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Alternativas de Controle de Plantas Daninhas sem HerbicidasKliewer, I. (e-mail: [email protected])

Palavras chave: Cobertura do solo permanente, adubos verdes, rotação deculturas, alelopatia, práticas culturais.

IntroduçãoOs herbicidas e a preparação de solos não são as únicas formas de controlarplantas daninhas. Fazer plantio direto sem o uso de herbicidas é um dos grandesdesafios da atualidade para a pesquisa, assistência técnica e agricultores. Este é umdos maiores questionamentos com relação à sustentabilidade do sistema pois nele ouso de herbicidas é uma característica marcante. Faz alguns anos quando o sistemade plantio direto iniciou, era comum escutar que os herbicidas são um malnecessário e que não é possível controlar plantas daninhas sem eles. Nasrecomendações para a implantação do cultivo, já se falava da utilização da coberturamorta para o controle de invasoras, mas a recomendação da utilização de herbicidasem geral é ainda a predominante no sistema. Atualmente, com um maiorconhecimento e compreensão sobre el sistema, já se está alcançando sucesso noseu controle em pequenas propriedades e se está chegando cada vez mais próximode conseguir-lo em áreas extensivas.

Influência da Fertilidade do solo sobre as plantas daninhasA terra, quanto mais degradada, mais imprópria fica para a produção de culturas eocorre um maior aparecimento de invasoras.Quando uma parcela é cultivada durante anos sob um sistema de manejoinadequado do solo no qual a cobertura do solo é escassa (por longos períodos semcobertura viva ou morta), são realizadas práticas de preparações mecânicas do soloincorporando a resteva remanescente das colheitas (deixando o solo descoberto àsintempéries climáticas), não há reposição adequada de nutrientes; as consequênciassão: a matéria orgânica vai desaparecendo, o solo é desestruturado fisicamente ecompactado, os nutrientes são fixados, lavados e volatilizados. O tempo que leva adegradação vai depender da intensidade do mal manejo, das condições iniciais defertilidade e da susceptibilidade do solo à degradação e das condições climáticasreinantes.A parcerla, quanto mais pobre vai ficando, tanto mais difícil fica de produzir matériaorgânica e proteger o solo dos agentes climáticos erosivos (chuva e vento). Nestasituação a luz solar ficou prejudicial ao solo pois em vez de fazer a síntese desubstâncias orgânicas (matéria orgânica), está produzindo degradação, pois amedida que o tempo passa e se segue neste sistema, o solo fica mais descoberto edesprotegido.Quanto mais inadecuada a condição para as culturas comerciais, mais propícia seráa condição para o aparecimento e o desenvolvimento de plantas daninhas. Asinvasoras que aparecem espontaneamente são plantas que se sentem bem no lugarpois encontram todas as condições que precisam para cescer e multiplicar.Aparecendo entre uma cultura comercial estas plantas são consideradas invasoras eestão neste lugar por existir algum desequilibrio no solo não para elas mas sim paraum sistema de produção. Se sabe que a presença de grama-seda (Cynodondactilon) ou guanxuma (Sida spp.) em uma área indica terra dura, a presença desamambaia (Pteridium aquilinum) indica solo con alumínio tóxico elevado, capim-carrapicho (Cenchrus echinatus) indica solo com baixos níveis de matéria orgânica e

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deficiencia de nitrogênio, amendoim-brabo (Euphorbia heterofylla) indica solo comdeficiencia de molibdênio (ver quadro nº 01).Se mudamos a condição específica que favorece ao crecimento e desenvolvimentodestas plantas, automaticamente vamos contribuir para eliminação das plantasdaninhas e favorecer o desenvolvimento da cultura comercial e a suacompetitividade em relação às invasoras. Assim, com os exemplos citadosanteriormente: o amendoim-bravo é combatido pela aplicação de molibdênio ao solo,a samambaia com aplicações de calcário, o nabo-brabo (Raphanus raphanistrum)quando por fertilização de bórax e sulfato de magnésio, a guanxuma ou a grama-seda desaparecem quando o solo é “descompactado por meios biológicos”semeando azevém que afrouxa o solo com suas raízes, o capim-carrapicho quandose aumentam os níveis de nitrogênio no solo através de um adubo verde comoCrotalaria juncea, mucuna (Mucuna pruriens), tremoço (Lupinus albus) ou ervillaca(Vicia villosa). Muitas das propriedades que estão fazendo o plantio direto por váriosanos, já tem a fertilidade de seus solos bem recuperada e tem alcançado umasignificativa redução na incidência de invasoras. Estas são propriedades possíveispara uma produção de culturas sem herbicidas. Quanto mais equilibrada aadubação, mais amplo é o espectro de plantas daninhas e tanto menor é suapersistência (Primavesi, 1992).

Quadro 01: Plantas indicadoras de desequilibrios em solos de culturas ou pastagensInvasoras Indicam

Azedinha (Oxalis oxyptera) solo argiloso, pH baixo, falta de cálcio,falta de molibdênio

Amendoim-brabo (Euphorbiaheterophylla)

deficiência de molibdênio

Ançarinha-branca (Chenopodium album) excesso de nitrogênio, devido a muitamatéria orgânica

Barba-de-bode (Aristida pallens) pastos queimados com frequência,deficiencia de fósforo, cálcio e umidade

Capim-arroz (Echinochioa cruzgallii) terra anaeróbia, com nutrientes"reduzidos" a substâncias tóxicas

Cabelo-de-porco (Carex spp) solo degradado, com nível de cálcioextremamente baixo

Capim-favorito (Rhynchelytrum roseum) solos muito compactados e secas, a águanão penetra facilmente

Capim-amoroso ou carrapicho (Cenchrusciliatus)

solo lavoura depauperada e muito dura,pobre em cálcio

Capim-marmelada ou capim-papuã(Brachiaria plantaginea)

terra de lavoura, com laje superficial efalta de zinco

Capim-rabo-de-burro (Andropogonbicornis)

uma camada impermeável em 80 a 100cm de profundidade, que represa água

Cardo-santo (Argemone mexicana) excesso de cálcioCarneirinho ou carrapicho-de-carneiro(Acanthospermum hispidum)

deficiência em cálcio

Cravo-brabo (Tagetes minuta) infestação de nematóidesFazendeiro ou picão-branco (Galinsogaparviflora)

nitrogênio suficiente e falta de cobre

Grama-seda (Cynodon dactylon) solo muito compactado e pisoteadoGramão ou batatais ou grama-mato- terra cansada, com baixa fertilidade

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grosso (Paspaium notatum)Guanxuma ou malva (Sida spp) terras muito compactadas e durasLíngua-de-boi (Rumex spp) excesso de nitrogênio (estrume), terra

frescaLosna (Artemisia verlotorum) solos alcalinosMaria-mole ou berneira (Seneciobrasiliensis)

camada estagnante em 40 a 50 cm deprofundidade, falta potássio

Mamona (Ricinus communis) terra arejada, deficiente em potássioNabisco ou nabo-brabo (Raphanusraphanistrum)

terras carentes em boro e manganês

Samambaia (Pteridium aquilinium) aluminio tóxico elevadoSapé Macho ou mãe de sapé (Imperatabrasiliensis)

terra ácida

Papoula (Papaver somniferum) excesso de cálcio

Urtiga (Urtica urens)excesso de nitrogênio (matéria orgânica),carência em cobre

Fonte: Adaptado de Primavesi, 1992.

Influência do Plantio Direto e da Cobertura Morta do Solo sobre as plantasdaninhasPela presença permanente de cobertura morta sobre o solo (Jansen, 1999; Klieweret al, 1999) e a melhora na fertilidade do solo pelo aumento dos níveis de matériaorgânica, o sistema de plantio direto reduz sensivelmente a infestação de plantasdaninhas nas culturas (Derpsch, et al, 1991).Cobertura morta são resíduos do cultivo anterior que permanecem sobre o terreno.Ela funciona como um elemento isolante que reduz a amplitude térmica do solo efiltra a luz solar. O processo de germinação de plantas daninhas está intimamenterelacionado a estes fatores, reduzindo substâncialmente sua emergência em plantiodireto com abundante quantidade de cobertura morta (Adegas, 1999).Quando se deixa de preparar o solo, grandes quantidades de sementes deinvasoras se mantém a profundidades que impedem sua germinação e emergência.A presença da cobertura morta altera as características físicas, químicas ebiológicas do solo e interfere no processo da quebra de dormência das sementes(Almeida, 1991).O conteúdo de matéria orgânica nas áreas de plantio direto é normalmente superiorao das áreas de plantio convencional. Maior teor de matéria orgânica estárelacionado a maior atividade biológica. Muitos microorganismos para sobreviver ereproduzir utilizam as sementes e plântulas das infestantes e por conseguintediminuem o potencial de infestação nas áreas de plantio (Adegas, 1999), sendo esteefeito mais acentuado em plantio direto.O proceso de decomposição da cobertura morta na superfície libera gradualmenteuma série de compostos orgânicos denominados alelequímicos, muitos delesinterferem diretamente na germinação e emergência das plantas indesejáveis. Aquantidade e a composição da cobertura morta é responsável pelo nível deinterferência. Ao preparar o solo a palhada se decompõe rapidamente e esta é umadas razões porque o controle de infestantes obtido é superior em plantio direto(Figura 01).

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Plantio Direto Plantio convencional

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Figura 01: Influência do manejo do solo e da cobertura morta de inverno sobre adensidade de infestantesFonte: Ruedell, 1998; citado por Bianchi, 1999.

Em geral as sementes de plantas daninhas sofrem de dormência. A dormência podeser explicada como sendo um estado passivo em que a semente não começa osprocesos de germinação, ainda que se presentem condições favoraveis de luz,umidade e temperatura no solo. É por isso que as sementes das plantas invasorasnão germinam todas de uma vez. Uma certa quantidade germina antes dasemeadura da cultura, outra durante seu desenvolvimento, outra na colheita edependendo da espécie, até muitos anos despois.Muitas espécies de plantas necessitam que suas sementes fiquem no escuro e quedepois sejam expostas à luz para inciar os processos de germinação.A água é essencial para o processo da germinação. Este só se inicia quando asemente se umedece, o que depende da permeabilidade do tegumento. Emalgumas espécies a permeabilidade só é produzida depois de longo tempo decontato da semente com a àgua, outras exigem alternância de períodos de umidadee seca (Popey, 1976; citado por Almeida, 1991). Uma vez que a àgua transpassa abarreira do tegumento, tem a função no interior da semente, de lavar as substânciainibitórias da germinação, e esta só se iniciará quando as substâncias promotoras decrecimento excedam as inibidoras (Thompson, 1973; citado por Almeida, 1991).A temperatura influi significativamente na quebra de dormência das sementes. Cadaespécie depende de uma condição necessária de temperatura para que se inicie agerminação. Esta é uma das razões porque existem espécies de inverno e de verão.Outras ainda requerem alternâncias de temperatura mais ou menos acentuadas paraque se inicie a germinação.Estes fatores atúam conjuntamente. Se observa entre eles fortes interações o qualcomplica ainda mais a compreensão do processo. Assim a quebra de dormência dasemente de uma espécie se verifica em uma determinada combinação detemperatura, umidade, luminosidade e outros fatores (Vincent & Roberts, 1977;citado por Almeida, 1991).

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No plantio direto estes fatores são alterados com mayor ou menor profundidade deacordo à constituição da cobertura morta. É possível prever que as sementes deplantas daninhas germinarão em condições de solo descoberto e não germinarãoem condições de plantio direto, por outro lado outras espécies de invasoras que nosolo descoberto se manteríam dormentes, vão germinar em plantio direto.A incidência de plantas daninhas está na proporção inversa da quantidade decobertura (palha) sobre o solo (Almeida y Rodríguez, 1985; citato por Derpsch,1991).

Influência dos Adubos verdes sobre as plantas daninhasTambém, podemos usar para suprimir plantas daninhas, os efeitos de inibição queumas plantas exercem sobre outras através da semeadura de adubos verdes. Osadubos verdes controlam as plantas daninhas de três formas principais: uma atravésda competição que realizam por água, nutrientes, luz e espaço durante seucrescimento. Outra é por alelopatia ou efeito inibitório sobre a germinação desementes e sobre o desenvolvimento de plântulas, causando exudados e/ousubstâncias químicas que são liberadas durante a decomposição, imediatamentedepois do manejo. A terceira é por efeito físico de sombreamento que produz suapalhada o que impede que as sementes das invasoras recebam estímulos para suagerminação.A intensidade de controle de invasoras varia de acordo com as espécies evariedades de adubos verdes utilizados. A competição se baseia na eficiencia queos adubos verdes têm de retirar do solo, água e nutrientes, antes que o possamfazer as plantas invasoras e está relacionada principalmente à velocidade e hábitode crescimento. Por isso, é importante que se faça a semeadura dos adubos verdeso antes possível depois da colheita de uma cultura comercial para eliminar osperíodos aonde possam crescer as ervas, pois, em termos gerais se pode afirmarque a planta que ganha a competição é aquela que se instala primeiro no terreno.Para substituição dos herbicidas dessecantes, são utilizadas plantas de grandecapacidade de abafamento das infestantes para a formação da cobertura morta (asespécies aplicadas dependem do clima reinante em cada lugar). A escolha deespécies de maior cobertura e maior intensidade do efeito alelopático reduzsignificativamente a incidência de invasoras e facilita em muito o seu controle sem ouso de herbicidas. Dentro das espécies de adubos verdes também existemvariedades de maior produção de biomasa com maior durabilidade e maior efeitoalelepático, como por exemplo a aveia preta Iapar 61 (Avena strigosa), quegeralmente permite semear soja sem herbicidas até a colheita, sendo que com avariedade de aveia preta comum poucas vezes se consegue o mesmo efeito. Outraespécie de inverno é a ervilhaca peluda que é uma leguminosa de ciclo longo e quepode ser rolada na fase de formação de grãos ou pode ser deixada para completar ociclo, semeando a cultura posterior (soja ou milho) sobre plantas verdes ou já emfase de maduração. Nas regiões mais frias, também o azevem á uma excelentealternativa, inclusive como planta expotânea, germinando com a ressemaduranatural de plantas maduras do ciclo anterior. No caso de possibilidade de reservarparcelas para adubação verde de verão, a mucuna é uma das melhores alternativaspara a supressão e o abafamento de plantas daninhas. Em parcelas de pequenaspropriedades a mucuna já vem sendo aplamente aplicada, sendo semeada entre omilho 50 dias antes da colheita aproveitando-se o tempo de calor que resta noverão. Os resultados da redução de incidência de plantas daninhas são observadosmeses depois até no seguinte verão.

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Supressão de Plantas Daninhas na Cultura da Soja em Plantio Direto atravésdo uso de adubos verdes de invernoUm experimento para comprovar a supressão dos adubos verdes sobre plantasinfestantes na cultura da soja foi realizado em 1996 (KLIEWER, CASACCIA YVALLEJOS, 1999) no campo experimental de CETAPAR/JICA, Yguazú, Paraguai, a45 Km de Ciudad del Este. No inverno foram semeados os seguintes tratamentos:aveia preta comum, centeio, girassol, tremoço branco amargo, nabo forrageiro, trigoe pousio. Nenhum tratamento foi fertilizado. Os adubos verdes foram manejadoscom rolo-faca e o trigo foi colhido. A soja foi semeada sobre a cobertura oferecidapelos tratamientos de inverno, com fertilização de 300 Kg/ha da formulação 00-20-20. A cultura se desenvolveu exclusivamente com o controle oferecido pelo efeitosupressor da palhada dos adubos verdes manejados (não foram aplicadosherbicidas).Os melhores supressores de invasoras na cultura da soja foram a aveia preta, otrigo, e o centeio (tabela). A parcela de aveia preta se apresentava limpa comapenas 93 Kg/ha de massa seca de infestantes em contraste coma a parcela depousio com 7.390 kg/ha. O nabo forrageiro não pode exercer supressão sobre asinfestantes por não haver apresentado um desenvolvimento satisfatório. Além disso,houve um período de 45 dias desde o manejo dos adubos verdes até a semeadurada soja que favoreceu o desenvolvimento de plantas daninhas que aproveitaram osnutrientes liberados pela rápida mineralização dos resíduos de tremoço, girassol enabo forrageiro.

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Figura 02: Infestação de plantas daninhas na cultura da soja semeada despois dealgumas espécies de adubos verdes de inverno, trigo e um período sem cultura(pousio), aos 96 dias depois da semeadura (dds). Yguazú (campo experimentalCETAPAR/JICA), Dpto. Alto Paraná, Paraguai.Fuente: Kliewer et al., 1999.

Nos solos pobres e esgotados pela exploração agrícola, o tremoço e o centeio sãoadubos verdes que apresentam rusticidade e bom desenvolvimento. A aveia preta eo nabo forrageiro sofrem deficiencias nutricionais e diminuem fortemente suaprodução de massa seca. Os mesmos autores, semearam os adubos verdes com

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300 kg/ha de 00-20-20 e registraram um aumento de 2.100 kg/ha de massa seca naaveia preta e 4.280 no nabo forrageiro.

Uso das Associações de Adubos verdes para o controle de plantas daninhasAs misturas de adubos verdes são, de um modo geral, mais eficientes no controle deplantas daninhas do que os mesmos semeados de forma solteira (sozinhos), pois aarquitetura diferenciada das plantas faz com que se ocupe um maior espaço nãodando chancess às invasoras. Um exemplo é a semeadura a lanço de aveia pretacomum antes do plantio do tremoço branco amargo com semeadora de trigo. Nolugar de invasoras entre o tremoço, a aveia preta ocupa o espaço e se desenvolvesem dar-lhes chance, permitindo semear milho na sequência, sem aplicação dedesecantes. Desta maneira também se obtém maior produção de masa verde eseca, conseguindo maior permanência de cobertura viva ou morta, peladiferenciação do ciclo e da qualidade da palhada.

Figura 03: Associação de aveia pretacom tremoço branco. A aveia ocupa osespaços vazios entre as plantas detremoço, ocupando o lugar dasinvasoras.

Figura 04: Associação de aveia preta enabo forrageiro em áreas extensivas emYguazú, Paraguai.

Controle de plantas daninhas através de Adubos verdes de curto períodoExperimentos realizados por Kliewer et al, 1998, tem demonstrado que é possívelcom a semeadura de adubos verdes de curto período, de rápido crescimento y curtaduração (45 a 60 días), conseguir semear culturas comerciais sem o uso dedessecantes e de pós-emergentes. Foram semeados o girassol (Helianthus annuus),figura 04, utilizando semente F2 e a crotalária (Crotalaria juncea), figura 05, amboscom distância entre linhas de 18,5 cm. Estas culturas produziram respectivamente5.500 kg/ha e 6.060 kg/ha de matéria seca entre a colheita de milho (Zea mais) e asemeadura do trigo (Triticum aestivum) (57 y 52 días respectivamente), eliminando otempo em que o terreno ficava exposto ao crescimento e à multiplicação de plantasdaninhas. As ervas foram suprimidas e as poucas que coseguiram sobreviver àcompetição com a densa massa vegetal, foram elimidadas por completo pelo manejocom rolo-faca e a exposição brusca à radiação solar. Nestas parcelas foi cultivadosoja (Glycine max) e se realizó a colheita sem necessidade de aplicação deherbicidas. Considerando os custos de implantação e manejo destes adubos verdescomo custo de controle de plantas daninhas e comparando-os aos custos deherbicidas em uma parcela testemunha com monocultura de trigo/soja durante todo

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um ano (US$ 105,10), a prática do girasol (US$ 37,27) e da crotalária (US$ 43,09)foram respectivamente 67,83 US$/ha/ano e 62,01 US$/ha/ano mais baratos.

Figura 05: Girassol aos 57 dias depoisda semeadura (dds) no momento domanejo com rolo-faca. Semeado emalta densidade é um excelente aduboverde de curto período, com grandecapacidade para suprimir infestantes.

Figura 06: Crotalaria juncea no momentode ser manejada com rolo-faca aos 83dias (dds). Esta planta é altamenteeficiente no controle de plantas daninhas

Influênca da Rotação de culturas sobre as plantas daninhasA realidade do campo mostra que um grande número de produtores queingressaram no sistema de plantio direto tiveram dificultade para conseguir um bomcontrole de plantas daninhas e em muitos dos casos um custo maior para fazê-lo.Isto ocorre porque depois da implantação do sistema de plantio direto, os produtoresrealizaram o controle de plantas daninhas quase exclusivamente com a utilização deherbicida, seja na dessecação, realizada para substituir a preparação para o plantio,seja na instalação da cultura. O sistema de exploração das propriedades temseguido um esquema de uma cultura no verão e outra no inverno, normalmente asmesmas são utilizadas todos os anos, com períodos no qual o terreno fica emdescanso. Para o controle de invasoras, poucas vezes são usados outros métodos,como a rotação de culturas com o uso de adubos verdes. A rotação de culturas é uma prática determinante no controle de plantas daninhassem herbicidas. As ervas perdem agressividade aonde se pratica rotação de culturas(Primavesi, 1992). Um ensaio similar se realizó paralelamente (ambos casos foramparte de um experimento de rotação de culturas a partir de 1995) o qual obedeceu asequência de girasol (no mês de março, depois de milho), aveia preta Iapar 61(inverno, 1995), soja (verão, 1995/96), trigo (inverno, 1996), soja (verão 1996/97),tremoço branco amargo (Lupinus albus) (inverno, 1997) e milho (verão, 1997/98)seguido de crotalária. Durante todo o período desta sequência, não foi nescessáriaa aplicação de herbicidas desecantes nem de pós-emergentes pois as plantasdaninhas foram controladas pela cobertura permanente do solo com adubos verdese culturas comerciais que a rotação de culturas ofereceu, e três capinas manuais debaixo custo (uma diária, 7,00 US$ por hectárea) nas culturas de verão (Figura 05).Experiencias parecidas foram obtidas por agricultores, como Herbert Bartz, pionerodo plantio direto no Brasil. Isto demonstra que a redução do uso de herbicidas emplantio direto mediante o uso de adubos verdes de curto período também estácomprovada entre agricultores. Entretanto, esta redução nem sempre se conseguirános primeiros anos de plantio direto, ou em campos muito infestados, senão por um

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bom manejo do solo e rotações de culturas adequadas com adubos verdescriteriosamente selecionados.

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Plantio direto Plantio convencional

Figura 05: Influências do manejo do solo e da rotação de culturas na ocorrência deplantas daninhas no trigo, 6 anos depois de iniciados os trabalhos. Cruz Alta 1.995.Fonte: Adaptado FUNDACEP/BASF, 1995

Formas de ManejoA forma de manejar os adubos verdes também é importante pois o acame dapalhada cobre melhor o solo impedindo a penetração de luz.Existem diferenças pronunciadas neste aspecto havendo significativamente menosplantas daninhas na soja que foi semeada sobre aveia preta acamada com rolo-facaque na soja que foi semeada sobre aveia preta dessecada em pé (Figura 06).

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Figura 06: Efeito da modalidade de manejo da aveia preta comum sobre aquantidade de infestantes/m2, 50 dias despois de acamada. Yguazú , Dpto. AltoParaná, Paraguai

Controle generalizado

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Também é possível controlar plantas daninhas de outras formas, mas, um controlegeneralizado de invasoras sem herbicidas só se conseguirá com um conjunto depráticas que vão desde a recuperação da fertilidade destes solos com a diminuiçãoda população das ervas daninhas e melhora na competitividade da cultura até umcontrole manual localizado:É necesário introduzir um equilíbrio total no solo.O uso de adubos verdes e de rotação de culturas estão entre as ferramentas maispoderosas no sucesso do controle de invasoras pois contribuem com vários efeitosno controle e supressão de plantas indesejáveis. O uso de adubos verdes de curtoperiodo eliminando os pousios entre as culturas de renda, seja no inverno, outono,primavera ou mesmo em alguns casos no verão, mantém o solo coberto durantetodo o ano evitando que invasoras venham a se desenvolver e multiplicar.Consorciação de culturas ou de adubos verdes: A associação de culturascomerciais ou de cobertura de solo promovem um melhor aproveitamento dosespaços no terreno, diminuindo ou eliminando as chances das invasoras.Correção equilibrada do solo: Com a recuperação do solo combatem-seeficientemente inúmeras invasoras, entre elas estão: o capim-carrapicho, aguanxuma e a grama-seda. A adubação e calagem deve ser controlada em relaçãoà terra e não em relação à cultura. A calagem faz desaparecer o carrapicho-de-cameiro ou carneirinho, a samambaia, a erva-lanceta e o sapé.Controle da resemeadura: O controle da resemeadura de plantas daninhas podereduzir, em médio prazo, o banco de sementes no solo. Skóra Neto, F. (1993), citadopor Ribeiro, S. et al (1996) verificou uma redução de até 97 % na infestação, quandohouve controle da frutificação das invasoras.Culturais: Uso de sementes da cultura com altos índices de vigor e germinação,variedades resistentes a pragas e doenças e bem adaptadas ao lugar desemeadura.Preventivas: Os equipamentos e máquinas agrícolas são um veículo dedisseminação de sementes de plantas daninhas. O cuidado na limpeza dos mesmosevita a entrada e instalação das plantas daninhas.Disposição espacial das plantas: Geralmente o uso de um espaçamento reduzidoentre linhas contribui para um mais rápido sombreamento e fechamento da cultura. Adisposição das plantas da cultura, quanto mais uniforme seja, mais rápido cobrirá osolo evitando que penetre luz. Quanto antes o solo seja coberto pela cultura, maiorserá a supressão exercida sobre as plantas daninhas colocando em desvantagemas que queiram germinar (por falta de luz) e não dando condições às plântulasemergidas (por abafamento).Densidade de semeadura: O uso de uma densidade adequada dará à cultura maiorvigor. A mesma necessita de espacio e luz suficiente para um bom crescimento. Umligeiro aumento na população de plantas da cultura tende a promover um maisrápido crescimento, antecipa o fechamento da mesma e aumenta a supressão sobreinvasoras.Época de plantio: a mudança da época de plantio, semeando a cultura mais cedo,para germinar e se desenvolver antes que as invasoras nasçam.Mecânicas: Para substituição dos herbicidas na cultura tem-se utilizado a capinamanual (catação) ou a roçada, aliado a outras práticas culturais de manejo. Aindanão foram desenvolvidas máquinas eficientes e económicas capazes de removerplantas indesejáveis sem que seja removido o solo. Nos países do hemisferio norte(Canadá, principalmente) se está usando equipamento de capina mecânica com

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dentes rotativos que apenas mexem o solo superficialmente para prejudicar aservas.

VantagensAs vantagens deste sistema são: diminuição de custos no controle de invasoras eaumento na rentabilidade, menor dano ao meio ambiente, controle de invasoras semaparecimento de resistência à herbicidas, colheita de um produto mais saudável aoconsumidor, eliminação de riscos de acidentes na aplicação de herbicidas, etc.Outros benefícios proporcionados por esta técnica são a produção de coberturamorta necessária para o plantio direto, com o aumento consequente da matériaorgânica, reciclagem de nutrientes evitando a lixiviação dos mesmos a camadasprofundas, conservação do solo e da umidade, controle de pragas, doenças(inclusive nematóides) e evitar o aparecimento de resistência de plantas daninhas.

ConclusõesO controle de plantas daninhas sem herbicidas não funciona em terra degradada.Deve-se primeiramente recuperar o solo com plantio direto e aplicar um conjunto detecnologias para ter êxito. É necessário introduzir um equilíbrio total no solo para queo controle de plantas daninhas seja possível, por isso a combinação das práticascomo plantio direto, rotação de culturas, adubos verdes, eliminação dos pousiosentre culturas, adubação adequada, manejo de forma correta e no momento certo,capinas, roçadas, controle da frutificação das infestantes, escolha de espécies evariedades agressivas e competitivas às infestantes com efeito alelopático esupresor, etc., devem ser aplicados.A presença de cobertura morta permanente sobre o solo evita a quebra dedormência das sementes de numersas espécies de plantas daninhas porque impedea entrada de luz e proporcionoa ao solo tempeaturas e umidades mais estáveis. Aquantidade e qualidade da cobertura morta e a velocidade de sua decomposição sãoresponsáveis pelo grau de supressão de invasoras.Os adubos verdes e seu resíduos têm uma grande influência na redução dainfestação de plantas daninhas, seja por efeito de competição e/ou supressão,quebra de dormência das sementes, alelopatia, etc. A eficiencia do controle deinfestantes pelos adubos verdes depende principalmente de sua copetitividadedurante o crecimento e do potencial de cobertura do solo que oferecem seusresíduos depois do manejo. Estas características variam da acordo às espécies evariedades dos adubos verdes usados e estão relacionados principalmente com avelocidade e hábito de crecimento, asim como da quantidade e durabilidade dabiomassa produzida. O sucesso do controle de plantas daninhas depende tambémdo manejo utilizado referente a época, método e densidade de semeadura, assimcomo do momento e forma de manejo da biomassa.A rotação de culturas é uma ferramenta que facilita o controle de plantas daninhas ediminui os riscos de selecionar plantas daninhas resistentes.No manejo das infestantes sem herbicidas o princípio da prevenção deve serprivilegiado. Portanto, recomenda-se o uso de práticas que evitem a ressemeadurade invasoras; recomenda-se também a manutenção de uma boa quantidade depalha, o uso de plantas com efeito alelopático, o plantio em época adequada(antecipado para ganhar a concorrência com as invasoras), o uso de máquinas quepermitam um bom corte da palha (com pouco revolvimento de solo na linha edeposição da semente em contato com o solo) e evitar períodos de pousio entre asculturas (Skora Neto, 1998). A incidencia de plantas daninhas está em relação

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direta com o comprimento do período de descanso. O pousio de inverno oferececobertura verde e morta deficiente durante o período de inverno e dedesenvolvimento da cultura de verão. Favorece o aumento do banco de sementesde plantas daninhas para as seguites culturas e aumeta as possibilidades de mayorcompetição por água e nutrientes na cultura de renda.Não existem receitas ou pacotes prontos, e a cada safra a estratégia de controle dasinfestantes sem herbicidas pode ser alterada em função de variáveis como clima,nível de infestação, quantidade de cobertura, variedade utilizada, mercado etc.

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