cafeicultura especializada na mesorregiÃo … · a produção cafeeira da mesorregião...

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1 CAFEICULTURA ESPECIALIZADA NA MESORREGIÃO SUL/SUDOESTE DE MINAS: A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL PRODUTIVA Larissa Chiulli Guida Grupo de Estudos Regionais e Socioespaciais – GERES Universidade Federal de Alfenas-UNIFAL [email protected] Flamarion Dutra Alves Grupo de Estudos Regionais e Socioespaciais –GERES Universidade Federal de Alfenas-UNIFAL [email protected] Resumo A produção cafeeira da mesorregião Sul/Sudoeste de Minas Gerais está relacionada historicamente ao desenvolvimento econômico desta região. Atualmente é a principal região cafeicultora do país. A efetivação da produção ocorre pela rede constituída para sua expansão e consolidação no território. Compreender a lógica de acumulação e organização das empresas de café, pelo prisma teórico-conceitual de rede, ressalta uma visão integrada dos atores e agentes no território, ligados às questões da técnica e poder. Assim, pesquisamos as Microrregiões Geográficas de Varginha, Alfenas, Passos, Pouso Alegre e São Sebastião do Paraíso a fim de compreender a organização espacial produtiva do café. Palavras-chave: Agronegócio cafeeiro. Organização Espacial Produtiva do café. Mesorregião Sul/Sudoeste de Minas Gerais. Microrregiões de Alfenas, Passos, São Sebastião do Paraíso e Varginha. Introdução Com a modernização do campo brasileiro, as diversidades existentes no uso do espaço agrário no país se intensificaram ainda mais. O atual período técnico-científico- informacional (SANTOS, 1996) caracterizado, de maneira geral, pela inserção maciça de capitais financeiros, maquinários, altas tecnologias, incentivos para pesquisas científicas e fluidez de informações, evidencia essa modernização pelo qual o espaço agrário brasileiro vem passando. Esta circunstância favoreceu a especialização produtiva da agropecuária brasileira. Assim, surgiram as diversas regiões agrícolas que se especializaram na monocultura, produtoras das commodities - produção do setor primário voltado para exportação, aliado também, às transformações da matéria-prima em um sistema agroindustrial integrando os setores da economia.

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CAFEICULTURA ESPECIALIZADA NA MESORREGIÃO SUL/SUDOESTE DE MINAS: A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL PRODUTIVA

Larissa Chiulli Guida Grupo de Estudos Regionais e Socioespaciais – GERES

Universidade Federal de Alfenas-UNIFAL [email protected]

Flamarion Dutra Alves

Grupo de Estudos Regionais e Socioespaciais –GERES Universidade Federal de Alfenas-UNIFAL

[email protected]

Resumo A produção cafeeira da mesorregião Sul/Sudoeste de Minas Gerais está relacionada historicamente ao desenvolvimento econômico desta região. Atualmente é a principal região cafeicultora do país. A efetivação da produção ocorre pela rede constituída para sua expansão e consolidação no território. Compreender a lógica de acumulação e organização das empresas de café, pelo prisma teórico-conceitual de rede, ressalta uma visão integrada dos atores e agentes no território, ligados às questões da técnica e poder. Assim, pesquisamos as Microrregiões Geográficas de Varginha, Alfenas, Passos, Pouso Alegre e São Sebastião do Paraíso a fim de compreender a organização espacial produtiva do café. Palavras-chave: Agronegócio cafeeiro. Organização Espacial Produtiva do café. Mesorregião Sul/Sudoeste de Minas Gerais. Microrregiões de Alfenas, Passos, São Sebastião do Paraíso e Varginha. Introdução Com a modernização do campo brasileiro, as diversidades existentes no uso do espaço

agrário no país se intensificaram ainda mais. O atual período técnico-científico-

informacional (SANTOS, 1996) caracterizado, de maneira geral, pela inserção maciça

de capitais financeiros, maquinários, altas tecnologias, incentivos para pesquisas

científicas e fluidez de informações, evidencia essa modernização pelo qual o espaço

agrário brasileiro vem passando.

Esta circunstância favoreceu a especialização produtiva da agropecuária brasileira.

Assim, surgiram as diversas regiões agrícolas que se especializaram na monocultura,

produtoras das commodities - produção do setor primário voltado para exportação,

aliado também, às transformações da matéria-prima em um sistema agroindustrial

integrando os setores da economia.

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A mesorregião Sul/Sudoeste de Minas Gerais é um caso emblemático destas regiões

agrícolas que passaram a atender a uma produção especializada. Encontramos nesta

região diversos serviços funcionais à cafeicultura, fruto de um arranjo territorial

produtivo (SANTOS e SILVEIRA, 2001).

Com o objetivo de verificar a organização espacial em rede que possui os elementos

estruturantes do arranjo territorial produtivo na Mesorregião Sul/Sudoeste de Minas

para produção cafeeira, investigamos os principais serviços presentes nas Microrregiões

de Varginha, Passos, Alfenas, Pouso Alegre e São Sebastião do Paraíso (Mapa1) que

formam a rede geográfica da cafeicultura especializada. Mapa 1- Localização da mesorregião Sul/Sudoeste de Minas e das cidades de Passos, São Sebastião do Paraíso, Alfenas, Varginha e Pouso Alegre.

Fonte: ALVES, 2011.

Metodologia De acordo com a delimitação do IBGE, a Mesorregião Sul/Sudoeste de Minas Gerais é

composta por 10 Microrregiões e 146 municípios, totalizando 2.346.077 habitantes

(IBGE, 2010). Seu desenvolvimento socioeconômico está atrelado historicamente à

produção agrícola. Atualmente, verifica-se que é a principal região produtora de café do

país. Por esta conjuntura, esta região corresponde à nossa área de estudo.

Esta pesquisa se realiza tendo como metodologia principal a análise estruturalista

quantitativa dos dados levantados. A partir de então, ela se apresenta em uma espécie de

afunilamento de escalas, partindo do estudo da mesorregião às microrregiões

selecionadas e aos principais serviços presentes nestas microrregiões.

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Foi realizada revisão bibliográfica de textos (livros, artigos e teses) referentes aos

conceitos e teorias da Geografia Humana (Regional, Econômica e Agrária), e das áreas

específicas (Economia).

Para alcançarmos o objetivo de compreender a dinâmica e funcionamento dos serviços e

infraestruturas que viabilizam a produção do café tornando a região altamente

especializada nesta atividade, entendemos que o conceito de Rede Geográfica seja o

mais adequado dentro da perspectiva estruturalista, pois se estuda a região, numa escala

local e sua dinâmica numa escala nacional-global através da rede.

Para tanto, das categorias espaciais geográficas (território, lugar, paisagem e região),

trabalhamos com a noção de região, dando um enfoque nas regiões especializadas na

produção de commodities agrícolas. A realização da produção da commodity café

demanda vários serviços especializados, contendo altos investimentos, logo,

pressupomos que o setor econômico seja a principal variável de investigação da

pesquisa.

Entre as estatísticas econômicas, utilizamos nesta pesquisa como critério de

comprovação das hipóteses levantadas, a análise dos valores totais e setores agregados

do PIB (Produto Interno Bruto) nacional, estadual, regional e municipal. A fim de

comprovar o desenvolvimento econômico da área pesquisada. (Tabela 1)

Tabela 1 - Valor Total do PIB de Minas Gerais e suas Mesorregiões em 2009.

Estado e Mesorregiões Produto Interno Bruto Ranking Minas Gerais 287.054.748 (1 000 R$) 100,00 (%) - Campo das Vertentes 5.874.275 2,05 8º Central Mineira 4.826.116 1,68 10º Jequitinhonha 3.509.899 1,22 11º Metropolitana de Belo Horizonte 124.138.623 43,25 1º Noroeste de Minas 5.273.289 1,84 9º Norte de Minas 11.943.407 4,16 6º Oeste de Minas 10.814.067 3,77 7º Sul/Sudoeste de Minas 33.205.305 11,57 3º Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba 45.348.556 15,80 2º Vale do Mucuri 2.655.860 0,93 12º Vale do Rio Doce 17.168.651 5,98 5º Zona da Mata 22.296.699 7,77 4º Fonte: IBGE, 2011. Organização: Larissa Chiulli Guida.

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Verifica-se que a região Sul/Sudoeste de Minas possui o terceiro maior PIB do Estado,

contribuindo com 11,7% no valor total do PIB Estadual, constatando a hipótese de ser

uma importante região na dinâmica econômica de Minas Gerais.

A análise dos valores agregados ao PIB nos permite compreender a função econômica

regional e municipal, bem como analisar quais dos setores geram mais renda. Assim,

verificamos os valores agregados aos setores da Agropecuária, Indústria, Administração

Pública e Serviços (Tabela 2) em comparação as principais mesorregiões de elevados

valores do PIB.

Tabela 2 - Valores agregados ao PIB de Minas Gerais e principais Mesorregiões econômicas no ano de 2009.

Fonte: IBGE, 2011. Organização: Larissa Chiulli Guida.

Os valores adicionados ao setor Agropecuário correspondem diretamente à produção

agrícola do lugar. Contudo, confirmamos a importância produtiva agrícola da

Mesorregião Sul/Sudoeste, estando em 2º lugar em comparação às demais

Mesorregiões, afirmando ser uma região cujo desenvolvimento econômico está atrelado

ao setor agropecuário.

Faz-se importante salientar que comparado aos demais setores o agropecuário é o de

menor representatividade no valor total do PIB da Mesorregião, participando com

aproximadamente 12,93% de 33.205.305,00 reais. Onde o setor da Indústria representa

22,30%; o de Serviços representa 54,65% e os valores adicionados da arrecadação da

Administração Pública representam 22,30%. Embora de grande importância, a menor

representatividade do PIB agropecuário é um evento comum às regiões produtoras de

Estado e Mesorregiões

Produto Interno Bruto (1 000 R$)

Agropecuário Indústria Administração

Pública Serviços

Minas Gerais 22.715.843 75.826.235 35.801.978 153.798.137

Metropolitana de Belo Horizonte 1.112.746 38.784.539 12.017.433 65.887.162

Sul/Sudoeste de Minas 4.296.676 7.408.023 4.344.807 18.149.628

Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba 6.665.836 11.330.347 3.985.564 21.748.850

Vale do Rio Doce 1.186.572 5.033.944 2.948.614 9.290.131

Zona da Mata 1.840.631 4.338.578 3.874.361 13.800.524

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commodities. Justamente por deterem grande quantidade de serviços especializados que

demandam altas tecnologias, os setores da Indústria e de Serviços possuem maior

representatividade econômica.

Constatado através da análise do PIB que a Mesorregião da nossa pesquisa é uma região

agrícola, de importância econômica, nos propusemos analisar quais de suas

Microrregiões concentram os principais serviços para produção cafeeira, objetivando

traçar assim, a rede agroindustrial do café.

Para tanto, seguindo a lógica de raciocínio da análise do PIB como variável de análise

do setor econômico, pesquisamos os setores agregados do PIB de cada Microrregião

(Tabela 3).

Tabela 3 - PIB total e valores agregados do Estado de Minas e das Microrregiões da Mesorregião Sul/Sudoeste de Minas no ano de 2009.

Estado e Microrregiões

Produto Interno Bruto (1 000 R$)

Agropecuário Indústria Administração

Pública Serviços TOTAL

Minas Gerais 22.715.843 75.826.235 35.801.978

153.798.13

7 287.054.748

Alfenas 518.975 389.913 384.008 1.615.889 2.747.023

Andrelândia 122.924 67.265 145.751 327.622 539.727

Itajubá 212.680 703.078 315.668 1.142.604 2.289.786

Passos 525.736 1.274.549 415.353 1.503.973 3.528.790

Poços de Caldas 401.412 1.133.434 649.255 2.648.696 4.665.272

Pouso Alegre 437.864 1.377.674 573.052 3.009.255 5.521.219

Santa Rita do Sapucaí 344.001 332.735 243.626 812.911 1.625.453

São Lourenço 297.790 317.826 383.907 1.184.392 1.926.303

São Sebastião do Paraíso 586.541 523.728 451.181 2.174.154 3.623.013

Varginha 848.753 1.287.821 783.006 3.730.133 6.738.720

Fonte: IBGE, 2011. Organização: Larissa Chiulli Guida.

De acordo com a Tabela 3, as Microrregiões que possuem valores mais elevados do PIB

são respectivamente: Varginha, Pouso Alegre, Poços de Caldas, São Sebastião do

Paraíso, Passos, Alfenas, Itajubá, São Lourenço, Santa Rita do Sapucaí e Andrelândia.

Conscientes de que a prática da agricultura, e da cafeicultura de modo particular, sejam

atividades historicamente desenvolvidas nesta região, logo praticadas em diversas

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localidades de sua extensão, e tendo como objetivo maior compreender o circuito

dinâmico e econômico motor do agronegócio cafeeiro concordamos ser de suma

importância delimitar dentro da Mesorregião, as principais Microrregiões atuantes neste

setor.

Para verificarmos estas Microrregiões, pré-selecionamos as que possuem maior valor do

PIB (Varginha, Pouso Alegre, Poços de Caldas, São Sebastião do Paraíso, Passos,

Alfenas e Itajubá), de acordo com a lógica de este ser o instrumento representativo que

melhor qualifica a produção dos três principais setores econômicos.

No entanto, a fim de fecharmos o recorte espacial em nossa área de estudo, buscamos

nos sites dos principais órgãos de pesquisas e estatísticas sobre o desenvolvimento

econômico de Minas Gerais (Fundação João Pinheiro, Secretaria de Estado de

Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, IBGE Estados) atualizações

deste setor, pela qual obtivemos que as Microrregiões com maiores destaques para o

setor cafeeiro são: Varginha, Pouso Alegre, São Sebastião do Paraíso, Passos e Alfenas.

A fim de constatar o resultado desta pesquisa, analisamos os vinte principais municípios

produtores de café do Brasil na safra 2010 (Quadro 1).

Quadro 1 – 20 municípios com maiores produções de café na safra 2010 no Brasil.

Município – UF Produção(t)/Ranking Município – UF Produção (t)/Ranking Patrocínio – MG 60 228 / 1º Serra do Salitre – MG 25 641 / 11º Vila Valério – ES 36 135 / 2º Rio Paranaíba – MG 25 380 / 12º Nova Venécia – ES 33 320 / 3º Manhuaçu – MG 25 047 / 13º Jaguaré – ES 33 250 / 4º Nova Resende – MG 24 033 / 14º Monte Carmelo – MG 31 746 / 5º Machado – MG 23 577 / 15º Três Pontas – MG 29 808 / 6º Rio Bananal – ES 22 090 / 16º Sooretama – ES 28 980 / 7 Brejetuba – ES 21 900 / 17º Araguari – ES 27 792 / 8º São Mateus – ES 21 335 / 18º Linhares – ES 27 370 / 9º Alfenas – MG 21 224 / 19º Campos Gerais – MG 26 403 / 10º Cacoal – RO 19 241 / 20º

Fonte: PAM/IBGE, 2010. Organização: Larissa Chiulli Guida.

No grupo dos principais municípios cafeicultores: 1 localiza-se em Rondônia, 9 no

Espírito Santo e 10 em Minas Gerais, reafirmando a postura de principal estado

produtor. Destes dez municípios mineiros: 1 localiza-se na Mesorregião Zona da Mata

(Manhuaçu), 4 na MesorregiãodoTriângulo Mineiro/Alto Paranaíba (Patrocínio, Monte

Carmelo, Serra do Salitre, Rio Paranaíba) e 5 na Mesorregião Sul/Sudoeste sendo 2

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pertencentes à Microrregião de Alfenas (Alfenas e Machado), 2 à Microrregião de

Varginha (Três Pontas e Campos Gerais) e 1 à Microrregião de São Sebastião do

Paraíso (Nova Resende).

Comparando este levantamento dos principais municípios cafeicultores, com a pesquisa

prévia dos sites, constatamos que as Microrregiões delimitadas (Varginha, Alfenas e

São Sebastião do Paraíso, Pouso Alegre e Passos) são as principais no setor cafeeiro.

Contudo, realizamos pesquisa acerca dos fatores produtivos (cooperativas, armazéns,

aeroportos, recintos exportadores, empresas de comercialização, institutos de ensino e

pesquisa) inerentes à produção cafeeira, podendo assim, compreender a rede

agroindustrial da produção cafeeira na Mesorregião do Sul/Sudoeste de Minas.

Referencial teórico Utilizamos da literatura da Geografia Agrária como forma de nos embasarmos e

nortearmos a nossa investigação. De maneira breve, discorreremos sobre as questões da

modernização do campo brasileiro, a formação de regiões com produção especializada e

a consequente estruturação das Redes.

Modernização dos modos de produção no campo e Revolução Verde Sobre a modernização do campo brasileiro, podemos discorrer, de maneira sucinta, que

devido a este processo e à grande inserção de investimentos capitalizados que o

acompanhou, a estrutura fundiária no Brasil sofreu significativas mudanças, agravando

ainda mais a situação socioeconômica desigual já existente no país.

As mudanças ocorreram através de políticas de financiamento para compras de insumos e

fertilizantes, maquinários e de uma maior integração entre os setores primário e

secundário. Consequentemente, causaram impactos socioeconômicos na sociedade,

principalmente aos pequenos agricultores, uma vez que não possuíam crédito e/ou

credibilidade para se inserirem neste novo quadro que se instalava. Assim, a

modernização da produção agrícola só foi possível para os que já detinham algum capital.

Compreendemos que o processo de modernização do campo, ocorreu concomitante ao

processo da Revolução Verde1, sugeria a adoção de recursos tecnológicos e biológicos

visando aumento da produtividade das propriedades no campo.

Entre as diversas consequências ocorridas pela modernização do campo e da Revolução

Verde, a formação de regiões altamente especializadas na produção de commodities

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causou grande impacto no cenário agrícola do país, colaborando para o aumento das

desigualdades socioeconômicas através da fragmentação do território agrícola, pois a

concentração de terras para produção em grande escala determina que apenas

latifundiários se insiram neste modelo de produção, concentrando ainda mais terras, e

excluindo os produtores de pequena escala do campo.

Contudo, atualmente as fronteiras agrícolas estão em processo de expansão, principiadas

no modelo de modernização do campo, continuam sustentando a atividade de grandes

regiões agrícolas, produtoras de monoculturas para exportação.

Regiões agrícolas de produções especializadas Não pretendemos discorrer acerca da conceituação de região. Consideraremos apenas

alguns aspectos relevantes, como as diversas formas de sua compartimentação, que

podem ser de cunho natural, cultural, histórico, administrativo e econômico. Assim, as

regiões estão em movimentos constantes de (re)criação e (co)existência. Portanto, é

fundamental entender que o dinâmico é singular da própria noção de região.

A partir da internacionalização do capital (CHESNAIS, 1996), foi necessária uma nova

conceituação da antiga noção de região. Atualmente, a especialização regional

produtiva, caracteriza um tipo de região funcional aos mercados internacionais

(SANTOS, 1997).

Esta especialização regional está entre as consequências da modernização do campo,

que corresponde ao modelo de produção agrícola capitalista. A agricultura moderna

exige suportes técnico-científicos e informacionais (SANTOS, 1996) que viabilizem a

fluidez da produção. Tais suportes correspondem aos sistemas técnicos e normativos,

bem como às competências infraestruturais. A associação destes fatores produtivos em

um lugar nos permite caracterizá-lo como uma região funcional à produção agrícola.

Atualmente, destacamos no Brasil, as regiões de especialização produtiva como a região

Centro-Oeste, funcional à produção do agronegócio da soja, a região nordestina

funcional à fruticultura irrigada do Nordeste, a região canavieira no interior de São

Paulo e a região cafeeira do Sul de Minas.

As Redes no território O atual período histórico que vivemos é marcado, principalmente, pela rapidez nas vias

de comunicação e informação, pela fluidez nas transações (comerciais, econômicas,

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materiais) de pessoas e bens. Assim, a conexão é a palavra que melhor define este

período de globalização.

Neste sentido, nos apoiamos na definição sistêmica e interdisciplinar de Dias (2009, p.

148) sobre o estudo das redes a partir dos fluxos e trocas interdependentes dos diversos

segmentos no território “os fluxos, de todo tipo – das mercadorias às informações

pressupõem a existência das redes. A primeira propriedade das redes é a conexidade –

qualidade de conexo – que tem ou em que há conexão, ligação”.

Desta maneira, pressupõem-se a existência de redes em todas as esferas que haja inter-

relações sociais, culturais, políticas, administrativas, econômicas. Neste sentido, as

sociedades podem estar inseridas, ou não, em vários tipos de redes de conexão, segundo

Corrêa (2005, p.109) “Todos estamos inseridos em mais de uma rede geográfica

(econômica, social, política e cultural) e, simultaneamente, excluídos ou ausentes de um

número mais de redes”. Com isto, podemos concluir sobre redes, que fluxos e

conexidades são atributos de sua existência, e consequentemente a contradição também,

pois as redes podem integrar e excluir, em um mesmo espaço.

O estudo das Redes Geográficas que compõem a produção moderna do campo brasileiro,

não é principiante. Como relatamos, a partir da Revolução Verde, a interconexão dos

setores produtivos, tecnológicos, logísticos, financeiros e sociais tornou-se presentes nas

culturas agropecuárias ligadas ao agronegócio e a produção das commodities, assim o

conceito e a existência das redes agroindustriais vem sendo bastante pesquisado.

As culturas altamente especializadas nas regiões produtoras de commodities necessitam de

sistemas modernos, com tecnologias avançadas, de serviços especializados, que exerçam

com rapidez e fluidez os diversos setores que são precisos para realizar a produção.

Consideramos esta ocorrência, uma associação de fatores produtivos, onde ocorre um uso

do território com a principal finalidade de atender às exigências da produção especializada,

desse modo acreditamos que o conceito de arranjos territoriais produtivos (SANTOS e

SILVEIRA, 2001) é o mais indicado para compreendermos a organização espacial em

redes, que se estabelecem nos territórios de produção do agronegócio.

A consolidação da cafeicultura em Minas Gerais: vantagens para a territorialização do capital O Brasil é um grande produtor e exportador de commodities agrícolas, assim sendo, a

produção agropecuária tem significativa importância na economia do país. Entre os

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principais produtos do ano de 2010 (Tabela 4) a produção cafeeira alcançou o quarto

lugar, do total de 154.079.761,00 reais em produções agrícolas representou 7,51%

(11.577.933,00 reais) (IBGE-PAM, 2010).

Tabela 4 - Principais produtos agrícolas do Brasil, safra 2010

Produtos Quantidade produzida

(tonelada)

Valor da produção

(1 000 R$)

Soja (em grão) 68 756 343 37 380 845

Cana-de-açúcar 717 462 101 28 313 638

Milho (em grão) 55 681 689 15 265 119

Café (em grão) 2 158 564 11 577 933

Mandioca 24 524 318 6 896 070

Fonte: PAM/IBGE, 2010. Organização: Larissa Chiulli Guida.

Atualmente Minas Gerais é o principal Estado produtor de café, no ano de 2010 produziu

1.504.188 toneladas de grãos, representando 51,8% da produção nacional (IBGE-PAM,

2010). Como no cenário nacional a cafeicultura exerce importante papel na economia

estadual, no ano de 2010 a produção cafeeira mineira rendeu 6.980.856,00 reais (IBGE-

ESTADOS, 2011), sendo a mesorregião Sul/Sudoeste a principal produtora do Estado.

Foi durante o século XX que a região sul-mineira se consolidou como a principal região

cafeeira do país, a partir da expansão espacial da cultura dos Estados de São Paulo e

Paraná para Minas Gerais.

Acerca deste processo histórico, segundo a pesquisa de ANDRADE (1994) sobre a

expansão da cafeicultura no país, Minas Gerais aglomerou numerosas vantagens para se

tornar, a partir dos anos de 1980 e ainda hoje, o principal Estado produtor.

Do ponto de vista de Minas Gerais, este estado recebeu o café com todo o apoio

governamental, beneficiando-se ainda da presença do IBC nos anos setenta e oitenta,

antes que esta autarquia entrasse num processo acelerado de decadência. Beneficiando-

se também do apogeu da política de crédito agrícola nos anos setenta. Avançou em

termos de produtividade, e deslocou-se para outras regiões do Estado. Minas Gerais

representa, assim, a região onde uma nova forma de produzir o café se instala: a

princípio com recursos financeiros abundantes (ANDRADE, 1994, p. 3. Grifo nosso).

Como observado, importantes aspectos político-institucionais, principalmente os

creditícios favoreceram a consolidação da cafeicultura em todo estado de Minas Gerais.

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Neste momento, inclusive, que a produção de cafés finos na região do Cerrado se

iniciou, até então imprópria para o cultivo, efetivou-se com os altos créditos investidos

em insumos agroquímicos, pesquisas e maquinários.

Ao contrário do Cerrado, as características físicas regionais do Sul de Minas como solo,

clima, e relevo, propícios para a lavoura cafeeira, foram significativas para sua

consolidação na região, contudo, semelhante a todo território estadual, não foi elemento

fundamental na estruturação da atual organização para cafeicultura.

O Sul de Minas, apesar de ser uma região ocupada, tinha como características principais

o fato de ser uma região economicamente incipiente, tendo como base o cultivo das

lavouras de subsistência e a exploração da pecuária extensiva. Dessa forma, a

cafeicultura encontrou aí terras acessíveis, férteis e bem localizadas geograficamente,

sendo possível auferir níveis elevados de produtividade (ANDRADE, 1994, p.42).

Tratando-se de uma região cuja economia era incipiente o autor (idem) esclarece que o

apoio governamental (concessão de créditos e políticas públicas regionais), somado a

outros Programas Governamentais do momento (Programa de Renovação e

Revigoramento dos Cafezais – PRRC, por exemplo), favoreceram a implantação de uma

nova forma de produzir o café,

Como foi o caso do Sul de Minas, que reativou em outras bases sua atividade cafeeira.

Até então a cafeicultura era explorada de forma arcaica e com baixa produtividade, mas

os créditos financeiros desse Programa provocaram mudanças radicais na forma de se

explorar o café (ANDRADE, 1994, p.40).

Portanto, a atual estrutura organizacional em rede inerente à cafeicultura especializada,

equipada por grandes empresas do café, encontrou à época na região sul-mineira

território ideal para sua consolidação, ou seja, através dos incentivos políticos o capital

se territorializou.

Os arranjos territoriais produtivos na mesorregião do Sul/Sudoeste de Minas: a organização em rede da cafeicultura especializada Verificamos que as principais Microrregiões envolvidas diretamente na produção

cafeeira correspondem a de Varginha, Alfenas, São Sebastião do Paraíso, Pouso Alegre

e Passos. Procurando caracterizar a rede desta organização territorial produtiva,

investigamos os principais serviços essenciais à cafeicultura que se encontram na região

a partir dos municípios das microrregiões selecionadas.

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Os elementos estruturantes da cadeia produtiva do café permeiam desde o cafeicultor ao

país que importa o grão. O foco de nossa análise é demonstrar o atual arranjo territorial

produtivo que se consolidou na região sul-mineira para atender à cafeicultura,

representado nos sistemas técnicos e normativos e nas infraestruturas que viabilizam a

fluidez da produção (armazéns, cooperativas, torrefadoras, escritórios de exportação e

comercialização, institutos de educação e pesquisa, comércio de insumos e fertilizantes,

maquinários, entre outros).

Dentre os serviços componentes do arranjo territorial produtivo, os que têm relação com

os fluxos financeiros são de extrema importância por serem fundamentais à produção.

Geralmente os financiamentos agrícolas são feitos por bancos privados, cooperativas de

crédito e empresas privadas, além dos créditos ofertados pelo Estado. Assim,

encontramos na região, agências dos principais bancos (Banco do Brasil, SICOOB,

Santander, Bradesco, HSBC, Itaú), o que demonstra a possibilidade da realização do

nexo financeiro da produção.

As Cooperativas e Sindicatos dos produtores e trabalhadores rurais assumem papel

importante para produção agrícola do campo. Na região encontramos duas das grandes

Cooperativas que possuem núcleos espalhados pelo estado, Brasil e em alguns países

internacionais, a COOXUPÉ e a COOPARAÍSO. Ambas oferecem aos produtores os

serviços de armazenagem, revenda de insumos e fertilizantes, financiadora de créditos, e

comercialização e exportação do café.

Associado ao financiamento e ao sistema cooperativista, a presença de escritórios

comerciais e exportadores é um dos elementos mais importantes na rede da organização

cafeeira, por meio destes é que são realizadas as compras e vendas dos grãos de café,

além do fornecimento de empréstimos aos produtores e importação dos insumos

necessários à produção. Os escritórios funcionam como nós dentro da rede, interligando

os municípios produtores aos principais portos exportadores e centros financeiros do

país, até a bolsa de valores de Chicago (CBOT) e aos países importadores de

commodities agrícolas. As principais empresas exportadoras, nacionais e multinacionais

possuem escritórios na rede cafeeira da região Sul/Sudoeste de Minas.

Desse modo, identificamos nas microrregiões importantes empresas atuantes dos

segmentos de financiamentos e comércio, selecionamos no Quadro 2 as principais

empresas de cada segmento.

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Quadro 2 - Principais serviços da produção cafeeira localizados nas microrregiões de Alfenas, Varginha, Passos, Pouso Alegre e São Sebastião do Paraíso.

ARMAZÉNS Casa Nobre Comércio e Armazenagem de Grãos Ltda. CASEMG – Companhia de Armazéns e Silos do Estado de Minas Gerais CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento Armazéns Gerais Leste de Minas Ltda. Grão de Ouro Armazéns Gerais Ltda. Ipanema Agrícola S/A Moinho Sul Mineiro S/A Total Alimentos S/A Corn Food ArmazénsGerais Ltda. Olam Armazéns Gerais Ltda. Louis Dreyfus Commodities Armazéns Gerais Ltda. Armazéns Gerais Carapina Ltda. Cafeco Armazéns Gerais Ltda. COPAG – Companhia Capital de Armazéns Gerais COOPERATIVAS Minasul - Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Varginha Ltda. APROCAM - Associação dos Produtores de Café da Mantiqueira COOPFAM - Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região COCATREL – Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas Ltda. COOXUPÉ – Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé Ltda. COOPARAÍSO – Cooperativa Regional de Cafeicultores em São Sebastião do Paraíso Ltda. COOPERCAM – Cooperativa dos Cafeicultores de Campos Gerais e Campo do Meio Ltda. UNICCOP – União Cooperativa Agropecuária da Sul de Minas CAPEBE – Cooperativa Agropecuária de Boa Esperança Ltda. COOPAMA – Cooperativa Agrária de Machado Ltda. CAPAL - Cooperativa Agropecuária de Alfenas Ltda. COCCAMIG – Cooperativa Central de Cafeicultores e Agropecuaristas de Minas Gerais Ltda. COMERCIALIZAÇÃO, EXPORTAÇÃO E INDÚSTRIAS Matsuda Minas Comércio e Indústria Ltda. Ipanema Comercial e Exportadora S/A Mitsubishi Corporation- MC Coffee do Brasil Ltda. Odebrecht Comércio e Indústria de Café Ltda. Stockler Comercial e Exportadora Ltda. REDEX – Recintos Exportadores em Guaxupé e Poços de Caldas EADI – Porto Seco Sul de Minas em Varginha

A presença de sistemas de armazenagem permite identificar os municípios que

funcionam como centros de recepção e expedição dos grãos, sendo estes os de maior

significância dentro da rede, logo, possuindo um papel nodal no circuito espacial

produtivo. Neste sentido, é comum aos municípios que possuem serviço melhor e mais

avançado de armazenagem estocar a produção dos municípios vizinhos (Tabela 5).

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Tabela 5 - Capacidade dos armazéns registrados junto à Conab das principais cidades da rede cafeeira do Sul/Sudoeste de Minas.

Municípios Número de armazéns

cadastrados

Capacidade estática (toneladas)

Alfenas 14 134.127 Boa Esperança 13 77.027 Elói Mendes 13 62.833 Guaxupé 30 199.034 Machado 17 78.790 São Sebastião do Paraíso 31 116.841 Três Corações 15 142.554 Três Pontas 13 108.339 Varginha 41 271.915

Fonte: CONAB, 2011. Organização: Larissa Chiulli Guida.

A qualificação da mão-de-obra juntamente com os Institutos e órgãos de ensino e

pesquisa, também são serviços imprescindíveis à produção cafeeira. Os cursos de

formação técnica, de graduação, pós-graduação e de especializações voltados para área

agrícola ou de gestão empresarial e agrícola, qualificam profissionais para atuarem na

organização produtiva do café. Selecionamos no Quadro 3 os principais cursos

ofertados nas Microrregiões estudadas.

Quadro 3 - Cursos de gestão e produção na agropecuária

Municípios Instituições Cursos de Graduação Cursos de Pós-Graduação

Muzambinho, Machado

Instituto Federal de Ciência, Tecnologia e Educação do Sul de Minas.

Tecnologia em Cafeicultura, Engenharia Agronômica

Cafeicultura Sustentável

Varginha Grupo Educacional UNIS campus Varginha

Agronomia, Tecnologia em Gestão de Logística de Transporte e Distribuição, Tecnologia em Gestão de Secretariado Executivo Trilingue

MBA em Logística Empresarial

Alfenas UNIFENAS Agronomia, Medicina Veterinária, Zootecnia, Administração de Empresas

Mestrado Profissional em Sistemas de Produção na Agropecuária

Três Pontas Grupo Educacional UNIS campus Três Pontas

Gestão do Agronegócio, Administração e Gestão de Empresa

Cafeicultura Empresarial

Três Corações

UNINCOR campus Três Corações

Agronomia, Medicina Veterinária, Administração de Empresas

Fonte: MEC e site das Instituições de Ensino, 2011. Organização: Larissa Chiulli Guida.

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Contudo, verificaram-se os principais elementos estruturantes do arranjo territorial

produtivo das microrregiões que realizam a produção da commodity do café, formando a

rede geográfica para produção espacial produtiva da cafeicultura na região Sul/Sudoeste

de Minas.

Considerações finais A rede produtiva do café na Mesorregião Sul/Sudoeste de Minas Gerais apresenta

pontos fixos consolidados para a organização e movimentação dos fluxos existentes no

complexo agroindustrial, como cooperativas, institutos de pesquisa, empresas de

assistência técnica e extensão rural, recintos de exportação, rodovias, entre outros, que

estão contribuindo para o desenvolvimento da região.

Entretanto, fazem-se considerações sobre o modo de apropriação do capital que ocorre

através destes arranjos territoriais produtivos no interior das Microrregiões, se fazendo

excludente.

Como relatado, o capital (através dos grandes grupos do setor cafeeiro), encontrou no

estado de Minas Gerais, em especial na sua face Sul, condições facilitadoras para sua

propagação, desta forma, passou-se a produzir uma cafeicultura modernizada, sob os

auspícios da lógica capitalista.

Sob uma ótica, essencialmente econômica, a rede geográfica presente na organização da

estrutura para o café, tem contribuído para o desenvolvimento da região, como vimos a

grande participação do café no PIB. Entretanto, torna a região vulnerável às oscilações

dos mercados internacionais, pois a produção está diretamente ligada a eles.

Associado a esta instabilidade do mercado, e analisando sob uma visão espacial, que

contempla não apenas dados econômicos, a região historicamente é um híbrido espacial

fortemente associado à agricultura familiar e à produção da commodity do café, mas

estes não são antagônicos, e sim, complementares. Neste sentido, vimos surgir na região

novas produções, praticadas por produtores familiares, utilizando-se muitas vezes dos

serviços das redes cafeeiras, evidenciando a contradição do sistema capitalista que se

implantou na produção agrária.

Dessa forma, ao realizar a caraterização da Rede Geográfica na organização espacial da

produção cafeeira, observamos um cenário agrícola cuja territorialização do capital

encontra meios de articulação em duas formas, segundo Oliveira (1999):

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- territorialização do capital: a presença das grandes empresas, fazendas, grupos

agroindustriais, ou seja, o agronegócio territorializado em propriedades rurais onde há

posse da terra, como é o caso das cidades do agronegócio (ELIAS, 2007) que assumem

papel de nós na rede, por terem serviços altamente especializados para cafeicultura;

- monopolização do território pelo capital: a presença de minifúndios e pequenas

propriedades servindo ao agronegócio, ou seja, a base do trabalho é familiar vinculada a

contratos ou cooperativas que determinam a dinâmica da produção. Essa situação é a

que melhor se apresenta na produção cafeeira do Sul/Sudoeste de Minas, o agricultor

familiar associado à produção de commodities dependendo dessa atividade para sua

reprodução econômica, mas a organização da rede cafeeira não favorece esse ator em

sua estrutura, tornando-o mais vulnerável as oscilações do mercado.

Nota ______________ 1 Revolução Verde foi um programa que tinha como objetivo explícito contribuir para o aumento da produção e da produtividade agrícola no mundo, através do desenvolvimento de experiências no campo da genética vegetal para a criação e multiplicação de sementes adequadas às condições dos diferentes solos e climas e resistentes às doenças e pragas, bem como da descoberta e aplicação de técnicas agrícolas ou tratos culturais mais modernos e eficientes. (BRUM, 1987, p.44)

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