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autora
JULIANA DE SOUZA SOARES
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2016
TEORIA E PRÁTICA DA NATAÇÃO
Conselho editorial sergio augusto cabral, roberto paes e paola gil de almeida
Autora do original juliana de souza soares
Projeto editorial roberto paes
Coordenação de produção paola gil de almeida, paula r. de a. machado e aline
karina rabello
Projeto gráfico paulo vitor bastos
Diagramação bfs media
Revisão linguística bfs media
Revisão de conteúdo marcelo garcia massaud
Imagem de capa nuk2013 | shutterstock.com
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)
S676t Soares, Juliana de Souza
Teoria e prática da natação / Juliana de Souza Soares.
Rio de Janeiro: SESES, 2016.
160 p: il.
isbn: 978-85-5548-284-7
1. Natação. 2. Natação - conceitos. 3. Natação - iniciação.
4. Aperfeiçoamento. 5. Regras. I. SESES. II. Estácio.
cdd 797.21
Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento
Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário
Prefácio 7
1. Introdução à natação 7
1.1 Introdução 8
1.1.1 Conceitos 8
1.1.2 Evolução histórica 10
1.2 Benefícios da natação 18
1.2.1 Benefícios da natação para a aptidão física 18
1.2.2 Benefícios da natação para o desenvolvimento motor, cognitivo
e socioafetivo 21
1.3 Mercado de trabalho 22
2. Princípios e propriedades físicas 25
2.1 Princípios e propriedades físicas aplicadas à natação 26
2.1.1 Fluxos laminar e turbulento 26
2.1.2 Propulsão na natação 28
2.1.3 Tipos de arrasto 33
2.1.4 Propriedades físicas da água 38
3. Ensino-aprendizagem na natação 45
3.1 Introdução 46
3.1.1 Etapas do ensino-aprendizagem 46
3.1.2 Conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais no ensino
da natação 51
3.1.3 Natação para diferentes faixas etárias: objetivos e metodologias 53
4. Técnica dos Nados 67
4.1 Introdução 68
4.1.1 Nado crawl 69
4.1.2 Nado de costas 76
4.1.3 Nado de peito 80
4.1.4 Nado borboleta 86
4.1.5 Nado medley 90
4.1.6 Saídas e viradas 92
5. Regras elementares, noções de arbitragem e organização de competições 97
5.1 Noções de arbitragem e organização de competições 98
5.1.1 Regras da FINA 100
5.1.2 Categorias da natação adaptada 105
5.1.3 Organização de festivais e torneios 107
5
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),
A natação é uma modalidade de exercícios aquáticos praticada desde o iní-
cio da história da humanidade. Necessário era movimentar-se de alguma ma-
neira na água para atravessar rios e lagos em busca de melhores condições de
vida, como também se considerava importante aprender a nadar na Grécia an-
tiga. Ao longo dos tempos, o ato de nadar fez-se presente na preparação militar,
na educação de nobres, em momentos recreativos e em competições.
Além de ser um esporte com regras específicas e almejar o alto rendimento,
a natação está associada a benefícios para a saúde em todas as faixas etárias e
representa uma excelente oportunidade de estimulação cognitiva, afetiva e mo-
tora em bebês e crianças. É fundamental também compreendermos a impor-
tância de se saber nadar para a sobrevivência, especialmente em um país como
o Brasil, abundante em rios, lagos, represas e praias. Para que você tenha uma
ideia, em 2013 mais de 6.000 mortes no nosso país ocorreram em consequência
de afogamento.
Geralmente, a natação é estudada identificando-se aspectos históricos,
conceitos diversos, propriedades físicas do meio aquático que interferem nos
exercícios de alguma maneira, e seu enfoque sob três diferentes situações: ini-
ciação, aperfeiçoamento e treinamento de alto rendimento.
Durante sua formação, mesmo que não venha a atuar com natação na sua
intervenção profissional, o aluno do curso de Educação Física deve conhecer
elementos básicos da natação, como os processos de “ensinar a nadar” e as téc-
nicas de nados consideradas mais eficientes.
Nesse livro, serão apresentadas as origens da natação, algumas definições
existentes na literatura especializada, a influência das propriedades da água,
etapas e recomendações para o processo de ensino-aprendizagem, elementos
técnicos dos nados, saídas e viradas, e importantes características relaciona-
das às competições e suas regras, como as dimensões das piscinas e as provas
olímpicas.
Bons estudos!
Introdução à natação
1
8 • capítulo 1
1. Introdução à natação
A natação parece ter sido praticada desde o início da história da humanidade, e
nesses milhares de anos, os movimentos realizados pelo homem variaram bas-
tante. Identificar alguns aspectos dessa prática ao longo dos séculos possibilita
a compreensão de como esse esporte foi adotado em diferentes épocas.
Praticar natação traz vários benefícios fisiológicos e para o desenvolvimento
motor, cognitivo e socioafetivo, como veremos nesse capítulo. Nadar aprimora
nosso condicionamento físico e é especialmente interessante como estímulo
ao desenvolvimento infantil.
Nesse capítulo, iniciaremos nosso estudo sobre a natação conhecendo al-
guns conceitos e referências a ela na literatura específica, sendo alguns relacio-
nados ao alto rendimento e outros ao ato de nadar de maneira geral.
OBJETIVOS
• Identificar conceitos de natação;
• Verificar como a natação foi praticada ao longo da história da humanidade;
• Conhecer os benefícios da natação para a aptidão física relacionada à saúde e qualidade
de vida;
• Conhecer benefícios da natação para o desenvolvimento motor, socioafetivo e cognitivo.
1.1 Introdução
1.1.1 Conceitos
A Federação Internacional de Natação (FINA) conceitua a natação como “ação
de autopropulsão e autossustentação na água que o homem aprendeu por ins-
tinto ou observando os animais” (ROHLFS, 1999, p.43). Essa definição deixa
claro que nadar pressupõe a capacidade de movimentar-se e manter-se flutuan-
do sem auxílio externo. Dessa maneira, uma pessoa que nada somente com o
uso de materiais que possibilitam a flutuação não saberia nadar.
De acordo com Luz (1999, p. 160), nadar é “uma forma de deslocar-se na
água que tenha significado, que esteja de acordo com o nível de interesse,
necessidade e etapa de evolução de cada indivíduo”, o que implica em enxer-
garmos a natação não apenas pela execução dos quatro nados oficiais (crawl,
capítulo 1 • 9
costas, peito e borboleta), mas também possibilitar movimentos diversificados
e que estejam relacionados aos praticantes de acordo com suas características
e propósitos.
Marín (2004) cita que a natação, assim como outras atividades aquáticas,
pode ser classificada de acordo com a sua finalidade em: educativa, competiti-
va, utilitária, recreativa, terapêutica e para a saúde (higiênica).
Já Andries Junior et al. (2002) diz que “nadar se refere a qualquer ação mo-
tora que o indivíduo realiza intencionalmente para propulsionar-se através da
água”. Esses autores ressaltam que há diferença entre o ato de nadar e a na-
tação, sendo o primeiro relacionado a diversas maneiras de movimentação na
água e a segunda, um esporte que objetiva, pela realização de movimentos den-
tro de técnicas específicas, conquistas e vitórias.
Nadar, de acordo com o dicionário Infopédia (s/d), significa “sustentar-se e
mover-se à superfície ou dentro de um líquido, com movimentos coordenados
de braços e pernas”.
De maneira geral, podemos entender a natação como uma modalidade es-
portiva (pois envolve regras e tem características e gestos particulares, além de
instituições que a organizam, como a FINA) que pode ser praticada da infância
à maturidade, visando a melhoria de aspectos físicos e motores, como o auxílio
no desenvolvimento motor em bebês e os ganhos de aptidão física em todas
as idades, assim como pode auxiliar no aprimoramento de aspectos cognitivos
e socioafetivos. Ainda não podemos esquecer a natação adaptada, modalida-
de esportiva praticada por pessoas com deficiências diversas, que traz a seus
praticantes a possibilidade de maior autonomia, autoestima, autoconfiança
e saúde.
Também devemos destacar que ser capaz de realizar movimentos diversos
com bom domínio do seu corpo na água, sabendo flutuar, reduz os riscos de
afogamentos, situação que no Brasil, de acordo com a SOBRASA (2015), resulta
na morte de um brasileiro a cada 84 minutos. Os afogamentos constituem-se
na 2ª causa de óbito de 1 a 9 anos, 3ª de 10 a 19 anos e 4ª de 20 a 25 anos. Esses
dados reforçam a importância de se aprender a nadar e ser capaz de sobreviver
em situações de emergência.
Com relação ao esporte natação, uma definição relacionada ao alto ren-
dimento é a de Nolasco et al. (2013, p. 232): “esporte aquático que tem como
objetivo imediato, para o atleta, vencer uma determinada distância em meio
líquido no menor tempo possível”. Em Jogos Olímpicos, as distâncias a serem
percorridas pelos atletas são:
10 • capítulo 1
NADO LIVRE50 m, 100 m, 200 m, 400 m, 800 m (mulheres) e
1.500 m (homens);
NADO COSTAS 100 m e 200 m;
NADO PEITO 100 m e 200 m;
NADO BORBOLETA 100 m e 200 m;
NADO MEDLEY 200 m e 400 m;
REVEZAMENTOS 4 x 100 m livre, 4 x 200 m livre e 4 x 100 m medley.
COMENTÁRIONas provas de nado medley o (s) atleta (s) executa os quatro diferentes tipos de nados em
uma sequência determinada pelas regras oficiais, que veremos em outro capítulo mais adiante.
1.1.2 Evolução histórica
Ao buscarmos referências para uma análise histórica da natação, encontramos
a afirmação de que ela foi praticada desde a Pré-História, muito provavelmen-
te por questões ligadas à sobrevivência, especialmente quando o homem era
nômade e deslocava-se em busca de alimento e abrigo por longas distâncias
e talvez de maneira recreativa, no tempo livre, para refrescar-se e divertir-se.
Massaud (2008) cita que o envolvimento do homem com a água pode ter sido
de maneira instintiva ou pela observação dos movimentos de outras espécies,
principalmente os cães e os sapos. Colwin (2000) diz que os seres humanos na-
dam a milhares de anos, havendo registros de que as pessoas que habitavam as
regiões ao longo do mar Mediterrâneo nadavam muito bem. Certamente os ho-
mens se envolveram com o meio aquático, e os registros em grutas e cavernas,
bem como os escritos, atestam esse fato.
Segundo Catteau&Garoff (1990), no deserto da Líbia, dentro de uma caver-
na, foi encontrado um desenho que indica, de acordo com os arqueólogos, que
o ato de nadar já existia há cerca de 9.000 anos atrás. Outro registro bastante
antigo (2.500 anos atrás) é um hieróglifo egípcio descoberto pelo alemão Carl
capítulo 1 • 11
Diem que representa um tipo de movimentação bastante similar ao atual nado
crawl, com batidas de pernas alternadas e movimentos amplos dos braços
(NOLASCO et al., 2013; CATTEAU & GAROFF, 1990). Certamente, o povo egíp-
cio teve na natação uma prática comum, pois sua civilização se desenvolveu ao
longo do rio Nilo e o clima na região favorecia as imersões.
Já a FINA (s/d) cita a existência de desenhos indicativos da prática de nata-
ção entre babilônios e assírios encontrados no deserto de Kebir que se estima
serem de 6.000 anos atrás. Vêm da região atual da Itália muitos registros sobre
o ato de nadar, especialmente através de desenhos e pinturas, sendo o mais
antigo pertencente aos etruscos (2.600 anos atrás). Fenícios e persas também
praticaram a natação.
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Figura 1.1 – Piscina em templo egípcio.
Na Antiguidade Ocidental, gregos e romanos apreciaram muito as ativida-
des dentro da água. Foi encontrada em um túmulo grego a representação de
cenas de natação e mergulho que tem origem há 2.500 anos. O ato de nadar
tem referências em obras clássicas gregas, como a Ilíada e a Odisséia. Os gregos
incluíam aulas de natação na educação de seus jovens. Platão, importante filó-
sofo e pensador grego, na sua lei 689, dizia que “o cidadão educado era aquele
que sabia ler e nadar”.
Os romanos, que situaram o exercício físico como prática fundamental para
a preparação de seus soldados, têm em Júlio César um nadador habilidoso:
12 • capítulo 1
após um naufrágio na Campanha do Egito, ele percorreu uma considerável dis-
tância a nado até alcançar Alexandria (RAMOS, 1983). De acordo com a FINA
(s/d), Júlio César salvou importantes documentos quando isso aconteceu. A ci-
vilização romana também adotou um hábito que não distinguia entre as clas-
ses mais privilegiadas e os menos favorecidos: a frequência às termas, locais de
banhos em temperaturas diversas, mas que também possuíam bibliotecas, es-
paços para repouso e para treinamento, e onde se praticaram formas de nadar.
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Figura 1.2 – Terma romana.
Já durante a Idade Média, a natação foi muito pouco praticada, sendo uma
das explicações para isso a crença da época de que a água disseminava epide-
mias (Massaud, 2008); porém, Ramos (1983) cita que nos pátios dos castelos os
jovens praticavam, além de outros tipos de exercícios, a natação, o que indica
que era mais frequente entre os nobres.
A partir do século XVI, na Idade Moderna, a natação começa a ser discutida
por alguns autores: Em 1538, o professor alemão Nykolaus Wynmann publica
o primeiro livro sobre natação, intitulado “Colymbetes, Sive de Arte Natandi
Dialogus et Festivus et Iucunduslectu”, no qual defendia o nado de peito
da época (com a cabeça fora da água e a ação das pernas com os dorsos dos
pés) como o que deveria ser aprendido por todos. Um pouco antes (1531), Sir
Thomas Elyot publica “The Boke Named the Governour”, onde defende a nata-
ção como importante na educação dos cavaleiros (COLWIN, 2000).
capítulo 1 • 13
Durante muito tempo, foi o nado peito o mais utilizado e discutido. Como
esporte competitivo, é a partir do século XIX que temos importantes registros,
conforme nos apresenta Massaud (2008):
• Em 1810, no Japão, acontece uma primeira competição; porém, não hou-
ve registros dos vencedores;
• Lord Byron, pertencente à nobreza inglesa, nada publicamente em 1837,
quando algumas provas são organizadas em Londres, incentivando o público
em geral a nadar;
• Norte-americanos participam de competição em Londres em 1844 e ven-
cem todas as provas;
• A Associação de Natação Amadora é criada na Inglaterra em 1869, geran-
do a padronização de regras nas competições;
• 1871: registra-se o primeiro recorde mundial, de Winston Cole, que per-
correu 100 jardas (cerca de 92 metros) em 1 minuto e 15 segundos;
• 1875: primeira travessia do Canal da Mancha pelo capitão inglês
Matthew Webb;
• A natação é uma das modalidades olímpicas dos I Jogos Olímpicos da Era
Moderna (1896), com as provas de 100m, 500m e 1200m livre para homens.
Nas primeiras competições, a maioria dos atletas nadava de lado, realizan-
do uma braçada de peito com os braços submersos o tempo todo. As pernas
abriam e fechavam em uma batida alternada ampla (tesoura), de acordo com
Colwin (2000). Esse movimento dos braços era conhecido como braçada late-
ral. Essa forma de nadar foi aos poucos sendo substituída por uma técnica onde
um braço era recuperado acima da superfície da água, conhecida como braça-
da lateral inglesa com o braço emerso, ou “single over armstroke”. Ao reduzir
o contato de uma parte do corpo com a água, a resistência foi menor, fazendo
com que os tempos para percorrer certa distância diminuíssem. A seguir, um
nadador chamado John Trudgen apresenta uma técnica na qual os dois braços,
alternadamente, eram recuperados acima da superfície, sendo executada uma
batida de pernas do peito a cada duas braçadas “double over arms”. A pernada
de peito da época não “combinava” com os movimentos alternados dos bra-
ços, mas mesmo assim, foi possível nadar com um pouco menos de resistên-
cia. Ainda se tentou outro tipo de pernada, que era executada com a braçada
lateral de antigamente: movimentos alternados e laterais com menor afasta-
mento, mas mesmo assim os movimentos apresentavam pouca fluidez. Depois
disso, percebeu-se que se não fosse realizada nenhuma ação de pernas, a ação
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contínua de braços alternados seria executada facilmente (COLWIN, 2000), e
o desenvolvimento do nado crawl, atribuído ao professor Cavill, ocorreu após
a sua percepção dos movimentos de Alick Wickham, nativo das Ilhas Salomão
Britânicas que executava os movimentos alternados continuamente. Além dis-
so, nativos da Polinésia (ilhas dos Mares do Sul) apresentavam um nado com
os braços emersos e alternados, bem como batidas de pernas alternadas, fa-
cilitando a coordenação e a propulsão. Após o advento do crawl “australiano”,
no início do século XX, novas técnicas foram adicionadas e temos o nado mais
rápido dentre todos até os dias de hoje. O surgimento e aprimoramento das
técnicas dos nados você estudará em um capítulo mais adiante.
Outro aspecto histórico que você deve conhecer: a Federação Internacional
de Natação, a FINA, foi criada em 19/07/1908 no final dos Jogos Olímpicos de
Londres. Quanto à natação adaptada (esporte para pessoas com deficiências
diversas), Greguol (2010) relata que começou a ser praticada também no século
XIX, primeiramente por indivíduos com deficiências auditivas, visuais e inte-
lectuais, e a partir de meados do século XX foi igualmente recomendada para
pessoas com problemas motores.
1.1.2.1 Evolução histórica no Brasil
A história da natação competitiva no Brasil também inicia no século XIX, mais
precisamente no Rio de Janeiro; porém, desde o descobrimento do Brasil iden-
tificou-se que os indígenas tinham na água um ambiente bastante familiar, e
provavelmente executavam movimentos com os braços alternados e a cabeça
fora da água, de maneira similar a outros povos habitantes de regiões costeiras
e ao redor de rios e lagos.
Nolasco et al. (2013) citam importantes fatos da história da natação
brasileira:
• Registros de jornais de 1881 citam a Travessia da Baía de Guanabara,
numa disputa entre Theodor John, relojoeiro alemão de 50 anos e Joaquim
Antonio Souza, niteroiense de 19 anos. A largada foi na Praia da Armação em
Niterói e a chegada na Praça 15 de Novembro, no Rio de Janeiro;
• Em 1885 é construída a primeira piscina brasileira, às margens do Rio
Guaíba (RS), denominada “Badeanstalf”, ou “basenho”. A Sociedade Ginástica
Deutsher Turneverein foi a responsável com a colaboração de seus associados.
No final de 1916, um incêndio destruiu as instalações, reconstruídas em 1953.
COMENTÁRIO
capítulo 1 • 15
As poucas piscinas existentes no final do século XIX e início do século XX resultaram no
ensino inicial da natação feito em cochos, que eram “pranchões de madeira sustentados
por tambores”.
• Em 1895 foi fundada a União de Regatas Fluminense, por dois clubes
de Niterói e dois do Rio de Janeiro, que originou a Federação Brasileira das
Sociedades de Remo, responsável por organizar as competições promovidas
pelos clubes a ela filiados;
• A tradicional “Travessia da Guanabara” surge em 1897, tendo sido dispu-
tada até 1943. O percurso total era de 4.100m. Nesse mesmo período, compe-
tições de natação em São Paulo eram realizadas no Rio Tietê e na cidade de
Santos. É também em 1897 a primeira competição no Rio Grande do Sul, nas
águas do Rio Guaíba;
• A Federação Paulista das Sociedades de Remo foi fundada em 1907 e tam-
bém foi responsável pela organização de competições de natação;
• Em 1908, o nadador brasileiro Abraão Saliture foi o primeiro vencedor de
competições sul-americanas, nas distâncias de 100m e 500m nado livre. Esse
primeiro evento internacional na América do Sul aconteceu na Argentina;
• Nas décadas de 1910 e 1920, grande parte das provas eram travessias, pela
carência de piscinas. Há registros nos estados do Amazonas, Pernambuco e
Bahia, além de São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro;
• O Comitê Olímpico Nacional, que originou o Comitê Olímpico Brasileiro,
foi criado em 1914 e foi responsável por enviar a primeira delegação brasileira
de esportes aquáticos (natação, polo aquático e saltos ornamentais) a uma edi-
ção dos Jogos Olímpicos, em 1920 (Antuérpia, na Bélgica);
• Em 1916 é criada a Confederação Brasileira de Desportos (CBD), que agre-
gou todas as Federações de esportes do país;
• Em 1919 foi inaugurado, nas dependências do Fluminense Futebol Clube
(RJ), o primeiro Parque Aquático do Brasil. Nesse mesmo ano, a Federação
Paulista das Sociedades de Remo apresenta um manual regulamentando pro-
vas de natação, no qual não se consideravam competições femininas. Porém,
na prova “500m rio abaixo” realizada no Rio Tietê, a pioneira Blanche Pironnet
Bezerra, venceu 6 homens;
• Em 1922 foi construída uma piscina para os “Jogos Olímpicos Sul-
americanos” na Praia Vermelha, bairro da Urca, cidade do Rio de Janeiro.
16 • capítulo 1
Essa competição, organizada pela CBD, foi comemorativa ao centenário da
Independência do Brasil, e outra pioneira da natação feminina participou das
provas: Violeta Coelho Neto;
• Em 1923 a CBD organiza o Campeonato Brasileiro de Natação, enquan-
to em São Paulo é realizado o primeiro Campeonato Paulista, com provas de
1.500m para homens;
• Em 1926 é fundada a primeira piscina clorada do Brasil, medindo 33m
(tamanho comum na Europa), no Clube Atlético Paulistano, restrita aos asso-
ciados para sua utilização. Já em 1930, também em São Paulo, surge a primeira
piscina com medidas oficiais para competições de natação (25m x 12m), nas
dependências da Associação Atlética de São Paulo, com capacidade de público
para até 2.500 pessoas;
• O primeiro Campeonato Brasileiro que conta com várias provas e sistema
de pontos aconteceu em 1931 no Rio de Janeiro, tendo sido vencido pelo Clube
de Regatas Gragoatá de Niterói (39 pontos obtidos);
• Maria Lenk, em 1932, é a primeira representante feminina da natação
brasileira em Olimpíadas (Los Angeles). Em Campeonatos Sul-Americanos, as
mulheres participam somente em 1935, e Maria Lenk foi o grande destaque
vencendo as provas de peito e costas e de revezamento;
• Em 1936, Maria Lenk, nos Jogos de Berlim, é a primeira mulher no mundo
a executar o então “estilo butterfly” e Piedade Coutinho, com apenas 16 anos,
obtém a 5ª e a 8ª posição nos 400m e 100m nado livre, respectivamente;
• Maria Lenk, em 1939 quebra quatro recordes mundiais, no Rio de Janeiro:
200m peito e 200m borboleta, 400m peito e 400m borboleta;
• Na década de 1950 surgem diversas piscinas pelo país, aumentando o nú-
mero de praticantes da natação;
• Primeira medalha olímpica brasileira conquistada por Tetsuo Okamoto
(bronze nos 1.500m nado livre em Helsinque). Nesse mesmo ano, foi inaugu-
rada a primeira piscina aquecida do país, com 25m, a piscina da Água Branca,
em São Paulo;
• Em 1960 é criada a Confederação Brasileira de Natação (CBN) e Manoel
dos Santos conquista mais uma medalha olímpica, em Roma: bronze nos 100m
livre. No ano seguinte, ele quebra o recorde mundial da prova, no Rio de Janeiro;
• José Sílvio Fiolo bate o recorde mundial dos 100m peito no Rio de Janeiro,
na piscina do C.R. Guanabara, tendo como treinador, o Prof. de Educ. Física
Roberto de Carvalho Pável;
capítulo 1 • 17
• Na década de 1970 a CNB organiza muitos campeonatos brasileiros, a
maioria vencidos por clubes do Rio de Janeiro, sendo que nessa época o Brasil
já dominava as provas sul-americanas;
• Na década de 1980 os patrocínios começam a surgir na natação;
• A equipe masculina de revezamento 4 x 200m livre fica com a medalha
de bronze nos Jogos Olímpicos de Moscou (equipe: Jorge Fernandes, Marcus
Mattioli, Cyro Delgado e Djan Madruga);
• Em 1982, Ricardo Prado é campeão e recordista mundial nos 400m nado
medley, nas Olimpíadas de Los Angeles, em 1984, conquista a prata;
• A Associação Brasileira de Masters é fundada em 1984;
• Em 1988, Coaracy Nunes torna-se presidente da CBN, que fica responsá-
vel pelos demais esportes aquáticos, surgindo então a Confederação Brasileira
de Desportos Aquáticos (CBDA);
• Gustavo Borges fica com a medalha de prata nos 100m nado livre nas
Olimpíadas de Barcelona (1982), batendo o recorde mundial dessa prova um
ano depois, em Santos – SP, competição que também registrou o recorde mun-
dial obtido pela equipe brasileira nos 4 x 100m livre (Fernando Scherer, Teófilo
Ferreira, J. C. Souza Jr. e Gustavo Borges);
• Também em 1993 em Palma de Mallorca, Fernando Scherer sagra-se cam-
peão mundial dos 100m livre;
• Gustavo Borges conquista o bronze nas Olimpíadas de Atlanta (1996)
na prova de 100m nado livre e prata nos 200m nado livre, enquanto Fernando
Scherer fica com o bronze nos 50m livre;
• Em 2000, nas Olimpíadas de Sidney, a equipe masculina formada por
Fernando Scherer, Gustavo Borges, Carlos Jayme e Edvaldo Valério consegue o
bronze no revezamento 4 x 100m nado livre, enquanto no Mundial de Masters
Maria Lenk (categoria mais de 85 anos) e Gastão Figueiredo (categoria mais de
90 anos) conquistam, cada um, 7 medalhas de ouro;
• Em 2004 (Atenas), oito mulheres integram a equipe brasileira e chega-
ram a três finais olímpicas, demonstrando evolução técnica: Joanna Maranhão
(400m nado medley), Flávia Delaroli (50m livre) e a equipe de revezamento 4 x
200m nado livre formada por Joanna Maranhão, Mariana Brochado, Monique
Ferrreira e Paula Baracho;
• Em 2008, em Pequim, o grande momento da natação brasileira em
Olimpíadas: Cesar Cielo torna-se o primeiro campeão olímpico da modalidade,
vencendo a prova de 50m nado livre com o tempo de 21 segundos e 30 centési-
mos. Cielo também ficou com a medalha de bronze nos 100m nado livre (47”67);
18 • capítulo 1
• Em 2008 é realizada a primeira prova da maratona aquática (10 km) para
homens e mulheres em jogos olímpicos;
• No Mundial de Roma, em 2009, Cielo conquista seu primeiro campeona-
to mundial dos 50m, com o tempo de 21”08 (Cesar é tricampeão mundial da
prova: 2009, 2011 e 2013 e bicampeão mundial dos 50m nado borboleta: 2011
e 2013);
• Ainda em 2009, Cesar Cielo conquista o recorde mundial dos 50m nado
livre em São Paulo, com o tempo de 20”91;
• Em Londres (2012), Thiago Pereira conquista a prata nos 400m nado
medley, deixando para trás nada mais, nada menos do que Michael Phelps. Em
2015, Thiago tornou-se o maior medalhista pan-americano, com o total de 23
medalhas conquistadas;
• Ainda em Londres, 2012, Cesar Cielo ficou com o bronze na prova de
50m livre.
1.2 Benefícios da natação
A natação é um esporte praticado por pessoas com condições físicas diferen-
tes, de ambos os sexos, e recomendada tanto a bebês (especialmente a partir
dos 6 meses) quanto a idosos. Muito se lê sobre os benefícios da natação, es-
pecialmente para a aptidão física e para o desenvolvimento motor, cognitivo e
socioafetivo. A seguir, vamos destacar quais são eles.
1.2.1 Benefícios da natação para a aptidão física
A aptidão física pode ser definida como a condição que uma pessoa apresenta
para a realização de todas as suas atividades cotidianas de forma satisfatória,
sem sentir-se cansada ou fatigada, e preferencialmente possuindo energia para
uma situação de emergência que surja. A literatura indica alguns importantes
componentes da aptidão física que têm relação direta com a saúde de maneira
geral, com a autonomia e independência na realização de atividades diárias,
e com a qualidade de vida (já que a saúde é diretamente ligada a ela): aptidão
cardiorrespiratória, força dinâmica, resistência muscular, flexibilidade e com-
posição corporal. Vianna e colaboradores, em 2004, realizaram um estudo com
mulheres idosas designadas para um de dois grupos: o experimental, que por
12 semanas fez aulas de natação (3 sessões semanais de 50 minutos cada) e o
controle, que não foi submetido a nenhum protocolo de exercícios. Foram fei-
capítulo 1 • 19
tos testes relacionado à autonomia, como caminhar ou correr 800m, levantar-se
do solo e subir e descer degraus, e o grupo experimental apresentou melhorias
significativas em todos os itens analisados, o que não aconteceu com o grupo
controle. Para os autores, a natação pode ser recomendada para a melhoria da
autonomia de idosos.
Agora vamos identificar como a prática da natação pode beneficiar a apti-
dão física: a aptidão cardiorrespiratória está relacionada à eficiência dos siste-
mas respiratório, cardiovascular e muscular para captação, distribuição e uti-
lização do oxigênio na produção de energia para a contração dos músculos e
realização dos exercícios de média a longa duração, feitos em intensidade sub-
máxima e que solicitam grandes grupos musculares ao mesmo tempo. Pense
na natação: os nados tradicionais envolvem muitos músculos na sua execução,
e em uma aula voltada à população em geral, normalmente a duração é de 30
a 45 minutos. Os alunos realizam diversas atividades em uma intensidade que
permita a manutenção do exercício, caracterizando um estímulo para a apti-
dão cardiorrespiratória. À medida que o aluno vai aprimorando sua resistência,
é possível aplicar atividades mais intensas, o que sobrecarregará progressiva-
mente os grandes sistemas orgânicos envolvidos, e trará ganhos na aptidão car-
diorrespiratória, geralmente expressos através da medida do consumo máximo
de oxigênio que uma pessoa pode captar. Em atletas de natação, para que você
tenha uma ideia do quanto é interessante a estimulação sobre o coração, há
aumento das câmaras cardíacas e espessamento do músculo cardíaco, o mior-
cárdio (STAGER & TANNER, 2008).
Com relação à força dinâmica e à resistência muscular localizada, primei-
ramente devemos ter em mente que para as atividades da vida diária, são qua-
lidades físicas vitais, pois precisamos de músculos capazes de exercer tensão
para vencer as resistências a eles impostas, como, por exemplo, conseguirmos
graças à contração dos músculos dos membros inferiores, subir escadas, ativi-
dade que muitas vezes é necessária no dia a dia. Ao nadar, uma pessoa encontra
sempre a resistência da água a sua movimentação, considerada uma sobrecar-
ga natural do meio. Isso ocorre pela união das moléculas, que muitos autores
denominam de viscosidade. Um aluno de natação terá um estímulo a mais para
a realização das ações musculares, e com o tempo perceberá que faz suas ativi-
dades com menor sensação de cansaço dos músculos (tanto as específicas da
aula como as cotidianas) graças à viscosidade (resistência natural) da água.
A flexibilidade é uma qualidade física muito importante na natação de
alto rendimento: como exemplo, imagine o quanto é necessária uma grande
20 • capítulo 1
amplitude de movimento dos ombros na braçada do nado borboleta. Os tor-
nozelos dos nadadores de alto nível também apresentam excelente mobilida-
de. Os ganhos em amplitude, mesmo para os alunos que iniciam a natação ou
objetivam aprimorar sua aptidão física, estão diretamente associados com o
tipo de movimentação presente na execução dos nados: membros superiores
e inferiores realizam movimentos alongados, aproveitando a maior superfície
possível para empurrar a água e conseguir uma ótima propulsão. Uma melhor
movimentação articular, especialmente dos ombros e tornozelos, pode ser ob-
tida com a realização de braçadas e pernadas, mesmo que o aluno não faça es-
pecificamente exercícios de alongamento; porém, para pessoas que têm muita
restrição de amplitude nessas articulações, pode ser difícil e custosa a execução
de algumas atividades, e talvez seja necessária a recomendação de estímulos
diretamente associados ao treinamento da flexibilidade.
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Figura 1.3 – Braçada do nado borboleta.
A composição corporal tem associação com a aptidão física para a saúde
porque os exercícios físicos podem auxiliar na manutenção de um percentual
de gordura adequado, evitando o sobrepeso e a obesidade, que infelizmente
vêm crescendo no Brasil nos últimos anos, independentemente de faixa etária
e sexo. Para que possamos manter uma composição corporal adequada, evitan-
do o excesso de gordura corporal, é importante a realização de atividades físicas
capítulo 1 • 21
para maior gasto energético, pois ao consumirmos mais energia do que gasta-
mos, caminhamos para o sobrepeso e a obesidade. Ao nadarmos, como muitos
músculos são solicitados para a execução dos movimentos, podemos alcançar
um alto gasto calórico (dependendo da intensidade e duração da sessão), fa-
vorecendo a manutenção de uma boa composição corporal. Para pessoas que
já se encontram com sobrepeso e/ou obesidade e que procuram aulas de nata-
ção para emagrecer, é importante buscarmos estratégias que diminuam o tem-
po que ficam na borda da piscina; por exemplo, realizar exercícios na posição
vertical, como corridas estacionárias, polichinelos, e outros. Apesar de não ser
adequado para a saúde, o maior percentual de gordura facilita a flutuação e,
consequentemente, os movimentos propulsivos, especialmente das pernadas,
pois os membros inferiores ficam mais próximos à linha de superfície. Dessa
maneira, podemos perceber uma maior facilidade para a autossustentação em
indivíduos com maiores percentuais de gordura.
1.2.2 Benefícios da natação para o desenvolvimento motor, cognitivo e
socioafetivo
A natação pode ser iniciada a partir de alguns meses de vida, sendo mais co-
muns a partir dos 6 meses. Obviamente, com bebês e crianças pequenas o
objetivo principal não é ensinar os quatro nados, mas sim proporcionar uma
completa adaptação ao meio aquático, fazendo com que os alunos sintam-se
confortáveis e familiarizados.
Praticar natação desde cedo pode, de fato, auxiliar nos processos de desen-
volvimento de diversas habilidades. Um estudo realizado na Austrália ao longo
de 4 anos, denominado “Natação na primeira infância” concentrou seu obje-
tivo na identificação de benefícios dessa prática para crianças com menos de
5 anos. Através de questionários respondidos pelos pais e testes específicos
realizados com crianças, foi possível identificar que há “diferenças significati-
vas entre o grupo de crianças que nadam e a população normal, independente-
mente do histórico socioeconômico ou gênero” (Jorgensen, 2013).
Em uma revisão de 20 artigos e livros sobre os benefícios da natação para
bebês, Raiol&Raiol (2011) identificaram que ela é importante para a socializa-
ção, o desenvolvimento de capacidades físicas, da independência e da proati-
vidade. Daibert (2008) apresenta outras vantagens, como o melhor relaciona-
mento afetivo entre pais e filhos (aulas realizadas com os pais sob a orientação
22 • capítulo 1
do professor) e a musculatura dorsal mais desenvolvida entre bebês praticantes
de natação.
Investigando os motivos que levam os pais a colocarem seus filhos em au-
las de natação, Oliveira e colaboradores (2013) identificaram que estão relacio-
nados à integração social, prevenção de doenças e melhor saúde. Os autores
também citam outras vantagens, como a maior disposição para realizar outras
atividades, aumento da autoestima e da coordenação motora.
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Figura 1.4 – Natação infantil.
Nadar é importante para a sobrevivência, em situações de emergência den-
tro da água; como atividade individual pode ajudar na superação de limites e
desafios e no desenvolvimento da força de vontade; resulta em boa coordena-
ção de movimentos; tem relações diretas com a promoção da saúde; pode auxi-
liar na recuperação de algumas lesões, segundo ANDRIES JUNIOR et al. (2002).
1.3 Mercado de trabalho
No Brasil, há cerca de 2 milhões de piscinas construídas, colocando o país na
segunda posição no ranking mundial do mercado dessas instalações, atrás ape-
nas dos EUA, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes e Cons-
trução de Piscinas e Produtos Afins (Anapp) e anualmente são mais 70 mil no-
vas unidades (Borda de piscina, 2014).
capítulo 1 • 23
O Atlas do Esporte no Brasil (2013) cita dados da Anapp de 2003 onde esti-
ma-se que havia 11 milhões de praticantes de natação pelo país, e nesse mesmo
ano cerca de 63.000 atletas estavam registrados na Confederação Brasileira de
Desportos Aquáticos (CBDA).
Como os afogamentos na infância, entre 1 e 9 anos, constituem-se na se-
gunda principal causa de mortalidade atrás apenas dos acidentes de trânsito
(SOBRASA, 2015), espera-se através das campanhas de sensibilização para a
prevenção um reconhecimento maior da importância de se praticar a natação
e de simplesmente nadar, movimentar-se adequadamente na água, gerando
mais procura por aulas dessa modalidade/atividade física.
Seja na iniciação, no aperfeiçoamento das técnicas ou no treinamento de
atletas, a natação oferece um amplo mercado de trabalho, e através de publica-
ções, cursos, estágios e especializações, a possibilidade de atualização constan-
te para uma ótima intervenção profissional.
SAIBA MAIS• Para ler na íntegra a pesquisa sobre os benefícios da natação para crianças até 5 anos:
<http://www.inati.com.br/files/2014/04/Pesquisa_EYS_Natac%CC%A7a%CC%83o
_Primeira_Infancia_Relatorio_Final.pdf>.
• Para conhecer um pouco da história sobre as primeiras medalhas da natação brasileira em
Jogos Olímpicos:
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rtrrBEFKW4U>.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASANDRIES JUNIOR, O.; WASSAL, R. C.; PEREIRA, M. D. Natação animal: aprendendo a nadar com os
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BRASIL é o segundo melhor país no mercado de piscinas do mundo. Disponível em: <http://
bordadepiscina.com.br/?p=237>. Acesso em: 16 mar. 2016.
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Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico. Porto: Porto Editora, 2003-2016.
Disponível em: <http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/nadar>. Acesso em: 06 mar. 2016.
DAIBERT, J. B. C. Os benefícios da natação para bebês. 2008. Trabalho de Conclusão de Curso
- Universidade Estadual Paulista, 2008. Disponível em: <http://repositorio.unesp.br/bitstream/
handle/11449/118832/daibert_jbc_tcc_rcla.pdf?sequence=1>. Acesso em: 15 mar. 2016.
24 • capítulo 1
GREGUOL, M. Natação adaptada: em busca do movimento com autonomia. São Paulo: Manole,
2010.
JORGENSEN, R. Natação na primeira infância: agregando valor aos jovens australianos. Disponível
em: <http://www.inati.com.br/files/2014/04/Pesquisa_EYS_Natac%CC%A7a%CC%83o_Primeira_
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Princípios e propriedades físicas
2
26 • capítulo 2
2. Princípios e propriedades físicas
A imersão no meio aquático traz importantes alterações fisiológicas e biomecâ-
nicas. A água, como matéria que é, tem algumas propriedades que a caracteri-
zam e irão interferir diretamente no comportamento de objetos nela imersos,
como o corpo humano.
Para a natação, diversos fatores devem ser compreendidos e considerados
para melhor entendimento dos movimentos lá realizados, das mudanças no
funcionamento de grandes sistemas orgânicos, de vantagens e desvantagens
que o meio aquático proporciona.
Nesse capítulo, veremos os tipos de fluxo e de arrasto (resistência) encontra-
dos pelo nadador, mecanismos associados à propulsão na natação e proprieda-
des físicas como densidade, flutuação, pressão hidrostática; dentre outras, que
geram consequências importantes e que devem ser consideradas pelo profis-
sional que atua com exercícios aquáticos.
OBJETIVOS
• Diferenciar os fluxos laminar e turbulento;
• Identificar mecanismos associados à propulsão na natação;
• Conhecer os tipos de arrasto encontrados (forças resistivas);
• Reconhecer as características e efeitos das propriedades físicas: tensão superficial, densi-
dade relativa, flutuação (empuxo), pressão hidrostática, calor específico e refração.
2.1 Princípios e propriedades físicas aplicadas à natação
2.1.1 Fluxos laminar e turbulento
As moléculas de água, quando se encontram unidas, sobrepostas e alinhadas
de maneira organizada adotam um tipo de fluxo denominado de laminar; por
outro lado, quando há perturbação no seu alinhamento, chocam-se de maneira
aleatória umas contra as outras, em direções diversas, formando o que é cha-
mado de fluxo turbulento e que podemos visualizar na linha da superfície como
“borbulhas” ou “redemoinhos”. Para o deslocamento na água, é fundamental
saber que no fluxo turbulento se gasta mais energia, pois há maior resistência
a ser vencida.
capítulo 2 • 27
Conforme Maglischo (2010), à medida que se movimentam na água os na-
dadores perturbam o fluxo laminar, que se torna turbulento, pois as molécu-
las que estavam unidas como “folhas laminadas”, devem se separar para cima,
para baixo e para os lados, formando buracos para que o corpo passe. A turbu-
lência não ocorrerá somente próxima ao corpo do indivíduo, pois as molécu-
las já desorganizadas também irão alterar outras “folhas laminadas” distantes
dele, aumentando-a mais ainda. O fluxo turbulento aumenta a pressão à frente
do nadador e aos lados de quem está nadando e algumas moléculas aderem à
pele; esses fatores reduzem a velocidade frontal e obrigam-no a aplicar mais
força para a propulsão. Conforme o indivíduo passa pela água, as porções atrás
dele permanecem por certo tempo turbulentas (denominadas de redemoi-
nhos), até que os buracos criados sejam novamente preenchidos. Por isso, a
pressão na área atrás do nadador é mais baixa (devido à permanência dos bu-
racos formados), e “suga” o nadador para trás, fator batizado de “cavitação” e
“sucção caudal”. Para superar esse efeito da área de menor pressão, o indivíduo
deve aprimorar ainda mais sua força propulsiva.
O fluxo volta a ser laminar pouco tempo após a passagem do nadador, pois
os buracos que haviam sido formados são novamente preenchidos pelas mo-
léculas de água; porém, quando a turbulência e os buracos forem grandes, a
reorganização do fluxo em folhas laminadas demorará mais para acontecer e a
sucção caudal será maior.
Em treinamentos e competições, quando um nadador fica posicionado
imediatamente atrás ou ao lado de outro, realizando as braçadas onde há ca-
vitação (turbulência), poderá manter uma alta velocidade com menor esforço,
pois a área de maior pressão imediatamente a sua frente é mais alta do que a de
menor pressão do indivíduo à frente, fazendo com que ele seja movido para a
região de menor pressão. Ao pensarmos nisso, podemos reduzir ou aumentar
a exigência de esforço de um aluno nosso, dependendo do seu objetivo e con-
dição física.
28 • capítulo 2
Figura 2.1 – Demonstração dos fluxos laminar e turbulento. O sinal + indica a área de
maior pressão e – a de menor pressão. Disponível em: <http://tecnicadenado.blogspot.com.
br/2008/09/fluxo-laminar-e-turbulento.html>. Acesso em: 18 mar. 2016.
2.1.2 Propulsão na natação
A propulsão está relacionada aos movimentos feitos pelos nadadores para se
deslocarem na piscina, vencendo a resistência imposta pelo meio. De fato, re-
duzir as forças resistivas é fundamental para economizar energia e melhorar a
propulsão, percorrendo uma determinada distância mais rapidamente. Para o
aluno que pratica natação, visando aptidão física, é fundamental investirmos
no ensino de uma boa técnica de nado também, para que ele execute os movi-
mentos gerando menos arrasto, e consequentemente, menor gasto de energia.
Os fatores que explicam a propulsão aquática mudaram ao longo dos anos,
desde as primeiras competições até os dias atuais. Baseados nas colocações de
Maglischo (2010), vamos estudá-las brevemente.
• Teoria da roda de pá da propulsão: durante muito tempo a partir das pri-
meiras competições no século XIX, acreditou-se que para ir à frente eficiente-
mente, os movimentos dos braços deveriam empurrar a água diretamente para
trás, totalmente estendidos, como se fossem um remo ou uma roda de pá.
capítulo 2 • 29
Figura 2.2 – A técnica da braçada como “remo” ou “roda de pá”. Fonte: MAGLISCHO, E.
W. Nadando o mais rápido possível. São Paulo: Manole, 2010, p. 6.
• Teoria do arrasto propulsivo: a partir da década de 1960, pesquisadores
renomados postularam que para melhor propulsão, os braços deveriam ser fle-
xionados na altura dos cotovelos num primeiro momento, e partir daí esten-
didos empurrando a água diretamente para trás. Essa teoria ficou conhecida
como “teoria do arrasto propulsivo – empurrar direto para trás para ir à frente”
e se baseou na terceira lei de Newton (toda ação de um objeto produzirá uma
reação de igual magnitude na direção contrária).
Figura 2.3 – demonstração da braçada segundo a teoria do arrasto propulsivo. Fonte:
MAGLISCHO, E. W. Nadando o mais rápido possível. São Paulo: Manole, 2010, p. 7.
30 • capítulo 2
• Teoria do “movimento sinuoso para trás”: Um pouco depois, a partir da
observação dos movimentos de nadadores de alto nível, recomendou-se que o
padrão subaquático da braçada simulasse a letra “S”, com movimentos sinuo-
sos e não diretamente para trás. Ao mudarem a trajetória, os nadadores encon-
trariam moléculas de água paradas ou mexendo-se mais lentamente do que
mantendo a braçada diretamente para trás, o que reduziria o gasto energético,
dando origem à Teoria do Arrasto Propulsivo do Movimento Sinuoso para Trás.
• Teorias da força de sustentação da propulsão: Em 1971, uma pesquisa
realizada por Brown e Counsilman com pontos de luz fixados às pontas dos de-
dos dos nadadores em uma piscina escura, demonstrou que eles moviam suas
mãos no sentido diagonal (movimentos laterais e verticais), rejeitando que os
nadadores durante sua movimentação necessitariam deslocar seus braços para
trás e consequentemente, refutando o princípio da ação e reação de Newton
para explicar a propulsão. Esses pesquisadores usaram como explicação o
Teorema de Bernoulli, identificado pelo suíço Daniel Bernoulli, que diz que a
pressão em um fluido é mais baixa quando ele se movimenta em um fluxo rá-
pido e mais alta ao movimentar-se em um fluxo lento. Esse princípio é usado
para explicar a sustentação de um avião: quando ele se desloca, as correntes de
ar à sua frente fazem uma força de arrasto oposta a sua direção, e as asas terão
que dividir essas correntes de ar para passar por elas. O formato das asas na
parte superior é arredondado e mais longo do que na parte inferior, fazendo
com que o ar se movimente mais rapidamente ao passar pela superfície supe-
rior e alcance a parte de trás da asa junto com o fluxo de ar que vem de baixo. As
moléculas da parte superior que se movem com mais velocidade diminuem a
pressão em relação à pressão do ar que está passando por baixo da asa, e os ob-
jetos se movem de áreas de maior pressão para as de menor pressão, o que gera
sustentação do avião (força exercida perpendicularmente à direção da força de
arrasto). Brown e Counsilman usaram esse Teorema para explicar a propulsão
nos nados porque as mãos têm o formato similar ao das asas de um avião, e
seus movimentos (palmateios) com mudanças de direção seriam propulsivos
por gerarem forças de sustentação. Atualmente, não se atribui a esse Teorema
a explicação para a propulsão, pois os nadadores, ao se deslocarem, causam
separação da camada limítrofe e turbulência, alterando a pressão na parte su-
perior das mãos e reduzindo o diferencial de pressão entre a parte de cima e a
parte de baixo, o que reduz a sustentação.
capítulo 2 • 31
Figura 2.4 – Demonstração de como as mãos, por seu formato, provocariam áreas com
pressões e velocidades de passagem da água diferentes, gerando forças de sustentação.
Fonte: MAGLISCHO, E. W. Nadando o mais rápido possível. São Paulo: Manole, 2010, p. 9.
• A terceira lei do movimento de newton: Para Maglischo (2010), a lei da ação
e reação, proposta por Isaac Newton, pode explicar como se dá a propulsão na na-
tação, mas com uma interpretação diferente da utilizada na década de 60, onde a
ação relacionava-se exclusivamente aos deslocamentos dos segmentos corporais
para trás e a reação, o deslocamento do corpo adiante. Segundo ele, a “contrafor-
ça” produzida pelos nadadores, através dos movimentos diagonais, irá deslocar
a água para trás o que produz a força que desloca seu corpo para frente” (p. 15).
Apesar de não empurrarem a água diretamente para trás (roda de pá ou remo),
ele acredita que a ação de empurrar principalmente para trás gerará força pro-
pulsiva para frente. A trajetória diagonal (com movimentos laterais e verticais, os
palmateios) dos membros superiores gera menor esforço da musculatura na fase
subaquática e uma maior quantidade de água sendo empurrada para trás, ha-
vendo aplicação mais eficiente da força; além disso, as mudanças de direção dos
braços e das mãos na fase submersa proporciona que o nadador encontre águas
mais tranquilas para pressionar, “fugindo” da água que já foi acelerada.
Direção, ângulo de ataque e velocidade
As direções adotadas pelos membros superiores e inferiores na realização
de braçadas e pernadas nos quatro tipos de nados são fundamentais para a
32 • capítulo 2
compreensão dos padrões técnicos mais eficientes. Segundo Maglischo (1999,
p. 305), “em todos os quatro estilos de competição, as mãos dos nadadores des-
locam-se predominantemente nas direções lateral e vertical”. Os palmateios
usados pelos nadadores parecem ter sido aprendidos de maneira intuitiva, pelo
menos entre os que começaram a nadar quando a teoria do arrasto propulsivo
era popular, na década de 1970. Outro aspecto que já foi observado é que há
mais de uma mudança de direção durante as fases submersas das braçadas,
possivelmente para que se encontre água mais tranquila.
O ângulo de ataque é definido como “ângulo formado pela inclinação da
mão e do braço (ou perna e pé) para a direção em que eles estão se movendo”
(Maglischo, 1999, p. 307). Quando o ângulo de ataque é pequeno ou grande de-
mais, a propulsão é diminuída. Um ângulo de ataque de cerca de 40º aumenta
bastante a força propulsiva, porque é possível transferir para a água uma maior
quantidade de força retrógrada, à medida que ela passa sob a palma da mão
do indivíduo, do bordo de ataque (polegar) ao bordo de fuga (dedo mínimo).
A partir de estudos de Schleihauf (1978) apud Maglischo (1999), são feitas as
seguintes recomendações:
1. Há maior coeficiente de sustentação com ângulos de ataque entre 20º
e 50º, auxiliando na força propulsiva porque a borda da mão se movimenta por
água mais tranquila, e maior coeficiente de arrasto (aumentando a força resis-
tiva) com ângulo de ataque próximo a 90º;
2. É preferível manter os dedos unidos ou com um afastamento de até
0,32 cm entre eles, para maior força de sustentação;
3. Há maior força de sustentação quando o polegar é ligeiramente afasta-
do da mão.
Deve-se evitar a adoção de uma forma achatada das mãos em relação à água,
como se fossem remos, e o bordo de ataque deve ser uma superfície pequena
e afilada que não movimentará uma grande quantidade de água no início do
movimento submerso.
capítulo 2 • 33
Figura 2.5 – Os efeitos de diferentes ângulos de ataque. Fonte: MAGLISCHO, E. W. Nadan-
do mais rápido ainda. São Paulo: Manole, 1999.
Quanto à velocidade, Counsilman e Wasilak (1982) apud Maglischo (1999)
pesquisaram a importância dela para a propulsão, identificando que há uma
aceleração das mãos do início até o final da fase submersa das braçadas en-
tre os melhores nadadores. Depois, Schleihauf (1986) apud Maglischo (1999)
acrescentou outra importante informação: a velocidade não era simplesmente
aumentada do início ao fim, e sim a cada mudança importante de direção ao
longo da fase submersa, sendo a maior velocidade alcançada na fase propulsiva
final, em concordância com o que já haviam dito Counsilman e Wasilak.
2.1.3 Tipos de arrasto
A resistência encontrada ao nos movimentarmos na água é denominada de ar-
rasto e é muito mais significativa do que a resistência do ar. De fato, a água é mil
vezes mais densa e isso implica que as forças de propulsão devem ser sempre
maiores do que as forças resistivas. Como a forma do corpo humano não facili-
ta o deslocamento na água, naturalmente haverá muita resistência a ser venci-
da, uma vez que os movimentos necessários para abrir os buracos e poder pas-
sar pela água, além das mudanças de orientação do corpo, geram turbulência.
34 • capítulo 2
Atualmente, acredita-se que a redução das forças resistivas é um fator mais
decisivo para o sucesso na natação do que o incremento das forças propulsivas.
Segundo Maglischo (2010, p. 37), os “nadadores que reduzem suas forças resis-
tivas podem aumentar sua velocidade média por ciclo de braçadas (...) sem a
necessidade de aumentar o esforço muscular”.
Dada a importância de se buscar vencer as forças resistivas, vamos agora
conhecer os tipos de arrasto encontrados por uma pessoa que está nadando.
De acordo com Stager&Tanner (2008), o arrasto pode ser classificado conside-
rando-se a ação do nadador ou pela sua causa. Quanto ao o que o nadador está
fazendo, pode ser passivo, que é a resistência encontrada quando o corpo está
fixo, como acontece nos deslizamentos após as viradas, e ativo, que está relacio-
nado à movimentação das braçadas e pernadas.
Quanto à causa do arrasto, estudaremos os arrastos de forma, de fricção da
pele e de onda.
2.1.3.1 Arrasto de forma
O arrasto de forma é causado pela forma e direção do nadador, e é o mais im-
portante. Uma forma simples para compreender esse arrasto é comparar o cor-
po do nadador, considerado um objeto rombudo, que apresenta superfícies
amplas, a um objeto delgado, como uma chapa plana. Ao movimentar-se con-
tra a água, certamente o objeto rombudo provocará uma maior desorganização
do fluxo laminar, causando mais turbulência e resistência. Quanto maior o ta-
manho do objeto, maior é o arrasto de forma, e a adoção de posturas hidrodi-
nâmicas é extremamente importante. Um exemplo é o “streamlining”, posição
corporal adotada após a largada e viradas que busca reduzir ao máximo a área
do corpo contra a camada de água à frente.
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Figura 2.6 – Atleta adotando a posição de “streamlining” após uma virada.
capítulo 2 • 35
Maglischo (2010) cita que tanto o espaço que o corpo de um nadador ocupa
como as formas que apresenta à água determinam a quantidade de arrasto de
forma. Aspectos como o volume corporal e a técnica adequada que possibilita
um bom alinhamento corporal lateral e horizontal devem ser considerados. O
volume que corpo humano ocupa na água é muito maior do que as formas de
peixes e outros animais marinhos cuja região anterior e posterior são afiladas
e o corpo é regular. Nosso corpo tem ombros e quadris mais largos do que a
região da cintura, e nossos pés são “mais rombudos do que afilados” (p. 41).
Ainda quanto à redução desse tipo de arrasto, Stager&Tanner (2008) citam
que movimentos desnecessários para os lados, para cima e para baixo devem
ser evitados, o que nos leva a recomendar a realização de movimentos baseados
na técnica indicada, que veremos mais adiante. Ao ensinar alguém a nadar, é
importante lembrarmos que as braçadas, pernadas e a posição corporal devem
seguir ao máximo possível os princípios técnicos já conhecidos, a fim de econo-
mizar energia e reduzir as forças resistivas do arrasto de forma.
A velocidade de nado aumenta esse arrasto, mas no alto rendimento a ideia
não é diminuí-la, e sim reduzir a resistência para poder nadar mais rapidamen-
te. Por outro lado, o nado submerso, ou seja, movimentar-se abaixo da linha de
superfície, apresenta menor arrasto de forma do que quando nadamos na su-
perfície, pois existe o favorecimento na velocidade de deslocamento submerso
em relação à superfície, devido à ausência do arrasto de onda ou de superfície,
que conheceremos a seguir.
2.1.3.2 Arrasto de fricção ou friccional
A fricção entre a pele de um nadador e a água gera um fluxo de moléculas de água
que vão se deslocar junto com a pele durante o movimento dele para frente e exer-
cerão fricção em outras moléculas de água, que também serão movimentadas.
Esse tipo de fricção entre as moléculas irá se propagar para outras camadas de
moléculas continuamente, até um ponto em que não representarão nenhum
efeito sobre o nadador. Denomina-se “camada limítrofe” os fluxos de água que
são levados para frente com o corpo, e o nadador terá que fazer mais esforço para
acelerar seu corpo, já que carrega consigo uma massa de água a mais. Quando há
separação da camada limítrofe, a fricção da pele é zero, e devemos lembrar que o
corpo humano, com sua forma pouco hidrodinâmica, provoca afastamento mais
precoce dessa camada, sofrendo menor arrasto de fricção do que um objeto del-
gado; porém, lembre-se que o objeto rombudo enfrenta muito arrasto de forma,
então o nadador deve adotar posturas hidrodinâmicas sempre.
36 • capítulo 2
A velocidade de um objeto deslocando-se na água e a área de superfície
dele aumentam esse arrasto, e há outro aspecto muito importante que deve ser
considerado, especialmente entre atletas de natação: a rugosidade da pele ou
o quanto a superfície desse objeto é irregular. Conforme Maglischo (2010, p.
51), “superfícies lisas provocam menos fricção do que superfícies irregulares
e reduzem a fricção entre a água e a pele, de modo que os nadadores carregam
menos moléculas de água na camada limítrofe”. Então, o arrasto friccional é
maior em superfícies mais rugosas, e por isso os nadadores usam roupas espe-
ciais e fazem depilação. Sharp e Costil (1989) identificaram que pode haver re-
dução das forças resistivas e menor custo fisiológico (identificado por medidas
de lactato sanguíneo, frequência cardíaca, consumo de oxigênio e comprimen-
to de braçadas) com a raspagem de pelos, após compararem o desempenho em
testes submáximos de nado peito entre nadadores que depilaram e outros da
mesma equipe que não adotaram esse procedimento.
Os trajes atuais, dentro das normas permitidas pela Federação Internacional
de Natação, e o uso de toucas, são estratégias adotadas para redução da fricção
da água contra a pele e os cabelos, apesar de ainda haver controvérsia quanto ao
potencial de redução do arrasto de fricção ativo com essas atitudes em relação à
raspagem de pelos. Atualmente, os trajes são de tecidos de baixo índice de fric-
ção, que de acordo com Maglischo (2010) têm como vantagem o modelamento
do corpo, reduzindo o volume dos peitos e nádegas; porém, a espessura deles
pode aumentar a circunferência das partes do corpo e consequentemente, o
arrasto de forma. Já as toucas são interessantes para redução da rugosidade da
cabeça e dos cabelos, e devem ser confeccionadas com materiais com baixo ín-
dice de fricção. De forma ideal, devem encaixar na cabeça de maneira a não
haver espaços para acúmulo de água, o que também é válido para os trajes.
COMENTÁRIORecentemente, a natação de alto rendimento viveu a era dos super trajes de natação, gera-
dores de muitas polêmicas e discussões. Para que você entenda o que aconteceu, vamos ler
um pouco sobre a história do desenvolvimento dessas roupas “mágicas” para o desempenho
na água. Em 1992, nas Olimpíadas de Barcelona, a Speedo lançou o S2000, traje feito com
elastano e microfibra que cobria bastante o corpo, trazendo uma nova concepção para as
competições (até então se usava sunga e maiô tradicional). Em 1996, é lançado o Aquabla-
de, modelo que reduzia a resistência em comparação à pele humana e possuía resinas que
afastavam a água. Pela primeira vez os membros inferiores foram cobertos em roupas para
capítulo 2 • 37
competição. Em 2000, surgiu o Fastskin (Speedo), modelo desenvolvido com muita pesquisa
científica e tendo atletas campeões como “cobaias” para os seus testes. Esse traje foi criado
a partir de observações feitas da pele dos tubarões, animais que se deslocam com muita
velocidade. Na pele desses animais há dentículos similares a aerofólios e sulcos em formato
de “V”, fazendo com que a água passe mais rapidamente pelos seus corpos. Além de repro-
duzir essas características, o modelo era em 3D e não possibilitava espaços para acúmulo de
água. Com apoio de profissionais da NASA e de universidades, a Speedo lançou em 2008
o LZR Racer, vestido por 18 dos 19 atletas que quebraram recordes mundiais nesse ano.
Além de ser um tecido muito mais fino e com mais elastano, aderindo bem à pele, comprimia
os músculos e repelia a água. Sua concorrente Arena lançou o modelo chamado R-Evolu-
tion, que reduzia a resistência em 20%. A grande polêmica foi em 2009, quando a marca
italiana Jaked lançou um traje à base de poliuretano, que recobria melhor o corpo e fazia
com que uma pequena camada de ar fosse retida, o que ajudou na flutuação. Como vimos
nos conceitos de natação, a autossustentação, ou seja, a capacidade de flutuar sem auxílio
caracteriza o “saber nadar”. Além disso, as roupas eram demasiadamente caras e nem todos
os competidores tinham acesso a essa tecnologia. Dessa maneira, a roupa italiana ia contra
um princípio básico da modalidade, e a FINA decidiu proibir o uso dos supermaiôs a partir
de 2010. Atualmente, as roupas devem ser fabricadas em material têxtil e não podem cobrir
todo o corpo, indo até a altura dos joelhos.
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Figura 2.7 – O modelo LZR Racer (Speedo).
38 • capítulo 2
2.1.3.3 Arrasto de onda
O arrasto de onda é gerado pelo vento ou por outros nadadores (ondas externas)
e pela própria movimentação de quem está nadando (ondas internas). Dessa
maneira, em uma piscina onde há algumas pessoas nadando, sempre haverá
esse tipo de resistência.
Conforme Stager e Tanner (2008), têm influência sobre o arrasto de onda:
• A forma, o tamanho e a orientação do corpo (quanto maiores, mais arrasto);
• A velocidade (mais velocidade, mais formação de ondas);
• A aceleração (mais aceleração, menos arrasto de onda);
• A profundidade de imersão (maior profundidade, menor é o efeito des-
se arrasto).
Ao nadar nas raias centrais, o indivíduo sofrerá menos arrasto de onda cau-
sado pelos movimentos dos outros nadadores, já que as ondas se dissipam do
centro para as extremidades. Uma boa técnica de nado também está associada
à menor criação de ondas (imagine entrar com as mãos na água “batendo” na
superfície – isso causará ondas). O uso de raias também ajuda na redução des-
sa resistência, bem como a projeção de piscinas. Segundo Barros (2010), atual-
mente recomenda-se a construção de piscinas com sistemas de escoamento da
água que evitem que a reflexão das ondas nas bordas e que tenham maior espa-
ço entre os nadadores das raias externas e as bordas.
2.1.4 Propriedades físicas da água
A água é matéria formada por moléculas compostas de átomos e existe nos
estados sólido, líquido e gasoso. Conforme Soares (2002, p. 16), ela apresenta
“peculiaridades que a caracterizam e diferenciam do meio aéreo, conhecidas
como propriedades físicas”, e é importante que você saiba que têm influência
sobre um indivíduo em imersão, tanto em repouso como durante o exercício. A
partir de agora, vamos conhecê-las.
2.1.4.1 Tensão superficial
A tensão superficial ocorre na linha da superfície (interface entre o ar e a água)
devido à atração entre as moléculas no exterior e no interior do meio líquido: as
moléculas do interior se unem umas às outras em todas as direções, e as da su-
perfície só podem interagir com as internas. Assim, as moléculas da parte exter-
na são atraídas para o interior do líquido e as da parte interna são espremidas
capítulo 2 • 39
ou condensadas pelas primeiras até que haja equilíbrio (Castro & Loss, 2010).
Isso resulta na formação de uma espécie de película ou membrana na linha da
superfície e explica por que uma agulha, que pela densidade do material tende
a afundar, pode flutuar nessa camada do meio líquido.
Uma aplicação prática para a natação se relaciona às entradas na água a par-
tir da borda e/ou bloco: é importante passar todo o corpo pelo “buraco” inicial-
mente criado pelas pontas dos dedos, na posição mais hidrodinâmica possível,
evitando gasto desnecessário de energia.
Figura 2.8 – Uma moeda (que pela densidade tende a afundar) flutuando na superfície gra-
ças à tensão superficial.
2.1.4.2 Densidade relativa
©
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.OR
G A densidade relativa é a propriedade
física relacionada diretamente à ca-
pacidade que um objeto ou pessoa
tem para flutuar. Refere-se à divisão
de massa do objeto pelo seu volume, e
geralmente é expressa em kg/m3 ou g/
cm3. Objetos de menor densidade do
que a água tendem a flutuar. A den-
sidade relativa da água doce é de 1g/
cm3, e a da água salgada é de aproxi-
madamente 1,024-1,027 g/cm3, devido
à concentração de sais minerais na úl-
tima. Já indivíduos adultos, na média,
têm densidade relativa de 0,974 g/cm3;
assim, somos capazes de flutuar logo
abaixo da linha da superfície. O que determina nossa densidade relativa é a
composição corporal, especialmente os tecidos ósseo, muscular e adiposo. É
muito importante que você não confunda densidade com o peso do objeto: o
tecido adiposo (e consequentemente uma pessoa obesa) tem menor densidade
do que o tecidos muscular e o ósseo; assim, há maior facilidade para flutuação
entre pessoas com maior percentual de gordura. As mulheres, que geralmen-
te têm menor densidade óssea, menos massa muscular e maior percentual de
gordura do que os homens flutuam com mais facilidade, assim como idosos.
40 • capítulo 2
Alunos que têm baixo percentual de gordura e fazem treinos para hipertrofia
muscular apresentarão dificuldades para a flutuação, talvez precisando do
auxílio de equipamentos de baixa densidade (como as pranchas e macarrões)
para execução de muitos exercícios da natação.
A densidade relativa dos ossos é de aproximadamente 1,5; dos músculos, de
1,0; e da gordura (tecido adiposo), de 0,8 g/cm3, o que explica o quanto uma pes-
soa com maior desenvolvimento muscular e densidade óssea terá dificuldades
com a autossustentação.
2.1.4.3 Flutuação
A flutuação é caracterizada pela atuação de uma força de baixo para cima, con-
trária à gravidade, denominada de empuxo, cuja magnitude é maior à medida
que a profundidade de imersão aumenta. Descoberta por Arquimedes, a flutua-
ção tem como efeitos diretos: a redução do impacto (na natação, não há impac-
to sobre as articulações), a descompressão articular (por atuar contrariamente
à gravidade), facilidade para realizar movimentos em direção à superfície (e
maior esforço para movimentar-se em direção ao fundo da piscina) e sensação
de menor peso: com imersão até a cicatriz umbilical, a sensação de redução do
peso é de 50%, segundo Ruoti (et al) (2000). Os mesmos autores citam que com
imersão até o pescoço, apenas aproximadamente 7,5 kg de força compressiva é
exercida sobre os membros inferiores e coluna vertebral.
Alterações do equilíbrio que resul-
tam em movimentos de rotação (o in-
divíduo gira sobre o seu próprio eixo)
têm relação com a flutuação: na água,
temos o centro de gravidade, locali-
zado próximo à cicatriz umbilical, e
o centro de flutuação, no meio do tó-
rax. Como duas forças atuantes sobre
um corpo, esses vetores devem estar
alinhados verticalmente e não haverá
rotação do corpo, mantendo-se uma
boa postura.
Figura 2.9 – Sensação de redução do peso devido à ação do empuxo, contrário à gravidade.
Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/2013/09/corredores-
novatos-podem-preparar-musculatura-atraves-da-hidroterapia.html>. Acesso em: 24 mar. 2016.
capítulo 2 • 41
2.1.4.4 Pressão hidrostática
A pressão hidrostática é uma força exercida de fora para dentro contra os obje-
tos imersos, em todas as direções, e que aumenta com a profundidade (maior
profundidade, maior pressão) e densidade do líquido (em líquidos mais den-
sos, como a água salgada, há maior pressão sendo exercida).
Descoberta pelo cientista francês Blaise Pascal, essa propriedade física
juntamente com o empuxo tem efeitos diretos no sistema cardiovascular, au-
xiliando as bombas musculares na sua função de promover o retorno venoso
(sangue das extremidades para o centro do corpo). Ao facilitar o retorno venoso,
há um maior volume de líquido na região central do corpo, possibilitando, após
as trocas gasosas, que maior quantidade de sangue seja ejetada a cada sísto-
le (batimento cardíaco) para atender as demandas do organismo. Com maior
volume de sangue ejetado (o que é denominado de volume de ejeção), é pos-
sível “economizar” o trabalho do músculo cardíaco (miocárdio) ao realizar as
contrações que distribuem o sangue arterial (dessa maneira, os batimentos por
minuto diminuem). A diminuição dos batimentos por minuto sem prejuízos à
circulação sistêmica é chamada de “bradicardia de imersão” e parece estar pre-
sente na maioria dos indivíduos em níveis variados. Há menor sobrecarga para
o sistema cardiovascular quando as pessoas se exercitam na água, o que não
significa menor intensidade e trabalho insatisfatório para melhoria da aptidão
física. Além disso, esse efeito implica diretamente em pensarmos em outras
formas de controlar o nível de esforço dos nossos alunos dentro da água, pois
a contagem da frequência cardíaca (número de batimentos por minuto) pode
representar um erro, já que provavelmente ela estará menor do que se fosse no
meio terrestre, numa mesma intensidade de esforço (medida pelo consumo de
oxigênio, por exemplo).
Outro benefício da imersão é justificado pelos efeitos combinados da pres-
são hidrostática e do empuxo sobre o retorno venoso: a redução de edemas
(Ruoti et al., 2000).
COMENTÁRIORuoti (et al) (2000) citam que há um direcionamento de cerca de 700 cm3 de sangue das ex-
tremidades e vasos abdominais para o tórax e coração, aumentando a pressão atrial direita, o
volume de ejeção e o débito cardíaco (quantidade de sangue circulante no corpo por minuto).
42 • capítulo 2
2.1.4.5 Calor específico
A água é considerada excelente condutora de calor, e dependendo da tempe-
ratura em que está, um objeto nela imerso pode ganhar ou perder calor com
facilidade. Quando nos movimentamos, produzimos calor e precisamos trocá
-lo com o meio, a fim de manter o corpo em condições adequadas (termorregu-
lação). Nos exercícios terrestres, a principal forma de trocar calor com o meio
é através da evaporação, e no meio líquido, por convecção e condução. É fun-
damental, para a perda de calor na natação, que a temperatura da água esteja
menor do que a da nossa pele. A FINA recomenda temperaturas de água entre
25oC e 28oC para exercícios intensos (treinamento) e competições. Como a
perda de calor na água é muito rápida, devemos lembrar que bebês e crianças
pequenas sentirão frio facilmente, já que se movimentam pouco e produzem
menos calor do que jovens e adultos; por isso, as recomendações para o aqueci-
mento da água são diferentes: 30o a 32oC.
2.1.4.6 Refração
Ao passar do meio terrestre para o meio líquido, a luz encontra uma “camada
fronteiriça” e sofre uma transformação justamente na superfície, onde há a se-
paração entre o ar e a água. Segundo Ruoti (et al), (2000, p. 20), “parte da luz
incidente é refletida na fronteira, e a parte que passa para dentro do novo meio
pode mudar de direção”. Isso implicará diretamente na qualidade de visuali-
zação de movimentos submersos quando estamos fora da água, e o professor
de natação deve estar atento a isso: quanto mais afastado estiver do seu aluno,
menor será a nitidez da sua visualização; ou seja, a diferença entre o que está
sendo feito e o que está sendo visto aumenta.
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AY.C
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Figura 2.10 – Refração.
capítulo 2 • 43
RESUMONesse capítulo pudemos identificar que diversas teorias foram propostas para explicar a
propulsão na natação. Com a tecnologia e a possibilidade de filmagens embaixo da água,
atualmente sabe-se que as trajetórias de braços e pernas (direção), além dos ângulos adota-
dos pelas mãos e pés (ângulos de ataque), e a velocidade das mãos e dos pés são aspectos
muito importantes para a propulsão.
Outro fator relevante estudado e que pode dificultar o movimento na água foi sobre o
arrasto e suas subdivisões. Identificar os tipos de resistência e conhecer os mecanismos que
podem reduzi-las certamente trará economia de energia e deslocamento mais eficiente, seja
para o aluno que pratica natação visando melhorar sua aptidão física, seja para o atleta que
precisa reduzir os tempos obtidos nas suas respectivas provas.
Finalizamos nosso capítulo com as propriedades físicas do meio aquático, que trazem
importantes alterações fisiológicas e biomecânicas e devem sempre ser consideradas pelos
professores e treinadores de natação. O conhecimento das particularidades e características
da água é vital para o sucesso de qualquer programa de exercício aquático e nos ajuda a
entender diversas situações que acontecem com a imersão, como, por exemplo, a sensação
de leveza, as alterações no equilíbrio, a dificuldade de visualização de fora para dentro da
piscina, o esforço aumentando para inspirarmos, entre outros.
Espero que esse capítulo tenha auxiliado no esclarecimento de diversos efeitos e si-
tuações que acontecem durante os exercícios e até mesmo na condição de repouso dentro
da água.
SAIBA MAIS• Para conhecer a história dos trajes de natação:
<http://www.raiaoito.com.br/2016/01/evolucao-dos-trajes-de-natacao/>.
• Para ler sobre as teorias da propulsão:
MAGLISCHO, E. W. Nadando o mais rápido possível. São Paulo: Mano-
le, 2010. Disponível em: <http://estacio.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/
9788520422496/pages/_1>.
44 • capítulo 2
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASANDRIES JUNIOR, O.; WASSAL, R. C.; PEREIRA, M. D. Natação animal: aprendendo a nadar com os
animais. São Paulo: Manole, 2002.
BARROS, R. M. L. Biomecânica da natação: considerações sobre a seleção de modelos. Revista
Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 9, I suplemento I, p. 60-63.
CASTRO, F. A. S. ; LOSS, J. F. Forças no meio líquido. In: COSTA, P. H. L. (Org.). Natação e
Atividades Aquáticas - Subsídios para o ensino. São Paulo: Manole, 2010, p. 34-46.
COLWIN, C. M. Nadando para o século XXI. São Paulo: Manole, 2000.
MAGLISCHO, E. W. Nadando o mais rápido possível. São Paulo: Manole, 2010.
MAGLISCHO, E. W. Nadando ainda mais rápido. São Paulo: Manole, 1999.
RUOTI, R. G.; MORRIS, D. M.; COLE, A. J. Reabilitação aquática. São Paulo: Manole, 2000.
SHARP, R. L.; COSTILL, D. L. Influence of body hair removal on physiological responses during
breaststroke swimming.MedSci Sports Exerc, 21 (5), p. 576-580, 1989. Disponível em: <http://
www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2691818>. Acesso em: 18 mar. 2016.
SOARES, J. S. Diferença dos efeitos da hidroginástica e da ginástica localizada sobre a
flexibilidade em mulheres adultas. 2002. 109 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Motricidade
Humana)-Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro, 2002.
STAGER, J. M.; TANNER, D. A. Natação: manual de medicina e ciência do esporte. São Paulo: Manole,
2008.
Ensino-aprendizagem na
natação
3
46 • capítulo 3
3. Ensino-aprendizagem na natação
Aprender a nadar é fundamental em qualquer idade, seja para a prevenção de
afogamentos, que no Brasil têm índices elevados entre crianças e jovens, prin-
cipalmente; seja para o desenvolvimento motor, cognitivo e socioafetivo; para
a melhoria da aptidão física; ou para se tornar um atleta do esporte “natação”.
É importante diferenciar entre os processos de iniciação, de aperfeiçoamen-
to e de treinamento em qualquer modalidade esportiva. No meio aquático di-
versos autores têm feito recomendações acerca dos conteúdos e objetivos para
diferentes momentos do envolvimento do homem com a água, e os primeiros
passos devem assegurar um amplo domínio do meio aquático; ou melhor, do
corpo em relação ao meio, possibilitando segurança, autossuficiência e prazer.
As diferentes etapas, ou caminhos, que um profissional de natação escolhe
para ensinar seus alunos a nadarem, de maneira geral, não diferem muito en-
tre diversos especialistas, e nesse capítulo veremos quais são eles, bem como
recomendações úteis para o trabalho com faixas etárias diferentes, como bebês
e adultos.
OBJETIVOS
• Identificar etapas e objetivos do ensino-aprendizagem na natação;
• Conhecer os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais que podem ser desenvol-
vidos com a prática da natação;
• Verificar as recomendações da literatura para o ensino da natação em diferentes contextos.
3.1 Introdução
Para iniciarmos a compreensão sobre aspectos relacionados ao “ensinar a na-
dar”, adotaremos como referências dois livros brasileiros: “Metodologia da na-
tação” (2004), de David Machado; e “Natação animal” (2002), de Orival Andries
Junior, Renata de Campos Wassal e Maurício Duran Pereira.
3.1.1 Etapas do ensino-aprendizagem
Os autores acima indicados subdividem o processo de ensino-aprendizagem na
natação em cinco etapas iguais; porém, com alguns nomes sendo ligeiramente
capítulo 3 • 47
diferentes, e por isso vamos analisar os caminhos recomendados por eles. É
importante que você tenha em mente que muitas vezes, ao trabalhar uma ativi-
dade para desenvolver, por exemplo, a consciência sobre a respiração aquática,
solicitará de seus alunos habilidades de flutuação; assim, os caminhos podem
se misturar e não são obrigatoriamente etapas isoladas, com uma sequência
rígida a ser seguida. Além disso, devemos sempre respeitar o ritmo de cada alu-
no, estando atentos ao modo como ele se relaciona com o meio, às possibili-
dades diversas de movimentação, à intimidade (ou repulsa) que ele tem com
a água, pois os processos de ensinar não devem ser rígidos, padronizados, me-
cânicos; pelo contrário, devemos tentar individualizar o ensino, atendendo as
características, necessidades, preferências e objetivos de nossos alunos.
Machado (2004) recomenda sempre que a iniciação seja realizada em pisci-
na rasa (profundidade na qual o aluno consegue tocar os pés no fundo da pisci-
na e a cabeça fica para fora d’água), que sejam planejadas brincadeiras e jogos,
e considera importante que o professor fique o máximo possível dentro da pis-
cina. As etapas que ele recomenda e seus respectivos objetivos são:
ADAPTAÇÃO AO MEIO LÍQUIDO
Conhecer a piscina (ambiente interno e externo), perceber a
resistência da água aos movimentos, sentir-se confortável (sem
rigidez muscular e tensão facial), iniciar os primeiros contatos
da face com a água, realizar algumas imersões da face;
FLUTUAÇÃO
Como objetivo final, o aluno deverá ser capaz de flutuar nos
diferentes decúbitos (ventral, dorsal, lateral) e também na
posição vertical. Para tal, será necessário desenvolver a imer-
são completa da cabeça (rápida ou prolongada), o bloqueio
respiratório, a abertura dos olhos sob a água;
RESPIRAÇÃO
Esse autor considera a respiração “a alma do aprendizado”,
e sugere que a imersão da cabeça, rápida e prolongada com
bloqueio respiratório seja bem trabalhada antes de se ensinar
a mecânica respiratória específica: inspirar pela boca e expirar
pela boca e/ou nariz. Além da educação respiratória, que
compreende a respiração específica, o aluno deverá executar
a respiração frontal, lateral e bilateral;
48 • capítulo 3
PROPULSÃO
Essa etapa se refere aos movimentos realizados pelo aluno
dentro da água, e o autor recomenda que primeiramente sejam
experimentadas formas de deslizar (impulsão a partir dos toques
dos pés na borda ou no chão), que ele denomina de noções de
propulsão (com crianças usamos a expressão “imitar um fogue-
tinho” ou “super-homem”). Depois, exercícios diversos de propul-
são de pernas e de braços, que podem ser feitos sem desloca-
mento (apoio na barra ou borda ou em pé – braços), com auxílio
do professor ou de um material flutuante, e finalmente sem ajuda.
Para o autor, após a execução e domínio básico dos movimentos
isolados, deve-se solicitar a combinação deles, primeiramente
em pequenas distâncias e com material de apoio. Aos poucos, o
material é retirado e as distâncias aumentam, e nesse momento
haverá domínio básico de algum dos nados (dependendo dos
movimentos que foram ensinados);
MERGULHO ELEMENTAR
Atividades visando a entrada dos alunos na piscina a partir da
borda, iniciando com saltos variados em pé, até a execução de
exercícios introdutórios à entrada de cabeça na água.
Para Andries Junior e colaboradores (2002), nadar é uma habilidade que deve
ser adquirida, sendo necessário que o indivíduo passe por um processo de adap-
tação e de aprendizagem. Os autores também diferenciam “nadar” e “natação”
(p.10): “o nadar refere-se a formas variadas e diversificadas de interação do sujeito
na água, sem a intenção de resultados desportivos”. Para eles, um indivíduo adap-
tado relaciona-se bem com a água, incorpora mecanismos de flutuação, respiração
e locomoção, além de dominar várias possibilidades de entrada no meio aquático.
Como proposta para a iniciação ou adaptação ao meio, criaram nomes de animais
relacionados a cada uma das etapas, adotando a ludicidade em oposição à concep-
ção tecnicista que dominou por muitos anos no ensino da natação. Devemos tam-
bém, segundo os autores, diferenciar as estratégias para crianças e adultos, pois
nada impede que apliquemos um jogo na iniciação para os últimos, mas devemos
estar atentos ao tipo de atividade selecionada. As etapas são assim denominadas:
capítulo 3 • 49
PRIMEIROS CONTATOS
COM A ÁGUA OU “CONRATOS
N’ÁGUA I”
Usando como analogia ao iniciante o personagem do rati-
nho, que nos primeiros momentos na água tinha medo, mas
se adaptou muito bem com os estímulos adequados. Assim,
os objetivos são conhecer o ambiente, perceber a força da
flutuação atuando sobre o corpo, imersões da face, abertura
dos olhos sob a água mantendo a boca fechada, e devem
ser programadas brincadeiras e outras atividades que esti-
mulem a imaginação, especialmente com crianças;
RESPIRAÇÃO, COM O
PERSONAGEM “RESPIREFANTE
II”
A respiração aquática, como já vimos anteriormente, deve
sempre ser feita pela boca (inspiração) e boca e/ou nariz
(expiração). Captar o ar deve ser um processo rápido, e se
fosse feito pelo nariz, poderia causar desconforto e irritação
com a entrada de água nas cavidades nasais. O persona-
gem utilizado aprendeu a mecânica respiratória aquática
no aniversário do “Conratos” primeiramente assoprando a
velinha, e depois, ao entrar no lago, seu corpo afundou e
ele se assustou quando Conratos também entrou, gritando
de medo. Com o grito, saíram bolinhas (expiração). Para
isso, devemos lembrar que na etapa anterior ele já realizava
imersões com os olhos abertos e sabia bloquear o ar;
FLUTUAÇÃO OU “FLUTATUAÇÃO
III”
Onde o professor leva os alunos a imaginarem que são o
“Tatu”, que num domingo estava com seus amigos cavando
buracos e não notou que começava a chover. Os bura-
cos foram invadidos pela água e o tatu, que dominava a
respiração quando seus pés tocavam no chão, se encolheu
como uma bola e viu que seu corpo flutuava. Conforme foi
percebendo que seu corpo sofria uma força de baixo para
cima na água (o empuxo), experimentou novas possibilida-
des: de lado, de costas, com o abdome para baixo, em pé.
Novamente, note a importância de aquisição de habilidades
anteriores, como as imersões na água e o domínio tanto do
bloqueio respiratório como da respiração (Respirefante);
50 • capítulo 3
PROPULSÃO OU “PROPULGÃO IV”
Etapa na qual é apresentada a pulga Propulgão, do reino
da Pulolândia, que adorava dar seus pulos, mas nunca
sabia onde iria aterrissar. Um dia, caiu no meio do lago,
e apesar de saber flutuar (pois às vezes se refrescava
deitada próxima às margens) viu que para retornar ao
solo precisava se movimentar, e começou a mexer as
patas, identificando também que movimentos mais fortes
ajudariam no seu deslocamento. Diversas atividades que
envolvam deslizamentos, impulsos e movimentos das per-
nas e braços devem ser aplicadas nessa etapa;
ENTRADA NA ÁGUA OU “TIGRULF V”
O tigre Tigrulf, da Ásia, que num dia de muito calor, quando
já estava bastante cansado de andar à procura de água
para se refrescar, avistou um lago. O tigre sabia andar
pela água, imergir com os olhos abertos, respirar e flutuar,
mas nesse dia encontrou um obstáculo: um degrau entre
a borda e o lago (terra e água). Após refletir um pouco,
Tigrulf sentou-se no degrau, virou de costas para o lago
e começou e com o apoio das patas no degrau desceu
lentamente até a água. Depois dessa primeira experiência,
vivenciou outras formas de entrar na água.
Usando o imaginário, os autores sugerem que o trabalho inicial permita
uma ampla exploração do espaço e do corpo na piscina, oportunizando vivên-
cias de flutuação, respiração e locomoção.
Você deve ter percebido que os objetivos das etapas sugeridos por Machado
(2004) e Andries Junior e colaboradores (2002) são praticamente os mesmos, e
também há a sugestão de brincadeiras no livro do primeiro autor. Santana et al.
(2003) revisaram as sugestões de alguns autores, além dos citados acima, sobre
os caminhos para se ensinar a nadar: Palmer, em 1990, defendeu a importância
da segurança dentro da piscina, indicando a importância de se ensinar a sobre-
viver na água, antes e independentemente de dominar algum nado em parti-
cular; Lima (1999) inclui atividades de saltos, sobrevivência e salvamento nas
suas recomendações e Turchiari (1996) frisa que devemos ser cautelosos quan-
to ao potencial de aprendizagem dos alunos na iniciação, especialmente com
crianças entre 3 e 6 anos. Outro aspecto fundamental apontado por Massaud &
capítulo 3 • 51
Corrêa (2004), é que nas aulas de natação sejam oportunizadas atividades em
grupos, visando cooperação e possibilitando a socialização, tornando a ativida-
de importante também para a formação integral dos alunos.
3.1.2 Conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais no ensino da natação
A partir da reforma educacional no Brasil em 1996, foram publicadas diretrizes
e referências para a prática pedagógica, objetivando ir além do “aprender a fa-
zer” (conteúdo procedimental) com a inclusão de aspectos conceituais (“o que
se deve saber”) e atitudinais (“o que se deve ser”). A Educação Física com todas
as suas possibilidades de movimentação corporal, através da ginástica, dos jo-
gos, do esporte, das lutas e das danças deve explorar as dimensões conceituais e
atitudinais também, já que o “saber fazer” associado ao aspecto procedimental
foi uma preocupação exclusiva e principal da área ao longo de muitos anos, com
uma concepção bastante mecanicista e esportivista. Na natação, durante muito
tempo a concepção dominante objetivava tão somente o produto final: ensi-
nar os nados. Para isso, lançava-se mão de exercícios repetitivos e abordagens
tradicionais que nem sempre atendiam às características de todos os aprendi-
zes, gerando desmotivação e desinteresse. A detecção de talentos e a execução
cada vez mais aprimorada dos gestos específicos dos nados, saídas e viradas,
enquanto objetivo principal da natação, não valorizava as experiências diver-
sificadas de exploração do ambiente e do corpo no ambiente (meio aquático).
Atualmente, publicações diversas enfatizam a importância de levarmos
os alunos a vivenciarem estímulos variados, possibilidades de flutuação e de
locomoção no meio aquático, enriquecendo a relação do ser humano com a
água (Andries e Junior et al., 2002; Santana et al., 2003;FERNANDES & LOBO DA
COSTA, 2006).
No ensino da natação, fica claro que o conteúdo procedimental está relacio-
nado a ensinar o que fazer, como a respiração aquática, as diferentes possibi-
lidades de flutuação e de propulsão, a coordenação de elementos como braça-
das, pernadas e respiração, a aprendizagem de saídas e viradas.
E quanto aos conteúdos conceituais? Quais conceitos podem ser trabalhados
nas aulas de natação? No nosso primeiro capítulo, por exemplo, vimos brevemente
a evolução dos nados a partir das competições na Inglaterra, no século XIX: por que
não incluir a experimentação dos movimentos daquela época nas nossas aulas, ex-
plicando a evolução do esporte? Quando nosso aluno sente frio porque está parado
52 • capítulo 3
na borda, podemos dizer a ele que a água “retira” calor do nosso corpo muito ra-
pidamente, conforme vimos na propriedade física “calor específico”. Para facili-
tar a flutuação, podemos orientar a captar o ar e mantê-lo nos pulmões (bloqueio
respiratório) verificando o quanto essa manobra deixa o corpo mais próximo da
superfície se comparada a expirar o ar quando está flutuando: com ar nos pulmões,
aumentamos o volume corporal na região do tronco e há uma pequena alteração
na densidade corporal (a retenção do ar, que possui uma densidade equivalente
a 0,001 g/cm3, favorece a flutuabilidade, pois o ar retido nesse momento faz parte
do sujeito e contribui para uma ligeira redução da densidade corporal), facilitan-
do a autossustentação. Logicamente, muitos conceitos não serão abordados com
crianças pequenas e deverão ser trabalhados à medida que elas apresentam capa-
cidades cognitivas para compreensão desses fatores; porém, ao experimentarem
variadas ações e posições do corpo, as aulas de natação favorecem a estruturação
do esquema corporal com a percepção do próprio corpo, bem como possibilita a
melhoria da noção de espaço graças à exploração do meio aquático com o corpo de
diferentes formas (et al., 2007). Quando nossos alunos começam a praticar algum
dos nados, e falamos sobre determinada regra para eles, estamos trabalhando um
conteúdo conceitual; por exemplo: ao chegar na borda nadando crawl, o toque na
parede deve ser realizado com alguma parte do corpo, mas, normalmente é efeti-
vado com apenas uma das mãos, em função das características do nado, enquanto
no nado peito, obrigatoriamente ambas as mãos deverão tocá-la.
E os conteúdos atitudinais? Reflita: como a natação poderá auxiliar no de-
senvolvimento de qualidades relacionadas ao modo de agir das pessoas? As ati-
vidades em grupo favorecem a socialização, a cooperação, o respeito aos limites
físicos e psicológicos dos colegas, sendo excelentes recursos para as aulas, espe-
cialmente com crianças e jovens. Quando um professor intervém com uma crian-
ça pequena que se recusa a dividir um brinquedo com outra, está auxiliando na
formação do respeito mútuo, pois cada uma tem a sua hora para brincar, e da
solidariedade, quando são estimuladas a dividir os objetos durante a aula ou no
tempo livre para recreação (geralmente, nos minutos finais da sessão de natação).
Com a inclusão de torneios e festivais para crianças maiores (a partir de 6-7anos)
e adolescentes, podemos fomentar o fair play, a disciplina às regras (que podem
ser adaptadas) e a capacidade de suportar resultados adversos, aprendendo a per-
der e valorizando a prática esportiva, como um processo e não como um fim.
Como você pode perceber, é possível e importante que o professor de nata-
ção enxergue na sua prática pedagógica muito além de “saber fazer”, incluindo
estímulos cognitivos, sociais e afetivos nas suas aulas.
capítulo 3 • 53
3.1.3 Natação para diferentes faixas etárias: objetivos e metodologias
Ensinar a nadar requer estruturação dos objetivos, estratégias e métodos que
serão utilizados, idealmente diferenciados de acordo com a faixa etária e nível
de habilidades aquáticas dos nossos alunos. A partir desse momento, faremos
uma revisão sobre as indicações de alguns autores para a organização de aulas,
começando com as direcionadas a bebês.
Primeiramente, é importante que você identifique a classificação proposta
por Gallahue & Ozmun (2005) para a o desenvolvimento motor, pois o ideal é
que as classes de natação respeitem a capacidade de aprendizagem de tarefas
de acordo com a maturação das crianças. Assim, temos a seguinte divisão:
DO NASCIMENTO A 1 ANO
Dominância dos movimentos reflexos, e com o passar dos
meses iniciam os movimentos rudimentares;
DE 1 A 2 ANOSEtapa dos movimentos rudimentares, inicialmente muito
grosseiros e de baixa coordenação;
DE 2 A 6 ANOSMovimentos fundamentais (com subdivisões em função da
progressão da idade) que se recomenda serem trabalhados
isoladamente. Ex.: chutar, rebater, arremessar, girar;
A PARTIR DE 7 ANOS
Habilidades motoras especializadas, onde é possível a com-
binação de movimentos fundamentais.
O professor de natação deve estudar as características e possibilidades de
aprendizagem de acordo com as faixas etárias a fim de adequar as atividades
e estratégias, facilitando o processo de ensino-aprendizagem na natação e evi-
tando desestímulos por excesso de exigências ou por tarefas demasiadamente
simples e sem progressão.
Além das faixas etárias apresentarem diferenças quanto ao potencial de
aquisição de habilidades, também devemos considerar na natação o nível de
adaptação da criança à água, pois poderemos ter, numa mesma idade, alguns
alunos extremamente adaptados e outros com pouca intimidade com o meio
54 • capítulo 3
aquático. Assim, a divisão ideal de turmas de natação deveria considerar a ida-
de e o nível de habilidades aquáticas.
3.1.3.1 Natação para bebês
A natação para bebês deve estar fundamentada no desenvolvimento motor,
cognitivo e socioafetivo, uma vez que devemos respeitar a capacidade de apren-
dizagem em função de aspectos maturacionais. Do nascimento em diante,
apresentamos caraterísticas e potenciais para a realização de tarefas que se
relacionam diretamente ao amadurecimento do organismo. Quando não se
considera o nível de prontidão para a aprendizagem; isto é, o momento corre-
to para ensinarmos determinadas habilidades graças ao potencial de assimi-
lação da criança, provavelmente estaremos cometendo erros no processo de
ensino-aprendizagem.
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Figura 3.1 – Bebê em imersão.
Há indicações diferentes na literatura quanto à idade ideal para o início da
natação, mas o que se percebe é que os objetivos são bastante similares, tendo
como meta final a ampla adaptação do bebê ao meio aquático e a estimulação
diversificada para auxiliar no desenvolvimento de maneira geral.
Damasceno (1994) propõe a natação para bebês com as turmas entre 6 e 24
meses e 2 a 3 anos, diferenciando os objetivos em respeito à prontidão para
a aprendizagem. Para as crianças menores, sugere que apliquemos atividades
de adaptação ao meio aquático e ao ambiente físico (piscina), de imersão com
capítulo 3 • 55
e sem auxílio, abertura dos olhos sob a água, mudança de decúbito (ventral e
dorsal), flutuação, movimentos de pernas (similares a pedaladas) intencionais,
movimentos de braços e pernas simultâneos, entradas na água a partir da bor-
da, sopros na água (“bolinhas”), saída da piscina com auxílio a partir da borda.
Já a partir de 2 anos, é importante observar a evolução de estímulos iniciais,
como as entradas e saídas da piscina, bem como a capacidade de flutuação e
propulsão e a combinação de destrezas como rolar, submergir, emergir, nadar,
atravessar aros, saltar de formas diferentes. Segundo esse autor, a natação para
bebês enquanto concebida como atividade-meio deve “fornecer os estímulos
adequados em quantidade e qualidade necessárias ao desenvolvimento, que
garantam um amadurecimento psiconeurológico inicial profundo e harmonio-
so em todas as áreas” (p. 84).
Luz (1999) defende o respeito à “prontidão aquática”, que se refere aos mo-
mentos adequados para aprendizagem de habilidades específicas. A prontidão
aquática está intimamente relacionada ao desenvolvimento de maneira geral,
e, portanto, à maturação. Para ela, é possível que os bebês iniciem aos 3 me-
ses, idade na qual já há melhor sustentação da cabeça, facilitando o manuseio
da criança na piscina, além de diversos outros aspectos que podem facilitar as
atividades realizadas; porém, pode ser mais prudente que o ciclo de vacinas
esteja completo para doenças que têm transmissão através do contato direto
com pessoas infectadas, com suas secreções ou com objetos que tenham sido
contaminados por elas, o que ocorre aos 6 meses com a terceira dose da vaci-
na combinada pentavalente, que protege contra difteria, tétano, coqueluche,
meningite e outras infecções (Guia do Bebê, s/d), já que nem sempre podemos
garantir que o ambiente da piscina e suas adjacências tenha uma boa higieni-
zação regularmente. De qualquer maneira, para os bebês, a presença da mãe
e/ou pai é muito importante pela segurança emocional por eles transmitida,
além de fortalecer ainda mais os vínculos emocionais entre eles. A autora de-
fende o amplo uso de brinquedos diversos, contagem de histórias, brincadeiras
e músicas, recomendando atividades para familiarização com a água, equilí-
brio com e sem auxílio, flutuação, balanços e giros, inversões, entradas e saltos,
controle respiratório (bloqueio), imersões, movimentos de pernas e braços. É
importante que esses objetivos direcionem o ensino da natação até os 6 anos
de idade, respeitando a prontidão aquática e possibilitando, assim como pre-
coniza Damasceno, auxiliar no processo de desenvolvimento motor, cognitivo
e socioafetivo.
56 • capítulo 3
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Figura 3.2 – Aula com os pais na piscina.
Um aspecto importante abordado pela autora é a temperatura da água: be-
bês e crianças pequenas tendem a perder calor ligeiramente mais rápido do
que outras faixas etárias, até pelo seu potencial reduzido de movimentação na
água (especialmente na fase inicial); assim, a temperatura da piscina deve ser
de 30°C a 32°C até 3 anos e de 29°C a 32°C entre 3 e 6 anos.
Raiol e Raiol (2001) indicam que na prática da natação para bebês (até
3 anos) deve ser feita com o uso de jogos e brincadeiras; ou seja, os aspectos lú-
dicos devem ser contemplados. Estimular o desenvolvimento da coordenação
motora fina e grossa através de diversos movimentos e materiais; auxiliar na
estruturação do esquema corporal pela vivência de variadas posições e ações
do corpo e na noção de espaço pela exploração do meio ambiente; estimular o
equilíbrio e a lateralidade usando giros, saltos e mergulhos; aguçar a percepção
dos sentidos; estão entre os objetivos para esta faixa etária.
PERGUNTAComo atividade de reflexão sobre o conteúdo de natação para bebês, você considera ade-
quado que crianças de 6 meses a 3 anos estejam agrupadas numa mesma turma de natação
para bebês? Se vimos no início desse tópico que as capacidades para realização de ativida-
des respeitam o desenvolvimento, e crianças de 1 a 2 anos estão numa etapa diferente das
crianças de 3 anos (movimentos rudimentares x fundamentais), será que colocá-las numa
mesma turma é interessante para estimular ainda mais seu desenvolvimento motor, cognitivo,
afetivo e social?
Resposta: se observarmos a divisão das habilidades motoras propostas por Gallahue;
Ozmun (2005) que foi citada nesse capítulo, podemos concluir que a prontidão para aprendi-
zagem e o comportamento motor, além do afetivo e cognitivo, apresentam um aprimoramen-
to. Entre 1 e 2 anos, as crianças se encontram na etapa de movimentos rudimentares; de 2
capítulo 3 • 57
a 3, no início das habilidades motoras fundamentais. Dessa maneira, as turmas de natação
para bebês não deveria misturar crianças de 6 meses com aquelas que têm mais de 2 anos.
3.1.3.2 Natação infantil
O Estatuto da Criança e do Adolescente delimita como infância o período do
nascimento até 11 anos; e como vimos, usualmente as turmas de natação para
bebês compreendem crianças até 3 anos. Dessa maneira, agora veremos algu-
mas indicações de conteúdos e estratégias para crianças a partir dessa idade
até o final da infância.
Venditti Junior e Santiago (2008) citam que o ensino da natação entre 3 e 6
anos deve conter sempre elementos lúdicos, pois estes possibilitariam a des-
coberta livre do ambiente (meio aquático e piscina) com maior alegria, prazer
e participação. Ao propiciarmos brincadeiras, oportunizamos situações de
saúde, segurança, lazer e recreação, independentemente do nível de habili-
dade aquática. Os autores sugerem 12 diferentes brincadeiras, respeitando o
desenvolvimento dos alunos (geralmente, as crianças de 5 e 6 anos têm mais
coordenação, equilíbrio e tônus muscular do que as menores) para a aplicação
delas e ressaltando a importância do professor como mediador do processo de
ensino-aprendizagem.
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Figura 3.3 – Uso de brinquedos para estimulação dos alunos.
58 • capítulo 3
Rohlfs (1999) denomina “aprendizagem da natação” ao período em que
o aluno será estimulado a dominar satisfatoriamente a flutuação, a respira-
ção e a propulsão, indicando que se inicie a partir dos 4 anos. A autora sugere
como estratégia de ensino seguir os caminhos, ou etapas, propostos por David
Machado e recomenda muita atenção à motivação, com práticas divertidas e
amenas, que levem à eliminação completa de qualquer tensão durante a imer-
são na água e confiança total do aprendiz.
Segundo Greco; Benda (1999), a partir de 7 anos deve ser oportunizado o re-
finamento das habilidades motoras fundamentais, visando que sejam aperfei-
çoados e combinados com bastante diversidade. Assim, é nesse momento que
podemos iniciar o ensino dos nados; porém, conforme os autores citam, é par-
tir de 10 anos de idade que a técnica dos nados deve começar a ser aperfeiçoada.
3.1.3.3 Natação para adolescentes, adultos e idosos
Independentemente da idade, sempre que um aluno inicia as aulas de natação
e tem pouca intimidade com o meio aquático, devemos proporcionar estímu-
los diversificados para a sua completa adaptação. Conforme ele progride, au-
mentamos a complexidade dos exercícios e solicitamos a combinação de mais
movimentos. Se num primeiro momento ele irá treinar a respiração aquática,
com a sua evolução solicitaremos que coordene pernadas com respiração, bra-
çadas com respiração, até um momento em que conseguirá realizar os movi-
mentos dos nados sem tensões desnecessárias e sentimentos de frustração por
não conseguir realizar determinadas atividades. É interessante ter turmas com
níveis diferentes de solicitação em função das habilidades aquáticas dos alu-
nos, especialmente com relação aos nados. Assim, uma divisão básica consis-
tiria em agrupar indivíduos que não sabem nenhum nado objetivando inicial-
mente a aprendizagem do crawl e costas; e oferecer turmas de aperfeiçoamento
do crawl e costas e aprendizagem dos nados peito e borboleta para alunos mais
avançados. Dessa maneira, o professor pode planejar melhor suas aulas e aten-
der às características dos grupos com organização, eficiência e segurança.
Para adultos, Massaud e Corrêa (2008) ressaltam que o professor deve es-
tar muito atento às características dos seus alunos, adotando um planeja-
mento flexível e o diálogo constante, com uma metodologia na qual o aluno
é um sujeito ativo do seu aprendizado. Outro aspecto apontado pelos autores
se refere à motivação dos alunos: o professor deve ser um incentivador e usar
exemplos de sucesso na aprendizagem, pois não é raro que indivíduos adultos
não se sintam capazes de aprender a nadar. Além disso, aspectos como medo e
capítulo 3 • 59
vergonha podem dificultar a aprendizagem. Uma sugestão muito interessante
dada por eles é a filmagem da primeira aula, possibilitando uma comparação
conforme ele progride e adquire novas habilidades aquáticas; além disso, o
professor deve investigar quais são as expectativas dos seus alunos, seus obje-
tivos e metas, para assim, planejar melhor suas aulas e aumentar o sucesso do
seu planejamento.
Massaud e Corrêa (2008) identificam 3 possíveis turmas para indivíduos
adultos:
1. Adaptação, que inclui atividades explicadas anteriormente quando vi-
mos as indicações para crianças (deslocamentos diversos, descontração facial,
visão subaquática, equilíbrio, atividades de sobrevivência, respiração, saltos,
rolamentos, vivências de pernadas e de braçadas;
2. Adulto já adaptado, que podem ter como objetivo aprimoramento de
suas habilidades aquáticas, aprendizagem de nados mais “complexos” (nor-
malmente, nado de peito e borboleta), melhoria do condicionamento e até
mesmo preparação para testes de aptidão física em concursos. Os autores su-
gerem que se inicie o refinamento das habilidades pelo nado crawl, seguido
do nado de costas, nado de peito e borboleta; porém, ressaltam que essa não é
uma sequência rígida, e sim uma organização da metodologia de trabalho;
3. Adultos que já sabem nadar, tendo como exemplo ex-atletas que retor-
nam após um certo período sem praticar a natação e que talvez se motivem,
com as aulas, a participar de torneios e competições na categoria master.
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Figura 3.4 – Adulto nadando peito.
60 • capítulo 3
Devemos ter em mente que os aspectos que são considerados para os adul-
tos também se aplicam aos idosos; porém, as características do envelhecimen-
to devem ser sempre lembradas na elaboração e condução das aulas. A redução
da força, da flexibilidade, da coordenação motora, do equilíbrio, da aptidão
cardiorrespiratório e de outras capacidades físicas, associadas a decréscimos
auditivos e visuais, podem estar presentes em maior ou menor grau nos alunos
a partir da maturidade. Dessa maneira, além de ensinar a nadar, caso esse seja
o objetivo do indivíduo, devemos priorizar a melhoria da aptidão física de ma-
neira global, pois está diretamente ligada à realização das atividades da vida
diária, como vestir-se, banhar-se, deslocar-se, com autonomia e independên-
cia, fator primordial para a qualidade de vida satisfatória.
Rabelo et al. (2004) enfatizam que as atividades físicas praticadas por idosos
devem ter como metas retardar o processo de envelhecimento, possibilitando
que tenham uma vida normal e com mais qualidade. Graças às propriedades
físicas do meio aquático, os autores destacam que exercícios nesse ambiente
têm ganhado popularidade e trazem muitos ganhos aos seus praticantes. Ao
conduzirem um estudo com duração de 12 semanas subdividindo os partici-
pantes em grupo experimental (aprendizagem da natação, 3 sessões semanais
de 50 minutos cada) e grupo controle (não realizou exercícios físicos), esses
autores verificaram entre os participantes do grupo experimental melhorias
significativas nos resultados dos testes que compõem a Bateria de Testes de
Atividades da Vida Diária (AVD) padronizada por Andreotti & Okuma em 1999.
Ao mesmo tempo, o grupo controle não apresentou nenhum aprimoramento.
Para que você tenha uma ideia do benefício dessa prática, os testes que com-
põem a Bateria são: caminhar/correr 800 metros, sentar-se e levantar-se da
cadeira e locomover-se pela casa, subir degraus, subir escadas, levantar-se do
solo, habilidades manuais e calçar meias; todos relacionados a movimentos
que são feitos no dia a dia.
Na natação para adultos e idosos, além da aprendizagem, podemos ter um
“grupo de elite”, composto por indivíduos que nadam bem, tendo sido ou não
atletas, e que decidem ou são incentivados a participarem de competições na
categoria masters, atualmente muito popular inclusive no Brasil. Segundo
Devide (1999), a natação masters está em expansão desde a década de 1970
em países como Estados Unidos, Japão e Canadá, e a primeira competição no
Brasil aconteceu em 1980, no Clube de Regatas do Flamengo, por uma iniciati-
va da Federação Aquática do Rio de Janeiro (FARJ), considerada o berço da na-
tação masters no país. Nessa ocasião, a competição foi dirigida a pessoas acima
capítulo 3 • 61
de 30 anos de idade, pensando não só no retorno de ex-atletas, mas também na
participação de adultos e idosos que tinham domínio de algum nado e quises-
sem competir (ABMN, s/d). Com a criação da Associação Brasileira de Masters
de Natação (ABMN), em 1984, essa categoria se desenvolveu e cresceu em todo
o país.
De acordo com Mongmomery; Chambers (2013, p. 14), “uma aula de nata-
ção de masters é uma sessão de treinamento estruturada, acompanhada por
um treinador ou instrutor profissional e aberta a nadadores adultos de todos
os níveis”. Para eles, os programas direcionados aos nadadores masters in-
centiva-os a terem estilos de vida fisicamente ativos em um ambiente seguro e
recreativo, cabendo ao professor responsável selecionar os métodos de treina-
mento adequados, ensinar os nados com a sua mecânica adequada, auxiliar no
estabelecimento de metas individuais e conjuntas com os atletas e zelar pela
aplicação das regras da modalidade. Esses autores recomendam que ao iniciar
um programa de natação visando competir, os atletas dessa categoria destinem
de 20 a 30 minutos, 3 a 4 vezes por semana para o seu treinamento; ao passo
em que pessoas que já têm maior aptidão física e prática em sessões de treina-
mento (exercícios físicos) podem começar com sessões de 40 a 60 minutos, na
mesma frequência semanal dos novatos.
A categoria masters é destinada aos indivíduos a partir de 20 anos (pré-
-masters, até 24 anos) e de 25 anos ou mais (com as categorias organizadas em
intervalos de 4 anos: 25-29 anos; 30-34 anos; e assim por diante). Para a ABMN
(2014, p. 1), um dos seus principais objetivos e finalidades é estimular “a busca
da aptidão física, da amizade, e do congraçamento”.
3.1.3.4 Natação adaptada
A prática de esportes, incluindo a natação, para pessoas com deficiências se
popularizou em diversos países a partir da II Guerra Mundial, e as primeiras
competições em Olimpíadas aconteceram em 1960 (Roma). Greguol (2010, p.
XIII) cita que “quer seja com finalidade de lazer, saúde ou profissional, a nata-
ção deve ser encarada como uma alternativa viável, exequível e extremamente
benéfica”. Estima-se que 14,5% da população brasileira apresente algum tipo
de deficiência intelectual, sensorial, motora ou múltipla, sendo a deficiência
entendida como uma condição que leva a pessoa a ter algum tipo de restrição
em um ou mais dos fatores acima citados. O percentual de brasileiros que apre-
sentam algum tipo de deficiência sinaliza para a importância da construção de
espaços adequados à prática esportiva por essas pessoas, requisitando que as
62 • capítulo 3
instituições de ensino superior auxiliem na formação de profissionais capaci-
tados bem como que mais políticas públicas de incentivo ao esporte adaptado
sejam elaboradas e implantadas.
Na natação adaptada, o Brasil é uma potência: após Londres (2012) havía-
mos conquistado 83 medalhas, sendo 28 de ouro, 27 de prata e 28 de bronze,
ficando atrás apenas do atletismo, que tem até agora 109 medalhas em Jogos
Olímpicos. Daniel Dias, o maior destaque da equipe nacional, tem 15 medalhas
olímpicas e recebeu 3 vezes o “Laureus” como para-atleta do ano, que é o Oscar
do esporte (2009, 2013 e 2016).
Figura 3.5 – Daniel Dias, o maior representante da natação paraolímpica brasileira. Disponí-
vel em: <http://www.danieldias.esp.br/>. Acesso em: 28 abr. 2016.
Greguol (2010) destaca uma série de benefícios na prática da natação, e mui-
tos têm relação direta com as propriedades físicas do meio aquático, como o for-
talecimento da musculatura respiratória, a facilitação circulatória, a sensação
de peso reduzido, o relaxamento físico e mental, além de aspectos relacionados
à autoestima e autoconfiança. A autora ressalta estratégias que os professores
devem adotar com esse público, tais como: estabelecer uma relação pessoal
com os alunos, perguntar e tirar dúvidas sobre a deficiência diretamente com o
praticante (quando ele tem condições), proporcionar alternativas para pessoas
com restrições sensoriais ou motoras, usar uma linguagem de fácil compreen-
são, ter interesse sincero pela vida e bem-estar do aluno. Estabelecer metas que
podem ser alcançadas e acompanhar o progresso de seus alunos, proporcio-
nando feedback constante, também são atitudes positivas para a permanência
dos indivíduos nos programas de exercícios.
capítulo 3 • 63
RESUMONesse capítulo vimos algumas sugestões para a iniciação à natação. Como você deve ter
percebido, é fundamental com crianças que sejam planejadas brincadeiras, pois as aulas
ficam mais motivantes e interessantes. O professor deve estar atento ao período de desen-
volvimento dos alunos, principalmente ao trabalhar com bebês e crianças pequenas, a fim de
evitar atividades muito complexas e que possam trazer frustrações.
A completa adaptação ao meio aquático permitirá que as habilidades de respiração, flu-
tuação e propulsão sejam bem desenvolvidas, gerando futuramente maior facilidade para
realização de exercícios voltados à aprendizagem dos nados. Devemos lembrar que a nata-
ção tem importância direta na sobrevivência (prevenção de afogamentos) e pode auxiliar no
aprimoramento da aptidão física. Para evitarmos que as aulas se tornem monótonas, o uso de
músicas, jogos, brinquedos diversos e a contagem de histórias são estratégias que devem ser
usadas com crianças e jovens, mas não há impedimento para a aplicação de alguns jogos e
brincadeiras com adultos e idosos, desde que não sejam demasiadamente infantis.
Também vimos que há alguns caminhos, denominados de etapas, que diversos autores
sugerem para o ensino da natação. Como são referências, não podemos considerá-las obri-
gatórias, mas certamente auxiliam na organização das nossas aulas e na determinação de
metas a serem alcançadas respeitando as habilidades aquáticas dos nossos alunos.
Fechando nosso capítulo, seja no processo de aprendizagem ou de aperfeiçoamento
(crianças maiores, adolescentes, adultos e idosos) e competição (categoria masters), o pro-
fissional de natação responsável pelas sessões deve considerar as características, necessi-
dades e objetivos dos participantes, proporcionando segurança, motivação e autoconfiança,
e conquistando cada vez mais pessoas para a prática da modalidade e conquista dos seus
diversos benefícios.
SAIBA MAIS• Site com notícias, artigos e links sobre natação infantil:
<www.inati.com.br>.
• Cartaz com recomendações para o professor de natação infantil:
<http://www.inati.com.br/files/2015/04/Cartaz_Recomendacoes_Professores.pdf>.
• Opiniões médicas sobre natação para bebês:
<http://www.inati .com.br/files/2015/07/opinioes_medicas_sobre_natacao
_para_bebes.pdf>.
64 • capítulo 3
• Site da Associação Brasileira de Masters:
<https://www.abmn.org.br>.
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animais. São Paulo: Manole, 2002.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MASTERS DE NATAÇÃO. Estatuto 2014. Disponível em: <https://
www.abmn.org.br/arquivos/estatuto_abmn.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2016.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MASTERS DE NATAÇÃO. História da ABMN. Disponível em:
<https://www.abmn.org.br/historia-da-abmn/, s/d. Acesso em: 28 abr. 2016>.
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natação master do Brasil. Movimento, ano V (11), 1999/2, p. 33-44.
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adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 2005.
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COUTO, A.C. P. (Org.) Manual do treinador de natação: nível trainee. Belo Horizonte: Edições FAM,
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aprendizagem infantil em natação: propostas para iniciação em atividades aquáticas com crianças
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iniciacao-em-atividades-aquaticas-com-criancas-de-3-a-6-anos.htm>. Acesso em: 1 abr 2016.
66 • capítulo 3
Técnica dos Nados
4
68 • capítulo 4
4. Técnica dos Nados
Quando assistimos a competições de natação entre adultos, especialmente de
alto rendimento, como em campeonatos nacionais, sul-americanos, mundiais
e olímpicos, percebemos que os atletas apresentam movimentos corporais
usando boa amplitude de braçadas e pernadas, bem coordenados e com pa-
drões de execução bastante similares em provas do mesmo nado, tanto no sexo
feminino como no masculino.
Os movimentos bem realizados resultam em menor gasto energético, o que
é considerado vital para o aproveitamento das forças propulsivas geradas pela
ação muscular dentro da água. Seja ao ensinarmos alguém a executar os nados
oficiais, ou ao programar exercícios que refinem mais os movimentos específi-
cos da natação, devemos estar atentos às recomendações relacionadas à técni-
ca dos nados; ou seja, aos aspectos que englobam a melhor posição corporal, as
ações de braços, pernas e respiração, e a coordenação de todos esses elementos.
Nesse capítulo, identificaremos as recomendações da literatura para os mo-
vimentos e ações corporais que possibilitam redução das forças resistivas, com
consequente economia de energia e melhor aproveitamento das forças de pro-
pulsão, resultando em um comportamento motor aquático satisfatório.
OBJETIVOS
• Identificar a origem dos nados crawl, de costas, de peito e borboleta;
• Conhecer as técnicas indicadas pela literatura para os nados crawl, de costas, de peito
e borboleta;
• Verificar a composição e transições do nado medley;
• Identificar os movimentos corretos para a realização das viradas e da saída (entrada na
água a partir do bloco de partida).
4.1 Introdução
Quando um indivíduo aprende a nadar seguindo as recomendações quanto
à colocação e uso mais adequados dos braços e pernas, economiza energia e
seu esforço para vencer a água é menor; ao contrário, aquele aluno que apre-
senta movimentos grosseiros contra o meio aquático, ou desnecessários, terá
capítulo 4 • 69
que vencer uma maior resistência e cansará mais rapidamente para percorrer
uma mesma distância. Através da observação e análise de grandes nadadores
foi possível identificar aspectos comuns nos seus movimentos e agrupá-los em
posição corporal e da cabeça, técnica de braçadas, técnica de pernadas, respira-
ção e coordenação do nado (braços, pernas e respiração).
Para nosso estudo, abordaremos os nados isoladamente, contando a sua
origem e verificando as indicações sobre os movimentos adequados para sua
ótima execução.
4.1.1 Nado crawl
4.1.1.1 Origem
Determinar precisamente a história da natação é uma tarefa relativamente difí-
cil, pois ela se confunde com a origem da humanidade (MASSAUD, 2008) e não
podemos deixar de pensar que provavelmente muitos fatos importantes não
foram registrados, ou os registros foram perdidos, dificultando uma pesquisa
mais abrangente. Os nados competitivos atuais têm sua base técnica aperfei-
çoada recentemente, sendo o crawl o mais rápido de todos, e por isso é empre-
gado nas provas de nado livre.
Provavelmente, a braçada do nado crawl, caracterizada primeiramente
como “movimentos alternados com o braço emerso” (COLWIN, 2001) foi pra-
ticada desde a Antiguidade, pois há a citação a este tipo de movimentação em
textos gregos e romanos. A “braçada emersa” é caracterizada pela recuperação
dos braços sobre a superfície da água; ou seja, temos duas fases distintas: fase
submersa e fase aérea. Como na Idade Média acreditava-se que a água era um
local potencialmente relacionado à disseminação de epidemias, este tipo de
movimento foi deixado de lado, preferindo-se um nado de peito, com a cabeça
sempre fora da água, o que foi praticado durante séculos.
O nado crawl tem origem na Austrália (crawl australiano) e segundo Handley,
um importante membro da comunidade da natação norte-americana, surgiu
após Arthur (“Tums”) Cavill, que pertencia a uma família de nadadores (Syd,
Dick e ele) e cujo pai era seu técnico (Fred Cavill), ter vencido seu irmão Syd
Davis ao nadar com as pernas amarradas e a braçada emersa. Posteriormente,
foi vencido pelo mesmo irmão ao desamarrá-las e executar os movimentos de
pernas da época, que eram batidas laterais e alternadas que não proporcio-
navam continuidade ao nado. Um pouco antes, o próprio Syd havia contado à
70 • capítulo 4
família que numa viagem à Samoa, competiu com uma nadadora que impôs a
ele uma grande dificuldade, e que para sua surpresa não executava pernadas.
Observando-a, amarrou suas pernas e viu que isso possibilitava um nado mais
rápido, independentemente do tipo de braçada usada (COLWIN, 2001).
Massaud (2008) relata que no episódio em que Tums vence o irmão com as
pernas amarradas, Dick, o outro irmão nadador, demorou a acreditar no que
tinha visto, mas depois de algumas repetições verificou que de fato era possível
nadar mais rapidamente sem a realização de pernadas laterais e alternadas, e
com os braços emersos. O que Dick percebeu é que a aplicação adequada de
força geraria aumento na velocidade, e isso explicava por que a batida de pernas
“alternada” da época era errada. O que faltava? Identificar um movimento de
pernadas correto. Dick, então, lembrou-se de ter visto um nadador de Rubiana,
chamado Alick Wickham, usar movimentos retos de pernadas, que ele havia
aprendido com nativos do Ceilão, e resolveu testar a união deles com as braça-
das alternadas emersas. Logo após encontrar essa combinação, um campeo-
nato de 100 jardas seria realizado, e mesmo sem tempo hábil para o aperfei-
çoamento da nova técnica, Dick executou-a, e mesmo sendo ultrapassado no
final da prova porque a braçada ainda não estava completamente aprimorada,
impressionou a todos com a rapidez desse novo “estilo”, que invadiu a Europa
rapidamente e chegou aos Estados Unidos em 1904.
4.1.1.2 Técnica do nado crawl
O nado crawl é o mais rápido entre os quatros nados competitivos, e um ciclo
dele é caracterizado pela realização de um movimento completo com o braço
direito, um com o esquerdo e uma quantidade variável de pernadas (2, 4 ou 6) a
cada ciclo de braçadas. Segundo Maglischo (2010), o ritmo mais comum com-
preende 6 pernadas para cada ciclo de braçadas, mas há aqueles que usam duas
batidas, duas batidas cruzadas (perna que se movimenta para baixo é oposta
ao braço que está iniciando a fase propulsiva), quatro batidas e quatro batidas
cruzadas. A respiração é lateral ou bilateral (ambos os lados). Para os pontos
principais de uma boa técnica de nado, adotaremos a sequência proposta por
Massaud (2008): posicionamento do corpo e da cabeça, respiração, pernadas,
braçadas e coordenação do nado.
capítulo 4 • 71
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Figura 4.1 – Execução da inspiração no nado crawl.
Posição do corpo e da cabeça
Um bom posicionamento do corpo nesse nado implica no adequado alinha-
mento horizontal, melhor visualizado em vista lateral. Conforme Maglischo
(2010), a posição horizontal do corpo mais correta é caracterizada por pernadas
“estreitas”, não muito profundas, cabeça alinhada com o tronco naturalmente
e costas (tronco) “razoavelmente retas”. Massaud (2008) recomenda, quanto
à posição da cabeça, que o olhar seja direcionado para um ponto à frente e ao
fundo da piscina, com o nível da água na parte superior da testa, e Maglischo
(2010) cita que geralmente a linha da água está no meio da cabeça em provas
mais longas e em nadadores que têm mais dificuldades para flutuar, enquanto
naqueles que flutuam mais facilmente e participam de provas rápidas a linha
da água fica mais próxima da região capilar. Podemos resumir o bom alinha-
mento horizontal como a posição na qual o nadador encontra-se o mais parale-
lo possível à linha da superfície.
Outro aspecto fundamental quanto à posição do corpo é o alinhamento la-
teral, que é melhor identificado visualizando o nadador por cima ou por baixo.
Nesse nado, os movimentos amplos das braçadas e a respiração lateral resul-
tam em “rolamentos” dos ombros, que na realidade são pequenas oscilações
para os lados executadas por todo o corpo.
72 • capítulo 4
Quando quadris e pernas encontram-se dentro dos limites dos ombros du-
rante o giro da cabeça para um dos lados, pode-se considerar que há um bom
alinhamento lateral (MAGLISCHO, 2010).
Respiração
Quando o rosto está imerso, a expiração deve ser executada pela boca, pelo
nariz, e/ou boca/nariz. Para inspirar, deve-se aproveitar o rolamento lateral do
tronco, naturalmente realizado em acompanhamento às braçadas, e caso ne-
cessário, realizar um pequeno movimento com a cabeça para o lado, lembran-
do que o ar deve ser captado pela boca. Massaud (2008) indica que o momento
correto para a inspiração é quando um dos braços executa o apoio (ou varredu-
ra para baixo) e o outro está finalizando a braçada e iniciando a recuperação por
sobre a linha da superfície.
Ao respirar nas braçadas pares (a cada 2, a cada 4, e assim sucessivamente),
a respiração será sempre para o mesmo lado (lateral) e nas ímpares (a cada 3,
a cada 5, e assim sucessivamente, haverá alternância dos lados (bilateral). Na
respiração bilateral, Massaud (2008) indica algumas vantagens, como maior
simetria nas braçadas, possibilidade de controlar os adversários de ambos os
lados (e também de se orientar, especialmente se pensarmos em águas abertas,
como em lagoas e no mar), e torna mais fácil o rolamento do tronco para ambos
os lados, tornando as braçadas mais eficientes.
O ritmo respiratório pode ser classificado em 2x1 (respiração na segunda
braçada), 3x1 (respiração na terceira braçada); e daí por diante (Massaud, 2008).
É interessante observar que ao manter por mais tempo a cabeça na água, prova-
velmente o aluno cansará mais rapidamente, por reduzir a frequência de cap-
tação do oxigênio durante o nado; porém, perturbará menos seu alinhamento
corporal, o que pode ser interessante em alguns exercícios visando o bom posi-
cionamento do nadador.
Pernadas
As pernadas do nado crawl são denominadas de “pernadas de adejamento”,
e se caracterizam não somente pela alternância dos movimentos para cima e
para baixo, mas também por direções laterais. Conforme Maglischo (2010, p.
100), “as pernas se movimentam para baixo e para o lado, e para cima e para o
lado, na direção do rolamento do corpo”.
capítulo 4 • 73
Com os pés em flexão plantar (dedos para trás) e ligeiramente em inversão
(dedos para dentro), o momento de maior propulsão ocorre na fase descenden-
te (para baixo). As pernadas devem ser executadas a partir da articulação do
quadril, evitando uma flexão exagerada dos joelhos. Para Massaud (2008) ao fi-
nal da fase descendente, o pé deve estar a uma profundidade aproximada de 30
a 35 cm abaixo da linha da superfície. Maglischo (2010) cita que ao movimentar
a perna para baixo, há também um ligeiro direcionamento para trás, enquanto
na fase ascendente, que para ele tem como principal função o retorno da perna
para uma nova batida propulsiva para baixo, o movimento é para cima e para
frente, com o joelho mantido em extensão e pernas e pés relaxados.
Braçadas
A braçada no nado crawl é determinante e representa a maior força propul-
siva, podendo ser analisada nas seguintes etapas: entrada e deslize, varredura
para baixo ou apoio, agarrre, varredura para dentro ou tração, varredura para
cima ou finalização e recuperação (MAGLISCHO, 2010).
Entrada e deslize
A mão deve entrar na água ligeiramente voltada para fora, a partir das pon-
tas dos dedos, orientada em uma linha imaginária à frente da cabeça e na dire-
ção do ombro. Na entrada, o cotovelo encontra-se levemente flexionado e aci-
ma da mão. Após a entrada, a mão deve “deslizar para dentro da água, à frente,
de lado, com a palma da mão ligeiramente voltada para fora” (MASSAUD, 2008,
p. 48). Conforme Maglischo (2010), após a entrada o braço deve ser estendido
logo abaixo da linha da superfície, para frente e para dentro, e um pouco antes
que o deslize seja completo, a palma da mão deve ser direcionada para baixo.
Varredura para baixo (ou apoio) e Agarre
A varredura para baixo é caracterizada pelo direcionamento da mão em di-
reção ao fundo da piscina, inicialmente com o cotovelo estendido, para depois
flexionar-se gradativamente. Durante a flexão do cotovelo, pode haver um ligei-
ro direcionamento da mão e do braço para fora, natural, que não deve ser enfa-
tizado pela pessoa que está nadando. A varredura para baixo termina quando o
74 • capítulo 4
cotovelo, antebraço e braço ficam alinhados e voltados para trás, posição deno-
minada de “agarre” (MAGLISCHO, 2010).
Na posição de “agarre”, a flexão do cotovelo é de cerca de 90º e a profundi-
dade da mão de aproximadamente 50 a 70 cm em relação à linha da superfície.
A mão, o antebraço e o braço, quando vistos de frente, localizam-se para fora da
linha do ombro e voltados para trás. A partir do agarre é iniciada a fase propul-
siva da braçada, que veremos a seguir.
Varredura para dentro (ou tração)
A partir do agarre, a palma da mão deverá ser orientada lentamente para
dentro e para trás, e o movimento deve ser acelerado do início ao final. A varre-
dura para dentro consiste no deslocamento da mão “para baixo, para dentro e
para cima, simultaneamente, até que esteja ao nível da linha média do corpo,
ou a tenha ultrapassado” (MASSAUD, 2008, p. 50). Quando a mão é direcionada
para dentro, Maglischo (2010) recomenda que a ação persista até que ela fique
sob a linha média do corpo, pois assim provavelmente o nadador encontraria
“novo segmento de água mais lenta para empurrar para trás na varredura para
cima” (p. 94), e a maior parte dessa impulsão seria feita abaixo do corpo, resul-
tando em maior eficiência.
Varredura para cima e finalização
Maglischo (2010) cita que esse é o movimento que gera mais propulsão na
braçada. Após completar a varredura para dentro, o indivíduo de direcionar a
mão, antebraço e braço “para trás, para fora e para cima, com a mão e o braço
vindo de baixo do corpo em direção à superfície da água” (p. 95). Essa varredura
é iniciada a partir do momento em que a mão passa por baixo da linha média do
corpo, e tanto a palma da mão como o antebraço devem empurrar a água para
trás, como se fossem um remo. Quando há extensão do cotovelo nessa fase, ela
é mínima, pois o antebraço deve permanecer orientado para trás até o final des-
se movimento. Ao aproximar-se a mão da parte anterior da coxa, e com a palma
voltada para dentro (para a coxa), o cotovelo deve ser flexionado e romper a li-
nha da superfície, iniciando a recuperação.
capítulo 4 • 75
Recuperação
A recuperação é feita com os braços relaxados, por cima da linha da super-
fície, e se inicia com a elevação do cotovelo da água. Ao longo da recuperação,
as mãos serão novamente projetadas à frente para o início de um novo ciclo.
Lembre-se que a recuperação é iniciada a partir da flexão do cotovelo, que é a
primeira parte do corpo que deixa a água (MASSAUD, 2008).
Coordenação do nado
O correto posicionamento e combinação entre os movimentos de braçadas,
pernadas, rolamento do tronco e respiração são fundamentais para uma boa
coordenação do nado e consequentemente, para a redução da resistência e me-
lhor aproveitamento da propulsão, de acordo com Massaud (2008), que sugere
ficarmos atentos à coordenação entre braços/braços e braços/pernas.
Coordenação braços/braços
Indivíduos que nadam provas de meio-fundo (200m) ou fundo (400m, 800m
e 1500m) geralmente realizam a entrada de um braço na água quando o outro
está acabando a varredura para dentro, o que favorece o rolamento para o lado
do braço que está na fase propulsiva e o alongamento do braço que entra na
água auxilia na aquisição de uma postura hidrodinâmica, reduzindo o arrasto.
Já os velocistas (50m e 100m) apresentam uma frequência maior de braça-
das (realizam mais braçadas ao longo desse percurso) porque reduzem o alon-
gamento na entrada de uma mão na água para iniciar a varredura para baixo en-
quanto o outro braço está executando a varredura para cima. Mesmo que isso
represente maior gasto energético, a ideia é o desenvolvimento de velocidade
para braçadas mais rápidas.
Coordenação braços/pernas
A classificação do ritmo de pernadas por ciclo de braçadas é geralmente ex-
pressa como “crawl dois tempos”, onde dois movimentos de pernas (direita e
esquerda) são feitos a cada ciclo; “crawl quatro tempos”, com quatro pernadas
para cada ciclo de braçadas; e “crawl seis tempos”, com 6 movimentos de per-
nadas a cada ciclo de braçadas.
76 • capítulo 4
Quando a pernada não é “cruzada”, ou seja, oposta ao braço que está se mo-
vimentando, espera-se como boa coordenação que o ponto final do movimento
para baixo de perna coincida com a aplicação final de força da varredura para
cima (finalização da braçada), segundo MASSAUD (2008).
4.1.2 Nado de costas
4.1.2.1 Origem
Conforme descrito por Massaud (2008), num primeiro momento o nado de cos-
tas era uma variação do nado de peito invertido, realizado em decúbito dorsal,
com os braços simultâneos. Com o tempo, percebeu-se que a alternância de
braçadas com a recuperação delas acima da linha da superfície deixaria o nado
mais rápido.
Entre as décadas de 1930 a 1960, o nadador de grande influência para esse
nado foi Adolph Kiefer, que realizava braçadas submersas logo abaixo da super-
fície, diretamente para os lados e com os braços retos. Na recuperação, também
com os braços retos, os movimentos eram para os lados e para baixo. Esse estilo
mudou a partir da década de 1960, graças às filmagens submersas que identifi-
caram que os melhores nadadores de costas faziam uma braçada cuja puxada
submersa era caracterizada por uma flexão inicial do cotovelo e na sequência sua
extensão (padrão do tipo S), e na recuperação os braços eram direcionados não
para os lados, mas sim para trás (acima) da linha da cabeça (MASSAUD, 2008).
Atualmente, o nado de costas é bastante parecido com o crawl, sendo algumas
vezes chamado de “nado crawl invertido” (MONTGOMERY; CHAMBERS, 2013).
4.1.2.2 Técnica do nado de costas
O nado de costas é bastante parecido com o crawl, só que executado em de-
cúbito dorsal. Uma das evoluções recentes nesse nado é o aproveitamento da
fase submersa com as golfinhadas, respeitando-se o limite estabelecido pelas
regras para competições, que é de 15 metros. Maglischo (2010) diz ser eviden-
te que possa ser desenvolvida maior rapidez no deslocamento nessa posição
corporal com a realização das pernadas submersas. Para identificação da sua
técnica, manteremos a divisão apresentada no nado crawl.
capítulo 4 • 77
Posição do corpo e da cabeça
Um bom alinhamento horizontal implica em uma posição horizontal do cor-
po, com um ligeiro afundamento dos membros inferiores para evitar que os pés
saiam da linha da superfície na pernada para cima. A cabeça deve estar relaxa-
da, em uma posição natural, com os olhos voltados para cima, e a linha da água
passando logo abaixo das orelhas. Assim como no nado crawl, um alinhamento
lateral adequado deixa quadris e pernas dentro da amplitude da largura dos om-
bros e uma pequena oscilação para os lados é esperada em função dos próprios
movimentos de braços alternados (MAGLISCHO, 2010; MASSAUD, 2008).
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Figura 4.2 – A nadadora AlexiusLard com o início da braçada do lado esquerdo.
Respiração
Devido à posição do corpo em decúbito dorsal, acredita-se que os nadadores
não precisam praticar um determinado ritmo respiratório, e que as experimen-
tações que fazem naturalmente irá gerar um padrão de respiração individual; po-
rém, a inspiração é sempre pela boca e quanto à expiração, pode ser preferível
executá-la pelo nariz para evitar entradas de água pelo mesmo (MASSAUD, 2008).
78 • capítulo 4
Caso o professor queira que o aluno adote um ritmo respiratório, pode solicitar
que ele inspire quando o braço direito estiver na fase aérea (recuperação) e expire
quando esse mesmo braço estiver na fase submersa, realizando as ações propulsivas.
Pernadas
As pernadas desse nado também são denominadas de “pernadas de adeja-
mento” e são bastante similares aos movimentos do nado crawl, com a diferen-
ça básica de que a aplicação de força deve ser na fase ascendente, ou seja, na
batida para cima. Acompanhando o rolamento dos ombros para a execução das
braçadas, as pernas se movimentam para baixo, para cima e ligeiramente para
os lados (pernadas diagonais).
Na fase ascendente, que é propulsiva, o movimento é um “chicotear” a água,
iniciado por uma leve flexão do quadril e continuado com uma extensão do joe-
lho com os pés em flexão plantar. Os dedos do pé atravessam ligeiramente a
linha da superfície. Na fase descendente, iniciada no final da batida para cima,
o movimento é iniciado com o quadril estendido até que a perna passe por bai-
xo da linha do corpo, quando é suavemente flexionada para que a fase ascen-
dente comece. Recomenda-se que até o final da batida para baixo o joelho e
quadril estejam estendidos e que o pé seja mantido em uma posição natural
(MAGLISCHO, 2010).
Braçadas
Para o reconhecimento da técnica de braçada, veremos as suas subdivisões:
entrada e deslize, primeira varredura para baixo ou apoio, agarre, primeira var-
redura para cima ou tração, segunda varredura para baixo ou finalização, se-
gunda varredura para cima, e finalização e saída. É importante ressaltar que a
segunda varredura para cima é realizada por nadadores mais habilidosos; ou
seja, nem todos a executam.
• Entrada e deslize
Quando um braço estiver completando a segunda varredura para baixo, o
outro entra na água totalmente estendido e imediatamente à frente da linha do
ombro, com a palma da mão direcionada para fora, permitindo o deslize para
dentro da água com a borda primeiramente (MAGLISCHO, 2010). Na entrada
na água, é o dedo mínimo quem primeiro a toca.
capítulo 4 • 79
• Primeira varredura para baixo (apoio)
Essa varredura não é considerada propulsiva, e sua função é possibilitar
um adequado posicionamento para que possa ser aplicada força propulsiva
a partir de então. Conforme Maglischo (2010, p.163), “o braço deve ser mo-
vimentado para frente, para baixo e para fora até que esteja voltado para trás
contra a água”. O cotovelo é flexionado gradualmente até cerca de 140º a 150º
(MASSAUD, 2008). Essa varredura deve ser feita evitando-se colocar muita for-
ça, pois a ideia é que ela seja preparatória para o momento seguinte, que inicia
de fato a ação de propulsão.
• Agarre
Quando o braço se movimentou para baixo e para fora até ficar voltado para
trás contra a água, o agarre está caracterizado. Geralmente, o braço está a 45 cm
a 60 cm de profundidade em relação à linha da superfície, e o cotovelo flexiona-
do em 90º, com o punho em posição neutra e a mão alinhada com o antebraço,
de acordo com Maglischo (2010).
• Primeira varredura para cima ou tração
Maglischo (2010) cita que essa varredura é bastante parecida com a varredura
para dentro do nado crawl, sendo caracterizada por um movimento semicircular
de todo o braço. A partir do agarre, quando o cotovelo está flexionado a 90º, o braço
deve ser aduzido (fechado) direcionando-o para trás, para dentro e para cima. Braço,
antebraço e palma da mão empurrar a água para trás como se fossem um único
bloco, e deverão acelerar o movimento a partir dessa varredura. Segundo Massaud
(2008), ao longo desse movimento a mão deve estar alinhada com o antebraço.
• Segunda varredura para baixo ou finalização
No final da varredura para cima, o braço deve ser direcionado para baixo e
para trás bem abaixo da coxa, até que a mão atinja uma profundidade de cerca
de 30 cm com o cotovelo completamente estendido (Massaud, 2008). Conforme
descrito por Maglischo (2010), “essa segunda varredura deve ser uma extensão
do braço para trás, para baixo e um pouco para fora, tendo início durante a tran-
sição da varredura precedente e continuando até que o braço esteja comple-
mente estendido e bem abaixo do corpo”.
Alguns nadadores de alto nível ainda executam após a extensão do cotovelo
uma rápida rotação medial com o antebraço e realizando mais uma ação pro-
pulsiva (segunda varredura para cima) em vez de relaxarem e começarem a re-
cuperação aérea.
80 • capítulo 4
• Segunda varredura para cima
Quando se completa a varredura para baixo, há um movimento para cima,
para trás e para dentro com a mão, mantendo-se o cotovelo estendido que é
completado até que o braço esteja próximo da coxa em seu deslocamento para
a superfície da água. Quando essa varredura é realizada, ela também está rela-
cionada à finalização da braçada submersa.
• Relaxamento e liberação da mão da água; saída
Quando a mão se aproxima da parte posterior da coxa, o indivíduo deve pa-
rar de empurrar a água e a mantém voltada para a coxa, para que a superfície
seja rompida a partir do dedo polegar com menos arrasto possível. Ao longo
da fase aérea, o cotovelo permanece estendido e a recuperação deve ser fei-
ta por sobre a cabeça para reduzir a ocorrência de desalinhamento do corpo
(MASSAUD, 2008).
Coordenação do nado
• Coordenação de braços/pernas
Conforme Massaud (2008), uma boa coordenação é obtida quando no pon-
to máximo da batida de perna de um lado para cima, a braçada do mesmo lado
esteja executando o empurrão final, e são feitas 6 pernadas a cada ciclo de bra-
çada (1 braçada para o lado esquerdo e uma para o lado direito).
• Coordenação de braços/braços
O ideal é que ao entrar na água com o braço direito, o esquerdo esteja fina-
lizando a segunda varredura para baixo. Quando o braço esquerdo estiver con-
cluindo a segunda varredura para baixo e a segunda varredura para cima (se for
realizada), o direito começará a primeira varredura para baixo (apoio) até o agarre.
4.1.3 Nado de peito
4.1.3.1 Origem
Conforme vimos no início desse capítulo, o nado de peito foi largamente pra-
ticado durante muitos séculos, especialmente a partir da Idade Média (século
V d.C.) até meados do século XIX, sendo a cabeça mantida fora da água a fim
de evitar contaminações de acordo com as crenças da época. O primeiro livro
de natação publicado por NicolausWynman em 1538 citava esse nado como “o
capítulo 4 • 81
nado científico que todos deveriam aprender”. No século XVII, o francês The-
venot escreveu um livro no qual recomendava a prática da braçada desse nado
em pé, quando as pessoas estivessem imersas com a água na linha dos quadris
(COLWIN, 2001). Nessa época e um pouco antes (séc. XVI), a cabeça era mantida
ereta e fora da água, e nas pernadas a força era aplicada com os dorsos dos pés.
Colwin(2001) cita que no começo do século XIX uma batida “sapo” das per-
nas começou a ser utilizada, na qual os tornozelos ficavam em dorsiflexão e
a força era feita pressionando as solas dos pés contra a água. Outra forma de
pernada consistia em um movimento cuneiforme (“V”), onde as pernas eram
afastadas e depois estendidas, para então serem fechadas.
Em competições, durante muito tempo esse nado foi executado em sub-
mersão, ocasionando muitos desmaios pelo exagero dos nadadores em perma-
necerem nessa posição, o que foi mudado a partir de 1950 através de regras
que garantiram que a maior parte das provas fosse executada na superfície
(MASSAUD, 2008).
Entre as inovações desse nado, recentemente foi introduzido o aspecto on-
dulatório, em que os ombros sobem acima da linha da superfície da água. De
acordo com Montgomery; Chambers (2013), o pioneiro foi o técnico húngaro
Josef Nagy, no final da década de 1980 e início de 1990.
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Figura 4.3 – Nado de peito. Prova feminina no Mundial de Kazan (2015).
82 • capítulo 4
4.1.3.2 Técnica do nado de peito
Esse nado é o mais lento dentre os competitivos, pois seus movimentos são sub-
mersos, precisando sempre vencer muito arrasto, e a recuperação das pernas
representa um momento de muita desaceleração, exigindo que os nadadores
façam mais força para recuperar a velocidade a cada ciclo de braçada/pernada.
Segundo Maglischo (2010, p. 189), “todos os nados de competição remanescen-
tes se desenvolveram a partir dele”.
No nado de peito a maior força propulsiva vem da ação das pernas, e por
isso veremos sua técnica antes dos movimentos dos braços. Uma outra impor-
tante característica desse nado é que na fase submersa, após a saída e as vira-
das, os movimentos são diferentes em relação aos outros nados, o que veremos
mais adiante.
Posição corporal
Até bem recentemente, era praticado com o corpo em uma posição plana
(estilo plano ou convencional), sendo mantido na horizontal e na superfície a
cada ciclo de braçada/pernada. Na respiração (frontal), evita-se elevar o tronco
para que o quadril não abaixe, e ela é executada apenas pela elevação (inspira-
ção) e abaixamento (expiração) da cabeça. Conforme a recuperação do braço é
realizada (braços para frente), a cabeça retorna à agua. Massaud (2008) cita que
pela necessidade de manter seu corpo em uma posição horizontal, o nadador
que adota a posição plana executa uma maior flexão do quadril (coxa sobre o
tronco), levando mais água para frente e aumentando o arrasto.
A partir da década de 1980, com a introdução do estilo ondulatório (tam-
bém denominado de nado de peito golfinho e nado de peito europeu), na inspi-
ração os ombros também saem da água, gerando um afundamento do quadril,
a flexão do quadril é menor (menos arrasto), os braços são recuperados (leva-
dos à frente) bem próximos da superfície ou até mesmo por cima dela (sem tirar
os cotovelos), com o retorno da cabeça para dentro da água somente no final
dessa fase. O estilo ondulatório é o mais utilizado nas competições atualmente
(MASSAUD, 2008).
Respiração
A partir do agarre, ao longo da varredura para dentro, a cabeça sai da água e
a inspiração deve ser realizada; porém, alunos não atletas costumam aproveitar
capítulo 4 • 83
a força de sustentação gerada na varredura para fora para captar o oxigênio,
considerando essa fase mais fácil para elevar o tronco e inspirar. Durante a re-
cuperação a expiração deve ser realizada. Obrigatoriamente em competições, a
respiração é feita a cada ciclo de braçadas (ação e recuperação).
Pernadas
Até a década de 1960 a pernada era realizada em forma de cunha, desenhan-
do-se um “V” invertido, até que James Counsilman, em 1968, provou que esse
tipo de ação não empurrava a água para trás, e sim para os lados. Juntamente
com o atleta do nado de peito ChetJastremski, o treinador Counsilman desen-
volveu uma nova pernada, onde a ação se assemelha a uma “chicotada estrei-
ta”, atualmente usada pela maioria dos atletas (MAGLISCHO, 2010).
Para compreensão dessa pernada, usaremos a divisão proposta por
Maglischo (2010): recuperação, agarre, varredura para fora, varredura para den-
tro, levantamento e deslize das pernas.
• Recuperação
A recuperação das pernas se inicia assim que a varredura para dentro da
fase propulsiva da braçada termina, e apresenta dois movimentos articulares:
flexão dos joelhos e flexão dos quadris. Primeiramente, os joelhos (ligeiramen-
te afastados) são flexionados com os pés em dorsiflexão e levados para frente
até que os braços sejam estendidos para frente e a cabeça esteja para baixo e
direcionada para a superfície. A partir daí, os quadris são flexionados, objeti-
vando aproximar os pés das nádegas, quando é realizada uma eversão (pés para
fora) e um afastamento dos joelhos até que ultrapassem a linha dos ombros. É
importante frisar que os nadadores de peito precisam de uma ótima flexibili-
dade na articulação tíbio-társica, justamente pela combinação da dorsiflexão e
eversão recomendada para o agarre (apoio).
Uma importante observação se refere à flexão dos quadris (coxa sobre o tron-
co): deve-se evitar muita amplitude nesse movimento, pois o exagero aumenta
o arrasto. Maglischo (2010), cita que Belokovsky e Ivanchenko, em 1975,obser-
varam uma amplitude de flexão entre 34º a 50º em atletas do nado de peito
ondulatório, enquanto Sanders (1996) observou em nadadores neozelandeses
uma flexão dos quadris com amplitude entre 54º e 68º.
84 • capítulo 4
• Agarre
Com os pés em dorsiflexão e eversão, o agarre é caracterizado pela posição
onde os pés, após serem direcionados para fora (e às vezes para trás) ficam volta-
dos diretamente para trás contra a água. Nesse momento, a flexão dos joelhos é de
60º a 70º e dos quadris, de 40º a 50º. A partir daí, inicia-se a varredura para fora.
• Varredura para fora
Essa etapa da pernada é constituída pela extensão dos joelhos e quadris,
com as pernas sendo orientadas para trás e ligeiramente para fora. Quando a
extensão está quase completa, os pés devem ser movimentados para baixo e
para dentro para que seja realizada a varredura para dentro.
• Varredura para dentro
Após a extensão dos joelhos e quadris, as pernas devem estar orientadas para
baixo, e as solas dos pés se voltam uma para a outra (inversão). As pernas deverão
ser direcionadas para dentro até que estejam entre a largura dos ombros. Logo
após a varredura para dentro, os atletas projetam seus pés em direção à super-
fície, e unirão pés e pernas, direcionando as pontas dos dedos para trás (flexão
plantar) e para dentro (inversão). Com os membros inferiores estendido e ocu-
pando a menor área possível contra a água (posição hidrodinâmica), a ação prin-
cipal a partir desse momento será a braçada. Massaud (2008) denomina de “sus-
tentação” o direcionamento dos pés para cima após a varredura para dentro.
Braçadas
• Varredura para fora ou apoio
Antes dessa varredura, os membros superiores encontram-se estendidos
e unidos à frente do corpo, com as palmas das mãos voltadas para dentro.
Direcionando os braços para fora e para o fundo (ligeiramente), à medida que
ocorre a abertura dos mesmos, as mãos se voltarão gradualmente para fora
até que ultrapassem a linha dos ombros. Nesse momento, conforme descre-
ve Massaud (2008), exercerão pressão para os lados e para baixo, atingindo
o agarre.
• Agarre
Nessa fase, que é uma transição entre a varredura para fora e a varredura
para dentro, os cotovelos devem estar flexionados entre 30º a 40º, “de forma
capítulo 4 • 85
que os braços e as mãos alcancem uma orientação retrógrada” (MASSAUD,
2008, p. 152). A profundidade dos braços nessa etapa é de cerca de 50 a 80 cm.
• Varredura para dentro ou tração
A varredura para dentro é um “movimento de pressão do antebraço, inicial-
mente para dentro e para baixo, e também para dentro e para cima”. Haverá
nessa ação uma flexão do cotovelo e uma adução dos ombros, unindo-se as
mãos à frente da linha dos ombros. Nessa etapa, as mãos e antebraços devem
estar alinhados e a flexão do cotovelo, ao finalizar o movimento, é de aproxima-
damente 80º. Conforme Massaud (2008, p. 154), “nesta fase, o bordo de ataque
passa a ser o polegar e o de fuga, o dedo mínimo; ou seja, o inverso da fase ini-
cial da braçada”.
• Recuperação
Após a varredura para dentro, os membros superiores são direcionados
para frente de 3 diferentes maneiras: com as mãos ligeiramente abaixo da su-
perfície, na superfície ou sobre ela (sem retirar o cotovelo da água nessa opção).
Coordenação
• Coordenação braços/pernas
Segundo Massaud (2008), podemos caracterizar a coordenação de braços
e pernas pelos movimentos alternados entre eles, já que durante a varredura
para fora e varredura para dentro dos braços (momentos propulsivos das braça-
das), as pernas ficam estendidas (recuperação); quando a recuperação da bra-
çada é iniciada, as pernadas começam sua fase lenta de recuperação e ao final
da recuperação dos braços, as pernas estão na fase rápida da sua recuperação.
Completando, na fase de ação (propulsiva) das pernadas, os braços se encon-
tram no final da sua recuperação.
Há três tipos possíveis de classificações para a coordenação entre braços e
pernas: deslizante (quando completa um ciclo de braçada e pernada, o nadador
mantém seu corpo estendido por alguns instantes, executando um pequeno
deslize); contínua (não há a execução do deslize, e o ciclo de braçada e pernada
é iniciado sempre que a braçada do ciclo anterior tem sua recuperação finaliza-
da); e superposição (quando as pernas se unem na varredura para dentro, antes
da sua recuperação, os braços já se encontram no final da varredura para fora
ou apoio).
86 • capítulo 4
4.1.4 Nado borboleta
4.1.4.1 Origem
De acordo com Massaud (2008), esse nado evoluiu a partir da década de 1930,
quando alguns nadadores viram que poderiam realizar o nado de peito com
mais velocidade se recuperassem os braços por cima da linha de superfície, o
que não obstruía a regra, já que os membros superiores movimentavam-se si-
multaneamente. Essa braçada, de borboleta, tornou as provas do nado de peito
bastante interessantes, pois havia uma mistura de estilos dentro da piscina: ha-
via os que nadavam submersos, outros combinavam os dois estilos, e também
os que faziam esse nado borboleta-peito acima descrito. Posteriormente, com
a realização das pernadas de golfinho ao invés das do peito clássico, os atletas
viram que o nado ficava bem mais rápido, e em 1955 o nado borboleta (braça-
das de borboleta e pernadas de golfinho, as golfinhadas) foi oficializado e as
competições incluíram provas específicas dele.
4.1.4.2 Técnica do nado borboleta
Segundo Maglischo (2010), o nadador Jack Sieg e seu treinador David Armbrus-
ter (EUA) são os criadores desse nado, considerado por muitos atletas como o
segundo mais rápido, ficando atrás somente do crawl.
Evoluindo a partir do nado de peito, sua braçada assemelha-se à abertura
das asas de uma borboleta e suas pernadas “imitam” o movimento dos golfi-
nhos e são chamadas de golfinhadas.
Posição corporal
De acordo com Maglischo (2010), não se torna necessário descrever uma
posição corporal para esse nado, pois em função das ondulações a cada ciclo
de braçadas, o nadador muda o tempo todo de posição. Mesmo tendo que
vencer mais arrasto ao ondular pela água, se o nadador adotasse uma posição
horizontal, a propulsão seria menor pela redução da velocidade média por ci-
clo de braçada. As ondulações corporais, ao contrário do que muitas pessoas
acreditam, não se devem a movimentos para cima e para baixo dos quadris, e
sim às elevações da cabeça e dos ombros, principais responsáveis pelo movi-
mento ondulatório que aumentará a força propulsiva da pernada. A esse efeito,
capítulo 4 • 87
Maglischo (2010) denominou de “onda corporal reversa”, pois possibilita “que
a força decorrente da batida para baixo da primeira golfinhada acelere o nada-
dor rapidamente para frente” (p. 143).
Respiração
A expiração é realizada quando o nadador está com o rosto dentro da água
e a inspiração é feita logo após, com a elevação da cabeça. Alguns especialistas
recomendam que a inspiração seja feita com o queixo sendo mantido na água,
mas Maglischo (2010) recomenda que os nadadores a realizem tirando os om-
bros e tronco da superfície, mantendo a cabeça em uma posição natural; ou
seja, a inspiração requer que o tronco seja elevado acima da água, e não que a
cabeça seja direcionada para cima e para trás.
Massaud (2008) indica algumas possibilidades de classificação da respiração:
• 1x1: respiração na primeira braçada, que não é indicada para iniciantes;
• 2x1: respiração na segunda braçada;
• 3x1: respiração na terceira braçada; e assim por diante.
Pernadas
As pernadas são realizadas com movimentos simultâneos dos membros in-
feriores, em trajetórias ascendentes e descendentes. Massaud (2008) descreve
que a pernada descendente começa com o calcanhar alinhado à superfície e a
partir de uma leve flexão dos quadris e dos joelhos, para posterior extensão da
perna de maneira vigorosa. A flexão plantar e a inversão são importantes para
melhor aproveitamento da pressão exercida pelos dorsos dos pés e pelas per-
nas, e a profundidade da pernada para baixo é de cerca de 40 a 50 cm abaixo da
linha da superfície.
Na pernada para cima, os joelhos permanecem estendidos, e os pés realizam
uma pressão sobre a água a partir das plantas dos mesmos, em flexão plantar.
Massaud (2008) cita que há duas concepções sobre a pernada ascendente, sen-
do uma que preconiza para esta fase a recuperação total, com a articulação do
tornozelo e a musculatura relaxadas, e outra que recomenda que seja feita força
para propulsão a partir da pressão das pernas e das plantas dos pés contra a água.
88 • capítulo 4
Braçadas
Subdividiremos as braçadas em: entrada e deslize, varredura para fora e
agarre, varredura para dentro, varredura para cima (finalização) e recuperação.
• Entrada e deslize
Segundo Maglischo (2010), na entrada das mãos na água ocorre também uma
batida para baixo das pernas, e por isso essa etapa é mais adequadamente iden-
tificada como “entrada, deslize e batida para baixo” da primeira golfinhada. Os
braços entram na água à frente do corpo, separados entre si na distância da largu-
ra dos ombros ou um pouco menos, com as mãos orientadas para fora (as bordas
das mãos, do lado dos dedos polegares “cortarão” a água na entrada). Depois, são
estendidos para frente e um pouco para fora, logo abaixo da linha da superfície,
ao mesmo tempo em que a batida para baixo das pernas é completada (o afasta-
mento entre os braços não deve ser maior do que a largura dos ombros).
• Varredura para fora (apoio) e agarre
Esta varredura não é propulsiva e visa preparar os braços para o fornecimen-
to de força que virá na próxima etapa. Na varredura para fora os braços são le-
vados para os lados estendidos até que ultrapassem a largura dos ombros, mo-
mento em que serão ligeiramente flexionados (cotovelos) com as mãos voltadas
para trás (agarre). Conforme Maglischo (2010, p. 134), “as palmas das mãos de-
vem girar para fora durante a varredura para fora, de modo que estarão voltadas
para trás quando o agarre for executado”.
• Varredura para dentro
Com movimentos dos braços para trás, para fora, para baixo e para dentro
a partir do agarre, o nadador deve acelerar progressivamente a braçada. Essa
trajetória descreve “um longo movimento semicircular que termina quando as
mãos estão quase juntas por baixo do corpo” (Maglischo, 2010, p. 136).
Massaud (2008) lembra que esse movimento, no início, também deve ser
feito com os cotovelos mais altos (flexionados) do que as mãos, que são direcio-
nados para a linha mediana do corpo e para o fundo. A varredura para dentro é
a primeira fase propulsiva desse nado, e geralmente é nela que começa a eleva-
ção da cabeça e dos ombros para a inspiração.
capítulo 4 • 89
• Varredura para cima - Finalização
Nessa fase, as mãos e braços são direcionados rapidamente para fora, para
trás e para cima na direção da superfície. As palmas das mãos e os antebraços
são usados como “remos”, empurrando a água para trás (Maglischo, 2010).
Outro ponto a ser destacado é quanto à flexão dos cotovelos: nessa etapa, eles
ainda permanecem ligeiramente flexionados, ou com uma extensão mínima.
Essa fase acaba quando as mãos estão próximas da coxa, seguindo-se do re-
laxamento / liberação das mãos da água e recuperação.
• Recuperação
Ao parar de empurrar a água para trás com os antebraços, e tendo as mãos
próximas das coxas, o nadador deve direcionar as palmas para dentro, para que
na saída da água haja menos arrasto. Primeiramente, saem da água os braços
e cotovelos, seguidos pelos antebraços e mãos. A partir daí, os cotovelos geral-
mente são completamente estendidos(é uma questão de estilo do nadador). Os
membros superiores continuam sua trajetória circular acima da água até que
estejam novamente em frente aos ombros, para nova entrada e continuidade
do ciclo de braçadas (fases aquática e de recuperação).
Coordenação braços/pernas
Conforme descrito por Massaud (2008), para cada ciclo de braçadas são feitas
duas golfinhadas com seus pontos máximos descendentes assim combinados:
• Na entrada dos braços ou no início da varredura para fora, tem-se a pri-
meira pernada para baixo;
• Na varredura para cima, é feito mais um movimento descendente
das pernas.
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Figura 4.4 – A nadadora Nina Dittrich no momento de inspiração e recuperação dos braços
acima da superfície.
4.1.5 Nado medley
O nado medley combina os quatro nados acima descritos em uma sequência
rígida determinada pelas regras oficiais, e pode ser executado individualmente
ou por equipes (revezamento medley).
No medley individual, a sequência é borboleta, costas, peito e livre, enquan-
to no revezamento, inicia-se pelo nado de costas, continuando com os nados de
peito, borboleta e livre. Cabe lembrar que a regra prevê que o livre no Medley,
não poderá ser nenhum dos nados anteriores.
Veremos a seguir como devem ser as transições entre os nados na prova in-
dividual; ou seja, do borboleta para o costas, do nado de costas para o nado de
peito, e do nado de peito para o livre (crawl).
Do nado borboleta para o nado de costas
Após tocar a parede simultaneamente com as duas mãos, o nadador tira ra-
pidamente uma das mãos (a mão que corresponde ao lado para o qual vai girar
o corpo), flexionando o cotovelo, por dentro da água e junto ao corpo. Quando
capítulo 4 • 91
está fazendo isso, os membros inferiores estarão sendo flexionados e dirigidos
à borda, com o corpo na posição lateral. A partir daí, o outro braço é retirado da
borda e é feita a flexão do cotovelo, levando-o para cima e para trás da cabeça.
Nessa etapa deve ser realizada a inspiração, e a seguir o nadador irá direcionar
as mãos umas para as outras, submerso, unindo-as à frente do corpo, manten-
do os pés na parede com joelhos e quadris flexionados (90º). O nadador muda
a posição do corpo para decúbito dorsal e empurra vigorosamente a parede, o
nadador estende joelhos e quadris e aproveita a impulsão gerada com o corpo
estendido realizando golfinhadas até que rompa a linha de superfície e inicie
o nado.
Do nado de costas para o nado de peito
Há três possibilidades: a virada aberta, a virada de cambalhota para trás e a
virada de Naber modificada.
VIRADA ABERTA
Após o toque na parede com uma das mãos, é feito um rolamento do corpo para o mesmo lado do braço que fez o toque, com os joelhos e quadris flexionados e o corpo sendo direcionado lateralmente à borda. O braço que tocou na borda é direcionado para frente, a fim de en-contrar com o outro braço que se encontra logo abaixo da superfície; a partir daí, braços e pernas são estendidos.
VIRADA DE CAMBALHOTA PARA TRÁS
O toque da mão deve ser feito a aproximadamente 40 cm de distân-cia da superfície e com os dedos das mãos direcionados para baixo. É feito um rolamento para trás com o corpo, bem grupado, e quando as pernas e pés passam por cima da cabeça em direção à borda, deve-se flexionar o cotovelo do braço que tocou a borda, para depois estendê-lo à frente até que encontre o outro que já se encontrava além da linha da cabeça. A seguir, é feita a impulsão com os membros inferiores e a extensão do corpo.
VIRADA DE JABER OU JABERREPARE (FIGURA ABAIXO
MODIFICADA)
A mão toca a parede um pouco abaixo da superfície (15 a 20 cm) e o nadador começa a flexionar seus quadris e joelhos com o braço de contato flexionado e os dedos das mãos voltados para baixo. A cabe-ça é elevada acima da superfície, momento propício para a inspiração e logo após o braço de apoio é retirado por cima como o cotovelo flexionado, ao mesmo tempo em que as pernas estão passando por baixo do corpo, um pouco antes dos pés tocarem a parede. Ao tocar os pés na parede, os braços se encontram à frente do corpo e é feito o impulso com a extensão dos joelhos e dos quadris.
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Figura 4.5 – A virada de Jaber modificada. Fonte: MASSAUD, M. G. Natação 4 nados:
aprendizado e aprimoramento. Rio de Janeiro: Sprint, 2008, p. 209.
Do nado de peito para o nado crawl
Essa virada é feita da mesma maneira em que foi descrita na transição do
nado borboleta para o nado de costas, com a diferença básica da posição corpo-
ral após os movimentos na parede e a colocação dos pés na mesma, pois após
empurrá-los vigorosamente e estender o corpo com as mãos unidas à frente
em decúbito lateral, o corpo é girado para baixo para adotar a posição do nado
(decúbito ventral). São feitas golfinhadas ou pernadas do crawl na sequência,
antes de se iniciar o nado na superfície.
4.1.6 Saídas e viradas
Após realizar muitos testes, Maglischo (2010) indica que é possível reduzir os
tempos de uma prova em 0,10 s quando se melhora a técnica de saída e 0,20 s a
cada piscina percorrida com o aprimoramento das viradas. O autor ressalta que
é importante incluir treinos visando a melhoria das saídas, viradas e das chega-
das para todas as distâncias competitivas, mas aponta que nas provas longas
os benefícios de otimização desses movimentos são ainda mais significativos.
Para análise das técnicas utilizadas nessas importantes fases, devemos lem-
brar que para a execução dos nados crawl, de peito e borboleta, as saídas são
feitas de cima do bloco de saída, quase sempre com as pernas alternadas (saída
do atletismo) e para o nado de costas, a saída é realizada também com apoio no
bloco, porém dentro da piscina.
capítulo 4 • 93
Saída de cima do bloco
Atualmente, vemos o amplo uso de uma técnica inspirada na saída das pro-
vas rápidas do atletismo, com os pés em afastamento ântero-posterior, descrita
por Maglischo (2010) como “saída com os pés desnivelados”.
O pé que fica à frente deve ter seus dedos posicionados sobre a borda da frente
do bloco, e o pé que fica atrás pressiona a parte inclinada do bloco de partida, atrás.
Com a cabeça para baixo, o nadador agarra o bloco na borda frontal com as duas
mãos. Quando é dado o sinal de partida, deve ser feito um movimento “para cima
e para trás sobre o bloco com as mãos, para fazer com que o corpo se movimen-
te para frente, em direção à água” (Maglischo, 2010, p. 236). Neste momento, as
mãos devem ser direcionadas para cima, por baixo do queixo, e uma impulsão com
a perna de trás é feita, seguida por um impulso com a perna da frente. Na trajetória
aérea, recomenda-se que primeiramente o corpo fique alinhado, para depois ficar
carpado e então alinhado para a entrada na água a partir das pontas dos dedos.
Saída do nado de costas
Na posição preparatória, aguardando o sinal de “aos seus lugares”, os in-
divíduos ficam dentro da água, de frente para a parede e segurando a barra ou
as alças que existe no bloco. Os pés devem estar totalmente submersos, com
os joelhos flexionados e os quadris dentro da água. Quando ouvem “a seus lu-
gares”, seus braços ficam flexionados e direcionados para fora, a cabeça baixa,
com o olhar dirigido para a calha a sua frente, e os quadris devem ser elevados
ao máximo sem que os pés rompam a linha da superfície, mantendo-se as ná-
degas próximas dos calcanhares. Os pés podem estar alinhados ou ligeiramen-
te afastados (um deles um pouco mais acima do outro).
Quando é dado o sinal de partida, deve-se “tracionar para cima ou empurrar para
baixo e para trás contra a barra de saída com as mãos (...), de modo que possam le-
vantar um pouco o tronco para fora da água, antes de afastarem o corpo da parede”
(Maglischo, 2010, p. 247). A cabeça deve ser lançada para cima e para trás, e à medida
que o corpo vai se afastando da parede, os braços devem ser estendidos para frente
contra a barra de saída. A partir daí os braços são retirados da barra de saída e lança-
dos para cima e por sobre a cabeça rapidamente. Na trajetória aérea, observa-se que
as costas ficam arqueadas (hiperextensão), formando um arco, e é importante tentar
manter todo o corpo para fora da água nessa fase. A entrada na água é feita a partir
94 • capítulo 4
das mãos, com os membros superiores unidos e estendidos, a cabeça entre eles e os
membros inferiores também em extensão. A ideia é que cada parte do corpo entre na
água pelo mesmo ponto inicial tocado pelas pontas dos dedos.
Viradas
• Virada olímpica do nado crawl
Adotando a análise da virada de Massaud (2008, p. 87), os movimentos e
ações são descritos a seguir:
1. A velocidade do nado deve ser aumentada com a aproximação à borda
para facilitar a cambalhota (rolamento);
2. Os braços são unidos ao longo do corpo do nadador logo após a realiza-
ção da última braçada antes da virada;
3. Invertem-se as mãos e uma pernada de golfinho impulsiona para a rea-
lização da cambalhota;
4. Quando os pés tocam a borda, os braços devem estar estendidos à fren-
te para a realização do impulso;
5. É feito um deslize com a extensão vigorosa dos joelhos e quadris, com o
corpo em decúbito lateral e os braços estendidos à frente em posição hidrodi-
nâmica (mãos sobrepostas e orelhas entre os braços);
6. O nadador adota a posição de decúbito ventral e realiza golfinhadas
submersas antes de iniciar o nado propriamente dito.
• Virada olímpica do nado de costas
A virada do nado de costas é a mesma do nado crawl; porém, ao se aproxi-
marem da borda, os nadadores devem mudar de decúbito dorsal para ventral
durante a última braçada do nado, ainda na posição original. A outra pequena
diferença ocorre após a cambalhota, que quando finalizada já proporciona que
o nadador esteja em decúbito dorsal, a posição do nado. A partir daí, o impulso
dado pressionando a parede deve ser feito com os braços estendidos e direcio-
nados para frente, realizando também golfinhadas para depois iniciar o nado.
• Virada do nado de peito
Esse nado apresenta uma característica única: a técnica submersa após
as saídas e viradas é realizada apenas na sua execução, e é denominada de
“Filipina”.
capítulo 4 • 95
Você lembra que descrevemos um pouco acima as viradas do nado medley
individual? Tanto o nado borboleta como o nado de peito requerem que as mãos
toquem a borda simultaneamente, e haverá um direcionamento por baixo das
pernas até que os pés toquem a parede, enquanto um braço está embaixo da
água e apontado para frente e para baixo, e o outro virá ao seu encontro sendo
retirado da borda em uma trajetória por cima e por trás da cabeça do nadador.
Assim que os braços se encontram e o corpo adota uma posição hidrodinâmica,
aproveita-se o impulso gerado pela força do empurrão contra a borda (deslize
ou deslizamento) e a “filipina” é iniciada.
A filipina compreende três movimentos submersos: uma braçada ampla,
uma golfinhada e uma pernada do nado de peito. A braçada ampla é o primeiro
movimento, iniciado virando-se as palmas das mãos para fora e direcionando
os membros superiores para os lados e para trás com os cotovelos estendidos
até que mãos, cotovelos e ombros estejam quase alinhados num prolongamen-
to lateral da linha do ombro. Nesse momento, há uma adução dos cotovelos,
que se flexionam e são levados ao encontro da região lateral do tronco. Quando
os cotovelos se unem ao tronco, os antebraços e mãos são direcionados para
trás e para cima até que haja uma extensão do cotovelo. Em algum momento
a partir do início da braçada ampla, é executada a única golfinhada permitida
(só pode ser uma). Aproveita-se o impulso gerado pela combinação desses dois
movimentos (braçada ampla com golfinhada) e depois é iniciada uma pernada
específica do nado, ao mesmo tempo em que as mãos são levadas por baixo
do corpo para frente, possibilitando que após a fase propulsiva da pernada, os
braços estejam unidos e estendidos à frente do corpo, rompendo a linha da su-
perfície e iniciando o nado a partir de um ciclo de braçada.
• Virada do nado borboleta
No nado borboleta, a virada é a mesma executada no nado de peito, mas
não há filipina, e após o deslize aproveitando o impulso gerado pelo empurrão
dos pés contra a parede, o nadador executa golfinhadas com o corpo estendido.
SAIBA MAISLinks para assistir uma animação indicando os movimentos dos nados:
• Nado crawl
<https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Freestyle_swimming#/media/File:-
Freestyle_swimming.gif>.
96 • capítulo 4
<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Freestyle_swimming2.gif>.
<https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Freestyle_swimming#/media/File:-
Freestyle_swimming3.gif>.
• Nado de costas
<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Backstroke.gif>.
<ht tps ://commons .w ik imed ia .o rg/wik i/Category :Backst roke#/med ia/
File:Backstroke2.gif>.
<ht tps ://commons .w ik imed ia .o rg/wik i/Category :Backst roke#/med ia/
File:Backstroke3.gif>.
• Nado de peito
<https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Breaststroke#/media/Fi -
le:Breaststroke2.gif>.
• Nado de borboleta
<https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Butterfly_(swimming_style)#/media/
File:Butterfly_stroke3.gif>.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASCOLWIN, C. Nadando para o século XXI. São Paulo: Manole, 2001.
MASSAUD, M. G. Natação 4 nados: aprendizagem e aperfeiçoamento. Rio de Janeiro: Sprint, 2008.
MAGLISCHO, E. W. Nadando o mais rápido possível. São Paulo: Manole, 2010.
MONTGOMERY, J; CHAMBERS, M. Nadando com perfeição. São Paulo: Manole, 2013.
Regras elementares,
noções de arbitragem e
organização de competições
5
98 • capítulo 5
5. Regras elementares, noções de arbitragem e organização de competições
A natação competitiva, como esporte que é, tem regras que são estabelecidas
pela Federação Internacional de Natação (FINA), periodicamente revistas e
passíveis de alterações, nos Congressos Técnicos dos Campeonatos Mundiais.
As regras devem ser obrigatoriamente seguidas em competições oficiais, e in-
cluem desde as dimensões das piscinas até os procedimentos que devem ser
seguidos para a organização das séries, os trajes permitidos, a composição da
arbitragem e as normas para realização dos nados.
Além das regras oficiais, é interessante conhecer algumas sugestões para a
organização de torneios, situação que pode ser necessária em algum momento
da sua vida profissional, seja em academias, clubes e escolas.
No final desse capítulo veremos as categorias da natação adaptada; ou seja,
como os atletas são classificados de acordo com as suas deficiências.
OBJETIVOS
• Identificar as dimensões recomendadas para piscinas de competição;
• Conhecer as regras oficiais da FINA;
• Reconhecer as categorias da natação adaptada;
• Verificar itens mínimos para organização de festivais e torneios.
5.1 Noções de arbitragem e organização de competições
Antes de identificarmos as regras oficiais da natação de acordo com a FINA, é
importante que você reconheça as dimensões oficiais para as piscinas de com-
petição, de 25 metros (piscina curta) e de 50 metros (piscina olímpica). Apenas
em competições realizadas nesses comprimentos de piscina é que a FINA reco-
nhece recordes mundiais.
Há uma tolerância de até 0,3 cm a mais no comprimento (25,03 e 50,03) por-
que as placas que registram o toque para a cronometragem eletrônica são insta-
ladas na parede de cada lado da piscina. A precisão no comprimento é verificada
capítulo 5 • 99
por um oficial indicado pela Federação local, ou pela Confederação (como a
Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos – CBDA), ou pela FINA.
Quanto à profundidade, em piscinas que têm blocos de partida é solici-
tado no mínimo 1,35 metros numa extensão de 1 metro a partir da parede a
até 6 metros, pelo menos. O restante da piscina deve ter pelo menos 1 metro
de profundidade.
A largura mínima entre as raias deve ser de 2,5 metros, e deve haver um es-
paço de pelo menos 20 cm entre as bordas laterais da piscina e as duas raias
externas (primeira e última). Quanto ao bloco de partida, é indicada uma altura
entre 50 a 75 cm do nível da água e a inclinação no local de apoio dos pés não
pode ultrapassar 10º.
Em uma piscina oficial também é necessária a marcação de uma linha escu-
ra no fundo, finalizada por uma marcação transversal a ela (“T”), que deve estar
a 2 m da borda. O “T” de fundo tem um comprimento de 1 metro e é bastante
importante para que o nadador se certifique de que a borda está próxima, nos
nados que são executados em decúbito ventral.
Os flutuadores em uma piscina com 8 raias são da cor verde nas de posição
1 e 8, da cor azul nas posições 2, 3, 6 e 7, e da cor amarela na 4 e na 5. A uma
distância de 5 metros de cada um dos extremos da raia os flutuadores devem
ser da cor vermelha. Na marca de 15 metros (ponto máximo no qual o atleta
deve romper a superfície), a cor dos flutuadores deve ser diferente da cor preco-
nizada para a raia, assim como em piscinas de 50 metros deve ser de outra cor
na distância de 25 metros. É importante que as raias estejam completamen-
te estendidas.
Para o nado de costas, devem ser colocados indicadores de viradas (cordas
suspensas com bandeiras) a 5 metros de distância da borda, em uma altura en-
tre 1,80 m a 2,50 m acima da linha da água.
100 • capítulo 5
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Figura 5.1 – A piscina das Olimpíadas de Pequim, onde Cesar Cielo conquistou a primeira
medalha de ouro para o Brasil nos 50 m nado livre.
5.1.1 Regras da FINA
As regras da FINA estão agrupadas em seções de acordo com o tema principal,
sendo aplicadas aos demais esportes aquáticos, com pequenas diferenças en-
tre eles:
• Idade máxima dos árbitros (65 anos na natação);
• Os trajes permitidos;
• Publicidade permitida nas competições;
• Normas para substituições, desclassificações e faltas;
• Proibição do fumo nas dependências dos parques aquáticos;
• A apresentação de protestos nas competições;
• Programação dos campeonatos mundiais (provas e distâncias);
• Premiação concedida;
• Pontuação concedida em provas individuais e revezamentos
nos Mundiais;
• Permissão de adoção de regras locais para distribuição das categorias
por idade;
capítulo 5 • 101
• Organização de competições, com a indicação do número mínimo de com-
ponentes da arbitragem designados pelo Bureau da FINA para Jogos Olímpicos
e Campeonatos Mundiais (regra SW 1, primeira específica da natação);
• Atribuições específicas dos componentes da arbitragem (SW 2);
• Composição das séries eliminatórias, semifinais e finais (SW 3);
• Normas para a partida das provas, como o comando “Take your marks”
em Olimpíadas e Mundiais (SW 4);
• Regras para os nados livre (SW 5); de costas (SW 6); de peito (SW 7); de
borboleta (SW 8); medley (SW 9), que estão descritas a seguir;
• Itens constantes das provas, como a obrigatoriedade de terminar o percur-
so na mesma raia em que foi iniciado e a organização dos revezamentos (SW 10);
• Registro de tempo (SW 11);
• Normas para os recordes mundiais (SW 12);
• Procedimentos para registros de tempo em aparelhagem automática
(SW 13);
• Piscinas de competição: disposições gerais, dimensões e equipamento
automático de cronometragem (FR 1 a FR 4).
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Figura 5.2 – Bloco de partida do Campeonato Mundial de Kazan, 2015.
Para o nosso estudo, veremos a seguir as regras para os nados, com algumas
observações ao final de cada tópico.
102 • capítulo 5
SW 5 - Nado Livre
SW 5.1 - Nado livre significa que numa prova assim denominada, o compe-
tidor pode escolher qualquer modalidade, exceto nas provas de medley indivi-
dual ou revezamento medley, nado livre significa qualquer nado diferente do
nado de costas, peito ou borboleta.
SW 5.2 - Alguma parte do nadador tem que tocar a parede ao completar cada
volta e no final.
SW 5.3 – Alguma parte do nadador tem que quebrar a superfície da água du-
rante a prova, exceto quando é permitido ao nadador estar completamente sub-
merso durante a volta e numa distância não maior que 15 metros após a partida
e cada volta. Nesse ponto, a cabeça deve ter quebrado a superfície da água.
*Lembre-se que a distância máxima permitida para o deslocamento submer-
so é de 15 metros, e que nas provas de nado livre qualquer nado pode ser realizado.
SW 6 - Nado de Costas
SW 6.1 – Antes do sinal de partida, os competidores devem alinhar-se na água, de
frente para a cabeceira de saída, com ambas as mãos colocadas nos suportes de agar-
re. Manter-se na calha ou dobrar os dedos sobre a borda da calha é proibido. Quando
o suporte de partida para o nado costas estiver sendo usado na saída, os dedos de
ambos os pés devem estar em contato com a borda ou com a placa de toque do placar
eletrônico. Curvar os dedos dos pés na parte superior da placa de toque é proibido.
(Recomendação após o Congresso Extraordinário da FINA em Doha, Qatar, 2014).
SW 6.2 – Quando o suporte de partida do nado costas estiver sendo utiliza-
do, cada inspetor na cabeceira de saída deve instalar e remover após a saída.
(Recomendação após o Congresso Extraordinário da FINA em Doha, Qatar, 2014).
SW 6.3 - Ao sinal de partida e quando virar, o nadador deve dar um impulso e
nadar de costas durante o percurso exceto quando executar a volta, como na SW
6.4. A posição de costas pode incluir um movimento rotacional do corpo até, mas
não incluindo os 90º a partir da horizontal. A posição da cabeça não é relevante.
SW 6.4 - Alguma parte do nadador tem que quebrar a superfície da água du-
rante o percurso. É permitido ao nadador estar completamente submerso du-
rante a volta e por uma distância não maior que 15 metros após a saída e cada
volta. Nesse ponto a cabeça deve ter quebrado a superfície.
capítulo 5 • 103
SW 6.5 – Quando executar a volta, tem que haver o toque na parede com algu-
ma parte do corpo na sua respectiva raia. Durante a volta, os ombros podem girar
além da vertical para o peito após o que uma imediata contínua braçada ou uma
imediata contínua e simultânea dupla braçada pode ser usada para iniciar a vol-
ta. O nadador tem que retornar a posição de costas após deixar a parede.
SW 6.6 - Quando do final da prova, o nadador tem que tocar a parede na po-
sição de costas na sua respectiva raia.
ATENÇÃOConforme exposto na regra 6.3, o “rolamento dos ombros”, com movimentos suaves para os
lados (que vimos no capítulo anterior) não pode alterar a posição predominante do nado, que
é em decúbito dorsal. O nadador não pode mudar para decúbito lateral. A distância máxima
para o nado submerso é de 15 metros também.
SW 7 - Nado de Peito
SW 7.1 – Após a saída e em cada volta, o nadador pode dar uma braçada
completa até as pernas, durante a qual o nadador pode estar submerso. Uma
única pernada de borboleta é permitida em qualquer momento antes da pri-
meira pernada de peito após a saída e após cada virada. (Recomendação após o
Congresso Extraordinário da FINA em Doha, Qatar, 2014).
SW 7.2 - A partir da primeira braçada após a saída e após cada virada, o corpo
deve ser mantido sobre o peito. Não é permitido ficar na posição de costas em ne-
nhum momento exceto quando da volta, após o toque na parede onde é permitido
girar de qualquer maneira, contanto que quando deixar a parede o corpo deve estar
na posição sobre o peito. A partir da saída e durante a prova, o ciclo do nado deve ser
uma braçada e uma pernada, nessa ordem. Todos os movimentos dos braços de-
vem ser simultâneos e no mesmo plano horizontal, sem movimentos alternados.
SW 7.3 - As mãos devem ser lançadas junto para frente a partir do peito,
abaixo ou sobre a água. Os cotovelos deverão estar abaixo da água exceto para
última braçada antes da volta, durante a volta e na última braçada antes da che-
gada. As mãos deverão ser trazidas para trás na superfície ou abaixo da super-
fície da água. As mãos não podem ser trazidas para trás além da linha dos qua-
dris, exceto durante a primeira braçada, após a saída e em cada volta.
104 • capítulo 5
SW 7.4 – Durante cada ciclo completo, alguma parte da cabeça do nadador
deve quebrar a superfície da água. A cabeça tem que quebrar a superfície da
água antes que as mãos virem para dentro na parte mais ampla da segunda
braçada. Todos os movimentos das pernas devem ser simultâneos e no mesmo
plano horizontal sem movimentos alternados.
SW 7.5 - Os pés devem estar virados para fora durante a parte propulsiva da
pernada. Não são permitidos movimentos alternados ou pernada de borboleta,
exceto o descrito na SW 7.1. É permitido quebrar a superfície da água com os
pés, exceto seguido de uma pernada de borboleta para baixo.
SW 7.6 - Em cada virada e na chegada da prova, o toque deve ser feito com
as duas mãos separadas e simultaneamente, acima, abaixo ou no nível da água.
No último ciclo do nado antes da virada e no final da prova, uma braçada não
seguida da pernada é permitida. A cabeça pode submergir após a última bra-
çada anterior ao toque, contanto que quebre a superfície da água em qualquer
ponto durante o último completo ou incompleto ciclo anterior ao toque.
ATENÇÃOA golfinhada permitida na fase submersa, após a saída e nas viradas, pode ser feita conforme
a preferência do nadador: antes de iniciar a braçada ou ao longo dela, ou ainda na finalização
da mesma. Na execução da filipina, o nadador que rompe a linha da água após a marcação
de 15 metros não é desclassificado.
SW 8 - Nado de Borboleta
SW 8.1 – A partir do início da primeira braçada, após a saída e em cada volta,
o corpo deve ser mantido sobre o peito. Pernada submersa na lateral é permi-
tida. Não é permitido ficar na posição de costas em nenhum momento, exceto
quando da volta, após o toque na parede é permitido girar de qualquer maneira,
quando deixar a parede o corpo deve estar na posição sobre o peito.
SW 8.2 - Ambos os braços devem ser levados simultaneamente à frente por
sobre a água e trazidos para trás simultaneamente por baixo da água durante
todo o percurso, conforme SW 8.5.
SW 8.3 – Todos os movimentos para cima e para baixo das pernas devem ser
simultâneos. As pernas ou os pés não precisam estar no mesmo nível, mas não
capítulo 5 • 105
podem alternar um em relação ao outro. O movimento de pernada de peito não
é permitido.
SW 8.4 - Em cada virada e na chegada, o toque deve ser efetuado com ambas
as mãos separadas e simultaneamente, acima, abaixo ou no nível da superfície
da água.
SW 8.5 - Após a saída e na volta, ao nadador é permitido uma ou mais pernadas
e uma braçada sob a água, que deve trazê-lo à superfície. É permitido ao nadador
estar completamente submerso até uma distância não maior do que 15 metros
após a partida e após cada virada. Nesse ponto, a cabeça deve quebrar a superfície.
O nadador tem que permanecer na superfície até a próxima volta ou final.
ATENÇÃOComo nas regras dos nados livre e de costas, a distância máxima permitida para o nado
submerso é de 15 metros. Observe que a regra deixa claro que movimentos do nado de peito
não são permitidos.
SW 9 - Nado medley
SW 9.1 - Na prova de Medley individual, o nadador nada os quatros nados na
seguinte ordem: borboleta, costas, peito e livre. Cada nado deve percorrer um
quarto (1/4) da distância.
SW 9.2 - Nas provas de revezamento Medley, os nadadores nadam os quatro
nados na seguinte ordem: costas, peito, borboleta e livre.
SW 9.3 - Cada nado deve ser finalizado de acordo com a regra aplicada a ele.
*Conforme vimos no capítulo 4, o nado medley possui uma sequência obri-
gatória que é diferente entre a prova individual e por equipes, e os nados devem
ser praticados de acordo com as suas regras.
5.1.2 Categorias da natação adaptada
Na natação adaptada são feitas algumas alterações nas saídas, viradas e chega-
das. O atleta pode receber auxílio para se posicionar antes da saída e até mesmo
iniciar a prova de dentro da piscina, quando sua limitação o impede de ficar so-
bre o bloco. Atletas com deficiências visuais recebem um aviso quando estão se
106 • capítulo 5
aproximando das bordas através de um bastão com ponta de espuma, e os que
são completamente cegos nadam com um óculos opaco. As provas são:
• Nado livre: 50m, 100m, 200m e 400m;
• Nado de costas, de peito e borboleta: 50m e 100m;
• Nado medley: 150m (costas, peito e crawl, em classes com maiores defi-
ciências) e 200m (borboleta, costas peito e livre);
• Revezamentos 4x50m (livre e medley) e 4x100m (livre e medley). Nos reve-
zamentos as equipes devem ser montadas levando em consideração a soma das
classes dos nadadores, como descrito a seguir:
• 4x50m livre e 4x50 medley: equipes somando até 20 pontos;
• 4x100m livre e 4x100m medley: equipes com até 34 e com até 49 pontos.
Para classificação de um atleta, são feitos testes de força muscular, mobili-
dade articular e testes motores (dentro da água) e acuidade visual. Nas deficiên-
cias físicas, atletas com maiores deficiências ficam nas classes menores, que
sempre iniciam com a letra S (swimming), SB (peito), SM (medley). Deficientes
visuais e mentais estão nas categorias iniciadas pela letra B. As classes de 1 a 10
são para deficientes físicos, de 11 a 13 para deficientes visuais e a classe 14 é desti-
nada às deficiências intelectuais. Abaixo, confira a divisão detalhada das classes:
• S1: afetação muito grave de tronco e nas 4 extremidades;
• S2: afetação grave de tronco e nas 4 extremidades;
• S3: afetação de tronco e extremidades superiores e afetação grave de ex-
tremidades inferiores;
• S4: afetação de tronco e afetação grave de 2 ou mais extremidades;
• S5: afetação de tronco e 2 ou mais extremidades;
• S6: afetação leve de tronco e afetação de 2 ou mais extremidades;
• S7: afetação grave de 2 extremidades;
• S8: afetação de 2 extremidades, afetação grave de uma extremidade ou
afetação grave de diversas articulações;
• S9: afetação de uma extremidade ou diversas articulações;
• S10: afetação leve de 1 ou 2 extremidades ou comprometimento leve de 1
ou diversas articulações;
• B11: ausência da percepção de luz nos dois olhos (completamente cegos);
• B12: capacidade de reconhecer a forma de uma mão;
• B13: campo visual reduzido, mas com bastante visão;
• B14: deficientes mentais.
capítulo 5 • 107
5.1.3 Organização de festivais e torneios
O site Portal da Educação Física (2013) cita que na natação é frequente a orga-
nização de três diferentes tipos de eventos: a demonstração, o festival e a com-
petição. Nos festivais, o objetivo principal é realizar uma demonstração das
habilidades aquáticas adquiridas pelos alunos após um determinado tempo
de prática, podendo ser estabelecida uma periodicidade em função do plane-
jamento da escola, academia e/ou clube. Além de motivar os participantes, a
demonstração possibilita que pais e familiares acompanhem o progresso das
crianças, no caso da natação infantil. Brindes e prêmios são bem-vindos, e não
há regras rígidas, recomendando-se que os participantes estejam organizados
por idade e nível de habilidades aquáticas. Os professores e outros funcioná-
rios que participam da organização devem zelar pela segurança e para que o
programa preestabelecido seja completado, sendo facilitadores do processo.
Nos festivais, a demonstração das habilidades envolve situações de compe-
tição entre pessoas da mesma idade e sexo (eventos age groups) e/ou as dis-
putas nas quais independentemente do sexo e idade, o que vale é o tempo em
que o indivíduo apresenta numa determinada prova para que dela participe; ou
seja, as pessoas vão competir juntas se apresentarem faixas de tempo entre as
indicadas para determinada distância e nado (eventos time groups). Por ser um
festival, além de brindes e sorteios, as medalhas geralmente são distribuídas,
indicando-se que para cada prova nadada, o participante receba uma medalha,
que pode ser de ouro, prata ou bronze dependendo da faixa de tempo (a organi-
zação determina um tempo mínimo e máximo correspondentes ao ouro, prata
e bronze). Alguns festivais não adotam a diferenciação dos tipos de medalhas,
e os profissionais envolvidos na arbitragem devem orientar e educar para as
regras, evitando punições. Os cronometristas são fundamentais nos festivais,
os alunos também podem ser chamados de “nadadores” e a cobrança de taxas
de inscrição é facultativa.
As competições devem respeitar as regras estabelecidas pela FINA, mesmo
que sejam realizadas para o público interno (alunos de uma mesma academia).
Em cada prova definida pela organização, haverá a definição dos três melhores
tempos para premiação. Os competidores são divididos por sexo, idade e a pro-
va da qual participará e podem ser chamados de “atletas” ou “nadadores”. Além
disso, os árbitros devem ser chamados de acordo com as suas funções (árbitro-
geral, árbitro de partida, árbitro de nado, etc.), e não deve haver flexibilidade
108 • capítulo 5
nas regras. Nas competições, podem ser estabelecidos recordes do campeona-
to para que em futuras edições se tornem metas a serem alcançadas.
Corrêa e Massaud (2007) listam tópicos importantes que devem ser consi-
derados quando se intenciona realizar algum evento de natação, seja para o pú-
blico interno ou externo. Primeiramente, o objetivo do evento norteará as ações
necessárias para que sua realização seja um sucesso. Se há intenção de captação
de novos alunos, por exemplo, os autores indicam que durante o evento pro-
moções devem ser divulgadas (ex.: isenção de matrículas), e aconselham que
os organizadores evitem qualquer prejuízo aos atuais alunos. Quando o evento
visa divulgar uma “marca”, como pode acontecer quando se inaugura uma es-
cola de natação e outras atividades físicas, é interessante pensar em “contami-
nar” a cabeça das pessoas com a marca, usando principalmente a logomarca
em faixas, camisas e bonés. Nesse tipo de evento, a visibilidade é ponto-chave.
Ao planejar um evento, não deixe de considerar o tempo de duração do mes-
mo, faça uma estimativa inicial de custos e analise se o espaço disponível, bem
como a infraestrutura disponível, serão adequados a sua proposta e objetivos. A
divulgação interna e externa e o treinamento da equipe que trabalhará também
são fundamentais para o sucesso do evento, conforme Corrêa e Massaud (2007).
Quando o evento planejado envolve competições, é sempre importante estabele-
cer quem serão os componentes da arbitragem e quais são suas atribuições, além de
disponibilizar o regulamento em local visível. Na ficha de inscrição, deve haver um
espaço destinado ao Termo de Responsabilidade, no qual o competidor dá sua ciên-
cia sobre o tipo de atividade e o esforço físico necessário, afirmando que encontra-se
em condições para participar do evento em questão. Assim como em competições
oficiais, é necessária a presença de um anunciador, que fará as chamadas dos com-
petidores, o anúncio dos resultados e de outras informações para o público em geral,
como a ordem das provas e a divulgação de eventuais patrocinadores, por exemplo.
O importante, em qualquer evento, é um cuidadoso planejamento prévio e o acom-
panhamento atento durante a sua realização, para que não haja problemas que atra-
palhem o seu andamento.
RESUMOEncerramos esse livro identificando importantes regras da natação competitiva. Mesmo que
você venha a atuar com natação num contexto apenas de iniciação, reconhecer os regula-
mentos e identificar as dimensões oficiais para piscinas olímpicas são pontos relacionados
à atuação nessa área.
capítulo 5 • 109
Vimos também as regras com validade até 2017 (são atualizadas a cada 4 anos) para os
nados livre, de costas, de peito, borboleta e medley, que devem ser aplicadas também em tor-
neios internos e competições interacademias quando a intenção é a superação de tempos e
de adversários, ao contrário do que acontece em festivais e demonstrações, onde é possível
a flexibilização das regras e há mais liberdade na organização das atividades.
Outro tema associado à regulamentação da natação abordado neste capítulo foi a divi-
são de classes na natação adaptada, modalidade paralímpica de muita representatividade
para o Brasil e de especial importância para a inclusão de deficientes no mundo esportivo.
Respeitando o tipo de deficiência, a natação adaptada possibilita a participação de pessoas
com limitações motoras, visuais e intelectuais de maneira justa e coerente.
Chegamos ao final do nosso livro didático, e espero que para você, prezado aluno, ele
não sirva somente para o estudo da disciplina, mas também desperte curiosidade para des-
cobrir e investigar mais sobre a natação, esse esporte fascinante que representa uma ótima
oportunidade para o ingresso no mercado de trabalho, através de estágios, e que traz muitos
benefícios aos seus praticantes, além da sua importância para a sobrevivência na prevenção
de afogamentos!
SAIBA MAIS• Regras oficiais da FINA 2013-2017:
<http://www.aansc.com.br/uploads/96a28779-92c1-e65e.pdf>.
• Site com postagens diversas sobre regras da natação:
<http://www.regrasdenatacao.com.br/>.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASCORRÊA, C. R. F; MASSAUD, M. G. Natação: da iniciação ao treinamento. Rio de Janeiro: Sprint,
2007.
PORTAL DA EDUCAÇÃO FÍSICA. Evento em natação: demonstração, festival e competição.
Disponível em: <http://www.educacaofisica.com.br/noticias/evento-em-natacao-demonstracao-
festival-e-competicao>. Acesso em: 01/07/2013.
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