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1 Universidade Federal da Bahia, Salvador Curso de Museus, Colecções e História das Ciências Datas a designar Duração: 30 horas (5 dias x 6 horas) Docente: Marta C. Lourenço Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Universidade de Lisboa Secção de História e Filosofia da Ciência, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Centro Interuniversitário de História das Ciências e Tecnologia [email protected] - Programa e Objectivos - Nos últimos anos, tem-se observado um interesse crescente da comunidade científica internacional na utilização de colecções e de artefactos como fonte para a investigação em história. Hoje em dia, a cultura material é talvez uma das áreas mais interessantes e ‘cutting edge’ da história da ciência. As razões são múltiplas. Em primeiro lugar, não é razoável pensar-se que muita da história da ciência possa continuar a ser feita com recurso exclusivamente a fontes documentais. Não é possível ignorar a relevância histórica dos milhões de instrumentos científicos, espécimes de história natural, herbários e ceras anatómicas que se encontram em museus, observatórios astronómicos, colecções privadas, escolas secundárias e hospitais. É importante preservar o património científico e o primeiro passo consiste em estudá-lo e conhecê-lo profundamente. Em segundo lugar, a utilização de colecções por historiadores enriquece-as com uma ‘espessura’ de informação que vai muito para além do estudo que os conservadores nos museus estão habituados a fazer. Finalmente, a utilização de objectos como fonte levanta questões e desafios de ordem metodológica e historiográfica que têm suscitado o interesse quer de historiadores quer de profissionais de museus.

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Page 1: Curso de Museus, Colecções e História das Ciências · museus de ciência e técnica, museus de história natural, museus técnicos especializados; breve referência aos museus

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Universidade Federal da Bahia, Salvador

Curso de Museus, Colecções e História das Ciências Datas a designar Duração: 30 horas (5 dias x 6 horas)

Docente: Marta C. Lourenço Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Universidade de Lisboa Secção de História e Filosofia da Ciência, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Centro Interuniversitário de História das Ciências e Tecnologia [email protected]

- Programa e Objectivos - Nos últimos anos, tem-se observado um interesse crescente da comunidade científica internacional na utilização de colecções e de artefactos como fonte para a investigação em história. Hoje em dia, a cultura material é talvez uma das áreas mais interessantes e ‘cutting edge’ da história da ciência. As razões são múltiplas. Em primeiro lugar, não é razoável pensar-se que muita da história da ciência possa continuar a ser feita com recurso exclusivamente a fontes documentais. Não é possível ignorar a relevância histórica dos milhões de instrumentos científicos, espécimes de história natural, herbários e ceras anatómicas que se encontram em museus, observatórios astronómicos, colecções privadas, escolas secundárias e hospitais. É importante preservar o património científico e o primeiro passo consiste em estudá-lo e conhecê-lo profundamente. Em segundo lugar, a utilização de colecções por historiadores enriquece-as com uma ‘espessura’ de informação que vai muito para além do estudo que os conservadores nos museus estão habituados a fazer. Finalmente, a utilização de objectos como fonte levanta questões e desafios de ordem metodológica e historiográfica que têm suscitado o interesse quer de historiadores quer de profissionais de museus.

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Este Curso pretende fazer uma abordagem geral à teoria e prática da cultura material da ciência. É composto por uma mistura de aulas teóricas, teórico-práticas e práticas (sessões com artefactos). As aulas incluem ainda visitas de campo a coleções científicas.

- Avaliação - Os alunos deverão ser assíduos, pontuais e participar activamente em todas as aulas. A avaliação será baseada na qualidade das suas intervenções. Havendo, na maior parte das aulas, pelo menos um texto de leitura obrigatória e vários de leitura recomendada, é possível aos alunos prepararem-se semanalmente, o que vai aumentar consideravelmente a qualidade das discussões. Os alunos serão ainda solicitados a fazer um exercício de levantamento de colecções, um exercício de inventário e um exercício de análise de um artefacto.

- Plano de Aulas - Apresentação. Património Científico DIA 1 (manhã) O património científico (da ciência). Tipologia do património científico. O papel dos museus. Tipologias. Os acervos científicos. Os arquivos científicos. O património edificado: observatórios, laboratórios, etc. O património científico natural: jardins botânicos, parques, geomonumentos, sítios e paisagens naturais. O património científico imaterial. Espaços de património científico nas sociedades contemporâneas (museus, colégios e escolas secundárias, hospitais, instituições militares, laboratórios nacionais). Principais desafios do património científico: preservação, conservação preventiva, relevância para a divulgação científica, relevância para a história da ciência. O património da ciência contemporânea. Políticas nacionais para o património científico.

Leituras obrigatórias: M.C. Lourenço 2010. O património invisível: História, organização e preservação do

património científico em Portugal. Museologia.pt 4: 106-121. M. Granato & M.C. Lourenço 2010. O patrimônio científico do Brasil e de Portugal: Uma

introdução. In M. Granato & M. C. Lourenço (coord.), 2010. Coleções científicas de instituições luso-brasileiras: Patrimônio a ser descoberto, pp. 7-14. MAST/MCT, Rio de Janeiro.

Museus, objectos e colecções Dia 1 (TARDE) Introdução à história das colecções e dos museus. Tipologia dos museus científicos: museus de ciência e técnica, museus de história natural, museus técnicos especializados; breve referência aos museus de etnografia, museus de sítio, museus de ar livre, ecomuseus e centros de ciência; o debate museu de ciência vs. centro de ciência; o contexto português. Tipologia dos objectos em museus de ciência e museus de história natural: o instrumento, a máquina, o modelo, o protótipo, o espécimen, o molde, o módulo ‘interactivo’.

Leituras obrigatórias: Hudson, K. 1987. Museums of influence. Cambridge University Press (Science, Technology and

Industry, pp. 88-112). Lewis, G.D., 1984. Collections, collectors and museums: a brief world survey. In: J.M.A. Thompson

(ed.), Manual of curatorship, pp. 7-22. Butterworths & Museums Association, London.

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Levantamento, classificação e documentação de colecções DIA 2 Técnicas de levantamento de colecções (surveys). Classificação de colecções: objectivos e principais campos. A colecção como fonte de conhecimento: documentação e biografia de colecções.

Leituras obrigatórias: M. C. Lourenço & S. Gessner, 2012. Documenting collections: Cornerstones for more

history of science in museums. Science & Education DOI 10.1007/s11191-012-9568-z.

Oliveira, M.A.C. (2011). A trajetória da formação da coleção de objetos de C&T do Observatório do Valongo. Unpublished master thesis in Museology and Heritage, State University of Rio de Janeiro (Unirio).

Granato, M. & Oliveira, M.A.C. (2012). The historical instruments from Valongo Observatory, Federal University of Rio de Janeiro. UMACJ, 5, 53-64.

Visitas de Campo DIA 3 Visita a quatro colecções em diferentes estádios de organização, conservação e acesso. Exercício prático: levantamento de colecções. Preservação, Gestão de Colecções & Inventário DIA 4 Inventário: objectivos e aspectos técnicos (manusear, marcar, numerar, descrever, fotografar). Problemas terminológicos. Fontes primárias e secundárias para o inventário. Documentação. Conservação. Gestão de colecções. Exercício prático: inventário de um artefacto.

Leituras obrigatórias: Mann, P.R. 1994. Working exhibits and the destruction of evidence in the Science Museum. In S.

Knell (ed) Care of Collections, pp. 35-46. Routledge, London. Field, J.V. 1988. What is scientific about a scientific instrument? Nuncius 3(3): 3-16, 17-26. Leituras recomendadas: J.M.A. Thompson (ed.) 1984. The manual of curatorship. Butterworths & Museums Association,

London [Biblioteca MCUL]. Ambrose, T. & C. Paine, 1993. Museum basics. ICOM/Routledge, London.

História da Ciência e Cultura Material da Ciência DIA 5 Introdução à cultura material: origens, bibliografia, recursos e principais journals. A cultura material da ciência. Os artefactos como fonte. Os níveis objecto, colecção e património. O museu enquanto fonte para a história. Estudos de instrumentos, estudos de património. Biografias de objectos e de colecções. Abordagens metodológicas à cultura material: Winterthur e Gessner. Exercício prático: análise de um artefacto.

Leituras obrigatórias: Alberti, S.J.M.M. Objects and the museum. Isis 96: 559-571 [pdf]. Bennett, J. 2005. Museums and the History of Science. Practitioner’s Postscript. Isis 96: 602-608. Pearce, S. 1994. Interpreting objects and collections. Routledge, London (Thinking about things,

pp. 125-132). Prown, J.D. 1982. Mind in matter: An introduction to material culture theory and method.

Winterthur Portfolio 17(1): 1-19. Leituras recomendadas: Baird, D. 2003. Thing Knowledge: A Philosophy of Scientific Instruments. Berkeley: University of

California Press. Dunn, R. 2006. Made to Measure: Some thoughts on the design of scientific instruments. In L.

Taub & F. Willmoth (eds.) The Whipple Museum of the History of Medicine: Instruments and interpretations to celebrate the 60th anniversary of the R.S. Whipple gift to the University of Cambridge, pp. 121-138. Whipple Museum, Cambridge.

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Eversmann, Pauline K., et al. 1997. Material culture as text: Review and reform of the literacy model for interpretation. In A.S. Martin & J. R. Garrison (eds) American material culture, pp. 135-67. Winterthur, Delaware.

Golinski, J. 2005. Making natural knowledge. Constructivism and the history of science. University of Chicago Press (Interventions and representations, pp. 133-161).

Hopwood, N. & S. de Chadarevian 2004. Dimensions of modeling. In S. de Chadarevian & N. Hopwood (eds) Models. The third dimension of science, pp. 1-15. Stanford University Press.

Mosley, A. 2007. Objects, texts and images in the history of science. Stud. Hist. Phil. Sci. 38: 289-302.

Pickstone, J.V. 2000. Ways of knowing. A new history of science, technology and medicine. Manchester University Press (Experimentalism and invention, pp. 135-161).

Prown, J.D. (1993). “The truth of material culture: History or fiction?” In History from things: Essays on material culture, ed. Steven Lubar and W. David Kingery, pp. 1-19. Washington, D.C.

Marta C. Lourenço Universidade de Lisboa, 10 Março 2013