centro de estudos fetus - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de...

58
CENTRO DE ESTUDOS FETUS AVALIAÇÃO DA VITALIDADE FETAL NAS INFECÇÕES CONGÊNITAS MYLLENA DO VALE MACIEL Orientador KYVIA BEZERRA MOTA SÃO PAULO-SP 2010

Upload: duongdien

Post on 02-Dec-2018

227 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

CENTRO DE ESTUDOS FETUS

AVALIAÇÃO DA VITALIDADE FETAL NAS INFECÇÕES CONGÊNI TAS

MYLLENA DO VALE MACIEL

Orientador KYVIA BEZERRA MOTA

SÃO PAULO-SP

2010

Page 2: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

MYLLENA DO VALE MACIEL

AVALIAÇÃO DA VITALIDADE FETAL NAS INFECÇÕES CONGÊNI TAS

Monografia apresentada ao Centro de Estudo Fetus para aprovação no

Curso de Pós-graduação em Medicina Fetal sob a orientação da

Prof� Kyvia Bezerra Mota.

SÃO PAULO-SP

2010

Page 3: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

AVALIAÇÃO DA VITALIDADE FETAL NAS INFECÇÕES CONGÊNI TAS

MYLLENA DO VALE MACIEL

Aprovada em ____/____/_____.

ORIENTADORA

Dra. Kyvia Bezerra Mota

BANCA EXAMINADORA

Dr. Airton Roberto Pastore

Professor Livre Docente do Departamento de Radiologia da USP

Especialista em Medicina Fetal (FEBRASGO)

Dra. Viviane Lopes

Mestre em Obstetrícia pela UNIFESP

Título em Ultra-sonografia em Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO)

Especialista em Medicina Fetal (FEBRASGO)

Page 4: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

AGRADECIMENTOS

A Jesus Cristo, aquele tornou tudo em minha vida possível.

Ao meu amor, Bruno, pelo incentivo diário e o carinho que torna a minha vida

cada dia mais feliz.

Aos meus pais, Antônio e Suely, pela dedicação que possibilitou a minha

formação e pelo amor de vocês que me acompanha nesta vida.

Aos meus sogros, Odilon e Mônica, pelo apoio constante e orações que me

abençoam.

Aos meus irmãos, Michelline, Michel e João e a minha sobrinha, Larissa, pelo

sentimento de união que há entre nós.

Aos meus tios Paulo e Pe. Alfredo pelo incentivo sem o qual muitos dos meus

sonhos não seriam possíveis.

Às minhas avós, Maria (in memorian) e Julieta (in memorian) por me

mostrarem a beleza do amor ao próximo em suas ações em vida.

À Kyvia que me ensinou o amor pela ultra-sonografia e a lição mais preciosa de

amizade.

À Charlene que dividiu comigo um sonho pelo qual lutamos ainda hoje.

A todos aqueles que estiveram envolvidos em minha vida e formação, o meu

sincero agradecimento.

Page 5: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

RESUMO

As infecções congênitas são um grande desafio para o acompanhamento pré-

natal, considerando os inúmeros fatores implicados no prognóstico fetal e

conseqüentemente na conduta pré-natal.

Diante dos mais recentes avanços na propedêutica diagnóstica fetal, a

presente revisão tem como principal objetivo sugerir diretrizes no

acompanhamento da vitalidade fetal na presença das infecções congênitas que

estão mais comumente associadas ao comprometimento fetal, mais

especificamente a toxoplasmose, citomegalovirose, infecção pelo parvovírus

B19, rubéola e sífilis.

A composição dos fluxogramas visa o melhor entendimento da sequência na

conduta indicada, facilitando e tornando mais rápido o acesso às informações

contidas no texto de modo a simplificar a leitura.

Page 6: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

ABSTRACT

Congenital infections are a major challenge for the prenatal care, considering

the many factors involved in fetal prognosis and therefore the conduct prenatal

care.

Before the most recent advances in fetal diagnostic procedures, this review is

mainly intended to suggest the guidelines for fetal monitoring in the presence of

congenital infections that are most commonly associated with fetal compromise,

in particular toxoplasmosis, cytomegalovirus, parvovirus B19, rubella and

syphilis.

The composition of the flow is aimed at better understanding the behavior of the

sequence indicated, making it easier and faster access to information in the text

to simplify reading.

Page 7: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

SUMÁRIO

1 TOXOPLASMOSE..................................... ..............................................pág.9

Introdução...................................................................................................pág.9

Diagnóstico.................................................................................................pág.10

Conduta pré-natal.......................................................................................pág.15

Considerações............................................................................................pág.19

2 CITOMEGALOVÍRUS.................................. ...........................................pág.20

Introdução...................................................................................................pág.20

Diagnóstico................................................................................................pág.21

Conduta pré-natal......................................................................................pág.27

Considerações..........................................................................................pág.29

3 PARVOVÍRUS B19................................... .............................................pág.29

Introdução..................................................................................................pág.29

Diagnóstico.................................................................................................pág.31

Conduta pré-natal.......................................................................................pág.33

Considerações............................................................................................pág.35

4 RUBÉOLA.......................................... .....................................................pág.36

Introdução...................................................................................................pág.36

Page 8: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

Diagnóstico................................................................................................pág.36

Conduta pré-natal......................................................................................pág.39

Considerações...........................................................................................pág.40

5 SÍFILIS...................................................................................................pág.41

Introdução.................................................................................................pág.41

Diagnóstico...............................................................................................pág.42

Conduta pré-natal.....................................................................................pág.44

Considerações finais...............................................................................pág.46

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................. ....................................pág.46

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................... ..............................pág.47

Page 9: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

1 TOXOPLASMOSE

1.1 INTRODUÇÃO

A infecção pelo Toxoplasma gondii adquirida durante a gestação e sua

transmissão ao feto continua sendo a causa de uma trágica e evitável doença

nos recém-nascidos (Remington, 2006).

Estima-se que 500-5000 crianças nascem a cada ano com

toxoplasmose congênita nos Estados Unidos (Roberts, 1990). No Brasil, entre

25 e 40% das gestantes são soronegativas para a toxoplamose (Spalding,

2000; Vaz, 1990). O risco de infecção aguda durante a gestação é de

aproximadamente 1% e a transmissão fetal ocorre em 30% dos casos, levando

a infecção fetal de gravidade variável (Wierden, 1999; Friedman, 1999).

O Toxoplasma gondii é um parasita intracelular obrigatório, existindo em

três formas: o oocysto, encontrado em fezes de gatos, o taquizoítos (uma

forma de divisão rápida encontrada na fase ativa da infecção), e o bradizoíto

(uma forma de crescimento lento observada nos cistos presentes nos tecidos).

(Montoya, 2004). A infecção materna normalmente resulta da ingesta de

oocistos, ou ainda de bradizoítos ou taquizoítos contidos em carne ou

derivados (Hill, 2002).

O parasita alcança o feto através da placenta, causando vários níveis de

prejuízo, dependendo de sua virulência, da resposta imune da mãe, ou do

período da gestação quando ocorreu a infecção, resultando em morte fetal ou

sintomas clínicos graves (Spalding, 2003).

Page 10: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

Apesar de a gravidade do comprometimento fetal ser inversamente

proporcional à idade gestacional, a taxa de transmissão vertical é diretamente

proporcional ao estágio da gestação em que a mãe adquiriu a infecção (Sáfadi,

2003).

Embora haja uma alta prevalência de infecções inaparentes, a

toxoplasmose pode evoluir para uma doença sistêmica grave quando em sua

forma congênita, na qual a mãe, quando infectada pela primeira vez durante a

gravidez, pode apresentar uma parasitemia temporária com lesões focais na

placenta, infectando assim o feto (Dubey, 1977). A morbidade e a mortalidade

associadas à toxoplasmose estão bem documentadas (Petrof & McLeod 2002,

Remington et al. 2006, Boyer et al. 2008, Roberts et al. 2008).

1.2 DIAGNÓSTICO

INFECÇÃO NA GESTANTE

A maior parte das gestantes com infecção aguda não apresentam sinais

ou sintomas óbvios (Remington, 2006; Boyer, 2005). Uma minoria pode

experimentar mal-estar, febrícula e linfadenopatia. Raramente, as gestantes

apresentarão distúrbios visuais devido à coriorretinite toxoplásmica (Garweg,

2005) resultante de uma infecção adquirida recentemente ou da reativação de

uma infecção crônica. Um estudo recente revelou que 52% das mães que

deram a luz a fetos congenitamente infectados não relataram ter

experimentado sintomas de infecção durante a gestação ou identificado um

contato com um fator de risco epidemiológico (Boyer, 2005).

Page 11: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

Deste modo, o rastreamento sorológico sistemático para IgG e IgM

contra o Toxoplasma gondii em todas as gestantes deverá ser realizado o

mais precocemente possível (idealmente durante o primeiro trimestre) e o

acompanhamento sorológico mensal ou trimestral das pacientes soronegativas

seria o mais adequado. Na maioria dos casos, o teste realizado precocemente

na gestação pode estabelecer se a infecção não ocorreu, pela ausência de

ambos os anticorpos IgM e IgG, ou se a infecção foi adquirida em um passado

distante, com o resultado de IgG positiva e IgM negativa (Montoya, 2008).

É necessário enfatizar que um anticorpo anti-IgM positivo a qualquer

tempo antes ou durante a gestação não necessariamente significa infecção

adquirida recentemente (Liesenfield, 1997; Wilson, 1997). Os anticorpos IgM

podem persistir por mais de 1 ano após a infecção aguda, e a maior parte dos

resultados positivos para IgM são obtidos em gestantes que adquiriram a

infecção em um passado mais distante, além do período de risco fetal. Estas

pacientes estão cronicamente infectadas (Montoya, 2008).

O teste para avidez de IgG é um exame auxiliar para determinar se a

infecção é aguda ou previamente adquirida quando a IgM é reagente em

pacientes assintomáticas. O teste é baseado na maior força das ligações

iônicas entre antígeno e anticorpos produzidas pelas infecções antigas quando

comparadas com as recentes (Fricker-Hidalgo, 2007). Dependendo do método

usado, a gestante com anticorpos de alta avidez são aquelas que estão

infectadas há mais de 3-5 meses. Quando a avidez é limítrofe pode ser um

fator de confusão e uma interpretação cuidadosa se faz necessária. A baixa

avidez pode persistir por até um ano (Berrebi, 2007).

Page 12: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

As figuras 1 e 2 demonstram como poderá ser realizado o

acompanhamento sorológico da gestante.

Figura 1. Avaliação sorológica da gestante.

IgG / IgM

IgG (-) e

IgM (-)

IgG (+) e

IgM (-)

IgG (-) e

IgM (+)

Nenhuma evidência

de infecção

Acompanhamento

sorológico

< 18 semanas

> 18 semanas

Infecção prévia à gestação

Acompanhamento de

rotina

Infecção antes ou durante

gestação

Acompanhamento

sorológico

Repetir IgM e IgG

(em 1 a 3 semanas)

IgG (-) e

IgM (+)

Repetir IgG em 3

semanas

IgG (+) e

IgM (+)

Realizar teste de avidez

Page 13: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

Figura 2: Teste de avidez da IgG.

INFECÇÃO FETAL

O espectro clínico da infecção congênita pelo T. gondii varia de

alterações aparentes ao nascimento com morbimortalidade perinatal elevada

(microcefalia, crescimento intrauterino retardado, hidrocefalia) a uma infecção

subclínica com possibilidade de risco para o desenvolvimento de coriorretinite

e/ou complicações tardias na vida futura (hidrocefalia). O diagnóstico precoce

assim como o tratamento antiparasitário adequado da mãe tem demonstrado

ser capaz de reduzir a taxa de transmissão para o feto e por conseqüência o

número de seqüelas nos casos em que a infecção intrauterina já ocorreu

(Castro, 2001).

AVALIAÇÃO ULTRASSONOGRÁFICA

As alterações ultrassonográficas observadas nesses fetos têm recebido

grande atenção da literatura especializada (Friedman, 1999; Berrebi, 1993;

Cirino, 1999; Hohlfield, 1991). A incidência de anomalias ultra-sonográficas

Teste de Avidez IgG

Alta (> 70%)

Baixa (< 30 %)

Infecção passada ou reativação Primoinfecção materna

Page 14: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

varia de 18,1% (Berrebi, 1993, Abboud, 1995) a 36,4% (Crino, 1999), estando

associada à idade gestacional da infecção fetal (Berrebi, 1993). As alterações

observadas com maior freqüência são dilatação ventricular e calcificações

intracranianas. Já as anomalias extracerebrais, compatíveis com infecção fetal

sistêmica, são encontradas em 65% dos casos quando a infecção fetal ocorre

no primeiro trimestre e em 25% dos casos quando ocorre no segundo trimestre

da gestação (Hohlfield, 1991).

Estudo realizado por Couto e cols em 2004 mostrou as principais

alterações ultrassonográficas encontradas nos fetos sintomáticos: dilatação

ventricular, calcificações cranianas, espessamento placentário, calcificações

hepáticas, hesplenomegalia, polidrâmnio, derrame pericárdico, esplenomegalia

e restrição de crescimento intra-uterino. (Couto, 2004).

LÍQUIDO AMNIÓTICO

A utilização da biologia molecular revolucionou o acompanhamento pré-

natal da toxoplasmose, pois, além de permitir a identificação dos fetos

infectados, possibilitou que a terapia antiparasitária fosse iniciada

precocemente, ainda na gestação (Berrebi, 1993; Abboud, 1995; Crino, 1999;

Hohlfield, 1991).

A amplificação do DNA do Toxoplasma gondii no líquido amniótico às 18

semanas de gestação (período ótimo) ou posteriormente, tem sido usada com

sucesso para o diagnóstico pré-natal da toxoplasmose congênita. (Romand,

2001; Grover, 1990; Hohlfeld, 1994). Suas sensibilidade e especificidade para o

líquido amniótico obtido antes das 18 semanas de gestação não foram

Page 15: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

estudadas; além disso, o procedimento realizado precocemente na gestação

está associado a um risco mais alto para o feto e é menos útil.

Um estudo sobre a rotina do uso da PCR no líquido amniótico obtido às

18 semanas de gestação ou mais foi relatado na França apresentando

sensibilidade de 64% para o diagnóstico da infecção congênita no feto, um

valor preditivo negativo de 88%, e uma especificidade e valor preditivo positivo

de 100% (ou seja, um resultado positivo significa a infecção do feto) (Romand,

2001).

CORDOCENTESE

Através da cordocentese, pode-se ter acesso ao sangue fetal, no qual

podemos diagnosticar a infecção através da pesquisa direta do parasita no

sangue fetal, bem como verificar a presença de IgM específica para o mesmo,

ou ainda verificar achados inespecíficos como IgM total elevada ou presença

de eosinofilia.

Figura 3. Achados específicos e inespecíficos na toxoplasmose congênita.

1.3 CONDUTA PRÉ-NATAL

A prevenção da toxoplasmose humana é baseada no cuidado de evitar a

ingestão de cistos e oocistos encontrados no ambiente (Lappalainen, 2004)

Não há vacina para proteger os seres humanos contra esta doença. A

Page 16: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

prevenção primária, quando aplicada durante os cuidados pré-natais, pode

reduzir as infecções durante o primeiro trimestre em mais de 63%. Consiste

basicamente em programas educacionais e de saúde pública, recomendando à

gestante evitar contato com material potencialmente contaminado com fezes de

gatos e evitar a ingestão de carne crua ou mal cozida ou subprodutos. O uso

de luvas quando manusear a terra também está fortemente recomendado

(Foulon, 1992).

A prevenção secundária consiste no diagnóstico precoce da mãe, do

feto, e do recém-nascido e em evitar ações que possam causar a transmissão

do parasita, através da intervenção terapêutica em gestantes e crianças que

apresentam a infecção aguda. A prevenção terciária está concentrada no

diagnóstico precoce através da dosagem de anticorpos específicos IgA e IgM

no sangue do recém-nascido, permitindo a terapêutica a fim de prevenir ou

diminuir os riscos de seqüelas (Hall, 1992)

Uma vez estabelecido que os resultados dos testes sorológicos são

consistentes com infecção adquirida recentemente e que a aquisição da

infecção durante as primeiras 18 semanas de gestação ou pouco antes do

período concepcional não pode ser excluída, uma tentativa de evitar a

transmissão vertical do parasita através do tratamento com espiramicina é

recomendada por muitos pesquisadores nos Estados Unidos e na Europa.

Se a infecção fetal for confirmada, através de um resultado positivo para

PCR no líquido amniótico às 18 semanas de gestação ou posteriormente, é

recomendado o tratamento com pirimetamina, sulfadiazina e ácido folínico (se

Page 17: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

a paciente já estiver tomando a espiramicina, a recomendação é alternar com

esta combinação)(Gilbert, 2003).

A cordocentese pode ser realizada entre 20-24ª semanas de gestação

(preferencialmente na 23ª semana) naquelas pacientes que adquiriram a

infecção até 16 semanas. Para as infecções adquiridas entre 17- 25 semanas,

a coleta de sangue deve ser realizada em média, quatro semanas após a

soroconversão materna. Após 25 semanas, recomenda-se a terapia materna

com espiramicina até o termo, controle ultrassonográfico quinzenal e avaliação

neonatal (Daffos, 1989, Blanc, 1988).

Apesar dos efeitos colaterais do tratamento combinado, devido às altas

taxas de transmissão observadas após 18 semanas de gestação, Montoya e

cols sugerem que o tratamento com pirimetamina, sulfadiazina e ácido folínico

seja também usado em pacientes que adquiriram a infecção após 18 semanas

de gestação, em uma tentativa de evitar a infecção fetal e, se a transmissão

ocorreu (PCR positiva), de promover o tratamento do feto. A pirimetamina não

é utilizada mais cedo por ser potencialmente teratogênica (Montoya, 2004).

Recentemente foi relatado o resultado clínico das crianças com infecção

congênita, cujas mães adquiriram a infecção no primeiro trimestre da gestação,

que apresentaram exames ultrassonográficos normais e que receberam

espiramicina durante a gestação. Apesar de ser esperado que essas crianças

apresentassem danos graves, o seguimento após 2 anos não diferia

significantemente daquelas que nasceram de mães que adquiriram a infecção

durante o segundo e o terceiro trimestres. Os autores concluíram que, nestas

circunstâncias a resolução da gestação não era indicada. Entretanto o

Page 18: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

tratamento apropriado é essencial, e os achados ultrassonográficos devem

estar livres de qualquer anomalia. Além da US, a ressonância magnética tem

sido utilizada na procura por calcificações intracranianas e outras

anormalidades no feto (Berrebi, 2007).

A figura 4 demonstra como poderá ser realizado o tratamento da

toxoplasmose de acordo com a idade gestacional em que ocorreu a

soroconversão, conforme proposta de Montoya em estudo publicado em 2004.

Figura 4. Tratamento da toxoplasmose de acordo com a idade gestacional em

que ocorreu a soroconversão (Montoya, 2004)

Gestante com diagnóstico de toxoplasmose

< 18 semanas ≥ 18 semanas

Espiramicina USG

PCR após 18 semanas

Pirimetamina + Sulfadiazina + Àcido Folínico

Page 19: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

Figura 5. Tratamento da toxoplasmose de acordo com o resultado da PCR.

1.4 CONSIDERAÇÕES

Atualmente a avaliação da vitalidade nos fetos cujas mães são

sabidamente portadoras de toxoplasmose aguda adquirida na gestação está

baseada na confirmação da infecção fetal através dos achados

ultrassonográficos e da propedêutica invasiva (PCR no líquido amniótico e

cordocentese). Observando que o tratamento para esta patologia tem mostrado

boa eficácia, torna-se imprescindível o rastreamento sorológico de rotina no

pré-natal com objetivo de identificar as mães portadoras e dar sequência à

investigação sobre o possível comprometimento fetal e posteriormente ao

tratamento adequado conforme descrito.

PCR

Negativa Positiva

Continuar espiramicina até o parto Intercalar espiramicina + sulfadiazina + pirimetamina + ácido folínico

Page 20: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

2 CITOMEGALOVÍRUS

2.1 INTRODUÇÃO

O citomegalovírus humano (CMV) é a principal causa de infecção

congênita nos países desenvolvidos, com incidência variando entre 0,2 e 2,2%

de todos os nascidos vivos (Guerra, 2000; Revello, 2000). No Brasil, estudos

mostram prevalência de 2,1% a 6,2% dos recém-nascidos (Yamamoto, 2001;

Santos, 2000). A taxa de transmissão após infecção primária da mãe é de

aproximadamente 40%.

Somente 10-15% das crianças infectadas com CMV são sintomáticas ao

nascimento, e os sintomas variam desde leves a doença que ameaça a vida. O

restante (85-90%) das crianças é assintomático ao nascimento, mas 10%

desenvolverão complicações posteriormente, principalmente defeitos do

neurodesenvolvimento e perda auditiva neurossensorial. Entre as gestantes

com infecção recorrente, a taxa de transmissão para o recém-nascido está em

torno de 1%. Apesar de uma imunidade preexistente na mãe, os dados

epidemiológicos sugerem que a frequência e a severidade dos sintomas,

podem variar de forma semelhante ao que ocorre na infecção primária por

CMV (Gayant, 2002; Gayant, 2003).

A história natural da infecção intrauterina por CMV não é bem

conhecida, mas está claro que os fetos são prejudicados pelo vírus

irreversivelmente antes do nascimento. Estas crianças não serão muito

beneficiadas com a terapia pós-natal, mas se os fetos infectados puderem ser

detectados antes deste estágio irreversível, o tratamento intra-útero (quando

possível) poderá ter um efeito significativo no curso da doença (Whitley, 1997).

Page 21: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

2.2 DIAGNÓSTICO

INFECÇÃO NA GESTANTE

No momento, não há um protocolo mundialmente aceito para o

rastreamento da infecção intrauterina por CMV durante a gestação e o período

neonatal. Avaliar o sangue materno para a presença de IgM CMV detectaria

aquelas mulheres sob risco de transmitir o vírus para o feto. Entretanto a

presença de IgM pode variar entre as diferentes situações clínicas, assim como

durante as fases aguda e de convalescença da infecção primária por CMV, ou

na persistência do anticorpo IgM (Revello, 2002). Diante de uma IgM positiva,

na ausência de anticorpos IgG, estes devem ser repetidos nas próximas 2 a 3

semanas posteriores para demonstrar a soroconversão. Se a IgG persiste

como negativa, será considerado um falso positivo da IgM, que pode se

apresentar como uma reatividade heteróloga com outros herpes-vírus,

especialmente com o vírus do Epstein-Baar (Stagno, 1986)

Se a gestante apresenta IgM e IgG positivas na primeira determinação,

não se pode assegurar que a infecção seja muito recente, já que os anticorpos

IgM se tornarão negativos após 3 a 4 meses, podendo persistir até 9 meses

após a primoinfecção (Stagno, 1986). Além disso, a IgM pode positivar-se em

gestantes previamente imunes por reativação da infecção viral (Pérez, 2005).

Portanto é indispensável realizar o exame de avidez dos anticorpos IgG. A

presença de anticorpos IgM e anticorpos IgG de alta avidez no primeiro

trimestre pode dever-se a uma infecção pré-gestacional, ou com menor

freqüência, a uma reativação ou reinfecção viral. Uma baixa avidez nos três

Page 22: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

meses anteriores a determinação, indica uma primoinfecção recente

(Lazzarotto, 2004; Lazarroto, 2008).

Figura 6. Acompanhamento sorológico da gestante com IgM positiva.

INFECÇÃO FETAL

Durante a gestação a transmissão para o feto ocorre em 40% dos casos

de infecção materna primária (Demler, 1991). Entre as mulheres nas quais os o

vírus reativou durante a gestação, taxa de transmissão ao feto é menor que 2%

(Yow, 1988). O diagnóstico é complicado, pois a evidência de infecção ativa na

IgM (+)

POSITIVA NEGATIVA

IgG

AVIDEZ IgG

ALTA BAIXA

INFECÇÃO PASSADA OU REATIVAÇÃO

PRIMOINFECÇÃO MATERNA

REPETIR EM 03 SEMANAS

Page 23: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

mãe não fornece informações sobre se o feto foi infectado, se a criança

desenvolverá doença grave ou problemas de saúde na vida posteriormente

(Jones, 2000).

Duas questões devem ser consideradas em relação ao diagnóstico

antenatal da infecção por CMV. A primeira questão é se o feto está infectado, e

a segunda é se o feto está sintomático, e se está, o quão extensa é a infecção.

O objetivo do acompanhamento pré-natal dos fetos com infecção

congênita por CMV é detectar aqueles que desenvolverão deficiência

neurológica grave. Estes fetos poderiam ser selecionados para interrupção da

gestação, a depender da legislação corrente no país (Picone, 2004). Em todos

os casos, recomenda-se uma investigação pré-natal minuciosa.

EXAMES DE IMAGEM

As características ultrassonográficas dos fetos acometidos pela infecção

por CMV são numerosas e não específicas. Apesar de faltar estudos

longitudinais e de a imagem pós-natal ser baseada principalmente na

tomografia computadorizada, (Boppana, 1997; Noyola, 2001) uma imagem

anormal do cérebro à ultrassonografia (US) e à ressonância magnética (RM)

costuma ser encontrada em neonatos sintomáticos. (Steilin, 1996; Malinger,

2003) O desenvolvimento técnico no campo da RM, especialmente a

possibilidade de realizar sequências ultrarrápidas, tem possibilitado o estudo do

cérebro fetal e estudos sobre a anatomia e condições patológicas têm sido

publicados (Malinger, 2004).

Page 24: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

O espectro de lesões cerebrais sugestivas de infecção pelo CMV é

heterogêneo, e são principalmente múltiplas e de ocorrência tardia (Steilin,

1996). A anormalidade na mielinização e na formação dos giros cerebrais do

feto são armadilhas para o exame ultrassonográfico do cérebro fetal, e o

desenvolvimento da RM fetal é um recente e seguro elemento valioso para a

completa avaliação dos fetos de alto risco, apesar de a RM ser menos sensível

que a US na detecção de calcificações cerebrais. (Barkovich and Lindan, 1994;

Soussotte, 2000; Malinger, 2003). Entretanto, Malinger e cols demonstraram

que uma neurosonografia é equivalente a uma RM e melhor do que US de

referência para o diagnóstico das anormalidades do cérebro fetal (Malinger,

2004).

A RM parece ser uma importante ferramenta na avaliação pré-natal da

infecção congênita pelo CMV, principalmente em duas situações. Nos casos

com anormalidades graves a US, a RM sempre confirma os achados

diagnósticos, e as vezes revela outras anomalias, permitindo uma informação

mais completa aos pais e um prognóstico mais acurado. Entretanto, não

modifica o prognóstico. Nos casos com características extracerebrais isoladas,

a RM revelou anomalias cerebrais em 07 dos 14 casos. Esta situação é mais

interessante porque a informação dada pela RM modifica o prognóstico

(Piccone, 2008).

LIQUIDO AMNIÓTICO

A detecção do CMV no líquido amniótico através de cultura viral ou PCR

é considerada efetiva na diferenciação entre os fetos infectados dos não

infectados (Lazzarotto, 1998; Lipitz, 1997; Revello, 2002). Devido ao atraso na

Page 25: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

passagem transplacentária do vírus e porque a imaturidade renal do feto antes

das 21 semanas impede a eliminação do vírus no LA, é recomendável que a

amniocentese seja realizada após 21 semanas de gestação e seguindo um

intervalo de pelo menos 06 semanas após a infecção materna ter sido

diagnosticada com a finalidade de se obter resultados mais confiáveis

(Goegebuer, 2009).

A cultura do vírus no LA é 100% específica, porém apresenta muitos

falsos negativos. O melhor método diagnóstico é a PCR (reação da polimerase

em cadeia), que apresenta uma excelente sensibilidade (90-98%) e

especificidade (92-98%)(Barquero-Artigao, 2009).

O valor dos resultados da PCR quantitativa para CMV no LA como um

indicador prognóstico de infecção congênita já é mais controverso. Alguns

autores acreditam que uma alta carga viral no líquido amniótico está associada

com um alto risco de infecção sintomática para o feto. Entretanto, estudo

publicado por Goegebuer e colaboradores em março de 2009, demonstrou que

não há correlação entre a carga viral do CMV no LA e o prognóstico fetal. A

quantificação da carga viral do CMV no LA, portanto, não deve ser considerado

um marcador confiável em relação à gravidade da doença no feto (Goegebuer,

2009).

As figuras 6 e 7 mostram como pode ser feita a avaliação da vitalidade fetal

através da PCR e dos exames de imagem, respectivamente.

Page 26: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

Figura 6. Diagnóstico da infecção fetal através da PCR.

Figura 7. Avaliação por imagem e conduta adequada ao feto infectado.

Page 27: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

2.3 CONDUTA PRÉ-NATAL

VACINA

A Infecção congênita por citomegalovírus (CMV) causa

comprometimento auditivo, cognitivo e neurológico. Com base na análise

custo-efetividade, o desenvolvimento de uma vacina para a prevenção a

infecção por CMV foi listada no topo das prioridades para os Estados Unidos

por um comitê do Instituto de Medicina em 2001(Stratton, 2001). Apesar de os

primeiros estudos clínicos para criação de uma vacina contra o CMV terem se

iniciado há 30 anos, uma vacina efetiva para a prevenção da infecção pelo

CMV permanece um sonho. (Plotkin, 1984).

Pass e colaboradores publicaram em 2009, estudo placebo-controlado,

randomizado, duplo cego, no qual foi avaliada vacina que consistia em CMV

recombinante. A eficácia da vacina foi de 50% (95% de intervalo de confiança

7-73%). A conclusão dos autores foi de que a vacina tem o potencial de

diminuir a incidência dos casos de infecção materna e congênita pelo CMV

(Pass, 2009).

O pessimismo geral em relação à criação de uma vacina é, ao menos

em parte, resultante dos estudos que mostraram que infecções repetidas com

novas cepas do CMV ocorrendo em pessoas que haviam sido infectadas

anteriormente. Além disso, a infecção congênita pode ser devida tanto a

infecção materna primária durante a gestação, como por infecções em

mulheres com imunidade ao CMV antes da gestação (Pass, 2009).

Page 28: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

GLOBULINA HIPERIMUNE

Estudo realizado por Nigro e colaboradores demonstrou que o

tratamento com globulina hiperimune na dose de 100 U/Kg pode diminuir os

efeitos patogênicos do CMV tanto pela neutralização ou efeitos

imunomodulatórios. A imunoglobulina parece ser menos efetiva para a

prevenção da infecção do que para o tratamento dos fetos. Apesar de o feto

estar infectado, entretanto, globulina hiperimune presumivelmente reduz a

reação inflamatória na placenta ou no feto, ou em ambos, resultando em

aumento do fluxo sanguíneo fetal com melhora da nutrição e oxigenação fetal.

Este mecanismo pode também influenciar na resolução das anormalidades

ultrassonográficas aparentemente associadas com a terapia com globulina

hiperimune, tendo em vista que a maioria dos sinais e sintomas da infecção

congênita geralmente se resolve durante as primeiras semanas de vida,

presumivelmente devido à melhora da nutrição e oxigenação (Nigro, 2005)

TRATAMENTO ANTIVIRAL DURANTE A GESTAÇÃO

Os antivirais com maior atividade frente ao CMV (ganciclovir, cidofovir e

foscarnet) têm efeitos teratogênicos em animais e não são recomendados

durante a gestação, entretanto, nos casos em que foi administrado ganciclovir

a mulheres gestantes, foram alcançadas concentrações adequadas no líquido

amniótico e no sangue fetal e não se observou efeitos teratogênicos no feto.

Um estudo recente avaliou o tratamento com valaciclovir em 20 gestantes com

infecção fetal demonstrada por PCR em líquido amniótico. A dose administrada

foi de 8 g/ dia desde a 28 semana até a finalização ou interrupção da gestação

(média de 07 semanas). O valaciclovir conseguiu diminuir a carga viral do feto,

Page 29: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

e 10 dos 13 recém-nascidos não apresentaram seqüelas da infecção após um

ano se seguimento (Barquero-Artigao, 2009).

2.4 CONSIDERAÇÕES

Apesar de a infecção pelo citomegalovírus não apresentar alterações

específicas ao ultrassom, os constantes avanços das técnicas de imagem e da

biologia molecular, possibilitaram a avaliação da vitalidade dos fetos

acometidos pela infecção e, conseqüentemente permitiram que a conduta em

cada caso pudesse ser definida com maior precisão.

Além disso, estudos recentes sobre a possibilidade de tratamento da

infecção fetal através da globulina hiperimune e do uso de antivirais fortalecem

a expectativa de que no futuro possamos fazer uso de um tratamento efetivo

para esta infecção congênita tão freqüente e comprometedora para o feto.

3 PARVOVÍRUS B19

3.1 INTRODUÇÃO

O parvovirus B19 é um pequeno DNA vírus, não envelopado, que infecta

exclusivamente os seres humanos. Após a infecção, a replicação ocorre

primeiramente nos eritrócitos e eritroblastos, o que pode desencadear anemia

em indivíduos predispostos. Os adultos saudáveis geralmente apresentam

apenas sintomas leves. Em contraste, indivíduos imunocomprometidos,

incluindo fetos, podem desenvolver anemia crônica grave, necessitando de

tratamento imediato (Levi, 1997).

Page 30: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

Apesar de a infecção em adultos ser geralmente leve, a infecção por

parvovírus no feto pode causar abortamento espontâneo no período inicial da

gestação e anemia aplástica, hidropsia fetal não imune e óbito fetal intra-útero

(Forestier, 1999). Estas complicações são mais frequentemente descritas

quando a infecção materna ocorre até a 20ª semana gestacional (Da Silva,

2006).

Estudos de prevalência de anticorpos IgG em gestantes indicam uma

variação muito grande, de 35-81%, dependendo da população estudada, sendo

que o número de casos de hidropsia fetal atribuídos ao parvovírus B19 pode

aumentar em anos epidêmicos de eritema infeccioso, atingindo até 13,5% das

gestantes susceptíveis não imunes. Gestantes cuja atividade ocupacional exige

contato freqüente com crianças e que possuem filhos menores de 10 anos de

idade são mais propensas à infecção aguda por parvovírus B19 (Da Silva,

2006).

O parvovírus tem um tropismo pelos precursores de eritrócitos de divisão

rápida, particularmente pronormoblastos e normoblastos, nos quais ele se

replica até altos títulos, destruindo as células infectadas (Guerrero 2006;

Cunninghan, 2006). Os fetos podem ser especialmente vulneráveis à anemia

por infecção pelo parvovírus B19 devido à curta meia-vida das células

vermelhas e a uma possível resposta imunológica ineficaz que pode conduzir a

uma infecção crônica. Casos raros na literatura já foram relatados em que o

parvovírus B19 pôde infectar outros tipos de células, causando encefalite e

miocardite (Guerrero 2006; Cunninghan, 2006; Von Kaisenberg, 2001).

Page 31: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

A transmissão transplacentária pode ocorrer em qualquer tempo da

gestação. O risco de transmissão da mãe para o feto varia de 10 a 35%, sendo

mais freqüente no primeiro e segundo trimestres. A média de tempo entre o

diagnóstico e a resolução está em torno de 06 semanas (Guerrero, 2006;

Tolfvenstan, 2001). Apesar de o vírus poder ser encontrado em qualquer

trimestre, o segundo trimestre parece estar associado ao um maior risco de

perda fetal. Também se notou, sem que a relação causa-efeito fosse provada,

que havia uma incidência deste vírus de 2-3% em todos os abortos

espontâneos (Van Elsacker, 1989).

3.2 DIAGNÓSTICO

INFECÇÃO NA GESTANTE

Os achados clínicos coletados conduzem ao eritema infeccioso. As

diferentes fases da doença descrita apresentarão diferentes achados ao exame

físico. A primeira fase da doença provoca sintomas inespecíficos, incluindo

febre, mal-estar e outros sintomas virais. A paciente pode também apresentar

“rash” eritematoso fotossensível na face que se sobressai na zona nasal e

periorbital. A segunda fase, que é puramente clínica, sem qualquer mudança

nas imunoglobulinas, pode mostrar exantema maculopapular no tronco e nas

extremidades (Al-Khan, 2003).

O diagnóstico específico pode ser realizado pelos seguintes métodos:

Se uma mulher gestante foi exposta ao parvovírus B19, deve-se solicitar uma

avaliação sorológica para IgG e IgM específica para parvovírus assim que

possível. Resultado positivo para IgG e IgM indica que a infecção ocorreu há 7-

Page 32: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

120 dias (possível risco para o feto). IgG negativa e IgM positiva indica infecção

aguda (alto risco para o feto).(Cunninghan, 2006)

INFECÇÃO FETAL

ULTRASSONOGRAFIA

Durante o primeiro trimestre, os fetos infectados com o parvovírus B19

podem apresentar translucência nucal aumentada. No segundo e no terceiro

trimestres, pode-se suspeitar da infecção fetal utilizando a ultrassonografia,

com a presença de hidropsia fetal, ascite, derrame pleural e pericárdico,

adelgaçamento da pele, cardiomiopatia hipertrófica, hepatoesplenomegalia,

hidrocefalia, microcefalia, calcificações intracranianas, placentomegalia, e

alterações no volume de líquido amniótico (Guerrero, 2006)

Anemia fetal está associada com circulação hiperdinâmica; deste modo,

através da mensuração pelo Doppler da velocidade do pico sistólico da artéria

cerebral média em gestações complicadas pela infecção por parvovírus B19,

através do aumento dos valores das velocidades previamente ao surgimento

de sinais ultrassonográficos de hidropsia (Delle Chiaie, 2001).

LÍQUIDO AMNIÓTICO

A PCR é a ferramenta clínica mais útil para diagnosticar a infecção e

detecta se o DNA viral está presente no sangue, líquido amniótico ou outros

líquidos corporais tanto em tecidos frescos como naqueles embebidos em

parafina. Um resultado positivo é indicativo de viremia/infecção. Microscopia

eletrônica também pode identificar o parvovírus B19 nos tecidos (Al-Khan,

2003).

Page 33: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

CORDOCENTESE

A cordocentese pode ser realizada para fazer o teste para IgM

específica para o parvovírus B19 no sangue fetal. Além disso, pode ser

utilizada ainda para avaliar o grau de anemia do feto, a qual geralmente é

grave e acompanhada de neutropenia e plaquetopenia (pancitopenia) (Naides,

1989).

3.3 CONDUTA PRÉ-NATAL

Observou-se que 3-19% das mulheres gestantes sofrerão

soroconversão para IgM positiva após a exposição ao parvovírus B19, com

uma taxa de transmissão vertical de 33%. (Van-Elsacker, 1989).

A prevenção da infecção é difícil, pois ocorrem infecções inaparentes em

30% dos indivíduos e nos casos de eritema infeccioso, o paciente já não é mais

transmissor quando há o surgimento do exantema típico. Não existe ainda uma

vacina disponível licenciada para a prevenção da infecção entre as gestantes

suscetíveis (Markeson, 1998; Young, 2004).

O tratamento da infecção pelo parvovírus B19 é dependente da idade

gestacional do feto. Se a mãe tem IgM positiva e IgG negativa (sugerindo

infecção recente), pelo menos até 20 semanas de gestação, nenhum

tratamento é necessário. Isto porque a infecção B19 está relacionada a um

risco muito pequeno de anomalias congênitas. Estas pacientes deveriam ser

submetidas a exames seriados de ultrassonografia para monitorar o

desenvolvimento de hidropisia fetal (Fairley, 1995).

Page 34: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

A avaliação da artéria cerebral média é o mais sensível teste não

invasivo para anemia intrauterina (Fairley, 1995). Este teste pode ser usado

como uma ferramenta de diagnóstico e rastreamento para monitorar dano

intrauterino (hemólise / anemia)(Cosmi, 2002).

Observando que a maior manifestação da infecção pelo parvovírus é a

anemia, a transfusão intraútero deverá ser considerada se a cordocentese

identificar, em uma amostra de sangue fetal, o nível de hemoglobina < 10g/dL

(Lynch, 1989). Se o diagnóstico for feito a uma IG menor que 28 semanas, a

transfusão poderá ser realizada tanto intra-abdominal como por punção do

cordão umbilical (Makenson,1998; Brown, 1994).

Se anemia / hidropsia severa intrauterina for diagnosticada a uma idade

gestacional (IG) superior a 28 semanas, deve-se considerar realizar o parto e

proceder ao tratamento extra-útero (Al-Khan, 2003) A transfusão fetal

raramente é indicada após 33 a 34 semanas de gestação, quando o parto traz

chance de 95% de sobrevivência para a criança (Hsu, 2007).

A terapia com imunoglobulina intravenosa tem sido utilizada com

sucesso no período pós-natal. Ela tem se mostrado efetiva na resolução da

viremia e na melhora dos índices de células vermelhas (Cunninghan, 2006).

Page 35: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

Figura 8. Acompanhamento da vitalidade fetal e tratamento adequado na

infecção pelo parvovírus B19.

3.4 CONSIDERAÇÕES

A infecção pelo parvovírus B19 na gestação pode provocar abortamento

precoce e óbito fetal. Entretanto, atualmente com os meios de vigilância do

bem estar fetal, como ultrassonografia com Doppler, PCR no líquido amniótico

e a cordocentese, é possível não só comprovar a infecção fetal, como

acompanhar as repercussões da infecção e tratar a anemia fetal, a principal

conseqüência da infecção, através da transfusão intra-útero.

Page 36: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

4 RUBÉOLA

4.1 INTRODUÇÃO

A rubéola é uma doença leve que se apresenta com febre e erupção

cutânea. Entretanto, sua importância para a saúde publica está relacionada aos

efeitos teratogênicos quando a rubéola é adquirida nos primeiros meses da

gestação. A infecção do feto pela rubéola pode resultar em óbito fetal ou no

nascimento de uma criança com sérios defeitos congênitos. A Síndrome da

Rubéola Congênita (SRC) é uma importante causa de cegueira, surdez,

cardiopatia congênita e retardo mental (OMS, 2003).

Estima-se que a SRC ocorra em mais de 85% em crianças nascidas de

mães que foram infectadas nas primeiras 12 semanas de gestação, enquanto

os defeitos congênitos são raros após as 20 semanas (Plotkin, 1994). Em

geral, quando mais precocemente ocorre a infecção na gestação, maior o risco

para a SRC. O risco de SRC em crianças nascidas de mães previamente

imunizadas que se reinfectaram durante a gestação é mínimo (Watson, 1998;

MMWR, 1997).

DIAGNÓSTICO

INFECÇÃO MATERNA

O vírus é transmitido de pessoa para pessoa através de partículas em

aerossol. Os sintomas clínicos da rubéola adquirida são geralmente leves, e

muitas infecções são assintomáticas. A primeira manifestação clínica é

usualmente erupção cutânea maculopapular após 16 a 20 dias da exposição e

geralmente se apresenta primeiramente na face e depois se espalha pelo

Page 37: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

tronco e em seguida pelas extremidades. Outros sintomas típicos incluem febre

baixa, linfadenopatia, irritação na orofaringe e mal estar geral. A linfadenopatia

também pode ser característica, envolvendo os linfonodos cervicais posteriores

e os occipitais, os quais podem persistir após a erupção cutânea ter se

resolvido (Lee, 2000.)

INFECÇÃO FETAL

Quando há diagnóstico de soroconversão materna, torna-se

imprescindível avaliar o feto quanto à possibilidade de ter ocorrido transmissão

vertical da patologia. É importante considerar que os achados

ultrassonográficos são inespecíficos e que a confirmação da infecção do

concepto deverá ser realizada através da análise do líquido amniótico,

vilosidade coriônica ou sangue fetal, especialmente quando a soroconversão

materna ocorreu até a 16ª semana (Daffos, 1984).

LÍQUIDO AMNIÓTICO

Assim como ocorre em outras infecções congênitas, a pesquisa do

material genético do vírus poderá ser realizada no líquido amniótico com o

objetivo de comprovar ou não a infecção do feto. Estudo publicado em 2005

por McIver e cols demonstrou a importância do desenvolvimento da técnica de

PCR multiplex na qual com volume menor de amostra é possível avaliar a

presença do material genético de vários agentes patogênicos como o T. gondii

e vírus como o CMV, herpes vírus e outros, incluindo o vírus da rubéola. Desse

modo, para qualquer síndrome clínica em que podem estar envolvidos vários

agentes patogênicos, especialmente nos casos de infecção congênita, a nova

técnica parece bastante promissora (McIver, 2005).

Page 38: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

CORDOCENTESE

O diagnóstico da infecção congênita poderá ser realizado através da

cordocentese a partir da 22ª semana de gestação pela pesquisa da IgM

específica para rubéola. O diagnóstico pode ser igualmente evocado pela

presença da síndrome biológica da rubéola congênita, a qual associa:

eritroblastose, anemia, trombocitopenia, aumento de gamaglutamiltransferase

(GGT) e desidrogenase lática (LDH), e presença de interferon. A pesquisa

direta do vírus também pode ser realizada através de cultura (Daffos, 1984).

Figura 9. Avaliação da vitalidade fetal através do líquido amniótico e sangue

fetal.

Figura 10. Sinais inespecíficos da Síndrome da Rubéola Congênita.

Page 39: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

4.3 CONDUTA PRÉ-NATAL

A conduta deve ser definida considerando especialmente o período da

gestação em que ocorreu a soroconversão materna. A propedêutica fetal

invasiva está indicada quando o evento ocorreu antes das 16 semanas de

gestação, quando o risco para o concepto é maior.

Quando a soroconversão materna ocorreu após a 16ª semana, orienta-

se o acompanhamento ultrassonográfico da gestação em períodos mais curtos

do que o habitual e o acompanhamento pré-natal por um especialista em

medicina fetal. A avaliação através de ecocardiografia fetal também está

indicada, assim como em todas as infecções congênitas.

Figura 11. Avaliação da vitalidade fetal na infecção fetal pelo vírus da rubéola

Assim, o prognóstico fetal e a conduta do pré-natalista estão vinculadas

ao período em que ocorreu a soroconversão materna. Após a confirmação do

diagnóstico de infecção do concepto, a periodicidade das consultas e os

métodos de avaliação se modificam.

DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO MATERNA

< 20 SEMANAS > 20 SEMANAS

Propedêutica invasiva Acompanhamento US Propedêutica invasiva?

Page 40: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

Quando comprovada a infecção fetal até 12 semanas, considera-se o

prognóstico fetal grave, indicando-se o controle ultrassonográfico quinzenal,

ecocardiografia seriada e acompanhamento com especialista. Se a infecção

ocorreu entre 13 e 16 semanas o feto tem prognóstico considerado

comprometido, sendo orientada a avaliação ultrassonográfica quinzenal e

pesquisa da acuidade auditiva às 28 semanas. Se o feto não foi infectado,

considerar acompanhamento ultrassonográfico quinzenal e ecocardiografia de

controle (Hohlfeld, 1990).

Figura 12. Acompanhamento fetal relacionado à infecção pela rubéola

4.4 CONSIDERAÇÕES

Apesar de não haver tratamento específico para a rubéola, é possível,

através dos atuais métodos disponíveis de avaliação laboratorial, compreender

Acompanhamento fetal

< 12 semanas

13 a 16 semanas

> 16 semanas ou não

infectado

Prognóstico fetal grave USG quinzenal

Eco fetal

Prognóstico comprometido USG quinzenal

Controle acuidade auditiva 28 sem

Eco fetal

Melhor prognóstico USG quinzenal

Eco fetal

Page 41: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

os possíveis danos ao concepto provocados pelo vírus da rubéola. Além disso,

nossa maior arma contra a rubéola congênita continua sendo a prevenção

através da vacina contra o vírus que deverá ser administrada especialmente

nas mulheres em idade fértil.

5 SÍFILIS

5.1 INTRODUÇÃO

A sífilis é causada pelo espiroqueta Treponema pallidum e se manifesta

como um processo infeccioso sistêmico. A sífilis pode ser transmitida

verticalmente, em geral através da placenta: o risco de infecção fetal aumenta

com a idade gestacional. A transmissão vertical pode ocorrer ocasionalmente

durante o parto se houver lesões genitais maternas (Manjeroni, 2007). As

conseqüências da sífilis congênita incluem prematuridade, baixo peso ao

nascer, hidropsia não imune, e óbito intrauterino (Chakraborty, 2008).

Avanços importantes no diagnóstico e tratamento da sífilis têm sido

obtidos desde que o organismo causador, Treponema pallidum, foi descoberto

em 1905 por Schaudinn e Hoffmann. Apesar destes feitos, a sífilis permanece

como um grande problema de saúde pública em muitos países em

desenvolvimento, e tem ressurgido nos países desenvolvidos (OMS, 1997;

Tichonova, 1998).

No Brasil, no ano de 2005 foram notificados e investigados 5.792 casos

de sífilis congênita em menores de um ano de idade. A incidência passou de

Page 42: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

1,3 casos por mil nascidos vivos em 2000 para 1,9 casos por mil nascidos vivos

em 2005 (Norma Técnica CDC, 2008).

A sífilis congênita é decorrente da disseminação hematogênica do

Treponema Pallidum da gestante não tratada ou inadequadamente tratada para

o seu concepto, por via transplacentária. A transmissão pode ocorrer em

qualquer fase da gestação e em qualquer estágio da doença, com

probabilidades de 50% a 100% na sífilis primária e secundária, 40% na sífilis

latente precoce e 10% na sífilis latente tardia. É possível transmissão direta no

canal do parto. Ocorrendo a transmissão da sífilis congênita, cerca de 40 %

dos casos podem evoluir para aborto espontâneo, natimorto e óbito perinatal.

A sífilis congênita pode ser evitada se a infecção materna for detectada

e tratada por ocasião do segundo trimestre. O rastreamento pré-natal para

prevenção da sífilis congênita tem sido o principal foco dos programas de

controle da sífilis (OMS, 1999).

5.2 DIAGNÓSTICO

INFECÇÃO MATERNA

Os testes sorológicos permanecem como o método de escolha para o

diagnóstico de sífilis (Peeling, 2004). O VDRL (Veneral Diseases Research

Laboratory) e RPR (Rapid Plasma Reagin) são testes simples, rápidos, baratos

e apresentam excelente sensibilidade, especialmente na infecção precoce

(OMS, 1999). Em gestantes, a RPR pode apresentar falso positivo de 28%

(Watson-Jones, 2002). Falso negativo pode ocorrer quando há excesso de

Page 43: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

anticorpo (conhecido como fenômeno prozona). A reação cruzada pode ocorrer

com outras infecções treponêmicas (Peeling, 2004).

Testes treponêmicos, como o ensaio de hemaglutinação para o T.

pallidum e o teste de imunoflorescência do anticorpo anti-treponêmico (FTA-

ABS) são usados para confirmar os testes de rastreamento. Os testes

treponêmicos não são utilizados geralmente para rastreamento por não serem

tão sensíveis como os testes não-treponêmicos nas primeiras 2-3 semanas no

estágio de sífilis primária. Os anticorpos anti-treponêmicos podem persistir

durante a vida, fazendo com que estes sejam menos úteis como exames

confirmatórios em áreas onde a prevalência é alta; eles também não são úteis

para avaliar a efetividade do tratamento (Peeling, 2004)

Figura 11. Diagnóstico da infecção por sífilis

INFECÇÃO FETAL

A infecção transplacentária pode ocorrer em qualquer estágio da

gestação (Wicher, 2001). O estágio da sífilis materna, o período da gestação, o

tratamento adequado da paciente e a resposta imunológica do feto causam a

variedade de manifestações que podem ocorrer na sífilis congênita (Genc,

2000).

Page 44: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

ACHADOS ULTRASSONOGRÁFICOS

O principal achado ultrassonográfico relacionado à sífilis congênita é o

espessamento placentário que ocorre como provável conseqüência de uma

vilosite sifilítica. Outros achados comuns estão relacionados à presença de

hidropsia fetal, como derrames intracavitários (derrame predicárdico, ascite e

derrame pleural). Entretanto, estes achados são tardios, não devendo ser

aguardados para a resolução da conduta pré-natal.

PROPEDÊUTICA INVASIVA

As técnicas sorológicas disponíveis não são ideais para o diagnóstico

fetal da sífilis congênita. Sabe-se também que a IgG atravessa passivamente a

placenta. Assim, a detecção de anticorpos na circulação fetal não representa

necessariamente infecção congênita. Por outro lado, os anticorpos do tipo IgM

(fetais) dificilmente são detectados no sangue do concepto até a 22ª semana,

de modo habitual. No entanto, na sífilis congênita, pode-se observar a ausência

desses anticorpos até o 3º mês após o nascimento. Logo, os testes que

identificam esses anticorpos (IgM fetal) não são suficientemente fidedignos,

podendo apresentar falsos-negativos (Isfer, 1989).

5.3 CONDUTA PRÉ-NATAL

Após a confirmação da infecção materna, o tratamento já está indicado,

o que por conseqüência promoverá o tratamento também do concepto.

A droga de escolha para o tratamento da gestante considerada infectada

é a penicilina, que atravessa a barreira transplacentária. O tratamento da sífilis

Page 45: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

na gestação é o mesmo realizado para a sífilis adquirida, em conformidade

com a fase da doença:

• sífilis primária (com cancro duro): penicilina benzatina 2.400.000 UI via

intramuscular (1,2 milhões em cada glúteo na mesma aplicação);

• sífilis secundária (com lesões cutâneas não ulceradas) ou latente

precoce (com menos de um ano de evolução): penicilina benzatina 4.800.000

UI via intramuscular dose total, aplicar duas doses com intervalo de sete dias

(2,4 milhões por dose: 1,2 milhões em cada glúteo na mesma aplicação);

• sífilis terciária ou latente tardia (com mais de um ano de evolução ou

duração ignorada): penicilina benzatina 7.200.000 UI via intramuscular dose

total (três séries, com intervalo de sete dias: 2,4 milhões por dose - 1,2 milhões

em cada glúteo na mesma aplicação).

Além do tratamento medicamentoso, é necessário reforçar a orientação

sobre os riscos relacionados à infecção pelo T. pallidum por meio da

transmissão sexual, para que as mulheres com sífilis e seu(s) parceiro(s)

evitem relações sexuais ou mantenham práticas para o sexo seguro, com o uso

de preservativo, durante o tratamento. Recomendar o uso regular do

preservativo (masculino ou feminino) também no período pós-tratamento

(Norma Técnica CDC, 2008).

Mesmo após o tratamento ser efetivado, é importante manter o

acompanhamento ultrassonográfico semanas desses fetos, e um

ecocardiograma de controle deve ser indicado, assim como ocorre nas demais

infecções congênitas.

Page 46: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

5.4 CONSIDERAÇÕES

A sífilis é uma das infecções congênitas que poderiam ser facilmente

evitadas, pois se conhece seu modo de transmissão, há métodos satisfatórios

e de baixo custo para o diagnóstico, bem como tratamento efetivo. Entretanto,

muitos casos permanecem sem acompanhamento adequado e por

conseqüência comprometendo a saúde da mãe e do feto. Torna-se mandatório

manter a vigilância em todas as gestantes durante o pré-natal e o

acompanhamento com especialista daquelas que receberam o diagnóstico de

sífilis durante a gestação.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As infecções congênitas são ainda hoje motivo de grande preocupação

para todos aqueles envolvidos nos cuidados das gestantes e seus conceptos.

Algumas apresentam diagnóstico relativamente complicado ou não têm

tratamento efetivo, porém, todas podem ser acompanhadas com cuidado

através não só da ultrassonografia, mas especialmente das técnicas

atualmente disponíveis, como PCR no líquido amniótico, análise do sangue

fetal através da cordocentese, ressonância nuclear magnética, entre outras.

Importante é ressaltar que o melhor acompanhamento será sempre feito

através do especialista que não só compreende a diferença entre tratar e

cuidar, como se mantém atualizado para cuidar da melhor forma possível,

considerando a boa vitalidade fetal como seu objetivo final.

Page 47: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Abboud ,P., Harika, G., Saniez, D. Signes échographiques de la fetopathie

toxoplasmique. J Gynecol Obstet Biol Reprod, Paris, v. 24, no 7, p 733-8, 1995.

Adler, SP. Risk of human parvovirus B19 infections among school and hospital

employees during endemic periods. J Infect Dis, Richmond, v. 168, no2 , p 362-

8, 1993.

Adler, SP., Nigro, G., Pereira, L. Recent advances in the prevention and

treatment of congenital cytomegalovirus infections. Semin Perinatol, Richmond,

v. 31, no 1, p 10 – 18, 2007.

Al-Khan, A., Caliguri, A., Apuzzio, J. Parvovirus B19 infection during pregnancy.

Infect Dis Obstet Gynecol, Newark, v. 11, no 3, p 175-179, 2003.

Barquero- Artigao, F. Citomegalovirus congénito: ¿ Es necesario um cribado

serológico durante el embarazo? Enferm Infecc Microbiol Clin. doi:

10.1016/j.eimc.2009.01.017. 2009.

Berrebi, A., Bardou, M., Bessieres, MH. Outcome for children infected with

congenital toxoplasmosis in the first trimester and with normal ultrasound

findings: a study of 36 cases. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol, Toulouse, v.

135, no 1, p 53–7, 2007.

Berrebi, A., Bessières, MH., Cohen-Khalas, Y. Diagnostic anténatal de la

toxoplasmose. A propos de 176 cas. J Gynecol Obstet Biol Reprod, Paris, v.

22, no 3, p 261-8, 1993.

Page 48: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

Boyer, KM., Holfels, E., Roizen, N. Risk factors for Toxoplasma gondii infection

in mothers of infants with congenital toxoplasmosis: implications for prenatal

management and screening. Am J Obstet Gynecol, Chicago, v. 192, no 2, p

564–71, 2005.

Brown, KE., Green, S., Antunez-de-Mayolo, J. Congenital anemia following

transpplacental B19 parvovirus infection. Lancet, Bethesda , v. 343, p 895,

1994.

Castro FC, Castro MJ, Cabral AC. Comparação doa métodos para diagnóstico

da toxoplasmose congênita. RBGO, Rio de Janeiro, v. 23, no5, p 277-282,

2001.

Cosmi, E., Mari, G., Delle Chiaie, L. Non invasive diagnosis by Dopppler

ultrassonography of fetal anemia resulting from parvovirus B19 infection. Am J

Obstet Gynecol, Cincinnati, v. 187, no 5, p 1290-3, 2002.

Couto, JCF., Leite JM. Sinais ultra-sonográficos em fetos portadores de

toxoplasmose congênita. RBGO, Rio de Janeiro, v. 26, no 5, p 377-382, 2004.

Crino, JP. Ultrasound and fetal diagnosis of perinatal infection. Clin Obstet

Gynecol v. 42, no 1, p 71-80, 1999.

Cunningham, D., Rennels, MB., Parvovirus B19 infection. Available at:

http://www.emedicine.com/ped/topic192.htm. Data de acesso 09 dezembro

2009.

Daffos, F. Fetal Blood Sampling. Annu Ver Med, Paris, v.40, no1, p 319-29,

1989.

Page 49: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

Da Silva, ARA., Nogueira, AS., Alzeguir, JCL., Da Costa, MCFL, Do

Nascimento, JP. Prevalência de Anticorpos IgG antiparvovírus B19 em

gestantes durante o atendimento pré-natal e casos de hidropisia fetal não-

imune atribuídos ao parvovírus B19, na cidade do Rio de Janeiro. Sociedade

Brasileira de Medicina Tropical, Rio de Janeiro, v. 39, no 5, p 467 – 472, 2006.

Delle Chiaie, L., Buck, G., Grab, D., Terinde R. Prediction of fetal anemia with

Doppler measurement of the middle cerebral artery peak systolic velocity in

pregnancies complicated by maternal blood group alloimmunization or

parvovirus B19 infection. Ultrasound Obstet Gynecol, Ulm, v.18, no 3, p 232–6,

2001.

Demmler, G. Summary of workshop on surveillance for congenital

cytomegalovirus disease. Rev. Infect. Dis, Houston, v. 13, no 2, p 315- 329,

1991.

Dubey, JP. Toxoplasma, Hammondia, Besnoitia, Sarcocystis and other tissue

cyst-forming coccidia of man and animals. Parasitic Protozoa Academic Press,

Montpelier, v. 3, p 101, 1977.

Fairley, C., Smoliniec, J., Caul, O. Observacional study of the effect of the

intrauterine transfusions on outcome of fetal hydrops after parvovirus B19

infection. Lancet, Londres, v. 346, no 8986, p 1335, 1995.

Fricker-Hidalgo, H., Brenier-Pinchart, MP., Schaal, JP., Equy, V., Bost-Bru, C.,

Pelloux, H. Value of Toxoplasma gondii detection in one hundred thirty-three

placentas for the diagnosis of congenital toxoplasmosis. Pediatr Infect Dis J,

Grenoble, v. 26, no 9, p 845–6, 2007.

Page 50: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

Friedman, S., Ford-Jones, LE., Toi, A., Ryan, G., Blaser, S., Chitayat, D., 1999.

Congenital toxoplasmosis: prenatal diagnosis, treatment and postnatal

outcome. Prenat Diagn, Toronto, v.19, no4, p 330-3, 1999.

Forestier, F., Tissot, J-D., Vial, Y., Daffos, F., Hohlfeld, P., 1999.

Haematological parameters of parvovirus B19 infection in 13 fetuses with

hydrops foetalis. British Journal of Haematology, Paris, v.104, no 4, p 925–927,

1999.

Foulon, W. Congenital toxoplasmosis: is screening desirable? Scand J Infec

Dis, Brussel, v. 84, p 11-17, 1992.

Garweg, JG., Scherrer, J., Wallon, M., Kodjikian, L, Peyron F. Reactivation of

ocular toxoplasmosis during pregnancy. BJOG, Berna, v. 112, p 241–2, 2005.

Gaytant, MA. Congenital cytomegalovirus infection: review of the epidemiology

and outcome. Obstet. Gynecol. Surv, Doetinchen, v.57, no4, p 245 – 256, 2002.

Gayant, MA. Congenital cytomegalovirus infection after recurrent infection: case

reports and review of the literature. Eur. J. Pediatr, Doetinchen, v.162, p 248 –

253, 2003.

Gilbert, R., Grasm, L. European Multicentre Study on Congenital

Toxoplasmosis. Effect of timing and type of treatment on the risk of mother to

child transmission of Toxoplasma gondii. BJOG, Londres, v.110, no 2, p 112–

20, 2003.

Page 51: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

Goegebuer, T. Van Meensel, B., Beuselinck, V. Clinical predictive value of real-

time PCR quantification of human cytomegalovirus DNA in amniotic fluid

samples. J Clin Microbiol, Leuven, v. 47, no 3, p 660-665, 2009.

Grover, CM., Thulliez, P., Remington, JS., Boothroyd, JD. Rapid prenatal

diagnosis of congenital Toxoplasma infection by using polymerase chain

reaction and amniotic fluid. J Clin Microbiol, Palo Alto, v. 28, no 1, p 2297–301,

1990.

Guerra, BT. Prenatal diagnosis of symptomatic congenital cytomagalovirus

infection. Am. J. Obstet. Gynecol, Bolonha, v.183, no 2, p 476-482, 2000.

Guerrero, LD. Fetal parvovirus infection. Available at: http://

www.thefetus.net/page.php?id=155 Data de acesso: 11 December 2009.

Hall, SM. Congenital Toxoplasmosis. B M J, Londres, v.305, no 6848, p 291-7,

1992.

Hill, D., Dubey, P. Toxoplasma gondii: transmission, diagnosis and prevention.

Clin Microbiol Infect, Maryland, v.8, no 10, p 634–640, 2002.

Hohlfeld, P., Daffos, F., Costa, J-M., Thulliez, P., Forestier, F., Vidaud, M.,

1994. Prenatal diagnosis of congenital toxoplasmosis with polymerase-

chainreaction test on amniotic fluid. N Engl J Med, Paris, v.331, no 1, p 695–9,

1994.

Hohlfeld P. Foetophathies infectieuses. Arch Gynecol Obstet, Paris, v.247, no 1,

p 15-24, 1990.

Page 52: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

Hohlfeld, P., MacAleese, J., Capella-Pavlovski, M. Fetal toxoplasmosis:

ultrasonographic signs. Ultrasound Obstet Gynecol, v.1, no 1, p 241-4, 1991.

Hsu, S., Chen, Y., Huang, Y. Prenatal Diagnosis and Perinatal Management of

Maternal-fetal Congenital Parvovírus B19 Infection. Taiwan J Obst Gynecol,

Taichung, v.46, no 4, p 417-422, 2007.

Isfer, EV. Anasarque foeto-placentaire non immune. Memoire pour le Titre

D´Assistent Etranger. Paris Université René-Descartes, Faculté de Médecine,

1989.

Jones, RN. Development and application of a PCR-based method including an

internal control for diagnosis of congenital cytomegalovirus infection. J Clin

Microbiol, Wales, v.38, no1, p 1-6, 2000.

Lappalainen M., Hedman K. Serodiagnosis of toxoplasmosis. The impact of

measurement of IgG avidity. Ann Dell Istit Sup Di San, Haartmaninkatu, v.40, no

1, p 81- 8, 2004.

Lazarotto, T., Guerra, B., Spezzacatena, P., Varani, S., Gabrielli, P., Pradelli,

F., 1998. Prenatal diagnosis of congenital cytomegalovirus infection. J Clin.

Microbiol, Bolonha, v.36, no 12, p 3540 – 3544, 1998.

Lazzaroto, T. Congenital cytomegalovyrus infection: Recent advances in

diagnosis of maternal infection. Hum Immunol, Bolonha, v.65, no 5, p 410-5,

2004.

Lazzaroto, T. New advances in the diagnosis of congenital cytomegalovirus

infection. J Clin Virol, Bolonha, v.41, no 3, p 192-7, 2008.

Page 53: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

Levy, R., Weissman, A., Blomberg, G., Hagay, J. Infection by parvovirus B19

during pregnancy: a review. Obstetrical & Gynecological Survey 52(4) 254–259.

Liesenfeld, O., Press, C., Montoya, JG. False-positive results in immunoglobulin

M (IgM) toxoplasma antibody tests and importance of confirmatory testing: the

Platelia Toxo IgM test. J Clin Microbiol, Palo Alto, v.35, no 1, p 174–8, 1997.

Lipitz, S., Yagel, E., Shalev, R., Achiron, R., Mashiac, S., Schiff, E. Prenatal

diagnosis of fetal primary cytomegalovirus infection. Obstet Gynecol, Tel

Hashamer, v.89, no 5, p 763 – 767, 1997.

Lynch, L., Mehalek, K., Berkowitz, RL. Invasive fetal therapy. Rodeck CH, ed.

Fetal Medicine, 1st edition. Oxford: Blackwell Scientific Publications 1989, 118–

53.

Makenson, GR., Yancey, ML. Parvovirus B19 infections in pregnancy. Semin

Perinatol, Boston, v.31, no 1, p 107-12, 1998.

McIver, CJ., Jacques, CFH., Chow, SSW., Munro, SC., Scott, GM., Roberts,

JA., Craig, ME. Development of Multiplex PCRs for Detection of Common Viral

Journal of Clinical Microbiology, New South Wales, v.43, no 10, p 5102–5110,

2005.

Montoya G, Liesenfeld O. Toxoplasmosis. Lancet, Palo Alto, v. 363, no 9425, p

1965–1976, 2004.

Nigro, G. Adler, S P. La Torre, R. Best, A M. Passive immunization during

pregnancy for congenital cytomegalovirus infection. N Engl J Med, Roma,

v.353, no13, p 1350 – 62, 2005.

Page 54: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

Norma Técnica, CDC SP. Rev Saúde Pública, São Paulo, v.42, no4, p 768-72,

2008.

Pass, R F. Zhang, C. Evans, A. Vaccine prevention of maternal

cytomegalovirus infection. NEJM, Birminghan, v. 360, no 12, p 1191 – 9, 2009.

Peeling, RW., Htun, Y. Diagnostic tools for preventing and managing maternal

and congenital syphilis: an overview. Bulletin of the Wolrd Health Organization,

Gênova, v.82, no 6, p 439-446, 2004.

Pérez, JL. Diagnóstico microbiológico de las infecciones por herpes vírus.

Procedimentos em Microbiologia Clínica. Recomendaciones de La Sociedad

Española de Enfermedades Infecciosas y Microbiologia Clínica. Disponível em

HTTP://www.seimc.org/documentos/protocolos/microbiologia/indice8a.htm.

Data do acesso 20 de dezembro 2009.

Petrof, E., McLeod, R. Toxoplasma gondii and Toxoplasmosis. Therapy of

infectious diseases, WB Saunders Philadelphia, Filadelfia, v.1, no 1, p 653-696,

2002.

Picone, O., Costa, JM., Leruez-Ville, M., Ernaut, P., Olivi, M., Ville, Y.

Cytomegalovirus (CMV) glycoprotein B genotype and CMV DNA load in

amniotic fluid of infected fetuses. Prenat. Diag, Paris, v.24, no 12, p 1001-1004,

2004.

Plotkin, SA., Smiley, ML., Friedman, HM. Towne-vaccine induced prevention of

cytomegalovirus disease after renal transplants. Lancet, Londres, v.1, no1, p

528-30, 1984.

Page 55: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

Pryde, PG., Nungent, CE., Pridijan, G. Spontaneous resolution of nonimmune

hydrops fetalis secondary to human parvovirus B19 infection. Obstet Gynecol,

Michigan, v.79, no 5, p 859, 1992.

Public Health Service, Department of Health and Human Services; US Food

and Drug Administration. FDA public health advisory: limitations of toxoplasma

IgM commercial test kits. Rockville, MD: Department of Health and Human

Services; US Food and Drug Administration, 3, 1997.

Remington, JS., McLeod, R., Thuilliez, P., Desmonts, G. Infectious diseases of

the fetus and newborn infant. Elsevier Saunders 947–109, 2006.

Revello, MG., 2000. Prenatal diagnostic and prognostic value of human

cytomegavirus load and IgM antibody response in blood of congenitally infected

fetuses. J Infected Dis, Pavia, v.180, no 1, p 1320-1323, 2000.

Revello, MG., Gerna, G. Diagnosis and management of human cytomegalovirus

infection in the mother, fetus and newborn infant. Clin Microbiol Rev, Pavia,

v.15, no1, p 680 -715, 2002 .

Roberts, T., Frenkel, JK. Estimating income losses and other preventable costs

caused by congenital toxoplasmosis in people in the United States. J Am Vet

Med Assoc, Washington, v.196, no 2, p 249–56, 1990.

Roberts, F., Kuo, A., Roberts, CW., Jones, L., McLeod, R. Ocular

Toxoplasmosis: clinical features, pathology, pathogenesis, animal models and

immune response. Toxoplasma: molecular and cellular biology, Elsevier,

Londres, p 59-92, 2008.

Page 56: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

Romand, S., Wallon, M., Franck, J., Thulliez, P., Peyron, F., Dumon, H.

Prenatal diagnosis using polymerase chain reaction on amniotic fluid for

congenital toxoplasmosis. Obstet Gynecol, Paris, v.97, no2, p 296–300, 2001.

Santos, DV., 2000. Congenital cytomegalovirus infection in a neonatal intensive

care unit in Brazil evaluated by PCR and association with perinatal aspects.

Rev Inst Med Trop 42 (3), 129 - 32.

Sáfadi, MAP., Berezin, EN., Farhat CK., Carvalho, ES., 2003. Clinical

presentation and follow up of children with congenital toxoplasmosis in Brazil.

Braz J Infect Dis 7, 325-31.

Spalding, SM., 2000. Acompanhamento de gestantes com risco de transmissão

de infecção congênita por Toxoplasma gondii na região do alto Uruguai, RS,

Brasil: diagnósticos e aspectos epidemiológicos. Rio de Janeiro: Fundação

Oswaldo Cruz.

Spalding, SM., Amendoeira, MRR., Ribeiro LC., 2003. Estudo prospectivo de

gestantes e seus bebês com risco de transmissão de toxoplasmose congênita

em município do Rio Grande do Sul. Rev Soc Bras Med Trop 36, 483-91.

Stagno, S., 1986. Primary cytomegalovirus infection in pregnancy. Incidence,

transmission to fetus, and clinical outcome. JAMA 256, 1904-8.

Stratton, KR., Durch, JS., Lawrence, RS., 2001. Vaccines for the 21st century: a

tool for decision making. Washington DC: National Academy Press.

Van Elsacker- Niele, AM., Salimans, MM., Weiand, HT., 1989. Fetal pathology

in human parvovirus B19 infection. BrJ Obstet Gynaecol 96, 768-75.

Page 57: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

Vaz, AJ., Guerra, EM., Ferratto, LCC., Toledo, LAS., Azevedo Neto, RS., 1990.

Sorologia positiva para sífilis, toxoplasmose e doença de Chagas em gestantes

de primeira consulta em centros de saúde da área metropolitana, Brasil. Rev

Saúde Pública 24, 373-9.

Von Kaisenberg, CS., Bender, G., Scheewe, J., 2001. A case of fetal parvovirus

B19 myocarditis, terminal cardiac heart failure, and perinatal heart

transplantation. Fetal Diagn Ther 16, 427–3.

Tolfvenstam, T., Papadogiannakis, N., Norbeck, O., Petersson, K., Broliden, K.,

2001. Frequency of human parvovirus B19 infection in intrauterine fetal death.

Lancet 357, 1494–7.

Whitley, RJ., 1997. Ganciclovir treatment of symptomatic congenital

cytomegalovirus infection: results of a phase II study. National Institute of

Allergy and Infectious Diseases Collaborative Antiviral Study Group. J. Infect.

Dis 175, 1080 – 1086.

Wilson, M., Remington, JS., Clavet, C., 1997. Evaluation of six commercial kits

for detection of human immunoglobulin M antibodies to Toxoplasma gondii. J

Clin Microbiol 35, 3112–5.

Wirden, M., Botterel, F., Romand, S., Ithier, G., Bourée, P., 1999. Intérêt du

dépistage en post-partum de la toxoplasmose congénitale après primo-infection

maternelle en fin de grossesse. J Gynecol Obstet Biol Reprod 28, 566-7.

Yamamoto, AY., 2001. Congenital cytomegalovirus infection in preterm and full-

term newborn infants from a population with a high seroprevalence rate. Pediatr

Infect Dis J 20(2), 188-92.

Page 58: CENTRO DE ESTUDOS FETUS - fetus.com.brfetus.com.br/pdfs/2010/myllena-maciel.pdf · centro de estudos fetus avaliaÇÃo da vitalidade fetal nas infecÇÕes congÊnitas myllena do vale

Young, NS., Brown, KE., 2004. Parvovírus B19. The New England Journal of

Medicine 350, 586- 597.

Yow, MD.,1988. Epidemiological characteristics of cytomegalovirus infection in

mothers and their infants. Am. J. Obstet. Gynecol 158, 1189-1195.