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DESENVOLVIMENTO DE FLUXOGRAMA DE BENEFICIAMENTO MINERAL PARA RESÍDUOS SÓLIDOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL Lanzellotti, R.F.I, Torem, M.L. 1 , Luz, A.B 2 (I) Departamento de Ciências dos Materiais e Metalurgia -Pontificia Universidade Católica do Rio de Janeiro- Rua Marquês de São Vicente, 225- Gávea Cx. Postal 38097- 22453-900 - Rio de Janeiro- RJ . [email protected]. br ; [email protected]. br (2) Centro de Tecnologia Mineral- Av. Ipê, 900- Ilha da Cidade Universitária- 21941-590 - Rio de Janeiro - RJ . aluz@cetcm. gov. br Os resíduos sólidos gerados nas diversas etapas da construção civil têm sido motivo de especial atenção dos órgãos ambientais, tendo cm vista que esta atividadc é certamente a maior geradora de resíduos de toda a sociedade. O volume de entulho de construção c demolição gerado é até duas vezes maior que o volume de lixo sólido urbano. Pesquisas internacionais indicam que esta quantidade oscila entre 0,7 a I t/habitante.ano; estes resíduos não reciclados são depositados em aterros sanitários que ocupam espaços cada vez mais valorizados, especialmente aqueles próximos aos grandes centros urbanos. Além disto, muito destes resíduos são depositados clandestinamente cm aterros irregulares, obstruindo córrcgos c rede de drenagens, colaborando com o agravamento de enchentes, favorecendo a proliferação de mosquitos c outros vetorcs, levando boa parte das prefeituras a gastar um volume de recursos públicos na sua retirada. Considerando os aspectos citados, o objctivo do trabalho é analisar propostas de desenvolvimento de fluxogramas de beneficiamento mineral aplicadas a esta particular "matéria-prima", com o intuito de entender as condições ideais para possibilitar seu uso de forma racional c otimizada na substituição de agregados naturais em qualquer fase da construção civil. Palavras-chave: Matérias-Primas, Entulho, Fluxograma de Beneficiamento, Reciclagem. Área Temática: Reciclagem 351

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DESENVOLVIMENTO DE FLUXOGRAMA DE BENEFICIAMENTO MINERAL

PARA RESÍDUOS SÓLIDOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL

Lanzellotti, R.F.I, Torem, M.L. 1, Luz, A.B2

(I) Departamento de Ciências dos Materiais e Metalurgia -Pontificia Universidade Católica do Rio de Janeiro- Rua Marquês de São Vicente, 225- Gávea

Cx. Postal 38097- 22453-900 - Rio de Janeiro- RJ. [email protected]. br ; [email protected]. br

(2) Centro de Tecnologia Mineral- Av. Ipê, 900- Ilha da Cidade Universitária- 21941-590 - Rio de Janeiro - RJ .

aluz@cetcm. gov. br

Os resíduos sólidos gerados nas diversas etapas da construção civil têm sido motivo de especial atenção dos órgãos ambientais, tendo cm vista que esta atividadc é certamente a maior geradora de resíduos de toda a sociedade. O volume de entulho de construção c demolição gerado é até duas vezes maior que o volume de lixo sólido urbano. Pesquisas internacionais indicam que esta quantidade oscila entre 0,7 a I t/habitante.ano; estes resíduos não reciclados são depositados em aterros sanitários que ocupam espaços cada vez mais valorizados, especialmente aqueles próximos aos grandes centros urbanos. Além disto, muito destes resíduos são depositados clandestinamente cm aterros irregulares, obstruindo córrcgos c rede de drenagens, colaborando com o agravamento de enchentes, favorecendo a proliferação de mosquitos c outros vetorcs, levando boa parte das prefeituras a gastar um volume de recursos públicos na sua retirada . Considerando os aspectos citados, o objctivo do trabalho é analisar propostas de desenvolvimento de fluxogramas de beneficiamento mineral aplicadas a esta particular "matéria-prima", com o intuito de entender as condições ideais para possibilitar seu uso de forma racional c otimizada na substituição de agregados naturais em qualquer fase da construção civil.

Palavras-chave: Matérias-Primas, Entulho, Fluxograma de Beneficiamento, Reciclagem.

Área Temática: Reciclagem

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lNTRODUÇÃO

O objetivo do presente trabalho é fazer uma revisão do estado da arte sobre a reciclagem dos resíduos

da construção c demolição com sua utilização no contexto nacional.

Nos últimos anos, a pesquisa sobre a reciclagem de resíduos industriais vem sendo intensificada em

todo o mundo. Na América do Norte e Europa, a reciclagem é vista, pela iniciativa privada, como um mercado

altamente rentável. Muitas empresas investem em pesquisa c tecnologia, o que aumenta a qualidade do produto

reciclado e propicia maior eficiência do sistema produtivo. Paralelamente, a reciclagem de resíduos urbanos

ganha evidência, em virtude do crescente volume de rejeitas sólidos c da indisponibilidade cada dia maior de

locais para descarte desse material, em particular nos grandes centros urbanos, devido a elevada densidade

demográfica.

No Brasil, diversos pesquisadores dedicam-se ao estudo desse tema, obtendo resultados bastante

relevantes; todavia, a reciclagem ainda não faz parte da cultura dos empresários e cidadãos. A reciclagem de

resíduos industriais ainda possui índices insignificantes frente ao montante produzido c, a cada dia, os rejeitas

urbanos agridem mais o meio ambiente, em virtude da falta de tratamentos adequados e fiscalização sobre a

manipulação e descarte desses rejeitas.

As estimativas da produção de resíduos na construção civil, gerados no processo de construção, reforma

ou demolição são muito variáveis, estima-se que no Brasil é gerado anualmente algo cm torno de 68,5 x I 06 t de

resíduo de construção e demolição, onde, provocam um gasto de R$ 45,00 x 106/ano utilizado para colcta,

transporte de deposição (Ângulo 200 I).

A baixa qualidade do agregado produzido, a falta de conhecimento das características de composição c

o teor de contaminantes provocam uma utilização simplificada. No Brasil o estudo das propriedades c utilização

deste tipo de resíduo iniciou-se com mais ênfase a partir da segunda metade da década de 90. Anteriormente as

pesquisas se baseavam no estudo do desperdício dos materiais no canteiro de obra. Pinto (1989) realizou uma

pesquisa sobre o desperdício de materiais em uma obra de aproximadamente 3.650m2 , chegando a conclusão de

que 20% (em massa) do material empregado foi desperdiçado. Estes resíduos representam cerca de 55%, em

massa, do total de resíduos coletados em cidades médias e de grande porte (Informações Técnicas Em

Construção Civil - I&T -São Paulo, 1995).

Numa avaliação preliminar do desperdício cm uma obra, tomando-se como base à pesquisa realizada

por Pinto ( 1989) c adotando o valor médio de construção civil por metro quadrado no Rio de Janeiro segundo a

tabela Pini de Edificações- Rio de Janeiro- jan/(2004), de R$ 924,23 . Numa construção de 200m2 tem-se uma

perda de R$ 37.086,00, não sendo contabilizado o custo da retirada, transporte c destinação deste resíduo.

O estudo das propriedades e forma de emprego para este material foi iniciado com maior dimensão

somente a partir da década de 90 com a implantação de usinas rccicladoras por iniciativas de Prefeituras

Municipais do Sul e Sudeste para o processamento de resíduos produzidos cm suas regiões. Porém, talvez devido

à falta de informações e conseqüentemente, de confiança no material produzido, a aplicação deste se restringem

a serviços simplificados, como sub-base para pavimentação, substituição de cascalho para cobrimento de vias

secundárias e como agregados para fabricação de peças pré-moldadas (blocos, meio-fios, briquctes, etc).

A grande heterogeidade deste material representa a principal dificuldade para sua utilização, visto que o

desempenho do concreto confeccionado é afetado pelo tipo de componentes que estão presentes no agregado.

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Pinto & Agopyan ( 1994) classificaram a composição dos resíduos da construção no Brasil, conforme demonstra

a Tabela I, onde 90% de sua massa por elementos de origem mineral - concretos, argamassas, rochas, solos c

cerâmicas.

Tabela Ol - Classificação da composição dos resíduos de construção no Brasil. (Pinto & Agopyan -1994)

Média Material

0/o em massa

Argamassa 64,00

Produtos Cerâmicos- tijolos, telhas, reboco. 31,60 -

Concreto 4,20

Solo 0,10

Rochas 1,4

Ladrilhos de concreto 0,4

Cimento amianto 0,4

Papel 0,2

Blocos de concreto 0,1

Madeira 0,1

Vidro 0,0

Metais c plásticos 0,0

TOTAL 100

Após uma revisão mais detalhada na bibliografia sugere que a reciclagem de resíduos sólidos da

construção civil não é apenas uma simples adequação da fração granulométrica do material, mas deve ser

considerada uma operação de beneficiamento mineral compreendendo etapas de cominuição, caracterização c

concentração.

ESTUDO DE CASOS

Com o objctivo de comparar c analisar algumas das plantas existentes no Brasil sclecionou-sc como

exemplo representativo às usinas dos municípios de Londrina c Belo Horizonte, onde as capacidades de

produção são idênticas, 120t/dia; variando apenas a fonna com que são operadas.

O material processado na Central de Moagem de Londrina é utilizado somente para confecção de

arte fatos de cimento, sendo assim, o agregado produzido está na faixa granulométrica entre 4,8 e 0,42mm.

No fluxograma da central de Londrina (fig.l) o processamento do entulho se inicia com uma pré­

classificação que consiste na deposição do material que chega a usina cm áreas pré-determinadas, diferenciadas

pela origem do resíduo: construção, demolição ou escavação. O objetivo desta etapa é impedir a sobre-moagem

evitando um gasto desnecessário de energia, além de facilitar a separação manual.

Na etapa de separação manual objctiva-sc a retirada de materiais contaminantes prejudiciais ao

reciclado, tais como: madeiras, vidros, metais, papéis c placas de gesso, que são reconhecidos visualmente e

retirados da esteira transportadora.

As operações a seguir são de cominuição, britagcm primána e secundária, além da classificação

granulométrica segundo o interesse de obtenção do agregado . Nas etapas de britagcm são utilizados britador de

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mandíbula para a operação primária e de martelos para a secundária. Na classificação granulométrica utiliza-se

peneira vibratória com aberturas de malha segundo a necessidade granulométrica do agregado resultante.

A Estação de Reciclagem de Entulho do Estoril na cidade de Belo Horizonte- MG processa o resíduo

de construção e demolição para utilização cm obras de pavimentação como reforço de sub-lcito, desta forma a

granulomctria mais aberta, entre 25mm e 500mm, é mais aconselhada sendo o restante utilizado de forma

secundária na produção de artefatos de cimento. Na Figura 2 está representado o processo de beneficiamento

para a produção do agregado reciclado em Belo Horizonte. O material contaminante - vidro, madeira e papel -

são retirados manualmente.

Pré Classificação

>5,0nvn

Reciclado Grosso

Reciclado Médio

Reciclado Fino

Figura 1 - Central de moagem de Londrina-PR

Matérial Contaminante

Reciclado Grosso

Figura 2- Estação de Reciclagem de Entulho

do Estoril na cidade de Belo Horizonte- MG

A simplicidade do fluxograma que representa as operações de beneficiamento realizadas na usina de

Belo Horizonte (fig 2), denota a ausência de classificação do agregado, sendo controlado somente a

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,

granulomctria, que por possuir uma faixa ampla, permite que seja executado através da abertura inferior do

britador. Para o tipo de utilização dada ao produto, este controle é suficiente, porém inviabiliza qualquer outro

uso do material que requeira uma caracterização mais acurada.

DISCUSSÃO

O que se observa nestas plantas é a inexistência de operações de classificação e concentração

objctivando a caracterização dos materiais conforme sua natureza, estas operações são necessárias para

quantificar o teor de material cerâmico - tijolos, telhas, azulejos - presente na composição, que determina o tipo

de uso que o concreto c argamassa produzidos com agregado reciclado poderá ter.

Existem inúmeras pesquisas que avaliam o impacto do teor de material nas propriedades mecânicas do

concreto e argamassa produzidos com agregados reciclados.

As propriedades mecânicas de argamassas executadas com agregado reciclado devem ser analisadas

através da relação água/cimento corrigida, descontando a absorção de água sofrida pelo agregado (tab. 2),

principalmente cm argamassas com grande teor de material cerâmico (Miranda 2000).

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Tabela 2- Resistência a compressão de argamassas com fator água/cimento corrigidos (Miranda

2000).

No estudo realizado por H.J. Chen ct ai (2003) verifica-se a presença de até 67% de material cerâmico

no agregado reciclado para uso em concreto não afcta a resistência mecânica, com variação de I 0% cm relação

ao concreto produzido com agregados naturais (tab- 3 c 4) .

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TE O R DE MATERIAL CERÂMICO

Tabela 3 - Resistência à compressão

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50%

TEOR DE MATERIAL CERÂMICO

Tabela 4- Resistência à flexão

. ... 87%

67%

O Centro Holandês para Pesquisas c Códigos de Engenharia- CUR desenvolveu normas para o uso de

agregados reciclados cm concretos c argamassas, onde o concreto com teor de agregado graúdo for inferior a

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20% deverão ser tratados como concreto natural c para concretos acima desta faixa, não deve ultrapassar 5% da

massa cm partículas cerâmicas.

A influência de diferentes teores de agregado miúdo c graúdo reciclado, sozinhos c combinados, para a

produção de concretos, encontrando-se, para algumas faixas de resistência, melhor desempenho do concreto

reciclado, principalmente para os traços com maior teor de agregado miúdo reciclado. Constatou-se, ainda, o

efeito significativo da intcração entre o teor de agregado miúdo reciclado c a idade de cura nos resultados de

resistência à compressão dos concretos. Diante desses resultados, sugere-se que, quanto menor o teor de

agregado miúdo reciclado utilizado, maior era a taxa de crescimento da resistência nas primeiras idades, o

inverso ocorria para os teores mais altos. No entanto, quando se analisou o crescimento da resistência dos 28

para os 91 dias, o comportamento foi inverso Leite (200 I).

Conclui-se que os resultados com traços de altos teores de agregado miúdo reciclado - apresentaram

maiores taxas de crescimento da resistência - podem estar relacionado com uma possível rcação pozolânica de

um dos componentes do material reciclado como, por exemplo, o material cerâmico. Argilas pobremente

calcinadas podem adquirir estrutura tal que, quando finamente moída e em presença de umidade, se combinam

com o hidróxido de cálcio formando compostos resistentes. As pozolanas são, por definição, substâncias

constituídas de sílica c alumina que, em presença de água, combinam-se com o hidróxido de cálcio e com os

diferentes componentes do cimento formando compostos estáveis à água e com propriedades aglomerantes.

De acordo com Winkler (1998), existem duas teorias sobre a rcatividadc dos materiais cerâmicos cm

forma de tijolos. Uma relaciona as propriedades pozolânicas dos tijolos com uma fase vítrea solúvel que reage

com Ca(OH)2 formando C-S-H. Essa fase vítrea só pode ser encontrada cm tijolos cerâmicos queimados a

temperaturas acima de 950 oc. A segunda teoria diz que apenas os tijolos queimados a baixas temperaturas é que

podem apresentar esta reatividade. Esses materiais possuiriam mctacaulin altamente rcativo (Ah03.2Si02 ) numa

forma instável.

Em face da possibilidade de rcatividadc pozolânica dos materiais cerâmicos, acredita-se que agregados

reciclados com altos teores desse material na sua composição possam contribuir para a resistência à compressão

• de concretos ou argamassas em idades mais avançadas (Lima, 1999).

Lcvy ( 1997) sugere que as argilas calcinadas em temperaturas não muito elevadas, os tijolos e blocos

cerâmicos de segunda linha, por exemplo, representam os materiais cerâmicos com maior grau de

pozolanicidade.

Pelo exposto, verifica-se o caráter incontestável da necessidade de determinar os teores de materiais

cerâmicos que compõem a mistura. Ângulo et ai (200 1) sugere o uso de sistemas de equações para se estimar os

teores de concreto e argamassa na composição do agregado reciclado, onde se adota valores típicos para

absorção de água e peso específico dos componentes, classificados somente cm duas fases, concreto c

argamassa. Este procedimento é válido como complemento de outras operações que são necessárias para um

controle mais acurado da mistura.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência existente no Brasil c registrada cm trabalhos anteriores refere-se à caracterização dos

entulhos por meio da cor do agregado produzido, como vennclho, branco c misto. Porém um estudo mais

aprofundado na literatura sugere um procedimento de controle do teor de partículas cerâmicas na mistura dos

agregados reciclados, principalmente cm agregados de granulometria abaixo de 2,0mm, entende-se que um

aumento da umidade na mistura diminuirá a quantidade de fino produzido. Esta diminuição ocorre cm razão da

maior absorção da água pelas partículas cerâmicas, aumentando sua plasticidade c diminuindo a presença destas

partículas no agregado fino produzido.

Para isso propõe-se um fluxograma de beneficiamento mineral (fig 3), onde o teor de cerâmicos na

mistura é controlado através da umidade do material a ser cominuido, tendo cm vista que quanto maior a

umidade menor a produção de fino, como as partículas de cerâmica estão em maior quantidade c como a taxa de

absorção de água nestas partículas é maior que as de concretos c argamassas.

TRANPORTE

PRÉ:·CLASSIJ:"'EAÇÃD

Escavação Construção Demolição

PENEIRA

#100MM

BRITADOR

DE MANIOÍBULA

SiiiEPARADOR.

MAGNÉTICO

CONTROLE

OE

UMIDADE

Material Reciclado Reciclado Reciclado para Sub-base Graúdo Grosso Graúdo Médio Miúdo Médio

Material de recobrimento para o aterro

P EN EIRA

~~,2MM

\~ \._. . _ /

~ Reciclado

Miúdo Fino

Figura 3 : Fluxograma de beneficiamento com controle de umidade

O processo inicia-se na pré-classificação dos resíduos que chegam a usina, onde seriam classificados

de acordo com sua procedência - escavação, construção ou demolição - devido à diferença de composição e

granulomctria; em escavação produz uma maior quantidade de material argiloso e de granulometria menor que

as outras fontes produtoras. A operação de separação manual é responsável pela retirada das impurezas presentes

nos resíduos a serem reciclados, como madeira, vidro, papel, plástico e gesso. Antes de se iniciar a britagem, o

material passa pela peneira com malha de 2mm, onde o passante é retirado para ser utilizado como recobrimento

cm aterro sanitário devido a sua maior contaminação por materiais orgânicos, o retido segue para as próximas

etapas.

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Após avaliação do percentual de umidade presente na alimentação, adiciona-se, ou não, água para

controlar a produção de finos na britagem. Sugere-se a utilização do britador de mandíbulas cm circuito semi­

aberto, onde o material retido na peneira com malha de I OOmm, passariam pelo separador magnético c seguiriam

para rcbritagem.

Os procedimentos seguintes são de classificação granulométrica cm peneiras vibratórias com malhas

de 25mm, 15,5mm, 4,8mm, 2,0mm c I ,2mm conforme a classificação desejada do agregado reciclado

produzido.

Desta forma, acredita-se que haja um maior controle no teor de cerâmicos na mistura possibilitando

um maior aproveitamento das propriedades pozolânicas dos materiais argilosos c mantendo as características

mecânicas dos concretos c argamassas produzidos com agregados reciclados.

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