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Page 1: Como gerenciar riscos e criar vantagem competitiva · riscos. Contudo, os usuários desta metodologia pecam em focar essencialmente nas oportunidades e deixam em segundo plano os

Como gerenciar riscos e criar vantagem competitiva Décio Cunha Jr.*

As empresas estão focadas em agregar valor ao acionista por meio de aumento de receita, produtividade, qualidade ou custos. Porém, poucas se preocupam em incorporar a visão de risco ao planejamento. As métricas como Balance Score Card (BSC), comuns em várias empresas, incluem a análise de duas dimensões para a estratégia do negócio: oportunidades e riscos. Contudo, os usuários desta metodologia pecam em focar essencialmente nas oportunidades e deixam em segundo plano os riscos do negócio. Pesquisa coordenada pelos Professores Kaplan e Norton no final dos anos 90 concluiu que os executivos devem aumentar a atenção à gestão de riscos. Em média, o tempo dedicado ao tema se aproxima de zero horas por mês - bem inferior ao tempo que se dedicam ao tema estratégia, também menos de uma hora por mês. O problema é que, apesar das inúmeras crises financeiras, este cenário continua atual, e ainda persiste a visão tradicional de que área de risco é um centro de custos, com foco em compliance e controle, e não como uma área de suporte à decisão. Para incluir a gestão de risco entre as prioridades, primeiramente, precisamos definir o que é risco. Risco é qualquer resultado negativo não esperado. Neste conceito, podemos distribuí-los entre diferentes tipos. Alguns exemplos são: Risco de Mercado - relacionado às oscilações de preços; Risco de Crédito - relacionado ao não pagamento total de um empréstimo; Risco de Liquidez - decorrente da descontinuidade das condições de mercado; Risco Operacional - perdas resultantes de processos internos, pessoas, sistemas ou eventos externos; Risco Estratégico - relacionado às decisões de negócio; Risco de Subscrição - inerente à emissão de uma apólice de seguros ou plano de previdência; Risco de Imagem ou Reputação - conseqüência de outro(s) tipo(s) de risco; Risco Ambiental - impacto danoso ao meio ambiente. Em uma empresa não financeira podem existir todos os citados, além de muitos outros. A questão é o grau de relevância de cada um deles. A exposição ao fator que gera esse risco é diferente para cada tipo de empresa. Assim, a empresa deve conhecer quais são os tipos de risco aos quais está exposta e determinar meios de precificação, ou seja, a quantificação de cada um. O ideal é trabalhar com a construção de cenários, aproximando a visão histórica (estatística) da visão prospectiva (cenários). E é neste ponto que entra um dos elos entre Risco e Estratégia. Ninguém melhor que o executivo para entender seu próprio negócio. Cabe ao gestor de riscos interpretar a estratégia para a construção dos cenários e, por conseqüência, o seu impacto na empresa. Por exemplo, uma empresa exportadora brasileira que tem recebíveis em dólar poderá apresentar perdas financeiras caso a cotação do dólar se reduza. Qual o valor do risco cambial (risco de mercado) destes recebíveis? Com o auxílio de uma base de dados e um modelo estatístico (existem vários), calculamos o Valor em Risco (VaR) deste portfólio. Vale ressaltar que é vital ter uma base de dados integra, completa e consistente. Além dos aspectos de modelagem e tipos, a gestão de risco efetiva começa pela governança. A governança é a forma de criar e implementar o comprometimento corporativo do tema. Ela se dá pela política, normas e procedimentos e acontece formalmente no fórum decisório (comitê e/ou comissão). Outro ponto importante é a definição do apetite de risco do acionista, que serve como guia para a elaboração das políticas, níveis de risco, normas e procedimentos, bem como o nível de controle necessário para sua implementação.

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A área de risco precisa de participação ativa no planejamento estratégico. O segredo consiste em transformar a área de risco, de uma área estigmatizada de controle (custos), para uma área integrada e ativa no processo de planejamento estratégico. As empresas que souberem fazer esta transformação apresentarão, certamente, uma vantagem competitiva em relação aos concorrentes.

*Sócio da LUZ Consultoria Atuou como Head de áreas de Risco em Bancos e Asset Management. É professor dos cursos de MBA de Riscos e de

Gestão de Riscos na BM&F-BOVESPA.

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