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Página 1 de 14 MUSEU NACIONAL/UFRJ INVENTÁRIO ICTIOFAUNÍSTICO E DEFINIÇÃO DE ESPÉCIES INDICADORAS DE QUALIDADE DE ÁGUA NA BACIA DO RIO DAS PEDRAS Coordenação: Paulo Andreas Buckup Supervisão: Anita Diederichsen e Paulo Petry Abril de 2010 TERCEIRO RELATÓRIO Proposta de Monitoramento para a Bacia do Rio das Pedras e Protocolo de Diretrizes para Estudos em Outras Bacias do Programa Produtor de Água 1. Introdução O presente relatório apresenta uma proposta de monitoramento de peixes para a bacia do Rio das Pedras e um protocolo de diretrizes para a realização de estudos similares em outras bacias hidrográficas do Programa Produtor de Águas. A proposta e o protocolo constituem-se no último produto previsto no projeto “Inventário Ictiofaunístico e definição de espécies indicadoras de qualidade de água na bacia do Rio das Pedras”, conforme Termo de Referência relativo ao Contrato de Prestação de Serviços celebrado entre o Instituto de Conservação Ambiental The Nature Conservancy do Brasil - TNC e a Associação Amigos do Museu Nacional SAMN. O objetivo geral do projeto foi o de realizar um inventário da ictiofauna na região do Rio das Pedras, formador no rio Piraí, um tributário do médio rio Paraíba do Sul desviado artificialmente para a bacia do rio Guandu, e propor um protocolo de levantamento e monitoramento para o Programa Produtor de Água. As propostas aqui apresentadas baseiam-se nos estudos e dados realizados nas etapas anteriores do projeto, os quais foram apresentados no primeiro e no segundo relatório. 2. Proposta de Monitoramento para a Bacia do Rio das Pedras Os resultados do presente estudo mostraram a presença de uma diversificada fauna de peixes na Bacia do Rio das Pedras. Com base nos estudos realizados na bacia, foi possível demonstrar que a composição da comunidade de peixes varia espacialmente ao longo dos rios da bacia. A análise desta variação permitiu estabelecer relações entre a composição da comunidade de peixes e fatores ambientais associadas ao ambiente aquático. A partir destas relações estabeleceu-se o valor indicativo de qualidade de água de cada espécie, e a partir da análise conjunta dos padrões de ocorrência destas espécies definiram-se índices cujo valor pode ser interpretado como indicativo da integridade da comunidade de peixes.

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MUSEU NACIONAL/UFRJ

INVENTÁRIO ICTIOFAUNÍSTICO E DEFINIÇÃO DE ESPÉCIES INDICADORAS DE

QUALIDADE DE ÁGUA NA BACIA DO RIO DAS PEDRAS

Coordenação: Paulo Andreas Buckup

Supervisão: Anita Diederichsen e Paulo Petry

Abril de 2010

TERCEIRO RELATÓRIO

Proposta de Monitoramento para a Bacia do Rio das Pedras

e

Protocolo de Diretrizes para Estudos em Outras Bacias do

Programa Produtor de Água

1. Introdução

O presente relatório apresenta uma proposta de monitoramento de peixes para a

bacia do Rio das Pedras e um protocolo de diretrizes para a realização de estudos similares em

outras bacias hidrográficas do Programa Produtor de Águas. A proposta e o protocolo

constituem-se no último produto previsto no projeto “Inventário Ictiofaunístico e definição de

espécies indicadoras de qualidade de água na bacia do Rio das Pedras”, conforme Termo de

Referência relativo ao Contrato de Prestação de Serviços celebrado entre o Instituto de

Conservação Ambiental The Nature Conservancy do Brasil - TNC e a Associação Amigos do

Museu Nacional – SAMN. O objetivo geral do projeto foi o de realizar um inventário da

ictiofauna na região do Rio das Pedras, formador no rio Piraí, um tributário do médio rio

Paraíba do Sul desviado artificialmente para a bacia do rio Guandu, e propor um protocolo de

levantamento e monitoramento para o Programa Produtor de Água. As propostas aqui

apresentadas baseiam-se nos estudos e dados realizados nas etapas anteriores do projeto, os

quais foram apresentados no primeiro e no segundo relatório.

2. Proposta de Monitoramento para a Bacia do Rio das Pedras

Os resultados do presente estudo mostraram a presença de uma diversificada fauna

de peixes na Bacia do Rio das Pedras. Com base nos estudos realizados na bacia, foi possível

demonstrar que a composição da comunidade de peixes varia espacialmente ao longo dos rios

da bacia. A análise desta variação permitiu estabelecer relações entre a composição da

comunidade de peixes e fatores ambientais associadas ao ambiente aquático. A partir destas

relações estabeleceu-se o valor indicativo de qualidade de água de cada espécie, e a partir da

análise conjunta dos padrões de ocorrência destas espécies definiram-se índices cujo valor

pode ser interpretado como indicativo da integridade da comunidade de peixes.

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Considerando-se que os peixes de riachos vivem permanentemente expostos às alterações das

características físico-químicas de seu ambiente, pode-se assumir que a degradação ambiental

ocorrente nas bacias de captação de água tem impactos diretos na composição das

comunidades de peixes. Assim, os índices de integridade desenvolvidos neste projeto

apresentam-se como excelentes candidatos para uso em um sistema de indicadores do grau

de degradação ambiental que afeta bacias de pequenos rios e riachos de encosta de

montanhas.

Visando testar o grau de replicabilidade dos índices e sua utilidade no monitoramento

em longo prazo, recomenda-se a realização de novas campanhas de monitoramento de peixes

na bacia do Rio das Pedras. Os procedimentos para a realização destas campanhas são

descritos a seguir:

a. Periodicidade

Tendo em vista que o inventário e quantificação da comunidade de peixes presente

em cada ponto de amostragem exigem a coleta intensiva dos indivíduos para posterior

identificação em laboratório, é preciso levar em consideração o eventual impacto que esta

coleta tem sobre a composição da comunidade de peixes a ser monitorada. Este impacto

tende a ser bastante significativo entre as espécies que vivem aderidas ao substrato, como é o

caso dos peixes loricariídeos que vivem aderidos a rochas e pedras, visto que a recomposição

das populações tende a ser limitada pela baixa capacidade de dispersão destas espécies.

Por outro lado, é preciso ter em mente que este tipo de monitoramento visa avaliar

alterações ambientais em escalas temporais relativamente longas, que extrapolam as

variações climáticas diárias e mesmo as variações sazonais anuais. Assim, recomenda-se que

as campanhas de monitoramento sejam realizadas, via regra, a intervalos de um a cinco anos.

Esta periodicidade poderá ser reavaliada, conforme os resultados do próprio monitoramento

e conforme a percepção de mudanças no nível de impacto ambiental associado à bacia.

Como ponto de partida para um programa de monitoramento em longo prazo,

recomenda-se a realização de nova campanha de amostragem cerca de um ano após a

campanha inicial. Esta campanha permitirá testar os resultados iniciais. A partir da análise

comparativa entre os valores observados no inventário inicial e nessa primeira campanha, será

possível estimar a periodicidade ideal para o monitoramento em longo prazo, assim como o

grau de confiabilidade e replicabilidade do índice.

A realização de uma nova campanha de amostragem também permitirá avaliar a

conveniência e eventual necessidade de estudos complementares sobre a variabilidade

sazonal e de curto prazo nos índices propostos.

b. Metodologia de Coleta

Os componentes da equipe de amostragem devem ser selecionados de forma a incluir

pelo menos quatro coletores com significativa experiência em coleta científica de peixes de

riachos.

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A coleta deverá ser realizada com a utilização de redes de arrasto (picarés) de pequeno

porte (2 m, 3 m e 5 m), puçás de 35 X 90 cm equipados com tela tipo mosquiteiro de

polietileno de alta resistência e cabo de metal, e tarrafa de malha de 12 mm entre nós

adjacentes em monofilamento de nylon dotada de rufos.

Visando obter estimativas de abundância relativa das espécies capturadas o esforço de

coleta deve ser padronizado em uma hora de atividade contínua da equipe de coletores. As

atividades de coleta devem ser conduzidas de forma realizar uma amostragem exaustiva da

ictiofauna acessível através de métodos ativos de coleta manual. Para isto, todos os

ambientes disponíveis devem ser explorados utilizando-se as técnicas usuais de coleta,

incluindo a realização de arrastos com picaré junto às margens, arrastos de meia-água com

picaré em poças e remansos, uso de puçás junto a vegetação marginal, rolagem de pedras com

puçás e picarés instalados a jusante do ponto de rolagem, bloqueio de corredeiras com

agitação da água e do fundo a montante do ponto de bloqueio, raspagem do substrato com

puçás e uso de tarrafa em poções e canais com profundidade superior a 50 cm.

O material coletado deve ser fixado em formalina 10% e/ou etanol anidro,

acondicionado em bolsas plásticas rotuladas com a numeração de campo correspondente à

ficha de campo, para posterior triagem e identificação em laboratório. A fixação de alguns

indivíduos em etanol anidro visa o melhor aproveitamento científico do material coletado

através de seu uso em eventuais estudos moleculares.

Os dados de campo, incluindo as coordenadas geográficas e altitude obtidas por GPS

utiilizando datum WGS84, deverão ser anotados em fichas de campo padronizadas conforme

modelo em uso no Setor de Ictiologia do Museu Nacional. Deverão ser registrados registradas

observações qualitativas relativas a correnteza, tipo e quantidade de vegetação, substrato e

tipo de paisagem, além de eventuais medidas de fatores físico-químicos, tais como

condutividade e pH.

c. Localidades de Amostragem

Deverão ser amostrado 10 pontos de amostragem distribuídos ao longo do rio das

Pedras (quatro pontos), do rio Papudos (três pontos) e do rio Piraí entre a localidade de Lídice

e a confluência dos rios Papudos e das Pedras (três pontos). Convém observar que há certa

controvérsia sobre a aplicabilidade da denominação Piraí, que pode restringir-se ao trecho

situado a jusante da confluência do rio das Pedras com o rio Papudos, ou estender-se ao longo

do rio Papudos até a confluência com o Córrego Alto da Serra.

Os locais a serem amostrados são apresentados a seguir. A numeração seqüencial das

localidades corresponde àquela utilizada na Figura 1. O código de localidade refere-se ao

código mnemônico utilizado para referenciar a localidade no Segundo Relatório.

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Figura 1 - Localização dos pontos de amostragem da ictiofauna da bacia do rio das Pedras.

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Rio Piraí:

Ponto 01: Rio Piraí, cerca de 200 m a montante da ponte da rodovia RJ 155 Código da localidade: Piraí 1 Coordenadas: S22 50 24.0 W44 12 08.8

Altitude: 542 m Ponto 02: rio Piraí, 1,7 km ao sul de Lídice, junto à ponte de concreto de Várzea do Inhame Código da localidade: Piraí 2

Coordenadas: 22 51 16,7 S 44 11 55,6 W Altitude: 544

Ponto 03: Rio Piraí, junto à pinguela da Várzea do Inhame

Código da localidade: Piraí 2 Coordenadas: 22 50 55,6 S 44 11 44,9 W

Altitude: 547 Rio das Pedras: Ponto 04: Rio das Pedras, próximo à Escola Municipal Rio das Pedras Código da localidade: Pedras 1

Coordenadas: 22 51 58,7 S 44 12 06,6 W Altitude: 554 m Observações: A área amostrada inclui as corredeiras sobre fundo de cascalho nas proximidades da ponte de acesso à Escola Municipal Rio das Pedras. Ponto 05: Rio das Pedras na Fazenda Conceição de Maria Código da localidade: Pedras 2

Coordenadas: 22 52 30,6 S 44 11 48,4 W Altitude: 555 m Observações: O local de amostragem localiza-se no interior da Fazenda Conceição de Maria. Ponto 06: Trecho médio do rio das Pedras Código da localidade: Pedras 3

Coordenadas: 22 53 34,0 S 44 11 30,5 W Altitude: 784 m Observação: Trecho encachoeirado, com fundo de cascalho. No trecho a montante há rochas, pequenas quedas de água e ilhas, proporcionando diversidade de habitats.

Ponto 07: Trecho alto do rio das Pedras, ponte na comunidade de rio das Pedras, próximo a propriedade de Davi Chaves Código da localidade: Pedras 4

Coordenadas: 22 54 11,2 S 44 11 10,6 W Altitude: 857 m Observações: A área a ser amostrada inclui trecho desprovido de mata ciliar junto à ponte de concreto existente no local e assim como os pequenos cursos d´água localizados na margem direita do rio.

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Rio Papudos (alto Piraí): Ponto 08: Margem do baixo rio Papudos ou Piraí Código da localidade: Papudos 1

Coordenadas: 22 52 23,7 S 44 12 38,6 W Altitude: 558 m Observações: De acordo com folha topográfica do IBGE, este trecho do rio é considerado parte do próprio rio Piraí. Ponto 09: Confluência rio Papudos e córrego Alto da Serra Código da localidade: Papudos 2

Coordenadas: 22 52 40,8 S 44 13 35,6 W Altitude: 566 m Observações: Rio largo, sobre corredeiras de pedras e fundo arenoso, na confluência dos rios Papudos e córrego Alto da Serra. Este último também deve ser amostrado. Ponto 10: rio Papudos, no cruzamento de estrada vicinal, local de antiga ponte destruída, no alto da Serra do Sinfrônio Código da localidade: Papudos 3

Coordenadas: 22 54 20,1 S 44 13 38,3 W Altitude: 948 m

Além destes pontos poderão ser amostrados, na medida da conveniência, pontos

adicionais visando ampliar os testes de aplicabilidade dos índices propostos. Preliminarmente,

sugere-se a realização de uma amostragem adicional no alto rio Papudos, no ponto de

coordenadas 22°54'24.98"S e 44°13'26.34"W. A realização de coletas neste local permitirá a

amostragem da ictiofauna ocorrente à montante do Ponto 10 (Papudos 03), em altitudes

superiores a 1.000 m. Além de permitir a ampliação do atual grau de amostragem do rio

Papudos, a coleta neste ponto permitirá verificar a aplicabilidade dos índices em trechos de

elevada altitude e baixíssimo grau de ocupação humana. Esta localidade também encontra-se

isolada do Ponto 10 por uma grande queda d´água, o que torna a sua amostragem ainda mais

interessante do ponto de vista biogeográfico.

d. Triagem e identificação

Todo o material coletado deverá ser triado e identificado em laboratório. As

identificações de espécies deverão ser relacionadas aos táxons (morfoespécies) identificados

no inventário inicial da ictiofauna da Bacia do Rio das Pedras. Eventuais novas ocorrências

deverão ser caracterizadas de forma comparativa com as 23 espécies registradas até o

momento (Tabela 1; vide Segundo Relatório).

O material coletado deverá ser depositado em coleção ictiológica permanente.

e. Categorização das espécies quanto à bioindicação de qualidade de água

Visando estabelecer um índice de qualidade de água baseado na ictiofauna, as

espécies de peixes nativos ocorrentes na área foram ranqueadas numa escala de 1 a 10,

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conforme a expectativa de sua associação com ambientes aquáticos (Tabela 1). O valor 5 foi

atribuído a espécies cuja presença é normalmente esperável no tipo de ambiente amostrado e

cujas exigências de qualidade de água não são necessariamente condicionadas à ausência de

efeitos antropogênicos ou associadas a ambientes degradados. Espécies com ampla

distribuição e geralmente tolerantes às condições de ambientes aquáticos degradados

receberam valores baixo neste ranking. Espécies com baixa tolerância a degradação

ambiental, cuja ocorrência geralmente está associada a ambientes de nascentes e águas

cristalinas receberam valores mais elevados. A única espécie exótica detectada na área

recebeu valor negativo.

As espécies adicionais eventualmente detectadas em novas campanhas de

monitoramento deverão receber um valor numérico de acordo com os critérios especificados

acima.

Tabela 1- Ranking de espécies quanto a seu

potencial de bioindicação de qualidade de

água na bacia do rio das Pedras.

Espécie Ranking

Pareiorhina rudolphi 10

Characidium lauroi 9

Hemipsilichthys gobio 8

Neoplecostomus microps 7

Characidium sp. af. C. alipioi 7

Rineloricaria sp. "p" 6

Imparfinis sp. 6

Acentronichthys leptos 6

Oligosarcus hepsetus 5

Harttia loricariformis 5

Harttia carvalhoi 5

Astyanax sp. 1 5

Astyanax intermedius 5

Trichomycterus sp. 4 4

Trichomycterus sp. 3 4

Trichomycterus sp. 2 cf. T. travassosi 4

Trichomycterus sp. 1 4

Hypostomus sp. 4

Rhamdia sp. af. R. quelen 3

Pimelodella sp. 3

Geophagus brasiliensis 2

Phalloceros harpagos 1

Oreochromis sp. -1

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f. Apresentação e análise de resultados.

Os dados deverão ser apresentados na forma de tabela contendo o número de

exemplares de cada espécie coletados em cada localidade. A partir destes dados devem ser

calculados os seguintes índices:

Índice de Riqueza de Espécie: número de espécies coletadas em cada localidade

amostrada.

Índice 1: soma dos valores do ranking de cada espécie presente (Tabela 2) dividida

pelos valores riqueza de espécies no local. O índice 1 representa o valor médio do ranking de

bioindicação da comunidade de peixes presente em cada localidade amostrada. Valores

superiores a 5,00 são indicativos da existência de condições favoráveis à manutenção de

mananciais aquáticos, enquanto valores abaixo de 5,00 correlacionam-se com a presença de

espécies indicadoras de impactos negativos sobre a qualidade do ambiente aquático

Índice 2: somatório do produto entre a abundância relativa e o ranking de bioindicação

de cada espécie, sendo a abundância relativa, expressada pela abundância cada espécie

dividida pelo total de peixes capturados em cada localidade. Este índice equivale à média dos

valores do ranking de biodicação ponderados pela abundância relativa de cada espécie.

Os valores dos índices deverão ser analisados de forma comparativa com aqueles

obtidos em monitoramentos anteriores (e.g., Segundo Relatório). Aumentos nos valores dos

índices deverão ser considerados como indicativos da recuperação da comunidade de peixes

frente a melhorias nas condições ambientais, enquanto diminuições serão indicativas de

degradação das condições ambientais necessárias para a manutenção da comunidade de

peixes. Na análise das variações nos valores dos índices deverão ser levados em consideração

eventuais fatores circunstanciais que possam interferir nos resultados, tais como as condições

climáticas vigentes na época de amostragem, imprevistos que possam interferir na eficiência

da equipe amostragem, captura aleatória de grandes cardumes, etc.

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3. Diretrizes para Estudos em Outras Bacias do Programa Produtor de Água

O Programa Produtor de Águas visa incentivar os agentes que, comprovadamente,

contribuem para a proteção e recuperação de mananciais, auxiliando a recuperação e

manutenção do potencial de geração de serviços ecossistêmicos, provendo benefícios para as

bacias e para suas populações. Para saber se as estratégias adotadas pelo Programa são as

mais adequadas, com base nos conceitos e métodos de uma “Conservação planejada”, emerge

a necessidade de desenvolver mecanismos de monitoramento dos resultados das ações de

conservação em relação aos mananciais beneficiados pelo Programa. Neste contexto, os

resultados e a experiência adquiridos no inventário e monitoramento da ictiofauna da bacia do

Rio das Pedras configuram-se como uma excelente oportunidade de adotar uma ferramenta

de monitoramento de qualidade de água passível de ampla aplicação em rios e riachos de

encostas incluídos no Programa Produtor de Águas. O uso de peixes como ferramenta de

monitoramento destaca-se não apenas pelo valor intrínseco associado à conservação deste

importante grupo de vertebrados, mas principalmente como mecanismo de aferição da

qualidade ambiental de toda a bacia de captação das águas em as espécies de peixes vivem

continuamente. A situação da população de peixes de cabeceiras representa uma síntese do

conjunto de fatores ambientais que afetam a bacia ao longo de todo o ciclo de vida destes

organismos. Este tipo de medição de qualidade geralmente não é possível com o uso de

parâmetros físico-químicos que representam a qualidade da água apenas no momento da

amostragem.

Visando fornecer um protocolo padronizado, passível de ser utilizado em todas as bacias

de rios e riachos de encostas montanhosas, apresentamos uma proposta de procedimentos a

serem utilizados no monitoramento de bacias incorporadas no programa. O Protocolo baseia-

se em etapas e metodologias específicas a serem seguidas deforma uniforme em todas as

bacias.

Etapa 1: Definição de pontos de amostragem para o inventário faunístico inicial.

O objetivo desta etapa é identificar locais apropriados para a realização do inventário da

ictiofauna presente na bacia a ser monitorada. A seleção destes locais deve levar em

consideração a topologia dos principais rios componentes da microbacia, de forma a distribuir

uniformemente o esforço de amostragem em relação aos seguintes aspectos:

1) Distribuição dos potenciais fatores de impacto antrópico na bacia. Este

deve ser o principal fator norteador da localização dos pontos de

amostragem, evitando-se, portanto, a tendência de priorizar apenas

áreas bem conservadas ou de interesse estritamente zoológico.

2) Representatividade de ambientes aquáticos no local de amostragem.

Deve-se evitar a amostragem em locais dominados por ambientes

excepcionalmente modificados, que possam representar anomalias em

relação ao ambienta natural da bacia. Assim, por exemplo, deve-se

evitar a amostragem em represas ou junto a grandes quedas d´água.

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3) Uniformidade de cobertura geográfica. Os locais de amostragem

devem ser dispostos preferencialmente em distâncias uniformes, tanto

ao longo do eixo longitudinal dos cursos d’água quanto ao longo do

gradiente vertical (altitude). Deve-se dar preferência ao

posicionamento dos pontos ao longo dos cursos principais, que podem

ser identificados a partir de mapas das áreas de captação de cada sub-

bacia ou a partir de modelos tridimensionais do terreno. Como regra

geral, recomenda-se que o espaçamento mínimo entre pontos

adjacentes de um mesmo rio seja de 500 m.

4) Facilidade de acesso. Na definição dos pontos é importante considerar

que dificuldades de acesso da equipe de amostragem aos ambientes a

serem amostrados podem interferir substancialmente na eficiência da

coleta, e conseqüentemente na validade dos resultados a serem

obtidos.

A escolha dos pontos de amostragem para o inventário inicial deverá levar em

consideração informações obtidas através de (1) sistemas de mapeamento, (2) lideranças

locais associadas ao Programa, e (3) viagens de inspeção in loco de ictiólogo com

experiência em coleta de peixes de riacho. Durante a viagem para definição dos pontos

de amostragem as coordenadas geográficas dos pontos de amostragem deverão ser

obtidas através de GPS e as condições do local de amostragem deverão ser documetadas

com vista ao planejamento da atuação da equipe de amostragem. Além disto, os roteiros

de acesso rodoviário aos pontos de amostragem deverão ser documentados, incluindo,

quando necessários a obtenção de coordenadas GPS de eventuais encruzilhadas,

porteiras e dificuldades que possam dificultar o acesso de equipes pouco familiarizadas

com a região. Havendo necessidade da intervenção de proprietários ou zeladores locais,

devem ser anotados os respectivos contatos e providencias necessárias para o acesso das

equipes de amostragem.

O produto da Etapa 1 será a listagem e caracterização preliminar dos locais a

serem amostrados.

Etapa 2: Inventário da Ictiofauna

Os componentes da equipe de amostragem devem ser selecionados de forma a incluir

pelo menos quatro coletores com significativa experiência em coleta científica de peixes de

riachos.

A coleta deverá ser realizada com a utilização de redes de arrasto (picarés) de pequeno

porte (2 m, 3 m e 5 m), puçás de 35 X 90 cm equipados com tela tipo mosquiteiro de

polietileno de alta resistência e cabo de metal, e tarrafa de malha de 12 mm entre nós

adjacentes em monofilamento de nylon dotada de rufos.

Visando obter estimativas de abundância relativa das espécies capturadas o esforço de

coleta deve ser padronizado em uma hora de atividade contínua da equipe de coletores. As

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atividades de coleta devem ser conduzidas de forma realizar uma amostragem exaustiva da

ictiofauna acessível através de métodos ativos de coleta manual. Para isto, todos os

ambientes disponíveis devem ser explorados utilizando-se as técnicas usuais de coleta,

incluindo a realização de arrastos com picaré junto às margens, arrastos de meia-água com

picaré em poças e remansos, uso de puçás junto a vegetação marginal, rolagem de pedras com

puçás e picarés instalados a jusante do ponto de rolagem, bloqueio de corredeiras com

agitação da água e do fundo a montante do ponto de bloqueio, raspagem do substrato com

puçás e uso de tarrafa em poções e canais com profundidade superior a 50 cm.

O material coletado deve ser fixado em formalina 10% e/ou etanol anidro,

acondicionado em bolsas plásticas rotuladas com a numeração de campo correspondente à

ficha de campo, para posterior triagem e identificação em laboratório. A fixação de alguns

indivíduos em etanol anidro visa o melhor aproveitamento científico do material coletado

através de seu uso em eventuais estudos moleculares.

Os dados de campo, incluindo as coordenadas geográficas e altitude obtidas por GPS

utiilizando datum WGS84, deverão ser anotados em fichas de campo padronizadas conforme

modelo em uso no Setor de Ictiologia do Museu Nacional. Deverão ser registrados registradas

observações qualitativas relativas a correnteza, tipo e quantidade de vegetação, substrato e

tipo de paisagem, além de eventuais medidas de fatores físico-químicos, tais como

condutividade e pH.

Etapa 3: Triagem e identificação do material coletado

Todo o material coletado deverá ser triado e identificado em laboratório por equipe

experiente em sistemática de peixes de riachos do sudeste brasileiro. As identificações de

espécies deverão ser relacionadas aos táxons (morfoespécies) identificados em inventário

anteriores de ictiofauna de bacias monitoradas através deste programa de monitoramento.

Espécies coletadas pela primeira vez dentro do projeto de monitoramento e que não puderem

ser associadas de forma definitiva a um nome taxonomicamente válido deverão ser

caracterizadas de forma comparativa com as demais espécies registradas em inventários

anteriores do programa de monitoramento.

O material coletado deverá ser depositado em coleção ictiológica permanente, e os

números de catálogo devem ser registrados nos relatórios, de forma a permitir a verificação e

eventual correção das identificações de todos os lotes. Os resultados desta etapa deverão ser

apresentados na forma de tabelas contendo o número de exemplares coletados em cada

ponto de amostragem. As tabelas devem ser acompanhadas da caracterização das espécies

não descritas e respectivos números de registro do material testemunho em coleção

ictiológica permanente.

Etapa 4: Categorização das espécies quanto à bioindicação de qualidade de água

Visando estabelecer um índice de qualidade de água baseado na ictiofauna, as

espécies de peixes nativos ocorrentes capturadas na campanha de inventário inicia deverão

ser ranqueadas numa escala de 1 a 10, conforme a expectativa de sua associação com

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ambientes aquáticos. O valor 5 deve ser atribuído a espécies cuja presença é normalmente

esperável no tipo de ambiente amostrado e cujas exigências de qualidade de água não são

necessariamente condicionadas à ausência de efeitos antropogênicos ou associadas a

ambientes degradados. Espécies com ampla distribuição e geralmente tolerantes às condições

de ambientes aquáticos degradados devem receber valores abaixo neste ranking. Espécies

com baixa tolerância a degradação ambiental, cuja ocorrência geralmente está associada a

ambientes de nascentes e águas cristalinas receberam valores mais elevados. Espécies

exóticas detectada na área devem receber valores negativos.

A categorização das espécies deve levar em consideração os valores já atribuídos a

espécies de peixes já capturadas em outros projetos de monitoramento do Programa

Produtores de Água. Se for necessário alterar estes valores em decorrência de novas

informações sobre os requisitos ambientais das espécies monitoradas, recomenda-se os

valores sejam também aplicados aos demais projetos e que os índices indicadores de

qualidade ambiental sejam recalculados para todas as bacias afetadas. Desta forma assegura-

se a padronização dos valores de forma tornar os valores dos índices de qualidade

comparáveis entre as diferentes bacias.

O produto desta etapa será a atualização dos valores do potencial de bioindicação de

qualidade de água das espécies monitoradas.

Etapa 5: Cálculo e análise dos índices de qualidade ambiental.

A partir dos resultadoss da campanha de amostragem (Etapas 2 a 3) devem ser

calculados os seguintes índices:

Índice de Riqueza de Espécies: número de espécies coletadas em cada localidade

amostrada.

Índice 1: soma dos valores do ranking de cada espécie de acordo com o resultado da

Etapa 4 dividida pelos valores de riqueza de espécies no local. O índice 1 representa o valor

médio do ranking de bioindicação da comunidade de peixes presente em cada localidade

amostrada. Valores superiores a 5,00 são indicativos da existência de condições favoráveis à

manutenção de mananciais aquáticos, enquanto valores abaixo de 5,00 correlacionam-se com

a presença de espécies indicadoras de impactos negativos sobre a qualidade do ambiente

aquático

Índice 2: somatório do produto entre a abundância relativa e o ranking de bioindicação

de cada espécie, sendo a abundância relativa expressada pela abundância cada espécie

dividida pelo total de peixes capturados em cada localidade. Este índice equivale à média dos

valores do ranking de biodicação ponderados pela abundância relativa de cada espécie.

Os valores dos índices deverão ser analisados de forma comparativa com aqueles

obtidos em outras campanhas de monitoramentos do Programa Produtor de Águas. Aumentos

nos valores dos índices deverão ser considerados como indicativos da recuperação da

comunidade de peixes frente a melhorias nas condições ambientais, enquanto diminuições

serão indicativas de degradação das condições ambientais necessárias para a manutenção da

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comunidade de peixes. Na análise das variações nos valores dos índices deverão ser levados

em consideração eventuais fatores circunstanciais que possam interferir nos resultados, tais

como as condições climáticas vigentes na época de amostragem, imprevistos que possam

interferir na eficiência da equipe amostragem, captura aleatória de grandes cardumes, etc.

Etapa 6: Estabelecimento de Programa de Monitoramento a Médio e Longo Prazo

Após a campanha de inventário inicial deve-se estabelecer a periodicidade para a

realização de novas campanhas de monitoramento, as quais consistirão essencialmente na

repetição periódica das etapas 2, 3 e 5.. Esta periodicidade deverá ser estabelecida conforme

os objetivos gerais do programa de monitoramento, guiadas pelos resultados do próprio

monitoramento e pela eventual percepção de mudanças no nível de impacto ambiental

associado à bacia.

Recomenda-se que as campanhas de monitoramento sejam realizadas, via regra, com

periodicidade de um a cinco anos. Tendo em vista que o inventário e quantificação da

comunidade de peixes presente em cada ponto de amostragem exigem a coleta intensiva dos

indivíduos para posterior identificação em laboratório, é preciso levar em consideração o

eventual impacto que esta coleta tem sobre a composição da comunidade de peixes a ser

monitorada. Este impacto tende a ser bastante significativo entre as espécies que vivem

aderidas ao substrato, como é o caso dos peixes que vivem aderidos ao substrato, visto que a

recomposição das populações tende a ser limitada pela baixa capacidade de dispersão destas

espécies. Assim, não é recomendável a realização de campanhas de monitoramento em

intervalos inferiores a um ano.

O resultado esperado do estabelecimento de um programa de monitoramento a

médio e longo prazo será a disponibilização de séries temporais de indicadores de qualidade

de água que permitirão avaliar quantitativamente os resultados e eventualmente redirecionar

as ações de conservação e melhoria ambiental adotadas pelo Programa Produtor de Águas.

Comentário sobre métodos de amostragem com reposição

A substituição dos métodos de coleta propostos por métodos de amostragem não

destrutivos poderá eventualmente permitir a realização de programas de monitoramento

intensivo, com periodicidade inferior a um ano. Entretanto, a adoção destes métodos

somente será possível após adequado treinamento da equipe de coleta em repetidas

campanhas (mínimo de 3 a 5), acompanhado da efetiva comprovação em laboratório da

inexistência de espécies crípticas e da possibilidade de identificação em campo de todos os

morfotipos existentes na região. Além disto, devem ser definidas técnicas que permitam

manter vivos os exemplares durante todo o período de amostragem e de identificação.

Entretanto, considerando-se o atual estado de conhecimento da taxonomia dos peixes

neotropicais e as dificuldades para identificação de morfotipos em campo, é improvável que a

amostragem com reposição possa ser implementada num futuro próximo, e a metodologia

baseada em identificações realizadas em laboratório e devidamente documentadas através do

depósito de material em coleções científicas científico permanece como única opção viável.

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4. Agradecimentos

Participaram das amostragens de campo o Prof. Dr. Marcelo Ribeiro Britto, e os

biólogos Leandro VillaVerde, José Rodrigues Gomes e Maria Clara Ramos Chaves. A supervisão

do projeto for realizada por Anita Diederichsen, e apoio de Paulo Petry. Gilberto Pereira

colaborou no planejamento das atividades de campo. Parte das atividades de campo

contaram com a participação de Benedito Leite do Instituto Terra. A viagem contou com o

apoio logístico do Museu Nacional/UFRJ. Todos os trabalhos de laboratório foram realizados

no Setor de Ictiologia do Departamento de Vertebrados do Museu Nacional, cujas atividade de

pesquisa e infraestrutura contam com apoio financeiro do Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento

Científico e Tecnológico (CAPES) entre outro de apoio à científica.