comércio internacional - aula02
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Aula Nº 2 – Teorias do Comércio Internacional
Objetivos da aula:
Identificar as principais teorias que explicam os determinantes e as
vantagens do comércio internacional.
Ao final desta aula, o aluno será capaz de comparar as teorias que explicam
o funcionamento e as vantagens das relações comerciais entre nações e
perceber os fatores que proporcionam o avanço do comércio no mundo.
1. Introdução
A liberalização do comércio constitui um dos mais importantes aspectos
relativos ao processo de globalização, pois possibilita a expansão
das atividades econômicas, a participação na rota dos investimentos
internacionais e a adequação aos padrões de competitividade
internacional.
Recentemente, fatores bastante diversos como economias de escala,
diferenciação dos produtos e proteção de empresas domésticas, entre
outros, têm feito parte do arcabouço teórico sobre comércio internacional
e integrado as abordagens da nova teoria do comércio.
O debate acerca das prerrogativas e das conseqüências do comércio
internacional pode se estender a opiniões diversas. Alguns acreditam que
o comércio é uma das principais vias de desenvolvimento econômico,
pois proporciona o crescimento do mercado local e a manutenção da
concorrência, entre outras coisas. Em contrapartida, outros acreditam
que o comércio internacional é uma das mais graves formas de exclusão
econômica vigentes no mundo, uma vez que os países desenvolvidos
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produzem bens de maior valor agregado em comparação com os países
em desenvolvimento, portanto os países industrializados podem ser
beneficiados em uma relação comercial.
Em todo caso, a corrente teórica predominante no debate mundial defende
o comércio (livre), pois não deixa de ser uma forma de as empresas e
nações obterem vantagens econômicas em um cenário global.
1.1 Antecedentes históricos
O surgimento do comércio de longa distância, tal qual conhecemos hoje,
Surgiu, na Europa, como mais uma força desintegradora do feudalismo.
Ao contrário do que muitos imaginam, o comércio internacional, como
atividade econômica importante, foi impulsionado pelo aumento da
produtividade agrícola.
De fato, “o excedente de alimentos e manufaturados tornava-se disponível
tanto para os mercados locais quanto para o mercado internacional. A
melhoria na energia e no transporte tornou possível e lucrativo concentrar
os indivíduos nas cidades, produzir em grande escala e vender os bens
produzidos nos mercados mais amplos de longa distância” (HUNT, 2005,
p. 9).
As condições para a expansão do comércio a longa distância fomentaram
o estabelecimento de cidades industriais e comerciais. Esse movimento
ganhou força com as Cruzadas que, embora tivessem o caráter religioso
de conquista territorial, funcionaram, como pretexto, para a França
que necessitava manter relações comerciais com o leste europeu. Com
interesses semelhantes, a forte oligarquia veneziana patrocinava as
Cruzadas no intuito de expandir seu comércio e sua influência no leste.
Do século XII ao final do século XIV, a Europa vivenciou o surto das grandes
feiras comerciais promovidas por meio do intercâmbio com os árabes e
vikings. No século seguinte, as feiras foram, praticamente, substituídas por
cidades comerciais com mercado permanente, ao contrário das feiras que
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eram sazonais. Nesse momento, desenvolveram-se sistemas complexos
de câmbio, compensação e facilidades creditícias e novas leis comerciais.
1.2 Fundamentos da teoria moderna de comércio
A teoria moderna do comércio inicia-se com as obras mercantilistas1 de
autores que, durante três séculos (XV ao XIII), influenciaram as decisões
econômicas e comerciais das grandes nações européias. A fase inicial
do mercantilismo foi caracterizada pela aguda escassez de ouro e prata
(utilizados como dinheiro) e uma expansão crescente do comércio.
De acordo com os mercantilistas, os países que obtinham esses metais
deveriam mantê-los no próprio país, evitando exportá-los. E mais, o
país deveria obter saldo comercial favorável – exportações maiores que
importações – de bens, para que se beneficiasse dos pagamentos feitos em
ouro e prata. Para que a posição comercial fosse favorável, o país deveria
adotar políticas protecionistas de redução ou proibição de importações
compostas por tarifas e quotas ou, até mesmo, tentar criar monopólios
comerciais.
Vários governos procuraram monopolizar o comércio, estabelecendo
impérios coloniais que podiam ser controlados pela metrópole. Dessa
forma, as colônias se tornariam fornecedoras de matérias-primas baratas e
importariam das metrópoles produtos manufaturados caros (HUNT, 2005).
Para os mercantilistas, os ganhos de uma nação com o comércio surgiam
às custas de seus parceiros comerciais, ou seja, nem todas as nações
poderiam aproveitar, simultaneamente, os benefícios do comércio mundial
(CARBAUGH, 2004). No entanto, se todas as nações seguissem a mesma
estratégia de exportar o máximo possível e importar o mínimo necessário,
em pouco tempo não haveria comércio. Portanto, presume-se que as
proposições mercantilistas não eram consistentes. Somam-se a esse fato,
como exemplo, os interesses diversos dos mercadores-industriais ingleses
que eram obrigados a conviver com regulamentações que ora beneficiavam
as exportações em detrimento das importações, ora o contrário, devido às
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necessidades internas do país.
Em resposta a essas contradições, Adam Smith2 afirma que a falha dos
mercantilistas foi não perceber que uma troca deveria beneficiar as duas
partes envolvidas, pois uma economia só manterá transações espontâneas
com outra se perceber que conseguirá obter vantagens nesse intercâmbio.
Ensina o autor: “A riqueza não consiste em dinheiro, ou ouro e prata,
mas naquilo que o dinheiro pode comprar”
Adam Smith
Adam Smith era um defensor do livre-comércio e afirmava que as nações
poderiam concentrar sua produção nos bens que conseguissem produzir
de forma mais barata, obtendo vantagens absolutas. A teoria de Smith
parte da noção de valor-trabalho3, em que o pré-requisito para qualquer
mercadoria ter valor era ser fruto do trabalho humano. Desta forma, o valor
de troca de uma mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho
contido nela mais a mão-de-obra direta (o trabalho que usa os meios para a
produção da mercadoria) e a mão-de-obra indireta (o trabalho que produziu
os meios usados na produção da mercadoria).
Vamos olhar mais de perto o princípio da vantagem absoluta no comércio
internacional. Suponha que existam, no mundo, dois países4 e dois produtos
(modelo do tipo 2x2) que podem ser comercializados entre eles, como
trigo e sapato. Portanto, para seguir em nosso exemplo, vamos determinar
que os dois países consigam produzir os dois produtos, porém com custos
diferentes em cada um deles.
Possibilidades de produção de trigo e sapato na ausência de
produtividade
Produção por hora trabalhada
País Trigo Sapato
Brasil 50 sacas 80 pares
Argentina 120 sacas 40 pares
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De acordo com Smith, os custos diferem-se entre as nações por causa da
produtividade dos fatores de produção. As produtividades podem ser
atribuídas às vantagens naturais cujos fatores são relacionados com o
solo, o clima e a riqueza mineral ou às vantagens adquiridas resultantes
de aptidões, habilidades e técnicas especiais na produção. Uma explicação
lógica para as vantagens naturais seria que a Argentina possui clima
temperado na maioria de seu território, propício para a produção de trigo.
Em contrapartida, o Brasil possui uma enorme extensão territorial - o que
facilita a criação de animais que fornecem a matéria-prima para a indústria
calçadista.
Continuando com nosso exemplo, o Brasil possui uma clara vantagem
absoluta na produção de sapatos, pois a produtividade dos trabalhadores
é maior, resultando em custos menores. Com a Argentina, ocorre o mesmo
com relação ao trigo. Com relação a isso, afirma Smith que cada nação se
beneficia, especializando-se na produção do bem que produz a um custo
menor que o da outra nação, importando o bem que ela produz a um custo
maior. Como resultado do emprego dos recursos produtivos de forma
mais eficiente, proporcionado pela especialização, ocorre um aumento da
produção (o Brasil produzirá muito mais sapatos e a Argentina muito mais
trigo), beneficiando ambas as nações (CARBAUGH, 2004).
Fazendo uma releitura da argumentação de Smith sobre a vantagem
absoluta, devemos supor que cada nação deve ter pelo menos um produto
que produz com menor custo. Isso possibilitaria a ela exportar para seu
parceiro comercial. Todavia, é muita pretensão acreditar que isso realmente
sempre acontece. E se uma nação for mais eficiente que seu parceiro
comercial na produção de todos os produtos?
Essa também é uma situação difícil de ocorrer, mas não impossível. Lembre-
se de que o Brasil já foi um país altamente dependente da exportação de café
na primeira metade do século XX. E se um outro país ocupasse sua posição
de maior produtor e exportador de café, assegurando o mercado que antes
era nosso? Certamente não teríamos mais vantagem absoluta para com
nossos parceiros comerciais e responderíamos a pergunta anterior.
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Para responder a esse dilema, David Ricardo formulou a teoria das vantagens
comparativas, em que tentava explicar, de forma coerente, que o livre-
comércio internacional poderia ser mutuamente benéfico, mesmo que um
país produzisse todas as mercadorias de forma mais eficiente que o outro.
Vamos nos fixar em um exemplo:
Número de horas necessárias para produzir uma unidade de trigo e sapato
no Brasil e na Argentina
País Trigo Sapato
Razão entre
produção de
trigo e sapato
Razão entre
produção
de sapato e
trigo
Brasil 2 4 0,50 2,00
Argentina 3 5 0,60 1,66
É indiscutível que o Brasil, por esse exemplo, possui vantagens absolutas
na produção de trigo e de sapato em relação à Argentina, porque gasta
menos horas na produção de ambos. Se seguíssemos o argumento de
Smith, a Argentina não deveria produzir esses dois produtos, mas importá-
los do Brasil. Na visão de Ricardo, porém, existe uma vantagem relativa que
não pode ser desprezada.
O Brasil gasta 50% de horas para produzir trigo em relação ao que gastaria
para produzir sapato, enquanto a Argentina precisaria gastar 60%. Em
contrapartida, na Argentina, o trabalho incorporado ao sapato equivale
166% do trabalho do trigo, enquanto o Brasil usa 200%. Se o Brasil quisesse
produzir sapato e tornar-se mais eficiente, certamente poderia fazê-lo,
porém com um custo de oportunidade5, pois precisaria alocar mão-de-
obra da produção de trigo para a produção de sapato. Isso faria com que
a produtividade do trigo caísse e não garantiria uma vantagem relativa na
produção de sapato.
Está claro que o Brasil possui vantagem relativa (comparativa) na produção
de trigo e a Argentina na produção de sapato. Para Ricardo, o Brasil deveria
se especializar na produção de trigo, reduzindo, ainda mais, as horas gastas
para produzi-lo e a Argentina deveria se especializar na produção de
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sapato. O aumento da eficiência produtiva provocaria aumento no volume
de produção e tornaria a mercadoria mais barata. A partir daí, ambos os
países se beneficiariam do comércio não apenas entre si, mas com o resto
do mundo.
As economias de escala e o uso intensivo da tecnologia embasam a
vantagem comparativa de uma nação. Ao ampliar o tamanho do mercado de
uma empresa, o comércio internacional permite que ela obtenha vantagem
na escala de produção, produzindo maiores quantidades e obtendo uma
eficiência crescente.
Conforme Carbaugh (2004, p. 32-33), para demonstrar o princípio da
vantagem comparativa, Ricardo formulou um modelo simplificado, com
base nas seguintes premissas:
1. O mundo é formado por duas nações, cada uma usando uma dotação fixa
de mão-de-obra como único fator de produção;
2. A mão-de-obra movimenta-se livremente entre os setores de uma nação,
mas é incapaz de movimentar-se entre as nações;
3. O nível de tecnologia pode ser diferente entre as nações, porém é similar
entre as empresas de cada nação;
4. Os custos não variam com o nível de produção e são proporcionais à
quantidade de mão-de-obra utilizada;
5. A concorrência perfeita6 prevalece em todos os mercados;
6. Não existem barreiras governamentais que impeçam o livre-comércio;
7. Não há custos de transporte a serem considerados;
8. As empresas tomam decisões visando maximizar os lucros, enquanto os
consumidores maximizam a satisfação por meio do consumo;
9. Tanto as empresas quanto os consumidores consideram o comportamento
dos preços;
10. O comércio é equilibrado (as exportações precisam financiar as
importações), descartando, desse modo, fluxos de dinheiro entre as
nações.
A teoria das vantagens comparativas, desde a sua formulação, tem sido
encarada como ponto de partida para o entendimento do comércio
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internacional e das forças econômicas que o compõem.
Do final do século XIX ao início do século XX, surgiram diversos
questionamentos em relação aos supostos básicos dessa teoria. Se o
comércio existe em função das diferenças em custos relativos, então o que
explica essa diferença? Por que as funções de produção7 diferem entre países?
Por que supor custos constantes? Por que considerar apenas o fator de
produção trabalho, quando os processos produtivos eram crescentemente
dependentes de capital? (BAUMANN et al, 2004, p. 18).
1.2.1. Teoria das dotações de fatores
Para responder a esses questionamentos, os economistas Heckscher e
Ohlin8 formularam uma teoria que procurava responder o que determina
a vantagem comparativa e o efeito do comércio internacional sobre os
rendimentos dos vários fatores de produção das nações que participam
do comércio, ou seja, como se dá a distribuição de renda auferida com o
comércio (CARBAUGH, 2004).
Basicamente, a teoria de Heckscher-Ohlin, como ficou internacionalmente
conhecida, afirma que as forças produtivas de um país se especializam e
exportam os produtos que requerem a utilização mais intensiva de seu
fator de produção abundante. Grosso modo, isso significa que o Brasil
exporta minérios porque possui terra em abundância para ser explorada;
a Rússia exporta petróleo porque possui grandes extensões de bacias
sedimentares e a Alemanha exporta produtos de química fina porque
possui muita mão-de-obra qualificada.
As premissas básicas do modelo são (BAUMANN et al, 2004, p. 25-26):
1. Trata-se de um modelo de tipo 2x2x2 (dois países, dois produtos,
dois fatores de produção);
2. A demanda das nações possui os mesmos gostos e preferências;
3. Não há restrições ao comércio nem custos de transporte;
4. As funções de produção são idênticas entre países, mas distintas
entre setores;
5. Existe concorrência perfeita nos mercados de bens e de fatores de
produção;
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6. Há diferenças na intensidade de emprego de cada fator por parte
de cada setor, e o setor que é intensivo em trabalho em um país
também é no outro;
7. Os fatores de produção são totalmente móveis entre os setores e
imóveis entre países; e seus preços9, totalmente flexíveis;
8. Os produtos e os fatores são homogêneos em ambos os países.
A suposição de que uma nação exporta a mercadoria para a qual é
empregada uma grande quantidade do fator abundante e importa a
mercadoria cujo fator é escasso possui duas conotações. Uma é pensar
em termos absolutos, isto é, em função da quantidade de mão-de-obra
ou de capital alocados para a produção; outra é identificar o custo relativo
do emprego do fator de produção, ou seja, qual produção possui o fator
mais barato.
Veja os seguintes dados sobre a relação comercial entre Brasil e França.
Perceba que as exportações brasileiras estão concentradas em produtos
que possuem baixo valor agregado. Se fôssemos procurar a explicação na
teoria de Heckscher-Ohlin, poderíamos relacionar a pauta de exportações
ao fato de o Brasil possuir em abundância grandes extensões de terra,
inclusive a costa oceânica, as quais facilitam a produção dos produtos
descritos na tabela 1.
Já as exportações francesas para o Brasil (tabela 2) caracterizam-se pelo
emprego de alta tecnologia e pelo uso intensivo de capital. Essa produção é
favorecida pela abundância de mão-de-obra qualificada que emprega sua
capacidade na produção industrial.
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Por fim, a conclusão geral dos efeitos do comércio internacional sobre a
distribuição de renda é que os proprietários dos fatores abundantes de um
país ganham com o comércio, mas os proprietários dos fatores escassos de
um país perdem (KRUGMAN; OBSTFELD, 1999, p 78).
1.2.2. Teoria do ciclo de vida do produto
Até o momento, vimos teorias que explicavam a dinâmica do comércio
internacional, supondo um estado tecnológico dado e imutável. Entretanto,
as mudanças tecnológicas acontecem constantemente e se diferenciam
entre os países. O reconhecimento dessas mudanças fez surgir a teoria
do ciclo de vida do produto. Essa teoria nomeia a inovação tecnológica
como principal determinante dos padrões de comércio dos produtos
industrializados. Durante o ciclo, um país que é inicialmente exportador de
um produto, perde sua vantagem competitiva em relação a seus parceiros
comerciais e, finalmente, pode tornar-se importador. Os estágios, segundo
Carbaugh (2004, p. 98), pelos quais passam muitos produtos incluem:
1. O produto industrializado é introduzido no mercado interno;
2. A indústria doméstica torna-se forte em exportação;
3. Inicia-se a produção no exterior;
4. A indústria doméstica perde vantagem competitiva;
5. Começa a concorrência das importações.
A indústria automobilística norte-americana foi uma das pioneiras no
mundo e se orgulha de ser o berço de duas das maiores montadoras
mundiais de veículos: a GM e a Ford. A adoção de um modelo de gestão
produtiva, o fordismo, foi, por várias décadas, um parâmetro dentro do
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setor industrial. No entanto, um dos setores que mais bem espelhou
a capacidade de inovação tecnológica por parte das empresas norte-
americanas parece estar ameaçado justamente por empresas da China,
que até há pouco tempo, era considerada um grande elefante econômico10.
Veja um exemplo desse processo:
EUA se preparam para a “invasão chinesa”
A “invasão chinesa” chegará aos Estados Unidos (...). Segundo informações
da imprensa local, a Gelly será a primeira montadora da China a se
apresentar na maior mostra automotiva norte-americana, o Salão de
Detroit (...). O fabricante de automóveis deve exibir o sedã Ziyoujian, que
traz motor de quatro cilindros e 105 cavalos. O modelo é comercializado
por menos de US$ 5 mil na China.
Ainda segundo a imprensa norte-americana, a Gelly pretende iniciar
exportação para os Estados Unidos em 2007. Em setembro último, a
montadora marcou presença no Salão de Frankfurt e, para o ano que vem,
ela projeta iniciar as vendas de alguns de seus modelos na Europa.
Outra montadora chinesa que marcará presença em Detroit é a Great Wall
Auto, maior fabricante de picapes e utilitários esportivos do país. Entretanto,
a empresa só promoverá exposição de seus modelos em 2007. Já a Chery,
a mais conhecida montadora da China, afirma que não pretende participar
do Salão de Detroit. Entretanto, os embarques dos veículos da marca para
os Estados Unidos devem começar dentro de dois anos.
CARSALE. EUA se preparam para a “invasão chinesa”. Disponível em:
<http:// carsale.uol.com.br/noticias/ed101not5106.shtml>. Acesso em: 03
jan. 2006.
Síntese
Nesta aula, você identificou a base teórica em que está assentado o comércio
internacional. Percebeu que as teorias são formuladas, considerando as
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transformações produtivas e tecnológicas no tempo.
Referências Bibliográficas
BAUMANN, R.; CANUTO, O.; GONÇALVES, R. Economia internacional:
teoria e experiência brasileira. Rio de Janeiro: Elsevier/Campus, 2004.
CARBAUGH, R. J. Economia internacional. São Paulo: Pioneira Thomson
Learning, 2004.
CARVALHO, M. A.; SILVA, C. R. L. Economia internacional. São Paulo:
Saraiva, 2003.
CAVES, R. E.; FRANKEL, J. A.; JONES, R. W. Economia internacional:
comércio e transações globais. São Paulo: Saraiva, 2001.
HUNT, E. K. História do pensamento econômico: uma perspectiva crítica.
Rio de Janeiro: Elsevier/Campus, 2005.
KRUGMAN, P. R.; OBSTFELD, M. Economia Internacional – Teoria e Política.
São Paulo: Makron Books, 1999.
Legenda1 Principais autores mercantilistas: Thomas Mun, Jean-Baptiste Colbert, John
Locke, David Hume, John Law, Cantillon.
2 Adam Smith (1723-1790) publicou, em 1776, sua obra mais importante:
An Inquiry into the Nature Causes of the Welth of Nations (conhecida
como Riqueza das Nações) em que atacava todo o conjunto de idéias
mercantilistas.
3 O ponto de partida dessa teoria é o reconhecimento de que, em todas
as sociedades, o processo de produção pode ser reduzido a uma série
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de esforços humanos. Os progressos da produtividade humana têm sido
associados à extensão ou à elaboração dos processos de trabalho, que
culminam na criação de determinado produto. Tanto o capital (instrumentos,
máquinas e outros meios de produção) quanto o trabalho são produtivos e
ambos contribuem em igualdade para a produção. Em suma, a contribuição
dada por eles para a produção é simplesmente a contribuição humana dada
pelos que os produziram (HUNT, 2005, p. 46).
4 Pode-se considerar, também, uma relação entre um país e o resto do
mundo.
5 Conceito desenvolvido pelo economista Alfred Marshall em que existe um
custo decorrente de uma escolha em vez de outra supostamente melhor.
6 Caracterizada pela presença de muitos produtores e consumidores, os
produtos possuem qualidades similares e nenhum produtor isoladamente
é capaz de impor seu preço ao mercado.
7 Relação entre a produção de um bem e os fatores de produção necessários
para produzi-lo. Essa função apresenta-se na forma genérica Q = f(L, K,
t), em que Q é o produto, L é a mão-de-obra, K é o capital (máquinas e
equipamentos) e t é a tecnologia.
8 O economista sueco Eli Heckscher (1879-1952) enunciou o princípio, em
1919, e, mais tarde, seu discípulo, também sueco, Bertil Ohlin (1899-1979),
ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1977, desenvolveu em 1933,
o modelo que explica o comércio internacional a partir da abundância ou
raridade relativa dos fatores de produção nos países
9 O preço para o fator de produção trabalho é o salário e para o fator de
produção capital é o custo.
10 Metáfora que se refere ao fato de a China possuir uma economia
baseada essencialmente na agricultura, embora tenha, potencialmente,
o maior mercado consumidor do mundo. Na década de 1990, o governo
chinês promoveu uma abertura lenta e gradual da economia, permitindo
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uma ampla instalação de empresas estrangeiras no país e favorecendo o
desenvolvimento de empresas nacionais competitivas internacionalmente