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117
Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento e Perturbações da Linguagem na Criança Área de Especialização em Terapia da Fala e Perturbações da Linguagem, realizada sob a orientação científica da Professora Doutora Ana Castro e da Professora Doutora Haydée Fiszbein Wertzner. Apoio financeiro de uma bolsa de estudo do programa de bolsas Luso-Brasileiras Santtander Totta para estudantes universitários.

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Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do

grau de Mestre em Desenvolvimento e Perturbações da Linguagem na Criança – Área

de Especialização em Terapia da Fala e Perturbações da Linguagem, realizada sob a

orientação científica da Professora Doutora Ana Castro e da Professora Doutora Haydée

Fiszbein Wertzner.

Apoio financeiro de uma bolsa de estudo do programa de bolsas Luso-Brasileiras

Santtander Totta para estudantes universitários.

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Page 3: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

Declaro que esta Dissertação é o resultado da minha investigação pessoal e independente.

O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas

no texto, nas notas e na bibliografia.

A candidata,

____________________

Lisboa, 4 de abril de 2015.

Declaro que esta Dissertação se encontra em condições de ser apreciada pelo júri a

designar.

A orientadora,

____________________

Lisboa, 4 de abril de 2015.

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Page 5: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

i

AGRADECIMENTOS

Quero agradecer e expressar a minha profunda gratidão a todos os intervenientes

deste percurso repleto de desafios, adversidades e glórias sem os quais não seria

possível realizar este trabalho.

Em primeiro lugar, quero expressar o meu apreço às minhas orientadoras

Professora Doutora Haydée Fiszbein Wertzner e Professora Doutora Ana Castro por

terem aceite orientar o presente trabalho de investigação, pelos conhecimentos

transmitidos, pelo apoio, incentivos e por sempre acreditarem no meu trabalho.

Agradeço a toda a minha família de São Paulo, por me terem recebido muito

bem e fazerem com que a minha aventura dos quatro meses chegasse a bom porto.

Agradeço em especial à Professora Doutora Haydée Fiszbein Wertzner e à sua família

(marido e filha); à mãe Rute e ao pai João; à Doutora Luciana Pagan-Neves e as

meninas do LIFF (Laboratório de Investigação Fonoaudiológica de Fonologia) Danira

Tavares e Tatiane Barrozo por terem sido a minha família, as minhas búsulas e as

minhas conselheiras em São Paulo. Vocês estão no meu coração.

Agradeço também ao Professor Doutor Hélder Alves, pela contribuição na

análise estatística, pela paciência e disponibilidade revelada para a realização da análise

dos resultados e pelas horas de reuniões com as minhas dúvidas.

Para a concretização deste trabalho realço a importância da cooperação dos

terapeutas da fala para a constituição da amostra dos casos do português europeu e o

livre acesso à base de dados do LIFF , o meu muito obrigada pois sem estes dados não

teria sido possível a execução deste trabalho.

Aos meus colegas de trabalho (Leroy Merlin de Alfragide) por terem aturado o

meu mau feitio durante estes dois anos.

À minha amiga e terapeuta da fala Ana Paula Micaelo pelas palavras de

incentivo e por ouvir os meus desabafos dos obstáculos e dos sucessos.

Às colegas de mestrado Andreia Bernardo, Patrícia Teixeira e Mariana Salvador

pelas experiências partilhadas e pelos ensinamentos no decorrer destes dois anos.

Ao Doutor Sérgio Gaitas pela amizade e pela revisão do presente trabalho.

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ii

Agradeço a toda a família Santos, família Oleiro e família Ferreira pelas palavras

de incentivo, pela motivação e por sempre acreditarem no meu trabalho e no meu

resultado.

Ao Domingos por todos os momentos que passamos juntos durante o nosso

caminho, pela paciência de me ouvir, pelo apoio em todas as etapas difíceis da minha

vida, pela amizade e acima de tudo pelo amor.

À minha avó Fernanda, onde quer que esteja tenho a certeza de que está muito

orgulhosa e muito presente, obrigada avó pelas tuas palavras de motivação ao longo da

minha licenciatura, pelo teu orgulho e pelo teu carinho.

Finalmente, os agradecimentos principais vão para os meus pais, Ana Paula e

Vasco, pelo apoio e orgulho incondiconal, pelas palavras de incentivo, por ouvirem as

minhas frustações, pela motivação de ser mais e melhor, por tudo e tudo e acima de tudo

pelo seu fiel amor.

Muito obrigada a todos.

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iii

RESUMO

Medidas Fonológicas em crianças com perturbação dos sons da fala. Estudo

comparativo entre o português europeu e o português brasileiro.

ANA FILIPA BARROS DOS SANTOS

Objetivo: O objetivo deste estudo é comparar as características de dois grupos de

crianças com diagnóstico de Perturbação dos Sons da Fala (PSF), falantes de português

europeu (PE) e falantes de português brasileiro (PB), considerando um conjunto de

medidas fonológicas que incluem Percentagem de Consoantes Corretas (PCC),

Percentagem de Consoantes Corretas Revista (PCC-R), Process Density Index (PDI),

Índices Absolutos (IA) e Índices Relativos (IR) de Substituição, Omissão e Distorção,

tipos de Processos Fonológicos e Percentagem de Acerto por Fonema (PAF). Método:

Neste estudo participaram dezoito crianças com diagnóstico de Perturbação dos Sons da

Fala (PSF), com idades compreendidas entre os cinco anos e dois meses e os sete anos e

11 meses, sendo doze do sexo masculino e seis do sexo feminino, divididas em dois

grupos - falantes de português europeu (GPE) e falantes de português brasileiro (GPB)

- emparelhadas por idade, sexo e valor de PCC. A partir da análise das transcrições

fonéticas constantes nas folhas de registo de cada subteste de nomeação de cada sujeito

- Teste Fonético-Fonológico - Avaliação de Linguagem Pré-Escolar (TFF - ALPE)

(Mendes et al., 2009) para o português europeu, e provas de fonologia do Teste de

Linguagem Infantil ABFW (Andrade et al., 2004) para o português brasileiro,- foram

calculadas e comparadas as medidas fonológicas referidas, recorrendo a testes

estatísticos (paramétricos e não paramétricos). Resultados: O emparelhamento do GPE

com o GPB foi bem sucedido. Não existiram diferenças estatísticamente significativas

nas medidas fonológicas em estudo entre o GPE e o GPB. No Estudo 1, não existiram

diferenças nos tipos de erros à exceção do erro de omissão. No Estudo 2, no GPE

verificamos um menor número de erros de distorção e um maior número de erros de

omissão. Existem algumas particularidades devido à variante da língua, nomeadamente

no processo fonológico de PAL e de DESV. Conclusão: Esta investigação permitiu

realizar a comparação do GPE e do GPB com a utilização de dois instrumentos recolha

de dados diferentes. Os resultados foram de encontro ao que é descrito por outros

estudos nesta área de investigação. As poucas diferenças que se observaram podem ser

explicadas pelas diferenças existentes entre os sistemas fonético-fonológicos das duas

variedades linguísticas. É extremamente importante a metodologia de recolha de dados

para a avaliação das PSF. A mais valia desta pesquisa é o contributo de indicadores

clínicos para diagnóstico, prognóstico e intervenção terapêutica nas PSF.

Palavras-chave: Perturbação dos Sons da Fala (PSF), desenvolvimento fonológico,

medidas fonológicas, avaliação da linguagem, português europeu, português brasileiro,

terapeuta da fala.

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Page 9: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

iv

ABSTRACT

Phonological Measures in children whit Speech Sound Disorder. Comparative

study between the European Portuguese and Brazilian Portuguese.

ANA FILIPA BARROS DOS SANTOS

Objetive: The objetive of this study is to compare the characteristics of two groups of

children diagnosed with Speech Sound Disorder (SSD), one speaking European

Portuguese (EP) and another Brazilian Portuguese (BP), by considering a set of

phonologic measures that include the Percentage of Consonants Correct (PCC),

Percentage of Consonants Correct-Revised (PCC-R), Process Density Index (PDI),

Absolut indexes (IA) and Relative indexes (IR), substituon, omission, distortion, types

of phonological processes and Percentage phoneme hit (PAF). Method: Eighteen

children, twelve masculine and six feminine, ages comprised between five years and

two months and seven years and eleven months, diagnosed with Speech Sound Disorder

(SSD) participated in this study. The children were divided in two groups (GPE and

GPB), and grouped by age, gender e PCC value. From the analysis of the phonetic

transcriptions present in the record sheets of each child in thenomination subtest - Teste

Fonético-Fonológico - Avaliação de Linguagem Pré-Escolar (TFF-ALPE) (Mendes et

al., 2009)for European Portugueseand phonology tests fromTeste de Linguagem Infantil

ABFW (Andrade et al., 2004) for the Brazilian Portuguese – the phonologic measures

were determined and compared using statistic tests (parametric and non-parametric).

Results: The combination of the GPE with the GPB was successful. There were no

statistic differences in the phonologic measures studied in both groups. In Study 1, there

were no differences in the type o errors between groups, except for the error of

omission. In Study 2, less errors of distortion and higher error of omission were

observed for GPE. There are some particularities due to the language variant, namely

the phonological process of PAL and the DESV.Conclusion: This investigation allowed

the comparison of the EPG and BPG by recurring to two different instruments of data

collection. These results are in agreement with what has been previously described in

other studies in this research area. The small differences observed can be explained by

the existing differences between the phonetic-phonological systems of the two linguistic

varieties.The methodology used to collect the data for SSD evaluation is of high

importance. This research highly contributes with clinical indicators of diagnose,

prognoses and therapeutic intervention on SSD.

Keywords: Speech Sound Disorder, Phonological Impairments, Language Assessment,

speech therapist.

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v

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Classificação articulatória tradicional das consoantes do PE ………………...8

Tabela 2. Classificação articulatória tradicional das consoantes do PB………………...8

Tabela 3. Etapas do desenvolvimento fonológico……………………………………..11

Tabela 4. Comparação das faixas etárias de aquisição dos fonemas obtidos no TFF-

ALPE para o PE e obtidas no ABFW para o PB……………………………………….20

Tabela 5. Comparação das faixas etárias de supressão dos processos fonológicos do PE

obtidos no TFF-ALPE (2003) e de Castro et al. (1997, 1999) e em PB segundo

Wertzner (2000, 2003)………………………………………………………………….24

Tabela 6. Características das crianças do grupo de falantes nativos de português

europeu (GPE) e do grupo de falantes nativos de português brasileiro (GPB)………...30

Tabela 7. Medidas fonológicas………………………………………………………...31

Tabela 8. Escala da PCC……………………………………………………………….32

Tabela 9. Processos fonológicos analisados nos diferentes testes de avaliação e

respetiva correspondência………………………………………………………………35

Tabela 10. Nomenclatura, definição e exemplos dos processos fonológicos no PE…..36

Tabela 11. Possibilidade de ocorrência de cada fonema, grupos consonânticos e

arquifonemas nos instrumentos de recolha de dados utilizados………………………..37

Tabela 12. Possibilidade de ocorrência de cada fonema, grupo consonântico e

arquifonema para as 12 palavras em comum nos dois instrumentos de recolha de dados

utilizados………………………………………………………………………………..38

Tabela 13. Lista de palavras utilizadas nos testes……………………………………...39

Tabela 14. Ocorrência dos processos fonológicos e o número de consoantes corretas

para as 12 palavras……………………………………………………………………...40

Tabela 15. Número de consoantes corretas para as 12 palavras……………………….40

Tabela 16. Distribuição de frequência e percentagem por sexo……………………….44

Tabela 17. Média e desvios padrão para as variáveis PCC e idade……………………44

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vi

Tabela 18. Média, desvios padrão para as variáveis PCC-R, PDI, IAS, IRS, IAD, IRD,

IAO, IRO……………………………………………………………………………….46

Tabela 19. Média, desvios padrão e teste de Friedman para as variáveis IAS, IAO e

IAD……………………………………………………………………………………..46

Tabela 20. Percentagem da ocorrência dos processos fonológicos por cada criança do

GPE……………………………………………………………………………………..48

Tabela 21. Percentagem da ocorrência dos processos fonológicos por cada criança do

GPB…………………………………………………………………………………….48

Tabela 22. PAF de cada criança nas consoantes oclusivas nasais……………………..50

Tabela 23. PAF de cada criança nas consoantes oclusivas orais………………………50

Tabela 24. PAF de cada criança nas consoantes fricativas…………………………….51

Tabela 25. PAF de cada criança nas consoantes líquidas laterais e vibrantes…………51

Tabela 26. PAF de cada criança nos grupos consonânticos…………………………...52

Tabela 27. Médias e desvios padrão para as variáveis PCC, PCC-R, PDI, IAS, IRS,

IAO, IRO, IAD e IRD para as crianças falantes de PE e para as crianças falantes de PB,

teste t e teste de Mann-Whitney………………………………………………………..54

Tabela 28. Média, desvios padrão e teste de Friedman para as variáveis IAS, IAO e

IAD……………………………………………………………………………………..55

Tabela 29. Média, desvios padrão, resultados do teste de Mann-Whitney e teste

ANOVA de Friedman para os processos fonológicos no GPE e no GPB……………...55

Tabela 30. Médias dos processos fonológicos no GPE e no GPB (teste ANOVA de

Friedman)……………………………………………………………………………….56

Tabela 31. Descrição dos resultados para PAF, média e desvios padrão para as crianças

falantes de PE e falantes de PB………………………………………………………...57

Tabela 32. Média, desvios padrão para as variáveis totais de diferentes processos

fonológicos, total de ocorrência dos processos fonológicos e número de consoantes

corretas no GPE e no GPB……………………………………………………………..58

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vii

ÍNDICE DE TABELAS – APÊNDICES

1. Apêndice 1

Tabela 1. Palavras e transcrição fonética do TFF-ALPE da prova de nomeação para

oPE (Mendes et al., 2009)……………………………………………………………...93

Tabela 2. Palavras do ABFW da prova de nomeação (Wertzner et al., 2004) e

transcrição fonética…………………………………………………………………..…95

2. Apêncide 2

Tabela 1. Médias e desvios padrão para as variáveis PCC, PCC-R, IAS e IRS e média

das ordens para as variáveis PDI, IAD, IRD, IAO e IRO……………………………...96

Tabela 2. Média das ordens e teste de Friedman para as variáveis IAS, IAO e IAD….96

3. Apêndice 3

Tabela 1. Média e desvios padrão para as variáveis PCC, PCC-R, IAS e IRS e média

das ordens para as variáveis PDI, IAD, IRD, IAO e IRO……………………………...97

Tabela 2. Média das ordens para as variáveis IAS, IAO e IAD no GPE e no GPB…...97

Tabela 3. Média das ordens, valores de U e p para os processos fonológicos entre o

GPE e o GPB…………………………………………………………………………...97

Tabela 4. Média das ordens no teste ANOVA de Friedman para os processos

fonológicos no GPE e no GPB…………………………………………………………98

Tabela 5. Descrição dos resultados para PAF, média das ordens e teste de Mann-

Whitney para o GPE e o GPB………………………………………………………….98

Tabela 6. Média das ordens para PAF do GPE e do GPB……………………………..99

Tabela 7. Média das ordens para as variáveis totais de diferentes processos fonológicos,

total de ocorrência dos processos fonológicos e número de consoantes corretas no GPE

e no GPB………………………………………………………………………………..99

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viii

LISTA DE ABREVIATURAS

ABFW Teste de Linguagem Infantil nas áreas de Fonologia, Vocabulário, Fluência e Pragmática

ANT Anteriorização

C Consoante

DES Despalatalização

DESV Desvozeamento

DP Desvio Padrão

EF Ensurdecimento de Fricativa

EP Ensurdecimento de Plosiva

FP Frontalização de Palatal

FV Frontalização de Velar

GPB Grupo de crianças falantes do português brasileiro

GPE Grupo de crianças falantes do português europeu

HC Harmonia Consonantal

IAD Índice Absoluto de Distorção

IAO Índice Absoluto de Omissão

IAS Índice Absoluto de Substituição

IRD Índice Relativo de Distorção

IRO Índice Relativo de Omissão

IRS Índice Relativo de Substituição

LIFF Laboratório de Investigação Fonoaudiologa de Fonologia

M Média

OCF Omissão da Consoante Final

OCL Oclusão

OP Outros Processos

PA Processos Adicionais

PAF Percentagem de Acerto por Fonema

PAL Palatalização

PB Português Brasileiro

PCC Percentagem de Consoantes Corretas

PCC-R Percentagem de Consoantes Corretas-Revista

PDI Process Density Index (Índice de Densidade de Processos Fonológicos)

Page 15: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

ix

PE Português Europeu

PF Processos Fonológicos

PF Plosivação de Fricativa

POS Posteriorização

POSP Posteriorização para Palatal

POSV Posteriorização para Velar

PSF Perturbação dos Sons da Fala

RGC Redução do Grupo Consonântico

RS Redução de Sílaba

RSA Redução de Sílaba Átona

SCF Simplificação de Consoante Final

SEC Simplificação de Encontro Consonantal

SF Sonorização de Fricativa

SL Simplificação de Líquida

SP Sonorização de Plosiva

TFF-ALPE Teste Fonético-Fonológico – Avaliação da Linguagem Pré-Escolar

V Vogal

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Page 17: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

x

ÍNDICE

AGRADECIMENTOS ...................................................................................................... i

RESUMO ........................................................................................................................ iii

ABSTRACT .................................................................................................................... iv

ÍNDICE DE TABELAS ................................................................................................... v

ÍNDICE DE TABELAS – APÊNDICES ....................................................................... vii

LISTA DE ABREVIATURAS ...................................................................................... viii

ÍNDICE ............................................................................................................................. x

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1

CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO ......................................................... 7

1.1 Os sistemas fonético-fonológicos do Português Europeu (PE) e do Português Brasileiro

(PB) ........................................................................................................................................... 7

1.2 Aquisição do Sistema Fonológico do PE e do PB ....................................................... 10

1.3 Perturbações dos Sons da Fala .................................................................................... 13

1.4 Avaliação das Perturbações Fonológicas .................................................................... 17

1.5 Medidas Fonológicas................................................................................................... 21

1.5.1. Percentagem de consoantes corretas (PCC), Percentagem de consoantes corretas revista

(PCC-R)................................................................................................................................... 21

1.5.2 PDI ................................................................................................................................. 22

1.5.3 Índices Absolutos e Relativos ........................................................................................ 22

1.5.4 Processos Fonológicos ................................................................................................... 22

CAPÍTULO II – METODOLOGIA ............................................................................... 25

2.1 Objetivo do estudo e questões de investigação ........................................................... 25

2.2 Tipo de Estudo ............................................................................................................ 26

2.3 Participantes ................................................................................................................ 26

2.4 Material ....................................................................................................................... 27

2.5 Procedimento ............................................................................................................... 28

2.5.1 Seleção da amostra de fala e emparelhamento dos grupos ............................................. 28

2.5.2 Medidas Fonológicas...................................................................................................... 30

2.5.2.1 Estudo 1 ....................................................................................................................... 31

2.5.2.2. Estudo 2 ...................................................................................................................... 38

2.6 Análise estatística ........................................................................................................ 41

CAPÍTULO III – RESULTADOS ................................................................................. 43

3.1 Verificação do sucesso do emparelhamento da amostra ............................................. 44

Page 18: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

xi

3.2 Estudo 1 ....................................................................................................................... 45

3.2.1 Comparação das medidas fonológicas (PCC-R, PDI, IAD, IRD, IAO, IRO, IAS, IRS) 45

3.2.2 Identificar o tipo de erro (substituição, omissão, distorção) mais frequente. ................. 46

3.2.3 Processos fonológicos .................................................................................................... 47

3.2.4 Comparação da PAF....................................................................................................... 49

3.3 Estudo 2 ....................................................................................................................... 53

3.3.1 Comparação das medidas fonológicas (PCC, PCC-R, PDI, IAD, IRD, IAO, IRO, IAS,

IRS) ......................................................................................................................................... 53

3.3.2 Identificar o tipo de erro (substituição, omissão, distorção) mais frequente. ................ 54

3.3.3 Comparação dos processos fonológicos ......................................................................... 55

3.3.4 Inventário fonético ......................................................................................................... 56

CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO ..................................................................................... 59

4.1 Discussão dos Resultados ............................................................................................ 59

4.1.1 Estudo 1 ................................................................................................................... 60

4.1.2 Estudo 2 ................................................................................................................... 64

4.2 Limitações do Estudo e Propostas para Estudos Futuros ............................................ 67

CONCLUSÃO ................................................................................................................ 71

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 75

ANEXOS ........................................................................................................................ 83

Anexo 1. Folha de registo do Teste TFF-ALPE ............................................................. 83

Anexo 2. Folha de registo do Teste ABFW ................................................................... 89

APÊNDICES .................................................................................................................. 93

Apêndice 1. Palavras dos instrumentos de avaliação e transcrição fonética .................. 93

Apêndice 2. Tabelas - Estudo 1 ...................................................................................... 96

Apêndice 3. Tabelas - Estudo 2 ...................................................................................... 97

Page 19: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

1

INTRODUÇÃO

Até ao momento, não existem estudos publicados que comparem as

características fonológicas de crianças com diagnóstico de Perturbação Fonológica em

crianças falantes do português europeu (PE) e crianças falantes do português brasileiro

(PB). No entanto, existem estudos que fazem a comparação de outras línguas,

nomeadamente o espanhol e o inglês, e que mostram a importância da utilização de

determinadas medidas fonológicas para o diagnóstico da Perturbação Fonológica.

Sabe-se que a definição da classificação das Perturbações Fonológicas tem

sofrido alterações no decorrer das últimas décadas. Na literatura americana, nos anos 80

e 90, esta perturbação foi denominada de Phonological Disorders e, a partir de 2003 foi

introduzida a nomenclatura Speech Sounds Disorders (Shriberg, 2003). No decorrer dos

tempos também outros termos surgiram, como perturbação fonológica, perturbação

fonética ou perturbação mista. Considerando que existe uma divergência na

nomenclatura utilizada pelos terapeutas da fala, para o estabelecimento do diagnóstico

das Perturbações Fonológicas é importante clarificar as diferenças entre as definições de

PL (perturbação da linguagem), PEDL (“Specific Language Impairment” – perturbação

específica do desenvolvimento da linguagem) e de PSF (Perturbação dos Sons da Fala/

Perturbação Fonológica).

Assim, o termo mais utilizado atualmente na prática clínica é Perturbação dos

Sons da Fala (PSF), tradução literal da nomenclatura americana e é esta nomenclatura

que vai ser utilizada no decorrer do presente estudo.

Existem poucos estudos publicados para o português europeu de características

fonológicas com crianças com perturbação da linguagem (PL). No entanto existem

estudos para outras línguas (Bortolini e Leonard, 2000; Gillon, 2000b; Hesketh, Adams,

Nightingale, e Hall, 2000; Maillart e Parisse, 2006; Owen, Dromi, e Leonard, 2001;

Roberts, Rescorla, Giroux, e Stevens, 1998) que demonstram que as crianças com PL

apresentam diversas alterações fonológicas. As crianças com PL realizam muitos

processos fonológicos atípicos ao seu desenvolvimento e apresentam uma reduzida

percentagem de consoantes corretas (PCC) no seu discurso (Lousada, 2012). Segundo a

American Speech-Language-Hearing Association (ASHA) (1993), uma perturbação de

linguagem (PL) (“language disorder” ou “language impairment”) é uma perturbação

Page 20: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

2

ao nível da compreensão e/ou da expressão da linguagem oral ou escrita. A perturbação

pode envolver a forma (fonologia, morfologia e sintaxe), o conteúdo (semântica), e o

uso da linguagem (pragmática). A PL constituí um grupo heterogêneo de crianças e com

a finalidade de compreender esta característica inúmeras definições têm sido utilizadas.

A PEDL (“Specific Language Impairment”) é considerada quando as crianças

apresentam uma perturbação significativa da linguagem, apesar dos fatores que

usualmente acompanham estes problemas (a alteração cognitiva, a deficiência auditiva,

a lesão neurológica, a alteração da estrutura e da função oral, e a perturbação da

interacção com pessoas e objectos) não estarem presentes (Leonard, 1998). A PEDL é

definida como um início tardio e desenvolvimento lento da linguagem que não seja

devido a um défice sensorial (auditivo) ou motor, deficiência mental, distúrbio

psicopatológicos, privação socioafetiva, lesões ou disfunções cerebrais evidentes (Rapin

& Allen, 1983 cit in Castro Rebolledo, R. et al. 2004; Bishop & Leonard, 2001). Uma

criança com PEDL apresenta assincronia na aquisição das diferentes componentes da

linguagem, podendo apresentar, ao longo do seu desenvolvimento, diferentes

desempenhos nas quatro componentes da linguagem (semântica, fonologia,

morfossintática e pragmática). A PEDL caracteriza-se por ser um desvio ao

desenvolvimento normal da linguagem que não segue as etapas ditas “normais”, onde se

verifica também um compromisso das funções executivas vias superiores (atenção,

concentração e abstração) por parte da criança (Bishop, 2001).

É importante realizar um levantamento da definição de PSF, ou perturbação

fonológica, no decorrer da evolução dos tempos. Assim, Ingram, 1976 caracteriza a

perturbação fonológica como uma alteração no sistema fonológico do indivíduo. Na

classificação DSM IV, a perturbação fonológica é definida como uma incapacidade de

produzir os sons da fala adquadamente para o que é esperado na idade da criança.

Andrade (2008) diz que a perturbação fonológica é uma dificuldade na produção, uso ou

organização dos sons da fala (substituição de um som por outro, omissão ou distorção)

com ausência de patologia associada (deficiência mental, espetro do autismo,

dificuldades motoras). Segundo Wertzner (2012) a perturbação fonológica consiste

numa alteração da fala e linguagem com elevada ocorrência na população infantil que

tem como principal característica a produção inadequada dos sons durante a fala.

Considerando as definições acima apresentadas, verificamos a sobreposição de aspetos

fonológicos e fonéticos na PSF.

Page 21: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

3

A produção de fala das crianças com PSF é caracterizada por um valor baixo de

Percentagem de Consoantes Corretas (PCC) e pela existência de processos fonológicos

(Lousada, 2012). Assim, este estudo pretende verificar se as crianças falantes de PE e de

PB diferem em relação a um conjunto de medidas fonológicas usualmente utilizadas na

prática clínica do terapeuta da fala. Vão ser analisados e comparados para observar as

diferenças entre os dois grupos dos sujeitos, crianças falantes do português europeu e

crianças falantes do português brasileiro (GPE e GPB), onze medidas fonológicas:

Percentagem de Consoantes Corretas (PCC) (Shriberg e Kwiatkowiski, 1982),

Percentagem de Consoantes Corretas-Revisto (PCC-R) (Shriberg, et al., 1997), Process

Density Index (PDI) (Edwards, 1992), Índice Relativo de Substituição (IRS), Índice

Relativo de Distorção (IRD), Índice Relativo de Omissão (IRO), Índice Absoluto de

Substituição (IAS), Índice Absoluto de Distorção (IAD), Índice Absoluto de Omissão

(IAO) (Shriberg, et al., 1997), tipos de Processos Fonológicos (PF) (Ingram, 1989) e

Percentagem de Acerto por Fonema (PAF) (índice novo proposto nesta investigação). A

relevância de comparar o desempenho das crianças falantes de PE com as crianças

falantes de PB nas 11 medidas fonológicas em estudo prende-se com os sistemas

fonológicos serem próximos nas duas variantes da língua.

Existem instrumentos de avaliação padronizados para auxiliar a identificação de

problemas relacionados com as perturbações fonológicas. Estes testes estão

standardizados para uma determinada população e fornecem dados normativos para a

análise, comparação e constatação de algum problema nesta área.

É importante realçar a pertinência da avaliação do terapeuta da fala nas PSF, já

que se esta avaliação for realizada precocemente e através de um diagnóstico diferencial

pode ser um bom indicador para o desenvolvimento das habilidades fonológicas de cada

criança e para a aprendizagem da leitura e da escrita, uma vez que inúmeros problemas

de aprendizagem estão relacionados com perturbações de caráter fonológico.

O objetivo primordial deste trabalho é assim comparar o desempenho de

crianças falantes de PE e das crianças falantes de PB com idades compreendidas entre

os cinco anos e zero meses e os sete anos e os 11 meses, com diagnóstico em Terapia da

Fala de PSF analisando um conjunto de 11 medidas fonológicas. Com este objetivo

pretendemos responder às seguintes questões de investigação:

Page 22: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

4

1) Verificar se o desempenho dos sujeitos com PSF do GPE e do GPB difere na

prova de nomeação de imagens, no que se refere a PCC, PCC-R, PDI e IAS, IAO, IAD

e IRS, IRO, IRD e ao número de processos fonológicos;

2) Identificar qual o tipo de erro - substituição, omissão ou distorção - mais

frequente em ambas as amostras;

3) Verificar se os processos fonológicos com maior ocorrência em crianças com

PSF diferem nas crianças falantes nativas de PE e nas crianças falantes nativas de PB;

4) Verificar se o inventário fonético das crianças com PSF difere nos falantes

nativos de PE e nos falantes nativos de PB;

5) Identificar quais os fonemas que as crianças com PSF falantes nativos de PE e

falantes nativos de PB produzem com menor de Percentagem de Acertos por Fonema

(PAF).

Para responder a estas questões foram realizados dois estudos neste trabalho: o

primeiro estudo (Estudo 1) corresponde à análise e comparação das medidas

fonológicas para a amostra de fala dos sub-testes de nomeação dos instrumentos de

avaliação selecionados para esta pesquisa; o segundo estudo (Estudo 2) corresponde à

análise e comparação das medidas fonológicas para a amostra de fala das 12 palavras

comuns nos dois testes de avaliação.

Pretende-se ainda com esta investigação contribuir para a descrição da

importância das medidas fonológicas na avaliação de crianças com PSF falantes de PE e

de PB, o que ajudará os terapeutas da fala/fonoaudiólogos a melhorar a avaliação e a

estabelecer um diagnóstico diferencial na área das perturbações da linguagem, em

particular da fonologia. O presente trabalho irá também contribuir para o conhecimento

das medidas fonológicas que podem ser utilizadas na avaliação de casos com PSF bem

como dos processos fonológicos que podem ser semelhantes na variante da língua do

português (PE vs. PB).

O conteúdo da dissertação encontra-se divídido em quatro capítulos. Na presente

secção (Introdução), são apresentadas as motivações do estudo, definem-se os objetivos

a alcançar, colocam-se as questões de investigação e situa-se o impacto futuro bem

como a estrutura da dissertação.

Page 23: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

5

No capítulo I são inicialmente apresentados alguns aspetos que estão

relacionadas com a temática desta pesquisa, nomeadamente: as diferenças entre o

português europeu e o português brasileiro no que respeita aos seus sitemas

fonológicos; as perturbações dos sons da fala; a avaliação das perturbações fonológicas

e as medidas fonológicas.

O método é descrito no capítulo II: o tipo de estudo, a caracterização da amostra

através da casuística, o material utilizado para a avaliação dos sujeitos, os

procedimentos realizados para a seleção da amostra e para o cálculo de todas as medidas

fonológicas para o Estudo 1 e 2.

No capítulo III são apresentados os resultados obtidos: os resultados do Estudo

1, onde se procede à descrição da comparação das medidas fonológicas entre o

português europeu (PE) e o português brasileiro (PB) e os resultados do Estudo 2 tendo

em conta a amostra de fala das 12 palavras em comuns nos dois instrumentos de

avaliação utilizados.

No capítulo IV são discutidos os resultados apresentados no Capítulo III com

referência aos resultados que estão descritos de estudos anteriores. São apresentadas as

limitações da presente pesquisa e são anunciadas as propostas para futuros estudos.

A conclusão remete-nos para um sumário desta pesquisa. Segue-se uma

descrição das principais conclusões obtidas nos dois estudos realizados.

Por fim, são apresentadas no anexo as folhas de registo dos instrumentos de

recolha de dados utilizados nesta pesquisa e no apêndice as tabelas que no decorrer do

texto são referidas.

Page 24: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

6

Page 25: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

7

CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Neste capítulo serão apresentadas algumas características fonológicas do

português europeu (PE) e do português brasileiro (PB). É apresentada brevemente a

evolução do conhecimento das perturbações fonológicas e dos testes e medidas de

avaliação existentes para efetuar este diagnóstico. Mais em detalhe, serão descritas as

onze medidas fonológicas (PCC; PCC-R; PDI; IRS; IRO; IRD; IAS; IAO; IAD; tipos de

Processos Fonológicos e Percentagem de Acerto por Fonema) que serão usadas neste

estudo.

1.1 Os sistemas fonético-fonológicos do Português Europeu (PE) e do

Português Brasileiro (PB)

A linguagem é dividida em diferentes módulos, nomeadamente a fonologia (sons

e respetivas combinações), a morfologia (formação e estrutura interna das palavras), a

sintaxe (organização das palavras em frases), a semântica (significados das palavras e a

interpretação das combinações de palavras), e a pragmática (adequação ao contexto de

comunicação) (Sim-Sim, 1998; Bochner e Jones, 2003).

A fonologia remete para a organização dos sons numa dada língua. Engloba o

estudo do conjunto de segmentos consonânticos e vocálicos que podem ser combinados

dentro de certas possibilidades específicas de cada língua, originando as sílabas que

quando agrupadas dão por sua vez origem às palavras (Mateus, Falé e Freitas, 2005;

Bonilha e Keske-Soares, 2007; Lima, 2009).

Numa cadeia sonora que corresponde a uma palavra podemos identificar

unidades que, substituídas por outras, provocam alterações de significado. Estas

unidades são denominadas por fonemas. Os fonemas do PE e do PB que constituem o

sistema fonológico são consoantes, vogais e semivogais (Mateus et al., 2005).

No presente trabalho vamos apenas dar ênfase às diferenças no sistema

fonológico consonantal do PE e do PB, uma vez que são estes sons mais afetados e

alterados nas Perturbações dos Sons da Fala (PSF). Consideramos para o PE a variedade

da norma padrão Lisboa – Coimbra e para o PB a variedade de São Paulo.

De seguida, apresentamos na Tabela 1 e na Tabela 2 os sistemas consonantais do

PE e do PB, respetivamente. Na Tabela 1 encontra-se a descrição sistema fonológico do

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8

PE para a norma padrão Lisboa-Coimbra (Mateus et al., 2003). Na Tabela 2

consideramos a variedade linguística de São Paulo e apresentamos os fones e variantes

fonéticas (como o / ɫ/ e as africadas) para o PB (Silva, 2007).

Modo de

Articulação Oclusivas Fricativas Lateral Vibrante

Nasalidade Oral Nasal Oral

Vozeamento Voz N Voz Voz N Voz Voz N Voz Voz N Voz Voz N Voz

Po

nto

de

art

icu

laçã

o

Bilabial b p m

Labiodental v f

Dental d t s

Alveolar n l ɾ

Palatal ɲ ʒ ʃ ʎ

Velar g k

Uvular R

Tabela 1. Classificação articulatória tradicional das consoantes de PE. Adaptado de Mateus et al. 2005. Legenda: Voz = som vozeado; N Voz = som não vozeado.

Modo de

Articulação Oclusivas Africadas

Fricativas

Nasal Tepe Vibrante Retroflexa Lateral

Vozeamento Voz N

Voz

Voz N

Voz

Voz N

Voz

Voz

Po

nto

de

art

icu

laçã

o

Bilabial b p m

Labiodental v f

Dental ou

Alveolar

d t z s n ɾ ɾ ɹ l ɫ

Alveopalatal dʒ tʃ ʒ ʃ

Palatal ɲ y ʎ

Velar g k ɣ χ

Glotal ɦ h

Tabela 2. Classificação articulatória das consoantes de PB. Adaptado de Silva, 2007.

Legenda: Voz = som vozeado; N Voz = som não vozeado.

Tanto no PE como no PB podemos dividir as consoantes em quatro categorias:

oclusivas, fricativas, nasais, laterais e vibrantes. As consoantes oclusivas são /p, t, k, b,

d, g/; as consoantes fricativas são /f, s, ʃ, v, z, ʒ/; as consoantes nasais orais são /m, n, ɲ/;

/l, ʎ/ são as consoantes laterais /ɾ, R/ (Mateus et al., 2005).

Podemos constatar outras diferenças ao nível fonético entre o PE e o PB: o PB

possui consoantes alveopalatais, africadas [tʃ], [dʒ] sendo a primeira não vozeada e a

segunda vozeada; apresenta uma consoante fricativa velar não vozeada [X] que é

característica da pronúncia típica do carioca bem como a consoante fricativa velar

vozeada [ɣ] onde ocorre uma fricção audível na região velar; a consoante fricativa glotal

não vozeada [h] e a consoante fricativa glotal vozeada [ɦ] que são típicas da pronúncia

do dialeto de Belo Horizonte não ocorre fricção audível no trato vocal; no PE a

consoante [ɾ] é denominada de consoante alveolar, vibrante, vozeada que corresponde à

Page 27: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

9

consoante [ɾ] no PB; a consoante [ɾ] no PB tem a nomenclatura de tepe, alveolar,

vozeada é uniforme na posição intervocálica e em alguns dialetos na posição final de

palavra; a consoante [ɹ] é característica do dialeto caipira do /ɾ/ em final de palavra é

denominada de retroflexa, alveolar, vozeada (Silva, 2007).

Apesar de os sistemas fonológicos do PE e do PB serem muito semelhantes,

Frota e Vigário (2001) descrevem diferenças entre o ritmo do PE e do PB que são

explicadas pela divergência de algumas propriedades fonéticas e fonológicas. Uma das

características do PE é a redução de vogais átonas, que são frequentemente apagadas, o

que não se verifica no PB. Ao nível fonológico também se verifica que, embora as

sílabas sejam semelhantes entre PE e PB, quanto ao tipo e complexidade, no PE é usual

a formação de sequências de consoantes em consequência da redução do vocalismo

átono, já no PB é comum a epêntese vocálica quebrar a sequência consonântica. Outro

aspeto ao nível fonético em que o PB difere do PE diz respeito aos fonemas /t/ e /d/ que

são produzidos como africadas [tʃ]e [dʒ], quando seguidos de /i/ tónico e átono e antes

de /ɛ/ postónico em alguns dialetos do PB. Existem também diferenças na realização das

líquidas em coda: no PB a vibrante /ɾ/ em coda pode ser realizada também como uma

vibrante uvular [R], ou como uma fricativa velar [x] e em coda final pode ser suprimida

ou realizada como uma aspiração [h]. Do mesmo modo, o fonema /l/ no PB em coda

ocorre a vocalização lateral em posiçao final de sílaba e neste caso temos um segmento

com características articulatórias de uma vogal [u] que é transcrita fonéticamente como

[w], e no PE é velarizado (Mateus & Andrade, 2000). Quanto à fricativa /s/ em coda, no

PB realiza-se como [s] e [z] enquanto no PE é produzida como [ʒ],[ʃ] e [z] (Mateus &

Andrade, 2000 e Silva, 2007).

Segundo Callou e Leite (1990), citado por Mateus, & Andrade (2002), no PB, a

modificação da posição da consoante final tem ido mais longe com a perda do caráter

consonantal, a consoante líquida lateral deu lugar à consoante glide velar [w]. Assim,

por exemplo, a palavra “mal” é produzida como [máɫ] no PE e [máw] no PB. No PE o

final de palavra corresponde às consoantes [R], [X] e [h] do PB ou simplesmente

desaparece como no caso da palavra “amar” no PE em comparação com [amáR]/

[amáX]/ [amáh]/ [amá] no PB.

Outra diferença já mencionada entre o PE e o PB é a do processo do vocalismo

átono que tem consequências nas vogais átonas e na estrutura fonética. No PE, este

processo leva a uma elevada redução das vogais acentuadas quando sobre elas se

Page 28: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

10

aplicam as regras da geometria de traços. Quando existe este processo de redução de

vogais atónas, no PB verifica-se em menor ocorrência do que no PE (Mateus et al,

2005).

1.2 Aquisição do Sistema Fonológico do PE e do PB

O desenvolvimento fonológico apresenta diferentes estágios (Yavas,1988;

Ingram,1989) . O estágio pré-linguístico é o primeiro estágio e decorre de zero anos e

um mês a um ano e zero meses de idade. Este caracteriza-se pela realização do balbúcio,

em que a criança produz diversos sons sem qualquer significado. O estágio das

primeiras cinquenta palavras é o segundo estágio e ocorre nas idades compreendidas

entre um ano e zero meses e um anos e seis meses. Caracteriza-se pelo início da relação

estável de sons com significado. O terceiro estágio denomina-se por estágio de

desenvolvimento fonémico e ocorre em crianças de um ano e seis meses a quatro anos e

zero meses de idade. Este estágio corresponde a uma estabilidade entre o som produzido

e o padrão da língua alvo. A criança começa a produzir palavras de grande

complexidade fonológica (Yavas, 1988; Ingram 1976; Stele-Gammon, 1985, Avila,

2000 e Ghisleni, 2009).

Gordon-Brannan e Weiss (2007) concordam que o desenvolvimento do sistema

fonológico ocorre de forma contínua e decorre ao longo dos estágios acima

mencionados, acrescentando um quarto estágio, que consiste na estabilização do sistema

fonológico da criança de quatro anos e zero meses a oito anos e zero meses de idade. As

crianças realizam uma boa produção linguística das palavras simples e de algumas

palavras complexas e começam a aprender a ler e a escrever, o que aumenta o seu

conhecimento fonológico, de forma explícita.

Na Tabela 3 podemos consultar uma síntese do desenvolvimento fonológico das

crianças na faixa etária dos [4:0 – 6:11], de acordo com diversos autores. Nesta faixa

etária, que irá ser alvo do presente estudo, as crianças apresentam um crescimento

intensificado do domínio e da maturação da fonologia marcado pelo início de uma nova

etapa, a consciência fonológica (Mendes et al, 2009; Castro, 1999; Sim Sim, 1998;

Guimarães, 1997; Stampe, 1969).

Page 29: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

11

Faixa etária

[4:0 – 6:11]

Fonologia

Compreensão Expressão

Mendes et

al., (2009)

[4:0 - 4:6] ocorre a aquisição das

fricativas; consoantes líquidas /l/

e / ɾ/ dentro do grupo

consonântico adquirida entre [5:0

– 5:6] e [4:0 – 4:6]

respetivamente.

Antes dos quatro anos desaparece o processo de

oclusão.

[4:0 – 4:12] os processos de despalatalização,

palatalização e desvozeamento desaparecem.

Entre os [6:0 – 6:11] ocorre o desaparecimento da

omissão da consoante final, a redução do grupo

consonântico e a redução da sílaba átona.

Castro

(1999)

A criança conhece as regras do

seu sistema linguístico – sabe

como os sons se distribuem e se

organizam. Repertório

fonológico dominado.

Existem alguns processos fonológicos que

permanecem depois dos quatro anos: semivocalização

de líquida, redução da sílaba átona, redução do grupo

consonântico e oclusão.

Sim Sim

(1998)

Conhecem e dominam o sistema

de sons da sua língua materna.

[4:0 – 5:0] aparecem os indicadores de consciência

fonológica, extinção de todos os processos

fonológicos por volta dos 5:0.

Guimarães

(1997)

Conhecimento dos sons da

língua, descriminação auditiva de

pares mínimos.

Persistência de alguns processos fonológicos, tais

como omissão do grupo consonântico, anteriorização

das consoantes /k/,/g/ e /ɲ/; oclusão de fricativas /f/,

/v/, /s/ e /z/; semivocalização do /ɾ/; substituição de /ɾ

por /l/; oscilação entre laterais; epêntese de grupos

consonânticos e redução de grupos consonânticos.

Stampe

(1969) -----------

Durante a idade pré-escolar existe a ocorrência de

substituições, omissões e distorções.

Tabela 3. Etapas do desenvolvimento fonológico.

Os dados normativos são essenciais para a avaliação clínica do terapeuta da fala

e para o estabelecimento da intervenção terapêutica. Estes dados normativos,

representam o desenvolvimento típico das crianças sem patologia em idades

cronológicas específicas. Para o PE existem alguns estudos publicados sobre o

desenvolvimento fonético- fonológico (Castro, Gomes, Vicente & Neves, 1997; Castro,

Neves, Gomes & Vicente, 1999; Guerreiro & Frota, 2010 referido por Mendes et al.,

2009).

Freitas (1997) referido por Mendes et al., (2009) refere que na aquisição

segmental em primeiro lugar a criança adquire as consoantes oclusivas, depois as

fricativas e, por último as líquidas. Um estudo de Marques (2001) em 40 crianças com

quatro anos de idade na análise da aquisição de consoantes e de grupos consonânticos

mostrou que as crianças dominam todas as consoantes à exceção das fricativas [s, z, ʒ] e

do grupo consonântico [kɾ] (Mendes et al., 2009).

Em Silvério et al. (1995), referido por Guimarães e Grilo (1997), considera-se

que no PE os grupos consonânticos [pl], [bl], [kl], [gl] e o [fl] são adquiridos dos três

anos e seis meses aos quatro anos e seis meses de idade. Já os grupos [pɾ], [bɾ], [tɾ], [dɾ],

[kɾ], [gɾ] e [fɾ] são adquiridos pelas crianças entres os quatro anos e seis meses aos

cinco anos e seis meses de idade.

Page 30: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

12

Ao consultar o TFF ALPE (Mendes et al., 2009) verificamos que a faixa etária

em que 75% das crianças produziram corretamente as consoantes /p, t, k, b, d, g, f, s, ʃ,

v, m, n, ɲ, R/ é [3:0 – 3:6[. A maioria das crianças pertencentes à amostra deste

instrumento de avaliação produzem corretamente as consoantes /l, ʎ, ʃ/ em final de

sílaba na faixa etária [3:6 – 3:12[. Na faixa etária dos [4:0 – 4:6[ as crianças produziram

corretamente as consoantes /z, ʒ, ɾ/ e os grupos consonânticos /pl, kl, fl/. O fonema /ɾ/

em final de sílaba é produzido corretamente na faixa etária dos [4:6 – 4;12[ bem como

os grupos consonânticos /fr, vr, br, kr/. Os grupos consonânticos /pr, tr, dr, gr/ e [ɫ] em

posição final de sílaba são os últimos a serem produzidos corretamente por 75% das

crianças que participaram neste estudo na faixa etária dos [5:0 – 5:6[.

Wertzner (1994) e Galea (2008) citados por Fernandes, Mendes e Navas (2010),

defendem que, no PB, os grupos consonânticos [pɾ], [bɾ], [gɾ], [kɾ] e o [gl] em posição

inicial são adquiridos aos quatro anos de idade. Aos quatro anos e seis meses são

adquiridos os grupos [dɾ], [fɾ], [kl] e o [fl] em posição inicial. O grupo [tɾ] é adquirido

aos cinco anos de idade, o [bl] aos cinco anos e seis meses e o [pl] aos seis anos e seis

meses, todos em posição inicial.

Muitas abordagens têm sido estudadas, o que contribui para o que hoje se sabe

sobre o processo de aquisição fonológica. Uma das abordagens é a Teoria da Fonologia

Natural estudada por Stampe (1969). Esta teoria tem por base os processos fonológicos.

Os processos fonológicos são “operações mentais que ocorrem na fala de modo

a substituir uma classe de sons ou sequência de sons, que apresentam uma dificuldade

comum à capacidade para a fala do indivíduo, por uma classe idêntica mas em que a

propriedade causadora da dificuldade não se encontra presente” (Guerreiro & Frota,

2010, pp. 57 - 58). Esta teoria permitiu identificar os “erros” de fala das crianças e na

definição original os processos fonológicos não são mais do que uma simplificação ou

uma alteração estrutural da fala adulta que a crianças realiza no seu discurso durante o

processo de desenvolvimento (Guerreiro & Frota, 2010).

Segundo Rebelo & Vital (2006), Sim-Sim (2008), Mendes et al., (2009),

Huggette & Frota (2010) na faixa etária dos [3:0 – 4:11[ a criança já reconhece todos os

sons da língua materna, entre os quatro e os cinco anos de idade a criança suprime os

processos fonológicos de palatalização e despalatalização e na faixa etária dos [5:0 –

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13

5:11[ realiza os processos fonológicos de redução de grupo consonântico, redução de

sílaba átona e semivocalização de líquida.

1.3 Perturbações dos Sons da Fala

A definição da classificação das Perturbações Fonológicas tem sofrido alterações

no decorrer das últimas décadas. Principalmente na literatura americana, nos anos 80 e

90, esta perturbação foi denominada de phonological disorders e a partir de 2000 foi

introduzida a nomenclatura Speech Sounds Disorders (Shriberg, 2003). Como já foi

referido na Introdução, neste trabalho será utilizada a nomenclatura de Perturbação dos

Sons da Fala (PSF), tradução literal deste termo (Speech Sounds Disorders) para o

português europeu.

Segundo Ingram (1976), DSM - IV (2002), Wertzner (2012), a PSF consiste

numa alteração no sistema fonológico de uma criança, a principal característica é a

incapacidade de a criança produzir adequadamente os sons da fala com o que é esperado

para a sua idade e para o seu desenvolvimento fonológico. Esta incapacidade leva à

produção incorreta dos sons da fala e pode incluir erros de seleção, na produção e na

ordenação dos sons em sílabas ou em palavras. Estes erros caracterizam-se por:

omissões, substituições ou distorções dos sons da fala.

A PSF afeta crianças com desenvolvimento inteletual, auditivo, psicomotor e

social adequados, que apresentam, no entanto, dificuldades específicas nos aspetos

cognitivo-linguísticos perceptivos e/ou de produção de fala, e estas nem sempre são

possíveis de serem identificadas (Ingram, 1976; Grunwell, 1981).

Shriberg e Kwiatkowski (1982) citado por Coutinho (2012) apontam que a PSF

é uma perturbação com elevada ocorrência em crianças com dificuldades de

comunicação e classificam-no de acordo com os processos fonológicos, o inventário

fonético, as características da voz e de prosódia, bem como com aspetos psicossociais.

Estes autores consideram os processos fonológicos de eliminação da consoante final,

redução do encontro consonântico, redução da sílaba átona, oclusão, simplificação de

líquida, despalatalização, anteriorização e assimilação como os mais importantes para a

língua inglesa. Em 1985, Stoel-Gammon e Dunn definiram a PSF como um padrão

atípico no processo de aquisição do sistema fonológico, ou seja, as crianças que não

Page 32: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

14

seguem o padrão de desenvolvimento esperado para a língua, durante este processo,

apresentam esta perturbação (Coutinho, 2012).

Elbert e Gierut (1986) descrevem que a PSF se caracteriza pela dificuldade em

produzir os sons da fala, além do uso inadequado das regras do sistema fonológico da

língua que incluem fonemas, a sua distribuição e os tipos de estruturas silábicas.

As crianças com PSF têm características de fala similares, tais como: inventário

de sons reduzido, uso preferencial de estruturas silábicas simples e uso de um número

limitado de processos fonológicos, em geral semelhantes aos das crianças normais,

sendo que algumas apresentam ainda processos idiossincráticos (Stoel-Gammon, Dunn,

1985; Grunwell, 1989).

A avaliação feita pelo terapeuta da fala é realizada a partir dos dados da fala da

criança (nomeação, repetição e discurso provocado e /ou espontâneo). Assim, é

importante distinguir o que afeta a fala e a linguagem nas PSF. A fala distingue-se da

linguagem na medida em que a primeira é uma exteriorização da segunda, através da

explicitação de ideias ou conteúdos. A fala carece de todas as atividades conjuntas dos

sistemas respiratório, fonatório e articulatório e concretizada na produção de elementos

sonoros da língua, estruturados para obter sentidos através de um complexo sistema

fonoarticulatório. Este conceito deriva em duas direções, paralelas e convergentes: a

estrutura anatómo-fisiológica de cada indivíduo e uma convenção coletiva que é

utilizada por todos os membros de uma comunidade, a língua (Lima, 2009).

Para realizar a actividade da fala é necessário possuir uma coordenação

neuromotora dos músculos interferentes na fonação, respiração e articulação, sendo que

estes controlam as áreas especificas do sistema nervoso central e os órgãos da

articulação que os músculos enervam. Estas estruturas periféricas ou articuladores

deverão apresentar condições físicas e funcionais capazes de produzir um som. Alguma

alteração na morfologia externa ou numa relação neurofisiológica da actividade

articulatória resulta num quadro de patologia (Lima, 2009). Já para Sim-Sim (1998) a

fala é a produção da linguagem na variante fónica, realizada através do processo de

articulação de sons.

De acordo com American Speech and Hearing Association (ASHA) (2007),

“Language is a socially shared code, or conventional system, that represents ideas

Page 33: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

15

through the use of arbitrary symbols and rules that govern combinations of these

symbols.”

A linguagem verbal pressupõe regras complexas de uso dos símbolos que

permitem a organização dos sons, palavras, frases e respectivo significado, tal como

pressupõe um objectivo e uma intencionalidade. Com a aquisição destas regras, o

indivíduo vai desenvolvendo competências para perceber a linguagem (linguagem

compreensiva) e para formular/produzir linguagem (linguagem expressiva). Ao

conhecimento implícito destas regras chama-se competência linguística. A criança que

adquira competência linguística, poderá fazer uso da linguagem, uma vez ter

competência para lhe dar forma, conteúdo e uso. A primeira concede ao falante a

capacidade de usar regras para combinar sons e formar palavras – fonologia -, conhecer

a organização e estrutura interna das palavras – morfologia – e, consequentemente as

regras que permitem combinar palavras para construir uma variedade infinita de frases –

sintaxe. O conteúdo, relacionado com o significado e regras que governam a semântica,

pode ser literal ou não-literal. O falante irá interpretá-lo mediante a informação extraída

do contexto, bem como do conhecimento que o próprio tem sobre os conceitos,

nomeadamente o conhecimento lexical. Por último, o uso, permite ao falante servir-se

das regras que regulam a utilização da linguagem nos diversos contextos sociais. Estas

regras, estudadas pela pragmática, regulam os motivos pelos quais os seres humanos

comunicam, nomeadamente as intenções ou funções comunicativas (e.g. cumprimentar,

perguntar, responder, pedir informações, informar, expressar sentimentos, etc.). Os

princípios que regem a conversação como o, iniciar, o manter e finalizar, também dizem

respeito à pragmática Bloom e Lahey (1978, citados por Bernstein et al., 2002).

A aquisição da linguagem oral é um “processo de apropriação subconsciente de

um sistema linguístico, via exposição, sem que para tal seja necessário um mecanismo

formal de ensino.” (Sim-Sim, 1995, citado por Sim-Sim, 1998). Sendo este, um

processo natural e espontâneo, independente de aprendizagem formal, cumpre o

alargamento de aquisições, iniciadas logo após o nascimento e que vai sofrendo

reestruturações contínuas correspondentes aos processos de maturação que ocorrem

concomitantemente com domínios graduais da estrutura formal da Língua.

Andrade (2008) estabeleceu os critérios de diagnóstico para a PSF segundo o

DSM IV-TR são: i) esta perturbação manifesta-se clínicamente através da incapacidade

Page 34: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

16

para usar sons da fala esperados para o nível etário do sujeito, tais como: dificuldades na

produção, uso ou organzação dos sons (por exemplo, substituição de um som por outro),

omissão, nomeadamente consoantes finais e distorções; ii) as dificuldades decorrentes

desta perturbação interferem no rendimento escolar, no desempenho profissional e na

comunicação; iii) caso estejam presentes outros problemas, tais como uma deficiência

mental, uma dificuldade motora da fala, um défice sensorial, um contexto familiar e

social adverso, as dificuldades de linguagem manifestadas excedem o que seria

normalmente esperado para esta perturbação.

Numa revisão de estudos de prevalência Law et al., (2000), estimam que a

prevalência das perturbações da fala na população inglesa ocorre entre 2.3% a 24.6%.

Feldman (2005) menciona que a prevalência das perturbações da fala ocorre entre 3 a

6% das crianças em idade escolar, em idade pré-escolar a prevalência é de 15%.

No Brasil, Shirmer, Fontoura e Nunes (2004) referem que, as alterações de

linguagem atingem 3 a 15% das crianças brasileiras. Andrade (1997) avaliou 2980

crianças e a prevalência das perturbações da fala e da linguagem em crianças de 11 anos

foi de 4,19%.

Segundo a literatura brasileira, a PSF é uma perturbação mais frequente nos

sujeitos do sexo masculino e é importante na altura da avaliação compreender o meio

cultural e linguístico do sujeito. Cerca de 2% das crianças entre os seis e os sete anos de

idade apresentam uma PSF, moderada a grave; a partir dos 17 anos, a prevalência

diminui para os 0.5%. É importante também considerar para a PSF os antecedentes

familiares (Andrade, 2008). Em Portugal existem alguns estudos de prevalência.

Pedrosa e Temudo (2004) defendem que, embora a prevalência das perturbações da fala

e da linguagem seja desconhecida, cerca de 1% das crianças chegam à idade escolar

com uma perturbação grave na linguagem. Este estudo refere também que as

perturbações predominam no sexo masculino. Caldeira, Gonçalves e Pereira (2004)

defendem que entre 3% a 6% das crianças são afetadas por uma perturbação da

linguagem. Silva e Peixoto (2008) realizaram um estudo e concluíram que das 748

crianças avaliadas 48,2% apresentava qualquer alteração ao nível da linguagem e/ou

fala, com uma prevalência de 27,3%.

Dodd et al., (1989) classificaram as crianças com PSF em três subtipos: aquelas

com atraso na aquisição fonológica, nesse a criança faz uso de processos fonológicos

que fazem parte do desenvolvimento normal de crianças mais novas; aquelas que fazem

Page 35: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

17

uso de processos sistemáticos, porém não se verificam por aqueles em desenvolvimento

típico e por fim aquelas crianças que cometem erros inconsistentes.

Dodd e McComark em 1995 propuseram quatro subgrupos para a classificação da

PSF: 1) refere-se à criança com uma dificuldade de articulação de um determinado som;

2) a criança apenas com atraso na aquisição fonológica; 3) uso de processos fonológicos

não esperados (inabilidade na organização do sistema fonológico) e 4) a criança faz

erros inconsistentes, tendo um melhor desempenho nas provas de imitação.

Para Gierut (1998), a PSF pode ter uma causa de natureza fonética, quando há

inabilidade de articular sons da fala envolvendo componentes motores (apraxia) ou de

causa fonológica, quando há uma dificuldade cognitivo-linguística, ou seja, a

representação fonológica dos sons está alterada.

Em 2010, Shriberg et al., numa revisão dos estudos anteriores proposeram uma

nova classificação das PSF (Shriberg, 1999, 2002; Shriberg et al., 2003; Shriberg et al.,

2005). Propuseram que esta pode ser classificada de acordo com a tipologia e etiologia.

A tipologia foi dividida pelos autores em: atraso de fala, perturbação motor de fala e

erros de fala, sendo que as duas primeiras divisões são esperadas para idade entre 3 e 9

anos, e a última entre 6 e 9 anos. Já a etiologia da PSF foi subdividida em cinco

subtipos: cognitivo-linguístico, perceptivo auditivo, psicossocial, controle motor da fala

e refinamento da fala.

Tendo em conta as definições de PSF apresentadas pelos diferentes autores, é

importante referir que para este trabalho não foram considerados os subtipos de PSF que

os autores consideram, embora na amostra dos falantes nativos de PE e dos falantes

nativos de PB os vários subtipos de PSF possam estar presentes.

1.4 Avaliação das Perturbações Fonológicas

Para elaborar o diagnóstico em PSF, é necessário realizar uma avaliação com

dados da linguagem oral (compreensão e expressão), escrita e leitura, testes de

fonologia, de processamento fonológico, sistema mio-funcional oral, estimulabilidade,

diadococinéticos e audiométricos (comportamentais e eletrofisiológicos) (Penã-Books e

Hedge, 2000; Khan, 2002; Wertzner, 2004; Castro, 2004 e Wertzner; Papp; Galea,

2006).

Page 36: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

18

Os testes de fonologia são os mais importantes para a realização do diagnóstico

da PSF, e constam de três provas: imitação, nomeação e fala espontânea. Na prova de

imitação solicita-se à criança que repita uma palavra ou uma frase. Na nomeação é

apresentando um estímulo visual à criança e espera-se que esta verbalize a palavra

correta. A fala espontânea pode ser recolhida de forma direta ou indireta. Na fala

espontânea direta são colocadas à criança questões, em oposição na indireta a criança é

estimulada pela introdução de um tópico ou de uma história para produzir um discurso.

(Wertzner et al., 2004).

Existem instrumentos de recolha de dados standartizados para a população

portuguesa e brasileira: para o PE, a Prova de Avaliação de Capacidades Articulatórias

(P.A.C.A.) (Batista, 2009), o Teste de articulação CPUC (Castro et al., 2001), Prova de

avaliação da articulação de sons em contexto de frase para o PE (Vicente et al., 2006), o

Teste de Avaliação da Produção Articulatória das Consoantes do PE (TAPAC-PE)

(Faria e Falé, 2001), o Teste de Articulação Verbal (Guimarães & Grilo, 1998), e o

Teste Fonético-Fonológico (TFF-ALPE) (Mendes et al., 2009), e para o PB, o Teste de

Linguagem Infantil ABFW (Andrade et al., 2004) e Avaliação Fonológica da Criança

(Yavas et al., 2002), que usa a imagem com desenhos temáticos. Para o PE:

Para o presente estudo os testes utilizados para a recolha de dados dos sujeitos

foram: Teste Fonético-Fonológico sub teste de nomeação (TFF-ALPE) (Mendes et al.,

2009) para as crianças falantes do português europeu e o Teste de Linguagem Infantil

ABFW sub teste de fonologia prova de nomeação (Wertzner, 2004) para o grupo de

sujeitos do português brasileiro.

O TFF-ALPE destina-se a avaliar a linguagem em idade pré-escolar na

componente da fonologia. É um teste psicométrico com referência à norma que pretende

avaliar as àreas da fonética e fonologia em crianças dos 3 anos aos 6 anos e 11 meses e

auxilia o terapeuta da fala na elaboração de um diagnóstico diferencial entre perturbação

articulatória e perturbação fonológica. No que diz respeito à fonética este teste avalia a

capacidade de articulação verbal de consoantes, vogais e grupos consonânticos do

português europeu. Ao nível fonológico, o TFF-ALPE avalia o tipo e percentagem de

ocorrência de processos fonológicos e a inconsistência na produção repetida da mesma

palavra (Mendes et al, 2009).

Este teste é constituído pelo subteste fonético, subteste fonológico, subteste de

inconsistência e inventário fonético, tendo sido apenas utilizado para este estudo, o

Page 37: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

19

subteste fonológico (prova de nomeação). O subteste fonológico permite avaliar a

ocorrência dos processos fonológicos de omissão da consoante final, redução da sílaba

átona pré-tónica, redução do grupo consonântico, semivocalização da líquida [l],

oclusão, anteriorização, despalatalização, posteriorização, palatalização e

desvozeamento através da nomeação de um conjunto de imagens que representam

palavras frequentes no vocabulário das crianças destas idades, selecionadas com base no

corpus de frequência do português fundamental. A partir deste subteste é possível

calcular a percentagem de ocorrência de cada processo fonológico (Mendes et al, 2009).

O tempo de aplicação total do teste é de 15 a 20 minutos. O processo de

validação do TFF-ALPE teve por base uma técnica de amostragem estratificada, sendo

a sua amostra considerada representativa da população. Deste processo fizeram parte

723 crianças, provenientes de Portugal Continental e Insular, das quais 48,82% são do

género feminino e 51,17% do género masculino. Especificamente no subteste

fonológico a amostra é constituída por 716 crianças devido ao facto dos registos com

transcrição fonética de 7 crianças se encontrarem ausentes. Foram constituídos 8 grupos

para cada género com 6 meses de intervalo (dos 3:00-3:06 aos 6:06-6:12). O TFF-ALPE

tem uma boa consistência interna, apresentando um α de Cronbach de 0,96. Não se

conhece a consistência interna específica do subteste fonológico. O referido teste é

constituído por um conjunto de 67 imagens, correspondendo cada uma dela a uma

palavra alvo. A metodologia de aplicação consiste em apresentar à criança uma imagem

correspondente à palavra alvo e solicitar a nomeação através da instrução: “O que é?”

(Mendes et al., 2009).

O teste de Linguagem Infantil ABFW (Andrade et al., 2004) permite avaliar

crianças de dois aos 12 anos de idade nas áreas de fonologia, vocabulário, fluência e

pragmática e é constituído por quatro partes. O objetivo do ABFW é a obtenção de

dados para a precisão do diagnóstico das perturbações da linguagem.

Na parte da fonologia é avaliado o inventário fonético da criança e os catorze

processos fonológicos. São fornecidos os parâmetros comparativos por idade tanto para

a análise tradicional como para a dos processos fonológicos. Esta parte é constituída por

duas provas: a prova de imitação e de nomeação. Na prova de nomeação o examinador

solicita à criança que diga o nome da figura mostrada. As trinta e quatro (34) figuras são

apresentadas em formato de prancha com a medida de 12 cm x 21 cm. Esta prova deve

ser aplicada a crianças entre os três anos e os 12 anos de idade com uma perturbação

Page 38: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

20

fonológica de causa desconhecida e sem, aparentemente nenhuma lesão central ou

periférica (Wertzner, 2004).

Tendo como base o desenvolvimento típico do sistema fonológico das crianças

na Tabela 4 observa-se a comparação do domínio de fonemas obtidos no TFF-ALPE

(Mendes et al., 2009) para o PE com as obtidas no ABFW (Wertzner, 2000 e 2003) para

o PB.

Fonema Faixa etária

TFF-ALPE Wertzner (2000; 2003)

p [3:0-3:6] [3:6]

t [3:0-3:6] [3:6]

k [3:0-3:6] [3:6]

b [3:0-3:6] [3:6]

d [3:0-3:6] [3:6]

g [3:0-3:6] [3:6]

f [3:0-3:6] [3:6]

v [3:0-3:6] [3:6]

ʃ [3:0-3:6] [3:6]

z [4:0-4:6] [3:6]

s [3:0-3:6] [3:6]

ʒ [4:0-4:6] [3:6]

m [3:0-3:6] [3:6]

n [3:0-3:6] [3:6]

ɲ [3:0-3:6] [3:6]

l [3:6-4:0] [3:6]

ʎ [3:6-4:0] [4:0]

R [3:0-3:6] [3:6]

ɾ [4:0-4:6] [3:6]

ʃ em posição final de sílaba [3:6-4:0] [4:0]

l em grupo consonântico [4:0-4:6] [6:6]

ɾ em posição final de sílaba [4:6-5:0] [5:6]

ɾ em grupo consonântico [5:0-5:6] [5:0]

Tabela 4. Comparação das faixas etárias de aquisição dos fonemas obtidas no TFF-ALPE para o PE e

obtidas no ABFW para o PB. Adaptado de Mendes, et.al 2009

Pela análise da Tabela 4, verificamos que existem sons que são adquiridos

dentro da mesma faixa etária pelas crianças portuguesas e brasileiras, e que existem

outros que apresentam uma variação de meses na sua aquisição. Assim, os fonemas /p,

t, k, b, d, g, f, v, ʃ, s, m, n, ɲ, l, R/ são adquiridos até aos três anos e seis meses com a

exceção do fonema /ʎ/ que é adquirido até aos quatro anos de idade. Já para os fonemas

/z, ʒ, ɾ/, para o /l, ɾ / em posição de grupo consonântico e para o /ɾ/ em posição final de

sílaba verificamos que existem uma diferença de aproximadamente dois anos na idade

de aquisição estabelecida por Mendes et al., 2009 e Wertzner et al., 2004. Para Mendes

Page 39: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

21

et al., (2009) a aquisição destes fonemas pode ocorrer entre a faixa etária [4:6 – 4:12[ e

dos grupos consonânticos até ao final dos cinco anos e seis meses, enquanto que para

Wertzner et al., (2004) a aquisição dos fonemas /z, ʒ, ɾ/ e do /l, ɾ / em posição final

ocorre aos três anos e seis meses e os grupos consonânticos estão adquiridos até aos

quatro anos de idade.

1.5 Medidas Fonológicas

A identificação dos marcadores linguísticos de perturbação é estudada por

diferentes autores. Existem autores que reportam a forma como a PSF se manifesta do

ponto de vista linguístico (Dodd, 1995; Broonfield e Dodd, 2004) e outros autores que

procuram estabelecer sub-tipos de PSF tendo em conta as características etiológicas e os

diferentes tipos de perturbações fonológicas (Shriberg 2005, 2010). Este estudo centra-

se na primeira perspetiva.

Diferentes medidas linguísticas (fonéticas e fonológicas) são referenciadas na

prática clínica e na investigação internacional das PSF, sendo as mais utilizadas:

Percentagem de Consoantes Corretas (PCC), Percentagem de Consoantes Corretas-

Revisto (PCC-R), Process Density Index (PDI), Índice Relativo de Substituição (IRS),

Índice Relativo de Distorção (IRD), Índice Relativo de Omissão (IRO), Índice Absoluto

de Substituição (IAS), Índice Absoluto de Distorção (IAD), Índice Absoluto de

Omissão (IAO) e tipos de Processos Fonológicos. Para o presente estudo foi criada uma

medida a: Percentagem de Acerto por Fonema (PAF). Assim, neste estudo vamos

analisar e comparar as diferenças destas onze medidas fonológicas em duas amostras de

sujeitos com PSF em duas variedades da língua portuguesa, o PE e o PB.

Seguidamente apresenta-se em detalhe cada uma delas.

1.5.1. Percentagem de consoantes corretas (PCC), Percentagem

de consoantes corretas revista (PCC-R)

O índice da percentagem de consoantes corretas (PCC) (Shriberg e

Kwiatkowiski, 1982) é utilizado, para determinar a gravidade da alteração fonológica de

forma quantitativa. A partir dele é possível classificar o PSF em leve (mais de 85% de

consoantes corretas), levemente-moderado (entre 65% e 85%), moderadamente severo

Page 40: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

22

(entre 50% e 65%) e severo (abaixo de 50%). O PCC considera como erro as omissões,

substituições e distorções e é indicado para crianças com perturbação fonológica entre

os três e os seis anos de idade.

Mais tarde, para comparar falantes de diversas idades e com características de

fala distintas foi proposto o PCC Revisto (PCC-R), que considera como erro apenas as

substituições e omissões (Shriberg et al., 1997).

1.5.2 PDI

Em 1992, Edwards estudou outra medida de gravidade para a PSF designada por

Process Density Index (PDI). Esta medida representa a média de processos fonológicos

utilizados na palavra da amostra do teste, é calculada através da operação numérica de

divisão do número de processos fonológicos utilizados pelo número de palavras de uma

determinada amostra de fala.

1.5.3 Índices Absolutos e Relativos

Os índices absolutos (IA) são calculados pela divisão do número de erros

específicos de omissão, substituição e distorção pelo número de sons presente na

amostra da criança. Os índices relativos (IR) são calculados através da divisão do

número de erros específicos pelo número de erros produzidos. Estudos realizados para o

PB indicaram que a substituição foi o tipo de erro mais encontrado, em crianças com

PSF, tanto no IA como no IR (Shriberg et al., 1997; Wertzner, Santos, Pagan-

Neves,2012).

1.5.4 Processos Fonológicos

Em idade pré-escolar as crianças podem manifestar ainda alguns processos

fonológicos decorrentes do desenvolvimento normal. No entanto, a sua manutenção

além da idade esperada pode ser um indicativo de patologia (Wertzner & Pagan-Neves,

2012). Ingram (1976) define os processos fonológicos como qualquer simplificação

sistemática que ocorra na classe de sons (Stoel-Gammon e Dunn, 1985; Fey, 1992;

(Wertzner & Pagan-Neves, 2012).

Page 41: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

23

Quando a criança não consegue organizar os sons da sua língua em combinações

compatíveis e surgem alterações de fones ou de fonemas designam-se essas alterações

por processos fonológicos. Estes são recursos utilizados pela criança perante as suas

limitações (Mateus, Falé e Freitas, 2005; Mendes et al., 2009).

Na literatura, há três tipos mais citados de processos fonológicos: os de estrutura

silábica, que alteram a estrutura silábica da palavra seguindo a tendência geral de

redução das palavras à estrutura consoante vogal (CV); os de substituição, em que há a

mudança de um som por outro de outra classe, às vezes atingindo toda uma classe de

sons; e os de assimilação, em que os sons mudam tornando-se similares a um que vem

antes ou depois dele (Ingram, 1976; Weiss 1979, cit. por Grunwell 1997).

Grunwell (1985, cit. por Grunwell 1997) e Dean et al., (1996, cit. por Grunwell

1997), separam-nos em apenas dois grupos, processos/simplificações estruturais e

sistémicas. Khan e Lewis (2002) fazem outra classificação: processos de redução, de

modo e posição e de vozeamento. Ingram (1981) classifica-os em processos de estrutura

silábica, substituição e assimilação e atualmente esta é a tipologia mais utilizada

(Bankson & Bernthal, 2004; Bowen, 1999; Gordon-Brannan & Weiss, 2007; Hodson,

2004; Mendes et al., 2009; Smit, 2004; Shipley & MacAfee, 2009; Weiner, 1979; Yavas

et al., 2002).

Estudos com crianças falantes do PB com PSF mostram uma variação no

número ao nível dos processos fonológicos caracterizados. Segundo Wertzner & Pagan-

Neves (2012), os processos fonológicos que ocorrem com maior incidência são:

simplificação do encontro consonantal, simplificação de líquidas, eliminação da

consoante final, frontalização da palatal, ensurdecimento de fricativas, ensurdecimento

de plosivas, plosivação de fricativas, frontalização de velar e posteriorização para

palatal. Lamprecht (1991,1993), num estudo com 12 crianças falantes do PB com PSF

na faixa etária dos dois anos e nove meses aos cinco anos e cinco meses, verificou que

os processos fonológicos mais utilizados por estas crianças foram também: a redução do

encontro consonantal, o apagamento de líquida, o apagamento de fricativa, a

substituição de líquida, a anteriorização de palatal, a dessonorização, a posteriorização

de fricativa e a metátese. Outro estudo de Wertzner (2007) com 44 crianças com PSF

mostrou que os processos fonológicos mais ocorrentes foram: a simplificação de

líquida, o ensurdecimento de fricativa e a simplificação do encontro consonantal.

Page 42: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

24

Para o PE relativamente à ocorrência dos processos, Castro, Gomes, Vicente e

Neves (1997, 1999) citado por Mendes et al., (2009) realizaram um estudo com 183

crianças falantes do PE, com idades entre os três e os cinco anos e com

desenvolvimento típico. Os resultados demonstraram uma diminuição da existência de

processos fonológicos ao longo do desenvolvimento da criança. Guerreiro e Frota

(2010) descreveram o tipo e a frequência da ocorrência dos processos fonológicos

utilizados em 43 crianças de cinco anos de idade, observaram que os processos de

substituição apresentam uma frequência reduzida e que os processos de simplificação de

estruturas silábicas complexas (omissão de consoante final e redução de grupo

consonântico) foram os mais significativos (Mendes et al., 2009).

Lousada (2012) realizou um estudo comparativo com 14 crianças com

perturbação da linguagem (PL) e 14 crianças com o desenvolvimento típico. Os

resultados obtidos mostraram que as crianças com PL apresentaram dificuldades graves

ao nível do desenvolvimento fonológico. Estas dificuldades estão relacionadas com a

percentagem reduzida de consoantes corretas e pela elevada ocorrência de processos

fonológicos típicos nas crianças com PL quando comparadas com as crianças com o

desenvolvimento normal. Verificou também, que as crianças com PL apresentam

processos fonológicos que não são marcadores línguisticos no desenvolvimento

fonológico normal.

Na Tabela 7 está presente a comparação das idades de supressão dos processos

fonológicos do PE no TFF-ALPE (Mendes et. al, 2009) e em Castro et al. (1997; 1999)

e do PB (Wertzner, 2000, 2003) com crianças com desenvolvimento típico.

Processos Fonológicos TFF-ALPE

(2003) Castro et.al (1997; 1999)

Wertzner

(2000; 2003)

Oclusão [3:0-3:6] >[4:0] [2:6]

Posteriorização [3:0-3:6] --- [3:6]

Anteriorização [3:0-3:6] --- [3:0]

Despalatalização [4:0-4:6] >[4:0] [3:6]

Palatalização [4:0-4:6] >[4:0] [4:6]

Desvozeamento [5:0-5:6] >[4:0] ---

Omissão de consoante final [6:6-7:0] >[5:0] [7:0]

Redução do grupo consonântico [6:6-7:0] >[5:0] [7:0]

Semivocalização de líquida [6:6-7:0] >[4:0] [3:6]

Redução de sílaba átona pré-tónica >[6:6-7:0] >[4:0] [2:6]

Tabela 5. Comparação das faixas etárias de supressão dos processos fonológicos do PE obtidas no TFF-

ALPE (2003) e de Castro et al. (1997; 1999) e em PB segundo Wertzner (2000; 2003). Adaptado de

Mendes et al., (2003) e Wertzner et al. (2004).

Page 43: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

25

CAPÍTULO II – METODOLOGIA

O presente capítulo inicia-se com a apresentação do objetivo do estudo e das

questões de investigação. De seguida apresenta-se uma descrição do tipo de estudo,

das caraterísticas das crianças que participam neste estudo, do método de recolha de

dados e dos instrumentos utilizados para a obtenção dos dados.

Seguidamente, são descritos os procedimentos utilizados para a seleção da

amostra e emparelhamento dos grupos, as medidas fonológicas utilizadas e as

especificidades do Estudo 1 e do Estudo 2.

Apresenta-se finalmente uma breve caraterização da análise estatística efetuada.

2.1 Objetivo do estudo e questões de investigação

O objetivo principal deste estudo é comparar o desempenho de crianças falantes

nativas de PE e das crianças falantes nativas de PB com idades compreendidas entre os

cinco anos e zero meses e os sete anos e os 11 meses, com diagnóstico de PSF

analisando um conjunto de 11 medidas fonológicas. Com este objetivo pretendemos

responder às seguintes questões de investigação:

1) Verificar se o desempenho dos sujeitos com PSF do GPE e do GPB difere na

prova de nomeação de imagens, no que se refere a PCC, PCC-R, PDI e IAS, IAO, IAD

e IRS, IRO, IRD e ao número de processos fonológicos;

2) Identificar qual o tipo de erro - substituição, omissão ou distorção - mais

frequente em ambas as amostras;

3) Verificar se os processos fonológicos com maior ocorrência em crianças com

PSF diferem nas crianças falantes nativas de PE e nas crianças falantes nativas de PB;

4) Verificar se o inventário fonético das crianças com PSF difere nos falantes

nativos de PE e nos falantes nativos de PB;

5) Identificar quais os fonemas que as crianças com PSF falantes nativos de PE e

falantes nativos de PB produzem com menor de Percentagem de Acertos por Fonema

(PAF).

Page 44: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

26

2.2 Tipo de Estudo

A presente investigação é um estudo comparativo (Almada & Freire, 2007) que

pretende descrever e comparar as medidas fonológicas entre crianças falantes nativas de

português europeu (GPE) e crianças falantes nativas de português brasileiro (GPB).

Esta pesquisa foi desenvolvida em duas etapas. A primeira etapa, corresponde ao

Estudo 1. Este estudo pretende analisar e comparar as onze medidas fonológias

selecionadas para a presente investigação (PCC, PCC-R, PDI, IAS, IAO, IAD, IRS,

IRO, IRD, PAF e tipos de Processos Fonológicos) nos dois grupos de sujeitos (GPE e

GPB) tendo em conta a amostra de fala dos sub-testes de nomeação dosteste de

avaliação utilizados. A segunda etapa, que consiste no o Estudo 2, as onze medidas

fonológicas utilizadas para a comparação entre o GPE e o GPB foram iguais às do

Estudo 1, sendo que no Estudo 2, foi considerado apenas o universo de 12 palavras em

comum nos dois testes de avaliação.

2.3 Participantes

Nesta investigação (Estudo 1 e Estudo 2) participaram 18 crianças com

diagnóstico de Perturbação dos Sons da Fala (PSF) falantes de duas variedades de

português (PE e PB), com idades compreendidas entre os cinco anos e dois meses e os

sete anos e um mês (M = 70.77, DP = 9.27), sendo 12 crianças do sexo masculino e seis

do sexo feminino. Estas 18 crianças estão divididas em dois grupos: nove do grupo de

crianças falantes de português europeu (GPE) e nove do grupo de crianças falantes de

português brasileiro (GPB). Em ambos os grupos, seis crianças são do sexo masculino e

três do sexo feminino.

Todas as crianças participantes deste estudo foram diagnosticadas com

Perturbação dos Sons da Fala (PSF). As crianças do GPB foram avaliadas e

diagnosticadas no Laboratório de Investigação Fonoaudiológica em Fonologia (LIFF),

do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade

de Medicina da Universidade de São Paulo. As crianças do GPE foram indicadas por

Terapeutas da Fala em exercício profissional em clínicas e escolas particulares da área

metropolitana de Lisboa.

Com o objetivo de maximizar a equivalência entre os dois grupos, cada criança

do GPE foi emparelhada com uma criança do GPB relativamente a três variáveis: faixa

Page 45: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

27

etária, sexo e a Percentagem de Consoantes Corretas (PCC) estabelecida por Shriberg e

Kwiatkowski (1982). O GPE foi inicialmente emparelhado com GPB pelas variáveis:

idade e sexo. Posteriormente, para evitar o cruzamento de dados entre o GPE e o GPB

foi necessário estabelecer mais um critério de emparelhamento. Assim, para além das

variáveis idade e sexo, GPE foi emparelhado com o GPB, tendo em conta a escala

criada por Shriberg e Kwiatkowski (1982) de Percentagem de Consoantes Corretas

(PCC). Este emparelhamento é explicado em detalhe na seção 2.5.1.

Poder-se-á assim afirmar que, segundo Almeida e Freire (2007), foi constituída

para este estudo uma amostra por conveniência.

Em suma, os critérios de inclusão definidos para os participantes desta

investigação foram:

1) Crianças que apresentem, como diagnóstico, uma Perturbação dos Sons da

Fala (PSF), com idades compreendidas entre os 5:0 e os 7:11 anos;

2) Crianças falantes nativas do português europeu (constituição do GPE);

3) Crianças falantes nativas do português brasileiro (constituição do GPB);

4) As crianças falantes de PE terem sido submetidas à prova de nomeação do

Teste Fonético-fonológico TFF-ALPE (Mendes et.al., 2009);

5) As crianças falantes de PB terem sido submetidas à prova de nomeação da

parte de Fonologia do Teste de Linguagem Infantil ABFW (Wertzner, 2004)1;

6) Tanto as crianças do GPE como do GPB já terem frequentado sessões de

Terapia da Fala ou estarem em acompanhamento em Terapia da Fala.

2.4 Material

Para este estudo recorremos a dois instrumentos de recolha de dados um para

cada grupo de falantes: para as crianças do GPE o subteste de nomeação do Teste

Fonético-Fonológico – Avaliação da Linguagem Pré-Escolar (TFF-ALPE) (Mendes et

al., 2009) (Anexo 1) e para as crianças do GPB a prova de nomeação da área de

Fonologia (Wertzner, 2004) do Teste de Linguagem Infantil nas áreas de fonologia,

vocabulário, fluência e pragmática – ABFW (Andrade CR, Befi-Lopes DM, Fernandes

FD, Wertzner HF, 2004) (Anexo 2). Os sujeitos foram avaliados individualmente em

sala com ruído reduzido. A avaliação de cada sujeito durou em média 45 minutos, o

1 Para as crianças do GPE e do GPB foram utilizados os resultados das avaliações iniciais (estudo retrospetivo).

Page 46: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

28

tempo de uma sessão de avaliação em Terapia da Fala. Os dados para este estudo foram

recolhidos tendo em conta o método indicado nos manuais de cada instrumento de

recolha de dados.

A produção de palavras isoladas para os sujeitos do GPE foi obtida através da

aplicação da prova de nomeação do Teste Fonético-Fonológico – Avaliação da

Linguagem Pré-escolar (TFF-ALPE) (Mendes et al., 2009). Este teste contém 67

imagens com 187 consoantes. O TFF-ALPE avalia a capacidade de produção das

consoantes e das vogais do português europeu através da nomeação de 67 imagens.

Para os sujeitos do GPB a amostra de fala foi recolhida através da aplicação da

prova de nomeação do Teste de linguagem infantil – ABFW na área de fonologia,

(Wertzner, 2004). Este teste é constituído por 34 imagens com 90 consoantes. Avalia o

sistema fonológico da criança através do inventário fonético e das regras fonológicas,

está desenhado para ser aplicado em crianças com idades compreendidas entre os três

anos e zero meses aos 12 anos e 0 meses com diagnóstico de PSF. A prova de

nomeação é constituída por 34 figuras. A criança tem de dizer o nome da figura que

observa.

As palavras utilizadas nos dois instrumentos de recolha de dados e a respetiva

transcrição fonética alvo das palavras considerada tanto para o GPE como para o GPB

encontram-se no Apêndice 1 Tabelas 1 e 2.

2.5 Procedimento

A presente investigação foi aprovada pela Comissão de Ética da Faculdade de

Medicina da Universidade de São Paulo sob o número 206/14 em sessão no dia 6 de

agosto de 2014. Por se tratar de um estudo retrospetivo e tendo em conta a legislação

brasileira em vigor, dispensa a assinatura de um novo consentimento informado por

parte dos participantes do estudo ou do representante legal.

2.5.1 Seleção da amostra de fala e emparelhamento dos grupos

A amostra de fala dos sujeitos do GPE utilizada para esta pesquisa foi recolhida

por Terapeutas da Fala em exercício profissional. Inicialmente, a investigadora solicitou

a Terapeutas da Fala o envio de casos com os seguintes critérios: crianças com idades

Page 47: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

29

compreendidas entre os cinco anos e dois meses e os sete anos e 11 meses, que tenham

sido avaliadas com o teste TFF-ALPE e que tenham acompanhamento em Terapia da

Fala. Os profissionais de saúde contactados da área da grande Lisboa procederam à

seleção dos casos, tendo em conta os critérios definidos e os seus registos clínicos.

Posteriormente, estes mesmos profissionais cederam os dados de cada caso clínico via

correio eletrónico. O terapeuta da fala enviou uma breve descrição do caso com os

dados da criança e as folhas de registo do subteste de nomeação do Teste Fonético-

Fonológico – Avaliação da Linguagem Pré-Escolar (TFF-ALPE) (Mendes et al., 2009)

para a investigadora. O anonimato dos participantes para esta investigação foi

salvaguardado tendo em conta os parâmetros éticos e deontológicos de cada país

(Portugal e Brasil). No caso do Brasil uma vez que a amostra de crianças falantes de PB

pertence a uma base de dados do Laboratório de Investigação Fonoaudiológica em

Fonologia (LIFF) da Faculdade de Medicina de São Paulo a priori os consentimentos

informados foram assinados com a autorização da participação em vários estudos dentro

do laboratório. O estudo é retrospetivo e as questões éticas foram salvaguardadas pelo

terapeuta da fala/fonoaudiologo que realizou a avaliação à criança.

Após a verificação de que todos os sujeitos do GPE preenchiam os critérios de

inclusão estabelecidos, foi realizado um emparelhamento com os casos da base de dados

do LIFF, isto é, os casos das crianças falantes nativas de PE foram emparelhados com

os casos das crianças falantes nativa de PB. Este emparelhamento foi efetuado tendo em

conta, a faixa etária da criança, o sexo e a escala da PCC estabelecidas por Shriberg e

Kwiatkowski (1982). Esta medida fonológica (PCC) é particularmente importante

porque garante a equivalência entre os grupos (GPE e GPB) e porque fornece a

informação do grau de gravidade da PSF considerando a escala estabelecida pelos

autores.

Apresenta-se na Tabela 6 o emparelhamento2 realizado entre os dois grupos

(GPE e GPB) de acordo com os critérios definidos.

2 A verificação do sucesso do emparelhamento do GPE com o GPB é reportada no Capítulo III.

Page 48: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

30

Tabela 6. Características das crianças do grupo de falantes nativos de português europeu (GPE) e do

grupo de falantes nativos de português brasileiro (GPB).

Para o emparelhamento de idade foram consideradas as faixas etárias: 5:0-5:3;

5:4-5:7; 5:8-6:1; 6:2-6:5; 6:6-6:9; 6:10-7:0; 7:1-7:4; 7:5-7:8; 7:9-7:11. Para o

emparelhamento da PCC foram considerados os valores: <49%; entre 50% e 64% entre

65 e 84% e >85% (Shiberg & Kwiatkowski, 1982). Considerando os diferentes graus de

severidade da PCC estabelecidos por Shiberg & Kwiatkswski (1982), esta amostra é

constituída para cada grupo de falantes por: um sujeito 50%-64% (moderado a severo);

seis sujeitos 65%-84% (leve a moderado) e dois sujeitos >85% (leve), ou seja, a maioria

dos participantes desta pesquisa apresenta uma PSF de gravidade leve a moderada.

2.5.2 Medidas Fonológicas

A partir da análise das transcrições fonéticas que constam nas folhas de registo

de cada instrumento de recolha de dados, foram calculadas as medidas fonológicas em

estudo. Assim, foram analisadas as onze medidas: PCC; PCC-R; PDI; IRS; IRO; IRD;

IAS; IAO; IAD; os tipos de Processos Fonológicos e PAF.

Neste estudo (Estudo 1 e Estudo 2), estas medidas foram calculadas para as

provas de nomeação de imagens dos dois instrumentos de recolha de dados utilizados.

Estas medidas fornecem evidências para estabelecer o diagnóstico em PSF. Estas

diferentes medidas vão dar a possibilidade aos Terapeutas da Fala de caracterizarem as

PSF.

Retomando a informação do capítulo I, sintetizamos na Tabela 7 as medidas

fonológicas utilizadas nesta investigação e a sua respetiva definição.

GPE GPB

Caso Idade (meses) Sexo PCC (%) Caso Idade (meses) Sexo PCC (%)

1 62 M 84,49 1 62 M 80

2 74 M 77.01 2 74 M 75.56

3 68 M 54.01 3 68 M 57.78

4 68 M 67.38 4 73 M 68.89

5 86 F 80.75 5 86 F 77.58

6 71 M 90.37 6 73 M 92.22

7 85 F 95.19 7 85 F 90

8 61 F 65.78 8 62 F 85.56

9 62 M 74.33 9 60 M 73.33

Page 49: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

31

Medidas

Fonológicas Definição

PCC

Percentagem dos sons consonantais produzidos corretamente numa amostra de fala

através da divisão do número de consoantes corretas pelo número total de consoantes

presentes na amostra de fala (Shriberg e Kwiatkowski,1982).

PCC-R Percentagem dos sons consonantais produzidos corretamente, considerando as

distorções como acerto (Shriberg e Kwiatkowski,1982).

PDI Média dos processos fonológicos utilizados calculada através da divisão do número

total de processos fonológicos pelo número de palavras analisadas.

IR Índice Relativo para os erros de omissão, substituição e distorção calculado pela

divisão do número de erros específicos pelo número total de erros produzidos.

IA

Índice Absoluto para os erros de omissão, substituição e distorção calculado pela

divisão do número de erros específicos pelo número de sons presentes na amostra de

fala.

PF

Número de vezes que a criança apresenta a incapacidade de produzir corretamente um

determinado som que é esperado para a sua idade - substituições, omissões e distorções

dos sons da fala.

PAF

Percentagem do acerto por fonema dos sons dos consonantais calculada pela divisão do

número de vezes que a criança produziu corretamente determinado fonema pelo

número de vezes que esse fonema está presente na amostra de fala.

Tabela 7. Medidas fonológicas.

No Estudo 1, para o cálculo da PCC, do PDI, dos índices absolutos e relativos e

tipos de processos fonológicos do PE, foi utilizado um corpus de 65 palavras: não foram

analisadas as palavras olho e unha, pelo motivo do sub-teste fonológico do TFF-ALPE

(Mendes et al., 2009) não contabilizar estas palavras. Já no caso do inventário fonético

aplicado para o cálculo da PAF, foi considerado o corpus total das 67 palavras. Para o

PB foi utilizado um universo de 34 palavras para análisar e comparar as medidas

fonológicas. Para o Estudo 2, a amostra de fala utilizada para calcular todas as medidas

fonológicas, foi das 12 palavras comuns (Vassoura, Mesa, Sapato, Faca, Peixe, Cama,

Garfo, Prato, Pasta, Dedo, Zebra, Planta) entre os instrumentos de recolha de dados

para o GPE e para o GPB.

2.5.2.1 Estudo 1

Relativamente ao Estudo 1, este consiste na comparação do desenpenho das

crianças falantes nativos de PE e das crianças falantes nativos de PB com PSF

analisando o conjunto das 11 medidas fonológicas em estudo. Para realizar esta

comparação consideramos a amostra de fala das crianças recolhida através das provas

de nomeação dos dois instrumentos de recolha de dados utilizados (um instrumento para

cada variante da língua portuguesa).

Page 50: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

32

PCC e PCC-R

O primeiro índice a ser calculado foi a percentagem de consoantes corretas

(PCC) para PE uma vez que serviu de critério de emparelhamento. Esta medida é

calculada pela divisão das consoantes corretas pelo número total de consoantes da prova

(Shiberg e Kwiatkowski, 1982). Para estes autores, este índice considera quatro graus de

gravidade como a Tabela 8 descreve. Este valor é apresentado em percentagem, e as

substituições, omissões e distorções são consideradas como erro. É importante referir

que a escala dos graus de gravidade foi proposta para a língua inglesa, tendo sido,

posteriormente, adotada para outras línguas.

Percentagem de Consoantes Corretas (PCC) Gravidade

>85%

65% a 84%

50% a 64%

<49%

Leve

Leve a moderado

Moderamente a Severo

Severo

Tabela 8. Escala da PCC

Em seguida foi calculado o índice de Percentagem de Consoantes Corretas

Revisto (PCC-R) (Shiberg, et al., 1997) para ambas as populações em estudo. Esta

medida calcula a percentagem de sons consonantais produzidos corretamente, mas

considera as distorções realizadas pelo falante como acerto, e não como erro como a

PCC. Shiberg e Kwiatkowski (1982) consideram que o PCC é útil para comparar

crianças dos três aos seis anos de idade; já o PCC-R tem sido mais utilizado na literatura

em diferentes estudos quando envolve crianças de várias idades e diferentes

características, tais como, crianças com surdez congénita, crianças com perturbações do

desenvolvimento e crianças com perturbação do espectro do autismo ou síndromes.

PDI

O terceiro índice a ser calculado foi o Process Density Index (PDI; Edwards,

1992), que corresponde à média de processos fonológicos utilizados nas palavras de

amostra de fala. Esta medida é calculada através da divisão do número total de

processos fonológicos pelo número de palavras analisadas na amostra. Segundo a

autora, este índice pode ser visto como uma medida de potencial clínico para a

gravidade e/ou inteligibilidade fonológica, não apresenta escala de gravidade.

Page 51: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

33

IR e IA

Em seguida foram calculados os índices absolutos (IA) e os índices relativos

(IR) para a substituição, omissão e distorção de cada amostra de fala. Os IA são

calculados pela divisão do número de erros específicos de omissão, substituição e

distorção pelo número de sons presente na amostra da criança, em comparação os

índices relativos (IR) são calculados através da divisão do número de erros específicos

pelo número de erros produzidos (Shriberg et al., 1997).

Processos Fonológicos

Em ambos os instrumentos usados na recolha de dados para esta investigação, as

diferentes autoras dos dois testes de avaliação, consideraram a possibilidade de

existência de outros processos fonológicos que são considerados como idiossincráticos.

Os processos de harmonia consonantal (HC), sonorização de oclusivas (SP) e de

fricativas (SF) que são contabilizados no ABFW (Wertzner, 2004) não estão presentes

no TFF-ALPE (Mendes et al., 2009), assim para o presente estudo estes processos não

vão ser analisados.

O sub-teste de nomeação do TFF-ALPE (Mendes et al., 2009) identifica a

percentagem de ocorrência dos seguintes processos fonológicos: omissão da consoante

final (OCF); redução da sílaba átona pré-tónica (RSA); redução do grupo consonântico

(RGC); semivocalização de líquida (SL); despalatalização (DES); palatalização (PAL);

desvozeamento (DESV); oclusão (OCL); anteriorização (ANT) e posteriorização

(POST). Este teste está estandardizado para a população do português europeu com

idades compreendidas entre os três anos e zero meses e os seis anos e 11 meses e os

dados foram obtidos tendo em conta o método descrito no manual.

A prova de fonologia do ABFW (Wertzner, 2004) analisa os seguintes processos

fonológicos: redução de sílaba (RS); harmonia consonantal (HC); plosivação de

fricativas (PF); posteriorização para velar (POSV); posteriorização para palatal (POSV);

frontalização de velares (FV); frontalização de palatal (FP); simplificação de líquidas

(SL); simplificação do encontro consonantal (SEC); simplificação da consoante final

(SCF); sonorização de plosivas (SP); sonorização de fricativas (SF); ensurdecimento de

plosivas (EP) e ensurdecimento de fricativas (EF).

Page 52: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

34

Para os dois instrumentos de recolha de dados foram contabilizados os outros

processos (idiossincráticos), mas não vão ser analisados.

A partir das provas de nomeação do ABFW (Wertzner, 2004) e do TFF-ALPE

(Mendes et al., 2009) foram analisados os processos fonológicos para isto foi construída

uma tabela no programa Excel com as palavras alvo de cada teste, com o número total

de consoantes corretas, com a produção da criança, com os números de processos

fonológicos, com o número de consoantes corretas que a criança produziu e o número

de substituições de omissões e de distorções.

Devido à diferente nomenclatura utilizada num e noutro instrumento de recolha

de dados, foi necessário estabelecer uma correspondência entre os processos

fonológicos utilizados para o PE e para o PB No presente trabalho optou-se pela

designação dos processos fonológicos tal como consta no instrumento de recolha de

dados TFF-ALPE (Mendes et al., 2009). Os dois processos de ensurdecimento que

estão discriminados no instrumento de recolha de dados ABFW (Wertzner, 2004) foram

considerados um só (e os seus valores somados) para efeitos de comparação com o

processo de desvozeamento do TFF-ALPE. Na Tabela 9, apresenta-se a

correspondência entre os processos fonológicos do PE e do PB, exemplo de palavras e o

número de ocorrência dos processos.

Page 53: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

35

Teste ABFW (PB) Teste TFF-ALPE (PE)

Processos Fonológicos Exemplo O Processos Fonológicos Exemplo O

Redução de sílaba – RS /pato/ - [pa] 45 Redução da Sílaba átona pré-tónica - RSA /sapato/ - [´patu] 22

Plosivação de fricativas – PF /sapu/ - [tapu] 23 Oclusão - OCL /faca/ - [´pakɐ] 34

Posteriorização para velar – POSV /tatu/ - [kaku] 12 Posteriorização -POS /gato/ - [´gaku] 26

Posteriorização de palatal – POSP /sapu/ - [ʃapu] 11 Palatalização - PAL /vassoura/ - [vɐˈʃoɾɐ] 10

Frontalização de velares – FV /karu/ - [taru] 9 Anteriorização - ANT /café/ - [tɐ´fɛ] 29

Frontalização de palatal – FP /ʃave/ - [save] 5 Despalatalização - DES /chapéu/ - [sɐˈpew] 17

Simplificação de líquida – SL /miʎu/ - [milu] ou [miyu] 11 Semivocalização de líquida - SL /kabelo/ - [ka´bewu] 19

Simplificação do encontro

consonantal - SEC /pɾatu/ - [patu] ou [platu] 8 Redução do grupo consonântico - RGC /pratu/ - [´patu] 19

Simplificação da consoante final –

SCF /paʃta/ - [pata] 5 Omissão da consoante final - OCF /flor/ - [´flo] 28

Ensurdecimento de plosivas – EP /dedu/ - [tetu] 14 Desvozeamento - DESV /jip/ - [ʃˈip] 6

Ensurdecimento de fricativas – EF /vazu/ - /fasu/ 9

Harmonia consonantal - HC /makaku/ - [kakaku] 45

Processos adicionais - PA Sonorização de plosivas – SP /patu/ - [badu] 21

Sonorização de fricativas – SF /faka/ - [vaka] 14

Outros Processos – OP

Tabela 9. Processos fonológicos analisados nos diferentes testes de avaliação e a respetiva

correspondência.

Legenda: O = ocorrência do número de vezes do processo fonológico.

Seguidamente, na Tabela 10 apresentamos a nomenclatura e a definição dos

diferentes processos fonológicos para o PE. No decorrer do presente trabalho é esta a

nomenclatura que vai ser utilizada quando nos referimos aos processos fonológicos

(Grunwell, 1987; Khan & Lewis, 2002; Miccio & Scarpino, 2008; Smit, 2004; citado

por Mendes et al., 2009).

Page 54: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

36

Processo Fonológico Definição Exemplo

Omissão da consoante final (OCF) Omissão de consoantes em posição final de

sílaba, em posição medial ou final de palavra. Flor - [´flo]

Redução de sílaba átona pré-tónica (RSA) Omissão de uma sílaba átona pré-tónica. Sapato - [´patu]

Redução do grupo consonântico (RGC) Omissão de um elemento do grupo

consonântico. Prato - [´patu]

Semivocalização de líquida (SL) A consoante líquida é substituída por uma

semivogal. Cabelo - [kɐ´bewu]

Despalatalização (DES) A consoante fricativa palatal é substituída por

uma fricativa dental. Chapéu - [sɐ´pew]

Palatalização (PAL) A consoante fricativa dental é substituída por

uma fricativa palatal. Vassoura - [vɐ´ʃoɾɐ]

Desvozeamento (DESV) Uma consoante vozeada é substituída por uma

não vozeada. Jipe - [´ʃip]

Oclusão (OCL) Uma consoante fricativa é substituída por uma

consoante oclusiva. Faca - [´pakɐ]

Anteriorização (ANT) Uma consoante velar é substituída por uma

consoante dental. Café - [tɐ´fɛ]

Posteriorização (POS) Uma consoante dental é substituída por uma

consoante velar. Gato - [´gaku]

Tabela 10. Nomenclatura, definição e exemplo dos processos fonológicos no PE.

PAF

Para esta investigação foi elaborada uma medida nova com a finalidade de

verificar a percentagem de acertos por fonema (PAF) na amostra de fala de cada

criança. Esta medida foi criada com o objetivo de verificar qual o inventário fonético de

cada criança tendo em conta a percentagem de acerto de fonema consonantais, e assim

auxiliar o terapeuta da fala na elaboração do diagnóstico e no plano terapêutico para a

intervenção. Esta percentagem é calculada, através da divisão do número de vezes que

a criança produziu corretamente determinado fonema consonantal pelo número de vezes

que esse mesmo fonema aparece na amostra de fala. Com esta medida é possível

verificar quais os sons presentes e ausentes no inventário fonético da criança. Para o

inventário fonético/estabelecimento da medida de percentagem de acerto por fonema

(PAF) foram contabilizados os acertos em três tipos de estrutura silábica (CV, CVC e

CCV) para o formato CV considerou-se as sílabas em posição inicial e final. Os

encontros consonânticos também foram contabilizados para a contagem dos fonemas da

amostra de fala dos instrumentos de recolha de dados utilizados nesta pesquisa. A

justificação para este critério de contabilizar apenas os fonemas nestas posições

silábicas deve-se a que o teste ABFW (Wertzner, 2004) apresenta esta contagem (e.g. na

palavra sapato o fonema /p/ não é contabilizado porque está em posição medial de

palavra). A distorção não foi considerada como acerto. No caso da substituição e da

Page 55: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

37

omissão foram consideradas como erro e não foram contabilizadas para o cálculo desta

medida fonológica (PAF).

Na Tabela 11 são apresentadas as possibilidades de ocorrência de cada fonema

nos dois instrumentos de recolha de dados para o Estudo 1.

Fonemas

TFF-ALPE – sub teste

de nomeação

ABFW – prova de fonologia

sub teste de nomeação

Ocorrência Ocorrência

p 11 4

t 16 7

k 16 4

b 3 3

d 3 3

g 8 3

f 5 4

v 5 2

ʃ 14 2

z 3 3

s 5 6

ʒ 3 2

m 4 3

n 3 2

ɲ 1 1

l 11 2

ʎ 1 1

R 2 2

ɾ 14 4

pr 2 1

br 3 2

vr 1 1

tr 2 1

dr 2 0

kr 1 1

gr 2 0

fr 1 0

bl 0 1

pl 1 1

kl 0 0

gl 0 0

fl 1 0

Arq /S/ 0 2

Arq /R/ 0 3

Tabela 11. Possibilidades de ocorrência de cada fonema, grupos consonânticos e arquifonemas nos

instrumentos de recolha utilizados.

Page 56: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

38

2.5.2.2. Estudo 2

O Estudo 2 consiste na comparação do desempenho das crianças crianças

falantes nativas de PE e das crianças nativas de PB com diagnóstico de PSF analisando

as 11 medidas fonológicas, tendo em conta as palavras comuns que estão presentes nos

dois instrumentos de recolha de dados utilizados para esta investigação (a prova de

nomeação do teste TFF - ALPE (Mendes et al., 2009) e o subteste de nomeação da

prova de fonologia do teste ABFW (Wertzner, 2004)). Foram analisadas as mesmas

medidas fonológicas descritas anteriormente para o Estudo 1.

Para o Estudo 2, na Tabela 12 é considerada a ocorrência de cada fonema e dos

encontros consonânticos das 12 palavras comuns aos dois instrumentos de recolha de

dados3.

Fonemas Ocorrência

p 2

t 4

k 2

b 1

d 3

g 1

f 2

v 1

ʃ 1

z 2

s 1

m 2

l 1

ɾ 1

pr 1

br 1

vr 1

pl 1

Tabela 12. Possibilidade de ocorrência de cada fonema e dos encontros consonânticos para as 12 palavras

em comum nos dois instrumentos de recolha de dados utilizados.

Na Tabela 13, observam-se as palavras que constituem os estímulos dos dois

instrumentos de recolha de dados utilizados bem como as palavras que são comuns.

Estes dois instrumentos de recolha de dados têm em comum 14 palavras. Para este

estudo foram consideradas 12 palavras. Excluímos as palavras livro e balde, já que os

3 Não foram considerados os arqifonemas na seleção das 12 palavras.

Page 57: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

39

processos fonológicos e a representação fonológica para as duas variantes da língua

portuguesa (PE e PB) divergem nestas duas palavras. Estas duas palavras podem

apresentar diferenças na representação fonética entre o PE e o PB ([livɾu] vrs [[livɾw]4 e

[baɫde] vrs [bawd ʒi]) (simplificação de líquida).

Palavras alvo prova de nomeação do TFF-ALPE Palavras alvo prova de nomeação

do ABFW

Palavras presentes em

ambos os testes

Peras, Sapato, Jipe, Televisão, Rato, Pente, Cabelo,

Faca, Bola, Dedo, Balde, Gato, Água, Café, Vassoura,

Chapéu, Caixa, Peixe, Chave, Zebra, Mesa, Janela,

Queijo, Cama, Nariz, Telefone, Carro, Comer, Lua, Sol,

Brincar, Cobra, Três, Quatro, Olho, Estrela, Prato,

Soprar, Frango, Gravata, Tigre, Dragão, Vidro, Planta,

Bicicleta, Flor, Porco, Porta, Unha, Gordo, Carne,

Força, Formiga, Garfo, Alto, Almofada, Calças,

Colchão, Polvo, Hospital, Pesca, Pasta, Ponte, Umbigo.

Palhaço, Bolsa, Tesoura, Cadeira,

Galinha, Vassoura, Cebola, Xícara,

Mesa, Navio, Livro, Sapo, Tambor,

Sapato, Balde, Faca, Fogão, Peixe,

Relógio, Cama, Anel, Milho,

Cachorro, Blusa, Garfo, Trator,

Prato, Pasta, Dedo, Braço, Girafa,

Zebra, Planta, Cruz.

Vassoura, Mesa, Livro,

Sapato, Balde, Faca, Peixe,

Cama, Garfo, Prato, Pasta,

Dedo, Zebra, Planta.

Tabela 13. Lista de palavras utilizadas nos testes.

As 12 palavras foram analisadas tendo em conta os mesmos procedimentos

descritos anteriormente para o Estudo 1. Foram calculadas as 11 medidas fonológicas

do Estudo 1 para esta amostra de fala (12 palavras)., O número de ocorrência dos

processos fonológicos e o número de consoantes corretas foram contabilizados para este

corpus de 12 palavras comuns aos dois instrumentos de recolha de dados. A Tabela 14

descreve a ocorrência dos processos e o número de consoantes de cada palavra e a

Tabela 15 o número de consoantes corretas para este corpus.

4 A representação fonétia da palavra “livro” pode ser igual para o PE e para o PB. Consideramos que podem existir

diferenças na produção desta palavra referente à pronúncia ser rápida ou lenta. No entanto, esta palavra não foi

considerada no Estudo 2.

Page 58: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

40

Palavras

Processos Fonológicos Número de

consoantes RSA OCL POS PAL ANT DES SL RGC OCF DESV PA

Vassoura 1 2 0 1 0 0 1 0 0 1 3

Mesa 1 1 0 1 0 0 0 0 0 1 2

Sapato 1 1 1 1 0 0 0 0 0 0 3

Faca 1 1 0 0 1 0 0 0 0 0 2

Peixe 1 1 0 0 0 1 0 0 0 0 2

Cama 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 2

Garfo 1 1 0 0 1 0 0 0 1 1 3

Prato 1 0 1 0 0 0 0 1 0 0 3

Pasta 1 0 1 0 0 0 0 0 1 0 3

Dedo 1 0 2 0 0 0 0 0 0 2 3

Zebra 1 1 0 1 0 0 0 1 0 2 2

Planta 1 0 1 0 0 0 0 1 0 0 3

Total 12 palavras 12 8 6 4 3 1 1 3 2 7 47 31

Tabela 14. Ocorrência dos processos fonológicos e número de consoantes corretas para as 12 palavras.

Legenda: Redução de Sílaba Átona (RSA); Oclusão (OCL); Posteriorização (POS); Palatalização (PAL);

Anteriorização (ANT); Despalatalização (DES); Simplificação de Líquida (SL); Redução de Grupo Consonântico

(RGC); Omissão de Consoante Final (OCF); Desvozeamento (DESV); Processos Adicionais (PA).

Tabela 15. Número de consoantes corretas para as 12 palavras.

Consoantes Número de consoantes corretas

p 2

t 4

k 2

b 0

d 2

g 1

f 2

s 1

ʃ 1

v 1

z 2

m 2

l 0

ɾ 1

pr 1

br 1

vr 0

pl 1

Page 59: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

41

2.6 Análise estatística

Em primeiro lugar, para verificar a normalidade das variáveis em estudo

recorremos ao teste Shapiro-Wilk. Em todas as análises adotamos α = 0.05. Tal significa

que o erro máximo adotado é de 5%. Assim, os valores p´s ≤ 0.05 indicam diferenças

estatisticamente significativas.

Quando no teste estatístico de Shapiro-Wilk o p ≤ 0.05, a distribuição das

variáveis afasta-se significativamente da normal, pelo que recorremos a testes não

paramétricos (teste Mann-Whitney e Teste ANOVA de Friedman). Se o valor de p>

0.05 a distribuição das variáveis é considerada estatisticamente normal e recorremos a

testes paramétricos (teste t-Student).

Incialmente, recorremos ao teste de Shapiro-Wilk para verificar se as variáveis

idade e PCC revelam distribuição normal. Recorremos ao teste t-Student para verificar o

sucesso do emparelhamento entre as crianças falantes de PE e as crianças falantes de PB

nas variáveis idade e PCC.

Assumimos no Estudo 1 as variáveis: IAS; IAO; IRO; IAD; IRD; no GPE e no

GPB foram comparadas por meio do teste de Mann-Whitney (Fisher &Van Belle,

1993), uma vez que o teste de Shapiro-Whilk revelou que a distribuição das variáveis

afastavam-se significativamente da normal (W´s ≤ 0.882, p´s ≤ 0.026). Recorremos ao

teste t-Student para as seguintes variáveis em análise no Estudo 1: PCC; PCC-R; PDI;

IRS. O teste de normalidade revelou que estas variáveis apresentam distribuição normal

(p´s > 0.05).

No Estudo 1, não foi possível comparar os seguintes fonemas e grupos

consonânticos: arquifonema /S/, arquifonema /R/, /dɾ/; /gɾ/, /fɾ/, /bl/ e /fl/, uma vez que

não se verificou a sua ocorrência nos dois testes utilizados para os dois grupos de

falantes.

No Estudo 1, os resultados dos Processos Fonológicos (PF) e da Percentagem de

Acerto por Fonema (PAF) são apresentados tendo em conta os valores reais do GPE e

do GPB. Não consideramos nenhuma análise estatística uma vez que o número de

ocorrência dos processos fonológicos e da PAF nas crianças falantes de PE é diferente

do número de ocorrência das crianças falantes de PB. Assim, consideramos pertinente a

realização do Estudo 2 uma vez que vai responder com maior exatidão estatística aos

objetivos 3, 4 e 5 estabelecidos para o estudo.

Page 60: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

42

No Estudo 2, recorremos ao teste de t-Student para as variáveis PCC-R, IAS,

IRS. Foi utilizado o teste de Mann-Whitney para as variáveis PDI, IAD, IAO, IRD,

IRO, Processos Fonológicos e PAF.

Optou-se no corpo do texto do Capítulo III por apresentar nas tabelas os valores

das médias reais e desvios padrão, remetendo para apêndice as tabelas com os valores

extraídos das análises estatísticas (média das ordens) utilizadas para cada variável em

estudo. Assim, no Apêndice 2 poderá consultar as tabelas referentes ao Estudo 1 e no

Apêndice 3 as tabelas com os dados do Estudo 2.

Page 61: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

43

CAPÍTULO III – RESULTADOS

Neste capítulo apresentam-se os resultados do estudo e a respetiva análise, tendo

como base as questões de investigação definidas no capítulo II e aqui retomadas:

1) Verificar se o desempenho dos sujeitos com PSF do GPE e do GPB difere na

prova de nomeação de figuras, no que se refere a PCC, PCC-R, PDI e IAS, IAD, IAO e

IRS, IRD, IRO e ao número de processos fonológicos;

2) Identificar qual o tipo de erro - substituição, omissão ou distorção - mais

frequente em ambas as amostras;

3) Verificar se os processos fonológicos com maior ocorrência em crianças com

PSF diferem nas crianças falantes nativas de PE e nas crianças falantes nativas de PB;

4) Verificar se o inventário fonético das crianças com PSF difere nos falantes

nativos de PE e nos falantes nativos de PB;

5) Identificar quais os fonemas que as crianças com PSF falantes nativos de PE e

falantes nativos de PB produzem com menor de Percentagem de Acertos por Fonema

(PAF).

A apresentação dos resultados divide-se em três partes: Na primeira iremos

verificar o sucesso do emparelhamento dos critérios de seleção da amostra. Na segunda

parte, vão ser apresentados os resultados referentes ao Estudo 1, comparando o

desempenho do GPE e do GPB com PSF analisando as medidas fonológicas (PCC,

PCC-R, PDI, IAS, IAO, IAD, IRS, IRO, IRD, PAF e PF) em todos os dados recolhidos.

Na terceira parte, iremos expor os resultados correspondentes ao Estudo 2, comparando

o desempenho do GPE e do GPB com PSF analisando as medidas fonológicas (PCC,

PCC-R, PDI, IAS, IAO, IAD, IRS, IRO, IRD, PAF e PF) apenas nas 12 palavras

comuns aos dois instrumentos de recolha de dados.

Page 62: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

44

3.1 Verificação do sucesso do emparelhamento da amostra

Nesta secção, pretendemos verificar o sucesso do emparelhamento da amostra.

Os critérios para o emparelhamento das crianças pertencentes à amostra deste estudo

(Estudo 1 e Estudo 2) foram: a idade (faixa etária), o sexo e o nível de gravidade de

PCC, de acordo com Shiberg e Kwiatkowski, (1982) e Wertzner, et al. (2014).

Como já apresentado no capítulo II, neste estudo participaram dezoito crianças

de ambos os sexos (12 do sexo masculino e seis do sexo feminino), com idades

compreendidas entre os 60 e os 86 meses (M = 70.77, DP = 9.27). Das dezoito crianças,

9 possuem como língua nativa o PE e outras 9 crianças o PB (9 crianças são de

nacionalidade portuguesa e 9 de nacionalidade brasileira). Os dados relevantes

apresentam-se nas Tabelas 16 e 17.

Tabela 16. Distribuição de frequência e percentagem por sexo.

GPE GPB Teste t Teste Mann-Whitney

Média DP Média DP

Idade (meses) 70.66 9.53 70.88 9.58 U = 41.5, p = 0.92

PCC (%) 76.59 12.9 77.7 10.67 t (16) = - 0.213, p = 0.54

Tabela 17. Média e DP para a variável PCC e idade.

A verificação do sucesso do emparelhamento do GPE com o GPB, foi realizada

primeiramente recorrendo ao teste de Shapiro-Wilk para verificar a normalidade das

variáveis idade e nível de gravidade de PCC. Verificamos que para a variável idade a

distribuição não é normal (W(18) = 0.86, p = 0.014), e para a variável PCC a

distribuição é normal (W(18) = 0.97, p = 0.83); já a variável idade não apresenta

nenhuma variação nos dois grupos, pois existem seis participantes do sexo masculino e

três do sexo feminino no GPE e no GPB, assumindo-se que o emparelhamento é

perfeito.

Seguidamente, foram realizados testes para verificar se existiam diferenças entre

os dois grupos relativamente a cada uma das variáveis (idade e PCC). Para a variável

Sexo

PE PB Total

Masculino N 6 6 12

% 33.35 33.35 66.7

Feminino N 3 3 6

% 16.65 16.65 33.3

Page 63: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

45

idade o teste de Mann-Whitney revelou não existirem diferenças entre as crianças

falantes de PE e de PB (U = 41.5, p = 0.92). No que se refere à variável PCC,

recorremos ao teste t-Student e este revelou não existirem diferenças entre os dois

grupos de falantes (t (16) = -0.213, p = 0.54). Os resultados indicam que para a variável

PCC os falantes de PE apresentaram uma média e desvio padrão de M = 76.59, DP =

12.90 em comparação aos falantes de PB M = 77.70, DP = 10.67.

Concluímos que, o emparelhamento entre os dois grupos (GPE e GPB) foi bem

conseguido, já que não se verificam diferenças estatísticamente significativas entre o

GPE e o GPB nas variáveis idade e PCC. Observamos ainda que, na amostra existe uma

maior prevalência de casos do sexo masculino (seis par três do sexo feminino). Este

dado de prevalência está conforme o descrito na literatura para os casos de perturbações

fonológicas.

3.2 Estudo 1

3.2.1 Comparação das medidas fonológicas (PCC-R, PDI, IAD,

IRD, IAO, IRO, IAS, IRS)

Nesta secção pretendemos dar resposta ao primeiro objetivo: verificar se o

desempenho das crianças falantes nativas de PE e das crianças nativas de PB com PSF

diferem nas medidas fonológicas: PCC-R, PDI, IAD, IRD, IAO, IRO, IAS e IRS 5.

Para calcular a PCC-R, o PDI e o IRS realizamos a comparação dos dois grupos

de sujeitos (GPE e GPB). relativamente às médias e DP destas medidas fonológicas

(PCC-R, PDI e IRS) foram calculadas através do teste t-Student. Para as medidas IAS,

IAD, IRD, IAO, IRO, os resultados foram obtidos através do teste de Mann-Whitney,

dado que estas variáveis apresentavam uma distribuição não normal.6

Na Tabela 18 observamos a comparação das medidas entre o GPE e o GPB.

5 A medida fonológica PCC já foi analisaem 3.1. As medidas fonológicas: processos fonológicos e PAF vão ser

analisaseguidamente em 3.2.3 e 3.2.4 respectivamente. 6 Remete-se para o Apêndice 2 as tabelas com as médias de ordens.

Page 64: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

46

GPE GPB Teste t Teste de Mann-Whitney

Média DP Média DP

PCC-R 76.65 12.81 75.19 10.51 t(16) = 0.26, p = 0.79

PDI 0.65 0.34 0.55 0.33 t (16) =0.63, p = 0.53

IAS 0.16 0.18 0.16 0.10 U = 49.5, p = 0.42

IRS 0.52 0.25 0.59 0.32 t(16) = 0.52, p =0.6

IAO 0.14 0.17 0.03 0.04 U = 16, p = 0.03

IRO 0.44 0.28 0.12 0.16 U = 11, p = 0.008

IAD 0.001 0.003 0.06 0.078 U = 56, p = 0.08

IRD 0.002 0.07 0.28 0.35 U = 56, p = 0.08

Tabela 18. Média, desvios padrões para as variáveis PCC-R, PDI, IRS, IAD, IRD, IAO, IRO e IAS.7

Nota: PCC-R (percentagem); PDI e IAS, IRS, IAO, IRO, IAD e IRD (valores podem variar entre 0 e 1)

Em relação às medidas fonológicas PCC-R, PDI e IRS verificamos que não

existem diferenças estatísticamente significativas. Relativamente às medidas

fonológicas IAS, IAD e IRD, verificamos também não existirem diferenças

significativas entre o GPE e o GPB.

Já no que se refere, às medidas correspondentes aos erros de omissão (IAO e

IRO), verificamos que existem diferenças significativas. Tanto no IAO como no IRO,

os participantes do GPE realizaram mais omissões do que os participantes do GPB .

3.2.2 Identificar o tipo de erro (substituição, omissão,

distorção) mais frequente.

Nesta secção pretendemos responder ao objetivo 2: identificar qual o tipo de erro

- substituição, omissão ou distorção - mais frequente no GPE e no GPB.

Para comparar a ocorrência dos diferentes tipos de erros no GPE e no GPB,

recorremos ao teste não paramétrico ANOVA de Friedman, realizando um teste para

cada grupo de falantes.

GPE GPB

Média DP Teste Friedman

ᵡ2(2) = 11.02, p = 0.004

Média DP Teste Friedman

ᵡ2(2) = 5.09, p = 0.078

IAS 0.16 0.18 0.16 0.10

IAO 0.14 0.17 0.03 0.04

IAD 0.001 0.003 0.06 0.07

Tabela 19. Média, DP e Teste de Friedman para as variáveis IAS, IAO e IAD8

7 Podemos consultar no Apêncice 4 a Tabela 1 com os valores das médias de ordens das variáveis em

estudo. 8 No Apêndice 4 podemos consultar a Tabela 2 com os valores das médias das ordens para as varáveis IAS, IAO e

IAD.

Page 65: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

47

Para o GPB o teste de Friedman não identificou diferenças entre os tipos de

erros (ᵡ2

= 5.09, p = 0.078). No que diz respeito ao GPE, o teste revelou diferenças entre

os tipos de erros (ᵡ2

= 11.02, p = 0.004). Para verificar as diferenças específicas,

recorremos ao cálculo das diferenças entre os pares dos diferentes tipos de erros (vide

Tabela 19). Este cálculo indicou que a frequência de erros de omissão e substituição é

maior do que a frequência dos erros de distorção, não se tendo verificado diferenças

entre as frequências dos erros de omissão e de substituição.

Tendo em conta que os resultados dos índices absolutos e relativos para os erros

de substituição, omissão e distorção indicaram as mesmas diferenças optamos por

apresentar apenas os resultados referentes à medida fonológica índice absoluto (IA).

Concluímos que, para o GPB todos os erros (IAS, IAD, IAO) apresentam igual

frequência e, para o GPE o teste de Friedman revelou existirem diferenças na ocorrência

dos erros de IRO – IRD (p = 0.02) e nos erros de IRD – IRS (p = 0.01).

3.2.3 Processos fonológicos

Nesta secção do capítulo dos resultados pretendemos dar resposta ao objetivo 3:

verificar se os processos fonológicos com maior ocorrência em crianças com PSF

diferem nas crianças falantes nativas de PE e nas crianças falantes nativas de PB.

Existem alguns processos fonológicos que foram excluídos para a realização

desta comparação.Trata-se de três processos que só se verificam no PB e, por este

motivo não podem ser comparados com o PE, são eles harmonia consonantal (HC)9,

sonorização de plosiva (SP)10

e sonorização de fricativa (SF)11

.

Os resultados apresentados nas Tabelas 20 e 21 correspondem à percentagem de

ocorrência dos processos fonológicos tendo em conta o número de ocorrência de cada

processo e as vezes que a criança realizou o processo. A Tabela 20 apresenta os

resultados obtidos para o GPE e a Tabela 21 os resultados para o GPB. Não foi possível

realizar uma análise inferencial uma vez que o número de ocorrência dos processos

fonológicos é diferente nos dois instrumentos de recolha de dados utilizados, assim

realizamos uma análise descritiva.

9 No PE este processo designa-se por harmonia. 10 No PE este processo designa-se por vozeamento de oclusivas. 11 No PE este processo designa-se por vozeamento de fricativas.

Page 66: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

48

Tabela 20. Percentagem da ocorrência dos processos fonológicos por cada criança do GPE.

Legenda: RSA = Redução de sílaba atóna; OCL = Oclusão; POS = Posteriorização; PAL = Palatalização; ANT =

Anteriorização; DES = Despalatalização; SL = Simplificação de líquida; RGC = Redução do grupo consonântico;

OCF = Omissão da consoante final; DESV = Desvozeamento; n=número de possiveis ocorrências do processo nos

diferentes testes de avaliação; PE = portugues europeu; PB = português brasileiro.

Processos Fonológicos

RSA

(n=45)

OCL

(n=23)

POS

(n=12)

PAL

(n=11)

ANT

(n=9)

DES

(n=5)

SL

(n=11)

RGC

(n=8)

OCF

(n=5)

DESV

(n=23)

1 0 0 0 0 0 20 0 12.5 0 0

2 0 0 0 0 0 0 9.09 0 0 86.95

3 0 0 0 9.1 0 40 36.4 100 40 86.95

4 0 39.13 0 0 0 40 45.45 100 80 0

5 0 0 0 0 0 0 0 0 80 26.08

6 0 0 0 0 0 0 9.09 25 0 0

7 0 0 0 0 0 0 0 75 60 0

8 0 0 0 0 0 100 0 25 40 0

9 0 0 0 0 55.56 100 45.45 100 0 0

Tabela 21. Percentagem da ocorrência dos processos fonológicos por cada criança do GPB.

Legenda: RSA = Redução de sílaba atóna; OCL = Oclusão; POS = Posteriorização; PAL = Palatalização; ANT =

Anteriorização; DES = Despalatalização; SL = Simplificação de líquida; RGC = Redução do grupo consonântico;

OCF = Omissão da consoante final; DESV = Desvozeamento; n=número de possiveis ocorrências do processo nos

diferentes testes de avaliação; PE = portugues europeu; PB = português brasileiro.

Ao analisar as Tabelas 20 e 21, verificamos que o processo de RSA e POS são

constantes sem ocorrência no GPB, isto é, nenhuma criança pertencente à amostra de

falantes nativos de PB realizou este processo. Tanto para o GPE como para o GPB,

algumas crianças pretencentes à amostra não produziram determinado processo

fonológico, no entanto qualquer criança falante nativa do PE e falante nativa do PB

realizou no mínimo três processos fonológicos. No GPE, menos de três criança

realizaram os processos de ANT e DESV. No GPB, verificamos que os processos de

Processos Fonológicos

RSA

(n=22)

OCL

(n=34)

POS

(n=26)

PAL

(n=10)

ANT

(n=29)

DES

(n=17)

SL

(n=19)

RGC

(n=19)

OCF

(n=28)

DESV

(n=6)

1 9.09 0 0 0 0 94.12 15.79 21.05 7.14 0

2 13.6 0 23.08 50 0 29.41 42.11 73.68 7.14 0

3 22.73 64.71 38.5 0 34.5 23.53 89.47 94.74 53.27 0

4 45.5 5.88 0 0 0 58.82 42.19 100 35.71 0

5 45.5 0 96.2 40 0 5.88 15.79 0 3.57 0

6 0 29.4 0 0 0 0 5.3 84.2 0 0

7 45.5 0 0 0 0 35.29 0 0 0 0

8 22.73 88.2 23.08 60 34.5 11.76 42.11 52.63 10.71 33.33

9 22.73 29.4 0 40 0 0 26.32 94.74 0 33.33

Page 67: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

49

OCL, PAL e ANT foram realizados por uma criança. Ao consultar as Tabelas 20 e 21,

podemos observar que os processos fonológicos com maior ocorrência para o GPE e

para o GPB foram: DES, SL, RGC e OCF.

3.2.4 Comparação da PAF

Nesta secção pretendemos responder aos objetivos 4 e 5: Verificar se o

inventário fonético das crianças com PSF difere nos falantes nativos de PE e nos

falantes nativos de PB e identificar quais os fonemas que as crianças com PSF falantes

de PE e falantes nativos de PB produzem com menor Percentagem de Acertos por

Fonema (PAF) (comparação do GPE e do GPB no inventário fonético e PAF ).

Nas Tabelas 22, 23, 24, 25 e 26 podem ser consultadas as percentagens de acerto

por fonema de cada criança, por modo de articulação das consoantes: oclusivas nasais

(Tabela 22); oclusivas orais (Tabela 23); fricativas (Tabela 24); laterais e vibrantes

(Tabela 25); grupos consonânticos (Tabela 26). Considerou-se o fonema adquirido

quando a criança obteve uma percentagem ≥ 75% no acerto do fonema, parcialmente

adquirido 74% - 50% e não adquirido quando a percentagem é < 50%, de acordo com

Shriberg e Kwiatkowski (1982).

Ao observarmos a Tabela 22, consideramos que as consoantes oclusivas nasais

estão adquiridas para ambas as crianças desta amostra. Os fonemas /m/ e /ɲ/ apresentam

uma percentagem de acerto por fonema de 100% para as crianças falantes de PE e para

as crianças falantes de PB. Já o fonema /n/ está também adquirido pelas crianas falantes

de PB mas tem uma percentagem menor no GPE, com quatro crianças do GPE sem

valores de produção de 100%.

Page 68: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

50

Modo Oclusivas nasais

Fonema m n ɲ

GPE

(n = 4)

GPB

(n = 3)

GPE

(n = 3)

GPB

(n = 2)

GPE

(n = 1)

GPB

(n = 1)

1 100 100 66,66 100 100 100

2 100 100 66,66 100 100 100

3 100 100 66,66 100 100 100

4 100 100 100 100 100 100

5 100 100 100 100 100 100

6 100 100 100 100 100 100

7 100 100 100 100 100 100

8 100 100 66,66 100 100 100

9 100 100 100 100 100 100

Tabela 22. PAF de cada criança nas consoantes oclusivas nasais.

Legenda: n = número de ocorrência de acertos; GPE = português europeu; GPB = português brasileiro; cor verde: ≥

75% (fonema adquirido); cor laranja 74% - 50% (fonema parcialmente adquirido); cor vermelha < 50% (fonema não

adquirido).

No que se refere às consoantes oclusivas orais, na Tabela 23, verificamos que os

fonemas /p/ e /k/ estão adquiridos para o GPE e para o GPB. O fonema /b/ para as

crianças falantes nativas de PE está parcialmente adquirido (uma criança apresenta

66,66%) ou adquirido (oito crianças produziram corretamente esta consoante) enquanto

que para as crianças falantes nativas de PB três das crianças que pertencem a esta

amostra não têm este fonema adquirido.

Modo Oclusivas Orais

Fonema b p d t g k

GPE

(n = 3)

GPB

(n = 3)

GPE

(n = 11)

GPB

(n = 4)

GPE

(n = 5)

GPB

(n = 4)

GPE

(n = 16)

GPB

(n = 7)

GPE

(n = 8)

GPB

(n = 3)

GPE

(n = 16)

GPB

(n = 4)

1 100 100 100 100 100 100 100 100 87,5 100 100 100

2 66,66 33,33 100 100 40 0 93,75 85,71 100 0 100 100

3 100 33,33 100 100 100 25 93,75 85,71 75 0 100 100

4 100 100 100 75 100 100 100 100 100 100 100 100

5 100 100 100 100 0 50 12,5 100 100 100 100 100

6 100 33,33 100 100 100 75 100 100 100 33,33 100 100

7 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100

8 100 100 100 100 80 100 81,25 71,42 87,5 100 100 100

9 100 100 100 100 100 100 100 100 100 66,66 100 25

Tabela 23. PAF de cada criança nas consoantes oclusivas orais.

Legenda: n = número de ocorrência de acertos; GPE = português europeu; GPB = português brasileiro;

cor verde: ≥ 75% (fonema adquirido); cor laranja 74% - 50% (fonema parcialmente adquirido); < 50%

cor vermelha (fonema não adquirido).

Na Tabela 24, podemos observar os resultados de cada criança de PE e de PB

para as consoantes fricativas, verificamos que os fonemas /z/, /s/, /ʒ/ e /ʃ/ são os

Page 69: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

51

fonemas com uma percentagem de acerto menor para as crianças falantes nativas de PE

e para as crianças nativas de PB.

Modo Fricativas

Fonema v f z s ʒ ʃ

GPE

(n = 5)

GPB

(n = 2)

GPE

(n = 5)

GPB

(n = 4)

GPE

(n = 3)

GPB

(n = 3)

GPE

(n = 5)

GPB

(n = 6)

GPE

(n = 3)

GPB

(n = 2)

GPE

(n = 14)

GPB

(n = 2)

1 100 100 100 100 100 100 80 16,66 0 50 14,28 100

2 100 0 100 100 0 0 60 100 100 0 57,14 100

3 80 0 0 100 33,33 33,33 0 83,33 0 50 71,4 50

4 80 100 100 100 100 33,33 100 33,33 33,33 0 35,71 0

5 100 0 100 100 100 33,33 40 33,33 100 0 92,85 0

6 80 0 100 100 100 33,33 100 33,33 100 100 100 100

7 100 100 100 100 100 33,33 100 0 0 0 42,85 0

8 40 100 20 100 100 66,66 40 33,33 33,33 0 71,42 0

9 100 100 100 100 66,66 100 80 100 33,33 0 85,71 0

Tabela 24. PAF de cada crianças nas consoantes fricativas.

Legenda: n = número de ocorrência de acertos; GPE = português europeu; GPB = português brasileiro;

cor verde: ≥ 75% (fonema adquirido); cor laranja 74% - 50% (fonema parcialmente adquirido); < 50%

cor vermelha (fonema não adquirido).

A consoante líquida lateral /ʎ/ está adquirida para as nove crianças falantes

nativas de PB. Já para as crianças falantes nativas de PE quatro crianças não tem

adquirido este fonema. O mesmo acontece para a consoante líquida vibrante /R/ (vide

Tabela 25). A consoante lateral /l/ tem diferenças no GPE e no GPB, para o GPB esta

consoante está adquirida para todos os falantes nativos de PB.

Modo Laterais Vibrantes

Fonema l ʎ ɾ R

GPE

(n = 11)

GPB

(n = 2)

GPE

(n = 1)

GPB

(n = 1)

GPE

(n = 15)

GPB

(n = 1)

GPE

(n = 2)

GPB

(n = 2)

1 81,81 100 100 100 86,66 100 100 100

2 63,63 100 100 100 80 100 100 100

3 9,09 100 0 100 20 25 0 100

4 18,18 100 0 100 13,33 0 0 100

5 100 100 0 100 100 100 100 100

6 100 100 100 100 86,66 100 100 100

7 100 100 100 100 100 100 100 100

8 45,45 100 0 100 20 75 0 100

9 63,63 100 100 100 6,66 25 100 100

Tabela 25. PAF de cada criança nas consoantes líquidas laterais e vibrantes.

Legenda: n = número de ocorrência de acertos; GPE = português europeu; GPB = português brasileiro;

cor verde: ≥ 75% (fonema adquirido); cor laranja 74% - 50% (fonema parcialmente adquirido); < 50%

cor vermelha (fonema não adquirido).

Page 70: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

52

Ao observarmos a Tabela 26, podemos concluir que a aquisição dos grupos

consonânticos é a mais problemática quer para as crianças falantes de PE quer para as

crianças falantes de PB. Por exemplo, os grupos consonânticos [vr], [kr] e [pl] cinco

crianças falantes de PE e cinco crianças falantes de PB não tem adquirido estes

fonemas.

Modo Grupos consonânticos

Fonema pr br vr tr kr pl

GPE

(n =

2)

GPB

(n =

1)

GPE

(n =

3)

GPB

(n =

2)

GPE

(n =

1)

GPB

(n =

1)

GPE

(n =

3)

GPB

(n =

2)

GPE

(n =

1)

GPB

(n =

1)

GPE

(n =

1)

GPB

(n =

1)

1 100 100 100 100 100 100 50 100 100 100 100 100

2 0 100 0 0 0 0 0 100 0 100 100 100

3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 100 0 0

4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

5 100 100 100 100 100 100 0 100 100 100 100 100

6 0 100 33,33 50 0 100 0 100 0 100 100 0

7 100 0 100 0 100 0 100 0 100 0 100 100

8 50 100 0 100 100 100 50 100 0 100 0 0

9 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Tabela 26. PAF de cada criança para os grupos consonânticos. Legenda: n = número de ocorrência de acertos; GPE = português europeu; GPB = português brasileiro;

cor verde: ≥ 75% (fonema adquirido); cor laranja 74% - 50% (fonema parcialmente adquirido); < 50%

cor vermelha (fonema não adquirido).

Ao observarmos as Tabelas 22, 23, 24, 25 e 26, concluímos que o fonema /p/

está adquirido para o GPE e para o GPB. Os fonemas /l, ʎ, ɾ/ estão adquiridos 100%

para os falantes nativos de PB. Os fonemas que apresentaram mais dificuldades, isto é,

mais de três crianças pretencentes à amostra do GPE e do GPB com percentagem de

acerto por fonema < a 70% , são /b, d, g, v, z, s, ʒ, ʃ, ɾ/ e todos os grupos consonânticos.

Page 71: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

53

3.3 Estudo 2

A amostra do Estudo 2 é constituída pelos mesmos participantes do Estudo 1

mas considera apenas 12 palavras comuns aos dois testes de avaliação. Os objetivos

estabelecidos para o Estudo 2 são os mesmos do Estudo 1, a saber:

1) Verificar se o desempenho dos sujeitos com PSF do GPE e do GPB difere na

prova de nomeação de figuras, no que se refere a PCC, PCC-R, PDI e IAS, IAO, IAD e

IRS, IRO, IRD e ao número de processos fonológicos;

2) Identificar qual o tipo de erro – substituição, omissão ou distorção – mais

frequente em ambas as amostras;

3) Verificar se os processos fonológicos com maior ocorrência em crianças com

PSF diferem nas crianças falantes nativas de PE e nas crianças falantes nativas de PB;

4) Verificar se o inventário fonético das crianças com PSF difere nos falantes

nativos de PE e nos falantes nativos de PB;

5) Identificar quais os fonemas que as crianças com PSF falantes nativos de PE e

falantes nativos de PB produzem com menor de Percentagem de Acertos por Fonema

(PAF).

3.3.1 Comparação das medidas fonológicas (PCC, PCC-R, PDI,

IAD, IRD, IAO, IRO, IAS, IRS)12

Nesta secção vamos dar resposta ao primeiro objetivo: verificar se o

desempenho dos sujeitos com PSF do GPE e do GPB diferem na prova de nomeação

nas 12 palavras comuns dos dois instrumentos de recolha de dados analisando as

medidas fonológicas em estudo (PCC, PCC-R, PDI, IAD, IRD, IAO, IRO, IAS e IRS).

Para calcular a PCC, PCC-R, o IAS e o IRS recorremos ao teste t-Student,

(W(18) ≤ 0.959, p´s ≥ 0.051). Para as restantes medidas (PDI, IAD, IRD, IAO, IRO) foi

utilizado o teste de Mann-Whitney (W (18) ≤ 0.84, p´s ≥ 0.007).

Como podemos observar na Tabela 27, verificamos não existirem diferenças

significativas nas medidas PCC, PCC-R, PDI, IAS, IRS, IAO, IRO, IAD e IRD.

12 Estas nove medidas são analisadas neste item. As medidas fonológicas: processos fonológicos e PAF são

analisadas nos pontos 3.3.3 e 3.3.4, respetivamente.

Page 72: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

54

PE PB Teste t Teste Mann-Whitney

Média DP Média DP

PCC 80.28 11.22 79.58 11.86 t(16) = 0.129, p = 0.87

PCC-R 79.92 10.67 73.11 7.56 t(16) = 1.56, p = 0.10

PDI 0.5 0.28 0.57 0.52 U = 39.5, p = 0.93

IAS 0.13 0.07 0.15 0.11 t(16) = -0.46, p = 0.26

IRS 0.61 0.31 0.54 0.33 t(16) = 0.47, p = 0.76

IAO 0.06 0.06 0.04 0.06 U = 30.5, p = 0.38

IRO 0.32 0.33 0.15 0.22 U = 29.5, p = 0.34

IAD 0.003 0.01 0.06 0.07 U = 56, p = 0.19

IRD 0.05 0.16 0.30 0.38 U = 55.5, p = 0.19

Tabela 27. Médias e Desvios padrão para as variáveis PCC, PCC-R, PDI, IAS, IRS, IAO, IRO, IAD e

IRD para as crianças falantes de PE e para crianças falantes de PB Teste t e Teste de Mann-Whitney. 13

Em suma, concluímos que todas as medidas em estudo, quando consideradas as

12 palavras comuns, não apresentam diferenças estatísticamente significativas entre o

GPE e o GPB.

3.3.2 Identificar o tipo de erro (substituição, omissão,

distorção) mais frequente.

Nesta secção pretendemos responder ao objetivo 2: identificar qual o tipo de erro

mais frequente no grupo de crianças falantes nativas de PE e no grupo de crianças

falantes nativas de PB.

Para comparar a ocorrência dos diferentes tipos de erros (substituição, omissão,

distorção) no GPE e no GPB, recorremos ao teste não paramétrico ANOVA de

Friedman, realizando um teste para cada grupo de falantes. Verificamos que os

resultados para as medidas fonológicas índices relativos e índices absolutos de cada

grupo de falantes foram iguais. Apresentamos apenas os valores dos índices absolutos

de substituição, omissão e distorção para as crianças falantes nativas de PE e para as

crianças falantes nativas de PB.

Ao consultarmos a Tabela 28, verificamos que para o GPB o teste de Friedman

não identificou diferenças entre os tipos de erros (p = 0.25). No entanto, para o GPE o

mesmo teste revela que existem diferenças ᵡ2(2) = 9.6, p = 0.008, especificamente entre

os erros de distorção e de substituição (p = 0.014). Nos erros de distorção e omissão e

de omissão e substituição no GPE não existem diferenças (p’s = 0.47).

13 No Apêndice 5 podemos consultar a Tabela 1 com os valores das médias das ordens para as variáveis PDI, IAO,

IRO, IAD e IRD.

Page 73: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

55

PE PB

Média DP Teste Friedman

ᵡ2(2) = 9.6, p =0.008

Média DP Teste Friedman

ᵡ2(2) = 2.77, p = 0.25

IAS 0.13 0.079 0.15 0.11

IAO 0.06 0.06 0.04 0.06

IAD 0.003 0.01 0.06 0.08

Tabela 28. Média, desvios padrão e Teste de Friedman para as variáveis IAS, IAO, IAD14

.

3.3.3 Comparação dos processos fonológicos

Nesta seção vamos verificar o objetivo 3: verificar se os processos fonológicos

com maior ocorrência em crianças com PSF diferem nas crianças falantes nativas de PE

e nas crianças falantes nativas de PB.

Para comparar o número de ocorrências nos processos fonológicos foi utilizado

o teste de Mann-Whitney. Os processos de HC, SP, SF não fazem parte desta

comparação, uma vez que estes processos apenas se verificam isoladamente o PB, sendo

considerados como outros processos (OP) no PE.

Processos Fonológicos

M/ DP

U p GPE GPB

RSA

OCL

POS

PAL

ANT

DES

SL

RGC

OCF

DESV

0.00/ 0.00

9.72/ 16.27

11.11/ 27.62

36.11/ 33.33

0.00/ 0.00

55.5/ 52.70

33.3/ 50.00

48.15/ 41.20

16.66/ 35.35

1.58/ 4.76

0.00/ 0.00

2.77/ 8.33

0.00/ 0.00

2.77/ 8.33

7.41/ 22.23

33.33/ 50.00

33.33/ 50.00

48.11/ 44.46

38.88/ 41.66

28.58/ 39.77

40,5

28

31,5

15,5

45

31,5

40,5

41

53,5

56

1,00

0,30

0,44

0,024

0,73

0,43

1,00

1,00

0,26

0,20

Tabela 29. Médias e desvios padrão, resultados do teste de Mann-Whitney para os processos fonológicos

no GPE e no GPB.

Legenda: OCL = Oclusão; PAL = Palatalização; ANT = Anteriorização; DES = Despalatalização; SL = Simplificação

de líquida; RGC = Redução do grupo consonântico; OCF = Omissão da consoante final; DESV = Desvozeamento;

PE = Português Europeu; PB = Português Brasileiro; U = valor de Mann-Whiteny; p = significância exata.

Nota: valores de M e DP em percentagem.

Ao observarmos a Tabela 29, constatamos que, o teste de Mann-Whiteny

revelou que existe diferença significativa no processo de PAL (p < 0.05). No GPE, as

14No Apêndice 5 podemos consultar a Tabela 2 com os valores das médias de ordens para as variáveis IAS, IAO e

IAD.

Page 74: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

56

crianças realizaram mais PAL (M= 36.11, DP = 33.33) do que no GPB (M = 2.77, DP =

8.33;U = 15.5; p = 0.024). Concluímos que apenas o processo de palatalização difere

entre os grupos de crianças falantes nativas de PE e crianças falantes nativas de PB. Os

processos fonológicos de RSA (M = 0.00, DP = 0.00) e SL (M= 33.3, DP = 50.00)

foram constantes para as duas variantes da língua portuguesa (U´s = 40.5; p´s = 1.00)15

.

Para comparar os processos fonológicos com maior ocorrência no GPE (ᵡ2 (9) =

25.03, p = 0.003) e no GPB (ᵡ2 (9) = 25.92, p = 0.002) recorremos ao teste ANOVA de

Friedman16

. Na Tabela 30, podemos observar que, no GPB o processo fonológico com

maior ocorrência é a redução de grupo consonântico (RGC) e que no GPE os processos

com maior ocorrência são palatalização (PAL), despalatalização (DES) e redução de

grupo consonântico (RGC).

Processos

Fonológicos M

GPE GPB

RSA

OCL

POS

PAL

ANT

DES

SL

RGC

OCF

DESV

0.00 a

9.72 a,b

11.11 a,b

36.11 b

0.00 a

55.5 b

33.33 a,b

48.15 b

16.66 a,b

1.58 a,b

0.00 a

2.77 a

0.00 a

2.77 a

7.41 a

33.3 a,b

33.33 a,b

48.11 b

38.88 a, b

28.58 a,b

Tabela 30. Média dos processos fonológicos no GPE e no GPB (teste ANOVA de Friedman).

Nota: valores com letras diferentes em coluna são diferentes a p < 0.05, valores de M em percentagem.

3.3.4 Inventário fonético

Nesta secção pretendemos responder aos objetivos 4 e 5: se o inventário

fonético difere nos falantes nativos de PE e nos falantes nativos de PB e quais os

fonemas que as crianças falantes nativas de PE e as crianças falantes nativas de PB

produzem com menor valor de percentagem de acerto por fonema (PAF).

Para proceder à comparação do inventário fonológico , incluindo alguns grupos

consonânticos, das 12 palavras comuns entre o GPE e o GPB recorremos ao teste de

15 Ver Tabela 3 presente no Apêndice 5, para consultar as médias das ordens referentes aos processos fonológicos

para o GPE e para o GPB. 16 Ver Tabela 4 do Apêndice 5, para consultar as médias das ordens dos resultados do teste de ANOVA de Friedman

para os processos fonológicos do GPE e do GPB.

Page 75: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

57

Mann-Whitney. Para verificar qual o fonema com menor valor de PAF no GPE e no

GPB recorremos ao teste ANOVA de Friedman.

Tabela 31. Descrição dos resultados para a PAF, média e desvios padrão, para as crianças falantes de PE

e de PB. 17

Nota: valores de M e DP em percentagem. Valores com letras diferentes em coluna são diferentes a p< 0.05

A consulta da Tabela 31 permite verificar que, o teste de Mann-Whitney não

identifica diferenças estatisticamente significativas do inventário fonético entre as

crianças falantes nativas de PE e crianças falantes nativas de PB fonema a fonema.

No que se refere ao fonema com menor percentagem de acerto, para o GPE, o

teste de Friedman revelou o fonema /ʃ/; já no GPB foi o fonema /z/ que obteve um valor

menor de percentagem de acerto18

. Na Tabela 31, podemos ainda observar os fonemas

não adquiridos em cada grupo. Assim para o GPE, o fonema com menor percentagem

de acerto foi o /ʃ/, e para o GPB verificamos que as crianças não tem adquiridos os

fonemas /ʃ/, /z/ e os grupos consonânticos [br] e [pl]. Concluímos que tanto para o GPE

como para o GPB as crianças pertencentes a esta amostra não tem adquirido o fonema

/ʃ/.

Para verificar o total de diferentes processos fonológicos, o total de ocorrência

de processos fonológicos e o número de consoantes corretas que diferem no GPE e no

GPB recorremos ao teste Mann-Whitney.

17 Os valores das médias de ordens para a PAF no GPE e no GPB podem ser consultados na Tabela 5 do Apêndice 5. 18 Para consultar as médias das ordens ver Tabela 5 Apêndice 5.

Fonema M/ DP Teste Mann-Whitney

GPE GPB U p

p 100/ 0.00 b 100/ 0.00 b 40,5 1,00

t 91.66/ 25.00 b 94.44/ 16.66 b 41 1,00

k 100/ 0.00 b 94.44/ 16.66 b 36 0,73

d

g

f

s

ʃ

v

z

m

ɾ

pr

br

pl

77.77/ 44.09 b

100/ 0.00 b

77.77/ 44.09 b

55.55/ 52.70 a,b

22.22/ 44.09 a

77.77/ 44.09 b

72.22/ 44.09 a,b

100/ 0.00 b

66.67/ 50.00 a,b

33.33/ 50.00 a,b

55.55/ 52.70 a,b

55.55/ 52.70 a,b

72.22/ 44.09 a,b

55.55/ 52.70 a

100/ 0.00 b

55.55/ 52.70 a,b

44.44/ 52.70 a

66.06/ 50.00 a,b

38.88/ 33.33 a

100/ 0.00 b

66.67/ 50.00 a,b

55.55/ 52.70 a,b

44.44/ 52.70 a

44.44/ 52.70 a

37

22,5

49,5

40,5

49,5

36

21,5

40,5

40,5

49,5

36

36

0,80

0,11

0,44

1,00

0,44

0,73

0,09

1,00

1,00

0,44

0,73

0,73

Page 76: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

58

GPE GPB Teste Mann-

Whitney Média DP Média DP

Total de diferentes processos fonológicos 3.55 2.06 2.88 1.83 U = 34.00, p = 0.60

Total de ocorrência de processos fonológicos

(n = 47) 6.00 3.39 6.00 3.96 U = 39.50, p = 0.93

Número de consoantes corretas (n= 31) 24.88 3.48 24.66 3.67 U = 42.00, p = 0.93

Tabela 32. Média e desvios padrão para as variáveis totais de diferentes processos fonológicos, ocorrência

de processos e para o número de consoantes corretas no GPE e no GPB19

.

Legenda: GPE = grupo de crianças falantes do português europeu; GPB = grupo de crianças falantes do

português brasileiro; n = número de possíveis ocorrências; U = valor de Mann-Whitney; p = significância

exata.

Como podemos observar, na Tabela 32, não existem diferenças significativas

entre os grupos de falantes. Verificamos que o total de ocorrência de processos

fonológicos nesta amostra de 12 palavras comuns nos dois instrumentos de recolha de

dados tem uma média igual tanto para as crianças falantes nativas de PE (M = 6.00; DP

= 3.39) como para as crianças falantes nativas de PB (M = 6.00; DP = 3.96, U = 39.50,

p = 0.93).

19No Apêndice 5 Tabela 7 podemos consultar o valor das médias das ordens referentes as esta variáveis.

Page 77: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

59

CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO

Após a apresentação e a análise estatística dos resultados, nesta secção,

pretendemos discutir os resultados obtidos tendo em conta as questões de investigação

definidas inicialmente e a revisão da literatura.

No presente estudo foram analisadas algumas medidas fonológicas que podem

contribuir para a maior precisão de diagnóstico nas PSF, nomeadamente, PCC, PCC-R,

IAS, IRS, IAD, IRD, IAO, IRO, PAF, inventário fonético e os processos fonológicos. A

discussão é apresentada para cada um dos estudos separadamente.

4.1 Discussão dos Resultados

Para melhor conhecer as características das PSF em crianças falantes nativas de

PE e em crianças falantes nativas de PB foi realizada esta investigação, constituída por

dois estudos (Estudo 1 e Estudo 2).

Na presente investigação foram analisados algumas medidas fonológicas que

contribuem para a precisão do diagnóstico em PSF. O objetivo deste estudo foi

comparar o desempenho das crianças falantes nativas de PE e das crianças falantes

nativas de PB com PSF analisando um conjunto de 11 medidas fonológicas. Os

resultados obtidos neste estudo vão ao encontro das expectativas iniciais. Era expetável

não existirem substanciais diferenças entre o GPE e o GPB, uma vez que estamos

perante duas variedades linguísticas com um sistema fonológico muito semelhante.

No Estudo 1, com uma maior amostra de fala, com estímulos iguais e diferentes,

nas medidas fonológicas mais gerais não exitiram diferenças entre o GPE e o GPB;

houve sim diferença no tipo de erro. No GPE ocorreram mais erros de omissão e

substituição do que de distorção, não se verificaram diferenças significativas entre os

erros de omissão e de substituição. No GPB não verificamos diferenças estatísticamente

significativas entre os erros. Já no Estudo 2, com um universo de palavras menor (12

palavras), os resultados mostram que não há diferenças nas manifestações das medidas

fonológicas em estudo, apenas existe a exceção da diferença no processo fonológico de

palatalização (PAL).

Page 78: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

60

Importa saber qual o motivo de não existirem diferenças entre as medidas

fonológicas (intragrupo no GPB e o porquê do processo de DESV não ocorrer no GPE).

O Estudo 2 fechou as possibilidades de existirem diferenças entre o GPE e o GPB. O

Estudo 2 é mais consistente, uma vez que a amostra de fala é igual para ambos os

grupos, apesar de não ser possível verificar as consoantes em todas as posições e de não

ser possível controlar todas as variáveis.

De seguida, iremos sintetizar as conclusões a que foi possível chegar e

discutimos os resultados do Estudo 1 e do Estudo 2 à luz dos objetivos definidos, de

forma a verificar em que medida os resultados respondem às questões.

4.1.1 Estudo 1

Nesta seção vamos sintetizar e discutir os resultados obtidos no Estudo 1 à luz

das questões de investigação traçadas inicialmente.

Objetivo 1) verificar se o desempenho dos sujeitos com PSF do GPE e do GPB

difere na prova de nomeação de imagens, no que se a PCC, PCC-R, PDI e IAS, IAO,

IAD e IRS, IRO, IRD e ao número de processos fonológicos.

Com este objetivo pretendíamos verificar se o GPE e o GPB com PSF diferem

relativamente a: PCC, PCC-R, PDI, IAS, IAO, IAD e IRS, IRD e IRO e ao número de

processos fonológicos. Os resultados confirmam que relativamente ao PCC e PCC-R

não existiram diferenças, o que mostra que o emparelhamento dos sujeitos pretencentes

à amostra foi bem conseguido.

Para as medidas PDI, IAS, IRS, IAD e IRD não se verificaram diferenças

estatísticamente significativas entre as crianças falantes nativas de PE e as crianças

falantes nativas de PB. Através da medida fonológica PDI concluímos que, as crianças

falantes nativas de PE produzem em média mais processos fonológicos do que as

crianças falantes nativas de PB. Os resultados indicam que existem diferenças

significativas para as medidas fonológicas de IAO e de IRO, em que no GPE se

observam mais erros de omissão do que no GPB.

No que diz respeito aos erro de omissão, a literatura indica que este tipo de erro

é o que menos ocorre nas diversas línguas do mundo (Wertzner, H.F., Santos, P.I.,

Page 79: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

61

Pagan-Neves, L.O., 2012; 2014). Já em relação à distorção este tipo de erro nem sempre

é fácil de ser detetado pelo terapeuta da fala, porque depende da perceção e da

discriminação, e muitas vezes não é transcrito, sobretudo em registos realizados no

momento da produção, sem gravação aúdio ouvida posteriormente ou com recurso a

um júri para validar as transcrições fonéticas. A distorção é um erro típico durante o

desenvolvimento linguístico da criança que tende a desaparecer à medida que esta

evolui, caso estejamos perante uma patologia de caratér fonético (Lousada, 2012).

Na patologia, a ocorrência de menos erros de distorção e mais erros de omissão

não é típica das crianças com PSF; acontece mais nos casos de crianças com

Perturbação Específica da Línguagem (Speech Language Impairment) (Wertzner,

2012), daí que para o GPE possamos estar perante uma amostra não homogénea, com

casos com outro diagnóstico. É de extrema importância fornecer marcadores clínicos e

metodologias para que o terapeuta da fala efetue a recolha da amostra de fala e

estabeleça o diagnóstico diferencial de PSF.

Objetivo 2) identificar qual o tipo de erro – substituição, omissão ou distorção

– mais frequente em ambas as amostras.

Para averiguar qual o tipo de erro mais frequente no GPE e no GPB, analisamos

as medidas fonológicas de índice absoluto dos três tipos de erros (substituição, omissão

e distorção). Na comparação dos diferentes tipos de erros no GPB os resultados

revelaram não existirem diferenças entre as medidas IAD, IAO e IRS. As crianças

falantes nativas de PE apresentam diferenças significativas entre as medidas IAO-IAD e

IAD-IAS, verificamos que estas crianças realizaram mais erros de omissão e de

substituição.

Estudos realizados em crianças com PSF falantes nativas de PB (Wertzner,

Santos, Pagan-Neves 2012; 2014) mostram que o tipo de erro mais predominante é o de

substituição para as crianças com uma maior gravidade de PSF. Este dado reforça os

resultados obtidos neste estudo, uma vez que para o GPE o erro com maior ocorrência

foi o de substituição.

Page 80: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

62

Objetivo 3) verificar se os processos fonológicos com maior ocorrência em

crianças com PSF diferem nas crianças falantes nativas de PE e nas crianças falantes

nativas de PB.

Objetivo 4) verificar se o inventário fonético das crianças com PSF difere nos

falantes nativos de PE e nos falantes nativos de PB.

Objetivo 5) identificar quais os fonemas que as crianças com PSF falantes

nativos de PE e falantes nativos de PB produzem com menor de Percentagem de

Acertos por Fonema (PAF).

Para dar resposta aos objetivos 3, 4 e 5 foi realizada uma análise descritiva dos

resultados.

No que diz respeito ao objetivo 3, os resultados revelaram que nenhuma criança

do GPB realizou os processos fonológicos de RSA e POS. Este dado está relacionado

com as diferenças no processo de redução do vocalismo átono, que ocorre com grande

extensão em PE e não em PB. Assim, em PE as sílabas átonas são mais vulneráveis e

podem reduzir nestes casos de PSF, o que não acontece no PB.

Para as crianças falantes nativas de PB os processos fonológicos mais comuns

são: SL, RGC, OCF, DES e DESV e para as crianças falantes nativas de PE são: RSA,

OCL, POS, DES, SL, RGC, OCF.

Consideramos maior ocorrência dos processos fonológicos, quando três ou mais

crianças pretencentes à amostra realizaram o processo,verificamos que, os processos

fonológicos comuns com maior ocorrência entre o GPE e o GPB são: DES, SL, RGC,

OCF e DESV.

Os processos de SL, RGC e OCF estão descritos em diferentes estudos como os

de maior ocorrência para a população brasileira (Oliveira e Wertzner, 2000; Wertzner,

H.F., 2002; Papp, 2003; Papp e Wertzner, 2006; Wertzner, et al., 2006, 2007; Castro,

2009). O presente estudo fornece evidências de que a presença deste processos

fonológicos determina o estabelecimento do diagnóstico de PSF nas crianças falantes

nativas de PB. Para o PE os processos fonológicos mais significativos descritos na

literatura (Guerreiro e Frota, 2010) para a população com desenvolvimento típico, são a

OCF e a RGC. Neste estudo, estes processos foram também detetados no GPE. Assim,

com a análise dos processos fonológicos conseguimos de uma forma clara, objetiva e

eficaz propor que os processos fonológicos OCF e RGC são os comuns quando estamos

Page 81: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

63

perante um caso de PSF (Yavas, Hermandorena & Lamprecht, 2002 in Guerreiro e

Frota 2010).

No que diz respeito ao inventário fonético das crianças com PSF falantes nativas

de PE e crianças falantes nativas de PB, para responder aos objetivos 4 e 5, podemos

concluir que, não difere nas consoantes oclusivas nasais /m/ e /ɲ/ e nas consoantes

oclusivas orais /p/ e /k/. Os fonemas com menor PAF tanto para as crianças falantes

nativas de PE como para as crianças falantes nativas de PB são as fricativas /z/, /s/, /ʒ/ e

/ʃ/ e que alguns grupos consonânticos, como [vr], [kr] e [pl], não estão adquiridos para

estas crianças. Considerando que uma criança tem o seu inventário fonológico completo

por volta dos seis anos de idade, quando a sua fala é semelhante à fala de um adulto,

para o GPE e para o GPB os resultados dos fonemas /m, ɳ, p, k/ vão ao encontro do

descrito na literatura, uma vez que, estão adquiridos e que devem estar adquiridos até

aos três anos e seis meses. Os resultados são também compatíveis com os do estudo de

Moutinho e Lima (2007), que consideram que as consoantes fricativas tem uma

aquisição mais tardia.

Já Wertzner (2000) e Freitas (1997) assumem que os últimos fonemas a serem

adquiridos são as líquidas, o que para esta amostra de falantes com PSF não se

observou, talvez porque os contextos de líquidas /ɾ, l/ em ataque complexo (grupos

consonânticos) foram contabilizados isoladamente e não integrados nos contextos de

líquidas /ɾ, l/ em ataques simples e codas, adquiridos mais precocemente que os dos

ataques complexos (Freitas, 1997).

No que respeita aos grupos consonânticos, Lamprecht, et. al, (2004) nos seus

estudos referem que aos cinco anos de idade os grupos consonânticos estão dominados e

estabilizados, mas o que se observa nas crianças com PSF deste estudo é que a sua

maioria não tem adquirido os grupos consonânticos [vr, kr, pl]. Dada a aquisição mais

tardia dos ataques complexos (grupos consonânticos), que integram líquidas, os

resultados da aquisição dos grupos consonânticos parecem ser compatíveis com o

observados por Wertzner (2000) e Freitas (1997) para o PB e para o PE.

Page 82: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

64

4.1.2 Estudo 2

Nesta secção vamos sintetizar e discutir os resultados obtidos no Estudo 2, tendo

em conta os objetivos traçados inicialmente. Os objetivos para este estudo são iguais

aos do Estudo 1. Os procedimentos e análises utilizados foram os mesmos. Neste estudo

apenas foram contabilizadas as 12 palavras em comum nos dois instrumentos de recolha

de dados utilizados para as crianças falantes nativas de PE e para as crianças falantes

nativas de PB

Objetivo 1) verificar se o desempenho dos sujeitos com PSF do GPE e do GPB

difere na prova de nomeação de imagens, no que se a PCC, PCC-R, PDI e IAS, IAO,

IAD e IRS, IRO, IRD e ao número de processos fonológicos.

No que respeita a este objetivo, pretendemos verificar se o desempenho dos

sujeitos com PSF falantes nativos de PE e falantes nativos de PB nas diferentes provas

de nomeação de figuras nas 12 palavras comuns diferem nas medidas fonológicas em

estudo. Os resultados obtidos mostram que as medidas PCC, PCC-R, PDI, IAS, IRS,

IAO, IRO, IAD e IRD não apresentam diferenças estatísticamente significativas entre o

GPE e o GPB. O IRS foi a medida fonológica que obteve uma média mais elevada tanto

para o GPE como para o GPB. Este facto confirma os estudos que apontam os erros de

substituição como os que ocorrem com mais frequência nas crianças com PSF

(Wertzner, H.F., Santos, P.I., Pagan-Neves, L.O., 2012; 2014).

No caso das medidas fonológicas PCC e PCC-R já era de esperar este resultado

uma vez que, o emparelhamento dos sujeitos da amostra foi feito com base nestas

medidas. Um estudo de Wertzner, et al. (2012) refere que entre estas duas medidas

fonológicas não existem diferenças, mas sim uma forte correlação, de 87.80% entre o

PCC e o PCC-R (Wertzner, H.F., Santos, P.I., Pagan-Neves, L.O., 2012).

Objetivo 2) identificar qual o tipo de erro – substituição, omissão ou distorção

– mais frequente em ambas as amostras.

Com este objetivo pretendemos verificar qual o tipo de erro mais frequente para

as crianças falantes nativas de PE e para as crianças falantes nativas de PB. Os

resultados mostram que o erro mais frequente para o GPE e para o GPB é o de

Page 83: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

65

substituição. Existem diferenças nos tipos de erros para o GPE e para o GPB entre o

IAD – IAS. Este dado coincide com os estudos de Wertzner, H.F., Santos, P.I., Pagan-

Neves, L.O., (2012; 2014) já referidos.

resultados coincidentes com os resultados apresentados no Estudo 1. Tal pode

dever-se a um de dois motivos: ou as crianças não realizam este tipo de erro, ou os

terapeutas da fala na sua recolha e análise de dados não foram sensíveis a esta alteração

e efetuam um diagnóstico com subreposição entre PEL e PSF.

Objetivo 3) verificar se os processos fonológicos com maior ocorrência em

crianças com PSF diferem nas crianças falantes nativas de PE e nas crianças falantes

nativas de PB.

No que se refere a este objetivo, os resultados mostram que o processo de PAL é

o único processo que verificamos existir diferenças estatísticamente significativas entre

o GPE e o GPB. O grupo de crianças falantes nativas de PE produziu com maior

ocorrência o processo de PAL do que o grupo de crianças falantes nativas de PB.

Segundo Castro et al. (1997; 1999), Mendes et al., (2003), Wertzner et al. (2004) o

processo de PAL deve desaparecer até aos quatro anos e seis meses de idade. Este

processo não está descrito na literatura como sendo o mais frequente nas crianças com

PSF, o que pode ser um novo marcador línguistico para a intervenção dos Terapeutas da

Fala, pelo menos para crianças falantes nativas de PE.

Segundo a comparação dos grupos de crianças (GPE e GPB), verificamos que os

processos fonológicos RSA e SL são os que ocorrem com menor frequência para as

crianças falantes nativas de PE e para as crianças falantes nativas de PB, ao contrário do

observado no Estudo 1. Este resultado vai ao encontro ao estudado por Wertzner (2007)

que refere a SL como um dos processos fonológicos menos frequente, já que as líquidas

são das últimas consoantes a ser adquiridas.

Para Mendes et al., (2009) a supressão dos processos fonológicos SL e RSA só

ocorre na faixa etária [6:6 – 6:12[. Este dado é conforme os resultados deste estudo,

uma vez que a média de idades dos participantes do estudo é de cinco anos e oito meses.

Os mesmos autores consideram que as consoantes líquidas laterais (/l, ʎ/) só são

produzidas corretamente na faixa etária dos [3:6 – 3:12[, já as consoantes líquidas

Page 84: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

66

vibrantes (/ɾ, R/) são produzidas corretamente pelas crianças na faixa etária dos [4:0 –

4:6[ (Mendes et al., 2009).

Na comparação intragrupos de falantes verificamos que os processos com maior

ocorrência para o GPE são PAL, DES e RGC e para o GPB o processo fonológico de

RGC. Assim, podemos concluir que, na comparação entre as crianças falantes nativas

de PE e as crianças falantes nativas de PB o processo comum e com maior ocorrência é

RGC. Segundo Mendes et al., (2009), Castro, et al. (1997; 1999) e Wertzner (200;

2003) o processo de RGC é um dos últimos a ser suprimido pelas crianças, só por volta

dos sete anos de idade é que as crianças apresentam a fala igual à fala padrão de um

adulto. Uma vez que a média de idades das crianças do GPE e do GPB é de cinco anose

oito meses, o processo de RGC pode ser considerado ainda referente ao

desenvolvimento típico e não decorrente da PSF que estes sujeitos apresentam.

Através da comparação entre o número total de diferentes processos

fonológicos, o número total de processos fonológicos e o número total de consoantes

corretas para o GPE e o GPB os resultados mostram que o número total de ocorrência

dos processos fonológicos é igual para os grupos (GPE e GPB). Este resultado vai ao

encontro do resultado do PDI, já que não verificamos diferenças no número de

processos fonológicos.

Objetivo 4) verificar se o inventário fonético das crianças com PSF difere nos

falantes nativos de PE e nos falantes nativos de PB.

Objetivo 5) identificar quais os fonemas que as crianças com PSF falantes

nativos de PE e falantes nativos de PB produzem com menor de Percentagem de

Acertos por Fonema (PAF).

Por fim, para verificar os objetivos 4 e 5 deste estudo analisamos os seguintes

fonemas /t, k, d, g, f, s, ʃ, v, z, m, ɾ, pr, br, pl/ das produções das crianças com PSF no

GPE e no GPB nas 12 palavras comuns (vassoura, mesa, sapato, faca, peixe, cama,

garfo, prato, pasta, dedo, zebra, planta) que constam nos instrumentos de recolha de

dados utilizados para esta investigação.

Page 85: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

67

Os resultados revelaram que, não existem diferenças estatísticamente

significativas no inventário fonológico das crianças falantes nativas de PE em

comparação com as crianças falantes nativas de PB. Este resultado era esperado, uma

vez que existem poucas diferenças do ponto de vista fonológico nas duas variantes da

língua portuguesa.

Na comparação intragrupos os resultados revelaram que para o GPE o fonema

/ʃ/ obteve uma menor percentagem de acerto por fonema (PAF) e para o GPB os

fonemas com menor PAF foram /z, ʃ, g/ e os grupos consonânticos [br, pl]. Este

resultado está relacionado com o processo de PAL (a consoante fricativa dental é

substituída por uma fricativa palatal) uma vez que a maioria das crianças não têm

adquiridos os fonemas /ʃ, g/ (e.g. a palavra vassoura é produzida como [vɐˈʃoɾɐ]) e com

o processo fonológico de DES (consoante fricativa palatal é substituída por uma

fricativa dental) já que tanto no GPE como no GPB as crianças não tem aquirido o

fonema /ʃ/ (e.g. a palavra chapéu é produzida como [sɐˈpɛw]).

Concluimos que a grande contribuição do Estudo 2 é que, ao analisarmos o

mesmo universo de palavras para as duas variantes da língua portuguesa (PE e PB),

confirmamos as poucas diferenças nas medidas fonológicas estudadas e identificamos o

que é efetivamente diferente. Assim, os fonemas comuns aos dois grupos (GPE e GPB)

que estão adquiridos são /p, t, k, f, m/. O fonema com menor PAF tanto para o GPE

como para o GPB é / ʃ/, isto é, podemos considerar que para esta amostra de crianças

este fonema não está adquirido e pode ser um marcador linguístico de PSF para

estabelecer um plano de intervenção terapêutico.

4.2 Limitações do Estudo e Propostas para Estudos Futuros

No decorrer de todo o processo de investigação, surgiram algumas questões que

levaram a uma reflexão sobre as limitações e conduziram ao levantamento de novas

questões e hipóteses de investigação importantes a serem exploradas no futuro.

Nesta investigação realizamos a primeira comparação entre crianças falantes

nativas de PE e de crianças falantes nativas de PB com PSF conhecida na literatura na

ocorrência das diferentes medidas fonológicas com relevância científica e clínica.

Esta investigação pretende permitir um refinamento dos critérios de diagnóstico

para as PSF. Os resultados para o GPE, com mais distorções que substituições de sons,

Page 86: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

68

revelam uma possível sobreposição de diagnóstico entre uma Perturbação Específica da

Linguagem (PEL) e uma Perturbação dos Sons da Fala (PSF). Seria então importante

verificar outras avaliações como medidas completares para o diagnóstico. É importante

ainda referir que o processo de transcrição e análise dos dados recolhidos, não

recorrendo a posterior audição de registo áudio para verificação ou validação por júri,

pode ter influenciado também a classificação como substituição ou distorção de sons, já

que a metodologia de recolha de dados utilizada no LIFF para o GPB foi diferente da

metodologia utilizada pelos terapeutas da fala da área da grande Lisboa para o GPE.

Para a presente investigação foi difícil conseguir um número mais elevado de

sujeitos falantes nativos de PE. Tal facto deve-se a que muitos profissionais em

exercício não utilizarem ainda na sua prática clínica o instrumento de recolha de dados

que foi proposto como sendo um critério de inclusão (TFF-ALPE) e não utilizarem a

mesma terminologia para o diagnóstico de casos de PSF, ou seja, muitas vezes utilizam

diferentes outras terminologias, como perturbação fonológica, perturbação fonética ou

perturbação mista, para estabelecer um diagnóstico em PSF.

Apesar de os resultados responderem aos objetivos inicialmente estabelecidos, o

número de amostra pode de algum modo ter influenciado os resultados no que diz

respeito às diferenças estatísticamente significativas e marginalmente significativas. O

método de recolha e análise de dados ter sido diferente no PE e no PB é também uma

limitação e um fator a considerar num estudo futuro. É de extrema importância que as

amostras de fala das crianças fiquem registadas em áudio para poderem ser analisadas

com mais rigor, nomeadamente por diferentes transcritores, num júri. Assim, sugere-se

que os dados recolhidos por parte dos terapeutas da fala em Portugal incluam a gravação

em áudio ou a filmagem na avaliação de uma criança. Ainda que não recorram

posteriormente a júri, podem confirmar as transcrições registadas no momento da

produção. Como já referido, a metodologia no GPE não foi aferida para as nove

crianças enquanto que no GPB existe uma uniformização de critérios de recolha e

análise dos dados (existe gravação video e áudio e uma revisão feita por um júri para a

transcrição fonética). O protocolo do GPB é mais rigoroso e mais sistemático do ponto

de vista clínico e permite no futuro efectuar comparações da evolução do caso ou até

mesmo fazer uma reavaliação.

A presente investigação está direcionada para uma intervenção terapêutica, em

que, através dos resultados obtidos, o terapeuta da fala consegue elaborar

Page 87: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

69

hierarquicamente o seu plano de intervenção, considerando as necessidades de cada

criança. Assim, esta investigação para além da comparação entre as crianças falantes

nativas de PE e das crianças falantes nativas de PB pode contribuir para estabelecer ou

confirmar marcadores clínicos para o diagnóstico em PSF e contribuir para a

identificação de prioridades na intervenção terapêutica.

Para estudos futuros sugerimos que a amostra seja mais alargada, que a análise

não seja restrita a provas de nomeação de palavras, incluindo contextos de repetição e

de discurso espontâneo. É igualmente importante estabelecer uma metodologia que

defina um protocolo de recolha e análise de dados em contexto clínico rigoroso, mas

simultaneamente exequível, para se poderem efetuar estudos comparativos. Seria

interessante realizar este mesmo estudo comparativo com uma amostra maior e

controlar o método de recolha de dados utilizando as 12 palavras em comum que

constam nos dois instrumentos de recolha de dados utilizados para esta investigação

para o GPE e o GPB.

Diferentes abordagens pedagógicas e os diferentes meios sócio-económicos

onde cada grupo de crianças se enquadra tanto no PE como no PB é um fator a

considerar para os resultados obtidos nesta investigação e em estudos futuros, uma vez

que não foi fator de inclusão nem variável controlada o tipo de ensino onde as crianças

estão inseridas ou o meio sócio-económico de cada criança.

Em suma, apesar de existirem diferenças nos resultados das medidas

fonológicas, nomeadamente nos erros de omissão e no processo fonológico de PAL,

observa-se que as características de crianças com PSF falantes nativas de PE e de

crianças com PSF falantes nativas de PB são semelhantes, e as medidas fonológicas

consideradas neste estudo podem auxiliar o terapeuta da fala no diagnóstico de uma

PSF. Para tal é necessário que este profissional seja rigoroso na recolha e na análise dos

dados para estabelecer um diagnóstico correto e uma intervenção direcionada para a

problemática de cada criança com PSF.

Page 88: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

70

Page 89: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

71

CONCLUSÃO

A presente investigação teve como objetivo principal comparar o desenpenho de

crianças falantes nativas de PE e de crianças falantes nativas de PB com idades

compreendidas entre cinco anos e zero meses e os sete anos e 11 meses e com

diagnóstico de PSF em Terapia da Fala analisando 11 medidas fonológicas.

Para este estudo foram utilizados dois instrumentos de recolha de dados: para o

PE foi utilizado o subteste de nomeação do teste TFF-ALPE (Mendes et al., 2009) e

para o PB o sub teste de nomeação do teste de fonologia do ABFW (Wertzner,. 2004).

Para o Estudo 1 a amostra de fala contemplou o corpus total das palavras dos testes

referidos e para o Estudo 2 a amostra de fala incluiu apenas 12 palavras comuns

constantes nos dois instrumentos de recolha de dados.

As conclusões enunciadas são um complemento aos resultados e à discussão,

apresentados no capítulo III e IV respetivamente. A presente investigação (Estudo 1 e

Estudo 2) procurou responder às seguintes questões: 1) verificar se o desempenho dos

sujeitos com PSF do GPE e do GPB difere na prova de nomeação de imagens, no que se

a PCC, PCC-R, PDI e IAS, IAO, IAD e IRS, IRO, IRD e ao número de processos

fonológicos; 2) identificar qual o tipo de erro - substituição, omissão ou distorção - mais

frequente em ambas as amostras; 3) verificar se os processos fonológicos com maior

ocorrência em crianças com PSF diferem nas crianças falantes nativas de PE e nas

crianças falantes nativas de PB; 4) verificar se o inventário fonético das crianças com

PSF difere nos falantes nativos de PE e nos falantes nativos de PB; 5) identificar quais

os fonemas que as crianças com PSF falantes nativos de PE e falantes nativos de PB

produzem com menor de Percentagem de Acertos por Fonema (PAF).

Retomemos os critérios de inclusão para a amostra desta investigação e

concluímos que o emparelhamento dos casos do GPE como os casos do GPB foi bem

conseguido, pois não existiram diferenças estatísticamente significativas no que se

refere à faixa etária e à escala de PCC.

Concluímos que no Estudo 1, o desempenho das crianças com PSF falantes

nativas de PE e crianças falantes nativas de PB foi semelhante, ou seja, não existiram

diferenças para as medidas PCC-R, PDI, IRS, IAS, IAO, IRO, IAD e IRD entre o GPE

e o GPB. Para a segunda questão, em ambos os grupos o tipo de erro com maior

ocorrência foi o de substituição. Os resultados mostraram que as crianças falantes

Page 90: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

72

nativas de PE realizaram menos erros de distorção e as crianças falantes nativas de PB

menos erros de omissão. Em relação à questão se os processos fonológicos diferem,

verificamos que o processo de RSA e POS são constantes sem ocorrência para o PB,

isto é, nenhuma criança pertencente da amostra realizou este processo. Outro tipo de

comparações para a questão 3 no Estudo 1, não foi possível de executar uma vez que a

ocorrência por processos fonológicos para o PE é diferente para o PB. Para a questão 4

e 5 podemos concluir que os grupos consonânticos [kr], [vr] e [pl] são os mais

problemáticos tanto para o GPE como para o GPB. Com uma percentagem de 100% de

acerto por fonema estão os fonemas /m/ e /ɲ/ para o GPE e para o GPB. Os fonemas

como uma menor PAF são as fricativas /z/, /s/, /ʃ/ e /ʒ/ tanto para o GPE como para o

GPB.

Por fim no Estudo 2, verificamos que, tal como no Estudo 1, o desempenho das

crianças com PSF no GPE e no GPB não apresenta diferenças estatisticamente

significativas nas medidas fonológicas em estudo. O tipo de erro com maior ocorrência

foi o de substituição para as crianças falantes nativas de PE e para as crianças falantes

nativas de PB. Para responder à questão 3 só verificamos diferença no processo de PAL

que os sujeitos do GPE produzem com maior ocorrência do que os sujeitos do GPB. Na

comparação do GPE com o GPB nos processos fonológicos, no GPE os processos com

maior ocorrência são OCL, POS e DES e no GPB são ANT, OCF e DESV. Já na

comparação de pares entre o GPE e GPB verificamos que o processo comum com maior

ocorrência é RGC. Para as crianças falantes nativas do PE também verificamos através

da comparação intragrupos os processos de PAL e DES como os de maior ocorrência.

Com a utilização das 12 palavras comuns aos dois instrumentos de recolha de dados

verificamos, no que diz respeito ao inventário fonológico, que não existem diferenças

estatísticamente significativas. O GPB produzem com menos PAF os fonemas /g, ʃ, z/ e

os grupos consonânticos [br] e [pl]. Concluímos que, o fonema comum com menor PAF

para os falantes nativos de PE e para os falantes nativos de PB é o /ʃ/.

No que diz respeito ao total de diferentes processos, ao total de ocorrência de

processos fonológicos e ao número de consoantes corretas, no Estudo 2, concluímos que

as crianças falantes nativas de PE e as crianças falantes nativas de PB apresentaram

igual desempenho no número de ocorrência de processos fonológicos e no número de

consoantes corretas.

Page 91: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

73

Atendendo aos resultados obtidos e tendo em conta as questões de investigação,

concluímos:

1. não existiram diferenças essenciais nas medidas fonológicas no GPE e no

GPB;

2. no Estudo 1, não existiram diferenças nos tipos de erros à exceção do erro de

omissão;

3. no Estudo 2, no GPE verificamos um menor número de erros de distorção e

um maior número de erros de omissão;

4. no Estudo 2, existem algumas particularidades devido à variante da língua,

nomeadamente no processo fonológico de PAL, que verificamos uma ocorrência maior

para o GPE. No que diz respeito ao processo de RSA os falantes nativos de PE e os

falantes nativos de PB não realizaram este processo que tinham ocorrido no Estudo 1 no

GPE.

Os pontos 2 e 3 acima descritos apontam para a mesma conclusão, ou seja,

existem três possibilidades para estes resultados: a possibilidade do diagnóstico ser

diferente (utilização de nomenclaturas diferentes para as mesmas caraterísticas) PSF vr.

PEDL; a não homogeneidade do GPE; ou a possibilidade de os terapeutas da ala em

Portugal possuírem pouca sensíbilidade para as transcrições de distorções (casos de

sigmatismo).

Assim, é importante tentar em estudos futuros compreender melhor os motivos

para a ausência e presença de diferenças entre os grupos (GPE e GPB): os instrumentos

de recolha de dados utilizados para a avaliação, apesar das diferenças, parecem permitir

a comparação entre os falantes nativos de PE e os falantes nativos de PB, mas poderá

haver influência do método de recolha e registo de dados por parte dos profissionais em

Portugal, bem como da homogeneidade da amostra dos participantes do GPE

relativamente ao diagnóstico (PSF ou PEDL).

Consideramos que o presente trabalho contribui para o conhecimento da PSF e

das medidas fonológicas, para a caracterização das diferenças entre PE e e PB, e pode

contribuir para o estabelecimento de marcadores clínicos e para a sensibilização dos

terapeutas da fala para a importância do rigor na recolha e registo de dados para

estabelecer um diagnóstico, um prognóstico e uma intervenção terapêutica adequada.

Page 92: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

74

Considera-se que realizar uma avaliação completa do ponto de vista fonológico é

fulcral para o estabelecimento de um diagnóstico diferencial nas PSF. Acredita-se que

esta investigação é um contributo para o estabelecimento futuro de um protocolo de

avaliação que contemple todas as variáveis em estudo, é uma mais valia para a

investigação nesta área, pois reforça algumas perspectivas estudadas anteriormente e é

um “grão de areia” na investigação portuguesa e no auxílio do trabalho diário do

terapeuta da fala.

Page 93: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

75

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Page 101: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

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ANEXOS

Anexo 1. Folha de registo do Teste TFF-ALPE

Page 102: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

84

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89

Anexo 2. Folha de registo do Teste ABFW

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90

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93

APÊNDICES

Apêndice 1. Palavras dos instrumentos de avaliação e transcrição

fonética

Palavra Transcrição Fonética

Peras ´peɾɐʃ

Sapato sɐ´patu

Jipe ´ʒip

Televisão tɨlɨvi´zɐw

Rato ´Ratu

Pente ´pet

Cabelo kɐ´belu

Faca ´fakɐ

Bola ´bɔlɐ

Dedo ´dedu

Olho ˈoʎu

Balde ´baɫdɨ

Gato ´gatu

Água ´agwɐ

Café kɐˈfɛ

Vassoura ˈvɐsoɾɐ

Chapéu ʃɐˈpɛw

Caixa ˈkajʃɐ

Peixe ˈpɐjʃɨ

Chave ˈʃavɨ

Zebra ˈzebɾɐ

Mesa ˈmezɐ

Janela ˈʒɐnɛlɐ

Unha ˈuŋɐ

Queijo ˈkɐiʒu

Cama ˈkɐmɐ

Nariz nɐˈɾiʃ

Telefone tɨlɨˈfɔn

Carro ˈkaʀu

Comer kuˈmeɾ

Lua ˈluɐ

Sol ˈsɔɫ

Brincar bɾiˈkaɾ

Cobra ˈkɔbɾɐ

Três ˈtɾeʃ

Quatro ˈkwatɾu

Estrela ɨʃˈtɾelɐ

Prato ˈpɾatu

Page 112: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

94

Tabela 1. Palavras e transcrição fonética do TFF-ALPE da prova de nomeação para oPE (Mendes et al.,

2009).

Palavra Transcrição Fonética

Soprar suˈpɾaɾ

Frango ˈfɾɐgu

Gravata gɾɐˈvatɐ

Tigre ˈtigɾɨ

Dragão dɾɐˈgɐw

Vidro ˈvidɾu

Creme ˈkɾɛm

Escrever ɨʃkɾɨˈveɾ

Livro ˈlivɾu

Planta ˈplɐtɐ

Bicicleta bisiˈklɛtɐ

Flor ˈfloɾ

Porco ˈpoɾku

Porta ˈpɔɾtɐ

Gordo ˈgoɾdu

Carne ˈkaɾnɨ

Força ˈfoɾsɐ

Formiga fuɾˈmigɐ

Garfo ˈgaɾfu

Alto ˈaɫtu

Almofada aɫmuˈfadɐ

Calças ˈkaɫsɐʃ

Colchão koɫˈʃɐw

Polvo ˈpoɫvu

Hospital ɔʃpiˈtaɫ

Pesca ˈpɛʃkɐ

Pasta ˈpaʃtɐ

Ponte ˈpotɨ

Umbigo uˈbigu

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95

Palavra Transcrição Fonética

Palhaço pa' ʎ asw

Bolsa 'bowsa

Tesoura tʃi'zoɾa

Cadeira ka'deɾa

Galinha ga'liɲa

Vassoura va'soɾa

Cebola se'bola

Xícara 'ʃikaɾa

Mesa 'meza

Navio na'viw

Livro 'livɾw

Sapo 'sapw

Tambor tã'boɾ

Sapato sa'patw

Balde 'bawdʒɪ

Faca 'faka

Fogão ˈfɔgɐw

Peixe 'peʃɪ

Relógio xe'lɔʒiw

Cama 'kãma

Anel a'nɛw

Milho 'miʎw

Cachorro ka'ʃoxw

Blusa 'bluza

Garfo 'gaɾfw

Trator 'tɾatoɾ

Prato 'pɾatw

Pasta 'pasta

Dedo 'dedw

Braço 'bɾasw

Girafa ʒi'ɾafa

Zebra 'zebɾa

Planta 'plãta

Cruz 'kɾus

Tabela 2. Palavras do ABFW da prova de nomeação (Wertzner et al., 2004) e transcrição fonética20

.

20

Esta trancrição fonético foi realizada pela investigadora com a ajuda de uma aluna de mestrado do LIFF

e da Professora Doutora Haydee Wertzner.

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96

Apêndice 2. Tabelas - Estudo 1

GPE GPB

Teste t Teste Mann-Whitney Média DP

Média das

Ordens Média DP

Média das

Ordens

PCC-R 76.65 12.81 75.19 10.51 t(16) = 0.26, p = 0.79

PDI 0.65 0.34 0.55 0.33 t (16) =0.63, p = 0.53

IAS 8.50 10.50 U = 49.5, p = 0.42

IRS 0.52 0.25 0.59 0.32 t(16) = 0.52, p =0.6

IAO 12.22 6.78 U = 16, p = 0.03

IRO 12.78 6.22 U = 11, p = 0.008

IAD 7.78 11.22 U = 56, p = 0.08

IRD 7.78 11.22 U = 56, p = 0.08

Tabela 1. Média, desvios padrões para as variáveis PCC, PCC-R, IAS e IRS e média das ordens

para as variáveis PDI, IAD, IRD, IAO e IRO.

GPE GPB

Média de

ordens Teste Friedman

ᵡ2(2) = 11.02, p = 0.004

Média de

ordens Teste Friedman

ᵡ2(2) = 5.09, p = 0.078

IAS 2.50 2.56

IAO 2.39 1.56

IAD 1.11 1.89

Tabela 2. Média de ordens e Teste de Friedman para as variáveis IAS, IAO, IAD

Page 115: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

97

Apêndice 3. Tabelas - Estudo 2

GPE GPB

Teste t Teste Mann-

Whitney Média DP

Média

das

Ordens

Média DP Média das

Ordens

PCC 80.28 11.22 79.58 11.86 t(16) = 0.129, p = 0.87

PCC-R 79.92 10.67 73.11 7.56 t(16) = 1.56, p = 0.10

PDI 9.61 9.39 U = 39.5, p = 0.93

IAS 0.13 0.07 0.15 0.11 t(16) = -0.46, p = 0.26

IRS 0.61 0.31 0.54 0.33 t(16) = 0.47, p = 0.76

IAO 10.61 8.39 U = 30.5, p = 0.38

IRO 10.72 8.28 U = 29.5, p = 0.34

IAD 7.78 11.22 U = 56, p = 0.19

IRD 7.83 11.17 U = 55.5, p = 0.19

Tabela 1. Média, desvios padrões para as variáveis PCC, PCC-R, IAS e IRS e média das ordens

para as variáveis PDI, IAD, IRD, IAO e IRO,

Nota: PCC e PCC-R (percentagem); PDI, IAS, IRS, IAO, IRO, IAD e IRD (valores podem

variar entre 0 e 1)

GPE GPB

Média das ordens Teste Friedman

ᵡ2(2) = 9.6, p =0.008

Média das

ordens Teste Friedman

ᵡ2(2) = 2.77, p = 0.25

IAS 2.67 2.39

IAO 2.00 1.67

IAD 1.33 1.94

Tabela 2. Média das ordens para as variáveis IAS, IAO e IAD noGPE e no GPB.

Tabela 3. Média das ordens, valores de U e p para os processos fonológicos entre o GPE e o GPB.

Processos Fonológicos Média das ordens

U p GPE GPB

RSA

OCL

POS

PAL

ANT

DES

SL

RGC

OCF

DESV

9,50

10,89

10,50

12,28

9,00

10,50

9,50

9,44

8,06

7,78

9,50

8,11

8,50

6,72

10,00

8,50

9,50

9,56

10,94

11,22

40,5

28

31,5

15,5

45

31,5

40,5

41

53,5

56

1,00

0,30

0,44

0,024

0,73

0,43

1,00

1,00

0,26

0,20

Page 116: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

98

Processos

Fonológicos

Teste Friedman

Média de ordens

GPE GPB

RSA

OCL

POS

PAL

ANT

DES

SL

RGC

OCF

DESV

3.89 a

5.28 a,b

5.00 a,b

7.00 b

3.89 a

7.17 b

5.94 a,b

7.44 b

5.11 a,b

4.28 a,b

4.17 a

4.56 a

4.17 a

4.44 a

4.61 a

6.17 a,b

6.17 a,b

7.72 b

6.83 a, b

6.17 a,b

Tabela 4. Média de ordens no teste ANOVA de Friedman para os processos fonológicos no GPE

e no GPB. Nota: valores com letras diferentes em coluna são diferentes a p < 0.05

Fonema Média das ordens Teste Mann-Whitney

GPE GPB U p

p 9,50 9,50 40,5 1,00

t 9,44 9,56 41 1,00

k 10,00 9,00 36 0,73

d

g

f

s

ʃ

v

z

m

ɾ

pr

br

pl

9,89

11,50

8,50

9,50

8,50

10,00

11,61

9,50

9,50

8,50

10,00

10,00

9,11

7,50

10,50

9,50

10,50

9,00

7,39

9,50

9,50

10,50

9,00

9,00

37

22,5

49,5

40,5

49,5

36

21,5

40,5

40,5

49,5

36

36

0,80

0,11

0,44

1,00

0,44

0,73

0,09

1,00

1,00

0,44

0,73

0,73

Tabela 5. Descrição dos resultados para a PAF, média das ordens, teste de Mann-Whitney para o GPE e o

GPB.

Page 117: Dissertação Mestrado_Ana Filipa Santos.pdf

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Tabela 6. Média das ordens para a PAF o GPE e o GPB.

Nota: valores com letras diferentes em coluna são diferentes a p< 0.05

Tabela 7. Média das ordens para as variáveis totais de diferentes processos fonológicos, total de

ocorrência de processos fonológicos e número de consoantes correta para o GPE e GPB.

Fonema Teste de Friedman

PE PB

p 10.11b 10.56b

t 9.44b 10.11b

k 10.11b 10.00b

d

g

f

s

ʃ

v

z

m

ɾ

pr

br

pl

8.39b

10.11b

8.39b

6.67a,b

4.17a

8.44b

7.94a,b

10.11b

7.61a,b

5.06a,b

6.72a,b

6.72a,b

8.39a,b

7.00a

10.56b

7.06a,b

6.17a

7.89a,b

4.67a

10.56b

7.83a,b

7.00a,b

6.17a

6.06a

Média das ordens Teste Mann-Whitney

GPE GPB

Total de diferentes processos fonológicos 10.22 8.78 U = 34.00, p = 0.60

Total de ocorrência de processos fonológicos (n = 47) 9.61 9.39 U = 39.50, p = 0.93

Número de consoantes corretas (n= 31) 9.33 9.67 U = 42.00, p = 0.93