cidades perdidas da amazônia

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Cidades perdidas da Amaznia - Manoa e So Vicente.Runas de So Vicente. Possvel cidade perdida no estado do Mato Grosso.

As investidas em busca de cidades perdidas na amaznia brasileira no foram poucas. Vrios escritores de fico cientfica j escreveram algo sobre possveis civilizao pr-colombianas em estgio avanado habitando as selvas brasileras em grandes cidade com infraestrutura espetacular. O famoso coronel Percy Fawcet, britnico que desapareceu em 1925 na regio do Xingu, teria inspirado filme com Indiona Jones. Arthur Conan Doyle no seu livro O mundo perdido 1912 e Augusto Emlio Zaluar escreveram sobre possveis cidades e civilizaes no interior do Brasil. Manoa. Seria uma cidade pr-colombiana na amaznia em algum ponto entre o rio Orenoco e o Amazonas. As notcias sobre essa cidade teriam se espalhado com a conquista do Peru pelos espanhis, os nativos falavam de um cacique dourado que mergulhava nas guas de um lado chamado Guatavita que era coberto de p de ouro. Os sditos desse cacique ofereciam ouro e pedras preciosas s divindades do lago. Vrias expedies espanholas e inglesas varreram a regio do amazonas entre o Orenoco e o Paraguai em busca de tal cidade. Numa delas o cronista padre Carvajal teria encontrado um homem de pela clara numa aldeia da regio amaznica, este homem estava ornado com peas de ouro e era tratado com muito respeito pelos habitantes da tribo que o recebia, pelo fato de ser enviado do grande rei de Manoa. So Vicente. Uma lenda indgena transcrita pelo padre salesiano Nicolo Badoriotti em 1898 dizia que o pai de vrios ndios da regio do Guapor: nhambiquara, apiacs e tapanhuns teria sido Uazare. O supremo chefe governava a regio de uma grande cidade de pedra nas proximidade do rio Jurema. Pesquisadores brasileiros tomaram conhecimentos por volta de 1982, de fotos obtidas por satlites dos Estados Unidos que teriam encontrado runas na amaznia brasileira. Outra vez montaram mais uma expedio para constatar tais runas. Sempre inspirados em histrias antigas, relatos de indgenas que usavam muito ouro e com base em fotos de runas tiradas por satlites. Fotos essas que hoje so reconhecidas e constatadas pela cincia oficial (clique aqui e leia sobre o assunto). Dessa vez a expedio, apesar dos grandes problemas enfrentados, constatou uma runa conhecida como So Vicente. Essas runas ficavam dentro da Fazenda So Vicente, prximo s nascentes do rio Galera. Essa fazenda est em terras do municpio de Vila Bela da Santssima Trindade, em Mato Grosso. Referncia: ABREU, Aurlio M. G. Civilizaes que o mundo esqueceu. 2ed. So Paulo: Hemus, (s/d) (inclusive imagem).

As Cidades Perdidas da Amazniamuito legal (41) 30 opinies 0 favoritos 32124 acessos Teria Hitler fundado uma cidade secreta no corao da selva Amaznica?

No incio do ano de 1984, um assassinato muito estranho mobilizou toda a polcia da cidade do Rio de Janeiro, tendo inclusive repercusso internacional. Karl Albert Brugger, jornalista alemo, recentemente chegado ao Brasil, passeava pela movimentada Praia de Ipanema, quando, em plena luz do dia, um estranho "assaltante" que por sinal nada roubou - aproximando-se dele, tirou-lhe a vida mediante o certeiro disparo de uma potente arma de fogo em uma regio vital. Em suma: um "trabalho" de extrema preciso, digno de um assassino profissional! At hoje sem soluo, o estranho caso tinha, todavia, um enorme mistrio que dizia respeito busca que aquele jornalista alemo fazia, com relao a um documento secreto que fora descoberto nos arquivos secretos da inteligncia nazista dando conta que no distante ano de 1945 - em plena Segunda Guerra Mundial - Hitler despachara para o Brasil um submarino equipado com avies anfbios e tropas de elite da SS, precisamente em direo s densas e impenetrveis florestas da Amaznia! Esses documentos continham inclusive um filme, que mostrava a montagem de uma base alem ultra-secreta nas selvas brasileiras! Porm, o que motivara a vinda do jornalista ao Brasil, foi o estranho episdio ocorrido em 1971, quando o comandante Ferdinand Schimdt, veterano piloto comercial da Swissair e outros membros uniformizados da sua tripulao, foram abordados nas ruas de Manaus (capital do Estado do Amazonas) por um curiosos "mendigo" que lhes pedira ajuda.... Falando fluentemente o alemo! Naturalmente surpresos e extasiados com tal mendigo poliglota, os tripulantes da Swissair entabularam uma longa conversa com ele e obtiveram sensacionais revelaes: dizendo-se membro da tribo dos ndios brasileiros Ugha Mogulala (at ento desconhecida), revelou ser mestio de soldado alemo e me indgena! Soltando ainda mais a lngua, o surrealista "mendigo" disse que seu povo recebera de 1939 a 1941 cerca de DOIS MIL soldados nazistas, os quais levavam consigo sofisticada aparelhagem, tendo se instalado em pleno corao daquelas densas selvas! Retornando Alemanha, o comandante Schmidt procurou aquele jornalista e relatou esse estranho fato, o que o levou a procurar mais pistas e vir ao Brasil onde enfim encontrou o tal "mendigo". Brugger, ento, quase no acreditou naquilo que ouviu daquela estranha personagem: a existncia de TRS CIDADES PERDIDAS NAS SELVAS AMAZNICAS, as quais inclusive tinham nomes: AKAHIM, AKAKOR e AKANIS! E mais: que na primeira delas, AKAHIM, era objeto de adorao da sua tribo um objeto milenar que fora entregue aos antigos sacerdotes pelos DEUSES VINDOS DO CU e que, segundo as mais antigas tradies, "comearia a cantar no momento em que aqueles deuses estivessem prestes a retornar Terra"!

Brugger talvez tenha falado demais e a revelao desse encontro, bem como os antecedentes do caso representados pelos tais documentos secretos do nazismo, acirraram uma intensa disputa por parte de jornalistas, pesquisadores e alguns aventureiros, que logo trataram de se embrenhar nas selvas amaznicas para descobrir as tais cidades perdidas. Porm, os estranhos "acidentes", as mortes misteriosas e os ferozes ataques de ndios desconhecidos, fizeram muitas vtimas fatais e impediram totalmente o acesso hostil regio em que presumidamente elas se situariam. A revista brasileira VEJA, contudo, atravs de um sensacional furo de reportagem, foi a primeira a sobrevoar aquela inacessvel rea, situada no Alto Rio Negro, e at mesmo filmou e fotografou diversas pirmides, obviamente frutos de uma civilizao desconhecida, encobertas pelas espessas e milenares florestas! J em 1979, Brugger retorna ao Brasil e, concorrendo at com o escritor Erich Von Dniken, organiza uma expedio visando a atingir aquela regio misteriosa. Mais uma vez os "acidentes" e outras misteriosas "circunstncias" frustaram aquelas tentativas. No se dando por vencido, o jornalista retorna Alemanha e comeou a se aprofundar no bizarro interesse nazista pelas tais cidades perdidas e, mediante certos fatos inditos que conseguira, comeou a trabalhar nos originais de um "livro-bomba" que conteria sensacionais revelaes, precisamente sobre esse particular. Tendo talvez violado certas "portas proibidas", mesmo decorridas muitas dcadas do aparente fim do nazismo, naquela que seria a ltima viagem da sua vida, Brugger volta ento mais uma vez ao Brasil para se encontrar com um colega de profisso que tambm trabalhava nessas pesquisas, encontrando to-somente a morte de forma misteriosa nas belas caladas da Praia de Ipanema, sem que houvesse qualquer testemunha de to estranho e inusitado "assalto" - se que foi mesmo assalto. Agora, seria interessante que examinemos o que se esconde por trs dos bastidores dessa intrigante estria: Hitler e os altos oficiais do nazismo, mantinham estreitos contatos com uns tais "Superiores Desconhecidos", os quais inclusive lhes entregaram o domnio de uma tecnologia inteiramente fora da sua poca: avies supersnicos; foguetes; msseis (V1 e V2); barreiras eletrnicas de proteo que desviavam as bombas aliadas; e at mesmo... UM PIRES VOADOR ultra-avanado que chegou a voar em manobras de testes - em outras palavras a rplica de um OVNI! E se hoje as nossas grandes potncias possuem tais tecnologias, copiaram-nas exatamente dos projetos do Terceiro Reich! Os cientistas alemes foram disputados a tapas pelo vencedores da Segunda Guerra Mundial e agora quando desfrutamos da tecnologia espacial, atingindo outros corpos celestes, devemos de certa forma isso a eles - que trabalharam inclusive na NASA e na extinta URSS. Por outro lado, sabe-se que nem sequer a tera parte dos altos oficiais nazistas foi encontrada aps o trmino da Segunda Guerra Mundial. E at mesmo o pretenso suicdio de Hitler parece ter sido uma bem montada farsa, talvez para dar uma satisfao opinio pblica! A Amrica do Sul, alis, parece ter sido um notvel ponto de interesse para aqueles refugiados. Um lugar perfeito para se esconderem! E que lugar mais apropriado do que as densas selvas da Floresta Amaznica, to hostil que chega a

ter certos stios, alguns deles considerados "sagrados e tabus", onde nem mesmo os ndios se atreveriam a ir? O fato de os nazistas terem escolhido certas runas originrias de um passado muito distante, quando os tais "Deuses Vindos do Cu" deixaram certos equipamentos que periodicamente entravam em operao, bem como o estranho interesse em precisamente l estabelecerem uma base secreta e avanada - quem sabe nos dias de hoje ainda operante - talvez tenha decretado a sentena de morte de todos aqueles que, de forma temerria e ousada, se atreveram a bisbilhotar os soturnos subterrneos desse atordoante e alm de tudo extremamente perigoso enigma......

Cerca de 2 mil soldados das tropas de elite nazistas teriam estabelecido uma base secreta nas selvas amaznicas!

Esquema do "pires voador" nazista, capturado pelos aliados

Adolf Hitler, o fhrer que planejava conquistar o mundo, mantinha estranhas ligaes com uns tais "superiores desconhecidos", provavelmente aliengenas, os quais entregaram ao Terceiro Reich certos conhecimentos tecnolgicos muito alm da sua poca!

E, quem sabe, verdadeiros colossos, talvez maiores do que estes e que dormem seu sono milenar em meio s impenetrveis florestas da Amaznia, sejam um dia revelados e demonstrem a real existncia das trs cidades perdidas que delas fariam parte. Onde, possivelmente, em tempos muito recuados, os distantes "deuses vindos do cu" deixaram algo que talvez seja muito importante para a nossa humanidade. To importante que motivou a cobia daqueles que pretendiam dominar o mundo!

Notas Arqueolgicas

Civilizaes perdidas da Amazniapor Cludia Castro Lima

Os primeiros relatos dos colonizadores europeus que navegaram pela regio amaznica davam conta da existncia de cidades douradas e de mulheres guerreiras. Falavam tambm de grandes tribos ao longo dos rios. Gaspar de Carvajal, padre que integrou a primeira expedio ao Amazonas, chefiada, em 1542, por Francisco Orellana, descreveu-as assim: No h distncia de um tiro de balestra entre a ltima construo de uma aldeia e a primeira de outra. E nossos barcos navegam 5 lguas entre o incio e o fim de cada aldeia. O capito Altamiro, da expedio de Aguirre, em 1559, arriscou um clculo para estimar a populao local. Fomos recebidos por no menos que 300 canoas e em cada uma vinham dez ndios. Durante sculos esses relatos foram tomados como pura fantasia, at pela cincia. De duas dcadas para c, porm, descobertas arqueolgicas no deixam dvidas de que a regio abrigou cidades muito maiores do que as que foram descobertas pelos europeus, que mantinham entre si relaes de poder e hierarquia, faziam alianas, comercializavam e, claro, guerreavam. O indcio mais recente dessas civilizaes foi descoberto pelo arquelogo Michael Heckenberger, da Universidade da Flrida. Em seu trabalho, publicado em outubro na revista americana Science, Heckenberger conta que localizou no Alto Xingu, nordeste do Mato Grosso, vestgios de grandes agrupamentos ligados por estradas e com construes sofisticadas, como pontes e barragens defensivas. A complexa rede de comunicao entre as aldeias comprova a existncia de uma grande civilizao, diz. Carlos Fausto, antroplogo do Museu Nacional do Rio de Janeiro, co-autor do estudo, conta que foram mapeados 19 stios arqueolgicos da poca pr-Cabral. Algumas aldeias chegavam a ter 500 metros quadrados e abrigavam entre 7500 e 15000 habitantes, afirma. Com o auxlio de satlites GPS (sigla em ingls para Sistema de Posicionamento de Global), o trabalho mapeou os caminhos que ligavam as aldeias. Eles tinham entre 10 e 50 metros de largura e at 5 quilmetros de extenso. Pudemos localizar intervenes na paisagem original, como aterros, valas, barreiras de conteno, afirma o pesquisador Heckenberger. As cidades se pareciam com as aldeias atuais: as residncias ficavam em torno de uma praa central, que servia como rea para prticas religiosas. No entorno dos povoamentos, encontramos fossos com at 3 metros de profundidade que, provavelmente, serviam para proteger os habitantes. A concluso derruba a teoria de que a Amaznia foi uma floresta virgem, intocada. A pesquisa no Alto Xingu mostra apenas uma das vrias sociedades complexas daquela regio. Elas existiam em outras partes da Amaznia, na Bolvia, no trecho do rio Amazonas quase inteiro, no mdio e baixo Orinoco e em outras reas, afirma Michael Heckenberger. Em 1492, a Amaznia era provavelmente uma rea de enorme variabilidade cultural, com grupos regionalmente interligados.

Bero do BrasilProvas das complexas sociedades amaznicas no so propriamente novidade. A civilizao marajoara, que prosperou entre os sculos 2 e 12, na ilha de Maraj, e a tapajnica, que ocupou a regio de Santarm (ambas no Par) at o sculo 16, so dois exemplos conhecidos. No geral, em todas houve grandes intervenes humanas na paisagem. Os marajoaras, por exemplo, erguiam aterros com at 10 metros de altura e centenas de metros de comprimento sobre os quais construam suas casas, tudo para evitar as cheias. Havia intercmbio entre as diferentes civilizaes, como mostram os elementos comuns na iconografia e nas artes, diz Eduardo Ges Neves, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de So Paulo (MAE-USP). A confluncia dos rios Negro e Amazonas tambm abrigou uma grande civilizao. Na regio, estudada por uma equipe do MAE desde 1997, foram descobertos vestgios de atividade humana, como a terra preta, uma cobertura no natural, fruto do acmulo de material orgnico, onde foram encontrados restos de

cermica, pedra lascada e outros resduos que indicam a presena do homem no local h at 3 mil anos. Pelo volume de material encontrado, podem ter vivido ali cerca de 15 mil pessoas no sculo 16, diz Eduardo.

Arqueologia via satliteO uso do GPS (Sistema de Posicionamento Global) foi fundamental para a pesquisa do arquelogo Michael Heckenberger. O equipamento fornece as coordenadas e a altitude de qualquer ponto na Terra. Com o sistema, foi possvel mapear a dimenso das aldeias e descobrir as alteraes no solo que foram encobertas pela vegetao. S assim foi possvel detectar o traado das estradas (em vermelho), pontes (em azul) e valas (em preto). As reas verdes representam a cobertura vegetal atual e as que aparecem em roxo so os rios e reas alagadas

"Durante 500 anos, os exploradores tm tentado descobrir cidades perdidas na regio do Amazonas.

"Ao contrrio do que se dizia, o Brasil tinha sociedades complexas antes da chegada de europeus"

Na escola, os livros de Histria ensinam, rapidamente, que havia trs grupos indgenas com sociedades avanadas na Amrica pr-colombiana, at 1492: astecas e maias acima do Equador e incas aqui nos Andes. Exibindo cidades com rica arquitetura erigida em pedra, domnio sobre a agricultura, hierarquia social e certos conhecimentos cientficos, esses povos, cada um sua maneira e com suas particularidades, costumam ser agrupados na coluna das "civilizaes" conquistadas - destrudas, talvez seja o melhor termo - pelas armas de fogo e doenas trazidas pelos primeiros colonizadores europeus do sculo 16. So a luz que se apagou com a chegada do homem branco. Aos demais povos amerndios, inclusive os do Brasil, igualmente vtimas do desembarque dos novos senhores vindos do Velho Mundo, restou a imagem de sociedades primitivas, das trevas, sem refinamento cultural ou marcantes distines de classes, composta por pequenas aldeias isoladas umas das outras onde imperava o nomadismo.Enfim, representavam o atraso - perto do esplendor imperial de seus contemporneos andinos e centro-americanos.Recentes descobertas arqueolgicas em pelo menos dois pontos distintos da Amaznia brasileira sugerem que astecas, maias e incas no eram os nicos a ter o monoplio das sociedades complexas na poca do desembarque do navegador Cristvo Colombo. Nos ltimos anos, intensos trabalhos de campo conduzidos por pesquisadores nacionais e do exterior no Alto Xingu, no norte do Mato Grosso, e na confluncia dos rios Negro e Solimes, a cerca de 30 quilmetros de Manaus, no Amazonas, indicam a existncia de grandes e refinados assentamentos humanos, habitados simultaneamente por alguns milhares de pessoas, nessas reas 500 anos atrs ou at mesmo antes disso.As evidncias mais espetaculares de ocupaes dessa magnitude - um feito s possvel com a adoo de um estilo de vida sedentrio e de prticas que alteravam a floresta nativa e possibilitavam a adoo de uma agricultura razoavelmente produtiva - saram de stios pr-histricos situados nas terras hoje habitadas pelo povo kuikuro, dentro da reserva indgena do Xingu, e se materializaram nas pginas da edio de 19 setembro de revista norte-americana Science, uma das publicaes de maior peso entre os cientistas.Num artigo de quatro pginas, ilustrado por seis imagens de satlite, uma pouco usual equipe de autores - trs da Universidade da Flrida, dois do Museu Nacional do Rio de Janeiro e dois ndios kuikuro - descreve a estrutura do tipo de sociedade que havia nesse ponto da Amaznia entre 1.200 e 1.600 d.C.: um conjunto de 19 aldeias de formato circular, as maiores protegidas por fossas de at 5 metros de profundidade e muros de paliadas, interligadas por uma extensa e larga malha de estradas de terra batida. Os pesquisadores estimam que entre 2.500 e 5.000 pessoas moravam nas maiores aldeias.O capricho e a preciso com que as vias foram concebidas e executadas impressionam. Elas eram extremamente retilneas, com larguras entre 10 e 50 metros e extenso de 3 a 5 quilmetros. "As estradas so um trabalho de engenharia que movimentou uma quantidade enorme de terra no plano horizontal", afirma o arquelogo Michael Heckenberger, da Universidade da Flrida, principal autor do texto na Science, um norte-americano de 41 anos que fala portugus fluentemente por ter vivido sete anos no Brasil, um e meio dos quais dentro do Xingu.Indcios de praas, pontes, represas e canais e do cultivo de mandioca e outras plantas tambm foram encontrados no stio arqueolgico, que compreende uma rea de 400 quilmetros quadrados, equivalente a um tero do territrio da capital fluminense, no muito distante das trs aldeias contemporneas dos kuikuro. "Construir essas estruturas na floresta talvez no tenha sido mais complicado do que fazer pirmides, mas representa uma outra forma de monumentalidade", compara Heckenberger. "Esse povo tinha uma

monumentalidade horizontal", diz o antroplogo Carlos Fausto, do Museu Nacional, outro autor do estudo.

"As estradas tinham uma funo mais esttica do que prtica." Segundo Fausto, os ndios no transportavam nada de to grande entre as aldeias que justificasse abrir caminhos de, no mnimo, 10 metros de largura, onde passam com folga dois automveis. Os largos caminhos desbravados na floresta estariam ligados tradio de promover rituais coletivos entre as tribos e simbolizariam a unio entre as aldeias. Se essa hiptese estiver correta, entre os sculos 13 e 16, enquanto os incas, por exemplo, demonstravam o seu conhecimento construindo cidades de pedra nas terras altas dos Andes, os membros desse antigo povo do Xingu, instalados numa rea plana de floresta tropical, montavam uma majestosa malha viria nas franjas da Amaznia, talvez o seu legado arquitetnico mais surpreendente.Os vestgios da "cidade" xinguana foram datados pelo mtodo de carbono 14 e o traado das estradas, que se baseava nos movimentos do Sol e denotava conhecimentos de astronomia, foi mapeado com o auxlio de um GPS de alta preciso. A verso do aparelho usado no Xingu, capaz de fornecer a localizao precisa de um ponto geogrfico com o auxlio de satlites, tinha uma margem de erro de menos de 1 metro. O instrumento foi de grande valia para os dois ndios que tambm assinam o artigo da Science, Afukak Kuikuro e Urissap Tabata Kuikuro. "Eles so timos em achar o trajeto das estradas e stios arqueolgicos", conta Heckenberger. Muitas vezes, trechos dos caminhos abertos pelos habitantes dos antigos assentamentos encontram-se atualmente tomados pela floresta. Nesses pontos, difcil localizar os salientes meios-fios que se formavam nas bordas das estradas e que podiam chegar a 1 metro de altura.Os autores do estudo acreditam que, em seus aspectos centrais, o assentamento pr-colonial era uma verso expandida do modo de vida dos menos de 600 kuikuro presentes hoje no Xingu, que tambm abrem estradas e fazem roas. Nas antigas aldeias de carter mais residencial, as casas, provavelmente erigidas com estrutura de madeira e cobertas por sap, como as moradias atuais, ficavam em torno da praa central. A diferena que agora existe apenas um anel de moradias. Na poca do descobrimento da Amrica, deveria haver vrios. No h, contudo, certeza de que os ndios que ali viveram h 500 anos eram realmente os ancestrais dos atuais kuikuro.A hiptese est longe de ser absurda, embora no tenha sido comprovada. "Mas, como h continuidade cultural ao longo de mais de mil anos de histria dos povos do Xingu, pode-se pensar o passado por meio do presente", diz Fausto. " bem possvel que vrios aspectos da cultura xinguana atual j estivessem presentes entre as populaes que construram e viveram nas antigas grandes aldeias." Entre eles, a adoo de hierarquia poltica, que distingue os ndios entre chefes e no-chefes, e de alguns rituais intertribais, semelhantes ao o famoso Quarup, a festa em homenagem aos lderes mortos.Os ndios da poca pr-colonial viviam em perfeita harmonia com a floresta intocada, certo? Bem, acredita-se que eles estavam em paz com o meio ambiente. Mas a mata - foroso dizer - no era mais virgem. Para edificar uma sociedade de tal complexidade, com estradas ligando aldeias fortificadas e cintures agrcolas ao seu redor, os antigos kuikuro promoviam grandes alteraes na paisagem natural - assim como fazem os kuikuro de hoje. Mas os pesquisadores se apressam em dizer que no se tratava de agresses descabidas aos recursos naturais."Alguns estudos de etnobotnica mostram que o manejo indgena do meio ambiente, de forma consciente ou inconsciente, tende a produzir maior biodiversidade do que se a floresta fosse, de fato, 'virgem'", explica Fausto. Ecologistas mais radicais, romnticos, podem ter visto o trabalho dos brasileiros e norteamericanos na Science como um estmulo ao desmatamento da floresta. No se trata disso. Provocativamente intitulado "Amaznia 1492: Floresta Virgem ou Bosque Cultural?", o texto sugere que aquilo que a maioria das pessoas encara como "floresta virgem" , na verdade, produto de uma interao milenar entre as populaes indgenas e o ecossistema. E que a interferncia humana no meio ambiente no degradou o solo local.

Terra preta -

Muitos quilmetros acima dos antigos assentamentos na rea dos kuikuro, mais vestgios de sociedades complexas na poca do descobrimento saem de uma mini-Mesopotmia tropical,

distante 30 quilmetros de Manaus, e parecem confirmar as descobertas no Alto Xingu. Numa poro de terra situada na confluncia entre os rios Solimes e Negro, a equipe de Eduardo Ges Neves, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de So Paulo (MAE/USP) identificou 70 stios arqueolgicos com evidncias de presena humana e realizou 71 dataes por carbono 14 para determinar a sua idade aproximada. Os stios mais antigos remontam a 8.000 anos. Num deles, por exemplo, descobriu-se uma ponta de lana feita de slex de 7.700 anos. As reas arqueolgicas mais novas, que concentram a maior parte dos trabalhos realizados at agora, tm stios com idade entre 2.500 e 500 anos. Cinco desses stios mais recentesj foram escavados e mapeados digitalmente: Autuba, Osvaldo, Lago Grande, Hatahara eDonaStella. O material de estudo nesses locais pode at ser menos espetacular do que as antigas estradas do Alto Xingu. Mas no menos eloqente.Nessa regio prxima periferia da capital amazonense, foram encontradas partes de esqueletos humanos dispostas diretamente no solo ou dentro de urnas, incontveis fragmentos de cermicas, valas escavadas na parte de trs de alguns stios, resqucios de paliadas - e muita terra preta. Extremamente frtil e rico em nutrientes e repleto de pedaos de cermica, esse tipo de solo orgnico costuma ser interpretado como uma marca produzida por grandes e prolongados assentamentos em uma determinada regio. Em alguns locais, a terra preta foi usada pelos povos pr-colombianos, junto com centenas de pedaos de cermica, como matria-prima para construir montculos de 1 ou 2 metros de altura que tinham a funo de tumbas. Escavando esses montculos, os pesquisadores depararam, s vezes, com urnas funerrias."Todos esses elementos indicam que a presena dos povos amerndios foi contnua em alguns pontos da Amaznia Central", diz Neves, cujo projeto financiado pela FAPESP. "Certos stios foram habitados por dcadas seguidas, talvez at mais de cem anos ininterruptos, por uns poucos milhares de pessoas."Como esse conjunto de achados do passado interpretado pelo arquelogo e serve para embasar a teoria da existncia de sociedades complexas na Amaznia pr-colonial? Os montculos erigidos com terra preta e cacos de cermica, como os dez encontrados no stio Hataraha, situado numa rea elevada vizinha plancie aluvial do Solimes, so um indcio de que haveria uma certa diviso de trabalho - e, por conseguinte, diferenas hierrquicas - entre os povos amerndios da floresta."Algum com comando precisava coordenar os esforos de vrios homens para que se conseguisse obter esse tipo de tumba funerria", comenta Neves, que, at o ms passado, se recuperava de uma malria contrada em sua ltima viagem Amaznia. A descoberta de valas nos fundos de reas onde houve ocupaes humanas denota uma preocupao dos habitantes de uma aldeia de se defender de ataques de outras povoaes. Em Autuba, o maior stio identificado pelo projeto de Neves, com 90 hectares de rea, os pesquisadores localizaram duas fossas na parte de trs de seu terreno.As dimenses dos buracos so significativas: 150 metros de extenso por 2 metros de profundidade. Perto das valas, foram achados tambm vestgios de paliadas, antigos muros de madeira, o que refora a idia de que os ndios queriam proteger a retaguarda de Autuba. "Se havia preocupao em guarnecer os fundos de uma aldeia, porque havia risco de guerras entre as tribos", deduz o arquelogo da USP. O mesmo raciocnio vale para as aldeias fortificadas dos kuikuro no Alto Xingu.Presente na maioria dos stios localizados na confluncia dos rios Solimes e Negro (e tambm na rea dos kuikuro e em outras partes da bacia amaznica), a terra preta um dos elemento-chave para sustentar as teses de que os ndios pr-coloniais j levavam um estilo de vida mais elaborado do que se pensava. Em outras palavras, um indcio de que os povos pr-colombianos (ou ao menos algumas levas deles) se fixaram em pontos da bacia amaznica, erigiram aldeias perenes de porte significativo, onde praticavam alguma forma de agricultura. Com o passar do tempo, os resduos produzidos por essa ocupao contnua de uma rea - a carcaa de animais caados na floresta, as sobras de peixes pescados nos rios vizinhos, pedaos de plantas coletadas ou cultivadas, excrementos humanos, a madeira usada na construo de habitaes - acabaram dando origem terra preta.

Na Amaznia, a maioria dos stios arqueolgicos que apresentam essa formao geolgica tem entre 2.500 e 500 anos. Bem no centro de Manaus, na praa Dom Pedro, operrios que trabalhavam numa obra de revitalizao do espao pblico descobriram, sem querer, em agosto passado, trs urnas funerrias numa camada de terra preta com idade estimada entre 1.000 e 1.200 anos. De acordo com a interpretao de Neves, a terra preta se torna mais comum h cerca de dois milnios e meio porque, nesse momento da pr-histria, deve ter havido uma exploso demogrfica - e de sedentarismo - entre as tribos amerndias. Quando, cerca de cinco sculos atrs, o tamanho das populaes indgenas d sinais de declnio, em razo das armas e doenas trazidas pelo europeus, a formao desse tipo de solo comea a

rarear.At a dcada de 1980, no havia consenso de que a terra preta era resultado da ao do homem. Alguns estudiosos imaginavam at que esse tipo de solo negro, que, quando aflora, usado atualmente para agricultura, pudesse ter-se formado a partir de material oriundo de vulces andinos trazidos pelo vento ou de sedimentos provenientes de lagos. "Hoje, quase todo mundo aceita a idia de que a terra preta fruto da interveno do homem na paisagem na regio", assegura o arquelogo da USP. A questo ainda em aberto saber quanto tempo a terra preta demora para se originar. "Alguns autores acham que 1 centmetro de terra preta leva dez anos para se formar. Pessoalmente, acredito que esse processo mais rpido e tem mais a ver com a dimenso dos assentamentos do que com o seu tempo de durao", afirma Neves. Em Autuba, por exemplo, podem ter vivido 3 mil ndios num mesmo perodo, segundo suas estimativas.Quando recorrem expresso sociedade complexa, arquelogos, antroplogos e outros estudiosos imaginam um povo que havia deixado para trs - ou relegado a um segundo plano - a vida nmade de caador e coletor das ddivas da fauna e flora nativa. Um grupo de pessoas que tinha se fixado num pedao de terra e desenvolvido alguma forma de agricultura. Um assentamento com algum grau de sedentarimo, dotado de aldeias para algumas centenas ou talvez milhares de pessoas, com hierarquia social e diviso do trabalho. A hiptese de que houve culturas com essas caractersticas na Amaznia pr-colonial se choca com a viso tradicional e ainda dominante da arqueologia, muito influenciada, a partir da dcada de 1950, pelos trabalhos de campo e artigos da norte-americana Betty Meggers.Para a veterana pesquisadora, ainda hoje ativa aos 81 anos e fiel s suas teses de dcadas atrs, as condies naturais no trpico mido - solos pobres e pouco alimento disponvel ao nvel do solo - eram adversas presena humana em grande escala e somente possibilitavam a formao de pequenas aldeias, com menos de cem pessoas, que ocupavam reas de poucos hectares. Quando a comida acabava, as pequenas aldeias eram refeitas em outro lugar, o que acontecia com freqncia. Uma crtica comum feita por Meggers os trabalhos de seus colegas que dizem ter descoberto vestgios de grandes assentamentos humanos na Amaznia que esses pesquisadores teriam, na verdade, encontrado resqucios de pequenas aldeias que nunca foram contemporneas. No caso da rea dos kuikuro, fica difcil acreditar que os ndios tenham construdo uma malha viria to grande e larga para ligar aldeias que existiram em pocas distintas.Teorias alternativas idia de que a Amaznia foi morada exclusiva de povos pr-coloniais sem elaborada organizao poltica e social no so exatamente uma novidade produzida no sculo 21 por pesquisadores como Heckenberger, Fausto, Neves e outros. Em certa medida, cronistas europeus do sculo 16 que passaram pela floresta equatorial, por exemplo, fizeram referncias a sociedades organizadas na bacia amaznica. O problema que uma das mais famosas aluses desse gnero no passa de lenda, a saga das guerreiras amazonas.Nas ltimas dcadas, alguns estudiosos passaram a procurar evidncias mais concretas que pudessem contradizer as idias dos seguidores de Meggers. Mas a tese de que poderia ter havido sociedades complexas nos trpicos na poca do descobrimento nunca se firmou devido escassez de provas materiais que a sustentassem. A descoberta de grandes estradas e aldeias pr-colonias no Alto Xingu e de assentamentos antigos e densos nos arredores de Manaus comeam a preencher essa lacuna. Os povos da floresta podiam at no ser to sofisticados quanto seus vizinhos dos Andes ou da Amrica Central, mas tambm no eram assim to "primitivos". "No eram um imprio inca ou maia. No entanto, eram complexos, com uma estrutura amaznica", resume Heckenberger.

O ProjetoComplexidade Social na Pr-histria tardia da Amaznia (Alto Xingu) CoordenadorMichael Heckenberger - Universidade da Flrida

As Cidades Perdidas do Maranho2010-06-11 13:25 Na regio amaznica brasileira, no estado do Maranho, ainda hoje sobrevivem lendas e histrias que falam de cidades perdidas, antigas civilizaes e um Eldorado que nunca foi encontrado. Inscries prhistricas poderiam estar relacionadas ao deus branco civilizador dos indgenas, Sum ou Maira, que alguns identificam como o apstolo So Tom. Texto e fotos: Pablo Villarrubia Mauso O estado do Maranho um dos menos explorados e habitados do Brasil. Situado na regio limtrofe entre a Amaznia e a zona de savanas do norte, seu passado colonial tem a presena franceses, holandeses e portugueses, que cobiaram suas terras em busca de riquezas, especialmente o ouro. Ali, at hoje, os descendentes de escravos falam de grandes tesouros, de cidades perdidas e de antigas civilizaes que o tempo se encarregou de enterrar. Comecei minha viagem pela cidade histrica de So Lus, capital do Maranho, onde se encontra o maior conjunto arquitetnico colonial portugus do Brasil. No ambiente repleto de casares e fachadas restauradas, estas recobertas por azuletos lusitanos, ainda se respira o ar daqueles tempos senhoriais, em que os homens brancos eram transportados em liteiras por escravos negros, que tambm trabalhavam no difcil cultivo da terra. Na biblioteca municipal, existem alguns documentos que falam das "cidades perdidas" do Maranho, histrias que nada ficam devendo obsessiva e esgotante busca dos espanhis por ouro e outras riquezas na Amrica. Os locais da Amrica do Sul em que o ouro abundava parecem ter gerado mitos to importantes como o do Eldorado ou do Gran Paititi, e o Brasil tambm teve o seu, no Maranho. Em 1632, o padre Joo da Cunha informou o rei de Portugal da existncia de minas perdidas nas selvas daquele territrio. Durante esse perodo, muitas tropas sofreram um nmero imenso de desastres buscando o ouro, conforme testemunharam alguns jesutas. O padre Jos Caieiro narrava em seu De Exilio Provinciarum Transmarianrum Assistenteiae Lusitanae Societatis Iesu, de 1757, que, prximo aldeia de Acarar, havia campos com minas de ouro que os jesutas exploravam s escondidas. O autor supe que os membros da Companhia de Jesus ocultavam o ouro em locais secretos de seus colgios e igrejas. Outro religioso, o padre Serafim Leite, em sua Histria da Companhia de Jesus no Brasil baseado em documentos encontrados na Biblioteca de Evora, em Portugal , mencionava que, em 1728, corriam rumores de que havia minas de ouro riqussimas na regio do Alto Pindar, tambm no Maranho, exploradas em segredo pelos jesutas, fato que nunca se pde comprovar.

Os rumores eram to fascinantes que o prprio governador da provncia, Alexandre de Souza Freire, organizou uma expedio rumo s "minas de ouro de Pindar", sem obter qualquer resultado concreto. O governador justificou o fracasso de sua expedio como "tramas engenhosas da Companhia de Jesus", referindo-se diretamente ao fato de que os jesutas lhe ocultaram as minas de ouro. No captulo XXV da Relao da Provncia do Maranho ou Poranduba Maranhense do Frei Francisco de Nossa Senhora dos Prazeres, narrado como o tenente-coronel D. Fernando Antonio de Noronha, procedente da corte lusitana, era nomeado governador da capitania de Maranho, em 14 de setembro de 1792. Por volta daquela data, um escravo de nome Nicolao, pertencente ao tenente-coronel Joo Paulo Carneiro, fugiu para as selvas que rodeavam a capital maranhense. Ao voltar, disse que tinha estado nos campos da Lagarteira, onde existia um mocambo ou quilombo que formava uma cidade chamada Axu, beira da laguna do Cod, prxima ao Rio Itapicuru, cercada por grandes pntanos cheios de mosquitos e febres. Segundo contou Nicolao, "os negros eram to ricos que tinham uma imagem de ouro da Senhora da Conceio, bebiam em clices do mesmo metal, tinham muito dinheiro de ouro e prata, e o proco era um jesuta". O escravo negro ainda contava que os jovens, todos negros, derretiam as pepitas de ouro para transform-las em pesadas barras, e que at os dentes de seus habitantes estavam recobertos pelo metal amarelo. Eles estavam h vrios sculos no Axu, perdidos em meio a rios e pntanos secretos. Anteriormente, tinham sido amigos dos jesutas e tinham trabalhado para eles nas minas. Contudo, os jesutas quiseram roubar-lhes o ouro. Para tal, fizeram passagens subterrneas entre suas igrejas para esconder o ouro do cobioso rei de Portugal e tambm dos prprios escravos que o exploravam nas minas. At hoje circulam histrias sobre a existncia de galerias subterrneas construdas pelos jesutas e o ouro que elas ocultam, cujas entradas poderiam ser algumas das fontes das igrejas. Com a expulso dos jesutas pelo Marqus de Pombal, em 1759, o primeiroministro portugus, os religiosos no tiveram tempo de carregar o ouro e ali o deixaram. A histria da procura pela cidade de Axu ganhou impulso quando o governador Fernando de Noronha nomeou o ex-escravo Nicolao "capito de milcia" e, por algum tempo, este desfrutou de todos os prazeres e luxos da nobreza de So Lus. Juntamente com um sargento portugus, ele comeou a localizar pessoas que viviam na capital e que supostamente tinham alguma relao com os habitantes de Axu, com os quais trocavam suas mercadorias por ouro. Vrias foram presas e torturadas para confessar a existncia da cidade. Isso foi suficiente para que o rei de Portugal, D. Joo VI, custeasse uma expedio com quase 2.000 homens, incluindo escravos e indgenas, para buscar a cidade perdida de Axu.

Sob o comando do coronel Anacleto Henrique Franco, os expedicionrios partiram no dia 30 de agosto de 1794 e se dividiram em dois grupos. Um, em direo a Monin; desembarcando em Santa Helena, marchou at os campos de Lagarteiras, tendo Nicolao como guia. O outro grupo, menor, desembarcou em Alegre e seguiu para Lenis Grandes, guiado por Antonio Tat, um dos presos acusados de negociar com Axu. Depois de uma infinidade de privaes, fome extrema, enfermidades, cruzando rios infestados de mosquitos e pntanos traioeiros, o segundo grupo chegou a Lagarteiras 16 dias depois do primeiro grupo. Nesse nterim, Nicolao havia fugido, e as tropas, frustradas por no terem encontrado nada, marcharam at a costa do Maranho e depois at So Lus. Mais tarde, o fugitivo foi capturado, acusado de trapaceiro e levado priso perptua. O governador da capitania, Fernando de Noronha, foi deportado para Portugal, onde apodreceu nos ftidos crceres de Lisboa, junto com alguns de seus ajudantes mais prximos. Outra cidade encantada do Maranho situa-se a sudeste do estado, na vasta e pouco conhecida regio chamada Carolina. Sua paisagem mgica composta por grandes montanhas de cumes planos, como mesetas ali chamadas de "chapadas" , e por formaes geolgicas que lembram runas de cidades de pedra. A regio tambm est salpicada por belssimas cachoeiras, algumas com mais de 50 metros de altura, que recebem nomes exticos como Pedras Cadas, Itapecuru, Prata e So Romo. Todas esto relacionadas a lendas que atribuem a elas poderes fantsticos e a existncia de riquezas em seu interior. Os poucos habitantes da regio mulatos e mestios de indgenas , falam de uma cidade encantada habitada por espritos dos antigos escravos mortos por seus donos e de indgenas que morreram em combate contra os portugueses. Na tranqila cidade de 20.000 habitantes, arborizada com mangueiras frondosas, conheci seu "cronista oficial", Alfredo Maranho, um senhor octogenrio com quem entabulei extensas conversas sobre os mais diversos temas. "H poucos anos", comentava com erudio Alfredo Maranho, em sua cadeira de balano, "foram descobertas umas inscries estranhas nas serranias de Carolina. Algumas so smbolos desconhecidos, outras mostram pegadas humanas e de animais talhadas nas rochas. As antigas tradies falam de um deus branco e civilizador que os cristos portugueses dizem ser So Tom". Das estantes empoeiradas de sua casa, Alfredo Maranho tirou um volume grosso sobre a histria colonial do Brasil. Molhando o dedo nos lbios, o cronista de Carolina folheou o livro rarssimo chamado Histria da Misso dos Padres Capuchos na Ilha do Maranho e Terras Circunvizinhas, escrito em 1612 pelo capuchinho francs Claude d"Abbeville. Segundo diz um dos captulos da volumosa obra sustentada com dificuldade por Afredo, naquele mesmo ano d'Abbeville soube pelos indgenas tupinambs do Maranho que

existiam inscries nas pedras que pertenciam a um grupo de estrangeiros misteriosos. Um dos membros da tribo disse-lhe que "ao ver que os do nosso povo no acreditavam neles, os profetas subiram aos cus, deixando as pegadas de seus ps gravadas com cruzes nas rochas prximas ao rio Poti, que tu vistes to bem como eu..." Outro capuchinho francs do sculo 17, Yves d'Evreux, informou em seu Viagem ao Norte do Brasil, sobre outro local semelhante no estado do Maranho. Os indgenas lhe contaram de um deus civilizador, Marat de Tup, realizador de grandes feitos e que deixou esculpidos em "uma rocha, uma espcie de mesa, imagens, letras, a forma de seus ps e de seus companheiros, as patas dos animais que levavam e os furos de seus bastes". Astutamente, D'Evreux usou uma esttua de So Bartolomeu e a brandiu entre os ndios como sendo o "grande Marat", que os salvaria das desgraas. Uma clara tentativa de evangelizar os pagos. Alguns dias depois da conversa com Alfredo Maranho, consegui junto prefeitura de Carolina um jipe e um guia que me conduziria s inscries, a uns 120km da cidade. Vicente Cirilo de Souza, guia e motorista, conhecia uma parte do extenso territrio coberto por mata brava, selvas e savanas, apenas interrompidas pelas mesetas, cujos cumes abrigam verdadeiros osis aos quais poucos conseguiam chegar, devido dificuldade da subida. Uma das mesetas mais impactantes podia ser vista de Carolina (prxima da Serra das Malcias), e seus habitantes a chamam de Morro do Chapu, por sua semelhana com um chapu. Com vrios quilmetros de comprimento, era habitada apenas por bois e vacas zebu que se perdiam em suas encostas escarpadas. As chapadas se transformavam em montanhas de cumes cada vez mais estreitos, e sua base cnica nos fazia recordar gigantescas pirmides abandonadas. Ao passar por um desfiladeiro, encontramos grandes formaes de pedra: era a "cidade encantada" da qual os nativos falavam. No me surpreendeu que aquele local pela prpria magia de sua natureza , tivesse servido de "Meca" para os antigos e desconhecidos habitantes da regio, os mesmos que talharam o Morro das Figuras que ento buscvamos. A certa altura, estvamos perdidos. Foi quando surgiu Jos dos Santos, um vaqueiro mulato, montado em sua mula. "Eu sei onde est o Morro das Figuras", ele disse. "Est no final da cidade encantada, por este caminho mesmo". Depois de passar por colunas de pedra, algumas com forma humana, como se fossem gigantes nos espreitando, vimos ao longe uma colina isolada, com rochas que formavam monstros sados das mais antigas tradies medievais. Ns nos aproximamos de uma delas, em cujo paredo encontramos um grande painel onde se dispunham diversas inscries. "No sei quem fez esses desenhos", disse Jos dos Santos. "Algumas pessoas de minha aldeia, os mais velhos, dizem que foi um homem que sabia muito e que tinha poderes mgicos. At hoje nossos curandeiros vm aqui com os doentes para cur-los. Dizem que esta

pedra tem poderes milagrosos". Jos tambm chamou nossa ateno para as altas chapadas distncia. L, segundo ele, existem dezenas de pedras com inscries semelhantes, nos locais de acesso mais difcil. Outra teoria para explicar sua origem foi levantada pelo explorador austraco Ludwig Schwennhagen, que esteve no Brasil no princpio do sculo 20. Segundo ele, seus autores teriam sido os sacerdotes crios, povo da sia Menor, que mil anos antes de Cristo viajavam em embarcaes fencias que chegaram s costas brasileiras. Para Ludwig, as pegadas na pedra eram a representao do grosacerdote Sumer, cujo nome teria sido modificado para Sum. Em meados do sculo 20, o escritor francs Jacques de Mahieu atribuiu os buracos aos vikings que chegaram ao Brasil em seus drakkars, por volta de 1250. Um certo padre Gnupa teria chegado com os vikings nessa poca e "civilizado" os indgenas, seguindo as pegadas gravadas na pedra pelos vikings e que conduziam sempre em direo ao mar. Aps um dia inteiro percorrendo serras e savanas, voltamos a Carolina, antes passando por um bosque onde o caminho estava interrompido pela queda de um tronco de rvore. Jorge Ramiro Gui nos ajudou cortando-o com um faco. Jorge descendente dos ndios krao, hoje praticamente desaparecidos da regio. "Meu filho se curou de uma picada de cobra no Morro das Figuras", explicou. "Creio que ali um lugar pelo qual passou um santo, um homem milagroso. Contudo, outros desenhos parecidos foram destrudos pelos que procuravam tesouros, pois pensam que debaixo daquelas pedras se escondem grandes tesouros". O j mencionado Ludwig Schwennhagen fala em seu livro Antiga Histria do Brasil, de 1100 a.C. a 1500 d.C. (1928) que os fencios tinham escolhido a ilha de So Lus como ponto de entrada para uma segunda onda de imigrantes. Chamaram-na de Tuapon, que significava "cidade de Tup" uma das divindades dos ndios tupi , onde fundaram vrias aldeias, das quais 27 ainda existiam na poca da chegada dos primeiros europeus. De l, atravessando pequenos rios, foram navegando at onde hoje est a cidade de Belm do Par. O nome Maranho derivaria de Mara-Ion, dado pelos fencios. Tudo isso teria acontecido por volta de 1100 a.C., ou seja, muito antes do descobrimento do Brasil pelos portugueses. Durante o curto perodo de ocupao francesa da costa do Maranho, o frei e cronista Claude d'Abbeville escreveu um dirio de viagem no qual falava sobre os avanados conhecimentos astronmicos dos ndios tupinambs do Maranho. Ludwig atribuiu esse conhecimento s influncias trazidas pelos sbios da antiga Caldia, situada na Mesopotmia, que vinham a bordo das embarcaes fencias. Os restos mais palpveis dos fencios no Maranho estariam no Rio Pinar, onde o Lago Maracu mostra restos petrificados que pertenceriam aos estaleiros daquele povo, alm de outros portos fluviais situados em trs lagos que existem na confluncia dos rios Mearim, Pinar e Graja. Nas margens dos rios Gurupi e Ireiti, os

fencios exploraram as minas de ouro e tinham como base a aldeia de Carutapera (segundo Ludwig, "taba dos carus", sendo carus o nome que os indgenas davam aos fencios). chegada dos portugueses, o local ainda existia como uma aldeia dos tupis, que conheciam bem a existncia das minas de ouro. Schwennhagen ainda dizia que na pennsula situada em frente cidade de So Lus, possivelmente em Alcntara, foram encontrados restos de antigas muralhas cuja origem no pde ser comprovada no tempo dos europeus. Na ilha de Trona, tambm no Maranho, os navegantes ainda hoje avistam grandes blocos de pedras provenientes de muralhas de uma praa forte e alta. No incio do sculo 19, o coronel Antonio Bernardino P. do Lago mencionou em seu livro, Itinerrio da Provncia do Maranho, a existncia de minas nas imediaes do Lago Cajari. em cujas margens se encontravam vestgios de habitaes que pareciam alinhamentos. Esses vestgios esto prximos do povoado de Penalva, que, outrora, foi uma aldeia dos ndios gamela, criada depois da expulso dos jesutas no sculo 18. Mas o certo que as "habitaes" vistas pelo coronel Bernardino no eram misses jesuticas. Em 1919, o explorador e arquelogo Raimundo Lopes iniciou escavaes num terreno cheio de lama, no centro do Lago Cajari, durante uma seca jamais vista na regio. Isso facilitou suas escavaes, j que em alguns trechos a profundidade no ultrapassava 50 centmetros. Contudo, em condies normais, o nvel de gua de dois ou trs metros, e oculta uma cidade extinta. Algumas centenas de anos antes, o nvel do lago e de suas margens devia ser mais baixo que o de hoje. Do barro mole, Raimundo Lopes via surgir grande nmero de troncos negros de rvores, como um imenso bosque morto. Pouco a pouco, ele foi encontrando restos de cermica e objetos de pedra, atribudos a um povo relativamente numeroso e bem organizado. Mas quem teriam sido seus habitantes? Os poucos vestgios encontrados as condies de preservao do lago no so as mais propcias , no do muitas pistas. No entanto, foram encontrados muitos troncos grandes e fortes, que apiam a teoria de que ali foram construdas casas que se elevavam acima do nvel da gua na poca das chuvas. No mesmo ano, Raimundo Lopes encontrou outra cidade construda em palafitas no Lago Encantado e, em 1922, no Lago Maiobinha. Em 1923, exps os resultados de suas escavaes durante uma conferncia no Museu Nacional do Rio de Janeiro, quando disse que as construes eram palafitas assentadas sobre uma regio pantanosa. Embora fragmentada, a cermica encontrada na regio de Cajari parece ter sido bastante elaborada, pintada em vermelho e preto, com relevos zoomorfos, e seria mais antiga do que a cermica da Ilha de Maraj, na foz do Rio Amazonas, uma das mais bonitas do mundo. Contudo, Lopes acreditava que a cermica de Cajari no tinha qualquer relao com outras culturas da regio amaznica.

O arquelogo no pde encontrar qualquer figura humana representada nos restos de cermica, e tampouco restos de ossos humanos, impossibilitando assim a identificao da raa de seus antigos ocupantes. A descoberta mais importante no lago foi o dos muiraquits, amuletos com forma estilizada de r, como os que foram encontrados na regio amaznica de Santarm, e que so atribudos s mticas mulheres amazonas. Lopes dizia que "... os amuletos do Cajari so semelhantes aos do baixo Amazonas, Mxico e Costa Rica, feitos com uma tcnica bastante avanada". Mas, ao contrrio da Amrica Central, os muiraquits do Maranho foram feitos de gata e no de jadeta.

As Pegadas do Deus Branco Segundo os antigos cronistas, os indgenas desconheciam a origem das inscries rupestres e as atribuam a seus antepassados mais remotos. Os arquelogos tambm desconhecem quem pode ter feito os petrglifos e, segundo algumas dataes, eles so anteriores ao primeiro milnio antes de Cristo. As pegadas, at hoje, so consideradas sagradas e, em alguns lugares do Brasil, objeto de culto. Curiosamente, em vrios locais do mundo, as pegadas humanas em pedra so atribudas a um velho benfeitor, geralmente alguma entidade superior, como Buda, na China, ou Ado, no Ceilo, e Cristo, no Oriente Mdio. Ainda hoje os ndios kaapor do Maranho mantm viva uma tradio que fala de Mair, ou Mara, um deus civilizador. Segundo o antroplogo Darcy Ribeiro, ainda hoje os kaapor vem seu deus se deslocando pelo cu nas noites de vero. Em 1939, o mesmo antroplogo relatou que um ndio kaapor, chamado Uir, decidiu junto com sua famlia percorrer o caminho seguido por Mara, segundo as antigas tradies. Com o corpo pintado e adornado com plumas, armado de arco e flechas, percorreu centenas de quilmetros e chegou at So Lus, a capital do Maranho, onde foi preso. A polcia considerou-o "louco"; contudo, funcionrios do Servio de Proteo ao Indgena o libertaram. Em So Lus, ao ver o mar, Uir gritou de alegria, pois sabia que, mais alm, cruzando o oceano, encontraria a terra mtica de Mara, uma espcie de paraso terreno. Aps vrias tentativas fracassadas, Uir e sua famlia foram repatriados para sua aldeia. No caminho, Uri, desesperado por no atingir seu objetivo, se atirou no Rio Pindar, suicidando-se em suas guas agitadas. A morte trgica do indgena era, para ele, o atalho para chegar ao paraso tambm celestial de Mara. As inscries que eu observava estavam relacionadas ao mtico Sum, ou segundo os frades e jesutas da poca da colonizao, a So Tom, uma corruptela do nome do famoso apstolo que pregou por terras do Oriente nos primrdios do cristianismo. As crnicas dos sculos 16 e 17 falam da possvel viagem de So

Tom Amrica. Os indgenas confundiram-no com os primeiros portugueses que aqui chegaram, pois Sum eram uma entidade de pele branca, com barbas e totalmente vestido, ao contrrio dos indgenas.

As cidades perdidas da Amaznia

Escrito por Administrator | 13 Novembro 2009

LUIGI MARIN

Kuhikugu, conhecida pelos arquelogos como stio X11, a maior cidade prcolombiana j descoberta na regio do Xingu na Amaznia. Abrigava mil pessoas ou mais e servia como o eixo central de uma rede de aldeias menores.

As cidades perdidas da Amaznia A floresta tropical amaznica no to selvagem quanto parecepor Michael J. HeckenbergerMichael J. Heckenberger vem fazendo pesquisas arqueolgicas na regio do Xingu e em outras partes da Amaznia brasileira desde 1992, mais recentemente como professor da University of Florida.

Quando o Brasil criou o Parque Indgena do Xingu em 1961, a reserva estava longe da civilizao moderna, aninhada bem no limite ao sul da enorme floresta amaznica. Em 1992, na primeira vez em que fui morar com os cuicuro, uma das principais tribos indgenas da reserva, as fronteiras do parque ainda ficavam dentro da mata densa, pouco mais que linhas sobre um mapa. Hoje o parque est cercado de retalhos de terras cultivadas, com as fronteiras frequentemente delimitadas por um muro de rvores. Para muitos forasteiros, essa barreira de torres verdes um portal como os enormes portes do Parque Jurssico, separando o presente: o dinmico mundo moderno de reas cultivadas com soja, sistemas de irrigao e enormes caminhes de carga; do passado: um mundo atemporal da Natureza e de sociedade primordiais. Muito antes de se tornar o palco central na crise mundial do meio ambiente como a gigantesca joia verde da ecologia global, a Amaznia mantinha um lugar especial no imaginrio ocidental. A mera meno de seu nome evoca imagens de selva repleta de vegetao respingando gua, de vida silvestre misteriosa, colorida e com frequncia perigosa, de um entremeado de rios com infinitos meandros e de tribos da Idade da Pedra. Para os ocidentais, os povos da Amaznia so sociedades extremamente simples, pequenas tribos que mal sobrevivem com o que a Natureza lhes oferece. Tm conhecimento complexo sobre o mundo natural, mas lhes faltam os atributos da civilizao: o governo centralizado, os agrupamentos urbanos e a produo econmica

alm da subsistncia. Em 1690, John Locke proclamou as famosas palavras: No incio todo o mundo era a Amrica. Mais de trs sculos depois, a Amaznia ainda arrebata o imaginrio popular como a Natureza em sua forma mais pura, e como lar de povos aborgines que, nas palavras de Sean Woods, editor da revista Rolling Stone, em outubro de 2007, preservam um estilo de vida inalterado desde o primrdio dos tempos. A aparncia pode ser enganosa. Escondidos sob as copas das rvores da floresta esto os resqucios de uma complexa sociedade pr-colombiana. Trabalhando com os cuicuro, escavei uma rede de cidades, aldeias e estradas ancestrais que j sustentou uma populao talvez 20 vezes maior em tamanho que a atual. reas enormes de floresta cobriam os povoados antigos, seus jardins, campos cultivados e pomares que caram em desuso quando as epidemias trazidas pelos exploradores e colonizadores europeus dizimaram as populaes nativas. A rica biodiversidade da regio refl ete a interveno humana do passado. Ao desenvolverem uma variedade de tcnicas de uso da terra, de enriquecimento do solo e de longos ciclos de rotatividade de culturas, os ancestrais dos cuicuro proliferaram na Amaznia, apesar de seu solo natural infrtil. Suas conquistas poderiam atestar esforos para reconciliar as metas ambientais e de desenvolvimento dessa regio e de outras partes da Amaznia.

Povo da Natureza A pessoa mais famosa a buscar civilizaes perdidas no sul da Amaznia foi Percy Harrison Fawcett O aventureiro britnico esquadrinhou o que denominou selvas no mapeadas, buscando uma cidade antiga a Atlntida na Amaznia, repleta de pirmides de pedra, ruas de seixos e escrita alfabtica. Suas narrativas inspiraram Conan Doyle em O mundo perdido e talvez os filmes de Indiana Jones.

O recente e empolgante livro de David Grann, The lost city of Z (Z, a cidade perdida), refez o trajeto de Fawcett antes de seu desaparecimento no Xingu, em 1925. Na verdade, cinco expedies alems j visitaram os xinguanos e suas terras. Em 1894, o livro de Karl von den Steinen, Unter den Naturvlkern Zentral Brasiliens (Entre os aborgines do Brasil Central), que descreveu suas expedies anteriores, tornou-se um clssico instantneo da antropologia, ainda em desenvolvimento na poca. O livro marcou o tom para os estudos do sculo 20 sobre os povos amaznicos como pequenos grupos isolados vivendo em delicado equilbrio com a floresta tropical: O povo da Natureza. Mais tarde, frequentemente os antroplogos viram o ambiente florestal, em geral, como no propcio agricultura; a pouca fertilidade do solo parecia excluir os grandes assentamentos ou as densas populaes regionais. Por esse motivo, a Amaznia do passado parece ter sido muito semelhante Amaznia dos tempos atuais. Porm, essa viso comeou a cair por terra na dcada de 70, conforme os acadmicos revisaram os relatos dos primeiros europeus sobre a regio, que falavam no de tribos pequenas, mas de densas populaes. Conforme o best seller de Charles Mann 1491 descreve com eloquncia, as Amricas eram densamente habitadas na vspera do desembarque dos europeus, e a Amaznia no era exceo. Gaspar de Carvajal, o missionrio que escreveu as crnicas da primeira expedio espanhola rio abaixo, observou cidades fortificadas, estradas largas com boa manuteno e muitas pessoas. Carvajal escreveu em seu relato de 25 de junho de 1542: Passamos entre algumas ilhas que pensvamos ser desabitadas, porm ao chegarmos por l, to numerosos eram os povoados que vieram nossa vista... que nos afligiu... e, quando nos viram, saram para nos encontrar no rio em mais de duas centenas de pirogas [canoas], carregando 20 a 30 ndios em cada uma, e algumas at com 40... estavam enfeitados com cores e vrios emblemas, e portavam vrias cornetas e tambores... e em terra, uma coisa maravilhosa de ver foram as formaes de grupos que ficavam nas aldeias, todos tocando instrumentos e danando em toda parte, manifestando grande alegria ao nos ver passando pelas suas aldeias. A pesquisa arqueolgica em vrias reas ao longo do rio Amazonas, como a ilha do Maraj na foz do rio e stios prximos s modernas cidades de Santarm e Manaus, confirma esses relatos. Essas tribos interagiam em sistemas de comrcio que se espalhavam at localidades remotas. Sabe se menos das

localidades mais prximas dos limites ao sul da Amaznia, mas um trabalho recente em Llanos de Mojos nas vrzeas da Bolvia e no estado do Acre sugere que eles tambm apresentaram sociedades complexas. Em 1720, o guarda de fronteira Antonio Pires de Campos descreveu uma paisagem densamente habitada na cabeceira do rio Tapajs, pouco a oeste de Xingu: Esses povos existem em um nmero to enorme que no possvel contar seus povoados ou aldeias, [e] muitas vezes em um dia de marcha passa-se por 10 a 12 aldeias, e em cada uma h de 10 a 30 habitaes, e dentre essas casas h algumas que medem 30 ou 40 passos de largura... at mesmo suas ruas, que eles fazem bem retas e largas so mantidas to limpas que no se encontra nenhuma folha cada... Uma Antiga Cidade Murada Quando me aventurei no Brasil, no incio da dcada de 90, para estudar a profunda histria do Xingu, as cidades perdidas nem sequer passavam pela minha mente. Eu lera Steinen, mas mal ouvira falar de Fawcett. Embora muito da vasta bacia amaznica fosse terra arqueolgica desconhecida, no era provvel que os etngrafos, muito menos os xinguanos, tivessem ignorado um enorme centro monoltico se erguendo sobre as florestas tropicais. No entanto, resqucios de algo mais elaborado que as aldeias ainda hoje existentes estavam em toda a parte. Robert Carneiro, do American Museum of Natural History, de Nova York, que morou com os cuicuro na dcada de 50, sugeriu que o estilo de vida organizado e a economia produtiva agrcola e pesqueira poderiam suprir comunidades muito mais substanciais, mil a 2 mil vezes maiores vrias vezes a populao contempornea de algumas centenas. Ele tambm registrou evidncias de que, na realidade, a rea j teve um stio prhistrico (designado X11 em nossa pesquisa arqueolgica) cercado de imensos fossos. Os irmos Villas Boas indianistas brasileiros indicados para o Prmio Nobel da Paz pela sua participao na criao do Parque do Xingu j tinham relatado esses trabalhos no solo perto de muitas aldeias.

Em janeiro de 1993, logo aps eu ter chegado aldeia dos cuicuro, o principal chefe hereditrio, Afukaka, me levou a uma das valas no stio (X6) por eles denominada Nokugu, que recebeu o nome do esprito de ona que se pensa l habitar. Passamos por moradores locais que construam um enorme aude de peixes ao longo do rio Angahuku, j cheio devido s chuvas sazonais. O fosso, que corre por mais de 2 km, tinha 2 a 3 metros de profundidade e mais de 10 metros de largura. Embora eu tivesse a expectativa de encontrar uma paisagem arqueolgica diferente da atual, a escala dessas comunidades antigas e de suas construes me surpreendeu. Os assistentes de pesquisa cuicuro e eu passamos os meses seguintes mapeando esse e outros trabalhos no solo no stio de 45 hectares. Desde essa poca, nossa equipe estudou vrios outros stios na rea, analisando mais de 30 km em linha reta em transectos atravs da floresta, mapeando, examinando e escavando os stios. No final de 1993, Afukaka e eu voltamos para Nokugu, para que eu relatasse o que aprendi. Seguimos os contornos do fosso externo do stio e paramos ao lado de uma ponte de terra, por onde costumava passar uma estrada enorme que tnhamos desenterrado. Apontei para uma antiga estrada de terra, totalmente reta, com largura de 10 a 20 metros, que levava para outro stio antigo, Heulugiht (X13), a cerca de 5 km de distncia. Atravessamos a ponte e entramos em Nokugu. A estrada, margeada por meios-fios baixos de terra, abriu-se at 40 metros largura das autoestradas modernas de quatro pistas. Percorridas algumas centenas de metros, passamos por cima do fosso interno e paramos para observar o interior da trincheira escavada recentemente, onde tnhamos encontrado uma base em forma de funil, para uma paliada de tronco de rvore. Afukaka contou-me

uma histria a respeito de aldeias construdas sobre paliadas e ataques-surpresa em um passado remoto. Caminhamos por trechos de floresta, arbustos e reas desmatadas que agora cobrem o stio, marcas de atividades variadas no passado. Samos em meio a uma clareira gramada cercada de enormes palmeiras que marcavam uma antiga praa. Girei devagar e apontei a borda perfeitamente circular da praa, marcada por uma elevao de um metro de altura. Expliquei a Afukaka que as altas palmeiras l se instalaram sculos atrs, a partir de jardins de compostagem em reas domsticas. Deixando a praa para explorar as redondezas, nos deparamos com altos sambaquis, depsitos de restos, que muito se assemelhavam aos de trs da casa do prprio Afukaka. Estavam repletos de recipientes quebrados, exatamente iguais, nos mnimos detalhes, aos utilizados pelas esposas da tribo para processar e cozinhar a mandioca. Em uma visita posterior, quando escavvamos uma casa prcolombiana, o chefe curvou-se dentro da rea central da cozinha e retirou um enorme fragmento de cermica. Disse que concordava com minha impresso de que o cotidiano da sociedade antiga era muito semelhante ao atual. Voc est certo!, Afukaka exclamou. Veja, um apoio de panela um undagi, como os cuicuro o chamam, usado para o cozimento da mandioca. Essas ligaes fazem dos stios dos xinguanos locais muito fascinantes, que se encontram entre os poucos assentamentos pr-colombianos na Amaznia onde a evidncia arqueolgica pode ser conectada diretamente com os costumes atuais. Em outros locais, a cultura indgena foi totalmente dizimada ou o registro arqueolgico est disperso. A antiga cidade murada que mostrei a Afukaka era muito parecida com a aldeia atual, com sua praa central e estradas radiais, apenas eram dez vezes maiores. Da Oca Organizao Poltica Suntuosa no uma palavra que, em geral, venha mente para descrever uma casa com um tronco central e sap. Ocidentais pensam em uma cabana. Mas a casa que os cuicuro erguiam para o chefe em 1993 era enorme: bem mais de 1 mil m2. difcil imaginar que uma casa construda como um cesto gigante virado para baixo, sem uso de pedras, cimento ou pregos pudesse ficar to grande. Mesmo a casa comum de um xinguano com 250 m2 to grande quanto uma casa mdia americana. O que faz a casa do chefe sobressair no apenas o tamanho, mas tambm a sua posio, localizada no ponto mais ao sul da praa central circular. Quando se entra na aldeia pela estrada de acesso formal, as famlias de boa

posio moram direita (sul) e esquerda (norte). O arranjo reproduz, em escala maior, a planta de uma casa individual, cujo ocupante de posio destacada pendura a sua rede direita, ao longo do comprido eixo da casa. A estrada de acesso corre aproximadamente de este a oeste; na casa do chefe, sua rede fica posicionada na mesma direo. Quando um chefe morre, ele tambm deixado em uma rede com a cabea voltada para o oeste. Este clculo corpreo bsico aplicado em todas as escalas, de ocas a toda a bacia do Alto Xingu. As aldeias antigas so distribudas pela regio e interconectadas por uma rede de estradas alinhadas com preciso. Quando cheguei pela primeira vez rea, levei semanas para mapear valas, praas e estradas usando as tcnicas padres de arqueologia. No incio de 2002, comeamos a usar o GPS, que nos permitiu mapear a maior parte dos trabalhos no solo em questo de dias. Descobrimos um grau impressionante de integrao regional. O planejamento parece quase determinado, com um lugar especfi co para tudo. No entanto, fundamentava-se nos mesmos princpios bsicos das aldeias atuais. As estradas principais correm do leste para o oeste, as secundrias se irradiam para fora do norte e do sul e as menores proliferam em outras direes. Mapeamos dois agrupamentos hierrquicos de povoados e aldeias em nossa rea de estudo. Cada um consistia em um centro principal cerimonial e vrias aldeias satlites grandes em posies precisas em relao ao centro. Essas cidades provavelmente tinham mil ou mais habitantes. As aldeias menores estavam localizadas mais longe do centro. O agrupamento do norte est centrado no X13, que no uma cidade, e sim um centro de rituais, semelhante a um terreno para festividades. Dois grandes povoados murados esto distribudos de forma equidistante ao norte e ao sul do X13, e dois povoados murados, de tamanho mdio, esto em posies equidistantes ao nordeste e sudoeste. O agrupamento do sul ligeiramente diferente. Est centrado no X11, que ao mesmo tempo uma aldeia e um centro de rituais, ao redor do qual esto povoados de tamanho mdio e pequeno. Na rea de terra, cada ncleo populacional ocupava mais de 250 km2, dos quais cerca de um quinto consistia em rea central construda o que, grosso modo, equivalente a uma pequena cidade moderna. Nos dias de hoje, a maior parte da paisagem antiga est coberta por vegetao, mas a floresta nas reas centrais tem uma concentrao distinta de certas plantas, animais, solos e objetos arqueolgicos, como muita cermica. O uso do solo foi mais intenso no passado, mas os vestgios sugerem que muitas prticas antigas eram semelhantes s dos cuicuro: pequenas reas de plantio de mandioca, pomares com rvores de pequi e

campos de sap o material preferido para coberturas de choupanas. O campo era uma paisagem de retalhos, intercalada por reas de floresta secundria que invadiram as reas agrcolas no cultivadas. Zonas midas, agora infestadas de buritis, a mais importante cultura industrial, preservam diversas evidncias de piscicultura, como lagos artificiais, caladas elevadas e fundaes de audes. Fora das reas centrais, existia um cinturo verde menos povoado e at uma densa faixa florestal entre as diversas aldeias. A floresta tambm tinha seu valor como fonte de animais, plantas medicinais e de certas rvores, alm de ser considerada a morada de vrios espritos da floresta. As reas dentro e ao redor de stios residenciais esto marcadas por terra escura, egepe segundo os cuicuro, um solo extremamente frtil, enriquecido por lixo domiciliar e atividades especializadas de manejo de solo, como queimadas controladas da cobertura vegetal. Em todo o planeta o solo foi alterado, tornando-o mais escuro, mais argiloso e rico em certos minerais. Na Amaznia, essas mudanas foram especialmente importantes para a agricultura de muitas reas, j que o solo natural bem pobre. No Xingu, a terra escura menos abundante em certas reas, j que a populao nativa depende principalmente do cultivo da mandioca e dos pomares, que no necessitam de solo muito frtil. A identificao de grandes ncleos populacionais murados, espalhados numa rea comparvel de Sergipe, sugere que havia, no mnimo, 15 agrupamentos espalhados pelo Alto Xingu. Entretanto, como a maior parte da regio no foi estudada, a quantidade correta pode ter sido muito superior. A datao por radio-carbono dos stios j escavados sugere que os ancestrais dos xinguanos chegaram regio, vindos do oeste, e comearam a modifi car as florestas e a zona mida a seu critrio cerca de 1.500 anos atrs ou at antes disso. Nos sculos que antecederam a descoberta da Amrica pelos europeus, os stios foram reformados, passando a compor uma estrutura hierrquica. Os registros existentes chegam apenas at 1884, portanto os padres de povoao acabam sendo a nica forma de estimar a populao pr-colombiana; a escala dos povoamentos sugere uma populao muito superior atual, chegando de 30 a 50 mil indivduos. Cidades-Jardins da Amaznia H um sculo, o livro Garden cities of tomorrow (Cidades-jardins do futuro), de Ebenezer Howard, props um modelo para um crescimento urbano sustentvel de baixa densidade populacional. Um precursor do movimento ecolgico atual, Howard idealizou cidades interligadas como uma alternativa para um mundo industrial, repleto de cidades com arranha-cus. Sugeria dez cidades

com dezenas de milhares de habitantes, que teriam a mesma capacidade funcional e administrativa que uma s megacidade. Os antigos xinguanos parecem ter construdo esse sistema, um tipo de urbanismo de estilo verde ou protourbanismo uma incipiente cidade-jardim. Talvez Percy Fawcett estivesse no lugar certo, mas com o foco equivocado: cidades de pedra. O que faltava aos centros em termos de pequena escala e elaborao estrutural, os xinguanos conseguiam alcanar pela quantidade de cidades e por sua integrao. Se Howard tivesse conhecimento de sua existncia, poderia ter-lhes devotado um trecho no Garden cities of yesterday (Cidadesjardins do passado). O conceito comum de cidade como uma densa rede de prdios de alvenaria remonta poca das antigas civilizaes dos osis nos desertos, como na Mesopotmia, mas que no possuam as mesmas caractersticas ambientais. No s as florestas tropicais amaznicas, como tambm as paisagens das florestas temperadas da maior parte da Europa medieval, eram pontilhadas por cidades e vilarejos de tamanhos similares a essas no Xingu. Essas vises so especialmente importantes na atualidade por causa da retomada do desenvolvimento do sul da Amaznia, desta vez pelas mos da civilizao ocidental. A floresta do sul amaznico, em transio, est se convertendo rapidamente em reas cultivadas e de pastagens. Seguindo o ritmo atual, no decorrer da prxima dcada a floresta se reduzir a 20% de sua rea original. Muito do que resta fi car restrito a reservas, como as do Xingu, onde os povos indgenas so os comandantes da biodiversidade restante. Nessas reas, sob muitos aspectos, a salvao das florestas tropicais e a proteo da herana cultural indgena so partes de um s todo.Fonte:

http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/as_cidades_perdidas_da_amazonia.html

Google Earth ajuda a encontrar El Dorado

Durante quase 500 anos, os exploradores tm procurado em vo por uma cidade perdida, que agora, com o Google Earth, pode ter sido encontrada. Ed Caesar Desde a poca dos conquistadores, a lenda de uma antiga civilizao perdida no meio da floresta amaznica tem encantado centenas de exploradores e levou muitos morte. Alguns chamavam o seu sonho de El Dorado. Outros, mais notavelmente o coronel Percy Fawcett, glorioso explorador britnico bigodudo (e modelo da vida real para Indiana Jones) nomeou-a de Cidade Z. Mas ningum jamais voltou da Amaznia com provas concludentes de que tal lugar existiu. Agora trs cientistas chegaram perto de fazer isso. O jornal Antiquity publicou um relatrio mostrando mais de 200 obras de terraplanagem macia na bacia do Amazonas, perto da fronteira do Brasil com a Bolvia. Do cu, parece que uma srie de figuras geomtricas foram escavadas na terra, mas os arquelogos e historiadores, que publicaram o relatrio acreditam que essas formas so os restos de estradas, pontes, fossos, avenidas e praas que formaram a base para uma sofisticada civilizao que abrange 155 milhas, o que poderia ter apoiado uma populao de 60.000 pessoas. Os vestgios datam do 200 a 1283 D.C.

Coronel Percy Harrison Fawcett uma surpreendente descoberta que se baseia no trabalho arqueolgico recente no Brasil e norte da Bolvia e na disponibilidade de imagens do Google Earth de sees desmatadas da Amaznia. Desde os anos 1980 antroplogos comearam a revelar indcios de civilizaes avanadas que viveram na bacia Amaznica: o ltimo desenvolvimento supera todos eles. David Grann, autor de The Lost City of Z, acredita que a importncia desta descoberta no pode ser exagerada. Ela quebra as noes prevalecentes do que a Amaznia parecia antes da chegada de Cristvo Colombo, diz ele. Durante sculos, os cientistas assumiram que a selva era simplesmente uma armadilha mortal, um paraso contrafeito, onde apenas pequenos, primitivos, tribos nmades existiram. Estas descobertas mostram que a Amaznia era, na verdade, o lar de uma grande civilizao que antecedeu os incas e construiu uma sociedade extraordinariamente sofisticada com terraplenagem monumental.

John Hemming O sonho de encontrar civilizaes perdidas da Amrica do Sul tem persistido durante sculos, principalmente por causa dos dois primeiros sucessos que fizeram a terra tremer. Como John Hemming, ex-diretor da Royal Geographical Society, narra em seu livro de 1978, The Search For El Dorado, foram os conquistadores que comearam a mania. Em 1519 Hernn Corts e seus soldados descobriram a cidade asteca de Tenochtitln, no Mxico. No incio de 1530, Francisco Pizarro conquistou o imprio Inca, no que agora o Peru. A idia de uma Cidade Dourada em algum lugar mais profundo na floresta inexplorada foi apresentado no imaginrio europeu e nunca mais foi esquecido. Grann cita que em 1753 um bandeirante Portugus um soldado da fortuna emergiu da selva amaznica e descreveu como depois de uma longa e perturbadora peregrinao, incitado pela ganncia insacivel de ouro, ele tinha visto as runas de

uma antiga cidade no topo de uma montanha. O homem entrou na cidade, descobrindo arcos de pedra, uma esttua, avenidas largas e um templo com hierglifos. O bandeirante escreveu: As runas mostraram bem o tamanho e grandeza que deve ter havido l e como populosa e opulenta deveia ter sido na poca em que floresceu. Pouco antes da ecloso da primeira guerra mundial, Fawcett, que havia sido enviado em anteriores misses exploratrias Amrica do Sul pela Royal Geographical Society, leu o relatrio do Bandeirante. Ele foi fisgado. Mas, quando ele estava preparando mapas para uma expedio para encontrar o que chamou de City of Z, a guerra interveio. Aps o armistcio, em 1918, ele tentou levantar fundos para uma expedio a Z e foi demitido como um maluco. Fawcett cujo lema de famlia era Dificuldades que se dane no se intimidou. Em 1920, ele liderou uma misso catica para encontrar a cidade perdida, que terminou quando ele teve que matar seu cavalo (em um local conhecido posteriormente como Dead Horse Camp). As expedies de Fawcett tinham muitas vezes esse teor amadorista. Ele era conhecido por deixar [tudo] para a selva carregando apenas uma mochila de 60lb e uma cpia do poema de Rudyard Kiplings, The Explorer. Quando seu pequeno grupo foi emboscado pelos nativos, Fawcett disse ter ordenado aos seus homens para tocar instrumentos musicais e cantar Soldados da Rainha, enquanto as setas caiam em torno deles. A excentricidade do explorador mascarava uma convico cada vez mais fervorosa na existncia de uma cidade perdida. Ele insistia, em suas splicas por fundos Royal Geographical Society, que eram as mais notveis relquias de uma antiga civilizao na Amaznia. Depois de voltar de sua misso abortada em 1920, ele praguejou mais uma vez contra seus opositores. It will of course come out, escreveu ele, que um Colombo moderno foi rejeitado na Inglaterra. Em 1925 Fawcett, prximo de ser destitudo na poca, partiu em sua segunda e ltima expedio para encontrar a cidade de Z. Ele escreveu esposa: Voc no precisa ter medo de qualquer falha. Mas ele nunca mais foi visto. Em 1927 ele foi declarado desaparecido pela Royal Geographical Society. Duas misses subsequentes tentaram encontr-lo, mas sem sucesso. Quase um sculo depois do desaparecimento de Fawcett, seus instintos parecem ter-se provado como corretos. Embora ele esperace a cidade Z como construda de pedra, e apesar de at o final de sua vida, ele tenha tido uma noo mais fantstica do que seria adequado, estas descobertas mostram que ele foi, de muitas maneiras, extraordinariamente presciente, diz Grann. De fato, durante seus anos de investigao, ele relatou uma descoberta muito semelhante: grandes montes de terra cheia de cermica antiga e frgil e de uma rede de interconexo de caladas e estradas. Ele estava convencido de que havia runas que antecederam os incas e que a Amaznia tem sido o lar de assentamentos macios, com sociedades sofisticadas e obras monumentais. Outros no esto convencidos. Hemming diz que, embora o papel na Antiguidade importante trabalho de gente sria nada disso tem qualquer coisa a ver com o El Dorado ou com a racista e incompetente cabea de Percy Fawcett. como se algum

tentase ligar uma descoberta em Stonehenge, digamos, com viagens de Edward Lear nos Balcs. Ambos os homens podem concordar que a recente descoberta um grande avano em nosso conhecimento da regio. The breakthrough has been eight years in the making. Em 2002, Martti Parssinen, um historiador finlands e arquelogo, e um dos co-autores do relatrio, foi chamado por um companheiro especialista, Alceu Ranzi, que tinha notado formas geomtricas escavadas na terra durante o vo sobre a Amaznia e que esperava que Parssinen fosse investigar essas formas com ele. Ele entendeu que no eram estruturas naturais, lembra Parssinen. Ele percebeu que elas devem ter sido feitas pelos povos indgenas. De acordo com Parssinen, Ranzi j tinha tentado recorrer a ajuda de cientistas nos Estados Unidos, mas a proposta foi recusada. Eles simplesmente no acreditaram nele, lembra Parssinen. Mas eu percebi, por causa do trabalho que eu tinha feito na rea, que esta poderia ser uma coisa muito importante. Foi muito emocionante receber esse telefonema. Foi ainda mais emocionante, diz Parssinen, para sobrevoar as reas que Ranzi tinha notado. Quando eu vi as formas, ento, foi uma sensao incrvel, diz ele. Todas as velhas teorias dizem que esta rea da Amaznia s poderia ter suportado caadores e coletores. Ningum acreditava que uma grande civilizao poderia ter existido l. Percebemos que esta descoberta poderia mudar a histria. Os autores publicaram um relatrio em 2003 e ento esperaram durante trs anos a permisso para comear a escavar a rea. A utilizao de imagens de satlite Google Earth para localizar os locais exatos fez seu trabalho mais fcil do que o trabalho arqueolgico anterior na regio. Mas sua descoberta , por qualquer medida, impressionante. As implicaes da descoberta so de grande alcance. Esse realmente o incio de uma reavaliao da histria. Estamos apenas comeando a entender a Amaznia, diz Parssinen. Grann acredita que esta descoberta levar no apenas a uma reavaliao do potencial dos povos da Amaznia pr-Colombiana, mas tambm a um crescente interesse arqueolgico na regio. Esta apenas a ponta do iceberg, diz ele. Os autores do mais recente estudo estimam que os cientistas descobriram, nesta rea especfica, apenas 10% dos trabalhos de terraplenagem geomtrica e runas que esto l. Vai demorar dcadas para os cientistas descobrir a extenso desta e de outras antigas civilizaes da Amaznia. Igualmente, tem levado dcadas para que o conceito de Fawcett seja revivido. Durante anos, seus nicos adeptos verdadeiros eram sua famlia, aqueles que o viam como o ltimo dos grandes exploradores e ocultistas que acreditavam que Fawcett tinha desaparecido porque descobriu uma porta de entrada para uma nova dimenso. De fato, ainda existem aqueles que adoram Fawcett e acreditam que a City of Z foi realmente uma porta para um universo alternativo um site anuncia expedies ao mesmo portal ou porta de entrada para um reino que foi encontrado pelo Coronel Fawcett em 1925.

Os mundos da arqueologia e da cincia podem levar mais tempo para reconhecer o explorador excntrico. Mas, quaisquer que sejam as manias de Fawcett, ele parece ter sido amplamente correto. Alm disso, sua memria ser prolongada por uma adaptao cinematogrfica de The Lost City of Z, em que ele ser interpretado por Brad Pitt. Falar sobre um retorno. http://www.timesonline.co.uk/tol/news/science/earth-environment/article6982391.ece? print=yes&randnum=1268931201575

AKAKOR A CIDADE PERDIDA DA AMAZONIA

Atrs da cortina de mentiras imposta pelo nosso governo durante a segunda guerra HITLER despachara um submarino equipado com avies anfbios levando soldados da elite da SS para a regio, o jornalista Karl Brugger apurou em sua investigao a existncia de trs cidades subterrneas AKAHIM , AKHANIS,AKAKOR cidades com construes de origem desconhecida muito tempo abandonadas pelos seus construtores,segundo relato dos ndios da regio vrios anos depois do final da guerra em 1965 durante a ditadura militar continuavam a chegar militares e cientistas alemes na regio,e o governo brasileiro diz que no sabe de nada mentira a rea onde se localiza a base secreta e de alta segurana avies no podem passar nem perto.O jornalista Karl Brugger foi assassinado por agentes da CIA aps ter declarado em seu livro que existiam militares do 3 REICH na regio amaznica.A Crnica de Akakor KARL BRUGGER Prefcio de ERICH VON DANIKEN Os cientistas no so os nicos que enriquecem ao explorar o desconhecido. Karl Brugger, nascido em 1942, depois de completar os seus estudos de histria e sociologia contempornea, foi para a Amrica do Sul como jornalista e obteve informaes acerca de Akakor. Desde 1974 que Brugger correspondente das estaes de rdio e televiso da Alemanha Ocidental. Atualmente, considerado um especialista em assuntos que dizem respeito aos ndios. Em 1972, Brugger encontrou Tatunca Nara, filho de um chefe ndio, em Manaus, na confluncia do rio Solimes com o rio Negro, isto , no incio do Amazonas. Tatunca Nara chefe dos ndios Ugha Mongulala, Dacca e Haisha. Brugger, investigador escrupuloso, ouviu a histria inacreditvel mas verdadeira que o mestio lhe contou. Depois de ter verificado tudo conscienciosamente, decidiu publicar a crnica que tinha registrado no gravador.

Como estou habituado ao fantstico e sempre preparado para o extraordinrio, no me emociono facilmente, mas devo confessar que me senti invulgarmente impressionado com A Crnica de Akakor tal como me relatou Brugger. Abre uma dimenso que obriga os cticos a verificar que o inconcebvel muitas vezes possvel. Incidentalmente, A Crnica de Akakor foca precisamente o quadro que familiar aos mitologistas de todo o mundo. Os deuses vieram do cu, instruram os primeiros humanos, deixaram atrs de si alguns misteriosos instrumentos e desapareceram novamente no cu. Os desastres devastadores descritos por Tatunca Nara podem ser relacionados at ao mnimo pormenor com Os Mundos em Coliso, de Immanuel Velikovsky, as suas extraordinrias descries de uma catstrofe mundial e mesmo as referncias s datas so simplesmente espantosas. Igualmente, a afirmao de que certas partes da Amrica do Sul so cortadas por passagens subterrneas no pode chocar nenhum conhecedor do assunto. Num outro livro referi-me ter visto as tais estruturas subterrneas com os meus prprios olhos, A Crnica de Akakor d resposta a muito do que apenas aflorado noutros trabalhos sobre assuntos semelhantes

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INTRODUO

A Amaznia comea em Santa Maria de Belm, a cento e vinte quilmetros da costa do Atlntico. Em 1616, quando duzentos portugueses, sob a chefia de Francisco Castelo Branco, tomaram posse deste territrio em nome de Sua Majestade o Rei de Portugal e Espanha, o seu cronista descreveu-o como uma doce e convidativa zona de terreno com rvores gigantescas. Presentemente, Belm uma grande cidade, com arranha-cus, de trfego intenso e uma populao de seiscentos e trinta e trs mil habitantes. o ponto de partida da civilizao branca na sua conquista das florestas virgens da Amaznia. Contudo, atravs de quatrocentos anos, a cidade tem conseguido preservar traos do seu passado herico e mstico. Palcios de estilo colonial dilapidados e edifcios de azulejos com enormes portes de ferro so testemunhas de uma era famosa, quando a descoberta do processo de vulcanizao da borracha elevou Belm ao nvel de uma metrpole europia. O mercado de dois andares na rea do porto tambm data desta poca.Aqui quase tudo pode ser comprado: peixe do Amazonas ou do oceano, perfumados frutos tropicais; ervas medicinais, razes, bulbos e flores; dentes de crocodilo, que dizem ter propriedades afrodisacas, e rosrios feitos de terracota Santa Maria de Belm uma cidade de contrastes. No centro, ruas ruidosas de trfego, mas o mundo selvagem da ilha de Maraj, outrora povoada por uma das populaes altamente civilizadas que tentaram conquistar a Amaznia, fica apenas a duas horas de viagem, rio acima, na margem oposta. De acordo com a histria tradicional, os Marajoaras chegaram ilha mais ou menos em 1100, quando a sua civilizao estava no apogeu, mas na altura em que os exploradores europeus chegaram, este povo j tinha desaparecido. Tudo o que ele resta so belas cermicas, figuras estilizadas traduzindo dor, alegria e sonhos. Parecem contar uma histria, Mas qual? At ilha de Maraj, o Amazonas uma confusa rede de canais, afluentes e lagoas. O rio

estende-se por uma distncia de seis mil quilmetros: nasce no Peru e atinge os rpidos colombianos, mudando de nome em cada pas que atravessa de Apurimac a Ucayali e Maraon, e de Maraon a Solimes. Para alm da ilha de Maraj, o Amazonas tem um caudal maior que qualquer outro rio do mundo. Um grande barco a motor, nico meio de transporte na Amaznia, leva trs dias para fazer a travessia de Belm Santarm, a localidade mais prxima. impossvel compreender o grande rio sem ter experimentado estes barcos a motor, que incorporam a noo de tempo, vida e distncia na Amaznia. Podem fazer-se cento e cinqenta quilmetros por dia (no por hora) rio abaixo; nestes barcos o tempo passa-se a comer, a beber, a sonhar e a amar. Santarm fica situada na margem direita do Amazonas, na embocadura do rio Tapajs. Uma populao de trezentos e cinqenta mil habitantes atravessa uma poca prspera, pois a cidade terminal da Transamaznica e atrai garimpeiros, contrabandistas e aventureiros. Uma das mais antigas civilizaes da Amaznia floresceu aqui, o povo do Tapajs, provavelmente a maior tribo da selva ndia. O historiador Heriarte afirmou que, se fosse necessrio, tinham possibilidade de alinhar cinqenta mil arqueiros para uma batalha. Mesmo considerando este nmero um exagero, sabe-se que os Tapajs foram suficientemente numerosos para fornecer ao mercado de escravos portugueses durante oitenta anos. Esta orgulhosa tribo no nos legou seno espcimes arqueolgicos... e o rio que tem o seu nome. Rios, cidades e lendas da Amaznia sucedem-se de Santarm a Manaus. Presume-se que o aventureiro espanhol Francisco Orellana combateu os habitantes da Amaznia na foz do rio Nhamund. O lago Iacy, Espelho da Lua, situa-se na margem direita do rio, junto povoao de Faro. De acordo com a lenda, as Amazonas desciam at o lago, vinda das montanhas que o rodeavam, quando havia lua cheia, para encontrarem os apaixonados que as esperavam. Mergulhavam em busca de pedras estranhas, que, debaixo de gua, podiam ser amassadas como po, mas que em terra adquiriam dureza. As Amazonas chamavam a estas pedras muiraquit e davam-nas aos seus apaixonados. Os cientistas consideram-nas milagres arqueolgicos: duras como o diamante, tm formas artificiais, se bem que a evidncia tenha provado que os Tapajs no tinham ferramentas para trabalhar esta espcie de material. O verdadeiro rio Amazonas nasce na confluncia do rio Solimes com o rio Negro. De barco, leva-se vinte minutos para chegar a Manaus, que no tem qualquer estrada de comunicao com a costa. Foi aqui que encontrei Tatunca Nara, a 3 de Maro de 1972. M., que comandava o contingente da selva brasileira em Manaus, tinha sido o encarregado de me proporcionar este encontro. Foi no Bar Graas a Deus que encontrei pela primeira vez o chefe ndio. Era alto, tinha um longo cabelo escuro e um rosto delicadamente modelado. Os seus olhos, castanhos, pequenos e cheios de suspeita, eram caractersticos dos mestios. Tatunca Nara vestia um desbotado uniforme tropical, que, tal como mais tarde me explicou, lhe fora dado pelos oficiais. O seu largo cinto de couro com fivela de prata era impressionante. Os primeiros minutos da nossa conversa foram difceis. Com certa relutncia, Tatunca Nar