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CONTROLE GERENCIAL EM LOGÍSTICA: UM ESTUDO DE CASO TATIANA CARNEIRO QUÍRICO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO PROGRAMA DE MESTRADO ORIENTADOR: MARCOS GONÇALVES ÁVILA Rio de Janeiro 2002

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Page 1: CONTROLE GERENCIAL EM LOGÍSTICA - … · iii Quírico, Tatiana Carneiro. Controle Gerencial em Logística: Um Estudo de Caso / Tatiana Carneiro Quírico – Rio de Janeiro, 2002

CONTROLE GERENCIAL EM LOGÍSTICA:

UM ESTUDO DE CASO

TATIANA CARNEIRO QUÍRICO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO

PROGRAMA DE MESTRADO

ORIENTADOR: MARCOS GONÇALVES ÁVILA

Rio de Janeiro

2002

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CONTROLE GERENCIAL EM LOGÍSTICA: UM ESTUDO DE CASO

Tatiana Carneiro Quírico

Dissertação submetida ao Corpo Docente do Instituto COPPEAD de Administração, da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários para a

obtenção do grau de Mestre em Ciências (M. Sc.).

Aprovada por:

_____________________________________________________

Prof. Marcos Gonçalves Ávila – COPPEAD/UFRJ (orientador)

_____________________________________________________

Prof. Kleber Fossati Figueiredo – COPPEAD/UFRJ

_____________________________________________________

Prof. Moacir Sancovschi – FACC/UFRJ

Rio de Janeiro, RJ – Brasil

setembro de 2002

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Quírico, Tatiana Carneiro.

Controle Gerencial em Logística: Um Estudo de Caso / Tatiana Carneiro Quírico – Rio de Janeiro, 2002.

ix, 155 f.: il.

Dissertação (Mestrado em Administração) – UniversidadeFederal do Rio de Janeiro - UFRJ, Instituto COPPEAD deAdministração, 2002.

Orientador: Marcos Gonçalves Ávila

1. Controle Gerencial. 2. Avaliação de desempenho. 3. Logística - Teses. I. Ávila, Marcos Gonçalves (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto COPPEAD de Administração. III. Título.

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Às minhas três filhotas, que

sofreram junto com a mãe durante

a correria do Mestrado.

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AGRADECIMENTOS

À minha família, que sempre me incentivou nos estudos e certamente é a grande

responsável por eu ter chegado até aqui.

Ao meu marido Lu, um dos maiores incentivadores para que eu cursasse o

Mestrado.

Aos professores da Banca Examinadora, pelas contribuições enriquecedoras a

este trabalho.

Aos amigos da Biblioteca e da Secretaria, que tanto me deram suporte nas horas

de necessidade.

Aos professores do COPPEAD, que tornam este curso de Mestrado um dos

melhores do mundo.

Aos Srs. João Batista Borges, César Borges, Alípio Fonseca e Olívio Vargas, da

Xerox do Brasil, por autorizarem a realização do estudo de caso e contribuírem

significativamente para a pesquisa desenvolvida na empresa.

À minha grande amiga Emília, pela constante disposição em me ajudar quando

quer que eu precisasse.

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RESUMO

QUÍRICO, Tatiana Carneiro. Controle Gerencial em Logística: Um Estudo de Caso.

Orientador: Marcos Gonçalves Ávila. Rio de Janeiro: UFRJ / COPPEAD, 2002.

Dissertação (Mestrado em Administração).

Este trabalho se baseia no reconhecimento de que a área de Logística apresenta

diversas peculiaridades que a tornam uma atividade cujo gerenciamento possui

necessidades específicas. Desta forma, seu objetivo é apresentar uma proposta de

sistema de controle gerencial adequado à área.

Além do levantamento bibliográfico de autores que já abordaram o tema, cujas

idéias foram discutidas e analisadas, é ainda apresentado um estudo de caso em uma

empresa de gestão descentralizada e com uma estrutura logística complexa. É feita,

então, uma comparação entre os conceitos apresentados na literatura e os preceitos

utilizados pela empresa no seu sistema de controle gerencial, buscando pontos de

aderência e aspectos em que a adoção das soluções propostas na literatura poderia

influenciar positivamente o modelo implementado pela empresa.

O trabalho conclui que diversas propostas apresentadas na literatura poderiam

atender às necessidades verificadas no sistema utilizado pela empresa. Sua aplicação

prática, no entanto, não foi comprovada, constituindo a principal limitação deste

estudo.

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ABSTRACT

QUÍRICO, Tatiana Carneiro. Controle Gerencial em Logística: Um Estudo de Caso.

Orientador: Marcos Gonçalves Ávila. Rio de Janeiro: UFRJ / COPPEAD, 2002.

Dissertação (Mestrado em Administração).

This study recognizes that Logistics is an activity that presents many

singularities, and which management demands specific features. The objective of this

research, then, is to propose a management control system suitable to its needs.

Besides the survey of the literature related to the theme, in which many authors´

ideas were discussed and analised, this study presents a case study developed in a

decentralized firm, which presents a complex logistics structure. The characteristics of

the management control system adopted by the company are then compared to the

concepts suggested by the literature, raising points of adherence as well as limitations

of the system that could be resolved by the use of some of the proposals identified in

the literature survey.

The conclusion of the study is that many of the suggestions presented in the

literature could contribute to the needs identified in the system adopted by the firm

researched. The practical implementation of these points, however, was not verified,

and constitutes the main limitation of this study.

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SUMÁRIO1. O PROBLEMA

1.1 Introdução ....................................................................................... 1

1.2 Objetivos ......................................................................................... 3

1.3 Relevância do Estudo ..................................................................... 4

1.4 Delimitação do Estudo .................................................................... 5

1.5 Organização do Trabalho ............................................................... 6

2. REFERENCIAL TEÓRICO2.1 Controle Gerencial

2.1.1 Conceito de Controle Gerencial ........................................... 8

2.1.2 Sistema de Controle por Resultados ................................... 14

2.1.3 Balanced Scorecard ............................................................ 23

2.1.4 GECON – Sistema de Gestão Econômica............................. 26

2.2 Custos de Logística

2.2.1 Os Conceitos de Logística Integrada e Custo Total ............ 28

2.2.2 Trade-offs de Logística ........................................................ 36

2.2.3 Problemas da Contabilidade Tradicional Aplicada a Logística 42

2.2.4 O Custeio ABC em Logística ............................................... 46

2.3 Avaliação de Desempenho em Logística ........................................ 53

2.4 Modelo Proposto para Avaliação de Desempenho em Logística ..... 67

3. METODOLOGIA DA PESQUISA3.1 Metodologia ..................................................................................... 72

3.2 Escolha da Empresa ....................................................................... 72

3.3 Coleta dos Dados ............................................................................ 73

3.4 Limitações da Pesquisa .................................................................. 74

4. DESCRIÇÃO DO CASO – XEROX DO BRASIL LTDA.4.1 Histórico .......................................................................................... 75

4.2 Mercado, Produtos e Estratégia ..................................................... 78

4.2.1 Mercado Mundial ................................................................ 78

4.2.2 Posicionamento de Mercado ............................................... 80

4.2.3 Estratégia ............................................................................ 81

4.2.4 Produtos .............................................................................. 84

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4.2.5 Mercado e Concorrência no Brasil ...................................... 90

4.3 A Logística da Xerox do Brasil ........................................................ 92

4.3.1 Papel Estratégico da Logística ao Longo da História .......... 92

4.3.2 Estrutura e Atuação da Área de Logística ........................... 94

4.4 Sistema de Avaliação de Desempenho de Logística ...................... 102

5. ANÁLISE DO CASO5.1 Análise dos Trade-offs de Logística ............................................... 110

5.1.1 Trade-off entre Custos de Estoques e de Transportes ....... 110

5.1.2 Trade-off entre Nível de Serviço e Custos .......................... 111

5.1.3 Trade-off entre Logística, Produção, Marketing e Finanças .. 114

5.2 Análise do Sistema de Avaliação de Desempenho e Comparação

com o Modelo Proposto ................................................................ 116

6. CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS ............. 124

7. REFERÊNCIAS .......................................................................................... 129

8. ANEXOSANEXO I – QUESTIONÁRIOS ................................................................ 135

ANEXO II – PACOTE GERENCIAL DE DESEMPENHO EM LOGÍSTICA.. 140

ANEXO III – PESQUISA DE SATISFAÇÃO DE CLIENTES .................... 154

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1. O PROBLEMA

Este capítulo visa apresentar ao leitor o problema abordado neste trabalho,

assim como os objetivos que pretende alcançar o estudo desenvolvido.

1.1 Introdução

A função Logística tem se tornado em grande parte das empresas uma área

crucial para o sucesso. Afinal, a competição dos dias de hoje já não se baseia mais

em tecnologia, que é cada vez mais acessível e disseminada, nem em qualidade, que

na maioria das vezes é apenas um qualifier para entrada em mercados sempre mais

exigentes. Parece claro que a diferenciação das empresas, sob o julgamento dos

clientes, se dará cada vez mais com base no serviço prestado: serviço na forma de

disponibilidade de produtos, entregas mais rápidas e confiáveis, flexibilidade no

atendimento das exigências, entre outros atributos que procuram criar valor para os

clientes. E, para atingir o nível de serviço esperado, atendendo e superando as

expectativas de seus clientes, as empresas terão que buscar um desempenho

excelente das suas áreas de Logística.

Grandes empresas podem gastar milhões em suas operações logísticas,

reconhecendo o diferencial competitivo que uma boa atividade de distribuição pode

lhes dar perante o cliente. Um exemplo recente no Brasil é o da Ford, que implantou

uma unidade produtiva na Bahia, representando um investimento de US$ 1,9 bilhão.

Apesar de estar distante três mil quilômetros de 80% dos seus fornecedores e do seu

mercado consumidor principal – o Estado de São Paulo – a fábrica opera em regime

just in time, com um custo estimado que deve variar de US$ 50 a US$ 80 milhões por

ano, somando as operações de transferência de componentes para a fábrica e o

escoamento do produto final. (QUADROS, 2002)

Há até bem pouco tempo, no entanto, Logística não era nem mesmo

reconhecida como uma função separada, sendo normalmente gerenciada de forma

segregada pelas áreas de Produção, Marketing e Comercial. Hoje em dia, a exceção é

encontrar alguma grande empresa que não tenha em seu comitê executivo um

membro de Logística, demonstrando a relevância que esta atividade conquistou. A

importância estratégica desta área já é, portanto, bastante reconhecida. No entanto, a

evolução que se vislumbrou tanto nos estudos quanto nas práticas da área se

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concentrou nas atividades operacionais – com o desenvolvimento de projetos como a

parceria entre empresas da mesma cadeia de suprimentos e o reconhecimento das

interações entre os diversos componentes da função logística. Para os seus

estudiosos, porém, fica claro que muito ainda precisa ser feito em relação aos

aspectos de gerenciamento desta atividade, principalmente no que se refere a custos

e controle gerencial. Um exemplo é a crítica que parte dos profissionais e

pesquisadores de Logística de que não existe um sistema de custeio eficiente o

bastante para mensurar os custos das atividades da área, um sistema que forneça

informações relevantes para as suas decisões. Para eles, o sistema de custeio

adotado pela contabilidade, com as alocações e rateios que envolve, não atende às

necessidades da tomada de decisões em Logística, que necessita de informações

como: qual o nível ótimo de estoques?; que canais de distribuição devem ser usados?;

quais os custos associados a fornecer maiores níveis de serviço ao cliente?

(LAMBERT; STOCK, 1987)

Em relação à área de controle gerencial, uma grande necessidade é a

formulação de um sistema de avaliação de desempenho que forneça aos gestores um

direcionamento para uma boa tomada de decisão. Lambert (1994, p. 279) aborda este

ponto, destacando que “uma das principais razões para melhorar a disponibilidade de

informações dos custos de Logística é controlar e monitorar o desempenho da área”.

Em função da inter-relação entre as diversas atividades de Logística, as avaliações de

desempenho individuais de cada área funcional podem não levar à tomada das

melhores decisões para a empresa. Se um gerente de transportes, por exemplo, for

avaliado unicamente em função dos custos de transporte, ele será induzido a buscar

modais mais baratos e mais lentos, ou a consolidação das cargas, o que poderá

causar impactos no nível de serviço e nos custos de estoques que mais que

compensam as economias obtidas. Conforme destacado por Bowersox e Closs (1996,

p. 10), “a prática gerencial que prevalece, reforçada pela contabilidade e pelo controle

financeiro, é de focalizar a atenção em atingir o menor custo possível para cada

função de logística, com pouca ou nenhuma atenção aos custos totais”. É preciso,

portanto, uma maior atenção dos profissionais das áreas contábil e de controle para as

necessidades específicas desta atividade, cujos custos podem responder nos dias de

hoje por de 15 a 50% da receita total de uma empresa. (LAMBERT; STOCK, op. cit.)

Admitindo que a profissão contábil tem muito a contribuir para a gestão da

função logística das empresas, este trabalho busca avançar em direção a uma maior

aproximação entre estas duas importantes áreas de estudo. Mantendo o foco na

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questão do controle gerencial aplicado a Logística, o que se buscará com o presente

trabalho é responder às seguintes questões:

• que características deve ter um sistema de avaliação de desempenho adequado

às necessidades da área de Logística, ou seja:

- que seja capaz de levar os gerentes a tomarem decisões que, mesmo não

sendo as melhores para o seu departamento, sejam as melhores para a

empresa como um todo?;

- que mensure o impacto das decisões de outras áreas nos custos de

Logística?;

- que forneça aos gerentes indicadores facilmente identificáveis dos impactos

das suas decisões na rentabilidade da empresa?

• quais são as principais divergências entre o modelo teórico desenvolvido e a

prática utilizada nas empresas?

Dada a abrangência das questões levantadas por tais perguntas, o presente

trabalho apresentará um estudo da bibliografia sobre o assunto, resumindo o estado

da arte sobre o tópico. Além disso, será apresentado um estudo de caso feito em uma

empresa, destacando as divergências entre teoria e prática em relação aos sistemas

de avaliação de desempenho utilizados na área de Logística.

1.2 Objetivos

O objetivo principal deste trabalho é apresentar as características que deve

possuir um sistema de controle gerencial adequado às necessidades da área de

Logística. Para isto, alguns objetivos intermediários se colocam:

• efetuar um levantamento dos estudos feitos sobre este tópico, buscando

possíveis soluções já apresentadas por outros autores;

• realizar uma pesquisa em profundidade na área de Logística de uma grande

empresa, de forma a detectar algumas das principais limitações do sistema de

controle gerencial utilizado;

• verificar até que ponto o sistema de avaliação de desempenho estudado se

adequa aos sistemas sugeridos pelos autores, realizando uma análise crítica das

principais limitações e sugerindo melhorias.

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1.3 Relevância do Estudo

O desafio enfrentado pelos profissionais de Logística nas empresas é

significativo, e fica bastante explícito pelo seguinte desabafo, extraído dos autos de

uma conferência da área: “Devemos sempre ter o produto de que você necessita, mas

nunca podemos ser pegos com algum estoque”. (NELLEMAN, 1975, p. 441) Esta frase

ilustra bem o papel de mediador de conflitos que a Logística precisa desempenhar nas

empresas. Por um lado, o setor de Marketing quer disponibilidade máxima de

produtos, entregas rápidas e confiáveis, o pleno atendimento das exigências dos

clientes. Por outro, o setor de Finanças pressiona pela diminuição dos investimentos

em estoques, por menores custos de transporte e maior eficiência das operações.

Para atingir estes objetivos, todos da maior importância para o sucesso da empresa, a

gestão logística precisa ser feita com base em informações confiáveis e que

efetivamente auxiliem a tomada de decisões corretas por parte dos gerentes. É neste

contexto que a contabilidade deve desempenhar seu papel, apresentando relatórios e

sistemas de controle que atendam às necessidades específicas da área, possibilitando

um melhor gerenciamento.

A dificuldade nesta tarefa é que, se para qualquer atividade a elaboração de um

bom sistema de avaliação de desempenho é complexa, para a atividade logística a

complexidade atinge um grau bem mais elevado. Por quê?

O processo de controle gerencial é o processo pelo qual os administradores

influenciam os membros da organização para implementar as estratégias da empresa

de maneira eficiente e eficaz. (ANTHONY; REECE; HERTENSTEIN, 1995)

Tecnicamente, este propósito pode ser definido como congruência de metas, que é o

mínimo conflito possível entre as metas individuais de cada funcionário e as metas da

organização. (ANTHONY; GOVINDARAJAN, 1998) Esta congruência pode ser

atingida através da definição de medidas de desempenho para os departamentos da

empresa, de acordo com objetivos previamente traçados, e de um sistema de

avaliação de acordo com estas medidas. Um bom sistema de controle gerencial

determina medidas de desempenho para cada área de tal forma que levem à tomada

das melhores decisões para a empresa. Para Logística, no entanto, não basta

determinar medidas de desempenho para cada área, de forma segregada. O

desempenho de cada área, neste caso, é fortemente influenciado pelas decisões de

outras, até mesmo pelas decisões de outras áreas fora de Logística, havendo muitas

vezes interesses conflitantes entre elas. Desta forma, é preciso reconhecer estas

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relações e refleti-las de alguma forma no sistema de avaliação de desempenho. Além

deste, outros fatores também ajudam a tornar complexa a elaboração de um sistema

de controle gerencial para Logística. Todos estes fatores, apresentados e discutidos

no decorrer deste trabalho, são resumidos a seguir:

• a atividade logística deve ser gerenciada de maneira integrada, e nunca de

forma segregada e funcional, pois isso leva a maiores custos totais;

• os custos da atividade logística são muito influenciados por decisões tomadas

fora da sua área, e essas interações precisam ser reconhecidas de forma que

haja uma correta responsabilização pelo desempenho;

• a atividade logística envolve um grande investimento em ativos (estoques,

armazéns, frota própria de transportes, etc.). As medidas de desempenho

precisam considerar as relações entre os resultados obtidos e estes

investimentos;

• é difícil relacionar diretamente as decisões tomadas por cada atividade de

logística aos objetivos estratégicos da empresa. O sistema de avaliação de

desempenho precisa mostrar aos gerentes quais são os key drivers – os

direcionadores chave – com os quais eles precisam se preocupar e como eles se

ligam ao objetivo global da empresa.

Juntando-se todas estas dificuldades à reconhecida falta de atenção dada pelos

profissionais de contabilidade e de controle às necessidades da área de Logística,

demonstra-se a premência de um estudo aprofundado a respeito de um sistema de

avaliação de desempenho que auxilie na gestão desta que, cada vez mais, é uma

função de maior importância dentro das melhores organizações do mundo.

1.4 Delimitação do Estudo

Conforme Bowersox e Closs (op. cit., p. 6), “o objetivo global da Logística é

atingir um nível estabelecido de serviço ao cliente ao menor custo total possível.”

Desta forma, medir o desempenho da atividade logística significa mensurar o nível de

serviço ao cliente e os custos associados a prestar este nível de serviço. A literatura

da área apresenta uma infinidade de medidas de desempenho para avaliar o nível de

serviço prestado: tempo de entrega, quantidade de pedidos entregues no tempo

determinado em relação ao total de pedidos, pedidos em atraso por falta de produtos,

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entre uma série de outras. Já na outra vertente, a de custos, o problema é bem mais

complicado, em função do conceito de custo total de logística.

Este trabalho irá tratar tanto das medidas de desempenho financeiras como das

não-financeiras. No caso das medidas financeiras, às quais será dado maior foco,

serão abordadas medidas que abranjam o custo das atividades e os investimentos em

ativos. As medidas não-financeiras focalizarão na sua relação com a estratégia da

empresa e seus impactos nos custos.

Outro ponto importante a ser destacado quanto à delimitação do estudo deste

trabalho diz respeito à pesquisa de campo. Como o objetivo do trabalho não é

entender o estágio das empresas em relação à gestão da área de logística, mas sim

realizar um estudo aprofundado sobre o gerenciamento desta área, a análise será feita

em apenas uma empresa, como um estudo de caso em que se buscará ligar a teoria

apresentada à prática.

1.5 Organização do Trabalho

O presente trabalho está organizado em oito capítulos, subdivididos em seções

encadeadas que pretendem direcionar o leitor em uma seqüência lógica de

pensamento.

O primeiro capítulo, que se encerra nesta seção, fornece uma visão geral do

assunto a ser tratado, destacando qual o problema que deverá ser abordado e os

objetivos que o estudo pretende alcançar. Ainda neste capítulo são destacadas a

importância e a delimitação do trabalho.

O segundo capítulo apresenta uma revisão da literatura relacionada ao estudo,

buscando um arcabouço teórico com base no qual se desenvolverá um maior

entendimento sobre o assunto. Por meio da discussão e análise das idéias levantadas

por outros autores, pretende-se identificar tópicos que, juntos, formem um modelo

passível de solucionar a questão colocada.

O terceiro capítulo apresenta a metodologia escolhida para o trabalho, e os

motivos que justificam esta escolha. Este capítulo discorre ainda sobre a forma de

coleta de dados, a escolha da empresa pesquisada e as limitações apresentadas pelo

trabalho.

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O quarto capítulo inicia-se com a descrição da empresa que será estudada. São

ainda apresentados neste capítulo todos os dados recolhidos na pesquisa de campo,

relevantes para a análise proposta.

No quinto capítulo, intitulado Análise do Caso, busca-se conjugar todas as

informações apresentadas nos capítulos anteriores, utilizando as teorias discutidas na

revisão bibliográfica como base para análise do sistema de avaliação de desempenho

levantado na empresa.

O sexto capítulo coloca as conclusões a que chegou o estudo, que pretendem

atender aos objetivos formulados no início do trabalho. São também sugeridos novos

trabalhos de pesquisa, que poderiam ajudar a esclarecer algumas das questões não

respondidas por este estudo, contribuindo para uma melhor compreensão do tema.

As duas últimas seções, finalmente, apresentam a bibliografia utilizada como

base para o trabalho e informações adicionais que podem contribuir ao seu

entendimento.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

Este capítulo tem o objetivo de efetuar uma extensiva revisão da bibliografia

relacionada ao tema do trabalho, fornecendo subsídios para um entendimento

aprofundado do assunto. Sua apresentação foi separada de acordo com o tópico

principal abordado por cada autor, e está assim dividida:

• a seção 2.1 discorre sobre a bibliografia estudada a respeito do tema Controle

Gerencial, pois é esta a área de estudo que analisa as bases teóricas para a

elaboração de um sistema de avaliação de desempenho;

• a seção 2.2 apresenta uma visão geral da função logística das organizações,

destacando os pontos que a tornaram a atividade escolhida para este trabalho.

Também são discutidas as idéias de diversos autores para a questão dos custos

de Logística;

• a seção 2.3 aborda a literatura existente a respeito do objetivo final deste

trabalho: avaliação de desempenho em Logística. As propostas de diversos

autores são analisadas e discutidas, e seus pontos fortes e fracos são julgados;

• finalmente, a seção 2.4 resume os pontos discutidos nas seções anteriores,

levando à formação de um modelo teórico que, de acordo com o autor deste

trabalho, seria o mais adequado no atendimento das necessidades da função

logística.

2.1 Controle Gerencial

2.1.1 Conceito de Controle Gerencial

“Uma organização é um grupo de pessoas trabalhando em conjunto por um ou

mais propósitos. Esses propósitos são denominados objetivos”. (ANTHONY; REECE;

HERTENSTEIN, op. cit., p. 758) Esta afirmativa resume a grande razão da existência

do controle gerencial: as organizações são formadas por pessoas, e como tais estão

sujeitas às ações, opiniões e atitudes das pessoas que as compõem. Para administrar

uma organização, portanto, uma questão de suma importância que deve ser colocada

é: como fazer com que as pessoas que formam esta organização tomem decisões e

trabalhem da melhor maneira para o sucesso da empresa, alinhadas com suas

estratégias e objetivos? Isto pode não acontecer naturalmente, por diversos motivos:

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primeiro, porque cada pessoa tem as suas próprias necessidades e motivações, e o

trabalho em uma empresa é uma maneira de satisfazer a uma ou mais dessas

necessidades; segundo, porque os objetivos das pessoas, na busca do atendimento

dessas necessidades, nem sempre coincidem com os objetivos da organização – ou

seja, os objetivos colocados pela administração da empresa; finalmente, porque as

pessoas podem não compreender como devem agir na busca dos objetivos definidos

pela direção da empresa, e assim tomar ações não condizentes com o alcance das

suas metas. Obter das pessoas que formam uma organização atitudes e decisões

alinhadas com os objetivos desta organização é função da área de controle gerencial.

Sendo assim, “controle gerencial é o processo pelo qual os gerentes influenciam

outros membros da organização para implementar as estratégias desta organização”.

E, complementando, um sistema de controle gerencial abrange os aspectos formais

deste processo – isto é, suas etapas, as informações coletadas e utilizadas nestas

etapas e os princípios que governam este processo. (ANTHONY; GOVINDARAJAN,

op. cit. p. 5-6)

Horngren, Sundem e Stratton (1996, p. 334) comentam que “um sistema de

controle gerencial deve ser desenhado para melhorar a tomada de decisão dentro de

uma organização”. Eles destacam a coordenação como o foco principal deste sistema:

“Um sistema de controle gerencial é uma integração lógica das ferramentas

de contabilidade gerencial para reunir e reportar informações e para avaliar

o desempenho. Um sistema de controle gerencial bem desenhado fomenta

e coordena o processo de tomada de decisões, e motiva os indivíduos de

uma organização a agirem em conjunto. Um sistema de controle gerencial

coordena o planejamento de vendas e os custos dos níveis de atividade, o

orçamento, os processos de mensuração e avaliação de desempenho, e

motiva os empregados. Na verdade, a coordenação explícita das atividades,

ações e escolhas dos indivíduos é a marca de um sistema de controle

gerencial”.

Maciariello e Kirby (1994, p. 1) também destacam a coordenação como o

objetivo primordial de um sistema de controle gerencial: “O que é um sistema de

controle gerencial? É um conjunto de estruturas de comunicação inter-relacionadas

que facilitam o processamento de informações para o objetivo de suportar os gerentes

na coordenação das partes e o atingimento das metas de uma organização de forma

contínua”.

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Atkinson et al. (1997, p. 690) julgam que o sistema de controle gerencial na

verdade é o mesmo que o sistema de contabilidade gerencial, e enumeram seus

objetivos:

1. Ajudar a organização a planejar para o futuro;

2. Monitorar os eventos no ambiente externo e seus efeitos no desenho e

funcionamento do sistema;

3. Mensurar e registrar os resultados das atividades dentro da organização,

assegurando que os tomadores de decisão estejam bem informados;

4. Avaliar o desempenho dos indivíduos e departamentos da organização.

Merchant (1998, p. 5), ao abordar o tema, coloca grande ênfase na questão do

controle e gerenciamento de pessoas:

“Controle gerencial envolve abordar a seguinte pergunta: os nossos

funcionários estão se comportando de forma apropriada? Esta pergunta

pode ser decomposta em diversas partes. Primeiro, os nossos funcionários

entendem o que esperamos deles? Segundo, eles se esforçam o suficiente

e tentam fazer o que é esperado deles? (...) Terceiro, eles são capazes de

realizar um bom trabalho? Finalmente, se a resposta para qualquer destas

perguntas for negativa, o que pode ser feito para solucionar os problemas de

controle gerencial? Todos os gerentes que precisam confiar em funcionários

para atingir os objetivos organizacionais precisam lidar com assuntos de

controle gerencial.”

Esta abordagem difere bastante daquelas dos demais autores, porque considera

como parte do sistema de controle gerencial o que ele denomina controle de ações, ou

seja, as formas de controle diretas sobre as ações dos funcionários – por exemplo,

controles de acesso a sistemas e locais, limites de aprovação de despesas,

segregação de funções, etc. O foco deste trabalho, no entanto, está mais relacionado

com a definição de controle gerencial dada pelos outros autores, cujos pontos

principais são a congruência de metas, a coordenação, os mecanismos de indução

para modelar o comportamento das pessoas que tomam decisões em uma

organização. As ferramentas de controle de ações, de acordo com este entendimento,

se encaixam mais em um sistema de controles internos do que em um sistema de

controle gerencial.

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Para os fins deste trabalho, portanto, um sistema de controle gerencial é o

conjunto de mecanismos formais que devem sinalizar aos funcionários de uma

empresa o que se espera deles, induzindo-os a tomar as decisões que a empresa

deseja, na busca dos seus objetivos. A maneira de atuação deste sistema utiliza com

freqüência ferramentas formais de recompensa e punição, de forma que atitudes e

resultados alinhados com as metas da empresa sejam recompensados com prêmios,

promoções, etc., ao passo que desempenhos não alinhados ou aquém das metas da

empresa sejam punidos ou, pelo menos, não recompensados. (ANTHONY; REECE;

HERTENSTEIN, op. cit.) Estas ferramentas são incentivos, e podem tomar a forma de

compensações monetárias ou não-monetárias, como aceitação, status, maior

autonomia, condições físicas, etc. (MACIARIELLO; KIRBY, op. cit.)

É vasta a literatura a respeito de sistemas de controle gerencial, pois não há

uma fórmula pronta que funcione para todas as empresas. Alguns requisitos básicos,

no entanto, são essenciais para que se desenhe um bom sistema de controle.

Algumas destas características foram resumidas por Merchant (1982) em um outro

trabalho, e são listadas a seguir:

• a orientação para o futuro;

• a abrangência de múltiplas dimensões, ou seja, a consideração de todos os

aspectos que são relevantes em uma atividade;

• a viabilidade econômica (relação custo-benefício); e

• o reconhecimento de que a avaliação de um bom controle é subjetiva, e portanto

sujeita a erros.

Merchant sugere que estas quatro características precisam permear o

desenvolvimento de qualquer modelo de controle gerencial, sendo portanto relevantes

para este trabalho: a orientação para o futuro relembra que o objetivo do sistema de

controle não é a punição ou a recompensa, mas sim orientar as ações, e portanto

deve ter seu foco no impacto das medidas de desempenho nas ações dos funcionários

e como estas ações afetam a rentabilidade da empresa; a questão da abrangência de

várias dimensões é importante pois um sistema de controle precisa considerar todos

os aspectos importantes de uma atividade, sob o risco de gerar atitudes contrárias ao

que se deseja; a questão do trade-off entre custo e alcance do controle é intuitiva, pois

é fácil perceber que um sistema de controle será desnecessário se o custo para

colocá-lo em prática for maior que as economias geradas pela sua aplicação;

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finalmente, a questão da subjetividade nunca deve ser subestimada, pois inúmeros

fatores afetam a ação das pessoas, os quais nem sempre são previsíveis pela razão.

Atkinson et al. (op. cit.) destacam ainda outros dois aspectos importantes no

desenho de um bom sistema de controle gerencial: a incorporação do código de

conduta ética da empresa no desenho do sistema, para motivar o comportamento

esperado, e a participação e autonomia dada aos empregados no desenho e na

implementação de melhorias do sistema.

Na busca de direcionar o comportamento das pessoas, diferentes empresas

podem apresentar diferentes soluções; por isso, podem ser encontradas inúmeras

configurações para o desenho de um sistema de controle gerencial, sem que um

possa ser classificado como melhor ou pior do que os demais. Gomes e Salas (1997)

sugerem diversos fatores que afetam o tipo de controle gerencial escolhido por uma

empresa, sendo os principais: as características pessoais dos seus administradores

(se o estilo de gestão é mais ou menos agressivo, por exemplo), as características da

organização (sua dimensão, cultura, grau de descentralização, formalização da

atividade, etc.) e as características do contexto social e organizacional (grau de

dinamismo, concorrência, etc.). Desta forma, um sistema de controle pode ser mais ou

menos formalizado (será mais formalizado quanto mais explícito estiver seu desenho),

ser mais ou menos espontâneo e ter maior ou menor ênfase em instrumentos

financeiros.

Com base nas características da empresa, no perfil dos seus administradores e

no grau de competitividade do ambiente em que atua, quatro modelos básicos de

controle foram definidos por Gomes e Salas (op. cit.):

• controle familiar: os mecanismos de controle são informais, baseados na

liderança do gerente, na centralização das decisões, na delegação de autoridade

com base em amizade ou parentesco e em uma cultura de lealdade e confiança.

É característico de empresas com uma gestão centralizada, com pouca

delegação, o que reduz a necessidade do controle.

• controle burocrático: baseado em normas e regulamentos bastante rígidos, com

uma estrutura funcional de diversos níveis hierárquicos e pouco grau de

autonomia. Maior ênfase aos mecanismos formais e aos sistemas de controle

financeiro. Ocorre em ambientes pouco competitivos e em organizações de

grande porte e fortemente centralizadas.

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• controle por resultados: baseado em sistemas de controle financeiro,

estabelecimento de objetivos e avaliação com base nos resultados

apresentados. Costuma existir em empresas muito competitivas, com alto grau

de descentralização, autonomia e responsabilidade.

• controle ad-hoc: baseado fundamentalmente na utilização de mecanismos não

formais, principalmente promovendo o autocontrole. Ocorre em ambientes muito

dinâmicos e de grande complexidade, sem características rotineiras e

dependendo de inovação.

Um outro fator de grande importância que também afeta a definição do tipo de

sistema utilizado é a estratégia da empresa, que deve estar completamente vinculada

ao sistema de controle escolhido. Conforme destacado pelos mesmos autores:

“Em uma empresa orientada estrategicamente para liderança de custos, o

sistema de controle deve ser desenhado atribuindo maior ênfase à

formalização, à definição de indicadores quantitativos, ao estabelecimento

de padrões e ao cálculo de variações orçamentárias. Ao contrário, em uma

empresa orientada estrategicamente para a diferenciação, o sistema de

controle deve ser mais flexível, com ênfase no estímulo ao autocontrole, à

utilização de indicadores qualitativos e menos formalizados, orientado a

longo prazo e fomentando a motivação, a criatividade e o aprendizado.”

(GOMES; SALAS, op.cit., p. 110)

O controle por resultados é o tipo de controle mais abordado pela literatura de

controle gerencial. Merchant (1998, p. 69) destaca que “os controles por resultado são

consistentes com, e até mesmo necessários para, a implementação de formas

descentralizadas de organização com centros de responsabilidade com grande

autonomia”. O autor destaca empresas como DuPont, Coca-Cola, Alcoa e Sunrise

Medical que adotaram formas de organização descentralizadas e, concomitantemente,

uma maior ênfase em controle por resultados. Este é, assim, o tipo de controle mais

utilizado por grandes e médias empresas atuando em mercados competitivos. Este

tipo de controle está fundamentado em resultados financeiros, com orçamentos e

cálculo de desvios e centros de responsabilidade, e será apresentado em detalhes em

um tópico a seguir.

De qualquer forma, a abordagem dos diferentes tipos de controle é importante

para destacar que não existe uma solução única ou melhor. Cada empresa precisa

buscar uma fórmula que atenda melhor às suas necessidades. Na verdade, o que

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existe é uma solução mais adequada para o objetivo que se deseja e as

características da organização.

Um ponto importante a ser destacado é que tudo o que foi mencionado

anteriormente a respeito de sistemas de controle gerencial se inserem em uma

perspectiva denominada racional para avaliação dos sistemas de controle – racional,

porque focaliza em instrumentos formalizados cuja implantação permite alcançar por si

mesma a eficácia e a eficiência da organização. Além desta, existem outras duas

correntes de grande importância que não podem ser esquecidas ao se mencionar o

tópico – as perspectivas psicossocial e cultural. A primeira explica porque um conjunto

de indicadores de desempenho pode, apesar de estar em linha com os objetivos da

empresa, levar a comportamentos contrários aos que a empresa deseja – pois estes

indicadores têm impacto também na motivação dos funcionários, nas suas atitudes e

satisfação pessoal, e por isso seu comportamento nem sempre é previsível. A

perspectiva cultural, por outro lado, ajuda a explicar porque uma empresa pode ter

melhores controles reais do que outra que tenha o mesmo nível de controles formais.

O tipo de controle que explica esta diferença, o controle cultural, se fundamenta na

internalização e compromisso moral com as normas, que geram uma obrigação social

mais forte que um controle imposto externamente. (GOMES; SALAS, op. cit.) Alguns

autores separam estas perspectivas a partir da consideração de que o processo de

controle gerencial deve abordar tanto o sistema formal de controle quanto os

processos informais que influenciam o comportamento humano nas organizações.

Anthony e Govindarajan (op. cit.) destacam alguns destes processos informais: estilo

da administração, a cultura tanto externa quanto da própria organização, entre outros.

Neste trabalho o foco principal será a perspectiva racional, ou seja, os

mecanismos formais de controle, mas ressaltando que possíveis impactos destas

outras perspectivas devem ser considerados cuidadosamente na elaboração de

qualquer sistema de avaliação de desempenho.

2.1.2 Sistema de Controle por Resultados

“Se fosse pedido às pessoas que pensassem sobre mecanismos usados

para influenciar o comportamento nas organizações, (...) a maioria delas

provavelmente pensaria primeiro em pagamentos vinculados ao

desempenho. Este é o principal exemplo de um tipo de controle que pode

ser denominado controle por resultados, porque envolve recompensar

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indivíduos (...) por gerar bons resultados, ou puni-los por resultados ruins.

(...) O controle por resultados cria meritocracias.” (MERCHANT, 1998, p. 69)

Um dos principais autores associados ao desenho de sistemas de controle por

resultados é Richard Anthony, cuja estrutura teórica é das mais utilizadas na área de

controle de gestão. Anthony apresenta seu modelo de sistema a partir da

consideração de que indivíduos e empresas podem ter objetivos diferentes. Segundo

ele, “o desenho de um sistema de controle gerencial deve buscar que as ações que

ele leva as pessoas a tomar de acordo com seus próprios interesses sejam também

ações no melhor interesse da organização”. (ANTHONY; GOVINDARAJAN, op. cit., p.

93) É a já citada congruência de objetivos. Esta congruência, por diversos motivos (já

mencionados no tópico anterior), não pode ser alcançada de maneira perfeita, portanto

o que o sistema de controle deve proporcionar é o mínimo conflito possível entre as

metas individuais e as da organização. Assim, Anthony e Govindarajan (op. cit., p. 94)

destacam o que um sistema de controle não pode causar:

“No mínimo, o sistema de controle gerencial não deve encorajar que os

indivíduos ajam contra os interesses da organização. Por exemplo, se o

sistema sinaliza que a ênfase deve ser apenas a redução de custos, e se o

gerente responde pela redução de custos, em detrimento de qualidade

adequada, ou reduzindo os custos que ele controla mas causando um

aumento de custos ainda maior em outras partes da organização, então o

gerente foi motivado, mas na direção errada.”

De acordo com o modelo proposto pelos autores, a maneira de se obter esta

congruência de objetivos é através do estabelecimento de metas para cada área ou

departamento, avaliar o desempenho desta área ou departamento de acordo com as

metas traçadas e tomar ações de reconhecimento ou punição. Buscando o

reconhecimento, as pessoas terão um incentivo para atingir as metas, agindo da

maneira que a empresa deseja.

Maciariello e Kirby (op. cit., p. 238) também abordam a questão congruência de

metas versus sistema de recompensas: “um sistema de recompensas eficaz irá levar

os gerentes a tomar as mesmas decisões que os acionistas, se confrontados com a

situação. Um sistema de recompensas eficaz, assim, requer o estabelecimento de

metas, medidas de desempenho e critérios de recompensa.”

Para Merchant (op. cit., p. 69) “o controle por resultados influencia as ações

porque ele causa nos funcionários a preocupação com as conseqüências com as

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ações que eles tomam.” Estas conseqüências podem ser compensações monetárias

por um bom desempenho, mas também promoções, autonomia e reconhecimento.

As metas estabelecidas para cada área ou departamento são construídas a

partir de um padrão, que pode ser de três tipos: o desempenho de um período

passado, o desempenho de outras empresas ou o desempenho estabelecido por um

plano. O padrão determinado por meio de um período passado coloca como meta, por

exemplo, um crescimento de x% em relação ao resultado do período passado. A

adoção deste tipo de padrão normalmente não é aconselhável porque ignora as

alterações no ambiente e pressupõe que antigas falhas irão se repetir. O padrão de

comparação de desempenho com outras empresas é complicado de ser utilizado,

primeiro porque é mais difícil de ser obtido, principalmente em se tratando de

departamentos internos, cujo desempenho não é divulgado nas demonstrações

financeiras da empresa; segundo porque retrata características de empresas com

estruturas e estratégias diferentes. Assim, o padrão de comparação de desempenho

normalmente é definido com base em um plano feito pela própria empresa, retratando

suas características, as mudanças de rumo e a eficiência desejada para cada área.

(ANTHONY; REECE; HERTENSTEIN, op. cit.)

Relembrando que o processo de controle gerencial é o processo pelo qual os

gerentes influenciam outros membros da organização para implementar as estratégias

desta organização, e que o sistema de controle gerencial é a formalização das etapas

deste processo (ver pág. 9), Anthony e Govindarajan (op. cit., p. 305) enumeram cinco

fases que, na prática, ocorrem em seqüência em um processo de controle gerencial:

• Planejamento estratégico;

• Preparação do orçamento;

• Análise dos relatórios de desempenho financeiro;

• Avaliação do desempenho; e

• Reconhecimento.

A fase de planejamento estratégico é a tradução da estratégia da empresa em

termos de programas a serem empreendidos, no longo prazo. A fase de orçamento

transforma estes programas em planos financeiros de curto prazo, para cada área ou

departamento. A análise dos relatórios de desempenho financeiro compara os

resultados alcançados com os resultados estipulados no orçamento. A fase de

avaliação de desempenho analisa outras medidas de desempenho, que não apenas

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as medidas financeiras. E, finalmente, a fase de reconhecimento é a etapa em que os

incentivos – muitas vezes o pagamento de compensações financeiras pelos resultados

alcançados – são realizados.

As áreas ou departamentos para os quais são definidos medidas de

desempenho e padrões são denominados centros de responsabilidade – centros que

recebem inputs e os transformam em outputs para outros centros de responsabilidade

ou para clientes externos, nos quais seus gerentes são responsabilizados pelo

desempenho alcançado. Para Anthony, os centros de responsabilidade podem ser

classificados em quatro tipos, dependendo do tipo de metas às quais estão

submetidos:

• centros de receita: quando o gerente é responsável pelos outputs do

departamento, mas não pelos inputs (custos). Pode ser também um centro de

despesa;

• centros de despesa: quando o gerente é responsável pelas despesas incorridas,

mas não pelos outputs gerados, ou por serem difíceis de serem medidos ou por

ser irrelevante (outputs padronizados);

• centros de lucro: quando o desempenho do centro de responsabilidade é medido

em termos da diferença entre as receitas que ganha e os custos em que incorre.

Até certo ponto, qualquer centro de despesa pode ser convertido em centro de

lucro, transformando-se em uma “empresa em miniatura”;

• centros de investimento: quando o gerente é responsável tanto pelo lucro como

pelo uso dos ativos. (ANTHONY; REECE; HERTENSTEIN, op. cit.)

Kaplan e Atkinson (1998), no entanto, têm uma opinião diferente a respeito da

classificação dos centros de responsabilidade. Para os autores, não são as metas que

determinam se uma unidade é um centro de custo, receita, lucro ou investimento – as

metas são conseqüência desta definição. Ou seja, um departamento não se torna um

centro de lucro simplesmente definindo-se para ele medidas de receita e de custo; o

que efetivamente determina o tipo de centro de responsabilidade apropriado a cada

unidade descentralizada é a dificuldade em medir seus outputs e a autoridade ou

responsabilidade dada ao seu gerente.

Ao contrário, portanto, do que é defendido por Anthony, para Kaplan e Atkinson

nem todo centro de custo pode se tornar um centro de lucro:

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“Muitas definições de centros de lucro já foram propostas. Em um nível

puramente descritivo, poderia-se definir centro de lucro como qualquer

unidade organizacional para a qual alguma medida de lucro é determinada

periodicamente. Mas esta definição não consegue refletir uma das principais

razões do uso de centros de lucro: encorajar a tomada local de decisões e a

iniciativa. Simplesmente medir o lucro gerado por alguma unidade da

organização não a torna autônoma e independente.” (KAPLAN; ATKINSON,

op. cit., p. 449)

Com base, portanto, nestas premissas, os autores definem cinco tipos de

centros de responsabilidade:

• centros de custos-padrão: seriam, por exemplo, uma fábrica ou algum

departamento de serviços em que os outputs podem ser bem definidos e

medidos, assim como podem ser especificados os inputs necessários para

produzir cada unidade do output;

• centros de despesas discricionárias: unidades em que os outputs não são

mensuráveis financeiramente, ou em que não há forte relação entre os recursos

utilizados (inputs) e os recursos gerados (outputs). São, por exemplo, os

departamentos de despesas gerais e administrativas (contabilidade, recursos

humanos, etc.), de pesquisa e desenvolvimento, de marketing, etc;

• centros de receita: centros que obtêm produtos acabados de uma divisão de

produção e são responsáveis por vender e distribuir estes produtos. Se for

possível medir adequadamente os custos das vendas para cada produto ou

cliente (com a utilização do ABC – ver seção 2.2.4), não há motivo para avaliar

uma organização de vendas com base apenas na receita – o que pode gerar

queda na rentabilidade da empresa em função da oferta de descontos, gastos

com propaganda excessivos e vendas de produtos de margens baixas;

• centros de lucro: são unidades nas quais o gerente tem autoridade para tomar

decisões sobre fontes de suprimentos e escolha de mercados. Os centros de

lucro devem vender a maior parte dos seus outputs a clientes externos e devem

ter liberdade para escolher fontes de suprimento para suas matérias-primas,

produtos e serviços. (KAPLAN; ATKINSON, op. cit.)

Percebe-se com clareza que as visões de Anthony e Kaplan / Atkinson são

bastante divergentes. Para o primeiro, não importa o grau de autonomia que seja dada

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a um centro de responsabilidade, se para ele forem definidas medidas de receita e de

custo ele se torna um centro de lucro. Para os outros autores, no entanto, as

características das operações de um departamento podem definir se ele pode se

tornar ou não um centro de lucro. Se, mesmo que a unidade não tenha autonomia nas

suas decisões nem outputs “vendáveis”, a empresa definir medidas de receita para

ela, a unidade se torna um “pseudo centro de lucro” – pseudo porque nada muda

efetivamente na sua maneira de atuação. Ou seja, o propósito de se transformar uma

unidade em um centro de lucro não atinge seu objetivo.

Ao ser dada autonomia para um departamento e avaliá-lo como um centro de

lucro, uma segunda questão de suma importância se coloca: qual o preço justo a ser

cobrado dos outros centros de responsabilidade pelos produtos vendidos ou serviços

prestados? Esta definição parece simples, mas apresenta implicações relevantes para

a gestão da empresa e para o desempenho esperado dos departamentos. Este preço

é denominado preço de transferência, e pode ser de dois tipos: baseado nos preços

de mercado ou baseado no custo.

A discussão sobre o preço de transferência mais adequado para cada situação é

extensamente explorada por Eccles (1983). Para ele, esta discussão se divide em

duas partes:

• decisão sobre fontes: se o departamento poderá optar ou não entre fornecedores

internos ou externos; e

• decisão sobre preços: qual o preço a ser cobrado no caso de fornecedores

internos.

As definições da empresa para estas duas variáveis vão depender basicamente

de duas dimensões da sua estratégia: o nível de integração vertical e o grau de

diversificação dos negócios. Por sua vez, estas duas dimensões estão associadas a

características organizacionais particulares: a natureza da estratégia empresarial e o

processo de planejamento estratégico; os meios primários de controle pela alta

direção; os critérios para medição, avaliação e recompensa do desempenho; a

definição de justiça na companhia; e a natureza dos processos gerenciais.

Assim, se a empresa optar por um sistema com base em preços de mercado e

livre escolha entre fornecedores internos ou externos, seu sistema de controle se

baseará totalmente nos resultados apresentados por cada unidade de negócios,

independente de situações como a ocorrência de excesso de capacidade em uma

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unidade vendedora. “Nós não queremos fazer nada que dê ao gerente geral de uma

divisão uma desculpa para não cumprir seu plano”, destacou um gerente de uma

empresa com esta filosofia, pesquisada por Eccles (op. cit., p. 153). Por outro lado, se

a empresa optar por estabelecer fontes internas nas transações entre unidades, e

definir como preço de transferência alguma medida de custo, o sistema de controle se

baseará na estrutura organizacional – as medidas de desempenho mais importantes

serão as da empresa como um todo, e critérios subjetivos podem ser usados para

avaliar os gerentes das unidades de negócio.

Fica claro, portanto, que estas decisões devem se basear no tipo de organização

que a empresa deseja ter, assim como devem se relacionar com a sua estratégia.

Assim, ainda no mesmo artigo, o autor define três tipos de organizações, para as quais

as decisões de fontes e preços de transferência serão diferentes, pois a atuação

esperada dos seus departamentos também será diferente: organizações competitivas,

cooperativas e colaboradoras.

• organizações competitivas: empresas cujas unidades de negócio têm grande

autoridade sobre os recursos, são avaliadas como centros de lucro ou de

investimento e cujas relações se assemelham às de um mercado. Cada unidade

de negócios procura maximizar seus objetivos, mesmo às custas da outra, mas

estes custos são pequenos se comparados aos benefícios da competição. Os

preços de transferência geralmente são os preços de mercado, e as fontes

podem ser restritas internamente ou livres.

• organizações cooperativas: empresas cujas unidades de negócio não têm tanta

autonomia, pois a responsabilidade por muitas decisões cabe ao topo da

organização, especialmente em exceções à política empresarial ou a trade-offs

entre funções. Estas unidades são avaliadas com base em comparações com

orçamentos, mas pode haver outros critérios subjetivos dependendo da

avaliação da alta administração (como existe cooperação entre as unidades,

uma unidade pode ter tido seu desempenho prejudicado por atender a uma

solicitação de outra unidade). A avaliação das unidades também se baseia

fortemente no desempenho da empresa como um todo. Caso estas empresas

optem por utilizar centros de lucro, os preços de transferência utilizados

normalmente são o custo, real ou padrão, já determinado o uso de fontes

internas. A finalidade dos preços de transferência é acumular os custos totais

como se os produtos finais fossem fabricados inteiramente dentro de uma única

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unidade de negócios. O uso de custos-padrão reduz o efeito que a

interdependência tem sobre as medidas de desempenho.

• organizações colaboradoras: empresas que combinam características de

organizações competitivas e cooperativas. É colocada ênfase nos sistemas de

avaliação por resultados quantitativos, o que dá às unidades de negócio

incentivo para competirem. No entanto, a interdependência estrutural, causada

pela obrigatoriedade do uso de fontes internas, e a interferência da

administração, que ajusta o sistema de avaliação incluindo critérios internos

como a eficiência de custos, o desempenho dos produtos como um todo e outras

avaliações mais subjetivas, atua como um incentivo para cada unidade de

negócios preocupar-se com o desempenho da outra, visto que afeta os

resultados da empresa como um todo. Os preços de transferência destas

organizações são preços de mercado, mas ao se definir o uso de fontes internas

estes preços tornam-se uma fonte de conflito através do qual a administração

pode coletar informações e obter controle. (ECCLES, op. cit.)

Desta forma, cada empresa buscará uma organização alinhada com suas

características e sua cultura, e com base nesta definição incentivará nos seus

departamentos um grau maior ou menor de autonomia. O sistema de controle

gerencial deve se adequar a estas características, utilizando os resultados

apresentados e considerações subjetivas para avaliar o desempenho das unidades e

de seus gerentes.

Para finalizar o tópico, é importante que sejam resumidos alguns pontos, que

são os pilares de um sistema de controle por resultados:

• o objetivo do sistema é a congruência de objetivos;

• esta congruência é obtida através do incentivo para que as pessoas tomem as

ações que a empresa deseja;

• estes incentivos são recompensas ou punições que ocorrem quando o

desempenho das pessoas, áreas ou departamentos correspondem ou não a um

padrão;

• este padrão é um plano que liga a estratégia da empresa a medidas financeiras

estabelecidas para cada departamento;

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• estas medidas podem levar em consideração receitas, despesas e ativos,

dependendo da responsabilidade dos gerentes em relação a estes

componentes;

• cada departamento será configurado de acordo com o grau de responsabilidade

dado ao seu gerente, o qual deve estar ligado ao tipo de organização que a

empresa deseja ter.

Novamente é preciso destacar que todas estas considerações decorrem da

perspectiva racional de gestão administrativa, que minimiza a importância das

variáveis humanas e culturais no processo de controle. Este modelo, por exemplo,

assume que as pessoas aceitam passivamente a necessidade de controle como se

fossem compelidas por uma motivação racional. Esta e outras limitações são

resumidas por Gomes e Salas (op. cit.):

• a pouca confiabilidade dos modelos preditivos. Nem sempre há uma relação de

causa e efeito entre o comportamento das pessoas e os resultados obtidos.

Pode-se determinar o resultado que se espera, mas não se consegue definir o

comportamento esperado para alcançá-lo. Ou seja, é possível haver um bom

gerente em uma unidade ruim, ou ao contrário, um gerente com desempenho

ruim em uma unidade que, por outras razões (crescimento do mercado, p. ex.)

tenha um bom desempenho. Nestes casos, o modelo de avaliação de

desempenho com base nos resultados não consegue diferenciar com justiça os

funcionários que merecem reconhecimento e os que tiveram atuações abaixo do

esperado.

• o alcance de curto prazo das medidas utilizadas. As medidas de avaliação de

desempenho típicas focalizam em resultados operacionais de curto prazo,

ignorando efeitos no horizonte mais longo, que são difíceis de serem

mensurados.

• desvinculação das medidas com o contexto social e cultural. A utilização de um

sistema de controle baseado em medidas físicas ou financeiras pode provocar

efeitos contrários aos desejados: a redução da criatividade, a busca obsessiva

pelas medidas que são avaliadas em detrimento de outros aspectos às vezes

mais importantes, mas não medidos pelo sistema de controle, entre outros.

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• utilização de medidas financeiras como esquema de punição e não como reforço

de comportamento positivo e correção de desvios, no caso de comportamento

desfavorável.

2.1.3 Balanced Scorecard

Os sistemas de controle gerencial tradicionais, descritos no tópico anterior, se

baseiam fortemente em medidas monetárias para a avaliação do desempenho das

unidades de negócio: custos, despesas, investimentos em ativos. A maioria dos

autores, porém, reconhece a importância de se utilizar também medidas não

monetárias na avaliação do desempenho. Nos pontos destacados por Merchant (1982)

a respeito de um bom sistema de controle, por exemplo (descritos anteriormente), a

importância de se ter medidas de múltiplas dimensões é reconhecida. Vários autores

já abordaram a questão, fornecendo subsídios para a escolha de um conjunto

adequado de medidas de desempenho. Maciariello e Kirby (op. cit., p. 78), por

exemplo, destacam que a importância da identificação de algumas variáveis chave no

desenho de um sistema de controle gerencial se origina da limitada habilidade no

processamento de informações dos gerentes: “uma vez identificadas as variáveis

chave de sucesso, o sistema de controle recebe foco”.

Horngren, Sundem e Stratton (op. cit., p. 341) destacam que os centros de

responsabilidade têm muitos objetivos, e que apenas alguns destes objetivos podem

ser expressos em termos financeiros. Um bom sistema de controle gerencial

desenvolve e reporta também medidas de desempenho não-financeiras. Boas

medidas de desempenho, para eles, devem:

1. Se relacionar com os objetivos da organização;

2. Equilibrar preocupações de longo e curto prazos;

3. Refletir o gerenciamento de atividades chave;

4. Ser afetadas pelas ações dos funcionários;

5. Ser facilmente entendidas pelos funcionários;

6. Ser utilizadas na avaliação e recompensa dos funcionários;

7. Ser razoavelmente objetivas e facilmente mensuráveis;

8. Ser usadas consistente e regularmente.

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De acordo com os autores, para atingir estes objetivos não bastam as medidas

de desempenho financeiras. As medidas de desempenho não-financeiras podem

melhorar o controle operacional por parte dos gerentes, além de serem mais próximas

dos funcionários de menores níveis da organização e, portanto, mais fáceis de serem

entendidas.

Um dos estudos sobre o assunto que mais ganhou notoriedade foi sem dúvida o

modelo de Balanced Scorecard, apresentado em 1992 por Robert Kaplan e David

Norton. Balanced Scorecard significa algo como painel de indicadores equilibrados.

Segundo os autores, este modelo foi desenvolvido a partir do reconhecimento de que

as medidas tradicionais de desempenho eram adequadas à era industrial, mas não às

habilidades e competências necessárias para as empresas de hoje. A partir de um

projeto de um ano, por meio de pesquisas realizadas em 12 empresas líderes em

avaliação de desempenho, os autores perceberam que estas empresas se baseavam

em um conjunto equilibrado de medidas que davam aos gerentes uma visão rápida

mas abrangente do negócio. Estas medidas incluíam medidas financeiras, com o

resultado das ações já tomadas, complementadas por medidas operacionais, que

seriam as direcionadoras do desempenho financeiro futuro. Isto, além de forçar os

gerentes a focalizarem nos elementos aparentemente divergentes da estratégia

competitiva da empresa, também chama a atenção da direção da empresa para

considerar em conjunto todas as medidas operacionais importantes, deixando claro se

a melhoria em uma área foi obtida às custas de outra. (KAPLAN; NORTON, 1992)

As medidas de desempenho operacionais e financeiras foram classificadas pelos

autores em quatro perspectivas, suficientes para fornecer aos gerentes uma visão

completa do negócio e evitando sua multiplicação em uma quantidade enorme de

medidas, sem nenhuma ligação entre elas. Estas perspectivas são as seguintes:

• perspectiva do cliente: é a tradução da missão em termos de serviço ao cliente

em medidas específicas que refletem os fatores realmente importantes para os

clientes. São medidas relacionadas ao tempo (de entrega dos pedidos e de

introdução de novos produtos), à qualidade, ao nível de serviço e ao custo total

sob o ponto de vista do cliente. Algumas destas medidas podem ser: entregas no

prazo acordado, % de novos produtos em relação às vendas totais.

• perspectiva interna: é a tradução das medidas baseadas no cliente em medidas

internas para atingir estas expectativas. É o foco nas operações que permitem à

empresa satisfazer as necessidades dos clientes, isto é, suas competências-

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chave. A empresa precisa definir em que processos e competências ela deve ser

superior, e especificar medidas para cada um deles. Estas medidas podem ser:

tempo de ciclo do pedido, eficiência operacional e produtividade, entre outras;

após esta definição a empresa precisa estabelecer os objetivos condizentes para

cada nível interno operacional.

• perspectiva de inovação e aprendizagem: são medidas que mensuram a

habilidade da empresa em inovar, melhorar e aprender, pois esta habilidade está

diretamente ligada à sua capacidade de crescer e conseqüentemente aumentar

seu valor. São medidas relacionadas ao lançamento de novos produtos e à

melhoria da eficiência operacional, entre outras. Um exemplo de medida seria o

tempo de lançamento de novos produtos.

• perspectiva financeira: são as medidas tradicionais, que indicam se a estratégia

da empresa, assim como sua implementação e execução, estão contribuindo

para a melhoria da rentabilidade. Alguns críticos do uso de medidas financeiras

argumentam que, se as medidas operacionais estiverem favoráveis, a

conseqüência natural será o sucesso financeiro. No entanto, esta ligação é

bastante tênue, pois não é incomum que uma empresa tenha um excelente

desempenho operacional sem que consiga refleti-lo em rentabilidade. Por isso,

as medidas financeiras não podem ser esquecidas. (KAPLAN; NORTON, op. cit.)

O conjunto de medidas do Balanced Scorecard forma um sistema que continua

sendo um sistema de controle por resultados – afinal, os departamentos recebem

metas e precisam buscar maneiras de atingi-las. No entanto, ao abrir o espectro das

medidas para as quais os gerentes precisam olhar, acrescentando medidas de

mercado, de processos e de inovação às tradicionais medidas de receitas, custos e

despesas, o Balanced Scorecard destaca que os resultados financeiros sempre devem

ser alcançados por meio de melhorias operacionais, e não por simples cortes de

custos ou por vendas malfeitas.

As inovações trazidas pelo modelo de Balanced Scorecard também são

reconhecidas por outros autores. Horngren, Sundem e Stratton (op. cit., p. 355), por

exemplo, destacam que “o Balanced Scorecard é um sistema de avaliação de

desempenho que atinge um equilíbrio entre medidas financeiras e operacionais, liga o

desempenho a recompensas, e reconhece explicitamente a diversidade de interesses

dos acionistas de uma empresa”. Destacam, ainda, que muitas empresas já estão

utilizando estes preceitos para focalizar a atenção dos gerentes nos itens que

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realmente importam no desempenho. Anthony e Govindarajan (op. cit.) sugerem que

cada medida em um Balanced Scorecard abrange um aspecto da estratégia da

empresa. Assim, sua utilização reforça a congruência de metas, colocando foco na

organização, melhorando a comunicação, definindo os objetivos organizacionais e

fornecendo informações sobre como a empresa se encontra em relação à

implementação da sua estratégia.

2.1.4 GECON – Sistema de Gestão Econômica

Um sistema de controle que também pode ser considerado um sistema por

resultados mas que difere um pouco do modelo pregado por Anthony – e

especialmente dos princípios defendidos por Kaplan e Atkinson – pois se baseia

unicamente em centros de responsabilidade medidos por lucros, é o denominado

GECON – Sistema de Gestão Econômica. Este modelo se preocupa em espelhar em

termos econômico-financeiros as atividades operacionais da empresa – ou seja, os

departamentos são medidos em termos do resultado econômico que geram para a

empresa. Os objetivos do sistema são permitir uma maior delegação de autoridade

sem perda de controle, assim como estimular a criatividade dos gestores, que podem

administrar seus departamentos como se fossem empresas, buscando otimizar as

contribuições dadas pelas atividades sob sua responsabilidade.

O sistema GECON se baseia nos seguintes pressupostos:

• os centros de responsabilidade são medidos em termos de resultado econômico,

que é a variação do valor das suas riquezas em um período de tempo. Este

resultado é calculado a partir de diversas premissas: receita reconhecida pelo

regime de competência, custeio direto, valor presente, moeda constante, preços

de transferência, custos de oportunidade. O somatório dos resultados

econômicos de cada área vai formar o resultado da empresa;

• custos de reposição e de oportunidade: cada área deve ser capaz de gerar

produtos e serviços cujo valor econômico seja suficiente para repor, no mínimo,

os recursos consumidos em determinado período;

• preços de transferência: baseados preferencialmente em parâmetros de

mercado;

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• custeio padrão: as áreas somente são debitadas/ creditadas por eventos sobre

os quais tenham responsabilidade; as eficiências/ ineficiências não são

transferíveis para outras áreas e nem repassadas aos produtos/ serviços;

• resultados financeiros separados de resultados operacionais: cada gestor é

responsabilizado não só pelo resultado das suas decisões operacionais, mas

também por suas decisões financeiras (prazos das operações de compras/

vendas e das estocagens/ imobilizações). (CATELLI; GUERREIRO, 1994)

A diferença entre o modelo de gestão proposto pelo GECON e o modelo

tradicional é principalmente o incentivo às ações do gestor, no sentido de que o

mesmo seja estimulado a proceder de modo a gerar o melhor resultado possível para

as atividades sob sua responsabilidade. Assim, espera-se que o gestor adquira e

mantenha uma postura empreendedora perante suas ações, significando que ele

próprio deve buscar os resultados de sua área. Em virtude disso, os gestores acabam

adquirindo um maior nível de delegação de autoridade em relação à controlabilidade

dos gastos em suas áreas. O controle por parte da administração, neste caso, é feito

por meio dos resultados reportados, uma vez que os resultados dos atos praticados

aparecerão sob a forma de lucro ou prejuízo.

Estes preceitos estão alinhados com a definição de Eccles (op. cit.) para

organizações competitivas (ver pág. 20), nas quais cada unidade de negócios procura

maximizar seus objetivos, mesmo às custas da outra, sendo, porém, estes custos

pequenos se comparados aos benefícios da competição.

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2.2 Custos de Logística

2.2.1 Os Conceitos de Logística Integrada e Custo Total

Uma definição simples de Logística pode ser enunciada como: o processo de

apanhar e entregar o produto certo, no lugar certo, no tempo certo, ao custo certo e na

condição certa. Esta definição abrange a idéia geral da missão da função logística,

mas precisou ser ampliada para abordar todas as atividades compreendidas pela área

hoje, conforme definição adotada pelo Council of Logistics Management:

“Logistics is that part of the supply chain process that plans, implements, and

controls the efficient, effective forward and reverse flow and storage of

goods, services, and related information between the point of origin and the

point of consumption in order to meet customers´ requirements”. (COUNCIL

OF LOGISTICS MANAGEMENT, 2002)1

Esta definição apresenta duas características da função logística que precisam

ser reconhecidas para um melhor entendimento da sua atividade: (1) a contraposição

entre custo e nível de serviço; e (2) a abrangência de diversas atividades sob a

definição de “fluxo e estocagem”.

A primeira característica, a necessidade de contrapor custo e nível de serviço na

tomada de decisões, evidencia que a função logística não pode ser gerenciada

buscando-se apenas reduções nos custos, pois seu desempenho impacta diretamente

a satisfação do cliente externo da empresa. Da mesma forma, a função logística não

deve ser vista apenas como uma função de Marketing, pois seus custos podem chegar

a montantes expressivos e sua eficiência operacional é primordial para a rentabilidade

da empresa. Ou seja, a atividade logística precisa balancear as expectativas do

serviço com as despesas associadas, de maneira a atingir os objetivos do negócio.

(BOWERSOX; CLOSS, op. cit.)

A segunda característica apresenta como atividades de Logística o fluxo e

estocagem de produtos, serviços e as informações relacionadas. Para isto, a função

logística precisa empreender diversas atividades: compras, armazenagem, transporte,

processamento de pedidos e decisão sobre nível de estoques.

1 tradução do autor deste trabalho: “Logística é a parte do processo da cadeia de suprimentosque planeja, implementa e controla o fluxo de ida e retorno e a estocagem de produtos,serviços e informações relacionadas, de forma eficiente e eficaz, entre o ponto de origem e oponto de consumo, a fim de atender aos requerimentos dos clientes.”

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A figura a seguir, proposta por Lambert e Stock (1987), reúne estas duas

características, destacando não apenas a interação de Logística com Marketing, como

também a interação entre as diversas atividades internas desempenhadas pela

Logística:

Fig. 1 - Fonte: LAMBERT, D.M.; STOCK, J. Strategic Logistics Management, 2ª ed., p. 585, 1987

(traduzido).

Em relação à interação com Marketing, Logística é apresentada como um dos

componentes do marketing mix, formado pelos quatro p’s: preço, produto, promoção e

praça. No caso, o item praça do marketing mix é o nível de serviço prestado na função

de distribuição, ou seja, o output da função logística. O nível de serviço é a interface

de Logística com a criação de demanda.

Produto

Preço Promoção

Praça/níveis de serviço

ao cliente

Custos deestoques

Custos detransportes

Custos detamanho de lote

Custos dearmazenagem

Custos deprocessamento de

pedidos e informações

LOGÍSTICA

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Internamente, para gerar um determinado nível de serviço, a função logística das

empresas precisa desenvolver uma série de atividades: transportes, estoques,

armazenagem, processamento de pedidos, processo de compras. Estas atividades

interagem entre si, de forma que decisões em uma delas afeta o desempenho de

outra(s).

Cada uma destas atividades tem seus custos associados, e é preciso entender o

que é cada um e o que os causa:

• Custo de Nível de Serviço: é o custo associado a alternativos níveis de serviço

ao cliente. Pode ser traduzido como o custo de vendas perdidas, que deve não

apenas incluir a margem de contribuição perdida pela não realização da venda,

mas também o valor presente de todas as vendas futuras perdidas quando um

cliente deixa de comprar da empresa. Como este custo é difícil, se não

impossível de ser mensurado, normalmente um determinado parâmetro de nível

de serviço é estabelecido, de acordo com as expectativas dos clientes, e o que

se busca é minimizar os outros componentes do custo de Logística. (LAMBERT;

STOCK, op. cit.) Bowersox e Closs (op. cit.) detalham como estabelecer um

determinado nível de serviço, definindo três variáveis a serem medidas:

disponibilidade (ter estoque para atender aos requerimentos dos clientes),

desempenho operacional (velocidade e consistência do recebimento do pedido

até o momento da entrega) e confiabilidade do serviço (qualidade geral da

operação). Os custos associados a diferentes níveis de serviço seriam aqueles

necessários para melhorar o desempenho destas três variáveis (p. ex., para se

ter maior disponibilidade de produtos é preciso aumentar o custo de estoques).

Christopher (1997), ao abordar o assunto, cita um estudo desenvolvido por

LaLonde e Zinszer em que são resumidas diversas interpretações das empresas

pesquisadas a respeito do que elas definem como nível de serviço. Este mesmo

estudo, com base na pesquisa realizada, dividiu as variáveis de medição de nível

de serviço em três categorias: elementos pré-transação (p. ex.: acessibilidade à

empresa, flexibilidade do sistema), elementos da transação (p. ex.:

disponibilidade de estoques, tempo do ciclo do pedido) e elementos pós-

transação (p. ex.: disponibilidade de peças, atendimento a reclamações dos

clientes). Seja qual for, no entanto, a maneira de medição do nível de serviço, é

importante que a empresa entenda esta variável como a interface de Logística

com Marketing, conforme demonstrado na figura de Lambert e Stock, pois se

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Marketing se relaciona com obter e manter clientes, o nível de serviço prestado

por Logística é de suma importância para o atingimento destes objetivos;

• Transportes: são diversos os custos de transportes. O mais óbvio é a taxa paga

ao transportador para utilização do modal. Outros custos indiretos são a mão-de-

obra e materiais usados para carregar e descarregar o veículo de transporte, a

ocorrência de danos aos produtos, o seguro pago para proteger contra possíveis

perdas e os custos de manutenção dos estoques em trânsito. (ROSS, 1996) Os

custos de transporte são normalmente fáceis de serem determinados, mas é

preciso que a empresa identifique estes custos por categoria (transporte inbound

ou outbound – se a empresa recebe ou entrega –, por tipo de canal, por cliente,

por modal, por transportadora, por produto e por fornecedor). Somente assim é

capaz de calcular os custos incrementais de mudanças no sistema de

transportes. (LAMBERT; STOCK, op. cit.) ;

• Armazenagem: os custos de armazenagem são os custos diretamente

associados ao número de unidades de estocagem e à movimentação de

estoques nestas unidades. Os custos de armazenagem não se relacionam ao

volume de estoques, mas sim com a quantidade de pontos de estocagem

(LAMBERT; STOCK, op. cit.) Estes custos se relacionam ao manuseio de

materiais (receber, estocar, localizar e remeter produtos e materiais dentro do

armazém), à estocagem em si e à transferência de informações para as outras

funções logísticas. (ROSS, op. cit.) Bowersox e Closs (op. cit.) destacam que a

mão-de-obra direta e o capital investido nos equipamentos para manuseio de

materiais são significativos no total dos custos logísticos. Além disso, a gestão

da armazenagem como uma função estratégica dentro de uma empresa pode

ser feita buscando-se outros benefícios econômicos: consolidação, break-bulk e

cross-dock (recebimento e reagrupamento de estoques vindos de diversas

localidades para um determinado cliente – reduz o custo de transportes),

postergação do processamento (realização de atividades de produção no próprio

armazém, possibilitando a finalização do produto apenas quando a demanda é

conhecida) e ajuste de sazonalidade (ajuste do período da oferta com o período

da demanda). (BOWERSOX; CLOSS, op. cit.);

• Processamento de Pedidos: os custos desta atividade são os custos de

transmissão, entrada e processamento de pedidos, os custos de manuseio

associados e os custos de comunicação necessários (LAMBERT; STOCK, op.

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cit.) O tempo de processamento de pedidos (do recebimento do pedido até a

entrega do produto ao cliente) e a variabilidade deste tempo estão diretamente

associados ao nível de serviço prestado. Para redução deste tempo, é essencial

a implementação de ferramentas de tecnologia da informação, eliminando

redundâncias no fluxo do pedido, como papéis e procedimentos desnecessários,

informações incorretas, checagens e rechecagens. (ROSS, op. cit.);

• Tamanho de Lote: os custos relacionados a tamanho de lote são os custos de

produção ou de compra que se alteram em decorrência de alteração no sistema

logístico (p. ex., custos de preparação da produção, custos de manuseio e de

expedição de materiais, aproveitamento de descontos por volume). (LAMBERT;

STOCK, op. cit.) Um dos indicadores de desempenho mais comuns para avaliar

uma área de compras é o preço obtido na compra dos produtos, que

normalmente é menor quanto maior a quantidade adquirida. No entanto, é

preciso destacar também outros itens importantes no seu desempenho: a

eficácia no suporte às outras operações (p. ex., se não há falta de produtos por

atrasos na entrega), o investimento em estoques necessário, a qualidade dos

produtos ou materiais comprados, a confiabilidade e flexibilidade dos

fornecedores escolhidos e a coordenação com as outras áreas (ROSS, op. cit.);

• Estoques: os custos relacionados ao nível de estoques são difíceis de serem

calculados, e a maior parte deles não são registrados pela contabilidade

financeira das empresas. Estes custos incluem: (1) os custos de capital,

relacionados ao custo de oportunidade do capital investido em estoques; (2) os

custos de serviço de estoques, como seguros; (3) os custos do espaço de

estocagem; e (4) os custos do risco dos estoques, que incluem os riscos de

obsolescência, dano e perda. (LAMBERT; STOCK, op. cit.) As empresas com

funções de distribuição mais avançadas já percebem que a manutenção de altos

estoques não apenas é desnecessária como na realidade prejudicial à sua

saúde financeira. Estoques imobilizam capital, requerem gastos pesados para

seu manuseio e registro, estão sujeitos a danos e obsolescência e servem para

mascarar práticas e gerenciamentos operacionais ruins. (ROSS, op. cit.)

Historicamente, cada atividade de Logística e seus custos têm sido gerenciados

por departamentos separados, fragmentados e descoordenados, cada um com seu

gerente responsável, seu próprio orçamento e um conjunto de prioridades e medidas

de desempenho. Além disso, na maioria das vezes estes departamentos são centros

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de despesas, avaliados de acordo com os custos incorridos em comparação com um

padrão. No entanto, em função da natureza interativa entre as atividades logísticas,

esta abordagem tradicional leva a uma subotimização do desempenho total.

(EMMELHAINZ; EMMELHAINZ, 1990) Conforme destacado por Lambert e Stock (op.

cit.), sem uma abordagem integradora as forças atuantes sobre cada uma das

atividades logísticas tendem a acarretar um maior nível de estoques, principalmente

porque:

• o setor de compras normalmente é recompensado por atingir menores custos

unitários de matérias-primas e suprimentos, ou seja, busca comprar em maior

volume para obter descontos;

• o setor de produção normalmente é recompensado por atingir menores custos

de produção unitários, por isso busca otimizar a produção por meio de mais

unidades produzidas em cada corrida de produção;

• o setor de vendas deseja presença de mercado, posicionando maiores estoques

de produtos acabados o mais perto possível dos clientes;

• o setor de transportes normalmente é avaliado pelos custos de transporte,

criando incentivos para o uso de modais mais lentos, o que gera a necessidade

de maiores estoques;

• os clientes e intermediários procuram reduzir estoques por meio de compras

mais freqüentes, forçando um maior estoque no produtor.

Considerando que, apesar de não serem registrados, os custos de manutenção

de estoques poderem ser os mais altos da empresa, em função dos altos custos de

oportunidade e dos riscos associados ao investimento neste ativo, as economias

obtidas nas outras atividades podem não ser compensadas, gerando um maior custo

total. Por outro lado, não basta apenas buscar uma redução pura e simples no nível de

estoques, pois isto pode na verdade aumentar o custo total de Logística, impactando o

nível de serviço ao cliente – gerando vendas perdidas – e os custos de transporte.

Desta forma, fica claro que, em vez de tentar minimizar os custos dos

componentes individuais de Logística, a empresa deve selecionar o nível de gastos de

cada componente que leve ao maior lucro. A chave para isso é a análise de custo total

no gerenciamento da função logística. A empresa deve procurar o menor custo total de

Logística, e não o menor custo de cada atividade, pois isto pode levar a maiores

custos totais. Invariavelmente, as reduções em um custo levam a aumentos nos

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custos de outros componentes. Por isso, um efetivo gerenciamento e a obtenção de

economias de custos só podem ser alcançados através da administração da função

logística como um sistema integrado.

Além dos benefícios já explorados em termos de economias de custos, eficiência

e produtividade, a gestão da função logística como um sistema integrado pode

também elevar o nível de serviço prestado ao cliente. Isto porque este gerenciamento

integrado fornece às empresas a capacidade de responder aos requerimentos dos

clientes de maneira mais rápida e eficaz. Esta proposta foi apoiada por uma pesquisa

desenvolvida por Ellinger, Daugherty e Gustin (1997), que levantou evidências de que,

em oito medidas de serviço ao cliente mensuradas, o desempenho de empresas com

uma gestão integrada de Logística (definida de acordo com a opinião das próprias

empresas quanto ao seu nível de integração) foi significativamente superior ao

desempenho de empresas que não consideravam ter uma gestão integrada de

Logística. Isto sustenta a proposta de que a integração inter e intra-departamental

fornece a coordenação e as informações necessárias para a prestação de um melhor

serviço aos clientes, trazendo mais um incentivo para a busca constante por uma

Logística integrada.

Um outro aspecto importante a ser destacado a respeito da gestão de Logística

de forma integrada é a estrutura organizacional adequada para esta integração. A

importância de uma estrutura organizacional que ajude, e não seja mais um

empecilho, para uma gestão integrada de Logística, foi colocada como um dos 10

princípios de excelência logística em um estudo conduzido em conjunto pela empresa

de consultoria Ernst & Whinney (atualmente Ernst & Young), o Council of Logistics

Management e o National Association of Accountants (1987). Este estudo considera

que, conforme destacado anteriormente, ter um menor custo logístico envolve

administrar constantes trade-offs (p. ex., maiores gastos com transporte para menores

custos de estoques e armazenagem), e, portanto, as melhores decisões nas duas

áreas serão mais fáceis de serem tomadas se ambas forem subordinadas a uma única

diretoria, independente das Diretorias de Marketing, Produção e Finanças. Ou seja,

deve haver um único executivo-chefe para o gerenciamento de todas as atividades

logísticas, e este executivo deve ser suficientemente independente das outras funções

da empresa, para sofrer um menor nível de influência na sua tomada de decisão.

Dada uma organização com um único controle para todas as funções de

Logística, uma questão adicional que se coloca é: qual o melhor mix de centralização

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e descentralização das decisões? O mesmo estudo sugere que esta segregação deve

ser feita no nível das diferentes atividades, e não no nível mais amplo da função.

Dentro da função de transportes, por exemplo, a escolha de um transportador para

uma determinada remessa é uma decisão melhor feita no campo, ao passo que decidir

assuntos de abrangência nacional, que requeiram análise dos impactos em outras

funções, é uma decisão tomada de forma mais eficaz pelo pessoal da matriz.

Tendo em vista todo o exposto, podem ser destacados alguns pontos que

deixam clara a importância do gerenciamento de Logística como uma função integrada

e da consideração do custo total nas decisões da área:

• o gerenciamento de Logística em funções descoordenadas e segregadas acaba

por gerar pressões para um maior nível de estoques. O custo de estoques, no

entanto, pode ser maior que as economias geradas em outras atividades, como

transportes e compras. Assim, o gerenciamento de Logística deve sempre

buscar o menor custo total das atividades;

• o gerenciamento integrado gera não apenas redução no custo total, mas

também aumento do nível de serviço prestado aos clientes, conforme destacado

em uma pesquisa;

• para um gerenciamento integrado e buscando um menor custo total, é

importante que a função logística tenha uma administração única, a fim de

minimizar os interesses conflitantes entre as áreas. Além disso, deve haver

adequada estruturação quanto aos graus de centralização / descentralização das

decisões.

Tudo o que foi mencionado a respeito de Logística integrada e análise de custo

total são idéias bastante exploradas pelos estudiosos da área, mas são

reconhecidamente conceitos bastante difíceis de serem implementados na prática. A

busca pela integração interna enfrenta pelo menos quatro obstáculos significativos,

resumidos por Bowersox (1991):

• as práticas tradicionais de administração e as estruturas organizacionais

relacionadas se baseiam em desempenho funcional. Dada uma orientação

funcional, é difícil no dia-a-dia gerenciar os recursos em termos de um processo

global.

• os estoques de uma empresa muitas vezes são gerenciados por grupos

separados, e são vistos como essenciais para o desempenho de seus encargos

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– os estoques de matérias-primas pelo pessoal de produção e os estoques de

produtos acabados pelo pessoal comercial.

• o típico desenho dos sistemas de informações e dos sistemas financeiros é feito

para facilitar o controle funcional. O resultado é uma séria deficiência em se

obter uma contabilidade por transação ou atividade, que são essenciais para o

processo de gerenciamento integrado.

• as organizações normalmente são estruturadas de maneira burocrática e

hierarquizada, com pouco incentivo para a flexibilidade, o comprometimento e a

tomada de decisões por parte dos funcionários. Uma significativa mudança

cultural é necessária para o gerenciamento dos processos.

2.2.2 Trade-offs de Logística

Dados os conceitos de Logística integrada e custo total, é preciso discutir os dois

tipos de trade-offs que impactam a função logística: o primeiro ocorre entre a atividade

Logística e as atividades de Marketing, Finanças e Produção, pois cada uma destas

atividades tem suas próprias prioridades, e pressionam a Logística em diferentes

direções; o segundo ocorre entre as funções internas de Logística, que, se não forem

administradas de forma coordenada e integrada, acabam resultando em um maior

custo total, justamente em decorrência dos trade-offs entre elas, conforme já discutido.

Os trade-offs entre Logística e Marketing, Finanças e Produção surgiram,

historicamente, a partir da integração de duas atividades que, no passado, eram

gerenciadas separadamente: a administração de materiais e a distribuição física de

produtos. A administração de materiais integrava Compras e Produção, e sua

prioridade era a redução de perdas e de duplicação de esforços. A distribuição física

de produtos unia o gerenciamento do estoque de produtos acabados à atividade de

Marketing, buscando o conjunto certo de produtos no local certo e no momento certo,

para gerar um maior nível de serviço aos clientes. A única ligação entre estas duas

operações era a necessidade de transportes. A Fig. 2 apresenta esta noção de forma

gráfica:

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Fig. 2 - Fonte: BOWERSOX, D.J. Improving The Logistics /Marketing /Sales Interface, Proceedings of The

Annual Conference of The Council of Logistics Management, vol. 1, p. 246, 1991 (traduzido).

O aumento da competição e o início da percepção de Logística como uma

atividade potencialmente estratégica forçou as empresas a integrar o foco tradicional

de gerenciamento de materiais e distribuição física em um único processo, adotado

pelas empresas líderes e reconhecido nos dias de hoje. Esta integração, demonstrada

pela Fig. 3, colocou sob um único comando todas as atividades relacionadas a

comprar, estocar, movimentar e gerenciar toda e qualquer forma de estoque de

produtos.

Fig. 3 - Fonte: ERNST & WHINNEY. Corporate Profitability & Logistics: Innovative Guidelines forExecutives, a joint study by Council of Logistics Management & National Association of Accountants, p.46, 1987 (traduzido).

AS RAÍZES DE LOGÍSTICAUMA PERSPECTIVA FUNCIONAL

Ligação do Processode Transporte

Marketing / VendasGerenciamento da

Distribuição

ProduçãoAdministração de

Materiais

Administração de Materiais Gerenciamento da Distribuição

• Matérias-primas• Sub-componentes• Peças fabricadas• Materiais embalagem

Estoque deprodutos

emprocesso

Estoquede

produtosacabados

Estoque nocampo

Empresa

Cliente

Clienteou

usuário

Negócio de Logística

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Uma estrutura como esta, no entanto, que coloca sob o comando de Logística

tanto as atividades de compras de materiais como de distribuição física de produtos

acabados, acabou gerando pressões em sentidos contrários, causadas pelos

interesses conflitantes das atividades de Marketing, Finanças e Produção. Estes trade-

offs são claramente ilustrados pela Fig. 4, que apresenta a direção da pressão que

cada uma destas atividades exerce sobre a função logística:

Fig. 4 - Fonte: ERNST & WHINNEY. Corporate Profitability & Logistics: Innovative Guidelines for

Executives, a joint study by Council of Logistics Management & National Association of Accountants, p.

44, 1987 (traduzido).

Cada uma das setas representa os interesses próprios destas atividades e sua

relação com o papel desempenhado pela atividade logística. Estas relações são as

seguintes:

• Vendas e Marketing: busca maior disponibilidade de produtos e uma introdução

rápida de novos produtos e serviços, gerando maiores receitas. Isto causa uma

pressão por maior nível de serviço, maiores interrupções na produção e por

maior investimento em estoques.

Interesses Funcionais & seus Impactos: Administração de Conflitos

Interesses FuncionaisInteresses Funcionais Interfaces com LogísticaInterfaces com Logística Impactos no NegócioImpactos no Negócio

MAIS RECEITAS POR:

• Maior disponibilidade de produtos

• Rápida introdução de produtos e serviços

PRODUÇÃO EFICAZEM CUSTOS POR:

• Alta e consistente utilização da capacidade

• Menos set-ups, maiores corridas de produção

FORTES CONTROLES PARA:

• Nível de estoques• Despesas• Investimentos

Vendas & MarketingVendas & Marketing

ProduçãoProdução

Finanças &Finanças &Administração de CustosAdministração de Custos

MAIOR

MENOR

MAIS

MENOS

MAIOR

MENOR

SERVIÇO AOCLIENTE

RESTRIÇÕES ÀPRODUÇÃO

INVESTIMENTOEM ATIVOS

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39

• Produção: busca uma alta e consistente utilização da capacidade produtiva, com

maiores corridas de produção, para gerar menores custos de fabricação. A

pressão em Logística se dá na direção de um menor nível de serviço prestado,

menores interrupções na produção e por maior investimento em estoques.

• Finanças: busca reduzir os níveis de estoques, de despesas e de investimentos,

para obter menores custos. Gera pressão por um menor investimento em

estoques.

Internamente, os trade-offs entre as funções de Logística já foram de certa forma

abordados no tópico que discorreu a respeito dos conceitos de custo total e Logística

integrada. Estes trade-offs significam que as reduções em um custo invariavelmente

resultarão em aumentos em um ou mais outros custos. Conforme ilustrado por

Lambert e Stock (op. cit., p. 584):

“Por exemplo, agregar todo o estoque de produtos acabados em menos

centros de distribuição pode minimizar os custos de armazenagem e

aumentar o turnover de inventário, mas causará maiores custos de

transportes. Da mesma forma, economias resultantes de preços de compra

menores em função de grandes pedidos podem ser totalmente

compensados por maiores custos de estoques.”

O trade-off mais destacado nos livros, e talvez o que mais cause impacto no

custo total, ocorre entre os custos de transportes e os custos de estoques e

armazenagem. Isto porque um mesmo nível de serviço pode ser obtido por duas

maneiras: ou através de um maior nível de estoques e de mais centros de distribuição,

gerando maior disponibilidade e rapidez no atendimento aos clientes – em função da

proximidade dos locais de armazenagem – ou através de um transporte mais rápido, e

conseqüentemente mais caro, que reponha os produtos e os entregue rapidamente

aos clientes.

A escolha entre estes dois modelos deve ser tal que os custos de estoques,

armazenagem e transportes sejam os menores possíveis. Este cálculo deve ser feito

para cada caso específico, e dependerá basicamente da magnitude dos custos de

transportes em relação aos custos de estoques e do nível de serviço a ser oferecido.

Um estudo desenvolvido por Das e Tyagi (1997) concluiu que, de uma forma geral,

quanto maiores forem os custos de transporte em relação aos custos de estoques,

maior deve ser a descentralização, e quanto maior o nível de serviço exigido maior

deve ser a centralização.

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40

A magnitude da relação entre os custos de transportes, estoques e

armazenagem vai depender de duas características dos produtos: densidade de valor

(valor monetário / m3) e densidade da embalagem (caixas / m3). Produtos com baixa

densidade de valor e baixa densidade de embalagem apresentam maiores custos de

transporte e armazenagem; produtos com alta densidade de valor possuem altos

custos de estoques; e produtos com alta densidade de embalagem apresentam

maiores custos de manuseio. Estas diferenças são ilustradas pela Fig. 5. São estes

fatores que irão influenciar mais fortemente as decisões de centralização e

descentralização de pontos de estocagem.

Fig. 5 - Fonte: AMSTEL, R.P.; D’HERT, G. Performance Indicators in Distribution, The International

Journal of Logistics Management, vol. 7, no. 1, p. 78, 1996 (traduzido).

Os trade-offs entre estoques e transportes, porém, não são os únicos das

funções internas de Logística. Conforme apresentado pela Fig. 1, que iniciou a

discussão do tópico de custo total e Logística integrada, existem trade-offs entre todas

as atividades de Logística, ilustrados pelas setas ligando cada uma delas. Estes trade-

offs precisam ser entendidos de forma que seja possível uma gestão de Logística de

forma integrada. Um artigo de Emmelhainz e Emmelhainz (op. cit.) procurou resumir

estas ligações, além de apresentar os fatores que direcionam os custos da cada uma

destas atividades – os cost drivers. Neste artigo, os autores destacam que alguns

Segmentação de Produtos de Acordo com Critérios de CustoSegmentação de Produtos de Acordo com Critérios de Custo

Taxa de JurosTaxa de Juros

Transporte e EstocagemTransporte e Estocagem ManuseioManuseio

Densidade de embalagem (caixas / mDensidade de embalagem (caixas / m33))

Dens

idad

e de v

alor (

$ / m

Dens

idad

e de v

alor (

$ / m

33 ))

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custos afetam outros no mesmo sentido (ou seja, quanto maior um, maior o outro); no

entanto, há diversos casos em que o impacto é no sentido contrário, isto é, quanto

maior um custo, menor o outro. Suas considerações, complementadas por

informações adicionais, estão resumidas no seguinte quadro:

Fig. 6 - Adaptado de: EMMELHAINZ, M.A.; EMMELHAINZ, L.W. An Introduction to Logistics Costs:

Concepts and Issues, Proceedings of The Annual Conference of The Council of Logistics Management,

vol. 1, p.237-242, 1990.

O que este quadro apresenta é o seguinte: na primeira coluna estão listados os

custos das atividades logísticas; na segunda, quais os fatores que afetam estes

custos; na terceira, os outros custos que são afetados pelas decisões de cada

atividade; e, na última, a direção do impacto: ++ significa que, quanto maior o custo da

Tipos de Custos

Como Impactam...

Custos de • valor monetário dos • Nível de serviço + +Estoques estoques • Custos de Compras + -

• nível médio de estoques • Custos de Armazenagem + +• custos de capital • Custos de Transportes + -• custos de estocagem

Custos de • tipo de armazém • Custos de Estoques + +Armazenagem • número de armazéns • Custos de Transportes + -

• nível de entradas e • Nível de serviço + +saídas

• serviços exigidosCustos de • volume e distância • Custos de Estoques + -Transportes da remessa • Custos de Compras + +

• características dos • Nível de serviço + +produtos

Custos de • custo de compra • Custos de Estoques + -Compras dos estoques • Custos de Transportes + +

• nº de pedidos colocados • Programação da + -• quantidade pedida Produção

(descontos por volume)Custos de • grau de informatização • Nível de serviço + +Processamento do sistema de pedidos • Custos de Estoques + -de Pedidos • Custos de Transportes + -

Direcionadores de Custos

Decisões Impactam...Trade-offs

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42

coluna 1, maior o custo da coluna 3; +- significa que, quanto maior o custo da coluna

1, menor o custo da coluna 3.

Para ilustrar a utilidade do quadro, pode-se apresentar a leitura sobre o custo de

estoques. Conforme destacado no quadro, este custo é afetado pelas seguintes

variáveis: valor monetário dos estoques, o nível médio de estoques mantidos, os

custos de capital da empresa e os custos de estocagem (coluna 2). As decisões a

respeito do custo de estoques irão afetar também outros custos: os de compras,

armazenagem, transportes e o nível de serviço (coluna 3). Esse impacto ocorre da

seguinte forma: um maior nível médio de estoques significa maior disponibilidade dos

produtos e, portanto, um maior nível de serviço; quanto maior o nível de estoques,

maiores serão os custos de armazenagem – pois haverá a necessidade de um maior

número de armazéns; quanto maior o nível de estoques, menores os custos de

compras – que poderão ser feitas com menos freqüência, possibilitando descontos por

volume e menores custos operacionais; e, finalmente, quanto maior o nível de

estoques, menor o custo de transportes – pois será necessária uma menor freqüência

de transporte inbound, possibilitando a consolidação de cargas (coluna 4).

Uma gestão integrada da função logística precisa reconhecer e entender em

detalhes estes impactos, pois cada decisão deverá ser tomada com base em como o

custo total irá variar em função desta decisão. Esta variação do custo total será

formada por todas as variações de custos de cada uma das atividades afetadas, que

algumas vezes podem variar no mesmo sentido e outras vezes em sentidos opostos.

2.2.3 Problemas da Contabilidade Tradicional Aplicada a Logística

Entre os autores que abordam a questão do gerenciamento integrado de

Logística, alguns argumentam que a não implementação deste conceito na prática,

pelas empresas, se deve principalmente à falta de informações de custos adequadas.

Lambert (1994, p. 260), por exemplo, sugere:

"A falta de informações de custos adequadas impediu a implementação

plena do gerenciamento integrado de logística em muitas empresas. Os

contadores não acompanharam os desenvolvimentos de Logística e, na

verdade, têm mostrado relativamente pouco interesse na área.”

Para este e outros autores, os sistemas de informação contábil como são hoje

não atendem às necessidades específicas da área de Logística. Lambert, Stock e

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43

Martin são alguns que explicitam o que consideram os principais problemas da

contabilidade de custos ao ser aplicada a esta área:

• o uso do custeio total: o custeio total, aqui citado, significa a alocação de todos

os custos de produção aos produtos, com base em algum critério, muitas vezes

arbitrário. É exigido para fins de reporte financeiro; (LAMBERT; STOCK, op. cit.)

• os custos contábeis são agrupados por contas dependendo da sua natureza, e

não da função desempenhada: os custos de armazenagem e transportes, por

exemplo, podem estar pulverizados em diferentes contas, sob os títulos de

salários, custos indiretos, despesas de vendas e administrativas; (LAMBERT;

STOCK, op. cit.)

• existe desconhecimento total dos verdadeiros custos de prestação de serviços

para os diferentes tipos de clientes /canais /segmentos de mercado; (MARTIN,

1997)

• as companhias entendem os custos por produto, mas não os custos por cliente,

que deveriam ser priorizados pois o produto não gera lucro, mas sim o cliente.

(MARTIN, op. cit.)

Outros pontos foram levantados pelos autores, mas todos eles dizem respeito

aos princípios de contabilidade financeira, que, hoje, já é reconhecido como um

sistema que apresenta inúmeras distorções se for utilizado para a tomada de decisões

– e não apenas na área de Logística. Conforme Jiambalvo (2002, p. 1):

“A contabilidade financeira enfatiza os conceitos e procedimentos contábeis

que se relacionam à preparação de relatórios para os usuários externos da

informação contábil. Em contrapartida, a contabilidade gerencial enfatiza os

conceitos e os procedimentos contábeis que são relevantes à preparação de

relatórios para os usuários internos da informação contábil.”

A Contabilidade Financeira, assim, tem o objetivo de preparar relatórios aos

usuários externos da informação contábil – investidores, credores, governo, etc. – e

por isso precisa se prender a alguns rígidos princípios para permitir a comparabilidade

entre informações de diversas empresas. Conforme destacam Anthony, Reece e

Hertenstein (op. cit., p. 12):

“Quando leitores familiares com contabilidade vêem em um relatório contábil

o item “Estoques contabilizados a custo PEPS ou mercado, $1.435.655”,

eles entendem que isto se refere a uma certa categoria de propriedade, e

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que o montante desta propriedade foi avaliada de acordo com certas regras

estabelecidas. Eles podem confiar neste entendimento mesmo não tendo

contato pessoal com o contador que reportou a informação.”

As informações contábeis que devem ser utilizadas para fins de tomada de

decisões internas são as informações de Contabilidade Gerencial, cujas regras são

definidas pela própria empresa, podendo ser configuradas de acordo com a

informação que se deseja obter e o objetivo desta informação – seja planejamento,

controle ou coordenação. A utilização do custeio total, por exemplo, não é obrigatória

nos relatórios de contabilidade gerencial. (ANTHONY; REECE; HERTENSTEIN, op.

cit.)

Para a mensuração dos custos das operações e dos clientes, por exemplo, que

constituem uma das críticas mais freqüentes à contabilidade de custos tradicional

aplicada à função logística, já existe um método de custeio gerencial, denominado

ABC – Activity Based Costing – que aborda a questão. Este sistema de custeio é

apresentado em detalhes na próxima seção deste trabalho.

Quanto à questão do agrupamento das contas por natureza, Lambert (op. cit., p.

281) destaca: “não se trata de criar dados novos, mas sim de arrumar os dados

existentes no sistema contábil de forma a atender aos objetivos da função logística”.

Hoje em dia o custo de se criar um sistema de informações que tenha um grau de

detalhamento tal que permita o agrupamento tanto por natureza de contas como por

função é muito menor que no passado, e provavelmente é compensado pelos

benefícios de se ter melhores informações para a tomada de decisão.

Um ponto que é preciso ressaltar, no entanto, é que nenhuma das críticas

apresentadas abordou a questão da medição dos trade-offs – de como as mudanças

em um custo afetam outros custos. Considerando que as decisões de Logística devem

ser tomadas a partir do impacto no custo total das mudanças no sistema logístico, e

adicionando-se a isso o fato de que o custo total irá variar de acordo com os trade-offs

entre os custos das diversas atividades que formam a função logística, as informações

de custos relevantes para a tomada de decisão devem mensurar o impacto destes

trade-offs, e, portanto, devem mensurar os custos associados a cada componente e

como as mudanças em cada custo afetam os custos totais. Ou seja, é preciso

determinar os custos relacionados às diferentes áreas funcionais e sua interação. Este

deve ser o objetivo primordial de um sistema de informações adequado às

necessidades da área de Logística. Um sistema de custos que forneça informações

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mais adequadas às necessidades de Logística ajuda nesta questão, mas não é

suficiente para a mensuração das interações entre as suas atividades e seus custos.

Esta questão foi abordada por Pohlen e La Londe (1994), que além das

deficiências já citadas do uso da contabilidade tradicional para as decisões de

Logística, ressaltaram que mais algumas adaptações precisam ser feitas para suportar

um gerenciamento integrado desta função. Segundo eles, “a avaliação de possíveis

trade-offs dentro de Logística requer a identificação, mensuração e comparação de

diversos fatores.” (POHLEN; LA LONDE, op. cit., p. 3) Eles citam estes fatores,

identificados por Tyndal:

• identificar os cost drivers, ou os determinantes estruturais dos custos das

atividades logísticas da empresa, e seu comportamento;

• mensurar estes cost drivers em detalhe suficiente para entender as relações de

causa e efeito das atividades (em vez de classificações contábeis);

• mensurar a interação entre os cost drivers (p. ex., determinar se eles se

reforçam ou se agem de forma contrária entre si);

• identificar os níveis de serviço importantes para os clientes e medir seu valor;

• reconhecer os corretos trade-offs entre os critérios de Logística e de serviço;

• avaliar estes trade-offs, em conjunto e de forma incremental, para buscar

redução de custos sem subestimar a diferenciação necessária na função de

distribuição.

Esta abordagem parte da identificação e do entendimento dos fatores que

direcionam os custos de cada atividade de Logística. Novamente, estas informações

não são possíveis de serem obtidas pelo sistema de custeio por absorção, o custeio

tradicional na maioria das empresas, mas sim por meio do custeio ABC – que será

abordado no próximo tópico.

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46

2.2.4 O Custeio ABC em Logística

O Custeio ABC – Activity Based Costing – surgiu em oposição ao chamado

custeio tradicional – o método de custeio por absorção, o mais usado pelas empresas

por ser o mais simples, ao mesmo tempo em que atende às exigências da

contabilidade financeira. O custeio por absorção se caracteriza por ser um sistema de

custeio total – ou seja, aloca aos produtos todos os custos incorridos pela empresa na

sua atividade de produção, mesmo aqueles custos difíceis de serem identificados com

um ou outro produto, como o custo de depreciação da fábrica, por exemplo. O método

utilizado para alocar estes custos, chamados custos indiretos, aos produtos,

normalmente se baseia em alguma medida de volume de produção, como horas de

mão-de-obra, horas de máquina ou custo de mão-de-obra, ou em medidas que

avaliam a capacidade de suportar custos, como receita de vendas. (JIAMBALVO, op.

cit.) Este sistema de custeio, apesar de ser duramente criticado pelas mais diferentes

áreas de negócio, atende às necessidades da contabilidade financeira, pois relaciona

adequadamente as receitas incorridas em um período com os custos necessários para

obtê-las (os custos de produção) – atendendo aos princípios contábeis. (IUDÍCIBUS et

al., 2000) O problema surge – e é de onde vêm todas as críticas – quando este

sistema de custeio de produtos é utilizado para o gerenciamento das operações e para

a tomada de decisões. Ou seja, para fins de contabilidade gerencial, a sugestão é de

que o sistema de custeio por absorção fornece informações distorcidas, principalmente

se for considerado que atualmente os custos indiretos representam uma grande

parcela dos custos das empresas.

O custeio por absorção não é adequado para fins gerenciais principalmente em

função de um ponto: suas bases de alocação dos custos indiretos aos produtos

utilizam unicamente medidas de volume, o que distorce fortemente as informações dos

custos de cada linha de produtos. Conforme destacado por Shank e Govindarajan

(1997, p. 225):

“A questão geral é que os produtos com maior volume terão os custos

superestimados em relação aos produtos com volume baixo na medida em

que o CIF (custos indiretos de fabricação) é direcionado, no longo prazo, por

atividades que não são proporcionais ao volume de produção. Grande parte

dos CIF em fábricas modernas de multiprodutos é causada muito mais pela

complexidade da linha de produtos e pelo manuseio especial de itens

especiais de baixo volume do que pelo volume da produção como tal.

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Nestas circunstâncias, os produtos de grande volume ficam com o preço

muito elevado ou mostram margens aparentes baixas. Ao contrário, os

produtos com baixo volume têm os preços muito baixos ou mostram

margens aparentes muito altas. Os produtos de grande volume estão

subsidiando os produtos de baixo volume, mas o sistema contábil esconde

este subsídio.”

O ABC também é um método de custeio total, pois também aloca aos produtos

todos os custos de produção. No entanto, o método de alocação proposto difere

bastante do método do custeio por absorção, pois propõe um número de bases de

alocação muito maior e não utiliza apenas medidas baseadas em volume. De uma

forma geral, o que o ABC propõe é o seguinte: quem causa os custos não são os

produtos diretamente, mas sim as atividades necessárias para produzi-los. Por isso,

os custos devem ser primeiro alocados às atividades que os causam, para depois

serem alocados aos produtos, que consomem as atividades. (JIAMBALVO, op. cit.)

Um exemplo bastante mencionado de ABC em Logística é o caso dos custos de

armazenagem. Estes custos não são causados diretamente pelos produtos, mas sim

pelas atividades: recebimento de produtos; identificação do local destes produtos no

armazém e atualização dos registros de estoques; estocagem; retirada dos produtos

do armazém e atualização dos registros de estoques; embalagem, etiquetagem e

colocação dos produtos para transporte; e carregamento dos veículos. Assim, os

custos da atividade de recebimento de produtos – formados por mão-de-obra do

armazém, utilização das empilhadeiras e dos pallets – devem ser alocados aos

produtos de acordo com o peso movimentado, havendo uma taxa extra para produtos

movimentados em pequenas quantidades, pois são estes os fatores que causam os

custos de recebimento de produtos. (ROTH; SIMS, 1991) Se o volume de produção for

usado para alocar estes custos aos produtos, e os produtos de menor volume forem

na verdade os de maior peso, é fácil perceber a distorção causada pelo sistema de

alocação tradicional.

A precisão das informações de custeio de produtos proporcionada pela utilização

do ABC, em oposição aos métodos de custeio tradicionais, é evidenciada pela

discussão de Shank e Govindarajan (op. cit., p. 228):

“Há muito pouca dúvida de que as abordagens baseadas em volumes para

se calcular o custo do produto representam uma grave falha da maioria dos

sistemas de contabilidade gerencial de hoje. As abordagens que atribuem

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grandes porções do custo total (despesas gerais) usando as regras de

alocação com base na mão-de-obra direta ou na hora-máquina são

imprecisas e estrategicamente inúteis em ambientes com linha de produtos

complexa. Há também pouca dúvida de que a abordagem ABC seja

substancialmente mais precisa em atribuir o custo real total aos produtos

que estão causando o custo.”

A Fig. 7 apresenta uma visualização gráfica do método de alocação do custeio

ABC. Observa-se que os custos são alocados às atividades com base em resource

drivers, e os custos de cada atividade são alocados aos produtos com base em activity

drivers. Estes drivers são os cost drivers – direcionadores de custos – que procuram

captar as relações de causa e efeito entre os custos e as atividades e entre as

atividades e os produtos.

FIGURA 1PROCESSO DE ALOCAÇÃO EM DOIS ESTÁGIOS

Serviços de Manuseio de CATEGORIAS DEInfra-estrutura Materiais RECURSOS

PRIMEIRO Direcionadores deESTÁGIO Recursos

Centro de atividade 1 Centro de atividade 2

CENTROS DEATIVIDADE

SEGUNDO Direcionadores deESTÁGIO Atividade

PRODUTOS

CENTROS DE CUSTO

Setup Supervisão

Fig. 7 - Fonte: POHLEN, T.L.; LA LONDE, B.J. Implementing Activity-Based Costing (ABC) in Logistics,Journal of Business Logistics, p.7, 1994 (traduzido).

Para a tomada de decisão em Logística, existe uma forte necessidade de se

conhecer informações detalhadas de como diferentes produtos, clientes e canais de

distribuição afetam os custos de fornecer os serviços de Logística. Estas informações

serão mais complexas quanto maior for a diversidade de produtos comercializados, de

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49

requerimentos de clientes e de canais de distribuição utilizados. (POHLEN; LA

LONDE, op. cit.) O custeio ABC pode fornecer esta visibilidade, por meio do

entendimento de como e porquê as atividades da função logística são

desempenhadas. Com isso, além do conhecimento de quais produtos, clientes e

canais de distribuição trazem os maiores lucros para a empresa e quais deveriam ser

descontinuados, a empresa também obtém um maior entendimento de como as

atividades são desempenhadas, podendo buscar melhorias que resultem em menores

custos (a utilização do ABC para gerenciamento das atividades é denominado ABM –

Activity Based Management). (JIAMBALVO, op. cit.) Além disso, ao conhecer o que

causa os custos das atividades, os cost drivers, o ABC fornece informações não

financeiras importantes para a avaliação de desempenho (destacando os trade-offs

entre as funções de Logística, por exemplo, conforme ressaltado pelos próprios

autores Pohlen e La Londe– ver pág. 45 deste trabalho).

As opiniões sobre a aplicabilidade do ABC à função logística são controversas.

Pohlen e La Londe (op. cit., p. 10), por exemplo, acreditam que o ABC pode ser uma

ferramenta bastante útil para o gerenciamento dos custos das atividades logísticas.

Segundo eles:

“O ABC parece ser adequado para o custeio e a avaliação de desempenho

dos processos de Logística. Muitos custos logísticos ficam ocultos entre os

custos indiretos, e os gerentes de Logística não têm uma boa visibilidade ou

controle sobre seus custos. O ABC decompõe mais claramente a ligação

crítica que existe entre a rentabilidade da empresa e os custos e o

desempenho de Logística.”

Os autores ressaltam que a função logística apresenta algumas das mesmas

características que tornaram a produção uma boa candidata ao ABC: diversidade de

consumo de recursos e consumo destes recursos não relacionado às bases de

alocação tradicionais, vinculadas ao volume. No entanto, a aplicação do ABC a

Logística apresenta alguns desafios que não foram enfrentados pela sua

implementação no ambiente de produção: seu output é difícil de ser definido; a relação

entre consumo da atividade e requerimentos de serviço é menos previsível; e os

custos comuns, ou seja, os custos incorridos para todos os produtos, representam

uma grande parcela dos custos totais, e são difíceis de serem relacionados às

atividades resultantes. (POHLEN; LA LONDE, op. cit.)

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50

Um ponto de vista diferente é defendido por Lambert (op. cit.). Para ele, o

sistema de custeio ABC é simplesmente uma outra forma de alocação e, portanto,

continua sendo um método arbitrário. Ele sugere que o sistema de custeio ideal para a

atividade logística é um sistema híbrido, que “combine a estrutura de custos detalhada

fornecida por um sistema baseado em atividades com os componentes de custos de

marketing e distribuição reconhecidos em uma abordagem de contribuição para medir

os lucros dos objetos avaliados”. (LAMBERT, op. cit., p. 294) Este sistema híbrido

informaria em seus relatórios apenas os custos que seriam eliminados se as receitas

do objeto fossem abandonadas. Ou seja, o autor defende uma abordagem de custos

diferenciais – os custos que se modificam dependendo da alternativa de decisão. Esta

abordagem é citada também por diversos outros autores (como Martin, em Logística e

Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos, 1997). No entanto, uma questão

importante que se coloca é: é possível criar um sistema de custeio que, no dia-a-dia,

forneça as informações de custos diferenciais para qualquer tomada de decisão que

se deseje?

Este ponto é abordado por Cooper e Kaplan (1997) no artigo intitulado Activity-

Based Systems: Measuring the Costs of Resource Usage. Utilizando-se deste mesmo

questionamento feito por críticos do ABC – de que a abordagem de custos diferenciais

dispensa o uso do ABC – eles explicam porque um “sistema de custeio diferencial”

não é viável na prática. Eles comparam a abordagem de custos diferenciais ao ensino

das leis de movimento de Newton, em cursos introdutórios de Física. Os princípios

destas leis são ilustrados em problemas que calculam a interação entre dois ou três

objetos. Nos cursos mais avançados, porém, existe uma outra disciplina denominada

termodinâmica estatística, que calcula este mesmo comportamento para um grande

número de partículas. É claro que as leis introdutórias de Newton continuam se

aplicando a problemas com um número maior de objetos, mas seria impossível efetuar

os mesmos cálculos para um número grande de partículas – daí surge a necessidade

do estudo da termodinâmica estatística.

De acordo com a analogia proposta pelos autores, a análise incremental ou

abordagem de custos diferenciais seria correspondente aos problemas introdutórios de

Física, sendo ilustrada por exemplos simples com dois ou três produtos e estruturas

de custos indiretos bastante simples; o modelo ABC, neste caso, faria o mesmo papel

da termodinâmica estatística no estudo de custos:

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51

“Os gerentes não conseguem aplicar os cálculos de custos relevantes da

contabilidade de custos introdutória a todas as possíveis decisões de mix de

produtos e clientes. O modelo de custeio baseado em atividades, como o

modelo de física termodinâmica, fornece uma visão agregadora das leis

econômicas de movimento de uma organização complexa, com milhares de

produtos, clientes e instalações. (...) Um modelo de custeio baseado em

atividades serve para direcionar a atenção dos gerentes para os pontos em

que uma análise detalhada pode gerar os melhores resultados. O modelo

ABC reduz a dimensionalidade das decisões para apenas algumas poucas

alternativas que precisam ser examinadas mais detalhadamente.”

(COOPER; KAPLAN, op. cit., p. 50)

De acordo com esta visão, um sistema de custeio adequado às necessidades de

Logística deve facilitar a obtenção das informações de custos diferenciais. Estas

informações devem ser obtidas a partir do julgamento profissional, baseado em

informações de custos precisas.

Alguns outros artigos também ilustram o uso do ABC em Logística, ressaltando a

obtenção de melhores informações gerenciais. Além do artigo de Roth e Sims (op.

cit.), citado na introdução desta seção, podem-se destacar os exemplos de Lewis

(1991) e Chudik (1993), que também apresentam argumentos que destacam como o

custeio ABC pode fornecer melhores informações para a área de Logística.

Um outro benefício da utilização do ABC em Logística, também citada por alguns

artigos, é que este sistema de custeio possibilita o conhecimento dos custos de se

prestar diferentes níveis de serviço. Como cada nível de serviço supõe diferenças

entre as atividades desempenhadas – maior rapidez e freqüência nas entregas,

menores lotes, maior disponibilidade de produtos, etc. – e o que causa os custos em

cada uma destas atividades é conhecido, é possível verificar quanto custa a mais

prestar um serviço de maior qualidade para algum tipo de cliente específico. A análise

de rentabilidade de clientes, proporcionada pelo ABC, apresenta diversas vantagens

para a gestão de Logística:

• possibilita a segmentação de clientes, para a oferta de diferentes serviços

dependendo das exigências de cada segmento. Desta forma, é possível cobrar

pelo nível de serviço proporcionado, atendendo melhor aos clientes mais

rentáveis e oferecendo descontos aos clientes com poucas exigências.

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52

• possibilita o conhecimento dos clientes não rentáveis, favorecendo a tomada de

ações para que sua rentabilidade aumente ou para que estes clientes comprem

de outras empresas;

• facilita a identificação das características dos clientes mais rentáveis,

possibilitando que a empresa ofereça serviços mais atraentes para estes

clientes, buscando retirá-los da concorrência;

• fornece informações para a negociação com fornecedores, pois torna visível

quais as atividades que mais consomem custos, favorecendo a negociação de

descontos quando estas atividades não são exigidas. (FIGUEIREDO, 2000)

O sistema de custeio ABC parece trazer importantes benefícios para o

gerenciamento da função logística, mas sua adoção não representa consenso.

Algumas desvantagens, como seu custo (bastante alto, se comparado ao sistema de

custeio tradicional) e sua arbitrariedade, por continuar sendo um sistema de

alocações, que sempre será arbitrário, se destacam. Mesmo assim, conforme

ressaltam Cooper e Kaplan (1988), os criadores do sistema ABC, é melhor ter um

custo basicamente correto, com variações de 5 a 10% da demanda que um produto ou

cliente apresenta em relação aos recursos da empresa, do que ter um custo

precisamente errado (muitas vezes em mais de 200%) ao utilizar técnicas de alocação

equivocadas.

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53

2.3 Avaliação de Desempenho em Logística

Conforme abordado no tópico de Controle Gerencial, a avaliação de

desempenho é importante para o sucesso de uma empresa por dois motivos: primeiro,

porque direciona os esforços dos seus funcionários no sentido desejado; segundo,

porque permite à empresa saber como está desempenhando suas tarefas e identificar

a necessidade de ações corretivas. Esta importância não é diferente para a função

logística, que como uma área de relevância crescente dentro das empresas, precisa

ter seu próprio conjunto de medidas de desempenho para que atue da forma desejada

pela empresa.

Três fatores principais contribuem para a necessidade de um maior controle na

função logística: primeiro, o fato de que a atividade de distribuição se tornou de

importância vital para o atingimento do nível de serviço esperado pelo cliente;

segundo, a parcela cada vez maior que os custos de distribuição representam dos

custos totais das empresas; finalmente, o fato de que o uso de indicadores de

desempenho na produção já é bastante disseminado, mas a utilização de medidas

específicas para a função de distribuição ainda não é comum. (AMSTEL; D’HERT,

1996)

Antes da discussão sobre o tópico, é preciso considerar que não existe uma

definição de desempenho aceita universalmente na literatura sobre organizações; por

isso, não é surpresa verificar que uma extensa variedade de dimensões possa ser

incorporada ao conceito de “desempenho em Logística”. Uma amostra disso fica

evidente ao se pensar em respostas para a pergunta “o que é o desempenho em

Logística?” A variedade de respostas que podem ser obtidas são ilustradas a seguir:

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54

Fig. 8 - Fonte: CHOW, G.; HEAVER, T.D.; HENRIKSSON, L.E. Logistics Performance: Definition and

Measurement, International Journal of Physical Distribution & Logistics Management, vol. 24, no. 1, p. 23,

1994 (traduzido).

Esta diversidade de respostas ajuda a entender porque não há consenso entre

os autores que abordaram o assunto de avaliação de desempenho em Logística sobre

os tipos de medidas que precisam ser utilizadas. Para Mentzer e Konrad (1991), por

exemplo, a avaliação do desempenho de Logística deve ser feita sob as perspectivas

da eficiência e da eficácia em realizar uma determinada tarefa. As medidas de eficácia

medem até que ponto as metas foram atingidas; e as medidas de eficiência medem

como os recursos para atingir estas metas foram utilizados. Nenhuma das duas

dimensões sozinhas é suficiente para avaliar o desempenho: não adianta ter gasto de

forma eficiente os recursos se a meta não tiver sido atingida; da mesma forma, as

metas atingidas de forma ineficiente podem acabar corroendo a rentabilidade da

empresa.

Caplice e Sheffi (1994) apresentam uma classificação parecida, mas que

decompõe a perspectiva de eficiência em duas: medidas de utilização, que é a

eficiência no uso dos inputs em relação a um padrão, e medidas de produtividade, que

são a eficiência na relação entre inputs e outputs obtidos. A medida de eficácia

continua sendo o grau de atingimento das metas, medido através da relação entre

outputs reais e outputs padrão. Estas três perspectivas, utilização, produtividade e

O Que é Desempenho em Logística?

Eficiência de custosCrescimento de

vendas

Segurança no emprego e condições de trabalho

Satisfação de clientes

Disponibilidade de produtos

Rentabilidade

Responsabilidade social

Entrega no tempo prometido

Manter promessas

Poucas perdas e danos

Preços "justos"

Flexibilidade

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eficácia, procuram abranger todo o processo de transformação das atividades de

negócio, que convertem inputs em outputs por meio da aplicação de trabalho. O

objetivo geral seria maximizar o output ao mesmo tempo em que se busca minimizar o

input consumido. Alguns exemplos de medidas de desempenho de cada uma das

dimensões propostas pelos autores se encontram no quadro da Fig. 9.

Dimensão Forma de Medição Exemplos

Utilização Input Real / Input Padrão custos de distribuição / receitahoras de equiptos usadas / horas disponíveiscusto dos prod. vend. / estoque médio

Produtividade Output Real / Input Real volume transportado / custo totalreceitas - custos / ativos

Eficácia Output Real / Output Padrão remessas no tempo correto / total de remessastransações sem erro / total de transações

Fig. 9 - Adaptado de: CAPLICE, C.; SHEFFI, Y. A Review and Evaluation of Logistics Metrics, TheInternational Journal of Logistics Management, vol. 5, no. 2, p. 18, 1994.

Uma outra segmentação das medidas de desempenho utilizadas em Logística

pode ser feita a partir do nível em que os processos são avaliados. Amstel e D’hert

(op. cit.) propuseram uma categorização hierárquica destas medidas em quatro níveis,

denominados A, B, C e D. O nível A é o nível estratégico mais alto, em que é medido

basicamente o desempenho externo da empresa, ou seja, seu nível de serviço. No

nível B, o desempenho é avaliado no nível das funções, como marketing, vendas e

distribuição. As medidas de desempenho deste nível são as medidas de desempenho

interno da função de distribuição como um todo. No nível C, as medidas de

desempenho avaliam as decisões táticas, nos níveis das sub-funções de Logística,

como controle de estoques, armazenagem e transportes. Finalmente, no nível D as

medidas de desempenho avaliam as decisões operacionais, ou seja, as decisões de

cada atividade. No caso da sub-função de armazenagem, por exemplo, existem as

atividades de recebimento de materiais, estocagem e envio de materiais. Exemplos de

medidas classificadas em cada nível hierárquico se encontram na Fig. 10.

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Nível Exemplos de Indicadores

A lead time real / lead time desejado% de pedidos completos

B custos de distribuição / custos de logística% de custos de cada atividade de distribuição

C disponibilidade de estoques (qtde e local correto)número de danos e reclamações

D disponibilidade de estoques por produtoturnover de estoques por produto

Fig. 10 - Adaptado de: AMSTEL, R.P.; D’HERT, G. Performance Indicators in Distribution, TheInternational Journal of Logistics Management, vol. 7, no. 1, p. 73-82, 1996.

Um ponto importante deste modelo de avaliação de desempenho é que os

objetivos dos diferentes níveis de uma empresa precisam ser consistentes e

relacionados uns com os outros. Ou seja, os indicadores de desempenho devem ser

coerentes nos diferentes níveis hierárquicos. Além disso, estes indicadores precisam

estar estreitamente vinculados com a estratégia da função logística, que por sua vez

precisa estar vinculada à estratégia corporativa. É essa ligação que vai determinar as

melhores decisões a serem tomadas em cada nível. Um exemplo que ilustra bem esse

fato foi apresentado pelo estudo desenvolvido pela Ernst & Whinney, o Council of

Logistics Management e o National Association of Accountants (op. cit., p. 33):

“Quando, às três da tarde, o gerente de um armazém se depara com

pedidos não atendidos programados para serem enviados hoje, que

resposta é melhor? Para a estratégia de um fornecedor de menor custo

absoluto, a resposta seria enviar amanhã. Um fornecedor de serviços

premium deveria trabalhar horas-extras. É através desta operacionalização

básica dos objetivos estratégicos que a excelência em Logística é obtida e

sustentada.”

O que se pode destacar em relação a todos estes conceitos é que nenhum dos

autores aborda a questão dos trade-offs entre as atividades logísticas – o setor de

transportes, por exemplo, deve ser medido pela eficiência entre custos e volume

transportado, mas com base apenas nesta medida o nível de estoques acabaria sendo

impactado; além disso, não é abordada a questão de como calcular os custos de cada

uma das atividades de distribuição – que, conforme destacado anteriormente, são

difíceis de serem obtidos por meio do sistema de custeio tradicional. No entanto,

alguns pontos importantes podem ser ressaltados: a importância de avaliar tanto a

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eficiência das operações quanto sua eficácia – se o nível de serviço estabelecido foi

atingido, por exemplo – e a necessidade de coerência entre as medidas dos diversos

níveis hierárquicos, que, por sua vez, precisam ser coerentes com a estratégia

definida pela empresa.

Um modelo de avaliação de desempenho de Logística que incorpora duas

metodologias desenvolvidas pelos profissionais de controle gerencial foi proposto por

Liberatore e Miller (1998). Estes autores juntaram o custeio ABC e o Balanced

Scorecard em um modelo de avaliação de canais de distribuição, mas que pode ser

expandido para outras decisões de Logística. O primeiro passo deste modelo é

desenvolver uma estrutura de missão, objetivos e estratégias para a empresa – ou

seja, definir a missão geral da empresa, os objetivos que ela precisa alcançar para

viabilizar esta missão, e as estratégias que serão seguidas para atingir estes objetivos.

A partir desta estrutura, os indicadores do Balanced Scorecard medem o grau de

sucesso que a empresa está alcançando na busca das suas estratégias, seus

objetivos e sua missão. Ele age como um termômetro do desempenho da empresa

rumo aos objetivos que estabeleceu. O ABC entra neste modelo como um viabilizador

para os cálculos dos indicadores financeiros do Balanced Scorecard, fornecendo

informações de custos e lucros. A estrutura deste modelo pode ser melhor entendida

de forma gráfica, conforme a Fig. 11:

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Fig. 11 - Fonte: LIBERATORE, M.J.; MILLER, T. A Framework for Integrating Activity-Based Costing and

the Balanced Scorecard Into the Logistics Strategy Development And Monitoring Process, Journal of

Business Logistics, vol. 19, no. 2, p. 137, 1998 (traduzido).

Para ligar os indicadores de desempenho à missão, aos objetivos e às

estratégias da empresa, os autores ainda apresentam uma técnica quantitativa

chamada Analytical Hierarchy Process (AHP), que calcula o peso ou importância

relativa de cada indicador no atingimento dos objetivos e da missão da empresa. O

cálculo dos pesos é feito a partir do julgamento dos gerentes da área, que precisam

avaliar, para cada par de medidas, qual delas mais afeta o objetivo x. Com esta

resposta para todas as medidas e todos os objetivos, os resultados são ponderados,

resultando em um “índice” de desempenho para a missão geral da empresa, formado

por a% do indicador x, b% do indicador y, e assim por diante. Este índice permite

avaliar se a empresa está evoluindo em direção ao atingimento dos seus objetivos e

da sua missão. (LIBERATORE; MILLER, op. cit.)

A integração proposta entre as duas ferramentas, ABC e Balanced Scorecard, é

um tópico que vale ser mais explorado. A maneira de atuação e de integração destas

A RELAÇÃO DO ABC E DO BALANCED SCORECARD COM AS ESTRATÉGIAS DECANAL E OS OBJETIVOS E MISSÃO GERAL DA EMPRESA

Missão

Objetivos

Estratégias deCanal

Medidas deDesempenho

SistemaABC

Balanced Scorecard

GuiamMonitoram

Monitoram aEficácia

InputAnalítico

Ajuda aformular

Influenciam o Desempenho

Fornece informações para medidas mais precisas

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duas teorias foi explicada pelo seu próprio autor, Robert Kaplan, que fornece alguns

argumentos em defesa da sua utilização conjunta:

“O ABC tem a ver com custos; ele fornece um modelo preciso de

determinação de custos, mostrando que fatores influenciam cada custo. Já o

Balanced Scorecard é uma forma de compreender os fatores que

influenciam a receita da empresa. Ele responde a perguntas como estas: o

que é preciso fazer para criar valor para os clientes? O que os leva a

comprar de nós?

Na verdade, acredito que os dois sistemas são complementares. O

Balanced Scorecard nos diz onde devemos concorrer, que clientes devemos

conquistar, o que é preciso fazer para criar valor para os possíveis clientes.

O ABC mostra como estamos ganhando dinheiro com esses clientes, até

que ponto nossos mercados são mesmo atraentes. Por isso, as duas

ferramentas são igualmente necessárias.

Imaginemos um curso de iniciação à economia, em que se estuda a curva

da demanda e a curva da oferta. Ambas são necessárias para determinar o

ponto ideal de produção e preço. Vejo o ABC como a curva da oferta: ele

nos revela o custo de fornecer determinado volume de produtos e serviços.

O Balanced Scorecard é como a curva da demanda: nos mostra o que cria a

demanda, porém é muito mais complexo e abrangente que uma curva da

demanda tradicional, porque as quantidades estão sendo encomendadas

não apenas em função do preço – que constitui o modelo mais simples dos

economistas – mas também em função da qualidade do produto, da

inovação, da funcionalidade e da natureza do relacionamento empresa-

cliente. O Balanced Scorecard é uma tentativa de construir uma curva da

demanda multidimensional.

Quando analisamos tudo por esse prisma compreendemos que as

empresas precisam das duas coisas: uma boa representação do que criou

uma demanda para seus produtos e serviços e uma boa representação do

que gera os custos necessários para atender a essa demanda. Portanto,

utilizadas em conjunto, e de maneira integrada, essas ferramentas nos

mostram como maximizar os lucros e criar valor econômico a longo prazo

para a empresa.” (NETO, 1999, p.10)

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No caso de Logística, a integração entre estas duas ferramentas parece trazer

benefícios ainda mais claros, tendo em vista a contraposição entre nível de serviço e

custos, destacada no decorrer deste trabalho. Além disso, a mensuração de custos é

mais complicada do que em outras atividades, por isso a utilização do Custeio ABC é

destacada.

Lambert (op. cit.), ao abordar o tema, defende a utilização de orçamentos

flexíveis (orçamentos ajustados para o nível real de atividade), custos-padrão, análise

de variações e medidas de produtividade para a avaliação de desempenho em

Logística, ou seja, os modelos tradicionalmente apresentados nos sistemas de

controle gerencial. O próprio autor, no entanto, destaca que uma das maiores

dificuldades para a implementação deste modelo em Logística são as medidas de

output, que são muito mais diversificadas do que os outputs de produção, por

exemplo, e as numerosas medidas de atividade, necessárias para a classificação dos

custos em fixos e variáveis (essencial para a utilização de um orçamento flexível). No

entanto, Lambert (op. cit.) acredita que o uso deste modelo tradicional pode atender

perfeitamente às necessidades de Logística, e que sua implementação só não é

amplamente difundida porque nenhum esforço efetivo foi feito neste sentido.

O autor, para ilustrar o sistema proposto, apresenta um exemplo da utilização de

orçamentos flexíveis e custos-padrão na função de armazenagem. Apenas para esta

função, foram apuradas quatro diferentes medidas de atividade. Para cada uma destas

medidas e para cada atividade de armazenagem foram calculados custos-padrão de

mão-de-obra. De acordo com o autor, estes custos-padrão poderiam ser comparados

mês a mês com os custos reais ocorridos, possibilitando o controle dos custos de cada

atividade de Logística.

Dois pontos são importantes de se destacar neste sistema. Primeiro, é preciso

avaliar se seria viável elaborar unidades de medida de atividade para todas as funções

de Logística – visto que apenas na função de armazenagem foram apresentadas

quatro medidas diferentes. Em segundo lugar, o autor defende que a abordagem de

orçamentos flexíveis fornece importantes indicadores para avaliação da eficiência dos

custos de Logística – mas é preciso destacar que, como no caso dos outros autores

apresentados no início desta seção, a questão dos trade-offs também não é abordada.

Um ponto que é preciso ressaltar sobre os artigos mencionados que abordaram

a avaliação de desempenho em Logística é que a maioria deles não fornece nenhuma

indicação de como as medidas de desempenho devem ser escolhidas e como devem

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atuar. As propostas abordaram os tipos de medidas e sistemas disponíveis, mas não

procuraram esclarecer quais medidas são melhores que outras e porquê, ou como

implementá-las de maneira que, juntas, formem um sistema de avaliação de

desempenho coeso e coordenado. Conforme Caplice e Sheffi (1995, p.61):

“Keegan, Eiler e Jones observam que, para a maioria das empresas, “o

problema é que existem medidas de desempenho demais – medidas demais

obsoletas e medidas demais inconsistentes.” Enquanto as medidas de

desempenho se acumulam facilmente, é raro que sejam removidas. Isto

resulta em sistemas de avaliação de desempenho baseados no que

Keegan, et al., descrevem como “os fantasmas da administração passada””.

Os próprios autores Caplice e Sheffi (1994, p.15) buscaram fornecer subsídios

que ajudassem na escolha das medidas de desempenho. Acabaram propondo oito

critérios que procuram analisar as vantagens e desvantagens de cada medida de

desempenho implementada:

“1) Validade

Uma medida é válida quando reflete a atividade que é desempenhada e

controla os fatores que estão fora da influência do gerente.

2) Robustez

Uma medida é robusta quando é aceita amplamente, interpretada de forma

similar por diferentes usuários e pode ser usada para comparações com

outros períodos de tempo, outras localidades e outras empresas.

3) Utilidade

Uma medida é útil quando pode ser facilmente entendida pelo usuário e

sugere uma tomada de decisão ou direção a ser seguida.

4) Integração

Uma medida é integradora quando incorpora todos os principais

componentes e aspectos do processo mensurado, e facilita a coordenação

entre funções, divisões ou empresas de uma cadeia de suprimentos.

5) Economia

Uma medida é econômica se o benefício de utilizá-la compensa o custo de

buscar, processar e reportá-la.

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6) Compatibilidade

Uma medida é compatível com o sistema de informações existente se

nenhum trabalho adicional significativo é exigido para utilizá-la.

7) Nível de Detalhe

Uma medida tem o nível de detalhe correto se obtém e reporta os dados em

um nível de composição tal que seja útil para o tomador de decisão.

8) Influência no Comportamento

Uma medida que tem uma boa influência no comportamento desencoraja

ações contraproducentes pelas pessoas ou organizações que são medidas.”

O ideal seria que os indicadores de desempenho atendessem a todos os oito

critérios determinados, mas os autores destacam que isso não é possível. Isto porque

existem trade-offs entre alguns dos critérios, que tornam a tarefa de desenvolver um

sistema de avaliação de desempenho adequado uma tarefa bastante complexa. Veja-

se, por exemplo, o caso da atividade de Logística. Se o objetivo final desta área é

prestar o nível de serviço desejado pelos clientes ao menor custo possível, porque não

fazer com que todas as áreas sejam avaliadas por medidas que reflitam estes dois

objetivos: por exemplo, entregas no tempo correto e custo total de Logística? Neste

caso, não ocorreriam os problemas citados a respeito da gestão integrada de

Logística, que ocorrem quando cada função de Logística busca minimizar seus custos,

resultando em um maior custo total.

No entanto, suponha que um gerente de transportes seja avaliado em função do

custo total de todas as atividades de Logística. Com base em que critérios ele tomará

suas decisões no dia-a-dia? Ele não tem informações de quanto e como suas

decisões afetam esta meta final – e provavelmente irá tentar reduzir ao máximo os

custos de transportes, por achar que assim estará reduzindo o custo total, o que

poderá causar os impactos, já conhecidos, em outras atividades.

Medir cada gerente em função do objetivo final da atividade de Logística não é

adequado, porque, ao passo em que esta medida é bastante integradora – abrange

todos os aspectos do processo mensurado, promovendo a coordenação – ela não é

nem um pouco útil, pois não fornece ao usuário uma direção a ser seguida, um guia

para a sua tomada de decisão. O trade-off entre os critérios de utilidade e integração é

um dos pontos que os autores destacam como importantes para consideração na

montagem de um sistema de avaliação. Um outro trade-off importante ocorre entre as

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medidas robustas e as medidas válidas: pois quanto mais uma medida atender às

especificações de um processo (mais válida), menor será sua comparabilidade com

benchmarks de outras empresas ou outras localidades da mesma empresa (menor

robustez).

Existem ainda trade-offs que os autores chamam de secundários, porque são

menos restritivos. Eles ocorrem entre medidas úteis e válidas (quanto mais capturarem

os detalhes, mais complexas serão e mais difíceis de serem entendidas); robustas e

úteis; e integradoras e válidas. Os trade-offs principais estão representados na Fig. 12

pelas setas pretas, enquanto os trade-offs secundários estão representados pelas

setas cinzas:

Fig. 12 - Fonte: CAPLICE, C.; SHEFFI, Y. A Review and Evaluation of Logistics Metrics, The International

Journal of Logistics Management, vol. 5, no. 2, p. 17, 1994 (traduzido).

Kaplan e Atkinson (op. cit.), indiretamente, também abordaram a questão de

medidas integradoras e medidas úteis. Destacando especificamente as relações entre

um departamento de produção e uma organização de vendas, os autores mencionam

que a eficiência da produção pode ser afetada pela quantidade e freqüência dos

outputs demandados pela área de vendas, e que esta relação é difícil de ser capturada

por meio de preços de transferência. Para eles, uma solução possível seria incluir nas

medidas de desempenho da área de vendas um componente relacionado à eficiência

da produção, o que geraria um forte incentivo para a coordenação entre as duas

áreas. Ou seja, neste caso a questão do trade-off entre utilidade e integração seria

solucionada incluindo-se entre as medidas de desempenho de uma unidade um

indicador totalmente não-útil, mas que forçaria a integração com outras áreas.

Esquema dos Trade-offs Entre os Critérios

Integradora Robusta

Útil Válida

promove coordenação

fornece um guia para a ação

permite comparações

captura aspectos específicos

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Além de critérios para a avaliação das medidas de desempenho individuais, os

autores Caplice e Sheffi (1995, p.63), em artigo posterior, desenvolveram critérios para

o julgamento dos sistemas de avaliação de desempenho. Segundo estes autores, um

bom sistema de avaliação de desempenho deve ter as seguintes características:

“1) Abrangência

Deve capturar o impacto das decisões em todos seus aspectos relevantes –

satisfação de clientes, eficiência dos processos internos e resultados

financeiros.

2) Relação de Causa e Efeito

Deve buscar as causas do desempenho, não apenas os resultados finais.

Se reflete basicamente no uso de medidas não financeiras.

3) Integração Vertical

Deve traduzir a estratégia global da empresa para todos os tomadores de

decisão, e ligar as medidas de cada nível ao sistema de recompensas

apropriado. Níveis diferentes da empresa devem utilizar diferentes medidas

de desempenho, mas medidas relacionadas, visto que os tipos de decisões

tomadas em cada nível são diferentes.

4) Integração Horizontal

Deve abranger todas as atividades, funções e departamentos do processo.

5) Comparabilidade Interna

Deve possibilitar a identificação dos trade-offs entre as diferentes dimensões

de desempenho. Por exemplo, de que maneira um aumento no percentual

de entregas no tempo correto afeta o retorno sobre investimentos?

6) Utilidade

Deve ser facilmente entendido pelo tomador de decisão e fornecer um guia

para a ação que deve ser tomada.”

A ponderação entre os critérios de avaliação das medidas de desempenho e dos

sistemas de controle fornece subsídios para o desenho de um sistema que reflita

adequadamente as inter-relações entre as diversas atividades de Logística. Ao se

equilibrar medidas adequadas sob determinados critérios a outras, que atendem a

outros critérios, é possível formar um conjunto balanceado de medidores que ajudam a

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considerar os trade-offs entre as atividades na tomada de decisões de cada área. Este

mesmo sistema também poderia ser utilizado para a consideração dos trade-offs entre

a área de Logística e outras áreas da empresa, como Marketing e Finanças; é preciso

verificar, no entanto, se estas relações podem ser facilmente identificadas e

consideradas no sistema de avaliação de desempenho.

A dificuldade de se capturar nas áreas de decisão o impacto que suas ações

causam no desempenho de Logística gera um problema significativo nos sistemas de

avaliação de Logística. Isto porque estas decisões podem, muitas vezes, ser as que

mais afetam os custos da área. Conforme levantado no estudo desenvolvido pela

Ernst & Whinney, o Council of Logistics Management e o National Association of

Accountants (op. cit.), o foco estreito nas medidas de desempenho de Logística ignora

os fatores que mais influenciam os seus custos, que na verdade se relacionam

diretamente com a natureza da estratégia geral do negócio. O que se percebe pelo

trabalho é que, ao se analisar os cost drivers de Logística, destaca-se que muitos

destes direcionadores estão fora do seu controle, e são na verdade relacionados às

decisões de outras áreas da empresa. Assim, estas decisões impactam o custo de

Logística e deveriam também ser consideradas em um sistema de avaliação de

desempenho. O quadro reproduzido a seguir procura explicitar o impacto que decisões

de outras áreas causam nos custos de Logística:

Fig. 13 - Fonte: ERNST & WHINNEY. Corporate Profitability & Logistics: Innovative Guidelines for

Executives, a joint study by Council of Logistics Management & National Association of Accountants, p.

107, 1987 (traduzido).

Controláveis por Logística

Controláveis por Outros

• Custos de Mão-de-obra

Escalas de pagamento X

Benefícios Indiretos X

Nível de Atividade X

Produtividade X

• Custos de Transporte

Características dos Produtos X

Requerimentos do Serviço ao Cliente X

Porte do cliente X

Localidade do Cliente XTaxas de Frete X

• Custos de Armazenagem

Características dos Produtos X

Precisão do Planejamento X

Requerimentos do Serviço ao Cliente XSazonalidade X

Taxas de Armazenagem X

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66

Segundo este estudo, os fatores controláveis por Logística determinam apenas

20% dos seus custos. Ou seja, a organização de Logística típica controla poucas

variáveis na sua equação geral de custo.

Uma idéia possível para solucionar este problema foi adotada pela Xerox

Corporation, que transformou sua atividade de Logística em um centro de lucros – os

serviços prestados passaram a ser cobrados de acordo com preços de transferência

negociados a partir dos níveis de serviço exigidos pelos clientes internos. Desta forma,

as divisões da empresa que demandavam serviços da área de Logística foram

incentivadas a definir suas verdadeiras necessidades de serviço, pois passaram a

reconhecer os custos envolvidos nestas exigências. (ERNST & WHINNEY, op. cit.)

A transformação da atividade de Logística em um centro de lucros passa pela

discussão desenvolvida nas págs. 17-19, sobre a aplicabilidade de se transformar

qualquer centro eminentemente de despesa em um centro de lucro, apenas

calculando-se para este centro uma medida de receita. Além disso, esta solução

depende da possibilidade de se calcular o quanto decisões diferentes de outras áreas

afetam os custos de Logística – ponto necessário para a determinação de preços de

transferência. E, com isso, retorna-se à questão crucial dos sistemas de avaliação de

desempenho em Logística – a mensuração dos trade-offs.

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67

2.4 Modelo Proposto para Avaliação de Desempenho em Logística

Apresentada e discutida a bibliografia relacionada ao tema, faz-se necessária

uma estruturação dos tópicos abordados, buscando a elaboração de um frame que

ajude na organização do conhecimento obtido. Revendo todos os conceitos

analisados, pode-se dividir a abordagem do assunto nos seguintes pontos de decisão:

1) definição do tipo de sistema de controle adequado às características da

empresa;

2) definição do tipo de centro de responsabilidade adequado à área de Logística;

3) determinação das medidas de desempenho de cada área e de Logística como

um todo, levando em consideração:

• as diferentes perspectivas de desempenho;

• os diferentes níveis de decisão;

• os trade-offs entre as áreas de Logística e entre Logística e outros

departamentos;

• o equilíbrio entre o conjunto das medidas, sem que seu número seja

excessivo.

4) determinação da forma de medição de custos, que será uma das medidas de

desempenho do sistema de avaliação.

A primeira questão que se coloca, a definição do tipo de sistema de controle que

a empresa deseja, se relaciona muito mais com as características da empresa e dos

seus administradores do que propriamente com a área de Logística. Esta discussão foi

apresentada na pág. 12, com base nas quatro definições de controle propostas por

Gomes e Salas: familiar, burocrático, ad-hoc ou por resultados. Conforme a discussão,

para uma empresa de grande porte, com alto grau de descentralização e delegação de

autoridade, parece ser mais adequado um sistema de controle por resultados, em que

metas são determinadas e cada gerente é responsabilizado pelo alcance daquelas

definidas para seu departamento. Um sistema de controle por resultados facilita o

entendimento de como os objetivos de cada área se alinham com os objetivos da

empresa, incentivando ações condizentes com os resultados esperados. No caso de

Logística, isto significa que cada uma das suas funções, assim como a área de

Logística como um todo, deveriam ter bem definidas as suas metas e as formas de

medição destas metas. Além disso, estas metas devem fazer parte de um plano global

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da empresa, e estarem alinhadas com as metas de outras áreas e com a estratégia

definida.

No caso da segunda questão colocada, a discussão é bastante mais complexa.

Na definição do tipo de centro de responsabilidade que deve caracterizar a área de

Logística e seus departamentos, existem três opções possíveis: como centro de custo,

como centro de lucro ou como centro de investimento. Segundo Anthony (ver pág. 17),

qualquer uma das três opções é viável – para transformar uma área de Logística em

um centro de lucro, por exemplo, bastaria definir-se para ela um preço a ser cobrado

pelos serviços prestados ao restante da empresa. Isto também resolveria, segundo o

exemplo da Ernst & Whinney apresentado no capítulo de Referencial Teórico (ver pág.

66), a questão dos trade-offs de Logística e outras áreas da empresa, cujas decisões

afetam significativamente o seu desempenho. No entanto, de acordo com a opinião de

Kaplan e Atkinson (ver pág. 17), é o tipo de atividade desempenhado pela unidade e o

grau de autonomia de seu gerente que determinam as medidas de desempenho com

as quais esta deve ser avaliada. De acordo com os argumentos destes autores,

portanto, a área de Logística seria definida como um centro de custos, pois só poderia

ser tratada como um centro de lucro se fosse independente da empresa – ou seja, se

pudesse prestar serviços a clientes externos, e se houvesse a opção para as outras

áreas da empresa entre utilizar os serviços internamente e contratar terceiros para

serviços como transportes e armazenagem.

Um ponto que é preciso destacar nesta discussão é que, para a implantação de

Logística como um centro de lucro, seria necessário o cálculo dos trade-offs entre as

atividades – para a determinação de preços de transferência. Nos argumentos

levantados pelos autores, no entanto, este ponto não é abordado.

Assumindo que a área de Logística e seus departamentos sejam tratados como

centros de custo, é preciso definir as medidas com base nas quais seus desempenhos

serão avaliados; para isso, são importantes algumas considerações, já abordadas no

capítulo de Referencial Teórico e aqui resumidas:

• Na determinação do conjunto de medidas de desempenho que formarão o

sistema de avaliação de cada área, é importante que sejam escolhidas medidas

que abranjam as diferentes perspectivas de desempenho, quais sejam: de

clientes (nível de serviço), financeira (custos), interna (eficiência operacional) e

de inovação (visão de futuro). Estas dimensões de desempenho foram

apresentadas e discutidas no capítulo de Referencial Teórico, no tópico

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Balanced Scorecard (pág. 23). As dimensões de clientes e financeira são

importantes porque o desempenho de Logística está fortemente associado a

duas variáveis: custos e nível de serviço prestado. As outras duas dimensões,

interna e de inovação, são importantes de serem avaliadas porque serão

determinantes para o desempenho futuro da área.

• As medidas de avaliação escolhidas devem ser adequadas aos níveis de

decisão dos departamentos (uma proposta de segmentação destes níveis foi

feita por Amstel e D´hert, ver pág. 55), mas devem ser coerentes entre si e

alinhadas com a estratégia da empresa e da área de Logística como um todo.

Não seria condizente, por exemplo, que a área de Compras fosse avaliada pelo

nível de estoques enquanto a área de Transportes fosse avaliada unicamente

pelos custos de frete – as duas áreas trabalhariam com objetivos contrários. Ou

que a área de Logística como um todo fosse avaliada pelo nível de serviço, mas

os seus departamentos fossem avaliados apenas por medidas de custos. É

preciso haver um alinhamento entre todo o conjunto de medidas, de forma que

todas transmitam a mesma mensagem aos tomadores de decisão.

• As medidas de desempenho escolhidas devem reconhecer os trade-offs

inerentes à atividade de Logística, ou seja, os impactos que suas áreas internas

causam entre si e os impactos gerados entre Logística e outros departamentos.

A mensuração destes impactos pode ser uma forte dificuldade nesta tentativa,

mas o reconhecimento de que estes impactos existem pode ajudar a fomentar

uma discussão entre as áreas, levantando informações relevantes para a

administração da empresa, e criando bases para que estes impactos possam ser

avaliados. Se, por exemplo, a área de Transportes passar a ser avaliada pelos

custos de frete e por x% do nível de estoques e y% do índice de faltas de

produtos, o mínimo que vai acontecer é o gerente da área de Transportes

reclamar da definição dos percentuais x e y, buscando subsídios para justificar

porque estes percentuais são elevados demais para as responsabilidades que a

área tem nestes indicadores. Neste caso, importantes informações vão surgir

para auxiliar na mensuração destes trade-offs. Esta estratégia está alinhada com

a definição de organizações colaboradoras abordada por Eccles (ver pág. 20),

em que as unidades são dependentes estruturalmente, mas onde as medidas de

desempenho estabelecidas criam incentivo para a competição e a cobrança

entre elas. Neste caso, é criada uma fonte de conflito, útil para a obtenção de

controle por parte da organização. Kaplan e Atkinson também abordaram esta

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solução, citando especificamente o exemplo das áreas de Vendas e Produção

(ver pág. 63).

• Finalmente, é importante destacar que as medidas de avaliação escolhidas para

os departamentos devem ser em número tal que ajudem os tomadores de

decisão a entender a direção que a empresa deseja para cada área, e que não

formem um emaranhado de índices incompatíveis entre si e que mais nublam o

horizonte do que apresentam um caminho a ser seguido. Na escolha destas

medidas, Caplice e Sheffi sugerem uma série de critérios (ver pág. 61), que

auxiliam na determinação de qual medida é melhor que outra e porquê. A partir

destes critérios, é possível a definição de um conjunto de medidas que se

complementam e formam um sistema equilibrado de avaliação de desempenho.

O conjunto de medidas escolhido para a avaliação de Logística como um todo e

de cada uma das suas unidades pode apresentar inúmeras configurações, mas

qualquer uma delas certamente terá uma medida em comum: custo. Conforme

amplamente discutido na seção 2.2, a eficiência de custos de Logística é de crucial

importância para a rentabilidade e o sucesso das empresas, que cada vez mais

precisam elevar o serviço prestado aos clientes para serem competitivas, e que com

isso vêm seus custos de distribuição crescendo em paralelo. Já foi destacado, no

entanto, que a contabilidade tradicional adotada na maioria das empresas não está

preparada para fornecer aos seus gestores informações precisas dos custos de

Logística, muito menos dos custos de cada uma das suas atividades. Portanto, para

viabilizar um sistema de avaliação de desempenho que utilize medidas de custos entre

seus indicadores, é preciso que um novo método de custeio seja implementado,

adequado às necessidades da área de Logística. Com base em toda a discussão

levantada na seção 2.2.4 e na avaliação de alguns autores que trataram

especificamente do tópico de avaliação de desempenho em Logística (ver Liberatore e

Miller na pág. 57), acredita-se que este método de custeio seja o ABC – Activity-Based

Costing. Há subsídios para se crer que, por meio do ABC, seja possível avaliar os

custos de cada função de Logística: transportes, compras, processamento de pedidos,

armazenagem, gestão de estoques. Além disso, acredita-se que o ABC pode ser uma

importante ferramenta na avaliação dos trade-offs existentes entre as unidades de

Logística e entre Logística e outras funções da empresa, como Marketing, Finanças e

Produção. Quando, por exemplo, o gerente de transportes reclamar do percentual x

utilizado para avaliar o impacto de suas decisões no nível de estoques, seria possível

mensurar o quanto a utilização de modais mais baratos e, portanto, mais lentos, gera

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de necessidade de aumento no volume de compras e, portanto, de maior custo de

estoques. Este ponto foi abordado por Pohlen e La Londe (ver pág. 45), que citaram a

identificação e mensuração dos cost drivers das atividades de Logística como

essenciais para avaliar os trade-offs entre as funções logísticas e entre Logística e

outras áreas da empresa.

O modelo de avaliação de desempenho sugerido, portanto, é um modelo que

avalia a função Logística como um centro de custos, mas também incluindo metas não

financeiras. No lado das medidas de desempenho não financeiras, o sistema de

avaliação deve buscar abranger as dimensões definidas pelo Balanced Scorecard,

criando um conjunto de indicadores balanceados e que, em conjunto, atendam a todos

os critérios definidos para um bom sistema de avaliação. No lado das medidas de

desempenho financeiras, o que é medido é o custo das atividades e sua interação,

através do custeio ABC.

Desta forma, este capítulo se encerra com a formulação de um modelo. A partir

da pesquisa bibliográfica, foram encontrados subsídios para sugestão de algumas

características que, de acordo com este autor, comporiam um sistema de avaliação de

desempenho adequado às necessidades da área Logística. Nos dois capítulos

seguintes o que se buscará verificar é o quão aderente este modelo é da prática

utilizada na empresa pesquisada, e se as falhas encontradas no sistema de avaliação

pesquisado poderiam ser sanadas por meio das características do modelo proposto.

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3. METODOLOGIA DA PESQUISA

Este capítulo visa apresentar a metodologia utilizada na elaboração da pesquisa,

incluindo a opção pelo tipo de pesquisa e de levantamento de dados e os argumentos

que sustentam a escolha da empresa estudada.

3.1 Metodologia

Dentre os objetivos deste trabalho, definidos no primeiro capítulo, mencionou-se

a necessidade de comparar os modelos teóricos de sistemas de avaliação de

desempenho sugeridos pela bibliografia existente com um sistema efetivamente

utilizado pela área de Logística de uma empresa. Uma pesquisa de campo, portanto,

se fez necessária, além do levantamento bibliográfico apresentado no capítulo dois.

Para a caracterização desta pesquisa, tomou-se como base a taxionomia

apresentada por Vergara (1998), que a qualifica em relação a dois aspectos: quanto

aos fins e quanto aos meios.

Quanto aos fins, a pesquisa é de natureza exploratória, por se tratar de uma

sondagem, um levantamento de informações, que não comporta a formulação de

hipóteses.

Quanto aos meios, a pesquisa é bibliográfica, documental e estudo de caso. A

pesquisa bibliográfica foi apresentada no capítulo dois, e pretendeu fornecer

instrumental analítico como base para o estudo de caso. A investigação documental se

baseou em relatórios e documentos obtidos na empresa, como uma segunda fonte de

informações para a descrição do caso. Finalmente, a pesquisa se trata de um estudo

de caso, por buscar um levantamento detalhado de uma unidade pesquisada.

3.2 Escolha da Empresa

A empresa estudada, Xerox do Brasil Ltda., é a subsidiária brasileira da

multinacional Xerox Corporation S.A., que atua em mais de 150 países no segmento

de equipamentos de tecnologia para o processamento de documentos. (XEROX

CORPORATION, 2002) Sendo a segunda maior empresa do grupo fora dos Estados

Unidos (atrás apenas da Fuji Xerox, no Japão) em termos de receita, (Costa, 2001)

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tem impacto significativo nos resultados consolidados do grupo, que tem capital aberto

com ações cotadas na Bolsa de Nova York.

De modo resumido, podem-se destacar os seguintes fatores como os

preponderantes na escolha dessa empresa:

- por ter sua sede localizada no Rio de Janeiro, o que tornou o trabalho de pesquisa

viável em termos financeiros;

- pela complexa estrutura logística que apresenta, com a movimentação e

recondicionamento de equipamentos, peças e suprimentos, fontes no exterior,

fábricas no Brasil e clientes em todo o território nacional;

- por se tratar de uma empresa de grande porte, com gerenciamento

descentralizado, em que os sistemas de avaliação de desempenho são

imprescindíveis para sua gestão;

- pelo fato de o autor deste trabalho ter sido funcionário da referida empresa, o que

tornou muito mais ágil o processo de coleta de dados.

3.3 Coleta dos Dados

Na pesquisa bibliográfica, foram coletados dados de livros, periódicos e teses

que tivessem relação com o tema do trabalho. Estes dados foram apresentados e

discutidos no capítulo de Referencial Teórico, estruturados de acordo com o assunto

principal de que tratassem: Controle Gerencial, Custos de Logística ou Avaliação de

Desempenho em Logística.

A pesquisa documental se baseou em relatórios fornecidos pela empresa,

ilustrando com valores as informações qualitativas coletadas.

Finalmente, o estudo de caso foi feito com base em entrevistas por pauta com os

principais executivos de Logística da empresa. Os pontos principais que deveriam ser

abordados nas entrevistas, que serviram como guia para a conversa, foram elencados

em um questionário, que se encontra no Anexo A. Este método de coleta foi escolhido

por possibilitar uma maior profundidade no levantamento das informações, enquanto

pôde direcionar a conversa de acordo com os pontos de interesse do trabalho.

Foram feitas no total quatro entrevistas. A primeira com o Diretor de Logística

(antes da fusão com a Diretoria de Manufatura), uma com cada um dos gerentes das

duas áreas de Logística (Estratégias e Planejamento de Materiais e Operações de

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ISC) e a última com uma funcionária técnica da Controladoria de Logística,

subordinada à Diretoria de Finanças. As entrevistas duraram em média duas horas.

3.4 Limitações da Pesquisa

Devido à metodologia adotada, a principal limitação desta pesquisa está em não

se poder aplicar as conclusões nela contidas a outras realidades que não aquela

objeto de análise. Dessa forma, não se pode considerá-la como sendo um exemplo

típico da realidade.

Além disso, a pesquisa não é conclusiva com relação à aplicabilidade do modelo

proposto. O que se buscou verificar foi a adequação do modelo às limitações

identificadas no sistema de avaliação de desempenho utilizado pela empresa; no

entanto, o modelo pode apresentar empecilhos para sua aplicação prática, não

avaliados por este trabalho, mas sim apenas supostos.

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4. DESCRIÇÃO DO CASO – XEROX DO BRASIL LTDA.

Este capítulo tem o objetivo de apresentar os dados colhidos sobre a empresa

pesquisada – um breve relato da sua história, sua estratégia de atuação e como a

área de Logística se inseriu nesta estratégia, as características e responsabilidades da

área de Logística hoje e o sistema de avaliação de desempenho utilizado pela área

atualmente.

4.1 Histórico

A Xerox do Brasil Ltda. foi fundada em 1965 como parte da expansão mundial da

empresa sediada nos Estados Unidos. A americana Xerox Corporation havia surgido

quase sessenta anos antes com o nome de Haloid, empresa de comércio de papéis

fotográficos, passando em 1961 a adotar seu novo nome, em função dos produtos

chave da empresa terem se tornado os equipamentos de xerografia – as

fotocopiadoras. No Brasil a Xerox foi fundada por Henrique Sérgio Gregori, com o

nome de Xerox do Brasil Reproduções Gráficas Ltda., e funcionava na suíte 301 do

Hotel Glória, no Rio de Janeiro, onde ocupava três quartos. Num, ficava a sala do Dr.

Gregori; noutro, a Contabilidade; e no terceiro, o Departamento de Pessoal. Não

possuía mais que dez empregados. Ainda naquele ano, suas duas primeiras filiais

foram inauguradas: a do Rio de Janeiro e a de São Paulo.

Com um produto de sucesso protegido por patente, a empresa teve um

crescimento vertiginoso. Rapidamente foi expandindo sua atividade comercial em todo

o Brasil, consolidando sua presença nacional – em quatro anos já eram dez filiais no

país. Suas atividades, nessa época, eram apenas de importação e revenda de

equipamentos. No entanto, em 1972 a empresa iniciou suas atividades industriais no

Brasil, inaugurando a fábrica XNOR, Xerox do Nordeste, para a fabricação de

suprimentos (toner e outros) para as máquinas. Em 1973 inaugurou a fábrica de

Resende, que começou a montar os produtos que seriam vendidos no Brasil.

Finalmente, em 1988 entrou em operação a terceira instalação industrial da empresa,

a XAM, Xerox do Amazonas, com uma linha de montagem dos componentes

importados. Tendo uma base industrial, a Xerox do Brasil começou também a ser

exportadora de seus produtos, não só de equipamentos, mas também de suprimentos,

para outras afiliadas no exterior.

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Nos anos 70 a patente do processo de xerografia expirou, iniciando a fase de

entrada da concorrência no mercado brasileiro. A estratégia para o combate à

concorrência foi a expansão nacional, numa operação batizada de Operação Rondon,

que resultou na inauguração de vinte e duas novas filiais em 1970 e dez em 1971.

Além disso, a empresa se posicionou – e foi reconhecida – como fornecedora de

produtos e serviços de alta qualidade, permitindo até mesmo que seus preços fossem

superiores aos de produtos similares. Com base nestas estratégias, mesmo com a

entrada da concorrência a empresa conseguiu manter sua parcela de mercado, que

permanecia em mais de 85%. Nos Estados Unidos, no entanto, o impacto foi bem

maior, onde a matriz amargou uma queda expressiva de market-share após a quebra

da patente.

Em termos de produtos, no início a inovação era pouca. A primeira copiadora

comercializada no mundo, a X-914, continuava sendo o carro-chefe da companhia até

meados dos anos 70. Até 1988, a Xerox lançava um novo produto a cada dois anos –

motivo de coquetéis e demonstrações com a presença de personagens ilustres. No

entanto, com o aperfeiçoamento tecnológico e a abertura do mercado nacional este

quadro foi se alterando, e novos produtos foram sendo introduzidos com maior

rapidez. Nos anos 90, a adoção da denominação The Document Company, e a

colocação junto ao mercado da postura de uma empresa de tecnologia, inovação, que

proporcionava aos clientes soluções para o processamento de documentos, exigiu da

empresa a rapidez no lançamento de novos produtos, que eram introduzidos

simultaneamente aqui e nos Estados Unidos. Esta mudança fica clara quando se

verifica que, em 1992, houve o lançamento de dez novos produtos no mercado

nacional; em 1995, foram mais de vinte. Além disso, a empresa introduzia novas

tecnologias ano após ano: copiadoras coloridas, impressoras de engenharia,

equipamentos multifuncionais, copiadoras de grandes volumes e digitais. Em 1995, a

empresa entrou no ramo da microinformática, o denominado mercado SOHO – Small

Office, Home Office –, que até então não era atendido, com o lançamento de

impressoras a jato de tinta, copiadoras de pequeno porte e multifuncionais para

escritórios pequenos. Tudo dentro do direcionamento de se tornar a empresa líder no

mercado de processamento de documentos. Em 1996 seu faturamento já batia na

casa de US$ 1,6 bilhão, com uma expectativa de chegar ao ano 2000 com um

faturamento de US$ 2,0 bilhões. Nesta época seu número de funcionários chegava a

6.000.

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O posicionamento como líder em todos os mercados relacionados a

processamento de documentos precisou ser revisto a partir do final dos anos 90,

quando uma crise mundial abalou a empresa. A Xerox Corporation fechou o ano de

2000 com um prejuízo de US$ 384 milhões, para um faturamento global de US$ 18,6

bilhões. Suas ações, de um pico de 64 dólares em maio de 1999 caíram para 9

dólares em 30 de abril de 2001. O novo presidente da empresa, Richard Thoman,

trazido da IBM com a missão de reinventar a Xerox, ficou apenas 13 meses no cargo,

sendo destituído pelo Conselho de Administração em maio de 2000 por não conseguir

a recuperação esperada.

A crise teve reflexos na subsidiária brasileira, com cortes de custos e medidas de

enxugamento. Em 1999, a desvalorização cambial colheu a empresa com um índice

de nacionalização de máquinas de apenas 20% – pois apesar de montar grande parte

dos equipamentos no Brasil, a imensa maioria dos componentes ainda era importada

de outras afiliadas no exterior. A Xerox do Brasil, para reduzir seus gastos, demitiu

praticamente um terço dos seus 6.000 funcionários, em um processo de

reestruturação de filiais. (Costa, op. cit.) Em todo o mundo, o número de funcionários

foi reduzido de 96.000 em set/2000 para 72.400 em dez/2002. (XEROX

CORPORATION, 2003) A crise também causou mudanças no modelo de negócios

adotado no Brasil, que passou a vender suas máquinas, em vez de alugá-las pelo

sistema de leasing – cujos prazos podiam chegar a até 60 meses. (Costa, op. cit.) A

empresa também reviu seu posicionamento estratégico frente ao mercado, pois não

poderia mais competir em todos os mercados relacionados ao processamento de

documentos, mas sim naqueles para os quais possuía as competências chave para

tornar o negócio rentável. Foi a partir desta premissa que a empresa, seguindo o

direcionamento da matriz, decidiu sair do mercado SOHO, em 2001. Além disso,

dentro dos programas de cortes de gastos, foi terceirizada sua operação de

manufatura, com a venda da fábrica de Resende ocorrida em 2001, e a redução da

quantidade de novos lançamentos. Hoje a Xerox do Brasil, redimensionada –

faturamento de US$ 976,1 milhão em 2001 e 3.600 funcionários no final do mesmo

ano (Exame Melhores e Maiores, 2002) – se prepara para, após enxugadas suas

contas, retomar o crescimento – com rentabilidade.

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4.2 Mercado, Produtos e Estratégia

4.2.1 Mercado Mundial

Mundialmente, operando em mais de 130 países, a missão estratégica da Xerox

é ser a líder no mercado de documentos, provendo soluções que aumentem a

produtividade dos negócios de seus clientes. Mas o que é exatamente um mercado de

processamento de documentos? Acreditando que o documento é uma ferramenta para

a produtividade, através do gerenciamento e compartilhamento de informações, a

Xerox se coloca como parceira das empresas nesta tarefa de cada vez maior

importância para o sucesso empresarial, oferecendo produtos que auxiliem no fluxo

interno de documentos, seja eletronicamente ou em papel. O fato de cada vez mais os

documentos estarem sendo criados e armazenados em maneira eletrônica poderia ser

encarado como uma ameaça ao negócio da empresa, que ainda tem grande

dependência dos produtos de impressão e cópias; adicionalmente, a Internet está

aumentando o volume de informações que podem ser acessadas na forma digital. Na

verdade, o que poderia parecer a redução drástica no volume de cópias e impressões

se transformou num mercado crescente a taxas cada vez mais expressivas – pois

enquanto a porcentagem de documentos impressos e copiados declina, o seu volume

continua crescendo significativamente, pois o acesso à informação nunca foi tão

amplo.

Para atuar e ser a líder no mercado de documentos, e não apenas no mercado

de cópias, a empresa precisa oferecer a mais ampla variedade de produtos, serviços e

soluções na indústria. É o que tem sido buscado desde o início dos anos 90, com a

adoção da assinatura corporativa The Document Company, com a qual a companhia

procura reinventar a si mesma de uma empresa fornecedora de copiadoras analógicas

em preto-e-branco para uma empresa de soluções para documentos digitais e

coloridos. Com esta nova definição de mercado, seu objetivo é estar presente em

todas as fases e maneiras diferentes de processamento de documentos, possibilitando

que seus clientes:

- transformem facilmente as formas de documento de eletrônica para papel e vice-

versa;

- escaneiem, arquivem, recuperem, visualizem, revisem e distribuam documentos

eletronicamente em qualquer lugar do mundo;

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- imprimam ou publiquem documentos sob demanda e nos locais desejados,

incluindo as locações dos clientes de seus clientes;

- integrem as diferentes formas de produção de documentos em uma rede de

sistemas de fácil manuseio, através da utilização de tecnologia.

Para atingir sua meta global de atender a todo o fluxo de processamento de

documentos, a Xerox oferece a seus três mercados alvo – ambientes de produção de

alto volume, escritórios comerciais, que variam de companhias de pequeno porte a

grandes corporações conectadas em rede, e clientes de terceirização – a mais ampla

gama de produtos, soluções e serviços relacionados a documentos. A Xerox

Corporation é líder, ou está entre as líderes, em cada um dos seus principais

segmentos de negócio. Em cada um destes segmentos, no entanto, a empresa

encontra uma acirrada competição, que abrange desde empresas multinacionais de

grande porte a pequenas empresas atuantes em nichos de mercado. Os principais

competidores mundiais da empresa são Hewlett Packard, Canon, Ricoh, IKON e, em

algumas áreas de negócio, Pitney Bowes, Océ, Nexpress, Konica-Minolta e Lexmark.

O sucesso da empresa frente a seus concorrentes, segundo a visão dos seus

administradores, depende da habilidade em entender as necessidades de seus

clientes e em fornecer soluções e serviços de gerenciamento de documentos

inovadores. Suas vantagens competitivas residem em tecnologia inovadora,

conhecimento do mercado de documentos, venda global de equipamentos e serviços,

a reputação da marca, normalmente relacionada a qualidade na mente dos

consumidores, a amplitude de produtos e serviços oferecidos e o valor adicionado

fornecido por suas soluções. Nos últimos anos, porém, o mercado de documentos vem

sendo alvo de uma guerra de preços por parte dos concorrentes, e a diferenciação

proporcionada pela qualidade e a inovação da Xerox tem sido abalada. A empresa

vem sofrendo uma agressiva pressão sobre seus preços, tradicionalmente maiores

que os da concorrência, o que a tem obrigado a contínuas reduções de custos e

despesas, podendo comprometer a manutenção e a expansão de sua parcela de

mercado de forma rentável.

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80

4.2.2 Posicionamento de Mercado

No final da década de 80 a Xerox começou a perceber que novas necessidades

e problemas exigiam novas soluções. Nesse cenário, a informação passou a ser vista

como um dos mais valiosos ativos que uma empresa poderia ter, desde que pudesse

ser eficientemente transmitida e utilizada para gerar ações que trouxessem algum

benefício. Como a maioria dessas informações circulavam através de documentos e

percebendo a necessidade que seus clientes tinham de poder fabricar tais

documentos de forma mais atraente, dinâmica, clara, objetiva, flexível, econômica,

enfim, de uma forma mais competitiva, a Xerox entendeu que seu papel deveria ir

muito além da produção de máquinas e equipamentos. A empresa viu uma grande

oportunidade de se tornar uma provedora de soluções que tornassem a comunicação

mais fácil através da geração de documentos mais eficientes e inteligentes.

Baseada nisso, a companhia procurou formular uma idéia que expressasse

integralmente esse ingresso no conceito de documento. Então, em 1991 ela adotou

uma nova assinatura: Xerox - The Document Company. A empresa buscava um novo

posicionamento frente a seus clientes, que afirmasse seu compromisso de oferecer

um novo conceito de soluções integradas para o processamento de documentos,

através de moderna tecnologia e o suporte necessário para que essa tecnologia

pudesse ser usufruída ao máximo. Esse novo conceito de soluções abrangia uma

vasta gama de serviços, desde a criação propriamente dita dos documentos, como

também seu arquivamento, reprodução, acabamento, distribuição, transmissão e

recuperação.

O novo posicionamento também foi motivado pelo desejo da Xerox em

desassociar seu nome ao de uma empresa que fabricava apenas fotocopiadoras. A

forte concorrência japonesa, que causou grande impacto nos resultados da operação

americana em meados dos anos 80, fez com que a Xerox percebesse a necessidade

de se diversificar. Além disso, os executivos da empresa acreditavam que tal

associação prejudicava a Xerox, porque muitos clientes não conseguiam vê-la como

uma empresa que oferecia um serviço muito mais amplo. Esse problema de

“superposicionamento” era visto como um grande obstáculo no que se referia à

obtenção de novos clientes. A questão foi levada tão a sério dentro da empresa, que

no Brasil usar o termo “xerox” para se referir a uma fotocópia de um documento

passou a ser um pecado grave. E assim, durante toda a década de 90, a Xerox

trabalhou muito para fortalecer sua nova imagem frente a seus clientes e assistiu (e

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81

também participou ativamente) ao rápido desenvolvimento tecnológico e ao crescente

aumento da competição em seu mercado.

O surgimento da Internet como uma realidade presente no cotidiano das

empresas, a sofisticação dos sistemas de informação, o barateamento desses

sistemas, tanto no que diz respeito a software quanto a hardware, e o aparecimento do

conceito de conectividade vêm fazendo com que os documentos, no meio corporativo,

estejam se tornando cada vez mais complexos e digitais. Essas mudanças no

ambiente também aumentaram o nível de conhecimento do usuário da informação,

que cada vez demanda serviços mais complexos, especializados e eficientes.

Nesse novo cenário, a Xerox enfrenta a necessidade de uma segunda

reestruturação, a fim de se manter na vanguarda da indústria e garantir a liderança na

maioria dos mercados em que compete. A estratégia da corporação, em âmbito

mundial, é tornar-se uma empresa totalmente digital, mantendo o foco no

desenvolvimento de soluções para documentos, e figurar como um dos grandes

players no mercado de Internet/ Intranet. Para isso, a companhia vem desenvolvendo

equipamentos que conjugam a capacidade de trabalhar conectados a redes e em

conjunto com outros equipamentos, e ainda com poder para trabalhar documentos em

cor. Em outras palavras, o que a empresa deseja é mudar novamente seu

posicionamento, só que dessa vez de uma maneira menos formal, de The Document

Company para The Digital Document Company. A idéia é comercializar cada vez mais

equipamentos digitais multifuncionais (fax, scanner, copiadora e impressora) que

trabalhem conectados às redes dos escritórios, permitindo mais flexibilidade e

agilidade para lidar com documentos.

4.2.3 Estratégia

Para atingir seu objetivo de ser a líder no mercado global de documentos, e

crescer num ambiente cada vez mais competitivo, a Xerox Corporation e todas as

suas subsidiárias seguem seis valores de guia para suas operações:

Temos sucesso através de clientes satisfeitos.

Valorizamos e damos poderes a nossos funcionários.

Fornecemos qualidade e excelência em tudo que fazemos.

Fornecemos retorno superior a nossos acionistas.

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Usamos tecnologia para oferecer liderança de mercado.

Somos responsáveis como entidade corporativa. (XEROX DO BRASIL, 2003)

Apesar destes valores ressaltarem diversos grupos para os quais a empresa

trabalha (clientes, comunidade, etc.), sua estratégia tem sempre o objetivo de

equilibrar as necessidades de três grupos de interesse principais. Estes grupos são

retratados naquilo que é chamado gráfico de equilíbrio de forças, conforme ilustrado

abaixo:

FUNCIONÁRIOS

CLIENTESACIONISTAS

Fig. 14 - Fonte: Relatórios internos da Xerox do Brasil

Através do alinhamento das necessidades destes três grupos a empresa cria as

suas diretrizes, buscando a maximização das vantagens obtidas por cada força. É

claro, no entanto, que os diferenciais competitivos obtidos pela empresa frente a seus

concorrentes dependem em maior grau do valor que o cliente percebe nos produtos e

serviços oferecidos. Estes diferenciais, que fazem com que muitos clientes escolham

os produtos Xerox, são resumidos nos seguintes pontos:

• satisfação de clientes – a empresa se coloca como prioridade o atendimento às

necessidades do cliente, levando em consideração que clientes satisfeitos

provavelmente irão recomprar seus produtos e que o custo de vender um novo

produto a um cliente satisfeito é muito menor do que efetuar uma venda a um novo

cliente. A empresa realiza anualmente pesquisas com seus clientes, mede os

resultados, analisa as causas de insatisfação, e toma ações para corrigir quaisquer

problemas identificados.

• qualidade – a empresa foi uma das pioneiras na implementação de programas de

gerenciamento de qualidade, e é a única companhia a ter ganho os três mais

prestigiados prêmios da área: o Malcolm Baldrige National Quality Award nos

Estados Unidos em 1989, o European Quality Award em 1992 e o Deming Prize,

no Japão, em 1980. O programa Liderança Através de Qualidade permitiu à

empresa aumentar sua produtividade, acelerar a introdução de novos produtos,

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melhorar a satisfação de clientes e aumentar seu market-share. Além disso, seus

produtos são constantemente reconhecidos entre os melhores por organizações

independentes.

• pesquisa e desenvolvimento – sendo a tecnologia inovadora um diferencial

competitivo da empresa, a Xerox investe fortemente em P&D, focalizando na

melhoria de qualidade, funcionalidade e produtividade dos equipamentos ou

estabelecendo novos padrões de competição, com invenções que redefinem o

conceito de documento. Os gastos com P&D em 2002 foram direcionados

basicamente para aplicações para os mercados de alto volume e cor, que são

vistos pela empresa como os segmentos de maior potencial de crescimento futuro.

Em média, a empresa investe 6% do total de suas receitas em P&D, o que resulta

em uma enorme quantidade de novas invenções – em 2002, foram registradas 700

novas patentes pela Xerox nos Estados Unidos, tendo sido a 19ª empresa a ter

registrado mais patentes no ano. Um outro dado interessante que reflete esta

prioridade dada à pesquisa é o fato de a empresa possuir, em dezembro de 2002,

o registro de aproximadamente 7.700 patentes. Muitas destas patentes, é claro,

acabam não se tornando comercializáveis, mas é com base nestas pesquisas que

a Xerox pode lançar produtos com diferenciais competitivos importantes – como

por exemplo a Docucolor iGen3, uma impressora digital lançada em outubro de

2002 que utiliza uma tecnologia de imagem patenteada, que produz impressões de

qualidade fotográfica, idênticas às produzidas por gráficas.

• força de vendas – os produtos da Xerox são vendidos principalmente através de

uma força de vendas mundial de aproximadamente 10.000 empregados e uma

rede de agentes independentes, dealers, canais de revenda e integradores. A

empresa está expandindo a utilização de canais de distribuição indiretos,

buscando redução de custos, para os produtos de menor valor, e utilizando a força

de vendas para atender a clientes com requerimentos de tecnologias, soluções e

serviços mais avançados. A força de vendas é organizada de acordo com

indústrias (bancos, governo, etc.) e está focada em fornecer aos consumidores

soluções em documentos aplicáveis a seu ramo de negócios. Os vendedores são

treinados para fornecer serviços de consultoria, a fim de definir e desenhar a

solução adequada para o cliente, a integração dos sistemas para implementar a

solução dentro da infra-estrutura do cliente e, em muitos casos, o gerenciamento

da solução.

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• serviço – em dezembro de 2002, a Xerox possuía 17.000 técnicos e uma rede de

agentes independentes, no mundo todo, para atender a chamados técnicos dos

seus produtos – uma força de trabalho treinada continuamente. Nas principais

áreas metropolitanas ao redor do mundo, a Xerox atende a chamados técnicos 24

horas por dia, 7 dias por semana. Recentemente, dentro do esforço para redução

de custos, a empresa tem investido em tecnologia de atendimento remoto, para os

produtos de menor valor.

4.2.4 Produtos

As atividades da Xerox abrangem desenvolver, fabricar, colocar no mercado,

financiar e oferecer serviços para uma série de produtos de processamento de

documentos desenhados para tornar as organizações em todo o mundo mais

produtivas. A empresa compete nos mercados preto-e-branco e cor, oferecendo

produtos de impressão e publicação, equipamentos digitais multifuncionais (que são

impressora, copiadora, scanner e fax), copiadoras digitais, impressoras a laser e de

jato de cera, faxes, softwares de gerenciamento de documentos, além dos

suprimentos para todos estes produtos, como toner, papel e tinta. A empresa também

fornece soluções e softwares que permitem o acesso a documentos por profissionais

fora de seu escritório, ou que ajudam as empresas a facilmente imprimir livros ou

documentos personalizados para seus clientes. Finalmente, a empresa fornece um

vasto conjunto de serviços de gerenciamento de documentos, como a operação de

centros de produção na localidade do cliente, o desenvolvimento de bibliotecas virtuais

de documentos e a análise de como os clientes podem criar e compartilhar

documentos no escritório de maneira eficiente.

De uma forma concisa, são as seguintes as divisões de produtos oferecidos pela

empresa:

• copiadoras de escritório

• copiadoras coloridas

• copiadoras multifuncionais digitais (preto-e-branco e coloridas)

• publicadoras

• impressoras eletrônicas de alto volume

• impressoras de grandes formatos (de engenharia e plotters)

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• impressoras laser de baixo volume, faxes e multifuncionais de pequeno porte

• serviços de terceirização (em que a Xerox assume todo o processo de cópias e

impressão do cliente)

• papel e suprimentos

• softwares

A participação de cada segmento de produtos na composição da receita da

empresa tem se alterado significativamente, em função da profunda transformação

que vem ocorrendo no mercado de documentos nos últimos anos. Esta transformação

inclui uma transição gradativa dos antigos dispositivos analógicos para a nova

tecnologia digital, a transição de documentos em preto-e-branco para documentos

coloridos, o gerenciamento de documentos via Internet, a utilização de dados variáveis

na customização de documentos, a crescente confiança na terceirização dos serviços

relacionados ao documento e o aumento da utilização de dispositivos portáteis para

permitir a mobilidade dos profissionais. Cada vez mais os documentos são criados e

armazenados em forma eletrônica, e a Internet está aumentando o volume de

informações que podem ser acessadas por meio eletrônico. Internamente, estas

transformações do mercado se fazem sentir na composição das receitas da empresa.

Atualmente, o faturamento de produtos analógicos representa 15 a 20% do total,

enquanto há apenas três anos este percentual chegava a 47%; da venda de

equipamentos novos, 95% da receita já é representada por equipamentos digitais.

(XEROX CORPORATION, 2003) Além disso, tem ocorrido também um forte

deslocamento de receitas de configurações standalone para sistemas conectados em

rede, de produtos preto-e-branco para produtos de cor, e de simples vendas por

leasing para serviços e soluções que aumentam a produtividade dos clientes. A

empresa se encontra na vanguarda das transformações da indústria de documentos,

pois sempre investiu fortemente em novas tecnologias, se colocando na liderança

destas mudanças enquanto a maioria dos competidores teve uma atuação mais

cautelosa.

No gerenciamento dessa ampla e diversificada gama de produtos, a Xerox

Corporation é segmentada em três divisões: Production, Office e Developing Markets

Operations (DMO).

No segmento de Production estão incluídos os equipamentos de impressão de

alto volume, assim como equipamentos coloridos para o mercado de publicação e de

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artes gráficas. A Xerox é o único fabricante a oferecer uma família completa de

equipamentos de publicação, que vão de velocidades de 65 a 180 páginas por minuto

(ppm). Neste segmento, a empresa também oferece soluções e serviços que permitem

escanear, visualizar, gerenciar e produzir documentos, assim como uma grande

variedade de dispositivos pré e pós-impressão. As receitas deste segmento

representaram 35% do total de receita da Xerox Corporation dos anos 2001 e 2002. A

expectativa é que este mercado cresça a taxas de 2% ao ano, atingindo em 2006 o

volume mundial de US$ 39 bilhões.

As metas da empresa no segmento denominado Production são o aumento da

cobertura de mercado e a introdução de soluções inovadoras que mantenham a

posição de liderança conquistada, assim como expandam sua presença nas

crescentes oportunidades do mercado de cor – que, segundo projeções do

International Data Corporation (IDC) e da InfoSource, deve crescer mundialmente a

taxas de 30% ao ano até 2006. A empresa, que praticamente criou o mercado de

publicação por demanda em 1990, com a família de publicadoras denominada

Docutech, investe na pesquisa por tecnologias para continuar à frente das cada vez

maiores demandas dos clientes deste mercado – velocidade de set-up, precisão,

customização. Hoje, a tecnologia dos produtos da Xerox permite a personalização e

impressão por demanda, que eliminam por completo a necessidade de estoques e de

custos de armazenagem.

Como a diferenciação neste segmento é conquistada por meio da inovação, a

empresa precisa estar atenta às necessidades dos clientes e oferecer produtos que

atendam a estas necessidades. De acordo com esta visão, o lançamento de novos

produtos é imprescindível para manter a posição de liderança mantida

tradicionalmente pela Xerox. Em 2002, diversos novos produtos foram lançados neste

segmento de mercado:

• Docucolor iGen3 – impressora colorida de alto volume, lançada com a expectativa

de que expanda o mercado de impressão por demanda em cor, já que sua

velocidade, qualidade de imagem, possibilidade de personalização e vantagens de

custo permitem que o equipamento capture uma parcela do mercado gráfico de

cor. Sendo o resultado de um investimento em pesquisa nos últimos anos de

aproximadamente US$ 1 bilhão, este equipamento possui uma velocidade de

impressão de 100 ppm, e deve contribuir significativamente com a receita da

empresa em 2004 e 2005.

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• Docucolor 6060 – lançada para completar a família de produtos denominada

Docucolor 2000, bem sucedida no mercado, oferecendo recursos mais avançados,

além de maior produtividade.

• DocuColor 1632 e DocuColor 2240 – impressoras / copiadoras coloridas de médio

volume (16 e 22 ppm de impressão em cor e 32 e 40 ppm de impressão em preto-

e-branco, respectivamente). Seu principal atrativo é a velocidade e qualidade de

impressão ao baixo custo, especialmente em cor.

• Xerox 1010 – publicadora digital que atinge a velocidade de 101 páginas por

minuto.

O segmento denominado Office abrange clientes comerciais, de atuação

nacional e multinacional ou de pequeno e médio portes, assim como clientes dos

setores de governo e educação. Os equipamentos e serviços oferecidos no mercado

Office abrangem equipamentos multifuncionais digitais com velocidade até 90 ppm;

impressoras coloridas a laser e a jato de cera; impressoras monocromáticas a laser;

copiadoras digitais e analógicas; e faxes. As receitas deste segmento representaram

42% do total da receita da Xerox Corporation em 2002 (41% em 2001). Ao contrário do

segmento Production, o segmento Office atende a um mercado já bastante maduro,

em que não há expectativa de crescimento acelerado nos próximos anos, mas sim

uma migração para novas tecnologias. Estima-se que o volume mundial deste

mercado seja de aproximadamente US$ 52 bilhões.

As metas da empresa neste segmento são melhorar a competitividade da

estrutura de custos dos produtos oferecidos e aumentar a cobertura de mercado

através da expansão dos canais de vendas indiretos. De acordo com a visão da

empresa, o crescimento deste mercado está centrado em três áreas chave: cor,

equipamentos digitais multifuncionais e soluções. A Xerox acredita que o mercado

cada vez mais estará voltado para impressões e cópias coloridas, e espera liderar esta

transição tornando a impressão a cor tão fácil, rápida e economicamente viável quanto

a impressão tradicional em preto-e-branco. Além disso, a empresa também está à

frente da transição do mercado de equipamentos de função única para equipamentos

multifuncionais, tornando econômica esta mudança. No ramo das soluções, a empresa

oferece mais valor aos clientes com serviços como a análise do fluxo de documentos

do negócio e a identificação do mix mais eficiente e produtivo de equipamentos e

softwares, que ajudam a reduzir os custos associados a documentos incorridos pelo

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cliente. Outra solução oferecida pela empresa é o acesso a documentos, por

profissionais fora de seus escritórios, sem a utilização de fios (wireless).

Para atingir o objetivo de redução da estrutura de custos dos equipamentos

deste segmento, que sofrem uma agressiva pressão por preços por parte dos

concorrentes, a empresa terceirizou a fabricação destes produtos para a Flextronics,

uma empresa mundial de manufatura. Além disso, a empresa está redirecionando

suas vendas, tradicionalmente feitas por vendedores da própria Xerox, para canais

indiretos, mais baratos e de maior eficiência.

Na busca pela inovação, vários produtos foram lançados neste segmento de

mercado:

• Família Document Centre 500 – equipamentos digitais multifuncionais –

impressora, copiadora, scanner e fax – com velocidades de 35, 45 e 55 ppm. Esta

família de produtos oferece mais recursos e produtividade a grupos de trabalho de

médio porte, a preços significativamente menores que os produtos de função única

normalmente oferecidos.

• WorkCentre Pro 421, 423 e 428 – equipamentos multifuncionais de baixo volume,

que visam atender ao mercado de clientes que buscam baixo custo, especialmente

na Europa e nos países em desenvolvimento.

• Phaser 8200, 6200 e 7300 – impressoras coloridas a jato de cera (8200) e laser

(6200 e 7300), que estão entre as mais rápidas da categoria. Estes produtos foram

desenhados para acelerar a migração para cor, oferecendo vantagens de custo e

de qualidade de impressão, tornando prática e econômica a substituição das

tradicionais impressoras preto-e-branco.

Finalmente, o segmento denominado DMO – Developing Markets Operations – é

uma divisão geográfica, e não de produtos. Abrange as operações da Xerox que

comercializam os produtos, suprimentos e serviços da empresa na América Latina,

Oriente Médio, Índia, Eurásia, Rússia e África. Mais de 120 países estão incluídos no

segmento DMO, sendo o maior deles o Brasil, que representa aproximadamente 40%

do total das suas receitas (2002). As operações da DMO são gerenciadas como um

segmento em separado em função da natureza única e da volatilidade política e

econômica que caracterizam estes mercados.

As metas deste segmento são a melhoria da liquidez e a redução do risco do

negócio, assim como a geração de rentabilidade. Além de uma agressiva redução de

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custos, este retorno à rentabilidade abrange focalizar os esforços da empresa para a

venda a clientes com maiores margens, eliminando a prática de contratos a preços

reduzidos. Outra prioridade é a diminuição do endividamento das empresas que

compõem este segmento, por meio da geração de caixa operacional.

Um outro mercado atendido pela empresa, que abrange tanto equipamentos de

Production quanto de Office é o mercado de terceirização – Outsourcing – em que a

Xerox assume todo o trabalho de processamento de documentos dos clientes. O

mercado de Outsourcing deve crescer no mundo aproximadamente 15% anualmente,

com base no crescente foco dos clientes em suas competências principais e a

conseqüente terceirização de processos fora de seus negócios chave. No mundo

inteiro, mais de 12.000 funcionários da Xerox já trabalham em escritórios de clientes,

operando centros de impressão e cópias – os chamados Document Centres.

Além destes segmentos principais, a empresa ainda apresenta resultados no

mercado Small Office, Home Office (SOHO) e no segmento denominado Others. O

mercado SOHO, que abrange impressoras pessoais a jato de tinta, deixou de ser

atendido pela empresa em junho de 2001, dentro do esforço para focalizar nos

negócios chave definidos pela empresa. No entanto, a Xerox ainda oferece

suprimentos para estes produtos, cuja receita deve declinar continuamente à medida

em que estes equipamentos forem sendo substituídos.

O segmento denominado Others abrange principalmente a venda de papel, para

uso nos produtos oferecidos pela empresa. O mercado de papel é altamente

competitivo, e as receitas são afetadas significativamente pelos preços de mercado.

A composição das receitas da empresa dentro destes segmentos se encontra

abaixo:

em US$ milhões

Fig. 15 - Fonte: Relatório Anual Xerox Corporation, 2002 (www.xerox.com)

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4.2.5 Mercado e Concorrência no Brasil

A Xerox do Brasil, conforme já mencionado no tópico referente ao histórico da

empresa, foi fundada em 1965 no Rio de Janeiro, como uma forma de expandir

internacionalmente as operações da corporação que estava revolucionando os

escritórios com um produto totalmente inovador. A operação brasileira surgiu depois

da criação das subsidiárias no Canadá, em 1953, na Europa, em 1956, e no Japão,

em 1962.

Durante muito tempo a empresa foi única no país, e vários fatores contribuíram

para que, por vários anos, poucos concorrentes ousassem se aventurar no mercado

brasileiro. Até a década de 70, o produto principal da Xerox, a copiadora, era protegida

por patente mundial, e portanto a empresa era monopolista neste mercado. Em

seguida vieram outros fatores, como o ambiente inflacionário e o controle exercido

pelo governo sobre os preços, o que muitas vezes impossibilitava o repasse da

inflação para os clientes. Neste intervalo de tempo em que a empresa atuou sozinha

no mercado de documentos nacional houve a possibilidade de uma rápida expansão

pelo território brasileiro, através da abertura de filiais em todos os estados. Este fato é

responsável hoje pela enorme dificuldade para que novos competidores penetrem no

mercado buscando atuação nacional como a Xerox – pois a presença que a empresa

possui no mercado brasileiro é bastante difícil de ser copiada no ambiente atual.

A entrada de novos competidores no país começou a ocorrer fortemente nos

anos 90, quando houve a abertura de mercado às importações e, posteriormente, a

estabilização econômica e da moeda. A empresa, no entanto, não sofreu uma redução

drástica no seu market-share como ocorreu com a operação americana após a

entrada dos competidores japoneses. Apesar da perda de uma parte de seu mercado,

em função da migração dos clientes que buscavam menor preço para competidores

que os atendiam, principalmente no eixo Rio – São Paulo, a Xerox do Brasil continua

sendo líder absoluta no mercado de copiadoras em preto-e-branco, que ainda compõe

a maior parte do seu resultado, e vem se expandindo em novos ambientes. Os

mercados em que atua e seus principais concorrentes são os seguintes:

• copiadoras analógicas e digitais em preto-e-branco – a Xerox possui cerca de 75%

do mercado, e seus principais concorrentes são Sharp, Gestetner, Canon, Kodak.

• copiadoras coloridas – a empresa possui boa presença no mercado, mas o

ambiente é bastante competitivo em função dos produtos da Canon, que atuou

basicamente no segmento de copistas para conquistar mercado.

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• impressoras eletrônicas de alto volume – a Xerox praticamente domina o mercado,

com mais ou menos 98% de market-share. O único concorrente neste segmento é

a IBM.

• duplicadoras – o produto da Xerox é um substituto às gráficas para impressões em

pequena tiragem, e não tem concorrência de produto.

• plotters coloridas e de engenharia – é um mercado bastante difícil para a empresa,

que possui diversos concorrentes de pequeno porte que competem por preço.

• terceirização – a Xerox oferece serviços de terceirização de processamento de

documentos para grande parte dos grandes clientes brasileiros; também neste

segmento é a única a oferecer o produto.

O mercado de copiadoras em preto-e-branco vem sofrendo recentemente uma

revolução em função da estratégia da empresa, a nível mundial, de transição para a

tecnologia digital. O fato de ser a líder no mercado de copiadoras analógicas, e de ser

a empresa que vem inovando com a introdução destes produtos no mercado a coloca

em uma posição competitiva de destaque em relação a seus concorrentes. A

população instalada de equipamentos digitais ainda é menor que a de produtos

analógicos (32% em 2002), mas a receita gerada pela venda de produtos digitais já

representa a maior parcela das receitas da empresa (72% do total), pois a transição já

começou fortemente nos grandes clientes. Neste processo, a Xerox possui enormes

diferenciais de mercado:

- a força da marca, que a coloca como top-of-mind absoluta no mercado de cópias;

- a força de vendas, presente em todos os estados brasileiros, e treinada para

agregar valor ao produto adquirido pelos clientes;

- a cobertura de serviços, com técnicos efetivamente capacitados e disponíveis em

todo o país;

- a tecnologia, pois os produtos desenvolvidos pela Xerox americana chegam ao

país rapidamente, sendo sempre inovadores e de alta qualidade.

Todos estes diferenciais permitem à empresa atuar no mercado de copiadoras

com um premium de preço face à concorrência, pois muitos clientes preferem não se

arriscar a sacrificar o nível de serviço em benefício de pagar um pouco menos. Além

disso, a empresa oferece a possibilidade de financiamento a seus clientes – por meio

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de parceiros – que tanto podem adquirir à vista o produto desejado como podem

alugá-lo ou realizar um leasing.

Em função do domínio da empresa no mercado de copiadoras, uma situação

bastante singular ocorre no Brasil: a popularização do nome da empresa, Xerox, que

chegou ao ponto de ser confundido com o produto oferecido, as cópias. No país xerox

virou sinônimo de cópia e surgiram neologismos como a palavra “xerocar” – tirar

cópias. Este fato de início pode parecer excelente para a empresa, mas pode ser uma

vantagem ou uma desvantagem dependendo do ponto de vista em que é analisado:

da mesma forma que tal situação reflete a presença absoluta da empresa no mercado

de copiadoras, também a associa com um único produto, além de provocar a perda da

imagem institucional. O posicionamento como The Document Company demonstra

que a Xerox não quer ser conhecida como a empresa de cópias, mas sim como a

empresa de documentos. Por isso esta estratégia parece ser bastante adequada para

o mercado brasileiro, dando à empresa a oportunidade de tornar conhecida toda a

ampla gama de produtos que tem a oferecer a seus clientes.

4.3 A Logística da Xerox do Brasil

4.3.1 Papel Estratégico da Logística ao Longo da História

Ao se pensar que a estratégia de crescimento da Xerox do Brasil foi a expansão

nacional, com a instalação de dezenas de filiais em todo o território nacional, é fácil

perceber o papel primordial que a área de Logística teve no seu crescimento. Desde a

importação dos equipamentos, peças e suprimentos, até a distribuição em todo o

Brasil, a área de Logística sempre foi considerada um elo chave no desempenho da

companhia. Quando a empresa passou a lançar dez, vinte produtos novos por ano,

atendendo às demandas do mercado, imagine-se o desafio por que passou esta área,

que tinha a tarefa de trazer os produtos – ou seus componentes, quando o produto era

montado no Brasil – disponibilizar peças e suprimentos e atender a entregas em todo

o país. Além disso, um outro fator de dificuldade era a remoção de equipamentos –

como a empresa comercializava seus produtos sob a forma de leasings de até 60

meses, era constante o cancelamento de contratos para substituição dos

equipamentos por outros mais modernos. Neste aspecto, a tarefa de Logística era

retirar os equipamentos do cliente e levá-los à fábrica de Resende, aonde eram

recondicionados para serem recolocados no mercado. Ou seja, além de todo um

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volume de novas instalações, havia ainda o transporte e armazenagem dos

equipamentos retirados.

A Logística de peças sempre foi também um ponto chave no desempenho da

empresa. Ao comercializar equipamentos de alto volume, como impressoras de

cheques, contas e extratos, e duplicadoras para o mercado gráfico, a empresa não

podia permitir que um cliente fosse prejudicado por ter seu equipamento parado por

problemas técnicos. Além disso, seu diferencial competitivo sempre foi qualidade, e

não preço – qualidade dos equipamentos e no atendimento aos clientes. Desta forma,

a área técnica sempre teve papel preponderante na estratégia competitiva da

empresa. E tão importante quanto técnicos treinados e rapidez no atendimento, é ter a

disponibilidade das peças que precisam ser trocadas nos equipamentos.

Considerando que a maior parte dos equipamentos eram importados, e que eram

lançadas dezenas de novos produtos por ano, é fácil perceber a dificuldade desta

tarefa. Esta sempre foi uma das prioridades da área de Logística, e objeto de diversos

estudos – como a definição dos kits técnicos com as peças mais utilizadas – para

melhoria da produtividade.

A entrada no mercado SOHO apresentou um desafio talvez ainda maior: a

empresa precisava adequar seus processos logísticos a um tipo de negociação

completamente novo, caracterizado pela entrega de altos volumes a distribuidores e

revendedores, alta disponibilidade de equipamentos e uma distribuição de suprimentos

que chegasse até a pequenos estabelecimentos. Tudo isto ao menor custo possível,

visto que os preços dos produtos Xerox, pela falta de tradição da marca neste novo

mercado, eram posicionados sempre abaixo dos produtos da HP, a maior concorrente.

Foram quase cinco anos buscando tornar rentável esta linha de produtos. No entanto,

como parte da reestruturação mundial por que passou a companhia, em 2001 a

empresa se retirou deste mercado, focalizando nos produtos e clientes chave, que

trazem lucratividade aos seus negócios.

Hoje, com um foco muito maior em redução de custos, e não na busca de

market-share, a área de Logística se depara com um novo desafio: rever todos seus

processos e reduzir seus gastos. O volume de lançamento de novos produtos caiu de

forma significativa, e a empresa está buscando novas formas de financiar seus

clientes, extinguindo portanto os contratos diretos de leasing e, conseqüentemente, o

alto volume de remoção de equipamentos. Assim, os desafios do passado se foram, e

novos se apresentam. A venda da fábrica de Resende já foi um reflexo desta mudança

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de foco – a empresa precisou terceirizar grande parte das suas atividades industriais

para poder se reestruturar financeiramente, não só no Brasil como também no resto do

mundo. Além disso, sem esquecer do nível de serviço prestado aos clientes, a maior

preocupação da área é a redução no nível de estoques, que chegou a patamares

elevados em função do ritmo de novos lançamentos e do crescimento acelerado por

que passou a empresa.

4.3.2 Estrutura e Atuação da Área de Logística

Até 2001, a área de Logística tinha uma estrutura separada, liderada por um

Diretor Executivo. Naquele ano, no entanto, a Diretoria Executiva de Logística foi

unificada com a Diretoria Executiva de Manufatura, e passou a ser denominada

Diretoria Executiva de Suporte Operacional e Manufatura, sendo composta pelos

seguintes departamentos:

Fig. 16 - Fonte: Relatórios internos da Xerox do Brasil

Sob a responsabilidade desta Diretoria, além das atividades relacionadas a

Logística, se encontram também a função de Manufatura e o atendimento técnico à

base instalada de equipamentos. Após a reestruturação, Logística passou a ser

formada basicamente por duas áreas: Estratégias e Planejamento de Materiais e

Operações de Integrated Supply Chain. A seguir serão apresentadas as

responsabilidades e a forma de atuação destas duas áreas.

SUPORTE OPERACIONAL E MANUFATURA

Diretoria Executiva

CENTRO DE SUPORTEAO CLIENTE

OPERAÇÕES DE SERVIÇOSA CLIENTES

CENTRO DE SUPORTETÉCNICO

ESTRATÉGIAS E PLANEJAM.DE MATERIAIS

OPERAÇÕES INDUSTRIAISRESENDE

OPERAÇÕES INDUSTRIAISXNOR

OPERAÇÕES INDUSTRIAISMANAUS SUPPLIES

OPERAÇÕES INDUSTRIAISMANAUS EQUIPAMENTOS

OPERAÇÕES INDUSTRIAISSÃO PAULO

OPERAÇÕES DE ISC

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Operações de Integrated Supply Chain

Fig. 17 - Fonte: Relatórios internos da Xerox do Brasil

A área de Operações de ISC é responsável pela armazenagem dos produtos e

pelas entregas aos clientes (transporte outbound). Diferente da área de Estratégias e

Planejamento de Materiais, tem um foco bastante operacional, buscando basicamente

a redução dos custos de armazenagem e transportes, por meio da consolidação de

cargas, da negociação com transportadoras e da implantação de sistemas eficientes

de armazenagem. Seus pontos chave de responsabilidade são armazenar os produtos

de forma eficiente e econômica e entregar o equipamento, suprimento ou peça sem

avarias, ao menor custo possível e no menor tempo possível.

O nome Operações de ISC gera um contraste entre as atividades

desempenhadas pela área e o conceito teórico do termo integrated supply-chain –

cadeia de suprimentos integrada. A idéia associada a este termo é a de que as

empresas devem desenvolver relações integradas com fornecedores e clientes de

forma a atingir ganhos de eficiência operacional – ou seja, é a formação de uma rede

operando de forma coordenada, como uma espécie de empresa expandida, buscando

vantagem competitiva sustentável para todas as firmas que a compõem. (COX,

SANDERSON, WATSON, 2001) A Xerox do Brasil não participa de uma cadeia de

suprimentos integrada, e nem a área denominada Operações de ISC atua ou tem

responsabilidades relacionadas a uma cadeia de suprimentos (da forma como o termo

é conceituado), respondendo apenas pelas atividades de transportes e armazenagem

da própria Xerox do Brasil. Talvez a idéia da empresa ao adotar este nome para a

área tenha sido ressaltar a atividade de integração entre a Xerox e seus clientes –

armazenar os produtos e entregá-los aos compradores – o que, porém, se distancia do

conceito do termo na literatura.

ARMAZENAGEM TRANSPORTES

OPERAÇÕES DE ISC

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96

A atividade de armazenagem consiste basicamente da recepção dos produtos

nos centros de distribuição, sua colocação em estoque e a localização dos mesmos

para retirada. Estes processos contam com o suporte de softwares para alocação

otimizada dos produtos nos centros de distribuição, possibilitando a otimização do

espaço e uma localização rápida no momento do envio ao cliente. No caso de peças e

suprimentos, o software apresenta ainda capacidade de leitura ótica para identificação

do produto; para equipamentos, o controle é feito por série (cada equipamento tem um

número de série associado). Na chegada de qualquer produto, o funcionário da

recepção coloca os dados da nota fiscal no sistema; o próprio sistema verifica a

existência de uma ordem de compra para o produto, e indica a localização do mesmo

no centro de distribuição. O processo inverso ocorre na retirada de produtos do

estoque. Um dos problemas que podem acontecer na recepção dos produtos é a

existência de divergências entre a ordem de compra e o produto recebido,

especialmente no caso de peças importadas. Mesmo sendo verificada esta

divergência, ou na quantidade dos produtos ou até mesmo no tipo de peça, o produto

é recebido e fica pendente de regularização posterior. Isto pode acarretar problemas

de indisponibilidade de estoques, sem que haja responsabilidade da área de Logística

– e sem haver uma responsabilização adequada da subsidiária fornecedora, que gera

este tipo de problemas.

Com relação a transportes, a gerência é responsável por toda a consolidação

dos produtos a serem movimentados e a contratação das transportadoras para cada

remessa. Este trabalho é feito por uma Central de Tráfego existente sob a Gerência de

Transportes. Sua responsabilidade se inicia com a informação sobre o conjunto de

produtos a serem transportados, sua origem e destino e o prazo para esta

movimentação. Com base nestes dados, a Central de Tráfego organiza grupos de

produtos, de acordo com suas cubagens (volumes), buscando otimizar um conjunto de

bens para cada caminhão. Feito este agrupamento, a área entra em contato com as

transportadoras selecionadas para prestar serviço à empresa. Estas transportadoras já

têm contratos pré-assinados com a Xerox, inclusive com a definição de um preço por

quilometragem. Para cada carga consolidada, é feito contato com as transportadoras

selecionadas, e a primeira que aceita o serviço é contratada.

As transportadoras selecionadas são segregadas em três grupos: A, B e C. As

transportadoras do grupo C são aquelas que não apresentam nenhum diferencial de

qualidade. As transportadoras do grupo B trabalham com caminhões-baú, e seus

veículos são rastreados. Finalmente, as transportadoras do grupo A, além de

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trabalharem com caminhões-baú e terem veículos rastreados, contam com

estabilizadores de carga e equipamentos para içamento – para o caso de produtos

sensíveis ou para condições físicas específicas das localidades do cliente. Assim,

além das variáveis já citadas – origem, destino, volume dos produtos, prazo – a

Central de Tráfego precisa ainda considerar a necessidade de transporte especial para

alguns produtos ou clientes. A classificação das transportadoras dentro destes grupos

é constantemente revisada, dependendo da experiência da empresa com cada uma

delas.

Um ponto importante a ser ressaltado é que, apesar de não ser medida de

desempenho da gerência de Operações de ISC, o trajeto interno do transporte

inbound (do fornecedor até a estocagem) também é operacionalizado pela Central de

Tráfego. Na verdade, não haveria sentido em criar uma nova área apenas para

realizar o transporte interno dos produtos. Como a questão que mais afeta o custo do

transporte inbound é a escolha do modal de transporte do fornecedor ao Brasil – como

será discutido a seguir – as decisões da Central de Tráfego não são relevantes no

desempenho da área de Estratégias e Planejamento de Materiais, que é avaliada

pelos custos do transporte inbound.

Com relação a custos, as ações da área de Operações de ISC podem ter grande

impacto nos gastos totais de Logística, visto que o transporte outbound é responsável

pela maior parcela dos custos de transportes da empresa (conforme gráfico a seguir).

No caso do tempo de entrega, existe um padrão pré-determinado para atendimento,

dependendo da localização do cliente. Para equipamentos, este tempo é, em média,

de dois dias úteis, mas pode ocorrer de a área comercial negociar com algum cliente

estratégico um prazo de entrega menor. Em se tratando de peças, dependendo do

equipamento e do contrato com o cliente, este tempo de entrega pode ser reduzido a

algumas horas. Nestes casos, os próprios técnicos mantêm em seus kits as peças

destes equipamentos.

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98

T R A N S F .2 %

In f r u t íf e r a1 %R e t o r n o s

1 6 %

In b o u n d1 2 %

O U T B O U N D6 7 %

S e g u r o s2 %

Custos de TransporteParticipação por Evento - Set YTD

Fig. 18 - Fonte: Relatórios internos da Xerox do Brasil

Estratégias e Planejamento de Materiais

Fig. 19 - Fonte: Relatórios internos da Xerox do Brasil

A área de Estratégias e Planejamento de Materiais tem duas responsabilidades

principais: definir a estratégia de Logística da empresa, possibilitando o equilíbrio entre

nível de serviço, nível de estoques e custos, e planejar e efetuar as compras de

equipamentos, peças e suprimentos. Por ser responsável tanto pelas atividades de

compras quanto pelo transporte inbound e pelo nível de serviço, tem autonomia para

tomar decisões como ter determinado produto em estoque ou comprar o produto sob

demanda e utilizar um modal de transporte mais rápido, ou até mesmo comprar o

ESTRATÉGIAS DE LOGÍSTICA SUPPLY & DEMANDEQUIPAMENTOS

ESTRATÉGIAS E PLANEJAM.DE MATERIAIS

SUPPLY & DEMANDSUPPLIES

SUPPLY & DEMANDPEÇAS

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produto sob demanda e elevar o tempo de entrega ao cliente. Para produtos de maior

giro e baixo valor agregado, é preciso ter sempre um estoque disponível, pois a

utilização do frete aéreo inviabilizaria o custo dos produtos. Se, ao contrário, o produto

tem alto valor agregado e suas vendas são feitas quase por encomenda, pode

compensar efetuar o pedido do equipamento apenas quando a venda já tiver sido

efetuada, e utilizar o modal aéreo para transporte do produto. Esta é uma opção feita

pela própria área, com base em estudos de custos. Existem ainda casos em que a

compra é feita por encomenda e o transporte por via marítima é mantido, elevando o

tempo de entrega ao cliente (que pode chegar a alguns meses) – é o caso de

equipamentos bastante específicos, em que, de uma forma geral, e de acordo com a

visão da empresa, o cliente está disposto a esperar para ter o produto. Cada novo

produto que é lançado tem sua estratégia logística definida, e seu processo de compra

é desenhado.

Os equipamentos comercializados pela Xerox do Brasil podem ter duas origens:

serem montados em uma das instalações industriais no Brasil ou serem adquiridos

prontos de uma das afiliadas da empresa no exterior (normalmente Estados Unidos).

Mesmo no caso da fabricação nacional, o processo se resume à montagem de

módulos dos equipamentos, que também são adquiridos das afiliadas no exterior.

O processo de compra dos equipamentos se inicia com o planejamento das

necessidades dos produtos para os seis meses seguintes, feito pela área de Supply &

Demand de equipamentos. Com base nesta projeção de demanda, é feita a colocação

do pedido à afiliada fornecedora – que, no entanto, deve receber a ordem com pelo

menos 45 dias (em média) de antecedência da data requerida, para que possa

processá-la e disponibilizar o produto. Na data prevista o produto é embarcado para o

Brasil, pelo modal de transporte definido no desenho do seu processo de compras,

feito no lançamento do produto – geralmente por via marítima. Ao chegar ao país, o

produto fica retido na alfândega para a realização do desembaraço. Em seguida, é

transportado para seu local de armazenagem – se forem componentes de um

equipamento montado no Brasil, são transportados para a fábrica onde é realizada a

montagem, se forem produtos prontos são levados para o centro de distribuição de

Resende. Este transporte, conforme já discutido, é operacionalizado pela Central de

Tráfego, área sob a gerência de Operações de ISC. Finalmente os produtos são

estocados e disponibilizados para a área comercial. O total de tempo decorrido neste

processo, desde o processamento do pedido até a estocagem do produto no Brasil, é

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denominado pela empresa tempo de set back, e pode ser resumido pelo desenho a

seguir:

Fig. 20 – Esquematização do tempo de set back

Dois fatores tornam o processo de compras uma etapa chave no gerenciamento

da atividade logística no Brasil. Primeiro, o fato de que, após a colocação do pedido,

este não poderá ser modificado se decorrido o prazo definido pela afiliada

fornecedora, que é de em média 45 dias antes da data prevista para disponibilização

do produto. O segundo ponto a se destacar é que o tempo de set back é bastante

longo – em média 60 dias, podendo chegar a seis meses para produtos que venham

da China. Assim, a colocação do pedido deve ser feita com uma antecedência de

aproximadamente três meses para a data prevista para venda.

É evidenciada, neste caso, a importância de uma boa programação de compras,

que quanto mais precisa menos problemas de falta de produtos, modificação de

pedidos e excesso de estoques irá causar. Esta programação se baseia nas

informações do planejamento de vendas elaborado pela área de Marketing e nas

vendas históricas do produto. No caso de compra de suprimentos, é feita uma

projeção do parque instalado de equipamentos com base no planejamento de vendas.

Para a compra de peças, também são utilizadas como base as estatísticas da área

técnica, relativas a quebras de produtos e peças mais requisitadas. Além disso, é

preciso conhecer o parque instalado dos equipamentos em todo o Brasil, de forma que

as peças estejam o mais próximo possível do local aonde serão necessárias.

O planejamento de vendas é efetuado pela área de Marketing trimestralmente, e

é o ponto de partida para o processo de plano que a empresa executa em todo o

mundo, cujo produto final é uma previsão de resultados para o período que se deseja.

Sendo a base para a programação de compras, quanto mais preciso for o

planejamento de vendas mais acuradas serão as previsões de demandas dos

produtos e menos problemas de falta ou excesso de estoques serão gerados. O

objetivo principal do planejamento de vendas, no entanto, é o estabelecimento de

metas para a área comercial e a definição de uma previsão de resultados para

PLANEJAMENTO PROCESSAMENTO DESEMBARAÇOE COLOCAÇÃO DO PEDIDO TRANSPORTE ALFANDEGÁRIO TRANSPORTE ESTOCAGEM

DO PEDIDO (FORNECEDOR)

TEMPO DE SET BACK

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avaliação da empresa pela matriz. Sendo assim, sofre forte influência da pressão por

resultados, pois será a principal determinante do lucro planejado. Muitas vezes,

portanto, a área de Estratégias e Planejamento de Materiais precisa ajustar o

planejamento de vendas para níveis históricos, o que pode acabar gerando

divergências entre vendas planejadas e vendas reais, causando impacto no processo

de compras.

No caso de peças, além das variáveis já destacadas no processo de compras,

um outro fator pode causar impacto no desempenho da área de Logística: a falta de

estoque no fornecedor. Foi o caso, por exemplo, da copiadora X.5416, que foi

descontinuada há vários anos nos Estados Unidos, mas, em função do sucesso feito

no Brasil, continuou a ser vendida por muito tempo depois. O fornecedor já não fabrica

mais peças para este produto, e portanto não dispõe de estoque para venda. Assim,

para atender à demanda de peças para o enorme parque instalado no Brasil, a Xerox

do Brasil é obrigada a efetuar um processo de canibalização, isto é, desmontar as

máquinas ainda em estoque e utilizar as peças para conserto dos equipamentos

instalados em clientes.

Além das já citadas responsabilidades sobre a atividade de compras, a estrutura

de centros de distribuição também é definida pela área de Estratégias e Planejamento

de Materiais, dentro de uma estratégia determinada de gerenciamento do nível de

serviço e de custos. Esta estrutura é fortemente concentrada no eixo Rio - São Paulo,

pois, apesar de a empresa atender a clientes em todo o Brasil, a maioria dos

equipamentos vendidos se concentram na região Sudeste, pólo econômico do país e

onde se encontra a maior parte das empresas. No caso de peças, porém, a rapidez no

atendimento é fator crítico, o que demanda uma estrutura de distribuição mais

ampliada, com estoques próximos dos clientes. Por isso há centros de distribuição de

peças espalhados em todo o país. A figura a seguir apresenta a estrutura atual de

pontos de distribuição da empresa, e ilustra o que foi mencionado – que, para a

demanda de equipamentos, a concentração de centros de distribuição na região

Sudeste é suficiente para atender à maior parte das vendas:

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REC

RIO DE JANEIRORESENDE

SÃO PAULOBELENZINHO

POAPOA

Florianópolis

CWB

CGR

UDIBH

BSB

VIX

SSA

GYN

CGBP.Velho

BEL FOR

3%3%

1%1%

5%5%

2%2%

5%5%

7%7%

2%2%

5%5%

19%19%

5%5%

4%4%

32%32%

1%1%

2%2%

1%1%

1%1%

%%1%1%

%%

1500 Km1500 Km raio de Resende cobreraio de Resende cobreaproximadamente:aproximadamente:

85% da Atividade de instalação de 85% da Atividade de instalação de eqptoseqptos88 % da Atividade de remoção de 88 % da Atividade de remoção de eqptoseqptos88% da Atividade de peças88% da Atividade de peças

4 CDAs - Peças para suportar os Técnicos( XBRA Operated)

Centros Nacionais de distribuição

6 CDAs - Peças para suportar os Técnicos(Third Party Operated)

Fig. 21 - Fonte: Relatórios internos da Xerox do Brasil

4.4 Sistema de Avaliação de Desempenho de Logística

Podem-se destacar dois sistemas de avaliação de desempenho das gerências

de Logística: o primeiro, configurado em um pacote mensal de reporte, é utilizado

internamente para avaliar em detalhes as variáveis que refletem o desempenho das

duas áreas de Logística; o segundo, oficial e utilizado para pagamento de bônus, é

denominado PPR – Programa de Participação nos Lucros – e é aplicado anualmente

para toda a empresa.

O objetivo do pacote mensal de reporte é possibilitar um acompanhamento

imediato das variáveis mais importantes que refletem o desempenho em Logística. É

utilizado internamente pela Diretoria e pelas Gerências para avaliação do desempenho

da área, possibilitando que medidas corretivas sejam adotadas caso o resultado

alcançado não esteja de acordo com os objetivos estratégicos definidos. As medidas

avaliadas neste pacote de reporte são um suporte para a gestão, ajudando as áreas a

atingir o desempenho definido no sistema oficial de avaliação da empresa, segundo o

qual há o pagamento de bônus para resultados de acordo com e acima do esperado.

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103

O pacote de reporte está dividido em quatro relatórios: Equipment Reporting,

Non-equipment Reporting, Supply-Chain Costs Reporting e Monthly Flash Reporting,

cada um com um objetivo e um nível de detalhe específicos. Estes relatórios são

preparados pela área de Estratégias de Logística, com base em informações obtidas

nos sistemas financeiro e de inventário da empresa. O Equipment Reporting é o

relatório que detalha o estoque de equipamentos. O Non-Equipment Reporting detalha

o estoque de não-equipamentos: suprimentos, papel e peças. O Supply-Chain Costs

Reporting apresenta uma consolidação dos custos de Logística, custos que na

Demonstração de Resultados tradicional da empresa são distribuídos por várias

rubricas. Finalmente, o Monthly Flash Reporting fornece uma visão geral e resumida

dos outros relatórios. Os formatos destes relatórios se encontram no Anexo II. A seguir

se enumeram as variáveis avaliadas:

Equipment Reporting

• Estoques:

o em unidades e em valor;

o por produto e consolidado por divisão de negócios;

o dividido em instaláveis e não-instaláveis – instaláveis sendo os

equipamentos prontos para serem instalados no cliente, não-instaláveis

sendo equipamentos em trânsito, demandando recondicionamento,

canibalizados ou para serem eliminados.

• Provisão de estoques para ajuste a valor de mercado, quando for o caso;

• Comparação do valor de estoques com o plano (higher/ lower);

• Custo médio dos equipamentos instaláveis e não-instaláveis;

• SCV (Standard Carrying Value) – valor pelo qual os equipamentos retornam para o

estoque da empresa quando os contratos de leasing são cancelados pelos

clientes. Deve ser um preço de venda médio estimado, menos uma margem de

lucro e os custos de recondicionamento;

• DOS (Days of Supply) – número de dias em que os estoques instalável e em

trânsito se consomem caso seja mantido o histórico de vendas dos últimos 12

meses. É feita comparação mensal com o plano e com o ano anterior;

• DOR (Days of Removal) – controla o volume de equipamentos não-instaláveis em

relação à taxa média mensal de remoções. Calculado pela divisão do estoque final

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em unidades de equipamentos não-instaláveis pela média de remoções mensais

dos últimos três meses, multiplicado pelo número de dias do mês;

• Comparação mensal do valor de estoques, DOS e percentual de estoques em

relação à receita com o plano e com o ano anterior;

• JIT (just-in-time) to Allocation – percentual de equipamentos separados no centro

de distribuição dentro de uma meta de tempo. Por exemplo, se a meta de tempo

entre a entrada do pedido e a separação na armazenagem for de 1 dia, e se 8/10

dos equipamentos são separados em 1 dia a partir da chegada do pedido, o índice

JIT to Allocation seria de 80%. É feita comparação mensal com o plano e com o

ano anterior, total e por divisão de negócios;

• JIT to Dispatch – percentual de equipamentos despachados pelo centro de

distribuição dentro de uma meta de tempo. Por exemplo, se a meta de tempo entre

a entrada do pedido e o despacho do produto for de 3 dias, e se 7/10 dos

equipamentos são despachados em 3 dias a partir da chegada do pedido, o índice

JIT to Dispatch seria de 70%. É feita comparação mensal com o plano e com o ano

anterior, total e por divisão de negócios;

• JIT to Delivery – percentual de equipamentos entregues aos clientes dentro de

uma meta de tempo. Por exemplo, se a meta de tempo entre a entrada do pedido e

a entrega do produto for de 7 dias, e se 7/10 dos equipamentos são entregues em

7 dias a partir da chegada do pedido, o índice JIT to Delivery seria de 70%. É feita

comparação mensal com o plano e com o ano anterior, total e por divisão de

negócios;

• OTI (Order to Install) Total – tempo decorrido, em dias, desde o pedido do cliente

até a completa instalação do equipamento. É feita comparação mensal com o

plano e com o ano anterior, total e por divisão de negócios.

Non-equipment Reporting

• Valor mensal dos estoques, em comparação com o plano e com o ano anterior;

• Estoques como percentual da receita, mensalmente, em comparação com o plano

e com o ano anterior;

• DOS (Days of Supply) – número de dias em que os estoques se consomem caso

seja mantido o histórico de consumo dos últimos 12 meses. É dividido em DOS

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total, DOS de papel, DOS de suprimentos e DOS de peças. É feita comparação

mensal com o plano e com o ano anterior;

• % Broken calls (falta de peças) – uma broken call ocorre quando um técnico deixa

a localidade do cliente sem completar o serviço, e precisa voltar posteriormente.

No caso deste índice, é medido o percentual de chamadas de manutenção não

planejadas que não foram completadas por falta de peças.

• % Broken calls vs. Total calls – neste índice, é medido o percentual de todas as

chamadas de serviço que não foram completadas por falta de peças.

• % Fill rate – percentual do pedido de suprimentos atendido pelo estoque

disponível.

Supply-chain Costs Reporting

• Mão-de-obra – despesas de salários e benefícios da equipe de logística e

distribuição, planejamento de compras, importação, pessoal de armazenagem, e

despesas alocadas de outras áreas de suporte;

• Transporte da manufatura – despesas de frete do local de origem do produto até o

centro de distribuição nacional;

• Transporte local – despesas de frete entre o centro de distribuição nacional e as

filiais, das filiais aos clientes, entre filiais, dos clientes para o centro de

recondicionamento;

• Taxas e Impostos de Importação – incluem todas as despesas de taxas e impostos

sobre as importações;

• Outras despesas de transporte /importação – seguro pago sobre as remessas,

taxas de licença, taxas pagas a consultorias para interpretações dos regulamentos

de importação, licenças, quotas, etc;

• Armazenagem – todas as despesas de armazenagem exceto despesas com

pessoal;

• Sistemas – despesas com desenvolvimento e suporte de sistemas de importação,

transporte, planejamento, controle de armazenagem;

• Constituição / estorno de provisões – provisões sobre estoques constituídas ou

revertidas;

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• Custos de Estoques – custo de oportunidade de investir recursos em estoques em

vez de obter retorno de um investimento alternativo. É definida uma taxa

percentual aplicada sobre o valor médio mensal de estoques.

• Total Supply-Chain costs – somatório de todos os itens definidos anteriormente.

Todas as despesas são comparadas com o plano e com o ano anterior. O total de

custos de supply-chain é também calculado como percentual da receita,

mensalmente, e comparado com o plano e com o ano anterior.

Monthly Flash Reporting

• Valor de estoques, aberto em equipamentos e não-equipamentos, por mês;

• Supply-chain costs, segregados em com taxas e impostos e sem taxas e impostos,

por mês;

• Nível de serviço, por mês, medido por:

o % Broken Calls falta de peças;

o % Broken Calls vs. Total Calls;

o % Fill Rate;

o OTI Total;

o JIT to Allocation;

o JIT to Dispatch;

o JIT to Delivery.

Pela análise das variáveis mensuradas nestes relatórios, percebe-se uma

preocupação em considerar na avaliação de desempenho tanto medidas de nível de

serviço quanto medidas de custos. No caso de nível de serviço, é avaliado

principalmente o tempo decorrido desde o pedido até a entrega e instalação do

equipamento – o que, indiretamente, mensura também a disponibilidade dos produtos.

Como este tempo é dividido em metas de alocação no estoque, despacho e entrega, é

possível avaliar os gaps entre estas atividades, e assim verificar as responsabilidades

por possíveis problemas. Se, por exemplo, o índice JIT to Dispatch é alto (indicando

que um grande percentual de equipamentos é despachado no tempo meta) e o índice

JIT to Delivery é baixo (indicando que um percentual menor de equipamentos é

entregue no tempo meta), é possível verificar que o transporte outbound está

demorando um tempo maior que o estipulado. No caso de suprimentos e peças,

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existem ainda os índices Fill Rate – percentual do pedido de suprimentos atendido

pelo estoque disponível, um índice de disponibilidade – e, especificamente para peças,

o índice Broken Calls – que avalia o nível de serviço do pós-venda, ou seja, os

chamados técnicos que não puderam ser concluídos por indisponibilidade de peças.

Quanto a custos, além da informação sobre valor de estoques, o principal índice

medido é denominado DOS – Days of Supply – que indica a relação entre montante de

estoques e histórico de vendas. Além disso, há uma preocupação em segregar da

Demonstração de Resultados da empresa as despesas relacionadas à atividade

logística, estruturando uma análise detalhada dos seus custos – denominados Supply-

Chain Costs.

Além do sistema de avaliação de desempenho estruturado para uso interno das

áreas de Logística, existe ainda o sistema oficial, em que a empresa avalia os

resultados obtidos por todas as suas áreas e diretorias. Assim, a avaliação de

desempenho das duas gerências de Logística se insere no programa denominado

PPR, Programa de Participação nos Lucros, lançado no segundo semestre de 2001. É

um sistema de controle por resultados, que vincula o pagamento de bônus aos

funcionários ao alcance de metas. Primeiro, das metas corporativas, ou seja, do

resultado da empresa – medido em termos de lucros, receita, valor em caixa.

Segundo, das metas da diretoria à qual o departamento está subordinado. Finalmente,

das metas de cada área. Desta forma, ninguém recebe participação nos lucros se a

empresa não atingir o resultado definido. No caso de o resultado ser atingido, é

preciso verificar se as metas da própria diretoria foram atingidas. Finalmente, se estas

tiverem sido alcançadas, cada área deve ter atingido suas próprias metas para que

seus funcionários possam receber a premiação.

Dois pontos podem ser destacados em relação ao Programa PPR: primeiro, o

fato de que cria uma interdependência entre as áreas, pois os resultados de outros

departamentos afetam as metas da Diretoria; segundo, a utilização de poucos

indicadores, simples de serem entendidos por toda a empresa e que se propõem a

mensurar com a maior abrangência possível o desempenho de cada área. Esta foi

uma mudança significativa em relação aos sistemas oficiais de avaliação de

desempenho anteriores, que utilizavam uma extensa quantidade de indicadores,

tentando mensurar todos os aspectos do desempenho.

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No caso de Logística, portanto, foram definidos indicadores para a Diretoria

como um todo e indicadores para cada gerência. O quadro seguinte resume estes

índices:

MEMO: - satisfação de clientes com serviços: medida por pesquisa;

- backlog de equipamentos: equipamentos vendidos que não puderam ser entregues por

estarem em falta no estoque;

- broken calls: chamados técnicos que não puderam ser atendidos por falta de peças;

- tempo de set back: tempo decorrido desde o pedido até a estocagem;

Fig. 22 – Quadro-resumo dos indicadores de desempenho

Com base neste quadro pode-se verificar o que foi mencionado anteriormente:

primeiro, que o desempenho das áreas passou a ser medido por poucos indicadores,

que buscaram abranger várias dimensões de desempenho (financeiro e de clientes,

por exemplo); em segundo lugar, percebe-se claramente a interdependência entre as

áreas: o gerente da área de Operações de ISC depende do atingimento da meta de

nível de inventário para receber sua participação nos lucros, assim como o gerente da

área de Estratégias e Planejamento de Materiais é indiretamente medido pelas

despesas com frete outbound, que não estão sob sua gerência.

Nas metas da Diretoria, estão incluídos os três pilares da gestão da atividade

logística: nível de serviço, custo de estoques e custo de transportes. O nível de serviço

avaliado, no entanto, considera apenas a variável de consistência no prazo de

entrega. Isto porque a pesquisa que avalia a satisfação de clientes, feita anualmente

para todo o parque instalado de equipamentos, inclui apenas a seguinte questão

relacionada ao desempenho em Logística: cumprimento do prazo acordado para

entrega do equipamento. Ou seja, o nível de serviço avaliado por esta pesquisa

DIRETORIA DE SUPORTE OPERACIONAL E MANUFATURA

Nível de InventárioBacklog de Equiptos Projeto de consolidação de cargas

Broken calls Despesas transporte outboundTempo de Set Back

Despesas transporte inbound

Nível de Inventário Despesas com Frete Satisfação de clientes com serviços

ESTRATÉGIAS E PLAN. MATERIAIS OPERAÇÕES DE ISC

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mensura unicamente o desempenho do transporte outbound, não levando em

consideração outras variáveis como disponibilidade e o próprio prazo de entrega do

produto (a pesquisa completa se encontra no Anexo III).

Nas metas de cada gerência, a preocupação em avaliar tanto variáveis de nível

de serviço quanto de custos permanece. No caso da gerência de Estratégias e

Planejamento de Materiais, o nível de serviço é avaliado pelas medidas de backlog de

equipamentos e broken calls – que mensuram a disponibilidade de equipamentos e

peças. Com relação a custos, são medidos o nível de estoques e os custos de

transporte inbound. A variável tempo de set back, finalmente, é uma medida mais

relacionada a eficiência operacional (conforme será discutido na seção de análise do

caso). No caso da gerência de Operações de ISC, a preocupação é com custos de

transporte. No entanto, como a pesquisa de satisfação de clientes avalia

especificamente o desempenho do transporte outbound, indiretamente a área também

é avaliada por nível de serviço.

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110

5. ANÁLISE DO CASO

O objetivo deste capítulo é analisar os dados colhidos na empresa, descritos no

capítulo anterior, à luz das teorias estudadas e, principalmente, do modelo de

avaliação de desempenho sugerido na seção 2.4.

5.1 Análise dos Trade-offs de Logística

Um dos pontos mais ressaltados na revisão bibliográfica sobre o gerenciamento

da função logística é a questão dos trade-offs inerentes à sua atividade. De acordo

com o que foi exposto, a gestão das atividades logísticas em uma empresa precisa ser

feita de maneira integrada, pois invariavelmente reduções de custos em uma de suas

atividades levam a aumentos de custos em outras. Da mesma forma, destacou-se a

interdependência do desempenho de Logística em relação a decisões tomadas por

outras áreas da empresa, como Marketing e Produção. Na apresentação do estudo de

caso sobre a Xerox do Brasil estas questões puderam ser percebidas, assim como a

forma como a empresa as tratou. Nesta seção estes pontos serão esmiuçados e

confrontados com as teorias discutidas. Basicamente, serão abordados três trade-offs:

primeiro, o trade-off entre custos de estoques e custos de transportes; segundo, o

trade-off entre nível de serviço e custos de estoques e transportes; finalmente, os

trade-offs entre as responsabilidades da área de Logística e os interesses das áreas

de Produção, Marketing e Finanças. Na seção 5.2, então, será analisado como o

sistema de avaliação adotado pela empresa lida com estes trade-offs.

5.1.1 Trade-off entre Custos de Estoques e Custos de Transportes

Conforme ressaltado no capítulo de referencial bibliográfico deste trabalho, um

dos trade-offs mais importantes na atividade logística das empresas é o trade-off entre

custo de estoques e custo de transportes. Isto porque um mesmo nível de serviço –

definido, neste caso, como disponibilidade de produtos – pode ser obtido por meio de

um maior nível de estoques ou por um transporte mais rápido, e conseqüentemente

mais caro, que reponha os produtos com maior velocidade. A gestão destes custos

deve ser feita de forma integrada, de modo que, estabelecido um dado nível de

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serviço, o mix de custos de estoques e de transportes seja o menor possível (ver pág.

39).

De uma forma geral, as decisões que afetam os custos de estoques e os custos

de transportes são feitas separadamente, não havendo uma preocupação comum de

redução dos custos totais. Um departamento que seja responsável apenas pelos

custos de transportes, por exemplo, sempre buscará uma maior consolidação de

cargas, aumentando o volume transportado a cada viagem e, assim, reduzindo a

quantidade de viagens, de forma a baratear o gasto total com transportes. No entanto,

se os estoques são repostos com menor freqüência, é preciso que o seu volume seja

maior, para que a disponibilidade de produtos se mantenha a mesma. E nem sempre a

economia em transportes compensa o aumento de custos pela manutenção de

maiores estoques.

No caso da Xerox do Brasil este conflito de interesses é solucionado pela

unificação das decisões e das responsabilidades sobre estes dois custos, integradas

na gerência de Estratégias e Planejamento de Materiais. Apesar de o transporte

outbound não estar sob administração da área, este transporte pouco afeta o tempo

total de entrega do produto ao cliente, no caso de o produto não estar disponível – em

função do elevado tempo de set back. Isto é, a rapidez na entrega ao cliente causará

pouco impacto no nível de serviço, se não houver o produto em estoque – pois o

tempo decorrido entre o pedido do material e a chegada em estoque é bastante

superior ao tempo do transporte do centro de distribuição até o cliente (o transporte

outbound leva em média dois dias, enquanto o tempo total até a chegada em estoque

pode levar meses, dependendo da origem do produto). Assim, a área de Estratégias e

Planejamento de Materiais tem autonomia para decidir ter maiores estoques ou para

repor estes estoques com maior freqüência – por meio de um transporte inbound mais

veloz, principalmente trocando o modal marítimo por modal aéreo – e, como seu

desempenho é medido tanto pelos custos de estoques quanto pelos custos de

transportes, seu interesse é pela redução dos custos totais.

5.1.2 Trade-off entre Nível de Serviço e Custos

No início deste trabalho, destacou-se a importância de um bom desempenho em

Logística para consolidação e fortalecimento da posição competitiva das empresas,

tendo em vista que a competição se dá cada vez menos com base em diferencial de

qualidade dos produtos e muito mais em diferencial de qualidade dos serviços

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associados ao produto – o nível de serviço prestado. Este nível de serviço pode ser

definido com base em inúmeras variáveis, e cada autor propõe uma abordagem

diferente (ver pág. 30). Pode-se, porém, resumir estas diferentes abordagens em três

pontos principais: ter prontamente determinado produto em estoque – disponibilidade

–, entregar o produto rapidamente e dentro do prazo acordado – consistência e

velocidade na entrega – e fornecer ao cliente um suporte pós-venda adequado –

atendimento a reclamações. Estas variáveis, portanto, representam um ponto-chave

no desempenho das empresas.

A atuação da empresa em relação a estes três pontos dependerá basicamente

da sua eficiência na gestão da atividade logística, e, é claro, esta eficiência tem um

custo associado. As teorias que abordam a questão nível de serviço versus custos

associados (ver pág. 30) indicam que, como é impossível mensurar com alguma

precisão o custo de vendas perdidas pela prestação de um nível de serviço

inadequado, as empresas precisam entender as expectativas dos clientes e definir um

determinado nível de serviço alinhado com estas necessidades. Mantido este nível de

serviço, os custos devem ser minimizados.

No caso da Xerox do Brasil, pode-se definir nível de serviço com base em três

variáveis principais: disponibilidade de produtos (equipamentos e suprimentos),

rapidez e consistência na entrega e atendimento de chamados técnicos, que no caso

de Logística se reflete basicamente na disponibilidade de peças. Os custos associados

a estas variáveis são basicamente os custos de estoques e os custos de transportes.

Considerando que a empresa atende a clientes com necessidades bastante

diferentes entre si – desde escritórios que possuem apenas uma copiadora até bancos

que imprimem milhares de contas e extratos por mês –, e que clientes com

necessidades diferentes exigem níveis de serviço específicos para estas necessidades

(conforme destacado por Figueiredo, ver pág. 51), é de grande importância para a

empresa que o estabelecimento de padrões para os níveis de serviço considerem as

peculiaridades de cada segmento de clientes. Esta segmentação no nível de serviço,

no entanto, não é feita formalmente pela empresa. Com relação a prazo de entrega,

existe um tempo-padrão para todas as vendas, dependente apenas da região de

destino do produto. Este tempo é, em média, de dois dias úteis. Podem ocorrer

exceções, mas seriam casos tratados à parte, e não uma exigência específica de um

segmento de clientes com uma necessidade peculiar. Com relação à disponibilidade

de equipamentos, suprimentos e peças, a questão é tratada de forma intuitiva – é claro

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que a disponibilidade deve ser máxima para uma peça essencial ao funcionamento de

uma impressora de alto volume, usada em bancos, prestadoras de serviços de luz,

gás, etc. Por outro lado, a disponibilidade não é um fator tão crítico para uma

impressora de engenharia, em que a qualidade do produto é critério primordial para a

escolha do fornecedor. Estas diferenças intuitivas entre as expectativas dos diferentes

clientes não são, porém, tratadas de maneira metódica pela empresa. O sistema de

avaliação de desempenho oficial leva em consideração uma meta global de backlog

de produtos e de broken calls, não há uma meta específica para diferentes segmentos

de produtos. Mesmo nos sistemas de acompanhamento internos das gerências de

Logística, esta segmentação é feita apenas no nível de divisão de produtos. Ou seja: a

empresa não conhece as expectativas específicas de cada tipo de cliente a que

atende, e não avalia o seu desempenho em relação a estas expectativas.

No passado, quando a empresa crescia a taxas elevadas e tinha uma

significativa folga financeira, a qualidade dos serviços prestados era diferencial

competitivo primordial, e, portanto, a prioridade da área de Logística era oferecer um

nível de serviço máximo – novamente, independente das expectativas dos clientes.

Assim, a empresa apresentava um nível elevado de estoques, consistente com a

estratégia de oferecer uma disponibilidade máxima de produtos. Com a crise

financeira e a alteração do foco de crescimento de receita para redução de custos, a

área de Logística precisou rever esta estratégia. A prioridade passou a ser uma melhor

gestão das variáveis nível de serviço versus investimento em estoques, e o

direcionamento global da matriz passou a ser uma concentração de esforços para

redução dos níveis de estoques. Isto pode ser facilmente percebido na análise da

evolução do volume de estoques da Xerox Corporation em relação à receita –

percentual que passou de 13,6% em 1998 para 7,7% em 2002.

Fig. 23 - Fonte: Relatório Anual Xerox Corporation, 2002 (www.xerox.com)

É preciso ressaltar que esta redução no nível de estoques não passou por uma

revisão do nível de serviço prestado em relação ao nível de serviço esperado pelo

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cliente. Foi apenas uma alteração significativa na variável principal a ser focalizada –

antes, nível de serviço, agora, custos de estoques. Hoje, a disponibilidade de produtos

depende fundamentalmente da acuracidade da programação de compras, que por sua

vez depende da acuracidade do planejamento de vendas. Com a redução do estoque

de segurança mantido pela empresa, um planejamento adequado se tornou muito

mais relevante no atendimento da disponibilidade de produtos desejada.

O desafio da área de Estratégias de Logística é exatamente inverter esta

equação – o objetivo é que o nível de serviço seja a primeira variável a ser definida, e

o volume de estoques seja uma conseqüência desta definição. No lançamento de

produtos, a área precisa cada vez mais trabalhar em conjunto com a área de

Marketing, para ter uma clara definição do tempo de vida do produto, qual a estimativa

de penetração no mercado, qual o volume esperado de vendas para os anos

seguintes e qual a estrutura logística mais adequada às características do produto. Só

assim é possível montar uma estrutura logística adequada às necessidades do

público-alvo de cada produto. Talvez esta tenha sido a razão da baixa rentabilidade

obtida pela empresa no mercado SOHO. Por se tratarem de produtos cujos clientes

tinham necessidades completamente diferentes do mercado tradicional atendido pela

companhia – sendo a disponibilidade de produtos e suprimentos o fator mais crítico –

poderia ter sido verificado que a estrutura logística utilizada pela empresa não poderia

atender adequadamente a estes clientes.

5.1.3 Trade-off entre Logística, Produção, Marketing e Finanças

Na gestão de uma empresa, sempre é preciso lidar com interesses conflitantes –

seja entre subsidiárias, entre filiais ou entre áreas – de forma que as decisões

tomadas por seus agentes beneficiem a empresa como um todo. Conforme discutido

na parte teórica deste trabalho, este gerenciamento de interesses deve ser feito por

meio de um sistema de controle gerencial que induza as decisões no sentido dos

resultados ótimos para a empresa.

Ainda de acordo com o que foi apresentado, verifica-se que, se para todas as

funções da empresa este gerenciamento é uma atividade complicada, para a gestão

da função logística esta tarefa se torna ainda mais complexa – conseqüência dos

trade-offs inerentes a esta atividade. Mais do que os trade-offs internos a Logística,

que podem ser contornados com mais facilidade por uma gestão centralizada da

atividade (ver pág. 34), o maior conflito a ser abordado pelo sistema de controle

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gerencial é o conflito dos objetivos de Logística em relação aos interesses divergentes

das áreas de Marketing, Produção e Finanças. Conforme destacado anteriormente

(ver pág. 36), os objetivos destas áreas levam a interesses que pressionam a área de

Logística em sentidos opostos. A área de Marketing, com o objetivo de vender mais,

deseja a oferta de uma ampla variedade de produtos, o melhor nível de serviço que

puder ser prestado, o que inclui disponibilidade máxima de produtos, entrega rápida e

atendimento pós-venda exemplar. Para Logística, isto significa maiores estoques e

maiores custos de transportes. A área de Produção, com o objetivo de reduzir os

custos dos produtos, deseja uma programação inflexível, que permita a execução de

corridas de produção longas e ininterruptas, além de pouca variedade de produtos.

Para Logística, além de maiores estoques, isto significa também pouca flexibilidade na

programação de compras. Finalmente, para a área de Finanças o objetivo primordial é

aumentar os lucros, o que significa reduzir custos – de estoques e transportes,

inclusive.

Tais interações foram discutidas na parte teórica deste trabalho, aonde foi

destacado o estudo desenvolvido pela Ernst & Whinney, na pág. 38, que sugere um

modelo gráfico para representar a ocorrência destes interesses conflitantes. No caso

da Xerox do Brasil, em que estes interesses conflitantes podem afetar de forma

significativa o desempenho da área de Logística, pode ser elaborada uma figura

semelhante à apresentada no trabalho, ilustrando graficamente os trade-offs entre as

áreas de Logística e outras áreas da empresa:

F

ÁREAS MEDIDAS DE INTERESSES IMPACTOS

ig. 24 – Modelo gráfico dos trade-offs entre Logística e outras áreas na Xerox do Brasil

DESEMPENHO

- maior disponibilidade de produtos- rápida introdução de produtos e serviços- entregas rápidas e confiáveis- planejamento agressivo de vendas- alta e consistente utilização da capacidade- menos set-ups, maiores corridas de produção- pouca flexibilidade na programação da produção

- maiores receitas- menores custos de produção- menores custos de estoques- menores custos de transportes- flexibilidade nas compras- bom planejamento de vendas- maior disponibilidade de produtos

- consolidação de cargas

NÍVEL DE SERVIÇO

RESTRIÇÕES À PRODUÇÃO

CUSTO DE ESTOQUES

CUSTO DE TRANSPORTES

MAIOR

MENOR

MAIOR

MENOR

MAIOR

MENOR

MAIORES

MENORES

OPERAÇÕES DE ISC

RECEITA

CUSTO DOS PRODUTOS

LUCRO

CUSTO DE ESTOQUESNÍVEL DE SERVIÇO

CUSTO DE TRANSPORTES

COMERCIAL & MARKETING

PRODUÇÃO

FINANÇAS

ESTRATÉGIA & PLANEJ. MATERIAIS

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Nesta figura podem-se destacar os dois principais fatores externos que afetam o

desempenho da área de Logística da empresa: o planejamento de vendas e a

flexibilidade da programação de produção. Ambos os fatores exigem que a área

mantenha maiores estoques para atender aos pedidos, ou que reduza o nível de

serviço diminuindo a disponibilidade dos produtos. É importante que estas interações

sejam consideradas e que as decisões tomadas pelas três áreas – Produção,

Marketing e Estratégias e Planejamento de Materiais – sejam as melhores para a

empresa como um todo.

5.2 Análise do Sistema de Avaliação de Desempenho e Comparação com oModelo Proposto

Após a pesquisa de referencial bibliográfico feita neste trabalho, e o estudo das

sugestões levantadas por cada autor, foram apresentadas na seção 2.4 algumas

características que ajudariam a criar um sistema de avaliação de desempenho

adequado às necessidades da área de Logística. Estas características são:

• utilização de um sistema de controle por resultados (principalmente em se tratando

de uma grande empresa de estrutura descentralizada);

• avaliação da área de Logística como um centro de custos;

• definição de medidas de desempenho considerando as diferentes perspectivas de

desempenho, os diversos níveis de decisão e os trade-offs existentes em Logística;

• definição de um número limitado de medidas de desempenho, buscando o

equilíbrio entre elas;

• utilização do custeio ABC para medição dos custos de Logística e dos trade-offs

entre as atividades.

Quanto a estas características, os seguintes pontos podem ser levantados em

relação ao sistema de avaliação de desempenho utilizado na Xerox do Brasil:

I. Controle por resultados – a empresa utiliza um sistema de controle por resultados,

pois vincula a distribuição de recompensas (no caso, o pagamento de participações

sobre o lucro) ao atingimento de metas pré-estabelecidas. Por se tratar de uma

empresa de grande porte, de administração descentralizada, a adoção deste modelo

de controle gerencial está alinhada com a proposta de Gomes e Salas, apresentada

na pág. 13. O pacote de reporte mensal adotado internamente pelas áreas de

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Logística serve como suporte para acompanhar as variáveis determinantes do

desempenho, e também para avaliação da performance dos gerentes (com

recompensas para bons resultados como promoções, etc.).

II. Logística como centro de custos – a área de Logística é avaliada como um centro de

custos, o que se alinha com a sugestão de Kaplan e Atkinson, na discussão

apresentada nas págs. 17-19. Como não tem autonomia para vender seus serviços a

clientes externos, nem outputs que possam ser considerados “vendáveis”, segundo

estes autores a área de Logística da empresa estudada deveria ser avaliada como

um centro de custos. Estes custos são evidenciados pelo pacote de reporte mensal

como supply-chain costs.

III. Escolha das medidas de desempenho considerando diferentes perspectivas – de

acordo com o modelo de Balanced Scorecard, para uma boa gestão de uma

empresa existem quatro dimensões de desempenho que devem ser acompanhadas:

dimensão de clientes, financeira, interna e de inovação. Estas perspectivas

diferentes de se olhar o negócio procuram abranger uma visão mais ampla do

desempenho, não focalizando apenas em resultados financeiros, como ocorre com

os sistemas de avaliação tradicionais. Na Xerox do Brasil a preocupação em

escolher medidas que abordassem estas diferentes perspectivas pode ser percebida

na análise dos sistemas de avaliação de desempenho adotados pela empresa. O

quadro a seguir classifica as medidas avaliadas de acordo com as quatro dimensões

de desempenho ressaltadas no modelo de Balanced Scorecard:

Fig. 25 – As medidas de desempenho de Logística de acordo com o Balanced Scorecard

PERSPECTIVASDE CLIENTES (nível de serviço)

Disponibilidade Prazo entrega Consist. Entrega Pós-venda

OTI Total (eqptos)

Supply-chain costs JIT to allocation

Fill rate (suprim.) Nível de inventário JIT to dispatch

DOS

Custo de Transportes

Nível de inventário

Custo Transp. InboundNível de

inventário

Tempo de set-back

N/A N/A Custo Transp. Outbound

Consolidação de cargas

Broken calls

Pesquisa de satisfação de

clientes

Backlog de eqptos N/A N/A Broken calls

PPR OPERAÇÕES DE ISC

OTI Total (eqptos) JIT to deliveryRELATÓRIO INTERNO

PPR DIRETORIA

PPR ESTRATÉGIAS E PLANEJAMENTO DE

MATERIAIS

FINANCEIRA INTERNA DE INOVAÇÃO

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As áreas assinaladas são aquelas em que não há nenhuma medida de desempenho

associada. Por exemplo, a Diretoria só é avaliada pela perspectiva de clientes com

relação à consistência na entrega, pois na pesquisa de satisfação de clientes apenas

esta questão é tratada. Poderia-se sugerir, portanto, que fossem incluídas nesta

pesquisa questões relacionadas à disponibilidade dos produtos, ao prazo de entrega

e ao serviço do pós-venda. Outro ponto diz respeito à perspectiva de inovação, que

não é mensurada por nenhum sistema de avaliação. Esta visão ajuda a organizar a

escolha das medidas e verificar possíveis lacunas no sistema de avaliação de

desempenho adotado.

IV. Escolha das medidas de desempenho considerando seu equilíbrio – apesar de

abrangerem as diversas dimensões do desempenho, os indicadores escolhidos pela

empresa são poucos e de fácil interpretação por parte dos seus usuários. É preciso

verificar, no entanto, se formam um sistema de avaliação de desempenho

coordenado, que forneça um direcionamento claro para a tomada de decisões de

acordo com os interesses da empresa. Alguns critérios para análise dos sistemas de

avaliação de desempenho e de suas medidas foram propostos por Caplice e Sheffi, e

discutidos na parte teórica deste trabalho (ver págs. 61-64). Estes critérios podem

ser usados como base para análise dos sistemas de avaliação de desempenho

adotados pela Xerox do Brasil, conforme será discutido a seguir:

Abrangência: de acordo com este critério, um bom sistema de avaliação de

desempenho deve capturar o impacto das decisões em todos seus aspectos

relevantes (satisfação de clientes, resultados financeiros, etc.). Isto se alinha com a

discussão das diferentes perspectivas do Balanced Scorecard, apresentada no

tópico anterior. Em resumo, os sistemas de avaliação de desempenho adotados pela

Xerox do Brasil têm a preocupação de abranger todos os aspectos relevantes do

desempenho. Foram, porém, identificados algumas dimensões do desempenho não

abordadas.

Relação de causa e efeito: um bom sistema de avaliação de desempenho deve

buscar as causas do desempenho, não apenas os resultados finais. O uso de

medidas não-financeiras atende em parte a este critério, pois estas medidas avaliam

as causas do resultado financeiro futuro – por exemplo, satisfação de clientes. Na

adoção de medidas como broken calls e backlog para avaliação do desempenho das

gerências de Logística, esta preocupação permanece – pois estes índices

demonstram o que seriam as causas da satisfação de clientes.

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Integração vertical: de acordo com este critério, níveis diferentes da empresa devem

utilizar diferentes medidas de desempenho, mas medidas relacionadas entre si e

relacionadas à estratégia global da empresa. Na Xerox do Brasil se percebe uma

clara vinculação entre as medidas de desempenho analisadas, pois o desempenho

nas variáveis mensuradas pelas gerências de Logística são fundamentais para um

bom desempenho nas variáveis mensuradas pela diretoria. Todas as medidas estão

inter-relacionadas e apresentam um claro direcionamento da estratégia da empresa.

Integração horizontal: o sistema de avaliação de desempenho deve abranger todas

as atividades, funções e departamentos do processo. No caso da Xerox do Brasil,

todos os processos referentes à área de Logística estão abrangidas pelos sistemas

de avaliação; há, porém, um impacto de decisões de outras áreas no desempenho

de Logística, o que não é abordado. Este ponto, porém, será discutido no próximo

tópico.

Comparabilidade interna: o sistema de avaliação de desempenho deve possibilitar a

identificação dos trade-offs entre as diferentes dimensões do desempenho, por

exemplo, como um aumento no percentual de entregas no tempo correto afeta os

custos de transportes e as receitas da empresa? Este é um ponto bastante complexo

de ser atendido, pois depende de questões subjetivas e de cálculos específicos. No

entanto, por meio de um sistema de avaliação por resultados é possível apontar

estes trade-offs, pois o estabelecimento de metas para cada indicador deve

apresentar um equilíbrio entre medidas – por exemplo, pode ser impossível oferecer

um nível de disponibilidade de 90% com um custo de estoques de $XX. O

estabelecimento das metas deve indicar se é melhor diminuir a disponibilidade ou

aumentar os custos de estoques.

Utilidade: as medidas adotadas pelo sistema de avaliação de desempenho devem

ser facilmente entendidas pelo tomador de decisão e fornecer um direcionamento

para a ação que deve ser tomada. Se, por exemplo, a área de Estratégias e

Planejamento de Materiais fosse medida por nível de serviço, avaliada por pesquisa,

não haveria um direcionamento claro sobre a ação a ser tomada. No entanto, como a

área é avaliada por índices como backlog de equipamentos, fill rate e broken calls,

fica explícito o direcionamento que a empresa deseja para aumentar o nível de

serviço aos clientes. O sistema de avaliação de desempenho adotado pela Xerox do

Brasil, portanto, demonstra esta preocupação.

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Com relação aos indicadores de desempenho mensurados, uma discussão

interessante se refere aos trade-offs dos critérios para avaliação destes indicadores,

também propostos por Caplice e Sheffi. De acordo com os autores, as medidas de

avaliação de desempenho precisam ser úteis, ou seja, fornecer um guia para a ação,

e integradoras, ou seja, promover a coordenação. No entanto, quanto mais uma

medida é útil, menos ela é integradora. O ideal, segundo os autores, é que o sistema

de avaliação de desempenho abranja simultaneamente medidas úteis e integradoras.

O sistema de avaliação de desempenho adotado pela empresa, no entanto, privilegia

as medidas úteis, que fornecem um direcionamento claro para a tomada de

decisões. A integração entre as diferentes funções dos processos é obtida por meio

da “hierarquia” de medidas utilizada pelo PPR – em que o pagamento de bônus é

vinculado ao atingimento de metas pela diretoria, sobre algumas das quais as áreas

não têm a menor gerência. Por exemplo, pouco pode ser feito pelo gerente da área

de Operações de ISC para reduzir o nível de inventário – além de cobrar decisões do

gerente da outra área. Esta foi a maneira encontrada pela empresa para gerar

atenção e cobrança sobre as decisões de outras áreas, compartilhando

responsabilidades. Esta proposta se alinha com a sugestão de Kaplan e Atkinson

(ver pág. 63), que discutiram o assunto a partir de problemas de interação gerados

entre as áreas de Vendas e Produção – a solução proposta pelos autores seria

incluir nas medidas de desempenho da área de vendas componentes relacionados à

eficiência da produção. Foi exatamente a solução encontrada pela Xerox. Além

disso, esta é ainda uma maneira para transformar a área em uma organização

colaboradora, dentro das definições de Eccles (pág. 20), ou seja, com características

cooperativas (não há competição, mas sim interdependência) e competitivas (existe

cobrança em relação ao desempenho de outras unidades).

V. Escolha das medidas de desempenho considerando os trade-offs entre as atividades

– o tópico 5.1 descreveu os principais trade-offs que afetam a gestão da função

logística das empresas. A questão que se coloca, agora, é como a empresa lida com

estes pontos no seu sistema de avaliação de desempenho. No caso do trade-off

entre custo de estoques e custo de transportes, já foi discutida a solução adotada

pela empresa – centralizar as decisões em um único departamento. Já os trade-offs

entre nível de serviço e custos de estoques e transportes são gerenciados pela

empresa por meio de um sistema de avaliação de desempenho que cria

interdependência de resultados entre as áreas, gerando uma co-responsabilidade

pelo atingimento das metas. Desta forma, todas as áreas têm interesse em atingir as

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metas de backlog, broken calls e consistência no prazo de entrega, da mesma forma

que todas as áreas buscam reduções no nível de inventário e nos custos de

transportes.

A questão se complica com relação aos trade-offs entre Logística e as outras áreas

da empresa que afetam o seu desempenho, como Marketing e Produção. O quadro

apresentado na pág. 115 ressalta que os principais fatores externos que afetam o

desempenho da área de Logística são: o planejamento de vendas e a flexibilidade da

programação de produção. Estes pontos são tão relevantes que alguns dos

indicadores que avaliam o desempenho da área de Logística são diretamente

relacionados a estas questões:

• O nível de estoques e o backlog de equipamentos são função direta de um bom

planejamento de vendas, pois esta é a principal base para a programação de

compras. Quanto mais precisas forem as previsões de vendas, mais o nível de

estoques se aproximará do que a empresa deseja – ou seja, mais será função das

próprias decisões da área de Logística. Por outro lado, o longo tempo exigido pela

área de Produção para disponibilização dos produtos também afeta o nível de

estoques, pois cria uma dependência ainda maior de uma boa programação de

compras e obriga a área a manter maiores estoques de segurança;

• A gerência sobre o nível de broken calls também é bastante afetada por outras

áreas. Apesar de ser responsável pela compra de peças, a área não tem gerência

sobre a falta de estoque no fornecedor, como ocorrido no caso relatado da

copiadora modelo X.5416. Se o equipamento foi mantido no mercado, apesar de ter

sido descontinuado na matriz, esta decisão foi tomada pela área de Marketing, não

por Logística. Ou seja, a disponibilidade de peças depende de uma boa definição

do ciclo de vida dos produtos, além das questões relacionadas ao planejamento de

vendas já ressaltadas no ponto anterior;

• A utilização do tempo de set back como medida de desempenho é outro caso em

que a área é fortemente afetada por decisões externas. O processo de compras

tem pouca flexibilidade, e se a programação de compras se revelar super-

dimensionada, por exemplo, a decisão que cumpre a Logística é: é melhor comprar

um produto que não é necessário, e elevar o nível de estoques, ou alterar o pedido

e elevar o tempo de set back, correndo o risco de haver falta do produto em

estoque?

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122

O sistema de avaliação de desempenho adotado pela empresa simplesmente não

lida com estes trade-offs. Ou seja, a área de Marketing tem os seus próprios

indicadores, e em nada seu desempenho é afetado se a programação de compras

de Logística se revelar inadequada em função de um planejamento de vendas ruim.

Da mesma forma, a área de Produção não tem seu desempenho avaliado pelos

impactos que o engessamento no processo de compras gera no nível de estoques.

Isso não seria relevante se as economias nos custos de produção fossem muito

superiores aos custos de maiores estoques causados como conseqüência. No

entanto, isto pode não ser verdade, e a empresa estar incorrendo em maiores custos

totais.

No modelo de avaliação de desempenho sugerido neste trabalho (ver pág. 67), foi

levantado que a mensuração destes trade-offs e sua consideração no sistema de

avaliação de desempenho é essencial para a indução das melhores decisões para a

empresa como um todo, e não para cada área individualmente. Na apresentação

deste modelo também foi discutida a possibilidade de o custeio ABC, além de uma

importante ferramenta para cálculo dos custos de Logística, poder ser utilizado para

mensuração dos trade-offs inerentes à interação entre a área de Logística e outras

áreas como Marketing e Produção.

Acredita-se que o ABC pode ser uma boa solução para tratar esta questão. No

processo de levantamento de atividades e de cost drivers, necessário ao custeio

ABC, poderiam ser identificados os principais fatores que impactam os custos e o

nível de serviço de Logística. Neste levantamento, a precisão do planejamento de

vendas certamente seria indicada como um fator direcionador dos custos de

estoques e como fator impactante no nível de serviço (backlog). O estudo feito para o

ABC, por exemplo, poderia verificar que cada erro de planejamento de 10% para

cima (previsão de vendas maior que o real) causa um impacto de $x no aumento do

nível de estoques, e cada erro de 10% para baixo (previsão de vendas menor que o

real) causa um impacto de y equipamentos na quantidade de backlog. A avaliação da

área de Marketing, portanto, passaria a ter como medidas também o custo de

estoques e a quantidade de backlog, que seriam calculados conforme destacado

acima. Na avaliação do desempenho da área de Logística, o custo de estoques e a

quantidade de backlog seria reduzida pela parcela causada por Marketing.

Com relação à flexibilidade do processo de compras, o mecanismo poderia ser o

mesmo. Quando um pedido é colocado, ele não pode ser alterado após um

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determinado prazo porque isto afeta os custos das fábricas, que dependem de um

bom planejamento de produção para operar de forma eficiente. Se, no entanto, fosse

criado um sistema em que as mudanças nos pedidos fossem “cobradas”, ou seja, em

que fosse calculado (por meio do ABC) o quanto uma alteração nos pedidos

colocados afeta o custo de produção, este custo adicional seria cobrado da afiliada

que efetuou a mudança, e seria reduzido da avaliação da fábrica. Desta forma, a

área de Supply & Demand da Xerox do Brasil poderia optar entre pagar para alterar o

pedido colocado ou manter o pedido e aumentar seu nível de estoques ou o backlog

de equipamentos e peças.

Segundo esta proposta, o ABC não seria utilizado para alocar custos aos produtos,

com base no consumo de atividades. O foco seria exatamente alocar os custos a

cada atividade – e como cada atividade tem um responsável, este responsável seria

medido também por estes custos. Esta idéia é uma extensão da proposta feita por

Pohlen e La Londe para medição dos trade-offs inerentes às atividades da área de

Logística (ver pág. 45), em que os autores destacam a importância da identificação e

mensuração dos cost drivers de cada atividade para o gerenciamento integrado da

função logística. Esta, no entanto, não é uma solução simples de ser implementada,

não só por ser o ABC um sistema de custeio complexo, mas também por serem os

custos de Logística difíceis de serem relacionados a atividades. É, no entanto, uma

tentativa para medir todo o impacto de determinadas decisões, e direcionar o

comportamento para que o tomador de decisões atue da maneira que é melhor para

a empresa como um todo, e não apenas para sua própria área.

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124

6. CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS

Este trabalho foi iniciado apresentando uma explicação de porquê a área de

Logística foi escolhida para um estudo específico a respeito de controle gerencial.

Foram destacadas algumas de suas características que a tornariam mais interessante

que outras funções de uma empresa para um estudo deste tipo, dentre as quais a que

mais se destaca é a forte necessidade de um gerenciamento integrado – dentro da

própria área de Logística como também entre esta atividade e outras áreas da

empresa, como Marketing, Produção e Finanças.

Principalmente em razão da necessidade de gerenciamento integrado, a área de

Logística demandaria um sistema de controle gerencial – ou seja, processos formais

de controle para direcionar o comportamento dos funcionários de uma empresa – com

características próprias, que propiciassem a coordenação necessária a esta

integração.

Assim, os objetivos deste trabalho foram delineados de forma que o esboço de

um sistema que atendesse a estas características pudesse ser desenhado. Os

objetivos definidos, desta forma, foram os seguintes:

• efetuar um levantamento dos estudos feitos sobre o tópico de controle

gerencial em Logística, buscando possíveis soluções já apresentadas por

outros autores;

• realizar uma pesquisa em profundidade na área de Logística de uma

grande empresa, de forma a detectar algumas das principais limitações do

sistema de controle gerencial utilizado;

• verificar até que ponto o sistema de avaliação de desempenho estudado

se adequa aos sistemas sugeridos pelos autores, realizando uma análise

crítica das principais limitações e sugerindo melhorias.

Com relação ao primeiro objetivo, foram analisados artigos, livros e dissertações

que apresentassem relação com o tema do trabalho. Estes estudos foram divididos em

três tópicos principais: Controle Gerencial, Custos de Logística e Avaliação de

Desempenho em Logística. O tópico de Controle Gerencial procurou definir sistemas

de controle gerencial e quais seriam seus mecanismos principais de atuação. Foram

discutidas as características que, de acordo com a opinião de diversos autores, um

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bom sistema de controle deveria apresentar. Foi ainda abordada a questão de que não

existe um sistema de controle único ou melhor, que sirva para toda empresa, mas sim

soluções diferentes adequadas às características de cada empresa. O sistema de

controle por resultados, por ser o tipo de sistema sugerido para empresas de gestão

descentralizada e atuantes em mercados competitivos, mereceu um destaque à parte,

com a discussão sobre a questão de centros de responsabilidade e preços de

transferência. Tratando especificamente das metas colocadas para os centros de

responsabilidade, foram abordados os estudos sobre Balanced Scorecard e GECON –

Sistema de Gestão Econômica.

No tópico sobre Custos de Logística, foram apresentados os conceitos de

logística integrada e custo total, essenciais para o entendimento de porquê a área de

Logística merece um tratamento diferenciado quanto à questão de sistemas de

controle gerencial. Também foram discutidas as razões pelas quais os sistemas de

custeio tradicionais não atendem às necessidades dos gestores da atividade logística,

e apresentadas as opiniões de diversos autores sobre a utilização do custeio ABC –

Activity-Based Costing na gestão de Logística.

Finalmente, no tópico que tratou de Avaliação de Desempenho em Logística as

propostas de diversos autores sobre o sistema de controle gerencial mais adequado à

área foram apresentadas e discutidas.

No decorrer do estudo de referencial bibliográfico, algumas considerações

puderam ser feitas:

• apesar da apresentação de diversas críticas aos sistemas de controle por

resultados, este sistema é destacado como o mais adequado para a

gestão de empresas descentralizadas;

• a definição de centros de responsabilidade e das metas estabelecidas para

cada centro determina a forma de atuação da empresa. Se a empresa

deseja que o departamento tenha uma atuação independente, buscando

seus objetivos individuais, precisa permitir autonomia na tomada de

decisões e colocar metas relacionadas ao output final: lucro. Se deseja que

haja coordenação entre as áreas, é preciso que as metas colocadas

propiciem a tomada de decisões em conjunto;

• as metas colocadas para cada centro de responsabilidade devem levar em

consideração não apenas medidas financeiras, mas também medidas

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126

operacionais, em uma tentativa de refletir o resultado futuro de decisões

tomadas hoje. O Balanced Scorecard se destaca como o modelo mais

ajustado a estes propósitos;

• na abordagem de custos de Logística, muitos foram os autores que

criticaram o sistema de custeio tradicional adotado pela contabilidade

financeira das empresas, e o destaque principal foi a relevância da

medição dos trade-offs de Logística para apuração precisa dos seus

custos e para elaboração de um modelo de avaliação de desempenho. No

entanto, poucos foram os autores que fizeram propostas que atendessem

a estas necessidades;

• o ABC – Activity-Based Costing, foi destacado por alguns dos autores

como o sistema de custeio mais adequado ao atendimento dos

requerimentos da função logística. Verificou-se que seus princípios básicos

– principalmente a identificação dos direcionadores de custo de cada

atividade – seriam adequados não apenas para uma correta avaliação dos

custos de Logística, mas também para a mensuração dos trade-offs entre

as atividades internas e externas a esta área. Assim, este sistema de

custeio ajudaria a criar um sistema de avaliação de desempenho que

considerasse estes trade-offs, auxiliando na gestão integrada da função

logística;

• finalmente, na montagem de um sistema de controle gerencial, é

destacada a importância de escolher adequadamente as medidas de

desempenho, de forma a criar um conjunto pequeno mas abrangente de

indicadores. Alguns critérios para esta escolha foram colocados.

Após a análise e consideração de todos os estudos abordados, foram resumidas

algumas características, que, de acordo com a opinião do autor deste trabalho,

atenderiam aos objetivos de um sistema de controle gerencial adequado à área de

Logística. O modelo de avaliação de desempenho sugerido é um modelo de controle

por resultados que avalia a função Logística como um centro de custos. No entanto,

este modelo também se destacaria pela inclusão de medidas de avaliação não

financeiras, abrangendo as dimensões definidas pelo Balanced Scorecard. Estas

medidas deveriam ser escolhidas buscando-se um conjunto de indicadores

balanceados. No lado das medidas de desempenho financeiras, a avaliação

ressaltaria o custo das atividades e sua interação, através do custeio ABC.

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127

Para atender aos segundo e terceiro objetivos propostos por este trabalho, foi

realizado um estudo de caso, onde se procurou identificar as características do

sistema de avaliação de desempenho utilizado pela área de Logística e sua aderência

às teorias discutidas no capítulo de Referencial Teórico. A empresa escolhida foi a

Xerox do Brasil, e o estudo desenvolvido ressaltou claramente a questão dos trade-

offs, principalmente entre as decisões tomadas por Logística e as decisões de outras

áreas, especificamente Marketing e Produção. Além disso, o sistema de avaliação de

desempenho adotado pela empresa abrangeu diversos aspectos tratados no decorrer

da parte teórica deste trabalho.

De uma forma geral, verificou-se que o sistema de avaliação adotado pela

empresa atenderia a diversas das propostas sugeridas pelos autores:

• a adoção de um modelo de controle por resultados, permitindo uma gestão

descentralizada dos seus departamentos;

• a avaliação de Logística como um centro de custos, adequada à sua forma

de atuação, voltada apenas para atividades internas à empresa;

• a inclusão de indicadores não financeiros na avaliação do desempenho da

área, alinhados com as perspectivas sugeridas pelo modelo de Balanced

Scorecard;

• a escolha de um conjunto conciso de indicadores de desempenho,

ressaltando a colaboração e co-responsabilidade entre as áreas.

No entanto, verificou-se que o objetivo principal de um sistema de controle

gerencial adequado às necessidades de Logística – proporcionar uma gestão

integrada – não foi tratado pelo modelo de avaliação de desempenho adotado pela

empresa. Ao não considerar as interações entre as decisões tomadas pelas áreas de

Marketing e Produção no desempenho da área de Logística, o sistema não auxilia na

coordenação entre suas atuações, podendo gerar, portanto, maiores custos totais para

a empresa. A área de Marketing, sendo avaliada apenas por critérios relacionados a

receita, não teria nenhum incentivo para efetuar um planejamento de vendas mais

preciso, que se mostrou essencial para o processo de compras da área de Logística.

Por outro lado, a área de Produção, cujas medidas de desempenho apenas

consideram aspectos relacionados à eficiência de custos, não permite uma maior

flexibilidade na colocação de pedidos, mesmo que os impactos gerados por esta falta

de flexibilidade mais que compensem as economias de custos obtidas na produção.

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128

Foi desenvolvida, então, uma análise superficial de como a adoção do ABC

poderia ajudar na mensuração destas interações. Sugeriu-se que, no levantamento

dos direcionadores de custo de cada atividade, estas interações poderiam ser

reconhecidas e mensuradas, permitindo assim sua consideração nas metas de cada

área em um novo sistema de avaliação de desempenho. Este modelo atenderia à

necessidade de uma gestão integrada, reconhecendo e considerando as interações

entre as áreas e propiciando uma coordenação maior entre suas decisões.

Não se pode concluir, no entanto, que o tema esteja encerrado. Principalmente

em relação a este último tópico, a utilização do custeio ABC em Logística, faz-se

necessário um estudo para avaliar a possibilidade de implantação prática deste

modelo. O custeio ABC é bastante complexo e sua utilização como base para

montagem de um bem sucedido sistema de avaliação de desempenho depende de

uma adequada vinculação entre custos de Logística e atividades específicas. Muitos

estudos sugerem esta vinculação no caso de custos de armazenagem e de custos por

clientes. Seria necessário um estudo para verificar esta possibilidade no caso de

custos de estoques e de custos de falta de produtos, vinculando-os com as atividades

de Marketing e Produção. Esta é, portanto, uma sugestão para futuras pesquisas,

podendo contribuir para uma maior discussão sobre o tema de Controle Gerencial em

Logística, pois ainda há muito a ser explorado.

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8. ANEXOS

ANEXO I – QUESTIONÁRIOS

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QUESTIONÁRIO - TESE ANÁLISE DA ÁREA DE LOGÍSTICA DA XEROX DO BRASIL DEPARTAMENTO: OPERAÇÕES DE ISC Atividades desenvolvidas: Transportes, Armazenagem e CDR Transportes Quais são as responsabilidades da área? Quais são os fatores críticos que mais afetam estas atividades (tanto em custo como em qualidade)? p. ex.: consolidação de cargas, nº de transportadoras, tipo de produtos Que decisões de outras áreas podem afetar o desempenho desta atividade? p. ex.: decisões de freqüência de entrega, estipulada por mktg. Quais as decisões tomadas por esta área que afetam o desempenho de outras atividades? p. ex.: backlog, causado por modais de transporte mais lentos Quais são os principais “metrics” para avaliar o desempenho desta área? Com que freqüência estes metrics são avaliados?

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QUESTIONÁRIO - TESE ANÁLISE DA ÁREA DE LOGÍSTICA DA XEROX DO BRASIL DEPARTAMENTO: OPERAÇÕES DE ISC Atividades desenvolvidas: Transportes, Armazenagem e CDR Armazenagem Quais são as responsabilidades da área? Quais são os fatores críticos que mais afetam estas atividades (tanto em custo como em qualidade)? p. ex.: nível de estoques, retorno de equiptos, qtde de pontos de armazenagem Que decisões de outras áreas podem afetar o desempenho desta atividade? p ex.: freqüência de entregas, tipo de produtos Quais as decisões tomadas por esta área que afetam o desempenho de outras atividades? p. ex.: diminuição de pontos de armazenagem – aumento no custo de transportes

Quais são os principais “metrics” para avaliar o desempenho desta área? Com que freqüência estes metrics são avaliados?

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QUESTIONÁRIO - TESE ANÁLISE DA ÁREA DE LOGÍSTICA DA XEROX DO BRASIL DEPARTAMENTO: ESTRATÉGIAS E PLANEJAMENTO DE MATERIAIS Atividades desenvolvidas: Estratégias de Logística, Planejamento e Compras, Nível de Estoques Planejamento e Compras Quais são as responsabilidades da área? Quais são os fatores críticos que mais afetam estas atividades (tanto em custo como em qualidade)? p. ex.: qtde comprada, acuracidade no planejamento Que decisões de outras áreas podem afetar o desempenho desta atividade? p. ex.: precisão do planejamento de mktg, lançamentos de produtos, decisão sobre nível de estoques Quais as decisões tomadas por esta área que afetam o desempenho de outras atividades? p. ex.: freqüência e consolidação de transportes, nível de estoques Quais são os principais “metrics” para avaliar o desempenho desta área? Com que freqüência estes metrics são avaliados?

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139

QUESTIONÁRIO - TESE ANÁLISE DA ÁREA DE LOGÍSTICA DA XEROX DO BRASIL DEPARTAMENTO: ESTRATÉGIAS E PLANEJAMENTO DE MATERIAIS Atividades desenvolvidas: Estratégias de Logística, Planejamento e Compras, Nível de Estoques Estratégias de Logística Quais são as responsabilidades da área? Quais são os fatores críticos que mais afetam estas atividades (tanto em custo como em qualidade)? p. ex.: informações de custos precisas Que decisões de outras áreas podem afetar o desempenho desta atividade? Quais as decisões tomadas por esta área que afetam o desempenho de outras atividades? p. ex.: alteração na qtde de pontos de armazenagem Quais são os principais “metrics” para avaliar o desempenho desta área? Com que freqüência estes metrics são avaliados?

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140

ANEXO II – PACOTE GERENCIAL DE DESEMPENHO EM LOGÍSTICA

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141

EQUIPMENT REPORTING

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142

EQUIPMENT REPORTINGMÊS:

ESTOQUESEstoque em Unidades Estoque em $ 000

PRODUTOInstalá

veisEm

Trânsito Refurb ScrapCanibalizadas

Estoque Total

Instalá veis

Não-insta láveis

Provi sões

Estoque Total

H/L Plano

Custo Médio (Inst.)

Custo Médio (N

Inst)

Produto 1Produto 2Produto 3Produto 4Produto 5DIVISÃO 1

DOS DOR SCV

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143

ESTOQUE DE PERFORMANCE 2001EQUIPAMENTOS POR MÊS: 12

DIVISÃO

MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 17,0 17,0 17,0 16,0 16,0 16,0 16,0 17,0 16,0 15,0 15,0 11,0 2001 Real 19,0 19,0 19,0 20,0 23,0 20,0 23,0 23,0 21,0 26,0 27,0 19,4 2000 Real 19,9 20,6 20,0 20,3 23,9 22,9 25,6 24,9 19,8 20,4 19,4 14,4 MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano2001 Real 83 313 258 151 197 104 90 98 119 123 88 742000 Real 141 165 159 128 144 134 123 149 121 92 81 81MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 253,7 253,7 253,7 253,7 253,7 253,7 253,7 253,7 253,7 253,7 253,7 253,7 2001 Real 293,0 293,0 293,0 293,0 293,0 293,0 293,0 293,0 293,0 293,0 293,0 293,0 2000 Real 215,5 215,5 215,5 215,5 215,5 215,5 215,5 215,5 215,5 215,5 215,5 215,5 MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 6,7 6,7 6,7 6,3 6,3 6,3 6,3 6,7 6,3 5,9 5,9 4,3 2001 Real 6,5 6,5 6,5 6,8 7,8 6,8 7,8 7,8 7,2 8,9 9,2 6,6 2000 Real 9,2 9,6 9,3 9,4 11,1 10,6 11,9 11,6 9,2 9,5 9,0 6,7

Estoque em Unidades Estoque em $ 000

Instalá veis

Não-instalá

veis TotalInstalá

veis

Não-instalá

veis TotalH/(L) Plano DOS DOR

Produto 1 0 0 0 0,0 0,0 0,0 0,0Produto 2 0 0 0 0,0 0,0 0,0 0,0Produto 3 0 0 0 0,0 0,0 0,0 0,0Produto 4 0 0 0 0,0 0,0 0,0 0,0Produto 5 0 0 0 0,0 0,0 0,0 0,0DIVISÃO 1 0 0 0 0,0 0,0 0,0 0,0 0 0

$ Milhões

DOS

Receita ($M)

% Receita

$ Milhões

10121416182022242628

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Days of Supply

60

110

160

210

260

310

360

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

% Receita

456789

10111213

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

2001 Plano 2001 Real 2000 Real

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144

ESTOQUE DE PERFORMANCE 2001EQUIPAMENTOS MÊS: 12

NÍVEL DE SERVIÇO

MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 76,0 76,0 76,0 76,0 76,0 76,0 76,0 76,0 76,0 76,0 76,0 76,0 2001 Real 75,8 70,6 75,1 74,0 77,2 79,6 81,7 78,9 64,0 2000 RealMESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 76,0 76,0 76,0 76,0 76,0 76,0 76,0 76,0 76,0 76,0 76,0 76,0 2001 Real 75,5 71 73,2 73,5 75,2 78,4 80,5 82,6 63,22000 RealMESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 75,0 75,0 75,0 75,0 75,0 75,0 75,0 75,0 75,0 75,0 75,0 75,0 2001 Real 75,9 71,1 73,1 72,1 74,5 77,9 79,8 85,0 62,3 2000 RealMESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 2001 Real 11,0 10,1 9,5 10,3 11,6 12,3 12,2 11,0 8,5 2000 Real

JIT Allocation

JIT Dispatch

JIT Delivery

OTI Total

JIT Allocation

6065707580859095

100

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

JIT Dispatch

6065707580859095

100

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

JIT Delivery

6065707580859095

100

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

OTI Total

8

9

10

11

12

13

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

2001 Plano 2001 Real 2000 Real

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145

ESTOQUE DE PERFORMANCE 2001EQUIPAMENTOS MÊS: 12

NÍVEL DE SERVIÇO 2

JIT ALLOCATION JIT DISPATCH JIT DELIVERY TOTAL OTIReal Meta Real Meta Real Meta

Dias % Dias Dias % Dias Dias % Dias Real MetaDIVISÃO 1 4 79,2% 5 5 76,7% 7 6 75,8% 7 13 11DIVISÃO 2 3 81,1% 3 5 79,5% 5 4 78,4% 5 10 9TOTAL 5 64,0% 5 5 64,4% 7 6 62,3% 7 8 11

COMENTÁRIOS AÇÕES

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NON-EQUIPMENTREPORTING

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147

ESTOQUE DE PERFORMANCE 2001NÃO-EQUIPAMENTOS MÊS: 12

(Financeiro)

MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 7,8 8,0 8,1 8,1 8,3 8,5 8,4 8,2 8,2 8,0 7,5 6,7 2001 Real 8,1 8,2 7,3 7,3 7,3 7,1 7,5 7,5 7,0 7,5 7,8 7,3 2000 Real 8,6 7,9 8,2 8,3 8,4 7,7 8,2 8,2 8,3 8,7 8,5 7,4 MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 93,0 93,0 93,0 93,0 93,0 93,0 93,0 93,0 93,0 93,0 93,0 93,0 2001 Real 93,0 93,0 93,0 93,0 93,0 93,0 67,0 67,0 70,0 70,0 70,0 70,0 2000 Real 82,0 82,0 82,0 82,0 82,0 82,0 82,0 82,0 82,0 82,0 82,0 82,0 MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 8,4 8,6 8,7 8,7 8,9 9,1 9,0 8,8 8,8 8,6 8,1 7,2 2001 Real 8,7 8,8 7,8 7,8 7,8 7,6 11,2 11,2 10,0 10,7 11,1 10,4 2000 Real 10,5 9,6 10,0 10,1 10,2 9,4 10,0 10,0 10,1 10,6 10,4 9,0

% Receita

$ Milhões

Receita Anual ($M)

$ Milhões

6

7

7

8

8

9

9

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

% Receita

5

6

7

8

9

10

11

12

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

COMENTÁRIOS AÇÕES

2001 Plano 2001 Real 2000 Real

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ESTOQUE DE PERFORMANCE 2001N-EQUIPTOS MÊS: 12

DAYS OF SUPPLY

MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 8,2 8,4 8,6 8,6 8,6 8,8 8,8 8,6 8,7 8,5 7,9 7,0 2001 Real 8,3 8,5 7,8 7,7 7,8 7,7 8,0 8,2 7,6 8,2 8,0 7,5 MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 128 132 133 134 133 135 132 128 128 123 112 982001 Real 128 132 119 118 117 114 119 118 107 114 109 992000 Real 114 103 110 113 117 110 120 126 131 137 134 121MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 4,7 4,6 4,8 4,8 4,9 4,9 4,9 4,9 4,9 4,8 4,4 4,0 2001 Real 5,1 5,2 5,0 4,7 4,7 4,8 5,2 5,4 5,4 5,7 5,3 5,1 MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 175 175 179 181 182 182 184 185 182 177 164 148 2001 Real 180 186 175 159 156 154 162 162 158 163 149 140 2000 Real 167 157 179 158 173 175 171 189 199 208 202 192

MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 2,1 2,1 2,2 2,2 2,2 2,2 2,2 2,2 2,2 2,2 2,1 1,9 2001 Real 2,1 2,0 1,6 1,8 1,8 1,6 1,8 1,7 1,4 1,7 1,8 1,6 MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 136 135 138 137 134 132 126 124 121 118 112 1002001 Real 141 130 102 122 120 108 118 116 94 117 120 1032000 Real 88 81 91 135 125 95 116 120 131 130 123 97MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 1,4 1,7 1,6 1,6 1,6 1,8 1,7 1,5 1,6 1,6 1,3 1,0 2001 Real 1,2 1,4 1,2 1,2 1,3 1,3 1,1 1,1 0,8 0,8 0,9 0,8 MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 66 78 74 73 73 80 74 66 70 67 54 42 2001 Real 53 65 55 58 60 60 53 50 35 34 38 33 2000 Real 69 56 44 51 50 47 65 63 58 64 61 51

Estoque Suprimentos

$ Milhões

DOS

Estoque Papel $

Milhões

DOS

Estoque Total $

Milhões

DOS

Estoque Peças

$ Milhões

DOS

DOS Não-Equipamentos

55

75

95

115

135

155

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

DOS Peças

80

100

120

140

160

180

200

220

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

2001 Plano 2001 Real 2000 Real

DOS Suprimentos

55

75

95

115

135

155

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

DOS Papel

30

40

50

60

70

80

90

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

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NÃO-EQUIPAMENTOS PERFORMANCE 2001NÍVEL DE MÊS: 12SERVIÇO

MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 8,5 8,5 8,5 8,0 8,0 8,0 7,5 7,5 7,5 7,0 7,0 7,0 2001 Real 6,5 6,3 5,8 7,4 7,2 9,7 8,5 11,6 13,4 11,6 10,3 8,6 2000 Real 12,1 9,5 10,8 12,3 9,8 8,0 6,7 7,6 7,3 5,6 7,7 7,5 MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 3,0 3,0 3,0 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 2,0 2,0 2,0 2001 Real 2,2 2,2 2,0 2,5 2,5 3,3 2,9 4,0 4,8 4,2 3,8 3,3 2000 Real 3,7 2,8 3,2 4,0 3,0 2,4 2,2 2,4 2,3 1,8 2,6 2,4 MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 97,3 97,3 97,3 97,5 97,5 97,5 97,8 97,8 97,8 98,0 98,0 98,0 2001 Real 97,2 97,3 97,2 96,6 97,0 96,1 96,9 97,3 97,5 97,6 98,0 98,2 2000 Real 96,9 97,0 97,3 96,9 97,0 97,4 97,3 97,0 96,7 98,0 97,6 97,4 MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12# broken calls 162 123 155 223 200 299 276 333 358 386 292 207 # calls falta peças 2.511 1.949 2.662 3.010 2.794 3.069 3.235 2.881 2.662 3.331 2.837 2.421 # calls 7.410 5.697 7.838 8.769 7.881 8.944 9.490 8.280 7.431 9.150 7.597 6.320

MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 # demanda não satisf. 405 322 432 596 480 693 583 476 398 484 347 274 # demanda total 14.493 11.812 15.255 17.770 15.834 17.942 18.868 17.513 16.150 20.461 17.264 14.887

% Broken Calls (falta

peças)

% Broken Calls vs.

Total Calls

% Fill Rate

Fill Rate

Broken Calls

% Broken Calls(falta peças)

56789

1011121314

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

% Broken Callsvs. Total Calls

0

1

2

3

4

5

6

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

% Fill Rate

94

95

96

97

98

99

100

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

2001 Plano 2001 Real 2000 Real

COMENTÁRIOS AÇÕES

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SUPPLY-CHAINCOSTS REPORTING

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151

SUPPLY CHAIN PERFORMANCE 2001COSTS MÊS: 12

MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,62001 Real 0,5 0,5 0,5 0,7 0,7 0,5 0,5 0,6 0,6 0,5 0,4 0,82000 Real 0,5 0,6 0,7 0,6 0,6 0,4 0,6 0,5 0,7 0,7 0,5 0,5MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 4,2 4,8 5,1 5,0 5,8 5,4 5,3 5,7 6,0 6,2 7,1 5,52001 Real 4,5 4,5 4,1 4,9 4,9 4,9 6,9 4,3 4,6 5,0 5,5 6,72000 Real 3,6 3,3 5,4 4,4 3,9 3,3 4,1 4,1 4,7 5,1 5,4 4,6

Melhor (Pior)($ Milhões) Até Data Plano Ano AntI. Custos de Logística/ DistribuiçãoMão-de-obra (Salário/ Benefícios) 0,34 0,04 0,04 Transporte da manufatura 0,78 (0,06) (0,18) Transporte local 0,61 (0,05) (0,10) Taxas e Impostos de Importação 1,49 0,32 0,02 Outras Despesas de Transporte / Importação 0,45 0,03 (0,05) Armazenagem 0,08 0,04 0,07 Sistemas - - - Outros 0,88 (0,02) 0,08

II. Constituição/ Estorno Provisões 1,19 (0,19) (0,10)

III. Custos de Estoques 1,01 0,10 0,18

IV. Total Supply Chain Costs 6,840 0,201 (0,034)

MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 122001 Plano 13,9 12,3 11,6 11,8 10,2 11,0 11,0 10,3 9,8 9,4 8,1 10,6 2001 Real 11,3 11,8 13,1 13,3 13,8 9,6 7,9 14,1 13,3 10,6 6,9 11,5 2000 Real 13,7 17,1 12,1 14,6 14,6 13,3 14,1 14,1 14,5 13,4 9,1 11,0

Supply Chain Costs ($ Milhões)

Receita ($Milhões)

% Receita (Ano até

Data)

$ Milhões (mês atual)

0,0

0,5

1,0

1,5

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

% Receita (Ano até a Data)

02468

1012141618

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

2001 Plano 2001 Real 2000 Real

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MONTHLY FLASHREPORTING

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Monthly Flash ReportMÊS:

jan/01 fev/01 mar/01 abr/01 mai/01 jun/01 jul/01 ago/01 set/01 out/01 nov/01 dez/01

ESTOQUE ($M)EquipamentosNão EquipamentosTotal

SUPPLY CHAIN COSTS ($M)Com Taxas e ImpostosSem Taxas e Impostos

NÍVEL DE SERVIÇO (%)Broken Calls falta peçasBroken Calls vs. Total CallsFill Rate(Dias)OTI TotalJIT to AllocationJIT to DispatchJIT to Delivery

RECEITA ($M)

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ANEXO III – PESQUISA DE SATISFAÇÃO DE CLIENTES

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