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BALANÇO SOBRE A HISTÓRIA RURAL PRODUZIDA EM PORTUGAL NAS ÚLTIMAS DÉCADAS' Maria Helena da Cruz Coelho" Resumo Esta conferência apresenta um balanço da história rural portuguesa, com ênfase nas décadas posteriores à Revolução de Abril (décadas de 1970, 1980 e 1990). Para I3Uto, recupera a produção historiográfica desde o final do século XIX, para afrontar o surgimento, a partir das décadas de 1950 e 1960, de trabalhos afinados com a Escola Francesa que vão estar na raiz da renovação dos estudos agrários das décadas de 1980 e 1990. Finaliza comconsidcrllÇÕCs acerca do futuro desteseSludos em Portugal, tendo em vista as transfonnaç6es sofridas pejo seu meio rural com a União Européia e as exigências da economia contemporânea. Palavras-chave: Historiografia Rural; Portugal. Perfilho a posição de que o historiador é, no geral, um humem comprometido com ° seu tempo. Ou dito pelas palavras de Michel Certeau, recolhidas na compilação A Nova História, "quer se queira, quer não, o trabalho histórico inscreve-se no interior (c não fora) das lutas socioeconômicas e ideológicas".1 A Revolução de Abril repercutiu-se na história que se faz e fez em PortugaL Nas temáticas, nas metodologias, nas cronologias, nas interpretaçõcs. Conferênei. profcrio:a. na Aula Inaugural do Programa de Mcstrado cm Hi,t6Tia da> Socie- dades AgráIias da Unive"idade Federal Goiás, 1997 •• Professora da Faculdade de Letra< de Coimbra Hi't6ria Revista, 2( Il' ]·32, jan./jun .• 1997 7

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BALANÇO SOBRE A HISTÓRIA RURAL PRODUZIDAEM PORTUGAL NAS ÚLTIMAS DÉCADAS'

Maria Helena da Cruz Coelho"

Resumo

Esta conferência apresenta um balanço da história rural portuguesa, com ênfasenas décadas posteriores à Revolução de Abril (décadas de 1970, 1980 e 1990). ParaI3Uto, recupera a produção historiográfica desde o final do século XIX, para afrontar osurgimento, a partir das décadas de 1950 e 1960, de trabalhos afinados com a EscolaFrancesa que vão estar na raiz da renovação dos estudos agrários das décadas de 1980e 1990. Finaliza comconsidcrllÇÕCs acerca do futuro desteseSludos em Portugal, tendoem vista as transfonnaç6es sofridas pejo seu meio rural com a União Européia e asexigências da economia contemporânea.

Palavras-chave: Historiografia Rural; Portugal.

Perfilho a posição de que o historiador é, no geral, um humemcomprometido com ° seu tempo. Ou dito pelas palavras de MichelCerteau, recolhidas na compilação A Nova História, "quer se queira,quer não, o trabalho histórico inscreve-se no interior (c não fora) daslutas socioeconômicas e ideológicas".1

A Revolução de Abril repercutiu-se na história que se faz e fezem PortugaL Nas temáticas, nas metodologias, nas cronologias, nasinterpretaçõcs.

Conferênei. profcrio:a. na Aula Inaugural do Programa de Mcstrado cm Hi,t6Tia da> Socie­dades AgráIias da Unive"idade Federal d~ Goiás, 1997

•• Professora C.t~drática da Faculdade de Letra< de Coimbra

Hi't6ria Revista, 2( Il' ]·32, jan./jun.• 1997 7

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Redimensiona-se a história económica e social, caminha-se paraa história das mentalidades. entrecruza-se o saber histórico com o deoutras ciências sociais e humanas. Estende-se a investigação, com grandecandência, aos olvidados séculos XIX e XX, séculos de revoluções eamplas mutaçCies políticas e polêmicas ideológicas. Desconstroem-sevelhos mitos da história pátria.

Filha desse tempo, em que se vivia a acesa polêmica da reformaagrária, das cooperativas agrícolas, das apropriações dos baldios, é assima história rural que se produz essencialmente na dêcada de oitenta. Nelaconvergindo, igualmente, toda a experiência estrangeira, especialmentea francesa, de uma história agrciria que, de quantitativa e serial, progrediupara uma história lotai, mas modelizada geo-historicamente no espaçoregional, que se vai abrindo, sucessivamente, a temáticas cada vez maisabrangentes, sugeridas pela antropologia e sociologia históricas.

Não se trata, porêm, de um fruto novo, abrupto, inédito. Temraízes variadas. Mas adquire, sem dúvida, uma nova feição, modeladapela interação entre prescnlec passado, que sempre percorre a construçãohistórica.

A!i. raízes pode-Ias-íamos buscar em tempos mais longínquosou mais próximos. Comecemos pelos mais remotos.

Por entre finais do século passado e início deste, a par daprivilegiada história política e institucional, alguns assamos precocesde uma história cconômica e social se enlreviram.1 Assim aconteceucom as obras de Alberto Sampaio,As vilas do norte de Portugal (1905­19(8) e As póvoas marítimas (1893-1895), em que emergia aproblemática da geografia do povoamento, das formas de propriedadee de aspectos vários do mundo rural, ou, com esse oulrO livro de CosiaLobo, História da sociedat1eem POrlugal noséculoXV(I903), em queo seu autor nos dá a conhecer múltiplas facetas sociais e económicasdessa época histórica, desde a população, Da sua caracterizaçãodemográfica e social, aos pesos e medidas. preços, moeda e haveresindividuais. E mesmo um erudito historiador das instituições como foiHenrique da Gama Barros, na sua magna obra História da administraçãopública em POrlugal (1885-1922), não deixa de dedicaI cenas tomos àpopulação. à economia ou à sociedade, alé bem mais completos que osda própria administraçio, que não chegará a completar em toda a sua

8 COELHO. Maria Helena da Cruz. Ba/QllfO $Obre a MSldrill ...,alp~Idtz...

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amplitude. Por sua vez pensadores como Antônio Sérgio ou JaimeCortesão, na exposição das suas teses e na abrangência das suas sínteses,levantaram novos véus à reflexào socioeconâmica sobre a História dePortugal.-'

Mas depois destes alvores que prometiam, a máquina do EstadoNovo e os seus ideólogos repuseram como temas centrais dotravejamento histórico a formação da nacionalidade e o passado de certasinstituições medievais, a epopéia dos descobrimentos ou o movimentopatriótico da Restauração.'

Todavia, a década de 1950-1960 anuncia alguma renovação earejamento, nela se conjugando a interdisciplinaridade com oaparecimento de obras vocacionadas para diferentes temáticas ouimbuídas de novas metodologias.

Os ensinamentos de etnógrafos como Leite de Vasconcelos, defilólogos como Rodrigues Lapa e Lindley Cintra, de geógrafos comoOrlando Ribeiro~começam a não ser indiferentes aos historiadores, quelentamente se apercebem da dimensão da história como ciência humanae social e da sua íntima relação com todas as outras que giram em tornodo homem como ser social. Um destaque especial merecem os estudosdos etnólogos Jorge Dias e Fernando Galhano que dão a conhecer asalfaias agrícolas tradicionais portuguesas.h E é ainda Jorge Dias quenos oferece os estudos clássicos sobre as ancestrais tradiçõescomunitárias do Portugal transmontano, nas obras Vilarinho das Fumas,uma aldeia comunitária (l948) e Rio de Onor. Comunitarismo agro­pastori/ (1953).

A história económica, de caráter embora erudito e descritivo,emerge, de novo, na paleta dos temas historiográficos - no seguimentode historiadores como Pirenne ou Charles Verlinden, entre outros ­sobretudo nas obras de Virgínia Rau, em especial os seus trabalhossobre o comércio do sal, as feiras, mas também as sesmarias.1 E estainfluência da historiografia estrangeira patenteia-se mesmo emhistoriadores tradicionalistas como Torquato de Sousa Soares, que atentano desenvolvimento do comércio e dos burgos, ou cm Avelino de Jesusda Costa que, na sua tese de doulOramento sobre a diocese de Braga, noséculo XI, durante o bispado de D. Pedro, apresenta páginas muitoinovadoras, e ainda hoje atuais, sobre demografia, produções e rendasagrícolas pagas à Igreja.~

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Não era ainda o desejado vento da mudança. Basta lembrar queem França, na déeada de 1930-1940, depois da Grande Guerra, a históriase renovava sob a influência da ideologia marxista e do nascimento darevistaAnnales. Nascia um novo espírito de investigação que fazia apeloa outras disciplinas, da geografia à sociologia e economia, e não seconfinava ao documento escrito nem à história descritiva, mas se abríaà história-problema c à reflexão sobre as grandes crises!

Obras de Ernest Labrousse sobre o movimento dos preços e acríse económica do Antigo Regime inauguravam uma nova históriaquantitativa e serial. História que procurava compreender as estruturasda sociedade, analisando as relações de produção, rendas e salários,atentando no jogo das hierarquias sociais, abrindo-se ao coletivo dosgrupos e classes, como jogo histórico, e negando-se ao atomismo decampos específicos, em nome de uma história total e global, atravessadapor todos os principais fenômenos económicos, sociais e culturais.

Marca maior nas gerações vindouras deixou a obra de FernandBraudcl, O Mediterrâneo e o mundo mediterrânico na época de Filipe11 (1949). Inaugura-se uma geo-história, descobrindo-se a relação entreespaço e tempo e o diálogo complexo dos ritmos braudelianos da longae curta duração, do tempo muito longo da relação do homem eom omeio, do ritmo lento das civilizações e sociedades e do tempo curto doacontecimento.

Essa nova história econômica, influenciada pela escola dosAnnales e por esse mestre quc foi Braudel, surgirá, entre nós, justamentecom as obras de Magalhães Godinho, em especial A economia dosdescobrimentos henriquinos (1962) e Os descobrimentos e a economiamwJdjal (1963-71), apontando para uma análise de complexos histórico­geográficos, uma história total, privilegiando os métodos quantitativose seriais, que então renovavam a investigação histórica. Muitos serão,depois, os seus discípulos, que dinamizarão a história económica dasépocas moderna e contemporãnea.

A par deste arejamento da historiografia portuguesa, promissorde boas colheitas, não devemos esquecer o esforço de atualização nosconhecimentos que o Dicionário de História de Portugal, dirigido porJoel Serrão, e iniciado em 1961, se propunha, compilando artigostemáticos, bem atualizados, da autoria dos melhores especialistas. Emconsentâneo, sentia-se também a influência do pensamento de certos

10 COELHO. Maria Helena da Croz. Balanço sobre a hislÓru. rural produzUio...

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autores de formação marxista que desenvolviam as suas teoriasinterpretativas na análise de vários aspectos da problemática histórica,tais como Armando Castro nos seus vários volumes sobre A evo/uçiioeconómica de Portugal dos séculos Xl! a XV (1964-70); António BorgesCoelho, com as suas obras A Revolução de i383 (1965) c Comunas econcelhos(1973); ou mesmo Álvaro Cunhal com o trabalho As lutas declasses em Portugal nos fins da Idade Média (1975).

Foquemos agora mais de perto a história medieval e mesmo ahistória rural, 1IJ apresentando dois grandes mestres que formaram escolae um largo discipulado, criadores de novos corpos de mestres ediscípulos.

Oliveira Marques publica em 1962 a introdução à história daagricultura em Portugal: a questão cerealífera na idade Média, estudoque será a obra-mãe da história rural portuguesa. Aí são minuciosamenteanalisadas as condições, as áreas e os meios de produção, a circulação edistribuição interna e externa, as técnicas comerciais, a panificação, ospreços e o consumo, as crises dos séculos XIV e XV. Dois anos depoisdá à estampa A sociedade medieval portuguesa, obra muito precocepara a sua época, que desperta a sensibilidade histórica para o quotidiano,e a multidimensionalidade da vida social, desenhando nos quadros sobrea mesa, o traje, a casa, a higiene e saúde, o trabalho, ou mais íntimossobre o afeto, a crença, a cultura, as distraçõcs e a morte. Ainda nessemesmo ano de 1964 publica o seu precioso Guia do estudante de HistóriaMedieval, em que nos apresenta bibliografias temáticas, nos abre asportas de arquivos, desvendando-nos a riqueza do seu espóliodocumental, incentivo à investigação c bússola norteadora nacomplexidade dos seus meandros. Em 1965, compila alguns dos seusestudos sobre população, estratificação social, comércio e moeda, naobra Ensaios de História Medieval portuguesa, que aponta diversaspistas na abordagem da história económica e social. Finalmente, cm1972, oferece-nos uma primeira síntese atualizada da nossa Histôria dePortugal.

José Mattoso, por sua vez, afirma-se, significativamente, nocampo da historiografia portuguesa com a publicação, cm 1957, da suamonografia L 'abbaye de Pendorada des origens à ii60, modelo detantos outros trabalhos sobre casas monásticas, em que, a par da vidaespiritual c interna da comunidade, é também estudado o patrimônio da

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instituição, seu aproveitamento e modo de exploração, capítulosobrigatórios de tantas histórias rurais. Na sua tese de doutoramento,apresentada em 1968, analisa, mais abrangentemente, Le monachismeibérique el C/uny. Les monasleres du diocese de Porlo de l'an mil/e à1200, sendo aí mais significativa a novidade na temática religiosa, masonde não são, todavia, esquecidos aspectos da vida material das funções,atividades e quotidiano dos monges. Com estes dois trabalhos pioneirosarranca, com longa e pujante vida, a história monástica em Portugal. Eé justamente a partir dos mosteiros que José Mattoso, atentando nosseus fundadores e padroeiros nobres, envereda pelo caminho do estudoda nobreza, na amplitude dos seus laços de família e parentesco, riquezafundiária, poder, funções e mentalidade. Muitos serão os discipulos quese deixarão atrair por estes estudos da nobreza, nos quais a históriasocial e mental convoca os conceitos e métodos da etnologia,antropologia e sociologia, para mais amplamente redimensionar opassado de um grupo e de uma sociedade. Inevitáveis serão as inter­recorrências com a história econõmica, no desenho de uma economiasenhorial, nas suas características, funcionamento e abrangência espacial,tema igualmente de reflexão deste estudioso, que o levará depois aconfrontar um Portugal senhorial com um Portugal concelhio de umaoutra natureza, raiz e espacialidade.

Os ensinamentos destes Mestres, os eventos políticos, a aberturaao exterior e a renovação da Universidade foram fermentandolongamente na década de 1970 para dar os esperados frutos nos anos1980, mormente no campo da história rural, que será a especialidadeem que doravante nos deteremos.

Se a Revolução de Abril é de lodos conhecida, não será deesquecer que a mesma teve largas implicações no setor universitário.Recriada na déeada de 1960 a Faculdade de Letras do Porto, nascidadepois da Revolução a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas queintegra a Universidade Nova de Lisboa, e mantendo-se as clássicasFaculdades de Letras de Coimbra e Lisboa, assiste-se, em todas elas, auma lufada de ar fresco com a entrada de jovens monitores e assistentes,com a afirmação de uns quantos que nelas haviam ingressado algumtempo antes, com o retomo de professores exilados no estrangeiro, coma remodelação dos planos curriculares, com a abertura da investigação,a novas áreas, períodos e metodologias. E será justamente no âmbito

12 COELHO, M.ria Helena da Cruz. Ba/allçasabte Qhistória r~tQ/ praduzida...

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das Universidades e dos Centros de Invcstigação, ligados ao INIC, namaior parte dos casos nelas sediadus, que, num sentido de escola, commestres e discípulos, se darão os passos mais significativos na docênciae invcstigação.

A história rural afirma-se como domínio de preferência dos anos1980, com alguns antecedentes na década anterior. E recolhe todos osensinamentos que vinham da Escola Francesa, onde imperavam ostrabalhos que abordavam a temática num quadro regional - dando aconhecer o Beauvais, a Provença, a Catalunha, o Languedoc ­abandonando as grandes sínteses e o espaço nacional. É justamenteentregue na Sorbonne, em 1964, uma tese de doutoramento da autoriade Albert Silbert que particulariza o espaço de Le PortugalMédüerranéen à la fin de {'Ancien Régime," da maior importãncia nahistoriografia portuguesa, onde se analisam a Beira Baixa e o Alentejo,na dialética das suas cuituras e da criação de gado, demorando-sc nareconstituição da sociedade e do co1ctivismo agrários. Em muitos destestrahalhos da E,.o;;cola Francesa privilegia-se, então, a demografia histórica,procura-se explicar a sociedade, na longa duração, atentando na suaestruturação e fazendo emergir o papel do campesinato e o alcance dosmovimentos populares. Criam-se modelos interpretativos decrescimento-depressãu, e de recuperação-equilíhrio e prevalece umaexplicação ncomalthusiana, que põe a tónica na relação entre populaçãoc subsistência, procurando detectar os impulsos e as quebras, mesmonuma sociedade aparentemente estacionária na longa duração. EmFrança, a evolução caminhará para a permeabilização da história ruralà antropologia histórica, sociologia c outras ciências sociais, abrindo­se ao estudu da sociabilidade, dos comportamentos coletivos (violência,doença, morte, casamento, família), do costume, da cultura popular. János Estados Unidos da América se assiste a uma revitalização da históriaquantitativa, até com métodos atuais, consagrando-se uma NewEconomic Hislory.

Em Portugal prevalece, na maioria dos historiadores, a influênciada Escola Francesa. Os grandes trabalhos - sobretudo teses dedoutoramento - vão ter por base de análise ou uma instituição religiosa- as mais ricas em documentação - ou uma região. Assim, em 1979,Aurélio de Oliveira apresenta à Faculdade de Letras do Porto uma tesesobre A Abadia de Tibães-1630/S0-J813: propriedade, exploração e

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produção agricola no Vale do Cávado no Antigo Regime, onde osensinamentos da história quantitativa e serial estão ainda muito presentes,na análise de preços, produções, consumos e salários. Ainda queapresentada em França em 1980, a tese de Robert Durand incide sobrea história rural portuguesa abordandoLes campagnes porlugaises entreDouro et Tâge au Xlle e Xllle siCcles, Il nela se dando um grande relevoà espacialidade e enquadramento dos homens e aos comportamentoscoletivos. E para o período medieval não sc pode esquecer a influênciaque um historiador espanhol, como Garcia de Cortázar, teve entre nós,sobretudo a partir da sua obra metodológica, História rural medieval, opropondo um esquema de análise de base regional que percorresse asetapas da ocupação do espaço, da exploração do espaço ocupado, daordenação do poder de disposição sobre o espaço explorado e por fim arelação entre a sociedade rural e a sociedade englobante.

Na seqüência cronológica da produção historiográfica, que nãoo é menos das várias linhas de influências, apresenta-se a minha própriatese de doutoramento, defendida em 1983, versando sobre O BaixoMondego nos finais dnldade Média. 14 Perspectivada a partir de umaregião, que nos pareeeu bastante coerente e específica, no diálogo daterra com um rio e do campo com uma cidade, analisaram-se osmomentos de mais funda depressão ou de lenta recuperação quemarcaram um tempo longo de crise; caracterizou-se a economiasenhorial dominante, nos vetores da propriedade, atividades produtivas,rendas e circulação dos bens; focaram-se os diversos níveis de poder­régio, senhorial, concelhio - que a atravessaram, para finalmenteconhecermos os seus ocupantes, os camponeses, nas suas hierarquias,nos traços do seu viver quotidiano e nas suas tensões sociais.

Logo no ano seguinte Iria Gonçalves apresenta uma tese dedoutoramento igualmente sobre história rural, mas a partir do quadroinstitucional do grande mosteiro cisterciense de Alcobaça. ls Fixando­se essencialmente nos aspectos econômicos e não sociais, percorre aconstrução do domínio, a política de exploração dos bens, a gestãofinanceira e o alcance da organização senhorial daquela casa monástica.

Como que no cruzamento das problemáticas da produçãoagrícola - circulação, distribuição. comercialização e consumo dosgêneros - se centra a tese de doutoramento de Joaquim Romero deMagalhães. apresentada nesse mesmo ano de 1984 à Faculdade de

14 COELHO. Maria Helenada Cruz. Bil/afIÇosob,e a hiSIÓ,i/l ,uralp,oduzidtl...

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Economia de Coimbra, sobre O Algarve econômico, 1600_1773.16 Jáantecedida de uma obra bem pioneira para o seu tempo, primícias dodiscipulado de Magalhães Godinho, que foi a sua dissertação delicenciatura, publicada em 1970, Para o estudo do Algarve económicodurante o século XVI.

Precedendo estes trabalhos maiores ou seus contemporâneos,algumas dissertaçôcs de mestrado ou artigos e comunicações de naturezavária acompanharam o desenvolvimento de diversas facetas da históriarural. Assim eu própria, ao estudar, na minha monografia de licenciatura,defendida em 1971, O Mosteiro de Arouca do século X ao séculoXIlI, 11

não deixei de analisar o patrimônio da instituição, desde os seus modose ritmos de aquisição, os seus componentes, a exploração do domínio,bem como o meio rural envolvente. Já Ana Maria Rodrigues se voltoupara a análise de uma colegiada, estudando, para a sua dissertação demestrado, apresentada na Sorbonne em 1981, La collégiale de S. Pedrode Torres Vedras (fm XIJIe - fin XVe siecfes). Étude economique etsaciale, a constituição do seu domínio, o seu aproveitamento agrícola eas rendas dele auferidas, tema que depois particularizou em alguns outrostrabalhos. No Porto, Luís Carlos Amaral detinha-se na sua dissertaçãode mestrado, em 1987, sobre São Salvador de Grijó na segunda metadedo século XIV: estudo de gestão agrária, l~ mosteiro possuidor de fontes-aliás publicadas anteriormente pelo mesmo estudioso - que pennitiramfazer um balanço dos ingressos e gastos da instituição. São também dasua autoria alguns outros artigos sobre a propriedade imobiliária doconcelho do Porto, os prazos da câmara e do cabido portuenses ou opatrimônio fundiário da Sé de Braga, cm diferentes épocas cronológicas.

Entretanto, o espaço alentejano e o alcance do patrimônio eadministração de instituiçõcs outras, de natureza assistencial, eramanalisados na dissertação de mestrado, apresentada em Lisboa, cm 1986,pelo Dr. Bernardo Vasconcelos e Sousa sobre A propriedade dasalbergarias de Évora nos [mais da Idade Média.'~ Ainda na mesmaUniversidade Nova de Lisboa era defendida, cm 1989, outra monografiasobre uma instituição religiosa, desta vez O Mosteiro de Santa Mariada Vitória no século XV, 2" da autoria de Saul António Gomes, cm que aeconomia senhorial da casa é minuciosamente estudada em relação àcomunidade conventual, para além do enquadramento político­administrativo do meio social e humano em que se inseria. E seria longo

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enumerar tantos outros estudos destes historiadores já citados, ou demuitos outros, em que foram iluminadas particularidades de unidadesagrirolas. cul!UTaS e produções. rendas e rendimentos, efeitos de recessãono mundo rural, aspectos da contestação e resistência do campesinato edo seu viver quotidiano, ou desenharam o faciesde certas vilas e aldeiasrurais, como, entre outras, Paços de Ferreira/I Sanla Maria da Feira n eEsgueira.2J Por sua vez, em 1990, era apresentada, na Faculdade deLetras de Coimbra, uma tese de doutoramento sobre Propriedadefundiária e rendtJs da Coroa no reinado de D. Dinis: Guimarães, quetranspunha o ângulo de visão para o patrimônio régio e a sua política depovoamenlO e exploração da terra, permitindo, assim, algumascomparações com os senhorios eclesiásticos.

Importa referir que, enquanto a historiografia ponuguesaprogredia, na década de 80, por esta senda do ruralismo, abria-seigualmente ao lançamento da história urbana e à renovação domovimento e mundo concelhios. Logo muitos dos trabalhos sobre vilase cidades -Guarda, Ponte de Lima, Guimarães, Óbidos, Sintra, Aveiro,Abrantes, Tomar, Setúbal, Beja, Alenquer, Porto, Santarém _lo< nãodeixam também de desenhar a ambiência do seu termo, que éessencialmente rural, alargando-se os horizontes para a dialética que seestabelece entre a cidade e o campo para as relações que os homens dostermos estabelecem com as elites dirigentes da sede concelhia. Bomexemplo destas interdependências ecollÓmicas e sociais entre a cidadee o seu meio envolvente nos oferece Maria Ângela Rocha Beirante, nasua tese de dOl.Jloramento, apresentada em ]988, sobre Évora na IdadeMédia,1j seguida da de Ana Maria Rodrigues, defendida na Universidadedo Minho, em 1992, sobre Torres Vedras. A vilaeolermonosfinaisdaIdade Média,2l\ aqui claramente enfocando as paisagens. as atividadeseconómicas, as estruturas sociais e de poder, no abrangente quadroespacial da vila torriense e seu dilatado alfoz.

Este último trabalho é já, como referimos, dos anos 1990, osquais, pelo menos na produção científica da sua primeira metade, seapresentaram com uma continuação, se bem que inovadora em cenastemáticas, do anterior.

As monografias sobre instituiçõcs eclesiásticas, que sempreabordam os aspectos econômicos, do seu património aos seusrendimentos. a par de outras contextualizações mais de natureza social

16 COELHO. M.,i~ Helena d. Cruz. f!alon,,, sobre a hi.<ujria rural produzida...

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ou religiosa, continuam a produzir-se, quer para o período medieval,quer para o moderno. Para tempos medievos são-nos dados a conhecero mosteiro e a colegiada de Guimarães, o mosteiro de Santa Maria deOliveira, os mosteiro,s de S. Simão da Junqueira, de Santo Tirso, ou osmosteiros femininos de Celas, em Coimbra, Simide, nas suas redondezas,e Cheias de Lisboa,n que mais nos elucidam sobre a ambiência rural doEntre Douro e Minho da Beira litorânea e Estremadura. Do mestradoem História Moderna do Porto têm saído diversas teses sobre a regiãoatlântica do Entre Douro e Minho, estruturadas a partir dos mosteirosde Buste1o, Bouro, Pedroso, Paço de Sousa, Santo Tirso, Ganfei,Garvoeiro, Miranda e Grijó,28 que recortam os comportamentos agrícolasda produção e as oscilações dos rendimentos, a partir da exploração deabundantes dados quantitativos e seriais, em que é pródiga a IdadeModerna, permitindo já estudos comparados de certos conjuntosregionais nortenhos. No reverso da medalha salienta-se a posição dosrendeiros ou camponeses que detêm ou trabalham os bens dessasinstituições. Assim, por exemplo, as análises, para a época modema,dos rendeiros, enfiteutas e subenfiteutas do mosteiro de Pedroso.29

A região centro foi objeto de uma tese de doutoramento,defendida em Coimbra por Maria Margarida Sobral Neto, intitulada Oregime senhoria~ sociedade e vilÚl agrária. O mosteiro de Santa Cruze a região de Coimbra (1700-1834) (Coimbra, 1991). Nela houve umaintenção de analisar, em tempo longo, o donúnio territorial e jurisdicionaldo mosteiro crúzio, tantas vezes confrontado com outros senhores,mormente a Universidade, e sujeito a diversas conjunturas políticas,para se fixar muito particularmente na contestação anti-senhorial. Estudoque comparado com o meu próprio sobre a ambiência rural do BaixoMondego permite entrever, em tendência longa, o enraizamento de certaspráticas rurais c de alguns comportamentos do campesinato.

O patrimônio, a gestão agrária e as rendas das instituiçõeseclesiásticas, dos mosteiros às Sés, das co1egiadas às Ordens MiLitares,têm constituído, de fato, um enfoque privilegiado de análise:~' Todavia,já com uma certa representatividade vão surgindo estudos que nosrevelam o património da Coroa ou o de certos membros da farru1ia real- como o caso dos duques - e ainda da nobreza, seja na indiv~dualização

de certas fortunas pessoais, ou na globalidade de certas casas, tal como

II iMária Rcv;"la. 2( I}; 7·32. jan.ljun .• 19'>7 17

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a de Bragança, estudos estes que nos dão a conhecer o domínio, asestratégias do seu aproveitamento e as rendas dos senhores leigosYPara depois, na época contemporânea, os trabalhos se centrarem sobrea mentalidade e a ação de empresários burgueses3l e analisarem os seusníveis de fortuna e estruturas patrimoniais, que melhor se conhecempara o Alentejo.33

A conflituosidade, nas suas diversas causas - de reação àopressão senhorial ou de oposição à política e fiscalidade régias - e nassuas múltiplas manifestações ao longo dos tempos, constitui tema forteda historiografia portuguesa. As tensões e a resistência dos grupos sociaismais desprotegidos, cm tempos medievos, foram analisados porhistoriadores como Baquero Moreno, Maria José Tavares e eu própria,entre tantos outros.'" Alguns estudos deram, depois, um quadro sobre oestado de conflituosidade cm tempos filipinos e no advento daRestauração, particularizando casos, como a contestação fiscal deLamego e Porto em 1629 ou os levantamentos populares de Arcozeloem 1635, de Braga cm 1635-37, no Algarve em 1637-38, no distrito dePortalegre em 1637-38 ou cm Viana do Castelo cm 1636. Para épocasposteriores foram analisados os motins populares no tempo de D. JoãoV c os de Abrantes e Viseu em 1708 e 1710.35

Já para a época contemporânea, a tese de doutoramento, de IreneMaria de Montezuma de Carvalho Mendes Vaquinhas, apresentada àFaculdade de Letras de Coimbra, sobre Violência, jus/iça e sociedaderural. Os campos de Coimbra, Mon/emor-o-Velho e Penacova de 1858a 1918 (Coimbra, 1990), nos coloca esta questão numa mais amplaabrangência. Essencialmente através dos processos judiciais conheeem­se as tensões, os conflitos, a violência e os delitos, no âmbito de algumascomunidades rurais da região de Coimbra, na segunda metade do séculoXIX e inícios do seguinte.

Mas ainda um mais vasto cenário, purque alargado a todo opaís, nos oferece a tese de José Tengarrinha, defendida, em 1992, naFaculdade de Letras de Lisboa, sobre Movimentos populares agráriosem Portugal (1751-1825),'" em que o autor, caracterizando socioeco­nomicamente os períodos curtos que pontuaram as centúrias deSetecentos e Oitocentos, se detém sobre as diversas motivações ceoncretiz..ções dos movimentos populares que durante as mesmasocorreram.

COELHO. Mari. Hel.na da Cruz. Balanço .>obre a hiSlór;a rural proJuúda_ ..

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Têm sido mais os modernistas que nos últimos anos, em estudosvários, DOS vão revelando aspectos específicos da paisagem agrária,especialmente relacionados com a difusão de certas culluras, tal comoos ritmos de entrada e produção do milho, dito maís, vindo da AméricaJ1

ou da expansão da vinha e os ciclos do vinho, a nível do país ou emcertas zonas, como o Entre Douro e Minho, e, muito particularmente, ocaso do vinho do Douro e do Porto.:18 Aliás, neste preciso momento,está em curso um grande e interdisciplinar projeto na Faculdade de Letrasdo Porto sobre a região demarcada do Douro, que no seu u:rminus nosdará uma obra muito completa, a nível cronológico e temático, sobre acultura da vinha da regiao.lJ As culturas extintas, como o linho, têmprendido essencialmente a atenção dos antr0p6I0g0:;.411

Estreitamente relacionado com esle tema das culturas estão osmovimentos da produçao e a problemática dos preços que, tambémsobremaneira. os modernistas têm abordado, certamente pela abundânciadas fontes quantitativas e sedais. Assim, Aurélio de Oliveira colheubons índices de produção a partir das dízimas recolhidas ou estimadaspara os séculos XVII e XVIII," enquanto Virgínia Coelho analisou ospreços do azeite em Lisboa de 1626 a 1733.~l

Na dialética entre O oger e o saltus, os recursos florestais nãodeixaram de ser evidenciados, sobretudo por um investigador comoBaeta Neves, que, para além de muitos estudos, nos facultou uma edição.em seis volumes, dos documentos das chancelarias régias que dizemrespeito à História floresto/, oqüícolo e cinegél~a (lisboa, 1980-1990).Comooutros autores não deixaram de insistir oascomplementaricdadesque a caça e a pesca, da marítima à fluvial, oferecem à economia familiarou, já num alcance mais vasto, a sua projcção numa economia demercado.

Algumas macroanálises sobre a sociedade c economia agrárias.a nível local, têm continuado a produzir-se para a época moderna, asabersobrc Viscu entre 1550e 1700, sobre a área aorienle do Guadianade 1600 a 1640, sobre o conselho de Mourão no século XVII oU o deMértola no século XVIII.-J Os enquadramentos político-institucionaise socioccooomicos do mundo rural, em tendência longa, continuamtambém a despertar o interesse dos estudiosos, seja o do scnhorialismoe feudalismo,'" como depois o do liberalismo, da desamo~ização c docapitalismo ou, finalmente, o impacto do ~ lômeno da industrialização

H;';16ria R"~;';l •. 2(1): 7·]2. jan.ljun.. 1997 "

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e da Segunda Guerra Mundial na agricultura do nosso século XX.C

Pouca atenção se tem prestado às leis ou às doutrinas. Ainda assim seráde lembrar a obra de José Luis Cardoso sobre OpensamenlO econômicoem Portugal nos finais do sécu.lo XVIII, 1780-1808 (lisboa, Estampa,1989) ou o artigo "Cortes constituintes e ordinárias de 1821-23".-

É tempo de terminar este balaoço.Hoje a história rural em Portugal parece mais cultivada. a nível

do quantitativo de produções, produtividades, rendimentos e políticasde exploração agrária para as épocas moderna e contemporânea quepara a época medieval. Os antropólogos apropriaram-se do estudo dastécnicas e utensilagem agrícola. Os sociólogos penetraram no âmagodas identidades populares de cultura, ttadiçõcs. costumes e vidaquotidiana. Dai retomarem-se velhos temas, como o fez recentementeJoaquim Pais de Brito, na obra Retrato de uma aldeia com espelho.Ensaio sobre Rio de Onor (Lisboa, Dom Quixote. 1996), percorrendouma organização social de longínquo passado.

Certo é que o desenvolvimento de outros campos historiográficosda economia, como comércio e indústria, entronca muitas vezes comesta problemática, seja através doestudo dos circuitos, mercados e feiras,seja através da análise da protoindustrializaçâo ou do efeito daindustrialização no campo. A história urbana, que taDlo se desenvolveuentre nós para a época medieval. sempre nos evoca a problemática dodiálogo econõmjco e social eDlre a cidade c o seu termo, lermo que éessencialmente de feição rural e penhor do abastecimeDlO citadino.

A análise mais aprofundada dos diversos grupos sociais, dasmentalidades, ideologias e vivências ilumina-nos, por analogia oudiferença, a identidade dos camponeses, lavradores, rendeiros ou demaistrabalhadores da terra.

Igualmente a definição dos poderes locais, do senhorial aoconcelhio, eo real alcance do poder régio na periferia dão-nos a conheceros enquadfllmentosde mando que sobre os moradores das vilas e aldeiasse exerce.

Não menos o conhecimento das culturas eruditas ou populares,do grau de alfabeliz3ção dos homens, das práticas e ritos religiosos. dosritmos de trabalho, descanso ou festa nus desenham a oposição, oscontrastes ou as complemcntaricdades enne o campo c a cidade, nassuas estruturas vivenciais c mentais.

20 COEI.HO, Maria Hd.na da Cru~. Ha/aflço wbre a /'i,,6r;a roro/ pr<fl/oÚdu...

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Dizer isto é fazer uma profissão de história total, o quedefendemos, de fato, na anãlise englobante de qualquer tema, neste casoda história rural, como na relação de todos os temas com os demais, jáque o homem só se conhece, no seu todo, na complexidade emultidimensionalidade de ser social e humano.

Chamamos, por isso, avossa particular atenção para oRepertóriobibliográfico da historiografw portuguesa de 1974 a 1994 que se acabade publicar, onde se recolhem 651 autores em mais de 12.000 títulos.Aí encontrarão, consultando o índice de assuntos, as obras e artigospublicados, nestas últimas duas décadas, sobre agricultura e pesca. Masigualmente interessa percorrer a produção indexada em classes e grupossociais; patrimônio e níveis de riqueza; movimentos e conflitos sociais;patrimônio e rendas da Igreja; doutrinas e sensibilidades religiosas;formas de sociabilidade rural e urbana; atitudes perante a família,casamento e sexualidade; atitudes perante a morte; religiosidade popularou vida quotidiana, para cabalmente se dimensionar o que tem sidoproduzido sobre o mundo e a vida rural.

Era agora tempo de vos ouvir. Para conhecer o alcance dapnxl.ução historiográfica brasileira sobre esta temática e estabelecennosconfrontos. O repto fica lançado.

E para depois pensarmos o futuro destes estudos, que, de umaforma apriorística, retomando a idéia inicial do comprometimento dohistoriador com o seu tempo, me parecem mais chamativos no Brasilque em Portugal. No Brasil continua cm debate o candente problema dareforma agrária. Com ele se prendem aspectos como políticas agráriasgovernamentais, problemas de propriedade privada ou coletiva,aproveitamento ou abandono de terras, programas de cultivos ou decriação de gado e de reestruturação de tecnologias. É um presenteperpassado de ruralidade a desafiar os estudos desta problemática nopassado. É um capítulo do futuro da economia brasileira a exigir oenraizamento da sua identidade no hoje e, mais longe, no ontem.

Em Portugal, país periférico, "jangada de pedra" quase adesprender-se da Europa, a problemática é toda uma outra, sob o impactodas diretrizes da política comunitária. Esta manda libertar gente do setorprimário para o investir no secundário e terciário. Requer que a pequenaagricultura, que nos caracteriza, se modernize. Exige que certas culturasdesapareçam, como algumas espécies de vinhas, que se diminua a

H i,loria R.visla. 2( I J' 7".\2. ian./jun., t <)<)7 21

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produção de certos produtos hortícolas e frutícolas, que se melhore aqualidade de outros. Mas Portugal agüenta mal a competitividade deuma produção em larga escala e mecanizada como a de certos paíseseuropeus mediterrânicos, ou mesmo a do norte da África. A agriculturaregride e o desemprego aumenta, até porque a indústria e os serviçosnão se desenvolvem em ritmo de absorção. Menos ainda progride oturismo que poderia revivificar certas aldeias, como museus vivos dopassado, ou dinamizar uma política interna de lazer, que igualmentereanimaria a vida no campo, como espaço de descanso e ocupação dostempos livres. E assim Portugal pode estar a cumprir políticascomunitárias, destruindo parte da sua identidade, quando em algunspaíses europeus se pensa já em retornar ao que nós ainda temos.

As palavras de Boaventura de Sousa Santos, num dos trabalhosque integram a sua recente obra, Pela mão de Alice. O social e o políti­co na pós·modernidade (Porto, Afrontamento, 1994), parecem-nos, aeste título, clarividentes. Passaremos a citar (p. 60-1):

A pequena agricultura familiar portuguosa não se modernizou comoa européia (mecanização, quimificação, gestão, comercialização),pelo que é freqüentemcntc considerada como pré-moderna,subsistindo através de complexas articulações com a agricultura ea indústria modernas. Mas esta codificação como pré-moderna éela própria instãvel e abcrta a outras codificações. A sobreproduçáo,a dcdicação exclusiva e a degradação do meio ambiente quecaractcrizam a agricultura modcrna têm vindo ultimamente a serqucstionadas, c a tal ponto que já se fala dc uma crise final destemodelo dc agricultura. Com acrise daagricultura modema, o déficitdc modernidade da agricultura familiar portuguesa tende a atenuar­se. Aliás, a vingar a posição dos ecologistas, é bem possível queeste modelo agrícola seja transcodifkado c, de pré-moderno, passea ser pós-moderno pelas combinações práticas c simbólicas queproporciona entre o eeonômico e o social, entre o produtivo e oecológico, entre ritmos mecânicos c ritmos cíelicos. Curiosamenteestá na nossa condição semiperift:rica (que inclui políticos egovernos semiperiféricos) destruir este modelo por exigência malgerida da integração na UE no preciso momento em que ele ganhacredibilidade entre grupos emergentes cada vez mais numerosos.mas por enquanto sem poder para innuenciar decisivamente apolílica européia. Um dia lcremos paleticamenle de inventar,

22 COELHO. Maria Ild.". d. C",z. Balo",o sobre o hislór;a rural produzida...

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scmpr<: com atraso, o que já tivemos quando éramos "atrasados".Tal (:omo aconlLx:t hoje eum {} fomento da língua portuguesa ntl:'países por ondc andou o império elou a emigração.

Intcrpelante análise sem dúvida. Mas por ora oque veml'6 entrenós é essa de!>1ruiçàoda agriculturd lradicional. na ânsia dodito progres..~l

e competitividade. Os valores da cidade e do urbano sâo omniprcsentc...,O campo na sua fauna, flor. e costumes já só quase é conhecido emmuseus, jardins zoológicos. re<:olhas visuais ou sonoras. O mundo rurdlmitifica-se, E nesta transfigumção poderá residir, justamentc. um novoélan para os estudos de histôria rural.

Assim. um professor francês, Gabriel Audisio. decidiu-se aescrever a obra Des paysans XVe-XfXe siede. publicada em 1993 (Paris,Armand Colin), para dar precisamente a conhecer aos jovens urbanosdos finais do século e inícios do século XXI, esse mundo nutro da terra,sincronicamente ritmado pelo movimento das estaçôcs c pela luz diurna,em que a tirania da natureza era quase total, em que as fortunasassentavam na terra, a especulação era fundiária e a cultura agrária, E,ao abrir, li. obra refere uma visita de estudo realizada com alunos seus aum museu de província, onde, perante as alfaias de certas profissõcs.surgiram as perguntas que patenteavam um desconhecimento total deprofissões como as de carpintciro de carros ou mesmo de sapalciw.Igualmente nos dá conla de uma sondagem ecológica realizada pelohebdomadário Marie-Claire, em que no tolal de 10 perguntas banais.como, a título de exemplo. de onde vêm as azeitonas, ou a carne que secome é de boi ou de vaca. s6 15% dos franceses responderamcorretamcnte a 5 perguntas.

O mundo do campo e dos camponeses tomou-se em definitivo,passado. A história rural é então mais difícil de ensinar, exigindo osmais pequenos esclarecimentos sobre objelos, funções eoomportamenlQ.que a nós, ainda um pouco conhecedores desse Icmpo, se nos afiguramcomo dados adquiridos. Mas exalamcnle na medida em que esse mun­do se afasIa dos homens de hoje. tornando..o desconhecido. sobre: elecajrá o véu do mistério e do fascfnio. E por essa via a atração da suadescoberta.

Corroborar-sc-ão, assim, as palavras de Joseph Goy, ao terminaro balanço do tema história rural para a Nova História: "no cruzamento

Hlslórla Revista, 2(1): 7-32,jan./jun.. 1997 23

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da ecologia, do passadismo c do regionalismo. la história rural]permanecerá como um dos melhores veículos do mito das nossasorigens".

Abstract

Thisconferençe prcsents a survcy oClhc rulSl portugucst his.l<X)' pfincipaJlyin lhe Ihrce elCQ(\es following IheR~uçdodt'Abrif(1970,1980e 1990).11lc lUlhorresumes ali lhe historiographie prodUClion since lhe cnd ofthe ninelccnlh <:enlury liIIlllc deçadcs of 1950 anel 1%0. ln lhoS\: rears lhe influcnce of lhe flcnctl School waslhe lurning POlnl lO lhe rcncwal of lhe subsequent agrarian sludies ln Portugal. ln thefinal scelioo lhe aUlhor jXlints oU! lO lhe rural changes duc to lhe Europcan Union andIIle cxigences oC lhe conlemporanetlus economy.

Key-wolds: Agrafian hisl.ori0&Tllphy; Portugal.

Notas

1 J. L:: Goff. (org.). A nova História. Usboa: Setenta. 1978. p. 34.2 Para um enquadramento global e maiores precisões bibliográficas

remelemos para a nossa síntese hisl:oriográfica. A História Medievalponugucsa -caminhos pcrcxmidose a percorrer. ln: MediasAetas.Boletim doNlklto tU HistóriLl Mediel.'rJl: Univer$idtJdt dosAçore$,Lisboa: Ponta Delgada, 1990, v. I, p. 1·17 e, ainda, "Historiografiana Idade Média". ln: Portugal Moderno. Artes e Letras. Lisboa:Pomo, 1992, p. 192-5.

3 Destaque para os trabalhos de António Sérgio: Breve interpretaçãoda HiJtória de Portugal.üsboa, 1972 (editada uma primeira versãoem espanhol em 1929); Introdução g~ográfico-socjológica àHistáriLl de PONugal, s. e., lisboa, 1973 (L ed. em 1929) e deConesão. Jaime. Os fatores democráticos na fonnaçjo de Portugal.ln: Obrascomplelas. Lisboa, 1964 (1. cd. em 1930), L I.

4 Leia-se a este propósito O balanço de Miriam Halpern, Pereira,Breves reflexões acerca da historiografia portuguesa no século XX.Ler História. Lisboa: Teorema, 1991. n. 21. p. 5·15. Aliás todoeste volume da revisla Ler História, inlilulado A Historiogra[UJPortuguesa Hoj~, se dedica a sínteses sobre a historiografiacontemporânea.

24 COBUlO, Maria Helou di. Cruz. Baltlnç"sobr. a i1isI6'ôa ,u,at prodwzlda...

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5 A exemplo, as obras de José Leite de Vasconcelos. Etnografiaportuguesa. Temame de sistematização. 9 vais., Lisboa, 1933-1980;Manuel Rodrigues Lapa. Cantigas d'escarnio e de mal dizer doscancioneiros medievais galego-portugueses, 2. cd. Lisboa, 1970(1. cd. em 1965); Luís Filipe lindley Cintra, A linguagem dosforos de Castelo Rodrigo. Seu confromo com os foros deAlfaiates,Castelo Bom, Castelo Melhor, Cória, Cáceres e Usagre.COnlrirnliçào para o esludo do leonês e do galego-português noséculo XIIl, rced., Lisboa, 1984 (L ed. em 1959) e Crânica Geralde Espanha de 1344, rced., 3 v., Lisboa, 1983 (1. ed. de 1951-61);Ribeiro, Orlando, Portugal, O Mediterróneoe oAtlântico. Esboçode relações geográficas, 4. cd. Lisboa, 1986 (I. cd. de 1945).

6 Como amostra saliente-se o esludo de Dias Jorge, Os aradosportugueses e suas prováveis origens, Coimbra, 1948 c o dcFcrnando Galhano, Enxadas e saehos. ln: Trabalhos deAntropologia e Etnologia. Porto, v.14, 1953-1954.

7 Virgínia Rau,A exploraçiio e o comércio do sal de Setuba/. Estudosde História Económica. v. 1. Lisboa, 1982 (1. cd. em 1943);Sesmarias medievais porluguesas, 2. ed., Lisboa, }982 (I. cd. cm1946).

8 Torquato de Sousa Soares. Les bourgs dans le nord·cst de laPéninsule Ibérique. Conlrihulion à I'étude des origines desinslitutions urbaines cn Espagne ct au Portugal. Bullelin des ttudesPorlugaises. Lisboa, v. 9, n. 2, 1943, p. 5-15. Avelino de JesusCosta. O bispo D. Pedro e a organização da diocese de Braga, 2v. Coimbra, 1959.

9 Leia-se a este propósito a entrada de Joseph Goy, Rnrale (Histoire).ln: Le Goff, J.; Chanicr, R.; Revel J. (diL). La nouvelle histoire.1978. As diversas obras francesas a que nos reportaremos aí seencontram devidamente idcmificadas.

10 Uma síntese da historiografia portuguesa sobre a ruralidade se podever em Armando Luís de Carvalho Homem. Amélia AguiarAndrade. Luís Carlos Amaral. Por onde vem o mcdicvismo emPortugal? scp. da Revista de História Econ6mica e Social, Lisboa,n. 22. 1988, sobretudo as páginas 122-7.

11 Albert Silben. Le Portugal Médilerranéen à la fin de I'AncienRégime, XVIllE-dêbut du XIXe siecle. Contriburion à l'histoireagraire comparee, 2. cd. Lisboa: INIC, 1978. 3 v.

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12 Publicada depois cm Paris, Fundação Calouste Gulbenkian, Cen­tro Cultural Ponuguês, 1982.

13 Trad. port., Lisboa: Editorial Eslampa, 1983.14 Publicada em 2. edição em Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da

Moeda, 1989.2 v.15 Publicada sob o lílUlo O patrimÔllio do mosteiro de Alcobaça nos

.~éculosXIV e XV. Usboa: Universidade Nova, Faculdade de Ci­ências Sociais e Humanas, 1989.

16 Publicada depois em Lisboa: Editorial Eslampa, 1988.17 Publicada cm Coimbra: Centro de História da Universidade, 1977

e depois em 2. edição, Arouca: Câmara Municipal, 1988.18 Publicada cm Lisboa: Edições Cosmos, 1994.19 Publicada em Lisboa: Instituto Nacional de Investigação Científi­

ca, 1990.20 Publicado pclo Inslitulo de Hislória da Arte da Faculdade de Le­

tras da Universidade de Coimbra, em 1990_21 José Mattoso, Amélia Aguiar Andrade, Luís K.rus. "Paços de

Ferreira na Idade Média: uma sociedade e uma economia agrá­ria", sep. de Paços de Ferreira: Estudos Monográficos. Paços deFerreira: Câmata Municipal, 1986.

22 José Maltoso. luís Krus, Amélia Aguiar Andrade. O Castelo daFeira. A Terra de Sama Maria nos séculos Xl a XII. Lisboa: Es­lampa, 1980, e A terra de Soma Maria no século XIII: problemase documentos. Feira: Comissão de Vigilância do Castelo de SantaMaria, 1993.

23 Maria João VioJante Branco Marques. Esgueira: a vida de umaaldeia do século XV. Tese de mestrado defendida cm 1990 c de­pois publicada em Redondo, Patrimonia, 1994.

24 Rita Costa Gomes. A Guarda Medieval: posição, morfologia esociedade (1200-1500). üsboa: Sá da COSIa, 1987; Amélia AguiarAndrade. Um espaço urbano medieval: Ponte de Lima. Lisboa:livros Horizonle, 1990; Maria da Conceição Falcào Ferreira. Umarua de elite na Guimarães medieval: 1376-1520, Guimarães: Câ­mara Municipal, 1989; Manuela Santos Silva, Óbidos medieval:estruturas urbanas e administração concelhia. Lisboa, 1987(policopiada); Sérgio CaNalho. A vila de Sinlra 1WS séculos XIV eXV, Lisboa, 1988(policopiada); Maria João Violante Branco Mar-

16 COELHO. M"ia Helena da Crul. Balanço .<obre" hislória Turol produzido...

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ques da Silva.A veiro Medieval, Aveiro: Câmara Municipal. 1991:Hermínia Vasconcelos Vilar. Abranles medieval: 1300-1500,Abranles: Câmara Municipal. 1988; Manuel Sílvio Alves Conde.Tomar medieval.· o espaço e o:.. homens. séculos XlV·XV, Cascai~,

1996; Paulo Drumond Braga. Setúbal medieval, Lisboa, 199)(policopiada); Hermenegildo Fernandes. Organizaçiiu do espaçoesistema social noAlemejomedievo: ocusode Beja, Lisboa. 1991(policopiada); João Pedro ferro. Alenquer medieval (séculos Xll·XV). Subsídios para o seu estudo. Cascais: Patrimonia. 1996; His­tôria do Parlo. Luís de Oliveira Ramos (dir.). Porto, 1994; MariaÂngela Beitanle. Santarém Medieval, Lisboa: Universidade Novade Lisboa, 1980; Santarém Quinhentista. Lisboa, 1981. Scrâ ain­da frutuoso consultar a obra Atlas de Cidades Medievais Portu­guesas, org. por A. H. de Oliveira Marques, Iria Gonçalves eAmélia Aguiar Andrade, Lisboa: Centro de Estudo~ Históricos daUniversidade Nova de üsboa. 1990.

25 Publicada, em üsboa, pela Fundação Calouste Gutbenkian c pelaJunta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica em 1995.

26 Publicada. cm Lisboa, pela Fundação Calouste Gulbckian e InSli­luto Nacional de Investigação CieOlífica, em 1995.

27 Claúdia Maria Navais Toriz da Silva. O mosteiro e a colegiada deGuimarães (ca 950-1250). Porto, 1991 (tese de mestradopolicopiada), 2 v. Maria do Rosário da Costa Bastos. Santa Mariade Oliveira: um dominio mOflfistico do Emre-Douro e Minho emfinais de Idade Média. Parlo, 1993 (tese de mestrado policopiada);Sérgio Lira. O musteiro de S. Simão da Junqueira. Dos primórdiosa 1300. POria: 1993 (tese de mesuado policopiada), 2 v. ArnaldoRui Azevedo de Sousa Melo. OcoulodeSanto Tirso (l432-1516):espaço e economia. Porto, 1995 (tese de mestrado policopiada), 2v. Maria do Rosário Barbosa Mojurão. Um mosteiro cisterciensefeminino: Sama Maria de Celas (século XlII A XV). Porto, 1991(tese de meslrado policopiada); Rui Cunha Martins. Património,parentesco e poder. O mosteiro de Semide do século XIl ao XV.Lisboa: Escher. 1992; Maria Filomena Pimentel de CarvalhoAndrade. O mosteiro de CheÚls: uma comunidade feminina naBaixa Idade Média. Património e gestão. Cascais: Patrimãnio,1996.

Hi0l6'il R.vio.!a. 2(1 l: 7•.;2. j.nJjun.. 1997 27

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28 Fernanda Paula Sousa Maia, O mosteiro de Bustelo: propri~dadee produçào agricola no Antigo Regime (1638-1617 e 1710-1821).POrlO, 1990, edilado no Porto, pela Univc~idadc Portucalense 1:01

1991; Salvador Magalhães Mola. O mosteiro de Santa Maria deBouro: Propriedade e rendas (1655-1775). Porto, 1989(policopiada); Isilda Braga da CosIa. O mO.\'teiro de Pedroso ­1560-1698: pafrimónio, gestão e administração jesuitas. POtlO,1990, publicada no Porto, pela Universidade Portucalense, cm1993, sob o tituloA administração jesuita do mos/dro de Pedrosode 1560aos[mais do.çicu10XVIl; Inês Amorim Mosteiro deGrij6,senhorio e propriedade de /56()·1720. Formação, estrutura e ex­ploração do seu dominio. ParlO, 1986, editada em Oliveira deAzeméis, 1994. A referência aos trabalhos sobre OS demais mos­teiros oolhcmo-Ia da introdução de Aurélio de Oliveira à publica­ção da primeira tese citada. Estes mesmos autores têm produzidooutros artigos sobre a temática rural como se pode consultar naobra Repertóriobibliográfico da historiografiaportuguesa. 1974­1994. Coimbra: Faculdade de Letras, Instituto Camõcs, 1995.

29 Isilda Braga da Costa. "Os rendeiros do mosteiro de Pedroso, 1604­1nl: tipo social", Revista de Ciências Históricas, Porto, 6, 1991;Enfiteutas e subcnfiteutas do mosteiro de Pedroso em 1575: umaabordagem. ln: Congresso sencrjo y feudalismo en la PeninsulaIbérica (siglas XU-X1X). Actas. Zaragoza. 1989.

30 E mesmo cenos trabalhos de hiSlôria religiosa não deixam nuncade abordar a questão do patrimõnio das instituiçôcs, como porexemplo a tese de doutoramento de José Marques, sobre Aarquidiocese de Braga no século XV, apresentada em 1981 e pu­blicada em lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1988,que nos dã preciosos informes de povoamento e cultivo da terra.

31 Assim, para alêm da jâ citada tese de Rosa Maneiros. refira-se âtese de doutoramento de João Silva de Sousa. A casa senhorial doinfante D. Henrique. Lisboa: Uvros Horizonte, 1991 e a disserta­ção de mestrado de Mafalda Soares da Cunha. Linhagem. pare/l­tesco e poder: a Casa de Brtlgança (1348-/483), Usboa: Funda­çãoda Casa de Bragança_ Ovolume 11 da lese de doutoramento deLeontina Ventura. A nobreza decor1e deAfonso m, Coimbra: Fa­culdade de Letras, 1992 (policopiada) fornece-nos minuciosos da-

28 COELHO. Mari. Helena d. Crul. Balanço $obr~ o hitl6titl rUMI prodlaida...

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dos sobre o p<lpcl dominial e jurisdicion<ll de muitas famílias no­bres. Bcm impUltante é ainda um estudo de Cristina Rodrigues eoutros sobre O Entre Cávado c Minho, cenário de expansão se­nhorial no século XIII. Revista da Facaldade de Lelras de Lisboa.Lisboa, 1978. n. 2, 4~ sirie. Esobre um possidente não nobre, veja­se o c~1udo de Maria de Lurdes Rosa. O bens e a gestão de riquuilde am proprietário laico do século XIV; Afonso Pero Mealha.Redondo: Patrimonia, 1995.

32 Assim o.~ lrubalhos de Ana Maria Cardoso de Matos, ConceiçãoAndrade Martins, Maria de Lurdes BetencourL Um empresárioagrícola oitocentista. Revis/a de História Económica e Social. Lis­boa: 1982, n. 10. Senhores da lerru, diário de um agricultoralentejano; 1832-1889. Lisboa: INCM, 1982; Conceição AndradeMarlins. "Opçõcs eeonômicas c innuéncias políticas de uma fa­mília burguesa OiloccOlista: ocaso<le São Romão e José Maria dosSantos." Análise :';ociaf. Lisboa: 1992. n. 27, 4a série, p. 116-7.

33 Tais como os elitudos de Maria Mauela Rocha, Níveis de fortunaestru/uras patrimOfliais noAlenlejo: Monsaraz, 1800-50. AnáliseSocial. Li~a: 1191. n. 26, 4a série, p. 112-3. Propriedade e nÍveisde riqUezD: formas de estruturação soeml em Monsaraz naprimeirametade do século XIX. Lisboa: Edições Cosmos, 1994; e de HelderAdegar Fonseca. Um empresário e uma empresa agricolil na lametade do sécufo XIX. José Joaquim Teixeira, e a quinta do Césarno Carregado. Évora, 1984 (policopiada), 2 v., Sociedade e elitesalentejanas no século XIX, Economia e Sociologia. Évora, 1988,p. 45-6. Economia e a/iludes econâmicas no Alentejo oitocentista.Évora: 1992 (tese de doutoramento policopiada), 2 v.

34 Sem pretender apresentar uma qualquer lista exaustiva. refiram­se, entre os múltiplos artigos de Humberto Baquero Moreoo, sobreesta problemática, às compilações. Tensões sociais em Por/ugalna Idade Média. Porto: Liv. Athena, 1975. Marginalidade econflitos sociais em Portugal nQS séculos XIV e XV. Estudos deHistória. üsboa: Editorial Estampa, 1985. Exilados, marginais ecOnlestários na sociedade portuguesa medieval. Estudos deHistória. Lisboa: Editoral Estampa, 1985. ExiltJdos, marginais econtestalários na sociedade portuguesa medieval. Estudos deHistória. Lisboa: Editorial Presença, 1990; Maria José Ferro

HiMófÍa Revi.la. 2(1): 7-32. jlnJjon.. 1991 29

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Tavares. A revolla dos mesteirais de 1383. ln: 3.... JornadasArqueológicas. üsboa, 1978. Revoltasoontra os judeus no Ponugalmedieval. Para um estudo da mentalidade. Revista de História dasIdéias. v. 6. Coimbra: 1984. Conflitos sociais em Portugal no séculoXIV. ln: Jornad(u de lIislória Medievu./. Aclas. Usboa: História eCritica. 1985; Maria Helena da Cruz Coelho. Contestado e

resistência dos que vivem da terra. sep. R~ista de HistóriaEconômica e Social. Lisboa. 1986. v. 18. Relações de Domínio noPortugal Concelhio de meados de Quatrocentos. sep. de RevistaPortuguesa de Hist6ria. Coimbra: 1990, v. 25. José Mattoso.Revucltas y revoluciones en la Edad Media Portuguesa. ln:Revueltas y revoluciones en la Hisloria. Salamanca: Universidad,1990; Armando Luís de Carvalho Homem. Notícia de umlevantamento popular nas vésperas do Intcrrcgno. sep. de BracaraAugusta. Braga. 1978. n. 32, p. 73-4. Maria da Conceição FalcãoFerreira. Uma contenda entre ocabido de Santo Estêvão de Valençac os lavradores de Afife c Vila Mei: 1509. sep. Revista de CiênôllsHistórico)". Porto. 1989, n. 4. Dispensamo-nos aqui de citar muitosoutros imponantes estudos. sobreludo a inumera bibliografia queao período agitado de 1383-1385 se rCjXlna.

35 António de Oliveira. Contestação fISCal em 1629: as reaçóes deLamego e Porro. sep. 6. Coimbra, 1984; O levantamento popularde AreOlelo cm 1635. sep. Revista Portuguesa de Hislória.Coimbra. 1977, v. 17. Levantamenlos populares no arcebispo deBraga em 1635-1637. sep. Bracara Augusta. Braga, 1980. v. 34,p. 78-91. Levantamentos populares no Algarve cm 1637·1638: arepressão. sep. Revisla Porruguesa de HistÓria. Coimbra, 1983, v.20. Levantamentos populares no distrito de Ponalegre em 1637­1638. scp. A Cidade. Portalegre, 1989. v. 3. Aurélio de Oliveira.Conlribuiçào para o estudo dJJs revoltas e motins populares emPorrugal: as sublevações de Viana do Castelo em 1636. Porto,1979 (jXllicopiado); Luís Ferrand de Almeida. Motins Populares!lO ternjXl de D. João V: breves notas e alguns documentos. sep.Revista Porruguesa de História. Coimbra, 1984, v. 6. Os motinsde Abrantes e Viseu: 1708 e 1710. sep. Revista Portuguesa deHistÓria. Coimbra: 1985. v. 22.

30 COELHO, Maria Helena da C"'Z. Bg!aJlçg sobre a hi.u6,Úl ,,,,gljITO<iuzida...

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36 Publicada em Lisboa, em 1994, pelas publicações Europa ­América, em dois volumes, o primeiro abrangendo o período de1751 a 1807 e o segundo abarcando o de 1808 a 1825.

37 Entre outros, citem-se os estudos de António de Oliveira, Para ahistória do significado botânico do milho zaburro. sep. ArquivoCoimbrão. Coimbra, 1968, v. 23 e de Luís Ferrand de Almeida. Apropósito do milho 'marroco' em Portugal nos séculos XVI-XVII.sep. Revista Porwguesa de Hist6ria. Coimbra, 1992, v. 27 a quese seguiu uma Adenda e Cotrigenda. Coimbra. 1993. v. 28.

38 Entre muitos, citem-se os trabalhos de Aurélio de Oliveira. Vinhosde Cima Douro na 1Q metade tkJ s/culo XVII. Vila Nova de Gaia,1984; Níveis de produçãoviníoola DO Enue Douro e Minho. 1629·1822. sep. 1." JorMdas de Estudo Norte de Portugal/Aquitânia.Actas. Porto, 1986; Douro, país vinhateiro, da produção aocomércio: algumas considerações. RtNista de História. Porto, 1993,v; 12; Gaspar Martins Pereira. O vinho do Porto, o Alto Douro e aCompanhia na época pombalina (1756-1777), segundo BemardoJosé de Sousa Guerra. Estudos Transmontanos. Vila Real, 1984.v. 2; Aspectos sociais da vitivinicultura duriense nos fins do séculoXVIlL1n: 1.... Jornadas de Estudos Norte de Portugal/Aquitânia.Actas. Porlo, 1986; A produção de um espaço regional: o AltoDouro no tempo da filox.era. Revista da Faculdade de Lelras,História. Pono, 1989. v. 6, za série. O Douro e o vinho do Porto:de Pombal alodo Franco. Usboa: Afrontamento, 1991.

39 Existe mesmo uma revista intitulada Douro. Estudos &DocumenJos que conta já com 2 volumes de 1996.

40 Assim a obra de Ernesto Veiga de Oliveira, Fernando Galhano eBenjamim Pereira: Tecnologia Iradicional portuguesa. O linho,Lisboa, 1978.

41 Dimes et mouvemem de la prodaction agricole: Nord.Queslportugais, 1616·1821. Paris: Ed. École de Hautes Etudes cnSciences Sociales, 1978.

42 "Preçosdoazcite em Lisboa (162b-1733): tentativa de compreen.'>ãoanalítico-sintética". RevülU dI! Hist6ria Económica e Social.Lisboa, 1979. v. 4.

43 João Nuncsdc Oliveira. A produçdougríco!a de Veseu emre 1550e 1700. Viseu: Câmara Municipal, 1990; Luís Grosso Correia. O

lli~t6ria ~.~is\a. 2( I): 7·32. ja.. 'jun .. 1~~7 "

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Alenlejo a Oriente d'Odiana (/600-1640): pofltica, sociedade,economia e cultura. Lisboa, 1990 (dissertação de mestradopolicopiada),2 v. e do mesmo autor "Subsídios para a história daagricultura DOS finais do século XVII noconcelbo de Mourão". ln:1." Jornadas de Hist6ria Moder1Ul. Actas. Usboa, 1989. v. LSantos, Configurações espaciais agrárias no Baixo Alentejo.Mértola, segunda metade do Século XVIII. Revista de HistóriaEconómica e Social. Lisboa, 1987. v. 20; O socorro aos lavradoresde Mértola em 1792. Mértola: Câmara Municipal, 1987.

44 Bernardo Vasconcelos e Sousa, Nuno Gooçalo MOllleiro. "Senhorioe feudalismo em Ponugal, sécs. XII-XIX: reflexões sobre umdebate bisloriogtáfico". ln: Congreso Seflorio y Feudalismo en laPeninsula Ibérica (siglos XII.XIX).Actas. Zaragoza, 1993. v. l.

45 António Martins da Silva. Desamortização e venda dos bensnacicnais em Portugal na primeira metade do séculoXIX. Coimbra,1989 (tese de doutoramento policopiada); Manuel VilaverdeCabral. Eduardode Freitas, João Ferreira de Almeida. Modalidadesde penetração do capitalismo na agricultura: estrUluras emPortugal conJinenlaJ.1950·1970. Lisboa: Editorial Presença, 1976;Manuel Vilaverde Cabral. "Estado e campesinato: políticasagrícolas e estratégias camponesas em Portugal depois da 'PGuerraMundial". ln: Social classes: social change and economicdevelopment in theMediterranean. Athens, 1986. v. 2; do mesmo,"L'évolution du monde rural ponugais ao XXe siêcle. L'état de laquestion". lo: Transformazioni delle società rurali frei paesidell'Euro~occitientale e muJiterranea. Nápoles, 1986.

46 Publicado em Do Antigo Regime ao Liberalismo: 1750-1850.üsboa: Vega, 1989.

32 COELHO. Maria Helena d. Cr",.. Balanço $rXm> a nis'6ria tural produzida...