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SÉRIE MEDICAMENTOS E OUTROS INSUMOS ESSENCIAIS PARA A SAÚDE AVALIAÇÃO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA NO BRASIL: ESTRUTURA, PROCESSO E RESULTADOS Brasília - DF • 2005

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  • SRIE MEDICAMENTOS E OUTROS INSUMOS ESSENCIAIS PARA A SADE

    AVALIAO DA ASSISTNCIA FARMACUTICA NO BRASIL: ESTRUTURA, PROCESSO E RESULTADOS

    Braslia - DF 2005

  • Organizao Pan-Americana da Sade/Organizao Mundial da Sade; Ministrio da Sade, 2005.

    Todos os direitos reservados. permitida a reproduo total ou parcial desta obra, desde que seja citada a fonte e no seja para venda ou qualquer fim comercial.

    As opinies expressas no documento por autores denominados so de sua inteira responsabilidade.

    Ficha TcnicaOrganizadores: Nelly Marin Jaramillo; Adriana Mitsue Ivama; Dirceu Brs Aparecido Barbano; Manoel Roberto da Cruz Santos e Vera Lucia Luiza Coordenao Editorial: Adriana Mitsue Ivama e Manoel Roberto da Cruz SantosReviso de Texto: Ana Beatriz de Noronha e Joo Carlos Saraiva PinheiroNormalizao: Fbio CordeiroProjeto Grfico e Diagramao: Formatos Design

    Tiragem: 2500 exemplares

    Organizao Pan-Americana da Sade/Organizao Mundial da SadeSetor de Embaixadas Norte, Lote 19.70800-400 [email protected]

    Impresso no Brasil

    Ficha catalogrfica e normalizao de referncias elaboradas pelo Centro de Documentao da Organizao Pan-Americana da Sade/Organizao Mundial da Sade Representao do Brasil________________________________________________________________________________________

    Organizao Pan-Americana da Sade

    Avaliao da Assistncia Farmacutica no Brasil / Organizao Pan-Americana da Sade, Organizao Mundial da Sade ; Ministrio da Sade Braslia: Organizao Pan-Americana da Sade; BRASIL. Ministrio da Sade, 2005.

    260p.; il.color. (Srie tcnica medicamentos e outros insumos essenciais para a sade; 3)

    ISBN 85-87943-553

    1. Poltica de Sade 2. Assistncia Farmacutica 3. Avaliao 4. Poltica de Medicamentos 5. Vigilncia Sanitria 6. Brasil I. Ttulo II. Ttulo: Assistncia farmacutica e regulamentao de medicamentos no Brasil: estruturas e pro-cessos (nvel I) III. Ttulo: Avaliao sistemtica da servios (nvel II) e pesquisa domiciliar de acesso a medicamentos IV. Organizao Mundial da Sade V. Brasil. Ministrio da Sade VI. Srie medicamentos e outros insumos essenciais para a sade

    NLM: QV 55

    ________________________________________________________________________________________

    mailto:[email protected]://www.opas.org.br/
  • Ministrio da Sade

    Organizao Pan-Americana da Sade/Organizao Mundial da Sade OPAS/OMS

    SRIE MEDICAMENTOS E OUTROS INSUMOS ESSENCIAIS PARA A SADE

    AVALIAO DA ASSISTNCIA FARMACUTICA NO BRASIL: ESTRUTURA, PROCESSO E RESULTADOS

    Parte I: Assistncia farmacutica e regulamentao de medicamentos

    no Brasil: estruturas e processos (Nvel I)

    Parte II: Inqurito sistemtico de servios e pesquisa domiciliar

    de acesso a medicamentos (Nvel II)

    Braslia - DF 2005

  • EQUIPES DE TRABALHO:EQUIPES DE TRABALHO:

    COORDENAO DA PESQUISA MUNDIAL: Daisy Carandang

    EQUIPE DA PESQUISA AVALIAO DA ASSISTNCIA FARMACUTICA E REGULAMENTAO DE EQUIPE DA PESQUISA AVALIAO DA ASSISTNCIA FARMACUTICA E REGULAMENTAO DE MEDICAMENTOS NO BRASIL: ESTRUTURAS E PROCESSOS (NVEL I)MEDICAMENTOS NO BRASIL: ESTRUTURAS E PROCESSOS (NVEL I)

    COORDENAO Norberto RechNelly Marin Jaramillo

    EQUIPE DE PESQUISA:Adriana Mitsue IvamaElisa RieckMaria Auxiliadora OliveiraLeila Magaly Valois DursoNbia BoechatRicardo Gamarski

    EQUIPE DO INQURITO SISTEMTICO DE SERVIOS E PESQUISA DOMICILIAR DE ACESSO A EQUIPE DO INQURITO SISTEMTICO DE SERVIOS E PESQUISA DOMICILIAR DE ACESSO A MEDICAMENTOS NO BRASIL (NVEL II)MEDICAMENTOS NO BRASIL (NVEL II)

    COORDENAO GERALJorge Antnio Zepeda BermudezNorberto Rech

    COORDENADORA TCNICO-OPERACIONALVera Lucia Luiza

    COORDENADORES ADJUNTOSAdriana Mitsue IvamaClaudia Garcia Serpa Osorio de CastroElisa Rieck

    EQUIPE DE PESQUISABethania Blum Isabel EmmerickSamara Ramalho MattaThiago Botelho Azeredo

    CONFERNCIA DOS QUESTIONRIOS1. Hugo Rodrigues2. Tamara Lemos

    COLABORADORES: Antonio Carlos da Costa BezerraFlvia Freitas de Paula LopesJamaira Moreira GioraJavier AfonsoJean Carlo de MirandaLuis Roberto KlasmannMaria do Cu Borralho e AlbuquerqueMaria Lucia Prest MartelliStela Candioto MelchiorVera Lucia Luiza

    PESQUISADORES DE CAMPO1. Antonio Csar Rodrigues Gomes 2. Bethania Blum3. Carla Beatrice Crivellaro Gonalves 4. Cntia Maria Gava 5. Edisleide Ramos Ferreira Pastor 6. Elaine Miranda7. Isabel Emerick8. Thiago Botelho Azeredo.9. Viviane de Cssia Troncha Martins 10. Waltemir Lourdes da Silva

    PESQUISADORES DE CAMPO PARA VISITA DOMICILIAR NAS CAPITAIS1. Carla Barcelos Souto2. Clarice Chemello3. Daniele Abraho Ferreira4. Graziela Batista Barreto5. Jussara Lima Alves6. Leonardo Coutinho Ribeiro7. Lorena Priscila Favacho Inajosa8. Michele Freitas da Silva9. Vera Lcia Magalhes10. Yara Vago Cristo

  • EQUIPES DE ELABORAO DA PUBLICAOEQUIPES DE ELABORAO DA PUBLICAO

    NVEL I:NVEL I:ELABORAO DO TEXTO:Adriana Mitsue Ivama Elisa Rieck

    COLABORADORES:Angelo Giovani Rodrigues Carlos Csar Flores Vidotti Luciana de Deus Chagas Nelly Marin JaramilloNbia Boechat Silvia Figueiredo Costa Stela Candioto Melchior Vera Lucia Luiza

    NVEL II:NVEL II:ELABORAO DO TEXTO:Vera Lucia LuizaBethania BlumIsabel EmerickThiago Botelho Azeredo

    COLABORADORES:Adriana Mitsue IvamaClaudia Garcia Serpa Osorio de CastroSamara Ramalho Matta Vera Lcia Edais Pepe

    EDIO E REVISO TCNICA DO TEXTO CONSOLIDADO:Adriana Mitsue Ivama Vera Lucia Luiza

    COLABORADORES:Geisa Maria Grij Farani de AlmeidaManoel Roberto da Cruz Santos

    REVISO DE TEXTO:Ana Beatriz de NoronhaJoo Carlos Saraiva Pinheiro

    NORMALIZAO: Fbio Cordeiro

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    Srie medicamentos e outros insumos essenciais para a sade

    AGRADECIMENTOS AGRADECIMENTOS

    A todos os profissionais, gestores, usurios do Sistema nico de Sade que nos receberam e nos dedicaram seu tempo para nos fornecer as informaes neces-srias aos estudos.

    A todo o pessoal de apoio do Ncleo de Assistncia Farmacutica/Ensp/

    Fiocruz e da Fundao de Apoio da Fiocruz Fiotec, cujo incansvel e competente

    trabalho de bastidores viabilizou o estudo de nvel II.

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    Avaliao da assistncia farmacutica no Brasil

    SUMRIOSUMRIO

    LISTA DE FIGURAS, QUADROS E TABELAS LISTA DE FIGURAS, QUADROS E TABELAS 1133

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURASLISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS 1155

    APRESENTAAPRESENTAO O 1199

    RESUMO EXECUTIVO RESUMO EXECUTIVO 2233PARTE I: ASSISTPARTE I: ASSISTNCIA FARMACNCIA FARMACUTICA E REGULAMENTAUTICA E REGULAMENTAO O DE DE MEDICAMENTOS NO BRASIL: ESTRUTURAS E PROCESSOS (NMEDICAMENTOS NO BRASIL: ESTRUTURAS E PROCESSOS (NVEL I)VEL I) 23

    PARTE II: INQUPARTE II: INQURITO SISTEMRITO SISTEMTICO DE SERVITICO DE SERVIOS OS E PESQUISA DOMICILIAR DE E PESQUISA DOMICILIAR DE ACESSO A MEDICAMENTOS ACESSO A MEDICAMENTOS (NVEL II)(NVEL II) 25

    INTRODUINTRODUO O 3311

    REFERENCIAL TEREFERENCIAL TERICO, RICO, ANTECEDENTES E CONTEXTO ANTECEDENTES E CONTEXTO 3355ASPECTOS GERAIS DA AVALIAASPECTOS GERAIS DA AVALIAO EM SAO EM SADE DE 35

    ANTECEDENTES INTERNACIONAIS DO ESTUDO ANTECEDENTES INTERNACIONAIS DO ESTUDO 39 ACESSO A MEDICAMENTOS 41

    O BRASIL E O SISTEMA O BRASIL E O SISTEMA NICO DE SANICO DE SADE DE 43

    OBJETIVOS DO TRABALHO OBJETIVOS DO TRABALHO 48

    PARPARTE I: TE I: 5511ASSISTASSISTNCIA FARMACNCIA FARMACUTICA E REGULAMENTAUTICA E REGULAMENTAO DE MEDICAMENTOS NO BRASIL: O DE MEDICAMENTOS NO BRASIL: ESTRUTURAS E PROCESSOS (NESTRUTURAS E PROCESSOS (NVEL I)VEL I)

    METODOLOGIA METODOLOGIA 51ABORDAGEM GERAL DO ESTUDO ABORDAGEM GERAL DO ESTUDO 51

    EQUIPE DE PESQUISA EQUIPE DE PESQUISA 53

    A COLETA DE DADOS NO BRASIL A COLETA DE DADOS NO BRASIL 53

    CRITCRITRIOS RIOS TICOS TICOS 54

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    Srie medicamentos e outros insumos essenciais para a sade

    RESULTADOS E DISCUSSRESULTADOS E DISCUSSO O 54

    AS POLAS POLTICAS TICAS FFARMACARMACUTICAS NACIONAIS UTICAS NACIONAIS 55ESTRUTURA DE GESTESTRUTURA DE GESTO DA POLO DA POLTICA FARMACTICA FARMACUTICA NO PAUTICA NO PASS 59

    AVALIAAVALIAO E MONITORAMENTO DAS POLO E MONITORAMENTO DAS POLTICAS FARMACTICAS FARMACUTICAS UTICAS 61

    LEGISLALEGISLAO E REGULAO E REGULAO DE MEDICAMENTOS O DE MEDICAMENTOS E SERVIE SERVIOS FARMACOS FARMACUTICOS UTICOS 63ESTABELECIMENTO DE ESTABELECIMENTO DE RGRGO RESPONSO RESPONSVEL PELA REGULAMENTAVEL PELA REGULAMENTAO O NA NA REA DE MEDICAMENTOS REA DE MEDICAMENTOS 64

    REQUISITOS PARA A PRODUREQUISITOS PARA A PRODUO DE MEDICAMENTOSO DE MEDICAMENTOS 66

    REGISTRO SANITREGISTRO SANITRIO DE MEDICAMENTOSRIO DE MEDICAMENTOS 66

    DISTRIBUIDISTRIBUIO E COMERCIALIZAO E COMERCIALIZAO DE MEDICAMENTOSO DE MEDICAMENTOS 68

    IMPORTAIMPORTAO E EXPORTAO E EXPORTAO DE MEDICAMENTOSO DE MEDICAMENTOS 69

    REQUISITOS PARA INSPEREQUISITOS PARA INSPEO E CO E CDIGO DE CONDUTA DO TRABALHO NORMATIVO DIGO DE CONDUTA DO TRABALHO NORMATIVO 70

    PROMOPROMOO E PUBLICIDADE DE MEDICAMENTOS O E PUBLICIDADE DE MEDICAMENTOS 72

    REQUISITOS PARA EXERCREQUISITOS PARA EXERCCIO PROFISSIONAL DE PRESCRITORES E DISPENSADORES CIO PROFISSIONAL DE PRESCRITORES E DISPENSADORES 73

    INFORMAINFORMAES REGULATES REGULATRIAS NA INTERNET RIAS NA INTERNET 74

    QUALIDADE E SEGURANQUALIDADE E SEGURANA DOS PRODUTOS A DOS PRODUTOS FARMACFARMACUTICOS DISPONUTICOS DISPONVEIS NO PAVEIS NO PAS S 75FARMACOVIGILFARMACOVIGILNCIA NCIA 75

    GARANTIA DA QUALIDADE DE MEDICAMENTOSGARANTIA DA QUALIDADE DE MEDICAMENTOS 76

    MEDIDAS DE COMBATE MEDIDAS DE COMBATE FFALSIFICAALSIFICAO DE MEDICAMENTOSO DE MEDICAMENTOS 76

    ANANLISES DE CONTROLE DE QUALIDADELISES DE CONTROLE DE QUALIDADE 77

    PRODUPRODUO E COMERCIALIZAO E COMERCIALIZAO DE MEDICAMENTOS NO BRASILO DE MEDICAMENTOS NO BRASIL 79MEDICAMENTOS DISPONMEDICAMENTOS DISPONVEIS NO PAVEIS NO PASS 79

    LABORATLABORATRIOS FARMACRIOS FARMACUTICOS E UTICOS E PRODUPRODUO DE MEDICAMENTOSO DE MEDICAMENTOS 79

    A REDE DE LABORATA REDE DE LABORATRIOS FARMACRIOS FARMACUTICOS OFICIAISUTICOS OFICIAIS 80

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    Avaliao da assistncia farmacutica no Brasil

    ASSISTASSISTNCIA FARMACNCIA FARMACUTICA E ACESSO UTICA E ACESSO A MEDICAMENTOS ESSENCIAIS A MEDICAMENTOS ESSENCIAIS 81O SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE MEDICAMENTOS NO SUS O SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE MEDICAMENTOS NO SUS 81

    AQUISIAQUISIO O 82

    MEDICAMENTOS NO SUS E MEDICAMENTOS NO SUS E COBERTURA PRIVADA COBERTURA PRIVADA 83A SELEA SELEO E AS LISTAS DE MEDICAMENTOS ESSENCIAIS O E AS LISTAS DE MEDICAMENTOS ESSENCIAIS 83

    OS MEDICAMENTOS E OS PROGRAMAS DE SAOS MEDICAMENTOS E OS PROGRAMAS DE SADE DE 84

    AQUISIO DE MEDICAMENTOS NO SETOR PRIVADOAQUISIO DE MEDICAMENTOS NO SETOR PRIVADO 86 PARMETROS PARA A COBERTURA PRIVADA DE MEDICAMENTOS 87

    FINANCIAMENTO E REGULAFINANCIAMENTO E REGULAO DE PREO DE PREOS DE MEDICAMENTOSOS DE MEDICAMENTOS 88GASTO GASTO PPBLICO PARA AQUISIBLICO PARA AQUISIO DE MEDICAMENTOSO DE MEDICAMENTOS 88

    POLPOLTICA NACIONAL DE REGULATICA NACIONAL DE REGULAO O DE PREDE PREOS DE MEDICAMENTOSOS DE MEDICAMENTOS 89

    DOADOAES DE MEDICAMENTOS ES DE MEDICAMENTOS 90

    USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS (URM) USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS (URM) 91DIRETRIZES TERAPDIRETRIZES TERAPUTICAS NACIONAIS UTICAS NACIONAIS PADRONIZADAS (DTPS) PADRONIZADAS (DTPS) 91

    EDUCAEDUCAO DE PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS O DE PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS COM A UTILIZACOM A UTILIZAO DE MEDICAMENTOS O DE MEDICAMENTOS 92 EXISTNCIA DE CENTROS OU SERVIOS DE INFORMAO SOBRE MEDICAMENTOS 93 CAMPANHAS PBLICAS DE EDUCAO 93

    PRESCRIPRESCRIO E SUBSTITUIO E SUBSTITUIO POR GENO POR GENRICOS RICOS 94

    URM COMO URM COMO PARTE DA POLPARTE DA POLTICA INSTITUCIONAL TICA INSTITUCIONAL 94

    ESTRATESTRATGIAS NACIONAIS PARA CONTER GIAS NACIONAIS PARA CONTER A RESISTA RESISTNCIA A ANTIBINCIA A ANTIBITICOSTICOS 96

    PROTEPROTEO DOS DIREITOS DE PROPRIEDADE O DOS DIREITOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL E AUTORIZAINTELECTUAL E AUTORIZAO DE COMERCIALIZAO DE COMERCIALIZAOO 98

    CONSIDERACONSIDERAES QUANTO AOS DADOS OBTIDOS NA PARTE ES QUANTO AOS DADOS OBTIDOS NA PARTE II 100

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    Srie medicamentos e outros insumos essenciais para a sade

    PARTE II: PARTE II: 110055INQUINQURITO SISTEMRITO SISTEMTICO DE SERVITICO DE SERVIOSOS E PESQUISA DOMICILIAR DE ACESSE PESQUISA DOMICILIAR DE ACESSOO A A MEDICAMENTOS (NMEDICAMENTOS (NVEL II)VEL II)

    METODOLOGIA METODOLOGIA 105AMOSTRAGEM AMOSTRAGEM 106

    AVALIAAVALIAO NOS SERVIO NOS SERVIOS OS 109

    ASPECTOS OPERACIONAIS PREPARATASPECTOS OPERACIONAIS PREPARATRIOS PARA A COLETA RIOS PARA A COLETA 114

    ESTUDO DOMICILIAR ESTUDO DOMICILIAR 116

    ASPECTOS DA COLETA DOS DADOS ASPECTOS DA COLETA DOS DADOS 118

    ASPECTOS ASPECTOS TICOS E ACESSO AOS DADOS TICOS E ACESSO AOS DADOS 119

    DISSEMINADISSEMINAO DOS RESULTADOS O DOS RESULTADOS 120

    CRONOGRAMA CRONOGRAMA 120

    CARACTERIZACARACTERIZAO DOS ESTADOS E MUNICO DOS ESTADOS E MUNICPIOS ESTUDADOS PIOS ESTUDADOS 121

    RESULTADOS E DISCUSSRESULTADOS E DISCUSSO O 128TREINAMENTO TREINAMENTO 128

    AVALIAAVALIAO NOS SERVIO NOS SERVIOS OS 128 INDICADORES DE ACESSO 131 INDICADORES DE QUALIDADE 133 INDICADORES DE URM 140

    ESTUDO DOMICILIAR ESTUDO DOMICILIAR 147 CARACTERIZAO DA AMOSTRA 148 INDICADORES DE ACESSO A MEDICAMENTOS 151 INDICADORES DE USO DE MEDICAMENTOS 157

    CONSIDERACONSIDERAES QUANTO AOS DADOS OBTIDOS NA PARTE II ES QUANTO AOS DADOS OBTIDOS NA PARTE II 160

    CONSIDERACONSIDERAES FINAIS SOBRE OS ESTUDOS NO BRASIL ES FINAIS SOBRE OS ESTUDOS NO BRASIL 163

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    Avaliao da assistncia farmacutica no Brasil

    REFERREFERNCIAS NCIAS REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 167

    SITES DE INTERESSE SITES DE INTERESSE 176

    ANEXO ANEXO 11. . 117979QUESTIONQUESTIONRIO SOBRE ESTRUTURAS E PROCESSOS DA SITUARIO SOBRE ESTRUTURAS E PROCESSOS DA SITUAO FARMACO FARMACUTICA UTICA NACIONALNACIONAL

    ANEXO ANEXO 22.. 197197ESTRATESTRATGIA DE MEDICAMENTOS DA GIA DE MEDICAMENTOS DA OMSOMS 2004-2007: OBJETIVOS, COMPONENTES, 2004-2007: OBJETIVOS, COMPONENTES, RESULTADOS ESPERADOS E INDICADORES DE PROGRESSO POR PARESULTADOS ESPERADOS E INDICADORES DE PROGRESSO POR PASS

    ANEXO ANEXO 33. . 220033PLANILHA PARA COLETA DE DADOS SOBRE ESTRUTURAS E PROCESSOS DA SITUAPLANILHA PARA COLETA DE DADOS SOBRE ESTRUTURAS E PROCESSOS DA SITUAO O FARMACFARMACUTICA NACIONAL - PERFIL FARMACUTICA NACIONAL - PERFIL FARMACUTICO DO BRASILUTICO DO BRASIL

    ANEXO ANEXO 44. . 220044TERMO DE TERMO DE CCONSENTIMENTO -ONSENTIMENTO - P PERFIL ERFIL FFARMACARMACUTICOUTICO

    ANEXO ANEXO 55. . 220055DESCRIDESCRIO DOS INDICADORES NO NO DOS INDICADORES NO NVEL DE SERVIVEL DE SERVIOS, DISTRIOS, DISTRIBUIBUIO SEGUNDO O ASPEO SEGUNDO O ASPECCTO TO ANALISADO E FANALISADO E FRMULA DE CRMULA DE CLCULOLCULO

    ANEXO ANEXO 66. . 221144FORMULFORMULRIOS DE AVALIARIOS DE AVALIAO DE SERVIO DE SERVIOSOS

    ANEXO ANEXO 77. . 224422FORMULFORMULRIO PESQUISA DOMICILIAR DE ACESSO E USO DE MEDICAMENTOSRIO PESQUISA DOMICILIAR DE ACESSO E USO DE MEDICAMENTOS

    ANEXO ANEXO 88. . 224455ROTEIRO DO TRABALHO DE CAMPOROTEIRO DO TRABALHO DE CAMPO

    ESTUDO NESTUDO NVEL II DA ASSISTVEL II DA ASSISTNCIA FARMACNCIA FARMACUTICA NO BRASILUTICA NO BRASIL

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    Srie medicamentos e outros insumos essenciais para a sade

    ANEXO ANEXO 99. . 224747DESCRIDESCRIO DOS INDICADORES DE ACESSO E USO DOS MEDICAMENTOS NO NO DOS INDICADORES DE ACESSO E USO DOS MEDICAMENTOS NO NVEL VEL DOMICILIAR E FDOMICILIAR E FRMULA DE CRMULA DE CLCULO.LCULO.

    ANEXO ANEXO 1010. . 224488TERMOS DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO EMPREGADOS NO PROJETO TERMOS DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO EMPREGADOS NO PROJETO (DOMIC(DOMICLIOS, UNIDADES LIOS, UNIDADES PPBLICAS DE SABLICAS DE SADE, FARMDE, FARMCIAS PRIVADAS)CIAS PRIVADAS)

    ANEXO ANEXO 1111. . 225511DOCUMENTOS REFERENTES AO TREINAMENTO (PROGRAMADOCUMENTOS REFERENTES AO TREINAMENTO (PROGRAMAO, RELATO, RELATRIO, PLANO DE RIO, PLANO DE AAO, TERMOS DE COMPROMISSO)O, TERMOS DE COMPROMISSO)

    BIOGRAFIAS - BIOGRAFIAS - PESQUISADORES, AUTORES E COLABORADORESPESQUISADORES, AUTORES E COLABORADORES 258258

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    Avaliao da assistncia farmacutica no Brasil

    LISTA DE FIGURAS, QUADROS E TABELASLISTA DE FIGURAS, QUADROS E TABELASLISTA DE FIGURASLISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Nveis dos indicadores da OMS para avaliao do setor farmacutico nos pases .............................................................................. 41

    Figura 2. Destaque do nvel I em relao aos nveis dos indicadores da OMS para avaliao do setor farmacutico nos pases ...................... 52

    Figura 3. Destaque do nvel II em relao aos nveis dos indicadores da OMS para avaliao do setor farmacutico nos pases ................... 106

    Figura 4. Esquema para a seleo da amostra para incluso dos domiclios .................................................................................................... 117

    Figura 5. Distribuio das unidades de sade segundo o grau de boas prticas de estocagem no almoxarifado. Brasil, 2004 ....................... 134

    Figura 6. Distribuio das unidades de sade segundo o grau de boas prticas de estocagem na rea de dispensao. Brasil, 2004 ............ 134

    Figura 7. Valor do tratamento/ Capacidade aquisitiva para esquemas de tratamento para pneumonia, hipertenso arterial e asma nas centrais farmacuticas de abastecimento estaduais e municipais e farmcias/ drogarias privadas. Brasil, 2004 ............................................. 137

    Figura 8. Distribuio mdia de referncia de tipo de fornecedor por produtos nas secretarias estaduais e municipais de medicamentos. Brasil, 2004 .............................................................................................................................................................................. 140

    Figura 9. Distribuio dos domiclios em cada subpopulao estratificada de acordo com o nmero de bens. Brasil, 2004. ........................... 148

    Figura 10. Distribuio dos domiclios segundo escolaridade do chefe da famlia por estrato (em %). Brasil, 2004. ....................................... 149

    Figura 11. Estabelecimentos de sade presentes no raio de 1 km dos domiclios e infra-estrutura existente. Total e por estratos de acordo com o n de bens. Brasil, 2004 ......................................................................................................................... 150

    LISTA DE QUADROSLISTA DE QUADROSQuadro 1. Os objetivos e metas do Milnio ........................................................................................................................................................ 44

    Quadro 2. Indicadores, local de coleta, fonte do dado, estratgia da coleta e formulrio de pesquisa a ser utilizado ..............................110-112

    Quadro 3. Indicadores alterados em relao proposio da OMS ..........................................................................................................113-114

    Quadro 4. Problemas comuns de sade considerados de importncia para abordagem teraputica no nvel da ateno bsica de sade e respectivos medicamentos-chave ........................................................................................................................................ 115

    Quadro 5. Indicadores de acesso e uso de medicamentos no estudo domiciliar .............................................................................................. 119

    Quadro 6. Cronograma geral de desenvolvimento do projeto .......................................................................................................................... 121

    Quadro 7. Caracterizao dos estados e municpios pesquisados .............................................................................................................122-127

    LISTA DE TABELASLISTA DE TABELASTabela 1. Cursos selecionados na rea da sade, ingressantes e concluintes em 2004. Brasil ........................................................................... 92

    Tabela 2. Tipos e quantidades de estabelecimentos visitados no estudo de nvel II ......................................................................................... 108

    Tabela 3. Indicadores de servio, local de coleta, padro e resultado encontrado (mdia geral do pas). Brasil, 2004. .............................129-130

    Tabela 4. Preos mais baratos e mais caros observados nas farmcias/ drogarias privadas e percentual de economia do mais barato em relao ao mais caro. Brasil, 2004 ..................................................................................................................................... 132

    Tabela 5. Cumprimento da legislao sanitria nos almoxarifados de medicamentos das unidades de sade. Brasil, 2004 ........................... 136

    Tabela 6. Preos mdio, menor e maior preo unitrio observados nas Centrais Municipais de Abastecimento Farmacutico e economia percentual. Brasil, 2004 ................................................................................................................................................................. 138

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    Srie medicamentos e outros insumos essenciais para a sade

    Tabela 7. Preos mdio, menor e maior preo unitrio observados nas Centrais Estaduais de Abastecimento Farmacutico e economia percentual. Brasil, 2004 ................................................................................................................................................................. 139

    Tabela 8. Caracterizao geral dos usurios na reviso retrospectiva de receitas mdicas e na entrevista de sada. Brasil, 2004 ................... 141

    Tabela 9. Resultados encontrados quanto s condutas de prescrio investigadas segundo a doena traadora. Brasil, 2004. ...................... 144

    Tabela 10. Distribuio das unidades de sade segundo o resultado alcanado quanto a indicadores selecionados de uso racional de medicamentos relativos a informao ao paciente. Brasil, 2004. ................................................................................................... 145

    Tabela 11. Distribuio dos sintomas dos indivduos que tiveram um episdio de doena aguda nas duas semanas anteriores a entrevista. Brasil, 2004. ................................................................................................................................................................. 151

    Tabela 12. Percentagem de respostas domiciliares de acesso a cada fonte de obteno de medicamentos. Brasil, 2004 ............................... 152

    Tabela 13. Mdia das respostas domiciliares sobre gasto em medicamentos em reais por fontes. Brasil, 2004 .............................................. 154

    Tabela 14. Respostas domiciliares sobre a razo para a no obteno de todos os medicamentos recomendados. Brasil, 2004 .................... 155

    Tabela 15. Mdia de respostas domiciliares sobre a capacidade aquisitiva para medicamentos (para a enfermidade citada na entrevista, % do gasto mensal com alimentos). Brasil, 2004 ............................................................................................................ 156

    Tabela 16. Mdia de respostas domiciliares sobre a capacidade aquisitiva para medicamentos num ms (% do gasto mensal com alimentos). Brasil, 2004 ................................................................................................................................................................ 156

    Tabela 17. Mdia de respostas domiciliares sobre os gastos (R$) com alimentos e medicamentos em um ms. Brasil, 2004 ......................... 157

    Tabela 18. Percentagem de domiclios que acessam cada fonte para consulta. Brasil, 2004 ........................................................................... 159

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    Avaliao da assistncia farmacutica no Brasil

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS AFE - Autorizao de Funcionamento da Empresa

    AMA American Medical Association

    AMS - Pesquisa Assistncia Mdico-Sanitria

    ANS Agncia Nacional de Sade Suplementar

    Anvisa Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria

    CAF Central de Abastecimento Farmacutico

    CFF Conselho Federal de Farmcia

    CFM Conselho Federal de Medicina

    CCIH - Comisso de Controle de Infeces Hospitalares

    CDC - Centro de Controle de Doenas

    Cebrim Centro Brasileiro de Informaes sobre Medicamentos

    Ceme Central de Medicamentos

    CEP Comit de tica em Pesquisa

    CFF Conselho Federal de Farmcia

    CNE Conselho Nacional de Educao

    CNS Conselho Nacional de Sade

    Comare - Comisso Tcnica e Multidisciplinar de Atualizao da Relao Nacional de Medicamentos Essenciais

    Conass Conselho Nacional de Secretrios de Sade

    DAF Departamento de Assistncia Farmacutica e Insumos Estratgicos

    Datasus - Departamento de Informao e Informtica do SUS

    DCB Denominao Comum Brasileira

    DCB Departamento de Cincias Biolgicas

    DCI Denominao Comum Internacional

    Ensp Escola Nacional de Sade Pblica Srgio Arouca

    Etac - Entrevistas Telefnicas Assistidas por Computador

    Far-manguinhos Instituto de Tecnologia em Frmacos

    Fiocruz Fundao Oswaldo Cruz

    FP Formulrio de Pesquisa

    FT Formulrio Teraputico

    Funasa - Fundao Nacional de Sade

    GETAF Gerncia Tcnica de Assistncia Farmacutica

    GGIMP Gerncia Geral de Inspeo de Medicamentos e Produtos para a Sade

    GGLAS Gerncia Geral de Laboratrios

    GGMED Gerncia Geral de Medicamentos

    GGREM Gerncia Geral de Regulao Econmica

    Ginve Gerncia de Investigao

    GM Gabinete do Ministro

    IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IDB - Indicadores e Dados Bsicos

    IDHM - ndice de Desenvolvimento Humano Municipal

    INCQS - Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Sade

    Inep - Instituto Nacional de Estatsticas e Pesquisas

    Jife Junta Internacional de Fiscalizao

    Lacen - Laboratrio Central de Sade Pblica

    LME Lista de Medicamentos Essenciais

    LPI - Lei de Propriedade Industrial

    MAR - Mtodo de Avaliao Rpida

    MEC - Ministrio da Educao

    MS - Ministrio da Sade

    MSH - Management Sciences for Health

    NAF Ncleo de Assistncia Farmacutica

    Nescon Ncleo de Estudos em Sade Coletiva da Faculdade de Medicina/UFMG

    NSA No se Aplica

    OMC - Organizao Mundial do Comrcio (WTO World Trade Organization, em ingls)

    OMS Organizao Mundial da Sade (WHO - World Health Organization, em ingls; Organizacin Mundial de la Salud, em espanhol)

    ONGs - Organizaes No Governamentais

    OPAS Organizao Pan-Americana da Sade (Paho - Pan American Health Organization, em ingls; OPS Organizacin Panamericana de Salud, em espanhol)

    Pnad - Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios

    Pnaf Poltica Nacional de Assistncia Farmacutica

    PNDS - Pesquisa Nacional de Demografia e Sade

    PNM Poltica Nacional de Medicamentos

    Pnud - Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    Proveme - Programa de Verificao da Qualidade de Medicamentos

    PTP Protocolo Teraputico Padro

    RDC Resoluo da Diretoria Colegiada (da Anvisa)

    Rename Relao Nacional de Medicamentos Essenciais

    RPMP Rational Pharmaceutical Management Project

    SAS - Secretaria da Ateno Sade;

    SCTIE Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos

    Seam Strategies for Enhancing Access to Medicines

    SIA - Sistema de Informaes Ambulatoriais

    SIH - Sistema de Informaes Hospitalares

    SIM - Sistema de Informao em Mortalidade

    Siops - Sistema de Informaes sobre Oramentos Pblicos em Sade

    Sismed Sistema Brasileiro de Informaes sobre Medicamentos

    SPS - Secretaria de Polticas de Sade;

    SUS Sistema nico de Sade

    Trips - Trade Related Aspects of Intellectual Rights Including Trade in Counterfeit Goods, ou Adpic em portugus.

    Unicef Fundo das Naes Unidas para a Infncia

    UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais

  • APRESENTAOAPRESENTAO

  • 19

    Avaliao da assistncia farmacutica no Brasil

    APRESENTAO APRESENTAO

    O setor farmacutico brasileiro tem passado por importantes transformaes, principalmente nos ltimos cinco anos, destacando-se entre elas a aprova-o da Poltica Nacional de Medicamentos (PNM), a criao da Agncia Nacional

    de Vigilncia Sanitria (Anvisa), a Lei de Genricos e, mais recentemente, a rea-

    lizao da Conferncia Nacional de Medicamentos e Assistncia Farmacutica,

    a criao no Ministrio da Sade (MS), da Secretaria de Cincia, Tecnologia e

    Insumos Estratgicos (SCTIE) e como parte dela o Departamento de Assistncia

    Farmacutica e Insumos Estratgicos (DAF), e a aprovao da Poltica Nacional de

    Assistncia Farmacutica (Pnaf). O acompanhamento e a avaliao desses proces-

    sos e seus resultados so fundamentais. No entanto, tais mudanas tm sido pouco

    documentadas e avaliadas.

    Em 2003, o Brasil participou do estudo da Situao Farmacutica Mundial,

    promovido pela Organizao Mundial da Sade (OMS), em seu chamado Nvel I,

    cujo objetivo foi acompanhar e avaliar a implementao das polticas farmacuticas

    no pas. O estudo foi realizado a partir do questionrio sobre "Estruturas e Processos

    da Situao Farmacutica Nacional", da OMS. A participao brasileira foi possvel

    graas ao esforo coletivo de uma equipe de trabalho coordenada pelo Ministrio

    da Sade e pela Organizao Pan-Americana da Sade/Organizao Mundial da

    Sade (OPAS/OMS) e composta por tcnicos do (DAF/SCTIE/MS), da Anvisa,

    da Agncia Nacional de Sade Suplementar (ANS), do Ncleo de Assistncia

    Farmacutica da Escola Nacional de Sade Pblica Sergio Arouca (NAF/DCB/

    Ensp/Fiocruz) e de Far-Manguinhos/Fiocruz, da OPAS/OMS e colaboradores. Ao

    iniciar o trabalho, o grupo detectou a necessidade de que a coleta, anlise e divul-

    gao dos dados se tornassem sistemticos e que no servisse apenas para informar

    OMS, ou seja, que os dados obtidos pudessem ser disponibilizados no interior do

    pas. Por condies diversas, no foi possvel realizar a publicao do estudo naquele

    momento. Embora parte dos dados e informaes constantes no Nvel I tenha

    sofrido modificaes, optou-se por public-los como ponto de partida, tanto para

    sua atualizao futura quanto como contexto para os estudos dos demais nveis.

  • 20

    Srie medicamentos e outros insumos essenciais para a sade

    Em 2004, sob coordenao do Ministrio da Sade, OPAS/OMS e NAF/

    DCB/Ensp/Fiocruz foi realizado o estudo Nvel II, com vistas a avaliar os resultados

    das polticas farmacuticas em termos de seus objetivos principais acesso, qualidade

    e uso racional de medicamentos. Essa abordagem, coordenada tecnicamente pelo

    (NAF/DCB/Ensp/Fiocruz), foi implementada por meio de um inqurito realizado

    em servios pblicos de sade, unidades pblicas de dispensao de medicamentos

    e estabelecimentos do comrcio farmacutico varejista. Complementarmente, foi

    conduzido um estudo domiciliar de acesso e utilizao de medicamentos.

    Durante a elaborao de todo o trabalho, houve a preocupao de tornar

    possvel a reprodutibilidade e a comparabilidade dos dados ao longo do tempo.

    Este documento apresenta, de forma pormenorizada, os resultados obtidos,

    disponibilizando-os para formuladores de polticas, profissionais, pesquisadores e,

    sobretudo, para o controle social, uma vez que fonte de consulta e subsdio para a

    anlise e elaborao de propostas de reorientao das aes e polticas.

    A divulgao dos manuais e dos modelos dos formulrios utilizados pretende

    subsidiar a conduo peridica do estudo em todas as esferas de governo, como

    forma de fortalecer o processo de descentralizao e apropriao dessa metodologia

    de avaliao e o uso da avaliao como uma ferramenta de deciso.

  • 21

    Avaliao da assistncia farmacutica no Brasil

    RESUMO EXECUTIVORESUMO EXECUTIVO

  • 22

    Srie medicamentos e outros insumos essenciais para a sade

  • 23

    Avaliao da assistncia farmacutica no Brasil

    RESUMO EXECUTIVO RESUMO EXECUTIVO

    Com a estratgia de Medicamentos Essenciais para o perodo de 2004-2007, a OMS d continuidade resposta aos desafios em medicamentos do sculo XXI por meio de quatro objetivos principais: (a) melhorar o acesso a medicamentos

    essenciais; (b) fortalecer as polticas nacionais de medicamentos; (c) melhorar a

    qualidade e segurana dos medicamentos; e (d) promover seu uso racional (WHO,

    2004a). Em relao ao objetivo (b), relacionado a polticas, a estratgia assegurar

    a implementao e monitorizao de polticas nacionais de medicamentos.

    Para esse fim, a OMS desenvolveu um conjunto de indicadores, organizados

    em trs nveis. O Nvel I corresponde ao questionrio Estruturas e Processos da

    Situao Farmacutica Nacional, respondido pelas autoridades sanitrias nacio-

    nais dos pases membros da organizao. O Nvel II corresponde a indicadores que

    proporcionam coleta sistemtica de dados sobre acesso e uso racional de medica-

    mentos de qualidade, obtidos por meio de um inqurito realizado com pesquisa de

    campo, e o Nvel III composto por indicadores especficos que podem ser aplica-

    dos pelos pases conforme suas necessidades e possibilidades. Este documento traz

    os resultados da aplicao dos Nveis I e II no Brasil.

    PARTE I: ASSISTNCIA FARMACUTICA E REGULAMENTAO DE PARTE I: ASSISTNCIA FARMACUTICA E REGULAMENTAO DE MEDICAMENTOS NO BRASIL: ESTRUTURAS E PROCESSOS (NVEL I)MEDICAMENTOS NO BRASIL: ESTRUTURAS E PROCESSOS (NVEL I)

    A primeira parte desta publicao traz o resultado da aplicao do questionrio de Nvel I no Brasil em 2003, com parte dos dados atualizados em 2004. A pesquisa foi feita sob responsabilidade do DAF/SCTIE/MS e da OPAS/OMS, para

    a qual formou uma equipe composta por tcnicos da SCTIE, da Anvisa, da ANS,

    do NAF/DCB/Ensp/Fiocruz, de Far-Manguinhos/Fiocruz, da OPAS/OMS e por

    colaboradores.

    O questionrio composto por dez temas: Poltica farmacutica nacional,

    Legislao e regulao de medicamentos, Controle de qualidade dos produtos far-

  • 24

    Srie medicamentos e outros insumos essenciais para a sade

    macuticos, Lista de medicamentos essenciais, Sistema de abastecimento de medi-

    camentos, Financiamento de medicamentos, Acesso a medicamentos essenciais,

    Produo de medicamentos, Uso racional de medicamentos e Proteo dos direitos

    de propriedade intelectual e Autorizao de comercializao (registro).

    O estudo mostrou que o Brasil possui uma estrutura legislativa e regulatria

    de medicamentos bastante abrangente.

    A gesto das polticas farmacuticas de responsabilidade do Ministrio da

    Sade por meio da SCTIE, no mbito federal, e dos rgos de assistncia farma-

    cutica das secretarias estaduais e municipais de sade. Faz parte das competncias

    da Anvisa a regulamentao, o controle e a fiscalizao de produtos e servios que

    envolvam risco sade pblica, incluindo medicamentos. Nos estados e municpios

    essa atribuio das Coordenaes de Vigilncia Sanitria.

    Em 2003, havia 450 indstrias brasileiras autorizadas para produo de

    produtos farmacuticos acabados. No Brasil, a prescrio de medicamentos

    de uso humano restrita a mdicos e dentistas. No SUS, obrigatrio o uso de

    Denominao Comum Brasileira (DCB), e a substituio por medicamentos gen-

    ricos pode ser feita pelo farmacutico, tanto em farmcias pblicas como privadas.

    Em 2002, segundo a Anvisa, existiam 15.831 medicamentos em comerciali-

    zao no pas, com um volume total de unidades de medicamentos comercializados

    no mercado varejista de 1.277.336.635, correspondendo a um volume financeiro de

    U$ 4.471.996.370,00. A estimativa do gasto pblico do Ministrio da Sade desti-

    nado a medicamentos no ano de 2002 foi de U$ 1.381.077.967,72, o que corres-

    ponde a R$ 4.047.801.415,591.

    No campo do acesso e do uso racional, alm da dificuldade em obteno de

    dados, h necessidade de uma anlise mais aprofundada, o que pode ser visualizado

    no Nvel II a seguir. Tais elementos de anlise so contribuies importantes para

    uma possvel reorientao das Polticas Nacionais de Medicamentos e de Assistncia

    Farmacutica e sua interface com as demais polticas pblicas.

    Espera-se que, alm de gerar dados para melhor compreenso das polticas

    farmacuticas no pas, o estudo contribua para delinear as bases estruturantes de um

    1 Converses com base no valor mdio do dlar no ano de 2002, fornecido pelo Banco Central do Brasil (BCB): U$ 2,9309.

  • 25

    Avaliao da assistncia farmacutica no Brasil

    sistema de informao acerca do tema e ajude na incorporao da avaliao como

    prtica gerencial, nos diferentes nveis de governo.

    PARTE II: INQURITO SISTEMTICO DE SERVIOS E PESQUISA PARTE II: INQURITO SISTEMTICO DE SERVIOS E PESQUISA DOMICILIAR DE ACESSO A MEDICAMENTOS (NVEL II)DOMICILIAR DE ACESSO A MEDICAMENTOS (NVEL II)

    Esse estudo foi realizado no Brasil em 2004 e consistiu na aplicao de metodo-logia proposta pela OMS para avaliao de polticas farmacuticas. Alm da aplicao do pacote voltado ao inqurito sistemtico de coleta de dados em servios

    de sade e farmcias privadas, o Brasil trabalhou com o inqurito domiciliar para

    estudo de acesso e utilizao de medicamentos, contribuindo para o aprimoramento

    de uma metodologia que ainda est sendo desenvolvida pela OMS.

    Essas abordagens constituem o que a OMS vem chamando de Estudo Nvel

    II da Situao Farmacutica, e a proposta que sua aplicao seja peridica (bi ou

    tri-anual) e sistemtica.

    Esse esforo vem ao encontro das expectativas do Ministrio da Sade, cuja

    inteno fomentar a incorporao da avaliao dentro do processo de gerncia,

    balizando a tomada de deciso com base em evidncias objetivas e permitindo

    acompanhar a eficcia e a eficincia das estratgias de melhoria e dos investimentos

    realizados. tambm inteno do atual governo fortalecer o processo de descentra-

    lizao da assistncia farmacutica de forma estruturada e organizada, fortalecendo

    a capacidade gerencial no nvel dos estados e dos municpios.

    A conduo da pesquisa foi atribuda ao NAF/DCB/Ensp/Fiocruz, Centro

    Colaborador da OPAS/OMS, que apresenta experincia na realizao de estudos

    desse tipo. Os cuidados ticos incluram a submisso do projeto ao Comit de tica

    em Pesquisa da Ensp, a solicitao de autorizao dos entrevistados manifestada

    pelo consentimento livre e esclarecido e a assinatura de termo de compromisso de

    sigilo por todos os pesquisadores de campo.

    O estudo consistiu na conduo de inqurito baseado em visita a centrais esta-

    duais e municipais de abastecimento farmacutico (CAF), visita a unidades pblicas

    de sade que realizam atendimento ambulatorial e dispensao de medicamentos

    e visita a farmcias privadas em cinco estados da Federao (Esprito Santo, Gois,

  • 26

    Srie medicamentos e outros insumos essenciais para a sade

    Par, Rio Grande do Sul e Sergipe) e em dois municpios por estado, selecionados

    por sorteio. Nesses locais, foram realizadas entrevistas com profissionais e pacientes,

    observaes e consulta a documentos administrativos e clnicos. Ainda foram visita-

    dos domiclios, em conglomerados definidos a partir de sua distncia das unidades

    pblicas de sade estudadas. A coleta de dados, realizada por profissionais de sade

    selecionados e treinados pela coordenao da pesquisa, ocorreu no perodo de 13

    a 24 de setembro de 2004. Os resultados da abordagem de servios permitiram evi-

    denciar aspectos referentes a acesso, qualidade e uso racional de medicamentos.

    Quanto ao acesso, encontrou-se disponibilidade mdia para os medicamen-

    tos principais de 74% nas unidades pblicas de sade. Chama ateno que nas far-

    mcias privadas o valor foi de 88%, mostrando que tambm nestes estabelecimentos

    o usurio tem dificuldade de encontrar medicamentos essenciais. O tratamento de

    doenas freqentes e importantes, no nvel da ateno bsica em sade, compro-

    mete proporo importante da renda dos trabalhadores que ganham um salrio

    mnimo.

    Quanto qualidade de produtos e servios, tambm foram encontrados pro-

    blemas importantes, representados pela grande variao, entre os diferentes servios

    visitados, nas condies de estocagem e em outras prticas de logstica de medica-

    mentos, principalmente no que concerne aos preos de compra de medicamentos

    obtidos pelos diferentes estados e municpios visitados. Como aspecto positivo res-

    salta-se o baixo porcentual de medicamentos vencidos.

    Os resultados dos indicadores clssicos da OMS para medir o uso racional

    de medicamentos apresentam valores mdios aceitveis, mas com excees impor-

    tantes. Cabe destacar a estratgia de avaliao da racionalidade da prescrio. Os

    resultados quanto s condutas de prescrio para doenas traadoras permitiram

    evidenciar, entre outras coisas, que medicamentos que polarizam debates no mbito

    nacional, como a dipirona, por exemplo, ainda so amplamente prescritos.

    O inqurito domiciliar abordou o comportamento da populao frente a um

    episdio agudo de doena, em que os sintomas, independentes de sua gravidade,

    incomodam o indivduo e suscitam a busca de uma soluo, ainda que pontual. Em

    89,6% dos domiclios, os doentes obtiveram todos os medicamentos recomendados

    por mdico ou dentista, sendo que 99% dos domiclios com oito e mais bens obtive-

    ram todos os medicamentos recomendados. No entanto, a maior parte dos doentes

    obteve seus medicamentos em farmcias privadas e, para os que no conseguiram o

  • 27

    Avaliao da assistncia farmacutica no Brasil

    medicamento, o motivo mais freqente foi a falta de dinheiro para a compra. Esses

    dados indicam uma falha do setor pblico na proviso dos medicamentos, tendo em

    vista que o modelo brasileiro baseado na distribuio gratuita de medicamentos

    essenciais.

    Dessa forma, ambas as abordagens permitiram um panorama da situao

    atual do setor, luz da metodologia proposta pela OMS, podendo contribuir para

    a construo de estratgias de interveno e estabelecimento de um modelo de

    monitoramento da poltica de medicamentos no Brasil.

    Espera-se que o aprendizado proporcionado pelo processo de aplicao do

    estudo e os resultados obtidos redundem em contribuio para a melhor organiza-

    o da assistncia farmacutica no somente nos estados visitados, mas em todo o

    pas.

  • INTRODUOINTRODUO

  • 31

    Avaliao da assistncia farmacutica no Brasil

    INTRODUOINTRODUO

    A efetividade dos medicamentos o resultado de uma longa cadeia de fatores: pes-quisa e desenvolvimento (P&D), produo, controle de qualidade, distribuio, informaes confiveis para profissionais de sade e pblico em geral, diagnstico,

    prescrio, acesso financeiro, dispensao, adeso ao tratamento e farmacovigilncia

    (PCOUL et al., 1999). Em cada nvel podem estar envolvidos interesses conflitan-

    tes, sendo que as populaes pobres so as primeiras a sofrer os efeitos da quebra dos

    elos dessa cadeia. Atualmente, populaes inteiras vem dificultado seu acesso aos

    medicamentos essenciais de qualidade. Essa situao parece estar se deteriorando

    com a marginalizao de grande parte da populao mundial (SANTOS, 1998).

    Quando bem utilizado, o medicamento o recurso teraputico com maior

    relao custo-efetividade. Seu uso inadequado, no entanto, um importante pro-

    blema de sade pblica mundial, com grandes conseqncias econmicas (OMS,

    2003).

    O acesso aos medicamentos envolve uma complexa rede de atores, pbli-

    cos e privados, que desempenham diferentes papis em funo do contexto eco-

    nmico, poltico e social dos diversos pases (BENNET; QUICK; VELSQUEZ,

    1997; ZERDA et al., 2001).

    A situao mundial do acesso a medicamentos essenciais ainda considerada

    crtica. Embora o acesso ateno sade seja um direito humano fundamental,

    no qual est includo o acesso a medicamentos essenciais, a OMS estima que cerca

    de dois bilhes de pessoas (1/3 da populao mundial) no tm acesso regular a

    esses medicamentos.

    O consumo per capita de medicamentos extremamente desigual, varia de

    cerca de US$ 400,00/ano, em pases desenvolvidos, a US$ 4,00/ano, em pases em

    desenvolvimento. Segundo estimativa da OMS, em termos de valores, 15% da popu-

    lao mundial consome mais de 90% da produo mundial de medicamentos.

    A OMS calcula que at o ano de 2015, 10,5 milhes de vidas poderiam ser

    salvas anualmente, com conseqente melhoria do desenvolvimento econmico

  • 32

    Srie medicamentos e outros insumos essenciais para a sade

    e social, caso fossem fortalecidas as intervenes em doenas infecciosas, sade

    materno-infantil e doenas no transmissveis (WHO, 2004a).

    Embora haja padres de qualidade internacionalmente estabelecidos e difun-

    didos, 20% dos medicamentos ainda chegam a alguns mercados fora desses padres.

    Como conseqncia, os medicamentos com desvios de qualidade e falsificados con-

    tinuam a causar danos sade e at a morte (WHO, 1999). Cerca de um tero

    dos pases membros da OMS no tem autoridades regulatrias ou tem capacidade

    regulatria muito limitada (WHO, 2004a).

    Com relao utilizao, estima-se que cerca de 50% de todos os medica-

    mentos so prescritos, dispensados ou vendidos inadequadamente e por volta de

    50% dos usurios no usam corretamente seus medicamentos (ibid.).

    Segundo a OMS (WHO, 2001a), as diferentes experincias internacionais

    tm mostrado que problemas desse grau de importncia, complexidade e interde-

    pendncia exigem a definio formal de polticas pblicas.

    Com base nessa experincia, a OMS recomenda que todos os pases for-

    mulem e implementem uma ampla Poltica Nacional de Medicamentos (PNM).

    Segundo a OMS (WHO, 2004a), em 2003, dos pases inquiridos sobre a existncia

    de uma PNM, apenas 50% (62/123) apresentavam PNM formalmente publicada,

    recente ou atualizada nos ltimos dez anos.

    A existncia formal de uma poltica para essa rea, no entanto, no basta.

    Para que a PNM seja efetiva, fundamental que seja avaliada e que os resultados

    obtidos sejam usados para sua reorientao. Assim, o monitoramento e a avaliao

    aparecem entre as principais estratgias para a OMS (WHO, 2000; 2004a).

    O documento que apresenta a estratgia de medicamentos da OMS para o

    perodo 2004-2007 (WHO, 2004a) enfatiza a importncia de se assegurar a imple-

    mentao e o monitoramento das polticas nacionais de medicamentos. tambm

    focalizada a relevncia do suporte para que todos os pases desenvolvam polticas

    nacionais de medicamentos e que elas sejam implementadas, acompanhadas, regu-

    larmente atualizadas e estejam de acordo com os objetivos mais amplos de sade e

    de desenvolvimento de cada pas.

  • REFERENCIAL TERICO, REFERENCIAL TERICO, ANTECEDENTES E CONTEXTOANTECEDENTES E CONTEXTO

  • 35

    Avaliao da assistncia farmacutica no Brasil

    REFERENCIAL TERICO, REFERENCIAL TERICO, ANTECEDENTES E CONTEXTOANTECEDENTES E CONTEXTO

    ASPECTOS GERAIS DA AVALIAO EM SADEASPECTOS GERAIS DA AVALIAO EM SADE

    A despeito do termo avaliao abrigar muitas e diferentes definies, pode-se dizer que avaliar consiste, fundamental-mente, em fazer um julgamento do mrito, valor ou significncia

    acerca do objeto avaliado, que pode ser um servio, uma poltica

    ou um programa (CONTANDRIOPOULOS et al., 1997; CDC,

    1999). Em ltima anlise, o objeto de uma avaliao pblica ser

    sempre uma interveno ou um de seus componentes. Os efei-

    tos da interveno podero ser maiores, menores ou diferentes

    dos objetivos que motivaram seu planejamento ou implantao e

    dependero da interao complexa de seus elementos.

    Donabedian (1984) e Vuori (1991) apresentam a abordagem da avaliao em

    sade sob os enfoques de estrutura, processo e resultado.

    Por estrutura, entendem-se as caractersticas relativamente estveis dos provedores da ateno, os instrumentos e recursos que tm ao seu alcance e

    os lugares fsicos e organizacionais onde trabalham. O conceito de estrutura

    inclui os recursos humanos, fsicos e financeiros de que se necessita para

    proporcionar a ateno. Esse termo abrange o nmero, a distribuio e a

    qualificao da equipe de profissionais, assim como o nmero, o tamanho, a

    capacidade e a disposio geogrfica dos hospitais e de outras instalaes. O

    conceito inclui tambm os fatores de produo, englobando a forma como o

    financiamento e a prestao de servios esto organizados, tanto formal como

    informalmente.

    Centers for Disease Control and Prevention (CDC) um dos principais componentes do Department of Health and Human Services (HHS), a principal agncia do governo dos Estados Unidos para a proteo da sade e segurana e proviso de servios humanos essenciais para pessoas com necessidades especiais, fundado em 1946. Http://www.cdc.gov/

  • 36

    Srie medicamentos e outros insumos essenciais para a sade

    A abordagem da estrutura para avaliao da qualidade apresenta limitaes

    em sua utilizao, pois indica somente tendncias gerais, j que a relao entre os

    aspectos de estrutura e os resultados , muitas vezes, indireta. Isso significa que a

    inexistncia ou inadequao dos aspectos essenciais da estrutura impedem ou difi-

    cultam o bom desempenho dos processos e o conseqente alcance dos resultados,

    mas, por outro lado, a existncia de uma estrutura tima no garante processos

    adequados. A avaliao da estrutura baseia-se no pressuposto de que, quando esto

    presentes caractersticas de estrutura desejveis, obtm-se efeito positivo sobre a qua-

    lidade da ateno. Entretanto, nem todas as caractersticas desejveis de estrutura

    tero impacto sobre a qualidade da ateno prestada. Essa relao entre a estrutura

    e a qualidade da ateno apresenta maior importncia quando do planejamento,

    desenho e implementao de sistemas cujo propsito proporcionar servios espe-

    cficos de sade (DONABEDIAN, 1984).

    O processo de ateno pode ser compreendido como a srie de ativida-des desenvolvidas entre profissionais de sade e pacientes durante as etapas

    do cuidado. Um juzo acerca da sua qualidade pode ser feito por meio de

    observao direta ou da reviso da informao registrada, o que permite uma

    reconstruo com certo grau de preciso de como est seu funcionamento. A

    base para a atribuio de valor da qualidade o conhecido acerca da relao

    entre as caractersticas do processo de ateno e suas conseqncias para a

    sade e bem estar dos indivduos e da sociedade, de acordo com o que eles

    compreendem por sade e bem estar (DONABEDIAN, 1984).

    A abordagem por meio dos resultados em sade ser a diferena entre um estado atual e um estado futuro da sade do usurio, que se possa atribuir

    a um dado processo de cuidado (DONABEDIAN, 1984). O objetivo do cui-

    dado pode ser a preveno, a cura da doena ou a interrupo de sua progres-

    so, a restaurao da capacidade funcional ou o alvio da dor e do sofrimento,

    alm da satisfao do paciente. Assim, o sucesso dos cuidados e, portanto, sua

    qualidade, poder ser medida pelo alcance desses resultados (MARIN et al.,

    2003). Ainda que se considere que o enfoque nos resultados seja a medida

    mais direta da qualidade da ateno, quando se discute uma ao especfica,

    nem sempre fcil mensurar sua contribuio no impacto final.

  • 37

    Avaliao da assistncia farmacutica no Brasil

    A abordagem proposta por Donabedian (1984) diz respeito ao processo geral

    de cuidado e, quando se fala de um componente especfico das aes em sade (por

    exemplo, assistncia farmacutica), h diferentes nveis de compreenso das conse-

    qncias das estruturas e processos envolvidos com interesse avaliativo (PORTELA,

    2000). Ademais, os resultados podem ser compreendidos sob diferentes ticas, cuja

    adaptao da terminologia internacional tem, no Brasil, aparecido com certa con-

    fuso nas diversas tradues.

    Neste trabalho adotaremos o termo resultado para significar tanto

    as conseqncias mais diretas dos processos (como a disponibilidade dos

    medicamentos nas unidades de sade, por exemplo) quanto as mudanas

    obtidas no estado de sade da populao-alvo (como a cura de uma deter-

    minada doena ou estabilizao do quadro clnico). O termo impacto ser usado

    para indicar as mudanas de longo prazo obtidas no nvel da sociedade, como a

    reduo de mortalidade ou da hospitalizao por uma determinada doena.

    A classificao de um indicador relativo estrutura, ao processo ou ao resul-

    tado pode ter variaes de acordo com as caractersticas do subsistema que est

    sendo focalizado na avaliao.

    De uma maneira genrica, possvel afirmar que a participao efetiva dos

    processos de avaliao nas grandes decises polticas para a rea da sade tem sido

    muito mais restrita do que o anunciado, havendo um impacto relativo desses pro-

    cessos em um nvel mais especfico ou local. No Brasil, mais especificamente, h

    ainda a carncia de profissionais experientes no campo da avaliao e uma baixa

    institucionalizao desse campo (CDC, 1999; NOVAES, 2000).

    Diversas organizaes internacionais, tanto de

    sade, tais como a Organizao Pan-Americana da

    Sade/Organizao Mundial da Sade - OPAS/OMS,

    Fundo das Naes Unidas para a Infncia - Unicef,

    CDC, como financeiras (Banco Mundial), tm desen-

    volvido metodologias simplificadas (pacotes) e manuais.

    Essas ferramentas tm o objetivo de facilitar a conduo

    dos estudos e garantir a qualidade das informaes obti-

    das, aumentando as possibilidades de apropriao da

    avaliao para balizamento das decises relacionadas s

    polticas pblicas nos pases em desenvolvimento.

    Geralmente referidas como output, em ingls

    Geralmente referidas como outcome, em ingls

    A Organizao Pan-Americana da Sade um organismo internacional de sade pblica com um sculo de experincia, dedicado a melhorar as condies de sade dos pases das Amricas. Ela tambm atua como Escritrio Regional da Organizao Mundial da Sade para as Amricas e faz parte dos sistemas da Organizao dos Estados Americanos (OEA) e da Organizao das Naes Unidas (ONU). Mais informaes podem ser obtidas em: www.opas.org.br

    A Unicef foi criada em 1946 e seu princpio bsico Promover o bem-estar da criana e do adolescente, com base em sua necessidade, sem discriminao de raa, credo, nacionalidade, condio social ou opinio poltica. Http://www.unicef.org.br

  • 38

    Srie medicamentos e outros insumos essenciais para a sade

    A escolha do mtodo de avaliao deve ser baseada em diferentes fatores, que

    incluem o objetivo do estudo, o tempo necessrio para sua concluso e os recursos

    disponveis.

    O Mtodo de Avaliao Rpida (MAR) foi desenvolvido pela OMS, no

    final dos anos 80, como ferramenta gerencial de rotina para melhorar a quali-

    dade do cuidado, o desempenho de programas e facilitar o envolvimento da

    sociedade, ao munici-la de informaes fundamentais ao processo de deci-

    so (Division of Family Health and Division of Epidemiology/WHO, 1993).

    Os relatrios gerados devem ser objetivos e de fcil leitura e compreenso,

    sendo os dados expressos em freqncias simples, porcentagens e propores, com

    o uso de recursos grficos e visuais, sempre que necessrio, de forma a facilitar a

    compreenso pelo pessoal de servio e pela sociedade (WHO, 1993; MSH/RPMP,

    1995).

    O MAR est fundamentado na coleta de indicadores, de forma a permitir a

    tabulao dos dados no mbito internacional.

    Indicadores so expresses objetivas de critrios utilizados para apreciao da

    qualidade, constituindo-se em artifcio aplicvel em qualquer das abordagens de ava-

    liao. Os critrios, por sua vez, podem ser definidos como os atributos que corres-

    pondem a um nvel de qualidade desejado ou esperado (DONABEDIAN, 1984.).

    Os indicadores devem guardar algumas caractersticas fundamentais (MSH,

    1997): (1) clareza (deve ser fcil de entender e calcular); (2) utilidade (deve refletir

    uma importante dimenso do desempenho); (3) mensurabilidade (pode ser defi-

    nido em termos quantitativos ou qualitativos); (4) confiabilidade (permite avaliao

    consistente ao longo do tempo e entre diferentes observadores); (5) validade (deve

    medir realmente o que se prope a medir).

    O MAR foi adaptado para a avaliao de servios farma-

    cuticos pelo Management Sciences for Health (MSH/RPMP,

    1995). Sua aplicao pressupe a maior simplificao metodo-

    lgica possvel, sem comprometimento da qualidade dos dados,

    no que se refere sua utilizao para apoio deciso poltica e

    gerencial.

    O MSH uma organizao educacional e cientfica privada, sem fins lucrativos, fundada em 1971, que trabalha em parceria

    com vrias organizao para promover o acesso aos servios de sade e a melhoria da sua gesto.

    http://www.msh.org

  • 39

    Avaliao da assistncia farmacutica no Brasil

    ANTECEDENTES INTERNACIONAIS DO ESTUDO ANTECEDENTES INTERNACIONAIS DO ESTUDO

    A partir de 1997, a OMS passou a pautar sua atuao por uma srie de obje-

    tivos e prioridades. Nesse sentido, as estratgias revisadas em medicamentos, que

    eram aprovadas anualmente, passaram a ser quadrienais. A realizao de estudos

    sobre o perfil farmacutico mundial faz parte das estratgias e prioridades da OMS,

    desde 2000 (OMS, 2000).

    A viso da OMS na estratgia de Medicamentos 2004-2007 para a rea

    de medicamentos que em todas as partes, as pessoas tenham acesso aos

    medicamentos essenciais que necessitam; que os medicamentos sejam segu-

    ros, efetivos e de boa qualidade; e que os medicamentos sejam prescritos e

    utilizados racionalmente (WHO, 2004a).

    A meta da OMS na rea de medicamentos para este trinio contri-

    buir para salvar vidas e melhorar a sade, garantindo a qualidade, a eficcia,

    a segurana e o uso racional de medicamentos, incluindo os medicamentos

    tradicionais, e promovendo o acesso eqitativo e sustentvel aos medicamen-

    tos essenciais, particularmente para os indigentes e os menos favorecidos

    (WHO, 2004a, p. 4).

    Com a estratgia para o perodo 2004-2007, a OMS d continuidade res-

    posta aos desafios em medicamentos do sculo 21, por meio de quatro objetivos

    principais: (a) melhorar o acesso a medicamentos essenciais; (b) fortalecer as pol-

    ticas nacionais de medicamentos; (c) melhorar a qualidade e segurana dos medi-

    camentos; e (d) promover seu uso racional (WHO, 2004a). Em relao ao primeiro

    objetivo, a estratgia assegurar a implementao e monitorizao de polticas

    nacionais de medicamentos, na qual destacamos:

    Apoio contnuo para assegurar que todos os pases desenvolvam, imple-

    mentem polticas nacionais de medicamentos e realizem a monitorizao

    e atualizao regularmente, de acordo com os objetivos mais amplos de

    sade;

  • 40

    Srie medicamentos e outros insumos essenciais para a sade

    Promoo e monitorizao do acesso a medicamentos essenciais como

    um direito humano fundamental.

    A OMS vem, nos ltimos anos, desenvolvendo metodologias e materiais

    para o monitoramento e a avaliao da assistncia farmacutica no mundo, sendo

    o documento mais importante o Indicators for Monitoring National Drug Policies,

    atualmente na 2 edio (WHO, 1999). Mais recentemente, o pacote Indicadores

    Principais para avaliao e estudo da situao do setor farmacutico nos pases vem

    sendo proposto, aos pases, pela OMS (WHO, 2003). A conduo de estudos de

    avaliao da situao farmacutica nacional (pelo menos a cada quatro anos) cons-

    titui-se em estratgia fundamental para avaliar a implementao, a monitorizao e

    a avaliao regular de polticas nacionais de medicamentos.

    Atualmente, o modelo proposto divide a abordagem de avaliao em trs

    nveis ou etapas (conforme a Figura 1).

    O Nivel I contempla aspectos de estrutura e de processo da organiza-o do setor farmacutico. A metodologia para a coleta de dados consiste na

    aplicao do questionrio Estrutura e processos da situao farmacutica

    nacional.

    O Nvel II utiliza indicadores voltados aos resultados da PNM, obtidos por inqurito sistemtico no mbito dos servios farmacuticos pblicos e

    privados, e dos domiclios.

    O Nvel III constitudo por estudos cuja finalidade detalhar aspec-tos especficos da organizao do setor farmacutico e so realizados, sem

    periodicidade definida, de acordo com necessidades especficas, identifica-

    das pelos pases ou sugeridas pela OPAS/OMS.

  • 41

    Avaliao da assistncia farmacutica no Brasil

    FIGURA 1. NVEIS DOS INDICADORES DA OMS PARA AVALIAO DO SETOR FARMACUTICO NOS PASES

    Fonte: WHO, 2003.

    ACESSO A MEDICAMENTOSACESSO A MEDICAMENTOS

    O acesso a medicamentos um objetivo central da pol-

    tica de medicamentos da OMS, assim como na do Brasil e da

    maioria dos pases e est relacionado Meta 17 do Objetivo oito

    de Desenvolvimento do Milnio (PNUD, 2005b; WHO 2004a).

    Portanto, de grande interesse o estabelecimento de metodolo-

    gias viveis de mensurao do acesso, que permitam a comparao do desempenho

    entre pases ou a evoluo de um determinado pas ao longo do tempo, de forma a

    ensejar a avaliao da efetividade das medidas de interveno implementadas.

    O acesso e a efetividade das aes, no plano individual ou coletivo, como atribu-

    tos fundamentais e interligados, sintetizam os principais resultados em sade. O acesso

    ao cuidado que no tenha efetividade e a existncia de servios efetivos aos quais no se

    tenha acesso no agregam valor sade. Campbell, Roland e Buetow (2000) sugerem

    que essas so as duas principais dimenses da qualidade do cuidado em sade, com-

    preendendo, de forma abrangente, todas as demais que tm sido propostas.

    Segundo a OMS o acesso est relacionado com a seleo racional, preos acessveis, sistemas de financiamento sustentveis e sistemas de abastecimento de medicamentos confiveis (WHO, 2004a).

  • 42

    Srie medicamentos e outros insumos essenciais para a sade

    Da mesma forma que o acesso em sade, o acesso aos medicamentos essen-ciais de qualidade, racionalmente utilizados, constitui os objetivos centrais das polti-cas de medicamentos. No entanto, o conceito de acesso complexo, bastante difcil de medir e apresenta variaes (ADAY; ANDERSEN, 1974; 1981; ANDERSEN, 1995; GOLD, 1998, PENCHANSKY; THOMAS, 1981; CAMPBELL ; ROLAND; BUETOW, 2000). Outrossim, existem alguns importantes pontos de convergncia entre as diferentes definies (LUIZA, 2003): (a) a simples disponibilidade do servio no configura acesso e (b) o acesso se concretiza com a utilizao do servio. O acesso seria ento um fator mediador entre a capacidade de produzir e oferecer servios (ou produtos) e a produo e consumo real de tais servios.

    O estudo do acesso se confunde, portanto, em grande medida, com o estudo de utilizao e seus fatores associados (caractersticas socioeconmicas, percepo de necessidade, crenas, preferncias etc.), considerados juntamente s necessidades da populao e s caractersticas da prestao dos servios que possam vir a constituir barreiras ao acesso (localizao, horrio de funcionamento, tempo de espera etc.).

    O desafio principal consiste em determinar as dificuldades de acesso para aque-les que esto fora do sistema. O mtodo preferencial para esse tipo de investigao deve ser baseado na pesquisa no nvel populacional, cujos inconvenientes so o alto custo e a difcil operacionalizao (BERMUDEZ et al., 1999).

    O conjunto de indicadores proposto pela OMS para medir acesso e uso de medicamentos visa obteno de dados quantitativos, tendo sido construdo com base em um questionrio. O questionrio cobre o comportamento de procura por servios de sade, incluindo capacidade aquisitiva, disponibilidade, fonte e uso apro-priado de medicamentos. O inqurito domiciliar mede quanto cada pessoa doente gasta em medicamentos prescritos/recomendados. Tambm indica se os pacientes esto usando servios pblicos ou privados de sade ou se esto recorrendo ao comr-cio local, vizinhos ou sobras de medicamentos de episdios pregressos de doenas. Por meio dessas informaes, o questionrio prov dados importantes sobre o acesso a medicamentos na populao pesquisada (WHO, 2004b).

    Em torno de 25 pases participaram da rodada do Estudo Nvel II para a Pesquisa Domiciliar, cuja metodologia, ainda em desenvolvimento, foi testada em oito pases da frica. A abordagem sofreu adaptaes sucessivas de acordo com a experincia relatada nos pases pesquisados (CARANDANG, 2004). O Brasil foi o primeiro pas a

    utilizar o pacote em seu formato atual.

  • 43

    Avaliao da assistncia farmacutica no Brasil

    O BRASIL E O SISTEMA NICO DE SADEO BRASIL E O SISTEMA NICO DE SADE

    A Repblica Federativa do Brasil, Estado Democrtico de Direito, formada

    pela unio indissolvel de seus 26 estados, 5.560 municpios2 e do Distrito Federal

    (organizados em cinco regies geogrficas), todos com autonomia poltica, fiscal e

    administrativa (OPAS/OMS, 2005) e uma extenso territorial de 8,5 milhes Km2

    (RIPSA, 2004). Em 2003, a populao total era de 178.985.306 habitantes (BRASIL.

    IBGE, 2005b), predominantemente urbana (81,25%) e jovem, com 27,96% da

    populao com 14 anos ou menos, 65,86% com idade entre 15 e 64 anos e 6,18%

    com 65 anos ou mais. Em 1o de julho de 2005, a estimativa era de 184.184.264

    habitantes (BRASIL. IBGE, 2005a).

    De acordo com o Relatrio de Desenvolvimento Humano

    de 2003, publicado pelo Programa da Organizao das Naes

    Unidas para o Desenvolvimento das Populaes (Pnud), o Brasil

    ocupa a 65 posio na lista de ndice de Desenvolvimento

    Humano (IDH) (PNUD, 2005).

    Entre os avanos alcanados, o texto destaca a proporo

    de crianas entre sete e 14 anos que freqentaram a escola que,

    em 2003, correspondeu a 97,2%, sendo alta a taxa em todas as

    regies e mesmo nas reas rurais (95,5%) (OPAS/OMS, 2005).

    H referncias positivas, considerando experincias bem suce-

    didas no pas e destacando os programas de luta contra a Aids

    e o Fome Zero. O relatrio aponta ainda a persistncia de

    iniqidade entre as regies e a tendncia crescente de concentrao de renda. O

    ndice de Gini alcana 0,61, e os 10% da populao mais rica do Brasil ganha 70

    vezes mais do que os 10% da populao de menor renda. O relatrio aponta que,

    apesar da diminuio das pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, a regio norte

    registrou um aumento da pobreza de 36% em 1990 para 44% da populao em

    2001 (PNUD, 2005c), o que pode dificultar que o pas atinja, at 2015, a meta rela-

    cionada ao primeiro objetivo do milnio de reduzir em 50% a populao com renda

    de at um dlar por dia, (quadro 1).

    2 O quantitativo de municpios varia muito entre os estados. Em 2001 variava entre 15 municpios no estado de Roraima e 853 em Minas Gerais. De 1991 a 2000 foram criados 1.016 novos municpios no pas.

    O conceito de Desenvolvimento Humano a base do Relatrio de Desenvolvimento Humano (RDH), publicado anualmente, e tambm do ndice de Desenvolvimento Humano (IDH). Ele parte do pressuposto de que para aferir o avano de uma populao no se deve considerar apenas a dimenso econmica, mas tambm outras caractersticas sociais, culturais e polticas que influenciam a qualidade da vida humana (PNUD, 2005a).

    Alm de computar o PIB per capita, depois de corrig-lo pelo poder de compra da moeda de cada pas, o IDH tambm leva em conta dois outros componentes: a longevidade e a educao. (PNUD, 2005a).

  • 44

    Srie medicamentos e outros insumos essenciais para a sade

    QUADRO 1. OS OBJETIVOS E METAS DO MILNIO

    Objetivos Metas

    Erradicar a extrema pobreza e a fome

    Reduzir pela metade, entre 1990 e 2015, a proporo da populao com renda inferior a um dlar PPC por dia. Reduzir pela metade, entre 1990 e 2015, a proporo da populao que sofre de fome.

    Atingir o ensino bsico universal Garantir que, at 2015, todas as crianas, de ambos os sexos, terminem um ciclo completo de ensino bsico.

    Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres

    Eliminar a disparidade entre os sexos no ensino primrio e secundrio, se possvel at 2005, e em todos os nveis de ensino, a mais tardar at 2015.

    Reduzir a mortalidade infantil Reduzir em dois teros, entre 1990 e 2015, a mortalidade de crianas menores de cinco anos.

    Melhorar a sade materna Reduzir em trs quartos, entre 1990 e 2015, a taxa de mortalidade materna.

    Combater o HIV/Aids, a malria e outras doenas

    At 2015, ter detido a propagao do HIV/Aids e comeado a inverter a tendncia atual. At 2015, ter detido a incidncia da malria e de outras doenas importantes e comeado a inverter a tendncia atual.

    Garantir a sustentabilidade ambiental

    Integrar os princpios do desenvolvimento sustentvel nas polticas e programas nacionais e reverter a perda de recursos ambientais. Reduzir pela metade, at 2015, a proporo da populao sem acesso permanente e sustentvel a gua potvel segura. At 2020, ter alcanado uma melhora significativa nas vidas de pelo menos 100 milhes de habitantes de bairros degradados.

    Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento

    Avanar no desenvolvimento de um sistema comercial e financeiro aberto, baseado em regras, previsvel e no discriminatrio. Atender as necessidades especiais dos pases menos desenvolvidos. Atender as necessidades especiais dos pases sem acesso ao mar e dos pequenos Estados insulares em desenvolvimento. Tratar globalmente o problema da dvida dos pases em desenvolvimento, mediante medidas nacionais e internacionais de modo a tornar a sua dvida sustentvel em longo prazo. Em cooperao com os pases em desenvolvimento, formular e executar estratgias que permitam que os jovens obtenham um trabalho digno e produtivo. Em cooperao com as empresas farmacuticas, proporcionar o acesso a medicamentos essenciais a preos acessveis, nos pases em vias de desenvolvimento; em cooperao com o setor privado, tornar acessveis os benefcios das novas tecnologias, em especial das tecnologias de informao e de comunicaes.

    Fonte: PNUD, 2005b.

  • 45

    Avaliao da assistncia farmacutica no Brasil

    O tamanho do pas, o grande contingente populacional e as imensas desi-

    gualdades, entre outros fatores, do uma idia da extenso e da complexidade do

    sistema de sade capaz de atender s necessidades de sade.

    O Sistema nico de Sade (SUS) foi criado pela Constituio Federal

    Brasileira de 1988, que prev o acesso universal e equitativo s aes e servios

    de sade, com regionalizao e hierarquizao; descentralizao com dire-

    o nica em cada esfera de governo; e atendimento integral, com prioridade

    para as atividades preventivas, sem prejuzo dos servios assistenciais. A parti-

    cipao da comunidade legtima e se estabelece por meio das Conferncias

    e dos Conselhos de Sade, nos quais a comunidade, por meio de seus repre-

    sentantes, pode opinar, definir, acompanhar a execuo e fiscalizar as aes

    de sade nas trs esferas de governo: federal, estadual e municipal.

    O Sistema prope a expanso da cobertura assistencial em atendimento s

    proposies formuladas pela OMS na Conferncia de Alma-Ata (1978), que preco-

    nizava Sade para todos no ano 2000, principalmente por meio da ateno prim-

    ria sade. O Brasil tem ainda o compromisso de buscar alcanar os Objetivos de

    Desenvolvimento do Milnio (PNUD, 2005b).

    O SUS tem como meta tornar-se um importante mecanismo de promoo

    da eqidade no atendimento das necessidades de sade da populao, oferecendo

    servios de qualidade e adequados s necessidades, independente do poder aqui-

    sitivo do cidado. O SUS tambm se prope a promover a sade, priorizando as

    aes preventivas, democratizando informaes relevantes para que a populao

    conhea seus direitos e os riscos sua sade. O controle da ocorrncia de doen-

    as, seu aumento e propagao (Vigilncia Epidemiolgica) tambm so algumas

    das responsabilidades do SUS, assim como o controle da qualidade e segurana de

    medicamentos, de exames, de alimentos, higiene e adequao de instalaes que

    atendem o pblico, onde atua a Vigilncia Sanitria.

    Por meio do SUS, todos os cidados tm direito a servios de ateno sade

    em Unidades de Sade vinculadas ao SUS, sejam pblicas (da esfera municipal,

    estadual e federal) ou privadas, as quais participam de forma complementar do sis-

    tema, por meio de contratos e convnios de prestao de servio ao Estado, quando

    as unidades pblicas de assistncia sade no so suficientes para garantir o aten-

    dimento a toda a populao de uma determinada regio.

  • 46

    Srie medicamentos e outros insumos essenciais para a sade

    Desde o estabelecimento do SUS, tem-se buscado reorientar o modelo

    de ateno, de um modelo hospitalocntrico e curativista para outro que tenha

    nfase na ateno bsica e na sade familiar. Esse processo vem ocorrendo pela

    (re)definio e pactuao de competncias e responsabilidades nas trs esferas de

    gesto, com (re)organizao da lgica de financiamento e gesto.

    Uma estratgia de reorganizao da ateno bsica no SUS foi o Programa

    Sade da Famlia (PSF), criado em 1994 e que, desde ento, vem sendo aprimorado

    e estendido a todos os estados e maioria dos municpios do pas, com recursos espe-

    cficos para seu custeio. As aes desenvolvidas esto centradas na famlia e propor-

    cionam, em um territrio definido, a ateno integral e contnua sade dos indiv-

    duos e da comunidade. Visam promoo, proteo e recuperao da sade, tendo

    como pressupostos para seu desenvolvimento os princpios do SUS, principalmente

    no que se refere ao alcance da cobertura universal, da integralidade e da eqidade.

    As aes do PSF podem ser executadas na Unidade de

    Sade da Famlia (USF) e no domiclio dos usurios, quando

    necessrio. Na USF ficam sediadas as equipes de sade da

    famlia multiprofissional e minimamente composta por um

    mdico, um enfermeiro, um ou dois auxiliares de enfermagem

    e de quatro a seis agentes comunitrios de sade (BRASIL. MS,

    2005) e de sade bucal.

    O SUS caracteriza-se pela gesto nica do sistema nas trs esfera de governo

    Unio, estados e municpios que so co-responsveis pela gesto, financiamento

    e prestao dos servios, e so representadas, respectivamente, pelo Ministrio da

    Sade e pelas secretarias estaduais e municipais de sade (SES e SMS). Cada esfera

    de gesto do SUS conta com Conselhos de Sade, com a participao de repre-

    sentantes dos gestores, trabalhadores da sade, prestadores de servio e usurios,

    conforme definido pela Lei n 8142/90 e normas complementares.

    As definies sobre financiamento e outras questes que envolvem as trs esferas

    de gesto do SUS so discutidas e pactuadas na Comisso Intergestores Tripartite (CIT),

    da qual participam gestores do Ministrio da Sade, secretrios estaduais de sade

    e representantes dos secretrios municipais de sade, e nas Comisses Intergestores

    Bipartites (CIB) dos estados. Nas reas de Assistncia Farmacutica e Vigilncia

    Sanitria, a CIT conta com Cmaras Tcnicas especficas. Em 2001, o gasto total em

    sade do Brasil foi de 8.5% do Produto Interno Bruto (PIB) (OPAS/OMS, 2005).

    Cada equipe de sade da famlia atende a populao de uma

    determinada populao, com vnculos de responsabilidade e confiana entre profissionais e famlias, o que permite uma compreenso

    ampliada do processo sade/doena e da necessidade de intervenes a

    partir dos problemas e demandas identificados (BRASIL. MS, 2005).

  • 47

    Avaliao da assistncia farmacutica no Brasil

    De acordo com a Pesquisa Assistncia Mdico-Sanitria (AMS) de 2002, do

    Intituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), havia 53.825 estabelecimen-

    tos de sade no pas, dos quais 13,7% so unidades de internao, rea em que a

    presena do setor privado relevante: 65% dos hospitais so privados. Por outro

    lado, 76% dos estabelecimentos ambulatoriais so pblicos. Em julho de 2003, de

    acordo com o Departamento de Informao e Informtica do SUS (Datasus), havia

    disponveis no SUS 441.591 leitos hospitalares, dos quais 62,7% eram privados

    contratados e 27,9% pblicos. Esses leitos representam 80% dos leitos existentes no

    pas (BRASIL. DATASUS, 2005).

    A regulao do setor privado de sade, atribuio da ANS. Em dezembro de

    2003, 38 milhes de pessoas eram cobertas por planos de seguros privados de sade

    (BRASIL. ANS, 2003).

  • 48

    Srie medicamentos e outros insumos essenciais para a sade

    OBJETIVOS DO TRABALHOOBJETIVOS DO TRABALHO

    GERALGERAL

    Descrever aspectos da estrutura e processos da poltica e regulao na rea

    farmacutica no Brasil assim como resultados diretos da implementao da PNM

    quanto ao acesso, qualidade e ao uso racional de medicamentos, empregando os

    indicadores e a metodologia propostos pela OMS.

    ESPECFICOSESPECFICOS

    Aplicar os instrumentos propostos para conhecer a situao da assistncia

    farmacutica no Brasil, subsidiando a reorientao de polticas e estrat-

    gias na rea;

    Adaptar e aplicar no Brasil os procedimentos metodolgicos utilizados

    pela OMS para avaliar os resultados das polticas nacionais de medica-

    mentos;

    Contribuir para disseminar a proposta de uso de indicadores como subs-

    dio para a tomada de decises aos gestores e profissionais de sade;

    Colaborar, nos estados selecionados, com a capacitao de tcnicos/gesto-

    res em habilidades de avaliao da assistncia farmacutica;

    Colaborar com a OMS na construo do panorama mundial de organiza-

    o da assistncia farmacutica no que diz respeito ao alcance de resulta-

    dos relativos s polticas nacionais de medicamentos;

    Colaborar com o desenvolvimento, aprimoramento e aplicao de indi-

    cadores de avaliao e monitoramento das polticas de medicamentos nos

    pases.

  • PARTE I PARTE I

  • 51

    Avaliao da assistncia farmacutica no Brasil

    PARTE I: PARTE I: ASSISTNCIA FARMACUTICA E REGULAMENTAO DE ASSISTNCIA FARMACUTICA E REGULAMENTAO DE MEDICAMENTOS NO BRASIL: ESTRUTURAS E PROCESSOS (NVEL I)MEDICAMENTOS NO BRASIL: ESTRUTURAS E PROCESSOS (NVEL I)

    A pesquisa de Nvel I foi realizada no Brasil no segundo semestre de 2003. Ao ser formado o grupo de trabalho para a coleta de dados, uma primeira dificul-dade encontrada foi a obteno de dados sistematizados e confiveis sobre os itens

    constantes do questionrio. Definiu-se que, alm reunir dados para dar resposta

    OMS, seria necessrio tornar sistemticas a coleta e a anlise desses dados no pas e

    tambm torn-los disponveis, de forma que pudessem ser usados por formuladores

    de polticas, gestores, comunidade acadmica e demais interessados3 e possam servir

    de base para futuras avaliaes.

    METODOLOGIAMETODOLOGIA

    ABORDAGEM GERAL DO ESTUDOABORDAGEM GERAL DO ESTUDO

    A consulta realizada pela OMS junto s autoridades sanitrias de seus pases membros a cada quatro anos (com uma consulta de um subconjunto a cada dois anos).

    O instrumento utilizado questionrio sobre Estruturas e processos da situ-

    ao farmacutica nacional foi desenvolvido pela OMS e tem seis pginas, com

    a maioria das questes no formato (sim/no) (Anexo 1).

    3 Parte dos dados foi atualizada aps a coleta at julho de 2004. Ao se analisar os dados aqui apresentados, deve-se ter em conta que alguns deles sofreram modificaes aps este perodo, no entanto, optou-se por public-los como parmetro de comparao para levantamentos futuros.

  • 52

    Srie medicamentos e outros insumos essenciais para a sade

    FIGURA 2.DESTAQUE DO NVEL I EM RELAO AOS NVEIS DOS INDICADORES DA OMS PARA AVALIAO DO SETOR FARMACUTICO NOS PASES

    Fonte: Adaptado de WHO, 2003.

    Esse instrumento serve como parmetro para a avaliao do progresso dos

    pases em relao estratgia de Medicamentos Essenciais da OMS (2000-2003 e

    2004-2007) (WHO, 2000; 2004a)4. Os dados obtidos so inseridos em uma base de

    dados no escritrio central da OMS.

    Os indicadores cobrem os seguintes temas: Poltica farmacutica nacional,

    Legislao e regulao de medicamentos, Controle de qualidade dos produtos far-

    macuticos, Lista de medicamentos essenciais, Sistema de abastecimento de medi-

    camentos, Financiamento de medicamentos, Acesso a medicamentos essenciais,

    Produo de medicamentos, Uso racional de medicamentos e Proteo dos direitos

    de propriedade intelectual e Autorizao de comercializao (registro).

    4 Encontram-se no Anexo 2 a lista de indicadores e metas referentes Estratgia de Medicamentos da OMS para o perodo atual.

  • 53

    Avaliao da assistncia farmacutica no Brasil

    EQUIPE DE PESQUISAEQUIPE DE PESQUISA

    Inicialmente foi composta uma comisso no Ministrio da Sade, onde se

    tomou a deciso de realizar o estudo e foram identificadas as reas que poderiam

    colaborar com a pesquisa. Posteriormente, a equipe foi ampliada para a realizao

    da coleta e consolidao de dados, com um ponto focal em cada rgo do mbito

    do Ministrio, da SCTIE, por meio do DAF, da Anvisa, da ANS, do NAF/DCB/

    Ensp/Fiocruz, de Far-Manguinhos/Fiocruz e da OPAS/OMS.

    Essa equipe contou ainda com a colaborao de outros setores ou rgos do

    Ministrio da Sade, do Governo Federal e do Centro Brasileiro de Informaes

    sobre Medicamentos do Conselho Federal de Farmcia (Cebrim/CFF).

    A COLETA DE DADOS NO BRASIL A COLETA DE DADOS NO BRASIL

    A coleta de dados foi realizada no perodo de maio a julho de 2003, para o

    envio OMS, com o perodo correspondente ao ano de 2002. Foi realizada por

    meio de consulta a fontes primrias e secundrias e, em alguns casos, com a realiza-

    o de um inqurito especfico, tendo em vista a inexistncia de informaes j sis-

    tematizadas. Alm disso, alguns dados no puderam ser coletados, devido impossi-

    bilidade de obteno em tempo de algumas informaes relativamente complexas

    ou por outros motivos, alheios vontade da equipe de trabalho.

    Para tornar possvel a recuperao de fontes, referncias (principalmente

    legais) e forma de clculo de dados e informaes, bem como a sua comparabili-

    dade ao longo do tempo, foi elaborado um formulrio padro (Anexo 3). Uma vez

    coletados os dados, foram analisadas a coerncia e a consistncia das respostas for-

    necidas. Quando necessrias, foram solicitadas reavaliaes, complementao ou

    mesmo retificaes aos colaboradores das instituies envolvidas. Aps a aprovao

    do resultado final do perfil farmacutico pelas instituies envolvidas, o questio-

    nrio preenchido foi enviado OMS e foi elaborado o presente documento. As

    planilhas utilizadas na coleta, os relatrios de consolidao das informaes, as cor-

    respondncias eletrnicas e as atas das reunies foram armazenados.

  • 54

    Srie medicamentos e outros insumos essenciais para a sade

    Cabe ressaltar que a participao do Brasil no Nvel I foi bastante elogiada

    pelos consultores da OPAS e OMS responsveis pelo estudo5, tanto a aplicao,

    como a forma de apresentao e comentrio dos dados bem como as sugestes para

    o aprimoramento do instrumento.

    CRITRIOS TICOSCRITRIOS TICOS

    A equipe de pesquisa teve a preocupao de solicitar a autorizao de cada

    dirigente das instituies participantes (ou de seu representante) para a realizao

    desse levantamento, bem como o compromisso em zelar pela consistncia das infor-

    maes prestadas (Anexo 4). Teve tambm a preocupao de preservar a confiden-

    cialidade quanto identidade dos informantes, de forma a garantir que os mesmos

    no fossem prejudicados ou sofressem qualquer prejuzo em virtude das informa-

    es fornecidas.

    RESULTADOS E DISCUSSORESULTADOS E DISCUSSO

    A seguir so descritos e comentados os resultados encontrados a partir da seqn-cia do questionrio da OMS nos temas: polticas farmacuticas nacionais, legislao/regulamentao; controle de qualidade dos produtos farmacuticos;

    sistema de abastecimento de medicamentos; financiamento de medicamentos;

    acesso a medicamentos essenciais; produo de medicamntos; uso racional de medi-

    camentos; proteo dos direitos de propriedade intelectual e autorizao de comer-

    cializao.

    5 Manifestado durante o treinamento dos pesquisadores do nvel II em Santo Domingo (Repblica Dominicana) em 2003.

  • 55

    Avaliao da assistncia farmacutica no Brasil

    AS POLTICAS AS POLTICAS FARMACUTICAS NACIONAISFARMACUTICAS NACIONAIS

    Uma poltica farmacutica nacional um compromisso oficial de um governo para o setor farmacutico, com estabelecimento de objetivos e identificando as estratgias para alcan-los.

    Uma poltica farmacutica nacional deve buscar assegurar:

    O acesso a medicamentos por parte de toda populao, de acordo

    com os princpios de eqidade e justia social que devem caracteri-

    zar as polticas do setor sade;

    A disponibilidade de medicamentos com qualidade, segurana e

    eficincia teraputica;

    O uso terapeuticamente racional e economicamente eficiente dos

    medicamentos por parte de profissionais de sade e usurios.

    Uma poltica farmacutica nacional uma poltica intersetorial e o processo

    de seu desenvolvimento deve contemplar amplo dilogo e negociao com todos os

    atores envolvidos, o que inclui outros ministrios de Estado (Educao, Comrcio

    e Indstria), profissionais de sade, indstria farmacutica nacional e internacional,

    estabelecimentos farmacuticos, instituies acadmicas, organizaes no-gover-

    namentais e associaes de profissionais e de usurios (OMS, 2003).

    No Brasil, at 1997, quando foi desativada aps inme-

    ros problemas, a Central de Medicamentos (Ceme) era o rgo

    federal responsvel pela Assistncia Farmacutica. A partir da sua

    extino, iniciou-se um amplo processo de discusso com todos os

    setores nacionais interessados e, de forma crescente, foram sendo

    definidas as responsabilidades pela gesto e financiamento da

    assistncia farmacutica nas trs esferas do SUS.

    A Central de Medicamentos (Ceme) foi criada em 25 de junho de 1971, pelo Decreto n 68.806 e ligado diretamente Presidncia da Repblica, era responsvel pela aquisio e distribuio de medicamentos no pas, de forma centralizada.

  • 56

    Srie medicamentos e outros insumos essenciais para a sade

    O reconhecimento de que a sade um direito de todos e dever do Estado,

    garantido pela Constituio Brasileira de 1988, tornou imperativa e prioritria uma

    organizao da Assistncia Farmacutica com nfase na sade pblica (BRASIL,

    1988).

    Nesse processo, foram identificados e analisados os principais problemas do

    setor farmacutico nacional, culminando com a publicao da Portaria n 3.916, de

    30 de outubro de 1998, que aprova a PNM (ibid.), integrada Poltica Nacional de

    Sade (PNS).

    A PMN tornou pblica a importncia dos medicamentos na resolutividade

    das aes de sade, indicando rumos e linhas estratgicas e definindo