Transcript

7/27/2019 Antonin Artauld - Jato de Sangue

http://slidepdf.com/reader/full/antonin-artauld-jato-de-sangue 1/4

O JATO DE SANGUE

ANTONIN ARTAUD

1

7/27/2019 Antonin Artauld - Jato de Sangue

http://slidepdf.com/reader/full/antonin-artauld-jato-de-sangue 2/4

O MOCINHO

Eu te amo e tudo é belo.A MOCINHA

(Com um trêmulo intensificado na voz.) – Tu me amas e tudo é belo.O MOCINHO

(Num tom um pouco mais baixo.) – Eu te amo e tudo é belo.A MOCINHO

(Bruscamente, abandona a mocinha.) – Eu te amo. (Silêncio.) – Fica na minha frente.A MOCINHA

(Mesmo o!o, ela se coloca " sua frente.) – Está bem.O MOCINHO

(Num tom exaltado, super a!udo.) – Eu te amo, eu sou grande, eu sou claro, eu sou pleno, eu sou denso.A MOCINHA

(Num tom super a!udo.) – Nós nos amamos.O MOCINHO

 Nós somos intensos. Oh, como o mundo está bem estabelecido(Silêncio, se ouve como o barulho de uma imensa roda #ue !ira e desempenha o

vento. $m furac%o os separa. Neste momento se vêem dois astros #ue se

entrechocam e caem uma s&rie de pernas em carne viva com p&s, m%os, cabelos,

 perucas, m'scaras, colunas, prticos, templos, alambi#ues. desmoronamento &

 feito aos poucos, lentamente, como se tudo ca*sse no vazio. Caem + ainda três

escorpies, um atr's do outro, depois uma r% e um escaravelho com uma lentid%o

desesperadora, noenta.)A MOCINHO

(-ritando com todas suas foras.) – O céu ficou louco (lha o c&u.) –!amos sair correndo( mocinho empurra a mocinha de sua frente. /ntra um cavaleiro da idade m&dia

com uma armadura enorme se!uido por uma ama #ue se!ura os seios com as duas

m%os e respira !raas a seus seios muito inflamados.) 

O CAVALEIRO

"arga tuas mamas #e dá meus papéisA AMA

(-ritando.) – $h $h $hO CAVALEIRO

#erda %ue &ue há'A AMA

$ nossa filha "á (om eleO CAVALEIRO

)siu N*o tem menina nenhumaA AMA

Eu estou te di+endo &ue eles est*o se beiando

-

7/27/2019 Antonin Artauld - Jato de Sangue

http://slidepdf.com/reader/full/antonin-artauld-jato-de-sangue 3/4

O CAVALEIRO

)orra %ue merda eu tenho a er se eles est*o se beiando.A AMA

/ncestoO CAVALEIRO

#atronaA AMA

(0fundando as m%os nos bolsos #ue s%o t%o inflados #uanto os seios.)  – (afet*o(1o!a2lhe rapidamente seus pap&is.) O CAVALEIRO

!aca, me dei0a comer. (0 ama fo!e. /le levanta e dentro de cada papel tira um

enorme pedao de #ueio. 3osse e en!as!a.) – Ei Ei #ostra os peitos. #ostra teus peitos Onde ela foi' (Sai correndo, o mocinho volta).

O MOCINHO

Eu i, eu fui, eu compreendi. $&ui na praa p2blica3 o padre, o sapateiro, osendedores, os endedores de &uatro esta4es, a porta da igrea, a lanterna do bordel,as balanas da ustia Eu n*o posso mais

($m padre, um sapateiro, um bedel, uma puta, uma u*za, uma vendedora de

#uatro estaes che!am em cena como sombras.)O MOCINHO

Eu me perdi dela 5eolamTODOS

(Num tom indiferente.) – %ui, &ui, &ui.O MOCINHO

#as ela é minha mulherO BEDEL

(Muito barri!udo.) – 6ua mulher. . . FarsanteO MOCINHO

Farsante Farsante é a tuaO BEDEL

(Batendo na testa.) – 7, pode ser. (Sai correndo.) ( padre se destaca do !rupo e

 passa o brao em volta do pescoo do mocinho.) O PADRE

(Como num confession'rio.)  – $ &ue parte de seu corpo oc8 fa+, fre&9entemente,mais alus*o'O MOCINHO

5eus.O PADRE

(4esconcertado pela resposta, toma rapidamente o sota#ue su*o.) – #as isso n*o sefa+ mais Eu n*o oui nada da sua boca. (omo penit8ncia oc8 tem &ue inocar aosulc4es, aos terremotos. Nós iemos das pe&uenas sueiras dos homens dosconfessionários. E agora é tudo, é a ida.

O MOCINHO(Muito a!itado) – $h, sei é a ida Ent*o preciso sair correndo.

:

7/27/2019 Antonin Artauld - Jato de Sangue

http://slidepdf.com/reader/full/antonin-artauld-jato-de-sangue 4/4

O PADRE

(Sempre com sota#ue su*o.) – $mém. (Neste instante, num s !olpe, se faz noite em

cena. 0 3erra treme. trov%o ru!e, com rel5mpa!os #ue fazem zi!2za! em todos os

 sentidos e nos zi!2za!s dos rel5mpa!os se vêem todos os persona!ens #ue comeam

a correr6 abraam2se uns aos outros, caem na terra, se levantam e correm como

loucos. Neste momento uma m%o enorme arranca a peruca da puta #ue se incendeia

"s vistas do p7blico.) $ma voz !i!antesca + (adela. Olhai osso corpo ( corpo da

 puta aparece absolutamente nu e horroroso com um corpete e uma saia #ue se

transformam como em vidro transparente.)

A PUTA

5eus #e dei0a (0 puta morde os punhos de 4eus. $m imenso ato de san!ue ras!a

a cena e se vê atrav&s dos rel5mpa!os maiores #ue os outros o padre fazendo o

 sinal da cruz. 8uando a luz se refaz, todos os persona!ens est%o mortos e seus

cad'veres azem por todas as partes, no ch%o. S restam a puta e o mocinho #ue se comem em olhares. 0 puta cai nos braos do mocinho).

A PUTA

(Num suspiro e como ao extremo ponto de um espasmo amoroso.) – (onta pra mimcomo foi pra oc8. ( mocinho esconde a cabea com as m%os. 0 ama volta

trazendo a mocinha nos braos como um pacote. 0 mocinha est' morta. 0 ama

deixa a mocinha cair na terra onde ela se #uebra e se torna p'lida como uma

bolacha. 0 ama n%o tem mais seios. Seus seios est%o completamente achatados.

 Neste momento aparece o cavaleiro #ue se atira sobre ela e a sacode

violentamente.)O CAVALEIRO

(Com uma voz terr*vel.) – Onde oc8 escondeu' Onde oc8 escondeu' #e dá o meu&ueio Onde está'

A AMA

(0le!remente.)  – $&ui. (9evanta as saias. mocinho #uer correr mas n%o

conse!ue6 /le se con!ela como um marionete petrificado.)

O MOCINHO

(Como suspenso no ar, com voz de ventr*lo#uo.) – N*o faa mal a mam*e.O CAVALEIRO

#aldita. (Cobre o rosto de horror6 $ma multid%o de escorpies cai da saia da ama ecomea a pular em seu seio #ue pe!a fo!o e se racha6 3ornando2se vidrado e

brilhante como um sol. mocinho e a puta fo!em como dois trepanados.)

A MOCINHA

(9evantando, maravilhada.) – $ irgem Ent*o era isso o &ue ele &ueria.

P A N O

;


Top Related