aula 2 teoria do conhecimento

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Page 1: Aula 2 teoria do conhecimento

Epistemologia(episteme = conhecimento)

TEORIA DO CONHECIMENTO

Page 2: Aula 2 teoria do conhecimento

Os pré-socráticos

Page 3: Aula 2 teoria do conhecimento

Numa divisão feita posteriormente, o campo de investigação dos filósofos gregos foi

organizada em três partes: Lógica, Ética e Física.

Lógica: estudo da linguagem e do significado

Ética: teoria moral e política. Compreendia ainda temas que, na atualidade, se enquadrariam no domínio da sociologia e da etnografia

Física: definida de maneira bastante abrangente, ocupava-se do estudo da natureza e de todos os fenômenos do mundo natural.

Page 4: Aula 2 teoria do conhecimento

“No âmbito dessa distinção tríplice posterior, os pré-socráticos era considerados basicamente

como ‘físicos’. Existem partes de cunho ético e lógico em alguns de seus trabalhos, mas a

preocupação fundamental deles era a física. Aristóteles denomina-os physikoi, e sua

atividade, physiologia; eram ‘estudantes da natureza’, e seu campo de interesse, o ‘estudo

da natureza’. Para o leitor moderno, isso poderá parecer mais aparentado à ciência do

que à filosofia – de fato, nosso moderno campo da física deriva seu conteúdo, não menos que

seu nome, da physikoi grega.”

Jonathan Barnes “Filósofos pré-socráticos”

Page 5: Aula 2 teoria do conhecimento

Características do pensamento pré-socrático:

- mundo é algo ordenado e perfeito

- seu desenvolvimento obedece determinadas leis naturais

- deuses não interferem no mundo, seu desenvolvimento e ordenação obedecem um critério natural e rigoroso que pode ser conhecido pelos estudiosos da natureza (physikoi)

natureza = phýsis‘cientistas’ ou filósofos da natureza = physikoi

Page 6: Aula 2 teoria do conhecimento

Esquema Pitagórico do cosmos ou universo grego

Page 7: Aula 2 teoria do conhecimento

O raio e o trovão foram explicados cientificamente, em termos naturalistas, como os efeitos da colisão de nuvens

A explicação mitológica do Zeus poderoso que se irritava com o comportamento humano e deveria ser acalmado com oferendas à sua honra foi abandonada.

Page 8: Aula 2 teoria do conhecimento

Tales de Mileto (624 – 546 a.C.)

- Com seus estudos de movimento das estrela previu um eclipse do Sol em 585 a.C.- Considerou a água em suas várias formas como princípio material ou origem (arché) de todas as coisas

Page 9: Aula 2 teoria do conhecimento

Anaximandro (611 – 546 a.C.)

Infinito + quente/frio = atuam sobre os elementos (terra, ar, fogo, água)

A quantidade dos elementos presente nas coisas é o elemento que as diferencia.(Verão vs. Inverno)

Descrição do sistema celeste no qual a Terra se manteria fixa no mesmo lugar, no centro do universo. Ela dispensaria uma sustentação pelo fato de estar equidistante de cada parte do céu que a circunda.

Page 10: Aula 2 teoria do conhecimento

Pitágoras (570 – 495 a.C.) 

Alma imortal – encarnação em diversas criaturas

História do mundo é igualmente infinita e cíclica

A matemática conteria a ‘chave’ da compreensão do universo: uma fórmula dos ciclos segundo os quais o mundo se move.

Page 11: Aula 2 teoria do conhecimento

Heráclito de Éfeso (535 – 475 a.C.)

Primeira grande influência sobre a filosofia de Platão

- Movimento eterno

“Tudo flui”

“A guerra é pai de todos, rei de todos”

“Não se pode entrar no mesmo rio duas vezes”

Page 12: Aula 2 teoria do conhecimento

Parmênides (530 – 460 a.C.)

Segunda grande influência de Platão

Imobilidade radical do ser em oposição ao ‘tudo flui’ de Heráclito

Princípio de Identidade: O ser é e não pode não-ser

Ser é único, é imutável e imóvelTodo movimento e mudança é ilusão dos sentidos

A verdade é inteligível e não sensível

Page 13: Aula 2 teoria do conhecimento

Filósofos pós-eleáticos: reação contra a posição de Parmênides que, segundo eles, tornava a ciência e o conhecimento dos fenômenos naturais algo impossível.

Empédocles (490 – 430 a.C.)

O universo se constitui de quatro materiais

básicos: terra, ar, fogo e água, e eles interagem entre si, misturam-se,

somam-se ou destroem-se a partir de duas forças opostas: o amor e o ódio.

Anaxágoras (500 – 428 a.C.)

Considerava que a força geradora do cosmos era a mente, ou seja, pela mente as coisas todas teriam se separado da

massa indiferenciada da qual todas as coisas

surgiram, e isso porque a mente seria a única substância capaz de

permear e mover todas as coisas.

Page 14: Aula 2 teoria do conhecimento

Demócrito (460 – 370 a.C.)

O que existe são os corpos que ocupam espaço e se movem pelo vazio. Entende-se por corpo a partícula mínima e indivisível à qual ele chama ‘átomo’, e os corpos visíveis seriam então um conjunto desses átomos que se movimentam no vazio. Nessa perspectiva, o mundo surgiu pelo movimento dos átomos que, em suas colisões e diferentes agrupamentos foram dando origem às coisas que existem.

Page 15: Aula 2 teoria do conhecimento

O desafio cético

Como atitude filosófica, o ceticismo supõe a impossibilidade do conhecimento porque em suas investigações o cético constata que uma crença pode ser tomada por verdadeira da mesma forma que a crença contrária.

A partir desse desafio, qualquer teoria que queira falar sobre o conhecimento deve elaborar uma resposta aos desafios céticos.

Page 16: Aula 2 teoria do conhecimento

Ceticismo antigo•Nossas opiniões são meros conjuntos de crenças que são aceitas na sociedade da qual fazemos parte e que têm significado apenas no interior desse contexto específico. Não dizem respeito, no entanto, a um conhecimento ou verdade.• Para os céticos mais radicais (os pirrônicos), não apenas no conhecimento não é possível, como nossas opiniões não podem igualmente ser justificadas.• Toda justificação recai em um trilema

1. Regressão ao infinito2. Interrupção dogmática3. Círculo vicioso (falácia)

Page 17: Aula 2 teoria do conhecimento

1. Regressão infinita

• Acredito que x

Crença 1

• Acredito que x por causa de Y

Crença 2 • Acredito

em Y por causa de Z Crença

3

Page 18: Aula 2 teoria do conhecimento

2. Interrupção dogmática

Acredito que x

Crença 1

Acredito que x por

causa de y

Crença 2

“sabe-se que

y”Dogm

a

Page 19: Aula 2 teoria do conhecimento

3. Círculo vicioso

Creio que x

Creio que x por causa

de y

Creio que y por causa

de z

Creio que z por causa

de a

Creio em a por causa

de x

Page 20: Aula 2 teoria do conhecimento

Mas o ceticismo não é uma escola helenista, ou seja, não é verdade que

eles surgem apenas depois de Sócrates, Platão e Aristóteles e de todo

o período clássico? Por que então estamos falando de ‘desafio cético’ antes mesmo de falar sobre Platão?Ceticismo como escola surgiu, de fato, no período

helenista e ‘pessimista’ que se sucedeu ao auge da cultura grega do período clássico, mas a postura cética foi sem dúvida inspirada nos chamados ‘Sofistas’, que apesar de não se chamarem ‘céticos’, foram aqueles que primeiro duvidaram da existência de uma verdade única e, portanto, do conhecimento verdadeiro.

Page 21: Aula 2 teoria do conhecimento

Os sofistas

Podemos dizer que, antes mesmo da escola do Ceticismo, o desafio cético já surgia com os chamados sofistas, mais conhecidos como os grandes ‘inimigos’ de Platão.

=> Relativização da verdade

Page 22: Aula 2 teoria do conhecimento

* A verdade não é única, mas relativa àquele que a enuncia, ou seja, a verdade é relativa àquele que se coloca na posição de sujeito do conhecimento.

* Conhecimento só tem valor ‘prático’, nunca ‘teórico’, e toma-se como verdade a opinião que tem o melhor efeito ou valor na situação específica em que ela é enunciada.

Page 23: Aula 2 teoria do conhecimento

“Estou com frio” – opinião de alguém acometido de febre num contexto em que a temperatura é 37 ºC. Mas podemos dizer que é ‘falso’ que ele sente frio

embora eu esteja sentindo calor?

Qual opinião é a mais verdadeira?

Page 24: Aula 2 teoria do conhecimento

Aquele que sente calor nas mesmas condições nas quais outra pessoa sente frio, sente no entanto verdadeiramente calor, da mesma forma que o outro sente verdadeiramente frio.

E assim vemos melhor o parentesco entre os céticos e os sofistas:

- pode-se afirmar coisas contrárias sobre o mesmo objeto ou situação (céticos)

- o que é verdadeiro depende de quem enuncia ou vivencia a verdade (sofistas)

Page 25: Aula 2 teoria do conhecimento

MAS:Se do ponto de vista teórico os sofistas afirmam que todas as opiniões são igualmente verdadeiras, do ponto de vista prático, no entanto, as opiniões não se equivalem, e é precisamente por isso que algumas opiniões chamadas ‘melhores’ prevalecem às ‘piores’.

Artes valorizadas e ensinadas pelas ‘escolas’ sofistas:

RetóricaOratória

=> Ideia de que a discussão e a persuasão são importantes armas políticas

Page 26: Aula 2 teoria do conhecimento

Protágoras (491 – 400 a.C.)

“O homem é a medida de todas as coisas”

A única universalidade possível é a de todo princípio é sempre relativo.

As opiniões mudam, são variadas, contraditórias, por isso não podemos falar em algo ‘essencial’ ou ‘imutável’.

Page 27: Aula 2 teoria do conhecimento

Qual era, portanto, o grande incômodo que os sofistas despertavam em Platão?

Enquanto investigação da arte do bem agir e da postura ética, a filosofia platônica é dependente de um valor estabelecido e passível de ser conhecimento do que é o BEM (o Sol na alegoria da Caverna) para que as boas ações sejam aquelas conformes ao Bem supremo. Sem isso, o valor das ações é igualmente relativizado e não podemos falar em uma reflexão propriamente ética.

Page 28: Aula 2 teoria do conhecimento

A resposta de Platão aos sofistas/ao desafio cético do conhecimento:

Diálogo Teeteto Teeteto (o interlocutor de Sócrates) dá três respostas à pergunta de Sócrates “o que é o conhecimento?”

1. Conhecimento é sensação

2. Conhecimento é opinião verdadeira

3. Conhecimento é opinião verdadeira justificada

Page 29: Aula 2 teoria do conhecimento

1ª resposta de Teeteto: ‘Conhecimento é sensação’ uma vez que, quando conhecemos, sabemos que conhecemos.

Sócrates imediatamente identifica a afirmação de Teeteto com a tese de Protágoras ‘o homem é a medida de todas as coisas’, e isso porque aquilo que sentimos é tomado como aquilo que se nos apresenta e que podemos, portanto conhecer.

Então:- Não podemos falar em ‘percepção falsa’: assim os

estados de loucura, de doença, de deficiência não podem ser tomados como falsos ou anormais

- A consequência imediata é: não há efetivamente conhecimento algum, pois o que há é apenas a percepção e a sensação

Page 30: Aula 2 teoria do conhecimento

Sócrates: se é apenas a sensação e a percepção que importam, por que justamente o homem é que deve ser a medida de todas as coisas e não, por exemplo, o porco?

Já que não é razão que coloca o homem em um lugar privilegiado, por que então o homem e não outro animal qualquer?

Page 31: Aula 2 teoria do conhecimento

Outro argumento interessante contra a tese de que o conhecimento é sensação

A um não-falante da língua alemã um sujeito alemão dirige a seguinte frase:

Könnten Sie bitte leiser sprechen?

O não-falante teve exatamente a mesma sensação sonora que um sujeito falante teve, no entanto, para ele essa frase não significa absolutamente nada.

Se, partindo da afirmação de que conhecimento é sensação, tudo o que percebo é também conhecimento, como posso chamar de conhecimento algo que não compreendo, embora possa ouvir e ver? Desta forma, resta afirmar que ‘perceber não é conhecer’.

Page 32: Aula 2 teoria do conhecimento

‘Autodestruição’ do argumento sofista

Se todas as opiniões são verdadeiras, a opinião segundo a qual nem todas as opiniões são verdadeiras deve igual e necessariamente ser verdadeira.

E isso pode ser também expresso pelo seguinte silogismo:

Opinião de Protágoras = opinião dos outros é verdadeira

(se) opinião dos outros = opinião de Protágoras é falsa

LOGO: a opinião de Protágoras é falsa!

Page 33: Aula 2 teoria do conhecimento

Teeteto então conclui a primeira parte com a seguinte conclusão:

o conhecimento é outra coisa que a percepção.

2ª resposta de Teeteto: “Conhecimento é opinião verdadeira”, pois uma vez refutada a tese do sensualismo ligada a Protágoras e à sua tese do ‘homem medida de todas as coisas’, pode-se partir da certeza de que existem opiniões falsas.

Então, se o conhecimento é equivalente à opinião verdadeira, como explicar que existem opiniões

falsas?

Ou, qual critério devemos utilizar para diferencia-las?

Page 34: Aula 2 teoria do conhecimento

A opinião falsa, responde Teeteto, ocorre quando dizemos sobre algo aquilo que esse algo não é.

E por que fazemos isso? – Pergunta Sócrates

Porque é possível que tenhamos um conceito errado sobre determinada coisa. Quantas vezes não imaginamos algo que se mostra diferente de quando o conhecemos? Um livro, por exemplo. Por isso devemos sempre nos limitar à esfera da percepção e da experiência.

Se opinião falsa é fruto de um erro que impossibilita o conhecimento, então o conhecimento é a opinião verdadeira.

Page 35: Aula 2 teoria do conhecimento

Sócrates: opinião verdadeira (doxa) é diferente de conhecimento (episteme)Exemplo:

Antônio é o médico que tratou a doença de AdalbertoVicente é um amigo de Adalberto que observou seus sintomas e o tratamento com o qual Antônio o curou.Maria é uma amiga de Vicente que apresentou os mesmos sintomas de Adalberto.Vicente sugeriu que ela adotasse o mesmo tratamento que Adalberto. Mas, temerosa, ela resolveu chamar um médico. Este médico sugeriu o mesmo tratamento que Vicente já havia sugerido.

A opinião de Vicente é evidentemente verdadeira. Mas ela pode ser comparada à do médico?

VS.

Page 36: Aula 2 teoria do conhecimento

O Vicente evidentemente não tem o conhecimento das causas da doença de Adalberto e sua opinião verdadeira é fruto de uma experiência que, no entanto, não foi suficiente para lhe garantir o conhecimento das causas.

Então é que Teeteto nos dá sua 3ª definição de conhecimento:

Conhecimento é opinião verdadeira justificada

Page 37: Aula 2 teoria do conhecimento

Platão (427 – 347 a.C.)

Tentativa de conciliar as duas grandes tendências filosóficas que o precederam:

- O imobilismo do ser de Parmênides

- A filosofia do mobilismo universal de Heráclito

=> Teoria das ideias ou essências inteligíveis

Page 38: Aula 2 teoria do conhecimento

Primeira navegação ou “Física” [estudo da natureza]: deve seguir o caminho dos filósofos pré-

socráticos, os physikoi. Mas percebeu que as respostas permaneciam no plano do sensível e,

enquanto tal, não garantiam nenhuma espécie de conhecimento:

“Enfim, para dizer tudo, não sei absolutamente como qualquer coisa tem

origem, desaparece ou existe segundo esse procedimento metodológico.

Escolhi então outro método, pois de qualquer modo este não me serve.”

Diálogo Fédon

Page 39: Aula 2 teoria do conhecimento

Segunda navegação: transposição a uma nova realidade na qual o raciocínio supera as sensações e onde se capta o inteligível ao invés do sensível.

Page 40: Aula 2 teoria do conhecimento

Mundo inteligível ou ‘mundo das ideias’:

Domínio das chamadas ‘formas puras’ ou ‘ideias’, fôrmas inteligíveis a partir das quais as coisas sensíveis existem.Realidade transcendente que, devido à sua imutabilidade, constância e perfeição é o fundamento da realidade sensível

Page 41: Aula 2 teoria do conhecimento

O mobilismo de Heráclito que impossibi-litava qualquer tipo de conhecimento => é associado ao mundo sensível, no qual a total compreensão da realidade se mostrava impossível diante da diversidade de opinião e da eterna mudança dos seres.

O imobilismo de Parmênides, por sua vez, seria a descrição do mundo inteligível das formas puras que não se corrompem. Essa é a única causa possível do mundo sensível e imperfeito, já que a verdadeira causa não pode sofrer alterações, pois caso contrário não seria a verdadeira causa.

+

Page 42: Aula 2 teoria do conhecimento

A metáfora da linha

Sensível Inteligível

IMAGENS

Ilusão

SERES VIVOS

Crença

CIÊNCIA

Entendimento

FILOSOFIA

Inteligência

Entendimento = razão dialógica, que percorre o caminho até as Ideias ou Formas Puras.

Inteligência = razão intuitiva, que intui os princípios primeiros e supremos, como o BEM (ou o SOL na alegoria da Caverna).

Page 43: Aula 2 teoria do conhecimento

Aristóteles (384 – 322 a.C.)- Como Platão, pensa a ciência como conhecimento verdadeiro, construído a partir do conhecimento das causas- Tem por objetivo compreender a natureza do devir, da mudança e da corrupção desfazendo os mal-entendidos legados por Platão- Crítica a ideia das formas puras separadas das coisas sensíveis e traz as ideias do mundo inteligível novamente para o mundo sensível e terreno

Page 44: Aula 2 teoria do conhecimento

“Mas a dificuldade mais grave que se poderia levantar é a seguinte: que vantagem trazem as Formas aos

seres sensíveis, seja aos sensíveis eternos, seja aos que estão sujeitos à geração e à corrupção? De fato, com relação a esses seres, as Formas não são causa nem de movimento nem de

alguma mudança.” Aristóteles, Metafísica

Aristóteles tenta juntar os dois mundos separados de Platão de forma a unir a intuição intelectual às coisas percebidas pelos sentidos em uma unidade

existencial.

Page 45: Aula 2 teoria do conhecimento

Três distinções fundamentais da teoria aristotélica

1. Substância-essência-acidente

2. Forma – Matéria

3. Ato – Potência

Page 46: Aula 2 teoria do conhecimento

1. Substância-Essência-Acidente

A Substância de algo é aquilo que faz com que esse algo seja o ser específico que ele é e não outra coisa. Nesse sentido a substância aristotélica é um princípio de individuação que, ao contrário da ideia platônica, é constituinte do ser.

A metafísica de Aristóteles pode ser considerada uma busca das substâncias das coisas, sejam elas sensíveis ou suprassensíveis, ou seja, a substância pode ser a matéria, a forma, ou o composto matéria-forma.

Page 47: Aula 2 teoria do conhecimento

Substância:

- atributos essenciais => aqueles sem os quais uma substância não seria o que é. Aristóteles diria que o atributo essencial do ser humano é a racionalidade, e sem ela ele não poderia ser considerado de fato um ser humano.

- atributos acidentais => aqueles que acrescentam características às essenciais mas não alteram em nada a substância ou sua essência. Assim, o homem racional pode ser bonito, feio, alto, baixo, gordo, magro, etc. Nenhuma dessas característica pode mudar o fato de que ele é um ser humano e que é também racional.

Page 48: Aula 2 teoria do conhecimento

2. Forma-Matéria

O problema das transformações e mudanças dos seres ainda não foi resolvido com os conceitos de essência e acidente, e então Aristóteles recorre às noções de forma e matéria:

Matéria: princípio indeterminado de que o mundo físico é composto e que faz com que ele esteja sempre em transformação.

Forma: aquilo que ‘enforma’ a matéria, que a define. É o princípio inteligível, a essência comum aos indivíduos da mesma espécie.

Page 49: Aula 2 teoria do conhecimento

Exemplo da estátua

A matéria nesse caso é o mármore de que a estátua foi feita.

A forma, no entanto, é a ideia da perfeição humana que Michelangelo realiza em Davi.

Page 50: Aula 2 teoria do conhecimento

3. Ato-potênciaAs noções de matéria e forma só dão conta do problema do devir e da mudança se analisados juntamente com os conceitos de ato e potência. Potência = ausência de perfeição de um ser que é no entanto capaz de possuí-la. Potência é aquilo que existe como possibilidade para um ser, mas ainda não como atualidade. Assim, a semente de carvalho possui a árvore de carvalho em potência, mas não em ato.Ato = aquilo que existe atualmente na coisa, a potência que já foi realizada. No exemplo do carvalho, a semente passaria de potência ao ato quando finalmente fizesse brotar e crescer a árvore de carvalho.

Assim o movimento é, para Aristóteles, justamente a passagem do ato à potência, ou

potência que se atualiza.

Page 51: Aula 2 teoria do conhecimento

Ato-Potência e Forma-Matéria

A matéria (no exemplo da escultura, o Mármore) é aquilo que existe atualmente e que traz consigo a potencialidade de receber uma forma (Davi). Uma vez realizada a escultura, o antigo bloco de mármore será agora Davi em ato, mas continuará sendo em potência uma infinidade de outras coisas.

Temos três consequências fundamentais dessa estrutura do conhecimento:1. Há conhecimento tanto do sensível quanto do

inteligível2. As noções de forma e potência estão na base da

ética aristotélica3. Deus é concebido como puro ato, ou seja, como

perfeição à qual nada pode ser acrescentada.

Page 52: Aula 2 teoria do conhecimento

Os dois tipos de conhecimento em Aristóteles

1. Conhecimento sensível2. Conhecimento inteligível

Ao fazer a experiência de diversas coisas das quais temos o conhecimento sensível, nossa alma sensitiva representa esses estímulos recebidos dos sentidos na memória e, pelo intelecto, podemos abstrair as características acidentais para buscar aquilo que há de comum na essência de cada coisa. Esse é o conhecimento inteligível porque ele lida com conceitos universais abstraídos da experiência das coisas sensíveis.

Page 53: Aula 2 teoria do conhecimento

As noções de forma e potência na base da ética aristotélica

Se a forma do ser humano é a sua racionalidade, e se o fim último da vida humana, enquanto humana, é a busca pela felicidade, então a felicidade existe no homem enquanto potência que deve ser atualizada à medida em que o homem age virtuosamente, i.e., em concordância com a sua racionalidade. A vida eudaimônica, podemos concluir, é a atualização (a realização da potência) da forma ‘humana’ na matéria que é o humano individual.

Page 54: Aula 2 teoria do conhecimento

Deus é concebido como puro ato, ou seja, como perfeição à qual nada pode ser acrescentada.

Tudo que se move tem como causa motriz o movimento de algo anterior a ele, que por sua vez tem de ter outra causa motriz anterior e assim por diante. Qual é a causa do movimento (e, consequentemente, da atualização) de todos os seres?

Aristóteles reconhece que é preciso que exista algo que seja o precursor absoluto de todo o movimento existente. Este, por sua vez, será necessariamente imóvel, pois caso contrário, algo anterior a ele deverá ser responsabilizado por seu movimento. Mas postular o primeiro motor como um Primeiro Motor Imóvel se equivale a considerar que todas as suas possibilidades, diferentemente de existirem, já se encontram efetivadas, ou seja, que ele seja o próprio ato plenamente realizado em todas as suas potências.

Page 55: Aula 2 teoria do conhecimento

A necessidade da lógica

Ciência = conhecimento das causas, ou seja, do ‘por que’ das coisasA ciência é verdade demonstrada

O instrumento usado para a demonstração é o silogismo científico, que é um raciocínio composto de premissas, no mínimo duas, uma denominada ‘maior’ e outra ‘menor’, e por uma conclusão que é inferida dessas premissas.

As premissas devem ser indemonstráveis ou devem derivar de premissas indemonstráveis. Assim, quando afirmamos que ‘todo homem é mortal’ não precisamos demonstrar o fato de que homens são mortais porque isso se baseia em nossa experiência de que nunca houve um homem que não fosse mortal. Se um homem se provar imortal, então essa frase não poderá mais ser uma premissa, e os silogismos nela baseados serão todos falsos.

Os princípios são indemonstráveis porque são a razão da demonstração de determinadas conclusões.

Page 56: Aula 2 teoria do conhecimento

Modus Ponens1. p => q2. p q 1. Se há fumaça, há fogo2. Há fumaça3. Então há fogo 

Silogismo disjuntivo1. p q 2. ~ p q 1. O filósofo usa óculos ou tem barba2. O filósofo não tem barba3. Então o filósofo usa óculos 

Simplificação1. p q p  1. O rapaz é bonito e simpático2. Então o rapaz é bonito 

Modus Tollens1. p => q2. ~ p q  1. Se há fumaça, há fogo2. Não há fogo3. Então não há fumaça  

Dilema construtivo1. (p => q) (r => s)2. p r q s 1.Todo grego é matemático e todo roqueiro é gordo2. Ajax é grego ou é roqueiro3. Então Ajax é matemáticoou gordo 

Conjunção1. p2. q p q  1. Gosto de maça2. Gosto de melancia3. Então gosto de maça e de melancia 

Silogismo hipotético1. p => q2. q => r p => r 1. Se todos os homens são mortais2. Se Sócrates é mortal3. Então Sócrates é homem 

Dilema destrutivo1. (p => q) (r => s)2. ~ q ~s

~ p ~ r 

1. Todo grego é matemático e todo roqueiro é gordo2. Ajax não é nem matemático nem gordo3. Então ele não é nem grego nem roqueiro 

Adição1. p p q 1. O rapaz é bonito2. Então ele é bonito e é médico

Page 57: Aula 2 teoria do conhecimento

A TEORIA DO CONHECIMENTO MODERNA

Page 58: Aula 2 teoria do conhecimento

Ciência Medieval

- Modelo Aristotélico de conhecimento

Ciência Moderna

- Contestação de diversos dogmas da Igreja Católica

- Protestantismo

- Descoberta científicas

- Galileu e o heliocentrismo

Page 59: Aula 2 teoria do conhecimento

Cosmos Aristotélico:Os espaços ordenados entre os Céus . Mundo superior dos céus, perfeito e finito, fechado e acabado, do qual o mundo da Terra era apenas a parte inferior e corruptível, mas enquanto tal ainda parte do sistema, do Cosmos.

Universo Infinito de Galileu:- Onde estamos?- Para onde vamos?- Quem somos?

Page 60: Aula 2 teoria do conhecimento

Alguns pensadores da época (dentre os quais principalmente Montaigne) levaram adiante o clima

de contestação e criaram um novo clima de ceticismo, ora afirmando a incerteza do

conhecimento, ora concluindo que tudo se refere a costumes, valores, superstições. As ideias nada seriam que meras opiniões sem fundamento.

Page 61: Aula 2 teoria do conhecimento

René Descartes (1596- 1650)

Page 62: Aula 2 teoria do conhecimento

- Desconstrução do conceito fundamental da concepção medieval de forma substancial, baseada na teoria aristotélica, no qual a forma é ato constitutivo da substância ou ato pelo qual a substância existe.

- Procedimento: Dúvida Hiperbólica

Consiste em colocar em suspensão todas as crenças de uma só vez, a fim de buscar as bases seguras do conhecimento;Tem por objetivo separar a parte indubitável do conhecimento para salva-lo

- da fraqueza e debilidade dos nossos sentidos- da autoridade dos pais e preceptores

(referência às escolas medievais)

Page 63: Aula 2 teoria do conhecimento

Ao suspender tudo o que pode nos conduzir o erro, seremos capazes de estabelecer os fundamentos firmes e incontestáveis do conhecimento. Características da Dúvida hiperbólica:

1. distingue-se da dúvida vulgar pelo fato de ser fruto de uma decisão, e não de uma experiência – postura ativa, dúvida como exercício;

2. é hiperbólica, ou seja, é sistemática/metódica e generalizada/radical;

3. trata todas as coisas duvidosas como falsas. 

Page 64: Aula 2 teoria do conhecimento

=> a dúvida recai sobre os princípios sobre os quais se apoiam nossas crenças (alicerce cai e leva junto todo o edifício, ou seja, todas as crenças).

1º grau da dúvida: o erro dos sentidos - Os sentidos podem nos levar a julgar como verdadeiro e real o que não passa de delírio, como acontece com os loucos que de fato veem-se cobertos de ouro quando estão nus.

2º grau da dúvida: argumento do sonho - Se estende a todo o conhecimento sensível e a seu conteúdo, pois não há quaisquer indícios nem marcas indubitáveis capazes de distinguir o sono da vigília.

3º grau da dúvida: argumento que estende a dúvida ao valor objetivo das essências matemáticas – O gênio MalígnoUma vez que Deus é onipotente, é possível que ele nos engane. Ainda que essa suposição pareça antinatural, ela tem valor apenas metodológico, uma vez que a consideração da bondade de Deus por si só não é suficiente para invalidá-la e, portanto, ela deve ser colocada igualmente em suspensão.

Page 65: Aula 2 teoria do conhecimento

Conquista da primeira certeza

Seguindo o princípio do apoio de Arquimedes, Descartes vai buscar aqui a primeira certeza, capaz de inaugura ar cadeia de razões. Assim: 1. No ponto em que estou não poderia ter a certeza da

existência de algum Deus? Não, nada o exige;

2. Não posso evocar a certeza de minha existência como indivíduo, como sujeito concreto? Não, nada o permite porque pus em dúvida todas as coisas concretas que há no mundo.

3. Mas, aquém da minha existência concreta como indivíduo, há algo capaz de resistir a toda dúvida e, igualmente, a toda ameaça do gênio maligno?

Page 66: Aula 2 teoria do conhecimento

Duvido, logo penso

Penso, logo sou

A proposição eu sou, eu existo é necessariamente verdadeira todas as vezes que a enuncio ou que a concebo atualmente em meu espírito. A natureza deste Eu-existente é apenas a de existir atualmente enquanto pensa, duvida, sente, etc. E ela é verdadeira ainda que exista um gênio maligno, pois só posso ser enganado se sou alguma coisa.

Page 67: Aula 2 teoria do conhecimento

Descartes admite que o espírito tem ideias inatas, nascidas juntamente com nossa mente, e essas ideias são as únicas que nos fornecem certeza absoluta, sobre a qual podemos sustentar posteriormente as certezas adventícias ou empíricas, ou seja, as ideias que formamos a partir da experiência e dependem da nossa percepção sensível.

Page 68: Aula 2 teoria do conhecimento

Contraposição à essa ideia:

John Locke (1632 – 1704)

Ideia da tábula rasa, ou de que nossa mente é como um papel vazio no qual a experiência vai imprimindo marcas.Todas as ideias vêm da experiência

Page 69: Aula 2 teoria do conhecimento

David Hume (1711 – 1776)

Page 70: Aula 2 teoria do conhecimento

* Hume rejeita a posição de Locke de que todas as nossas ideias vêm do exterior e da experiência. O exemplo mais comum é o do conceito de causalidade. Como podemos adquirir esse conceito do mundo sensível, considerando que ele não é uma coisa ou outra mas a ligação (invisível) entre duas?* Hume não concorda tampouco com Descartes e não acha que o conceito de causalidade seja inato, ou seja, tenha nascido juntamente com a nossa mente.

Como Hume entende, portanto, a origem das nossas ideias ‘abstratas’ e como o conhecimento delas é possível?

Page 71: Aula 2 teoria do conhecimento

Todas as nossas operações mentais ou ideias têm sua origem em impressões. As impressões podem ser uma representação de algo que existe na realidade, mas pode ser também um sentimento.Assim, eliminar as ambiguidades de uma ideia ou ‘justificar’ uma ideia é algo que só pode ser feito se traçarmos o caminho inverso das operações mentais até encontrarmos a impressão ou sentimento da qual a ideia é cópia.

Ideia de causalidade

Experiência da ligação

causa-efeito

Impressão de que x segue-se sempre a

yImpressão de que x segue-se sempre a

yExperiência da ligação

causa-efeito

Impressão de que x segue-se sempre a

y

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Immanuel Kant (1724 – 1804)

Page 73: Aula 2 teoria do conhecimento

Posição intermediária entre o Racionalismo (Descartes) e o Empirismo (Locke e Hume)

O conhecimento começa com a experiência mas só pode se tornar ‘conhecimento’ porque nosso aparato cognitivo é capaz de elaborar conceitos independentemente da experiência.

E mesmo para a experiência nosso aparato racional e cognitivo é dotado de princípios que a organizam e as tornam passíveis de serem percebidas.

1. Sensibilidade2. Entendimento3. Razão

Nosso aparato cognitivo se divide em três momentos:

Page 74: Aula 2 teoria do conhecimento

Revolução copernicana no conhecimento

Mudança de perspectiva: ao invés do sujeito ir até os objetos, são os objetos agora que gravitam em torno no sujeito do conhecimento.

Page 75: Aula 2 teoria do conhecimento

Os objetos são percebidos em conformação com os órgãos de percepção do sujeito.

SensibilidadeConceitos da sensibilidade: espaço e tempo=> dão a forma ‘perceptível’ dos objetos. Se eles

são efetivamente assim, não temos como saber. Tudo o que temos é a aparência das coisas (fenômeno), e não as coisas como elas são em-si.

Entendimentoconceitos que se aplicam ao material da

sensibilidadeConceitos do Entendimento: quantidade,

qualidade, relação, etc.

RazãoSeus conceitos se aplicam aos conceitos do

Entendimento apenas. Se se aplicarem ao material da sensibilidade, eles serão a causa de muitos erros.

Conceitos da Razão: Liberdade, Imortalidade da Alma, Deus

Page 76: Aula 2 teoria do conhecimento

O preço a pagar pela sistematização do conhecimento kantiana:

[Oposição entre Fenômeno e Coisa-em-si]

Estruturas do connhecimento:Espaço + Tempo

Conceitos do Entendimento

Page 77: Aula 2 teoria do conhecimento

?

O que acontece com a coisa-em-si?Não podemos saber, pois toda informação que recebemos do mundo já recebe uma configuração específica ao ser humano, que é adequada à sua racionalidade.

Page 78: Aula 2 teoria do conhecimento

TEORIA DO CONHECIMENTO CONTEMPORÂNEA

Page 79: Aula 2 teoria do conhecimento

As principais correntes da epistemologia contemporânea

Dentre os problemas centrais postos para as teorias

contemporâneas, destaca-se o problema da justificação de crenças, uma

vez que, como já propusera Teeteto, ‘conhecimento é opinião verdadeira

justificada’.

Page 80: Aula 2 teoria do conhecimento

De acordo com essa definição de conhecimento temos então três condições necessárias e (supostamente) suficientes para definir uma crença como crença justificada e, portanto, como conhecimento:

1. A verdade da proposição é conhecida; 2. Há uma crença do agente doxástico nessa

proposição; 3. O agente doxástico está justificado ao crer na

proposição.

CRENÇAS VERDADES

CONHECIMENTO

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A partir da década de 70 duas principais correntes da epistemologia são formadas:

1. Teorias Doxásticasa.Fundacionismob. Coerentismo

 

2. Teorias Não-doxásticasa. Internalismob.Externalismo

Page 82: Aula 2 teoria do conhecimento

Teorias doxásticas

A justificação é uma função exclusiva do sistema de crenças e opiniões (daí o nome: doxa significa ‘opinião’ em grego) que um sujeito S sustenta. A ideia é de que por estar necessariamente amarrado em um sistema de crenças, quando tentamos justificar uma determinada crença automaticamente recorremos a uma segunda, e assim sucessivamente.

Page 83: Aula 2 teoria do conhecimento

FundacionismoHá um forte apelo à ciência cognitiva, segundo a qual o conhecimento tem como base os sentidos, as percepções, que são a base da nossa relação com o mundo e que constituem as nossas crenças mais primitivas

Crenças inferenciais

Crenças fundacionaisBásicas/simples

Page 84: Aula 2 teoria do conhecimento

As crenças fundacionais ou básicas são formadas a partir da nossa experiência e, tal como a proposição “todo homem é mortal”, elas são constatações feitas a partir do mundo sensível que não podem ser refutadas.

Crenças fundacionais=> Privilégio Epistêmico=> Serve de justificação para as crenças

inferenciais• Creio que x

Crença inferencial

1

• Creio que x por causa de y

Crença inferencial

2 • Sabe-se que y

Crença fundacional

Page 85: Aula 2 teoria do conhecimento

Opositores do Fundacionismo colocam as

seguintes objeções:

1. O que significa essa ‘auto justificação’ das crenças simples e como ela de fato acontece (podemos pensar aqui nos casos de doença, delírio, deficiência, etc.)?

2. Como se dá a ascensão epistemológica das crenças simples às complexas?

Page 86: Aula 2 teoria do conhecimento

Coerentismo

O ponto de vista do sistema de crenças encontrado no Fundacionismo é mantido. Entretanto, para os Coerentistas não há uma hierarquia de crenças que possa estabelecer a base de todo um sistema de crenças, como ocorre no Fundacionismo. Não há, portanto, nenhuma possibilidade de apelar às crenças simples e diretamente derivadas das experiências.

Page 87: Aula 2 teoria do conhecimento

Como, então, as crenças são justificadas no Coerentismo?

o Coerentismo aposta que a justificação de crenças é possível se há uma conexão coerente entre elas. O apelo se dirige aqui ao sistema de crenças como um todo e, nesse sentido, uma crença é justificada não mais por uma crença mais básica mas pela coerência que ela é capaz de estabelecer com o todo das demais crenças constitutivas do sistema ao qual ela pertence.

As crenças se agrupam em sistemas dentro dos quais elas podem até mesmo parecer mais ou menos evidentes. Não no entanto a concepção de crença básica nem nada que não necessite de justificação

Page 88: Aula 2 teoria do conhecimento

O principal problema enfrentado pelas teorias coerentistas é o questionamento acerca do que conta como coerência no

interior do sistema. É preciso estabelecer um critério de

coerência, porque este não é um conceito livre de dificuldades.

Page 89: Aula 2 teoria do conhecimento

Teoria não-doxásticasSão assim chamadas as teorias que defendem que outros elementos além de crenças devem ser considerados numa justificação possível para o conhecimento. Para os seus representantes, portanto, o sistema de crenças por si só não é capaz de justificar as crenças que o compõem. Duas são as correntes principais:

- Internalismo- Externalismo

Page 90: Aula 2 teoria do conhecimento

Internalismo

Laurence BonJour

Assumem traços do fundacionismo ao adotar a ideia de crenças básicas mas em geral rejeitam a ideia de que por si só uma crença básica pode justificar todo um conjunto de crenças inferenciais.

Page 91: Aula 2 teoria do conhecimento

* Os internalistas diferenciam o ‘estado perceptivo’ da ‘crença no estado perceptivo’. Isso significa que a sensação de ver a cor vermelha é diferente da preposição ‘acredito que vejo a cor vermelha’. No caso de um daltônico, essa proposição tem uma grande chance de ser falsa. Isso significa que, para justificar uma crença, não é suficiente que essa crença esteja fixada mas, ainda, é necessário que ela seja percebida como ‘crença fixada’ pelo agente doxástico.

* Afirma-se então que as crenças básicas como a crença que p ou a crença de que essa maçã é vermelha não são justificadas por outras crenças mas por outros elementos não-doxásticos, ou seja, não relacionados à crença ou à opinião, como a evidência, a situação descrita, etc.

Page 92: Aula 2 teoria do conhecimento

Externalismo

Rejeição da ideia de que a mera crença ou estado interno do sujeito seja suficiente para justificar sua opinião.

Banimento da questão da justificação por crenças => o conhecimento e a justificação tornam-se problemas externos ao sujeito.

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“Como responsabilizar alguém por crer ou deixar de crer numa proposição qualquer se a justificação – ou a falta dela –, não apenas lhe pode ser inacessível, mas é francamente assumida como algo que nada tem a ver com a subjetividade?” (Júlio César Burdzinski - “Os problemas do fundacionismo contemporâneo”).

Assim, se o exame das condições externas de conhecimento leva à afirmação da verdade da proposição, então a crença está justificada. Em caso negativo, a justificação não é possível. A justificação é inteiramente retirada do âmbito do sujeito e de seus ‘estados internos’ e é colocada na configuração do mundo que atualmente se apresenta.

Page 94: Aula 2 teoria do conhecimento

Quine e a epistemologia naturalizada

Quine quer mostrar que o problema do significado tem predominância sobre o problema da verdade. No caso de proposições metafísicas, não se pode dizer de sua verdade, mas podemos julga-las em termos de um significado melhor ou mais proveitoso, daí a vantagem em relação ao problema da verdade.

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FIM