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    Semeando Agroecologia:

    rvores na Agricultura Familiar

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    Semeando Agroecologia:rvores na Agricultura Familiar

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    Semeando Agroecologia: rvores na Agricultura Familiar

    Texto:Thiago Michelini Barbosa

    Reviso tcnica:Adriana Galvo Freire, Claudemar Mattos, Marcio Mattos de Mendona

    Reviso ortogrca e gramatical:

    Rosa Peralta

    Projeto Grco:

    I Gracci Comunicao & Design

    Ilustraes:Ayssa

    Tiragem:

    1.000 exemplares

    Impresso:Reproset

    AS-PTA Agricultura Familiar e AgroecologiaRua das Palmeiras, 90 Botafogo RJCEP 22270-070 Rio de Janeirowww.aspta.org.br e-mail: [email protected] @asptaagroecologia

    Financiador:

    rvoresnaAgricultura

    Responsvel:

    Financiador:

    Esta cartilha dedicada ao seu Milton Machado Alves, agricultoragroorestal de Casimiro de Abreu-RS. Seu Milton no est mais entrens, mas esperamos que sua experincia aqui semeada possa semultiplicar e gerar bons frutos.

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    ndice

    Mata Atlntica: riqueza ameaada ................................................................................ 5

    As orestas e a agricultura.............................................................................................. 5

    As rvores no stio.............................................................................................................. 7

    Sombra e gua............................................................................................................... 7Controle do mato espontneo ................................................................................... 8Fertilizao e conservao dos solos ........................................................................ 8Produo de lenha e madeira ..................................................................................... 9Produo de alimentos ..............................................................................................10Produo de forragem ...............................................................................................11Produo de remdios................................................................................................11Refgio para animais da mata ..................................................................................12Suportes vivos, cercas e moures vivos..................................................................12Quebra-ventos ............................................................................................................14

    Agroorestas .....................................................................................................................15

    Agroorestas de bens de raiz (cultivos perenes)..................................................15Agroorestas de lavouras brancas (cultivos anuais) ...........................................17Agroorestas para animais .......................................................................................20

    As rvores e a gerao de renda no stio ....................................................................22

    A Agricultura Familiar, as rvores e a Lei ....................................................................23

    Roteiro para planejamento do uso de rvores na propriedade familiar...............25

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    Mata Atlntica: riqueza ameaadaVivemos num pas tropical, abenoado por Deus e bonito por natureza, j cantava Jorge Ben-

    jor, inspirado nas belas paisagens do nosso litoral: na grandeza de seus mares, nas curvas deseus morros e na exuberncia de suas orestas.

    As orestas tropicais so as mais ricas do planeta. Ricas em quantidade e diversidade deanimais e plantas. Ricas em seres vivos. Chamamos isso de biodiversidade. A Mata Atlnti-ca, oresta que abriga todo o estado Rio de Janeiro, uma das mais ricas em biodiversidadedo mundo. E, dependendo do solo, do clima e da altitude, a Mata Atlntica pode se apresen-tar como uma oresta densa ou assumir a forma de campos de altitude, mangue ou restinga.

    Nos dias de hoje, porm, existem poucos remanescentes originais de Mata Atlntica noBrasil, apenas 8% de tudo que j existiu. como car com apenas 8 ps de fruta de um po-mar que tinha 100 ps. Grande parte da depredao da Mata Atlntica ocorreu pela forma

    de explorao da terra predominante no pas: extrao desenfreada do pau-brasil, agricul-tura monocultora e indstria predatria, assim como pela especulao imobiliria.

    As florestas e a agriculturaMas por que a agricultura praticada hoje no Brasil no consegue conviver em

    harmonia com as florestas?

    Para responder a essa pergunta, temos que reetir um pouco sobre a nossa histria. Ahistria da agricultura no Brasil.

    A maior parte dos agricultores familiares brasileiros conseguiu aprender com indgenas apraticar uma agricultura baseada numa relao de maior harmonia com a natureza. Para es-ses agricultores e agricultoras, a terra no vista como simples mercadoria, mas sim comorecurso de trabalho, fonte de sustento e cho onde criam seus lhos e cultivam suas ami-zades. As famlias agricultoras sabem da importncia da manuteno dos recursos naturaisdo local onde vivem. Sabem da importncia das orestas, pois sempre dependeram delaspara realizar seu trabalho e manter suas futuras geraes. Ao manejar e utilizar as orestase rvores, os agricultores e agricultoras atuam diretamente na conservao desses recur-sos, principalmente da gua. E essa viso ecolgica do ambiente, presente na cultura demuitas famlias rurais Brasil afora, que permitiu que elas produzissem por tanto tempo em

    um mesmo lugar, sem o uso de adubos qumicos e agrotxicos.Porm, nos ltimos 40 anos, a agricultura familiar vem sofrendo com as mudanas im-

    postas pelo avano da agricultura empresarial, tambm chamada de convencional ou agro-negcio. Esse tipo de agricultura voltado para atender exclusivamente interesses de al-guns poucos grupos econmicos e se baseia no uso intensivo de insumos vindos de forado ambiente onde se produz. O modelo empresarial, alm de ser caro, vive em conito coma natureza, pois consome bastante os recursos naturais do local, no reconhece a orestacomo aliada, no entende a importncia dos insetos e microrganismos no sistema, tratando-os muitas vezes como pragas e doenas das plantas, e ainda disfara a fraqueza dos solospor meio do uso constante de adubos qumicos.

    Muitos agricultores familiares j degradaram suas terras e faliram economicamenteaps adotar as prticas da agricultura conhecida como agronegcio. Isso porque esse mo-delo no respeita o papel das rvores e dos arbustos no clima tropical e no condiz com arealidade econmica e cultural da agricultura familiar.

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    Com a grande presso do agronegcio, o aumento no rigor das leis ambientais e a diminuio do tamanho

    das propriedades rurais, muitos agricultores familiares passaram a enxergar as rvores como um estorvo. Jno deixam mais a oresta recuperar o solo, no conservam uma mata com receio de perder rea de cultivo eraramente utilizam os produtos orestais em sua economia e seu modo de vida. Resultado: empobrecimentoda terra e a consequente diminuio da renda das famlias. E, o que pior, os agricultores, e muitas vezes osseus lhos, abandonam a roa e vo morar na cidade!

    Ento, como mudar esse quadro?

    Existem vrias experincias agroecolgicas de agricultores e agricultoras familiares integrando rvores ecultivos em plena Mata Atlntica. Elas nos apontam caminhos para a harmonizao da agricultura com o am-biente, por meio da adoo de prticas que aproveitam o espao da propriedade e as diversas funes das

    rvores. H tambm iniciativas que agregam valor ao produto agroorestal e dialogam criativamente com alegislao ambiental. Inspirados nessas experincias, procuramos apresentar a seguir algumas prticas rela -cionadas com o uso de rvores na agricultura, visando o incremento da renda e a melhoria da qualidade de vidana propriedade familiar.

    Agricultura Familiar Tradicional Agricultura Empresarial (Agronegcio)

    Diversos cultivos e produtos Monocultivo (cultivo de um nico produto)

    A terra vista como meio de vida e bemcultural

    A terra vista como mercadoria

    Recupera a fertilidade dos solos por meio dodescanso da terra, da adubao orgnica e

    da adubao verde

    Disfara a baixa fertilidade dos solos por meioda utilizao de adubos qumicos fabricados

    por empresasControla pragas e doenas por meio darotao de culturas, do controle biolgico e

    de receitas caseiras

    Combate pragas e doenas por meio do usode agrotxicos fabricados por empresas

    Utiliza sementes nativas e crioulas adaptadasao ambiente local

    Utiliza sementes hbridas, melhoradase transgnicas compradas de grandes

    empresas

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    As rvores no stioA presena de rvores nas terras das famlias agricultoras tem grande importncia, pois

    pode desempenhar muitas funes, tais como:

    Sombra e gua

    Na sombra, a temperatura e a umidade variam menos. Por isso, a sombra proporcionadapelas rvores muito til, pois protege as plantaes e os animais, ao amenizar as mudanasbruscas do clima, e ajuda a conservar a umidade do ar, ao reduzir a evaporao da gua.

    As razes das rvores tambm so fundamentais para manter a gua no ambiente, servin-

    do para proteger as nascentes e margens de rio e proporcionar melhor inltrao e armaze-namento da gua da chuva no solo. J os galhos e folhas diminuem a intensidade e o impactodas fortes chuvas de vero sobre o cho. Quando a gua chega mais devagar no solo, causamenos eroso.

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    Controle do mato espontneo

    Quando combinadas com cultivos da roa, a sombra das rvores e acobertura do solo podem eliminar uma grande quantidade de espciesde plantas indesejveis que nascem espontaneamente, como as gram-neas, que gostam de car em pleno sol. por isso que muitos agriculto-res e agricultoras armam que a presena das rvores diminui bastante

    o trabalho de capina e manuteno da lavoura.

    Fertilizao e conservaodos solos

    Todo agricultor e toda agricultora sabeque para um solo recuperar sua fertilidade preciso deix-lo descansar. o que cha-

    mamos de pousio, que signica deixar queas rvores cresam por algum tempo. Mascomo as rvores e arbustos recuperam afertilidade do solo?

    As rvores tm capacidade de fazer osnutrientes do solo circularem pelo ambien-te. Suas razes profundas conseguem bus-car nutrientes em lugares que a maioria dasculturas da lavoura no alcana. Depois,esses nutrientes voltam para a terra quan-

    do seus galhos e folhas caem e apodrecem,deixando a terra estrumada.

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    Os galhos e folhas cados das rvores tambm contribuem ao formar uma camada que protege

    o solo da eroso, protege a vida do solo dos raios solares e favorece a inltrao da gua. Assim, po-demos dizer que as rvores atuam diretamente na garantia das reservas de nutrientes no ambiente,na manuteno da vida e da estrutura do solo e na economia de gua.

    As rvores que possuem frutos do tipo vagem, as leguminosas, so as mais ecientes na adu -bao dos solos, pois elas se associam s bactrias da terra que conseguem capturar o nitrogniopresente no ar. E essa substncia que faz o solo enriquecer. Por isso, muitos agricultores e agricul-toras costumam plantar gliricdia, ing, cssia ou guandu para fortalecer sua terra.

    Produo de lenha e madeira

    A lenha e a madeira so fundamentais para a vida das famlias do campo. A lenha uma das

    principais fontes de energia. Por isso, sempre bom ter uma rea com algumas rvores boas paraesse uso. fcil encontrar o maric, o monjolo (pau-jacar), o sanso do campo ou a canafstulapara manter sempre o estoque de lenha para a casa.

    J a madeira pode ser utilizada em diversas construes e ferramentas ou servir como fonte derenda. Algumas famlias manejam matinhas de sabi (Mimosa caesalpinifolia), por exemplo, paravender como estacas ou moures. Tambm sempre vemos em suas terras rvores como cambu,cambuci, garapa, vassourinha, ip, caboclinho, louro branco ou guatambu para fazer cabo de fer-ramentas. Encontramos ainda jequitibs, cedros, jatobs, araribs, canelas ou perobas, madeirasnobres para construes ou fabricao de mveis.

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    Produo de alimentosAlm de produzir sombra, gua, nutrientes e energia, uma grande quantidade de rvo-

    res originrias da Mata Atlntica podem ser cultivadas na propriedade para fornecer tantofrutas como nctar para as abelhas fabricarem mel.

    So muitas as frutas tpicas da Mata Atlntica, bastante apreciadas pelos agricultorese muito valorizadas nas cidades, entre elas: araticum, ara, pitanga, sapoti, jabuticaba,guabiroba, jenipapo, bacupari, grumixama, cambuc e juara (o aa da Mata Atlntica).

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    Produo de forragem

    Outras rvores so bastante apreciadas pelos animais de criao. Eles se alimentam dos frutos,folhas, cascas e outras partes das rvores. O feijo-guandu, o abacateiro, a jaqueira, a leucena, agliricdia, o ing, entre outras, so espcies bastante teis para forragem animal.

    Produo de remdios

    Existem tambm diversas rvores que possuem propriedades medicinais. Seus frutos, folhas,cascas e seiva (leos) so tradicionalmente utilizados na cura de doenas e no alvio de dores e mal-estares. Quem mora na Mata Atlntica sempre faz uso do leo de copaba para combater inama-es, problemas de pele e tambm como antissptico de feridas abertas. J as folhas da espinheirasanta servem para gastrite, lcera, azia e queimao. E esses so apenas alguns exemplos.

    O poder do jatob

    O jatob (Hymenaea coubaril) uma rvore nativa das orestas tropi-cais (Mata Atlntica, Cerrado e Amaznia) empregada h muito tempopelos indgenas no tratamento de doenas e no preparo de deliciosascomidas. A casca moda usada contra diarreia; a seiva alivia a tosse e abronquite; a farinha do fruto boa para receitas de bolo e pes; e o chda casca serve para problemas estomacais e para o tratamento de fun-gos nos ps. Prepara-se ainda um extrato lquido de sua casca e resinachamado de vinho-de-jatob, recomendado como tnico e forticante.

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    Refgio para animais da mata

    As rvores ainda cumprem a funo de atrair pssaros e outros animais que ajudam no equilbrio da natu-reza (controle biolgico). Quem nunca viu um ninho de vespa numa rvore? As vespas controlam as lagartase os ovos de outros insetos que causam danos lavoura.

    Alm disso, as ores das rvores criam um ambiente favorvel para a vida de muitos polinizadores, aquelesanimais que visitam as plantas da roa, to necessrios para uma boa produo, incluindo a produo de mel.

    A forma com que muitas famlias agricultoras do Rio de Janeiro organizam as rvoresna propriedade tambm um fator bastante relevante:

    Suportes vivos, cercas e moures vivos

    As rvores podem ser usadas para conduzir culturas que precisam de um suporte para crescer, como a pimen-ta-do-reino, o maracuj, o tomate ou o car. A prtica vem mostrando que o uso de suportes vivos traz muitasvantagens: produz o sombreamento exigido por muitas dessas plantas, melhora a fertilidade do solo, diminui aeroso e reduz as despesas com adubos, capinas e mtodos e substncias de controle de pragas e doenas.

    A preferncia pelas leguminosas de sombra rala que se reproduzem por meio de estacas, pois tm baixocusto de implantao e promovem o enriquecimento do solo com nitrognio. A gliricdia (Gliricidia sepium)e omulungu (Erytrina verna) so timos exemplos para serem usados como suportes vivos.

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    A cerca viva pode ser muito til para uma famlia agricultora. Alm de isolar e/ou demarcar uma determinada rea, pode cumprir a funo de abrigo para aves,

    o que, por sua vez, contribui para o controle dos insetos. Quando plantadas muitoprximas uma das outras, as cercas vivas diminuem o impacto do vento e impe-dem a passagem de animais e pessoas. Elas tambm favorecem a fertilidade dosolo e podem servir de reserva de forragem para os animais.

    Uma rvore muito usada para formar cercas vivas o sabi, ou sanso-do-campo,que, alm de cercar a rea, produz lenha e madeira de boa qualidade. Al-gumas famlias tambm usam brinco-de-princesa, hibisco ou lanterna chinesa,espcies que pegam bem por estacas.

    Alguns tipos de rvores funcionam como moures vivos, que tambm ajudama cercar a propriedade e so capazes de aguentar o arame farpado. Uma vantagem

    que, depois que pega, o agricultor s ter que se preocupar com o arame. Parafazer os moures vivos, prera aquelas espcies que pegam por estacas, comoa castanha-do-maranho (Bombacopsis glabra), o caj-manga (Spondias mombin)ou a gliricdia (Gliricidia sepium).

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    16/3214 Semeando Agroecologia: rvores na Agricultura Familiar

    Quebra-ventos

    Todo mundo que mora na roa sabe que o vento pode afetar bastante a produtividade das la-vouras, pois aumenta as perdas de gua da planta e do solo por evaporao e transpirao, almde facilitar a disseminao de doenas nas lavouras. Ventos mais velozes podem quebrar galhos efolhas, o que tambm favorece a entrada de doenas nas culturas.

    Ao formar barreiras de rvores, podemos diminuir bastante a ao do vento. Normalmente, oquebra-vento posicionado de acordo com a direo dos ventos mais fortes e deve permitir queparte do vento passe por entre as rvores, freando sua fora. Para fazer um quebra-vento, bomusar plantas mais exveis, como a casuarina (Casuarina equisetifolia) e os bambus.

    Implantando o quebra-vento

    Um bom quebra-vento formado por quatro ou cinco leiras

    de rvores, tendo uma largura total mxima de 20 metros. Dolado que recebe mais vento, planta-se a primeira linha com ar-bustos ou rvores de porte mdio (tais como aroeirinha, urucum,ing, etc.). A segunda e terceira linhas podem ser ocupadas comrvores mais altas (oiti, eucalipto, pau-ferro, etc.). A ltima linhado lado da rea cultivada plantada novamente com arbustos ourvores de porte mdio.

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    17/32Semeando Agroecologia: rvores na Agricultura Familiar 15

    AgroflorestasUma agrooresta consiste na

    associao de roas e/ou os animaiscom rvores e/ou arbustos numamesma rea. Nesse tipo de plantio,as rvores so usadas para melhor

    equilibrar o solo e o ambiente.

    As agroorestas so prticasque procuram resgatar os conhe-cimentos dos antigos agricultorese agricultoras, que sempre sou-beram utilizavar os benefcios dasorestas para manejar seus solose manter seus recursos. Esse saberhoje ainda mais valioso, pois amaioria dos agricultores familia-

    res j no dispe nem de rea nemde tempo suciente para deixarsuas terras descansarem. Ento, asagroorestas se apresentam comouma alternativa agroecolgica im-portante para o fortalecimento daagricultura familiar, ao permitir umaproveitamento mais eciente dapropriedade, recuperar a fertilidadedo solo, aumentar a disponibilidadede gua, alm de tornar o trabalhona roa mais prazeroso.

    Podemos organizar as agro-orestas em vrios tipos, depen-dendo do manejo das rvores edos objetivos de cada agricultorou agricultora. No estado do Riode Janeiro, encontramos diversosexemplos de agroorestas sendodesenvolvidas pelas famlias agri-cultoras. A seguir, vamos conhecer

    algumas dessas prticas.

    Agroflorestas de bens de raiz (cultivos perenes)

    Muitas experincias nos mostram que vrias plantas frutferas, chamadas perenes (ou de ciclo longo), pro-duzem melhor na companhia de rvores. Mostram que as agroorestas, com diferentes graus de diversi-cao, desenhos e combinaes,podem recuperar um solo degradado se beneciando da dinmica da mata,preparando-o para receber plantas exigentes, como caf, banana, palmito, cacau, madeiras de lei, dentre ou-tras espcies.

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    Cultivando uma oresta de alimentos

    A experincia da famlia Ferreira - Paraty (RJ)

    A famlia Ferreira vive no serto do Taquari, em Paraty, e uma das pioneiras do estado doRio de Janeiro a resgatar as prticas agroorestais para a recuperao do solo. Embora fosse

    acostumada a eliminar a oresta para plantar, a famlia viu a necessidade de mudar seu padro

    de agricultura. Isso porque, com o passar do tempo, foi percebendo o desgaste de seu solo e ofracasso dos cultivos ali plantados, vendo o capim dominar cada vez mais as reas de lavoura. Apartir de trocas de experincias com agricultores que j faziam agrooresta, os Ferreira passa-ram a observar o funcionamento da mata e adotar seus princpios na lavoura. Eles comearam aplantar ao mesmo tempo rvores e arbustos de crescimento rpido (guandu, urucum, ing, etc.),assim como leguminosas de pequeno porte (feijo-de-porco e crotalrias), imitando, dessa for-ma, o comportamento da oresta em regenerao. Com as podas e a capina para controle das

    plantas no desejveis, aceleraram o crescimento das culturas e incorporaram grande quanti-dade de material orgnico ao solo. Num intervalo de dois anos, acabaram com o capim braqui-ria, devido ao sombreamento proporcionado pelas rvores do sistema e cobertura morta feitaa partir das podas. Com trs anos de manejo, j produziam abacaxi, aipim, pupunha, guandu,cana e banana, tudo plantado junto com as rvores. Hoje, a rea uma agrooresta de bens de

    raiz, com solo frtil, onde encontramos espcies como pupunha, palmeira real, palmeira juara,aa, cupuau, cacau, banana, caf, jaca, abacate, etc. Ali tambm encontramos diversas madei-ras nobres, como louro, canela, cedro, angelim, entre outras.

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    19/32Semeando Agroecologia: rvores na Agricultura Familiar 17

    O bananal sombreado

    A experincia da famlia Cunha Rodrigues - Mag (RJ)

    Localizada na comunidade da Cachoeira Grande, no distrito de Piabet, em Mag (RJ), apropriedade agrcola da famlia Cunha Rodrigues o seu principal meio de vida. Rui e Jura-cy, juntamente com suas lhas Evellin, Erika e Ellen, trabalhavam na agricultura com o foco

    na produo de banana. O tempo foi passando e eles foram percebendo que as bananeirasque se encontravam na sombra de certas rvores cavam mais vistosas e saudveis. Obser-

    varam tambm que as rvores que se davam bem com a bananeira tinham a sombra ralae perdiam as folhas em determinada poca do ano. Comearam ento a deixar que essasrvores se desenvolvessem no meio da roa. O guapuruvu (Schizolobiumparahyba), tambmconhecido como bandarra ou cheira, uma das espcies companheiras da banana. Sua

    sombra perfeita, pois, mesmo permitindo certa insolao, mantm o clima da regio maismido, do jeito que a bananeira gosta. Funciona tambm como quebra-vento, protegendoas folhas sensveis da bananeira da ao dos ventos. Outra vantagem a adubao que oguapuruvu promove no bananal, pois as folhas que ele perde em determinada poca doano cobrem o solo de matria orgnica. Espcies como ip, caj e tamboril tambm soboas para sombrear as bananeiras. As lhas do casal, que trabalham ativamente com o

    pai na manuteno e no crescimento do bananal, j perceberam as vantagens da lavourasombreada. Alm disso, a famlia, que est participando da Feira da Agricultura Familiarde Mag, comeou a diversicar a produo, introduzindo o abacaxi, a palmeira juara e

    outras frutferas em meio ao bananal.

    Agroflorestas de lavouras brancas (cultivos anuais)

    Existem agroorestas que so organizadas para favorecer o manejo do solo

    visando aumentar a produtividade das lavouras brancas. Essas agroorestasno necessariamente se tornaro uma oresta de alimentos ou uma oresta deproduo de madeira, sendo seu principal objetivo melhorar as condies dossolos. J as famlias agricultoras do Rio de Janeiro empregam a prtica do pousiopara recuperar a terra, deixando a mata nativa voltar a crescer livremente. Temostambm agroorestas organizadas a partir do uso intenso das rvores aduba-deiras aquelas espcies de rpido crescimento, que aceitam podas drsticas eque so capazes de xar nutrientes no solo.

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    20/3218 Semeando Agroecologia: rvores na Agricultura Familiar

    O feijo agroorestal abafado

    A experincia de seu Milton - Casimiro de Abreu (RJ)

    O agricultor Milton Machado se dedica desde 2002 produo agroecolgica no Stio Estrela daManh, no assentamento rural Fazenda Visconde, em Casimiro de Abreu (RJ). A maioria das reasdo seu stio seguem os princpios agroorestais. Uma de suas experincias o cultivo de lavouras

    brancas. Milton recuperou algumas de suas reas utilizando espcies de rvores nativas e plantasadubadeiras, como o guandu e o ing. Ele foi introduzindo a banana e a pupunha medida que o soloia melhorando. Para plantar as lavouras anuais, que necessitam de pleno sol, Milton passou a podardrasticamente suas agroorestas. Faz o que se chama de plantio de feijo abafado. Para plantar o

    feijo, Milton seleciona uma agrooresta com cerca de trs anos de idade, na qual geralmente se tem

    plantado banana, pupunha e uma srie de rvores adubadeiras. Primeiro, faz uma capina, cortandoaquelas plantas que ele no quer que cresam, ao mesmo tempo em que deixa as mudas pequenasde rvores que aparecem naturalmente na rea. Depois, planta o feijo preto normalmente, por bai-xo das rvores de trs anos de idade. Aps o plantio do feijo, Milton poda drasticamente todas asrvores adubadeiras e trata das touceiras de banana, deixando apenas os lhotes vigorosos e as pu -punhas. O sol bate normalmente na rea, e o feijo sai muito bem por entre a palhada dos restos dervores. Milton planta o feijo da seca nesse sistema, sobre o solo mido com a cobertura morta daspodas (aproveitando as guas de maro). E ele quase no tem trabalho com capina nem para o plantio

    (devido sombra das rvores de trs anos) nem na lavoura (uma vez que a cobertura morta geradadas podas erradica praticamente todas as ervas indesejveis). Depois da colheita do feijo, as bana-nas e pupunhas se beneciam da entrada de sol e do adubo gerado pelas podas, e as rvores podadas

    brotam novamente. Milton faz uma espcie de rodzio de manejo nas suas agroorestas, deixando

    as rvores produzirem novamente troncos, galhos e folhas o suciente para alimentar suas lavouras

    anuais e seu sistema de trabalho agroecolgico.

    Essas matas, a natureza, no nada nosso. tudo emprestado dascrianas, emprestado do futuro e

    por isso temos que cuidar muito bem.Milton Machado agricultor agroforestal, Presente!

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    21/32Semeando Agroecologia: rvores na Agricultura Familiar 19

    A lavoura migratria

    A experincia de seu Isaltino - Bom Jardim (RJ)

    A agricultura migratria bastante disseminada no Brasil. Conhecida tambm como agriculturacaiara, de coivara ou de pousio, foi muito praticada pelos ndios e ainda apresenta adeptos emcomunidades como as dos ribeirinhos da Amaznia e, no estado do Rio de Janeiro, entre pescado-res da Ilha Grande e em algumas reas da Regio Serrana. Seu Antnio Isaltino Sandre, que vive noStio Cachoeira, em Bom Jardim (RJ), um desses agricultores que praticam a agricultura de pousio,mantendo uma tradio familiar de mais de 100 anos. Mas como a famlia conseguiu se manterproduzindo por tanto tempo numa mesma rea? A propriedade de seu Isaltino possui aproximada-mente 30 hectares, de relevo bem acidentado e com bastante rea de reserva orestal. Graas a essa

    reserva, as reas de lavouras, quando abandonadas, regeneram-se rapidamente, pois ela funcionacomo fonte de sementes. Quando percebia que a fertilidade da rea de lavoura estava se deterioran-do, a famlia de seu Isaltino deixava a terra descansar de cinco a sete anos, enquanto produzia emoutras reas. O plantio de inhame, milho, feijo, aipim, batata, entre outros, migrava pela proprie-dade, conforme as condies do solo. Alm da reserva orestal, sempre havia reas com orestas

    em pousio pelo stio, descansando. Os resultados de uma pesquisa realizada pela Embrapa Agrobio-logia no stio do seu Isaltino mostraram que um pousio de cinco a sete anos capaz de recuperar acapacidade de o solo produzir, chegando prximo s condies de solo de uma oresta de 70 anos.

    Hoje, porm, devido legisla-o ambiental, seu Isaltino nopode fazer o pousio por tantotempo (as rvores j esto mui-to grandes), passando a fazer opousio de trs anos, o que no suciente para garantir a com-pleta recuperao da fertilida-de do solo e uma boa produoagrcola. Mas seu Isaltino e suafamlia no desanimam e esto

    se articulando com outras expe-rincias agroorestais do Rio de

    Janeiro a m de regularizar sua

    prtica tradicional e garantir osustento de seus lhos e netos

    por mais 100 anos.

    Foto:ThiagoMicheliniBarbosa

  • 5/22/2018 Cartilha Arvores Site

    22/3220 Semeando Agroecologia: rvores na Agricultura Familiar

    Agroflorestas para animais

    No Rio de Janeiro, a maioria das pastagens para criao animal est degradada ou em processo de degrada-o. As plantas que formam esses pastos, geralmente gramneas, no conseguem manter o solo produtivo pormuito tempo. Com o passar dos anos, a ao das fortes chuvas vai erodindo e o pisoteio constante dos animaisvai compactando as reas de pastagens.

    A introduo de rvores e arbustos nas pastagens pode ajudar a reverter esse quadro. De um lado, formaum banco de protena para os animais; por outro, contribui para a recuperao da pastagem, melhorando aproduo animal e, portanto, abrindo caminho para uma pecuria mais sustentvel e rentvel.

    Os bovinos, ovinos e caprinos, bem como os animais silvestres, tm o hbito de pastar folhas e brotos novosde arbustos e rvores ou palmeiras de porte baixo, principalmente na poca mais seca do ano. Outra vantagem o conforto trmico dos animais. O gado, por exemplo, em pastagens totalmente abertas, sofre com o excessode calor, cando mais sensvel a doenas, produzindo menos leite (no caso de gado leiteiro) ou levando maistempo para atingir o peso de abate (no caso de gado de corte).

    Vimos, portanto, que as rvores mantidas ou introduzidas nas pastagens podem prestar muitos servios:diversicao da alimentao, sombra e abrigo para os animais; produo de madeira; e adubao e melhoria

    das condies do solo.Porm, s a introduo de rvores e arbustos nas pastagens no suciente para se alcanar a sustentabili-

    dade do pasto. Como na rea de cultivo, tambm necessrio que deixe a pastagem descansar para que as gra -mneas forrageiras possam se recuperar aps o pastejo. As famlias resolvem isso dividindo o pasto em piquetes.

    Arborizando a pastagem:o sistema silvipastoril

    Quando a atividade principal da famlia a criao animal,as rvores ou palmeiras so plantadas com maior espaa-mento entre elas. Portanto, a quantidade de rvores mantidana pastagem no pode ser exagerada, para no prejudicar odesenvolvimento das gramneas e outras ervas forrageiras.Para que as rvores plantadas cresam sem problemas depisoteio, bom formar pequenos bosques e cerc-los. Quandoelas caram grandes, daro abrigo aos animais nas horas mais quentes

    do dia, podendo servir tambm como forrageiras. Para diminuir o custo daarborizao das pastagens, o agricultor pode manter e ajudar o crescimentode rvores, arbustos e palmeiras que ali ocorrem naturalmente, em especialna forma de rebrota de tocos.

    As rvores so importantes tambm na criao de peixes. Elas podem fornecer alimento (folhas e frutosde arbustos forrageiros) e matria orgnica para adubar os viveiros de peixe. Alm disso, quando plantadas naforma de quebra-vento, melhoram as condies locais de clima, diminuindo as perdas de gua por evapora-o. Mas preciso observar que rvores de razes maiores devem ser plantadas a certa distncia dos viveirospara no danicar os diques e as margens dos tanques.

    Agroorestas tambm so timas fontes para a produo de mel. Muitas rvores so visitadas por abe-lhas nativas, que produzem mel de alta qualidade, assim como por abelhas europeias. Alm de fabricaremmel, as abelhas contribuem muito para a polinizao das ores, aumentando a produo de frutos e semen-tes da agrooresta.

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    23/32Semeando Agroecologia: rvores na Agricultura Familiar 21

    Fabricando mel agroorestal

    A experincia do sr. Eveli Bock Silva Jardim (RJ)

    Eveli agricultor familiar e possui um stio no pr-assentamento de reforma agrria Sebastio Lan II,em Silva Jardim (RJ). A rea do pr-assentamento bastante degradada, sofreu com muitos anos de pe-curia e agricultura intensivas. Quando comeou a participar dos movimentos pela Agroecologia, Eveliviu nas agroorestas uma alternativa interessante para recuperar reas do seu stio e ao mesmo tempo

    gerar renda. Ele tinha grande interesse em trabalhar com mel, mas sabia que as abelhas no teriamcomo se alimentar devidamente em sua rea to degradada. Planejou ento uma agrooresta para

    servir de pasto apcola e para sustentar seu negcio. Selecionou uma rea de aproximadamente oitomil metros quadrados e plantou rvores melferas de crescimento rpido e que poderiam se adaptarbem s condies do seu solo. Usou accia, astrapeia, ing, sibipiruna, etc., plantando junto com elas asculturas e frutferas, como caf, abacate, caj e pitanga (todas melferas tambm). Com dois anos, sua

    mata j estava praticamente formada. Montou um apirio de abelhas europeias (Apis melfera) e, atravsdas podas das espcies de crescimento rpido, foi criando condies para o desenvolvimento das fru-tferas. Hoje, sua agrooresta tem pouco mais de quatro anos e sustenta um apirio de 14 caixas, que

    gera em mdia 250 quilos de mel por ano. Alm do mel, Eveli produz caf e pitanga, iniciou o plantio deaa e jatob e j conta com a colheita de abacate e caj daqui a alguns anos.

    Fotosdestapgina:Mar

    ianaTellesRocha

  • 5/22/2018 Cartilha Arvores Site

    24/3222 Semeando Agroecologia: rvores na Agricultura Familiar

    As rvores e a gerao de renda no stioAs rvores cumprem papel importante na gerao de renda para a agricultura familiar. Alm dos bens e

    dos muitos servios fornecidos para suprir as necessidades familiares (alimento, forragem, sombra, matriaorgnica, etc.), o uso de rvores na lavoura, como aqueles citados nos exemplos, diversica as fontes de rendae ainda pode ser uma poupana para o futuro.

    Quando se pratica uma agrooresta, a demanda por mo de obra familiar e os custos de produo vo dimi-nuindo com o passar do tempo, pois no h tanta necessidade de fazer capinas, o que signica menos esforoe despesa. J os rendimentos vo aumentando, em funo da melhoria do solo melhor e do incio da produode frutas e madeira. Outro aspecto importante que a diversidade de produtos diminui os riscos de perdas,uma vez que no se aposta tudo num nico produto ou cultura, assim como assegura uma gerao de rendacontnua ao longo do ano.

    Quem faz feira sabe disso: o consumidor aprecia a diversidade e os produtos do local. E, se as famlias dacomunidade se organizarem, podem car mais fortes para conseguir novos mercados, como o da venda para oPrograma Nacional de Alimentao Escolar (PNAE) ou para o Programa de Aquisio de Alimentos (PAA).

    Fotosd

    estapgina:AndrTelles/AS-PTA

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    25/32Semeando Agroecologia: rvores na Agricultura Familiar 23

    A Agricultura Familiar, as rvores e a LeiA legislao ambiental, com inteno de proteger o meio ambiente, determinou que alguns espaos devem

    ser especialmente protegidos. Entre eles, esto as reas de Preservao Permanente (APPs), aReserva Legal,as reas cobertas por vegetao deMata Atlntica, alm dasUnidades de Conservao (UCs).

    O Cadastro Ambiental Rural (CAR)

    Para melhor monitorar as reas especialmente protegidas o governo federal, pormeio da Lei 12.651, de 25 de maio de 2012, criou o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que um registro pblico eletrnico contendo as informaes ambientais das proprieda-des e posses rurais do pas inteiro. A inscrio do imvel rural no CAR dever ser feita,preferencialmente, no rgo ambiental ou estadual. No caso da agricultura familiar ainscrio no CAR simplicada, sendo obrigatria a apresentao dos documentos de

    identicao do proprietrio ou possuidor rural; comprovao da propriedade ou pos-se; e croqui indicando o permetro (metragem) do imvel, as reas de Preservao Per-manente e os remanescentes que formam a Reserva Legal. Qualquer interveno que oagricultor familiar venha a fazer nestas reas protegidas depender do cadastramentodo imvel rural no CAR.

    reas de Preservao Permanente (APPs)

    As APPs devem ser protegidas porque cumprem importantes funes, como a de preservao dos rios, dapaisagem e da biodiversidade, alm de protegerem os solos e garantirem o nosso bem-estar.

    So APPs as margens de qualquer curso d gua, as reas no entorno de nascentes e olhos d gua, as en-costas muito inclinadas, os topos de morros e serras e reas de grande altitude. As restingas e os manguezaistambm so considerados APPs.

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    26/3224 Semeando Agroecologia: rvores na Agricultura Familiar

    Reserva Legal

    A Reserva Legal a rea que deve ser destinada ao uso sustentvel dos recursosnaturais em todas as propriedades rurais, com a funo de conservar a biodiversidade,ao abrigar e proteger as plantas e os animais nativos.

    Nos casos em que a Reserva Legal estiver desmatada, obrigao do proprietriorecuper-la. No estado do Rio de Janeiro, essa rea deve corresponder no mnimo a20% da propriedade (por exemplo, em uma propriedade de 10 hectares, a Reserva Le-gal deve ter 2 hectares).

    Conforme o Artigo 15o do Novo Cdigo Florestal, poder ser admitido o cmputodas reas de preservao permanente (APP) no clculo do percentual da Reserva Legaldo imvel, desde que, desde que estejam conservadas ou em processo de recupera-o e que o processo de cadastramento da propriedade no Cadastro Ambiental Rural(CAR) tenha sido iniciado.

    O manejo florestal e as agroflorestas

    Na pequena propriedade rural ou na posse familiar, o agricultor, desde que coma aprovao do rgo ambiental competente (o Instituto Estadual do Ambiente(Inea), no caso do Rio de Janeiro), poder estabelecer sua agrooresta nas APPs de-gradadas, para recuperao e manejo da Reserva Legal, e em reas cobertas por vege-tao secundria de Mata Atlntica em estgio de regenerao inicial (capoeira na)e mdio (capoeira).

    Vale ressaltar que no preciso ter autorizao dos rgos ambientais compe-tentes para eventualmente explorar produtos madeireiros (para lenha, esteios, cabosde ferramenta, moures, etc.) na Reserva Legal em agrooresta, desde que seja paraconsumo na pequena propriedade ou posse familiar, isto , sem propsito comercial.

    O agricultor familiar poder retirar at dois metros cbicos de madeira por hectare porano, no podendo ultrapassar o limite de 15 metros cbicos por ano no stio.

    Para implantar uma agrooresta em reas que no sejam APPs, Reserva Legal ouvegetao secundria de Mata Atlntica em estgio de regenerao inicial e mdio,basta o agricultor ou agricultora familiar comunicar ao rgo ambiental competentequais os produtos orestais que pretende explorar. Por exemplo, se a famlia planejaplantar madeiras de lei nativas para futura explorao ou rvores com funo de adu-bao, preciso comunicar que estas sero cortadas e manejadas futuramente.

    O Pousio

    O pousio, segundo a legislao, uma prtica que prev a in-terrupo das atividades agrcolas e pecurias por at 10 anosnuma determinada rea para possibilitar a recuperao da fer-tilidade dos solos. Ser admitido o pousio em at dois hectarespor ano na pequena propriedade rural ou nas posses de popula-es tradicionais ou de pequenos produtores onde, comprova-damente, essa prtica venha sendo utilizada tradicionalmente,

    mediante a autorizao do rgo ambiental competente.

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    27/32Semeando Agroecologia: rvores na Agricultura Familiar 25

    Legislao ambiental para consulta

    Lei Estadual 2.049/1992 Uso do Fogo.

    Lei Federal 9.985/2000 Sistema Nacional de Unidades de Conservao

    Resoluo Conama 278/2001 Espcies Florestais Ameaadas de Extino

    Lei Federal 11.326/2006 Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais

    Lei Federal 11.428/2006 Mata Atlntica. Resoluo Conama 369/2006 Considera de utilidade pblica, interesse social ou de

    baixo impacto ambiental as agroorestas realizadas em rea de Preservao Perma-nente em propriedade de Agricultura Familiar

    Decreto Federal 6.660/2008 Regulamenta a Lei da Mata Atlntica.

    Instruo Normativa 005/2009 do Ministrio do Meio Ambiente Habilita a utilizaode agroorestas para a recuperao das reas de Preservao Permanente e de Re -serva Legal.

    Resoluo Conama 425/2010 Agricultura Familiar e reas de Preservao Perma-nente.

    Resoluo Conama 429/2011 Recuperao de reas de Preservao Permanente. Lei Federal 12.651/2012 Institui o novo Cdigo Florestal.

    Decreto Estadual 44.512/2013 Regulamenta o cadastramento ambiental rural noestado do Rio de Janeiro.

    Resoluo 86/2014 do INEA/RJ - dene os critrios para a implantao, manejo eexplorao dos Sistemas Agroorestais (SAFs) e para a prtica de pousio.

    ROTEIRO PARA PLANEJAMENTO DO USO DERVORES NA PROPRIEDADE FAMILIAR

    Este roteiro foi montado para ajudar a denir as aes relativas ao uso de rvores no es-pao de produo agrcola familiar. Ao olhar para o stio como uma unidade de produo, naqual todas as partes esto interligadas, podemos orientar nossas decises visando o melhoraproveitamento dos espaos e das interaes entre as prticas de produo agroecolgica.A seguir, listamos algumas dicas para ajudar a planejar:

    1. Caminhada Transversal:Essa caminhada tem como objetivo reconhecer a unidade de produo (stio, propriedade,

    posse, etc.) que estamos trabalhando ou que vamos trabalhar. Esse reconhecimento consistena observao mais aprofundada das diversas reas existentes na propriedade (baixadas,morros, APPs, etc.), assim como das prticas que esto sendo realizadas em cada uma delas(lavouras, criaes de animais, pousio, etc.).

    Todos os membros da famlia devem participar da caminhada. Ela chamada de trans-versal porque visa percorrer a propriedade toda, de maneira que se possa observar toda suadiversidade. sempre bom passar pelos pontos mais altos, de onde podemos ter uma viso

    ampla do conjunto da unidade de produo. importante que pelo menos uma das pessoas que esto fazendo a caminhada tome

    nota das observaes realizadas durante o reconhecimento. A seguir, algumas questes quedevem ser consideradas:

  • 5/22/2018 Cartilha Arvores Site

    28/3226 Semeando Agroecologia: rvores na Agricultura Familiar

    Histrico da rea: o que se fazia no passado naquela determinada rea Situao aparente do solo nas diversas reas de produo: cor, textura, umidade, etc. Situao das lavouras: produo, sade, demanda de mo de obra para manejo, etc. Situao das APPs: nascentes, margens de rios, topos de morros, etc. Situao da rea de Reserva Legal: localizao, tamanho e condio (existe ou no existe) Utilizao das rvores no sistema de produo (se houver): quais so as principais espcies existentes

    e os seus benefcios e formas de uso (produo de fruta, apicultura, sombreamento, cerca viva, reservapara madeira/lenha/cabo de ferramenta)

    A caminhada transversal ser, assim, a base para a elaborao do Mapa Oral dos Sonhos da propriedade,ferramenta fundamental para o planejamento das aes de manejo e plantio de rvores.

    Material necessrio para caminhada: bloco de notas e caneta ou lpis. A utilizao de mquina fotogrcapode ajudar no registro e na sistematizao de algumas informaes.

    2. Mapa Oral dos Sonhos

    Esse mapa o resultado da caminhada transversal e deve ser elaborado coletivamente por todos os mem-bros da famlia. Por ser construdo a partir das notas tomadas durante a caminhada transversal e dos depoi -mentos dos familiares, chamado de mapa oral. Ele no necessita de escala exata, pois seu maior objetivo

    visualizar as inter-relaes presentes e potenciais dentro da propriedade, buscando planejar melhor o manejoe a utilizao eciente das diversas reas do sistema produtivo. Por isso, ele mais um desenho em forma decroqui do que propriamente um mapa!

    interessante que, na sua elaborao, o mapa oral seja visualizado por todos que manejam a propriedade.Para isso, recomenda-se a utilizao de um papel de tamanho grande, que tambm facilitar a identicaodas diversas reas e prticas existentes no stio.

    Pontos a serem considerados no mapa oral:

    A propriedade hoje:elaborar o croqui da propriedade, destacando seus limites; a vizinhana; o nmerode pessoas que trabalham nela; as benfeitorias; as agriculturas (lavouras, pomar, horta, etc.); as cria-

    es de animais; as nascentes, crregos e rios; as reas de mata; as estradas; as cercas; entre outros.Para ajudar a visualizao dos desenhos desse item, use caneta de cor azul, por exemplo.

    A propriedade amanh:esquematizar os projetos da famlia para a propriedade em cima do croqui ela-borado (utilizar uma caneta de cor diferente, talvez de vermelha para chamar mais ateno). Procurarlevar em considerao os sonhos e projetos a curto, mdio e longo prazo, tais como: estabelecimentode lavouras brancas e pomares, criaes, reorestamentos, construes, entre outros.

    As possibilidades de uso de rvores na propriedade:depois de feito o croqui da situao atual e dosprojetos da famlia para a propriedade, pensar coletivamente as possibilidades de uso das rvores nossistemas de produo implantados e projetados. Com base no que foi visto durante a caminhada trans-versal, considere as seguintes questes:

    Condies dos solos das diversas reas do stio Topograa (reas de morro, lanante e baixada) Necessidade de adubao das lavouras e pomares

  • 5/22/2018 Cartilha Arvores Site

    29/32Semeando Agroecologia: rvores na Agricultura Familiar 27

    Sade das lavouras e pomares Aproveitamento dos espaos Situao das APPs (nascentes, margens de rio, topos de morro, etc.) Direo dos ventos dominantes, caso haja prejuzos decorrentes de ventanias Necessidade de cercamento Necessidade de madeira (construes rurais e lenha) Necessidade de alimentos (principalmente frutas, palmito e mel) Possibilidades de comercializao de produtos agrcolas e orestais

    Com base nessas questes, ca mais fcil denir como as rvores sero usadas dentro da propriedade. Nodesenho, a cor verde, por exemplo, pode representar a forma de utilizao das rvores desejada pela famlia. Aescolha das espcies e do sistema de plantio depender do tamanho da rea e das condies de relevo e solo.

    Devemos tambm levar em conta para a escolha das espcies as nossas necessidades, ou seja, que be -nefcio(s) esperamos obter: produo de fruta, palmito ou mel; adubao verde; cercamento; delimitao dapropriedade; matria prima para construes; lenha; cabo para ferramenta; forragem, efeito medicinal, entreoutros. Tambm preciso denir como ser a forma de uso: agrooresta; pasto apcola; cerca viva; quebra-vento; aleia de conteno; corredor orestal; recuperao de APP/Reserva Legal, pousio, etc.

    Para ajudar no seu planejamento do uso de rvores e espcies agrcolas, preencha a tabela da pgina 28.

    Material necessrio para elaborar o mapa oral: folhas de cartolina ou papel pardo; canetas hidrocor de pelomenos trs cores diferentes; lpis; material didtico sobre rvores e sistemas agroorestais.

    Bibliografia consultada

    CALDEIRA, Patrcia Yamamoto Costa; Sistemas agroorestais em espaos protegidos.Secretaria de Estado doMeio Ambiente, Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais. 1.ed. So Paulo: SMA, 2011. 36p.

    DUBOIS, Jean C. L.; Manual Agroorestal para a Amaznia. Vol. 1; Rio de Janeiro: REBRAF 1996. 228p.

    GTSCH, Ernst; O renascer da agricultura. Trad.: Patrcia Vaz. 2.ed. Rio de Janeiro: AS-PTA, 1996. 24p.

    LORENZI, Harri; rvores brasileiras: manual de identifcao e cultivo de plantas arbreas nativas do Brasil.2.ed. Nova Odessa, SP: Editora Plantarum, 1998.

    LORENZI, Harri;rvores brasileiras: manual de identifcao e cultivo de plantas arbreas nativas do Brasil, vol.2. 2.ed. Nova Odessa, SP: Editora Plantarum, 2002.

    Manual Agroorestal para a Mata Atlntica/ Coordenao Peter Herman May, Cssio Murilo Moreira Trovat-to, Organizadores Armim Deitenbach...(et AL.). Braslia: Ministrio do Desenvolvimento Agrrio, Secretaria deAgricultura Familiar, 2008. 196p.

    SOUSA, Joseilton Evangelista de; Agricultura agroorestal ou agrooresta. Recife: Centro Sabi, 2007. 24p.

    VIVAN, Jorge Luiz; Pomar ou oresta: princpios para manejo de agroecossistemas.Rio de Janeiro: AS-PTA, 1995.

    2aedio. 96p.

    VIVAN, Jorge Luiz;Agricultura e Florestas: princpios de uma interao vital. Guaba: Agropecuria, 1998. 207p.

  • 5/22/2018 Cartilha Arvores Site

    30/3228 Semeando Agroecologia: rvores na Agricultura Familiar

    ESPCIE

    ESPAAMENTO

    QUANTIDA

    DE

    BENEFCIO

    FORMADEUSO

    ()produodefruta

    ()produodepalmito

    ()produodemel

    ()adubaoverde

    ()cercamento

    ()limitedapropriedade

    ()madeira/construo

    ()lenha

    ()caboparaferramenta

    ()forragem

    ()medicinal

    ()outros_____________

    ()ag

    rooresta

    ()pa

    stoapcola

    ()ce

    rca-viva

    ()qu

    ebra-vento

    ()aleiadeconteno

    ()tu

    toramento

    ()corredororestal

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    rvoresnaAgricultura

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