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9. DOENÇAS 9.1. Doenças 9.1.1. Doenças 9.1.1.1. Introdução A importância das doenças das plantas é medida pelos danos diretos que causam, pelos custos despendidos nas medidas de controle e pelas limitações impostas ao uso de determinadas variedades. A partir do momento em que se começaram a cultivar as plantas, as enfermidades foram, com certeza, um obstáculo às necessidades do homem para vestir-se e alimentar-se. O complexo patógeno x hospedeiro tende a um equilíbrio pela ação da seleção natural ao longo da evolução. Deste modo, um parasita pode viver sobre uma determinada planta, sem que esta seja seriamente afetada. Barreiras naturais, como montanhas, desertos, mares e florestas mantiveram, por milênios, as populações, tanto de patógenos como de hospedeiros, interagindo entre si e isoladas de outras intervenções. Historicamente, o homem causou danos irreparáveis ao transportar os fitopatógenos involuntariamente junto com suas plantas, ao longo de suas rotas de migração, transpondo os obstáculos que impediam sua disseminação natural. As conseqüências dessa atividade podem ser ilustradas por muitos exemplos, mostrando quão descuidada foi no passado e quão cuidadosa deveria ser no futuro. Na videira, são exemplos clássicos a introdução do oídio e do míldio na Europa, no século 19, que lá chegaram junto com as Vitis americanas, que haviam sido importadas para servir de porta-enxertos no controle da filoxera. As conseqüências foram catastróficas, principalmente para a indústria francesa de vinho, que só se recuperou com a descoberta da ação fungicida do cobre. Outro exemplo recente foi a ocorrência de Eutypa lata, causador do declínio da videira, na região de Jundiaí, SP. Esta nova doença causou prejuízos de alguns milhões de dólares, destruindo vinhedos, mudando o tipo de exploração agrícola e provocando o êxodo rural. A introdução do patógeno nessa nova região só não teve conseqüências mais drásticas, porque medidas de controle foram rapidamente preconizadas, permitindo a convivência planta x patógeno, porém, aumentando o custo de produção da cultura. Por outro lado, um patógeno pode ser muito mais destrutivo, quando introduzido numa região diferente daquela de sua origem, pois as condições climáticas podem ser mais favoráveis ao seu desenvolvimento ou o hospedeiro ser mais suscetível. A variabilidade dos microrganismos torna temerária a disseminação de um patógeno de uma região para outra, onde ele já existe, pois pode dar origem a novas raças, tão prejudiciais como se tratassem de um novo organismo. Verifica-se, portanto, o cuidado que se deve ter no intercâmbio de materiais vegetais entre regiões, sendo obrigatória uma intensa vigilância, além de medidas quarentenárias adequadas para proteger as diferentes culturas contra os patógenos disseminados pelo homem.

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9. DOENÇAS

9.1. Doenças

9.1.1. Doenças

9.1.1.1. Introdução

A importância das doenças das plantas é medida pelos danos diretos

que causam, pelos custos despendidos nas medidas de controle e pelas limitações impostas ao uso de determinadas variedades. A partir do momento em que se começaram a cultivar as plantas, as enfermidades foram, com certeza, um obstáculo às necessidades do homem para vestir-se e alimentar-se.

O complexo patógeno x hospedeiro tende a um equilíbrio pela ação da seleção natural ao longo da evolução. Deste modo, um parasita pode viver sobre uma determinada planta, sem que esta seja seriamente afetada. Barreiras naturais, como montanhas, desertos, mares e florestas mantiveram, por milênios, as populações, tanto de patógenos como de hospedeiros, interagindo entre si e isoladas de outras intervenções.

Historicamente, o homem causou danos irreparáveis ao transportar os fitopatógenos involuntariamente junto com suas plantas, ao longo de suas rotas de migração, transpondo os obstáculos que impediam sua disseminação natural. As conseqüências dessa atividade podem ser ilustradas por muitos exemplos, mostrando quão descuidada foi no passado e quão cuidadosa deveria ser no futuro.

Na videira, são exemplos clássicos a introdução do oídio e do míldio na Europa, no século 19, que lá chegaram junto com as Vitis americanas, que haviam sido importadas para servir de porta-enxertos no controle da filoxera. As conseqüências foram catastróficas, principalmente para a indústria francesa de vinho, que só se recuperou com a descoberta da ação fungicida do cobre.

Outro exemplo recente foi a ocorrência de Eutypa lata, causador do declínio da videira, na região de Jundiaí, SP. Esta nova doença causou prejuízos de alguns milhões de dólares, destruindo vinhedos, mudando o tipo de exploração agrícola e provocando o êxodo rural. A introdução do patógeno nessa nova região só não teve conseqüências mais drásticas, porque medidas de controle foram rapidamente preconizadas, permitindo a convivência planta x patógeno, porém, aumentando o custo de produção da cultura.

Por outro lado, um patógeno pode ser muito mais destrutivo, quando introduzido numa região diferente daquela de sua origem, pois as condições climáticas podem ser mais favoráveis ao seu desenvolvimento ou o hospedeiro ser mais suscetível. A variabilidade dos microrganismos torna temerária a disseminação de um patógeno de uma região para outra, onde ele já existe, pois pode dar origem a novas raças, tão prejudiciais como se tratassem de um novo organismo. Verifica-se, portanto, o cuidado que se deve ter no intercâmbio de materiais vegetais entre regiões, sendo obrigatória uma intensa vigilância, além de medidas quarentenárias adequadas para proteger as diferentes culturas contra os patógenos disseminados pelo homem.

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No Brasil, os primeiros relatos sobre a ocorrência de doenças na videira datam do final do século 19. Doenças como míldio, antracnose e podridões da uva já eram conhecidas nos últimos 12 anos daquele século. Supõe-se que os principais patógenos da videira no Brasil, tiveram sua origem nos Estados Unidos e aqui introduzidos pelas castas americanas importadas. Pioneiramente, coube ao Instituto Agronômico de Campinas realizar, no ano de 1898, os primeiros ensaios de controle químico do míldio e, já no ano de 1943, lançar as bases de um programa de melhoramento da videira, que visa a unir as finas qualidades das viníferas com a rusticidade e resistência das espécies americanas.

9.1.1.2. Antracnose

9.1.1.2.1. Agente causal: Elsinoe ampelina (de Bary) Shear (Sphaceloma ampelinum de Bary)

A antracnose é uma doença de origem européia, existindo relatos de

sua presença desde o primeiro século da era cristã. Ocorre em todas as regiões produtoras do mundo, tendo sido disseminada pelos colonizadores europeus através de mudas doentes. Em regiões chuvosas e úmidas, é praticamente impossível cultivar determinadas variedades, devido ao ataque desse patógeno. Por outro lado, por ser extremamente exigente quanto às condições climáticas, não é problema em outras áreas produtoras.

Foi introduzida na América do Norte, em torno de 1881; no Brasil, não existem relatos de sua presença, até a entrada das variedades americanas, como a Isabel, que devem ter trazido o fungo. Esta doença é também chamada de “negrão”, “varíola” ou “carvão”. Pelo sintoma típico que causa nas bagas, é também denominada de “olho de passarinho”.

9.1.1.2.2. Sintomas

No início da brotação da videira, a antracnose é a primeira doença a

aparecer, atacando todos os órgãos verdes da planta, preferencialmente os tecidos tenros. Nas folhas, aparecem pontuações pardas-escuras, deprimidas e necróticas, que podem coalescer ou permanecer isoladas. O tecido atacado seca e cai, deixando a folha toda perfurada. Nas nervuras das folhas e pecíolos, as manchas são alongadas, impedindo o crescimento normal dos tecidos e ocasionando deformações e encarquilhamento das folhas.

Nos ramos novos e gavinhas, aparecem manchas pequenas de cor castanha, que evoluem, originando cancros irregulares, com centro cinzento e pardos escuros nos bordos. Os limites dos cancros são salientes, e o centro deprimido, às vezes tão profundo, que favorece a quebra dos ramos pelo vento. Em ataques severos, os brotos secam, as folhas ficam pequenas e cloróticas. Nas bagas, aparecem manchas arredondadas, com centro de coloração acinzentada e bordos negros, que, pelo seu aspecto, recebem o nome de "olho de passarinho". As bagas muito atacadas não se desenvolvem de maneira

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normal, dessecam, podem rachar e sofrer o processo de mumificação.

9.1.1.2.3. Etiologia A antracnose é causada pelo ascomiceto Elsinoe ampelina (de Bary)

Shear, que, na fase anamórfica, corresponde à espécie Sphaceloma ampelinum de Bary.

Elsinoe ampelina forma ascos em lóculos piriformes disseminados no ascocarpo estromático, com um asco por lóculo, cujas dimensões variam de 80-100 x 11-23 micra. O asco contém oito ascósporos pardos escuros, tetraseptados, com 29-35 x 4,5-7 micra. Os ascósporos são liberados pela desintegração do estroma, pois os lóculos são desprovidos de ostíolo. Nas condições paulistas, ainda não foi encontrada a fase sexuada do patógeno.

Na sua fase anamórfica, Sphaceloma ampelinum produz acérvulos sobre uma base estromática na periferia das lesões. Os acérvulos contêm conidióforos curtos e cilíndricos, nos quais se inserem os conídios ovóides e hialinos, com 3-6 x 2-8 micra. Os conídios apresentam nas extremidades dois pontos mais refrin-gentes e paredes mucilaginosas.

No final do verão e início do outono, os acérvulos deixam de se formar, aparecendo nos bordos dos cancros uma área escura, onde irão se desenvolver os escleródios, que são estruturas de sobrevivência do patógeno. Na primavera, se ocorrerem condições de umidade elevada por períodos de 24 horas e temperaturas superiores a 2ºC, os escleródios remanescentes nas lesões velhas germinam e produzem numerosos conídios. Essa esporulação, coincidindo com o início da brotação da videira, causará a infeção primária, se ocorrerem chuvas de, pelo menos 2 mm, suficientes para disseminar os conídios nos tecidos tenros e condições de, pelo menos, 12 horas de água livre persistirem para a infeção do hospedeiro.

Às vezes, a doença se desenvolve em infeções sucessivas, bem diferenciadas, pois o fungo precisa um período muito úmido para sua evolução, condição esta que só ocorre de vez em quando. Em anos muito chuvosos, as infeções se sobrepõem, dando a impressão de um desenvolvimento contínuo. Geralmente, porém, observa-se, ao longo dos sarmentos, zonas alternadamente sadias e doentes.

A infeção de hospedeiros pode ocorrer em temperaturas, que variam de 2oC a 32oC, quando, então, o período de incubação (tempo decorrido da infeção ao aparecimento dos sintomas) varia de 13 a 4 dias respectivamente. A temperatura ótima para o desenvolvimento da doença é de 24-26oC. O fungo sobrevive de um ano para outro nos restos de cultura deixados no vinhedo. Temperatura e umidade são os fatores climáticos que mais influenciam o desenvolvimento da doença, a qual é muito prejudicial em anos chuvosos.

9.1.1.2.4. Controle

Após a poda, devem-se queimar todos os restos de cultura, eliminando,

assim, fontes de inóculo e dificultando o início das infeções primárias. As adubações devem ser equilibradas, evitando-se o excesso de nitrogênio, que propicia a brotação excessiva da videira, favorecendo o desenvolvimento do

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parasita nos órgãos tenros da planta. O tronco da videira deve ser limpo com um pano áspero, descartando-se

e queimando-se as cascas soltas, que abrigam as estruturas do patógeno. A eliminação do excesso de folhas melhora o arejamento das plantas, sendo outro fator que ajuda no controle da antracnose. A instalação do vinhedo em terrenos secos também contribui para diminuir a umidade relativa próxima das folhas, favo-recendo o controle da doença.

Após a poda e a limpeza das plantas, providenciar, antes do início da brotação, o tratamento de inverno, que é uma prática essencial no programa de controle fitossanitário das pragas e doenças da cultura. Este tratamento, realizado durante o período de completa dormência da videira, consiste em pulverizar-se todos os troncos e ramos restantes da poda, até o ponto de escorrimento, com a calda sulfocálcica. A ação deste produto elimina micélios, esporos e outras estruturas de resistência de patógenos, além de insetos, retardando o início do ataque desses organismos. No mercado, não existem produtos específicos para o tratamento de inverno, de modo que a calda sulfocálcica voltou a ser utilizada. Esta calda pode ser preparada a baixo custo, pelo próprio produtor em sua propriedade.

Os ingredientes necessários são os seguintes: - 12,5 kg de cal virgem.

- 25 kg de enxofre em pó. - 100 litros de água.

O preparo da calda segue os seguintes passos: - em um tambor metálico de 200 litros, dissolver o enxofre com um

pouco de água quente, de modo a formar uma pasta. A adição de 20 ml de espalhante adesivo facilita a dissolução do enxofre; - completar o volume a 100 litros e acender o fogo sob o tambor; - ao iniciar-se a fervura, adicionar a cal virgem vagarosamente; - deixar ferver por aproximadamente 60 minutos, mexendo, constantemente, com uma pá de madeira. Durante esse tempo, ir adicionando água, de preferência já aquecida, de modo a manter o nível inicial da solução, uma vez que há perda por evaporação; - quando a calda passar da cor vermelha para parda avermelhada, estará pronta ; - deixar esfriar, coar em pano ou peneira fina de 0,8 mm de malha, dobrada; - acondicionar em recipientes de plástico ou vidro, bem vedados, e armazenadas em local escuro; - a densidade da calda pode ser determinada com o uso do densímetro ou areômetro de Beaumé, sendo considerada como boa, a calda que apresentar densidade entre 28 e 32º Bé, indicado diretamente pela escala do aparelho.

Para o uso da calda, deve-se levar em consideração as seguintes recomendações: - uma vez preparada, a calda deve ser usada dentro do prazo de um mês, pois perde a eficiência com o passar do tempo; - para a realização do tratamento de inverno, pulverizar as videiras com uma solução de calda sulfocálcica a 4º Beaumé (Tabela 9.1.1); - é recomendável a adição de espalhante adesivo, na proporção de 20 ml para cada 100 litros da calda já diluída; - 500 litros da calda diluída são suficientes para tratar perto de 2500 pés de videira da variedade Niagara Rosada; - a calda diluída deve ser totalmente consumida no mesmo dia. Se, por qualquer motivo, sua aplicação for interrompida, mesmo que por um dia, é aconselhável jogar fora a sobra; - após a aplicação, lavar bem o equipamento, para evitar a corrosão, usando uma

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solução, que contenha uma parte de vinagre e 10 partes de água; - tanto no preparo como na aplicação da calda sulfocálcica, seguir as normas recomendadas para o manuseio dos defensivos agrícolas em geral.

TABELA 9.1.1 - Volume de água a ser adicionada em um litro da solução concentrada da calda sulfocálcica para se obter 4º Beaumé

Água (L) 9,4 9,0 8,6 8,2 7,8 7,4 7,1 6,4 5,3 4,7 3,7

ºBé

inicial

33º 32º 31º 30º 29º 28º 27º 25º 22º 20º 17º

TABELA 9.1.2: Volume de água a ser adicionada em um litro da solução 32º Bé da calda sulfocálcica para se obter diferentes diluições

Água (litros)

2,7 a

3,0

3,2 a

3,4

3,7 a

3,9

4,4 a

4,6

5,4 a

5,8

6,7 a

6,9

8,5 a

9,2

11,8 a

12,1

18,3 a

18,6

33,1 a 34,1

ºBé final 10º 9º 8º 7º 6º 5º 4º 3º 2º 1º

Caso necessário, na Tabela 9.1.2, existem outras diluições para se obter diferentes ºBé, a partir de uma solução concentrada de 32ºBé. Pulverizações periódicas com fungicidas devem ser providenciadas. a partir da brotação. A calda bordalesa, preparada pelo viticultor na propriedade, ainda é muito utilizada.

A calda bordalesa normalmente é empregada a 0,5%, 1,0%, 1,5% ou 2,0%. Seu preparo segue os seguintes passos: - embala-se o sulfato de cobre num saco de pano e mergulha-se, sem tocar o fundo, num recipiente com 50 litros de água; - em outro recipiente, coloca-se a cal virgem com 50 litros de água, formando o leite de cal; - mistura-se, lentamente, numa terceira vasilha, os 50 litros de leite de cal com os 50 litros da solução de sulfato de cobre, inteiramente derretido, agitando a mistura com um bastão; - ao passar para o pulverizador, deve-se coar a mistura com um pano, para evitar-se entupimentos.

Deve-se verificar o pH da calda, antes da aplicação, pois quando ácida, pode causar queimaduras na planta. Esta operação é realizada com tiras de mata-borrão branco, embebida em solução alcoólica de fenolftaleína a 10% e depois secadas. Esta solução é vendida em qualquer farmácia. Coloca-se a ponta da tira na calda; se ela continuar branca, é porque a solução está ácida, necessitando de mais leite de cal. Se a tira ficar avermelhada, indicará uma calda neutra ou alcalina, podendo ser usada nas pulverizações. A calda deve ser usada no mesmo dia do preparo.

O controle da antracnose pode ser feito conjuntamente ao do míldio, conforme o programa de pulverizações com a calda bordalesa, esquematizado na Tabela 9.1.3. Os fungicidas recomendados para o controle dessa doença devem ser registrados para a cultura e indicados pelo receituário agronômico.

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TABELA 9.1.3 - Esquema de pulverizações com calda bordalesa para controle da antracnose e do míldio da videira

N.º de aplicações Dosagem Estádio fenológico da videira na aplicação

1 0,5 ou 1% primeira folha separada; estádio fenológico 5 (Figura

1)

2 1,5 ou 2% 14 dias após a 1ª aplicação

3 1,5 ou 2% inflorescência desenvolvida flores abertas; estádio fenológico 9

4 2% grão tamanho ervilha; estádio fenológico 12

5 2% 14 dias após a 4ª aplicação

6 2% início da maturação; estádio fenológico 16

7 2% pós-colheita, maturação dos sarmentos

0,5%: 0,5 kg sulfato de cobre, 0,5 kg cal virgem, 100 litros de água. 1%: 1 kg sulfato de cobre, 1 kg cal virgem, 100 litros de água. 1,5%: 1,5 kg sulfato de cobre, 1,5 kg cal virgem, 100 litros de água. 2%: 2 kg sulfato de cobre, 2 kg cal virgem, 100 litros de água.

A resistência à antracnose é poligênica e de caráter recessivo. A literatura registra como resistentes as variedades Seibel 5455, Seibel

5213, Seibel 5437, Seibel 4986, Bacco 22A, Seyve Villard 12413, Seyve Villard 23501 e as espécies Vitis shuttleworthii, Vitis gigas, Vitis rotundifolia, Vitis cinerea, Vitis cordifolia, Vitis riparia e Vitis labrusca. As muscadínias parecem ser imunes. Como tolerantes, são citadas a Isabel, Seibel 2, Seibel 1077 e Seibel 10146. Variedades altamente suscetíveis, como a Sultanina, Black Corinth, Itália, Niagara, Cardinal, Jacquez, Alphonse Lavallée, Moscatel de Alexandria, Sangiovese, Riesling do Reno, Cabernet e Merlot, não devem ser plantadas em terrenos úmidos, com pouca drenagem e sujeitos a ventos úmidos.

9.1.1.3. Míldio 9.1.1.3.1. Agente causal: - Plasmopara vitícola (Berk et Curtiss) Berlese

et De Toni O fungo Plasmopara vitícola é originário da América do Norte, onde, por

milhares de anos, atacou as videiras nativas dessa região. Durante esse tempo, a seleção natural produziu um equilíbrio entre o patógeno e o hospedeiro, de tal modo que o fungo vive sobre essas plantas sem afetá-las com severidade.

A filoxera, um pulgão da raiz da videira, também desenvolveu o mesmo tipo de equilíbrio com as Vitis americanas cujas raízes são, portanto, pouco afetadas pela praga. Por volta de 1865, a filoxera foi introduzida nos vinhedos franceses, cujas variedades, pertencentes à espécie Vitis vinifera, mostraram-se extremamente suscetíveis à praga. O problema foi resolvido com a introdução das videiras americanas, resistentes para servirem de porta-enxertos às Vitis européias.

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Junto com o material importado, introduziram o fungo Plasmopara vitícola, que passou a afetar os vinhedos que estavam começando a se recuperar do surto filoxérico. A severidade do ataque, principalmente em anos úmidos, destruía os vinhedos e, em fins da década de 1870, a uva e a indústria francesa de vinho pareciam condenadas ao desaparecimento, pois os fungicidas ainda eram desconhecidos. Foi, então, que, em 1882, o professor Alexis Millardet, da Universidade de Bordéus, descobriu, casualmente, a ação fungicida do cobre, ao observar a ausência do míldio nas linhas de videira que limitavam os caminhos. Verificou que elas haviam sido pulverizadas com uma mistura de sulfato de cobre e cal, para evitar que estranhos comessem as uvas, pois pareciam estar envenenadas. Com base nesta observação, Millardet elaborou a calda bordalesa, primeiro fungicida utilizado no controle das enfermidades das plantas. A primeira constatação do míldio no Brasil foi em 1891, nas parreiras existentes no Instituto Agronômico de Campinas. Coube também aos pesquisadores do IAC a realização dos primeiros trabalhos de controle da doença com caldas cúpricas.

9.1.1.3.2. Sintomas

Afeta todos os órgãos verdes da videira, tais como folhas, flores,

gavinhas, gemas, bagas, antes da maturação, e ramos não maduros. Durante seu ciclo, a videira não apresenta a mesma sensibilidade, existindo os estádios mais sensíveis. Sendo assim, as folhas muito novas e pequenas não são afetadas, o mesmo ocorrendo com as folhas adultas e maduras.

Nas folhas, o primeiro sintoma refere-se a pequenas áreas descoloridas de aspecto oleoso observável por transparência contra luz na página superior. Este sintoma, resultante do encharcamento do mesófilo foliar, é denominado de “mancha de óleo”. Em correspondência a cada “mancha de óleo”, em condições de alta umidade, aparece, na página inferior da folha, um crescimento branco, de aspecto cotonoso, representado pelas frutificações do fungo. Este sintoma é denominado de “mancha mofo”. Com a evolução dos sintomas, os tecidos atacados tornam-se castanhos e secam. A desfolha é intensa e, devido à falta da fotossíntese, as bagas e os ramos não amadurecem, com reflexos negativos na produção.

A cada novo período de chuva, ocorre o aparecimento de novas manchas, terminando pela destruição total do vinhedo. A incidência do míldio nos ramos é mais rara. Quando atacados, porém, eles se deformam, adquirindo a forma de uma letra S, vegetam fracamente, perdem suas folhas, secam e morrem. Se sobrevivem, originam brotos fracos, quando podados. Observa-se, no outono, estrias longitudinais negras nos entrenós. Os brotos tenros apresentam uma coloração escura, sobre a qual se desenvolve a eflorescência branca do fungo.

Todas as partes do cacho são atacadas: pedúnculos, pedicelos, botões e bagas. Quando o pedúnculo é afetado, as flores secam e caem, pois o micélio que progride impede a circulação da seiva. Se a incidência do fungo ocorrer nas bagas, ainda muito jovens, logo após a fertilização, elas ficam recobertas inteiramente de um pó acinzentado, formado pelos conidióforos do patógeno. É a chamada “podridão cinzenta”. Neste caso, o patógeno penetra diretamente

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pela epiderme, acarretando a queda do frutinho. Quando as bagas atacadas são maiores, com a casca mais espessa, apresentam uma coloração castanha a violeta, conforme a variedade, sem o aparecimento das estruturas do patógeno. É a “podridão parda”. A penetração ocorre pelo pedicelo, e os frutos ficam enrugados e se destacam da ráquis com facilidade. A partir do começo da maturação, as bagas não são mais suscetíveis.

9.1.1.3.3. Etiologia O agente do míldio da videira é um parasita obrigatório que, para se

desenvolver, necessita de material vivo do hospedeiro. Pertence à classe dos Oomycetes, que engloba os fungos que se reproduzem assexuadamente por meio de zoósporos biflagelados. Apresenta micélio tubular, não septado, com 8-10 micra de diâmetro, ramificado e dotado de órgãos de sucção globosos (haustórios), distribuídos irregularmente e medindo de 4-10 micra de diâmetro. Por meio dos haustórios, o patógeno retira diretamente das células do hospedeiro os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento. O micélio permanece intercelular, até o momento da reprodução assexuada, quando filamentos passam pelo ostíolo do estômato para o exterior da folha, normalmente no período noturno. São os esporangióforos, em número de 4 a 5 por estômato, medindo 140-250 micra de comprimento, podendo chegar até 1000 micra. São ramificados no terço superior, com aspecto de um arbusto. Nessas ramificações, formam-se os esporângios ovalados e hialinos. Considera-se a existência de três tipos de esporângios:

- esporângios comuns (14 x 20 micra) formados em esporangióforos, muito ramificados, que, ao germinarem, originam de 1 a 6 zoósporos (4-5 x 7,0 micra), biflagelados; - macroesporângio (25 x 36 micra), situados sobre um esporangióforo curto, não ramificado, originando de 8 a 14 zoósporos; - megaloesporângio, maior do que o anterior, suportado por um esporangióforo extremamente curto.

A esporulação do fungo exige elevada umidade relativa (95-100%) e temperatura de 18 - 22ºC. Os esporângios são disseminados pelos ventos e respingos de chuva e, quando em contato com a água livre, liberam zoósporos. Essas estruturas apresentam a forma de uma pêra ou rim, providos de dois flagelos, inseridos lateralmente e possibilitando sua locomoção durante 15-30 minutos na água depositada sobre as folhas. A seguir perdem seus flagelos, imobilizam-se, encistam-se, após o que emitem um tubo germinativo, que penetra no hospedeiro através do ostíolo do estômato, abundantes na página inferior das folhas. Dentro do hospedeiro, o micélio desenvolve-se intercelularmente, emitindo haustórios, que extraem os alimentos de dentro das células. Após um período variável, em torno de 7-10 dias, aparecem nas folhas infectadas as manchas de óleo na página superior e a eflorescência branca na página inferior. Esta fase, chamada de ciclo secundário, pode-se repetir várias vezes, se as condições climáticas forem favoráveis, levando à destruição do vinhedo, pela disseminação dos esporângios pela chuva e pelo vento entre as plantas. Os esporângios podem ser disseminados a até 100 km de distância pelo vento.

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Na fase de esporulação, o fungo é extremamente sensível às condições meteorológicas e se, ocorrerem períodos secos, com temperaturas ao redor de 30ºC, a vitalidade dos esporângios é drasticamente reduzida. No inverno, na ausência dos órgãos suscetíveis do hospedeiro, o míldio sobrevive na forma de esporos sexuais de resistência, denominados oósporos, dentro dos tecidos do hospedeiro, principalmente nas junções das nervuras das folhas. O oósporo é formado pela fusão de um oogônio com o conteúdo de um anterídio, formando um núcleo diplóide 2,5 vezes maior do que núcleos haplóides, resultando sempre um oósporo, por oogônio. Os oósporos são corpos arredondados, com centro claro e coloração parda avermelhada, envoltos por uma membrana delgada, que se espessa no inverno. Seu diâmetro é de 30-40 micra.

Quando advêm condições de alta umidade e alta temperatura na primavera, os oósporos, quer no solo, quer em fragmentos dos tecidos do hospedeiro, germinam, inicialmente emitindo um tubo germinativo. A extremidade deste tubo apresenta um entumescimento, originando um macroesporângio piriforme (23-27 x 31- 41 micra), no qual se acumula o citoplasma. Forma-se um septo, que separa o macroesporângio do tubo germinativo. Através dos ventos ou respingos de chuvas, são levados para as folhas tenras das videiras em brotação, principalmente próximas do solo. Seu conteúdo passa a sofrer numerosas divisões, formando os zoósporos em número de 30-56 por macroesporângio e, conforme já descrito, penetram no hospedeiro, dando origem ao ciclo primário da doença.

9.1.1.3.4. Controle

As medidas de controle recomendadas, anteriormente citadas, para a

antracnose aplicam-se também ao míldio. O tratamento de inverno com calda sulfocálcica seria a primeira medida a ser adotada num esquema de controle. Concomitantemente, devem-se aplicar as práticas culturais preventivas, tais como manter o solo do vinhedo sempre bem drenado, manter o potencial de inóculo sempre em níveis baixos, através da eliminação dos restos de cultura do ciclo anterior; possibilitar boa circulação de ar, por meio do espaçamento e da poda, de modo a criar um microclima menos úmido, diminuindo assim as chances de infeções secundárias.

Qualquer medida de controle para o míldio deve ser complementada, com a aplicação de fungicidas. Dentre os produtos tradicionais, têm-se a calda bordalesa que é, como já foi visto no controle da antracnose, uma mistura de sulfato de cobre e cal virgem.

Com algumas modificações, pode-se preparar uma solução estoque desse fungicida, para ser usada no mesmo dia, não devendo ser armazenada. Seu preparo segue a receita a seguir:

- dissolver 5 kg de sulfato de cobre em 20 litros de água quente; - queimar 5 kg de cal virgem em 20 litros de água fria; - num tanque ou tambor de 100 litros, ou mais, colocar a solução de sulfato de cobre; - a seguir, ir juntando o leite de cal, lentamente, até sua viragem, quando a calda bordalesa deixa de ser ácida. Para isso, usa-se um indicador de viragem, como papel de tornassol vermelho. Quando este apresentar coloração azulada, a calda estará no ponto, ou seja, neutra; usando-se papel de fenolftaleína, esse passa da cor branca para

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avermelhada; - nesse ponto, completar a solução até 100 litros de água. Nas pulverizações devem-se usar 10 litros desta solução estoque,

diluída em 90 litros de água. Consegue-se, assim, uma solução a 0,5%. Essa solução deverá ser pulverizada, principalmente nos cachos, para prevenir o ataque do míldio e dar mais resistência à epiderme dos frutos antes da colheita.

O tratamento com fungicidas pode ser preventivo e curativo. O tratamento preventivo é realizado com fungicidas não sistêmicos que são fungitóxicos à Plasmopara e evitam o aparecimento de raças resistentes ao princípio ativo do defensivo. Somente os órgãos tratados são protegidos, e a eficácia do tratamento perdura por 7 a 10 dias, em condições de clima seco. Um fungicida não sistêmico penetrante, bastante eficaz contra o míldio, é o cymoxanil. Ele penetra nos órgãos tratados, aumentando a eficácia de outros fungicidas não sistêmicos combinados com ele. Entretanto, a principal vantagem do cymoxanil é sua capacidade de agir de modo curativo, mesmo após dois a três dias de um período de infeção. Duas classes de fungicidas sistêmicos são efetivos no controle do míldio: o fosetyl alumínio e as fenilamidas (ou anilidas). Esses produtos penetram na planta e têm como principais vantagens o fato de não ser lavados pelas chuvas, o tratamento ser curativo e a vegetação formada após o tratamento continuar protegida. As fenilamidas (benalaxyl, meta-laxyl, oxadixyl) são muito efetivas, porém, específicas para Plasmopara vitícola. O uso destes fungicidas deve-se restringir a duas ou três aplicações anuais e em mistura com fungicidas não sistêmicos, para evitar o aparecimento de raças resistentes pelo uso continuado de um único princípio ativo sistêmico.

Em outros países, principalmente nos Estados Unidos e Europa, uma rede de estações de aviso permite um controle racional do míldio e outras doenças. Essas estações, baseadas em variáveis climáticas, avisam aos viticultores o momento em que deve ser feita a pulverização, obtendo assim a máxima eficiência de controle com um gasto mínimo. Trabalhos nessa área ainda estão no início em condições brasileiras, onde as pulverizações são baseadas em datas preestabelecidas, o que implica excesso de pulverizações e conseqüente elevação no custo de produção.

Os produtos recomendados para o controle do míldio devem ser os registrados para a cultura e encontrados nas casas especializadas. Os estádios fenológicos de maior suscetibilidade da videira vão de 2 a 15 (Figuras 9.1.8a – a 9.1.8f). Os híbridos americanos de videira, como a Niagara, são mais resistentes do que as variedades européias de Vitis vinifera. Algumas espécies de Vitis apresentam alto nível de resistência ou imunidade, tais como a Vitis simpsoni, Vitis tiliaefolia e Vitis gigas.

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9.1.1.4. Oídio

9.1.1.4.1. Agente causal: - Uncinula necator (Schw.) Burril (Oidium tuckeri Berk.)

O oídio é originário da América do Norte, onde foi descrito em 1834. O

patógeno causa poucos danos nas videiras nativas americanas. Porém ganhou destaque quando foi assinalado, em 1845, na Inglaterra. Daí atingiu a França, dois anos após, cuja produção de uvas caiu para 20% em 1854.

Os pesquisadores da época verificaram a semelhança entre esta doença da videira e uma outra do pessegueiro, cujo controle era feito com uma mistura de enxofre, cálcio e água. Essa observação permitiu o desenvolvimento de estudos, que levaram ao controle do oídio da videira, através do polvilhamento com enxofre, salvando a indústria vinícola francesa. No Brasil, o patógeno foi introduzido por intermédio das castas americanas em fins do século 19. Atualmente, o patógeno acha-se disseminado em todas as áreas vinícolas do mundo.

9.1.1.4.2. Sintomas

As partes verdes e tenras das plantas são as mais atacadas. As folhas

não se desenvolvem normalmente e ficam deformadas. O patógeno afeta apenas as células epidérmicas do hospedeiro, as quais morrem causando deformações pelo crescimento do tecido sadio. As gemas infectadas originam ramos curtos, nos quais são observadas manchas de coloração parda, o mesmo ocorrendo no limbo foliar.

Flores atacadas caem, não havendo a frutificação. Bagas pequenas dessecam e caem, e as maiores racham deixando à mostra as sementes. Nessas condições, outros fungos atacam, causando o apodrecimento do cacho. Todos os órgãos atacados ficam recobertos por um crescimento pulverulento, cinza claro, constituído pelo micélio, conidióforos e conídios do patógeno. Sob este crescimento, o tecido do hospedeiro apresenta manchas pardas escuras.

9.1.1.4.3. Etiologia

O oídio da videira é causado pelo ascomiceto Uncinula necator (Schw.)

Burril, pertencente à família Erysiphaceae, ordem Erysiphales. Na sua fase anamórfica, recebe o nome de Oidium tuckeri Berk. É um parasita obrigatório da família Vitaceae, que ataca os gêneros Ampelopsis, Cissus, Parthenocissus e Vitis.

Forma um micélio superficial e hialino, com 4 a 5 micra de diâmetro. Nos pontos de contato com a epiderme do hospedeiro, emite haustórios, que penetram nas células superficiais para extrair os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento. As hifas superficiais emitem os conidióforos multiseptados, de comprimento variável (10-400 micra), eretos e sem ramificações nas extremidades, dos quais se formam conídios hialinos, cilindro — ovalados, em cadeia, medindo 27-47 x 14-21 micra. Em condições de campo, as cadeias apresentam de 3 a 5 conídios, facilmente disseminados pelo vento para outras

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partes da planta e do vinhedo, ocasionando as infeções secundárias. Os conídios formam-se em grande quantidade nos órgãos atacados, dando-lhes o aspecto de estarem recobertos por um fino pó branco.

Sobrevive no inverno, na forma de micélio ou esporos nas gemas ou sarmentos, ou sob a forma de peritécios, denominados cleistotécios. Os cleistotécios são corpos de frutificação da fase sexuada do fungo. São globosos, 84-105 micra de diâmetro, inicialmente amarelos e depois castanhos. Sua superfície é provida de apêndices filiformes, cujos extremos estão retorcidos em forma de gancho ou espiral, em número variável de 7 a 15, hialinos, não ramificados.

Os cleistotécios formam-se principalmente na face inferior da folha, contendo cada um 4,6 ou raramente 8 ascas, ovaladas, medindo 50-60 x 25-40 micra. As ascas contêm 4 a 8 ascósporos elipsóides (20 x 10 micra). Na primavera, os cleistotécios fendem-se, liberando os ascos e os ascósporos. Estes germinam rapidamente (4-5 horas) em temperatura superior a 12ºC, originando um micélio que estende suas ramificações sobre os órgãos da videira. Os conídios podem germinar com umidade relativa de 25%, sem necessidade de água condensada na forma líquida. A temperatura ideal para este fungo está em torno de 25-28ºC, podendo, porém, apresentar germinação dos seus esporos em temperaturas de até 4-5ºC ou 35ºC. Podem suportar temperaturas inferiores a 0ºC, mas não resistem a níveis superiores a 35ºC.

A luz difusa favorece a germinação e o desenvolvimento do patógeno, enquanto que a luz solar direta tem efeito prejudicial. Chuvas fortes são prejudiciais, pois eliminam os conídios da superfície do hospedeiro, além de destruírem o micélio. Como os cleistotécios são poucos, a principal fonte de inóculo para o reaparecimento da doença, na primavera, são os micélios hibernantes nas gemas atacadas e que originarão os focos primários, a partir dos quais a disseminação do parasita se efetuará no vinhedo.

9.1.1.4.4. Controle

Os tratamentos de inverno com calda sulfocálcica e a eliminação dos

restos de cultura auxiliam na redução do inóculo inicial. A instalação de vinhedo em lugares onde haja uma boa circulação de ar e uma boa exposição ao sol é medida recomendada, bem como um sistema de condução que permita pouco sombreamento às plantas.

A principal medida de controle nos vinhedos comerciais é feita por meio do uso de fungicidas, principalmente à base de enxofre, que é mundialmente utilizado pelo seu baixo custo e elevada eficácia. Em regiões de clima seco, o polvilhamento é mais indicado, devido à sua baixa persistência na presença de chuvas. Em regiões chuvosas, recomendam-se as pulverizações com as formulações de pó molhável, devido à sua maior aderência às superfícies tratadas. A atividade fungicida do enxofre está associada à sua fase de vapor. A produção de vapor e sua efetividade dependem do tipo de enxofre utilizado e das condições ambientais, especialmente a temperatura. A faixa de temperatura ótima para a eficiência do enxofre está entre 25ºC a 30ºC, sendo sua atividade comprometida abaixo de 18ºC. Em temperaturas acima de 30ºC, o produto é extremamente fitotóxico, não devendo ser usado.

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Alguns fungicidas sistêmicos dão um excelente controle do oídio, tais como benomil, tiofanato metílico, fenarimol e triadimefon. São curativos, podendo ser utilizados após o aparecimento dos primeiros sintomas da doença. Em regiões de clima quente, não se recomenda empregar unicamente fungicidas sistêmicos, devido ao aparecimento de raças resistentes a esses produtos.

No Brasil, deve-se seguir o receituário agronômico na utilização dos fungicidas recomendados para o controle do oídio. Os estádios fenológicos de maior suscetibilidade vão do 6 a 15 (Figuras 9.1.8a – 9.1.8f). Com relação à resistência varietal, a espécie Vitis vinifera, onde se incluem as melhores variedades de mesa e vinho existentes, é altamente suscetível. As espécies americanas, tais como Vitis cinerea, Vitis labrusca, Vitis riparia e Vitis rupestris são menos atacadas pelo oídio.

9.1.1.5. Caracteres diferenciais entre míldio e oídio

• O oídio apresenta micélio na superfície do hospedeiro e, no míldio o

micélio, penetra no interior dos tecidos, só aparecendo no exterior os órgãos de frutificação (esporangióforos).

• As manchas causadas pelo oídio só são visíveis do lado onde se desenvolve o patógeno, enquanto que as do míldio são observáveis em ambas as faces da folha (mancha de óleo), isto é, são translúcidas.

• O oídio apresenta uma coloração branca acinzentada, enquanto que o míldio mostra-se branco brilhante.

• A massa pulverulenta que recobre os tecidos atacados pelo oídio é facilmente raspada com os dedos, deixando à mostra as manchas escuras na epiderme, fato este que não se observa nos tecidos invadidos pelo míldio.

• De maneira geral, o oídio ocorre na página superior das folhas e o míldio na página inferior.

9.1.1.6. Mancha das folhas 9.1.1.6.1. Agente causal: - Mycosphaerella personata Higgins

(Pseudocercospora vitis (Lev.) Spreg. sinonímia: Isariopsis clavispora (Berk. et Curt.) Sacc.).

Este patógeno, provavelmente, é originário da América do Norte e

citado nos vinhedos paulistas desde 1888, incidindo nas Vitis americanas. É uma doença que ocorre no fim do ciclo da videira, após a colheita, quando as pulverizações com fungicidas são reduzidas ou suspensas. Causa uma severa defoliação em anos úmidos, se não for controlada. Ocorre nas regiões produtoras localizadas em clima quente, principalmente nas variedades americanas de videira, não tendo sido, porém, reportada sobre uvas muscadínias.

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9.1.1.6.2. Sintomas Causa manchas foliares irregulares a angulares com 2 a 20 mm de

diâmetro. São inicialmente avermelhadas e, mais tarde, escurecem, circundadas por um halo amarelado visível por transparência. Na página inferior da folha, observa-se, com uma lente de pequeno aumento, os conidióforos agregados em tufos de coloração verde oliva, coloração esta que se estende às manchas. As lesões necróticas ocupam grandes áreas do limbo foliar que, após a colheita, causam uma acentuada queda das folhas. Como conseqüência, a videira torna a brotar, brotação esta que será eliminada na poda, enfraquecendo a planta e reduzindo a produção seguinte.

9.1.1.6.3. Etiologia

A mancha das folhas é causada pelo Mycosphaerella personata

Higgins, cuja fase anamórfica corresponde à espécie Pseudocercospora vitis (Lev.) Spreg., sinonímia de Isariopsis clavispora (Berk. et Curt.) Sacc. Os conidióforos estão agregados em feixes (sinema), com 200-500 micra de comprimento. Os conídios são alongados, coloração verde-oliva, com 25-99 x 4-8 micra de comprimento, com 3 a 17 septos. Os peritécios são esféricos, com 60-90 micra de diâmetro, negros, abrigando ascos clavados, com 30-40 x 6-10 micra. Ascósporos com 10-20 x 2,5-3,6 micra.

9.1.1.6.4. Controle

O controle desta doença é feito indiretamente pelo controle da

antracnose e míldio. Após a colheita, é recomendável que se façam algumas pulverizações com os fungicidas registrados para a cultura, de modo a manter a folhagem da videira pelo maior tempo possível. Alguns produtos dão um excelente controle desta moléstia. Pulverizações durante o ciclo da videira com tiofanato metílico a 20% + clorotalonil a 50% mantiveram o patógeno sob controle por 72 dias, após a última aplicação. Como conseqüência, as plantas mantiveram um bom enfolhamento por todo este tempo, evitando as brotações extemporâneas da videira. Com relação à resistência varietal, observa-se a extrema suscetibilidade das variedades Niagara, Isabel, Concord, Catawba e outras castas de Vitis labrusca ou híbridos desta. As variedades da espécie Vitis vinifera apresentam resistência a esta doença.

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9.1.1.7. Podridão amarga

9.1.1.7.1. Agente causal: - Greeneria uvicola (Berk. et Curt.) Punithalingam (sinonímia: Melanconium fuligineum (Scribner et Viala) Cav.).

A podridão amarga é originária dos Estados Unidos, onde é conhecida

desde 1850. Afeta a maioria das espécies do gênero Vitis. É um fungo patogênico fraco, que ataca tecidos danificados ou próximos da senescência, sob condições climáticas quentes e úmidas. Porém, é uma preocupante doença para as uvas muscadínias, que englobam espécies utilizadas no programa de melho-ramento para resistência ao míldio, como Vitis rotundifolia, Vitis munsoniana e Vitis popenoei.

9.1.1.7.2. Sintomatologia

Afeta as bagas através do pedicelo, no início da maturação,

continuando seu desenvolvimento no armazenamento e comercialização da uva. Os frutos atacados apresentam pontuações negras em círculos concêntricos, representadas pelos acérvulos do fungo. Em condições de alta umidade e alta temperatura, os acérvulos rompem-se expondo uma massa negra, compacta e mucilaginosa de conídios. As bagas doentes apodrecem e caem e, se experimentadas, apresentam sabor amargo. O engaço pode ser atacado, causando um enrugamento das bagas e posterior queda.

9.1.1.7.3. Etiologia

A podridão amarga é causada pelo fungo Greeneria uvicola (Berk. et

Curt.) Punithalingam (sinonímia: Melanconium fuligineum (Scribner et Viala) Cav.). Apresenta acérvulos em média, com 250 micra de diâmetro, com deiscência irregular. Os conidióforos, com dimensões de 30 x 3 micra, são escuros, septados e ramificados irregularmente. Os conídios também são escuros, não septados, cilíndricos e ovais, com a base truncada. A fase sexual deste fungo ainda é desconhecida.

O fungo sobrevive saprofiticamente no vinhedo,? nos restos de cultura como folhas, bagas e em tecidos senescentes. Após o florescimento, o patógeno invade as células mortas do pecíolo, onde permanece dormente até o início da maturação, quando invade a baga e esporula em quatro dias. Os esporos produzidos são disseminados pelas respingos de chuva para outras partes do cacho e da planta. Qualquer ferimento nas bagas, causado por injúria mecânica, ataque de insetos ou de passarinho e rachadura de baga por excesso de chuva, favorecem a penetração do patógeno e o desenvolvimento da doença. A infeção ocorre a partir de 12ºC, com um ótimo na faixa de 28-30ºC. O desenvolvimento de micélio é inibido acima de 36ºC.

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9.1.1.7.4. Controle

As práticas culturais e as pulverizações adotadas para o controle da antracnose e do míldio evitam a ocorrência da podridão amarga. Em outros países, os fungicidas captan, ferbam e maneb são eficientes no controle desta doença. Para as condições brasileiras, os fungicidas recomendados devem ser os registrados para a cultura.

9.1.1.8. Podridão da uva madura

9.1.1.8.1. Agente causal: - Glomerella cingulata (Stonem.) Spa uld. et Schrenk (Colletotrichum) gloeosporioides (Penz.) Penz. et Sacc.

Como ocorre com a podridão amarga, esta é também uma doença prejudicial para as uvas muscadínias. Regiões quentes e úmidas favorecem

seu desenvolvimento. Além da uva, numerosas outras frutas, em amadurecimento, são atacadas por este fungo.

9.1.1.8.2. Sintomas

Os sintomas são semelhantes à podridão amarga. As bagas afetadas

apresentam manchas pardas avermelhadas, circulares, que acabam envolvendo todo o órgão. O fruto apodrecido recobre-se com uma massa mucilaginosa de conídios de coloração rosada, diferenciando-se, neste ponto, da podridão amarga. Os frutos afetados ficam com a película rosada e caem com facilidade.

9.1.1.8.3. Etiologia

A podridão da uva madura é causada pelo ascomiceto Glomerella

cingulata (Stonem.) Spauld. et Schrenk, cuja fase anamórfica corresponde ao Colletotrichum gloeosporioides (Penz.) Penz. et Sacc. Os peritécios são subesféricos e imersos no estroma. Apresenta ascos clavados, pedunculados, com 42-60 x 10-12 micra de comprimento. Os ascósporos são alantóides, hialinos, medindo 12-24 x 4-6 micra, e os acérvulos são subepidérmicos e dispostos em círculos.

Os conídios são hialinos, ligeiramente curvados, com dimensões que variam de 12-21 x 3,5-6 micra, com as extremidades arredondadas. Estão envolvidos por uma substância mucilaginosa, rosada, solúvel em água e que impede sua germinação. O fungo sobrevive na forma de micélio dormente nas lesões dos ramos, frutos mumificados e pedicelos infectados. O inóculo primário é produzido, quando condições de temperatura e umidade favoráveis ocorrem, advindo uma intensa produção de esporos. A água dilui a massa mucilaginosa, disseminando os conídios aptos a germinar. Após a germinação, forma-se um apressório, que penetra diretamente pela cutícula dos frutos e que são suscetíveis em qualquer estádio fenológico. Ao amadurecer, os frutos infectados mostram os sintomas típicos da doença, com produção de esporos

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nas lesões, disseminação pela água da chuva e novas infeções, reiniciando o ciclo da doença

A fase ascógena tem pouca importância no ciclo da doença, sendo, porém, responsável pelos processos que levam à variabilidade genética do patógeno. Temperaturas em torno de 25ºC a 30ºC e umidade elevada favorecem o desenvolvimento da doença.

9.1.1.8.4. Controle

Um bom controle das doenças anteriores também reduz os danos

dessa podridão. Tratamentos de inverno, remoção de frutos mumificados e restos de cultura reduzem consideravelmente o início do ataque. Em outros países, obtém-se um bom controle pela pulverização dos cachos com maneb. No Brasil, deve-se seguir o receituário agronômico no uso dos fungicidas para o controle dessa doença.

9.1.1.9. Podridão-negra

9.1.1.9.1. Agente causal: - Guignardia bidwellii (Ellis) Viala et Ravaz (Phyllosticta ampelicida (Engleman) Van der Aa).

É uma importante doença da videira na maioria das regiões

produtoras. Para as condições do Estado de São Paulo, ainda não assumiu importância econômica. É originária dos Estados Unidos, tendo sido a última doença, a que se deu importância, introduzida na Europa em 1885.

9.1.1.9.2. Sintomas Ataca todos os órgãos verdes da videira. Nas folhas, produz manchas

irregulares, com centro castanho, bordas perfeitamente delimitadas por uma margem avermelhada, variando de alguns milímetros até 1cm de diâmetro e, em cujo interior, aparecem pequenos pontos negros, representados pelos corpos de frutificação do patógeno, às vezes, dispostos em círculos concêntricos. São os picnídios. Nos ramos, formam manchas ovaladas e alongadas, seguindo o eixo do ramo. São deprimidas e podem rachar, formando cancros de coloração escura. As gavinhas atacadas podem secar, bem como o engaço. As bagas adquirem uma coloração característica amarela-clara, com aspecto ressequido. A seguir, recobrem-se de pontuações negras (picnídios), enrugam-se, enegrecem e aderem fortemente no engaço. Folhas maduras e frutos sazonados não são afetados.

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9.1.1.9.3. Etiologia A podridão negra é causada pelo ascomiceto Guignardia bidwellii

(Ellis) Viala et Ravaz, cuja fase anamórfica corresponde a Phyllosticta ampelicida (Engleman) Van der Aa.

Um ascósporo, proveniente de um asco invernante, germina na primavera e penetra no hospedeiro diretamente pela cutícula, desenvolvendo-se intercelularmente, provocando hipertrofias e morte das células. As hifas enovelam-se, diferenciando os picnídios. Os micropicnídios são esféricos, negros, com 150-200 micra de diâmetro. Os conídios são hialinos, não septados, ovóides, com extremidades arredondadas, medindo 5,5 x 0,7 micra e formados em esterígmas. Não se sabe exatamente o papel que exercem na biologia do fungo. Os picnídios têm o mesmo aspecto dos micropicnídios, porém com conídios maiores, medindo 8-9,5 x 4,5-5 micra. Estes podem provocar infeções secundárias. O desenvolvimento do parasita continua, formando-se os peritécios, que não produzem ascos durante o inverno para produzi-los no final da primavera. Os ascos contêm 8 ascósporos, hialinos, unicelulares, piriformes, medindo 12-14 x 6-7 micra. Os ascósporos requerem água livre para sua germinação e, a 27ºC, germinam em menos de 6 horas. As temperaturas limites são de 10-32ºC, fora das quais não ocorre a infeção.

9.1.1.9.4. Controle Em outros países, recomenda-se a pulverização com fungicidas

protetores, como maneb ou ferban, iniciando o tratamento quando os brotos atingirem 10-16 cm de comprimento e terminando quando as bagas iniciarem o processo de maturação. Medidas culturais aplicadas às outras podridões também são recomendadas para essa doença. Para o caso do Brasil, os fungicidas recomendados são aqueles indicados pelo receituário agronômico.

9.1.1.10. Mofo cinzento

9.1.1.10.1. Agente causal: - Botryotinia fuckeliana (de Bary) Whetzel (Botrytis cinerea Pers.)

É uma doença cosmopolita. Reduz a produção do vinhedo e a

qualidade da fruta e do vinho gerado. Convém salientar que, em determinadas condições climáticas, associadas a cultivares específicas, esse fungo produz a chamada "podridão nobre". Essa podridão é benéfica e contribui para a produção de vinhos brancos de excelente qualidade, como os produzidos na Alemanha e conhecidos como Auslese, Beerenauslese e Trockenbeerenauslese.

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9.1.1.10.2. Sintomas Nas bordas das folhas, aparecem manchas necróticas extensas, com

limites difusos, dando aspecto de queimadura. Nos ramos herbáceos, observam-se manchas castanhas recobertas por um feltro cinza, constituído pelas estruturas do fungo. Na baga, aparecem pequenas manchas circulares, ligeiramente claras, desprendendo a película, deixando a polpa da uva exposta. Depois que a infeção desenvolveu-se durante 5-7 dias, o fungo crescerá através das rachaduras das películas das bagas e produzirá grandes massas de esporos, desde cinzentas até com colorações opacas. É nessa etapa que a doença se chama mofo cinzento. Ferimentos causados na videira por diferentes agentes (ataque de pragas, granizo) favorecem a infeção de Botrytis.

9.1.1.10.3. Etiologia

A doença é causada pelo fungo ascomiceto Botryotinia fuckeliana (de Bary) Whetzel, do qual somente a forma conidial, Botrytis cinerea Pers. é observada nos vinhedos. O esporo, ao germinar, emite um micélio septado, ramificado e sem haustórios. Em ambiente seco e ameno não forma conidióforos e, em outras condições, são muito numerosos e pouco ramificados, septados e hialinos no ápice e escuros na base. Célula apical mais desenvolvida contém um cacho de conídios ovóides ou globosos, unicelular, medindo 10-12 x 8-10 micra e coloração cinza. No fim do ciclo da videira, formam-se os escleródios, com dimensões que variam de 2-4 x 1-3 mm, negros, em forma de disco e firmemente presos ao substrato. Na primavera seguinte, produzem conidióforos, sem passar pela fase ascógena. Raramente, produzem os apotécios, que carregam os ascos com 8 ascósporos.

9.1.1.10.4. Controle

O controle dessa doença deve ser feito através de uma combinação de

práticas culturais e pulverizações com fungicidas. Nas práticas culturais, deve-se evitar a utilização de porta-enxertos que induzam excessiva vegetação da planta; as adubações nitrogenadas devem ser equilibradas; a parreira deve ser conduzida de modo a propiciar uma eficiente aeração e insolação dos cachos, eliminando o excesso de folhagem, principalmente ao seu redor. Ferimentos nas bagas devem ser evitados, controlando os insetos e as doenças capazes de causar essas injúrias. Deve-se providenciar o desbaste adequado dos cachos, evitando sua compactação, propiciando assim um melhor alcance dos fungicidas no seu interior.

O controle químico é efetuado por meio de 4 pulverizações, com fungicidas nos estádios fenológicos 11, 13 e 16 e três semanas antes da colheita. Os produtos recomendados para o controle dessa doença são os indicados pelo receituário agronômico.

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9.1.11. Declínio da videira

9.1.1.11.1. Agente causal: - Eutypa lata (Pers.: Fr) Tul. et c. Tul. Libertella blepharis A. L. Smith)

O declínio da videira tem sido, nos últimos anos, a principal doença

desta cultura, em algumas regiões do município de Jundiaí, SP, principalmente sobre a variedade Niagara Rosada. Essa doença, observada a partir do fim da década de 1970, já causou enormes prejuízos, afetando cerca de 20% das plantas da área atingida, num total de mais de 400 mil plantas.

9.1.1.11.2. Sintomas O primeiro sintoma apresentado por uma planta doente é o

encurtamento dos internódios. Estes internódios são mais curtos quanto mais próximos estiverem do cordão esporonado. Pode ou não ocorrer o secamento das folhas basais desses ramos. Esse secamento inicia-se a partir da borda das folhas. Com a poda anual, os ramos com internódios curtos são eliminados, e os sintomas aparecem nos ramos novos da próxima brotação com maior intensidade. A partir do 3º ano, após a infeção, os brotos que aparecem após a poda ficam pequenos, com numerosos internódios curtos, folhas pequenas e deformadas. Essas folhas apresentam um bronzeamento das bordas, cuja evolução leva ao seu secamento. Devido ao grande número de brotos, o ramo apresenta-se com um superbrotamento. Observa-se, nas plantas atacadas, uma brotação generalizada do porta-enxerto. A partir do ponto onde se iniciou a infeção, ocorre uma podridão seca do tronco, com escurecimento do tecido lenhoso. Às vezes, essa podridão pode ocorrer nos troncos e ramos em forma da letra "V", visível em corte transversal. No tecido seco da planta, observam-se, sob a casca, pequenas estruturas esféricas pretas em grande quantidade, que são os corpos de frutificação do fungo, os peritécios.

9.1.1.11.3. Etiologia

O agente causal dessa doença é o ascomiceto Eutypa lata (Pers.: Fr.)

Tul. et C. Tul., cuja fase anamórfica corresponde ao fungo Libertella blepharis A.L. Smith, que apresenta cirros alaranjados. Os esporos liberados pelos cirros não germinam em condições de laboratório, desconhecendo-se seu papel no ciclo da doença. Os peritécios são negros e aparecem isolados ou aglomerados dentro de uma massa estromática contínua e também negra, na forma de cordões. Os ascos são pedicelados e apresentam um poro apical. Medem 28,0 - 31,0 x 4,0 - 5,0 micra. Os ascósporos são hialinos e alantóides, com as seguintes dimensões: 5,0 - 11,0 x 1,5 - 2,0 micra. A liberação dos ascósporos do fungo coincide com os períodos úmidos e de baixa temperatura. Essas condições ocorrem na época da poda da videira (junho/agosto) em Jundiaí. Nessas condições, o tecido da videira fica receptivo ao fungo, possibilitando a infeção. Após duas semanas da poda, com a cicatrização dos

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tecidos, a receptividade ao fungo fica extremamente reduzida. A temperatura ideal para o desenvolvimento do fungo varia de 20 a 25ºC.

9.1.1.11.4. Controle

O desenvolvimento lento do patógeno e a demora na manifestação dos

sintomas dificulta o reconhecimento precoce da doença, o que só ocorre quando a planta já está com extensas áreas comprometidas. Isto impede, muitas vezes, a aplicação de medidas curativas de controle.

Como medidas preventivas, deve-se evitar utilizar, em lotes sadios, ferramentas de lote doente que devem ser desinfestadas com água sanitária. Antes da poda efetuar o tratamento de inverno com calda sulfocálcica. A principal porta de entrada do patógeno na planta é por meio dos ferimentos da poda. Deste modo, logo após esta operação, deve-se proteger os ferimentos com solução concentrada de benomil (9,6g/L) ou, então, misturar o fungicida concentrado com os estimulantes de brotação e pulverizá-los abundantemente nas áreas podadas. Devem-se queimar todos os restos de cultura, ramos secos, cascas dos troncos ou ramos podados. Em caso de formação de novos vinhedos, usar estacas sadias, provenientes de regiões onde não ocorra a doença.

9.1.1.12. Seca dos ramos ou botriodiplodiose

9.1.1.12.1. Agente causal: - Botryosphaeria rhodina von Arx (Botryodiplodia theobromae Pat.)

Esta doença foi descrita em 1991, afetando vinhedos de uva Itália na

região de Jales, SP. Atualmente, acha-se disseminada em outras regiões, inclusive no nordeste brasileiro.

9.1.1.12.2. Sintomas

As plantas entram num processo de definhamento progressivo, muitas

vezes culminando com a morte. Fazendo-se um corte transversal do ramo afetado, observam-se áreas mortas no lenho, de coloração mais escura, em forma da letra “V”. Os ramos infectados morrem da ponta para a base, adquirindo uma coloração marrom a cinza. Na casca dos ramos e esporões doentes, aparecem pontuações escuras formadas pelos picnídios do patógeno. Os picnídios também aparecem sob a casca dos cancros, que se desenvolvem nos ramos e troncos doentes. Em outros países, são descritos os sintomas dessa doença nas bagas da videira. Inicialmente, observa-se uma mancha encharcada que, nas variedades de uva branca, adquire uma coloração rosa clara. Com o desenvolvimento da doença, as bagas racham e melam, sendo então recobertas por um micélio branco cotonoso. As bagas secam e

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mumificam, com os picnídios pretos emergindo em sulcos pretos. Em condições de campo, este sintoma é difícil de ser observado, pois contaminações secundárias transformam o cacho numa massa podre, melada, avinagrada, com cheiro desagradável, condição esta conhecida como "podridão-de-verão".

9.1.1.12.3. Etiologia

Botryosphaeria rhodina von Arx, fase sexual do microrganismo, é

raramente observada e tem pequeno papel na infeção. Botryodiplodia theobromae Pat., fase anamórfica do fungo, possui picnídios simples ou compostos, freqüentemente agregados, estromáticos, ostiolados, com 5mm de largura. Os picnídios em folhas, ramos e frutos são imersos, tornando-se mais tarde erupcentes simples ou agrupados, com os conídios exsudando em massas escuras. Conidióforos hialinos, simples, às vezes septados, raramente ramificados e cilíndricos. Os conídios são hialinos, ovais e não septados, quando imaturos, ficando pardos escuros, com um septo transversal, não constrito e estriado longitudinalmente, quando atingem a maturidade.

Este patógeno tem larga distribuição nas regiões tropicais, afetando mais de 500 espécies vegetais. Ele não é especializado, isto é, isolado de um hospedeiro, é capaz de infectar diferentes hospedeiros. A faixa ótima de temperatura para seu desenvolvimento situa-se entre 27-33ºC, podendo, porém, causar danos dentro de uma amplitude, que varia de 9-39ºC. Verão chuvoso, irrigação ou qualquer outra medida que aumente a umidade relativa favorecem o patógeno, que tem sua população consideravelmente aumentada.

9.1.1.12.4. Controle

O controle é o mesmo recomendado para o declínio da videira. Não se

deve colocar dentro do vinhedo restos de cultura de cacau, seringueira, algodão ou amendoim, os quais podem abrigar o Botryodiplodia. Por ser um patógeno não especializado, com grande capacidade saprofítica, ele irá colonizar esses materiais, aumentando seu potencial de inóculo e passando para a videira, sempre que as condições forem favoráveis.

9.1.1.13. Murcha de fusarium

9.1.1.13.1. Agente causal: - Fusarium oxysporum Sch. f. sp. herbemontis A fusariose é uma grave doença da videira nos estados do sul do País.

Em São Paulo, até o momento, ainda não foi identificada. É, portanto, de extrema importância, evitar a introdução de material vegetativo de videira originária de regiões, onde ela ocorre, impedindo, deste modo, sua disseminação.

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9.1.1.13.2. Sintomas As plantas atacadas apresentam um crescimento reduzido, às vezes,

morrendo repentinamente. Ocorre seca de ponteiros, resultando na poda a observação de um grande número de ramos secos. As folhas amarelecem a partir da base da planta, evoluindo para uma necrose dos bordos da folha. A área necrosada aumenta, e as folhas caem. Os vasos do xilema ficam com coloração escura, observando-se faixas longitudinais escuras, que se estendem das raízes às ramificações do tronco. As gemas dormentes podem brotar, originando brotos com a mesma sintomatologia.

9.1.1.13.3. Etiologia

O Fusarium oxysporum Sch. f. sp. herbemontis é um fungo do solo que

penetra pelas raízes da videira. Solos ácidos e arações profundas, que provocam ferimentos nas raízes, são condições que favorecem a penetração do fungo. Solos úmidos são mais favoráveis ao patógeno, e altas temperaturas e baixa umidade relativa do ar aumentam a severidade da doença. O organismo forma clamidósporos, que são estruturas de resistência, permitindo sua sobrevivência em solos, mesmo na ausência do hospedeiro.

9.1.1.13.4. Controle Em áreas não contaminadas, deve-se usar material de propagação

isento da doença e evitar ferimentos nas raízes. Em áreas contaminadas, as plantas doentes devem ser arrancadas e queimadas juntamente com raízes; combater a erosão, para evitar a disseminação do patógeno no vinhedo; evitar danos às raízes; após o uso, desinfestar as ferramentas com água sanitária; evitar a enxertia ao nível do solo, para deixar o ferimento fora do contato com a terra e misturar cal virgem nas covas, de onde se arrancam as plantas doentes, são medidas sugeridas para o controle da doença. Os porta-enxertos 1103 Paulsen, 99 R e 110 R apresentam certa resistência à fusariose, bem como a variedade Isabel.

9.1.1.14. Cancro da videira

9.1.1.14.1. Agente causal: Botryosphaeria dothidea (Dothiorella sp.) Esta doença foi identificada recentemente na região de Jales, SP,

sobre uva Itália e sua importância ainda não foi devidamente estudada. É causada por Dothiorella sp, forma anamórfica de Botryosphaeria dothidea. As plantas atacadas apresentam cancros nos troncos e ramos, superbrotamento e folhas deformadas, assemelhando-se aos sintomas do declínio. O fungo apresenta conídios hialinos e elipsóides, produzidos em picnídios, medindo 21,4 x 5,9 micra (19,7 - 22,7) x (4,6 - 6,6). O controle é idêntico ao da seca dos

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ramos, causado por Botryodiplodia theobromae.

9.1.1.15. Outras doenças Existem alguns patógenos de grande importância em outros locais ou

países, mas em São Paulo ainda não foram identificados ou apresentam importância secundária. Causam as seguintes doenças:

9.1.1.15.1. Excoriose 9.1.1.15.1.1. Agente causal: - Phomopsis vitícola (Sacc.) Sacc. É uma doença importante em regiões com excesso de chuvas,

principalmente quando, após a brotação, a planta permanece molhada por vários dias. Autores europeus consideram esta moléstia como sendo causada por fungos do gênero Phoma, e foi confundida durante muitos anos com os sintomas causados pela antracnose. As folhas apresentam manchas pequenas, irregulares ou circulares, verdes claras ou cloróticas, com centro escuro. As lesões se desenvolvem, coalescem, ocupando grande parte do limbo foliar que, inicialmente amarelece, para, depois, adquirirem uma coloração parda escura. Manchas necróticas aparecem nos pecíolos e nervuras das folhas, ocorrendo, em ataques severos, defoliação da planta.

Afeta também brotos novos e a ráquis dos cachos, onde ocorrem manchas cloróticas, com centro escuro, evoluindo para pardo escuro. As partes basais dos brotos novos ficam envolvidas pelas lesões coalescidas, que se rompem pelo rápido crescimento do ramo, formando fissuras na casca. Mais tarde cicatrizam, ficando ásperas ao tato nos ramos maduros. As ráquis afetadas ficam quebradiças, favorecendo a queda de frutos. O fungo também causa podridões de frutos, e a infecção ocorre através das lenticelas ou pelos pedicelos atacados.

O controle é por meio do uso de material de propagação sadio, queima dos restos de cultura e uso de fungicidas. Além do tratamento de inverno com calda sulfocálcica, duas aplicações dos fungicidas captan, folpet ou maneb são eficientes no controle do patógeno, sendo a primeira, quando os brotos tiverem 1-3 cm e a segunda, 6-12 cm de comprimento.

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9.1.1.15.2. Podridão branca da uva

9.1.1.15.2.1. Agente causal: Coniella diplodiella (Speg) Petrak & Sydow (sinonímia: Coniothyrium diplodiella (Speg.) Sacc., Phoma

diplodiella Speg.) É uma doença que ocorre após uma chuva de granizo, podendo,

nestas condições, causar perda total da colheita. O fungo penetra por meio de um ferimento, atingindo o interior da baga pelo pedicelo. A baga apresenta, no início do ataque, três zonas distintamente coloridas, isto é, verde dourada, pardacenta e pálida, considerando da periferia para o interior do fruto. O sintoma evolui, e a baga fica com uma coloração esmaecida, sua superfície cobre-se de pústulas, apresentando, nesse estágio, um aspecto rugoso. O fruto adquire uma tonalidade indefinida, porém nunca branca, e o nome da doença é devido ao contraste que apresenta com a coloração escura da “podridão negra,” causada por Guignardia bidwellii. Mais tarde, a baga murcha, fica enrugada e se desseca, caindo isoladamente, ou presa ao pedicelo. Nos grãos secos, as pústulas são mais claras do que a película da baga e planas, ao contrário da “podridão negra,” cujas pústulas são mais escuras e em forma de cúpula.

O controle de oídio e insetos, além de se evitar ferimentos nas plantas, reduzem os danos causados por esta doença. O sistema de condução deve ser de tal modo que mantenha o cacho o mais afastado possível do solo. Os fungicidas captan, folpet e clorotalonil são efetivos contra a podridão branca. Pulverizações entre 12-18 horas após uma chuva de pedra dão um controle em torno de 75% da doença.

9.1.1.15.3. Podridão das raízes

9.1.1.15.3.1. Agentes causais: - Armillaria mellea (Vahl: Fr) Kummer Rosellinia necatrix Prill.

As doenças causadas por Armillaria mellea e Rosellinia necatrix são

muito semelhantes, sendo difícil diferenciá-las apenas pela sintomatologia apresentada. As plantas atacadas ficam debilitadas, pois têm comprometido seu sistema de absorção de água e nutrientes. Há redução no tamanho das folhas e amarelecimento, além do encurtamento dos entrenós dos ramos. A planta apresenta um aspecto raquítico e compacto. Durante a vegetação, alguns brotos murcham e secam culminando com a morte da planta ao cabo de 2 a 6 anos. Em solos úmidos o processo é mais rápido, e plantas vigorosas podem morrer repentinamente.

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As raízes atacadas apresentam textura esponjosa, cuja casca enegrecida se desprende da madeira, sendo facilmente separada em tiras. Sob a casca, observa-se um emaranhado de hifas do patógeno, semelhante a um feltro, de coloração esbranquiçada. Também se encontram, com freqüência, as chamadas rizomorfas, que são filamentos ramificados, cilíndricos, inicialmente brancos e mais tarde pardos ou negros, com 0,5-2,0 mm de diâmetro. Esses cordões desenvolvem-se sobre as raízes e no terreno próximo.

As plantas do vinhedo vão morrendo, e o fungo se dissemina, a partir de um foco inicial, de forma concêntrica. Observa-se, na base do tronco das plantas atacadas por Armillaria, no outono, o crescimento de um cogumelo típico, representado pelo corpo de frutificação do patógeno, com 4-28 cm de diâmetro. Apresenta coloração variada, predominando, porém, a cor de mel. Ocorre, com freqüência, em áreas recém-desmatadas, onde restos de raízes e troncos oferecem um excelente meio para seu desenvolvimento. Sobrevive em raízes podres, que ficam enterradas no solo, daí a dificuldade de controle.

Apesar da sintomatologia semelhante, Armillaria e Rosellinia podem ser diferenciadas pelas seguintes características:

Armillaria mellea Rosellinia necatrix

- não existe micélio externo em forma de flocos (desfiado)

- apresenta esta estrutura

- não se observam hifas pardas, com incitamento piriforme

- são observadas estas formações

- não há uma fase conídica - apresenta uma fase conidial

- não forma escleródios - observa-se a presença de escleródios

- apresenta uma fase de Basidiomiceto - Apresenta uma fase de Ascomiceto

Fumigação do solo com bissulfito de carbono ou brometo de metila são

medidas de controle sugeridas, porém inviáveis para nossas condições. No controle biológico, sabe-se que a incorporação no solo do fungo Trichoderma sp. reduz a quantidade de infeção do patógeno.

As medidas de controle recomendadas são: a) não instalar o vinhedo em solos úmidos ou pesados, bem como em

terrenos infestados; b) evitar o uso do porta-enxerto Rupestris du Lot. Nesses terrenos,

evitar a adubação orgânica com material não decomposto, substituindo-a pela adubação mineral. Plantas mortas de- vem ser cuidadosamente eliminadas, inclusive as raízes, e as covas tratadas com cal virgem, visando sua desinfestação. Eliminar todos os corpos de frutificação do fungo, numa tentativa de diminuir o inóculo da área.

Finalmente, para a Rosellinia, sabe-se que Vitis cinerea, Vitis vinifera Carignane, Vitis arizonica e Vitis flexuosa apresentam certo grau de resistência.

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9.1.1.15.4. Esca ou yesca 9.1.1.15.4.1. Agente causal: - Stereum hirsutum (Willd.) Pers.

Phellinus igniarius (L. : Fr.) Quél.

Os sintomas podem ocorrer em qualquer órgão da planta, podendo a doença manifestar-se de duas formas: uma crônica e outra aguda (apoplexia). No tipo crônico, as folhas de um ramo, aparentemente normal, começam a murchar, secando lentamente a partir dos bordos. Entre as nervuras principais das folhas, o limbo começa a secar, adquirindo uma coloração amarelada nas variedades de uvas brancas ou avermelhadas nas pretas. Este sintoma mostra haver uma dificuldade de irrigação nas áreas mais afastadas das nervuras principais.

Nos anos seguintes, os sintomas vão-se ampliando para novos ramos, levando a planta lentamente à morte. No tipo agudo, uma planta, dentro do vinhedo, de aspecto vigoroso, ao ocorrer condições de forte calor, repentinamente, suas folhas perdem o brilho e a natural turgidez, murchando no prazo de algumas horas e secando por completo após alguns dias, parecendo ter tido seu tronco ou ramo decepado. Os ramos perdem suas folhas a partir da extremidade, o mesmo ocorrendo com os brotos que também iniciam o dessecamento da ponta para a base, ficando os cachos, como os órgãos mais aquosos, secos por último. Outras manifestações da doença são caracterizadas por internódios mais curtos, dando a impressão de uma compactação da folhagem e amarelecimento total ou parcial das folhas que, neste caso, apresentam intensa coloração amarela canário. Cortando-se longitudinalmente o tronco ou ramos no local das feridas resultantes das podas executadas há alguns anos atrás, observa-se, na madeira, zonas de tecido desorganizado, decomposto e, às vezes, substituídos por uma massa esponjosa que se desprende facilmente pela pressão dos dedos. Este material é composto por detritos lenhosos da planta, misturados com o micélio amarelado do fungo. Nessas áreas atacadas, aparecem aglomerações formadas pelas estruturas vegetativas do patógeno, de aspecto cotonoso e coloração amarelada ou parda-clara, semelhante à palha, daí o nome da doença (yesca = palha em espanhol). Essa zona decomposta fica envolvida por uma massa parda-escura.

Entre as medidas de controle, recomenda-se que se evitem grandes ferimentos na época da poda, os quais devem ser protegidos com pasta fungicida, pois são os canais de entrada do patógeno na planta. Quando for necessário, devem-se efetuar podas drásticas para renovação dos vinhedos. Essa operação deve ser realizada no outono, antes da queda das folhas, facilitando rápida formação de um tecido de cicatrização.

Os instrumentos de poda devem estar bem afiados para conseguir-se uma superfície de corte bem feita, lisa e inclinada. Todo material podado deve ser queimado, e as tesouras, serrotes e outras ferramentas desinfestados com hipoclorito de sódio a 1%, quando se passa de uma planta para outra. A substituição do tronco doente, utilizando-se de um broto da base da planta,

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também dá bons resultados no controle da doença. Tratamento de inverno com calda sulfocálcica é recomendado, além de práticas cirúrgicas, isto é, eliminação com um canivete ou bisturi de todo tecido doente da planta.

9.1.1.15.5. Rotbrenner

15.5.1. Agente causal: - Pseudopezicula tracheiphila (Müll. - Thurg.) Korf & Zhuang (Sinonímia: Pseudopeziza tracheiphila Müll. - Thurg.) (Phialophora tracheiphila (Sacc. & Sacc.) Korf [Sinonímia: Botrytis tracheiphila Sacc. &

Sacc.]) Trata-se de um fungo que causa lesões necróticas com centro

vermelho-amarronzado em folhas, confinadas entre as nervuras principais, com alguns centímetros de comprimento. Afeta as inflorescências causando uma podridão seca, deixando o cacho com apenas algumas bagas. O controle deve ser feito na época do florescimento com fungicidas do grupo dos ditiocarbamatos.

9.1.1.15.6. Mancha angular das folhas 9.1.1.15.6.1. Agente causal: - Mycosphaerella angulata Jenkins (Cercospora

brachypus Ell. & Ev.) É uma doença que só ocorre nas uvas muscadínias, onde atinge certa

importância. Na página superior das folhas, aparecem pontos cloróticos, que evoluem para lesões escuras, envolvidas por um halo, com um ou mais centímetros de diâmetro. Pulverizações com fungicidas, após o florescimento, controlam esta doença.

9.1.1.15.7. Ferrugem

9.1.1.15.7.1. Agente causal: - Physopella ampelopsidis (Diet. & Syd.) Cumm. & Ramachar (Sinonímias: Phakopsora ampelopsidis Diet. & Syd., Angiopsora

ampelopsidis (Diet. & Syd.) Thirum & Kerm Kern, Uredo vitis Thüm., Uredo vialae Lagerh., Physopella vitis Arth.)

Esta ferrugem, ainda não descrita no Brasil, apresenta um ciclo de vida

completo, pois as fases de pícnio e écio desenvolvem-se na planta Meliosma myriantha, que é uma árvore de folha caduca, originária do Japão. As folhas atacadas mostram pequenas pústulas amareladas na página inferior. Causa desfolha da planta, reduzindo seu crescimento. Pulverizações com fungicidas, como a calda bordalesa, zineb, maneb, ferbam e captafol intervaladas de 10-

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14 dias dão bom controle desta doença. As espécies de Vitis de regiões temperadas, como a Vitis labrusca,

Vitis vinifera e Vitis aestivalis são suscetíveis à ferrugem, enquanto que as espécies Vitis tiliaefolia, Vitis simpsoni e Vitis coriacea, de clima quente, são resistentes.

9.1.1.15.8. Murcha de verticillium

9.1.1.15.8.1. Agente causal: Verticillium dahliae Kleb. Nos períodos secos do ano, ocorre a murcha e morte de brotos da

planta. Esses ramos apresentam os vasos coloridos, folhas com os bordos secos, desfolha e cachos secos e mumificados, ficando as bagas presas ao pedicelo. As plantas entram em colapso: algumas, só de alguns brotos, outras mostram brotos secos apenas de um lado e algumas poucas com todos os brotos mortos. A única medida de controle recomendada é o plantio em áreas não infestadas pelo patógeno.

9.1.1.15.9. Podridão de raízes por phytophthora

9.1.1.15.9.1. Agente causal: Phytophthora cinnamomi Rands; Phytophthora spp.

Ocorre em vinhedos instalados em solos pouco drenados ou em

períodos com excesso de chuvas. Plantas afetadas são menores, e suas folhas cloróticas amadurecem antes do tempo. Observa-se a formação de cancros no tronco, ao nível do solo, e apodrecimento de raízes. Em ataques severos, a planta acaba morrendo. Os vinhedos devem ser instalados em solos bem drenados, com bom manejo das irrigações. São citados como altamente resistentes os porta-enxertos 1045 Paulsen, 1103 Paulsen e St. George, sendo moderadamente resistentes 110 Richter, 140 Ruggeri, Metalliko 101-14 e Grezot.

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9.1.1.15.10. Outras manchas foliares Existe uma série de outros fungos que causam manchas foliares na

videira, porém, sem importância econômica. As pulverizações para controle de outras doenças também exercem controle sobre eles. As principais doenças e os organismos relacionadas são:

- Mancha irregular - Briosia ampelophaga Cav. - Mancha zonada - Cristulariella moricola (Hino) Red.

- (Sclerotium cinnamoni Sawada) - Mancha de Septoria - Septoria ampelina Berk & Curt.

9.1.1.16. Principais doenças causadas por bactérias No Brasil, as doenças bacterianas não apresentam, até o momento,

muita gravidade, podendo aparecer esporadicamente em alguns vinhedos. Em outros países, porém, algumas espécies de bactéria podem causar severos danos à videira. Dentre essas, merecem ser citadas as que causam as seguintes doenças:

9.1.1.16.1. Galha da coroa ou tumor bacteriano

9.1.1.16.1.1. Agente causal: Agrobacterium vitis Ophel & Kerr. Esta bactéria apresenta um grande número de plantas hospedeiras,

tanto herbáceas como lenhosas. Nas videiras atacadas, observa-se a formação de tumores ou intumescência no colo das plantas ou em ramos de 1 a 2 anos. Esses tumores inicialmente moles, carnosos e do tamanho de uma ervilha, vão-se desenvolvendo, podendo chegar a medir 15cm de diâmetro.

Sua coloração varia de esbranquiçada a negra e, à medida que envelhece, a textura do tumor vai-se lignificando, endurecendo e enrugando. Posteriormente, essas formações se desprendem do ramo, ficando, no local, profundas cáries. As plantas vão definhando, devido à desorganização do tecido vascular, e acabam morrendo. A bactéria penetra através de ferimentos e é favorecida pela umidade excessiva do solo e por plantios adensados, tornando deficiente a aeração das plantas.

Nas medidas de controle, deve-se evitar terrenos alcalinos, úmidos e já infestados, eliminando-se todas as plantas hospedeiras. Boa insolação e ventilação das plantas são medidas eficientes no controle, bem como a utilização de material de propagação sadio. As enxertias não devem ser ao nível do solo, e sim um pouco mais alto, devendo-se proteger os ferimentos com produto cúprico, além de desinfestar as ferramentas com hipoclorito de sódio a 1%. Ramos afetados devem ser podados e queimados, além de se

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providenciar os tratamentos de inverno com a calda sulfocálcica. As injúrias causadas pelo frio favorecem a penetração da bactéria, de modo que se deve evitar áreas sujeitas a constantes geadas na instalação de um novo vinhedo.

9.1.1.16.2. Mancha bacteriana

9.1.1.16.2.1. Agente causal: Xylophilus ampelinus (Panagopou-los) Willens et al. (sinonímia: Xanthomonas ampelina

Panagopoulos) A incidência desta bactéria provoca o aparecimento de rachaduras

longitudinais e cancros nos ramos, circundados por um tecido necrótico escuro. Os vasos do xilema apresentam-se avermelhados. Os sintomas desta doença podem ser confundidos com os de outras doenças, viroses ou deficiências nutricionais, havendo, muitas vezes, necessidade de exames laboratoriais, para dirimir as dúvidas. Deve-se evitar a entrada do organismo em áreas livres, através de medidas quarentenárias. Deve-se podar e queimar todo o ramo afetado e, após as podas, pulverizar com calda bordalesa. As irrigações devem ser bem controladas, para evitar-se o excesso de umidade no vinhedo. As ferramentas de trabalho devem ser desinfestadas com hipoclorito de sódio a 1%.

9.1.1.16.3. Mal de Pierce

9.1.1.16.3.1. Agente causal: Xylella fastidiosa Wells et al. Durante muitos anos, foi considerada como uma virose e só mais tarde

foi provado tratar-se de uma doença causada por uma bactéria. Foi descrita pela primeira vez, na Califórnia, em 1892, sendo um fator limitante na produção das espécies V. labrusca e V. vinifera. Apesar de já ter sido observada na América Central e regiões ao norte da América do Sul, ainda não foi, até o momento, descrita no Brasil. Nos pontos de infeção das folhas, aparecem manchas cloróticas, que evoluem para uma necrose. Observa-se uma escaldadura e seca das folhas, que acabam caindo, porém, deixando o pecíolo preso ao ramo. Os ramos amadurecem irregularmente, mostrando áreas verdes e marrons entremeadas.

As plantas afetadas podem morrer dentro de 1 ano, após a infeção, ou continuarem vivas e em progressivo declínio por mais de 5 anos. Os brotos não se desenvolvem, e as bagas murcham ou amadurecem prematuramente. A bactéria vive no xilema da planta e é disseminada por insetos vetores do

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grupo das cigarrinhas. Deve-se evitar a entrada da bactéria em áreas livres através de medidas de exclusão (quarentena), ou pelo tratamento térmico de material vegetativo (imersão em água a 45ºC por 3 horas).

9.1.1.16.4. Podridão bacteriana

9.1.1.16.4.1. Agente causal: Xanthomonas campestris pv. vtiicola. (Nayudu) Dyl. (Sinonímia: Pseudomonas viticola Nayudu).

Esta bacteriose foi recentemente identificada, afetando vinhedos da

variedade Redglobe no nordeste brasileiro. A podridão bacteriana já foi descrita na Índia e sua introdução no Brasil deve ter sido através de material vegetativo doente, sem as devidas medidas quarentenárias. O patógeno afeta folhas, ramos e os cachos da videira. Nas folhas, aparecem manchas angulares, escuras, envoltas por um halo amarelado, quando novas, com tamanho que varia de 1,0-2,0 mm. Áreas necróticas, marrons-claras, desenvolvem-se ao longo das nervuras que, coalescendo, atingem grandes áreas do limbo foliar. As nervuras secam no sentido do seu comprimento, adquirindo coloração escura. Às vezes, observa-se um crestamento das folhas, caracterizado por uma necrose marginal dos tecidos.

Nos ramos, ainda verdes, aparecem cancros ovalados, de coloração marrom, com bordos escuros e dimensões que variam de 0,5-1,0cm. A parte central do cancro é deprimida, apresentando um fendilhamento dos tecidos. Pedúnculo, ráquis, ramificações laterais e pedicelos dos cachos, quando atacados, apresentam uma podridão mole de coloração marrom a escura. A lesão atinge toda a extensão do pedicelo e ramificações laterais, desenvolvendo-se, a seguir, pelo ráquis. Neste, observam-se pequenas caneluras longitudinais, causadas pela desintegração dos tecidos. As bagas murcham, podendo ou não ficar presas ao cacho.

O uso de material de propagação comprovadamente sadio e originário de regiões onde a doença não ocorre é a primeira medida de controle a ser adotada em regiões livres da doença. Em vinhedos já contaminados, deve-se podar e queimar os ramos infectados e, em seguida, pulverizar as plantas com fungicida cúprico, repetindo-se estas operações periodicamente. As ferramentas utilizadas na poda devem ser desinfestadas com água sanitária. A irrigação por aspersão deve ser evitada pelo excesso de umidade que causa nas plantas.

Autoria da apostila:

Dr. Erasmo José Paioli Pires & Dr. Maurilo Monteiro Terra Instituto Agronômico de Campina (IAC)

Campinas – SP.