coimbra: museu zoológico

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Coimbra: Museu Zoológico É apenas o «maior museu de história natural que hoje temos no país». Criado no século XVIII, fica em Coimbra e ao revelar a aventura da vida, em tamanho real e com um bom espaço dedicado ao património natural ibérico, abre caminhos de educação ambiental a quem o visita Texto: JG. Fotos: João L. Teixeira Segundo José Augusto Reis, técnico superior em serviço no museu, os pontos mais fortes da casa são as colecções que possui. Dentro delas «há várias espécies emblemáticas». Uma «é a cabra-brava do Gerês, pelo simples facto de estar extinta, e que serve muito para a mensagem que aqui passamos sobre a preservação do meio selvagem». Outra espécie a destacar «é a baleia, que impressiona as pessoas pela dimensão do seu esqueleto: 20 metros». Trata-se de uma experiência única para os visitantes, uma vez que conseguem estar perante um exemplar vendo-o na totalidade». Olhar as baleias na televisão é diferente, para além de aparecerem fora de água ou só a cabeça ou só a cauda. Dentro do ponto de vista do anfitrião, as «colecções zoológicas representam uma área que atrai pessoas de todas as idades» e, ao contrário de outras, não se cinge a um público restrito. Acresce o facto de «o próprio edifício, do século XVIII, apesar das alterações que sentiu ao longo da história», inclusive «o seu mobiliário», serem atractivos. Sublinha: «Já tivemos visitantes que vieram cá só para isso». O cenário desta conversa é a sala dedicada à fauna ibérica. Vemos espécies que outrora já existiram em Portugal, como o quebra- ossos. Esta grande ave de rapina, com dois metros e meio de envergadura, voava em regiões como o Douro Internacional, recolhendo com as garras parte dos esqueletos expostos por lobos e necrófagos. Lá do alto, deixava cair os ossos que, ao partir, revelavam o nutritivo tutano. Mas nem só de animais de penas ou pêlo se faz o grupo zoológico exposto. Entre os peixes, o museu expõe um valente esturjão, com mais de um metro. José Augusto Reis fala desta espécie de grande valor comercial, que se explorou em tempos também no nosso país: «O Tejo e Sado foram ricos em esturjão. Depois, este peixe típico de estuário acabou por desaparecer». Completa: «Em Espanha ainda existem. Há uns anos tivemos cá investigadores espanhóis que se interessaram pela espécie para ver se era possível a reintrodução em maior escala, a ver se se aguentava». O caviar, feito das ovas deste peixe, continua a ser um negócio: «Sobre Espanha tenho ouvido que nalguns rios houve sucesso». E salienta: «Há quem pense, tal qual os golfinhos, que «Um dos trunfos do museu é a raridade de algumas espécies e a diversidade das colecções», afirma José Augusto Reis junto do grande esqueleto de baleia Lince-ibérico Sala de exposição da fauna portuguesa Esturjão 36 REPORTAGEM

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36 REPORTAGEMEsturjãoSala de exposição da fauna portuguesaLince-ibéricoCoimbra: Museu ZoológicoTexto: Jorge Gomes É apenas o «maior museu de história natural que hoje temos no país». Criado no século XVIII, fica em Coimbra e ao revelar a aventura da vida, em tamanho real e com um bom espaço dedicado ao património natural ibérico, abre caminhos de educação ambiental a quem o visitaSegundo José Augusto Reis, técnico superior em serviço no museu, os pontos mais fortes da

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Page 1: Coimbra: Museu Zoológico

Coimbra: Museu ZoológicoÉ apenas o «maior museu de história natural que hoje temos no país». Criado no século XVIII, fica em Coimbrae ao revelar a aventura da vida, em tamanho real e com um bom espaço dedicado ao património natural ibérico,abre caminhos de educação ambiental a quem o visita

Texto: JG. Fotos: João L. Teixeira

Segundo José Augusto Reis, técnico superiorem serviço no museu, os pontos mais fortesda casa são as colecções que possui. Dentrodelas «há várias espécies emblemáticas».Uma «é a cabra-brava do Gerês, pelo simplesfacto de estar extinta, e que serve muito paraa mensagem que aqui passamos sobre apreservação do meio selvagem».Outra espécie a destacar «é a baleia, queimpressiona as pessoas pela dimensão doseu esqueleto: 20 metros». Trata-se de umaexperiência única para os visitantes, uma vezque conseguem estar perante um exemplarvendo-o na totalidade». Olhar as baleias natelevisão é diferente, para além de apareceremfora de água ou só a cabeça ou só a cauda.Dentro do ponto de vista do anfitrião, as«colecções zoológicas representam uma área

que atrai pessoas de todas as idades» e, aocontrário de outras, não se cinge a um públicorestrito.Acresce o facto de «o próprio edifício, doséculo XVIII, apesar das alterações que sentiuao longo da história», inclusive «o seumobiliário», serem atractivos. Sublinha: «Játivemos visitantes que vieram cá só para isso».O cenário desta conversa é a sala dedicadaà fauna ibérica. Vemos espécies que outrorajá existiram em Portugal, como o quebra-ossos. Esta grande ave de rapina, com doismetros e meio de envergadura, voava emregiões como o Douro Internacional,recolhendo com as garras parte dosesqueletos expostos por lobos e necrófagos.Lá do alto, deixava cair os ossos que, ao partir,revelavam o nutritivo tutano.

Mas nem só de animais de penas ou pêlo sefaz o grupo zoológico exposto. Entre os peixes,o museu expõe um valente esturjão, com maisde um metro. José Augusto Reis fala destaespécie de grande valor comercial, que seexplorou em tempos também no nosso país:«O Tejo e Sado foram ricos em esturjão.Depois, este peixe típico de estuário acaboupor desaparecer». Completa: «Em Espanhaainda existem. Há uns anos tivemos cáinvestigadores espanhóis que se interessarampela espécie para ver se era possível areintrodução em maior escala, a ver se seaguentava».O caviar, feito das ovas deste peixe, continua aser um negócio: «Sobre Espanha tenho ouvidoque nalguns rios houve sucesso». E salienta:«Há quem pense, tal qual os golfinhos, que

«Um dos trunfos do museu é a raridade de algumas espécies e a diversidade das colecções», afirma José Augusto Reis junto do grande esqueleto de baleia

Lince-ibéricoSala de exposição da fauna portuguesaEsturjão

36 REPORTAGEM

Parques e Vida Selvagem Inverno 2008/9

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servem de barómetro da qualidade da água — quantos mais houver maior a indicação de queas águas são boas».Se uma fatia desta diversidade se extinguiu,outros estão à beira do precipício: ao olhar asvitrinas, vemos um gato-bravo, ameaçadosobretudo pelo hibridismo com o gato-doméstico. Também entre felinos ali pertoestão vários linces-ibéricos...Num instante repesca-se uma ideia fantástica:e se um dia a tecnologia evoluir ao ponto deser possível clonar alguma destas espéciesextintas?«Esse é outro ponto forte do museu». JoséAugusto Reis informa que «há investigadoresportugueses e estrangeiros que procuram estemuseu para conseguirem pequenasamostras». Necessitam de «uma amostra depêlo possivelmente para testes de ADN».E de onde terão vindo tantos animaisembalsamados? Com 230 anos de existência,«as peças das colecções deste museu foramprovavelmente caçadas. Antigamente nãohavia a escassez de hoje e muito menos apreocupação de que se viriam a extinguir.Outros exemplares resultam de uma morteem cativeiro e, como acontece hoje, perguntam

Museu ZoológicoLargo Marquês de Pombal3004-517 CoimbraTel.: 239491650 – Fax: 239855789E-mail: [email protected]: www.uc.pt/museuzoo

As colecções mais antigas – na altura o registo dos animais fazia-se com rigorosos desenhos

Espaço da fauna sul-americana Cabra-brava do Gerês, extinta

Coimbra: Zoological Museum

This museum, located in Coimbra, was created inthe XVIII century and is the largest museum ofnatural history in Portugal today. It reveals theadventure of life in real life size and has a hugespace which is dedicated to the Iberian naturalheritage, this way contributing to the environmentaleducation of those who visit.

com frequência ao museu se está interessadoneles».Todo este conjunto fantástico aproveitado danatureza suscita reacções. Por exemplo, entreos visitantes de mais tenra idade, oscomportamentos são engraçados. Nos verdesanos «tudo é grande aos seus olhos. É aténecessário incentivá-los a andar, porque ficamparados, de boca aberta, a ver esta diversidadetoda».A visita de crianças que vêm da cidade provocouum elemento novo: «a dada altura começámosa perceber que havia miúdos que não sabiamde onde vinham os alimentos: o frango, o porco,a cabra, etc.». Daí a colocação da quinta, comalguns dos seus animais domésticos.Um outro espaço revela ambientes exóticos, daAmérica do Sul. A preguiça, os beija-flor,borboletas enormes, entre outros, antecedema representação opulenta de África.

CONTACTOS

Mimetismo

Após os herbívoros, uma gibóia africana dequatro metros: «Já tivemos aqui quem passassecom ligeireza a olhar para o lado. Sabem queestá tudo morto, mas…». Os sons da selva dãoambiente, o que não dificulta às crianças acompreensão de que não há qualquer perigo.Na galeria dos mamíferos marinhos e damalacologia domina o som do mar. O imensoesqueleto da baleia até parece ondular, sob umaluz azul coada.A origem primeira deste museu liga-se aomarquês de Pombal. Em 1772, ordenou umareforma dos estudos superiores. Surgiu aFaculdade de Filosofia da Universidade deCoimbra. Os seus estatutos queriam que osalunos observassem a natureza e fizessemdemonstrações experimentais.Ontem, como hoje, o interesse didáctico destemuseu continua de vento em popa.

Parques e Vida Selvagem Inverno 2008/9