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Educação financeira: um estilo de vida Conrado Navarro

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Page 1: Conrado navarro

Educação financeira: um estilo de vida

Conrado Navarro

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MenuMenu ______________________________________________ 2Introdução __________________________________________ 3

Afinal de contas, educação financeira faz diferença? _____________ 3A desinformação piora o cenário. ____________________________ 4Adote a educação financeira! ________________________________ 5

Por que o futuro é tão importante? _______________________ 7Se o futuro não existe, como planejá-lo? ______________________ 7Futuro quer dizer tempo. Para o dinheiro, tempo é tudo! __________ 8Qualidade de vida? _______________________________________ 8Qual dos dois tem mais futuro? ______________________________ 9

É possível conciliar tempo, dinheiro e família? _____________ 11O desafio de viver! ______________________________________ 11Trabalhar demais é bom? _________________________________ 12Utopia? _______________________________________________ 14

O consumo, o crédito e nossas decisões __________________ 15Comprar é como uma droga _______________________________ 16Aprendendo com o passado para acertar o futuro ______________ 16

Qualquer um pode alcançar a independência financeira ______ 18O responsável é você! ____________________________________ 18Prioridades e sangue frio na negociação ______________________ 19Confiança e planejamento para chegar lá _____________________ 20Sim, você pode! _________________________________________ 20

Há relação entre riqueza e qualidade de vida? _____________ 22Alguns exemplos ________________________________________ 23

Educação financeira, dinheiro, negociação e descontos ______ 25A relação entre você, seu gerente bancário e o banco ________ 28

Interesse e informação ___________________________________ 28Quando você é cliente, não é amigo! ________________________ 30

Cartão de crédito: verdades, vantagens e armadilhas ________ 31Cartão de crédito vale a pena? _____________________________ 31Cartão de crédito, uma ferramenta __________________________ 32Exemplos rápidos ________________________________________ 33Como não parar para rever nossas decisões diante de números e casos como esses? ___________________________________________ 34

A verdadeira face dos títulos de capitalização ______________ 35Aprendendo com um exemplo ______________________________ 36Que detalhes são esses? __________________________________ 36Tem mais: a carência _____________________________________ 38Mas e a chance de ganhar uma “bolada”? _____________________ 38

Será que todos podem ter um carro? Não! ________________ 40Onde focar? ____________________________________________ 41Uma visão de negócio ____________________________________ 41Mas a vida não é assim ___________________________________ 41Comprar é o mais fácil. E depois? ___________________________ 42

Investimento, uma questão de expectativa ________________ 44Quando o melhor investimento é guardar dinheiro __________ 47

Investir? Onde? Quanto? __________________________________ 48Prioridades de vida ______________________________________ 49Guardar dinheiro é fácil ___________________________________ 49

Princípios e atitudes do investidor inteligente ______________ 51Equilíbrio... Mas, e se? ____________________________________ 51Todos podemos ser investidores inteligentes __________________ 54

Objetivos, disciplina e o poder dos investimentos ___________ 55Guardar dinheiro ________________________________________ 55Concentre-se primeiro nas perguntas relacionadas ao seu objetivo _ 56O investimento que você precisa ____________________________ 56

Como escolher uma corretora para investir em ações? _______ 58Analisando as possibilidades _______________________________ 59Recomendações adicionais ________________________________ 60Guia de corretoras de ações _______________________________ 60Custos e aplicação mínima ________________________________ 60Ferramentas adicionais ___________________________________ 61

Principais erros do investidor iniciante em ações ___________ 62Investimento sustentável através do mercado de ações ______ 64

Por que optar pela bolsa de valores? _________________________ 64Sustentabilidade no mercado de capitais _____________________ 65ISE - Índice de Sustentabilidade Empresarial __________________ 65

Como investir e comprar ouro sem ter muito dinheiro _______ 68Por que comprar ouro? ___________________________________ 68É possível comprar ouro com pouco dinheiro? _________________ 69Quais os riscos relacionados ao ouro? ________________________ 70

Padrão de vida na aposentadoria: sobrevivência ou qualidade de vida? _____________________________________________ 71

E no Brasil? ____________________________________________ 72A prática é uma aposentadoria longe da ideal __________________ 72

Sobre o autor _______________________________________ 74Sobre este livro _____________________________________ 75

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Introdução

Uma pergunta frequentemente assola meu sono: por que será que, mesmo tão presente, o dinheiro ainda é um assunto rodeado de tabus, constantemente dominado por discussões vazias, moralistas e, embora reconhecido como fator preponderante para a felicidade e o sucesso familiar, tão mal administrado? A resposta óbvia é que é muito mais fácil (e prazeroso) gastar a poupar. A resposta mais precisa, no entanto, talvez envolva questões mais abrangentes.

Afinal de contas, educação financeira faz diferença?Depois de alguns anos trabalhando fortemente esta questão, é meu dever afirmar categoricamente: SIM! Educação financeira faz muita diferença. O que nem sempre está claro para os consumidores é que não se trata de trabalhar apenas o aspecto financeiro, caracterizado por números, planilhas e contas. É fato que a maioria gasta mais do que ganha e não tem controle adequado. A comprovação surge através de pesquisas específicas e números constantemente divulgados pela mídia especializada. Veja, por exemplo, estes números de uma recente pesquisa realizada pela TeleCheque:

64,22% dos entrevistados apontaram o descontrole financeiro como a principal causa para sua inadimplência;

6,61% apontaram o ato de emprestar o nome como razão principal para o endividamento excessivo;

3,34% afirmam estar em problemas por conta de erros dos bancos;

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2,98% têm no desemprego a questão crucial para o excesso de dívidas.

Outros indicadores podem ser visualizados em matéria do portal InfoMoney que traz os resultados desta pesquisa. A boa notícia, embora ela não possa ser comemorada, é que o brasileiro já reconhece que a culpa não é do sistema, mas de suas atitudes e decisões cotidianas em relação ao dinheiro. Assumir a responsabilidade é o primeiro passo, ótimo, mas como seguir em frente sem cair nas garras do apelo de inclusão social causado pelo exercício de possuir e demonstrar posses?

A insistência de nosso trabalho nos aspectos humano, familiar e relacionado ao trabalho tem como objetivo despertar nos brasileiros motivos suficientemente fortes para que eles se abram para mudanças de hábito e comportamento - que, claro, trazem consigo a aplicação e manutenção de ferramentas de apoio (orçamento, simuladores, planilhas, livros etc.). O problema não está no desejo de padrão de vida, mas no parâmetro pessoal e emocional que o leva a querer distinção.

A desinformação piora o cenário.Soma-se ao aspecto pessoal o parco acesso a informações confiáveis, porém traduzidas e acessíveis, e o desinteresse pela mudança torna-se perigoso. Mudar, no sentido do planejamento, não parece opção, uma vez que envolve atributos e atitudes pessoais poucos valorizados, como objetivos definidos, leitura, disciplina, tolerância à frustração e autoestima. Pois é, o desafio é gigantesco.

Você sabia, por exemplo, que 82% dos brasileiros não sabem a taxa de juros dos empréstimos que tomam? Ou que 87% das famílias brasileiras não poupam para o futuro? As informações fazem parte de uma pesquisa sobre o tema realizada em 2007 pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Interessa mencionar que muitas famílias têm apenas o suficiente para a subsistência, mas é impossível não notar a migração de classes e o crescente aumento do poder de compra de nossa população.

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Adote a educação financeira!Se o trabalho e o destino nos reservam dias melhores, neles temos que projetar nossos sonhos e ambições. Lamentar o que passou, justificar o que não se verificou e apenas creditar ao acaso certas realizações só servem ao propósito cômodo de sustentar desculpas. Cumprir com os anseios futuros, no entanto, requer que a atenção seja dada ao momento presente, todos os dias, de forma intensa e inspiradora. Patrimônio e riqueza não podem ser comprados, só podem ser construídos.

Ora, se você (como muitos brasileiros) sabe que sua situação financeira não é confortável e que se encontra assim por falta de controle, pare de adiar a responsabilidade de rever seus objetivos e conceitos em relação ao dinheiro ou de colocar a culpa na falta de tempo - a procrastinação é o elemento chave que sustenta a zona de conforto.

Experimente ousar mais no trabalho;

Tente aproveitar parte do seu tempo livre para ler mais;

Procure mais informações sobre os pontos fracos de seu planejamento;

Experimente ser voluntário em sua comunidade ou entre amigos que precisam de atenção. Só assim será possível compreender como o fator humano é essencial nas relações com todo e qualquer assunto.

Educação financeira é muito mais que baixar uma planilha ou anotar seus gastos. É ver nestas e em outras atitudes uma porta para a liberdade, para a criação de riquezas pessoais (familiares, espirituais, profissionais e materiais) e qualidade de vida. Porque, muito ou pouco, dinheiro todo mundo tem. A diferença está no que ele representa para você e sua família. Educação financeira é, em essência, parte de um estilo de vida. Porque dinheiro é bom e todo mundo gosta, mas nem todos são convincentes em explicar o porquê.

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Que esse livro seja bastante útil e importante para seu desenvolvimento pessoal e profissional. Meu objetivo é oferecer a chance de incluir o dinheiro, como ferramenta e assunto, em seu dia-a-dia. Aproveite a leitura e entre em contato comigo.

Conrado Navarro

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www.twitter.com/Dinheirama

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Por que o futuro é tão importante?

Aqui neste livro, no seu site preferido de finanças pessoais, na revista especializada ou no portal de uma consultoria financeira, não importa, há uma mensagem sempre marcante quando o planejamento financeiro pauta a discussão: tomar decisões pensando no futuro, também chamado de longo prazo, é parte essencial de uma estratégia eficiente de formação de patrimônio e construção de uma vida mais tranquila. É consenso entre os amantes do tema, mas não entre a maioria da população.

Se o futuro não existe, como planejá-lo?Expressões como “O futuro a Deus pertence”, “Viva a vida no presente, único momento possível”, ambas oriundas da sabedoria popular e “No longo prazo todos estaremos mortos”, do famoso economista Maynard Keynes, para ficar em poucas variantes, têm lugar garantido na agenda romântica de justificativas da grande parcela da população que não gerencia seus recursos (financeiros, morais, profissionais etc.).

O paradoxo torna-se mais interessante quando passamos a observar o futuro como uma consequência do presente. Não se trata de filosofia ou autoajuda, mas de uma constatação simples: o futuro inexiste, é fato, mas só existe se, no presente (hoje), criarmos condições para tal. É mais ou menos assim: o amanhã pode não existir, é futuro, incerto, mas se ele acontecer, precisarei ter saldo suficiente para pagar o cartão de crédito e o plano de saúde.

Não é tão simples. Se o problema fosse apenas nossa visão de futuro, talvez as oportunidades de mudança fossem mais nítidas. Há a questão cultural, carregada com

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o peso de anos de instabilidade econômica, política e social. Porque por muito tempo fomos manipulados, sendo obrigados a viver sob regimes autoritários, fechados e com pífia administração para o longo prazo. A inflação, por exemplo, arruinava qualquer desejo de planejamento.

Futuro quer dizer tempo. Para o dinheiro, tempo é tudo!Enxergar o futuro quando estamos endividados é horrível. Dói. As contas vão vencer, nossos nomes serão protestados ou colocados nas famosas listas de maus pagadores. E, ao optar por não pagar o que devemos, a dívida cresce - muitas vezes de forma incrivelmente rápida. E ao final de um, dois, cinco anos, devemos quantias inacreditáveis. Mas devemos! Só então nos damos conta de que o futuro existe e agora é presente. Muito presente. O futuro é ali na frente, mas depende do aqui, agora. Filosofia básica de bar.

Felizmente, a sociedade já se prepara para viver e incentivar iniciativas sérias de educação financeira, capazes de fazer refletir até mesmo as famílias mais humildes, dotadas das mais diversas razões para ignorar a chance de um amanhã melhor. Acreditar que é possível mudar o futuro, que não tem nada a ver com destino, deve ser o primeiro passo.

Ora, quem constrói patrimônio através de um fluxo de caixa confortável, equilibrado e que destina somas relevantes para os investimentos sabe que o poder dos juros compostos, prática da matemática financeira que faz crescer montantes aplicados (lado bom) ou emprestados (lado triste), é muito maior quando o tempo é usado com sabedoria. Pequenos aportes, por muito tempo, trazem boa fortuna e qualidade de vida.

Qualidade de vida?Sim, pois quem aprende a poupar e investir desde cedo, aceitando que o futuro não é apenas a certeza da morte, destina pequenos valores para os projetos de médio

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e longo prazo, podendo usar boa parte das receitas do presente para aproveitar melhor o agora. Um outro grupo, tido como modelo de comportamento, prefere viver “intensamente” e gasta tudo e ainda toma dinheiro emprestado. Quer ver na prática?

Formado, com seus 20 e poucos anos, o sujeito começa a trabalhar e, com a família, estabelece algumas metas pessoais e profissionais. Então destina, todo mês, uma quantia pequena, mas razoável, para a previdência complementar (para os 60+ anos), para a compra do carro e entrada em uma casa própria dali 10 anos. Com estes planos em mente, e dado o horizonte de tempo à sua frente, ele destina cerca de 30% de suas receitas para seus sonhos. Ele investe e usa o tempo. Com o restante do que ganha, pode fazer muita coisa. E faz;

Formado, com seus 20 e poucos anos, o sujeito tem que começar a trabalhar em qualquer emprego porque precisa arcar com parcelas atrasadas de um carro financiado quando ainda era universitário. Os pais pagavam uma parte e ele outra. De vez em quando exagerava e os pais cobriam tudo ou deixavam uma ou outra parcela para trás. Ele faz questão de ter os itens de consumo da moda, mas porque o observam por isso e não por necessidade, e a única opção de construir patrimônio que vislumbra é através de financiamentos. Na prática, ele não faz quase nada do que realmente gostaria.

Qual dos dois tem mais futuro?“Depende”. Depende das circunstâncias, depende do perfil de cada um, depende da profissão, de seu relacionamento, disso, daquilo. “Depende” é uma resposta que sempre funciona, especialmente quando falta coragem para assimilar certas verdades. Então tá. Um crê no futuro como fruto de seus atos, outro crê no presente como saída para todos os seus problemas - o que, essencialmente, cria mais problemas. Situações assim são comuns, estão por toda parte. Infelizmente.

Ah, o futuro... Não pretendo convencê-lo de que o futuro só será mais rico, confortante e melhor desfrutado se você se planejar. Prefiro apenas despertar em

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você o desejo de questionar-se acerca dos dias e anos que virão e suas aspirações e motivações para mudar o presente de alguma forma. Tudo porque esses dias alguém me perguntou: “Mas Navarro, por que o futuro é tão importante?”. Minha resposta, óbvia como quase tudo que escrevo, foi: “Porque ele chega! Rápido!”.

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É possível conciliar tempo, dinheiro e família?

Rápido. Tudo tem acontecido muito rápido e as mudanças impostas pelas invisíveis leis do alto desempenho recaem cada vez mais intensas sob os ombros de muitas famílias. Participar dos momentos familiares, educar os filhos para a cidadania, praticar exercícios, sustentar hábitos saudáveis, destacar-se no trabalho e ainda manter uma vida social satisfatória parecem atividades impossíveis de serem realizadas de forma complementar. Para muitos, são mesmo.

A verdade é que ninguém gostaria que fosse assim, mas, ao mesmo tempo, poucos desligam o piloto automático por alguns instantes e se concentram em avaliar sua situação pessoal e profissional de forma séria, determinante. Prioridade. Esta é a palavra-chave ignorada por muitos e que gera infindáveis discussões a respeito de carreira, dinheiro e prosperidade. Tais debates, sempre desgastantes, trazem a você meu desabafo.

Afinal de contas, é de se esperar que alguém equilibrado, coerente, afirme que sua prioridade é a qualidade de vida, a família e seus filhos. Não é. Estes são, cada vez mais, apenas pretextos para desafios profissionais cada vez maiores, mais complicados e exigentes. Está claro que trabalhar é mais do que uma opção, é um estilo de vida e uma necessidade. Trabalhar demais, no entanto, é uma escolha.

O desafio de viver!Confesso que abordar este assunto gera certo desconforto. Tudo porque temos como modelo de sucesso empreendedores, profissionais e celebridades viciadas em trabalho, com famílias destroçadas, pouquíssimos amigos e muito pouco tempo de lazer.

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Também porque certas famílias evitam tratar de tais problemas, o que significaria mexer na sua zona de conforto.

Na era da comunicação, que ironia, presenciamos cada vez mais casamentos “remotos”. O marido aqui, a esposa e os filhos lá e um fim de semana para os momentos familiares. Alguns casais amigos meus afirmam, categoricamente, que o relacionamento só funciona com a semana os separando - ou, do contrário, a saudade seria menor e as discussões maiores e mais perigosas. E o número de separações/divórcios, que só tem aumentado? Que modelo de família queremos construir? Queremos construir família?

Trabalhar demais é bom?Na raiz da questão está o cada vez mais pesado fardo do trabalho. Fardo? Pois é, muitos brasileiros têm no trabalho sua fonte de renda para o consumo e realização de desejos. O dinheiro decorrente do trabalho serve, na maioria dos casos, para comprar, gastar e envolver-se na aparente sensação de liberdade e independência.

O resultado é que trabalha-se cada vez mais, com a certeza de que assim a família terá melhores oportunidades, mais felicidade e condições de prosperar como conjunto. E os pais dedicam-se ao trabalho durante 10, 12, 14 horas com esse nobre objetivo. Está na moda ser viciado em trabalho, ser workaholic. Aliás, parece que não está na moda ser “preguiçoso” segundo a visão do escritor Eduardo Cupaiolo. Certo dia, os viciados descobrem que o filho cresceu, não os respeita como gostariam e que os planos foram dando lugar aos gestos consumistas.

Mas a justificativa está na ponta da língua: “Se não for assim, me mandam embora e contratam outro”, “Sem todo esse esforço, nossos concorrentes vão ter mais destaque”, “Minha família compreende esses sacrifícios porque sabe que faço isso para que possamos ter mais qualidade de vida”, “Só cresce na empresa quem trabalha muito e se dedica aos jogos corporativos” e por ai vai. Você e eu poderíamos

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preencher todo este espaço com desculpas deste tipo. Sugiro que faça uma reflexão a partir das perguntas:

Você fica mais excitado com o seu trabalho do que ao lado de sua família e com os momentos ao lado de amigos?

Leva trabalho para casa? Para a cama? E nos finais de semana?

Sua família ou amigos desistem de esperá-lo quando sabem que você está vindo do trabalho?

Você fica impaciente e é pouco compreensivo com pessoas que tem outras prioridades além do trabalho? Como é para você ouvir “As 17h não posso me reunir porque preciso sair para fazer meu treino de corrida”?

Você fica irritado quando alguém pede para você trabalhar menos ou deixar de trabalhar por alguns instantes?

Você trabalha ou lê durante refeições?

Qual o legado deixado?

Depois de muito trabalhar e se sacrificar, resta aceitar, já na hora de se aposentar ou durante a terceira idade, que a vida passou rápido e que o “possível” foi feito. O possível, que é bem diferente do importante, do relevante. O resto fica como puro desejo. Desejo de ter economizado e investido para ter mais durante a aposentadoria, de ter trabalhado menos para passar mais tempo com a família ou de ter praticado exercícios para minimizar os problemas de saúde, para ficar em poucos exemplos. Tudo isso já foi possível, mas não era relevante. Prioridade, lembra?

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Utopia?Eu passei por tudo isso. Cheguei a achar que passar por privações, experiências amargas de trabalho, ambientes corporativos recheados de tirania e problemas de saúde eram passos obrigatórios para uma vida plena, com dinheiro em caixa e possibilidades de realização pessoal/profissional. Fui na onda e acabei literalmente destruído. Depois percebi que nada disso é necessário para quem quer viver sua vida dentro dos limites do bom senso. De verdade.

Sem nenhuma vergonha, deixo aqui meu testemunho: morei cerca de 6 anos em São Paulo, de onde viajava de quatro a cinco dias por semana. Lá, começava a trabalhar às 8h e voltava depois de 20h para casa. Então tive um colapso no trabalho e problemas sérios de saúde. Meu casamento ruiu e veio a separação. Para alguns, eu tinha tudo (carreira promissora, reconhecimento, emprego, isso e aquilo). Na verdade, eu não tinha nada.

Então voltei para o sul de Minas, onde hoje programo minha agenda para no máximo dois dias fora de casa, acordo às 8h e trabalho das 9h às 17h, corro 50 km por semana e tenho uma alimentação balanceada. Finalmente estou vivo. Tenho tempo para manias, família, amor, livros, amigos, viagens e o que mais você imaginar.

Como vê, não sou demagogo. Babaquice por babaquice, prefiro a visão piegas de gente comum que encontra, na vida simples, inúmeras razões para ser feliz. Essa coisa de sucesso a qualquer custo, trabalho escravo e dedicação total ao trabalho pode torná-lo alguém muito influente, até rico e com muito patrimônio, está certo! Mas não inveje minha qualidade de vida e sossego. Prioridade, de novo, lembra? Uai…

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O consumo, o crédito e nossas decisões

O texto de hoje é mais um daqueles óbvios, que trata de uma verdade que você já conhece, mas talvez ignore: o sucesso financeiro é alcançado através de muita dedicação e construído todos os dias através de estudo, foco e comprometimento para com seus objetivos e metas. O insucesso financeiro, por outro lado, é resultado da soma de diversos fatores que nos levam a realizar escolhas erradas e certamente uma consequência da falta de interesse.

Errar não é o problema, cabe frisar. Triste é notar que muitos erram e não enumeram, aceitam e compreendem dali lições para o futuro. O erro propriamente dito não é o principal responsável pelo insucesso. O descuido com o aprendizado, sim.

Vivemos atualmente em um Brasil de oportunidades. Certo, mas elas não estão à disposição como em uma prateleira de supermercado. Ora, é preciso arregaçar as mangas e partir para a luta. Essa nova realidade, com estabilidade econômica e inflação sob controle, precisa ser amplamente discutida, pois grande parte da população ainda não se acostumou a lidar com essa nova vida e com as características de um país em crescimento.

Nesse contexto, um erro muito comum e que passa despercebido no dia-a-dia de muitas famílias é justamente a forma como lidamos com o crédito, o dinheiro dos outros que usamos para consumir e adquirir bens. Será que recorrer a ele para consumir sem planejamento e sem ter dinheiro é uma atitude inteligente?

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Comprar é como uma drogaSegunda uma pesquisa recente, o prazer de comprar pode ser comparado ao prazer que viciados sentem ao consumir drogas. A sensação de poder adquirir aquele bem é indescritível e faz bem ao ego, mas muitas vezes faz (muito) mal ao bolso - e depois à família, ao ego e à autoestima. Mas, naquele momento, com o crédito disponível, não “saiu” dinheiro da conta, e o prazer se tornou maior ainda.

No entanto, toda a ilusão é desfeita no dia em que a fatura chega ou quando o cheque pré-datado bate na conta (e volta). Porque a conta vai chegar e com ela a negação de que o responsável pela compra sejamos nós e que o problema financeiro exista. Ao óbvio, de novo: crédito não é dinheiro grátis. Muito pelo contrário, os juros são muito altos - embora não possamos considerá-los desonestos, já que concordamos em pagá-los.

Depois do erro cometido por conta da falta de planejamento, o comum é culpar a ferramenta de crédito e a facilidade na obtenção do dinheiro emprestado. Costumo dizer que temos a tendência de culpar o sistema. Falta olhar o próprio umbigo e admitir que o culpado é quem fez a compra, gastando o que não tinha e não podia.

Aprendendo com o passado para acertar o futuroA razão para alguns erros na gestão do dinheiro está também em nosso passado. Quando crianças, observávamos atentamente nossos pais cometerem os mesmo erros, péssimas escolhas e dando pouco incentivo pela educação de uma forma geral. Quando o assunto era dinheiro, pior ainda! Pouco se falava, e ainda se fala, nas famílias e os exemplos são quase sempre negativos.

Como será que um adolescente vai lidar com as finanças se os pais são, via de regra, endividados e sem metas para o futuro? A tendência é a perpetuação dos problemas. No começo do artigo chamei a atenção para a forma como lidamos com os erros. Assim, quando aproveitamos a experiência para tomar decisões mais acertadas no

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futuro, ótimo. Muito cuidado, porque dinheiro não aceita desaforo e o crédito nesse caso pode ser uma corda que mais cedo ou mais tarde vai lhe apertar o pescoço.

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Qualquer um pode alcançar a independência financeira

Sempre que exaltamos o planejamento financeiro como instrumento indispensável para que as pessoas consigam atingir a independência financeira, muitas pessoas entram em contato para dizer que é muito fácil falar em planejamento para quem possui as contas e a vida financeira em dia. Argumentam que, para as pessoas endividadas e descontroladas, a independência financeira é uma meta muito mais difícil, senão impossível.

De fato, milhares de pessoas no Brasil passam pela realidade do descontrole financeiro. Pensando e mirando apenas a satisfação imediata, a grande maioria mete os pés pelas mãos e nem percebe que pode estar entrando no arenoso terreno das dívidas, da procrastinação. Desnecessário dizer que poucos avaliam que, para sair desta situação, será necessário um grande esforço. É neste momento que muitos preferem justificar, criar desculpas.

O responsável é você!Se você está nessa situação, o mais sensato a fazer é encarar a situação e analisar onde está o erro. Admitir que os responsáveis pelo erro não são somente os juros exorbitantes dos produtos financeiros, nem o cartão de crédito – que estava ali “pedindo para ser usado“ – e nem mesmo a mídia (competente) que colocou em sua cabeça que esse era o momento certo para se endividar e comprar algo.

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Não, o primeiro e principal passo é assumir, aceitar, que o grande responsável pela situação é você! Você decidiu entrar nesse poço, seja porque deu de ombros aos parâmetros envolvidos na negociação ou porque simplesmente afogou-se em produtos sem sequer considerar sua real capacidade de pagá-los.

A hora é de ser adulto, gente grande. Deixe as desculpas e o “blábláblá” de lado e tenha atitude! Por pior que seja a verdade, o passo crucial é descobrir o tamanho do buraco. Faça um levantamento detalhado de suas dívidas, levantando os valores devidos, quem são os credores, as taxas usadas nas correções etc. Faça um dossiê e tenha sempre tudo anotado.

De posse desse levantamento, vamos discutir as possibilidades para sair dessa incômoda situação de uma vez por todas. Você deve ter em mente que a independência financeira só é possível quando não sustentamos dívidas que prejudiquem nosso fluxo de caixa e o potencial de investimentos. Cabe ressaltar também que todo controle deve ser feito com base em sua renda, em seu padrão de vida.

Prioridades e sangue frio na negociaçãoVamos eleger prioridades! Aquelas contas que são mais antigas e com juros maiores merecem um pouco mais de cuidado e devem ser definidas como ponto de partida dessa verdadeira operação de guerra. Guerra contra as dívidas. Nesse momento, não adianta dar um passo maior do que a perna. Traduzindo, existem despesas mensais que não podem ser desprezadas, como as contas de luz, água, aluguel, entre outras.

Ah, outro compromisso importante que deve já ser considerado é o investimento no futuro. Ainda que esteja super apertado(a), experimente separar um percentual, mesmo que simbólico, para o grande sonho de ser independente financeiramente. Sinta o poder de guardar com um propósito, de adiar uma decisão de consumo porque seu objetivo maior é mais valioso. Valorize este momento ao lado de sua família.

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Confiança e planejamento para chegar láDurante a negociação, é importante buscar alternativas para as dívidas. Um bom exemplo é a troca de dívidas de juros maiores por outras de menores juros. Trocar os juros do cartão de crédito por empréstimos pessoais, como o crédito consignado, pode ser uma ótima saída. Como? Você pega o dinheiro emprestado considerando os juros menores, negocia uma parcela que caiba no seu orçamento e usa o montante para quitar o saldo devedor do cartão. E para de usá-lo.

É bom lembrar que o credor tem todo o interesse em receber o valor atrasado. Assim, seja paciente em algumas oportunidades, anote tudo e não dê uma resposta imediata. Coloque tudo no papel e, antes de assinar qualquer acordo, veja se ele é realmente interessante para o seu bolso, se o valor das parcelas esta dentro do planejado. Afinal, não é hora de dar outro passo maior que a perna, certo?

Ameaças, tentações e opiniões confusas (muitas vezes ignorantes) de amigos e familiares podem surgir. Tenha a serenidade necessária para não deixar o seu planejamento ruir. Mantenha-se firme no propósito de reverter o quadro e passar de devedor a poupador.

Sim, você pode!Como pode ver, as coisas não são tão difíceis assim. Tudo depende de sua capacidade de tomar a frente da situação e não delegar essa responsabilidade para outros. Tenha em mente que, quando se trata de endividamento, você deve resolver o problema e então se preparar para não cair outra vez na mesma cilada. Você! Tudo começa e termina com você! Você!

Seja mais persistente e menos suscetível a toda e qualquer frustração. Busque inspiração em cursos, livros, sites e desenvolva o hábito de planejar suas futuras aquisições. Comece de uma forma simples e inteligente: experimente comprar sempre à vista e com desconto. Faça o teste. Seu futuro será muito melhor e você poderá

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ajudar seus amigos e familiares que passam pelas mesmas dificuldades que você já começou e decidiu superar.

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Há relação entre riqueza e qualidade de vida?

Não adianta, quase sempre a brincadeira com alguém que trabalha com finanças passa pela pergunta “Você já ficou rico?” e termina com “Porque, veja, para ensinar as pessoas a ganhar dinheiro você tem que ter chegado lá”. O raciocínio é válido, tem fundamento, mas é simplista, para não dizer leviano e superficial.

Ensinar a ganhar dinheiro? Rico? Aproveite que o texto ainda está em seu começo e reflita: são apenas essas as métricas que motivam você a procurar informações, textos e material relacionado aos investimentos e às finanças pessoais? Então a única razão para lidar bem com seu cotidiano financeiro é ficar rico e ter muito dinheiro?

Sem dúvida, muitos dirão “SIM” de forma bastante efusiva. Normal. Mas eu prefiro sempre abordar o tema com mais cuidado, ainda que de forma provocativa:

Como fica a qualidade de vida e o bem estar quando só se pensa em enriquecer, comprar isso e aquilo e estar sempre na última moda?

Ter tudo e não ter tempo para usufruir de tanta coisa é qualidade de vida?

Impressionar através de bens materiais é viver o bem estar em sua melhor forma?

Como de costume, tenho muito mais perguntas que respostas. Experimente questionar certas atitudes automatizadas de seu dia a dia e garanto que vai se impressionar com o quão pouco você valoriza sua real capacidade de desfrutar de momentos felizes, simples e descomplicados. Felicidade nos pequenos detalhes, já viu? Temos o péssimo hábito de complicar o que é bom para temperar ainda mais a sensação de realização. Surreal.

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Em geral, noto famílias vivendo momentos terríveis, mas sempre com a justificativa de que tudo é para garantir qualidade de vida no lar. Logo, começo a desconfiar que a definição de qualidade de vida esteja deturpada ou erroneamente interpretada por grande parte da população. Começo com você, caro leitor: o que você considera ser qualidade de vida?

Alguns exemplosImagine aquele profissional que trabalha demais, que está sempre correndo contra o tempo para dar conta de seus afazeres, que tem muitos compromissos e julga impossível ter tempo para praticar exercícios. Seu salário é alto, as recompensas financeiras são generosas e ele é tido como grande modelo de sucesso profissional. Você certamente conhece alguém assim.

Agora pense no profissional que trabalha em uma cidade menor, mais tranquila, onde naturalmente seus horários são mais flexíveis, seus benefícios extra-salário são relacionados também ao tempo livre e de forma que ele consiga praticar seus hobbies, passar mais tempo com a família e cultivar suas manias. Já usei meu exemplo pessoal algumas páginas atrás.

Quem tem mais qualidade de vida? A resposta está na ponta da língua, não é mesmo? Ora, então qualidade de vida significa ter vida fora do trabalho, cultivar momentos fora da empresa, respirar o ar dos amigos e da família e fazer deles razão para dias menos estressantes e de pouco ou nenhum trabalho até altas horas da noite. Se quiser conhecer melhor minha opinião neste sentido, recomendo a leitura do artigo “É possível conciliar tempo, dinheiro e família?”.

Certo, qualidade de vida é um conceito relativamente simples, óbvio. Agora vamos levar em conta a remuneração direta de cada um dos profissionais citados. O que trabalha muito está em uma empresa com proposta agressiva e tem bônus polpudos relacionados às suas metas de vendas e contratos fechados. O que trabalha menos

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e vive no interior recebe um salário menor e tem no 13º salário e no plano de PLR (Participação nos Lucros e Resultados) seu extra anual.

Quem é mais rico? Para alguns, a resposta ainda é fácil. No entanto, começo a ouvir um coro dizendo “Depende”. Depende de quê? Rico não é ter mais dinheiro, ter mais isso e aquilo, andar de carrão e morar em um belo apartamento? Sim? Não? Experimente observar a situação dos profissionais de outro ângulo: qual dos dois leva uma vida mais rica em realizações, amor, saúde e, adivinhe, qualidade de vida?

Portanto, profissionais sérios que abordam finanças pessoais e investimentos propõem a seus amigos e clientes uma vida equilibrada, com trabalho sério, mas também momentos de lazer e planejamento para desfrutar de qualidade de vida hoje e sempre. Ficar rico é consequência de uma vida rica, próspera, pautada no bom senso, respeito e suporte familiar.

O dinheiro, então, é um aliado e não uma meta final. Quando estiver próximo de algum falso rico - o típico workaholic que adora falar dos inúmeros contratos fechados em pleno happy hour - experimente comentar sobre sua rotina de prazer ao lado de sua(seu) esposa(o) e do plano de abrir um negócio assim que os investimentos já realizados alcançarem a meta programada. Repare na sua reação.

Ele vai te achar um babaca. Sorria, afinal sua vida não depende disso para existir. Ela já existe. Enquanto isso, ele vai seguir achando que babacas como você são a razão para tanto sucesso de pessoas como ele. Tudo bem, é a vida. Uns escolhem ficar ricos enquanto outros escolhem ser ricos. Eu sou rico! E você?

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Educação financeira, dinheiro, negociação e descontos

Dê uma boa olhada em torno da mesa ou local onde está atualmente lendo este artigo. Repare nos objetos, produtos, bens e tudo mais que está ao alcance das mãos. Agora pense também no que está quase que onipresente em seu dia-a-dia. A casa onde mora, o carro que dirige ou os gastos cotidianos com lanches fora de hora e pequenos mimos. Quanto custou tudo isso? Quanto vale tudo isso para você e sua família?

Tudo tem uma relação custo/benefício particular, difícil de avaliar e impossível de julgar. Verdade, mas antes do apego emocional subjetivo ligado à compra, uma decisão econômica teve de ser tomada e aspectos financeiros importantes certamente estiveram em jogo. Experimente avaliar novamente os objetos e tente se lembrar da oportunidade em que os comprou e como e por que tais compras ocorreram. Exercício interessante, não?

Negociação! A vida nunca esteve tão ligada ao conceito de negociação. Leve em conta algumas questões e frases comuns ouvidas por ai:

“Compro isso agora ou procuro marcas alternativas?”;

“Se você levar este chocolate, hoje não vamos comprar sorvete”;

“O pagamento à vista tem 10% de desconto, mas posso parcelar em até 12 vezes. O que é melhor?”;

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“Vou fazer uma contra-proposta interessante e tentar pagar um preço mais realista para meu orçamento”.

O festival de banalidades e situações corriqueiras poderia ser muito mais extenso, mas você já entendeu onde quero chegar. Você vai passar por situações deste tipo durante toda a sua vida. Seu conhecimento a respeito das alternativas de pagamento, o interesse pelas finanças e o bom senso é que farão toda a diferença. O dinheiro, pasme, é o detalhe.

Se nossas ações geram consequências, experimente focar nas perguntas ao invés de apenas se aborrecer com algumas de suas atitudes. Ao respondê-las, liste algumas ações capazes de fazê-lo alguém financeiramente mais inteligente e menos suscetível aos ditames consumistas. Você sabe o que precisa fazer, acredite, mas ainda não teve coragem de assumir essa responsabilidade.

Você se considera um bom negociador?

Geralmente paga o preço anunciado ou sempre luta por descontos, especialmente para o pagamento à vista?

Costuma pagar mais à vista ou parcelado? Por quê?

Pesquisa preços e paga de acordo com as melhores condições para o seu bolso, seu orçamento financeiro familiar?

Costumar acreditar e se deixar enganar pelos pagamentos “sem juros” e parcelas a perder de vista?

Procura o combustível mais barato, faz questão de comprar quando aparecem promoções, mas paga por isso usando cheque especial ou dinheiro emprestado?

Recorra novamente ao ambiente à sua volta. Encare fixamente um objeto mais caro, de maior valor pessoal, e experimente analisá-lo de acordo com as simples perguntas oferecidas acima. Você pagou o preço justo? Precisava mesmo daquilo?

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O parcelamento em excesso prejudicou seu fluxo de caixa? Quanta dúvida não é mesmo? Não pretendo respondê-las; quero mesmo é provocá-lo.

Educação financeira não é somente ser bom em matemática e sustentar vasto conhecimento de finanças em geral. São muitos os economistas, matemáticos e administradores em apuros financeiros. Prefira atitude simples, comece de forma ordenada e através de muito diálogo. Gaste menos do que ganha, mantenha um controle das receitas e despesas, sonhe e defina objetivos. Viva sem hipocrisia.

Afinal, lidar bem com o dinheiro é assumir que ele está mais presente em nossas vidas do que queremos admitir. É decidir de acordo com o bom senso, respeitando as diferenças e objetivos de cada integrante da família. É ver na capacidade de controle um aspecto libertador. É, acima de tudo, reconhecer que se o dinheiro está ai e faz parte da vida, melhor viver em harmonia com ele. Educação financeira é só (tudo?) isso.

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A relação entre você, seu gerente bancário e o banco

Caro leitor, você certamente já notou que é crescente o número de brasileiros com acesso a produtos bancários, ainda que simples, como conta corrente e cartão de crédito/débito. O crescimento econômico sustentável, alvo das muitas ações do governo nos últimos anos, traz consigo a oportunidade de inserir as alternativas financeiras - e também seus desafios de gestão e planejamento - na vida de mais e mais brasileiros. E o ciclo pretende se perpetuar. Ponto para a cidadania.

Interesse e informaçãoNo entanto, a informação, ativo essencial para a boa tomada de decisão, ainda parece “se esconder” do grande público e insiste em apegar-se apenas ao lado mais forte nas negociações. Se há possibilidades, é importante que também existam programas de conscientização mais eficientes, capazes de oferecer explicações didáticas à população bancarizada. Porque, não raro, aquele que detém o conhecimento arma-se de mais e melhores argumentos, o que torna sua atuação mais persuasiva e convincente. Além disso, seu trabalho é pautado por metas de todos os tipos.

O gerente de contas encontra-se, quase sempre, em visível vantagem em relação ao cliente que lhe procura. Sua aparência, assim como seu bom treinamento e extenso interesse pela leitura especializada, oferece um nível de confiança elevado e que lhe outorga autoridade para decidir sobre o futuro financeiro daquele à sua frente. Autoridade que ele, na realidade, não tem. Porque confiança é uma coisa,

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autoridade é outra. Entro no mérito da autoridade porque é muito comum encontrar clientes intrigados com a atuação de seus gerentes. Dois exemplos clássicos merecem destaque:

O gerente movimenta a conta e o dinheiro do cliente com base na confiança. Final de mês, algumas metas foram batidas, outras não. Ainda dá tempo. O gerente decide provisionar um montante de algumas contas correntes, alocando-as para produtos cujas metas ainda não se cumpriram. Muitas vezes, o faz sem comunicar os titulares das contas. Quando o cliente finalmente repara, ele tenta lhe convencer da qualidade da escolha e explica que o dinheiro está disponível, basta pedir para resgatá-lo. Aconteceu comigo, pode acontecer com você. Encerrei imediatamente minha conta no banco e fiz uma reclamação formal;

Um oculto jogo de influências pauta a relação cliente-banco. Aqueles cujas atividades profissionais exigem pequenos empréstimos para o capital de giro ou mesmo os “endividados de carteirinha” costumam ser os mais afetados por esta situação. O gerente vive prometendo liberações mais rápidas de dinheiro, juros um pouco menores que os das vezes passadas, mais prazo e etc. E cumpre sua promessa, gerando a sensação que chamo de “favor devido” em seus clientes. Estes, com interesse genuíno em retribuir as “gentilezas”, acabam aceitando as ofertas de produtos feitas pelo “amigo” do banco.

Você já se viu em situação semelhante? Conhece alguém que passou por isso? Pois é, infelizmente ainda são muitos os profissionais e clientes que não valorizam esse relacionamento. Assim são vendidos milhares de títulos de capitalização e realizados milhões de empréstimos pessoais para pessoas que possuem dinheiro aplicado, para ficar em apenas duas péssimas escolhas. A verdade é que a decisão tomada influenciará diretamente no futuro financeiro do cliente - fato pouco valorizado no momento, mas comumente observado no futuro como razão do insucesso financeiro.

Repare que a culpa não é só dos bancos e de sua força de trabalho. Não. Como cidadãos, temos que aprender a buscar, por conta própria, a educação para o consumo, além de deixar claros os limites entre os papéis envolvidos em qualquer

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negociação. Trocar conhecimento, argumentar, oferecer possibilidades e formar opinião. E aproveitar, fazer bons negócios e investimentos, porque são muitos os bons profissionais na área, que atuam com lisura, bom senso e muita transparência.

Quando você é cliente, não é amigo!Temos a impressão errada sobre a profissão de gerente bancário. Ele não é um consultor financeiro. Ele é um profissional qualificado, cuja profissão merece muito respeito e admiração, mas que deve atuar de forma a dirimir as dúvidas financeiras de seus clientes ou, usando uma ótica mais pró-ativa, sendo capaz de explicar-lhes o real funcionamento dos produtos e alternativas financeiras disponibilizadas pelo seu banco. Ele deveria auxiliar no processo de tomada de decisão, com informações claras, explícitas. Ele não é seu amigo, mas pode vir a ser, desde que fora do ambiente de trabalho.

Em suma, você precisa chegar mais bem preparado à mesa do gerente. Fazer a lição de casa. Pretende tomar um empréstimo? Avalie as condições dos concorrentes, os juros a pagar e as outras opções de crédito disponíveis (CDC, consignado e etc.). Pretende investir seu dinheiro? Leia mais sobre as alternativas disponíveis, o perfil dos investidores e discuta o planejamento e as metas com a família. Aprenda a decidir-se mediante seu próprio julgamento, aceitando de forma construtiva as opiniões alheias, críticas e sugestões. O gerente tem que participar da sua decisão, mas não pode ser a única justificativa para ela.

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Cartão de crédito: verdades, vantagens e armadilhas

As discussões relacionadas ao uso do cartão de crédito são sempre bastante acaloradas e frequentemente terminam de forma pouco amistosa. Tudo porque, em muitos casos, o cartão de crédito e seu uso são interpretados de forma incorreta. Para que o texto faça sentido, é importante ressaltar a importância do cartão enquanto ferramenta e meio de pagamento e então abordar suas limitações e implicações na vida dos menos organizados. Leia até o final e entenda porque usar o cartão não é tão simples como parece.

Cartão de crédito vale a pena?A principal vantagem do cartão de crédito está na possibilidade de se aproveitar sua característica de cobrança futura para adquirir, agora, um produto ou serviço. Ao comprar algo com o cartão, levamos imediatamente o bem para casa e o pagamento só acontecerá na chegada da(s) fatura(s), podendo ainda o valor total ser parcelado, no ato da compra, junto à loja ou prestador de serviço.

Em suma, isso significa consumir antes, pagar depois. Tal constatação deveria ser vista como bastante interessante, já que representa a chance de consumo contínuo, desde que planejado e organizado, aliado a um controle fixo de pagamentos (data de vencimento da fatura). Pense no quanto isso facilita o controle de fluxo de caixa e sua manutenção. Certo, mas não é bem assim que as coisas acontecem, não é mesmo?

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Cartão de crédito, uma ferramentaO que aconteceria se deixássemos uma criança pequena se aventurar com um martelo e alguns pregos? Ela certamente se machucaria, simplesmente porque não está preparada para usar a ferramenta martelo para lidar com o produto prego. Algum problema com a ferramenta em si? Não. E com o produto? Também não. Fica óbvio, até para os que não têm filhos (meu caso), que o problema não é a ferramenta, nem o produto, mas a falta de prática e conhecimento para usá-los.

Ao optar pelo cartão de crédito para realizar um negócio, precisamos estar cientes de que o valor negociado será cobrado e, portanto, precisa estar programado em nosso controle financeiro. O crédito associado ao cartão é parte da ferramenta e não significa dinheiro extra, mas simplesmente poder comprar, consumir e deixar o pagamento para uma data futura - que deverá ser respeitada.

Indivíduos organizados frequentemente centralizam seus gastos no cartão de crédito. Fazem isso por razões simples:

Porque simplificam seus pagamentos e mantém datas estabelecidas para pagamento de suas despesas, pagando a(s) fatura(s) sempre em dia;

Porque lançam estas transações em seu caderno (ou planilha) de controle financeiro e mantém à vista o saldo disponível para o restante do mês;

Porque aproveitam os programas de recompensa (pontos, milhagem ou descontos) e acumulam benefícios depois usados nas férias, em viagens ou mesmo em novas oportunidades de consumo.

“Ah, Navarro, então o cartão de crédito é uma maravilha?” Não, não é. Longe disso. Como toda ferramenta, o cartão também tem seus problemas. Não por acaso, seu maior atrativo é também sua maior armadilha. As facilidades impostas pelo uso diário do cartão implicam em uma das mais altas taxas de juros cobradas no

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sistema financeiro mundial. Usar o crédito disponível e não honrá-lo integralmente no vencimento da fatura significa dar início a uma espiral perigosa de endividamento.

Confira uma lista simples dos juros cobrados por alguns dos muitos cartões disponíveis hoje em dia:

Exemplos rápidosSuponha que você tem uma fatura de cerca de R$ 1.500,00, valor que extrapolou seu orçamento - e você nem percebeu por aproveitar a comodidade do cartão nas compras - e então você decide que pagará, neste mês do estouro, R$ 500,00. O problema é que você está descontrolado e vai continuar gastando, sem conseguir quitar os R$ 1.000,00 devidos nos próximos meses. “Vou tentar parar de gastar e quando tiver dinheiro pago os R$ 1.000,00 que ficaram para trás”, é o que você pensa.

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A próxima reflexão passa a ser: “Se pagar um valor mínimo é possível, então é assim que farei até conseguir levantar todo o montante devido”. Então você passa a dever R$ 1.000,00 no chamado crédito rotativo, valor este que será corrigido mensalmente por uma das taxas demonstradas na tabela presente neste artigo. Usemos o exemplo intermediário de 13,42% ao mês. Se você ficar “arrastando” a dívida de R$ 1.000,00 por um ano (12 meses), o valor devido ao final deste período será de R$ 4.581,35. Se deixar rolar e esperar 2 anos (24 meses), o valor subirá para R$ 20.537,68.

Conclusão: usar o crédito rotativo oferecido pelos bancos emissores dos cartões é um dos erros mais perigosos que um cidadão pouco informado pode cometer. Se é esse o seu caso, pare imediatamente de usar o cartão, ligue para o banco e negocie o pagamento do saldo devedor em parcelas - de forma a pararem a cobrança de juros. Se não der certo, faça um empréstimo consignado ou pessoal (CDC) do valor devido, pague a dívida e inutilize seu cartão até que o empréstimo seja quitado - ou para sempre, se for essa a solução.

Como não parar para rever nossas decisões diante de números e casos como esses?

Se quiser simular estes simples cálculos, use a planilha de simulação de juros compostos para endividamento com taxa fixa para ‘n’ períodos disponibilizada no blog Dinheirama.com. A verdade é que o cartão de crédito não é para todo mundo. Porque é simples, é caro. Porque é caro, deve ser motivo de muita análise. O cartão de crédito pode ser seu aliado? Pode. Pode arruiná-lo? Pode. A diferença? Educação financeira!

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A verdadeira face dos títulos de capitalização

Ainda é alto o número de clientes e pessoas que buscam e “investem” seu dinheiro em títulos de capitalização. Até aqui, nenhuma novidade. Pois bem, em 2010 tive a oportunidade de participar de uma entrevista ao vivo sobre o tema no programa “Compras e mais” da Rádio BandNews FM, apresentado pela jornalista Aiana. Ela lançou algumas perguntas bastante interessantes que merecem nossa atenção. Prometo um pouco mais de esforço de minha parte para mostrar, de uma vez por todas, que título de capitalização não pode ser considerado um investimento.

Começamos o papo debatendo a ação dos bancos e instituições financeiras, que apelam para um argumento bastante discutível e superficial: algo como “opte por um título de capitalização, você poupará dinheiro para projetos futuros e ainda concorrerá a diversos prêmios” é o que se pode deduzir de suas campanhas. A realidade é outra: eles estão oferecendo um produto com rentabilidade mínima para o cliente, mas muito interessante para sua própria operação.

Explicar os pormenores de tudo isso é a proposta do artigo de hoje. Por que, afinal, o título de capitalização é tão ruim para nós e excelente para os bancos? Espero que ao ler este texto você só entre em um produto deste tipo se acreditar que poderá ser o sorteado, sabendo que a chance é mínima e que, se isso não ocorrer, seu dinheiro terá rendimento pífio ao longo de alguns meses/anos. Como já disse, titulo de capitalização é furada!

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Aprendendo com um exemploPara facilitar o entendimento das afirmações aqui realizadas, proponho o debate a partir de um exemplo real de título de capitalização. Escolhi para este fim o produto Ourocap Multi Sorte 36 meses, oferecido pelo Banco do Brasil. Você vai entender como o produto funciona e a lógica que o torna tão lucrativo para os bancos - e péssimo para o seu bolso.

O primeiro problema surge na contratação do pacote. Na maioria dos casos, o cliente é induzido pelo gerente a “investir” no produto, sem que detalhes do contrato sejam devidamente explicados. Trata-se de um produto que compõe a cesta de metas de todo gerente, o que faz dele alvo de fortes campanhas e ações por parte da equipe bancária. A verdade é que ou você já entrou nessa por insistência ou já esteve prestes a fazê-lo.

Que detalhes são esses?Todo produto financeiro registrado junto às autoridades deve ter um prospecto que detalhe seu funcionamento. Com a Internet, ficou fácil acessá-los e sua leitura é muito importante para que a decisão final seja tomada com plena convicção. O prospecto do Multi Sorte 36 meses (PDF) traz algumas informações relevantes, que merecem destaque:

“Capital - é o montante constituído por percentuais, apresentados na tabela a seguir, aplicáveis sobre os pagamentos efetuados, e que será mensalmente capitalizado pela taxa de 0,5% a.m., e atualizado pela taxa de remuneração básica aplicada à caderneta de poupança, gerando o valor de resgate do título.”

Este é basicamente o discurso apresentado nos caixas e nas propagandas do título de capitalização. Seu dinheiro será capitalizado e atualizado pela taxa básica de poupança. Você, é claro, imagina que assim está tranquilo e que a “poupança forçada”

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faz todo o sentido - especialmente porque há uma possibilidade de ganhar uma bolada. Ledo engano. Veja a tabela a que o texto se refere:

Atenção, porque aqui mora a “grande jogada” do produto. Uma legenda simples nos auxiliará pelas explicações:

A coluna “Pagamento” refere-se ao mês do depósito que você fará para manter o produto;

A “Cota de Sorteio %” representa quanto do dinheiro que você deposita mensalmente será destinado ao montante que será sorteado para os clientes;

A “Cota de Carregamento %” refere-se ao percentual do total depositado que ficará para o banco, como sendo para administração do produto, encargos, operação e, claro, lucro, muito lucro;

A “Cota de Capitalização %” é quanto do seu dinheiro será efetivamente controlado pelo banco dentro do objetivo passado pelo gerente. Ou seja, quanto do depósito mensal será capitalizado, corrigido e devolvido no vencimento do contrato.

Você, leitor inteligente que é, já percebeu o detalhe, certo? Observando a tabela, vê-se facilmente que, no primeiro mês, quase todo o depósito realizado (87,7%) ficará para o banco, enquanto apenas 10% serão colocados na reserva a ser corrigida e devolvida. A partir do segundo mês, 4,1% serão dados ao banco e 93,5% do depósito serão usados para a capitalização. Os 2,2% restantes são para os prêmios. Então vejamos: o banco fica com quase 90% do capital depositado no primeiro mês, além de 4,1% nos 35 meses seguintes e capitaliza parte de seu dinheiro com 0,5% ao mês e TR da data de aniversário.

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Para se ter uma ideia, a TR diária média está próxima de 0,05. Em outras palavras, parte de seu dinheiro (lembre-se que não é todo o depósito que é capitalizado) renderá juros de poupança (pouco mais de 0,55% ao mês), enquanto você dá 4,1% para a instituição. Ora, na prática isso significa pagar 4,1% ao mês daquilo que você depositou e receber apenas 0,55% (em média) “de volta” por ter optado pelo produto. Viu só? Trata-se de um belo negócio para o banco.

Portanto, saiba que se aplicar diretamente na caderneta de poupança o mesmo valor destinado às parcelas do título de capitalização, seu saldo ao final dos 36 meses (nosso exemplo) será muito maior. Eu disse: a intenção aqui é causar polêmica, mas a favor do seu bolso. Crie a disciplina necessária para tomar conta do seu dinheiro e use as opções de investimento (agora sim) de forma inteligente, e não preguiçosa. Esse negócio de “poupança forçada” não cola!

Tem mais: a carênciaÉ preciso entender o que significa carência para este produto: o percentual disponível correspondente para resgate só estará disponível a partir do 12º mês (Multi Sorte 36). Quanto você poderá resgatar está detalhado na tabela “RESGATE”, disponível no prospecto. É importante saber também que você só receberá todo o montante de volta se esperar até o final do prazo contratado - a tabela é clara neste sentido.

Mas e a chance de ganhar uma “bolada”?É mínima, e você sabe disso. No entanto, o argumento dos participantes e dos bancos é sempre o mesmo: sempre um vai ser sorteado. Pois é, como acontece na loteria. A diferença é que jogando na loteria você usa um valor modesto, que não compromete sua rentabilidade possível nos meses e anos subsequentes; você não mexe com um dinheiro que pode e deve estar rendendo muito mais em produtos selecionados com dedicação, estudo e inteligência.

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Então estamos combinados que títulos de capitalização são para os que gostam de apostar e jogar - e não investir, poupar e formar patrimônio. Certo? Se você já ganhou uma bolada com um TC, considere-se um sortudo. Assim como um familiar que já ganhou na loteria. Acontece. Mas, cuidado, pois com o futuro não se aposta - se acreditar que os títulos de capitalização são uma opção neste sentido você vai arruinar suas finanças.

Este texto trouxe um exemplo. Os bancos oferecem inúmeros títulos de capitalização, cujos percentuais de carregamento, capitalização e carências variam bastante. Fique atento e valorize sua capacidade de poupar e planejar o futuro - não transfira essa responsabilidade para os gerentes e/ou parentes. Você está no comando! Ou não está?

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Será que todos podem ter um carro? Não!

Carro ultimamente tem sido (apenas) sinônimo de diferenciação social. Para a maioria das pessoas ele é um eficiente sinal de status, um instrumento de conforto. Não há absolutamente nada de errado nisso, desde que sejam respeitadas as realidades de cada um. Eu sou eu, você é você e o Ronaldinho é o Ronaldinho.

Não interessa se a concessionária oferece pagamentos em “enésimas prestações”. Você precisa ter condições de manter esse sonho ou corre o risco de vê-lo transformar-se em um pesadelo. Algumas perguntas elaboradas pela especialista Elaine Toledo demonstram como é fácil exercitar sua capacidade de raciocínio ao decidir pela compra de um novo automóvel. Experimente respondê-las:

Por que eu preciso de um carro?

Quanto dinheiro tenho disponível para comprar um carro?

Qual a reserva mensal que tenho disponível para as parcelas de um financiamento?

Que tipo de carro quero comprar?

A compra será à vista ou financiada?

Se a compra for financiada, qual o valor final do automóvel?

Tenho consciência das despesas que passarei a ter após a aquisição de um carro?

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Onde focar?As perguntas de 1 a 5 são bastante pessoais e justamente por isso, são as mais importantes. Sugiro que passe mais tempo se preocupando com essas primeiras questões e por consequência o valor final do carro (6) e as despesas de manutenção (7) serão mais interessantes para o seu bolso. Carro não é algo que todo mundo pode ter e comprá-lo com inteligência não significa apenas saber se as parcelas do financiamento caberão ou não no seu bolso. Comprar um carro é ótimo. Melhor que isso é poder aproveitá-lo por completo.

Uma visão de negócioFulano comprou um carro e paga uma parcela mensal de R$ 500,00 de seu financiamento. Além disso, ele gasta outros R$ 500,00 mensais com despesas gerais e de combustível. O carro foi comprado para que ele pudesse levar seus produtos até uma nova clientela e com este movimento poder aumentar sua receita em R$ 1500,00. Deixando de lado a entrada e o prazo do financiamento, vemos que o retorno com a compra do carro será suficiente para cobrir seus juros despesas.

Ainda que o carro se desvalorize, ele trouxe resultado ao negócio do Fulano. O valor residual poderá servir de entrada para um novo veículo, maior quem sabe. Isso, caro leitor, chama-se inteligência financeira. Peço aos chatos de plantão que me poupem. Não entrem em detalhes e perguntas sobre quanto custou isso, aquilo, quanto tempo ele terá para pagar, riscos e incertezas do negócio etc. Tenho certeza de que todos entenderam o recado. Obrigado.

Mas a vida não é assimSabendo que para um cidadão comum carro não é investimento, você precisa prestar ainda mais atenção às premissas do negócio e aos resultados dele provenientes. Por que é que as pessoas entram em tantos detalhes quando é para comprar um carro

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para a empresa e compra seu carro particular com tanto descaso? Carro não é só o dinheiro gasto para colocá-lo na garagem. Com o carro, aparecem algumas “coisinhas” extras:

Licenciamento: todo ano você terá que pagar IPVA, taxa de licenciamento e seguro obrigatório. São as boas vindas do Brasil aos proprietários de carros.

Seguro: claro que você não quer que seu carro seja roubado, não é mesmo? Algumas pessoas arriscam e podem ficar sem o carro. Pior, o carro pode sumir, mas o carnê não. Já pensou?

Manutenção periódica: as revisões normalmente não são baratas, mesmo naquele seu amigo da rua de trás. Tudo custa dinheiro. Um barulhinho aqui, uma peça que desgasta ali, um pneu careca, o óleo que acabou. Quem vai dar um jeito isso?

Estacionamento: a rua nem sempre tem lugar. As vezes ela é perigosa. Enquanto trabalha, você precisa deixar seu carro estacionado com segurança. Quem sabe não falta uma garagem em sua casa e o carro acaba por ter que “dormir” acompanhado. Esses serviços não são gratuitos.

Comprar é o mais fácil. E depois?A concessionária e o crédito são a parte fácil. O resto é quem são elas (acho que ouvi isso em alguma novela). Todos estes novos gastos terão que (agora sim) “caber” no seu orçamento mensal. Suas despesas de telefone, água, luz e supermercado vão continuar acontecendo. Não se iluda com a impressão de que o carro pode ser muito interessante em relação ao aperto do ônibus ou do metrô. Faça muito bem as contas, ou poderá trocar o aperto e a dor nas ancas do transporte público pela dor no bolso. Se não é hora de ter um carro, contenha-se.

Recomendo que você: esqueça o vizinho que tem o carro que você tanto quer, deixe pra lá o tesão momentâneo pelo novo modelo que acaba de ser lançado e combata o imediatismo doente dos dias de hoje. Prefira aprender com o vizinho (“é ruim hein”?).

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Poupe, crie uma reserva financeira confortável e negocie sempre à vista. Carro novo ou carro usado, isso não vem ao caso agora.

Preste atenção. Se comprar um carro de R$ 30.000,00 para uma pessoa que ganha R$ 500,00 é algo muito difícil, o mesmo vale para quem quer comprar um carro de R$ 300.000,00 e ganha R$ 5.000,00. A comparação pode parecer idiota, mas reflete o tamanho do passo que algumas pessoas insistem em dar. Sim, existem prestações possíveis para ambos os casos, mas onde fica a inteligência emocional e financeira?

Como os milhões de especialistas não cansam de dizer: o importante não é quanto você ganha, mas quanto você gasta. Esses dias ouvi até a Gisele Bündchen falando isso. Se ela acredita nisso, imagina eu. Além disso, e com todo o respeito, uma moto ou uma bicicleta podem muito bem resolver o seu problema. Nem por isso o raciocínio será diferente. Compre a moto ou a bike usando o mesmo pensamento disposto neste artigo. Pense bem e coloque as contas na ponta do lápis.

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Investimento, uma questão de expectativa

A grande dúvida dos leitores e clientes continua a ser objetiva e provocante: “Qual o melhor investimento hoje em dia?” é lugar comum nos muitos e-mails que recebemos e nos papos de escritório e bar. Abordei a questão de forma preliminar no artigo “Existe mesmo o melhor investimento?”, em abril de 2007, onde alertei para a importante relação entre risco e retorno. Volto ao tema com uma abordagem mais explícita, talvez capaz de suscitar-lhe alguma reflexão.

Vamos começar com um pequeno teste. Suponha que você tenha R$ 15 mil para investir, neste momento, e precisa escolher entre uma das alternativas abaixo, sem poder usar o montante para consumir (gastar) ou diversificar. Você precisa escolher entre:

Caderneta de poupança: rentabilidade de 6,5% ao ano, isenta de taxas e de Imposto de Renda. A rentabilidade sobre o valor aplicado só ocorre nas datas de aniversário da poupança, conforme explico no artigo “Poupança faz aniversário? Como assim?”;

Títulos Públicos com vencimento em abril de 2014: NTN-F, rentabilidade média de 11,2%, com taxa de negociação de 0,10% sobre o valor da operação, taxa de custódia da BM&F Bovespa de 0,30% ao ano sobre o valor dos títulos e taxa do agente de custódia (clique aqui para baixar um ranking das taxas). O Imposto de Renda incide sobre os rendimentos e varia de acordo com o período aplicado, sendo de 22,5% para aplicações com até 180 dias, 20% de 181 a 360 dias, 17,5% de 361 a 720 dias e 15% acima de 720 dias;

Fundo de ações de empresas que pagam dividendos: rentabilidade média de 30% ao

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ano, considerando últimos cinco anos com cobrança de 15% de Imposto de Renda sobre os ganhos no momento do resgate.

Observe novamente as alternativas e pense! Você tem R$ 15 mil para investir e precisa escolher uma das opções acima. Qual a sua decisão? O que você levou em conta para decidir? Por que escolheu tal alternativa? Já fiz esta “brincadeira” inúmeras vezes e os resultados foram bem interessantes. Repare no que posso resumir sobre o teste e avalie sua opção:

O investidor “trava”! Alguns participantes simplesmente travam ao ter que pensar na proposta apresentada. “Eu, R$ 15 mil, ah, ahn, não sei o que fazer com esse dinheiro”. Fica implícita a própria dúvida em relação ao poder de atingir tal soma e o que fazer quando (e se) este dia chegar. Pois, prepare-se, porque pode surgir uma herança, um bônus no trabalho ou coisa semelhante. E ai?

O investidor escolhe a caderneta de poupança porque as demais alternativas parecem muito complexas. Muitos simplesmente não conhecem o Tesouro Direto ou as alternativas de investimento em ações através de fundos. Além disso, na caderneta de poupança o dinheiro estará mais acessível, o que possibilita que o dinheiro quase não seja encarado como investimento. Muitos optam por esta alternativa para usar a poupança como conta corrente. Em pouco tempo, o dinheiro desaparece;

O investidor observa apenas a rentabilidade, escolhendo o fundo de ações sem pestanejar. O histórico de retorno é considerado como algo quase certo, sem que a dose de risco ou volatilidade seja considerada de forma sensata. Não raro, ao notar seu dinheiro oscilando de forma acentuada, este tipo decide sair na hora errada (muito cedo ou em uma queda) e perde dinheiro;

O investidor primeiro define sua prioridade e analisa as alternativas do ponto de vista de risco, retorno e tempo de aplicação. Comprar um imóvel, trocar de carro, formar capital para a aposentadoria, investir em um negócio próprio, o investidor sabe o

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que quer. Define a prioridade, o prazo e só então vai avaliar as possibilidades e fazer contas. Inteligência financeira colocada em prática significa investir com objetivos definidos e respeitar o prazo e as características do produto escolhido. Este tipo consegue realizar seus sonhos e chega lá, ainda que demore um pouco.

As reações ao exercício são indicativas de momentos financeiros distintos e que merecem discussão. Torço para que todo este esforço faça sentido e sirva para elucidar a questão do “melhor” investimento. Apenas torço, porque sei que a questão é abrangente e perfeita para abordagens do tipo “use tal estratégia e vença” ou “prefira os produtos assim porque são menos arriscados”. O que você realmente quer e aonde quer chegar? Muita gente opina, mas só nós temos a resposta; e pouco fazemos para colocá-la em prática.

Logo, o problema não é o tal “melhor” investimento, mas apenas investir em propósitos claros e bem definidos. “Porque nunca temos tempo para estudar as alternativas”, “Porque a hora certa para começar a poupar ainda vai chegar” e “Porque com o atual salário fica impossível pensar em investir alguma coisa” são as desculpas mais comuns. A dura realidade mostra que falta compromisso com o que realmente importa. Nisso, perdemos tempo querendo saber o que há de melhor no mercado enquanto sequer conseguimos fazer sobrar algum dinheiro.

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Quando o melhor investimento é guardar dinheiro

Em 2009 tive a oportunidade de conversar com o amigo e também entusiasta da educação financeira Reinaldo Domingos - autor dos livros “Terapia Financeira” e “O Menino do Dinheiro” e criador da Metodologia DSOP. Conversávamos sobre a situação dos brasileiros aposentados e do que é possível fazer para que possamos viver melhor, durante mais tempo e com mais dinheiro. O que fazer? A resposta, ele insistiu, é simples: “Basta que as pessoas guardem dinheiro. Só isso”.

Acredite, a situação dos nossos idosos é mesmo muito triste. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE):

46% dos aposentados brasileiros dependem de parentes para viver;

28% dependem de caridade (Programas Sociais ou ajuda de terceiros);

25% têm que continuar trabalhando mesmo depois de aposentar-se;

Apenas 1% deles conseguem se manter e são independentes financeiramente;

Qual sua imediata reação ao tomar conhecimento destes números? Você ainda acredita que o sistema previdenciário oficial será capaz de sustentar o número crescente de idosos? Com a expectativa de vida crescendo (o que é ótimo) e a aposentadoria oficial fadada ao fracasso, como garantir um futuro digno e ainda repleto de alegrias, realizações e saúde?

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A sensação da maioria ao se defrontar com estas questões passa pela questão da necessidade de planejamento e investimento para o futuro. Não raro, ouço amigos e parentes dizendo que precisam investir seu dinheiro para garantir que ele possa sustentá-los no futuro, mas que o momento é difícil e que tal atividade será realizada assim que “sobrar uma graninha”. Pensam no investimento, sabem desta necessidade, mas, adivinhe, não têm sequer um objetivo. E, claro, o dinheiro nunca “sobra”.

Investir? Onde? Quanto?A conversa prosseguiu e trouxe luz para a oportunidade de escrever sobre a realidade dos brasileiros. Experimentei fazer a pergunta “na sua opinião, qual é o melhor investimento?” para o Reinaldo e aguardei ansioso por sua resposta: “Guardar dinheiro” ele respondeu sem titubear. Segundo ele, o melhor investimento chama-se guardar dinheiro.

Como assim? Vamos compreender a razão de sua insistente colocação com uma boa conversa. Você sabia que o Brasil tem mais de 80 milhões de endividados? Considerando-se o tamanho da população, o número é bem assustador. Mais que isso, já vimos que por aqui não se vive a aposentadoria de forma decente e que apenas 1% dos nossos velhinhos e velhinhas podem realmente viver com mínima dignidade.

Então lhe pergunto: qual é passo fundamental para se investir? Ora, ter dinheiro! Mas, cá entre nós, você guarda dinheiro? Quem guarda dinheiro? Pois é, a esta altura você já deve ter concluído que são muito poucos os brasileiros que conseguem guardar dinheiro. São mesmo! E por que alguém decide (ou decidiria) guardar dinheiro? Para realizar algum sonho ou atingir objetivos, é óbvio.

Hum, então será que os brasileiros sonham pouco e almejam menos ainda? Ou será que miram nos alvos errados e vivem uma vida aparentemente saudável e completa, mas incoerente com sua realidade financeira e incapaz de sustentar seu padrão de vida? Feliz ou infelizmente, a resposta você já sabe – e a situação se complica.

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Prioridades de vidaSe uma grande maioria vive além daquilo que suas receitas permitem (estão endividados) e outra parte apenas sobrevive, qual deve ser a saída? Lembre-se da resposta do Reinaldo: “Guardar dinheiro. Só isso”. O brasileiro em geral precisa definir importantes razões para manter-se sempre motivado a valorizar e respeitar seu dinheiro, mas com inteligência e percepção.

Portanto, não se apresse em aprender as inúmeras alternativas de investimento disponíveis nas redes bancárias ou no mercado. Primeiro, aprenda a guardar dinheiro – pode ser na caderneta de poupança, em casa ou em uma conta bancária separada. Crie o hábito de precificar seus objetivos e aprenda a separar parte de sua renda mensal para alcançá-los. Só quando esta atitude realmente se incorporar ao seu cotidiano é que você deverá correr atrás dos meios e formas de acelerar a conquista de seus sonhos.

Guardar dinheiro é fácilDefinidas as prioridades de sua vida, passe a guardar dinheiro como forma de valorizar tudo aquilo que você deseja e pretende conquistar. Sua aposentadoria, por exemplo, deve ser um importante pilar desta filosofia de vida. Logo, coloque-a como parte de seus objetivos futuros e separe parte dos seus rendimentos para construí-la de forma constante e inteligente. Mas comece isso hoje, agora!

Lembre-se que se você optar pelo crédito fácil (financiamentos, empréstimos etc.), suas metas serão influenciadas e distorcidas. Tenha paciência e coloque-se diante de objetivos palpáveis e com prazos muito bem estabelecidos. Pode ser que você demore a conquistar algum bem, mas ainda assim prefira contar com o tempo a aproveitar-se do dinheiro fácil, porém caríssimo, oferecido por ai. Respeite suas condições e não conte com o crédito para enriquecer – os juros lhe farão mal.

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Cuidado com a justificativa idiota de que guardar dinheiro é bobagem. Aqueles que dizem que “a vida se vive no presente” ou que “dinheiro guardado só servirá de herança” nunca admitem que são muito menos do que poderiam ser e que terão problemas no futuro por conta da falta de disciplina e atitude. E terão. Eles se escondem na desculpa como forma de transportar o problema para fora de suas responsabilidades – vivem uma realidade material incoerente com o que ganham (razão para o ego inflado), mas veem o tempo passar sem nenhum propósito.

Você também sabe que ganhar dinheiro é uma atividade difícil, que exige tempo e esforço. Gastá-lo, por outro lado, normalmente leva poucos minutos e não é nada complicado. Valorize seu esforço e passe a ver a tarefa de guardar dinheiro como algo simples e essencial para que seu amanhã lhe traga prosperidade – e não dívidas e problemas financeiros. Livre-se da necessidade imediata de consumir em prol da independência financeira futura. Reinaldo, que chegou lá colocando em prática estas atitudes, garante que vale a pena.

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Princípios e atitudes do investidor inteligente

Concordamos que investir pressupõe ter dinheiro sobrando. Ótimo, mas sejamos sinceros: aqui no Brasil, o raciocínio relacionado ao ato de fazer sobrar dinheiro não favorece a cultura do investimento. A autodefesa contra o sistema traz à tona a figura do “se”. Ora, se está sobrando, por que não consumir um pouco mais? Por que não dar entrada naquela tão sonhada TV LCD? Por que não comprar uma e outra peça de roupa e valorizar a aparência? Se sobra, então é porque eu posso mais.

Equilíbrio... Mas, e se?A palavra resume bem o que é necessário para que um simples cidadão possa se transformar em um poupador e, então, em um investidor. Ironica e felizmente, equilíbrio também diz respeito ao “se” (frequente em quase todas as nossas decisões). Se eu deixar de comprar a TV agora, posso guardar o dinheiro para comprá-la com desconto depois do Mundial. Se eu evitar tantas baladas, talvez tenha dinheiro para a viagem de navio que tanto gostaria de fazer. O que muda?

Se não somos bons com o “se” que nos faz consumir, também não somos com o “se” que deveria nos levar à reflexão. Logo, o equilíbrio - que pressupõe disciplina - não é a chave. Ajuda, mas não resolve. A diferença mesmo quem faz é o comprometimento e o amor. Comprometimento com a melhora, com a possibilidade de crescer, agregar valor e construir patrimônio. Amor próprio, que se reflete na autoestima e na capacidade de, ai sim, tomar partido e avaliar com mais inteligência as alternativas disponíveis.

Iniciada minha contribuição, listo abaixo dez princípios e atitudes que considero

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especiais em investidores inteligentes e que sabem fazer seu dinheiro realmente trabalhar:

1. Não considera títulos de capitalização como investimento. Pagar caro para que uma simples poupança seja acumulada e, ainda assim, apresente retorno menor que o da caderneta de poupança não faz parte do dia a dia de investidores conscientes. Você já leu sobre isso neste livro.

2. Não transfere a responsabilidade de gerenciar suas finanças para outra pessoa ou instituição. As melhores alternativas de investimento são aquelas que ele compreende e é capaz de associar às suas metas pessoais, profissionais e familiares. Ponto. As indicações (do amigo, do gerente etc.) são analisadas com o devido respeito e atenção, mas a decisão é sempre consciente e parte de um processo. O mesmo acontece com o dinheiro do cotidiano.

3. Mantém um orçamento atualizado e que contempla gastos, receitas e investimentos. Controla, mede e avalia para que possa usar as ferramentas financeiras como fator de libertação e independência. Sabe se está exagerando e quando pode exagerar. Conhece seus limites e os respeita.

4. É coerente com a realidade familiar. Vive o padrão de vida possível, com plena consciência de que evoluir significa ter, antes de tudo, um meio de vida sustentável e compatível. Não guarda por guardar, mas porque quer garantir possibilidade de consumo e qualidade de vida hoje e sempre. O futuro não é apenas romântico, mas parte de sua programação financeira.

5. Assume o papel de cidadão e negocia com firmeza. Ao entrar em uma loja, sabe que o interesse deve ser muito maior por parte do vendedor. Assim, prefere não demonstrar euforia e emoção e avalia os produtos/preços de forma racional, fria. Planeja a compra com antecedência, exige desconto e prefere pagar à vista.

6. Tem objetivos claros que faz questão de respeitar. Dica recorrente, presente em todo trabalho de bons planejadores financeiros, definir objetivos significativos faz com que

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o investidor exercite a automotivação. Quando o que ele quer tem valor, é relevante para si, ele é capaz de deixar outros pequenos desejos, supérfluos ou não, na fila de espera.

7. Valoriza a qualidade de vida. Vive de acordo com suas possibilidades, mas com momentos de lazer, tempo para a família, hobbies e prática de esportes. E faz questão de destinar parte de seus recursos para o cultivo da qualidade de vida, consciente de que inesquecíveis são os momentos, as pessoas e os acontecimentos, e não um produto ou bem material.

8. Faz uso da matemática financeira básica para tomar decisões. Primeiro, sabe que não existe o tal “juro zero”. Segundo, sabe usar simuladores simples para avaliar uma compra financiada, parcelada e a contra-partida da compra à vista com o apoio do tempo. O que é melhor? Gosto muito do exemplo usado pelo amigo e autor best seller Gustavo Cerbasi em relação à compra da casa própria quando ainda somos jovens:

“Os jovens que compram seu imóvel quando ainda ganham pouco acabam por comprometer excessivamente o orçamento familiar com uma prestação maior do que pagariam pelo aluguel de um apartamento mais simples e adequado para o momento. Falta dinheiro para seu lazer, para seus planos de curto e médio prazo. (...) Com um orçamento apertado por uma pesada prestação, qualquer imprevisto leva o jovem a contrair pequenas dívidas” - A vantagem da compra própria, por Gustavo Cerbasi em 07/06/2010 - Folha de S. Paulo.

9. Comemora pequenas vitórias e aprende com seus erros. A vida não é só sombra e água fresca, mas tem seus momentos de grande alegria. Os desafios trazem consigo o sentimento de realização e também experiências frustrantes. O investidor de sucesso aceita essa realidade e convive com ela de forma cordial, com humildade e muita vontade de aprender. Aprende porque quer, não porque precisa.

10. Diversifica, investindo em produtos conservadores e em alternativas mais agressivas. Como define bem seus objetivos de curto, médio e longo prazo, aloca seu capital em investimentos de características próprias, sempre os alinhando com seu horizonte de

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tempo e interesse. Assim, mantém uma boa reserva de emergência, deixa a maior parte de seu dinheiro em produtos conservadores, mas também participa do mercado de ações (fundos, home broker etc.).

Todos podemos ser investidores inteligentesPorque se for importante para você, você é capaz de fazer. Se for valer a pena, você segue adiante. Se realmente representar uma possibilidade de novos rumos na profissão, você arrisca. Porque se for por você e por aqueles que ama de verdade, você é capaz de aprender e fazer diferente. Engraçado, o “se” apareceu novamente. Pois é, o investidor inteligente tem no “se” seu maior trunfo: as respostas são consequência e o que realmente importa são as perguntas. Causa e efeito. Afinal, se dependesse de mim, você seria rico, feliz e cercado de boas decisões. Se...

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Objetivos, disciplina e o poder dos investimentos

Recebi uma dúvida por e-mail muito interessante e decidi compartilhá-la com você, caro leitor. Acompanhe: “Sempre tive uma vida financeira controlada. Durante a juventude, meus pais cuidavam de tudo e possibilitaram que eu pudesse ter uma boa formação e ainda construíram, dentro de seus padrões, uma poupança que me garante tranquilidade. Mesmo com esse know-how, me sinto inseguro, pois minha renda é relativamente alta e não sei ao certo qual o melhor investimento. Detalhe: tenho 29 anos. Alguma dica?”.

Primeiro, fico muito feliz por observar que seus pais fizeram bem a “lição de casa”, indo justamente no caminho da organização financeira e brindando-o com o beneficio do exemplo, ponto chave das conquistas. Para você, com certeza é muito fácil respeitar seu padrão de vida e buscar, a partir dessa realidade, os melhores investimentos. A dúvida em relação ao como e às alternativas é normal, especialmente porque você tem um fluxo de caixa favorável e consegue poupar. Vejamos como o artigo se desenrola.

Guardar dinheiroEm primeiro lugar, existe uma pergunta que você e os leitores que pensam em investir devem se fazer: por que eu vou poupar, guardar dinheiro? Essa pergunta é muito importante. A partir da resposta ficará mais fácil programar e encontrar a melhor opção de investimento. A resposta será seu grande objetivo. Obviamente,

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essa resposta não precisa ser única. Afinal, você pode ter diversas respostas que se tornarão, então, diversos objetivos.

Concentre-se primeiro nas perguntas relacionadas ao seu objetivoVamos supor que hoje, aos 29 anos, você faça essa análise e defina que seu objetivo seja parar de trabalhar aos 50 anos. Você terá 20 anos até o momento da “aposentadoria”. Nesse momento, algumas outras perguntas deverão ser feitas, como: quanto vou precisar acumular nesses 20 anos para garantir uma vida tranqüila e sem preocupações? Qual a minha expectativa de vida a partir dessa data? Quais os investimentos que são mais indicados para cada momento dessa trajetória, daqui até lá e depois dos 50 anos?

“Engraçado!”, você deve estar pensando, ao invés de lhe dar respostas, estou propondo ainda mais perguntas. Sim, você tem razão. Mas veja que essas perguntas são diretas e só você será capaz de respondê-las, começando justamente pelo básico: o que você pretende alcançar e quais são seus objetivos que podem receber colaboração financeira? Uma viagem? Patrimônio? Viver de renda? Publicar um livro? Estudar fora? De objetivo em objetivo você aprende a separar e investir.

O investimento que você precisaExistem milhares de produtos bancários destinado aos investidores, alguns muito bons e outros nem tanto, mas o melhor é aquele que se encaixa dentro de sua necessidade. A escolha deve ser capaz de criar condições reais para transformar seu sonho em realidade. Partindo deste princípio, toda alternativa de investimento é boa ou ruim, o que nos leva a discutir prazo, aportes, processo de formação do investimento e resgate:

Um dos principais componentes que precisa ser muito bem avaliado é o componente tempo. O tempo tem que ser seu aliado, por isso quanto mais cedo começar a se programar e projetar os seus sonhos, melhor será sua condição, principalmente

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quando os sonhos são referentes à aposentadoria. O tempo maior lhe permite correr mais riscos e fazer aportes menores ao longo dos meses e anos;

Os aportes precisam ser constantes e sempre corrigidos pela inflação. Determinar um objetivo no tempo (curto, médio ou longo prazo) o ajudará a escolher o produto mais interessante (menor risco para o curto prazo e mais arriscado para o longo prazo). Se começar logo e mantiver a disciplina, conseguirá ir muito mais longe com valores mensais menores. Experimente;

O processo de formação do investimento é justamente a relação entre tempo, investimento escolhido e aporte. É simples: se vai pensar na aposentadoria e tem muito tempo pela frente, pode começar com aportes pequenos em aplicações mistas (renda fixa e variável, por exemplo). Se pretende trocar de carro em dois anos, deve escolher um produto mais conservador (poupança ou Tesouro Direto, por exemplo) e fazer aportes maiores;

Quanto ao resgate, a questão principal se refere à liquidez. Como usará o dinheiro aplicado? Ele precisa estar disponível mediante suas necessidades. Se decidir comprar imóveis para construir patrimônio, poderá viver da renda de aluguéis, mas se precisar vendê-los para usar o dinheiro, pode demorar a ter o capital na mão. Então, o resgate diz respeito a como você terá o montante necessário para seguir adiante.

Fique atento ao seu futuro. Não alocar corretamente seu dinheiro pode ser um erro extremamente cruel, principalmente quando percebemos que teríamos condições de conseguir melhores resultados e a partir deles grandes oportunidades para ter uma vida mais feliz. Por outro lado, não existe certo ou errado porque os objetivos sempre são diferentes de pessoa para pessoa. O importante é tê-los, respeitá-los e alimentá-los.

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Como escolher uma corretora para investir em ações?

Escolher uma dentre as 57 corretoras que oferecem a ferramenta home broker para operar no mercado de ações não é tarefa fácil. Por outro lado, a enorme quantidade de opções traz diversos benefícios para atuais e futuros clientes: diferenciais, ferramentas exclusivas, preços diferenciados (às vezes até custo zero em algumas transações), promoções, inovações, atendimento personalizado, relatórios, carteiras sugeridas etc.

Com a explosão no cadastro de pessoas físicas ocorrida em 2006, 2007, 2010 e o grande número de corretoras concorrentes, é possível que encontremos serviços de ótima qualidade a preços e condições interessantes. Antes de listar os principais passos que sigo ao escolher uma corretora, vou abordar dois erros comuns que devem ser evitados quando pensamos em contratar seus serviços.

Erro 1: Pensar somente no preço. As possibilidades trazidas pela Internet, representadas através do home broker, vão muito além da simples atitude mercenária. Diversas corretoras cobram preços maiores, mas oferecem ferramentas exclusivas bastante interessantes;

Erro 2: Subestimar a importância dos serviços “extra-Internet”. Só uma ótima plataforma de home broker não resolve. Preocupe-se com o background técnico dos corretores e administradores da empresa e leve em conta as facilidades oferecidas fora da Internet. Gráficos, análise de risco, carteiras sugeridas, chat e relatórios diários, por exemplo, são alguns extras interessantes que podem ser muito úteis.

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Analisando as possibilidadesDepois de apresentar os deslizes cometidos por alguns investidores, sinto-me mais confortável para detalhar meu processo de avaliação de corretoras:

Passo 1: Faça um diagnóstico de sua necessidade. Se você não tem condições de operar lotes, pretende usar o mercado fracionário e(ou) possui pouco capital inicial, nem todas as corretoras poderão atendê-lo. Conheça bem seu perfil, defina e liste as premissas relacionadas para que seu trabalho de busca seja facilitado.

Passo 2: Faça uma seleção de cinco alternativas, usando as premissas do primeiro passo, e descarte todo o resto. Como? Acompanhe o noticiário especializado por alguns dias, repare no histórico de atividade das corretoras e procure investigar, em seus próprios sites, um pouco da história, condições comerciais e ferramentas disponíveis por cada uma delas. Selecione as cinco alternativas que se encaixam dentro de sua expectativa de custos de corretagem, custódia, depósito inicial mínimo etc.;

Passo 3: Telefone para as cinco opções. Ligue para o telefone 0800 de cada uma das opções e veja quanto tempo de espera você terá que enfrentar para chegar até um atendente. Se quiser ir mais além, ligue mais de uma vez, em horários e dias diferentes.

Faça algumas perguntas, como: Como faço para comprar e vender ações? Quanto tempo preciso para poder entrar no mercado e começar a operar? O que é o sistema de home broker e como ele funciona? Quanto custa operar através da sua corretora? O que sua corretora tem que os concorrentes não oferecem? Depois de ouvir algumas respostas você vai entender a razão para tantas perguntas.

Passo 4: Escolha! Agora você já tem uma ideia de como cada uma pode atendê-lo e pode escolher com mais calma. Boa sorte.

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Recomendações adicionaisPrefira sistemas que sejam amigáveis e ofereçam ferramentas ao alcance de poucos cliques;

Prefira corretoras estabelecidas e com bom histórico de operação também fora da Internet;

Prefira corretoras que ofereçam relatórios diários e mensais, assim você pode ver a opinião dos especialistas que contratou;

Prefira optar por corretoras que ofereçam test-drive. Experimentar a plataforma pode facilitar sua decisão;

Evite basear-se apenas nas recomendações de amigos. Faça a sua análise;

Evite ferramentas e sistemas de home broker confusos. Se você não entender sua interface e operação durante o test-drive, caia fora.

Guia de corretoras de açõesA edição de fevereiro/2008 da revista Estadão Investimentos trouxe um verdadeiro mapa das corretoras brasileiras. Leitura obrigatória para quem pretende seguir esse caminho, a reportagem detalha custos de operação, adicionais, ferramentas e características de 45 corretoras que oferecem home broker. Confira alguns retratos do mercado trazidos pela pesquisa:

Custos e aplicação mínima87% das corretoras não exigem aplicação mínima;

64% adotam a Tabela Bovespa para os custos de operação;

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56% não cobram adicional para atendimento pessoal;

10% não cobram taxa para compra e venda de títulos públicos;

19% não cobram taxa de custódia.

Ferramentas adicionais40% têm sistema home broker próprio;

24% enviam relatórios setoriais;

50% têm sistema de avaliação de riscos;

42% promovem chats.

A facilidade encontrada nos sistemas de home broker é igualmente proporcional ao tempo que você deve dedicar para realizar bons trades e definir sua estratégia. Sua corretora sozinha não é nada. Você sozinho não é nada. Dedique algum tempo ao processo de escolha de sua corretora! Ah, não tente encontrar a melhor corretora, mas sim aquela que melhor atende aos seus anseios e necessidades. Mãos à obra e bons negócios!

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Principais erros do investidor iniciante em ações

Quem começa a operar no mercado de ações costuma cometer certos erros. Explicados principalmente pela psicologia econômica, esses erros necessitam ser identificados e controlados, para que se consigam resultados positivos e constantes. Os principais erros são:

1. Pressa nas operações: muitos investidores aplicam todo o capital em ações e acabam pagando o pedágio do aprendizado com as perdas iniciais. Existem simuladores que proporcionam experiência ao investidor sem tais perdas iniciais. Em seguida, é recomendável um aumento gradual da exposição em ações;

2. Falta de humildade: o operador lê dois livros de análise gráfica e acha que já sabe tudo;

3. Excesso de otimismo: o iniciante considera que, com toda a certeza, a operação será lucrativa;

4. Falta de disciplina: contagiado pelo excesso de otimismo e vencido pelo fator emocional, o investidor não utiliza o stop (parada). Fica com a sensação - que logo vira uma crença - de que a perda não será tão extensa e que a alta continuará por algum tempo;

5. Sem metodologia: mudanças constantes na forma de operar e dos indicadores utilizados. O investidor não define um setup;

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6. Informações em excesso: o investidor procura ter conhecimento de todos os dados disponíveis, de todos os mercados e áreas da economia. Tudo isso só serve para gerar confusão;

7. Viés de confirmação: com acesso a muitas informações, o investidor tende a apenas reconhecer as informações que estariam de acordo com seu entendimento. Por exemplo, em posse de ação em forte tendência de baixa e que apresente a ele altos prejuízos. Ao verificar as notícias de tal empresa, ele pode acessar dez notícias ruins, mas ao ler apenas uma relativamente boa irá vibrar de alegria e acreditar que a empresa irá recuperar-se e que sua análise anterior foi excelente;

8. Compra na alta: atraído pela euforia do mercado a compra é efetuada, sem qualquer análise bem feita. A análise gráfica, por exemplo, poderia alertar que a ação já estaria para entrar em momento de reversão;

9. Vende na baixa: apenas após consecutivas quedas, e contagiado pelo pânico, a venda com grande prejuízo é realizada. Ou seja, acontece justamente momento de uma reversão para uma alta, já que nesse momento esgotaram-se os vendedores;

10. Ganância: atraído pela ganância, o investidor assume maiores riscos em operações extremamente alavancadas, como no mercado a termo e de opções, e poderá perder tudo e até mesmo ficar extremamente endividado.

O investidor que deseja obter lucros significativos e constantes e apenas pequenos prejuízos esporádicos, necessita de certo período de aprendizado (através de livros e cursos com professores certificados pelo CNPI), além de definir e respeitar sua metodologia, operar de acordo com apenas o que vê nos gráficos (caso da análise baseada em gráficos) e aplicar a máxima da análise técnica - maximizar o lucro e minimizar o prejuízo. Para tal será preciso localizar, através dos gráficos e experiência, os melhores pontos de entrada e saída.

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Investimento sustentável através do mercado de ações

Não é novidade que o mercado de ações vive momentos de grande expansão. O aumento significativo no número de pessoas físicas com cadastro na BM&F Bovespa, hoje com cerca de 630 mil investidores (dezembro de 2010) deste tipo, contribui para uma questão fundamental: dentre as empresas listadas, como escolher aquelas que mais contribuem social, econômica e ambientalmente com o crescimento do país?

Responder à pergunta exige antes uma rápida reflexão sobre o papel do mercado de capitais. De forma geral, sua principal prioridade é permitir que empresas dispostas a investir na economia local e a expandir seus negócios possam encontrar investidores também munidos deste espírito, caracterizando-se assim como a melhor opção para quem decide criar oportunidades de negócios: a capitalização através de acionistas.

Por que optar pela bolsa de valores?Ao decidir abrir seu capital, uma empresa diz ao mercado que prefere crescer com dinheiro próprio e de acionistas a simplesmente usar, ou continuar usando, recursos provenientes de empréstimos, financiamentos ou emissões de títulos. Ao optar pela transparência diante de investidores, informações de toda ordem se tornam públicas e acessíveis – a transparência surge como outro benefício.

Como a negociação das ações é contínua e marcante no mercado secundário, depois da abertura de capital a empresa precisa planejar e executar muito bem seus passos

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e equipar seus acionistas e o mercado de detalhes sobre suas operações. O giro nos detentores dos papéis e nas posições de ações é decorrente de fatores ligados à economia como um todo, ao momento, mas sobretudo à gestão da companhia.

Investir em empresas de capital aberto significa ser dono, sócio e acreditar no que a empresa fez, faz e ainda vai fazer. É natural que diante de uma decisão tão importante de investimento o investidor sinta-se pouco preparado. Hora de voltar à pergunta do primeiro parágrafo: como escolher uma empresa que atenda às expectativas do investidor? Mais, como optar por alguma firma socialmente responsável?

Sustentabilidade no mercado de capitaisEmpresas engajadas com seus stakeholders e focadas em gerar valor para seus acionistas normalmente têm políticas de investimento de longo prazo associadas a estratégias (cenários) cuidadosamente preparadas para situações como crises econômicas, riscos sistemáticos, não sistemáticos, ambientais etc. Além disso, iniciativas de ordem social oferecem integração com a sociedade e resultados de efeito prático na vida de muitas famílias.

Empreendimentos deste tipo costumam ser conhecidos mundo afora pela sigla SRI, que significa Socially Responsible Investing, ou investimentos socialmente responsáveis. Para que se tenha uma idéia do potencial da nova modalidade, houve crescimento de mais de 320% nos investimentos sustentáveis nos EUA entre 1995 e 2007, total que representa cerca de 10% do total da indústria de fundos do país (dados da pesquisa “2007 Report On Socially Responsible Investment Trends in The United States”).

ISE - Índice de Sustentabilidade EmpresarialNo Brasil, em iniciativa gerenciada pela BM&F Bovespa e diversas instituições (ABRAPP, ANBIMA, APIMEC, IBGC, IFC, Instituto ETHOS, Ministério do Meio Ambiente e PNUMA) foi criado o ISE, Índice de Sustentabilidade Empresarial. Segundo uma

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definição retirada do próprio material publicado no site da BM&F Bovespa, “o ISE tem por objetivo refletir o retorno de uma carteira composta por ações de empresas com reconhecido comprometimento com a responsabilidade social e a sustentabilidade empresarial, e também atuar como promotor das boas práticas no meio empresarial brasileiro”.

Dentre as missões do ISE, destacam-se:

Ser composto por empresas que se destacam em responsabilidade social, com sustentabilidade no longo prazo;

Ser um referencial do desempenho das ações desse tipo de empresa;

Ser percebido como tal pelo mercado (credibilidade);

Ser replicável;

Estimular boas práticas por parte das demais empresas.

Na prática, trata-se de uma seleção de empresas cujas ações são monitoradas e avaliadas – sempre levando em conta as informações obrigatórias e relatórios publicados e regulados pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) – de forma sistemática por um Conselho Deliberativo.

A metodologia consiste no envio de questionários às empresas pré-selecionadas, com as 200 ações mais líquidas e posterior escolha das corporações com melhor classificação considerando: relacionamento com empregados e fornecedores; relacionamento com a comunidade; governança corporativa; e impacto ambiental de suas atividades. O processo repete-se anualmente. Se tiver curiosidade, faça o download da metodologia completa em www.bovespa.com.br.

Desta forma, escolher a empresa mais adequada ao perfil do investidor fica mais simples. É fato que aqueles investidores preocupados com aspectos ligados à sustentabilidade têm no ISE uma possibilidade concreta de escolher melhores

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companhias. Porque ser sustentável é compreender que se pode investir nas empresas que já aprenderam a ser lucrativas de forma socialmente responsável – e temos excelentes empresas assim também por aqui.

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Como investir e comprar ouro sem ter muito dinheiro

Com a sofisticação do mercado financeiro, tanto aqui quanto lá fora, a procura pelo ouro, metal precioso com grande valor de mercado, diminuiu gradativamente. Uma contextualização se faz necessária neste sentido: o ouro perdeu seu apelo porque outras alternativas de investimento mais práticas e rentáveis surgiram. A negociação direta de ações e contratos (home broker), fundos específicos e investimentos programados são alguns exemplos da modernização.

Então veio a crise e o ouro passou a ser novamente objeto de desejo de muitos investidores - desta vez, também por parte de pessoas da classe média e investidores de menor capital. Evidenciar esta realidade é fácil, basta notar que desde a crise de 2008 a cotação do Ouro Spot valorizou-se cerca de 50%, passando de cerca de US$ 600,00 por onça-troy (31 gramas) para US$ 900,00.

Por que comprar ouro?É consenso de que o ouro não é um investimento qualquer. Não se deve investir em ouro porque está na moda ou porque alguém disse que é interessante. Por se tratar de um tipo de aplicação cuja variação de preço acontece diariamente e em âmbito mundial, é importante conhecer o mercado e suas nuances. A cotação do dólar, por exemplo, pode prejudicar, ainda que temporariamente, os ganhos de investidores brasileiros no ouro. Recomendo que o ouro seja encarado como um investimento para

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proteção (hedge), especialmente em momentos de turbulência econômica e pensando no longo prazo.

Você sabia que o Brasil tinha volume expressivo de negócios com o ouro até o governo Collor (1990), quando negociou mais de dez toneladas de ouro por dia? Hoje o cenário é outro: segundo dados da BM&F Bovespa, atualmente são negociados cerca de R$ 500 mil em 30 contratos de barras de 250g. Algumas ações podem mudar este quadro e novamente chamar a atenção do investidor para o ouro.

Aliás, se você quiser comprar ouro diretamente na BM&F Bovespa, precisará de conta em uma corretora de valores e uma boa grana para negociar os lotes-padrão de 250g. Isso significa que você terá que comprar lotes inteiros - um lote (250g), dois lotes (500g) e assim por diante - e não apenas valores menores, como 1g ou 100g.

É possível comprar ouro com pouco dinheiro?Sim, hoje em dia isso é possível através do chamado mercado de balcão, onde é possível investir em qualquer quantidade de ouro. Há uma rede de corretoras especializadas em negociar o metal e o investidor pode comprar até R$ 10 mil em dinheiro - regra do Banco Central para evitar lavagem de dinheiro. Acima disso, a compra pode ser realizada através de depósito bancário.

As corretoras e distribuidoras de valores criaram diversos produtos a partir dos contratos e barras de 250 gramas, vendendo desde pequenas quantidades (1g a 10g) em cartões até laminados e barras de tamanhos e pesos diferentes, escolhidos pelo investidor. Os produtos, baseados em cotações do dia mais ágio (lucro), são padronizados, certificados e lacrados.

A negociação se dá de forma bastante direta: você escolhe o produto, a quantidade de ouro desejada e faz o pagamento via boleto bancário (limite de R$ 10 mil). O ouro é enviado pelos Correios via SEDEX com AR (Aviso de Recebimento), seguro e entregue em mãos com certificado de garantia e nota fiscal de negociação. Se quiser vender, em geral basta levar o ouro até um balcão de atendimento da corretora escolhida ou

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enviar o material pelos Correios e ela realizará a avaliação e recompra em até 3 dias úteis.

Quais os riscos relacionados ao ouro?Os riscos inerentes ao metal têm relação com a relação entre demanda e oferta no mundo e também com o valor da moeda nacional em relação ao dólar. Em relação à compra e venda do ouro, você precisa se preocupar com a segurança em relação ao local onde vai armazená-lo. Ao comprá-lo via BM&F, você pode deixar que ela faça a custódia ou contratar este serviço de um banco sem que o ouro passe fisicamente pelas suas mãos. Em ambos os casos será cobrada taxa de custódia. Se você optar pela compra balcão, terá que guardar o ouro em casa ou levá-lo até um banco e pagar pela custódia.

Se você já é cliente de uma corretora de valores e se interessou pelo metal, entre em contato e pergunte se eles fazem a negociação do ouro em pequenas quantidades. Para conhecer alguns exemplos de distribuidoras especializadas, acesse www.ourominas.com e www.parmetal.com.br. Agora você sabe que ouro também é para todos!

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Padrão de vida na aposentadoria: sobrevivência ou qualidade de vida?

Discutimos bastante a questão do planejamento financeiro e algumas opções de investimento, é verdade. Mas e quando você e eu ficarmos velhos? Como vamos viver? Impossível não começar um artigo sobre futuro, aposentadoria e previdência sem mencionar os problemas graves que o mundo enfrentará para sustentar seus aposentados. Não se trata de ser apocalíptico ou desejar o pior, mas de analisar a evolução da expectativa de vida em contraste com os crescentes déficits previdenciários e demais desafios econômicos decorrentes de um cenário como este.

Segundo Robert J. Shapiro, autor de “A Previsão do Futuro” (Ed. Best Business) citado em matéria do jornal Valor Econômico de 31/08/2010, até 2020 a população idosa crescerá de 35 a 60% no mundo, forçando elevação nos gastos públicos, aumento de tributos e os déficits. Na Europa, o número de idosos que recebem pensões públicas e assistência médica aumentará cerca de 3% por ano nos próximos dez anos. Por outro lado, o total de habitantes em idade de trabalho cairá em torno de 1%.

No Japão, onde a situação já é crítica, o número de idosos equivalerá a mais da metade da população economicamente ativa. Para completar, Shapiro alerta que o número de crianças japonesas e européias que, quando adultas, estarão trabalhando e pagando impostos em 2025 e 2035 está caindo mais rapidamente do que a população economicamente ativa.

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E no Brasil?Segundo dados do IBGE, a expectativa de vida do brasileiro saltou de 66 anos em 2000 para 72,8 anos em 2009. No mesmo período, a taxa de mortalidade infantil registrou queda de 61,7%, passando de 52,04 mortes por mil nascimentos para 19,88 mortes por mil. O déficit previdenciário - diferença entre arrecadação e pagamento de despesas/benefícios - saltou de R$ 10 bilhões em 2000 para R$ 43,6 bi em 2009.

Em 1940, havia cerca de 31 contribuintes para cada beneficiário da Previdência. Na década de 80, essa relação caiu drasticamente, atingindo o preocupante número de 2,9 contribuintes para cada beneficiário. Hoje, a proporção é de apenas 1,7 contribuinte para cada assegurado. A continuar nesse ritmo, em 2030 haverá somente 1,1 contribuinte para cada beneficiário da Previdência.

A prática é uma aposentadoria longe da idealJá citei neste livro a triste realidade dos nossos aposentados. Repito: apenas 1% dos aposentados conseguem viver (manter seu padrão de vida) com o que recebem da aposentadoria? Os dados também são do IBGE. Dos demais, 46% dependem de parentes, 28% dependem de caridade e 25% têm que continuar trabalhando. Que situação!

Embora existam polêmicas visões sobre a aposentadoria no Brasil, fica claro que a combinação de população crescendo em alta velocidade, brasileiros vivendo mais e maior número de aposentados é explosiva. Colocada a situação, pergunto:

Os benefícios a serem pagos pela Previdência Oficial serão suficientes para manter seu padrão de vida?

Se não, com que dinheiro você vai viver quando se aposentar?

Como vai sustentar seu atual padrão de vida apenas com o dinheiro da Previdência Social? De onde virão os recursos adicionais desejáveis?

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Por que insistir tanto na situação da aposentadoria?

Educação financeira é uma das oportunidades de mudar esse quadro e sou entusiasta de seus resultados. A motivação para o alerta de hoje surgiu da leitura de uma matéria publicada no jornal Valor de 31/08/2010, assinada pelo jornalista Angelo Pavini, que trata do perfil dos investidores e interessados em participar da Expo Money, evento anual sobre finanças pessoais e investimentos.

De acordo com pesquisa feita com mais de 4 mil inscritos para evento de São Paulo (de 23 a 25 de setembro, inscrições gratuitas em www.expomoney.com.br), apenas 29% possuem plano de previdência complementar. Dos demais, 42% pretendem aderir, 16% ignoram a opção e 13% afirmam que não farão nada a respeito.

Comemorar ao lado do pequeno grupo que se preocupa com o futuro acalenta, mas não me satisfaz. Saber que quase metade do grupo deseja saber mais sobre o tema e busca informações anima. Constatar que 1/3 dos pesquisados acha isso uma bobagem frustra, mas também aumenta minha responsabilidade.

Se você vai se aposentar para subsistir e apenas sobreviver, só suas atitudes dirão. Se a qualidade de vida e o bem-estar são metas para o futuro, melhor considerar investimentos complementares e a previdência privada como aliadas. Aposentadoria é coisa séria e espero ter despertado você para a relevância da questão.

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Sobre o autor

Conrado Navarro, educador financeiro com MBA Executivo em Finanças pela UNIFEI, atingiu sua independência financeira antes dos 30 anos e decidiu compartilhar suas descobertas. Autor do livro “Vamos Falar de Dinheiro?” (Ed. Novatec) e co-autor de “Dinheirama” (Ed. Blogbooks Ediouro), colunista do portal Você S/A, Navarro está sempre presente nos debates da mídia especializada, com aparições em diversos veículos de renome nacional.

Navarro é também sócio-fundador do Dinheirama.com, um dos mais premiados sites de finanças pessoais e investimentos do Brasil. Vencedor de duas edições consecutivas do prêmio Best Blogs Brazil na categoria “Negócios e Finanças”, apontado pelo Ibope como o blog de finanças pessoais mais influente do Brasil e um dos 50 blogs mais lidos do país, o Dinheirama é hoje uma referência em educação financeira.

Conrado Navarro atua também como professor convidado, palestrante e articulista de jornais e revistas.

Mais sobre seu trabalho em www.dinheirama.com

Conheça também a TV Dinheirama, vídeos exclusivos sobre finanças pessoais e investimentos: www.youtube.com/dinheirama

No Twitter: @Navarro e @Dinheirama

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Sobre este livro

Este livro “Educação Financeira: um estilo de vida” é um material desenvolvido em parceria entre Dinheirama e Arata Academy, para o programa “A Classe Alta: Os truques de marketing e psicologia que aprisionam a classe média... e o que fazer para enriquecer”, de Seiiti Arata Jr.

Mais informações em: http://www.arataacademy.com/port/a-classe-alta-dinheirama/

Direitos autorais

Os direitos autorais desta obra pertencem ao autor original, Conrado Navarro, que é o único responsável pelo conteúdo.

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