comunicaÇÃo, informaÇÃo e conhecimento nas...

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COMUNICAÇÃO, INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO NAS ORGANIZAÇÕES INOVADORAS: REPENSANDO O USO DE BIG DATA 1 GT2: Comunicação Organizacional e Relações Públicas Sonia Aparecida Cabestré 2 Vanessa Matos dos Santos 3 (Universidade Sagrado Coração – Bauru/SP/Brasil) Resumo Vivemos na sociedade da informação e do conhecimento e a utilização adequada de ferramentas e instrumentos que compõem o mix da comunicação organizacional, torna-se imprescindível para a otimização dos diferentes processos e relacionamentos que coexistem nos ambientes organizacionais. Neste cenário, desenvolver diferentes competências comunicacionais requer mais que capacitação: os Sujeitos também precisam mobilizar seus conhecimentos rumo à inovação. Com base no exposto, o objetivo desta produção é discutir sobre as interfaces existentes entre os processos mencionados e, ao mesmo tempo, dar ênfase aos fundamentos que norteiam as organizações no cenário contemporâneo; bem como abordar comunicação, informação e conhecimento. Para tanto, a partir de pesquisa bibliográfica, procurou-se refletir sobre os 1 Trabalho apresentado na GT Comunicación Organizacional- XII Congreso ALAIC 2014. 2 Docente da Universidade Sagrado Coração (USC), Doutora em Educação – Ensino na Educação Brasileira pela UNESP de Marília. Professora do Curso de Relações Públicas da USC, Coordenadora do Curso de Especialização em Comunicação nas Organizações da Universidade Sagrado Coração e Líder do Grupo de Pesquisa GPECOM (USC). E-mail: [email protected] . 3 Docente da Universidade Sagrado Coração (USC), Doutora em Educação pela Unesp – Araraquara. Doutoranda em Meios e Processos Audiovisuais pela USP – SP, Mestre em Comunicação Midiática pela Unesp de Bauru. Professora dos Cursos de Relações Públicas, Jornalismo e Publicidade e Propaganda da USC e integrante do Grupo de Pesquisa GPECOM (USC), Estado e Governo (UNESP), e-mail: [email protected]

Author: lyphuc

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  • COMUNICAO, INFORMAO E CONHECIMENTO NAS ORGANIZAES

    INOVADORAS: REPENSANDO O USO DE BIG DATA1

    GT2: Comunicao Organizacional e Relaes Pblicas

    Sonia Aparecida Cabestr2

    Vanessa Matos dos Santos3

    (Universidade Sagrado Corao Bauru/SP/Brasil)

    Resumo Vivemos na sociedade da informao e do conhecimento e a utilizao adequada

    de ferramentas e instrumentos que compem o mix da comunicao

    organizacional, torna-se imprescindvel para a otimizao dos diferentes

    processos e relacionamentos que coexistem nos ambientes organizacionais.

    Neste cenrio, desenvolver diferentes competncias comunicacionais requer mais

    que capacitao: os Sujeitos tambm precisam mobilizar seus conhecimentos

    rumo inovao. Com base no exposto, o objetivo desta produo discutir sobre

    as interfaces existentes entre os processos mencionados e, ao mesmo tempo, dar

    nfase aos fundamentos que norteiam as organizaes no cenrio

    contemporneo; bem como abordar comunicao, informao e conhecimento.

    Para tanto, a partir de pesquisa bibliogrfica, procurou-se refletir sobre os

    1 Trabalho apresentado na GT Comunicacin Organizacional- XII Congreso ALAIC 2014. 2 Docente da Universidade Sagrado Corao (USC), Doutora em Educao Ensino na Educao Brasileira pela UNESP de Marlia. Professora do Curso de Relaes Pblicas da USC, Coordenadora do Curso de Especializao em Comunicao nas Organizaes da Universidade Sagrado Corao e Lder do Grupo de Pesquisa GPECOM (USC). E-mail: [email protected] 3 Docente da Universidade Sagrado Corao (USC), Doutora em Educao pela Unesp Araraquara. Doutoranda em Meios e Processos Audiovisuais pela USP SP, Mestre em Comunicao Miditica pela Unesp de Bauru. Professora dos Cursos de Relaes Pblicas, Jornalismo e Publicidade e Propaganda da USC e integrante do Grupo de Pesquisa GPECOM (USC), Estado e Governo (UNESP), e-mail: [email protected]

  • fundamentos mencionados, relacionamento interpessoal, pressupostos que

    norteiam a tecnologia Big Data e o papel do profissional de relaes pblicas

    nesse contexto.

    Palavras-chave: Informao e conhecimento. Comunicao organizacional. Relacionamento interpessoal. Big Data. Relaes Pblicas.

    Abstract We live in the information and knowledge society and the proper use of tools and

    instruments that make up the mix of organizational communication, it is essential

    for the optimization of different processes and relationships that coexist in

    organizational environments. In this scenario, develop different communication

    skills requires more than training: the subjects also need to mobilize their

    knowledge towards innovation. Based on the above, the goal of this production is

    to discuss and reflect on the interfaces between the processes mentioned and at

    the same time, emphasize the fundamentals that guide organizations in the

    contemporary scene, as well as address information, communication and

    knowledge. To do so, from literature, we sought to reflect and establish a

    correlation between the grounds mentioned, interpersonal relationships,

    assumptions that guide the Big Data technology and the role of the public relations

    professional in this context.

    Keywords: Information and knowledge. Organizational communication. Interpersonal Relationship. Big Data. Public relations.

  • As Organizaes no cenrio contemporneo As transformaes ocorridas nas sociedades contemporneas foram marcadas

    pela insero de tecnologias que alteravam a estrutura de trabalho, mas

    mantinham, grosso modo, o mesmo sistema de produo e organizao

    econmico-financeira, de modo que ao invs de propiciar uma relao homem-

    agricultura como o que ocorreu na Revoluo Agrcola, ou mesmo entre homem-

    mquina no caso da Revoluo Industrial, a Revoluo Informacional ou ainda

    Terceira Revoluo Industrial possibilita a relao homem-Informao

    (CASTELLS, 2002; KUMAR, 1997; WARSCHAUER, 2006). Os constantes

    processos de transformaes de cunho social, poltico e econmico ocorridos no

    mundo contemporneo tm alterado a estrutura das sociedades, imprimindo novos

    hbitos e valores que, por sua vez, focalizam a informao como bem simblico,

    estratgico e imaterial. O resultado desse processo o fenmeno de transio de

    uma sociedade baseada na indstria para uma sociedade que se embasa na

    informao como insumo essencial.

    De acordo com Castells (2002), a revoluo que agora se processa tem seu

    ncleo nas tecnologias de informao, processamento e comunicao. As

    tecnologias da informao e comunicao as chamadas TIC potencializam o

    alcance do processo comunicativo e, por essa razo, tambm projetam o ser

    humano para novas experincias comunicativas que, por sua vez, abrem novas

    formas de sociabilidade. Esse fenmeno foi acentuado por dois fatores igualmente

    importantes para a compreenso da configurao atual da sociedade de uma

    forma geral: a globalizao e as tecnologias digitais4. medida que a globalizao

    4 Em detrimento da expresso comumente conhecida como novas tecnologias de informao e comunicao (NTIC), adotaremos a expresso tecnologias digitais por entendermos que as tecnologias esto em constante transformao, no cabendo a adoo do termo novo ou velho. Nesse sentido, o uso da expresso digital refere-se s tecnologias inovadoras surgidas a partir do uso das redes de telecomunicaes e do suporte computacional.

  • permitia que as trocas comerciais fossem ampliadas e transgredissem as barreiras

    cartogrficas, abria espao para a construo de um mundo cada vez mais

    hibridizado. O capitalismo, por sua vez, atravessa um surto de universalizao e

    impulsionado pelo uso de novas tecnologias, diviso transnacional do trabalho e

    mundializao de mercados. No que tange especificamente diviso

    transnacional do trabalho, visualiza-se a formao de conglomerados econmicos

    estruturados em megablocos e uma nova distribuio geogrfica das antigas

    fbricas que, gradativamente, passam a operar segundo uma lgica diferente com

    vistas adaptao contnua.

    Ortiz (1999) destaca que o espao agora deslocalizado devido flexibilidade

    proporcionada pelas tecnologias digitais. Esse processo se estende desde as

    tradicionais linhas de montagem, que antes fixavam os operrios numa nica

    posio que, mais tarde, j permitia alguma flexibilidade, at o atual contexto de

    empresas virtuais que desenvolvem toda a dinmica por meio das redes virtuais;

    elas no existem fisicamente em local geograficamente determinado e, ao mesmo,

    esto presentes em todos os lugares, ao mesmo tempo. A agilidade dos meios de

    transporte e o desenvolvimento tecnolgico da comunicao foram decisivos para

    a construo do cenrio que hoje vivenciado em uma sociedade

    economicamente globalizada, culturalmente hibridizada e conectada pelas redes

    telemticas. Nesse sentido, mais importante que a diviso geogrfica, a forma

    como as naes se apropriam do progresso tecnolgico para atenuar as fissuras

    sociais em sua estrutura.

    O mercado, tal como se apresentava no sculo XX, no conseguir atender a

    demanda atual se no forem pensadas estratgias novas, com princpios e lgicas

    inovadoras. Os nichos s tendem a aumentar, principalmente em funo das

    organizaes em rede, deslocalizadas, desterritorializadas e virtualizadas.

  • Este novo cenrio impe desafios organizacionais para os quais nem sempre os

    gestores esto preparados, mas, ao mesmo tempo, abre novas perspectivas. A

    reconfigurao das economias mundiais e o posicionamento do Brasil entre os

    pases de economia emergente os BRICS (grupamento Brasil, Rssia, India,

    China e frica do Sul5) impe a necessidade de novos parmetros para as

    organizaes que buscam posicionar-se neste cenrio para obter vantagens

    competitivas. A formao do grupamento e o potencial de crescimento das

    economias emergentes tem indicado que a configurao dos conglomerados

    econmicos no mundo pode estar radicalmente diferente nos prximos anos. De

    acordo com Sachs, numa referncia ao livro de Dominic Wilson, Dreaming With

    BRICs: The Path to 2050, de outubro de 2003, a economia dos BRICS juntos

    pode ser maior do que o atual G66 no ano de 2039. As projees de crescimento

    da economia esto ancoradas na gerao de conhecimento e aplicao dele em

    inovaes de base tecnolgica, notadamente voltadas para a utilizao das redes

    para fins educativos. Permanece, no entanto, como grande desafio a construo

    de uma cultura organizacional de comunicao plena em que o desenvolvimento

    da organizao e sua projeo no cenrio mundial seja pensado em consonncia

    com o crescimento do colaborador.

    Comunicao, Informao e conhecimento O progresso dos meios de comunicao, somado ao fenmeno da convergncia

    tecnolgica que, por sua vez, s foi possvel diante da possibilidade de transportar

    a informao em forma de bits (baseados em combinaes de zeros e uns); 5 A sigla BRICs foi formulada pelo economista-chefe da Goldman Sachs, Jim O Neil, em 2001. Em seu estudo, intitulado BuildingBetter Global EconomicBRICs, o economista defendia o conceito de um agrupamento emergente compreendido por Brasil, Russia, India e China. Em 2006 o conceito econmico se concretizou e o grupamento foi efetivado. Em 2011, a frica do Sul passou a fazer parte dessas economias que passaram a ser denominadas BRICS (com S maisculo) (BRASIL, 2012). 6Disponvel em: http://www2.goldmansachs.com/ceoconfidential/CEO-2003-12.pdf. Acesso em: 10 fev 2012. Fonte: SACHS, 2003.

  • visualiza-se em um cenrio de proliferao de mensagens miditicas em contextos

    diversos. Os meios de comunicao, cada vez mais acessveis e obedecendo a

    uma nova lgica de produo de contedo em que os antigos emissores e

    receptores passam a ser denominados interagentes, subvertem mercados,

    fronteiras e possibilitam a hibridizao cultural. Desta forma, a possibilidade de

    pensar globalmente e agir localmente refora os movimentos de alterao da

    estrutura das sociedades.

    Para aprofundar o debate, preciso ter em mente as distines existentes entre

    dados, informao e conhecimento. A abundncia de informaes utilizveis,

    dotadas de significao pode ser classificada como dado (PETERS, 2002 apud

    AQUINO, 2012). Disto, podemos inferir que a internet, como nova expresso das

    tecnologias digitais, oferece uma srie de dados. O processo de converter estes

    dados em informao depende de seleo e interpretao. Com relao a este

    ltimo termo, Peters (2002 apud AQUINO, 2012) explica que o processo de

    converso de dados em informao dotado de significado e, portanto, pode ter

    variaes de indivduo para indivduo. Nesse sentido, importante considerar que

    o contexto no qual se encontra o indivduo um ponto-chave no processo de

    atribuio de significados. Morin (2004, p.13) tambm destaca outro elemento

    digno de ateno. Segundo o autor, a organizao da Informao no neutra,

    ela pressupe [...] uma questo de compreenso. Para ele, [...] a compreenso,

    mais do que a comunicao, o grande problema atual da humanidade. Isto , o

    processo de transformao de dados em Informao envolve interpretao e

    tambm compreenso para ser completo e efetivo. No se trata de um processo

    mecnico mas, sobretudo, social e subjetivo. Seguindo esta mesma tica, Brown;

    Duguid, (2001, p. 105-106) acrescentam que:

    A informao algo que as pessoas coletam, possuem,

    passam para outros,colocam em bancos de dados, perdem,

  • acham, anotam, acumulam, contam,comparam e assim por

    diante. Em contrapartida, o conhecimento no aceita to

    amavelmente essas idias de recebimento, transporte e

    quantificao. Ele difcil de ser coletado e transferido. Por

    exemplo, voc poder esperar que algum lhe enviou indique

    onde encontrar as informaes que ele possua, mas no os

    conhecimentos.

    Na concepo de Davenport (2001), os dados so quantificveis e transferveis

    (podem ser estruturados). A informao, por sua vez, requer uma espcie de

    unidade de anlise, j que dotada de significado e objetivo. O conhecimento

    uma informao aprofundada, geralmente fruto de uma reflexo, que oferece

    resistncia ao gerenciamento. O indivduo faz referncias entre o conhecimento e

    um saber pessoal, uma reflexo, um significado ou mesmo uma interpretao.

    O conhecimento pode ser categorizado de diferentes formas, dependendo do

    ponto de vista adotado. Interessa-nos, no entanto, destacar o processo pelo qual

    dados convertem-se em informao e esta, por sua vez, em conhecimento. Essa

    compreenso importante porque justamente o ponto de uma nova economia,

    respaldada no conhecimento que, por seu turno, se traduz em conhecimentos

    especializados (DRUCKER, 2001).

    A informao e o conhecimento tornaram-se os maiores produtores de riqueza das

    sociedades contemporneas. Em realidade, o que se comercializa hoje

    conhecimento.

    Destaca-se, tambm, de acordo com Lastres; Albagli (1999, p.25), que existe uma

    necessidade intrnseca por parte das modernas organizaes de investir

    constantemente em inovao. Entretanto, esse movimento s se faz mediante a

  • promoo do avano do conhecimento, orientado no somente para o incremento

    econmico, mas entendido, sobretudo como elemento indispensvel ao

    desenvolvimento humano, em suas mltiplas dimenses. Isso implica,

    necessariamente, em utilizar as tecnologias digitais e os inovadores recursos da

    gesto da comunicao e informao para ambientes organizacionais que

    promovem processos estimulando o aprendizado, a capacitao e a acumulao

    contnua de conhecimentos. E as organizaes que desenvolvem essa prtica so

    aquelas em que o relacionamento interpessoal est presente no seu cotidiano.

    Relacionamento interpessoal Antes de entrar propriamente na abordagem desse tema, importante dar nfase

    aos fundamentos que norteiam a teoria das relaes humanas e do processo de

    motivao. A teoria das relaes humanas teve suas origens nos Estados Unidos,

    como resultado de experincias realizadas por Elton Mayo, sendo denominadas

    experincias de Hawthorne. No desenvolvimento das experincias Mayo

    percebeu a importncia e necessidade das atividades de carter administrativo

    serem mais humanas e democrticas.

    No ano de 1927, Elton Mayo foi o responsvel pela coordenao da experincia,

    realizada em uma empresa de equipamentos e componentes telefnicos,

    denominada Western Eletric Company. Como consequncia dessa experincia7

    surgiu a teoria das relaes humanas em oposio teoria clssica da

    administrao. Nesse novo contexto, as organizaes passam a ser consideradas

    7 Para detalhamentos sobre a experincia desenvolvida pelo estudioso, consultar: CABESTRE, S. A.; SANTOS, V. M.; FIRMINO, S. F. Interfaces entre gesto da informao e do conhecimento, redes sociais e relacionamento interpessoal no mbito organizacional. In: Anais do VII Congresso Brasileiro Cientfico de Comunicao Organizacional e de Relaes Pblicas ABRAPCORP 2013 - Teorias e Mtodos de Pesquisa: entre a tradio e a inovao, maio / 2013. Braslia DF.

  • como um conjunto de seres humanos que necessitam de motivao, incentivos e

    estmulos para harmonizao dos interesses individuais com os organizacionais.

    importante destacar que o tema da motivao tem desafiado os pesquisadores

    da rea de Comunicao, Administrao, Cincia Poltica, entre outras, ao longo

    dos anos. Os mecanismos pelos quais os Sujeitos podem se sentir motivados tem

    sido estudados, experimentados e analisados pelas mais diversas teorias e pontos

    de vista. Cabe ressaltar, tambm, que no h uma simples regra para explicar o

    conceito de motivao. O ser humano um ser nico e, assim sendo, desenvolve

    diferentes mecanismos com relao ao meio organizacional. A motivao,

    portanto, pode ser desenvolvida de diferentes formas. Bergamini (1990, p.25)

    aponta a necessidade de repensar a motivao, examinando de maneira crtica, o

    acervo atual de conhecimento sobre o assunto. Antes de discutir os mecanismos,

    importante conceituar o que vamos abordar. Assume-se, no escopo deste

    estudo, a assertiva de Vroom (1997, p.75), para quem a motivao , em

    essncia, funo do crescimento a partir da obteno de recompensas

    intrnsecas por um trabalho interessante, desafiador e que proporcione

    crescimento pessoal e desperte paixo pelo trabalho realizado.

    Buscando as modernas teorias que versam sobre a motivao, destacamos os

    trabalhos de Vroom (1997). Para ele, a relao sujeito-organizao comea com o

    contrato psicolgico em que o Sujeito, assim como a organizao, constitui um

    sistema com necessidades especficas. A natureza desse contrato psicolgica

    porque supera a lgica mercadolgica e recai, muitas vezes, na compreenso das

    expectativas de um para com o outro. Alm das expectativas, existem tambm as

    necessidades. Vrias vises sobre natureza das necessidades dos Sujeitos j

    foram desenvolvidas e modificadas ao longo dos anos. Na dcada de 1920-1930

    acreditava-se que a motivao dos Sujeitos fosse despertada apenas com

    estmulos financeiros. As dcadas posteriores, nos anos 1940-1950, conheceram

    o conceito de Homem Social como o ser que seria mais receptivo s foras sociais

  • do que a incentivos financeiros. O conceito, ainda que recente, de Homem

    Complexo tem reposto a discusso acerca das mltiplas necessidades do Sujeito.

    Embora existam diversos manuais que versem sobre a temtica e mesmo sobre

    mecanismos de desenvolvimento da motivao, fato que nenhuma ferramenta

    de comunicao ou mesmo de gesto de recursos humanos pode oferecer bons

    resultados se as necessidades dos Sujeitos no foram individualizadas. Do ponto

    de vista organizacional, isto equivale a compartilhar as responsabilidades e dotar o

    colaborador de importncia efetiva. A premissa de enxergar e realizar a gesto de

    pessoas e no de pessoal tem se tornado cada vez mais presente em

    Organizaes que buscam, alm do lucro, tambm a permanncia e

    respeitabilidade de seus colaboradores. Adotar as mesmas polticas e parmetros

    para todos tem se mostrado uma armadilha. O cenrio se mostra cada vez mais

    desafiador. As tradicionais teorias j no respondem mais complexidade de

    nosso tempo. Mais que uma teoria, a motivao uma arte, trabalhada e

    desenvolvida por lderes que levam em considerao o crescimento

    organizacional em consonncia com os ideais e sonhos dos colaboradores que,

    por sua vez, passam a efetivamente fazer parte (no sentido lato do termo) de uma

    Organizao. O fracasso est justamente no medo de compartilhar e perder o

    controle por parte dos dirigentes e gestores. As teorias entram em confronto com a

    necessidade dos novos gerentes de delegar funes. Embora compreendam do

    ponto de vista terico que isso necessrio, para muitos o que est ocorrendo

    , na verdade, a descentralizao de sua autoridade e de seu direito de gerenciar.

    Alm do medo de perder a hegemonia, muitos gestores se traduzem em

    executivos que so, por vezes, insensveis aos sentimentos das pessoas.

    Neste sentido, muitas organizaes esto apenas cronologicamente no sculo

    XXI, mas ainda no sculo XIX ou mesmo XVIII se formos levar em

    considerao o modelo gerencial proposto. Nestes contextos, a criatividade fica

  • enclausurada e, no raro, o que se tem uma batalha no declarada entre os que

    exercem o poder e os que esto sujeitos a ele.

    Esses modelos mais tradicionais, no entanto, acabam perdendo os chamados

    profissionais crebros para organizaes mais inovadoras no apenas por

    questes salariais, mas, sobretudo, por questes motivacionais. A gerao net

    ou gerao digital tem comprovado isso ao longo dos anos. Para esta gerao,

    que agora chega ao mercado de trabalho, o relacionamento pode ser mais

    importante que um contrato e a motivao muito mais importante que um

    treinamento (TAPSCOTT, 2010). Essa gerao preza muito pela motivao e

    valorizao de sua criatividade.

    A motivao pode ser um fator extrnseco, mas no se pode esquecer que os

    efeitos so diferentes e variveis quando levamos em considerao os vrios

    Sujeitos que compem este cenrio. Fica claro, portanto, que no existem

    mtodos prontos para motivar equipes de trabalho. Um incio seguro pode ser

    verificado na valorizao do ser humano, independentemente da funo que

    desempenhe ou do cargo que ocupe numa organizao. O gestor competente

    aquele que abandona a ideia de chefia e passa a motivar por meio do

    reconhecimento do contexto e da cultura organizacional para, em seguida, passar

    ao conhecimento das especificidades de cada um dos membros de sua equipe.

    Somente em ambientes com essas caractersticas possvel existir a prtica do

    relacionamento interpessoal. As organizaes que possibilitam aos funcionrios

    desenvolverem suas atividades utilizando tambm os meios e veculos informais

    so aquelas que valorizam e investem em estmulos que potencializam as

    relaes interpessoais. Estas criam as condies para que o ambiente

    organizacional seja saudvel e, por meio de processos informais, os

    colaboradores tornam-se mais comprometidos com os objetivos organizacionais.

    Sobre esse processo Mailhiot (1976, p.66), ao se referir a uma das pesquisas

  • realizadas pelo psiclogo Kurt Lewin, afirma que ele chegou constatao de que

    a produtividade de um grupo e sua eficincia esto estreitamente relacionadas

    no somente com a competncia de seus membros, mas sobretudo com a

    solidariedade de suas relaes interpessoais (apud COSTA, 2004, p.03).

    exatamente esse o ponto central da nossa discusso: s possvel trabalhar de

    forma compartilhada, evidenciando as relaes interpessoais, se as polticas que

    regem a cultura de uma organizao estiverem solidificadas nos pressupostos que

    nortearam esta produo, ou seja aqueles que caracterizam as organizaes que

    esto abertas para aes inovadoras. Somados aos pressupostos aqui abordados

    insere-se a possibilidade de aplicao da tecnologia Big Data, tratada na

    sequncia.

    Tecnologia para o relacionamento interpessoal O desenvolvimento do suporte computacional (o computador) aliado ao uso das

    redes de telecomunicaes originou uma nova mdia que caracterizada por ser

    multimdia, interativa: a internet (DIZARD JR., 2000). Mais recentemente, com a

    web 2.0, essa nova mdia tem se tornado colaborativa e tem desenvolvido sua

    dinmica de acordo com a lgica do compartilhamento de contedos. Ao invs de

    simplesmente acessar um contedo produzido massivamente, os sujeitos agora

    produzem e disseminam seus prprios contedos, travestindo-se em produtores,

    editores etc, superando os papis cristalizados que a mdia massiva impunha

    (emissores e receptores). Esse cenrio tem feito surgir o que Bruns (2008)

    denomina como produser, isto , Sujeitos que no se contentam em apenas

    acessar informaes digitalizadas. Eles se apropriam dos contedos, ressignificam

    as mensagens e so capazes de reconstruir a narrativa, oferecendo acrscimos

    qualitativos ao contedo recebido. Ademais, os Sujeitos tem se tornado, cada vez

    mais participativos e colaboradores.

  • A Internet pode ser considerada no apenas como um conjunto de ferramentas e

    um meio de comunicao, mas principalmente um espao cultural e um fenmeno

    social. Assim sendo, sua utilizao, enquanto mecanismo que possibilita a

    democratizao da informao significa um avano por parte das organizaes

    que priorizam o investimento em relacionamentos internos e externos.

    certo que, com o desenvolvimento das redes digitais, o fluxo de informaes

    tende a aumentar, mas preciso saber aplic-lo de forma criativa na resoluo

    dos problemas sociais. O salto qualitativo ocorre quando a informao torna-se

    significativa. Freeman (1995 apud LASTRES; ALBAGLI, 1999) alerta para o fato

    de que uma sociedade intensiva em informao, mas sem conhecimento ou

    capacidade de aprender, seria catica e ingovernvel.

    A tecnologia deveria servir para libertar o ser humano pensante em produtor de

    conhecimento das tarefas tcnicas que as mquinas poderiam desempenhar com

    mais velocidade e preciso. Nesse sentido, a internet surge como importante

    aliada para os dois desafios colocados. possvel criar condies de acesso

    internet em diversos setores das organizaes e incentivar o uso com finalidade

    educativa criando condies de desenvolvimento tanto tcnico (da manipulao

    com o equipamento em si) e novas competncias com relao busca e

    armazenamento de informaes.

    Existem organizaes que j trabalham com a disponibilizao de cursos online

    para seus colaboradores, alimentao permanente da intranet como forma de

    socializar as decises, portarias etc. Processos de inovao tambm podem ser

    potencializados pela troca de informaes nas redes. No que se refere ao uso das

    redes sociais especificamente, o Brasil o pas que mais utiliza as redes sociais

  • no mundo (NIELSEN, 2010)8. Dados referentes a abril de 2010 mostram que os

    internautas brasileiros so os que mais visitaram redes sociais na comparao

    com outros pases. Cerca de 86% dos usurios de internet no Brasil acessaram as

    redes sociais.

    Existe uma quantidade gigantesca de informaes que circula pela internet (e

    pelas redes sociais virtuais por extenso) todos os dias. A rede que nasceu como

    empreendimento militar tmido tomou propores nunca imaginadas. At o incio

    da dcada de 1990 as pginas da web ainda eram bastante estticas e existia

    uma certa concepo de busca que j no mais vlida hoje. Os buscadores,

    inicialmente o Altavista, Cad?, e, aquele que se consagrou - o Google, ganharam

    espao por conta de uma necessidade cada vez maior de busca de informao.

    Em pouco tempo, a necessidade de busca transformou-se em necessidade de

    gerenciamento de informao. A rede oferece um enorme contingente

    informacional que nem sempre alcana o auge de sua utilizao. A concepo de

    minerao de dados nasce justamente com a ideia de conseguir garimpar, na

    rede, dados importantes com alto valor informacional. Os sistemas de minerao

    de dados tem se tornado cada vez mais especficos para oferecem dados cada

    vez mais pormenorizados.

    Para se ter uma ideia do contingente informacional movimentado na rede,

    segundo dados do prprio Google, bilhes de pesquisas so feitas diariamente.

    8 Segundo o levantamento, 86% dos usurios ativos de Internet no Brasil acessaram redes sociais. Em segundo lugar no ranking est a Itlia (78%) e em terceiro, a Espanha (77%). O ranking segue com: Japo (75%), Estados Unidos (74%), Inglaterra (74%), Frana (73%), Austrlia (72%), Alemanha (63%) e Sua (59%). Acesso em: 15 jan. 2012. A pesquisa est disponvel em: http://idgnow.uol.com.br/internet/2010/06/15/internauta-brasileiro-lidera-uso-de-rede-social-em-todo-o-mundo/. .

  • Desde 2003, o buscador j respondeu a 450 bilhes de consultas diferentes

    inditas (pesquisas que nunca haviam sido feitas antes)9.

    Ao navegar pela internet, o Sujeito deixa suas marcas de navegaes, bem como

    pistas de seus gostos, preferncias de compra, inclinao poltica, entre outros.

    Esses dados tem o valor de permitir traar um perfil do Sujeito e,

    consequentemente, abre a possibilidade de conhecer mais e melhor os

    Sujeitos com os quais as organizaes se relacionam. Importante observar, no

    entanto, que estes dados s tero valor se forem organizados e categorizados,

    viabilizando sua utilizao de forma eficaz e eficiente.

    Nesse sentido, o conceito de Big Data surge como um novo horizonte para

    entender o mundo da informao e auxiliar, de forma incisiva, a tomada de

    decises. A tecnologia de Big Data no diz respeito quantidade de dados e sim

    ao gerenciamento estratgico destes, visando oferecer informaes detalhadas

    para cada situao especfica. Trata-se de uma nova forma de olhar para a

    informao proporcionada pela tecnologia. Dados que, a olho nu no expressam

    muita relevncia, podem se tornar significativos se examinados em contextos

    especficos.

    Its value comes from the patterns that can be derived by

    making connections between pieces of data, about an

    individual, about individuals in relation to others, about groups

    of people, or simply about the structure of information itself

    (BOYD, CRAWFORD, 2011, p.2).

    9 16% das pesquisas que aparecem todos os dias so inditas. Fonte: Google Brasil. Acesso em 24 ago 2013. Disponvel em: http://static.googleusercontent.com/external_content/untrusted_dlcp/www.google.com/pt-BR//intl/pt-BR/insidesearch/howsearchworks/assets/searchInfographic.pdf.

  • O objetivo justamente proporcionar o cruzamento de dados para gerar

    informaes que podem auxiliar tomadas de decises que, por vezes, podem ser

    bastante delicadas. Uma das maiores promessas de utilizao de Big Data

    justamente na rea da sade com a compilao de dados genticos que podem

    prever a probabilidade de aparecimento de doenas. A disponibilidade de uma

    ferramenta como essa pode mudar prognsticos e diagnsticos e favorecer

    tratamentos mais personalizados, beneficiando milhares de pessoas no mundo

    todo.

    Os dados disponveis nas redes sociais virtuais fornecem ricos dados para o Big

    Data. Trata-se no apenas das pistas deixadas pelos Sujeitos, mas, sobretudo,

    das coisas que o prprio Sujeito escolhe expor, bem como a forma e o contexto

    escolhido para tal.

    Big Data tem, no entanto, seus riscos tanto ticos quanto polticos. Recentemente,

    descobriu-se que o Brasil tinha (ou ainda tem?) grande fluxos informacionais

    monitorados pelos Estados Unidos. O objetivo de tal monitoramento era

    justamente conhecer as prticas atuais (tanto do ponto de vista poltico quanto

    econmico, social entre outros) para prever as futuras. Tal previso pode

    favorecer e muito quaisquer aes e polticas em nvel internacional. No se

    trata mais apenas de informao como algo abstrato, mas sim de vidas, fronteiras

    e territrios.

    Os dados oriundos de Big Data so, ainda assim, modelos matemticos que visam

    simplificar uma situao complexa e dar organizao ao que aparentemente est

    disperso. Eles so teis para a compreenso contextual e aprofundada, mas tm

    seus limites. Os modelos matemticos so baseados em estatsticas. Conforme

  • destacado na matria de Lohr (2012) para o The New York Times10, os cientistas

    perceberam que no apenas a quantidade de dados na internet que est

    aumentando; o mesmo tem sido verificado com as falsas descobertas. Alm

    disso, importante lembrar que a previso do comportamento humano respeita

    probabilidades nem sempre prximas dos 100%. Por mais que um sistema seja

    capaz de prever uma determinada resposta com base no estudo e cruzamento de

    dados referentes gostos, opes polticas etc, a verdade que existe uma

    barreira no pensamento humano que nunca pde ser superada por nenhuma

    mquina. O ser humano ainda tem altos ndices de imprevisibilidade.

    Boyd e Crawford (2011) lembram ainda que a informao quantitativa precisa ser

    tratada para que seja tambm qualitativa, pois o fato de ter mais informao a

    respeito de algo no faz com que tal informao tenha aprofundamento e

    qualidade necessrios ao que se pretende. Lev Manovich (2011) j havia

    destacado que o termo Big Data em si no prioriza aspectos qualitativos e sim

    quantitativos, traduzidos por Big. Ademais, a utilizao do Big Data tambm deve

    ser realizado pensando as questes ticas envolvidas, pois o fato de um

    determinado dado estar disponvel para uso no faz com que seu uso seja tico

    Recentemente, Boyd e Crawford (2012), revisitando o tema do uso da tecnologia

    Big Data, perceberam que no se trata apenas de uma nova tecnologia, mas

    tambm de uma mudana radical na forma como concebemos o conhecimento.

    Numa analogia com o fordismo que alterou a forma como fazemos carros e, por

    consequncia, a forma como trabalhamos, tambm o Big Data emerge neste

    cenrio como uma tecnologia capaz de alterar a forma como entendemos as

    redes, o processo gerador de conhecimento e a maneira como nos relacionamos

    com os dados. Ainda sobre este aspecto, os autores citam Bruno Latour (2009),

    para quem a mudana de instrumentos altera tambm toda a teoria social que 10Acesso em: 24 ago 2013. Disponvel em: .

  • alcanamos com o eles11. Isso significa que a tecnologia Big Data nos permite

    novas visualizaes acerca de um mesmo fenmeno. Por outro lado, isso no

    quer significar, necessariamente, que seja algo benfico. Recordemo-nos do fato

    de que as tecnologias podem ser vinculadas para diferentes usos, dependendo

    dos objetivos humanos propostos para elas.

    O ponto de desafio que estabelece conexo com as organizaes que aprendem

    est justamente em propor formas diferenciadas para trabalhar a tecnologia Big

    Data com foco no aprendizado coletivo. Mais que nmeros, s Organizaes

    modernas interessa conseguir criar vnculos com seus colaboradores para que

    assim possam realizar a gesto do conhecimento, favorecendo tanto o

    colaborador quanto a Organizao. No se pode, por outro lado, ignorar a

    chegada desta tecnologia e desprezar seu potencial. preciso utiliz-la no para

    monitoramento, como algumas Organizaes tm feito numa clara indicao de

    tentativa de controle do colaborador, mas sim em uma proposta de favorecer o

    relacionamento interpessoal e a gesto de talentos. O relacionamento humano,

    baseado no dilogo e na solidariedade, capaz de trazer benefcios para um

    clima organizacional mais humanizado. Utilizar a tecnologia do Big Data para

    conhecer as pessoas, quer sejam colaboradores, clientes etc. e melhor relacionar-

    se com elas um dos maiores desafios dos gestores.

    Alm disso, o novo cenrio exige uma nova postura do gestor de comunicao e

    informao das organizaes: flexibilidade para o aprendizado constante.

    Aprender constantemente, desenvolver habilidades e competncias torna-se

    essencial para transitar em uma sociedade em constante mudana. E, no contexto

    do processo de aprendizado organizacional, merece destaque o papel do

    profissional de Relaes Pblicas, responsvel por realizar a gesto da

    informao e do conhecimento no mbito organizacional. 11 Original disponvel em: http://www.bruno-latour.fr/sites/default/files/116-CANDEA-TARDE-FR.pdf. Acesso em: 30 mar 2014.

  • Para Ferrari (2009, p.140), os profissionais de Relaes Pblicas sempe tiveram

    como funo ajudar as organizaes a definir a sua identidade e verificar a

    percepo e sua reputao por meio dos pblicos estratgicos. Da, a importncia

    do profissional desenvolver aes que possibilitem o adequado gerenciamento

    dos diferentes processos de comunicao que coexistem no ambiente

    organizacional. Ferrari ainda complementa destacando o seguinte: apesar de no

    ser novidade para o profissional, importante e necessrio que a alta

    administrao passe a considerar os fatores intangveis como os valores pelos

    quais se estabelecem as diferenas da organizao diante dos seus concorrentes

    (2009, p. 140). Esse posicionamento vem ao encontro da discusso que

    apresentamos neste artigo, ou seja, que, por intermdio de polticas que priorizem

    a valorizao do colaborador no ambiente organizacional, as empresas ficam

    fortalecidas, na medida em que o pblico interno est comprometido com os

    objetivos organizacionais. E a utilizao da tecnologia Big Data tem como

    fundamento esse propsito.

    De acordo com o exposto pela pesquisadora, o profissional de Relaes Pblicas

    deve estar apto e capacitado para atuar em diferentes cenrios de mudanas. Da,

    a importncia de trabalhar estrategicamente os diferentes processos e

    relacionamentos que coexistem no ambiente organizacional.

    Para a pesquisadora, quando o profissional de relaes pblicas analisa os

    cenrios, identifica os pblicos estratgicos e d tratamento diferenciado a cada

    um deles, age em sintonia com o modelo de gesto organizacional e estabelece

    simetria no processo comunicacional (2009, p. 140).

    Agindo dessa maneira, o profissional de Relaes Pblicas cria as condies para

    que o dilogo seja estabelecido na organizao. Trata-se da busca constante do

  • equilbrio no ambiente organizacional, que pode ser obtido por intermdio de

    aes que valorizem o conhecimento que cada colaborador tem e que,

    certamente, vai agregar valor, seja no relaes internas, seja nas externas.

    Destaca-se, nesse sentido, que nos diferentes contextos competitivos o maior

    desafio dos dirigentes desenvolver competncias que respondam, de forma

    eficaz, s ameaas e oportunidades do dia a dia - o grande diferencial ter uma

    equipe de trabalho motivada e comprometida com os objetivos e metas

    organizacionais.

    O profissional de Relaes Pblicas, devidamente capacitado e com perfil

    proativo, pode estimular, de forma estratgica, o pblico interno das organizaes

    a valorizar a construo de relacionamentos harmnicos e slidos que contribuiro

    para a solidificao da imagem institucional.

    Para que os objetivos e metas organizacionais sejam compartilhados e atingidos,

    a atuao do profissional de relaes pblicas deve ser constante, o que vem ao

    encontro dos princpios das organizaes que aprendem, das condies que so

    possibilitadas para que o relacionamento interpessoal acontea de forma

    harmnica e da utilizao de tecnologias inovadoras, como a do Big Data.

    As informaes de carter quantitativo, obtidas com essa tecnologia, podem ser

    analisadas qualitativamente pelo profissional de relaes pblicas, seja para

    enriquecer o aprendizado coletivo do pblico interno das organizaes, seja para

    contribuir com o alcance dos objetivos e metas.

    O grande diferencial do uso dessa tecnologia transformar dados quantitativos

    em qualitativos e o profissional de relaes pblicas pode ser o articulador e

    gestor desse processo em ambientes de culturas organizacionais inovadoras.

  • Importante observar que as tecnologias tambm acabam nos moldando medida

    que fazemos uso delas em nosso cotidiano. Cabe a ns o seguinte

    questionamento: o que podemos fazer melhor com o uso da tecnologia Big Data?

    Quais so as fronteiras ticas de seu uso?

    Algumas consideraes sobre o estudo Compreende-se que a sociedade atual passa por um momento muito peculiar em

    que um bem imaterial passa a ser valorizado como moeda de troca (a informao)

    chegando, inclusive, a ditar um novo modelo de produo que Castells (2002)

    chama de Capitalismo informacional. Soma-se a este cenrio a constatao de

    que a informao mantm estreita relao com o poder e o desenvolvimento

    econmico, cultural, poltico e social de uma nao. Mais do que nunca, ter acesso

    informao, saber transform-la em conhecimento aplicado e obter retorno,

    torna-se um horizonte a ser perseguido, sobretudo, pelas modernas organizaes.

    Compartilhar essencial quando o que est em voga o desenvolvimento das

    organizaes; foi-se o tempo em que uma nica pessoa conseguia ditar o destino

    de uma grande corporao.

    Nesse sentido, as tecnologias digitais podem representar um grande salto em

    direo a estes princpios. A emergncia da web 2.0, caracterizada

    essencialmente pelo compartilhamento, demonstra que os usurios esto se

    tornando cada vez mais participantes, ativos, sujeitos, colaboradores, editores e

    construtores do processo. Ocorre, no entanto, que o grande desafio est

    justamente em selecionar todo o contedo disponvel em funo de objetivos

    previamente definidos com vistas construo de uma cultura organizacional

    voltada para a aprendizagem contnua. Disso depende no apenas a longevidade

    das organizaes, mas tambm o equilbrio econmico de uma nao e, por

    conseguinte, impacta na qualidade de vida das pessoas que dela fazem parte.

  • A realidade no isolada e tudo se conecta e se influencia mutuamente. Levando

    este cenrio em conta, encarar a internet (enquanto expresso das tecnologias

    digitais) como ferramenta capaz de possibilitar a construo do conhecimento

    implica, necessariamente, em imprimir-lhe um vis educativo que defina seu uso

    em contextos organizacionais. Sabemos, no entanto, que esta no uma soluo

    definitiva, mas representa, ainda que de forma embrionria, a necessidade de

    enxergar este novo momento histrico pelo qual passamos. As ideias aqui

    lanadas refletem o incio de um debate que precisa (e deve) ser cotidianamente

    revisto. O relacionamento interpessoal, por sua vez, precisa ser incentivado com

    vistas uma comunicao horizontalizada, dialgica, que possa abrir espao para

    exposio de ideias, objetivos, incertezas e expectativas. Se a maior riqueza das

    modernas organizaes est justamente nas pessoas, nos Sujeitos, ento

    importante alavancar as aes estratgicas com base no trip: incremento do

    relacionamento humano, valorizao dos canais de comunicao dialgicos e

    incentivo constante partilha de conhecimentos.

    A possibilidade de utilizar a tecnologia Big Data como diferencial competitivo

    torna-se um desafio maior ainda. Se a busca e utilizao de dados por intermdio

    dessa tecnologia possibilitar o aprendizado coletivo, a criao de fortes vnculos

    com os colaboradores e beneficiar o relacionamento interpessoal pode-se dizer,

    s.m.j., que os gestores tero condies de atuar de forma mais planejada e

    estratgica.

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