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1 TEMPEST – O INÍCIO

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Conheça um pouquinhos dos personagens de Tempest, lançamento da Editora Jangada.

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Page 1: Bônus Tempest - O Início

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TEMPEST – O INÍCIO   

     

Page 2: Bônus Tempest - O Início

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JULIE CROSS 

        

TEMPEST – O INÍCIO                 

      

   

Page 3: Bônus Tempest - O Início

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 Título original: Tomorrow Is Today Story.   Copyright © 2011 Julie Cross. Copyright da edição brasileira © 2012 Editora Pensamento‐Cultrix. Ltda.  Texto de acordo com as novas regras ortográficas da língua portuguesa e adaptado para o português do Brasil.  1a edição 2012. 

 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou usada de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive fotocópias, gravações ou sistema de armazenamento em banco de dados, sem permissão por escrito, exceto nos casos de  trechos curtos citados em  resenhas críticas ou artigos de revistas.  

 

A  Editora  Jangada  não  se  responsabiliza  por  eventuais  mudanças  ocorridas  nos  endereços  convencionais  ou eletrônicos citados neste livro.  

Esta  é  uma  obra  de  ficção.  Todos  os  personagens,  organizações  e  acontecimentos  retratados  neste romance são produto da imaginação da autora ou usados de maneira fictícia.  

 Coordenação editorial: Denise de C. Rocha Delela e Roseli de S. Ferraz 

               

         

   

Jangada é um selo da Editora Pensamento‐Cultrix Ltda.  

Direitos reservados para o Brasil EDITORA PENSAMENTO‐CULTRIX LTDA. 

Rua Dr. Mário Vicente, 368 — 04270‐000 — São Paulo, SP  Fone: (11) 2066‐9000 — Fax: (11) 2066‐9008 

E‐mail: [email protected] http://www.editorajangada.com.br 

Foi feito o depósito legal. _______________________________________________________________ 

   

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14 de maio de 2009, 18:30.  –  Não  entendo  por  que  precisamos  preencher  isso  –  reclamou  Holly,  enquanto 

espalhava seus formulários pelo chão. Eu me aproximei dela, que estava deitada de bruços no carpete, com uma caneta na 

mão.  – Bem... O primeiro é só um punhado de perguntas sem sentido que você responde e 

depois guarda num envelope fechado, para que ninguém possa ver. – E pra que tudo isso?... – O diretor do acampamento arquiva esse  formulário e depois envia pra você por e‐

mail antes do início do próximo treinamento de monitores, para que você possa ver o quanto evoluiu em um ano. 

Ela riu e revirou os olhos. –  Ai, meu  Deus,  que  coisa mais  piegas...  Talvez  eu  deixe  as minhas  respostas  em 

branco.  – Diga apenas que a sua vida é uma tabula rasa agora – brinquei. – Hoje é o primeiro 

dia do resto da sua vida... – Adam, o que você está escrevendo? – ela perguntou. – Se eu contar, posso pôr a sua vida em perigo! – respondeu Adam, fazendo graça. Holly riu e colocou o questionário de lado. –  A  outra  tarefa  é  fazer  o  planejamento  de  atividades  da  primeira  semana  de 

acampamento?  – É  isso  aí –  respondi,  folheando os meus  formulários. –  Já  temos  a  lista de  alunos 

também, então podemos começar a decorar os nomes. – Pra quê? – perguntou Holly. – Muitas dessas crianças devem pagar alguém para ir ao 

acampamento no  lugar delas. Assim podem  ficar em casa  jogando videogame como crianças normais. 

Eu não deveria rir, visto que fui uma dessas crianças, mas não pude evitar. As piadas de Holly  sobre  crianças  ricas  tinham  sido  o  ponto  alto  dos  nossos  dois meses  de  treinamento como monitores. 

Quando ela se levantou para fazer o planejamento das suas atividades, eu aproveitei a oportunidade para falar com Adam. 

– Seu aniversário é amanhã, não é? Meus colegas de dormitório vão dar uma festa – eu disse, baixando a voz para que o convite não se espalhasse. Afinal, meu dormitório não era tão grande assim. – Sabe...  pra comemorar o final do ano. Você quer vir? Talvez a gente possa fazer mais alguns experimentos de viagem no tempo num lugar diferente. 

Um sorriso apareceu no rosto de Adam. – Maneiro!... Na verdade, já tenho algumas ideias. – Eu desconfiava... Ele passou a falar das várias ideias que tinha para possíveis experimentos e teorias que 

precisávamos comprovar. Eu ouvi por alguns minutos e depois meus olhos começaram a vagar pelo ambiente, enquanto Holly se esparramava no chão outra vez. Ela tinha colocado o cabelo louro atrás da orelha e tirado os chinelos de dedo. Memorizei o jeito como a caneta se movia com  fluidez  pela  página.  Era  quase  sexy,  o  que  era  totalmente  bizarro.  Talvez  eu  estivesse imaginando secretamente que ela estivesse rabiscando o meu nome. Mas não tenho certeza se Holly é o tipo de garota que faria isso. E não tenho certeza se eu queria que ela fosse.  

Ela deve ter me flagrado olhando, porque sua cabeça se voltou  lentamente na minha direção e suas bochechas ficaram vermelhas. 

–  Está preenchendo o  formulário piegas, não  é, Holly?  –  eu disse, para disfarçar os longos cinco minutos em que  fiquei olhando para ela. – Eu  tinha um palpite de que você  ia gostar de fazer isso. 

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Adam soltou uma risada anasalada ao meu  lado e presumi que eu estava certo. Holly na verdade não queria deixar suas respostas em branco. 

Os  olhos  dela  se  voltaram  para  a  folha, mas  eu  pude  ver  que  estava  dando  uma risadinha, e eu me peguei fazendo o mesmo. Então procurei o meu formulário entre os papéis e escrevi meu nome no topo da página. 

–  Olha  só,  Holly...  também  estou  a  fim  de  preencher  isso.  Não  precisa  ficar constrangida. 

– E eu também – acrescentou Adam. – Não vejo a hora de me encontrar com o meu eu futuro. 

Quando disse  isso, Adam e eu nos entreolhamos e começamos a rir. A  ironia era boa demais para não rirmos. 

 15 de maio de 2009, 20:30.  – Jackson! E aí, garoto? Eu me virei na direção da voz. Dois sujeitos que eu não reconheci estavam entrando no 

dormitório  que  eu  dividia  com meus  dois  colegas  de  faculdade.  Nós  tínhamos  uma  suíte espaçosa, mas ela já estava quase lotada e a noite só estava começando. 

– Ei! E aí? –cumprimentei, acenando com a cabeça para os dois desconhecidos. Atrás deles,  com um  sorriso  tímido,  vinha Adam  Silverman. Ele  ainda não  se  sentia muito  seguro para  sair  do  seu  mundinho  de  colegial  em  Nova  Jersey  e  entrar  no  mundo  das  festas universitárias  em Manhattan.  Acenei  para  ele,  com  um  sorriso.  Um  dos meus  colegas  de dormitório, Danny, tentou bloquear sua passagem. 

– Sem essa, Jackson! Nada de pivete aqui. A gente tinha combinado. – Mas ele tem 18. Está fazendo hoje. – Ah, não, cara! – Danny gemeu, jogando as mãos para cima. – Vem vindo mais gente... Demorou  um  segundo  até  que  eu  visse mais  dois  “pivetes  do  secundário”  atrás  de 

Adam. Holly Flynn entrou na sala, acompanhada por um cara alto e magro que parecia mais nervoso em estar ali do que o próprio Adam. Ele me estendeu a mão.  

– Sou David... Valeu por deixar a gente invadir a sua festa... Foi demais! – Não esquenta, cara. Legal vocês virem. A música aumentou de volume e Adam me puxou pela manga até a cozinha. – Desculpe, eles  insistiram pra vir – disse em voz baixa. – Bem, na verdade foi mais a 

Holly do que o David, mas é sempre assim com esses dois. Eu me encostei contra o balcão e olhei Holly conversando com meu vizinho. Seu cabelo 

loiro estava  solto e esvoaçante, não preso num  rabo de  cavalo como geralmente  ficava nas noites de treinamento. Ela também vestia um vestido preto justo no corpo e uma sandália de plataforma, mas mesmo assim mal chegava a bater no ombro de David.   

– Eles estão juntos? –  É,  faz mais  de  um  ano  agora.  Se  conhecem  desde  o  primeiro  ano... Quer  dizer... 

Todos nós nos conhecemos. Um ano?! Holly estava com o mesmo cara há um ano e nos dois meses que passamos 

juntos, Adam, ela e eu, isso nunca foi mencionado?  – Ok, pronto pra se divertir de verdade? – eu disse, batendo palmas. – Estou pronto, mas ainda precisamos de algumas horas... Sabe, demora pra registrar a 

cena atual e aí comparar tudo depois que você tiver conseguido informações sobre o salto. – Tudo bem. Nos trinta minutos seguintes, eu fiz o papel do anfitrião perfeito e conversei e dancei 

com duas garotas que moravam no prédio em andares diferentes e com outra garota da minha classe. Então vi Holly sozinha, encostada no balcão da cozinha. Perambulei um pouco por ali e depois me encostei do outro lado do balcão. 

– Então... onde está o Doug? 

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– David  – ela  corrigiu, e depois deu uma olhada pela  sala. – Não  sei muito bem. A última vez que eu o vi, estava com Adam. Estavam conversando sobre filmes e dando risada. 

– E por que você está aqui sozinha? Pensando em seus planos para o futuro? Ela me lançou um olhar de desaprovação, mas estava sorrindo. – Não gosto de fazer planos. – Não negue. Sei que você adora fazer planos para o futuro... – Fiz uma pausa por um 

segundo, escolhendo as palavras certas para descrever essa garota, que ainda era um mistério para mim.  – Não,  você  é mais  daquelas  que  têm  “grandes  sonhos”... Gosta  de  estabelecer metas e fazer todas aquelas bobagens dos livros de autoajuda. Aposto que tem até um diário. 

Ela desviou os olhos dos meus rapidamente e suas bochechas coraram. – Ah! Eu sabia! – Tudo bem. – Ela deu de ombros. – Tem razão... Mas, na verdade, se eu morasse aqui 

em Nova York a vida toda, acho que não teria nada sobre o que escrever. Ficaria o dia inteiro fora de casa... e, não escrevendo sobre o que planejo fazer. Pra mim, os melhores escritores são os que têm uma vida muito chata. 

Ergui as sobrancelhas.  – Boa sacada. Não tenho certeza se posso continuar zoando com você agora. Ela sorriu para mim.  – Você vai pensar num outro jeito... –  Quer  ver  algo  bem  legal?  –  perguntei,  depois  de  tomar  uma  decisão  rápida  e 

impulsiva. – Ok... Procurei  algumas  ferramentas  na  gaveta  da  cozinha  e  levei  Holly  até  a  porta, 

apontando o cabideiro para que ela pegasse o casaco. Quando estávamos no corredor vazio, com a porta da minha suíte fechada, tirei as ferramentas do bolso de trás da calça.  

– Avise se aparecer alguém. Ela deu uma olhada pelo corredor. – Não vem vindo ninguém... Aposto que não vamos tomar café ou... fazer alguma coisa 

normal... Minhas mãos congelaram no cadeado da porta que dava para o terraço. Holly queria ir 

tomar  um  café  comigo?  Será  que  eu  deveria  tê‐la  convidado  para  tomar  um  café?... Não, Jackson, ela  tem namorado! Sacudi a cabeça e me concentrei em abrir a droga do cadeado, tentando não quebrá‐lo. 

– O terraço? É para  lá que estamos  indo? – ela perguntou,  já abrindo a porta para as escadas, no segundo em que eu metia o cadeado no bolso.  

Ela  tirou  os  sapatos  altos  e  segurou‐os  embaixo  do  braço.  Eu  sorri,  adorando  seu entusiasmo declarado, e comecei a subir os degraus.   

–  Esta  é  uma  experiência  nova‐iorquina  que  você  não  pode  registrar  no  seu  diário. Principalmente porque é ilegal... Você não está com impulsos suicidas, está? 

– Hoje não. – Ela subiu os cinco lances de escada com facilidade, como se já estivesse pronta para essa aventura há muito tempo. – Acha que alguém pode pegar a gente? 

Abri a porta para ela e nós dois sentimos no rosto uma lufada de ar frio da noite.  – Se alguém nos pegar, podemos dizer que eu estava convencendo você a não pular... 

– Holly riu de mim e depois foi direto para a borda do telhado, para olhar a vista.  – Uau!... É lindo... Agora me diga para o que eu estou olhando. Eu parei ao  lado dela, evitando ao máximo olhar para o chão  lá embaixo, e apontei 

para os prédios e parques até onde conseguíamos ver. Holly ouviu tudo tão atentamente que quase me deixou nervoso... Quase. Esse não era o tipo de conversa que eu costumava ter com uma garota, mas eu não costumava mesmo conversar com garotas como Holly. 

 O tipo de garota que namora mais de um ano.  

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Então eu me  lembrei por que ela poderia estar tão  interessada nos detalhes daquela parte da cidade. Ela começaria a cursar a Universidade de Nova York dali a alguns meses... 

– Ei... Você já sabe onde vai ser o seu dormitório? Ela sorriu para mim, constrangida. – Já... Rubin Hall. –  Mas  aqueles  dormitórios  são  minúsculos...  Me  diga  pelo  menos  que  vai  ficar 

sozinha... – Com mais duas garotas... – Ela fitou um prédio do outro lado da rua. – É muito mais 

barato  do  que  o  quarto  duplo...  Eu  não  ligo  de  ficar  sem  ar‐condicionado  e  dormir  numa beliche, contanto que meu endereço não seja mais em Nova Jersey e eu tenha mais coisas pra fazer à noite do que simplesmente passear na praça, me sentar dentro do carro, beber cerveja quente e fumar um baseado. 

 Eu ri dela, e acusei‐a de estar blefando.  – Você não é o tipo de garota que fuma maconha. – Mas soou muito melhor quando acrescentei essa parte, não é? – Ela riu um pouco e 

então começou a andar pelo terraço, para olhar a cidade de outro ângulo. Depois  daquela  conversa,  percebi  que  ela  não  era  um mistério  tão  grande  assim, 

embora me  assustasse  a  ideia  de  querer  desvendá‐la. Mas  eu  não  podia  pensar  em  nada daquilo agora. Tudo o que eu podia fazer era olhar o vento soprando em seu cabelo, solto e embaraçado... E a maneira como ela estava ali, descalça e na ponta dos pés, tentando ter uma visão melhor do chão lá embaixo, com os músculos das pernas tensionados. Nada em Holly era falso. Claro, tudo isso me deixou morto de vontade de ver um pouco mais da sua pele... 

Não, não pense nisso!... Ela é amiga do Adam. – Te assusta? – ela perguntou. – O  quê? Olhar  pra  baixo?  –  Eu  dei  uma  olhada  de meio  segundo  para  o  chão  lá 

embaixo, que era tudo o que eu conseguia fazer. – Bom... é... me apavora um pouco. Prefiro olhar pra frente... ou pra cima. 

–  Não,  não  quis  dizer  isso...  Quis  dizer,  sair  de  casa. Morar  com  estranhos.  Ficar sozinho. Ter responsabilidades. 

– Ah, está se referindo a  isso. – Descansei os braços na mureta, ao  lado dela. – Sabe, eu provavelmente não sou a pessoa mais indicada pra responder essa pergunta. Quase posso ver  o  apartamento  do meu  pai  daqui. Nem  parece  que  saí  de  casa.  E  os meus  colegas  de dormitório pagam uma faxineira... Além disso, temos ar‐condicionado. 

Ela abriu um sorriso.  – Estou orgulhosa de você. É preciso coragem pra admitir isso. Eu senti que tinha chegado mais perto dela sem perceber. Pare! Ela tem namorado... É amiga do Adam... Não é pro seu bico. Meu corpo seguiu minhas instruções e recuou um pouco mais, aumentando a distância 

entre nós.  – É melhor eu descer... Ver se meus colegas não se mataram... Holly concordou e então respirou fundo.  – Só vou ficar por aqui mais uns minutinhos, ok? Eu dei a ela o cadeado que estava no meu bolso. – Claro, só coloque isso na porta quando voltar. Quando voltei para o dormitório quente, abafado e cheirando a  suor, Adam e David 

estavam na cozinha e Adam ria como louco. – Jackson! – Adam gritou alto o suficiente para que todos no prédio ouvissem, antes de 

me dar um soco no ombro. – Adivinhe só quem acabou de ganhar trezentas pratas! David cobriu a boca de Adam, por trás, e me lançou um olhar preocupado. – Foi mal... Acho que ele está um pouquinho... –  ...alegre? –  terminei,  rindo. Esse Adam menos  responsável era  como um estranho 

para mim. 

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– Hã... é – concordou Adam, sacudindo um maço de notas de dólar na frente do meu nariz. 

David soltou um suspiro e balançou a cabeça. – O  seu colega de dormitório apostou que ele não conseguia  tomar  seis garrafas de 

Red Bull sem vomitar... Foi a vez de David levar uma porrada de Adam no ombro.  – Você não achou que eu ia conseguir, hein, cara? – Adam e a cafeína não costumam se dar muito bem... – explicou David. Eu imediatamente dei um passo para trás, me afastando de Adam, só por precaução.  – O banheiro é virando ali... Preferimos não ter que limpar vômito, mas, se acontecer, 

você não seria o primeiro a vomitar aqui. Adam  levantou a mão na minha frente, revelando um óbvio tremor, depois flexionou 

os joelhos, como se estivesse se aquecendo para uma corrida. – Eu preciso comer alguma coisa... algo pra rebater a cafeína. Apontei para a cozinha. – Danny cola etiquetas azuis nas coisas dele... Não coma a comida do cara ou ele vai 

ter um infarto. – Eu nunca vi Adam assim antes... Pelo menos não tão mal. Só precisa de uma lata de 

Coca‐Cola pra  ficar acordado a noite  inteira construindo pontes de palitos de dente ou coisa parecida – explicou David, olhando Adam encher a boca com batatas fritas. – Só não sei por que a cafeína o afeta tanto... Nunca consegui entender. 

Eu entendia... ou pelo menos tinha uma teoria.  – O cérebro dele já é acelerado demais... Não acho que precise dormir muito nem em 

circunstâncias normais.   –  Só  preciso  conseguir  arrastá‐lo  pra  fora  daqui  e  conseguir  alguma  coisa  pra  ele 

comer no caminho... – Ele não está me  incomodando, se é com  isso que está preocupado... – eu disse. – 

Mais uma hora de festa e vai ter gente em muito pior estado do que Adam Silverman. – Valeu. – David desabou no braço do sofá e esfregou os olhos. – Esses dois me cansam 

às  vezes.  Juro  que  são  como  dois  animais  enjaulados,  prontos  pra  fugir  e  sair  correndo  na primeira oportunidade. 

Imaginar  Holly  como  um  animal  enjaulado  fez  surgirem  na  minha  cabeça  várias imagens que tive que me obrigar a esquecer imediatamente. 

– E você? Tem planos para o próximo semestre? Eu estava falando sério? Estava mesmo perguntando a outro cara quais os planos dele 

para o futuro? Droga! O que havia de errado comigo aquela noite? Ele coçou a nuca, parecendo tão desconfortável quanto eu.  – Hã... Vou para um instituto de ensino superior em Newark... Por ora, pelo menos. – Bem, acho que vai ser bom, então. Não vai ficar muito longe de Holly. Agora ele parecia ainda mais incomodado, então se levantou e olhou para a porta. – Falando em Holly... você sabe onde ela está? – Acho que subiu até o terraço... pra dar uma olhada na vista. Eu não sei por que preferi não mencionar que eu estava lá com ela. Não era como se 

tivesse acontecido alguma coisa. Por sorte, Holly apareceu no mesmo instante e se aproximou de David, jogando‐se sobre ele, como se estivesse muito feliz em vê‐lo. 

Ele pousou as mãos em suas bochechas. – Estava frio lá fora? Seu rosto está congelando! – Minhas mãos também. Eu só olhei por mais alguns  instantes, o suficiente para ver David segurando as mãos 

dela e soprando‐as antes de beijar sua testa. O cara era um pau‐mandado... E muito alto... Alto demais para ela.  

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Adam estava saindo da cozinha e indo para o corredor, carregando alguns pacotes de salgadinhos.  

– Cara... onde é o seu quarto? – Ah, boa  ideia. Precisamos nos  trancar no meu quarto, mas  tomando cuidado para 

não confundir certas pessoas.  – Você quer dizer não confundir as “minas” – ele disse, rindo. – Melhor não confundir 

as  garotas  com  quem  você  anda. Mal  posso  acreditar  que  elas  estão  por  aí,  na  festa,  e nenhuma ainda te deu um chute no saco. 

Eu o empurrei para dentro do meu quarto antes que ele começasse a falar alto demais. – Não faço ideia do que você está falando – eu disse. Ele desabou na minha cama.  – Certo... Não quer se incriminar... Entendi.  Eu me sentei na cadeira da minha escrivaninha, na frente de Adam. –  Estou meio  entediado.  Podemos  fazer  alguma  viagem  no  tempo  ou  coisa  assim? 

Tentar um experimento novo? – Ei... Você pode comer alguma coisa... Se empanturrar de comida... E depois voltar e 

ver se ainda está cheio. Já tentamos isso? Eu revirei os olhos. Esse não era o Adam nos seus melhores momentos. E não era só a 

cafeína.  Outra  coisa  o  estava  aborrecendo.  Geralmente,  ele  ficava  tão  focado  na  ideia  de estabelecer algum objetivo específico para mim, que ficava pensando nisso dias e dias. 

– Se é isso mesmo que você quer tentar, eu topo. – Por que não?... A gente tem que acabar fazendo um pouco de tudo. – Os olhos dele 

estavam  tão arregalados que pareciam prestes a saltar das órbitas. E ele  ficava estalando os dedos por qualquer motivo. 

Demoramos  alguns  minutos  para  tomar  nota  de  algumas  coisas,  mas  eu  não  o pressionei, porque a mania dele de estalar os dedos estava realmente me  irritando, pra não falar  do  tamborilar  do  lápis.  Tive  a  familiar  sensação  de  ser  rasgado  ao meio  quando me concentrei e saltei para uma hora atrás no tempo... 

    Eu me vi no meu quarto de novo, justamente como eu tinha planejado, porque o meu 

outro eu estava perambulando pela sala de estar, conversando com todo mundo, e eu sabia que ele não entraria no quarto  tão  cedo. Agora,  tudo o que eu  tinha que  fazer era  ir até a cozinha sem topar com o outro Jackson. 

No segundo em que entrei no corredor, dei de cara com um sujeito enorme com um copo cheio de cerveja na mão.   O cara  sem querer derrubou o copo e deixou quase  toda a cerveja cair sobre a roupa de Holly, que estava do  lado de  fora do banheiro, provavelmente esperando sua vez de entrar. 

– Ai, não! – ela gritou. – Putz, que droga... – gemeu o grandalhão. Eu  só  fiquei olhando para Holly, enquanto a  cerveja escorria pelo  seu  vestido e até 

pelo cabelo. Ela olhou pra mim, sem jeito. – Puxa... o carpete vai ficar arruinado... – Não se preocupe com isso. – Eu a levei até o meu quarto. – Tenho um banheiro aqui. 

Você não precisa pegar fila. Ela  ficou  na  frente  do  espelho  de  corpo  inteiro  pendurado  na  porta  do  banheiro  e 

começou a rir.  – Sabia que eu devia ter colocado uma muda de roupa na bolsa. – Quer alguma  coisa emprestada? – Vasculhei minhas gavetas e achei uma  calça de 

moletom velha e uma camiseta dos Arctic Monkeys. Por alguns segundos apoiei as mãos na gaveta antes de passar as roupas para ela. 

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Isso não é real... É só um salto no tempo. Eu não estou mudando o passado. O carpete manchado de fato não tinha  importância nenhuma e eu poderia deixar Holly se virar sozinha para secar o vestido, porque ela não teria nenhuma lembrança desse estranho incidente. 

– Obrigada. – Ela pegou as  roupas da minha mão e entrou no banheiro. – Não  tem tranca na porta? Tem certeza que ninguém vai entrar aqui? 

– Claro! – respondi, ainda perdido em pensamentos. Ela saiu depois de alguns minutos, secando o cabelo com uma  toalha. Eu peguei das mãos dela o vestido molhado. – Não quer que  eu mande  lavar  isso  pra  você?  Acho  que  não  vai  querer  levá‐lo  pra  casa  fedendo  a Budweiser. 

– Não  precisa  –  ela  disse, mordendo  o  lábio.  – Na  verdade...  pensando  bem...  isso eliminaria muitos possíveis problemas.  

– Não custa nada. – E o meu cabelo? Está cheirando a cerveja? Havia  alguma  coisa  em  sua  expressão  que  me  fez  pensar  que  ela  queria  que  eu 

chegasse mais  perto. Que  eu  invadisse  o  seu  espaço  pessoal, mas  sem  exagerar  no  flerte, como muitos caras fazem. Era quase pura curiosidade. 

Isso foi algo que eu senti desde o momento em que pus os olhos em Holly. Como seria beijá‐la?  E  agora  eu  podia  descobrir  isso  sem  causar  nenhuma  consequência.  Sem  que significasse alguma coisa. 

Encostei o nariz no cabelo dela e  respirei  fundo. Uma das minhas mãos se ergueu e alisou os fios dourados e ela ofegou. Isso é errado... Será que é errado? 

– Está  com um  cheiro bom... –  Eu  voltei  a me  afastar e  seus olhos encontraram os meus, arregalados e confusos, mas mantendo o olhar... Então avancei o sinal. 

Meus  lábios  tocaram  os  dela  delicadamente  a  princípio  e  depois  minhas  mãos emolduraram  seu  rosto,  atraindo‐a  mais  para  perto.  Mas  tudo  o  que  eu  queria  sentir  e saborear parecia meio insosso. Era como ir ao concerto de uma banda de rock e não conseguir enxergar o palco. Os lábios dela deveriam estar quentes, eles deveriam ter o gosto de algo... o gosto de Holly. Então por que eu não  conseguia  sentir o aroma do  seu  xampu? Eu  já  tinha percebido o aroma de melancia semanas atrás. Mas hoje, nada. 

Porque não é real. É como uma fantasia. Um devaneio.   Eu me afastei rápido e olhei para o chão.  – Desculpe, Holly...  Isso  foi... – Olhei para ela e  suspirei. – Podemos esquecer o que 

acabou de acontecer... por favor? A pergunta era mais dirigida a mim do que a ela. Eu já sabia que ela não se lembraria 

de nada quando eu  saltasse de  volta no  tempo.  E  isso me  aborrecia mais do que qualquer outra coisa. Mas mesmo assim esperei até ela concordar levemente com a cabeça antes de pôr um ponto final àquele louco experimento. 

  – E aí? Já de volta à terra dos vivos? – Adam perguntou quando fui projetado de volta à 

realidade.  – É, estou de volta. – Eu me  levantei da cadeira e andei pelo quarto por um minuto 

antes de me esticar na cama. – Eu me distraí um pouco. – Está tudo bem? Eu não conseguia olhar para ele depois do que tinha acabado de fazer com Holly.  – Em  vez de  comer  alguma  coisa... eu pensei que podia  tentar beijar...  alguém. Pra 

saber... se a sensação era diferente. – Legal. Precisamos de mais provas de que você não está alterando o futuro ao mudar 

o passado.  – Não estou e você sabe disso. – Desculpe, estou meio confuso esta noite. Eu deveria estar cooperando mais com este 

estudo científico. – Ele encostou a cabeça na parede e fechou os olhos. 

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– Ei... é seu aniversário. Você tem todo o direito de estar confuso. Sério. A gente pode repassar tudo com mais detalhes amanhã. 

– Eu preferia estar bêbado do que entupido de cafeína – ele corrigiu. – Sabe o que os meus pais me deram de aniversário? 

–  Credenciais  de  acesso  da  CIA? Um  kit  para  fazer  explosivos  em  casa?  –  brinquei, tentando amenizar o humor sombrio que não era característico de Adam. 

Ele riu e balançou a cabeça. – Uma enciclopédia. – Quem usa enciclopédias? Não é pra isso que serve a Wikipédia? – Pois é – disse Adam  com um  suspiro. – Quando  vi  todos  aqueles  livros,  tive uma 

prova instantânea de que meus pais ignoram completamente que eu nunca precisei consultar uma enciclopédia... Não  tem muito numa enciclopédia que eu  já não  tenha memorizado no ensino  fundamental. – Ele esfregou o rosto com as mãos. – Eu amo meus pais... sério... mas vivemos  em  planetas  diferentes  e  não  há  nada  que  eu  possa  fazer  pra mudar  isso.  Estou cansado de fingir. 

– É, acho que se embebedar esta noite  teria sido melhor pra você do que voltar pra casa  com  trezentas pratas no bolso – eu disse, porque era a  resposta mais honesta que eu poderia dar. 

– Provável... Eu fiquei em silêncio por vários minutos, com os olhos cravados no teto. – Por que você nunca mencionou David? – Sei lá... nunca me ocorreu, acho. – Então isso explica por que vocês dois não estão juntos? Você e Holly?... Todo mundo 

no acampamento pensava... A risada alegre de Adam me deteve. – É, David é parte da razão... mas tem outra coisa...  ela é Holly Flynn... Eu a conheço 

desde o primeiro ano... A gente via as espinhas um do outro ou os restos de comida presos no aparelho  dos  dentes.  Essas  imagens  tendem  a  ficar  gravadas  na  nossa  cabeça. Meio  que matam qualquer romance em potencial. 

Então, talvez se imaginasse Holly com o aparelho com restos de comida e defeitos em todos os lugares, eu seria capaz de parar de pensar nela e de evitar beijá‐la quando saltava no tempo? Eu não tinha certeza de que seria o suficiente. 

Talvez eu pudesse convencê‐la a dar um pé no namorado e sair comigo? Mas e depois? A batida forte na minha porta me distraiu dos meus devaneios. Abri a porta e vi Danny.  – O que foi? – O homem que acaba com as festas... – ele sussurrou. – O encarregado do dormitório 

acabou de sair... estamos chutando todo mundo pra fora antes que ele volte com o segurança. Eu contornei Danny e fui até a sala de estar. Podia ouvir os passos de Adam atrás de 

mim. A música tinha parado e metade dos convidados já tinha ido embora. – Desculpem por isso – eu disse a David e Holly, que ainda estavam sentados no sofá. 

Mas, ao verem Adam, eles pareceram mais do que prontos para fugir dali. – Tudo bem – disse David. – Holly está sempre procurando situações emocionantes em 

que possa correr riscos. Holly riu um pouco, então colocou a cabeça em seu ombro, bocejou e fechou os olhos.  – Vou tirar um cochilo.  David sacudiu os ombros de Holly.  – Não vai cair no sono aqui, não... Não vou carregar você até a estação de metrô. São 

seis quarteirões. Mas  o  jeito  como  disse  isso,  o  carinho  em  sua  voz, me  fez  imaginar  se  ele  não  a 

carregaria. Não é isso o que os namorados fazem?  E quando eles estavam prontos para ir embora, eu me peguei observando os dois um 

pouco mais de perto... Coisas como David colocando o casaco nos ombros de Holly e beijando 

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seu rosto, a maneira como ele segurou no braço de Adam para que ele conseguisse andar em linha reta e não trombasse com nada. Eu sabia que nunca  ia pôr em prática o meu plano de fazer Holly largar o namorado. Não porque achasse que ela não iria me querer, mas porque ele era melhor do que eu. Muito melhor. 

 08 de junho de 2009, 06:05.  Acordei  sobressaltado,  com  Paper  Planes,  do  M.I.A.,  soando  aos  brados  no  meu 

celular,  pela manhã.  Eu me  atrapalhei  no  escuro, mas  consegui  levar  o  telefone  ao  ouvido antes que ele parasse de tocar e fosse para o correio de voz. 

– Cara, já está acordado? – perguntou Adam. – Agora estou. –  Primeiro  dia  de  acampamento!  Pronto  para  o  trabalho,  playboy?    –  Ele  riu  ao 

telefone e eu pude ouvir outra  risada abafada no  fundo... e o barulho do  trem. Ele  já devia estar a caminho... com Holly. 

Sentei‐me, esfreguei os olhos e olhei ao redor do quarto.  – Claro... Ou pelo menos vou estar depois de um banho e um café. E vocês dois? – Holly e eu tivemos que enfrentar a primeira de muitas festas de formatura ontem. Eu 

estou de ressaca e ela está... nervosa. Eu ouvi o som de um tapa contra a pele e, em seguida, Adam disse:  – Ei! Esquece, Jackson... ela está ótima. Nem um pouco nervosa. E você? Chegou em 

casa tarde noite passada? Os eventos da noite anterior  inundaram novamente a minha cabeça enquanto eu me 

levantava para abrir a janela e deixar entrar um pouco de luz no quarto.  – Não estou no viva‐voz, estou? – perguntei. – Não. – Fiz o que você me disse – contei, baixando o tom de voz. – Vasculhar o escritório do 

meu pai, aqui em casa. – Ah! E então...? – Eu não sabia que horas ele ia voltar, então tirei um monte de fotos... Provavelmente 

umas cem... – Como você salvou as fotos? Onde está a câmera? – perguntou ele. – Relaxa, ok? Gravei  tudo num  cartão de memória que  já está na minha  carteira. E 

apaguei tudo da câmera. – Legal. – Ele soltou um suspiro. – Você usou o que eu disse pra usar? Revirei os olhos, mesmo sabendo que ele não podia me ver.  –  Não,  eu  não  usei  luvas  de  borracha.  E  se  ele  entrasse?  Eu  posso  arranjar  uma 

desculpa para estar no escritório dele, mas não para estar no escritório dele usando  luvas... Isso é um pouco mais difícil de justificar. 

Ele suspirou.  – É, acho que sim. Só que  ia ser tudo mais fácil se você não deixasse nenhum tipo de 

pista. – Esta é a minha casa, Adam. Minhas impressões digitais estão em todo lugar. – Cara, 

Adam podia ser muuuito paranoico às vezes! – Ok, ok – concordou ele. – Vou deixar você ir tomar café. Te vejo daqui a pouco. Depois que desliguei, verifiquei a minha carteira para me certificar de que tinha posto 

o cartão de memória lá dentro, e então fui para o chuveiro.  Quando  cheguei  à  ACM  uma  hora  depois,  vi  Adam  e  Holly  imediatamente.  Ambos 

estavam sendo bombardeados pelos pais que traziam os filhos para o acampamento. Adam estava certo... Holly de fato parecia nervosa. Fui até onde ela estava e bati em seu ombro.  – Bela camiseta. 

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Ela  me  deu  um  meio  sorriso  e  olhou  de  relance  a  polo  verde  dos  monitores  do acampamento, idêntica à minha.  

–  Você  sabe  que  horas  vamos  entrar  no  ônibus?  Sabe  se  eles  usam  produtos  de limpeza  químicos  nos  banheiros  do  acampamento?  –  Os  olhos  dela  desviaram‐se  para  a prancheta  em  seus braços.  – Ah!...  E  você  sabe  se os  salva‐vidas  são  certificados pela Cruz Vermelha ou pela Associação Americana do Coração? 

Eu  coloquei  a mão em  cima da prancheta dela, encobrindo  todas as anotações que tinha rabiscado pela manhã.  

– Nós vamos entrar no ônibus quando o Sr. Wellborn mandar. Peço a Deus que eles usem  produtos  químicos  para  limpar  os  banheiros.  Você  nem  vai  querer  saber  o  que  eu encontrei lá ao longo dos anos... E uma ambulância vai chegar antes que qualquer salva‐vidas tenha  tempo  de  pensar  em  usar  o  ressuscitador.  Os  paramédicos  ficam  sentados  no estacionamento o dia todo. Mas ninguém vai se afogar, Holly. 

–  É,  eu  sei  disso...  mas,  obviamente,  esses  pais  não  sabem,  porque  continuam  a perguntar um monte de  coisa que eu não  sei  responder – ela  sussurrou,  inclinando‐se para chegar mais perto e evitar que alguém ouvisse. – E então eles olham para mim como se eu fosse uma idiota. 

– Vou te contar uma coisa sobre essas pessoas – eu disse a ela, não me preocupando em sussurrar. – Elas não estão nem esperando uma resposta. Mas perguntam esse monte de bobagem porque isso faz com que se sintam importantes ou mais orgulhosas de si mesmas ou menos culpadas por deixarem os filhos com a babá 24 horas por dia, sete dias por semana. 

Ela  abriu  a  boca  para  responder, mas  uma mulher  com  um  terninho  Armani  nos interrompeu. Um menino  com  cabelo  castanho e  rosto  redondo  se escondia atrás da perna dela. 

– Você é Jackson Meyer? – Sim, sou eu. – Olhei para Holly por uma fração de segundo e disse "Fique olhando" 

sem fazer nenhum som.  – Eu sou a mãe de Hunter Bollman – disse a mulher. – Me disseram que ele está no seu 

grupo este verão. Eu chequei minha lista e encontrei o nome de Hunter no topo.  – Isso mesmo, ele está comigo. –  Não  recebi  nenhuma  informação  sobre  as  especificações  de  segurança  do 

acampamento... Vocês têm um plano de  incêndio? Um procedimento de evacuação em caso de ameaça  terrorista? E de  tempestades? E vocês não estão planejando só praticar esportes todos os dias, estão? – Os olhos dela estavam pregados em mim, como um  raio X, e  talvez decidindo  que  eu  provavelmente  não  tinha  cérebro  suficiente  para  ensinar  ao  seu  filho qualquer coisa além de chutar uma bola. – Hunter  já está muito adiantado em  leitura e sua babá  está  lhe  ensinando  duas  línguas  estrangeiras  desde  que  ele  tinha  3  anos.  Ele  é praticamente  fluente  em  francês  e  chinês.  Eu  detestaria  ver  todos  esses  estímulos  sendo desperdiçados. 

Eu me abaixei e estendi a mão para Hunter e disse, em francês, exibindo o meu melhor sotaque:  

– Bom dia... Que bom que você está no meu grupo este verão! Nós vamos nos divertir muito. 

O  menino  franziu  a  testa  e  uma  expressão  perplexa  se  estampou  em  seu  rosto. Levantei‐me e sorri para a mãe dele.  

– Eu tenho uma atividade incrível prevista para esta manhã. Vamos organizar um tipo de pega‐pega em que as crianças terão de gritar palavras em  latim para não terem que virar estátuas. 

–  Latim!  –  exclamou  a  mãe  de  Hunter,  sorrindo  para  mim.  –  Nosso  orientador acadêmico  estava me  contando  outro  dia  sobre  como  o  latim  vai  ser  enfatizado  no  curso preparatório para o SAT. 

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Preparatório para o SAT aos 8 anos de idade... parecia muito divertido . Com  isso,  fui  liberado pela mãe de Hunter e  imediatamente me virei para Holly, que 

me olhou com curiosidade e disse:  – Você nem respondeu às perguntas dela... Dei de ombros.  – Eu sei. Ela riu e pareceu relaxar um pouco.  – E você viu a cara do garoto quando falou em francês com ele?... Ele não fazia ideia do 

que você estava dizendo. Até eu entendi a parte do “bom dia” e não sei nada de francês.  –  Superfluente,  o  garoto,  hein?  –  Desta  vez,  inclinei‐me  para  chegar mais  perto  e 

sussurrar  no  ouvido  dela,  porque  os  pais  estavam  mais  próximos.    –  Você  não  pode  se intimidar com essas crianças só porque são ricas e... 

– ...praticamente de outro planeta – completou Holly. – Eu não vou responder, porque tenho que defender os iguais a mim. – Sorri para ela 

e,  em  seguida,  apontei  algumas  crianças que  estavam perto de nós.  –  Tente pensar nessas crianças como... cheeseburgers. 

– Cheeseburgers? –  É,  cheeseburgers.  Um  prato  americano  típico.  Tão  básico  quanto  a  própria  vida. 

Então pegue esse cheeseburger e dê a ele um nome fantasia. Contrate um chef mundialmente famoso para prepará‐lo numa grelha de 10 mil dólares e enfeite o prato com redemoinhos de mostarda francesa e caviar. Mas, na verdade, quando você olhar de perto, vai ver que ainda é só... 

– ...um cheeseburger – Holly terminou. – Você entendeu.  – Eu dei um  tapinha no  topo da  cabeça dela. – A maioria dessas 

crianças  não  pode  fazer metade  das  coisas  que  seus  pais  dizem  que  podem...  Elas  são  tão comuns quanto o resto de nós, mas você diz a alguém que uma criança estuda violino com o diretor da orquestra sinfônica de Nova York, que, para sustentar seu vício em drogas e  jogos de  azar,  por  acaso  dá  aulas  para  pirralhos  de  6  anos,  de  nariz  escorrendo,  e  de  repente  o garoto é um prodígio. 

– E ninguém se importa que o professor seja viciado em drogas? Eu coloquei a mão no peito, fingindo que estava chocado.  – Holly, ele é um artista!... Angústia e dor sempre acompanham esse tipo de talento. 

Todo mundo sabe disso. – Uau! – admirou‐se Holly, olhando ao redor e balançando a cabeça. – Você realmente 

coloca as coisas em perspectiva. E agora posso ter absoluta certeza de que tudo o que você diz é noventa por cento bobagem... Sabe... já que você foi uma dessas crianças. 

Ela sorriu para mim e começou a se afastar. –  Provavelmente,  uns  95  por  cento  –  gritei  para  ela,  recebendo  alguns  olhares  de 

funcionários e pais. – Ok... Pega‐pega em latim? Sério? – Adam perguntou. Eu nem tinha notado que ele estava ao meu lado agora.  – Hã... é... por que não? Você sabe  latim, certo? Talvez a gente possa ensinar alguns 

palavrões a eles. Ele levantou a mão em concha e eu passei o cartão de memória para ele. – Você ensina os palavrões e eu vou tentar manter o meu emprego... sabe, porque, ao 

contrário de você, eu não sou voluntário e preciso da grana – Adam disse, rindo. Aproximei‐me  dele  e mantive  a minha  voz  tão  baixa  quanto  possível,  com  o  olhar 

atento nas pessoas à nossa volta.  –  Então,  o  que  você  está  esperando  encontrar  nos  arquivos  do  meu  pai?  Nada 

realmente me surpreendeu, mas eu estava tão ocupado tirando fotos que não olhei nada com atenção. 

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– Sinceramente, não sei bem. Talvez não haja nenhuma pista para descobrirmos por que você é... você sabe... diferente.  

–  Jackson – disse Brook, outra monitora do acampamento, andando atrás de mim. – Como foi o encontro noite passada? 

Meu coração acelerou e imediatamente senti meus olhos se arregalando.  – Merda! – eu murmurei para Adam, que parecia totalmente confuso. A melhor  amiga de Brooks, do  acampamento de  arte ou  algo  assim... Alison...  Eu  a 

conhecera na semana anterior e Brook tinha me pedido para convidá‐la para sair, pois ela não conhecia ninguém em Nova York. 

– Ah, não! – disse Brook, balançando a cabeça. – Não brinca, Jackson! Não me admira que ela não tenha retornado as minhas ligações ontem à noite. Eu vou te matar!  

Bati a mão na testa. – Esqueci completamente... É que eu... estava ocupado com... um projeto e... Ela levantou a mão para me interromper.  – Me poupe. Eu devia saber que não ia adiantar te pedir. Adam e eu ficamos lá enquanto ela virava as costas e se preparava para sair andando. 

Eu peguei a mão dela antes que se afastasse.  – Brook... Ela tentou se desvencilhar, mas eu podia vê‐la tentando não sorrir.  –  Devo  dar  uma  desculpa  e  deixá‐lo marcar  outro  encontro  ou  prefere  continuar 

agindo como um imbecil e não sair com uma menina legal e bonita como Alison? Cocei a cabeça e vi de relance Holly do outro lado da academia.  – Hã... agir como um imbecil, eu acho. Ela suspirou.  – Pelo menos você é sincero. Adam  ainda  estava  rindo  de mim  por  ter  esquecido  o  encontro  quando  finalmente 

embarcamos no ônibus escolar  amarelo,  rumo  ao acampamento de um dia. Quando passei pelo assento de Holly, eu a vi escrevendo  furiosamente numa  folha de papel. Parei para dar uma olhada melhor e ler o título no topo da página: ESTA SOU EU, UM ANO ATRÁS. 

– Ainda preenchendo esse questionário idiota? Ela pulou no assento e olhou para mim.  – É... o sr. Wellborn vai recolhê‐los hoje.  Eu li rapidamente o alto da página enquanto ela estava ocupada respondendo à minha 

pergunta. Isso foi tudo o que eu consegui ver antes que ela cobrisse a folha com a mão: NOME: HOLLY MARIE FLYNN Data da entrevista: 8 de junho de 2009 Secundário: George Washington, em Newark, NJ, turma de 2009 Faculdade: caloura da NYU, outono de 2009 Matéria básica: Literatura Inglesa. Data de Nascimento: 7 de setembro de 1990 Idioma principal: Inglês Idioma secundário: Um espanhol muito, muito ruim  – Ainda bem que você anotou o  seu aniversário aí – eu disse,  sem vergonha de  ter 

espiado suas respostas. Se ela não queria que eu visse, não deveria preenchê‐lo ali. – Sete de setembro... engraçado... 

– O que  tem de engraçado nisso? – Ela me encarou, esperando que eu dissesse que fazíamos aniversário no mesmo dia ou algo assim. 

– Nada ... é só que... eu não sabia que... você era só... – Eu fiz a conta rapidamente de cabeça. – Três meses... e meio mais nova do que eu. 

Ela revirou os olhos.  – Por que é engraçado? Porque você é muito mais maduro? 

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Eu ri.  – Hã... bem observado. Adam acenou para mim e eu me sentei no assento ao lado dele. Ainda podia ver Holly 

enquanto ela voltava a responder às perguntas. Talvez eu preencha o meu formulário. Talvez realmente  me  transforme  em  algo  diferente  este  ano.  Tirei  o  papel  amassado  da  minha mochila e comecei a procurar uma caneta. 

– Obrigado por me lembrar – disse Adam. – Tenho que acabar de preencher isso hoje, se quiser ganhar o almoço grátis que o sr. Wellborn vai nos oferecer como suborno. 

– Almoço grátis? Ele se supera a cada ano.  O  ônibus  começou  a  andar  e  eu  encontrei  a minha  caneta  e  comecei  a  escrever. 

Realmente não sei por que ainda me preocupava em  fazer aquilo agora... não é como se eu realmente me  importasse  em  ler  as  respostas  dali  a  um  ano  ou  achasse  que  elas  seriam diferentes ou que eu seria diferente. Eu ainda estaria na faculdade... ainda moraria no mesmo lugar... ainda teria um emprego como voluntário... e eu moraria na cidade de Nova York por toda a minha vida, por isso duvido que meus lugares favoritos ou coisas desse tipo mudariam. Mas por alguma  razão, eu queria que Holly pensasse que eu era pelo menos um pouquinho melhor do que a imagem de menino rico e mimado que ela tinha de mim. Uma imagem que eu não tinha feito muito esforço para mudar, talvez porque não pudesse. 

 NOME: JACKSON ANDREW MEYER Data da entrevista: 8 de junho de 2009 Secundário: Loyola Academy, em Manhattan, turma de 2008 Faculdade: Segundo ano na NYU, outono de 2009 Matéria Básica: Poesia Francesa e Literatura Inglesa  Data de nascimento: 20 de junho de 1990 Idioma principal: Inglês Idioma  secundário:  Francês,  espanhol,  um  pouco  de  alemão  e  italiano  (banheiro, 

pizza, etc....)  

Depois do almoço, encontrei Adam sentado sozinho no laboratório de informática e o convenci a fazer uma caminhada comigo pelo acampamento. Eu adorava estar lá. Havia todas as boas  lembranças e nenhuma das ruins. E ninguém para me  lembrar de nenhuma delas. Eu só  pensava  no  que  queria  pensar  e  não  tinha  que  compartilhar  esses  pensamentos  com ninguém. 

– Onde está o seu grupo de crianças? – ele perguntou antes de entrarmos numa trilha no bosque. 

– Aulas de natação por uma hora e, em seguida, artes e ofícios. Quando terminarem, nenhuma delas nem vai lembrar quem eu sou. 

– Como vai indo a Holly? – ele perguntou. – Não sei bem... Não a vejo desde os avisos da manhã. – Parei para amarrar uma fita 

vermelha num galho de árvore. Adam apontou para a fita e eu respondi antes que ele pudesse perguntar. – É pra nossa caça ao tesouro de amanhã. O sr. Wellborn me pediu pra marcar uma trilha para as crianças seguirem. 

Caminhamos em  silêncio por  alguns minutos e uma pergunta que  só Adam poderia responder surgiu na minha cabeça. 

– Você acha que eu sou mais velho? – Como assim, mais velho? – ele pegou uma fita das que eu tinha na mão e escolheu 

uma planta para amarrá‐la. –  Isso é hera venenosa. – Ele  retirou a mão  rapidamente e eu  ri. – Cara, pensei que 

fosse você o inteligente aqui. Enfim, de volta à minha pergunta... Quero dizer, mais velho por causa de todos os saltos no tempo... Como a nossa experiência de outro dia no Central Park. Eu saltei para trás e vivi alguns minutos a mais do que você, certo? 

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– Você se sente mais velho? Eu ri.  – Que droga de pergunta é essa? Sim, eu me sinto exatamente dez dias mais velho. – Você não vai fazer 19 logo? – ele perguntou. – É, logo – eu disse, mas não tive vontade de dar mais informações do que isso. Não é 

fácil compartilhar o seu dia de aniversário com uma irmã morta. – A gente  registrou  todos os  seus minutos no passado. Posso acrescentá‐los ao  seu 

tempo  de  vida  e  dizer  quanto  deu.  Não  deve  ser mais  do  que  umas  duas  semanas.  –  Ele esperou  até  encontrar  outro  galho  que  não  fosse  de  hera  venenosa  antes  de  finalmente amarrar uma das fitas. 

– Vire à direita aqui – eu disse. – Você sabe o que eu acho mais legal nessa sua viagem no tempo? – Em comparação às viagens no tempo de outras pessoas? Você tem mais amigos com 

quem faz experimentos? Talvez a gente devesse se conhecer e tomar um drinque.  – Quer dizer, a maneira como a coisa funciona com você é um grande contraste com a 

maioria das teorias, tanto as científicas quanto as de ficção científica. Então, mesmo um gênio como Adam era influenciado por Hollywood.  – Ok, me diga, qual é a coisa mais legal sobre a minha viagem no tempo? – Bem... o dia em que você queimou o braço durante um salto... depois que caiu sobre 

o fogão ... e no final tudo acabou bem. – Então a  invencibilidade é a parte  legal? – Achei a árvore perfeita para marcar com 

outra fita e comecei a escalar o tronco para chegar a um ramo maior e mais visível. –  Veja  bem,  essa  é  a  questão...  você  não  é  realmente  invencível.  Você  tinha  uma 

cicatriz, lembra? Chegou a sentir um pouco de dor. Olhei para a mancha cor‐de‐rosa que agora quase não se via no meu antebraço.  – Mas não tanto quanto se eu tivesse me  ferido na minha base principal, como uma 

pessoa normal.  Eu pulei da árvore e aterrissei na frente de Adam. – A diminuição da dor durante o salto é semelhante à desaceleração do tempo na sua 

base principal, enquanto  você está  fora. Claro,  você está  fisicamente  aqui, mas  sabe o que estou querendo dizer. Se fica no passado durante uma hora, quando volta só se passaram sete segundos. 

– Ainda assim, seria mais legal ser completamente invencível. – Mas é estranho, não é? Você não é invencível e não volta exatamente no momento 

em que saltou. Algum tempo se passa. Mas não tanto quanto se passa no passado, durante o salto. 

Eu finalmente entendi seu raciocínio e, olhando para ele de uma perspectiva externa, vi que aquilo era muito... típico do Adam.  

– Ambos são simétricos. É por  isso que você gosta. A diminuição da dor num salto é igual à desaceleração do tempo na minha base. 

– Exatamente! Você é muito mais esperto do que pensa – disse ele. – A maioria das pessoas não acompanha meu processo de raciocínio. Nunca. 

–  Estou  acompanhando muito  bem. Basicamente,  você  está  feliz  porque  o Deus  da Viagem no Tempo tem TOC como você, e quer que tudo na vida seja simétrico. 

Ele riu.  – Bem, nem tudo. Quando chegamos ao  final da  trilha, Adam e eu mudamos de assunto e passamos a 

conversar sobre  temas mais amenos, pois havia crianças e monitores em  toda parte. Depois que o meu  intervalo  chegou  ao  fim, eu o deixei no  laboratório de  informática  e  fui para o prédio de Artes e Ofícios. 

O meu grupo já estava em fila, esperando por mim.  – Vocês se divertiram na natação? E que projeto fizeram na oficina de artes?  

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O pequeno Hunter  levantou o que parecia uma bola de papel de seda  lambuzada de cola.  

– É um vulcão. – Você precisa colocar  fezes de animal no vulcão pra ele entrar em erupção – disse 

uma  garotinha  de  óculos... Annabel,  eu me  lembrei. A  estranha. Há  sempre  uma  estranha. Todo ano. 

– Eu não acho que... – comecei a dizer ao mesmo tempo que Hunter perguntava:  – O que é fezes? E a mãe ainda dizia que o filho era brilhante... Dei um tapinha na cabeça do garoto.  – Não se preocupe. Eles vão te ensinar essa palavra no curso preparatório para o SAT. 

Eu acho que é derivada do latim. Hunter apenas olhou para mim e disse:  – Quê? Nesse momento, Holly  virou  a  esquina,  enxugando  o  suor  da  testa  com  a  barra  da 

camisa polo.  – Espere! Todo mundo pare onde está! Eu preciso contar as cabeças. Meu grupo  inteiro parou de discutir sobre matéria fecal e eu vi as dezenas de alunos 

de  segunda  e  terceira  série  de  Holly  andando  numa  fila  irregular  que  mais  parecia  um amontoado de gente. 

O  sr. Wellborn dirigia o  carrinho de  golfe que  costumava usar para  supervisionar o acampamento. Ele viu Holly e olhou para nós duas vezes antes de parar o carro bem na frente dela. 

– Senhorita Flynn... parece que está com um probleminha de organização... Lembre‐se... segurança antes de diversão... Sempre.  

O sr. Wellborn acenou para mim e Holly olhou, aborrecida, na minha direção.  –  Jackson,  a  sua  fila  parece  ótima... Mostre  a  Holly  como  você  faz  uma  contagem 

precisa de cabeças. Eu me  senti  humilhado  por  ela.  A  última  coisa  que  eu  queria  agora  era  que  Holly 

ficasse constrangida por minha causa. Mas as minhas crianças  já  tinham  feito uma  fila mais perfeita ainda, prontas para  se exibir ao nosso diretor. O  sr. Wellborn era  responsável pelo acampamento há mais de vinte anos e tinha uma grande influência sobre as crianças. 

–  Ok,  galera.  –  Estalei  os  dedos,  esperando  que  eles  se  enfileirassem  por  ordem alfabética como havíamos treinado logo pela manhã. – Vamos contar, começando pelo Hunter. 

– Um! – ele gritou. A contagem continuou até que o número 12 foi chamado. O sr. Wellborn fez um gesto 

de aprovação e, em seguida, lançou a Holly um olhar de advertência antes voltar a acelerar o carrinho. 

– Ele só está testando suas técnicas de liderança – eu disse a Holly. – Não se preocupe com isso, sério. Você devia ter visto as filas tortas nos campos de beisebol há alguns minutos. 

– Ah, meu Deus! – Holly disse, passando os olhos pelo seu grupo.  – Zoe! Zoe!... Onde ela está? 

– Eu vi a Zoe na hora do almoço – disse uma das crianças. O almoço  tinha  terminado há mais de uma hora. Holly  já estava pegando o  celular, 

parecendo totalmente em pânico. – Espere – eu disse, colocando a mão sobre o telefone dela. – Me dê cinco minutos, 

ok? Ela com certeza seria demitida se ligasse para o escritório do acampamento e dissesse 

que uma criança havia sumido.  – Ela é bem pequenininha... Tem cabelo  loiro e marias‐chiquinhas. – Holly apertou os 

olhos por um segundo. – É vermelha... A camiseta dela é vermelha e está escrito Coney Island na frente. 

– Onde vocês estavam uma hora atrás? – eu perguntei. 

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– Hã... perto da casa da árvore. Eu me virei e me sentei na grama, fingindo estudar a programação do acampamento. 

Mas  na  verdade  estava  me  preparando  para  viajar  no  tempo.  E  só  precisava  de  alguns segundos na base principal – tempo que não era nem suficiente para Holly dizer o meu nome duas vezes, então eu não precisava me esconder primeiro. 

 Quando abri os olhos novamente, havia outro grupo de crianças a uma certa distância, 

longe demais para poder me ver. Não que isso importasse aqui. Saí correndo em direção à casa da árvore e me esgueirei  sorrateiramente por  trás do grupo de Holly enquanto ela  tentava reuni‐los. A menina  com o  cabelo  loiro, marias‐chiquinhas e  camiseta vermelha esfregou os olhos e ficou para trás. Eu os segui até que eu a vi chegar à borda da floresta, onde um bando de cinco ou seis borboletas, de todas as cores imagináveis, flutuava em direção à trilha para o bosque.  

Não precisava ser gênio para descobrir o que Zoe estava prestes a fazer. Esperei mais uns dois segundos para confirmar onde ela havia se desviado do grupo e depois saltei de volta para o presente. 

Sacudi a cabeça para espantar a conhecida sensação de desorientação e fiquei de pé.  – Acho que sei onde ela está. – Como? – Holly disse, e acrescentou: – Onde? Eu não tinha certeza de como responder sem contar o meu segredo.  – Fique aqui, ok? Pode tomar conta do meu grupo um instante? Ela  parecia  desesperada, mas  não  tinha  outra  opção.  Dei  uma  corrida  através  do 

acampamento, em direção aos bosques. Afastei‐me da  trilha e ainda assim não vi a menina. Meu coração estava começando a martelar no peito e eu nem podia imaginar o quanto Holly devia estar assustada. 

Quando  estava  a  ponto  de  desistir,  organizar  uma  equipe  de  busca  e  colocar  o acampamento em estado de alerta vermelho (esse era o nosso procedimento de emergência, embora eu duvidasse que um dia ele  tivesse  sido usado), vi uma manga vermelha berrante atrás de uma árvore. 

– Zoe? Nenhuma resposta. Cruzei a trilha e empurrei alguns arbustos para tirá‐los do caminho 

e  encontrei  a  garotinha  encostada  na  árvore,  dormindo.  Eu  gemi  quando  vi  onde  uma  das pernas e parte do braço dela estavam encostados. 

–  Zoe...  acorda!  –  Sacudi  ligeiramente  seu  braço  e  a menina  arregalou  os  olhos.  – Anda... Vamos sair do bosque, ok? 

Ela balançou a cabeça e se levantou, ainda desorientada de sono. Segurei sua mão com firmeza ao  longo de caminho de volta para o prédio de Artes e Ofícios. Holly estava andando de um lado para o outro, roendo as unhas. 

– Ai, meu Deus! Onde você a encontrou? – Ela pegou a menina no colo e a abraçou como se fosse um parente perdido há muito tempo. – Você está bem, Zoe? 

Eu  já estava desconfortável com os acontecimentos da tarde e a última coisa de que precisava  era  Holly  fazendo  perguntas  ou  se  desculpando  por  cometer  erros  humanos normais. Estalei os dedos, instruindo meu grupo a fazer uma fila.  

– Bem... estamos atrasados para o nosso jogo de futebol contra o grupo da Brook. Eu te vejo mais tarde. 

Parecia que Holly queria dizer algo, mas eu não lhe dei chance.   

No caminho de volta do acampamento naquela tarde, fiquei surpreso quando Holly se sentou  no  assento  ao meu  lado  no  ônibus.  Encolhi  os  ombros  para  Adam,  que  andou  um pouco mais pelo corredor e foi para um assento diferente, junto com um dos campistas mais velhos. 

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– Então... – Holly disse, virando‐se para mim. – Aparentemente, Zoe ficou encantada com as borboletas e foi atrás delas no bosque. 

– Então foi isso? –  E,  pelo  jeito,  ela  costuma  tirar  um  cochilo  depois  do  almoço.  – Holly  encostou  a 

cabeça contra o assento, deixando escapar um suspiro enorme.  – Obrigada... por me ajudar... por evitar que eu perdesse o emprego. Isso é bem diferente de dar aulas de ginástica. Muito mais coisas podem dar errado. 

– Você vai melhorar. É só o primeiro dia, não se preocupe. Sério. – Virei a cabeça para encará‐la e dei uma boa olhada em seus olhos. Algo que eu não consegui ver de perto muitas vezes. O azul‐claro rodeado de branco. Ela parecia tão bonita e vulnerável! Eu queria congelá‐la nessa posição e olhar para ela por horas a fio, sem que parecesse estranho. 

– Eu nunca fiquei tão cansada na minha vida – ela me disse, com os olhos nos meus. – Mas acho que entendi por que você adora aquele lugar... o trabalho... mesmo que na verdade não precise dele. Houve vários momentos hoje em que parei e pensei... Puxa!... Essas crianças, provavelmente, vão se  lembrar dessa experiência mesmo daqui a dez anos. Ou talvez voltem pra casa se sentindo um pouco mais como pessoas normais.  

– É o que eu sentia – eu disse. – O acampamento era o mundo das crianças e a minha casa era o mundo dos adultos. Em casa e até na escola, eu tinha que me comportar como um adulto...  Etiqueta...  Formalidades... A  vida  era muito  formal...  E  no  acampamento  eu  podia ficar  sujo e  suado e ganhar medalhas por acertar o meu melhor amigo nos  lançamentos de balões d’água... Cantar músicas idiotas sobre sapos na lagoa... O que tem ali pra não se gostar? 

Ela sorriu.  – Seus pais eram muito rigorosos quando você era criança? – Meu pai não é  tão  ruim... é  só um pouco antiquado  com  relação a um monte de 

coisas, mas nunca teria agido como a mãe do Hunter, se é isso o que quer dizer... Ele não teria se gabado de que a babá me ensinava húngaro ou coisa assim. – Eu refleti sobre como explicar o meu pai para Holly  e  vi que, na  realidade, para  fazer  isso direito,  eu precisaria dar  a  ela detalhes do "antes" e "depois", porque ele não era o mesmo pai desde a morte da minha irmã. – Mas eu era arrastado para um monte de eventos formais. Festas de adultos, muitas delas, que geralmente são um porre para uma criança. 

Ela estudou o meu rosto por mais alguns momentos e então desviou os olhos para o banco à nossa frente.  

– Eu certamente não invejo a sua vida... Ou a dessas crianças. Não conseguia pensar em nada para dizer, então apenas  fiquei  sentado em  silêncio, 

tentando desvendar o significado daquela conversa... de Holly me discriminando daquele jeito. De  repente, me  lembrei de algo que  tinha acontecido naquele dia mais cedo. Gemi e bati a palma da mão contra a testa.  

–  Eu  esqueci  completamente  de  te  contar...  Zoe  estava  dormindo  em  cima  de  um monte de hera venenosa quando a encontrei. 

–  Ah,  não...  Coitadinha!  Vai  ficar  toda  empipocada.  –  Holly  fechou  os  olhos.  – Amanhã... vou ter que aguentar as consequências. 

Dei  uma  batidinha  no  joelho  dela  e  ela  arregalou  os  olhos,  fitando  os meus  dedos contra a sua pele. Tirei a mão rapidamente.  

– Desculpe. Eu estava me desculpando por  ter  tocado a perna dela ou por  ter me esquecido de 

contar sobre a hera venenosa? As duas coisas... acho. O  ônibus  guinchou  ao  parar  em  frente  à  ACM  e  nós  dois  saímos  em  direção  ao 

corredor. As bochechas de Holly estavam ligeiramente rosadas e seus olhos estavam baixos. Esse era o ponto em que normalmente eu passaria uma cantada na garota ou, o mais 

provável, a convidaria para sair. Eu era um bom ouvinte e prestava atenção tanto no que era dito quanto no que ficava nas entrelinhas, e sabia que ela tinha sentido alguma coisa por mim também. No entanto eu não tinha vontade nenhuma de dizer algo piegas e previsível, e não 

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queria convidá‐la para sair. Eu só queria me sentar ao lado dela no banco do ônibus um pouco mais e não pensar em mais nada. 

Mas não foi isso que aconteceu. Holly desceu do ônibus e entrou na ACM, porque ela estava escalada para trabalhar até as seis e eu estava indo para casa, a pé. 

  Por volta das  seis horas, deixei meu prédio, depois de  tomar banho e vestir  jeans e 

camiseta, e  fui para o  jogo de  softball do Clube de Robótica do meu  colega de dormitório, Danny, que tinha, não sei como, me escalado para  jogar toda segunda à noite, pelo resto do verão. Assim que atravessei a rua e digitei uma mensagem para Danny, marcando um ponto de encontro, uma camisa verde‐clara e um cabelo loiro chamaram a minha atenção. 

Eu tive que verificar duas vezes para me certificar de que era realmente ela e depois fiquei alguns segundos pensando no que faria. 

Holly  estava  deitada  sobre  uma  toalha  de  praia,  no  gramado  do  Central  Park,  em frente ao meu prédio, como se tivesse planejado esse possível encontro. Como era tão óbvio, eu sabia que ela provavelmente não tinha planejado. 

Havia  fones  em  seus  ouvidos  e  seu  cabelo  estava  esparramado  em  volta  dela, enquanto  seus  lábios  se  moviam  sem  emitir  nenhum  som,  acompanhando  a  música.  A felicidade que senti ao me sentar tão perto dela no ônibus voltou, e meus pés começaram a andar na sua direção sem a minha permissão. Eu me debrucei sobre ela, bloqueando o sol e fazendo com que abrisse os olhos. 

– Holly Flynn... você está me perseguindo? –  Este  é  o  Central  Park,  não  o  seu  quarto  –  ela  retrucou,  e  seu  rosto  ficou  todo 

vermelho novamente. Será que ela tinha planejado tudo? Provavelmente não, mas estava tão envergonhada 

que eu poderia pensar que planejou... O que poderia significar... Eu me  deixei  cair  na  grama  ao  lado  dela  e mudei  de  assunto  para  deixá‐la mais  à 

vontade.  – Você costuma vir pra cidade encontrar o Danny ou Donald... seja lá qual for o nome 

dele? Ela revirou os olhos.  – David  está  trabalhando  e  eu  estou  apenas... bem...  estou  vendo  se me  acostumo 

com isso... de morar em Nova York. –  Um  pouco  diferente  de  Jersey,  em?  –  Ok.  Ela  não  estava  me  perseguindo... 

Infelizmente.  E,  sim,  eu me  lembrava  do  nome  do  namorado  dela,  só  não  queria  que  ela soubesse. 

Eu me virei de lado para encará‐la.  –  Você  está  bem  em  frente  ao  meu  prédio.  Por  isso  a  acusação  de  estar  me 

perseguindo. Ela não  respondeu com a observação mordaz e  sarcástica que eu estava esperando. 

Em vez disso, seu rosto pareceu um pouco vago, ao olhar para mim. – Você tem covinhas... – ela murmurou, e seu rosto ficou ainda mais corado do que um 

minuto antes. – Quero dizer... Eu nunca tinha notado antes. – Tenho desde que nasci... É uma maldição. Velhinhas beliscando o meu rosto o tempo 

todo. – E, de  repente, eu estava  ansioso para  saber  tudo  sobre ela. Cada pequeno detalhe microscópico... Se isso ia me fazer gostar mais dela ou menos, eu não sabia. Tirei um dos fones do seu ouvido e coloquei‐o no meu. Liguei seu iPod antes que ela pudesse me impedir.  

– Estou morrendo de vontade de descobrir que tipo de música escuta uma verdadeira garota de Jersey. 

Era uma velha canção que eu reconheci de um episódio de Os Simpsons.  – Janis Joplin... Isso é bem típico de uma garota de Jersey. – Você é fã de Bobby Magee? – ela me perguntou, olhando o céu. 

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– Claro! Quem não é? – Eu passei para a próxima música e ouvi uma voz monótona começar a recitar as páginas de um antigo romance.  

– Dickens, eca!... Isso não se parece nem um pouco com uma garota de Jersey, Holly. Ela  pegou  a mochila  e  bateu  na minha  cabeça  com  ela, mas  estava  rindo  também. 

Deus, eu adorei o riso dela. Seu rosto inteiro ficou brilhante e curioso. E muito, muito bonito. Meus planos e pensamentos pararam. Nós estávamos no nosso mundo particular. Eu e Holly. Completamente sozinhos naquele estranho momento. Só o que eu conseguia sentir eram as folhas  de  grama  fazendo  cócegas  no meu  ouvido  e  a  forma  como  seu  corpo  permanecia imóvel, mas os músculos pareciam ansiosos para se aproximar. 

Minha boca  estava muito perto do ouvido dela e  a  voz do narrador britânico  ainda soava, então comecei a recitar o texto com ele. Era um trecho que eu tinha memorizado anos antes na escola. Ela estava completamente imóvel, ouvindo‐me com total intensidade. 

– Por que você sabe esse  livro de cor? – ela murmurou,  tão baixo que mal consegui ouvir. 

–  Por  causa  de  uma  professora  de  inglês  carrasca  do  secundário  –  eu  disse,  e acrescentei: – Quer ouvir em francês? 

– Quero – ela respondeu imediatamente. Fechei os olhos e passei a falar num idioma diferente, que era quase fácil pra mim. O 

francês  às  vezes  fluía  pelos meus  lábios mais  ritmicamente  do  que  o  inglês.  Eu me  sentia totalmente envolvido no nosso mundo particular. 

E ela também. Depois  de  alguns minutos,  senti  seus  dedos  roçarem  na  palma  da minha mão.  As 

palavras ficaram presas na minha garganta por uma fração de segundo, enquanto um arrepio se  espalhava  pelo meu  braço.  As  pontas  de  seus  dedos  se moviam,  seguindo  as  linhas  da minha mão.  Ela mal  estava me  tocando  e  ainda  assim  parecia  que  suas mãos  estavam  em todos os lugares ao mesmo tempo. 

Minha boca estava  tão perto de seu  rosto... se eu pudesse sentir sua pele contra os meus lábios só por um segundo... 

Uma sombra se projetou sobre nós dois e, em seguida, ouvi a voz de Danny, como se ele estivesse falando da outra extremidade de um túnel.  

– Cara? Você está brincando ou o quê?  Levantei‐me  da  grama,  meus  olhos  passando  de  Holly  para  o  meu  colega  de 

dormitório.  – Eu... hã... – Se distraiu? – Danny disse, sorrindo para mim. Holly se sentou e começou a enfiar as suas coisas na bolsa, obviamente acordando do 

mesmo torpor em que eu estava. Fiz uma cara de sério e olhei para Danny.  –  É...  Eu  estava  andando  por  aqui,  indo  para  os  campos  de  softball,  e  essa  garota 

agarrou meu tornozelo e me jogou no chão. Eu quase tive que quebrar sua clava. – Certo. Porque de fato a cena parecia bem violenta quando cheguei... ‐‐ disse Danny. 

– E eu poderia até apostar que você pegou uma menina qualquer, só pra fugir do jogo, se eu não reconhecesse a camiseta dela do acampamento. 

Revirei os olhos para ele e então olhei para Holly.  – Este é Danny. Ele não é um cara socialmente aceitável. – Já nos conhecemos – disse Holly. – Na sua festa. Ops. Eu tinha me esquecido. – Jackson até que está certo – explicou Danny. – Eu tenho uns problemas. Ao contrário 

dele. E eu sabia que ele estava prestes a ir além dos limites e começar a falar um monte de 

besteiras. Eu lhe dei um empurrão.  

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– Vamos jogar softballl ou o quê? – Depois de mais um empurrão, eu disse por sobre o ombro: – Até amanhã, Holly.  

Danny pareceu perceber meu humor ligeiramente melancólico.  – O que estava acontecendo ali? – Ele pôs a mão na boca e arregalou os olhos. – Ah, 

caramba!... Eu me  lembrei agora... Essa é a garota do secundário... E ela tem namorado, não tem? Cara, que rolo!  

Eu gemi e esfreguei os olhos. De repente me senti exausto demais para jogar softball. Eu não sabia o que tinha acontecido entre mim e Holly, mas o que quer que fosse, tinha me tirado um pouco do eixo. 

Nada era previsível quando eu estava perto de Holly e eu não poderia deixar de me perguntar se acontecia o mesmo com ela. E, mais importante, o que ela pensava a respeito? 

 Não perca! 

 Tempest 

 maio de 2012