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Relatório de Avifauna 2TRANSCRIPT
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MUSEU NACIONAL/UFRJ
INVENTÁRIO ICTIOFAUNÍSTICO E DEFINIÇÃO DE ESPÉCIES INDICADORAS DE
QUALIDADE DE ÁGUA NA BACIA DO RIO DAS PEDRAS
Coordenação: Paulo Andreas Buckup
Supervisão: Anita Diederichsen e Paulo Petry
Abril de 2010
TERCEIRO RELATÓRIO
Proposta de Monitoramento para a Bacia do Rio das Pedras
e
Protocolo de Diretrizes para Estudos em Outras Bacias do
Programa Produtor de Água
1. Introdução
O presente relatório apresenta uma proposta de monitoramento de peixes para a
bacia do Rio das Pedras e um protocolo de diretrizes para a realização de estudos similares em
outras bacias hidrográficas do Programa Produtor de Águas. A proposta e o protocolo
constituem-se no último produto previsto no projeto “Inventário Ictiofaunístico e definição de
espécies indicadoras de qualidade de água na bacia do Rio das Pedras”, conforme Termo de
Referência relativo ao Contrato de Prestação de Serviços celebrado entre o Instituto de
Conservação Ambiental The Nature Conservancy do Brasil - TNC e a Associação Amigos do
Museu Nacional – SAMN. O objetivo geral do projeto foi o de realizar um inventário da
ictiofauna na região do Rio das Pedras, formador no rio Piraí, um tributário do médio rio
Paraíba do Sul desviado artificialmente para a bacia do rio Guandu, e propor um protocolo de
levantamento e monitoramento para o Programa Produtor de Água. As propostas aqui
apresentadas baseiam-se nos estudos e dados realizados nas etapas anteriores do projeto, os
quais foram apresentados no primeiro e no segundo relatório.
2. Proposta de Monitoramento para a Bacia do Rio das Pedras
Os resultados do presente estudo mostraram a presença de uma diversificada fauna
de peixes na Bacia do Rio das Pedras. Com base nos estudos realizados na bacia, foi possível
demonstrar que a composição da comunidade de peixes varia espacialmente ao longo dos rios
da bacia. A análise desta variação permitiu estabelecer relações entre a composição da
comunidade de peixes e fatores ambientais associadas ao ambiente aquático. A partir destas
relações estabeleceu-se o valor indicativo de qualidade de água de cada espécie, e a partir da
análise conjunta dos padrões de ocorrência destas espécies definiram-se índices cujo valor
pode ser interpretado como indicativo da integridade da comunidade de peixes.
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Considerando-se que os peixes de riachos vivem permanentemente expostos às alterações das
características físico-químicas de seu ambiente, pode-se assumir que a degradação ambiental
ocorrente nas bacias de captação de água tem impactos diretos na composição das
comunidades de peixes. Assim, os índices de integridade desenvolvidos neste projeto
apresentam-se como excelentes candidatos para uso em um sistema de indicadores do grau
de degradação ambiental que afeta bacias de pequenos rios e riachos de encosta de
montanhas.
Visando testar o grau de replicabilidade dos índices e sua utilidade no monitoramento
em longo prazo, recomenda-se a realização de novas campanhas de monitoramento de peixes
na bacia do Rio das Pedras. Os procedimentos para a realização destas campanhas são
descritos a seguir:
a. Periodicidade
Tendo em vista que o inventário e quantificação da comunidade de peixes presente
em cada ponto de amostragem exigem a coleta intensiva dos indivíduos para posterior
identificação em laboratório, é preciso levar em consideração o eventual impacto que esta
coleta tem sobre a composição da comunidade de peixes a ser monitorada. Este impacto
tende a ser bastante significativo entre as espécies que vivem aderidas ao substrato, como é o
caso dos peixes loricariídeos que vivem aderidos a rochas e pedras, visto que a recomposição
das populações tende a ser limitada pela baixa capacidade de dispersão destas espécies.
Por outro lado, é preciso ter em mente que este tipo de monitoramento visa avaliar
alterações ambientais em escalas temporais relativamente longas, que extrapolam as
variações climáticas diárias e mesmo as variações sazonais anuais. Assim, recomenda-se que
as campanhas de monitoramento sejam realizadas, via regra, a intervalos de um a cinco anos.
Esta periodicidade poderá ser reavaliada, conforme os resultados do próprio monitoramento
e conforme a percepção de mudanças no nível de impacto ambiental associado à bacia.
Como ponto de partida para um programa de monitoramento em longo prazo,
recomenda-se a realização de nova campanha de amostragem cerca de um ano após a
campanha inicial. Esta campanha permitirá testar os resultados iniciais. A partir da análise
comparativa entre os valores observados no inventário inicial e nessa primeira campanha, será
possível estimar a periodicidade ideal para o monitoramento em longo prazo, assim como o
grau de confiabilidade e replicabilidade do índice.
A realização de uma nova campanha de amostragem também permitirá avaliar a
conveniência e eventual necessidade de estudos complementares sobre a variabilidade
sazonal e de curto prazo nos índices propostos.
b. Metodologia de Coleta
Os componentes da equipe de amostragem devem ser selecionados de forma a incluir
pelo menos quatro coletores com significativa experiência em coleta científica de peixes de
riachos.
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A coleta deverá ser realizada com a utilização de redes de arrasto (picarés) de pequeno
porte (2 m, 3 m e 5 m), puçás de 35 X 90 cm equipados com tela tipo mosquiteiro de
polietileno de alta resistência e cabo de metal, e tarrafa de malha de 12 mm entre nós
adjacentes em monofilamento de nylon dotada de rufos.
Visando obter estimativas de abundância relativa das espécies capturadas o esforço de
coleta deve ser padronizado em uma hora de atividade contínua da equipe de coletores. As
atividades de coleta devem ser conduzidas de forma realizar uma amostragem exaustiva da
ictiofauna acessível através de métodos ativos de coleta manual. Para isto, todos os
ambientes disponíveis devem ser explorados utilizando-se as técnicas usuais de coleta,
incluindo a realização de arrastos com picaré junto às margens, arrastos de meia-água com
picaré em poças e remansos, uso de puçás junto a vegetação marginal, rolagem de pedras com
puçás e picarés instalados a jusante do ponto de rolagem, bloqueio de corredeiras com
agitação da água e do fundo a montante do ponto de bloqueio, raspagem do substrato com
puçás e uso de tarrafa em poções e canais com profundidade superior a 50 cm.
O material coletado deve ser fixado em formalina 10% e/ou etanol anidro,
acondicionado em bolsas plásticas rotuladas com a numeração de campo correspondente à
ficha de campo, para posterior triagem e identificação em laboratório. A fixação de alguns
indivíduos em etanol anidro visa o melhor aproveitamento científico do material coletado
através de seu uso em eventuais estudos moleculares.
Os dados de campo, incluindo as coordenadas geográficas e altitude obtidas por GPS
utiilizando datum WGS84, deverão ser anotados em fichas de campo padronizadas conforme
modelo em uso no Setor de Ictiologia do Museu Nacional. Deverão ser registrados registradas
observações qualitativas relativas a correnteza, tipo e quantidade de vegetação, substrato e
tipo de paisagem, além de eventuais medidas de fatores físico-químicos, tais como
condutividade e pH.
c. Localidades de Amostragem
Deverão ser amostrado 10 pontos de amostragem distribuídos ao longo do rio das
Pedras (quatro pontos), do rio Papudos (três pontos) e do rio Piraí entre a localidade de Lídice
e a confluência dos rios Papudos e das Pedras (três pontos). Convém observar que há certa
controvérsia sobre a aplicabilidade da denominação Piraí, que pode restringir-se ao trecho
situado a jusante da confluência do rio das Pedras com o rio Papudos, ou estender-se ao longo
do rio Papudos até a confluência com o Córrego Alto da Serra.
Os locais a serem amostrados são apresentados a seguir. A numeração seqüencial das
localidades corresponde àquela utilizada na Figura 1. O código de localidade refere-se ao
código mnemônico utilizado para referenciar a localidade no Segundo Relatório.
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Figura 1 - Localização dos pontos de amostragem da ictiofauna da bacia do rio das Pedras.
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Rio Piraí:
Ponto 01: Rio Piraí, cerca de 200 m a montante da ponte da rodovia RJ 155 Código da localidade: Piraí 1 Coordenadas: S22 50 24.0 W44 12 08.8
Altitude: 542 m Ponto 02: rio Piraí, 1,7 km ao sul de Lídice, junto à ponte de concreto de Várzea do Inhame Código da localidade: Piraí 2
Coordenadas: 22 51 16,7 S 44 11 55,6 W Altitude: 544
Ponto 03: Rio Piraí, junto à pinguela da Várzea do Inhame
Código da localidade: Piraí 2 Coordenadas: 22 50 55,6 S 44 11 44,9 W
Altitude: 547 Rio das Pedras: Ponto 04: Rio das Pedras, próximo à Escola Municipal Rio das Pedras Código da localidade: Pedras 1
Coordenadas: 22 51 58,7 S 44 12 06,6 W Altitude: 554 m Observações: A área amostrada inclui as corredeiras sobre fundo de cascalho nas proximidades da ponte de acesso à Escola Municipal Rio das Pedras. Ponto 05: Rio das Pedras na Fazenda Conceição de Maria Código da localidade: Pedras 2
Coordenadas: 22 52 30,6 S 44 11 48,4 W Altitude: 555 m Observações: O local de amostragem localiza-se no interior da Fazenda Conceição de Maria. Ponto 06: Trecho médio do rio das Pedras Código da localidade: Pedras 3
Coordenadas: 22 53 34,0 S 44 11 30,5 W Altitude: 784 m Observação: Trecho encachoeirado, com fundo de cascalho. No trecho a montante há rochas, pequenas quedas de água e ilhas, proporcionando diversidade de habitats.
Ponto 07: Trecho alto do rio das Pedras, ponte na comunidade de rio das Pedras, próximo a propriedade de Davi Chaves Código da localidade: Pedras 4
Coordenadas: 22 54 11,2 S 44 11 10,6 W Altitude: 857 m Observações: A área a ser amostrada inclui trecho desprovido de mata ciliar junto à ponte de concreto existente no local e assim como os pequenos cursos d´água localizados na margem direita do rio.
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Rio Papudos (alto Piraí): Ponto 08: Margem do baixo rio Papudos ou Piraí Código da localidade: Papudos 1
Coordenadas: 22 52 23,7 S 44 12 38,6 W Altitude: 558 m Observações: De acordo com folha topográfica do IBGE, este trecho do rio é considerado parte do próprio rio Piraí. Ponto 09: Confluência rio Papudos e córrego Alto da Serra Código da localidade: Papudos 2
Coordenadas: 22 52 40,8 S 44 13 35,6 W Altitude: 566 m Observações: Rio largo, sobre corredeiras de pedras e fundo arenoso, na confluência dos rios Papudos e córrego Alto da Serra. Este último também deve ser amostrado. Ponto 10: rio Papudos, no cruzamento de estrada vicinal, local de antiga ponte destruída, no alto da Serra do Sinfrônio Código da localidade: Papudos 3
Coordenadas: 22 54 20,1 S 44 13 38,3 W Altitude: 948 m
Além destes pontos poderão ser amostrados, na medida da conveniência, pontos
adicionais visando ampliar os testes de aplicabilidade dos índices propostos. Preliminarmente,
sugere-se a realização de uma amostragem adicional no alto rio Papudos, no ponto de
coordenadas 22°54'24.98"S e 44°13'26.34"W. A realização de coletas neste local permitirá a
amostragem da ictiofauna ocorrente à montante do Ponto 10 (Papudos 03), em altitudes
superiores a 1.000 m. Além de permitir a ampliação do atual grau de amostragem do rio
Papudos, a coleta neste ponto permitirá verificar a aplicabilidade dos índices em trechos de
elevada altitude e baixíssimo grau de ocupação humana. Esta localidade também encontra-se
isolada do Ponto 10 por uma grande queda d´água, o que torna a sua amostragem ainda mais
interessante do ponto de vista biogeográfico.
d. Triagem e identificação
Todo o material coletado deverá ser triado e identificado em laboratório. As
identificações de espécies deverão ser relacionadas aos táxons (morfoespécies) identificados
no inventário inicial da ictiofauna da Bacia do Rio das Pedras. Eventuais novas ocorrências
deverão ser caracterizadas de forma comparativa com as 23 espécies registradas até o
momento (Tabela 1; vide Segundo Relatório).
O material coletado deverá ser depositado em coleção ictiológica permanente.
e. Categorização das espécies quanto à bioindicação de qualidade de água
Visando estabelecer um índice de qualidade de água baseado na ictiofauna, as
espécies de peixes nativos ocorrentes na área foram ranqueadas numa escala de 1 a 10,
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conforme a expectativa de sua associação com ambientes aquáticos (Tabela 1). O valor 5 foi
atribuído a espécies cuja presença é normalmente esperável no tipo de ambiente amostrado e
cujas exigências de qualidade de água não são necessariamente condicionadas à ausência de
efeitos antropogênicos ou associadas a ambientes degradados. Espécies com ampla
distribuição e geralmente tolerantes às condições de ambientes aquáticos degradados
receberam valores baixo neste ranking. Espécies com baixa tolerância a degradação
ambiental, cuja ocorrência geralmente está associada a ambientes de nascentes e águas
cristalinas receberam valores mais elevados. A única espécie exótica detectada na área
recebeu valor negativo.
As espécies adicionais eventualmente detectadas em novas campanhas de
monitoramento deverão receber um valor numérico de acordo com os critérios especificados
acima.
Tabela 1- Ranking de espécies quanto a seu
potencial de bioindicação de qualidade de
água na bacia do rio das Pedras.
Espécie Ranking
Pareiorhina rudolphi 10
Characidium lauroi 9
Hemipsilichthys gobio 8
Neoplecostomus microps 7
Characidium sp. af. C. alipioi 7
Rineloricaria sp. "p" 6
Imparfinis sp. 6
Acentronichthys leptos 6
Oligosarcus hepsetus 5
Harttia loricariformis 5
Harttia carvalhoi 5
Astyanax sp. 1 5
Astyanax intermedius 5
Trichomycterus sp. 4 4
Trichomycterus sp. 3 4
Trichomycterus sp. 2 cf. T. travassosi 4
Trichomycterus sp. 1 4
Hypostomus sp. 4
Rhamdia sp. af. R. quelen 3
Pimelodella sp. 3
Geophagus brasiliensis 2
Phalloceros harpagos 1
Oreochromis sp. -1
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f. Apresentação e análise de resultados.
Os dados deverão ser apresentados na forma de tabela contendo o número de
exemplares de cada espécie coletados em cada localidade. A partir destes dados devem ser
calculados os seguintes índices:
Índice de Riqueza de Espécie: número de espécies coletadas em cada localidade
amostrada.
Índice 1: soma dos valores do ranking de cada espécie presente (Tabela 2) dividida
pelos valores riqueza de espécies no local. O índice 1 representa o valor médio do ranking de
bioindicação da comunidade de peixes presente em cada localidade amostrada. Valores
superiores a 5,00 são indicativos da existência de condições favoráveis à manutenção de
mananciais aquáticos, enquanto valores abaixo de 5,00 correlacionam-se com a presença de
espécies indicadoras de impactos negativos sobre a qualidade do ambiente aquático
Índice 2: somatório do produto entre a abundância relativa e o ranking de bioindicação
de cada espécie, sendo a abundância relativa, expressada pela abundância cada espécie
dividida pelo total de peixes capturados em cada localidade. Este índice equivale à média dos
valores do ranking de biodicação ponderados pela abundância relativa de cada espécie.
Os valores dos índices deverão ser analisados de forma comparativa com aqueles
obtidos em monitoramentos anteriores (e.g., Segundo Relatório). Aumentos nos valores dos
índices deverão ser considerados como indicativos da recuperação da comunidade de peixes
frente a melhorias nas condições ambientais, enquanto diminuições serão indicativas de
degradação das condições ambientais necessárias para a manutenção da comunidade de
peixes. Na análise das variações nos valores dos índices deverão ser levados em consideração
eventuais fatores circunstanciais que possam interferir nos resultados, tais como as condições
climáticas vigentes na época de amostragem, imprevistos que possam interferir na eficiência
da equipe amostragem, captura aleatória de grandes cardumes, etc.
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3. Diretrizes para Estudos em Outras Bacias do Programa Produtor de Água
O Programa Produtor de Águas visa incentivar os agentes que, comprovadamente,
contribuem para a proteção e recuperação de mananciais, auxiliando a recuperação e
manutenção do potencial de geração de serviços ecossistêmicos, provendo benefícios para as
bacias e para suas populações. Para saber se as estratégias adotadas pelo Programa são as
mais adequadas, com base nos conceitos e métodos de uma “Conservação planejada”, emerge
a necessidade de desenvolver mecanismos de monitoramento dos resultados das ações de
conservação em relação aos mananciais beneficiados pelo Programa. Neste contexto, os
resultados e a experiência adquiridos no inventário e monitoramento da ictiofauna da bacia do
Rio das Pedras configuram-se como uma excelente oportunidade de adotar uma ferramenta
de monitoramento de qualidade de água passível de ampla aplicação em rios e riachos de
encostas incluídos no Programa Produtor de Águas. O uso de peixes como ferramenta de
monitoramento destaca-se não apenas pelo valor intrínseco associado à conservação deste
importante grupo de vertebrados, mas principalmente como mecanismo de aferição da
qualidade ambiental de toda a bacia de captação das águas em as espécies de peixes vivem
continuamente. A situação da população de peixes de cabeceiras representa uma síntese do
conjunto de fatores ambientais que afetam a bacia ao longo de todo o ciclo de vida destes
organismos. Este tipo de medição de qualidade geralmente não é possível com o uso de
parâmetros físico-químicos que representam a qualidade da água apenas no momento da
amostragem.
Visando fornecer um protocolo padronizado, passível de ser utilizado em todas as bacias
de rios e riachos de encostas montanhosas, apresentamos uma proposta de procedimentos a
serem utilizados no monitoramento de bacias incorporadas no programa. O Protocolo baseia-
se em etapas e metodologias específicas a serem seguidas deforma uniforme em todas as
bacias.
Etapa 1: Definição de pontos de amostragem para o inventário faunístico inicial.
O objetivo desta etapa é identificar locais apropriados para a realização do inventário da
ictiofauna presente na bacia a ser monitorada. A seleção destes locais deve levar em
consideração a topologia dos principais rios componentes da microbacia, de forma a distribuir
uniformemente o esforço de amostragem em relação aos seguintes aspectos:
1) Distribuição dos potenciais fatores de impacto antrópico na bacia. Este
deve ser o principal fator norteador da localização dos pontos de
amostragem, evitando-se, portanto, a tendência de priorizar apenas
áreas bem conservadas ou de interesse estritamente zoológico.
2) Representatividade de ambientes aquáticos no local de amostragem.
Deve-se evitar a amostragem em locais dominados por ambientes
excepcionalmente modificados, que possam representar anomalias em
relação ao ambienta natural da bacia. Assim, por exemplo, deve-se
evitar a amostragem em represas ou junto a grandes quedas d´água.
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3) Uniformidade de cobertura geográfica. Os locais de amostragem
devem ser dispostos preferencialmente em distâncias uniformes, tanto
ao longo do eixo longitudinal dos cursos d’água quanto ao longo do
gradiente vertical (altitude). Deve-se dar preferência ao
posicionamento dos pontos ao longo dos cursos principais, que podem
ser identificados a partir de mapas das áreas de captação de cada sub-
bacia ou a partir de modelos tridimensionais do terreno. Como regra
geral, recomenda-se que o espaçamento mínimo entre pontos
adjacentes de um mesmo rio seja de 500 m.
4) Facilidade de acesso. Na definição dos pontos é importante considerar
que dificuldades de acesso da equipe de amostragem aos ambientes a
serem amostrados podem interferir substancialmente na eficiência da
coleta, e conseqüentemente na validade dos resultados a serem
obtidos.
A escolha dos pontos de amostragem para o inventário inicial deverá levar em
consideração informações obtidas através de (1) sistemas de mapeamento, (2) lideranças
locais associadas ao Programa, e (3) viagens de inspeção in loco de ictiólogo com
experiência em coleta de peixes de riacho. Durante a viagem para definição dos pontos
de amostragem as coordenadas geográficas dos pontos de amostragem deverão ser
obtidas através de GPS e as condições do local de amostragem deverão ser documetadas
com vista ao planejamento da atuação da equipe de amostragem. Além disto, os roteiros
de acesso rodoviário aos pontos de amostragem deverão ser documentados, incluindo,
quando necessários a obtenção de coordenadas GPS de eventuais encruzilhadas,
porteiras e dificuldades que possam dificultar o acesso de equipes pouco familiarizadas
com a região. Havendo necessidade da intervenção de proprietários ou zeladores locais,
devem ser anotados os respectivos contatos e providencias necessárias para o acesso das
equipes de amostragem.
O produto da Etapa 1 será a listagem e caracterização preliminar dos locais a
serem amostrados.
Etapa 2: Inventário da Ictiofauna
Os componentes da equipe de amostragem devem ser selecionados de forma a incluir
pelo menos quatro coletores com significativa experiência em coleta científica de peixes de
riachos.
A coleta deverá ser realizada com a utilização de redes de arrasto (picarés) de pequeno
porte (2 m, 3 m e 5 m), puçás de 35 X 90 cm equipados com tela tipo mosquiteiro de
polietileno de alta resistência e cabo de metal, e tarrafa de malha de 12 mm entre nós
adjacentes em monofilamento de nylon dotada de rufos.
Visando obter estimativas de abundância relativa das espécies capturadas o esforço de
coleta deve ser padronizado em uma hora de atividade contínua da equipe de coletores. As
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atividades de coleta devem ser conduzidas de forma realizar uma amostragem exaustiva da
ictiofauna acessível através de métodos ativos de coleta manual. Para isto, todos os
ambientes disponíveis devem ser explorados utilizando-se as técnicas usuais de coleta,
incluindo a realização de arrastos com picaré junto às margens, arrastos de meia-água com
picaré em poças e remansos, uso de puçás junto a vegetação marginal, rolagem de pedras com
puçás e picarés instalados a jusante do ponto de rolagem, bloqueio de corredeiras com
agitação da água e do fundo a montante do ponto de bloqueio, raspagem do substrato com
puçás e uso de tarrafa em poções e canais com profundidade superior a 50 cm.
O material coletado deve ser fixado em formalina 10% e/ou etanol anidro,
acondicionado em bolsas plásticas rotuladas com a numeração de campo correspondente à
ficha de campo, para posterior triagem e identificação em laboratório. A fixação de alguns
indivíduos em etanol anidro visa o melhor aproveitamento científico do material coletado
através de seu uso em eventuais estudos moleculares.
Os dados de campo, incluindo as coordenadas geográficas e altitude obtidas por GPS
utiilizando datum WGS84, deverão ser anotados em fichas de campo padronizadas conforme
modelo em uso no Setor de Ictiologia do Museu Nacional. Deverão ser registrados registradas
observações qualitativas relativas a correnteza, tipo e quantidade de vegetação, substrato e
tipo de paisagem, além de eventuais medidas de fatores físico-químicos, tais como
condutividade e pH.
Etapa 3: Triagem e identificação do material coletado
Todo o material coletado deverá ser triado e identificado em laboratório por equipe
experiente em sistemática de peixes de riachos do sudeste brasileiro. As identificações de
espécies deverão ser relacionadas aos táxons (morfoespécies) identificados em inventário
anteriores de ictiofauna de bacias monitoradas através deste programa de monitoramento.
Espécies coletadas pela primeira vez dentro do projeto de monitoramento e que não puderem
ser associadas de forma definitiva a um nome taxonomicamente válido deverão ser
caracterizadas de forma comparativa com as demais espécies registradas em inventários
anteriores do programa de monitoramento.
O material coletado deverá ser depositado em coleção ictiológica permanente, e os
números de catálogo devem ser registrados nos relatórios, de forma a permitir a verificação e
eventual correção das identificações de todos os lotes. Os resultados desta etapa deverão ser
apresentados na forma de tabelas contendo o número de exemplares coletados em cada
ponto de amostragem. As tabelas devem ser acompanhadas da caracterização das espécies
não descritas e respectivos números de registro do material testemunho em coleção
ictiológica permanente.
Etapa 4: Categorização das espécies quanto à bioindicação de qualidade de água
Visando estabelecer um índice de qualidade de água baseado na ictiofauna, as
espécies de peixes nativos ocorrentes capturadas na campanha de inventário inicia deverão
ser ranqueadas numa escala de 1 a 10, conforme a expectativa de sua associação com
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ambientes aquáticos. O valor 5 deve ser atribuído a espécies cuja presença é normalmente
esperável no tipo de ambiente amostrado e cujas exigências de qualidade de água não são
necessariamente condicionadas à ausência de efeitos antropogênicos ou associadas a
ambientes degradados. Espécies com ampla distribuição e geralmente tolerantes às condições
de ambientes aquáticos degradados devem receber valores abaixo neste ranking. Espécies
com baixa tolerância a degradação ambiental, cuja ocorrência geralmente está associada a
ambientes de nascentes e águas cristalinas receberam valores mais elevados. Espécies
exóticas detectada na área devem receber valores negativos.
A categorização das espécies deve levar em consideração os valores já atribuídos a
espécies de peixes já capturadas em outros projetos de monitoramento do Programa
Produtores de Água. Se for necessário alterar estes valores em decorrência de novas
informações sobre os requisitos ambientais das espécies monitoradas, recomenda-se os
valores sejam também aplicados aos demais projetos e que os índices indicadores de
qualidade ambiental sejam recalculados para todas as bacias afetadas. Desta forma assegura-
se a padronização dos valores de forma tornar os valores dos índices de qualidade
comparáveis entre as diferentes bacias.
O produto desta etapa será a atualização dos valores do potencial de bioindicação de
qualidade de água das espécies monitoradas.
Etapa 5: Cálculo e análise dos índices de qualidade ambiental.
A partir dos resultadoss da campanha de amostragem (Etapas 2 a 3) devem ser
calculados os seguintes índices:
Índice de Riqueza de Espécies: número de espécies coletadas em cada localidade
amostrada.
Índice 1: soma dos valores do ranking de cada espécie de acordo com o resultado da
Etapa 4 dividida pelos valores de riqueza de espécies no local. O índice 1 representa o valor
médio do ranking de bioindicação da comunidade de peixes presente em cada localidade
amostrada. Valores superiores a 5,00 são indicativos da existência de condições favoráveis à
manutenção de mananciais aquáticos, enquanto valores abaixo de 5,00 correlacionam-se com
a presença de espécies indicadoras de impactos negativos sobre a qualidade do ambiente
aquático
Índice 2: somatório do produto entre a abundância relativa e o ranking de bioindicação
de cada espécie, sendo a abundância relativa expressada pela abundância cada espécie
dividida pelo total de peixes capturados em cada localidade. Este índice equivale à média dos
valores do ranking de biodicação ponderados pela abundância relativa de cada espécie.
Os valores dos índices deverão ser analisados de forma comparativa com aqueles
obtidos em outras campanhas de monitoramentos do Programa Produtor de Águas. Aumentos
nos valores dos índices deverão ser considerados como indicativos da recuperação da
comunidade de peixes frente a melhorias nas condições ambientais, enquanto diminuições
serão indicativas de degradação das condições ambientais necessárias para a manutenção da
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comunidade de peixes. Na análise das variações nos valores dos índices deverão ser levados
em consideração eventuais fatores circunstanciais que possam interferir nos resultados, tais
como as condições climáticas vigentes na época de amostragem, imprevistos que possam
interferir na eficiência da equipe amostragem, captura aleatória de grandes cardumes, etc.
Etapa 6: Estabelecimento de Programa de Monitoramento a Médio e Longo Prazo
Após a campanha de inventário inicial deve-se estabelecer a periodicidade para a
realização de novas campanhas de monitoramento, as quais consistirão essencialmente na
repetição periódica das etapas 2, 3 e 5.. Esta periodicidade deverá ser estabelecida conforme
os objetivos gerais do programa de monitoramento, guiadas pelos resultados do próprio
monitoramento e pela eventual percepção de mudanças no nível de impacto ambiental
associado à bacia.
Recomenda-se que as campanhas de monitoramento sejam realizadas, via regra, com
periodicidade de um a cinco anos. Tendo em vista que o inventário e quantificação da
comunidade de peixes presente em cada ponto de amostragem exigem a coleta intensiva dos
indivíduos para posterior identificação em laboratório, é preciso levar em consideração o
eventual impacto que esta coleta tem sobre a composição da comunidade de peixes a ser
monitorada. Este impacto tende a ser bastante significativo entre as espécies que vivem
aderidas ao substrato, como é o caso dos peixes que vivem aderidos ao substrato, visto que a
recomposição das populações tende a ser limitada pela baixa capacidade de dispersão destas
espécies. Assim, não é recomendável a realização de campanhas de monitoramento em
intervalos inferiores a um ano.
O resultado esperado do estabelecimento de um programa de monitoramento a
médio e longo prazo será a disponibilização de séries temporais de indicadores de qualidade
de água que permitirão avaliar quantitativamente os resultados e eventualmente redirecionar
as ações de conservação e melhoria ambiental adotadas pelo Programa Produtor de Águas.
Comentário sobre métodos de amostragem com reposição
A substituição dos métodos de coleta propostos por métodos de amostragem não
destrutivos poderá eventualmente permitir a realização de programas de monitoramento
intensivo, com periodicidade inferior a um ano. Entretanto, a adoção destes métodos
somente será possível após adequado treinamento da equipe de coleta em repetidas
campanhas (mínimo de 3 a 5), acompanhado da efetiva comprovação em laboratório da
inexistência de espécies crípticas e da possibilidade de identificação em campo de todos os
morfotipos existentes na região. Além disto, devem ser definidas técnicas que permitam
manter vivos os exemplares durante todo o período de amostragem e de identificação.
Entretanto, considerando-se o atual estado de conhecimento da taxonomia dos peixes
neotropicais e as dificuldades para identificação de morfotipos em campo, é improvável que a
amostragem com reposição possa ser implementada num futuro próximo, e a metodologia
baseada em identificações realizadas em laboratório e devidamente documentadas através do
depósito de material em coleções científicas científico permanece como única opção viável.
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4. Agradecimentos
Participaram das amostragens de campo o Prof. Dr. Marcelo Ribeiro Britto, e os
biólogos Leandro VillaVerde, José Rodrigues Gomes e Maria Clara Ramos Chaves. A supervisão
do projeto for realizada por Anita Diederichsen, e apoio de Paulo Petry. Gilberto Pereira
colaborou no planejamento das atividades de campo. Parte das atividades de campo
contaram com a participação de Benedito Leite do Instituto Terra. A viagem contou com o
apoio logístico do Museu Nacional/UFRJ. Todos os trabalhos de laboratório foram realizados
no Setor de Ictiologia do Departamento de Vertebrados do Museu Nacional, cujas atividade de
pesquisa e infraestrutura contam com apoio financeiro do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento
Científico e Tecnológico (CAPES) entre outro de apoio à científica.