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OS FÓRUNS DE DIÁLOGOS ENTRE PROFESSORES DE UBERLÂNDIA E O
PROJETO PARTILHAS, ATELIÊS E REDES DE COOPERAÇÃO
Ana Carolina Coutinho Moreira
Professora da E.M Profª Cecy Cardoso Porfiro
e E. M. Prof° Leôncio do Carmos Chaves
Mestranda do ProfArtes – Mestrado Profissionalizante em Artes
Neibe Leane
Professora da E. M. Prof° Sérgio de Oliveira Marquez
Mestranda do ProfArtes – Mestrado Profissionalizante em Artes
Paulina Maria Caon
Professora do Curso de Teatro da UFU,
Uma das coordenadoras do Projeto Partilhas
Comunicação – Relato de Experiência
Resumo:
O relato de experiência socializa dois anos e meio de construção de um fórum permanente (de
ocorrência mensal) de diálogos entre professores com práticas teatrais na cidade de
Uberlândia em diferentes contextos: rede escolar pública, privada, espaços comunitários,
organizações não governamentais e universidades. Entrelaçam-se no relato as vozes de
professoras participantes dos fóruns e de uma das professoras coordenadoras do Projeto
Partilhas, Ateliês e Redes de Cooperação – aprendizagens escolares na escola básica, cuja
equipe financiada por dois anos por um Edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de Minas Gerais e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –
FAPEMIG/CAPES – tem dado suporte ao estabelecimento dos fóruns. A fertilidade da
experiência de trocas, a dimensão formativa que o fórum tem tomado são motivadores do
compartilhamento da ação no contexto do 15º. Encontro de Reflexões e Ações no Ensino da
Arte.
Múltiplas vozes da experiência
A primeira experiência em sala de aula é algo marcante para um professor,
diria que até traumatizante dependendo da experiência que esse novo
professor traga dos estágios da graduação. Não é a mesma coisa que se
aprende, não temos o mesmo suporte que tínhamos, não temos mais como
recorrer aquele professor que tanto nos deu força a não desistir. É um
vazio! E com o vazio vem o desespero. O que a escola nos oferece como
suporte para o início? Salas cheias, cheias de excessos, cheias de carteiras
enfileiradas, de falta de espaço, de excesso de alunos. Esse professor
precisa de coragem, após algum tempo precisará de motivação, de amparo,
de desabafar, de escutar… De PARTILHAR. E se não encontramos esse
apoio no início e seguimos sem ele, esse desejo de apoio só tende a crescer
ao ponto que, quando ele falta, entramos em um estado desolador.
O que nos motiva a sair de casa em um sábado, depois de uma
semana dentro da escola? O que nos leva a querer gritar nossas práticas
escolares? Porque queremos ser ouvidos e ouvir? Porque nos sentimos
confortados percebendo que o outro passa pelos mesmos problemas dentro
do ambiente escolar? É a troca que nos leva a motivação e ao aprendizado,
mesmo fora da universidade.
São trocas e ideias que podem ser sempre ressignificadas para a
prática de cada professor participante. Mas os professores sabem realmente
os pontos difíceis de suas práticas? Os pontos negativos e positivos de se
tentar inserir teatro na sala de aula?
Quando falamos de nossa prática passamos a olhar de fora o nosso
cotidiano, isso leva a uma autorreflexão, que em conjunto com a partilha do
outro cria ideias e força para se fazer diferente, para sair do comum, que
muitas vezes o cotidiano escolar nos leva, às vezes sem que percebermos.
Para mim, o projeto Partilhas oferece essas trocas, esse amparo de colegas
e o encontro com aqueles professores que não nos deixavam desistir do
ensino de teatro na escola. É esse o motivo que nos leva a sair de casa em
um sábado, muitas vezes chuvoso, porque sabemos que vamos voltar com
ideias e estímulos pra continuar, para crescer como professores, e claro,
como pessoas. (Ana Carolina Coutinho)
O Projeto Partilhas é uma rede de ações, dentre as quais destacamos nesse relato de
experiência os fóruns mensais de diálogo entre professores de Uberlândia para pensar sobre
seu percurso desde 2012 e sobre seu potencial nos processos de formação contínua de
professores.
Os fóruns de diálogo são um lugar de encontro, de trocas, de revitalização, que está em
constante movimento e crescimento. Estamos juntos para partilhar, ampliar, diversificar e
aprofundar nossas experiências, pela necessidade de dialogar, buscando construir
possibilidades de ações concretas, reais, que somem ou modifiquem a prática dentro do
ambiente escolar, seja no ambiente da educação básica ou superior. Os fóruns são teias e são
redes, tecido e tessitura, aprendizado em processo, em que nos deparamos com nossos iguais,
tão diferentes entre si. Somos professores de teatro da rede escolar, licenciandos em teatro,
professores universitários. Harmonia e tensão na diversidade.
O propósito foi e continua a ser a instauração de um fórum permanente em seu sentido
de origem: foro, do latim, praça pública. Segundo Arendt (1981), na cultura grega a arena, a
praça pública era o espaço-tempo em que os cidadãos se reuniam para a livre troca de ideias.
Ali se debatiam posicionamentos, se pensavam projetos culturais (festivais, etc.), se criava
cultura – objetos, representações, que permaneceriam no mundo para além do tempo de vida
dos próprios seres humanos que participavam daqueles encontros concretos. A construção de
um espaço-tempo dessa natureza parecia fundamental, seja para fortalecer o diálogo e ações
de professores de teatro, ainda em pequeno número na rede escolar, seja para gerar diferentes
conexões entre professores da Educação Básica, professores universitários e professores em
formação nas universidades.
O primeiro fórum ocorreu em junho de 2012, como encerramento da I Mostra de
Teatro Escolar, realizada numa parceria entre Serviço Social do Comércio – SESC,
Universidade Federal de Uberlândia – UFU (com apoio de um projeto de extensão: Projeto de
Ensino Interdisciplinar Comunitário – PEIC/2012) e Centro Municipal de Estudos e Projetos
Educacionais – CEMEPE. A Mostra reuniu cenas, aulas abertas, oficinas de teatro
envolvendo treze escolas de Uberlândia (estudantes e professores delas), docentes
universitários e licenciandos em teatro em sua fase final de formação. Após o evento, lançada
uma convocação para o II Fórum de Diálogos a se realizar no espaço do CEMEPE, tivemos
apenas seis pessoas presentes (dois professores da educação básica, duas professoras do Curso
de Teatro da UFU e dois estudantes universitários UFU). Nossa decisão naquele dia era de
que, sim, precisávamos desse espaço de troca, de enriquecimento, e que, portanto, não nos
dedicaríamos apenas a chamar “mais gente” para os fóruns até que houvesse um “número
representativo” de professores da rede escolar. Mas desde já planejaríamos e faríamos ações
conjuntas que nos auxiliassem em nossos processos artístico-pedagógicos e divulgaríamos
publicamente (por redes sociais, por exemplo) todas as nossas ações, de modo que mesmo
aqueles que não estivessem presentes soubessem, aos poucos, de nossa existência e de nossa
abertura para dialogar com qualquer professor que se interessasse.
Entre agosto de 2012 e abril de 2013 nos dedicamos ao tema da interface entre
infância e práticas artísticas/teatrais. Debatemos textos, levamos a instalação “Labirinto do
Minotauro” (de autoria de Ricardo Augusto Oliveira/Centro Educacional Maria de Nazaré)
para a EMEI Profª. Izildinha Maria Macedo do Amaral, convidamos a artista e pesquisadora
Isabel Azevedo Marques (SP) para uma palestra e uma oficina, encerrando esse primeiro ciclo
com essas experiências em nosso percurso.
No segundo ano, a partir de ações e parcerias que vínhamos firmando entre escolas
que recebiam estudantes dos Estágios Supervisionados ou do Programa Institucional de Bolsa
de Iniciação à Docência – PIBID do Curso de Teatro da UFU, a partir de pesquisas docentes
no mesmo curso e da instauração da Mostra de Teatro como parte integrante dos estágios
supervisionados, conseguimos articular um projeto de pesquisa em Educação Básica, que foi
aprovado por um edital da FAPEMIG/CAPES. Esse projeto nos deu condições de fortalecer
nossa parceira com quatro escolas da rede1, por meio de uma equipe de bolsistas e do suporte
financeiro para o estabelecimento de ações na rede escolar e sistematizações de experiências
teatrais nela ocorridas.
Em abril de 2013, o VII Fórum ocorreu integrado ao II Encontro Nacional do PIBID
Teatro na UFU, recebendo convidados brasileiros e estrangeiros, oferecendo oficina de teatro
e infância, de intervenção urbana, abrindo espaços de compartilhamento de processos
realizados por professores da rede escolar e de estudantes do PIBID. A partir de maio, os
fóruns já ocorreram mais estreitamente ligados às escolas parceiras do projeto, os
acompanhamentos que fazíamos a elas e às ações que os professores participantes do fórum
propunham. Por meio da colaboração entre esses professores e nossa equipe de bolsistas foi se
tecendo uma rede de comunicações, buscando convidar professores de teatro espalhados por
escolas públicas, privadas ou comunidades que não conheciam ainda nossos encontros
mensais aos sábados. Nosso trabalho continuou sendo singelo, mais voltado para a qualidade
da reflexão e das ações que geramos do que preocupado com o aumento massivo no número
de participantes. Ainda assim, vale lembrar que ao longo do ano de 2013 passam pelo fórum
1 Escola de Educação Básica da UFU (ESEBA), Escola Municipal Josiany França, Centro Educacional
Maria de Nazaré e Escola Estadual de Uberlândia (Museu).
Foto: Rodrigo Salviano. Na foto: Márcia
Zanetti e Ricardo Augusto Oliveira no IV
Fórum de Diálogos na EMEI Izildinha.
cerca de cem pessoas de pelo menos vinte escolas ou instituições diferentes. A partir das
necessidades, angústias, vontades dos participantes realizamos diferentes ações nesses
encontros mensais.
Mais ações e mais vozes
Em agosto de 2013, aconteceu o X Fórum de Diálogos entre Educadores de Teatro,
sediado no Bloco 3M (do Curso de Teatro e Música) da UFU. Nele compartilhamos cartas
discutindo a sociedade e a educação (cartas de poetas, filósofos) e ainda recebemos cartas de
estudantes da EM Profa. Josiany França. Essa ação surge integrada a uma troca de cartas entre
estudantes da ESEBA e Josiany. No mesmo fórum, cada participante foi convidado a escrever
uma carta destinada a quem desejasse, falando sobre o projeto ou o sonho da escola ideal que
desejava.
A quem possa interessar.
Para você que tem nas mãos a competência e o saber necessários para aceitar o
desafio de promover uma educação onde o que está posto deve ser modificado.
Eu espero que você tenha propósitos firmes para que possamos desconstruir,
reconstruir e construir uma escola onde todos sejam compreendidos como seres
únicos que são. E não uma educação que massifica e que deseja ou determina que
tudo seja igual para todos. Falo de uma escola possível.
No momento, acredito que você pense que isto possa ser mais uma das minhas
“maluquices”, mas devo dizer que é hora de ser arrojado e ousado, respeitar as
diferenças, usar as diferentes linguagens a favor do nosso ideal: colaborar para
uma escola de pessoas, a escola pela qual Darcy, Freire lutaram tanto.
Só para te lembrar que agora é a sua vez.
Carinhosamente, Marilda. (Carta de Marilda Machado Barbosa, produzida nesse
fórum2)
As diferentes cartas foram debatidas e formaram um guia para que os participantes,
divididos em grupos, traçassem ações possíveis para agir nas escolas reais/atuais em que
viviam. A ideia, portanto, foi a de buscar colocar o sonho em ação, dar viabilidade a parte
dele ao menos. As “ideias-ações” que surgiram foram: 1) Arte dentro da escola: exposições,
apresentações, intervenções, performances; 2) Arte para além dos muros da escola: levar os
alunos e professores para conhecer os espaços de culturais e sociais da cidade; 3) Capacitação
artística dos educadores, através do direito à fruição artística; 4) Mostra teatral entre escolas.
(é possível consultar a carta-memória sobre o encontro no blog3 do projeto).
2 A carta foi publicada no texto “Centro Educacional Maria de Nazaré”, de Ricardo Augusto de Oliveira, do livro
Cadernos de Pesquisa, tecendo redes com a escola básica, organizado por Vilma Campos Leite e Paulina Maria
Caon, pelo Projeto Partilhas Teatrais (Edibrás, 2014).
3 Endereço do blog: http://partilhasteatrais.blogspot.com.br/
Em setembro do mesmo ano, realizou-se um fórum no mesmo sábado dos
compartilhamentos de processos dos licenciandos em teatro na UFU (Universidade Federal de
Uberlândia). Esse evento é chamado de Encontrão e ocorre dentro da Semana De
Encerramento Do Curso De Teatro – Conexão Teatral XX. Os professores participantes do
fórum assistiram a uma sequência de exercícios criados nos Estágios Supervisionados III
(aulas de teatro em contextos comunitários) e em seguida estiveram em três grupos de fruição:
uma na linguagem visual (desenhos com diferentes materiais), uma roda de conversa, gravada
em áudio e uma fruição em performance. Após esse momento de compartilhamentos estéticos
a partir do Encontrão, tentamos estabelecer um planejamento concreto de ações com as
escolas parceiras e outras escolas presentes no fórum, a partir daquelas “ideias-ações”
elaboradas no fórum de setembro. Localizamo-nos ainda num mapa da cidade (é possível
consultar o post do blog do mês de outubro): cada professor da escola básica, da universidade;
e convidamos a todos para futuramente acrescentar uma foto sua para sinalizar o mapa.
Desde o início do projeto financiado (maio de 2013) até esse fórum, a equipe do
Partilhas se responsabilizou pela organização da dinâmica de cada encontro, procurando ouvir
as vontades e necessidades do grupo de participantes. No momento de avaliação desse fórum,
o professor Getúlio Góis, da Escola de Educação Básica da Universidade Federal de
Uberlândia – ESEBA, manifestou a necessidade de que tivéssemos um encontro em espaço
aberto, mais perto da natureza (de um rio, de uma cachoeira); citou ainda uma experiência de
audiotour, que havia vivido como público e que achava que seria interessante com proposta.
O grupo de participantes aceitou a proposta e, de certo modo, esse fórum inaugura essa
prática, que já almejávamos de que o fórum fosse pensado, organizado, pelo próprio grupo de
professores participantes.
Getúlio Góis e Paulina Caon preparam então uma trilha sonora (composta por um
roteiro textual e inserções musicais/sonoras) que guiou os professores pela trilha que levava
até a cachoeira da Pedreira no fórum de outubro de 2013.
Caminhos trilhados por nós em conexão com o audiotour, pensado especialmente
para este momento de fruição e contato com a natureza. Momento de reflexão e
prazer. De colheita para semear. Estar atento às percepções que o audiotour nos
trazia, fez-nos trilhar outras paisagens, mirar com mais intensidade para dentro de
si, buscando a comunhão com a natureza... passos que eram guiados por sons? ou
sons que se faziam passos? Nossos sentidos em alerta e o cheiro do mato nos olhos,
a pele molhada antes do banho… e um lugar para sermos só... (Maíra Rosa, no
boletim do fórum).
A Escola Municipal Josiany França recebeu o fórum no mês de dezembro, que teve
como foco uma reflexão acerca do ano de 2013: sobre as ações dos professores em suas
diferentes escolas e sobre o caminhar do projeto Partilhas. Foi um dia surpreendentemente
doce com uma pitada de pão de queijo ao final. Iniciado com uma roda, passando por um
“caminho das balas” que nos levou a conhecer os espaços físicos da escola e a falar das
“lendas escolares”, da apropriação desses diferentes espaços no cotidiano da vida escolar.
Foram criados diferentes espaços, instalando imagens dos processos criativos vivenciados em
escolas no ano de 2013: um varal entre árvores, uma instalação no banheiro, um vídeo na sala
de leitura, uma exposição nas janelas do refeitório. Marcelo Briotto, professor de teatro no
Josiany, compartilhou conosco um experimento de teatro-fórum: “Sala Palco de aula”,
convidando-nos a atuar nele (como sempre ocorre no teatro-fórum) e a debater os temas ali
presentes.
Essas últimas experiências de 2013 parecem ter sido o mote para que os fóruns de
2014 passassem a se organizar em torno de três momentos: 1) Ateliê de criação: vivências de
processos criativos por meio de conversas, palestras, práticas e afins; 2) Conversas sobre as
atividades atuais e futuras do Projeto Partilhas; 3) Avaliação do encontro realizado e
planejamento/desejos dos professores para o fórum seguinte.
O ano de 2014 foi recheado de encontros novos. O primeiro fórum foi relaxante com
uma bela massagem coletiva e com avisos sobre o nosso “Caderno de Pesquisa” – uma
publicação do projeto, que recebeu textos de diferentes professores da rede e da equipe do
Partilhas. Na roda de conversa sobre o processo de trabalhos dos professores surgiram temas
como a dificuldade de se trabalhar com alunos com necessidades especiais, de como abordar a
violência dentro da sala de aula e que esses temas poderiam estar no Caderno de Pesquisa.
Conversamos sobre os ateliês de criação dos fóruns, sobre a exposição de fotos dos processos
artísticos na Escola que faríamos e sobre a III Mostra de Teatro na Escolar. Fechamos o
primeiro fórum assistindo ao teaser do documentário: Cartas para um amanhã, que estava em
produção e compartilhava o primeiro ano do projeto.
Em março nos encontramos no Parque do Sábia tendo como convidada a
escritora/artista/educadora Maria Cláudia Lopes. Tivemos um momento de encontro, canto,
dança, leitura e comunhão com a natureza. Em seguida, fizemos uma roda de conversa sobre
aprendizagem em teatro e educação inclusiva. Em abril, vivemos outra grande experiência na
academia Ritmo, na região central de Uberlândia. Experimentamos a prática da equipe do
projeto “Dançando com a Vida”, que oferece cursos de dança e atividades artísticas para
alunos portadores de necessidades especiais (PNE's), sob a condução de Fábio Vladmir Silva.
Conversamos e partilhamos as dificuldades, alegrias e barreiras transponíveis que surgir ao
lidar com a educação especial. Tivemos a apresentação do ator/professor/integrante do
Partilhas, Ricardo Augusto, com seu solo “O Pássaro Ivan”, a apresentação dos integrantes do
“Projeto Dançando com a Vida”.
No mês de Junho nos encontramos no Grupontapé de Teatro, como parte da
programação da III Mostra de Teatro Escolar. Assistimos uma performance com o aluno do
curso de Teatro da UFU, Fernando Alves. O principal tema desse fórum foi a violência dentro
das escolas. Tivemos uma palestra com a Profª Draª Anamaria Silva Neves, do Instituto de
Psicologia da UFU, que relatou vários casos de violência com crianças, pontuando a
importância do educador na atualidade. Uma voz desse encontro:
Durante os fóruns os professores foram apresentando a necessidade de
conversarem sobre o que vivenciavam na escola e ao mesmo tempo vivenciarem no
fórum momentos de criação artística. Num desses encontros, durante uma palestra,
a mãe da Gabi, minha primeira aluna adolescente na cidade de Uberlândia, nos
lembrou que antes de sermos amigos e colegas de trabalho no projeto partilhas,
éramos amigos e colegas na escola. Eu professor, ela aluna. E disse que foi
acompanhando o nascer do brilho no olhar da Gabi ao falar de teatro, foi
percebendo que a filha gostava desta arte. O que elas não sabem, é que a luz que
iluminava os olhos da Gabi não partia de mim, mas de nós. Era nosso encontro que
nos alimentava, nos motivava a continuar fazendo teatro e a querer isso para toda a
vida. Porque em um desses fóruns, eu também pude reencontrar Getúlio, meu
primeiro professor, meu primeiro grande amor. É a luz que ilumina, e nos cega de
desejo de continuar levando teatro onde estivermos. E com afeto fomos acolhendo
outros professores que foram se achegando... (Ricardo Augusto de Oliveira)
Em julho tivemos um encontro “melodramático” com o professor Paulo Merisio.
Estivemos “em momento de arte” como disse um dos educadores presentes. Performamos a
partir de fotos, o que gerou vários temas para discussão como espaço, violência, sexualidade,
o dentro e o fora da escola como espaço físico.
No mês de agosto realizamos o I Seminário de Ensino Aprendizagem em Teatro,
com certeza uma experiência marcante. Foram diversos relatos de experiências,
grupos de trabalhos que me fizeram brincar de faz de conta, perceber ainda mais
que a arte é uma guerrilha diária, que estar na escola é “guerrilhar”de forma
clara, correta, lúdica. Descobri por uma intervenção urbana o universo escondido
no bairro Patrimônio de Uberlândia. O seminário foi a oportunidade de nos
firmamos ainda mais como rede de cooperação e apoio aos professores, educadores
e apoiadores do teatro. (Neibe Leane)
Após o seminário, que aconteceu em agosto (2014), realizamos outros três fóruns. No
mês de setembro, rodeados pela natureza que invade a Escola Campus Municipal de
atendimento à pessoa com deficiência, discutimos sobre a necessidade do reconhecimento do
conteúdo de arte nas escolas como momento que propicia o desenvolvimento dos alunos
físico, cognitiva e socialmente, auxiliando de forma integral a aprendizagem. Criamos,
sonhamos, vivenciamos narrativas após instruções dadas pela contadora de histórias Ana
Carla Machado, um universo rico de possibilidades a partir de um fragmento de história:
ludicamente a infância retratada por corpos de professores em ação, em jogo, em brincadeira
cênica, em Teatro. Surgem ideias para as aulas, contação de histórias, criação de cena –
oportunidades de apropriação e recriação na prática de cada professor ali presente.
Carvão, individualidade, universo, espaço, criação, reflexão, introspecção, exposição,
repetição, papel branco..., elementos presentes e marcantes em nosso fórum do mês de
outubro que aconteceu na ESEBA com a proposta do Kinetic Drawing conduzida por Getúlio
Góis4. Foi momento de experimentar uma prática do campo das artes visuais, enfatizando o
corpo, em sua performatividade e teatralidade. O movimento, a gestualidade gerou magia,
criação artística, corpo vivo e consciente, sujo de carvão, movimentando ao barulho da chuva
que caía. Painéis enormes e cheios de individualidades foram expostos pela escola e apreciado
pelos criadores. Ficaram ali para a apreciação dos alunos no início da nova semana. Após
afixá-los nas paredes da escola um banho para limpeza do corpo. Alguns brincavam na chuva
que ainda caía e a descontração tomava conta da atmosfera, mostrando a importância de
partilhar experiências como essas: entre uma atividade e uma roda de conversa, no café, no
entre corpos é que trocamos nossas experiências e nos alimentamos na percepção do outro5.
Destacamos assim que os processos de formação contínua, que compõem toda uma vida do/a
professor/a, que estão em construção constante nos fóruns, não se fazem por caminhos já
conhecidos, por certezas. Eles se fazem nesses entreatos, nas dúvidas, no desafio do encontro
com outros professores e professoras. Pela vivência percebemos o óbvio no campo da
educação: não aprendemos apenas quando temos a intenção de aprender ou quando alguém
tem a intenção de nos ensinar. Como propõe Jacques Rancière (2012, 2002), estamos juntos
numa aventura intelectual, sensível, corporal, em que aprendemos a todo momento com tudo
e todos, especialmente quando algo se passa entre nós, quando nos abrimos para entrar em
4 Ele nos oferece papeis grandes, em tamanho humano, colados no chão. Um carvão próprio para desenho. São
exibidos vídeos de artistas que desenham envolvendo a totalidade de seus corpos – Heather Hansen e Tony
Orrico –, como disparadores para nossa viagem criativa em movimento.
5 Nesse mesmo fórum foi lançado o Caderno de Pesquisa – tecendo redes com a escola básica,
organizado pela equipe do projeto Partilhas. O livro contem artigos dos membros da equipe do projeto, de
professores da rede escolar uberlandense, planos de aula, relatos de experiência.
sinergia, em fricção e conflito, com esses outros que nos acompanham em nossas jornadas
pelo mundo. Iguais em inteligência, diferentes em experiência.
Realizamos nosso último encontro do ano de 2014, em total contato com a natureza,
doando aquilo que eu mais gosto, aquilo que é meu – por muito tempo só meu –, em um
amigo-secreto. Partilhamos nossas experiências como docentes na educação, nossos desafios
no dia a dia, nossa forma de vestir, falar e estar num lugar intenso e tenso como a escola.
Nesse fórum, comungamos ideias para o ano de 2015, partilhamos um momento aquático,
emocionante e performático de leitura de uma carta escrita pela professora Vilma, momento
este também motivador para o novo ano que iniciaria. Comemos lichia, alguns pela primeira
vez, doce e fresca tirada do pé. Sorrimos com a visita de uma palhaça (Dona Caixinha, de Ana
Elvira Wuo) muito divertida que transformou toda a atmosfera em uma apresentação de banda
“profissional”, e nos mostrou a alegria que é podermos estar juntos todo esse tempo de
projeto, e não estarmos sós.
Em pleno 2015, estamos a todo vapor, fortalecendo o que de melhor fazemos juntos:
PARTILHAR, nossos erros, acertos, experiências, formações, dúvidas, certezas. Estamos em
construção e em reconstrução constante: fóruns, parcerias, aprendizados novos, direção. Estar
na teia do Partilhas, estar nos fóruns é olhar nos olhos, é descobrir olhares parceiros que
acolhem, inquietam, provocam, alimentam, constroem e desconstroem conhecimentos. É uma
rede intensa e consistente de formação e informação. Nos primeiros encontros realizados em
2015, surge a demanda de alguns professores da rede municipal de ensino para que o fórum
possa ser formalizado como um espaço-tempo de realização de seus módulos de área
(formação contínua no sistema municipal de ensino). Consideramos essa vontade um fruto
também da potencialidade que o fórum tem manifesto como rede ou como parte do percurso
de cada professor e professora participante. Não sabemos quais os próximos passos e
trajetórias dessa teia: o mistério de um trabalho coletivo, pensado como diálogo horizontal
entre iguais na diferença, é também sua imprevisibilidade.
Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar
Al andar se hace el camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar
Caminante non hay camino
si no estelas en la mar.
(Antonio Machado)6
Referências bibliográficas
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. RJ: Forense Universitária, 1981.
RACIÈRE, Jacques. O Espectador Emancipado. SP: WMF Martins Fontes, 2012.
________________. O Mestre Ignorante. BH: Autêntica, 2002.
6 “Caminhante, são sua pegadas/o caminho e nada mais;/Caminhante, não há caminho,/se faz caminho ao
caminhar/ Ao andar se faz caminho,/ e ao olhar atrás/ se vê a senda que nunca/ se há de voltar a pisar/
Caminhante não há caminho/ senão rastros no mar.” (Antonio Machado)