crucificar o ego para viver

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Crucificar o Ego Para Viver Silvio Dutra Dez/2015

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Page 1: Crucificar o ego para viver

Crucificar o Ego Para Viver

Silvio Dutra

Dez/2015

Page 2: Crucificar o ego para viver

2

Sumário Introdução 3

Renúncias Necessárias 4

A Amputação Que É Necessária Para Entrar no Céu 12

“...quem neste mundo odeia a sua vida,” 17

Renúncia e Abnegação 21

O Verdadeiro Significado da Renúncia 25

Aquele que Não Renunciar a Tudo o Que Tem Não Pode Ser Meu Discípulo

35

Criado para Ser Espiritual e não Carnal 44

Porque a Vida Eterna Demanda a Morte do Nosso Ego

46

Aquele que Não Renunciar a Tudo o Que Tem Não Pode Ser Meu Discípulo

52

Se Não Perder Não Ganhará 61

Trazendo no Corpo a Mortificação de Jesus 66

Esvaziar-nos de nós Mesmos Para Sermos Úteis 70

Escrito na Mente e no Coração 77

O Governo Usurpador da Alma Sobre o Nosso Espírito

84

A real condição da natureza humana 106

O homem é inimigo de Deus 112

A Carnalidade é Inimiga de Deus 116

Despindo-se do Velho e Revestindo-se do Novo 122

Como e porque ser espiritual e não carnal 125

Não Mais na Carne 177

A Supremacia do Espírito Sobre o Corpo 186

Espiritual 201

A Natureza da Nova Criatura em Cristo Jesus 207

Natural e Espiritual 213

Curando a Doença e Não Aliviando Somente os Sintomas

221

Destruindo a Fábrica do Mal e Não Apenas os Seus Produtos

226

Page 3: Crucificar o ego para viver

3

Introdução

Watchman Nee costumava dizer que a primeira e

principal lição que deveria ser ensinada aos novos

convertidos era aquela que foi tão enfatizada por

nosso Senhor Jesus Cristo em seu ministério

terreno, de que deveríamos nos negar a nós

mesmos, tomar a cruz diariamente e segui-lo para

que pudéssemos ser de fato seus discípulos.

Como há muita falta da devida compreensão do

significado desta ordenança, resolvemos tratar do

assunto neste livro, fundamentando nossas

palavras no ensino bíblico e na forma como esta

verdade declarada por nosso Senhor se aplica e se

ajusta à realidade prática da vida.

Com tal propósito em vista reunimos alguns dos

vários artigos que escrevemos sobre este assunto e

esperamos que eles sejam de alguma valia para os

amados leitores.

Page 4: Crucificar o ego para viver

4

Renúncias Necessárias

Nós lemos no texto de Lucas 14.25-35 o seguinte:

“25 Ora, iam com ele grandes multidões; e,

voltando-se, disse-lhes:

26 Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e

mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda

também à própria vida, não pode ser meu discípulo.

27 Quem não leva a sua cruz e não me segue, não

pode ser meu discípulo.

28 Pois qual de vós, querendo edificar uma torre,

não se senta primeiro a calcular as despesas, para

ver se tem com que a acabar?

29 Para não acontecer que, depois de haver posto

os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que

a virem comecem a zombar dele,

Page 5: Crucificar o ego para viver

5

30 dizendo: Este homem começou a edificar e não

pode acabar.

31 Ou qual é o rei que, indo entrar em guerra contra

outro rei, não se senta primeiro a consultar se com

dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele

com vinte mil?

32 No caso contrário, enquanto o outro ainda está

longe, manda embaixadores, e pede condições de

paz.

33 Assim, pois, todo aquele dentre vós que não

renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu

discípulo.

34 Bom é o sal; mas se o sal se tornar insípido, com

que se há de restaurar-lhe o sabor?

35 Não presta nem para terra, nem para adubo;

lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir,

ouça.”

Page 6: Crucificar o ego para viver

6

A obediência e serviço a Cristo são na verdade uma

sequência de renúncias feitas por amor a Ele, e para

que a Palavra de Deus se cumpra em nossas vidas.

Por exemplo, há necessidade que os pais renunciem

a seus filhos, e os filhos a seus pais, para que o

propósito de Deus relativo ao casamento se

consolide, pelo ato de deixar o homem pai e mãe,

se unir à sua mulher, para que não sejam mais dois,

mas uma só carne aos olhos do Senhor.

Todavia, há uma renúncia suprema que se impõe ao

próprio casal, de maneira que deverão aprender a

renunciar-se mutuamente, para que o amor e

serviço a Cristo, venham em primeiro lugar em suas

vidas.

Por isso, nosso Senhor enunciou claramente às

multidões que O seguiam, as condições necessárias

para o discipulado, porque ninguém poderá ser Seu

discípulo se não renunciar a tudo quanto possui.

Page 7: Crucificar o ego para viver

7

Quem quiser ser discípulo de Cristo terá que

aprender a renunciar a tudo que lhe seja muito

querido, e até à Sua própria vontade.

Ninguém poderá guardar a palavra de perseverança

do Senhor, que consiste em não negar o Seu nome

e os Seus mandamentos, sejam quais forem as

circunstâncias, caso não se tenha um sincero amor

a Cristo que seja superior a tudo o mais que ame

neste mundo, incluindo a sua própria vida.

Isto porque nas situações práticas da vida, o serviço

ao Senhor exigirá renúncias da parte de Seus

discípulos.

Eles terão que sacrificar os interesses de outras

pessoas e até os seus próprios interesses, para que

possam, não raras vezes, se dedicarem ao serviço do

Senhor.

Para melhor esclarecer o caráter da renúncia que se

exige dos discípulos, nosso Senhor comparou tal

renúncia como aquela que se faz necessária aos que

se empenham numa guerra.

Page 8: Crucificar o ego para viver

8

Eles terão que reunir recursos para a batalha e terão

que deixar todas as demais coisas que eles amam

para que possam se dedicar aos combates que terão

que empreender na guerra em que estiverem

empenhados.

Para o mesmo propósito usou a ilustração de quem

edifica uma torre.

Ele não poderá concluir a construção caso não

calcule o custo dos materiais e caso não se dedique

totalmente ao projeto da torre que pretende

construir.

Isto lhe tomará tempo e dinheiro e não poderá estar

mais dedicando a totalidade do seu tempo a outras

atividades e interesses.

O afeto natural pelas pessoas que amamos terá que

ceder lugar muitas vezes ao afeto espiritual, que

decorre do amor celestial divino, para o

atendimento daqueles aos quais devemos servir

pela vontade do Senhor, toda vez que tais afetos

colidirem.

Page 9: Crucificar o ego para viver

9

Servir ao Senhor é então comparado aos sacrifícios

e renúncias que se exigem daqueles que se

empenham numa guerra ou num projeto de

construção.

Quando o nosso afeto natural pelos nossos pais

entrar em competição com o nosso dever evidente

para com Cristo, nós temos que dar prova do nosso

amor ao Senhor, cumprindo o que se exige de nós,

conforme revelado na Sua Palavra, mesmo quando

isto signifique contrariar aqueles que amamos, ou

então que tal implique um grande sacrifício a ser

feito por nós.

Cristo deve ter a preferência em todas as coisas, se

quisermos fazer a Sua vontade, e sermos agentes da

sua bênção para muitas pessoas que necessitam do

seu amor.

Quantos interesses de amigos terão que ser

deixados para trás para que possamos fazer a

vontade de Deus, em relação a algum serviço

prático que Ele nos tenha ordenado.

Page 10: Crucificar o ego para viver

10

Não raras vezes, Deus colocará o nosso amor por Ele

à prova, fazendo com que tenhamos a oportunidade

de demonstrar na prática a nossa dependência dEle,

e fidelidade a Ele e à Sua Palavra, em meio às

tribulações que nos alcançam em forma de

enfermidades, carências, perseguições, etc.

Se não estivermos dispostos a fazer a renúncia total

que Cristo exige de nós, é certo que o inferno se rirá,

e muitas pessoas também rirão de modo

escarnecedor por termos começado um

relacionamento com o Senhor, e não termos

permanecido de modo constante na realização e

consumação do nosso amor a Ele, por Lhe termos

voltado as nossas costas.

Assim, todo verdadeiro cristão deve ter uma

posição firme e definida contra todo tipo de

apostasia e corrupção de mente e de espírito,

porque tal apostasia e corrupção lhe tornarão inútil

para os propósitos de Deus, e ele virá por fim a ser

como o sal que perdendo o seu sabor, para nada

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11

mais presta senão para ser lançado fora para ser

pisado pelos homens, como disse Jesus.

Page 12: Crucificar o ego para viver

12

A Amputação Que É Necessária Para Entrar no Céu

“E, se tua mão te faz tropeçar, corta-a; pois é melhor

entrares maneta na vida do

que, tendo as duas mãos, ires para o inferno, para o

fogo inextinguível onde

não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga.

E, se teu pé te faz tropeçar, corta-o; é melhor

entrares na vida aleijado do que, tendo os dois pés,

seres lançado no inferno onde não lhes morre o

verme, nem o fogo se apaga.

E, se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o; é

melhor entrares no reino de Deus com um só dos

teus olhos do que, tendo os dois seres lançado no

inferno, onde não lhes morre o verme, nem o fogo

se apaga.” (Marcos 9.43-48)

Page 13: Crucificar o ego para viver

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Com este ensino, nosso Senhor Jesus Cristo

enfatizou a vital importância da salvação da alma,

pela demonstração que caso fosse necessário para

obtê-la, deveríamos amputar partes importantes do

nosso corpo físico, que por suposição, fossem a

causa de nos manterem aprisionados ao pecado.

É evidente que Ele não está recomendando uma

prática de mutilações literais, porque nos é

ordenado também por Deus o cuidado com a

preservação do nosso corpo físico.

Mas, para ilustrar que em não raros casos, a

salvação será obtida por renúncias a práticas

pecaminosas, que serão dolorosas para nós, e

muitas vezes, que até mesmo colocarão em risco a

nossa integridade física – quantos não foram e que

têm ainda sido martirizados por conta da fé que

abraçaram, ainda que não tivessem tropeçado,

dando causa a isto - todavia, sofreram com

paciência e voluntariamente o martírio sabendo

que havia uma vida muito melhor e eterna lhes

Page 14: Crucificar o ego para viver

14

aguardando, a qual, na verdade, já estavam

experimentando desde que se converteram a

Cristo.

O ensino de nosso Senhor alude à mortificação do

pecado, que deve ser feita por todos os cristãos.

Este é um dever que deverão operar para a sua

santificação, pelo corte de afeições pecaminosas e

todo o tipo de inclinações carnais que os levem a

pecar. Os que se entregam a este trabalho

evidenciam em si mesmos que entraram no reino de

Deus, e por conseguinte, jamais serão lançados no

inferno eterno.

A ilustração da amputação dos membros indica

portanto que o trabalho de mortificação do pecado

não é algo nocional, ou de mero caráter intelectual,

mas algo que será realizado em nossa própria vida,

atingindo o âmago do nosso ser, pelo despojamento

do velho homem, da natureza terrena decaída no

pecado que foi crucificada juntamente com Cristo,

Page 15: Crucificar o ego para viver

15

recebendo a necessária sentença de morte para que

possamos viver em novidade de vida.

Nosso Senhor não fez portanto, uma aplicação

relativa a um suposto castigo de pecados

cometidos, mas uma alusão à remoção necessária

do pecado, para que possamos entrar no reino de

Deus.

Assim, as concupiscências que combatem contra a

alma devem ser removidas.

Esta amputação de caráter espiritual não é para

morte, assim como na ilustração apresentada por

nosso Senhor não foi indicada a amputação de

qualquer órgão vital. É uma remoção para vida e

não para morte. Assim como quem amputa um

órgão gangrenado para continuar vivendo, neste

caso apresentado a retirada das inclinações e dos

hábitos pecaminosos visam mais do que permitir

que continuemos vivendo esta vida natural, senão

que obtenhamos a vida espiritual eterna.

Page 16: Crucificar o ego para viver

16

Outra parte importante do ensino de Jesus é o de

que a alma embora esteja morta com suas partes

gangrenadas pelo pecado, ela pode ainda ser

recuperada, desde que nos apresentemos a Ele para

a realização deste trabalho de remoção daquelas

coisas que são para nós a causa do nosso tropeço, e

que impedem a nossa entrada no reino de Deus.

Assim, aqueles que carregam este corpo de morte

do pecado em sua jornada terrena, mas do qual vão

se despojando ao longo de sua caminhada, haverão

de ter a sua entrada no reino de Deus, amplamente

suprida.

Page 17: Crucificar o ego para viver

17

“...quem neste mundo odeia a sua vida,” (Jo 12.25)

O mesmo Jesus que disse em João 12.25.26:

“Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste

mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida

eterna. Se alguém me quiser servir, siga-me; e onde

eu estiver, ali estará também o meu servo; se

alguém me servir, o Pai o honrará.", também disse

que veio a este mundo para que tivéssemos vida, e

que a tivéssemos em abundância (Jo 10.10).

Não há qualquer paradoxo entre as duas passagens

bíblicas citadas; ao contrário, são idênticas e

complementares mutuamente.

O ponto a ser destacado é que nosso Senhor se

refere a dois tipos de vida: a natural, relativa a este

mundo cuja fonte reside na nossa natureza terrena

pecaminosa, a qual deve ser perdida pelo trabalho

da cruz, por odiarmos o pecado que em nós habita

e que há no mundo; e a vida que é santa, espiritual

Page 18: Crucificar o ego para viver

18

e celestial que recebemos por meio da fé em Jesus,

pois é este o tipo de vida abundante que somente

Ele pode nos dar.

A manifestação desta vida celestial abundante

independe de circunstâncias, se somos ou não

afligidos por provações em forma de enfermidades,

perseguições, pobreza, e até mesmo pelas

tentações da carne, do mundo e do diabo.

Aquele que tem carregado a sua cruz diariamente, e

que tem crucificado o seu ego, seguindo o pendor

do Espírito Santo por caminhar em santificação com

Jesus, terá uma fonte de paz, alegria, gratidão,

amor, jorrando em seu interior para a vida eterna.

Não importa que esteja preso injustamente, por

anos, como sucedeu com José no Egito, conforme o

conselho e determinação de Deus, para bons

propósitos definidos para o aperfeiçoamento de

José na paciência e na santificação; enquanto o

mordomo de faraó, que havia transgredido contra o

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19

próprio rei, foi colocado por ele em liberdade em

poucos dias.

Os apóstolos foram também presos e duramente

perseguidos, mas perseveraram na fé, na paciência

e na esperança, enquanto aqueles que os oprimiam

prosperavam materialmente neste mundo, e no

entanto, não haviam alcançado a vida eterna

abundante que eles possuíam.

Deus corrige, repreende e disciplina apenas aqueles

que são seus filhos, e esta é uma das razões porque

são provados por Ele em circunstâncias em que os

que os ímpios são livrados rapidamente, enquanto

o crente permanece por maior período debaixo dos

mesmos sofrimentos em que eles se encontravam.

Nestas tribulações dos crentes estão sendo forjadas

a fundamentação do caráter, a paciência, a

perseverança, a fé e a esperança.

É evidente que naqueles que amam o tipo de vida

que o mundo tem a oferecer, ou seja, as coisas e os

tipos de comportamentos que são contrários à

Page 20: Crucificar o ego para viver

20

vontade e santidade de Deus; nenhuma destas

graças está sendo forjada, até mesmo porque não

as desejam ou conhecem; e como aqueles que

amam o mundo permanecem como inimigos de

Deus, jamais obterão a vida eterna que está em

Jesus.

Page 21: Crucificar o ego para viver

21

Renúncia e Abnegação

Qual é o grande motivo da renúncia e abnegação

que nos são exigidas por nosso Senhor Jesus Cristo?

Creio que seja o compromisso total que é necessário

ter com Ele e com o evangelho.

Em várias passagens Ele ilustrou o caráter deste

compromisso pleno quando citou, por exemplo, que

quem lança mão do arado e olha pra trás não é apto

para o reino de Deus (Lucas 9.61); que quem começa

a construção de uma torre ou uma guerra deve

concluí-las empenhando-se até o fim (Lucas 14.28-

32).

O arar o campo, a construção da torre ; e a

declaração de guerra devem ser minuciosamente

calculados e não podem ser abandonados ou

interrompidos de modo algum, sob pena de termos

o nosso trabalho prejudicado e não concluído.

Page 22: Crucificar o ego para viver

22

Fomos empregados como lavradores e

construtores, e alistados como soldados de Cristo

ao nos convertermos a Ele, e para agradá-lo

deveremos cuidar inteiramente dos interesses do

seu reino.

Em consequência teremos que renunciar a muitos

projetos e desejos pessoais; teremos que priorizar o

nosso tempo para Cristo e o reino, e isto certamente

encurtará o tempo que dispendemos sobretudo

com os nossos familiares e as pessoas que exigem

muito da nossa atenção em nossos

relacionamentos, e por isso Jesus disse que:

“Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e mãe,

a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também

à própria vida, não pode ser meu discípulo.” (Lucas

14.26)

Como isto contraria os nossos sentimentos e

vontade naturais, então necessitaremos colocar em

prática o que Ele nos ensina:

Primeiro,

Page 23: Crucificar o ego para viver

23

“Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém

quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua

cruz, e siga-me;” (Lucas 14.27)

E em seguida,

“Assim, pois, todo aquele dentre vós que não

renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu

discípulo.” (Lucas 14.33)

Não há outra alternativa para vencer nossos afetos

naturais que possam nos impedir de servir ao

Senhor inteiramente senão a crucificação do nosso

ego com todos os seus desejos.

Teremos que contrariar nossos desejos e até a

própria vida para que possamos servir a Cristo da

maneira pela qual convém ser servido.

Ele nos deu o exemplo supremo disto não fazendo a

sua própria vontade, senão a do Pai, para que

pudesse consumar a nossa salvação.

De igual forma isto se aplica a nós, porque não

podemos nos empenhar na obra de salvação de

Page 24: Crucificar o ego para viver

24

almas, sem que se veja operando em nós, não a

nossa, mas a vontade do Senhor.

Page 25: Crucificar o ego para viver

25

O Verdadeiro Significado da Renúncia

“26 Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e

mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda

também à própria vida, não pode ser meu discípulo.

27 Quem não leva a sua cruz e não me segue, não

pode ser meu discípulo...

33 Assim, pois, todo aquele dentre vós que não

renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu

discípulo.” (Lc 14.26, 27, 33).

O verdadeiro significado da renúncia cristã não diz

respeito tanto ao que abandonamos e o esforço que

realizamos, quanto por quem o fazemos, a saber,

se por nós mesmos ou por Cristo.

Este desapego às coisas que mais amamos, inclusive

a nós mesmos, conforme nos é imposto pelo Senhor

para segui-lO, é de caráter totalmente diferente das

renúncias que as pessoas costumam fazer para

atingirem seus objetivos, porque elas o fazem por si

Page 26: Crucificar o ego para viver

26

mesmas e por aquilo que escolhem fazer, e não para

Cristo, e segundo a Sua vontade divina.

O cristão é portanto chamado a se auto negar e

carregar a cruz que mortificará o seu ego, para

poder seguir verdadeiramente a Cristo, de maneira

que possa dizer de fato que tem feito a vontade de

Deus neste mundo, e não a sua própria vontade.

Nós selecionamos apenas três versículos da porção

de Lucas 14.25-35 nos quais Jesus expôs as

condições exigidas por Ele para o discipulado, de

maneira que aqueles que pretendem segui-lO

fazendo a Sua vontade estejam plenamente

instruídos quanto ao que será exigido deles para tal,

de maneira que possam se armar do pensamento

das coisas que terão que fazer e ao que terão que

renunciar se pretenderem fazer de fato a vontade

de Deus.

Todos os que pretenderem seguir a Cristo têm que

contar com o pior, e se prepararem

adequadamente.

Page 27: Crucificar o ego para viver

27

É possível que muitos discípulos de Jesus pensassem

que Ele lhes diria o seguinte: “Se qualquer homem

vier a mim, e for meu discípulo, ele terá honras e

riquezas em abundância neste mundo.”. Mas Ele

lhes disse exatamente o contrário disto, e lhes

revelou que deveriam se dispor a deixar tudo o que

fosse querido a eles, e deveriam ser desmamados

de tudo aquilo em que buscavam o seu conforto e

segurança, e que teriam aflições.

Eles deveriam morrer para tudo aquilo que lhes

desse conforto e segurança no mundo e morrerem

inclusive para si mesmos, não mais vivendo para

fazer a vontade do eu, de maneira que pudessem

conhecer e praticar a vontade de Deus.

Assim ninguém pode ser discípulo de Cristo se não

estiver disposto a contrariar a vontade de seus

familiares (v. 26) quando esta vontade entrar em

competição com a de Deus. E não somente isto,

deve estar disposto a contrariar a sua própria

vontade e vida. Se não for sincero nisto e se não o

Page 28: Crucificar o ego para viver

28

fizer, não poderá ser constante e perseverante na

obra de Deus, a não ser que ame mais a Cristo do

que qualquer outra coisa neste mundo, e esteja

disposto a se separar de tudo aquilo que ele possuir

oferecendo-o como um sacrifício para Deus, de

maneira que Cristo possa ser glorificado por esta

nossa separação para nos consagrarmos

inteiramente a Ele (tal como os mártires que não

amaram as suas vidas diante da morte).

É somente quando nos separamos dos afetos que

nos prendem a este mundo, que somos capacitados

a servir melhor a Cristo.

Assim Abraão se separou do próprio país dele, e

Moisés da corte de faraó.

Não é feito nesta passagem de Lucas menção a

casas e terras porque a filosofia ensinará a olhar

para isto com desprezo; mas o cristão considera isto

de uma maneira bem mais elevada, por saber que

tudo o que o homem amar seja em seu

relacionamento com pessoas ou bens, se ele for um

Page 29: Crucificar o ego para viver

29

discípulo de Cristo, terá que amar menos estas

coisas do que a Cristo, e estar disposto a se separar

delas caso seja necessário para continuar seguindo

ao Senhor.

Não que as pessoas que amamos devam ser em

algum grau desprezadas, mas deve ser perdido o

conforto e satisfação que achamos nelas para que

somente Cristo seja todo o conforto e sustentáculo

de nossas vidas. E é a este tipo de renúncia a que o

Senhor se refere ao dizer que é necessário renunciar

a tudo para ser seu discípulo, isto é, aqueles que

pretendem segui-lo não podem ter a razão da sua

esperança e conforto em qualquer coisa ou pessoa

deste mundo, porque terão que aprender a

depender inteiramente do Senhor porque Deus os

provará muitas vezes vendo falhar ou faltar estes

confortos, e não raro, mesmo aqueles que muito

amamos e prezamos se levantarão contra nós

quando perceberem a nossa plena disposição de

nos consagrarmos inteiramente a Deus.

Page 30: Crucificar o ego para viver

30

Quando nosso dever para com nossos pais entrar

em competição com nosso dever evidente para

Cristo, nós temos que dar a preferência a Cristo. Se

nós tivermos que negar a Cristo para não sermos

banidos por nossos parentes, nós temos que perder

a companhia deles e permanecer fiéis a Cristo.

Todo homem ama a sua própria vida, mas nós não

podemos ser discípulos de Cristo se nós não O

amamos mais que nossas próprias vidas. A

experiência dos prazeres da vida espiritual e a

esperança da vida eterna farão com que esta dura

declaração do Senhor se torne fácil. Quando a

tribulação e a perseguição surgirem por causa da

Palavra, então principalmente a tentação será

superada se nós amarmos mais a Cristo.

A tentação constante de buscarmos a Deus para que

Ele faça a nossa vontade, em vez de nos inteirarmos

qual seja a vontade dEle para conosco, para que nos

empenhemos em fazê-la, só pode ser tratada pela

cruz, que imporá sua sentença de morte sobre os

Page 31: Crucificar o ego para viver

31

desejos carnais de nossa alma, de forma que

sejamos conduzidos pelo Espírito Santo.

Há um grande equívoco em se pensar que uma

grande fé é aquela que consegue obter coisas de

Deus para própria e exclusiva conveniência pessoal.

Mas, ao contrário uma fé verdadeira em exercício

nos capacitará a renunciar a tudo e a fazer com

amor e paciência perseverante a obra que Deus nos

tem designado, enquanto descansamos na Sua

promessa de suprir aquilo que nos for necessário.

Esta fé verdadeira em exercício fará muitas petições

a Deus, mas somente daquilo que for da Sua

vontade, para que possamos continuar a Seu

serviço neste mundo, que não devemos amar, e do

qual devemos estar desmamados.

A verdadeira fé nunca levará um cristão

amadurecido e devidamente instruído a buscar o

que seja da sua própria conveniência, mas somente

aquilo que é aprovado e conveniente de ser pedido

a Deus.

Page 32: Crucificar o ego para viver

32

Ele saberá desfrutar o melhor desta vida, sem

qualquer ascetismo, mas nada terá o domínio de

sua vontade e coração, porque este domínio

pertencerá ao Senhor, que sempre quer o melhor

para nós.

Os que são verdadeiramente discípulos de Cristo

estão construindo uma torre que os aproxima cada

vez mais das realidades do céu, e eles sabem que a

construção desta torre lhes impõe o custo da

mortificação dos seus pecados, da renúncia ao

mundo e ao eu, e de tudo o mais que é necessário

para permanecerem em sua obediência a Deus.

Eles são também como reis empenhados numa

grande guerra contra os poderes das trevas, contra

o pecado, e contra as tentações do mundo.

E a vitória nesta guerra lhes exigirá o custo da

vigilância, da oração perseverante, de estarem

equipados continuamente com toda a armadura de

Deus, resistindo firmes na fé ao diabo, vivendo em

sobriedade.

Page 33: Crucificar o ego para viver

33

Enfim, o discipulado cobra o preço da consagração

total a Deus, porque o homem de coração dobre

não obterá nada do Senhor. Não se pode servir a

dois senhores. Ou se serve a Deus ou às riquezas. Ao

que é terreno ou ao que é celestial. Ao que é do

Espírito Santo ou ao que é da carne. À luz ou às

trevas. Não se pode ter um pouco de um e um pouco

de outro nestas coisas citadas. Se tivermos um não

teremos o outro. Porque onde estiver o nosso

tesouro, ali estará também o nosso coração. Mas é

comum que muitos se enganem pensando que

estão seguindo a Cristo e fazendo uma obra

verdadeira para Deus enquanto não renunciam a

tudo quanto devem renunciar para que Cristo e

somente Cristo seja o grande prazer e objetivo de

suas vidas.

A vida cristã é uma declaração de guerra contra o

pecado, o diabo e o mundo, para que almas possam

ser resgatadas das trevas para a luz de Jesus. E

somente os que têm calculado o custo desta guerra

Page 34: Crucificar o ego para viver

34

e pago efetivamente o preço necessário poderão

desfrutar das grandes vitórias que obterão pelo

auxílio da graça do Senhor.

Sem esta renúncia que é imposta aos discípulos de

Cristo eles não poderão ter sal em si mesmos para

preservar este mundo da corrupção, e salgarem a

vida de muitos com o testemunho de suas próprias

vidas. Sem renúncia o sal perde o sabor e quando

isto acontece é lançado fora e será pisado pelos

homens, porque terá perdido a sua função de salgar

para preservar. Isto ensina de modo muito claro que

o Senhor somente pode usar aqueles que estiverem

consagrando efetivamente suas vidas.

Page 35: Crucificar o ego para viver

35

Aquele que Não Renunciar a Tudo o Que Tem Não Pode Ser Meu Discípulo

Nosso Senhor Jesus Cristo foi quem proferiu as

palavras do nosso título.

Há muitos ensinamentos para nós quanto a isto, na

chamada de Eliseu.

Gostaríamos de enfocar o que lemos no texto de I

Reis 19.19-21:

“19 Partiu, pois, Elias dali e achou Eliseu, filho de

Safate, que andava lavrando com doze juntas de

bois adiante dele, estando ele com a duodécima;

chegando-se Elias a Eliseu, lançou a sua capa sobre

ele.

20 Então, deixando este os bois, correu após Elias, e

disse: Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe, e

então te seguirei. Respondeu-lhe Elias: Vai, volta;

pois, que te fiz eu?

21 Voltou, pois, de o seguir, tomou a junta de bois,

e os matou, e com os aparelhos dos bois cozeu a

Page 36: Crucificar o ego para viver

36

carne, e a deu ao povo, e comeram. Então se

levantou e seguiu a Elias, e o servia.” .

Deus mesmo chamou Eliseu para ser profeta no

lugar de Elias, conforme se vê no verso 16, quando

lhe ordenou que ungisse a Jeú, rei de Israel, a

Hazael, rei da Síria, e a Eliseu por profeta.

Não foi numa escola de profetas, nem num templo,

que Eliseu foi chamado, mas no seu local de

trabalho, quando arava o campo com doze juntas de

bois, sendo que ele próprio arava com uma destas

juntas.

E não tem sido assim o método comum com o qual

muitos têm sido chamados pelo Senhor, para

deixarem suas atividades seculares, para viverem

do evangelho?

Eliseu não deixou pouco para se consagrar à sua

chamada, pois se diz que arava com doze juntas de

bois.

Ele ofereceu tudo o que tinha como um holocausto,

nas mãos do Senhor, como símbolo da sua renúncia

Page 37: Crucificar o ego para viver

37

ao seu antigo modo de vida, quando matou os seus

bois e fez uma fogueira para assar a carne com os

instrumentos com os quais arava a terra.

Ele não seria mais agricultor dali por diante, porque

se desfez dos meios que eram necessários para a

realização do seu antigo sustento de vida.

Um dos motivos de Deus ter chamado Eliseu para

ser sucessor de Elias, foi o fato de apesar dele ser

um homem importante, que tinha servos, era

simples e trabalhador, porque se diz que ele

também estava trabalhando no arado, quando

podia deixar todo o serviço pesado a cargo dos seus

empregados.

Pessoas que buscam uma vida de mordomia neste

mundo não serão chamadas por Deus para a Sua

obra.

O pedido de Eliseu para se despedir de seus pais,

não foi uma desculpa para demorar a atender à

chamada do Senhor, como a citada em Lucas 9.61.

Page 38: Crucificar o ego para viver

38

Ele somente o fizera por uma questão de respeito e

dever para com os seus pais.

Elias não constrangeu Eliseu a segui-lo, mas

lembrou-lhe somente que havia lançado o seu

manto sobre ele, como uma indicação de que estava

sendo chamado por Deus para ser preparado por

ele, Elias, para o ministério, e isto estava

representado no fato de que estaria debaixo das

vestes de Elias, isto é, de sua proteção e cuidado.

Eliseu se colocou humildemente na posição de servo

de Elias, e era o servo que lavava as mãos do profeta

como se vê em II Reis 3.11.

Há renúncias impostas para o exercício do

ministério

Muitos que são chamados pelo Senhor,

especialmente para a obra de missões, vivendo pela

fé, custam a entender em princípio, qual é o caráter

da chamada deles.

Até o próprio Eliseu, aquele gigante espiritual,

demonstrou estar ainda ligado a laços familiares de

Page 39: Crucificar o ego para viver

39

sangue, quando o Senhor o chamou para o

ministério profético através de Elias (I Rs 19.19-21).

Muitos ficaram perplexos por grande tempo até

entenderem que as perdas que sofreram em suas

vidas, foram decorrentes desta chamada do Senhor

para o exercício do ministério.

O Senhor impõe renúncias àqueles aos quais chama,

tal como fizera com todos os apóstolos, que tudo

tiveram que deixar para poder segui-lO.

A quantas coisas e pessoas estamos apegados,

ainda que não estejamos devidamente

conscientizados de tal realidade.

E dificilmente entendemos que muitas perdas que

sofremos, e guinadas violentas que são produzidas

por Deus em nossas vidas, têm o propósito de nos

tornar desimpedidos para a realização da Sua obra.

Se não houver esta renúncia aprendida e recebida

de modo voluntário, pela consagração de tudo o

que somos e do que temos ao Senhor, não será

possível trabalhar para Deus, porque o nosso

Page 40: Crucificar o ego para viver

40

coração estará apegado àquelas coisas e pessoas

das quais, o Senhor sabe que devemos nos

desprender primeiro (não deixar de lhes assistir,

nem abandoná-las, mas não ser presa de laços

sentimentais e emocionais, ou de dependência

financeira, psicológica ou de qualquer outra

ordem), para que possamos então fazer a Sua

vontade, sem que sejam tais coisas e pessoas a

principal ocupação de nossos pensamentos,

afeições e desejos.

Quando Deus chamou Eliseu através do profeta

Elias, este lançou a sua capa sobre Eliseu, indicando

que a autoridade espiritual que estava sobre Elias,

seria transferida por Deus, no tempo oportuno,

para Eliseu.

Mas desde já, ele teria que abandonar tudo para

poder seguir Elias, para ser preparado para ser o seu

sucessor.

Quando Jesus lança sobre nós a sua capa

concedendo-nos dons, capacitações, e Sua

Page 41: Crucificar o ego para viver

41

autoridade, é para a realização da Sua obra, e não

da nossa. Para fazermos a Sua vontade e não a

nossa.

Adeus amigos! Adeus prazeres carnais e mundanos!

Adeus parentes! Adeus interesses particulares!

Adeus sonhos seculares! É a atitude que devemos

ter em nosso coração, tão logo identifiquemos que

fomos chamados para a realização de uma obra

específica para Deus.

Aqueles que não se auto negarem não poderão

tomar diariamente a sua cruz.

E sem tomar a cruz é absolutamente impossível

seguir a Jesus.

Porque a cruz nos imporá renúncias, empenhos,

deslocamentos, que a nossa carne não sente

nenhum prazer neles.

A cruz será um objeto de ofensa para aqueles que

não se autonegarem primeiro.

Page 42: Crucificar o ego para viver

42

Eles se escandalizarão com os sofrimentos e aflições

que a cruz lhes trará quando estiverem

empenhados na realização da obra do Senhor.

Por isso, os apóstolos nos advertem quanto à

necessidade de estarmos armados com o

pensamento de que importa suportar todo tipo de

tribulação e oposição, que nos possam sobrevir por

causa da nossa consagração ao serviço de Deus.

Assim, aqueles que têm sido chamados por Deus,

em vez de ficarem perplexos e gemendo por causa

das coisas que estão sofrendo, devem aprender, tal

como Paulo, a se gloriarem nas tribulações que

estiverem sofrendo, e nas renúncias que o próprio

Deus lhes está impondo, porque estas aflições são a

prova mesma de que estão empenhados numa obra

que procede verdadeiramente de Deus, e isto é um

motivo não para tristeza, mas para alegria, é uma

grande honra, e não uma condição humilhante; uma

grande vantagem, recompensa e riqueza espiritual,

e nenhuma tragédia ou miséria. Afinal, deixaram de

Page 43: Crucificar o ego para viver

43

confiar no cuidado dos homens, para viverem

debaixo do cuidado do Deus Altíssimo e

Onipotente.

Gloriemo-nos portanto somente no Senhor, nas

tribulações e na Sua cruz, porque, por meio de todas

estas coisas, somos capacitados a sermos bem

sucedidos na obra que realizamos para a glória do

Seu nome, e por meio das quais cessarão todos os

nossos fracassos e vazio de vida.

Eliseu que o diga! Tudo o que ele realizou para Deus

se tornou um grande exemplo para nós, de que vale

muito a pena tudo deixar para podermos seguir a

Jesus.

Page 44: Crucificar o ego para viver

44

Criado para Ser Espiritual e não Carnal

Está declarada de modo muito claro e direto na

Bíblia, desde o seu primeiro livro de Gênesis, a

verdade relativa à condição natural de todo ser

humano de se inclinar para a sua natureza terrena

carnal pecaminosa, e por ela ser dirigido, em vez de

se inclinar para a natureza celestial e espiritual

divina, para a qual fora criado, para viver por meio

dela eternamente.

O próprio Deus expôs esta verdade no motivo

declarado do dilúvio que traria sobre toda a Terra:

“Então, disse o SENHOR: O meu Espírito não agirá

para sempre no homem, pois este é carnal; e os seus

dias serão cento e vinte anos.” (Gênesis 6.3)

Veja a comprovação desta verdade, porque no meio

de toda uma geração que se inclinava e se movia

Page 45: Crucificar o ego para viver

45

apenas pelo que era carnal, somente um homem

(Noé) havia se voltado para Deus, pela fé, e obtido

pela justificação, a coparticipação da natureza

divina, pela qual recebeu o testemunho de ser

homem justo, temente a Deus e que se desviava do

mal.

Viver na carne, segundo a lição que nos foi deixada

no dilúvio, opera a morte e a destruição.

E deste viver todos compartilham, em razão da

natureza que possuímos, até que sejamos

libertados e justificados pela fé em Cristo, para

recebermos uma nova natureza, na qual se cumpre

o propósito eterno de Deus na nossa criação.

Afinal, Deus é espírito, e importa que também o

sejamos para termos comunhão com Ele e

participação da sua vida divina.

Page 46: Crucificar o ego para viver

46

Porque a Vida Eterna Demanda a Morte do Nosso Ego

Paulo poderia ter começado o 4º capítulo de 2

Coríntios com as palavras do verso 5:

“Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a

Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos

servos por amor de Jesus.”.

Porque para não pregarmos a nós mesmos, mas a

Cristo é preciso trazer o morrer de Jesus em nosso

corpo, em nosso ego, e em tudo que se refira à

nossa própria vontade e desejos, que devem ser

levados à morte na cruz, para que a vida de Jesus

possa se manifestar através de nós (v. 10).

Esta mortificação progressiva de todas as áreas de

nossas vidas há de ocorrer se tivermos uma

chamada para o ministério, tal como Paulo a tivera,

porque o ministério consiste em manifestar não a

nós mesmos, mas o que é relativo à vida de Cristo.

Page 47: Crucificar o ego para viver

47

E para isto o velho homem tem que ser despojado,

para que a nova criatura se manifeste em poder

nestes vasos de barro que são os nossos corpos

mortais.

São vasos de barro porque têm a ver com o que

herdamos da natureza terrena de Adão, que foi

criada a partir do barro, dos elementos naturais

deste mundo, que passa.

Todavia, a nova vida em Cristo é do céu, e o seu

poder excelente pode se manifestar somente se a

casca do velho homem com suas vontades e desejos

for completamente quebrada através das

tribulações, perplexidades, perseguições, e

abatimentos, ao mesmo tempo que somos

consolados e amparados pelo Senhor pela

manifestação do Seu poder e amor, para que não

sejamos angustiados, desanimados, desamparados

e destruídos (v. 8, 9).

Page 48: Crucificar o ego para viver

48

Esta será a experiência de todos aqueles que

consagrarem efetivamente suas vidas ao serviço do

Senhor.

Tal como Paulo, saberão, por experiência, o que

significa trazer diariamente no corpo o morrer de

Jesus para que a Sua vida possa se manifestar em

nós.

Eles saberão por experiência que toda a

mortificação que é operada neles, sobretudo no seu

ego, tem o propósito de gerar a vida de Cristo nos

seus ouvintes (v. 12).

Eles saberão que todo o seu dever é anunciar a fé

em Cristo, e a Sua morte e ressurreição, para a nossa

própria ressurreição, de modo que ministrando por

amor aos homens, possam todos abundar em ações

de graças, para a glória de Deus, por causa da

multiplicação da graça em muitos corações (v. 13 a

15).

Eles saberão que um cristão em seu posto de

trabalho, operando fielmente no Espírito, não

Page 49: Crucificar o ego para viver

49

desfalece e suportará e sofrerá tudo por amor a

Cristo, ainda que o homem exterior se corrompa,

isto é, que enfraqueça, enferme, envelheça, porque

o homem interior, a saber, o Espírito é renovado

gradual e diariamente por Deus, segundo o Seu

próprio poder e glória (v. 16).

Assim saberá também que toda tribulação traz em

si mesma um propósito de nos tornar mais íntimos

e participantes da glória de Deus, e que se tornam

leves e momentâneas comparadas ao peso das

consolações e operações poderosas do Senhor no

nosso corpo, alma e espírito.

Um cristão experimentado, como Paulo, saberá

discernir a vida espiritual que não se experimenta

por vista, mas por fé, que se firma não nas coisas

visíveis que são temporais, mas nas invisíveis que

são eternas.

Portanto, à luz de todas estas afirmações que o

apóstolo faz nos últimos versos deste 4º capítulo,

Page 50: Crucificar o ego para viver

50

nós podemos entender melhor o que ele pretendia

dizer nos seus quatro primeiros versículos.

Os que são de Cristo podem entender as palavras de

Paulo, a saber, o evangelho da cruz de Cristo, mas

não os incrédulos, porque seus entendimentos

foram cegados pelo Inimigo, de modo que não

podem enxergar a glória que há no evangelho, que

produz a sua vida ressurreta à medida que nosso

velho homem vai sendo despojado,

progressivamente, pela mortificação operada pela

cruz.

Para o mundo isto não é glória, quando muito,

masoquismo, porque não pode experimentar o

poder da vida do Espírito que se manifesta naqueles

que permitem a mortificação dos feitos do corpo

pelo poder de Deus.

Eles não podem entender que a cruz não é

carregada para nos aniquilar, mas para gerar a vida

eterna de Cristo, porque Ele veio a este mundo não

Page 51: Crucificar o ego para viver

51

para nos matar, mas para que tivéssemos vida, e

vida em abundância.

Mas esta vida não pode ser experimentada, a não

ser na nova criatura, gerada em nós pelo Espírito, e

isto demanda a morte e despojamento progressivo

dos atos pecaminosos do velho homem, trabalho

este que é feito pela cruz que carregamos

diariamente, para que o Espírito não somente

mortifique o nosso pecado, como também

manifeste a vida poderosa de Cristo em nós.

Enquanto o que prevalece é o eu, eu, eu ... posso,

não posso; quero, não quero, jamais conheceremos

o significado de ser conduzido pela vontade de

Deus, e ser por ela capacitado a fazer

voluntariamente e com amor o que seja necessário

e contrário ao nosso querer, ao nosso sentir, e até

mesmo tudo que não haja em nós habilidade e

poder para fazer.

Page 52: Crucificar o ego para viver

52

Aquele que Não Renunciar a Tudo o Que Tem Não Pode Ser Meu Discípulo

Nosso Senhor Jesus Cristo foi quem proferiu as

palavras do nosso título.

Há muitos ensinamentos para nós quanto a isto, na

chamada de Eliseu.

Gostaríamos de enfocar o que lemos no texto de I

Reis 19.19-21:

“19 Partiu, pois, Elias dali e achou Eliseu, filho de

Safate, que andava lavrando com doze juntas de

bois adiante dele, estando ele com a duodécima;

chegando-se Elias a Eliseu, lançou a sua capa sobre

ele.

20 Então, deixando este os bois, correu após Elias, e

disse: Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe, e

então te seguirei. Respondeu-lhe Elias: Vai, volta;

pois, que te fiz eu?

21 Voltou, pois, de o seguir, tomou a junta de bois,

e os matou, e com os aparelhos dos bois cozeu a

Page 53: Crucificar o ego para viver

53

carne, e a deu ao povo, e comeram. Então se

levantou e seguiu a Elias, e o servia.” .

Deus mesmo chamou Eliseu para ser profeta no

lugar de Elias, conforme se vê no verso 16, quando

lhe ordenou que ungisse a Jeú, rei de Israel, a

Hazael, rei da Síria, e a Eliseu por profeta.

Não foi numa escola de profetas, nem num templo,

que Eliseu foi chamado, mas no seu local de

trabalho, quando arava o campo com doze juntas de

bois, sendo que ele próprio arava com uma destas

juntas.

E não tem sido assim o método comum com o qual

muitos têm sido chamados pelo Senhor, para

deixarem suas atividades seculares, para viverem

do evangelho?

Eliseu não deixou pouco para se consagrar à sua

chamada, pois se diz que arava com doze juntas de

bois.

Ele ofereceu tudo o que tinha como um holocausto,

nas mãos do Senhor, como símbolo da sua renúncia

Page 54: Crucificar o ego para viver

54

ao seu antigo modo de vida, quando matou os seus

bois e fez uma fogueira para assar a carne com os

instrumentos com os quais arava a terra.

Ele não seria mais agricultor dali por diante, porque

se desfez dos meios que eram necessários para a

realização do seu antigo sustento de vida.

Um dos motivos de Deus ter chamado Eliseu para

ser sucessor de Elias, foi o fato de apesar dele ser

um homem importante, que tinha servos, era

simples e trabalhador, porque se diz que ele

também estava trabalhando no arado, quando

podia deixar todo o serviço pesado a cargo dos seus

empregados.

Pessoas que buscam uma vida de mordomia neste

mundo não serão chamadas por Deus para a Sua

obra.

O pedido de Eliseu para se despedir de seus pais,

não foi uma desculpa para demorar a atender à

chamada do Senhor, como a citada em Lucas 9.61.

Page 55: Crucificar o ego para viver

55

Ele somente o fizera por uma questão de respeito e

dever para com os seus pais.

Elias não constrangeu Eliseu a segui-lo, mas

lembrou-lhe somente que havia lançado o seu

manto sobre ele, como uma indicação de que estava

sendo chamado por Deus para ser preparado por

ele, Elias, para o ministério, e isto estava

representado no fato de que estaria debaixo das

vestes de Elias, isto é, de sua proteção e cuidado.

Eliseu se colocou humildemente na posição de servo

de Elias, e era o servo que lavava as mãos do profeta

como se vê em II Reis 3.11.

Há renúncias impostas para o exercício do

ministério

Muitos que são chamados pelo Senhor,

especialmente para a obra de missões, vivendo pela

fé, custam a entender em princípio, qual é o caráter

da chamada deles.

Até o próprio Eliseu, aquele gigante espiritual,

demonstrou estar ainda ligado a laços familiares de

Page 56: Crucificar o ego para viver

56

sangue, quando o Senhor o chamou para o

ministério profético através de Elias (I Rs 19.19-21).

Muitos ficaram perplexos por grande tempo até

entenderem que as perdas que sofreram em suas

vidas, foram decorrentes desta chamada do Senhor

para o exercício do ministério.

O Senhor impõe renúncias àqueles aos quais chama,

tal como fizera com todos os apóstolos, que tudo

tiveram que deixar para poder segui-lO.

A quantas coisas e pessoas estamos apegados,

ainda que não estejamos devidamente

conscientizados de tal realidade.

E dificilmente entendemos que muitas perdas que

sofremos, e guinadas violentas que são produzidas

por Deus em nossas vidas, têm o propósito de nos

tornar desimpedidos para a realização da Sua obra.

Se não houver esta renúncia aprendida e recebida

de modo voluntário, pela consagração de tudo o

que somos e do que temos ao Senhor, não será

possível trabalhar para Deus, porque o nosso

Page 57: Crucificar o ego para viver

57

coração estará apegado àquelas coisas e pessoas

das quais, o Senhor sabe que devemos nos

desprender primeiro (não deixar de lhes assistir,

nem abandoná-las, mas não ser presa de laços

sentimentais e emocionais, ou de dependência

financeira, psicológica ou de qualquer outra

ordem), para que possamos então fazer a Sua

vontade, sem que sejam tais coisas e pessoas a

principal ocupação de nossos pensamentos,

afeições e desejos.

Quando Deus chamou Eliseu através do profeta

Elias, este lançou a sua capa sobre Eliseu, indicando

que a autoridade espiritual que estava sobre Elias,

seria transferida por Deus, no tempo oportuno,

para Eliseu.

Mas desde já, ele teria que abandonar tudo para

poder seguir Elias, para ser preparado para ser o seu

sucessor.

Quando Jesus lança sobre nós a sua capa

concedendo-nos dons, capacitações, e Sua

Page 58: Crucificar o ego para viver

58

autoridade, é para a realização da Sua obra, e não

da nossa. Para fazermos a Sua vontade e não a

nossa.

Adeus amigos! Adeus prazeres carnais e mundanos!

Adeus parentes! Adeus interesses particulares!

Adeus sonhos seculares! É a atitude que devemos

ter em nosso coração, tão logo identifiquemos que

fomos chamados para a realização de uma obra

específica para Deus.

Aqueles que não se auto negarem não poderão

tomar diariamente a sua cruz.

E sem tomar a cruz é absolutamente impossível

seguir a Jesus.

Porque a cruz nos imporá renúncias, empenhos,

deslocamentos, que a nossa carne não sente

nenhum prazer neles.

A cruz será um objeto de ofensa para aqueles que

não se autonegarem primeiro.

Page 59: Crucificar o ego para viver

59

Eles se escandalizarão com os sofrimentos e aflições

que a cruz lhes trará quando estiverem

empenhados na realização da obra do Senhor.

Por isso, os apóstolos nos advertem quanto à

necessidade de estarmos armados com o

pensamento de que importa suportar todo tipo de

tribulação e oposição, que nos possam sobrevir por

causa da nossa consagração ao serviço de Deus.

Assim, aqueles que têm sido chamados por Deus,

em vez de ficarem perplexos e gemendo por causa

das coisas que estão sofrendo, devem aprender, tal

como Paulo, a se gloriarem nas tribulações que

estiverem sofrendo, e nas renúncias que o próprio

Deus lhes está impondo, porque estas aflições são a

prova mesma de que estão empenhados numa obra

que procede verdadeiramente de Deus, e isto é um

motivo não para tristeza, mas para alegria, é uma

grande honra, e não uma condição humilhante; uma

grande vantagem, recompensa e riqueza espiritual,

e nenhuma tragédia ou miséria. Afinal, deixaram de

Page 60: Crucificar o ego para viver

60

confiar no cuidado dos homens, para viverem

debaixo do cuidado do Deus Altíssimo e

Onipotente.

Gloriemo-nos portanto somente no Senhor, nas

tribulações e na Sua cruz, porque, por meio de todas

estas coisas, somos capacitados a sermos bem

sucedidos na obra que realizamos para a glória do

Seu nome, e por meio das quais cessarão todos os

nossos fracassos e vazio de vida.

Eliseu que o diga! Tudo o que ele realizou para Deus

se tornou um grande exemplo para nós, de que vale

muito a pena tudo deixar para podermos seguir a

Jesus.

Page 61: Crucificar o ego para viver

61

Se Não Perder Não Ganhará

“João 12:24 Em verdade, em verdade vos digo: se o

grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele

só; mas, se morrer, produz muito fruto.

João 12:25 Quem ama a sua vida perde-a; mas

aquele que odeia a sua vida neste mundo preservá-

la-á para a vida eterna.”

Se formos interpretar de modo literal a verdade

proferida nas palavras de nosso Senhor Jesus Cristo

- de que quem ama a vida a perde, e de que quem a

odeia a preserva para a vida eterna – poderemos

pensar que está sendo afirmado algum tipo de

absurdo, e na verdade o seria caso o sentido destas

palavras fosse interpretado segundo a razão natural

e comum do mundo; todavia elas expressam de

forma resumida o grande segredo de se alcançar a

vida eterna não somente para este mundo quanto

Page 62: Crucificar o ego para viver

62

para o vindouro. Porque importa que sejam

interpretadas em seu significado espiritual, com a

ajuda da iluminação do Espírito Santo, que é o único

que pode nos tornar capazes de discernir

espiritualmente as realidades que são espirituais.

Primeiro, Jesus aplicou este ensino do céu ao seu

próprio caso, pois não viveu para fazer a sua própria

vontade, senão a de Deus Pai que o enviou para

morrer no nosso lugar.

Ele se esvaziou completamente e tomou a forma

humana e de servo, não sendo dirigido pelo seu

próprio ego, mas pelo Espírito Santo que o guiava

em tudo.

Jesus não é somente a vida eterna, a sua fonte,

como também o caminho e a verdade que nos

conduzem também à vida eterna, pelo mesmo

caminho que ele seguiu.

O morrer para o eu, para se viver pela vontade e

poder de Deus é o grande segredo disto, que Jesus

veio revelar em si mesmo. Por isso ele venceu a

Page 63: Crucificar o ego para viver

63

morte, e não pôde a sua vida ser retida pelo

sepulcro, e se encontra agora assentado em glória à

destra do Pai no céu, intercedendo continuamente

por nós, para que alcancemos a vida eterna e que a

vivamos do modo digno pelo qual importa ser

vivida.

Agora, em relação a nós, quão indispostos somos a

fazer morrer o modo de viver pelo nosso ego, quão

apegados somos à nossa vontade e ao mundo, e

então necessitamos - diferentemente do Senhor

Jesus que não tinha qualquer pecado – de mortificar

a nossa natureza terrena pecaminosa, para que

tendo a nossa mente renovada, possamos conhecer

de modo experimental a boa, perfeita e agradável

vontade de Deus, pela qual somos santificados.

Perdas de entes queridos e coisas que amamos nos

causam grande sofrimento, e por isso tememos

abandonar esta coisa que é a primeira em ordem a

amarmos mais do que tudo, a saber, o nosso modo

de viver neste mundo, ao qual nosso Senhor se

Page 64: Crucificar o ego para viver

64

refere como algo que devemos aprender a odiar,

porque está cheio de hábitos e desejos que são

contrários à justiça e santidade de Deus.

Então, se não odiarmos esta vida pecaminosa

mundana, a nossa condição espiritual permanece

sendo de morte, que por fim virá a ser morte eterna,

e não vida eterna, conforme é prometido àqueles

que a odiarem, por amarem o modo de vida

celestial, espiritual e divino.

Em muitos outros textos da Bíblia vemos esta

verdade de João 12.24,25, sendo reafirmada, e para

nossa apreciação, estamos destacando alguns deles

a seguir:

Mateus 16:25 Porquanto, quem quiser salvar a sua

vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha

causa achá-la-á.

Page 65: Crucificar o ego para viver

65

Mateus 10:39 Quem acha a sua vida perdê-la-á;

quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-

la-á.

Lucas 14:26 Se alguém vem a mim e não aborrece a

seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs

e ainda a sua própria vida, não pode ser meu

discípulo.

Lucas 17:33 Quem quiser preservar a sua vida

perdê-la-á; e quem a perder de fato a salvará.

Page 66: Crucificar o ego para viver

66

Trazendo no Corpo a Mortificação de Jesus

“Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a

Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos

servos por amor de Jesus.” (II Coríntios 4.5)

Para não pregarmos a nós mesmos, mas a Cristo é

preciso trazer o morrer de Jesus em nosso corpo (II

Cor 4.10), em nosso ego, e em tudo que se refira à

nossa própria vontade e desejos, que devem ser

levados à morte na cruz, para que a vida de Jesus

possa se manifestar através de nós.

Aquele que não traz o seu ego mortificado pela cruz

não está habilitado a pregar e a ensinar o evangelho

da cruz.

Aquele que não renunciou a tudo quanto tem não

pode pedir aos seus ouvintes que renunciem a si

mesmos para confiarem suas almas ao Salvador.

Page 67: Crucificar o ego para viver

67

É por isso que o nosso velho homem tem que ser

despojado, para que a nova criatura se manifeste

em poder nestes vasos de barro que são os nossos

corpos mortais.

São vasos de barro porque têm a ver com o que

herdamos da natureza terrena de Adão, que foi

criada a partir do barro, dos elementos naturais

deste mundo, que passa.

Todavia, a nova vida em Cristo é do céu, e o seu

poder excelente pode se manifestar somente se a

casca do velho homem com suas vontades e desejos

for completamente quebrada através das

tribulações, perplexidades, perseguições, e

abatimentos, ao mesmo tempo que somos

consolados e amparados pelo Senhor pela

manifestação do Seu poder e amor, para que não

sejamos angustiados, desanimados, desamparados

e destruídos (II Cor 4.8,9).

Page 68: Crucificar o ego para viver

68

Esta será a experiência de todos aqueles que

consagrarem efetivamente suas vidas ao serviço de

Deus.

Tal como Paulo, saberão, por experiência, o que

significa trazer diariamente no corpo o morrer de

Jesus para que a Sua vida possa se manifestar em

nós.

Eles saberão por experiência que toda a

mortificação que é operada neles, sobretudo no seu

ego, tem o propósito de gerar a vida de Cristo nos

seus ouvintes (II Cor 4.12).

Eles saberão que todo o seu dever é anunciar a fé

em Cristo, e a Sua morte e ressurreição, de modo

que ministrando por amor aos homens, possam

abundar as ações de graças, para a glória de Deus,

por causa da multiplicação da graça em muitos

corações (v. 13 a 15).

Eles saberão que um cristão em seu posto de

trabalho, operando fielmente no Espírito, não

desfalecerá e suportará e sofrerá tudo por amor a

Page 69: Crucificar o ego para viver

69

Cristo, ainda que o homem exterior se corrompa,

isto é, que enfraqueça, enferme, envelheça, porque

o homem interior, a saber, o espírito é renovado

gradual e diariamente por Deus, segundo o Seu

próprio poder e glória (v. 16).

Assim reconhecerão também que toda tribulação

traz em si mesma um propósito de nos tornar mais

íntimos e participantes da glória de Deus, e que se

tornam leves e momentâneas comparadas ao peso

das consolações e operações poderosas do Senhor

no nosso corpo, alma e espírito.

Um cristão experimentado, como Paulo, saberá

discernir a vida espiritual que não se experimenta

por vista, mas por fé, que se firma não nas coisas

visíveis que são temporais, mas nas invisíveis que

são eternas.

Page 70: Crucificar o ego para viver

70

Esvaziar-nos de nós Mesmos Para Sermos Úteis

"5 Tende em vós o mesmo sentimento que houve

também em Cristo Jesus,

6 o qual, subsistindo em forma de Deus, não

considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia

aferrar,

7 mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de

servo, tornando-se semelhante aos homens;

8 e, achado na forma de homem, humilhou-se a si

mesmo, tornando-se obediente até a morte, e

morte de cruz.

9 Pelo que também Deus o exaltou soberanamente,

e lhe deu o nome que é sobre todo nome;

10 para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho

dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da

terra,

11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor,

para glória de Deus Pai." (Filipenses 2.5-11)

Page 71: Crucificar o ego para viver

71

Ninguém jamais poderá se humilhar tanto quanto

Cristo se humilhou, pois não era um homem

pecador; porém se fez homem, sendo Deus,

exaltado à destra do Pai, coroado de honra e glória

diante dos serafins, querubins, arcanjos e anjos no

céu.

Foi desta altura infinita de glória que Ele desceu até

nós humilhando-se a si mesmo, esvaziando-se e

tomando a forma de servo, assumindo a natureza

do homem, apesar de ser Deus.

Ele fez isto, porque era governado completamente

por um sentimento de humildade e não de orgulho.

É este mesmo sentimento de Cristo que todos os

cristãos devem possuir.

Cristo não considerou uma desonra o fato de ter

sido feito menor do que os anjos, ainda que por um

determinado período, a saber, enquanto viveu em

carne neste mundo esvaziado da Sua glória divina,

como vemos em Hb 2.9, porque considerou maior

Page 72: Crucificar o ego para viver

72

coisa fazer a vontade do Pai, relativamente à

salvação dos pecadores.

Os cristãos têm um serviço a fazer para Deus, que é

a continuidade do mesmo serviço de Cristo, e para

tanto necessitam ter o mesmo sentimento de

humildade que houve em Cristo Jesus.

Nosso Senhor comprovou Sua humildade através da

Sua obediência ao Pai, e é do mesmo modo que

nossa humildade é comprovada diante de Deus, a

saber, na nossa obediência a Ele.

Jesus se manifestou também, para o propósito de

nos ensinar qual é o modo correto de se viver para

Deus.

Este modo que nos revelou é em completa

submissão e serviço, mediante a Sua Palavra,

escolhendo fazer a vontade de Deus, em vez da

nossa vontade, gastando-se inteiramente na Sua

obra, porque afinal, nos deu vida para que

trabalhássemos para Ele.

Page 73: Crucificar o ego para viver

73

Fomos colocados neste mundo para este propósito.

Bem-aventurados são todos aqueles que não

somente descobrem isto, como também se aplicam

a isto.

A humilhação voluntária de Jesus se comprova

também, no fato de que Ele tem o nome que é sobre

todo o nome. Por isso, ao nome de Jesus se dobra e

se dobrará todo joelho dos que estão nos céus, na

terra e debaixo da terra, e toda língua confessa e

confessará que Jesus é Senhor, porque Ele sempre

foi e será o Senhor de tudo e de todos.

Este que é o Senhor foi achado em Seu ministério

terreno na forma de servo e em completa

humildade. Servo na verdadeira acepção da

palavra, ou seja, servindo de fato tanto a Deus

quanto aos homens criados à Sua imagem e

semelhança.

Como devem ser e andar então, os cristãos, os quais

não estavam na glória do céu antes de serem

Page 74: Crucificar o ego para viver

74

gerados, e que nunca tiveram e jamais terão a

mesma intensidade de glória do seu Senhor?

Caberia, se deixarem dominar por qualquer forma

de orgulho ou vanglória?

Jesus viveu suportando pacientemente a maldade

dos homens, em grande pobreza, a ponto de não ter

onde reclinar a cabeça; viveu de ofertas e sabia o

que era a aflição; não viveu em pompa externa e

não buscou nenhuma posição que O exaltasse sobre

os demais homens, buscando fama e honrarias

deste mundo.

Ele não deu somente Seu serviço aos homens, mas

Sua própria vida; morrendo por eles na cruz.

Ninguém nunca desceu tanto ou poderá descer

tanto em humilhação, quanto nosso Senhor, porque

Ele estava na glória do céu quando veio assumir

nossa humanidade, ao ser gerado com um corpo

humano no ventre de Maria.

Ele passou a ter a natureza humana, além da

natureza divina na qual Ele subsistia. E, consentiu,

Page 75: Crucificar o ego para viver

75

apesar de sua perfeição gloriosa, em suportar

conviver com pecadores falhos, impuros,

imperfeitos e ignorantes como nós.

Se Ele não tivesse feito isto, jamais poderíamos

receber a natureza divina para estar em nós, além

da nossa natureza humana.

Para nós, receber a natureza divina é uma grande

honra e glória. Mas para Cristo, assumir nossa

natureza humana, sendo Deus, foi uma grande

humilhação. A Palavra, porém nos afirma que Ele

não se envergonhou disto, porque não se

envergonha em nos chamar de irmãos, por ter-se

feito semelhante a nós, como lemos em Hb 2.11 e

11.16.

Nós não somos, por natureza humildes, ao

contrário, somos governados pela carne.

Por isso é preciso mortificar a carne para que

possamos ser governados pelo Espírito Santo, e

crescermos em humildade diante de Deus e dos

Page 76: Crucificar o ego para viver

76

homens, para que Ele possa nos transformar

segundo a semelhança de Cristo.

A nossa vontade natural quer sempre fazer aquilo

que seja do nosso próprio interesse egoísta, mas a

vontade de Deus é santa, perfeita, boa, agradável. É

esta vontade que o Espírito Santo quer implantar

em nossa natureza.

O Espírito Santo não nos foi dado, portanto para

fazermos o que seja da nossa própria vontade, mas

aquilo que é da vontade de Deus, na transformação

de nossas vidas.

Quando o Espírito luta contra a carne, não é para

fazer nossa vontade, mas para aplicar em nossa vida

a vontade de Deus, como vemos em Gál 5.17.

É a graça de Deus que inclina nossa vontade ao que

é bom, e nos permite executar o bem.

Não há nenhuma força, mérito ou capacidade em

nós mesmos, que nos habilite a fazer a obra de

Deus.

Page 77: Crucificar o ego para viver

77

Escrito na Mente e no Coração

Quando lemos o Sermão do Monte, em Mateus 5 a

7, costumamos pensar que estamos diante de um

novo código de leis, que nos foram dadas por Jesus

Cristo para cumprirmos em complemento aos

mandamentos da Lei de Moisés.

Todavia, a intenção de nosso Senhor Jesus Cristo

não foi esta, mas a de revelar quais são as

características pessoais e circunstâncias que

acompanharão aqueles que foram tornados

cidadãos do reino dos céus, por meio da fé nEle, e

por terem nascido de novo do Espírito Santo.

Ali está descrito sobretudo, quais são as atitudes,

pensamentos, ações e o programa de vida de um

cristão amadurecido.

Dizemos amadurecido, porque ninguém amará seus

inimigos, perdoará seus ofensores, orará pelo bem

dos que lhe perseguem, e bendirá os que lhe

amaldiçoam, ou ainda, não reclamará o que se

Page 78: Crucificar o ego para viver

78

considera seus direitos legítimos quando sofrer

injustiças, caso não tenha feito progresso no

crescimento na fé, na graça e no conhecimento

pessoal de Jesus Cristo, sendo e agindo como o Seu

Mestre.

A glória de Deus é ser amoroso, misericordioso,

longânimo, bondoso, perdoador, para com todos,

inclusive para com os piores pecadores.

E assim como Ele é, importa que sejam aqueles que

se tornaram seus filhos amados, por meio da fé em

Cristo.

Então o Senhor delineou no Sermão do Monte,

quais são as características essenciais que estarão

presentes naqueles que se converterem a Ele, como

resultado do fruto do Espírito Santo, que operou

neles a regeneração (novo nascimento espiritual) e

a santificação (mortificação das obras da carne e

revestimento das suas virtudes divinas). Cristãos

amadurecidos não são dominados por amarguras,

Page 79: Crucificar o ego para viver

79

iras, contendas, gritarias, glutonarias, e todas as

demais obras da carne que são nomeadas na Bíblia.

Cristãos amadurecidos são longânimos, como Deus

é completamente longânimo. São amorosos, como

Deus é amoroso. São misericordiosos, como Deus é

misericordioso. Não são legalistas, moralistas,

acusadores, mas promotores do amor, da paz, do

perdão, da oferta da justiça de Cristo para a

justificação dos que se encontram presos às

amarras do pecado. São tardios para se irar e para

falar, e prontos para ouvir, porque sabem que a ira

do homem não promove a justiça de Deus, mesmo

quando esta ira é motivada pela defesa dos

princípios de Deus contra o pecado.

A propósito, era justamente isto o que Tiago queria

ensinar quando escreveu a epístola que leva o Seu

nome. Ele indicou a necessidade de se aprender a

ser paciente e longânime, debaixo das mais variadas

provações, porque estas visam ao aperfeiçoamento

espiritual do cristão, para que seja conformado ao

Page 80: Crucificar o ego para viver

80

caráter amoroso, longânime, bondoso e paciente do

próprio Deus. Não estava portanto escrevendo uma

cartilha de bons modos, ou de procedimentos

sociológicos e psicológicos para sermos bem

sucedidos em possíveis demandas e disputas com o

nosso próximo, por nos mantermos serenos e

calados.

O que ele tinha em foco, tal como o Seu Senhor no

Sermão do Monte, era muito mais profundo e

significativo do que isto. A semelhança com Jesus

Cristo em tudo. Este é o alvo principal. A vida de

Cristo manifestada no comportamento do cristão.

Este é o ponto central. E isto não é obtido por mero

conhecimento intelectual da vontade revelada de

Deus nas Escrituras. Tem a ver com experiências

reais transformadoras da graça de Jesus, do poder

do Espírito Santo, dando-nos um novo coração e um

crescimento progressivo na obtenção das virtudes

espirituais do próprio Deus.

Page 81: Crucificar o ego para viver

81

Foi para esta exata imagem e semelhança com o

caráter santo de Deus que o homem foi criado por

Ele. De modo que saberemos que temos sido

aperfeiçoados em tal caráter, quando virmos as

realidades afirmadas no Novo Testamento, sendo

implantadas no nosso viver diário, especialmente

pela forma como agimos nas situações que nos são

adversas. Então temos estas leis, se é assim que

devemos considerá-las (porque são inscritas por

Deus na nossa mente e coração, ou seja, farão parte

da nova natureza recebida pela fé), como as leis

principais que devemos observar e praticar: a do

amor a Deus, à Sua Palavra e ao próximo; a da

paciência na tribulação; a da longanimidade na

provocação; a da fé e do ânimo constante nas

aflições; a da mansidão, da paz de mente e coração

nas perturbações.

Na verdade, nada disto se obtém por uma simples

vontade de cumprir a lei ou o mandamento, mas por

Page 82: Crucificar o ego para viver

82

uma andar constante no Espírito Santo, debaixo de

um temor e amor real a Cristo.

Gál 5:16-25:

Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à

concupiscência da carne. Porque a carne milita

contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne,

porque são opostos entre si; para que não façais o

que, porventura, seja do vosso querer. Mas, se sois

guiados pelo Espírito, não estais sob a lei. Ora, as

obras da carne são conhecidas e são: prostituição,

impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades,

porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões,

facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas

semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos

declaro, como já, outrora, vos preveni, que não

herdarão o reino de Deus os que tais coisas

praticam. Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria,

paz, longanimidade, benignidade, bondade,

fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas

coisas não há lei. E os que são de Cristo Jesus

Page 83: Crucificar o ego para viver

83

crucificaram a carne, com as suas paixões e

concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos

também no Espírito.

Page 84: Crucificar o ego para viver

84

O Governo Usurpador da Alma Sobre o Nosso Espírito

Nós lemos em Hebreus 4.12:

"...a Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante

do que qualquer espada de dois gumes, e penetra

até a divisão de alma e espírito, e de juntas e

medulas, e é apta para discernir os pensamentos e

intenções do coração".

Este texto fala de separação de alma e espírito pela

Palavra de Deus.

Sabemos que o corpo, a alma e o espírito do homem

formam uma grande unidade, e estão intimamente

ligados, de modo que se pode dizer que são uma só

coisa, assim como Deus é um, e no entanto são três

pessoas: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.

Por isso, quando o espírito deixa este mundo, o

corpo morre; se o corpo morre, sai o espírito e volta

para Deus.

Page 85: Crucificar o ego para viver

85

Quando o corpo e alma descansam no sono,

também descansa o espírito.

Todavia, há diferenças marcantes entre os três.

Mas nos concentraremos neste artigo somente na

alma e no espírito, porque a Bíblia fala de separação

de alma e espírito, e o que se quer afirmar é a

distinção das funções que competem

respectivamente ao espírito e à alma.

Com vistas a um melhor entendimento de tudo o

que vai ser comentado, gostaríamos, antes, de

explicar quais são as faculdades da alma, que não

fazem parte do espírito humano.

Entre estas faculdades estão nossos sentimentos,

nossa mente, nossa vontade, nossas emoções e

pensamentos, até mesmo a nossa razão.

Alma tem a ver com o cérebro, de onde procedem

todas estas faculdades referidas.

Cérebro tem a ver com o que é natural, e não

sobrenatural, como é o caso do espírito, que nos

veio de Deus, e que volta para Ele, na nossa morte.

Page 86: Crucificar o ego para viver

86

De maneira que ao falar em separação de alma e

espírito, pela Palavra de Deus, a Bíblia quer nos

mostrar que precisamos ser governados pelo

espírito, e não meramente por nossos sentimentos,

vontade, emoções, pensamentos e até mesmo pela

nossa própria razão.

Somente quando estamos santificados pelo Espírito

Santo, mediante aplicação da Palavra de Deus em

nossas vidas, a nossa alma entra automaticamente

debaixo do governo do nosso espírito e passa a ser

uma serva do espírito, ficando este portanto, livre

das suas paixões irregulares e desordenadas que

nos levam a pecar.

Portanto, não é possível ser espiritual, conforme é

do propósito de Deus na criação do homem, sem

que se tenha a habitação do Espírito Santo.

Entretanto, como o pecado continua operando na

carne, há necessidade do trabalho da cruz para que

sejamos as pessoas espirituais que Deus planejou

desde antes da fundação do mundo.

Page 87: Crucificar o ego para viver

87

Nós lemos em Gênesis 6.3 o seguinte:

“Então disse o Senhor: O meu Espírito não

permanecerá para sempre no homem, porquanto

ele é carnal, mas os seus dias serão cento e vinte

anos.”

O que podemos deduzir desta passagem das

Escrituras, senão que Deus não havia criado o

homem para que ele vivesse pelo governo da sua

alma natural?

A palavra “carnal” no texto de Gên 6.3 reporta à

inclinação da natureza decaída no pecado, e não

propriamente ao fato de o homem também possuir

um corpo físico.

Deus é espírito, e criou o homem para ter comunhão

com Ele em espírito, porque é somente este o modo

possível de tal comunhão.

Por isso Jesus destacou que não se pode adorar a

Deus a não ser apenas em espírito e em verdade.

Page 88: Crucificar o ego para viver

88

O propósito de Deus na criação do homem é que

este fosse espiritual e não carnal, conforme

veremos neste nosso estudo.

E quando Deus diz que o homem se tornou carnal

por causa do pecado é a isto que Ele quer

principalmente se referir, porque não é governado

pelo reino espiritual divino, mas pelo reino natural

segundo a carne.

Por isso se impõe o trabalho da cruz sobre o ego

carnal, para que o Espírito Santo possa assumir o

pleno governo, conforme Deus havia planejado

desde antes da criação do mundo.

Desde a Queda no Éden a alma deixou de

estar em sujeição ao espírito e passou a assumir o

governo do ser humano, tornando-se assim uma

barreira para o conhecimento experimental da vida

de Deus, que é espírito.

Se Cristo não estabelecer o Seu governo no nosso

coração, o que haverá será o governo usurpador da

alma contra a vontade de Deus.

Page 89: Crucificar o ego para viver

89

E este governo da alma é designado na Bíblia como

um viver segundo a carne. Segundo o homem

natural e não segundo o homem espiritual.

Vale lembrar que a palavra constante de I Cor 2.14

para “natural”, quando Paulo diz que o homem

natural não aceita as coisas do Espírito, tal palavra

é no original grego psiquikós, que significa aquilo

que é relativo à alma.

Quando o homem é governado pelas faculdades da

alma, e não pelas faculdades do espírito, ele agirá

segundo a natureza terrena,

Daí se afirmar que o homem natural, ou seja, aquele

que é governado por um viver segundo a alma, e

não segundo o espírito, não pode entender as coisas

do Espírito Santo de Deus.

Os cristãos carnais a que Paulo se refere em I Cor

3.1 em contraposição aos espirituais, são

designados no original grego pela palavra sarkikós,

para carnais, e os espirituais, pela palavra

pneumatikós, que se refere ao espírito.

Page 90: Crucificar o ego para viver

90

O trabalho da alma no cristão carnal é fazê-lo viver

pela sua própria vida natural e tentar trabalhar e

servir a Deus pela sua própria habilidade natural.

Com isto, ele não chega a ter um conhecimento

verdadeiro e progressivo de Deus, porque este

conhecimento decorre de uma comunhão e de

experiências reais com o Espírito Santo de Deus, em

espírito.

A carne não pode ter tal comunhão e experiência

com o Espírito Santo de Deus.

Por isso nosso Senhor Jesus Cristo afirmou que a

carne para nada aproveita, e que o que tudo é

gerado pela carne é carnal.

Nossos pensamentos, emoções, sentimentos e

vontade, e razão, que são faculdades que emanam

do nosso cérebro, devem ser submetidos ao

governo do Espírito Santo de Deus, e por

conseguinte do nosso próprio espírito.

E a Bíblia afirma que isto é operado pela Palavra de

Deus, em Hb 4.12.

Page 91: Crucificar o ego para viver

91

Chegará o dia em que não haverá mais esta

dependência do cérebro, ou da alma, quando

sairmos deste mundo pela morte, porque somente

o espírito subirá à presença do Senhor, libertado

completamente dos desejos e das paixões da alma.

Então o espírito terá vida e expressão

independentemente do nosso cérebro.

E não há nenhum outro modo para subjugar o

governo usurpador da alma, senão somente pela

crucificação do ego pela nossa cruz, que deve ser

carregada voluntária e diariamente.

Nos quatro Evangelhos, nós vemos que

Jesus chamou os seus discípulos para renunciarem

ao modo de viver pelo governo das suas almas,

submetendo-o à morte na cruz, para que pudessem

segui-lO.

O Senhor sabia que renunciar ao modo de viver

pela alma é uma exigência absolutamente

indispensável, para que os cristãos possam segui-

lO.

Page 92: Crucificar o ego para viver

92

Em Mt 10:38 e 39 o Senhor Jesus disse: "38 E quem

não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é

digno de mim. 39 Quem achar a sua vida perdê-la-

á, e quem perder a sua vida por amor de mim achá-

la-á.".

Neste texto, a palavra para vida no original grego é

psiquê, que significa alma.

Não se trata propriamente de se matar a alma, mas

o modo de viver pela alma, para que se possa viver

pelo espírito. É isto que Jesus quis dizer com suas

palavras.

Este modo de viver pela alma somente pode ser

morto pela cruz.

É por isso que em outras passagens do Evangelho,

como em Lc 14.26,27 por exemplo, Jesus associou

a perda da vida da alma ao ato voluntário de se

carregar a cruz e de se auto negar, para poder segui-

lO.

Estes versos nos chamam a perder o viver pela alma

por causa do Senhor, entregando este viver à cruz,

Page 93: Crucificar o ego para viver

93

para que seja crucificado, e Ele ensinou que isto

deve ser feito diariamente.

De acordo com nosso viver pela alma, nós

fazemos a vontade daqueles a quem amamos,

ainda que isto contrarie a vontade de Deus, por isso

se impõe a morte deste viver pela alma.

Nada há de errado em demonstrar sentimentos e

emoções, mas quando nossos sentimentos,

emoções e vontade são irregulares e são a causa de

não nos submetermos à Palavra e vontade de Deus,

é porque estamos sendo pessoas carnais e não

espirituais.

Quando Deus está em conflito com o desejo do

homem, embora aquela pessoa

seja a que nós mais amamos, importa antes amar

mais a Deus.

Por isso nosso Senhor disse em Mt 10.37: "Quem

ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno

de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que

a mim não é digno de mim.".

Page 94: Crucificar o ego para viver

94

Em Lucas 14:26 e 27 está escrito: "26 Se alguém vier

a mim, e não aborrecer a pai e mãe, a mulher e

filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também à própria

vida, não pode ser meu discípulo. 27 Quem não leva

a sua cruz e não me segue, não pode ser meu

discípulo.".

É proibido pelo Senhor que eu ame somente

aqueles a quem eu amo naturalmente.

O próprio Jesus nos deixou este exemplo quando

definiu a sua família como sendo a que é composta

por aqueles que conhecem a Deus e fazem a Sua

vontade.

O Senhor Jesus quer nos libertar deste tipo de

domínio do afeto natural, de modo que possamos

ser cheios do seu amor sobrenatural, que é um

amor por todos os homens, e que não faz qualquer

tipo de acepção de pessoas.

O afeto natural é muito importante, mas convém se

dar um passo além e se amar com o amor ágape,

sobrenatural de Deus.

Page 95: Crucificar o ego para viver

95

O amor ágape nos vem do alto, e o amor filéo, de

mera amizade, é terreno e inerente à nossa própria

natureza.

Este amor ágape, que é o amor derramado pelo

Espírito Santo nos nossos corações, é o amor de

comunhão entre espíritos, que capacita a tudo

sofrer, perdoar, suportar, e não ficarmos irados com

as injustiças e ofensas que sofremos, de modo que

é um amor que habilita a amar até mesmo inimigos.

A espada referida no texto de Hb 4.12 é uma alusão

à que era usada pelo sumo sacerdote para dividir o

holocausto em partes.

Esta espada representa a Palavra que é

usada por Cristo através do trabalho do Espírito

Santo para separar espírito e alma nos cristãos, de

maneira que possam ser verdadeiramente

espirituais.

A espada do Espírito é a Palavra de Deus. É portanto

a palavra do evangelho de Cristo, que aplicada à

mente e ao coração, traz à tona o viver na dimensão

Page 96: Crucificar o ego para viver

96

do que é espiritual e celestial, prevalecendo sobre

tudo o que se refere ao homem exterior com suas

cobiças e paixões.

Veja o que o apóstolo nos ensina sobre a luta que

existe permanentemente entre a carne e o Espírito,

e vice- versa:

"Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito

contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para

que não façais o que quereis." (Gál 5.17).

Observe que ele afirma que a carne e o Espírito se

opõem mutuamente para que não façamos o que

seja do nosso querer.

O que ele quis dizer com isto?

É que na verdade tanto a carne quanto o Espírito

lutam contra a lei natural da nossa mente, e contra

as disposições da nossa alma. e, tanto um quanto

o outro pretendem ter o domínio da nossa vontade

e de todo o nosso ser.

A carne pretende nos levar a pecar ainda que não o

queiramos; e o Espírito Santo pretende nos

Page 97: Crucificar o ego para viver

97

santificar e nos levar a viver não pelo que é

propriamente da nossa vontade, mas por aquilo

que é da vontade de Deus.

Então o Espírito não luta contra a carne para que

seja feito o que seja do nosso querer, mas para que

a vontade de Deus possa se cumprir em nós.

O Espírito procurará nos levar portanto à cruz para

que a carne possa ser crucificada com as

suas paixões e desejos (Gál 5.24).

Como estas paixões e desejos da carne operam

principalmente na mente, então é fundamental que

a mente seja renovada.

Uma mente renovada pelo Espírito coopera e muito

para que tenhamos comunhão com Deus, porque

ajudará o espírito nesta comunhão, porque a mente

renovada e guiada não pela carne, mas pelo Espírito

Santo.

E o Espírito poderá então comunicar à nossa mente

renovada o conhecimento da vontade de Deus

revelada na Sua Palavra.

Page 98: Crucificar o ego para viver

98

Para entendermos melhor a distinção entre alma e

espírito, podemos nos valer de uma análise do que

há no comportamento dos

animais, porque sabidamente eles não são dotados

de espírito como os homens, senão somente de

corpo e alma.

Nós podemos, em certo grau, entender o que é

relativo à nossa alma pelo que observamos no

comportamento dos animais, porque tudo o que

eles sentem se refere aos poderes da alma, porque

como já dissemos, eles não possuem espírito.

Há afeto mútuo entre eles, em suas próprias

espécies.

Então o nosso afeto natural pertence à alma

animal, e não propriamente ao espírito, porque

animais irracionais possuem isto evidentemente.

Especialmente quando os seus filhotes estão num

estado dependente e precisam do seu cuidado,

exibem um afeto por eles, muito forte como o que

é visto em pais humanos.

Page 99: Crucificar o ego para viver

99

Podemos acrescentar também, a tristeza que os

animais sentem quando são privados dos seus

filhotes; assim, podemos concluir que o amor

paternal e filial como existe naturalmente no

gênero humano, é um afeto, não da parte imortal

ou espírito, mas da alma, como algo instintivo, tal

como o instinto de sobrevivência que há tanto nos

homens quanto nos animais.

Ninguém supõe que haja alguma bondade moral no

afeto que os animais sentem pelas suas crias.

O afeto que os pais e filhos humanos sentem

mutuamente parece ser da mesma natureza.

Nós não amamos nossos filhos naturalmente,

porque Deus requer isto; nós não os amamos com

o objetivo de agradá-los; nós não os amamos

porque é um dever; nosso afeto por eles parece ser

um mero instinto animal natural, que em si mesmo;

nem é santo, nem pecaminoso.

Mas estes afetos, agora no homem caído no

pecado, com toda a sua natureza corrompida,

Page 100: Crucificar o ego para viver

100

podem se tornar pecaminosos e conduzirem a

outros pecados.

Por exemplo, fica pecaminoso quando nosso

afeto por qualquer criatura é maior do que o amor

com que amamos a Deus, porque Ele requer o

primeiro lugar sobre os nossos afetos, e nos proíbe

que prefiramos qualquer objeto ou pessoa a Ele.

Quando os pais se ocupam em

adquirir riquezas e posições para seus filhos,

geralmente eles negligenciam muitos dos deveres

mais importantes que Deus lhes exige que

executem.

Quando instruímos nossos filhos de tal maneira que

eles dão mais preferência a seus corpos do que aos

seus espíritos, nós estamos também dirigindo

nossos afetos numa direção irregular e pecaminosa,

e esta necessita ser santificada.

Por isso o apostolo Pedro fala em I Pe 1.18 de um

resgate em Cristo de uma vã maneira de viver

Page 101: Crucificar o ego para viver

101

recebida deste afeto natural da parte de nossos

pais.

Consequentemente é evidente, que o afeto da alma

precisa ser santificado.

Se não for santificado, nós não podemos ser

integralmente santos como o apóstolo fala em I Tes

5.23, que não apenas o espírito e o corpo devem ser

santificados, como também a alma, ou seja, a alma

deve fazer a vontade de Deus e não a sua própria

vontade, ou seja do ego.

As Escrituras ensinam que sem santificação

ninguém verá a Deus.

E não se deve confundir a santidade com

temperamento amável, porque não há nada da

natureza da santidade num temperamento

naturalmente amável.

A santidade consiste em conformidade

à lei de Deus, mas há pessoas que possuem o

temperamento do qual estamos falando, que não

têm nenhuma consideração pela lei de Deus.

Page 102: Crucificar o ego para viver

102

Por isso Jesus não faz nenhuma distinção entre

temperamentos quanto à necessidade comum

de arrependimento, regeneração e

santificação. Todos necessitam igualmente de tudo

isto.

Também, uma correta moralidade, considerada

isoladamente, não é nenhuma santificação.

Veja o homem religioso sem Cristo gabando-se de

sua justiça própria tal como o fariseu da parábola

que Jesus ensinou.

Há algo de comunhão verdadeira com Deus em sua

vida?

Ele é movido pelo Espírito Santo?

A falta destas verdades essenciais indicam que a

sua moralidade não é a santidade evangélica, que o

homem alcança pela graça e mediante a fé e na

união com Cristo, andando diariamente no Espírito,

por se submeter voluntariamente ao trabalho da

cruz.

Page 103: Crucificar o ego para viver

103

Este assunto pode nos ajudar a entender a

declaração de Cristo, de que "àquele que não tem,

até aquilo que tem lhe será tirado" (Mt 13.12); pois

vimos que toda coisa que parece ser naturalmente

boa e amável nos pecadores como o

afeto paternal e filial, compaixão, um

temperamento amável, pertence à alma, porém

isto morre com o corpo.

Nada sobreviverá à morte, a não ser o espírito

porque é imortal.

Com a morte, isto que parecia se ter, será tirado, e

com ela toda esta bondade natural será perdida,

porque não teve a marca da santificação operada

por Deus, sem a qual ninguém o verá, conforme

afirma a Bíblia (Hebreus 12.14).

Somente a santidade que procede de Deus pode

fazer com que esta bondade natural se torne

permanente.

Assim, a divisão de alma e espírito, referida em Hb

4.12, não é para a morte, mas para a vida ressurreta

Page 104: Crucificar o ego para viver

104

de Cristo, no poder do Espírito Santo, que é

encontrada somente do outro lado da cruz, depois

que passamos por ela.

Assim, sem cruz, não há a verdadeira vida

abundante que Jesus veio nos dar.

Jesus disse que veio para dar vida e vida abundante.

Esta vida é espiritual e eterna.

Deste modo, teremos mais desta vida, quanto mais

mortificarmos o nosso velho homem.

Muito mais a vida da nova criatura em Cristo Jesus

florescerá, no terreno em que a vida do velho

homem for mais mortificada.

E é nesta condição de ter a alma e espírito

separados pela Palavra de Deus, que o espírito é

livrado dos embaraços e pesos da alma que

assediam juntamente com o pecado tão de perto a

vida dos cristãos.

E então a alma é levada a compartilhar deste

deleite, em vez de se sentir facilmente tentada e

Page 105: Crucificar o ego para viver

105

atraída pelos prazeres que são oferecidos pelo

mundo.

Tendo as faculdades amadurecidas para discernir

tanto o bem quanto o mal, o homem espiritual pode

discernir e vencer toda e qualquer movimentação

do velho homem para produzir as obras da carne,

bem como resistir às tentações da carne, do diabo e

do mundo, por uma vigilância e oração constante e

perseverante, em plena sujeição, dependência e

obediência à vontade de Deus (Hb 5.14), por

colocar a sua mente voluntariamente a serviço da

nova natureza, recebida na conversão, e não a

serviço do velho homem.

Page 106: Crucificar o ego para viver

106

A real condição da natureza humana

Por que a inclinação da carne, isto é, da sua

natureza humana decaída no pecado, conforme

Deus afirma na Bíblia, é um estado permanente de

inimizade contra Ele. Depois de ter criado o

primeiro homem, Deus plantou um jardim para ele,

e o colocou no jardim, onde havia também plantado

bem em seu meio, duas árvores excepcionais, a

primeira, a árvore da vida, e a segunda, a árvore do

conhecimento do bem e do mal. Ambas

representavam e significavam respectivamente

para o homem, a vida e a morte.

E este significado não foi removido, até hoje, e

jamais será removido, até que tudo se cumpra,

porque Deus tem colocado diante de cada homem,

tanto a possibilidade da vida quanto da morte.

O homem, apesar de ter sido criado perfeito e bom,

à semelhança do próprio Deus, sendo um agente

Page 107: Crucificar o ego para viver

107

moral livre quanto ao exercício da sua vontade,

tende, tal como Adão fizera, a se inclinar para

buscar governar e não ser governado; a fazer valer

a sua própria vontade e não a do Criador; a ser

independente e não a criar laços eternos de amor; e

assim agindo, se envereda por causa de suas

atitudes e comportamento pelo caminho que

conduz à morte. Deus não criou o homem para que

ele viva para si mesmo, senão para o Seu Criador.

Não o criou para fazer a sua própria vontade, senão

a do seu Senhor.

Isto não é um capricho, mas uma demanda da vida,

porque não pode haver vida eterna a não ser na

comunhão do homem com Deus, participando da

Sua natureza divina. Antes da queda no pecado,

Adão era inocente, e onde há inocência não há

imputação de pecado, porque a imputação do

pecado demanda que haja consciência do pecado,

que haja discernimento do que seja o mal e do que

Page 108: Crucificar o ego para viver

108

seja o bem, tornando o homem responsável

perante o Seu Criador.

A inocência de Adão foi perdida quando Ele

desobedeceu a Deus comendo o fruto da árvore do

conhecimento do bem e do mal.

E se achando debaixo da sentença de morte

produzida pelo pecado, o homem não pode lançar

mão do fruto da árvore da vida, porque a vida

eterna, a vida de Deus, não está reservada para

aqueles que se encontram em estado de inimizade

contra Ele, senão apenas para aqueles que são seus

amigos, e o comprovam pelo fato de Lhe amar e

obedecer. Como somente o próprio Deus pode

gerar esta disposição e capacidade para ser

obedecido e amado, então o homem, não poderá de

si mesmo, viver de modo aprovado por Deus.

Ele concederá tal capacidade pela operação do

Espírito Santo, somente àqueles que se

arrependerem do estado ruim em que se encontram

os seus espíritos, para que sejam capacitados e

Page 109: Crucificar o ego para viver

109

transformados pelo Espírito Santo para amarem e

obedecerem ao Senhor.

O homem caído pode portanto ser levantado por

Deus caso se disponha a buscar a vida eterna que há

em Cristo, pelo simples arrependimento e fé na

bondade e misericórdia de Deus que estende a mão

para o pecador, para que seja livrado da morte e

reviva.

Por isso a justiça própria ofende tanto a graça do

Senhor. Porque por ela o homem insiste em não

reconhecer que naturalmente encontra-se

indisposto contra Deus e contra a Sua vontade e

mandamentos. Que se encontra naturalmente

condenado à morte eterna, por conta desta

inclinação carnal.

Enquanto não reconhecer pelo convencimento

operado pelo Espírito Santo que é um pecador

condenado, por ser inimigo de Deus e da Sua

vontade, não poderá jamais ser justificado pela fé e

ser reconciliado com o Senhor. Agora, não é

Page 110: Crucificar o ego para viver

110

suficiente o reconhecimento da condição de ser

pecador, é necessário também rejeitar o mal e

buscar o bem; buscar a face do Senhor, confiar na

sua bondade, perdão e misericórdia, dispor-se a

servi-lo por amor, por todos os dias da nossa vida.

Concluímos assim, que a condição de inimizade

contra Deus está intimamente relacionada à

natureza caída no pecado. Ela reside no fato de

estar o homem afastado de Deus. De não estar se

alimentando do fruto da árvore da vida, que é

Cristo. O único alimento espiritual que dá vida

eterna a todo aquele que nEle crê.

Bendito seja o Senhor, que proveu, por sua graça e

misericórdia, um escape da morte eterna para o

homem que crê.

De modo que ninguém precisa permanecer

irremediavelmente perdido e condenado, porque

Jesus derramou o Seu sangue na cruz para que

pudéssemos ser resgatados da morte para a vida.

Page 111: Crucificar o ego para viver

111

Bendito seja o Seu santo nome. Louvaremos para

sempre a glória da Sua maravilhosa graça.

Page 112: Crucificar o ego para viver

112

O homem é inimigo de Deus

Soa exagerado fazer a afirmação do nosso título,

contudo, é isto que a Bíblia ensina quanto à

condição de toda pessoa, quanto ao que se refere à

sua natureza terrena.

Por que a inclinação da carne, isto é, da natureza

humana decaída no pecado, é um estado

permanente de inimizade contra Deus?

Depois de ter criado o primeiro homem, Deus

plantou um jardim para ele, e o colocou no jardim,

onde havia também plantado bem em seu meio,

duas árvores excepcionais, a primeira, a árvore da

vida, e a segunda, a árvore do conhecimento do

bem e do mal.

Ambas representavam respectivamente, para o

homem, a vida e a morte.

E este significado não foi removido, e jamais será

removido, até que tudo se cumpra, porque Deus

Page 113: Crucificar o ego para viver

113

tem colocado diante de cada homem, tanto a

possibilidade da vida quanto a da morte.

O homem, apesar de ter sido criado perfeito e bom,

à semelhança do próprio Deus, sendo um agente

moral livre, tende, tal como Adão fizera, a se inclinar

para buscar governar e não a ser governado; a fazer

valer a sua própria vontade e não a do Criador; a ser

independente e não a criar laços eternos de amor; e

assim agindo, se envereda por causa de suas

atitudes e comportamento pelo caminho que

conduz à morte espiritual (separação de Deus) e ao

sofrimento.

Deus não criou o homem para que ele viva para si

mesmo, senão para o Seu Criador.

Não o criou para fazer a sua própria vontade, senão

a do seu Senhor.

Isto não é um capricho, mas uma demanda da vida,

porque não pode haver vida eterna a não ser na

comunhão do homem com Deus, participando da

Sua natureza divina.

Page 114: Crucificar o ego para viver

114

Como pode o ramo viver separado do caule que

deve sustentá-lo?

Somente em Cristo, poderá ser desfeito o nosso

estado de inimizade latente contra Deus, conforme

se ensina nas Escrituras, e comprovado na

experiência real da nossa vida.

Rom 5:8 Mas Deus prova o seu próprio amor para

conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós,

sendo nós ainda pecadores.

Rom 5:9 Logo, muito mais agora, sendo justificados

pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.

Rom 5:10 Porque, se nós, quando inimigos, fomos

reconciliados com Deus mediante a morte do seu

Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos

salvos pela sua vida;

Rom 5:11 e não apenas isto, mas também nos

gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo,

por intermédio de quem recebemos, agora, a

reconciliação.

Page 115: Crucificar o ego para viver

115

Tiago 4:4 Infiéis, não compreendeis que a amizade

do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que

quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de

Deus.

Page 116: Crucificar o ego para viver

116

A Carnalidade é Inimiga de Deus

Por que a inclinação da carne, isto é, da natureza

humana decaída no pecado, conforme Deus afirma

na Bíblia, é um estado permanente de inimizade

contra Ele.

Depois de ter criado o primeiro homem, Deus

plantou um jardim para ele, e o colocou no jardim,

onde havia também plantado bem em seu meio,

duas árvores excepcionais, a primeira, a árvore da

vida, e a segunda, a árvore do conhecimento do

bem e do mal.

Ambas representavam e significavam

respectivamente para o homem, a vida e a morte.

E este significado não foi removido, até hoje, e

jamais será removido, até que tudo se cumpra,

porque Deus tem colocado diante de cada homem,

tanto a possibilidade da vida quanto da morte.

Page 117: Crucificar o ego para viver

117

O homem, apesar de ter sido criado perfeito e bom,

à semelhança do próprio Deus, sendo um agente

moral livre quanto ao exercício da sua vontade,

tende, tal como Adão fizera, a se inclinar para

buscar governar e não ser governado; a fazer valer

a sua própria vontade e não a do Criador; a ser

independente e não a criar laços eternos de amor; e

assim agindo, se envereda por causa de suas

atitudes e comportamento pelo caminho que

conduz à morte.

Deus não criou o homem para que ele viva para si

mesmo, senão para o Seu Criador. Não o criou para

fazer a sua própria vontade, senão a do seu Senhor.

Isto não é um capricho, mas uma demanda da vida,

porque não pode haver vida eterna a não ser na

comunhão do homem com Deus, participando da

Sua natureza divina.

Antes da queda no pecado, Adão era inocente, e

onde há inocência não há imputação de pecado,

porque a imputação do pecado demanda que haja

Page 118: Crucificar o ego para viver

118

consciência do pecado, que haja discernimento do

que seja o mal e do que seja o bem, tornando o

homem responsável perante o Seu Criador.

A inocência de Adão foi perdida quando Ele

desobedeceu a Deus comendo o fruto da árvore do

conhecimento do bem e do mal.

E se achando debaixo da sentença de morte

produzida pelo pecado, o homem não pode lançar

mão do fruto da árvore da vida, porque a vida

eterna, a vida de Deus, não está reservada para

aqueles que se encontram em estado de inimizade

contra Ele, senão apenas para aqueles que são seus

amigos, e o comprovam pelo fato de Lhe amar e

obedecer.

Como somente o próprio Deus pode gerar esta

disposição e capacidade para ser obedecido e

amado, então o homem, não poderá de si mesmo,

viver de modo aprovado por Deus.

Ele concederá tal capacidade pela operação do

Espírito Santo, somente àqueles que se

Page 119: Crucificar o ego para viver

119

arrependerem do estado ruim em que se encontram

os seus espíritos, para que sejam capacitados e

transformados pelo Espírito Santo para amarem e

obedecerem ao Senhor.

O homem caído pode portanto ser levantado por

Deus caso se disponha a buscar a vida eterna que há

em Cristo, pelo simples arrependimento e fé na

bondade e misericórdia de Deus que estende a mão

para o pecador, para que seja livrado da morte e

reviva.

Por isso a justiça própria ofende tanto a graça do

Senhor.

Porque por ela o homem insiste em não reconhecer

que naturalmente encontra-se indisposto contra

Deus e contra a Sua vontade e mandamentos.

Que se encontra naturalmente condenado à morte

eterna, por conta desta inclinação carnal.

Enquanto não reconhecer pelo convencimento

operado pelo Espírito Santo que é um pecador

condenado, por ser inimigo de Deus e da Sua

Page 120: Crucificar o ego para viver

120

vontade, não poderá jamais ser justificado pela fé e

ser reconciliado com o Senhor.

Agora, não é suficiente o reconhecimento da

condição de ser pecador, é necessário também

rejeitar o mal e buscar o bem; buscar a face do

Senhor, confiar na sua bondade, perdão e

misericórdia, dispor-se a servi-lo por amor, por

todos os dias da nossa vida.

Concluímos assim, que a condição de inimizade

contra Deus está intimamente relacionada à

natureza caída no pecado.

Ela reside no fato de estar o homem afastado de

Deus. De não estar se alimentando do fruto da

árvore da vida, que é Cristo. O único alimento

espiritual que dá vida eterna a todo aquele que nEle

crê.

Bendito seja o Senhor, que proveu, por sua graça e

misericórdia, um escape da morte eterna para o

homem que crê.

Page 121: Crucificar o ego para viver

121

De modo que ninguém precisa permanecer

irremediavelmente perdido e condenado, porque

Jesus derramou o Seu sangue na cruz para que

pudéssemos ser resgatados da morte para a vida.

Bendito seja o Seu santo nome. Louvaremos para

sempre a glória da Sua maravilhosa graça.

Page 122: Crucificar o ego para viver

122

Despindo-se do Velho e Revestindo-se do Novo

São as paixões e desejos da alma que combatem

contra a nova natureza celestial recebida do Espírito

Santo.

Daí se dizer que a carne luta contra o Espírito e que

o Espírito luta contra a carne.

Toda forma de inclinação carnal, prostituição,

impureza, paixões, desejos vis e avareza devem ser

mortificados pelo Espírito, para que a nova vida

possa se manifestar no nosso caminhar, como se lê

em Col 3.5.

Mas não é somente a prostituição, impureza,

paixões, desejos vis e avareza que os cristãos devem

mortificar, como tudo o mais que é relativo à carne,

isto é, à natureza terrena decaída no pecado, e por

isso devemos também nos despojar da ira, da

cólera, da malícia, da maledicência, das palavras

torpes e da mentira, porque tendo morrido

Page 123: Crucificar o ego para viver

123

juntamente com Cristo, o velho homem recebeu a

sentença de morte e os crentes estão aos olhos de

Deus, como tendo sido despidos do velho homem e

das suas obras carnais; e vestidos do novo homem,

que se renova para o pleno conhecimento de Deus

e da Sua vontade, através do processo da

santificação.

Esta santificação deve ser tanto do espírito, da

alma, e do corpo, operando sobre a nossa razão,

mente, vontade, sentimentos e emoções (I Tes

5.23).

E a meta desta santificação é nos transformar à

imagem mesma de Cristo (Col 3.8-10).

A santificação não consiste somente no

despojamento ou mortificação do pecado, das

obras da carne, mas principalmente na prática das

virtudes que estão em Cristo, que é o grande

objetivo final da santificação.

O despojamento do velho homem se faz necessário

para que possamos ser revestidos do novo.

Page 124: Crucificar o ego para viver

124

O revestimento da nova criatura em Cristo consiste

na prática da justiça evangélica e das graças e

virtudes do Espírito, que chamamos de fruto do

Espírito - amor, misericórdia, benignidade,

humildade, mansidão, longanimidade, domínio

próprio, alegria, paz, fé - suportando-se e

perdoando-se os crentes mutuamente, tendo por

modelo o próprio Senhor que lhes perdoou.

Esta virtudes são decorrentes da habitação da

Palavra de Deus nos nossos corações, fazendo nós,

provisão para que sejamos enriquecidos por esta

Palavra que nos santifica, em prol da comunhão

com nossos irmãs na fé, e para o progresso do

evangelho de Cristo na Terra.

Page 125: Crucificar o ego para viver

125

Como e porque ser espiritual e não carnal

Tudo o que se refira a conhecimento, liberdade,

obediência, amor, poder e tudo o mais que for

necessário para sermos efetivos na obra do Senhor,

é de caráter espiritual, celestial e divino.

É algo que recebemos do alto, e que não se encontra

em nossa natureza terrena.

Daí Jesus ter ordenado ao primeiro grupo de

cristãos que permanecessem em oração unânime

até que fossem revestidos do poder do alto.

O Espírito que recebemos não é deste mundo mas

do céu, e tudo o que se refere à vida que devemos

ter neste mesmo Espírito também é recebido do

céu.

Não é terreno mas celestial. Não é natural, mas

espiritual. O mundo antigo foi destruído pelas águas

do dilúvio porque o homem era carnal e se recusava

em se tornar em espiritual.

Page 126: Crucificar o ego para viver

126

O propósito de Deus na criação do homem é que

este fosse espiritual e não carnal, ou seja: não

governado pela sua essência natural, por se

submeter à direção e poder do Espírito Santo.

Converter-se a Cristo significa portanto, receber

uma nova natureza celestial e espiritual, que

habilita o convertido a ter comunhão com Deus, o

qual é puro espírito.

Nos quatro Evangelhos, pelo menos quatro vezes, o

Senhor Jesus chamou os seus discípulos para

renunciarem à vida das suas almas, colocando-a

à morte para poderem segui-lO.

Mortificação da alma não é extermínio, mas

renúncia ao ego, aos poderes e faculdades da alma

(vontade, emoção, sentimento, razão, imaginação

etc), para estarem sob o governo do espírito

(intuição divina, comunhão espiritual, consciência,

amor, poder, virtude e atributos santos e divinos).

O Senhor Jesus colocou a renuncia à

vida da alma como uma exigência absolutamente

Page 127: Crucificar o ego para viver

127

indispensável para que os cristãos possam segui-

lO, para poderem ser como Ele no serviço deles aos

homens, e para serem aperfeiçoados em fazer a

vontade de Deus.

Embora o Senhor Jesus tenha falado sobre a vida da

alma em todas estas quatro chamadas dos

Evangelhos, Ele deu uma ênfase especial a cada

uma delas.

Nós sabemos que a vida da alma, na verdade, tem

várias manifestações.

Então, o Senhor falou sobre a vida da alma com

ênfases diversas.

A chamada do Senhor é que o homem deve

entregar a vida da sua alma à cruz.

Em Mt 10:38 e 39 o Senhor Jesus disse:

"E quem não toma a sua cruz, e não segue após

mim, não é digno de mim. Quem achar a sua

vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor

de mim acha-la-á.".

Page 128: Crucificar o ego para viver

128

Neste texto, a palavra para vida no original grego é

psiquê, que significa alma.

Não se trata propriamente de se matar a alma, mas

o modo de viver pela alma, para se viver pelo

espírito.

Este modo de viver pela alma somente pode ser

morto efetivamente pela cruz.

Em Lc 14.26,27, Jesus associou a perda da vida da

alma ao ato voluntário de se carregar a cruz e de se

auto negar para poder segui-lO.

Estes versos nos chamam a perder o viver pela alma

por causa do Senhor, entregando este viver à cruz

para que seja crucificado, e Ele ensinou que isto

deve ser feito diariamente.

Antes destes versos, o Senhor Jesus falou que os

inimigos de um homem são aqueles da sua própria

casa, e como um filho, por causa do Senhor, pode

vir a ficar alienado do seu pai, a filha da sua mãe, e

a nora da sua sogra, e vice-versa.

Page 129: Crucificar o ego para viver

129

Isto ocorre quando os familiares do cristão não

conhecem ao Senhor ou não andam em

conformidade com a Sua vontade.

De acordo com nosso viver pela alma, nós

fazemos a vontade daqueles a quem nós amamos,

ainda que isto contrarie a vontade de Deus, por isso

se impõe a morte deste viver pela alma

(sentimentos e emoções sobretudo, que

prevalecem sobre Deus, Sua vontade e Palavra).

Quando Deus está em conflito com o desejo do

homem, embora aquela pessoa

seja a que nós mais amamos, e até mesmo por

imposição da própria Palavra de Deus que nos

ordena amar os nossos cônjuges, pais e filhos, por

exemplo, importa antes amar mais a Deus do que a

eles, e fazer a vontade de Deus do que a

deles, porque Ele deve ser amado acima de todos

e de tudo.

Por isso nós necessitamos da cruz para matar a

irregularidade dos nossos afetos, não propriamente

Page 130: Crucificar o ego para viver

130

para acabar com eles, mas para que eles possam

existir na ordenação certa e também para que não

sejamos governados por eles, mas pela vontade do

Senhor.

A chamada do Senhor Jesus é para nos libertar do

poder de nossos afetos naturais de maneira que

não sejamos guiados por eles em nossas decisões,

mas pela Palavra.

Assim, Ele disse em Mt 10.37: "Quem ama o pai ou

a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e

quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não

é digno de mim.".

Em Lucas 14:26 e 27 está escrito: "Se alguém vier a

mim, e não aborrecer a pai e mãe, a mulher e filhos,

a irmãos e irmãs, e ainda também à própria vida,

não pode ser meu discípulo. Quem não leva a sua

cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo.".

Em Mateus Ele mostra para o cristão a escolha que

ele deveria fazer relativa ao seu próprio afeto: ele

deveria amar o Senhor mais do que à sua família.

Page 131: Crucificar o ego para viver

131

Em Lucas mostra além disso, qual atitude que o

cristão deveria ter em relação ao seu próprio viver

pela alma (porque aqui neste texto a palavra para

vida é também psiquê no original grego, que

significa alma), e ele deve odiar esta atitude de

viver pela alma, pois Jesus diz que ele deve

aborrecer a sua própria vida (Lc 14.26) de maneira a

amar viver pelo espírito em obediência a Deus e à

Sua vontade.

Este viver pela alma traz sérios problemas e até

mesmo impede uma vida de comunhão com o

Senhor e com o próximo, pois qualquer arranhão na

comunicação, trará decisões não perdoadoras e não

amáveis ´pr arte daqueles que são dirigidos por

emoções e sentimentos.

O cristão não deve apenas amar

aqueles que lhe são familiares e agradáveis e aos

quais ele ama naturalmente, mas estender o seu

amor a todas as pessoas.

Page 132: Crucificar o ego para viver

132

É proibido pelo Senhor que eu ame somente

aqueles a quem eu amo naturalmente.

O viver simplesmente debaixo do governo dos

afetos naturais tende a fazer com que a pessoa

esteja ligada a outros aos quais ama, como também

a exigir o amor deles, enquanto exclui a outros que

não pertencem ao seu círculo de amizades.

A pessoa nesta condição não se conduz pela justiça

e pela verdade, mas pela parcialidade sentimental,

que a leva a apoiar os que ama, mesmo que estejam

errados, e a rejeitar os que lhe tenham contrariado,

por terem repreendido a estes que ama meramente

com afeto natural, ainda que estejam certos, na

repreensão que fizeram, e por amor à verdade, ao

repreendido e ao Senhor.

Por isso o Senhor Jesus exige que este viver pela

alma deve ser mortificado, pela negação do ego,

porque sem isto, não se poderá viver de modo

verdadeiramente santificado, agindo e pensando

Page 133: Crucificar o ego para viver

133

em suas decisões e escolhas segundo a vontade de

Deus revelada na Bíblia.

A alma deve ser santificada, tornando-se dócil e

obediente ao governo do espírito revivificado e

também santificado. E o corpo responderá também

em santificação, porque seus membros serão

usados para servirem a justiça do evangelho e do

reino de Deus.

Daí ser dito em I Tessalonicenses 5.23:

“O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o

vosso espírito, alma e corpo sejam conservados

íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor

Jesus Cristo.”

O Senhor Jesus quer nos libertar do domínio do

afeto natural, de maneira que possamos ser cheios

do seu amor sobrenatural, que é um amor por todas

as pessoas, e que não faz qualquer tipo de acepção.

É somente por causa do Senhor, e por estarmos

cheios do Seu Espírito, que nós amamos de fato a

Page 134: Crucificar o ego para viver

134

outros que estejam fora do nosso

círculo de amizades.

Não é por causa de nosso próprio amor por outros

que nós amamos.

Nós amamos, porque recebemos o amor

sobrenatural de Deus que nos possibilita amar o

nosso próximo.

E somente entre aqueles que andam no Espírito

cumpre-se o mandamento de Cristo de nos

amarmos uns aos outros como Ele nos amou,

porque somente estes são espirituais, e o amor com

que Cristo nos amou é espiritual.

É o amor de comunhão entre espíritos que é

possível de ser visto e vivido somente entre aqueles

que vivem e andam no Espírito.

Aqueles que amam com este amor espiritual são

verdadeiramente livres para amar e deixam

também em liberdade aqueles aos quais

ama, porque amando a Deus acima de tudo, não

terá nada e a ninguém na conta do seu "deus".

Page 135: Crucificar o ego para viver

135

O Senhor não quer que nós prendamos os nossos

corações em qualquer lugar ou pessoa.

Ele quer que nós O sirvamos livremente.

Deus criou o homem para ser amado por ele acima

de todas as coisas.

Isto significa que o homem somente poderá ter

saúde espiritual, emocional e física caso viva em

obediência a esta ordem normal estabelecida por

Deus para o seu amor.

Se ele amar alguém ou qualquer outra coisa em

primeiro lugar, ele sofrerá em sua própria

constituição as consequências disto.

E de igual modo o homem não deve desejar ter a

primazia em ser amado em primeiro lugar por

quem quer que seja, senão sofrerá de igual modo.

Jesus destacou o amor aos familiares porque

geralmente é nas famílias que se corre maior risco

de se eleger alguém como um ídolo, como um

tipo de deus, porque se amamos algo ou alguém,

Page 136: Crucificar o ego para viver

136

na prática, acima de Deus, este ídolo passa a ser

automaticamente o nosso deus.

Veja como era diferente o caso de Abraão.

Deus o colocou à prova e lhe demandou o seu único

filho para que fosse oferecido em sacrifício.

O temor, obediência e o amor de Abraão a Deus

comprovaram-se naquela prova serem maiores do

que a tudo mais.

Por isso Deus lhe disse que cumpriria tudo o que

havia prometido fazer através dele.

Nós aprendemos disto que uma pessoa não poderá

ser útil na obra do Senhor enquanto amar alguém

ou algo acima dele.

Ele deve ser o primeiro em tudo, e isto deve ser

de fato, demonstrado nas renúncias que

porventura Ele venha a exigir de nós para que

possamos servi-lO.

Quando o fizermos, tudo irá bem conosco.

E o nosso amor pelos outros será um amor

equilibrado.

Page 137: Crucificar o ego para viver

137

Um amor sadio, um amor que nada cobra para

que possa ser saudável.

Porque tudo estará de acordo com o plano e com

a ordem que Deus estabeleceu quanto ao

propósito da criação do ser humano.

Se Ele for amado de fato em primeiro lugar, em

demonstrações práticas da nossa vida, então tudo

mais estará bem na nossa relação com as pessoas

que amamos.

Amemos intensamente os nossos entes queridos,

amemos fervorosamente, e amemos também o

nosso próximo, conforme nos ordena

a Palavra, mas em obediência à mesma Palavra,

amemos a Deus de todo o nosso coração, de toda a

nossa alma e de todo a nossa mente.

O amor a Deus não é um amor para ser expressado

em relação a Ele com nossos afetos naturais, porque

Deus é invisível e é espírito.

Então o amor com o qual deve ser amado não é

natural mas espiritual.

Page 138: Crucificar o ego para viver

138

Deus não quer e nem mesmo pode ser conhecido

pela carne.

O amor natural é da carne e não do espírito.

E sabemos que importa conhecer a Deus somente

em espírito porque Ele é espírito.

E na verdade não é somente Cristo que não deve

ser conhecido segundo o conhecimento da carne

(natural), mas até mesmo todas as demais pessoas.

O cristão deve discernir quem são os homens, não

segundo a carne, mas segundo o espírito (II Cor

5.16).

Por isso se faz necessária a separação de alma e

espírito, que é efetuada pela Palavra de Deus (Hb

4.12).

Mas a Palavra de Deus pode efetuar esta separação

somente quando se carrega voluntariamente a

cada dia a nossa cruz.

Se não houver renúncia ao ego, a Palavra não

poderá efetuar tal separação.

Page 139: Crucificar o ego para viver

139

É preciso colocar a vida no altar para que o nosso

Sumo Sacerdote possa usar a faca da Palavra para

nos apresentar como sacrifícios vivos para Deus.

A visão animista que considera tudo e todos,

inclusive os seres inanimados como dotados de um

mesmo espírito, e sendo tudo uma grande unidade

espiritual com Deus, e de igual modo o teísmo que

ensina que Deus está presente em todos e de igual

modo, não possibilitam a busca da separação de

alma e espírito, que é ordenada na Bíblia, e que é

necessária para a nossa santificação em

crescimento espiritual.

Como buscaremos fazer aquilo em que não cremos?

Felizes são portanto aqueles que dão ouvido às

palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e que

renunciam ao modo de se viver pela energia da

alma (mente), para se viver pelo espírito por Ele

revivificado, renovado e santificado.

Com isto até mesmo o nosso afeto natural será

melhorado extraordinariamente, e não apenas

Page 140: Crucificar o ego para viver

140

pelos nossos semelhantes, mas também por tudo o

mais que pertence à criação natural.

Se não houvesse necessidade da nossa cooperação

com o trabalho do Espírito Santo, e do

conhecimento das coisas que nos são necessárias,

conforme reveladas na Bíblia, Jesus não teria

ordenado que os cristãos fossem ensinados a

guardarem tudo o que Ele ordenou aos apóstolos.

É por isso que se impõe a pobreza de espírito e de

humildade (reconhecermos que dependemos

inteiramente de Deus) e de submissão ao Senhor e

à Sua Palavra para que possamos receber a Sua

graça, para que seja efetuado este trabalho de

separação de alma e espírito, de maneira que não

sejamos mais governados pela nossa alma com os

seus afetos, mas, sim, pelo nosso espírito.

Assim, se o cristão for humilde, o Espírito Santo irá,

na prática, separar a sua alma do seu espírito, ainda

que ele possa nem mesmo ter conhecimento do

Page 141: Crucificar o ego para viver

141

modo como Deus processa esta operação

verdadeira e real.

Mas ele perceberá até mesmo racionalmente, que

está sendo transformado, de forma progressiva,

numa nova criatura plena na aquisição das virtudes

do Senhor (misericórdia, amor, longanimidade, etc),

em sua própria vida, na medida em que caminha no

Espírito, e se dedicando ao exercício espiritual da

meditação da Palavra, da oração, da comunhão, e

de todas as demais graças que nos aperfeiçoam

espiritualmente.

A vida natural, o afeto natural, são muito

importantes, mas quando se vive apenas nesta

dimensão da natureza terrena, jamais se poderá

adquirir ou se desenvolver as faculdades espirituais

anteriormente referidas.

Muito pensam equivocadamente que ser santo é

algo doentio e triste. Que os que buscam ser

espirituais são pessoas que ficaram de algum modo

frustradas com a vida.

Page 142: Crucificar o ego para viver

142

Não há nada mais errado do que este modo de

pensar, porque a santificação é o encontro da

verdadeira vida, que é plena de significado e

contentamento.

O que se santifica tudo ama, até mesmo inimigos.

Ama a natureza, os animais, é sensível, e se encanta

com tudo o que Deus criou.

Deus tudo fez para o nosso aprazimento, mas jamais

poderemos dar o devido valor e fazer uma justa

apreciação de tudo o que há na vida, caso não

vençamos o pendor da carne, tornando-nos

espirituais.

Deus é amor e ama o que criou.

Deus é espírito perfeitamente santo.

Então quanto mais santificarmos o nosso espírito,

mais amaremos, com o mesmo amor de Deus.

O apóstolo nos ensina sobre a luta que existe

permanentemente entre a carne e o Espírito, e vice-

versa:

Page 143: Crucificar o ego para viver

143

"Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito

contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para

que não façais o que quereis." (Gál 5.17).

Observe que ele afirma que a carne e o Espírito se

opõem mutuamente para que não façamos o que

seja do nosso querer.

O que ele quis dizer com isto?

É que tanto a carne quanto o Espírito lutam contra

a lei natural da nossa mente, e contra as

disposições da nossa alma.

Isto é, tanto um quanto o outro pretendem ter o

domínio da nossa vontade e de todo o nosso ser.

A carne (natureza decaída) pretende nos levar a

pecar ainda que não o queiramos; e o Espírito

Santo pretende nos santificar e levar-nos a viver não

pelo que é propriamente da nossa vontade, mas

por aquilo que é da vontade de Deus.

Então o Espírito não luta contra a carne para que

seja feito o que seja do nosso querer, mas para que

a vontade de Deus possa se cumprir em nós.

Page 144: Crucificar o ego para viver

144

O Espírito procurará nos levar portanto à cruz para

que a carne possa ser crucificada com as

suas paixões e desejos (Gál 5.24).

Jesus disse que as Suas palavras são espírito e são

vida (João 6.63).

É a isto que o apóstolo Paulo se refere em todo o

segundo capítulo de I Coríntios, porque ali ele nos

diz que a sua linguagem e pregação não consistiram

em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas

em demonstração de Espírito de poder (I Cor 2.1, 4).

E neste mesmo capítulo ele explica o motivo de ter

agido de tal maneira: ele sabia que devia pregar

somente a Cristo, e este crucificado (o evangelho da

cruz- v.2), e como não deveria falar de si mesmo

ou da sabedoria deste mundo, ele pregou e ensinou

em fraqueza, temor e grande tremor (v.3).

Ele sabia que a sua missão não seria cumprida

caso ele somente instruísse as mentes dos seus

ouvintes e não os conduzisse à cruz.

Page 145: Crucificar o ego para viver

145

Usar de métodos persuasivos e tentar conduzir

alguém a Cristo pela força de argumentos não será

produtivo, porque as realidades espirituais se

cumprem pela operação do Espírito Santo nos

corações, enquanto a verdade da Palavra de Deus é

pregada ou ensinada.

A própria Palavra de Deus é vida, e produz vida.

Por isso o autor de Hebreus diz que ela é viva e

eficaz.

O apóstolo Paulo sabia que a mente natural do

homem não pode entender as coisas espirituais do

reino de Deus, porque elas podem ser discernidas

somente espiritualmente pela revelação do Espírito

Santo (I Cor 2. 10), e foi para este propósito de

compreender as coisas de Deus que o Espírito

Santo foi dado aos cristãos (v. 12).

E Paulo diz que estas coisas espirituais que nos

foram dadas gratuitamente por Deus devem ser

ensinadas não com palavras ensinadas pela

sabedoria humana, mas com palavras ensinadas

Page 146: Crucificar o ego para viver

146

pelo Espírito Santo, comparando coisas espirituais

com espirituais (v.13).

Isto implica que é necessário portanto ser um

cristão espiritual para que se possa aprender estas

coisas que são ensinadas pelo Espírito.

É necessário porque não é através da mente natural

que Deus manifesta e revela as realidades

espirituais, celestiais e divinas, mas através da

revelação do Espírito Santo ao nosso espírito.

A mentalidade natural não somente não entende as

coisas espirituais como não as aceita, porque lhe

parecem loucura (v. 14), isto é, aqueles

que tentam entender a vontade de Deus sem que

seja em espírito, mas pelo mero exercício da mente

natural, rejeitarão a Palavra de Deus,

especialmente as suas exortações relativas à cruz,

porque isto soará exagerado e como sendo uma

loucura para a mente natural.

Veja que Paulo pregava somente Cristo e este

crucificado. Isto significa que o cristão está também

Page 147: Crucificar o ego para viver

147

crucificado com Cristo e por isso deve carregar

diariamente a sua cruz.

Então a mente natural não aceitará as coisas

espirituais porque não pode entendê-las, e o ego

resiste tenazmente para que não seja crucificado

com as suas paixões, e se opõe totalmente ao

trabalho do Espírito Santo.

É necessário orar então a Deus, pedindo-Lhe que

quebre esta resistência natural.

Para isto é necessário ter humildade diante de Deus

para que Ele nos conceda graça e misericórdia,

revelando-nos estas coisas preciosas que

Ele preparou para aqueles que O amam, e que os

olhos não viram, e que os ouvidos não ouviram, e

que jamais penetraram no coração humano (v. 9);

isto é, que não podem ser discernidas pelo homem

natural ou carnal, porque nos são reveladas

pelo Espírito Santo com as palavras que Ele ensina,

e não com palavras de sabedoria humana.

Page 148: Crucificar o ego para viver

148

O apóstolo Paulo nos diz que se o homem natural

não pode discernir as realidades espirituais, no

entanto somente o homem

espiritual pode compreendê-las, porque ele

discerne bem a tudo que nos tem sido dado

gratuitamente por Deus, por meio de Jesus Cristo,

porque sendo espiritual ele terá a revelação destas

coisas em sua vida, pelo Espírito Santo (I Cor 2.15).

Somente o homem espiritual que tem a mente de

Cristo pode conhecer a mente do Senhor, porque

não é propriamente a sua mente natural que lhe

propicia tal conhecimento, mas a revelação do

Espírito Santo que é feita ao seu espírito revivificado

(v. 16).

Portanto, é necessário vigiar para que o nosso

espírito não esteja inativo ao mesmo tempo que a

nossa mente esteja muito ativa e até mesmo por um

longo período, ocupada em entender a verdade

revelada na Palavra.

Page 149: Crucificar o ego para viver

149

Por isso a própria Bíblia nos ordena que não

sejamos meramente ouvintes da Palavra, mas

praticantes, isto é, que não devemos ficar

satisfeitos apenas com entender a verdade com a

mente, mas experimentar a verdade pelo poder do

Espírito, para que possamos ter o conhecimento

real e experimental das coisas espirituais às quais a

Palavra se refere.

E nós já vimos antes que este

verdadeiro conhecimento que é real e

experimental não é adquirido meramente por

aquilo que aprendemos com a nossa mente, mas

aquilo que aprendemos por revelação do

Espírito em experiências reais em nossa vida.

Tudo o que está revelado na Palavra não é

para o nosso próprio interesse pessoal, mas para

que se cumpram os propósitos de Deus relativos ao

Seu povo.

Olhemos por um pouco para a história da Igreja

antiga, o povo de Israel, no período da restauração,

Page 150: Crucificar o ego para viver

150

quando Deus os trouxe de volta do cativeiro em

Babilônia para a própria terra deles em Judá, e

especialmente para a cidade de Jerusalém.

O que estava ocorrendo?

Qual era o propósito de Deus com

aquela restauração da vida espiritual de Israel?

Era simplesmente o de alegrar alguns fiéis dentre

o povo?

Qual era o caráter das pessoas chaves que Ele usou

para liderar Israel?

Qual era o pensamento delas quanto à necessidade

de serem espirituais e consagradas ao Senhor?

Olhemos para a rainha Ester disposta a morrer se

fosse necessário, caso o rei não lhe estendesse o

seu cetro, quando ela decidiu que intercederia junto

dele para o livramento do extermínio de Israel sob

o ardil de Hamã.

Olhemos para a atitude do povo e de Mordecai, que

jejuaram e choraram amargamente por causa do

decreto do extermínio do povo (Ester 4.1-3).

Page 151: Crucificar o ego para viver

151

Olhemos para a atitude de Esdras, depois do povo

ter retornado para Judá, mas não vivendo na

santidade prescrita pelo Senhor na Sua Palavra.

Nós o vemos chorando diante do Senhor no templo,

por causa do pecado deles, ao mesmo tempo que

se dispôs a tomar providências para que

eles fossem santificados (Esdras 1.6).

E finalmente, qual foi a atitude de Neemias quando

soube do estado de miséria do povo que se

encontrava em Jerusalém?

Porventura ele não chorou, lamentou por alguns

dias e não jejuou e orou perante o Deus dos céus

por causa daquela situação em que Israel se

encontrava? (Neemias 1.3,4).

Tudo o que se encontrava em jogo para estas

pessoas não era o que fosse do próprio interesse

deles, mas a glória do nome do Senhor que não

estava sendo santificado enquanto o Seu povo

permanecia naquela condição de miséria espiritual.

Page 152: Crucificar o ego para viver

152

Eles almejavam que a vontade de Deus fosse feita,

conforme deve ser, na vida do Seu povo.

E por acaso o estado em que a Igreja de Cristo se

encontra presentemente não é de necessidade de

restauração em santidade, pela pregação da rude

cruz?

E isto não é motivo para que choremos,

lamentemos e jejuemos tal como Ester, Mordecai,

Esdras e Neemias fizeram no passado?

Que o Senhor tenha misericórdia de nós, e que nos

conceda um coração sempre contrito perante Ele, e

nunca esquecido destas coisas, para que não

venhamos a fixar o motivo da nossa consagração

em nós mesmos, senão somente nEle e na Sua

vontade.

As sete igrejas citadas nos capítulos 2 e 3 de

Apocalipse representam todas as igrejas de todas as

localidades do mundo em toda a história do

Cristianismo.

Page 153: Crucificar o ego para viver

153

No entanto, elas configuram as igrejas que estarão

predominando no mundo no tempo do fim,

especialmente as três últimas citadas (Sardes,

Laodiceia e Filadélfia). Lembremos também em

reforço deste argumento que Apocalipse foi escrito

para descrever as coisas que acontecerão no

tempo do fim.

E é bem fácil de identificarmos estes três tipos de

Igrejas em nossos dias, e disto podemos concluir

que a volta do Senhor está mais próxima do que

imaginamos.

Nós vemos que uma das notas constantes para as

igrejas que estão vivendo fora da vontade do

Senhor, com exceção de Esmirna e Filadélfia, que

permanecem fiéis à Sua vontade, é a chamada ao

arrependimento. E que se ouça o que o Espírito

está dizendo às igrejas.

Nós entendemos então que uma das principais

missões dos cristãos fiéis neste tempo do fim é

Page 154: Crucificar o ego para viver

154

chamar ao arrependimento os cristãos que estão

vivendo de maneira contrária à vontade de Deus.

E esta chamada ao arrependimento deve ser feita

por se proclamar a verdade no poder do Espírito.

Porque é o Espírito Santo que dá testemunho da

verdade juntamente com o nosso espírito.

Para tanto é necessário viver em santidade,

porque é pela fidelidade de Filadélfia que muitos de

Sardes e de Laodiceia poderão chegar ao

arrependimento, porque numa igreja corrompida

fica quase impossível conhecer a mensagem do

verdadeiro evangelho, e muito mais ainda o poder

para praticá-la.

É nosso dever portanto, se desejamos ser fiéis ao

Senhor, que santifiquemos nossas vidas para que

sejamos cristãos espirituais e úteis no Seu

serviço em favor da restauração da Sua Igreja que

se encontra em sua maior parte corrompida,

conforme Ele próprio a descreve com

Page 155: Crucificar o ego para viver

155

as palavras que dirigiu às Igrejas de Sardes e de

Laodiceia.

Há uma grande recompensa e um grande fruto para

o nosso trabalho no Senhor.

Ele próprio fortalecerá as nossas mãos para a

batalha.

Sigamos portanto em frente, perseverando na fé,

certos de que a vitória pertence ao Senhor, e Ele nos

honrará porque nós O temos honrado.

A cruz nos impôs o abandono da confiança em nós

mesmos e a inteira confiança no sangue de Jesus

para que fôssemos salvos, e a mesma cruz

continuará nos impondo a necessidade de renúncia

ao nosso ego e vontade para que haja a ação do

poder do Espírito para a nossa santificação, e

edificação da Igreja.

Ele fará o Seu trabalho

se formos achados submissos e obedientes a Ele,

não inativos, mas despertados em nosso

Page 156: Crucificar o ego para viver

156

espírito, e não propriamente pela mera atividade

das faculdades da nossa alma.

A crucificação da carne com as suas paixões é

realizada pelo Espírito com base na nossa escolha

voluntária de renunciarmos ao modo de viver pela

alma, para que possamos continuar sendo

aperfeiçoados no espírito.

Este é o único modo de sermos frutíferos na obra de

Deus, porque o trabalho espiritual da nova criação

em Cristo Jesus é realizado exclusivamente pelo

Espírito, tal como Ele trouxe todas as coisas à

existência na criação natural, sem necessitar do

auxílio de mãos humanas.

Na verdade não somos propriamente nós que

somos os agentes ativos deste processo, porque o

que nos cabe é aceitar o trabalho de

quebrantamento operado pelo Senhor

em nós, de maneira que aprendamos a ser

submissos à vontade de Deus, para que sejam

Page 157: Crucificar o ego para viver

157

implantadas em nós as virtudes de Cristo, que são

designados como sendo o fruto do Espírito.

Assim, a chamada da cruz do Senhor Jesus é para

nós odiarmos nosso viver pela alma de forma que

nós achemos a oportunidade para perder isto e não

preservá-lo.

Jesus disse que quem perder a vida da alma achará

a verdadeira vida do espírito.

É isto que significa a expressão "quem perder a sua

vida por amor de mim vai achá-la.".

O Senhor falou do assunto de odiarmos a nossa

própria vida (viver pela alma).

Assim não se trata de prática religiosa, mas de uma

assunto relacionado à essência mesma da

verdadeira vida. Por isso se fala de se achar ou de se

perder a vida. De modo que "aquele que procurar

salvar a sua vida perdê-la-á" (Mc 8.35); isto é, salvar

este tipo de vida que é pelo viver pela

alma e não pelo espírito.

Page 158: Crucificar o ego para viver

158

Aqueles que vivem deste modo não poderão achar

a verdadeira vida espiritual que procede de Deus.

Se nós não rejeitarmos nosso ego

e perdermos nosso viver pela alma, mas ao invés

disso, seguirmos sua (da alma) ideia, opinião, e

sugestão, e se nós constantemente não negarmos

seu direito incondicionalmente e sem qualquer

reserva, levando-a às cinzas, sem almejar o que nós

perderemos, nós não podemos esperar ter uma vida

espiritual e trabalho que agradem a Deus.

A razão de nós termos tantos fracassos em nossa

vida espiritual deve-se ao fato de que a morte desta

vida da alma não foi tratada completamente.

Se o trabalho do Espírito Santo não recebe boa

acolhida da nossa parte, a carne prevalece, e como

está naturalmente em inimizade permanente

contra Deus, isto apaga o Espírito.

O Senhor Jesus disse: "O espírito é o que vivifica, a

carne para nada aproveita;" (Jo 6:63).

As obras da carne são de nenhum proveito!

Page 159: Crucificar o ego para viver

159

Tudo aquilo que nasce da carne, indiferentemente

do que possa ser, é carne, e nunca pode se tornar

espiritual.

Se a carne prega, se a carne ora, se a carne lê a

Bíblia, se a carne oferta, se a carne canta hinos de

louvor, ou se faz o bem, o Senhor disse que nada

disso tem qualquer proveito.

Não importa quanto os cristãos confiem na carne,

Deus disse que é de nenhum proveito e não ajuda a

vida espiritual. A carne não pode cumprir a justiça

de Deus.

"Porque a inclinação da carne é morte" (Rom. 8:6).

Do ponto de vista de Deus, há morte espiritual na

carne. E realmente ela está morta, espiritualmente

falando, porque o espírito do homem está morto

em delitos e em pecados, e somente pode ser

revivificado para a comunhão com Deus, caso

renasça do Espírito, e seja continuamente renovada

pelo Espírito Santo.

Page 160: Crucificar o ego para viver

160

Não há nenhum outro caminho para a carne senão

ser levada à cruz.

Não importa quão capaz é a carne de fazer o bem,

de pensar e planejar, e de ganhar o louvor

dos homens, porque aos olhos de Deus, tudo

aquilo que é originado da carne tem a inscrição em

letras maiúsculas: "MORTE".

"Porque a inclinação da carne é morte; mas a

inclinação do Espírito é vida e paz. Porquanto a

inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois

não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode

ser" (Rom. 8:6,7).

A carne está completamente contra Deus e não tem

nenhuma possibilidade de ser entrosada com Deus.

Viver na carne significa viver pela própria energia

independentemente de Deus, daí a

incompatibilidade que há entre a carne e tudo

aquilo que se refere a Deus, que é espírito.

A alma daqueles que vivem na carne está em

rebelião contra o Senhor, contra a Sua vontade e

Page 161: Crucificar o ego para viver

161

Palavra, e é fortalecida nesta sua resistência ao

Espírito quando a pessoa não possui uma mente

que tenha sido renovada.

Mas naqueles em que houve um tratamento da

alma pela cruz, pela crucificação da carne com as

suas paixões, e pelo hábito continuado deles de

procurarem fazer a vontade do Senhor,

a alma é uma boa serva do espírito, e mesmo

quando este está em silêncio, a alma e a mente

continuarão se ocupando daquilo que é do

interesse de Deus, e vigiará contra Satanás, contra

o pecado e contra as investidas do

mundo com suas tentações, e o resultado disto é

vida e paz.

E quando a pessoa se mover para exercitar o

espírito em oração, louvor, pregação ou em

qualquer outra forma de se exercitar o espírito, este

logo entrará em atividade, pelo hábito formado da

comunhão com Deus.

Page 162: Crucificar o ego para viver

162

Não haverá resistência da carne porque estará

crucificada; nem oposição da alma e da mente,

porque estão inclinadas para Cristo e Sua vontade;

e assim fazer a obra de Deus, a par de toda a

oposição que se possa sofrer, será um prazer.

Por isso uma pessoa somente despertada pela

Palavra de Deus, que queira servi-lo, temê-lo, amá-

lo, sem ter sido nascida de novo do Espírito Santo,

não poderá de modo algum ter no seu viver o fruto

do Espírito, conforme descrito em Gálatas 5.

O cristão espiritual buscará a comunhão com o

Senhor e com os irmãos na fé.

Ainda que o princípio do pecado continue operando

na carne, todavia a mente terá prazer na lei de Deus

e buscará servi-lO.

E por esta disposição de uma mente renovada o

cristão espiritual buscará auxílio em Cristo para que

o Espírito Santo vença toda tentativa de

manifestação do pecado na carne.

Page 163: Crucificar o ego para viver

163

E ele terá sucesso nisto por causa da prática que tem

em exercitar suas faculdades espirituais para

discernir tanto o bem quanto o mal (Hb 5.14).

Por isso se vê o espírito apagado nos cristãos carnais

como que se o espírito deles estivesse de fato

morto, exatamente porque caminham na carne e

não no Espírito, porque como vimos em Rom 8.6 a

inclinação para a carne dá para a morte das graças

espirituais, mas a inclinação do Espírito dá para a

vida e paz.

Assim, concluímos que a vida poderosa de Deus não

se manifesta na carne, mas no espírito.

E quando o cristão anda na carne, ele mata a vida

espiritual que é decorrente do Espírito.

"e os que estão na carne não podem agradar a

Deus." (Rom. 8:8). Esta é a resolução final.

Não importa quanto possa ser boa a conduta do

homem, caso tenha o ego como sua fonte, nunca

poderá agradar a Deus.

Deus somente pode ser agradado pelo Seu Filho.

Page 164: Crucificar o ego para viver

164

Aparte de Cristo e do Seu trabalho, o homem e as

suas obras não podem agradar a Deus.

Embora nós, seres humanos façamos uma distinção

entre bem e mal baseando-nos apenas no

comportamento, a distinção que Deus faz não está

limitada ao comportamento porque Ele pesa

também as intenções e contempla os nossos

corações, e acima de tudo, especialmente na Sua

obra na Igreja Ele leva em conta qual é a fonte das

nossas ações, se a carne ou o Espírito.

E acima de tudo lembremos que o homem foi criado

por Deus para viver não segundo a carne, mas

segundo o Espírito.

Assim a carne deve ser obrigatoriamente

mortificada pela cruz se pretendemos viver de

modo agradável a Deus.

Daí podemos afirmar que ser espiritual é um dever

que nos é imposto por Deus, e devemos então nos

empenhar em conhecer o como e o porque de ser

espiritual e não carnal.

Page 165: Crucificar o ego para viver

165

O texto de Ef 4.20-24 fala da crucificação e

despojamento do velho homem (carne, natureza

terrena), para o revestimento do novo homem

(nova criatura, nova natureza espiritual).

“Efs 4:20 Mas não foi assim que aprendestes a

Cristo,

Efs 4:21 se é que, de fato, o tendes ouvido e nele

fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus,

Efs 4:22 no sentido de que, quanto ao trato passado,

vos despojeis do velho homem, que se corrompe

segundo as concupiscências do engano,

Efs 4:23 e vos renoveis no espírito do vosso

entendimento,

Efs 4:24 e vos revistais do novo homem, criado

segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da

verdade.”

Somente a santificação pela aplicação deste

fundamento que nos é ensinado pela Palavra nos

tornará úteis na obra de Deus (II Tim 3.16,17).

Page 166: Crucificar o ego para viver

166

Romanos 7:22 diz: "Porque, segundo o homem

interior, tenho prazer na lei de Deus;".

Nosso homem interior (nova criatura) tem prazer na

lei de Deus.

Então quando temos prazer em obedecer todos os

mandamentos de Deus isto é sinal que temos sido

despojados do velho homem, pelo trabalho

progressivo de santificação do Espírito Santo,

relativo à mortificação do pecado.

Efésios 3:16 também nos diz que sejamos

fortalecidos com poder pelo Espírito

no homem interior.

Paulo disse também em II Coríntios 4:16: "mas

ainda que o nosso homem exterior se esteja

consumindo, o interior, contudo, se renova de dia

em dia.".

A nova criatura é pura, santa, celestial, espiritual e

divina. Ela foi recebida do alto, porque somos feitos

novas criaturas por um novo nascimento do

Espírito, procedente das alturas.

Page 167: Crucificar o ego para viver

167

Por isso nosso Senhor destacou nas bem-

aventuranças, a pureza de coração como condição

para se ver a Deus.

Esta pureza está justamente em não misturarmos as

coisas relativas ao Espírito com as obras da carne,

conforme mencionadas em Gálatas 5.

Quem ama a santidade odiará a impureza.

Não permitirá que a facilidade em se irar conviva ao

lado da longanimidade; que indolência espiritual

vença a diligência; e em tudo o mais, buscará o que

é relativo à nova criatura, pela mortificação daquilo

que pertence ao velho homem.

Algumas pessoas pensam que contanto que eles

recebam poder de Deus, tudo o que eles têm será

purificado e será usado por Deus para o serviço

dEle.

Mas isto nunca acontecerá, enquanto prevalecer

um viver carnal, por se inclinar àquilo que é da

carne, e não do espírito.

Page 168: Crucificar o ego para viver

168

Não se obtém o fruto do Espírito Santo por

imposição de mãos, ou declarações de recebimento

de poder instantâneo, porque isto é feito

progressivamente pela obra de santificação, que

será tanto maior quanto maior for a nossa

consagração a Deus e à prática da Sua Palavra.

Quanto mais nós conhecemos a Deus, mais nós

buscamos pureza e santidade acima do poder.

Na verdade, sem pureza, sem santificação, não há

um poder espiritual operante, porque este poder é

sempre, em primeiro lugar, transformador e

renovador, no que se refere à nossa própria vida.

Enquanto não despertamos para viver buscando o

reino de Deus e a sua justiça em primeiro lugar,

nunca conheceremos isto ou a sua profundidade,

porque é concedido pelo Senhor somente àqueles

que Lhe obedecem.

Nosso Senhor foi muito incisivo quando disse que se

não guardarmos os seus mandamentos nós não O

Page 169: Crucificar o ego para viver

169

amamos, e que Ele e o Pai se manifestam apenas

àqueles que guardam os Seus mandamentos.

Então é possível até mesmo ser de Jesus, conhecer

a Jesus, e não prosseguir no conhecimento da graça

e do Senhor, contra a ordenança apostólica de II

Pedro 3.18.

E quando isto sucede, a consequência natural é ser

carnal, e não espiritual.

Quando se é espiritual, disciplinamos nossos filhos

e nossos irmãos em Cristo.

Há muito desgaste e trabalho envolvido nisto, mas

o fazemos por amor ao Senhor e à Sua Palavra,

independentemente do quanto isto possa nos

contrariar ou a eles.

Nós também aceitamos de bom grado a palavra de

repreensão e de disciplina, caso tenhamos dado

ocasião a isto, porque sabemos, pela Palavra, que

tem por finalidade, nos preservar do mal.

Nós lutamos bravamente contra as tentações

carnais, e ficamos satisfeitos ao ver que elas vão

Page 170: Crucificar o ego para viver

170

ficando cada vez mais fracas, e as graças cada vez

mais fortes, à medida da nossa perseverança na

obediência e fidelidade ao Senhor e aos seus

mandamentos.

Um viver segundo a carne já não nos atrairá com a

mesma facilidade do passado, e passamos a ter real

prazer numa vida santificada, e não ficamos

satisfeitos com a medida presente das graças que

possuímos, porque há um princípio vivo espiritual

que é o de graça sobre graça, ou seja, ela sempre

chama por maiores medidas e nos impulsiona a isto.

Tudo devemos fazer para a exclusiva glória de Deus.

E quando assim procedemos, Deus em sua infinita

bondade, faz com que nos sintamos plenamente

satisfeitos, e Ele faz com que desfrutemos todas as

coisas com contentamento e moderação.

Quando somos espirituais, até mesmo o nosso afeto

natural é excepcionalmente melhorado, porque ele

se estende a todas as pessoas, e não somente a

pessoas, como a tudo o mais na criação.

Page 171: Crucificar o ego para viver

171

Nossas mãos afagarão em vez de ferir, e se

movimentarão pelos comandos de um coração

santificado.

Daí dizer o apóstolo Pedro:

“1Pe 3:8 Finalmente, sede todos de igual ânimo,

compadecidos, fraternalmente amigos,

misericordiosos, humildes,

1Pe 3:9 não pagando mal por mal ou injúria por

injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, pois para

isto mesmo fostes chamados, a fim de receberdes

bênção por herança.

1Pe 3:10 Pois quem quer amar a vida e ver dias

felizes refreie a língua do mal e evite que os seus

lábios falem dolosamente;

1Pe 3:11 aparte-se do mal, pratique o que é bom,

busque a paz e empenhe-se 17 - Hábitos são Ditados

Pelo Tipo de Natureza que se Possui

Page 172: Crucificar o ego para viver

172

Os hábitos de um gato são ditados pelo tipo de

natureza dos gatos; isto se aplica respectivamente a

todas as demais espécies de animais.

Quanto ao homem, seus hábitos são ditados pela

natureza humana, todavia como fora criado para

ser à imagem e semelhança de Deus necessita para

tanto, possuir também a natureza divina, para que

possa atingir o propósito pleno da sua criação.

Assim, a natureza humana não pode responder por

si só aos hábitos que são inerentes à natureza

divina; pois não carrega consigo os hábitos de

santidade que são exclusivos à natureza de Deus, ao

contrário, em razão da queda no pecado carrega um

princípio que é totalmente contrário ao citado

hábito de santidade.

Acrescente-se a isso, que sem o arrependimento e a

fé em Jesus Cristo é impossível ser participante da

natureza divina.

Antes da Queda no pecado original a natureza

humana se inclinava somente para o que é bom.

Page 173: Crucificar o ego para viver

173

Mas, com a Queda, passou a se inclinar também

para o que é mau, e esta inclinação passou a ser o

princípio dominante que opera na natureza

humana, pois o homem é mais inclinado para o mal

do que para o bem, conforme se vê na experiência

prática, e sendo confirmado pelas palavras de nosso

Senhor Jesus Cristo e dos apóstolos, de que temos

um coração perverso do qual procedem todos os

tipos de males, e os quais são referidos pelo

apóstolo Paulo como sendo obras da carne.

Então “carne”, neste sentido bíblico, nada mais é do

que a inclinação pecaminosa que habita na

natureza humana, ao lado da primitiva inclinação

para o bem, e que pode ser sufocada agora por esta

má inclinação em muitas ocasiões e modos.

Esta inclinação original da natureza humana

disposta para o bem nada pode fazer contra esta

inclinação para o mal que leva o homem a pecar; ou

seja, não pode tratar com a raiz do pecado no que

Page 174: Crucificar o ego para viver

174

se refere a subjugar e remover a fonte dos desejos

maus.

Somente a natureza divina, que é recebida na

conversão, por meio da fé em Cristo, tem o poder

que é capaz de subjugar a inclinação pecaminosa da

natureza humana.

Daí se afirmar que o Espírito que em nós habita, e

que ativa e opera esta natureza divina, se opõe à

carne, ou seja, à má inclinação de nossa natureza,

que nela penetrou desde a Queda no pecado

original.

Então, se somos instruídos pelo Espírito, submissos

ao Espírito, movidos e guiados pelo Espírito,

especialmente em relação àquelas atitudes e

comportamentos santos da Palavra de Deus,

podemos subjugar a má inclinação da natureza

humana que dá para a morte espiritual, e assim,

podemos experimentar a vida de Deus e a paz que

dela decorre (Rom 8.6).

Page 175: Crucificar o ego para viver

175

É nisto basicamente que consiste a nossa

semelhança com Deus, ou seja, a nossa efetiva

participação de sua natureza divina, traduzida nas

operações progressivas do Espírito Santo para forjar

em nós atitudes, comportamentos, atos e

pensamentos que sejam cada vez mais condizentes

com a nossa inclinação para aquela santidade que é

inerente à natureza divina, e que existe somente

naqueles que pertencem a Jesus Cristo.

Assim, perdemos muito desta semelhança com

Deus quando não andamos no Espírito, ou seja,

quando não somos instruídos, dirigidos e movidos

por Ele, por causa de andarmos segundo a má

inclinação que é para a carne (pecado), porque em

vez de produzirmos o fruto do Espírito em nossas

vidas, produzimos as obras da carne.

À luz destas verdades bíblicas podemos entender

porque simples atos bons morais não configuram

necessariamente aquela santidade divina à qual

Page 176: Crucificar o ego para viver

176

somos chamados, porque a antiga inclinação para

o bem da natureza humana pode responder a isto.

Assim, é possível praticar o bem e não ser

participante da vida de Deus, porque é certo que em

todas as pessoas, esta habilidade para o bem

sempre é acompanhada de perto e subjugada por

uma outra inclinação que é mais poderosa, ou seja,

a que é para o mal, e sendo Deus, completamente

santo e justo, não pode habitar onde o problema do

pecado não tenha sido resolvido, pelo perdão e pela

justificação que existem somente por meio da nossa

fé no Senhor Jesus Cristo.

por alcançá-la.

1Pe 3:12 Porque os olhos do Senhor repousam

sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos às

suas súplicas, mas o rosto do Senhor está contra

aqueles que praticam males.”

Page 177: Crucificar o ego para viver

177

Não Mais na Carne

“Rom 8:1 Agora, pois, já nenhuma condenação há

para os que estão em Cristo Jesus.

Rom 8:2 Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo

Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte.

Rom 8:3 Porquanto o que fora impossível à lei, no

que estava enferma pela carne, isso fez Deus

enviando o seu próprio Filho em semelhança de

carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com

efeito, condenou Deus, na carne, o pecado,

Rom 8:4 a fim de que o preceito da lei se cumprisse

em nós, que não andamos segundo a carne, mas

segundo o Espírito.

Rom 8:5 Porque os que se inclinam para a carne

cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam

para o Espírito, das coisas do Espírito.

Rom 8:6 Porque o pendor da carne dá para a morte,

mas o do Espírito, para a vida e paz.

Page 178: Crucificar o ego para viver

178

Rom 8:7 Por isso, o pendor da carne é inimizade

contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem

mesmo pode estar.

Rom 8:8 Portanto, os que estão na carne não podem

agradar a Deus.

Rom 8:9 Vós, porém, não estais na carne, mas no

Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em

vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse

tal não é dele.

Rom 8:10 Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na

verdade, está morto por causa do pecado, mas o

espírito é vida, por causa da justiça.

Rom 8:11 Se habita em vós o Espírito daquele que

ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo

que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos

vivificará também o vosso corpo mortal, por meio

do seu Espírito, que em vós habita.

Rom 8:12 Assim, pois, irmãos, somos devedores,

não à carne como se constrangidos a viver segundo

a carne.

Page 179: Crucificar o ego para viver

179

Rom 8:13 Porque, se viverdes segundo a carne,

caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito,

mortificardes os feitos do corpo, certamente,

vivereis.

Rom 8:14 Pois todos os que são guiados pelo

Espírito de Deus são filhos de Deus.”

A força e o foco do argumento do apóstolo Paulo,

nesta seção do oitavo capítulo da epístola aos

Romanos repousa na verdade espiritual de que em

Cristo nenhum servo autêntico de Deus, nascido de

novo do Espírito Santo, encontra-se em estado de

inimizade com Deus, por não estar reconciliado com

Ele.

Todos, sem uma única exceção, são filhos amados,

por meio da sua união com Cristo.

Foram resgatados de um viver exclusivamente pela

energia da natureza terrena, porque encontram-se

agora também dotados de uma nova natureza, pela

habitação do Espírito Santo, que está destinada a

Page 180: Crucificar o ego para viver

180

destruir e a despojá-los da antiga natureza terrena

pecaminosa.

Já são assim considerados, embora ainda neles

remanesça o velho homem com suas paixões

terrenas, de modo que deles se diz que não estão

mais na carne, caso tenham de fato a habitação do

Espírito Santo.

Deus os vê na nova natureza que lhes deu por causa

da fé em Cristo.

E os chama a mortificarem os feitos da velha pelo

poder da nova, de modo que tenham toda a

plenitude da vida espiritual que se encontra em

Jesus Cristo.

Já se encontram na posse da vida eterna, mas

necessitam crescer na graça e no conhecimento de

Jesus, pela mortificação do pecado e por um andar

no Espírito Santo.

É evidente que, quando o cristão faz provisão para

as obras da carne, que ele não está agradando a

Deus, mas ele possui, pelo Espírito que nele habita,

Page 181: Crucificar o ego para viver

181

a condição de reverter este quadro pela confissão e

abandono do pecado, com a devida consagração ao

Senhor.

Mas, não é ao cristão que Paulo está se referindo,

quando diz:

“Rom 8:8 Portanto, os que estão na carne não

podem agradar a Deus.”

Porque, seu propósito, quando faz esta afirmação

no contexto desta epístola aos Romanos, é o de

demonstrar que não ter a Cristo significa não ter

consequentemente a nova natureza celestial e

divina, senão apenas a terrena, que é designada na

Bíblia pela palavra “carne”.

Assim, não é possível se agradar a Deus, por

qualquer obra religiosa ou de caráter de

benemerência, com vistas à salvação ou à

comunhão, porque a carne não está sujeita a Deus,

não lhe ama, nem os seus mandamentos, e não está

habilitada a fazer a sua vontade, porque isto é

Page 182: Crucificar o ego para viver

182

possível somente quando somos transformados e

dirigidos pelo Espírito Santo.

Como o cristão possui a referida habitação do

Espírito ele pode realizar o trabalho de mortificação

do pecado, pela operação do Espírito.

E como este trabalho é realizado pelo Espírito,

podemos concluir consequentemente que não se

pode ver isto sendo feito naqueles que não são de

Cristo.

Palavras proferidas por Jesus Cristo:

João 3:5 Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade

te digo: quem não nascer da água e do Espírito não

pode entrar no reino de Deus.

João 3:6 O que é nascido da carne é carne; e o que é

nascido do Espírito é espírito.

Palavras proferidas por Paulo:

Page 183: Crucificar o ego para viver

183

Rom 8:8 Portanto, os que estão na carne não podem

agradar a Deus.

Rom 8:9 Vós, porém, não estais na carne, mas no

Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em

vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse

tal não é dele.

Nós percebemos que foi do ensino de nosso Senhor

Jesus Cristo em João 3.5,6, que o apóstolo Paulo

baseou a sua afirmação no texto de Romanos 8.9 de

que o cristão não está na carne mas no Espírito.

Ora, por que ele fez tal afirmação, uma vez que

apesar de ter nascido de novo do Espírito, o cristão

permanece, enquanto neste mundo, sob a

influência da carne (natureza terrena pecaminosa)

que ele ainda possui?

Só podemos entendê-lo a partir do ensino de Jesus

que disse que o que é nascido do Espírito é espírito.

Não se diz que será, mas que já é espírito.

Page 184: Crucificar o ego para viver

184

Ou seja: seu espírito que se encontrava morto em

delitos e pecados foi revivificado. É agora um ser

espiritual aos olhos de Deus. Sua natureza carnal

recebeu a sentença de morte na cruz juntamente

com Cristo, e está sendo despojada pela nova

natureza espiritual e celestial, que também habita

no cristão.

O Espírito Santo não produz naturezas

pecaminosas, mas santas. Daí se dizer que todo o

que é nascido do Espírito é espírito.

Mas o que não é nascido do espírito não pode

agradar a Deus, porque tudo quanto pode gerar é a

mesma natureza terrena pecaminosa que possui, ou

seja, o que a Bíblia chama de carne. Este é o único

legado e marca que pode deixar para outros.

Além disso, deve ser considerado, conforme o

apóstolo expressara anteriormente em Romanos

7, que o que é nascido do espírito possui uma

mente e uma nova natureza que se inclinam para

Deus e para os Seus mandamentos. Por ter sido

Page 185: Crucificar o ego para viver

185

feito espírito e por ter sido crucificada a carne, por

causa da fé em Jesus, não ama o que é carnal, mas

o que é espiritual e celestial.

Page 186: Crucificar o ego para viver

186

A Supremacia do Espírito Sobre o Corpo

“O espírito é o que vivifica, a carne para nada

aproveita; as palavras que eu vos digo são espírito e

vida.” (João 6.63)

Observe atentamente o seguinte relato, baseado

em fatos reais:

Um homem pacífico, justo, piedoso e temente a

Deus sofreu um infarto agudo do miocárdio que o

conduziu ao internamento numa Unidade de

Tratamento Intensivo (UTI), e como a grave

insuficiência cardíaca produziu um edema

pulmonar, não diagnosticado e identificado pela

UTI, o mesmo passou a ter séria dificuldade para

respirar, e num estado de semiconsciência gemia

intermitentemente para conseguir aspirar e expirar

um pouco de ar. Pessoas do grupo de enfermagem

mandavam-lhe asperamente que calasse a boca,

Page 187: Crucificar o ego para viver

187

achando que estava fazendo aquilo de propósito.

Então um psiquiatra foi convocado a dar o seu

parecer, e este entendeu que o melhor seria

ministrar-lhe uma forte dose de drogas

tranquilizantes (que ele veio a saber

posteriormente tratar-se da chamada “boa noite

Cinderela”, e também medicação para

esquizofrenia) que vieram a fazer um efeito reverso,

pois em vez de ser tranquilizado, veio a saber que

no período que esteve inconsciente passou a ter um

comportamento descompassado proferindo

palavras desconexas. Então um psicólogo foi

convocado para dar o seu parecer e este chegou à

conclusão que se tratava de um paciente mais

psiquiátrico do que cardiológico, tendo feito constar

em seu diagnóstico que se tratava de pessoa

descontrolada e agressiva. Com isto o mesmo foi

amarrado firmemente na maca em que se

encontrava, tendo suas mãos e pés imobilizados.

Quando voltou horas depois ao estado de

Page 188: Crucificar o ego para viver

188

consciência, sua insuficiência respiratória e cardíaca

se agravou porque se viu naquelas condições,

estando com o corpo nu em um ambiente cuja

temperatura nunca ultrapassava os 18 graus

centígrados. Seu estado que era crítico e de

debilidade extrema por causa do infarto se agravou

ainda mais quando se viu naquela condição

humilhante de desproporcional ao que de fato

necessitava. Os médicos cardiologistas limitaram-se

simplesmente a lhe ministrar os medicamentos

vasodilatadores que haviam sido prescritos na

unidade de emergência, sem que lhe fosse prescrito

o uso de qualquer diurético para fazer o edema

pulmonar recuar. Sequer tivera seus pulmões

auscultados ou radiografados, bem como nenhum

eletrocardiograma ou ecocardiograma havia sido

realizado naqueles primeiros dez dias de

internação. Não fosse a graça de Jesus que

fortalecia o seu espírito enfraquecido, para

sustentar a sua alma abatida e o seu corpo

Page 189: Crucificar o ego para viver

189

amortecido pela enfermidade, certamente não teria

suportado todo aquele tipo de atendimento que

estava recebendo.

Ninguém... quer na equipe de médicos, quer na de

enfermagem, demonstrou amor, compaixão ou

empatia pelo estado em que se encontrava, nem

sequer houve até aquele momento um só

samaritano entre eles que se sensibilizasse pela sua

condição de sofrimento, pois em suas consciências

todos estavam desculpados e justificados pela ideia

ilusória de que estavam realizando

competentemente as funções técnicas para as quais

haviam sido adrede preparados.

Eles estavam trabalhando com um pedaço de carne

que viera ter às suas mãos, assim como o

açougueiro trabalha fria e insensivelmente em cada

pedaço de corte com o seu facão, e não

propriamente com um ser humano dotado de razão,

vontade, intelecto, sentimentos, e emoções.

Page 190: Crucificar o ego para viver

190

Quer para onde nos voltemos na rede hospitalar,

será este o quadro que encontraremos, e as raízes

desse comportamento se encontram nos seguintes

motivos, dentre outros:

É impressionante a extensão da ignorância que

existe sobre as faculdades da alma e do espírito

humano por parte da prática científica, uma vez que

de há muito as universidades, no afã de separarem

a ciência da religião, acabaram por eliminarem

também a subjetividade atrelada à religiosidade,

por considerar que a pesquisa científica deveria se

ater apenas à objetividade, de forma que tem sido

este o modo de pensar universitário, que mais e

mais se expande com um foco eminentemente

materialista, esquecendo-se que a parte nobre do

homem não se refere à biológica, mas à sua alma e

ao seu espírito.

Como a noção de espírito e alma canaliza para a

divindade, uma vez que Deus é espírito, o

humanismo, contradiz-se a si mesmo, ao negar a

Page 191: Crucificar o ego para viver

191

participação de ambos na prática científica, porque

reduz a humanidade ao objeto, pela negação da

parte imaterial, tendo em vista deixar do lado de

fora a influência e realidade de Deus no ser humano

total.

A secularização da universidade excluiu dos

programas de ensino toda e qualquer abordagem

de caráter subjetivo, porque as emoções, os

sentimentos, a vontade, a imaginação, a intuição, a

consciência, e todas as demais faculdades da alma e

do espírito do homem não contam onde o que se

persegue e estuda é apenas a compreensão objetiva

da matéria, a saber, do universo material que nos

cerca, aí incluído o nosso próprio corpo.

A própria práxis psicológica e psiquiátrica, das quais

se deveria esperar uma maior pesquisa das

faculdades psicológicas e espirituais, no âmbito da

subjetividade em que elas existem, é

eminentemente acadêmica e empírica, focada na

objetividade, voltada simplesmente para a busca de

Page 192: Crucificar o ego para viver

192

resultados aplicados às áreas terapêutica,

profissional, pedagógica dentre outras, e não

propriamente à compreensão para a elevação e

edificação do próprio espírito e alma humanos.

O grande paradoxo nisto tudo é que o corpo e a

matéria passam, mas o espírito é eterno, de modo

que se prioriza não o que permanece, senão o que é

temporário. E que sabedoria real há nisto?

Todo o esforço da sociedade secular se concentra

portanto não na edificação do ser humano, quanto

à sua necessidade de crescimento pessoal pelo

amadurecimento e aperfeiçoamento de suas

faculdades psicológicas, espirituais e morais, no que

poderíamos chamar de busca do homem total,

pleno da vida e da consciência de Deus, mas o

esforço se concentra meramente na formação

acadêmica secular pela obtenção de conhecimentos

e habilidades para a atuação na produção de bens e

serviços materiais, visando-se não ao sujeito, mas

ao objeto. O homem nada mais deve ser do que um

Page 193: Crucificar o ego para viver

193

mero consumidor e executor das práticas em que foi

formado através dos programas de ensino

seculares.

Um ser espiritual sendo reduzido à matéria! A parte

nobre da alma sendo negligenciada em prol do

corpo – que é o invólucro temporário do espírito!

Ainda assim, gaba-se o cientista de viver de modo

objetivo, ignorando que a subjetividade que conduz

à religiosidade é inerente ao espírito humano, ali

instalada pelo próprio Deus, para que fosse buscado

pelo homem para ser adorado por ele. Ora, negar

tal realidade é negar a Deus o direito que Ele detém

sobre a criatura! E, por conseguinte, nega-se

também a própria humanidade, porque esta não

pode existir na verdadeira acepção da palavra, caso

esteja alijada da vida divina.

A adoração é uma das faculdades que pertencem

exclusivamente ao espírito humano, pois é notório

que mesmo nos animais que são dotados de alma, a

mesma não existe em razão de não serem dotados

Page 194: Crucificar o ego para viver

194

de um espírito, que é a parte que distingue o ser

humano de tudo o mais que existe na criação.

Assim, Deus não poderia ter errado o grande alvo ao

nos dar a revelação da verdade na Bíblia, uma vez

que ela tem em vista o resgate e a restauração da

humanidade, sobretudo da alma e do espírito,

conforme podemos verificar em inúmeras

passagens bíblicas.

São faculdades do espírito: Consciência, comunhão,

adoração, intuição, amor ágape, fé, revelação, e

tudo o mais que faz parte do Espírito Santo, que

pode ser gerado no espírito humano: paz, alegria,

domínio próprio, bondade, fidelidade, mansidão

etc.

São faculdades da alma: emoção, vontade, razão,

sentimento, e tudo o mais que se refere às funções

cerebrais tanto em humanos quanto em animais.

Mas, na apreciação das faculdades da alma e do

espírito, não devemos nos limitar às que foram

anteriormente citadas, sem levar em conta a grande

Page 195: Crucificar o ego para viver

195

gama de realidades invisíveis que operam em

ambas, e que são traduzidas em nosso

comportamento, e em especial em nossos

relacionamentos interpessoais.

Sem que entremos no mérito do que é pertinente

exclusivamente ou não à alma ou ao espírito,

destacaremos algumas destas realidades que

podem ser classificadas como virtudes (quando

correspondem ao que existe no caráter de Deus),

tendo ao seu lado a designação da realidade

negativa que lhe corresponde, por pertencer à

natureza caída terrena.

Humildade – arrogância, soberba,

Misericórdia – implacabilidade, crueldade

Perdão – mágoa, rancor, juízo condenatório

Pureza – fornicação, impureza

Fidelidade – adultério, traição

Gratidão – ingratidão

Hospitalidade – inveja, ciúme

Page 196: Crucificar o ego para viver

196

Gentileza – rudeza, vileza

Afabilidade – desafeição

Coragem – covardia

Altruísmo – ganância

Veracidade, sinceridade – hipocrisia, falsidade,

mentira

Justiça – injustiça

Amizade – inimizade, ira, porfia

Generosidade – egoísmo

A lista é extensa e aplicável sobretudo às virtudes

ou erros do espírito humano que podem ser

melhoradas (virtudes) ou agravados (erros), quando

respectivamente nos aproximamos ou nos

afastamos da operação da graça de Deus.

Daí sermos exortados como crentes, em II Coríntios

7.1: “Ora, amados, pois que temos tais promessas,

purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do

espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de

Deus.”

Page 197: Crucificar o ego para viver

197

Ora se tais virtudes destacadas, dificilmente são

achadas em plenitude nos próprios crentes que têm

o Espírito Santo de Deus, por serem de Cristo,

quanto mais se poderia esperar achá-las como

virtudes genuínas e não o fruto de hipocrisia, em

pessoas que não amam a Cristo e os Seus

mandamentos?

Quem esperaria colher maçãs em um espinheiro?

Podemos observar nas passagens bíblicas do Novo

Testamento que a palavra psique – alma, (da qual

se origina a palavra psicologia) é várias vezes

empregada para designar não o corpo físico

humano, mas a parte imaterial animada, de modo

que é costumeiramente traduzida por vida, para

melhor expressar o significado a que se refere. De

modo que, por exemplo, quando nosso Senhor

afirma que veio para dar a sua vida em resgate de

muitos, ele não está se referindo apenas à morte

física, mas muito mais do que isso, a saber, que Ele

entregou todo o seu ser com todos os poderes e

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198

faculdades animados e inteligentes da alma, do

espírito, e não apenas do corpo, ou seja, ele

entregou-se totalmente por nós.

Concluímos, pois, quão iludidos e enganados estão

todos aqueles que julgam a Bíblia como sendo um

livro ultrapassado e que não trata com

profundidade as questões relativas às necessidades

da natureza humana. Nada há mais distante da

verdade do que isto, porque se Deus não nos tivesse

revelado a verdade, jamais poderíamos chegar ao

conhecimento da nossa real condição corrompida e

decaída, e que pode ser restaurada somente pelo

remédio que também nos é revelado por Deus na

Sua Palavra. Tudo o que a chamada prática

científica tem afirmado em relação a este campo é

fumaça e não propriamente a substância real do

mundo espiritual que pode ser discernido somente

por meio da fé, a qual é um dom de Deus para

aqueles que o amam.

Page 199: Crucificar o ego para viver

199

Na simplicidade da revelação nós encontramos um

castelo de ouro e pedras preciosas, e em todo o

emaranhado das teorias e postulados humanos

nada mais há do que um castelo de madeira e palha

que não poderá resistir à prova do fogo, e se

desfará.

Melhor então que os currículos universitários não

abordem as questões relativas à real condição de

nossos espíritos, porque se tentassem fazê-lo, pelas

mentes de homens incrédulos, o que teríamos seria

um grande amontoado de teorias enganosas,

conforme costuma suceder aos que se aventuram a

fazê-lo. E se não o fazem, é porque nada têm

realmente a dizer a respeito, porque coisas

espirituais só podem ser discernidas

espiritualmente por meio da operação do Espírito

Santo (I Cor 2.9-16)

Em suma, de tudo o que se aprende na Bíblia, tanto

no Velho quanto no Novo Testamento é que tanto a

alma quanto o espírito, afastados de Deus, estão

Page 200: Crucificar o ego para viver

200

não apenas arruinados e em trevas, mas mortos, e

o corpo caminha para a destruição sem a esperança

da ressurreição em glória.

Se são de muita ajuda nos assuntos relativos à cura

de enfermidades físicas e psicossomáticas, o que

podem, no entanto, fazer os médicos, psicólogos,

psiquiatras e psicanalistas e qualquer cientista,

quanto ao resgate e restauração do homem como

um todo (espírito, alma e corpo) para a obtenção da

vida eterna que está somente em Cristo Jesus,

nosso Senhor, e não somente isto, como também

em relação à nossa educação e edificação espiritual

para que cheguemos à plena medida da

varonilidade de Cristo?

Esta total dependência do espírito humano do

Espírito de Deus, pode ser vista claramente na

abundância de referências ao Espírito Santo, no

texto bíblico, em conexão com o espírito humano.

Page 201: Crucificar o ego para viver

201

Espiritual

A palavra “carne” (sarx, no grego) é usada no texto

do Novo Testamento, tanto para designar o corpo

físico natural, no qual não há inerentemente

qualquer mal moral, senão o mau uso que se pode

fazer do mesmo, e também, a condição da natureza

terrena decaída no pecado que se opõe a Deus e à

Sua vontade.

A revelação bíblica apresenta um contraste entre o

que é espiritual e o que é natural e carnal, e não

propriamente material, como costumeiramente

ocorre ao modo de se pensar em geral.

Sendo que o carnal e o natural aqui referidos

reportam, respectivamente, o primeiro ao que é

pecaminoso, e o segundo ao que é pertencente à

vida moral, que não é espiritual, celestial,

sobrenatural e divina.

O conceito de espiritual, conforme o encontramos

especialmente no Novo Testamento, transcende o

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202

de espírito, porque os anjos caídos e o espírito de

pessoas ímpias não são ditos espirituais, pois esta

palavra indica a condição de espíritos que são

conduzidos pelo Espírito Santo de Deus, que se

encontram a Ele voluntariamente sujeitos, a saber,

os anjos eleitos e as pessoas que foram regeneradas

pelo Espírito.

A condição do espírito pode ser tanto de luz ou de

trevas. A de luz identifica os que são espirituais, e a

de trevas, os que são carnais, ou seja, os que não

são de Cristo e não têm, por conseguinte o Espírito.

Como a geração que viveu nos dias de Noé não

atendia ao propósito da criação do homem por

Deus, ou seja, viviam como carnais e não permitiam

o trabalho do Espírito Santo em seus corações,

então foi determinada a destruição pelas águas do

dilúvio (Gênesis 6.3), como um sinal e aviso do que

há de suceder a todos os que viverem como carnais,

resistindo ao Espírito.

Page 203: Crucificar o ego para viver

203

Ao homem natural não ocorre o pensamento de ter

sido criado para viver no e pelo Espírito Santo. Se

Deus não abrir o seu entendimento para as coisas

que são espirituais e celestiais, ele jamais poderá

topar com o propósito da criação da humanidade

por Deus. E, não há nenhum jogo de esconde-

esconde nisto; nenhuma vontade caprichosa de

Deus envolvida nisto, senão a manifestação da vida

eterna que está oculta em Cristo, e à qual Ele dá

acesso somente àqueles que têm escolhido, e

obedecem à Sua vontade.

Evidentemente, para muitos propósitos úteis e

convenientes à Sua exclusiva soberania e

autoridade, bem como a nós próprios, fomos

criados por Deus sendo espíritos dotados de um

corpo natural, colocados a viver num mundo

também natural.

Por nossa relação com as realidades naturais, o

nosso espírito pode ser exercitado em cuidados

providenciais visíveis, que de outra forma, não

Page 204: Crucificar o ego para viver

204

poderiam ser manifestados, e importava que Deus

manifestasse, segundo Seu propósito eterno, toda a

Sua glória, em demonstrações de Seu amor, Sua

bondade, misericórdia e justiça para com

pecadores.

O homem deve se interessar em saber o que fazer,

para que seja encontrado como espiritual e não

como carnal, pois temos este dever da parte de

Deus para que possamos agradá-Lo.

O apóstolo Paulo afirma na parte final do quinto

capítulo da epístola aos Gálatas, que devemos

andar no Espírito Santo de modo a não satisfazer às

cobiças da carne – carne aqui considerada, como na

maior parte das passagens do Novo Testamento,

como sendo a nossa natureza terrena decaída no

pecado, da qual devemos nos despojar pelo

trabalho de mortificação do pecado, pelo Espírito

Santo.

Essa vida espiritual, como já foi dito antes, não é

pertencente à nossa natureza terrena, ela nos vem

Page 205: Crucificar o ego para viver

205

do Alto, descendo do Pai das luzes, e por isso, assim

nos exorta o apóstolo Paulo:

“Se, pois, fostes ressuscitados juntamente com

Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo

está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas

que são de cima, e não nas que são da terra; porque

morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo

em Deus.” (Colossenses 3.1-3)

O oitavo capítulo de Romanos e o segundo de I

Coríntios discorrem sobre a verdade, de que o

homem natural não tem o pendor do Espírito Santo,

porque a carne (aqui também com o significado de

natureza terrena corrompida pelo pecado), não

pode estar sujeita a Deus. Nisto se evidencia e

cumpre a seguinte palavra de nosso Senhor Jesus

Cristo: “o Espírito da verdade, o qual o mundo não

pode receber; porque não o vê nem o conhece; mas

vós o conheceis, porque ele habita convosco, e

estará em vós.” (João 14.17).

Page 206: Crucificar o ego para viver

206

Sem conversão, permanecendo carnal, o homem

não pode receber o Espírito Santo para nele habitar.

Então, o que nos torna espirituais é a habitação do

Espírito Santo.

Sendo feitos espirituais importa vivermos como

espirituais, andando continuamente no Espírito, e

não mais como carnais.

Page 207: Crucificar o ego para viver

207

A Natureza da Nova Criatura em Cristo Jesus

Por mais repetitivos que sejamos em relação a

este assunto da natureza da nova criatura em Cristo,

na qual somos transformados na conversão, nunca

será demais, em face da importância de termos isto

devidamente gravado e lembrado em nossas

mentes.

“Portanto, assim como por um só homem entrou o

pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim

também a morte passou a todos os homens, porque

todos pecaram.” (Rom 5.12)

“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos

delitos e pecados,” (Ef 2.1).

Estas e outras passagens bíblicas se referem à

condição de morte, perante Deus, de toda a

Page 208: Crucificar o ego para viver

208

humanidade em razão do pecado, tal como ele

havia dito ao primeiro homem que ele morreria e

nele toda a sua descendência, caso lhe fosse

desobediente.

Então Jesus nos foi dado para nos transportar da

morte para a vida.

“Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a

minha palavra e crê naquele que me enviou tem a

vida eterna, não entra em juízo, mas passou da

morte para a vida.” (João 5.24)

“Nós sabemos que já passamos da morte para a

vida, porque amamos os irmãos; aquele que não

ama permanece na morte.” (I João 3.14)

Vejamos então como passamos da morte para a

vida, por sermos agora novas criaturas, por meio da

fé em Jesus.

Page 209: Crucificar o ego para viver

209

Isto não significa que recebemos um novo espírito

para ocupar o lugar do nosso espírito.

Não significa também o recebimento de uma nova

personalidade para substituir a que tínhamos até a

nossa conversão, uma vez que esta permanece em

nós.

Não encontramos amparo para este tipo de ensino

nas páginas de toda a Bíblia, mas lá encontramos

que passamos a ter um novo princípio de vida

espiritual, divina e celestial que é implantado em

nós, quando temos o nosso primeiro encontro

pessoal com Cristo, como uma semente, destinada

a germinar, e a crescer e a produzir frutos de justiça,

consoante as virtudes da própria pessoa de Jesus, I

Pe 1.23; Tg 1.21; 1 João 3.9.

É pela habitação do Espírito Santo no crente, e por

esta nova disposição de vida nele implantada, que

todas as faculdades e disposições do nosso corpo,

alma e espírito são vivificados e renovados, para o

que se chama de novidade de vida.

Page 210: Crucificar o ego para viver

210

Por fazer aumentar e crescer em nós estas graças

referidas, mortificamos o princípio operante do

pecado, e adquirimos mais das virtudes do próprio

Cristo, em operações progressivas renovadoras do

Espírito Santo.

Assim, lemos em Romanos 8.6-13 o seguinte:

“Rom 8:6 Porque o pendor da carne dá para a

morte, mas o do Espírito, para a vida e paz.

Rom 8:7 Por isso, o pendor da carne é inimizade

contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem

mesmo pode estar.

Rom 8:8 Portanto, os que estão na carne não podem

agradar a Deus.

Rom 8:9 Vós, porém, não estais na carne, mas no

Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em

vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse

tal não é dele. Rom 8:10 Se, porém, Cristo está em

vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do

pecado, mas o espírito é vida, por causa da justiça.

Page 211: Crucificar o ego para viver

211

Rom 8:11 Se habita em vós o Espírito daquele que

ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo

que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos

vivificará também o vosso corpo mortal, por meio

do seu Espírito, que em vós habita.

Rom 8:12 Assim, pois, irmãos, somos devedores,

não à carne como se constrangidos a viver segundo

a carne.

Rom 8:13 Porque, se viverdes segundo a carne,

caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito,

mortificardes os feitos do corpo, certamente,

vivereis.”

A qualidade da vida de Deus somente pode ser vista

portanto, naqueles que foram e que têm sido

vivificados pelo Espírito Santo.

É destes e somente destes que Deus declara nas

Escrituras que vivem. Seguramente, a qualidade de

vida que se tem fora da comunhão com Deus não

pode ser chamada propriamente de vida, senão de

Page 212: Crucificar o ego para viver

212

morte, por causa da impossibilidade da citada

condição de nos habilitar a amarmos a Deus e a ter

prazer na sua vontade e mandamentos, provando

este amor, por permitir que Sua Palavra seja

aplicada às nossas próprias vontades e vidas.

Page 213: Crucificar o ego para viver

213

Natural e Espiritual

“O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido

do Espírito é espírito.” (João 3.6)

Nosso Senhor nos dá em poucas palavras qual é a

condição real da natureza humana, ao afirmar que

“o que é nascido da carne, é carne, e o que é nascido

do Espírito é espírito."

Ele se refere a dois tipos de nascimentos distintos

por reprodução. O primeiro em relação à carne, ou

ao que é natural, que somente pode gerar algo à sua

própria semelhança, ou seja, natural. O segundo em

relação ao Espírito Santo que gera nascimentos

sobrenaturais, ou seja, espirituais.

Apesar de existir aquilo que poderíamos chamar de

algo assombroso relativamente à formação de um

ser natural como o humano, que é gerado a partir

de uma única célula formada da união de um

Page 214: Crucificar o ego para viver

214

espermatozoide com um óvulo, e que por

reproduções sucessivas chega a formar o complexo

de órgãos, sistemas, processos físico-químicos, e

tudo o mais que mantém a vida em funcionamento,

com comandos involuntários criados e

programados por Deus de modo sobrenatural, para

a constituição plena das funções do ser humano,

todavia, ele dispôs este processo natural de tal

forma, que toda geração natural será processada

espontaneamente a partir dos princípios que ele

estabeleceu previamente para tal propósito.

Daí nosso Senhor afirmar que o que é nascido da

carne é carne.

Entretanto, quanto ao nascimento espiritual

operado pelo Espírito Santo, nestes que chegaram à

existência através da geração natural, este é de

outro caráter, porque não pode ocorrer

espontaneamente pela vontade e controle do

homem, como o primeiro, e nem a nova vida

espiritual gerada pode ser mantida por processos

Page 215: Crucificar o ego para viver

215

naturais, senão somente pelas operações

sobrenaturais do Espírito Santo.

No contexto desta passagem de João 3.6 nós

encontramos o diálogo de Jesus com Nicodemos, no

qual ele destacou a necessidade de um novo

nascimento do alto, do Espírito Santo, para que

possamos ver o reino de Deus. Assim ele apontou

que permanecemos alijados da vida espiritual de

Deus, que é espírito, enquanto não nascemos de

novo do Espírito Santo.

Nosso Senhor também ensinou no contexto desta

passagem que este novo nascimento somente pode

ser obtido pela fé nele.

Daí se dizer nas Escrituras que se alguém está em

Cristo é uma nova criatura, ou novo homem, o que

é designado pelo Senhor no texto de João 3.6

simplesmente pela palavra espírito.

Esta nova criatura gerada pelo Espírito Santo não é

algo de outra substância que é acrescentada ao

Page 216: Crucificar o ego para viver

216

espírito da pessoa que nasceu de novo na conversão

a Cristo.

Fala-se na Escritura de algo que é colocado, como

uma nova disposição, como vemos em Col 4.10.

Embora seja algo distinto do espírito do homem; no

entanto, é uma coisa mais intimamente inerente a

ele, e que é mais estreitamente unida a ele, e que

nos renova, Ef 4.23; Sl 51.10. E este trabalho de

renovação é feito no homem interior, ou seja, no

mais profundo do nosso ser, em nossas disposições

interiores que nos definem como a pessoa que

realmente deveríamos ser, conforme projetado por

Deus, e não no homem exterior, que se corrompe

com o avançar do tempo, ou mesmo em

manifestações superficiais de nossas faculdades

que se revelam em conversações e ações vazias e

infrutíferas relativamente aos desígnios de Deus.

É impossível para a mente comum conceber que

haja uma outra dimensão de vida (a espiritual que

nos vem do alto) além desta já tão complexa vida

Page 217: Crucificar o ego para viver

217

natural com todo o seu aparato de possibilidades de

desenvolvimento de habilidades e conhecimentos,

conforme foi programado por Deus, e daí não serem

poucos os que negligenciam esta necessidade vital

de um novo nascimento do espírito, por não crerem

que seja de fato necessário ou mesmo possível, uma

vez que a própria vida natural é assim tão cheia de

mistérios que o homem vem desvendando ao longo

das eras.

Mas como Deus não projetou o que é natural para a

eternidade, senão somente o que é espiritual, e que

possua o mesmo caráter da divindade, em seus

atributos e virtudes espirituais, então, torna-se

crucial atingir este propósito eterno, uma vez que

tudo o que é natural se desfaz pelo uso e com o

tempo.

A vida natural por mais plena e pura que fosse,

ainda assim, não poderia adentrar a eternidade,

porque isto é concedido somente ao que é

espiritual. Espiritual, não simplesmente por

Page 218: Crucificar o ego para viver

218

possuirmos um espírito, porque disto todas as

pessoas são dotadas, mas espiritual no sentido de

possuir a vida que é produzida pelo Espírito Santo

naqueles que têm a Cristo.

Deve ser levado em conta, sobretudo, que Deus não

pode habitar senão naqueles que são assim

nascidos de novo do Espírito Santo, porque é nestes

que há o consentimento voluntário do trabalho que

Ele operará da transformação deles à sua própria

imagem e semelhança. Daí o apóstolo chamar a isto

de coparticipação da natureza divina, 2 Pe 1.4,

indicando que esta harmoniosa cooperação da

vontade do homem, submetendo-se à vontade de

Deus, uma vez que nele agora habita esta nova

disposição espiritual que é nele produzida pela

habitação do Espírito Santo.

Há necessidade desta justa cooperação porque na

criatura natural tudo está disposto para crescer

espontaneamente sem a influência direta do

exercício da nossa vontade para o seu

Page 219: Crucificar o ego para viver

219

funcionamento e crescimento. Mas tal já não

sucede em relação à nova criatura onde tudo exige

esforço, diligência, escolha, segundo o querer e o

efetuar de Deus. Ou seja, a nova criação espiritual

demanda um contínuo andar no Espírito Santo e

obediência às ordenanças de Deus constantes de

Sua Palavra. Sem isto não há crescimento e nem a

manutenção das graças recebidas por meio da fé em

Cristo.

A criatura natural pode viver sem Deus no mundo.

Mas a nova criatura não somente existe sem Deus,

como também não pode subsistir afastada dele.

Daí o apóstolo ter afirmado: “já não vivo eu, mas

Cristo vive em mim” Gál 2.20.

A nova criatura garante a permanente presença

diante de Deus, porque é nascida do Espírito, e

assim, não pode morrer, e nunca deixará de viver

aquela vida sobrenatural e superior que se encontra

em Jesus Cristo.

Page 220: Crucificar o ego para viver

220

Esta nova vida foi gerada da semente incorruptível,

que não comete pecado, e que foi colocada por

Deus na alma de todo o que crê em Jesus, 1 João 3.6.

É pela germinação e crescimento progressivo desta

semente que o pecado será mortificado mais e mais

para que possamos produzir os frutos espirituais de

justiça esperados por Deus, Rom 8.6-14.

Page 221: Crucificar o ego para viver

221

Curando a Doença e Não Aliviando Somente os Sintomas

Quando a Bíblia fala sobre o pecado, apesar de

definir muitos comportamentos como

pecaminosos, o sentido em aplicação nunca é o de

simplesmente afirmar algo do tipo: “isto é pecado,

aquilo não é pecado, você pecou nisto, você não

pecou naquilo”, ou seja, não estamos diante de um

aferidor ou classificador de nossos pensamentos,

palavras e ações, mas de uma afirmação da nossa

condição interior que está disposta naturalmente

para se afastar de Deus e de tudo o que se refira à

sua vontade.

A Bíblia atesta que o nosso caso, a saber, de toda a

humanidade, é desesperador.

E foi em razão disto que Deus nos preparou o

Salvador desta nossa condição ruim e que está

sujeita à condenação pela perfeita justiça celestial.

Page 222: Crucificar o ego para viver

222

Ainda que não aceitemos o veredicto relativo à

nossa situação, ele é e continuará sendo dado pelo

testemunho da Palavra de Deus, que nos aponta a

necessidade do arrependimento e da fé em Cristo,

para que sejamos resgatados da referida situação.

O alvo em vista é de restauração total e não de

remendar este ou aquele procedimento que

necessite de uma reforma da nossa parte.

É a recuperação do homem total para ser

conformado eficazmente à imagem e semelhança

de Deus, pela resposta adequada de todo o seu

querer, pensar e agir, às demandas da santidade de

Deus, que está em foco.

Este objetivo, conforme definido pela Bíblia, não é

algo que possa ser cumprido pelo nosso próprio

poder natural. Necessitamos da graça sobrenatural

de Jesus para efetuar em nós tanto o querer quando

o realizar. Onde a graça não estiver operando nada

poderá ser feito para o atingimento do objetivo

proposto.

Page 223: Crucificar o ego para viver

223

E como a graça não pode reinar onde o pecado

estiver reinando, devemos nos submeter

inteiramente ao trabalho de mortificação da raiz do

pecado, pelo poder do Espírito Santo atuando em

nós.

E enquanto neste mundo, o trabalho desta

mortificação deve ser renovado e continuado,

porque o pecado lança novas raízes, e estas devem

ser sempre desarraigadas pelo Espírito.

E ai de nós, enquanto não adquirirmos o hábito da

santificação, pelo qual até o nosso próprio desejo é

conduzido pelo Espírito, de modo a achar prazer em

sua santificação sendo operada em nós.

Dizemos ai de nós, porque enquanto não formos

confirmados em toda boa obra e boa palavra pelo

Pai e pelo Filho, 2 Tes 2.16,17, estaremos sujeitos a

muitas dúvidas, apostasias, e a um viver

inconstante e carnal.

Portanto, quando se fala em pecado, quer na Bíblia,

quer na pregação, quer no ensino do evangelho, não

Page 224: Crucificar o ego para viver

224

devemos ter uma atitude dogmática do tipo que nos

leve a ficar satisfeitos caso não tenhamos praticado

determinadas coisas que Deus condena, porque é

possível fazer isto, e ainda assim o nosso coração

poderá ser achado afastado dele e não ter qualquer

interesse numa verdadeira comunhão espiritual, e

numa purificação real do nosso coração, que nos

leve a viver de fato de modo agradável a Deus.

É somente assim que podemos achar paz e descanso

para as nossas almas, e ter uma boa consciência

para com Deus e para com todos os homens.

Satanás usa a palavra pecado sempre com a

intenção de nos condenar e fazer com que sintamos

que a vida cristã é um fardo impossível de ser

carregado e insuportável, mas quão isto está

distante da verdade, pois podemos ter toda a

convicção na nossa própria experiência, do quanto

é feliz todo aquele que se consagra inteiramente a

Jesus.

Page 225: Crucificar o ego para viver

225

Devemos sempre lembrar que há situações e

comportamentos que não podem ser relacionados

numa lista dogmática quanto a serem ou não

pecaminosos, e por isso necessitamos em todo o

tempo da ação do Espírito Santo para nos instruir e

dirigir quanto a tudo o que nos convém ou não

praticar ou falar, e até mesmo desejar.

Por isso se afirma na Palavra que andando no

Espírito jamais satisfaremos os desejos da carne,

Gál 5.16.

Page 226: Crucificar o ego para viver

226

Destruindo a Fábrica do Mal e Não Apenas os Seus Produtos

O domínio do pecado não é uma mera força contra

a vontade e os esforços dos que estão sob ele. Este

domínio consiste principalmente na conquista da

mente e de todas as suas faculdades, e

especialmente da vontade, por meio de fascínio e

tentações para os quais a natureza humana não está

capacitada a resistir e vencer. Tanto que, ainda que

alguém resista à prática consumada do pecado,

todavia, o desejo permanece no interior do coração.

Esta vitória é alcançada somente pela nova

natureza recebida na conversão a Cristo, pela qual

somos feitos coparticipantes da natureza divina. É o

novo homem criado segundo a justiça em Cristo

Jesus que está habilitado a vencer o pecado, por

meio da graça. O velho homem nada pode fazer

porque se encontra morto espiritualmente, em

delitos e pecados.

Page 227: Crucificar o ego para viver

227

Por isso, ao se referir à nossa escravidão ao pecado,

nosso Senhor afirmou que somente ele pode nos

livrar desta servidão, uma vez que não há poder na

nossa própria natureza para tal propósito.

Não se vence portanto o pecado, por ações

violentas de nossa própria vontade contra ele, nem

com meras deliberações de que faremos uma

reforma de nossas vidas, mas nos sujeitando

efetivamente ao poder de Deus, que nos purifica de

todo o pecado, com base no sangue que Jesus

derramou para a sua expiação.

Aquele portanto, que pode distinguir entre o que

seja a natureza do pecado em si, e as meras

impressões do pecado sobre a nossa mente e

vontade, está a caminho da paz, porque

certamente, sairá mais do que vencedor desta

guerra contra o pecado, por meio de um viver

santificado pela graça e aplicação da Palavra de

Deus ao seu coração, pelo Espírito Santo.

Page 228: Crucificar o ego para viver

Mais do que evitar determinados pecados, deve-se

combater o mal pela raiz, pela subjugação do

princípio do pecado que opera na carne, por meio

de um andar no Espírito Santo, e na novidade de

vida da nova criatura que fomos feitos em Jesus.

Vê-se com isto quão importante é a prática da

oração, da meditação na Palavra, da vigilância do

coração, e de todos os demais exercícios espirituais

que nos são ordenados por Deus para que

tenhamos um viver

vitorioso sobre todas as forças do mal, quer

externas, quer internas.