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Avanços da artroscopia permitem que atletas de alta performance e praticantes de atividade física não comprometam seu rendimento devido a traumas esportivos normal luxação Alfredo Moreno COMO TRATAR AS ortopedia LESÕES DO ESPORTE Foi o que aconteceu com a estudante Ke- telyn Caroline Alves, 20 anos, que é jogadora de rúgbi. No fim de 2015, a paciente rompeu o LCA durante uma partida, mas deixou a dor passar e continuou treinando. Logo teve nova lesão, mas, por conta e risco próprios, decidiu por continuar treinando para termi- nar a temporada de competições. “Só resolvi meu problema com a cirurgia, e essa espera quase comprometeu meus meniscos. Além de operar o LCA, também operei o ligamento anterolateral, um reforço para continuar jo- gando. Estou bastante confiante, pois todos os testes têm sido satisfatórios e logo estarei liberada para jogar com tudo!”, comemora. Um estudo inédito publicado neste ano pela equipe da Clínica Santy de Lyon, na Fran- ça, apresentou que a reconstrução do liga- mento anterolateral do joelho, associado à re- construção do ligamento cruzado anterior, apresenta menor chance de nova ruptura do que a reconstrução isolada do LCA, em pa- cientes jovens e ativos. Além disso, os pacien- tes que foram submetidos à reconstrução dos dois ligamentos retornaram ao esporte de alta competitividade em maior número que os de- mais. “Ou seja, já existem dados consistentes sobre a necessidade de avaliação quanto à reconstrução do ligamento antero- lateral em pacientes de alta deman- da”, evidencia Dr. Bernardo. Quando a lesão acomete o ombro Já a articulação do ombro é a mais móvel do corpo humano e permite movimento muito amplo. Para manter essa harmonia, é fundamen- tal a integração de li- gamentos, cápsula articular, osso, carti- lagem e músculos. “Justamente por ter A tividade física é um requisito básico para quem busca saúde. Porém, embora saudável, a prática de esportes implica uma maior exposição a lesões, principalmente no joelho e ombro, como ocorre com frequência no fu- tebol e em outras modalidades de contato. No caso dos joelhos, essa articulação é afetada nas mais variadas atividades esportivas, especialmente nas de alto impacto. O trauma mais comum do joelho, que pode ocasionar a lesão do li- gamento cruzado anterior (LCA), é o trauma torsional da articulação, em geral quando o pé fica fixo no chão e o joelho faz um movimento rota- cional, o que ocorre, de modo frequente, durante uma atividade física, principalmente as de contato, como futebol, basquete, rúgbi e demais. “O tratamento é na maioria das vezes cirúrgico e deve ser realizado no momento correto, que normalmente deve acontecer nos primeiros seis meses após a lesão, isso para se evitar a lesão dos meniscos e até mesmo uma degeneração precoce (artrose) no futuro”, adverte o médico orto- pedista Dr. Bernardo Ferreira da Luz, que realiza artroscopia do joelho, é especialista em Traumatologia Esportiva, com Fellowship em Cirurgia do Esporte no Centre Orthopédique Santy (Lyon/França) e faz parte da equipe do Paraná Futebol Clube e da equipe de rúgbi do Curitiba Rugby. A maior novidade no tratamento de LCA são os estudos sobre um ligamento externo do joelho que atua auxiliando o ligamento cruzado anterior a fazer a estabilização da articulação. Motivo de discussão no meio médico nos últimos cinco anos, já se trabalha com a hipótese de que existe a necessidade, em alguns casos específicos, da reconstrução desse novo li- gamento, chamado anterolateral, principalmente em atletas de alta performance. Tratamento das luxações no ombro Geralmente, o tratamento varia de acordo com a idade, grau de le- são e atividade que o paciente faz. Um alerta é o aparecimento e, prin- cipalmente, a persistência da dor. Sempre que tiver dor o paciente deve procurar por avaliação médica. No primeiro episódio da luxação, o tra- tamento com tipoia é indicado durante duas a três semanas. Porém, a reabilitação é gradativa até o paciente recuperar a amplitude de movi- mento e força. “Vale lembrar que se o paciente tem indicação para a ci- rurgia, o ideal é que ele faça o quanto antes”, recomenda o cirurgião. Como as lesões após a luxação dificilmente se regeneram e algu- mas aumentam após cada luxação, a maioria dos pacientes é jovem e com maior grau de atividade, a cirurgia para restauração da anatomia é a melhor indicação. “O tratamento cirúrgico pode ser feito por artrosco- pia (cirurgia com câmera e minimamente invasiva) ou cirurgia conven- cional (aberta), dependendo de cada caso, ambas com ótimos resulta- dos”, salienta o médico. “No dia seguinte ao procedimento, para facilitar a reabilitação, o paciente já inicia o trabalho de fisioterapia e tira a tipoia definitivamente somente 40-45 dias depois”, completa o especialista. Ketelyn Caroline Alves grande capacidade de movimentação, o ombro pode ‘desencaixar’ mais facilmente que outras articulações, e isso, inclusive, é muito comum em esportistas bem jovens”, explica o médico ortopedista Dr. Vagner Messias Fruehling, da Ortop, que atua com especificidade na área de ombro e cotovelo e realizou Fellowship no Hospital La Paz e Fundación Jimenez Díaz, Madri/Espanha. O advogado Alfredo Borges Moreno, 37 anos, teve a primeira luxação de ombro aos 17 anos, jogando futebol como goleiro. De- pois disso, chegou a ter dezenas de luxa- ções e aprendeu a colocar sozinho a articu- lação no lugar. “Com isso, comecei a sentir dor no bíceps e, para não comprometer o músculo, fui direto para a cirurgia, que foi tranquila e não senti nenhuma dor no pós- -operatório, o que resolveu meu problema e me permitiu voltar ao esporte”, acentua o advogado, que também pratica tênis. A maior instabilidade no movimento amplo do ombro resulta em desloca- mento, ou seja, as duas partes da arti- culação perdem o contato entre si. Geralmente, isso faz com que o pa- ciente procure atendimento médico para que a articulação retorne à sua posição normal. As subluxações e luxações no ombro são, em grande maioria, resultado Dr. Bernardo Ferreira da Luz CRM 24331 RQE 16891 Diagnóstico e tratamento do LCA Após as primeiras semanas do trauma, quando o derrame do joelho diminui, o exame físico se torna mais confiável. “Atualmente, o exame da ressonância magnética nos permite confirmar o diagnóstico e ao mesmo tempo verificar se há qualquer lesão associada, tal como lesão de meniscos ou lesão da cartilagem”, explica o ortopedista. O ligamento cruza- do anterior possui baixa capacidade de cicatrização, e a sensação de frouxidão no joelho será recorrente, podendo aumentar com o passar do tempo. Com isso, a prática dos espor- tes de alta mobilidade se torna impossível, ou poderá ocorrer novos episódios de entorse do joelho acarretando lesões de meniscos ou de cartilagem. “O tratamento para o LCA é a cirurgia por artroscopia, uma técnica minimamente inva- siva, através do uso de uma câmera, que permite visualizar a articulação e, ao mesmo tem- po, realizar o tratamento, trazendo menor dano ao joelho. Se presente, as lesões dos menis- cos são tratadas na mesma cirurgia. Com isso o processo de recuperação é muito mais rápido”, explica Dr. Bernardo, que responde pelo serviço do Grupo Ortop Curitiba. Para a reconstrução do ligamento cruzado anterior, o cirurgião necessita de um tecido que funcionará como enxerto, para isso ele escolhe entre os três mais utilizados mundial- mente: enxerto dos tendões flexores do joelho, do tendão patelar (parte central) ou do ten- dão quadriciptal (parte medial). “A escolha depende de algumas variáveis que são levanta- das caso a caso, com resultados semelhantes em qualquer uma delas”, acentua Dr. Bernardo. de trauma ocorrido em esportes. Os ligamen- tos do ombro, junto com o tecido cartilagino- so, ao redor da articulação, rompem-se e rara- mente cicatrizam sozinhos mesmo utilizando uma imobilização. Essa falta de cicatrização espontânea explica a frequência de novas lu- xações, podendo acontecer inclusive dormin- do ou com mínimos movimentos. “Quanto mais jovem é o paciente, maior a possibilida- de de uma nova luxação (quase 100% dos ca- sos)”, acrescenta o especialista. Algumas modalidades esportivas facilitam para que o osso desloque com frequência (lu- xação recorrente), principalmente as que exi- gem braço elevado ou que tenha contato pes- soal. “Quando há luxação recorrente, as lesões podem aumentar, podendo fazer lesão óssea e da cartilagem articular, trazendo consequên- cias que limitam a função do ombro. Por isso a ne- cessidade do tratamento cirúrgico nesses casos, para que novas luxações não ocorram”, alerta Dr. Vagner. Dr. Vagner Messias Fruehling CRM 24396 RQE 17337 normal LCA www.revistacorpore.com.br informações: [41] 3026 6699 Por Lúcia Costa

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Avanços da artroscopia permitem que atletas de alta performance e praticantes de atividade física não comprometam seu rendimento devido a traumas esportivos

normal luxação

Alfredo Moreno

COMO TRATAR AS

ortopedia

LESÕES DO ESPORTE

Foi o que aconteceu com a estudante Ke-telyn Caroline Alves, 20 anos, que é jogadora de rúgbi. No fim de 2015, a paciente rompeu o LCA durante uma partida, mas deixou a dor passar e continuou treinando. Logo teve nova lesão, mas, por conta e risco próprios, decidiu por continuar treinando para termi-nar a temporada de competições. “Só resolvi meu problema com a cirurgia, e essa espera quase comprometeu meus meniscos. Além de operar o LCA, também operei o ligamento anterolateral, um reforço para continuar jo-gando. Estou bastante confiante, pois todos os testes têm sido satisfatórios e logo estarei liberada para jogar com tudo!”, comemora.

Um estudo inédito publicado neste ano pela equipe da Clínica Santy de Lyon, na Fran-ça, apresentou que a reconstrução do liga-mento anterolateral do joelho, associado à re-construção do ligamento cruzado anterior, apresenta menor chance de nova ruptura do que a reconstrução isolada do LCA, em pa-cientes jovens e ativos. Além disso, os pacien-tes que foram submetidos à reconstrução dos dois ligamentos retornaram ao esporte de alta competitividade em maior número que os de-mais. “Ou seja, já existem dados consistentes sobre a necessidade de avaliação quanto à reconstrução do ligamento antero-lateral em pacientes de alta deman-da”, evidencia Dr. Bernardo.

Quando a lesão acomete o ombro

Já a articulação do ombro é a mais móvel do corpo humano e permite movimento muito amplo. Para manter essa harmonia, é fundamen-tal a integração de li-gamentos, cápsula articular, osso, carti-lagem e músculos. “Justamente por ter

Atividade física é um requisito básico para quem busca saúde. Porém, embora saudável, a prática de esportes implica uma maior exposição a lesões, principalmente no joelho e ombro, como ocorre com frequência no fu-tebol e em outras modalidades de contato. No caso

dos joelhos, essa articulação é afetada nas mais variadas atividades esportivas, especialmente nas de alto impacto.

O trauma mais comum do joelho, que pode ocasionar a lesão do li-gamento cruzado anterior (LCA), é o trauma torsional da articulação, em geral quando o pé fica fixo no chão e o joelho faz um movimento rota-cional, o que ocorre, de modo frequente, durante uma atividade física, principalmente as de contato, como futebol, basquete, rúgbi e demais. “O tratamento é na maioria das vezes cirúrgico e deve ser realizado no momento correto, que normalmente deve acontecer nos primeiros seis meses após a lesão, isso para se evitar a lesão dos meniscos e até mesmo uma degeneração precoce (artrose) no futuro”, adverte o médico orto-pedista Dr. Bernardo Ferreira da Luz, que realiza artroscopia do joelho, é especialista em Traumatologia Esportiva, com Fellowship em Cirurgia do Esporte no Centre Orthopédique Santy (Lyon/França) e faz parte da equipe do Paraná Futebol Clube e da equipe de rúgbi do Curitiba Rugby.

A maior novidade no tratamento de LCA são os estudos sobre um ligamento externo do joelho que atua auxiliando o ligamento

cruzado anterior a fazer a estabilização da articulação. Motivo de discussão no meio médico nos últimos cinco anos, já se trabalha com a hipótese de que existe a necessidade, em alguns casos específicos, da reconstrução desse novo li-gamento, chamado anterolateral, principalmente em atletas de alta performance.

Tratamento das luxações no ombro

Geralmente, o tratamento varia de acordo com a idade, grau de le-são e atividade que o paciente faz. Um alerta é o aparecimento e, prin-cipalmente, a persistência da dor. Sempre que tiver dor o paciente deve procurar por avaliação médica. No primeiro episódio da luxação, o tra-tamento com tipoia é indicado durante duas a três semanas. Porém, a reabilitação é gradativa até o paciente recuperar a amplitude de movi-mento e força. “Vale lembrar que se o paciente tem indicação para a ci-rurgia, o ideal é que ele faça o quanto antes”, recomenda o cirurgião.

Como as lesões após a luxação dificilmente se regeneram e algu-mas aumentam após cada luxação, a maioria dos pacientes é jovem e com maior grau de atividade, a cirurgia para restauração da anatomia é a melhor indicação. “O tratamento cirúrgico pode ser feito por artrosco-pia (cirurgia com câmera e minimamente invasiva) ou cirurgia conven-cional (aberta), dependendo de cada caso, ambas com ótimos resulta-dos”, salienta o médico. “No dia seguinte ao procedimento, para facilitar a reabilitação, o paciente já inicia o trabalho de fisioterapia e tira a tipoia definitivamente somente 40-45 dias depois”, completa o especialista.

Ketelyn Caroline Alves

grande capacidade de movimentação, o ombro pode ‘desencaixar’ mais facilmente que outras articulações, e isso, inclusive, é muito comum em esportistas bem jovens”, explica o médico ortopedista Dr. Vagner Messias Fruehling, da Ortop, que atua com especificidade na área de ombro e cotovelo e realizou Fellowship no Hospital La Paz e Fundación Jimenez Díaz, Madri/Espanha.

O advogado Alfredo Borges Moreno, 37 anos, teve a primeira luxação de ombro aos 17 anos, jogando futebol como goleiro. De-pois disso, chegou a ter dezenas de luxa-ções e aprendeu a colocar sozinho a articu-lação no lugar. “Com isso, comecei a sentir dor no bíceps e, para não comprometer o músculo, fui direto para a cirurgia, que foi tranquila e não senti nenhuma dor no pós--operatório, o que resolveu meu problema e me permitiu voltar ao esporte”, acentua o advogado, que também pratica tênis.

A maior instabilidade no movimento amplo do ombro resulta em desloca-mento, ou seja, as duas partes da arti-culação perdem o contato entre si. Geralmente, isso faz com que o pa-ciente procure atendimento médico para que a articulação retorne à sua

posição normal. As subluxações e luxações no ombro são, em

grande maioria, resultado

Dr. Bernardo Ferreira da LuzCRM 24331 RQE 16891

Diagnóstico e tratamento do LCA

Após as primeiras semanas do trauma, quando o derrame do joelho diminui, o exame físico se torna mais confiável. “Atualmente, o exame da ressonância magnética nos permite confirmar o diagnóstico e ao mesmo tempo verificar se há qualquer lesão associada, tal como lesão de meniscos ou lesão da cartilagem”, explica o ortopedista. O ligamento cruza-do anterior possui baixa capacidade de cicatrização, e a sensação de frouxidão no joelho será recorrente, podendo aumentar com o passar do tempo. Com isso, a prática dos espor-tes de alta mobilidade se torna impossível, ou poderá ocorrer novos episódios de entorse do joelho acarretando lesões de meniscos ou de cartilagem.

“O tratamento para o LCA é a cirurgia por artroscopia, uma técnica minimamente inva-siva, através do uso de uma câmera, que permite visualizar a articulação e, ao mesmo tem-po, realizar o tratamento, trazendo menor dano ao joelho. Se presente, as lesões dos menis-cos são tratadas na mesma cirurgia. Com isso o processo de recuperação é muito mais rápido”, explica Dr. Bernardo, que responde pelo serviço do Grupo Ortop Curitiba.

Para a reconstrução do ligamento cruzado anterior, o cirurgião necessita de um tecido que funcionará como enxerto, para isso ele escolhe entre os três mais utilizados mundial-mente: enxerto dos tendões flexores do joelho, do tendão patelar (parte central) ou do ten-dão quadriciptal (parte medial). “A escolha depende de algumas variáveis que são levanta-das caso a caso, com resultados semelhantes em qualquer uma delas”, acentua Dr. Bernardo.

de trauma ocorrido em esportes. Os ligamen-tos do ombro, junto com o tecido cartilagino-so, ao redor da articulação, rompem-se e rara-mente cicatrizam sozinhos mesmo utilizando uma imobilização. Essa falta de cicatrização espontânea explica a frequência de novas lu-xações, podendo acontecer inclusive dormin-do ou com mínimos movimentos. “Quanto mais jovem é o paciente, maior a possibilida-de de uma nova luxação (quase 100% dos ca-sos)”, acrescenta o especialista.

Algumas modalidades esportivas facilitam para que o osso desloque com frequência (lu-xação recorrente), principalmente as que exi-gem braço elevado ou que tenha contato pes-soal. “Quando há luxação recorrente, as lesões podem aumentar, podendo fazer lesão óssea e da cartilagem articular, trazendo consequên-cias que limitam a função do ombro. Por isso a ne-cessidade do tratamento cirúrgico nesses casos, para que novas luxações não ocorram”, alerta Dr. Vagner.

Dr. Vagner Messias FruehlingCRM 24396 RQE 17337

normal LCA

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Por Lúcia Costa