deus enviou um profeta! vocÊ o acolheu?static.recantodasletras.com.br/arquivos/3194804.pdfdedico...

138
Gilberto Ângelo Begiato DEUS ENVIOU UM PROFETA! VOCÊ O ACOLHEU? Comunidade Bom Pastor

Upload: doankhanh

Post on 10-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Gilberto Ângelo Begiato

DEUS ENVIOU UM PROFETA!

VOCÊ O ACOLHEU?

Comunidade Bom Pastor

2

Comunidade Acolhimento Bom Pastor Estrada Municipal do Varjão, 1641. Bairro novo Horizonte. CEP; 13.212-590 Jundiaí – SP Fone / Fax: (11) 4582-4163 E-mail: [email protected] Jundiaí, Brasil, 2005

3

Há um conto que diz que em uma determinada cidade havia um grande sábio que ao entardecer ia até a praça da cidade e aconselhava todos os que se aproximavam dele com palavras de sabedoria.

O povo da cidade o amava com exceção de um jovem que tinha profunda inveja do sábio e que possuía um espírito muito ruim, então este jovem pensou consigo:

“Vou desmascarar este sábio fazendo-o passar vergonha diante de toda a cidade, vou fazer o seguinte: irei com uma pomba atrás de mim escondida às costas e com a mão estarei segurando seu pescoço e perguntarei ao sábio o que tenho em minhas mãos, ele com certeza descobrirá, pois sua sabedoria e seu dom são indiscutíveis, então perguntarei novamente a ele, se a pomba está viva ou não; se ele responder que está morta eu a soltarei, se disser que está viva destroncarei seu pescoço e direi que errou.”

Chegou o entardecer e aquele jovem se aproximou da praça e olhando em direção do sábio gritou:

“Sábio o que tenho em minhas mãos?” O sábio respondeu ao jovem: “Você tem uma pomba” O jovem, com as mãos no pescoço da pomba, perguntou

ansioso e com grande empolgação, era a hora de fazer com que o sábio passasse vergonha diante de todos.

“Mas me diga sábio, ela está viva ou morta?” O sábio olhou para o jovem e com serenidade respondeu: “Depende de você” Meu querido leitor e leitora a decisão entre acolher o profeta

ou não, depende de você!

4

DEDICAÇÃO

Dedico este livro às minhas famílias que com muito carinho me acolheram no amor fraterno e no amor de Deus:

Meus pais: Dona Regina e Sr Miltom (em memória). Aos meus dez irmãos e irmãs de sangue, aos quais admiro

muito. À minha esposa Regina e minhas filhas Mariana e Juliana. À Comunidade Bom Pastor. Aos fundadores da Comunidade Bom Pastor, que abdicaram

de seus sonhos pessoais para viver o sonho de Deus: Branca, Mauro, Isabel, Carlos, Celso, Rita e Regina.

5

SUMÁRIO

Prefácio..................................................................... 06 Introdução................................................................. 09 O profeta................................................................... 12 O profeta da casa..................................................... 22 Profetas desconhecidos.......................................... 40 Profeta acolhedor..................................................... 50 Existe um profeta em sua comunidade.................... 61 Você o reconheceria hoje?....................................... 73 O Local de Deus....................................................... 81 Profetas mártires...................................................... 100 O excesso de acohimento........................................ 123 Eu desejo acolher..................................................... 131 Bibliografia................................................................ 136 Biografia.................................................................... 137

6

PREFÁCIO

... qualquer arma forjada contra ti, ver-se-á destinada ao

insucesso,

na justiça ganharás causa de qualquer língua que quiser

acusar-te.

Tal é o apanágio dos Servos do Senhor,

tal é o triunfo que lhes reservo, diz o Senhor.

Esta citação bíblica encontra-se no livro do “profeta” Isaías

(Is. 54, 17).

Profeta verdadeiro é aquele que fala segundo a vontade de

Deus; não é novidade lermos algo sobre profetas ou principalmente

sobre os falsos profetas, sobre aqueles que profetizam em nome

próprio e segundo idéias e objetivos pessoais.

Fazemos discursos sobre aqueles, que segundo nossa

opinião e em alguns casos reais, enganam e manipulam as

pessoas com suas falsas profecias. Buscamos nos preparar para

reconhecermos um falso profeta, todavia não nos preparamos para

receber um verdadeiro profeta.

Nem sempre nossa vontade é vontade de Deus, ao ouvirmos

o que não nos agrada imediatamente sofremos a tendência de

ignorarmos ou procurarmos quem possa dizer aquilo que realmente

desejamos ouvir.

7

Historicamente um profeta raramente é bem recebido, assim

como se observarmos todos aqueles, que se fazem profetas (por

conveniência) são constantemente adorados.

Este livro nos apresenta um profundo questionamento e

intensas reflexões sobre o acolhimento ao profeta enviado por

Deus.

Esta obra merece um olhar atento, pois nos estimula a

amarmos a Palavra de Deus dita da boca de um profeta, além de

mostrar que Deus não envia um profeta segundo os paradigmas e

padrões da sociedade. Ele envia aqueles que muitas vezes são

vistos como os menores e os mais simples.

Que cada linha possa levá-lo (a) caro (a) leitor (a) há um

mergulho nos ensinamentos inspirados por Deus através de todos

os profetas que passaram pela história da humanidade. Entre

aqueles que falaram mesmo quando todos tentavam calá-los, entre

aqueles que mesmo sendo fracos e pequenos mantiveram viva a

Palavra de Deus.

Acredito que este livro é a voz de Deus através de um

profeta escolhido por Ele.

É com muito amor que prefacio esta obra, que tocou

intensamente meu coração, primeiro por conhecer a índole e

respeitar profundamente o autor, em segundo por acreditar que

cada capítulo fará com que todos os que corajosamente desejarem

8

compreender que Deus constantemente nos fala, poderão

conhecer pouco a pouco uma das maneiras que Ele tem de a nós

falar.

Sílvia Regina Siqueira

9

INTRODUÇÃO

Não sei se o caro leitor está tendo um primeiro contato com

este livro por curiosidade ou se neste momento já teve alguém que

o indicou a você.

De qualquer forma louvo a sua coragem já que o título do

livro vem com um questionamento forte e provocativo.

Quero poder através deste livro, ir ao encontro de suas

expectativas atendendo de alguma forma os anseios que o levaram

a leitura deste.

Porém como o próprio título lembra, estamos falando do

profeta e como mísero profeta, função que recebi no meu batismo,

falar o que Deus me pede e não o que agrada ao leitor.

Mas tenho a certeza que se estiver de acordo com Deus às

palavras deste livro nos levarão a uma conversão, pois a falta de

acolhimento aos nossos profetas às vezes ultrapassa o bom senso.

Não sou um escritor conhecido e provavelmente não serei

após este livro já que minhas pretensões no momento são escrever

algo que sinto Deus me ordenando.

Não sei se estas pobres linhas chegarão às mãos de

alguém, pois o custo para lançar um livro chega a ser alto demais.

Mas o fato de você estar lendo estas linhas, acredito ter

alcançado o que parecia inalcançável.

10

Por mais alto que pareça esta missão ou desafio, tenho a

certeza de que Deus é sempre maior.

Todo profeta é denunciador e anunciador e

conseqüentemente acaba sendo polêmico e mal entendido. Não

tenho medo das conseqüências deste, como já disse espero estar

cumprindo com a vontade de Deus.

Meu caro leitor que Deus possa estar falando com você

sendo profeta ou não e que possa estar lhe abençoando com todas

as bênçãos do céu.

Todos sem exceção já deixaram de receber um profeta em

sua comunidade, pois o profeta verdadeiro acaba sendo justamente

os que passam despercebidos ou mal entendidos.

Caro leitor que estas poucas linhas possam levar você a um

amor maior às pessoas que encontram em sua comunidade a fim

de que não aconteça o que aconteceu aos profetas da bíblia.

“Então Jesus propôs-lhes esta parábola:” Um homem

plantou uma vinha, arrendou-a a vinhateiros e ausentou-se por

muito tempo para uma terra estranha. No tempo da colheita enviou

um servo aos vinhateiros para que lhe dessem do produto da vinha.

Estes o feriram e o reenviaram de mãos vazias. Tornou a enviar

outro servo; eles feriram também a este, ultrajaram-no e

despediram-no sem coisa alguma. Tornou a enviar um terceiro;

feriram também este e expulsaram-no. Disse então o senhor da

vinha: Que farei? Mandarei meu filho amado; talvez o respeitarão.

11

Vendo-o, porém, os vinhateiros discorriam entre si e diziam: Este é

o herdeiro; matemo-lo, para que se torne nossa herança. E

lançaram-no fora da vinha e mataram-no. Que lhes fará, pois o

dono da vinha? Virá e exterminará estes vinhateiros e dará a vinha

a outros “. Lc. 20,9-16

12

O PROFETA

Em hebraico a denominação corrente do profeta era nabi. A

origem do vocábulo é incerta; com toda a probabilidade quer dizer

“o que é chamado”.

Na setenta (LXX) nabi se traduz sempre por prophetes. A

palavra vem do verbo phemi – “dizer”, “falar” mais o prefixo pro.

Este pro não é temporal (predizer), mas substitutivo (falar em lugar

de, em nome de).

O profeta é um porta-voz, um arauto, alguém que fala em

nome de Deus; é alguém chamado por Deus para ser seu porta-

voz.

O rei herdava o trono, o sacerdote é originário da tribo de

Levi, mas os profetas eram chamados e escolhidos diretamente por

Deus.

O profeta é um homem que teve um encontro pessoal e

extraordinário com Deus. Não só as palavras do profeta, mas as

suas ações, sua própria vida são profecias.

A visão que o profeta tem de Deus penetrou toda a sua

maneira de pensar, e ele vê as coisas do ponto de vista de Deus, e

está convencido de que as vê assim.

Aqui vejo a importância do profeta e sua clara consciência a

respeito de sua missão perante a sua comunidade:

13

O que devo dizer? O que devo falar? A resposta é clara e

direta:

“Falar em nome de Deus e, portanto falar o que Deus quer e

não o que a comunidade quer ouvir; ser o profeta “a boca” de

Deus.”

Há muitos profetas que falam, escrevem ou age pensando o

quanto lucrará com tal atitude. Há muitos profetas que falam se

preocupando com o quanto vão agradar o público e o quanto serão

requisitados e quanto venderão em livros e cds, etc.

Por isso fala dos finais do tempo, do céu, do inferno, da

condenação, da salvação, da prosperidade, etc; em contínua

persistência porque perceberam o quanto “vende” com estes

assuntos.

É bem verdade que existem muitos profetas que falam

apenas para causarem impactos, utilizando palavras e mensagens

que de certa forma acabam mais ofendendo quem está ouvindo do

que propriamente fazendo que a mensagem chegue ao ouvidos

atentos daqueles que estão presente.

É comum nestes casos usarem os profetas frases que

chocam as pessoas, desrespeitando as tradições daquele povo,

fazem pregações visando o religiosismo do povo ou maneira de

pensar daquele povo como que querendo provocar ou mostrar que

a teologia o faz mais sábio que a fé simples de um povo que

aprendeu a ver Deus em suas imagens e gestos populares.

14

A verdade é que muitos profetas acabam perdendo a grande

oportunidade de aprender com a simplicidade do povo, quando

colocam seus estudos e conhecimentos acima da sabedoria

popular. Acabam também perdendo a oportunidade de mudar a

atitude da comunidade, ao invés de usar de sabedoria e bom senso

preferiu optar pela agressividade.

Sábio é o profeta que antes de tudo tenta entender o povo e

experimentar a vida que levam para depois denunciar os abusos

religiosos que ali existem. Sábio é o profeta que não se coloca

sempre a um nível superior e que não olha de cima para baixo os

seus ouvintes.

Quanto tempo este povo ficou a mercê da palavra do

pastoreio? Será que foi isto justamente que fez deste povo, a anos

distante de um pastoreio efetivo, a uma religiosidade popular?

Ao estarem anos distante da doutrina (não de Deus, com

certeza) não seria de um grande bom senso o profeta ir com

calma?

Para estes, Jesus disse:

“Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque

escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes

aos pequeninos. Sim, Pai, eu te bendigo, porque assim foi do teu

agrado”. Mt. 11,25-27

Há também muitos outros profetas que após uma pregação

que surtiu um efeito agradável na assembléia, aqui tanto faz se

15

foram risadas, choros, manifestação de admiração, etc, insiste na

mesma pregação por onde anda desrespeitando o tema sugerido

por Deus, só pelo fato de sair dela ovacionado pelos ouvintes (ou

pela comunidade).

Lembro-me de certa vez um jovem profeta dizer com orgulho

que quando começou seu ministério recebeu o conselho do

responsável da comunidade que se ele quisesse ser aceito no meio

teria que tomar cuidado com a maneira com que falasse e que

graças a este conselho ele era agora reconhecido por todos, é

interessante, porém a um detalhe que passou despercebido o

profeta de Deus não fala para ser reconhecido, fala em nome de

Deus. Imagine se Jeremias, João Batista, Jesus... falassem apenas

para serem reconhecidos.

Portanto o profeta quanto mais inserido em sua comunidade

e quanto mais tiver os pés no chão mais entenderá a Palavra de

Deus, já que ele não fala aos anjos ou as nuvens mais ao povo da

terra. Os pés no chão e o coração em Deus.

Os profetas da bíblia eram concretos, pregavam e

denunciavam a partir de suas realidades.

Apesar de apresentarem em suas profecias previsões do

futuro, se preocupavam muito mais com o presente e às vezes até

um pouco com o passado.

16

Os profetas da bíblia tiveram uma importância tão grande em

seu tempo que influenciaram até na sobrevivência de seu povo

influenciando e participando politicamente na história.

Mas não foram políticos profissionais, mas acima de tudo

profetas de Deus, portanto foram muitos além da simples influência

e participação política do povo, promoveram uma tradição religiosa

que eles haviam herdado, fomentaram seu desenvolvimento entre

os séculos VIII e IV a.C., e o legaram, decididamente enriquecido

ao judaísmo.

Eram os profetas bíblicos fiéis ao dogma fixado na era

mosaica – os monoteísmos éticos – e exploraram-no plenamente.

Portanto os profetas da bíblia conseguiam ser

questionadores das atitudes e comportamento do seu povo sem

deixar de ter respeito à doutrina que aprenderam e que

principalmente representavam.

Há muitos “profetas” (?) que ao querer profetizar ou falar em

nome de Deus invoca para si mesmo uma verdade que acredita ter

recebido dos céus e em nome deste iluminismo pretensioso

confrontam com toda a verdade absoluta e dogmas criando uma

grande confusão em sua comunidade, levando muitas pessoas ao

escândalo da fé. Pra estes a palavra é clara e consista:

“Mas, se alguém fizer cair em pecado um desses pequenos

que crêem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço a mó

de um moinho, e o lançassem no fundo do mar”. Mt. 18,6

17

Estes “profetas” iluministas geralmente duram pouco e suas

palavras acabam esvaziando-se no tempo, pois não possuíam nada

de concreto. Porém acabam criando grandes problemas que

deixam marcas profundas na comunidade.

Outra característica predominante nestes profetas é que são

como que “macacos” que pulam de galhos em galhos. Vão de uma

comunidade a outra semeando a confusão e construindo em suas

caminhadas pouca coisa concreta e madura.

Lembro-me bem quando tinha uma padaria, fui padeiro

durante seis anos e amadureci muito durante estes anos na fé. Mas

um dos fatos corriqueiros que ocorriam eram pessoas que vinham

no meu comércio falar mal do concorrente e logo depois pedir para

abrir uma caderneta para ela.

No início como não tinha experiência eu achava que estava

fazendo um bom trabalho e por isto estava eu cativando novos

fregueses. Com uma ingenuidade imensa eu ia abrindo as

cadernetas dos que se aproximavam do meu comércio reclamando

do concorrente.

Numa escala de proporção diria que a cada dez cadernetas

abertas referentes a este tipo de clientela, nove eram maus

pagadores. A verdade é que quando chegavam até minha padaria

reclamando do concorrente é que já estavam devendo lá e por isso

apelavam para outros comércios da redondeza.

18

Assim acontece também em nossas comunidades, devemos

estar atentos aos que se aproximam de nossas comunidades

reclamando de fulano ou sicrano ou de determinada comunidade,

na maioria das vezes são pessoas problemáticas. Alguns acabam

abrindo sua própria comunidade, mas não demora muito e acabam

tendo a mesma experiência, só que neste caso o “iluminista” passa

a ser o réu.

O profeta é alguém que recebeu um chamado de Deus e

que por isso mesmo quer falar em nome de deste Deus, portanto

não é um desejo de querer aparecer ou ser a voz da verdade. É

comum acontecer que a própria comunidade perceba o dom deste

profeta.

Ele não é rotulado, apesar de lhe colocarem rótulos, ele não

tem que só falar de graças ou desgraças, de alegria ou sofrimento,

de bênçãos ou advertências, da cruz ou da ressurreição, ou seja, o

profeta deve falar do que Deus lhe ordenar, sem pressões ou

influências internas ou externas.

O profeta não é reconhecido pelo dom que tem de falar

bonito, CUIDADO! Há muitas pessoas que falam bonito e podem

não ser profetas de Deus:

“Rogo-vos irmãos, que desconfieis daqueles que causam

divisões e escândalos, apartando-se da doutrina que recebestes.

Evitai-os! Esses tais não servem a Cristo nosso Senhor, mas ao

19

próprio ventre. E com palavras adocicadas e linguagens lisonjeiras

enganam os corações simples”. Rm. 16,17-18

Dois critérios que faziam dos profetas bíblicos profeta

autêntico:

- O cumprimento de sua predição (Jr. 28,9-16s);

- A conformidade de seu ensino com a doutrina tradicional

(Jr. 28,7s); a analogia da fé.

Na verdade estes dois critérios se entendem como um

cumprimento da profecia (Dt. 18,21s); o outro critério, o mais

importante, a doutrina e a vida do profeta (Dt. 13,1-5), que deveria

no ponto de vista do Deuteronômio manifestar-se na linha do puro

Javismo.

É quase impossível na minha acepção definir com critérios

ou regras o verdadeiro profeta ou o profeta autêntico, mas eis

algumas características importantes na minha modesta concepção:

a) Se o profeta é obediente à sua comunidade e

conseqüentemente ao seu superior;

b) Se o profeta tem testemunho de vida na comunidade e

principalmente em seu lar;

c) Se o profeta respeita a tradição, doutrina e a palavra de

Deus a qual representa;

d) Se o profeta tem vida de oração;

e) Se o profeta tem humildade e obediência pela

comunidade que o convidou a falar;

20

f) Se o profeta é justo e está atento às injustiças da sua

época e as denuncia em defesa dos injustiçados;

g) Se o profeta não escolhe quantidade e qualidade e não

exige nada em troca pelos seus oráculos, a não ser os custos de

sua missão.

O leitor (a) deve estar perguntando a si mesmo se o tema do

livro é acolher bem o profeta porque neste capítulo falo e denuncio

os falsos profetas, parece até uma contradição com o título deste

livro.

Pode ser que o fato de ter sido excluído em sua comunidade

fez com que pegasse este livro e o lesse tentando encontrar uma

resposta à falta de aceitação de sua comunidade pelos seus

oráculos. Às vezes o fato de ter sido isolado pode ser que não seja

falta de acolhimento de sua comunidade, mas sim lhe faltou

respeito à comunidade e, portanto a comunidade acabou isolando-

o. Reconhecer sua falha é um grande passo para tornar-se um

grande pregador. Não desista, mesmo enxergando seus erros, pois

o Senhor corrige os filhos que ama:

“Ainda não tendes resistido até o sangue, na luta contra o

pecado. Estais esquecidos da palavra de animação que vos é

dirigida, como a filhos: Filho meu, não desprezes a correção do

Senhor. Não desanimes, quando repreendido por ele; pois o

Senhor corrige a quem ama e castiga todo aquele que reconhece

por seu filho (Prov. 3,11s)”.

21

Portanto para que este livro não seja um estandarte nas

mãos de falsos profetas achei importante começá-lo falando dos

falsos profetas em nosso meio ou dos profetas equivocados e que

querem reaver suas atitudes e permitir que a comunidade e Deus o

ajudem a crescer no seu ministério de falar em nome de Deus.

22

O PROFETA DA CASA

Aqui neste capítulo quero tratar com coragem e veemência

uma das maiores injustiças que se cometem contra o profeta.

Foi justamente esta injustiça que fez com que Jesus se

admirasse do povo de sua terra pelo fato de não ter sido acolhido

apesar dos milagres e sinais que acompanharam sua pregação e

missão.

Portanto quero começando com esta palavra explanar o

assunto referente ao segundo capítulo deste livro: “O profeta da

casa”.

O Evangelho de Marcos 6,1-6 nos relata:

“Depois ele partiu dali, e foi para sua pátria, seguido de seus

discípulos. Quando chegou o dia de sábado, começou a ensinar na

sinagoga. Muitos o ouviam, e tomados de admiração, diziam:”

Donde lhe vem isso? Que sabedoria é essa que lhe foi dada, e

como se operam por suas mãos tão grandes milagres?

Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, o irmão de Tiago, de

José, de Judas e de Simão? Não vivem aqui entre nós também

suas irmãs?”E ficaram perplexos a seu respeito. Mas Jesus disse-

lhes:” Um profeta só é desprezado na sua pátria, entre os seus

parentes e na sua própria casa.

23

Não pôde fazer ali milagres algum, curando poucos

enfermos, impondo-lhes as mãos. Admirava-se da desconfiança

deles. E ensinando, percorria as aldeias circunvizinhas.

Toda vez que leio esse texto me admira o fato de que Jesus

em sua estadia aqui na terra sofrera tudo que uma pessoa poderia

sofrer inclusive a rejeição de sua pátria pelas suas pregações.

É incrível o fato deste texto evangélico, citar que Jesus

operava grandes milagres e admiravam-se pela sua sabedoria e

apesar de tudo desconfiaram do Mestre a ponto de Jesus

consternado ter realizado em sua pátria poucos sinais, e nenhum

milagre.

Neste texto vejo por parte dos compatriotas de Jesus alguns

preconceitos claros sofridos por Jesus e que os profetas sofrem em

suas terras.

O primeiro preconceito é a respeito da profissão de Jesus,

dizem que ele era o carpinteiro. Como que dizendo que aquele

homem era de origem simples e, portanto como poderia ter tanta

sabedoria em suas palavras?

Como que para falar com autoridade de Jesus a pessoa tem

que ter estudo, classe social privilegiada, formação acadêmica, etc.

A sabedoria não se compra e nem se adquire apenas pelos

caminhos do estudo até pelo contrário dependendo do indivíduo o

fato de ter muito estudo acaba tornando-o tão vazio quanto suas

teorias intelectuais e evasivas.

24

Com certeza os estudos são importantes e ajudam muito em

uma pregação, mas não devem e não podem ser motivos

essenciais para definir o verdadeiro profeta.

A sabedoria é divina e, portanto Deus a revela e dá a quem

quiser. A sabedoria como todo dom é uma gratuidade de Deus aos

filhos que ama.

Quando conversamos com pessoas simples encontramos

sabedoria que nenhuma escola nos ensinou, como diz estes

sábios, a escola que estudaram foi à escola da vida.

Pessoas idosas têm uma experiência profunda de fé, pois

passaram muitas dificuldades e venceram e por isso mesmo olham

para o passado e vêem com seus erros e acertos como esteve

Deus presente em suas vidas.

Infelizmente muitos grandes profetas acabam passando

despercebidos em nossas comunidades por puro preconceito. Uma

comunidade que se preza tem os olhos voltados para importância

de cada um, independente de raça, classe social, sexo, idade e etc.

O preconceito em relação a Jesus neste caso foi tão grande

que nem sua fama de milagreiro e nem sua sabedoria conseguiram

convencer aquele povo que naquela terra havia um grande profeta,

o profeta dos profetas: o Salvador.

Um relato bíblico demonstra de forma clara como Deus é

desconcertante até para escolher um profeta como no caso da

escolha de Davi.

25

Quando Samuel foi à casa de Isaí pai de Davi ele informou

que ali Deus queria escolher um rei entre seus filhos. Samuel ao

ver Eliab pensou consigo: “Certamente é este o ungido do Senhor”.

Porém a resposta do Senhor a Samuel foi magnífica:

“Não te deixes impressionar pelo belo aspecto, nem pela sua

alta estatura, porque eu o rejeitarei. O que o homem vê não é o que

importa: o homem vê a face, mas o Senhor olha o coração”. 1 Sm.

16,1ss.

Isaí mostrou os seus sete filhos e todos foram recusados

pelo Senhor; então parecia que Deus não haveria de escolher

nenhum daqueles, foi quando Samuel perguntou a Isaí se ele ainda

não tinha algum filho. Isaí respondeu:

“Resta ainda o mais novo que está pastoreando as ovelhas”.

Para Isaí aquele menino jamais poderia ser o rei de Israel,

pois se prendeu na aparência, assim como Samuel que quase

ungiu um dos filhos de Isaí por causa da aparência.

Deus vai mais longe, Ele olha o coração e viu que Davi

possuía algo que os outros filhos de Isaí não tinham e que

justamente estava no interior de Davi. A história comprova o amor

puro e singelo e fiel que Davi teve por Deus, tornando-o o rei mais

respeitado da história de Israel.

Lembro-me bem quando conheci a Renovação Carismática

Católica, eu era um menino muito tímido. Sentava nos últimos

lugares da Igreja e suava frio de medo que algum pregador me

26

visse lá e perguntasse alguma coisa. Eu corava facilmente e não

conseguia falar com as pessoas. Alguns irmãos da Comunidade

Bom Pastor costuma dizer que as portas faziam mais barulho que

eu.

Mas havia um jovem negro líder e responsável do grupo que

não sei qual o motivo acreditou que eu era um líder em potencial e

que havia em mim uma promessa de Deus para ser um líder na

Igreja.

Certa vez ele me deu a missão de falar sobre a Eucaristia no

Grupo de Oração e o meu tempo era de 10 minutos. Fiquei

bastante nervoso e ansioso na semana que antecedia o dia da

pregação, não dormi direito, nem me alimentei direito e me dava

vontade de chorar desesperado com aquela missão. Pensei em

desistir e dentro de mim havia uma alegria imensa de querer falar

em nome de Deus e acabei indo e pregando.

Este dia jamais será esquecido em minha vida, pois quando

cheguei à frente do povo eu tremia tanto que não agüentei ficar em

pé a ponto deste líder do grupo se aproximar de mim e segurar-me

durante a pregação. Foram dez minutos que pareciam uma

eternidade.

Desde então comecei a fazer uma pregação após a outra a

ponto de quase todo dia ter uma pregação para fazer, isto tudo

porque Deus através daquele líder acreditou em mim e foi muito

além da aparência.

27

Voltando à palavra outro fator que me chama atenção não

sei se chega a ser preconceito, o fato das pessoas citarem os

nomes dos parentes de Jesus.

Neste item vejo o quanto ainda às pessoas precisam crescer

em relação ao acolhimento aos profetas da casa. Acho muito

engraçado como os profetas que vem de fora (são homens e

mulheres de Deus sem dúvida alguma) são vistos de uma forma tão

iluministas, que parecem ser mais santos dos que estão na própria

cidade, diocese, estado, comunidade, etc.

Mas aqui neste caso tenho uma teoria que tento explicar

este tipo de atitude e que aconteceu também com Jesus.

Acredito que o fato daquele profeta vir de fora faz com que

pareça que ele desceu do céu como se fosse um anjo e que traz

consigo a palavra divina e muitas vezes testemunhos de tudo que é

bom que Deus fez. Há alguns que relatam as curas, sinais e até

algumas graças de Deus em seu ministério. São poucos os profetas

que falam de suas cruzes, de seus sofrimentos e até mesmo de

seus pecados e da paciência que Deus tem por ele.

Alguns profetas falam de certa maneira de seus dons

sobrenaturais que parecem que ao estalo dos dedos, Deus atende

prontamente seus pedidos, como que em um passe de mágica.

Quanto que os profetas da casa têm uma história concreta,

tem família por isso mesmo não desceram do céu e ainda, muitos

profetas se envolvem com a administração da comunidade,

28

portanto precisam usar da autoridade e correção quando

necessário e acabam por este motivo passando como profetas

“menores”.

É interessante saber que os profetas maiores da bíblia eram

todos envolvidos com pregações de conversão e participação

política e administrativa de seu povo e por isso mesmo,

considerados profetas maiores (Isaías, Ezequiel, Jeremias,

Zacarias) pela importância que tiveram em seu tempo.

É bom lembrar por uma questão de justiça aos profetas da

terra que todos eles inclusive Jesus foram mal recebidos,

perseguidos e mortos pelos seus compatriotas.

Eu já cheguei a presenciar a pregação exaustiva de

conversão pelos profetas da casa sem conseguirem resultados

positivos, pois diziam que ele estava falando aquilo que sabiam e,

portanto jogando “indireta” aos ouvintes.

Logo após nesta mesma comunidade vieram pregadores de

fora e fizeram as mesmas pregações e os ouvintes mudaram.

O que me entristece em relação à recusa aos profetas da

casa é que vemos os meios de comunicação juntamente com os

artistas e cantores valorizarem as músicas, cd´s e as pessoas da

terra muito melhor do que nós cristãos.

Certa vez ao conhecer uma comunidade muito famosa e

querida até idolatrada por alguns, perguntei ao integrante dela se o

29

povo dali da cidade vivia ali nos eventos da comunidade e para

minha surpresa ele disse:

“O povo daqui não participa e o movimento religioso na

cidade é muito fraco”.

Aquela cidade não prestigiava o que muita gente em todo

lugar do país admirava e deseja visitar, estar presente. Os profetas

daquela comunidade são requisitados por todo o país e até

internacionalmente, mas ali na sua localidade o povo nem fazia

conta.

Já ouvi um responsável de uma comunidade dizer: “Na

minha comunidade só trago pregadores de fora, pois os daqui da

cidade não estão ao nível da minha comunidade”.

A verdade é que o profeta da casa ele não só prega em sua

cidade, mas convive e, portanto seu lado humano, seus defeitos,

suas limitações ficam bem mais fácil de serem observados.

Em um retiro em minha cidade veio um pregador de fora e o

tema sugerido foi “comunidade”. Num certo momento de sua

pregação ele que era muito querido disse com muita sabedoria:

“Vocês acham que eu sou bom porque venho de outro lugar para

falar coisas bonitas para vocês. Pois bem não se enganem,

venham morar comigo e conviver comigo para certificarem que não

sou metade do que imaginam que sou, venham descascar cebola

comigo na comunidade e procurem informação dos que convivem

comigo e verão que muitas falsas imagens cairão por terra”.

30

Admirei este pregador pela sua sinceridade e por permitir dentro do

tema daquele retiro sairmos com os pés no chão.

Passado um tempo este pregador que havia gostado de

nossa cidade transferiu para nossa diocese e como que se as

palavras dele parecia ser uma profecia exata do que aconteceria,

ele ficou apenas um determinado tempo conosco, pois seus

defeitos vieram à tona e ele foi novamente transferido. O anjo

quebrou as asas!!! Mas com certeza continuou sendo o que sempre

foi: um humano que tem direito de errar e por isso mesmo continua

pregando e falando de Deus.

O engraçado de tudo isto é que as pessoas que o

requisitaram não o chamaram mais, pura hipocrisia o que confirma

de certa forma a minha teoria que os profetas que vem de fora são

vistos como que anjos perfeitos vindos do céu como se não tivesse

nenhuma história concreta de erros e acertos em suas vidas.

Sejamos honestos quantos erros e pecados alguns grandes

personagens bíblicos cometeram e nem por isso deixaram de ser

grandes profetas de Deus.

Imaginou se a atitude do povo daquele tempo fosse igual às

atitudes nossa, será que Davi teria sido perdoado após o pecado

grave que cometeu com Urias (II Sm. 11,1ss)?

E às vezes achamos que somos melhores do que o povo da

bíblia; com certeza participaríamos da morte de Jesus.

31

As últimas frases do relato de Jesus em sua pátria pelo

evangelista Marcos chega a ser chocante.

Não pode fazer ali milagres algum... Quantas pessoas

deixaram de ser curadas e ficarem sem ouvir as palavras de

sabedoria de Jesus somente pelo fato de que o mesmo era da

própria terra. Jesus passou por ali e passou despercebido.

Assim acontece em sua cidade quando não acolhe um

profeta da casa ou duvida que Deus possa realizar cura por

intermédio de sua oração. Assim acontece uma pregação de

conversão que poderia ter mudado a história da sua comunidade e

não aconteceu porque você não acreditou e não viu no rosto deste

profeta a face, a pessoa de Jesus que ali esteve e que passou

despercebido também.

Tenho a certeza de que Jesus também hoje se admira

consternado da desconfiança daqueles que mal receberam um

profeta da terra, seja por ciúmes, seja por puro preciosismo, seja

por hipocrisia, seja por qualquer motivo contrário ao que Deus quer.

O profeta seja quem for é humano, tem dificuldades, possui

cruz, tem seus defeitos e por isso mesmo o torna mais admirado

porque apesar de tudo isto ele acredita na misericórdia de Deus e

põe-se a serviço.

Perdoe-me a ousadia de dizer isto que vou dizer, mas são

justamente os “medalhões” os que estão à frente da comunidade

que criam este tipo de preconceito e rejeição e não culpem o povo,

32

pois o povo simples tem um dom todo especial de receber os

profetas seja ele de onde for.

Olha este relato bíblico: “Mas os príncipes dos sacerdotes e

os anciãos persuadiram ao povo que pedisse a libertação de

Barrabás e fizesse morrer Jesus” (Mt. 27,20).

A verdade é que muitos de nós ainda nos parecemos

adolescente em relação à palavra proferida pela boca dos profetas.

Achamos que os profetas de outra comunidade, de outra cidade, de

outra paróquia, de outro estado são sempre melhores que os

profetas da casa. Os adolescentes muitas vezes costumam achar

que os pais do vizinho são melhores do que seus próprios pais.

Quero deixar claro aqui, que os profetas que vem de fora são

abençoados e devem ser acolhidos com muito respeito e amor.

O que denuncio aqui é o mau acolhimento que fazem aos

profetas da terra. Acredito firmemente que um povo abençoado é

aquele que ama seus profetas e o respeitam.

Como também vejo a importância de trazer profetas de “fora”

para que aja um enriquecimento na comunidade que o convidou,

com certeza este profeta trará para a comunidade experiências

novas e riquezas diferentes.

Mas é importante insistir: E se Deus resolveu mostrar seu

plano à sua comunidade e utilizar a boca do profeta da terra para

que seja anunciada a vontade de Deus? Sua comunidade ficaria ao

recusar este profeta, à mercê do desejo de Deus. Quantas pessoas

33

pagariam pela incredulidade e dureza do seu coração, eu pergunto

é justo?

O evangelista Marcos nos consola profundamente ao saber

que nem Jesus foi aceito em sua pátria.

Consola o relato do profeta Jonas que ao pregar para o povo

de Nínive conseguiu que eles convertessem, já que o povo da

pátria não o ouvia.

Consola que por mais rejeitado seja o profeta da casa suas

palavras nunca serão em vão, pois Deus através do tempo sempre

mostrou que seus profetas estavam certos e por isto ninguém cala

a voz de Deus.

Agradeço a Deus pelos profetas da minha terra e louvo por

todos os líderes e profetas aqui chamados para serem a voz de

Deus. Agradeço a todos aqueles que aqui vieram e trouxe em suas

experiências uma história de fé e amor pela palavra de Deus.

Outra rejeição que o profeta recebe é o da própria família,

que ao perseguir ou não aceitar a sua missão cobra do profeta um

perfeccionismo moral que chega a desanimar aquele que caminha

na comunidade.

A família é em muitos casos os que mais perseguem e são

obstáculos para a missão e fé do profeta. O demônio sabe muito

bem que o ponto fraco de todos nós é o amor que temos pelos

nossos entes queridos e quando os mesmos reclamam e acusa,

isto acaba arrasando até os mais acirrados profetas.

34

Quantas mulheres desejam ardentemente que seus esposos

e filhos participem da comunidade e façam parte da missão que

assumiram na Igreja. Enquanto isto muitas mulheres são

obstáculos aos seus maridos reclamando que os mesmos não

saem da Igreja e acabam até fazendo coro junto com os filhos;

pobres mulheres que abusam e ofendem o coração de Deus.

Feliz do homem que tem uma boa mulher... (Eclo. 26,1a).

Já fui muito perseguido na comunidade por causa de

mulheres ou maridos que tentam a todo custo justificar seus

problemas acusando o marido ou esposa por participarem da

Igreja. Deus é fiel e justo, pois derrama graças enormes nas

esposas e maridos que permitem que seus entes participem do

reino de Deus e eu sou testemunha disso em minha família.

É lógico que o profeta precisa discernir direito até que ponto

não está abandonando sua missão primeira: a família, e fazendo de

sua participação na Igreja uma missão sem discernimentos e

prudência e digo a respeito daqueles que também usa, a Igreja

como um tipo de fuga para não ter que ficar em casa.

Mas há e muitos casos maridos e esposas, filhos e filhas que

não conseguem enxergar a mão de Deus abençoando seu lar e sua

vida devido à fidelidade do profeta que ali se encontra e dedica sua

vida em primeiro lugar a Deus.

Um lar que serve a Deus e que é santuário da vida será

sempre um lar abençoado!!!

35

Não sei se serve de consolo o que vou falar agora, mas

acredito muito nisso e tenho como verdade de fé em minha vida:

Você é a porta de entrada da sua casa para que Deus possa entrar

e transformar sua família, portanto não deve nunca desistir. Eu

acredito que há uma esperança de conversão em seu lar e esta

esperança é Jesus, e você é o canal pelo qual Deus escolheu para

entrar em sua família e fazer que a esperança se concretize e

realize. Acredite você é o escolhido (a) de Deus, o profeta que deve

sofrer, se for necessário, perseguições para que a graça aconteça

em sua casa.

Querido (a) leitor (a) até quando você vai caminhar com suas

forças acreditando que seus filhos são propriedades vossa. Que

sua casa foi fruto de seus esforços e que só depende de você para

que tudo continue em pé? Até quando você vai enganar você

mesmo achando que tem fé e continua colocando sua família e

seus negócios à frente de Deus? Até quando você vai dizer que

não tem tempo para Deus?

PARE DE SE ENGANAR E ENTREGUE DE UMA VEZ POR

TODAS A SUA FAMÍLIA, SEUS BENS E TEMPO A DEUS,

URGENTE, ANTES QUE DEUS PASSE DESPERCEBIDO EM SUA

VIDA, E, VOCE DESCUBRA QUE ATÉ AGORA APENAS

BRINCOU DE FÉ.

36

Não confie demasiadamente que seu status de hoje possa

sustentar você até a vida eterna, pois as coisas de Deus não se

medem com valores materiais, mas espirituais.

Sei que não sou nenhum grande profeta e que estou muito

distante da santidade, mas já experimentei o quanto Deus é fiel

com aqueles que acreditam.

Já perdi chances de ser promovido nos lugares onde

trabalhei só pelo motivo de não priorizar meu trabalho em relação à

missão que recebi de Deus.

Sei que muitas pessoas após casarem ou lutarem para ter

uma vida mais cômoda acabam se afastando de Deus para através

de um trabalho escravo conseguir mais dinheiro e conquistar

posições e coisas na vida. Tudo isto leguei o segundo plano em

minha vida por amor a Deus e Ele foi fiel. Recebi das mãos de

Deus uma família maravilhosa e o necessário (às vezes até mais)

para viver.

Só tenho que agradecer a Deus, pois confesso que houve

momentos que pensei que estava no caminho errado e tive vontade

de me vender aos objetivos materiais da vida, se consegui até

agora é porque Deus me proporcionou por pura gratuidade já que

acredito não merecer tantas graças assim.

Aceitar colocar as coisas do reino em primeiro lugar é aceitar

viver do necessário.

37

Não é justamente este “capitalismo selvagem” que tem

afastado tantos homens e mulheres da Igreja? É uma aberração e

um absurdo o que muitas empresas fazem com o cidadão que quer

ter um pouco de dignidade na vida, são horários malucos que

afastam as pessoas de Deus, da família e do bem estar. Às vezes

pergunto aonde queremos chegar até que ponto tudo isso é

progresso?

Costumo dizer em minhas pregações que fico pouco em

casa por causa de minha missão, mas que Deus proporciona tempo

para eu ficar em casa, quando fico em casa eu realmente estou

presente. Procuro ficar o tempo todo brincando com minhas filhas

(tenho duas pequeninas) e dou atenção à minha esposa.

Há muitos pais que mesmo estando fisicamente em casa

permanecem distantes da família.

Na minha caminhada na Comunidade já ouvi muitos

péssimos conselhos e até maldição, o interessante é que sempre

parte dos(as) irmãos (ãs) da caminhada.

Nasci na Igreja, pois meus pais foram muito católicos, então

quando criança, os adultos diziam que na juventude eu não seria

tão perseverante na comunidade.

Chegou à juventude e eu me dediquei ainda mais a Deus.

Então vieram os casais e disseram que quando eu casasse e

tivesse filhos pequenos eu abandonaria a Igreja. Eu e minha

esposa sempre servimos a Deus e de forma intensa.

38

Falaram que eu priorizaria meu trabalho em função de

adquirir meus patrimônios. Priorizei Deus e Ele como meu maior

patrimônio me deu o necessário e até mais do que merecia.

Quando adquiri uma padaria me disseram que eu não

agüentaria viver na Igreja e conciliar as duas coisas. Realmente

não foi fácil, mas nesse tempo que eu tinha a padaria eu ia todos

os dias na Igreja a serviço do reino de Deus.

Agora ouço que quando meus filhos forem adolescentes, eu

e minha esposa, teremos dificuldades para caminhar na Igreja...

Às vezes penso que os homens gostam de prever o futuro

das pessoas baseando-se na falta de fé que possuem. Alguns nos

dizem que quando esse dia chegar que fazem questão de me

cobrar e lembrar a mim e minha esposa que nos avisaram.

As profecias anteriores não aconteceram e se as posteriores

ocorrerem terei uma enorme oportunidade de provar minha fé e

meu amor por Deus.

Vejo muitas pessoas dizendo que não tem tempo para ir à

igreja, para rezar, para dar atenção aos filhos, para dar atenção a si

mesmo, para divertir-se.

Ouvi de um profeta que tempo é uma questão de

preferência, acredito, portanto, que estamos colhendo o que

priorizamos em nossas vidas; será que Deus é a sua preferência?

Não vejo, por exemplo, uma esposa cobrar do marido que

ele tem trabalhado muito, e por isso teria que abandonar o serviço.

39

Mas existem muitas pessoas da família que cobra o pouco

que o profeta oferece a Deus. O mais trágico de tudo isso é que

Deus é o autor da vida.

Senhor Jesus faça que possamos encontrar de maneira

sábia o equilíbrio em nossa caminhada de fé.

40

PROFETAS DESCONHECIDOS

O que me inspirou escrever este capítulo foi justamente um

dia em que peguei minha escritura para ler e deparei com um relato

bíblico cujo título escolhido pela editora é “Morte do profeta

desconhecido” (I Rs 13, 1-32).

Então me inspirou naquele momento fazer justiça a todos os

profetas desconhecidos de nossas comunidades que passaram

despercebidos por serem humildes e principalmente por terem

colocado cem por cento em prática aquilo que Jesus pediu:

“Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos

homens, para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis

recompensa junto de vosso Pai que está no céu” (Mt. 6,1).

Fui certa vez pregar em um encontro em minha cidade e ouvi

dizer que algumas pessoas não iriam, pois não conheciam a

Comunidade.

Há pessoas idólatras que só vão a eventos por causa dos

pregadores. Então na minha pregação eu a abri com esta frase:

“Disseram que somos desconhecidos, que bom! Quando o profeta

é desconhecido quem aparece é Jesus de Nazaré”.

A grande verdade e tão dura de ser encarada é que a

primeira reação que temos quando queremos pregar em nome de

Deus é o fato de que estaremos expondo nossa pessoa e, portanto

a partir daí estaremos sendo reconhecidos por muitos e quem tem

41

o “dom” da palavra sabe o quanto é respeitado e admirado em

mesma proporção a que é cobrado e perseguido.

Portanto, falar em público é de certa forma uma imensa

tentação de querer reconhecimento. Fato este que muitos os que

não tem o dom da palavra acabam ambicionando este lugar de

profeta e acabam caindo em profunda desilusão ou então colabora

para esfriar os fiéis ouvintes que ao ver diante de si um irmão que

não tem o dom para falar acabam se afastando da comunidade.

Mas aqui neste capítulo especial quero falar de todos os

profetas de Deus que tem uma missão de levar o reino de Deus às

pessoas distantes seja através da palavra ou gestos de

acolhimento e amor.

Quando cheguei pela primeira vez na paróquia onde

caminhei vinte anos, encontrei ali algumas profetizas que foram

essenciais para minha caminhada.

Eram senhoras muito sofridas que tinham e tem uma

simpatia impressionante e um amor grande por todos os que

chegam à comunidade. Elas me receberam de braços abertos e

com uma tremenda paciência, como vou explicar:

Recebi a missão de dirigir o Círculo Bíblico em uma das ruas

do bairro, por coincidência (providência divina) estas mulheres (que

eram vizinhas uma das outras) ali moravam. Eu tinha apenas

dezesseis anos, com muita boa vontade e pouca bagagem,

comecei a dirigir o Círculo Bíblico. Aquelas mulheres me ouviam

42

com um sorriso nos lábios e um acolhimento que me foram

decisivos para meu crescimento espiritual.

Imagino que com dezesseis anos deveria falar muitas

bobagens ou então muitas coisas que àquelas mulheres na sua

maturidade e vivência por serem simples e sofridas já sabiam de

cor e salteado. Mas mesmo assim mostraram um interesse

medonho e não faltavam a nenhuma reunião, acabaram

incentivando nós jovens, pois éramos três, a ponto de

perseverarmos lá e ter a certeza de que Deus nos queria lá e tinha

uma missão a realizar tanto é que, fiquei naquela comunidade vinte

anos e que só mudei quando conquistei minha casa tive que mudar

de paróquia.

Dos dois outros jovens um hoje é sacerdote o outro um líder

da RCC.

Há muitos profetas que chegam em nossas comunidades,

que não o conhecemos e há muitos profetas que são da nossa

comunidade que não valorizamos e que são peças fundamentais

no plano e projeto de Deus.

Aquelas mulheres na comunidade acabavam passando

despercebidas, pois não sobem no púlpito para falar em público,

mas fazem a pregação do acolhimento de forma prática e eficiente.

Quantas pessoas trabalham em nossas comunidades, gente

que faz os serviços que ninguém quer fazer e que são

fundamentais para sustentar a vida da comunidade.

43

Carregam cadeiras, limpam o chão, acolhem pessoas,

intercede, etc, sem serem percebidas. Pessoas que provam que

não precisam aparecer e que não querem fama, mas servir. São

verdadeiros carregadores de piano e levam o piano para que os

outros toquem e acabam sendo ovacionados pelo público, já que o

público se encanta com os tocadores de piano e nunca com os

carregadores de piano.

Se você quiser encontrar injustiça em uma comunidade é

justamente com estes profetas desconhecidos que ocorrem as

injustiças maiores da comunidade.

No movimento que participo existe um ministério só destas

pessoas, mas acredite se quiser, é a único que não se oficializou.

Não sei se é porque de repente não precise de nomenclaturas para

funcionar e acaba funcionando naturalmente já que estes profetas

possuem um dom que nenhuma das outras pessoas aperfeiçoou

que é o de servir sem ser notado.

Quando Jesus estava perto da crucificação Ele foi e lavou os

pés de cada discípulo ensinando-os a serem servos dos outros. Há

muitos profetas pregadores e coordenadores que gostam de lavar

os pés do outros em dinâmica de pregação para mostrar sua

humildade.

Sugeria a estes profetas que se envolvam nos trabalhos

afetivos da comunidade carregando cadeiras, limpando e

preparando os lugares onde ocorrerão os eventos e digo com toda

44

a certeza, sua pregação terá uma unção muito maior do que

simplesmente a encenação de lavar os pés dos outros em palestras

e pregações. Se existe alguém que coloca a palavra do lava pés

em prática, estes são justamente os que estão a serviços da

comunidade e que passam despercebidos na mesma.

Mas é bom lembrar por uma questão de fé e justiça que

passam despercebidos pelos homens, mas nunca para Deus,

vejamos alguns relatos bíblicos que considero de um amor imenso

de Deus por estes profetas “carregadores de piano”.

“Josué quando tomou a cidade de Jericó poupou a vida da

prostituta Raab por ela ter acolhido os espiões de Israel e os

escondidos quando entraram na cidade para espionar (Js. 2,1;

6,17; e 18,22-24)”.

“Abraão ao acolher três homens não sabia, mas estava

acolhendo três anjos e por isto acabou sendo abençoado ainda

mais (Gn. 18,1ss)”.

“A passagem de Sunamita que acolhe Eliseu em sua casa é

uma das histórias mais lindas da bíblia sobre o acolhimento e como

Deus foi fiel e propício a ela por esta atitude e a ponto dela ter em

seus braços um filho tão desejado e que por ser estéril não poderia

conceber uma criança. Mas Deus foi muito além, pois este mesmo

filho teve fortes dores de cabeça e morreu, a mulher procurou o

profeta e este orou pelo menino que o ressuscitou da morte (II Rs.

4,1ss)”.

45

“Tobias era por natureza um excelente acolhedor e como

Deus lhe foi propício protegendo seu filho enviando um anjo para

ser seu guia na viagem (Tb. 5,1ss)”.

“Maria ao ouvir a notícia de que sua prima Isabel estava

grávida ela levantou-se e foi logo servir sua prima (Lc. 1,39s)”.

“A história da mulher que entra na casa de Simão e beija os

pés de Jesus e o acolhe quando ninguém ali o havia acolhido, é

maravilhosa (Lc. 7,36ss)”.

“Se não fosse Marta como Maria estaria aos pés de Jesus

(Lc. 10,38-42)”.

“Discípulos de Emaús ao acolher o “forasteiro” tiveram um

encontro com Jesus Eucarístico (Lc. 24, 13-33)”.

Existem muitos outros relatos bíblicos a respeito de

acolhimento e que não estão citados aqui.

O acolhimento acaba sendo a melhor pregação que alguém

poderia ouvir, pois acredito que as palavras acabam passando, mas

uma atitude de amor permanece. Acolher é amar, e, portanto só

acolhe aquele que muito ama.

Quando pregamos falamos a muitas pessoas como que

estivéssemos globalizando nossos ouvintes. Quando acolhemos

através de um abraço, um sorriso, um aperto de mão o acolhedor

está na verdade valorizando aquela pessoa como indivíduo único e

por isso mesmo o faz sentir-se que é alguém.

46

Fui a uma comunidade fazer uma pregação, tive que ir direto

do trabalho. Ninguém me recebeu no primeiro momento a ponto de

ficar meio perdido quando ali cheguei, foi quando quase na hora de

pregar aproximou-se de mim a coordenadora da comunidade e

disse o seguinte:

- “Olha, você tem quarenta e cinco minutos para falar”.

No final da pregação todos ficaram em pé aplaudindo as

bênçãos de Deus naquela noite. Falei do Espírito Santo, insistindo

em como era importante à pessoa do Espírito Santo para a

comunidade.

Logo que terminei a coordenadora foi até lá em cima (eu não

a conhecia até o momento dela chegar junto a mim e falar do tempo

da pregação) e disse o seguinte:

- “O que nós ouvimos foi só um “leitinho”, mas quero

convidá-los para um retiro com o pregador fulano que vai nos trazer

comida sólida, participem, façam suas fichas”.

Eu havia levado só o “leitinho”, isto porque havia falado do

Espírito Santo de Deus, imagine se eu tivesse falado da vida de

algum profeta de Deus, o que seria? Um caldinho!

Alguns dias depois eu fui a uma cidade de um povo simples

que me acolheram na entrada e saída com um dom maravilhoso de

acolhimento que me deixou profundamente feliz. A comunidade ao

saber que iria um pregador de fora as tantas da noite levaram

pratos com doces e salgados para nos acolher após a pregação.

47

Então entendi ainda mais, com certeza a comida sólida

quem faz não é o pregador que vem de fora, mas a comunidade

que o convida.

Quero aqui fazer justiça ao dizer que as pessoas que

acolhem realmente fazem deste ato um ato de amor, mas nem

sempre é assim...

Quantas vezes a comunidade recebe com distinção os

pregadores, fazendo diferenças entre estes ou aqueles.

Em uma semana de pregação, os pregadores pregaram com

a garganta seca, ou seja, sem terem água para beber durante a

pregação e quando veio um determinado pregador de fora, as

mulheres se alvoroçaram para acolhê-lo, inclusive competiam para

ver quem levaria água para ele. É engraçado, mas relata com

clareza que o acolhimento pode também ser fruto de escândalo e

injustiça na comunidade.

Fomos uma vez pregar em uma cidade distante, chegando lá

ficamos até a noite no evento. Depois que o evento terminou

partimos para uma casa e lá fomos dormir. Tudo isso seria normal

se não fosse um pequeno detalhe: viajamos muitas horas e à noite

fomos dormir sem nenhuma refeição. No outro dia um dos nossos

disse humildemente: “precisamos nos alimentar”.

“Quem vos recebe, a mim recebe. E quem me recebe,

recebe Aquele que me enviou. Aquele que recebe um profeta na

qualidade de profeta ,receberá uma recompensa de justo”.

48

“Todo aquele que der ainda que seja somente um copo de

água fresca a um destes pequeninos, porque é meu discípulo, em

verdade eu vos digo, não perderá sua recompensa (Lc. 10,40-42)”.

O que me consola é que das muitas experiências que passei

na minha vida como pregador é que na maioria das vezes foram

experiências de ter sido bem acolhido, inclusive quando fiz

pregações de conversão e denúncia.

Mas houve outras tantas histórias de péssimo acolhimento,

mas que tão importante quanto a anterior, pois se for para ser

profeta para agradar a todos e não sofrer represálias, por causa da

palavra; acredito que não valeria a pena, pois estaria duvidando até

que ponto realmente estou sendo profeta.

Louvado seja Deus por todos aqueles que não nos acolhem;

que não nos dão um copo de água, que fazem de nossas

pregações acepções diferentes em relação a outros pregadores,

que nos julgam pela aparência, que nos julgam pelo estudo que

temos; que nos criticam por se acharem melhores, que levantam

falsos testemunhos a nosso respeito porque ouviram o que não

queriam, pois graças a estes é que a palavra de Deus nos coloca

como Bem Aventurados apesar de sermos tão pequeninos profetas

de Deus.

“Bem aventurado sereis quando vos caluniarem, quando vos

perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por

causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa

49

recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que

vieram antes de vós (Mt. 5,11-12)”.

50

PROFETA ACOLHEDOR

Certa vez um doutor da lei se aproximou de Jesus e lhe fez a

seguinte pergunta:

“Senhor qual é o maior mandamento da lei de Deus?”.

Jesus respondeu:

“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a

tua alma e de todo o teu espírito (Dt. 6,5). Este é o maior e o

primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este é: Amarás

o teu próximo como a ti mesmo (Lv. 19,18). Nesse dois

mandamentos se resumem toda a lei e os profetas (Mt. 22,34-40)”.

Jesus ao responder a esta pergunta que na verdade era

mais uma das armadilhas dos líderes daquela época para poder

colocar Jesus em situação incômoda deixa bem claro para nós, os

profetas, qual o caminho que devemos tomar em nossas

pregações.

É possível pregar com autoridade e denúncia e fazer isso por

amor. Nós, pregadores e profetas, devemos nos preocupar em

primeiro lugar em dosar nossas pregações e ações com o dom do

amor. Mesmo quando prego repreendendo devo fazer por amor.

Quando Deus nos escolheu profetas (sou o menor de todos),

devemos ter claro que este chamado é fruto do imenso amor de

Deus por nós.

51

Profetizar deveria, portanto ser para nós uma atitude de

amor profundo, pura doação e despojamento até mesmo do próprio

carisma herdado de Deus. Se, falo ou prego com determinação, se

tenho este dom foi porque Deus me deu e não por merecimento

próprio.

Portanto não devo aceitar nenhum privilégio por causa do

dom que recebi de Deus e nem me sentir no direito de tudo posso

pela posição que ocupo de profeta de Deus na comunidade.

É justamente neste ponto que quero falar a respeito deste

assunto referente a este capítulo: O profeta acolhedor.

Jesus disse àquele doutor da lei que o segundo

mandamento tão importante quanto o primeiro é amar o próximo

como a ti mesmo.

Pois bem se o profeta quer ser recebido bem por aqueles

que o acolhem deve ele antes de tudo acolher bem também.

O respeito, a autoridade, a admiração, o reconhecimento do

profeta não se adquire pela imposição, mas pela conquista.

O profeta deve ser o primeiro a acolher, deve ser servo de

todos, àquele que está ali para servir e não ser servido.

Ao convidarem um pregador de uma comunidade famosa,

este viria através de uma viagem de avião, quando os requisitantes

conversavam com o pregador, este fez uma exigência: só viria a

esta pregação se fosse através de determinada empresa de avião.

Pergunto, quem esta servindo a quem neste caso?

52

Precisamos ter muito cuidado com o orgulho, pois o fato de

sermos um profeta de Deus não significa que podemos deixar de

amar.

Acredito que justamente o fato de ser um doutor da lei que

fez com que aquele indivíduo se aproximasse de Jesus e achar que

tinha o direito de colocá-lo a prova. Pobre coitado recebeu a

resposta de prontidão: Ame!!!!

Às vezes penso que nós profetas, aqueles que estão à frente

de uma comunidade são os que menos acolhem.

Alguns se comportam como se fossem artistas a ponto de

fazer exigências que não são compatíveis com a realidade da

comunidade que o recebe.

O pior de tudo que até são truncados e mal humorados e

acabam ignorando o público ali presente.

Não digo que devemos ser o que não somos, mas também

não devemos fazer certas exigências que nada tem a ver com o

que realmente o somos e quem nós representamos: Jesus de

Nazaré.

Outras exigências descabíveis, são em relação a números

de ouvintes; tipo de evento, cobrança da pregação, qualidade dos

ouvintes, qualidade dos equipamentos, condição econômica da

comunidade, etc.

53

Quando falamos de marketing, propaganda, equipamento

sofisticado; acabamos esquecendo de um detalhe importante:

Jesus de Nazaré.

Estas exigências eu chamaria de escândalo da pregação e

aberração dos profetas que esqueceram de um detalhe importante:

Jesus de Nazaré.

Quando falo de Jesus de Nazaré quero lembrar que Ele foi

um menino que nasceu na manjedoura simples e pobre. Quero

lembrar que não usava microfone e nem parafernálias, quero

lembrar que não cobrava pelas suas pregações, quero lembrar que

falava aos simples e astutos, aos pobres e ricos sem distinção e

sem medo, quero lembrar que não fazia conchavos políticos que

desmerecesse o Santo que é.

Quero lembrar que com sua simplicidade e com seu amor

acolhia os desprezados da comunidade, quero lembrar que não

andava de avião, mas a pé, quero lembrar que não fazia caso das

tecnologias, por isso usou como marketing o amor às pessoas,

quero lembrar que você pregador deve ser a pessoa de Jesus, pois

como profeta de Deus fala em nome de Deus, portanto é chamado

a ser parecido com Deus.

Participei de um congresso não como pregador, mas como

participante. Este congresso reuniria todas as equipes de trabalhos

do movimento a que se referia.

54

A palavra chavão do congresso era “voltar ao primeiro amor”,

uma referência às pessoas que ali estavam para que voltasse como

era no início da caminhada a àquele amor ardente e fervoroso que

tínhamos quando começamos nossa caminhada.

Logo que cheguei ali, havia um rapaz vindo do Rio de

Janeiro que estava à nossa frente e que seu nome não constava no

controle do “simpático” senhor da recepção.

O senhor lhe foi logo dizendo que o nome do rapaz ali não

se encontrava e que por isso mesmo ele não poderia fazer nada

para o rapaz.

O rapaz insistiu que tinha dado o nome com uma paciência e

educação maravilhosa que cheguei a pensar: “Este rapaz deveria

ser o recepcionista do congresso”. Mas o senhor pediu que o rapaz

tentasse resolver a situação (brincadeira!!!!) como que se o

problema fosse do rapaz e não da organização do evento.

Tentamos ajudar, eu e o irmão que havíamos ido juntos,

dizendo ao senhor para ligar para o escritório e falar com as

pessoas cabíveis ao assunto. O senhor nos respondeu:

“Vocês não estão me entendendo; não existe ninguém no

escritório agora e não posso fazer nada”.

O que mais admirei daquele senhor é que dizia tudo aquilo

com um sorriso estampado nos lábios e com uma frieza de coração

medonha.

55

Bom o rapaz ficou ali em pé esperando e as pessoas da fila

foram passando à sua frente.

Com muito custo se comprovou que o rapaz estava com a

razão. Afinal de conta ele não veio do Rio de Janeiro para enganar

os responsáveis por aquele evento.

Mas aqui quero retomar ao tema chavão do congresso que é

à volta ao primeiro amor. É uma pena que este tema seja

trabalhado tão pessimamente pelos responsáveis já que não passa

de um saudosismo ilusório que não tem nada de concreto a não ser

lembrar que antes quando o movimento não era reconhecido e

éramos perseguidos jamais deixaríamos alguém esperando em pé

por causa de alguns tostões a menos.

A cada indivíduo que chegasse aos nossos encontros era

para nós uma conquista, pois a resistência ao movimento era

medonha e as pessoas tinham receio de participar conosco.

A recepção daquele congresso pecava em muitos outros

fatores básicos para valorizar o indivíduo; já que fomos um

movimento acolhedor e deixamos que a tecnologia a preocupação

pelo lucro nos afastasse do mais importante: a pessoa humana.

Durante o congresso, o calor era medonho, nós tínhamos

que comprar água se quiséssemos matar nossa sede. Ficávamos

um bom tempo na fila para comprar uma garrafinha de 500 ml de

água. Só o que acontecia é que a fila demorava e o coordenador

daquele evento e responsável pelo movimento ficava com o

56

microfone nas mãos insistindo que voltássemos para frente para

poder dar continuidade ao evento. Chegou uma hora que ele

mandou que todos os que estavam lá na frente voltassem para trás

e gritassem juntos para que todos os que estavam na fila da

bendita água que viessem para seus lugares.

Imagine você com uma baita sede e ter que deixar seu lugar

na fila para voltar ao respectivo lugar e só poder tomar a bendita

água duas horas depois, isso é claro se você conseguisse sair do

seu lugar e pegar os primeiros lugares da fila.

O interessante daquele congresso é que um dia desisti de

tomar água (tenho problemas renais e preciso tomar água direto) e

encontrei a caminho do hotel um ambulante com uma baita caixa

de isopor no meio da rua vendendo a bendita água que desejei

tomar. Aquele senhor, debaixo de um sol de castigar, vivia e

sustentava sua família com aquele trabalho.

Perguntei o preço da água e ele me deu a resposta o que

certifiquei que o preço que ele cobrava da água para sustentar sua

família era metade do preço cobrado pelos responsáveis do

congresso.

Bendita água que tomei aquele dia, pois valeu o sustento do

senhor e me permitiu fazer uso daquilo que é uma das coisas mais

importante na vida da gente: á água.

No hotel que me hospedei enquanto me banhava lembrei-me

do tema chavão do congresso: “O primeiro amor”!!!

57

Então comecei a ser saudosista das coisas simples e belas

dos encontros daquela época. Naquela época os retiros eram

baratos, a água ficava disponível o tempo todo e comíamos muitas

vezes na mesa onde se repartia tudo que trazíamos e ali

colocávamos. Todos eram iguais, os responsáveis pelo evento

eram todos, e todos sentávamos a mesa, havia cafezinho a

disposição de todos.

A verdade é que em nossas comunidades ainda existem tais

ações. Ao invés de cantarmos músicas antigas para trazer em

nossos corações o saudosismo também mexêssemos em nossas

estruturas injustas e nossas recepções sufocantes e

desnecessárias. Que tal ao invés de pensarmos no lucro de nossos

encontros nos preocuparmos com a felicidade dos que virão

participar do evento.

Ao invés de pensarmos no marketing frio, cheio de imagens

e aparências externas nos preocupássemos com a vida dos

participantes e do conteúdo de nossas ações.

Ali naquele congresso havia muitos profetas que sofriam em

nome daquele movimento em suas regiões e por isso mesmo

importantes no processo de manutenção do movimento.

Muitas pessoas não puderam ir ao encontro, pois o custo

alto destes eventos acaba colocando muita gente as margens da

comunidade.

58

Já vi esta história antes e presenciei que quando um

movimento cresce e não se mantém na espiritualidade de suas

ações primeiras ele está fadado ao extermínio.

Amar ao próximo como a ti mesmo.

Um coordenador e sua equipe de evento devem ser os

primeiros a sofrerem e a testar o fruto de sua coordenação para

poder saber se aquela atitude não está prejudicando a quem vem

ao encontro.

Deve pegar a fila igual a todos, pagarem à mesma quantia

de todos, não deve ter privilégios no hotel das cidades, pois o

dinheiro economizado deveria ser de todos, deve ser ele o último

dos últimos, o servo dos servos.

Se nossos políticos assim o fossem tenho certeza absoluta

que muitas injustiças cairiam por terra.

Se nós os criticamos veemente por isso, deveríamos nós

não imitar suas ações.

Nós profetas devemos ser sinal de contradição a esta

sociedade injusta e profundamente mesquinha em que vivemos.

Onde olhamos nossos umbigos e esquecemos de “Amar o próximo

como a ti mesmo”.

O que me consola é que tudo o que fazemos vem à luz e

quem semeia vento colhe tempestade. Deus nos permite que

nossas injustiças sejam corrigidas e que assim possamos nos

purificar de nossos erros.

59

Se há uma coisa que me impressiona muito é quando vejo

pessoas fazendo discursos lindos a favor do povo, porém de um

cunho demagógico impressionante.

Precisamos ter muito cuidado com nossas profecias e nossa

missão de profeta. Pode acontecer que conosco esteja uma história

muito bonita de dedicação àquela comunidade, uma voz

aperfeiçoada e maravilhosa, um discurso de tirar lágrimas de

nossos ouvintes, um dom maravilhoso de convencer as pessoas

pelo poder da palavra, até um estilo todo humilde de se comportar e

agir sabendo que vai agradar; tudo isto pode estar nos

acompanhando, mas o principal se foi há muito tempo: O Profeta

Jesus de Nazaré.

Por isso vejo alguns trechos da bíblia que podem nos ajudar

a sermos eternamente o rosto, a voz e a pessoa de Jesus de

Nazaré.

Falamos de seu nascimento em Lc. 2,22-40

Falamos de sua compaixão pelo povo que o ouvia em

Mc. 6,35-38

Falamos de sua paciência e amor pelas crianças, quando

profetas irritam-se durante suas pregações com o barulho

das crianças Mc. 19,13-15

Falamos do seu amor pelos doentes e por aqueles que

precisavam ser libertados em Mc.1,21-39

Falamos do seu amor pelos pecadores em Mt. 9,10-15

60

Falamos do seu amor pela oração em Lc.5,12

Falamos do seu amor aos excluídos de sua época em

Mc. 1,40-45

Falamos do seu amor pelos bem aventurados em Mt. 5,1-

12

Falamos do seu amor pelo templo em Jo 2,13-25

Falamos do seu amor pelas ovelhas em Jo 10,1ss

Falamos do seu amor pelos discípulos em Jo 13,1ss

Falamos do seu amor por você em Jo 15,12-17

Falamos do seu amor pelo Pai em Jo 17,1-5

Falamos do seu amor pela Igreja em Jo 17,20-26

Falamos do seu amor por todos nós em Jo, 19,1ss

Falamos do seu amor pela mãe em Jo 19,26-27

Falamos do seu amor por Pedro e os seus discípulos em

Jo 21,15ss

Falamos sem cansar e por todo o sempre o quanto Jesus de

Nazaré é Amor.

Profeta volte a ser de Deus, não deixe que o tempo as

conquistas alcançadas, os desafios vencidos, os elogios recebidos,

os privilégios, as críticas que ouviu, afastar você do mais puro

sentimento que é ser como Jesus de Nazaré.

Chega de saudosismo!!!! Vamos viver o amor hoje!!!!

61

EXISTE UM PROFETA EM SUA COMUNIDADE...

Este capítulo cujo título é o da capa, para assim poder quem

sabe fazer justiça a todos os profetas que não foram recebidos em

sua comunidade.

Existe algo muito impressionante em nossas comunidades

que é o desejo ardente de receber um profeta de Deus em nossa

comunidade.

É comum imaginarmos se nós tivéssemos a honra de

conhecer os grandes personagens da bíblia e até imaginarmos ele

caminhando conosco em nossas comunidades.

É comum desejarmos fazer parte desta ou daquela

comunidade que existe no nosso ponto de vista ali um profeta

magnífico.

É comum falarmos de alguns profetas reconhecidos e

famosos e desejarmos conhecê-los e até fazer parte de suas vidas

missionárias.

Porém faço uma pergunta desafiadora a você caro (a) leitor

(a) deste mísero livro:

- Será que você o aceitaria???

Quantas vezes você ouviu falar de um profeta que você

gostava muito e de repente ouviu falar mal destes profetas e você o

descorçoou este mesmo profeta.

62

Você que às vezes falava e admirava tanto aquele profeta e

porque descobriu de repente um defeito nele e bastou que o

odiasse com a mesma intensidade que o admirava.

Pois bem digo a você que Deus esteve em sua comunidade

e você não o aceitou.

Vou mais longe: Deus esteve em sua comunidade e você o

rejeitou e até o crucificou.

E permita ir mais alem em minha denúncia: você o matou.

Sim você assassinou o Jesus em sua comunidade pela língua e o

envenenou com o vinagre da acusação, ciúme, inveja e rejeição.

Todos desejam a pessoa de um profeta em sua comunidade

desde que ele não traga denúncias e só traga as curas e graças

que vem realizando por onde passa.

Tenho uma experiência que passei no Grupo de Oração que

participei há vinte anos, onde eu era muito querido, pois era muito

acolhedor e sofria por aquela comunidade.

Passei noites sem dormir preocupado pela comunidade,

chorei muitas vezes a Deus pedindo misericórdia à comunidade,

sofri muitas perseguições por defendê-la das injustiças que sofria.

Desejei ardentemente que jamais fizesse nada à

comunidade se não fosse por amor a ela.

Por isso era amado pela comunidade que via em mim um

homem de Deus e a maioria me tratava muito bem.

63

Mas um dia bem próximo a minha saída da comunidade fui

escolhido a ser coordenador por dois anos à frente dela

novamente.

Como de costume coloquei-me de joelhos perante Deus e

lhe fiz a seguinte pergunta:

- Deus que queres que eu faça???

A resposta veio através da palavra e posteriormente

confirmada por diversas vezes nas orações das pessoas também.

Até uma irmã evangélica veio à minha casa para trazer a mesma

palavra, pois dissera ela que teve um sonho e que Deus a mandava

levar esta palavra a mim.

A palavra de Deus era do profeta Ezequiel 33,1-20.

A palavra era de conversão, e Deus deixou claro que se não

denunciasse, eu e minha família, seríamos culpados pelos pecados

da comunidade.

Realmente a comunidade por ser antiga estava deixando as

coisas de Deus de lado e fazendo da comunidade um lugar de

prestígio, posições, havia líderes que não eram fiéis à missa, as

reuniões da comunidade e etc.

Comecei então a pregar a conversão e a importância de

todos nós (inclusive eu) voltarmos a caminhar pelo Espírito de Deus

e não pelo espírito humano da divisão, da competição, do desleixo,

etc.

64

Conclusão: em pouco tempo deixei de ser admirado e

respeitado e minha história de amor e dedicação à comunidade fora

esquecida rapidamente.

Foram dois anos de martírio e de cansativas pregações de

conversão.

Alguns ouviram e mudaram suas atitudes, pediram perdão a

Deus e ao profeta que Ele enviara.

A comunidade melhorou, mas não suficiente para responder

totalmente ao que Deus pedira.

Paguei um preço muito caro por esta obediência a Deus,

mas em tudo fui protegido e abençoado.

Chegou meu tempo e após vinte anos de amor por aquela

comunidade tive que mudar de bairro e sai no silêncio absoluto a

não ser dois abraços bem apertados das duas senhoras que me

acolheram há vinte anos atrás naquele grupo.

Entendi então que nada somos e que realmente somos

servos inúteis, e que preferia sair deste jeito a sair ovacionado por

todos e desobediente a Deus.

O golpe não foi fácil, pois amei muito esta comunidade a

ponto de viver em função dela, cheguei às vezes colocá-la acima

de Deus e entendi que Deus me pedia muito para amá-lo acima da

própria comunidade.

65

A verdade é que muitos profetas têm medo de perder seu

lugar e acabam falando as coisas para agradar o ouvinte e não com

o intuito de obedecer a Deus.

Mas Deus prepara o coração do profeta, pois Ele próprio no

início de meu mandato quando me pediu para denunciar havia me

alertado em uma missa que participei.

Antes de começar a missa estava orando e Deus me disse

que deveria amá-lo acima de qualquer coisa e que não me

frustrasse com os homens.

“Maldito o homem que confia em outro em homem” Jr. 17,5a

O interessante que a palavra do evangelho daquele dia era a

pergunta que Deus fizera a Pedro:

“Simão, filho de João, amas-me mais do que estes???” Jô

15ss

Aprendi no silêncio da comunidade que Deus me pediu para

amá-lo acima de qualquer coisa.

Amar a Deus acima de qualquer coisa é sentir-se livre para

ser profeta verdadeiro e aceitar que tudo é de Deus e que nada

temos.

Hoje quantos profetas foram deixados de lado pela

comunidade, quantos profetas que eram tão respeitados, mas por

causa da língua maléfica foram jogados e ignorados pela

comunidade a qual deram a vida???

66

Quantos profetas que eram líderes conhecidos e que por

causa de um falso testemunho ou porque erraram como todo ser

humano erra e os açoitaram, crucificaram, mataram-no

simplesmente por inveja, por falso moralismo e por uma medonha

incapacidade de amar quem sempre amou a comunidade.

Precisamos amar urgentemente os profetas da comunidade,

às vezes por estarem à frente de grandes decisões acabam seus

erros aparecendo maior que os nossos.

Aí daqueles que falam mal de um profeta, pode ser o líder

mais importante da comunidade, mas se o fez por pura inveja ou

maldade a fim de ter o “poder” em suas mãos saiba que cedo ou

mais tarde Deus agirá.

Muitos de nós na verdade não queremos profetas

verdadeiros em nossa comunidade, queremos fantoches com cara

de bem que faça, e falam tudo o que nos agrada, tudo que

gostaríamos de ouvir.

É comum em nossas comunidades quando aparece um

profeta verdadeiro com uma idéia diferente da nossa, nós o

repudiarmos, perseguimos e até o expulsamos do nosso meio.

Quantas vezes você fez cara feia àquela pregação, àquela

homilia, àquela pessoa, àquele questionamento, àquela pregação,

àquele livro, etc.

Parou para pensar que a sua reação negativa pode ter sido

pelo fato de que foi Deus quem colocou esta situação em sua vida

67

e que para você converter-se precisaria passar por esta

experiência.

Quantas vezes você negou um processo importante na sua

caminhada de conversão porque discordou das palavras de

determinado profeta que Deus permitiu em sua trajetória a

santidade. Já parou para pensar que se todos os profetas tivessem

que falar o que você já está vivendo que sentido teria então a tua

conversão???

Acorde e ouça: O profeta não tem o dever de lhe agradar ou

dizer coisas que estejam em concordância com o que pensa e vive.

Toda conversão que vem através de uma palavra proferida e

pregada vem para denunciar em nós um pecado que estamos

cometendo e que muitas vezes o temos (o pecado) como se fosse

uma verdade sagrada em nossas vidas.

Se o que o profeta falou o incomodou profundamente, o

irritou, fez com que você o criticasse. Cuidado!!! Pode ser

justamente ai que você esteja desagradando profundamente Deus

quer seja uma atitude sua ou uma verdade de fé que você criou

como verdade absoluta.

Geralmente o que mais nos toca como religiosos são

justamente estas verdades moralistas que criamos e que usamos

para julgarmos ser superiores aos outros.

Certa vez em minha paróquia veio um sacerdote que

começou a pregar sobre o sentido da cruz, do sofrimento.

68

Quanto mais ele falava mais o meu interior se defendia e o

criticava por aquela pregação.

Foi quando percebi que eu não vivia aquela pregação e que

fugia a missão de realmente aceitar a cruz como parte do meu

chamado de profeta.

Percebi através de sua pregação que eu era resmungão,

dondoca com o sofrimento e que só aceitava o que acontecia de

bom em minha vida.

Parei de reclamar, comecei a aceitar o sofrimento com amor

e louvor e descobri o que aquele padre dizia a respeito da cruz era

de que:

“Quando aceitamos a cruz do dia a dia o peso diminui.

Quando lutamos contra a cruz, seu peso aumenta”.

Louvado seja Deus pelo sacerdote que me mostrou os meus

pecados.

Pense bem se aquele profeta que causa reação negativa em

você não é justamente o profeta verdadeiro em sua comunidade e

que Deus mandou para acusar os seus pecados a fim de que

alcance a santidade de Deus.

Raciocine consigo mesmo se os profetas que admira muito

não são justamente aqueles que falam o que gostaria de ouvir.

Lembre-se o profeta pode vir em diversas faces diferentes,

pode ser do seu lar como da comunidade, pode ser alguém que

trabalhe com você ou alguém que estude com você.

69

Geralmente é alguém que não amamos muito ou nos coloca

em questionamento.

Mas é importante discernir se suas palavras são palavras de

Deus.

Assim aconteceu com o profeta Jeremias, quarenta anos

pregando a desgraça, pois o povo não se convertia. Foi chamado

do profeta da desgraça, Anti-Moisés e outros tantos adjetivos.

Ninguém o suportava por causa de suas palavras até que o

decapitaram.

Querido (a) leitor (a) tenha a certeza que você não aceitaria

Jeremias em sua comunidade.

O profeta não fala o que é conveniente, mas o que Deus

quer que fale. Jeremias pagou um preço alto por falar e agir

segundo a vontade de Deus.

Você aceitaria pagar este preço na tua missão ou então

aceitaria pagar o preço de sua conversão aceitando pregações que

lhe trazem mal estar.

Todos querem ser visitados por profetas de Deus, porém são

poucos os que querem que eles falem em nome de Deus.

Até ouvem, mas que não venha conviver comigo, pois eu

estou muito acima de suas pregações muitas vezes é assim que

pensamos.

Assim aconteceram com todos os profetas e santos que

conhecemos e não é nada diferente do que temos hoje.

70

Como é gostoso ouvir o que acreditamos ser verdade, mas

como é duro quando alguém questiona nosso moralismo falso,

nossos pecados, nossos egoísmos, nossa falsidade.

Certa vez um pregador falava a respeito da salvação, dizia

que em Jesus toda a humanidade foi salva.

Uma mulher discordou e achou absurdo o que ouvira e disse

ao pregador que para ela era inaceitável que uma prostituta, um

ladrão, um homicida, um tirano, etc, fossem ao céu.

O pregador perguntou àquela mulher: Se “tal pessoa” fosse

seu filho e Deus lhe desse a autonomia para decidir aonde Deus

poderia mandá-lo, para o inferno ou para o céu, qual escolheria?

A mulher respondeu como toda boa mãe: Se fosse meu filho

eu diria a Deus que fosse para o céu comigo.

Pois bem, disse o pregador, Deus ama mais do que você.

Quando fui seminarista eu aprendi muitas coisas,

principalmente sobre viver uma religião mais verdadeira e não

sobre princípios moralistas de condenação.

Quantas vezes também negamos certos profetas de Deus

porque este ou aquele profeta não possui o estereótipo que nos

agrada. Ou porque falam alto demais, ou porque falam muito do

demônio, ou porque são muito puritanos, ou porque falam manso

demais, ou porque são muito espiritualistas, ou porque são muito

realistas, conservadores, progressistas, etc.

71

Pergunto o seguinte: O que queremos na verdade? Alguém

que venha apenas confirmar minhas verdades ou alguém que seja

profeta e que me questione a respeito de minhas verdades.

Acredito que aquilo que muitas vezes repugno é na verdade

pontos fundamentais para minha conversão e maturidade na fé.

Veja bem falo aqui dos verdadeiros profetas que Deus manda em

nossas vidas.

Se uma pregação espiritualista me incomoda será que não é

pelo fato de eu não estar cumprindo com alguns preceitos que

poderia me levar a um amadurecimento maior em minha vida

espiritual e eu não faço por desleixo e má vontade.

Será que uma pregação concreta sobre o social não me irrita

pelo fato de eu viver com os pés nas nuvens e isto faz com que eu

veja a realidade que me incomoda?

Será que quando luto contra alguma corrente não estou me

colocando superior ao outro e, portanto não respeitando a

pluralidade existente em minha comunidade?

Quando repudio alguém será pelo fato de que este alguém

pense diferente de mim e eu não suporto ser contrariado?

Tudo isto que falo é apenas para dosar o quanto nos

parecemos fariseus, saduceus, zelotas, etc, os povos da bíblia.

O que quero através deste capítulo é dizer que precisamos

aprender a acolher os profetas que Deus nos manda e que, se

estão em nossa comunidade é porque Deus os permitiu. Façamos

72

desta permissão, por mais duro que seja um motivo para

amadurecermos ainda mais nas nossas verdades.

Não é preciso aceitar tudo o que o outro fale, pois tenho a

minha liberdade, mas também não posso calar o outro para que

fale, pois ele também tem a sua liberdade.

Bom, termino este capítulo com uma sensação de que não

falei tudo o que deveria falar e que o que falei não é e está longe de

ser uma verdade de fé.

Obrigado pela paciência e desculpe-me por frases tão

simplificadas e de tão pouco conteúdo teórico.

De repente faltou a mim nestas poucas linhas demonstrar ou

agir como verdadeiro profeta. De repente deixei de amar ao ser tão

direto e questionador. De repente julguei mal algumas atitudes que

usei como exemplo.

Em tudo peço perdão.

O importante é que Deus nos dê um senso crítico e não uma

crítica destrutiva.

73

VOCÊ O RECONHECERIA HOJE???

Imagine se Jesus viesse hoje como homem, será que o

aceitaríamos?

Será que Jesus seria bem acolhido entre nós?

Fico pensando, se Jesus fizesse o discurso que fez em

relação aos hipócritas, quanto tempo duraria sua presença entre

nós?

Um dia, um cunhado meu, fundador da Comunidade Neftai,

que trabalha com dependentes químicos se aproximou afirmando

que em um quarto de sua casa havia um casal e que a mulher

estava grávida e perto de “dar à luz”. Perguntou se eu poderia

acolhê-los em minha casa até um pouco tempo depois que a

criança nascesse. Minha resposta foi negativa, procurei mil

desculpas para não acolher aquela mulher que necessitava de

abrigo.

Continuando, meu cunhado me pediu que olhasse para

aquela mulher, quem sabe então meu coração seria tocado e

poderia acabar os acolhendo. Fui então com ele até seu quarto,

entramos silenciosamente, ao ascender à luz do quarto, para minha

surpresa ele havia coberto com lençóis a imagem de Nossa

Senhora.

74

Senti-me como aquele povo que não acolheu Maria no

momento do parto. Se dependesse de mim, aquela mulher (Maria)

daria a luz uma criança (Jesus) no estábulo dos animais.

“... E deu à luz seu primogênito, e, envolvendo-o em faixas,

reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na

hospedaria” (Lc. 2,7).

Não sei quanto tempo você tem de profeta, mas cá entre

nós: não se ache mais importante que ninguém, porque Deus lhe

deu o dom de falar e profetizar, pois a verdade que nosso

testemunho está muito distante do que pregamos.

Lembro-me outra ocasião numa das nossas reuniões na

Igreja:

Mãe e filha vieram do Nordeste de nosso País e estavam

precisando de acolhimento, precisavam de uma casa e de um

emprego.

No final da reunião perguntei se havia alguém que poderia

oferecer uma casa ou emprego. Uma pessoa levantou a mão e

ofereceu uma casa que estava vazia para que pudessem morar até

melhorar a situação que estavam passando. Outra pessoa levantou

a mão e ofereceu emprego para mãe e filha.

Noutro dia fui a casa onde se haviam hospedado mãe e filha,

era uma casa muito simples, com dois cômodos, aquela casa foi o

“presépio” para mãe e filha não passarem a noite na rua.

75

É impressionante como o pobre sabe acolher. É o pobre que

consegue ver Jesus.

Na maioria das vezes não é aquele pregador que é famoso e

fala muito; nem é aquela comunidade famosa com pessoas

famosas, nem é aquele mais amado e respeitado, quem realmente

consegue enxergar Jesus de Nazaré e o mais simples, aquele que

passa praticamente despercebido na comunidade e acaba por se

assemelhar a Jesus.

Os grandes santos da Igreja, na maioria das vezes

praticamente não eram reconhecidos pela comunidade; raros às

vezes onde foram notados e compreendidos e quando foram, não

foi por pessoas importantes, mas sim pelo povo simples que os

respeitaram e os amaram.

A história do samaritano (Lc 10, 29-37) que acolheu quem

precisava, diz tudo e mais a todos nós, os profetas de Deus!

O samaritano, aquele que não possuía uma religião pura e

que era odiado pelos que diziam que “detinham o conhecimento de

Deus”; o desprezado pela sociedade, é esse quem acolheu o

necessitado.

Que passagem linda do Evangelho é aquela que relata o

acolhimento de uma mulher a Jesus (Mc. 14,3).

A frase de Jesus faz calar toda hipocrisia que carregamos

em nossos profetismos.

76

“Em verdade vos digo: onde quer que for pregado em todo

mundo o Evangelho, será contado para sua memória o que ela fez”

(Mc.14,9).

Em sua vida de profeta você fez algo que marcasse tanto o

seu ministério como fez esta mulher? Alguma atitude ou palavra

sua foi tão marcante ou causou tanto impacto como esta atitude da

mulher que acolheu Jesus?

Quando ouço pregadores definhando qual um rosário o

número de obras que realizou, curas que administrou e milagres

que sua fé proporcionou.

Quando vejo pessoas divinizando este ou aquele pregador,

tenho a nítida convicção que o mais importante da sua missão

passou despercebido: Jesus de Nazaré.

O tempo todo em que Jesus se fez presente em nosso meio

como homem Ele optou pela simplicidade, por isso foram poucos os

que se aproximavam Dele sem nenhum interesse próprio.

Permita terminar este capítulo como uma passagem mais

linda ainda que a acima citada:

Uma mulher “pecadora” se lançou aos pés de Jesus. Com

suas lágrimas, banhava os pés do Senhor e com seus cabelos os

enxugava, beijava-os e os ungia com o perfume. Os que estavam

vendo esta cena (fariseus: nós) diziam: “Se este homem (Jesus)

fosse profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que o toca, pois

é pecadora” (Lc. 7, 39).

77

Falamos muito bonito do amor, mas vivemos pouco o que

pregamos.

Quanto mais sabemos parece que menos entendemos o que

realmente é essencial.

Meu Deus, que atitude tomou aquela pecadora. Não disse

palavras bonitas, elogios e louvores ao Senhor que ali estava

presente. Nenhuma frase ou palavra foi pronunciada por aquela

mulher. Nenhuma dialética ou conteúdo teológico foi pronunciado.

Provavelmente o tempo daquela ação foi mais curto que nossas

locuções iluminadas e intelectualizadas (cá entre nós; como

gostamos de falar para mostrar nossas eloqüências e

conhecimentos).

A ação daquela mulher “pecadora” (são os miseráveis que

melhor acolhem Deus) foi tão curta quanto a frase de Jesus a

Simão, o fariseu, que julgou a atitudes daquela mulher:

E Jesus voltando-se para a mulher, disse a Simão: “Vês esta

mulher? Entrei em tua casa e não me destes água para lavar os

pés; mas esta, com as suas lágrimas, regou-me os pés e enxugou-

os com seus cabelos. Não me deste o ósculo; mas esta, desde que

entrou, não cessou de beijar-me os pés. Não me ungiste a cabeça

com óleo; mas esta, com perfume; ungiu-me os pés. Por isso te

digo: seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela

tem demonstrado muito amor. Mas ao que pouco se perdoa, pouco

ama” (Lc. 7, 36-47).

78

Sinceramente, se nós os pregadores, responsáveis pela

comunidade, pastores, fossemos realmente preocupados em amar

a Deus mais do que a expor nossas capacidades e nossos egos,

tenho certeza que o número de pessoas para acolher seria maior, e

que nossas comunidades estariam muito mais cheias de pessoas.

Como diz o ditado: “É muita conversa para pouca ação”.

Quantas atitudes tomadas por você não é fruto de uma

atitude condicionada onde a principal preocupação sua é o quanto

de retorno terás???

Quando você toma atitudes espontâneas, onde o único

interesse é não ter interesse algum... a não ser amar sem esperar

nada em troca.

Se acaso coloquei um dedo na sua ferida, por favor, permita

ser solidário na sua dor, pois a minha chaga está aberta e eu não

consigo cicatrizá-la.

Deixamos que o Mestre nos cure, afinal de contas, sei que

está acostumado a ser bajulado pela fama que conquistastes. E

que por ser profeta, escolhido e ungido, a tempo não tem permitido

que as suas máscaras caiam por terra.

Minha intenção não é engordar o número de bajuladores que

te rodeiam e muito menos massacrar seu ego.

Apenas gostaria de lembrá-lo o que disse Deus a Adão no

paraíso:

“Pois tu és pó e ao pó tornarás” Gn 3, 19c

79

Não faça da sua missão uma profissão, você não é um

artista e nem deveria permitir que o fizessem.

Não se deixe idolatrar, não tome o lugar de Deus, deixe o

Cristo aparecer.

A passagem da bíblia em que o povo de Icônia quis

endeusar Paulo e Barnabé é memorável, pois a atitude de ambos

deve ser lembrada por muitos cantores e pregadores de Deus:

Vendo que Paulo fizera, as multidões levantaram a voz em

língua licaônica, dizendo:”Deus em forma humana desceram até

nós!”

Ouvindo isto os apóstolos Barnabé e Paulo, rasgaram seus

mantos e precipitaram-se em meio à multidão, clamando e

repetindo: “Amigos, que estais fazendo? Nós também somos seres

humanos, sujeitos aos mesmos sofrimentos que vós, mas vos

anunciamos a Boa Nova da conversão para o Deus Vivo, deixando

todas essas coisas vãs! Foi ele que fez o céu, a terra, o mar e tudo

o que neles existe. Ele permitiu, nas gerações passadas, que todas

as nações seguissem os próprios caminhos. No entanto, não

deixou de dar testemunho de si mesmo fazendo o bem, do céu

enviando-vos chuvas e estações frutíferas, saciando de alimento e

alegria os vossos corações”. Mesmo dizendo estas palavras, a

custo conseguiram impedir que a multidão lhes oferecesse um

sacrifício. At 14, 11-12.14-18.

80

Pois é, há muitas pessoas que são praticamente idolatradas

e que gostam disso, suas palavras e mensagens passam a criar

verdadeiros adoradores que cegamente seguem seus passos e

formam suas opiniões.

Hoje se confundem os que são de Deus ou são artistas da

fé.

81

O LOCAL DE DEUS

O jovem Davi carregava um sonho em seu coração, uma

meta que norteou todo seu reinado. Ele não sonhava nem desejava

ser o rei de Israel, mas como rei ele desejou ardentemente construir

um lugar para Deus: um templo, onde ali habitasse a presença do

Senhor dos Senhores.

Esta passagem do desejo do coração de Davi é apaixonante,

disse ele ao profeta Natã:

“Vê: eu moro num palácio de cedro, e a arca de Deus está

alojada numa tenda”.

Vemos através desta frase de Davi, seu zelo pela casa de

Deus.

Mais desconcertante ainda é a resposta de Deus a Davi,

através do profeta Natã:

“O senhor anuncia-te que Ele é que quer fazer-te uma casa”.

Pois é, Deus quer nos oferecer uma moradia a todos nós,

assim como ofereceu a Davi uma moradia, uma descendência e um

reinado.

Quando iniciei na “Comunidade Bom Pastor” (Associação

Cristo, Rei do Universo), aproximei-me do Senhor e lhe pedi um

lugar para a Comunidade se reunir, um Centro Comunitário onde

pudéssemos levantar nossa bandeira e dizer: “Ali é o nosso lugar

onde Deus está” (Javé-Chammá Ez. 48, 35).

82

Ele me respondeu que estava oferecendo uma terra, um

lugar e que deveríamos estar levando todas as pessoas que se

aproximarem da Comunidade para este lugar. O lugar que Deus

nos ofereceu foi o seu Sagrado Coração, nasceu daí o projeto da

Comunidade que se chama “No Coração do Rei”.

Quando Deus nos chamou a missão da Comunidade Bom

Pastor, Ele antes nos pediu para entrarmos em seu coração e

depois, só depois, é que então nos chamou a viver a Comunidade

em nossas vidas.

Você já experimentou estar no Coração do Rei? Não há

palavras para definir esta experiência; aonde vamos Deus realiza

esta experiência maravilhosa nas pessoas que crêem e desejam

estar no Coração do Rei.

Voltemos a falar do templo de Jerusalém, vale a pena você

acompanhar estas pobres linhas que escreverei, pois o templo de

Jerusalém define toda a realidade às vezes triste de nossas

comunidades que é: a falta de acolhimento.

Deus permitiu a Salomão, filho de Davi, construir o sonho de

seu pai, o Templo para Deus, levou aproximadamente 07 anos para

terminar (I Rs. 6, 37-38).

Em 587 A.C. o templo foi destruído por Nabucodonosor,

sendo reconstruído após a volta do exílio em 515 a. C., era muito

mais modesto.

83

Foi reedificado por Herodes em bases completamente

novas.

O templo de Jerusalém no tempo de Jesus era uma

esplêndida construção.

Josefo, o historiador descreveu assim o templo de

Jerusalém:

“No aspecto externo do edifício, nada foi descuidado para

impressionar o espírito e os olhos. Com efeito, como ele era

recoberto de todos os lados por espessas placas de ouro, desde o

nascer do sol, refletia a luz com tal intensidade que obrigava os que

o olhavam a retirar os olhos como diante dos raios do sol. Para os

estrangeiros que chegava, ele parecia de longe como uma

montanha nevada, pois onde não era recoberto de ouro, o era de

mármore mais branco. No alto, era eriçado de pontas de ouro

agudas para impedir os pássaros de pousar e de sujar o teto”

(Guerra Judaica V, 222 – 224).

A impressão de magnificência do Templo tão sonhado por

Davi é de encher os olhos de lágrimas pela sua beleza, porém toda

esta maravilha descrita acima acabava sendo ofuscada pela falta

de acolhimento (discriminação) que ali se encontrava, explico

melhor...

No centro do Templo está o lugar sagrado por excelência, o

lugar onde Deus fez repousar sua glória (1Rs. 8, 10): o Santo dos

Santos. Em seguida, há o altar sobre o qual todos os sacrifícios são

84

oferecidos e o espaço entre o altar e o Santo, estritamente

reservado aos sacerdotes, depois o pátio dos sacerdotes, ao qual

mesmo os sacerdotes inaptos para o culto (os deficientes de todo o

tipo) têm acesso. Em quinto e sexto lugar, os homens adultos de

Israel e depois as mulheres, por fim há os pagãos.

Pois bem, a santidade de uma pessoa para o judeu é

comunicada por Deus a todo aquele que Dele mais se aproxima,

portanto, aos mais distantes cabe uma santidade mais fraca.

Conseqüentemente os mais santos eram aqueles que mais

perto se encontravam no Santos dos Santos do Templo de

Jerusalém.

Nesta escala de valores podemos dizer que o Sumo

Sacerdote era o mais santo, será?

Vamos conhecer o Sumo Sacerdote:

No templo eram queimados sobre o altar animais

(holocausto). As peles não eram queimadas e tornavam-se

propriedades dos sacerdotes.

Por vezes, como a oferta dos animais se baseava em

queimar as vísceras e a gordura, logo, as partes melhores dos

animais o Sumo Sacerdote adquiria para si.

Os israelitas que queriam oferecer um sacrifício precisavam

comprar dos animais que eram vendidos, às vezes, no próprio

Templo; os pobres ofereciam pombos, já que não podiam pagar por

um animal maior.

85

O dinheiro do Templo não era a mesma moeda cotidiana dos

israelitas, portanto, havia cambistas que trocavam a moeda

cotidiana pela tão valorizada moeda do Templo.

O comércio ali existente sustentava a nobre vida do Sumo

Sacerdote e do Sinédro (tipo de parlamento daquela época).

O Sumo Sacerdote após o retorno do exílio (538 a. C), não

havendo mais rei, torna-se pouco a pouco o chefe maior da

sociedade judaica.

Ele é o responsável pela lei e pelo Templo e é ele, por ofício,

o presidente do Sinédro. É o único que pode orar e expiar por todo

o povo, o único que pode entrar uma vez por ano no coração do

Templo, no Santo dos Santos, para expiação; sua morte era

considerada como expiatória, pois nessa ocasião os assassinos

eram agraciados. Era o primeiro a escolher sua parte entre as

oferendas do Templo. Os grandes comerciantes por sua vez

ofereciam propina para participarem dos negócios do Templo e o

Sumo Sacerdote a aceitava.

Além de todas estas atitudes mencionadas acima, era

comum o Sumo Sacerdote apropriar-se pela força das peles dos

animais degolados que deveriam pertencer aos outros sacerdotes,

vai aos sítios roubar o dízimo que lhes é igualmente destinado, ou

usa a intriga, a chantagem e até o assassinato.

Quero lembrar novamente ao (a) caro (a) leitor (a) que o

Sumo Sacerdote é quem mais próximo ficava do Santo dos Santos.

86

Nem precisa dizer que o Sumo Sacerdote não era nem um

pouco populista.

O Sumo Sacerdote que ficava perto do Santo dos Santos e

teoricamente era o mais santo de todos. Quem ficava nas

dependências internas do Templo, mais afastada do Santo dos

Santos era, portanto, o menos santo?

Pois é, a mulher e as crianças eram consideradas mais

impuras de todos que estavam dentro do templo durante o culto.

Vamos agora conhecer um pouco mais sobre a mulher

principalmente e também sobre a criança, para depois darmos um

fecho nesta primeira parte.

Se você é por acaso uma mulher, não deixe de ler o término

desta minha explanação, pois se agora você ficar furiosa, no final

conseguirei tirar um sorriso de você!

Vamos conhecer a mulher e sua condição “naquela época”:

A mulher é comprada por dinheiro, contrato e relações

sexuais.

A diferença entre a mulher e os escravos naquela época não

existia. A mulher dependia de seu senhor – marido e deve assumir

todas as tarefas, portanto deveria preocupar-se com os afazeres do

lar.

Não era aconselhado ensinar-lhe sobre a lei e as tradições,

pois: “aquele que ensina a torá (lei) à sua filha ensina-lhe a

prostituição”...

87

Além de ficar em casa algumas também trabalhavam no lar

na fiação da lã.

Ela nada tem que fazer fora de casa, mas se por acaso sair,

deverá estar coberta com o véu e não se prolongar em conversas

quando precisar pedir alguma informação. Sua identidade deve ser

mantida ao máximo possível no anonimato. As pessoas não lhe

devem cumprimentar ou lhe dirigir palavra alguma.

Não podia ser testemunha e menos ainda juíza. Na sinagoga

ela tem seu lugar, no entanto, se não houver no mínimo 10 homens

adultos, mesmo havendo uma infinidade de mulheres, não seria

possível celebrar o ofício.

Ela deve aceitar que seu marido divida sua afeição com

outras mulheres, como: esposa, concubina, escravas.

Resumindo, podemos dizer que a mulher possui suas

obrigações, mas sem nenhum direito. Deve respeito ao marido e

tudo o que ela encontrar pertence ao marido. Como é posse do

marido, pode tornar-se escrava para pagamento de dívida, nesse

caso, o marido terá que adquiri-la a todo custo novamente.

A mulher nada pode decidir sozinha e o marido pode lhe

impor votos.

O único a representá-la é o marido. Se um dia acontecer de

ser mutilada, a indenização fica com o marido.

88

Em relação às crianças, sendo meninas, também sofriam

descriminação. Não podiam possuir nada e deviam respeito aos

irmãos e ao pai. Tudo que ela conquistava pertencia ao pai.

A criança menina podia ser feita escrava e não podiam

decidir nada sozinha (votos). Na justificativa era representada pelo

pai e quando mutilada ou deflorada a indenização iria para o pai.

Pois é, a mulher ficava no último lugar do Templo, longe do

Santo dos santos, pois era mais impura e menos santa que o Sumo

Sacerdote, sacerdotes, israelitas homens.

O templo de Jerusalém rodeado de ouro, o sonho de Davi, o

centro político, econômico e espiritual de Israel, era tão frio quanto

o mármore que se encontrava nele.

As regras existentes no Templo eram contraditórias tanto

quanto á vida de santidade do Sumo Sacerdote.

Há muitos grandes projetos que começam com grandes

sonhos, porém acabam como grandes pesadelos.

Mas e Deus? Será que Ele concordava em quantidade e

grau com tudo o que se fazia até então?

Vamos por partes, pois tenho certeza que Deus jamais

conduziria com tamanha injustiça e discriminação.

Quando Deus resolveu humanizar-se, Ele escolheu como

Santuário de vida o útero de uma mulher: Maria. Em outras

palavras quero dizer que Deus escolheu a mulher como primeiro

89

templo vivo para que se fizesse homem e assumisse nossa

condição.

Imagino se Maria alguma vez entrou grávida ou com Jesus

no colo no Templo de Jerusalém, se isso aconteceu significa que a

divisão de santidade se inverteu, pois o Santo dos Santos estava

no ventre daquela mulher simples e extremamente forte e corajosa.

E se isso aconteceu, seguindo o padrão de santidade daquela

época, concluímos o seguinte: as mulheres e crianças estavam

mais perto do Santuário (Maria), portanto, mais santas que os

outros. Conseqüentemente, o Sumo Sacerdote é o que mais

distante estava do Santuário vivo de Deus: Maria! Por tanto, era o

menos santo na concepção prática de Deus.

Imagino que por causa da força da mulher (Maria) é que

Deus até permitiu que José (homem santo, diga-se de passagem)

partisse, e Maria com sua força, sua sabedoria e seu

conhecimento, sustentou com amor a vida de seu filho Jesus. O

amor de mãe é humanamente falando o mais divino e mais próximo

do amor de Deus.

Agora você pode entender aquela passagem da Bíblia em

que os apóstolos admiram o Templo de Jerusalém e Jesus afirma

que não sobraria pedra sobre pedra e que Ele, Jesus, o

reconstruiria com sua própria vida em três dias. Você entenderá

também porque Jesus usou dos chicotes no Templo nesta

90

passagem Mt. 11,14-17 (veja o detalhe das crianças, elas é que

louvem o Senhor).

Respondeu-lhes Jesus “Destruí vós este templo, e eu o

reerguerei em três dias” Jô 19.

Enquanto isso, os príncipes dos sacerdotes e todo o

conselho procuravam um falso testemunho contra Jesus a fim de o

levarem à morte. Mas não conseguiram, embora se apresentassem

muitas falsas testemunhas. Por fim, apresentaram-se duas

testemunhas que disseram: “Este homem disse”: “Posso destruir o

templo de Deus e reedificá-lo em três dias” Mt 26, 59 a 61

Nada é mais valioso que a vida humana e nada justifica o

desrespeito à dignidade do ser humano ou qualquer afronta contra

a vida.

A vida é tão importante que Deus entregou-se a si para

resgatar nossas vidas.

A cruz é o local onde Deus radicalmente, totalmente,

incondicionalmente nos acolheu. Em seus braços abertos acolheu-

nos, ensinando que sem humildade e sem acolhimento, nossas

profissões de fé são tão frias e vazias quanto o mármore do Templo

de Jerusalém.

Mas é particularmente uma passagem da Bíblia que me toca

profundamente em relação ao Templo de Jerusalém e é narrada

justamente na cruz do calvário:

91

“Jesus deu um grande brado e expirou”; o véu do templo

rasgou-se de alto a baixo em duas partes (Mc. 15, 37-38).

Este grito de Jesus foi o berro de Deus. O berro da justiça,

da igualdade, do amor e principalmente o grito do acolhimento:

Deus não está no Templo, manipulado por interesses pessoais

próximo aos privilegiados e longe dos oprimidos e simples.

A primeira atitude de Deus com a morte de Jesus na cruz foi

destruir a mentira: Deus não se enquadra em nossos interesses e

não se esconde por trás do véu de nossas falsas aparências.

No grito de Jesus na cruz e no véu do templo que se rasgou

faz nos lembrar a oração de Salomão:

“....Se os céus e os céus dos céus não te podem conter,

muito menos esta casa que construí...” I Rs 8, 27b

Deus esteve no ventre da mulher (Maria) feito criança (feto

Jesus), próximo aos impuros, prostitutas, leprosos, endemoniados,

ricos, pobres... Morreu na condição de escravo, verme (Is. 53),

assumindo todos nós, humilhado (Fl. 2), salvando a todos sem

distinção (inclusive os gentios que se reuniam no pátio do Templo

de Jerusalém).

Onde é o lugar de Deus, se Ele partiu o véu do Templo, o

Santo dos santos? São Paulo nos responde: “Ou não sabeis que o

vosso corpo é Templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual

recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis?

92

Você e aquele que está ao seu lado são “o templo vivo de

Deus”. Portanto, toda vez que deixamos de acolher o irmão

estamos violando o Templo vivo de Deus.

Neste capítulo me estendi um pouco mais, pois queria

chegar a estas poucas linhas que precederão...

“Nossas comunidade têm sido o local de Deus? Temos

vivido o acolhimento e amor aos que se aproximam de nossas

comunidades”?

Porque meu irmão você não foi chamado por Deus para

provar a você mesmo que é um administrador, um ótimo

profissional, um grande empreendedor. Você foi chamado para

pastorear, amar e acolher suas ovelhas sem fazer distinção.

Você será cobrado por cada ovelha que deixou de lado por

questões tão medíocres quanto o orgulho que carrega pelo seu

grau de pastoreio.

Nós da Comunidade tínhamos o costume de usar uma

capelinha simples para fazermos uma vigília uma vez ao ano. A

capela era simples e por isso mesmo, muito acolhedora. Um dia o

conselho da comunidade daquele local resolvera fazer uma reforma

na capela. No altar foi colocado mármore, ficou lindo, sobre as

imagens e a cruz foram colocadas lâmpadas, no chão fora colocado

lindos pisos. Resultado: o conselho daquela comunidade resolveu

limitar o acesso e o uso da capela. Um dos membros da

93

Comunidade (dizimista) pediu a capela para realizar a vigília e

recebeu NÃO, como resposta.

Quase sempre nosso acolhimento é tão frio quanto o

mármore daquele altar e tão superficial quanto a luz que iluminava

as imagens. Quase sempre nosso acolhimento é tão egoísta e

mesquinho quanto o não que o dizimista recebeu daquele infeliz

líder do conselho daquela comunidade.

Construímos templos, reformamos prédios, investimos em

material e equipamento... Tudo é perfeito se não faltasse um

detalhe: a pessoa humana!

Alguns pastores avaliam-se pelo templo que constroem, pelo

balanço financeiro de suas comunidade, pela quantidade de

pessoas em sua comunidade, pelo desempenho de suas

pregações, pela qualidade intelectual de seus fiéis, porém o mais

importante é esquecido: “uma comunidade de verdade se constrói

com pessoas que se sintam amadas, libertadas, curadas e

valorizadas”.

Há muitos líderes que inventam uma porção de coisas para

fazer, ficam atarefados até o pescoço, para fugir do essencial:

Serem pastores!

Em algumas das construções que são feitas por aí, você já

encontrou o nome dos “Josés” e “Marias” que humildemente

colaboram para aquela obra? Nas placas que encontramos em

94

qualquer obra ou construção sempre são gravados os nomes de

pessoas “importantes”.

Uma comunidade que não valoriza o “Sr. José” e a “D.

Maria”, é tão medíocre e mentirosa quanto à homenagem prestada

e gravada nestas placas.

Conheci comunidades aprovadas pelo pastor que surgiu de

grupos privilegiados, que não poderiam “misturar-se” com o povão,

pois seu grau de intelectualidade, sua condição social ou seu

prestígio não os tornavam aptos a viver no meio dos que

costumava chamar de “povão”.

Existem comunidades fisicamente maravilhosas, tão grandes

e luxuosas quanto o Templo de Jerusalém. Mas muitas vezes

beneficiadas por dinheiro injusto, fruto de propinas e que cultuam

mais os bens adquiridos do que o povo que ali se encontra.

Detesto ver os oportunistas que são exibidos em altares,

como se fosse alguma imagem de algum santo ali presente, porque

o mesmo financeiramente é conveniente para aquela comunidade

que opta por fechar os olhos e estender as mãos, onde “o fim,

justifica os meios”.

Há muitos “caridosos” que em nome dos pobres aparecem

em jornais, nas páginas sociais, como protetores dos pobres,

quando na verdade não passam de assistencialistas que não

colaboram para a promoção humana e cidadania e cujo interesse é

serem prestigiado como boas pessoas da sociedade... “Tu, porém,

95

quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a

tua direita, para que a tua esmola fique em segredo; e o teu Pai,

que vê no segredo, te recompensará”... (Mt. 6, 4).

É detestável a atitude de comunidades que usam do dinheiro

que é para ser destinado aos pobres para uso de seus impérios.

Assim como a ganância material cegou a muitos, vejo que a

ganância espiritual tem também cegado a muitos. O demônio sabe

como ludibriar àqueles que ele quer, sutilmente às vezes ele usa

daquilo que espiritualmente parece perfeito para enganar os

profetas e líderes de Deus.

Você furtaria um prato de comida de alguém para usar o

dinheiro em prol da evangelização? Deixaria alguém fora da

educação para usar o dinheiro para evangelização? Roubaria a

casa de alguém pela evangelização?

Pois é toda vez que usamos dinheiro público em nome da

evangelização, estamos roubando o direito de alguém à dignidade

e vida em abundância.

Lembra-se que os fins não justificam os meios!

Quero agora falar de outro assunto que é de amargar

qualquer evangelização, pois acolher, em minha opinião é a melhor

forma de evangelizar.

Nossas comunidades possuem tantos donos que dificilmente

o verdadeiro Dono toma posse dela.

96

Vi por exemplo, “os donos” de comunidade escorraçar o

pastor ali enviado porque esse teve coragem de abrir essa

comunidade para todas as pessoas.

Vivi em uma comunidade onde aquele que se achava “o

dono” ao chegar um pastor o convidava para uma pescaria e assim

tomava posse até do pastor. Infelizmente muitos pastores aceitam

serem manipulados pela língua dos donos de comunidade.

Vejo que a maior pobreza que uma comunidade pode

apresentar é justamente a forma como ela foi possuída pelo

egoísmo de poucas pessoas.

Às vezes a comunidade parece uma grande terra fértil pela

gratuidade de Deus e tão desejada quanto à terra de Canaã. Porém

acaba sendo loteada pelos donos, que invadiram a terra que é para

ser de todos, tomam posse, criam regras, prestigiam a si próprios e

ousa ainda expulsar dali o verdadeiro Dono delas.

Qual era o bem que Jesus possuiu enquanto se fez homem

e veio morar entre nós?

O barco? Não o usou por muito tempo!

As pessoas? Não as obrigou a nada e nem se apegou a

elas!

Os pobres? Não priorizou sua missão unicamente a uma

ação social libertadora!

Os doentes, os endemoniados, os desprezados? Amou-os

verdadeiramente, mas não se tornou dono deles!

97

Eu sei, porém dizer que posse segundo alguns hoje afirmam

que Jesus usaria em sua missão: Uma igreja, uma televisão, um

rádio, um microfone, um carro, a Internet...

Pelo que me consta quando Jesus morreu e ressuscitou, Ele

só levou o corpo – símbolo da vida. Nem o madeiro no qual Ele

morreu, carregou consigo; até porque se Ele fosse colocar uma

placa no madeiro de sua obra: a cruz, ELE gravaria nosso nome;

motivo pelo qual Ele deu a vida.

Sinceramente acho que Deus se fez homem no tempo

determinado pelo Pai, nem antes, nem depois.

Segundo os historiadores, Jesus foi um homem de certa

forma comum e quase passou despercebido em seu tempo. Porém

suas palavras, seu gesto de morrer na cruz, a paixão de seus

discípulos, fizeram que Aquele Homem-Deus, que não possui

posse, nos oferecesse através de seu amor a maior posse que

qualquer um de nós pudesse adquirir: a posse da vida eterna!

Sem microfone, televisão, estádios lotados, estruturas

enormes e riquezas, Jesus e alguns homens e mulheres fizeram

muito mais barulho do que nossas posses e até hoje suas palavras,

seus atos fazem história e calam fundo em nossa alma; são os que

chamamos de santos.

Muitos desse santos como São Francisco de Assis jamais

venderam sua alma por qualquer propina ou dinheiro injusto para

construir grandes templos e mega construções.

98

Diga de passagem que São Francisco quis reformar um

templo de pedra e Deus disse a ele que não era este Templo que

deveria ser reconstruído.

As palavras e atos de Francisco de Assis repercutiram e

repercutem até hoje muito mais que todos os aparelhos que

possuímos e usamos para divulgar o evangelho.

Precisamos urgentemente entender isso se não estaremos

imitando em nossas comunidades a mesma pobreza de espírito

que o “capetalismo” tem deixado em nossas almas.

O local de Deus é a pessoa humana e enquanto houver um

templo humano danificado, não cumprimos com nossa primeira

missão: O Amor!

Que nossas comunidades sejam organizadas não há dúvida

que é importante.

Que todos os filhos e filhas da comunidade sejam dizimistas

e que ofereçam o mínimo (10% = dízimo) e o máximo: dar até

doer...

Que sejam ousados e invistam em todas e possíveis

estruturas para falar de Deus e do Seu Amor pela humanidade.

Porém, que essas estruturas não afastem a comunidade de sua

missão primeira: a defesa e dignidade da vida humana.

Ouvi dizer que muitas igrejas fora do meu país fecharam

suas portas, algumas tendo um outro fim ao contrário do ideal que

elas teriam, por tornarem-se frias e sem fé perderam o que era

99

mais importante: a vida! Pois as estruturas físicas permaneceram

lá, vazias ou cheias de outras intenções que não tem a ver com

Deus.

Caro (a) leitor (a), prolonguei demais neste capítulo, até

acredito ter lhe cansado, desrespeitando-o (a) e deixando de lhe

acolher. Porém acredito que muitas de nossas comunidades se

estivessem preocupando realmente com a vida humana, já não

seriam tão cheias de estruturas e famosas como são. Pois alguém

já teria calado a boca dessas comunidades.

100

PROFETAS MÁRTIRES

Pelo sangue derramado de todos (as) os (as) missionários

(as) que denunciaram a injustiça e a violação dos direito da pessoa

humana é que inicio este capítulo.

A vida desses mártires não se compara nem de longe com

os microfones, com a televisão, rádio, rincões, estádios lotados e

toda parafernália que fazem de muitos pregadores pessoas

“iluminadas” e artistas...

João Batista não se preocupou com sua popularidade, por

isso calaram sua voz decapitando-o, pois denunciou a hipocrisia

que existia em sua época. Jeremias pregou desgraça durante 40

anos, obedecendo a Deus e não se preocupando com fama ou

popularidade e só parou de denunciar quando também o

decapitaram.

Você tem a coragem de perguntar se realmente está fazendo

a vontade de Deus? Se os caminhos pelos quais você escolheu

para ampliar suas estruturas e evangelização são realmente justos?

Se a caridade é o principio vital da sua missão? E por fim, se

quando você anuncia, sua preocupação é de manter seu status e

por isso fala e age condicionado simplesmente pela vontade própria

de se manter no foco da admiração e dos aplausos? Você

incomoda?

101

São Paulo diz nas escrituras, aconselhando seu discípulo

Timóteo: “... prega a palavra, insiste oportuna e importunamente,

repreende, ameaça, exorta com toda paciência e empenho de

instruir...” (II Tim. 4,2).

Certa vez, eu e minha esposa fomos pregar um encontro em

outro estado, e lá fomos acolhidos em uma casa por uma senhora

muito simples.

Logo que chegamos os irmãos e irmãs que nos esperavam

foram logo se desculpando, pois dizia que queriam nos hospedar

em um hotel para nos dar mais conforto. Mas como financeiramente

não puderam oferecer “luxo” na nossa hospedagem – nossas

passagens eles ganharam – então aquela simples mulher nos

acolheu em sua casa.

Improvisou um quarto de casal e com imenso dom de

acolher nos deixou bastante à vontade.

Nasci de uma família simples, somos onze irmãos. Meu pai e

minha mãe viveram praticamente suas vidas em função de nós.

Minha esposa é tão simples quanto eu. Não sentiríamos a vontade

se fossemos tratados com “luxo”, pois não seria coerente com a

opção que fizemos que é anunciar Jesus com total desprendimento,

o que de graça recebemos, também de graça queremos oferecer.

Porém o que mais impressionou naquela mulher que nos acolheu

foi seu dom de acolher. O tempo em que ficamos em sua casa

102

somente ela estava lá; eu e minha esposa não perguntamos a

respeito de sua vida pessoal.

Observamos o amor que esta mulher tinha com as pessoas.

Acolhia crianças em sua casa e também os pobres em qual hora

fosse. Os irmãos de comunidade que tinham problemas ligavam

(muitas vezes de madrugada), ela os ouviu e rezava por eles.

Uma noite quando chegamos do encontro, cansados, pois

havíamos pregado o dia todo, sentamos à sua mesa e ela após um

dia agitado transmitia um sorriso e atenciosamente nos acolhia.

Minha esposa perguntou onde ela encontrava tanta força para fazer

tudo que fazia e principalmente a paciência e a forma como acolhia

as pessoas o tempo todo sem se abater. Então aquela mulher nos

contou sua história.

Disse que havia se casado e que seu esposo bebia e era

extremamente agressivo com ela. Sofrera muito, até que um dia ele

a abandonou com seus filhos. Ela com muita coragem e muito amor

cuidou sozinha de seus filhos e da própria vida. Mas, num certo

momento ela já não agüentava mais, pois sentia muito cansaço e

desânimo. Pediu a Deus que lhe ajudasse e iluminasse sua vida.

Estava sentada na escada, fora de sua casa, quando uma pomba

desceu diante dela e ali ficou sobrevoando até que voou embora.

Ela sentiu uma imensa paz e a certeza de que algo bom iria

acontecer. Foi quando um casal a visitou pela manhã e lhe falou a

respeito de Deus e a convidaram para caminhar com eles na

103

comunidade. Ela disse que não tinha tempo para ouvi-los naquela

hora e pediu que voltassem mais tarde com a intenção de

dispensá-los.

O casal voltou no mesmo dia à tarde e novamente pediram

para conversar com ela; ela voltou a dizer que estava ocupada e

pediu que eles voltassem à noite, com a certeza que eles não

voltariam...

À noite o casal voltou, para surpresa dela. Ela viu que não

tinha jeito de dispensá-los e os convidou para entrar.

O casal começou a falar do Amor de Deus e o quanto eles

queriam que ela caminhasse com eles na comunidade. Esta

senhora disse que chorou o tempo todo, sentiu uma enorme paz e

depois daquele dia, jamais ela abandonaria sua caminhada na

Igreja.

Tinha recebido de Deus muito mais do que achava que

merecia; e que o testemunho persistente daqueles irmãos fizeram

dela uma pessoa incondicionalmente acolhedora.

Quando acabei de ouvir seu testemunho lembrei-me deste

pobre livro que estava escrevendo e cujo tema é o acolhimento e

entendi que Deus me enviou ali para enriquecer a mensagem que

escrevo. Mas principalmente tive a certeza que o “luxo” de um hotel

jamais substituiria o luxo do acolhimento simples e desprendido

daquele lar que nos acolheu. Fomos enviados ali para sermos

evangelizados pelo testemunho das pessoas que ali nos acolheu.

104

Numa madrugada apareceu uma mãe na casa desta mulher

em seu colo uma criança (seu filho) praticamente morta. A mulher

sozinha e muito pobre pede socorro àquela mulher que

urgentemente corre acordar seu filho (que morava na casa de cima)

e implora a ele que leve aquela criança ao hospital.

O filho titubeia e esta mulher lhe diz:

“Eu estou passando mal e estou quase morrendo; á sua mãe

que precisa ser levada ao hospital, por mim sei que você não

negaria”.

O filho diz a ela que não tem jeito e corre com aquela mãe e

a criança para o hospital. Lá encontraram uma sobrinha que é

médica e que lhe perguntou se algo grave estava acontecendo.

Esta mulher pediu a sua sobrinha que ajudasse aquela criança

como se fosse ela própria que estivesse precisando. A sobrinha

abriu um sorriso e atendeu a criança que se não fosse pelo

acolhimento daquela mulher, naquela noite, seria uma entre tantas

que morrem neste mundo por causa da injustiça social.

Querido (a) leitor (a) a sua missão pode ser esplêndida e

maravilhosa como diz as escrituras:

“Como são belos sobre as montanhas os pés do mensageiro

que anuncia a felicidade, que traz as boas novas e anuncia a

libertação, que diz a Sião: Teu Deus reina!” (Is. 52).

Porém se sua missão não for edificada no amor,

principalmente e preferencialmente aos mais pobres, aos

105

desprezados, aos excluídos, aos últimos, os teus pés serão belos

na proporção em que suas mãos estiverem estendidas aos que

mais precisam, porque do contrário, você será uma grande mentira,

uma enganação.

“Voltar-se-á em seguida para os da sua esquerda e lhes dirá:

Retirai-vos de mim, maldito! Ide para o fogo eterno destinado ao

demônio e aos seus anjos. Porque tive fome e não me deste de

comer; tive sede e não me deste de beber; era peregrino e não me

acolhestes; nu e não me vestistes; enfermo e na prisão e não me

visitastes”.

Infeliz do profeta, pastor, que aceita propina ou dinheiro

público que deveria ser destinado à saúde, a moradia, a educação,

ampliar seu patrimônio, sua comunidade, seus bens. Incoerente

seja quando sua única preocupação é gabar-se, é dizer que és

ousado em Deus, baseado nas estruturas injustas que construíste

nas custas dos mais pobres.

Não pense que uma obra aparentemente bonita utilizada

para anunciar Jesus, lhe faça sentir que teus pés são belos, se para

isso você estendeu sua mão a um recurso indevido e corrupto.

Mais importante para Deus é a pessoa humana e se uma

missão ou estrutura foi baseada num recurso ilícito significa no meu

ver que determinada obra começou corrompida. Alguém ficou sem

este recurso desviado ilicitamente.

106

O amor ao pobre e aquele que sofre é o que mais toca o

coração de Deus.

Quando Deus se manifestou a Moisés, o motivo que O fez

escolher Moisés foi este:

“eu vi, eu vi a aflição de meu povo que está no Egito, eu ouvi

os seus clamores por causa dos seus opressores. Sim, eu

reconheço seus sofrimentos”... (Ex. 3,7).

Muitas vezes a imagem maravilhosa da sarça ardente (Ex.

3,2) nos chama mais atenção do que o motivo pelo qual Deus

apareceu nesta sarça.

Que o (a) leitor (a) entenda bem o que eu digo:

Nem todos nós somos chamados por Deus para trabalhar no

meio dos pobres, mas ignorá-los, calando nossa voz e justificando

nossas omissões com belos discursos, pregações e de vez em

quando com nossos assistencialismos é no mínimo escutar de

Jesus: “Afastai-vos de mim malditos”...

A verdade é que muitos fazem uma doação aqui e ali assim

como os políticos corruptos ajudam esta ou aquela comunidade, ou

então ajudamos alguém para justificar nossa omissão ou até

mesmo alguma atitude incorreta que temos.

A esta atitude existe uma palavra que encaixa bem:

“desencargo de consciência”.

107

Conheço comunidades que em nome dos pobres tentam

angariar mais dinheiro para suas obras de evangelização. É

correto? Ou o dinheiro dos pobres é dos pobres!

A nossa missão deve ser ampla, não só o assistencialismo a

quem precisa, mas acima de tudo dar dignidade a quem precisa.

E é neste campo que hoje em meu país é que surgem

verdadeiros mártires de Deus.

Aqui não se morre por anunciar Jesus e sim por defender os

mais fracos. São mártires os que são a “voz dos que não têm voz”

(Dom Helder Câmara).

Recentemente a irmã Dorothi morreu baleada covardemente

porque defendia as pessoas que não possuíam terra para morar.

Foi “mandado” (pago) por alguns “grileiros” (tomadores de terra)

matadores para fuzilar esta irmã que defendia os mais fracos. Esta

irmã antes de ser baleada disse aos matadores que a única arma

que carregava era a bíblia e abriu-a lendo os versículos das bem

aventuranças (Mt. 5), logo que acabou de ler foi fuzilada.

Já ouvi muitos pregadores falarem do martírio, já ouvi muitos

pastores falarem do martírio, já ouvi muita gente falar que estaria

disposto a dar a vida por Jesus e serem ovacionados com palmas,

já ouvi, mas só ouvi...

Se Jesus está no pobre, naquele que está explorado, no

doente, porque então não ser martirizado denunciando as injustiças

108

sociais que temos ao invés de conchavos com políticos corruptos

para ampliar o império da evangelização.

O profeta anuncia e denuncia.

No segmento que faço parte não conheço nenhum mártir no

sentido literal da palavra (me incluo).

“De que aproveitará irmãos a alguém dizer que tem fé, se

não tiver obras? Acaso esta fé poderá salvá-lo? Se a um irmão ou

uma irmã faltarem roupas e o alimento cotidiano, e algum de vós

lhes disser: ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, mas não lhes der

o necessário para o corpo, de que lhes aproveitará? Assim também

a fé: se não tiver obras, é morta em si mesma”.

Mas alguém dirá: “tu tens fé, e eu tenho obras”, mostra-me a

tua fé sem obras e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.

Crês que há um só Deus. Fazes bem. Também os demônios crêem

e temem (Tg 214-19).

Creio que se o demônio quer destruir a obra de Deus e

impedir o reino de Deus de acontecer, sem dúvida alguma ele

estaria agindo nas estruturas do poder, de quem administra e

legisla neste mundo. Portanto, o grande desafio dos cristãos é

nadar contrário a todo poder que não é utilizado para serviço.

Denunciar as estruturas injustas, não se corromper com

dinheiro ilícito pode não dar status, porém é o caminho estreito pelo

qual Jesus nos convida a entrar.

109

Você aceitaria um dinheiro injusto para usar em nome da

obra de Deus? Você calaria sua voz para prejudicar os benefícios

que tem de um poder corrompido? Sua missão tem sido só a

denúncia contra a moral se esquecendo das diferenças e

explorações injustas dos mais pobres? Suas pregações têm sido

iluministas, apelativas e extremamente ilusórias? Pois bem se sua

resposta é sim, o demônio estará deitando e rolando no leme,

dirigindo o reino de Deus implantado a partir da terra.

Portanto irmão e irmã enquanto estivermos preocupados

somente com quantas pessoas foram curadas, enquanto

estivermos medindo nossas competências ou unção pela

quantidade de estrutura física que construímos, enquanto nossas

pregações estiverem baseadas somente em discursos bonitos e

espiritualistas não se engane, o demônio continuará rindo de nós e

controlando o reino de Deus aqui.

Quantos jovens, você consegue libertar do vício com sua

pregação? Quantas famílias estarão sendo regeneradas pelas

nossas doações? As quantas vidas estamos salvando do pecado

com nossos discursos?

Pois é, o fato do demônio estar à frente dos segmentos do

poder. Ele tem destruído muitos jovens, famílias, pessoas que nem

se compara com o quanto nossas pregações têm atingido. Sabe

por quê? Porque astuciosamente o inimigo colocou uma grande

mentira em nossos corações. Afastou-nos do mundo da política a

110

tal ponto que muitas pessoas acham que estar neste mundo da

política é quebrar com a unção.

Enquanto formos omissos e enquanto nos aproximarmos de

um político somente para satisfazer nossos apetites espirituais o

inimigo continuará destruindo em proporção muito maior do que

podemos construir.

Posso até montar uma grande estrutura de evangelização,

mas a minha ignorância política, bem como meu aproveitamento

deste meio, farão que as estruturas injustas do poder continuem

massificando as famílias, os jovens, os necessitados, pois tudo gira

em torno da política.

Quando Elias enfrentou os sacerdotes de Baal (II Rs. 18,20s)

e o Senhor Deus provou seu poder, a rainha Jezabel ficou

profundamente furiosa (II Rs. 19,1s) e prometeu tirar a vida do

profeta Elias. Elias havia enfrentado o poder, pois defendeu a fé no

Deus verdadeiro, sendo que a rainha Jezabel levava o povo a

adorar Baal. Entende a importância de vivermos nossa fé onde uma

decisão mal tomada pode trazer sérias conseqüências para todos

nós?

Joatão subiu ao cume do monte Garizim e disse:

“Homens notáveis de Siquém, ouvi-me, para que Deus vos

ouça!

Um dia as árvores se puseram a caminho para ungir um rei

que reinasse sobre elas. Disseram à oliveira: „Reina sobre nós!‟

111

A oliveira lhes respondeu: „Renunciaria eu ao meu azeite,

que tanto honra aos deuses como aos homens,a fim de balançar-

me por sobre as árvores?‟

Então as árvores disseram à figueira: „Vem tu, e reina sobre

nós!‟

A figueira lhes respondeu: „Iria eu abandonar minha doçura e

o meu saboroso fruto, a fim de balançar-me por sobre as árvores?‟

As árvores disseram então à videira: „Vem tu, e reina sobre

nós!‟

A videira lhes respondeu: „Iria eu abandonar meu vinho novo,

que alegra os deuses e os homens, a fim de balançar-me por sobre

as árvores?‟

Então todas as árvores disseram ao espinheiro: „Vem tu,

reina sobre nós!‟

E o espinheiro respondeu às árvores: „Se é de boa fé que me

ungis para reinar sobre vós, vinde e abrigai-vos à minha sombra.

Se não, sairá fogo dos espinheiros e devorará os cedros do

Líbano!‟...”Jz 9 7 a 15.

Quantos espinheiros estão reinando sobre nós devido a

nossa omissão, você alguma deve ter dito que política e religião

não se misturam, então deixamos o espinheiro reinar sobre nós, os

espinhos da injustiça, da corrupção, da desigualdade social, do

desemprego, etc é fruto da nossa ignorância.

112

Nossa omissão pode permitir que um dia aconteça (já está

acontecendo) de não podermos professar nossa fé no Deus

verdadeiro, o mesmo Deus que Elias professava.

Não devemos conscientizar a respeito de vivermos nossa fé

no mundo da política só para defender os interesses morais e o

nosso credo, mas também defender o direito inalienável da

dignidade humana, como disse Tiago: fé com obras.

A palavra nos mostra que Elias teve medo (II Rs 19) da

rainha Jezabel e correu para a montanha a fim de salvar sua vida,

chegou a desejar a própria morte ao ter que enfrentar o poder

político e religioso da rainha. Então Deus disse a Elias:

“Que fazes aqui, Elias”? Em outras palavras, quem mandou

você se esconder aqui? Elias respondeu de maneira astuta: “Estou

devorado de zelo pelo Senhor, o Deus dos exércitos”.

Elias tentou com este discurso bajulador enganar Deus, na

verdade ele estava ali com desejo de abandonar sua missão por

motivo de covardia.

Quantos de nós, mesmo conscientes de que uma sociedade

só será transformada e tornar-se-á cristã, no sentido pleno, ou seja,

tanto em critérios de moral como também de respeito à pessoa

humana nos limitamos a fugir covardemente desta missão

transformadora, nos apegando apenas numa espiritualidade

convencional, descomprometida com a justiça social.

113

Quantos de nós somos bajuladores porque nossos discursos

e pregações são bem parecidos com a astuta resposta de Elias:

“Estou morrendo de zelo”...

Diz à palavra que Deus passou diante de Elias: primeiro um

vento impetuoso e violento que fendia as montanhas e quebrava os

rochedos, mas o Senhor não estava naquele vento; depois do

vento, a terra tremeu, mas o Senhor não estava no tremor da terra;

passado o tremor de terra, acendeu-se um fogo, mas o Senhor não

estava no fogo; depois do fogo, ouviu-se um murmúrio de uma brisa

ligeira. Tendo Elias ouvido isso, cobriu o rosto com o manto, saiu e

pô-se a entrada da caverna. Uma voz disse-lhe: “Que fazes aqui,

Elias”?

Pois é, às vezes nos parecemos com Elias, somos

demasiadamente covardes e nossa “unção” não é suficiente para

lutar contra o poder político que não está a serviço do homem.

Nossas missões muitas vezes são impulsionadas pelas

aparências, pelos sinais visíveis e pelos elogios que recebemos.

Viver Deus compromissado com o bem comum e com a

dignidade humana, viver Deus no meio dos pobres e abandonados,

viver Deus no mundo político é muitas vezes saber viver o

testemunho sem grandes alardes.

Nesse contexto de fé, com certeza não veremos vento

impetuoso e violento (milagres, curas, estruturas tecnológicas,

fama...), nem experimentaremos a terra tremer (aplausos, grande

114

quantidade de pessoas, holofotes, prestígios, realizações...), nem o

fogo (a mudança urgente das estruturas ou a conversão imediata

do meio ou das pessoas envolvidas).

Ser profeta neste meio que me refiro neste capítulo é saber

contentar-se com o murmúrio de uma brisa ligeira, como a mulher

que se contentou com as migalhas que caíram da mesa (Mc. 7, 24-

30).

É não ter o luxo de sentir-se realizado, pois sabe a dor do

irmão excluído e abandonado. O pecado existente nas estruturas

políticas e do poder não permite que estejamos sossegados

enquanto não conseguirmos construir a civilização do Amor.

Ser profeta neste meio é não carregar jamais a alegria e o

orgulho pelas quantidades de pobres acolhidos, pois seria

contraditório arrogarmos o direito de se orgulhar pelas quantidades

de assistidos, pois para o profeta que vive e experimenta a dor do

povo excluído e marginalizado quanto maior a nossa obra, maior é

o sinal de que a injustiça não foi vencida.

Se a irmã Dorothi que defendia os que não têm terra

estivesse rodeada de vento impetuoso (proteção), do tremor de

terra (grande quantidade de pessoas, as mesmas que se encontra

em nossos eventos espirituais) e do fogo (tecnologia)

provavelmente seu testemunho de amor e libertação estaria ainda

sendo pronunciado pelos seus lábios. Porém ela tinha a brisa ligeira

da presença de Deus (a bíblia – sua única arma) e por isso ela é

115

sem dúvida a maior das bem aventuradas que existem em nosso

meio.

Nenhuma estrutura tecnológica, nenhuma palavra proferida

de onde quer que seja, nenhuma comunidade por maior que seja,

nenhum encontro por mais pessoas que possui, nenhum livro por

mais famoso que pareça superará o testemunho de vida desta irmã

que defendeu em vida os mais pobres, com certeza no deserto

daquele lugar passou mesmo ligeiramente a brisa da presença de

Deus.

Você sabe o que Deus mandou Elias fazer? Deus não disse

a Elias que deveria estar morrendo de zelo por Ele, ali naquela

montanha, mas deu uma ordem a Elias:

“Retoma o caminho do deserto, na direção de Damasco”...

Eu vi homens e mulheres de Deus, seduzidos por satanás

em suas ganâncias espirituais, onde seu zelo os deixou cegos

diante de sua principal missão: a presença de Jesus no irmão

pobre.

Desce das alturas do seu orgulho e perceba que o que fazes

ainda é muito pouco perante o que Deus quer, desce das alturas do

seu orgulho e veja que o seu anúncio e as estruturas que te

rodeiam o cegaram a ponto de esquecer-te que a vida humana é o

santuário mais belo que Deus quer preservar e proteger. E que tão

importante preservá-la com o anúncio da palavra na mesma

proporção da defesa de sua dignidade.

116

São João Crisóstomo somou-se em sua vida muitos

inimigos, pois era um homem que realmente era de Deus. Seu

poder de denunciar era tão corajoso como o poder que tinha de

anunciar. Por isso era tido como pouco diplomático. Muitos se

sentiam seduzidos pela sua eloqüência e pela sua santidade

evidente. Certa vez a cidade de Antioquia o convidou para pregar,

todos esperavam o grande homem de Deus ali chegar... Quando

João Crisóstomo chega à cidade e vai ao encontro da igreja que o

aguardava, ele cruza pelo caminho com alguns pobres, então ele

inicia sua homilia assim:

“Venho cumprir meu papel de embaixador, que convém ao

meu ministério e que é importante e merece toda a atenção de

vocês”.

São os pobres desta cidade que me enviam até vocês; eles

não se reuniram para me nomear seu representante: o espetáculo

da miséria deles bastou para falar ao meu coração. Atravessando

as praças e os cruzamentos, apressados, como de costume, para

vir lhes distribuir o Pão da Palavra, vi uma multidão de infortunados

estendidos pelo chão, uns sem mãos, outros privados dos olhos,

outros ainda cobertos de úlcera e chagas incuráveis, expondo aos

olhos de todos os membros que eles deviam esconder, tal o estado

de horror a que o mal os reduziu. Irmãos, seria desumano não lhes

falar dos pobres, sobretudo quando a circunstância atual fez disso

uma lei tão urgente. Se é verdade que devemos exortá-los à

117

esmola em todo momento, pois temos necessidade a todo o

momento da misericórdia do Mestre comum que nos criou, quanto

mais devemos fazê-lo tendo em vista o frio rigoroso de agora...

(João Crisóstomo – Homélie sor I‟aumône. Oe uvres complétes,

1866, IV, p.10).

São João Crisóstomo era um homem que morria de amor e

zelo pelo Deus Único, você duvida disso? Porém nunca se

esqueceu de viver o deserto em sua vida!!!

Não é justo que usemos dos pobres para fazer marketing

pessoal ou marketing de nossas comunidades. Nossas pregações

devem estar também comprometidas com a denuncia das injustiças

existentes em nosso meio e que os bens que recebemos não sejam

frutos de propina ou bens que deveriam estar sendo investido no

bem estar da população mais carente.

Quero terminar este capítulo lembrando o que aconteceu

com o povo da bíblia em Josué 7, 1s. por causa da desobediência

de Acã que ao conquistar uma cidade tomou posse indevidamente

de um bem que não pertencia, como ele (Acã) mesmo disse:

“Vi no meio dos despojos um belo manto de Senaar,

duzentos ciclos de prata e uma barra de ouro de cinqüenta ciclos e

cobiçando, tomei-os” (Js. 7,21).

Essa atitude de Acã custou à derrota do povo de Deus em

Hai e a vida de pessoas (Js. 7,4-5).

118

Pode até ser belo o local que conquistou para acolher o povo

a fim de evangelizá-lo, pode até ser maravilhoso os equipamentos

adquiridos para anunciar o reino de Deus, pode até ser

aparentemente abusado e ousado sua atitude de construir grandes

projetos para falar de Deus. Porém se para conquistar tudo isso,

você cegamente, condicionado por uma ambição espiritual utilizou

meios que não são justos, estará como Acã, violando a fidelidade

ao Deus da vida e contribuindo que ainda muitos inocentes

continuem morrendo pelo uso indevido de dinheiro público.

Conheci um político que com o peito estufado e o orgulho a

flor da pele dizer que graças a ele a “comunidade tal” era o que era.

Dizia ele que fazia sua parte e vivia nos altares daquele lugar.

Só não entendo aonde arrumava tanto dinheiro e como

conseguia tantos recursos, só sei que se beneficiava muito desta

comunidade para permanecer no poder.

Como político apresentava um mandato medíocre, sem

nenhuma preocupação social.

Perseguia os que eram contrários à sua maneira de agir,

usando de meios escusos para tanto: dominando e intimidando as

pessoas que o denunciava.

A tal comunidade ajudou-o a eleger simplesmente porque

venderam a alma para alcançar a tão ambiciosa e pretensiosa

missão de evangelizar.

119

Quando um profeta dali resolveu denunciar ao fundador das

incoerências deste irmão, este profeta foi escorraçado daquele

lugar; o mesmo lugar aonde tantas pessoas simples e humildes vão

para adorar e glorificar a Deus.

A tentação do deserto serve para todos nós, mesmo os que

caminham na Igreja, pois não devemos esquecer que “o fim não

justificam os meios”.

O demônio ofereceu a Jesus as três tentações que todo o

homem passa:

Primeiro o ser: “Se és filho de Deus”... (Mt.4, 5-7). Não

devemos nos enganar aceitando qualquer coisa, para mesmo que

seja para usar nas obras de evangelização. Pode ser que

queiramos provar o quanto somos realmente de Deus: “olha que

estrutura, que ousadia eles tiveram naquela obra”???

Segundo o ter: “Se és filho de Deus, ordena que estas

pedras se tornem pães”... (Mt. 4, 2-4).

Tenhamos cuidados para nos deixarmos seduzir pelas

riquezas que nos oferecem, por nossas comunidades não

distanciarem de seus objetivos, seduzidas pela tranqüilidade

financeira que adquiriram. Muitos grandes santos sem posse

construíram grandes projetos de evangelização, só com a

humildade e com a santidade de suas ações.

Terceiro o poder: “Dar-te-ei tudo isto se, prostrando-te diante

de mim, me adorares”... (Mt. 4, 8-9).

120

Cuidemos daqueles que nos oferecem coisas fáceis.

Tenhamos cuidados até mesmo no campo espiritual para não

sermos levados pela ambição espiritual de que evangelizaremos o

país e o mundo todo nem que para isso usemos de todos os meios

e recursos financeiros que vierem, sem importarmos como vem e

de que maneira veio. Pode ser que uma ambição pessoal cegue a

verdadeira vontade de Deus em nossa vida: a santidade!

Que a presença viva de Jesus na pessoa do simples e

desprezado não passe despercebido em nossas missões.

Nossas comunidades estão longe de ser luz e sal da terra.

Ainda hoje há muita gente excluída e que não encontra

acolhimento em nossas comunidades.

Nossos discursos e pregações são fantásticos até para

convencer a respeito de alguns pontos de vista que temos em

relação a grupos de exclusão da sociedade.

Frases do tipo: “eu denuncio o pecado e não o pecador” é

comum serem usadas, mas na prática nossas comunidades ainda

são lugares de preconceito e falta de acolhimento.

Enquanto houver grupos excluídos em nossa sociedade é

porque nós cristãos não estamos sabendo como acolher e como

trabalhar com as pessoas que sofrem preconceitos.

Nós estamos longe de sermos resposta aos pobres, doentes,

homossexuais, prostitutas, dependentes químicos, etc.

121

Termino este capítulo evocando sobre nós o exorcismo: do

poder, do ser e do ter e exorcizar todos nossos preconceitos e

omissões que construímos em nosso meio.

As comunidades e as autoridades podem abafar a voz dos

profetas que lutam pela libertação dos pobres, dos excluídos da

sociedade, porém jamais abafarão a voz do pobre que chega aos

ouvidos de Deus.

E finalizando, segue esta passagem da bíblia que

provavelmente tenha passado despercebida por você ou então

tenho a certeza de que você não “grifou” esta passagem:

A água apaga o fogo ardente,

A esmola enfrenta o pecado.

Deus olha para aquele que pratica a misericórdia, dele se

lembrará no porvir;

No dia de sua infelicidade este achará apoio.

Meu filho, não negues esmola ao pobre,

Nem dele desvies os olhos.

Não desprezes o que tem fome.

Não irrites o pobre em sua indigência.

Não aflijas o coração do infeliz.

Não recuses tua esmola àquele que está na miséria;

Não rejeites o pedido do aflito.

Não desvieis os olhos do pobre.

122

Não desvieis os olhos do indigente, para que ele não se

zangue.

Aos que pedem não dês motivo de te amaldiçoarem pelas

costas, pois será atendida a imprecação daquele que te amaldiçoa

na amargura de sua alma.

Aquele que o criou atenderá.

Torna-te afável na assembléia dos pobres,

Humilha tua alma diante de um ancião,

Curva a cabeça diante de um poderoso,

Dá ouvidos ao pobre de boa vontade.

Paga a tua dívida.

Dá-lhe com doçura uma resposta apaziguadora.

Liberta da casa do orgulhoso aquele que sofre injustiça.

Quando fizeres um julgamento, não o faças com azedume.

Sê misericordioso com os órfãos como um pai;

E sê como um marido para a mãe deles.

E serás como um filho obediente do Altíssimo, que, mais do

que uma mãe, terá compaixão de ti. (Eclo. 3, 30-31. 4, 1-11).

Amém.

123

O EXCESSO DE ACOLHIMENTO

É possível alguém ser acolhido mais do que o necessário? É

possível exceder no acolhimento, a ponto de ser prejudicial à

pessoa acolhida?

A palavra de Deus por diversas vezes cita passagens de

correção da parte de Deus e das pessoas que nos rodeiam como

uma forma de nos preparar e manter-nos humildes, como:

“Filho meu, não desprezes a correção do Senhor. Não

desanimes quando repreendido por Ele; pois o Senhor corrige a

quem ama e castiga todo aquele que reconhece por seu filho”...

(Pv. 3, 11s).

Vejo que quando Deus escolhe alguém para um chamado

real, este filho ou filha, passa por diversas provações e tornam-se

grandes homens e mulheres de Deus. Dizem as histórias dos

santos, todos sem exceção passaram por provações duras, pois

eram muito amados por Deus e odiados pelo diabo.

A grande maioria das pessoas não sabe viver sobre elogios

e acabam estragando-se e perdendo o sentido do seu chamado.

Não desanime quando for repreendido, incompreendido ou

caluniado.

Agradeça a Deus por esta oportunidade e peça a Ele que de

forças para prosseguir.

124

A tendência é de sempre acharmos que estamos com a

razão e que os outros estão totalmente errados, pode até ser, mas

é importante às vezes silenciarmos e aproveitarmos estes

momentos para crescermos na humildade.

“Se o justo me bate, é um favor; se me repreende, é como

perfume em minha fonte. Minha cabeça não o rejeitará; porém, sob

seus golpes, apenas rezarei”... (Sl. 140, 5).

O problema de muitos pastores é que são bajulados pelos

fiéis, tornam-se absolutos e sensíveis a qualquer crítica.

Até os protótipos de pastores são bajulados em suas

formações e depois se tornam insuportáveis. Alguns até parece que

foram formados em redomas de vidro, onde está escrito: “não me

rele e nem me toque”!

Alguns pastores exageram a ponto de perseguir e maltratar

as ovelhas que o questionam.

Quando bajulamos as pessoas, elas tornam-se limitadas e

auto-suficientes; dengosos e só ama os que lhe agradam o ego.

Algumas comunidades ou pessoas são verdadeiros

profissionais e profissionais bajuladores que impressionam pelo

quanto alienam o pastor e faz dele um discípulo de cristal, alheio

aos verdadeiros problemas da comunidade.

Há também muitos membros de comunidade que não

aceitam críticas e correções e por isso mesmo afastam-se da

125

missão, não conseguindo superar o menor dos problemas da

caminhada; a crítica!

A palavra de Eclesiástico (capítulo 02) é magnífica e serve

para todos os que verdadeiramente querem em sua missão ser de

Deus:

“Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece

firme na justiça e no temor e prepara a tua alma para a provação;

humilha teu coração, espera com paciência, dá ouvido e acolhe as

palavras de sabedoria; não te perturbes não tempo da infelicidade,

sofre as demoras de Deus; dedica-te a Deus, espera com

paciência, a fim de que no derradeiro momento tua vida se

enriqueça. Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece

firme; na humilhação, tem paciência. Pois é pelo fogo que se

experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus

pelo caminho da humilhação. Põe tua confiança em Deus e Ele te

salvará. Orienta bem o teu caminho e espera Nele. Conserva o

temos a ele até na velhice”. (Eclo, 2, 1-6).

Outro fato que leva muitas pessoas a distanciarem do projeto

de Deus são as mordomias que possuem e o que aliena o sujeito e

o faz desmerecer até a própria missão.

Há pastores que não sabem quanto custa uma caixa de leite

ou 01 quilo de arroz.

Alguns andam com roupas finas, engomados, alienados ao

sofrimento do povo. Pois ganham tudo de “mãos beijadas” e

126

acabam se tornando “fracos” na missão, não suportando nem os

problemas que o cercam, quanto mais os problemas de seu povo.

Se Deus tirasse as mordomias que possui, você continuaria

fiel a Ele?

Alguns pastores se baseiam na palavra para justificar suas

mordomias:

“E todos aqueles que por minha causa deixar irmãos, irmãs,

pai, mãe, filho, terras ou casa receberá o cêntuplo e possuirá a vida

eterna”... (Mt. 19, 29).

São Pedro teve luxo em sua missão? São Francisco e outros

viveram no luxo em suas vidas?

Que tiveram a vida eterna eu não duvido, mas que fizeram

de suas vidas uma abstinência natural de mordomias, isto fizera.

Mas Deus não foi fiel a eles? Pois muitos pastores se

baseiam nesta citação acima para justificar o quanto se acomodou

em suas missões.

A verdade é que nós, os discípulos de Pedro e Francisco e

de outros, estamos vivendo a mordomia e o contra testemunho.

Conheço comunidade onde o fundador amava os pobres e

lecionava para os carentes e hoje esta comunidade se enriquece

dando aula para alunos ricos.

É revoltante quando alguns “almofadinhas” justificam seus

impérios dizendo que o local onde Deus está tem que haver

dignidade e ser o mais belo possível.

127

Dignidade é amar o Templo vivo de Deus que é o ser

humano e de forma preferencial os mais carentes.

Dignidade é o local onde Deus habita não estar violado pela

injustiça social e pelo escândalo da riqueza injustiça e contraditória.

Dignidade é ter humildade, é ter a consciência que enquanto

houver no mundo, pobres o reino de Deus não aconteceu.

Eu denuncio em nome de Deus que hoje vivemos uma

sociedade corrupta em todos os segmentos e que muitas

comunidades se estruturam com dinheiro injusto, dinheiro que

deveria estar sendo usados para a educação, fome, moradia... e

que estão sendo roubados do pobre e transformados em estruturas

tão corrompidas quanto o dinheiro e o benefício extorquido.

“Que o Senhor não se irrite se falo ainda uma última vez!

Que será, se lá forem achados dez justos? E Deus respondeu: Não

a destruirei por causa desses dez”.

“Nossa salvação ainda bem está em Jesus Cristo o único

justo que morreu na cruz por todos nós”...

A corrupção é tão grande que o fato de quase a grande

maioria ter se corrompido é que o erro tornou-se verdade e que a

verdade tornou-se mentira.

E que ninguém mais grita ou denuncia, pois todos estão

“com o rabo preso”. Incomoda profundamente que para você ter

crédito da palavra, precisa antes provar através de quantidade

estruturais a que se cerca.

128

O menino da manjedoura não seria nem observado pela

nossa história. Já que não veio cercado por grandes construções e

pela mídia.

Aceitaríamos muitos profetas por estarem cercadas pela

mídia, mas não aceitaríamos Jesus de Nazaré...

Herodes ignoraria Jesus hoje pelo fato dele ter nascido em

algum barraco de alguma favela por aí...

Volto a repetir este tipo de assunto irrita profundamente a

todos, pois é um convite a mergulhar no essencial que é a justiça

de Deus.

Muitos não pregam este assunto, pois sabem que suas

comunidades esvaziariam em pouco tempo.

“E ante o progresso crescente da iniqüidade, a caridade de

muitos se esfriará”... (Mt. 24, 12). “Mas quando vier o Filho do

homem, acaso achará fé sobre a terra?”... (Lc. 18, 8).

Há muitos profetas que optam por determinada missão não

como chamado, mas como meio de vida.

Alienam-se pela mordomia de vida e pela facilidade como

vivem, às vezes sendo até custo alto para a comunidade.

Conheci um pastor que não conseguia arcar com as regras

impostas pelo seu ministério e preferiu sair da sua comunidade e

ingressar em outra, a fim de manter sua missão e seu ministério.

Porém, foi aconselhado por outro pastor (?) da comunidade

que deveria continuar com a vida que levava e com o ministério que

129

exercia, dizia ele que as mordomias que levavam era melhor do

que assumir que não estavam vivendo com honestidade, pois

assim poderiam fazer tudo que quisessem, desde que não

deixassem transparecer.

Este pastor por coerência deixou a comunidade que

representava e foi duramente criticado por muitos, enquanto aquele

que o aconselhou manteve seu ministério. O que demonstra como

nós somos incoerentes quando nos preocupamos apenas com as

aparências.

Se alguns pastores fossem exigidos na mesma proporção

que muitos pais e mães de famílias já teriam com certeza

abandonados seus ministérios.

Os membros de uma comunidade trabalham o dia inteiro e

sustentam sua família com o suor do rosto, e ainda arrumam tempo

para caminhar na comunidade. Muitas mães e pais se atarefam até

altas horas da noite e todos os finais de semana. Atuam nas festas

da comunidade e nos eventos de corpo e alma e na segunda-feira

bem cedo estão levantando para a labuta do dia a dia.

Façamos, porém justiça aos pastores que muitas vezes se

doam também à comunidade e são desrespeitados pelas suas

ovelha, quando são exigidos deles uma vida de anjo, quando na

verdade são homens e mulheres de carne e osso e por isso mesmo

precisam de privacidade e tempo para si.

130

Às vezes os que bajulam um pastor são os que fofocam e

atacam também.

Mas há muitos profetas que se comportam como

profissionais da fé, e o pior de todos, nem bons profissionais são.

Maltratam suas ovelhas (suas?), pois não faz da missão um

ato de amor.

Há os intrusos que se convidam, os oportunistas, os que não

tiveram outra opção, os que aceitaram por interesses pessoais, os

que foram impostos.

Responder ao chamado de Deus não é uma admissão

profissional, não é uma fuga, nem uma atitude de conveniência,

nem privilégio e muito menos um sonho pessoal ou realização

pessoal.

Há uma enorme diferença entre o que foi escolhido por Deus

e o intruso:

“O rei entrou para vê-los e viu ai um homem que não trazia a

veste nupcial” Mt 22,11.

O escolhido não é voluntário.

O escolhido (ungido) vive o sonho de Deus.

Sonho de Abrão: “Vós não me destes posteridade, e é um

escravo nascido em minha casa que será o meu herdeiro” Gn 15,3

Sonho de Deus: “Abraão, levanta os olhos para os céus, e

conta as estrelas, se é capaz....., pois bem, ajuntou Ele, assim será

a tua descendência” Gn 15,5

131

EU DESEJO ACOLHER O SEU PROFETA SENHOR!!!

Peçamos a Deus que nos de o dom e a coragem de acolher

o profeta em nossa comunidade, mesmo que para tanto as palavras

deste profeta nos leve a um confronto com nossas verdades e que

nos leve a questionamento duro e dolorido a ponto de derrubar em

nós todas as nossas máscaras, desmascarando uma santidade

superficial baseada em um moralismo falso.

Acolhemos o verdadeiro profeta em nossas comunidades

não recusando seus ensinamentos sejam eles em conformidade

com que pensamos ou contrário ao que vivemos e pensamos.

Acolhemos os profetas que respeitem sua comunidade e dogmas

da Igreja.

Ao profeta cabe levar em seu coração a palavra de Deus e

quando não acolhido trazer em seu coração o perdão de Deus.

Pois com a certeza de que não é a pessoa do profeta que é

rejeitado, mas o próprio Jesus que ele (o profeta) o representa.

O Senhor disse a Samuel:

“Ouve a voz do povo em tudo o que te disserem, não é a ti

que eles rejeitam, mas a mim, pois já não querem que eu reine

sobre eles” I Sm 8,7.

Disse Jesus: “Quem vos ouve, a mim ouve; e quem vos

rejeita, a mim rejeita; e quem me rejeita, rejeita aquele que me

enviou (Lc. 10,16)”.

132

Portanto se o profeta representa a pessoa de Jesus deve,

portanto quando rejeitado ter os sentimentos de Jesus:

“Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem (Lc.

23,34a)”.

Na introdução deste livro louvei a sua coragem por começar

a ler um livro com um tema provocante como este.

Agora louvo ainda mais sua coragem e persistência por ler

um livro que em nenhum momento preocupou-se em agradar o(a)

leitor(a), mas dizer aquilo que muitas vezes doe e machuca nosso

ego.

Nasci na Igreja e por um bom tempo me comportei como um

verdadeiro moralista sentia que era um santo e que minha

espiritualidade estava sempre a um nível superior aos demais.

Foi quando me aproximei de Deus em oração e pedi que me

desmascarasse de toda falsidade, que tocasse no ponto mais forte

(meu orgulho) e me ferisse no ego.

“Vendo que não podia vencê-lo, tocou-lhe aquele homem na

articulação da coxa e esta deslocou-se, enquanto Jacó lutava com

ele” Gn 32,25.

A partir deste momento senti que Deus tirava todo o véu que

cobria minhas limitações, minha espiritualidade convencional e

conveniente e comecei a enxergar toda minha pobreza humana.

Compreendi que a luz que brilha em mim não era uma luz

própria, assim como a lua não tem um brilho próprio, mas reflete a

133

luz do sol,a minha luz é a luz de Deus e da sua misericórdia por

mim.

Pedi perdão a Deus por todas as pessoas que magoei e que

neguei em minhas pregações e atitudes e as que nego ainda hoje.

Hoje tenho claro que só caminho pela misericórdia de Deus.

Termino este livro em homenagem e ao mesmo tempo como

forma de denúncia ao orgulho que se abateu em uma enorme

árvore, que outrora, era apenas uma semente simples e humilde e

que morreu sobre a perseguição e as críticas.

E morrendo na terra tornou-se flor e cresceu tornando-se

árvore.

Muitos “oportunistas” se interessaram por seu tamanho e ela

acabou perdendo sua inocência e afastou-se do seu verdadeiro

chamado.

Seus galhos se espalharam e seus frutos apreciados

passaram a ser aceitos por aqueles que um dia lhe jogaram pedras.

Ninguém joga pedra em árvore sem fruto.

Os oportunistas a usaram, comeram seus frutos e ignoraram

os que a ajudaram a crescer.

E seu fim eu não sei, mas já vi muitas histórias parecidas de

árvores como ela que um dia desapareceu.

“Eis (a Assíria), é um cedro do Líbano, de magníficas

ramagens. Com espessa ramagem e elevada estatura, cujo cimo se

alteia em meio às nuvens.

134

As águas fizeram-no crescer, o abismo fê-lo altear-se,

dirigindo suas águas para onde ele estava plantado, e enviando

seus regatos as todas as árvores da região.

Dessa forma, dominava, ele todas as árvores do campo;

seus galhos se alongavam, sua ramagem se desenvolvia; graças à

abundância das águas que o tinham feito crescer.

Em seus galhos se aninhavam todas as aves do céu.

Sob seus ramos davam cria todos os animais dos campos e

à sua sombra descansava toda espécie de gente!

Era bela por sua grandeza, pela extensão dos seus galhos,

porque suas raízes mergulhavam nas águas abundantes.

Nenhum cedro do jardim de Deus rivalizava com ele, os

aprestes não atingiam o talhe de seus ramos e os plátanos não

igualavam suas ramagens; nenhuma árvore do jardim de Deus se

equiparava a ela em esplendor.

Eu o havia dotado de tão luxuriante ramagem, que todas as

árvores do Éden, jardim de Deus, dele tinham inveja.

Por isso, eis o que diz o Senhor Javé: porque Ele foi tão

orgulhoso de seu porte e ergueu seu cimo até as nuvens e o seu

coração se ensoberbeceu devido à sua altitude, entreguei-o nas

mãos de um poderoso das nações, que o tratará como merece sua

malignidade, e o destruirá ( Ez 31, 1-11).

135

Profeta que sua missão seja baseada na simplicidade e no

amor a todas as pessoas, que suas mãos sejam tão belas como

seus pés que levam a palavra de Deus às pessoas.

Que vossa língua seja fonte da sabedoria de Deus e que

jamais esqueça que quando carregar o tesouro da Palavra, do

outro lado, o ouvinte, é alguém que precisa ser acolhido com amor.

Mantenha sempre a humildade e o seu ministério, sua

missão será sempre abençoada.

“Porém, temos este tesouro em vasos de barro, para que

transpareça claramente que este poder extraordinário provém de

Deus e não de nós. Por isso, não desanimamos deste ministério

que nos foi conferido por misericórdia” II Cr 4,1.7

Obrigado pela sua atenção!

136

BIBLIOGRAFIA

Wilfried J. Harrington, OP – Chave para a Bíblia – Ed.

Paulinas – 1985

Christiane Saulnier e Bernard Rolland – La Palestine au

temps de Jesus – Cadernos Bíblicos – Paulus.

Patrick de Laubier – As três Cidades – LTr.

Jorge Pixley – A História de Israel a partir dos pobres –

Coleção Deus Conosco – Vozes.

Vocabulário de Teologia Bíblica – Ed. Vozes.

Dicionário Enciclopédico da Bíblia – Ed. Vozes.

Santo Domingo – Ed. Loyola.

Bíblia Ave-Maria.

Bíblia Jerusalém.

137

BIOGRAFIA

Gilberto é um dos fundadores da Comunidade Acolhimento

Bom Pastor.

Autor dos livros:

1 – Gratia Plena

2 – Lançai as redes!

3 – Vinde, Bendito!

Filho de pais católicos é um dos onze filhos que Miltom e

Regina tiveram.

Esposo de Regina e pai de Mariana e Juliana.

Participou de diversos segmentos na Igreja: Vicentino,

Legionário de Maria, Congregado Mariano, Comunidade de Jovens,

Pastorais e Catequista.

Em 1982 conheceu a Renovação Carismática Católica e

através da experiência do Pentecostes teve a certeza do amor de

Deus.

Em 2002 fundou a Comunidade Acolhimento Bom Pastor

juntamente com Branca, Mauro, Carlos, Isabel, Celso, Rita e

Regina fundaram a Comunidade Acolhimento Bom Pastor.

A Comunidade tem como carisma o Acolhimento baseado na

tríplice dimensão: acolher é amar, é evangelizar, é formar.

A Comunidade Acolhimento Bom Pastor através de seu

carisma prega a Palavra de Deus onde é convidada e realiza um

138

trabalho social de promoção humana e cidadania através do Projeto

Madre Teresa de Calcutá.