
C3 =α√3C2 =
α3
√3√2√1C0 =
α3
√3!C0
C4 =α√4C3 =
α4
√4√3√2√1C0 =
α4
√4!C0
Ao analizar temos :
Cm =αn
√m!
C0 (8)
Substituindo (8) em (4) temos:
|αi = C0
∞Xn=0
αm
√m!|mi (9)
Fazemos o conjugado temos:
|αi∗ = hα| = C∗0
∞Xm=0
(α∗)m√m!hm| (10)
Usando (9) e (10) e sabendo que hm|mi = 1 temos:
hα|αi = C0C∗0
∞Xm=0
αm(α∗)m
m!hm|mi
|C0|2∞X
m=0
(|α|2)mm!
= 1. (11)
Sabemos que:
ex = 1 + x+x2
2!+
x3
3!+ · · ·+ xn
n!=
∞Xn=0
xn
n!, (12)
substituindo (12) em (11) temos:
|C0|2e|α|2
= 1 =⇒ |C0|2 = e−|α|2
C0 = e−12|α|2 (13)
Capa Índice 1042
Substituindo (12) em (8) temos os coecientes da representação de número dados por
Cm =αm
√m!
e−12|α|2. (14)
4.1.1 Distribuição de número de fótons do estado coerente
Sabemos que a distribuição de número de fótons é dada por P (m) = |Cm|2, de ondeobtemos
P (m) =|α|2mm!
e−|α|2
(15)
Que é a probabilidade de encontrar n-fotóns em um sistema no estado coerente.
Na Figura 1 mostramos esta distribuição de número de fótons para o estado coerente
dado pela Eq.(15) para o parâmetro de coerência α = 5.
Figure 1: Distribuição de número de fótons do estado coerente para o parâmetro dedeslocamento α = 5
4.1.2 Função de Husimi do estado coerente
A função de distribuição no espaço de fase de Husimi Q(β) é denida para um estado
genérico |ψi como sendoQ(β) =
1
π|hβ|ψi|2 . (16)
Capa Índice 1043
Utilizando a relação de completeza dos estados estados de número dado pela Eq.(3) obte-
mos
Q(β) =1
π
¯¯¯∞X
m=0
hβ|mihm|ψi¯¯¯2
=1
π
¯¯¯∞X
m=0
C∗|βim · C |ψim
¯¯¯2
(17)
onde C∗|βim são os coecientes do estado coerente |βi dados por
C∗|βim =β∗m√m!
e−12|β|2, (18)
sendo β um número complexo e C |ψim os coecientes do estado genérico |ψi, denido comoC|ψim = hm|ψi. Para o estado coerente |αi eles são dados pela Eq.(14). Substituíndo asEqs.(14) e (18) na Eq.(17) obtemos a função de Husimi Q(β) para o estado coerente, a
qual está mostrada na Figura (2). Para ilustração, mostramos ao lado a sua respectiva
curva de nível.
Figure 2: Função de Husime Q(β) para o estado coerente com parâmetro de coerênciaα = 2. Ao lado sua respectiva curva de nível.
Capa Índice 1044
4.2 Estado Coerente Comprimido
O Estado Coerente Comprimido é gerado a partir do estado de vácuo pela atuação suces-
siva dos operadores de deslocamento e de compressão, ou seja [4]
|α, zi = S(z)D(α) |0i = S(z) |αi (19)
onde S(z) é o operador de compressão, dado por
S(z) = ezau2−z∗a2 (20)
S(z) é dito unitário porque bS (z) bS† (z) = bS† (z) bS (z) = 1 e z é um número complexo
arbitrário, z = r eiϕ.
Os coecientes Cm dos Estados Coerentes Comprimidos são dados por
Cm = < m|α, z >
=1√μm!
(ν
2μ)m2 e−
|β|22
+ ν∗β22μ Hm[β(2μν)
− 12 ]. (21)
onde Hm são os polinômios de Hermite, μ e ν são dados por
μ = cosh r, (22)
ν = e−iϕ sinh r. (23)
e
β = (μα+ να∗) . (24)
4.2.1 Distribuição de número de fótons do estado coerente comprimido
Na Figura 3 mostramos a distribuição de número de fótons para o Estado Coerente
Comprimido, dada por Pm = |Cm|2, onde Cm é dado pela Eq.(21) para o parâmetro de
deslocamento α = 5, θ = 0, e parâmetro de compressão: a) r = 0; b) r = 0, 5 e e c)
r = 1, 0 para ϕ = 0.
Capa Índice 1045
Figure 3: Distribuição de número de fótons do Estado Coerente Comprimido, con-siderando o parâmetro de coerência α = 5 e parâmetro de compressão r = 0, 0,5 e 1,conforme legenda.
4.2.2 Função de Husimi do estado coerente comprimido
Na Figura 4 mostramos a função de Husime denida pela Eq.(17) para o estado coerente
comprimido, cujos coecientes são dados pela Eq.(21), com parâmetro de coerência α = 2
e parâmetro de compressão r = 0, 5. Para comparação mostramos ao lado a sua respectiva
curva de nível.
Figure 4: Função de Husime Q(β) para o estado coerente comprimido com parâmetro decoerência α = 2 e parâmetro de compressão r = 0, 5. Ao lado sua respectiva curva denível.
Capa Índice 1046
4.3 Estado Coerente Par
O Estado Coerente Par é obtido a partir da superposição de dois estados coerentes
com uma diferença de fase de π, sendo este denido em termos do estado coerente, como
|+αi = N (|αi+ |−αi) , (25)
onde N é o fator de normalização obtido da condição h+α|+ αi = 1, dada por
N =h2(1 + e−2|α|
2
)i−1
2. (26)
os coecientes Cm da representação de nú,ero do estado coerente par são dados por
C+m = N e−
12|α|2 αn
√m!
[1 + (−1)m] . (27)
Pela Eq.(27) podemos notar facilmente que para todo m ímpar, [1 + (−1)m] = 0 o que
implica obtermos C+2m+1 = 0. Para todo m par, [1 + (−1)m] = 2, o que implica C+
2m 6= 0.
Daí o nome Estado Coerente Par. Neste estado todos os coecientes ímpares são nulos,
resultando daí uma oscilação na distribuição de número de fótons.
4.3.1 Distribuição de número de fótons do estado coerente par
Na Figura 5 mostramos a distribuição de número de fótons para o Estado Coerente
Par, onde Cm é dado pela Eq.(27) para o parâmetro de deslocamento α = 5.
Figure 5: Distribuição de número de fótons do estado coerente par para o parâmetro dedeslocamento α = 5
Capa Índice 1047
4.3.2 Função de Husimi do estado coerente par
Na Figura 6 mostramos a função de Husime denida pela Eq.(17) para o estado coerente
par, cujos coecientes são dados pela Eq.(27), com parâmetro de coerência α = 2 e
parâmetro de compressão r = 0, 5. Para comparação mostramos ao lado a sua respectiva
curva de nível.
Figure 6: Função de HusimeQ(β) para o estado coerente para com parâmetro de coerênciaα = 2. Ao lado sua respectiva curva de nível.
5 Conclusão
Como podemos ver na Figura 1, o máximo da distribuição de número de fótons do
estado coerente ocorre em torno do número médio de fótons hmi = |α|2 . À medida que seaumenta o parâmetro de deslocamento, aumenta o número médio de fótons e o máximo
da distribuição. Neste caso, a altura da curva também diminui a m de manter a área
sob a curva. A sua função de Husime, Figura 2 é uma gaussiana, suas curvas de níveis
sendo círculos.
Por outro lado, para o estado coerente comprimido, sua função de Husime, Figura
4 apresenta suas curvas de níveis na forma de elipses, mostrando que numa determinada
variável apresenta redução do ruído quântico menor que no estado coerente, enquanto na
outra canonicamente conjugada este ruído é maior, de forma a não violar o princípio de
Capa Índice 1048
incerteza de Heisenberg. Como podemos ver, dependendo da compressão, podemos ter
uma distribuição de número de fótons mais denida que o estado coerente, estatística
sub-poissoniana e também menos denida, dita estatística super-poissoniana, conforme
Figura 3. O interesse maior está na estatística sub-poissoniana, que é um efeito puramente
quântico e uma boa aproximação para o Estado de Número.
Na Figura 5 mostramos o gráco da distribuição de número de fótons do estado co-
erente par, para o parâmetro de deslocamento α = 5. Como podemos ver, esta distribução
apresenta oscilações, P2m+1 = 0, que é devido aos efeitos de interferência proveniente da
superposição dos dois estados, como pode ser também observado nos dois picos da função
de Husimi.
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Capa Índice 1049
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Revisado pela orientadora
Capa Índice 1050
AUTOPERCEPÇÃO DOS ESTUDANTES EM RELAÇÃO ÀS COMPETÊNCIAS E
HABILIDADES ADQUIRIDAS NO CURSO DE ODONTOLOGIA.
Danilo Pereira da Silva
Maria de Fátima Nunes
Maria do Carmo Matias Freire
Aline de Paula Ferreira
Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Goiás
Email: [email protected]; [email protected]
INTRODUÇÃO
As Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Odontologia (DCNO) propostas
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Grupo de Estudos sobre Ensino de
Odontologia do Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior (NUPES) foram estabelecidas em
fevereiro de 2002, e definem os princípios, fundamentos, condições e procedimentos da
formação de cirurgiões-dentistas a serem observados na organização curricular das
Instituições do Sistema de Educação Superior do País. As DCNO caracterizam as
competências e habilidades previstas para serem desenvolvidas durante o curso, tais como
atenção à saúde, tomada de decisões, comunicação, liderança, administração e gerenciamento
e educação permanente (BRASIL, 2002).
As diretrizes curriculares buscam um profissional em permanente preparação, capaz
de alcançar uma progressiva autonomia profissional, preparado para superar novos desafios
da profissão e demandas emergentes do mercado de trabalho (KRIGER, 2005). Mas para isso,
o professor deve exercer seu papel de orientar o processo de aprendizagem, estimulando o
raciocínio do aluno (SOUBHIA, RUFFINO e DESSUNTI, 2005) para que ele seja capaz de
assim o fazer depois de formado. É importante que o processo educativo passe a ser pensado
como um processo social, cultural e individual, e para que ocorram mudanças
comportamentais nesta direção, é necessário criar ou mudar percepções, utilizar forças
motivadoras e tomar decisões para agir (MESTRINER JÚNIOR et al.,2011).
Capa Índice 1051
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1051 - 1063
Secco e Pereira (2004) consideram que estudantes de odontologia apresentam certa
dificuldade de construir um perfil profissional que articule a formação acadêmica e as
exigências profissionais, sobretudo, devido à saturação do mercado de trabalho, e Gondim
(2002) afirma que essa dificuldade de delimitar sua identidade profissional, está relacionada à
ausência de clareza das habilidades e competências adquiridas durante o período de
graduação.
A insegurança do egresso pode ser reduzida com as atuais propostas das DCNO que
se apresentam como eixo norteador às faculdades e aos estudantes para uma
“[...] formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor técnico e científico. Capacitado ao exercício de atividades referentes à saúde bucal da população, pautado em princípios éticos, legais e na compreensão da realidade social, cultural e econômica do seu meio, dirigindo sua atuação para a transformação da realidade em benefício da sociedade.” (p.1)
Assim, as DCNO buscam a transformação do antigo egresso puramente tecnicista,
individualista e com a atenção especializada e curativa dos modelos Flex e Gies, num
profissional dotado de conhecimento científico, mais humanizado, com a percepção do
indivíduo como um todo, além de ser capaz de se integrar a uma equipe multiprofissional.
Apesar de instituídas nacionalmente no começo de 2002, a Faculdade de Odontologia
da Universidade Federal de Goiás realizou suas mudanças curriculares apenas em 2006,
formando suas duas primeiras turmas pertencentes à nova matriz curricular, em 2010 e 2011.
Com a implantação do novo currículo e considerando a escassa disponibilidade de
estudos referentes ao tema, houve necessidade de analisar os resultados obtidos nas primeiras
turmas que se submeteram ao mesmo, visando subsidiar as reflexões no meio acadêmico
sobre os acertos e/ou necessidade de novos rumos a serem tomados.
OBJETIVO
Conhecer a autopercepção de estudantes de Odontologia ao final do curso, em
relação às competências e habilidades estabelecidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais do
Curso de Odontologia.
Capa Índice 1052
METODOLOGIA
O estudo foi do tipo observacional transversal, utilizando-se um questionário auto-
aplicável aos estudantes do final da graduação (2010 e 2011) da Faculdade de Odontologia da
Universidade Federal de Goiás (FO/UFG). Os dados foram coletados no último mês letivo de
2010 e 2011.
A população de estudo constituiu-se de 107 estudantes, sendo 53 formandos de 2010
e 54 formandos de 2011. O critério de inclusão foi terem realizado todo o curso na FO/UFG,
enquanto que o de exclusão foi terem iniciado o curso de odontologia em outras instituições,
ou serem de nacionalidade estrangeira, objetivando evitar a influência das mesmas nas
respostas (Esquema 1).
Esquema 1. Esquema da população de estudo/taxa de resposta do estudo sobre competências e habilidades das
DCNO entre acadêmicos do curso de Odontologia da Universidade Federal de Goiás (2010/2011) .
Foi realizada análise descritiva dos dados (frequências absolutas e relativas de cada
ano separadamente e em conjunto) utilizando-se o programa SPSS (Statistical Package for the
Social Sciences) for Windows, versão 16.
Capa Índice 1053
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFG em dezembro de
2006 (protocolo nº085/06). Os indivíduos participantes em 2010 e 2011 assinaram o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido, concordando em participar da pesquisa de forma
anônima.
RESULTADOS
A taxa de resposta foi de 106 estudantes (99,06%), sendo 68 mulheres e 38 homens.
Os resultados estão apresentados nas Tabelas 1 a 6, dispostas as habilidades e
competências gerais e as específicas segundo um eixo comum.
Os dados apresentados nas tabelas mostram que a maioria dos formandos considera
ter adquirido parcial ou totalmente as competências e habilidades propostas pelas DCNO. E
quando questionado cada item das competências gerais e específicas, em geral, predominou a
resposta de aquisição total das mesmas. Entretanto, o quesito “Administração e
gerenciamento” das competências gerais (Tabela 1) foi o único que apresentou uma
porcentagem relevante de graduandos que não se considerava apto a desenvolver tal
capacidade (17%), embora a maioria afirmasse possuir competência parcial (66%).
DISCUSSÃO
Os princípios orientadores adotados para as mudanças curriculares dos cursos de
graduação envolvem dentre outros, a flexibilidade na organização curricular, a dinamicidade
do currículo, a adaptação às demandas do mercado de trabalho, a ênfase na formação geral e a
definição e desenvolvimento de competências e habilidades gerais (CATANI, OLIVEIRA,
DOURADO, 2001). Saracchini (2012) afirma que, na educação, competência é a capacidade
de articular conhecimentos, procedimentos, habilidades, atitudes e valores para solucionar
com pertinência e eficácia as diversas situações, e habilidades estão “associadas ao saber
fazer: ação física ou mental que indica a capacidade adquirida.”
Pautadas nas DCNO, as mudanças curriculares preveem a mudança paradigmática na
formação de um profissional crítico, capaz de aprender a aprender, de trabalhar em equipe, e
de levar em conta a realidade social (CARVALHO, 2008), necessitando de uma mudança
didático-pedagógica. Dessa forma, fica claro o motivo e/ou necessidade da erradicação do
Capa Índice 1054
modelo antigo de ensino universitário, em que o acadêmico não tinha nenhum tipo de
participação na sua educação e profissionalização, sendo então um aluno dependente daquele
que lhe transmitia o conhecimento julgado necessário.
A escassa literatura que aborda algum aspecto relativo às competências e habilidades
previstas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (MESTRINER JÚNIOR et al, 2011;
COSTA e ARAÚJO, 2011), especialmente com dados de autopercepção, reforça a
importância de estudos pertinentes a essa temática, visto que as DCNO apresenta com clareza
esses aspectos.
No presente estudo, os acadêmicos tendo como referência um novo modelo de
educação, generalista e humanista, em sua maioria, afirmaram ter adquirido, parcial ou
totalmente as competências e habilidades gerais e específicas previstas pelas novas diretrizes.
Competências essas, que prepararam futuros profissionais para um saber-fazer reflexivo,
crítico, o suficiente para que se sinta participante do seu contexto social, o que lhe permitirá
decidir, utilizar, modificar e mobilizar recursos disponíveis para resolver com sucesso,
problemas surgidos na prática profissional (COSTA E ARAÚJO, 2011). Os resultados
indicam os aspectos positivos da implantação das DCNO e apontam aqueles que ainda
precisam de alguma atenção pela comunidade acadêmica.
Dentre as competências e habilidades específicas questionadas, “Reconhecer e aplicar
padrão de ética profissional e conduta”, “Reconhecer suas limitações e estar adaptado e
flexível face às mudanças circunstanciais” e “Realizar a preservação da saúde bucal”
apresentaram mais de 85% de acadêmicos que se julgavam totalmente competentes para tais,
enquanto “Planejar e administrar serviços de saúde comunitária”, “Analisar e interpretar os
resultados de relevantes pesquisas experimentais, epidemiológicas e clínicas”, “Organizar,
manusear e avaliar recursos de cuidados de saúde efetiva e eficientemente” e “Identificar,
investigar, prevenir, tratar e controlar as doenças e distúrbios bucomaxilo-faciais em pacientes
e em grupos populacionais” apresentaram porcentagem inferior a 50% dos acadêmicos que se
julgavam totalmente competentes para as mesmas. Mas considerando que estes não se
sentiam incompetentes ou sem habilidades para essas ações e, considerando que uma das
premissas das novas diretrizes curriculares é a importância da educação continuada (aprender
a aprender), pode-se ponderar que os resultados alcançados nas duas primeiras turmas do
novo currículo na FO/UFG foram positivos, alcançando os objetivos propostos.
A maioria dos formandos da FO/UFG considerou ter adquirido competência total para
se ingressar no mercado com o currículo implantado. Segundo um estudo de Gontijo do
Centro Universitário do Triângulo (2009), em que se observa o perfil dos acadêmicos, bem
Capa Índice 1055
como, sua visão da saúde bucal coletiva, 88% dos acadêmicos participantes da pesquisa
tinham expectativa de obter uma formação profissional voltada para o mercado de trabalho. Já
os estudos de Rezende et al. (2007) e Lemos e Fonseca (2009) afirmaram o contrário, ao
colocar que o estudante de odontologia não se sente totalmente preparado para a vida
profissional, visto sua deficiência de conhecimento em algumas matérias específicas. Lemos e
Fonseca (2009) discorre, ainda, que essa deficiência é frequentemente intencionada por alguns
professores, visando criar uma dependência de especializações e atualizações. Estas
percepções dos acadêmicos pode indicar uma insegurança com o novo modelo de ensino-
aprendizagem que se aproxima da interdisciplinaridade, do ensino reflexivo, do aprender a
aprender e, se distancia da educação bancária centrada no conhecimento do docente
especialista que era transmitido verticalmente ao estudante.
Mesmo nas competências específicas em que alguns estudantes se sentiam
totalmente incompetentes para “Planejar e administrar serviços de saúde comunitária” e
“Organizar, manusear e avaliar recursos de cuidados de saúde efetiva e eficientemente”, a
representatividade foi muito baixa. Mas mesmo assim, são aspectos que devem ser analisados
no conjunto da gestão e do corpo docente. Tanto nas competências gerais como específicas,
há indicativo de que os aspectos que apresentam maiores dificuldades estão relacionados ao
planejamento e gerência.
Costa e Araújo (2011) afirmam em seu trabalho a necessidade da mudança curricular
nas diversas faculdades de Odontologia do país. Ao investigar, entre cirurgiões-dentistas do
serviço público do Rio Grande do Norte, dificuldades em saúde coletiva apresentadas durante
o exercício profissional, perceberam deficiências em trabalho em equipe e gestão, despreparo
para enfrentar problemas coletivos, falta de humanização e de visão preventiva por parte de
alguns profissionais, além de notar visível precarização do trabalho e dificuldades
tecnológicas. Os autores propõem que as mudanças curriculares na formação podem
solucionar vários dessas faltas, prestando, assim, uma atenção à saúde maus humana e de
qualidade.
As diretrizes curriculares surgem como norte para a reconstrução da graduação, mas
não basta a ideia otimista, de que as DCN vão revolucionar a formação dos estudantes de
odontologia, é preciso que as universidades participem dessa mudança de forma mais efetiva,
participando de forma ativa da profissionalização dos futuros cirurgiões-dentistas (SENNA e
LIMA, 2009). É preciso também investimento das instâncias superiores para melhor
qualificação docente e de infraestrutura para ampliação não só do ensino, mas também da
pesquisa e da extensão, que são fundamentais para se alcançar os quatro pilares propostos pela
Capa Índice 1056
UNESCO por meio de sua Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI:
aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver junto, aprender a ser (SILVA,
CUNHA, 2002).
CONCLUSÃO
Conclui-se que os acadêmicos formados em 2010 e 2011 no curso de Odontologia da
Universidade Federal de Goiás acreditam ter adquirido as competências e habilidades gerais e
específicas previstas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Odontologia.
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Tabela 1. Autopercepção dos formandos (2010 e 2011) do curso de Odontologia da Universidade Federal de Goiás com relação às competências gerais descritas nas DCNO. n=106.
Capa Índice 1058
Competências gerais Categorias 2010 2011 TOTAL
n (%) n (%) n (%)
Atenção à saúde
Nenhuma competência 0 0 0 Competência parcial 11 (20,8) 11 (20,8) 22 (20,8) Competência total
Sem resposta 41 (77,4) 1 (1,9)
42 (79,2) 0
83 (78,3) 1 (0,9)
Tomada de decisões
Nenhuma competência 1 (1,9) 0 1 (0,9) Competência parcial 26 (49,1) 32 (60,4) 58 (54,7) Competência total 26 (49,1) 21 (39,6) 47 (44,3)
Comunicação
Nenhuma competência 2 (3,8) 0 2 (1,9) Competência parcial 10 (18,9) 15 (28,3) 25 (23,6) Competência total 41 (77,4) 38 (71,7) 79 (74,5)
Liderança
Nenhuma competência 1 (1,9) 2 3 (2,8) Competência parcial 21 (39,6) 27 (50,9) 48 (45,3) Competência total 31 (58,5) 24 (45,3) 55 (51,9)
Administração e gerenciamento
Nenhuma competência 9 (17) 9 (17) 18 (17) Competência parcial 36 (67,9) 34 (64,2) 70 (66) Competência total 8 (15,1) 10 (18,9) 18 (17)
Educação permanente
Nenhuma competência 0 1 (1,9) 1 (0,9) Competência parcial 15 (28,3) 25 (47,2) 40 (37,7) Competência total 38 (71,7) 26 (49,1) 64 (60,4)
Sem resposta 0 1 (1,9) 1 (0,9) TOTAL 53 (100) 53 (100) 106 (100)
Tabela 2. Autopercepção dos formandos (2010 e 2011) do curso de Odontologia da Universidade Federal de Goiás sobre as competências e habilidades específicas referentes ao aspecto legal da profissão. n=106.
Competências e Habilidades Específicas Categorias
2010 2011 TOTAL
n (%) n (%) n (%)
Respeito aos princípios éticos e legais
Nenhuma competência 0 0 0 Competência parcial 2 (3,8) 3 (5,7) 5 (4,7) Competência total 51 (96,2) 39 (73,6) 90 (84,9)
Sem resposta 0 11 (20,8) 11(10,4)
Reconhecer e aplicar padrão de ética profissional e conduta
Nenhuma competência 0 0 0 Competência parcial 4 (7,5) 10 (18,9) 14 (13,2) Competência total 49 (92,5) 43 (81,1) 92 (86,8)
Ciência e responsabilidade com as regras dos
trabalhadores da área da saúde bucal na sociedade
Nenhuma competência 0 1 (1,9) 1 (0,9) Competência parcial 12 (22,6) 19 (35,8) 31 (29,2) Competência total 41 (77,4) 33 (62,3) 74 (69,8)
TOTAL 53 (100) 53 (100) 106 (100)
Capa Índice 1059
Tabela 3. Autopercepção dos formandos (2010 e 2011) do curso de Odontologia da Universidade Federal de Goiás sobre as competências e habilidades específicas referentes à sua atuação enquanto profissional. n=106. Competências e Habilidades
Específicas CATEGORIAS 2010 2011 TOTAL n (%) n (%) n (%)
Atuar em todos os níveis de atenção à saúde integrando os diversos
programas de promoção, manutenção, prevenção, proteção e
recuperação da saúde
Nenhuma competência 0 0 0
Competência parcial 14 (26,4) 11 (20,8) 25 (23,6)
Competência total 39 (73,6) 40 (75,5) 75 (74,5) Sem resposta 0 2 (3,8) 2 (1,9)
Atuar multiprofissionalmente, inter e transdisciplinarmente baseado na convicção científica, de cidadania e
de ética
Nenhuma competência 0 0 0
Competência parcial 23 (43,4) 20 (37,7) 43 (40,6)
Competência total 30 (56,6) 33 (62,3) 63 (59,4) Reconhecer a saúde como direito e condições dignas de vida e atuar de
forma integral e em rede nos diversos níveis de complexidade do
sistema.
Nenhuma competência 0 0 0 Competência parcial 8 (15,1) 10 (18,9) 18 (17) Competência total 44 (83) 43 (81,1) 87 (82,1)
Sem resposta 1 (1,9) 0 1 (0,9)
Desenvolver assistência odontológica individual e coletiva
Nenhuma competência 0 0 0 Competência parcial 11 (20,8) 9 (17) 20 (18,9) Competência total 39 (73,6) 44 (83) 83 (78,3)
Sem resposta 3 (5,7) 0 3 (2,1)
Comunicar e trabalhar efetivamente Nenhuma competência 0 0 0 Competência parcial 8 (19,5) 14 (26,4) 24 (22,6) Competência total 33 (80,5) 39 (73,6) 82 (77,4)
Participar em educação continuada como um componente da obrigação
profissional e manter espírito crítico
Nenhuma competência 1 (1,9) 0 1 (0,9)
Competência parcial 12 (22,6) 16 (30,2) 28 (26,4) Competência total 40 (75,5) 37 (69,8) 77 (72,6)
Reconhecer suas limitações e estar adaptado e flexível face às mudanças circunstanciais
Nenhuma competência 1 (1,9) 0 1 (0,9) Competência parcial 4 (7,5) 10 (18,9) 14 (13,2) Competência total 48 (90,6) 43 (81,1) 91 (85,8)
Propor e executar planos de tratamento adequados
Nenhuma competência 0 0 0 Competência parcial 16 (30,2) 27 (50,9) 43 (40,6) Competência total 37 (69,8) 26 (49,1) 63 (59,4)
Realizar a preservação da saúde bucal
Nenhuma competência 0 0 0 Competência parcial 3 (5,7) 7 (13,2) 10 (9,4) Competência total 49 (92,5) 46 (86,8) 95 (89,6)
Sem resposta 1 (1,9) 0 1 (0,9)
Trabalhar em equipes interdisciplinares e atuar como agente de promoção de saúde
Nenhuma competência 1 (1,9) 0 1 (0,9) Competência parcial 5 (7,3) 12 (22,6) 17 (16) Competência total 46 (90,2) 39 (73,6) 85 (80,2)
Sem resposta 1 (2,4) 1 (1,9) 2 (1,9) Resposta incorreta 0 1 (1,9) 1 (0,9)
Acompanhar e incorporar inovações tecnológicas no exercício
da profissão
Nenhuma competência 1 (1,9) 1 (1,9) 2 (1,9)
Competência parcial 19 (35,8) 22 (41,5) 41 (38,7) Competência total 33 (62,3) 30 (56,6) 63 (59,4)
TOTAL 53 (100) 53 (100) 106 (100)
Capa Índice 1060
Tabela 4. Autopercepção dos formandos (2010 e 2011) do curso de Odontologia da Universidade Federal de Goiás sobre as competências e habilidades específicas referentes ao exercício da sua profissão em conjunto à comunidade. n=106.
Competências e Habilidades Específicas CATEGORIAS 2010 2011 TOTAL
n (%) n (%) n (%) Exercer sua profissão de
forma articulada, entendendo-a como uma forma de participação e
contribuição social
Nenhuma competência 0 0 0
Competência parcial 16 (30,2) 10 (18,9) 26 (24,5)
Competência total 37 (69,8) 43 (81,1) 80 (75,5)
Melhorar a percepção e providenciar soluções
diferentes para necessidades da comunidade
Nenhuma competência 0 0 0
Competência parcial 22 (41,5) 24 (45,3) 46 (43,4) Competência total 31 (58,5) 29 (54,7) 60 (56,6)
Comunicar-se com pacientes, com profissionais
da saúde e com a comunidade
em geral
Nenhuma competência 0 0 0 Competência parcial 7 (13,2) 9 (17) 16 (15,1) Competência total 46 (86,8) 43 (81,1) 89 (84)
Resposta incorreta 0 1 (1,9) 1 (0,9)
Planejar e administrar serviços de saúde
comunitária
Nenhuma competência 2 (3,8) 5 (9,4) 7 (6,6)
Competência parcial 24 (45,3) 26 (49,1) 50 (47,2)
Competência total 27 (50,9) 21 (39,6) 48 (45,3) Resposta incorreta 0 1 (1,9) 1 (0,9)
TOTAL 53 (100) 53 (100) 106 (100)
Capa Índice 1061
Tabela 5. Autopercepção dos formandos (2010 e 2011) do curso de Odontologia da Universidade Federal de Goiás sobre as competências e habilidades específicas referentes à necessidade de renovação de conhecimentos e dedicação à pesquisa enquanto profissional. n=106.
Competências e Habilidades Específicas CATEGORIAS
2010 2011 TOTAL
n (%) n (%) n (%)
Conhecer métodos e técnicas de investigação e elaboração de
trabalhos acadêmicos e científicos
Nenhuma competência 0 1 (1,9) 1 (0,9) Competência parcial 29 (54,7) 21 (39,6) 50 (47,2)
Competência total 24 (45,3) 31 (58,5) 55 (51,9)
Obter, gravar e avaliar informações confiáveis de forma eficiente e objetiva
Nenhuma competência 1 (1,9) 0 1 (0,9) Competência parcial 15 (28,3) 21 (39,6) 36 (34) Competência total 37 (69,8) 31 (58,5) 68 (64,2)
Sem resposta 0 1 (1,9) 1 (0,9)
Analisar e interpretar os resultados de relevantes pesquisas experimentais,
epidemiológicas e clínicas
Nenhuma competência 1 (1,9) 2 (3,8) 3 (2,8)
Competência parcial 30 (56,6) 32 (60,4) 62 (58,5)
Competência total Sem resposta
22 (41,5) 1 (1,9)
19 (35,8) 0
41 (38,7) 1 (0,9)
Organizar, manusear e avaliar recursos de cuidados de saúde
efetiva e eficientemente
Nenhuma competência 3 (5,7) 1 (1,9) 4 (3,8) Competência parcial 21 (39,6) 32 (60,4) 53 (50) Competência total 28 (52,8) 20 (37,7) 48 (45,3)
Sem resposta 1 (1,9) 0 1 (0,9) Participar de investigações
científicas e preparar-se para aplicar os resultados em
cuidados de saúde
Nenhuma competência 2 (3,8) 1 (1,9) 3 (3,2)
Competência parcial 27 (50,9) 23 (43,4) 50 (47,2) Competência total 24 (45,3) 29 (54,7) 53 (50)
Colher, observar e interpretar dados para a construção do
diagnóstico
Nenhuma competência 0 0 0
Competência parcial 13 (24,5) 17 (32,1) 30 (28,3)
Competência total 39 (73,6) 36 (67,9) 75 (70,8)
Sem resposta 1 (1,9) 0 1 (0,9)
Identificar as afecções buco-maxilo-faciais prevalentes
Nenhuma competência 0 0 0
Competência parcial 21 (39,6) 24 (45,3) 45 (42,5) Competência total 32 (60,4) 29 (54,7) 61 (57,5)
TOTAL 53 (100) 53 (100) 106 (100)
Capa Índice 1062
Tabela 6. Autopercepção dos formandos (2010 e 2011) do curso de Odontologia da Universidade Federal de Goiás sobre as competências e habilidades específicas referentes à promoção de saúde que devem ser adotadas enquanto profissionais. n=106.
Competências e Habilidades Específicas CATEGORIAS 2010 2011 TOTAL
n (%) n (%) n (%) Identificar, investigar, prevenir, tratar
e controlar as doenças e distúrbios bucomaxilo-faciais em pacientes e
em grupos populacionais
Nenhuma competência 0 2 (3,8) 2 (1,9) Competência parcial 30 (56,6) 28 (52,8) 58 (54,7) Competência total 23 (43,4) 21 (39,6) 44 (41,5)
Sem resposta 0 2 (3,8) 2 (1,9)
Cumprir investigações básicas e procedimentos operatórios
Nenhuma competência 0 0 0 Competência parcial 8 (15,1) 13 (24,5) 21 (19,8) Competência total 44 (83) 38 (71,7) 82 (77,4)
Sem resposta 1 (1,9) 2 (3,8) 3 (2,8)
Promover a saúde bucal e prevenir doenças e distúrbios bucais
Nenhuma competência 0 0 0 Competência parcial 9 (17) 9 (17) 18 (17) Competência total 44 (83) 41 (77,4) 85 (80,2)
Sem resposta 0 3 (5,7) 3 (2,8) Buscar soluções mais adequadas em
conhecimento e outras áreas da saúde para os problemas clínicos no
interesse de indivíduo e comunidade
Nenhuma competência 0 0 0 Competência parcial 22 (41,5) 24 (47,2) 46 (43,4)
Competência total 31 (58,5) 29 (52,8) 60 (56,6)
Aplicar conhecimentos de saúde bucal, de doenças e tópicos
relacionados no melhor interesse do indivíduo e da comunidade
Nenhuma competência 1 (1,9) 0 0 Competência parcial 12 (22,6) 19 (39,6) 31 (29,2) Competência total 39 (73,6) 33 (58,5) 72 (67,9)
Sem resposta 1 (1,9) 1 (1,9) 3 (2,8) TOTAL 53 (100) 53 (100) 106 (100)
REVISADO PELA ORIENTADORA
Capa Índice 1063
A liberdade entre Deus e a Natureza
Aluno: Darley Alves Fernandes ([email protected])
Orientadora: Profª Drª Márcia Zebina Araújo da Silva1 ([email protected])
FAFIL-Faculdade de Filosofia
PALAVRAS-CHAVE: Ideia, providência, história, juízo reflexivo, razão, crítica.
1. INTRODUÇÃO E OBJETIVO
Talvez a maior dificuldade que a filosofia kantiana apresenta ao neófito pesquisador
seja o fato de que não há no seu sistema filosófico uma espécie de obra introdutória que
sirva de ponta pé inicial. Os principais obstáculos para o iniciante são: (i) lidar e
compreender a diversidade de conceitos que surgem nas suas diversas obras, por
exemplo, juízos sintéticos e analíticos, imperativo categórico, juízo reflexivo; (ii)
articular tais conceitos que estão espalhados nas diversas obras é outra dificuldade
recorrente – isso porque, existem afirmações que estão amparadas por conceitos que
foram desenvolvidos em obras distintas, por exemplo, a noção de juízo reflexivo
presente na última Crítica resolve e ampara uma série de questões que até então
geravam enormes tensões (iii) dada a dimensão da filosofia kantiana é sempre difícil
distinguir e separar alguns problemas sem que com eles venham outros maiores ainda,
por isso, às vezes, uma simples afirmação requer uma série de precauções conceituais.
Todas essas dificuldades apresentadas são pontuais e decorrentes da sistematicidade da
filosofia kantiana, obstáculos que são superáveis com a disciplina dos estudos.
Neste sentido, a pesquisa de iniciação científica (PIBIC) foi bastante produtiva e
forneceu-nos uma visão ampla da filosofia kantiana, alguns pontos a destacar são: (i) a
compreensão ainda que em linhas gerais do projeto crítico kantiano e os problemas que
ele confronta nas três principais obras que constituem a espinha dorsal de sua filosofia;
(ii) contextualização da filosofia da história perante o conjunto das obras principais do
autor; (iii) aprofundamento bibliográfico, incluindo a bibliografia secundaria, que é
bastante vasta e requer certa filtragem. No presente relatório irei apresentar alguns dos 1 Revisado pela orientadora
Capa Índice 1064
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1064 - 1076
resultados obtidos com a pesquisa, tais resultados foram obtidos por meio da leitura
sistemática dos textos, confecção e apresentação de textos (comunicações) e discussões
com a orientadora, de modo que foi possível sanar algumas deficiências, de maneira
específica as dificuldades apresentadas no segundo item (ii) do primeiro parágrafo.
O projeto de pesquisa tem como pano de fundo a filosofia da história; e, neste
âmbito, há uma série de erros e interpretações equivocadas, tais interpretações surgem
principalmente pela não compreensão da proposta kantiana e por tomar como afirmação
aquilo é apenas inferência e que, se não colocadas no rigor crítico soam como
contraditórias e até ingênuas. Por exemplo, o que significa dizer que a história humana
está um contínuo progresso para o melhor? O que permite dizer que há uma providência
que age no mundo com vistas a salvaguardar os propósitos da natureza? E mais, o que, e
quais são os propósitos da natureza? Os opúsculos kantianos sobre a história são
desenvolvidos no período mais produtivo de Kant, logo, são questões que contém certa
dose de rigor crítico – portanto, situá-las de acordo com o pensamento do filósofo é
tarefa do pesquisador que deve conciliar rigor sistêmico e coerência, porém, sem negar
as tensões inerentes ao sistema.
Esta é uma árdua tarefa da qual não devemos nos omitir e, creio que devemos buscar
compreender o pensamento do autor apoiado no sistema filosófico sem, contudo,
privilegiar apenas os aspectos formais do sistema. É justamente o que observa Ricardo
Terra sobre a trivial dificuldade de compatibilizar pensamento filosófico e sistema
filosófico. Vejamos:
O fundamental é a pesquisa e os rumos que ela aponta, não o sistema a qualquer custo. Mesmo que Kant, em algumas passagens, caia em certo formalismo sistemático, este não é o movimento da sua reflexão. Ou melhor, poderíamos dizer que há, de um lado, uma forte tendência sistemática e, de outro, o processo de pensamento que não cabe no sistema, criando tensões e chegando a transbordar o sistema A Crítica do Juízo, por exemplo, elabora questões que não estavam previstas nas duas primeiras Críticas e, mais ainda, reformula o próprio sistema sem destruir as construções anteriores. Não se podem ler a Crítica da razão pura e a Crítica da razão prática sem levar em conta a terceira Crítica, mas esta não arruína as outras duas. Junto com a invenção constante, há o esforço sistematizador que engloba as obras anteriores sem superá-las radicalmente. (TERRA, 2003, p. 31).
Nosso interesse, portanto, é ler a principal obra a respeito da história (Ideia de
uma história universal de um ponto de vista cosmopolita) amparada pelo sistema crítico
kantiano, assim, como fazem alguns comentadores como Gérard Lebrun e Otfried
Höffe, cujo principal esforço é elucidar os liames entre a história e a crítica
Capa Índice 1065
transcendental da razão. O horizonte de investigação a respeito da história amplia-se
quando se leva em conta estas considerações e, parte dela, será apresentada no presente
relatório, e de modo, completo no trabalho monográfico. A princípio, poderemos
começar analisando o próprio título da obra, será de grande relevância compreender o
que vem a ser Ideia (Idee) conforme Kant apresenta na Dialética Transcendental, tal
compreensão nos levará a entender o que é o propósito (Absicht). O principal objetivo é
chegar até o juízo reflexivo e apresentá-lo como exercício da razão que nos permite
criar as regras para obtenção das finalidades prescritas pela razão prática.
2. DISCUSSÃO
2.1 Filosofia da Historia: ideia e interesse prático
Ideia é a expressão cujo conteúdo não é abstraído por meio da mera percepção
sensorial, mas, ultrapassa os próprios conceitos do entendimento. As “ideias” estão
situadas no domínio da razão suprema, portanto, partindo da experiência é impossível
encontrar certa congruência entre ideia e objeto empírico. Na tradição filosófica é Platão
o responsável por preencher a expressão do conteúdo que perdurou por séculos e que
contemporaneamente é ambíguo, vazio de significado e reduzido a um relapso da razão.
Deste modo, Kant reconhecendo o quanto era difícil encontrar uma expressão que
exprimisse com exatidão os conceitos que visava desenvolver, recorreu ao significado
atribuído por Platão ao termo “Ideia”. Num ato de reverência Kant presta odes a Platão
da seguinte maneira.
Platão observou muito bem que a nossa capacidade cognitiva sente uma necessidade bem mais alta do que simplesmente soletrar fenômenos segundo uma unidade sintética para / poder lê-los como experiência, e que a nossa razão eleva-se naturalmente a conhecimentos, que transcendem de muito a capacidade de qualquer objeto, proporcionável pela experiência, de jamais congruir com os mesmos. Tais conhecimentos possuem apesar disso a sua realidade e de modo algum são simples quimeras. (KANT, 1991, p. 16/17).
O trecho supracitado é bastante rico em conteúdo e diz muito da intenção
kantiana ao apropriar-se da expressão “Ideia”, apesar de reconhecer que é preciso ter um
esforço maior do que teve o próprio Platão para entender e determinar melhor este
conceito. É importante destacar que as ideias não são como as categorias, apenas chaves
para as experiências possíveis, portanto, a realização da ideia não é uma condição
absolutamente necessária. Não obstante, a ideia é irrealizável, visto que ela não cai nas
Capa Índice 1066
categorias do entendimento, pois emana da razão suprema, e a razão costumeiramente
dirige-se rumo a representações que transcendem a experiência empírica.
Outro ponto importante a destacar e que está presente em toda filosofia kantiana
é a relação entre a capacidade cognitiva humana e os objetos do conhecimento, ou,
objetos passíveis de conhecimento. O projeto crítico kantiano é conhecido
principalmente por demarcar nitidamente as fronteiras e os limites do conhecimento
humano, porém, há uma diferença considerável entre pensar e conhecer, visto que
conhecer pressupõe sempre a sensibilidade e o entendimento, e o pensar é o exercício da
razão da pura. Não há limites para o pensar, mas, apenas para o conhecer - não por
acaso, Kant denomina “ideias da razão” aquilo que é impossível não pensar, mas, que é
impossível conhecer. As ideias da razão2, isto é, a alma, Deus e a liberdade, observa
Otfried Höffe “são sem dúvida representações possíveis, até necessárias, já que
correspondem à consequência lógica do pensamento. Mas a consequência lógica não é
um objeto próprio, e sim um princípio de investigação” (HÖFFE, 2005, p. 175).
Os objetos da experiência são, por sua condição fenomênica, limitados, logo, a
razão que á faculdade da totalidade não encontra uma totalidade absoluta no âmbito da
experiência, de modo que, uma completude absoluta e ilimitada só é possível no âmbito
da razão. Höffe3 afirma que ideias transcendentes são absolutamente necessárias, e isto
inclui um inteligência extra mundana, pois, o incondicionado é a única coisa que atribui
sentido ao objetivo final da razão teórica, isto é, o conhecimento completo. Percebe-se
que, apesar de Kant citar Platão,ele não considera as ideias como arquétipos das
próprias coisas4 e das quais os homens participam, apenas os privilegiados, mas, é um
conceito racional puro e necessário da razão, portanto, são ideias transcendentais. Os
conceitos transcendentais da razão são apenas ideias e servem de princípio norteador ao
entendimento, na linguagem kantiana as ideias transcendentais servem de cânone ao
entendimento5.
2 Cf. Otfried Höffe “No caso das idéias, a razão se ocupa imediatamente consigo mesma. Mas esta auto-ocupação da razão não é supérflua para o conhecimento. Pois é verdade que o conhecimento constituído por categorias conduz a um saber objetivo, mas não efetua a conexão sistemática do saber em uma ciência. Tal conexão alcançamos só quando nos deixamos guiar por representações de um todo absoluto, por idéias da razão. Por meio das idéias os conceitos e enunciados obtidos na experiência são orientados à completude” (HÖFFE, 2005, p. 175). 3 Ver Höffe 2005, p. 181 4 “Não quero meter-me aqui em nenhuma investigação literária para estipular o sentido que o sublime filósofo ligou a sua expressão” (KANT, 1991, p. 16) 5 Ver Kant 1991, p. 23
Capa Índice 1067
As ideias não são por causa de sua irrealização pensamentos quiméricos, mas,
são princípios que orientam a experiência possível mediante representações do absoluto
(completude ilimitada). Dois exemplos elucidam bem a função das ideias e justificam
sua transcendência em relação à experiência, a saber, justiça e virtude. O que é a
justiça? Há pelo menos vinte e cinco séculos o homem vem formulando respostas a essa
pergunta e uma consenso parece estar bem distante, embora seja pertinente concordar
que não é possível abstrair tal resposta da experiência, pois é ai onde reside as
contradições. A justiça no âmbito da razão é uma ideia perfeita, imparcial e
incorruptível, porém, a aplicação da justiça com vistas a resultados objetivos leva
sempre a uma subjetivação incontornável – por isso, a justiça não se aplica, mas, é um
princípio que serve de orientação para que os homens julguem ações, de modo, que
apenas uma aproximação à ideia é possível. Outro exemplo é o da virtude, pois se um
homem quisesse retirar os preceitos da virtude, a saber, justiça, temperança e etc, da
experiência não teria êxito, mas ao contrário, “esse faria da virtude um equívoco não-
ente, variável segundo o tempo e as circunstância e imprestável como regra” (KANT,
1991, p. 17).
A ideia é, portanto, “um conceito a partir de noções, que ultrapassa a
possibilidade da experiência, é a idéia ou conceito racional” (KANT, 1991, p. 19) - tal
como em Platão as ideias referem-se e orientam aquilo que é prático, isto é, o que se
funda sobre a liberdade6. As ideias, diferentemente das categorias, não são apenas
chaves para a experiência, de modo que uma simetria entre ideia e objeto é irrealizável.
Porém, o conteúdo da razão não é determinado segundo a capacidade da compreensão
humana, exemplo disto são as ideias da razão, mas, não obstante, as ideias enquanto
servem de princípios de orientação são necessárias e devem ser colocadas como
fundamento das leis em geral e, principalmente das leis morais7. Por isso Kant faz
questão de ressaltar que “no que concerne às leis morais, a experiência é (infelizmente)
mãe da ilusão; e é sumamente reprovável tirar as leis sobre o que devo fazer daquilo que
é feito ou querer limitar a primeira coisa pela segunda” (KANT, 1991, p. 18).
6 Kant, 1991, p. 17. 7 “Com efeito, não se pode encontrar algo mais prejudicial e mais indigno de um filósofo do que o apelo vulgar a uma experiência pretensamente contraditória, que simplesmente não existiria se no tempo oportuno fossem encontradas aquelas instituições segundo as idéias e se no seu lugar conceitos rudes, justamente por terem sido tirados da experiência não tivessem frustrado toda a boa intenção. Quanto mais a legislação e o governo fossem estabelecidos conforme esta ideia, tanto mais raras seriam com certeza as penas; e é, pois, perfeitamente racional pensar (como Platão afirma) que numa perfeita ordenação da legislação e do governo nenhuma pena seria necessária” (KANT, 1991, p. 18).
Capa Índice 1068
O arquétipo ideal de justiça e de virtude é indispensável aos homens que
desejam ser justos e virtuosos – inatingível, a ideia tem a função de manter os homens
dispostos a uma aproximação daquilo que é posto como ideal de perfeição. Diz Kant
que “a realização da idéia é sempre limitada e defeituosa, mas, sob limites
indetermináveis, portanto, sempre sob a influência do conceito de uma completude
absoluta” (KANT, 1991, p. 23). Talvez essa inatingibilidade da ideia seja estratégica, e
somos levados a pensar que sim, pois, se fosse algo realizável, saciaria o desejo e a
curiosidade do homem que estagnaria num ponto e levando uma vida destituída de
objetivos e de esperanças. É neste ponto que se insere o discurso sobre a história e é
neste sentido que Kant se apropria do termo ideia e desenvolve sua principal obra sobre
o tema “Ideia de uma história universal de um ponto de vista cosmopolita8”.
Neste sentido, Allen Wood observa que mesmo as obras críticas de Kant contém
elementos importantes a respeito da história, política, antropologia – por exemplo, o
conceito racional que orienta a investigação acerca da história parece ter um germe já na
elaboração da primeira obra crítica. Allen Wood afirma que “a caracterização básica de
Kant sobre a espécie humana em termos de suas possibilidades coletivas para a
autodireção indica que sua concepção da própria natureza humana é uma concepção
histórica” (WOOD, 2008, p. 138). Vejamos um pequeno trecho contido no livro
primeiro da dialética transcendental, Crítica da razão pura, que tomaremos como a ideia
que guia a investigação a respeito da história humana no pensamento kantiano.
Uma constituição da máxima liberdade humana, segundo leis que façam com que a liberdade de cada um possa coexistir com a liberdade dos outros (não uma constituição da máxima felicidade, pois esta seguir-se-á já espontaneamente), é pelo menos uma idéia necessária, que tem de ser colocada como fundamento não somente do primeiro projeto de uma constituição política, mas também de todas as leis, e em que inicialmente se tem que abstrair dos obstáculos presentes que talvez possam originar-se não tanto inevitavelmente da natureza humana quanto do desleixo da autênticas idéias na legislação (KANT, 1991, p. 18)
O conteúdo racional da ideia é reafirmado em diversas passagens da “Ideia de
uma história universal” e da “Paz Perpétua” – a diferença básica talvez seja o fato de
que aqui as ideias são assimiladas e convertidas em desafios práticos, isto é, propósitos
(Absicht). O desafio e o propósito humano é constituir uma constituição civil que 8 O título original da obra é “Idee zu einer allgemeinen Geschicht in Weltbïrgelicher Absicht” – a tradução que utilizo é a de Ricardo Terra, que traduz (Absicht) como sendo “ponto de vista”, porém, a tradução portuguesa de Artur Morão é mais fiel ao texto e ao pensamento kantiano, pois, traduz (Absicht) como propósito, e o interesse de Kant aponta justamente para o propósito da história que é a uma constituição cosmopolita.
Capa Índice 1069
administre universalmente o direito (Idee V) e fazer com que seja possível a convivência
entre indivíduos livres. O interesse humano na história é um interesse prático de tornar
as próprias ações inteligíveis, este interesse, segundo Allen Wood9 une “esperanças e
objetivos racionais” que visam assegurar as liberdades individuas e promover o
esclarecimento, o progresso moral e do direito e a paz entre as nações.
A análise a respeito dos termos ideia e propósito constitui um passo inicial muito
importante a respeito da pesquisa que tem como pano de fundo a filosofia da história,
visto que é preciso inserir o discurso sobre a história no âmbito da filosofia kantiana e
não considerá-lo como uma obra que é fruto de um deslize intelectual de gosto popular.
Outro passo complementar é compreender a função do juízo reflexivo, juízo que cria a
passagem (Übergang) entre razão teórica e prática. A ideia de uma constituição civil
perfeita que administre universalmente o direito pertence evidentemente apenas à razão,
contudo, há, o interesse prático de atingir tal constituição, o propósito é torna-la
realizável. Porém é o juízo quem cria as regras para a obtenção de tal propósito, ou seja,
o juízo que é uma faculdade mediadora entre razão e entendimento prescreve as regras
para que o entendimento siga, tais regras, no entanto, são apenas princípios heurísticos
de investigação.
2.2 Juízo e princípio regulativo
A Crítica da faculdade do juízo é a última obra crítica de Kant, obra que encerra o
sistema filosófico e visa preencher o fosso existente entre as duas primeiras por meio de
uma terceira faculdade, o juízo. O Juízo e uma faculdade de conhecimento constituída
por princípios a priori que podem ser constitutivos ou regulativos e, sua principal
função é fazer uma passagem10 (Übergang) entre a faculdade teórica e a prática.
Passagem (Übergang) significa articulação e organização do sistema11, o juízo não está
subjugado aos domínios nem da razão pura e nem da razão prática, mas, seus princípios
devem se ajustar a ambas as partes12. Interessa-nos investigar a função regulativa do
juízo reflexivo na organização das leis empíricas e criar um liame entre juízo reflexivo e
história – o principal objetivo é demonstrar que a filosofia da história, isto é, a ideia de 9 Ver Allen Wood 2008, p. 138 10 A crítica do juízo, é um termo médio entre as duas outras, e esta “passagem (Übergang) da filosofia teórica para a prática mostra vários níveis: a ideia de sublime indica o primeiro; o plano do todo da natureza como um sistema de fins, o segundo, a relação do fim último (Endzweck), o terveiro nível”. (TERRA, 2003, p. 48). 11 Ver Ricardo Terra, 2003, p. 58 12 Ver Kant, 2002, prologo.
Capa Índice 1070
um todo cosmopolita (jus cosmopoliticum), utiliza-se da função regulativa do juízo para
atingir tal propósito.
Apesar da relevância que os comentadores atribuem à filosofia da história com
vistas a compreender outros campos da filosofia kantiana como política, direito,
antropologia e religião. Gerárd Lebrun13 talvez seja o único, até agora estudado, a
analisar a história amparado no juízo reflexivo e na filosofia prática em geral e defende
que não há dicotomia entre os escritos sobre a história e a filosofia prática, mas, ao
contrário, a cidadania filosófica conferida aos opúsculos sobre a história é uma
exigência da razão prática14. Por isso, a distância cronológica entre as obras (Ideia de
uma história universal de um ponto de vista cosmopolita e Crítica da faculdade do
juízo) é um argumento inválido e pouco persuasivo, visto que, a Urteilskraft foi escrita
tendo em vista superar tais abismos conceituais, e vale ressaltar que “o sistema kantiano
tem de ser entendido não como dado de uma vez por todas, mas como um processo de
formação, em que lacunas surgem e são superadas, em que problemas imprevistos se
põem em que mesmo novos princípios têm de ser propostos” (TERRA, 2003, p. 54).
Na introdução da Urteilskraft Kant acerca do juízo explicita o seguinte “a faculdade
do juízo em geral é a faculdade de pensar o particular contido no universal” (KANT,
2002, p. 23). O juízo, porém, opera de dois modos distintos; quando recebe o princípio,
regra, lei que são dadas a priori aplica-se ao caso específico e obtém-se o particular, este
juízo ocorre na física em geral, isto é, se quero saber a velocidade atingida por um
objeto num determinado espaço de tempo eu preciso aplicar as leis da física – Vm=
∆S/∆T; outro modo de operar do juízo é o reflexivo, neste caso, temos o caso particular,
porém não temos a regra para investigar tal caso (natureza em geral), logo, é preciso
pensar uma regra. Nesta particularidade dos casos onde não se aplicam as leis da física
(leis dadas a priori) e, portanto, não se pode determinar os objetos reside a peculiaridade
do juízo reflexivo, isto é, criar as próprias regras.
O juízo apresenta-se então de duas maneiras distintas, são elas, determinante com
função lógica e reflexivo com função regulativa, ambas, estabelecem a relação do geral
com o particular, porém, de maneiras opostas. O juízo determinante é utilizado com
vistas a um conhecimento objetivo do mundo, as leis e formas em geral. O juízo
13 Ver Lebrun, 2011, p. 72 14 “Se assim for, a Weltgeschichte, longe de ser uma noção marginal ante a razão prática, contribuiria para garantir a supremacia da razão prática. (LEBRUN, 2011, p. 72)
Capa Índice 1071
reflexivo, de gosto ou teleológico não fornece nenhum conhecimento objetivo, mas,
permite-nos considerar a natureza como sendo algo mais do que um mecanismo cego –
o juízo de reflexão “nos indica que é impossível reduzir a natureza à legislação do
entendimento, e que é necessário nela supor uma outra forma de legalidade” (LEBRUN,
2011, p.100).
Vejamos o que diz Kant a respeito do juízo reflexivo:
A faculdade do juízo reflexiva, que tem a obrigação de elevar-se do particular na natureza ao universal, necessita por isso de um princípio que ela não pode retirar da experiência, porque este precisamente deve fundamentar a possibilidade da subordinação sistemática dos mesmos entre si. Por isso só a faculdade de juízo reflexiva pode dar a si mesma um tal princípio como lei e não retirá-lo de outro lugar (porque então seria faculdade de juízo determinante), nem prescrevê-lo à natureza, porque a reflexão sobre as leis da natureza orienta-se em função das condições, segundo as quais nós pretendemos adquirir um conceito seu, completamente contingente no que lhe diz respeito (KANT, 2002, p. 24).
Deste modo, o juízo reflexivo mediante a impossibilidade de retirar regras e leis
da experiência empírica prescreve a si mesmo princípios heurísticos de investigação,
tais princípios vale lembrar não determinam objetos, pois, “esta faculdade dá uma lei
somente a si mesma e não à natureza” (KANT, 2002, p. 24). Ricardo Terra15
compreende que a diferença substancial entre juízo determinante e reflexivo é que,
embora o juízo determinante “reflexione” quando aplica a regra ao caso o ato de
reflexionar “desaparece nos resultados” obtidos, pois, limitou-se a executar os
princípios práticos da razão, recebidos a priori, ao passo que “o juízo reflexionante leva
a reflexão às últimas instâncias, pois não é guiado por regras prévias” (TERRA, 2003,
p. 47).
Criar as condições para o exercício da razão perante a natureza, da qual não é
possível abstrair fins que esteja visível é o papel do juízo reflexivo, ou seja, refletir é
retirar as regras e princípios das leis empíricas. Valério Rohden observa que o juízo
reflexivo “é também não obstante um juízo a priori, na medida em que o próprio juízo
reflexivo é o estabelecimento de uma certa ordem na contingência, que permite pensar a
possibilidade desta nossa experiência particular de objetos através de leis empíricas
sempre mais amplas (espécies e gêneros) como um sistema” (ROHDEN, 1991, p. 47).
15 Ricardo Terra 2003, p. 47
Capa Índice 1072
É preciso, porém, perguntarmo-nos de que maneira o juízo reflexivo pode nos
ajudar em relação à realização da ideia no âmbito da filosofia da história. Qual a regra
ou a orientação possível o juízo reflexivo cria para atingir a ideia (jus cosmopoliticum)?
A constituição de uma sociedade civil regida pelos princípios republicanos que visam
conciliar as liberdades individuais, de modo que, possa haver de maneira análoga a
mesma relação entre os Estados é conteúdo da ideia de uma constituição civil perfeita,
inatingível a princípio. Porém, no opúsculo sobre a Paz perpétua, Kant afirma que uma
aproximação a ideia de uma constituição civil perfeita não é o suficiente, mas, deve ser
considerada no mínimo satisfatória. De acordo com Lebrun o juízo reflexivo opera a
partir da “ideia de um aperfeiçoamento moral na humanidade, que a natureza pretende
levar a termo neste mundo – mas sem que os homens tenham consciência disso”
(LEBRUN, 2011, p. 100). É neste ponto que reside a maioria dos equívocos em relação
ao discurso sobre a história, a noção de um aperfeiçoamento moral inconsciente
impulsionado por uma natureza materna causa reboliços e inquietações, principalmente
nos adeptos de Nietzsche e Rousseau16 que zombam da ingênua crença kantiana no
homem moderno.
O juízo reflexivo é, porém, a única solução possível para interpretar o opúsculo
kantiano sobre a história compreendendo os caminhos que podem levar até a ideia.
Lebrun interpreta o juízo reflexivo mediante a tarefa imposta pela razão prática da
seguinte maneira:
A razão prática, longe de nos lançar numa especulação sobre a Providência, somente nos incita a formular o seguinte problema: dado que seria quimérico aguardarmos o aparecimento de uma sociedade angélica, vamos encontrar o mecanismo graças ao qual os indivíduos, mau grado seu e mesmo a contragosto, são forçados a moralizar-se progressivamente (LEBRUN, 2011, p. 100/101)
Se, o papel do juízo reflexivo é organizar as leis empíricas sem, contudo cair em
afirmações dogmáticas sobre a Providência podemos então chegar a duas conclusões; a
primeira é que não é um erro utilizar o juízo reflexivo como premissa de compreensão
da filosofia da história17 e; a segunda é que as representações da Natureza, Providência18
16 “É Kant que contra Rousseau, celebra o advento da cultura como um ganho para a humanidade, compensando, e muito, a perdição que pôde acarretar do indivíduo” (LEBRUN, 2011, p. 103). 17 “daí provém o caráter muito singular da esperança que a Geschichte fomenta. Ela não nos leva a imaginar o dia em que os homens finalmente começariam, em plena consciência, a cumprir a missão a eles confiada pelo Criador: esta miragem a moralidade felizmente pode dispensar. A confiança do sujeito moral respousa em coisa inteiramente distinta: no olhar para trás que lhe permite constatar que a humanidade, sem o querer, já avançou nessa via, e que o supra-sensível já fez um caminho terrestre
Capa Índice 1073
não indicam a existência de um Deus antropomórfico19 que age a revelia da vontade
humana a fim de atingir seus objetivos. Para Lebrun, a crença na história e no curso do
mundo não se funde com uma crença teológica e ressalta que Kant é mais adepto a usar
desígnio da natureza do que providência e que Providência20 indica muito mais um
“desenvolvimento das potencialidades naturais do homem, que certamente não passa
pela iniciativa nem pela boa vontade dos indivíduos – por exemplo, o fato de que são os
antagonismos sociais e as guerras que fazem avançar a realização do Soberano Bem
político” (LEBRUN, 2011, p. 92).
O juízo reflexivo é, portanto, a condição de possibilidade para obtenção de êxito
na realização da ideia, pois, como observa Valério Rohden “a faculdade de julgar
reflexiva – é a faculdade de projetar um mundo adequado ao homem” (ROHDEN, 1991,
p. 52). A leitura e análise dos opúsculos kantianos a respeito da história devem ser
precedidas pela compreensão do papel assumido pelo juízo reflexivo no propósito
prático teleológico, ou seja, fazer com que o homem se dê fins que o tornem digno da
sua capacidade racional e autônoma. A noção de um contínuo progresso no gênero
humano não pode ser descartada, visto que, um primeiro estágio foi à domesticação dos
impulsos agressivos e o estabelecimento da sociedade civil – longe do estágio moral os
homens, porém, tornaram-se civilizados, graças à arte, a política e cultura, além da
autonomia de prescrever seus próprios fins o homem pôde-se ver como fim último da
natureza (Letztweck), esperançoso é claro com a possibilidade de um dia ser o fim final
(Endzweck).
(através do antagonismo dos interesses, através das guerras, através da cultura e dos vícios por ela propagados – por mais que isso desagrade Rousseau” (LEBRUN, 2011, p. 101). 18 “O que proporciona esta garantia é nada menos que a grande artista natureza (naturza daedala rerum), em cujo curso mecânico transparece visivelmente a finalidade de fazer prosperar a concordia pela discórdia dos homens, mesmo contra sua vontade, e é por isso que, assim como é denominada destino a necessidade de uma causa desconhecida por nós segundo suas leis de efeito, é assim denominada providência pela condição de sua finalidade no curso do mundo como sabedoria profunda de uma causa superior dirigida ao fim último do gênero humano e predeterminando o curso do mundo, que nós propriamente não podemos conhecer nessas obras de arte da natureza nem sequer daí inferir, mas (como em toda relação da forma das coisas com os fins em geral) somente podemos e temos de introduzir em pensamento para nos fazer um conceito de sua possibilidade segundo a analogia das obras de arte humana” (KANT, 2008, p. 43/44). 19 “O homem histórico não é o joguete de um Deus antropomórfico, mas a criatura cujos projetos, por princípio, são constantemente ultrapassados pelo desenvolvimento da Idéia” (LEBRUN, 2011, p. 92). 20 “O uso do termo natureza é também – quando como aqui, somente a ver com teoria (não com religião) – mais conveniente para as limitações da razão humana (como a que se tem de manter, com respeito à relação dos efeitos às suas causas, dentro dos limites da experiência possível) e mais modesta do que a expressão de uma providência cognoscível por nós, com a qual se colocariam temerariamente asas içarias para aproximar-se do segredo de sua intenção insondável” (KANT, 2008, p. 44/ 45).
Capa Índice 1074
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A história, dadas as premissas e os fundamentos que a sustenta não deve, no entanto,
ser objeto de crença, nem deve ser considerada como um projeto prático político que
visa constituir uma sociedade angelical no mundo, isto é para Kant impossível, pois o
sujeito moral não habita o mundo fenomênico. A fé na história advém da natureza das
coisas e não numa iluminação divina, repousa não só na capacidade cognitiva humana
de criar artefatos, instrumentos, mas, principalmente na disposição (Gesinnung) moral
que há no gênero humano. Nas palavras de Gérard Lebrun esta fé “proporciona ao
homem uma convicção mais sóbria do que toda esperança religiosa: a de que,
executando o mandamento incondicional da razão, ele também esta efetuando uma ação
mundanamente racionável” (LEBRUN, 2011, p 104).
4. RESULTADOS
4.1 Apresentação de trabalho e resumos publicados
História e ação humana em Kant – XV Encontro Nacional de Pesquisa na Graduação em Filosofia da USP.
Do rude ao culto e civilizado: Kant e a concepção de progresso humano- XIX Semana de Filosofia da UFG e XIV Semana de Integração da graduação e Pós-Graduação em Filosofia.
5. METODOLOGIA
O presente projeto de pesquisa conseguiu durante o seu desenvolvimento obedecer
ao cronograma e as exigências estabelecidas no plano estudo enviado para avaliação e
aprovação, o êxito do trabalho como um todo deve se em grande parte a metodologia
seguida. Os pontos principais da metodologia foram os seguintes.
Leituras sistemáticas e fichamento das principais obras políticas do filósofo;
ampliação e aprofundamento da bibliografia secundária; artigos, dissertações
e comentários em geral.
Capa Índice 1075
Elaboração de pequenos estudos dirigidos, problemas decorrentes da leitura
inicial, hipóteses a serem trabalhadas e discutidas nas reuniões mensais com
o grupo de orientandos e a orientadora.
Redação e apresentação de artigos para apresentação de comunicações em
congressos, encontros e jornadas científicas e dos relatórios de pesquisa
(parcial e final).
6. REFERÊNCIAS
HÖFFE, Otfried. Immanuel Kant; tradução Christian Viktor Hamm, Valério Rohden. –
São Paulo: Martins Fontes, 2005. – (Tópicos)
LEBRUN, Gérard. Uma escatologia para a moral._ In Idéia de uma historia universal
de um ponto de vista cosmopolita. São Paulo: Brasiliense, 1986.
KANT, Immanuel. À Paz Perpétua. Porto Alegre: L&M, 1989.
. Crítica da Razão Pura. Tradução: Valério Rohden e Udo Baldur
Moosburguer: São Paulo: Nova Cultural – (Os pensadores), 1991.
. Crítica da faculdade do Juízo. Tradução: Valério Rohden e
António Marques Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1993.
. Idéia de uma historia universal de um ponto de vista cosmopolita.
São Paulo: Brasiliense, 1986.
ROHDEN, Valério. Juízo e Reflexão desde um Ponto de Vista Prático. 1991.
TERRA, Ricardo. Algumas questões sobre a filosofia da historia em Kant: . Idéia
de uma historia universal de um ponto de vista cosmopolita. São Paulo: Brasiliense,
1986.
. Passagens: estudos sobre a filosofia de Kant: - Rio de Janeiro:
Editora UFRJ, 2003.
WOOD, Allen W. Kant; tradução José Volpato Dutra. – Porto Alegre: Artmed, 2008.
7. REVISADO PELA ORIENTADORA
Capa Índice 1076
MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE EM GOIÁS NA DÉCADA DE 1960: EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA VOZ DE EDUCANDOS E
MONITORES
Dayane Mendes da Silva [email protected]
Faculdade de Educação - UFG Maria Emilia de Castro Rodrigues
[email protected] Faculdade de Educação - UFG
Palavras-chave: Movimento de Educação de Base; Educador; Educando
Introdução
Esse artigo apresenta os resultados da investigação sobre o Movimento de Educação
de Base em Goiás – MEB-GO na década de 1960, na voz de educandos e educadores, um
projeto do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), que está
vinculado ao projeto de Pesquisa e Extensão do Centro Memória Viva (CMV) –
Documentação e Referência em EJA, Educação Popular e Movimentos Sociais do Centro
Oeste. O CMV tem por objetivo preservar a memória desses movimentos valorizando-os
enquanto patrimônio histórico e cultural. Visto que parte da história da educação brasileira se
encontra dispersa nas memórias individuais e em coleções particulares, é essencial preservá-la
por meio de registro, análise, organização, divulgação e disponibilização online.
Nessa pesquisa buscamos compreender a história do MEB-GO, de 1960-1966, sob o
olhar dos monitores e educandos, uma vez que dos estudos realizados até o presente momento
poucos deram voz a esses sujeitos, que se configuram como componentes de grande
importância para efetivação do MEB-GO.
Para desenvolver o plano de trabalho lemos teses, dissertações, relatórios e
documentos do MEB-GO e outros referenciais bibliográficos, contatamos com pessoas que
atuaram na coordenação do Movimento em Goiás e localizamos o acervo da Revista da
Arquidiocese de Goiânia, que publicou artigos sobre o MEB-GO no período de 1961 a 1963.
Por meio deles conseguimos identificar monitores que nele atuaram e buscamos o contato
com uma monitora de Hidrolândia e chegamos até uma aluna. Entrevistamos ainda dois
monitores em Caldazinha. Nosso objetivo era perceber as influências advindas do processo
educativo em suas vidas; ouvindo-os no sentido de captar as facilidades e/ou dificuldades
Capa Índice 1077
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1077 - 1091
enfrentadas frente a uma Educação de Adultos (EDA)1 realizada à distância, com recepção
organizada, e as especificidades deste processo de ensino via rádio no meio rural e frente ao
contexto político, econômico e social da época; e analisar como se deu a produção e utilização
do Conjunto Didático Benedito e Jovelina, direcionado à educação de adultos no meio rural.
Trata-se de um estudo de caso, com uso de instrumentos de pesquisa como: entrevistas
gravadas em áudio e vídeo (com uma educanda e seis monitores2); estudo e análise de
documentos e referenciais bibliográficos, entre eles a Revista da Arquidiocese, que
cooperaram para explicitar elementos da investigação. É importante destacar que a conjuntura
histórica da ditadura militar provocou e ainda provoca a ausência, ocultação e apagamento de
registros, o que pode explicar a dificuldade de termos tido acesso à Revista. Outra questão
que atribuímos às consequências do golpe militar é o fato do silenciamento da Revista a partir
do final do ano de 1963, no que tange ao Movimento, pois embora a primeira etapa do MEB-
GO tenha ocorrido entre os anos 1961 a 1967, não encontramos, após 1963, nenhum dado
referente ao Movimento. O que nos leva a indagar: este silenciamento seria “apenas” em
função do golpe militar de 1964? Ou o silenciamento seria em função da não concordância da
Igreja com os encaminhamentos dados pelo MEB-GO pós 1963? Afinal, o que estava por trás
deste silêncio da Revista em relação ao Movimento?
O aprofundamento teórico por nós realizado foi pautado em autores como: Eiterer e
Pereira (2009), Fávero (1983, 2006), Freire (1962; 1967; 1987), Peixoto Filho (1985, 2003),
Rodrigues (2008), Silva (2006), entre outros, para a análise e sistematização dos dados
obtidos, contribuindo assim para o alcance dos objetivos dessa investigação.
O Movimento de Educação de Base em âmbito Nacional e em Goiás
O Movimento de Educação de Base (MEB) foi criado pela Igreja Católica, por meio
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em 1961, contou com a parceria do
governo federal e tinha como objetivo desenvolver um programa de educação de base por
meio das escolas radiofônicas, voltado especialmente para o povo campesino das regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste (regiões subdesenvolvidas do país). O Movimento foi
1 A Educação de Jovens e Adultos (EJA) como conhecemos hoje era denomina de educação de adultos ainda que pelos estudos de pesquisas desenvolvidas, fotos e pelas entrevistas com os monitores se explicitasse que o atendimento, devido às dificuldades e a falta de escolas, estendia-se aos jovens, adolescentes e idosos. 2 Para não identificar os sujeitos da pesquisa entrevistados optamos por utilizar as iniciais dos nomes dos mesmos nas entrevistas realizadas pela pesquisadora (Monitora MTM e Aluna B, em Hidrolândia, dia 28/05/2012; Monitores JMC. e LM., em Caldazinha, dia 14/05/2012); e nas cedidas por Maria Emilia de Castro Rodrigues com: Monitor OJC., em Goiânia, dia 07/07/2004; Monitor PMC, em Itauçu, dia 14/07/2005; Monitores PMC. e JMC., em Senador Canedo, 14/07/2005. O Monitor JMC aparece em duas entrevistas, assim como PMC.
Capa Índice 1078
prestigiado pelo Presidente Jânio Quadros por meio de um convênio3 assinado entre a Igreja
Católica e o Governo Federal, que possibilitou a liberação de recursos para alfabetizar parte
da população brasileira, que naquele período, de acordo com o censo de 1960 (IBGE),
apontava um índice de 39,6% de analfabetos acima de 15 anos, perfazendo um total de
15.964.852 pessoas, que sequer podiam votar.
A criação do MEB foi fruto de algumas experiências de educação pelo rádio,
desenvolvidas pelos bispos brasileiros no final da década de 1950, no nordeste do país,
sobretudo no Rio grande do Norte e Sergipe, sendo mais tarde estendida para diversos
estados, entre eles, Pernambuco, Ceará, Alagoas, Pará, Bahia e Goiás. O MEB teve presença
significativa em Goiás, pois o estado contava com grande parte da população analfabeta e
vivendo no meio rural. Nele atuavam de forma expressiva militantes da Igreja Católica, que
trabalhavam em convênio com a Rádio Difusora, atendendo aos jovens e adultos analfabetos
de Goiânia e do interior do estado até onde alcançava a Rádio, possibilitando assim a
emergência de uma educação de adultos a distancia, com recepção organizada.
Segundo Rodrigues (2008), na década de 1960, Goiás apresenta uma história rica,
empreendida pelos movimentos populares de EDA, que apesar de ter registros, muitos de seus
dados se encontram dispersos, compondo uma história de memórias marginais: quer seja
pelas circunstâncias históricas da ditadura militar que provocaram a ocultação e o apagamento
dos registros, quer seja pelo espaço marginal que a EJA sempre ocupou no processo
educacional, especialmente aquele voltado para o meio rural.
Segundo a Revista da Arquidiocese o MEB-GO se inicia no mês de março de 1961,
por empreendimento do Bispo Dom Fernando Gomes dos Santos. Em Goiás o MEB foi
denominado de Sistema Tele-Radiofônico de Goiás (SETERGO). Inicialmente funcionavam
30 escolas nos municípios de Goiânia e entorno, dentre eles: Trindade, Inhumas, Bela Vista,
Brazabrantes, Guapó, Goianira, Hidrolândia, Itauçu e Ipamerí. Mais tarde o número de
escolas foi estendido chegando a 270 escolas radiofônicas em 60 municípios goianos.
Para implantar o Movimento foi necessário um treinamento dos professores,
supervisores e monitores que nele atuariam, uma formação direcionada para o método de
ensino através do rádio, e no dia quinze de setembro de 1961 foi ao ar a primeira aula da
Escola Radiofônica, transmitida pela Rádio Difusora de Goiânia.
3 Decreto assinado pelo presidente Jânio Quadros em 21 de março de 1961 prestigiando o MEB por meio das escolas radiofônicas nas quais a CNBB empreenderia o Movimento nas áreas subdesenvolvidas do país. O governo havia firmado convênios com o Ministério da Educação e Cultura, entre outros órgãos públicos, através dos quais liberava recursos no sentido de subsidiar o Movimento por um período de cinco anos. Para maiores esclarecimentos ver Rodrigues (2008) e Fávero (2006).
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As escolas radiofônicas funcionavam por meio de três pilares principais: a) a Equipe
Central que era responsável pelo funcionamento da escola, preparando as aulas, instalando
novas escolas e avaliando o rendimento dos alunos; b) o professor (a) locutor (a), que era
responsável por radiar as aulas preparadas pela equipe central e; c) o monitor(a) que era uma
pessoa da comunidade onde funcionava a escola, responsável por reunir os alunos, fazer a
matrícula, controlar a frequência, e ajudar os alunos conforme as indicações do professor(a)
locutor(a). Como nos fala o monitor JMC: [...] Então a gente... o nosso trabalho era esse, era transmitir a aula pro aluno e de vez em quando ela falava “Monitor, vai ao quadro...” e passava “[...] escreva isso assim, assim, no quadro...”, ela ditava o que tinha que escrever e os alunos tá lá esperando. Quando ela terminava de falar: “Agora você conversa com seus alunos.” Aí ia passar a musiquinha de fundo assim [...]. (Entrevista, 14/07/2005).
Era um processo de formação que perpassava desde os princípios do MEB ao trabalho
prático de como acompanhar as aulas via rádio, como veremos a seguir.
Formação e atuação dos(as) Monitores(as) do MEB-GO
Os monitores eram indicados inicialmente pelo padre da Igreja do local onde
funcionaria a escola, sendo que mais tarde a própria comunidade passaria a eleger quem seria
essa pessoa. Inicialmente grande parte dos monitores tinha baixo nível de escolarização (o que
posteriormente também muda), e era necessária uma preparação peculiar.
A maior preocupação da Igreja inicialmente não era com o nível de escolarização da
pessoa escolhida para ser monitor (desde que soubesse ler e escrever) e sim seu envolvimento
com as questões religiosas, como podemos observar em um trecho da Revista da
Arquidiocese: “O monitor – Pessoa com especial capacidade de devotamento [...]”.
(REVISTA DA ARQUIDIOCESE, 1961a, p. 243).
Os monitores recebiam formações em Goiânia, reunindo-se em espaços como a Casa
das Missionárias de Jesus Crucificado; Centro de Treinamento de Líderes, atual Centro
Pastoral Dom Fernando; ou Serviço Social do Comércio (SESC). A formação dos monitores
era denominada na época de treinamento, e a primeira foi concluída em 30 de agosto de 1961,
na qual compareceram 56 candidatos, de várias regiões de Goiânia e entorno, conforme
Rodrigues (2008). Muito do que era vivenciado nos cursos da Equipe Central era adaptado
para os treinamentos dos monitores, e em geral se trabalhava bastante com técnicas
socializantes como sociodrama e psicodrama. [...] Tinha as dinâmicas de grupos após ali o estudo feito nas aulas. Nós dividíamos em grupo para fazer os trabalhos, era sempre os trabalhos em grupo, para que houvesse [...] como que eu diria assim, mais uma união, aproximação de colegas pra conhecer melhor, conhecer as dificuldades, como era os outros lugares dos outros
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monitores que estavam ali. Sempre tinha quase todas as aulas tinha o trabalho em grupo. (Monitor LM, entrevista, 14\05\2012). [...] A gente tinha uma parte, um tal de sociodrama né. Ai fazia-se uma simulação da escola, um tipo de teatro pra ver se o monitor entendeu alguma coisa, ou se não, tinha alguma dúvida, aí uns era aluno dos outro né, fazia assim uma [...] simulação. (Monitor JMC, entrevista, 14\05\2012).
As aulas do treinamento de monitores eram ministradas pelas supervisoras, às vezes
com visitas de D. Fernando (Arcebispo de Goiânia na época) ao final dos treinamentos. Como
nos fala o monitor em sua entrevista: [...] Uma coisa importante que eu achava lá [...] no nosso curso é que o D´Fernando estava sempre presente,[...] Ele estava sempre dando assistência, [...] ficava como um contador de boi né, passava um por um na frente dele, e ele, entrevistando a pessoa. O quê que cê achou? A pessoa fazia uma avaliação ali pra, na dele. O quê que você achou do curso? O quê que você está levando pra casa? Tá levando ainda muito medo do patrão, ou tá largando o medo aqui (risos). (Monitor JMC, 14\05\2012).
O objetivo do treinamento dos monitores era de conscientizá-los quanto à seriedade do
projeto que se procurava desenvolver com o MEB, no sentido de prepará-los
metodologicamente para o trabalho de alfabetização, e para isso eram desenvolvidas técnicas
de trabalho em grupo, discussões de conhecimentos gerais, noções de português e aritmética,
além de orientações com relação à instalação das escolas e o cuidado com os instrumentos
fornecidos para o trabalho, como o rádio, o lampião, por exemplo. A esse respeito a fala da
monitora do MEB-GO em Hidrolândia, ao abordar sobre os treinamentos é esclarecedora: [...] Eu me lembro bem que a gente ia muito para Goiânia para o treinamento [...] Era sobre cada área. Preparava as matérias. Era muito bom. A gente fez uma excursão para a Rádio Difusora, nos primeiros treinamentos, para ver que jeito que ia funcionar a escola. (Monitora MTM, entrevista, 28\05\2012).
Outra fala que define bem como foi o treinamento é a do monitor de Caldazinha:
[...] Dava toda aquela estratégia de você dar as aulas e tudo, depois no final, não me lembro mais se foi nos último dia, vei aquela simulação como funcionava o rádio né? E você do lado do rádio transmitindo para os alunos as aulas, nós tivemos aula dentro disso, né? É nos orientando e a... Foi feito uma aula assim mesmo né, alguém lá falando o aluno ali, como nós ali que éramos os alunos, como alunos mesmo né, e o monitor para que a gente tivesse, chegasse já trabalhasse né? Lá foi muito bem orientado [...]. (Monitor LM, entrevista, 14/05/2012).
Por ser um ensino voltado para o meio rural, uma das preocupações da Equipe Central,
segundo Rodrigues (2008), era a de ouvir as pessoas que seriam monitores e que também
viviam no campo, no sentido de observar os subsídios que poderiam oferecer para as
especificidades dessa modalidade de ensino via rádio no meio rural e com recepção
organizada, ou seja, os alunos se reuniam em um local escolhido pelo monitor para assistirem
as aulas. Esse local poderia ser improvisado em qualquer lugar onde fosse possível o
funcionamento da rádio como relata um dos monitores do MEB:
Capa Índice 1081
[...] Aí arrumou lá com o fazendeiro em uma varanda, lá do jeito de fazenda, a gente arrumou lá e montamo a escolinha. A escola era o seguinte: a gente cortava um toco, punha uma tábua mais arta pra pôr os caderno, né, e outra mais baixa pros aluno sentá... e aí era o seguinte: era o rádio, que... que era aonde... da onde transmitia a escola e um lampião, era o material... e o material de livro, escrever, essas coisa. (Monitor OJC, entrevista, 07\07\2004).
O papel do monitor junto à comunidade era de grande importância uma vez que era ele
o responsável por ir às casas anunciando e convidando para escola; por fazer a matrícula,
acompanhar, orientar e completar aquilo que não podia ser feito pelo rádio e segurar os
educandos para que não houvesse evasão, como veremos posteriormente. Para envolver a
comunidade alguns monitores promoviam nos finais de semana atividades diferenciadas,
como brincadeiras, mutirão de fiandeiras, partidas de futebol, como relata o monitor JMC: [...] Ai reunia o pessoal de várias [fazendas], fazia várias atividade, como futebol, fazia é... Fiandeiras levava balaio de algodão lá pra uma casinha lá e fazia esse movimento assim junto com o povo né, é folia. O Carlos passou lá uma porção de tempo fazendo mais nós um filme, naquele tempo não tinha esses filme instantâneo que tem hoje né, tinha que fazer um trabalho ali e levar lá pro México que é onde ele estudou né, ele levava pra lá pra fazer o filme e a gente nunca viu esse filme também. (entrevista, 14\05\2012).
Os monitores recebiam acompanhamento das supervisoras, que visitavam os locais
onde funcionavam as escolas radiofônicas buscando observar como estava o andamento do
trabalho e orientar os monitores. O acompanhamento também era feito por meio dos relatórios
e cartas dos monitores nos quais eram traduzidos os resultados de todo trabalho realizado com
os alunos e como eles estavam recebendo a escola. Como podemos ver em trechos de
relatório e carta de monitores editados na Revista da Arquidiocese (1961b): Como dizemos nos relatórios anteriores, ocorreu tudo normal. Os alunos sempre se esforçando, procurando aprender cada vez mais. Graças a Deus, podemos notar que ficaram satisfeitos com o que aprenderam. (Relatório do monitor Waldomiro Caldeira). (p. 784) Os alunos já sabem as vogais, consoantes, e estão aprendendo a lição da lata. Já sabem também os algarismos de 1 a 40 e já aprenderam o que é dezena e unidade. Agora vão aprender a 5ª lição e continuar aprendendo os algarismos de 40 a 50. Os alunos estão gostando muito, não estão frequentando todos não, mais cada dia da semana aumenta 2 ou 3, está melhorando bem a frequência. (Carta da monitora Maria Terezinha Machado). (p. 782)
Apesar de o MEB ter um acordo afirmado com o Governo Federal que instituía o
repasse de verbas para o Movimento, o trabalho realizado pelo monitor era voluntário e
colocado sob sua responsabilidade a arrecadação de fundos para possíveis gastos como:
obtenção das pilhas para o rádio, do querosene ou álcool para o lampião, das velas em alguns
casos, entre outros.
Desafios e facilidades do processo educativo via rádio no MEB-GO sob o olhar do
monitor
Capa Índice 1082
Segundo os monitores o que facilitava o processo educativo via rádio e com recepção
organizada no meio rural era a disposição e a vontade que os alunos tinham de aprender.
Contudo, muitas dificuldades eram também enfrentadas: como a falta de energia, as chuvas
que atrapalhavam os alunos irem para a escola, a rádio que muitas vezes saia do ar ou entrava
outra rádio no lugar da Rádio Difusora: [...] Tinha aquele problema também de muitas vezes a escola tá em pleno exercício, entrava a rádio Londrina, tocava a Difusora pra lá que ela era muito fraquinha né? A Difusora era muito ruim de sintonia, cê cassava ela ali, cassava não, porque não tinha como procurar né, mas cê ficava esperando a Difusora voltar e ela nunca mais voltava, essa Londrina assumia, tomava o lugar e cabô Difusora. (Monitor JMC, entrevista, 14/05/2012).
A potência da Rádio era muito reduzida e facilmente outras assumiam o seu lugar, na
onda cativa do rádio. E quando isto ocorria, configurava-se em um desafio ao monitor, pois a
ele cabia encaminhar o trabalho com os educandos, já que a voz do/a professor/a da Rádio era
interrompida, como se apresenta na fala do monitor JMC: [...] a Difusora era muito... muito complicada, fraquinha demais, muito sem... sem potência e tinha dia que você começava a aula e ela saía do ar. Aí [...] ficava sem comunicação, não foi nada combinado. A locutora ficou isolada de nós, nós dela. Aí a gente conversava um pouco com eles ali, e lia... lia alguma coisa daqueles material que tinha ali... [...] despedia... fazia eles entender que o negócio [era] lá...né.” (Entrevista, 14/07/2005)
E como nem o monitor tinha um planejamento prévio para assumir e dar continuidade ao
trabalho quando isto ocorria, alguns apenas dispensavam os alunos, mas havia aqueles, em
especial quando o monitor era também um líder na comunidade, que aproveitavam o
momento de estarem ali reunidos para discutirem questões locais específicas, tirar alguma
dúvida, ler algo que tivesse ficado em outra aula, entre outras ações.
Outras dificuldades enfrentadas eram quanto à evasão escolar, que em alguns casos,
até mesmo pelo fato de ser um ensino para adultos que, após longas jornadas de trabalho, iam
para aula cansados ou atrasados. E, caso o ensino não alcançasse as expectativas, o abandono
do curso ocorria facilmente. Como podemos constatar na fala do monitor do MEB-GO: [...] Alguns diziam: eu quero ir, mas eu quero aprender assinar o nome. O outro já dizia: oh eu quero é fazer conta. O outro já dizia: não, eu quero aprender ler! Então você trabalhava naquelas cabeças ali, de pessoas daquele jeito, você já recebia tudo pronto né? As aulas pronta, pra você fazer o acompanhamento com eles ali, até você conquista-los a seguir aquela forma dava trabalho. Tinha desistência porque fala não, eu quero ir na aula é pra isso, aí que eu ia usar os meus argumentos né, ir passear na casa deles, eu fazia isso, eu saia, ia lá, pra lá, sentava conversava, orientava né, mostrava a situação que era mais difícil, que nós íamos chegar onde ele queria. (Monitor LM, entrevista, 14/05/2012).
Essa ainda tem sido uma das dificuldades enfrentadas na Educação de Jovens e
Adultos atual, na qual tem se travado uma luta constante contra a evasão escolar pelo fato de
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muitas vezes o ensino não corresponder às expectativas dos alunos. Como nos mostra Eiterer
e Pereira (2009), os estudantes da EJA chegam à escola com ideias pré-formadas a respeito da
escola, dos professores e do ensino que irão receber, e dessa forma a responsabilidade do
professor é fazer com que esse aluno não venha se frustrar e evadir novamente do sistema
escolar. “Não encontrando uma escola que corresponda suas expectativas o aluno pode se
frustrar, pois não é como uma criança que os pais levam para escola querendo ou não” (p.72).
Todavia esses problemas com a evasão, pela escola não corresponder às expectativas
dos alunos não ocorriam de forma generalizada no MEB-GO. Havia monitor que: [...] Ia de casa em casa, convidando, explicando o que a gente queria e a escola ia vir, a gente falava pra eles: a escola vai vir pronta lá do rádio, a gente vai ficar simplesmente pra transmitir pra vocês a escola, e tinha muitos que ficava até assim... até ansioso pra chegar a hora da escola, o dia né? [...] Então, a gente já fazia esse trabalho assim, pra conquistar o aluno, aí depois que eles começavam achavam bom e no meu caso lá não tinha esse problema que o companheiro aí teve, porque é... o povo aceitava bem o padrão da escola, num desistia porque não queria, num tava vendo o que ele queria não. (Monitor JMC, entrevista, 14/05/2012).
Por outro lado, a forma como o monitor trabalhava dentro da sala de aula e o
envolvimento dele com os alunos pode ser uma explicação para que em alguns lugares
tivessem evasão e em outros não. Até mesmo a linguagem utilizada pelo monitor que não
aproximasse da utilizada pelos educandos dificultaria a compreensão e o diálogo entre eles.
Produção e utilização do Conjunto Didático Benedito e Jovelina
O Movimento de Educação de Base, iniciado na década de 1960, fazia inicialmente
parte do ideário da UNESCO que criou, desde a década de 1940, programas de educação para
os povos subdesenvolvidos. Segundo Fávero (2006), a compreensão era a de que nas regiões
subdesenvolvidas seria necessária uma educação que oferecesse o básico de conhecimentos,
compreendendo as necessidades individuais e coletivas, buscando soluções para os problemas
da comunidade por meio de métodos ativos. De acordo com a UNESCO, todo programa de educação de base teria como ideal o ensino fundamental universal, gratuito e obrigatório [...]. Sublinhava-se o estreito relacionamento entre a educação das crianças e a educação dos adultos, assim como recomendava-se que onde “existissem verdadeira” (ou seja, escolas tradicionais para crianças), o programa de educação de base se dirigisse - inicialmente aos adultos, sob forma simples e prática. (FÁVERO, 2006, p. 23).
Essa educação de base que se propunha estava pautada em “um conceito que assumia
uma visão parcial de desenvolvimento e a-histórica, superficial e reduzida de realidade”,
(RODRIGUES, 2008, p. 152), pois na relação entre educação de base e as condição de vida
das populações, tomava como se a educação pudesse solucionar todas as mazelas que
provocavam o subdesenvolvimento brasileiro. O objetivo dessa educação de base era destinar
Capa Índice 1084
aos trabalhadores um ensino elementar, mínimo e precário, pautado por uma proposta e
prática baseada em concepções tradicionais de educação, oferecendo para isso disciplinas que
focassem conteúdos como: alfabetização e cálculo; formação moral e cívica; educação
sanitária; iniciação profissional, sobretudo agrícola, entre outras.
Da parte do Estado os interesses de se firmar um acordo com a igreja em prol da
educação de base, como nos destaca Fávero (2006), era uma estratégia da política populista,
para aumentar o número de eleitores, já que analfabeto não votava, com vistas a fortalecer o
governo; controlar o poder político do meio rural e uma forma de atender aos requerimentos
de organizações internacionais e educadores brasileiros na luta pela alfabetização de adultos.
Dessa maneira não havia tanta preocupação com o quê seria ensinado para os trabalhadores e
sim para quê seriam ensinados, como podemos observar na fala do monitor JMC: [...] o patrão falava: se esse povo rico tem seus problemas político lá, seus partidos né? Falava, às vezes com esse negocio dessa escola aí, a gente vai descobrir mais algum eleitor, vai aparecer mais eleitores aí na fazenda, pra né, então eles sabiam disso e achava bom, queria participar mesmo, não era difícil. (Entrevista, 14/052012).
O ensino pautado em métodos tradicionais começa a ser questionado no MEB,
especialmente a partir de 1962, no I Encontro Nacional de Coordenadores do MEB, e em
Goiás, após o segundo treinamento da Equipe Central, que conforme Rodrigues (2008): [...] o qual proporcionou uma compreensão da sociedade brasileira no plano filosófico e político, bem como reflexões que apontaram para propostas e soluções para as mudanças pretendidas, e estas se desdobraram entre outras ações, no curso de treinamento de monitores, no congresso de monitores e na prática político-pedagógico que foi empreendida no MEB-Goiás pós-63. (p. 191)
No treinamento de monitores realizado em 1963 ficou evidente a necessidade de
mudanças na forma de ensino que até então era oferecido para os povos campesinos, coerente
com a nova postura do MEB-GO como podemos observar em um trecho do relatório final: Apesar da pobreza do material didático usado, (1º ciclo: Radiocartilha, 2º ciclo: Brasília – 1º livro de leitura) cartilhas e livros que não se adequavam a realidade vivida, houve um esforço da Equipe em fazer a complementação com dados reais colhidos dos monitores e alunos, que passaram a participar, assim, da elaboração das aulas e programas. Mesmo nas aulas de aritmética, eram utilizados os dados reais do momento. (MEB-GOIÁS, 1967, p.04).
Mesmo com as tentativas iniciais de mudanças na forma de ensino, segundo o que
consta no relatório final do MEB-Goiás, após uma revisão do trabalho feita em conjunto com
a Equipe Central e os monitores, ficou constatado que havia um decréscimo no número das
escolas, no número de alunos, na frequência e no aproveitamento das aulas. Esses fatos
fizeram com que a Equipe elaborasse um novo planejamento buscando analisar a experiência
das escolas radiofônicas de modo crítico e reflexivo buscando melhorias e dentro delas surgiu
Capa Índice 1085
a necessidade de elaborarem um novo processo de alfabetização, e a elaboração de material
didático próprio, com o objetivo de promover uma alfabetização mais rápida, crítica e mais
eficiente, já que os próprios alunos estavam sentindo as carências do modo de ensino. Como
aborda o depoimento do Monitor Oscavú José Moreira no relatório final (12/05/63): “Houve
um pequeno decaimento em nossas escolas, o motivo é o seguinte, uns alegam que é bastante
longe para eles, outros que a escola está atrasada”. (MEB-GOIÁS, 1967, p. 04). É que ainda
que as aulas veiculadas fossem numa perspectiva crítica e vinculada à realidade dos
educandos, os materiais didáticos Radiocartilha e o Livro de Leitura Brasília eram
desvinculados da realidade goiana e do trabalhador rural, além de serem infantilizados.
Na nova perspectiva teórico-metodológica utilizada pelo MEB-GO a partir de 1963
houve forte influência de movimentos de cultura popular, entre eles o Movimento de Cultura
Popular – MCP, que trabalhava com a EDA por meio do sistema Paulo Freire. Inclusive duas
componentes da Equipe Central do MEB-GO haviam participado, antes de entrar para o
Movimento, de um curso com Paulo Freire e sua equipe em Recife, e elaborado um livro de
leitura para adultos no Centro Popular de Cultura de Goiás (CPC-GO), sob a orientação do
MCP, trazendo para o Movimento uma nova concepção de homem, sociedade e mundo.
(RODRIGUES, 2008). Como podemos perceber na entrevista realizada com o Monitor PMC: Mas aí é que eu fui vê mesmo que liberdade não existe, não existia naquele tempo, nem existe hoje. Não existe hoje, não vem com essa história de liberdade pra cá, porque às vezes eu fico calado, mas fico remoendo, tá? Porque aqui na minha mente, na minha cabeça hoje de trabalhador que aprendeu essas coisas no MEB e o MEB vinha da igreja, né? E esse Movimento vinha de Paulo Freire, minha filha. Eu tenho é esse orgulho de ser um discípulo de Paulo Freire, tá? (Entrevista, 14/07/2005).
Segundo o que consta no relatório final do MEB-GO, essa proposta de alfabetização
apresentava um maior aprofundamento teórico e deveria considerar o meio em que os alunos
viviam e a realidade em que estavam inseridos no dia-a-dia. Era a busca por uma nova
pedagogia que considerava o analfabeto enquanto sujeito histórico e imbuído de saberes.
Para construção do material foi necessária a participação dos monitores e dos alunos
com a finalidade de conhecer o universo vocabular, e até mesmo as figuras dos cartazes que
seriam utilizados em sala, pra que não fugissem do contexto dos alunos a quem era destinado.
Como apresenta Rodrigues (2008, p. 278):
A Equipe se preocupou em colher, anotar, registrar e gravar palavras, frases, forma de expressar as idéias e coisas, obtidas nas visitas à comunidade, nos Encontros, nas aulas da ER, nas reuniões de trabalho ou festivas, enfim, nos diversos ambientes/espaços de vivência da comunidade, por meio de conversas sobre a vida e casos ocorridos; diálogos que se estabeleciam no trabalho; à medida que a locução promovia o debate, instigava com perguntas para as aulas ocorrerem etc.
Capa Índice 1086
Antes de fazer uma elaboração final, o novo material e processo de alfabetização
elaborado pelo MEB-GO foi testado com os monitores, com o objetivo de que eles tivessem
uma maior familiaridade para um melhor aproveitamento e manejo na sala de aula. Após esse
trabalho foi encaminhado ao MEB nacional para aprovação.
Após a aprovação inicia-se a utilização do novo material didático intitulado pela
Equipe Central de “Conjunto Didático Benedito e Jovelina”. O próprio nome do material
didático, dos personagens e a história de vida do camponês nele contemplada tinha como
objetivo promover uma maior aproximação com o homem do campo goiano. Segundo
Rodrigues (2008), foram realizadas pesquisas em várias comunidades no sentido de ouvir e
selecionar palavras e frases utilizadas na região, tais como: Benedito, Jovelina, mata, fogo,
labuta, enxada, casa, capina, chuva, roça, trabalho, vacina, doce, estrada, entre outras que a
Equipe considerou serem significativas e grávidas de mundo. Portanto, foram escolhidas palavras que traziam em si maior possibilidade sintática (riqueza fonética, abordando as dificuldades fonêmicas e maior manipulação de sílabas para a formação de novas palavras), semântica (envolvendo maior intensidade entre o significado e a palavra, trazendo sentidos explícitos, diretos, e preferencialmente com uma carga afetiva) e pragmática (maior possibilidade de conscientização que a palavra traz ou gera na pessoa ou grupo que a utiliza) e que possibilitassem uma memória crítica. (RODRIGUES, 2008, p. 279).
“Benedito e Jovelina” retratava a história de um casal que vivia no campo e todas as
dificuldades enfrentadas por eles no dia-a-dia de trabalho, buscava também retratar o ciclo
produtivo no campo em Goiás. O material foi organizado com uma preocupação em ir retratar
a vida no campo desde o preparo do solo até a colheita, o armazenamento e a comercialização
dos produtos, e de relacionar o processo de alfabetização com o trabalho dos alunos.
O material foi desenvolvido seguindo os passos que Freire descreve no terceiro
capítulo do livro Pedagogia do Oprimido (1987), o da codificação e descodificação das
palavras geradoras, de forma que o processo de aquisição da leitura e da escrita seja
significativo, uma vez que parte do diálogo e dos códigos que os alunos conseguem dominar.
Esses dois primeiros passos são importantes na medida em que constituem a fase de
exploração das potencialidades mentais do aluno alfabetizando, permitindo que a partir do
diálogo estabelecido, o professor possa ter conhecimento das formas de compreensões prévias
dos alunos em relação ao tema tratado e assim ter subsídios para trabalhar buscando aprimorar
essas compreensões de forma crítica e reflexiva.
Vale destacar que a grandeza da proposta de alfabetização de Freire não está em sua
eficiência instrumental, de ensinar a ler e escrever em pouco tempo, e sim em sua capacidade
de conscientização que é seu objetivo final, pois é por meio da conscientização que se forma
Capa Índice 1087
sujeitos críticos e conscientes de sua capacidade de fazer cultura. Dessa forma o objetivo
maior deveria ultrapassar a técnica de ler e escrever, e sim deveria alcançar a leitura do
mundo por meio da conscientização, que é a finalidade de todo processo educativo e político,
para que os sujeitos pudessem compreender a relação historicamente criada de opressores e
oprimidos e resistirem a ela. Por conseguinte, não se trata de exortar os opressores a serem menos opressores. Mas, proporcionar aos oprimidos os instrumentos para compreenderem a relação entre opressores e oprimidos e lutarem contra a manutenção dessa relação. Instrumentos, sintetizados na alfabetização, conscientização, leitura crítica do mundo. (ROSAS, 2003, p. 117).
É importante que o aluno desenvolva a consciência crítica de sua realidade por meio
da reflexão, para isso é fundamental que o professor parta da leitura de mundo desse aluno, da
leitura da realidade em que ele vive e assim lhe possibilite refletir e transformar seu mundo,
sua situação concreta, sua vida cotidiana, sua realidade local, pessoal e social.
A língua deve ser estudada “em uso” e não com palavras soltas e repetição em coro
das sílabas descontextualizadas, sem sentido e, portanto, de forma mecânica. A interação
verbal nesse processo é vista como contribuinte e enriquecedora da alfabetização. Nesta
direção, conforme os estudos e propostas de Paulo Freire e segundo nossos entrevistados, é
possível que haja socialização de conhecimentos em sala de aula, desde que o aluno entenda,
antes de mais anda, o significado das palavras, da educação, da formação humana, da situação
política e social de sua comunidade.
Somente depois de “aprender a ler o mundo” é que se lê a forma da palavra. O aluno
compreende a existência da sílaba escrita, além de compreender a correspondência entre a fala
e a escrita, sem necessitar de memorização. O primeiro procedimento é a leitura do mundo
que cerca o aluno. E este ocorre por meio da “codificação” da palavra geradora, essa
codificação pode ser feita através de desenhos, da linguagem oral, de gestos, músicas ou
códigos que o aluno domina e que de alguma maneira representa os aspectos de sua realidade.
O “Conjunto Didático Benedito e Jovelina” trabalhou de modo bastante significativo a
codificação das palavras geradoras: em todas as propostas de atividades do material podemos
encontrar figuras que retratam de alguma forma as palavras trabalhadas e depois as famílias
fonêmicas das palavras. Na primeira lição de “Benedito, Jovelina” é apresentado a imagem
seguida dos nomes, os quais são destrinchados em sílabas, mostrando a possibilidade de se
compor várias outras palavras. O monitor fazia a leitura das sílabas de variadas formas com os
alunos e logo após exemplificava como poderia se formar diversas palavras a partir daquela e
dava espaço para que eles pudessem compor outras palavras também.
Capa Índice 1088
Todas as lições eram trabalhadas de forma bastante reflexiva para que o monitor
pudesse trabalhar bem o segundo passo, que se tratava da descodificação das palavras
geradoras expostas nos cartazes geradores (de debates, reflexões...). Esse momento deveria
ser feito por meio de questionamentos com o objetivo de que os alunos pudessem refletir
sobre o tema, e assim crescer criticamente. O monitor era o responsável por propiciar amplas
e pontuais reflexões sobre a realidade local e tinha como tarefa estabelecer uma boa relação
de diálogo com o coletivo, provocando nos alunos compreensões e visões de mundo críticas.
É importante salientar que o mote deste trabalho intelectual e grupal está na criação de
subsídios de intervenção. Em outras palavras, ferramentas de intervenção para que os
educandos pudessem apropriar de suas realidades, buscando transformações constantes.
O novo material para alfabetização de adultos que começaria a ser utilizado em 1966,
no contexto pós-golpe militar de 1964, foi cercado de muitas resistências por parte da Igreja,
dos patões e dos próprios trabalhadores. Segundo Fávero (2006), referindo-se ao Conjunto
Viver é Lutar, essa conscientização, essa opção ideológica trouxe grandes consequências ao
Movimento, principalmente para Igreja, “a conscientização nasceu em um terreno
pedagógico, mas se colocou imediatamente em um terreno ideológico e encaminhou para o
terreno político”. (p. 99). O que também ocorreu com o material didático produzido em Goiás.
O “Conjunto Didático Benedito e Jovelina” foi utilizado por um curto espaço de
tempo, devido à repressão da ditadura militar que perseguiu pessoas ligadas ao MEB-GO
pelas opções políticas que apresentaram a partir de 1962: [...] o problema do golpe foi um problema sério, no nosso caso lá tinha é, o patrão começou a ouvir as aulas e veio me perguntar, lá [eu] era Zé Eugenio né? [...] É porque eu vi outro dia vocês falando que não, que o trabalhador não é pra pagar mais arrendo, eu falei: não então a escola que o senhor ouviu não é a nossa não (risos). Eles aumentam, exageram um pouco né? Pra assustar a gente. E dai por diante ele começou a acompanhar e fazer e fazer perguntas, quando pensa que não, teve, teve patrão lá [...] que mandou fechar a escola, fecha porque essa escola de vocês é comunista, e eu não quero saber disso aqui né? Então tinha esses problemas. (Monitor JMC, entrevista, 14/05/2012).
Com o advento do golpe militar de 1964 os trabalhos de conscientização realizados
pelo MEB-GO ficaram comprometidos pelas denuncias, acusações, censuras, exílios,
suspensão de verbas e apreensão de materiais que eram utilizados para alfabetização, dentre
eles o “Conjunto Didático Benedito e Jovelina”. Esses comprometimentos forçaram um
retrocesso dos trabalhos que até então vinham sendo desenvolvidos.
A Equipe ainda tentou redirecionar o trabalho contornando por algum tempo, com
atividades diferenciadas, voltadas para comunidade, como a criação das farmacinhas, clube de
pais, campanha contra a verminose, entre outras. Contudo, as repressões não deixaram de
Capa Índice 1089
acontecer, inclusive com fazendeiros que ameaçavam expulsar de suas terras os envolvidos no
Movimento. Frente a tantas conturbações, os membros da Equipe após consulta aos
monitores, optam por encerrar as atividades em dezembro de 1966. Como explica o monitor: Esse encerramento pra mim foi com muita tristeza, quando a gente ficou sabendo, acompanhou mais ou menos aqueles acontecimentos, a gente não conhecia, sabia que tinha essa perseguição, sabia que tinha essa repressão, mas não tinha sofrido na carne né?[...] Foi minguado as oportunidades as condições da gente, já começou a criar problemas lá na escola com certas coisas que a fazenda podia fornecer, então foi dificultando muito as coisas pra escola, pra nós lá foi muito difícil, e depois foi a, na hora [... do] fechamento, ai foi uma tristeza muito grande pra todos nós lá foi muito difícil. (Monitor JMC, entrevista, 14/05/2012).
As atividades do MEB-GO se encerraram, todavia ele deixou o seu legado, e mudou
muitas coisas na vida dos que dele participaram, como ressalta o monitor: [...] falar sobre o que o MEB fez na minha vida né? A gente era completamente cego, é, politicamente a gente não entendia nada de direito que a gente tinha, era totalmente um pessoal assim, só fazia o que os outros mandavam, achava que tudo que o outro mandava tinha que fazer, e era totalmente submisso, não tinha uma vida própria, e a gente levantou [...] o nariz com o negócio do MEB,[...] mostrou pra gente a fundura do buraco que a gente estava ali dentro e não conhecia e ai a gente começou a ver a vida por outro lado, começou a exigir os direitos da gente pelo menos conhecer quando sofria as injustiças, sabia que era injustiça, que antes a gente não sabia né? E eu aprendi a amar mais o próximo, aprendi a amar principalmente a natureza[...]. (JMC, entrevista, 14/05/20).
Nas palavras da única aluna que encontramos: “[...] eu gostava demais da escola, eu
não sabia ler de jeito nenhum, não conhecia uma letra. [...] e eu fui até presidente do
apostolado da oração né? E eu lia, escrevia” (Aluna B., entrevista, 28/05/2012).
Segundo Paulo Freire (1984) mais que erradicar o analfabetismo é necessário erradicar
a “inexperiência democrática” dos brasileiros, por meio de uma educação para democracia,
mais isso só será possível quando ultrapassado o modelo de escola bancária que não colabora
para mudança de atitudes, que aliena o aluno, fazendo-o acreditar na impossibilidade de um
mundo diferente, que não colabora para promoção do homem enquanto sujeito de direitos.
Considerações finais
O MEB-GO foi um movimento de educação popular com fortes influências do
pensamento de Paulo Freire, uma vez que tinha como premissa o trabalho conjunto com os
sujeitos das classes populares rurais, mantendo, desde o início, a proposta de diálogo e
conscientização dos educandos, de modo a despertá-los para os problemas sociais e políticos a
fim de buscar soluções para uma transformação social mais justa e igualitária. E somente a
partir do momento em que o sujeito se capacitar para chegar à leitura crítica do mundo é que
haverá libertação. Portanto é necessária uma educação problematizadora, dialógica,
libertadora, como o MEB-GO vivenciou.
Capa Índice 1090
Uma educação emancipatória pode contribuir para libertar e transformar a sociedade,
por meio de sujeitos conscientes, políticos que irão lutar na perspectiva de mudança da
realidade, como podemos constatar na poesia criada pelo ex-aluno e monitor do MEB-GO: Mudei de ideia/ também os meus rumos,/por outros caminhos agora me vou. Não mais interessa as suas teorias,/agora aprendi a saber quem eu sou. Não giro meus passos em torno dos seus,/ nem sigo os ditames que outrora traçou. Agora prefiro viver como gente,/livrar minha mente da sua opção. (Monitor PMC, entrevista, 14/07/2005).
Esta poesia é reveladora dos sentidos políticos da educação popular, compõe o trilho
de uma estrada brasileira de resistências, lutas, opressões e conquistas, como o ouvir e dar voz
a ex-alunos e monitores - tarefa atual, uma vez que o passado deve ser sempre atualizado,
renovado e recriado de modo a significar o presente e mobilizar construções futuras –, pois a
educação é sempre um ato político, seja com vistas à mudança e superação dos conflitos, seja
para a conservação e manutenção da opressão. Ao dar voz ao povo, esperamos com esta
pesquisa ter contribuído com a luta pela transformação social.
Referências
EITERER, Carmem Lúcia; PEREIRA, Maria Antonieta. Propostas de Trabalho no currículo da EJA. In: Presença Pedagógica. v. 15, n. 88, jul./ago, 2009. FAVERO, Osmar (org.). Cultura popular educação popular – memória dos anos 60. Rio de Janeiro: Ed. Graal, 1983. ______. Uma pedagogia da participação popular – análise da prática educativa do MEB – Movimento de Educação de Base (1961-1966). Campinas, São Paulo: Autores Associados, 2006. FREIRE, Paulo. Conscientização e alfabetização, uma nova visão do processo. Recife, PE, [1962] (Brochura, 41p.). _______. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967. _______. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE. MEB-Goiás: Relatório-Documento. Uma Experiência de Educação de Base. Goiânia, GO: MEB-Goiás, jan. 1967. (mimeo.) PEIXOTO FILHO, José Pereira. A Travessia do popular na contra-dança da educação. Tese (Mestrado) – Fundação Getúlio Vargas. Rio de Janeiro, 1985. ______. A Travessia do popular na contra-dança da educação. Goiânia, GO: Ed. da UCG, 2003. REVISTA DA ARQUIDIOCESE. Ano V, nº IV. Goiânia, GO, abr./1961a. ______. Ano V, nº 11 e 12. Goiânia, GO, nov. e dez./1961b. RODRIGUES, Maria Emilia de Castro. Educação de Jovens e Adultos: retomando uma historia negada. Goiânia, GO, s/d.(texto didático). ______. “Enraizamento de Esperança”: as bases teóricas do Movimento de Educação de Base de Goiás. Tese (Doutorado) – Faculdade de Educação/UFG. Goiânia-GO, 2008. ROSAS, Paulo. Paulo Freire: alfabetização, conscientização, leitura crítica do mundo. Recife: Editora Universitária/UFPE, 2003.
“Revisado pelo orientador”.
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Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1092 - 1105
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().
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Produção de pigmentos alimentares por Monascus ruber CCT 3802
sob diferentes condições de temperatura
Dayanne Gonçalves Flores da Silva, Francielo Vendruscolo
Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos. CEP: 74690-900, Goiânia, GO. Telefone
(62) 3521-1615; Fax: (62) 3521-1600. E-mail: [email protected] e
Palavras-chave: Monascus ruber, temperatura, pigmentos, velocidade de crescimento radial.
1. INTRODUÇÃO
Os pigmentos naturais são grupos de substâncias com estruturas, propriedades químicas e
físicas diferentes. São compostos instáveis, participam de diferentes reações e, em função
disto, a alteração de cor de um alimento é um indicador das alterações químicas e bioquímicas
possíveis de ocorrer durante o processamento e estocagem. Devido à instabilidade de alguns
pigmentos às condições de processo, algumas vezes é necessário adicionar corantes ao
alimento (RIBEIRO e SERAVALLI, 2004).
Nos últimos dez anos, observa-se uma nova tendência no consumo de corantes que
resultou em uma pequena substituição dos corantes sintéticos pelos naturais. O uso
indiscriminado e cumulativo dos aditivos sintéticos aumentou as intoxicações por chumbo,
arsênico e mercúrio, além do risco de se contrair câncer (MAIMOM, 2000). Outro fator que
incentivou o consumo de produtos naturais é a consolidação da sensibilização ecológica da
população. A utilização destes corantes nas indústrias alimentícia, farmacêutica e de
cosméticos vem sendo uma exigência dos consumidores.
A utilização de substâncias sintéticas, derivados de produtos petroquímicos, atinge
diretamente a produção de corantes alimentares, fato este que preocupa quanto ao aspecto de
alterações orgânicas que possam ser causadas pela ingestão destas substâncias ao longo do
tempo (WIGGER-ALBERTI, BAUER, HIPLER et al., 1999; VANDENPLAS, CAROYER,
CANGH et al., 2000; HIPLER, WIGGER-ALBERTI, BAUER et al., 2002).
Enquanto os pigmentos sintéticos estão sendo reduzidos, o mercado de pigmentos naturais
está em expansão. Neste contexto, os métodos mais adequados de produção e extração destes
Revisado pelo Orientador.
Capa Índice 1106
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1106 - 1120
pigmentos merecem ser estudados. Os fungos filamentosos, potenciais produtores de
pigmentos naturais, são organismos promissores para a indústria produtora de proteínas
heterólogas, ácidos orgânicos e policetídeos (KUJUMDZIEVA, HALLET, SAVOV et
al.,1997).
Diante deste cenário, o fungo Monascus se destaca, uma vez que existe mais de cinqüenta
patentes sobre a produção de pigmentos vermelhos, laranja e amarelo, por este
microrganismo, principalmente no Japão, EUA, França e Alemanha. O consumo anual de
pigmentos, obtidos a partir de espécies do fungo Monascus, no Japão cresceu de 100
toneladas em 1981 para 600 toneladas em 1992 e em valores de 12 milhões de dólares de
acordo com relatos publicados em 1992 e 1995 (LIN, YAKUSHIJIN e DEMAIN, 1992; LEE,
CHEN, CHAUVATCHARINS et al., 1995; HAJJAJ, KLAEBE, LORET et al., 1997).
Dentre os pigmentos formados pelo Monascus, o vermelho é o de maior importância na
indústria de alimentos, devido à sua aplicabilidade. Produtos cárneos, peixes, ketchup,
chocolates, sorvetes, vinagre, picles, sopas, cremes, salgadinhos e outros fazem uso deste
corante. Especial interesse existe nesta cor devido à sua estabilidade à temperatura e à luz
(FINK-GREMMELS, DRESEL e LEISTNER, 1991).
2. OBJETIVO
O presente trabalho teve por objetivo determinar a velocidade de crescimento radial e
a produção de pigmentos durante o cultivo do fungo filamentoso Monascus ruber CCT 3802
em cultivo sólido sob diferentes condições de temperatura.
3. MATERIAL E MÉTODOS
Neste trabalho foi determinado o efeito na qual a temperatura exerce sobre a velocidade
de crescimento radial e a produção de pigmentos pelo Monascus ruber CCT 3802 durante o
seu cultivo em meio sólido. Nesta metodologia, são relatados aspectos sobre o microrganismo
e as condições de cultivo, assim como a descrição dos procedimentos realizados durante a
elaboração deste.
3.1Microrganismo
A linhagem do microrganismo utilizada foi o Monascus ruber CCT 3802, um fungo
filamentoso obtido da Coleção de Culturas Tropicais da Fundação André Tosello (Campinas,
SP). Taxonomia: Filo Eumycota, Sub-filo Ascomycotina , Classe Plectomycetes , Ordem
Eurotiales , família Monascaceae.
3.1.1 Repicagem do fungo
A repicagem foi realizada com a preparação do Ágar dextrose batata (PDA) em tubos de
ensaio, esterilizados em autoclave a temperatura de 121 ⁰C durante 15 minutos. Após a
Capa Índice 1107
esterilização os tubos de ensaio foram inclinados em cima de uma bancada em temperatura
ambiente até que se solidificassem. Após a solidificação, os tubos foram levados a Câmara de
Fluxo Laminar que havia sido esterilizada durante quinze minutos sob efeito da luz UV e
higienizada com álcool etílico 70%. Com uma alça de platina flambada, raspava-se um tubo
na qual já havia o microrganismo e passava-se essa alça sob o Agar batata dextrose dos tubos
nas quais não continham o microrganismo. Estes tubos e eram colocados na BOD sob
temperatura de 30 ⁰C durante dias. Após notar o bom desenvolvimento do microrganismo, os
tubos foram levados à geladeira e armazenados.
3.1.2 Manutenção da cultura
Os fungos eram mantidos em meio sólido (PDA) sob refrigeração 60 durante dias.
3.2 Velocidade de crescimento radial
A determinação da velocidade do crescimento radial foi obtida sob diferentes
condições de temperatura, variando entre 20 a 45 ⁰C, conforme metodologia proposta por
Gabiatti et al. (2006), sendo que está consiste no preparo de uma suspensão de esporos, na
qual três alçadas do microrganismo, cultivados em tubos de ensaio com ágar inclinado, foram
transferidos para tubos de ensaio contendo 0,7 mL de Agar bacteriológico 0,2% previamente
autoclavados a 121 ºC por 15 minutos. O Agar dextrose de batata foi autoclavado a 121 ºC
por 15 minutos. O ágar foi vertido em placas de Petri de 100 mm. Depois de solidificados,
com auxílio de uma ponteira estéril de micropipeta com diâmetro de 0,5 mm, os meios de
cultivo foram inoculados através da imersão da ponteira na suspensão de esporos e
posteriormente toque no centro de cada placa em ambiente asséptico. Logo foram traçadas
três raios no fundo de cada placa de Petri (Figura 2), passando pelo ponto de inoculação e
incubadas em BOD com temperaturas variando entre 20 a 30 ⁰C, e em estufas com
temperatura variando entre 35 a 45 ⁰C, sendo então medidos os diâmetros a cada 24 horas.
Para cada placa em diferentes temperaturas, foram realizadas cinco repetições. Com a média
total dos diâmetros a cada temperatura, calculou-se a velocidade de crescimento radial através
das equações, na qual foi possível verificar a melhor faixa de temperatura em que o
microrganismo melhor se desenvolveu.
Figura 2- Raios do fundo das placas de Petri.
Capa Índice 1108
Para cada placa foram graficados os dados de raio médio da colônia em função do
tempo de cultivo. A velocidade de crescimento radial das colônias foi obtida pela declividade
da regressão linear do raio das colônias em função do tempo de cultivo, de acordo com a
equação 1:
btVcrtr .)( (1)
Onde VCR é a velocidade de crescimento radial (mm h-1), t é o tempo de cultivo (h) e r é o raio
das colônias (mm).
Considerou-se como raio inicial o diâmetro da ponteira 0,5 mm, substituindo-o na
equação 1 e calculando o valor final da velocidade de crescimento radial do fungo a cada
temperatura.
3.3 Determinação dos pigmentos produzidos e melhor temperatura de crescimento
Os pigmentos foram produzidos pelo fungo no decorrer de seu desenvolvimento sendo
observada visualmente uma coloração variando entre amarelo, alaranjado e vermelho,
distinguindo-os de acordo com a variação da temperatura. A temperatura mais propícia ao
desenvolvimento do microrganismo foi observada através da maior velocidade de crescimento
adquirida através das medições e cálculos realizados.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A tabela 1 mostra os raios obtidos no decorrer do desenvolvimento do microrganismo a
temperatura de 20 ⁰C, sendo realizada a média do raio.
Tabela 1: Raio das colônias em função do tempo de cultivo do Monascus ruber CCT 3802 a
20 ⁰C.
Tempo (h)
Raio (mm) Placa 1 Placa 2 Placa 3 Placa 4 Média
0 24 48 72 96 120 144 168 192 216
0,5 0,5 0,5 0,5 1,5 2,0 2,8 4,1 4,8 5,2
0,5 0,5 0,5 0,5 1,4 1,9 2,9 3,7 5,2 5,7
0,5 0,5 0,5 0,5 1,3 2,0 3,0 4,5 5,5 5,7
0,5 0,5 0,5 0,5 1,3 1,9 2,8 3,5 5,2 6,3
0,5 0 0,5 0 0,50 0,50
1,4 0,09 1,9 0,06 2,9 0,09 3,9 0,45 5,20,29 5,70,45
Com base nesta tabela, podemos observar que a fase lag do microrganismo Monascus
ruber sob temperatura de 20 ⁰C é de 72 horas, indicando um período longo de adaptação.
Capa Índice 1109
A tabela 2 mostra a velocidade de crescimento radial das placas submetidas à
temperatura de 20 ⁰C, a média dessas velocidades e o desvio padrão.
Tabela 2: Velocidades de crescimento radial, média e desvio padrão.
Velocidade de crescimento Radial (mm h-¹) VCR1 VCR2 VCR3 VCR4 Média Desvio padrão
0, 021 0, 023 0, 023 0, 026 0, 024 0, 002 Observa-se que o valor do desvio padrão é muito baixo, bem próximo de zero,
indicando que houve precisão na realização do procedimento.
O gráfico abaixo fornece informações sobre os raios (mm) medidos versus o tempo (h)
a 20 ⁰C.
Figura 3 – Raio das colônias de Monascus ruber CCT 3802 em função do tempo de cultivo
realizado a temperatura de 20 ⁰C.
Através deste gráfico, podemos observar que a equação obtida foi: r = 0,0212 t + 0,5.
O valor fornecido do coeficiente linear foi 0,8749, na qual podemos observar uma
discrepância entre o obtido e o desejado, no qual o valor obtido se distanciou de 1,sendo isso
provocado por diversos fatores que venham a interferir nestes resultados,como contaminação
nas placas e erro na leitura nas quais não deram uma boa precisão.
Capa Índice 1110
Figura 4 – Aspecto visual das colônias de Monascus ruber CCT cultivadas a temperatura de
20 ºC.
A figura 4 mostra a cor da colônia cultivada a 20 ºC, observando uma coloração
alaranjada.
A tabela 3 mostra os raios obtidos no decorrer do desenvolvimento do microrganismo em
temperatura de 25 ⁰C, sendo realizada a média entre esses raios.
Tabela 3: Raio das colônias em função do tempo de cultivo do Monascus ruber CCT 3802 a
25 ⁰C.
Tempo (h)
Raio (mm) Placa 1 Placa 2 Placa 3 Placa 4 Média
0 24 48 72 96 120 144 168 192 216
0,5 0,5 1,5 2,6 6,0 7,2 8,2 9,3 10,0 10,2
0,5 0,5 1,5 2,3 5,2 6,7 7,5 10,0 10,5 10,5
0,5 0,5 1,6 2,6 5,7 7,0 7,7 8,8 10,0 10,2
0,5 0,5 1,3 2,1 4,3 6,7 7,5 8,7 9,7 9,9
0,5 0 0,5 0
1,40,13 2,4 0,24 5,3 0,74 6,9 0,24 7,7 0,33 9,2 0,59 10,10,33 10,20,24
Com base nesta tabela, podemos observar que a fase lag do microrganismo Monascus
ruber sob temperatura de 25 ⁰C é de 24 horas, indicando um período curto de adaptação.
A tabela 4 mostra a velocidade de crescimento radial das placas submetidas a
temperatura de 25 ⁰C,a média dessas velocidades e o desvio padrão.
Tabela 4: Velocidades de crescimento radial, média e desvio padrão.
Velocidade de crescimento Radial (mm h-¹) VCR1 VCR2 VCR3 VCR4 Média Desvio padrão
0, 045 0, 046 0, 045 0, 043 0, 045 0, 001
Capa Índice 1111
Observa-se que o valor do desvio padrão 0,001 é muito baixo, bem próximo de zero,
indicando que houve precisão na realização do procedimento.
O gráfico abaixo fornece informações sobre os raios (mm) medidos versus o tempo (h)
a 25 ⁰C.
Figura 5 - Raio das colônias de Monascus ruber CCT 3802 em função do tempo de cultivo
realizado a temperatura de 25 ⁰C.
Através deste gráfico, podemos observar que a equação obtida foi: r = 0,0477 t + 0,5.
O valor fornecido do coeficiente linear foi 0, 949, na qual podemos observar pouca
discrepância entre o obtido e o desejado, no qual o valor obtido é bem próximo de 1,obtendo
uma boa precisão.
Figura 6 - Aspecto visual das colônias de Monascus ruber CCT cultivadas a temperatura de
25 ºC.
Capa Índice 1112
A figura 6 mostra a cor da colônia cultivada a 25 ºC, observando uma coloração
alaranjada tendendo ao vermelho.
A tabela 5 mostra os raios obtidos no decorrer do desenvolvimento do microrganismo em
temperatura de 30 ⁰C, sendo realizada a média entre esses raios.
Tabela 5: Raio das colônias em função do tempo de cultivo do Monascus ruber CCT 3802 a
30 ⁰C.
Tempo (h)
Raio (mm) Placa 1 Placa 2 Placa 3 Placa 4 Média
0 24 48 72 96 120 144 168
0,5 0,5 3,7 8,5 12,7 18,5 21,0 24,8
0,5 0,5 3,5 8,0 14,5 17,3 20,5 23,0
0,5 0,5 3,6 8,2 13,8 16,0 21,0 24,5
0,5 0,5 3,7 7,8 13,5 16,5 19,8 22,8
0,5 0 0,5 0
3,60,09 8,10,29 13,60,75 17,51,09 20,60,57 23,81,02
Com base nesta tabela, podemos observar que a fase lag do microrganismo Monascus
ruber sob temperatura de 30 ⁰C é de 24 horas, indicando um período curto de adaptação.
A tabela 6 mostra a velocidade de crescimento radial das placas submetidas à
temperatura de 30 ⁰C, a média dessas velocidades e o desvio padrão.
Tabela 6: Velocidades de crescimento radial, média e desvio padrão.
Velocidade de crescimento Radial (mm h-¹) VCR1 VCR2 VCR3 VCR4 Média Desvio padrão
0, 145 0, 134 0, 143 0, 133 0, 139 0, 006 Observa-se que o valor do desvio padrão 0,006 é muito baixo, bem próximo de zero,
indicando que houve precisão na realização do procedimento.
O gráfico abaixo fornece informações sobre os raios (mm) medidos versus o tempo (h)
a 30 ⁰C.
Capa Índice 1113
Figura 7 - Raio das colônias de Monascus ruber CCT 3802 em função do tempo de cultivo
realizado a temperatura de 30 ⁰C.
Através deste gráfico, podemos observar que a equação obtida foi: r = 0,134 t + 0,5. O
valor fornecido do coeficiente linear foi 0, 9534, na qual podemos observar pouca
discrepância entre o obtido e o desejado, no qual o valor obtido é bem próximo de 1,obtendo
uma boa precisão.
Figura 8 - Aspecto visual das colônias de Monascus ruber CCT cultivadas a temperatura de
30 ºC.
A figura 8 mostra a cor da colônia cultivada a 30 ºC, observando uma coloração
vermelha.
A tabela 7 mostra os raios obtidos no decorrer do desenvolvimento do microrganismo em
temperatura de 35 ⁰C, sendo realizada a média entre esses raios.
Tabela 7: Raio das colônias em função do tempo de cultivo do Monascus ruber CCT 3802 a
35 ⁰C.
Capa Índice 1114
Tempo (h)
Raio (mm) Placa 1 Placa 2 Placa 3 Placa 4 Média
0 24 48 72 96 120 144 168 192 216
0,5 0,5 2,3 4,2 5,7 9,0 13,3 13,5 17,3 18,5
0,5 0,5 2,1 4,1 5,7 9,2 14,0 16,0 18,0 19,2
0,5 0,5 2,4 4,1 6,1 6,8 9,7 11,5 13,5 14,7
0,5 0,5 2,3 3,9 6,1 9,7 13,2 13,5 17,2 18,3
0,5 0 0,5 0
2,3 0,13 4,1 0,13 5,9 0,23 9,3 1,28 12,51,93 13,61,84 16,52,03 17,72,02
Com base nesta tabela, podemos observar que a fase lag do microrganismo Monascus
ruber sob temperatura de 35 ⁰C é de 24 horas, indicando um período curto de adaptação.
A tabela 8 mostra a velocidade de crescimento radial das placas submetidas a
temperatura de 35 ⁰C,a média dessas velocidades e o desvio padrão.
Tabela 8: Velocidades de crescimento radial, média e desvio padrão.
Velocidade de crescimento Radial (mm h-¹) VCR1 VCR2 VCR3 VCR4 Média Desvio padrão
0, 083 0, 086 0, 066 0, 082 0, 079 0, 009 Observa-se que o valor do desvio padrão 0,009 é muito baixo, bem próximo de zero,
indicando que houve precisão na realização do procedimento.
O gráfico abaixo fornece informações sobre os raios (mm) medidos versus o tempo (h)
a 35 ⁰C.
Capa Índice 1115
Figura 9 - Raio das colônias de Monascus ruber CCT 3802 em função do tempo de cultivo
realizado a temperatura de 35 ⁰C.
Através deste gráfico, podemos observar que a equação obtida foi: r = 0,077 t + 0,5. O
valor fornecido do coeficiente linear foi 0, 9539, na qual podemos observar pouca
discrepância entre o obtido e o desejado, no qual o valor obtido é bem próximo de 1,obtendo
uma boa precisão.
Figura 10 - Aspecto visual das colônias de Monascus ruber CCT cultivadas a temperatura de
35 ºC.
A figura 10 mostra a cor da colônia cultivada a 35 ºC, observando uma coloração
vermelho intenso.
A tabela 9 mostra os raios obtidos no decorrer do desenvolvimento do microrganismo em
temperatura de 40 ⁰C, sendo realizada a média entre esses raios.
Tabela 9: Raio das colônias em função do tempo de cultivo do Monascus ruber CCT 3802 a
40 ⁰C.
Tempo (h)
Raio (mm) Placa 1 Placa 2 Placa 3 Placa 4 Média
0 24 48 72 96 120 144 168 192 216
0,5 0,5 0,5 1,7 2,9 4,6 6,2 7,7 9,3 10,5
0,5 0,5 0,5 1,6 2,7 4,7 7,2 7,7 9,8 11,0
0,5 0,5 0,5 1,9 3,0 4,2 6,7 8,0 9,7 11,7
0,5 0,5 0,5 1,8 2,9 3,9 6,2 6,8 8,0 9,7
0,5 0 0,5 0 0,50
1,80,13 2,9 0,13 4,2 0,37 6,5 0,48 7,5 0,52 9,20,83 10,70,84
Com base nesta tabela, podemos observar que a fase lag do microrganismo Monascus
Ruber sob temperatura de 35 ⁰C é de 48 horas, indicando um período madiano de adaptação.
Capa Índice 1116
A tabela 10 mostra a velocidade de crescimento radial das placas submetidas a
temperatura de 40 ⁰C,a média dessas velocidades e o desvio padrão.
Tabela 10: Velocidades de crescimento radial, média e desvio padrão.
Velocidade de crescimento Radial (mm h-¹) VCR1 VCR2 VCR3 VCR4 Média Desvio padrão
0, 044 0, 045 0, 05 0, 046 0, 046 0, 002 Observa-se que o valor do desvio padrão 0,002 é muito baixo, bem próximo de zero,
indicando que houve precisão na realização do procedimento.
O gráfico abaixo fornece informações sobre os raios (mm) medidos versus o tempo (h)
a 40 ⁰C.
Figura 11 - Raio das colônias de Monascus ruber CCT 3802 em função do tempo de cultivo
realizado a temperatura de 40 ⁰C.
Através deste gráfico, podemos observar que a equação obtida foi: r = 0,0423 t + 0,5.
O valor fornecido do coeficiente linear foi 0, 9149, na qual podemos observar pouca
discrepância entre o obtido e o desejado, no qual o valor obtido é bem próximo de 1,obtendo
uma boa precisão.
Capa Índice 1117
Figura 12 - Aspecto visual das colônias de Monascus ruber CCT cultivadas a temperatura de
40 ºC.
A figura 10 mostra a cor da colônia cultivada a 40 ºC, observando uma coloração
vermelho amarelado.
As placas que foram colocadas a 45 ⁰C na estufa, não foi possível observar nenhum
tipo de crescimento de Monascus Ruber,o que indica que a essa temperatura o microrganismo
não consegue se desenvolver.
A figura 13 compara as velocidades de crescimento radial a cada temperatura.
Figura 13 - Velocidade de crescimento radial das colônias de Monascus ruber CCT 3802 em
função da temperatura de cultivo.
Podemos observar que o melhor desenvolvimento do microrganismo se deu na temperatura de
30 ⁰C, na qual se obteve a maior velocidade de crescimento radial 0,14,indicando que a
temperatura de 30 ⁰C favorece o desenvolvimento deste microrganismo.
Capa Índice 1118
A tabela 11 fornece as velocidades de crescimento radial, as equações e os coeficientes
lineares levando em consideração a fase lag de cada temperatura.
Tabela 11- Temperatura, fase lag,Vcr,Equação e coeficiente linear.
Temperatura (⁰C) Fase Lag (h) Velocidade (mm/h) Equação R²
20⁰C 72 0,032 r = 0,021t+0,5 0,875
25⁰C 24 0,052 r = 0,047t+0,5 0,949
30⁰C 24 0,168 r = 0,134t+0,5 0,953
35⁰C 24 0,092 r = 0,077t+0,5 0,954
40⁰C 48 0,058 r = 0,042t+0,5 0,915
45⁰C 280 0 r = VCR.t +0,5 0
Observa-se que a maior velocidade de crescimento radial levando em consideração a fase lag
continua sendo 30 ⁰C igual a (0,168 mm h-1) e a menor se deu a temperatura de 20 ⁰C igual a
(0,032 mm h-1).A coloração variou de amarelo,passando de alaranjado para vermelho de
acordo com o aumento da temperatura.
4. CONCLUSÃO
Observa-se que a temperatura exerce efeito diretamente ligado ao desenvolvimento no
microrganismo, favorecendo ou não o seu crescimento. A maior velocidade de crescimento
radial foi encontrada na temperatura de 30 ⁰C, indicando essa, condições totalmente
favoráveis ao seu desenvolvimento.
5. REFERÊNCIAS
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alternative to nitrite in meat products. Fleischwirtsch, v.71:1184-1186, 1991.
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filamentous fungi for use in bioremediations. Brazilian Archives of Biology and
Technology. v.49, p.29-34. 2006.
Capa Índice 1119
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filamentous fungus Monascus ruber as revealed by 13C nuclear magnetic resonance. Applied
and environmental microbiology, v.65, n.1, Jan, p.311-314. 1999b.
HIPLER, U. C., W. WIGGER-ALBERTI, A. BAUER, et al. Monascus purpureus: a new
fungus of allergenic relevance. Mycoses, v.43 Suppl 2, p.29-31. 2000.
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producer of pigments and by-products. Journal of Cleaner Production, v.5, p.115-123. 1997.
LEE, Y., D. CHEN, S. CHAUVATCHARINS, et al. Production of Monascus pigments by
a solid-liquid state culture method. Journal Fermented Bioengeenering, v.79, p.516-518.
1995.
LIN, T. F., G. H. YAKUSHIJIN e A. L. DEMAIN. Formation of water-soluble Monascus
pigments red by biological and semi-synthetic process. Journal Industrial Microbiology,
v.9,p.173-179. 1992.
MAIMOM, D. Estudo de mercado de matéria-prima: Corantes naturais (cosméticos,
indústria de alimentos), conservantes e aromatizantes, bioinseticidas e óleos vegetais e
essenciais (cosméticos e oleoquímica): PROJETO BRA/96/025 – Acordo SUDAM/PNUD,
Rede Para Conservação e Uso Dos Recursos Genéticos - GENAMAZ. 2005 2000.
RIBEIRO, E. P. e E. A. G. SERAVALLI. Química de Alimentos. São Paulo: Edgard
Blücher:Instituto Mauá de Tecnologia. 2004. 184 p.
VANDENPLAS, O., J. M. CAROYER, F. B. CANGH, et al. Occupational asthma caused
by a natural food colorant derived from Monascus ruber. The Journal of allergy and clinical
immunology, v.105, n.6 Pt 1, Jun, p.1241-1242. 2000.
WIGGER-ALBERTI, W., A. BAUER, U. C. HIPLER, et al. Anaphylaxis due to
Monascus purpureus-fermented rice (red yeast rice). Allergy, v.54, n.12, Dec, p.1330-1331.
1999.
Capa Índice 1120
1
RELATÓRIO FINAL PIBIC/2011-20121
Organizações Feministas Brasileiras: Mapeamento e Caracterização
Orientadora: Profa. Dra. Eliane Gonçalves ([email protected]) Orientando: Dayse Novais da Silva ([email protected])
Faculdade de Ciências Sociais - Universidade Federal de Goiás
PALAVRAS-CHAVE: Organizações, Feministas, Transmissão.
Introdução
O plano de trabalho “Transmissão intergeracional no feminismo brasileiro -
mapeeamento e caracterização das organizações, grupos e núcleos de estudos de 1980-
2010” está vinculado ao projeto “Estratégias de transmissão inergeracional no
feminismo brasileiro” desenvolvido desde 2011 pelo SER-TÃO - NÚCLEO DE
ESTUDOS E PESQUISAS EM GÊNERO E SEXUALIDADE da Faculdade de
Ciências Socais que está sob a coordenação da Prof. Dra. Eliane Gonçalves que tem por
meio deste projeto o apoio do CNPq.
Sabendo-se que a transmissão do feminismo é um desafio a cada geração e que
com isso surgem vários impasses para a continuidade desse ideário, o projeto busca ver
esses problemas através de pesquisa sobre as ONGs (Organizações Não-
Governamentais) Feministas, consideradas uma transformação do movimento feminista
nos anos 1980 até hoje, e assim classificadas como feministas institucionalizadas.
Segundo Novellino, o movimento feminista brasileiro está dividido em cinco
momentos (fases): feminismo cívico (movimento de conquistar papeis ativos no
processo de decisão política – voto, de serem votadas e de exercerem cargos públicos);
populista (movimento para atingir mulheres de classe de baixa renda para o movimento
feminista e para a política); revolucionário (busca do direito de decisão sobre o corpo a
busca da ‘independência masculina’); acadêmico (crítica ao universalismo científico nas
universidades e institutos de pesquisa) e institucional (constitui-se em ONGs,
1 Relatório revisado pela orientadora Profª. Drª. Eliane Gonçalves
Capa Índice 1121
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1121 - 1127
2
instituições que perdem os traços de voluntarismo e informalidade) (NOVELLINO,
2008).
Buscando compreender os processos de transformação do movimento feminista
no Brasil, o projeto investiga as vozes que estão no cenário, tais como as chamadas
“jovens feministas”, ou seja, busca mulheres que estão entrando nesse mundo e
tentando se manifestar seja através de Blogs (redes sociais), seja através de redes
(GONÇALVES e PINTO, 2011), parte esta que não será desenvolvida neste relatório.
Objetivo
O plano de trabalho tem como objetivo analisar, a partir do mapeamento e
caracterização das Organizações Feministas no Brasil dos anos 1980 a 2010, sua
distribuição por regiões, origens e pertencimento a outras redes e fóruns mais amplos.
Através de referencial teórico dos estudos de gênero e feministas, pretendo refletir sobre
os processos de institucionalização que marcaram o feminismo brasileiro neste período.
Metodologia
Para fins da pesquisa, construímos uma tabela com as ONGs encontradas em
sites de busca e no site das próprias ONGs foi possível encontrar as demais. Para isto,
utilizamos o site de busca ABONG2, por meio de buscas no Google utilizando
“organizações feministas no Brasil” “ONGs feministas”, como palavras-chaves e
também através de artigos que listavam algumas dessas organizações. Com isto,
construímos um quadro totalizando 59 ONGs (anexo).
Foram encontradas dificuldades para descobrir todos os dados necessários para a
tabela (endereço, ano de fundação, coordenação e se são ativas), percebendo que a
internet nos beneficiou na busca, mas que nem sempre nos dá informações completas.
Percebendo esse fator, apelamos para a Receita Federal, que possibilitou através do
CNPJ obtido na busca, encontrar endereço e ano de fundação. Os dados ficaram mais
completos e suficientes para seguir adiante na pesquisa.
2 ABONG – Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais, Organizações em defesa dos direitos e bens comuns, obtém uma lista de várias ONGs incluindo as Organizações Feministas, razão pela qual o escolhi como site de busca.
Capa Índice 1122
3
Foi interessante notar que há estados que não têm organizações feministas,
enquanto outros possuem várias ONGs, aspecto que requer uma análise mais
aprofundada posteriormente.
Após encontrar 593 organizações, das quais 57 com os respectivos estados de
origem decidimos utilizar o universo para efeito de aplicação de questionário (próxima
etapa), utilizando a inferência estatística que mostrou a relevância de aplicar em todas.
As redes que se vinculam as organizações feministas ajudam a definir o
pertencimento das ONGs que muitas vezes não se identificavam em seu nome como
sendo feministas, requisito básico de identidade para serem pesquisadas quanto à
transmissão intergeracional.
Resultados e Discussão
Após o mapeamento das ONGs constatamos que, ao longo dos anos as
organizações foram surgindo até 2006 no Brasil, após essa data não há registros.
Aspectos ainda inconclusivos nos levam a crer que essas organizações deixaram de ser
criadas, abrindo espaço a manifestações de entidades mais livres, como as jovens em
redes sociais (blogs, facebook).
Quase metade das organizações tem nomenclatura “mulheres”, assim foi
necessário investigar em seu histórico se pertenciam mesmo as ONGs feministas ou
não, que através de seus sites encontramos informações na seção “quem somos”,
mostrando seu pertencimento. Para o projeto era importante que aparecessem
referências ao feminismo no título e na apresentação, local onde é possível verificar se
há ou não pertencimento a uma ideologia feminista.
Cerca de 40% (quarenta por cento) utilizam nomes que não nos dá qualquer
indício de feministas, como por exemplo: Grupo Transas do Corpo, Coturno de Vênus,
Anis, Redeh, etc. Quase metade das ONGs se encontra na região Sudeste, seguido da
região Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Norte com apenas três ONGs.
Analisando esse resultado, a região Sudeste pode ser considerada o polo das
organizações, seguido do nordeste, pois é onde se concentram as organizações. Na
região sudeste apenas Espírito Santo não possuí ONG. Essa concentração pode ser
considerada o polo do movimento feminista no Brasil, assim com na região Nordeste. 3 Nessas 59 ONGs encontradas, duas foram fundadas antes dos anos de 1980, mas que estão vivas até hoje, consideradas assim exceções.
Capa Índice 1123
4
Após o ano 2000, dois Estados onde antes não havia ONGs feministas, os
Estados do Rio Grande do Norte e Amapá fundam respectivamente a IMENA - Instituto
de Mulheres Negras do Amapá e Coletivo Leila Diniz, dando uma nova perspectiva de
futura descentralização das ONGs, ou pelo menos uma perspectiva de que as mulheres
desses Estados formem jovens feministas capazes de lutarem pelos seus direitos de
igualdade.
Não se tem registro de ONGs em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, apesar de já
ter havido outras formas de manifestação. Como por exemplo, a revista “A Violeta” de
Cuiabá do século XX. Não se tem registro de ONGs em Alagoas, Amazonas que tem o
“Coletivo de Negras Feministas da Amazônia”, Espirito Santo, Maranhão, Paraná,
Piauí, Rondônia, Roraima e Sergipe.
Devido às dificuldades de se encontrar dados, algumas não tiveram seus dados
completos, mas que não comprometeu o resultado desta pesquisa. Todas mantém
articulação com pelo menos alguma rede mais específica (violência, saúde, trabalho) ou
as redes que aglutinam os grupos em todo o Brasil, como é o caso da Articulação de
mulheres brasileiras (AMB) e a Marcha mundial das mulheres (MMM).
Muitas feministas separam o movimento em ondas, assim como Céli Pinto que
divide o feminismo em duas ondas, diferente do que vimos anteriormente em Novellino
que o divide em cinco ondas. Céli Pinto afirma que o movimento das ONGs, que se
encontra na segunda onda, é um processo de profissionalização “focadas,
principalmente, na intervenção junto ao Estado, a fim de aprovar medidas protetoras
para as mulheres e de buscar espaço para sua maior participação política.” (PINTO,
2009, p.17). Isso se verifica, sobretudo com a temática da violência, a partir da vigência
da Lei Maria da Penha (Lei n. 11 340, de 7 de agosto de 2006). Essa preocupação
encoraja as mulheres a denunciarem tal violência, por isso é fundamental entidades
preocupadas com esse assunto, para repassar às demais mulheres a necessidade de
“abrirem a boca”.
Algumas ONGs como o Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde (CFSS), de
São Paulo e a CEPIA - Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação - do Rio de
Janeiro, também focalizam ações nesta esfera temática e tentam orientar e ajudar as
mulheres, pois são as que mais sofrem.
Outro tema recorrente nas Organizações é a educação, mas não a mesma
educação escolar, essa está ligada a uma educação popular como a RME - Rede Mulher
de Educação de São Paulo; educação voltada à saúde como a CFSS, que oferece um
Capa Índice 1124
5
disk-saúde; para a política e assistência jurídica, como a Themis do Rio Grande do Sul;
sexual e reprodutiva como Loucas de Pedra Lilás, de Recife e ambiental, como Dandara
do Cerrado, de Goiânia, entre outros. Cada organização tem sua forma de trabalhar
junto com as mulheres, ou seja, as organizações tem sua identidade e suas
especificidades, ao mesmo tempo em que atuam em temas recorrentes, elas
transformam em algo com uma identidade própria, permitindo ver particularidades de
cada região, como é o caso das mulheres paraenses que se organizam em torno de
atividades da pesca ao mesmo tempo que lutam por direitos. Isso se deve ao fato de
cada região ter uma preocupação maior que a outra e uma necessidade diferente em
cada estado.
Algo surpreendente, ao menos para uma pessoa nova nessa área, e que merece
destaque, é a existência de uma ONG feminista que envolve não apenas mulheres e
temas voltados a esses sujeitos. E o caso do Instituto Papai, de Recife. Um dos seus
objetivos, o envolvimento dos homens nas questões relativas à sexualidade e à
reprodução, é promover a desconstrução do machismo revisando o sentido da
masculinidade e do processo de socialização masculina, ou seja, ela é uma ONG
feminista voltada para os homens. Outra que merece destaque é Católicas pelo Direito
de Decidir, como o próprio nome diz elas são feministas católicas que buscam um
diálogo inter-religioso, e a mudança dos padrões culturais e religiosos que cerceiam a
autonomia e a liberdade das mulheres, especialmente no exercício da sexualidade e da
reprodução. Também há o Coturno de Vênus que é uma ONG feminista que abriga os
GLTTTS4.
Concordando com Alvarez, que diz:
Muito significativo, no caso do Brasil, ganham maior espaço e visibilidade política as feministas negras, quem eu afirmaria talvez sejam as que mais têm trazido o novo e dinâmico para os movimentos de mulheres e feministas nos últimos tempos. (ALVAREZ, 2004, p.21)
As negras como exemplo o Grupo de Mulheres Negras Malunga, em Goiânia, se
importam em transferir a cultura através de atividades relacionadas com a cultura
africana (na culinária, na estética). Também as Loucas de Pedra Lilás, de Recife,
explicita claramente, na página inicial de seu site5 mostram o diferencial com a seguinte
frase:
4 GLTTTS – Gays, Lésbicas, Transexuais, Travestis, Transgêneros e Simpatizantes . 5 www.loucas.org.br
Capa Índice 1125
6
Veja quantas Loucas na Rua, as Loucas de Pedra Lilás (...) de novo nas ruas irão arrasar, com a tirania que está no ar. Vestidas de preto, de cara pintada, armadas de espoletas engraçadas, (pim –pim -pim) Que luta é essa?, sem sangue e sem dor? Meu bem, é mais gostoso com humor! (LPL, s/d).
As ONGs são um avanço ou um retrocesso? Apesar do movimento sufragista e
dos outros movimentos antes das ONGs serem significantemente úteis na
redemocratização do país, as ONGs têm seus avanços, pois graças a elas foram
desenvolvidas as formas de atendimento as pessoas de forma mais completa, ajudando-
as de forma prática, como atendimento gratuito no CFSS - Coletivo Feminista
Sexualidade e Saúde, de psicologia, como atendimento jurídico, social e psicológico no
Amzol – Associação de Mulheres da Zona Leste, que oferecem também cursos que
capacitam as mulheres que não tem condições de pagar cursos nem de estudarem, para
que possam trabalhar em algo que gostem e ganhar dinheiro.
Há, também, o curso de “Promotoras Legais Sociais” oferecido pela Associação
Barbacenense de Proteção à mulher - Pró-Mulher, em que a mulher vai adquirindo
conhecimento de seus direitos constitucionais, garantindo maiores oportunidades de
acesso à saúde, à educação e à justiça. Esses cursos e projetos garantem que o
conhecimento seja repassado para as mulheres que, muitas vezes, tentam lutar pelos
seus direitos, mas desconhecem como fazer isso. Estes projetos e outros têm contribuído
para a diminuição das desigualdades de gênero e para um “empoderamento” das
mulheres nos espaços antes proibidos.
Ainda que reconhecendo a potencialidade das ONGs, há contradições, como o
ponto de vista desenvolvido por Maria Salet Novelino de que as ONGs transformaram o
movimento em algo institucionalizado, altamente dependente de financiamentos
externos, em geral de organizações privadas internacionais ou nacionais que são os
definidores da agenda temática do movimento:
Neste contexto, pode ser dito que as agências internacionais de cooperação têm, em certa medida, impostos as áreas temáticas a serem privilegiadas, bem como o modo de abordá-las. Por outro lado, são os financiamentos das agências e o apoio do Estado que garantem as atuações das ONGs feministas, cujos projetos são as iniciativas mais efetivas para o empoderamento das mulheres e o consequente fortalecimento do movimento feminista brasileiro (NOVELLINO, 2008, p.20).
Capa Índice 1126
7
Considerações Finais
Apenas com uma pesquisa cuidadosa poderemos ser capazes de responder se o
ponto de vista acima está correto ou não sobre as ONGs que, do ponto de vista estrito
deste recorte, demonstraram significativa relevância para os direitos das mulheres no
Brasil.
Baseado na revisão de literatura, vimos que as ONGs feministas são
consideradas de grande importância política para a sociedade, sendo, portanto, um
avanço e não um retrocesso. Isso tem impacto nos modos de organização feminista, já
que a institucionalização está sujeita a diferentes formas de atuação com relação ao
estado e isso pode vir a acarretar em diminuição dos espaços autônomos do movimento
(ALVAREZ, 2004).
E para que as ONGs feministas ou pelo menos o movimento feminista não
morra, cabe a elas não deixarem de transmitir seu conhecimento às novas gerações,
gerações no sentido de que:
(...) geração não se confunde com idade, pois, se pensarmos em termos de socialização, é fácil chegar à conclusão de que muitas mulheres se tornam feministas ou adquirem uma consciência feminista depois de experimentar várias situações no curso da vida: casamento, maternidade, sexualidade, trabalho formal etc. (GONÇALVES e PINTO, 2011, p. 41).
Referências ALVAREZ, Sônia. A política e o político na tessitura do movimento feminista no Brasil. In: Gonçalves, Eliane. (org.)Desigualdades de gênero no Brasil: reflexões e experiências. Goiânia, Grupo Transas do Corpo, 2004. GONÇALVES, Eliane e PINTO, Joana Plaza. Reflexões e problemas da transmissão intergeracional no feminismo brasileiro. Campinas: Cadernos Pagu (36), 2011. NOVELLINO, Maria Salet F. As Organizações Não-Governamentais (ONGs) feministas brasileiras. Anais do XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais. Caxambu, MG: ABEP, 2008 p. 1-21. Disponível em: http://www.abep.nepo.unicamp.br/encontro2006/docspdf/ABEP2006_332.pdf. Acesso em outubro de 2011. PINTO, Céli Regina Jardim. Feminismo, história e poder. Rev. Sociol. Polit., Curitiba v. 18, n.36, p.15-23, jun. 2010. Sítio na Internet: http// www.loucas.org.br, acesso em setembro de 2012.
Capa Índice 1127
Ferritas de manganês dopadas com zinco preparadas por coprecipitação e
decomposição térmica.
Dhiogo Mendes da Silva1; Emília Celma de Oliveira Lima2.
1- Iniciação científica, Universidade Federal de Goiás, Instituto de Química;
2- Orientadora, Universidade Federal de Goiás, Instituto de Química.
e-mail: [email protected]
Palavras chaves: nanopartículas; ferrita; coprecipitação; decomposição térmica;
magnetização de saturação.
1 Introdução
À medida que a ciência e a tecnologia avançam a necessidade por materiais
específicos para aplicação em cada área do conhecimento também aumenta com esse
avanço. Entre esses materiais específicos, os óxidos metálicos são muito procurados
para essas aplicações. Dentro da classe de óxidos, as ferritas são materiais mais
amplamente estudados. Isso se deve a sua estrutura em espinélio invertido que resulta
em propriedades que chamam muita atenção para seu uso, como por exemplo, elevada
estabilidade termodinâmica e alta magnetização de saturação.
Como forma de aplicação desses materiais, pode ser citado o tratamento por
hipertermia (Brusentsova et al. 2005). Este tratamento consiste em aquecer a
nanopartícula com a aplicação de um campo magnético alternado e de alta frequência. O
aquecimento da nanopartícula acontece devido ao processo de relaxação da mesma.
Esse aquecimento faz com que a célula doente seja destruída, pois células neste estado
são menos resistentes a aumentos bruscos de temperatura. Esse aumento é localizado
em uma determinada região do corpo do paciente e a temperatura atinge
aproximadamente 42°C.
Para que a partícula seja biocompatível, a ferrita é recoberta com moléculas
orgânicas juntamente com fármacos que facilitem a entrada da ferrita na célula e faça
com que ela seja destruída com o aumento da temperatura. (Pavon et al., 2007).
Ferritas são óxidos de metais do tipo MFe2O4, onde M é um metal bivalente. No
caso deste trabalho, será usado manganês (Mn+2) e serão dopadas com zinco (Zn+2). A
obtenção deste material é complexa e por esse motivo é preciso encontrar métodos de
síntese que permitam obter ferritas com propriedades melhores de acordo com a
Capa Índice 1128
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1128 - 1135
aplicação desejada. Entre os métodos de síntese existentes, os mais amplamente usados
que permitem obter um melhor controle da estequiometria e tamanho da partícula são
sol-gel, coprecipitação, precursor polimérico, decomposição térmica (Simões et al.
2009) e decomposição térmica em autoclave. A síntese por coprecipitação consiste em
solubilizar sais dos metais de interesse e adicioná-los em uma solução fortemente
alcalina, sob aquecimento ou não. A síntese por decomposição térmica clássica, é
realizada com complexos metálicos ou com organometálicos solubilizados em solvente
orgânico e a reação acontece sob aquecimento por um determinado tempo, até que a
reação aconteça por completo (Gao et al. 2012). Decomposição térmica em autoclave é
realizada da mesma forma que a decomposição térmica clássica com a diferença de ser
realizado em uma autoclave fechada hermeticamente com aumento de pressão no seu
interior devido à formação de gases no interior da autoclave.
No intuito de serem usadas em aplicações biológicas, é necessário que a
magnetização de saturação (Ms) da ferrita seja elevada para que seja mais simples sua
interação com o campo magnético externo aplicado, pois facilita tanto no carregamento
de fármacos quanto no contraste de exames de ressonância magnética de imageamento
(RMI). Na busca de se obter ferritas com maiores Ms, Jung-tak Jang (2009) propõe um
mecanismo de síntese via decomposição térmica em refluxo usando cloretos dos metais
de interesse para obter ferritas de manganês dopadas com zinco. Para estudar o efeito do
dopante zinco na ferrita de manganês, as ferritas foram dopadas com diferentes razões
molares de íons zinco II (x=0; 0,1; 0,2; 0,3; 0,4; ZnxMn1-xFe2O4) (Arulmutugan et al.
2004).
Neste sentido, este trabalho foi realizado com o intuito de sintetizar ferrita de
manganês dopada com zinco em diferentes razões molares de zinco via coprecipitação
para tentar obter um material com maior magnetização, sintetizado por uma via em que
não possui solventes tóxicos e determinar qual a melhor razão molar de zinco/manganês
para produzir um material com maior Ms. Para comparar os materiais sintetizados por
diferentes vias, foi realizada uma síntese via decomposição térmica em autoclave
(Bezerra et al. 2006).
2 Procedimento experimental
2.1 Coprecipitação
Capa Índice 1129
Foram usados cloretos dos metais desejados para realizar as sínteses com as
diferentes estequiometrias desejadas. Os cloretos usados foram cloreto de ferro III
hexaidratado (FeCl3.6H2O), cloreto de manganês II tetraidratado (MnCl2.4H2O) e
cloreto de zinco II anidro (ZnCl2). Para que fosse evitados erros na massa pesada
necessária de cada sal para a síntese (erro ocasionado pelo fato de absorverem muita
água da atmosfera), foram feitas soluções dos sais e determinadas as concentrações dos
metais em solução para ter ideia de quantos mililitros seriam retirados da solução
estoque (100mL para cada solução de cada sal).
As sínteses ocorreram em pH=13, sob aquecimento a 90°C e agitação magnética.
Com o intuito de se sintetizar uma ferrita com a estequiometria desejada, a quantidade
de matéria de cada íon metálico usado foi exatamente o que era necessário para que
fosse obtido a estequiometria desejada.
2.2 Decomposição térmica em autoclave
Para esta técnica, foram sintetizados oleato de ferro III, oleato de manganês II e
oleato de zinco II. A síntese foi realizada partindo de oleato de sódio (24,35g), 6g de
cada cloreto de metal. O sistema de síntese foi composto por 80mL de etanol, 60mL de
água destilada e 140mL de hexano. O sistema de síntese foi mantido a 70°C por 4
horas. Após esse período de aquecimento, o produto foi lavado com água três vezes e
mantido em capela com a exaustão ligada para esperar que o excesso de hexano fosse
evaporado.
Para a síntese da ferrita foram usados: 5,4g de oleato de ferro III; 0,75g de oleato
de zinco II; 1,11g de oleato de manganês II; 8mL de ácido oleico; 8 mL de oleilamina;
40mL de octadeceno. O sistema de síntese ficou sobre aquecimento a 250°C por 2 horas
em autoclave. O material foi separado com ajuda de um ímã e formado duas alíquotas:
precipitado (partículas separadas com o ímã) e sobrenadante (partículas que ficaram
dispersas no meio).
3 Caracterização das ferritas
Os resultados de medidas de magnetização foram obtidos através de medidas
com o pó de cada ferrita sintetizada em um magnetômetro de amostra vibrante (VSM)
da GMW Magnet Systems 3472-70, a temperatura ambiente. As ferritas foram secas em
Capa Índice 1130
estufa a 100°C. Logo após o resfriamento a temperatura ambiente, as ferritas foram
maceradas para que fosse possível fazer a medida de magnetização das mesmas.
Quanto à cristalinidade do material, foi usada a técnica de análise por difração
de raios x no equipamento XRD 6000 (Shimadzu) equipado com um tubo de radiação
Cu-Kα. O mesmo pó usado para realizar as medidas de magnetização foi usado nessa
análise. O ângulo de análise varia de 10° a 80° com passo de 0,02°.
A estequiometria da ferrita foi determinada via medidas de teores dos metais
foram realizadas em espectroscopia de absorção atômica no equipamento Perkim Elmer
5000. Para essas análises no espectrômetro de absorção atômica, as ferritas sintetizadas
pelo processo de coprecipitação foram tratadas com ácido clorídrico concentrado sob
aquecimento brando e diluído com água destilada.
4 Resultados e discursões
4.1 Estequiometria
Na tabela 1 estão os resultados das medidas de estequiometria das amostras
sintetizadas via coprecipitação. Observa-se que a estequiometria obtida e a desejada
(relação molar entre os íons usada na síntese) não são iguais, mostrando que não foi
possível o controle da estequiometria por essa via de síntese.
Tabela 1: estequiometria das ferritas obtidas via co precipitação.
Estequiometria desejada Estequiometria obtida
Mn1Fe2O4 Mn1,13Fe2O4
Zn0,1Mn0,9Fe2O4 Zn0,01Mn1,09Fe2O4 Zn0,2Mn0,8Fe2O4 Zn0,02Mn0,72Fe2O4 Zn0,3Mn0,7Fe2O4 Zn0,2Mn0,62Fe2O4 Zn0,4Mn0,6Fe2O4 Zn0,28Mn0,54Fe2O4
Essa diferença na estequiometria pode ser explicada considerando que o sistema
de síntese não seja favorável nem cineticamente nem termodinamicamente para se obter
a estequiometria desejada. Ou seja, para se obter uma estequiometria próxima da
desejada seria necessário usar reagentes em excesso para realizar a sínteses, o que não
seria viável já que há grande perda de material.
Capa Índice 1131
Também foi observado que não é possível controlar a estequiometria pela síntese
via decomposição térmica. A estequiometria desejada era de Zn0,4Mn0,57Fe2O4 e foi
obtida Zn4,33Mn46,2Fe2O4 no material que foi possível separar com imã e
Zn0,07Mn0,06Fe2O4 para o material que não foi possível separar com o imã e ficou
disperso no sobrenadante. Esses resultados mostram que além de produzir partículas
com a estequiometria fora do desejado, a composição das ferritas em cada fase são
diferentes, mostrando que a amostra obtida é heterogênea em composição.
4.2 DRX
Pela análise dos difratogramas de raios X apresentados na figura 1 , foi possível
observa que a amostra de ferrita de manganês obtida apresenta mistura de fases. Além
da fase de ferrita cúbica observa-se também a presença de picos que não foi possível
indexar. Já as amostras de ferritas dopadas com zinco apresentaram uma única fase
cristalina, característica de ferrita cúbica.
10 20 30 40 50 60 70 80
Inte
nsid
ade
Ângulo (°)
a - Mn1,13Fe2O4
b - Zn0,01
Mn1,09
Fe2O
4
c - Zn0,02Mn0,72Fe2O4
d - Zn0,2
Mn0,62
Fe2O
4
e - Zn0,28Mn0,54Fe2O4
f - Zn4,34
Mn46,2
Fe2O
4
a
b
c
d
e
f
Figura 1 – Difratogramas das ferritas sintetizadas.
Com os dados de difração de raios X estimou-se o diâmetro da partícula com a
aplicação da equação de Scherrer, que estão apresentados na tabela 2. Os diâmetros das
Capa Índice 1132
amostras na faixa de 18 a 31 nm são compatíveis com diâmetros de amostras
sintetizadas por esses métodos descritas na literatura.
Tabela 2: tamanho da partícula
Ferrita Diâmetro (nm)
Mn1,13Fe2O4 28
Zn0,01Mn1,09Fe2O4 31
Zn0,02Mn0,72Fe2O4 25
Zn0,2Mn0,62Fe2O4 18
Zn0,28Mn0,54Fe2O4 18
Zn4,34Mn46,2Fe2O4 24
4.3 Magnetização
As curvas de histereses magnética obtidas para as amostras de ferritas
sintetizadas estão apresentadas na figura 2.
-20000 -15000 -10000 -5000 0 5000 10000 15000 20000
-60
-40
-20
0
20
40
60
Mag
netiz
ação
de
satu
raçã
o (e
mu/
g)
Campo aplicado (Oe)
Mn1,13Fe2O4
Zn0,01Mn1,09Fe2O4
Zn0,02
Mn0,72
Fe2O
4
Zn0,2
Mn0,62
Fe2O
4
Zn0,28Mn0,54Fe2O4
Zn4,34Mn46,2Fe2O4
Figura 2 – Histereses de magnetização das ferritas.
Capa Índice 1133
Os valos das magnetizações de saturação estão apresentados na tabela 3. Os
resultados mostram que a síntese via coprecipitação produz partículas com
magnetização inferior às partículas que são sintetizadas via decomposição térmica em
autoclave. Todas as amostras sintetizadas apresentaram Ms inferiores aos que são
encontrados na literatura para ferritas com composições semelhantes sintetizadas por
decomposição térmica em refluxo. Essa dados nos leva a crer que a síntese por
coprecipitação resulta na obtenção de sólidos cuja distribuição dois íons no retículo
cristalino é diferente da obtida pela síntese por decomposição térmica em refluxo.
Diferente das ferritas obtidas por coprecipitação, a ferrita obtida via decomposição
térmica em autoclave mostrou uma melhor magnetização de saturação, mas ainda
inferior ao descrito na literatura para ferrita com essa estequiometria sintetizada por
decomposição térmica em refluxo.
Tabela 3: magnetização de saturação das ferritas via coprecipitação e via decomposição térmica em autoclave
Ferrita Via de síntese Ms (emu/g de amostra) Mn1,13Fe2O4 Co precipitação 52
Zn0,01Mn1,09Fe2O4 Co precipitação 46 Zn0,02Mn0,72Fe2O4 Co precipitação 33 Zn0,2Mn0,62Fe2O4 Co precipitação 36 Zn0,28Mn0,54Fe2O4 Co precipitação 36 Zn4,34Mn46,2Fe2O4 Decomposição térmica em
autoclave (precipitado) 60,8
5 Conclusão
Foram sintetizadas nanopartículas de ferritas de manganês dopadas com zinco
pelos métodos de coprecipitação em meio aquoso e por decomposição térmica de
oleatos dos respectivos metais em autoclave. As amostras consistem somente de fases
cristalinas puras, espinélio cúbico, conforme foi verificado por DRX. Os diâmetros
estimados por DRX então na faixa de 18-32 nm e toda as amostras apresentaram
superparamagnetismo à temperatura ambiente. A magnetização de saturação da ferrita
preparada por de composição térmica foi maior que das amostras sintetizadas por
coprecipitação.
Capa Índice 1134
6 Referências
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Capa Índice 1135
SIMULAÇÃO DA SECAGEM DE MATERIAL PARTICULADO EM UM LEITO
FLUIDIZADO
Diana L.F. Mota1, Fernando H.R. Silva1, Gabriel L. Castiglioni2 e Cezar A. da Rosa1
1 – Instituto de Química, [email protected]
2 – Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos, [email protected]
RESUMO
A secagem está entre as operações mais usuais nas indústrias química, farmacêutica e de alimentos. Esta operação unitária possibilita a redução de umidade dos materiais, e consequentemente, favorece a conservação e armazenamento destes. Diversos equipamentos são utilizados na secagem de materiais particulados, dentre esses, o leito fluidizado possui destaque devido as altas taxas de transferência de calor e massa encontradas neste equipamento. Embora a simulação da fluidodinâmica de sistemas que envolvam o escoamento gás-sólido, como no caso dos secadores de leito fluidizado, já esteja bastante difundida, a modelagem e simulação dos fenômenos presentes na operação de secagem ainda é um desafio. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi realizar a modelagem e simulação dos fenômenos de transferência que ocorrem durante a secagem de materiais particulados em um leito fluidizado. Para isso, utilizou-se a casca de jabuticaba triturada como fase particulada. Experimentos de secagem em camada delgada foram realizados, em três temperaturas e três velocidades diferentes do ar de secagem, para a determinação da cinética de secagem do material em estudo. Modelos cinéticos foram ajustados aos dados experimentais para serem utilizados como termos fonte das equações de transporte de massa do modelo. A técnica CFD (fluidodinâmica computacional) foi utilizada na modelagem e simulação sistema em estudo. Os resultados da simulação mostraram-se fisicamente consistentes e promissores. Palavras Chave: Secagem, CFD, Simulação 1 – Introdução
A secagem está entre as operações mais usuais nas indústrias química, farmacêutica e de
alimentos. Em uma boa parte das situações é o último processamento do produto antes de sua
classificação e embalagem. Esta operação unitária possibilita a redução de umidade dos
Capa Índice 1136
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1136 - 1150
materiais, e consequentemente, favorece a conservação e armazenamento destes (Strumillo &
Kudra, 1986).
Além das questões de qualidade, como em qualquer processo industrial, as preocupações
referentes ao consumo energético e consequentemente aos custos da operação, devem ser levadas
em consideração na escolha da técnica de secagem (PAKOWSKI & MUJUMDAR, 1995).
Neste sentido, diversos equipamentos, que envolvem o contato sólido-fluido, são utilizados
industrialmente nas operações de secagem como: leito fixo, deslizante, de jorro, fluidizado e de
transporte pneumático (Mujumdar, 2004). Estes podem ser divididos em duas classes principais:
leitos fixos e leitos móveis. Os equipamentos que possuem movimentação da fase particulada
(leitos móveis) são os que apresentam maiores coeficientes de transferência de calor e massa,
pois favorecem a interação fluído-partícula.
Dentre os secadores de leito móvel, o leito fluidizado é um dos equipamentos mais
utilizados, pois apresenta importantes vantagens como elevadas taxas de transferência de calor e
massa e boa mistura das partículas (Mujumdar, 2004), o que possibilita a obtenção de um
produto final homogêneo em um menor espaço de tempo.
Os secadores de leito fixo, quando utilizados na secagem em camada fina, tem importante
aplicação na determinação da cinética de secagem de materiais granulares. Segundo Prado
(1999) o estudo em camada fina cresce de importância quando se trata de materiais para os quais
as informações sobre comportamento cinético são escassas, possibilitando o estudo da influência
das variáveis do processo sobre a transferência de massa, uma vez que há amplo controle das
condições operacionais e é possível diferenciar os efeitos da temperatura, umidade e velocidade
superficial do ar.
Independentemente do tipo de indústria, as operações de secagem devem apresentar custos
operacionais reduzidos e capacidade produtiva elevada, resultando em produtos secos de
qualidade aceitável (BACELOS et al., 2005). Isto faz com que o conhecimento, cada vez mais
aprofundado, dos perfis de velocidade, temperatura e umidade nos secadores seja de extrema
importância no desenvolvimento e otimização de processos visando uma maior eficiência
energética.
Para tanto, se tornam necessárias não somente a realização de medidas experimentais, mas
também o uso de modelos teóricos para descrever as variáveis que são difíceis de obter-se
experimentalmente. Neste âmbito, a fluidodinâmica computacional (CFD) vem sendo aplicada
Capa Índice 1137
na simulação de diversos processos envolvendo o escoamento entre fluido e sólidos particulados,
incluindo processos com distribuição de tamanho das partículas (Arastoopour, 2001; Strumendo
et al., 2008). Ainda, a técnica CFD tem sido aplicada na simulação da fluidodinâmica de leitos de
jorro convencionais com e sem tubo draft (Szafran e Kmiec, 2004; Wang et al., 2006; Zhonghua
e Mujumdar, 2008; Duarte et al., 2009; Béttega et al., 2009a,b), na simulação de leitos de jorro
contínuos (da Rosa e Freire, 2009), e também na simulação de leitos fluidizados (Jungkee, da
Rosa & Arastoopour, 2010; Cooper e Coronella, 2005; Zimmermann e Taghipour, 2005).
Embora a simulação da fluidodinâmica de sistemas que envolvam o escoamento gás-
sólido, como no caso dos secadores de leito fluidizado, já esteja bastante difundida, a modelagem
e simulação dos fenômenos presentes na operação de secagem ainda é um desafio. Desta forma,
o objetivo deste trabalho foi realizar a modelagem e simulação dos fenômenos de transferência
que ocorrem durante a secagem de materiais particulados em um leito fluidizado, utilizando
como base dados experimentais obtidos através de experimentos de secagem em camada
delgada.
2 – Metodologia 2.1 – Material
Cascas de jabuticaba trituradas foram utilizadas como material particulado. Este material
foi escolhido devido a disponibilidade do mesmo, e também por se tratar de um resíduo sólido da
produção de geleias. Assim, a secagem deste material pode propiciar a o aproveitamento do
mesmo para outras finalidades como na produção de pães.
As cascas trituradas foram caracterizadas quanto a densidade, diâmetro médio de partícula
e conteúdo de umidade, sendo os valores obtidos respectivamente 1350 kg/m3, 0,8 ± 0,1 mm e 71
± 2 % b.u.
2.2 – Equipamentos e metodologia experimental
Os experimentos de secagem em camada delgada foram realizados em secador de bandejas
com escoamento perpendicular do ar, conforme apresentado na Figura 1. Foi utilizada apenas
uma bandeja no interior do equipamento para a garantia das condições de camada delgada. A
Capa Índice 1138
massa da bandeja foi medida, ao longo da secagem, em uma balança semi-analítica a cada 15
min até que o equilíbrio foi alcançado. A umidade inicial das amostram foi determinada através
da secagem em estufa a 105 ºC por 24h. Os ensaios de secagem foram realizado em três
temperaturas (60, 65 e 70 ºC) e três velocidades do ar (0,5, 1,0 e 2,0 m/s)
Figura 1: Secador de bandejas.
2.3 – Equações do modelo
Fluidodinâmica
Tendo como base o conceito de fração volumétrica das fases (αq), a equação de
conservação da massa para a fase q, sendo q = f, s, pode ser escrita como:
q
n
pqppqqqqqq Smmv
t
1
(1)
onde: q é a massa específica da fase q, qv é a velocidade desta fase,
n
pqppq mm
1
é o termo
referente a taxa líquida de transferência de massa entre as fases e qS é o termo fonte referente a
geração de massa da fase q.
Capa Índice 1139
As equações de conservação de quantidade de movimento para as fases primária e
secundária estão apresentadas nas Equações 2 e 3.
fSSffSSffffffffffff vmvvKgpvvvt
(2)
SfSfSffSSSSSSSSSSSS vmvvKgppvvvt
(3)
Nas equações acima p é a pressão estática, ps é a pressão granular, q (q = f ou s) é o tensor
viscoso, sffs vvK é o termo referente a transferência de momento entre as fases.
A tensão de cisalhamento em cada fase é descrita segundo a forma Newtoniana, conforme
Equação 4 para o fluido e Equação 5 para a fase granular.
Ivvv ffffTfffff
32 (4)
Ivvv SSSSTSSSSS
32 (5)
em que μ é a viscosidade da fase, λ é a viscosidade bulk e I é o tensor unitário.
A viscosidade bulk é um importante parâmetro para determinar a dinâmica de fluidos onde
efeitos de compressibilidade estão presentes. Este parâmetro para a fase particulada representa a
resistência da fase granular a ações de contração e expansão.
Para o cálculo do coeficiente de transferência de quantidade de movimento entre as fases
(Kfs=Ksf), utilizou-se o modelo proposto por Gidaspow (1994), Equações 6 e 7.
8,0,75,1
1150 2
f
S
fSSf
Sf
ffsSf d
vvd
K
(6)
Capa Índice 1140
8,0,43 65,2
ffS
fSffSDSf d
vvCK
(7)
onde CD é o coeficiente de arraste dado pela Equação 8.
687,0Re15,01Re
24Sf
pfDC
(8)
O balanço de quantidade de movimento para fase particulada requer a descrição das
tensões desta fase. Para isso, neste trabalho, foi utilizada a teoria cinética granular proposta por
Lun et al. (1984), conforme descrito no trabalho de da Rosa e Freire (2009).
O modelo k-ε aplicado a cada fase, foi utilizado para a predição dos efeitos da turbulência
no sistema em estudo.
Transferência de calor
Na formulação Euleriana a partícula deixa de existir, dando lugar a um conjunto de
partículas que formam uma fase. Neste sentido, o perfil de temperatura no interior de uma
partícula isolada não é considerado, mas sim uma média local da temperatura de um conjunto de
partículas (fase granular). Desta forma, nas simulações da transferência de calor entre gás-sólidos
está imposto que 1,0S
SSf
kdh
Bi , ou seja, a resistência a transferência de calor por convecção do
ar para as partículas tem que ser muito maior que a resistência a transferência de calor no interior
destas.
Através dos valores das propriedades utilizadas neste estudo, pode-se concluir que esta
hipótese é válida. Assim, a equação da conservação da energia para o fluido e a fase particulada
podem ser escritas conforme as Equações 9 e 10.
vapSfSfffff
ffffffff HmQqvt
phvh
t
: (9)
vapSffSSSSS
SSSSSSSS HmQqvt
phvht
: (10)
Capa Índice 1141
Em que hq é a entalpia da fase q (q=f ou s), qq v: é o termo referente a dissipação viscosa, qq é
o fluxo condutivo de calor, SffS QQ representa a transferência de calor entre as fases e vapH é o
calor de vaporização da água na temperatura da fase granular.
A transferência de calor entre as fases foi calculada através do mecanismo convectivo, o
qual está descrito na Equação 11.
SffSfS TThQ (11)
onde SffS hh é o coeficiente de transferência de calor entre as fases. Este através da correlação
para o número de Nusselt proposta por Kmiec (1980), conforme Equação 12.
304,2947,047,1852,0
226,03/1644,0
2tanPrRe0451,0
S
c
S
bedpp d
dd
HArNu (12)
Transporte de umidade
Assim como para a temperatura, a formulação Euleriana não considera a distribuição de
umidade no interior das partículas, sendo esta variável uma média local. O modelo para
transferência de massa baseia-se em equações difusivo-convectivas, onde a massa pode ser
transportada devido ao movimento das fases e também devido a diferença de concentração em
uma mesma fase.
As Equações 13 e 14 apresentam os modelos utilizados para o transporte de umidade no
fluido e na fase sólida.
Sfffvfffff mYDYvYt
(13)
SfSSwSSSSS mXDXvXt
(14)
Capa Índice 1142
onde Y é o conteúdo de umidade em base úmida no fluido (ar), X é o conteúdo de umidade em
base úmida na fase sólida, vD é a difusividade do vapor no fluido, wD é a difusividade de
umidade na fase sólida e Sfm é a taxa de secagem.
A taxa de transferência de massa, ou taxa de secagem, foi calculada através de uma
analogia a lei de resfriamento de Newton, conforme Equação 15.
SeSSSf XXKNm (15)
onde eX é a umidade de equilíbrio do sólido nas condições do ar de secagem e K é a constante
de secagem, a qual foi considerada como sendo função da temperatura do ar, velocidade relativa
entre as fases e da umidade da fase sólida, conforme Equação 16.
),,( XvvTKK fSf
(16)
2.4 – Solução Numérica
Para a solução das equações do modelo foi utilizado o software FLUENT 6.3, o qual se
baseia na técnica de volumes finitos. O acoplamento pressão-velocidade foi obtido pelo
algoritmo SIMPLE. O método upwind de segunda ordem foi utilizado para a discretização das
equações no volume de controle. O sistema de equações foi resolvido em regime transiente,
sendo que o critério de convergência foi escolhido como 1x10-3 para todas as variáveis. Os
fatores de relaxação foram escolhidos entre 0,2 e 0,5 para as equações do modelo fluidodinâmico
e 1,0 para as demais equações.
Malha computacional
Para a discretização das equações do modelo no domínio computacional foi gerada uma
malha 3D utilizando o software GAMBIT 2.13. A malha computacional em três dimensões é
composta por células retangulares, conforme mostrado na Figura 2. A malha foi gerada usando
um espaço entre os nós de 3mm.
Capa Índice 1143
Figura 2: Malha computacional tridimensional.
Modelos de calor e massa no software FLUENT®
Uma rotina computacional (UDF – “User Defined Function”) foi desenvolvida em
linguagem C para implementar: o cálculo do coeficiente de transferência de calor entre as fases,
a condutividade térmica efetiva das fases, as difusividades do vapor e de umidade, a umidade de
equilíbrio nas condições locais do ar de secagem e os termos que envolvem a taxa de secagem
nas equações de movimento, calor e massa. Os modelos de transporte de umidade foram
adicionados ao software por meio de UDS’s (“User Defined Scalar”).
3 – Resultados e Discussão
A Figura 3 apresenta o gráfico de contornos para a fração volumétrica de sólidos, através
da qual é possível observar o comportamento qualitativo da fluidodinâmica do leito fluidizado.
Capa Índice 1144
Figura 3: Gráfico de contornos da fração volumétrica de sólidos em função do tempo real de
simulação – Corte central do leito no plano YZ.
Conforme apresentado anteriormente, a constante de secagem foi considerada como uma
função da temperatura do fluido, velocidade relativa entre as fases e também da umidade do
material, de acordo com a Equação 16.
A constante de secagem pode ser relacionada com os dados experimentais, de umidade
adimensional dos sólidos em função do tempo, através de equações empíricas, como a Equação
19 proposta por Brooker et al. (1974).
Kt
e
e AeXXXX
0 (19)
onde K é a constante de secagem, a qual pode ser relacionada com a temperatura do fluido
através de uma equação do tipo Arrhenius, conforme a Equação 20.
f
a
RTE
eKK
0 (20)
Capa Índice 1145
em que K0 e Ea são constantes determinadas através de dados experimentais. No presente
trabalho, estas constantes foram consideradas como sendo função da velocidade relativa entre as
fases, conforme Equações 21 e 22. vKeKKK
3210
(21)
vE
a eEEE
321
(22)
A determinação das constantes empíricas, das correlações que compõem a equação da
constante de secagem, foi realizada a partir de dados experimentais obtidos para diferentes
condições de temperatura e velocidade do ar, sendo estas: 60, 65 e 70ºC; 0,5, 1, e 2 m/s .
Inicialmente, a Equação 19 foi ajustada aos dados para cada condição experimental,
obtendo-se assim valores de K para diferentes temperaturas e velocidades do ar, conforme a
Figura 3. O valor mínimo do coeficiente de determinação (R2) obtido para estes ajustes foi 0,97.
Figura 4: Adimensional de água livre em função do tempo.
Capa Índice 1146
As constantes das Equações 21 e 22, obtidas através de ajustes aos dados experimentais,
estão apresentadas na Tabela 4.
Tabela 1: Valores das constantes presentes nas Equações 21 e 22.
Equação 21 Equação 22
K1 (s-1) 0,28 E1 (J/mol) 146,96
K2 (s-1) 5,78 E2 (J/mol) 334,89
K3 (s/m) 1,28 E3 (s/m) 1,65
Uma vez determinada a constante de secagem (K), foi possível calcular a taxa de secagem.
Assim, os termos fonte das equações de conservação podem ser obtidos, completando o
acoplamento entre os fenômenos de transferência e possibilitando a solução simultânea das
equações do modelo.
Como neste trabalho não foram obtidos dados experimentais da secagem das cascas
trituradas de jabuticaba no leito fluidizado, não é possível avaliar o modelo quanto a previsão dos
experimentos. No entanto, pode-se julgar este quanto a coerência física, sendo esta avaliada
através da umidade do ar e dos sólidos em função do tempo, conforme Figuras 5.
Figura 5: Adimensional de umidade em função do tempo para a temperatura de 70 ºC e 2 m/s de
velocidade do ar.
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 2400,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
Adi
men
sion
al d
e um
idad
e (-
)
Tempo (min)
Capa Índice 1147
Por intermédio da Figura 5 pode-se verificar que o modelo mostrou-se fisicamente
consistente, uma vez que a umidade média do ar decresce ao longo da secagem, indicando uma
menor transferência de massa entre as fases.
4 – Conclusão
De forma geral, a metodologia empregada possibilitou o desenvolvimento de um modelo
para a secagem de material particulado em um leito de jorro com alimentação contínua de
sólidos pela base. Este modelo consistiu do acoplamento dos fenômenos de transferência:
fluidodinâmica, calor e massa. Também foi possível, através de dados experimentais de secagem
em camada delgada, a obtenção de uma equação para a constante de secagem, a qual é função da
temperatura do fluido e velocidade relativa entre as fases.
O modelo CFD mostrou-se fisicamente consistente e promissor para a análise da secagem
de materiais particulados em leitos de jorro.
5 – Referências Bibliográficas
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Revisado pelo Orientador
Capa Índice 1150
AVALIAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA DAS SUBUNIDADES CATALÍTICAS DA
PROTEÍNA QUINASE DEPENDENTE DE cAMP (PKA) DURANTE A TRANSIÇÃO
MORFOLÓGICA DE Paracoccidioides brasiliensis.
Diandra Albuquerque Lopes1, Silvia Maria Salem Izacc2
Universidade Federal de Goiás, 74690-903, Brasil
[email protected], [email protected]
PALAVRAS CHAVES: Paracoccidioides brasiliensis, Paracoccidioidomicose, Via cAMP/PKA
1Orientanda. Graduando em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Goiás 2Profa. Dra./Orientadora – Laboratório de Biologia Molecular, Instituto de Ciências
Biológicas,Universidade Federal de Goiás
Capa Índice 1151
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1151 - 1160
1. INTRODUÇÃO
Paracoccidioides brasiliensis é agente etiológico da paracoccidioidomicose (PCM),
micose endêmica na América latina, especialmente no Brasil (Restrepo et al., 2001). Este
patógeno infecta o hospedeiro através da inalação de propágulos da fase miceliana presentes no
ar. No epitélio alveolar pulmonar, os conídios diferenciam-se em leveduras, forma parasitária
(Franco, 1987). A transição de micélio para levedura pode ser induzida in vitro por uma mudança
de temperatura de 26ºC para 36ºC (Brummer et al., 1993). Associações entre morfogênese e
virulência morfológica tem sido descritas para vários fungos dimórficos que são patógenos
humanos (Rooney e Klein, 2002).
A via de sinalização cAMP/PKA desempenha um papel muito importante na regulação do
crescimento, desenvolvimento, e também na virulência de fungos patogênicos. Em Candida
albicans, Cryptococcus neoformans e Aspergillus fumigatus esta via está associada à ativação da
mudança para a forma patogênica e também na regulação bioenergética (Fuller e Rhoades, 2012;
Ocampo et al. 2009). O cAMP é um segundo mensageiro que atua como modulador em vários
processos fisiológicos tendo como principal alvo a PKA. A PKA é uma enzima que altera as
atividades de proteínas alvo, fosforilando grupos específicos de serina e treorina. A PKA é um
tetrâmero que na forma inativa contém duas subunidades regulatórias e duas catalíticas. A ligação
do cAMP às subunidades regulatórias altera a conformação da proteína, causando a dissociação
do complexo. As subunidades catalíticas são então liberadas na forma ativa, podendo fosforilar
substratos específicos envolvidos em uma série de processos celulares. Chen e colaboradores
(2007) demostraram que em P. brasiliensis a via de sinalização cAMP/PKA está envolvida na
transição morfológia e virulência do fungo, e que os níveis intracelulares de cAMP aumentam
durante a transição morfológica de micélio para levedura.
Os genes que codificam as subunidades catalíticas da PKA foram identificados no
genoma do fungo, clonados em vetor de expressão e expressos em sistema heterólogo. Esse
procedimento foi feito com o intuito de avaliar as interações da PKA com outras proteínas do
fungo. A identificação de alvos da PKA pode auxiliar no entendimento dos mecanismos
moleculares envolvidos na transição de fases do fungo, bem como nos mecanismos de virulência
a patogenicidade de P. brasiliensis. Analisamos também a expressão gênica das subunidades
catalíticas desta proteína nas fases de micélio, levedura e ao longo da transição morfológica.
Capa Índice 1152
2. OBJETIVOS
-Expressar e purificar a subunidade catalítica da PKA de Paracoccicioides brasiliensis, a qual
denominamos PbPKAc1.
-Avaliar a expressão gênica das 2 subunidades catalíticas da PKA durante a transição morfológica
do fungo.
3. METODOLOGIA
3.1- Expressão heteróloga da proteína recombinante
Para os testes de expressão foram feitos pré-inóculos das colônias resultantes da
transformação de células DH5- com o plasmídeo pGEX 4T-1 contendo cDNA correspondente a
PbPKAc1. Colônias isoladas foram inoculadas em 2 mL de meio LB líquido contendo ampicilina
(100µg/mL) e crescidas até alcançar a DO600 de aproximadamente 0,6. A indução da expressão da
proteína recombinante foi feita com IPTG nas concentrações de 0,1 mM, 0,5mM ou 1mM nos
tempos de 1h, 3h e 4h. Em seguida, as culturas foram centrifugadas a 2500 rpm por 5 minutos e o
pellet ressuspenso em PBS 1x gelado. As amostras foram analisadas por SDS-PAGE para
verificação da expressão da proteína em estudo.
3.2- Western Blot
Extrato total de proteínas foi separado por electroforese em gel de SDS-poliacrilamida
conforme descrito por Laemmli (1970) e transferidas para membrana de nitrocelulose, de acordo
com o procedimento descrito por Towbin et al. (1979). As membranas foram incubadas por 2 h
em tampão de bloqueio (leite desnatado 5%, tween 20 0,1% em PBS 1x) lavadas três vezes com
Tween 20 0.1% (vol/vol) em PBS e então incubadas com anticorpo anti-glutationa-S-transferase
(Sigma Aldrich, Co., St. Louis, MO) numa diluição de 1:7500. Em seguida, as membranas foram
novamente lavadas com Tween 20 0.1% (vol/vol) em PBS e incubadas com anticorpo anti-coelho
Capa Índice 1153
acoplado à fosfatase alcalina (Sigma Aldrich, Co., St. Louis, MO) por 1 h. A reação foi revelada
com 5-bromo-4-cloro-3-indolilfosfato/nitroazultetrazolium (BCIP/NBT).
3.3- Solubilização da proteína recombinante
Para a exposição das proteínas expressas, as células contidas nas amostras foram lisadas
por ultra-som (5 vezes durante 1min, com intervalos de 1 min) em gelo. As amostras foram
centrifugadas a 4000 rpm durante 10 min. O sobrenadante foi guardado em eppendorf , e o pellet
ressuspenso em 1ml de PBS 1x gelado para análise posterior das frações.
3.4- Purificação da proteína de recombinante
Após a solubilização das amostras, procedemos a purificação da proteína recombinante.
Primeiramente, preparamos a resina Glutathione Sepharose 4b (GE Healthcore) e em seguida
fizemos a ligação da resina com a proteína recombinante. Para preparação da resina foram
utilizados 133 µl de resina e 1000 µl de PBS 1x gelado. A resina foi lavada duas vezes e o
sobrenadante descartado. O pellet foi resuspenso em 100µl de PBS 1x gelado.
Para a ligação da resina com a proteína de fusão foram adicionados 40µl de resina, 200 µl
do solubilizado e 600 µl de PBS 1x. A amostra foi incubada no gelo por 3 h e depois lavada três
vezes com 1 ml de PBS 1x gelado e então analisadas em SDS-PAGE.
3.5- PCR em tempo real
Os RNAs obtidos de células de P. brasiliensis em diferentes tempos da diferenciação
foram tratados com DNAse 1U/L (Fermentas) e utilizados para síntese de cDNAs utilizando-se
a transcriptase reversa SuperScript II (InvitrogenTM, Life Technologies, Carlsbard, CA) e
oligonucleotídeo oligo (dT)15, segundo protocolo do fabricante. Os cDNAs foram utilizados em
reações de qRT-PCR realizadas utilizando-se a mistura SYBR green (Applied Biosystems, Foster
City, CA) no sistema StepOnePlusTM real time PCR (Applied Biosystems Inc.). As reações
foram realizadas em triplicata. A especificidade de cada par de oligonucleotídeos utilizados
(mostrados na tabela 2) foi confirmada pela visualização de um único produto de PCR em gel de
agarose 1,2%. Os níveis de expressão relativa dos cDNAs utilizados foram calculados utilizando-
Capa Índice 1154
se o método de curva padrão para quantificação relativa (Bookout et al., 2006). Reações controle
foram realizadas utilizando-se o transcrito codificante para -tubulina de P. brasiliensis.
A reação de PCR em tempo real foi realizada em 40 ciclos de 95 °C por 15 seg e 60 °C
por 1min. A mistura SYBR Green PCR (Applied Biosystems) foi utilizada adicionada de 10 pmol
de cada oligonucleotídeo e 40 ng de cDNA molde, em um volume final de 25 l. As curvas
padrões foram geradas para se confirmar um único produto de PCR e foram realizadas utilizando-
se uma alíquota de cDNA de cada amostra, serialmente diluídas (1:5, 1:25, 1:125 e 1:625 da
diluição original). Os resultados foram validados pelo teste t de student, sendo consideradas
diferenças significativas as amostras que apresentaram p <0,05.
Tabela 1: Primers utilizados nas reações de PCR em tempo real
Primer Sequência 5´- 3´
PbPKAc1_realtime_s AGGTGCTGAAGAAAGCGCAAGTGGT
PbPKAc1_realtime_as ACAGGATTTGGGAAGCGCTGCGA
PbPKAc2_realtime_s CTAGGCGAGGGGTCGTTTGG
PbPKAc2_realtime_as TGTGGCTATCACAGTATACAGCTTT
4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1- Expressão heteróloga da proteína PbPKAc1 recombinante
O cDNA que codifica PbPKAc1 foi clonado em vetor de expressão pGEX 4T-1, que expressa
uma proteína recombinante em fusão com a glutationa S-transferase. Na figura 1 podemos
observar a expressão da proteína de fusão PbPKAc1-GST, com massa molecular de
aproximadamente 60 kDa. A proteína recombinante foi também confirmada por Western blot
(figura 1II).
Capa Índice 1155
Figura 1 – Análise da expressão da proteína recombinante GST-PbPKAc1 por (I) SDS-PAGE e (II) Western blot. I- 1, 2, 3 e 4: clone A sem indução por IPTG; 1 h de indução por IPTG; 2 h de indução por IPTG e 3 h de indução por IPTG, respectivamente; 6, 7, 8 e 9- clone B sem indução por IPTG; 1 h de indução por IPTG; 2 h de indução por IPTG e 3 h de indução por IPTG, respectivamente. II A- controle positivo (pGEX 4T-1 sem inserto mostrando a expressão da GST), B, C, D, E- clone A sem indução por IPTG; 1 h de indução por IPTG; 2 h de indução por IPTG e 3 h de indução por IPTG, respectivamente; F, G, H e I- clone B sem indução por IPTG; 1 h de indução por IPTG; 2 h de indução por IPTG e 3 h de indução por IPTG, respectivamente.
4.2 – Solubilização das proteínas
Após verificarmos a presença da proteína recombinante, procedemos a solubilização das
amostras. Na figura 2 observamos que a PbPKAc1-GST está presente no sobrenadante.
Capa Índice 1156
Figura 2: Solubilização das proteínas após o processo de sonicação: I: 1- Pellet pGEX GST; 2- Não induzido pGEX GST; 3- Sobrenadante pGEX GST; II: A- Pellet construção pGEX-PKA induzido por IPTG; B- pGEX PKA não induzido por IPTG; C- Sobrenadante pGEX PKA.
4.3 - Purificação da proteína de fusão
Após solubilização das proteínas, procedemos a purificação da proteína recombinante, utilizando
a resina Glutathione Sepharose 4b (GE Healthcore) que se liga à GST. A figura 3 mostra que
conseguimos purificar nosso controle, a proteína GST, mas não conseguimos a proteína de
interesse, a PbPKAc1. É possível que a proteína tenha sido degradada ou perdido sua
conformação durante o processo de sonicação, impedindo a interação com a resina. Para
podermos continuar nosso trabalho estamos testando novas condições de solubilização.
Capa Índice 1157
Figura 3: Purificação da proteína recombinante. A- Resina pGEX PKA; B- 1º sobrenadante pGEX PKA; C- 3º lavagem pGEX PKA; D- Resina pGEX GST; E- 1º sobrenadante pGEX GST; F- 3º lavagem pGEX GST.
4.4 - PCR em tempo real
O perfil de transcrição das subunidades catalíticas PbPKAc1 e PbPKAc2 durante a transição
de micélio para levedura foi analisado através de PCR em tempo real (figura 4). Os dados
mostram que os níveis dos transcritos diminuem ao longo da transição de fases. No entanto, ainda
precisamos correlacionar estas informações com os níveis e com a atividade das proteínas
correspondentes.
Figura 4- Perfil de transcrição de PbPKAc1 e PbPKAc2 durante a transição morfológica de P.
brasiliensis.
Capa Índice 1158
5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
As subunidades catalíticas da PKA de P. brasiliensis foram clonadas em vetor de
expressão e conseguimos expressar a proteína recombinante. Em continuação a este trabalho, as
proteínas recombinantes serão purificadas e utilizadas em ensaios de pulldown a fim de se
verificar a interação com outras proteínas do fungo, o que pode revelar os alvos desta proteína
quinase em P. brasiliensis. Esta estratégia pode permitir a identificação de proteínas ativadas pela
PKA, fornecendo uma visão geral dos processos ativados pela via cAMP/PKA, bem como de
proteínas potencialmente envolvidas no processo de transição morfológica de P. brasiliensis,
evento necessário para o estabelecimento da infecção.
Além disso, observamos as alterações na expressão da PKA ao longo da diferenciação de
P. brasiliensis. Em estudos futuros, pretendemos correlacionar o perfil transcricional destas
subunidades à expressão e a atividade da PKA de P. brasiliensis.
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Revisado pelo orientador
Capa Índice 1160
PERSPECTIVAS E DESAFIOS DOS AGRICULTORES FAMILIARES DO MUNICÍPIO DE CATALÃO (GO) ATINGIDOS PELO RESERVATÓRIO
DA UHE SERRA DO FACÃO1
Diego Emanoel RodriguesGraduando em Geografia da Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão. Núcleo de Estudos e Pesquisas
Socioambientais (NEPSA/CNPq). Bolsista Iniciação Científica (PIBIC/CNPq). E-mail: [email protected]
Idelvone Mendes FerreiraProfessor Adjunto da Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão. Coordenador do Núcleo de Estudos e
Pesquisas Socioambientais (NEPSA/CNPq).E-mail: [email protected]
Palavras-chave: Agricultura Familiar; UHE Serra do Facão; Catalão (GO).
1 INTRODUÇÃO
A Agricultura Familiar tem como característica marcante a relação ente terra,
trabalho e família, assim, o trabalho executado sobre a terra é de responsabilidade dos
membros da família, e é nesse processo de produção familiar que vão sendo tecidas as
relações de afeto, amizade, cultura e produção. Outra característica fundamental deste
segmento é a relação peculiar dos agricultores familiares com a terra, em que seu significado
vai além do preço imposto pelo mercado, na verdade, a terra aparece para os produtores
familiares como fonte do seu modo de vida, além de ser à base de sua sustentabilidade
financeira, é seu espaço de vivência.
No entanto, a agricultura familiar no contexto brasileiro cada vez mais enfrenta
dificuldades para manter-se no campo devido, em grande parte, as transformações ocorridas
na segunda metade do século XX, onde a modernização da agricultura através de seu caráter
parcial e conservador, trousse desdobramentos perversos para os agricultores familiares.
Recentemente, neste inicio de século XXI, também é cada vez mais presente no campo,
Grandes Projetos de Investimento estatais e/ou privados, dentre eles, as Usinas Hidrelétricas
que vêm redesenhando paisagens naturais ou antropizadas, gerando múltiplos problemas
socioambientais.
Destarte, o objetivo deste trabalho, em especifico, foi averiguar as consequências
geradas aos agricultores familiares do município de Catalão (GO), região essa de considerável
e variada produção agrícola, que foram atingidos parcialmente pela formação do lago da
Usina Hidrelétrica Serra do Facão, construída no Rio São Marcos, mas que por sua vez ainda 1 Relatório Final Bolsa PIBIC/CNPq/UFG Revisado pelo Orientador.
Capa Índice 1161
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1161 - 1176
permanecem vivendo no campo. Nesse sentido, busca-se elucidar os embate entre as duas
lógicas distintas, a dos agricultores familiares que tem na terra a sustentabilidade do seu modo
de vida, e a que enxerga o território enquanto recurso, envolto no discurso do Estado
Brasileiro de desenvolvimento econômico.
2 OBJETIVO
Estudar os paradigmas sobre a produção familiar com ênfase nas famílias ribeirinhas atingidas
pela formação do reservatório de Aproveitamento Hidrelétrico Serra do Facão.
3 METODOLOGIA
As técnicas de pesquisas foram realizadas em etapas distintas e combinadas, são
elas: a) pesquisa teórica; b) pesquisa documental e, c) pesquisa de campo. A primeira define-
se pelo processo de revisão teórica pertinente à temática, que buscou obras fundamentadoras
do conceito da Agricultura Familiar, bem como foram apreciados trabalhos que discorrem
sobre as transformações recentes no campo Brasileiro, destacando aqueles que tratam da
questão dos Grandes Projetos de Investimento, em especial, das Usinas Hidroelétricas e dos
seus desdobramentos sobre os territórios e as populações locais. Dentre as obras e os artigos
estudados, destacam-se: Abramovay (1992), Graziano da Silva (1996), Lamarche (1993),
Mendes (2001 e 2005), Zhouri e Oliveira(2007), dentre outros.
Segundo Gil (2009, p. 51) “[...] a pesquisa documental assemelha-se muito à
pesquisa bibliográfica”. A única diferença entre ambas está na natureza das fontes. “[...] a
pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico,
ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa.” Nesse sentido,
foram utilizados roteiros de entrevistas disponibilizados pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas
Socioambientais (NEPSA/CNPq). Estes documentos são referentes ao “Projeto de
Monitoramento da Qualidade de Vida das Famílias Atingidas pela Usina Hidroelétrica Serra
do Facão” executado pelo NEPSA-CAC/UFG nos anos de 2010/2011.
Nesse âmbito, a pesquisa de campo foi realizada em consonância com o Projeto
de Monitoramento da Qualidade de Vida das Famílias Atingidas pela UHE Serra do Facão,
que visa monitorar como está a vida da população atingida pela construção do reservatório da
UHE Serra do Facão. Especificamente, este trabalho centrou-se em avaliar as condições de
Capa Índice 1162
vida dos agricultores familiares que perderam parte ou toda sua propriedade, mas que ainda
vivem no campo.
4 RESULTADOS/DISCUSSÕES
4.1 Agricultura Familiar
A Agricultura Familiar corresponde a um amplo conjunto de produtores, que tem
seu modo de vida marcado pela relação do trabalho familiar com a terra. Nesse âmbito, torna-
se necessário averiguar quais são as respostas dadas pelos agricultores familiares as recentes
transformações ocorridas, principalmente, a partir da segunda metade do século XX no espaço
agrário do Brasil. Dando ênfase para os empreendimentos de Usinas Hidrelétricas, que cada
vez mais vem se tornando elemento presente na paisagem campestre do Brasil e, que por sua
vez, traz uma serie de desdobramentos para a vida e reprodução das paisagens da agricultura
familiar.
O termo Agricultura Familiar no Brasil popularizou-se a partir do Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), criado em 1996. No âmbito
normativo este segmento é definido como aquele que “deter, sob qualquer forma, no máximo
quatro módulos fiscais de terra, quantificados como a legislação em vigor ou, no máximo seis
módulos rurais quando se tratar de pecuária familiar” (PRONAF, 1986). No entanto, o fato
desse termo, no Brasil, ter se disseminado, de forma contundente, a partir de sua utilização
pelo Estado não significa que o mesmo seja desprovido de conteúdo teórico.
Nesse sentido, a Agricultura Familiar caracteriza-se pela íntima relação entre
terra, trabalho e família. Na unidade de produção familiar a força de trabalho e a gestão da
propriedade estão imbricadas, sendo realizadas pelos mesmos atores sociais, ou seja, pelo
grupo familiar. Mendes (2005) em estudo sobre a produção familiar rural no município de
Catalão (GO), no período compreendido entre 2000 e 2005 considera que “[...] a combinação
entre trabalho familiar e os negócios caracteriza a essência de uma unidade de produção e de
consumo, em que o agricultor é, ao mesmo tempo, proprietário, administrador e trabalhador,
estabelecendo uma combinação família-empresa.” (MENDES, 2005, p. 61).
Sintetizando, pode-se afirmar que a Agricultura Familiar baseia-se no trabalho dos
membros da família na unidade de produção, sendo está dona dos meios de produção e
normalmente, também, da propriedade da terra, contudo isso não é regra geral, pois existem
os produtores não proprietários. Todavia, cabe ressaltar que o diferencial da Agricultura
Familiar está na sua peculiar relação com a terra, indo além da sua dimensão econômica.
Capa Índice 1163
Nesse âmbito, Lamarche (1993), em estudo sobre a produção familiar, compara esse
segmento entre países de diferentes continentes e corrobora com o conceito aqui apresentado,
no entanto o mesmo alerta para a complexidade ao analisar a exploração familiar. Segundo o
autor,A exploração familiar, tal como a concebemos, corresponde a uma unidade de produção agrícola onde a propriedade e o trabalho estão intimamente ligados a família. A interdependência desses três fatores no funcionamento da exploração engendra necessariamente noções mais abstratas e complexas, tais como a transmissão do patrimônio e a reprodução da exploração. (LAMARCHE, 1993, p.15, grifos do autor).
A partir do exposto considera-se que a relação terra, trabalho e família é um traço
característico da Agricultura Familiar. No entanto, destaca-se que este segmento apresenta
diferenças importantes em função da região em que se encontram, decorrentes da relação
estabelecida entre o grupo familiar e o exterior, representado pelas oportunidades de
escoamento da produção no mercado, pelo apoio de instituições governamentais, entre outros
fatores. Dessa forma, esses produtores não vivem alheios aos acontecimentos externos à
unidade familiar, mas a partir das possibilidades colocadas pelo meio a qual se inserem, os
agricultores familiares adotam as estratégias para a reprodução do grupo familiar.
Considerando então que os agricultores familiares não estão dissociados da
realidade em que se encontram, torna-se necessário destacar que houve no Brasil, a partir da
década de 1960, o processo de modernização da agricultura que modificou a base técnica da
agricultura, resultando em aumento da produtividade para aqueles produtores que tiveram
acesso as novas tecnologias. No entanto, esta modernização apresentou-se conservadora e
parcial. Este último termo indica que a mesma não esteve ao alcance de todos os produtores,
sendo que apenas aqueles com maior poder aquisitivo e recursos foram condicionados com a
possibilidade de modernizar-se. Dessa forma, a modernização também é conservadora, pois
além de não repensar a injusta organização do espaço agrário brasileiro, a mesma acaba por
centralizar ainda mais o poder nas mãos dos produtores de maior porte financeiro.
Cabe ressalvar que o Estado através, principalmente, da sua política de crédito
rural, foi ator primordial para a parcialidade do processo de modernização no campo.
Graziano da Silva (1998), em análise sobre as transformações na agricultura brasileira
advindos da modernização da agricultura e da formação dos chamados Complexos
Agroindustriais no Brasil, a partir da década de 1970, enfatiza que “[...] o carro-chefe (do
Estado) foi à política de crédito rural subsidiado” (GRAZIANO DA SILVA, 1998, p. 50).
Estevam (1998), em estudo sobre a dinâmica e formação econômica de Goiás, ao
retratar o período de modernização da agricultura, observa que os condicionantes necessários
Capa Índice 1164
para a possibilidade de acesso ao crédito rural, automaticamente excluía o pequeno produtor.
Segundo o autor,
[...] o crédito, devido á exigência de padrão operacional e tecnológico não contemplou significativamente pequenos produtores. Os projetos deviabilidade econômica e financeira, o volume de recursos necessários, as garantias demandadas, a formação de estoques de capital e os padrões técnicos requeridos não estavam ao alcance do pequeno agricultor; deste modo, o crédito rural esteve concentrado no âmbito da grande propriedade. (ESTEVAM, 1998. p. 168).
Wanderley (2001, p. 57), em análise da pertinência do conceito de agricultura
familiar e observando as continuidades e rupturas em relação ao conceito de camponês,
entende que as credenciais para o acesso a modernização da agricultura “[...] eram políticas e
não necessariamente econômicas e técnicas.” Nesse sentido, a modernização da agricultura
não teve como parâmetro contemplar a produção familiar. Assim, além destes não terem
acesso aos implementos técnicos, os agricultores familiares passaram a enfrentar maiores
dificuldades para sua permanência e reprodução no meio rural devido às transformações
ocorridas nas relações sociais no campo que passaram a ser mais monetarizadas, bem como o
mercado de trabalho no espaço rural satura-se por causa das tecnologias implementadas que
economizam na força de trabalho (MENDES, 2005).
Tendo isso em vista, averígua-se no Brasil a opção do Estado em não apoiar o
desenvolvimento econômico agrário baseado na agricultura familiar. Atitude que, em certa
medida, é responsável pelo continuo processo de pauperização das famílias no campo, bem como,
pelo êxodo rural ocorrido, principalmente, durante a segunda metade do século XX. Graziano da
Silva; Grossi e Campanhola (2002) a partir dos estudos do projeto urbano realizados em diversas
regiões do Brasil na década de 1990 e 2000, averíguam que no último decênio do século XX e no
início do XXI, o êxodo rural diminuiu. Contudo está em curso o processo de êxodo agrícola, ou
seja, cada vez mais pessoas residentes no campo não dependem primordialmente de atividades
relacionadas a ocupações agrícolas para sobreviverem.
Mas, com essa atual conjuntura do espaço agrário brasileiro, constata-se que para a
agricultura familiar “[...] as perspectivas são negativas, uma vez que os rendimentos são
baixos, as condições de trabalho precárias, as perspectivas de mercado quase sempre incertas
e, ainda, convivem com as instabilidades naturais (pragas, doenças e oscilações climáticas).
(MENDES, 2005, p. 55). Deste modo, a agricultura familiar no Brasil é colocada pelo
discurso hegemônico como sinônimo de atraso e incapaz de responder de forma consistente as
necessidades da sociedade, o que não é verificado de fato no campo.
No entanto, este discurso é contraposto pelas potencialidades da agricultura
Capa Índice 1165
familiar, e consequentemente pela sua relevância para a sociedade tanto no âmbito social,
econômico, tal como ambiental. Abramavay (2000), em estudo sobre a agricultura nos países
de capitalismo avançado, demonstra que nestes, a agricultura familiar com o apoiou estatal
teve as condições para se modernizar e aumentar a produtividade, aumentando a
disponibilidade dos produtos alimentícios e por consequência diminuindo seus preços. Nesse
sentido, com a garantia do Estado com a política do preço mínimo, os agricultores familiares
assumiram papel decisivo no desenvolvimento econômico de suas respectivas nações. Assim,
considera inconcebível que a estrutura agrária brasileira continue a privilegiar a grande
propriedade em detrimento da agricultura familiar.
Outro ponto importante é que, no atual contexto de crise ambiental, necessita-se
de práticas agrícolas que primem pela qualidade do produto e tenha como parâmetro o
respeito aos limites do ambiente. Desta maneira, tendo em vista que a agricultura familiar
caracteriza-se pela intima relação entre terra e o trabalho familiar, considera-se que este
segmento seja o mais capacitado a produzir em preceitos ambientalmente sustentáveis.
Acredita-se que com políticas públicas aplicadas adequadamente agricultura familiar, à
mesma pode-se tornar, no espaço agrário brasileiro, a melhor opção economicamente, sendo
ambientalmente responsável e, desta maneira, contribuindo para amenização de problemas
sociais na cidade e no campo. Contudo, o que se pretende não é, de forma alguma,
sobrecarregar de responsabilidades o grupo dos produtores familiares, mas sim esclarecer
sobre a importância e as possibilidades desse segmento dentro do contexto societal. Destarte,
evidencia-se que a agricultura familiar não é empecilho no campo brasileiro, mas sim
potencialidade socioambiental.
Atualmente, legitimadas pelo discurso da necessidade de energia elétrica para o
desenvolvimento do país, é crescente o número de projetos de usinas hidrelétricas que vêm
sendo implantados em território brasileiro. Dessa forma, alterando paisagens desenhadas E
vivenciadas pelos povos tradicionais ali residentes. Nesse sentido, destaca-se as formas
distintas de conceber o território, entre os povos tradicionais, especificamente, os agricultores
familiares e os agentes que promovem a construção de tais empreendimentos hidrelétricos,
dentre os quais estão às empresas interessadas na construção, geração e distribuição da
energia elétrica, bem como o Estado Brasileiro.
No âmbito dos agricultores familiares, a terra onde vivem não é vista apenas no
aspecto econômico, pois este é o local da construção de suas vidas, está embutido o valor de
uso na relação do produtor e sua propriedade. Evidentemente, a sustentabilidade econômica
da família dos agricultores também depende da propriedade, assim a “perda” de parte ou toda
Capa Índice 1166
propriedade pode significar também dificuldades econômicas. Contudo, quando se trata do
segmento da Agricultura Familiar é preciso ter em mente a indissociabilidade dos aspectos
simbólico-cultural e socioeconômico. Isso justamente, porque o local onde os agricultores
retiram o seu sustento é o mesmo em que constroem seus hábitos, cultura e vida, suas
paisagens de vida.
Há nesse sentido a colisão entre está lógica da agricultura familiar com a lógica
colocada pelos empreendimentos hidrelétricos, que enxerga o território como recurso de
exploração intensiva, privilegiando a dimensão econômica na relação com o espaço. Cada vez
mais se estabelece tensões entre agricultores familiares que são atingidos e estes
empreendimentos. Zhouri e Oliveira (2007), em estudo sobre projetos Hidrelétricos
desenvolvidos no Vale do Jequitinhonha, observam que há nesses casos o embate entre duas
racionalidades, segundo as autoras,
[...] tais projetos [...] revelam a oposição entre duas racionalidades distintas: de um lado, para as comunidades ribeirinhas a terra representa o patrimônio da família e da comunidade, resguardado por regras de uso e compartilhamento dos recursos; do outro lado, o Setor Elétrico, incluindo o Estado e empreendedores públicos e privados que, a partir da perspectiva do Mercado, entendem o território como propriedade e, como tal, mercadoria passível de valoração monetária. (ZHOURI; OLIVEIRA, 2007, p. 124)
Assim, busca-se esclarecer que a terra, onde se estabelece a unidade de produção
familiar está para além do aspecto econômico, é o local de reprodução da vida do conjunto
familiar, ou seja, a terra é território de vivência, é à base do modo de vida das pessoas que
estão envolvidas no processo de produção familiar. Desse modo, quando em função de
empreendimentos hidrelétricos os produtores familiares são forçados a ceder toda ou parte de
sua terra, normalmente há respostas contrárias, pois há uma relação de pertencimento entre
terra e agricultor, uma identidade construída e percebida, na terra está embutido o patrimônio
sociocultural da unidade familiar, constituindo-se a experiência de vida do individuo e do
grupo familiar. É o local de seu pertencimento.
Acredita-se que a discussão sobre empreendimentos dessa magnitude deve levar
em consideração a vida das famílias ribeirinhas atingidas, e não considerar os agricultores
familiares como percalço ao desenvolvimento econômico do Estado, tendo em vista que o
discurso a favor das UHE baseia-se na necessidade social da energia elétrica. Que parâmetro
social é esse? Crê-se que torna necessário buscar alternativas que visem ter equilíbrio na
relação produção de energia e impactos socioambientais provocados, bem como a busca por
justiça social igualitária.
Capa Índice 1167
Apesar da falta e/ou incipiente apoio a agricultura familiar, este segmento vêm
resistindo no espaço agrário do Brasil, devido à capacidade do grupo familiar adequar-se ao
contexto externo, buscando estratégias para à reprodução da unidade de produção familiar. No
entanto, considera-se imprescindível a necessidade de politicas e ações por parte do Poder
Público que visem possibilitar perspectivas positivas para os produtores familiares. Enfatiza-
se que no processo de avaliação custo/beneficio de empreendimentos hidrelétricos deve-se
levar em consideração a relevância social, ambiental e econômica, bem como o modo de vida
dos agricultores familiares. E, quando tais projetos forem aprovados, deve-se tornar regra
imprescindível pensar planos de remanejamento e mitigação que visem minorar os impactos
sobre a agricultura familiar e seus atores que bailam no palco das paisagens atingidas.
4.2 Agricultores familiares do município de Catalão (GO) atingidos pela usina hidrelétrica Serra do Facão
Tendo em vista as considerações feitas anteriormente, neste item, especificamente
buscou-se explicitar características dos agricultores familiares no município de Catalão (GO),
identificando as peculiaridades desses em âmbito regional. Contudo, o objetivo central é
estabelecer apontamentos sobre os desdobramentos decorrentes da construção da Usina
Hidrelétrica Serra do Facão, no Rio São Marcos, sobre os agricultores familiares do
Município em questão, que foram atingidos parcialmente por esta UHE, mas que ainda
permanecem no meio ruaral. A metodologia utilizada para obtenção das informações sobre as
famílias se deu a partir dos roteiros de entrevista aplicados á quatorze famílias, resultante dos
trabalhos de campo realizados pela Equipe do Núcleo de Estudos e Pesquisas Socioambientais
(NEPSA-CAC/UFG) no biênio 2010/2011, no transcorrer do Projeto de Monitoramento da
Qualidade de Vida das Famílias Atingidas pela UHE Serra do Facão, sob a responsabilidade
de pesquisadores do Departamento de Geografia-CAC/UFG.
A UHE Serra do Facão ocupa uma área de 228km2 na Bacia Hidrográfica do Rio
São Marcos, atingindo diretamente áreas rurais nos municípios de Catalão, Campo Alegre de
Goiás, Cristalina, Davinópolis e Ipameri na Unidade Federativa de Goiás, e Paracatu no
Estado de Minas Gerais. O município de Catalão destaca-se economicamente dentre esses
municípios, sendo a base da sua economia diversificada entre os três setores de atividade
(primário, secundário e terciário), assim constituindo-se como polo regional.
Demograficamente, o Município é o maior, entre aqueles que a UHE Serra do Facão abrange,
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (CENSO/IBGE, 2010), o Município
Capa Índice 1168
possui uma população de 86.647 habitantes.
Quanto à população cabe observar a sua distribuição entre campo e cidade, em
que, 93,55% das pessoas encontram-se residindo na área urbana, enquanto apenas 6,45%
moram no campo (CENSO/IBGE, 2010), sendo dentro da Microrregião de Catalão, o
Município que apresenta a maior desigualdade populacional entre campo e cidade, ou seja, em
termos demográficos, é o Município mais urbanizado nessa Região. Para explicar tal fato, é
necessário reporta-se ao processo de modernização da agricultura, bem como de
industrialização que ocorreu no Município a partir do último terço do século XX. Imbricados
nesses processos está o êxodo rural que, por sua vez, contribuiu para essa diminuição brutal
da população residente no campo e pela tecnificação das práticas agropastoris nesse contexto.
Dessa forma, tendo em vista que o processo de modernização da agricultura em
âmbito regional/nacional ocorreu de forma parcial e conservadora, concentrando e
aumentando o poder dos grandes produtores em contraposição as dificuldades suscitadas aos
agricultores familiares, pode-se averiguar no cenário Regional os dois modelos de agricultura:
o baseado nas modernas e grandes propriedades; e a agricultura familiar marcada por técnicas
tradicionais.
Contudo, constatou-se que o espaço rural paulatinamente é menos atrativo para os
jovens, ou seja, há dessa forma uma desvalorização do meio rural. Essa afirmação
fundamenta-se na averiguação da composição familiar dos agricultores familiares envolvidos
na pesquisa. Apesar das unidades familiares atingidas pela UHE Serra do Facão se encontrar
em várias comunidades dentro do município de Catalão, observa que há uma tendência geral
na composição familiar, em que o número de pessoas residentes na unidade familiar é de duas
pessoas em 57,14% das residências, como pode ser observado no Gráfico 1.
Gráfico 1 – Composição familiar dos Atingidos pela UHE Serra do Facão em Catalão (GO):número de pessoas por unidade familiar
Capa Índice 1169
Fonte: Trabalho de Campo, 2010/2011- NEPSA-CAC/UFG. Org.: D. E. Rodrigues (2012).
O Gráfico 2 demonstra que esses dois habitantes predominantes nas unidades
familiares averiguadas são, na verdade, em sua maior parte, marido e esposa, ou seja, há a
predominância no meio rural de casais, normalmente de idade superior aos 40 anos, indicando
para um processo de envelhecimento da população rural. Isso parece não ser uma
peculiaridade dos agricultores familiares atingidos pela UHE Serra do Facão em Catalão, pois
este fato, de forma geral, está relacionado com a falta de perspectivas do agricultor familiar
em melhorar seus rendimentos. O que também explicita a desvalorização do meio rural, bem
como a falta de apoio destinado ao segmento da agricultura familiar.
Gráfico 2 – Composição familiar dos Atingidos pela UHE Serra do Facão em Catalão (GO):condição na família
Fonte: Trabalho de Campo, 2010/2011- NEPSA-CAC/UFG. Org.: D. E. Rodrigues (2012).
No que tange a fonte de renda para a sobrevivência desses agricultores familiares,
7,14%
57,14%
28,57%
0
7,14%
1 pessoa
2 pessoas
3 pessoas
5 pessoas
7,14%
57,14%
21,42%
7,14% 7,14%
Chefe
Chefe e Cônjuge
Chefe; Cônjuge e filhos
Chefe e Cônjuge; filhos e outros
Chefe e Filhos
Capa Índice 1170
a maioria (85,71%)2 responderam que a fonte de renda principal é advinda da exploração da
propriedade a qual residem, destacando as atividades agropecuárias. Esse dado torna-se
interessante no sentido que demostra que esses agricultores familiares, em especifico, não se
alinham ao êxodo agrícola constatado por Graziano da Silva; Grossi e Campanhola (2002), que
enfatizam que esse processo paulatinamente é cada vez mais presente no campo brasileiro a partir
da última década do século XX. No entanto, enfatiza-se a importância dos valores financeiros
decorrentes das aposentadorias na composição da renda familiar, apesar de não ser a maioria dos
entrevistados que possuem esse beneficio, é uma parte significativa, como comprova o Gráfico 3.
Gráfico 3 – Percentual de aposentados dos Atingidos pela UHE Serra do Facão em Catalão (GO).Possui aposentadoria?
Fonte: Trabalho de Campo, 2010/2011- NEPSA-CAC/UFG. Org.: D. E. Rodrigues (2012).
Quanto ao âmbito do nível de renda dos agricultores familiares, 35,71%3 dos
entrevistados disseram retirar a renda mensal variando entre um e dois salários mínimos.
Outros 35,71% relataram conseguir remuneração entre 2 e 3 salários mínimos. Nesse sentido,
somando-se esses dois dados, pode-se afirmar que a maioria (71,42%) das unidades familiares
sobrevivem com a renda de um a três salários mínimos. Ainda, 14,28% dos agricultores
familiares declararam ter um faturamento de mais de três até cinco salários mínimos, e 7,14%
estão no nível de cinco a dez salários mínimos. Sendo que, também 7,14% não responderam a
esse questionamento.
Com base nos dados apresentados têm-se um breve panorama da questão
2 O percentual restante (14,28%) foi considerado nulo, derivado de incorreções no preenchimento do roteiro de entrevista, em que possuía-se as variáveis: Sim e Não. No entanto foram marcadas ambas as alternativas ou nenhuma alternativa foi assinalada. 3Foi observado que alguns produtores familiares não se sentiram á vontade para declarar a renda.
42,86%
57,14% sim
não
Capa Índice 1171
socioeconômica e composição familiar dos agricultores familiares atingidos pela UHE Serra
do Facão no município de Catalão. Torna-se necessário enfatizar que há uma relação direta
entre essas duas variáveis (composição familiar e nível econômico dos agricultores
familiares), pois em detrimento da paulatina diminuição do poder de consumo dos
agricultores familiares na sociedade capitalista, há a tendência à diminuição desses no campo,
permanecendo integralmente no espaço rural apenas aqueles agricultores familiares que tem
uma vinculação restrita ao espaço rural, em função de suas formações e vivências estar
atrelada a esse meio.
Dessa maneira, através dos dados e argumentos expostos pode-se apontar um
perfil para os produtores familiares, que não tem o objetivo de camuflar a multiplicidade da
realidade dos agricultores familiares analisados, mas enfatizar as similitudes predominantes
desses. Assim, observa-se que o empreendimento hidrelétrico atingiu predominantemente
casais de agricultores na fase adulta acima de 40 anos, que apresentam escolaridade média em
nível de Ensino Fundamental incompleto. No entanto, destaca-se o aspecto imaterial, em que
há uma identidade construída pelos agricultores familiares a partir da relação com a terra onde
viveram a maior parte de suas vidas e estabeleceram seus referenciais e construíram suas
paisagens e identidades.
Nesse sentido, com relação à implantação da UHE Serra do Facão foram
detectados diversos problemas, expostos pelos próprios agricultores familiares, como
transtornos relativos à inviabilização de estradas, que por sua vez contribuíram no incômodo
de perder o acesso á outras propriedades; preço baixo pago por parte dos responsáveis pelo
empreendimento pelas terras; afastamento de familiares e vizinhos, dentre outros.
Gráfico 4 – Principais problemas suscitados aos agricultores familiares com a implantação daUHE Serra do Facão em Catalão (GO)
Capa Índice 1172
Fonte: Trabalho de Campo, 2010/2011- NEPSA-CAC/UFG. Org.: D. E. Rodrigues (2012).
Como demonstra os dados do Gráfico 4, 35,71% dos entrevistados destacaram o
afastamento da família e vizinhos como problema, demonstrando assim que a construção do
empreendimento hidrelétrico acabou por afetar significativamente o aspecto da sociabilidade
das famílias. Todavia, salienta-se que a perda de parte da propriedade constitui-se um
problema enfatizado por 28,57% dos agricultores familiares entrevistados, evidenciando, que
o fato de ter que vender parte da propriedade afetou a racionalidade e planejamento dos
agricultores familiares, provavelmente trazendo dificuldades para parte dos mesmos. No
entanto, 21,43% dos agricultores familiares realçaram não haver problemas.
Concernente aos benefícios trazidos para a família, a partir da construção da
Usina Hidroelétrica Serra do Facão a maioria (71,43%) dos agricultores familiares destacaram
não haver benefício algum, e 21,42% ressaltaram a valorização do imóvel como beneficio,
advindo em função da UHE. O Gráfico 5 explicita isso.
Gráfico 5 – Principais benefícios suscitados aos agricultores familiares com a implantação da UHE Serra do Facão
14,28%
28,57%
7,14%
35,71%
7,14% 7,14%
21,43%
Capa Índice 1173
Fonte: Trabalho de Campo, 2010/2011- NEPSA-CAC/UFG. Org.: D. E. Rodrigues (2012).
Ressalta-se que a multiplicidade de benefícios e problemas destacados demonstra
diferentes visões sobre o empreendimento hidrelétrico. Porém, destaca-se que os agricultores
familiares entrevistados foram atingidos em proporções diferentes, o que influência
provavelmente na sua forma de avaliação sobre o assunto e/ou impacto. Contudo, de forma
geral, é possível perceber que houve mais problemas do que benefícios suscitados aos
agricultores familiares atingidos parcialmente pela UHE Serra do Facão. Não cabe aqui nesse
momento, buscar as explicações para isso, ou mesmo criar juízo de valor sobre o a construção
da UHE Serra do Facão. Mas, sim destacar novamente a importância da agricultura familiar
em âmbito municipal, bem como nacional, por isso crê na necessidade de pensar politicas que
visem dar maiores condições aos produtores familiares, sendo que esses não podem ser visto
como problema ao desenvolvimento nacional, pois problema é a imposição de Grandes
Projetos de Investimento, desrespeitando os povos tradicionais presentes no território.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Agricultura Familiar caracteriza-se como sendo um grupo genérico de
indivíduos que envolvem uma multiplicidade de realidades, no entanto o traço fundamental
deste segmento está pautado na relação entre terra, trabalho produção e família. Dessa forma,
esse grupo de produtores não pode ser analisado a partir do viés puramente econômico. Na
Valorização doImóvel
Pesca e Lazer Idenização Nenhum
21,42%
7,14% 7,14%
71,43%
Capa Índice 1174
produção familiar os bens materiais e os imateriais vão sendo produzidos em conjunto,
formando o patrimônio que também é sociocultural, caracterizando paisagens experimentadas
através da vivência de cada individuo da família.
Entretanto, com as recentes transformações no espaço agrário brasileiro a
condição de sobrevivência dos agricultores familiares nesse espaço rural é cada vez mais
agravada devido às dificuldades enfrentadas pelos mesmos para conseguir sua
sustentabilidade econômica. No caso dos agricultores familiares analisados no município de
Catalão (GO), observou-se que a predominância de casais, já com idades mais elevadas -
acima dos 40 anos, sendo que esses agricultores apresentam normalmente escolaridade
relativamente baixa, tendo normalmente apenas a primeira fase do Ensino Fundamental.
Obviamente os limites da pesquisa para este Relatório não permitiram análises
mais pormenorizadas relacionadas à complexidade da agricultura familiar. Mas, em linhas
gerais, observou-se que o segmento da produção familiar atingida parcialmente pela UHE
Serra do Facão no município de Catalão (GO) apresenta problemas estruturais, que estão
presentes, independentemente da chegada da UHE Serra do facão, como é caso da tendência
ao envelhecimento dessa população, dentre outras dificuldades de reprodução do segmento.
No entanto, destaca-se que a partir da construção da UHE Serra do Facão são agravadas as
dificuldades de reprodução, principalmente, daqueles agricultores que perderam parte
significativa de sua propriedade. E ainda lembra-se, como foi destacado pelos próprios
agricultores, que a sociabilidade entre eles também foi afetada devido ás modificações
espaciais resultante do represamento da UHE Serra do Facão.
A Agricultura Familiar é um segmento sociocultural muito importante no espaço
rural do Brasil, visto que é a categoria responsável pela produção maciça dos
hortifrutigranjeiros consumidos nos centros urbanos que estão num processo de aculturação
socioeconomica e principalmente cultural, tendendo ao desaparecimento enquanto categoria
social produtiva nos moldes até aqui experienciados e vividos em suas respectivas paisagens
construídas historicamente.
REFERÊNCIAS
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Capa Índice 1175
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Capa Índice 1176
IVITRO
Palavraschave
1.ITRODUÇÃO
Capa Índice 1177
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1177 - 1191
in vitro
2.OBJETIVOS
3.METODOLOGIA
3.1Materialvegetal
Capa Índice 1178
3.2Assepsia
3.3Experimentodemultiplicação
T1T2
T3T4
T5
T6
Capa Índice 1179
3.4Experimentodeenraizamento
T1T2:T3
T4
T5
5.5Análiseestatística
4.RESULTADOSEDISCUSSÃO
4.1Experimentosdemultiplicação
Capa Índice 1180
in vitro
Capa Índice 1181
invitroinvitro
etal.
etal.
Figura 1 01)02)03)04)
Capa Índice 1182
invitro
Capa Índice 1183
4.2Experimentosdeenraizamento
Figura 2. 01)02)03)04)05)
invitro
Capa Índice 1184
.
Capa Índice 1185
Capa Índice 1186
5.COCLUSÕES
6.REFERÊCIASBIBLIOGRÁFICAS
Capa Índice 1187
RhododendronJournaloftheAmericanSocietyforHorticulturalScience
Cultura de tecidos e transformação genética de plantas
BioEstat 5.0
In vitro SaccharumofficinarumInt.QuarterlyJ.Biotechnol
Cultura de tecidos e transformação de plantas
InvitroCellularDevelopmentalBiology
Melhoramento da canadeaçúcar
SaccharumspPakistanSugarJ.
47thAnn.Conf.
PlantTissueCulture
culture Jl.Sug.Bull.Agron.,
cultureoftropicalplants
Resumos.
Capa Índice 1188
InvitroSugarTech
CropIimprov,
Culturadetecidosetransformaçãogenéticadeplantas.
Plantpropagationprinciplesandpractices
Journalof theAmericanSociety forHorticulturalScience,Alexandria
IndianPhytopath,
Sugarcane
Handbookofplantcellcultures.
CelularDevelopmentalBiology
InvitroS.officinarumIndianJ.Agric.Sci.
Theor.Appl.Genet.
Pak.J.Bot.,
PlantTissueCult.
Tumalba,
SaccharumspPlantCellTissueandOrganculture
Capa Índice 1189
Micropropagação de pereira (Pyrus spp.) cultivar Carrick.
InvitrocellDev.Biol.,Plant
Invitro Asian J. of PlantSci
PlantCell,TissueandOrganCulture
RevueAgricoleetSucrieredel'IleMaurice
Physiol.Plant.
PlantTissueCult
invitroInd.J.Gene.PlantBreed.
IndianSugar,
SarhadJ.Agri,
invitroRevistaCientificaRural
. Coffea arábica CiênciaAgrotécnica
,
Propagação despp
Capa Índice 1190
.
Invitro.
SISSTA,.
Saccharumsp
Saccharum y
.Embrapa,
HortScience
Rep
In vitro HortScience
Capa Índice 1191
“TUBOS NANOESTRUTURADOS DE QUITOSANA: OBTENÇÃO,
CARACTERIZAÇÃO E ESTUDO DA BIOCOMPATIBILIDADE”
Diego Pereira de Araújo1
Juliana Ferreira Batista1
Panmera Almeida Herigel1
Valcinir Aloisio Scalla Vulcani1
1- Universidade Federal de Goiás – Campus Jataí
Palavras-chave: nanotecnologia; biomateriais; eletrofiação; biocompatibilidade.
Capa Índice 1192
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1192 - 1206
I– INTRODUÇÃO
Em sua introdução, o documento oficial intitulado “Desenvolvimento da
Nanociência e da Nanotecnologia”, produzido pelo grupo de trabalho criado pela portaria
MCT n.252 como subsídio ao Programa de Desenvolvimento da Nanociência e
Nanotecnologia do PPA 2004-2007, afirma que “A Nanotecnologia é hoje um dos principais
focos das atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação em todos os países
industrializados. Os investimentos na área têm sido crescentes e atingiram, mundialmente,
um valor de cinco bilhões de dólares em 2002.
Já há alguns produtos industriais nanotecnológicos e o seu número aumenta
rapidamente. Estima-se que, de 2010 a 2015, o mercado mundial para materiais, produtos e
processos industriais baseados em nanotecnologia será de um trilhão de dólares.
Segundo o documento do MCT “Existe hoje uma produção científica significativa no
Brasil, nos temas de manipulação de nano-objetos, nanoeletrônica, nanomagnetismo,
nanoquímica e nanobiotecnologia, incluindo os nanofármacos, a nanocatálise e as estruturas
nanopoliméricas. Também há uma produção tecnológica representada por patentes e há
projetos sendo executados por empresas, isoladamente ou em cooperação com universidades
ou institutos de pesquisa.
Algumas atividades como a nanofabricação, apesar de apresentarem grandes
perspectivas de geração de produtos e aplicações, estão atualmente limitadas ao meio
acadêmico, em algumas universidades e centros de pesquisa que realizam pesquisa e
desenvolvimento de técnicas de fabricação, análise e aplicações em dispositivos
nanoestruturados e deveriam ser amplamente disseminadas para outros centros de pesquisas
para o incremento da tecnologia em nível nacional.
Nanofibras poliméricas podem ser produzidas por diversas técnicas, como separação
de fases, auto-assemblagem e eletrofiação (electrospinning). A técnica de eletrofiação é a
única que possibilita controle dimensional, diferentes arranjos das fibras formadas,
utilização de diversos polímeros e a produção em larga escala1-4.
O mecanismo de funcionamento da técnica se baseia na utilização de campos
elétricos de alta tensão (5-50KV) e baixa corrente (0,5-1uA), nos quais um jato de material
fluido é acelerado e estirado, produzindo fibras de diâmetro reduzido5.
De maneira geral, a partir de uma agulha vazada carregada eletricamente, forma-se
um cone de Taylor da qual um jato único de fluido é ejetado. Assim, um filamento do
material viaja através do campo elétrico ganhando velocidade e reduzindo sua espessura.
Durante seu trajeto, o jato de fluido é submetido a cargas de repulsão radiais que ocasionam
Capa Índice 1193
sua divisão em pequenos filamentos, em um processo chamado de espalhamento (splaying).
Estes múltiplos e minúsculos filamentos dão origem, ao atingirem o pólo elétrico oposto, a
fibras de diâmetro reduzido6-9.
A técnica de eletrofiação é utilizada tradicionalmente na fabricação de fibras
poliméricas sintéticas ou naturais, produzindo nanofibras de diâmetros que variam de
dezenas a centenas de nanômetros. A utilização potencial de nanofibras na área da saúde é
diversificada, podendo ser aplicada na confecção de implantes, dispositivos de liberação
controlada de fármacos, instrumentação para diagnósticos, entre outros10-12. Algumas
nanofibras têm sido usadas como substratos para tecidos de vasos sangüíneos, cartilagem,
ossos, nervos e recobrimento de feridas. A grande vantagem das nanofibras em aplicações
na engenharia de tecidos reside, fundamentalmente, na elevada razão área
superficial/volume e permeabilidade.
II OBJETIVOS
Objetivou-se neste trabalho: Obter tubos nanoestruturados de quitosana por meio da
técnica de eletrofiação; caracterizar o material por microscopia eletrônica de varredura;
caracterizar o material por análise térmica; avaliar a biocompatibilidade in vitro, por meio de
culturas celulares; avaliar a biocompatibilidade in vivo, por meio de implantes em ratos.
III MATERIAL E METODOS
III.1 Materiais para o desenvolvimento das matrizes de quitosana
Para a obtenção das matrizes foram utilizados quitosana de médio peso molecular
com grau de desacetilação de 80% e viscosidade de 284 cps Aldrich®; ácido acético glacial
PA obtido da Synth®; poli-óxido de etileno (PEO) com peso molecular 900.000 g/mol
Aldrich®. Todos os materiais foram utilizados como recebidos. Adicionalmente, foi
utilizada água deionizada para compor o sistema de solventes.
III.2 Equipamento
O equipamento utilizado para obtenção das membranas de Quitosana/PEO foi
desenvolvido na Unicamp, Campinas, SP, seguindo os parâmetros necessários de um
equipamento de eletrofiação (Figura 1), sendo constituído basicamente dos componentes:
Uma fonte de alta tensão; Uma seringa de vidro de 10 ml, bico tipo Luer Lock, munida de
agulha de aço inoxidável com diâmetro interno = 1 mm; Um eletrodo; Uma garra de
sustentação para a seringa (acoplada a um suporte de sustentação para a garra); Um coletor
aterrado (placa de alumínio com quatro pés confeccionados com tarugo de náilon) e um
dispositivo rotativo, constituído de tubo de aço-inoxidável entreposto entre o capilar e a
mesa coletora.
Capa Índice 1194
Figura 1. Equipamento de eletrofiação desenvolvido na UNICAMP. Em A, parte frontal da fonte de alta tensão e em B equipamento coletor rotativo acoplado ao instrumental básico.
III.3 Obtenção das membranas
As membranas foram confeccionadas pela técnica da eletrofiação (electrospining) de
acordo com a metodologia descrita em BIZARRIA at. al (2009)13 utilizando-se a blenda
constituída de 3 partes da solução de quitosana 4% e uma parte da solução de PEO 3%,
resultando em uma concentração final (na membrana pronta) de, aproximadamente, 80% de
Quitosana e 20% de PEO.
IV.4 Caracterização do material
IV.4.1 Microscopia eletrônica de varredura
A microscopia eletrônica de varredura (MEV) foi realizada em um aparelho JEOL
modelo JXA-840A numa tensão de aceleração de 25kV. Todas as amostras foram
pulverizados com ouro antes de serem analisados.
IV.4.2 Calorimetria diferencial de varredura
A calorimetria diferencial de varredura (DSC) foi realizada sob fluxo de N2 de
50ml/min, em um aparelho DSC 2920 da TA Instruments®, com taxa de aquecimento de 10
° C / min, na faixa de temperatura entre -100 e 250 ° C.
IV.5.3 Avaliação da Biocompatibilidade in vitro
IV.5.3.1 Cultura Celular
Os ensaios foram realizados com as linhagens celulares HEp-2 (tumor de laringe
humana), Vero (rim de macaco verde africano) e McCoy (fibroblastos de camundongos) na
A B
Capa Índice 1195
concentração de 3,0 x 105 células mL-1. As células foram semeadas em placa de Petri (15 x
60 mm) no volume de 5 mL25.
Após esse período o meio foi retirado e descartado sendo adicionado 5 mL de uma
mistura de 1:1 de meio ISCOVE'S e ágar a 1,8 % contendo 0,01 % de vermelho neutro.
IV.5.3.2 Citotoxicidade pelo método de difusão em ágar
Fragmentos, com cerca de 0,25 cm2 de área superficial dos biomateriais foram
colocados sobre o Agar antes de sua solidificação completa. As placas de Petri foram
incubadas novamente em estufa com 5% CO2 a 37 °C por 24 h.
Foram utilizados como controle positivo fragmentos de látex e como controle
negativo discos de papel de filtro de natureza comprovadamente atóxica, respeitando a
dimensão de área superficial14,15.
As placas foram analisadas macroscopicamente quanto a presença de halo e
microscopicamente quanto a integridade celular ao redor da amostra. A característica de
toxicidade é constatada pela presença de um halo claro ao redor do material testado. Este
halo é observado quando há lise e morte das células, liberando o corante vermelho neutro
incorporado nas células, dando um aspecto transparente ao local. A citotoxicidade foi
avaliada pela medida do diâmetro deste halo claro formado, medido com uma régua
milimétrica.
IV.5 Avaliação da biocompatibilidade in vivo
Foi realizado o estudo experimental, de caráter intervencionista e randomizado.
Foram 30 ratos, da linhagem Wistar divididos em cinco grupos (G) experimentais, contendo,
cada um, seis animais, sacrificados sete (G1), 15 (G2), 30 (G3), 45 (G4) e 60 (G5) dias após
a inclusão do material. Após a implantação, os animais foram avaliados clinicamente,
atentando-se para sinais inflamatórios ou infecciosos no local da implantação, para possíveis
alterações de comportamento que pudessem sugerir algum efeito sistêmico. Foi também,
observado consumo de água e ração.
IV.5.1 Procedimento cirúrgico para implantação e retirada das amostras
Os procedimentos foram feitos sob anestesia geral, por meio da injeção
intraperitoneal de pentobarbital sódico 3% (1 mL/kg de peso) e em condições de assepsia e
antissepsia. Após a tricotomia da região dorsal dos animais, foi feita uma incisão
longitudinal, de aproximadamente 1,5 cm na região e criação de bolsão no subcutâneo com
tesoura de ponta romba. A membrana de quitosana foi introduzida abaixo do subcutâneo e,
a pele suturada com pontos simples separados, utilizando fio absorvível Vicryl 5-0
Capa Índice 1196
(“Ethicon”). Ao final do procedimento, os animais receberam uma dose de antibiótico
enrofloxacina a 10% intraperitonial e pomada de mupirocina 2%.
Os animais foram mantidos em caixas individuais, com temperatura constante de
25°C e ciclo de luz artificial de 12/12 horas, recebendo água filtrada e alimentação com
ração Purina® própria para a espécie, ad libitum.
A eutanásia foi realizada utilizandoo sobredose de pentobarbital sódico a 3% por via
intraperitoneal.
Durante a retirada das amostras, avaliou-se a ocorrência de aderência tecidual sobre
o implante, segundo a classificação: aderência mínima (+), ou seja, liberação da amostra dos
tecidos adjacentes por dissecação romba delicada; aderência moderada (++), quando da
liberação da amostra dos tecidos adjacentes por dissecação romba grosseira; aderência
máxima (+++), quando da impossibilidade de liberação por dissecação romba22.
IV.6 Avaliação Histopatológica
Os fragmentos retirados cirurgicamente foram fixados em solução de formalina
(10%), tamponada com fosfato (pH 7,2) por, pelo menos, 24 horas. Após esse período, o
material foi processado para inclusão em parafina. Foram feitos cortes seriados de 5 μm de
espessura e coloração com hematoxilina-eosina (HE), Tricrômio de Gomori e Von-Kossa,
sendo os cortes avaliados sob microscopia óptica e graduadas por um patologista não
conhecedor de suas identidades, com graduações de alterações histológicas descritas na
Tabela 1, além de outras possivelmente observadas pelo patologista.
Tabela 1. Variáveis examinadas nas lâminas preparadas a partir da retirada de amostras da interface implantes de quitosana nanoestuturada – subcutâneo do dorso de ratos. Distribuição em ordem alfabética.
Achados ao exame histológico
Avaliação do processo inflamatório Avaliação de metaplasia
Cápsula Fibrosa Mineralização C.G.M* Tecido osteóide Fibroblastos Osteoblastos Macrófagos Osteoclastos Neovascularização Osso primário Polimorfonucleares Mononucleares Outros achados Outros achados * Célula gigante multinucleada
Capa Índice 1197
A análise microscópica foi acrescida de dados objetivos obtidos por meio de
histometria. Para tanto, utilizou-se microscópio binocular (Olympus® BX 60 s.r) com
equipamento para fotomicrografia, câmera de captação de imagem e analisador de imagens
(Image Pro-plus. Cybernetics. Califórnia, USA). De cada corte histológico foram escolhidos
20 campos aleatórios para a contagem celular.
Quantificou-se o processo inflamatório e a neovascularização seguindo a seguinte
classificação: 0+/5 como mínimo e 5/5 como máximo.
V. Análise estatística
Para os dados da contagem celular foi realizada análise de normalidade dos erros
estudentizados (teste de Cramer-Von Mises) e de homogeneidade de variâncias (teste de
Brown-Forsythe). Após verificação do atendimento dessas pressuposições, os dados foram
submetidos à análise de variância empregando-se o General Linear Model do programa
SAS® (SAS, 1999)16 e, em caso de diferença (P ≤ 0,05), as médias foram comparadas pelo
teste Tukey, considerando-se o nível de 5% de probabilidade.
VI. RESULTADOS
VI.1 Microscopia eletrônica de varredura
O material obtido foi caracterizado por microscopia eletrônica de varredura que
permitiu observar a quantidade de fibras entremeadas e dispostas randomicamente. Além
disso, foi possível verificar a espessura das fibras, comprovando-se a obtenção de material
nas dimensões “nano”, conforme observado na Figura 2.
Figura 2. Fotoeletromicrografia do tubo de quitosana nanoestruturada, evidenciando a espessura em nanoescala das fibras obtidas.
Capa Índice 1198
VI.2 Propriedades térmicas
As curvas de DSC são apresentados na Figura 3. A curva para quitosana mostra
apenas um evento térmico correspondente à sua desidratação, enquanto a curva DSC do
PEO puro também ilustra somente um evento endotérmico com o seu pico em
aproximadamente 70°C, que se refere à fusão cristalina do PEO puro. Finalmente, o
termograma da mistura de quitosana/PEO apresenta dois eventos endotérmicos, que
mostram suas intensidades máximas nas temperaturas de fusão PEO e desidratação de
quitosana.
Figura 3. DSC de quitosana pura, PEO puro e da mistura de 80% quitosana/20% PEO membrana.
V. Avaliação da Biocompatibilidade in vitro - Citotoxicidade pelo método de difusão
em Agar
Os testes realizados com três linhagens celulares diferentes mostrou que o material
não e tóxico para as células.
Nas figuras 4, 5 e 6 observa-se que não houve formação de halo ao redor das
amostras de membrana, semelhante ao que ocorreu com o controle negativo, dispostos nas
extremidades direita e esquerda das placas de Petri, respectivamente. A formação de halo
deu-se apenas ao redor das amostras de controle positivo, colocadas ao centro da placa de
Petri.
Capa Índice 1199
Figura 4. Fotografia digital das Placas de Petri contendo a linhagem celular HEp-2 (tumor de laringe humana) com amostra da membrana nanoestruturada de quitosana em A, controle positivo (látex) em B e controle negativo (papel de filtro) em C. Observou-se a formação de halo apenas ao redor do controle positivo (seta), demonstrando que as amostras nanoestruturadas de quitosana não são citotóxicas.
Figura 5. Fotografia digital das Placas de Petri contendo a linhagem celular Vero (células renais de macaco verde africano) com amostra da membrana nanoestruturada de quitosana em A, controle positivo (látex) em B e controle negativo (papel de filtro) em C. Observou-se a formação de halo apenas ao redor do controle positivo (seta), demonstrando que as amostras nanoestruturadas de quitosana não são citotóxicas.
Figura 6. Fotografia digital das Placas de Petri contendo a linhagem celular McCoy (fibroblastos de camundongos) com amostra da membrana nanoestruturada de quitosana em A, controle positivo (látex) em B e controle negativo (papel de filtro) em C. Observou-se a formação de halo apenas ao redor do controle positivo (seta).
A B C
A B C
A B C
Capa Índice 1200
VI. Avaliação da biocompatibilidade in vivo
Não houve óbito de nenhum animal durante o procedimento de implantação e nem
durante o período pós-cirúrgico, até a retirada do implante.
Os animais foram acompanhados diariamente, após a implantação do material,
verificando-se os aspectos de cicatrização da ferida cirúrgica e possíveis infecções. Foi
realizada a limpeza da ferida, bem como observado o consumo de água e ração.
Conforme proposto na metodologia, verificou-se a ocorrência de aderência do
material com o tecido subjacente, no momento da retirada dos implantes. Analisando-se a
Tabela 2, verifica-se que em relação ao grupos G1, G2, com retirada dos implantes aos sete
e 15 dias após a implantação, verificou-se pouca aderência, com grau mínimo de liberação
em relação aos tecidos. Na retirada dos implantes do grupo G3, verificou-se diminuição
considerável da quantidade de material e até mesmo degradação completa, em virtude da
biodegradação que a quitosana sofre em contato com tecidos animais.
Tabela 2. Avaliação da ocorrência e grau de aderência do material implantado e tecidos
subjacentes para os Grupos G1, G2 e G3.
Escore G1 G2 G3
+ 5 5 6 ++ 1 1 0
+++ 0 0 0
VI.1 Análise histormofométrica
Em relação ao processo inflamatório, verificou-se nos explantes aos sete dias o
predomínio de polimorfonucleados (em media 2+/5), bem como quantidade moderada de
linfocitos (em media 1+/5) (Figura 8A e 8B). Ambas as classes de células estavam em maior
concentração na interface material e tecido adjacente e não no interior do implante. Houve
diferença significativa da quantidade de polimorfonucleares e de linfócitos nos diferentes
momentos experimentais. A quantidade de neutrófilos diminuiu (em media 1+/5), enquanto
a quantidade de linfócitos aumentou (em media 2+/5). A linfocitose teve aumento
significativo aos 15 dias pos-implantacao, no entanto decresceu com o passar do tempo, pois
a degradação do material foi intensa. Aos 30, 45 e 60 dias, pós implantação, o material havia
sido degrado completamente, ficando evidente a interface biomaterial/tecido adjacente,
formada por uma pequena cápsula de tecido conjuntivo (Figura 8C e 8D).
Capa Índice 1201
Em relação aos macrófagos, observou-se aos sete dias moderada concentração (em
media 0+/5), que tendeu a aumentar aos 15 dias (em media 1+/5), porem não houve
diferença significativa. A partir dos 30 dias houve diminuição significativa da quantidade de
macrófagos, no entanto o material já havia sofrido degradação total.
A contagem de fibroblastos mostrou que aos sete dias havia discreta presença ao
redor do implante (em media 0+/5). No entanto essa quantidade aumentou
significativamente a partir dos 15 dias (em media 2+/5) tendo sua maior quantidade aos 30
dias pos-implantação (em media 3+/5). Aos 45 e 60 dias o processo cicatricial estava
resolvido, não havendo diferença na quantidade de fibroblastos. Verificou-se intensa
neovascularização ao redor de todos os implantes em quantidades muito pouco variáveis em
função do tempo de explante. Em relação à degradação do material, observou-se intensa
diminuição da massa tanto no interior quanto na periferia da amostra, nos primeiros sete dias
pos-implantação, que se acentuou, ate a completa degradação do material com o passar do
tempo de implantação. (Figura 7D). A verificação de metaplasia na região de implante não
apresentou resultado significativo de alterações celulares.
Figura 7. Em A e B amostra retirada aos sete dias pos-implante. Evidencia-se o processo inflamatório, com a invasão de neutrófilos e linfócitos predominantemente, ao redor do implante. Aumentos de 200 e 400 vezes respectivamente e coloração Von-Kossa. Em C observa-se a interface formada pela fibrose, separando o tecido adjacente do material implantado. O material foi degradado, restando somente o tecido fibroso (setas). Aumento de 200 vezes e coloração H.E. Em D observa-se o material aos sete dias pós-implante, sofrendo intensa degradação. As setas mostram fragmentos da membrana. Aumento de 400 vezes e coloração H.E.
B A
C D
Capa Índice 1202
VII. DISCUSSÃO
A microscopia eletrônica de varredura permitiu observar e medir as fibras de
quitosana obtidas por eletrofiação, demonstrando que, o método foi eficiente para obtenção
de material nanoestruturado.
Os picos apresentados pelos ensaios de DSC com a mistura de quitosana/PEO
mostraram que, a preparação do lote e o processo de eletrofiação não afetaram
significativamente as propriedades térmicas dos dois componentes originais da mesma, já
que correspondiam aos picos das amostras puras.
Em relação aos testes de citotoxicidade observou-se que a quitosana nanoestruturada
não é tóxica para as células, semelhante aos resultados obtidos por AMARAL, 2006, que
submeteu compósitos de colágeno e quitosana a testes de citotoxicidade in vitro, utilizando
difusão em gel de ágar. A quitosana utilizada não era nanoestruturada, porem corrobora com
os achados de biocompatibilidade do material. De forma semelhante, ASIA, 2006 verificou
a compatibilidade in vitro de filmes de quitosana, submetendo-os em cultivo de fibroblastos
humanos e concluiu que o material não é citotóxico e pode ser utilizado como bioamterial.
Oliveira et al., 2008 submeteram amostras de quitosana em diversas concentrações em testes
de citotoxicidade in vitro e constataram que alterações na concentração de quitosana não
alteram o caráter atóxico do material. Variações no pH das formulações ocasionaram lise
celular.
A ocorrência de aderências na interface material e tecidos adjacentes foi mínima,
demonstrando, que o material não estimula reações orgânicas de rejeição aguda. Além disso,
o processo inflamatório mostrou-se decrescente em função do tempo, o que pode também
ser atribuído à degradação do material e conseqüente diminuição da massa e superfície de
exposição aos tecidos adjacentes.
Este padrão decrescente do processo inflamatório foi observado em trabalhos com
quitosana e colágeno, assim como o predomínio de linfócitos inicialmente e o aumento de
fibroblastos. Quando se compara materiais que duram mais tempo, como colágeno
implantando por Diderot (2004) com duração de até 180 dias, a linfocitose persiste até uma
degradação considerável do material e, em seguida, inicia-se o aumento de fibroblastos. Este
fato ocorreu nos implantes de quitosana nanoestruturada aos 15 dias pós-implantação, uma
vez que, grande parte do material havia sido degradado. Ou seja, o processo inflamatório
parece ser regulado em função da quantidade de material implantado e/ou degradado.
No entanto, a quitosana nanoestruturada pode influenciar a proliferação celular
conforme citam Duan et al., 2007, que a utilizaram na forma de compósitos e verificaram o
Capa Índice 1203
crescimento de fibroblastos humanos no material. Os autores afirmaram que a presença da
quitosana nanoestruturada favoreceu a proliferação das células, mimetizando de forma mais
adequada a matriz extracelular.
Estes resultados são semelhantes aos obtidos em testes com membranas
nanoestruturadas de colágeno e quitosana, as quais foram utilizadas como matrizes para
crescimento de fibroblastos humanos e verificou-se o caráter atóxico do compósito para as
células. Os autores também utilizaram o compósito, em animais, para verificar a eficácia na
cicatrização da pele, em comparação com membranas de colágeno disponíveis
comercialmente e concluíram que o compósito obteve resultados superiores na cicatrização.
A formação de novos vasos sangüíneos também ocorre em função do tempo de
resolução do processo inflamatório e da degradação do material. Os trabalhos mostram que
materiais que são degradados mais lentamente e conseqüentemente promovem um processo
inflamatório mais acentuado, tendem a retardar o aparecimento de vasos sanguíneos, porém
em maior quantidade.
VIII CONCLUSÃO
Concluiu-se que, a técnica de eletrofiação foi eficiente na obtenção de membranas de
quitosana nanoestruturada e que o material ocasiona processo inflamatório discreto e acelera
o processo de cicatrização.
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Revisado pelo orientador
Capa Índice 1206
¹Acadêmica da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás (Orientanda) ² Professora da Faculdade de Enfermagem (Orientadora)
³Discente de doutorado do programa de pós-graduação em ciências da saúde /FM/ UFG
ANÁLISE DA SITUAÇÃO VACINAL CONTRA HEPATITE E EM ASSENTADOS
DA REGIÃO SUDOESTE DE GOIÁS, CENTRO-OESTE
Diulye Evelyn Rezende de Almeida¹, Sheila Araújo Teles², Karlla Caetano³
Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás
Endereço Eletrônico: [email protected], [email protected] e
Palavras-chave: Cobertura Vacinal, Hepatite b e Assentados.
1 INTRODUÇÃO
As hepatites virais tem se mostrado um grande problema de saúde pública (PARRY,
2010). A infecção pelo vírus da hepatite B (HBV), em especial, é de grande importância por
ser potencial causador de hepatite crônica, cirrose e carcinoma hepatocelular. Estima-se que
cerca de 350 milhões de pessoas no mundo são portadores crônicos do HBV e por volta de 4,5
milhões são infectadas a cada ano (ZANETTI, et al. 2008).
O HBV é classificado na família hepadnaviridae (ICTV, 2009). Sua transmissão
ocorre pelas vias parenteral, sexual, vertical e horizontal (TE, JENSEN, 2010). Dessa forma,
alguns grupos apresentam maior risco de contraírem o vírus, como: filhos de mães portadoras
do HBV (SINGH, et al. 2011), pessoas que realizam hemodiálise (TELES, et al. 2002),
indivíduos que praticam sexo sem preservativo e com múltiplos parceiros (MATOS, et al.
2008), indivíduos que compartilham objetos de uso pessoal cortante, usuários de drogas
(FERREIRA, et al. 2009), profissionais de saúde (CDC, 2001) e pessoas submetidas a
tatuagens e piercing (ABEDI, et al. 2011)
No Brasil, alguns estudos mostram que, as populações que vivem em zonas rurais,
apresentam uma endemicidade intermediária para hepatite B (ALMEIDA et al, 2006;
KHOURI et al, 2005; MATOS, et al. 2009).
Os assentamentos são aglomerados rurais de famílias de baixa renda, com baixa
escolaridade que vivem predominantemente da agricultura. Muitos desses indivíduos viveram
em acampamentos de “sem terra”, localizados na margem das rodovias, em condições
precárias de saneamento ambiental, com grande densidade populacional e difícil acesso a
Capa Índice 1207
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1207 - 1217
serviços de saúde. Essas características têm sido preditoras de doenças infecciosas como a
hepatite B (TE, JENSEN, 2010).
A vacinação é considerada a medida mais eficaz para prevenção da hepatite B e tem
contribuído para a diminuição de sua incidência e prevalência (ZANETTI, et al. 2008).
Programas de vacinação contra a hepatite B têm sido adotados por vários países (TE,
JENSEN, 2010; ZANETTI, et al. 2008), e seus resultados já podem ser observados. Nos
países que implementaram a imunização universal dos recém-nascidos contra a hepatite B, em
meados da década de 80, tem sido mostrada redução não somente da incidência da doença
aguda, como também da prevalência de portadores crônicos do vírus e da incidência de
cirrose e câncer primário de fígado (GONZÁLES, 2008).
No Brasil, a vacina contra hepatite B foi introduzida no Programa Nacional de
Imunização (PNI) no fim da década de 80 para populações específicas da Amazônia
Ocidental. Em 1998 a oferta foi estendida para menores de um ano de idade em todo o
Território Nacional. Somente em 2001 se tornou disponível para menores de 20 anos
(SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2010c). Em 2011, sua disponibilidade foi
ampliada para indivíduos com idade até 24 anos e atualmente está disponível gratuitamente,
para indivíduos de até 29 anos e populações em risco elevado de contrair hepatite B como
imunodeprimidos, pessoas que tem relação homossexual, presidiários, hemofílicos, portadores
de hepatite C, profissionais de saúde, profissionais do sexo e hemodialisados (BRASIL,
2008). Em 2010, a oferta da vacina foi expandida para caminhoneiros, gestantes após o
primeiro trimestre, pedicures, podólogos, transgêneros, acampados e assentados
(SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2010a).
A vacina contra hepatite B é administrada, geralmente, em três doses nos meses 0,1 e
6 meses, por via intramuscular (MAST, et al. 2006). Em indivíduos adultos saudáveis, utiliza-
se 20 µg por dose (1 mL), e para crianças e adolescentes 10 µg/dose (0,5 mL) . Em nosso
país, devido à menor imunogenicidade da vacina brasileira recombinante contra hepatite B,
quando, administrada em adultos com mais de 30 anos, essa tem sido formulada com 25
µg/dose (1 mL) (MORAES, LUNA, GRIMALDI, 2010).
Um estudo de base populacional conduzido em capitais brasileiras mostrou que a
cobertura vacinal, em nosso país, em crianças com idade menor que dois anos é de 86.7%,
sendo que no Centro-Oeste é de 84,07% (LUNA, VERAS, FLANNERY, MORAES, 2009).
Capa Índice 1208
No entanto, em populações específicas, que apresentam maior vulnerabilidade social e
programática para hepatite B, como assentados, não existem dados sobre a situação vacinal.
Ainda são poucos os estudos sobre as condições de saúde dos assentados, que
constituem uma população rural emergente com características ímpares. Portanto, a proposta
deste estudo foi avaliar o perfil imunológico em relação à vacina contra hepatite B em
populações de assentados do sudoeste goiano, Brasil Central. Acreditamos que estas
informações serão fundamentais para ações planejadas de promoção da saúde nesta população
emergente.
2 OBJETIVO
Investigar a cobertura vacinal contra a hepatite B em assentados da região sudoeste de Goiás.
3 METODOLOGIA
Este é um estudo observacional, analítico, de corte transversal. A população foi
constituída de assentados que vivem nos assentamentos Rio Claro, Santa Rita, Três Pontes,
Gurita, Terra e Liberdade, Lagoa do Bonfim e Guadalupe. Esses assentamentos estão
localizados no município de Jataí e entorno na região Sudoeste de Goiás, e têm sido assistidos
pela Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí, por meio do Núcleo de Estudos, Pesquisa
e Extensão em Agricultura Familiar-NEAF. De acordo com o NEAF, existem em média 17
famílias no Assentamento Rio Claro, 23 famílias no Santa Rita, 53 famílias no Guadalupe, 85
famílias no Terra e Liberdade (3T), 61 famílias no Gurita, 87 famílias no Lagoa do Bonfim,
43 famílias no Três pontes. Estima-se, assim, em 978 assentados. Foi critério de inclusão para
o estudo ser assentado. Aqueles que residiam nos assentamentos há menos de seis meses
foram excluídos do estudo.
Os participantes foram orientados quanto à importância e as implicações da
participação na pesquisa, assim como a liberdade de sair da mesma a qualquer momento. Aos
que concordaram em participar foi oferecido o termo de consentimento livre e esclarecido
(TCLE) para a assinatura. A seguir, foi realizada uma entrevista, utilizando-se um roteiro
estruturado, sobre dados sócio-demográficos e situação vacinal contra hepatite B. Foram
coletados 10 mL de sangue por punção venosa, utilizando-se seringa e agulhas descartáveis.
Foram realizados os testes sorológicos: HBsAg, Anti-HBs e Anti- HBc. Aqueles indivíduos
que apresentaram o marcador Anti-HBs positivo de forma isolada foram considerados
Capa Índice 1209
imunizados. Este dado foi relacionado com variáveis sócio-demográficas (idade, sexo,
escolaridade, naturalidade)
Os resultados dos testes sorológicos e os dados das entrevistas foram digitados em
microcomputador e sua análise foi realizada em programa estatístico SPSS versão 16.0.
Prevalência de vacinação contra hepatite B foi calculada com intervalo de 95% de confiança.
Os testes de 2, 2 para tendência, exato de Fisher e t de student foram utilizados quando
apropriados para análise estatística.
Os resultados dos testes sorológicos foram entregues pessoalmente ou para o
responsável, em caso de indivíduos com idade inferior a 18 anos. No momento da entrega foi
feito o aconselhamento sobre a importância da vacinação para prevenção da infecção pelo
HBV e a vacina foi ofertada para os assentados que não foram vacinados.
Este projeto foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa do Hospital das Clínicas da
Universidade Federal de Goiás, protocolo CEP/HC/UFG N° 127/2010.
4 RESULTADOS
Foram entrevistados ao total 470 assentados, mas a coleta de sangue foi realizada em
467 indivíduos por recusa do sujeito. A Tabela 1 mostra as características sócio-demográficas
da população de assentados estudada. Aproximadamente um terço da população estudada
possuía idade superior a 50 anos (33%). A metade era do sexo masculino (52,3%) e possuía
escolaridade igual ou inferior a quatro anos (48,9%). A maioria era de cor parda (60%) e
originária da Região Centro-Oeste (81,5%). Mais da metade dos entrevistados (86,8%)
afirmou ter religião e estar casado ou em união consensual (57,8%).
As informações dos assentados sobre seu estado vacinal estão representadas na Figura
1. Mais da metade dos assentados (55,8%) afirmaram não terem sido vacinados ou não
saberem seu estado vacinal. Dos que afirmaram serem vacinados contra hepatite B,
aproximadamente metade (49,3%) disse ter o esquema de três doses completo, quantitativo
que representa 23,4% do total de indivíduos participantes.
Capa Índice 1210
TABELA 1- Características sócio-demográficas dos assentados da Região Sudoeste de
Goiás
Características N (%) Idade ≤ 19 anos 125 26,6 20-40 anos 105 22,3 41-50 anos 85 18,1 ≥ 51 anos 155 33,0 Sexo Masculino 246 52,3 Feminino 224 47,7 Escolaridade ≤ 4 anos 230 48,9 5-8 anos 162 34,5 ≥ 9 anos 78 16,6 Religião Sem Religião 62 13,2 Com Religião 407 86,8 Estado Civil Casado/União Consensual 271 57,8 Solteiro 174 37,1 Separado 15 3,2 Viúvo 9 1,9 Naturalidade Norte 5 1,1 Nordeste 43 9,2 Centro-Oeste 383 81,5 Sudeste 28 6,0 Sul 11 2,3 Cor da Pele Branca 114 24,3 Negra 71 15,1 Parda 282 60,0 Outra 3 0,6
Capa Índice 1211
FIGURA 1- Estado vacinal contra hepatite B informado pelos próprios assentados
A prevalência do marcador anti-HBs isolado ou vacinal nos assentados estudados foi
de 19,3% (n=90) (IC 95%: 15,9 – 23,0). A figura 2 apresenta a distribuição dos indivíduos
imunizados por faixa etária. Constatou-se uma maior prevalência de imunizados (35%) entre
os indivíduos com idade inferior a 19 anos, declinando com a idade. A menor proporção de
imunizados (8,2%) foi observada na faixa etária de 41 a 50 anos (p < 0,05).
FIGURA 2-Anti-HBs Vacinal distribuídos por faixa etária
29,7%
26,1% 18,4% 12,6%
49,3%
19,7%
44,2%
Não vacinados
Não sabem informar
1 Dose
2 Doses
3 Doses
Não sabem informar quantas doses
0,0%
5,0%
10,0%
15,0%
20,0%
25,0%
30,0%
35,0%
≤ 19 anos 20-40 anos 41-50 anos ≥ 51 anos
35%
22,90%
8,20% 10,40%
Anti-HBs Vacinal Positivo
Capa Índice 1212
Na figura 3 estão representadas as prevalências de imunizados por assentamento. A
prevalência variou entre 13,5% e 21,7% (p > 0,05). A maior prevalência foi encontrada no
Assentamento Rio Claro e a menor no Assentamento Três Pontes.
FIGURA 3- Prevalência de indivíduos imunizados por assentamento
5 DISCUSSÃO
A população estudada foi constituída, em sua maior parte, por indivíduos do sexo
masculino, casados/união consensual, naturais da própria Região Centro-Oeste e com baixa
escolaridade. Estas características parecem comuns aos assentados do Brasil (Di PIERRO,
ANDRADE, 2009; CASTRO et al., 2004; BRASIL, 2010).
Nesta investigação, verificou-se que apenas 19,3% (IC 95%: 15,9-23,0) dos assentados
apresentaram positividade para o anti-HBs isoladamente, sugerindo vacinação prévia. Essa
proporção de indivíduos imunizados é considerada baixa, já que a vacina contra hepatite está
sendo recomendada e oferecida gratuitamente para esta população desde 2010 pelo Ministério
da Saúde (SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2010a).
A faixa etária que apresentou maior frequência de imunização foi de indivíduos com
idade igual ou inferior a 19 anos (35%). Considerando que a vacina contra hepatite B foi
incluída no PNI, para menores de um ano de idade, há mais 10 anos e sua ampliação para
0%
5%
10%
15%
20%
25% 20,80% 21,70%
19,80% 20,60% 18,50%
16% 13,50%
Capa Índice 1213
menores de 20 anos ocorreu em 2001 (SCARAVELI et al, 2011), esta proporção de vacinados
está bem aquém dos 95% recomendados pelo PNI para indivíduos nesta faixa etária
(SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2010b).
Outros estudos conduzidos em populações rurais da Região Nordeste e da Amazônia
também verificaram baixos índices de vacinação contra hepatite B, 6,8% e 13,3%,
respectivamente (ALMEIDA et al, 2006; KHOURI et al, 2005). Acredita-se que as razões
para este cenário, incluem dificuldades logísticas e estruturais para alcançar populações
distantes geograficamente dos centros urbanos; razões estas que poderiam justificar os
achados deste estudo. De acordo com pesquisa feita pelo Instituto Nacional de Colonozação e
Reforma Agrária (INCRA) (2010) 55,74% dos assentados entrevistados classificam o acesso
à hospitais e postos de saúde entre ruim e péssimo.
Verificou-se que a situção de imunização contra hepatite B variou de 13,5% (Três
Pontes) a 21,7% (Rio Claro) nos assentamentos. Contudo, não houve diferença estatística. As
maiores prevalências estão em assentamentos que são, em sua maioria, cobertos pela Estratéia
de Saúde da Família (ESF). Os assentamentos Santa Rita, Guadalupe e Gurita são mais
próximos da cidade de Jataí, o que sugere maior acesso às redes públicas de saúde,
consequentemente à vacina contra hepatite B. Ainda, em relação ao movimento sindical,
observou-se maior organização social entre os assentamentos do Rio Claro, Santa Rita e
Gurita, fator que deveria ser positivo para ações de saúde pública desenvolvidas pelo
município. O assentamento Terra e Liberdade é o assentamento formado mais recentemente
(2 anos), e a maioria das pessoas morava na cidade antes de se mudar, o que poderia justificar
uma maior prevalência de imunizados em relação aos demais. Os assentamentos Lagoa do
Bonfim e Três Pontes também estão em áreas de abrangência da ESF do município de
Perolândia, porém apresentaram os menores índices de indivíduos imunizados, contudo
observou-se nestas regiões uma menor ação dos movimentos sindicais.
6 CONCLUSÃO
A partir desta análise observou-se que 69,3% (n=322) da população dos assentamentos
da região estão suscetíveis à infecção pelo VHB e somente 19,3 % (n=90) pode ser
considerada protegida. Grande parcela destas comunidades necessita de ações que visem
prevenir a hepatite B, e uma das mais eficazes é, com certeza, a vacinação. Constatou-se que
há variação na prevalência de imunizados entre os assentamentos; fato que sugere que as
Capa Índice 1214
intervenções de saúde devem ser desenvolvidas de forma individualizada conforme as
características de cada comunidade.
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Capa Índice 1216
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"REVISADO PELO ORIENTADOR”
Capa Índice 1217
Revisado pelo orientador
Medida de fatores determinantes das atitudes e intenções comportamentais relacionadas à busca por tratamento protético
Donizete de Castro e SILVA1, Cláudio Rodrigues LELES2
Faculdade de Odontologia - UFG, 74605-020, Brasil
[email protected] / [email protected] PALAVRAS-CHAVE: prótese dentária, decisão de tratamento, paciente Revisado pelo orientador 1 Aluno de Graduação, Faculdade de Odontologia - UFG 2 Professor Associado, Faculdade de Odontologia - UFG
Capa Índice 1218
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1218 - 1231
Revisado pelo orientador
INTRODUÇÃO
As decisões associadas ao tratamento protético tradicionalmente fundamentam-se em
um modelo de atendimento com abordagem normativa, centrada no profissional, que ignora
aspectos sociocomportamentais do paciente. Por outro lado, o paradigma atual para as
tomadas de decisão em prótese tem como referencial um modelo mais abrangente, originado
da tentativa de englobar aspectos multidimensionais, voltados para atender as necessidades
reais do paciente (LELES; FREIRE, 2004). Esse tipo de abordagem enfoca questões
individuais do paciente, tais como suas expectativas e preferências, custo-benefício do
tratamento, severidade do problema, viabilidade de alternativas de tratamento e impacto da
intervenção na qualidade de vida (BERKEY et al., 1996; RICH; GOLDSTEIN, 2002; SEID;
ZANNON, 2004). Além disso, a valorização da percepção do paciente resulta em sua
participação ativa no planejamento do tratamento e nas tomadas de decisão clínica (BERKEY
et al., 1996; RICH; GOLDSTEIN, 2002).
Estudos recentes analisaram a percepção de indivíduos desdentados quanto aos
desfechos potenciais relacionados a benefícios e riscos do tratamento e conseqüências do não
tratamento protético (LELES et al., 2007), além dos motivos determinantes na eleição ou
recusa de tipos de tratamentos protéticos em desdentados parciais (MARTINS, 2008).
Entretanto, essas pesquisas não abordam, especificamente, aspectos associados às atitudes e
intenções comportamentais de pacientes, no que se refere a fatores situacionais (condições
demográficas, econômicas e sociais), de experiência pessoal (experiências prévias), de
influência social (influências e opiniões de outras pessoas) e de julgamento do consumo (juízo
de valor). Portanto, torna-se de fundamental importância a compreensão dessas relações para
o fornecimento de diretrizes aos cirurgiões-dentistas no planejamento e condução do
tratamento protético. Esses aspectos estão intimamente relacionados ao grau de satisfação do
paciente com os resultados do tratamento realizado e o sucesso clínico alcançado (HEFT et
al., 2003; OMAR, 2003).
Apesar desta evidência conceitual e empírica, não há instrumentos de medida
diretamente relacionados a essa temática. Faz-se necessário, portanto, o desenvolvimento de
instrumentos que permitam avaliar a percepção do paciente em relação aos determinantes de
atitudes e intenções comportamentais frente ao tratamento protético. Isto permitiria um
conhecimento maior acerca dos processos sócio-cognitivos envolvidos na tomada de decisão,
bem como uma melhoria na relação profissional-paciente que facilita a identificação de
fatores que complementam o exame clínico (LOCKER; JOKOVIC, 1996). A utilização de
Capa Índice 1219
Revisado pelo orientador
medidas subjetivas obtidas a partir da percepção do paciente é importante, também, para uma
abordagem integral, na qual a saúde deixa de ser interpretada como um estado estático e
biologicamente definido, para ser compreendido como um estado dinâmico e socialmente
produzido (BUSS, 2000).
Um modelo conceitual de comportamento dos consumidores foi proposto em 1980 por
Ajzen e Fishbein, que formulou a Teoria da Ação Racional (TRA), que teve como objetivo
avaliar a discrepância entre atitude e comportamento usando um quadro conceitual capaz de
predizer o comportamento humano com base em a atitude em relação e objeto. Mais tarde,
eles observaram que o comportamento não parece ser inteiramente voluntária e sob controle, e
levar para a adição do controle comportamental percebido. Com esta adição, a teoria foi
chamada de Teoria do Comportamento Planejado (TCP), que destina-se a prever o
comportamento deliberado, e afirma que os seres humanos são analisadores racional da
situação e uma intenção na verdade é o que medeia a atitude (vem entre eles) e
comportamento. A estrutura conceitual do TCP e a explicação de seus termos-chave estão
representadas na Figura 1 a seguir.
Capa Índice 1220
Revisado pelo orientador
Figura 1. Estrutura conceitual da Teoria do Comportamento Planejado (REF: Organizational Behavior and Human Decision Processes, 50, p. 179-211 Source: Ajzen, I.,1991). Os componentes do conceito da TCP são definidas como: 1A - crenças comportamentais: crenças do indivíduo sobre os resultados potenciais de um determinado comportamento, com base na probabilidade subjetiva que o comportamento irá produzir um determinado resultado; 1B - Atitude em relação ao comportamento: avaliação positiva ou negativa de um indivíduo em relação ao desempenho de seu comportamento particular. O conceito é o grau em que o desempenho do comportamento é positiva ou negativamente valorizado. É determinado pelo conjunto total crenças comportamentais acessíveis que ligam o comportamento de vários resultados e outros atributos. 2A - Crenças normativas: a percepção do indivíduo sobre o comportamento específico, que é influenciada pelo significado do julgamento de outros (por exemplo, pais, cônjuge, amigos); 2B - Norma subjetiva: a percepção do indivíduo de pressões sociais normativas ou crenças relevantes de outros podem ou não influenciar na realização de tal comportamento. 3A - Crenças de controle: as crenças de um indivíduo sobre os fatores que podem facilitar ou inibir o desempenho do comportamento. 3B - Controle comportamental percebido: facilidade ou dificuldade percebida de um indivíduo para realizar o comportamento particular, determinada pelo conjunto total de crenças de controle de acessibilidade. 4 - Intenção: a indicação da disponibilidade de um indivíduo para executar um determinado comportamento, com base na atitude em relação ao comportamento, norma subjetiva e controle comportamental percebido, com cada indicador ponderado pela sua importância em relação ao comportamento e população de interesse. 5 - Comportamento: resposta observável de um indivíduo em uma determinada situação em relação a um dado alvo. Ela é considerada uma função de intenções compatíveis e percepções de controle comportamental em que o controle comportamental percebido é esperado para moderar o efeito da intenção no comportamento, de tal forma que uma intenção favorável produz o comportamento apenas quando controle comportamental percebido é forte.
O desenho esquemático a seguir (Figura 2) mostra o resultado de um estudo preliminar
a partir de um desenho qualitativo em que dados foram colhidos de quatro entrevistas em
grupo. Dois grupos foram compostos de pessoas que foram tratados, principalmente em
serviços públicos de saúde e os dois outros grupos de dentistas particulares. O esquema de
codificação revelou várias categorias associadas aos fatores preditivos da estrutura conceitual
TCP, que foram definidas como fatores que predizem a intenção de tratamento. Três outras
categorias foram identificados como fatores que vêm entre intenção e comportamento, quando
a intenção do tratamento é expressa e simultaneamente mediada por questões relacionadas
com os prestadores de cuidados protéticos. Essas categorias foram descritos como fatores que
moderam o efeito da intenção de comportamento, com o nome (1) acessibilidade, qualidade
(2) de atendimento e (3) receptividade. Categorias foram representado esquematicamente na
Figura 2 e analisados de acordo com os conceitos de enquadramento TPB, considerando seus
componentes preditivos (atitude em relação ao comportamento, norma subjetiva e controle
comportamental percebido) e como elas influenciam o comportamento do indivíduo na
escolha de um prestador de cuidados de prótese.
Capa Índice 1221
Revisado pelo orientador
Figura 2. Quadro conceitual de consumidores de tratamentos protéticos em vista da Teoria do Comportamento Planejado. Fatores preditivos de intenção de tratamento incluem múltiplas razões individuais que levam a intenção de um indivíduo a procurar e decidir por tratamento protético: 1 - Atitude em relação ao comportamento: avaliação positiva ou negativa individual de auto-desempenho de buscar tratamento protético pode ser afetado pelas consequências percebidas de tratar ou não tratar e como eles são afetados por experiências anteriores positivas ou negativas, e como eles são capazes de lidar com o medo e outros sentimentos negativos; 2 - Norma subjetiva: a percepção de um indivíduo de pressões normativas sociais e familiares e/ou de amizade, marketing e aconselhamento profissional sobre a necessidade do tratamento; 3 - Crenças de controle: as crenças de um indivíduo sobre os fatores que podem facilitar ou dificultar a procura pelo tratamento, podem incluir fatores como: disponibilidade de tempo para realizar o tratamento, se é conveniente realizar o tratamento nesse momento, se os custos do tratamento são compatíveis no presente ou no futuro ou até mesmo se o tratamento é percebido pelo indivíduo como necessário ou poderia ser negligenciada ou adiada; 4 – Mediação da intenção comportamental: a intenção comportamental é mediada por três principais fatores intervenientes: a acessibilidade ao tratamento de prótese dentária, a receptividade dos prestadores do tratamento e de funcionários, e a percepção da qualidade técnica do atendimento a ser adquirido.
Portanto, o objetivo deste estudo foi analisar os fatores que determinam as atitudes e
intenções comportamentais de pacientes em relação à assistência odontológica para
tratamento protético e mensurar os fatores que determinam tais atitudes e intenções
comportamentais.
Capa Índice 1222
Revisado pelo orientador
OBJETIVOS
Objetivo Geral: Analisar os fatores que determinam as atitudes e intenções comportamentais
de pacientes em relação à assistência odontológica para tratamento protético.
Objetivo Específico: Mensurar os fatores que determinam tais atitudes e intenções
comportamentais.
METODOLOGIA
Foi realizada uma abordagem quantitativa com utilização de formulário/instrumento
psicométrico – considerada mais adequada para apurar opiniões e atitudes conscientes. Esta
etapa foi realizada junto a uma amostra de conveniência composta por indivíduos adultos
dentados ou desdentados, de ambos os sexos. Como critérios de inclusão foram considerados
a maioridade, experiência prévia ou atual em tratamento protético, capacidade de
compreensão do questionário e aceitação em participar do estudo. Foram excluídos do estudo
os pacientes em atendimento de urgência. A amostra desta etapa do estudo foi composta por
70 pacientes.
- Construção do instrumento e coleta de dados
O conjunto de questões relevantes obtidas a partir da análise de conteúdo das
entrevistas nos grupos representou uma estrutura inicial do instrumento de coleta de dados. Os
itens gerados foram descritos como:
Fatores que predizem a intenção de tratamento
o Atitudes em relação ao comportamento: consequências percebidas de nenhum
tratamento, benefícios potenciais riscos potenciais, medo experiências
anteriores;
o Norma subjetiva: opinião dos outros, marketing, necessidade normativa;
o Controle comportamental percebido: tempo / oportunidade, custo, necessidade
percebida;
Fatores que moderam o efeito da intenção sobre o comportamento: acessibilidade,
acolhimento e qualidade do cuidado.
Capa Índice 1223
Revisado pelo orientador
Estes itens geraram um total de 42 questões, listadas aleatoriamente que compreendem
aspectos objetivos que poderiam indicar a percepção dos indivíduos em relação aos itens
originários da Figura 2. As questões geradas foram submetidas à análise por um grupo de
espertos no tema para que fosse feita uma análise estrutural do mesmo. Este procedimento
visou analisar a abrangência dos itens gerados, o entendimento, ou seja, qual o sentido
compreendido pelo leitor após a leitura de cada item, evitar ambiguidade (não permitir
entendimentos duplos), melhorar a clareza das questões e melhorar a redação de forma a
tornar a pergunta neutra, sem apresentar tendências ou redação negativa.
- Definição da escala
O modelo final do questionário foi apresentado aos respondentes sob forma de escala.
Esta estruturação permitiu que os respondentes tivessem mais facilidade para preencher o
questionário, como também facilitou a tabulação dos dados pelo pesquisador para análise
estatística. A escala de medida utilizada neste questionário foi uma escala ordinal tipo Likert
de sete pontos (1 – discordo totalmente, 2 – discordo em grande parte, 3 discordo um pouco, 4
– nem concordo, nem discordo, 5 concordo um pouco, 6 – concordo em grande parte, 7 –
concordo totalmente). Esta escala permite a mensuração de um item entre suas extremidades
de abrangência (ex. concordo totalmente – discordo totalmente), passando por um ponto
central de neutralidade (ex. nem concordo, nem discordo).
- Coleta de dados
Finalmente, deu-se a aplicação dos instrumentos de coleta de dados. O recrutamento
foi por meio da apresentação pessoal do pesquisador aos possíveis participantes, seguida de
uma breve explicação dos objetivos da pesquisa. Para aqueles que aceitaram participar da
pesquisa foi apresentado individualmente o TCLE, o qual foi assinado por todos os
participantes.
A aplicação do instrumento foi feita na forma de entrevista. Esta se caracteriza pela
ação do pesquisador que lê para o participante uma pergunta e suas alternativas, que depois de
respondida, passava à pergunta seguinte. O pesquisador utilizou uma abordagem amistosa,
com linguagem de fácil compreensão, evitando ambiguidade e se precavendo para não haver
condução das respostas por sua parte (MARCONI e LAKATOS, 2005).
Capa Índice 1224
Revisado pelo orientador
Após o participante preencher o instrumento de coleta de dados ele foi submetido a
exame clínico pelo pesquisador, que consistiu de exame físico da cavidade oral e anamnese
através de questionário estruturado, compreendido de um cabeçalho para identificação do
participante (dados pessoais) seguido de perguntas sobre aspectos sóciodemográficos e de
saúde bucal. Este passo visou a realização de um diagnóstico mais acurado da condição de
saúde bucal do participante, para que seja confrontado com as demais informações colhidas
para a pesquisa, de modo a possibilitar a investigação da influência da condição bucal relativa
a especialidade de prótese dentária dos participantes sobre suas atitudes e intenções
comportamentais de pacientes em relação à assistência odontológica para tratamento
protético.
- Análise dos dados
Foi realizada análise estatística dos dados, compreendendo a análise descritiva, análise
de confiabilidade (alfa de Cronbach) e comparação de grupos (teste t pareado). Para
tratamento estatístico dos dados foi utilizado o programa estatístico SPSS for Windows 17.0
RESULTADO
A Figura 3 mostra a média e intervalo de confiança de 95% dos escores obtidos para
as respostas às 42 questões iniciais do questionário. Em seguida à análise descritiva das
respostas, foi analisada a confiabilidade da escala composta pelas questões por meio da
obtenção do índice alfa de Cronbach. A análise de confiabilidade permite estudar as
propriedades das escalas de medição e os itens que compõem as escalas com base na
correlação inter-item de média. O procedimento de Análise de Confiabilidade calcula um
número de medidas comumente utilizadas de confiabilidade da escala e também fornece
informações sobre as relações entre os itens individuais da escala.
A partir da medida inicial de Alfa de Cronbrach de 0,47 para a escala com 42 itens,
foram exibidas as estatísticas de resumo comparando cada item com a escala que é composta
de outros itens. As estatísticas incluem escala média e variância se o item fosse excluído da
escala de correlação entre o item e a escala que é composto de outros itens e alfa de Cronbach
se o item fosse excluído da escala. Retirando-se, então, item por item, chegou-se a uma escala
Capa Índice 1225
Revisado pelo orientador
final com 22 itens que correponderam a um valor de Alfa de Cronbrach de 0,73, portanto,
acima do valor de referência para confiabilidade aceitável (0,70) (Tabela 1).
Figura 3. Média e IC 95% dos escores obtidos nas respostas às 42 questões iniciais.
Capa Índice 1226
Revisado pelo orientador
Tabela 1. Estatísticas de confiabilidade da escala total com 22 itens.
Questão Média da escala se o item for excluído
Variância da escala se o item for
excluído Correlação iten-
total
Alfa de Cronbach's se o item for
excluído
Q_10_01 115,2714 263,070 0,307 0,722
Q_10_10 116,8571 249,863 0,292 0,723
Q_10_11 116,1571 245,902 0,372 0,715
Q_10_14 118,5286 244,108 0,352 0,717
Q_10_15 119,1571 241,004 0,438 0,708
Q_10_16 117,7000 237,054 0,409 0,711
Q_10_17 115,4571 264,513 0,212 0,728
Q_10_18 116,6571 248,287 0,302 0,722
Q_10_20 115,2286 274,961 0,091 0,733
Q_10_21 116,8714 239,708 0,430 0,709
Q_10_24 115,1143 274,769 0,109 0,732
Q_10_25 115,7429 258,745 0,251 0,725
Q_10_26 115,3714 266,121 0,246 0,726
Q_10_29 116,9000 248,323 0,320 0,720
Q_10_30 116,1429 236,269 0,512 0,701
Q_10_32 117,7286 249,099 0,290 0,723
Q_10_34 115,1857 274,559 0,104 0,732
Q_10_35 115,2571 265,005 0,341 0,722
Q_10_37 114,8571 277,168 0,132 0,732
Q_10_39 115,1429 270,269 0,258 0,727
Q_10_40 115,4000 271,867 0,129 0,732
Q_10_42 115,8714 268,780 0,147 0,732
Alfa de Cronbrach = 0,732; No. de itens = 22
Para as três dimensões do esquema da TCP (Figura 2), os coeficientes alfa foram de
0,50 para as questões relacionadas à dimensão de atitudes frente ao comportamento (8 itens),
0,19 para a dimensão norma subjetiva (6 itens) e 0,57 para a dimensão controle do
comportamento percebido (8 itens).
A figura 4 mostra diferença significativa entre as dimensões (teste t; p<0,001),
revelando que as questões referentes à norma subjetiva têm maior influência na formação das
intenções comportamentais relacionadas à procura por tratamento protético.
Capa Índice 1227
Revisado pelo orientador
Figura 4. Média e IC95% dos escores das três dimensões que compõem a escala
DISCUSSÃO
Investigar a influência das crenças comportamentais, sociais e de controle dos
pacientes sobre o comportamento dos pacientes que buscam tratamento odontológico tem
como pressuposto básico que o indivíduo como um ser social forma sua compreensão do
mundo a partir de experiências compartilhadas com outras pessoas, onde o processo de
reprodução de comportamento tem grande influência na formação de sua personalidade.
Sendo assim, o homem em maior ou menor grau é um ser previsível. No entanto, nem todas
as crenças sociais são aceitas pelo indivíduo, sua subjetividade também influi na adoção de
determinados modos de pensar e agir dando origem a um indivíduo com personalidade
própria, com maior ou menor grau de influência das crenças sociais. Portanto, predizer o
Capa Índice 1228
Revisado pelo orientador
comportamento das pessoas em relação a qualquer objeto atitudinal implica em compreender
os inúmeros fatores envolvidos e o grau de influência de cada um na sua formação.
Para predizer e explicar o comportamento humano, a Teoria do Comportamento
Planejado (TCP), investiga a influência de suas variáveis independentes (atitude, norma social
e controle percebido do comportamento) na formação da intenção do indivíduo em realizar
uma determinada ação. Portanto, seu foco, é compreender e explicar a influência destas
variáveis na formação da intenção comportamental e, por consequência, predizer com maior
acurácia o comportamento do indivíduo frente ao objeto atitudinal.
Embora o termo “atitude” tenha passado por mudanças conceituais ao longo do tempo,
Rodrigues et al., (2000), em concordância com Ajzen e Fishbein (1975), o compreendem
como sentimentos favoráveis ou desfavoráveis desenvolvidos pelo indivíduo em relação a um
determinado objeto atitudinal. Tem como característica ser relativamente instável, que lhe
permite sofrer alterações de acordo com o período de tempo ou contexto no qual esteja
inserido. A atitude é formada por três componentes: cognição, afeto e comportamento.
A norma subjetiva (normal social) é compreendida como a pressão exercida pelo meio
social nas intenções comportamentais do indivíduo. A norma subjetiva está relacionada com o
poder de influência que outras pessoas ou meios sociais exercem sobre o indivíduo em um
contexto específico. A percepção de Ajzen e Fishbein (1975), sobre a influência da norma
social na formação da intenção atitudinal, permitiu a grandes avanços no entendimento do
comportamento do indivíduo frente a um objeto atitudinal.
Ajzen (1991) conceitua controle comportamental percebido como a percepção pelo
indivíduo da facilidade ou dificuldade que terá para realizar um determinado comportamento.
Esta variável reflete a avaliação que o indivíduo faz da influência de fatores externos
(recursos e oportunidades disponíveis) e internos (habilidade e confiança para executá-lo)
como facilitadores ou dificultadores da sua pretensão em realizar um determinado
comportamento.
Segundo os resultados obtidos nesse estudo, percebe-se que a norma subjetiva tem a
maior influência na predição do comportamento relacionado à procura por tratamento
protético. Dessa forma a pressão social (normas da sociedade) é o fator que mais influencia o
paciente quando da tomada de decisão para a procura do tratamento protético, seguido pela
atitude e por último pelo controle comportamental percebido.
Capa Índice 1229
Revisado pelo orientador
O resultado desse estudo esclarece o motivo pelo qual algumas pessoas embora
tenham medo da cirurgia para a colocação do implante dentário para o tratamento com prótese
sobre implante o fazem pelo fato de que esse tratamento é aceito pela maioria da sociedade.
CONCLUSÃO
Portanto, o fator que mais determina as atitudes e intenções comportamentais de
pacientes em relação à assistência odontológica para tratamento protético é a norma subjetiva,
isto é, a percepção subjetiva de pressões sociais normativas ou de outras pessoas quanto à
atitude favorável a determinado comportamento.
REFERÊNCIAS
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1988. BERKEY, D.B.; BERG, R.G.; ETTINGER. R.L.; MERSEL, A.; MANN, J. The old-old
dental patient: the challenge of clinical decision-making. J Am Dent Assoc, v. 3, n. 127, 1996.
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FISHBEIN, M.; AJZEN, I. Belief, attitudes, intention and behavior: an introduction to theory and research. Reading: Adison-Wesley Publishing Company; 1975.
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MARCONI, M.A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos da metodologia científica. 6.ed. São Paulo: Editora Atlas, 2005.
Capa Índice 1230
Revisado pelo orientador
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Capa Índice 1231
Título: Anisotropia de fluorescência no estudo de modelos de membranas
biológicas
Autores:
Douglas de Oliveira Galvão1 - matrícula: 074838 ([email protected])
Cássia Alessandra Marquezin1 ([email protected])
1 Instituto de Física - Universidade Federal de Goiás
Palavras-chave: fluorescência de estado estacionário; vesículas fosfolipídicas;
tiossemicarbazonas.
Período: agosto/2011 a julho/2012.
Goiânia – agosto/2012
Capa Índice 1232
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1232 - 1244
Introdução
Fluorescência em biofísica: as informações obtidas com a técnica de fluorescência
resultam de medidas efetuadas em amostras nas quais está presente uma sonda fluorescente,
que pode ser uma molécula intrínseca ao sistema em estudo como, por exemplo, o resíduo
triptofano em peptídeos e proteínas (DE OLIVEIRA, A.H.C et al, 2001, ITO et al,2008 )
porfirinas e co-fatores como flavina adenina dinucleotídeos(FAD) e nicotinamida adenina
dinucleotídeo (NADH) em tecidos biológicos (MILHAUD, J. et al 2002). Pode também ser
uma molécula incorporada ao sistema por meio de interações de diferenes naturezas como o
grupo ácido orto-aminobenzóico (o-Abz) ligado covalentemente ao terminal amino de peptí-
deos, o amino naftaleno sulfonato ligado a proteínas por interações hidrofóbicas, e derivados
de grupos flouorescentes com afinidade por membranas modelo e membranas naturais, como
diphenyl hexatriene (DPH) (B.JAIN & K. DAS,2006), 6-dodecanoyl-2-
dimethylaminonaphtalene laurildimethylaminonaphtalene – LAURDAN (SOBOLEV, A.S et
al 2000) ou 2-amino-N-hexadecyl-benzamide(AHBA) (MARQUEZIN et al 2006).
Sistema de membranas modelo: agregados de moléculas anfifílicas tais como vesí-
culas e micelas, têm sido utilizados como modelos para membranas biológicas, daí nosso inte-
resse em estudas tais sistemas. Micelas geralmente são compostas por moléculas (surfactan-
tes) contendo um grupo polar ligado a uma cadeia hidrocarbônica (apolar). Essas moléculas,
quando em ambiente polar, tendem a se agregar de maneira que as cadeias apolares não fi-
quem em contato com o solvente (efeito hidrofóbico). A estrutura final é aproximadamente
esférica e não encerra água em seu interior. Já as vesículas são constituídas por lipídios, que
são compostos insolúveis em água, com importantes funções biológicas; os fosfolipídios re-
presentam aproximadamente a metade da massa das membranas biológicas,
(TDZ) m-nitrobenzaldeido tiadiazol do R-limonemo: compostos da classe das tios-
semicarbazonas, derivados do terpeno natural r-limoneno, com comprovada ação contra célu-
las leucêmicas, organismos parasitários, bem como vírus, bactérias e fungos. Seu mecanismo
de ação ainda é desconhecido, e procura-se estudar neste trabalho sua interação com membra-
nas modelo de célula e os possíveis efeitos decorrentes desta interação.
Objetivos
Elucidar o mecanismo de ação dos compostos TDZ (m-nitrobenzaldeido tiadiazol do
R-limonemo), já com ação comprovada contra células leucêmicas, bactérias, fungos, vírus e
Capa Índice 1233
parasitas. Investigar a interação entre vesículas fosfolipídicas e tais compostos, através de
medidas de anisotropia de fluorescência estática e sondas lipofílicas fluorescentes.
Materiais e Métodos
Os experimentos de anisotropia de fluorescência consistem em variar a temperatura
das amostras e observar o comportamento de fase das bicamadas lipídicas, em presença e au-
sência dos fármacos de interesse; qualquer interação dos fármacos com a membrana implicará
em mudanças significativas no comportamento de fase, alterando visivelmente a anisotropia
de fluorescência das sondas fluorescentes utilizadas. Essas medidas foram feitas no Espectro-
fluorímetro Fluorolog FL 3-221, Horiba Jobin Yvon, equipado com polarizadores de excita-
ção e emissão, locados no Instituto de Física da UFG. Os monocromadores são configurados
de acordo com a sonda fluorescente utilizada. A largura das fendas pode ser de 2 nm ou 5 nm,
e a tensão na fotomultiplicadora está entre 900 a 950 volts, dependendo da intensidade de
fluorescência da amostra.
Os sistemas de membranas modelo aqui utilizados são vesículas lipídicas, preparadas
pelo método da extrusão. Um filme de lipídio é formado a partir de lipídios dissolvidos em
clorofórmio, onde o solvente é removido através de um fluxo de ; para eliminar todos os
traços do solvente, o filme e deixado em ambiente de pressão reduzida por aproximadamente
5 horas. O passo seguinte consiste na suspensão desse filme em uma solução tampão Hepes
10 mM. Essa solução foi filtrada através de membranas de policarbonato, com poros de diâ-
metro de 0.1 µm, resultando em vesículas unilamelares com diâmetro de 0,1 µm. Uma carac-
terística importante das vesículas é o comportamento de fase; aumentando a temperatura do
sistema é possível observar a transição de uma fase mais rígida (fase gel) para uma fase fluida
(líquido-cristalina). Os compostos de interesse biológicos são adicionados a essas vesículas,
em diferentes concentrações, durante o processo de preparo destas vesículas.
Atividades desenvolvidas
No período compreendido entre agosto/2011 e julho/2012 foram realizados estudos da
teoria de Bioquímica e da técnica de espectroscopia de Fluorescência, através da leitura de
diversos capítulos dos livros Príncipios de Bioquímica, de Lehninger e Principles of Fluores-
cence Spectroscopy, de Lakowicz; tais leituras objetivaram a introdução aos assuntos anteri-
ormente citados.
Capa Índice 1234
Também foi apresentado pelo aluno, um seminário sobre Lipídios e a Membrana Celu-
lar, com a finalidade de concretizar as leituras realizadas.
Em laboratório foram realizados experimentos de emissão fluorescente, onde obtive-
mos espectros de fluorescência de diversas sondas fluorescentes e sua anisotropia estática em
sistemas de vesículas fosfolipídicas, objetivando obter informações acerca da microviscosida-
de de tais sistemas em presença e ausência dos compostos alvo do estudo, os TDZ.
Resultados e Discussões
O objetivo é conhecer o mecanismo de ação destes compostos (TDZ) quando da sua
interação com células cancerosas ou com vírus, bactérias e fungos; dessa forma, iniciamos os
estudos com sistemas de modelos de membranas utilizando diversas sondas fluorescentes. A
seguir, o gráfico mostra a anisotropia de fluorescência de cada sonda utilizada, em função da
temperatura:
Figura 1: anisotropia de fluorescência em função da temperatura para as sondas Ahba,
DPH, NBD-PE, 6-NBD-PC e 12-NBD-PC em vesículas de DMPC.
As vesículas de DMPC possuem carga líquida neutra e diversas sondas fluorescentes
foram testadas. A diferença entre elas é sua localização em uma bicamada lipídica; o Ahba e o
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
Anis
otro
pia
Temperatura (ºC)
DPH Ahba NBD-PE 6NBD-PC 12NBD-PC
DMPC 0,4 mM
Capa Índice 1235
NBD-PE, por exemplo, se localizam na superfície da bicamada enquanto que as sondas DPH,
6-NBD-PC e 12-NBD-PC estão preferencialmente no interior da bicamada, na região das ca-
deias hidrocarbônicas dos lipídios. Dentre estas sondas, optamos pelo DPH, que mostra a
transição de fase com maior clareza e precisão.
A seguir, espectro de emissão do DPH em vesículas de DMPC:
380 400 420 440 460 480 500 520 540 5600
100
200
300
400
500
(nm)
Inte
nsid
ade
de F
luor
escê
ncia
(u. a
.)
DMPC 1mM + DPH 10 M
Figura 2: espectro de emissão do DPH em vesículas de DMPC à 25 °C; excitação em 360 nm.
O DPH possui três bandas em seu espectro de emissão, e em nossos experimentos
controlamos sua anisotropia de fluorescência sempre em 425 nm, região do pico da banda
central; dessa forma, todas as medidas foram feitas excitando-se as amostras em 360 nm e a
emissão foi observada em 425 nm. A seguir, resultados da anisotropia estática em função da
temperatura:
Capa Índice 1236
Figura 3: Anisotropia em função da temperatura para a amostra com DMPC+DPH sem a pre-
sença das TDZ.
O resultado mostra claramente a transição de fase das bicamadas de DMPC,
que ocorre em torno de 22 a 23 °C. O DPH é uma sonda fluorescente que se posiciona no in-
terior da bicamada lipídica, na região das cadeias graxas apolares e é bastante sensível à mo-
bilidade do ambiente; ao passar da fase gel para a fase fluida (ou líquido-cristalina), a fluidez
da bicamada aumenta bastante, resultando em valores menores de anisotropia do DPH, con-
forme observamos neste gráfico. Essa será a curva controle, ou de referência, pois mostra o
sistema puro (somente as vesículas lipídicas), sem a presença de qualquer outra molécula.
Prosseguiremos então com a adição dos compostos de interesse a este sistema de vesí-
culas lipídicas, com o objetivo de verificar se há interação dos compostos com as vesículas. A
seguir, resultado obtido em presença de 10 mol% (em relação à quantidade de lipídios) do
composto TDZ1:
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
Anis
otro
pia
em 4
25 n
m
Temperatura (ºC)
DMPC 0,4 mM + DPH 2,6 uM
Capa Índice 1237
Figura 4: Anisotropia em função da temperatura para a amostra com DMPC+DPH na presença da
(TDZ1)10%.
Como não são observadas mudanças significativas na anisotropia do DPH, infere-se
que o composto não está interagindo com a bicamada nesta proporção molar; assim, outra
amostra foi preparada, com uma quantidade maior do composto TDZ1(21 mol %) em relação
à quantidade de lipídios; resultado mostrado a seguir:
Figura 5: Anisotropia em função da temperatura para a amostra com DMPC+DPH na presença da
(TDZ1) 21 mol %.
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 600,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
Anis
otro
pia
em 4
25 n
m
Temperatura (ºC)
DMPC 0,4 mM + DPH 4uM + (TDZ1) 40uM
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 600,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
Anis
otro
pia
em 4
25 n
m
Temperatura (ºC)
DMPC 0,4 mM + DPH 3,3 uM + (TDZ1) 0,086mM
Capa Índice 1238
Aqui observamos ligeiro aumento nos valores de anisotropia, especialmente na fase
gel podendo ser interpretado como aumento da rigidez da bicamada devido à presença de 21
mol % do composto TDZ1; no entando, espera-se justamente o efeito contrário: fluidificação
da bicamada em presença dos TDZ, especialmente na fase gel. Estes experimentos deverão
ser repetidos para que qualquer afirmação possa ser feita. No entanto, é importante notar que,
durante o processo de preparo dos filmes lipídicos (DMPC + DPH + TDZ1), no momento da
suspensão do filme em tampão, foi observada uma coloração amarelada na parede do tubo de
ensaio (coloração típica do composto TDZ1), mostrando que o composto ficou adsorvido na
parede do tubo e não foi incorporado nas bicamadas de DMPC; podemos dizer ainda que é
possível que apenas uma pequena fração das moléculas de TDZ1 esteja indo para as bicama-
das enquanto que o restante permaneceu adsorvido na parede do tubo de ensaio; seria necessá-
rio então procurar por outros métodos de preparo deste filme lipídico para garantir a incorpo-
ração de todas as moléculas do composto. Desta forma, não há como afirmar se o TDZ1 está
alterando a bicamada de DMPC, uma vez que ele não está inserido na mesma.
Demos continuidade aos experimentos, agora testando o composto TDZ2; ressaltamos
que durante o preparo dos filmes lipídicos com TDZ2, todo o filme foi suspenso em solução,
não restando nada na parede do tubo, o que nos permite concluir que todo o composto foi para
a bicamada lipídica. A seguir, os resultados obtidos para 1 mol% de TDZ2 em DMPC:
Figura 6: Anisotropia em função da temperatura para a amostra com DMPC+DPH na presença da
(TDZ2)1%.
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 600,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
Anis
otro
pia
em 4
25 n
m
Temperatura (ºC)
DMPC 0,4 mM + DPH 4uM + (TDZ2) 4uM
Capa Índice 1239
Em relação ao controle, há uma pequena alteração na fase gel, mas não é significativa
e pode estar dentro do erro; fomos aumentando a concentração molar do composto e, a seguir,
resultado para 10 mol % de TDZ2:
Figura 7: Anisotropia em função da temperatura para a amostra com DMPC+DPH na presença da
(TDZ2)10%.
Observam-se claramente mudanças significativas na fluidez da bicamada, na medida
em que aumentamos a temperatura do sistema; os valores de anisotropia na fase gel são pró-
ximos daqueles medidos em presença de TDZ1 (10 mol% e 21 mol%) e TDZ2 (1 mol%), no
entanto, na fase fluida (acima da transição de fase em 23 °C) os valores permanecem mais
altos em relação ao controle, indicando que o composto enrijece a membrana e os movimen-
tos do DPH ficam mais restritos, resultando nestas anisotropias maiores. O comportamento de
fase ainda pode ser observado e a temperatura de transição parece não ter sido alterada. Pode-
se sugerir que a presença dos compostos aumenta o empacotamento lipídico, pelo menos na
região das cadeias apolares, onde está localizado o DPH.
Realizamos ainda outro experimento com 20 mol% de TDZ2, resultando no gráfico a
seguir:
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 600,14
0,16
0,18
0,20
0,22
0,24
0,26
0,28
0,30
0,32
0,34An
isot
ropi
a em
425
nm
Anis
otro
pia
em 4
25 n
mDMPC 0,4 mM + DPH 4uM + (TDZ2) 40uM
Temperatura (ºC)
Capa Índice 1240
Figura 8: Anisotropia em função da temperatura para a amostra com DMPC+DPH na presença da
(TDZ2)20%.
Do gráfico observam-se grandes alterações na bicamada lipídica, em todo o intervalo
de temperatura medido; é bastante provável que esta concentração de composto tenha ‘desfei-
to’ a vesícula e o que resta em solução são apenas fragmentos de bicamadas ou agregados
macromoleculares de lipídios e TDZ2, uma vez que não é possível observar o comportamento
de fase e uma clara transição entre a fase gel e a fase fluida; os valores de anisotropia diminuí-
ram na fase gel e aumentaram na fase fluida, em relação ao controle, seguindo um padrão
aproximadamente constante, indicando que, provavelmente, não há mais vesículas inteiras
em solução. Se assim for, o TDZ2 nesta concentração molar provoca a destruição das vesícu-
las lipídicas de DMPC.
Para uma visão geral dos resultados obtidos, agrupamos tudo em um único gráfico,
como mostra a figura a seguir:
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 600,23
0,24
0,25
0,26
0,27
0,28
0,29
0,30
Ani
sotro
pia
em 4
25 n
m
Temperatura (ºC)
DMPC 0,4 mM + DPH 4uM + (TDZ2) 80uM
Capa Índice 1241
Figura 9: Anisotropia em função da temperatura para as amostras com DMPC+DPH na presença dos
compostos TDZ1 e TDZ2 em diferentes concentrações.
Ao observamos esses valores, podemos notar que o composto TDZ1 tanto na concen-
tração de 21% quanto na concentração de 10%, não alterou a forma da curva de transição de
fase do DMPC (curva original=controle). Já com o composto TDZ2, nota-se que aumentando
a concentração de TDZ2 nas amostras a anisotropia diminui, porém ocorre uma limitação
quanto a movimentação do DMPC, ficando ligeiramente mais rígido do que a curva original.
Conclusões
Dentre as diversas sondas lipofílicas testadas em vesículas de DMPC, o DPH foi aquela que
mostrou com maior clareza e precisão a transição de fase, dada a maior diferença entre seus
valores de anisotropia na fase gel e na fase líquido-cristalina. Assim, selecionamos esta sonda
para a continuidade dos experimentos.
Os compostos utilizados já apresentam atividade biológica contra células leucêmicas e orga-
nismos parasitários, bem como contra fungos, vírus e bactérias e foram incorporados em ve-
sículas fosfolipídicas de DMPC com o objetivo de verificação de seu possível mecanismo de
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35 controle (TDZ1) 21% (TDZ1) 10% (TDZ2) 1% (TDZ2) 10% (TDZ2) 20%
Ani
sotr
opia
em
425
nm
Temperatura (ºC)
DMPC 0,4 mM + DPH 4 uM
Capa Índice 1242
ação: se ocorre através de interações com membranas ou não. Os compostos TDZ1 e TDZ2
foram então testados, e concluímos que o composto TDZ1 não incorporou nas vesículas lipí-
dicas durante a formação destas, pois um filme de coloração amarelada permaneceu adsorvido
na parede do tubo de ensaio onde são produzidas as vesículas. Durante o experimento, foi
observado o comportamento de fase do DMPC, ou seja, as vesículas foram formadas nor-
malmente, mas o TDZ1 não havia sido incorporado, pelo menos não em sua totalidade. Se
alguma fração do composto foi para a membrana, não causou mudança na fluidez do sistema,
pois não houve mudança na anisotropia do DPH. Procuraremos então outra metodologia ex-
perimental para tentar incorporar o TDZ1 em vesículas de DMPC.
O composto TDZ2 a 10 mol% e 20 mol% foi capaz de interagir fortemente com as vesículas
de DMPC, alterando a fluidez do sistema e fazendo com que estas alterações fossem sensi-
velmente monitoradas pelo DPH; os resultados sugerem que o TDZ2 a 10 mol% esteja pre-
sente na região das cadeias apolares, onde se encontra o DPH; já a 20 mol% concluímos que a
vesícula de DMPC já não existe, pois nenhum comportamento de fase foi observado, em vez
disso, observou-se apenas um padrão constante na anisotropia do DPH ao longo de todo o
intervalo de temperatura medido. Desta forma, sugerimos que o TDZ2 a 20 mol% destrói as
vesículas lipídicas, e o que resta em solução são apenas fragmentos de bicamada ou agregados
macromoleculares de lipídios, sonda fluorescente e composto TDZ2.
Continuidade dos estudos
Estes resultados sugerem que outros experimentos deverão ser feitos; outras concentrações
dos compostos deverão ser estudadas e pretende-se também repetir esta análise utilizando
outra sonda fluorescente, que se localize na superfície das bicamadas, permitindo então algu-
ma conclusão mais específica sobre a localização preferencial dos compostos TDZ nestes
sistemas.
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Revisado pelo orientador
Goiânia, 07/agosto/2012.
Capa Índice 1244
Investigação da presença do gene blaPER-1 em isolados clínicos de Acinetobacter baumannii
Déllys Leonora Lago, Suellen Rocha Araújo Castilho, André Kipnis Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública
Universidade Federal de Goiás, 74605050, Brasil [email protected], [email protected]
Palavras chaves: Acinetobacter baumannii, blaPER-1, biofilme bacteriano
1 INTRODUÇÃO
O gênero Acinetobacter spp. apresenta 37 espécies (PELEG et al., 2008), sendo a
Acinetobacter baumannii a de maior importância clínica. Esses micro-organismos são
cocobacilos Gram-negativos, aeróbios estritos, não-fermentadores de glicose, imóveis,
catalase-positiva, oxidase-negativa, não-fastidiosos (MARTINS, 2010; KONEMAN et al.,
2006) e possuem uma ampla capacidade metabólica e nutricional, o que lhes conferem fácil
adaptação em diversas condições de temperatura, pH, salinidade, níveis de umidade e fontes
de alimentação (IAKONO et al., 2008). Crescem bem em meios de cultura sólidos, como o
TSA (Triple Soy Agar) quando incubados a 37°C, por 18 a 24 horas. Nesse tipo de meio,
apresentam colônias lisas, cremosas, algumas vezes mucóides, de cor branca acinzentada
(PELEG et al., 2008).
Essas bactérias estão adquirindo cada vez mais importância clínica, principalmente
nos últimos 20 anos, pois apresentam uma notável capacidade de regulação e aquisição de
determinantes de resistência, ameaçando a era dos antibióticos. Várias cepas de A. baumannii
foram relatadas como resistentes a todos os antibióticos conhecidos além de apresentarem
grande capacidade de sobreviver a longos períodos em ambiente hospitalar, potencializando
sua capacidade de disseminação nosocomial e causando surtos no mundo inteiro (PELEG et
al., 2008).
Pacientes hospitalizados, muito debilitados, que apresentam a integridade da pele
violada e vias aéreas não protegidas, são os alvos mais comuns atingidos por esse micro-
organismo, sendo a pneumonia hospitalar adquirida a forma mais frequente de infecção
(PELEG et al., 2008). Outros fatores que contribuem para a infecção é a presença de doenças
crônicas mal controladas, como diabetes, doença renal e malignidades, tempo longo de
internação, procedimentos cirúrgicos e antibioticoterapia prévia (SIROY et al.,2005; SLAMA
Capa Índice 1245
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1245 - 1254
2008). Na última década, A. baumannii tornou-se um importante agente etiológico em
infecções oportunistas, principalmente pneumonias relacionadas à ventilação mecânica,
infecções de feridas ocasionadas por queimaduras, bacteremias, infecções do trato urinário,
principalmente em pacientes de unidades de terapia intensiva (UTI’s).
No Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia (HUAPA), em Goiás - Brasil, um
surto de infecção hospitalar em fevereiro de 2009 resultou em 83 mortes no período de um
ano. A contaminação ocorre devido à presença de vários tipos de bactérias, porém as mais
comuns, letais e persistentes nas UTI’s são as A. baumannii multirresistentes, a qual a
Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do HUAPA não conseguiu suplantar
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
Há relatos que alguns isolados de A. baumannii são capazes de formar biofilme,
aderindo às superfícies e desenvolvendo microcolônias com secreções de exopolissacarídios,
o que as tornam muito estruturadas e resistentes às terapias antibacterianas (MARTINS, 2010;
TOMARAS et al.,). O biofilme é considerado um importante fator de resistência, pois células
bacterianas estão irreversivelmente ligadas a um substrato (biótico ou não). A importância
médica da formação de biofilme bacteriano consiste no fato deste estar relacionado com
infecções persistentes, como no caso de infecções por cateteres e implantes cirúrgicos, além
de contribuir para a persistência do micro-organismo no ambiente hospitalar (DORLAN &
COSTERTON, 2002).
Averiguou-se que cepas portadoras do gene blaPER-1, um gene produtor de β-
lactamases, contendo 924 pares de base (LEE et al., 2007b) tiveram maior adesividade e
capacidade de formar biofilme em poliestireno do que isolados que não continham tal gene
(LEE et al., 2007a; GADDY et al., 2009). Essa capacidade contribui para a sobrevivência da
bactéria em ambientes hostis além de resistirem a multidrogas.
2 OBJETIVOS
Este trabalho tem como objetivo a extração do DNA genômico de Acinetobacter
baumannii e posterior investigação da presença do gene blaPER-1 por PCR (Polymerase Chain
Reaction) e verificar associação entre a presença do gene blaPER-1 e formação de biofilme.
3 METODOLOGIA
3.1 Obtenção de amostras e teste de viabilidade
Capa Índice 1246
Obteve-se 84 amostras biológicas provenientes de pacientes adultos internados em
UTI’s de três hospitais de Goiânia (Hospital Araújo Jorge/ HAJ, Hospital das Clínicas/HC e o
Hospital de Doenças Tropicais/HDT) e um de Aparecida de Goiânia (Hospital de Aparecida
de Goiânia/ HUAPA), no estado de Goiás, Brasil. Tais amostras eram provenientes de líquido
peritoneal e pleural, ponta de cateter venoso central, secreção e aspirado traqueal, sangue,
urina, pele, secreção ocular e de feridas cirúrgica, sendo que as mesmas foram enviadas ao
Laboratório Central (LACEN) para isolamento e identificação de A. baumannii. Após
identificação pelo LACEN as amostras, armazenadas em temperatura a -80°C, foram
encaminhadas ao Laboratório de Bacteriologia Molecular do Instituto de Patologia Tropical e
Saúde Pública (IPTSP), para iniciar a pesquisa.
De cada amostra mantida em freezer -80°C, foi realizada uma semeadura em meio de
cultura sólido TSA, para verificar a viabilidade das mesmas. As placas foram armazenadas
em estufa a 37°C por aproximadamente 16 horas. Após crescimento em placa com meio TSA,
selecionou-se uma colônia isolada e a mesma foi semeada em caldo TSB (Triple Soy Broth),
armazenada nas mesmas condições supracitadas, para ser usado posteriormente na extração de
DNA.
De outra colônia isolada foi realizada a coloração de Gram, que consiste em cobrir as
colônias fixadas na lâmina com solução de cristal violeta por um minuto e retirar o excesso,
lavar a lâmina com água corrente e acrescentar lugol por mais um minuto, sendo este
removido com água. Posteriormente, o álcool é acrescentado por 30 segundos, seguido do
acréscimo da fucsina, por mais 30 segundos. As lâminas preparadas foram então analisadas
cuidadosamente em microscópio óptico, sobre imersão, em objetiva de 100 vezes, em óleo.
Sobre as lentes, observou-se cocos bacilos Gram negativos, como o esperado, sugerindo a
presença de A. baumannii.
3.2 Extração de DNA cromossomal
Após crescimento em meio de cultura líquido TSB prosseguiu-se com o processo,
sendo a próxima etapa a extração de DNA cromossomal e armazenamento em criotubos com
glicerol 20% na concentração 1:1 (1mL de glicerol e 1mL de cultura crescida em meio TSB)
Primeiramente, transferiu-se 1,5 mL de cultura bacteriana crescida para cada tubo tipo
Eppendorf previamente identificado com a respectiva amostra, sendo o mesmo centrifugado a
Capa Índice 1247
5000 rcf por 5 minutos, a 14°C. Posteriormente, o sobrenadante foi descartado e o pellet
agitado no misturador.
Nos mesmos tubos, foram adicionados 400µL de tampão TE, seguido de 6 µL de
lisozima (20mg/mL) e 1µL de enzima RNAse em cada. A solução foi levada ao banho-maria
a 37°C por 1,5 horas. Transcorrido este tempo, foi acrescentado 70µL de dodecil sulfato
sódico (10%) e 12 µL de proteinase K (20mg/mL). O sistema foi então encubado por 10
minutos a 56°C. Posteriormente, adicionou-se 100µL de NaCl 5,0 M e 80µL de solução
CTAB/NaCl (10% CTAB, 0,73 M NaCl). A solução foi agitada lentamente até ficar com
aspecto leitoso, sendo incubada por 10 minutos a 65°C. Posteriormente, acrescentou-se 650
µL de clorofil, seguido de leve agitação por 30 segundos. A solução foi centrifugada por
12000 rcf por 5 minutos a 10°C. O sobrenadante foi transferido para outro tipo Eppendorf
identificado, e adicionou-se 400µL de isopropanol gelado e então o sistema foi
homogeneizado e incubado a -20°C por 24 horas.
Após o tempo necessário, os Eppendorfs foram centrifugados a 18.000g, a 4°C por 20
minutos. Realizou-se a lavagem com 1mL de álcool etílico a 70% gelado, sendo o mesmo
escorrido com os Eppendorfs cuidadosamentes invertidos, até a total evaporação do álcool. O
DNA extraído foi ressuspendido em água ultrapura MiliQ e guardado em geladeira para a
próxima etapa. A presença do DNA cromossomal extraído foi verificada em gel de agarose a
1% e reveladas com brometo de etídeo (0,5 mg/mL), visualizadas em fotodocumentador.
3.3 Detecção do gene blaPER-1
Após a obtenção do DNA cromossomal, foi realizado a PCR usando oligonucleotídeos
iniciadores blaPER-1 Fwd 5’-ATGAATGTCATTATAAAAGC-3’ e blaPER-1 Rev 5’-
AATTTGGGCTTAGGGCAGAA-3’ (LEE et al,. 2007). A amplificação da PCR foi realizada
em termociclador programado para uma desnaturação inicial de 95ºC por 4 min, seguido por
30 ciclos de desnaturação (90ºC, 30 seg), anelamento (55ºC, 40 segundos) e extensão (72ºC, 1
minuto) com um hold, ou extensão final, de 72ºC por 5 minutos. Os produtos das PCRs foram
analisados em gel de agarose 1%, revelados com brometo de etídeo (0,5 µg/ mL) e
visualizados em fotodocumentador e amostras analisadas. Marcadores utilizados foram o 1kb
DNA Ladder.
As etapas realizadas no decorrer da pesquisa estão sintetizadas na figura 1.
Capa Índice 1248
Figura 1- Representação esquemática das etapas efetuadas no plano de trabalho realizado.
3.4 Análise da correlação entre presença do gene blaPER-1 formação de biofilme.
Para calcular a correlação entre formação de biofilme bacteriano e presença do gene
blaPER-1, fez-se os cálculos da seguinte maneira: o X é uma variável representando a presença
do gene blaPER-1 e o Y uma outra representando a formação de biofilme bacteriano. Com isso,
calculou-se o valor de “r”, ou seja, o coeficiente de correlação partindo das equações abaixo:
𝑟𝑟=𝑐𝑐𝑜𝑜𝑣𝑣𝑋𝑋,𝑌𝑌𝜎𝜎𝑋𝑋𝜎𝜎𝑌𝑌=𝐸𝐸𝑋𝑋−µ𝑋𝑋𝑌𝑌−µ𝑌𝑌𝜎𝜎𝑋𝑋𝜎𝜎𝑌𝑌 equação (1) Onde: 𝑐𝑐𝑜𝑜𝑣𝑣 = covariância de (X,Y); 𝜎𝜎𝑋𝑋= desvio padrão de X; 𝜎𝜎𝑌𝑌= desvio padrão de Y; µ𝑋𝑋= valor esperado, ou esperança matemática de X; µ𝑌𝑌= valor esperado,ou esperança matemática de Y; E = operador valor esperado;
𝑟𝑟=𝐸𝐸𝑋𝑋𝑌𝑌−𝐸𝐸𝑋𝑋𝐸𝐸(𝑌𝑌)2𝐸𝐸𝑋𝑋2−𝐸𝐸2𝑋𝑋2𝐸𝐸𝑌𝑌2−𝐸𝐸2𝑌𝑌 equação (2) Onde, para variáveis discretas, temos:
𝐸𝐸𝑋𝑋=𝑖𝑖=1∞𝑥𝑥𝑖𝑖𝑝𝑝(𝑥𝑥𝑖𝑖) , em que 𝑝𝑝(𝑥𝑥𝑖𝑖) é a probabilidade da variável 𝑥𝑥𝑖𝑖; 𝐸𝐸𝑌𝑌=𝑖𝑖=1∞𝑥𝑥𝑖𝑖𝑝𝑝(𝑦𝑦𝑖𝑖), em que 𝑝𝑝(𝑦𝑦𝑖𝑖) é a probabilidade da variável 𝑦𝑦𝑖𝑖;
𝐸𝐸𝑋𝑋𝑌𝑌=𝑖𝑖=1∞𝑗𝑗=1∞𝑥𝑥𝑖𝑖𝑦𝑦𝑗𝑗 𝑝𝑝𝑥𝑥𝑖𝑖𝑦𝑦𝑗𝑗 ;
Capa Índice 1249
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram consideradas amostras positivas para o gene blaPER-1 aquelas onde seus produtos
obtidos por PCR apresentaram tamanho esperado de 924 pares de bases (pb) conforme
demonstrado na figura 2. Algumas amostras apresentaram amplificações inespecíficas,
maiores ou menores do que as 924 pb, isso pode ser justificado pela presença de regiões
homólogas aos oligonucleotídeos iniciadores no DNA cromossomal bacteriano, o que
permitiu o anelamento e amplificação desses segmentos indesejados. As amostras que
apresentaram bandas fracas no gel de agarose, ou mesmo não amplificaram adequadamente,
foram reanalisadas por outra PCR, nas mesmas condições descritas acima.
Figura 2. Gel de agarose 1%. PCR realizada com gene blaPER-1. Em vermelho, as amostras
consideradas positivas para o gene desejado. Controle positivo (C+) corresponde a amostra
ABs30. Controle negativo (C-) corresponde a água MiliQ.
Das 84 amostras analisadas, 26 (31%) possuem o gene blaPER-1. A literatura relata altas
freqüências da presença deste gene em isolados resistentes ao antibiótico imipenem (Kim et
al., 2008), porém nesse estudo não fizemos a análise da resistência a este antibiótico. Das
amostras contendo o gene blaPER-1, 13 amostras (50%) se mostraram capazes de formar de
biofilme, de acordo com os resultados obtidos de outro estudo realizado concomitantemente
por uma aluna de mestrado que utilizou as mesmas amostras, no nosso laboratório.
Capa Índice 1250
Analisamos a origem anatômica de onde os isolados foram obtidos e a presença ou não
do gene blaPER-1 (Tabela 1). A maioria dos isolados de A. baumanni incluídos neste estudo
foram obtidos de secreção respiratória (32,1%) seguido de sangue, cateter, urina e pele
(20,2%, 16,7%, 14,3% e 7,1%, respectivamente). A porcentagem de isolados contendo o gene
blaPER-1 variou de 25 a 100 de acordo com a origem do isolado (Tabela 1), porém devido ao
baixo numero da amostra, não foi Possível verificar se havia associação entre estas
freqüências. O gene em questão não foi encontrado nas amostras de sítio cirúrgico, secreção
ocular e de ferida operatória, porém, esses também são sítios passíveis de colonização
bacteriana.
Tabela 1. Correlação entre a presença ou não do do gene blaPER-1 e o sítio de coleta das amostras incluídas neste estudo.
Sítio de Coleta Quantidade de amostras
Presença do Gene bla PER-1
%
Sec. Respiratória 27 10 37,0 Sangue 17 5 29,4 Cateter 14 4 28,6 Urina 12 5 41,67 Pele 6 - -
Líq. Peritonial 4 1 25 Líq. Pleural 1 1 100
Secreção ocular 1 - - Sítio Cirúrgico 1 - -
Secreção de Ferida Operatória
1 - -
Total 84 26 30,95
A associação entre a origem anatômica dos isolados e a capacidade de formar biofilme
dentre as amostras que apresentaram-se portadoras do gene blaPER-1 está apresentada na
Tabela 2. Ao discriminarmos por sitio anatômico, não existe uma correlação aparente entre a
formação de biofilme ou não e a presença do gene blaPER-1.
Tabela 2. Relação das amostras que possuem o gene blaPER-1, comparando com a formação de biofilme e sítio de coleta.
Sítio de Coleta Formadoras de Biofilme
Não formadoras biofilme
Cateter 1 3 Líquido Peritoneal 1 0
Líquido Pleural 1 0 Sangue 2 3
Secreção Respiratória 5 5 Urina 3 2
Capa Índice 1251
A descrição na literatura da associação entre presença do gene blaPER-1 e a capacidade
de formar bifilme (Kim et al. 2008) nos levou a fazer a análise da relação entre a presença do
gene blaPER-1 com a formação de biofilme dentre os isolados incluídos em nosso estudo. Esta
relação está apresentada na está apresentada na tabela 3, aonde percebe-se que 43 amostras
não contém o gene blaPER-1 porém são capazes de formar biofilme.
Tabela 2. Relação entre presença do gene blaPER-1 com a formação de biofilme bacteriano.
Formação de Biofilme Não Formação de Biofilme Total
Presença do gene blaPER-1
13 13 26
Ausência do gene blaPER-1
43 15 58
Total 56 28 84
Assim, com os cálculos efetuados, foi encontrado um valor de r: -0,23. Esse resultado
negativo indica que a ausência do gene blaPER-1 tem influência mínima na produção de
biofilme. O “r” próximo a zero indica a mínima correlação entre a formação de biofilme e a
presença do gene investigado. A produção de biofilme pode ser influenciada pela presença do
gene blaPER-1 juntamente com a presença de outros genes não avaliados nesta pesquisa. Com
isso, neste artigo, não foi encontrada uma relação positiva entre a presença do gene blaPER-1 e
a formação de biofilme dentre os isolados incluídos neste estudo.
5 CONCLUSÃO
O DNA cromossomal de 84 amostras foi extraído e dele foi possível realizar a PCR
para o gene blaPER-1. O gene blaPER-1 foi encontrado em 31% das amostras de A. Baumanni
isolados de pacientes das UTIs investigadas. Em nosso estudo a presença do gene blaPER-1
mostrou-se ter mínima influência na formação do biofilme bacteriano,
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Capa Índice 1258
Capa Índice 1259
Capa Índice 1260
Capa Índice 1261
Capa Índice 1262
Capa Índice 1263
Capa Índice 1264
Capa Índice 1265
Capa Índice 1266
Capa Índice 1267
Capa Índice 1268
Capa Índice 1269
Logica Descritiva
Eduardo Silva Lira∗
Diane Castonguay†
Instituto de InformaticaUniversidade Federal de Goias
Goiania - GO
Resumo
Relatorio final referente ao projeto de pesquisa de Iniciacao Cientıfica - PIBIC/CNPq,intitulado Logica Descritiva. A Logica Descritiva e uma famılia de formalismos para arepresentacao do conhecimento e raciocınio sobre o mesmo. O estudo destinou-se a com-preensao do tema, e a analise de sua aplicabilidade para a criacao de algorıtmos para aresolucao de problemas ligados a Teoria de Representacoes de Algebras. Palavras-Chave:logica descritiva, formalismos, representacao do conhecimento, teoria de representacoes dealgebras.
1 Introducao
Este relatorio apresenta os resultados obtidos a partir do projeto de pesquisa de iniciacaocientıfica entitulado “Logica Descritiva”, realizado entre agosto de 2011 e julho de 2012, sob asurpevisao e orientacao da professora Dra. Diane Castonguay, como parte do projeto “Algorit-mos na Teoria de Representacoes de Algebras”. Em linhas gerais, o trabalho desenvolvido con-siste no estudo e entendimento da Logica Descritiva, analisando sua viabilidade e usabilidadena producao de algoritmos para a solucao de problemas relacionados a Teoria de Representacaode Algebras.
A representacao computacional do mundo real e um problema que sempre intrigou o ho-mem. Tal tarefa depende da definicao de linguagens formais para representar o conhecimento,e caminhos para relacionar os elementos dessas linguagens, pois assim a construcao de sistemascapazes de encontrar informacoes implıcitas atraves da analise de um conhecimento represen-tado explicitamente, sistemas ditos “inteligentes”, se torna possıvel. Esse e o objeto de estudoda Representacao do Conhecimento, uma area da Inteligencia Artificial. Neste campo, umadas principais linhas de investigacao e focada no princıpio de que o conhecimento deve serrepresentado por classes de objetos e relacionamentos entre esses objetos.
∗Orientando – [email protected]†Orientador – [email protected]
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Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1270 - 1277
Nos anos 70, o princıpio acima levou ao desenvolvimento dos primeiros sistemas baseadosem frames e das redes semanticas [7]. Entretanto, esses sistemas nao eram formalmente defini-dos, e o raciocınio sobre eles era fortemente dependente de estrategias de implementacao. Pos-teriormente, um passo fundamental foi dado: o sistema KL-ONE [5] introduziu a caracterizacao,baseada em logica, dos formalismos requeridos. O trabalho de Brachman e Levesque [4] apre-senta a tratabilidade de um construtor especıfico, a subsuncao, nas linguagens descritivas base-adas em frames, e e conhecido como o inıcio da pesquisa sobre Logica Descritiva. Os estudossubsequentes eram chamados de Sistemas Terminologicos, para enfatizar o fato de que classes erelacoes eram usados para estabelecer a terminologia basica adotada na modelagem do domınio.Posteriormente, o conjunto dos construtores adimitidos na linguagem tornou-se objeto de es-tudo, surgindo entao o nome de Linguagens de Conceito. Recentemente, a atencao se voltoupara as propriedades dos sistemas logicos, e o termo Logica Descritiva se tornou popular.
2 Objetivos
A motivacao para o estudo da Logica Descritiva veio do fato de ela ser uma forma derepresentacao do conhecimento aparentemente robusta e completa, mas pouco conhecida, quepoderia ser aplicada em diversas situacoes praticas. Assim o primeiro objetivo foi a compre-ensao e entendimento de seu funcionamento, o que possibilitaria a criacao de algoritmos para aresolucao de problemas ligados a Teoria de Representacoes de Algebras (TRA) e outras areas.
Outro objetivo foi a preparacao de um poster, com um resumo do trabalho e um exemplo,para ser apresentado no IX Congresso de Pesquisa, Ensino e Estensao da Universidade Federalde Goias; alem disso, a apresentacao de um seminario no Instituto de Informatica (INF-UFG),afim de introduzir essa ferramenta, que pode vir a ser de grande ajuda em projetos, tais como:“Recuperacao de Informacao e Extracao de Conhecimento em Ambientes” e “ComunidadeVirtuais Semanticas em Sala de Aulas Interativas”.
A necessidade de uma ferramenta que auxilie na representacao de domınios de problemascomplexos, e que tambem ofereca a capacidade de inferir sobre essa representacao, ou seja,obter informacoes implıcitas sobre ela, e uma realialidade encontrada em diversos ambitos dacomputacao. Geralmente, utilizam-se instrumentos ja conhecidos, mas que muitas vezes naose adequam exatamente ao esperado e oferecem respostas parciais. Isso se da pela urgencia dasolucao, que acarreta na falta de estudo e entendimento de alternativas; tal situacao e agravadaquando na nao existencia de um material simples e direto, que leve a introducao de um objetoque pode ser usado de forma completa e eficiente. Desta forma, um terceiro objetivo foi a escritade um texto que dirigisse o leitor ao entendimento da Logica Descritiva como uma opcao desolucao. E importante observar neste ponto que o foco nao foi um aprofundamento nas teoriasda Logica Descritiva, mas sim um entendimento superficial do seu funcionamento bem como acriacao de um exemplo claro, sucinto e elucidativo, que levasse o interessado a desmistificacaode possiveis ideias erradas, e a criacao de uma solucao baseada na nova ferramenta.
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Finalmente, objetiva-se um refinamento do texto produzido, citado acima, para a publicacaode um artigo em revistas cientıficas, tais como [6].
3 Metodologia
A metodologia de trabalho foi desenvolvida seguindo as divisoes logicas de [1]: Teoria,Implementacao e Aplicacao. Assim, como programado no cronograma desenvolvido no inıciodo trabalho, o tempo foi dividido para que cada etapa fosse cuidadosamente executada, e a basede conhecimento construıda de forma solida.
Em adicao a [1], o estudo de [4], [5], [2] e [3] foi fundamental para o entendimento dasorigens da Logica Descritiva, bem como o conhecimento dos primeiros trabalhos desenvolvidos,a motivacao e as complicacoes enfrentadas. Posteriormente, [7] serviu como base na introducaodas estruturas semanticas utilizadas na teoria. Finalmente, [8] trouxe uma linguagem de usopratico, que e o radical para todas as outras apresentadas em [1], usada para a construcao detodos exemplos durante o estudo.
Houve encontros semanais entre a orientadora e o aluno, com exposicao dos textos estuda-dos em forma de seminarios, levantamento de duvidas e ideias, e sugestoes de prosseguimento.O correio eletronico e o telefone foram usados sempre que se exigia um contato de urgencia.
4 Resultados
O estudo de [1] foi concluıdo como planejado, tornando possıvel a analise da aplicabilidadeda Logica Descritiva no desenvolvimento de algoritmos para a solucao de problemas relaciona-dos a TRA.
O texto descrito na secao 2 esta sendo finalizado, e estara disponıvel para consulta em http:
//www.inf.ufg.br/˜cc094823/. O mesmo sera reescrito em forma de artigo, e enviado parapublicacao em [6]. Uma serie de seminarios sera ministrada na Universidade Federal de Goiasentre os meses de outubro e dezembro de 2012, para exposicao do tema estudado, e elucidacaode possıveis duvidas. O poster produzido sera apresentado no IX Congresso de Pesquisa, Ensinoe Estensao da Universidade Federal de Goias, que acontecera do dia 22 ao dia 26 de outubro de2012.
5 Discussao
A pesquisa no campo da representacao do conhecimento e raciocınio e normalmente focadaem metodos para prover descricoes de alto nıvel do mundo, que podem ser efetivamente usadaspara construir aplicacoes inteligentes. Neste contexto, inteligente se refere a habilidade de um
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sistema de encontrar consequencias implıcitas do conhecimento representado explicitamente.Esses sistemas sao chamados de sistemas baseados em conhecimento.
Os seres humanos usam um padrao de infererencia para estruturar e reconhecer o mundo:a classificacao de conceitos e objetos. Perceba que todos os entes da realidade sao rotula-dos e classificados de acordo com alguma caracterıstica. A classificacao de conceitos deter-mina uma hierarquia, fornecendo informacoes uteis na conexao entre diferentes conceitos. Aclassificacao de objetos determina quando um dado objeto pertence ou nao a um conceito. Issoprove informacoes uteis sobre as propriedades de cada indivıduo. Muitos sistemas de processa-mento de informacao inteligentes trabalham dessa mesma forma. A Logica Descritiva (DL, doingles Descrition Logics) se torna entao muito intuitiva para a modelagem dos domınios, umavez que ela suporta tal padrao.
A DL e uma linguagem formal para representar o conhecimento e raciocinar sobre ele. Emoutras palavras, e uma famılia de formalismos de representacao do conhecimento que, definindoos conceitos relevantes em um domınio de aplicacao, modela-o e especifica as propriedadesde seus objetos. Ela difere das outras ferramentas de representacao do conhecimento por serequipada com um semantica formal, baseada em logica de primeira ordem (definicoes em [3] e[2]) e por sua enfase no raciocınio como um servico central.
Um sistema de representacao do conhecimento baseado em DL, prove facilidades para acriacao, raciocınio e manipulacao de uma base de conhecimento. Tais sistemas possuem aarquitetura apresentada na figura 1.
Linguagem deDescrição Raciocínio
Aplicações Regras
Base de Conhecimento
Figura 1: Arquitetura do sistema de representacao de conhecimento baseado em DL.
Uma base de conhecimento compreende dois componentes, a TBox e a ABox. A TBoxintroduz a terminologia, ou seja, o vocabulario de um domınio de aplicacao, enquanto a ABoxcontem assertivas sobre os indivıduos presentes no domınio, em termos desse vocabulario.
O vocabulario consiste de conceitos, que denotam conjuntos de indivıduos, e relacoes, que
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denotam elos entre dois indivıduos. Em adicao aos conceitos e relacoes basicos, todos sis-temas baseados em DL permitem a construcao de conceitos e relacoes complexas; diferenteslinguagens, oferecem diferentes tipos de construtores, e consequentemente, diferentes tipos deconstrucoes. A linguagem e o que caracteriza cada sistema baseado em DL, diferenciando-odos outros. A DL possui uma semantica modelo-teorica. Assim, declaracoes na TBox e naAbox podem ser identificadas com formulas em logica de primeira ordem ou, em alguns casos,uma pequena extensao desta.
Na ABox descreve-se um estado especıfico da configuracao de um domınio de aplicacao emtermos dos conceitos e relacoes; os indivıduos sao introduzidos dando-se nomes, e afirmando-sepropriedades sobre eles.
Um sistema baseado em DL nao apenas guarda uma terminologia e assertivas, mas tambemoferece ferramentas para se raciocinar sobre estas. Tipicamente, as tarefas de raciocınio sobreuma terminologia sao determinar quando uma descricao e satisfatıvel, isto e, nao contraditoria,ou quando uma descricao e mais abrangente que outra, ou seja, quando a primeira subsume asegunda. Problemas importantes para a ABox sao os de definir quando o conjunto de assertivase consistente, isto e, quando elas respeitam uma logica definida (chamada interpretacao), equando as assertivas implicam que um determinado indivıduo e uma instancia de uma dadadescricao de conceito.
A Linguagem Atributiva, AL (do ingles attributive language), foi introduzida em [8] comoa menor linguagem de interesse pratico. Ela sera utilizada para a construcao de um exemplo,contendo as formacoes basicas da DL.
Para notacao, as letras C e D sao usadas para descricoes de conceito arbitrarios, as letras A eB para conceitos basicos, e a letra R para relacoes basicas. Descricoes de conceito em AL saoformadas seguindo as seguintes regras de sintaxe:
C,D → A| (conceito basico)�| (conceito universal)⊥| (conceito vazio)¬A| (negacao)C�D| (intersecao)∀R.C| (restricao de valor)∃R.� (quantificacao existencial limitada)
Afim de definir uma semantica para os conceitos AL , consideram-se as interpretacoes I ,que consistem de um conjunto nao vazio ∆I (o domınio da interpretacao) e uma funcao deinterpretacao, que designa para cada conceito basico A um conjunto AI ⊆ ∆I , e para cadarelacao basica R, uma relacao binaria RI ⊆ ∆I ×∆I . A funcao de interpretacao e extendidaas descricoes de conceitos pelas seguintes definicoes:
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�I = ∆I
⊥I = /0(¬A)I = ∆I\AI
(C�D)I = CI ∩DI
(∀R.C)I = {a ∈ ∆I | ∀b.(a,b) ∈ RI → b ∈CI}(∃R.�)I = {a ∈ ∆I | ∃b.(a,b) ∈ RI}
Diz-se que dois conceitos C e D sao equivalentes, e escreve-se C ≡ D se CI = DI para todainterpretacao I .
Considere agora a seguinte terminologia (TBox) com conceitos sobre numeros:
inteiros ≡ ∃igualdade.�negativos ≡ ¬positivos\neutro
naturais ≡ inteiros\negativos
multiplo6 ≡ multiplo2�multiplo3paresPositivos ≡ ∀igualdadeNatural.multiplo2
Tem-se entao o vocabulario do domınio, que e formado pelos conceitos basicos (positivos,multiplo2, multiplo3), pelas relacoes basicas (igualdade, igualdadeNatural) e pelas descricoesde conceito (inteiros, negativos, naturais, multiplo6, paresPositivos). Mas ainda nao se sabequais os indivıduos fazem parte de cada conceito, em determinada interpertacao. Para isso,utiliza-se a ABox:
neutro(0)positivos(x ∈ Z | x > 0)
igualdade((x,y) ∈ Z×Z | x = y)
multiplo2(x ∈ Z | ∃k ∈ Z. x = 2k)
multiplo3(x ∈ Z | k ∈ Z. x3 = k)
igualdadeNatural((x,y) ∈ Z×Z | x = y ∧ x ≥ 0)
Agora e possıvel identificar qual a classificacao conceitual de cada elemento do domınio e, apartir das regras de interpretacao, atribuir as declaracoes de conceitos da TBox seus respectivosindivıduos, como segue:
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∆I = (. . . ,−4,−3,−2,−1,0,1,2,3,4, . . .)inteirosI = ∆I = Z
negativosI = (. . . ,−4,−3,−2,−1)naturaisI = (0,1,2,3,4, . . .)
multiplo6I = (. . . ,−12,−6,0,6,12, . . .)paresPositivosI = (0,2,4,6, . . .)
Tem-se nesse exemplo que inteiros e � sao equivalentes, ou seja inteiros ≡�. Alem disso,pode-se observar que a descricao de inteiros e mais abrangente que a de naturais, assim, aprimeira subsume a segunda.
A tıtulo de simplificacao do relatorio, alguns conceitos, construtores e linguagens foramomitidos. Os mesmos podem ser encontrados no texto produzido como resultado do trabalho(descrito na secao 2).
6 Consideracoes Finais
Com o estudo e o texto criado, concluiu-se que a Logica Descritiva nao e uma boa alternativaa TRA, ao contrario do que se acreditava, devido a restricao de suas construcoes e forma deaplicabilidade.
Entretando, espera-se que nas discussoes que se seguem, a aplicabilidade a outros temasse torne clara. Como dito na secao 2, outros projetos sao desenvolvidos no INF-UFG onde aLogica Descritiva pode ser aplicada, entao as palestras a serem ministradas trarao a luz o tema,e darao forca a pesquisa na area.
Alem disso, com a publicacao do material em grupos que trabalham com assuntos correla-tos, como modelagem, engenharia de software, configuracao de equipamentos, banco de dados,web semantica e processamento de linguagem natural, acredita-se que a ferramenta se tornaramais popular, e melhor utilizada.
Como trabalho futuro sugerimos a pesquisa no campo da complexidade de algoritmos ba-seados em Logica Descritiva. A teoria garante que a DL e decisiva [1], ou seja, uma buscasempre retorna uma resposta, positiva ou negativa, mas isso nao implica que essa resposta edada em tempo razoavel. A investigacao da complexidade computacional de uma determinadaDL e um campo de extrema importancia, uma vez que a eficiencia da mesma esta relacionadaaos contrutores que oferece, e esses influenciam diretamente no tempo de execucao.
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Referencias
[1] Franz Baader, Diego Calvanese, Deborah L. McGuinness, Daniele Nardi, and Peter F. Patel-Schneider, editors. The description logic handbook: theory, implementation, and applica-
tions. Cambridge University Press, New York, NY, USA, 2003.
[2] John L. Bell and Moshe Machover. A course in mathematical logic. North-Holland, 1977.
[3] Mordechai Ben-Ari. Mathematical logic for computer science. Prentice Hall Internationalseries in computer science. Prentice Hall, 1993.
[4] R.J. Brachman and H.J. Levesque. The tractability of subsumption in frame-based descrip-tion languages. Proceedings of the Ninth Conference on Artificial Intelligence, 1984.
[5] Ronald J. Brachman and James G. Schmolze. An overview of the kl-one knowledge repre-sentation system. Cognitive Science, 9(2):171–216, 1985.
[6] Tendencias em Matematica Aplicada e Computacional. http://www.sbmac.org.br/
tema/index.php.
[7] Ross M. Quillian. Word concepts: A theory and simulation of some basic semantic capabi-lities. Behavioral Science, 12:410–430, 1967.
[8] Manfred Schmidt-Schauß and Gert Smolka. Attributive concept descriptions with comple-ments. Artificial Intelligence, 12:1–26, 1991.
1Revisado pelo orientador.
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Relação entre o perfil de estresse oxidativo, involução uterina e variáveis reprodutivas
no periodo de espera voluntario de vacas leiteiras,em quatro estações do ano
Leite, E.V.P.*1; Silva, T.V.*2; Gambarini, M.L.*3
*Núcleo de Estudos e Pesquisas em Biologia Reprodutiva Animal NEP-BRA, EVZ/UFG
Campus II, Goiania 1Academico do curso de Medicina Veterinária 2Doutorando do Programa de Pós Graduação em Ciencia Animal 3Professor de Reprodução Animal
Introdução
Diversos estudos têm sido realizados em diferentes regiões do mundo com o objetivo de
esclarecer os danos ocasionados pelo estresse termico, levando em consideração a associação
com o aumento de enzimas indicativas de tal estado ( Bernabucci et al. 2005), gerando buscas
resolutivas de tais processos (Bruno et al. 2009). Do ponto de vista produtivo, alterações nos
aspectos reprodutivos dos bovinos geram grandes perdas financeiras ao setor pecuário, assim
sendo, intensas pesquisas são conduzidas para se estabelecer ao certo as bases de tais
prejuízos (Shefab-El-Deen et al. 2010). Vacas leiteiras que chegam ao parto com escore de
condição corporal acima de três sofrem maior perda de peso no pós-parto e,
concomitantemente, produzem maiores quantidades de corpos cetônicos, ácidos graxos não
esterificados, além de metabólicos originários do O2 e enzimas eritrocíticas e plasmáticas
indicativas de estresse. O peri-parto é o período onde há esgotamento da capacidade
antioxidativa animal, provavelmente decorrente do metabolismo do feto e da glândula
mamária (Bernabucci et al. 2005).
O período de espera voluntário da vaca leiteira é de grande importância, tendo em vista o
estresse decorrente do período da parição. Diversos trabalhos já foram realizados em grande
parte do mundo, em diferentes regiões, com condições climáticas distintas, estabelecendo
alguns parâmetros no período de transição, como na Itália (Stefanon et al. 2005), Estados
Unidos (Sordillo & Aitken 2009), Croácia (Turk et al. 2008), Irlanda (Mulligan & Doherty
2008) e outros. No Brasil, até o momento, desconhece-se na literatura algum trabalho de
pesquisa que estabeleceu o status oxidativo de vacas leiteiras no período de espera voluntária,
nas nossas condições climáticas, e qual a influência destes em alguns aspectos produtivos.
Este estudo foi delineado com o objetivo de avaliar o estresse oxidativo metabólico de vacas
leiteiras e sua relação com a involução uterina durante o período de espera voluntária (até 45
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dias pós-parto), assim como com variáveis reprodutivas, durante o verão e o inverno em um
sistema de produção de leite localizado na mesoregião do sul goiano.
Material e métodos
O presente estudo foi realizado em uma propriedade rural localizada no município de
Silvânia-GO, latitude 16◦39’32”, longitude 48◦36’29”, 898 metros acima do mar, clima
tropical de altitude, tipo CWA segundo a classificação de Köppen, na região de cerrado,
caracterizada pelo verão chuvoso e quente e inverno seco com temperaturas amenas. Foram
selecionados aleatoriamente 60 animais da raça Holandesa, e em cada etapa foram utilizadas
30 vacas com paridade entre um e três, com produção média de leite de 5185 litros/lactação,
em duas ordenhas diárias. As fêmeas foram selecionadas com base na data prevista de parto,
e inicialmente quatro grupos de 15 animais foram formados, em virtude da distribuição das
datas de parto em cada estação. Posteriormente, devido a ausência de diferenças significativas
nas variáveis metabólicas e reprodutivas entre os animais selecionados em cada grupo, os
mesmos foram reagrupados por estação, sendo chuvosa (n= 30) e seca (n=30).
A base alimentar dos animais era constituída por capim tifton 45 irrigado por pivô central. A
suplementação para as vacas em lactação era composta por 9,57 kg/dia de ração total, tendo
como componentes a silagem de milho (21,1%), farelo de soja (3,65%), farelo de milho
(2,61%), gérmen de milho (2,61%), cevada (35,42%), levedura (33,75%) e sal mineral
(0,83%). A ração total foi fornecida no cocho, anteriormente a ordenha, duas vezes ao dia.
O estudo foi iniciado com cada animal no dia do parto. As colheitas de sangue e as avaliações
clínicas foram realizadas no parto (d0) e nos dias sete (d7), quatorze (d14), vinte e um (d21),
vinte e oito (d28), trinta e cinco (d35) e quarenta e dois (d42) pós-parto. O exame
ginecológico foi avaliado de acordo com o descrito por Grunert (1993), com o tamanho
uterino sendo descrito em seis escores (1 a 6), a simetria dos cornos uterinos em cruzes
(+++), a contratilidade variando de muito contrátil a pouco contrátil (1 a 3).. O período
voluntário de espera foi finalizado ao 45° dia pós-parto. Dados relativos ao número de dias
em aberto, serviços por concepção, intervalo parto primeiro estro e parto concepção foram
obtidos das fichas individuais das vacas estudadas.
O sangue colhido era armazenado em tubos de ensaio com anticoagulante. As amostras eram
levadas ao laboratório, sendo centrifugadas durante três minutos a 10.000 gX. Logo após, o
plasma era armazenado em alíquotas e estocados a -80°C até o momento da análise.
A temperatura ambiente e a umidade relativa do ar eram anotadas três vezes ao dia (5:00,
14:00 e 16:00 horas) utilizando um termohigrômetro digital, durante todo o período de
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estudo. O Índice de Temperatura e Umidade (ITU) foi avaliado conforme a fórmula descrita
por THOM (1958), sendo ITU = Ta + (0,36 X Tpo) + 41,5, onde Ta é a temperatura ambiente
e Tpo é a temperatura no ponto de orvalho.
A frequência respiratória e a temperatura retal eram avaliadas duas vezes ao dia (7:00 e 15:00
horas), nos dias das avaliações. Através dos movimentos torácicos, medida em movimentos
respiratórios por minuto (mrpm), aferia-se a frequência respiratória. A temperatura retal foi
avaliada com uso de termômetro digital humano, pela introdução no reto.
Os níveis de antioxidantes totais (TAS) foram avaliados por ELISA, usando kit comercial
Cayman®. Neste teste não há a diferenciação na detecção de antioxidantes solúveis em água e
lipídeos. O principio se baseia na capacidade dos antioxidantes presentes na amostra de
inibirem a oxidação de ABTS (2,2’ – Azino-di- [3-ethylbenzthiazoline sulphonate]) pela
metmioglobina. O ABTS oxidado é monitorado pela leitura de absorbância.
Os dados foram analisados utilizando-se o pacote estatistico computacional BioEstat 5.0. Os
dados foram testados quanto a sua normalidade usando o teste de Kolmogorov-Smirnov, e a
homogeneidade das variâncias foi verificada pelo teste de Levene. Os resultados foram
expressos em média e desvio padrão, e a análise de variância (ANOVA) foi conduzida
considerando as semanas após o parto (sete níveis) como principal efeito fixo, e o dia da
colheita de material como medida repetida. Após a ANOVA, a significância entre as
diferenças verificadas foi avaliada pelo teste t (LSD). Para a avaliação da existência de
correlação entre a involução uterina e a condição antioxidativa total utilizou-se o coeficiente
de correlação de Pearson.
Resultados
Os valores de ITU encontrados para o período seco e período chuvoso foram,
respectivamente, 72,3 e 75,9. A média da umidade relativa do ar foi 58,43% no período
chuvoso e abaixo de 40% no período seco.
Dentro das seis semanas avaliadas, os animais mostraram diferentes graus de involução
uterina, sendo demonstrado na Figura 1. Aqueles animais com baixo ECC na quarta semana
pós-parto têm maior probabilidade de retardar a involução uterina (r = -0,54; p<0,01).
O atraso na involução na sexta semana pós-parto faz com que os animais tenham mais dias
em aberto (r = 0,38; p<0,05) e um maior número de serviços por concepção (r = 0,41;
p<0,05). A infecção uterina retardou a involução uterina (r = 0,36; p<0,05). Esta involução se
estabelece conforme ilustrado na Figura 3. A infecção uterina tem correlação com a
involução do útero no final da sexta semana (r = 0,36; p<0,05).
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4
Figura 6 – Involução uterina ao longo do período voluntário de espera durante a
estação chuvosa e a estação seca, de acordo com a avaliação
descrita por Grunert, 1993.
No dia do parto, a capacidade antioxidativa total (CAT ou TAS) foi similar nas duas estações,
mas os diversos fatores climáticos levaram os animais da estação chuvosa a desenvolverem
maiores níveis de antioxidantes no plasma sanguíneo durante o pós-parto. Também foi
possível constatar que eles permaneceram com aumento da capacidade antioxidante total
maior do que na estação seca durante todo o tempo estudado (p<0,05).
O nível de antioxidantes total nas duas estações está ilustrado na Figura 2. Na seca pode-se
observar que há diferença no estado oxidativo total no momento do parto com os demais
momentos (p<0,001). Além disso, o estresse oxidativo vai diminuindo ao longo do período
voluntário de espera (p<0,05). Na época da chuva houve diferença do estado oxidativo
orgânico ao parto e ao 28° dia (p<0,05). Porém, pode-se observar a partir da quarta semana
pós-parto o aumento gradual no estado oxidativo total, onde não houve diferença entre o
parto e o 42° dia (p>0,05).
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Figura 2 – Níveis de estresse oxidativo mensurados no plasma sanguíneo no momento do parto até a 42° dia
pós-parto
Animais que têm maiores nível de antioxidantes totais no plasma sanguineo ao final do
período voluntário de espera (42° dia) possuem um maior número de dias em aberto (r =
0,37; p<0,05). Este fato pode ser observado com maior precisão no período chuvoso do que
no período seco. Os animais do período seco tiveram um menor número de dias em aberto
(p<0,001) do que os animais do período chuvoso. As médias foram de 100,27 e 154,24 dias
para a seca e chuva, respectivamente. O número de serviço por concepção não foi diferente
entre as estações (p>0,05).
Discussão
No presente trabalho, os valores de ITU encontrados revelam, segundo Amstrong (1994), que
durante o período seco não houve estresse térmico relevante. Para o período chuvoso, o ITU
de 75,9 está dentro da faixa de estresse térmico leve (73 a 77). Mesmo sem haver valores de
preocupação para o estresse térmico, pode-se observar alterações comportamentais como
aumento da frequência respiratória, principalmente durante o período chuvoso, com animais
com mrpm acima de 100, boca aberta e protusão da lingua. O aumento da umidade relativa
do ar faz com que haja dificuldade na perda de calor por convecção, necessitando de maior
movimentação do ar (BERMAN, 2006). A velocidade dos ventos não foi mensurada durante
o período experimental.
Em casos de infecção uterina a secreção pulsátil de LH pode ser alterada (WILLIAMS et al.,
2008). Este dado pode explicar os valores inferiores nos índices reprodutivos dos animais do
período seco, uma vez que um maior número deles apresentaram infecções clínicas ao final
do período de espera voluntário.
Mandebvu et al. (2011) observaram diferença significativa nas condições analisadas entre as
estações do ano quanto ao nível da capacidade antioxidante. Tanaka et al. (2011) analisaram
vacas holandesas cinco dias antes e dez dias depois do parto e constataram que as vacas
leiteiras sobre estresse térmico têm aumentos graduais dos níveis de TBARS (thiobarbituric
acid reative substances).
No presente estudo, após o parto, houve queda da capacidade antioxidante do plasma no parto
até o 21 dia pós-parto em ambos períodos. No entanto, após o 21° dia, os valores para o CAT
somente aumentaram durante a estação chuvosa. O que chama a atenção é que ambos os
grupos estavam se direcionando para o pico de lactação e que seria de se esperar aumento no
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estresse oxidativo devido a maior produção de leite, mas esse aumento só foi observado nos
animais da estação chuvosa, o que demonstra pouca influência da lactação sobre o estresse
oxidativo. Isso sugere que a lactação pouco influencia a CAT. Esta pouca influência também
foi verificada por Tanaka et al. (2011).
No início da atividade reprodutiva (45° dia) provavelmente havia grande quantidade de
antioxidantes totais no plasma sanguíneo dos animais avaliados na estação chuvosa. Isso
pode ser adotado com verdadeiro levando-se em consideração que o parto é um momento de
grande estresse oxidativo e que não há diferença significativa nos valores de TAS entre o
parto e o 42° dia da estação chuvosa. Este achado, associado aos parâmetros reprodutivos
observados, demonstra influência direta dos agentes oxidantes sobre o sistema reprodutivo, o
que ocasiona menores índices. Os oócitos podem ser gravemente prejudicados por estes
agentes oxidantes, visto que sua membrana celular é rica em ácidos graxos (McEVOY et al.,
2000). Oxidantes como H2O2 podem fazer com que o oócito permaneca em meiose, ou pode
causar mudanças morfológicas que levam a apoptose celular (CHAUBE et al., 2005).
Conclusão
Os resultados obtidos no presente trabalho permitem concluir que vacas leiteiras criadas a
pasto estão sob maior estresse térmico durante a estação chuvosa e que este fator interfere de
diferentes maneiras na homeostase orgânica, fazendo com que os animais apresentem maior
atividade antioxidativa total.
Em relação às variáveis reprodutivas o estresse térmico retarda a involução e eleva o número
de dias em aberto, sugerindo que durante a estação chuvosa a expressão do estro é menor ou
inexistente.
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Revisado pelo orientador
Capa Índice 1284
Avaliação das células dendríticas CD83+ em lesões cancerizáveis de boca
Elaine Nayara Gomes Santana1, Nádia do Lago Costa2, Aline Carvalho Batista3*
Universidade Federal de Goiás, 74605-220, Brasil.
[email protected] e [email protected]* (Orientador)
PALAVRAS-CHAVE: Células dendríticas CD83+, lesões cancerizáveis, líquen plano.
Revisado pelo orientador
Revisado pelo Orientador 1Graduando do curso de Odontologia da FO/UFG 2Doutoranda em Ciências da Saúde da FM/UFG
3Orientadora, Profa. Dra. do Departamento de Estomalogia (Disciplina de Patologia Geral e
Bucal) da FO/UFG
Capa Índice 1285
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1285 - 1295
1. INTRODUÇÃO
O Carcinoma Espinocelular (CEC) é uma neoplasia maligna que se origina no epitélio
de revestimento e possui elevada prevalência na cavidade oral e vermelhão do lábio
(BARNES et al., 2005). Alguns autores consideram que o CEC de boca é precedido por lesões
denominadas de lesões cancerizáveis (LC) que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS),
são lesões constituídas por um epitélio de revestimento, morfologicamente alterado, cujo risco de
transformação maligna é maior que o tecido normal (PINDBORG & WAHI, 1997; NEVILLE
& DAY, 2002). Assim, segundo esses autores, essas lesões podem representar o estágio
inicial ou as primeiras alterações morfológicas de um CEC de boca (PINDBORG & WAHI,
1997; NEVILLE & DAY, 2002).
O principal fator ou carcinógeno envolvido na etiologia das LCs de cavidade oral está
o tabaco (fumo) que pode ou não estar associado a fatores de risco como o álcool
(PINDBORG & WAHI, 1997; NEVILLE & DAY, 2002). Entretanto, na etiopatogenia das
LCs do vermelhão do lábio o principal carcinógeno é a radiação solar (PINDBORG & WAHI,
1997; NEVILLE & DAY, 2002). Microscopicamente, as LCs tanto de cavidade oral como de
lábio podem apresentar alterações celulares (estruturais e funcionais), denominadas de
displasias, que podem apresentar graus ou agressividade que variam de leve a intensa
(PINDBORG & WAHI, 1997; NEVILLE & DAY, 2002).
A leucoplasia (LE) é uma LC que ocorre na cavidade oral, especialmente borda lateral
da língua, definida pela OMS como uma “placa ou mancha branca que não pode ser
caracterizada como qualquer outra doença” (LEE et al., 2006; MITHANI et al., 2007). A
severidade das LEs está relacionada com o grau de displasia epitelial que as mesmas
apresentam, podendo ser leve, moderada ou severa (PINDBORG & WAHI, 1997; NEVILLE
& DAY, 2002). A Queilite Actínica (QA) é uma lesão que afeta principalmente o vermelhão
do lábio inferior de pessoas que sofrem exposição excessiva aos raios solares e clinicamente
podem apresentar como lesões esbranquiçadas, lisas, brilhantes e algumas vezes ulceradas
(NICOLINI et al., 1989; KAUGARS et al., 1994; MARKOPOULOS et al., 2004
Além das LCs, há ainda a condição cancerizável, um estado generalizado ou um
conjunto de características sistêmicas associado a um risco significativamente maior de
desenvolver câncer (LEE et al. 2006; NEVILLE & DAY, 2002; PINDBORG et al., 1997).
Dentre as condições cancerizáveis, o Líquen plano (LP) é uma doença autoimune
mucocutânea mais comum na boca, que microscopicamente apresenta um intenso infiltrado
inflamatório, com predomínio de linfócitos T citotóxicos (LTCs) e destruição das células da
Capa Índice 1286
camada basal do revestimento epitelial (MASSARI et al., 2004; SCULLY & CARROZZO,
2008; SHIMIZU et al, 1997).
Estudos realizados previamente têm mostrado a presença de diversas células
imunocompetentes, tais como linfócitos T citotóxicos, células Natural Killer e células
dendríticas, associada às LCs (ZACOPÉ et al., 2010; BONDAD-PALMARIO, 1995;
ARAÚJO CP, 2010). Neste contexto, ressalta-se que as células dendríticas (CDs) representam
as células responsáveis por desencadear uma resposta imunológica efetiva contra células
alteradas; estas células são derivadas de precursores da medula óssea que se caracterizam
morfologicamente por possuírem numerosos prolongamentos citoplasmáticos, finos e longos,
semelhantes a dendritos de neurônios, de onde veio sua denominação (ABBAS, et al., 2008).
Para que respostas imunes específicas sejam desenvolvidas é necessário que antígenos
protéicos sejam capturados e apresentados aos linfócitos T naives nos linfonodos. Essa função
é desempenhada pelas células apresentadoras de antígenos (APCs) e, entre elas destacam-se
as CDs (BANCHEREAU et al., 1998). Pelo processo de fagocitose, as CDs imaturas
conseguem capturar as células e antígenos tumorais no sítio tumoral. Após esse processo de
captura, deslocam-se via vasos linfáticos para os linfonodos, onde irão interagir com na zona
T desses órgãos com a subpopulação de linfócitos T (ABBAS, et al., 2008). À medida que
essa migração ocorre, elas passam a expressar a Glicoproteína CD83 cuja presença indica ser
as células dendríticas apresentadoras de antígenos (PEREZ et al, 2005). Esta molécula, assim
como o MHC classe I e II (Moléculas do Complexo de Histocompatibilidade), é fundamental
na ativação de linfócitos a partir de células T naives e, portanto, no direcionamento de uma
resposta imunológica local antitumoral mais efetiva. Após o reconhecimento do antígeno
tumoral e co-estimulação, as células T CD8 e TCD4 são ativadas e diferenciam-se em células
T efetoras e de memória. As células efetoras migram para o sítio tumoral para eliminar os
antígenos, e as células de memória irão responder em um encontro subseqüente (LEITE, et
al.,1998; SAKAKURA, et al., 2005). Ao atingir o estágio de célula madura, diminuem
drasticamente sua capacidade fagocítica, porém tornam-se APCs profissionais (ABBAS, et
al., 2008)
Mesmo sabendo-se do importante papel das CDs no reconhecimento de células
alteradas e conseqüente reposta em LCs de boca, até o presente momento, poucos estudos
avaliaram a presença dessas células em tais lesões. Adicionalmente, não há na literatura
científica estudos que avaliaram comparativamente a expressão dessas células em LE, QA, LP
e mucosa saudável. Desta forma, presente estudo justifica-se, pois um melhor entendimento
Capa Índice 1287
da imunidade que se desenvolve em tais lesões pode propiciar meios de proteção, reduzindo,
portanto, as chances de que estas sofram malignização.
2 – Objetivos
O objetivo desse trabalho foi avaliar comparativamente a densidade de células
dendríticas maduras (CD83+) em lesões cancerizáveis de cavidade oral (leucoplasia) e lábio
(queilite actínica), em condição cancerízável de boca (líquen plano) e na mucosa oral
clinicamente saudável (controle).
3 MATERIAIS E METÓDOS 3.1 Amostras Selecionadas
Para este estudo foram selecionadas 10 amostras de leucoplasia (LE) sem displasia, 10
amostras de leucoplasia (LE) com displasia, 10 amostras de queilite actínica (QA), 09
amostras de líquen plano e 09 amostras de mucosa oral clinicamente saudável. Todas as
amostras empregadas são pertencentes ao arquivo de blocos do Laboratório de Patologia
Bucal da Faculdade de Odontologiavda Universidade Federal de Goiás (FO/UFG). Os dados
clínicos dos pacientes, como gênero, idade, grupo étnico e fatores de risco, foram obtidos dos
prontuários.
3.2 Técnicas Utilizadas 3.2.1 Técnica de Rotina (Hematoxilina e Eosina)
O material selecionado, incluído em parafina, foi seccionado em micrótomo (Leica
RM2165), obtendo-se de cada bloco cortes consecutivos de 5m, que foram colocados sobre
lâminas histológicas e corados pelo método de HE. Esses cortes foram utilizados para
caracterização microscópica das amostras.
3.2.2 Técnica da Imunoistoquímica
A partir dos casos selecionados, emblocados em parafina, foram obtidos cortes
seriados com aproximadamente 3 m de espessura, em micrótomo (Leica), montados em
lâminas silanizadas e submetidos à técnica da imunoistoquímica, utilizando-se o método da
estreptavidina-biotina-peroxidase (Starr Trek Universal HRP Detection System - Biocare
Capa Índice 1288
Medical). Para isto foi utilizado o anticorpo monoclonal de camundongo anti-CD83 humano,
a uma diluição 1:200 (clone HB15a; Santa Cruz, Biotechnology, CA, USA).
A exposição antigênica foi realizada com tampão citrato (pH= 6.0) por 25 minutos
aquecido à uma temperatura de 95ºC. Além disso, as lâminas foram incubadas com
bloqueador de proteínas endógenas, com anticorpos secundários ligados a biotina e com
complexo estreptavidina-biotina-peroxidase segundo orientação do fabricante do kit “Starr
Trek Universal HRP Detection System”. A revelação da reação foi feita utilizando o 3.3’-
Diaminobenzidina (DAB) em uma solução cromogênica, em temperatura ambiente por 2
minutos. A reação foi interrompida com água destilada e as lâminas contra-coradas com
hematoxilina. Após serem lavadas com água corrente por 10 minutos, as lâminas foram
desidratadas com álcoois, passadas em xilol e montadas com solução de resina não aquosa
(Entellan-Mikroskopie-Merck).
3.3 Análise Qualitativa e Quantitativa dos Dados
A distribuição e morfologia das células CD83 imunomarcadas foram avaliadas em
todos os grupos experimentais. A densidade (mm2) das células CD83+ foi determinada tanto
na região sub quanto intraepitelial das amostras selecionadas. Esta análise morfométrica foi
realizada utilizando-se um microscópio óptico contendo um retículo de integração em rede
quadrada (CARL ZEISS, Germany) acoplado na objetiva de 40x. A área do retículo no
aumento de 40x corresponde a 0,096 mm2. Para cada amostra, foram analisados 10 campos
microscópicos alternados, com área total de 0,96mm2.
3.4 Análise Estatística dos Dados
Análises comparativas entre os grupos foram realizadas utilizando o teste estatístico
não-paramétrico Mann Whitney. Os resultados foram expressos como média ± DP e o nível
de significância estatística foi aceito quando P<0.05. Os testes estatísticos foram aplicados
utilizando-se o programa SPSS 10.0 for Windows.
4 – Resultados
A análise dos 39 pacientes selecionados (20 LE, 10 QA e 9 LP) revelou o predomínio
do gênero feminino nos pacientes com LE (60%) e LP oral (55,5%), enquanto o gênero
masculino predominou nos casos de QA (90%). A média de idade dos pacientes foram de
53,3 (IC: 25 - 70); 51,6 (IC: 39 - 73) e 46,7 (IC: 33 - 65) anos para os pacientes com LE, QA
Capa Índice 1289
e LP, respectivamente. Todas as lesões de LE foram associadas com exposição ao tabaco e
consumo de álcool, e todas as lesões de QA foram associadas à exposição solar crônica. Os
detalhes das principais características clínicas desses pacientes estão resumidos abaixo na
tabela 1.
Tabela 1. Características clínicas (% de casos) dos pacientes com LE (n=20), QA (n=10) e LP (n=09).
Características clínicas LE% QA% LP%
Idade ≤ 45 anos
> 45 anos
20
80
30
70
22,2
87,8
Gênero Feminino
Masculino
60
40
10
90
55,5
44,5
Grupo étnico Leucoderma
Feoderma
Melanoderma
75
25
-
60
40
-
55,5
44,5
-
Localização Lígua
Soalho bucal
Mucosa jugal
Lábio inferior
Outros
20
5
40
-
35
-
-
-
100
-
11,1
-
77,8
-
11,1
A análise qualitativa revelou células CD83+ com coloração amarelo/acastanhada,
especialmente localizada em membrana, e redução ou perda dos prolongamentos
citoplasmáticos dessas células. Evidenciou-se, ainda, que essas células estavam distribuídas
predominantemente no tecido conjuntivo em íntima associação com o revestimento epitelial e,
poucas células CD83+ estavam presentes na região intraepitelial. (Figura 1).
Capa Índice 1290
Figura 1: A fotomicroscopia ilustra células dendríticas maduras CD83+ com coloração amarelo-acastanhado
(seta) em leucoplasia sem displasia epitelial. Imunoistoquímica, aumento original 400X.
Conforme descrito acima, no presente estudo demonstrou-se que as células CD83+
estavam localizadas preferencialmente na região subepitelial em todos os grupos
experimentais estudados, evidenciadas em associação ao infiltrado de células inflamatórias
com predomínio de linfócitos. Apesar de presentes em menor densidade na região
intraepitelial, pode-se evidenciar essas células em aproximadamente 50% e 90% das amostras
de LE sem diaplasia e com displasia, respectivamente, 70% nas amostras de LP e 60% em
QA. Não se identificou a presença de células CD83+ em mucosa bucal clinicamente saudável
e microscopicamente sem inflamação (grupo controle).
Nossos resultados demonstraram, ainda, a presença de células CD83+ no interior de
vasos sanguíneos ou linfáticos em 25% das amostras de QA, e em 22,2% e 33,3% de LE sem
displasia e com displasia, respectivamente.
A análise comparativa (entre os grupos experimentais), da densidade de células CD83+
presentes na região subepitelial, demonstrou que essa população celular foi significativamente
maior em amostras de líquen plano quando comparado individualmente com todos os outros
grupos (LE sem displasia, LE com displasia e QA) (P<0.05). Adicionalmente, a densidade de
células CD83+ em LE com displasia foi significativamente maior em comparação com a QA
(P<0.05) (Figura 2 e Tabela 2).
Capa Índice 1291
QA LESD LECD LP0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
Grupos Experimentais
#
*
Densid
ade d
e C
élu
las C
D83+
por
mm
2
Figura 2: Densidade de células dendríticas CD83+ por mm2 na região subepitelial de Queilite actínica (QA), Leucoplasia sem displasia epitelial (LESD), Leucoplasia com displasia epitelial (LECD) e Líquen plano (LP). Os resultados estão expressos como a média das densidades/mm2 ± DP. *P<0,05 quando comparado aos demais grupos, #P<0.05 quando comparado a QA.
Tabela 2: Densidade média de células dendríticas CD83+ em todos os grupos experimentais avaliados, bem como seus respectivos desvios padrão, erro padrão da média e intervalo de confiança 95%.
Intervalo de confiança de 95%
Grupos N Média Células por mm2
Desvio padrão Erro padrão da média
Mínimo Máximo
LSD 10 3,889 1,200 0,379 2,014 5,764
LCD 10 7,407 3,918 1,239 5,040 9,774
QA 10 2,029 1,461 0,462 0,876 3,183
LP 9 14,132 1,155 0,385 8,963 19,300
5 – Discussão O presente estudo avaliou a presença de células CD83+ em lesões e condição
cancerizáveis (LCs e CC) de boca. Nossos resultados evidenciaram a predominância de CDs
CD83+ na região subepitelial, em associação ao infiltrado de células inflamatórias com
predomínio de linfócitos, em todos os grupos analisados, sendo que as LCs (LE e QA)
apresentaram uma expressão significativamente menor de CD83+ do que a CC (LP), sendo
esta diminuição celular ainda mais significativa na QA.
Capa Índice 1292
A menor densidade de células CD83+ nas LCs se comparadas com a CC podem estar
associadas aos carcinógenos envolvidos na etiologia dessas lesões, tabaco (LE) e radiação
solar (QA), os quais podem estar contribuindo com a falha na maturação ou diminuição da
migração de CDs para o microambiente dessas LCs. Em consonância com esses achados,
Souto et al. (2011) evidenciaram um menor número de CDs (tanto imaturas quanto maduras)
em mucosa oral de pacientes fumantes do que de pacientes não fumantes (SOUTO et al,
2011); sugerindo, assim, a existência do efeito nocivo do tabaco nas CDs. Adicionalmente,
Ness et al. (2008) demonstraram, utilizando modelo experimental em camundongos, que o
álcool é capaz de promover alterações na migração das CDs e atrasos na ativação da resposta
imune adaptativa (NESS et al., 2008).
Em relação à QA, alguns estudos evidenciaram a capacidade da radiação ultravioleta
(UVB) de causar imunossupressão local (GREENE et al., 1981; SCHWARZ et al., 2005;
STREILEIN et al., 1994); sendo um dos principais mecanismos afetados foi a supressão de
células apresentadoras de antígenos, as quais são fundamentais no desenvolvimento de uma
resposta imune adaptativa citotóxica (GREENE et al., 1981; SCHWARZ et al., 2005;
STREILEIN et al., 1994).
Há poucos estudos na literatura que propuseram avaliar as CDs em lesões e condições
cancerizáveis de boca, e nenhum, até o momento, estudou comparativamente a densidade
dessas células nestas patologias da boca. Neste contexto, pode-se que alguns grupos de
pesquisadores apenas demonstraram a presença dessas células em lesões cancerizáveis como a
leucoplasia (PEREZ, 2005), queilite actínica (ARAÚJO, et al., 2010) e líquen plano oral
(GUSTAFSON et al, 2007). De modo similar aos nossos resultados, Perez et al. (2005)
demonstraram que as CDs CD83+ localizava-se predominante na região subepitelial.
Gustafson et al (2007), também de modo semelhante aos nossos achados, destacaram a
expressão de células CD83+ em infiltrado de células inflamatórias de LP oral; ressaltando que
a presença de CDs maduras em áreas de aglomerados de linfócitos podem indicar à
apresentação auto-antigeno local por CDs maduras para as células T (GUSTAFSON et al,
2007).
5 – Conclusão
Nossos resultados demonstram uma redução de CDs maduras em lesões cancerizáveis
(leucoplasia e queilite actínica) se comparadas à condição cancerizável (líquen plano), sendo
que essa redução foi maior na queilite actínica. Embora a densidade de CDs maduras fosse
maior que na mucosa normal se comparada a todos os grupos experimentais, nossos achados
Capa Índice 1293
sugerem que os carcinógenos associados à leucoplasia (tabaco) e especialmente queitite
actínica (radiação solar) podem estar contribuindo com a falha na maturação ou diminuição da
migração de CDs para o microambiente dessas LCs se comparadas ao líquen plano oral.
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Revisado pelo Orientador*
Capa Índice 1295
Matocompetição na cultura de Crambe abyssinica
Elias Brod1, Paulo César Timossi2, Valdiney Ferreira Alves3, Uadson Ramos da Silva4
1 Discente do Curso de Agronomia do Campus Jataí/UFG – Bolsista PIBIC. 2 Docente do Curso de Agronomia do Campus Jataí/UFG – Orientador. 3 Discente do Curso de Agronomia do Campus Jataí/UFG. 4 Discente de Mestrado em Produção Vegetal do Campus Jataí/UFG.
Universidade Federal de Goiás - Campus Jataí, CEP 75800-000, Brasil
e-mail: [email protected]; [email protected]
Palavras-chave: Crambe, fitossociologia, plantas daninhas, períodos de interferência.
INTRODUÇÃO
O Crambe (Crambe abyssinica) é uma cultura da família Brassicaceae, originária da
região do Mediterrâneo e com relatos de ocorrência de algumas espécies na Etiópia (WEISS,
2000). Essa espécie apresenta baixo custo de produção e tem se destacado como mais uma
opção para o cultivo em segunda safra. Além da adoção para a produção de biodiesel, o
mesmo pode ser empregado em programas de rotação de culturas.
Na cultura, as recomendações para o manejo de pragas, especialmente plantas
daninhas ainda foram pouco pesquisadas, tornando-se importante determinar as principais
interferências das plantas daninhas nessa cultura. O conhecimento da capacidade de
interferência de plantas daninhas sobre as culturas é importante na tomada de decisão para
realização do controle (Vidal et al., 2004). De acordo com Pitelli & Durigan (1984), as
determinações dos períodos de convivência tolerados por uma cultura com as plantas
daninhas são obtidas estudando-se os períodos de interferência, PAI (Período Anterior a
Interferência), PTPI (Período Total de Prevenção a Interferência) e PCPI (Período Crítico de
Prevenção a Interferência). Vários pesquisadores têm realizado pesquisas buscando
estabelecer os períodos de interferência de plantas daninhas em diversas culturas
(Nepomuceno et al., 2006; Soares et al., 2003; Rodrigues et al., 2010; Costa et al., 2008).
Com a determinação dos períodos de convivência entre cultura e plantas daninhas pode-se
estabelecer o momento mais adequado para realizar o manejo das plantas daninhas em uma
cultura.
Capa Índice 1296
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1296 - 1310
OBJETIVOS
Na pesquisa objetivou-se determinar os períodos de convivência entre plantas
daninhas e a cultura de crambe, cultivado na estação primavera/verão (primeira safra) e na
estação de outono (segunda safra).
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada na área experimental da Universidade Federal de Goiás,
Campus Jataí. A região conta com uma altitude de cerca de 700 m e uma precipitação
pluviométrica anual de 1800 mm, distribuída entre os meses de Setembro a Abril. O solo do
local do presente estudo é caracterizado como Latossolo Vermelho distroférrico, com
característica de baixa a média fertilidade.
Na pesquisa foram realizados dois ensaios, um no período de safra e outro no período
de safrinha. A cultivar adotada foi a FMS Brilhante, desenvolvida pela fundação Mato Grosso
do Sul. O estudo foi realizado com 4 ensaios, 2 no limpo (controle) e 2 no mato
(convivência), para os cultivos em sistema de safra e safrinha. Cada parcela foi composta por
7 linhas de plantio de Crambe espaçadas em 0,45m e com 5 metros de comprimento, nas
quais foram adotadas as três linhas centrais como área útil.
No cultivo de safra foi realizada uma adubação a lanço com 360 kg ha-1 do formulado
02-20-18. No cultivo de safrinha não foi realizada adubação, adotando-se somente os
residuais da adubação realizada para a soja cultivada anteriormente. Durante o cultivo de
safra, aos 50 DAS (Dias Após a Semeadura), foi realizada uma aplicação do fungicida Priori
Xtra® (triazol + estrobilurina) visando o controle de Alternaria sp., na dose de 0,3 L ha-1.
Durante o cultivo de safrinha foi realizada uma aplicação aos 24 DAS do inseticida Engeo
Pleno® (tiametoxam + lambda-cialotrina), visando o controle de Cerotoma sp. na dose de 0,12
L ha-1. Para ambos os cultivos foi realizada uma dessecação sete dias antes da semeadura com
um herbicida a base de glyphosate na dose de 1,44 Kg de e.a ha-1. As sementes foram tratadas
com uma combinação do inseticida CropStar® (tiodicarbe + imidacloprido) e do fungicida
Derosal Plus® (tiram + carbendazim) nas doses de 0,5 e 0,2 L respectivamente, para cada 100
Kg de sementes.
O delineamento experimental adotado foi o de blocos ao acaso (DBC), com quatro
repetições. Os tratamentos foram constituídos de dois grupos: período de controle (períodos
crescentes da cultura mantida no limpo) e período de convivência (períodos crescentes da
cultura mantida no mato) das plantas daninhas com o crambe.
Capa Índice 1297
No período de controle, a cultura foi mantida livre de plantas daninhas nos períodos de
0, 7, 14, 21, 28, 35, 42, 56 e 70 DAS; as plantas daninhas que emergiram após cada período
não foram controladas até a colheita. No período de convivência, a cultura foi mantida na
presença das plantas daninhas nos mesmos períodos citados anteriormente e sem plantas
daninhas até a colheita a partir do período citado (Tabela 1). O controle das plantas daninhas
no final de cada período proposto foi realizado por meio de capina manual. Para
caracterização e estudo fitossociológico da comunidade infestante em cada parcela, foram
amostradas, de forma aleatória, cinco áreas de 0,20 x 0,50 m ao final de cada período.
Tabela 1. Tratamentos realizados nos ensaios de safra e safrinha.
Período de Controle Período de Convivência Tratamentos Dias no Limpo Tratamentos Dias no Limpo
T1 0 T1 0 T2 7 T2 7 T3 14 T3 14 T4 21 T4 21 T5 28 T5 28 T6 35 T6 35 T7 42 T7 42 T8 56 T8 56 T9 70 T9 70
A partir da contagem das espécies presentes foram calculadas as seguintes variáveis:
Densidade (D), Variância (σ²) e Índice de Valor de Importância (IVI), o qual é oriundo do
somatório da constância relativa (Co.R.), densidade relativa (De.R.) e da dominância relativa
(Do.R.), segundo a fórmula proposta por Mueller-Dombois e Ellemberg (1974). Ao final de
cada período as plantas daninhas foram identificadas e contadas. Em seguida foram cortadas
rente ao solo e submetidas à secagem em estufa de circulação forçada de ar a 70 oC até
atingirem peso constante, para determinação de massa seca.
Nos quatro ensaios avaliaram-se a altura de plantas de crambe no período pré-colheita,
o estande de plantas aos 45 DAS e a produtividade. Para a avaliação do estante de plantas e
produtividade avaliaram-se as duas linhas centrais, com 2,5 metros cada, totalizando 5 metros.
Para a obtenção da média de altura de plantas foi tomada ao acaso 10 plantas dentro da área
útil de cada parcela, medindo-se do colo ao ápice da haste principal das plantas.
As variáveis avaliadas, quando necessário, foram submetidas à análise de variância
pelo teste F e para comparação das médias ao teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade,
adotando-se o programa estatístico ESTAT.
Capa Índice 1298
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nos cultivos de safra e safrinha observou-se infestação distinta de plantas daninhas na
área. Nos Quadros 1 e 2 pode-se constatar tal afirmação pela composição específica
determinada para o cultivo de safra e safrinha. Durante a safra, a principal família botânica foi
a poaceae, correspondendo a 50 % do total da comunidade infestante. Observou-se também a
presença de sorgo resteva, proveniente do banco de sementes, remanescente do cultivo
anterior (safrinha). No cultivo em safrinha observa-se um menor número de espécies na
família poaceae, na qual representa 20% do total. Possivelmente esse comportamento está
correlacionado com o menor regime hídrico da época, além de favorecer o desenvolvimento
da cultura de crambe (Pitol et al., 2010).
Quadro 1. Composição específica de plantas daninhas para o cultivo de safra, com seus respectivos nome científico, nome vulgar e código internacional Bayer Code.
Família Nome Científico Nome Vulgar (Código Bayer)
Poaceae
Digitaria horizontalis Capim-colchão DIGHO Cenchrus echinatus Capim-carrapicho CCHEC Pennisetum setosum Capim-custódio PESSE
Sorghum bicollor Sorgo Resteva *
Euphorbiaceae Chamaesyce hirta Erva-de-santa-luzia EPHHI
Euphorbia heterophylla Leiteiro EPHHL Asteraceae Bidens pilosa Picão-preto BIDPI
Commelinaceae Commelina benghalensis Trapoeraba COMBE * Não apresenta Código Bayer.
Quadro 2. Composição específica de plantas daninhas no cultivo de safrinha. Família Nome Científico Nome Vulgar (Código Bayer)
Poaceae Digitaria horizontalis Capim-colchão DIGHO Cenchrus echinatus Capim-carrapicho CCHEC
Euphorbiaceae Chamaesyce hirta Erva-de-santa-luzia EPHHI
Euphorbia heterophylla Leiteiro EPHHL Asteraceae Bidens pilosa Picão-preto BIDPI
Família Nome Científico Nome Vulgar (Código Bayer) Asteraceae Conyza canadensis Buva ERICA
Amaranthaceae Amaranthus viridis Caruru-de-mancha AMAVI Malvaceae Sida rhombifolia Guanxuma SIDRH
Commelinaceae Commelina benghalensis Trapoeraba COMBE Fabaceae Glycine max Soja Resteva *
* Não apresenta Código Bayer.
Capa Índice 1299
Nas tabelas 2 e 3 são apresentados os resultados referentes aos estudos
fitossociológicos realizados durante a safra.
Tabela 2. Valores das médias, variâncias e índice de valor de importância das espécies componentes da comunidade infestante, nos tratamentos dos períodos de controle durante o cultivo de safra.
Espécie de Planta Daninha (Código Bayer)
Média Variância IVI (plantas m-2) (%)
T1 (0 dias) Período de Controle BIDPI 1,5 1,67 16,01 Sorgo 8,3 2,92 120,94
COMBE 6,0 4,67 38,26 PESSE 4,0 0,67 52,46
EPHHI 27,8 186,25 72,33
T2 (7 dias) Período de Controle DIGHO 2,3 1,58 29,76 Sorgo 3,0 0,67 96,48
COMBE 4,0 0,67 43,02 PESSE 1,8 0,92 36,66
EPHHI 12,3 60,25 72,80 T3 (14 dias) Período de Controle
BIDPI 1,3 2,25 25,57 Sorgo 2,3 2,92 71,92
COMBE 3,0 0,67 47,36 PESSE 1,3 0,92 49,13
EPHHI 8,8 8,92 83,79 T4 (21 dias) Período de Controle
BIDPI 0,8 0,92 16,01 Sorgo 6,5 21,67 120,94
COMBE 1,8 0,92 38,26 PESSE 2,8 3,58 52,46
EPHHI 8,8 0,92 72,33 T5 (28 dias) Período de Controle
BIDPI 1,3 3,58 27,88 Sorgo 2,5 3,67 86,51
COMBE 1,8 0,92 45,90 PESSE 1,8 4,25 50,53
EPHHI 6,5 5,67 81,01
Capa Índice 1300
Espécie de Planta Daninha (Código Bayer)
Média Variância IVI (plantas m-2) (%)
T6 (35 dias) Período de Controle BIDPI 1,3 3,58 28,04
COMBE 2 0,67 59,56 PESSE 2,8 4,92 104,30
EPHHI 7,5 11,67 108,10 Sorgo 2,5 3,21 73,51
T7 (42 dias) Período de Controle BIDPI 0,5 0,33 33,13
COMBE 1 0,67 63,19 PESSE 0,5 1,00 50,17 EPHHI 2,5 7,00 135,70
CCHEC 0,3 0,25 17,82
T8 (56 dias) Período de Controle Sorgo 0,3 0,25 79,54
COMBE 1,5 1,67 56,46 PESSE 1,8 2,92 57,49 EPHHI 3,3 6,25 92,58
CCHEC 0,3 0,25 13,93
T9 (70 dias) Período de Controle COMBE 0,3 0,25 33,84 PESSE 0,8 2,25 53,77
EPHHI 1,8 12,25 125,09
Tabela 3. Valores das médias, variâncias e índice de valor de importância das populações componentes da comunidade infestante, nos tratamentos dos períodos de convivência durante o cultivo de safra.
Espécie de Planta Daninha (Código Bayer)
Média (plantas m-2)
Variância IVI
(%)T1 (0 dias) Período de Convivência e T2 (7 dias) Período de Convivência
Ausência de Plantas Daninhas T3 (14 dias) Período de Convivência
Sorgo Sorgo Sorgo Sorgo COMBE COMBE COMBE COMBE
T4 (21 dias) Período de Convivência BIDPI BIDPI BIDPI BIDPI Sorgo Sorgo Sorgo Sorgo
COMBE COMBE COMBE COMBE CCHEC CCHEC CCHEC CCHEC
Capa Índice 1301
Espécie de Planta Daninha (Código Bayer)
Média (plantas m-2)
Variância IVI
(%)T5 (28 dias) Período de Convivência
DIGHO 2,0 2,00 36,73 BIDPI 1,3 3,58 21,35 Sorgo 5,0 8,67 91,11
COMBE 8,3 57,58 84,36 EPHHI 2,3 2,25 31,56
T6 (35 dias) Período de Convivência DIGHO 12,5 137,58 75,63 BIDPI 1,3 6,25 15,86 Sorgo 4,5 15,00 83,98
EPHHI 2,0 4,00 27,72
CCHEC 5,0 31,33 39,42
T7 (42 dias) Período de Convivência DIGHO 2,8 6,25 25,97 Sorgo 4,0 3,33 81,79
COMBE 8,5 206,33 46,85 EPHHI 5,3 64,92 26,11
CCHEC 11,8 339,58 53,54
T8 (56 dias) Período de Convivência BIDPI 0,7 0,92 14,71 Sorgo 5,5 3,00 101,40
COMBE 8,3 14,92 59,07 EPHHI 8,3 4,25 58,74
CCHEC 0,3 0,25 6,48
T9 (70 dias) Período de Convivência DIGHO 2,0 16,00 15,74 BIDPI 2,5 7,00 29,29 Sorgo 7,5 4,33 94,82
COMBE 12,8 14,92 62,34 EPHHI 11,3 2,92 56,78
No geral, durante o período de safra, as plantas daninhas que apresentaram maior
índice de valor de importância (IVI) foram o Sorgo (Sorghum bicollor), Trapoeraba
(Commelina benghalensis), Erva-de-santa-luzia (Chamaesyce hirta) e Capim-custódio
(Pennisetum setosum), respectivamente.
Nas tabelas 4 e 5 são apresentados os resultados referentes aos estudos
fitossociológicos realizados durante a safrinha.
Capa Índice 1302
Tabela 4. Valores das médias, variâncias e índice de valor de importância das espécies componentes da comunidade infestante, nos tratamentos dos períodos de controle durante o cultivo de safrinha.
Espécie de Planta Daninha (Código Bayer)
Média Variância IVI (%) (plantas m-2)
T1 (0 dias) Período de Controle DIGHO 2,0 6,00 83,10
Soja 0,8 2,25 32,08 EPHHI 3,0 3,33 136,92
CCHEC 0,8 2,25 47,91
T2 (7 dias) Período de Controle DIGHO 2,3 2,25 98,71
Soja 0,5 1,00 26,15 EPHHI 6,5 27,00 154,25
SIDRH 0,3 0,25 20,88 T3 (14 dias) Período de Controle
DIGHO 0,9 4,00 123,70 EPHHI 1,9 3,58 143,45
CCHEC 0,5 0,25 18,88
T4 (21 dias) Período de Controle DIGHO 1,1 7,58 112,73
EPHHI 1,8 64,67 187,27 T5 (28 dias) Período de Controle
DIGHO 0,5 1,00 62,00
EPHHI 2,8 5,58 238,00
T6 (35 dias) Período de Controle ERICA 0,3 0,25 35,83
EPHHI 2,5 7,00 264,17
T7 (42 dias) Período de Controle DIGHO 0,3 0,25 31,56
EPHHI 3,5 0,33 268,44 T8 (56 dias) Período de Controle
DIGHO 0,3 0,25 29,98 Soja 0,3 0,25 36,89
EPHHI 1,5 1,67 189,56
AMAVI 0,5 1,00 43,57
T9 (70 dias) Período de Controle Ausência de Plantas Daninhas
Capa Índice 1303
Tabela 5. Valores das médias, variâncias e índice de valor de importância das espécies componentes da comunidade infestante, nos tratamentos dos períodos de convivência durante o cultivo de safrinha.
Espécie de Planta Daninha (Código Bayer)
Média Variância IVI(plantas m-²) (%)
T12 (14 dias) Período de Convivência CCHEC 0,3 0,25 37,19 EPHHL 0,3 0,25 32,02 BIDPI 0,3 0,25 32,02 Soja 0,8 0,25 158,13
EPHHI 0,3 0,25 40,64
T13 (21 dias) Período de Convivência DIGHO 2,8 17,58 75,98 BIDPI 0,3 0,25 14,87 Soja 0,5 0,33 83,48
EPHHI 1,3 0,25 50,80
CCHEC 0,8 0,92 27,32
T14 (28 dias) Período de Convivência Soja 0,5 0,33 22,05
ERICA 0,3 0,25 9,63 EPHHI 7,3 2,92 139,82
CCHEC 0,5 0,33 19,51 T15 (35 dias) Período de Convivência
DIGHO 6,5 23,00 97,26 Soja 2,5 9,67 47,40
EPHHI 6,0 34,67 62,79 CCHEC 4,0 30,00 54,89
AMAVI 0,8 0,92 16,15 T16 (42 dias) Período de Convivência
DIGHO 2,8 4,92 59,56 BIDPI 0,3 0,25 10,13 Soja 0,5 0,33 22,37
EPHHI 19,8 854,25 163,50 CCHEC 1,3 1,58 27,93
T17 (56 dias) Período de Convivência DIGHO 5,0 14,00 72,18 BIDPI 0,3 0,25 10,09 Soja 1,8 0,92 57,60
EPHHI 13,5 156,33 104,16 CCHEC 0,5 1,00 27,65
Capa Índice 1304
Espécie de Planta Daninha (Código Bayer)
Média Variância IVI
(plantas m-²) (%)
T18 (70 dias) Período de Convivência DIGHO 3,3 7,58 88,66 COMBE 0,3 0,25 9,38
Soja 1,0 2,00 41,06 EPHHI 8,5 46,33 115,02
CCHEC 1,0 0,67 30,61
Durante o período de safrinha as plantas daninhas que obtiveram maior índice de valor
de importância (IVI) foram a Erva-de-santa-luzia (Chamaesyce hirta), Capim-colchão
(Digitaria horizontalis), Soja (Glycine max), Trapoeraba (Commelina benghalensis),
respectivamente. Pôde-se observar que a cultura do crambe não apresentou supressão na soja
resteva.
Os dados referentes a densidade e massa seca do total de plantas daninhas são
apresentados nas Figuras 1 e 2, respectivamente.
Na Figura 1 são apresentados os dados referentes à densidade de plantas daninhas nos
tratamentos que compuseram os períodos de controle e de convivência durante os cultivos de
safra (A) e safrinha (B). Observa-se que durante o período de safra a densidade de plantas
daninhas m-² foi superior ao do período de safrinha nos diferentes períodos de controle e de
convivência. A maior densidade de plantas daninhas por área é devido aos fatores água, luz e
temperatura, os quais são evidenciados em maior intensidade na safra, contribuindo assim
para um maior desenvolvimento vegetativo e reprodutivo da comunidade infestante.
A Figura 2 apresenta os dados referentes à quantidade de massa seca obtida nos
diferentes períodos de controle e convivência nos cultivos de safra e safrinha. Constata-se que
o acumulo de massa seca de plantas daninhas possui uma correlação com os dados de
densidade apresentados na Figura 1, ou seja, conforme o aumento da densidade de plantas
daninhas obteve-se um aumento no acúmulo de massa seca pelas plantas daninhas. Os índices
de acúmulo de massa seca em safra (A) superaram em aproximadamente dez vezes os
observados no período de safrinha (B).
Capa Índice 1305
(A) (B)
Figura 1. Densidade de plantas daninhas nos respectivos períodos de controle e convivência durante o cultivo de safra (A) e safrinha (B).
(A) (B)
Figura 2. Massa Seca de plantas daninhas nos respectivos períodos de controle e convivência durante o cultivo de safra (A) e safrinha (B).
Na Tabela 6, são apresentados os resultados da análise estatística realizada com o
estande de plantas de crambe. Não se obteve diferenças estatísticas entre os períodos de
controle e de convivência. Em ambas as situações, a população de plantas de crambe
apresentou em média 730 mil plantas ha-1. Tal população se adequa ao recomendado por Pitol
et al. (2010). A baixa influência da comunidade infestante no estabelecimento da cultura
consolida o alto grau de competitividade do crambe com relação à comunidade infestante.
0
20
40
60
80
100
120
0 7 14 21 28 35 42 56 70
(Den
sida
de (p
lant
as m
-²)
Períodos (DAS)
Controle
Convivência
0
20
40
60
80
100
120
0 7 14 21 28 35 42 56 70
(Den
sida
de (p
lant
as m
-²)
Períodos (DAS)
Controle
Convivência
0
50
100
150
200
250
300
350
0 7 14 21 28 35 42 56 70
(Mas
sa S
eca
(g m
-²)
Períodos (DAS)
ControleConvivência
0
50
100
150
200
250
300
350
0 7 14 21 28 35 42 56 70
(Mas
sa S
eca
(g m
-²)
Períodos (DAS)
ControleConvivência
Capa Índice 1306
Tabela 6. Comparação das médias de plantas por metro aos 45 DAS nos cultivos de safra e safrinha.
Tratamentos (DAS)
Estande (Safra) Estande (Safrinha)
Período de Controle
Período de Convivência
Período de Controle
Período de Convivência
0 33,35 a1 32,90 a 36,15 a 35,06 a7 32,70 a 31,85 a 31,93 a 31,35 a 14 30,90 a 33,05 a 31,35 a 31,93 a 21 30,18 a 33,10 a 35,30 a 34,20 a 28 32,65 a 32,10 a 33,33 a 33,32 a 35 32,95 a 32,55 a 32,32 a 33,70 a 42 32,05 a 34,10 a 37,80 a 35,92 a 56 31,25 a 30,50 a 35,90 a 34,20 a 70 33,60 a 30,80 a 38,60 a 34,58 a F 2,42* 1,31ns 0,37ns 0,40ns
DMS 8,12 6,06 9,26 8,72 CV (%) 9,71 7,46 11,98 11,23
(1) Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si ao nível de significância de 5%, pelo teste de Tukey. * Significativo ao nível de 5% de probabilidade. ns Não significativo ao nível de 5% de probabilidade.
Na Tabela 7, são apresentados os resultados da análise estatística realizada para a
variável altura de plantas. Em ambos os períodos de interferência e épocas de cultivo que não
há diferenças estatísticas entre os tratamentos. A baixa influência no desenvolvimento da
cultura de crambe consolida o poder compensativo da cultura em situações adversas.
Tabela 7. Comparação das médias de altura de plantas de crambe nos cultivos de safra e safrinha.
Tratamentos (DAS)
Altura de plantas (Safra) (cm)
Altura de plantas (Safrinha) (cm)
Período de Controle
Período de Convivência
Período de Controle
Período de Convivência
0 88,47 a1 90,73 a 99,60 a 108,3 a7 92,58 a 92,38 a 103,0 a 101,4 a 14 91,80 a 86,08 a 100,3 a 104,2 a 21 90,48 a 94,53 a 104,8 a 106,8 a 28 88,93 a 92,90 a 104,6 a 104,2 a 35 95,23 a 94,25 a 104,5 a 102,4 a 42 93,45 a 93,55 a 106,1 a 103,6 a 56 90,23 a 91,75 a 101,6 a 103,5 a 70 88,43 a 92,18 a 102,9 a 101,8 a F 82ns 1,47ns 1,02ns 62ns
DMS 12,60 10,07 10,41 13,70 CV (%) 5,76 4,55 4,20 5,48
(1) Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si ao nível de significância de 5%, pelo teste de Tukey. ns Não significativo ao nível de 5% de probabilidade.
Capa Índice 1307
Na Tabela 8, são apresentados os resultados de produtividade de frutos de crambe para
ambas as épocas de cultivo.
A variável produtividade apresentou diferença estatística apenas entre os tratamentos
que compunham o período de convivência (PAI) no cultivo de safra. A irregularidade dos
resultados bem como a dispersão dos valores se deu devido a esse período apresentar maior
densidade de plantas daninhas na área. Observou-se que apenas quando cultura permaneceu
em convivência por 70 dias com as plantas daninhas, há redução no seu potencial produtivo.
Tabela 8. Comparação das médias de produtividade nos cultivos de safra e safrinha.
Tratamentos (DAS)
Produtividade (Safra) (Kg ha-1)
Produtividade (Safrinha) (Kg ha-1)
Período de Controle
Período de Convivência
Período de Controle
Período de Convivência
0 907,25 a1 853,00 ab 1213,00 a 1354,00 a7 921,75 a 1040,5 a 1200,25 a 1301,75 a
14 827,75 a 942,00 ab 1063,50 a 1316,50 a 21 872,50 a 912,75 ab 1274,50 a 1251,50 a 28 1063,5 a 973,50 ab 1215,25 a 1131,75 a 35 998,25 a 907,50 ab 1248,75 a 1288,25 a 42 1032,1 a 917,00 ab 1154,50 a 1305,00 a 56 1019,3 a 719,25 ab 1452,25 a 1299,75 a 70 943,50 a 659,00 b 1097,00 a 1109,75 a F 1,36ns 3,15* 1,01ns 1,52ns
DMS 326,42 327,54 538,98 330,23 CV (%) 14,23 15,47 18,47 10,88
(1) Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si ao nível de significância de 5%, pelo teste de Tukey. * Significativo ao nível de 5% de probabilidade. ns Não significativo ao nível de 5% de probabilidade.
Estudos visando determinar os períodos de interferência de plantas daninhas na cultura
ainda não existiam. Para este estudo o que se observou é que o único período em que as
plantas daninhas obtiveram efeito sobre o crambe foi no cultivo de safra, no período de
convivência (PAI). Pode-se verificar (Tabela 8) que a comunidade infestante afetou a
produtividade somente quando conviveu durante 70 dias com a cultura. Isso nos indica que
apenas uma intervenção no manejo das plantas daninhas já seria suficiente. Entretanto, ainda
não há herbicidas seletivos que atue em mono e eudicoteledôneas, simultaneamente,
impedindo-nos de recomendar o cultivo dessa cultura na safra.
Para os demais tratamentos, nos períodos de controle em safra, e nos tratamentos de
períodos de controle e de convivência de plantas daninhas em safrinha não se obteve
diferença significativa. Contata-se também que no cultivo da cultura em safrinha,
proporcionou maior patamar de produtividade. Tal patamar corrobora com Pitol et al. (2010),
Capa Índice 1308
onde o mesmo destaca que devido à planta de crambe ser originada do mediterrâneo, e ser
adaptada a baixa exigência hídrica e a temperaturas mais baixas o cultivo em safrinha (estação
verão/outono) é mais vantajoso, além de outras características observadas como a menor
pressão de doenças e plantas daninhas.
Diante dos resultados obtidos para a cultura de crambe, em ambas as épocas de
cultivo, pôde-se observar que a realização de um bom manejo na dessecação das plantas
daninhas, para a adoção do plantio direto, já se torna suficiente para não ocorrer interferência
das mesmas no desenvolvimento e produtividade da cultura.
CONCLUSÕES
O crambe não sofreu interferência das plantas daninhas durante o cultivo de safrinha.
Durante o cultivo de safra observou-se a interferência das plantas daninhas somente quando
conviveu por 70 dias com a cultura.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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competition on potato yield. Weed Technology, v. 21, n. 1, p. 213-218, 2007.
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Interferência das Plantas Daninhas na Cultura da Soja nos Sistemas de Semeadura Direta e
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Capa Índice 1309
SOARES, D.J.; PITELLI, R.A.; BRAZ, L.T.; GRAVENA, R.; TOLEDO, R.E.B. Períodos de
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VIDAL, R. A. et al. Nível de dano econômico de Brachiaria plantaginea na cultura de milho
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WEISS, E.A. Oilseed crops. London: Blackwell Science, 2000. 364 p.
“Revisado pelo Orientador”
Prof. Dr. Paulo César Timossi Docente de Agronomia / CAJ
Capa Índice 1310
Diversidade e caracterização de galhas de insetos na vegetação de cerrado e
mata em fragmentos vegetais do município de Hidrolândia, Goiás, Brasil
Elienai Cândida e Silva1, Benedito Baptista dos Santos2
Universidade Federal de Goiás, 7400-970, Brasil
[email protected]; [email protected]
PALAVRAS-CHAVE: Cecidomyiidae, morfotipo de galha, parasitóide
1. INTRODUÇÃO
As galhas são transformações atípicas dos tecidos vegetais formados por hiperplasia
(aumento do número de células) e/ou hipertrofia (aumento do tamanho das células),
provocadas pelo desenvolvimento de inúmeros organismos, principalmente insetos, no estado
larval ou pupal (FERNANDES et al., 1988).
Do ponto de vista evolutivo, as galhas são vistas como fenótipos estendidos dos
insetos ou suas adaptações para se alimentarem de tecidos de alta qualidade nutricional,
proteção contra ataque de inimigos naturais e as variações dos ambientes (CARNEIRO et al.,
2009). Embora as galhas ocorram em qualquer parte das plantas são mais comuns nas folhas e
ramos (FERNANDES et al., 1988), causando danos a elas, inclusive em plantas cultivadas
(GALLO et al., 1978).
Para o estado de Goiás, as primeiras informações existentes sobre a ocorrência de
insetos cecidógenos foram as de Urso-Guimarães et al. (2003). Estes dados foram
incrementados pelos estudos realizados na vegetação da Serra dos Pireneus em Pirenópolis
(ARAÚJO; GOMES-KLEIN; SANTOS, 2007a; ARAÚJO, 2011; ARAÚJO; SANTOS;
GOMES-KLEIN, 2011; ARAÚJO; SANTOS; GOMES-KLEIN, 2012), em Goiânia
(ARAÚJO et al., 2007b; SANTOS; FERREIRA; ARAÚJO, 2010; SILVA; SANTOS, 2010;
ARAÚJO, 2011; ARAÚJO; SANTOS; GOMES-KLEIN, 2012), Silvânia (RIBEIRO;
SANTOS, 2010; SILVA; SANTOS; SARTIN, 2011; ARAÚJO, 2011), Hidrolândia, Bela
Vista, Caldas Novas, Senador Canedo, Anápolis e Jataí (ARAÚJO, 2011).
1 Orientando. Bolsista PIBIC/CNPq. Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Goiás 2 Orientador. Professor da Universidade Federal de Goiás. Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de Ecologia.
-Revisado pelo Orientador-
Capa Índice 1311
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1311 - 1322
O Cerrado apresenta diferentes tipos de fitofisionomias vegetais ao longo de uma
grande variedade ambiental controlada pelo tipo de solo, topografia e clima, sendo que nesta
região, as relações entre as plantas hospedeiras e insetos galhadores necessitam de novos
estudos, sobretudo em regiões com carência de informações, como o caso do Cerrado de
Goiás (MOREIRA, 2006).
2. OBJETIVOS
Os objetivos deste trabalho foram verificar a ocorrência e caracterizar as galhas que
ocorrem nas porções epígeas de plantas, situadas na vegetação de cerrados e matas ocorrentes
na Escola Agrícola Centro de Formação Agroecológico de Hidrolândia (CEFAEH),
localizada no município de Hidrolândia; identificar os insetos causadores destas galhas, assim
como a identificação das plantas hospedeiras e verificar a presença de parasitóides das
espécies cecidógenas.
3. METODOLOGIA
Área de estudo - O município de Hidrolândia-GO encontra-se a uma distância em
torno de 40 km de Goiânia. Localiza-se na latitude e longitude de 16° 57’ 43’’ S e 49°13’ 44’’
W. O clima da região é do tipo Aw da classificação de Köppen, com estação seca estendendo
de maio a outubro. Sua flora é caracterizada por formações fitofisionômicas do Cerrado.
Metodologia - Foram realizadas coletas mensais, de setembro de 2011 a maio de 2012,
nas vegetações de cerrado e mata na Escola Agrícola, Centro de Formação Agroecológico de
Hidrolândia (CEFAEH), para verificação da ocorrência de galhas, sendo cada amostragem
realizada através de caminhadas aleatórias ao longo da formação vegetal visitada (ARAÚJO;
GOMES-KLEIN; SANTOS, 2007a). As galhas e plantas hospedeiras encontradas foram
observadas, descritas, registradas e fotografadas, colocando-se os fragmentos das plantas com
galhas em saco plástico devidamente etiquetado. Material botânico reprodutivo para
identificação da planta hospedeira, também foi coletado e encaminhado ao Laboratório de
Entomologia do Departamento de Ecologia da Universidade Federal de Goiás. Foram
analisadas as características externas das galhas (tipo, forma, estrutura, cor, textura, etc.) e
internas (número de lojas). As cecídias foram acondicionadas em potes plástico, forrados com
papel umedecido, fechados com tela de nylon e etiquetados. O material foi vistoriado
diariamente, verificando-se a umidade e a emergência de insetos. Os adultos obtidos, tanto os
Capa Índice 1312
galhadores quanto seus eventuais parasitóides foram retirados, separados em morfoespécies e
fixados em álcool 70% para identificação.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontrados 150 morfotipos de galhas em 39 famílias de plantas hospedeiras
distribuídos em 104 espécies vegetais (Tabela 1). As famílias botânicas que apresentaram
maior riqueza de galhas foram Fabaceae (22) seguida de Malpighiaceae (13), Sapindaceae
(11), Erythroxylaceae e Myrtaceae (09) e Siparunaceae (08). Outros estudos sobre insetos
galhadores realizados no estado de Goiás, indicaram Fabaceae como a família botânica mais
rica em galhas (ARAÚJO et al., 2007b; SANTOS; FERREIRA; ARAÚJO, 2010; RIBEIRO;
SANTOS, 2010).
As espécies vegetais com maior número de morfotipos de galhas foram Siparuna
guianensis Aubl. (Siparunaceae) com sete, Bauhinia brevipes Vogel (Fabaceae) com seis e
Erythroxylum sp. com cinco.
O órgão vegetal das plantas hospedeiras mais atacado foi a folha (66,83%), seguida
pelo caule (24,05%) e pecíolo (5,06%). Embora menos frequentes, também foram encontradas
galhas na gema apical e lateral, órgão reprodutivo, inflorescência, peciólolo, catáfilo e
gavinha. Segundo Fernandes et. al. (1988), embora as galhas ocorram qualquer parte das
plantas são mais comuns nas folhas e ramos.
As galhas entomógenas variaram quanto a sua morfologia (Fig. 1), sendo as galhas
globóides (43,33%) as mais comuns. Também, foram encontradas as formas elipsóides
(24,67%), discóides (22,67%) e coniformes (6,67%); as galhas que não apresentaram forma
definida, descritas como amorfas, foram menos frequentes (2%). A maioria das galhas não
apresentou pilosidade (61,07%), ocorreu na cor verde (43,33%) e encontravam-se na forma
isolada (86,67%). A variação da morfologia da galha pode ser explicada pela alta
especificidade do inseto galhador associado à espécie da planta hospedeira, podendo ser
utilizado como um indicador das espécies de inseto indutor (FERNANDES et al., 2009).
Foram obtidos insetos causadores de galhas pertencentes a Diptera (Cecidomyiidae),
Coleoptera (Curculionidae), Thysanoptera (Phlaeothripidae) e Lepidoptera. Cerca de 68,97%
das galhas foram causadas por Cecidomyiidae, que são apontados como o principal grupo de
inseto galhador em todas as regiões geográficas do mundo (GAGNÉ, 2010). Além disso,
foram encontrados vários parasitóides, todos pertencentes aos Hymenoptera (Braconidae,
Encyrtidae, Eulophidae, Eurytomidae, Pteromalidae e Torymidae). Segundo Maia e Azevedo
Capa Índice 1313
Tabela 1. Famílias, espécies de plantas hospedeiras e características das galhas coletadas nas fitofisionomias de cerrado (CE) e mata (MA) na Escola Agrícola, Centro de Formação Agroecológico de Hidrolândia (CEFAEH), Goiás, Brasil, 2011/2012. (NI corresponde a espécies de plantas não identificadas).
Família e Espécie Órgão Forma Cor Pubes-cência
Lojas Ocorrência Fisio-nomia
Inseto Indutor
Parasitóide
Anacardiaceae
Myracrodrun
urundeuva
Folha Coniforme Marrom Pilosa Aberta Isolada CE Cecidomyiidae -
Anarcadium
humile
Folha Coniforme
Amarela avermelhada
Glabra Aberta Isolada CE - -
Annonaceae
Cardiopetalum sp.
Gema apical Elipsóide Verde Pilosa 1 Isolada MA - -
NI Folha Discóide Amarela Pilosa 1 Isolada CE - -
NI Caule Globóide Marrom Glabra Várias Isolada MA - -
NI Folha Discóide Amarela Pilosa 1 Isolada CE - -
Apocynaceae
Aspidosperma
tomentosum
Folha Globóide Verde Pilosa 1 Isolada CE Cecidomyiidae -
Aspidosperma sp.1 Folha Globóide Verde Glabra 1 Isolada CE - -
Aspidosperma sp.2 Caule Elipsóide Marrom Glabra Várias Agrupada MA - -
Folha Globóide Verde Glabra 1 Isolada MA Cecidomyiidae Pteromalidae
Araliaceae
Schefflera
macrocarpa
Folha Globóide Verde Pilosa 1 Isolada CE - -
Asteraceae
NI Folha (Nervura central)
Globóide Branca Pilosa 1 Isolada CE - -
NI Caule/ pecíolo
Globóide Verde Glabra 1 Isolada CE - -
Bignoniaceae
NI Caule Elipsóide Marrom Pilosa 1 Agrupada MA - -
Burceraceae
NI Folha Globóide Amarela Glabra Várias Isolada MA - Eulophidae
Caule/ pecíolo/
folha
Elipsóide Verde Glabra Aberta Isolada MA - -
Caryocaraceae
Caryocar
brasiliense
Folha Globóide Amarela Pilosa 1 Isolada CE/ MA
Cecidomyiidae Eulophidae/ Eurytomidae/
Torymidae Folha Discóide Amarela Pilosa 1 Isolada CE - -
Celastraceae
Plenckia populnea Caule Globóide Marrom Glabra 1 Isolada CE - -
NI Folha Discóide Verde Glabra 1 Isolada CE - -
Capa Índice 1314
Combretaceae
Terminalia sp. Folha Dicóide Verde Pilosa 1 Isolada CE - -
Folha Globóide Marrom Pilosa 1 Isolada CE - -
Connaraceae
Connarus Caule Elipsóide Marrom Glabra Várias Isolada CE - Eulophidae
Folha Globóide Marrom Glabra 1 Isolada CE Cecidomyiidae -
Connarus suberosus Folha Discóide Verde Glabra 1 Isolada CE - -
NI Órgão reprodutivo
Globóide Marrom Glabra 3 Isolada CE Cecidomyiidae Eurytomidae
Dilleniaceae
Davilla Folha Discóide Amarela Glabra 1 Isolada CE - -
Inflores- cência
Elipsóide Verde Pilosa 1 Isolada CE - -
Ebenaceae
Diospyrus hispida Gema apical Globóide Verde Pilosa 1 Isolada CE Lepidoptera -
Elaeocarpaceae
Sloania Folha Globóide Verde Glabra 1 Isolada MA - -
Folha Globóide Marrom Pilosa 1 Isolada MA - -
Erythroxylaceae
Erythroxylum
suberosum
Folha Globóide Marrom Pilosa 2 Isolada CE Encyrtidae/ Eulophidae/ Torymidae
Erythroxylum
tortuosum
Folha Globóide Verde Glabra Aberta Isolada CE - -
Erythroxylum sp.1 Folha Globóide Marrom Pilosa 1 Isolada CE Cecidomyiidae Pteromalidae
Folha Amorfa Verde Glabra 1 Isolada CE - -
Erythroxylum sp.2 Folha (nervura central)
Globóide Marrom Pilosa 1 Isolada MA - Pteromalidae
Folha Discóide Verde Glabra 1 Isolada MA - Eulophidae
Folha Discóide Verde Glabra 1 Isolada MA - -
Caule Globóide Marrom Glabra Várias Isolada MA - -
NI Folha Globóide Marrom Pilosa 1 Isolada CE - -
Euphorbiaceae
Maprounea
guianensis
Caule Elipsóide Vermelha Glabra 1 Isolada CE - -
Manihot sp.1 Folha Coniforme Amarela avermelhada
Glabra Aberta Isolada CE Cecidomyiidae Pteromalidae
Manihot sp.2 Folha Coniforme Amarela avermelhada
Glabra Aberta Isolada CE Cecidomyiidae -
NI Caule/ Pecíolo
Elipsóide Vermelha Glabra Várias Agrupada MA - Eulophidae/ Eurytomidae
Fabaceae
Acosmium
dasycarpum
Folha Discóide Verde Glabra 1 Isolada CE - -
Bauhinia bevipes Folha Globóide Amarela Pilosa 1 Isolada CE - -
Folha Discóide Amarela Pilosa 1 Isolada CE - -
Continuação
Capa Índice 1315
Folha Globóide Marrom Pilosa 1 Isolada CE - -
Caule Elipsóide Verde Pilosa 1 Isolada CE - Braconidae/ Eulophidae
Caule Elipsóide Marrom Pilosa Várias Isolada CE - -
Folha Globóide Amarela Pilosa 1 Isolada CE - -
Bauhinia curvula Folha Globóide Verde Pilosa 1 Isolada CE - -
Caule Elipsóide Marrom Glabra 3 Agrupada CE - -
Bauhinia sp.1 Folha Elipsóide Verde Pilosa 1 Isolada CE Cecidomyiidae Braconidae/ Eulophidae/ Pteromalidae
Bauhinia sp.2 Gema apical Elipsóide Verde Pilosa 1 Agrupada CE - -
Bauhinia sp.3 Caule Globóide Marrom Pilosa Várias Agrupada CE Cecidomyiidae Torymidae
Folha Globóide Verde (pelos marrons)
Pilosa 1 Isolada CE Cecidomyiidae -
Bauhinia sp.4 Folha (abaxial)
Globóide Amarela Pilosa 1 Isolada CE - -
Bauhinia sp.5 Folha Globóide Marrom Pilosa 1 Isolada MA - -
Bauhinia sp.6 Caule Elipsóide Marrom Glabra Várias Agrupada MA - Braconidae
Sclerolobium
paniculatum
Folha Globóide Verde Pilosa Aberta Isolada CE - -
NI Folha Globóide Verde Glabra 1 Isolada MA - -
NI Folha Discóide Vermelha Glabra 1 Isolada MA - -
NI Peciólulo Globóide Verde Glabra 1 Isolada MA - -
NI Folha Globóide Amarela Glabra 1 Isolada CE - -
Folha Globóide Verde Pilosa 1 Isolada CE - -
Lamiaceae
NI Folha (nervura central)
Elipsóide Verde Pilosa 1 Isolada CE - -
Caule Elipsóide Marrom Pilosa Várias Agrupada CE - -
Lauraceae
Nectandra cuspidata Folha Discóide Branca Pilosa 1 Isolada MA Cecidomyiidae Eulophidae
Folha (adaxial)
Globóide Marrom Pilosa 1 Isolada MA - Eulophidae
Folha Discóide Verde Glabra Aberta Isolada MA Phlaeothripidae
NI Folha Globóide Verde Glabra 1 Isolada MA - -
Loranthaceae
NI Folha Discóide Verde Glabra 2 Isolada MA - -
Lythraceae
Diplusodon sp. Caule/ Pecíolo
Elipsóide Branca Glabra 1 Isolada MA - -
Malpighiaceae
Byrsonima sp. Folha Coniforme Verde Pilosa 1 Isolada CE - -
Diplopterys
pubipetala
Folha Coniforme Verde Glabra Aberta Isolada CE Phlaeothripidae Eulophidae
Folha Discóide Verde Glabra 1 Isolada MA - Eurytomidae
Folha Discóide Verde Glabra 1 Isolada CE - -
Continuação
Capa Índice 1316
Heteroptera
glandulosa
Folha Discóide Amarela Pilosa 1 Isolada CE - -
Heteropteris sp. Folha Amorfa Amarela Glabra 1 Isolada CE - Eulophidae
Peixotoa sp. Folha Globóide Marrom Pilosa Várias Isolada CE Cecidomyiidae Eulophidae
NI Folha Globóide Marrom Glabra 1 Agrupada MA Cecidomyiidae -
Folha Globóide Verde Glabra 1 Isolada MA - -
Gema apical Elipsóide Verde Glabra Várias Isolada MA - -
Folha Discóide Verde Glabra 1 Isolada MA Phlaeothripidae Eulophidae
NI Caule Globóide Marrom Glabra Várias Agrupada CE Cecidomyiidae -
Melastomataceae
Miconia sp.1 Folha Globóide Marrom Pilosa 1 Isolada CE Lepidoptera -
Miconia sp.2 Folha Discóide Verde Pilosa 1 Isolada MA - -
Tibouchina Caule Elipsóide Marrom Glabra Várias Isolada CE - -
NI Caule Elipsóide Marrom Glabra Várias Agrupada CE - Torymidae
NI Caule/ Pecíolo
Globóide Verde Pilosa 1 Isolada MA - -
NI Caule Elipsóide Marrom Glabra 1 Agrupada CE - -
Myrtaceae
Myrcia sp.1 Folha Globóide Verde Pilosa 1 Isolada MA - -
Folha Discóide Verde Glabra 1 Isolada MA - -
Myrcia sp.2 Caule Elipsóide Marrom Glabra 1 e 2 Agrupada MA - -
Myrcia sp.3 Folha Amorfa Amarela avermelhada
Glabra Aberta Isolada MA Phlaeothripidae -
Caule Elipsóide Marrom Glabra Várias Agrupada MA - -
Caule Elipsóide Marrom Glabra 1 Agrupada MA - Eurytomidae
Myrcia sp.4 Caule Elipsóide Marrom Glabra Várias Agrupada MA - -
NI Caule Globóide Marrom Glabra 1 Isolada CE - -
NI Gema foliar Globóide Verde Pilosa Várias Isolada CE Cecidomyiidae -
Meliaceae
Trichilia sp. Folha Discóide Amarela Glabra Várias Isolada MA - -
Caule Elipsóide Marrom Glabra Várias Isolada MA - Eulophidae
Folha (Nervura central)
Elipsóide Amarela Glabra 2 Agrupada MA - -
Miristicaceae
Folha Coniforme Marrom Pilosa Aberta Isolada MA - -
Nyctaginaceae
Guapira sp. Folha Discóide Vermelha Glabra 1 Isolada CE Cecidomyiidae Eulophidae
Ochnaceae
Ouratea hexasperma Folha Discóide Vermelha Glabra Aberta Isolada CE - -
Proteaceae
Roupala montana Folha Discóide Verde Pilosa 1 Isolada CE - -
Folha Coniforme Verde Pilosa 1 Isolada CE - Eulophidae
Caule Globóide Marrom Glabra 1 Isolada CE - -
Ramnaceae
NI Gema lateral
Globóide Marrom Glabra 1 Isolada MA - -
Continuação
Capa Índice 1317
Rubiaceae
Landia Folha Elipsóide Verde Glabra 1 Isolada MA - -
NI Folha Globóide Verde Glabra 1 Isolada MA - -
NI Folha Globóide Amarela Glabra 1 Isolada MA - -
NI Folha Elipsóide Amarela Pilosa 1 Isolada MA - -
Caule Elipsóide Marrom Glabra 1 Isolada MA - -
Rutaceae
Zanthoxylum sp. Folha Discóide Verde Pilosa 1 Isolada CE - -
Santalaceae
Phoradendron sp. Folha Discóide Verde Glabra 1 Isolada MA - -
Sapindaceae
Paullinia Gema axilar Globóide Verde avermelhada
Pilosa Várias Isolada MA - Eulophidae
Caule
Coniforme Vermelha Pilosa 1 Isolada MA - -
Serjanea sp.1 Folha Discóide Verde Glabra 1 Isolada MA - -
Serjanea sp.2 Folha Discóide Verde Glabra 1 Isolada CE - -
Serjanea sp.3 Folha Discóide Amarela Glabra 1 Isolada CE - -
Serjanea sp.4 Caule Elipsóide Marrom Pilosa Várias Isolada MA - Eurytomidae
Serjanea sp.5 Gavinha Elipsóide Marrom Glabra Várias Agrupada MA - -
NI Folha Globóide Verde Glabra 1 Isolada CE - -
NI Caule Coniforme Verde Glabra Várias Isolada MA - Eulophidae
NI Folha Discóide Amarela Glabra 1 Isolada MA - -
NI Folha Globóide Verde Glabra 1 Isolada CE - -
Siparunaceae
Siparuna guianensis Caule Elipsóide Verde Glabra 1 Isolada MA - -
Folha (nervura central)
Elipsóide Verde Glabra 1 Isolada MA - -
Pecíolo Globóide Marrom Glabra Aberta Isolada MA - -
Caule/ pecíolo
Elipsóide Verde Glabra Várias Agrupada MA - -
Folha Discóide Verde Glabra 1 Isolada MA - -
Caule Globóide Marrom Glabra 2 Isolada MA - Eurytomidae
Folha Elipsóide Verde Glabra 1 Isolada MA - -
Smilacaceae
Smilax sp.1 Catáfilo Globóide Amarela Glabra 1 Isolada CE - Eulophidae/ Torymidae
Smilax sp.2 Folha/ Caule
Elipsóide Branca Glabra Várias Agrupada MA - -
Smilax sp.3 Folha Globóide Verde avermelhada
Glabra 1 Isolada CE - -
Styracaceae
Styrax pohlii Folha Discóide Amarela Glabra Aberta Isolada MA - -
Vitaceae
Cissus erosa Caule Globóide Marrom Glabra Várias Isolada CE Curculionidae -
Cissus sp. Folha Globóide Verde Glabra 1 Isolada MA - -
Continuação
Capa Índice 1318
NI Caule/ pecíolo
Globóide Verde Pilosa 1 Isolada CE - -
Vochisiaceae
Qualea dichotoma Folha Globóide Verde Pilosa 1 Isolada MA - -
Qualea grandiflora Folha Discóide a globóide
Amarela Glabra 1 Isolada CE - -
Qualea multiflora Folha Globóide Verde Pilosa 1 Isolada MA/ CE
- Eulophidae
Folha Globóide Amarela Pilosa Várias Isolada MA/CE
Cecidomyiidae Braconidae/ Eulophidae
Qualea parviflora Folha Globóide Amarela Glabra Aberta Isolada CE - Encyrtidae
Folha Discóide Verde Glabra 1 Isolada CE
(2009), micro-himenópteros representam o principal inimigo natural dos Cecidomyiidae
(Diptera) galhadores.
A diferença na riqueza de morfotipos de galhas entre o cerrado e a mata foi pequena,
pois, das 150 morfoespécies de galhas encontradas neste estudo, 81 pertenceram ao cerrado e
72 a mata. Apenas a galha globóide de Caryocar brasiliense Cambess. e os dois tipos de
galhas descritas em Qualea multiflora Mart., foram comuns para a mata e o cerrado.
5. CONCLUSÃO
Os dados apresentados nesse trabalho contribuem, principalmente, com informações
relacionadas com as espécies de plantas hospedeiras, as espécies indutoras de galhas e a
morfologia das galhas, aumentando o conhecimento já existente sobre galhas entomógenas no
estado de Goiás.
Continuação
Capa Índice 1319
Figura 1. Morfotipos de galhas encontradas na vegetação de cerrado e mata da Escola Agrícola, Centro de Formação Agroecológico de Hidrolândia (CEFAEH), Goiás, Brasil: 1) Galha foliar em Qualea multiflora Mart.; 2) Galha caulinar em Plenckia populnea Reissek; 3) Galha foliar em Bauhinia curvula Benth.; 4) Galha caulinar em Siparuna guianensis Aubl.; 5) Galha foliar em Connarus suberosus Planch.; 6) Galha foliar em Bauhinia brevipes Vogel; 7) Galha foliar em Caryocar brasiliense Cambess.; 8) Galha em gavinha de Serjanea sp. 5; 9) Galha foliar em Diplopterys pubipetala (A. Juss.) W.R. Anderson & C. Davis; 10) Galha foliar em Nectandra cuspidata Nees & Mart.; 11) Galha foliar em Myracrodruon urundeuva Allemão; 12) Galha aberta de Siparuna guianensis Aubl. seta mostrando inseto em fase de pupa.
Capa Índice 1320
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Capa Índice 1322
Linguajamentos e contrahegemonias epistêmicas sobre linguagem em produções
descolonialistas e póscolonialistas
1. Introdução
2. Objetivos e metodologia
Capa Índice 1323
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1323 - 1337
Capa Índice 1324
3. Resultados e discussão
3.1. Colonialidade do poder/saber: processos coloniais, permanência das
ideologias coloniais na construção das ciências
Capa Índice 1325
Capa Índice 1326
Capa Índice 1327
Capa Índice 1328
3.2. Localização geopolíticocorpórea dos aparatos teóricometodológicos da
Linguística
Capa Índice 1329
Capa Índice 1330
Capa Índice 1331
4. Conclusão: Localizando os corpos que produzem conhecimento para produzir
pluriversalidades
Capa Índice 1332
Capa Índice 1333
Capa Índice 1334
Revisado pela orientadora.
Referências
Cadernos de Letras da UFF
Capa Índice 1335
Revista Estudos Feministas
Situar a linguagem
A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais.
ómadas
A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais
Tabula Rasa
El giro decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global
Polis
Cultural studies
Revista Estudos Feministas
Género y descolonialidad
Black Linguistics
Teorías sin disciplina, latinoamericanismo, poscolonialidad y globalización en debate
América Latina Palavra, literatura e cultura
Histórias locais/Projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar
Capa Índice 1336
Conhecimento prudente para uma vida decente
ómada
Linguagem em (dis)curso
Disinventing and reconstituting languages
A colonialidade do saber, eurocentrismo e ciências sociais.
Geopolítica do inglês
Cultura y tercer mundo, 1. Cambios en el saber académico
English Studies in Canada
Desestabilizar La Teoría Debates Feministas contemporáneos
Cultura y Tercer mundo, 2. uevas ideades y ciudadanías
Capa Índice 1337
Aglomerado de Átomos: Um estudo por Monte Carlo Quântico e outros métodos teóricos Ab-initio
Emanuel M. Isaac Moreira e-mail: [email protected] C. da Silva e-mail: [email protected]
Instituto de Física, Universidade Federal de Goiás, 740001-970, Goiânia, GO, Brazil.
I. Introdução e Objetivos
Com a tecnologia atual de preparação de materiais é possível hoje em dia criar pequenos “clusters” de materiais em laboratório. A caracterização espectroscópica destes materiais revelou a existência de picos agudos em seus espectros de massa, sugerindo a existência de “clusters'” estáveis de tamanho definido. Em metais alcalinos, esses picos correspondem a “cluster” com 2, 8 e 20 átomos[1], enquanto que para o carbono este tem 60 átomos[2] e está entre os mais estáveis. Tais “clusters”, geralmente chamados de “magic cluster”, são caracterizados por possuirem baixa eletroafinidade e alto potencial de ionização, fazendo com que o estudo detalhado de suas propriedades eletrônicas e estruturais sejam de interesse teórico eexperimental[3].
O método “DFT Density Functional Theory” tem sido o mais utilizado para o estudo de materiais, e o que apresenta um melhor custo benefício[4]. No entanto, para os materias citados anteriormente, DFT não é confiável devido a pequena diferenças de energia entre diferentes estruturas, e a forte dependência do tipo do funcional e do tamanho do cluster. O método Monte Carlo Quântico (MCQ) é o de melhor precisão numérica para resolver sistemas de tamanho médio para grande. Tal método tem sido uma ferramenta que vem se desenvolvendo nos últimos anos para o estudo de problemas na matéria condensada, sendo aplicado com sucesso em problemas de física de baixas temperaturas e altas pressões, física de materiais, de superfície e sistemas eletrônicos fortemente correlacionados.
Neste trabalho, consideramos seis “clusters” de hidreto de alumínio, os quais são: Al2H6, Al6H2, Al7H, Al7H3, Al8H4 e Al13H, foram considerados três isômeros para cada “cluster” exceto Al2H6. Usando DFT otimizamos as estruturas de tais “clusters” para obter suas respectivas energias no estado fundamental. Inicialmente, otimizamos as estruturas na forma neutra, catiônica, aniônica e a partir destas calculamos a energia de cada uma das estrutura neutra com um elétron a menos e da estrutura aniônica com carga pneutra, as energias para as duas últimas foram obtidas sem otimização. Para isto utilizamos o pacote GAUSSIAN[5], nos cálculos usamos pseudopontecial para descrever os elétrons do caroço do átomo de tal forma que a interação Coulombica é considerada somente para os elétrons de valência, isto em geral é uma boa aproximação pois os elétrons da camada de valência influenciam fortemente nas características de tais estrutura. O motivo principal de usarmos pseudopotenciais se deve ao fato das estruturas estudadas terem número relativamente grande de elétrons e com o uso de pseudopotencial este número se reduz consideravelmente. Depois de obtido as estruturas otimizadas em DFT, passamos para a segunda parte do trabalho, que consistiu em calcular as energias totais dos “clusters” usando o método Monte Carlos com o pacote CASINO[6]. O cálculo das energias usando MCQ constitue-se em duas etapas, na primeira utilizamos Monte Carlo Variacional e em seguida Monte Carlo por Difusão.
II. Metodologia
Nesta seção, descreveremos brevemente as duas métodologias empregadas neste trabalho: Teoria do Funcional Densidade (DFT) e Monte Carlo Quântico.
Capa Índice 1338
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1338 - 1346
A. Teoria do Funcional Densidade Para analisarmos um sistema, seja ele, um átomo, uma molécula, ou um sólido, precisamos resolver a equação de Schrondinger, que nos fornece através da função de onda Ψ(r ) , todas as informações do sistema. No entanto, alguns sistemas mesmos que resolvidos computacionalmente são inviáveis de se obter as respectivas funções de onda. A ideia do método DFT está em que a mecânica quântica não é mais baseada em funções de ondas mas sim na densidade eltetrônica ρ(r ) , o que simplifica muito os cálculos computacionais devido a mesma ocupar menos
memória que a função de onda Ψ(r ) e sistemas de tamanho moderado a grande podem ser estudados com uma precisão química aceitável e com um custo computacional relativamente pequeno, se comparado a métodos correlacionados tradicionais [1]. De fato, Hohenberg e Kohn provaram que todos os observáveis são unicamente determinadas por ρ(r ) , ou seja, são funcionais da densidade eletrônica [7]. Temos que o Hamiltoniano de um sistema eletrônico molecular, com M núcleos e N elétrons, na aproximação de Born-Oppenheimer em unidades atômicas é dado por
HBO=−∑i
N12
∇i
2−∑A
M
∑i
N Z A
∣R A−r i∣+∑i< j
N
∑j
N1
∣ri−r j∣+∑B< A
M
∑A
M Z AZ B
∣RA−RB∣, (1)
i e j representam elétrons, A e B, representam os núcleos atômicos; r i e RA , as coordenadas, respectivamente, do elétron i e do núcleo A, e ZA o número atômico do átomo A. Nesta mesma equação, o primeiro termo se refere ao operador energia cinética, o segundo termo ao operador potencial externo que pode ser escrito como,
∑i
N
υ(ri) , (2)
o terceiro termo se refere a repulsão elétron elétron, e o quarto à energia de repulsão dos núcleos.A Teoria do Funcional Densidade é formado por dois teoremas, de Hohemberg e Kohn, que
garantem que a densidade eletrônica pode exercer o papel fundamental nesta teoria. Primeiro teorema estabelece que o potencial externo é um funcional único de ρ(r ) além de uma constante aditiva [8]. Com isso temos que a densidade eletrônica define o potencial externo e o número de elétrons, e consequentemente, o Hamiltoniano do sistema. Uma vez determinado o Hamiltoniano podemos calcular a energia do sistema através da equação de Schröndinger,
HBO=EΨ , (3)assim, vemos que a energia de um sistema é determinado pela densidade eletrônica. Podemosrepresentar da seguinte maneira,
E=E υ[ρ] , (4)o índice υ é colocado para explicitar a dependência com o potencial externo υ(r ) .
Já o segundo teorema determina que havendo qualquer aproximação na densidade eletrônica, a energia total do sistema será maior ou igual a energia exata do sistema, desde que esta aproximação ρa(r ) seja maior ou igual a zero e ∫ρa(r )dr=N , ou seja, E[ρa]≥E[ρ]=E0
é a energia exata do sistema. A aproximação da densidade eletrônica ρa(r ) define seu próprio υa(r ) e, consequentemente o Hamiltoniano H a e Ψa(r1,r 2,... , r N) .
Capa Índice 1339
B. Monte Carlo
A simulação por Monte Carlo quântico é a aplicação do Método de Monte Carlo para o cálculo de propriedades quânticas de sistemas atômicos e moleculares com papel fundamental no estudo de sistemas de muitos corpos interagentes na matéria condensada. O três tipos de MCQ são: O Monte Carlo Variacional (MCV), “Diffusion Monte Carlo” (DMC) e “Path Integral Monte Carlo” (PIMC) para lidar com sistemas à temperatura finita. No caso do MCV, de acordo com o teorema do valor médio da mecânica quântica, o valor médio esperado de um Hamiltoniano, Ĥ, de um sistema físico utilizando uma função de onda tentativa pode ser determinado de acordo com a seguinte expressão,
⟨H ⟩=∫Ψ T * (r ) H Ψ T d r
∫Ψ T * (r )ΨT d r
, (7)
aqui ⟨H ⟩ , representa o valor médio da energia do sistema e Ĥ o seu operador correspondente, ΨT a
função de onda tentativa que depende de parâmetros variacionais, das coordenadas r dos elétrons e núcleo do sistema, e dr é o espaço configuracional dos elétrons. Para resolver essa integral multidimensional, utiliza-se o método de Metropolis. No método DMC, a equação de Schroendinger para tempos imaginários é resolvida em duas partes simulando simultâneamente uma equação de difusão e uma equação de taxa, este processo é equivalente a atuação repetida de um operador exp(-Ĥ t) sobre uma distribuição de probabilidades de configurações eletrônicas para a eliminação de estados excitados até obter o estado fundamental exato do sistema.
II. Resultados e Discussões
Determinar a estrutura de “clusters” atômicos tem papel crucial na concordância entre a teoria e o dado experimental. É bem conhecido que isto não é uma tarefa fácil, um vez que o tamanho do cluster e o tipo de átomo tem papel fundamental na sua geometria de equilíbrio. Métodos de otimização local em geral falha na determinação da estrutura destes “clusters” pois normalmente eles são altamente dependentes das condições iniciais. Portanto, uma boa condição inicial é muito importante para que a estrutura correta seja determinada. Neste trabalho, utilizamos como referência para as condições iniciais, na maioria das vezes, dados da literatura[9]. Com essas condições iniciais em mão, utilizamos para a otimização das nossas estruturas o método DFT com o funcional de Perdew and Wang (PW91)[10] tanto para o termo de troca quanto para o de correlação eletrônica, os orbitais foram expandidos em um conjunto de funções base gaussianas 6-311G++(2d,2p), obtidas a partir do banco de bases EMSL basis set exchange.[???] Fizemos a otimização de geometria para os seguintes “clusters” neutro: Al2H6, Al6H2
, Al7H, Al7H3 , Al8H4 e Al13H impondo
a condição para que as energias e forças para cada átomo no sítio fossem convergidas até atingir 0.00001 eV e 0.001 eV/Angstron respectivamente. Uma vez definido os “clusters na estrutura neutra passamos a otimização dos “clusters” carregado. Inicialmente, removemos um elétron do “cluster” neutro e em seguida repetimos o mesmo procedimento de otimização para obter as estruturas otimizadas para os “clusters” catiônico. Em seguida, adicionamos um elétron a estrutura do “cluster” e repetimos o mesmo processo de otimização para a obtenção dos “clusters” aniônico. Para cada um desses “clusters”, exceto o primeiro, selecionamos mais três isômeros de energias bem próximas perfazendo um total de 48 estruturas. As figuras abaixo mostram as estruturas de mais baixa energia para os “clusters” neutro. As esferas azuis representam os átomos de alumínio e as vermelhas os átomos de hidrogênio.
Capa Índice 1340
Figura 1. Estruturas de mais baixa energia para o “cluster” de hidreto de alumínio neutro, obtidas usando DFT. O sobrescrito caracteriza os diferentes isômeros para cada tipo de “cluster”.
Uma vez determinado o conjunto de estruturas (neutra, catiônica e aniônica) de mais baixa energia, podemos a partir de agora calcular algumas quantidades físicas que possam ser verificadas experimentalmente como por exemplo o potencial de ionização (PI), a afinidade eletrônica (AE) e a energia “detachmment” (ED). O acordo teórico e experimental para essas quantidades é uma forma indireta de verificação das estruturas obtidas. O potencial de ionização é definido como sendo a
Capa Índice 1341
diferença em energia correspondente a estrutura do “cluster” catiônico menos a energia do “cluster” neutro, se essas duas estruturas são estruturas otimizadas, ou seja, são estruturas relaxadas chamamo-as de “adiabatic ionization potential” (ADE), se somente a estrutura neutra é relaxada e a catiônica é assumida como sendo a estrutura do “cluster” neutro chamamos está diferença de energia de “vertical ionization potential” (VIP). A afinidade eletrônica é definida como sendo a diferença em energia correspondente a estrutura do “cluster” neutro menos a energia do “cluster” aniônico, novamente se as duas estruturas são estruturas relaxadas chamamos esta diferença em energia de “adiabatic electron affinity” (AEA), se somente a estrutura neutra é relaxada é a anionica assume a estrutura do “cluster” neutro esta diferença é chamada de “vertical electron affinity” (VEA). A energia “detachmment” é definida como sendo a energia correspondente a estrutura neutra menos a energia correspondente a estrutura aniônica se tais estruturas são relaxadas chamamo-as de “adiabatic detachment energy” (ADE), se a estrutura neutra assume a estrutura do “cluster” aniônica chamamos de “vertical detachment energy” (VDE).
A tabela I abaixo apresenta os resultados para as energias totais obtidas usando DFT para o conjunto de estruturas otimizadas bem como para aquelas estruturas que assumem as configurações previamente definidas as quais chamamos de estruturas não relaxadas. Na primeira coluna da tabela temos as estruturas representadas da seguinte forma: como exemplo consideramos AlxxHyy
xxx,yyy, onde temos o subescrito (xx,yy) representando o número de átomos de alumínio e hidrogênio, para o sobrescrito (xxx,yyy) primeiro vem o nome do isômero ( caso a estrutura possua um isômero) e em seguida a carga do “cluster”, sendo “0” para o “cluster” neutro, “-” para o “cluster” aniônico , “+” para o “cluster” catiônico, “+0” para o “cluster” catiônico na estrutura neutra e “0-” para o “cluster” neutro assumindo a estrutura aniônica; segunda coluna energia total em unidades atômicas; terceira, quarta quinta e sexta coluna temos AIP, VIP, ADE e VDE em elétron-volt (eV) respectivamente.
Estrutura Energia (u.a) AIP (ev) VIP (ev) ADE (ev) VDE (ev)
Al2H60 -7.58937702375 -------------- -------------- -------------- --------------
Al2H6+ -7.21862873676 -------------- -------------- -------------- --------------
Al2H6- -7.60848233191 -------------- -------------- -------------- --------------
Al2H6+0 -7.21554437281 -------------- -------------- -------------- --------------
Al2H60- -7.51735298465 -------------- -------------- -------------- --------------
-------------- 10.088542862 10.172472415 0.519880272 2.479748007
Al6H22f,0 -13.2743343389 -------------- -------------- -------------- --------------
Al6H22f,+ -13.0224298143 -------------- -------------- -------------- --------------
Al6H22f, - -13.3434484596 -------------- -------------- -------------- --------------
Al6H22f,+0 -13.0178353130 -------------- -------------- -------------- --------------
Al6H22f,0- -13.2641333673 -------------- -------------- -------------- --------------
-------------- 6.854649591 6.979671943 1.880685072 2.158266771
Al6H22fo,0 -13.2721493938 -------------- -------------- -------------- --------------
Al6H22fo,+ -13.0196288138 -------------- -------------- -------------- --------------
Al6H22fo, - -13.3357648999 -------------- -------------- -------------- --------------
Al6H22fo,+0 -13.0164266975 -------------- -------------- -------------- --------------
Capa Índice 1342
Al6H22fo,0- -13.2677564988 -------------- -------------- -------------- --------------
-------------- 6.871413259 6.958547006 1.731060622 1.850597005
Al6H22o,0 -13.2552109398 -------------- -------------- -------------- --------------
Al6H22o,+ -13.0098414382 -------------- -------------- -------------- --------------
Al6H22o, - -13.3532513317 -------------- -------------- -------------- --------------
Al6H22o,+0 -13.0006035560 -------------- -------------- -------------- --------------
Al6H22o,0- -13.2472209086 -------------- -------------- -------------- --------------
-------------- 6.676823119 6.928197903 2.667806516 2.885225652
Al7H1b,0 -14.7040724097 -------------- -------------- -------------- --------------
Al7H1b, + -14.4702947791 -------------- -------------- -------------- --------------
Al7H1b, - -14.7789165273 -------------- -------------- -------------- --------------
Al7H1b ,+0 -14.4570079089 -------------- -------------- -------------- --------------
Al7H1b, 0- -14.6989242732 -------------- -------------- -------------- --------------
-------------- 6.382129315 6.744860872 2.036605737 2.176693224
Al7H1o, 0 -14.7357329423 -------------- -------------- -------------- --------------
Al7H1o, + -14.4818708553 -------------- -------------- -------------- --------------
Al7H1o, - -14.8072119695 -------------- -------------- -------------- --------------
Al7H1o+0 -14.4765205899 -------------- -------------- -------------- --------------
Al7H1o, 0- -14.7258774936 -------------- -------------- -------------- --------------
-------------- 6.882962765 7.053505085 1.945037253 2.213216824
Al7H32o1b,0 -15.9270293240 -------------- -------------- -------------- --------------
Al7H32o1b,+ -15.6734102006 -------------- -------------- -------------- --------------
Al7H32o1b, - -15.9989518445 -------------- -------------- -------------- --------------
Al7H32o1b,+0 -15.6658940636 -------------- -------------- -------------- --------------
Al7H32o1b,0- -15.9175228183 -------------- -------------- -------------- --------------
-------------- 6.901306053 7.105829911 1.957105282 2.21578966
Al7H32o1f,0 -15.9181842969 -------------- -------------- -------------- --------------
Al7H32o1f,+ -15.6716667743 -------------- -------------- -------------- --------------
Al7H32o1f, - -15.9964281814 -------------- -------------- -------------- --------------
Al7H32o1f,+0 -15.6647810760 -------------- -------------- -------------- --------------
Al7H32o1f,0- -15.9073936354 -------------- -------------- -------------- --------------
-------------- 6.708062263 6.895431065 2.129117814 2.422745742
Al7H33o,0 -15.9251461159 -------------- -------------- -------------- --------------
Al7H33o,+ -15.6666168326 -------------- -------------- -------------- --------------
Al7H33o,- -16.0023196827 -------------- -------------- -------------- --------------
Al7H33o,+0 -15.6618844432 -------------- -------------- -------------- --------------
Capa Índice 1343
Al7H33o,0- -15.9161403749 -------------- ------------- -------------- -------------
-------------- 7.034917887 7.163692355 2.099993079 2.345050998
Al8H43o1b,0 -18.5675839391 -------------- -------------- -------------- --------------
Al8H43o1b,+ -18.3141188584 -------------- -------------- -------------- --------------
Al8H43o1b,- -18.6477203177 -------------- -------------- -------------- --------------
Al8H43o1b,+0 -18.3094127968 -------------- -------------- -------------- --------------
Al8H43o1b,0- -18.5577868344 -------------- -------------- -------------- --------------
-------------- 6.89711435 7.025172405 2.180615039 2.447206995
Al8H44o,0 -18.5772911084 -------------- -------------- -------------- --------------
Al8H44o,+ -18.3312186257 -------------- -------------- -------------- --------------
Al8H44o,- -18.6542599414 -------------- -------------- -------------- --------------
Al8H44o,+0 -18.3290317649 -------------- -------------- -------------- --------------
Al8H44o,0- -18.5772922553 -------------- -------------- -------------- --------------
-------------- 6.695952149 6.755459474 2.094422006 2.094390797
Al8H44ob,0 -18.5564316944 -------------- -------------- -------------- --------------
Al8H44ob,+ -18.3084010561 -------------- -------------- -------------- --------------
Al8H44ob,- -18.6542952483 -------------- -------------- -------------- --------------
Al8H44ob,+0 -18.3045617736 -------------- -------------- -------------- --------------
Al8H44ob,0- -18.5664173929 -------------- -------------- -------------- --------------
-------------- 6.749236108 6.853707976 2.662994524 2.391270686
Al13Hbridge,0 -27.0057377495 -------------- -------------- -------------- --------------
Al13Hbridge,+ -26.7618373571 -------------- -------------- -------------- --------------
Al13Hbridge ,- -27.0816192987 -------------- -------------- -------------- --------------
Al13Hbridge, +0 -26.7559331277 -------------- -------------- -------------- --------------
Al13Hbridge ,0- -26.9964425031 -------------- -------------- -------------- --------------
-------------- 6.636846748 6.797508505 2.0648356 2.317771338
Al13Hhollow,0 -27.0061123781 -------------- -------------- -------------- --------------
Al13Hhollow,+ -26.7577667546 -------------- -------------- -------------- --------------
Al13Hhollow,- -27.0814157368 -------------- -------------- -------------- --------------
Al13Hhollow,+0 -26.7521606604 -------------- -------------- -------------- --------------
Al13Hhollow,0- -26.9969380554 -------------- -------------- -------------- --------------
-------------- 6.757807265 6.910356376 2.049102285 2.298747532
Al13Htop, 0 -26.9973498230 -------------- -------------- -------------- --------------
Al13Htop, + -26.7545486941 -------------- -------------- -------------- --------------
Al13Htop, - -27.1040037584 -------------- -------------- -------------- --------------
Al13Htop, +0 -26.7477531576 -------------- -------------- -------------- --------------
Capa Índice 1344
Al13Htop, 0- -26.9851860594 -------------- -------------- -------------- --------------
-------------- 6.606934359 6.791849741 2.902192232 3.233184053 Tabela I. Energia total em a.u., AIP , VIP, ADE e VDE em (eV) para diferentes “clusters” de hidreto de alumínio.
Analisando a Tabela I acima fica claro porque estes “clusters” são chamados de “Magic Clusters” , todas as estruturas estudadas sem exceção são caracterizadas por um alto potencial de ionização VIP e baixa eletroafinidade ADE. Dentre estes “clusters” o que apresenta a maior diferença entre potencial de ionização e eletroafinidade foi o Al2H6. A geometria do Al2H6 é estabilizada pela ponte de átomos de hidrogênio, porém quando adicionamos um elétron há a ruptura desta ponte causando alterações consideraveis na geometria deste sistema e isto leva a uma diferença de aproximadamente 2 eV entre o VDE e ADE que é a maior observada para todos os “clusters” estudados até o momento. Todos os “clusters” apresentados na tabela acima tem característica particulares que merecem ser discutidas com mais detalhe. Faremos isto quando obtivermos tais energias usando DMC onde o tratamento da correlação eletrônica é o mais apropriado e confiável.
IV. Conclusões.
Neste trabalho apresentamos a energia total para alguns “clusters” de hidretos de alumínio utilizando o método DFT, tais estruturas possuem características especias que as definem como “ Magic Cluster”. Das diferenças de energia total para as diferentes estruturas como neutras, aniônicas e catiônicas obtemos as quantidades AIP, VIP , ADE e VDE as quais podem ser verificadas experimentalmente. Vale ressaltar que os resultados apresentados neste relatório se referem apenas ao método DFT, de tal forma que isto não nos permite fazer um análise apropriada da contribuição da correlação eletrônica uma vez que neste método a correlação entre os elétrons é tratada de forma não controlada. Monte Carlo Quântico é o método ideal para obter com precisão os efeitos da correlação eletrônica, porém não tivemos tempo hábil para finalização dos cálculos. Extraímos o orbital a partir dos cálculos DFT para a utilização na função de onda tentativa da simulação VMC. No momento já foram feitas o otimização dos parâmetros variacionais para a função de onda tentativa. Estamos agora realizando simulações VMC para as médias estatítisticas e o próximo passo será a simulação DMC.
Os resultados para as energias VIP e ADE concordam com os resultados téoricos e experimentais da literatura[9], porém uma análise com maior profundidade para os efeitos da correlação eletrônica neste sistema ainda carece dos resultados de DMC.
V. Bibliografia.
[1]W. D. Knight, Clemenger, W. De Heer, M.Y Chou and M. Cohem, Phys. Rev. Lett. 52, 2131 (1984).[2]H. W. Kroto, J. R. Heath, R. E. Smalley, Nature 31, 162 (1985).[3]S. N. Khanna and A. W. Castelman "Quantum Phenomena in clusters and Nanostructure", Springer-Verlag (2003).[4]C. M. Chang and M. Y. Chou, Phys. Rev. Lett. 93, 133401 (2004).[5]M. J. Frisch {it et al.}, Gaussian 03, Revision C.02, Gaussian, Inc., Wallingford CT,(2004).[6]R. J. Needs, M. D. Towler, N. D. Drummond and P. Lopez, J. Phys. Condensed Matter{22}, 023201 (2010).[7]Teoria do Funcional da Densidade, Hélio Anderson Duarte, Willian Ricardo Rocha. Métodos de
Capa Índice 1345
Química Teórica e Modelagem Molecular.[8] O que é e para que serve a Teoria dos Funcionais da Densidade, Miguel A. L. Marques, Silvana Botti.[9] B.Kiran, P. Jena, X. Li, A. Grubisic, S. T. Stokes, G.F. Ganteför, K.H. Bowen, R. Burgert and H. Schnöckel, Phys. Rev. Lett. 98, 256802 (2007).[10] J. P. Perdew and Y. Wang, Phys. Rev. B 46, 13244 (1992).
Capa Índice 1346
Utilização do Fosfogesso em Pavimentação
Emilly Dias da Silva¹, Lilian Ribeiro de Rezende2
Escola de Engenharia Civil, Universidade Federal de Goiás
[email protected]; 2 [email protected]
PALAVRAS-CHAVE: Resíduo sólido. Ensaios de laboratório. Pavimento asfáltico.
1 INTRODUÇÃO
O cascalho laterítico tem sido, atualmente, o material mais utilizado nas
construções de base e sub-base de pavimentos em diversas regiões centrais do Brasil. A
dificuldade de encontrar áreas de empréstimo próximas das obras, em particular nos
grandes centros urbanos, tem tornado esse material economicamente inviável. Além
disso, muitas vezes os órgãos ambientais não permitem a exploração de suas jazidas
ainda existentes.
O estado de Goiás e seus municípios apresentam carências de estradas e vias
urbanas pavimentadas. Vários bairros ainda apresentam ruas de terra e cerca de 80% das
estradas ainda não foram revestidas. Além disso, as vias já existentes apresentam
degradação precoce, que pode estar ocorrendo devido aos tipos de materiais utilizados,
problemas de execução e excesso de carga. Assim, entende-se que muitos pavimentos
ainda terão que ser executados ou refeitos.
Surge, assim, a necessidade do estudo de outros materiais que sejam técnica e
economicamente viáveis e, além disso, que tenham o mínimo impacto ambiental
possível. Como primeira opção, existem os solos tropicais encontrados na própria obra.
Quando estes não atendem as especificações necessárias para a pavimentação, podem
ser granulometricamente ou quimicamente estabilizados para serem utilizados.
No entanto, o reaproveitamento de resíduos sólidos que tenham propriedades
adequadas surge como uma solução que é economicamente viável e gera um ganho
ambiental para a região, pois reutiliza resíduos de indústrias que não teriam mais
finalidades e economiza materiais escassos da região.
Seguindo essa linha, existe a indústria de transformação da rocha fosfática para
obter o ácido fosfórico utilizado na produção de fertilizante, sendo que o subproduto
originado dessa transformação química é chamado de fosfogesso (METOGO, 2011).
Capa Índice 1347
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1347 - 1361
Como denominação de seu nome, “fosfo” indica sua origem industrial, e “gesso” o seu
componente predominante, pois esse subproduto é sulfato de cálcio (CaSO4) e, portanto,
apresenta a mesma composição que o gesso natural (METOGO, 2011).
O fosfogesso (CaSO4.2nH2O) é o subproduto da reação de ataque da rocha
fosfática pelo ácido sulfúrico durante o processo de fabricação do ácido fosfórico por
via úmida. Esse resíduo pode existir sob três formas, dependendo do valor do número n
de moléculas de água presentes nos cristais de fosfogesso (PARREIRA; KOBAYASHI;
SILVESTRE JR., 2003).
De acordo com Metogo (2011), o fosfogesso encontrado no Brasil é estocado de
duas formas: em enormes pilhas que ficam a céu aberto ou em lagoas de deposição,
ambas ocupando um espaço físico considerável, o que pode ser um problema ambiental
e para a expansão das indústrias produtoras de fertilizantes fosfáticos.
Com relação à unidade produtora do estado de Goiás, somente no ano de 2009
foram gerados 680 mil toneladas de fosfogesso. Esta geração de resíduo, em relação ao
ano de 2003, representou um aumento de quase 60%, o que se pode concluir que este
elevado acúmulo de resíduos pode trazer uma série de danos ambientais entre outros
(METOGO, 2011).
Pesquisas com o fosfogesso foram e continuam sendo realizadas para analisar a
viabilidade ambiental e técnica da utilização do fosfogesso e misturas contendo esse
resíduo em pavimentação. Na Universidade Federal de Goiás (UFG), as principais
pesquisas sobre o fosfogesso foram realizadas por Mesquita (2007), Rufo (2009) e
Metogo (2010).
Mesquita (2007) estudou a incorporação do fosfogesso nos solos finos locais do
estado de Goiás. Através de ensaios de laboratório, tinha como objetivo determinar as
propriedades geotécnicas e avaliar a viabilidade ambiental por meio dos riscos de
contaminação das misturas. Além disso, pretendia determinar a mistura que ofereceria o
melhor comportamento mecânico para o uso em pavimentação. Suas principais
conclusões foram que o fosfogesso misturado a solos finos regionais pode ser utilizado
na construção de aterros, camadas de reforço do subleito e até sub-base de pavimentos.
Não é interessante a incorporação de elevados teores de fosfogesso na mistura, sendo
recomendado trabalhar com teores inferiores a 30% devido apenas à questão de
resistência mecânica.
Rufo (2009) realizou uma pesquisa para analisar o comportamento de outras
misturas de fosfogesso, solo tropical e cal hidratada através de ensaios de laboratório
Capa Índice 1348
com o objetivo de obter misturas com melhor desempenho mecânico. Realizou-se um
estudo comparativo de misturas solo-cal confeccionadas com diferentes solos tropicais
regionais (solos de Catalão-GO, Goiânia-GO e Brasília-DF). Notou que estabilização
química de um solo tropical encontrado na região com o fosfogesso ou com a cal
hidratada apresenta potencial de aplicação principalmente em sub-bases de pavimentos
asfálticos. Alguns resultados obtidos não foram muito promissores devido à existência
de elevados valores de expansão devido à formação do mineral etringita, inviabilizando
a utilização da mistura com solo, fosfogesso e cal em camadas de pavimentos. Mesmo
assim, é importante ressaltar que dependendo do tipo de solo utilizado, esta situação
pode mudar e serem obtidos valores de expansão considerados aceitáveis.
Metogo (2010) realizou ensaios de laboratório e acompanhou a execução de uma
pista de pavimento experimental no município de Aparecida de Goiânia-GO. Observou
o comportamento mecânico em campo das misturas que apresentaram os melhores
resultados em laboratório. As características estruturais iniciais da pista foram
analisadas por meio da realização de ensaios de campo. Com os resultados obtidos pelos
ensaios de laboratório realizados, o autor concluiu que o aumento da plasticidade na
mistura solo-fosfogesso assim como a expansão da mistura solo-fosfogesso-cal podem
prejudicar a utilização desses materiais em pavimentação. Nas análises de resistência
(California Bearing Ratio - CBR, compressão simples e módulo de resiliência), a
mistura solo-fosfogesso-cal apresentou o melhor desempenho mecânico. Assim, apesar
dessa mistura ter apresentado esse bom desempenho mecânico em laboratório, sua
característica de expansão deve ser melhor avaliada. Devem ser estudados
procedimentos para limitar essa ocorrência.
Neste trabalho, essa possibilidade de reaproveitamento de resíduos da indústria
fosfática para aplicação em pavimentação foi estudada. Para tanto, misturas de
fosfogesso, cal, cimento e solo tiveram suas características e propriedades avaliadas em
laboratório para verificar suas possibilidades de utilização como materiais de base e
sub-base para pavimentos..
2 OBJETIVOS
Esta pesquisa tem como principal objetivo estudar a utilização de fosfogesso em
obras de pavimentação. Como objetivos específicos pretende-se:
Capa Índice 1349
Continuar o trabalho de iniciação científica desenvolvido por Curado (2011),
realizando ensaios de laboratório direcionados a área de pavimentação;
Tratar o fosfogesso para tentar evitar o aparecimento de expansão quando
misturado solos e aglomerantes hidráulicos;
Estudar o comportamento de misturas do fosfogesso tratado com cal, cimento e
solo tropical.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
O fosfogesso utilizado na pesquisa foi recolhido na Indústria Anglo American,
próximo à cidade de Catalão, em Goiás, e trazido para o Laboratório de Mecânica dos
Solos do Instituto Federal de Goiás (IFG), em Goiânia.
Inicialmente, foi realizado o tratamento do fosfogesso por meio do processo de
lavagem com álcool metílico PA (para análise), onde se utilizou uma câmara a vácuo
para auxiliar no processo de secagem durante a lavagem, já que o material é muito fino.
A Figura 1 mostra os equipamentos utilizados para a lavagem do material. Esse
procedimento é bem simples e consiste no encharcamento das partículas de fosfogesso
em álcool metílico, para eliminar suas impurezas. Depois disso ele deve passar por
processo de secagem, onde a câmara a vácuo puxa o álcool e as impurezas. A lavagem
foi realizada com o objetivo de testar se o álcool metílico reduz a expansibilidade do
fosfogesso, prejudicial para construções de pavimentos.
Para realizar esse processo deve-se, inicialmente, separar uma amostra do
fosfogesso e colocá-la sofre o papel filtro em um recipiente que possua orifícios
inferiores, para permitir a saída do álcool, como um funil de porcelana, ou um cadinho
como mostra a Figura 1. Para que a amostra seque rapidamente, deve-se conectar a parte
inferior do recipiente utilizado a uma bomba a vácuo. Esta bomba irá retirar a maior
parte dos líquidos que são colocados na amostra pelos orifícios inferiores do recipiente.
Por fim, deve-se colocar o álcool metílico em toda a amostra até que esta
apresente-se com cor mais clara. Após a lavagem com o álcool metílico pode-se utilizar
acetona comercial e filtrar sob ação do vácuo da mesma forma, para que a amostra
seque mais rápido.
Capa Índice 1350
Figura 1. Disposição dos materiais para lavagem do fosfogesso.
Após esse tratamento, o fosfogesso foi disposto em bandejas para que ocorresse
a secagem ao ar livre por pelo menos uma semana, antes da realização dos ensaios. O
solo utilizado nesta pesquisa foi o solo do entorno da região de Goiânia, o mesmo
utilizado por Curado (2011) e Metogo (2010). Este solo foi retirado próximo ao trecho
experimental construído dentro do programa de pavimentação de vias urbanas iniciado
pela prefeitura de Aparecida de Goiânia-GO. A pista está localizada na Avenida
Brasília, Setor Vila Brasília.
Assim como a pesquisa de Curado (2011), foi estudada a incorporação de cal e
cimento nas misturas desta pesquisa com o objetivo de avaliar o ganho de resistência
dos materiais. A cal hidratada utilizada na pesquisa foi tipo CH-III. O cimento utilizado
foi do tipo Portland CPII Z-32RS, o mais encontrado no mercado da cidade de Goiânia.
Seguindo a linha de pesquisas realizadas por Curado (2011) e Metogo (2010), as
amostras deste trabalho foram escolhidas em diferentes proporções de solo, fosfogesso,
cal e cimento para que pudesse comparar os resultados com trabalhos anteriores. As
porcentagens de cada material presentes em cada mistura são:
• Mistura A: Fosfogesso (91%) + cal calcítica CH-III (9%);
• Mistura B: Fosfogesso (11%) + solo fino estudado por Metogo (2010) (80%) + cal
calcítica CH-III (9%);
• Mistura C: Fosfogesso (91%) + cimento CP II Z-32 RS (9%);
• Mistura D: Fosfogesso (11%) + solo fino estudado por Metogo (2010) (80%) +
cimento CP II Z-32 RS (9%).
Capa Índice 1351
Para cada amostra apresentada, foram realizados os ensaios de:
• Análise granulométrica NBR 7181 (ABNT, 1984a) com o uso do defloculante;
• Limites de Liquidez NBR 6459 (ABNT, 1984b);
• Limite de Plasticidade NBR 7180 (ABNT, 1984c);
• Ensaio de compactação NBR 7182 (ABNT, 1986) na energia Proctor intermediário;
• Expansão e Índice de Suporte Califórnia (ISC) conforme NBR 9895 (ABNT, 1987);
• Compressão sem cura e com cura de 7 e 28 dias conforme NBR 12770 (ABNT,
1992).
Com os dados obtidos a partir dos ensaios de caracterização (granulometria e
limites), os materiais foram classificados conforme o Sistema Unificado de
Classificação de Solos (SUCS) e a Transportation Research Board (TRB). A partir dos
resultados dos ensaios mecânicos, foi verificada a melhoria ou não da expansão e
escolhidas as misturas que apresentaram melhores características para serem aplicadas
em pavimentação.
Este trabalho realizou a moldagem dos corpos de prova de forma estática para
realização do ensaio de compressão simples. Com os parâmetros de umidade ótima e
peso específico seco máximo, os corpos de prova foram confeccionados por meio de
compactação por pressão fixando-se previamente o grau de compactação a ser atingido.
O material foi colocado no molde em 4 camadas e em cada uma aplicou-se uma carga
estática, por intermédio de uma prensa durante um certo tempo. A massa de material foi
previamente calculada para que a operação fosse finalizada quando o corpo de prova
atingisse a altura efetiva necessária. Desta forma foi possível atingir a massa específica
aparente desejada. Já Curado (2011) realizou a moldagem de corpos de prova de forma
dinâmica. Desta forma, a quantidade de solo é colocada em camadas conforme energia
especificada tomando-se o cuidado de escarificar a face superior da camada
compactada, antes de lançar a próxima, para promover a aderência entre ambas.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Ensaios de caracterização
Para determinar a granulometria de cada amostra obtida foram realizados
ensaios de peneiramento e sedimentação com o uso de defloculante. A Figura 2
Capa Índice 1352
apresenta o ensaio com defloculante sendo realizado nas Misturas A (fosfogesso e cal) e
B (solo, fosfogesso e cal). Nota-se a discrepância para o mesmo ensaio realizado com as
duas amostras, sendo que quando existe a mistura apenas do fosfogesso e da cal (Figura
2b), observa-se a sedimentação total das partículas, ficando a fase água totalmente livre
de qualquer material. Quando existe solo na mistura, esse fato não acontece (Figura 2a).
A Tabela 1 mostra as porcentagens de cada tipo de solo encontrado nas amostras
estudadas, para os casos do fosfogesso tratado e não tratado.
Figura 2. Ensaio de sedimentação com defloculate: (a) para a amostra de solo, fosfogesso e cal; (b) amostra de fosfogesso e cal.
Tabela 1. Frações granulométricas das amostras analisadas
Propriedade Mistura A Mistura B Mistura C Mistura D
Não tratado* Tratado
Não Tratado* Tratado
Não Tratado* Tratado
Não Tratado* Tratado
Pedregulho (%) 0,00 0,00 0,14 0,00 0,00 0,00 0,07 0,00 Areia (%) 11,21 29,71 52,69 64,29 13,41 25,72 53,66 59,69 Silte (%) 88,79 68,37 47,17 35,71 86,60 72,33 46,28 39,13
Argila (%) 0,00 1,92 0,00 0,00 0,00 1,95 0,00 1,18 *Curado (2011)
Pode-se observar que para todas as amostras, a maior parte de frações
granulométricas é o silte e a areia. Apenas a Mistura B apresentou pequena parcela de
pedregulho. Nas Misturas A, C e D houve a presença em pequena quantidade de argila,
(a) (b)
Capa Índice 1353
o que não foi constatado nos estudos realizados por Curado (2011) para o fosfogesso
não tratado.
Com esses dados, verifica-se que nas misturas realizadas apenas com o
fosfogesso e o estabilizante químico (cal ou cimento), predomina a granulometria de
fosfogesso, que é de um silte. Já nas misturas executadas com o solo, predomina a
fração areia, que é a granulometria do solo.
Na Figura 3 são apresentados os gráficos de curvas granulométricas obtidas com
uso o defloculante hexametafosfato de sódio. Pode-se perceber que as Misturas B e D,
que contêm grande quantidade de solo, apresentam granulometrias semelhantes e com
maior agregação, gerada pela reações químicas existentes entre os três materiais. Já as
misturas do fosfogesso com cal ou com cimento apresentam granulometria mais fina do
que as demais. Figura 3. Curvas granulométricas para as quatro amostras.
Neste trabalho e nos trabalhos realizados por Metogo (2010), Rufo (2009),
Mesquita (2007) e Curado (2011), sempre que se foi determinada a umidade de
amostras contendo fosfogesso, o material foi levado para a estufa numa temperatura
105°C, que é o procedimento adotado por norma para solos. Sendo assim, as correções
no valor das umidades em função da temperatura de ensaio foram realizadas com base
nas correlações obtidas por Curado (2011).
A Tabela 2 mostra os resultados de massa específica, limites de liquidez,
plasticidade e índices de plasticidade das amostras estudadas. Nota-se, que os valores
são próximos dos valores encontrados por Curado (2011). Então, esse processo de
0102030405060708090100
0,001 0,01 0,1 1 10 100 Porc
enta
gem
que
pas
sa (%
)
Diâmetro dos Grãos (mm)
Curvas Granulométricas
MistAMistBMistC
Capa Índice 1354
lavagem do fosfogesso não gera alterações significativas nos valores desses parâmetros.
Ressalta-se ainda que quando o fosfogesso é utilizado em grande quantidade, não existe
plasticidade na amostra. De acordo com Curado (2011), o solo apresentava baixo valor
de IP. No entanto, a incorporação dos estabilizantes químicos (cal e cimento) gerou
aumento dessa propriedade. Isto provavelmente ocorreu devido à formação de novos
minerais durante as reações. Em termos de classificação, todas as misturas se
enquadram como solos siltosos. Tabela 2. Massa específica dos grãos e limites de consistência.
Misturas
Propriedades ρ (g/cm³) wL (%) wP (%) IP (%)
Não Tratado* Tratado
Não Tratado* Tratado
Não Tratado* Tratado
Não Tratado* Tratado
A 2,542 2,469 --- --- --- --- NP NP
(F+9%Ca) B
2,902 2,749 31 29,4 24,5 22,1 6,5 7,3 (11%F+S+9%Ca)
C 2,461 2,482 --- --- --- --- NP NP
(F+9%Ci) D
2,733 2,660 32,4 34,4 23,4 23,4 9 11,0 (11%F+S+9%Ci)
Obs.:*Curado (2011), F = fosfogesso, Ca = cal, Ci = cimento, S = solo, = massa específica dos grãos, wL = limite de liquidez, wP = limite de plasticidade, IP = índice de plasticidade.
Tabela 3. Classificações das misturas.
Misturas Classificação
SUCS TRB
Não Tratado* Tratado Não Tratado* Tratado A
ML ML A-4 A-4 (F+9%Ca)
B ML ML A-4 A-4 (11%F+S+9%Ca)
C ML ML A-4 A-4 (F+9%Ci)
D ML ML A-4 A-4 (11%F+S+9%Ci)
Obs.:*Curado (2011), F = fosfogesso, Ca = cal, Ci = cimento, S = solo, SUCS = Sistema Unificado Classificação de Solos, TRB = Transportation Research Board.
Capa Índice 1355
4.2 Ensaios de Compactação, Expansão e California Bearing Ratio (CBR)
Na Tabela 4 estão apresentados parâmetros obtidos nos ensaios de compactação
dos materiais na energia Proctor intermediário. Os corpos-de-prova, após serem
compactados, foram imersos em água durante quatro dias para a realização do ensaio de
expansão e posterior ensaio de CBR. Tabela 4. Valores de umidade ótima e densidade seca máxima.
Misturas Propriedades
wot (%) dmax (kN/m3) Tratado Não Tratado* Tratado Não tratado*
A 22,14 24,4 12,2 13,3 (F+9%Ca)
B 19,38 21,9 14,9 15,6 (11%F+S+9%Ca)
C 26,69 25,6 12,0 13,3 (F+9%Ci)
D 20,85 20,9 15,1 15,7
(11%F+S+9%Ci) Obs.:*Curado (2011), F = fosfogesso, Ca = cal, Ci = cimento, S = solo, wot = umidade ótima, dmax = peso específico aparente seco máximo.
Os gráficos de compactação são apresentados nas Figuras 6 a 9. Comparando-se
com os resultados obtidos por Curado (2011), observa-se pouca variação em relação ao
formato dos gráficos. Para as Misturas A, B e D, a umidade ótima aumentou e para
todas as misturas houve um aumento do peso específico. Figura 6. Curvas de compactação para a Mistura A: (a) com fosfogesso tratado; (b) sem fosfogesso tratado (CURADO, 2011).
10111213141516171819202122232425
18 20 22 24 26 28 30Pes
o es
pecí
fico
apar
ente
sec
o (k
N/m
³)
Umidade (%)
10111213141516171819202122232425
18 20 22 24 26 28 30 32Umidade (%)
Peso
esp
ecífi
co a
pare
nte
seco
(k
N/m
³)
(a)
(b)
Capa Índice 1356
Figura 7. Curvas de compactação para a Mistura B: com fosfogesso tratado; (b) sem fosfogesso tratado (CURADO, 2011).
Figura 8. Curvas de compactação para a Mistura C: com fosfogesso tratado; (b) sem fosfogesso tratado (CURADO, 2011).
Figura 9. Curvas de compactação para a Mistura D: com fosfogesso tratado; (b) sem fosfogesso tratado (CURADO, 2011).
1314151617181920212223
15 16 17 18 19 20 21 22 23
Pes
o es
pecí
fico
apar
ente
se
co (
kN/m
³)
Umidade (%)
1314151617181920212223
19 20 21 22 23 24 25 26 27Umidade (%)
Peso
espe
cífic
o ap
aren
te se
co
(kN
/m³)
10111213141516171819202122232425
19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
Pes
o es
pecí
fico
apar
ente
se
co (
kN/m
³)
Umidade (%)
10111213141516171819202122232425
19 21 23 25 27 29 31 33 35Umidade (%)
Peso
esp
ecífi
co a
pare
nte
seco
(kN
/m³)
1314151617181920212223
16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26
Pes
o es
pecí
fico
apar
ente
se
co (
kN/m
³)
Umidade (%)
1314151617181920212223
17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27Umidade (%)
Peso
esp
ecífi
co a
pare
nte
seco
(kN
/m³)
(a)
(b)
(a)
(b)
(a)
(b)
Capa Índice 1357
A Tabela 5 sintetiza os dados de expansão e CBR obtidos e compara os valores
para as misturas com o fosfogesso tratado e não tratado. Verifica-se que o tratamento do
fosfogesso não evitou o aparecimento da expansão e gerou valores ainda maiores do que
os obtidos por Curado (2011). Em termos de CBR, mesmo sabendo que esse não é o
parâmetro apropriado para avaliação da resistência mecânica de misturas estabilidades
quimicamente, percebe-se que o uso do tratamento reduziu seu valor. A Figura 10
mostra os gráficos de expansão e CBR obtidos para todas as misturas. Tabela 5. Valores de expansão e CBR.
Misturas
Propriedades Expansão(%) CBR(%)
Tratado *Não Tratado Tratado *Não tratado A (F+9%Ca) 1,10 0,30 14 40
B (11%F+S+9%Ca) 1,62 1,21 54 248 C (F+9%Ci) 2,04 1,50 25 135
D (11%F+S+9%Ci) 0,50 0,27 132 500 Obs.:*Curado (2011), F = fosfogesso, Ca = cal, Ci = cimento, S = solo, CBR = California Bearing Ratio
Figura 10. Curvas de expansão e CBR: (a) Mistura A; (b) Mistura B; (c) Mistura C; (d) Mistura D.
00,20,40,60,811,21,41,61,82
0
5
10
15
20
25
15 17 19 21 23 25 27 29 31 33
CBR
Expansão
Umidade (%)
CBR
(%)
Exp
ansã
o (%
)
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
2,5
0
10
20
30
40
50
60
15 17 19 21 23 25 27 29 31 33
Exp
ansã
o (%
)
CB
R (
%)
Umidade (%)
CBR(%)
Expansão(%)
1,8
1,85
1,9
1,95
2
2,05
2,1
2,15
2,2
0
5
10
15
20
25
30
35
15 17 19 21 23 25 27 29 31 33
Exp
ansã
o (%
)
CB
R (
%)
Umidade (%)
CBR (%)
Expansão (%)0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
020406080
100120140160180
15 17 19 21 23 25 27 29 31 33
Exp
ansã
o (%
)
CB
R (
%)
Umidade (%)
CBR (%)
Expansão (%)
(a) (b)
(c) (d)
Capa Índice 1358
4.3 Ensaios de Compressão Simples
Os resultados obtidos no ensaio de compressão simples das misturas estão
apresentados na Tabela 6. Na Figura 11 são apresentadas as curvas medidas durante a
execução dos ensaios. Através da Tabela 6, observa-se que a mistura que apresentou o
maior ganho de resistência em relação aos ensaios realizados por Curado (2011) foi a
Mistura B. Para as Misturas A e C, que são aquelas que apresentam 91% de fosfogesso
e não têm solo, houve diminuição da resistência à compressão para o caso de misturas
com fosfogesso tratado em todas as idades de ruptura. Essa redução foi mais
significativa quando o cimento foi utilizado. Já para as misturas com a presença de solo,
ao final dos 28 dias, os valores de resistência aumentaram com o uso do tratamento do
fosfogesso.
Figura 12. Curvas de Compressão Simples: (a) Mistura A; (b) Mistura B; (c) Mistura C; (d) Mistura D.
50100150200250300350400450500550600
0 1 2 3 4 5
RC (
KPa)
ε ( %)
Sem cura
7 dias
28 dias
50250450650850
1050125014501650185020502250245026502850
0 1 2 3 4 5
RC (
KPa)
ε ( %)
Sem cura
7 dias
28 dias
50100150200250300350400450500550600
0 1 2 3 4 5
RC (
KPa)
ε ( %)
Sem cura
7 dias
28 dias
50550
1050155020502550305035504050455050505550
0 1 2 3 4 5 6 7
RC (
KPa)
ε ( %)
Sem cura
7 dias
28 dias
(a) (b)
(c) (d)
Capa Índice 1359
Tabela 6. Valores de resistência a compressão simples.
Misturas Pressão de ruptura (kPa)
Sem cura 7 dias 28 dias Tratado *Não tratado Tratado *Não tratado Tratado *Não tratado
A (F+9%Ca) 207 312 213 397 388 395
B (11%F+S+9%Ca) 546 532 1650 854 2825 1563 C (F+9%Ci) 153 328 277 1588 595 2075
D (11%F+S+9%Ci) 326 613 1985 2533 5354 3222 Obs.:*Curado (2011), F = fosfogesso, Ca = cal, Ci = cimento, S = solo.
5 CONCLUSÕES
Os ensaios de caracterização do solo mostraram que as misturas realizadas
apenas com o fosfogesso e o estabilizante químico (cal ou cimento), predomina a
granulometria de fosfogesso, que é de um silte. Nas outras misturas executadas, que
possuem solo, predomina a fração areia, que é a granulometria do solo.
Percebe-se que o processo de lavagem do fosfogesso não gera alterações
significativas nos valores de massa específica, limites de liquidez, plasticidade e índices
de plasticidade das amostras estudadas. Ressalta-se ainda que quando o fosfogesso é
utilizado em grande quantidade, não existe plasticidade na amostra.
O tratamento do fosfogesso não evitou o aparecimento da expansão e gerou
valores ainda maiores do que os obtidos por Curado (2011). Todos os resultados
indicaram um aumento da expansão das misturas. Em termos de CBR, percebe-se que o
uso do tratamento reduziu seu valor.
No ensaio de compressão simples, houve diferenças significativas na resistência
das misturas. Essas diferenças obtidas podem estar relacionadas com o processo de
moldagem, que foi diferente daquele realizado por Curado (2011), ou com o uso do
fosfogesso tratado. Verificou-se que para as misturas com a presença de solo, ao final
dos 28 dias, os valores de resistência aumentaram com o uso do tratamento do
fosfogesso.
Por fim, constata-se que o processo de tratamento realizado no fosfogesso neste
trabalho, além de ser oneroso e moroso, não resolveu as questões mecânicas necessárias
para viabilizar a utilização do fosfogesso em misturas que podem apresentar problemas
de expansão.
Capa Índice 1360
REFERÊNCIAS
ABNT. Solo – Análise Granulométrica – NBR – 7181. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, RJ, 13p, 1984a. ABNT. Solo – Determinação do limite de liquidez – NBR – 6459. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, RJ, 6p, 1984b.
ABNT. Limite de plasticidade – NBR – 7180. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, RJ, 3p, 1984c.
ABNT. Ensaio de compactação – NBR – 7182. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, RJ, 10p, 1986.
ABNT. Índice de Suporte Califórnia – NBR – 9895. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, RJ, 1986.
ABNT. Solo coesivo - Determinação da resistência à compressão não confinada - NBR 12770. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, RJ, 4p, 1992. CURADO, T. S, Ensaios laboratoriais com fosfogesso para fins de pavimentação. Relatório de Iniciação Científica. Escola de Engenharia Civil, Universidade Federal de Goiás, 2011. MESQUITA, G.M. Aplicação de misturas de fosfogesso e solos tropicais finos na pavimentação. Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Goiás, Escola de Engenharia Civil, Programa de Pós-Graduação em Engenharia do Meio Ambiente. Goiânia, 2007, 144p. METOGO, D.A. Construção e Avaliação de um Trecho Experimental de Pavimento Flexível Executado com Misturas de Solo Tropical, Fosfogesso e Cal. Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Goiás, Escola de Engenharia Civil, Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, Mecânica Estrutural e Construção Civil, 2010, 195p. PARREIRA, A.B.; KOBAYASHI, A.R.K.; SILVESTRE JR, O.B., Influence of Portland cement type on unconfined compressive strength and linear expansion of cement-stabilized phosphogypsum, Journal of Environmental Engineering, v129, p.956-960, 2003. RUFO, R. C. Estudo laboratorial de misturas de fosfogesso, solo tropical e cal para fins de pavimentação. Dissertação de mestrado. Escola de Engenharia Civil, Universidade Federal de Goiás, 2009, 152p.
Revisado pelo orientador.
Capa Índice 1361
Identidades e Festejo: representações do Riso em Metamorfoses, de
Lúcio Apuleio. Orientando: Erick Messias Costa Otto Gomes, Orientadora: Luciane Munhoz de
Omena
[email protected], [email protected]
Faculdade de História: Universidade Federal de Goiás, 74001-970, Brasil PALAVRAS-CHAVE: Festa, Identidade, Império Romano, Poder.
1 INTRODUÇÃO
A festa é uma produção social, um espaço para construção identitária de uma dada
comunidade. Nela os valores sociais são emitidos, apreendidos e ressignificados pelos seus
participantes. É um momento de ruptura com o cotidiano, no qual o tempo é ressignificado,
rememora-se a tradição, haja vista que “as festas antigas traçam perspectivas que apontam o
passado e o futuro de uma coletividade. Por elas, a comunidade reunia o que ocorria no
presente, relembrava o passado e indicava metas para o futuro” (GONÇALVES, 2005, p. 02).
Nesse sentido, a festa é memória, é tradição. Do mesmo modo, o evento festivo, na
Antiguidade, possuía uma dimensão claramente religiosa, ritualística. E é esse aspecto que se
torna claro quando analisamos a representação apuleiana da festa ao deus Riso, pois, sendo o
personagem Lúcio um forasteiro, descobre ao final ter participado de uma festa religiosa
dedicada ao deus (OMENA, 2009, p. 9).
Essa festa é representada na obra de Apuleio, O Asno de Ouro ou Metamorfoses, a
qual narra às aventuras do jovem Lúcio que viaja à Hípata a negócios e hospeda-se na casa do
avarento Milão (Livro I, XXII). O jovem fica fascinado pela cidade, sobretudo por esta ser
conhecida como uma região em que a magia é uma prática comum, a qual desperta a
curiosidade do protagonista. Nessa cidade, conhece sua tia Birrena, que o convida a visitar
sua faustosa casa, com seu “átrio belíssimo” (Apuleio, O Asno de Ouro, II, IV). Alguns dias
depois, Lúcio é convidado a participar de um banquete na casa dela, e saindo tarde da noite é
surpreendido por três bandidos. Preocupado com sua segurança e com a de seu hospedeiro,
mata-os. Na manhã seguinte, Lúcio é acusado, pelos magistrados da cidade, do assassinato
dos três jovens. É levado ao teatro da cidade para ser julgado, pois o tribunal não era
suficiente para acomodar a multidão ululante, que os acompanhavam (Livro III, II).
Capa Índice 1362
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1362 - 1373
Entretanto, o protagonista nota algo estranho, pois todas as pessoas riam dele. Ao defender-se
da acusação, Lúcio percebia o riso contínuo e, no momento em que lhe é revelado que matara
três odres, e não os jovens, a multidão finalmente explode em risos. (Apuleio, O Asno de
Ouro, III, IX-X). Ao final, o protagonista compreende que participou de uma brincadeira em
homenagem ao deus do Riso.
Lúcio é escolhido por dois motivos para ser o protagonista da festa: em primeiro
lugar por ser um forasteiro, assim não reconheceria o gracejo da festa; e, em segundo, por
pertencer ao grupo de notáveis, engrandeceria o momento festivo com sua dignidade
(OMENA, 2009, p. 9). Esse elemento é essencial à nossa compreensão, pois a comemoração
festiva, compreendida como uma forma de comunicação (BURKE, 2002, p, 27), transmite
uma mensagem aos seus participantes em que é exaltado o mos maiorum romano por meio da
representação de Lúcio. É nessa festa em que se cunha uma identidade citadina, a qual
mantém uma relação com os poderes imperiais de Roma, mas sem deixar de lado as
características locais próprias à Hípata.
2 OBJETIVOS
A identidade, enquanto construção social que se insere na memória da
comunidade através da festividade em homenagem ao deus do Riso, é a temática que foi
trabalhada no decorrer de nossa pesquisa. Dessa forma, nosso objetivo central foi o de
compreender a importância do festejo para a constituição identitária da sociedade de Hípata.
Entende-se por identidade a fonte de significado e experiência de um povo (CASTELLS,
2006, p. 22), ou seja, ela é responsável pela orientação do eu no mundo, pela criação de um
sentimento de pertencimento em relação ao todo comunitário. Além disso, a identidade é
relacional, isto é, precisa do outro para ser construída, necessita da diferença, da alteridade,
para se estabelecer. A identidade é sempre construída, e a questão principal, na verdade, diz
respeito a como, a partir de quê, por quem e para quê isso acontece (CASTELLS, 2006, p.
23), e estas são algumas questões que vamos responder ao longo de nossa pesquisa. Ao
objetivo central, associaram-se alguns objetivos específicos1, em que compreendemos:
A importância da memória coletiva e da representação na constituição identitária;
Porque a festa, enquanto ritual, representa um “eterno retorno” ao momento
1 Os objetivos da pesquisa são aqui apenas apresentados, pois serão detalhadamente desenvolvidos no tópico 4 “DISCUSSÃO/RESULTADOS”.
Capa Índice 1363
fundador da cidade e como tal representação implica na construção identitária;
Quais os valores que os promotores da festa querem transmitir, como a emissão
desses valores contribuem na formação identitária e porque a figura de Lúcio é
importante para essa finalidade.
Que Hípata não se configura apenas como uma extensão do poder e da cultura de
Roma, mas como uma cidade cuja elite local negocia/relaciona com a dominação
romana e, dessa forma, constrói identidades próprias.
3 METODOLOGIA
A História se faz com documento-monumento (LE GOFF, 2003) e, seja qual for
sua natureza, ele é essencial na pesquisa histórica. É nesse sentido que damos primordial
importância à nossa fonte, que é uma narrativa literária de representação realista (MOTTA,
1998). Como nos informa Pesavento (2004, p. 22) a literatura nos possibilita um acesso
especial ao imaginário. Este é aqui percebido como um conjunto de produções, mentais ou
materializadas em obras, com base em imagens visuais e linguísticas, formando conjuntos
coerentes e dinâmicos, referentes a uma função simbólica no sentido de um ajuste de sentidos
próprios e figurados (WUNENBURGER, 2007, p. 11). Assim como é apresentado no
discurso apuleiano, o festejo do deus do Riso é um momento em que o imaginário social é
reforçado, pois a festa é “uma produção social que cunha uma identidade entre os
participantes e o compartilhamento do símbolo que é comemorado e que, portanto, se
inscreve na memória coletiva como um afeto coletivo. Representa a produção de memória e
da identidade no tempo e no espaço social” (GUARINELLO, 2001, p. 971). Deste modo, é
através da função simbólica do imaginário social que uma comunidade designa sua
identidade, elaborando uma representação de si mesma (BACZKO, 1984, p. 28).
Mas essa identidade cunhada não é necessariamente consensual, pois, da mesma
forma que a festa é o espaço-tempo em que uma comunidade compartilha símbolos comuns,
gerando uma agregação entre os participantes. A festa também é o lugar em que os diferentes
grupos sociais estabelecem suas diferenças e seus interesses distintos. Isso ocorre porque a
festa “como produto da realidade social, exprime os conflitos, as tensões, as censuras e as
estruturas de poder” (OMENA, 2009, p. 5).
O Império romano foi o resultado de conquista militar e centralização política, o
qual não circunscrevia uma organização homogênea e singular, mas agrupava povos
completamente distintos, que mantiveram suas identidades próprias (GUARINELLO, 2009,
Capa Índice 1364
p. 149). Por outro lado, a força da dominação romana estava nas cidades, nas quais as elites
tenderam a uma unificação política e cultural, cuja aliança com o centro do poder representou
um pacto conservador que manteve o Império unido por séculos, envolto em uma identidade
política (GUARINELLO, 2009, p. 152). A fim de gerenciar e controlar a diversidade
constituinte do Império foram criadas “duas áreas lingüístico-culturais específicas dotadas de
prestígio social e de eficácia político-administrativa: a área de predomínio do latim,
correspondendo à metade ocidental do império, e a área de predomínio do grego, em todo o
Mediterrâneo oriental” (GUARINELLO, 2009, p. 153). A criação dessas áreas culturais
representou “um instrumento para construir e gerenciar uma identidade imperial que
legitimasse a posição do imperador e a supremacia das elites nas cidades do Império”
(GUARINELLO, 2009, p. 153).
As cidades, apesar de aceitarem a dominação, pois tinham respeitados os
costumes locais, procuravam circunscrever um espaço e identidades próprias no seio do
Império romano. A festa do deus do Riso é uma expressão dessa negociação, pois, por um
lado, expressa a difusão dos valores romanos, por outro, é uma festa que remete à fundação da
cidade, é organizada pelos magistrados locais e conta com a participação dos mais diversos
atores sociais sendo, portanto, fator essencial para o reforço da identidade local.
4 DISCUSSÃO/RESULTADOS
Nosso objetivo central é o de compreender a importância do festejo para a
constituição identitária da sociedade de Hípata. Para tanto, analisemos alguns pontos
específicos que contribuirão para tal análise. Primeiro, vejamos a importância da memória
coletiva e da representação na constituição identitária. Toda identidade social se constrói no
tempo e no espaço, pois a identidade de determinada comunidade pressupõe sua continuidade
temporal e sua localização espacial. O caráter temporal da identidade evidencia-se pelo fado
de que as pessoas que vivem em sociedade pretendem que essa sociedade continue existindo.
Os romanos, como todas as outras sociedades, possuíam uma concepção temporal do mundo a
sua volta, um “regime de historicidade” (HARTOG, 2003), que é um discurso sobre o tempo
que dá sentido e localização aos seus membros. Estas “ordens do tempo” são criações, mas
que se tornam a própria realidade, e os indivíduos ficam presos nestas “grades temporais”.
“Um “regime de historicidade” se impõe imperiosamente aos indivíduos sem que eles se
dêem conta, dando forma, plasmando, esculpindo o seu corpo, o seu cotidiano, enfim, a sua
vida” (REIS, 2011, p. 8).
Capa Índice 1365
Uma das formas de criar e expressar essas concepções temporais se dá através dos
usos da memória coletiva, ou no nosso caso específico, da comemoração. A “percepção de
que tal ou qual evento deva ser comemorado, de modo que permaneça sua lembrança na
memória individual e coletiva, é uma questão substantiva para as comunidades que tiram
desses episódios elementos fundantes de sua identidade.” (MARTINS, 2008, p. 21). As
comemorações festivas consagram o universalismo dos valores de uma comunidade,
rememoram os acontecimentos fundantes e fazem o seu uso no presente para a construção da
identidade temporal, de modo a projetar esses valores no futuro, no sentido de representar
uma continuidade temporal da comunidade. As comemorações não se prendem a uma relação
passado-presente, pois as festas coletivas sempre indicam o futuro, traçam metas e ações a
serem realizadas (ou não) pelos sujeitos, criam e propagam valores, propõem a permanência
da sociedade, enfim, constroem identidades que pressupõe a continuidade do grupo que
comemora.
Identidades essas que são um conjunto de representações sociais, constituem o
imaginário social. Trata-se de um aspecto da visa social, no sentido de que é através dos seus
imaginários que uma coletividade designa a sua identidade, elaborando uma representação de
si, estabelece a distribuição de papéis e das posições sociais, exprime e impõe crenças
comuns, constrói códigos de bom comportamento etc. (BACZKO, 1985, p. 309). As
identidades sociais tornam-se, dessa forma, uma das forças reguladoras da vida coletiva e das
ações sociais.
Mas as identidades dependem do outro para se constituírem, a “normalidade” e os
códigos sociais necessitam do desviante, da alteridade para serem forjados. No âmbito da obra
em análise, as feiticeiras e os banidos funcionam como elementos de alteridade na formação
de uma identidade em Hípata. Vale lembrar que Apuleio pertence o grupo social da
aristocracia norte-africana no contexto imperial, a qual partilha de valores comuns. Daí
podermos afirmar que “a estigmatização dos bandidos se relaciona a um processo de
constituição da identidade da elite citadina norte-africana e refletia uma realidade de conflito e
de dicotomia entre as civitates romanas e a vasta hinterland norte-africana no contexto alto-
imperial.” (NETO, 2009, p. 12). Dessa forma, Apuleio estigmatiza os ladrões, representando-
os como inferiores, de modo a atribuir melhores valores e qualidades à elite citadina, à qual
pertencia.
Quanto às feiticeiras, estas também são estigmatizadas em O Asno de Ouro.
Afinal, é pelo envolvimento com a feitiçaria que o personagem Lúcio transforma-se em asno e
sofre todas suas desventuras, até ser transformado em humano novamente pelo intermédio da
Capa Índice 1366
deusa Ísis. Torna-se claro, na fonte, a dicotomia estabelecida entre duas formas de magia: uma
magia ligada às práticas de feitiçaria e outra relacionada aos cultos dos deuses oficiais (Livros
II, III e XI). Nesse sentido, ao estigmatizar as práticas mágicas destituídas dos cultos oficiais,
Apuleio defendia o uso da magia apenas no âmbito da legalidade, haja vista que o próprio
autor era iniciado no culto à deusa Ísis.
Percebe-se, então, que os bandidos e as feiticeiras funcionam como elementos de
alteridade, exemplos de condutas desviantes, às quais se contrapõem comportamentos tidos
como a norma, ligados principalmente à religiosidade. Esse aspecto perpassa toda a obra de
Apuleio, tornando-se claro que as ações tidas como lícitas são aquelas que se ligam aos cultos
oficiais, às festas organizadas pelas autoridades municipais e religiosas, como na festa à deusa
Ísis, no livro XI, ou na festa ao deus do Riso, na qual o personagem Lúcio torna-se o principal
atrativo.
Vejamos mais detalhadamente a festa dedicada ao deus do Riso. Temos três
informações importantes a respeito desta comemoração: em primeiro lugar, é uma festa que
ocorre desde a fundação da cidade (Livro II, XXXI); segundo, ela é organizada pelos
magistrados municipais (Livro III. XI); por fim, trata-se de uma comemoração que conta com
a participação de todos os cidadãos de Hípata (Livro III, II). Se ela ocorre desde a fundação,
logo toda vez que é comemorada há uma referência a essa mesma fundação, haja vista que, no
Mediterrâneo antigo, o regime de historicidade é o do tempo cíclico, e as comemorações
servem justamente para “reatualizar” o tempo fundador, o tempo do início, de modo a evitar a
mudança e manter-se numa continuidade no tempo (ELIADE, 1992).
As festas antigas configuravam-se como rituais religiosos, eram cíclicas e
realizadas segundo fórmulas precisas de modo a obter as benesses divinas. Os romanos
empregavam dois termos para referir-se à religião: religare (ligar) e relegere (retomar,
controlar). No primeiro caso aludia-se ao elo entre os deuses e os homens, enquanto no
segundo era destacado o zelo da observância de um sistema de obrigações ritualísticas
(BUSTAMANTE, 2006, p. 322). Todo ato religioso possuía um aspecto comunitário, era uma
religiosidade social, ligada em primeiro lugar à comunidade, e não ao indivíduo. Dessa forma,
a religião romana consistia em cultivar as relações com os deuses, celebrando os ritos de
modo a manter este elo. Os ritos deveriam ser realizados em uma determinada data e em uma
ordem tradicional, pois do contrário a ordem do mundo seria abalada, provocando a ira dos
deuses.
Nesse sentido, a festa representada por Apuleio em sua obra pode ser considerada
como um ritual religioso, pois atende todas as características dos ritos religiosos dos romanos.
Capa Índice 1367
Como dissemos, a festa é realizada desde a fundação da cidade, em uma data fixa, organizada
pelos magistrados e contando com a participação de todos os cidadãos de Hípata. Um aspecto
importante da festa era a presença de Lúcio, que além de ser estrangeiro e não saber do
costume da cidade era também cidadão romano, fato que engrandeceria o momento festivo.
Por ser cidadão, alguns valores, estavam associados à sua figura, e este é homenageado pela
cidade, após os festejos:
Mas eis que, sesse instante, os próprios magistrados, revestidos com suas insígnias, penetraram em nossa casa e fizeram quanto podiam para me apaziguar: “Não ignoramos, Senhor Lúcio, nem tua classe, nem teu nascimento, nem o renome da ilustre família que é a tua e que se estende por toda a província. O que te aflige tão fortemente, não foi para te ofender que to fizemos suportar. Espanta do coração a tristeza e expulsa a amargura da alma, pois os divertimentos periódicos aos quais nossa cidade se entrega todo ano, em honra do Deus Riso, devem sempre seu sucesso a uma intervenção nova. Foste tu a fonte e o instrumento do Riso. O favor e a amizade do deus te acompanhará por toda a parte. [...] Em reconhecimento pelo que te deve, a cidade inteira te prestará honras extraordinárias. Ela te nomeará seu patrono e decidiu te elevar uma estátua de bronze.” (Apuleio, O Asno de Ouro, III, XI).
Dessa forma, a festa, ao associar essas várias características, como a fundação, a
relação com o deus Riso e a figura de Lúcio, também se torna relevante para a formação de
uma identidade citadina. É uma festa essencial para a emissão de determinados valores, entre
os quais a imponência da cidade. Na narrativa, observamos que Birrena, tia de Lúcio, faz
alusão à grandiosidade de cidade, na noite anterior à festa, comparando-a a Roma e
ressaltando todas suas qualidades: Então Birrena, dirigindo-me a palavra, disse-me: “Estás contente da estadia em nossa pátria? Que eu saiba, pelos templos, banhos, e outros edifícios públicos, somos bem superiores a não importa qual cidade. Quanto a utensílios, estamos providos satisfatoriamente. E é certo que se vive livremente e à vontade. Um forasteiro ativo aqui encontra a animação de Roma. Um hóspede modesto, a paz do campo. Em suma, por toda província, somos um retiro encantador.” (Apuleio, O Asno de Ouro, II, XIX).
Nota-se claramente uma relação de ligação com o centro do poder imperial, a
cidade de Roma. Ao estudarmos a formação e o funcionamento do Império Romano, notamos
que uma característica comum da dominação romana é a relação com a elite local,
estabelecendo alianças em que ambas as partes receberiam benefícios. Para Roma, seus
territórios aumentariam, ampliando também o arrecadamento de tributos e o prestígio do
império. Para as elites locais, isso também funcionaria como uma forma de dominação, pois
teriam o apoio de Roma para eventuais revoltas, além de terem seus costumes respeitados
(HINGLEY, 2010; GUARINELLO, 2009). Outra forma de garantir a dominação era pelo uso
Capa Índice 1368
de construções tipicamente romanas espalhadas pelas diversas cidades do Império, como
teatros, fóruns, termas etc. E a cidade de Hípata está repleta dessas construções, como deixa
clara a fala da personagem Birrena, uma rica cidadã da cidade. Tais construções difundiriam
os costumes romanos, como o culto aos deuses, os banhos em termas, o uso do direito romano
no tocante às questões jurídicas.
Mas no caso de Hípata cabe destacar que a elite citadina, apesar de se comparar a
Roma em prestígio, respeita algumas características próprias, e isso se vê na própria festa do
deus Riso, afinal, esta é realizada desde a fundação da cidade, e essa é uma característica
local, não imposta pela força do Império.
A partir das discussões feitas anteriormente, temos que Hípata não se configura
apenas como uma extensão do poder e da cultura de Roma, mas como uma cidade cuja elite
local negocia/relaciona com a dominação romana e, dessa forma, constrói identidades
próprias. Conforme já dissemos, as cidades eram responsáveis pela força da dominação
romana nas diversas partes do Império, pois constituíam centros administrativos nos quais as
elites locais, atendendo aos interesses do imperador, constituíam uma coesão com as elites
romanas.
Richard Hingley (2010), ao estudar a relação de dominação dos romanos na
região da Bretanha, conclui que uma pesquisa que vise à relação de Roma com as regiões
dominadas deveria levar em consideração que os indivíduos, no interior de uma sociedade,
negociam e resistem a certas representações de superioridade/inferioridade, e erigem contra-
argumentos. Isso significa que, ao contrário do que o modelo dominante ainda sugere, o
processo de mudança das sociedades nativas em contato com a cultura romana não se deu de
forma passiva, de modo que os indivíduos adotariam as ideias e deuses romanos para a
criação e manutenção de seu status; pelo contrário, o contato entre culturas distintas
pressupõe a ressignificação dos símbolos compartilhados. Assim, os elementos intitulados
“romanos” diferem em natureza, contexto e significado através das várias regiões do Império
Romano.
Além disso, argumenta o autor, nem todas as formas de oposição precisam ser
manifestas. A ressignificação dos símbolos adotados pode ser tomada como uma forma de
resistência, bem como o controle das festas e dos rituais, que podiam conferir poder aos que
os organizavam. Afinal, a adoção de símbolos romanos não significa necessariamente a
adoção de uma identidade romana. É exatamente esta situação que encontramos em Hípata,
pois o uso de locais como o fórum e o teatro, símbolos da dominação romana, são
Capa Índice 1369
ressignificados pelos magistrados ao serem usados na festa ao deus Riso, festa essa típica da
cidade de Hípata, e não de Roma.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer de nossa pesquisa, analisamos a representação festiva feita por
Apuleio em sua obra O Asno de Ouro. Consideramos que a obra em questão configura-se
como fonte de informações a respeito das formações identitária nas regiões dominadas pelo
Império Romano no Mediterrâneo, haja vista que Apuleio, além de compor a elite citadina
norte-africana, também viajou para diversas regiões do Império, entre elas a província grega,
local de ambientação da obra. Apesar de ser uma obra literária, O Asno de Ouro expressa o
imaginário social em que o autor se insere, isto é, o imaginário de uma elite que faz parte de
um todo que é o Império, e que por isso mesmo pode ser estudada como uma fonte para a
análise do jogo de imposição/ressignificação de símbolos da dominação romana.
Intencionamos, com o desenvolvimento de nossa pesquisa, compreender que as
festas, na representação apuleiana, constituem elementos essenciais de sociabilidades e de
formações identitárias. Através da interpretação da festa como um ritual em homenagem ao
deus, analisamos sua dimensão religiosa e como esta constituiu o imaginário social da
comunidade de Hípata. A partir disso, percebemos de que forma os símbolos compartilhados
no momento festivo se inserem na memória coletiva e, deste modo, compõem identidades. As
identidades são construções sociais, baseadas em valores compartilhados por uma dada
comunidade, os quais são reafirmados e fortalecidos no momento festivo em homenagem ao
deus do Riso. Por fim, esperamos ter mostrado que as identidades cunhadas no momento
festivo não apenas como o reflexo de uma identidade imperial que é difundida e imposta por
Roma às províncias, mas como resultado de uma ressignificação desses valores à luz da
própria sociedade de Hípata.
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Eu, Profa. Dra. Luciane Munhoz de Omena, revisei o texto do bolsista Erick Messias Costa Otto Gomes e considero, pelo menos, nesta etapa, suficiente às discussões sobre as comemorações festivas e suas relações identitárias no mediterrâneo romano do século II d. C. Sem mais, despeço-me com cordiais saudações acadêmicas.
Capa Índice 1373
Simulações Computacionais com Modelos deInteração Radiação-Matéria
Eric Gomes Arrais Cavalcante1, Norton Gomes de Almeida2
Instituto de Física, Universidade Federal de Goiás, Campus [email protected], [email protected]
9 de Agosto de 2012
PALAVRAS-CHAVE: Radiação, Matéria, Dissipação, Equação Mestra.
1 Introdução.
Diversos são os fenômenos decorrentes da incidência de radiação na matéria. Muitos desses fenô-
menos não podem ser explicados exclusivamente pela Física Clássica (antes do ano de 1900). De fato,
alguns desses fenômenos, que serão brevemente citados aqui, estão no cerne da criação da Mecânica
Quântica. Foi necessário introduzir teorias completamente diferentes das já existentes para que se con-
seguisse explicá-los.
Exemplos claros e bastante conhecidos de tal fato são o Efeito Fotoelétrico e o Efeito Compton [1].
Para explicar o Efeito Fotoelétrico, primeiramente observado por Hertz em 1887 [1], Einstein reinterpre-
tou a quantização de energia, inicialmente proposta por Max Planck em 1900, postulando que a radiação
era formada por pacotes de energia, mais tarde chamados de fótons. Matematicamente:
E =hω (1)
em queh = h/2π (constante de Planck dividida por 2π) e ω = 2πν (ν é a frequência da radiação). Alguns
anos depois, Compton usou essa mesma hipótese para explicar o efeito que leva seu nome.
Para se explicar outros fenômenos, no entanto, foi necessário ir além do conceito de fótons. Foram
formuladas duas teorias: a teoria semiclássica e a teoria quântica. A primeira quantiza apenas o átomo,
tratando o campo eletromagnético classicamente. É capaz de explicar o laser mas não explica, por
exemplo, a emissão espontânea de um átomo na presença de um campo eletromagnético. A última, no
entanto, é capaz de explicar tal fenômeno. Nela, tanto o átomo quanto o campo eletromagnético são
tratados quanticamente. O foco deste trabalho está na teoria quântica da interação da radiação com a
matéria.
Capa Índice 1374
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1374 - 1385
1.1 Interação da Radiação com a Matéria: Teoria Quântica.
A Teria Quântica da Interação da Radiação com a Matéria considera o átomo e a radiação quantica-
mente. Será obtido aqui o Hamiltoniano que descreve essa interação, considerando-se um átomo de dois
níveis monoeletrônico interagindo com um campo eletromagnético de infinitos modos normais. O átomo
de dois níveis (Figura 1) é um modelo elementar da matéria, em que somente são possíveis transições
eletrônicas entre dois níveis. O Hamiltoniano que será obtido é de extrema importância, sendo o ponto
de partida para diversos cálculos em Óptica Quântica.
O Hamiltoniano de partida está na aproximação de dipolo elétrico [2], tendo a forma:
H = HA +HF − e�r ·�E (2)
em que HA e HF representam as energias do átomo e do campo, respectivamente,�r é o vetor posição do
elétron, e é a carga do elétron e �E é o campo elétrico. A energia HF do campo pode ser escrita em termos
dos operadores criação e aniquilação, a† e a:
HF = ∑k
hνk(a†kak +
12). (3)
A dedução de (3) pode ser vista, por exemplo, em [2]. Os termos HA e e�r · �E podem ser obtidos
considerando-se os operadores de transição atômica σi j = |i〉〈 j|, com ∑i |i〉〈i| = 1. A equação de auto-
valor HA |i〉= Ei |i〉 implica em:
HA = ∑i
Ei |i〉〈i|= ∑i
Eiσii (4)
O termo de dipolo e�r ·�E pode ser calculado a partir das duas equações seguintes:
e�r = ∑i, j
e |i〉〈i|�r | j〉〈 j| (5)
.
�E = ∑k
ekεk(a†k +ak). (6)
Substituindo-se (3), (4), (5) e (6) em (2) e passando-se a considerar um sistema atômico de dois
níveis, obtem-se:
H = ∑k
hνka†kak +
12hωσz +h∑
kgk(σ++σ−)(ak +a†
k) (7)
Capa Índice 1375
em que gi jk =−〈i|�r| j〉ekεk
h . A notação utilizada é tal que σz = |2〉〈2|−|1〉〈1|, σ− = |1〉〈2| e σ+ = |2〉〈1|. O
operador σ− leva um átomo de um estado mais alto para um mais baixo e o operador σ+ faz o contrário.
São chamados operadores de abaixamento e levantamento atômico, respectivamente.
Figura 1: Esquema de um Átomo de Dois Níveis.
Na chamada aproximação de onda girante [2] a equação (7) se torna:
H = ∑k
hνka†kak +
12hωσz +h∑
kgk(σ+ak +a†
kσ−). (8)
Esse é o Hamiltoniano procurado.
O chamado Hamiltoniano de Jaynnes-Cummings [3] é obtido de (8) considerando-se apenas um
modo normal do campo eletromagnético interagindo com o átomo de dois níveis. Dessa forma:
H = hνa†a+12hωσz +hg(σ+a+a†σ−). (9)
Os Hamiltonianos nas equações (8) e (9) são muito importantes em Óptica Quântica, sobretudo por serem
possíveis de se realizar experimentalmente.
1.2 Sistema de Dois Níveis Amortecido Radioativamente.
Partindo de (8), é possível obter a equação que descreve a interação de um átomo de dois níveis
com os vários modos normais do campo eletromagnético [4]. O campo funciona como um reservatório
térmico em equilíbrio. Para o átomo, o estado |1〉 é o estado fundamental e |2〉 o estado excitado. A
equação mestra desse sistema é:
ρ =γ2(n+1)(2σ−ρσ+−σ+σ−ρ−ρσ+σ−)+
γ2
n(2σ+ρσ−−σ−σ+ρ−ρσ−σ+) (10)
Capa Índice 1376
em que γ é a constante de amortecimento e n é o número médio de fótons do reservatório. Essa equação
descreve as taxas de absorção e emissão de fótons pelo átomo no sistema.
1.3 Sistema de Três Níveis Amortecido Radioativamente.
A equação mestra que descreve a emissão espontânea de um átomo de três níveis, com |1〉 e |2〉 sendo
os estados fundamentais e |3〉 o estado excitado, é dada por:
ρ = Γ31(2σ13ρσ31 −σ33ρ−ρσ33)+Γ32(2σ23ρσ32 −σ33ρ−ρσ33)+
Γ21(2σ12ρσ21 −σ22ρ−ρσ22)+Γ21(2σ21ρσ12 −σ11ρ−ρσ11)+
γ2(2σ22ρσ22 −σ22ρ−ρσ22)+ γ3(2σ33ρσ33 −σ33ρ−ρσ33) (11)
em que Γi j (i>j = 1,2,3) é o decaimento atômico do estado |i〉 para o estado | j〉 e γi é a defasagem atômica
do estado |i〉.
Essa equação descreve as transições atômicas no átomo de três níveis para um reservatório com
temperatura nula. Pode ser obtida a partir de um Hamiltoniano adequado, como feito em [5].
As equações (10) e (11) serão resolvidas neste relatório para uma dada condição inicial, tanto anali-
ticamente quanto numericamente.
2 Objetivos.
Na pesquisa em Física, sobretudo em Óptica Quântica, simulações computacionais são fundamentais
para maior eficiência e velocidade na obtenção de resultados. Em alguns casos, são imprescindíveis.
Isso ocorre devido ao aumento, com o passar do tempo, da complexidade dos sistemas estudados pelos
físicos.
Neste plano de trabalho, buscou-se a aprendizagem de técnicas computacionais de uso comum na
Óptica Quântica e na Física em geral. Os softwares estudados foram o Matlab e, majoritariamente,
o Fortran 90. Nesse sentido, foram feitas simulações de problemas físicos simples, somente com o
propósito de aprendizado. Esses problemas não serão discutidos aqui, pois não se relacionam com o
tema central deste plano de trabalho.
Além de conhecimento computacional, buscou-se também o domínio da Física envolvida nos pro-
cessos de interação da radiação com a matéria. Dessa forma, um dos objetivos deste plano de trabalho foi
a aprendizagem da Física Moderna, de ferramentas matemáticas da Mecânica Quântica além de algumas
das técnicas de Óptica Quântica utilizadas nesses processos.
Unindo os conhecimentos de Física com os conhecimentos de programação, objetivou-se, então, a
formulação de programas em Fortran 90 que retratem processos comuns em Óptica Quântica. Foram
Capa Índice 1377
escolhidos processos envolvendo dissipação em Mecânica Quântica, em que átomos de dois ou três
níveis são amortecidos por campos eletromagnéticos confinados. Esta última parte dos objetivos será o
foco deste relatório.
3 Metodologia.
3.1 Execução do Plano de Trabalho.
O plano de trabalho proposto foi realizado da maneira usual nesta área: estudo da bibliografia para o
entendimento da Física, em especial Física Moderna e Mecânica Quântica, e dos softwares necessários
para a realização das simulações. Simulações de sistemas físicos simples foram realizadas para domínio
desses softwares.
Após essa primeira parte, foram realizadas simulações computacionais em Fortran 90 envolvendo
as Equações Mestras para átomos de dois e três níveis amortecidos radioativamente. O tópico seguinte
retrata a maneira como essas simulações foram realizadas.
3.2 O Programa Master Equation.
A idéia do programa Master Equation é resolver numericamente as Equações Mestras dos sistemas
apresentados em 1.2 e 1.3. As soluções numéricas das duas equações são análogas do ponto de vista
computacional, não existindo grandes diferenças ao se resolver um ou outro problema.
Para a resolução via Fortran 90, é necessário visualizar os operadores envolvidos como matrizes.
Na equação (10) as matrizes são 2x2 e na equação (11) são 3x3. O problema em questão se trata da
resolução de uma equação diferencial ordinária matricial de primeira ordem. A idéia central para se
solucionar as equações foi modificar um algoritmo de solução de equações diferenciais, de forma a
ser possível trabalhar com uma equação diferencial matricial. O algoritmo escolhido foi o Método de
Runge-Kutta de Quarta Ordem, cuja descrição pode ser encontrada em [6].
A adaptação do Método de Runge-Kutta para solução das Equações Mestras consistiu, basicamente,
em transformar tudo o que era apenas um número (matrizes 1x1), com exceção da variável indepen-
dente, em matrizes da ordem desejada, através da declaração de variáveis do programa. Dessa forma,
os Coeficientes de Runge-Kutta [6] se tornaram matrizes, a função incógnita foi trocada pelo operador
densidade e a função derivada foi trocada pela derivada do operador densidade (derivada de cada um dos
elementos). Pode-se considerar:
Capa Índice 1378
ρ(t) =(
ρ11(t) ρ12(t)ρ21(t) ρ22(t)
)
ρ(t) =(
ρ11(t) ρ12(t)ρ21(t) ρ22(t)
)
para o átomo de dois níveis e
ρ(t) =
ρ11(t) ρ12(t) ρ13(t)ρ21(t) ρ22(t) ρ23(t)ρ31(t) ρ32(t) ρ33(t)
ρ(t) =
ρ11(t) ρ12(t) ρ13(t)ρ21(t) ρ22(t) ρ23(t)ρ31(t) ρ32(t) ρ33(t)
para o átomo de três níveis. Os demais operadores (levantamento e abaixamento atômico) podem ser
representados matricialmente, considerando-se para o átomo de dois níveis:
σ− = |1〉〈2|=(
10
)(0 1
)=
(0 10 0
)
σ+ = |2〉〈1|=(
01
)(1 0
)=
(0 01 0
)
e para o átomo de três níveis, σi j = |i〉〈 j| (i,j = 1,2,3), com:
|1〉=
100
, |2〉=
010
e |3〉=
001
.
As matrizes que representam os operadores de abaixamento e levantamento atômico foram fixadas no
programa.
Com o problema montado dessa forma, o Método de Runge-Kutta atuará em cada um dos elementos
do operador densidade, fornecendo o valor de cada um deles para cada instante de tempo. Ou seja, são
resolvidas quatro equações diferenciais para o átomo de dois níveis e nove para o átomo de três níveis.
Dessa forma, o operador densidade é determinado para cada instante de tempo e é, então, impresso na
tela. Com isso é possível extrair diversas informações dos sistemas através, por exemplo, de gráficos.
O programa foi formulado de forma que o usuário possa escolher entre resolver um problema de dois
ou de três níveis. Em um arquivo de dados, o usuário deve informar as condições iniciais do problema
(ρ(0)), as condições do reservatório térmico (n e γ para dois níveis e Γi j, γ2 e γ3 para três níveis),
o intervalo de tempo de evolução do operador densidade e o número de subintervalos de tempo para
análise. Assim, é possível resolver uma grande quantidade de diferentes problemas.
Capa Índice 1379
4 Resultados.
Para condições iniciais simples, as equações mestras aqui mostradas podem ser resolvidas analitica-
mente. Pode-se conferir se o programa Master Equation resolve corretamente essas equações comparando-
se as soluções obtidas pelo programa com soluções obtidas analiticamente para as mesmas condições
iniciais.
Essa parte do trabalho tem por objetivo testar a confiabilidade das simulações realizadas e, assim,
do programa elaborado. Serão apresentadas soluções analíticas para condições iniciais simples e essas
serão comparadas com as soluções obtidas pelo programa.
4.1 Solução Analítica da Equação Mestra de um Átomo de Dois Níveis.
Será apresentada a solução analítica da equação (10) para as seguintes condições iniciais: n = 0,
γ= 1,0 e ρ(0) = |ψ〉〈ψ| com |ψ〉= 1√2(|1〉+ |2〉) (superposição dos estados |1〉 e |2〉). Nessas condições,
a equação (10) se torna:
ρ =12(2σ−ρσ+−σ+σ−ρ−ρσ+σ−) (12)
O operador densidade pode ser escrito como: ρ(t) = ρ11(t) |1〉〈1|+ ρ12(t) |1〉〈2|+ ρ21(t) |2〉〈1|+
ρ22(t) |2〉〈2|. Da mesma maneira, sua derivada: ρ(t) = ρ11(t) |1〉〈1|+ ρ12(t) |1〉〈2|+ ρ21(t) |2〉〈1|+
ρ22(t) |2〉〈2|. Substituindo-se ρ(t), ρ(t), σ+ e σ− em (12), obtêm-se as seguintes equações diferenciais
pros elementos:
ρ11(t) = ρ22(t) (13)
ρ12(t) =−12
ρ12(t) (14)
ρ21(t) =−12
ρ21(t) (15)
ρ22(t) =−ρ22(t) (16)
que, ao serem resolvidas, resultam em:
ρ11(t) =12− 1
2(e−t −1) (17)
ρ12(t) =12
e−12 t (18)
Capa Índice 1380
ρ21(t) =12
e−12 t (19)
ρ22(t) =12
e−t (20)
Dessa forma o operador densidade está completamente determinado e a equação mestra, resolvida.
4.2 Solução Numérica da Equação Mestra de um Átomo de Dois Níveis.
Para que seja efetuada a solução numérica, é necessário visualizar a condição inicial do operador
densidade através de uma matriz. Assim, tem-se: ρ(0) = |ψ〉〈ψ| =(
0,5 0,50,5 0,5
). A simulação foi
realizada em um intervalo de tempo igual a 10, subdividido em 50 subintervalos. O programa fornece os
seguintes gráficos para cada um dos elementos do operador:
Figura 2: Evolução temporal do coefici-ente ρ11(t).
Figura 3: Evolução temporal do coefici-ente ρ12(t).
Figura 4: Evolução temporal do coefici-ente ρ21(t).
Figura 5: Evolução temporal do coefici-ente ρ22(t).
Os gráficos apresentados são, exatamente, os gráficos das funções obtidas analiticamente em 4.1. O
programa reproduziu exatamente o resultado esperado, confirmando sua confiabilidade.
Capa Índice 1381
4.3 Solução Analítica da Equação Mestra de um Átomo de Três Níveis.
As considerações necessárias para se resolver analiticamente a equação (11) são análogas as já feitas
para se resolver a equação (10). As condições iniciais aqui consideradas são: Γi j = 1,0 , γi = 0 e
ρ(0) = |ψ〉〈ψ| com |ψ〉= 1√3(|1〉+ |2〉+ |3〉) (superposição dos estados |1〉, |2〉 e |3〉). Nessas condições,
a equação (11) se torna:
ρ = (2σ13ρσ31 −σ33ρ−ρσ33)+(2σ23ρσ32 −σ33ρ−ρσ33)+
(2σ12ρσ21 −σ22ρ−ρσ22)+(2σ21ρσ12 −σ11ρ−ρσ11). (21)
O operador densidade pode ser escrito como:
ρ(t) =3
∑i, j=1
ρi j(t) |i〉〈 j| (22)
e sua derivada:
ρ(t) =3
∑i, j=1
ρi j(t) |i〉〈 j| . (23)
Substituindo-se ρ(t), ρ(t) e os σi j em (21) obtêm-se as equações diferenciais de cada um dos coeficientes
que, ao serem resolvida, resultam em:
ρ11(t) =12− 1
6e−4t (24)
ρ12(t) =13
e−2t (25)
ρ13(t) =13
e−3t (26)
ρ21(t) =13
e−2t (27)
ρ22(t) =12− 1
6e−4t (28)
ρ23(t) =13
e−3t (29)
Capa Índice 1382
ρ31(t) =13
e−3t (30)
ρ32(t) =13
e−3t (31)
ρ33(t) =13
e−4t . (32)
Assim, o operador densidade está definido e a equação mestra, resolvida. É importante salientar a di-
ficuldade em se resolver esta equação, mesmo com as condições simples aqui impostas. As equações
diferenciais que regem os elementos da diagonal principal do operador estão acopladas, sendo necessário
utilizar métodos de solução um pouco mais rebuscados como, por exemplo, a Transformada de Laplace
ou os Autovalores e Autovetores. A necessidade de um programa para resolver esse tipo de problema se
torna evidente.
4.4 Solução Numérica da Equação Mestra de um Átomo de Três Níveis.
De maneira análoga ao átomo de dois níveis, para solucionar numericamente a equação do átomo de
três níveis deve-se escrever a condição inicial do operador densidade em forma de uma matriz. Dessa
forma, tem-se: ρ(0) = |ψ〉〈ψ|=
0,33333 0,33333 0,333330.33333 0,33333 0,333330,33333 0,33333 0,33333
.
A simulação foi realizada em um intervalo de tempo igual a 2, subdividido em 100 subintervalos. Os
três gráficos que serão apresentados a seguir se referem aos elementos da diagonal principal do operador
densidade. Os demais não serão mostrados para que este relatório não fique sobrecarregado.
Figura 6: Evolução temporal do coeficiente ρ11(t)
Capa Índice 1383
Figura 7: Evolução temporal do coeficiente ρ22(t)
Figura 8: Evolução temporal do coeficiente ρ33(t)
Os gráficos obtidos pelo programa são os gráficos das funções obtidas analiticamente em 4.3. O
programa reproduziu o resultado esperado, também para o sistema de três níveis, o que mostra a confia-
bilidade do método utilizado.
5 Conclusão.
Ao término da execução do plano de trabalho, a maior parte dos objetivos inicialmente propostos
foram alcançados. Foram estudados diversos tópicos da Física Moderna na busca pelo entendimento de
alguns fenômenos quânticos de grande importância. A aprendizagem dos softwares Matlab e Fortran 90
era o núcleo deste trabalho, onde grande parte do tempo disponível foi gasto. Talvez o único objetivo
não completamente executado foi uma maior dedicação ao software Matlab. O Fortran 90 acabou sendo
priorizado quando foi iniciada a etapa das simulações envolvendo a interação da radiação com a matéria.
As simulações realizadas apresentaram ótimos resultados. O programa Master Equation foi elabo-
rado para facilitar no cálculo de propriedades dos sistemas aqui apresentados. Esse programa se mostrou
Capa Índice 1384
bastante confiável, reproduzindo exatamente os resultados obtidos analiticamente, tanto para o sistema
de dois níveis como para o de três níveis.
Muito ainda pode ser feito utilizando-se o Master Equation como base. Existe a possibilidade da
resolução de problemas mais complicados como, por exemplo, um campo eletromagnético confinado em
uma cavidade, onde é necessário introduzir os operadores criação e aniquilação, ou ainda a introdução
de novos termos às equações aqui resolvidas.
Foi possível também, através deste plano de trabalho, conhecer um pouco do que é a Óptica Quântica
e quais são os seus principais objetos de estudo. É uma área onde ainda há muito o que ser feito e com
grandes perspectivas futuras, tanto em ciência básica como em tecnologia.
6 Referências.
[1] F. Caruso e V. Oguri. Física Moderna. Elsevier, Rio de Janeiro, 2006.
[2] M. O. Scully e M. S. Zubairy. Quantum Optics. Cambridge University Press, Cambridge, 2001.
[3] W. H. Louisell. Quantum Statistical Properties of Radiation. Wiley, New York, 1973.
[4] H. J. Carmichael. Statistical Methods in Quantum Optics. Volume 1. Springer, Berlim, 2002.
[5] C. J. Villas-Boas. Numerical solution of master equation using MATLAB. São Carlos, 2009.
[6] F. F. Campos, filho. Algoritmos Numéricos. LTC, Rio de Janeiro, 2010.
[7] W. W. Filho. Mecânica Quântica. Editora da UFG, Goiânia, 2002.
Revisado pelo orientador.
Capa Índice 1385
ESTUDO DAS PROPRIEDADES FÍSICAS E QUÍMICAS DE PÃES ENRIQUECIDOS
COM FARINHA DE BANANA DA TERRA VERDE (Musa sapientum linneo)
Fabiana de Sousa Paschoa, Raquel Troncoso Chaves Moreno, Clarissa Damiani, Elaine Meire
de Assis
Faculdade de Nutrição, Universidade Federal de Goiás
[email protected]; [email protected];
[email protected]; [email protected]
PALAVRAS-CHAVE: farinha de banana verde, panificação, composição química
1 INTRODUÇÃO
A bananeira produtora de fruto comestível é uma planta não lenhosa, pertencente à
classe Monocotyledoneae, à ordem Scimitales integrante da famíla das Musaceae do gênero
Musa (COSTA et al, 2011).
O Brasil é o segundo maior produtor mundial de banana, com aproximadamente
7.451.972 toneladas no ano de 2010 (IBGE, 2010; COSTA et al, 2011). Entretanto, a maior
parte da banana produzida no país abastece apenas o mercado interno, por ser altamente
perecível e exigir cuidados específicos em seu manuseio, acarretando danos sofridos ao
produto no transporte e comercialização, gerando assim, perdas nas diferentes etapas da
produção (COSTA et al, 2011; BARROS et al, 2008).
No país esta fruta é a segunda mais consumida perdendo apenas para a laranja. Isso se
dá pelo seu sabor, por ser fonte de energia, vitaminas e minerais, possuindo cerca de 100 kcal
em 100 gramas de alimento, e ainda por seu baixo custo e fácil acesso (COSTA et al, 2011).
O processo de amadurecimento da banana (Musa spp.), que pode ocorrer após a
colheita é acompanhado por um aumento rápido da taxa respiratória, ao alcançar um valor
máximo a senescência se inicia e é caracterizada por processos que conduzem à morte dos
tecidos da fruta (COSTA et al, 2011).
Capa Índice 1386
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1386 - 1399
Segundo Costa e colaboradores (2011) a etapa de amadurecimento da banana, decorre
do aumento nos teores de açúcares simples e ácidos orgânicos (predominando o ácido málico)
e polimerização de compostos fenólicos, levando à redução na adstringência e aumento da
acidez, além da liberação de substâncias voláteis, fatores responsáveis pelo aroma e sabor,
que são característicos da fruta.
Outros estudos sugerem que uma das principais transformações químicas que ocorrem
no amadurecimento da banana é a conversão do amido para açúcares solúveis, causando o
acúmulo de sacarose, glicose e frutose na polpa do fruto (PESIS et al, 2001; VILAS-BOAS et
al, 2001; COSTA et al, 2011).
Dessa forma, a polpa de banana, quando verde, não apresenta sabor, trata-se de uma
massa com alto teor de amido e baixo teor de açúcares e compostos aromáticos. Os frutos
ainda verdes são ricos em flavonóides, os quais auxiliam na proteção da mucosa gástrica, e
também apresentam conteúdo significativo de amido resistente (AR) que podem
corresponder de 55 a 93% do teor de sólidos totais e aproximadamente 14,5% de fibras
(OVANDRO-MARTINEZ, 2009). O amido resistente possui efeito fisiológico semelhante
ao da fibra alimentar, além de apresentar reduzido valor energético, baixo teor de lipídios e
de açúcares (CARDENETTE, 2006).
Por meio da desidratação dessa polpa de banana verde é possível se obter a farinha de
banana verde, a qual apresenta um sabor suave, podendo assim, substituir outras farinhas sem
prejuízo na característica sensorial (LOBO; SILVA, 2003).
As farinhas de banana verde são consideradas importantes fontes de amido resistente,
o que as torna uma matéria prima potencial para a elaboração de produtos alimentícios com
propriedades funcionais (CARDENETTE, 2006).
A jabuticabeira é conhecida há quase cinco séculos. O seu nome vem do tupi,
“iapoti’kaba”, e significa “fruta em botão” (MENDONÇA, 2000; PEREIRA, 2003).
A jabuticabeira (Plinia sp.) é originária do centro/sul/sudeste do Brasil e pertence à
família Myrtaceae. Atualmente são conhecidas nove espécies de jabuticabeira e dentre elas
destacam-se P. trunciflora Berg, conhecida como jabuticaba de cabinho; P. cauliflora (DC)
Berg, conhecida como jabuticaba paulista ou jabuticaba-açu; e P. jaboticaba (Vell.) Berg,
conhecida como jabuticaba Sabará, a espécie mais comercializada no Brasil (DANNER et al,
2011). As espécies Myrciaria cauliflora (DC) Berg e a Myrciaria jabuticaba (Vell) Berg
produzem frutos apropriados tanto para consumo in natura quanto para a indústria
(ASQUIERI et al, 2009; DONADIO, 2000).
Capa Índice 1387
Essa é uma árvore de médio porte, cujas folhas são lanceoladas, as flores são brancas
e os frutos são tipo baga globosa, possuem até 3 cm de diâmetro. Quando maduros a casca dos
frutos é preta, fina e de aspecto frágil, com polpa esbranquiçada mucilaginosa, ligeiramente
ácida e doce, muito saborosa, apresenta comumente uma única semente, mas pode apresentar
até quatro sementes. A jabuticabeira é uma frutífera de grande interesse para os produtores
rurais de diversas regiões brasileiras, devido à sua alta produtividade, rusticidade e
aproveitamento dos frutos das mais diversas formas (ANDERSEN, 1989; BRUNINI et al,
2004; ASQUIERI et al, 2009; LIMA et al, 2008).
Quanto à qualidade nutricional a jabuticaba é um fruto tropical com elevado teor de
carboidratos, fibras, vitaminas, flavonoides e carotenoides, além de sais minerais como ferro,
cálcio e fósforo (ASCHERI et al, 2006).
O potencial econômico de comercialização desse fruto é grande, em função das
características sensoriais apreciadas tanto para o consumo in natura, como na produção de
sucos, licores, compotas, fermentados, vinagre e geleias (MAGALHÃES et al, 1996;
BRUNINI et al, 2004; VIEITES et al, 2011).
Os frutos são altamente perecíveis, o período de comercialização após a colheita é
curto devido à rápida alteração da aparência, decorrente da intensa perda de umidade,
deterioração e fermentação da polpa, observadas em apenas dois a três dias após a colheita. O
uso de tecnologias em pós-colheita que visem à diminuição do metabolismo dos frutos,
objetivando a redução da aceleração do amadurecimento e, consequentemente, o
prolongamento da conservação, é fundamental para o sucesso comercial das jabuticabas
(CORRÊA et al, 2007, VIEITES et al, 2011).
A jabuticaba é um fruto tropical de alto valor nutricional, contendo elevado teor de
carboidratos, fibras, vitaminas, flavonóides e carotenoides, além de sais minerais como ferro,
cálcio e fósforo (ASCHERI et al, 2006).
Vale ressaltar que o desperdício que essa fruta sofre é elevado, uma vez que, na
fabricação de geleias, normalmente as cascas e sementes são desprezados. Estes juntos
representam aproximadamente 50% da fruta. Um maior aproveitamento dessas frações
agregaria mais valor a essa fruta (LIMA et al, 2008).
Durante a utilização da polpa para elaboração de licor e suco de jabuticaba ou
análogos de vinho, ocorre a produção de um bagaço o qual é descartado. Esse bagaço possui
alto teor de fibras, podendo ser reaproveitado em ingredientes que possam substituir parte das
calorias de alimentos ricos em carboidratos, além de influenciar em vários aspectos da
digestão, absorção e metabolismo. Além disso, o bagaço fornece sais minerais e proteínas
Capa Índice 1388
remanescentes do agente biológico utilizado para a fermentação do suco de jabuticaba
(ASCHERI et al, 2006).
Considerando suas diversas propriedades nutricionais, uma alternativa interessante
para a utilização do bagaço de jabuticaba pode ser a elaboração de farinhas, destinadas ao
preparo de diversos produtos alimentícios como pães, pudins, bolo, bolacha, macarrão, entre
outros (ASCHERI et al, 2006).
Dessa forma, tanto a banana da terra verde e o bagaço de jabuticaba são opções na
elaboração de farinhas, as quais podem ser utilizadas na panificação. Segundo Battochio
(2006), “Pão é o produto obtido pela cocção, em condições tecnologicamente adequadas, de
uma massa, fermentada ou não, preparada com farinha de trigo e/ou outras farinhas que
contenham naturalmente proteínas formadoras de glúten ou adicionadas das mesmas e água,
podendo conter outros ingredientes”. Dessa forma o pão de forma é o produto obtido pela
cocção da massa em formas, caracterizado pelo miolo elástico e homogêneo, com poros finos
e casca fina e macia (GANDRA, 2008).
A adição de farinhas denominadas de não panificáveis (cuja massa não permite a
extração do glúten), como é o caso das farinhas acima descritas são utilizadas a fim de agregar
valor nutricional dos pães. Assim, para que essas farinhas sejam aproveitadas na panificação,
é necessário misturá-las à farinha de trigo (FREITAS et al, 1997).
Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo estudar a composição físico-
química de pães enriquecidos formulados com farinha de banana da terra verde e de pães com
farinha de banana da terra verde e farinha de jabuticaba, em substituição parcial à farinha de
trigo.
2 METODOLOGIA
Para obtenção da farinha de banana da terra verde (FBV) utilizou-se o cultivar Terra
(Musa sapientum), sendo adotado como critério de escolha a coloração da casca totalmente
verde. Os frutos foram adquiridos na Central Estadual de Abastecimento Sociedade Anônima
de Goiânia (CEASA). Os demais ingredientes básicos foram adquiridos no comércio local em
Goiânia (Goiás).
Para obtenção da FBV as bananas foram pesadas, higienizadas, imersas em solução de
água clorada 150 ppm/15 minutos, descascadas manualmente com faca de aço inox, cortadas
em rodelas de 0,5 cm de espessura e colocadas em solução a 1,0 % de ácido ascórbico/15
Capa Índice 1389
minutos. Foi realizada desidratação em estufa com circulação forçada de ar a 60°C/12 horas,
trituração em moinho de facas Willy-Mill TE-648.
Para a fabricação da farinha de jabuticaba (FJ) foram utilizados resíduos (casca e
semente) da indústria de suco de jabuticaba, adquiridos na Fazenda Jabuticabal, Nova Fátima,
Hidrolândia, no estado de Goiás.
Os resíduos da jabuticaba foram desidratados em estufa com circulação forçada de ar a
uma temperatura de 50°C por 48 horas. Foram então triturados em moinho de facas Willy-
Mill TE-648, e, após, peneirados em Tamis de aço inox de 100 Tyler/mesh ou abertura de
0,150 mm.
As farinhas foram acondicionadas em sacos plásticos à vácuo a -22°C.
2.1 ELABORAÇÃO DOS PÃES DE FORMA
Elaboraram-se três tipos de pães distintos: pão tipo forma de formulação padrão, pão
tipo forma de formulação modificada com a substituição parcial da farinha de trigo pela FTV
e pão tipo forma de formulação modificada com a substituição parcial da farinha de trigo pela
FTV e adicionado com farinha de jabuticaba.
Baseado em El Dash (1994), foi utilizada a seguinte formulação do pão tipo forma de
formulação padrão: farinha de trigo 1000 g, água gelada 500 mL, açúcar refinado 70 g,
gordura vegetal hidrogenada 60 g, sal refinado 10 g, fermento químico 30 g e melhorador 10
g.
Para formulação do pão com FTV, 20% da farinha de trigo do pão tipo forma padrão
foi substituído pela farinha de banana da terra verde, sendo acrescentados 50 mL de água
gelada. No caso do pão com FBV e FJ, 20% da farinha de trigo foi substituída pela farinha de
banana da terra verde e outros 5% foi substituído por farinha de jabuticaba, acrescentando-se,
ainda, 70 mL de água gelada, aproximadamente.
2.2 ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS
A farinha de banana da terra verde, a farinha de jabuticaba, o pão padrão, o pão com
farinha de banana da terra verde e o pão adicionado de farinha de banana da terra verde e
farinha de jabuticaba foram analisados no Laboratório de Química de Bioquímica de
Alimentos da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Goiás (UFG) quanto a:
umidade, proteínas, cinzas, lipídios totais (extrato etéreo) (AOAC, 1998), carboidratos totais
Capa Índice 1390
(DUBOIS et al, 1956), valor energético total (OSBORNE; VOOGT, 1978). As análises de
acidez total titulável e pH foram realizadas no Laboratório da Faculdade de Engenharia de
Alimentos da UFG. Para a análise de acidez total titulável a titulação foi realizada com
hidróxido de sódio a 0,1N padronizado segundo técnica estabelecida pelas normas do Instituto
Adolfo Lutz (1985) e os resultados expressos em mL de NaOH gastos na titulação; e para a
análise do pH utilizou-se o microprocessor rinting pHmeter Hanna instruments Range modelo
HI 9224, com inserção do eletrodo diretamente na farinha diluída em 45 mL de água destilada
(IAL, 1985).
Todas as análises foram realizadas em triplicata tendo vista ampliar a precisão dos
resultados obtidos.
2.3 ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS
Foram realizadas as análises de coliformes a 45 °C, Bacillus cereus e
Salmonella sp. segundo a metodologia do Instituto Adolfo Lutz (2005). As amostras
foram realizadas em triplicata, sendo coletadas 25 g de amostra para cada análise e
colocadas em solução salina em água peptonada (0,1%) estéril; posteriormente foram
feitas as diluições seriadas para inoculação dos diferentes meios de cultura utilizados no
experimento.
2.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA
A avaliação da análise de composição centesimal foi realizada utilizando-se a análise
de variância (ANOVA). A análise comparativa do valor nutricional dos pães foi realizada por
teste de Tukey, com nível de significância de 5%. Os testes estatísticos foram realizados em
Software estatístico Sisvar.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A tabela 1 consta os resultados obtidos na análise da composição centesimal da farinha
de banana da terra verde.
Capa Índice 1391
Tabela 1 - Composição química da farinha de banana da terra verde
Análise Borges
et al.
Farinha
trigo
Média Desvio-
Padrão
C.
variação
Umidade 3,30 2,19 0,01 0,65
Cinzas 2,59 2,06 -- --
Proteína 4,50 4,40 0,14 3,21
Lipídios 0,68 0,67 0,02 3,19
Carboidratos 87,92 90,68 0,16 0,17
VCT 375,8 386,35 0,13 0,03
Fibra total 1,01 11,18 0,40 1,25
Fibra
sóluvel
1,89 0,22 1,28
Fibra
insolúvel
9,30 0,18 2,03
Na tabela acima nota-se que o teor médio de umidade encontrado na farinha de banana
da terra verde foi de 2,19 g/100 g, estando de acordo com o padrão máximo de 15 g/ 100 g
recomendado pela ANVISA (1978) para farinhas.
Borges e colaboradores (2009), em estudo com banana (Musa spp.), o cv. da banana
Prata, encontraram valores de umidade (3,30 g/ 100 g) e cinzas (2,59 g/ 100 g) maiores que o
observado no presente estudo. Enquanto os teores de carboidratos (87, 92 g/ 100 g) e valor
calórico total (373,00 g/ 100 g) foram abaixo do obtido neste estudo de 90,68 e 386,31
respectivamente. Já os teores de proteínas (4,50 g/ 100 g) e lipídios (0,68 g/ 100 g)
encontrados por borges (2009) pouco diferiram do encontrado no presente trabalho.
Ressalta-se que a fibra total mostrou uma diferença notória entre as duas farinhas,
tendo a farinha de trigo apenas 1.01 g/100 g, enquanto a farinha de banana da terra verde
apresenta um teor de fibra alimentar de 11.18 g, sendo que destes 83 % são representados pela
fração insolúvel da fibra
Na tabela 2 constam as médias obtidas na composição nutricional da farinha de
jabuticaba. Nota-se que o teor de umidade desta farinha foi de 10,05 g/100 g, estando dentro
do padrão máximo de 15 g/ 100 g recomendado pela ANVISA (1978) para farinhas em geral.
Capa Índice 1392
Tabela 2 - Composição química da farinha de jabuticaba
Quando se compara a farinha de jabuticaba à farinha de trigo a qual apresenta 13 % de
umidade; 0,8 g/ 100g de cinzas; 75,1 g/ 100g de carboidratos; 9,8 g/ 100g de proteína; 1,4 g/
100g de lipídios e 2,3 g/ 100g de fibra alimentar (UNICAMP, 2005) nota-se que os teores de
proteína e umidade da farinha de jabuticaba foram inferiores aos presentes na farinha de trigo.
Enquanto os teores de carboidratos, cinzas e fibra alimentar da farinha de jabuticaba são
superiores aos da farinha de trigo. Dados tambem comparados com Borges (2009) existindo
algumas diferenças sobretudo no que se refere a carboidratos. É interessante preceber que a
quantidade de fibra total da farinha de jabuticaba é maior aproximadamente 16 vezes que a
farinha de trigo; fator este que agrega um valor nutricional à farinha de jabuticaba, com a
possibilidade de sua utilização em mistura a farinha de trigo (ASCHERI et al, 2006).
Em um estudo realizado por Ascheri e colaboradores (2006) na fabricação de farinha
por meio da utilização do bagaço de jabuticaba encontrou-se os seguintes teores 7,08 g/ 100g;
3,49 g/ 100g e 11 g/ 100g de umidade, cinzas e proteínas, respectivamente. Ao se comparar
Análise UNICAMP Média Desvio-
Padrão
C.
variação
Umidade 13 10,05 0,17 0,58
Cinzas 0,8 2,12 0,34 1,86
Proteína 9,8 5,03 0,17 1,38
Lipídios 1,4 1,80 0,13 0,36
Carboidratos 75,1 81,00 1,20 1,2
VCT 258 0,18 0,68
Fibra total 2,3 37,18 1,83 0,57
Fibra
sóluvel
4,02 1,32 1,02-
Fibra
insolúvel
33,16 0,52 0,28
Capa Índice 1393
com o presente estudo, observa-se que este apresenta teores menores de cinzas e proteínas e o
teor de umidade superior.
Os teores de cinzas, proteína e lipídios são inferiores ao observado em um estudo o
qual utilizou o bagaço de uva na fabricação da farinha, entretanto nota-se que os teores de
umidade e carboidratos do presente estudo foram superiores ao do trabalho citado. A
quantidade de carboidratos do presente estudo foi quase 2 vezes o observado na farinha
elaborada com o bagaço de uva, enquanto isso o valor de proteína do experimento descrito foi
quase 3 vezes inferior ao observado nesta mesma farinha com o bagaço de uva (FERREIRA,
2010).
Na tabela 3 encontram-se os resultados obtidos na análise da composição química e
física das três diferentes formulações de pães.
Tabela 3 - Composição física e química de pães com diferentes formulações
Pão Umidade Cinzas Proteína Lipídios CHO VET FT pH Acidez
Padrão 32,04 a 1,71 a 6,76 a 4,31 a 55,57 a 288,11 a 2,3 a 5,11 b 0,99 a
1 31,88 a 1,86 a 7,25 a 4,40 a 54,82 a 287,88 a 3,5 b 5,94 a 0,40 c
2 30,95 a 1,96 b 7,98 b 4,52 a 55,20 a 293,4 b 3,8 b 6,08 a 0,59 b
Pão1: pão com 20% de farinha de banana da terra verde
Pão 2: pão com 20% de farinha de banana da terra verde + 5% de farinha de jabuticaba;
as letras iguais em uma mesma coluna indicam que não houve diferença significativa entre as amostras, com
p<0,05.
A tabela 3 mostra os resultados obtidos pela análise da composição centesimal e
alguns parâmetros físcos dos pães pesquisados. Observa-se que em relação aos valores de
umidade, lipídeos e carboidratos, o pão padrão e os pães 1 e 2 não diferiram entre si
significativamente. No entanto, os pães 1 e 2 apresentaram valores superiores de proteínas em
relação ao pão padrão, porém apenas o pão 2 apresentou diferença significantiva. Isso pode
ser atribuído à farinha de jabuticaba adicionada. Em relação a Fibra Total, os pães 1 e 2
apresentaram maiores médias, com diferenças significativas em relação ao pão padrão. No
que se refere ao Valor energético total, o pão 2 apresentou valor superior aos demais, sendo o
pão 1 o mais calórico e o pão padrão o menos calórico.
Estes resultados evidenciam que as formulações de pães feitos com FBV e FJ
apresentaram valor nutricional superior ao pão padrão.
Todas as amostras apresentaram valores de umidade dentro do máximo permitido de
até 38,0%, definido pela Portaria n. 90 de 2000 (OLIVEIRA et al, 2007). Contudo, à medida
Capa Índice 1394
que se substituiu a farinha de trigo pelas FBV e FJ houve incremento também do conteúdo de
água do produto, evidenciando a alta higroscopicidade (grande capacidade de retenção de
água) da fibra presente tanto na farinha de banana da terra verde como na farinha de
jabuticaba (PEREZ; GERMANI, 2007).
As médias encontradas no item cinza estão de acordo com os estudos que mostram que
com a utilização de farinhas mistas, tais como farinha de linhaça e farinha de banana ocorre
uma elevação no conteúdo de cinzas nos pães em comparação com o pão padrão. Tais
diferenças são atribuídas aos níveis de minerais presentes nessas farinhas (BORGES et al,
2011; FASOLIN et al, 2007).
O resultado obtido no presente estudo pode ser justificado pela quantidade de FBV e
FJ utilizadas na substituição da farinha de trigo; uma vez que o estudo citado encontrou tal
diferença em uma amostra que apresentou maior grau de substituição da farinha de trigo pela
farinha de banana.
A substituição da farinha de trigo pelas FBV e FJ nos pães aumentou
significativamente o teor de proteína quando comparados ao pão padrão. Do ponto de vista
tecnológico isso não é um fator positivo, pois as proteínas presentes nessas farinhas não são
formadoras de glúten. Portanto, poderiam enfraquecer a estrutura proteica da massa,
reduzindo sua elasticidade e viscosidade, o que limita as quantidades a serem utilizadas na
substituição da farinha de trigo, conforme observado em outros estudos (BORGES, 2011).
Os resultados das análises microbiológicas estão mostrados na Tabela 4. De acordo
com os resultados apresentados, as amostras se encontram dentro dos padrões
microbiológicos estabelecidos pela RDC nº12, de 02 de janeiro de 2001 e ANVISA
(BRASIL, 2001).
Tabela 4 - Análises microbiológicas das amostras de farinhas de banana, de jabuticaba
e de pães com diferentes formulações Análises FBV FJ Pão
Padrão Pão 1 Pão 2 Valor de
Referência Coliformes a 45ºC (MNP/mL)*
Máximo 102
Máximo 102
Máximo 102
Máximo 102
Máximo 102
Máximo 102
Salmonella sp/25g
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Bacillus cereus (UFC/g)**
3 x 103
3 x 103
3 x 103
3 x 103
3 x 103
3 x 103
Capa Índice 1395
*NMP/ml – Número Mais Provável por ml de amostra **UFC/g – Unidade Formadora de Colônias por grama de amostra FBV – Farinha de banana da terra verde FJ – Farinha de Jabuticaba Pão1: pão com 20% de farinha de banana da terra verde Pão 2: pão com 20% de farinha de banana da terra verde + 5% de farinha de jabuticaba
4 CONCLUSÃO
Tendo em vista as características nutricionais das matérias-primas (farinha de banana
da terra verde e de jabuticaba) apresentadas nesta pesquisa, principalmente o elevado teor de
fibras, proteínas, lipídios e calorias, bem como o elevado rendimento do processo, considera-
se que estas farinhas sejam uma ótima alternativa para o enriquecimento de pães,
comportamento também evidenciado nos pães formulados com estas farinhas em substituição
parcial à farinha de trigo.
Conclui-se que as formulações de pães pesquisadas apresentaram valor nutricional
superior ao pão padrão, com destaque ao pão elaborado com farinha de banana da terra verde
e farinha de jabuticaba, que apresentou valor nutricional superior aos demais.
Por fim, vale ressaltar a importância da continuidade de estudos nessa linha,
principalmente com a utilização de farinha de jabuticaba, uma vez que a literatura ainda é
limitada nesse assunto.
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“Revisado pelo orientador”
Capa Índice 1399
ACOMPANHAMENTO DOS PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS PARA
MODELAGEM DA CINÉTICA DO ENVELHECIMENTO DE CACHAÇA
ARMAZENADA EM TONÉIS DE CASTANHEIRA
PIBIC/2011-2012
Fabiana Luísa Silva1, Márcio Caliari2, Flávio Alves da Silva2, Cláudio Fernandes
Cardoso2 1 Iniciação Científica – Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos – Universidade
Federal de Goiás – Goiânia,GO – [email protected] 2 Professor – Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos – Universidade Federal de
Goiás – Goiânia,GO – [email protected], [email protected], [email protected]
PALAVRA-CHAVE: cachaça; envelhecimento; tonéis de castanheira (Bertholletia excelsa).
1. INTRODUÇÃO
Aguardente de cana é a bebida com graduação alcoólica entre 38 e 54% (v/v) a 20 °C,
obtida do destilado alcoólico simples de cana-de-açúcar ou pela destilação do mosto
fermentado do caldo de cana (BRASIL, 2003). Cachaça é a denominação típica e exclusiva da
aguardente de cana produzida no Brasil com graduação alcoólica entre 38 e 48% (v/v) a 20
°C, obtida pela destilação do mosto fermentado do caldo de cana-de-açúcar (BRASIL, 2003).
A cachaça é um dos principais produtos derivados da cana-de-açúcar. É a terceira bebida
alcoólica destilada mais consumida no mundo, atrás da vodka russa e do soju coreano. No
entanto, esse consumo se dá quase que totalmente no mercado interno brasileiro, visto que o
volume exportado é muito pequeno. O mercado potencial é grande, pois o produto está
perdendo a conotação pejorativa e alcançando público consumidor cada vez mais exigente
(SEBRAE, 2005).
No geral, a indústria de aguardentes seguiu até a década de 90 na direção do aumento de
produção sem se preocupar com a qualidade final do produto. A partir de 1990, vários
segmentos ligados à produção da aguardente se manifestaram pela necessidade de medidas
que viessem possibilitar o salto de qualidade da bebida. Como resultado, as exportações
alcançaram cerca de quatorze milhões e oitocentos mil milhões de litros em 2002. A projeção
de exportação de quarenta milhões de litros para 2010 representa evolução das possibilidades
de se conquistar o mercado externo pela melhoria da qualidade. A produção de cachaça de
Capa Índice 1400
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1400 - 1409
alambique tem merecido destaque na economia do estado de Minas Gerais, que conta com
8.466 destilarias cadastradas. A produção de cerca de cento e sessenta milhões de litros por
ano (safra – maio a dezembro) gerou cerca de duzentos e quarenta mil empregos diretos e
indiretos (SEBRAE-MG, 2001).
Apesar da importância econômica e social da cachaça, ainda são muito escassos os
estudos sobre a sua qualidade, porém devido às exigências do mercado externo, cresce a
preocupação com a qualidade da bebida (CAMPELO, 2002). A cachaça é muito apreciada por
seu aroma e sabor característicos, que podem ainda melhorar pelo envelhecimento em
recipientes de madeira (CARDELLO, 1998).
A produção de cachaça pode ser divida em quatro etapas principais: obtenção do mosto,
fermentação, destilação e envelhecimento. Por melhor que sejam realizadas as três primeiras
etapas do processo produtivo, o destilado recém obtido comumente apresenta sabor seco,
ardente e um aroma não muito agradável, sendo o processo de envelhecimento ou maturação
em tonéis de carvalho, por determinado período, necessário para tornar agradável e desejável
o seu aroma (AQUINO, 2006).
O complexo processo que ocorre durante o envelhecimento depende além de vários
fatores, do tipo de madeira empregada, do tempo de maturação e obviamente da qualidade
inicial do destilado (CARDELLO, 1998).
No Brasil, existem madeiras de diferentes espécies florestais que podem ser utilizadas
para o envelhecimento da cachaça; porém, predomina a utilização de barris feitos de carvalho
(Quercus sp). As dificuldades de aquisição e escassez do carvalho, bem como a carência de
estudos sistemáticos para caracterização dos compostos extraídos de outros tipos de madeira
durante o envelhecimento da cachaça, são fatores que contribuem para a possível substituição
do carvalho por outras madeiras de origem nacional na confecção de barris para o
armazenamento da cachaça (TÉO, 2005).
A castanheira ou castanha-do-pará, espécie botânica Bertholletia excelsa, pertence
a família Lecythidaceae. Ocorre na Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia e Guianas, Floresta
Amazônica até o norte de Mato Grosso e Goiás. A castanheira também conhecida como
castanha, castanha-verdadeira, castanha-do-brasil e amendoeira-da-américa é uma madeira
moderadamente pesada, com cerne castanho-claro a levemente rosado, alburno diferenciado
branco-rosado, cheiro e gosto imperceptíveis, textura média, resistente a fungos e insetos
xilófagos (GONZAGA, 2006). A castanheira possui densidade de 0,72 Kg dm-3 (PAULA;
ALVES, 2007).
Capa Índice 1401
Cada madeira contribui diferentemente na composição da cachaça envelhecida,
predominantemente com compostos fenólicos específicos na bebida (DIAS, 1998). Outros
compostos extraídos da madeira do tonel pelos destilados são: óleos voláteis, substâncias
tânicas, açúcares e glicerol, ácidos orgânicos não voláteis, esteróides que modificam o aroma,
o sabor e a coloração da bebida (NISHIMURA & MATSUYAM, 1989).
A madeira desempenha, assim, um papel importante na qualidade final da bebida,
portanto, o envelhecimento é uma fase muito importante, pois nele a bebida adquire atributos
necessários de aroma e sabor definidos como “redondo”, “liso” e “suave”, característico de
bebida de alta qualidade (TÉO, 2005).
Capa Índice 1402
2. OBJETIVO
Realizar o acompanhamento dos parâmetros físicos e químicos durante o
envelhecimento de cachaça armazenada em tonéis de castanheira, no período de oito meses,
para posterior estudo da cinética de envelhecimento.
3. METODOLOGIA
3.1 Matéria-prima
Os experimentos foram conduzidos com cachaça envelhecida de 32 meses em tonéis de
castanheira, provenientes do Alambique Cambéba–Alexânia-GO. Esta pesquisa faz
referência ao período dos últimos 8 meses de envelhecimento da cachaça, sendo que as
amostras foram coletadas mensalmente e analisadas no Laboratório de Bebidas da Escola de
Agronomia e Engenharia de Alimentos – Universidade Federal de Goiás/UFG.
3.2 Análises físico-químicas
As análises físico-químicas realizadas foram:
a) pH: determinado em pHmetro digital Instrutemp RS 232 (Instrutemp Instrumentos
de Medição Ltda – São Paulo/SP), calibrado a 20ºC;
b) Densidade: determinada de acordo com a metodologia do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento – MAPA (BRASIL, 1986);
c) Acidez total: determinada pelo método descrito em Brasil (1986);
d) Acidez volátil: as amostras foram destiladas em aparelho Redutec MA-087
(Marconi – Piracicaba/SP), e posteriormente analisadas (BRASIL, 1986);
e) Extrato seco: determinado pelo método descrito em Brasil (1986);
f) Teor alcoólico real a 20ºC: Foi determinado pelo método de separação do álcool por
destilação da amostra e sua posterior quantificação de acordo com a densidade relativa do
destilado a 20ºC (MAPA – BRASIL, 1986);
g) Cinzas: será quantificada pela pesagem em balança analítica, do resíduo gerado
após eliminação da matéria orgânica e inorgânica volátil, presentes na amostra, quando a
mesma é incinerada a 550ºC por aproximadamente 4 h (MAPA – BRASIL, 1986).
Capa Índice 1403
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 1 são apresentados os resultados das demais análises físico-químicas
realizadas. Esses dados serão utilizados numa segunda etapa do trabalho, etapa esta, que
consiste na modelagem matemática da cinética do envelhecimento da cachaça estocada em
barris de amburana.
Observou-se que a densidade não sofreu grandes variações durante o tempo de
envelhecimento, apresentando valores entre 0,9297 e 0,9352 g/mL. A densidade em relação à
água pura é uma ferramenta utilizada para determinar a porcentagem de álcool em soluções
hidroalcoólicas, a uma dada temperatura.
O teor de extrato seco da cachaça envelhecida em barris de castanheira aumentou com o
tempo de envelhecimento nos dois meses analisados. De acordo com Miranda (2007) o
resíduo seco de destilados é constituído de substâncias como carboidratos, taninos, ácidos
fixos e por componentes minerais extraídos da madeira durante o envelhecimento, ou
adicionados na preparação das bebidas.
A acidez total teve um aumento durante o tempo de envelhecimento, apresentando
valores que variaram de 0,03481 a 0,06683 mg ácido acético/100 mL. Os valores do pH
obtidos nas análises tiveram um decréscimo quando comparados o último e primeiro mês de
envelhecimento do período considerado no trabalho. Segundo Miranda (2008) durante a
maturação de bebidas destiladas normalmente ocorre uma diminuição do pH e das
concentrações de álcool metílico e de álcool etílico, enquanto que há um aumento da acidez.
A diminuição do valor do pH pode estar relacionada com o aumento da acidez, como
resultado do aumento da concentração de ácido na bebida, principalmente pela presença de
compostos fenólicos (PARAZZI, 2008).
Os valores médios do grau alcoólico real (v/v) da cachaça armazenada nos barris de
castanheira diminuíram em relação ao tempo de envelhecimento. Teo et al., (2005) avaliaram
as composições de aguardentes de cana produzidas em duas unidades industriais,
envelhecidas em barris confeccionados a partir de carvalho, amburana, bálsamo e jequitibá.
Observou-se aumento no teor alcoólico das aguardentes, e somente as bebidas armazenadas
em barris de carvalho não apresentaram teores significativamente diferentes (p0,01) do teor
inicial. As aguardentes armazenadas em barris de amburana e jequitibá apresentaram os
maiores acréscimos no teor alcoólico, possivelmente por apresentarem maior permeabilidade
ao vapor d’ água, quando comparados aos das demais madeiras. Esses resultados diferem dos
apresentados neste trabalho.
Capa Índice 1404
Tabela1- Análises físico-químicas da cachaça envelhecida em barris de castanheira.
Determinação Repetição Tempo (meses)
25 26 27 28 29 30 31 32
Densidade (g/mL)
1 0,9320 0,9325 0,9344 0,9334 0,9290 0,9293 0,9342 0,9338
2 0,9317 0,9328 0,9350 0,9322 0,9313 0,9313 0,9347 0,9333
3 0,9328 0,9352 0,9337 0,9330 0,9310 0,9307 0,9346 0,9342
4 0,9327 0,9330 0,9348 0,9330 0,9304 0,9297 0,9351 0,9344
Extrato seco (g/L)
1 0,5700 0,6033 0,6043 0,6053 0,6054 0,6058 0,6055 0,6060
2 0,6467 0,6767 0,6780 0,6787 0,67691 0,6792 0,6792 0,6794
3 0,5100 0,5300 0,5310 0,5314 0,5315 0,5320 0,5321 0,5324
4 0,4633 0,4900 0,4910 0,4912 0,4914 0,4915 0,4915 0,4917
Acidez volátil 1 0,02210 0,02110 0,02329 0,02768 0,02706 0,02891 0,02390 0,02557
(g ácido acético/100 mL amostra)
2 0,02340 0,02365 0,02369 0,03065 0,02594 0,02686 0,02587 0,02754
3 0,02400 0,02439 0,02349 0,02645 0,02594 0,02634 0,02449 0,02361
4 0,02100 0,02130 0,02160 0,02973 0,02891 0,03003 0,02656 0,02371 Acidez Total
(g ácido acético/100 mL amostra)
1 0,03968 0,03938 0,03930 0,03837 0,03916 0,03995 0,03859 0,04336
2 0,04400 0,04018 0,04000 0,03956 0,04035 0,03837 0,03978 0,04336
3 0,06486 0,06683 0,06680 0,03600 0,03877 0,03877 0,03855 0,04296
4 0,03693 0,03779 0,03709 0,03481 0,03600 0,03639 0,03580 0,03859
pH
1 4,02 4,03 4,09 4,06 4,08 4,16 3,91 3,88
2 4,01 4,07 4,01 4,07 4,05 4,12 3,90 3,87
3 3,97 3,98 4,02 4,07 4,00 4,04 3,93 3,88
4 4,05 4,04 4,05 4,07 4,00 4,05 3,96 3,91
Cinzas (g/L) 1 0,0800 0,0810 0,0840 0,0850 0,0851 0,0852 0,0854 0,0860
2 0,0767 0,0769 0,0779 0,0807 0,0827 0,0867 0,0867 0,0900
Capa Índice 1405
3 0,0790 0,0820 0,0840 0,0850 0,0880 0,0900 0,0900 0,0900
4 0,0750 0,0760 0,0780 0,0790 0,0810 0,0820 0,0840 0,0850
Grau alcoólico real a 20ºC %v/v
1 45,90 45,70 45,69 45,65 45,61 45,50 45,40 45,40
2 45,90 45,72 45,70 45,64 45,62 45,55 45,48 45,41
3 45,91 45,73 45,69 45,67 45,60 45,57 45,44 45,40
4 45,89 45,75 45,66 45,69 45,60 45,58 45,42 45,42
Capa Índice 1406
As análises de cor não foram realizadas neste período de envelhecimento, devido ao
fato do grande número de análises efetuadas pelo bolsista. Portanto, estas análises foram
deixadas para outro período, haja vista, que todas as amostras estão armazenadas em frascos
de cor âmbar, não prejudicando assim esta determinação. No entanto, estas análises já estão
sendo feitas e serão utilizadas no final do projeto, ou seja, ao final dos quarenta e oito meses
de estocagem, quando serão feitas as modelagens matemáticas das cinéticas de
envelhecimento. Assim, há um equívoco no plano de trabalho, quando dizia que seria feita a
modelagem matemática da cinética de envelhecimento da cachaça, pois seriam somente as
avaliações físicas e químicas da cachaça armazenadas em tonéis de castanheira.
Pela primeira vez, a madeira da castanheira é utilizada na produção de barris para
uso no envelhecimento de cachaça, portanto, ainda não se possui na literatura dados para
comparação.
5. CONCLUSÃO
Pelas análises realizadas ao longo dos 8 meses de envelhecimento da cachaça em
barris de castanheira, conclui-se que o tempo interfere significativamente na concentração de
diversos componentes presentes na cachaça. O envelhecimento altera a composição química e
a qualidade da cachaça, agregando maior valor comercial, de modo que esta etapa é
importante para a obtenção de uma cachaça de qualidade, pois melhora atributos como cor,
cheiro e sabor. Dentre os parâmetros analisados, todos apresentaram-se dentro do estabelecido
pela legislação brasileira, tendo sido observado um aumento nos valores de extrato seco,
cinzas, acidez total e acidez volátil, enquanto o pH, teor alcoólico e densidade diminuíram
durante o envelhecimento.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICA
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Capa Índice 1407
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REVISADO PELO ORIENTADOR
Capa Índice 1409
¹Acadêmica de enfermagem, Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de Goiás.email: [email protected] ²Enfermeira, Doutora, Professor Adjunto, Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de Goiás. email: [email protected] ³Enfermeira, Mestranda Enfermagem, Universidade Federal de Goiás. email: [email protected]
Acidentes envolvendo material biológico entre profissionais de saúde atuantes na Atenção Básica
Fabiana Ribeiro de Rezende¹ Anaclara Ferreira Veiga Tipple²
Thaís de Arvelos Salgado³ Resumo
Estudo descritivo e analítico para identificar a ocorrência de acidentes com material biológico entre osprofissionais da área da saúde de unidades de atenção básica e fatores laborais e sócio-demográficos associados à exposição, caracterizar esses acidentes e as condutas pós-exposição adotadas. Os dados foram coletados por meio de questionário auto-aplicável e analisados no programa SPSS – IBM, versão 19.0. Participaram do estudo 132 profissionais que referiram 20 (15,1%) acidentes com maior frequência nos grupos de enfermagem e odontologia (40,0%). A maioria dos acidentes ocorreram durante procedimentos de enfermagem envolvendo agulhas (35,0%) e procedimentos odontológicos (25,0%), sendo a maioria percutâneo, nas mãos e com presença de sangue. Em análise univariada, encontrou-se associação estatisticamente significativa para a ocorrência de acidentes com categoria profissional, outro vínculo empregatício e realização de anti-HBs. A realização de estudos que visem elucidar o perfil dos acidentes com material biológico na atenção básica é importante para a elaboração e implementação de estretégias eficientes para a prevenção desses acidentes.
Palavras-chaves: Atenção Básica; Acidentes de Trabalho; Exposição a Agentes Biológicos.
Introdução
Em suas atividades laborais os trabalhadores estão expostos a diversos riscos. Na área
da saúde, a situação não é diferente (MARZIALE et al, 2010). Há exposição aos riscos
físicos, químicos, ergonômicos, mecânicos e em destaque, ao risco biológico (RB) devido à
probabilidade dessa exposição envolver agentes biológicos, ocasionada pela presença de
patógenos no ambiente de trabalho (BRASIL, 2010a).
A magnitude desse tema recebe destaque, dentre os riscos ocupacionais, devido à
grande quantidade e diversidade dos agentes biológicos presentes nas instituições de saúde e à
disseminação desses, por meio do contato direto e/ou indireto com os profissionais da área da
saúde (PAS) e com os clientes. Evidenciando esse quantitativo, a literatura aponta 60
diferentes tipos de agentes infecciosos, comprovadamente, relacionados a infecções após
exposição a sangue e/ou outro material biológico (MB), sendo que, os mais frequentemente
envolvidos são o Vírus da Imunodeficiência Humana – 1 (VIH-1), e os vírus das hepatites B e
C. Dentre as espécies de patógenos, foram identificados 26 vírus, 18 bactérias/rickettsias, 13
parasitas e 03 leveduras (TARANTOLA, ABITEBOUL, RACHILINE, 2006).
De modo a demonstrar o risco e um diagnóstico situacional dos acidentes entre PAS
envolvendo MB, uma estimativa desses acidentes em serviços de saúde brasileiros de março
de 2002 a novembro de 2010, de 5857 acidentes, a exposição percutânea foi a mais prevalente
(4763) e o sangue, o MB envolvido em 4392 casos (RAPPARINI et al, 2010). No Estado de
Goiás foram registrados 2573 acidentes no período de 2007 a 2010, sendo sangue o MB
envolvido em 73% dos casos (SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DE GOIÁS, 2010).
Capa Índice 1410
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1410 - 1424
Nesses casos de acidentes ocupacionais, além do risco de soroconversão, vale ressaltar
também, o impacto emocional e psicológico para o profissional, além dos custos financeiros
para o sistema de saúde, com as profilaxias pós-exposição e o acompanhamento do
trabalhador; agravos diretos e indiretos (RAPPARINI, REINHARDT, 2010).
Apesar dessas consequências envolvidas em casos de acidentes com MB entre PAS os
estudos, assim como, a maioria dos sistemas de vigilância ainda estão limitados ao ambiente
hospitalar, considerado um local de assistência de alta complexidade (CHIODI, MARZIALE,
ROBAZZI, 2007).
Entretanto, no Brasil, a porta de entrada no sistema de saúde, constitui-se pelas
Unidades de Atenção Básica à Saúde, nas quais são desenvolvidas ações de saúde individuais
e coletivas, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o
diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde (BRASIL, 2011b). Mesmo
com essa amplitude de ações e a importância que representam para a assistência, a produção
científica com enfoque no RB, e suas possíveis consequências, em serviços desse nível de
assistência, não é suficiente para se ter um diagnóstico real dos acidentes envolvendo MB,
nem mesmo dos comportamentos de risco que permeiam as ações dos PAS.
Segundo Marziale et al (2010), a melhor estratégia para minimizar a transmissão
ocupacional de patógenos potencialmente infecciosos é a adoção de medidas para prevenir
acidentes, as quais serão mais eficazes quando elaboradas a partir de um diagnóstico
situacional da realidade, com identificação e análise dos comportamentos de risco dos PAS e
da ocorrência de acidentes.
Portanto, faz-se necessário o desenvolvimento de estudos científicos que elucidem
questões sobre o como, quando e porquê os profissionais de Unidades de Atenção Básica à
Saúde se acidentam, a fim de diagnóstico, elaboração de estratégias e implementação de
intervenções eficientes.
Objetivos
Identificar a ocorrência de acidentes com material biológico entre os profissionais da
área da saúde das Unidades de Atenção Básica à Saúde da Família de um Distrito Sanitário do
Município de Goiânia – GO.
Caracterizar os acidentes envolvendo material biológico entre os profissionais da área
da saúde das Unidades de Atenção Básica à Saúde da Família de um Distrito Sanitário do
Município de Goiânia – GO.
Capa Índice 1411
Caracterizar as condutas pré e pós-exposição adotadas pelos profissionais da área da
saúde das Unidades de Atenção Básica à Saúde da Família que sofreram exposição a material
biológico.
Identificar os fatores laborais e sócio-demográficos associados à exposição
ocupacional envolvendo material biológico entre os profissionais da área da saúde das
Unidades de Atenção Básica à Saúde da Família de um Distrito Sanitário do Município de
Goiânia – GO.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa descritiva e analítica, de corte transversal, com abordagem
quantitativa. A coleta de dados foi realizada no período de janeiro a maio de 2012 por meio
do preenchimento de questionário autoaplicável, com questões abertas e fechadas. A
elaboração do instrumento de coleta de dados ocorreu com base no Manual de
implementação: programa de prevenção de acidentes com materiais perfurocortantes em
serviços de saúde do último guideline publicado sobre o assunto pelos Centers for Disease
Control and Prevention – CDC (CDC, 2008), em seguida foi avaliado por especialistas na
temática de risco biológico e submetido a teste piloto em outro distrito sanitário.
No Distrito Sanitário, local do estudo, existem nove Unidades de Atenção Básica à
Saúde da Família (UABSF), onde atuavam 240 profissionais de saúde. Foram incluídos
aqueles atuantes nessas UABSF por período mínimo de seis meses que se encontravam no
exercício de suas funções durante o período de coleta de dados.
O questionário foi entregue por uma pesquisadora, de forma individual, de acordo com
a disponibilidade dos profissionais. No momento da entrega, foram realizadas orientações
sobre as questões relevantes à pesquisa e agendado a data e horário para devolução do
questionário. Caso o profissional não devolvesse o questionário preenchido no dia
programado, eram feitas até três tentativas de recolhimento antes de classificá-lo como dado
perdido. O aceite para participação no estudo firmou-se pela assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido no momento da devolução.
Os dados foram processados no programa SPSS – IBM, versão 19.0. Foi realizada
análise univariada para estimar a associação de algumas variáveis à ocorrência de acidentes
com MB, com intervalo de confiança de 95%. A variável de desfecho foi acidente com
material biológico e as variáveis explanatórias foram: idade, categoria profissional, tempo de
atuação profissional, outro vínculo empregatício, participação em capacitação sobre RB,
orientação sobre RB e biossegurança na admissão, vacina contra hepatite B, esquema vacinal
Capa Índice 1412
contra hepatite B completo e realização do teste de confirmação de imunidade (anti-HBs). As
variáveis explanatórias com p> 0,05 foram consideradas significantes.
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas da
Universidade Federal de Goiás (protocolo nº029/2009), seguindo a Resolução 196/96, do
Conselho Nacional de Saúde, sobre pesquisa envolvendo seres humanos (BRASIL, 1996)
com apoio do CNPq, edital MCT-CNPq nº. 06-2008, Jovem pesquisador com o projeto “O
controle de infecção na Atenção Básica”.
Resultados
A Figura 1 mostra o fluxograma dos trabalhadores participantes do estudo.
Figura 1. Apresentação do quantitativo de profissionais de saúde das nove Unidades de Atenção Básicas à Saúde da Família participantes do estudo (n= 132) entre os trabalhadores das unidades, considerando os critérios de exclusão e perdas. Goiânia, 2012
A caracterização dos indivíduos participantes do estudo é apresentada na tabela 1.
Tabela 1. Caracterização dos profissionais da área da saúde (n= 132) de unidades de atenção básica à saúde da família de um distrito sanitário do município de Goiânia-GO. Goiânia, 2012
Dados de caracterização n % Sexo Feminino 123 93,2 Masculino 9 6,8 Categoria Profissional Agente Comunitário de Saúde 57 43,2 Auxiliar/ Técnico de Enfermagem 21 15,9 Enfermeiro 16 12,1 Auxiliar de Consultório Dentário/ Técnico em Saúde Bucal 15 11,4 Cirurgião dentista 13 9,8 Médico 9 6,8 Assistente Social 1 0,8 Idade 23 a 29 anos 18 13,7 30 a 39 anos 63 47,7 40 a 49 anos 39 29,5 50 a 60 anos 11 8,3 Não informado 1 0,8 Tempo de atuação profissional < 10 anos 77 58,3 10 ≥ 20 anos 43 32,6 ≥ 21 anos 11 8,3 Não informado 1 0,8
Profissionais de saúde que atuavam nas nove unidades da região adstrita local estudo
N = 240
Participantes n = 132
Excluídos: 25
Perdas Recusaram: 35 Não retornaram : 48
Capa Índice 1413
Outro vínculo empregatício Não 107 81,0 Sim 24 18,2 Não informado 1 0,8 Carga horária total < 40 horas/semana 1 0,8 40 horas/semana 106 80,3 > 40 horas/semana 22 16,6 Não informado 3 2,3
A tabela 2 mostra dados da capacitação que os PAS referiram ter recebido para iniciar
suas atividades nas UABSF.
Tabela 2. Dados da capacitação sobre risco biológico e biossegurança referida pelos profissionais da área da saúde de unidades de atenção básica à saúde da família. Goiânia, 2012Dados referentes à capacitação Frequência %
Participação em capacitação sobre risco biológico e biossegurança (n=132) Não 52 39,4 Sim 72 54,5 Não souberam informar 8 6,1 Orientação sobre risco biológico e biossegurança na admissão Não 87 65,9 Sim 34 25,8 Não informaram 11 8,3 Capacitação na Instituição Atual (n=72) Não 34 47,2 Sim 38 52,8 Tempo decorrido da última capacitação ≤ 2 anos 38 52,8
3 a 5 anos 21 29,2 ≥ 6 anos 7 9,7 Não souberam informar 6 8,3
A figura 2 demonstra a situação vacinal contra hepatite B dos PAS. Destaca-se que
103 (81,1%) profissionais completaram o esquema vacinal, desses 59 (57,3%) fizeram o anti-
HBs, 38 (64,4%) referiram ser respondedores, 12 (20,3%) não respondedores e nove (15,3%)
não souberam informar.
Figura 2. Distribuição dos profissionais da área da saúde de unidades de atenção básica à saúde da família
conforme esquema vacinal contra hepatite B e a realização do exame anti-HBs. Goiânia, 2012
Capa Índice 1414
Para a caracterização dos acidentes, os PAS que participaram do estudo foram
divididos em quatro grupos: Enfermagem, Odontologia, Agentes Comunitários de Saúde
(ACS) e Outros. No grupo Enfermagem (n=37) foram incluídas as três categorias da equipe,
assim como na categoria Odontologia (n=28); Agentes Comunitários de Saúde (n=57) e em
Outros (n=10) foram incluídos médicos e assistente social.
Acidentes envolvendo material biológico foram referidos por 20 profissionais,
representando um índice de 15,1%, com maior frequência (8/40,0%) no grupo de
Enfermagem e Odontologia. Seis (30,0%) profissionais informaram ter sofrido mais de um
acidente com MB durante atuação profissional na atenção básica. A notificação do acidente
foi feita em 13 (65,0%) casos, seis (30,0%) profissionais informaram não ter notificado por
falta de informação sobre o assunto e um não justificou.
Para a caracterização do acidente com MB, foi solicitado aos participantes que
relataram ter sofrido mais de um acidente que respondessem às questões utilizando como
referência o acidente que ele considerava mais importante e a tabela 3 apresenta esses dados.
Tabela 3. Caracterização do acidente com material biológico referido pelos profissionais da área da saúde de unidades de atenção básica à saúde da família (n=20). Goiânia, 2012
Características Acidentes
n % Categoria profissional Enfermagem 8 40,0 Odontologia 8 40,0 Agente Comunitário de Saúde 3 15,0 Outros 1 5,0
Tipo de exposição Percutânea 16 80,0 Pele íntegra 3 15,0 Mucosa 1 5,0
Área corporal atingida Mão 18 90,0 Pé 1 5,0 Face 1 5,0 Material biológico envolvido Sangue 15 75,0 Fluido com sangue 4 20,0 Saliva 1 5,0 Prática envolvida no acidente Punção capilar 3 15,0 Administração de medicação intramuscular 3 15,0 Descarte de perfurocortante 3 15,0 Lavagem de instrumental 2 10,0 Visita domiciliária 2 10,0 Punção venosa 1 5,0 Exame Físico 1 5,0 Uso de equipamentos de proteção individual* Inadequado 14 70,0 Adequado 6 30,0 * Classificado como adequado e inadequado de acordo com as recomendações do CDC (2007), considerando o risco de exposição à MB da atividade desenvolvida no momento do acidente.
Capa Índice 1415
Os dois acidentes ocorridos durante a visita domiciliária foram: o ACS presenciou um
aborto espontâneo, vestiu uma sacola plástica nas mãos, retirou o feto do vaso sanitário e se
dirigiu a UABSF levando o feto juntamente com a mãe; no outro, o paciente estava com um
corte no dedo e ao conversar gesticulando com o ACS, gotas de sangue caíram sobre pé do
profissional que usava sapato aberto.
A tabela 4 apresenta os dados referentes às condutas pós-exposição.
Tabela 4. Caracterização das condutas pós-exposição referidas pelos profissionais da área da saúde de unidades de atenção básica à saúde da família (n=20). Goiânia, 2012 Condutas pós-exposição n %
Cuidados locais com a área exposta Higienização com água e sabão 13 65,0 Higienização com água e sabão e antissepsia com álcool 70% 4 20,0 Enxague apenas com água 2 10,0 Lavagem com água e sabão associado a compressão exaustiva 1 5,0
Identificação do paciente fonte Sim 14 70,0 Não 6 30,0
Realização dos exames no paciente fonte Sim 8 57,1 Não 6 42,9
Atendimento médico pós-acidente Sim 16 80,0 Não 4 20,0
Local do primeiro atendimento Centro de Atenção Integral à Saúde do Distrito Sanitário 10 62,5 Hospital de Referência em Doenças Infectocontagiosas do Município 5 31,3 Unidade de Saúde de Município adjacente 1 6,2
Solicitação de exames ao profissional vítima Sim 11 68,7 Não 5 31,3
Indicação de profilaxia pós-exposição Sim 5 25,0 Não 11 75,0
Início da quimioprofilaxia < 2 horas 3 60,0 2 a 72 horas 2 30,0
Retorno para acompanhamento médico Sim 9 56,3 Não 7 43,7
A tabela 5 apresenta a análise univariada dos potenciais fatores associados aos
acidentes com material biológico entre os profissionais de saúde das UABSF.
Capa Índice 1416
Tabela 5. Potenciais fatores associados aos acidentes com material biológico entre profissionais da área da saúde atuantes em unidades de atenção básica à saúde da família de um distrito sanitário do município de Goiânia- GO. Goiânia, 2012
Variável TotalAcidente
X 2 PSim (%) Não (%)
Idade 23-29 30-39 40-49 50-60
18 63 39 11
4 11 3 2
(22,2) (17,5) (7,7) (18,2)
14 52 36 9
(77,8) (82,5) (92,3) (81,8)
2,71 0,44
Categoria profissional Enfermagem Odontologia Agente Comunitário de Saúde Outros
37 28 57 10
8 8 3 1
(21,6) (28,6) (5,3) (10,0)
29 20 54 9
(78,4) (71,4) (94,7) (90,0)
9,66 0,02
Tempo de atuação profissional Até 10 anos 11 a 20 anos Acima de 21 anos
77 43 11
12 7 1
(15,6) (16,3) (9,1)
65 36 10
(84,4) (83,7) (90,9)
0,36 0,83
Outro vínculo empregatício Sim Não
24 107
7 13
(29,2) (12,1)
17 94
(70,8) (87,9)
4,39 0,03
Participou de capacitação sobre risco biológico Não Sim
52 72
6 14
(11,5) (19,4)
46 58
(88,5) (80,6)
1,39 0,24
Foi orientado sobre risco biológico e biossegurança na admissão Não Sim
87 34
17 2
(19,5) (5,9)
70 32
(80,5) (94,1)
3,44 0,06
Recebeu vacina contra hepatite B Não Sim
3 127
0 20
(0,0) (15,7)
3 107
(100,0) (84,3)
0,59 0,4
Esquema vacinal completo Não Sim
12 103
0 20
(0,0) (19,4)
12 83
(100,0) (80,6)
2,82 0,09
Fez anti-HBs Não Sim
41 59
4 15
(9,8) (25,4)
37 44
(90,2) (74,6)
3,85 0,04
Em análise univariada, houve associação estatisticamente significativa para a
ocorrência de acidentes: categoria profissional, outro vínculo empregatício, realização de anti-
HBs. Verificou-se que as variáveis: idade, tempo de atuação profissional, participação em
capacitação sobre RB, vacina contra hepatite B e esquema vacinal contra hepatite B completo
não foram significativamente relacionadas à ocorrência de acidente com exposição a material
biológico. A variável: orientação sobre RB e biossegurança na admissão apresentou valores
de associação marginal. O número de participantes e a baixa incidência de acidentes
inviabilizaram a análise multivariada.
Capa Índice 1417
Discussão
Os sujeitos eram predominantemente do sexo feminino, maioria na faixa etária de 30 a
39 anos com vínculo empregatício único e jornada laboral de 40 horas semanais. Dados
semelhantes aos encontrados por Tomasi et al (2008) em estudo realizado em Unidades
Básicas de Saúde (UBS) e Programas de Saúde da Família (PSF) nas regiões Sul e Nordeste,
no qual 81,0% dos profissionais era do sexo feminino, houve maior concentração nos PSF do
grupo etário de 31 a 45 anos, 85,0% a 83,0% com vínculo empregatício único, e 84,0% a
88,0% mantinham contrato de 40 horas semanais.
A categoria profissional predominante foi de ACS, seguido por auxiliar/técnico de
enfermagem, coincidindo com achado de outros autores e justificado pelo maior contingente
de profissionais dessas categorias atuando nas UABSF, uma vez que os ACS devem ser em
número suficiente para cobrir toda a área de abrangência do PSF e auxiliares/técnicos de
enfermagem, além de comporem as equipes de saúde da família, desempenham atividades em
salas de vacina (TOMASI et al, 2008; BRASIL, 2011b).
Segundo a Norma Regulamentadora nº32 do Ministério do Trabalho e Emprego
(2005), é dever do empregador assegurar capacitação aos trabalhadores, antes do início das
atividades e de forma continuada, o que não ocorreu na maioria dos casos relatados neste
estudo. A esse respeito observou-se falha no processo admissional, pois 65,9% dos
profissionais referiram não ter recebido orientações sobre RB e biossegurança. Além disso, a
literatura enfatiza a necessidade de educação em serviço para planejamento e
desenvolvimento de medidas que minimizem a ocorrência de acidentes com MB (GARCIA,
FACCHINI, 2008; LIMA, OLIVEIRA, RODRIGUES, 2011;), nesse estudo pouco mais da
metade dos trabalhadores referiram capacitação sobre o tema, há menos de dois anos e na
UABSF que trabalha atualmente.
Em estudo realizado em um hospital universitário da Uberlândia, o número de
acidentes de trabalho foi menor entre profissionais que receberam ensino sobre o tema durante
a formação, porém o ensino no trabalho não teve associação significativa com a redução dos
acidentes. As autoras destacaram que o ensino no trabalho pareceu ocorrer de maneira não
sistematizada, descontínua e sem ênfase no processo ensino-aprendizagem, portanto, não
eficaz (JANSEN, ROBAZZI, 2009). Diante disso, é possível inferir que a maneira como é
planejada e realizada a educação em serviço é importante para no aprendizado do profissional.
Uma das principais medidas profiláticas pré-exposição a material biológico é
vacinação contra hepatite B. Os índices relacionados à vacinação encontrados nesse estudo
Capa Índice 1418
foram maiores do que em uma pesquisa realizada por Garcia e Facchini (2008) com
trabalhadores de UBS de Florianópolis.
No presente estudo foi obtido um índice de 15,1% de acidentes com MB relatados
pelo PAS, enquanto no estudo realizado por Garcia (2008) encontrou-se um valor de 11,8%
no período de um ano, índices menores que os encontrados em outros serviços de saúde
(OLIVEIRA, GONÇALVES, 2010; PAIVA, OLIVEIRA, 2010).
De acordo com a Portaria nº 2.472 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2010b),
acidentes ocupacionais com exposição a MB se classificam como evento de notificação
compulsória e devem ser notificados e registrados no Sistema de Informação de Agravos de
Notificação- SINAN. Nesse estudo a notificação não foi feita em 35,0% dos casos. Não foram
encontrados estudos que evidenciassem essa questão na atenção básica, entre PAS na área
hospitalar os índices de subnotificação são elevados (CHIODI, MARZIALE, ROBAZZI,
2007; JANSEN e ROBAZZI, 2009).
Um elevado índice de profissionais referiu falta de informação como empecilho para a
notificação dos acidentes, evidenciando a necessidade de orientações e capacitação sobre RB
e segurança no trabalho, incluindo condutas a serem tomadas frente à exposição ocupacional a
material biológico.
As categorias profissionais com maior frequência de acidentes foram Enfermagem e
Odontologia, seguido por ACS, como encontrado em investigação de Garcia (2008), na qual
técnicos de enfermagem, auxiliares de consultório dentário e cirurgiões-dentistas foram as
categorias que mais se acidentaram. Em investigação de acidentes com MB ocorridos nas
Unidades Básicas e Distritais de Saúde, Núcleos de Saúde da Família e Serviço de Assistência
Médica de Urgência do Município de Ribeirão Preto – SP, a equipe com maior número de
trabalhadores acidentados foi a enfermagem com 72,5% dos registros e em segundo a
odontologia com 17,7% (CHIODI, MARZIALE, ROBAZZI, 2007). Spagnuolo, Baldo e
Guerrini (2008) em levantamento de fichas de notificação de acidentes com MB do município
de Londrina encontraram índices de 49% na equipe de enfermagem, 6,8% em odontologia e
1,2% entre ACS.
A maioria dos acidentes mencionados ocorreu por exposição percutânea (80,0%),
90,0% atingiram as mãos, e em 75,0% o sangue foi o material biológico envolvido, assim
como em estudo realizado em Florianópolis, com índices de 59,2%, 49,5% e 72,8%,
respectivamente (GARCIA, 2008).
Procedimentos de enfermagem envolvendo agulha foram os mais frequentemente
relatados nesse estudo o que reforça os dados do estudo realizado por Cardoso e Figueiredo
Capa Índice 1419
(2010), que identificou que 90% dos procedimentos realizados pela enfermagem com risco de
exposição à MB envolviam uso de agulhas e exposição a sangue.
Espera-se que com o fim do prazo de implementação da Portaria nº. 1748 (BRASIL,
2011a) que trata da obrigatoriedade de implantação de materiais perfurocortantes com
dispositivo de segurança em serviços de saúde, haja um impacto na redução das exposições
percutâneas entre os PAS, conforme identificado em estudos realizados em outros países
(ROGUES et al, 2004; VALLS et al, 2007).
É importante lembrar que na atenção básica as atividades desempenhadas por alguns
profissionais não é restrita à sede da UBS, sendo realizadas visitas domiciliares, fato que
expõe os trabalhadores a outros fatores de adoecimento e riscos ocupacionais (GARCIA,
2008). Nesse sentido, foram relados dois acidentes com ACS durante a visita domiciliária e
teoricamente esse grupo não desempenharia atividades com exposição a MB. Esses dados
apontam para uma particularidade da atenção básica e para a necessidade de estudos que
elucidem as atividades realizadas e os modos de exposição dos profissionais dessa categoria.
O uso de EPI é uma importante medida de proteção relacionada à exposição a MB
para os PAS e esses dispositivos são recomendados em situações que há risco de contato com
sangue ou outros fluidos corporais (SIEGEL et al, 2007). Nesta investigação em 70% dos
casos o uso de EPI foi considerado inadequado, evidenciando que a barreira esperada do EPI
não tem sido efetivada pela não adesão ou adesão incorreta desses equipamentos.
As últimas recomendações da Organização Mundial de Saúde (WHO, 2009), não
preconizam o uso de luvas para realização de injetáveis por via intramuscular, entretanto, o
presente estudo mostrou que aconteceram acidentes durante a realização desse procedimento
com exposição ao sangue do paciente, indicando que essa possibilidade existe e que estudos
são necessários para definição dos indicadores para uso de luvas na administração de
medicamentos intramusculares.
A primeira conduta a ser adotada em caso de exposição a MB é o cuidado com o
local afetado. O Ministério da Saúde recomenda que seja utilizado soro fisiológico ou água
nas exposições em mucosa e água e sabão para acidentes percutâneos. O uso de antissépticos
é considerado opcional, pois ainda não há evidências de que seu uso reduza o risco de
soroconversão às doenças de transmissão sanguínea (BRASIL, 2010a). Na maioria dos
acidentes relatados nesse estudo houve o cumprimento dessa recomendação que diminui as
chances de soroconversão, na medida em que reduz a quantidade do inoculo
(ORGANIZAÇÃO PANAMERICA DA SAÚDE, 2010; BRASIL, 2010a).
Capa Índice 1420
Outro cuidado importante pós-exposição MB é a identificação do paciente fonte, o que
foi possível em 70,0% dos acidentes informados. Não encontramos estudos na atenção básica,
mas em um estudo realizado em hospital de ensino de Goiânia, frequência semelhante foi
encontrada (OLIVEIRA, GONÇALVES, 2010).
Desde 2006, no município de Goiânia, foi implantada a Rede de Serviço Sentinela
como tentativa de agilizar e descentralizar o atendimento às vítimas de acidentes com MB. É
composta por unidades de atendimento 24 horas, onde os profissionais acidentados recebem o
primeiro atendimento e são encaminhados ao Centro de Referência em Saúde do Trabalhador
(regional)/Centro de Referência em Diagnóstico e Terapêutica (CEREST/CRDT) para realizar
o acompanhamento. Os dados desse estudo sinalizam um reflexo dessa política de
descentralização, pois a maior parte dos atendimentos foi realizada em um Centro de Atenção
Integral à Saúde- CAIS do Distrito, referência para atendimento ao trabalhador acidentado,
contrastando com os dados apresentados em estudo de Lopes et al (2004), o qual mostrou que
antes da implantação da Rede de Serviço Sentinela e das unidades de referência para atender
a vítima de acidente com MB, esses atendimentos eram em grande parte centralizados no
Hospital de Referência em Doenças Infectocontagiosas o que gerava sobrecarga do serviço e
ineficiência do atendimento às vítimas.
Na maioria dos casos (75,0%) não foi indicada profilaxia pós-exposição (PPE), dado
similar com estudo de Guilarde et al (2010) na área hospitalar onde não houve indicação de
profilaxia em 84,8% dos casos. O tempo decorrido entre o acidente e o início da PPE é outro
fator fundamental, pois quanto menor o intervalo entre a exposição e o início da
quimioprofilaxia, maior é sua eficácia. Recomenda-se o prazo máximo para início de PPE
seja de 72 horas após o acidente (BRASIL, 2010a). Neste estudo 60% dos profissionais que
tiveram indicação de PPE referiram período de até duas horas entre o acidente e o início da
medicação e 30,0% relataram intervalo de duas a 72 horas.
Segundo recomendações do Ministério da Saúde, a frequência de retornos para o
seguimento clínico-laboratorial é de seis semanas, três meses e seis meses após o primeiro
atendimento (BRASIL, 2010a). Verificou-se nesta investigação que dentre os 16 profissionais
que submeteram a atendimento médico, nove (56,2%) retornaram para acompanhamento.
Referente às categorias profissionais, a análise univariada permitiu verificar que há
diferença estatisticamente significativa para a ocorrência de acidentes entre elas, não sendo
possível estimar as diferenças nas proporções. A associação do acidente com ter outro vínculo
empregatício, encontrada nesse estudo, também foi identificada em estudo de Garcia (2008)
Capa Índice 1421
na atenção básica, entretanto Dalarosa e Lautert (2009) não encontraram essa associação em
um hospital escola.
Ter realizado o teste anti-HBs que também foi estatisticamente significante para a
ocorrência de acidentes no nosso estudo, pode ser comparado com estudo de Garcia (2008)
que encontrou associação com vacinação para hepatite B, pois os autores consideraram como
“vacinados” aqueles que receberam três doses da vacina e, portanto com grandes chances de
atingir títulos que confirmem a imunidade contra hepatite B (CDC, 2011). Ambos os dados
permitem inferir que aqueles vacinados e os que realizaram o teste, parecem sentirem-se mais
protegidos, subestimando o risco de se acidentar.
Algumas limitações do presente estudo precisam ser levadas em consideração, tais
como a reduzida população participante, os acidentes descritos não correspondem ao número
total de acidentes ocorridos, uma vez que os profissionais que sofreram mais de um acidente
descreveram apenas aquele que considerou mais importante, e ainda o fato da descrição do
acidente depender da memória dos sujeitos. Mais estudos sobre a temática são necessários
para confirmar as associações encontradas.
Conclusão
Os dados deste estudo evidenciam que os profissionais da atenção básica
desempenham atividades que oferecem risco de acidente com MB, e acidentam-se em
circunstâncias semelhantes àquelas observadas em ambiente hospitalar. A incidência de
acidentes ocupacionais com exposição a MB entre os PAS da atenção básica foi menor
quando comparada aos ocorridos no ambiente hospitalar, com maiores frequências nos grupos
de Enfermagem e Odontologia, seguido por ACS. A notificação do acidente foi feita em
grande parte dos casos.
A maioria dos acidentes ocorreu por exposição percutânea, atingiram as mãos, e
envolveram sangue como material biológico. A prática mais frequente na ocorrência do
acidente foi procedimentos de enfermagem envolvendo agulha, seguida por procedimentos
odontológicos e descarte de perfurocortantes. Todos os acidentados eram vacinados contra
hepatite B e o índice de adesão e uso correto de equipamentos de proteção foi baixo.
A maior parte do PAS realizaram adequadamente os cuidados locais com a área
exposta e procurou atendimento médico. Na maioria dos acidentes foi possível identificar o
paciente- fonte. O índice de retorno para acompanhamento médico foi baixo.
Capa Índice 1422
Ao realizar análise univariada, foi encontrada associação estatisticamente significativa
para a ocorrência de acidentes com categoria profissional, outro vínculo empregatício e
realização de teste anti-HBs.
Observamos a necessidade da implantação de programas educativos, da oferta de
material com dispositivo de segurança, da adesão às medidas preventivas e principalmente da
mudança de comportamento dos profissionais visando minimizar a ocorrência e a gravidade
dos acidentes com MB na atenção básica.
Com o grande crescimento da atenção primária, ressaltamos a importância do
desenvolvimento de pesquisas com ênfase nesse nível de atenção à saúde a fim de nortear
ações para a melhoria dos serviços, das condições de trabalho, da segurança e saúde dos
profissionais.
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____ Portaria nº 2.472 de 31 de agosto de 2010 - Define as terminologias adotadas em legislação nacional, conforme disposto no Regulamento Sanitário Internacional 2005 (RSI 2005), a relação de doenças, agravos e eventos em saúde pública de notificação compulsória em todo o território nacional e estabelecer fluxo, critérios, responsabilidades e atribuições aos profissionais e serviços de saúde. D.O.U., 01 de setembro de 2010.
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*Revisado pelo orientador
Capa Índice 1424
Efeito de Metarhizium anisopliae s.l. sobre Rhipicephalus sanguineus em condições
estressantes de temperatura
Alves, Fabrício Moreira1; Fernandes, Éverton Kort Kamp2. 1 Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia-GO. 2 Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública, Universidade Federal de Goiás, Goiânia-GO Endereço eletrônico: [email protected]; [email protected]
Palavras-chave: carrapatos, Metarhizium anisopliae, controle microbiano.
1. Introdução
Carrapatos desenvolvem-se em estágios de ovo, larva, ninfa e adulto. Tanto machos
quanto fêmeas são sugadores de sangue, onde a fêmea no estágio adulto se ingurgita de
sangue para efetuar a postura. O gênero Rhipicephalus é de distribuição cosmopolita e suas
origens são da África e Europa Mediterrânea (Neumann, 1911). No Brasil, a espécie
Rhipicephalus sanguineus possui distribuição nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudoeste.
O principal hospedeiro de R. sanguineus é o cão, mas pode hospedar-se em outros animais e
no homem e desenvolver seu ciclo biológico (Aragão, 1911).
R. saguineus é vetor de Babesia canis e Ehrlichia canis, que são agentes etiológicos
da babesiose e da erliquiose monocítica, respectivamente (Torres, 2008). Apesar da baixa
antropofilia, R. sanguineus é relatado como vetor da febre maculosa em países como os
Estados Unidos e México, onde a proximidade do carrapato com o homem no ambiente
peridoméstico é um fator predisponente (Demma et al, 2005).
Os atuais métodos de controle para R. sanguineus consiste no controle químico que se
utiliza de spays, shampoos, e colares, no qual são impregnados com acaricidas químicos como
piretróides, amitraz e organofosforados (Torres, 2008). O uso indiscriminado de acaricidas
químicos, no entanto, leva ao surgimento de populações de carrapatos resistentes a um amplo
espectro de químicos (Wharton e Roulston, 1970). Neste sentido, as investigações de métodos
alternativos para o controle de carrapatos têm sido ampliadas nos últimos anos. Na natureza,
diversos predadores de carrapatos como aves, bactérias, fungos, besouros e nematódeos têm
potencial para atuar como agente de controle biológico (Samish e Rehacek, 1999). Fungos
entomopatogênicos são relatados como sendo importantes patógenos de carrapatos por conta
Capa Índice 1425
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1425 - 1439
de sua ampla dispersão, por possuir penetração ativa pela cutícula do carrapato e atacar as
diversas fases do ciclo do carrapato (Samish, 1999).
Durante o ciclo evolutivo de fungos entomopatogênicos, a temperatura exerce um
fator determinante sobre o metabolismo, sendo as temperaturas entre 20ºC e 30ºC
consideradas ideais para o crescimento e desenvolvimento da maioria das espécies (Alves,
1998). Linhagens de Metharizium anisopliae sensu lato (s.l.) crescem preferencialmente em
temperatura próxima de 27ºC ± 1ºC (Alves, 1998). Fatores abióticos como altas temperaturas,
radiação ultravioleta (UV) e baixa umidade relativa (UR) são fatores que podem comprometer
expressivamente a persistência de conídios fúngicos no ambiente, e reduzir portanto, a
eficiência do agente para controle de carrapatos (Fernandes e Bittencourt, 2012).
Estudos em laboratório têm demonstrado a eficiência da formulação aquosa de M.
anisopliae s.l. para o controle de carrapatos; porém, quando ensaios são realizados em
condições de campo e semi-campo, baixa eficiência no controle é observada. Nestas
condições, o uso de M. anisopliae formulado em óleo, em geral, tem promovido maior
eficácia de controle quando comparado à formulação aquosa (Fernandes e Bittencourt, 2012).
Tal variação de eficiência pode estar relacionada a um menor efeito de fatores abióticos, como
temperatura e radiação UV, sobre a viabilidade de conídios formulados em óleo em relação
aos conídios formulados em água (Daoust, Ward e Roberts, 1983; Oliveira, 2009).
2. Objetivos
2.1 Objetivos gerais:
Investigar a virulência de formulações a base de M. anisopliae expostos à condições
de estresse térmico.
2.2 Objetivos específicos:
Investigar o efeito in vitro da temperatura sobre a germinação de conídios de M.
anisopliae s.l. (Metarril Organic®, Itaforte Bioprodutos, Itapetininga, SP) formulados em água
ou óleo.
Investigar parâmetros biológicos do carrapato Rhipicephalus sanguineus tratados com
conídios do fungo M. anisopliae s.l. formulados em água ou óleo, e submetidos à condições
estressantes de temperatura.
Capa Índice 1426
3. Materiais e Métodos:
3.1 Obtenção do isolado fúngico: Os testes foram realizados com o produto
comercial Metarril Organic® (Itaforte Bioprodutos, Itapetininga, SP), composto por dois
isolados de M. anisopliae s.l., ESALQ-1037 e ESALQ-E9, formulados em pó molhável.
3.2 Bioensaio: Fêmeas ingurgitadas de R. sanguineus foram coletadas de cães
naturalmente infestados e mantidos no Centro de Controle de Zoonoses de Goiânia e
Aparecida de Goiânia. No laboratório, foram lavadas com água corrente para a seleção das
fêmeas mais ingurgitadas e eliminação das fêmeas inviáveis, machos, e fêmeas mortas.
Depois de selecionadas, as fêmeas foram lavadas em água destilada, mergulhadas por 30
segundos em álcool 70%, e em seguida em hipoclorito 1%, água destilada, e então secas em
papel toalha. Para minimizar o efeito da diferença de peso entre as fêmeas ingurgitadas, o
método de Intervalo de Classe (IC) foi utilizado (Samapaio, 2002). Para cálculo do IC as
fêmeas foram pesadas individualmente e os valores máximos e mínimos observados foram
utilizados como demonstrado na fórmula:
IC = Amplitude dos valores obtidos na amostra
Número de Classes utilizadas
A amplitude dos valores obtidos na amostra é a diferença dos valores máximo e
mínimo observados dentro dos pesos das fêmeas, e o número de classes é o número de fêmeas
utilizadas para cada grupo do bioensaio. As fêmeas foram separadas segundo o peso em 10
grupos, cada um com 10 fêmeas. Cada fêmea foi novamente pesada e fixada em suporte
metálico com auxílio de esparadrapo na posição dorso-ventral e com o gnatossoma voltado
para baixo. O suporte com a fêmea foi colocado individualmente em um frasco de penicilina
devidamente identificado (Figura 1).
As formulações fúngicas para o bioensaio foram preparadas suspendendo-se conídios
em óleo mineral Naturol® para a formulação oleosa e em água com Tween 80® a 0,01% para
a formulação aquosa, ambas as formulações foram ajustadas para a concentração de 1,0 × 108
conídios mL-1.
O tratamento foi realizado com aplicação tópica de 2,5 µL da suspensão fúngica
(aproximadamente 750.000 conídios) na região ventral da cutícula, no terço anterior do
idiossoma. Nos grupos controle, as fêmeas foram tratadas com óleo ou água apenas (sem
adição de conídios), e um grupo controle não recebeu tratamento algum. Seguido ao
tratamento, cinco grupos de fêmeas foram incubados a constante 25 ± 1ºC. Outros cinco
Capa Índice 1427
grupos foram colocados em banho-maria para exposição à temperatura de 40 ± 1ºC por 4
horas, e depois incubados à 25 ± 1ºC por 20 horas. Esses ciclos foram mantidos por 4 dias
seguidos, e após esse período as fêmeas foram incubadas em temperatura constante de 25 ±
1ºC. Em todas as condições a Umidade Relativa foi maior que 98%. Os grupos de tratamento
e suas exposições às diferentes temperaturas estão esquematizados na Figura 2.
A postura de cada fêmea foi coletada diariamente antes do tratamento térmico e
pesada em balança analítica. Após a pesagem, a postura era transferida para tubo de ensaio,
que era vedado com algodão. Os tubos foram mantidos em câmara úmida a 25 ± 1ºC para
posterior avaliação da eclosão das larvas. Após os quatro dias de exposição aos ciclos de 40 e
25ºC, as fêmeas foram transferidas para placas de Petri para melhor manipulação das
posturas. Ao término da postura, as quenóginas foram pesadas e colocadas em placas de Petri
de acordo com o tipo de tratamento que receberam. As placas foram mantidas em câmara
úmida à 25 ± 1ºC para avaliação do crescimento do fungo sobre a cutícula.
Os seguintes parâmetros biológicos foram investigados: peso inicial da fêmea
ingurgitada; peso da postura; período de postura (compreendido entre a postura do primeiro e a
do último ovo); peso da quenógina (determinado três dias após o término da postura) e
percentual de eclosão larval, avaliado através de uma leitura subjetiva da quantidade de larvas
eclodidas em relação à massa total de ovos, com o auxílio de um microscópio estereoscópio.
Foi calculado então o índice de produção de ovos (IPO) e o índice nutricional (IN),
conforme metodologia descrita por Bennett (1974), pelas seguintes equações: IPO = peso da
massa de ovos (g) / peso inicial da fêmea ingurgitada (g) × 100; e IN = peso da massa de ovos
Figura 1: Fêmea ingurgitada de R. sanguineus colada em suporte de metal
Figura 2: Representação dos grupos do bioensaio.
Capa Índice 1428
(g) / peso da teleógina (g) – peso da quenógina (g) × 100. Foi calculado ainda a eficiência
reprodutiva (ER) e o percentual de controle, conforme metodologia descrita por Drummond et
al. (1971), usando as seguintes equações: ER = peso da massa de ovos (g) / peso da teleógina
(g) × % eclosão larvas × 20.000; Percentual de controle = ER média do grupo controle – ER
média do grupo tratado / ER média do grupo controle × 100.
Os dados referentes ao período de pré-postura, período de postura, período de
incubação nutricional, índice de produção de ovos, percentual de eclosão e período de eclosão
foram submetidos à análise de variância fatorial arranjo 2 × 4, seguidos do teste de Tukey,
com nível de significância de 5% (p ≤ 0,05) (Sampaio 2002). Foram feitas três repetições dos
experimentos em dias diferentes.
3.3 Teste in vitro da termotolerância de conídios: Em tubos de vidro foram
preparadas duas suspensões mãe: uma em óleo mineral (Naturol®), outra em solução aquosa
de Tween 80® a 0,01%. De cada suspensão mãe, 2 mL foram transferidos para cada um dos
quatro tubos de ensaio de vidro com rosca. Um tubo foi mantido a 25ºC (controle), e três
foram expostos a 40 ± 0.2ºC, cada um por 2, 4 ou 6 h em banho-maria, conforme ilustrado na
Figura 3.
Após o tempo de exposição, os tubos foram retirados do banho-maria e processados
para remover o óleo e permitir a avaliação da germinação dos conídios. Este método,
estabelecido por Oliveira (2009), consistiu em transferir 1 mL do formulado para um tubo de
centrifugação de 15 ml, adicionar 100 µL do solubilizante Solub’Oil® e 9 ml de suspensão
aquosa de Tween 80 a 0.05%. A suspensão era então agitada em vortex e centrifugada. O
sobrenadante era descartado e todo o processo repetido. Os conídios foram então suspensos
em 1 mL de Tween 80 0,01%, e uma alíquota de 20 µL transferida para placas de Petri
contendo 4 mL de meio batata dextrose ágar suplementado com 1g L-1 de extrato de levedura
Figura 3: Representação dos grupos do teste de termotolerância.
Capa Índice 1429
(BDAY) acrescido de 0,002% (p/v) de Benomyl (Braga et al. 2001). As placas que receberam
os conídios do teste foram mantidas em escotofase a 25ºC por 8, 12, 16, 20 ou 24 horas. A
germinação dos conídios foi examinada em microscópio óptico com magnitude de 400×. Um
número mínimo de 300 conídios por placa foi avaliado e o percentual relativo de germinação
calculado utilizando-se a seguinte equação: Germinação Relativa (%) = (Wt/Wc) × 100, onde
Wt é o número médio de conídios germinados em cada placa exposta ao calor por um período
t de tempo, e Wc é o número médio de conídios germinados nas placas pertencentes ao grupo
controle (Braga et al. 2001). Foram feitas três repetições dos experimentos em dias diferentes.
Diferenças de termotolerância conidial entre as formulações oleosa e aquosa do mesmo
produto foram determinadas através de análise de variância, seguidos do teste Tukey, com
nível de significância de 5% (p ≤ 0,05).
4. Resultados:
4.1 Resultados do bioensaio: O grupo de fêmeas de R. sanguineus tratado com
suspensão oleosa e mantido a constante 25ºC (SO 25ºC) obteve o maior percentual de
controle (Tabela 1). O grupo tratado com suspensão oleosa e exposto aos ciclos de 40ºC/4h +
25ºC/20h por 4 dias (SO 40ºC) apresentou menor percentual de controle quando comparado
ao grupo tratado com suspensão oleosa que foi mantido em constante 25ºC (Tabela 1). O
grupo tratado com suspensão aquosa exposto aos ciclos de 40ºC/4h + 25ºC/20h por 4 dias (SA
40ºC) apresentou menor percentual de controle quando comparado ao grupo tratado com
suspensão aquosa que foi mantido em constante 25ºC (Tabela 1). Em temperatura constante
de 25ºC ou em ciclos 40ºC/4h + 25ºC/20h por 4 dias, a suspensão oleosa (SO 25ºC ou SO
40ºC, respectivamente) foi mais efetiva para controle de R. sanguineus do que a suspensão
aquosa (SA 25ºC ou SA 40ºC) (Tabela 1).
O grupo controle que não recebeu tratamento fúngico demonstrou o efeito da
temperatura sobre os parâmetros biológicos do carrapato. Fêmeas ingurgitadas não tratadas
com fungo ou veículo (óleo ou água) apresentaram menor eficiência reprodutiva (ER) quando
foram expostas aos ciclos com temperatura de 40ºC/25ºC, em relação às fêmeas incubadas em
constante 25ºC.
Capa Índice 1430
Tabela 1: Eficiência Reprodutiva (ER) e percentual de controle (% controle) obtido nos grupos tratados com suspensão oleosa (SO), suspensão aquosa (SA), água ou óleo, e no grupo controle (sem tratamento).
Tratamento* ER % controle SO 40ºC/25ºC 318206,24 61,43
SO 25ºC 295018,01 68,91 SA 40ºC/25ºC 556473,21 38,64
SA 25ºC 558551,29 42,57 Água 40ºC/25ºC 906974,73
Água 25ºC 972687,56 Óleo 40ºC/25ºC 825036,55
Óleo 25ºC 949148,86 Controle 40ºC/25ºC 822989,80
Controle 25ºC 1065725,83 (*) 25ºC: refere-se a manutenção do grupo em temperatura constante. 40ºC/25ºC: refere-se a exposição dos grupos a ciclos de 40ºC por 4 h e 25ºC por 20 h durante 4 dias; a partir do quinto dia os grupos eram incubados em contante 25ºC.
Os resultados demonstram que não houve interação (F = 1,6; p = 0,22) entre o
tratamento fúngico e exposição às temperaturas para o período de pré-postura das fêmeas.
Houve, no entanto, significância para o efeito do tratamento fúngico (F = 11,20; p = 0,0004) e
da temperatura (F = 11,33; p = 0,0041) isoladamente. O teste de comparação de médias
demonstra que os grupos de fêmeas tratados com óleo independente da presença de fungo
apresentam maior período de pré-postura. A temperatura também é um fator que determina o
aumento do período de pré-postura (Tabela 2).
(*) Médias seguidas de mesma letra maiúscula em uma mesma coluna não diferem entre si. Médias seguidas de mesma letra minúscula em uma mesma linha não diferem entre si.
Não houve interação entre tratamento fúngico e exposição às temperaturas para o
período de postura (F = 0,71; p = 0,56). Isoladamente, observou-se efeito do tratamento
fúngico na redução significativa do período médio de postura (F = 28,17; p < 0,0001). O teste
de comparação de médias demonstra que o tratamento das fêmeas com suspensão conidial
oleosa e a incubação em constante 25ºC, foi mais eficiente para redução do período médio de
Temperatura Tratamento* Suspensão
oleosa Suspensão
aquosa Óleo Água
Ciclos 40ºC/25ºC 7,65 Aa 6,38 Ab 8,38 Aa 6,12 Ab Constante 25ºC 6,29 Bac 5,92 Aa 7,27 Abc 5,78 Aa
Tabela 2: Período médio de pré-postura (dias) de fêmeas ingurgitadas de Rhipicephalus sanguineus tratadas com suspensão de conídios de Metarhizium sp. ou apenas veículo (controle), mantidas em temperatura constante (25ºC) ou expostos a 4 ciclos de 40ºC por 4h e 25ºC por 20 h e posteriormente em contatnte 25ºC.
Capa Índice 1431
postura quando comparado com o tratamento com suspensão aquosa incubada sob a mesma
temperatura. Na temperatura de 40ºC/25ºC não houve diferença estatística entre os grupos
tratados com suspensão oleosa e suspensão aquosa para este parâmetro (Tabela 3).
Temperatura Tratamento* Suspensão
oleosa Suspensão
aquosa Óleo Água
Ciclos 40ºC/25ºC 6,90 a 9,15 a 11,95 b 12,91 b Constante 25 ºC 5,82 a 9,60 b 13,40 c 11,95 bc (*) Médias seguidas de mesma letra em uma mesma linha não diferem entre si.
Para o período médio de incubação dos ovos não houve interação entre tratamento
fúngico e exposição às temperaturas testadas (F = 0,17; p = 0,91), e também não houve
significância para efeito isolado do tratamento (F = 0,59; p = 0,63) ou da temperatura (F =
0,45; p = 0,51) no teste ANOVA fatorial.
Ovos oriundos de fêmeas de R. sanguineus tratadas não apresentaram efeito de
interação do tratamento fúngico e da exposição às temperaturas para o período médio de
eclosão das larvas. Em contrapartida, houve significância para o efeito do tratamento fúngico
isoladamente (F = 7,32; p = 0,0029), o que não ocorreu para a exposição às diferentes
temperaturas (F = 1,22; p = 0,28).
Temperatura Tratamento* Suspensão
oleosa Suspensão
aquosa Óleo Água
Ciclos 40ºC/25ºC 5,47 a 6,21 a 7,33 a 6,83 a Constante 25 ºC 4,82 a 6,39 ab 8,13 b 6,83 ab (*) Médias seguidas de mesma letra em uma mesma linha não diferem entre si.
Não houve interação do efeito do tratamento fúngico e da exposição à temperaturas
sobre o parâmetro percentual médio de eclosão de larvas (F = 0,10; p = 0,96), mas houve
significância para o efeito do tratamento fúngico isoladamente (F = 10,23; p = 0,0008). Sendo
assim, foi observada redução do percentual médio de eclosão de larvas nos grupos de fêmeas
Tabela 3: Período médio de postura (dias) de fêmeas ingurgitadas de Rhipicephalus sanguineus tratadas com suspensão de conídios de Metarhizium sp. ou apenas veículo (controle), mantidas em temperatura constante (25ºC) ou expostos a 4 ciclos de 40ºC por 4h e 25ºC por 20 h e posteriormente em contatnte 25ºC.
Tabela 4: Período médio de eclosão (dias) de fêmeas ingurgitadas de Rhipicephalus sanguineus tratadas com suspensão de conídios de Metarhizium sp. ou apenas veículo (controle), mantidas em temperatura constante (25ºC) ou expostos a 4 ciclos de 40ºC por 4h e 25ºC por 20 h e posteriormente em constante 25ºC.
Capa Índice 1432
tratadas com suspensão conidial oleosa ou suspensão aquosa, em ambas as condições de
temperatura testadas (Tabela 5).
Temperatura Tratamento* Suspensão
oleosa Suspensão
aquosa Óleo Água
Ciclos 40ºC/25ºC 42,50 a 62,69 ab 76,66 b 79,58 b Constante 25 ºC 50,88 a 58,07 a 80,90 b 83,91 b (*) Médias seguidas de mesma letra em uma mesma linha não diferem entre si.
O Índice de Produção de Ovos (IPO) das fêmeas tratadas com fungo sofreu
significativa redução, mas não houve interação do efeito do tratamento fúngico e da exposição
às temperaturas testadas (F = 1,63; p = 0,22). Nos grupos de fêmeas expostos aos ciclos de
temperatura (40ºC/4h e 25ºC/20h) não existiu diferença estatística entre as médias dos grupos
tratados com suspensão conidial oleosa e suspensão aquosa. O IPO do grupo de fêmeas
incubado em constante 25ºC e tratado com suspensão oleosa foi significativamente menor do
que o IPO observado no grupo tratado com suspensão aquosa (Tabela 6).
Temperatura Tratamento* Suspensão
oleosa Suspensão
aquosa Óleo Água
Ciclos 40ºC/25ºC 36.12 a 41.60 a 52.02 b 55.00 b Constante 25ºC 27.84 a 44.68 b 55.8977 c 54.48 bc (*) Médias seguidas de mesma letra em uma mesma linha não diferem entre si.
Não houve interação entre tratamento fúngico e exposição às temperaturas testadas
para o índice nutricional (IN) de fêmeas ingurgitadas de R. sanguineus. No entanto, houve
significância para o efeito do tratamento fúngico isoladamente (F = 22,18; p < 0,0001). Os
grupos expostos aos 4 ciclos de 40ºC/25ºC não diferiram o IN em função da formulação
fúngica testada, mas ambos os tratamentos com suspensão conidial oleosa ou aquosa
reduziram significativamente o IN em comparação ao grupo de fêmeas tratado com água
apenas. Na temperatura de 25ºC houve diferença estatística para os grupos tratados com
Tabela 5: Percentual médio de eclosão de larvas a partir de ovos postos por fêmeas ingurgitadas de Rhipicephalus sanguineus tratadas com suspensão de conídios de Metarhizium sp. ou apenas veículo (controle) e mantidas em temperatura constante (25ºC) ou expostos a 4 ciclos de 40ºC por 4h e 25ºC por 20 h e posteriormente em constante 25ºC.
Tabela 6: Índice de produção de ovos de fêmeas ingurgitadas de Rhipicephalus sanguineus tratadas com suspensão de conídios de Metarhizium sp. ou apenas veículo (controle), mantidas em temperatura constante (25ºC) ou expostos a 4 ciclos de 40ºC por 4h e 25ºC por 20 h e posteriormente em constante 25ºC.
Capa Índice 1433
suspensão conidial oleosa e aquosa, na qual o grupo tratado com suspensão oleosa obteve o
menor IN (Tabela 7).
Temperatura Tratamento* Suspensão
oleosa Suspensão
aquosa Óleo Água
Ciclos 40ºC/25ºC 42,50 a 62,69 ab 76,66 b 79,58 c Constante 25ºC 42,05 a 64,96 b 78,67 c 78,57 c (*) Médias seguidas de mesma letra em uma mesma linha não diferem entre si.
4.2 Resultados do teste de temotolerância: Nos testes com exposição por 2 h a 40ºC,
a geminação de conídios formulados em óleo foi de 78% dentro das primeiras 8 h de
incubação. Em contrapartida, conídios formulados em água e expostos a 40ºC pelo mesmo
período de tempo, apresentaram germinação relativa média de 9,5% em até 8 h de incubação
(F=33,49; p=0,005) (Figura 4). Na exposição por 4 h a 40ºC, a germinação dos conídios
formulados em óleo foi de 89% nas primeiras 16 h, enquanto os conídios formulados em água
apresentaram germinação relativa média de 53% para o mesmo período de incubação, 16 h
(F=11,96; p=0,026) (Figura 5). Na exposição por 6 h, a germinação de conídios formulados
em óleo foi de 95% dentro das primeiras 12 h, enquanto os conídios formulados em água e
expostos ao calor por igual período apresentaram 50% de germinação relativa em até 12h de
incubação (F=30,72; p=0,0012) (Figura 6). Esses resultados mostram claramente um atraso
mais expressivo da germinação quando os conídios foram formulados em água, em
comparação aos conídios formulados em óleo.
Figura 4: Perfil da geminação relativa dos conídios formulados em óleo mineral (Naturol) ou água (Tween 80, 0,01%) e expostos a 40ºC por 2 horas, e incubados por diferentes tempos (h) a 25ºC.
Tabela 7: Índice nutricional de fêmeas ingurgitadas de Rhipicephalus sanguineus tratadas com suspensão de conídios de Metarhizium sp. ou apenas veículo (controle), mantidas em temperatura constante (25ºC) ou expostos a 4 ciclos de 40ºC por 4h e 25ºC por 20 h e posteriormente em constante 25ºC.
Capa Índice 1434
4. Discussão:
O presente estudo demonstrou o efeito in vivo de M. anisopliae formulado em óleo ou
água sobre condições de estresse térmico para o fungo e para o carrapato R. sanguineus.
Estudos anteriores, em geral, demonstraram o efeito de formulações fúngicas para controle de
carrapatos incubados em condições ótimas de temperatura e umidade (Angelo et al, 2010;
Fernandes e Bittencourt, 2008).
Fêmeas de R. sanguineus ingurgitadas foram sensíveis às exposições diárias de 40ºC
por 4 h durante 4 dias, mesmo tendo sido mantidas em temperatura ótima (25 ± 1ºC) nos
intervalos entre as exposições, e em constante temperatura ótima do quinto dia até o término
da ovipostura. O estresse térmico afetou de maneira negativa a eficiência reprodutiva das
fêmeas de R. sanguineus ingurgitadas. Estudos que investigaram a exposição de fêmeas
ingurgitadas à constante 32ºC relataram efeito prejudicial da temperatura para a manutenção
Figura 5: Perfil da geminação relativa dos conídios formulados em óleo mineral (Naturol) ou água (Tween 80, 0,01%) e expostos a 40ºC por 4 horas, e incubados por diferentes tempos (h) a 25ºC.
Figura 6: Perfil da geminação relativa dos conídios formulados em óleo mineral (Naturol) ou água (Tween 80, 0,01%) e expostos a 40ºC por 6 horas, e incubados por diferentes tempos (h) a 25ºC.
Capa Índice 1435
do ciclo biológico dos carrapatos sobre a fase de vida não parasitária (Freitas et al, 2004). Em
condições naturais, a temperatura pode alcançar 40ºC; a luz do sol que incide diretamente
sobre superfícies pode elevar a temperatura de microhabitats e inviabilizar a postura de
carrapatos. No entanto, fêmeas ingurgitadas em condições ambientais desfavoráveis tendem a
se descolocar para encontrar temperaturas mais amenas e com elevada umidade relativa. Essas
condições favorecem a oviposição, a incubação dos ovos e a eclosão das larvas, porém essas
condições também são favoráveis a atuação do fungo entomopatogênico.
Conídios de fungos entomopatogênicos, em geral, são muito sensíveis ao calor, e
dependendo da temperatura e do tempo de exposição, podem ter a germinação atrasada, ou
serem totalmente inviabilizados; no entanto, formulações podem conferir proteção dos
conídios contra o calor (Oliveira, 2009; Fernandes e Bittencourt, 2008). A termotolerância de
conídios formulados em óleo foi demonstrada no presente estudo também através de testes in
vitro; após exposição ao calor, conídios formulados em óleo mineral apresentaram
germinação mais acelerada que a dos conídios formulados em água. Esses resultados
demonstram a proteção do óleo mineral conferida aos conídios de M. anisopliae, e esses
dados corroboram com os relatados por Oliveira (2009). O mecanismo de atuação do óleo
para conferir a proteção aos conídios contra o efeito da temperatura ainda é pouco conhecido.
Testes in vivo confirmam o aumento de termotolerância e a manutenção da
virulência dos conídios formulados em óleo mineral. Fêmeas de R. sanguineus tratadas com
M. anisopliae formulado em óleo e submetidas à condições estressantes de temperatura
apresentaram redução dos seguintes parâmetros biológicos: eficiência reprodutiva, período de
postura, percentual de eclosão, índice nutricional, e índice de produção de ovos. Além disso, o
formulado oleoso promoveu um percentual de controle de R. sanguineus maior que o
promovido pelo formulado aquoso independente da temperatura, indicando maior
termotolerância dos conídios formulados em óleo. O percentual de controle é um excelente
parâmetro para avaliação do controle de populações de carrapato, pois seu cálculo baseia-se
no peso inicial da fêmea ingurgitada, peso da quenógina, peso da massa de ovos produzida e
percentual de eclosão das larvas, sendo, portanto, um dos parâmetros mais completos. Outros
parâmetros podem ter importante relevância para o controle microbiano de carrapatos, como o
período de pré-postura; o aumento deste período pode indicar eficiência do produto biológico
para o controle, pois expõe a fêmea ingurgitada por um período maior ao fungo e a outros
agentes bióticos e abióticos que podem comprometer ou até impedir a realização de
Capa Índice 1436
ovipostura, o que irá contribuir com a redução da população de carrapatos. No presente
estudo, observou-se aumento do período de pré-postura em fêmeas ingurgitadas tratadas, e
diversos indivíduos morreram antes mesmo de iniciar postura. A eficácia da formulação
oleosa de conídios de M. anisopliae em relação a formulação aquosa está possivelmente
relacionada a outros fatores além do aumento da termotolerância, como o aumento da adesão
de conídios à cutícula do hospedeiro, e a proteção dos conídios contra a dessecação (Leenon e
Jonsson, 2007).
5. Conclusão:
Metarhizium anisopliae s.l. formulado em óleo mineral apresentou-se mais eficaz para
controlar R. sanguineus em comparação ao formulado aquoso (Tween 80, 0,01%) quando
fêmeas de R. sanguineus tratadas foram mantidas em condições ótimas de temperatura
(constante 25ºC) ou quando expostas à estresse térmico (40ºC por 4h, diariamente, por 4
dias). Também conídios de M. anisopliae s.l. suspensos em óleo mineral germinaram mais
rápido do que conídios suspensos em solução aquosa de Tween 80 (0,01%) quando ambas
suspensões foram expostas a estresse térmico (40ºC), demonstrando que o óleo mineral
confere proteção aos conídios contra o calor. Neste sentido, o presente estudo demonstra que
a formulação oleosa de fungos entomopatogênicos pode potencializar a eficácia de agentes
biológicos em programas de controle de carrapatos. Este estudo é mais uma evidência de que
métodos biológicos podem ser eficazes para controle de carrapatos, e são promissores
alternativas ao uso exclusivo de acaricidas químicos.
6. Considerações finais:
O isolado IP 46, proposto no plano de trabalho, foi substituído pelo produto Metarril
pois testes preliminares (não mostrados neste relatório) demonstraram que o citado isolado
apresentava baixa virulência para R. sanguineus mesmo em temperatura constante de 25ºC,
condição esta considerada ótima para atuação do fungo. Neste sentido, os testes não
demonstrariam o efeito da exposição ao estresse térmico sobre a virulência do isolado.
Foram excluídos do teste proposto no plano de trabalho dois grupos de fêmeas
ingurgitadas que seriam expostos a 5ºC para reduzir o metabolismo fúngico enquanto outros
dois grupos de fêmeas seriam expostos aos ciclos de 40ºC/25ºC. Estes grupos foram
Capa Índice 1437
substituídos por dois grupos sem tratamento algum: um mantido em constante 25ºC e outro
exposto aos ciclos de 40ºC/25ºC.
Um teste in vitro para avaliação da velocidade de germinação dos conídios expostos
em diferentes tempos a 40ºC foi realizado, embora não constasse no plano de trabalho
proposto. Esses resultados corroboram com os testes in vivo, e complementam o presente
estudo.
7. Referências:
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O presente relatório foi revisado pelo orientador:
Prof. Éverton Kort Kamp Fernandes.
Capa Índice 1439
Configurações identitárias na obra de Estércio Marquez Cunha: o “sotaque” de um compositor goiano
Felipe Eugênio Vinhal Universidade Federal de Goiás – [email protected]
Orientadora: Magda de Miranda Clímaco Universidade Federal de Goiás- [email protected]
Palavras-chaves: Configurações identitárias; Compositor goiano; Estércio M. Cunha; Interação cultural
Essa pesquisa teve como objeto de estudo um conjunto de obras selecionadas do
repertório do músico e compositor goiano Estércio Marquez Cunha, abordadas tanto na sua
capacidade de evidenciar representações sociais implicadas com configurações identitárias
(CHARTIER,1990; HALL, 2006), quanto processos de interação cultural (CANCLINI,
2003). Um trabalho interdisciplinar, portanto, envolvendo a área da música em diálogo com
disciplinas afins.
O contato inicial com o compositor se deu no início de meus estudos musicais,
quando, em meio a teorizações e reflexões acerca da música na sua relação com a cultura,
com a sociedade e com a história, me depararei com algumas obras de Estércio Marquez
Cunha compostas em estilo contemporâneo, plenas de dissonâncias e efeitos timbrísticos
diversos. Numa primeira instância, essas obras pareciam estabelecer um diálogo estreito
apenas com a cultura européia e com a cultura americana de meados do século XX em diante,
distantes de realidade musical brasileira do período, mais especificamente, distantes da
realidade musical goiana.
Nascido em Goiatuba/GO, esse compositor, cuja obra abrange desde solos até
diversas formações de câmara e orquestra, cresceu na cidade de Goiânia. Segundo Andrade
(2000), sua trajetória musical evidencia que fez o curso de graduação em Música
(composição) na cidade do Rio de Janeiro, no Conservatório Brasileiro de Música, e a Pós-
Graduação (mestrado e doutorado) em Oklahoma nos Estados Unidos. Durante o período de
sua formação interagiu com outras culturas, portanto, o que leva a crer que sua linguagem
composicional tenha se transformado na medida em que esteve sujeita a novos processos
identitários (HALL, 2006), implicados, por sua vez, com processos de hibridação cultural.
Capa Índice 1440
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1440 - 1454
Canclini (2003, p. XIX) observa que entende por hibridação “processos sócio-culturais nos
quais estruturas e obras que existiam de forma separada, se combinam para gerar novas
estruturas, objetos e práticas”.
Essas circunstâncias, juntas, começaram a apontar para essa investigação, me
levaram a buscar uma base teórica que permitisse abordar o objeto de estudo que começava a
se delinear, buscar os processos identitários relacionados a uma produção artística que não
trazia, de forma direta, a marca da cultura originária do compositor. Foi nesse contexto de
busca teórica, portanto, que surgiu o conceito de representações sociais, percebido como um
campo forjador de processos identitários. Para Chartier (1990, p. 23) a noção de
representação remete
a práticas que visam fazer reconhecer uma identidade social, exibir uma maneira própria de estar no mundo, significar simbolicamente um estatuto e uma posição; por fim, as formas institucionalizadas e objetivas graças às quais uns “representantes” (instâncias coletivas ou pessoas singulares) marcam de forma visível e perpetuada a existência do grupo, da classe ou da comunidade
Essa base teórica, por outro lado, remeteu também aos processos identitários como
definidos por Hall (2000, p. 111-112), quando lembra que
as identidades são as posições que o sujeito é obrigado a assumir, embora sabendo, sempre, que elas são representações, que a representação é sempre construída ao longo de uma “falta”, ao longo de uma divisão, a partir do lugar do Outro e que, assim, elas não podem, nunca, ser ajustadas – idênticas - aos processos de sujeitos que nelas são investidos.
Esse autor, tendo em vista as crises identitárias pós-modernas, que interagem com
a diversidade acentuada resultante das grandes transformações nos meios de comunicação e
transporte, conforme mencionadas também por Harvey (1992), observa que os indivíduos não
são mais percebidos possuindo um eixo identitário estável e único. Sua identidade vem se
fragmentando, passa agora a ter não uma, mas várias identidades, por vezes contraditórias e
não resolvidas, em constante deslocamento. Segundo Hall (2006, p. 12), “as identidades estão
entrando em colapso, como resultado de mudanças estruturais e institucionais. O próprio
processo de identificação através do qual nos projetamos em nossas identidades culturais,
tornou-se mais provisório, variável e problemático”. Nesse sentido, a obra de Estércio
Marquez Cunha percebida como representação de elementos de um imaginário coletivo, não
perde a sua condição de evidenciar configurações identitárias diversas.
Capa Índice 1441
Esses conceitos foram utilizados também em consonância com a noção de gênero
do discurso (BAKHTIN, 2003), esse último, implicado com a polifonia de vozes que permite
observar o entrecruzar de diferentes dimensões culturais e temporais (diferentes enunciados,
representações sociais, portanto), na base de uma matriz cultural que interage com uma
situação imediata de relações (nesse caso uma obra musical, um “gênero” relacionado ao
campo de produção musical, inerente a um determinado tempo e contexto).
Mediante essa fundamentação teórica, portanto, pôde ser pressuposto que apesar
da transversalidade cultural da poética musical (Stravinsky, 1996) de Estércio Cunha, da
diversidade que possivelmente incorpora, essa linguagem musical não deixou de dialogar com
resíduos da cultura goiana. Percebida também como gêneros discursivos, plenos de uma
polifonia de vozes na sua base, as obras analisadas e interpretadas, relacionadas ao repertório
de Estércio Marquez Cunha, foram percebidas na sua condição de evidenciar um “conteúdo
temático”, objetivado numa “forma composicional”, capaz de revelar peculiaridades
estilísticas, “características de estilo contextual” (da matriz cultural, do gênero) e
“características de estilo individuais” (resultantes de cada situação concreta e imediata de
relações, ou seja, de cada encontro cultural com o qual esse gênero, nesse caso uma obra
musical, interagiu).
Foi toda essa circunstância, portanto, relacionada às primeiras constatações e
fundamentações teóricas encontradas a partir da observação da obra de Estércio Marquez
Cunha, que levou às seguintes questões: Que processos identitários estariam relacionados à
obra desse compositor goiano? Esses processos podem ser evidenciados sob a ótica do
representacional? Revelam processos de hibridação cultural? Como se apresentam, em sua
obra, os elementos residuais relacionados ao cenário cultural goiano? Que marcas e
influências aparecem nessa obra, resultantes dos encontros culturais que efetivou?
Com o intuito de responder essas questões, esse trabalho tem como objetivo
investigar os processos identitários implicados com a obra do compositor Estércio Marquez
Cunha, tendo em vista circunstâncias envolvidas com o representacional ligado à sua
condição goiana e a processos de interação cultural. Parte da pressuposição de que as obras
desse compositor são capazes de evidenciar o cruzamento de diferentes representações sociais
implicadas com a memória goiana e com a diversidade com a qual esse músico goiano
interagiu e, nesse contexto, de se constituírem também em um texto social, em uma das partes
integrantes da articulação simbólica que institui a trama cultural com a qual interagem
(GEERTZ, 1990), de constituírem processos identitários, portanto.
Capa Índice 1442
Por outro lado, essa investigação se justifica tanto por divulgar a obra de um
compositor goiano, ainda não suficientemente reconhecido no cenário brasileiro, quanto por
contribuir para a efetivação e divulgação das tendências mais atuais dos estudos
musicológicos, ao chamar atenção para a importância do papel do músico e da música na
sociedade, para a relação intrincada que a música estabelece com a sociedade quando
percebida como estrutura simbólica, capaz de significar em relação a essa sociedade, de
evidenciar representações sociais.
Estércio Marquez Cunha e a música em Goiás
Um dos primeiros passos rumo às respostas para as questões formuladas foi
levantar a história da música na cidade de Goiânia, seguida de uma narrativa de caráter
biográfico do compositor Estércio Marquez Cunha, relacionada com essa história. Isso com o
intuito de chegar a elementos que pudessem dar base à compreensão e análise de processos
identitários ligados às obras e à trajetória musical desse compositor, enfim, às representações
que os sinalizam.
Segundo Mendonça (1981) e Pina Filho (2002), partindo dos herdeiros do
patrimônio cultural das sociedades ligadas, sobretudo, à cidade de Goiás – antiga capital do
estado que tem o mesmo nome – e das outras cidades históricas que interagiram com o seu
desenvolvimento, como Pirenópolis, por exemplo, a música em Goiânia se desenvolveu desde
a sua fundação, na década de 1930. Instituições, associações e escolas ligadas à arte foram
criadas e encerradas ao longo das décadas que se seguiram. Pequenos grupos orquestrais,
bandas, corais, uma importante escola de piano e de canto, segundo Borges (1998),
acompanharam as idas e vindas dos diferentes momentos da música goianiense, que teve um
marco importante na criação do Conservatório Goiano de Música, responsável pela formação
de músicos e pela organização de importantes festivais. Essa Escola de Música, que teve
como alguns de seus fundadores a pianista Belkiss Spencière Carneiro de Mendonça e o
maestro belga Jean Douliez, dentre outros, se juntou a outras quatro instituições de diferentes
áreas, para que a Universidade Federal de Goiás se tornasse uma realidade.
Esse cenário musical e instituição dedicada ao ensino da música, o Conservatório
Goiano de Música, hoje Escola de Música e Artes Cênicas da UFG, aqui descritos de forma
muito breve, foram palco e cenário de grande parte da trajetória profissional do compositor
Estércio Marquez Cunha. Nessa instituição goiana esse músico cumpriu um dos seus
momentos iniciais de formação musical, foi professor nos cursos de graduação, quando voltou
do Rio de Janeiro e, depois, na pós-graduação, quando retornou do Mestrado e Doutorado
Capa Índice 1443
realizados nos Estados Unidos. Segundo Andrade (2000, p. 26), “Estércio vai para o Rio de
Janeiro com o desejo de tornar-se um pianista famoso”. No entanto, na Escola Nacional de
Música, concomitantemente aos seus esforços com relação ao piano, interessou-se pelo estudo
de harmonia, e, aos poucos, foi se tornando compositor. Terminados os cursos de piano e de
composição em 1967, retornou à Goiânia e, concursado, assumiu a cadeira de Harmonia
Superior, Contraponto e Fuga, na Universidade Federal de Goiás, onde lecionou até 1995,
quando se aposentou. Foi professor também na Universidade Federal de Uberlândia (UFU),
além de ter ministrado cursos e palestras em eventos musicais pelo país. Em 1970 teve um
encontro em Brasília com o compositor uruguaio Conrado Silva, que, possivelmente,
interferiu na sua formação musical. Tornou-se seu aluno no Curso de Especialização em
Música Contemporânea. Em 1978 partiu para os Estados Unidos, buscando realizar o
Mestrado e Doutorado em Artes Musicais (Composição), na Oklahoma City University. Ali
foi aluno de Ray Luke, Carveth Osterhaus e Michael Hennagin (seu orientador) que, assim
como Conrado Silva, exerceram influência na sua formação.
Importante dizer que o compositor foi homenageado no 36º Festival Nacional de
Música da Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás que aconteceu
em 2011, alguns anos depois de ter se aposentado. Este Festival, reconhecido como um dos
mais antigos festivais de música do país, tem atraído anualmente músicos de renome nacional
e internacional e, nos últimos anos, tem homenageado compositores brasileiros reconhecidos
nacionalmente. Enfim, foi essa trajetória musical que forjou as condições que possibilitaram a
Estércio Marquez Cunha criar o seu repertório de composições, do qual foram selecionadas
algumas obras para análise, tendo em vista os objetivos traçados.
As obras analisadas
Outro passo rumo à solução dos questionamentos levantados nessa investigação
foi a seleção estratégica de três obras para serem analisadas e interpretadas, tendo em vista
três diferentes períodos de interação cultural do compositor e a estrutura musical sempre na
sua relação com o cenário sócio-histórico e cultural em questão. São elas: Sonata para
Violino e Piano N. 01 de 1967 (graduação no Rio de Janeiro); Music for Band N. 01 de 1981
(pós-graduação nos EUA); e Coral N. 02 de 2010 (aposentado da EMAC/UFG em Goiânia).
A Sonata para Violino e Piano N. 01 foi selecionada na expectativa de que
pudesse evidenciar os processos composicionais de Estércio M. Cunha antes que deixasse o
Brasil. Esta peça utiliza o piano, um instrumento intimamente ligado ao desenvolvimento
musical goiano, à história da Escola de Música e Artes Cênicas da UFG e foi trabalhada
Capa Índice 1444
visando uma “construção” do nacional. Por sua vez, a Music for Band N. 01, como sugere o
título em inglês, foi composta nos Estados Unidos e representa uma nova etapa na trajetória
do compositor, já marcando outros encontros culturais em diálogo com o seu “sotaque”
goiano. Por fim, o Coral N. 02, composto em 2010, após sua aposentadoria na EMAC/UFG,
representa um novo estágio estilístico e filosófico do compositor experimentado que já
interagiu com diferentes culturas.
Passo agora a alguns comentários sobre a abordagem metodológica utilizada nessa
investigação, seguidos do enfoque de alguns elementos resultantes da análise da organização
sonora das obras selecionadas, considerados dados importantes para a abordagem do objeto
em questão. Analisados e interpretados, esses dados foram entrecruzados entre si e com
outros dados colhidos tanto na análise e interpretação da performance (observada através da
fruição de recitais, da audição e apreciação de Cds e DVDs), quanto através do estudo do
cenário sócio histórico e cultural e da trajetória musical e profissional de Estércio Cunha.
Ferrara (1984) se constituiu em fundamentação importante ao fornecer ferramentas de
análise e de interpretação para essa abordagem das obras selecionadas. Essas ferramentas
remetem a alguns elementos de um enfoque fenomenológico, ao indicar o uso constante de
uma “audição aberta” que colocou o pesquisador - um ser histórico desvestido dessa condição
e de sua erudição - frente à obra a ser analisada e interpretada, que se apresentou a ele em suas
características e peculiaridades. Essa “audição aberta”, depois de efetivada várias vezes, se
alternou com outros elementos de análise, realizados em três níveis, que também se
concretizaram de forma intrincada, ou seja, não aconteceram, necessariamente, numa ordem
pré-estabelecida. São eles: Análise sintática (análise da organização sonora); análise
semântica (percepção de elementos estruturais que funcionaram como significantes); análise
ontológica (resultantes da busca de elementos dos cenários biográficos e culturais que
remetem aos significados).
Outra ferramenta de análise, que se cruza com a anterior, levou à utilização de alguns
elementos da análise do discurso, que tiveram fundamentação em dois autores: a noção de
gênero discursivo de Bakhtin (2003), já citada, e reflexões de Orlandi (2002), baseada nesse
autor. O primeiro autor, quando permite a fundamentação para que se busque, nas obras
analisadas, características de estilo de índole contextual e características de estilo de ordem
individual; a autora, quando lembra que esses gêneros discursivos têm condições de revelar o
homem falando com outros homens através das suas obras, e, nessa circunstância, de
evidenciar a sua capacidade de entrecruzar “o já dito” (o interdiscurso), com “o que está
sendo dito agora” desse modo e através dessa forma (o intradiscurso).
Capa Índice 1445
Assim, cada obra analisada de Estércio Marquez Cunha foi considerada aqui como
estrutura simbólica, como um texto social que surgiu a partir de uma situação concreta e
imediata de relações do autor ao interagir com determinado cenário cultural. Apresenta a sua
especificidade como objeto sonoro, essencialmente temporal, com um código próprio capaz
de despertar sensibilidades, o que não impossibilita a percepção de outro ângulo, a percepção
de um produto cultural e histórico portador de uma estrutura simbólica, de significantes e
significados residuais e atuais ligados a essa situação concreta e imediata de relações.
Significantes e significados que permitem observar representações sociais, processos
identitários resultantes da interação de elementos oriundos de vários cenários culturais,
inclusive, aquele de origem do compositor. Tendo em vista essas abordagens metodológicas,
passo agora aos elementos colhidos a partir da análise de cada obra selecionada.
“Sonata para violino e piano n. 01”
A primeira obra analisada foi composta em 1967, apresentada como exigência curricular
no curso de Composição e Regência que Estércio Marquez Cunha concluía no Conservatório
Brasileiro de Música do Rio de Janeiro (ANDRADE, 2000). Esta peça representa um recorte
temporal, um momento dentre as configurações identitárias do compositor que terminava o
curso de composição, havia saído de Goiás a pouco tempo e estabelecia seus primeiros
diálogos com outros cenários culturais.
Numa primeira instância, pôde ser atribuída a razão da escolha da instrumentação,
nesse período, ao fato de ser o piano o instrumento de formação musical do compositor.
Porém, indo-se além, o que pode ter influenciado a escolha desse instrumento foi o fato do
piano se constituir em parte da herança musical goiana (ou herdade, nas palavras do
compositor em textos de músicas e poesias), já que uma importante escola pianística, da qual
fez parte, se desenvolveu e caracterizou forte esse cenário musical, sobretudo, através do
trabalho da reconhecida pianista Belkiss S. C. de Mendonça, conforme revelado por Borges
(1999) e Pina Filho (2002). O violino, depois do piano, foi outro instrumento muito cultivado
nos primórdios do antigo Conservatório de Música goiano.
Esta Sonata para piano e violino n. 01 foi composta nos moldes clássicos do
gênero Sonata, o que evidencia o cultivo de características estilísticas contextuais, ou seja, de
características do gênero sonata, uma matriz cultural do campo de produção musical
ocidental. Está na tonalidade de dó maior, tem passagens modulantes e é constituída de três
movimentos que apresentam temas a serem desenvolvidos. Por outro lado, a inserção de
“notas de tensão”, muita utilização de acordes dissonantes, que demonstram o início do
Capa Índice 1446
interesse no investimento numa escrita musical contemporânea, como pode ser observado
adiante nos Recortes 1 e 2, já apontam para algumas características de estilo individual.
O primeiro movimento, em forma sonata, possui uma introdução na tonalidade
principal que vai dos compassos 1 ao 3. O tema A, de caráter lírico e melodioso é apresentado
pelo violino dos compassos 4 ao 7, numa possível referência às modinhas, muito executadas
nos “saraus” das casas goianas no início do século XX, conforme mencionado por Mendonça
(1981) e ilustrado pela musicóloga Maria Augusta C. S. Rodrigues (1982) no seu livro A
modinha em Vila Boa de Goiás. A introdução e o Tema A estão exemplificados no Recorte 1.
Recorte 1 - Sonata para piano e violino n.01 de Estércio Marquez Cunha. Introdução e Tema A do primeiro movimento. Compassos 1 a 8
Já o tema B, mais movido e apresentando elementos rítmicos contramétricos que
remetem à fusão no Brasil do sistema rítmico contramétrico africano com o sistema rítmico
cométrico europeu (Sandroni, 2001) e a um caráter nacionalista que vigorava na época em que
a obra foi composta (Neves, 2008), é apresentado do compasso 18 ao 28, em sol maior e re-
exposto do compasso 60 ao 69, na tonalidade original. O início do tema B pode ser conferido
no Recorte 2.
Recorte 2 - Sonata para piano e violino n.01 de Estércio Marquez Cunha. Início do Tema B do primeiro movimento. Compassos 18 ao 21.
Capa Índice 1447
O segundo movimento apresenta um caráter lírico e estrutura ABA. O terceiro
movimento, um rondó estruturado em ABACADAEA, é mais movido, e seu material
motívico trabalha uma espécie de mescla dos movimentos precedentes. Apresenta mais uma
vez a utilização do ritmo do baião como uma das suas características de estilo individual,
conforme pode ser observado no baixo do Recorte 3. A parte A desse movimento, cujo início
é exemplificado também nesse Recorte, é exposta nos compassos do 1 ao 9, aparecendo
novamente do compasso 19 ao 26, do 51 ao 58, do 68 ao 75, do 100 ao 107, e do 117 ao 125.
Recorte 3 - Sonata para piano e violino n.01 de Estércio Marquez Cunha. Início do Tema A do terceiro movimento. Compassos 1 ao 5
A parte B, apresentando ainda o ritmo do baião, vai do compasso 10 ao 18, a parte
C, do 27 ao 50, a parte D, do 59 ao 67, a parte E, do 76 ao 99, e uma retomada à parte B
acontece do compasso 108 ao 116.
Neste primeiro momento de sua carreira, Estércio Marquez Cunha revelou
preocupação com um caráter nacionalista a partir da utilização de temas populares e de uma
rítmica considerada brasileira, como era a tendência no cenário musical da época (Neves,
2008). Por outro lado, já evidenciou alguns recursos composicionais que o acompanhariam na
maturidade, como numerosos momentos de silêncio, pouca utilização de dinâmicas de grande
porte, sua preferência por música camerística e por instrumentação reduzida, além da
sinalização do interesse no investimento na música contemporânea. O diálogo com o Rio de
Janeiro, nesse período, forneceu o subsídio técnico inicial e contribuiu para a sua identificação
com a carreira de compositor, ainda incomum em Goiás.
A composição da sonata revela a atualização de um gênero clássico, portanto, com
suas características estilísticas contextuais, conforme já descrito, que interagiram com
características de estilo individuais, como a utilização da rítmica contramétrica e do ritmo do
baião, com o esboço do investimento na escrita contemporânea, além de elementos que
remeteram à memória do compositor goiano. Se Bakhtin (2003) e Orlandi (2001) forem
lembrados, a memória, “o já dito”, entrecruzou-se nessa obra com “o que está sendo dito
agora”, desse modo e através dessa forma. Trazendo algo já característico de gênero e algo
novo, revelando configurações identitárias, se observados os processos simbólicos implicados
Capa Índice 1448
com o atual e o residual, já mostra o compositor em início de carreira lidando com sua
herança goiana e com os novos diálogos estabelecidos neste primeiro cenário cultural com o
qual interagiu: a vida acadêmica musical do Rio de Janeiro.
“Music for band n. 01”
Esta obra foi composta em 1981, já marcando outro momento na trajetória musical
do compositor goiano. Neste ano, como o próprio título da obra dá a pressupor, Estércio
Cunha estava no final dos estudos que realizou nos Estados Unidos da América. Acrescentou
à sua bagagem musical experiências novas, outras descobertas sonoras e desenvolvimentos
dos elementos estilísticos contemporâneos que entrara em contato, sobretudo, desde o seu
encontro em Brasília com o compositor uruguaio Conrado Silva. Nos EUA mergulhara no
universo da música-teatro, que revelaria mais tarde ser um de seus gêneros favoritos. Por
outro lado, de acordo com a análise do cenário histórico goiano, a instrumentação da peça tem
suas raízes na história de grande investimento nas bandas em Goiás. O rastro desse passado
histórico pode ser encontrado no cultivo significativo dessa formação e prática instrumental
tanto na capital goiana quanto em grande parte das cidades do interior do estado de Goiás, na
sua presença em escolas, corporações militares, em festividades cívicas, públicas, dentre
outras instituições e ocasiões. As atividades das tradicionais e centenárias bandas Euterpe e
Phoenix da histórica cidade de Pirenópolis, segundo Mendonça (1981), são exemplos.
Sob esta perspectiva, pode ser dito que Estércio Cunha, em meio à trajetória de
encontros que estabelecia, estabelecia diálogos com o seu “sotaque” goiano numa terra tão
distante. Nessa obra, revelando características de estilo individuais, se valeu da escrita atonal,
de uma organização sonora que parece beirar ao experimentalismo, caracterizada por uma
busca incessante de sonoridades avessas ao tradicional, à funcionalidade do sistema tonal.
Nesse contexto, valeu-se não só da sucessão de dissonâncias sem pudor resolutivo, mas
também da elaboração de massas sonoras caóticas, como a que se desenvolve nas vozes
superiores dos compassos 16 ao 19 e que pode ser observada no Recorte 4.
Recorte 4 – Music for band n. 01 de Estércio Marquez Cunha. Compassos 16 ao 19 - quatro primeiros instrumentos
Capa Índice 1449
Mesmo sendo escrita para uma formação musical maior, esta peça dificilmente
escapa das dinâmicas brandas, sendo os fortes momentos únicos ou súbitos, como no acorde ff
que aparece no compasso 11. A peça tem como característica caminhar com sonoridades
suaves, crescendo pacientemente e muitas vezes sem atingir dinâmicas como aquelas do
compasso supracitado. Neste desenvolvimento, é utilizado um recurso de grande apreço do
compositor, reclamado em diversas outras composições, que são as entradas das vozes
mascaradas por outras vozes em desenvolvimento. Pequenos motivos melódicos, de estrutura
semelhante, surgem esporadicamente por toda a obra, no trompete, aparecem nos compassos
25 e 26 e, no xilofone, nos compassos 76 e 77. Diversos momentos de silêncio completo
também podem ser encontrados, construídos sobre longas pausas. Esses momentos tornaram-
se uma forte característica composicional de Estércio Cunha, revelada explicitamente através
do texto poético de algumas de suas peças para canto.
As características dessa obra resumem um estilo composicional em
amadurecimento, com traços que foram mantidos nas obras atuais do compositor. O silêncio,
junto a um clima de contemplação e intimismo, interrompido por fagulhas e por sons que se
aglomeram, parece evocar a atmosfera do cerrado. O investimento nessa atmosfera foi
lembrado e reconhecido por ele na entrevista que concedeu a Carvalho (2012), inclusive,
relacionada também a elementos e sensações da vida rural goiana. Tendo em vista essa
observação, a obra emana momentos de uma serenidade que ora aponta a paisagem sonora da
própria natureza, ora evidencia que essa serenidade pode ser invadida pelo caos da vida pós-
moderna, pelos sons característicos da atividade humana.
Coral n. 02
Dentre as obras selecionadas, Coral n. 2 se constitui em uma das obras de Estércio
Marquez Cunha mais recentes. Composta em 2010, algumas décadas após a conclusão de seu
doutorado, quando já estava aposentado de suas atividades no Instituto de Artes da
Universidade Federal de Goiás (atual Escola de Música e Artes Cênicas da UFG), a análise
dessa obra possibilitou observar, além de uma breve síntese de algumas das principais
características composicionais do compositor, configurações identitárias híbridas (HALL,
2000; CANCLINI, 2003) que aqui se apresentam como características de estilo contextuais e
individuais, conforme descrito por Bakhtin (2003). Estércio Cunha se valeu de uma das mais
tradicionais formações musicais do Estado, o coral, muito praticado, sobretudo, no antigo
Conservatório de Música da UFG, para compor essa obra de acordo com o gênero que
recebeu o mesmo nome.
Capa Índice 1450
O gênero musical coral floresceu em meados do período Renascentista no
continente europeu, caracterizado por uma escrita musical a quatro vozes, em “estilo acordal”,
o que remete agora, se Bakhtin novamente for lembrado, ao estilo contextual do gênero.
Resíduos dessa formação musical e dessas características estilísticas foram evidenciados em
corais executados em igrejas, corais cênicos e universitários praticados na cidade de Goiânia
(PINA FILHO, 2002), com os quais Estércio Marquez conviveu em diferentes momentos de
sua vida, conforme também depoimento concedido a Carvalho (2012) pelo próprio
compositor.
De caráter contemplativo, esta peça apresenta ainda, já como característica de
estilo individual, harmonia quartal (SCHOENBERG, 2001) em alternância com acordes de
sétima, o que provoca uma constante flutuação constituída por dissonâncias sem resolução. O
Recorte 5, retirado do trecho inicial da peça, evidencia essa construção com acordes quartais e
sétimas (4 e 7), além de exemplificar a escrita acordal a quatro vozes:
Recorte 5 – Trecho inicial da obra “Coral n, 02” de Estércio Marquez Cunha. Compassos 1 a 6.
Em andamento lento e com dissonâncias que nunca ultrapassam o mezzoforte,
essas características de estilo se mostram recorrentes na composição de Estércio Marquez
Cunha, interando-se com uma escrita em estilo homofônico, em que a música caminha em
blocos, o que agora configura uma característica de estilo contextual, ou seja, do gênero. A
letra é de sua autoria, como geralmente acontece em suas obras, e o ritmo, evidenciando
homorritmia, foi concebido com o intuito de fortalecer o texto, um dos principais elementos
constitutivos desta peça.
Numa antiga herdade, morada de memórias Na sombra de um Barú, tem um poço No poço da herdade silêncio e paz Um amigo pede água e oferece vida verdade
Capa Índice 1451
Nas primeiras frases, “numa antiga herdade, morada de memórias, na sombra de
um baru, tem um poço”, o compositor, provavelmente, se refere à terra em que passou grande
parte de sua vida, desde a infância: a cidade de Goiânia/GO. A letra remete à memória da
terra, ao cerrado, através da citação do baru, uma árvore característica dessa região e cenário
geográfico, assim como a palavra herdade, recorrente em outras composições. Nestas
primeiras frases já aparecem os elementos estruturais que marcam o estilo individual em
relação ao gênero, embora apareçam também em outras composições suas: harmonia quartal,
sétimas, condução suave e contemplativa e combinação vertical brilhante, com pausas em
cada pontuação. Em seguida, “No poço da herdade, silêncio e paz”, a palavra “paz” é cantada
através de um telúrico acorde de Ebm7/Bb. Aqui há também uma referência ao silêncio,
recorrente em diversas obras do compositor, provavelmente inspirado no silêncio, paz e
tranquilidade da paisagem do cerrado. A fermata colocada sobre a palavra “paz” mantém o
“silêncio pacificador” por mais tempo, além das numerosas pausas e da suavidade e
intimidade de toda a peça. Por fim, “um amigo pede água e oferece vida verdade”. A peça
então se encerra na última sílaba da palavra “verdade” com um brilhante acorde B7 que
afirma a vida e a verdade oferecidas pelo próprio filho de Deus, segundo concepção religiosa
cristã, o que reforça o investimento em um tom teatral. Esses elementos estruturais,
entrecruzados com elementos colhidos no estudo da trajetória de vida e do cenário histórico e
cultural de Estércio M. Cunha, remetem não somente às possibilidades ligadas ao
conhecimento da música contemporânea adquirido em outros cenários, ao “alargamento” da
experiência de vida que a interação com esses cenários lhe trouxe, mas também à memória, à
volta nesse momento de sua vida ao aconchego da terra, dos amigos, da lembrança das antigas
práticas, inclusive, religiosas.
Considerações finais
Diante dos resultados obtidos com as análises das peças selecionadas, com o
estudo biográfico de Estércio Marquez Cunha e do cenário histórico-cultural com o qual
interagiu, amparado pelo arsenal teórico escolhido para a pesquisa, foi possível perceber pelo
menos três momentos distintos na trajetória do compositor. Esses momentos configuram as
transformações percebidas em sua linguagem composicional, sua identidade goiana em
diálogo com a diferença nos três recortes de tempo efetivados.
A Sonata para Violino e Piano Nº01 (1967), composta em caráter nacionalista
(tendência da época) revela uma identidade em construção. Materializa o momento dos
estudos iniciais de música de Estércio Cunha, marca seu primeiro encontro com a cultura
Capa Índice 1452
musical carioca, que o influenciou a seguir a carreira de compositor. Unindo características
líricas e contramétricas da tradição musical popular brasileira a um universo dissonante, não
deixa de soar de forma familiar aos ouvidos goianos, como se evocasse a todo instante uma
atmosfera de modinhas e cantigas de roda que também integraram esse cenário. O “sotaque”
goiano junto às primeiras experiências com a dissonância começa a tomar forma, enquanto
Estércio Cunha assume suas primeiras configurações como compositor brasileiro.
A segunda peça, Music for Band n. 01 (1981), sem perder de vista uma
goianidade latente que se apresenta desde a escolha do agrupamento instrumental, da tradição
das bandas, da organização sonora que transporta à ecologia goiana, se posiciona frente aos
diálogos e conflitos com a cultura norte-americana. Como compositor, em estudos de pós-
graduação, Estércio Cunha evidencia alguma experiência com a música-teatro, assim como já
demonstra maior habilidade técnica relacionada às tendências de vanguarda da área.
A terceira peça, composta depois de aposentado, dá a perceber um sujeito
polifônico, transversal, transcultural, teatral, forjado por identidades múltiplas e em
movimento. O Coral Nº02 (2010), gênero que remete ao início da música ocidental, é
atualizado pelo compositor em texto e em estilo composicional. As características de estilo
contextuais e individuais citadas, evidenciam na sua base uma polifonia de vozes (fruto das
inúmeras interações culturais) que inclui, além da memória – o “sotaque” goiano implicado
com reminiscências religiosas, afetivas e telúricas – um grande investimento na técnica
composicional, na gramática musical contemporânea e em efeitos teatrais, apreendidos em
outros contextos culturais.
Cada uma dessas peças, portanto, em sua particularidade, pode ser encarada sob
a ótica do representacional, na medida em que se revela como suporte representativo do
imaginário de um contexto natal em diálogo com um universo cultural diverso. As análises
realizadas a partir da “audição aberta” e da análise estrutural da obra (análise sintática) em
interação com os elementos colhidos no estudo da biografia de Estércio Cunha e de elementos
relacionados aos cenários sócio-históricos e culturais com os quais interagiu (análises
semântica e ontológica), possibilitaram a percepção de materializações desse imaginário em
sua obra. Isso aconteceu, sobretudo, através do investimento em certas formações
instrumentais, às vezes em melodias mais líricas lembrando o “melodismo” da modinha, a
utilização de rítmica contramétrica, a valorização do silêncio, de efeitos timbrísticos e das
dinâmicas de pequeno porte, que remetem, muitas vezes, à ecologia do cerrado goiano e a um
caráter reflexivo do compositor. Elementos que funcionam como significantes, portanto, que
Capa Índice 1453
revelam representações sociais partilhadas por um grupo social e por um criador que carregam
em seu bojo o passado histórico e cultural goiano.
Assim, pode ser dito que ao mesmo tempo em que Estércio Cunha gradativamente
foi incorporando as tendências e técnicas vanguardistas em composição, investindo numa
obra altamente elaborada, com evidente domínio técnico, se empenhando no aprendizado da
Música-teatro apreendidos em outros contextos culturais, não deixou de evidenciar em suas
composições, às vezes de forma mais explícita, geralmente de forma menos transparente, uma
identidade regional. Sua obra evidencia uma construção identitária híbrida, portanto, marcada
por encontros culturais e pelo “sotaque” goiano, apesar de numa primeira instância, não dar a
perceber essa circunstância. Uma identidade híbrida, forjada a partir da circularidade cultural,
de características de estilo contextuais e individuais que permitem entrever o entrecruzar do
“já dito” com “o que está sendo dito” agora, desse modo e através dessa forma.
Por outro lado, os resultados obtidos nesta investigação, inerentes à complexidade
da abordagem do objeto pesquisado, junto ao interesse maior que despertou, levaram à
elaboração de um novo projeto de pesquisa que objetiva compreender, de forma mais focada,
a religiosidade presente na música-teatro deste compositor.
REFERÊNCIAS ANDRADE, Martha M. de C. Poética musical como instauração do mundo pelos caminhos de Estércio Marquez Cunha. Rio de Janeiro: UFRJ, 2000. BORGES, Maria Helena J. A Música e o Piano na Sociedade Goiana (1805-1972). Goiânia: FUNAPE, 1998. BAKHTIN, Mikhail. Estética da comunicação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003. CANCLINI, Nestor. Culturas Híbridas. São Paulo: EDUSP, 2003 CHARTIER, Roger. A História Cultural Entre Práticas e Representações Sociais. R.J.: Bertrand, 1990. CARVALHO, Leonardo V. A obra vocal de Estércio Marquez Cunha: especificidades da música e memória no cenário musical goianiense. Goiânia: UFG, 2012. [Dissertação de Mestrado] Goiânia, Universidade Federal de Goiás (UFG), 2012 FERRARA, Lawrence. Phenomenology as a tool. In Musical Quartely, p. 355-373, 1984. V.70, 3. GEERTZ, Cliford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989. HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. ___________ Quem precisa de identidade? In SILVA, Tomás Tadeu (org.) Identidade e Diferença. Rio de Janeiro: Vozes, 2000. HARVEY, David. Condição Pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992.
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REVISADO PELO ORIENTADOR
Capa Índice 1454
CARACTERIZAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DE FUNGOS CAUSADORES DE
INFECÇÕES NOSOCOMIAIS EM PACIENTES TRANSPLANTADOS DE
MEDULA ÓSSEA
Fernanda Almeida Andrade1, Maria do Rosário Rodrigues Silva2
Universidade Federal de Goiás - Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública
[email protected], [email protected].
PALAVRAS-CHAVE: suscetibilidade in vitro, fungos filamentosos, leveduras
1 INTRODUÇÃO
A importância clínica das infecções fúngicas nosocomiais vêm aumentando nas
últimas décadas devido à sua maior incidência, as quais impõem um sério problema de
saúde pública por serem responsáveis por taxas elevadas de mortalidade e morbidade
(Romani, 2004). Estas infecções são mais comuns em pacientes imunocomprometidos
como aqueles com doenças hematológicas malignas, transplantados de medula óssea ou de
órgãos sólidos, aqueles que recebem terapia imunossupressora, portadores da síndrome da
imunodeficiência adquirida ou em hospitalizados que fazem uso de diferentes dispositivos
médicos (Jose e Brown, 2012).
O transplante de medula óssea tem sido largamente usado nas últimas três décadas,
como terapia curativa tanto para crianças quanto para adultos para uma variedade de
doenças hematológicas (aplasia medular, hemoglobinopatias, leucemias agudas e crônicas,
linfoma e mielomas) (Williamson et al. 1999, Nucci e Maiolino, 2000). Os fungos
patógenos predominantes nos pacientes transplantados incluem espécies de Candida, de
Aspergillus, de Fusarium, além de fungos da ordem Mucorales (Marr et al. 2002a;
Richardson e Lass-Flörl, 2008).
1- Bolsista de iniciação científica 2- Orientadora
Revisado pela orientadora
Capa Índice 1455
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1455 - 1463
O tratamento das micoses causadas por estes fungos não é completamente eficaz,
apesar das melhorias nas ferramentas de diagnóstico e um número maior de opções de
antifúngicos. Resistência a agentes antifúngicos, uma infecção mista, a incapacidade de
atingir e / ou manter as concentrações adequadas de drogas no local da infecção,
intoxicação por medicamentos e vários fatores relacionados incluem as possíveis causas de
falha durante o processo curativo. Terapêutica eficaz de pacientes com suspeita de micoses
adequada e apropriada deve ser fornecida no início da doença e os testes de suscetibilidade
provavelmente são de grande importância para se alcançar estes objetivos (Kontoyiannis,
2012).
Os testes de suscetibilidade in vitro para fungos permitem detectar a concentração
inibitória mínima (CIM) capaz de inibir o crescimento do fungo, portanto se presta
enormemente para um tratamento (in vivo) com a dosagem necessária para eliminação do
microrganismo (Lass-Flörl et al, 2009). Neste trabalho, objetivamos verificar os principais
fungos presentes em pacientes submetidos a transplante de medula óssea e determinar a
suscetibilidade in vitro, de isolados de fungos filamentosos do gênero Aspergillus ao
fluconazol, itraconazol, anfotericina-B e voriconazol.
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Identificação dos fungos
O sangue coletado foi submetido a crescimento em ágar Sabouraud dextrose e ágar extrato
de cérebro e coração (BHI). A identificação foi realizada através de microcultivo em lâmina
para os fungos filamentosos e para as leveduras usou-se testes de assimilação de hidratos de
carbono, crescimento em ágar corn-meal e teste do tubo germinativo.
2.2 Teste de suscetibilidade antifúngica
2.2.1 Agentes antifúngicos
Dos 117 pacientes transplantados analisados foram isolados 19 fungos filamentosos
do gênero Aspergillus, os quais foram submetidos à suscetibilidade para fluconazol,
itraconazol, anfotericina-B, voriconazol utilizando-se o método de microdiluição em caldo
segundo o CLSI, 2002, documento M38-A.
Capa Índice 1456
2.2.2 Preparo do inóculo
Os fungos filamentosos foram cultivados em ágar-batata dextrose, durante 7 dias a
35ºC para a produção de conídios. A estes tubos foram adicionados 10 ml de salina estéril
(0,85%), sendo que a suspensão resultante contendo conídios e hifas foram transferidas
para um tubo estéril, que permaneceu em repouso 10-15 minutos para sedimentação das
partículas mais pesadas. A suspensão contendo o inóculo foi ajustada em espectrofotômetro
com λ de 530 nm de tal modo a produzir uma transmitância de aproximadamente 80%, o
que equivale a 0.6 a 1.4 X 106 UFC/mL (CLSI 2002 documento M38-A). Em seguida, os
inóculos foram diluídos em caldo RPMI 1640 de tal modo que se obteve uma concentração
final de 0.4 a 5X 104UFC/mL.
Foram adicionados 100 µL do inóculo em cada orifício contendo o antifúngico
diluído na placa.
2.2.3 Preparo das diluições dos antifúngicos e realização do teste
As concentrações finais dos antifúngicos variaram de 0,031 a 16 µg/mL para
anfotericina B, itraconazol e voriconazol, e de 0,125 a 64 µg/mL para fluconazol. Todos os
testes foram realizados em duplicata. Controle do teste foi realizado usando-se a cepa
padrão C. parapsilosis ATCC 22019.
2 RESULTADOS
Dos 117 pacientes estudados submetidos a transplante de medula óssea (TMO), e
portadores de doenças hematológicas 59,8% pertenciam ao gênero masculino e o maior
número de pacientes (45) pertencia a faixa etária entre 41 e 60 anos de idade (Figura 1).
Capa Índice 1457
Figura 1: Idade e gênero de 117 pacientes submetidos ao transplante de células
hematopoiéticas e portadores de doenças hematológicas.
Dentre os 117 pacientes estudados, verificou-se que as patologias de base mais
frequentemente diagnosticadas foram: leucemias (48,7%), linfomas (30,77%) e mieloma
múltiplo (17,09%), perfazendo um total de 96,6%. Destas amostras clínicas foram isolados
19 (16,2%) Aspergillus, 02 Fusarium sp (1,7%) e 01 Acremonium sp (0,8%) e 10 (8,5%)
leveduras do gênero Candida. A identificação das espécies de Aspergillus através da
técnica de microcultivo em lâmina mostrou 10 (52,7%) Aspergillus fumigatus 07 (36,8%)
Aspergillus flavus e 02 (10,5%) Aspergillus versicolor (tabela 1).
18 20
25
7
10 12
20
5
0
5
10
15
20
25
30
0-20 21-40 41-60 >60
Masculino
Feminino
Capa Índice 1458
Tabela 1: Fungos encontrados nas amostras de sangue de 117 pacientes submetidos a
transplante de medula óssea.
Agentes isolados Número de isolados Porcentagem
Aspergillus versicolor 02 1,7
A. flavus 07 5,9
Aspergillus fumigatus 10 8,5
Acremonium strictum 01 0,8
Fusarium sp 02 1,7
Candida tropicalis 02 1,7
C. parapsilosis 04 3,4
C. albicans 03 2,6
Candida sp 01 0,8
Observação: Os dados são proporções (%) dos pacientes.
O teste de suscetibilidade realizado para as espécies de Aspergillus mostrou em alguns
casos CIM elevada para itraconazol, anfotericina B e fluconazol com exceção para
voriconazol, onde todos os isolados apresentaram baixos valores de CIM (tabela 2).
Tabela 2: Atividade in vitro de quatro agentes antifúngicos para 19 isolados de Aspergillus
obtidos de pacientes transplantados de células hematopoiéticas.
Espécies Antifúngicos
CIM (µg/mL)
(nº de isolados) Variação CIM50* CIM90*
A. fumigatus Fluconazol 0,25 - 8 1 8
(n=10) Itraconazol 0,031 - 0,25 0,125 0,25
Voriconazol 0,25 - 0,5 0,5 0,5
Anfotericina B 0,25 - 16 0,25 1
A. flavus Fluconazol 0,25-0,25 0,25 4
(n=07) Itraconazol 0,062 - 4 0,125 0,25
Voriconazol 0,25 – 0,25 0,25 0,25
Anfotericina B 0,25 - 4 0,25 0,5
Capa Índice 1459
A. versicolor Fluconazol 0,5 - 32 2 16
(n=02) Itraconazol 0,062 - 0,25 0,125 0,25
Voriconazol 0,125- 0,125 0,125 0,125
Anfotericina B 0,25 - 1 0,25 1
4 DISCUSSÃO
O transplante de medula óssea normalmente está associado a leucemias como já
observado por diferentes pesquisadores (Nucci & Maiolino 2000, Rieger et al. 2009). Neste
trabalho cerca de 48,7% dos pacientes estudados tiveram como principal causa de
realização de transplante um tipo de leucemia, seja aguda ou crônica.
Segundo observações de Bhayat et al, 2010 a relação idade e gênero entre a população
de transplantados é semelhante entre homens e mulheres, com cerca de 5% maior no gênero
masculino com faixa etária mais comum em indivíduos abaixo de 70 anos. Resultados
semelhantes foram verificados na população deste trabalho, o qual era constituído de 59,8%
de homens e a faixa etária que mais se realizou transplante foi de 41 a 60 anos.
Espécies de Aspergillus e Candida se apresentam como as causas mais comuns de
infecções fúngicas invasivas em pacientes TMO (Richardson & Lass-Flörl 2008; George &
Alangaden 2011; Pagano et al. 2011). Neste trabalho, o percentual encontrado para
candidíase e aspergilose foi muito semelhante, sendo que dos 117 pacientes estudados
foram isolados 16,2% (19/117) de Aspergillus e 8,5% (10/117) de leveduras do gênero
Candida. Segundo Heinemann et al. 2004; Krishnan et al. 2009 entre as espécies de
Aspergillus destacam-se A. fumigatus e A. flavus como as mais isoladas como agentes de
aspergilose. Os resultados obtidos neste trabalho, também demonstraram predominância de
Aspergillus fumigatus (52,7%) seguido de Aspergillus flavus (36,8%) verificando-se dois
isolados de Aspergillus versicolor (10,5%).
O teste de suscetibilidade in vitro realizado em nosso trabalho com isolados de A.
fumigatus mostraram que todos os isolados foram resistentes a anfotericina B com CIM
maiores de 4µg/mL e para fluconazol com CIM com valores maiores do que 64µg/mL.
Voriconazol e itraconazol apresentaram baixos valores de CIM, sugerindo que estes
Capa Índice 1460
medicamentos sejam eficientes no tratamento da aspergilose. Shivaprakask et al. (2010)
verificaram que estes fármacos mostraram excelente atividade antifúngica para isolados de
Aspergillus. O uso clínico do voriconazol vem sendo feito em infecções por Aspergillus spp
e por outros fungos oportunistas filamentosos como aqueles pertencentes ao gênero
Fusarium spp (Herbrecht et al. 2002).
5 CONCLUSÃO
1- Os transplantados de medula óssea pertenciam normalmente a uma faixa etária 41 a 60
com predominância do gênero masculino.
2- Os vários tipos de leucemia (aguda ou crônica) foram os principais responsáveis para a
realização de transplante.
3- Fungos dos gêneros Aspergillus e Candida foram os agentes predominantes no sangue
de pacientes transplantados.
4- Os fungos do gênero Aspergillus apresentaram-se mais suscetíveis ao voriconazol que
se mostra normalmente bastante eficácia para tratamento da aspergilose.
5- Os profissionais de saúde são os principais colaboradores para o controle das infecções
fúngicas nosocomiais. A manutenção da higienização pessoal e o uso de equipamentos
de proteção individual evita provavelmente a disseminação dos microorganismos
fazendo com que não ocorra a infecção.
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Revisado pela orientadora
Capa Índice 1463
Estudo Epidemiológico e Molecular da Infecção Pelo Vírus Da Hepatite C em
Indivíduos Infectados pelo Vírus Da Imunodeficiência Humana em Goiânia-Goiás
Fernanda Araújo Diniz1, Nativa Helena Alves Del-Rios2, Lyriane Apolinário de
Araújo3, Megmar Aparecida do Santos Carneiro44
Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública, CEP:74605050, Brasil
[email protected] e [email protected]
PALAVRAS-CHAVE: HCV, HIV, Coinfecção, Subtipo
1. INTRODUÇÃO
Em 1989, o vírus da hepatite C (HCV) foi isolado e clonado por Choo e
colaboradores e, atualmente representa a principal causa de hepatite crônica viral em
todo o mundo (Choo et al.,1989; Alter, 1999). A infecção pelo HCV é um complexo
problema de saúde pública e gera uma carga significativa para os sistemas de saúde,
dado ao alto custo do tratamento, bem como elevada morbidade e mortalidade
(Lavanchy, 2009).
Aproximadamente 60-80% dos pacientes infectados pelo HCV podem evoluir
para a cronicidade e cerca de 30% destes progridem para complicações hepáticas
(cirrose e hepatocarcinoma) (Modi & Liang, 2008). Cerca de 500.000 novos casos de
câncer de fígado que ocorrem a cada ano, em média 22% (>100.000) está relacionado
ao vírus C (Modi & Liang, 2008).
A coinfecção pelo HCV e vírus da imunodeficiência humana (HIV) é observada
frequentemente, devido ao fato de possuírem rotas de transmissão similares. Estima-se
que aproximadamente 170 milhões de pessoas estão infectadas pelo vírus da hepatite C
e, embora esta infecção seja considerada endêmica no mundo, existe um elevado grau
Revisado pelo Orientador 1 Orientanda, Bolsista de Iniciação Científica pelo IPTSP/UFG e Graduanda em Enfermagem/UFG. 2 Doutoranda pelo IPTSP/UFG. 3 Mestranda pelo IPTSP/UFG. 4 Orientadora Professora Doutora pelo IPTSP/UFG.
Capa Índice 1464
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1464 - 1478
de variação geográfica e a prevalência varia de acordo com a região e faixa etária
(Maheshwari et al., 2008). Existem cerca de 34 milhões de indivíduos infectados pelo
HIV mundialmente (UNAIDS, 2011).
No Brasil, um inquérito de base populacional conduzido na região Centro-Oeste,
mostrou que a positividade do anti-HCV foi de 1,9% (IC 95%: 1,4-2,7) (Turchi et al.,
2007. Em Goiânia-GO, Martins et al., (1994) realizaram um estudo em doadores de
sangue e verificaram uma prevalência de 1,4% (Martins et al., 1994).
O HCV é um vírus RNA e apresenta um elevado grau de variabilidade genética,
sendo classificado em genótipos, subtipos, quasisespecie e isolados de acordo com o
grau de homologia entre as sequências. Atualmente, sete genótipos, designados por
números arábicos (1 a 7), e múltiplos subtipos têm sido classificados, denominados por
letras minúsculas, como exemplos 1a, 1b. Os genótipos podem diferir entre si num
percentual maior que 30%, enquanto os subtipos de 20% a 25% e, os isolados de 5 a
15%. As quasispecies, definidas como uma população heterogênea de vírions que
infectam um mesmo indivíduo diverge em 1% a 5% entre as sequências do HCV
analisadas (Simmonds et al., 2005, Murphy et al., 2007). Essa variabilidade tem
implicação no desenvolvimento de vacinas, na epidemiologia, diagnóstico, curso clínico
e tratamento da hepatite C (Simmonds, 2005).
Existe uma variação geográfica em relação à distribuição genotípica do HCV, os
genótipos 1, 2 e 3 são mais frequentes em todo o mundo; genótipo 4 no centro da
África, Egito e Oriente Médio; genótipo 5 na África do Sul, e genótipo 6 na Ásia. (Lyra
et al., 2004). No Brasil, estudo conduzido em pacientes com hepatite C crônica
identificaram os genótipos de 1 a 5, sendo o 1 e 3 mais prevalentes (Idrees &
Riazuddin, 2008). Na Região Centro-Oeste, investigação realizada em diferentes grupos
populacionais, mostraram que um predomínio dos genótipos 1 e 3 (Espírito-Santo et al.,
2007; Lopes et al., 2009, Amorim et al., 2010). Em Goiânia-GO, em um estudo
conduzido em pacientes HIV provenientes do Centro de Testagem e Aconselhamento
(CTA), foram identificados os subtipos 3a e 1a, sendo o primeiro mais prevalente
(Pereira et al., 2006).
Embora a via parenteral seja a principal forma de disseminação do HCV, esse
também pode ser transmitido pelas vias sexuais e verticais, ou seja, as mesmas vias de
transmissão do HIV (Alter, 2006). Situação essa que favorece a ocorrência de
coinfecções entre esses vírus, podendo ocasionar um prognóstico pior de ambas as
Capa Índice 1465
infecções. Os indivíduos HIV soropositivos têm menor chance de remissão da carga
viral após infecção aguda pelo HCV (Thomas et al., 2000). Além disso, o
comprometimento hepático decorrente da infecção pelo HCV é agravado pela utilização
de fármacos integrantes da terapia antiretroviral, sendo que o risco de hepatotoxicidade
nos coinfectados é três a quatro vezes maior que nos monoinfectados (Sulkowski,
2008).
A prevalência mundial de coinfecção HCV/HIV varia de 3,0% a 41,9%
(Ponamgi et al., 2009; Yan et al., 2010), enquanto que no Brasil é de 15% a 60%,
dependo dos fatores de risco da população estudada e da sensibilidade dos métodos
utilizados para diagnóstico (Mendes-Corrêa et al., 2001, Tovo et al., 2006). Em uma
investigação conduzida em portadores de HIV do CTA verificaram uma positividade
para HCV de 42% (Pereira et al., 2006).
O curso clínico da infecção pelo HCV varia de uma manifestação aguda em
torno de 15-40% dos casos, 60-85% podem desenvolver a infecção crônica e 20-30% no
período de 10 a 30 anos, progridem para cirrose e/ou hepatocarcinoma. A infecção
aguda geralmente é assintomática ou subclínica. O período de incubação é em torno de
seis a oito semanas, podendo o RNA viral ser detectado já nas primeiras duas semanas
após a exposição, (Modi & Liang, 2008).
A persistência do RNA-HCV por período superior a seis meses, indica evolução
para uma infecção crônica (Modi & Liang, 2008). Entretanto, o curso da infecção
crônica pelo HCV e o grau de progressão de fibrose do fígado variam notavelmente
dentre os pacientes coinfectados com o HIV, pois essas coinfecções diferem
significativamente nos aspectos epidemiológicos, imunológicos e virológicos (Lauer &
Walker, 2001; Soriano et al., 2008).
Inicialmente, para o tratamento dos portadores do HCV utilizava somente o
Interferon-α (IFN-α), entretanto, a monoterapia mostrou em alguns casos ineficaz ou de
resolutividade baixa, atingindo uma resposta virológica sustentada (RVS) de 6-12%
após seis meses de tratamento e 16-20% após um ano. Com a introdução da Ribavirina
Oral, a resposta terapêutica atingiu 35-40%, melhorando substancialmente. Atualmente,
outro avanço observado para tratar a hepatite C, foi à introdução do Interferon-α
peguilado (Peg IFN-α) reduzindo a incidência dos efeitos colaterais, melhorando a
Capa Índice 1466
adesão ao tratamento, à tolerância e propiciando a obtenção dos resultados esperados
(Bezerra & Oliveira, 2007).
Embora a infecção aguda do HCV tenha alta taxa de eficácia ao tratamento, não
se sabe ao certo em qual momento é ideal e recomendável para iniciar, tempo de
duração e regime de terapia, assim como sua necessidade real para pacientes HIV ou
doentes renais em fase terminal (Modi & Liang, 2008; Piroth et al., 2010). Além disso,
pacientes coinfectados pelo HCV/HIV, precisam tomar medidas especiais, antes de
iniciar o tratamento. Somente quando o indivíduo possui uma alta taxa de CDA
(Demência Relacionada à HIV), é cabível iniciar o tratamento para o HCV, mas se for
necessário o uso de terapia antirretroviral para recuperação imunológica, essa se faz
obrigatória antes de qualquer outro tipo de tratamento (Brasil, 2009).
Não é recomendado o início simultâneo de ambas as terapias, devido à
dificuldade de seguir corretamente os esquemas e, principalmente pelos efeitos
colaterais causados pelas drogas, como a toxicidade e a interação medicamentosa. Então
o tratamento para o HCV é considerado adequado quando o indivíduo não possui
nenhuma restrição ou falha terapêutica, com instabilidade clínica e imunológica bem
como a presença de qualquer grau de fibrose (Brasil, 2009). A adesão e o
acompanhamento ao tratamento se tornam pontos importantes a serem levados em
conta, principalmente para a garantia de resultados satisfatórios e esperados, para
avaliar a resposta aos medicamentos, reduzir as taxas de cronicidade dessa infecção
(Maheshwari & Thuluvath, 2010).
A resposta terapêutica dos pacientes com hepatite crônica pode ser influenciada
por fatores, como idade, estágio de fibrose avançado, consumo de álcool, coinfecção
pelo HIV, carga viral pré-tratamento e, principalmente, o genótipo do HCV (Healthcote
& Main, 2005; Weigand et al., 2007). Os pacientes infectados com genótipo 1 têm
apresentado resposta virológica sustentada em 45% a 57% dos casos, após 48 semanas
de tratamento com Peg IFN-α + ribavirina, enquanto 70% a 85% daqueles infectados
com genótipos 2 ou 3 apresentam essa resposta após o tratamento com Peg IFN-α +
ribavirina por 24 semanas (Heathcote & Main, 2005; Deutsch & Hadziyannis, 2008).
A genotipagem do HCV pode ser realizada através do sequenciamento completo
do genoma viral ou das regiões 5’ NC, core, E1 ou NS5B ou hibridização reversa com
sondas genótipo-específicas (LiPA - line probe assay - região 5’ NC), (Chevaliez &
Capa Índice 1467
Pawlotsky, 2007). A deliberação do genótipo é imprescindível para a definição do
tempo de tratamento, uma vez que presume com maior chance de sustentação da
resposta virólogica. Desse modo os pacientes infectados pelo HCV devem ser
submetidos à genotipagem antes de iniciar o protocolo de tratamento (Scott & Gretch,
2007).
2. OBJETIVOS
- Identificar os subtipos do HCV em indivíduos coinfectados HCV/HIV em Goiânia-
Goiás;
- Pesquisar o RNA-HCV em amostras anti-HCV não reagentes de indivíduos infectados
pelo HIV.
3. METODOLOGIA
Estudo observacional, analítico, de corte transversal, conduzido em 505
indivíduos portadores da Imunodeficiência Humana, virgens de tratamento que foram
encaminhados ao Hospital de Doenças Tropicais - Anuar Auad/HDT na cidade de
Goiânia-Go, no período de abril de 2009 a abril de 2010. Os pacientes aceitaram
participar do estudo mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE), posteriormente foram entrevistados utilizando questionário
estruturado e padronizado contendo perguntas sobre dados sócio-demográficos e
características de risco. Posteriormente, coletou-se 10 ml de sangue, que foram
separados e armazenados a –20°C no Laboratório de Virologia do Instituto de Patologia
Tropical e Saúde Pública/UFG até a realização dos Testes.
No questionário continham questões que abordavam quesitos sócio-
demográficos como idade, sexo, raça, estado civil, escolaridade, renda familiar e
profissão, bem como características/situações que predispunham a infecção pelo vírus
HCV, tais como história de vacinação, vida sexual, antecedente prisional,
tatuagens/piercings, doenças sexualmente transmissíveis (DST), uso de preservativos e
transfusões sanguíneas.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HDT, sendo seu
protocolo de n° 004/2009.
Capa Índice 1468
Detecção do RNA-HCV em amostras anti-HCV não reagentes - Todas as
amostras foram testadas para detecção do RNA viral. Inicialmente, o RNA foi extraído
pelo método fenol/clorofórmio. A transcrição reversa foi realizada com iniciador
randômico. O cDNA obtido foi amplificado pela reação em cadeia pela polimerase
(PCR), utilizando-se iniciadores complementares à região 5’ não codificante do genoma
do HCV. Os produtos da PCR foram submetidos à eletroforese em gel de agarose a
1,5% contendo brometo de etídeo e, visualizados sob luz ultravioleta em um
transiluminador.
Genotipagem do HCV - As amostras RNA-HCV positivas foram submetidas à
genotipagem pelo método “line probe assay” (INNO-LiPA, Innogenetics, Bélgica),
empregando-se “primers” biotinilados complementares à região 5’ NC do genoma do
HCV. Este ensaio consiste na hibridização reversa de produtos biotinilados da PCR com
sondas tipo-específicas, previamente imobilizadas em linhas paralelas nas tiras da
membrana de nitrocelulose. A reatividade dos fragmentos amplificados em uma ou mais
linhas sobre as tiras permite o reconhecimento dos seguintes genótipos do HCV: 1a, 1b,
1a/1b, 1, 2a/2c, 2b, 2, 3a, 3b, 3c, 3, 4a, 4b, 4c/4d, 4e, 4f, 4h, 4, 5a e 6a.
Processamento e análise dos dados - Os dados das entrevistas e os resultados
dos testes sorológicos e moleculares foram digitados em microcomputador e analisados
em programa estatístico “EpiInfo 6”, desenvolvido pelo “Centers for Disease Control
and Prevention”, Estados Unidos da América. Os testes de x2, x2 para tendência e Exato
de Fisher serão utilizados quando apropriados.
4. RESULTADOS
A tabela 1 mostra as características sócio-demográficas dos 505 indivíduos
infectados pelo HIV na cidade de Goiânia-GO. A média da idade foi de 37,57 anos (dp
10,18), com predomínio do sexo masculino (60,2%). Quanto à escolaridade, 39,4%
referiram ter estudado por mais de 10 anos, 35,2% de seis a nove anos e 25,4% o grau
de instrução foi inferior a cinco anos. Em relação à renda familiar, houve uma
distribuição homogênea quanto à porcentagem em cada categoria.
Capa Índice 1469
Dos participantes, 48% eram naturais do interior de Goiás, 36,6% nasceram em
outro estado e 15,4% em Goiânia-GO. Em relação ao estado civil, a maioria (45,4%)
declarou serem solteiros. Quando questionadas sobre a profissão, 13,3% relataram se
ocupar de atividades do lar, 4,3% era lavradores, 2,4% estudantes, 6,3% trabalhavam
em atividades de serviços gerais e 65,7% referiram ter outro tipo de ocupação.
Tabela 1.Característica dos 505 indivíduos infectados pelo o vírus da imunodeficiência
humana em Goiânia-GO
Característica n %
Média de Idade (dp) 37,57 anos(10,18)
Sexo
Feminino 201 39,8
Masculino 304 60,2
Grau de instrução (anos)
≤ 5 128 25,4
6-9 178 35,2
>10 199 39,4
Renda familiar (reais)
≤ 1 SM * 178 35,2
1-2 SM 174 34,5
> 2 SM 153 30,3
Naturalidade
Goiânia 78 15,4
Interior de Goiás 242 48,0
Outro Estado 185 36,6
Estado civil
Solteiro 229 45,4
Casado 201 39,8
Viúvo 30 5,9
Separado 45 8,9
Profissão
Do Lar 67 13,3
Lavrador 22 4,3
Estudante 12 2,4
Capa Índice 1470
Serviços Gerais 32 6,3
Outros 372 73,7
Das 505 amostras soropositivas analisadas neste estudo, o marcador anti-HCV
foi identificado em 23 indivíduos (4,6%; IC 95%: 3,0-6,8). As amostras reagentes foram
submetidas à detecção do RNA-HCV, sendo detectado em 65,2% (15/23). Após a
genotipagem das amostras RNA-HCV positivas, foram identificados os genótipos 1
(86,6%) e 3 (13,4%) (Figura-1), sendo detectados os subtipos 1a (66,6%), 1b (13,3%) e
1a/1b (6,6%) (Figura-2). As amostras anti-HCV não reagentes (n=482) foram também
submetidas à PCR, para a detecção do RNA viral, porém nenhuma das amostras
apresentou material genético.
Figura 1- Prevalência dos genótipos do HCV em 505 indivíduos portadores de HIV em
Goiânia, Goiás
Figura 2- Prevalência dos subtipos do HCV em 505 indivíduos portadores de HIV em
Goiânia, Goiás
Distribuição Genotípica
86,6%
13,4%
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7
Subtipo 1a Subtipo 1b Subtipo 1a/1b
6,6% 13,4%
66,6%
Capa Índice 1471
5. DISCUSSÃO
A infecção pelo vírus da hepatite C além de ser um importante problema de
saúde pública é observado frequentemente em indivíduos portadores de HIV, devido ao
fato de possuírem rotas de transmissão similares (Deng et al., 2009). A coinfecção
HCV/HIV potencializa a progressão para a hepatite crônica, cirrose hepática, carcinoma
hepatocelular e morte (Reiberger et al., 2010).
Após a análise dos dados referente às características da população estudada,
observou-se predomínio de homens, solteiros, com baixa escolaridade, baixa renda
familiar e proveniente do interior de Goiás. Alguns destes dados foram concordantes
com estudos brasileiros conduzidos na mesma população (Amaral et al., 2007; Carvalho
etal., 2009; Reiberger et al., 2010) e estudos internacionais (Ré et al., 2008; Buxton et
al., 2010).
A prevalência de anti-HCV verificada em indivíduos portadores da
Imunodeficiência Humana, virgens de tratamento em Goiânia-GO (n=505), foi de 4,6%
(IC 95%: 2,9-6,8), sendo superior à encontrada em doadores de sangue (1,4%; IC 95%:
1,0-2,0) (Martins et al., 1994). Já uma investigação conduzida na cidade de Goiânia-GO
em indivíduos soropositivos (independente se haviam iniciado ou não a terapia
antiretroviral), verificou uma prevalência de coinfecção HCV/HIV de 42% (IC 95%:
20-66), sendo esta elevada quando comparada aos nossos dados (Pereira et al., 2006)
A detecção do RNA viral é importante para o esclarecimento do diagnóstico da
infecção pelo HCV, principalmente na fase inicial da infecção, em pacientes
imunossuprimidos e durante o período de janela imunológica (Brandão et al.,2001). No
presente estudo, das 23 amostras anti-HCV reagentes, 15 (65,2%) foram RNA-HCV
positivas, dado inferior ao relatado por Wolff et al., (2010) em indivíduos soropositivos
de Porto Alegre-RS. As amostras anti-HCV não reativas, foram também submetidas à
detecção do RNA pela RT-PCR, que confirmou a negatividade de todas as amostras.
Carvalho et al., (2009) ao realizar a pesquisa do RNA viral em todas as amostras,
independentes do resultado sorológico, encontraram resultado semelhante ao presente
estudo, sendo que todos os indivíduos soronegativos pelo ELISA foram também pela
reação em cadeia da polimerase. Apesar do comprometimento imunológico desses
pacientes, infere-se que o ensaio imunoenzimático pode ser considerado um bom
método diagnóstico para a infecção pelo HCV. Entretanto, alguns estudos têm mostrado
que a janela imunológica é mais longa em pacientes imunocomprometidos, sendo a RT-
Capa Índice 1472
PCR um importante método confirmatório para o diagnóstico do HCV (Carneiro et al.,
2001; CDC, 2001; Pawlotsky, 2002).
Todas as alíquotas que continham o RNA viral foram genotipadas, sendo que
das 15 amostras, houve predomínio do genótipo 1 (86,6 %), seguido pelo genótipo 3
(13,4%). Estudos brasileiros têm encontrado também uma frequência elevada do
genótipo 1 em diferentes grupos populacionais (Espírito-Santo et al., 2007; Silva et al.,
2007; Wolff et al., 2010). Em relação aos subtipos, observou-se predomínio do 1a
(66,6%), seguido do 1b (13,3%) e 1a/1b (6,6%). Em nossa região, Pereira et al., (2006)
ao investigar 592 indivíduos soropositivos encaminhados ao Centro de Testagem e
Aconselhamento da cidade de Goiânia-GO, verificaram o predomínio do subtipo 3a em
coinfectados, sendo detectado também o subtipo 1a em uma única amostra.
A caracterização genotípica do vírus da hepatite C é importante para a definição
do tempo de tratamento, e torna-se fator chave para apoiar as decisões terapêuticas, uma
vez que mostra com maior precisão a chance de resposta antiviral (Scott & Gretch,
2007; Wolff et al., 2010). Os genótipos 2 e 3 do HCV respondem melhor ao tratamento,
quando comparados com os genótipos 1 e 4, sendo que o tempo de tratamento para o
genótipo 1 é mais dispendioso e prolongado, apresentando também uma pior resposta
terapêutica em vários casos observados (Soriano et al., 2010).
Durante o desenvolvimento do presente estudo, observamos que muitas
populações estão vulneráveis à aquisição de doenças infecciosas, como a coinfecção
pelo vírus da hepatite C e HIV, de tal forma, estudos epidemiológicos, como o presente,
são de grande importância para o desenvolvimento e planejamento de políticas de saúde
pública, para prevenção e controle destas doenças, que implicará na melhoria da
qualidade de vida e de assistência aos indivíduos coinfectados e minimizará a exposição
de indivíduos não infectados, já que não existem vacinas disponíveis para imunização
contra ambos os vírus.
6.CONCLUSÕES
- Os subtipos do HCV identificados em indivíduos coinfectados pelo HCV/HIV em
Goiânia-Goiás foram 1a (66,6%), 1b (13,3%) e 1a/1b (6,6%);
- Não foi detectado RNA-HCV nas amostras anti-HCV não reagentes de indivíduos
infectados pelo HIV.
Capa Índice 1473
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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
INSTITUTO DE PATOLOGIA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA
DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA, IMUNOLOGIA,
PARASITOLOGIA E PATOLOGIA
Análise da susceptibilidade de formas amastigotas de Leishmania (Viannia)
braziliensis obtidas de pacientes com lesões mucosas ou cutâneas ao sistema imune
de camundongos deficientes de óxido nítrico ou interferon γγγγ....
Fernanda Dias Tomé1, Clayson Moura Gomes1, Lucilla Ribeiro Ávila1, Milton
Adriano Pelli Oliveira1.
email: [email protected]; [email protected]
1-Departamento de Microbiologia, Imunologia, Parasitologia e Patologia.
Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública, Universidade Federal de Goiás.
Goiânia, Goiás, Brasil.
Palavras-chave: Interferon-gama, óxido nítrico (NO), leishmaniose cutânea,
leishmaniose mucosa, Leishmania (Viannia) braziliensis.
Goiânia; Agosto, 2012.
1- Introdução
As leishmanioses são zoonoses presentes em vários países do mundo, e
aproximadamente 350 milhões de pessoas estão sob o risco de infecção. No Brasil, esta
é uma doença endêmica cuja incidência aumentou nos últimos anos e vários surtos têm
ocorrido em diversas regiões do país (BRASIL, 2007). Os agentes etiológicos são
protozoários pertencentes ao gênero Leishmania, ordem Kinetoplastidae e família
Trypanosomatidae, que são transmitidos por flebotomíneos (DOYLE et al., 2009). O
impacto da leishmaniose na saúde pública foi subestimado por muitos anos, porém,
ficou claro que esta doença merece mais atenção devido a sua alta incidência e extensa
distribuição geográfica.
Orientada (PIBIC): Fernanda Dias Tomé Orientador: Milton Adriano Pelli de Oliveira Revisado pelo Orientador
Capa Índice 1479
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1479 - 1491
A L. (V.) braziliensis é o principal parasito causador da leishmaniose cutânea
e/ou mucosa no Brasil e ainda não é muito claro quais os fatores presentes nos parasitos
ou no paciente que favoreçam o aparecimento da forma mucosa da doença. A infecção
natural por Leishmania começa quando o inseto vetor inocula entre 10 a 100.000 formas
promastigotas infectantes na pele do hospedeiro (KIMBLIN et al., 2008). Grande parte
das formas inoculadas são mortas pela imunidade inata, mas os parasitos remanescentes
são capazes de iniciar e propagar a infecção (DEKREY et al., 1998; DOMÍNGUEZ et
al., 2003; ZANDBERGEN, VAN et al., 2004). Durante a fase inicial da infecção,
células progenitoras mielóides ou células dendríticas mielóides imaturas capturam os
parasitos e produzem IL-12 para ativarem a resposta imune do tipo Th1 que exerce o
papel principal no controle dos parasitos (GAZZINELLI et al., 1998; MCMAHON-
PRATT; ALEXANDER, 2004; OLIVEIRA, et al., 2005; PINHEIRO; ROSSI-
BERGMANN, 2007; SOONG, 2008). Células Th1 são caracterizadas por produzirem
grande quantidade de Interferon (IFN ), uma das principais citocinas capaz de ativar
macrófagos para matar as diferentes espécies de leishmânias (GAZZINELLI et al.,
1998; MCMAHON-PRATT; ALEXANDER, 2004; OLIVEIRA, et al., 2005;
PINHEIRO; ROSSI-BERGMANN, 2007; SOONG, 2008). Macrófagos ativados por
IFN também conhecidos como macrófagos classicamente ativados (cM0), expressam
uma grande quantidade da enzima óxido nítrico sintase induzida (iNOS), que é a enzima
responsável pela produção de óxido nítrico (NO), uma das principais moléculas
leishmanicidas conhecidas (BOGDAN, C et al., 2000; GORDON, 2003; COLOTTI;
ILARI, 2011).
As linhagens de camundongos mais comuns nos biotérios são resistentes à
infecção por L. (V.) braziliensis, desenvolvendo uma pequena lesão que se cura
espontaneamente (CHILDS et al., 1984; SAMUELSON et al., 1991). Esta resistência é
primariamente associada à IFNγ e NO (SOUZA-NETO, DE et al., 2004; ROCHA et al.,
2007). Os macrófagos estimulados com IFNγ e infectados com L. (V.) braziliensis
produzem NO em quantidade suficiente para matar os parasitos in vitro (ROCHA et al.,
2007). A ausência desse gene em camundongos geneticamente modificados está
associada com a incapacidade de camundongos controlarem a infecção, comprovando o
papel crucial do IFNγ (PINHEIRO; ROSSI-BERGMANN, 2007). Sendo assim,
acredita-se que o controle da infecção murina por L. (V.) braziliensis seja então
Capa Índice 1480
dependente da ativação clássica de macrófagos que produzirá NO para promover o
controle do parasito (ROCHA et al., 2007).
Entretanto, pode-se observar um controle da L.(V.) braziliensis na infecção
murina independente de IFNγ, já que alguns camundongos desprovidos de IFNγ não
desenvolvem lesão quando são inoculados com macerados de biópsias de pacientes
contendo formas amastigotas (OLIVEIRA, et al. 2010). Além disto, o controle dos
parasitos no baço é feito na ausência do NO, indicando que outros fatores microbicidas,
além do NO devem estar envolvidos com a disseminação dos parasitos (ROCHA et al.,
2007).
A utilização de parasitos oriundos de lesões de pacientes com leishmaniose
mucosa ou cutânea, inoculadas em modelos experimentais desprovidos de NO ou IFNγ
poderá auxiliar no entendimento dos possíveis mecanismos de escape do parasito que
possibilitem o aparecimento da forma mucosa da doença.
2- Objetivos
O objetivo deste trabalho foi avaliar o perfil da leishmaniose experimental em
camundongos desprovidos dos genes de IFNγ ou iNOS após a infecção com formas
amastigotas de L. (V.) braziliensis isoladas de pacientes com lesões mucosas ou
cutâneas.
3- Metodologia
3.1-Camundongos
As matrizes dos camundongos C57BL/6 desprovidos do gene do ifng (IFNγKO-
B6.129S7-ifngtm1Ts); ou inos-/- foram cedidos pela Dra. Leda Quercia Vieira (ICB,
UFMG, Belo Horizonte,MG, Brasil). Estes animais foram mantidos no Biotério do
Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás. Nas
infecções experimentais foram utilizados camundongos fêmeas de 8 a 12 semanas de
idade que serão mantidos em estantes ventiladas (UNO BV, Holanda) com alimentação
e água a vontade e utilizados nas infecções como descrito posteriormente. Este trabalho
foi aprovado pelo comitê de ética mediante protocolo: CEPMHA/HC/UFG N°
062/2010.
3.2-Parasitos e infecção dos camundongos
Capa Índice 1481
Formas amastigotas de L. (V.) braziliensis foram selecionadas aleatoriamente do
estoque de parasitos do Leishbank (Banco de leishmanias da região Centro
Oeste/UFG/Goiás) (OLIVEIRA, et al.). Foram utilizados 3 isolados de parasitos
oriundos de pacientes com a forma mucosa (PPS6, ASL9 e JBC8) e 2 isolados de
pacientes com a forma cutânea(JCJ8 e RPL5) .
Para obtenção das amastigotas utilizadas na infecção dos camundongos,
leishmânias na forma amastigotas recém-descongeladas foram lavadas duas vezes com
PBS e inoculadas no coxim plantar dos animais deficientes em IFNγ. Após a lesão
atingir 3 mm os animais foram eutanasiados por decapitação e as formas amastigotas
foram purificadas da pata por gradiente de Percoll 90%, 45% e 20% como descrito
anteriormente (20). Um total de 1000 formas amastigotas foram inoculadas na pata
esquerda dos animais deficientes em IFNγ ou iNOS para o acompanhamento semanal da
lesão que foi medida por um paquímetro (Mytutoyo, Japão). O tamanho da lesão foi
expresso pela medida da pata infectada subtraída da pata contralateral não infectada.
Os animais foram eutanasiados por decapitação quando a lesão atingiu um
tamanho de 3 mm para a quantificação dos parasitos.
3.3– Quantificação dos Parasitos
O número de parasitos presentes nas patas dos animais durante a infecção foi
estimado utilizando o teste de diluição limitante descrito anteriormente (LIMA, H. C. et
al., 1997). O ensaio consiste em diluições seriadas 1:10 do macerado da pata infectada,
do linfonodo drenante e do baço de cada animal, cultivado em placa de 96 poços de
fundo chato (TPP, Suiça). O macerado dos órgãos diuídos 200 L/poço em meio de
Grace suplementada com SFB a 10%, 50 M, glutamina 2 mM, 100 U/mL de penicilina
e 100 g/mL de estreptomicina, fechada hermeticamente e incubada a 26 °C. A
detecção do aparecimento de promastigotas móveis (poços positivos) foi feita por
avaliações periódicas utilizando o microscópio invertido (Olympus, Japão).
3.4-Análise estatística dos resultados
Os resultados foram comparados quanto a significância dos mesmos pelo
método de análise não paramétrica do teste de Kruskal-Wallis seguido por Mann-
Whitney U-test usando o programa Graph-Pad Prism Sophtware 4.0 (Inc. San Diego,
CA, USA). Os dados foram apresentados em gráficos contendo média ± desvio padrão.
Valores de p<0,05 serão considerados significativos.
Capa Índice 1482
4-Resultados
Camundongos desprovidos de IFN infectados com formas amastigotas isoladas
de pacientes portando a forma cutânea da doença desenvolvem a lesão mais
precocemente do que camundongos infectados com amastigotas isoladas de lesões
mucosas (Figura 1). Esta lesão mais precoce é mais facilmente observada quando os
animais são inoculados com as doses de 100 ou 1.000 amastigotas. Nessas doses,
observa-se que as amastigotas de lesão cutânea provocam lesões maiores que 1,0 mm
após a quarta semana, enquanto isolados de lesões mucosas provocam lesões acima de
1,0 mm após a quinta semana.
Figura 1: Tamanho da lesão nas patas de camundongos deficientes em IFNγ infectados
com 100,1.000,10.000 ou 100.000 formas amastigotas de L. (V) braziliensis isoladas de
pacientes portando a leishmaniose mucosa (PPS6 ou JBC8) ou cutânea (JCJ8 ou RPL5).
Os gráficos representam a diferença entre a pata infectada e a pata contralateral. n indica
o número de experimentos feitos com 3 camundongos em cada grupo.
Quando se compara a infecção de camundongos desprovidos de IFN com
camundongos desprovidos de iNOS em diferentes doses de parasitos , pode-se observar
que animais infectados com 1.000 amastigotas isoladas de pacientes portando a forma
Capa Índice 1483
cutânea (Figura 2, JCJ8c) desenvolveram uma lesão aparentemente maior no período de
5 semanas do que camundongos desprovidos de iNOS infectados com o mesmo parasito
na mesma dose, porém, esta diferença não foi estatisticamente significativa. Quando as
duas linhagens de camundongos foram inoculados 100.000 formas amastigotas, o
crescimento das lesões ocorre de forma semelhante (Figura 2). Adicionalmente,
parasitos obtidos de lesão mucosa (PPS6) provocam uma lesão semelhante nas duas
linhagens de camundongos quando inoculados com 1.000 ou 100.000 amastigotas.
Figura 2: Tamanho da lesão nas patas de camundongos deficientes em IFNγ ou iNOS
infectados com 1.000 ou 10.000 formas amastigotas de L. (V) braziliensis isoladas de
pacientes portando a leishmaniose mucosa (PPS6) ou cutânea (JCJ8). Os gráficos
representam a diferença entre a pata infectada e a pata contralateral. 1 experimento (n =
4 camundongos por grupo). * p < 0,05 (indicando diferença entre iNOS 1.000 e iNOS
10.000).
Na Figura 1 foi demonstrado que animais deficientes em IFN infectados com
um parasito obtido de lesão cutânea desenvolvem a lesão mais precocemente quando
inoculados com 1.000 parasitos. Para verificar se outros parasitos de lesões cutâneas e
mucosas induzem um padrão de doença semelhante, camundongos deficientes em iNOS
ou IFN foram infectados com dois isolados de lesões cutâneas (JCJ8c;RPL5c) ou três
isolados de lesões mucosas (PPS6m, ASL9m, JBC8m). Novamente, pode ser observado
que na quarta semana de infecção que os animais desprovidos de IFN desenvolveram
lesões de cerca de 2 mm, enquanto os parasitos de lesões mucosas induziram lesões
inferiores a 1 mm (Figura 3, IFNKO). Entretanto, enquanto a lesão desencadeada pelo
parasito PPS6m permaneceu menor que 1 mm até a oitava semana, os demais isolados
de lesões mucosas induziram lesões similares aos isolados de lesões cutâneas em uma
fase mais tardia da infecção. Diferentemente, as lesões de camundongos deficientes em
Capa Índice 1484
iNOS desenvolveram-se de forma semelhante quando os animais foram infetados com
parasitos de lesões cutâneas ou mucosas (Figura 3, iNOSKO)
Figura 3: Tamanho da lesão nas patas de camundongos IFNγKO ou iNOSKO infectados
com 1.000 formas amastigotas de L. (V) braziliensis isoladas de pacientes com
leishmaniose na forma mucosa (PPS6;JBC8;ASL9) ou cutânea (JCJ8;RPL5). Os
gráficos representam a diferença entre a pata infectada e a pata contralateral. 1
experimento (n = 3 camundongos por grupo) * p < 0,05 (diferença entre os isolados
oriundos de lesão mucosa e os isolados oriundos de lesão cutânea).
Para avaliar se a lesão desencadeada estava correlacionada a um aumento do
número de parasitos, a quantidade de leishmânias presente na pata foi estimada pela
técnica da diluição limitante, quando a lesão alcançou o tamanho de 3 mm. No caso dos
animais deficientes de IFN, podemos observar que todos animais apresentaram um
número de parasitos semelhantes (Figura 4A). Camundongos deficientes de iNOS
infectados com diferentes isolados também apresentaram uma quantidade de parasitos
semelhante nas patas com 3 mm de lesão, exceto aqueles infectados com o JCJ8c que
possuíam menos parasitos animais deficientes em IFNγ infectados com os mesmos
parasitos (Figura 4 A).
O aparecimento de uma lesão mucosa depende da migração da leishmânia do
sítio da infecção para a mucosa. Para avaliar esta capacidade de migração, a quantidade
de parasitos nos linfonodos e no baço dos animais foi estimada quando a lesão atingiu 3
mm na pata. Pode ser observado que a quantidade de parasitos dos diferentes isolados
no linfonodo foi semelhante, exceto em animais deficiente de iNOS infectados com o
isolado oriundo de lesão mucosa (ASL9m), onde a quantidade de parasitos foi menor do
Capa Índice 1485
que em animais deficiente de IFN infectados com o mesmo isolado. Por outro lado,
pode-se observar que houve mais parasitos no baço de animais infectados com
amastigotas oriundas de lesão mucosa, do que no baço de animais infectados com
amastigotas oriundas de lesão cutânea.
Figura 4 Carga parasitária nas patas, linfonodos drenantes e baços de camundongos
IFNγKO ou iNOSKO infectados com 1.000 formas amastigotas de L. (V) braziliensis
isoladas de pacientes com leishmaniose na forma mucosa (PPS6;JBC8;ASL9) ou
cutânea (JCJ8;RPL5). (n =3camundongos por grupo).
5- Discussão
Capa Índice 1486
Camundongos desprovidos de IFN infectados com formas amastigotas isoladas
de pacientes portando a forma cutânea da doença desenvolvem uma lesão mais precoce
que camundongos infectados com amastigotas isoladas de lesões mucosas, o que é
observado principalmente em doses mais baixas. Uma das causas desta lesão mais
precoce pode ser devido a maior capacidade destes parasitos induzirem a produção da
citocina pró-inflamatória IL-1 observada em outros experimentos em nosso laboratório
(Gomes et al. 2012, manuscrito em preparação). Como uma resposta inflamatória local
pode ser favorecida pela IL-1, o excesso desta citocina induzida pela presença de
leishmânias de lesões cutâneas poderá causar uma migração mais rápida de células
mielóides (VORONOV et al., 2010) o que justifica a lesão mais precoce.
Comparando-se a lesão de animais desprovidos do gene para IFN infectados
com leishmânia de origem cutânea com lesão de animais desprovidos do gene para
iNOS, observa-se que os primeiros desenvolveram lesões mais rapidamente. Nas lesões
desencadeadas por parasitos de lesões mucosas acontece o contrário, ou seja, os animais
deficientes em IFNγ levam mais tempo para iniciar o desenvolvimento da lesão. O IFN
é responsável pela morte da leishmania spp, por agir juntamente com o fator de necrose
tumoral (TNF-) ativando a enzima óxido nítrico sintase (iNOS) para produzir NO, que
é responsável, entre outros fatores, pela morte do parasito intracelular (GAZZINELLI et
al., 1998; LIESE et al., 2008; GIUDICE et al., 2007). Estes dados indicam que parasitos
de lesões cutâneas podem depender do IFNγ para produção de outros mecanismos
microbicidas além do NO, enquanto no caso de parasitos de lesões mucosas, o controle
é dependente apenas de NO
Ao observar a diluição limitante para quantificação dos parasitos, nota-se que
não houve diferença na quantidade de parasitos nas patas entre camundongos infectados
com parasitos de lesão mucosa ou cutânea, assim como não houve diferença entre
camundongos deficientes de iNOS ou INF, exceto com relação ao camundongo sem
INF infectado com o isolado de lesão cutânea JCJ8c tem mais parasitos.Este dado
reforça a ideia de que o IFNγ está induzindo outro fator microbicida além de NO para
controlar os parasitos de lesão cutânea.
No linfonodo, a única diferença encontrada foi em animais deficientes de iNOS
infectados com isolado de lesão mucosa (ASL9m), onde a quantidade de parasitos foi
menor do que em animais deficientes de IFN infectados com o mesmo isolado. Este
dado indica que a deficiência IFNγ possibilitou uma maior metástase que a deficiência
Capa Índice 1487
de iNOS, sugerindo que o controle da disseminação de parasitas possam depender de
outros fatores além de NO, o que está de acordo com trabalhos anteriores (GIUDICE et
al., 2007). Contudo, essas características foram observadas somente em um isolado,
mostrando mais uma vez que há diferenças nas características de cada parasito.
A diluição limitante do baço dos animais mostrou que houve mais parasitos no
baço de animais infectados com parasitos de lesão mucosa, do que no baço de animais
infectados com amastigotas oriundas de lesão cutânea. Este dado indica que os parasitos
de lesão mucosa têm uma maior facilidade para disseminar, sendo que este pode seru
um dos motivos para que eles causem lesões mucosas. Já foi demonstrado que isolados
oriundos de pacientes com leishmaniose mucosa apresentaram níveis maiores de
atividade de arginase em relação a parasitos de outras formas clínicas (VENDRAME et
al., 2010), lembrando que níveis elevados de atividade de arginase depleta o substrato
L-arginina para a produção de NO, isto pode ser um motivo para a migração do parasito
para o baço.
Em resumo, esse trabalho mostrou que cada isolado tem suas particularidades e
pode se comportar de formas diferentes, e causar diferentes respostas, embora pertença
ao mesmo grupo clínico (leishmaniose mucosa ou cutânea). Ressaltou a já conhecida
importância do estímulo de INF e sua associação as diferenças entre isolados. E
mostrou a capacidade de metástase de isolados oriundos de lesão mucosa, com sua
migração para o baço.
6- Conclusão
O trabalho mostrou que isolados de uma mesma espécie de parasito, Leishmania
braziliensis, apresentam formas de resistência distintas dos mecanismos microbicidas
dependentes de IFNγ e NO. Embora cada isolado tenha sua particularidade, alguns
fenômenos podem ser observados em leishmânias associadas a determinadas formas
clínicas da doença. Assim, isolados que causam leishmaniose mucosa são mais capazes
de disseminar para o baço, enquanto isolados que causam a lesão apenas cutânea
desencadeiam uma lesão mais precoce. Um melhor entendimento entre as diferenças
específicas destes parasitos poderá facilitar o entendimento da patogenia da
leishmaniose mucosa e facilitar as formas de se interferir com esta doença.
Capa Índice 1488
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Capa Índice 1491
A CULTURA DOS DIREITOS HUMANOS: MEMÓRIA, TESTEMUNHO E
COSMOPOLITISMO APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
“A essência dos Direitos Humanos é o direito a ter direitos".1 Hannah Arendt (1989, p.330).
Fabiana de Souza Fredrigo2 [email protected]
Faculdade de História / Campus II-UFG
Fernanda Linhares Pereira3 [email protected]
Faculdade de História / Campus II-UFG
Palavras-chave: Memória, História, Testemunho e Direitos Humanos.
O texto que segue compõe a segunda parte do relatório PIBIC. Optou-se pela escrita
de um artigo, considerando que ele é, além de uma produção derivada do plano de trabalho
apresentado e aprovado, uma expressão conclusiva da trajetória da pesquisa realizada no
último ano. Neste artigo, explicitamos as referências bibliográficas que nos guiaram para a
investigação do tema proposto, expomos a metodologia utilizada para lidar com a fonte (os
testemunhos recolhidos pelo psiquiatra norte-americano, Leon Nathaniel Goldensohn, em
Nuremberg) e fundamentamos o objetivo anunciado no plano de trabalho, qual seja: analisar a
relação entre o testemunho, o gerenciamento da memória sobre o Holocausto e a adoção de
uma nova interpretação acerca dos direitos humanos, após a Segunda Guerra Mundial.
“O tempo que terei para agradar os mortos, é bem mais longo do que o consagrado
aos vivos”.4 Essa foi a justificativa de Antígona, ao questionamento de sua irmã Ismênia,
sobre o desrespeito às ordens de Creonte de não poder enterrar seu irmão. Antígona está
pressa a uma obrigação para com os mortos e se esquece dos vivos. Vemos na atualidade
muitas “Antígonas”, que individualmente ou coletivamente continuam a reproduzir a dor dos
mortos como se fosse a sua própria. Essa atitude aparece especialmente em situações de
catastróficas, quando se perde entes queridos, sem poder reclamar por uma cerimônia que dê 1 Essa epígrafe faz parte das reflexões desenvolvidas por Hannah Arendt, na obra: As Origens do Totalitarismo, em seu capítulo: O Declínio do Estado-nação e o Fim dos Direitos Humanos. 2 Professora Adjunta da Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás, bolsista produtividade do CNPq, orientadora desse trabalho. 3 Graduanda em História, pela Universidade Federal de Goiás; graduanda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, orientanda do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC). 4 Trecho retirado da obra Antígona, de Sófocles (441 A.C). Esse autor conseguiu traduzir o mito grego em um drama universal que pode ser vivido por cada um de nós. Sófocles defende a existência de normas não escritas e imutáveis, superiores aos direitos escritos pelo homem.
Capa Índice 1492
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1492 - 1504
conta da morte. Os regimes totalitários do século XX colocaram esse problema, quando
criaram o extermínio em massa e as covas comuns, que serviram a homens e mulheres sem
nome, desumanizados e desidentificados. Do mesmo modo, os regimes ditatoriais na América
Latina ampliaram a angústia por meio do registro da figura do “desaparecido”. Assim, as
situações de guerra e de extermínio, assistidas no decorrer do século XX, fizeram com que o
imperativo do corvo de Poe5 se tornasse atual: o “nunca mais” – registro ético, emergente no
imediato pós-guerra – não pode ser esquecido. A fim de evitar que acontecimentos tão
traumáticos se repitam, geralmente, os governos ou outras entidades6 criam subterfúgios, tais
como as comissões da verdade e novos códigos humanitários, os quais em curto prazo
resolvem as inquietações, especialmente, dos sobreviventes e de seus familiares. A despeito
da incontestável necessidade de criação dessas medidas, elas devem ser devidamente
historicizadas, para que não se cobre dos vivos a dívida dos mortos – embora se saiba que, em
especial para os historiadores, um senso ético e responsável para com o passado é
fundamental para não se perder de vista a capacidade de a História dar sentido à cultura e à
experiência.
Nesse sentido, nosso objetivo é historicizar os códigos de direitos humanos,
considerando sua emergência e forte presença em meio às disputas em torno da memória do
Holocausto7. Para tanto, uma de nossas tarefas é analisar a obra As entrevistas de
Nuremberg8, de Leon Goldensohn9, a fim de perceber, a partir do testemunho dos algozes,
como se dá a relação entre o “gerenciamento da memória” do Holocausto e a “emergência de
uma cultura legal” dos Direitos Humanos. Alcançada essa percepção, trata-se de perguntar: se
essa relação pode ser estabelecida, o que a tornou possível – o que a objetivou
historicamente? O percurso desse estudo, que busca entender a questão central anunciada (a
relação entre o testemunho, o gerenciamento da memória e o estabelecimento de uma cultura
legal dos DH), traz consigo outros problemas, que vão desde a crítica externa da fonte, que 5 Assim como o corvo no poema de Edgar Allan Poe, publicado em 1845, repete incessantemente o vocábulo “nunca mais”, também ele é repetido enfaticamente no contexto do pós-guerra no século XX. O poema se intitula homonimamente “O corvo”. 6 A principal entidade de proteção aos Direitos Humanos é a ONU, criada após 1945. A Liga das Nações, estabelecida após a Primeira Guerra Mundial, não teve a mesma força e impacto, se comparada à ONU. Para melhores esclarecimentos, consultar a obra: A invenção dos Direitos Humanos de Lynn Hunt. 7 Esse termo será usado no decorrer do texto, mas sem qualquer apologia aos sacrifícios voluntários expressos nas passagens bíblicas. Nosso entendimento vai ao encontro do de Giorgio Agambem, em sua obra: O que resta de Auschwitz. 8 Esse documento foi editado pela primeira vez nos anos 90 na língua inglesa, sendo difundido e publicado em outras línguas no mundo todo. No Brasil foi publicado em 2005 pela Companhia das Letras, nesse trabalho a versão utilizada foi a de 2006 em sua terceira reimpressão. 9 Leon Nathaniel Goldensohn nasceu em 1911, em Nova York. Alistou-se no exercito em 1943, e por ser médico e psiquiatra foi chamado a trabalhar no presídio em Nuremberg, em 1946, sendo encarregado de cuidar da saúde física e mental dos generais nazistas presos. Em 1961, faleceu de ataque cardíaco. (GELLATELY, 2005)
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exige a interrogação sobre seu contexto de produção; sua tipologia textual; as origens do autor
e a língua original do documento, até a crítica interna, que permitirá levantar hipóteses que
possam corroborar para o entendimento de como a memória do Holocausto modificou a
concepção que se tinha de Direitos Humanos. Em outras palavras, mais adiante, fundamental
é entender de que forma se deu a mudança nos códigos jurídicos, que passaram do
positivismo legal10, vigente na época, para um conjunto de princípios morais e éticos, tudo
isso, impulsionados pelos acontecimentos traumáticos.
Nos anos 90, editadas em inglês e organizadas por Robert Gellately, vieram a
público, as entrevistas dos oficiais nazistas, realizadas em Nuremberg, pelo psiquiatra
americano Leon Goldensohn. As anotações, feitas a partir da narrativa dos generais nazistas
condenados em Nuremberg, ficaram, durante muito tempo, guardadas pela família de
Goldensohn11. A narrativa exposta pelas entrevistas e anotações do psiquiatra integram a
história e a memória coletiva do século XX12, mas não só. Especialmente para as vítimas, que
sofreram as atrocidades narradas pelos generais nazistas, tais memórias podem servir de
exemplo para as próximas gerações, para que Auschwitz13 não se repita – esse é um dos
imperativos, que foi resguardado muito particularmente pelos americanos. Tangenciam esse
imperativo a memória sobre a Segunda Guerra Mundial (e a maneira como os Aliados se
colocam como vencedores e vítimas em relação aos países do Eixo) e a construção das
relações políticas em tempos de Guerra Fria. Após décadas de distanciamento dos
acontecimentos narrados no livro, sua publicação na contemporaneidade ainda se faz
pungente diante dos fatos ocorridos em Ruanda, Camboja, Uganda, Sudão, Bósnia, outros
10 Esse Positivismo Jurídico, fundamentado especialmente na Teoria Pura do Direito de Hans Kelsen, dispõe que as normas positivas deviam ser “puras” e objetivamente verificáveis pela razão, por esse motivo as normas decorrentes do Direito Natural, baseadas em princípios morais e éticos foram excluídas, pois não podiam ser objetivamente conhecidas. . Kelsen afirma ainda que: “As normas constitutivas do valor jurídico devem ser distinguidas das normas segundo as quais é valorada a constituição do Direito. Na medida em que a ciência jurídica em geral tem de dar resposta à questão de saber se uma conduta concreta é conforme ou é contrária ao Direito, a sua resposta apenas pode ser uma afirmação sobre se essa conduta é prescrita ou proibida, cabe ou não na competência de quem a realiza, é ou não permitida.” (1999, p. 69) 11 Após a morte de Goldensohn, sua esposa guardou suas anotações, algumas foram vendidas com outros livros, por engano. Quando foram repassadas aos seus filhos, puderam ser reunidas por Eli, o irmão de Goldensohn, quem as entregou para publicação, como comenta Gellately, responsável pela organização da obra. 12 Paul Ricoeur em sua obra: Memória, História e Esquecimento, considera que “a memória viva dos sobreviventes enfrenta o olhar distanciado e critico do historiador, para não mencionar o do juiz” (2007, p. 99). Para ele, as atrocidades vividas pelos judeus nos campos de concentração se tornaram um trauma, particularmente para os que não fizeram o adequado trabalho de luto. Segundo o autor, esse “passado que não passa” e que emerge como presente trata-se de uma alucinação. Por não ter havido um deslocamento do tempo, o “vivido” e o “lembrado”, se tornam a mesma coisa, assim, o trauma e o sofrimento são sempre os mesmos. (Ricoeur, 2007) 13 Esse termo está sendo usado no texto como uma generalização de todos os outros campos de concentração, com o mesmo sentido que Roudinesco usa no capitulo: As confissões de Auschwitz, da obra A parte obscura de nós mesmos: uma história dos perversos.
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genocídios14 que ocorreram, mesmo após a institucionalização dos Direitos Humanos15 e as
diversas medidas criadas pelos Aliados no Tribunal de Nuremberg16. A organização política
do pós-guerra, embora tenha sido responsável por colocar uma discussão inicial acerca do
genocídio e dos crimes de guerra e das atrocidades, não foi suficiente para impedir novos
acontecimentos tão abjetos quanto Auschwitz. A diferença (que se impôs entre os contextos
dos anos de 1940 e 1980) foi que, com a passagem do tempo, a carga simbólica de Auschwitz
serviu para sustentar o “nunca mais” e solicitar, após a Guerra Fria, a ampliação da
compreensão sobre o genocídio e os crimes de guerra – além, é claro, de inserir uma nova
discussão acerca da intervenção de nações em outros espaços nacionais, admitindo a
rediscussão sobre a organização internacional e a questão da soberania. Importante é registrar
que, no imediato pós-guerra, essas associações todas não podiam se desenvolver a contento,
pois estavam sob a vigilância da oposição política entre os países do Eixo e os Aliados – o
que, por sua vez, conduziu a narrativas limitadas, dado o contexto em que a guerra (e a vitória
ou a derrota nela) era o principal elemento para a análise.
Em relação ao autor, pode-se questionar sua parcialidade ao coletar e selecionar as
informações que seriam anotadas, pois o major americano Leon Goldensohn era de
descendência judaica e representava os vencedores da guerra. Servindo na prisão de
Nuremberg de janeiro a julho de 1946, conversou com a maioria dos réus, buscando
responder suas principais inquietações e a de muitas outras pessoas, que eram: O que moviam
os nazistas? Por que cometeram crimes tão bárbaros? E em nome de quem? Para a população
da época, a única explicação para esses atos relacionava-se à patologia17 dos lideres nazistas,
ou seja, esses eram sádicos que, movidos por um instinto perverso, exterminaram seis
milhões18 de pessoas nos campos de concentração. A testemunha e chefe do Escritório Central
de Economia e Administração da SS, Oswald Pohl sabia o que era: “Pessoalmente, eu era 14 Segundo Roudinesco (2008), esse termo foi forjado em 1944 por Raphael Lemkin, para caracterizar o crime de extermínio de um povo. Tal vocábulo era até então desconhecido, passando a integrar o ordenamento jurídico para que todos os outros genocídios, cometidos contra variados grupos, já estivessem tipificados. 15 Desde a Grécia, se tem notícia de preocupações relacionadas aos Direitos Humanos, nesse período, já havia uma preocupação quanto à igualdade e liberdade dos homens, como nos informa o doutrinador Alexandre de Moraes (1998). 16 Os Aliados foram representados pelo presidente americano Franklin D. Roosevelt, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill e o secretário-geral soviético Josef Stalin. Esses homens decidiram pela criação do Tribunal de Nuremberg. Segundo Gellately, os julgamentos “resultaram de uma série de preocupações políticas e judiciais, e hoje são vistos por muita gente como um marco do direito internacional”. (2005, p. 8) 17 Para Roudinesco, “o nazismo, enquanto empreendimento de desumanização extrema do homem pelo homem, só podia ser inventado pelo gênero humano, e, pior que isso, não por bárbaros vivendo no estado selvagem, ou segundo os preceitos de uma horda darwiniana revisada e corrigida pela etologia de Lorenz, mas por um dos povos mais civilizados da Europa” (2008, p.142). 18 As cifras quanto ao número de mortes são as mais variadas possíveis, mas “Raul Hilberg, em seu relato definitivo da destruição dos judeus europeus, situa a cifra em pouco mais de 5,3 milhões”. (GELLATELY, 2005, p. 27)
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humano. Se os próprios campos eram humanos é outra história, mas não minha culpa.”
(GOLDESOHN, 2005, p. 470). Note-se, pela leitura do testemunho, que a noção de culpa se
vê afastada pela percepção de um sistema burocrático que, uma vez em funcionamento,
eximia os atores que o movimentam com suas ações e crenças. Goldensohn também chegou
na cidade de Nuremberg, acreditando que a melhor explicação possível para o cometimento
de crimes tão bárbaros era a do sadismo dos generais nazistas. Contrariando essa hipótese,
muitos testes de inteligência foram realizados com os réus, e eles “estavam longe de ser
mentalmente doentes. Infelizmente, a maioria era ‘normal’ até demais” (GELLATELY, 2005,
p. 29).
Gellately nos esclarece que Goldensohn tratava os prisioneiros como objetos a
serem estudados, deixando a relação da confidencialidade entre médico e paciente em
segundo plano. Os prisioneiros também sabiam disso, “raras vezes abriam a guarda,
especialmente no tocante aos crimes de que eram acusados, porque temiam que o que
dissessem pudesse voltar-se contra eles no tribunal.” (2005, p.23). Só as conversas formais
eram anotadas por Goldensohn e, depois, traduzidas, havendo, então, tempo hábil para a
manipulação das respostas. Entretanto, a despeito das dissimulações e da formalidade com
que eram realizadas as entrevistas, nem tudo que os réus diziam eram mentiras. Segundo
Gellately, “as entrevistas se constituem em relatos francos e, às vezes, até chocantemente
sinceros” (2005, p. 25), revelando importantes informações sobre suas vidas, sobre a
constituição e a queda do Terceiro Reich. Um registro sobre o testemunho deve ser feito de
imediato: por meio dessas narrativas, tanto dos algozes quanto das vítimas, temos acesso não
ao “vivido”, que é irrecuperável, mas ao rastro que traz a presença da ausência, dos fatos que
ocorreram em outro tempo. O primeiro evento aconteceu, mas ele ecoa, conforme as
metáforas de Ricoeur, o “som” do que de fato existiu; e, por isso mesmo, temos acesso às
“ressonâncias”. (RICOEUR, 2007) Dessa forma, o testemunho que “é marcado pelo tempo do
presente” (SELIGMANN-SILVA, 2008) não é igual à verdade, mas é a partir da crítica desse
testemunho que se chega a verdade. Mais um importante adendo: o testemunho também
significa uma nova experiência, atrelada à memória, na medida em que reelabora o
acontecido.
Nesse sentido, a tipologia textual da obra estudada se faz tão importante, pois, a
partir do testemunho dos generais nazistas, podemos reconstituir, parcialmente, a atuação do
movimento nazista, interrogando-nos sobre a participação de seus membros, sobre o que esses
sabiam acerca dos acontecimentos cotidianos nos campos de concentração e, ainda, sobre as
impressões dos generais acerca do julgamento a que estavam submetidos. Apesar de suas
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considerações e justificativas serem quase sempre as mesmas, pode-se perceber pequenas
variações, como nos relatos dos réus citados abaixo: KARL DOENITZ Li, lá por 1938, sobre multas aos judeus e algumas ações de rua contra eles. Mas eu estava envolvido demais com submarinos e problemas navais para me preocupar com judeus [...] Minha consciência está limpa [Culpa como argumento moral]. Não participei das brutalidades ou das ações criminosas. Ter ajudado Hitler a conduzir uma guerra por minha pátria não me torna sujeito à acusação de que o ajudei a exterminar judeus. Simplesmente não é o caso. (GOLDENSOHN, 2005, p. 45, grifo nosso) HANS FRANK Na Alemanha, não ouvíamos nada sobre a perseguição aos judeus. Outras nações têm uma imprensa livre etc., enquanto na Alemanha não tínhamos imprensa nem rádio livres [...] Este julgamento tem uma grande importância, porque mostra que o povo alemão é inocente [Essa separação do povo alemão da liderança é uma estratégia impossível de ser realizada em ambiência totalitária] [...] Tenho a sensação de que corri atrás de Hitler como um fogo descontrolado, sem motivo... Acreditei naquele homem. Se eu soubesse o que vim a descobrir nos julgamentos, teria protestado de forma diferente em 1942. (IDEM, p. 59, grifo nosso) WILHELM KEITEL No entanto, eu nunca soube [A negação da consciência] da brutalidade durante a guerra. Nunca se falou uma palavra sobre a perseguição aos judeus ou assassinatos. Hitler era um grande psicólogo nesse particular. Sabia que não podia exigir essas coisas de um cavaleiro e oficial – nem sequer mencionar as ideias. (IDEM, p. 211, grifo nosso)
A partir dessas narrativas, pode-se considerar que o testemunho dos nazistas também
foi fundamental para os historiadores terem acesso às experiências históricas desses atores
políticos do século XX, bem como à leitura subjetiva que cada um deles fez de sua
experiência. Na mesma direção, Agamben indica que “sujeito do testemunho é quem dá
testemunho de uma subjetivação. Os homens são homens enquanto dão testemunho do não
homem.” (AGAMBEM, 2000) Dessa forma, apesar de os generais nazistas terem sido os
responsáveis por colocar “homens” na condição de “não homens”, eles mesmos se imiscuíram
na “zona cinzenta”19 e, por isso, também se tornaram “não homens”, daí, precisarem dar
testemunho dessa “desubjetivação”. Adorno e Horkheimer, já caminhavam nesse sentido, ao
tentarem analisar “qual é a estrutura racional e psíquica que torna possível a existência do
algoz” (GAGNEBIN, 2006), sendo necessário, no entanto, o testemunho dos mesmos.
19 Esse termo foi utilizado por Primo Levi (2004), ao se referir às ambiguidades existentes nos campos de concentração. Segundo o autor (uma testemunha), os Lager não podiam ser analisados de forma maniqueísta, posto que eram um microcosmo complexo, onde algozes e vitimas partilhavam o cotidiano da “zona cinzenta”, dificultando qualquer definição simplista e reducionista. Essa interpretação não impede, entretanto, que o químico italiano registre saber muito bem quem é vítima e quem é algoz. Na verdade, seu testemunho apenas nos lembra de não estabelecer, a priori, pares de oposição reducionistas. A oposição, assim definida, não consegue alcançar a complexidade da organização dos campos – essa regra metodológica vale para a investigação histórica de outros temas, com certeza.
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O testemunho dos nazistas e das vitimas, colhidos nos julgamentos em Nuremberg,
mostraram ao mundo as atrocidades cometidas nos campos de concentração. Apesar de muito
divulgados os atos cometidos, só houve uma confirmação quanto à veracidade dos crimes
após a acareação ocorrida durante o julgamento e produção de uma volumosa documentação
apresentada no tribunal. Segundo Gellately:
[...] a corte reuniu-se em 403 sessões abertas, ouviu um total de 166 testemunhas e examinou literalmente milhares de declarações juramentadas e centenas de milhares de documentos”, apesar do espetáculo do julgamento, foi por meio dele, que grande parte das pessoas descobriu e se convenceu das atrocidades cometidas pelos nazistas. A declaração de Hans Frank, o advogado pessoal de Hitler, corrobora com esse entendimento, ao afirmar que as atitudes do promotor americano: Jackson, ao conduzir o julgamento, “exprimia o sentimento do mundo – e não representava meramente a lei.” (Apud. GOLDENSOHN, 2005, p. 70).
Para o que interessa a essa pesquisa, os testemunhos fizeram mais do que estarrecer a
opinião pública na medida em que concederam veracidade a crimes hediondos. Os
testemunhos permitiram a emergência de uma nova cultura, especialmente associada a uma
reinterpretação acerca dos direitos do homem, que, aos poucos, se descola da ambiência
nacional e da natureza biológica para atingir a ideia de que “qualquer homem em qualquer
lugar, uma vez em situação de opressão, tem direito à proteção e defesa”. Isso transforma a
leitura a ser feita das relações internacionais, em especial no âmbito da justiça e das leis. Com
a emergência dos testemunhos e sua fundamental importância nos Julgamentos em
Nuremberg, e em outros tribunais de desnazificação, muitos estudiosos20 entendem que surgiu
um sentimento de negação às guerras e de repulsa às atrocidades cometidas no Holocausto,
reascendendo o debate em torno dos Direitos Humanos; assim, os testemunhos se tornaram os
principais catalisadores para uma exigência quanto à proteção a esses direitos.
Complementando essa visão, Levy e Sznaider argumentam que “a memória do Holocausto
não causa a emergência de uma cultura jurídica global, elas produzem um processo de
negociação entre o direito internacional e a ética normativa” (2008), sendo necessária a
criação de uma “moralidade cosmopolita” que regesse as relações entre homens e países. Para
os autores, essa moralidade cosmopolita pôde florescer com o fim da Guerra Fria. Conforme
argumentam Fredrigo e Oliveira, foi uma posterior leitura catastrófica acerca do Holocausto,
“tomando-o como um desvio na história do Ocidente e não como subproduto do próprio
20 A filósofa judia Hannah Arendt entende que: “A Declaração dos Direitos Humanos destinava-se também a ser uma proteção muito necessária numa era em que os indivíduos já não estavam a salvo nos Estados em que haviam nascido.” (1989, p.324). No mesmo sentido Edward Said, citado por Tony Judt, considera que os Direitos Humanos “não são entidades culturais ou gramaticais, e quando violados tornam-se tão reais quanto qualquer coisa que possamos encontrar”. (2010, p.188)
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projeto civilizacional” (2011, p. 313), o que fez com que houvesse uma preocupação em
resguardar os Direitos Humanos dos povos que estivessem sofrendo.
A partir da difusão desses valores de proteção à dignidade da pessoa humana, e
efetiva proteção do indivíduo, percebeu-se a retomada do projeto Humanista; pois essas
garantias deveriam se estender a todos sem exceção, ao menos na teoria. Se esse projeto havia
sido rechaçado na Segunda Guerra Mundial, ele volta agora no pós-guerra como solução para
as atrocidades impetradas pelos nazistas, e com um discurso universalista, internacionalista e
cosmopolita (o universalismo aqui não oferece oposição ao cosmopolitismo e ao
internacionalismo porque é reinterpretado), acaba por envolver e atingir todos os países.
Surge, assim, uma nova forma de proteção aos Direitos Humanos, acordada pela maioria das
nações, pese as dificuldades impostas às ações internacionais em regiões de guerra, que se
notabilizam pelo desrespeito à proteção da vida humana – considere-se que, mesmo que as
intervenções muitas vezes não ocorram, a efetiva ação dos Tribunais Internacionais, a
presença da Cruz Vermelha e de outras instituições importantes para registrar e referendar a
ação contra a pessoa humana, com vistas à resolução de problemas mais urgentes (e possíveis
condenações futuras), são expressões contemporâneas dessa organização que os autores
citados denominam por “cosmopolita”.
Retornando aos testemunhos, é sob uma surpreendente e clara consciência do
momento em que vivia que aparece o relato do propagandista Hans Fritzsche, ao confirmar a
necessidade de se retomar o projeto Humanista, para que se melhore a humanidade. Agora posso ver, para meu grande desapontamento, que também nesse julgamento apenas um quadro preto-e-branco está sendo pintado. Ele pode ser necessário do ponto de vista legal, para que os julgamentos não se arrastem por muito tempo. Um veredito de culpado não importa. Mas gostaria de ver este julgamento fazer a humanidade progredir. A humanidade precisa ser melhorada após a morte de 5 milhões de pessoas inocentes. (GOLDENSOHN, 2005, p. 97)
No entanto, o que de fato foi marcante e serviu como modelo para a criação de outros
Tribunais Internacionais foi a realização dos Julgamentos em Nuremberg21. Ele trouxe uma
jurisprudência contra crimes ainda não existentes e um precedente para a punição de
semelhantes atrocidades. Para poderem realizar o julgamento dentro do Princípio da
Legalidade22, os aliados se embasaram em concepções do Direito Natural23, e em convenções
21 Nuremberg foi a cidade alemã escolhida para a realização dos julgamentos, pois ela havia sido o símbolo do desrespeito aos direitos judaicos, quando foram criadas as leis antissemitas. 22 Esse princípio prevê que não há crime sem lei anterior que o defina, logo, os crimes nazistas, por não possuírem uma legislação tipificada, não poderiam ser legalmente responsabilizados. 23 O Direito Natural é imprescritível e inalienável, sendo intrínseco a todo ser humano. Para Max Weber, "o direito natural é, portanto, o conjunto das normas que são legítimas não em virtude de sua promulgação por um
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anteriores, como: a Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão24. Entretanto,
isso não foi suficiente para evitar as inúmeras acusações de ilegalidade desse tribunal, que
ressaltavam, entre outros argumentos, que se tratava de um julgamento político, no qual os
vencedores terminariam de aniquilar por meios legais os vencidos. Tal argumento foi
afirmado tanto por teóricos de outros países, como também pelos réus, como comprovam as
citações abaixo: Nos EUA, na Grã-Bretanha e em outras partes, os positivistas legais têm sustentado que os julgamentos foram inválidos por não se basearem no direito internacional vigente. Já os teóricos pragmáticos do direito objetivo rejeitaram essa posição, insistindo na necessidade em face daquela criminalidade sem precedentes. (GELLATELY, 2005, p. 3) HANS FRANK Eles são políticos, não advogados, no que se refere a esse processo. Sua missão é política. Eles são porta-vozes de interesses políticos voltados para a destruição do nacional-socialismo [...]. Nem Jackson nem Dodd, nem os outros promotores dos Aliados, fazem muita menção a direito ou legalidade a uma luz legal é deixada para o tribunal. (IDEM, p. 70) JULIUS STREICHER Esse não é um julgamento normal. É um julgamento político internacional e, como tal, altamente irregular. É um julgamento dentro de uma nação, mas um julgamento dos vitoriosos contra os vencidos. Mesmo antes do inicio dos julgamentos, os vitoriosos, que são nossos juízes, estavam convencidos de que éramos culpados e tínhamos de pagar o preço. (IDEM, p. 309)
A despeito das ilegitimidades elencadas em relação a esse tribunal, é importante
ressaltar que essas medidas punitivas se fizeram necessárias. Foi preciso que as questões
morais, éticas e humanas transcendessem as legais, posto que os crimes nazistas perverteram
a relação entre o Estado (que deve a seus cidadãos a proteção e, por isso, tem o direito do
monopólio da violência – no âmbito de uma reflexão moderna) e o coletivo de cidadãos (que
não devem temer ações de Estado, sendo inimaginável a atuação do mesmo para o extermínio
de populações – a quem serve um governo, essa é a pergunta que o nazismo responde de
forma invertida). Do ponto de vista legal, os regimes totalitários foram além de tudo que a
legislação previa. No Tribunal de Nuremberg, a dignidade da pessoa humana prevaleceu
sobre a lei positiva, em outras palavras, os códigos morais e éticos prevaleceram sobre os
códigos legais. Em 1946, como já foi dito anteriormente, não havia leis positivas que
punissem os crimes de conspiração em ação criminosa, crimes contra a paz, crimes de guerra,
crimes contra a humanidade, cometidos pelos nazistas. Assim, era necessário retornar aos
legislador legítimo, mas em virtude de suas qualidades imanentes”. Já para Roudinesco, “é a lei dos homens que define o crime e a consciência do crime, e não as leis da natureza, nem as da biologia”. (2008, p.141) 24 A Declaração Francesa concedia direitos e obrigações inalienáveis aos cidadãos, nas palavras de Hunt: “a negligência ou o menosprezo aos direitos do homem são as únicas causas dos males públicos e da corrupção governamental.” (HUNT, 2009, p.206)
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princípios do Direito Natural, que estabelece como inalienáveis o direito à vida, à liberdade e
à busca da felicidade. Após o precedente aberto em Nuremberg, foi necessário
institucionalizar um código legal, que protegesse os ultrajados Direitos Humanos. Por isso,
em 1948, foi criada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, representante de uma
“repulsa moral” (LEVY; SZNAIDER, 2004) ao Holocausto, que se tornou o símbolo máximo
de proteção aos Direitos Humanos, como pode ser percebido em parte do preâmbulo dessa
Declaração: Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum,[...] A Assembléia Geral proclama: A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos. (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, 1948).
Esse novo código humanitário atendia às urgências daquele tempo do pós-guerra.
Grave é perceber que, nos conflitos contemporâneos, ele continua a ser aplicado sem ser
devidamente historicizado, chegando a cometer injustiças maiores do que as que tenta
combater. Começando pela concessão de intervenção em outros países soberanos, os
vencedores passaram a ditar as normas nesse mundo globalizado, pois, segundo tal princípio,
o Estado-nação não pode ser o único guardador dos Direitos Humanos, é necessário haver
interferência humanitária quando preciso. A interferência humanitária pode ser vista na
atualidade como um “abuso da memória” do Holocausto (RICOUEUR, 2007). Lembrar
passou a ser uma exigência moral e se tornou quase inadmissível esquecer os horrores do
Holocausto, pois, sob a justificativa de que eles “nunca mais” se repetirão, foi possível a
intervenção dita humanitária em países que ousassem romper com esse imperativo. Os EUA,
por exemplo, sob o argumento de levar a democracia (que não é um direito humano) e
impedir que eventos semelhantes ao nazismo ocorressem em países que viviam em um regime
de exceção acabou violando ainda mais, por meio de guerras civis, os direitos fundamentais
dos cidadãos daqueles países – como os do Sudeste Asiático, por exemplo. O historiador
americano Tony Judt, fundamenta essa ideia ao afirmar que: No Camboja, o governo Nixon repetiu todos os erros do Vietnã em escala ampliada e concentrada, sem ter mais a desculpa da inexperiência. Autorizou secretamente mais de 3.600 ataques aéreos com B-52s contra supostas bases do Vietcongue (jamais confirmadas) e contra forças norte-vietnamitas no Camboja, apenas para a ascensão do Khmer Vermelho – uma organização comunista de guerrilha cujos crimes seguramente não podem ser creditados na conta de Nixon, mas cujas possibilidades políticas foram ampliadas pela devastação provocada pela guerra. (JUDT, 2010, p. 389)
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Dessa forma, apesar de os Direitos Humanos terem sido efetivados após as
atrocidades do Holocausto, a memória desses eventos não deve gerenciar os atuais códigos
humanitários e nem servir de justificativa para intervenções externas. A despeito da
necessidade do “dever de memória”, enfatiza-se que esta memória dos acontecimentos do
passado não pode ser uma “memória obrigada”, já que o próprio esquecimento já é libertador.
(RICOEUR, 2007). A crítica à ação contemporânea deve ser feita, sem que ela signifique a
simplificação de um processo por meio do qual a efetivação dos Direitos Humanos permitiu a
associação entre o quesito jurídico e as questões morais e éticas – para resguardar a
importância desse processo, a análise histórica é imprescindível. Martín Scharfe, citado por
Cuesta Bustillo (2007), afirma que: “A negligência é muito mais que a não memória, a
memória é muito mais que o simples não-esquecimento”. É nesse caminho, que a proposta de
Ricoeur sobre o perdão se faz fundamental para a compreensão dessas implicações: como já
dito, na “zona cinzenta” em que viviam, todos tinham sua parcela de culpa, só libertaram-se
da culpa os mortos que não retornaram, como lembra Primo Levi. Se há um imperativo ético
que sustenta o dever de memória, nem por isso podemos nos tornar novas Antígonas,
carregando uma “culpa inexorável”. Importante, no atual momento da reflexão, não é definir
se o culpado é a Alemanha ou Ocidente, mas sim compreender as possibilidades de
elaboração do trauma. Memória e esquecimento atuam em conjunto para tal elaboração.
Perdoar não pode ser esquecer e lembrar não pode ser uma forma de se prender ao passado,
sem a mediação da intervenção ética (que remete ao presente). Assim, a chave do perdão é a
reelaboração. Somos de um tempo outro, não podemos e nem sentimos a culpa e a dor dos
outros, segundo Ricoeur: “A vítima em questão aqui é a vitima outra, outra que não nós”
(2007, p. 102). Podemos nos solidarizar, em um presente onde as causas são distintas,
solicitando, porém, não menos reflexão e ação ética.
Da mesma forma que não podemos sentir essa culpa indefinidamente, também não
podemos, por meio de códigos humanitários, corrigi-la ou melhorá-la. Segundo Rüsen, não se
pode “melhorar o passado”, exceto pelas novas interpretações que se faz dele, ele é um lugar
de deslocamento, não temos intimidade com o passado, ele só é acessível a partir dos rastros,
vestígios e testemunhos. Desse modo, nossa relação com o passado se constituiu em um
“lugar sem lugar”. (RUSSEN, 2011). Nesse “lugar sem lugar”, em que “a memória viva dos
sobreviventes enfrenta o olhar distanciado e crítico do historiador, para não mencionar o do
juiz” (RICOEUR, 2007, p. 99), é a justiça que “extrai das lembranças traumatizantes seu valor
exemplar” (2007, p.101). Nesse sentido, por meio dos julgamentos realizados, mas não só, se
conseguiu manter vivo o imperativo de que “nunca mais” aquelas catástrofes se repetiriam. E
Capa Índice 1502
atualmente, mesmo diante de tantos problemas apontados, são os códigos humanitários que
ainda conservam o valor exemplar das atrocidades já realizadas. Apesar de problemáticos,
eles se fazem indispensáveis.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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REVISADO E APROVADO PELO ORIENTADOR, em 03 de agosto de 2012.
Capa Índice 1504
1Orientanda 2Orientadora
Aspectos filogenéticos, geográficos e de história de vida na evolução do nicho ecológico
de espécies de serpentes venenosas (Serpentes: Elapidae e Viperidae) do Novo Mundo
PIBIC/2011-2012
Fernanda Loyola Junqueira1 - Universidade Federal de Goiás, Campus Samambaia, Instituto
de Ciências Biológicas, CP 131, CEP: 74001-970, Goiânia – GO, email:
Levi Carina Terribile2 - Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí, Jatobá, Rodovia BR
364, Km 192, CEP: 75801-61, Jataí – GO, email: [email protected]
PALAVRAS-CHAVE: conservação de nicho, serpentes, filogenia, modelagem de nicho.
1Orientanda 2Orientadora
Aspectos filogenéticos, geográficos e de história de vida na evolução do nicho ecológico
de espécies de serpentes venenosas (Serpentes: Elapidae e Viperidae) do Novo Mundo
PIBIC/2011-2012
Fernanda Loyola Junqueira1 - Universidade Federal de Goiás, Campus Samambaia, Instituto
de Ciências Biológicas, CP 131, CEP: 74001-970, Goiânia – GO, email:
Levi Carina Terribile2 - Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí, Jatobá, Rodovia BR
364, Km 192, CEP: 75801-61, Jataí – GO, email: [email protected]
PALAVRAS-CHAVE: conservação de nicho, serpentes, filogenia, modelagem de nicho.
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Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 1505 - 1517
INTRODUÇÃO
A diversidade da vida é gerada pela evolução, e muita atenção foi voltada para a rápida
evolução das características ecológicas. No entanto, a tendência observada em muitas
características ecológicas é permanecerem constantes ao longo do tempo, sendo conhecido
como conservação de nicho (Wiens, 2010). O nicho de uma espécie pode ser definido de duas
formas: o nicho grineliano ou não-interativo (também chamado de nicho ambiental) e o nicho
eltoniano que concentra-se em interações bióticas e na dinâmica de consumo de recursos. No
presente estudo será abordado o nicho grineliano.
O suporte para a conservação de nicho está presente em estudos de distribuição de fósseis
(Graham et al, 1996) e da variação da distribuição de espécies atuais de acordo com o clima
(Root et al, 2003). Entretanto, também é encontrado suporte para mudanças rápidas no nicho
em diversos campos da ecologia e evolução; como em estudos de espécies invasoras
(Pearman, 2007).
A conservação filogenética do nicho determina as condições ambientais que os membros de
um clado podem tolerar e quais regiões eles podem dispersar; por outro lado, a evolução do
nicho permite que uma determinada espécie e seus descendentes se dispersem em novos
habitats e regimes climáticos e persistam em ambientes mutáveis (Wiens & Donoghue, 2004).
Após a publicação do artigo “Conservatism of ecological niches in evolutionary time” por
Peterson (1999), os debates a cerca da conservação ou da instabilidade do nicho aumentaram
consideravelmente. Este debate é de grande importância, pois a compreensão dos mecanismos
envolvidos tanto na conservação quanto na instabilidade do nicho ao longo do tempo possui
aplicação direta na solução de questões atuais da ecologia, evolução e biologia da
conservação (Wiens & Graham, 2005). As comparações com base em combinações de
métodos filogenéticos com dados empíricos sobre as características de nicho ecológico podem
contribuir para melhor compreensão da dinâmica do nicho (Pearman, 2007).
As serpentes tem recebido pouca atenção na literatura macroecológica, principalmente devido
a escassez de dados ecológicos (dieta, tamanho do corpo, reprodução), geográficos (mapas de
distribuição ou pontos de ocorrência) e filogenéticos (filogenias bem resolvidas e que incluam
todas as espécies) para muitas espécies e em escalas espaciais amplas. As famílias Viperidae e
Elapidae constituem dois grupos monofiléticos de serpentes peçonhentas pertencentes ao
grupo evolutivo Caenophidia (serpentes “avançadas”) (Wüster et al., 2008), cuja característica
Capa Índice 1506
principal é a utilização de veneno, além da constrição, para subjugar suas presas (Vidal et al.,
2007).
Estudos recentes sugerem que ambas as famílias tiveram sua origem em regiões tropicais,
embora os elapídeos pareçam ter evoluído mais recentemente em relação aos viperídeos
(Heise et al. 1995; Keogh 1998; Kelly et al. 2003). Segundo Vidal et al. (2007), Viperidae é
uma das linhagens mais basais dentre os ceanofídios, cuja origem ocorreu possivelmente na
Ásia durante o Oligoceno (37.9 – 23.03 mya) e posteriormente evoluiu para Ásia e Novo
Mundo. Já os elapídeos estão entre os grupos mais derivados de Caenophidia, e, a despeito
das controvérsias quanto a sua origem africana ou asiática, o grupo evoluiu durante o
Mioceno (23.03 – 5.33 mya) (Keogh 1998; Scalon & Lee 2004).
Essas diferenças histórico-evolutivas refletiram nos estudos realizados recentemente sobre os
padrões globais de riqueza e variação do tamanho do corpo nos dois clados (Terribile et al.
2009a, b). Dadas as diferenças nos fatores associados aos padrões de riqueza e tamanho
médio do corpo desses dois clados de serpentes observada nesses estudos, é possível que
diferentes fatores também tenham influenciado a evolução dos nichos de suas espécies.
Assim, este trabalho pretende avaliar quais os fatores estão associados ao nicho ambiental das
serpentes Viperidae e Elapidae. Considerando que o nicho é determinado por processos
evolutivos, compreender os processos que atuam na diversificação do nicho nos permitirá
avaliar outros fatores relacionados à diversidade, distribuição e resposta às mudanças
climáticas dessas espécies.
OBJETIVOS
O presente trabalho tem como objetivo geral estudar a evolução do nicho ecológico das
espécies de serpentes Viperidae e Elapidae no Novo Mundo. Especificamente, pretendemos
responder as seguintes perguntas:
- Há padrões filogenéticos nas variáveis ecológicas em Viperidae e Elapidae que poderiam
refletir processos de conservação ou evolução do nicho?
- Quais os fatores (filogenia, história de vida, distribuição geográfica) associados à dinâmica
do nicho de Viperidae e Elapidae?
Capa Índice 1507
- Os processos que determinam a evolução do nicho em um grupo (Viperidae) são mesmos do
outro grupo (Elapidae)?
METODOLOGIA
O nicho de cada espécie de serpentes das famílias Viperidae e Elapidae foi estimado a partir
de modelos de nicho climático. Para tanto, foram obtidos os pontos de ocorrência a partir de
Campbell e Lamar (2004), e de outras fontes mais recentes no caso de espécies revisadas e
descritas posteriormente a 2004. As variáveis ambientais utilizadas incluem informações de
clima (temperatura - média anual e coeficiente de variação; precipitação – total anual e
coeficiente de variação) e topografia (altitude, relevo e inclinação), que foram obtidas da base
WorldClim (http://www.worldclim.org/). Os nichos das espécies foram modelados pelo
MAXENT, que cria modelos de distribuição combinando dados de presença e dados
ecológicos, utilizando uma abordagem estatística conhecida como máxima entropia. O
método de máxima entropia estima o nicho ambiental das espécies encontrando a provável
distribuição, baseado na entropia máxima (Pearson, 2007). O mapa obtido possui valores que
variam de 0 (áreas cujas características climático/ambientais não são adequadas para a
distribuição da espécie) a 100 (áreas cujas características climático/ambientais são plenamente
adequadas a distribuição da espécie) (Figura 1a, b). Esses modelos foram mapeados sobre
uma grade de 1o de longitude por um 1o de latitude encobrindo todo o Novo Mundo. A partir
desses modelos foram calculadas duas matrizes de distância euclidiana (distância do nicho)
entre os pares de espécies de cada família.
Também foram obtidos mapas de distribuição geográfica de Campbell & Lamar (2004), os
quais foram transformados em vetores de presença ou ausência sobre a grade de 1° de latitude
por 1° de longitude, a partir da qual foi calculada a proximidade das distribuições por meio do
método de similadidade de Jaccard (Magurran, 1988), obtendo duas matrizes quadradas de
co-ocorrência.
Capa Índice 1508
Figura 1. Mapa de distribuição geográfica potencial de Bothrops atrox (a) e Micrurus
frontalis (b) construído a partir dos pontos de ocorrência (em vermelho) e das variáveis
climático/ambientais por meio do Maxent.
Foram utilizadas as hipóteses filogenéticas de Campbell e Lamar (2004) e Fenwick et al.
(2009) para estabelecer uma filogenia de consenso para as espécies de Viperidae do Novo
Mundo (Figura 2a). Para Elapidae, a hipótese filogenética para as 37 espécies foi obtida a
partir da filogenia de consenso de Campbell & Lamar (2004) (Figura 2b). Essas filogenias
foram utilizadas para calcular as matrizes de distância filogenética por meio do programa
Mesquite. Mesquite é um software projetado para realizar análises de dados comparativos
entre os organismos, com ênfase na análise filogenética (Maddison & Maddison, 2001). A
matriz de distância filogenética é gerada como resultado do número de nós (eventos de
especiação) existentes entre pares espécie. Esse método é muito útil quando não existem
filogenias datadas.
Como fator de história de vida influencia o nicho das espécies, foram utilizados utilizados
dados da dieta alimentar das serpentes. Os dados de dieta para ambas as famílias foram
compilados de Campbell & Lamar (2004), os quais foram utilizados para gerar as matrizes de
dieta utilizando o método de similaridade de Jaccard (Magurran, 1988).
Capa Índice 1509
A correlação entre as matrizes foi avaliada por meio do teste de Mantel no programa R (R
Development Core Team, 2009). Para facilitar a interpretação dos resultados, os quais
envolvem a correlação entre matrizes de distância e de similaridade, as matrizes de
similaridade Jaccard foram convertidas em matrizes de dissimilaridade.
Figura 2. Filogenia de consenso para Viperidae (a) e Elapidade (b).
RESULTADOS
Os resultados obtidos para a família Viperidae por meio do teste de Mantel revelaram uma
associação positiva e significativa entre a matriz de distância euclidiana (distância entre o
nicho climático) e matriz que expressa a relação filogenética (ou parentesco) entre espécies (r
= 0.104, P = 0.009) (Tabela 1). Esses resultados mostram que espécies próximas
filogeneticamente apresentam nichos climáticos mais similares entre si em relação a espécies
PHYLIP_1Ophryacus undulatusOphryacus melanurusLachesis stenophrysLachesis melanocephalaLachesis acrochordaLachesis mutaAgkistrodon contortrix Agkistrodon piscivorusAgkistrodon bilineatusAgkistrodon tayloriBothriechis schelegelliBothriechis supraciliarisBothriechis nigroviridisBothriechis lateralisBothriechis marchiBothriechis bicolorBothriechis auriferAtropoides occidusAtropoides mexicanusAtropoides nummiferAtropoides picadoiCerrophidion godmaniCerrophidium barbouriCerrophidium tzotzilorumPorthidium ophryomegasPorthidium dunniPorthidium yucatanicumPorthidium nasutumPorthidium lansbergiiPorthidium arcosaePorthidium porrasiBothrocophias microphthalmusBothrocophias hyoproraBothrocophias campbelliBothrops pictusBothrops roedingeriBothrops andianusBothrops ammodytoidesBothrops cotiaraBothrops fonsecaiBothrops jonathaniBothrops mattogrossensisBothrops alternatusBothrops jararacaBothrops lutziBothrops sanctaecrucisBothrops erythromelasBothrops neuwiediBothrops pubescensBothrops diporusBothrops pauloensisBothriopsis oligolepisBothriopsis medusaBothriopsis chloromelasBothriopsis taeniataBothriopsis pulchraBothriopsis bilineataBothrops barnettiBothrops pirajaiBothrops jararacussuBothrops braziliBothrops osborneiBothrops punctatusBothrops asperBothrops marajoensisBothrops moogeniBothrops leucurusBothrops atroxSistrurus catenatusSistrurus miliariusCrotalus polystictusCrotalus stejnegeriCrotalus cerastesCrotalus ravusCrotalus pusillusCrotalus triseriatusCrotalus lepidusCrotalus aquilusCrotalus molossusCrotalus basiliscusCrotalus enyoCrotalus totonacusCrotalus durissusCrotalus simusCrotalus ruberCrotalus atroxCrotalus horridusCrotalus priceiCrotalus intermediusCrotalus transversusCrotalus willardiCrotalus adamanteusCrotalus mitchelliCrotalus tigrisCrotalus scutulatusCrotalus viridisCrotalus oreganus
a) b)
Capa Índice 1510
distantes, o que sugere uma tendência a conservação dos nichos das espécies de serpentes
Viperidae do Novo Mundo. No caso das serpentes Elapídeas não há associação significativa
entre a matriz que expressa a relação filogenética entre espécies e a que expressa sua
sobreposição no espaço do nicho (r = -0.036, P = 0.314), sugerindo a ausência de um
componente filogenético determinando a evolução dos nichos das cobras corais do Novo
Mundo (Tabela 2).
Tabela 1. Resultados da correlação Mantel para a família Viperidae.
Tabela 2. Resultados da correlação Mantel para a família Elapidae.
Não foi observada associação significativa entre nicho e dieta das serpentes das famílias
Viperidae e Elapidae (r = -0.013, P = 0.578 e r= -0.103, P = 0,075, respectivamente). Porém,
foi observado que espécies próximas no espaço geográfico também possuem nichos similares,
devido à associação positiva e significativa entre as matrizes de distância geográfica e
distância de euclidiana (r = 0.187, P <0.001, para Viperidae e r = 0.243, P<0.001, para
Elapidae).
Nicho das espécies
r P
Distância filogenética 0.104 0.009
História de vida -0.013 0.578
Distribuição geográfica 0.187 <0.001
Nicho das espécies
r P
Distância filogenética -0.038 0.320
História de vida -0.103 0.075
Distribuição geográfica 0.250 <0.001
Capa Índice 1511
DISCUSSÃO
A literatura atual sugere que a conservação de nicho ocorre em algumas, mas não em todas as
espécies das comunidades ecológicas. Conservação filogenética do nicho determina as
condições ambientais que os membros de um clado podem tolerar, quais regiões eles podem
dispersar e a natureza das barreiras para sua dispersão (Wiens & Donoghue, 2004). Por outro
lado a evolução do nicho permite que uma determinada espécie e seus descendentes se
dispersem em novos habitats e regimes climáticos e persistam em ambientes mutáveis (Wiens
& Donoghue, 2004).
Estudo realizado por Terribile et al. (2009a), mostrou que o tamanho corporal de serpentes
elapídeas em escala mundial é principalmente explicado pela filogenia, enquanto que para
espécies de viperídeos a variação do tamanho corporal não é associado a filogenia do grupo,
indicando uma possível conservação de nicho em elapídeos. Estes resultados contrastam com
os presentes nesse estudo, no qual a conservação de nicho foi apontada apenas para serpentes
da família Viperidae. A ocorrência de conservação filogenética de um conjunto de espécies
pode diferir para um grupo mais inclusivo, podendo indicar algo sobre os processos
ecológicos e evolutivos que regulam a composição da comunidade (Losos et al., 2008).
Vários trabalhos mostram que a conservação e evolução do nicho acontecem de forma
misturada (Pyron & Burbrink, 2009), mas quando a escala temporal é levada em consideração
é observada uma estrutura: os acontecimentos recentes e de curto prazo (por exemplo,
invasões de espécies e mudanças no final do Pleistoceno) mostram uma considerável
tendência à conservação; enquanto que eventos de longo prazo mostram graus crescentes de
perda da conservação (Peterson, 2011). Essa estrutura pode ser observada em serpentes
viperídeas; o presente estudo, feito em escala temporal menor (ou seja, as viperídeas
crotalíneas do Novo Mundo são mais recentes em comparação com o clado de viperídeas do
Velho Mundo), observou-se a conservação do nicho, enquanto que trabalho realizado por
Terribile et al. (2009a), o qual incluiu uma escala de tempo evolutivo maior, não foi
evidenciada a conservação de nicho.
No caso das serpentes elapídeas, quando analisadas todas as espécies da filogenia, e, portanto,
em escala temporal maior, foi sugerido que há conservação de nicho (Terribile, 2009a), porém
deve ser analisado com cuidado, pois nem todas as características morfológicas estão sujeitas
aos mecanismos que levam a conservação de nicho (Cooper et al., 2010). A maioria dos
elapídeos terrestres são fossoriais ou semi-fossoriais, sendo assim, passam a maior parte do
Capa Índice 1512
tempo em condições microclimáticas relativamente constantes (How & Shine, 1999;
Campbell & Lamar, 2004). Serpentes elapídeas da Austrália, que possuem grande diversidade
de hábitos, não tiveram o tamanho corporal explicado pela filogenia. Portanto, a comparação
dos resultados obtidos neste trabalho com os demais estudos para Elapidae sugere que as
evidências para conservação ou evolução do nicho podem variar dependendo da escala
taxonômica e evolutiva analisada.
A análise de serpentes elapídeas no Novo Mundo, ao contrário do que muitos estudos tem
documentado, não foi observada conservação de nicho. A evolução de nicho também foi
observada em estudos feitos com lagartos Anoles em Cuba (Knouft et al., 2006). Webb et al.
(2002) aponta a competição como uma das principais forças que causam a erosão da
conservação do nicho: a similaridade ecológica inicial que resulta da ancestralidade comum
provavelmente aumenta a competição, levando a exclusão competitiva ou diferenciação
ecológica. Entretanto, a importância da competição na estruturação de comunidades de
serpentes deve ser analisada com cautela, especialmente com base em dados macroecológicos.
França e Araújo (2007) investigaram os processos associados à estruturação em comunidades
de serpentes do Cerrado do Brasil Central, e observaram que não há estruturação nos padrões
co-ocorrência e guildas relativas à dieta e uso do ambiente. Isso implica que as interações
interespecíficas e, em particular a competição, não é tão importante na estruturação das
comunidades de serpentes. De um modo geral, a importância desses fatores é reconhecida em
comunidades cujas espécies simpátricas possuem grande abundância. No caso das serpentes
elapídeas, mesmo as espécies mais abundantes não ocorrem em grandes densidades
(Campbell & Lamar, 2004). Assim, a baixa abundância, associada às baixas taxas metabólicas
características das serpentes (Greene, 1997) pode reduzir a importância desses fatores
ecológicos.
A essência da competição interespecífica é que indivíduos de uma espécie limitam o
crescimento populacional da outra, como resultado da exploração de recursos (i.e. alimento)
ou interferência de indivíduos (Begon et al., 2007). No entanto, no presente trabalho, não
houve associação significativa entre nicho e dieta, indicando que a exclusão competitiva não é
um fator determinante do nicho dessas serpentes. Porém, é importante observar também que,
em grandes escalas, os efeitos da interação entre espécies (i.e. competição) na estruturação de
comunidades são difíceis detectar. Além disso, de um modo geral, a dieta das serpentes
viperídeas e elapídeas são bastante homogêneas quando comparada à variação em suas
Capa Índice 1513
distribuições e em seu nicho climático, o que também pode explicar a ausência de correlação
entre nicho climático e dieta.
Foi observado que espécies próximas no espaço geográfico também possuem nichos
similares, indicando que a similaridade entre os nichos das espécies pode estar associada aos
fatores geográficos atuando nas distribuições das espécies, como barreiras geográficas e a
história de formação do continente (Hawkins et al. 2003). Wiens & Donoghue, (2004),
assumem que a distribuição geográfica de um clado é determinado por: nicho ecológico
ancestral do clado, ponto de partida para a dispersão geográfica, limitações para a dispersão
impostas por condições abióticas e outras espécies (por exemplo, conservação de nicho e
competição), oportunidades para evolução do nicho e tempo desde a origem do clado. No
caso das serpentes viperídeas, esses resultados indicam que, além dos possíveis efeitos
filogenéticos (i.e., conservação de nicho), a similaridade entre o nicho climático das espécies
pode estar relacionado também às barreiras e a reduzida capacidade de dispersão para novas
zonas climáticas, que é própria das serpentes.
CONCLUSÃO
O presente trabalho indica que serpentes viperídeas próximas filogeneticamente apresentam
nichos similares e espécies pouco aparentadas apresentam nichos divergentes, sugerindo que
há conservação de nicho. Serpentes da família Elapidae não apresentaram associação positiva
entre a filogenia e o nicho. A sobreposição geográfica da distribuição das espécies de ambas
as famílias exibiu efeito sobre o nicho, enquanto que os hábitos alimentares não foram
significativos em relação ao nicho.
Revisado pelo orientador
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