boletim dia internacional da mulher 2012

14
O IEBA assinala este ano o Dia Internacional da Mulher com uma selecção de notícias da imprensa nacional, que evidencia porque continua a ser necessário chamar a atenção para a situação das mulheres em Portugal e no mundo. Aproveitamos também para contar a história deste dia. Damos ainda destaque ao Dia Europeu da Igualdade Salarial, que decorreu a 2 de Março. 8 8 8 8 DE DE DE DE MARÇO MARÇO MARÇO MARÇO DE DE DE DE 2012 2012 2012 2012 Dia Internacional da Mulher do, essa versão não é considerada verdadeira. Para os estudiosos, foi apenas mais um aconte- cimento que fortaleceu a organização feminina. De facto, o Dia Internacional da Mulher já havia sido proposto em 1910, um ano antes do incêndio, durante a II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, realizada em Copenha- gue, na Dinamarca. Clara Zetkin, militante e intelectual alemã, apresentou uma resolução para que se criasse uma “jornada especial, uma comemoração anual de mulheres”. A inspiração das trabalhadoras do outro lado do Atlântico é explícita: para Clara, elas deveriam “seguir o exemplo das companheiras americanas”. Sem data definida, mobilizações anuais pelos direitos das mulheres prosseguiram em meses distintos, em diversos países. Em 8 de Março de 1917, uma acção política das operárias russas contra a fome, contra o czar Nicolau II e contra a participação do país na Primeira Guerra Mundial precipitou os acontecimentos que desen- cadearam a revolução de Fevereiro. (continua na última página) No início do século XX, nos países mais desen- volvidos e que no último século tinham passado pela Revolução Industrial, as fábricas estavam repletas de homens, mulheres e crianças. O movimento operário reagia à exploração desen- freada organizando protestos, muitos com cunho socialista, reivindicando pelo fim do emprego infantil e por remunerações adequadas. Todavia, a igualdade entre homens e mulheres não era reclamada: por mais que as trabalhadoras argumentassem, os seus salários eram vistos como complementares ao do marido ou pai e um pedido de salários iguais parecia afectar as “exigências gerais”. Foi nesse contexto de eclo- são popular, sindical e feminista que surgiu o Dia Internacional da Mulher. Os Estados Unidos da América foram, sem dúvida, um dos palcos da luta das mulheres. Desde meados do século XIX, os operários e operárias organizavam greves para pressionar os proprietários das indústrias, principalmente as têxteis. O primeiro Dia da Mulher foi registado nos EUA a 3 de Maio de 1908. Segundo o jornal The Socialist Woman, “1500 mulheres aderiram às reivindicações por igualdade econó- mica e política no dia consagrado à causa das trabalhadoras”. No ano seguinte, a data foi oficializada pelo Partido Socialista e comemora- da em 28 de Fevereiro e, em Nova York, reuni- ram-se cerca de 3 mil pessoas em pleno centro da cidade, na ilha de Manhattan. Esta celebração foi mais um dos elementos do caldo político que culminou na greve geral dos trabalhadores e trabalhadoras do sector têxtil, na maioria mulheres jovens, em Novembro de 1909. A paralisação durou 13 semanas e provo- cou o encerramento de mais de 500 fábricas. As condições de trabalho, no entanto, não melhora- ram muito. Os proprietários destas indústrias continuaram a forçar o cumprimento de jorna- das massacrantes e, para evitar que seus empre- gados e empregadas saíssem mais cedo, alguns trancavam as portas e cobriam os relógios de parede. Em 1911, ocorreu um episódio marcante, que ficou conhecido no imaginário feminista como a consagração do Dia da Mulher: a 25 de Março, um incêndio deflagrou na Triangle Shirtwaist Company, em Nova York. Localizada nos três últimos andares de um prédio, a fábrica tinha chão e divisórias de madeira e muitos retalhos espalhados, formando um ambiente propício para que as chamas se espalhassem. A maioria dos cerca de 600 trabalhadores e trabalhadoras conseguiu escapar; porém, 146 morreram, entre eles, 125 mulheres. Estima-se que mais de 100 mil pessoas tenham participado no funeral coletivo. Até hoje, muitas organizações e movi- mentos afirmam que esta tragédia aconteceu em 1857 e, por isso, reivindicam o mês de Março como a data para comemorar a luta pelos direitos das mulheres. Como não há provas nem registos de que um evento similar tenha ocorri- Porquê o 8 de Março? A história deste dia*

Upload: ieba

Post on 03-Mar-2016

216 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Boletim Dia Internacional da Mulher 2012

TRANSCRIPT

Page 1: Boletim Dia Internacional da Mulher 2012

O IEBA assinala este ano o Dia Internacional

da Mulher com uma selecção de notícias da

imprensa nacional, que evidencia porque

continua a ser necessário chamar a atenção

para a situação das mulheres em Portugal e

no mundo. Aproveitamos também para

contar a história deste dia. Damos ainda

destaque ao Dia Europeu da Igualdade

Salarial, que decorreu a 2 de Março.

8 8 8 8 DEDEDEDE M AR ÇO M AR ÇO M AR ÇO M AR ÇO DEDEDEDE 2 0 122 0 122 0 122 0 12 Dia Internacional da Mulher do, essa versão não é considerada verdadeira. Para os estudiosos, foi apenas mais um aconte-cimento que fortaleceu a organização feminina. De facto, o Dia Internacional da Mulher já havia sido proposto em 1910, um ano antes do incêndio, durante a II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, realizada em Copenha-gue, na Dinamarca. Clara Zetkin, militante e intelectual alemã, apresentou uma resolução para que se criasse uma “jornada especial, uma comemoração anual de mulheres”. A inspiração das trabalhadoras do outro lado do Atlântico é explícita: para Clara, elas deveriam “seguir o exemplo das companheiras americanas”. Sem data definida, mobilizações anuais pelos direitos das mulheres prosseguiram em meses distintos, em diversos países. Em 8 de Março de 1917, uma acção política das operárias russas contra a fome, contra o czar Nicolau II e contra a participação do país na Primeira Guerra Mundial precipitou os acontecimentos que desen-cadearam a revolução de Fevereiro. (continua na última página) No início do século XX, nos países mais desen-volvidos e que no último século tinham passado pela Revolução Industrial, as fábricas estavam repletas de homens, mulheres e crianças. O movimento operário reagia à exploração desen-freada organizando protestos, muitos com cunho socialista, reivindicando pelo fim do emprego infantil e por remunerações adequadas. Todavia, a igualdade entre homens e mulheres não era reclamada: por mais que as trabalhadoras argumentassem, os seus salários eram vistos como complementares ao do marido ou pai e um pedido de salários iguais parecia afectar as “exigências gerais”. Foi nesse contexto de eclo-são popular, sindical e feminista que surgiu o Dia Internacional da Mulher. Os Estados Unidos da América foram, sem dúvida, um dos palcos da luta das mulheres. Desde meados do século XIX, os operários e operárias organizavam greves para pressionar os proprietários das indústrias, principalmente as têxteis. O primeiro Dia da Mulher foi registado nos EUA a 3 de Maio de 1908. Segundo o jornal The Socialist Woman, “1500 mulheres aderiram às reivindicações por igualdade econó-mica e política no dia consagrado à causa das trabalhadoras”. No ano seguinte, a data foi oficializada pelo Partido Socialista e comemora- da em 28 de Fevereiro e, em Nova York, reuni-ram-se cerca de 3 mil pessoas em pleno centro da cidade, na ilha de Manhattan. Esta celebração foi mais um dos elementos do caldo político que culminou na greve geral dos trabalhadores e trabalhadoras do sector têxtil, na maioria mulheres jovens, em Novembro de 1909. A paralisação durou 13 semanas e provo-cou o encerramento de mais de 500 fábricas. As condições de trabalho, no entanto, não melhora-ram muito. Os proprietários destas indústrias continuaram a forçar o cumprimento de jorna-das massacrantes e, para evitar que seus empre-gados e empregadas saíssem mais cedo, alguns trancavam as portas e cobriam os relógios de parede. Em 1911, ocorreu um episódio marcante, que ficou conhecido no imaginário feminista como a consagração do Dia da Mulher: a 25 de Março, um incêndio deflagrou na Triangle Shirtwaist Company, em Nova York. Localizada nos três últimos andares de um prédio, a fábrica tinha chão e divisórias de madeira e muitos retalhos espalhados, formando um ambiente propício para que as chamas se espalhassem. A maioria dos cerca de 600 trabalhadores e trabalhadoras conseguiu escapar; porém, 146 morreram, entre eles, 125 mulheres. Estima-se que mais de 100 mil pessoas tenham participado no funeral coletivo. Até hoje, muitas organizações e movi-mentos afirmam que esta tragédia aconteceu em 1857 e, por isso, reivindicam o mês de Março como a data para comemorar a luta pelos direitos das mulheres. Como não há provas nem registos de que um evento similar tenha ocorri-Porquê o 8 de Março? A história deste dia*

Page 2: Boletim Dia Internacional da Mulher 2012

Dia Internacional da Mulher

Page 3: Boletim Dia Internacional da Mulher 2012

Dia Internacional da Mulher

Page 4: Boletim Dia Internacional da Mulher 2012

Dia Internacional da Mulher

Page 5: Boletim Dia Internacional da Mulher 2012

Dia Internacional da Mulher

Page 6: Boletim Dia Internacional da Mulher 2012

Dia Internacional da Mulher

Page 7: Boletim Dia Internacional da Mulher 2012

Dia Internacional da Mulher

Page 8: Boletim Dia Internacional da Mulher 2012

Dia Internacional da Mulher

Page 9: Boletim Dia Internacional da Mulher 2012

Dia Internacional da Mulher

Page 10: Boletim Dia Internacional da Mulher 2012

Dia Europeu da Igualdade Salarial

Page 11: Boletim Dia Internacional da Mulher 2012

Dia Europeu da Igualdade Salarial http://ec.europa.eu/justice/gender-equality/gender-pay-gap/index_en.htm http://www.youtube.com/watch?v=0TEGrI5bDLA

Page 12: Boletim Dia Internacional da Mulher 2012

Fonte: Jornal de Notícias, 05-03-2012 Disparidades salariais. O que é?

Como se reflete em Portugal?

As disparidades salariais entre homens e mulheres correspondem à diferença entre a remuneração dos homens e a das mulheres, com base na diferença média do pagamento bruto à hora de todos os/as funcionários/as. Em média, as mulheres na UE ganham cerca de 17 % menos por hora do que os homens. Em Portugal, a remuneração média mensal de base recebida pelas mulheres em 2009 foi de 773,5€, e a dos homens 940,5€ (a). O que significa que a remunera-ção média das mulheres foi 82,2% da dos homens, ou, tomando como referência a remuneração feminina, verifica-se que os homens receberam 121,6% do que recebe-ram as mulheres. Se em vez das remunerações considerarmos os ganhos (b), a diferença é ainda mais sensível: os ganhos das mulheres representam, em média, 79,0% dos dos homens, ou, dito de outra forma, os dos homens representam 126,6% dos das mulheres. As disparidades salariais entre homens e mulheres existem, apesar de as mulheres registarem melhores resultados na escola e universidade do que os homens. Em média, 81 % das mulheres jovens têm habilitações literárias, pelo menos, ao nível do 12.º ano de escolaridade na UE, comparativamente a 75 % dos homens. Em Portugal, 51,5% (c) das mulheres detêm o ensino secundário, comparativamente a 48,5% dos homens. Já no que toca ao ensino superior aproximamo-nos bastante da média da UE (60%), com 58,7% de mulheres licenciadas. O impacto das disparidades salariais entre homens e mulheres significa que as mulheres têm menos rendimentos ao longo da vida, o que resulta em reformas mais baixas e risco de pobreza na terceira idade. A taxa geral de emprego de mulheres na Europa é de 63 %, contra 76 % no caso de homens na faixa etária dos 20-64. A taxa de emprego feminina em Portu-gal é de 48% contra a masculina com 59,5%. As mulheres constituem a maioria dos trabalhadores a tempo parcial da UE, com 31,5 % das mulheres a trabalhar neste regime, contra apenas 8,3 % dos homens na mesma situação. Em Portugal, considerando um valor de 4837 milhares de indivíduos empregados em 2011, temos um valor de 5,6% de homens a trabalhar a tempo parcial e 7,6% de mulheres (d). Fonte: http://www.cig.gov.pt/

Page 13: Boletim Dia Internacional da Mulher 2012

Fonte: Dinheiro Vivo, 05-03-2012 Fonte: Jornal de Notícias, 05-03-2012 Fonte: Jornal de Notícias - 05-03-2012 Fonte: Público, 06-03-2012 Fonte: Jornal de Notícias, 03-03-12

Page 14: Boletim Dia Internacional da Mulher 2012

Em 1968 um episódio marcou o movimento feminista, no Estados Unidos da América. Com o objetivo de acabar com a exploração comer-cial realizada contra as mulheres e no contex-to da realização do concurso de Miss America, em 7 de Setembro de 1968, em Atlantic City, 400 activistas do WLM - Women’s Liberation Movement organizaram um protesto que ficou conhecido por "bra-burning” ou "queima dos sutiãs". As activistas aproveitaram a realização do concurso de beleza (que era tido como uma visão arbitrária e opressiva em relação às mulheres) e colocaram no chão do espaço, sutiãs, sapatos de salto alto, sprays de laca, maquilhagens, revistas, espartilhos, cintas e outros objetos que simbolizavam a beleza feminina. Embora a ‘queima’ propriamente dita nunca tenha ocorrido, a atitude das manifestantes foi muito mobilizadora. A situação económica e política da Rússia era então insustentável. Mais de 90 mil pessoas marcharam, exigindo pão e paz. Os protestos e as greves subsequentes culminaram na queda da monarquia. Alexandra Kollontai, uma das principais dirigentes feministas da revolução de Outubro, afirmou que “o dia das operárias em 8 de Março de 1917 foi uma data memorável na história”. Em 1921, de acordo com os arquivos da Conferência Internacional das Mulheres Comu-nistas, o dia 8 de Março foi estabelecido como data oficial para o Dia Internacional da Mulher. Num desses documentos estava regista-do que “uma camarada búlgara propôs o Dia Internacional da Mulher, lembrando a iniciativa das mulheres russas”. Com as duas guerras mundiais que se segui-ram, o Dia da Mulher ficou em segundo plano. Foi apenas na década de 60 que o movimento feminista retomou com força as suas reivindi-cações e comemorações. Como resultado de todos estes protestos e movimentos sociais, em 1975 comemorou-se o Ano Internacional da Mulher e, em 1977, a ONU - Organização das Nações Unidas reco-nheceu o dia 8 de Março como Dia Internacio-nal da Mulher. Fruto de décadas de batalhas e séculos de opressão, a data, que lembra a necessária igualdade entre homens e mulheres, foi mundialmente assegurada. Cada vez mais, o Dia Internacional da Mulher Cada vez mais, o Dia Internacional da Mulher Cada vez mais, o Dia Internacional da Mulher Cada vez mais, o Dia Internacional da Mulher é um momento para reflectir sobre os pro-é um momento para reflectir sobre os pro-é um momento para reflectir sobre os pro-é um momento para reflectir sobre os pro-gressos realizados, para chamar a atenção gressos realizados, para chamar a atenção gressos realizados, para chamar a atenção gressos realizados, para chamar a atenção para a discriminação ainda existente, para para a discriminação ainda existente, para para a discriminação ainda existente, para para a discriminação ainda existente, para celebrar actos de coragem e determinação de celebrar actos de coragem e determinação de celebrar actos de coragem e determinação de celebrar actos de coragem e determinação de mulheres comuns, que desempenharam um mulheres comuns, que desempenharam um mulheres comuns, que desempenharam um mulheres comuns, que desempenharam um papel extraordinário na história dos seus papel extraordinário na história dos seus papel extraordinário na história dos seus papel extraordinário na história dos seus países e comunidadespaíses e comunidadespaíses e comunidadespaíses e comunidades.

* Texto adaptado de: - Mano, Maíra Kubík, Conquistas na luta e no luto, disponível on line em: http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/conquistas_na_luta_e_no_luto_2.html - http://www.un.org/womenwatch/feature/iwd/history.html Porquê o 8 de Março? A história deste dia* (continuação da 1ª página) Promotor: Projecto: Financiamento: Este documento foi concebido e editado pelo IEBA Centro de Iniciativas Empresariais, no âmbito do projecto SER OU NÃO SER IGUAL III, em 8 de Março de 2012. Parque Industrial Manuel Lourenço Ferreira, Lote 12 - Apartado 38 3450-232 MORTÁGUA Telf.: 231 927 470 I Fax: 231 927 472 I www.ieba.org.pt I [email protected]