deus enviou um profeta! vocÊ o acolheu?static.recantodasletras.com.br/arquivos/3194804.pdfdedico...
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Comunidade Acolhimento Bom Pastor Estrada Municipal do Varjão, 1641. Bairro novo Horizonte. CEP; 13.212-590 Jundiaí – SP Fone / Fax: (11) 4582-4163 E-mail: [email protected] Jundiaí, Brasil, 2005
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Há um conto que diz que em uma determinada cidade havia um grande sábio que ao entardecer ia até a praça da cidade e aconselhava todos os que se aproximavam dele com palavras de sabedoria.
O povo da cidade o amava com exceção de um jovem que tinha profunda inveja do sábio e que possuía um espírito muito ruim, então este jovem pensou consigo:
“Vou desmascarar este sábio fazendo-o passar vergonha diante de toda a cidade, vou fazer o seguinte: irei com uma pomba atrás de mim escondida às costas e com a mão estarei segurando seu pescoço e perguntarei ao sábio o que tenho em minhas mãos, ele com certeza descobrirá, pois sua sabedoria e seu dom são indiscutíveis, então perguntarei novamente a ele, se a pomba está viva ou não; se ele responder que está morta eu a soltarei, se disser que está viva destroncarei seu pescoço e direi que errou.”
Chegou o entardecer e aquele jovem se aproximou da praça e olhando em direção do sábio gritou:
“Sábio o que tenho em minhas mãos?” O sábio respondeu ao jovem: “Você tem uma pomba” O jovem, com as mãos no pescoço da pomba, perguntou
ansioso e com grande empolgação, era a hora de fazer com que o sábio passasse vergonha diante de todos.
“Mas me diga sábio, ela está viva ou morta?” O sábio olhou para o jovem e com serenidade respondeu: “Depende de você” Meu querido leitor e leitora a decisão entre acolher o profeta
ou não, depende de você!
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DEDICAÇÃO
Dedico este livro às minhas famílias que com muito carinho me acolheram no amor fraterno e no amor de Deus:
Meus pais: Dona Regina e Sr Miltom (em memória). Aos meus dez irmãos e irmãs de sangue, aos quais admiro
muito. À minha esposa Regina e minhas filhas Mariana e Juliana. À Comunidade Bom Pastor. Aos fundadores da Comunidade Bom Pastor, que abdicaram
de seus sonhos pessoais para viver o sonho de Deus: Branca, Mauro, Isabel, Carlos, Celso, Rita e Regina.
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SUMÁRIO
Prefácio..................................................................... 06 Introdução................................................................. 09 O profeta................................................................... 12 O profeta da casa..................................................... 22 Profetas desconhecidos.......................................... 40 Profeta acolhedor..................................................... 50 Existe um profeta em sua comunidade.................... 61 Você o reconheceria hoje?....................................... 73 O Local de Deus....................................................... 81 Profetas mártires...................................................... 100 O excesso de acohimento........................................ 123 Eu desejo acolher..................................................... 131 Bibliografia................................................................ 136 Biografia.................................................................... 137
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PREFÁCIO
... qualquer arma forjada contra ti, ver-se-á destinada ao
insucesso,
na justiça ganharás causa de qualquer língua que quiser
acusar-te.
Tal é o apanágio dos Servos do Senhor,
tal é o triunfo que lhes reservo, diz o Senhor.
Esta citação bíblica encontra-se no livro do “profeta” Isaías
(Is. 54, 17).
Profeta verdadeiro é aquele que fala segundo a vontade de
Deus; não é novidade lermos algo sobre profetas ou principalmente
sobre os falsos profetas, sobre aqueles que profetizam em nome
próprio e segundo idéias e objetivos pessoais.
Fazemos discursos sobre aqueles, que segundo nossa
opinião e em alguns casos reais, enganam e manipulam as
pessoas com suas falsas profecias. Buscamos nos preparar para
reconhecermos um falso profeta, todavia não nos preparamos para
receber um verdadeiro profeta.
Nem sempre nossa vontade é vontade de Deus, ao ouvirmos
o que não nos agrada imediatamente sofremos a tendência de
ignorarmos ou procurarmos quem possa dizer aquilo que realmente
desejamos ouvir.
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Historicamente um profeta raramente é bem recebido, assim
como se observarmos todos aqueles, que se fazem profetas (por
conveniência) são constantemente adorados.
Este livro nos apresenta um profundo questionamento e
intensas reflexões sobre o acolhimento ao profeta enviado por
Deus.
Esta obra merece um olhar atento, pois nos estimula a
amarmos a Palavra de Deus dita da boca de um profeta, além de
mostrar que Deus não envia um profeta segundo os paradigmas e
padrões da sociedade. Ele envia aqueles que muitas vezes são
vistos como os menores e os mais simples.
Que cada linha possa levá-lo (a) caro (a) leitor (a) há um
mergulho nos ensinamentos inspirados por Deus através de todos
os profetas que passaram pela história da humanidade. Entre
aqueles que falaram mesmo quando todos tentavam calá-los, entre
aqueles que mesmo sendo fracos e pequenos mantiveram viva a
Palavra de Deus.
Acredito que este livro é a voz de Deus através de um
profeta escolhido por Ele.
É com muito amor que prefacio esta obra, que tocou
intensamente meu coração, primeiro por conhecer a índole e
respeitar profundamente o autor, em segundo por acreditar que
cada capítulo fará com que todos os que corajosamente desejarem
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compreender que Deus constantemente nos fala, poderão
conhecer pouco a pouco uma das maneiras que Ele tem de a nós
falar.
Sílvia Regina Siqueira
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INTRODUÇÃO
Não sei se o caro leitor está tendo um primeiro contato com
este livro por curiosidade ou se neste momento já teve alguém que
o indicou a você.
De qualquer forma louvo a sua coragem já que o título do
livro vem com um questionamento forte e provocativo.
Quero poder através deste livro, ir ao encontro de suas
expectativas atendendo de alguma forma os anseios que o levaram
a leitura deste.
Porém como o próprio título lembra, estamos falando do
profeta e como mísero profeta, função que recebi no meu batismo,
falar o que Deus me pede e não o que agrada ao leitor.
Mas tenho a certeza que se estiver de acordo com Deus às
palavras deste livro nos levarão a uma conversão, pois a falta de
acolhimento aos nossos profetas às vezes ultrapassa o bom senso.
Não sou um escritor conhecido e provavelmente não serei
após este livro já que minhas pretensões no momento são escrever
algo que sinto Deus me ordenando.
Não sei se estas pobres linhas chegarão às mãos de
alguém, pois o custo para lançar um livro chega a ser alto demais.
Mas o fato de você estar lendo estas linhas, acredito ter
alcançado o que parecia inalcançável.
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Por mais alto que pareça esta missão ou desafio, tenho a
certeza de que Deus é sempre maior.
Todo profeta é denunciador e anunciador e
conseqüentemente acaba sendo polêmico e mal entendido. Não
tenho medo das conseqüências deste, como já disse espero estar
cumprindo com a vontade de Deus.
Meu caro leitor que Deus possa estar falando com você
sendo profeta ou não e que possa estar lhe abençoando com todas
as bênçãos do céu.
Todos sem exceção já deixaram de receber um profeta em
sua comunidade, pois o profeta verdadeiro acaba sendo justamente
os que passam despercebidos ou mal entendidos.
Caro leitor que estas poucas linhas possam levar você a um
amor maior às pessoas que encontram em sua comunidade a fim
de que não aconteça o que aconteceu aos profetas da bíblia.
“Então Jesus propôs-lhes esta parábola:” Um homem
plantou uma vinha, arrendou-a a vinhateiros e ausentou-se por
muito tempo para uma terra estranha. No tempo da colheita enviou
um servo aos vinhateiros para que lhe dessem do produto da vinha.
Estes o feriram e o reenviaram de mãos vazias. Tornou a enviar
outro servo; eles feriram também a este, ultrajaram-no e
despediram-no sem coisa alguma. Tornou a enviar um terceiro;
feriram também este e expulsaram-no. Disse então o senhor da
vinha: Que farei? Mandarei meu filho amado; talvez o respeitarão.
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Vendo-o, porém, os vinhateiros discorriam entre si e diziam: Este é
o herdeiro; matemo-lo, para que se torne nossa herança. E
lançaram-no fora da vinha e mataram-no. Que lhes fará, pois o
dono da vinha? Virá e exterminará estes vinhateiros e dará a vinha
a outros “. Lc. 20,9-16
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O PROFETA
Em hebraico a denominação corrente do profeta era nabi. A
origem do vocábulo é incerta; com toda a probabilidade quer dizer
“o que é chamado”.
Na setenta (LXX) nabi se traduz sempre por prophetes. A
palavra vem do verbo phemi – “dizer”, “falar” mais o prefixo pro.
Este pro não é temporal (predizer), mas substitutivo (falar em lugar
de, em nome de).
O profeta é um porta-voz, um arauto, alguém que fala em
nome de Deus; é alguém chamado por Deus para ser seu porta-
voz.
O rei herdava o trono, o sacerdote é originário da tribo de
Levi, mas os profetas eram chamados e escolhidos diretamente por
Deus.
O profeta é um homem que teve um encontro pessoal e
extraordinário com Deus. Não só as palavras do profeta, mas as
suas ações, sua própria vida são profecias.
A visão que o profeta tem de Deus penetrou toda a sua
maneira de pensar, e ele vê as coisas do ponto de vista de Deus, e
está convencido de que as vê assim.
Aqui vejo a importância do profeta e sua clara consciência a
respeito de sua missão perante a sua comunidade:
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O que devo dizer? O que devo falar? A resposta é clara e
direta:
“Falar em nome de Deus e, portanto falar o que Deus quer e
não o que a comunidade quer ouvir; ser o profeta “a boca” de
Deus.”
Há muitos profetas que falam, escrevem ou age pensando o
quanto lucrará com tal atitude. Há muitos profetas que falam se
preocupando com o quanto vão agradar o público e o quanto serão
requisitados e quanto venderão em livros e cds, etc.
Por isso fala dos finais do tempo, do céu, do inferno, da
condenação, da salvação, da prosperidade, etc; em contínua
persistência porque perceberam o quanto “vende” com estes
assuntos.
É bem verdade que existem muitos profetas que falam
apenas para causarem impactos, utilizando palavras e mensagens
que de certa forma acabam mais ofendendo quem está ouvindo do
que propriamente fazendo que a mensagem chegue ao ouvidos
atentos daqueles que estão presente.
É comum nestes casos usarem os profetas frases que
chocam as pessoas, desrespeitando as tradições daquele povo,
fazem pregações visando o religiosismo do povo ou maneira de
pensar daquele povo como que querendo provocar ou mostrar que
a teologia o faz mais sábio que a fé simples de um povo que
aprendeu a ver Deus em suas imagens e gestos populares.
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A verdade é que muitos profetas acabam perdendo a grande
oportunidade de aprender com a simplicidade do povo, quando
colocam seus estudos e conhecimentos acima da sabedoria
popular. Acabam também perdendo a oportunidade de mudar a
atitude da comunidade, ao invés de usar de sabedoria e bom senso
preferiu optar pela agressividade.
Sábio é o profeta que antes de tudo tenta entender o povo e
experimentar a vida que levam para depois denunciar os abusos
religiosos que ali existem. Sábio é o profeta que não se coloca
sempre a um nível superior e que não olha de cima para baixo os
seus ouvintes.
Quanto tempo este povo ficou a mercê da palavra do
pastoreio? Será que foi isto justamente que fez deste povo, a anos
distante de um pastoreio efetivo, a uma religiosidade popular?
Ao estarem anos distante da doutrina (não de Deus, com
certeza) não seria de um grande bom senso o profeta ir com
calma?
Para estes, Jesus disse:
“Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque
escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes
aos pequeninos. Sim, Pai, eu te bendigo, porque assim foi do teu
agrado”. Mt. 11,25-27
Há também muitos outros profetas que após uma pregação
que surtiu um efeito agradável na assembléia, aqui tanto faz se
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foram risadas, choros, manifestação de admiração, etc, insiste na
mesma pregação por onde anda desrespeitando o tema sugerido
por Deus, só pelo fato de sair dela ovacionado pelos ouvintes (ou
pela comunidade).
Lembro-me de certa vez um jovem profeta dizer com orgulho
que quando começou seu ministério recebeu o conselho do
responsável da comunidade que se ele quisesse ser aceito no meio
teria que tomar cuidado com a maneira com que falasse e que
graças a este conselho ele era agora reconhecido por todos, é
interessante, porém a um detalhe que passou despercebido o
profeta de Deus não fala para ser reconhecido, fala em nome de
Deus. Imagine se Jeremias, João Batista, Jesus... falassem apenas
para serem reconhecidos.
Portanto o profeta quanto mais inserido em sua comunidade
e quanto mais tiver os pés no chão mais entenderá a Palavra de
Deus, já que ele não fala aos anjos ou as nuvens mais ao povo da
terra. Os pés no chão e o coração em Deus.
Os profetas da bíblia eram concretos, pregavam e
denunciavam a partir de suas realidades.
Apesar de apresentarem em suas profecias previsões do
futuro, se preocupavam muito mais com o presente e às vezes até
um pouco com o passado.
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Os profetas da bíblia tiveram uma importância tão grande em
seu tempo que influenciaram até na sobrevivência de seu povo
influenciando e participando politicamente na história.
Mas não foram políticos profissionais, mas acima de tudo
profetas de Deus, portanto foram muitos além da simples influência
e participação política do povo, promoveram uma tradição religiosa
que eles haviam herdado, fomentaram seu desenvolvimento entre
os séculos VIII e IV a.C., e o legaram, decididamente enriquecido
ao judaísmo.
Eram os profetas bíblicos fiéis ao dogma fixado na era
mosaica – os monoteísmos éticos – e exploraram-no plenamente.
Portanto os profetas da bíblia conseguiam ser
questionadores das atitudes e comportamento do seu povo sem
deixar de ter respeito à doutrina que aprenderam e que
principalmente representavam.
Há muitos “profetas” (?) que ao querer profetizar ou falar em
nome de Deus invoca para si mesmo uma verdade que acredita ter
recebido dos céus e em nome deste iluminismo pretensioso
confrontam com toda a verdade absoluta e dogmas criando uma
grande confusão em sua comunidade, levando muitas pessoas ao
escândalo da fé. Pra estes a palavra é clara e consista:
“Mas, se alguém fizer cair em pecado um desses pequenos
que crêem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço a mó
de um moinho, e o lançassem no fundo do mar”. Mt. 18,6
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Estes “profetas” iluministas geralmente duram pouco e suas
palavras acabam esvaziando-se no tempo, pois não possuíam nada
de concreto. Porém acabam criando grandes problemas que
deixam marcas profundas na comunidade.
Outra característica predominante nestes profetas é que são
como que “macacos” que pulam de galhos em galhos. Vão de uma
comunidade a outra semeando a confusão e construindo em suas
caminhadas pouca coisa concreta e madura.
Lembro-me bem quando tinha uma padaria, fui padeiro
durante seis anos e amadureci muito durante estes anos na fé. Mas
um dos fatos corriqueiros que ocorriam eram pessoas que vinham
no meu comércio falar mal do concorrente e logo depois pedir para
abrir uma caderneta para ela.
No início como não tinha experiência eu achava que estava
fazendo um bom trabalho e por isto estava eu cativando novos
fregueses. Com uma ingenuidade imensa eu ia abrindo as
cadernetas dos que se aproximavam do meu comércio reclamando
do concorrente.
Numa escala de proporção diria que a cada dez cadernetas
abertas referentes a este tipo de clientela, nove eram maus
pagadores. A verdade é que quando chegavam até minha padaria
reclamando do concorrente é que já estavam devendo lá e por isso
apelavam para outros comércios da redondeza.
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Assim acontece também em nossas comunidades, devemos
estar atentos aos que se aproximam de nossas comunidades
reclamando de fulano ou sicrano ou de determinada comunidade,
na maioria das vezes são pessoas problemáticas. Alguns acabam
abrindo sua própria comunidade, mas não demora muito e acabam
tendo a mesma experiência, só que neste caso o “iluminista” passa
a ser o réu.
O profeta é alguém que recebeu um chamado de Deus e
que por isso mesmo quer falar em nome de deste Deus, portanto
não é um desejo de querer aparecer ou ser a voz da verdade. É
comum acontecer que a própria comunidade perceba o dom deste
profeta.
Ele não é rotulado, apesar de lhe colocarem rótulos, ele não
tem que só falar de graças ou desgraças, de alegria ou sofrimento,
de bênçãos ou advertências, da cruz ou da ressurreição, ou seja, o
profeta deve falar do que Deus lhe ordenar, sem pressões ou
influências internas ou externas.
O profeta não é reconhecido pelo dom que tem de falar
bonito, CUIDADO! Há muitas pessoas que falam bonito e podem
não ser profetas de Deus:
“Rogo-vos irmãos, que desconfieis daqueles que causam
divisões e escândalos, apartando-se da doutrina que recebestes.
Evitai-os! Esses tais não servem a Cristo nosso Senhor, mas ao
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próprio ventre. E com palavras adocicadas e linguagens lisonjeiras
enganam os corações simples”. Rm. 16,17-18
Dois critérios que faziam dos profetas bíblicos profeta
autêntico:
- O cumprimento de sua predição (Jr. 28,9-16s);
- A conformidade de seu ensino com a doutrina tradicional
(Jr. 28,7s); a analogia da fé.
Na verdade estes dois critérios se entendem como um
cumprimento da profecia (Dt. 18,21s); o outro critério, o mais
importante, a doutrina e a vida do profeta (Dt. 13,1-5), que deveria
no ponto de vista do Deuteronômio manifestar-se na linha do puro
Javismo.
É quase impossível na minha acepção definir com critérios
ou regras o verdadeiro profeta ou o profeta autêntico, mas eis
algumas características importantes na minha modesta concepção:
a) Se o profeta é obediente à sua comunidade e
conseqüentemente ao seu superior;
b) Se o profeta tem testemunho de vida na comunidade e
principalmente em seu lar;
c) Se o profeta respeita a tradição, doutrina e a palavra de
Deus a qual representa;
d) Se o profeta tem vida de oração;
e) Se o profeta tem humildade e obediência pela
comunidade que o convidou a falar;
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f) Se o profeta é justo e está atento às injustiças da sua
época e as denuncia em defesa dos injustiçados;
g) Se o profeta não escolhe quantidade e qualidade e não
exige nada em troca pelos seus oráculos, a não ser os custos de
sua missão.
O leitor (a) deve estar perguntando a si mesmo se o tema do
livro é acolher bem o profeta porque neste capítulo falo e denuncio
os falsos profetas, parece até uma contradição com o título deste
livro.
Pode ser que o fato de ter sido excluído em sua comunidade
fez com que pegasse este livro e o lesse tentando encontrar uma
resposta à falta de aceitação de sua comunidade pelos seus
oráculos. Às vezes o fato de ter sido isolado pode ser que não seja
falta de acolhimento de sua comunidade, mas sim lhe faltou
respeito à comunidade e, portanto a comunidade acabou isolando-
o. Reconhecer sua falha é um grande passo para tornar-se um
grande pregador. Não desista, mesmo enxergando seus erros, pois
o Senhor corrige os filhos que ama:
“Ainda não tendes resistido até o sangue, na luta contra o
pecado. Estais esquecidos da palavra de animação que vos é
dirigida, como a filhos: Filho meu, não desprezes a correção do
Senhor. Não desanimes, quando repreendido por ele; pois o
Senhor corrige a quem ama e castiga todo aquele que reconhece
por seu filho (Prov. 3,11s)”.
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Portanto para que este livro não seja um estandarte nas
mãos de falsos profetas achei importante começá-lo falando dos
falsos profetas em nosso meio ou dos profetas equivocados e que
querem reaver suas atitudes e permitir que a comunidade e Deus o
ajudem a crescer no seu ministério de falar em nome de Deus.
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O PROFETA DA CASA
Aqui neste capítulo quero tratar com coragem e veemência
uma das maiores injustiças que se cometem contra o profeta.
Foi justamente esta injustiça que fez com que Jesus se
admirasse do povo de sua terra pelo fato de não ter sido acolhido
apesar dos milagres e sinais que acompanharam sua pregação e
missão.
Portanto quero começando com esta palavra explanar o
assunto referente ao segundo capítulo deste livro: “O profeta da
casa”.
O Evangelho de Marcos 6,1-6 nos relata:
“Depois ele partiu dali, e foi para sua pátria, seguido de seus
discípulos. Quando chegou o dia de sábado, começou a ensinar na
sinagoga. Muitos o ouviam, e tomados de admiração, diziam:”
Donde lhe vem isso? Que sabedoria é essa que lhe foi dada, e
como se operam por suas mãos tão grandes milagres?
Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, o irmão de Tiago, de
José, de Judas e de Simão? Não vivem aqui entre nós também
suas irmãs?”E ficaram perplexos a seu respeito. Mas Jesus disse-
lhes:” Um profeta só é desprezado na sua pátria, entre os seus
parentes e na sua própria casa.
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Não pôde fazer ali milagres algum, curando poucos
enfermos, impondo-lhes as mãos. Admirava-se da desconfiança
deles. E ensinando, percorria as aldeias circunvizinhas.
Toda vez que leio esse texto me admira o fato de que Jesus
em sua estadia aqui na terra sofrera tudo que uma pessoa poderia
sofrer inclusive a rejeição de sua pátria pelas suas pregações.
É incrível o fato deste texto evangélico, citar que Jesus
operava grandes milagres e admiravam-se pela sua sabedoria e
apesar de tudo desconfiaram do Mestre a ponto de Jesus
consternado ter realizado em sua pátria poucos sinais, e nenhum
milagre.
Neste texto vejo por parte dos compatriotas de Jesus alguns
preconceitos claros sofridos por Jesus e que os profetas sofrem em
suas terras.
O primeiro preconceito é a respeito da profissão de Jesus,
dizem que ele era o carpinteiro. Como que dizendo que aquele
homem era de origem simples e, portanto como poderia ter tanta
sabedoria em suas palavras?
Como que para falar com autoridade de Jesus a pessoa tem
que ter estudo, classe social privilegiada, formação acadêmica, etc.
A sabedoria não se compra e nem se adquire apenas pelos
caminhos do estudo até pelo contrário dependendo do indivíduo o
fato de ter muito estudo acaba tornando-o tão vazio quanto suas
teorias intelectuais e evasivas.
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Com certeza os estudos são importantes e ajudam muito em
uma pregação, mas não devem e não podem ser motivos
essenciais para definir o verdadeiro profeta.
A sabedoria é divina e, portanto Deus a revela e dá a quem
quiser. A sabedoria como todo dom é uma gratuidade de Deus aos
filhos que ama.
Quando conversamos com pessoas simples encontramos
sabedoria que nenhuma escola nos ensinou, como diz estes
sábios, a escola que estudaram foi à escola da vida.
Pessoas idosas têm uma experiência profunda de fé, pois
passaram muitas dificuldades e venceram e por isso mesmo olham
para o passado e vêem com seus erros e acertos como esteve
Deus presente em suas vidas.
Infelizmente muitos grandes profetas acabam passando
despercebidos em nossas comunidades por puro preconceito. Uma
comunidade que se preza tem os olhos voltados para importância
de cada um, independente de raça, classe social, sexo, idade e etc.
O preconceito em relação a Jesus neste caso foi tão grande
que nem sua fama de milagreiro e nem sua sabedoria conseguiram
convencer aquele povo que naquela terra havia um grande profeta,
o profeta dos profetas: o Salvador.
Um relato bíblico demonstra de forma clara como Deus é
desconcertante até para escolher um profeta como no caso da
escolha de Davi.
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Quando Samuel foi à casa de Isaí pai de Davi ele informou
que ali Deus queria escolher um rei entre seus filhos. Samuel ao
ver Eliab pensou consigo: “Certamente é este o ungido do Senhor”.
Porém a resposta do Senhor a Samuel foi magnífica:
“Não te deixes impressionar pelo belo aspecto, nem pela sua
alta estatura, porque eu o rejeitarei. O que o homem vê não é o que
importa: o homem vê a face, mas o Senhor olha o coração”. 1 Sm.
16,1ss.
Isaí mostrou os seus sete filhos e todos foram recusados
pelo Senhor; então parecia que Deus não haveria de escolher
nenhum daqueles, foi quando Samuel perguntou a Isaí se ele ainda
não tinha algum filho. Isaí respondeu:
“Resta ainda o mais novo que está pastoreando as ovelhas”.
Para Isaí aquele menino jamais poderia ser o rei de Israel,
pois se prendeu na aparência, assim como Samuel que quase
ungiu um dos filhos de Isaí por causa da aparência.
Deus vai mais longe, Ele olha o coração e viu que Davi
possuía algo que os outros filhos de Isaí não tinham e que
justamente estava no interior de Davi. A história comprova o amor
puro e singelo e fiel que Davi teve por Deus, tornando-o o rei mais
respeitado da história de Israel.
Lembro-me bem quando conheci a Renovação Carismática
Católica, eu era um menino muito tímido. Sentava nos últimos
lugares da Igreja e suava frio de medo que algum pregador me
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visse lá e perguntasse alguma coisa. Eu corava facilmente e não
conseguia falar com as pessoas. Alguns irmãos da Comunidade
Bom Pastor costuma dizer que as portas faziam mais barulho que
eu.
Mas havia um jovem negro líder e responsável do grupo que
não sei qual o motivo acreditou que eu era um líder em potencial e
que havia em mim uma promessa de Deus para ser um líder na
Igreja.
Certa vez ele me deu a missão de falar sobre a Eucaristia no
Grupo de Oração e o meu tempo era de 10 minutos. Fiquei
bastante nervoso e ansioso na semana que antecedia o dia da
pregação, não dormi direito, nem me alimentei direito e me dava
vontade de chorar desesperado com aquela missão. Pensei em
desistir e dentro de mim havia uma alegria imensa de querer falar
em nome de Deus e acabei indo e pregando.
Este dia jamais será esquecido em minha vida, pois quando
cheguei à frente do povo eu tremia tanto que não agüentei ficar em
pé a ponto deste líder do grupo se aproximar de mim e segurar-me
durante a pregação. Foram dez minutos que pareciam uma
eternidade.
Desde então comecei a fazer uma pregação após a outra a
ponto de quase todo dia ter uma pregação para fazer, isto tudo
porque Deus através daquele líder acreditou em mim e foi muito
além da aparência.
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Voltando à palavra outro fator que me chama atenção não
sei se chega a ser preconceito, o fato das pessoas citarem os
nomes dos parentes de Jesus.
Neste item vejo o quanto ainda às pessoas precisam crescer
em relação ao acolhimento aos profetas da casa. Acho muito
engraçado como os profetas que vem de fora (são homens e
mulheres de Deus sem dúvida alguma) são vistos de uma forma tão
iluministas, que parecem ser mais santos dos que estão na própria
cidade, diocese, estado, comunidade, etc.
Mas aqui neste caso tenho uma teoria que tento explicar
este tipo de atitude e que aconteceu também com Jesus.
Acredito que o fato daquele profeta vir de fora faz com que
pareça que ele desceu do céu como se fosse um anjo e que traz
consigo a palavra divina e muitas vezes testemunhos de tudo que é
bom que Deus fez. Há alguns que relatam as curas, sinais e até
algumas graças de Deus em seu ministério. São poucos os profetas
que falam de suas cruzes, de seus sofrimentos e até mesmo de
seus pecados e da paciência que Deus tem por ele.
Alguns profetas falam de certa maneira de seus dons
sobrenaturais que parecem que ao estalo dos dedos, Deus atende
prontamente seus pedidos, como que em um passe de mágica.
Quanto que os profetas da casa têm uma história concreta,
tem família por isso mesmo não desceram do céu e ainda, muitos
profetas se envolvem com a administração da comunidade,
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portanto precisam usar da autoridade e correção quando
necessário e acabam por este motivo passando como profetas
“menores”.
É interessante saber que os profetas maiores da bíblia eram
todos envolvidos com pregações de conversão e participação
política e administrativa de seu povo e por isso mesmo,
considerados profetas maiores (Isaías, Ezequiel, Jeremias,
Zacarias) pela importância que tiveram em seu tempo.
É bom lembrar por uma questão de justiça aos profetas da
terra que todos eles inclusive Jesus foram mal recebidos,
perseguidos e mortos pelos seus compatriotas.
Eu já cheguei a presenciar a pregação exaustiva de
conversão pelos profetas da casa sem conseguirem resultados
positivos, pois diziam que ele estava falando aquilo que sabiam e,
portanto jogando “indireta” aos ouvintes.
Logo após nesta mesma comunidade vieram pregadores de
fora e fizeram as mesmas pregações e os ouvintes mudaram.
O que me entristece em relação à recusa aos profetas da
casa é que vemos os meios de comunicação juntamente com os
artistas e cantores valorizarem as músicas, cd´s e as pessoas da
terra muito melhor do que nós cristãos.
Certa vez ao conhecer uma comunidade muito famosa e
querida até idolatrada por alguns, perguntei ao integrante dela se o
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povo dali da cidade vivia ali nos eventos da comunidade e para
minha surpresa ele disse:
“O povo daqui não participa e o movimento religioso na
cidade é muito fraco”.
Aquela cidade não prestigiava o que muita gente em todo
lugar do país admirava e deseja visitar, estar presente. Os profetas
daquela comunidade são requisitados por todo o país e até
internacionalmente, mas ali na sua localidade o povo nem fazia
conta.
Já ouvi um responsável de uma comunidade dizer: “Na
minha comunidade só trago pregadores de fora, pois os daqui da
cidade não estão ao nível da minha comunidade”.
A verdade é que o profeta da casa ele não só prega em sua
cidade, mas convive e, portanto seu lado humano, seus defeitos,
suas limitações ficam bem mais fácil de serem observados.
Em um retiro em minha cidade veio um pregador de fora e o
tema sugerido foi “comunidade”. Num certo momento de sua
pregação ele que era muito querido disse com muita sabedoria:
“Vocês acham que eu sou bom porque venho de outro lugar para
falar coisas bonitas para vocês. Pois bem não se enganem,
venham morar comigo e conviver comigo para certificarem que não
sou metade do que imaginam que sou, venham descascar cebola
comigo na comunidade e procurem informação dos que convivem
comigo e verão que muitas falsas imagens cairão por terra”.
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Admirei este pregador pela sua sinceridade e por permitir dentro do
tema daquele retiro sairmos com os pés no chão.
Passado um tempo este pregador que havia gostado de
nossa cidade transferiu para nossa diocese e como que se as
palavras dele parecia ser uma profecia exata do que aconteceria,
ele ficou apenas um determinado tempo conosco, pois seus
defeitos vieram à tona e ele foi novamente transferido. O anjo
quebrou as asas!!! Mas com certeza continuou sendo o que sempre
foi: um humano que tem direito de errar e por isso mesmo continua
pregando e falando de Deus.
O engraçado de tudo isto é que as pessoas que o
requisitaram não o chamaram mais, pura hipocrisia o que confirma
de certa forma a minha teoria que os profetas que vem de fora são
vistos como que anjos perfeitos vindos do céu como se não tivesse
nenhuma história concreta de erros e acertos em suas vidas.
Sejamos honestos quantos erros e pecados alguns grandes
personagens bíblicos cometeram e nem por isso deixaram de ser
grandes profetas de Deus.
Imaginou se a atitude do povo daquele tempo fosse igual às
atitudes nossa, será que Davi teria sido perdoado após o pecado
grave que cometeu com Urias (II Sm. 11,1ss)?
E às vezes achamos que somos melhores do que o povo da
bíblia; com certeza participaríamos da morte de Jesus.
31
As últimas frases do relato de Jesus em sua pátria pelo
evangelista Marcos chega a ser chocante.
Não pode fazer ali milagres algum... Quantas pessoas
deixaram de ser curadas e ficarem sem ouvir as palavras de
sabedoria de Jesus somente pelo fato de que o mesmo era da
própria terra. Jesus passou por ali e passou despercebido.
Assim acontece em sua cidade quando não acolhe um
profeta da casa ou duvida que Deus possa realizar cura por
intermédio de sua oração. Assim acontece uma pregação de
conversão que poderia ter mudado a história da sua comunidade e
não aconteceu porque você não acreditou e não viu no rosto deste
profeta a face, a pessoa de Jesus que ali esteve e que passou
despercebido também.
Tenho a certeza de que Jesus também hoje se admira
consternado da desconfiança daqueles que mal receberam um
profeta da terra, seja por ciúmes, seja por puro preciosismo, seja
por hipocrisia, seja por qualquer motivo contrário ao que Deus quer.
O profeta seja quem for é humano, tem dificuldades, possui
cruz, tem seus defeitos e por isso mesmo o torna mais admirado
porque apesar de tudo isto ele acredita na misericórdia de Deus e
põe-se a serviço.
Perdoe-me a ousadia de dizer isto que vou dizer, mas são
justamente os “medalhões” os que estão à frente da comunidade
que criam este tipo de preconceito e rejeição e não culpem o povo,
32
pois o povo simples tem um dom todo especial de receber os
profetas seja ele de onde for.
Olha este relato bíblico: “Mas os príncipes dos sacerdotes e
os anciãos persuadiram ao povo que pedisse a libertação de
Barrabás e fizesse morrer Jesus” (Mt. 27,20).
A verdade é que muitos de nós ainda nos parecemos
adolescente em relação à palavra proferida pela boca dos profetas.
Achamos que os profetas de outra comunidade, de outra cidade, de
outra paróquia, de outro estado são sempre melhores que os
profetas da casa. Os adolescentes muitas vezes costumam achar
que os pais do vizinho são melhores do que seus próprios pais.
Quero deixar claro aqui, que os profetas que vem de fora são
abençoados e devem ser acolhidos com muito respeito e amor.
O que denuncio aqui é o mau acolhimento que fazem aos
profetas da terra. Acredito firmemente que um povo abençoado é
aquele que ama seus profetas e o respeitam.
Como também vejo a importância de trazer profetas de “fora”
para que aja um enriquecimento na comunidade que o convidou,
com certeza este profeta trará para a comunidade experiências
novas e riquezas diferentes.
Mas é importante insistir: E se Deus resolveu mostrar seu
plano à sua comunidade e utilizar a boca do profeta da terra para
que seja anunciada a vontade de Deus? Sua comunidade ficaria ao
recusar este profeta, à mercê do desejo de Deus. Quantas pessoas
33
pagariam pela incredulidade e dureza do seu coração, eu pergunto
é justo?
O evangelista Marcos nos consola profundamente ao saber
que nem Jesus foi aceito em sua pátria.
Consola o relato do profeta Jonas que ao pregar para o povo
de Nínive conseguiu que eles convertessem, já que o povo da
pátria não o ouvia.
Consola que por mais rejeitado seja o profeta da casa suas
palavras nunca serão em vão, pois Deus através do tempo sempre
mostrou que seus profetas estavam certos e por isto ninguém cala
a voz de Deus.
Agradeço a Deus pelos profetas da minha terra e louvo por
todos os líderes e profetas aqui chamados para serem a voz de
Deus. Agradeço a todos aqueles que aqui vieram e trouxe em suas
experiências uma história de fé e amor pela palavra de Deus.
Outra rejeição que o profeta recebe é o da própria família,
que ao perseguir ou não aceitar a sua missão cobra do profeta um
perfeccionismo moral que chega a desanimar aquele que caminha
na comunidade.
A família é em muitos casos os que mais perseguem e são
obstáculos para a missão e fé do profeta. O demônio sabe muito
bem que o ponto fraco de todos nós é o amor que temos pelos
nossos entes queridos e quando os mesmos reclamam e acusa,
isto acaba arrasando até os mais acirrados profetas.
34
Quantas mulheres desejam ardentemente que seus esposos
e filhos participem da comunidade e façam parte da missão que
assumiram na Igreja. Enquanto isto muitas mulheres são
obstáculos aos seus maridos reclamando que os mesmos não
saem da Igreja e acabam até fazendo coro junto com os filhos;
pobres mulheres que abusam e ofendem o coração de Deus.
Feliz do homem que tem uma boa mulher... (Eclo. 26,1a).
Já fui muito perseguido na comunidade por causa de
mulheres ou maridos que tentam a todo custo justificar seus
problemas acusando o marido ou esposa por participarem da
Igreja. Deus é fiel e justo, pois derrama graças enormes nas
esposas e maridos que permitem que seus entes participem do
reino de Deus e eu sou testemunha disso em minha família.
É lógico que o profeta precisa discernir direito até que ponto
não está abandonando sua missão primeira: a família, e fazendo de
sua participação na Igreja uma missão sem discernimentos e
prudência e digo a respeito daqueles que também usa, a Igreja
como um tipo de fuga para não ter que ficar em casa.
Mas há e muitos casos maridos e esposas, filhos e filhas que
não conseguem enxergar a mão de Deus abençoando seu lar e sua
vida devido à fidelidade do profeta que ali se encontra e dedica sua
vida em primeiro lugar a Deus.
Um lar que serve a Deus e que é santuário da vida será
sempre um lar abençoado!!!
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Não sei se serve de consolo o que vou falar agora, mas
acredito muito nisso e tenho como verdade de fé em minha vida:
Você é a porta de entrada da sua casa para que Deus possa entrar
e transformar sua família, portanto não deve nunca desistir. Eu
acredito que há uma esperança de conversão em seu lar e esta
esperança é Jesus, e você é o canal pelo qual Deus escolheu para
entrar em sua família e fazer que a esperança se concretize e
realize. Acredite você é o escolhido (a) de Deus, o profeta que deve
sofrer, se for necessário, perseguições para que a graça aconteça
em sua casa.
Querido (a) leitor (a) até quando você vai caminhar com suas
forças acreditando que seus filhos são propriedades vossa. Que
sua casa foi fruto de seus esforços e que só depende de você para
que tudo continue em pé? Até quando você vai enganar você
mesmo achando que tem fé e continua colocando sua família e
seus negócios à frente de Deus? Até quando você vai dizer que
não tem tempo para Deus?
PARE DE SE ENGANAR E ENTREGUE DE UMA VEZ POR
TODAS A SUA FAMÍLIA, SEUS BENS E TEMPO A DEUS,
URGENTE, ANTES QUE DEUS PASSE DESPERCEBIDO EM SUA
VIDA, E, VOCE DESCUBRA QUE ATÉ AGORA APENAS
BRINCOU DE FÉ.
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Não confie demasiadamente que seu status de hoje possa
sustentar você até a vida eterna, pois as coisas de Deus não se
medem com valores materiais, mas espirituais.
Sei que não sou nenhum grande profeta e que estou muito
distante da santidade, mas já experimentei o quanto Deus é fiel
com aqueles que acreditam.
Já perdi chances de ser promovido nos lugares onde
trabalhei só pelo motivo de não priorizar meu trabalho em relação à
missão que recebi de Deus.
Sei que muitas pessoas após casarem ou lutarem para ter
uma vida mais cômoda acabam se afastando de Deus para através
de um trabalho escravo conseguir mais dinheiro e conquistar
posições e coisas na vida. Tudo isto leguei o segundo plano em
minha vida por amor a Deus e Ele foi fiel. Recebi das mãos de
Deus uma família maravilhosa e o necessário (às vezes até mais)
para viver.
Só tenho que agradecer a Deus, pois confesso que houve
momentos que pensei que estava no caminho errado e tive vontade
de me vender aos objetivos materiais da vida, se consegui até
agora é porque Deus me proporcionou por pura gratuidade já que
acredito não merecer tantas graças assim.
Aceitar colocar as coisas do reino em primeiro lugar é aceitar
viver do necessário.
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Não é justamente este “capitalismo selvagem” que tem
afastado tantos homens e mulheres da Igreja? É uma aberração e
um absurdo o que muitas empresas fazem com o cidadão que quer
ter um pouco de dignidade na vida, são horários malucos que
afastam as pessoas de Deus, da família e do bem estar. Às vezes
pergunto aonde queremos chegar até que ponto tudo isso é
progresso?
Costumo dizer em minhas pregações que fico pouco em
casa por causa de minha missão, mas que Deus proporciona tempo
para eu ficar em casa, quando fico em casa eu realmente estou
presente. Procuro ficar o tempo todo brincando com minhas filhas
(tenho duas pequeninas) e dou atenção à minha esposa.
Há muitos pais que mesmo estando fisicamente em casa
permanecem distantes da família.
Na minha caminhada na Comunidade já ouvi muitos
péssimos conselhos e até maldição, o interessante é que sempre
parte dos(as) irmãos (ãs) da caminhada.
Nasci na Igreja, pois meus pais foram muito católicos, então
quando criança, os adultos diziam que na juventude eu não seria
tão perseverante na comunidade.
Chegou à juventude e eu me dediquei ainda mais a Deus.
Então vieram os casais e disseram que quando eu casasse e
tivesse filhos pequenos eu abandonaria a Igreja. Eu e minha
esposa sempre servimos a Deus e de forma intensa.
38
Falaram que eu priorizaria meu trabalho em função de
adquirir meus patrimônios. Priorizei Deus e Ele como meu maior
patrimônio me deu o necessário e até mais do que merecia.
Quando adquiri uma padaria me disseram que eu não
agüentaria viver na Igreja e conciliar as duas coisas. Realmente
não foi fácil, mas nesse tempo que eu tinha a padaria eu ia todos
os dias na Igreja a serviço do reino de Deus.
Agora ouço que quando meus filhos forem adolescentes, eu
e minha esposa, teremos dificuldades para caminhar na Igreja...
Às vezes penso que os homens gostam de prever o futuro
das pessoas baseando-se na falta de fé que possuem. Alguns nos
dizem que quando esse dia chegar que fazem questão de me
cobrar e lembrar a mim e minha esposa que nos avisaram.
As profecias anteriores não aconteceram e se as posteriores
ocorrerem terei uma enorme oportunidade de provar minha fé e
meu amor por Deus.
Vejo muitas pessoas dizendo que não tem tempo para ir à
igreja, para rezar, para dar atenção aos filhos, para dar atenção a si
mesmo, para divertir-se.
Ouvi de um profeta que tempo é uma questão de
preferência, acredito, portanto, que estamos colhendo o que
priorizamos em nossas vidas; será que Deus é a sua preferência?
Não vejo, por exemplo, uma esposa cobrar do marido que
ele tem trabalhado muito, e por isso teria que abandonar o serviço.
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Mas existem muitas pessoas da família que cobra o pouco
que o profeta oferece a Deus. O mais trágico de tudo isso é que
Deus é o autor da vida.
Senhor Jesus faça que possamos encontrar de maneira
sábia o equilíbrio em nossa caminhada de fé.
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PROFETAS DESCONHECIDOS
O que me inspirou escrever este capítulo foi justamente um
dia em que peguei minha escritura para ler e deparei com um relato
bíblico cujo título escolhido pela editora é “Morte do profeta
desconhecido” (I Rs 13, 1-32).
Então me inspirou naquele momento fazer justiça a todos os
profetas desconhecidos de nossas comunidades que passaram
despercebidos por serem humildes e principalmente por terem
colocado cem por cento em prática aquilo que Jesus pediu:
“Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos
homens, para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis
recompensa junto de vosso Pai que está no céu” (Mt. 6,1).
Fui certa vez pregar em um encontro em minha cidade e ouvi
dizer que algumas pessoas não iriam, pois não conheciam a
Comunidade.
Há pessoas idólatras que só vão a eventos por causa dos
pregadores. Então na minha pregação eu a abri com esta frase:
“Disseram que somos desconhecidos, que bom! Quando o profeta
é desconhecido quem aparece é Jesus de Nazaré”.
A grande verdade e tão dura de ser encarada é que a
primeira reação que temos quando queremos pregar em nome de
Deus é o fato de que estaremos expondo nossa pessoa e, portanto
a partir daí estaremos sendo reconhecidos por muitos e quem tem
41
o “dom” da palavra sabe o quanto é respeitado e admirado em
mesma proporção a que é cobrado e perseguido.
Portanto, falar em público é de certa forma uma imensa
tentação de querer reconhecimento. Fato este que muitos os que
não tem o dom da palavra acabam ambicionando este lugar de
profeta e acabam caindo em profunda desilusão ou então colabora
para esfriar os fiéis ouvintes que ao ver diante de si um irmão que
não tem o dom para falar acabam se afastando da comunidade.
Mas aqui neste capítulo especial quero falar de todos os
profetas de Deus que tem uma missão de levar o reino de Deus às
pessoas distantes seja através da palavra ou gestos de
acolhimento e amor.
Quando cheguei pela primeira vez na paróquia onde
caminhei vinte anos, encontrei ali algumas profetizas que foram
essenciais para minha caminhada.
Eram senhoras muito sofridas que tinham e tem uma
simpatia impressionante e um amor grande por todos os que
chegam à comunidade. Elas me receberam de braços abertos e
com uma tremenda paciência, como vou explicar:
Recebi a missão de dirigir o Círculo Bíblico em uma das ruas
do bairro, por coincidência (providência divina) estas mulheres (que
eram vizinhas uma das outras) ali moravam. Eu tinha apenas
dezesseis anos, com muita boa vontade e pouca bagagem,
comecei a dirigir o Círculo Bíblico. Aquelas mulheres me ouviam
42
com um sorriso nos lábios e um acolhimento que me foram
decisivos para meu crescimento espiritual.
Imagino que com dezesseis anos deveria falar muitas
bobagens ou então muitas coisas que àquelas mulheres na sua
maturidade e vivência por serem simples e sofridas já sabiam de
cor e salteado. Mas mesmo assim mostraram um interesse
medonho e não faltavam a nenhuma reunião, acabaram
incentivando nós jovens, pois éramos três, a ponto de
perseverarmos lá e ter a certeza de que Deus nos queria lá e tinha
uma missão a realizar tanto é que, fiquei naquela comunidade vinte
anos e que só mudei quando conquistei minha casa tive que mudar
de paróquia.
Dos dois outros jovens um hoje é sacerdote o outro um líder
da RCC.
Há muitos profetas que chegam em nossas comunidades,
que não o conhecemos e há muitos profetas que são da nossa
comunidade que não valorizamos e que são peças fundamentais
no plano e projeto de Deus.
Aquelas mulheres na comunidade acabavam passando
despercebidas, pois não sobem no púlpito para falar em público,
mas fazem a pregação do acolhimento de forma prática e eficiente.
Quantas pessoas trabalham em nossas comunidades, gente
que faz os serviços que ninguém quer fazer e que são
fundamentais para sustentar a vida da comunidade.
43
Carregam cadeiras, limpam o chão, acolhem pessoas,
intercede, etc, sem serem percebidas. Pessoas que provam que
não precisam aparecer e que não querem fama, mas servir. São
verdadeiros carregadores de piano e levam o piano para que os
outros toquem e acabam sendo ovacionados pelo público, já que o
público se encanta com os tocadores de piano e nunca com os
carregadores de piano.
Se você quiser encontrar injustiça em uma comunidade é
justamente com estes profetas desconhecidos que ocorrem as
injustiças maiores da comunidade.
No movimento que participo existe um ministério só destas
pessoas, mas acredite se quiser, é a único que não se oficializou.
Não sei se é porque de repente não precise de nomenclaturas para
funcionar e acaba funcionando naturalmente já que estes profetas
possuem um dom que nenhuma das outras pessoas aperfeiçoou
que é o de servir sem ser notado.
Quando Jesus estava perto da crucificação Ele foi e lavou os
pés de cada discípulo ensinando-os a serem servos dos outros. Há
muitos profetas pregadores e coordenadores que gostam de lavar
os pés do outros em dinâmica de pregação para mostrar sua
humildade.
Sugeria a estes profetas que se envolvam nos trabalhos
afetivos da comunidade carregando cadeiras, limpando e
preparando os lugares onde ocorrerão os eventos e digo com toda
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a certeza, sua pregação terá uma unção muito maior do que
simplesmente a encenação de lavar os pés dos outros em palestras
e pregações. Se existe alguém que coloca a palavra do lava pés
em prática, estes são justamente os que estão a serviços da
comunidade e que passam despercebidos na mesma.
Mas é bom lembrar por uma questão de fé e justiça que
passam despercebidos pelos homens, mas nunca para Deus,
vejamos alguns relatos bíblicos que considero de um amor imenso
de Deus por estes profetas “carregadores de piano”.
“Josué quando tomou a cidade de Jericó poupou a vida da
prostituta Raab por ela ter acolhido os espiões de Israel e os
escondidos quando entraram na cidade para espionar (Js. 2,1;
6,17; e 18,22-24)”.
“Abraão ao acolher três homens não sabia, mas estava
acolhendo três anjos e por isto acabou sendo abençoado ainda
mais (Gn. 18,1ss)”.
“A passagem de Sunamita que acolhe Eliseu em sua casa é
uma das histórias mais lindas da bíblia sobre o acolhimento e como
Deus foi fiel e propício a ela por esta atitude e a ponto dela ter em
seus braços um filho tão desejado e que por ser estéril não poderia
conceber uma criança. Mas Deus foi muito além, pois este mesmo
filho teve fortes dores de cabeça e morreu, a mulher procurou o
profeta e este orou pelo menino que o ressuscitou da morte (II Rs.
4,1ss)”.
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“Tobias era por natureza um excelente acolhedor e como
Deus lhe foi propício protegendo seu filho enviando um anjo para
ser seu guia na viagem (Tb. 5,1ss)”.
“Maria ao ouvir a notícia de que sua prima Isabel estava
grávida ela levantou-se e foi logo servir sua prima (Lc. 1,39s)”.
“A história da mulher que entra na casa de Simão e beija os
pés de Jesus e o acolhe quando ninguém ali o havia acolhido, é
maravilhosa (Lc. 7,36ss)”.
“Se não fosse Marta como Maria estaria aos pés de Jesus
(Lc. 10,38-42)”.
“Discípulos de Emaús ao acolher o “forasteiro” tiveram um
encontro com Jesus Eucarístico (Lc. 24, 13-33)”.
Existem muitos outros relatos bíblicos a respeito de
acolhimento e que não estão citados aqui.
O acolhimento acaba sendo a melhor pregação que alguém
poderia ouvir, pois acredito que as palavras acabam passando, mas
uma atitude de amor permanece. Acolher é amar, e, portanto só
acolhe aquele que muito ama.
Quando pregamos falamos a muitas pessoas como que
estivéssemos globalizando nossos ouvintes. Quando acolhemos
através de um abraço, um sorriso, um aperto de mão o acolhedor
está na verdade valorizando aquela pessoa como indivíduo único e
por isso mesmo o faz sentir-se que é alguém.
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Fui a uma comunidade fazer uma pregação, tive que ir direto
do trabalho. Ninguém me recebeu no primeiro momento a ponto de
ficar meio perdido quando ali cheguei, foi quando quase na hora de
pregar aproximou-se de mim a coordenadora da comunidade e
disse o seguinte:
- “Olha, você tem quarenta e cinco minutos para falar”.
No final da pregação todos ficaram em pé aplaudindo as
bênçãos de Deus naquela noite. Falei do Espírito Santo, insistindo
em como era importante à pessoa do Espírito Santo para a
comunidade.
Logo que terminei a coordenadora foi até lá em cima (eu não
a conhecia até o momento dela chegar junto a mim e falar do tempo
da pregação) e disse o seguinte:
- “O que nós ouvimos foi só um “leitinho”, mas quero
convidá-los para um retiro com o pregador fulano que vai nos trazer
comida sólida, participem, façam suas fichas”.
Eu havia levado só o “leitinho”, isto porque havia falado do
Espírito Santo de Deus, imagine se eu tivesse falado da vida de
algum profeta de Deus, o que seria? Um caldinho!
Alguns dias depois eu fui a uma cidade de um povo simples
que me acolheram na entrada e saída com um dom maravilhoso de
acolhimento que me deixou profundamente feliz. A comunidade ao
saber que iria um pregador de fora as tantas da noite levaram
pratos com doces e salgados para nos acolher após a pregação.
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Então entendi ainda mais, com certeza a comida sólida
quem faz não é o pregador que vem de fora, mas a comunidade
que o convida.
Quero aqui fazer justiça ao dizer que as pessoas que
acolhem realmente fazem deste ato um ato de amor, mas nem
sempre é assim...
Quantas vezes a comunidade recebe com distinção os
pregadores, fazendo diferenças entre estes ou aqueles.
Em uma semana de pregação, os pregadores pregaram com
a garganta seca, ou seja, sem terem água para beber durante a
pregação e quando veio um determinado pregador de fora, as
mulheres se alvoroçaram para acolhê-lo, inclusive competiam para
ver quem levaria água para ele. É engraçado, mas relata com
clareza que o acolhimento pode também ser fruto de escândalo e
injustiça na comunidade.
Fomos uma vez pregar em uma cidade distante, chegando lá
ficamos até a noite no evento. Depois que o evento terminou
partimos para uma casa e lá fomos dormir. Tudo isso seria normal
se não fosse um pequeno detalhe: viajamos muitas horas e à noite
fomos dormir sem nenhuma refeição. No outro dia um dos nossos
disse humildemente: “precisamos nos alimentar”.
“Quem vos recebe, a mim recebe. E quem me recebe,
recebe Aquele que me enviou. Aquele que recebe um profeta na
qualidade de profeta ,receberá uma recompensa de justo”.
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“Todo aquele que der ainda que seja somente um copo de
água fresca a um destes pequeninos, porque é meu discípulo, em
verdade eu vos digo, não perderá sua recompensa (Lc. 10,40-42)”.
O que me consola é que das muitas experiências que passei
na minha vida como pregador é que na maioria das vezes foram
experiências de ter sido bem acolhido, inclusive quando fiz
pregações de conversão e denúncia.
Mas houve outras tantas histórias de péssimo acolhimento,
mas que tão importante quanto a anterior, pois se for para ser
profeta para agradar a todos e não sofrer represálias, por causa da
palavra; acredito que não valeria a pena, pois estaria duvidando até
que ponto realmente estou sendo profeta.
Louvado seja Deus por todos aqueles que não nos acolhem;
que não nos dão um copo de água, que fazem de nossas
pregações acepções diferentes em relação a outros pregadores,
que nos julgam pela aparência, que nos julgam pelo estudo que
temos; que nos criticam por se acharem melhores, que levantam
falsos testemunhos a nosso respeito porque ouviram o que não
queriam, pois graças a estes é que a palavra de Deus nos coloca
como Bem Aventurados apesar de sermos tão pequeninos profetas
de Deus.
“Bem aventurado sereis quando vos caluniarem, quando vos
perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por
causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa
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PROFETA ACOLHEDOR
Certa vez um doutor da lei se aproximou de Jesus e lhe fez a
seguinte pergunta:
“Senhor qual é o maior mandamento da lei de Deus?”.
Jesus respondeu:
“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a
tua alma e de todo o teu espírito (Dt. 6,5). Este é o maior e o
primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este é: Amarás
o teu próximo como a ti mesmo (Lv. 19,18). Nesse dois
mandamentos se resumem toda a lei e os profetas (Mt. 22,34-40)”.
Jesus ao responder a esta pergunta que na verdade era
mais uma das armadilhas dos líderes daquela época para poder
colocar Jesus em situação incômoda deixa bem claro para nós, os
profetas, qual o caminho que devemos tomar em nossas
pregações.
É possível pregar com autoridade e denúncia e fazer isso por
amor. Nós, pregadores e profetas, devemos nos preocupar em
primeiro lugar em dosar nossas pregações e ações com o dom do
amor. Mesmo quando prego repreendendo devo fazer por amor.
Quando Deus nos escolheu profetas (sou o menor de todos),
devemos ter claro que este chamado é fruto do imenso amor de
Deus por nós.
51
Profetizar deveria, portanto ser para nós uma atitude de
amor profundo, pura doação e despojamento até mesmo do próprio
carisma herdado de Deus. Se, falo ou prego com determinação, se
tenho este dom foi porque Deus me deu e não por merecimento
próprio.
Portanto não devo aceitar nenhum privilégio por causa do
dom que recebi de Deus e nem me sentir no direito de tudo posso
pela posição que ocupo de profeta de Deus na comunidade.
É justamente neste ponto que quero falar a respeito deste
assunto referente a este capítulo: O profeta acolhedor.
Jesus disse àquele doutor da lei que o segundo
mandamento tão importante quanto o primeiro é amar o próximo
como a ti mesmo.
Pois bem se o profeta quer ser recebido bem por aqueles
que o acolhem deve ele antes de tudo acolher bem também.
O respeito, a autoridade, a admiração, o reconhecimento do
profeta não se adquire pela imposição, mas pela conquista.
O profeta deve ser o primeiro a acolher, deve ser servo de
todos, àquele que está ali para servir e não ser servido.
Ao convidarem um pregador de uma comunidade famosa,
este viria através de uma viagem de avião, quando os requisitantes
conversavam com o pregador, este fez uma exigência: só viria a
esta pregação se fosse através de determinada empresa de avião.
Pergunto, quem esta servindo a quem neste caso?
52
Precisamos ter muito cuidado com o orgulho, pois o fato de
sermos um profeta de Deus não significa que podemos deixar de
amar.
Acredito que justamente o fato de ser um doutor da lei que
fez com que aquele indivíduo se aproximasse de Jesus e achar que
tinha o direito de colocá-lo a prova. Pobre coitado recebeu a
resposta de prontidão: Ame!!!!
Às vezes penso que nós profetas, aqueles que estão à frente
de uma comunidade são os que menos acolhem.
Alguns se comportam como se fossem artistas a ponto de
fazer exigências que não são compatíveis com a realidade da
comunidade que o recebe.
O pior de tudo que até são truncados e mal humorados e
acabam ignorando o público ali presente.
Não digo que devemos ser o que não somos, mas também
não devemos fazer certas exigências que nada tem a ver com o
que realmente o somos e quem nós representamos: Jesus de
Nazaré.
Outras exigências descabíveis, são em relação a números
de ouvintes; tipo de evento, cobrança da pregação, qualidade dos
ouvintes, qualidade dos equipamentos, condição econômica da
comunidade, etc.
53
Quando falamos de marketing, propaganda, equipamento
sofisticado; acabamos esquecendo de um detalhe importante:
Jesus de Nazaré.
Estas exigências eu chamaria de escândalo da pregação e
aberração dos profetas que esqueceram de um detalhe importante:
Jesus de Nazaré.
Quando falo de Jesus de Nazaré quero lembrar que Ele foi
um menino que nasceu na manjedoura simples e pobre. Quero
lembrar que não usava microfone e nem parafernálias, quero
lembrar que não cobrava pelas suas pregações, quero lembrar que
falava aos simples e astutos, aos pobres e ricos sem distinção e
sem medo, quero lembrar que não fazia conchavos políticos que
desmerecesse o Santo que é.
Quero lembrar que com sua simplicidade e com seu amor
acolhia os desprezados da comunidade, quero lembrar que não
andava de avião, mas a pé, quero lembrar que não fazia caso das
tecnologias, por isso usou como marketing o amor às pessoas,
quero lembrar que você pregador deve ser a pessoa de Jesus, pois
como profeta de Deus fala em nome de Deus, portanto é chamado
a ser parecido com Deus.
Participei de um congresso não como pregador, mas como
participante. Este congresso reuniria todas as equipes de trabalhos
do movimento a que se referia.
54
A palavra chavão do congresso era “voltar ao primeiro amor”,
uma referência às pessoas que ali estavam para que voltasse como
era no início da caminhada a àquele amor ardente e fervoroso que
tínhamos quando começamos nossa caminhada.
Logo que cheguei ali, havia um rapaz vindo do Rio de
Janeiro que estava à nossa frente e que seu nome não constava no
controle do “simpático” senhor da recepção.
O senhor lhe foi logo dizendo que o nome do rapaz ali não
se encontrava e que por isso mesmo ele não poderia fazer nada
para o rapaz.
O rapaz insistiu que tinha dado o nome com uma paciência e
educação maravilhosa que cheguei a pensar: “Este rapaz deveria
ser o recepcionista do congresso”. Mas o senhor pediu que o rapaz
tentasse resolver a situação (brincadeira!!!!) como que se o
problema fosse do rapaz e não da organização do evento.
Tentamos ajudar, eu e o irmão que havíamos ido juntos,
dizendo ao senhor para ligar para o escritório e falar com as
pessoas cabíveis ao assunto. O senhor nos respondeu:
“Vocês não estão me entendendo; não existe ninguém no
escritório agora e não posso fazer nada”.
O que mais admirei daquele senhor é que dizia tudo aquilo
com um sorriso estampado nos lábios e com uma frieza de coração
medonha.
55
Bom o rapaz ficou ali em pé esperando e as pessoas da fila
foram passando à sua frente.
Com muito custo se comprovou que o rapaz estava com a
razão. Afinal de conta ele não veio do Rio de Janeiro para enganar
os responsáveis por aquele evento.
Mas aqui quero retomar ao tema chavão do congresso que é
à volta ao primeiro amor. É uma pena que este tema seja
trabalhado tão pessimamente pelos responsáveis já que não passa
de um saudosismo ilusório que não tem nada de concreto a não ser
lembrar que antes quando o movimento não era reconhecido e
éramos perseguidos jamais deixaríamos alguém esperando em pé
por causa de alguns tostões a menos.
A cada indivíduo que chegasse aos nossos encontros era
para nós uma conquista, pois a resistência ao movimento era
medonha e as pessoas tinham receio de participar conosco.
A recepção daquele congresso pecava em muitos outros
fatores básicos para valorizar o indivíduo; já que fomos um
movimento acolhedor e deixamos que a tecnologia a preocupação
pelo lucro nos afastasse do mais importante: a pessoa humana.
Durante o congresso, o calor era medonho, nós tínhamos
que comprar água se quiséssemos matar nossa sede. Ficávamos
um bom tempo na fila para comprar uma garrafinha de 500 ml de
água. Só o que acontecia é que a fila demorava e o coordenador
daquele evento e responsável pelo movimento ficava com o
56
microfone nas mãos insistindo que voltássemos para frente para
poder dar continuidade ao evento. Chegou uma hora que ele
mandou que todos os que estavam lá na frente voltassem para trás
e gritassem juntos para que todos os que estavam na fila da
bendita água que viessem para seus lugares.
Imagine você com uma baita sede e ter que deixar seu lugar
na fila para voltar ao respectivo lugar e só poder tomar a bendita
água duas horas depois, isso é claro se você conseguisse sair do
seu lugar e pegar os primeiros lugares da fila.
O interessante daquele congresso é que um dia desisti de
tomar água (tenho problemas renais e preciso tomar água direto) e
encontrei a caminho do hotel um ambulante com uma baita caixa
de isopor no meio da rua vendendo a bendita água que desejei
tomar. Aquele senhor, debaixo de um sol de castigar, vivia e
sustentava sua família com aquele trabalho.
Perguntei o preço da água e ele me deu a resposta o que
certifiquei que o preço que ele cobrava da água para sustentar sua
família era metade do preço cobrado pelos responsáveis do
congresso.
Bendita água que tomei aquele dia, pois valeu o sustento do
senhor e me permitiu fazer uso daquilo que é uma das coisas mais
importante na vida da gente: á água.
No hotel que me hospedei enquanto me banhava lembrei-me
do tema chavão do congresso: “O primeiro amor”!!!
57
Então comecei a ser saudosista das coisas simples e belas
dos encontros daquela época. Naquela época os retiros eram
baratos, a água ficava disponível o tempo todo e comíamos muitas
vezes na mesa onde se repartia tudo que trazíamos e ali
colocávamos. Todos eram iguais, os responsáveis pelo evento
eram todos, e todos sentávamos a mesa, havia cafezinho a
disposição de todos.
A verdade é que em nossas comunidades ainda existem tais
ações. Ao invés de cantarmos músicas antigas para trazer em
nossos corações o saudosismo também mexêssemos em nossas
estruturas injustas e nossas recepções sufocantes e
desnecessárias. Que tal ao invés de pensarmos no lucro de nossos
encontros nos preocuparmos com a felicidade dos que virão
participar do evento.
Ao invés de pensarmos no marketing frio, cheio de imagens
e aparências externas nos preocupássemos com a vida dos
participantes e do conteúdo de nossas ações.
Ali naquele congresso havia muitos profetas que sofriam em
nome daquele movimento em suas regiões e por isso mesmo
importantes no processo de manutenção do movimento.
Muitas pessoas não puderam ir ao encontro, pois o custo
alto destes eventos acaba colocando muita gente as margens da
comunidade.
58
Já vi esta história antes e presenciei que quando um
movimento cresce e não se mantém na espiritualidade de suas
ações primeiras ele está fadado ao extermínio.
Amar ao próximo como a ti mesmo.
Um coordenador e sua equipe de evento devem ser os
primeiros a sofrerem e a testar o fruto de sua coordenação para
poder saber se aquela atitude não está prejudicando a quem vem
ao encontro.
Deve pegar a fila igual a todos, pagarem à mesma quantia
de todos, não deve ter privilégios no hotel das cidades, pois o
dinheiro economizado deveria ser de todos, deve ser ele o último
dos últimos, o servo dos servos.
Se nossos políticos assim o fossem tenho certeza absoluta
que muitas injustiças cairiam por terra.
Se nós os criticamos veemente por isso, deveríamos nós
não imitar suas ações.
Nós profetas devemos ser sinal de contradição a esta
sociedade injusta e profundamente mesquinha em que vivemos.
Onde olhamos nossos umbigos e esquecemos de “Amar o próximo
como a ti mesmo”.
O que me consola é que tudo o que fazemos vem à luz e
quem semeia vento colhe tempestade. Deus nos permite que
nossas injustiças sejam corrigidas e que assim possamos nos
purificar de nossos erros.
59
Se há uma coisa que me impressiona muito é quando vejo
pessoas fazendo discursos lindos a favor do povo, porém de um
cunho demagógico impressionante.
Precisamos ter muito cuidado com nossas profecias e nossa
missão de profeta. Pode acontecer que conosco esteja uma história
muito bonita de dedicação àquela comunidade, uma voz
aperfeiçoada e maravilhosa, um discurso de tirar lágrimas de
nossos ouvintes, um dom maravilhoso de convencer as pessoas
pelo poder da palavra, até um estilo todo humilde de se comportar e
agir sabendo que vai agradar; tudo isto pode estar nos
acompanhando, mas o principal se foi há muito tempo: O Profeta
Jesus de Nazaré.
Por isso vejo alguns trechos da bíblia que podem nos ajudar
a sermos eternamente o rosto, a voz e a pessoa de Jesus de
Nazaré.
Falamos de seu nascimento em Lc. 2,22-40
Falamos de sua compaixão pelo povo que o ouvia em
Mc. 6,35-38
Falamos de sua paciência e amor pelas crianças, quando
profetas irritam-se durante suas pregações com o barulho
das crianças Mc. 19,13-15
Falamos do seu amor pelos doentes e por aqueles que
precisavam ser libertados em Mc.1,21-39
Falamos do seu amor pelos pecadores em Mt. 9,10-15
60
Falamos do seu amor pela oração em Lc.5,12
Falamos do seu amor aos excluídos de sua época em
Mc. 1,40-45
Falamos do seu amor pelos bem aventurados em Mt. 5,1-
12
Falamos do seu amor pelo templo em Jo 2,13-25
Falamos do seu amor pelas ovelhas em Jo 10,1ss
Falamos do seu amor pelos discípulos em Jo 13,1ss
Falamos do seu amor por você em Jo 15,12-17
Falamos do seu amor pelo Pai em Jo 17,1-5
Falamos do seu amor pela Igreja em Jo 17,20-26
Falamos do seu amor por todos nós em Jo, 19,1ss
Falamos do seu amor pela mãe em Jo 19,26-27
Falamos do seu amor por Pedro e os seus discípulos em
Jo 21,15ss
Falamos sem cansar e por todo o sempre o quanto Jesus de
Nazaré é Amor.
Profeta volte a ser de Deus, não deixe que o tempo as
conquistas alcançadas, os desafios vencidos, os elogios recebidos,
os privilégios, as críticas que ouviu, afastar você do mais puro
sentimento que é ser como Jesus de Nazaré.
Chega de saudosismo!!!! Vamos viver o amor hoje!!!!
61
EXISTE UM PROFETA EM SUA COMUNIDADE...
Este capítulo cujo título é o da capa, para assim poder quem
sabe fazer justiça a todos os profetas que não foram recebidos em
sua comunidade.
Existe algo muito impressionante em nossas comunidades
que é o desejo ardente de receber um profeta de Deus em nossa
comunidade.
É comum imaginarmos se nós tivéssemos a honra de
conhecer os grandes personagens da bíblia e até imaginarmos ele
caminhando conosco em nossas comunidades.
É comum desejarmos fazer parte desta ou daquela
comunidade que existe no nosso ponto de vista ali um profeta
magnífico.
É comum falarmos de alguns profetas reconhecidos e
famosos e desejarmos conhecê-los e até fazer parte de suas vidas
missionárias.
Porém faço uma pergunta desafiadora a você caro (a) leitor
(a) deste mísero livro:
- Será que você o aceitaria???
Quantas vezes você ouviu falar de um profeta que você
gostava muito e de repente ouviu falar mal destes profetas e você o
descorçoou este mesmo profeta.
62
Você que às vezes falava e admirava tanto aquele profeta e
porque descobriu de repente um defeito nele e bastou que o
odiasse com a mesma intensidade que o admirava.
Pois bem digo a você que Deus esteve em sua comunidade
e você não o aceitou.
Vou mais longe: Deus esteve em sua comunidade e você o
rejeitou e até o crucificou.
E permita ir mais alem em minha denúncia: você o matou.
Sim você assassinou o Jesus em sua comunidade pela língua e o
envenenou com o vinagre da acusação, ciúme, inveja e rejeição.
Todos desejam a pessoa de um profeta em sua comunidade
desde que ele não traga denúncias e só traga as curas e graças
que vem realizando por onde passa.
Tenho uma experiência que passei no Grupo de Oração que
participei há vinte anos, onde eu era muito querido, pois era muito
acolhedor e sofria por aquela comunidade.
Passei noites sem dormir preocupado pela comunidade,
chorei muitas vezes a Deus pedindo misericórdia à comunidade,
sofri muitas perseguições por defendê-la das injustiças que sofria.
Desejei ardentemente que jamais fizesse nada à
comunidade se não fosse por amor a ela.
Por isso era amado pela comunidade que via em mim um
homem de Deus e a maioria me tratava muito bem.
63
Mas um dia bem próximo a minha saída da comunidade fui
escolhido a ser coordenador por dois anos à frente dela
novamente.
Como de costume coloquei-me de joelhos perante Deus e
lhe fiz a seguinte pergunta:
- Deus que queres que eu faça???
A resposta veio através da palavra e posteriormente
confirmada por diversas vezes nas orações das pessoas também.
Até uma irmã evangélica veio à minha casa para trazer a mesma
palavra, pois dissera ela que teve um sonho e que Deus a mandava
levar esta palavra a mim.
A palavra de Deus era do profeta Ezequiel 33,1-20.
A palavra era de conversão, e Deus deixou claro que se não
denunciasse, eu e minha família, seríamos culpados pelos pecados
da comunidade.
Realmente a comunidade por ser antiga estava deixando as
coisas de Deus de lado e fazendo da comunidade um lugar de
prestígio, posições, havia líderes que não eram fiéis à missa, as
reuniões da comunidade e etc.
Comecei então a pregar a conversão e a importância de
todos nós (inclusive eu) voltarmos a caminhar pelo Espírito de Deus
e não pelo espírito humano da divisão, da competição, do desleixo,
etc.
64
Conclusão: em pouco tempo deixei de ser admirado e
respeitado e minha história de amor e dedicação à comunidade fora
esquecida rapidamente.
Foram dois anos de martírio e de cansativas pregações de
conversão.
Alguns ouviram e mudaram suas atitudes, pediram perdão a
Deus e ao profeta que Ele enviara.
A comunidade melhorou, mas não suficiente para responder
totalmente ao que Deus pedira.
Paguei um preço muito caro por esta obediência a Deus,
mas em tudo fui protegido e abençoado.
Chegou meu tempo e após vinte anos de amor por aquela
comunidade tive que mudar de bairro e sai no silêncio absoluto a
não ser dois abraços bem apertados das duas senhoras que me
acolheram há vinte anos atrás naquele grupo.
Entendi então que nada somos e que realmente somos
servos inúteis, e que preferia sair deste jeito a sair ovacionado por
todos e desobediente a Deus.
O golpe não foi fácil, pois amei muito esta comunidade a
ponto de viver em função dela, cheguei às vezes colocá-la acima
de Deus e entendi que Deus me pedia muito para amá-lo acima da
própria comunidade.
65
A verdade é que muitos profetas têm medo de perder seu
lugar e acabam falando as coisas para agradar o ouvinte e não com
o intuito de obedecer a Deus.
Mas Deus prepara o coração do profeta, pois Ele próprio no
início de meu mandato quando me pediu para denunciar havia me
alertado em uma missa que participei.
Antes de começar a missa estava orando e Deus me disse
que deveria amá-lo acima de qualquer coisa e que não me
frustrasse com os homens.
“Maldito o homem que confia em outro em homem” Jr. 17,5a
O interessante que a palavra do evangelho daquele dia era a
pergunta que Deus fizera a Pedro:
“Simão, filho de João, amas-me mais do que estes???” Jô
15ss
Aprendi no silêncio da comunidade que Deus me pediu para
amá-lo acima de qualquer coisa.
Amar a Deus acima de qualquer coisa é sentir-se livre para
ser profeta verdadeiro e aceitar que tudo é de Deus e que nada
temos.
Hoje quantos profetas foram deixados de lado pela
comunidade, quantos profetas que eram tão respeitados, mas por
causa da língua maléfica foram jogados e ignorados pela
comunidade a qual deram a vida???
66
Quantos profetas que eram líderes conhecidos e que por
causa de um falso testemunho ou porque erraram como todo ser
humano erra e os açoitaram, crucificaram, mataram-no
simplesmente por inveja, por falso moralismo e por uma medonha
incapacidade de amar quem sempre amou a comunidade.
Precisamos amar urgentemente os profetas da comunidade,
às vezes por estarem à frente de grandes decisões acabam seus
erros aparecendo maior que os nossos.
Aí daqueles que falam mal de um profeta, pode ser o líder
mais importante da comunidade, mas se o fez por pura inveja ou
maldade a fim de ter o “poder” em suas mãos saiba que cedo ou
mais tarde Deus agirá.
Muitos de nós na verdade não queremos profetas
verdadeiros em nossa comunidade, queremos fantoches com cara
de bem que faça, e falam tudo o que nos agrada, tudo que
gostaríamos de ouvir.
É comum em nossas comunidades quando aparece um
profeta verdadeiro com uma idéia diferente da nossa, nós o
repudiarmos, perseguimos e até o expulsamos do nosso meio.
Quantas vezes você fez cara feia àquela pregação, àquela
homilia, àquela pessoa, àquele questionamento, àquela pregação,
àquele livro, etc.
Parou para pensar que a sua reação negativa pode ter sido
pelo fato de que foi Deus quem colocou esta situação em sua vida
67
e que para você converter-se precisaria passar por esta
experiência.
Quantas vezes você negou um processo importante na sua
caminhada de conversão porque discordou das palavras de
determinado profeta que Deus permitiu em sua trajetória a
santidade. Já parou para pensar que se todos os profetas tivessem
que falar o que você já está vivendo que sentido teria então a tua
conversão???
Acorde e ouça: O profeta não tem o dever de lhe agradar ou
dizer coisas que estejam em concordância com o que pensa e vive.
Toda conversão que vem através de uma palavra proferida e
pregada vem para denunciar em nós um pecado que estamos
cometendo e que muitas vezes o temos (o pecado) como se fosse
uma verdade sagrada em nossas vidas.
Se o que o profeta falou o incomodou profundamente, o
irritou, fez com que você o criticasse. Cuidado!!! Pode ser
justamente ai que você esteja desagradando profundamente Deus
quer seja uma atitude sua ou uma verdade de fé que você criou
como verdade absoluta.
Geralmente o que mais nos toca como religiosos são
justamente estas verdades moralistas que criamos e que usamos
para julgarmos ser superiores aos outros.
Certa vez em minha paróquia veio um sacerdote que
começou a pregar sobre o sentido da cruz, do sofrimento.
68
Quanto mais ele falava mais o meu interior se defendia e o
criticava por aquela pregação.
Foi quando percebi que eu não vivia aquela pregação e que
fugia a missão de realmente aceitar a cruz como parte do meu
chamado de profeta.
Percebi através de sua pregação que eu era resmungão,
dondoca com o sofrimento e que só aceitava o que acontecia de
bom em minha vida.
Parei de reclamar, comecei a aceitar o sofrimento com amor
e louvor e descobri o que aquele padre dizia a respeito da cruz era
de que:
“Quando aceitamos a cruz do dia a dia o peso diminui.
Quando lutamos contra a cruz, seu peso aumenta”.
Louvado seja Deus pelo sacerdote que me mostrou os meus
pecados.
Pense bem se aquele profeta que causa reação negativa em
você não é justamente o profeta verdadeiro em sua comunidade e
que Deus mandou para acusar os seus pecados a fim de que
alcance a santidade de Deus.
Raciocine consigo mesmo se os profetas que admira muito
não são justamente aqueles que falam o que gostaria de ouvir.
Lembre-se o profeta pode vir em diversas faces diferentes,
pode ser do seu lar como da comunidade, pode ser alguém que
trabalhe com você ou alguém que estude com você.
69
Geralmente é alguém que não amamos muito ou nos coloca
em questionamento.
Mas é importante discernir se suas palavras são palavras de
Deus.
Assim aconteceu com o profeta Jeremias, quarenta anos
pregando a desgraça, pois o povo não se convertia. Foi chamado
do profeta da desgraça, Anti-Moisés e outros tantos adjetivos.
Ninguém o suportava por causa de suas palavras até que o
decapitaram.
Querido (a) leitor (a) tenha a certeza que você não aceitaria
Jeremias em sua comunidade.
O profeta não fala o que é conveniente, mas o que Deus
quer que fale. Jeremias pagou um preço alto por falar e agir
segundo a vontade de Deus.
Você aceitaria pagar este preço na tua missão ou então
aceitaria pagar o preço de sua conversão aceitando pregações que
lhe trazem mal estar.
Todos querem ser visitados por profetas de Deus, porém são
poucos os que querem que eles falem em nome de Deus.
Até ouvem, mas que não venha conviver comigo, pois eu
estou muito acima de suas pregações muitas vezes é assim que
pensamos.
Assim aconteceram com todos os profetas e santos que
conhecemos e não é nada diferente do que temos hoje.
70
Como é gostoso ouvir o que acreditamos ser verdade, mas
como é duro quando alguém questiona nosso moralismo falso,
nossos pecados, nossos egoísmos, nossa falsidade.
Certa vez um pregador falava a respeito da salvação, dizia
que em Jesus toda a humanidade foi salva.
Uma mulher discordou e achou absurdo o que ouvira e disse
ao pregador que para ela era inaceitável que uma prostituta, um
ladrão, um homicida, um tirano, etc, fossem ao céu.
O pregador perguntou àquela mulher: Se “tal pessoa” fosse
seu filho e Deus lhe desse a autonomia para decidir aonde Deus
poderia mandá-lo, para o inferno ou para o céu, qual escolheria?
A mulher respondeu como toda boa mãe: Se fosse meu filho
eu diria a Deus que fosse para o céu comigo.
Pois bem, disse o pregador, Deus ama mais do que você.
Quando fui seminarista eu aprendi muitas coisas,
principalmente sobre viver uma religião mais verdadeira e não
sobre princípios moralistas de condenação.
Quantas vezes também negamos certos profetas de Deus
porque este ou aquele profeta não possui o estereótipo que nos
agrada. Ou porque falam alto demais, ou porque falam muito do
demônio, ou porque são muito puritanos, ou porque falam manso
demais, ou porque são muito espiritualistas, ou porque são muito
realistas, conservadores, progressistas, etc.
71
Pergunto o seguinte: O que queremos na verdade? Alguém
que venha apenas confirmar minhas verdades ou alguém que seja
profeta e que me questione a respeito de minhas verdades.
Acredito que aquilo que muitas vezes repugno é na verdade
pontos fundamentais para minha conversão e maturidade na fé.
Veja bem falo aqui dos verdadeiros profetas que Deus manda em
nossas vidas.
Se uma pregação espiritualista me incomoda será que não é
pelo fato de eu não estar cumprindo com alguns preceitos que
poderia me levar a um amadurecimento maior em minha vida
espiritual e eu não faço por desleixo e má vontade.
Será que uma pregação concreta sobre o social não me irrita
pelo fato de eu viver com os pés nas nuvens e isto faz com que eu
veja a realidade que me incomoda?
Será que quando luto contra alguma corrente não estou me
colocando superior ao outro e, portanto não respeitando a
pluralidade existente em minha comunidade?
Quando repudio alguém será pelo fato de que este alguém
pense diferente de mim e eu não suporto ser contrariado?
Tudo isto que falo é apenas para dosar o quanto nos
parecemos fariseus, saduceus, zelotas, etc, os povos da bíblia.
O que quero através deste capítulo é dizer que precisamos
aprender a acolher os profetas que Deus nos manda e que, se
estão em nossa comunidade é porque Deus os permitiu. Façamos
72
desta permissão, por mais duro que seja um motivo para
amadurecermos ainda mais nas nossas verdades.
Não é preciso aceitar tudo o que o outro fale, pois tenho a
minha liberdade, mas também não posso calar o outro para que
fale, pois ele também tem a sua liberdade.
Bom, termino este capítulo com uma sensação de que não
falei tudo o que deveria falar e que o que falei não é e está longe de
ser uma verdade de fé.
Obrigado pela paciência e desculpe-me por frases tão
simplificadas e de tão pouco conteúdo teórico.
De repente faltou a mim nestas poucas linhas demonstrar ou
agir como verdadeiro profeta. De repente deixei de amar ao ser tão
direto e questionador. De repente julguei mal algumas atitudes que
usei como exemplo.
Em tudo peço perdão.
O importante é que Deus nos dê um senso crítico e não uma
crítica destrutiva.
73
VOCÊ O RECONHECERIA HOJE???
Imagine se Jesus viesse hoje como homem, será que o
aceitaríamos?
Será que Jesus seria bem acolhido entre nós?
Fico pensando, se Jesus fizesse o discurso que fez em
relação aos hipócritas, quanto tempo duraria sua presença entre
nós?
Um dia, um cunhado meu, fundador da Comunidade Neftai,
que trabalha com dependentes químicos se aproximou afirmando
que em um quarto de sua casa havia um casal e que a mulher
estava grávida e perto de “dar à luz”. Perguntou se eu poderia
acolhê-los em minha casa até um pouco tempo depois que a
criança nascesse. Minha resposta foi negativa, procurei mil
desculpas para não acolher aquela mulher que necessitava de
abrigo.
Continuando, meu cunhado me pediu que olhasse para
aquela mulher, quem sabe então meu coração seria tocado e
poderia acabar os acolhendo. Fui então com ele até seu quarto,
entramos silenciosamente, ao ascender à luz do quarto, para minha
surpresa ele havia coberto com lençóis a imagem de Nossa
Senhora.
74
Senti-me como aquele povo que não acolheu Maria no
momento do parto. Se dependesse de mim, aquela mulher (Maria)
daria a luz uma criança (Jesus) no estábulo dos animais.
“... E deu à luz seu primogênito, e, envolvendo-o em faixas,
reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na
hospedaria” (Lc. 2,7).
Não sei quanto tempo você tem de profeta, mas cá entre
nós: não se ache mais importante que ninguém, porque Deus lhe
deu o dom de falar e profetizar, pois a verdade que nosso
testemunho está muito distante do que pregamos.
Lembro-me outra ocasião numa das nossas reuniões na
Igreja:
Mãe e filha vieram do Nordeste de nosso País e estavam
precisando de acolhimento, precisavam de uma casa e de um
emprego.
No final da reunião perguntei se havia alguém que poderia
oferecer uma casa ou emprego. Uma pessoa levantou a mão e
ofereceu uma casa que estava vazia para que pudessem morar até
melhorar a situação que estavam passando. Outra pessoa levantou
a mão e ofereceu emprego para mãe e filha.
Noutro dia fui a casa onde se haviam hospedado mãe e filha,
era uma casa muito simples, com dois cômodos, aquela casa foi o
“presépio” para mãe e filha não passarem a noite na rua.
75
É impressionante como o pobre sabe acolher. É o pobre que
consegue ver Jesus.
Na maioria das vezes não é aquele pregador que é famoso e
fala muito; nem é aquela comunidade famosa com pessoas
famosas, nem é aquele mais amado e respeitado, quem realmente
consegue enxergar Jesus de Nazaré e o mais simples, aquele que
passa praticamente despercebido na comunidade e acaba por se
assemelhar a Jesus.
Os grandes santos da Igreja, na maioria das vezes
praticamente não eram reconhecidos pela comunidade; raros às
vezes onde foram notados e compreendidos e quando foram, não
foi por pessoas importantes, mas sim pelo povo simples que os
respeitaram e os amaram.
A história do samaritano (Lc 10, 29-37) que acolheu quem
precisava, diz tudo e mais a todos nós, os profetas de Deus!
O samaritano, aquele que não possuía uma religião pura e
que era odiado pelos que diziam que “detinham o conhecimento de
Deus”; o desprezado pela sociedade, é esse quem acolheu o
necessitado.
Que passagem linda do Evangelho é aquela que relata o
acolhimento de uma mulher a Jesus (Mc. 14,3).
A frase de Jesus faz calar toda hipocrisia que carregamos
em nossos profetismos.
76
“Em verdade vos digo: onde quer que for pregado em todo
mundo o Evangelho, será contado para sua memória o que ela fez”
(Mc.14,9).
Em sua vida de profeta você fez algo que marcasse tanto o
seu ministério como fez esta mulher? Alguma atitude ou palavra
sua foi tão marcante ou causou tanto impacto como esta atitude da
mulher que acolheu Jesus?
Quando ouço pregadores definhando qual um rosário o
número de obras que realizou, curas que administrou e milagres
que sua fé proporcionou.
Quando vejo pessoas divinizando este ou aquele pregador,
tenho a nítida convicção que o mais importante da sua missão
passou despercebido: Jesus de Nazaré.
O tempo todo em que Jesus se fez presente em nosso meio
como homem Ele optou pela simplicidade, por isso foram poucos os
que se aproximavam Dele sem nenhum interesse próprio.
Permita terminar este capítulo como uma passagem mais
linda ainda que a acima citada:
Uma mulher “pecadora” se lançou aos pés de Jesus. Com
suas lágrimas, banhava os pés do Senhor e com seus cabelos os
enxugava, beijava-os e os ungia com o perfume. Os que estavam
vendo esta cena (fariseus: nós) diziam: “Se este homem (Jesus)
fosse profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que o toca, pois
é pecadora” (Lc. 7, 39).
77
Falamos muito bonito do amor, mas vivemos pouco o que
pregamos.
Quanto mais sabemos parece que menos entendemos o que
realmente é essencial.
Meu Deus, que atitude tomou aquela pecadora. Não disse
palavras bonitas, elogios e louvores ao Senhor que ali estava
presente. Nenhuma frase ou palavra foi pronunciada por aquela
mulher. Nenhuma dialética ou conteúdo teológico foi pronunciado.
Provavelmente o tempo daquela ação foi mais curto que nossas
locuções iluminadas e intelectualizadas (cá entre nós; como
gostamos de falar para mostrar nossas eloqüências e
conhecimentos).
A ação daquela mulher “pecadora” (são os miseráveis que
melhor acolhem Deus) foi tão curta quanto a frase de Jesus a
Simão, o fariseu, que julgou a atitudes daquela mulher:
E Jesus voltando-se para a mulher, disse a Simão: “Vês esta
mulher? Entrei em tua casa e não me destes água para lavar os
pés; mas esta, com as suas lágrimas, regou-me os pés e enxugou-
os com seus cabelos. Não me deste o ósculo; mas esta, desde que
entrou, não cessou de beijar-me os pés. Não me ungiste a cabeça
com óleo; mas esta, com perfume; ungiu-me os pés. Por isso te
digo: seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela
tem demonstrado muito amor. Mas ao que pouco se perdoa, pouco
ama” (Lc. 7, 36-47).
78
Sinceramente, se nós os pregadores, responsáveis pela
comunidade, pastores, fossemos realmente preocupados em amar
a Deus mais do que a expor nossas capacidades e nossos egos,
tenho certeza que o número de pessoas para acolher seria maior, e
que nossas comunidades estariam muito mais cheias de pessoas.
Como diz o ditado: “É muita conversa para pouca ação”.
Quantas atitudes tomadas por você não é fruto de uma
atitude condicionada onde a principal preocupação sua é o quanto
de retorno terás???
Quando você toma atitudes espontâneas, onde o único
interesse é não ter interesse algum... a não ser amar sem esperar
nada em troca.
Se acaso coloquei um dedo na sua ferida, por favor, permita
ser solidário na sua dor, pois a minha chaga está aberta e eu não
consigo cicatrizá-la.
Deixamos que o Mestre nos cure, afinal de contas, sei que
está acostumado a ser bajulado pela fama que conquistastes. E
que por ser profeta, escolhido e ungido, a tempo não tem permitido
que as suas máscaras caiam por terra.
Minha intenção não é engordar o número de bajuladores que
te rodeiam e muito menos massacrar seu ego.
Apenas gostaria de lembrá-lo o que disse Deus a Adão no
paraíso:
“Pois tu és pó e ao pó tornarás” Gn 3, 19c
79
Não faça da sua missão uma profissão, você não é um
artista e nem deveria permitir que o fizessem.
Não se deixe idolatrar, não tome o lugar de Deus, deixe o
Cristo aparecer.
A passagem da bíblia em que o povo de Icônia quis
endeusar Paulo e Barnabé é memorável, pois a atitude de ambos
deve ser lembrada por muitos cantores e pregadores de Deus:
Vendo que Paulo fizera, as multidões levantaram a voz em
língua licaônica, dizendo:”Deus em forma humana desceram até
nós!”
Ouvindo isto os apóstolos Barnabé e Paulo, rasgaram seus
mantos e precipitaram-se em meio à multidão, clamando e
repetindo: “Amigos, que estais fazendo? Nós também somos seres
humanos, sujeitos aos mesmos sofrimentos que vós, mas vos
anunciamos a Boa Nova da conversão para o Deus Vivo, deixando
todas essas coisas vãs! Foi ele que fez o céu, a terra, o mar e tudo
o que neles existe. Ele permitiu, nas gerações passadas, que todas
as nações seguissem os próprios caminhos. No entanto, não
deixou de dar testemunho de si mesmo fazendo o bem, do céu
enviando-vos chuvas e estações frutíferas, saciando de alimento e
alegria os vossos corações”. Mesmo dizendo estas palavras, a
custo conseguiram impedir que a multidão lhes oferecesse um
sacrifício. At 14, 11-12.14-18.
80
Pois é, há muitas pessoas que são praticamente idolatradas
e que gostam disso, suas palavras e mensagens passam a criar
verdadeiros adoradores que cegamente seguem seus passos e
formam suas opiniões.
Hoje se confundem os que são de Deus ou são artistas da
fé.
81
O LOCAL DE DEUS
O jovem Davi carregava um sonho em seu coração, uma
meta que norteou todo seu reinado. Ele não sonhava nem desejava
ser o rei de Israel, mas como rei ele desejou ardentemente construir
um lugar para Deus: um templo, onde ali habitasse a presença do
Senhor dos Senhores.
Esta passagem do desejo do coração de Davi é apaixonante,
disse ele ao profeta Natã:
“Vê: eu moro num palácio de cedro, e a arca de Deus está
alojada numa tenda”.
Vemos através desta frase de Davi, seu zelo pela casa de
Deus.
Mais desconcertante ainda é a resposta de Deus a Davi,
através do profeta Natã:
“O senhor anuncia-te que Ele é que quer fazer-te uma casa”.
Pois é, Deus quer nos oferecer uma moradia a todos nós,
assim como ofereceu a Davi uma moradia, uma descendência e um
reinado.
Quando iniciei na “Comunidade Bom Pastor” (Associação
Cristo, Rei do Universo), aproximei-me do Senhor e lhe pedi um
lugar para a Comunidade se reunir, um Centro Comunitário onde
pudéssemos levantar nossa bandeira e dizer: “Ali é o nosso lugar
onde Deus está” (Javé-Chammá Ez. 48, 35).
82
Ele me respondeu que estava oferecendo uma terra, um
lugar e que deveríamos estar levando todas as pessoas que se
aproximarem da Comunidade para este lugar. O lugar que Deus
nos ofereceu foi o seu Sagrado Coração, nasceu daí o projeto da
Comunidade que se chama “No Coração do Rei”.
Quando Deus nos chamou a missão da Comunidade Bom
Pastor, Ele antes nos pediu para entrarmos em seu coração e
depois, só depois, é que então nos chamou a viver a Comunidade
em nossas vidas.
Você já experimentou estar no Coração do Rei? Não há
palavras para definir esta experiência; aonde vamos Deus realiza
esta experiência maravilhosa nas pessoas que crêem e desejam
estar no Coração do Rei.
Voltemos a falar do templo de Jerusalém, vale a pena você
acompanhar estas pobres linhas que escreverei, pois o templo de
Jerusalém define toda a realidade às vezes triste de nossas
comunidades que é: a falta de acolhimento.
Deus permitiu a Salomão, filho de Davi, construir o sonho de
seu pai, o Templo para Deus, levou aproximadamente 07 anos para
terminar (I Rs. 6, 37-38).
Em 587 A.C. o templo foi destruído por Nabucodonosor,
sendo reconstruído após a volta do exílio em 515 a. C., era muito
mais modesto.
83
Foi reedificado por Herodes em bases completamente
novas.
O templo de Jerusalém no tempo de Jesus era uma
esplêndida construção.
Josefo, o historiador descreveu assim o templo de
Jerusalém:
“No aspecto externo do edifício, nada foi descuidado para
impressionar o espírito e os olhos. Com efeito, como ele era
recoberto de todos os lados por espessas placas de ouro, desde o
nascer do sol, refletia a luz com tal intensidade que obrigava os que
o olhavam a retirar os olhos como diante dos raios do sol. Para os
estrangeiros que chegava, ele parecia de longe como uma
montanha nevada, pois onde não era recoberto de ouro, o era de
mármore mais branco. No alto, era eriçado de pontas de ouro
agudas para impedir os pássaros de pousar e de sujar o teto”
(Guerra Judaica V, 222 – 224).
A impressão de magnificência do Templo tão sonhado por
Davi é de encher os olhos de lágrimas pela sua beleza, porém toda
esta maravilha descrita acima acabava sendo ofuscada pela falta
de acolhimento (discriminação) que ali se encontrava, explico
melhor...
No centro do Templo está o lugar sagrado por excelência, o
lugar onde Deus fez repousar sua glória (1Rs. 8, 10): o Santo dos
Santos. Em seguida, há o altar sobre o qual todos os sacrifícios são
84
oferecidos e o espaço entre o altar e o Santo, estritamente
reservado aos sacerdotes, depois o pátio dos sacerdotes, ao qual
mesmo os sacerdotes inaptos para o culto (os deficientes de todo o
tipo) têm acesso. Em quinto e sexto lugar, os homens adultos de
Israel e depois as mulheres, por fim há os pagãos.
Pois bem, a santidade de uma pessoa para o judeu é
comunicada por Deus a todo aquele que Dele mais se aproxima,
portanto, aos mais distantes cabe uma santidade mais fraca.
Conseqüentemente os mais santos eram aqueles que mais
perto se encontravam no Santos dos Santos do Templo de
Jerusalém.
Nesta escala de valores podemos dizer que o Sumo
Sacerdote era o mais santo, será?
Vamos conhecer o Sumo Sacerdote:
No templo eram queimados sobre o altar animais
(holocausto). As peles não eram queimadas e tornavam-se
propriedades dos sacerdotes.
Por vezes, como a oferta dos animais se baseava em
queimar as vísceras e a gordura, logo, as partes melhores dos
animais o Sumo Sacerdote adquiria para si.
Os israelitas que queriam oferecer um sacrifício precisavam
comprar dos animais que eram vendidos, às vezes, no próprio
Templo; os pobres ofereciam pombos, já que não podiam pagar por
um animal maior.
85
O dinheiro do Templo não era a mesma moeda cotidiana dos
israelitas, portanto, havia cambistas que trocavam a moeda
cotidiana pela tão valorizada moeda do Templo.
O comércio ali existente sustentava a nobre vida do Sumo
Sacerdote e do Sinédro (tipo de parlamento daquela época).
O Sumo Sacerdote após o retorno do exílio (538 a. C), não
havendo mais rei, torna-se pouco a pouco o chefe maior da
sociedade judaica.
Ele é o responsável pela lei e pelo Templo e é ele, por ofício,
o presidente do Sinédro. É o único que pode orar e expiar por todo
o povo, o único que pode entrar uma vez por ano no coração do
Templo, no Santo dos Santos, para expiação; sua morte era
considerada como expiatória, pois nessa ocasião os assassinos
eram agraciados. Era o primeiro a escolher sua parte entre as
oferendas do Templo. Os grandes comerciantes por sua vez
ofereciam propina para participarem dos negócios do Templo e o
Sumo Sacerdote a aceitava.
Além de todas estas atitudes mencionadas acima, era
comum o Sumo Sacerdote apropriar-se pela força das peles dos
animais degolados que deveriam pertencer aos outros sacerdotes,
vai aos sítios roubar o dízimo que lhes é igualmente destinado, ou
usa a intriga, a chantagem e até o assassinato.
Quero lembrar novamente ao (a) caro (a) leitor (a) que o
Sumo Sacerdote é quem mais próximo ficava do Santo dos Santos.
86
Nem precisa dizer que o Sumo Sacerdote não era nem um
pouco populista.
O Sumo Sacerdote que ficava perto do Santo dos Santos e
teoricamente era o mais santo de todos. Quem ficava nas
dependências internas do Templo, mais afastada do Santo dos
Santos era, portanto, o menos santo?
Pois é, a mulher e as crianças eram consideradas mais
impuras de todos que estavam dentro do templo durante o culto.
Vamos agora conhecer um pouco mais sobre a mulher
principalmente e também sobre a criança, para depois darmos um
fecho nesta primeira parte.
Se você é por acaso uma mulher, não deixe de ler o término
desta minha explanação, pois se agora você ficar furiosa, no final
conseguirei tirar um sorriso de você!
Vamos conhecer a mulher e sua condição “naquela época”:
A mulher é comprada por dinheiro, contrato e relações
sexuais.
A diferença entre a mulher e os escravos naquela época não
existia. A mulher dependia de seu senhor – marido e deve assumir
todas as tarefas, portanto deveria preocupar-se com os afazeres do
lar.
Não era aconselhado ensinar-lhe sobre a lei e as tradições,
pois: “aquele que ensina a torá (lei) à sua filha ensina-lhe a
prostituição”...
87
Além de ficar em casa algumas também trabalhavam no lar
na fiação da lã.
Ela nada tem que fazer fora de casa, mas se por acaso sair,
deverá estar coberta com o véu e não se prolongar em conversas
quando precisar pedir alguma informação. Sua identidade deve ser
mantida ao máximo possível no anonimato. As pessoas não lhe
devem cumprimentar ou lhe dirigir palavra alguma.
Não podia ser testemunha e menos ainda juíza. Na sinagoga
ela tem seu lugar, no entanto, se não houver no mínimo 10 homens
adultos, mesmo havendo uma infinidade de mulheres, não seria
possível celebrar o ofício.
Ela deve aceitar que seu marido divida sua afeição com
outras mulheres, como: esposa, concubina, escravas.
Resumindo, podemos dizer que a mulher possui suas
obrigações, mas sem nenhum direito. Deve respeito ao marido e
tudo o que ela encontrar pertence ao marido. Como é posse do
marido, pode tornar-se escrava para pagamento de dívida, nesse
caso, o marido terá que adquiri-la a todo custo novamente.
A mulher nada pode decidir sozinha e o marido pode lhe
impor votos.
O único a representá-la é o marido. Se um dia acontecer de
ser mutilada, a indenização fica com o marido.
88
Em relação às crianças, sendo meninas, também sofriam
descriminação. Não podiam possuir nada e deviam respeito aos
irmãos e ao pai. Tudo que ela conquistava pertencia ao pai.
A criança menina podia ser feita escrava e não podiam
decidir nada sozinha (votos). Na justificativa era representada pelo
pai e quando mutilada ou deflorada a indenização iria para o pai.
Pois é, a mulher ficava no último lugar do Templo, longe do
Santo dos santos, pois era mais impura e menos santa que o Sumo
Sacerdote, sacerdotes, israelitas homens.
O templo de Jerusalém rodeado de ouro, o sonho de Davi, o
centro político, econômico e espiritual de Israel, era tão frio quanto
o mármore que se encontrava nele.
As regras existentes no Templo eram contraditórias tanto
quanto á vida de santidade do Sumo Sacerdote.
Há muitos grandes projetos que começam com grandes
sonhos, porém acabam como grandes pesadelos.
Mas e Deus? Será que Ele concordava em quantidade e
grau com tudo o que se fazia até então?
Vamos por partes, pois tenho certeza que Deus jamais
conduziria com tamanha injustiça e discriminação.
Quando Deus resolveu humanizar-se, Ele escolheu como
Santuário de vida o útero de uma mulher: Maria. Em outras
palavras quero dizer que Deus escolheu a mulher como primeiro
89
templo vivo para que se fizesse homem e assumisse nossa
condição.
Imagino se Maria alguma vez entrou grávida ou com Jesus
no colo no Templo de Jerusalém, se isso aconteceu significa que a
divisão de santidade se inverteu, pois o Santo dos Santos estava
no ventre daquela mulher simples e extremamente forte e corajosa.
E se isso aconteceu, seguindo o padrão de santidade daquela
época, concluímos o seguinte: as mulheres e crianças estavam
mais perto do Santuário (Maria), portanto, mais santas que os
outros. Conseqüentemente, o Sumo Sacerdote é o que mais
distante estava do Santuário vivo de Deus: Maria! Por tanto, era o
menos santo na concepção prática de Deus.
Imagino que por causa da força da mulher (Maria) é que
Deus até permitiu que José (homem santo, diga-se de passagem)
partisse, e Maria com sua força, sua sabedoria e seu
conhecimento, sustentou com amor a vida de seu filho Jesus. O
amor de mãe é humanamente falando o mais divino e mais próximo
do amor de Deus.
Agora você pode entender aquela passagem da Bíblia em
que os apóstolos admiram o Templo de Jerusalém e Jesus afirma
que não sobraria pedra sobre pedra e que Ele, Jesus, o
reconstruiria com sua própria vida em três dias. Você entenderá
também porque Jesus usou dos chicotes no Templo nesta
90
passagem Mt. 11,14-17 (veja o detalhe das crianças, elas é que
louvem o Senhor).
Respondeu-lhes Jesus “Destruí vós este templo, e eu o
reerguerei em três dias” Jô 19.
Enquanto isso, os príncipes dos sacerdotes e todo o
conselho procuravam um falso testemunho contra Jesus a fim de o
levarem à morte. Mas não conseguiram, embora se apresentassem
muitas falsas testemunhas. Por fim, apresentaram-se duas
testemunhas que disseram: “Este homem disse”: “Posso destruir o
templo de Deus e reedificá-lo em três dias” Mt 26, 59 a 61
Nada é mais valioso que a vida humana e nada justifica o
desrespeito à dignidade do ser humano ou qualquer afronta contra
a vida.
A vida é tão importante que Deus entregou-se a si para
resgatar nossas vidas.
A cruz é o local onde Deus radicalmente, totalmente,
incondicionalmente nos acolheu. Em seus braços abertos acolheu-
nos, ensinando que sem humildade e sem acolhimento, nossas
profissões de fé são tão frias e vazias quanto o mármore do Templo
de Jerusalém.
Mas é particularmente uma passagem da Bíblia que me toca
profundamente em relação ao Templo de Jerusalém e é narrada
justamente na cruz do calvário:
91
“Jesus deu um grande brado e expirou”; o véu do templo
rasgou-se de alto a baixo em duas partes (Mc. 15, 37-38).
Este grito de Jesus foi o berro de Deus. O berro da justiça,
da igualdade, do amor e principalmente o grito do acolhimento:
Deus não está no Templo, manipulado por interesses pessoais
próximo aos privilegiados e longe dos oprimidos e simples.
A primeira atitude de Deus com a morte de Jesus na cruz foi
destruir a mentira: Deus não se enquadra em nossos interesses e
não se esconde por trás do véu de nossas falsas aparências.
No grito de Jesus na cruz e no véu do templo que se rasgou
faz nos lembrar a oração de Salomão:
“....Se os céus e os céus dos céus não te podem conter,
muito menos esta casa que construí...” I Rs 8, 27b
Deus esteve no ventre da mulher (Maria) feito criança (feto
Jesus), próximo aos impuros, prostitutas, leprosos, endemoniados,
ricos, pobres... Morreu na condição de escravo, verme (Is. 53),
assumindo todos nós, humilhado (Fl. 2), salvando a todos sem
distinção (inclusive os gentios que se reuniam no pátio do Templo
de Jerusalém).
Onde é o lugar de Deus, se Ele partiu o véu do Templo, o
Santo dos santos? São Paulo nos responde: “Ou não sabeis que o
vosso corpo é Templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual
recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis?
92
Você e aquele que está ao seu lado são “o templo vivo de
Deus”. Portanto, toda vez que deixamos de acolher o irmão
estamos violando o Templo vivo de Deus.
Neste capítulo me estendi um pouco mais, pois queria
chegar a estas poucas linhas que precederão...
“Nossas comunidade têm sido o local de Deus? Temos
vivido o acolhimento e amor aos que se aproximam de nossas
comunidades”?
Porque meu irmão você não foi chamado por Deus para
provar a você mesmo que é um administrador, um ótimo
profissional, um grande empreendedor. Você foi chamado para
pastorear, amar e acolher suas ovelhas sem fazer distinção.
Você será cobrado por cada ovelha que deixou de lado por
questões tão medíocres quanto o orgulho que carrega pelo seu
grau de pastoreio.
Nós da Comunidade tínhamos o costume de usar uma
capelinha simples para fazermos uma vigília uma vez ao ano. A
capela era simples e por isso mesmo, muito acolhedora. Um dia o
conselho da comunidade daquele local resolvera fazer uma reforma
na capela. No altar foi colocado mármore, ficou lindo, sobre as
imagens e a cruz foram colocadas lâmpadas, no chão fora colocado
lindos pisos. Resultado: o conselho daquela comunidade resolveu
limitar o acesso e o uso da capela. Um dos membros da
93
Comunidade (dizimista) pediu a capela para realizar a vigília e
recebeu NÃO, como resposta.
Quase sempre nosso acolhimento é tão frio quanto o
mármore daquele altar e tão superficial quanto a luz que iluminava
as imagens. Quase sempre nosso acolhimento é tão egoísta e
mesquinho quanto o não que o dizimista recebeu daquele infeliz
líder do conselho daquela comunidade.
Construímos templos, reformamos prédios, investimos em
material e equipamento... Tudo é perfeito se não faltasse um
detalhe: a pessoa humana!
Alguns pastores avaliam-se pelo templo que constroem, pelo
balanço financeiro de suas comunidade, pela quantidade de
pessoas em sua comunidade, pelo desempenho de suas
pregações, pela qualidade intelectual de seus fiéis, porém o mais
importante é esquecido: “uma comunidade de verdade se constrói
com pessoas que se sintam amadas, libertadas, curadas e
valorizadas”.
Há muitos líderes que inventam uma porção de coisas para
fazer, ficam atarefados até o pescoço, para fugir do essencial:
Serem pastores!
Em algumas das construções que são feitas por aí, você já
encontrou o nome dos “Josés” e “Marias” que humildemente
colaboram para aquela obra? Nas placas que encontramos em
94
qualquer obra ou construção sempre são gravados os nomes de
pessoas “importantes”.
Uma comunidade que não valoriza o “Sr. José” e a “D.
Maria”, é tão medíocre e mentirosa quanto à homenagem prestada
e gravada nestas placas.
Conheci comunidades aprovadas pelo pastor que surgiu de
grupos privilegiados, que não poderiam “misturar-se” com o povão,
pois seu grau de intelectualidade, sua condição social ou seu
prestígio não os tornavam aptos a viver no meio dos que
costumava chamar de “povão”.
Existem comunidades fisicamente maravilhosas, tão grandes
e luxuosas quanto o Templo de Jerusalém. Mas muitas vezes
beneficiadas por dinheiro injusto, fruto de propinas e que cultuam
mais os bens adquiridos do que o povo que ali se encontra.
Detesto ver os oportunistas que são exibidos em altares,
como se fosse alguma imagem de algum santo ali presente, porque
o mesmo financeiramente é conveniente para aquela comunidade
que opta por fechar os olhos e estender as mãos, onde “o fim,
justifica os meios”.
Há muitos “caridosos” que em nome dos pobres aparecem
em jornais, nas páginas sociais, como protetores dos pobres,
quando na verdade não passam de assistencialistas que não
colaboram para a promoção humana e cidadania e cujo interesse é
serem prestigiado como boas pessoas da sociedade... “Tu, porém,
95
quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a
tua direita, para que a tua esmola fique em segredo; e o teu Pai,
que vê no segredo, te recompensará”... (Mt. 6, 4).
É detestável a atitude de comunidades que usam do dinheiro
que é para ser destinado aos pobres para uso de seus impérios.
Assim como a ganância material cegou a muitos, vejo que a
ganância espiritual tem também cegado a muitos. O demônio sabe
como ludibriar àqueles que ele quer, sutilmente às vezes ele usa
daquilo que espiritualmente parece perfeito para enganar os
profetas e líderes de Deus.
Você furtaria um prato de comida de alguém para usar o
dinheiro em prol da evangelização? Deixaria alguém fora da
educação para usar o dinheiro para evangelização? Roubaria a
casa de alguém pela evangelização?
Pois é toda vez que usamos dinheiro público em nome da
evangelização, estamos roubando o direito de alguém à dignidade
e vida em abundância.
Lembra-se que os fins não justificam os meios!
Quero agora falar de outro assunto que é de amargar
qualquer evangelização, pois acolher, em minha opinião é a melhor
forma de evangelizar.
Nossas comunidades possuem tantos donos que dificilmente
o verdadeiro Dono toma posse dela.
96
Vi por exemplo, “os donos” de comunidade escorraçar o
pastor ali enviado porque esse teve coragem de abrir essa
comunidade para todas as pessoas.
Vivi em uma comunidade onde aquele que se achava “o
dono” ao chegar um pastor o convidava para uma pescaria e assim
tomava posse até do pastor. Infelizmente muitos pastores aceitam
serem manipulados pela língua dos donos de comunidade.
Vejo que a maior pobreza que uma comunidade pode
apresentar é justamente a forma como ela foi possuída pelo
egoísmo de poucas pessoas.
Às vezes a comunidade parece uma grande terra fértil pela
gratuidade de Deus e tão desejada quanto à terra de Canaã. Porém
acaba sendo loteada pelos donos, que invadiram a terra que é para
ser de todos, tomam posse, criam regras, prestigiam a si próprios e
ousa ainda expulsar dali o verdadeiro Dono delas.
Qual era o bem que Jesus possuiu enquanto se fez homem
e veio morar entre nós?
O barco? Não o usou por muito tempo!
As pessoas? Não as obrigou a nada e nem se apegou a
elas!
Os pobres? Não priorizou sua missão unicamente a uma
ação social libertadora!
Os doentes, os endemoniados, os desprezados? Amou-os
verdadeiramente, mas não se tornou dono deles!
97
Eu sei, porém dizer que posse segundo alguns hoje afirmam
que Jesus usaria em sua missão: Uma igreja, uma televisão, um
rádio, um microfone, um carro, a Internet...
Pelo que me consta quando Jesus morreu e ressuscitou, Ele
só levou o corpo – símbolo da vida. Nem o madeiro no qual Ele
morreu, carregou consigo; até porque se Ele fosse colocar uma
placa no madeiro de sua obra: a cruz, ELE gravaria nosso nome;
motivo pelo qual Ele deu a vida.
Sinceramente acho que Deus se fez homem no tempo
determinado pelo Pai, nem antes, nem depois.
Segundo os historiadores, Jesus foi um homem de certa
forma comum e quase passou despercebido em seu tempo. Porém
suas palavras, seu gesto de morrer na cruz, a paixão de seus
discípulos, fizeram que Aquele Homem-Deus, que não possui
posse, nos oferecesse através de seu amor a maior posse que
qualquer um de nós pudesse adquirir: a posse da vida eterna!
Sem microfone, televisão, estádios lotados, estruturas
enormes e riquezas, Jesus e alguns homens e mulheres fizeram
muito mais barulho do que nossas posses e até hoje suas palavras,
seus atos fazem história e calam fundo em nossa alma; são os que
chamamos de santos.
Muitos desse santos como São Francisco de Assis jamais
venderam sua alma por qualquer propina ou dinheiro injusto para
construir grandes templos e mega construções.
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Diga de passagem que São Francisco quis reformar um
templo de pedra e Deus disse a ele que não era este Templo que
deveria ser reconstruído.
As palavras e atos de Francisco de Assis repercutiram e
repercutem até hoje muito mais que todos os aparelhos que
possuímos e usamos para divulgar o evangelho.
Precisamos urgentemente entender isso se não estaremos
imitando em nossas comunidades a mesma pobreza de espírito
que o “capetalismo” tem deixado em nossas almas.
O local de Deus é a pessoa humana e enquanto houver um
templo humano danificado, não cumprimos com nossa primeira
missão: O Amor!
Que nossas comunidades sejam organizadas não há dúvida
que é importante.
Que todos os filhos e filhas da comunidade sejam dizimistas
e que ofereçam o mínimo (10% = dízimo) e o máximo: dar até
doer...
Que sejam ousados e invistam em todas e possíveis
estruturas para falar de Deus e do Seu Amor pela humanidade.
Porém, que essas estruturas não afastem a comunidade de sua
missão primeira: a defesa e dignidade da vida humana.
Ouvi dizer que muitas igrejas fora do meu país fecharam
suas portas, algumas tendo um outro fim ao contrário do ideal que
elas teriam, por tornarem-se frias e sem fé perderam o que era
99
mais importante: a vida! Pois as estruturas físicas permaneceram
lá, vazias ou cheias de outras intenções que não tem a ver com
Deus.
Caro (a) leitor (a), prolonguei demais neste capítulo, até
acredito ter lhe cansado, desrespeitando-o (a) e deixando de lhe
acolher. Porém acredito que muitas de nossas comunidades se
estivessem preocupando realmente com a vida humana, já não
seriam tão cheias de estruturas e famosas como são. Pois alguém
já teria calado a boca dessas comunidades.
100
PROFETAS MÁRTIRES
Pelo sangue derramado de todos (as) os (as) missionários
(as) que denunciaram a injustiça e a violação dos direito da pessoa
humana é que inicio este capítulo.
A vida desses mártires não se compara nem de longe com
os microfones, com a televisão, rádio, rincões, estádios lotados e
toda parafernália que fazem de muitos pregadores pessoas
“iluminadas” e artistas...
João Batista não se preocupou com sua popularidade, por
isso calaram sua voz decapitando-o, pois denunciou a hipocrisia
que existia em sua época. Jeremias pregou desgraça durante 40
anos, obedecendo a Deus e não se preocupando com fama ou
popularidade e só parou de denunciar quando também o
decapitaram.
Você tem a coragem de perguntar se realmente está fazendo
a vontade de Deus? Se os caminhos pelos quais você escolheu
para ampliar suas estruturas e evangelização são realmente justos?
Se a caridade é o principio vital da sua missão? E por fim, se
quando você anuncia, sua preocupação é de manter seu status e
por isso fala e age condicionado simplesmente pela vontade própria
de se manter no foco da admiração e dos aplausos? Você
incomoda?
101
São Paulo diz nas escrituras, aconselhando seu discípulo
Timóteo: “... prega a palavra, insiste oportuna e importunamente,
repreende, ameaça, exorta com toda paciência e empenho de
instruir...” (II Tim. 4,2).
Certa vez, eu e minha esposa fomos pregar um encontro em
outro estado, e lá fomos acolhidos em uma casa por uma senhora
muito simples.
Logo que chegamos os irmãos e irmãs que nos esperavam
foram logo se desculpando, pois dizia que queriam nos hospedar
em um hotel para nos dar mais conforto. Mas como financeiramente
não puderam oferecer “luxo” na nossa hospedagem – nossas
passagens eles ganharam – então aquela simples mulher nos
acolheu em sua casa.
Improvisou um quarto de casal e com imenso dom de
acolher nos deixou bastante à vontade.
Nasci de uma família simples, somos onze irmãos. Meu pai e
minha mãe viveram praticamente suas vidas em função de nós.
Minha esposa é tão simples quanto eu. Não sentiríamos a vontade
se fossemos tratados com “luxo”, pois não seria coerente com a
opção que fizemos que é anunciar Jesus com total desprendimento,
o que de graça recebemos, também de graça queremos oferecer.
Porém o que mais impressionou naquela mulher que nos acolheu
foi seu dom de acolher. O tempo em que ficamos em sua casa
102
somente ela estava lá; eu e minha esposa não perguntamos a
respeito de sua vida pessoal.
Observamos o amor que esta mulher tinha com as pessoas.
Acolhia crianças em sua casa e também os pobres em qual hora
fosse. Os irmãos de comunidade que tinham problemas ligavam
(muitas vezes de madrugada), ela os ouviu e rezava por eles.
Uma noite quando chegamos do encontro, cansados, pois
havíamos pregado o dia todo, sentamos à sua mesa e ela após um
dia agitado transmitia um sorriso e atenciosamente nos acolhia.
Minha esposa perguntou onde ela encontrava tanta força para fazer
tudo que fazia e principalmente a paciência e a forma como acolhia
as pessoas o tempo todo sem se abater. Então aquela mulher nos
contou sua história.
Disse que havia se casado e que seu esposo bebia e era
extremamente agressivo com ela. Sofrera muito, até que um dia ele
a abandonou com seus filhos. Ela com muita coragem e muito amor
cuidou sozinha de seus filhos e da própria vida. Mas, num certo
momento ela já não agüentava mais, pois sentia muito cansaço e
desânimo. Pediu a Deus que lhe ajudasse e iluminasse sua vida.
Estava sentada na escada, fora de sua casa, quando uma pomba
desceu diante dela e ali ficou sobrevoando até que voou embora.
Ela sentiu uma imensa paz e a certeza de que algo bom iria
acontecer. Foi quando um casal a visitou pela manhã e lhe falou a
respeito de Deus e a convidaram para caminhar com eles na
103
comunidade. Ela disse que não tinha tempo para ouvi-los naquela
hora e pediu que voltassem mais tarde com a intenção de
dispensá-los.
O casal voltou no mesmo dia à tarde e novamente pediram
para conversar com ela; ela voltou a dizer que estava ocupada e
pediu que eles voltassem à noite, com a certeza que eles não
voltariam...
À noite o casal voltou, para surpresa dela. Ela viu que não
tinha jeito de dispensá-los e os convidou para entrar.
O casal começou a falar do Amor de Deus e o quanto eles
queriam que ela caminhasse com eles na comunidade. Esta
senhora disse que chorou o tempo todo, sentiu uma enorme paz e
depois daquele dia, jamais ela abandonaria sua caminhada na
Igreja.
Tinha recebido de Deus muito mais do que achava que
merecia; e que o testemunho persistente daqueles irmãos fizeram
dela uma pessoa incondicionalmente acolhedora.
Quando acabei de ouvir seu testemunho lembrei-me deste
pobre livro que estava escrevendo e cujo tema é o acolhimento e
entendi que Deus me enviou ali para enriquecer a mensagem que
escrevo. Mas principalmente tive a certeza que o “luxo” de um hotel
jamais substituiria o luxo do acolhimento simples e desprendido
daquele lar que nos acolheu. Fomos enviados ali para sermos
evangelizados pelo testemunho das pessoas que ali nos acolheu.
104
Numa madrugada apareceu uma mãe na casa desta mulher
em seu colo uma criança (seu filho) praticamente morta. A mulher
sozinha e muito pobre pede socorro àquela mulher que
urgentemente corre acordar seu filho (que morava na casa de cima)
e implora a ele que leve aquela criança ao hospital.
O filho titubeia e esta mulher lhe diz:
“Eu estou passando mal e estou quase morrendo; á sua mãe
que precisa ser levada ao hospital, por mim sei que você não
negaria”.
O filho diz a ela que não tem jeito e corre com aquela mãe e
a criança para o hospital. Lá encontraram uma sobrinha que é
médica e que lhe perguntou se algo grave estava acontecendo.
Esta mulher pediu a sua sobrinha que ajudasse aquela criança
como se fosse ela própria que estivesse precisando. A sobrinha
abriu um sorriso e atendeu a criança que se não fosse pelo
acolhimento daquela mulher, naquela noite, seria uma entre tantas
que morrem neste mundo por causa da injustiça social.
Querido (a) leitor (a) a sua missão pode ser esplêndida e
maravilhosa como diz as escrituras:
“Como são belos sobre as montanhas os pés do mensageiro
que anuncia a felicidade, que traz as boas novas e anuncia a
libertação, que diz a Sião: Teu Deus reina!” (Is. 52).
Porém se sua missão não for edificada no amor,
principalmente e preferencialmente aos mais pobres, aos
105
desprezados, aos excluídos, aos últimos, os teus pés serão belos
na proporção em que suas mãos estiverem estendidas aos que
mais precisam, porque do contrário, você será uma grande mentira,
uma enganação.
“Voltar-se-á em seguida para os da sua esquerda e lhes dirá:
Retirai-vos de mim, maldito! Ide para o fogo eterno destinado ao
demônio e aos seus anjos. Porque tive fome e não me deste de
comer; tive sede e não me deste de beber; era peregrino e não me
acolhestes; nu e não me vestistes; enfermo e na prisão e não me
visitastes”.
Infeliz do profeta, pastor, que aceita propina ou dinheiro
público que deveria ser destinado à saúde, a moradia, a educação,
ampliar seu patrimônio, sua comunidade, seus bens. Incoerente
seja quando sua única preocupação é gabar-se, é dizer que és
ousado em Deus, baseado nas estruturas injustas que construíste
nas custas dos mais pobres.
Não pense que uma obra aparentemente bonita utilizada
para anunciar Jesus, lhe faça sentir que teus pés são belos, se para
isso você estendeu sua mão a um recurso indevido e corrupto.
Mais importante para Deus é a pessoa humana e se uma
missão ou estrutura foi baseada num recurso ilícito significa no meu
ver que determinada obra começou corrompida. Alguém ficou sem
este recurso desviado ilicitamente.
106
O amor ao pobre e aquele que sofre é o que mais toca o
coração de Deus.
Quando Deus se manifestou a Moisés, o motivo que O fez
escolher Moisés foi este:
“eu vi, eu vi a aflição de meu povo que está no Egito, eu ouvi
os seus clamores por causa dos seus opressores. Sim, eu
reconheço seus sofrimentos”... (Ex. 3,7).
Muitas vezes a imagem maravilhosa da sarça ardente (Ex.
3,2) nos chama mais atenção do que o motivo pelo qual Deus
apareceu nesta sarça.
Que o (a) leitor (a) entenda bem o que eu digo:
Nem todos nós somos chamados por Deus para trabalhar no
meio dos pobres, mas ignorá-los, calando nossa voz e justificando
nossas omissões com belos discursos, pregações e de vez em
quando com nossos assistencialismos é no mínimo escutar de
Jesus: “Afastai-vos de mim malditos”...
A verdade é que muitos fazem uma doação aqui e ali assim
como os políticos corruptos ajudam esta ou aquela comunidade, ou
então ajudamos alguém para justificar nossa omissão ou até
mesmo alguma atitude incorreta que temos.
A esta atitude existe uma palavra que encaixa bem:
“desencargo de consciência”.
107
Conheço comunidades que em nome dos pobres tentam
angariar mais dinheiro para suas obras de evangelização. É
correto? Ou o dinheiro dos pobres é dos pobres!
A nossa missão deve ser ampla, não só o assistencialismo a
quem precisa, mas acima de tudo dar dignidade a quem precisa.
E é neste campo que hoje em meu país é que surgem
verdadeiros mártires de Deus.
Aqui não se morre por anunciar Jesus e sim por defender os
mais fracos. São mártires os que são a “voz dos que não têm voz”
(Dom Helder Câmara).
Recentemente a irmã Dorothi morreu baleada covardemente
porque defendia as pessoas que não possuíam terra para morar.
Foi “mandado” (pago) por alguns “grileiros” (tomadores de terra)
matadores para fuzilar esta irmã que defendia os mais fracos. Esta
irmã antes de ser baleada disse aos matadores que a única arma
que carregava era a bíblia e abriu-a lendo os versículos das bem
aventuranças (Mt. 5), logo que acabou de ler foi fuzilada.
Já ouvi muitos pregadores falarem do martírio, já ouvi muitos
pastores falarem do martírio, já ouvi muita gente falar que estaria
disposto a dar a vida por Jesus e serem ovacionados com palmas,
já ouvi, mas só ouvi...
Se Jesus está no pobre, naquele que está explorado, no
doente, porque então não ser martirizado denunciando as injustiças
108
sociais que temos ao invés de conchavos com políticos corruptos
para ampliar o império da evangelização.
O profeta anuncia e denuncia.
No segmento que faço parte não conheço nenhum mártir no
sentido literal da palavra (me incluo).
“De que aproveitará irmãos a alguém dizer que tem fé, se
não tiver obras? Acaso esta fé poderá salvá-lo? Se a um irmão ou
uma irmã faltarem roupas e o alimento cotidiano, e algum de vós
lhes disser: ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, mas não lhes der
o necessário para o corpo, de que lhes aproveitará? Assim também
a fé: se não tiver obras, é morta em si mesma”.
Mas alguém dirá: “tu tens fé, e eu tenho obras”, mostra-me a
tua fé sem obras e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.
Crês que há um só Deus. Fazes bem. Também os demônios crêem
e temem (Tg 214-19).
Creio que se o demônio quer destruir a obra de Deus e
impedir o reino de Deus de acontecer, sem dúvida alguma ele
estaria agindo nas estruturas do poder, de quem administra e
legisla neste mundo. Portanto, o grande desafio dos cristãos é
nadar contrário a todo poder que não é utilizado para serviço.
Denunciar as estruturas injustas, não se corromper com
dinheiro ilícito pode não dar status, porém é o caminho estreito pelo
qual Jesus nos convida a entrar.
109
Você aceitaria um dinheiro injusto para usar em nome da
obra de Deus? Você calaria sua voz para prejudicar os benefícios
que tem de um poder corrompido? Sua missão tem sido só a
denúncia contra a moral se esquecendo das diferenças e
explorações injustas dos mais pobres? Suas pregações têm sido
iluministas, apelativas e extremamente ilusórias? Pois bem se sua
resposta é sim, o demônio estará deitando e rolando no leme,
dirigindo o reino de Deus implantado a partir da terra.
Portanto irmão e irmã enquanto estivermos preocupados
somente com quantas pessoas foram curadas, enquanto
estivermos medindo nossas competências ou unção pela
quantidade de estrutura física que construímos, enquanto nossas
pregações estiverem baseadas somente em discursos bonitos e
espiritualistas não se engane, o demônio continuará rindo de nós e
controlando o reino de Deus aqui.
Quantos jovens, você consegue libertar do vício com sua
pregação? Quantas famílias estarão sendo regeneradas pelas
nossas doações? As quantas vidas estamos salvando do pecado
com nossos discursos?
Pois é, o fato do demônio estar à frente dos segmentos do
poder. Ele tem destruído muitos jovens, famílias, pessoas que nem
se compara com o quanto nossas pregações têm atingido. Sabe
por quê? Porque astuciosamente o inimigo colocou uma grande
mentira em nossos corações. Afastou-nos do mundo da política a
110
tal ponto que muitas pessoas acham que estar neste mundo da
política é quebrar com a unção.
Enquanto formos omissos e enquanto nos aproximarmos de
um político somente para satisfazer nossos apetites espirituais o
inimigo continuará destruindo em proporção muito maior do que
podemos construir.
Posso até montar uma grande estrutura de evangelização,
mas a minha ignorância política, bem como meu aproveitamento
deste meio, farão que as estruturas injustas do poder continuem
massificando as famílias, os jovens, os necessitados, pois tudo gira
em torno da política.
Quando Elias enfrentou os sacerdotes de Baal (II Rs. 18,20s)
e o Senhor Deus provou seu poder, a rainha Jezabel ficou
profundamente furiosa (II Rs. 19,1s) e prometeu tirar a vida do
profeta Elias. Elias havia enfrentado o poder, pois defendeu a fé no
Deus verdadeiro, sendo que a rainha Jezabel levava o povo a
adorar Baal. Entende a importância de vivermos nossa fé onde uma
decisão mal tomada pode trazer sérias conseqüências para todos
nós?
Joatão subiu ao cume do monte Garizim e disse:
“Homens notáveis de Siquém, ouvi-me, para que Deus vos
ouça!
Um dia as árvores se puseram a caminho para ungir um rei
que reinasse sobre elas. Disseram à oliveira: „Reina sobre nós!‟
111
A oliveira lhes respondeu: „Renunciaria eu ao meu azeite,
que tanto honra aos deuses como aos homens,a fim de balançar-
me por sobre as árvores?‟
Então as árvores disseram à figueira: „Vem tu, e reina sobre
nós!‟
A figueira lhes respondeu: „Iria eu abandonar minha doçura e
o meu saboroso fruto, a fim de balançar-me por sobre as árvores?‟
As árvores disseram então à videira: „Vem tu, e reina sobre
nós!‟
A videira lhes respondeu: „Iria eu abandonar meu vinho novo,
que alegra os deuses e os homens, a fim de balançar-me por sobre
as árvores?‟
Então todas as árvores disseram ao espinheiro: „Vem tu,
reina sobre nós!‟
E o espinheiro respondeu às árvores: „Se é de boa fé que me
ungis para reinar sobre vós, vinde e abrigai-vos à minha sombra.
Se não, sairá fogo dos espinheiros e devorará os cedros do
Líbano!‟...”Jz 9 7 a 15.
Quantos espinheiros estão reinando sobre nós devido a
nossa omissão, você alguma deve ter dito que política e religião
não se misturam, então deixamos o espinheiro reinar sobre nós, os
espinhos da injustiça, da corrupção, da desigualdade social, do
desemprego, etc é fruto da nossa ignorância.
112
Nossa omissão pode permitir que um dia aconteça (já está
acontecendo) de não podermos professar nossa fé no Deus
verdadeiro, o mesmo Deus que Elias professava.
Não devemos conscientizar a respeito de vivermos nossa fé
no mundo da política só para defender os interesses morais e o
nosso credo, mas também defender o direito inalienável da
dignidade humana, como disse Tiago: fé com obras.
A palavra nos mostra que Elias teve medo (II Rs 19) da
rainha Jezabel e correu para a montanha a fim de salvar sua vida,
chegou a desejar a própria morte ao ter que enfrentar o poder
político e religioso da rainha. Então Deus disse a Elias:
“Que fazes aqui, Elias”? Em outras palavras, quem mandou
você se esconder aqui? Elias respondeu de maneira astuta: “Estou
devorado de zelo pelo Senhor, o Deus dos exércitos”.
Elias tentou com este discurso bajulador enganar Deus, na
verdade ele estava ali com desejo de abandonar sua missão por
motivo de covardia.
Quantos de nós, mesmo conscientes de que uma sociedade
só será transformada e tornar-se-á cristã, no sentido pleno, ou seja,
tanto em critérios de moral como também de respeito à pessoa
humana nos limitamos a fugir covardemente desta missão
transformadora, nos apegando apenas numa espiritualidade
convencional, descomprometida com a justiça social.
113
Quantos de nós somos bajuladores porque nossos discursos
e pregações são bem parecidos com a astuta resposta de Elias:
“Estou morrendo de zelo”...
Diz à palavra que Deus passou diante de Elias: primeiro um
vento impetuoso e violento que fendia as montanhas e quebrava os
rochedos, mas o Senhor não estava naquele vento; depois do
vento, a terra tremeu, mas o Senhor não estava no tremor da terra;
passado o tremor de terra, acendeu-se um fogo, mas o Senhor não
estava no fogo; depois do fogo, ouviu-se um murmúrio de uma brisa
ligeira. Tendo Elias ouvido isso, cobriu o rosto com o manto, saiu e
pô-se a entrada da caverna. Uma voz disse-lhe: “Que fazes aqui,
Elias”?
Pois é, às vezes nos parecemos com Elias, somos
demasiadamente covardes e nossa “unção” não é suficiente para
lutar contra o poder político que não está a serviço do homem.
Nossas missões muitas vezes são impulsionadas pelas
aparências, pelos sinais visíveis e pelos elogios que recebemos.
Viver Deus compromissado com o bem comum e com a
dignidade humana, viver Deus no meio dos pobres e abandonados,
viver Deus no mundo político é muitas vezes saber viver o
testemunho sem grandes alardes.
Nesse contexto de fé, com certeza não veremos vento
impetuoso e violento (milagres, curas, estruturas tecnológicas,
fama...), nem experimentaremos a terra tremer (aplausos, grande
114
quantidade de pessoas, holofotes, prestígios, realizações...), nem o
fogo (a mudança urgente das estruturas ou a conversão imediata
do meio ou das pessoas envolvidas).
Ser profeta neste meio que me refiro neste capítulo é saber
contentar-se com o murmúrio de uma brisa ligeira, como a mulher
que se contentou com as migalhas que caíram da mesa (Mc. 7, 24-
30).
É não ter o luxo de sentir-se realizado, pois sabe a dor do
irmão excluído e abandonado. O pecado existente nas estruturas
políticas e do poder não permite que estejamos sossegados
enquanto não conseguirmos construir a civilização do Amor.
Ser profeta neste meio é não carregar jamais a alegria e o
orgulho pelas quantidades de pobres acolhidos, pois seria
contraditório arrogarmos o direito de se orgulhar pelas quantidades
de assistidos, pois para o profeta que vive e experimenta a dor do
povo excluído e marginalizado quanto maior a nossa obra, maior é
o sinal de que a injustiça não foi vencida.
Se a irmã Dorothi que defendia os que não têm terra
estivesse rodeada de vento impetuoso (proteção), do tremor de
terra (grande quantidade de pessoas, as mesmas que se encontra
em nossos eventos espirituais) e do fogo (tecnologia)
provavelmente seu testemunho de amor e libertação estaria ainda
sendo pronunciado pelos seus lábios. Porém ela tinha a brisa ligeira
da presença de Deus (a bíblia – sua única arma) e por isso ela é
115
sem dúvida a maior das bem aventuradas que existem em nosso
meio.
Nenhuma estrutura tecnológica, nenhuma palavra proferida
de onde quer que seja, nenhuma comunidade por maior que seja,
nenhum encontro por mais pessoas que possui, nenhum livro por
mais famoso que pareça superará o testemunho de vida desta irmã
que defendeu em vida os mais pobres, com certeza no deserto
daquele lugar passou mesmo ligeiramente a brisa da presença de
Deus.
Você sabe o que Deus mandou Elias fazer? Deus não disse
a Elias que deveria estar morrendo de zelo por Ele, ali naquela
montanha, mas deu uma ordem a Elias:
“Retoma o caminho do deserto, na direção de Damasco”...
Eu vi homens e mulheres de Deus, seduzidos por satanás
em suas ganâncias espirituais, onde seu zelo os deixou cegos
diante de sua principal missão: a presença de Jesus no irmão
pobre.
Desce das alturas do seu orgulho e perceba que o que fazes
ainda é muito pouco perante o que Deus quer, desce das alturas do
seu orgulho e veja que o seu anúncio e as estruturas que te
rodeiam o cegaram a ponto de esquecer-te que a vida humana é o
santuário mais belo que Deus quer preservar e proteger. E que tão
importante preservá-la com o anúncio da palavra na mesma
proporção da defesa de sua dignidade.
116
São João Crisóstomo somou-se em sua vida muitos
inimigos, pois era um homem que realmente era de Deus. Seu
poder de denunciar era tão corajoso como o poder que tinha de
anunciar. Por isso era tido como pouco diplomático. Muitos se
sentiam seduzidos pela sua eloqüência e pela sua santidade
evidente. Certa vez a cidade de Antioquia o convidou para pregar,
todos esperavam o grande homem de Deus ali chegar... Quando
João Crisóstomo chega à cidade e vai ao encontro da igreja que o
aguardava, ele cruza pelo caminho com alguns pobres, então ele
inicia sua homilia assim:
“Venho cumprir meu papel de embaixador, que convém ao
meu ministério e que é importante e merece toda a atenção de
vocês”.
São os pobres desta cidade que me enviam até vocês; eles
não se reuniram para me nomear seu representante: o espetáculo
da miséria deles bastou para falar ao meu coração. Atravessando
as praças e os cruzamentos, apressados, como de costume, para
vir lhes distribuir o Pão da Palavra, vi uma multidão de infortunados
estendidos pelo chão, uns sem mãos, outros privados dos olhos,
outros ainda cobertos de úlcera e chagas incuráveis, expondo aos
olhos de todos os membros que eles deviam esconder, tal o estado
de horror a que o mal os reduziu. Irmãos, seria desumano não lhes
falar dos pobres, sobretudo quando a circunstância atual fez disso
uma lei tão urgente. Se é verdade que devemos exortá-los à
117
esmola em todo momento, pois temos necessidade a todo o
momento da misericórdia do Mestre comum que nos criou, quanto
mais devemos fazê-lo tendo em vista o frio rigoroso de agora...
(João Crisóstomo – Homélie sor I‟aumône. Oe uvres complétes,
1866, IV, p.10).
São João Crisóstomo era um homem que morria de amor e
zelo pelo Deus Único, você duvida disso? Porém nunca se
esqueceu de viver o deserto em sua vida!!!
Não é justo que usemos dos pobres para fazer marketing
pessoal ou marketing de nossas comunidades. Nossas pregações
devem estar também comprometidas com a denuncia das injustiças
existentes em nosso meio e que os bens que recebemos não sejam
frutos de propina ou bens que deveriam estar sendo investido no
bem estar da população mais carente.
Quero terminar este capítulo lembrando o que aconteceu
com o povo da bíblia em Josué 7, 1s. por causa da desobediência
de Acã que ao conquistar uma cidade tomou posse indevidamente
de um bem que não pertencia, como ele (Acã) mesmo disse:
“Vi no meio dos despojos um belo manto de Senaar,
duzentos ciclos de prata e uma barra de ouro de cinqüenta ciclos e
cobiçando, tomei-os” (Js. 7,21).
Essa atitude de Acã custou à derrota do povo de Deus em
Hai e a vida de pessoas (Js. 7,4-5).
118
Pode até ser belo o local que conquistou para acolher o povo
a fim de evangelizá-lo, pode até ser maravilhoso os equipamentos
adquiridos para anunciar o reino de Deus, pode até ser
aparentemente abusado e ousado sua atitude de construir grandes
projetos para falar de Deus. Porém se para conquistar tudo isso,
você cegamente, condicionado por uma ambição espiritual utilizou
meios que não são justos, estará como Acã, violando a fidelidade
ao Deus da vida e contribuindo que ainda muitos inocentes
continuem morrendo pelo uso indevido de dinheiro público.
Conheci um político que com o peito estufado e o orgulho a
flor da pele dizer que graças a ele a “comunidade tal” era o que era.
Dizia ele que fazia sua parte e vivia nos altares daquele lugar.
Só não entendo aonde arrumava tanto dinheiro e como
conseguia tantos recursos, só sei que se beneficiava muito desta
comunidade para permanecer no poder.
Como político apresentava um mandato medíocre, sem
nenhuma preocupação social.
Perseguia os que eram contrários à sua maneira de agir,
usando de meios escusos para tanto: dominando e intimidando as
pessoas que o denunciava.
A tal comunidade ajudou-o a eleger simplesmente porque
venderam a alma para alcançar a tão ambiciosa e pretensiosa
missão de evangelizar.
119
Quando um profeta dali resolveu denunciar ao fundador das
incoerências deste irmão, este profeta foi escorraçado daquele
lugar; o mesmo lugar aonde tantas pessoas simples e humildes vão
para adorar e glorificar a Deus.
A tentação do deserto serve para todos nós, mesmo os que
caminham na Igreja, pois não devemos esquecer que “o fim não
justificam os meios”.
O demônio ofereceu a Jesus as três tentações que todo o
homem passa:
Primeiro o ser: “Se és filho de Deus”... (Mt.4, 5-7). Não
devemos nos enganar aceitando qualquer coisa, para mesmo que
seja para usar nas obras de evangelização. Pode ser que
queiramos provar o quanto somos realmente de Deus: “olha que
estrutura, que ousadia eles tiveram naquela obra”???
Segundo o ter: “Se és filho de Deus, ordena que estas
pedras se tornem pães”... (Mt. 4, 2-4).
Tenhamos cuidados para nos deixarmos seduzir pelas
riquezas que nos oferecem, por nossas comunidades não
distanciarem de seus objetivos, seduzidas pela tranqüilidade
financeira que adquiriram. Muitos grandes santos sem posse
construíram grandes projetos de evangelização, só com a
humildade e com a santidade de suas ações.
Terceiro o poder: “Dar-te-ei tudo isto se, prostrando-te diante
de mim, me adorares”... (Mt. 4, 8-9).
120
Cuidemos daqueles que nos oferecem coisas fáceis.
Tenhamos cuidados até mesmo no campo espiritual para não
sermos levados pela ambição espiritual de que evangelizaremos o
país e o mundo todo nem que para isso usemos de todos os meios
e recursos financeiros que vierem, sem importarmos como vem e
de que maneira veio. Pode ser que uma ambição pessoal cegue a
verdadeira vontade de Deus em nossa vida: a santidade!
Que a presença viva de Jesus na pessoa do simples e
desprezado não passe despercebido em nossas missões.
Nossas comunidades estão longe de ser luz e sal da terra.
Ainda hoje há muita gente excluída e que não encontra
acolhimento em nossas comunidades.
Nossos discursos e pregações são fantásticos até para
convencer a respeito de alguns pontos de vista que temos em
relação a grupos de exclusão da sociedade.
Frases do tipo: “eu denuncio o pecado e não o pecador” é
comum serem usadas, mas na prática nossas comunidades ainda
são lugares de preconceito e falta de acolhimento.
Enquanto houver grupos excluídos em nossa sociedade é
porque nós cristãos não estamos sabendo como acolher e como
trabalhar com as pessoas que sofrem preconceitos.
Nós estamos longe de sermos resposta aos pobres, doentes,
homossexuais, prostitutas, dependentes químicos, etc.
121
Termino este capítulo evocando sobre nós o exorcismo: do
poder, do ser e do ter e exorcizar todos nossos preconceitos e
omissões que construímos em nosso meio.
As comunidades e as autoridades podem abafar a voz dos
profetas que lutam pela libertação dos pobres, dos excluídos da
sociedade, porém jamais abafarão a voz do pobre que chega aos
ouvidos de Deus.
E finalizando, segue esta passagem da bíblia que
provavelmente tenha passado despercebida por você ou então
tenho a certeza de que você não “grifou” esta passagem:
A água apaga o fogo ardente,
A esmola enfrenta o pecado.
Deus olha para aquele que pratica a misericórdia, dele se
lembrará no porvir;
No dia de sua infelicidade este achará apoio.
Meu filho, não negues esmola ao pobre,
Nem dele desvies os olhos.
Não desprezes o que tem fome.
Não irrites o pobre em sua indigência.
Não aflijas o coração do infeliz.
Não recuses tua esmola àquele que está na miséria;
Não rejeites o pedido do aflito.
Não desvieis os olhos do pobre.
122
Não desvieis os olhos do indigente, para que ele não se
zangue.
Aos que pedem não dês motivo de te amaldiçoarem pelas
costas, pois será atendida a imprecação daquele que te amaldiçoa
na amargura de sua alma.
Aquele que o criou atenderá.
Torna-te afável na assembléia dos pobres,
Humilha tua alma diante de um ancião,
Curva a cabeça diante de um poderoso,
Dá ouvidos ao pobre de boa vontade.
Paga a tua dívida.
Dá-lhe com doçura uma resposta apaziguadora.
Liberta da casa do orgulhoso aquele que sofre injustiça.
Quando fizeres um julgamento, não o faças com azedume.
Sê misericordioso com os órfãos como um pai;
E sê como um marido para a mãe deles.
E serás como um filho obediente do Altíssimo, que, mais do
que uma mãe, terá compaixão de ti. (Eclo. 3, 30-31. 4, 1-11).
Amém.
123
O EXCESSO DE ACOLHIMENTO
É possível alguém ser acolhido mais do que o necessário? É
possível exceder no acolhimento, a ponto de ser prejudicial à
pessoa acolhida?
A palavra de Deus por diversas vezes cita passagens de
correção da parte de Deus e das pessoas que nos rodeiam como
uma forma de nos preparar e manter-nos humildes, como:
“Filho meu, não desprezes a correção do Senhor. Não
desanimes quando repreendido por Ele; pois o Senhor corrige a
quem ama e castiga todo aquele que reconhece por seu filho”...
(Pv. 3, 11s).
Vejo que quando Deus escolhe alguém para um chamado
real, este filho ou filha, passa por diversas provações e tornam-se
grandes homens e mulheres de Deus. Dizem as histórias dos
santos, todos sem exceção passaram por provações duras, pois
eram muito amados por Deus e odiados pelo diabo.
A grande maioria das pessoas não sabe viver sobre elogios
e acabam estragando-se e perdendo o sentido do seu chamado.
Não desanime quando for repreendido, incompreendido ou
caluniado.
Agradeça a Deus por esta oportunidade e peça a Ele que de
forças para prosseguir.
124
A tendência é de sempre acharmos que estamos com a
razão e que os outros estão totalmente errados, pode até ser, mas
é importante às vezes silenciarmos e aproveitarmos estes
momentos para crescermos na humildade.
“Se o justo me bate, é um favor; se me repreende, é como
perfume em minha fonte. Minha cabeça não o rejeitará; porém, sob
seus golpes, apenas rezarei”... (Sl. 140, 5).
O problema de muitos pastores é que são bajulados pelos
fiéis, tornam-se absolutos e sensíveis a qualquer crítica.
Até os protótipos de pastores são bajulados em suas
formações e depois se tornam insuportáveis. Alguns até parece que
foram formados em redomas de vidro, onde está escrito: “não me
rele e nem me toque”!
Alguns pastores exageram a ponto de perseguir e maltratar
as ovelhas que o questionam.
Quando bajulamos as pessoas, elas tornam-se limitadas e
auto-suficientes; dengosos e só ama os que lhe agradam o ego.
Algumas comunidades ou pessoas são verdadeiros
profissionais e profissionais bajuladores que impressionam pelo
quanto alienam o pastor e faz dele um discípulo de cristal, alheio
aos verdadeiros problemas da comunidade.
Há também muitos membros de comunidade que não
aceitam críticas e correções e por isso mesmo afastam-se da
125
missão, não conseguindo superar o menor dos problemas da
caminhada; a crítica!
A palavra de Eclesiástico (capítulo 02) é magnífica e serve
para todos os que verdadeiramente querem em sua missão ser de
Deus:
“Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece
firme na justiça e no temor e prepara a tua alma para a provação;
humilha teu coração, espera com paciência, dá ouvido e acolhe as
palavras de sabedoria; não te perturbes não tempo da infelicidade,
sofre as demoras de Deus; dedica-te a Deus, espera com
paciência, a fim de que no derradeiro momento tua vida se
enriqueça. Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece
firme; na humilhação, tem paciência. Pois é pelo fogo que se
experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus
pelo caminho da humilhação. Põe tua confiança em Deus e Ele te
salvará. Orienta bem o teu caminho e espera Nele. Conserva o
temos a ele até na velhice”. (Eclo, 2, 1-6).
Outro fato que leva muitas pessoas a distanciarem do projeto
de Deus são as mordomias que possuem e o que aliena o sujeito e
o faz desmerecer até a própria missão.
Há pastores que não sabem quanto custa uma caixa de leite
ou 01 quilo de arroz.
Alguns andam com roupas finas, engomados, alienados ao
sofrimento do povo. Pois ganham tudo de “mãos beijadas” e
126
acabam se tornando “fracos” na missão, não suportando nem os
problemas que o cercam, quanto mais os problemas de seu povo.
Se Deus tirasse as mordomias que possui, você continuaria
fiel a Ele?
Alguns pastores se baseiam na palavra para justificar suas
mordomias:
“E todos aqueles que por minha causa deixar irmãos, irmãs,
pai, mãe, filho, terras ou casa receberá o cêntuplo e possuirá a vida
eterna”... (Mt. 19, 29).
São Pedro teve luxo em sua missão? São Francisco e outros
viveram no luxo em suas vidas?
Que tiveram a vida eterna eu não duvido, mas que fizeram
de suas vidas uma abstinência natural de mordomias, isto fizera.
Mas Deus não foi fiel a eles? Pois muitos pastores se
baseiam nesta citação acima para justificar o quanto se acomodou
em suas missões.
A verdade é que nós, os discípulos de Pedro e Francisco e
de outros, estamos vivendo a mordomia e o contra testemunho.
Conheço comunidade onde o fundador amava os pobres e
lecionava para os carentes e hoje esta comunidade se enriquece
dando aula para alunos ricos.
É revoltante quando alguns “almofadinhas” justificam seus
impérios dizendo que o local onde Deus está tem que haver
dignidade e ser o mais belo possível.
127
Dignidade é amar o Templo vivo de Deus que é o ser
humano e de forma preferencial os mais carentes.
Dignidade é o local onde Deus habita não estar violado pela
injustiça social e pelo escândalo da riqueza injustiça e contraditória.
Dignidade é ter humildade, é ter a consciência que enquanto
houver no mundo, pobres o reino de Deus não aconteceu.
Eu denuncio em nome de Deus que hoje vivemos uma
sociedade corrupta em todos os segmentos e que muitas
comunidades se estruturam com dinheiro injusto, dinheiro que
deveria estar sendo usados para a educação, fome, moradia... e
que estão sendo roubados do pobre e transformados em estruturas
tão corrompidas quanto o dinheiro e o benefício extorquido.
“Que o Senhor não se irrite se falo ainda uma última vez!
Que será, se lá forem achados dez justos? E Deus respondeu: Não
a destruirei por causa desses dez”.
“Nossa salvação ainda bem está em Jesus Cristo o único
justo que morreu na cruz por todos nós”...
A corrupção é tão grande que o fato de quase a grande
maioria ter se corrompido é que o erro tornou-se verdade e que a
verdade tornou-se mentira.
E que ninguém mais grita ou denuncia, pois todos estão
“com o rabo preso”. Incomoda profundamente que para você ter
crédito da palavra, precisa antes provar através de quantidade
estruturais a que se cerca.
128
O menino da manjedoura não seria nem observado pela
nossa história. Já que não veio cercado por grandes construções e
pela mídia.
Aceitaríamos muitos profetas por estarem cercadas pela
mídia, mas não aceitaríamos Jesus de Nazaré...
Herodes ignoraria Jesus hoje pelo fato dele ter nascido em
algum barraco de alguma favela por aí...
Volto a repetir este tipo de assunto irrita profundamente a
todos, pois é um convite a mergulhar no essencial que é a justiça
de Deus.
Muitos não pregam este assunto, pois sabem que suas
comunidades esvaziariam em pouco tempo.
“E ante o progresso crescente da iniqüidade, a caridade de
muitos se esfriará”... (Mt. 24, 12). “Mas quando vier o Filho do
homem, acaso achará fé sobre a terra?”... (Lc. 18, 8).
Há muitos profetas que optam por determinada missão não
como chamado, mas como meio de vida.
Alienam-se pela mordomia de vida e pela facilidade como
vivem, às vezes sendo até custo alto para a comunidade.
Conheci um pastor que não conseguia arcar com as regras
impostas pelo seu ministério e preferiu sair da sua comunidade e
ingressar em outra, a fim de manter sua missão e seu ministério.
Porém, foi aconselhado por outro pastor (?) da comunidade
que deveria continuar com a vida que levava e com o ministério que
129
exercia, dizia ele que as mordomias que levavam era melhor do
que assumir que não estavam vivendo com honestidade, pois
assim poderiam fazer tudo que quisessem, desde que não
deixassem transparecer.
Este pastor por coerência deixou a comunidade que
representava e foi duramente criticado por muitos, enquanto aquele
que o aconselhou manteve seu ministério. O que demonstra como
nós somos incoerentes quando nos preocupamos apenas com as
aparências.
Se alguns pastores fossem exigidos na mesma proporção
que muitos pais e mães de famílias já teriam com certeza
abandonados seus ministérios.
Os membros de uma comunidade trabalham o dia inteiro e
sustentam sua família com o suor do rosto, e ainda arrumam tempo
para caminhar na comunidade. Muitas mães e pais se atarefam até
altas horas da noite e todos os finais de semana. Atuam nas festas
da comunidade e nos eventos de corpo e alma e na segunda-feira
bem cedo estão levantando para a labuta do dia a dia.
Façamos, porém justiça aos pastores que muitas vezes se
doam também à comunidade e são desrespeitados pelas suas
ovelha, quando são exigidos deles uma vida de anjo, quando na
verdade são homens e mulheres de carne e osso e por isso mesmo
precisam de privacidade e tempo para si.
130
Às vezes os que bajulam um pastor são os que fofocam e
atacam também.
Mas há muitos profetas que se comportam como
profissionais da fé, e o pior de todos, nem bons profissionais são.
Maltratam suas ovelhas (suas?), pois não faz da missão um
ato de amor.
Há os intrusos que se convidam, os oportunistas, os que não
tiveram outra opção, os que aceitaram por interesses pessoais, os
que foram impostos.
Responder ao chamado de Deus não é uma admissão
profissional, não é uma fuga, nem uma atitude de conveniência,
nem privilégio e muito menos um sonho pessoal ou realização
pessoal.
Há uma enorme diferença entre o que foi escolhido por Deus
e o intruso:
“O rei entrou para vê-los e viu ai um homem que não trazia a
veste nupcial” Mt 22,11.
O escolhido não é voluntário.
O escolhido (ungido) vive o sonho de Deus.
Sonho de Abrão: “Vós não me destes posteridade, e é um
escravo nascido em minha casa que será o meu herdeiro” Gn 15,3
Sonho de Deus: “Abraão, levanta os olhos para os céus, e
conta as estrelas, se é capaz....., pois bem, ajuntou Ele, assim será
a tua descendência” Gn 15,5
131
EU DESEJO ACOLHER O SEU PROFETA SENHOR!!!
Peçamos a Deus que nos de o dom e a coragem de acolher
o profeta em nossa comunidade, mesmo que para tanto as palavras
deste profeta nos leve a um confronto com nossas verdades e que
nos leve a questionamento duro e dolorido a ponto de derrubar em
nós todas as nossas máscaras, desmascarando uma santidade
superficial baseada em um moralismo falso.
Acolhemos o verdadeiro profeta em nossas comunidades
não recusando seus ensinamentos sejam eles em conformidade
com que pensamos ou contrário ao que vivemos e pensamos.
Acolhemos os profetas que respeitem sua comunidade e dogmas
da Igreja.
Ao profeta cabe levar em seu coração a palavra de Deus e
quando não acolhido trazer em seu coração o perdão de Deus.
Pois com a certeza de que não é a pessoa do profeta que é
rejeitado, mas o próprio Jesus que ele (o profeta) o representa.
O Senhor disse a Samuel:
“Ouve a voz do povo em tudo o que te disserem, não é a ti
que eles rejeitam, mas a mim, pois já não querem que eu reine
sobre eles” I Sm 8,7.
Disse Jesus: “Quem vos ouve, a mim ouve; e quem vos
rejeita, a mim rejeita; e quem me rejeita, rejeita aquele que me
enviou (Lc. 10,16)”.
132
Portanto se o profeta representa a pessoa de Jesus deve,
portanto quando rejeitado ter os sentimentos de Jesus:
“Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem (Lc.
23,34a)”.
Na introdução deste livro louvei a sua coragem por começar
a ler um livro com um tema provocante como este.
Agora louvo ainda mais sua coragem e persistência por ler
um livro que em nenhum momento preocupou-se em agradar o(a)
leitor(a), mas dizer aquilo que muitas vezes doe e machuca nosso
ego.
Nasci na Igreja e por um bom tempo me comportei como um
verdadeiro moralista sentia que era um santo e que minha
espiritualidade estava sempre a um nível superior aos demais.
Foi quando me aproximei de Deus em oração e pedi que me
desmascarasse de toda falsidade, que tocasse no ponto mais forte
(meu orgulho) e me ferisse no ego.
“Vendo que não podia vencê-lo, tocou-lhe aquele homem na
articulação da coxa e esta deslocou-se, enquanto Jacó lutava com
ele” Gn 32,25.
A partir deste momento senti que Deus tirava todo o véu que
cobria minhas limitações, minha espiritualidade convencional e
conveniente e comecei a enxergar toda minha pobreza humana.
Compreendi que a luz que brilha em mim não era uma luz
própria, assim como a lua não tem um brilho próprio, mas reflete a
133
luz do sol,a minha luz é a luz de Deus e da sua misericórdia por
mim.
Pedi perdão a Deus por todas as pessoas que magoei e que
neguei em minhas pregações e atitudes e as que nego ainda hoje.
Hoje tenho claro que só caminho pela misericórdia de Deus.
Termino este livro em homenagem e ao mesmo tempo como
forma de denúncia ao orgulho que se abateu em uma enorme
árvore, que outrora, era apenas uma semente simples e humilde e
que morreu sobre a perseguição e as críticas.
E morrendo na terra tornou-se flor e cresceu tornando-se
árvore.
Muitos “oportunistas” se interessaram por seu tamanho e ela
acabou perdendo sua inocência e afastou-se do seu verdadeiro
chamado.
Seus galhos se espalharam e seus frutos apreciados
passaram a ser aceitos por aqueles que um dia lhe jogaram pedras.
Ninguém joga pedra em árvore sem fruto.
Os oportunistas a usaram, comeram seus frutos e ignoraram
os que a ajudaram a crescer.
E seu fim eu não sei, mas já vi muitas histórias parecidas de
árvores como ela que um dia desapareceu.
“Eis (a Assíria), é um cedro do Líbano, de magníficas
ramagens. Com espessa ramagem e elevada estatura, cujo cimo se
alteia em meio às nuvens.
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As águas fizeram-no crescer, o abismo fê-lo altear-se,
dirigindo suas águas para onde ele estava plantado, e enviando
seus regatos as todas as árvores da região.
Dessa forma, dominava, ele todas as árvores do campo;
seus galhos se alongavam, sua ramagem se desenvolvia; graças à
abundância das águas que o tinham feito crescer.
Em seus galhos se aninhavam todas as aves do céu.
Sob seus ramos davam cria todos os animais dos campos e
à sua sombra descansava toda espécie de gente!
Era bela por sua grandeza, pela extensão dos seus galhos,
porque suas raízes mergulhavam nas águas abundantes.
Nenhum cedro do jardim de Deus rivalizava com ele, os
aprestes não atingiam o talhe de seus ramos e os plátanos não
igualavam suas ramagens; nenhuma árvore do jardim de Deus se
equiparava a ela em esplendor.
Eu o havia dotado de tão luxuriante ramagem, que todas as
árvores do Éden, jardim de Deus, dele tinham inveja.
Por isso, eis o que diz o Senhor Javé: porque Ele foi tão
orgulhoso de seu porte e ergueu seu cimo até as nuvens e o seu
coração se ensoberbeceu devido à sua altitude, entreguei-o nas
mãos de um poderoso das nações, que o tratará como merece sua
malignidade, e o destruirá ( Ez 31, 1-11).
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Profeta que sua missão seja baseada na simplicidade e no
amor a todas as pessoas, que suas mãos sejam tão belas como
seus pés que levam a palavra de Deus às pessoas.
Que vossa língua seja fonte da sabedoria de Deus e que
jamais esqueça que quando carregar o tesouro da Palavra, do
outro lado, o ouvinte, é alguém que precisa ser acolhido com amor.
Mantenha sempre a humildade e o seu ministério, sua
missão será sempre abençoada.
“Porém, temos este tesouro em vasos de barro, para que
transpareça claramente que este poder extraordinário provém de
Deus e não de nós. Por isso, não desanimamos deste ministério
que nos foi conferido por misericórdia” II Cr 4,1.7
Obrigado pela sua atenção!
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BIBLIOGRAFIA
Wilfried J. Harrington, OP – Chave para a Bíblia – Ed.
Paulinas – 1985
Christiane Saulnier e Bernard Rolland – La Palestine au
temps de Jesus – Cadernos Bíblicos – Paulus.
Patrick de Laubier – As três Cidades – LTr.
Jorge Pixley – A História de Israel a partir dos pobres –
Coleção Deus Conosco – Vozes.
Vocabulário de Teologia Bíblica – Ed. Vozes.
Dicionário Enciclopédico da Bíblia – Ed. Vozes.
Santo Domingo – Ed. Loyola.
Bíblia Ave-Maria.
Bíblia Jerusalém.
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BIOGRAFIA
Gilberto é um dos fundadores da Comunidade Acolhimento
Bom Pastor.
Autor dos livros:
1 – Gratia Plena
2 – Lançai as redes!
3 – Vinde, Bendito!
Filho de pais católicos é um dos onze filhos que Miltom e
Regina tiveram.
Esposo de Regina e pai de Mariana e Juliana.
Participou de diversos segmentos na Igreja: Vicentino,
Legionário de Maria, Congregado Mariano, Comunidade de Jovens,
Pastorais e Catequista.
Em 1982 conheceu a Renovação Carismática Católica e
através da experiência do Pentecostes teve a certeza do amor de
Deus.
Em 2002 fundou a Comunidade Acolhimento Bom Pastor
juntamente com Branca, Mauro, Carlos, Isabel, Celso, Rita e
Regina fundaram a Comunidade Acolhimento Bom Pastor.
A Comunidade tem como carisma o Acolhimento baseado na
tríplice dimensão: acolher é amar, é evangelizar, é formar.
A Comunidade Acolhimento Bom Pastor através de seu
carisma prega a Palavra de Deus onde é convidada e realiza um