autoria: sociedade brasileira de urologia sociedade

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1 As Diretrizes Clínicas na Saúde Suplementar, iniciativa conjunta Associação Médica Brasileira e Agência Nacional de Saúde Suplementar, tem por objetivo conciliar informações da área médica a fim de padronizar condutas que auxiliem o raciocínio e a tomada de decisão do médico. As informações contidas neste projeto devem ser submetidas à avaliação e à crítica do médico, responsável pela conduta a ser seguida, frente à realidade e ao estado clínico de cada paciente. Autoria: Sociedade Brasileira de Urologia Sociedade Brasileira de Medicina da Família e Comunidade Colégio Brasileiro de Radiologia Elaboração Final: 31 de janeiro de 2011 Participantes: Bezerra C, Anderson MIP, Prando D, Souza TF

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Page 1: Autoria: Sociedade Brasileira de Urologia Sociedade

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As Diretrizes Clínicas na Saúde Suplementar, iniciativa conjunta

Associação Médica Brasileira e Agência Nacional de Saúde Suplementar, tem por

objetivo conciliar informações da área médica a fim de padronizar condutas que

auxiliem o raciocínio e a tomada de decisão do médico. As informações contidas

neste projeto devem ser submetidas à avaliação e à crítica do médico, responsável

pela conduta a ser seguida, frente à realidade e ao estado clínico de cada paciente.

Autoria: Sociedade Brasileira de Urologia

Sociedade Brasileira de Medicina da Família e

Comunidade

Colégio Brasileiro de Radiologia

Elaboração Final: 31 de janeiro de 2011

Participantes: Bezerra C, Anderson MIP, Prando D, Souza TF

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Nefrolitíase: Abordagem Urológica2

DESCRIÇÃO DO MÉTODO DE COLETA DE EVIDÊNCIA:A revisão bibliográfica de artigos científicos dessa diretriz foi realizada na base dedados MEDLINE, Cochrane e SciELO. A busca de evidências partiu de cenários clínicosreais, e utilizou palavras-chaves (MeSH terms) agrupadas nas seguintes sintaxes:“Urinary Calculi”[Mesh] AND “Lithotripsy”[Mesh], “Nephrolithiasis”[Mesh] AND“Lithotripsy”[Mesh] AND “Urography”[Mesh], “Nephrostomy, Percutaneous”[Mesh] AND“ultrasonography “[Subheading], “Lithotripsy”[Mesh] OR “Lithotripsy, Laser”[Mesh] AND“Mannitol”[Mesh], “Nephrostomy, Percutaneous”[Mesh] AND “Antibiotic Prophylaxis”[Mesh],“Lithotripsy”[Mesh] AND “Ureteroscopy”[Mesh], “Lithotripsy”[Mesh] OR “Lithotripsy,Laser”[Mesh] AND “Kidney Calculi”[Mesh] “Thiazides”[Mesh] AND “Urinary Calculi”[Mesh].

GRAU DE RECOMENDAÇÃO E FORÇA DE EVIDÊNCIA:A: Estudos experimentais ou observacionais de melhor consistência.B: Estudos experimentais ou observacionais de menor consistência.C: Relatos de casos (estudos não controlados).D: Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos fisiológicos

ou modelos animais.

OBJETIVO:Abordar aspectos práticos na resolução da litíase renal que são temas de discussõesfrequentes.

CONFLITO DE INTERESSE:Nenhum conflito de interesse declarado.

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Nefrolitíase: Abordagem Urológica 3

INTRODUÇÃO

A prevalência de nefrolitíase é de 2-3% com incidência empaíses industrializados de 0,5% - 1% ao ano. A probabilidade deum homem branco desenvolver cálculo até os 70 anos é de 1:8.Apresenta alta taxa de recidiva, podendo chegar a 80% ao longoda vida e sendo de até 50% em cinco anos. Pacientes com litíaseassintomática tornam-se sintomáticos em 50% em cinco anos.Medidas preventivas vêm sendo discutidas com a intenção dediminuir a taxa de recidiva e perda da função renal.

O tratamento das litíases urinárias depende do tamanho,localização e composição dos cálculos e podem adquirir caráter deurgência/emergência ou constituir um procedimento eletivo. Asopções de intervenções: tratamento endourológico, nefrosto-litotomia percutânea e o tratamento cirúrgico.

1. ESTÁ INDICADA A REALIZAÇÃO DE UROGRAFIA INTRAVENOSA

ANTES DA LITOTRIPSIA?

O diagnóstico inicial de nefrolitíase usualmente é realizadopor radiografia simples e pela ultrassonografia (US) para a avali-ação do trato urinário superior e, atualmente, tem-se empregadoa tomografia computadorizada (TC) sem contraste, em pacientesna urgência da cólica renal. Em grande parte dos centros deUrologia, a urografia intravenosa é realizada como parte do pre-paro para a realização de litotripsia, auxiliando a determinar amorfologia renal e localização do cálculo, avaliar obstrução distale fornecer parâmetro da função renal1(A).

O sucesso da litotripsia e a ausência de cálculos em pacientesque realizaram a urografia intravenosa são de 81,6% e 65,5%,respectivamente, (p=0,12) e nos pacientes que não realizam aurografia intravenosa de 77,4% e 63,3% (p=0,103), respectiva-mente, com taxa de complicações não relevantes1(A).

Assim, a realização de urografia intravenosa não é necessáriapara o tratamento com litotripsia em pacientes com diagnósticopor radiografia e com US de vias urinárias com ausência ouhidronefrose discreta, diminuindo os custos, não havendo exposiçãoao contraste e à radiação.

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Nefrolitíase: Abordagem Urológica4

RecomendaçãoEm pacientes com cálculos renais

diagnosticados por radiografia simples e US, aurografia não precisa ser realizada, desde quenão exista hidronefrose moderada ou grave.

2. HÁ EVIDÊNCIA DO PREJUÍZO DA FUNÇÃO

RENAL E DESENVOLVIMENTO DE HIPERTENSÃO

ARTERIAL APÓS A LITOTRIPSIA COM ONDAS

DE CHOQUE?

A litotripsia extracorpórea é o tratamentode escolha para a litíase renal. Embora seja ummétodo não-invasivo, há efeitos adversos dose-dependentes. Estes efeitos são secundários aodano celular e microvascular pelo trauma,hemorragia, isquemia e radicais livres. Algunsestudos relatam aumento do risco de hiperten-são arterial em pacientes tratados com litotripsia.Contudo, em estudo prospectivo, não houvevariação significativa da pressão antes e pós-imediato a litotripsia (p=0,748 e 0,674) e, noseguimento de cinco anos, três pacientestornaram-se hipertensos (p=0,083). Nestespacientes, não foi registrado nenhumaparticularidade nos procedimentos de litotripsiarealizados2(B).

Em estudo com seguimento médio de 2,2anos, com 192 pacientes, verifica-se odiagnóstico de sete casos de hipertensão arterialno grupo que não foi submetido à litotripsia ede 11 casos no grupo que realizou litotripsiaextracorpórea (p=0,35)3(A).

A utilização de substâncias antioxidantescom concentrações minerais acima dasnecessidades diárias apresenta característicanefroprotetora, diminuindo os efeitos colateraisdo tratamento com litotripsia extracorpórea.

Contudo, não há estudos com seguimento emlongo prazo que sustentem esta decisão4(A).

Em pacientes com cálculos bilaterais, há apossibilidade de tratamento simultâneo ou por es-tágios. A alteração da função renal não épotencializada pela realização de litotripsia de for-ma bilateral, conforme estudo comparativo entredois grupos (tratamento unilateral e bilateral) comdosagem de creatinina (p=0,18)5(B).

Pacientes com rim único, congênito ouadquirido, com litíase renal, foram divididos emtrês grupos para tratamento: litotripsiaextracorpórea, litotripsia percutânea oucombinação de ambos os procedimentos. Osparâmetros analisados antes e depois dotratamento foram a dosagem sérica de crea-tinina, pressão arterial (sistólica e diastólica) ea taxa de filtração glomerular. Não houve dife-rença estatística entre os grupos avaliados etampouco prejuízo na função renal e desenvol-vimento de hipertensão arterial. Desta forma, aescolha da técnica utilizada e/ou a combinaçãodestas independem da variável prejuízo na funçãorenal, sendo determinada pelo tamanho docálculo, conformação anatômica e disponi-bilidade do método6(B).

RecomendaçãoNão existe evidência de que a litotripsia

extracorpórea leve ao desenvolvimento dehipertensão arterial ou de prejuízo da função renal.

3. HÁ EVIDÊNCIA QUE A ANTIBIOTICOPROFILAXIA

REDUZ O RISCO DE SEPTICEMIA APÓS

NEFROLITOTOMIA PERCUTÂNEA?

A nefrolitotomia percutânea é largamenteutilizada para a remoção de cálculos urinários.

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O exato mecanismo da ocorrência de febre e sepseurinária após procedimentos percutâneos não estábem estabelecido. Pequena a moderada elevaçãoda temperatura imediatamente após o procedi-mento é frequente e parece estar associada àliberação de mediadores inflamatórios7(B). Aurosepsis pode ser um evento catastrófico naevolução do tratamento percutâneo, podendoocorrer em pacientes com urocultura negativa emesmo com o uso de antibioticoprofilaxia8(B).

Em estudo com 217 pacientes, 25,8%apresentaram febre após o procedimento delitotripsia percutânea. Nos pacientes quereceberam antibioticoprofilaxia, 22,8%desenvolveram febre e no grupo que não recebeua profilaxia, 28,6%, sendo que nenhum pacienteevoluiu para sepse. Os fatores como sexo femi-nino (p=0,044), cálculo residual (p=0,012),tempo de internação, nefrostomia (p=0,04) etempo de internação (p=0,005) apresentam-serelevantes7(B).

Em 115 pacientes com nefrolitíase ≥ 20mm e/ou dilatação do sistema calicial, foiadministrado ciprofloxacino 250 mg 12/12horas, 7 dias antes do procedimento delitotripsia percutânea e comparado com ogrupo controle. Os resultados demonstramredução do risco em três vezes dedesenvolvimento de infecção (RR 2,9, 95%IC 1,3-6,3, p=0,004) no grupo que recebeuantibioticoprofilaxia. Quando analisado osubgrupo com apenas dilatação do sistemacoletor, verifica-se que o desenvolvimento dasíndrome da resposta inflamatória sistêmica(SIRS) ocorreu em apenas 1 de 22 pacientesque receberam antibioticoprofilaxia contra 10de 24 pacientes no grupo controle (RR 9,2,95% IC 1,3-65,9, p=0,004). A incidência

de infecção urinária alta com o uso deciprofloxacino é três vezes menor (RR 3,4,95% IC 1,0- 11,8, p=0,04), assim como orisco de litíase infectada (RR 2,3, IC 95%1,1-4,5, p=0,016)8(B).

Em estudo prospectivo de 81 pacientes, foicomparada a utilização de dose única de 200mg de ofloxacina, durante a indução anestésica,e 400 mg dia, durante o período de permanênciado cateter, não havendo desenvolvimento deinfecção nos dois grupos9(B).

Em síntese, os estudos revelam que aantibioticoprofilaxia reduz o risco de infecçãoapós nefrolitotripsia percutânea e, em alguns, ode septicemia.

RecomendaçãoAntibioticoprofilaxia deve ser utilizada

quando o paciente é submetido à nefro-litotripsiapercutânea. As opções de antibióticos com bene-fício na redução do risco de infecção são:ciprofloxacino 250 mg VO de 12/12 horas, setedias antes do procedimento, ou ofloxacina 200mg na indução e manutenção com 400 mg dia,durante a permanência do cateter.

4. COMO DEVE SER FEITA A ABORDAGEM DOS

CÁLCULOS RENAIS LOCALIZADOS NO PÓLO

INFERIOR DO RIM?

Com os recentes avanços no tratamento dalitíase urinária, diversas questões vêm sendodiscutidas. Alguns fatores são importantes nadecisão do melhor tratamento e, entre eles, cita-se: tamanho do cálculo, localização no sistemacoletor e anatomia do sistema coletor. Estesfatores estão relacionados com a taxa de suces-so da fragmentação e eliminação dos cálculos.

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Após 25 anos da introdução da litotripsia comotratamento de escolha para as litíases sintomá-ticas, os cálculos localizados no pólo inferior dorim geram dúvidas na sua abordagem, comresultados questionáveis com a litotripsiaextracorpórea, variando entre 25% a 84,6%. Alitotripsia extracorpórea é não-invasiva, requeranestesia mínima e apresenta alta taxa deaceitação por médicos e pacientes. Algumassituações indicam para a realização deureteroscopia, sendo elas: cálculo ureteral, pre-sença de estenoses, diáteses hemorrágicas,anomalias renais, rim solitário e obesidademórbida10(A)11(C).

Foram analisados 112 pacientes com litíaserenal localizada no pólo inferior com tamanhosde até 30 mm e subdivididos em dois grupos:tratados por litotripsia extracorpórea oulitotripsia percutânea. Os pacientes comcálculos < 10 mm e tratados com litotripsiaextracorpórea apresentavam-se livres de doençaem 67% dos casos e nos submetidos ànefrolitotripsia percutânea em 100% (p =0,017). Quando analisadas as litíases, inde-pendente do tamanho, verifica-se sucesso de35% contra 96%, p < 0,001, respecti-vamente10(A).

Foram avaliados e tratados 350 pacientescom cálculo localizado no pólo inferior do rime com tamanho ≤ 20 mm por litotripsiaextracorpórea e, no seguimento, verifica-se que282 estavam assintomáticos, 25 apresenta-vam sintomas e foram tratados clinicamentee 42 necessitaram de intervenção. O contro-le radiológico demonstrou que 233 nãoapresentavam litíase, 18 o cálculo estavamenor, em 101 casos, houve manutenção do

tamanho do cálculo e, em 18, o cálculo haviaaumentado11(C).

Estudo prospectivo, aleatorizado emulticêntrico foi realizado para avaliar alitotripsia extracorpórea e a litotripsia percutâneaem pacientes com cálculo localizado no pólo in-ferior do rim e medindo ≤ 30 mm. Nospacientes com cálculos ≤ 10 mm submetidos àlitotripsia extracorpórea, 12/19 estavam livresde doença, enquanto 20/20 pacientes submeti-dos à litotripsia percutânea não apresentavamcálculos renais (p=0,003). Nos pacientes comcálculos de 11-20 mm, 6/26 pacientes contra26/28 pacientes, respectivamente, apre-sentavam-se livres de doença p<0,001. Quan-do avaliada a resposta ao tratamento empacientes com cálculos 21-30 mm, nota-seresposta em 1/7 e 6/7, respectivamente;p=0,02912(A). Entretanto, os estudos nãolevam em consideração o índice de complicaçõese o tempo de recuperação pós-operatória dessesdois procedimentos, fato que deve ser conside-rado para a decisão.

RecomendaçãoOs cálculos de pólo inferior devem ser

tratados com litotripsia percutânea, desde queos riscos de complicações e o tempo de recu-peração pós-tratamento seja avaliado e aceitopelo paciente.

5. HÁ EVIDÊNCIA QUE O USO DE MANITOL AN-TES DA LITOTRIPSIA EXTRACORPÓREA POR

NEFROLITÍASE DIMINUA O RISCO DE DANO

RENAL?

A litotripsia extracorpórea é o tratamentode escolha para a litíase renal. Embora seja con-siderada minimamente invasiva, há estudos que

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demonstram efeitos adversos dose-dependentesna função renal. O manitol apresenta acaracterística de promover diurese osmótica aoabsorver água através dos túbulos renaisdecorrente do aumento do fluxo sanguíneo ereduz a produção de radicais livres durante aisquemia renal. Em estudo prospectivo ealeatorizado, analisou-se a eficácia do uso domanitol na prevenção do dano renal. A dose demanitol utilizado foi de 0,5 mg/kg, administra-do endovenosamente e imediatamente antes doprocedimento, sendo verificado o volumeurinário, β2microglobulina e microalbuminaimediatamente após, com 24 horas e após umasemana. Foram excluídos do estudo pacientescom cálculos menores que 5 mm e maiores que15 mm, conhecimento de doença renal préviae/ou alteração laboratorial das funções renais ehidronefrose. Não houve diferença significativaentre os grupos quanto a idade, sexo, valor séricode creatinina antes do exame, fragmentação docálculo e número de sessões e potência aplicada.Não foram relatadas complicações nos doisgrupos. Observou-se substancial aumento daβ2microglobulina, da microabumina após o pro-cedimento, com um dia e após uma semana,contudo com valores significativos (p<0,05)para a β2microglobulina (p=0,007), somenteno controle com 24 horas nota-se aumento dovolume urinário. A utilização do manitolapresentou aumento significativo do volumeurinário (p=0,002). Assim, a utilização demanitol é segura e auxilia na proteção imediataao dano renal, estando indicada a suaadministração antes da litotripsiaextracorpórea13(A). Entretanto, não há estudosque avaliaram o benefício em longo prazo e su-gere-se o emprego do manitol em pacientes dealto risco de deterioração da função renal, comodiabéticos, hipertensos, rim único ou portadoresde insuficiência renal pré-tratamento.

RecomendaçãoO uso de manitol está indicado nos pacientes

com nefrolitíase que serão submetidos àlitotripsia extracorpórea como medida deproteção renal imediata.

6. HÁ EVIDÊNCIA QUE A UTILIZAÇÃO DE

DIURÉTICOS TIAZÍDICOS DIMINUAM O RISCO

DE CÁLCULOS RENAIS?

A incidência de litíase urinária em paísesindustrializados é de 0,5% - 1% ao ano.Apresenta alta taxa de recidiva, podendo chegara 80% ao longo da vida e sendo de até 50%, emcinco anos. Pacientes com litíase assintomáticatornam-se sintomáticos em 50%, em cincoanos. Medidas preventivas vêm sendo discutidascom a intenção de diminuir a taxa de recidiva eperda da função renal14,15(A).

Em estudo prospectivo e aleatorizados, fo-ram analisados 150 pacientes com história pré-via de litíase, por um período de 36 meses. Aolongo do seguimento, nota-se taxa de recidivasuperior no grupo não-tratados (56%) emrelação aos grupos que receberão 50 mg/dia dehidroclorotiazida (32%) e 50 mg/dia dehidroclorotiazida e citrato de potássio 20 mlEq/dia (30%), com diferença significativa entre ogrupo não-tratados e os grupos que fizeram usode medicações (p=0,016). Não há diferençasignificativa entre o grupo que recebeu somentehidroclorotiazida e o grupo que ingeriu citratode potássio associado ao diurético. Ao longo doseguimento, não houve alteração do padrãometabólico basal no grupo sem medicação e sig-nificativa redução do padrão litogênico comhipocitratúria nos grupos com diuréticos ediuréticos com citrato de potássio, notando-seesta mais acentuada no segundo grupo com di-ferença significativa. Quando analisados os

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pacientes com hipercalciúria, nota-se significa-tivo benefício nos grupos tratados, em especialno grupo com hidroclorotiazida e citrato depotássio (p=0,003), sendo o mesmo verificadona necessidade de tratamento com litotripsia(p=0,032)14(A).

RecomendaçãoO uso de diuréticos tiazídicos e a associação

com citrato de potássio traz redução na taxa derecorrência e na necessidade de tratamento comlitotripsia.

7. HÁ EVIDÊNCIA QUE A UTILIZAÇÃO DE

ULTRASSONOGRAFIA SEJA EFICAZ QUANDO

COMPARADA COM A FLUOROSCOPIA NA

NEFROLITOTOMIA PERCUTÂNEA?

A nefrolitotomia percutânea é umprocedimento considerado minimamenteinvasivo, sendo considerada segura e combaixas taxas de complicações, tendo adquiridoindicações nos últimos anos, em especial parapacientes com cálculos maiores que 20 mm,localizados no pólo inferior do rim e com-postos de cistina. O acesso percutâneo égeralmente realizado guiado por fluoroscopia,podendo ser guiado por TC ou US, emespecial quando há alterações anatômicas ouem gestantes16(A).

Em estudo aleatorizado, foram avaliados100 pacientes com litíase renal ou ureterproximal para a realização de nefrolitotomiapercutânea. Em todos os pacientes, era realiza-da a cateterização retrógrada do ureter e realizadaa infusão de ar ou contraste. No grupo 1, apunção da pelve renal tinha o auxílio da USrealizado pelo próprio urologista e, no grupo 2,a punção era realizada guiada somente pela

fluoroscopia. O sucesso no acesso ao sistemacoletor e posicionamento da agulha guiada porUS foi de 94% e 90%, respectivamente, e nogrupo guiado por fluoroscopia foi de 96% e96%, p =0,5. Sangramento intraoperatórioocorreu em cinco pacientes no grupo 1 e, emtrês pacientes, no grupo 2 e dois pacientes nogrupo 1 e um paciente no grupo 2 necessitaramde transfusão para re-estabilização do quadrohemodinâmico16(A).

RecomendaçãoNa ausência de fluoroscopia, a US pode ser

utilizada para dirigir o acesso ao sistema coletordurante a litotripsia percutânea, sendo indicadoem gestantes.

8. A PIELOGRAFIA RETRÓGRADA DEVE SER REA-LIZADA NA NEFROLITOTOMIA PERCUTÂNEA?

Na abordagem clássica da pelve renal, acontrastação com ar ou solução radiopaca éutilizada. Em estudo aleatorizado e controlado,55 pacientes foram divididos em dois grupos,sendo um grupo com inserção do catetertransureteral e o outro não. Apesar do acesso renalser mais rápido nos pacientes que realizam apielografia retrógrada com auxílio do cateter, nãohá diferença estatística entre os dois grupos, omesmo sendo verificado em relação ao tempo deradiação. A queda na taxa de hemoglobina é maiornos pacientes sem auxílio da pielografia, comp<0,001. No seguimento não há diferença entreos pacientes que realizaram pielografia e ossubmetidos à nefrolitotomia percutânea sempielografia, com ausência de cálculos após umdia de 78,6% e 93% (p=0,136), respectivamen-te. Desta forma, nota-se benefício na utilizaçãode pielografia na prevenção da queda da taxa dehemoglobina, não sendo verificado benefício com

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o desfecho ausência de cálculos. Ressalta-se que,para a realização da pielografia retrógrada, énecessária cistoscopia com possibilidade demigração bacteriana17(A). Entretanto, a presençade um cateter de pielografia provê maior segu-rança ao cirurgião e protege o paciente deeventuais danos.

RecomendaçãoHá benéfico na taxa de queda de

hemoglobina, contudo não se observa talresultado em relação à presença de cálculoresidual.

9. EM PACIENTES COM LITÍASE PIELOURETERAL,O USO DE STENT (DUPLO J) APÓS A LITITRIPSIA

REDUZ O RISCO DA PRESENÇA DE SINTOMAS,COMPLICAÇÕES OU DA PERSISTÊNCIA DO

CÁLCULO?

A ureteroscopia e a litotripsia intracorpóreaé um procedimento minimamente invasivo ealtamente eficaz para o tratamento de litíaseureteral e, em especial, para os cálculoslocalizados na porção médio-distal18-20(A). Tra-dicionalmente, com o objetivo de evitar obs-truções e cólica renal após o procedimento,diversos grupos defendem a colocação de cate-ter duplo J. Associa-se a isto a possibilidade deprevenir estenoses e o auxílio à passagem defragmentos de cálculos. Contudo, muitospacientes referem desconforto com o cateter ecomplicações como infecção/pielonefrite,migração e formação de cálculos.

Em pacientes submetidos à endolitotripsiapneumática ou a laser para cálculos ureterais de6 a 20 mm, em qualquer porção do ureter, acolocação de Duplo-J após o procedimento não érecomendada, uma vez que, esse procedimento:

1. Aumenta a urgência urinária (NNH 4), afrequência urinária, cultura urinária positiva(NNH 4) em 1 a 12 semanas;

2. Aumenta ou ao menos não reduz a dor, adisúria, hematúria e a piúria entre 1 a 12semanas, e

3. Não reduz a febre, a hidronefrose, os sintomasde irritação vesical e a frequência urináriaentre 7 e 15 dias de seguimento. E não reduza presença de cálculos em 1 a 12 semanas eo número de complicações imediatas (umasemana) e tardias (três a seis meses).

As recomendações não são aplicáveis aosseguintes pacientes (situação especial):portadores de cálculos maiores que 20 mm emqualquer porção do ureter, infecção urinária,sepse, insuficiência renal, rim único, anorma-lidade renal congênita, pólipo, estenoseureteral, hidronefrose, trauma da mucosa (aavaliação da intensidade do trauma e sua even-tual repercussão é subjetiva, devendo ser con-siderada individualmente pelo cirurgião), per-furação ureteral durante o procedimento, gra-videz e coagulopatia18-25(A)26(B).

RecomendaçãoO cateter Duplo-J não deve ser colocado

em todos os pacientes submetidos àlitotripsia, devendo ser empregada em situa-ções especiais.

10. HÁ BENEFÍCIO DA LITOTRIPSIA NA LITÍASE

RENAL ASSINTOMÁTICA?

A história natural da litíase assintomáticaainda não está bem determinada, mas parece

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que a conduta expectante está associada aorisco de desenvolver sintomas de 48,5% emcinco anos. Em estudo aleatorizado e con-trolado, pacientes assintomáticos ou poucosintomáticos, com cálculos ≤ 15 mm,localizados nos rins, ureter e/ou bexiga, fo-ram incluídos no estudo além dos pacientescom antecedente de tratamento para litíaseurinária e que estavam assintomáticos porpelo menos seis meses. Foram selecionados324 pacientes, dos quais 243 participaramda aleatorização e os demais foram excluídospor diversos motivos (decisão própria, ausên-cia de cálculo à radiografia, gravidez, uso deanticoagulantes) . Os pacientes foramdivididos em dois grupos: submetidos àlitotripsia extracorpórea (113 pacientes) eobservados (115 pacientes). No seguimento,200 pacientes completaram evolução de umano, sendo 101 no grupo litotripsia e 99 nogrupo controle.

No de s f e cho , pac i en te s l i v r e s decálculos, 16 pacientes do grupo controlenão apresentavam litíase e 28 pacientessubmetidos à litotripsia (p=0,06).

Não houve diferença estatística entre os doisgrupos quando considerado a variável uso deanalgésicos, embora tenham sidos prescritasmedicações para 17 pacientes do grupo contro-le e para oito pacientes do grupo submetido àlitotripsia (p=0,05).

Assim, a realização de litotripsia empacientes com diagnóstico de litíase assin-tomática não está estabelecida no seguimentode um ano, não se podendo estabelecer obenefício em longo prazo27(A).

RecomendaçãoNão há diferença de benefício entre a

realização ou não da litotripsia em pacientesassintomáticos.

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