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    UNIO EUROPEIA

    Fundo Social Europeu

    ISSN 0871-7354 2,50

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    PROPRIEDADE Instituto de Emprego

    e Formao Profissional, I.P.DIRECTOR Francisco Caneira Madelino

    COORDENADORA DO NCLEODEREVISTAS DIRIGIR E FORMARMaria Fernanda Gonalves

    COORDENADORADA REVISTADIRIGIRLdia Spencer Branco

    CONSELHOEDITORIAL Adelino Palma, AntnioValarinho, Francisco Caneira Madelino,Francisco Vasconcelos, Henrique Mota, JosLeito, Joo Palmeiro, Jos Vicente Ferreira,J.M. Marques Apolinrio, Ldia Spencer Branco,Maria Fernanda Gonalves e Maria Helena Lopes

    COLABORADORESAna Penim, Armnio Rego,Carlos Barbosa de Oliveira, Celso Pais, GlriaRebelo, Joo Godinho Soares, J.M. Marques

    Apolinrio, Jos Magalhes, Maria das DoresGuerreiro, Maria Helena Monteiro, Miguel Pinae Cunha, Nuno Gama de Oliveira Pinto, RubenEiras, Teresa Escoval, Teresa Soutoe Vnia Mateus.

    REVISO TIPOGRFICALaurinda Brando

    ILUSTRAESExtramedia Design Studios,Joo Amaral, Manuel Libreiro, PauloBuchinho, Paulo Cintra, Plinfo e Srgio Rebelo.

    APOIO ADMINISTRATIVOAna Maria Varela

    REDACOEASSINATURASDepartamento de Formao ProfissionalDireco das revistas DIRIGIRe FORMARTel.: 21 861 41 00Ext.: 2652 e 2719Fax: 21 861 46 21

    Rua de Xabregas, n. 52 - 1949-003 Lisboae-mail: [email protected]

    DATA DE PUBLICAO Setembro 2009

    PERIODICIDADE 4 nmeros/ano

    CONCEPO GRFICA E PAGINAOPlinfo Informao. Lda.Tel.: 217 936 265Fax: 217 942 [email protected]

    CAPAJorge Barros

    IMPRESSO Soctip

    TIRAGEM 21 000 exemplares

    CONDIES DE ASSINATURAEnviar carta com nome completo, data de

    nascimento, morada, funo profissional,empresa onde trabalha e respectiva reade actividade para:Rua de Xabregas, n. 52 - 1949-003 Lisboa

    NOTADA NO ICS

    DEPSITO LEGAL 17519/87

    ISSN 0871-7354

    Todos os artigos assinados so de exclusivaresponsabilidade dos autores, no coincidindonecessariamente com as opiniesdo Conselho Directivo do IEFP. permitidaa reproduo dos artigos publicados,para fins no comerciais, desde queindicada a fonte e informada a Revista.

    Trabalho e familia Na senda de novos equilbrios Maria das Dores Guerreiro

    Oramento da Unio Europeia para 2010 Nuno Gama de Oliveira Pinto

    Famlia Lbano Monteiro: onde o relgio nunca pra Vnia Mateus; Teresa Souto

    Quanto tempo tem o tempo? Carlos Barbosa de Oliveira

    A gesto do tempo... do meu tempo Maria Helena Monteiro

    Trabalho e qualidade de vida procupam os Europeus Nuno Gama de Oliveira Pinto

    Dez bssolas de apoio liderana tica Armnio Rego; Miguel Pina e Cunha

    Parentalidade partilhada e igualdade no trabalho Glria Rebelo

    2010 ser o Ano Europeu da luta contra a pobreza e a excluso social Nuno Gama

    de Oliveira Pinto

    Valores de vida e stress percebido Jos Magalhes

    O Coachon. A relao fundamental da dinmica no coaching de colaboradores Celso Pais

    Custos e preos na microempresa J. M. Marques Apolinrio

    Bssola Geoeconmica Pedro Santos; Knowledge Tracker Ruben Eiras

    Disse sobre gesto

    Os tempos do tempo Joo Godinho Soares

    Mundo virtual ou fantasia real? Teresa Escoval

    Os tempos da vida Ana Penim

    Ruben Eiras

    Nuno Gama de Oliveira Pinto

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    A edio desta revista ir, certamente, coincidir com o perodo de frias de muitos

    dos nossos leitores... Assim, num perodo em que o tempo de descompresso,

    considermos oportuno dedicar este nmero da DIRIGIRao tema Os Tempos do Tempo.

    Ao escrever este Editorial, dei comigo a pensar: Como definir o conceito de tempo?

    Encontrei como sinnimos clima, durao, perodo, prazo, demora...

    e, se partida poderia parecer fcil definir tempo, a a situao complicou-se...

    No por acaso que vrios filsofos e pensadores reconhecidos em vrias pocas

    se preocuparam com esta questo e muito escreveram sobre ela... O que , pois, o tempo?Apesar da subjectividade do tema, parece-me consensual dizer que o tempo pode ser

    analisado sob as mais diversas perspectivas o tempo csmico, o tempo histrico,

    o tempo existencial... , mas quase todos ns vivemos sob a obsesso do tempo do relgio,

    e esse no s comanda a nossa vida como quase nos escraviza... No tenho tempo para

    nada, ando a correr, estou num stress, pensas que o meu tempo estica!...

    estas so frases que nos so familiares e que, certamente, j repetimos em diversos

    momentos da nossa vida.

    Administrar o tempo no apenas fazer as coisas de forma mais rpida, mas sim simplificar

    os seus procedimentos reduzindo o nmero de opes disponveis. Assim, e porque

    as frias so um tempo de paragem em que nos esquecemos do mundo real, cheio de regras

    e de ritmos a cumprir, nesta edio da revista convidamos os leitores a fazerem uma reflexosobre o uso do tempo, sobre como gerir o tempo de trabalho, o tempo da famlia,

    o tempo pessoal, sobre as prioridades da vida profissional e familiar... enfim,

    uma reflexo que permita, aquando da reentre no perodo de actividade profissional,

    uma melhor e mais eficaz gesto do tempo!

    A Separata d-nos conta das principais alteraes demogrficas da populao portuguesa

    ao longo do ltimo sculo, das migraes internas ao envelhecimento populacional.

    Francisco Caneira Madelino

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    editorial

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    Diferentes concepes de tempo j um lugar comum relembrar as mudanas drsticas por quetm passado as sociedades mais desenvolvidas desde a segun-da metade do sculo XXe o impacto que isso tem trazido vida dasgeraes contemporneas nos planos do trabalho e da famlia. Se

    a gerao dos nossos avs ainda pertenceu a um mundo onde aruralidade era forte, com os inerentes costumes e modos de vidacentrados num tempo cclico, natural, solar e sazonal, orientadopara a realizao das tarefas agrcolas, os seus descendentesso protagonistas do tempo industrial, o tempo do relgio (Adam,2004), um tempo linear que, separando casa e trabalho, passaa ser regulado e contabilizado pelo valor que introduz na cadeiade produo de mercadorias. O regime fordista contratualizariahoras de trabalho e no a tarefa a realizar (E. P. Thomson, 1967),operando-se uma maior compartimentao do tempo e das acti-vidades a ele adstritas: tempo de trabalho remunerado, tempo de

    no-trabalho.

    Por: Maria das Dores Guerreiro CIES, ISCTE-IULIlustraes:Paulo Buchinho

    J mais recentemente, o desenvolvimento das tecnologias da in-formao, comunicao e transportes veio trazer alteraes im-

    portantes aos modos de relacionar tempo e espao, permitindoencurtar distncias e a comunicao em tempo real entre pes-soas de pontos longnquos do nosso planeta. Empresas locali-zadas em diferentes pases podem comunicar mais facilmente.Para tirar partido dos custos mais baixos da fora de trabalho,uma operadora de telecomunicaes ou de transportes pode se-diar em muitos casos por subcontratao a outras empresas os servios de apoio ao cliente num pas distante que fale amesma lngua, ainda que os tempos, segundo o meridiano deGreenwich, estejam vrias horas desfasados.Estamos perante uma nova filosofia de perspectivar o tempo,

    que o encara de forma flexvel. So os traos da era por algunsdesignada de ps-fordista, a era das TIC (tecnologias da infor-mao e comunicao). As fronteiras temporais e fsicas estocada vez mais diludas e isso aconteceu em poucas dcadas,alterando radicalmente os modos de trabalhar e de organizar as

    actividades econmicas. Criaram-se novas categorias profissio-nais, extinguiram-se ou deslocalizaram-se outras, engrossandoa fileira dos trabalhadores altamente qualificados que RobertReich (1993) designou no seu livro O Trabalho das Naes poranalistas simblicos, dotados de competncias que os tornacapazes de identificar e resolver problemas. E isto nas mais

    diversas reas.

    Mudanas nos papis de gneroA par destas grandes transformaesnas sociedades industrializadas, outrasforam ocorrendo com idntica notorie-dade nos planos demogrficos e daesfera privada, de forma mais oumenos acelerada, em diversospases, entre os quais Portugal.Com a descoberta de novas for-

    mas contraceptivas, a partir da

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    dcada de 60 do sculo XX assistiu-se a uma drstica descida danatalidade e ao ingresso massivo das mulheres no mercado detrabalho. A emergncia de novos quadros de valores passou a re-conhecer s mulheres o direito a uma participao mais activana esfera pblica, quebrando o modelo ideal tpico da separaode esferas institudo com a era industrial e normalizado na produ-o terica de diversos autores de Max Weber a mile Durkheime a Talcott Parsons. Da tradicional atribuio mulher dos papisexpressivos e de dona de casa, e ao homem de funes instru-mentais como principal ganha-po da famlia, no perodo fordis-ta(1) passou-se, na modernidade tardia, para uma atribuio de

    idnticas responsabilidades nos campos familiar e profissional aambos os sexos. O exerccio de uma profisso agora entendidocomo elemento estruturador de cidadania, autonomia individuale identidade pessoal, independentemente do sexo (Beck, 2000).E a parentalidade assenta no modelo cultural do novo pai,

    mais envolvido com os filhos desde o seu nas-cimento (Amato, 1994; Carlsen, 1995).

    Modelos de articulao trabalho-famliaA relao entre trabalho e famlia foi, assim, passando por diver-sas metamorfoses. famlia pr-industrial, unidade de produoe consumo, com grande indiferenciao de papis por sexo ouidade, onde todos davam os seus contributos (modelo indiferen-ciado), sucedeu, na sociedade industrial, uma relao segmen-tada na especializao essencialista das identidades e funesfemininas e masculinas, que idealisticamente afastou a mulherdo trabalho remunerado e o homem do trabalho de cuidar (mode-

    lo segmentado essencialista). E presentemente, na modernida-de tardia, preconiza-se a compatibilizao do investimento pro-fissional com o investimento familiar para homens e mulheres(Barrre-Maurisson, 2003), relevando-se o efeito positivo de talcombinao para a igualdade de gnero e para o bem-estar ma-terial e subjectivo de adultos e crianas (modelo igualitrio).Alm da apologia da igualdade de oportunidades quanto parti-cipao na esfera privada e obteno de recursos econmicos,vrios estudos evocam a realizao pessoal proporcionada pelodesempenho de mltiplos papis sociais (Crosby, 1987).Note-se, no entanto, que estes diferentes modelos de relao

    trabalho-famlia tpicos de distintos perodos histrico-sociaistendem a coexistir ou a sobrepor-se, em maior ou menor exten-so, na actualidade, e que pesquisas realizadas vo identificandosituaes de dificuldade na conciliao entre trabalho e famliageradoras de stress (Guerreiro e Carvalho, 2007) e de outros pro-blemas, tanto resultantes da interferncia do trabalho na famliacomo desta na actividade profissional. Uma cultura organizacio-nal assente no presentismo e nos horrios de trabalho prolonga-dos ter implicaes negativas na famlia, do mesmo modo quea no diviso das tarefas domsticas e do trabalho de cuidar in-terfere em desfavor da carreira de quem acumula a sobrecarga,

    em geral a mulher.

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    Fonte: Guerreiro, Rodrigues e Barroso, Projecto Quality of Life in a Changing Europe , 2009.

    A realidade nacionalMas vejamos qual a situao de Portugal em matria de equil-brio entre vida profissional e vida familiar. No contexto europeu,Portugal regista taxas de actividade e de emprego feminino rela-tivamente elevadas, destacando-se a participao das mulheresno mercado de trabalho na modalidade de tempo inteiro, poucocomum noutros pases com idnticos nveis elevados de activi-dade feminina. Por outro lado, segundo o projecto Quality of lifein a changing Europe, recentemente concludo e que integrouempresas portuguesas, registam-se, para ambos os sexos, va-lores elevados de trabalho alm do tempo contratualizado, numa

    mdia semanal que ultrapassa as 7 horas, e a necessidade detrabalhar alm do horrio sem que isso seja atempadamenteplaneado (38,8% dos casos)(2). Alm disso, significativo o sen-timento de insegurana experimentado por muitos trabalhado-res (32%), facto condicionador dos processos de transio paraa vida adulta das novas geraes, que protelam cada vez maisa assuno de responsabilidades familiares e a entrada na pa-rentalidade (Guerreiro e Abrantes, 2004; Guerreiro e Rodrigues,2007). igualmente bastante evidenciada a cultura do tempo detrabalho prolongado, a qual parece estar incorporada nos proce-dimentos de avaliao de desempenho dos recursos humanos,

    constituindo-se a disponibilidade para trabalhar alm do horrio

    estabelecido um critrio determinante na progresso profissio-nal ou na obteno de um contrato mais estvel.

    A par destes factores de mbito profissional que interferem nomodo como os trabalhadores articulam os vrios domnios dassuas vidas, verifica-se, a nvel da esfera privada, uma ainda gran-de assimetria nas atitudes e prticas de mulheres e homens. Asmulheres despendem por semana em tarefas domsticas o do-bro do tempo gasto pelos homens, o que se reflecte na opinioque uns e outras tm quanto ao sentimento de justia expressoa respeito da diviso do trabalho domstico: 42% dos homens eapenas 11% das mulheres declaram sentir que fazem menos doque deveriam. A licena parental de uso exclusivo do pai tambmainda no utilizada pela generalidade dos homens em condi-

    es de dela usufrurem.

    Horas efectivas de trabalho semanal Homens: 44,7 horas Mulheres: 43,6 horas

    Nmero mdio de horas de trabalho semanal alm do regulamentado 7 horas

    Receio de perder o emprego 32%

    Necessidade de trabalhar alm do horrio sem aviso prvio 38,8%

    Para ser promovido nesta organizao preciso trabalhar sempre para alm da hora 56,5%

    Os trabalhadores devem trabalhar muitas horas por dia e estar sempre disponveis 64,8%

    Nmero de horas de trabalho domstico semanal Homens: 6,9 horas Mulheres: 13,8 horas

    Sente que faz menos trabalho domstico do que deve Homens: 41,9% Mulheres: 10,8%

    Mulheres que usaram licenas de maternidade 16,4%

    Homens que usaram licenas de paternidade (5 dias) e parental- paterna voluntria (15 dias) 14% 9,2%

    INDICADORES DA RELAO TRABALHO-FAMLIA

    Quadro 1

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    Polticas e prticass medidas que a legislao laboral consagra em cada pas po-dem acrescer, em certas organizaes de trabalho, polticas es-

    pecficas de gesto de recursos humanos que facilitam em maiorou menor grau a conciliao entre trabalho, famlia e vida pessoal.No leque de boas prticas (Guerreiro, Loureno e Pereira, 2007)usualmente reconhecidas, salientam-se:> Flexibilizao na organizao do tempo de trabalho profissio-

    nal.> Trabalho a partir de casa.> Servios de acolhimento de crianas e de apoio a pessoas de-

    pendentes ou protocolos com estabelecimentos com essasvalncias.

    > Protocolos com empresas de servios domsticos.

    > Incentivo maior participao dos homens na vida familiar.> Incentivo partilha das licenas de parentalidade.

    Estudos realizados junto de vrias empresas, nacionais e mul-tinacionais, em territrio portugus, permitiram identificar al-gumas destas boas prticas. De um modo geral, nas maioresempresas e naquelas reguladas por acordos colectivos de tra-balho que h uma maior probabilidade de encontrar medidas deconciliao trabalho-famlia. No entanto, nota-se frequentementea existncia de situaes em que os trabalhadores se inibemda utilizao destas medidas formalmente ao seu dispor, reve-

    lando um baixo sentido dos direitos (Lewis, 1998). Em geral, talsituao decorre de dois factores: das ideologias de gnero e donvel de insegurana contratual. Por um lado, os climas organi-zacionais e a atitude de muitas chefias ainda no so favorveis utilizao destas medidas por parte dos homens, quando notambm das mulheres, que assim se inibem de atender a neces-sidades de ordem familiar. Por outro lado, inseres profissionaisinseguras podem desencorajar a sua utilizao, com receio deno renovao do respectivo contrato laboral ou mesmo de noprogresso na carreira.Quando a cultura da organizao favorvel, assiste-se sua

    utilizao, com impacto positivo para os trabalhadores e para as

    empresas, que vem reforado o empenho profissional do seucapital humano com reflexo nos resultados da actividade. Impor-tar, assim, que as organizaes que valorizem e reconheamas vantagens da conciliao entre trabalho, vida familiar e pes-soal faam diagnsticos de necessidades, promovam as medi-das identificadas como necessrias e incentivem os trabalhado-res, homens e mulheres, a delas usufrurem.

    NOTAS

    (1) - Importa no ignorar o facto de as mulheres sempre terem trabalhado, tanto na agricultura

    como na indstria, bem como nos empreendimentos familiares artesanais.

    (2) - Projecto Quality of Life in a Changing Europe.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ADAM, B., Time and Social Theory, Filadlfia, Temple University Press, 1990.

    AMATO, P. R., Father-child relations, mother-child relations and offspring Psychological well-

    being in early Adulthood, in Journal of Marriage and the Family, n. 56, pp. 1031-1042, No-

    vembro de 1994.

    BARRERE-MAURISSON, Marie Agns, Travail, Famille: le Nouveau Contrat, Paris, Gallimard, 2003.

    BECK, Ulrich, The Brave New World of Work, Cambridge, Polity Press, 2000.

    CARLSEN, Soren, When working men become fathers, inPeter Moss (ed.), Father figures. Fa-thers in the families of the 1990s, Edimburgo, HMSO, 1995.

    CROSBY, F. J. (ed.),Spouse, Parent, Worker: Gender and Multiple Roles, New Haven, CT-Yale Uni-

    versity Press, 1987.

    GUERREIRO, Maria das Dores e ABRANTES, Pedro, Transies Incertas. Os Jovens perante o Tra-

    balho e a Famlia, Lisboa, CITE, 2004.

    GUERREIRO, Maria das Dores, LOURENO, Vanda e PEREIRA, Ins, Boas Prticas de Conciliao

    entre Vida Profissional e Vida Familiar. Manual para as Empresas, Lisboa, CITE, 2006.

    GUERREIRO, Maria das Dores e RODRIGUES, Eduardo Alexandre, Trabalho e famlia: que quali-

    dade de vida? Uma anlise exploratria do sector dos servios, in Maria das Dores Guerreiro,

    Anlia Torres e Lus Capucha (orgs.), Quotidiano e Qualidade de Vida (Portugal no Contexto Eu-

    ropeu, vol. III), Lisboa, Celta Editora, 2007.GUERREIRO, Maria das Dores e CARVALHO, Helena O Stress na Relao Trabalho-Famlia. Por-

    tugal numa Perspectiva Comparada, in Karin Wall e Lgia Amncio (org.) Famlia e Gnero em

    Portugal e na Europa, Lisboa, ICS, 2007.

    GUERREIRO, Maria das Dores, RODRIGUES, Eduardo Alexandre e BARROSO, Margarida, Quality of

    Life in a Changing Europe. Principais Apuramentos , Relatrio de pesquisa, CIES, 2009.

    LEWIS, Suzan, O sentido dos direitos a apoios para a conciliao entre trabalho e vida familiar:

    o caso do Reino Unido,Sociologia, Problemas e Prticas, n. 27, 1998.

    REICH, Robert, O Trabalho das Naes, Lisboa, Quetzal Editores, 1993.

    THOMPSON, E. P., Time, work-discipline and industrial capitalism, in Past and Present, n. 38,

    1967.

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    A Comisso Europeia adoptou um anteprojecto de oramen-to para 2010 no valor de 139 000 milhes de euros. O re-lanamento econmico o objectivo central das despesas

    do prximo ano, sendo afectada a maior percentagem dos fundos(45%) s medidas no domnio do crescimento e emprego umreforo de 3,2% relativamente a 2009 a fim de contribuir para orestabelecimento da competitividade na Unio Europeia (UE).Os fundos destinados aos grandes programas relacionados coma investigao e a energia iro aumentar mais de 12% e os fun-dos afectados poltica de coeso sero igualmente reforados,devendo os 12 novos Estados-membros da UE receber 52% dos

    fundos estruturais e do Fundo de Coeso.Todas as rubricas do oramento iro registar um aumento, al-canando um total de 138 600 milhes de euros de dotaes deautorizao (1,18% do RNB) e de 122 300 milhes de euros dedotaes de pagamento (1,04% do RNB).Na apresentao da proposta, Siim Kallas, vice-presidente respon-svel pelos Assuntos Administrativos, Auditoria e Luta Antifraude,bem como pela Programao Financeira e Oramento, afirmou:O presente oramento privilegia as medidas destinadas a evitaruma recesso ainda mais acentuada. Seis mil milhes de eurossero destinados investigao e inovao, enquanto cerca de 9

    milhes de cidados iro receber apoio atravs do Fundo Social

    Europeu. Assistir-se- tambm em 2010 execuo da se-gunda fase da contribuio do oramento da UE para o plano derelanamento, elevando o total dos fundos suplementares desti-

    nados a dar resposta crise para mais de 6 mil milhes de eurospara o perodo 2008-2010, sublinhou Siim Kallas.A prioridade mxima da UE ser a afectao de fundos a projectosdestinados a preservar e a criar postos de trabalho, a ajudar o te-cido empresarial e a restabelecer a competitividade.O oramento inclui previses tanto das autorizaes (com-promissos jurdicos de financiamento, desde que sejam respei-tadas certas condies) como dos pagamentos (pagamentosem numerrio ou atravs de transferncias bancrias para osbeneficirios). A adopo definitiva do oramento da Unio Euro-peia ocorrer durante a sesso plenria do Parlamento Europeu,

    a realizar em Dezembro.

    Por: Nuno Gama de Oliveira Pinto Professor e Investigador Universitrio(Ph. D.); Conferencista e Consultor da Comisso Europeia (Team Europe)Ilustrao: Extramedia Designer Studios

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    Numa poca em que a maioria dos casais tem receio de se aventurar a ter mais do que um ou dois filhos

    por dificuldades econmicas ou falta de disponibilidade, a DIRIGIR quis saber como vive quem optou porter uma casa recheada de gente. No dia-a-dia agitado dos dez elementos da famlia de Maria e ManuelLbano Monteiro, tudo se compe com sentido de humor e muita organizao

    Por: Vnia Mateus; Teresa Souto RedactorasFotografias: Plinfo/Famlia Lbano Monteiro

    Numa famlia numerosa a tristeza diluda por muitos e a ale-gria multiplicada por todos. Quem o diz Maria Lbano Montei-ro, me a tempo inteiro de oito filhos. No total, so dez pessoasnuma casa onde raramente h momentos de silncio. com umsorriso no rosto que recorda que o desejo de ter pelo menos trs

    filhos j era partilhado com Manuel desde os tempos de namoro.

    O marido graceja: Estabelecemos o mnimo, nunca o mximo.E os filhos foram surgindo, com intervalos relativamente redu-zidos entre si. Primeiro o Francisco, actualmente com 20 anos,depois a Mafalda (18), a Ins (16), a Sofia (15), a Rosarinho (11),o Pedro (nove), a Maria (seis) e a mais nova, a Teresinha, nascida

    h trs anos e meio (ver caixa).

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    Sem nunca ter tido problemas durante os perodos de gestao,Maria confessa sentir-se constantemente em estado de gra-a, e apenas decidiu ficar em casa aps o nascimento da suaquinta filha. Antes era terapeuta ocupacional e tinha um dia-a-diacomum estando com as crianas apenas depois do emprego e de

    as ir buscar ao colgio.Manuel engenheiro civil. Iniciou o seu percurso profissional naCarris, passando posteriormente para a gesto dos acessos aosestacionamentos na Expo 98. Mais tarde, integrou uma empresade consultoria na rea dos transportes, a VTM, da qual se tornouscio. Este importante salto na carreira permitiu famlia a totaldedicao de Maria, que se considera privilegiada por ser me emulher a tempo inteiro.Com um casamento que dura h 21 anos, o casal Lbano Mon-teiro, residente em Carnaxide, admite que a vida se tem alteradobastante medida que o nmero de filhos aumenta. O carro fami-

    liar, por exemplo, j no chega para transportar todos, at porque(s) tem nove lugares. No entanto, fazem questo de referir queo mais importante a unio entre marido e mulher. Tudo come-ou assim, e enquanto casal que consideram indispensvelo equilbrio e a harmonia. Pertencem a um movimento cristodedicado vida conjugal, que incrementa a sua espiritualidade. muito raro sarem para jantar fora, mas tentam passar algunsmomentos a ss e, pelo menos uma vez por ano, fazer um fim--de-semana a dois. H que ter outras coisas alm dos filhos,diz Manuel, para quem igualmente importante o convvio comos amigos, os seres passados em casa uns dos outros. A vida

    no s trabalhar e h que fazer o que nos d prazer e nos ajudea crescer enquanto pessoas, comenta.

    A azfama do dia-a-diaUm dia de semana tpico da famlia Lbano Monteiro comea porvolta das 6h45 da manh, com os mais velhos a acordarem, poriniciativa prpria, e a arranjarem-se para ir escola. Maria e Ma-nuel levantam-se praticamente mesma hora, e ajudam os maisnovos que, de acordo com a me, apesar de j serem muito aut-nomos, tm de levar um empurro para no ficarem parados.Segue-se a preparao do almoo de Teresinha, Maria e Pedro,

    que so depois levados para o colgio.Manuel explica que existe uma certa hierarquia no que se referes deslocaes: At 4. classe, esto totalmente dependentesde ns. A partir da, vo para a escola pblica aqui de Carnaxide,onde ficam at ao 9. ano. Nessa altura, d-se o primeiro saltoda independncia, pois passam a acordar e a despacharem-sepor si prprios e a irem a p. Confere-lhes alguma autonomia eliberdade, o que lhes faz muito bem. Vo sozinhos para as suasdiversas actividades e almoam em casa dos avs quando lhesapetece.Depois de deixar os mais novos na escola, e at s 16 horas (al-

    tura em que os vai buscar), a me aproveita para tratar de alguns

    assuntos relacionados com a casa. As compras grandes so feitas,geralmente, de semana a semana, no hipermercado. Comprar paratodo o ms no habitual. Se calhar, nem cabia em casa, graceja.Durante a semana e h j 20 anos, contam com a ajuda da D. Lurdesque, de manh ou de tarde, assegura parte das tarefas domsticas. como se fosse da famlia.Ao fim de um dia cheio de aulas, as actividades extracurricularesganham lugar. A natao e a catequese so obrigatrias para todose as raparigas, geralmente por volta dos cinco anos, iniciam-se noballet. Eu tambm fizballete acho que ajuda as meninas a conhe-cerem melhor o seu corpo, a terem uma maior harmonia e um maior

    equilbrio, explica Maria. Com o passar do tempo, cabe a cada umadelas decidir se quer ou no prosseguir nesta rea. A Ins, por exem-plo, decidiu-se pelos ritmos sevilhanos. Mafalda, a mais velha dasraparigas, quer ser bailarina profissional e, por isso, decidiu abdicarda entrada na faculdade no prximo ano. Os pais tentam perceberse as ideias dos filhos so ponderadas e no apenas por estar namoda, e garantem apoiar a deciso de Mafalda apesar de estarfora do que comum na famlia.Quanto aos rapazes, e apesar de j terem passado pelo rguebi,pelo tnis e pela equitao, Pedro foi o nico que, at agora, optoupela msica. Os pais aperceberam-se da sua sensibilidade e propu-

    seram-lhe aprender a tocar violino, algo que aceitou com agrado

    Sofia ao computador e Rosarinho no sof

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    devido sua natural curiosidade de criana. O casal esfora-sepor perceber a aptido de cada um dos filhos e sempre quisincutir-lhes o gosto pelas artes, por tudo aquilo que saia fora docomum, que lhes desperte um maior interesse e lhes permitauma maior experincia de vida. No que diz respeito s tarefas es-

    colares, o casal Lbano Monteiro responde prontamente que to-dos eles tm excelentes capacidades e tm de fazer rend-las.Como tal, a ajuda dos pais existe s quando extremamentenecessrio. Quem d mais apoio Mafalda, sempre atenta, umaespcie de lder neste grupo de oito. noite, na grande mesa da sala de estar, junta-se a famlia e parti-lham-se os sabores. Privilegiam-se as refeies simples, econ-micas e de fcil concepo, base de carne, embora se cozinhepeixe de vez em quando. No h pratos especiais, igual paratoda a gente. H uns que todos os dias fazem caretas, mas tm dese habituar, at porque se no estiverem em casa tm de comer

    o que houver, diz o pai. No lar desta famlia, as horas das refei-es so sagradas. Ao almoo, raro juntar-se toda a gente, atporque alguns dos midos esto no colgio. Como a sua situa-o profissional lhe permite flexibilidade de horrio, Manuel fazquesto de ir a casa tomar esta refeio.s 20h30, a mesa est posta e os lugares marcados. O pai dapoio aos mais novos e admite que esta uma forma de estarmais com eles, um truque para no sentirem tanto a falta. Comodurante o dia est ausente, acaba por ter mais pacincia para asbirrinhas dos mais pequenos. Depois do convvio ao jantar, todosajudam e a cozinha nunca fica por arrumar. A ideia no haver

    diviso de tarefas mas sim partilha de tarefas, que so feitas porquem est mais disponvel, contam. Se algum dos filhos tiverum teste ou um trabalho para apresentar no dia seguinte, os ou-tros asseguram a arrumao. Enquanto isso, Maria ajuda a pre-parar as roupas para a manh seguinte e Manuel faz a vistoriafinal, deitando os mais novos at s 21h30. Ao nascer do Sol, aagitao repete-se.

    Os momentos livresTendo em conta o ritmo e a vida da famlia, atenta-se na disponibi-lidade de cada um no que se refere aos tempos livres. No h a

    preocupao de ocupar o tempo, de fazer alguma coisa, afirmaManuel, acrescentando ainda que tudo vai surgindo natural-mente, sem nenhuma fobia. Se estiverem em casa, as crianasno se aborrecem, jogam e brincam. Como durante a sema-na no tm autorizao para ver televiso sem a me estar emcasa, uma regra imposta pelo casal para controlar aquilo a queassistem, aproveitam ainda para ver alguns filmes ou DVD.O perodo de frias indispensavelmente passado em conjunto,pelo menos durante 15 dias. Na bagagem, organizada por cadaum dos membros da famlia ( excepo dos mais novos) de an-tevspera ou de vspera, alm da roupa essencial para a praia

    incluem-se jogos que possam proporcionar seres de lazer em

    Maria e Manuel, na praia de Porto Covo

    DIFERENAS ENTRE IGUAIS

    Nesta casa cheia de gente, cada um especial de forma distinta. Francisco,

    o mais velho, um desportista nato, descrito pelos pais como tranquilo

    e responsvel, muito criativo e distrado. Mafalda a mais persistente, tem

    perfil de lder, consegue sempre argumentar e levar a sua vontade sem abor-recer ningum. J a Ins que canta muito bem maternal, persistente

    e est sempre pronta a ajudar. Sofia distingue-se pela sua enorme alegria de

    viver e energia que transborda, enquanto a Rosarinho uma fora da natu-

    reza, est sempre atenta ao que se passa l em casa, tendo uma capacida-

    de enorme de absorver tudo o que acontece. O Pedro o rapaz mais novo e

    muito curioso. Est sempre a fazer perguntas e aplica aquilo que aprende no

    stio certo. A Maria muito meiga, um bocadinho distrada mas muito amiga

    e mimosa e at a Teresinha, apenas com trs anos e meio, j se afirma com a

    sua alegria esfuziante e energia inesgotvel.

    conjunto. Geralmente vo para casa de uns amigos, em PortoCovo, onde aproveitam para desfrutar do calor.Este ano vo at aos Aores, uma regalia conseguida com umagrande orientao a nvel econmico. A ltima ida ao estrangeiro

    foi a Frana, de carro. No consideram as viagens uma prioridade,at porque o importante a gesto do dia-a-dia.Alm do ncleo central existe a famlia alargada, qual dedicamtambm bastante tempo e ateno. Juntam-se vrias vezesao longo do ano. Do lado de Maria, so 28 e do lado do Manuel,cinquenta. No terceiro sbado de cada ms, esta meia centenade pessoas encontra-se na casa da sua me, em Benfica, parapassar a tarde em convvio. Tal como refere o engenheiro, nasfamlias grandes, qualquer ocasio serve para fazer uma festa.Sempre que algum faz anos, apenas os avs e os padrinhos soconvidados a ir l a casa, uma vez que difcil arranjar espao,

    num apartamento, para mais pessoas.

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    Na vspera de Natal, e no existindo o hbito de fazer a con-soada, jantam em casa e depois vo missa do Galo. O dia 25 dividido entre as respectivas famlias. Quanto a actividades delazer puro, ir ao cinema ou ao teatro no faz parte da sua rotina.O casal prefere mesmo um sero passado em casa de amigos ou

    de familiares, para quem as portas do seu apartamento de cincoassoalhadas tambm esto sempre abertas.

    A gesto das responsabilidadesF, disponibilidade, maturidade, coerncia e persistncia so,segundo Maria, alguns dos princpios base na educao das crian-as. Vo missa desde que nascem, todos os domingos e nosdias santos, e esto inseridos num movimento da Igreja Catlicapara jovens, com grupos que os vo ajudando a crescer.O pai afirma que os midos acabam por perceber que tudo aqui-lo que lhes proposto no s para os distrair nem ocupar no

    sentido de fazerem algo, mas com a inteno de os fazer crescere de os complementar. tambm com esse intuito que o casalLbano Monteiro impe barreiras no que se refere s semanadas,apesar de viverem de forma desafogada. Existe uma tabela paracada um dos filhos, com todas as semanas do ano, e paga-se aodomingo. Os valores oscilam entre 1,25para o mais novo, e3,20para o mais velho.Os pais tm noo de que no permitem grandes extravagn-cias. O objectivo, segundo Manuel, aprenderem a conquistare que no lhes seja tudo dado de bandeja. Os mais crescidosfazem pontualmente alguns trabalhos, dando explicaes ou fa-

    zendo baby-sitting. O uso de telemvel tambm restrito e sFrancisco, Mafalda e Ins tm esse privilgio, para no ficarem margem dos seus amigos.Numa famlia numerosa como esta, h que estabelecer limites eat as sadas so analisadas. Se for para actividades relaciona-das com os grupos da Igreja, Manuel e Maria comparticipam, masse for apenas por puro lazer, tudo tem de ser avaliado e ponde-rado, caso a caso. Com um abono que no chega aos 200 eurospelos oito filhos, o casal considera fundamental haver um maiorapoio por parte do Estado e defende que seja tido em conta o ren-dimento per capitae no o rendimento do agregado. Enquanto

    membros da Associao Portuguesa de Famlias Numerosas (vercaixa) h quase uma dcada podem usufruir de alguns benef-cios, nomeadamente entradas em museus com bilhete familiar.Mas, como dizem, o que os faz estarem ligados a esta entidade poderem contribuir para transmitir a ideia de que so os agrega-dos familiares que compem a sociedade.Tentando incutir ao mximo nas crianas o sentido de responsa-bilidade, o casal aproveita, de filho para filho e at de alguns pri-mos, roupa e brinquedos. Apesar de, s vezes, comprarem coisasnovas, Maria garante que os midos se sentem promovidos e,de certa forma, mais crescidos por usarem algo que j pertenceu

    aos mais velhos.

    Ins e Teresinha, em casa

    Teresinha e Maria, na praia de Porto Covo

    Brincadeiras entre Sofia e Teresinha, na praia de Porto Covo

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    De cima para baixo: Francisco, Mafalda, Ins, Sofia, Rosarinho, Pedro, Maria e Teresinha

    Casa silenciosa? Para qu? sem qualquer hesitao que, quando confrontados com a hip-tese de virem ou no a ter mais filhos, Manuel e Maria afirmam:Nunca pusemos essa hiptese de lado. Todos eles foram aco-lhidos e nunca impusemos uma meta, at porque acontece tudo

    de forma natural.Nunca ouviram uma queixa por parte das crianas relativamenteao facto de terem muitos irmos e os mais velhos at j demons-tram vontade de ter uma famlia grande. Ainda bem que no uma casa silenciosa, afirma Manuel, acrescentando ainda queo descanso no implica silncio e que basta apenas desligardaquilo que se estava a fazer antes de chegar a casa. No en-contram nenhuma desvantagem em ter uma famlia numerosa,mas como principal mais-valia Maria destaca a alegria da parti-lha de relacionamentos, uma cumplicidade que se gera entre to-dos e que, por seu lado, ajuda cada um a ser ele prprio. Garante

    no estar esgotada por ser me e mulher a tempo inteiro h j11 anos. Alm do cafezinho matinal que toma diariamente comum grupo de amigas, ajuda tambm na distribuio de comidado Banco Alimentar Contra a Fome, fazendo algo por si prpria epelos outros.Manuel est atento ao estado emocional da esposa, at porqueestar em casa exige tanto ou mais esforo do que uma profis-so normal. Habituado a uma famlia grande, admite ter dificul-dades em imaginar o que chegar a casa com uma alegria ouuma tristeza e no ter com quem partilhar.Num espao como este, o respeito pelo prximo e a organizao

    so essenciais para que, de acordo com o engenheiro, elesaprendam que no esto no mundo sozinhos, tal como no es-

    to em casa sozinhos. O nico cantinho totalmente privadode que cada um dispe assume a forma de uma estante com

    tampa, uma espcie de secretria, na qual se guardam as coisas

    mais pessoais e onde ningum toca. Tirando isso, tudo dividi-do por dez. O meio partilhado, as emoes so partilhadas e a

    unio faz a fora desta famlia cujo segredo assenta na gesto

    do dia-a-dia.

    Maria e Manuel na sua casa, em Carnaxide

    ASSOCIAO DE FAMLIAS NUMEROSAS

    Formada por casais com, pelo menos, trs filhos, a Associao Portuguesa de

    Famlias Numerosas (APFN) foi criada a 22 de Abril de 1999. Tem como princi-

    pais objectivos a defesa dos interesses das famlias grandes no que se refere

    a finanas, habitao, sade e educao. Tambm aposta na promoo de ac-

    es de solidariedade e interajuda entre as diferentes famlias, e na obteno

    de descontos e outras facilidades para os associados e desenvolver iniciativas

    que promovam e divulguem os valores familiares. A associao conta actual-

    mente com cerca de 8000 scios e mais de 700 empresas parceiras.

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    A observao dos fenmenos naturais e a astronomia foram,para todas as civilizaes, factores de referncia para compar-

    timentar o tempo. A sucesso dos dias e das noites determinou,por exemplo, a diviso do tempo em dias; o ciclo das fases da Luaconduziu criao do ms; a apario de astros e constelaesao pr-do-sol determinou as estaes do ano e o priplo da Terraem torno do Sol constituiu a razo para dividir o tempo em anos.O Homem, porm, preocupou-se sempre em ser cada vez maisrigoroso na medio do tempo, o que o levou necessidade dereduzir cada vez mais os intervalos temporais.Os Egpcios foram o primeiro povo a dividir o dia em 24 horas, masSumrios, Babilnios e as civilizaes pr-colombianas (Astecase Maias) tambm elaboraram sofisticados estudos de medio

    do tempo baseados em estudos astronmicos.

    As religies e crenas estavam intimamente relacionadas comas observaes astronmicas que permitiam a medio do tem-po, como bem perceptvel em Stonehenge. A construo destemonumento pr-histrico situado em Salisbury, Inglaterra, en-cerra um conjunto de mistrios que ao longo do tempo cientistas

    e historiadores tm tentado decifrar. O alinhamento das pedras,por exemplo, permite a um observador, colocado no seu interior,determinar o dia do solstcio de Vero e os equincios, eclipseslunares e outros fenmenos celestes. Embora os estudiosos sedividam quanto data exacta da sua construo, os estudos maisrecentes, iniciados na dcada de 50 do sculo passado, apontampara que remonte aos anos entre 3000 e 4000 a. C. Inmeras teo-rias envolvendo os druidas, prticas de feitiaria, santurios reli-giosos ou aeroportos para extraterrestres tm sido construdasna tentativa de explicar Stonehenge. Mais simples, porm, talvezseja acreditar que as tcnicas utilizadas para medio do tempo

    foram ali aplicadas com grande rigor e percia.

    Desde os primrdios da Humanidade queos povos sentiram necessidade de me-dir o tempo. As tcnicas de medio

    das primeiras civilizaes tinhamcomo pontos de referncia a su-cesso dos dias e das noites,sendo o movimento dos astros(Sol, Lua, planetas e estrelas)e o aparecimento das constela-es, ao pr-do-sol, marcos im-portantes para estabelecer pero-dos, ou ciclos, que permitiam a

    criao de calendrios

    Por: Carlos Barbosa de Olveira JornalistaIlustraes:Plinfo

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    Nem sempre, porm, a diviso do tempo resultou do estudo dos

    astros. A semana um exemplo. Na civilizao grega tinha a du-rao de 10 dias, enquanto em algumas civilizaes indgenas asua durao era de apenas trs. Foram os Babilnios quem adop-tou a semana de sete dias em todo o imprio, mas a sua origemremonta aos Hebreus, que determinaram essa diviso a partir dolivro do Gnesis (Deus fez o mundo em seis dias e descansou aostimo). Os Romanos adoptaram essa diviso, dando a cada diada semana o nome de uma divindade. Ao contrrio do que acon-tece na quase totalidade do mundo ocidental, os dias da semanaem portugus adoptaram uma denominao diversa.Como j referi, o estudo dos astros foi um precioso instrumen-

    to de medida do tempo, funcionando o Sol como padro para oprimeiro relgio de que h conhecimento. No entanto, os rel-gios astrais eram no s imprecisos como de utilizao varivelconsoante a posio geogrfica e a poca do ano. Por outro lado,como esses estudos eram bastante complexos e estavam qua-se exclusivamente a cargo dos sacerdotes, os agricultores queprecisavam de informao sobre os dias de incio e fim de cadaestao no tinham possibilidade de a obter.O Homem sentiu, por isso, necessidade de aprisionar o tempo,passando a escrito essa informao em calendrios onde fixavaas datas que lhe permitiam conhecer o momento ideal para de-

    senvolver as suas actividades (plantaes e colheitas). Em co-mum, todos estes calendrios apresentam solues lineares demedio do tempo, dividindo-o entre passado e futuro, coincidin-do o incio da marcao do tempo com um determinado evento.A nica excepo conhecida foi a civilizao maia, que elaborouum calendrio assente em ciclos temporais que se repetem emcada 52 anos (ver caixa)Dentro destes parmetros de medio do tempo podem desta-car-se trs tipos de calendrios: lunar (tendo como referncia omovimento da Lua), solar (baseado no tempo que a Terra demoraa percorrer o seu priplo em volta do Sol) e misto.

    Muitos calendrios foram criados pelas diversas civilizaesmas, hoje em dia, apenas persistem quatro (cristo, judaico, chi-ns e muulmano), reflectindo cada um tradies, histria e cul-tura distintas. Nenhum deles, porm, completamente rigoroso,porque sendo o tempo de durao do ciclo solar (365, 242 199dias) indivisvel, foi necessrio recorrer a ajustamentos que cadacivilizao interpretou e definiu a seu modo.

    O calendrio cristoHoje em dia, quando chegamos ao dia 31 de Dezembro conclu-mos mais um ano do calendrio. No entanto, apenas 30% da po-

    pulao mundial se rege pelo calendrio cristo. Ou seja, menos

    de um tero dos habitantes do planeta celebraro, no prximo dia1 de Janeiro, a entrada no ano de 2010. Os restantes regem-sepelo calendrio muulmano, judaico ou chins, embora o calen-drio cristo coabite em algumas dessas civilizaes com o seucalendrio tradicional, como adiante veremos.O calendrio cristo tem origem no calendrio romano, criado por

    Jlio Csar em 46 a. C., e remonta ao ano de 532, data em que oabade Dionsio sugeriu ao Papa que o tempo fosse contado a par-tir do ano I do nascimento de Cristo. Para encontrar com exacti-do esse ano, Dionsio tomou como marco a data de fundao deRoma, contou os anos de todos os reinados romanos e chegou concluso que se tinham passado 753 anos desde a fundaode Roma at ao nascimento de Cristo. (A contagem do tempo erafeita at ento a partir da tomada de posse do imperador Diocle-ciano. Porm, como este foi um feroz perseguidor dos cristos,no fazia sentido que a data da sua tomada de posse continuassea servir de referncia aos cristos.)

    Os estudos mais recentes indicam que Dionsio ter cometidoum erro de quatro anos na contagem, pois esqueceu-se de con-tar o tempo em que o imperador Augusto governou com o nomede Octvio seu nome de baptismo. Assim sendo, deveramosactualmente estar a viver o ano de 2013 e no o de 2009.Este calendrio conhecido como calendrio Juliano por respei-tar a diviso do ano nos termos adoptados por Jlio Csar es-teve em vigor at 1582, ano em que o Papa Gregrio XIII aprovououtro em que o ano civil e o ano solar esto mais aproximados.Mesmo assim, dada a impossibilidade de estabelecer uma divi-so rigorosa do tempo, foi necessrio acrescentar um dia ao ms

    de Fevereiro, de quatro em quatro anos, para acertar as contas.

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    A mudana no foi pacfica e os protestantes manifestaram al-

    guma relutncia em aceit-lo, pelo que s em 1752 a Inglaterra oadoptou. As igrejas ortodoxas grega e russa, por sua vez, manti-veram-se fiis ao calendrio Juliano at ao sculo XX (1924).Embora o calendrio cristo seja solar, a Igreja mantm um ca-lendrio lunar. com base nesse calendrio que algumas festivi-dades religiosas, como a Pscoa, so assinaladas anualmente.

    O calendrio judaicoO calendrio judaico tem incio no dia e ano em que, segundo atradio hebraica, foi criado o Mundo: 7 de Outubro de 3760 a. C.Assim, os Hebreus esto actualmente no ano de 5769.

    As diferenas para o calendrio gregoriano so substanciais. Osanos tm 353 ou 354 dias e, embora tambm estejam divididosem 12 meses, a durao de cada um , normalmente, de 29 dias(a durao aproximada de um ciclo lunar), iniciando-se sempreno primeiro dia de Lua Nova.Sendo de base um calendrio lunar, ajusta-se ao calendrio solarquando completa um ciclo de 19 anos. Nesse ano, acrescenta-seum 13. ms (we-adar) com a durao de 29 dias. Estes anoschamam-se perfeitos ou abundantes.Outra particularidade que o ano religioso e agrcola tem inciono ms de Nissan (Maro), altura em que celebrada a Pscoa

    judaica.Como acontece em todas as culturas com calendrios anuais, oano hebraico tambm tem um dia de Ano Novo, que correspondeao incio de um novo ano civil. Comea sempre no ms de Tishrei

    (Setembro), mas o dia no fixo. A passagem de ano tambm

    no se assinala meia-noite, mas sim s 18 horas, quando o Solse pe, sendo a festa de Ano Novo denominada Rosh Hashana.Entre os judeus rabnicos, no entanto, existe um calendrio fixocriado devido necessidade de um calendrio permanente paracomunidades que vivem fora de Israel.

    O calendrio chinsO mais antigo calendrio em vigor o chins. Seguindo ciclos de12 anos, em que cada um corresponde a um animal, o calendriochins um misto de calendrio solar e lunar. Tem ainda um ciclode 60 anos, que encerra cinco ciclos de 12, cada um dos quais

    marcado por um dos elementos da filosofia chinesa (metal, ma-deira, gua, fogo e terra).

    O incio do Ano Novo chins tem sempre lugar numa fase de LuaNova, que ocorre entre 21 de Janeiro e 20 de Fevereiro do calen-drio gregoriano.Ao contrrio dos outros calendrios, o chins no tem um marcoinicial, mas estudiosos concluram que deve ser seguido desde2636 a. C., por iniciativa do heri cultural chins Huang-ti, conhe-cido no mundo ocidental por Senhor Amarelo, ou Senhor Augusto.Cada ano tem a durao de 354 dias e divide-se em 12 meses.Para se igualar ao ano solar, em cada ciclo de oito anos so acres-

    centados 90 dias.

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    Segundo a tradio chinesa, cada ciclo de 12 anos inicia-se com

    o ano do Rato, que ter sido o primeiro animal a apresentar-senuma reunio convocada por Buda. Os anos seguem-se de acor-do com a chegada dos outros animais.No sculo XX a China adoptou o calendrio gregoriano, mas a po-pulao chinesa continua a celebrar o Ano Novo chins como aprincipal festividade da sua cultura milenar.

    O calendrio islmico um calendrio exclusivamente lunar e, por isso, no acompa-nha as estaes do ano.O seu incio corresponde ao dia em que o profeta Maom saiu de

    Meca e foi para Medina o que, no calendrio gregoriano, corres-ponde ao dia 16 de Julho de 622.Cada ano tem a durao de 354 ou 355 dias, dividido em 12 me-ses de 29 ou 30 dias. Uma vez que os 10/11 dias de diferenaem relao ao calendrio gregoriano nunca so corrigidos, h umdesfasamento de 1 ano em cada perodo de 31 anos. Actualmen-te decorre o ano de 1429.

    O calendrio islmico pode sofrer mudanas de ano para ano,pois manda a tradio religiosa que alguns feriados religiosos te-nham incio apenas aps a observao visual de determinadosastros. Em virtude dessas caractersticas, na maioria dos pasesislmicos este calendrio s usado para as festas religiosas.

    CALENDRIOMAIA

    Todas as civilizaes delimitam o tempo entre passado e futuro (o presente

    imensurvel em conceitos temporais). Todas... no. A civilizao maia tinha

    uma concepo de tempo que se confundia com o espao e se desenvolvia

    em crculos repetitivos. De acordo com os analistas do tempo os Maias criaramo calendrio mais preciso da Histria, conseguindo fazer clculos precisos da

    rotao da Terra e dos ciclos lunar e solar.

    Os Maias acreditavam que, conhecendo o passado e aprendendo com ele, po-

    deriam transportar os acontecimentos para idntico dia do ciclo futuro. Cada

    ciclo durava 52 anos e era o resultado da combinao do calendrio solar

    (Haab) com a durao de 365 dias e meio e do calendrio religioso (Tzolkin)

    com a durao de 260 dias.

    Esta capacidade de adivinhao que acreditavam possuir, ter-lhes- permitido

    prever a destruio da sua prpria civilizao.

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    1. Tem a certeza de que quer ler este artigo?

    Ou prefere no o ler?Mesmo que decida no o ler porque decide que a melhor op-o para a gesto do seu tempo veja a lio de Randy Pauschsobre Time Management no You Tube (www.youtube.com). Vaigostar, porque feita de forma divertida.Randy Pausch foi cientista, investigador e professor na Universi-dade de Carnegie Mellon nos Estados Unidos, especializado emCincias da Computao. Faleceu em 2008, com 47 anos, e a sualtima lio ficou como pea de referncia para a Humanidade.Vale a pena voltar ao You Tube para assistir a esta lio: The LastLecture: Really Achieving Your Childhood Dreams.

    (http://en.wikipedia.org/wiki/Randy_Pausch).O tempo e a gesto desse tempo assumem uma importncia enor-me quando sabemos que o mesmo est limitado no horizonte.

    Mas no tem de ser assim, ou seja, no devemos encarar otempo como um recurso escasso salvo naquelas circunstn-cias...Se pesquisar na Internet por Managing Time (Gerir o Tempo) vaiencontrar inmeras referncias de apoio gesto do nosso tem-po sob a forma de livros, artigos, solues informticas, pales-tras, etc. Esta dimenso de literatura e software demonstra que

    precisamos de ajuda para gerir melhor a aplicao e o uso do nos-so tempo apesar de dizermos boca cheia que reconhecemosmuito bem o valor do nosso tempo e o stress em que vivemos.O stress sinnimo de m gesto do tempo, ou seja, de incapa-cidade de conscientemente decidirmos, destinarmos e controlar-mos a utilizao do nosso tempo como um recurso que, apesarde tudo, escasso.Vejamos se assim ...

    2. O que a gesto do tempo?Gerir o tempo destinar e controlar o tempo como sendo um re-

    curso escasso.

    Por: Maria Helena Monteiro Docente [email protected]:Paulo Buchinho

    Em 1996, Covey, Merril e Merril apresentaram um quadro bidi-mensional que est na base das decises crticas sobre a nossagesto do tempo. Um quadro que cruza a Importncia com aUrgncia.

    Importante 1No Importante

    Urgente No Urgente

    ?4?

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    Perante este quadro, no h dvida sobre:> As aces Importantes e Urgentes so as que decidimos fazer

    em primeiro lugar. Aqui esto as actividades crticas com datasde fim marcadas.

    > As aces No Importantes e No Urgentesso as que decidi-

    mos fazer em ltimo lugar, sendo estas actividades um desper-dcio de tempo se as executarmos.

    E agora, como decidimos em termos das prioridades entre:> As aces No Importantes e Urgentes?> As aces Importantes e No Urgentes?

    este um dos pontos onde tomamos, na maior parte das vezes,decises pela urgncia ao invs da importncia, o que nos levaa usar o tempo de forma incorrecta porque a urgncia foiimposta (e aceite) mas sobre aces que de facto no

    so as importantes e deixamos as importantes paradepois e muitas vezes no sabemos se ainda va-mos ter o tempo necessrio para as fazer... Ora,quando na altura verificamos que no temos otempo chega o stress.Dos dois tipos em apreo, as aces que devem ser feitas primei-ro so as Importantes e No Urgentes. Nestas incluem-se, porexemplo, as actividades po com manteiga da vida da gesto,como preparao, preveno, planeamento e acompanhamentode pessoas. E s depois viro as aces No importantes e Ur-gentes (a maior parte das pessoas passa os dias a fazer estas

    aces).E como que o nosso leitor toma a deciso?

    3.Algumas tcnicas para o ajudar a decidir sobre o seu tempo3.1 Usar os objectivos como guias para a utilizao do nos-so tempoOs objectivos constituem o ponto de partida para umagesto eficaz do tempo (Essentials, 2005, 2). De fac-to, estabelecer objectivos fazer aparecer uma linhade aco atravs de resultados que pretendemos vir aatingir progressivamente. H objectivos que se al-

    canam numa semana e outros que demoramanos.No nosso quotidiano so tantas as solicita-es, que o remdio para termos uma dis-tribuio do tempo que nos satisfaa passapor anteciparmos (o qu, onde e como vamosfazer?) e, por conseguinte, aplicarmos o nossotempo de forma consciente.Para tal h que:> Focar no que mais importante.> Dar equipa de trabalho uma orientao unifi-

    cada quanto ao caminho a percorrer.

    > No consumir muita energia com tarefas no relevantes (nocrticas).

    > Evitar desperdiar tempo.> Motivarmo-nos.> Estimular em todos (os que contribuem para os ditos objecti-

    vos) elevada satisfao pelo que se faz.

    til separar os objectivos pelas seguintes categorias: a) objec-tivos crticos; b) objectivos desejveis; c) objectivos que seriabom atingirmos (nice to have). Desta forma, j vamos respon-dendo simultaneamente se ou no importante e se ou nourgente.

    Sempre que falamos de objectivos surgem os conselhosusuais para os apresentar: a) de forma especfica e cla-ra; b) com alvos temporais associados; c) de modo a serpossvel medir o seu progresso ou resultado final; d) de

    forma a perceber-se o seu nvel de importncia;

    e) alinhados com a estratgia pessoal (ou daorganizao) ser visvel o valor do objectivopara o beneficirio quando for alcanado; e,por fim, e) desafiantes mas no impossveis.Por exemplo: Fazer um estgio na empresa Xsobre o processo de implementao de umasoluo de gesto de contedos, durante osprximos seis meses, para desenvolver um pla-no de implementao que nos permita cumpriro compromisso assumido perante o grupo em-presarial sobre a montagem da nova soluo no

    grupo at ao fim do prximo ano.

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    Desta forma, poderemos vir a identificar para cada objectivo umadecomposio de actividades e tarefas que confirmamos anteci-padamente levarem-nos ao resultado previsto.

    3.2 Sem a agenda plano e calendrio no posso programara utilizao do meu tempoSabe onde usa o seu tempo? Em reunies? A lidar com papise/ou e-mails? Ao telefone? Com interrupes? No transporte eem viagens?Se no conhece a distribuio do seu tempo pelas diversastarefas que realiza, como poder optimizar essa mesma dis-tribuio? neste contexto que somos aconselhados a listar as actividadese os tempos que consumimos com cada uma.

    neste contexto que somos aconselhados a perguntar: Porque que estou a usar tanto tempo com...? E porqu...? E porqu...?Com base nas respostas, poderemos vir a tomar opes sobre ovalor do consumo do tempo. Tarefas urgentes e no importan-tes so para retirar da nossa agenda... so as verdadeiramenteperigosas para a nossa vida.Fazer listasde actividades e tarefas a prazo (mensais, semanais),fazer to-do lists dirias (listas sobre o que vamos fazer hoje), es-tabelecer as prioridades de acordo com o valorque iremos obtercom os resultados dessas mesmas actividades, distinguir im-portncia de urgncia, calcular as horas necessrias para fazer,

    pegar num calendrio e tentar encaixar as actividades, etc., sotcnicas que nos tornam mais eficazes e, por conseguinte,maisfelizes (Essentials, 2005, 37).

    3.3 Sabe quais so alguns dos inimigos do seu tempo?Ento tome nota, pois ao reconhecer alguns dos inimigos do seutempo estar mais prevenido e poder decidir mais consciente-mente.> D conta de que est a pr constantemente de lado tarefas que

    so para ser feitas agora... procrastinao e porqu. Estcom medo de falhar? A tarefa desagradvel? Nem sequer

    sabe por onde comear?

    > No saber dizer no e assumir maisresponsabilidades do que as que jesto assumidas e com dificuldadespara serem cumpridas.

    > No assumir os problemas e as res-ponsabilidades dos subordinadosquando eles pedem ajuda (OnckenJr. e Covey, 1979). Se experimentar

    delegar, vai ver que compensa. Noincio, delegar (Essentials, 2005, 64) muito difcil, pois reconhecido por todos que faramos mui-to melhor e muito mais depressa. O problema que o nossotempo deve sem empregue noutra tarefa e no nesta que podeser feita por outro.

    > Mergulhar na papelada e nos e-mails... e para estes me-lhor ter uma abordagem estruturada, para no nos interrompe-rem constantemente.

    > Vai a todas as reunies: e necessrio... talvez no...> Est sempre a ser interrompido... desviou a ateno para uma

    outra ou mais tarefas e perdeu a concentrao... para voltar aoponto inicial vai despender esforo que no estava previsto

    para a tarefa (Essentials, 2005, 61).

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    Se conseguir ler o artigo da Harvard Business Review que re-ferimos acima, intitulado Management Time: Whos Got theMonkey?, vai reconhecer muitas situaes da sua gesto dotempo... acontece com todos ns...

    3.4 Se no equilibrar o trabalho com a vida pessoal, algumacoisa vai correr malQuando se estabelecem os objectivos temos de ter presente queros objectivos profissionais quer os objectivos pessoais. Estesltimos contam para a nossa felicidade.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    COVEY, S. R., The Seven Habits of Highly Effective People, Nova Iorque, Free Press, 2004.

    COVEY, S. R. e MERRIL, R., First Things First, Nova Iorque, Free Press, 1996.

    ESSENTIALS, H. B., Time Management Increase Your Personal Productivity and Effectiveness ,

    Boston, USA, Harvard Business School Press, 2005.

    LOEHR, J. e SCHWARTZ, T. , The Power of Full Engagement, Nova Iorque, Free Press, 2003.

    ONCKEN Jr., W. W. e COVEY, S. R., Management Time: Whos Got the Monkey?, in Harvard Bu-

    siness Review, 1979.

    Se dermos ateno e importncia aos nossos objectivos pes-soais, teremos de os abordar como vimos anteriormente... ou seja,a gesto do nosso tempo pessoal comea com o estabelecimen-to dos nossos objectivos pessoais.Analise o que faz onde gasta o seu tempo e ganhe mais tem-

    po no o gastando com actividades que no sejam importan-tes... que no lhe dem prazer... utilize outras alternativas, outrosmeios, reinvente a forma de fazer o que considera urgente masno importante.Analise, valorize, calendarize, execute, avalie e decida.Equilibre os dois pratos da balana: coloque como objectivo devida ganhar tempo ao seu tempo (Essentials, 2005, 101).

    4. Consideraes FinaisSegundo Covey, no seu livro The Seven Habits of Highly EffectivePeople, cuja primeira edio data de 1989 (Covey, 2004 ), o ser

    humano tem de organizar as suas capacidades para viver, amar,aprender e deixar um legado para o futuro. Para tal, Covey intro-duz alguns mecanismos que todos deveramos absorver como,por exemplo: estabelecer um caminho ou misso, estabelecera separao entre os papis que assumimos no trabalho e emcasa, desenvolver relacionamentos e focar no que importantea longo prazo.Outros autores, como Loehr e Schwartz (Loehr & Schwartz,2003), ligam mais a eficcia ao conceito de energia do que aotempo. Esta uma forma diferente de colocar a fonte das capaci-dades de sermos eficazes onde as origens da energia se situam

    ao nvel mental, espiritual, emocional e fsico. Estas energias pas-sam por momentos de consumo e de revitalizao, como aconte-ce com os atletas.Se conciliarmos a energia com a capacidade e exigncia de actuar-mos de acordo com o conceito de valor ligado ao uso do nossotempo e consoante os nossos princpios, ambies e tica, esta-remos com certeza no caminho do elevado desempenho associa-do ao bem-estar e prazer profissional e familiar.

    Ajudaro estas palavras a gerir melhor o nosso tempo ? O leitoro dir.

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    Por: Nuno Gama de Oliveira PintoProfessor e Investigador Universitrio (Ph. D.); Conferencista e Consultor Snior (UE Team Europe).de Trabalho um organismo tripartido da Unio Europeia cujamisso consiste em fornecer aos principais responsveis peladefinio da poltica social as concluses, conhecimentos e re-comendaes de trabalhos de investigao comparativa.

    Horrios de trabalho divergem na UEUm outro estudo realizado pela Eurofound procurou avaliar, emtermos comparativos, os horrios de trabalho em alguns secto-res de actividade na Unio Europeia. Alm de medir a carga laboralimposta por lei ou contratualizada por acordo colectivo, o estudoavalia o tempo efectivo do trabalhador na empresa, medido atra-vs de questionrios aos funcionrios. Desta forma, sustenta aFundao Europeia para a Melhoria das Condies de Vida e deTrabalho, h uma noo mais precisa acerca da carga horria,uma vez que se incluem factores como horas extraordinrias efaltas.

    Noranking elaborado com base em dados do ltimo trimestre de2007, Portugal encontra-se abaixo da mdia europeia, com 38,8horas de trabalho por semana. Apenas a Dinamarca, a Itlia e aFrana tm cargas horrias efectivas menores, sendo a mdia de40 horas semanais. No plano oposto, ou seja, no topo da lista, es-to a Bulgria e a Romnia, com 41,7 horas, seguindo-se o ReinoUnido, com 41,4 horas semanais.Contudo, o facto de Portugal estar situado abaixo da mdia euro-peia dever ser analisado com particular cuidado, j que se verifi-cam diferenas significativas entre sectores de actividade.A Eurofound seleccionou trs grandes reas Funo Pblica, in-

    dstria qumica e comrcio a retalho representativas do sectorpblico, da manufactura e dos servios, tendo verificado diferen-as significativas nas jornadas laborais convencionadas.Apenas no que se refere Funo Pblica, Portugal, com 35 horasde trabalho por semana, encontra-se abaixo da mdia, registan-do a Itlia o valor mais baixo da Unio Europeia, com 32,9 horas.J na indstria qumica, o pas tem o perodo de trabalho maiselevado da UE (40 horas semanais, quando a mdia europeia de 38,6), juntamente com outros nove Estados-membros. Nocomrcio a retalho verifica-se o mesmo cenrio. Portugal integrao grupo de pases com horrio semanal mais prolongado (40 ho-

    ras, face a uma mdia europeia de 38,8).

    Proporcionar aos cidados a possibilidade de estabelece-rem algum equilbrio entre a vida familiar, os compromissos

    pessoais e a vida profissional tornou-se um elemento central nodebate sobre poltica social. Ainda assim, cerca de metade (48%)dos cidados com emprego remunerado nos 27 Estados-mem-

    bros da Unio Europeia (UE) referem que, pelo menos vriasvezes por ms, se sentem demasiado cansados para realizar astarefas domsticas devido ao seu trabalho.O segundo inqurito europeu sobre a qualidade de vida reali-zado pela Fundao Europeia para a Melhoria das Condies deVida e de Trabalho (Eurofound) revela que uma parte significativados habitantes da Unio Europeia sente dificuldades em conciliara sua vida profissional e privada. Cerca de 22% dos inquiridos dosexo masculino e 21% do sexo feminino afirmam que, diversasvezes por semana, se sentem demasiado cansados para realiza-rem trabalhos domsticos. Por outro lado, 11% dos homens con-

    sideram difcil cumprir (igualmente vrias vezes por semana) assuas obrigaes familiares devido ao trabalho, percentagem pra-ticamente idntica obtida entre os inquiridos do sexo femininopela Eurofound.A maioria dos inquiridos considera a vida familiar fundamental nasua qualidade de vida. Ao abordarem este tema, sete em cada dezpessoas referiram que uma boa vida familiar muito importanteem termos de qualidade de vida.Segundo o inqurito realizado pela Eurofound, uma em cada trspessoas nos 27 Estados-membros da Unio Europeia afirma cui-dar diariamente dos filhos, verificando-se uma ligeira diferena

    na percentagem obtida entre os novos membros da UE (33%) enos antigos 15 (29%).Os desafios resultantes da excluso social, do desemprego edo envelhecimento da populao, da alterao das estruturas fa-miliares, dos novos papis atribudos em funo do gnero, bemcomo do alargamento da UE, trouxeram as questes da qualida-de de vida para o centro do debate poltico na UE, afirma JormaKarppinen, director da Eurofound. O inqurito sobre a qualidadede vida retrata no s as condies de vida e a situao econmi-ca das pessoas na Europa, como tambm os seus sentimentosem relao a essas condies e sociedade em que vivem.

    A Fundao Europeia para a Melhoria das Condies de Vida e

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    Por: Armnio Rego; Miguel Pina e CunhaUniversidade de Aveiro; Universidade Nova de LisboaIlustraes: Paulo Cintra

    Colocando as virtudes nos palcos da vidaNo cerne destas maleitas parece haver uma crise tica. Mas estano resulta, necessariamente, da perversidade intrnseca dos l-deres. Muitos lderes tomam decises eticamente questionveisporque a envolvente as facilita, promove ou requer. A liderana um fenmeno inerentemente relacional e, em dadas circunstn-cias, mesmo os indivduos mais ticos podem tomar deciseseticamente reprovveis.Por conseguinte, se queremos melhorar a vida empresarial e avida dos humanos que nelas trabalham, necessitamos de intro-

    duzir mudanas em vrios domnios. Precisamos de seleccionar,valorizar e promover lderes que no so apenas eficazes mastambm virtuosos. Mas tambm necessitamos de promover cul-turas organizacionais e empresariais em que as virtudes da con-fiana, da integridade, do respeito e da excelncia se combinamcom o foco na produtividade e na competitividade. Precisamos,ainda, de alterar padres educacionais nas escolas, nas fam-lias e nas universidades. Necessitamos, em suma, de colocar asvirtudes no centro dos vrios palcos da vida. Neste artigo, damosconta de dificuldades ticas que se colocam aos lderes. E facul-tamos dez bssolas ticas sobre o que podem fazer para lidar

    com tais dificuldades.

    Porque boas pessoas adoptam ms prticasA Enron era uma empresa reputada, com contas aparentemen-te saudveis. Enquanto lder, Kenneth Lay professava valoresde generosidade e integridade, sendo respeitado como pessoahonesta e preocupada com aces de filantropia e responsabi-lidade social da empresa(1). Mas o escndalo que levou a Enron bancarrota exps prticas desonestas que deixaram trabalha-dores sem emprego e sem penses, investidores sem dinheiro econsumidores temporariamente sem energia.Uma leitura possvel a de que Lay estava activamente envolvido

    em planos desonestos fitando o ganho pessoal. Alternativamen-

    No difcil identificar factores de liderana quetero contribudo para a crise que agora nos apo-quenta: (a) o foco exclusivo no curto prazo; (b) a

    violao dos princpios bsicos da confiana; (c) ouso indevido das stock options; (d) as remunera-es escandalosas (se atendermos ao desem-penho das empresas); (e) a negligncia de valo-res-chave como a excelncia, o respeito, a justiae a dignidade

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    te, pode supor-se que os valores professados no estavam beminternalizados e Lay foi dominado por um contexto organizacio-nal e societal imprprio. Esta interpretao faz algum sentido: (a)a empresa recebeu apoio de entidades financeiras respeitveis, oque contribuiu para esconder a dvida crescente da empresa; (b)

    o clima regulatrio tambm parece ter sido favorvel emer-gncia do escndalo; (c) mesmo depois da acusao, lderes dacomunidade local asseguraram que Lay era um dos lderes em-presariais mais conscienciosos de Houston[2]. A ser correcta estainterpretao, o caso ajuda a compreender porque bons gesto-res fazem ms escolhas ticas e como o contexto e a culturaorganizacional vigente podem facilitar ms prticas.

    Ms mas ou ms barricas?Independentemente das realidades do caso, indubitvel que aliderana um fenmeno inerentemente relacional. Em dadas

    circunstncias, mesmo os indivduos mais ticos podem tomardecises eticamente questionveis. Uma experincia de Zim-bardo[3] ajuda a compreender as razes. A pesquisa abrangeuestudantes que aceitaram participar numa simulao prisional,e visava estudar o que sucede s pessoas quando colocadas emsituaes que desafiam os seus valores ticos. Os estudantesforam aleatoriamente seleccionados como guardas ou pri-sioneiros, tendo Zimbardo assumido o papel de director.O contexto prisional foi criado mediante aces simblicas(e.g., tratando os prisioneiros por nmeros, impondo unifor-mes desconfortveis, atribuindo o ttulo de Sr. Agente Correc-

    tivo aos guardas) e mecanismos de controlo estreito dospresos.Em poucos dias, os guardas desenvolveram aces imoraise desumanas para manterem o controlo da priso. Todavia, oadvogado e sacerdote (reais) que aceitaram conceder apoio napriso no alertaram Zimbardo para as prticas desumanasem curso durante a experincia. O prprio Zimbardo foi apanhadono jogo apenas acordou para as implicaes ticas da ex-perincia e decidiu interromp-la aps ter sido alertado por umobservador externo. Desmantelada a priso, tanto os guar-das como os prisioneiros no conseguiram explicar as suas

    aces luz dos valores que professavam. Trinta anos depois,o prprio Zimbardo concluiu: No se pode ser um pepino docenuma barrica de vinagre.[4] A propsito das sevcias provocadaspor soldados americanos na priso de Abu Ghraib, acrescentou:No so as ms mas que corrompem uma boa barrica, masuma m barrica que corrompe boas pessoas.

    Liderana assente em princpiosContextos organizacionais excessivamente focalizados na efi-cincia e nos lucros e desprovidos de consideraes ticas, po-dem impelir os indivduos para actos que, em circunstncias

    normais, no adoptariam. Quais os atributos de liderana ca-

    pazes de impedirem tais ocorrncias, mantendo e desenvolven-do a positividade organizacional? Glynn e Jamerson[2] sugeriramum processo em trs passos: (a) conscincia; (b) auto-reflexo;(c) instilar vida na organizao mediante a implementao deprincpios. Argumentaram que os lderes ticos repensam aspresses do contexto e desenvolvem imaginao moral que lhespermite descobrir caminhos ticos alternativos.O modo como Roy Vagelos, CEO da Merck, lidou com o combate

    cegueira dos rios (oncocercose) permite ilustrar os trs passos.

    DEZ BSSOLAS DE APOIO ACO TICA DOS LDERES

    Aps analisar as dimenses ticas de uma deciso, e perante dilemas ticos,

    procure responder s seguintes questes [2]:

    Teste do sono: posso dormir descansado se tomar esta deciso?

    Teste da perspectiva familiar: sentir-me-ia orgulhoso de dizer minha fam-

    lia e amigos que tomei esta deciso?

    Teste da dignidade: esta deciso preserva a dignidade e a humanidade das

    outras pessoas?

    Teste do tratamento igual: os direitos das pessoas desfavorecidas so acau-

    telados nesta deciso? Teste do ganho pessoal: o ganho pessoal que posso obter desta deciso

    poder turvar o meu julgamento?

    Teste do custo-benefcio: o benefcio desta deciso para algumas pessoas

    pode causar prejuzo a outras?

    Teste da justia procedimental: os procedimentos usados sero considera-

    dos justos pelas pessoas afectadas?

    Teste da congruncia: esta deciso consistente com os meus princpios

    e valores?

    Teste da regra de ouro: gostaria de ser tratado deste modo?

    Teste da primeira pgina: sentir-me-ia confortvel se esta deciso fosse pu-

    blicada na primeira pgina de um jornal ou noticiada na TV?

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    A empresa descobriu que um antibitico animal que estava a serdesenvolvido poderia curar esta doena que provocava cegueiraem milhes de pessoas. Sendo a enfermidade tpica de pasesem desenvolvimento, a empresa jamais conseguiria recuperaro investimento no desenvolvimento do frmaco para uso hu-

    mano. Havia ainda o risco de a sua reputao ser penalizada porqualquer efeito colateral que o medicamento pudesse provocar.Vagelos e a sua equipa acreditaram, porm, que era possvel de-senvolver um frmaco eficaz sem efeitos colaterais graves. Cien-te dos valores professados pela empresa (O nosso negcio apreservao e melhoria da vida humana. Todas as nossas acesdevem ser avaliadas pelo grau de sucesso com que alcanamosesse objectivo), a Merck despendeu milhes de dlares distri-buindo gratuitamente o medicamento (Mectizan) nos pases emdesenvolvimento ajudando a erradicar a doena[5]. A empresaconquistou reputao e notoriedade.

    Conscincia. Os lderes devem estar conscientes e atender sdimenses ticas da situao que enfrentam mesmo (ou so-bretudo) quando as presses para obter resultados so intensase podem ser perigadas por consideraes ticas. Vagelos pon-derou os princpios da maximizao do lucro, os valores de umaempresa orientada para salvar vidas e as implicaes das vriasalternativas decisrias para as partes envolvidas.

    Auto-reflexo. Os lderes devem reflectir sobre os seus valorese avaliar a congruncia dos mesmos com os valores da organi-zao. Podem colocar-se dez questes (ver quadro) que lhes

    permitam compreender se o caminho tico a seguir congruen-te com a orientao prevalecente na organizao. Perante umaeventual divergncia, podem ser impelidos a abandonar a organi-zao ou a imprimir-lhe um novo rumo. Quando indagaram Va-gelos sobre se teria tomado igual deciso no caso de saber que amesma no teria efeitos positivos sobre a reputao da empresa,

    respondeu que no tinha escolha pois toda a sua vida tinha sidodedicada a ajudar pessoas[6].Instilar vida na organizao atravs de aces baseadas emprincpios. Os lderes devem tomar decises congruentes comas suas prdicas, fomentar a confiana, liderar pelo exemplo

    ajudando os outros a actuar eticamente, removendo obst-culos, procurando alternativas ticas e criando contextos orga-nizacionais onde claro que os valores ticos so para cumprir.Vagelos, aps abordar (e verificar a indisponibilidade de) outrasorganizaes, assumiu o desgnio de cura da cegueira dos rios colocando em prtica um valor fundamental.

    Comentrio finalPelo menos a longo prazo, as consequncias da liderana etica-mente orientada tendem a ser positivas para as organizaes, osstakeholders e os prprios lderes. Este desgnio requer coragem

    e outras virtudes mas contribui para a positividade individual,organizacional e societal. Ao fomentarem contextos ticos e po-sitivos, os lderes criam espirais de virtuosidade e reforam asprobabilidades de outros comportamentos ticos e positivosemergirem. Para tal, nada melhor do que recorrer a dez bssolasticas (ver quadro), que podero orientar os lderes em situaeseticamente dilemticas.

    NOTA(*) Adaptado de um captulo do livro: Rego, A. e Cunha, M. P., Liderana Positiva, Lisboa,

    Edies Slabo, 2009.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    [1] MCLEAN, B. e ELKIND, P., The smartest guys in the room: The amazing rise and scandalous

    fall of Enron, Nova Iorque, Penguin, 2004.

    [2] GLYNN, M. e JAMERSON, H., Principled leadership: A framework for action, in E. D. Hess

    e K. S. Cameron (eds.), Leading values: Positivity, virtue, and high performance, 2006, pp.

    151-171.[3] ZIMBARDO, P., A situationist perspective on the psychology of evil: Understanding how

    good people are transformed into perpetrators, in A. Miller (ed.), The social psychology of

    good and evil, Nova Iorque, Guilford, 2004, pp. 21-50.

    [4] ZIMBARDO, P., You cant be a sweet cucumber in a vinegar barrel: A talk with Philip Zimbar-

    do, inEdge, Janeiro de 2005.

    [5] SPREITZER, G. e SONENSHEIN, S., Positive deviance and extraordinary organizing, in K. S.

    Cameron, J. E. Dutton e R. E. Quinn (eds.), Positive Organizational Scholarship, So Francis-

    co, Berrett-Koehler, 2003, pp. 207-224.

    [6] SEIJTS, G. H. eKILGOUR, D., Principled leadership: Taking the hard right, in Ivey Business

    Journal Online, May/June.(Outubro 8, 2008), 2007.

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    Por: Glria RebeloJurista, Professora Universitria (ULHT) e Investigadora (Dinmia ISCTE),Mestre pela FDL e Doutora pelo ISEG/UTLIlustraes:Manuel Libreiro

    1. O contexto da reforma laboral de 2009Na Lei n. 7/2009, de 12-02 lei que procede reviso do Cdigodo Trabalho , assume particular destaque o tema da Concilia-o entre a vida familiar e a vida profissional.Desde o incio deste sculo XXI vivemos um momento de globa-lizao fortemente marcado por dois factores: a incerteza (nosmercados, na economia, no trabalho) e a celeridade da mudan-a social (sentida a diversos nveis mas, em especial, ao nveldo envelhecimento das sociedades e das mutaes relativas

    famlia). Um ambiente de incerteza e de mutao social que serepercute, naturalmente, no domnio do Direito do Trabalho cujopendor social acentuado e reflecte as preocupaes econmi-cas e sociais dominantes.Neste contexto, enquanto os trabalhadores no mbito da afir-mao de uma cidadania social e de uma cidadania na em-presa tendem a reivindicar um enriquecimento do contedonormativo do Direito do Trabalho, especialmente atravs da regu-lao de novos direitos sociais, as empresas e os empregadorestendem a reclamar um direito laboral flexvel, capaz de responder necessidade de melhorar a sua racionalidade e de permitir uma

    melhor adaptao s flutuaes do mercado.

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    Ora, o Direito do Trabalho no tem sido indemne a esta mudanasocial. E, nesta circunstncia, a urgncia de conciliar vida profis-sional e vida familiar e de partilhar responsabilidades tem convi-dado o legislador a integrar na lei laboral, progressivamente, umconjunto de matrias, ou relativas igualdade de gnero e nodiscriminao, ou atinentes tutela da parentalidade.De facto, o acesso massivo das mulheres ao mercado de trabalhotem vindo a suscitar ao nvel das Polticas de Emprego e do Di-reito do Trabalho inmeros desafios, maxime em pases comoPortugal, onde a participao das mulheres no mercado de traba-lho particularmente visvel na medida em que estas trabalham

    maioritariamente como o revelam os dados do INE a tempocompleto. Deste modo, tratar do tema da Conciliao entre avida familiar e a vida profissional na Lei n. 7/2009, de 12-02,implica falar, simultaneamente, por um lado, da igualdade deoportunidades entre homens e mulheres no trabalho e, por outro,da famlia e da partilha de responsabilidades familiares, isto , daparentalidade partilhada.Embora a assuno (pelo homem e pela mulher) das responsa-bilidades familiares para com ascendentes e descendentes sejaum problema das famlias e da sociedade em geral, diversos es-tudos patenteiam que as mulheres continuam a ser vistas como

    as principais responsveis pelos cuidados dos filhos e outrosdependentes. Ora, esta situao tende a perpetuar o estereti-po de gnero no trabalho, uma vez que as mulheres passam aser percepcionadas de segunda escolha e propende a que, nomercado de trabalho, as mulheres sejam penalizadas ao nvel dainsero laboral e da progresso na carreira ou, em alternativa,adiem cada vez mais a maternidade.Alis, a Constituio da Repblica Portuguesa considera, no seu ar-tigo 67., a famlia como elemento fundamental da sociedade, reco-nhecendo, entre outras, como incumbncias do Estado, o propsitode executar uma poltica de famlia com carcter global e integrado

    e de promover, atravs da concertao das vrias polticas secto-riais, a conciliao da actividade profissional com a vida familiar.

    2. Os propsitos da reforma laboral e da reviso do Cdigo doTrabalhoAcresce que esta reforma laboral na qual se enquadra a revisodo Cdigo do Trabalho no pode explicar-se desenquadrada nemdas propostas apresentadas pela Comisso Europeia em 2006,no seu Livro Verde Modernizar o Direito do Trabalho para enfren-tar os desafios do sculo XXI, nem das propostas apresentadas emPortugal, quer pelo Livro Verde sobre as Relaes Laborais (2006)

    quer pelo Livro Branco das Relaes Laborais (2007).

    O Livro Branco das Relaes Laborais identificou os principaisproblemas da realidade socioeconmica do pas e enunciou umconjunto de propostas de interveno legislativa que considerouadequadas, sugerindo intervir no sentido, designadamente, da: Promoo da flexibilidade interna das empresas. Melhoria das possibilidades de conciliao entre vida profissio-

    nal e vida familiar e igualdade de gnero.

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    Assim, quer a imposio do gozo obrigatrio de licena inicialaps o nascimento do filho de dez dias teis (sendo que cincodevem ser gozados imediatamente a seguir ao nascimento dofilho), quer o reforo dos direitos do pai trabalhador presentenesta Lei n. 7/2009, designadamente pela faculdade de gozo delicena de dez dias teis, seguidos ou interpolados, em simult-neo com o gozo de licena pela me, afigura-se uma oportunamedida legislativa, encorajadora de um indispensvel modelode parentalidade partilhada. E esta representar uma condiofundamental para assegurar uma efectiva igualdade de oportu-nidades no trabalho.

    Para que as mulheres possam assegurar uma carreira em igual-dade de oportunidades, no sendo prejudicadas pela assunode responsabilidades familiares, tratar juridicamente o tema daconciliao da actividade profissional com a vida familiar impli-ca relacionar esta matria com o disposto na Constituio daRepblica Portuguesa, em especial na matria que concerne aoprincpio da igualdade e da no discriminao (artigo 13.) e aoprincpio do direito ao trabalho (alnea b) do n. 2 do artigo 58.).E se em matria de igualdade e no discriminao, desde a entra-da em vigor da Constituio de 1976 foram aprovados diversosdiplomas relativos temtica designadamente o Decreto-Lei

    n. 392/79, de 20-09 (Igualdade e no discriminao em funodo sexo); a Lei n. 105/97, de 13-09 (Igualdade no trabalho e noemprego) a Lei n. 7/2009, de 12-02, inova, acima de tudo, aonvel da nfase que confere ao conjunto das disposies sobreconciliao entre vida privada e vida familiar, afirmando por estavia a igualdade de oportunidades entre homem e mulher.A Constituio da Repblica Portuguesa considera no n. 1 doseu artigo 67. a famlia como elemento fundamental da socie-dade, reconhecendo-lhe direito proteco da sociedade e doEstado. E, no conjunto de incumbncias do Estado sobre estamatria, convm realar os propsitos de:

    Se executar uma poltica de famlia com carcter global e inte-grado (alnea g), e de promover, atravs da concertao das vrias polticas secto-

    riais, a conciliao da actividade profissional com a vida familiar(alnea h).

    E falar hoje de famlia e da promoo efectiva da igualdade naconciliao entre trabalho e responsabilidades familiares sus-cita alguns desafios, em particular no que se refere ao problemada assuno, pelo homem e pela mulher, das responsabilidadesfamiliares para com ascendentes e descendentes. De facto, e

    muito embora seja um problema das famlias e da sociedade em

    geral, diversos estudos patenteiam que as mulheres continuama ser vistas como as principais responsveis pelos cuidados dosfilhos e outros dependentes (Rubery, et al., 1999; Barrre-Mau-risson et al., 2000; Maruani, 2000; Mda, 2001; Rebelo, 2002).Ora, esta situao: Perpetua o esteretipo de gnero no trabalho, uma vez que as mu-

    lheres tendem a ser percepcionadas de segunda escolha.

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    Tende a que como alguns estudos o demonstram , no mer-cado de trabalho, as mulheres sejam penalizadas ao nvel dainsero laboral e da progresso na carreira ou adiem, cada vezmais, a maternidade.

    Assim, na Lei n. 7/2009, de 12-02, a conciliao da actividadeprofissional com a vida familiar emerge, expressamente, comoprincpio orientador: No direito igualdade no acesso a emprego e no trabalho. Nos deveres do empregador. Na elaborao de horrio de trabalho.

    No artigo 24. (direito igualdade no acesso a emprego e no tra-balho) que corresponde, com algumas alteraes, ao dispos-to no artigo 22. da Lei n. 99/2003 o legislador, ao reconhecero direito igualdade de oportunidades e de tratamento no que se

    refere ao acesso ao emprego, formao e promoo ou carreira

    profissionais e s condies de trabalho assegura, na alnea b)do n. 3 desta norma, que o disposto nos nmeros anteriores noprejudica a aplicao de disposies relativas especial protec-o de patrimnio gentico, gravidez, parentalidade, adopo eoutras situaes respeitantes conciliao da actividade profis-sional com a vida familiar, acautelando assim para este conjuntode matrias o princpio da igualdade de oportunidades e de tra-tamento.No artigo 127. (deveres do empregador), no seu n. 3, o

    legislador exige que o empregador proporcione ao trabalhador

    condies de trabalho que favoream a conciliao da activi-

    dade profissional com a vida familiar e pessoal. No artigo 212(elaborao de horrio de trabalho), no seu n. 2, a lei esta-belece que competindo ao empregador determinar o horrio

    de trabalho do trabalhador, dentro dos limites da lei o empre-

    gador tem o dever de, entre outros, facilitar ao trabalhador aconciliao da vida profissional com a vida familiar (alnea b),

    constituindo contra-ordenao grave a violao do disposto

    neste n. 2 (n. 4), sendo de realar que aqui o legislador inova relativamente ao disposto no artigo 172. da Lei n. 99/2003,

    de 27-08 (critrios especiais de definio do horrio de traba-

    lho) pois inclui nos critrios especiais de definio do hor-

    rio de trabalho o princpio orientador da conciliao entre vidaprofissional e vida familiar.Acolhendo disposies constantes na Lei n. 99/2003, de 27-08,e na Lei n. 35/2004, de 29-07, na Lei n. 7/2009, de 12-02, a con-ciliao entre vida profissional e vida familiar passa pela afirma-o da tutela da parentalidade, designadamente nas seguintesdisposies: No artigo 3. (relaes entre fontes de regulao) onde se

    prev que as normas legais reguladoras de contrato de trabalhos podem ser afastadas por IRCT que, sem oposio daquelasnormas, disponha em sentido mais favorvel aos trabalhado-

    res quando respeitem, entre outras, s matrias da igualdadee no discriminao (alnea a) e da proteco na parentalidade(alnea b), assim como dos limites de durao dos perodosnormais de trabalho dirio e semanal (alnea g).

    No artigo 25. (proibio de discriminao) onde se tutelaa igualdade sancionando as prticas discriminatrias exercidasem virtude do gozo de licenas por parentalidade ou de faltaspara assistncia a menores.

    No artigo 31. (igualdade de condies de trabalho) ondese assegura que, sem prejuzo das diferenas de retribuioque possam existir entre homens e mulheres, baseados em

    factores objectivos, as licenas, faltas ou dispensas relativas

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    proteco na parentalidade no podem fundamentar diferen-as na retribuio.

    No artigo 211. (limite mximo da durao mdia do trabalhosemanal) os dias de licena parental, inicial ou complemen-tar, e de licena para assistncia a filho com deficincia ou doen-a crnica so considerados com base no correspondente pero-do normal de trabalho.

    O direito ao gozo da licena parental inicial cabe a ambos os pro-genitores que podem partilh-la (n. 1 e n. 4 do artigo 40.),sem prejuzo dos direitos exclusivos da me, nomeadamenteo gozo das 6 semanas seguintes ao parto e a possibilidade de

    antecipar o incio da licena (sendo que, na falta de decisoconjunta, o gozo da licena da trabalhadora me). Alarga a durao da licena parental inicial (n. 2 do artigo 40.):

    a me e o pai tm direito a licena de 120 ou 150 dias conse-cutivos, a qual acrescida em 30 dias no caso de cada um dosprogenitores gozar em exclusivo um perodo de 30 dias segui-dos ou dois perodos de 15 dias consecutivos, aps o perodode gozo obrigatrio pela me a que se refere o n. 2.

    Refora os direitos do pai trabalhador (artigo 43.): quer peloaumento do perodo de gozo obrigatrio de licena inicial apso nascimento do filho, de 5 para 10 dias teis, sendo que 5 de-

    vem ser gozados imediatamente a seguir ao nascimento dofilho, quer pela concesso de licena de gozo facultativo de10 dias teis, seguidos ou interpolados, em simultneo com ogozo de licena pela me.

    A licena por adopo (artigo 44. por remisso para o artigo40.) passa a beneficiar do mesmo perodo de durao da licen-a parental.