cooperadores missionários dehonianos 2014

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Publicação Trimestral . Número 196 . Março - Abril - Maio | 2014

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Publicação Trimestral . Número 196 . Março - Abril - Maio | 2014

COOPERADORESMISSIONÁRIOS DEHONIANOS

JESUS RESSUSCITOUA VIDA VENCEU A MORTE

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Celebramos, nestes dias, o acontecimento central da nossa fé: a Ressurreição de Jesus. A morte, a injustiça, a violência não derrotaram Deus! Jesus está vivo e caminha connosco! A liturgia do tempo pascal vai convidar-nos a revisitar aquele episódio, narrado por Lucas, em que Cristo ressuscitado se fez companheiro de caminho de dois homens, que regressavam a casa desanimados depois de verem desfeitos seus sonhos (cf. Lc 24,13-35)... Diz-nos o rela-to que Jesus se pôs a caminhar ao lado deles, curou-lhes as feridas, encheu-lhes de novo o coração de esperança… E foi quando se senta-ram à mesa e receberam de Jesus um pedaço de pão que eles reconheceram a presença de Jesus vivo no meio deles e voltaram para trás, a fim de retomar esse projecto que tinham abandonado.

ele está vivo e caminha

Palavra do SuperiorEle está vivo e caminha connosco

SUMÁRIO

Director Pe. Joaquim Garrido Mendes, scj

Design gráfico Pedro de Sousa, scj

Sede, Propriedade e Administração SEMINÁRIO MISSIONÁRIO PADRE DEHON Rua Padre Dehon, 101 Apartado 524 - Soutelo 4439-907 RIO TINTO Telef. 224 890 059 • Fax 224 808 671

Execução gráfica Clássica - Artes Gráficas, S.A. Tel. 22 489 9902

Isenta de registo na ERC ao abrigo do decreto regulamentar 8/99 de 9/6, artigo 12º, nº 1 a

Jesus Ressuscitou! A vida venceu a morte.

Fez-Se pobre para nos enriquecer na sua pobrezaMensagem do Papa Francisco para a Quaresma

A Nossa VidaFestival Primavera; 25º Encontro de Antigos Alunos;

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Nós também somos, em tantos momentos, agarrados pelo desalento, pelo desânimo, pelo medo… E arrastamo-nos assim pelos caminhos da vida… Mas como há dois mil anos no cami-nho de Emaús, Jesus ressuscitado aparecerá discretamente e pôr-se-á a caminhar ao nosso lado… Interessar-se-á por nós, quererá saber o motivo da tristeza que nos ensombra o olhar e faz vacilar os nossos passos… E fará caminho connosco, revelar-nos-á o amor do Pai, ajudar-nos-á a encontrar o sentido dessas coisas, tan-tas vezes assustadoras, que a vida nos traz… Dar-nos-á forças, ajudar-nos-á a reencontrar a esperança… Talvez até nos dê um abraço, tal-vez ria connosco, pois Deus gosta de ver-nos rir; e, com toda a certeza, encherá o nosso coração de paz… E depois, Jesus convidar-nos-á a sentarmo-nos com Ele connosco à mesa… Dará graças, partirá

o pão e oferecê-lo-á, dizendo: “Toma e come, is-to sou eu… É a minha vida que eu te deixo para que tu a acolhas no coração e faças os mesmos gestos de amor, de partilha, de doação que eu fiz, a fim de levar Vida e salvação a todos os ho-mens”. E, depois de nos sentarmos à mesa com Jesus, diremos com um sorriso rasgado e com o coração em festa: “Sim, Jesus está vivo… Eu en-contrei-o no caminho… Sentei-me à mesa com Ele e Ele deu-me o seu pão… Ele acompanha-me a cada passo… Ele vai comigo…” E sairemos pelos caminhos a dar testemunho dele, desejando que muitos homens e mulheres possam experimentar, também, a sua presença e o seu amor…

ele está vivo e caminhaconnosco

Pe. Joaquim Manuel Garrido MendesSuperior da Comunidade

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Jesus ressuscitou a vida venceu a morte

1. A paixão e morte de Jesus

O que sabemos sobre a Paixão e morte de Jesus provém dos “Evangelhos” (cf. Mt 26,36-27,66; Mc 14,32-15,47; Lc 22,39-23,56; Jo 18,1-19,42). Estes textos não se escreveram para servir de documentação histórica sobre o processo de Jesus, mas são, antes de mais, tex-tos religiosos destinados a alimentar a fé dos crentes. Apesar de tudo, é possível utilizar os relatos evangélicos da Paixão para entender e situar historicamente a morte de Jesus.

O choque com a mentalidade dominanteO anúncio do Reino feito por Jesus conheceu, no início, um sucesso espectacular. As mul-tidões seguiam-no porque as suas palavras transmitiam esperança e vinham ao encontro das aspirações das pessoas: através das pala-vras e dos gestos de Jesus, os pobres, os pe-quenos, os marginalizados sentiam que Deus não os excluía nem rejeitava e que – ao contrá-rio do que diziam os “chefes” do Povo – todos tinham lugar à mesa do banquete do “Reino”. Além disso, os gestos de perdão e de miseri-córdia que Jesus fazia, a sua atenção aos excluí-dos, a sua afirmação de que a pessoa humana é o valor supremo, impressionavam toda a gen-te. Alguns interrogavam-se se Jesus não seria o Messias esperado; outros consideravam-no um grande profeta (cf. Mt 16,14). Numa tarde de maior sucesso, chegaram mesmo a querer aclamá-lo rei (cf. Jo 6,15). As autoridades começaram a inquietar-se com o entusiasmo criado à volta de Jesus. Os sadu-ceus (a aristocracia sacerdotal, os verdadeiros detentores do poder económico e religioso) viam em Jesus um perigoso agitador, que ameaçava a ordem estabelecida e os privilégios de classe desse grupo rico e bem instalado…

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Jesus ressuscitou a vida venceu a morte

Os fariseus, por seu lado, viam em Jesus um herege, que punha em causa a autoridade ab-soluta da “Lei” e o edifício religioso de Israel… As correcções à “Lei” (cf. Mt 15,10-20) feitas por Jesus e a sua denúncia de um legalismo anti-humano (cf. Mc 2,23-28; 3,1-6), eram uma revolução que ameaçava os fundamentos da catequese feita pelos fariseus; gestos como o da purificação do Templo (cf. Mc 11,15-19; cf. Jo 2,13-22) confirmavam que Jesus era um contestatário, que não estava disposto a pac-tuar com o sistema religioso estabelecido; e frases como “em verdade, em verdade vos digo que os publicanos e as prostitutas precedem-vos no Reino dos céus” (Mt 21,31), constituíam uma provocação inaudita aos que se conside-ravam os verdadeiros detentores da revelação de Deus.Não espanta, portanto, que as autoridades tivessem, desde muito cedo, decidido elimi-nar o profeta incómodo. Marcos diz-nos que, quando Jesus andava pela Galileia, os fariseus e partidários de Herodes já conspiravam para o matar (cf. Mc 3,6). Não há dúvida: desde o início do seu ministério Jesus teve inimigos entre os representantes do poder político, económico e religioso. O projecto do “Reino” era um projecto

que punha em causa a ordem estabelecida e que, na perspectiva das autoridades judaicas, tinha de ser travado.

Jesus anuncia a sua morte e ressurreiçãoJesus tinha consciência disto. Ele sabia que o projecto do Reino incomodava os interesses dos poderosos e dos grupos instalados. Aliás, por diversas vezes Ele falou da sua morte pró-xima. Esses “anúncios” (cf. Mc 8,31; 9,31; 10,33-34) mostram que Ele tinha consciência de que poderia tornar-se um mártir do Reino. Muitos outros textos dão testemunho desta consciência que Jesus tinha dos riscos ineren-tes ao anúncio do Reino. Ele mesmo dizia aos discípulos que era o esposo que um dia lhes seria arrebatado (cf. Mc 2,19-20); que tinha de receber um baptismo e que se sentia angustia-do até que esse baptismo se realizasse (cf. Lc 13,33)… Uma vez disse a uma mulher que o ungiu com perfume que ela o estava a ungir para a sepultura (cf. Mc 14,8). Uma das suas parábolas apresentava-o como o filho do pro-prietário, morto pelos trabalhadores da vinha (cf. Mc 12,8). Não há dúvida: Jesus tinha uma consciência nítida de que o anúncio do “Reino”, chocando com a mentalidade dominante, havia de con-duzi-lo à morte. No entanto, nunca abandonou o plano do Pai para os homens e nunca desistiu de propor o projecto do Reino. A morte era, para Jesus, o preço natural a pagar pela des-truição das cadeias que oprimiam os homens.

A prisão de JesusJesus foi preso no monte das Oliveiras (situado no lado oriental da corrente do Cédron, em frente à cidade de Jerusalém), numa proprie-

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dade conhecida pelo nome de “Getsémani” (cf. Mc 14,32-52). Era uma noite de Quinta-feira do mês de Nisan, já muito perto da festa da Páscoa. Jesus tinha ido para o Getsémani depois de ter estado numa ceia de despedida (numa casa situada dentro das muralhas de Jerusalém) com os seus amigos. É natural que Jesus e os discípulos ti-vessem planeado passar a noite numas grutas aí existentes, refúgio habitual dos peregrinos que vinham a Jerusalém.O grupo de soldados que invadiu o Getsémani e procedeu à detenção de Jesus, foi enviado pelo sumo-sacerdote Caifás. À frente desse grupo vinha Judas, um dos discípulos, que ajudou os soldados a identificar Jesus.Porque é que Judas se prestou a este papel? Por causa da soma de trinta moedas de prata que, segundo Mateus (cf. Mt 26,14-16), foi o “paga-mento” pela sua traição? Provavelmente, não… Judas amava Jesus, como todos os outros dis-cípulos… Contudo, não estava satisfeito com a forma como o Mestre conduzia o processo de instauração do Reino. Judas estaria convencido de que só a acção violenta resultaria; mas Jesus não aceitava esse caminho… Assim, Judas ten-tou “forçar” Jesus a agir: entregando-o aos ini-migos, obrigava-o a tomar posição. No entanto, Jesus não reagiu no sentido que Judas esperava e deixou-se prender. Judas, em desespero, suici-dou-se (cf. Mt 27,3-10).

O processoDepois de ter sido preso, Jesus foi conduzido a casa do sumo-sacerdote Caifás. Aí, houve uma primeira sessão em que participaram diversos membros do Sinédrio (o grupo dos 71 “notá-veis” que, juntamente com o sumo-sacerdote,

decidiam sobre as questões religiosas e sociais mais importantes). Jesus foi acusado, no decur-so dessa sessão, de se ter manifestado contra o Templo (cf. Mc 14,58) e de se ter apresentado como “o Messias, Filho do Deus bendito” (Mc 14,61). É de crer que, durante o interrogatório, Jesus tenha deixado transparecer a sua cons-ciência de ser Filho de Deus e de estar ligado ao advento do “Reino de Deus”. A decisão do Sinédrio não deixava dúvidas: Jesus era “réu de morte”. Da casa de Caifás, Jesus foi levado ao palácio onde estava Pôncio Pilatos, o “Prefeito” romano que governou a Judeia entre os anos 26 e 36. Pôncio Pilatos era, segundo testemunhos da época, um homem pouco escrupuloso e cruel, com pouco tacto político… Os relatos evangé-licos, no entanto, procuram dar a entender que ele se apercebeu da inocência de Jesus e quis salvá-lo. Nesse sentido, recordou aos judeus o costume de libertar um preso por altura da celebração da Páscoa (cf. Mc 15,6-11) e tentou comover a multidão, apresentando Jesus flage-lado (cf. Lc 23,16). Nada disso resultou, pois as autoridades judaicas exigiram a morte de Jesus. Pilatos – cuja preocupação fundamental seria evitar um motim, durante a festa da Páscoa – acabou, então, por confirmar a decisão do Sinédrio que condenava Jesus ao terrível suplí-cio da crucifixão. Depois de condenado à morte, Jesus foi flagela-do pelos soldados: a flagelação fazia, aliás, parte do ritual da crucifixão. Jesus foi chicoteado e espancado pelos soldados no pretório da casa de Pilatos e ficou bastante maltratado.

A crucifixãoA crucifixão era uma morte terrível, de uma

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crueldade extrema, pensada para aterrorizar as populações. Era sempre um acto público; as vítimas eram pregadas na cruz num lugar visível, totalmente despidas… A agonia dos condenados podia durar muitas horas e mes-mo dias (pois, com o acto de crucificar, não se danificavam órgãos vitais). Antes de morrer, os condenados eram, muitas vezes, expostos à fúria da populaça, humilhados e submetidos a tormentos diversos. Em Jerusalém, o lugar das execuções era uma pequena colina não longe das muralhas, conhe-cida por “Gólgota” ou “lugar do Crânio”. Foi para aí que, a partir do palácio de Pilatos, encami-nharam Jesus. O condenado, como era habitual, só levava o braço transversal da cruz: tratava-se de uma viga que depois seria, no local da cru-cifixão, pendurada num poste fixo, levantado nesse lugar.A indicação de que, no caminho, foi recruta-do um homem para levar a cruz de Jesus (Mc 15,21), não tem nada de improvável: Jesus es-tava debilitado pela flagelação, e os soldados temiam que Ele não chegasse vivo ao local da

crucifixão. Como todos os condenados, Jesus levava pen-durado ao pescoço um letreiro que indicava o motivo da condenação (Mc 15,26). Esse letreiro dizia: “Rei dos judeus”. Para as autoridades, o le-treiro constituía um aviso: quem sonhasse com a revolta contra Roma seria tratado da mesma forma que esse condenado. Quando Jesus chegou ao lugar do Gólgota, deram-lhe vinho misturado com mirra (cf. Mc 15,23). Era um costume judaico, que se destina-va a anestesiar um pouco as dores do condena-do. A repartição das vestes do condenado entre os soldados, referida pelos evangelistas (cf. Mc 15,24; Mt 27,35; Lc 23,34; Jo 19,23-24), era habi-tual. Com Jesus foram crucificados outros dois condenados.Depois de ser pregado na cruz, Jesus não sobre-viveu muito tempo. A tradição (Mc 14,34) diz-nos que, na cruz, Jesus rezou ao Pai, utilizando as palavras do Salmo 22: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” (Sal 22,1). Essa ora-ção expressa, por um lado, a sua solidão e aban-dono e, por outro, a sua confiança inabalável

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em Deus. Jesus morreu por volta das três horas da tarde, com um forte grito que deixou uma imagem indelével na consciência daqueles que o escutaram.Os discípulos com quem Ele tinha partilhado o projecto do Reino, não estavam presentes: o medo tinha-os feito desaparecer. Quem estava junto da cruz eram algumas corajosas mulheres que o haviam seguido desde a Galileia (cf. Mc 15,40).Segundo Marcos, foi um membro do Sinédrio “que também esperava o Reino de Deus”, que ti-rou o corpo de Jesus da cruz e lhe deu sepultura (Mc 15,43-46). A morte de Jesus aconteceu numa Sexta-feira, provavelmente o dia 7 de Abril do ano 30.

O sentido da morte de JesusQue sentido teve a morte de Jesus? Tratou-se de uma exigência de Deus? Não. A morte de Jesus não foi uma imposição de um Deus que exige sangue para aplacar a sua cólera contra o homem pecador… A paixão e morte de Jesus foi uma consequência da sua opção pelo Reino e pelo anúncio do Reino. Desde cedo, Jesus soube que o Pai o chamava a anunciar a Boa Nova aos pobres, a sarar os co-rações feridos, a pôr em liberdade os oprimidos (cf. Lc 4,18-21). Então, para concretizar este pro-jecto, Jesus passou “fazendo o bem” e anuncian-do a proximidade de um mundo novo, de vida, de liberdade, de paz e de amor para todos. Com palavras e com gestos, ensinou que Deus era amor e que não excluía ninguém, nem mesmo os pecadores; ensinou que os leprosos, os pa-ralíticos, os cegos, não eram amaldiçoados por Deus e não podiam ser colocados à margem do mundo e da vida; ensinou que os pequenos e

os pobres não eram gente “descartável” e sem interesse, mas eram os filhos e as filhas preferi-dos de Deus; ensinou que o dinheiro e o poder não podiam tornar-se “deuses” pelos quais vale a pena o homem sacrificar todos os outros valo-res; ensinou que o bem do ser humano é o valor mais importante de todos, mais importante até do que as mais sagradas leis religiosas; ensinou que ninguém tem o direito de excluir ou escra-vizar um homem, muito menos em nome de Deus; ensinou que só os que aceitam pôr em causa o seu egoísmo e converter-se é que são dignos de ser “filhos de Deus”…Como era inevitável, a proposta de Jesus en-trou em choque com a atmosfera de egoísmo, de má vontade, de opressão que dominava a Palestina… As autoridades políticas e religiosas sentiram-se incomodadas com o anúncio de Jesus: não estavam dispostas a renunciar a es-ses mecanismos que lhes asseguravam poder, influência, domínio, privilégios… Além disso, esses ricos e poderosos instalados nas suas certezas e seguranças não estavam dispostos a aceitar a conversão pedida por Jesus. Ao propor uma nova forma de encarar a vida e de construir o mundo, Jesus veio incomodar os poderosos e os instalados.A morte de Jesus é a consequência lógica de tudo isto. Ela entende-se perfeitamente a partir da vida de Jesus, da sua fidelidade à missão que o Pai lhe confiou: propor aos homens um mun-do novo, o “Reino de Deus”.Se podemos dizer que a morte de Jesus só se entende no contexto da sua vida, também po-demos dizer que a morte de Jesus é o culminar da sua vida: é a afirmação mais radical daquilo que Jesus pregou e propôs: o amor que se dá até às últimas consequências. Na cruz, naquele

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Homem que se deixa matar para nos propor um mundo novo, vemos aparecer esse Homem Novo, que ama os outros com radicalidade, que oferece a sua vida em favor de todos, que não tem medo de lutar até às últimas conse-quências contra todas as causas objectivas que trazem aos seres humanos medo, exploração, opressão, injustiça, sofrimento. A cruz, enquan-to expressão radical do amor de Jesus por todos os homens e mulheres, é o símbolo dessa Vida nova de comunhão e de fraternidade que Jesus veio propor. Na cruz, nasce um Homem Novo: o homem que ama sem medida e que não tem medo de se dar a si próprio para eliminar aquilo que rouba a vida e a felicidade e que, em última análise, é o pecado. Jesus, na cruz, propôs-nos esse Homem.

2. A Ressurreição de Jesus

A morte venceu Jesus? A vida daquele profeta incómodo terminou naquele túmulo onde foi colocado apressadamente numa tarde de sex-ta-feira do mês de Nisan?De forma diferente, mas coincidente, os Quatro Evangelhos afirmam que o túmulo onde Jesus foi colocado foi encontrado vazio na manhã do primeiro dia da semana. Lucas apresenta um grupo de mulheres a ir nes-se dia ao sepulcro de Jesus, para ungir o corpo com aromas e perfumes; no entanto, encontram o túmulo vazio e recebem de “dois homens com trajes resplandecentes” a notícia de que Jesus ressuscitou (cf. Lc 24,1-12). Marcos e Mateus, por seu lado, falam de um grupo de mulheres que, antes de entrar no túmulo, reparam que a pedra da porta do sepulcro foi removida. Um

anjo com aspecto “de um relâmpago” e “uma túnica branca como a neve” (Mateus), ou um jo-vem vestido com uma túnica branca (Marcos), anunciam que Jesus ressuscitou e convidam as mulheres a comprovar que o seu corpo não es-tá ali (Mc 16,1-8; Mt 28,1-7). Que pensar destes relatos? Há um elemento que aponta no sentido da sua autenticidade: todos eles afirmam que foi um grupo de mulheres a encontrar o túmulo vazio e a dar testemunho desse facto… Se isto não fosse verdade, porque é que alguém se lembra-ria de invocar o testemunho de algumas mulhe-res, uma vez que, no ordenamento jurídico da época, o testemunho das mulheres não tinha qualquer valor legal? Por outro lado, se o túmu-lo vazio não fosse uma realidade, a mensagem pascal não teria sido, pelo menos em Jerusalém, imediatamente desmascarada? Há, no entanto, quem observe que o facto de o túmulo ter aparecido vazio não é decisivo: o corpo poderia ter sido roubado, transladado para outro lugar ou, até, reanimado (no caso de a morte de Jesus não ter sido real, mas apenas aparente); também há quem fale no “túmulo errado”: como Jesus foi sepultado à pressa, as mulheres não teriam fixado bem o autêntico tú-mulo de Jesus e procuraram o corpo no túmulo errado…Estas objecções não podem ser descartadas sem mais. Aliás, a própria catequese primitiva considerou-as… É por isso que Mateus refe-re um elemento que, historicamente, parece pouco provável, mas que se insere na polémica com os judeus a propósito do anúncio cristão da Ressurreição de Jesus: as autoridades colo-caram guardas ao túmulo de Jesus para que os discípulos não o roubassem e não dissessem,

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anjo com aspecto “de um relâmpago” e “uma túnica branca como a neve” (Mateus), ou um jo-vem vestido com uma túnica branca (Marcos), anunciam que Jesus ressuscitou e convidam as mulheres a comprovar que o seu corpo não es-tá ali (Mc 16,1-8; Mt 28,1-7). Que pensar destes relatos? Há um elemento que aponta no sentido da sua autenticidade: todos eles afirmam que foi um grupo de mulheres a encontrar o túmulo vazio e a dar testemunho desse facto… Se isto não fosse verdade, porque é que alguém se lembra-ria de invocar o testemunho de algumas mulhe-res, uma vez que, no ordenamento jurídico da época, o testemunho das mulheres não tinha qualquer valor legal? Por outro lado, se o túmu-lo vazio não fosse uma realidade, a mensagem pascal não teria sido, pelo menos em Jerusalém, imediatamente desmascarada? Há, no entanto, quem observe que o facto de o túmulo ter aparecido vazio não é decisivo: o corpo poderia ter sido roubado, transladado para outro lugar ou, até, reanimado (no caso de a morte de Jesus não ter sido real, mas apenas aparente); também há quem fale no “túmulo errado”: como Jesus foi sepultado à pressa, as mulheres não teriam fixado bem o autêntico tú-mulo de Jesus e procuraram o corpo no túmulo errado…Estas objecções não podem ser descartadas sem mais. Aliás, a própria catequese primitiva considerou-as… É por isso que Mateus refe-re um elemento que, historicamente, parece pouco provável, mas que se insere na polémica com os judeus a propósito do anúncio cristão da Ressurreição de Jesus: as autoridades colo-caram guardas ao túmulo de Jesus para que os discípulos não o roubassem e não dissessem,

depois, que Jesus teria ressuscitado (cf. Mt 27,62-66). Os próprios discípulos de Emaús (cf. Lc 24,22-24) recusam acreditar que o sepulcro vazio signifique que Jesus ressuscitou.O sepulcro vazio parece ser um facto; mas, por si só, não pode constituir uma prova da ressurrei-ção de Jesus. “Os discípulos não apelam nunca à descoberta do sepulcro vazio para robustecer a fé da Igreja ou para refutar e convencer os adversários. A fé no ressuscitado é, pois, inde-pendente do sepulcro vazio. Tal sepulcro não determina o acontecimento pascal; na melhor das hipóteses, ilumina-o. O sepulcro vazio não é um artigo de fé: não é fundamento nem ob-jecto da fé pascal. Segundo a mensagem neo-testamentária, não é preciso acreditar através do sepulcro vazio e, muito menos, no sepulcro vazio. A fé cristã não convoca o sepulcro vazio, mas o encontro com o Cristo vivo: «Porque buscais entre os mortos aquele que está vivo?»” (Lc 24,5) (Hans Küng, Ser Cristiano, Ediciones Cristiandad, Madrid 1977, 463-464). O túmulo vazio nada prova, nada explica. Remete para o Mistério. Se houvesse apenas o túmulo vazio, jamais teria havido fé pascal. Há fé pascal porque houve aparições. Mas, se o tú-mulo não tivesse ficado vazio, as aparições não teriam sido críveis.

As aparições do ressuscitadoOs relatos sobre as aparições do Ressuscitado estão por todo o lado, nos textos neo-testa-mentários. Contudo, uma análise minuciosa dos textos mostra discrepâncias e contradições, de autor para autor, quer quanto aos persona-gens implicados, quer quanto à localização dos factos, quer mesmo quanto à cronologia dos acontecimentos…

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Alguns dos relatos de aparição do Ressuscitado pertencem a um género que poderíamos cha-mar “aparições particulares”. São “aparições” a personagens particulares, normalmente a personagens secundários: as santas mulheres (cf. Mt 28,28,9-10), Maria Madalena (cf. Mc 16,9-11; Jo 20,11-18), os discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13-35; Mc 16-12-13). Trata-se, nesses casos, de relatos únicos, com a indicação do lugar (junto do túmulo, no jardim, no caminho para Emaús) e das palavras que foram ditas. Referem experiências singulares, de um tal personagem, com uma determinada mensagem.Outros relatos pertencem a um género que se poderia chamar “aparições aos Onze”. São rela-tos que nos colocam em circunstâncias muito diversas, de evangelista para evangelista… Mateus fala de uma aparição aos Onze, num monte da Galileia (cf. Mt 28,16-19); Marcos refere uma aparição aos Onze quando estes estavam à mesa, num local não referenciado (cf. Mc 16,14-18); Lucas fala de uma aparição no Cenáculo, em Jerusalém (cf. Lc 24,36-49); e João refere uma aparição no Cenáculo (cf. Jo 20,19-25), repetida uma semana depois, no mesmo lugar (cf. Jo 20,26-29), e de uma última aparição, na Galileia, enquanto os discípulos pescavam (cf. Jo 21,1-23). Paulo, por sua vez, evocando a Tradição rece-bida, fala de aparições “a Cefas e aos Doze”, a “mais de quinhentos irmãos, de uma só vez”, de uma aparição “a Tiago” e, a seguir, a todos os Apóstolos” (cf. 1 Cor 15,5-7). Alguns dos “casos” referidos por Paulo não aparecem nos relatos evangélicos.Que pensar desta diversidade e desta falta de harmonia? Seria intrigante e estranha, se não soubéssemos que o objectivo dos autores neo-

testamentários não é apresentar uma biogra-fia do Ressuscitado, mas sim uma catequese sobre a experiência pascal dos discípulos. Nas “aparições aos Onze”, em concreto, não temos uma reportagem “filmada” dos acontecimentos, mas sim uma esquematização do encontro do Senhor Ressuscitado com os seus Apóstolos, um encontro reiterado num tempo mais ou me-nos longo (da Ascensão ao Pentecostes) e num espaço físico alargado (da Galileia a Jerusalém). Nesse “encontro” alargado no tempo e no es-paço, vão sobressaindo diversos momentos: a dúvida dos discípulos, depois o reconheci-mento e a certeza da presença do Ressuscitado vivo e, por fim, a consciência da Missão. Não estamos, evidentemente, a falar de experiên-cias subjectivas ou de alucinações colectivas; estamos a falar de verdadeiros encontros entre Jesus e os seus, de fortes experiências da pre-sença do Ressuscitado, vivo e actuante na vida e no caminho dos discípulos. É essa experiên-cia, fundamental e fundamentada, verdadeira e palpável, que os relatos – cada um de uma forma muito própria – procuram transmitir-nos. Contudo, os relatos que chegaram até nós não são reportagens… O como, quando e onde é, neste contexto, secundário; o essencial é este facto fundamental: Jesus está vivo; Deus ressus-citou-O. “Ninguém duvida que Jesus apareceu aos Apóstolos, mas não sabemos como é que apareceu. As narrativas não têm por intenção descrever esse como, mas apenas a verdade da ressurreição de Jesus” (Carreira das Neves, Jesus Cristo, História e Mistério, Editorial Franciscana, Braga 2000, 240-241).

A ressurreição de Jesus: um facto histórico?A ressurreição de Jesus será um facto compro-

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vável com o método experimental da ciência histórica? Objectivamente, não. A Ressurreição de Jesus não foi um acontecimento que pudesse fotografar-se e documentar-se. Estamos diante de algo que é de outro âmbito, um âmbito que escapa à observação histórica e que se situa no âmbito da fé; estamos diante de uma obra de Deus que ultrapassa a história e que tem as dimensões de Deus. A ciência histórica não tem meios para comprovar algo que ultrapassa infinitamente o âmbito humano. A ressurreição não é um facto empiricamente verificável, co-mo foi a crucifixão e a morte de Cristo.No entanto, dizer que a ressurreição de Jesus não pode ser comprovada pela ciência históri-ca, não significa que ela não seja um aconteci-mento real. Alguns críticos consideraram que a ressurreição de Jesus, uma vez que não podia ser comprovada pela história, era apenas um produto da imaginação ou da idealização da comunidade crente; mas é um erro crasso con-siderar que é real apenas aquilo que pode ser objectivamente comprovado pela história.Os relatos de ressurreição, tal como nos chega-ram, têm valor histórico? É preciso ter em conta que esses relatos não são obra de informadores, mas sim de testemunhas da ressurreição. O in-formador é alguém que procura transmitir uma informação objectiva sobre um acontecimento; a testemunha, neste contexto, não é aquele que nos relata de forma objectiva e racional o que viu, mas é um crente, cujo testemunho não é neutro: está influenciado pela dimensão da fé.A ressurreição de Jesus, tal como nos é transmi-tido pelos textos que chegaram até nós, é um acontecimento interpretado, que não se pode atingir a não ser a partir da linguagem própria da fé pascal. É por isso que temos uma multipli-

cidade de relatos: trata-se de uma experiência de fé, que cada um “diz” na sua linguagem pró-pria.Há, no entanto, um facto que pode ser verifica-do historicamente: a espantosa transformação operada nos discípulos. De um grupo isolado, com medo, frustrado, desanimado vemos, de repente, nascer uma comunidade viva, decidi-da, animada, cheia de esperança e que parte pelo mundo a anunciar o projecto libertador de Jesus de Nazaré. É esta transformação que é preciso explicar; e a explicação torna-se mais fácil à luz dos relatos da ressurreição: foi o en-contro com Jesus vivo e ressuscitado que trans-formou os discípulos e os tornou testemunhas a partir de Jerusalém e até aos confins do mundo.

O sentido teológico da ressurreição de JesusQual o significado da Ressurreição de Jesus? O que é que este acontecimento nos sugere, a nós que dele tomámos conhecimento, pela fé?Antes de mais, a Ressurreição de Jesus Cristo, mostra-nos que Deus é a fonte e a plenitude da Vida. Deus não deixou o seu Filho no túmulo, mas ressuscitou-O… Porque Ele é o Deus que dá Vida e o seu projecto é dar Vida plena e de-finitiva a todos os seus filhos e filhas. Esse Deus da Vida manifesta, assim, a sua disposição de frustrar os projectos de morte que roubam a Vida dos homens. Ele tudo fará para que a Vida triunfe sempre sobre a morte. A Ressurreição de Jesus é, também, a sua pro-clamação solene como Filho de Deus, como Messias libertador, como Kyrios (“Senhor”) dos homens e do universo. Jesus é o Filho que o Pai investiu de uma missão e que veio ao nosso encontro para cumprir o mandato que o Pai lhe confiou. Ao dar Vida ao Filho, o Pai está a garan-

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tir a verdade de Jesus e a autenticidade do pro-jecto que Ele veio apresentar à humanidade; es-tá a garantir que o caminho proposto por Jesus é o caminho certo para chegar à Vida.A ressurreição de Jesus significa, também, a nossa libertação. Ao sair do túmulo na manhã de Páscoa, Ele mostrou que é possível derrotar definitivamente as forças da morte. Com a sua Ressurreição, Cristo mostrou que o fim último do homem não é o desaparecimento no nada, mas uma vida nova – a vida de Deus. A partir daqui, o homem pode enfrentar a vida sem medo, com alegria e com esperança, dando um sentido novo e pleno aos seus actos.A ressurreição de Jesus mostra, além disso, que faz sentido lutar pela verdade, pela justiça e pela paz, contra os mecanismos de opressão, de violência e de injustiça. Cristo fê-lo e Deus, ao glorificá-lo, deu-lhe razão… Sempre que alguém se esforça – à imagem de Jesus – por construir um mundo novo, pode estar seguro que está a colaborar com o projecto de Vida que Deus tem para o mundo e para os homens. A ressurreição de Jesus é, finalmente, uma ma-

nifestação do “Reino de Deus” na sua plenitude. É a amostragem desse mundo novo de homens novos que Jesus veio semear. Apresenta aquilo que os servidores do “Reino” podem esperar se continuarem a viver nessa dinâmica; anuncia um mundo onde todos – mesmo o pobre, o oprimido, o marginalizado, o injustiçado – terão vida em abundância.Para terminar, há algo que não podemos deixar de ter em conta: a ressurreição de Jesus não é um acontecimento do passado, que se torna pa-ra nós uma simples recordação, celebrada cada ano na Páscoa; mas é algo cuja força sentimos, que transforma a nossa vida e lhe dá sentido, que nos inspira na construção de um mundo de paz e de justiça, que nos transmite confiança e esperança. É, portanto, algo que está vivo, cujo dinamismo actua no nosso coração e que, atra-vés de nós, transforma o mundo.A partir da ressurreição de Jesus, estamos, todos os dias, a ressuscitar – nós, as coisas, o mundo. Porque este dinamismo de vida que Jesus vivo e ressuscitado nos transmitiu, continua a agir em nós e, através de nós, a transformar o mundo.

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fez-se pobre para nos enriquecer

com a sua pobreza

Queridos irmãos e irmãs!Por ocasião da Quaresma, ofereço-vos algu-mas reflexões com a esperança de que possam servir para o caminho pessoal e comunitário de conversão. Como motivo inspirador tomei a seguinte frase de São Paulo: «Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, Se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza» (2 Cor 8, 9). O Apóstolo escreve aos cristãos de Corinto enco-rajando-os a serem generosos na ajuda aos fiéis de Jerusalém que passam necessidade. A nós, cristãos de hoje, que nos dizem estas palavras de São Paulo? Que nos diz, hoje, a nós, o convite à pobreza, a uma vida pobre em sentido evan-gélico?

A graça de CristoTais palavras dizem-nos, antes de mais nada, qual é o estilo de Deus. Deus não Se revela atra-

Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2014

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vés dos meios do poder e da riqueza do mundo, mas com os da fragilidade e da pobreza: «sendo rico, fez-Se pobre por vós». Cristo, o Filho eterno de Deus, igual ao Pai em poder e glória, fez-Se pobre; desceu ao nosso meio, aproximou-Se de cada um de nós; despojou-Se, «esvaziou-Se», para Se tornar em tudo semelhante a nós (cf. Fil 2, 7; Heb 4, 15). A encarnação de Deus é um grande mistério. Mas, a razão de tudo isso é o amor divino: um amor que é graça, generosida-de, desejo de proximidade, não hesitando em doar-Se e sacrificar-Se pelas suas amadas cria-turas. A caridade, o amor é partilhar, em tudo, a sorte do amado. O amor torna semelhante, cria igualdade, abate os muros e as distâncias. Foi o que Deus fez connosco. Na realidade, Jesus «trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma von-tade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-Se verdadei-ramente um de nós, semelhante a nós em tudo, exceto no pecado» (CONC. ECUM. VAT. II, Const. past. Gaudium et spes, 22).A finalidade de Jesus se fazer pobre não foi a

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fez-se pobre para nos enriquecer

com a sua pobreza

pobreza em si mesma, mas – como diz São Paulo – «para vos enriquecer com a sua pobre-za». Não se trata dum jogo de palavras, duma frase sensacional. Pelo contrário, é uma síntese da lógica de Deus: a lógica do amor, a lógica da Encarnação e da Cruz. Deus não fez cair do alto a salvação sobre nós, como a esmola de quem dá parte do próprio supérfluo com pie-dade filantrópica. Não é assim o amor de Cristo! Quando Jesus desce às águas do Jordão e pede a João Batista para O batizar, não o faz porque tem necessidade de penitência, de conversão; mas fá-lo para Se colocar no meio do povo ne-cessitado de perdão, no meio de nós pecadores, e carregar sobre Si o peso dos nossos pecados. Este foi o caminho que Ele escolheu para nos consolar, salvar, libertar da nossa miséria. Faz impressão ouvir o Apóstolo dizer que fomos libertados, não por meio da riqueza de Cristo, mas por meio da sua pobreza. E todavia São Paulo conhece bem a «insondável riqueza de Cristo» (Ef 3, 8), «herdeiro de todas as coisas» (Heb 1, 2).Em que consiste então esta pobreza com a qual

Jesus nos liberta e torna ricos? É precisamente o seu modo de nos amar, o seu aproximar-Se de nós como fez o Bom Samaritano com o homem abandonado meio morto na berma da estrada (cf. Lc 10, 25-37). Aquilo que nos dá verdadeira liberdade, verdadeira salvação e verdadeira feli-cidade é o seu amor de compaixão, de ternura e de partilha. A pobreza de Cristo, que nos en-riquece, é Ele fazer-Se carne, tomar sobre Si as nossas fraquezas, os nossos pecados, comuni-cando-nos a misericórdia infinita de Deus. A po-breza de Cristo é a maior riqueza: Jesus é rico de confiança ilimitada em Deus Pai, confiando-Se a Ele em todo o momento, procurando sempre e apenas a sua vontade e a sua glória. É rico como o é uma criança que se sente amada e ama os

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mente designamos por pobreza e atinge todos aqueles que vivem numa condição indigna da pessoa humana: privados dos direitos funda-mentais e dos bens de primeira necessidade como o alimento, a água, as condições higiéni-cas, o trabalho, a possibilidade de progresso e de crescimento cultural. Perante esta miséria, a Igreja oferece o seu serviço, a sua diakonia, para ir ao encontro das necessidades e curar estas chagas que deturpam o rosto da humanidade. Nos pobres e nos últimos, vemos o rosto de Cristo; amando e ajudando os pobres, ama-mos e servimos Cristo. O nosso compromisso orienta-se também para fazer com que cessem no mundo as violações da dignidade humana, as discriminações e os abusos, que, em muitos casos, estão na origem da miséria. Quando o poder, o luxo e o dinheiro se tornam ídolos, acabam por se antepor à exigência duma dis-tribuição equitativa das riquezas. Portanto, é necessário que as consciências se convertam à justiça, à igualdade, à sobriedade e à partilha.Não menos preocupante é a miséria moral, que consiste em tornar-se escravo do vício e do pecado. Quantas famílias vivem na angústia, porque algum dos seus membros – frequen-temente jovem – se deixou subjugar pelo álcool, pela droga, pelo jogo, pela pornogra-fia! Quantas pessoas perderam o sentido da vida; sem perspetivas de futuro, perderam a esperança! E quantas pessoas se veem cons-trangidas a tal miséria por condições sociais injustas, por falta de trabalho que as priva da dignidade de poderem trazer o pão para casa, por falta de igualdade nos direitos à educação e à saúde. Nestes casos, a miséria moral pode-se justamente chamar um suicídio incipiente. Esta forma de miséria, que é causa também de

seus pais, não duvidando um momento sequer do seu amor e da sua ternura. A riqueza de Jesus é Ele ser o Filho: a sua relação única com o Pai é a prerrogativa soberana deste Messias pobre. Quando Jesus nos convida a tomar sobre nós o seu «jugo suave» (cf. Mt 11, 30), convida-nos a enriquecer-nos com esta sua «rica pobreza» e «pobre riqueza», a partilhar com Ele o seu Espírito filial e fraterno, a tornar-nos filhos no Filho, irmãos no Irmão Primogénito (cf. Rm 8, 29).Foi dito que a única verdadeira tristeza é não ser santos (Léon Bloy); poder-se-ia dizer também que só há uma verdadeira miséria: é não viver como filhos de Deus e irmãos de Cristo.

O nosso testemunhoPoderíamos pensar que este «caminho» da pobreza fora o de Jesus, mas não o nosso: nós, que viemos depois d’Ele, podemos salvar o mundo com meios humanos adequados. Isto não é verdade. Em cada época e lugar, Deus continua a salvar os homens e o mundo por meio da pobreza de Cristo, que se faz pobre nos Sacramentos, na Palavra e na sua Igreja, que é um povo de pobres. A riqueza de Deus não po-de passar através da nossa riqueza, mas sempre e apenas através da nossa pobreza, pessoal e comunitária, animada pelo Espírito de Cristo.À imitação do nosso Mestre, nós, cristãos, so-mos chamados a ver as misérias dos irmãos, a tocá-las, a ocupar-nos delas e a trabalhar concretamente para as aliviar. A miséria não coincide com a pobreza; a miséria é a pobreza sem confiança, sem solidariedade, sem espe-rança. Podemos distinguir três tipos de miséria: a miséria material, a miséria moral e a miséria espiritual. A miséria material é a que habitual-

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séria material, moral e espiritual, a mensagem evangélica, que se resume no anúncio do amor do Pai misericordioso, pronto a abraçar em Cristo toda a pessoa. E poderemos fazê-lo na medida em que estivermos configurados com Cristo, que Se fez pobre e nos enriqueceu com a sua pobreza. A Quaresma é um tempo propício para o despojamento; e far-nos-á bem questio-nar-nos acerca do que nos podemos privar a fim de ajudar e enriquecer a outros com a nossa pobreza. Não esqueçamos que a verdadeira pobreza dói: não seria válido um despojamento sem esta dimensão penitencial. Desconfio da esmola que não custa nem dói.Pedimos a graça do Espírito Santo que nos permita ser «tidos por pobres, nós que enri-quecemos a muitos; por nada tendo e, no en-tanto, tudo possuindo» (2 Cor 6, 10). Que Ele sustente estes nossos propósitos e reforce em nós a atenção e solicitude pela miséria humana, para nos tornarmos misericordiosos e agentes de misericórdia. Com estes votos, asseguro a minha oração para que cada crente e cada comunidade eclesial percorra frutuosamente o itinerário quaresmal, e peço-vos que rezeis por mim. Que o Senhor vos abençoe e Nossa Senhora vos guarde!

Vaticano, 26 de dezembro de 2013Festa de Santo Estêvão

ruína económica, anda sempre associada com a miséria espiritual, que nos atinge quando nos afastamos de Deus e recusamos o seu amor. Se julgamos não ter necessidade de Deus, que em Cristo nos dá a mão, porque nos consideramos auto-suficientes, vamos a caminho da falência. O único que verdadeiramente salva e liberta é Deus.O Evangelho é o verdadeiro antídoto contra a miséria espiritual: o cristão é chamado a levar a todo o ambiente o anúncio libertador de que existe o perdão do mal cometido, de que Deus é maior que o nosso pecado e nos ama gratuitamente e sempre, e de que estamos fei-tos para a comunhão e a vida eterna. O Senhor convida-nos a sermos jubilosos anunciadores desta mensagem de misericórdia e esperança. É bom experimentar a alegria de difundir esta boa nova, partilhar o tesouro que nos foi con-fiado para consolar os corações dilacerados e dar esperança a tantos irmãos e irmãs imersos na escuridão. Trata-se de seguir e imitar Jesus, que foi ao encontro dos pobres e dos pecadores como o pastor à procura da ovelha perdida, e fê-lo cheio de amor. Unidos a Ele, podemos co-rajosamente abrir novas vias de evangelização e promoção humana.Queridos irmãos e irmãs, possa este tempo de Quaresma encontrar a Igreja inteira pronta e so-lícita para testemunhar, a quantos vivem na mi-

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Festival Primavera

No passado domingo, dia 16 de Fevereiro, realizou-se, no Seminário Missionário Padre Dehon, o Festival Primavera. A grande novida-de, neste ano, foi a presença e a participação de um grupo de catequese da Paróquia de Carvalhosa (Paços de Ferreira).O dia começou com uma visita guiada ao Seminário, procurando mostrar aos nossos visi-tantes os diferentes espaços da nossa casa. De seguida, os catequisandos de Carvalhosa parti-ciparam numa palestra do Pe. Loureiro sobre o funcionamento do Seminário. Durante este en-contro, os seminaristas cantaram uma música, que descreve um pouco da vida no Seminário. Houve ainda um testemunho vocacional de um dos seminaristas.Antes do almoço partilhado, juntámo-nos to-

dos para a celebração da missa. Por volta das três horas da tarde, demos início ao grande festival. Os nossos artistas interpretaram nove temas deslumbrantes. O júri teve uma decisão difícil, mas conseguiu encontrar três finalistas, a saber: em terceiro lugar, ficaram o Francisco Antunes e Rui Bessa; o segundo lugar coube ao Francisco e Diogo Antunes; o grande vence-dor deste ano foi o Rui Bessa com a música “O Melhor Presente”. Ainda durante este festival, os seminaristas apresentaram uma encenação, que foi muito aplaudida.Foi um dia muito bem passado e mais uma grande festa organizada pelos seminaristas, que a fizeram com imenso gosto.

João Costa, seminarista do 8º ano

da nossa vida

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dos Antigos Alunos do Seminário Padre Dehon (AAASMPD) está a preparar para todos vós.Além do encontro anual iremos ter para os apai-xonados por bicicletas, um passeio ao Santuário de Fátima em bicicleta, que irá coincidir com a Peregrinação Dehoniana a Fátima no início de Junho e ainda uma Peregrinação à Terra Santa que o Seminário está a organizar de 7 a 14 de Junho que poderão consultar via internet na página do facebook dos Antigos Alunos Dehonianos. (facebook.com/exaluno.dehoniano)

O grande objectivo da Associação dos Antigos Alunos é “promover o contacto social entre os seus associados e destes com alunos, antigos alunos e familiares, através de actividades de carácter lúdico, cultural, social, científico e tec-nológico”.Até ao nosso encontro em Abril, desejo em nome da Associação dos Antigos Alunos que a vida vos sorria e vos corra da melhor forma e aceitem um abraço fraterno para todos. Até breve!

Manuel Freitas, Vice-presidente da Associação

25º Encontro de Antigos Alunos Este ano, os Antigos Alunos do Seminário Missionário Pe Dehon da Portelinha em Rio Tinto, festejam as suas “bodas de prata” na pas-sagem do seu 25º Encontro anual, nesta casa onde se formaram homens para a vida.O Encontro será a 27 de Abril (último domin-go do mês de Abril, como vem sendo habitual) neste seminário.Haverá surpresas agradáveis ao encontrarmos alguém que não víamos há muitos anos, quer seja um colega de turma, ou um superior, que foi nosso professor…Contamos contigo e traz mais um colega que encontres e que já não vem cá há anos ou que até nunca veio, ou outros que consigas contactar para que este encontro seja diferente dos outros para melhor... Sempre são 25 anos, não é verdade?Contamos com a presença de todos sem ex-cepção. Podem trazer a família, a esposa, os filhos, ou a namorada, não tenham vergonha, já outros o fizeram e assim podermos festejar os nossos 25 anos em família que a Associação

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Terá direito a inscrição nas Missas Perpétuas e, se dese-jar, enviaremos uma Bênção

do Santo Padre.

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de 250 €. Colabore com umamensalidade ou ajude a

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dias celebramos uma Missa por todos os inscritos.

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