ashbel green simonton - tiago watanabe

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Ashbel Green Simonton deixou um legado de pioneirismo: fundou a primeira Igreja Presbiteriana, formou o primeiro seminário evangélico, implantou o primeiro jornal protestante da América Latina. Sua vida tornou-se um exemplo de fiel, pastor e missionário: um modelo inspirador! Tanto prestígio se reflete no número de obras publicadas sobre ele. O entendimento sobre quem foi Ashbel Green Simonton e a sua importância têm, no entanto, oscilado conforme o período histórico, a situação do campo religioso brasileiro e as configurações políticas. O que Simonton representa para os dias de hoje e por que tanto interesse e admiração por esse pioneiro do protestantismo brasileiro?

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© Editora Novos Diálogos, 2012

Equipe EditorialClemir Fernandes | Flávio Conrado | Wagner Guimarães

Capa e DiagramaçãoOliverartelucas

Grafia atualizada respeitando o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.Publicado no Brasil com autorização e com todos os direitos reservados.

Editora Novos DiálogosRua Conde de Bonfim, 125 - C.02Tijuca - Rio de Janeiro - RJCEP 20.520-500Site: www.novosdialogos.comTwitter: @NovosDialogosFacebook.com/novosdialogos

A Coleção Perfis Protestantes conta com o apoio da Associação Basiléia, uma organização sem fins lucrativos que apóia pessoas e projetos por meio da assistência social, do apoio missionário, da publicação e da educação. A Basiléia organiza e matém um acervo de fontes e documentos sobre a me-mória do protestantismo brasileiro, situado na cidade de Campinas. Para contatos:[email protected].

Dados Catalográficos

Watanabe, Tiago Hideo Barbosa Ashbel Green Simonton : peregrino em terras tropicais? / Tiago Hideo Barbosa Watanabe .- Rio de Janeiro: Novos Diálogos, 2012.

116p. ; 18cm. – ( Perfis protestantes).

ISBN: 978-85-64181-21-2 1. Simonton, Ashbel Green, 1833- 1867 ---- Biografia. 2. Biografia cristã. I. Título. II. Série.

CDD 922.5

Índice para catálogo sistemático:1. Biografia religiosa: 922

W 314a

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Sumário

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

Capítulo 1Em direção ao sul do país e do mundo . . . . . . . . . . . . . 17

Capítulo 2O Brasil que Simonton imaginava encontrar e o Brasil que Simonton encontrou . . . . . . . . . . . . . . . . 35

Capítulo 3Simonton, o Brasil e os brasileiros (1862-1867) . . . . 63

Capítulo 4Quem foi Simonton? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

Referências bibliográficas e fontes analisadas . . . . . . . 93

Cronologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101

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ApreSentAção

Presente desde a primeira metade do século deze-nove — através de imigrantes luteranos alemães e

anglicanos ingleses —, o protestantismo se enraizou no país através de diferentes e diversas denominações, mis-sões e instituições. Recentes pesquisas já falam de uma comunidade de mais de 30 milhões de evangélicos espa-lhados por todo o território brasileiro. Seu dinamismo é responsável por uma presença cada vez mais destacada na mídia, na política, nos esportes, na ação social etc., e cresce cada vez mais o interesse de diferentes setores da sociedade nas dimensões organizativas, doutrinárias e históricas do protestantismo brasileiro.

Apesar desse crescente interesse, muito pouco se pu-blicou de forma acessível ao grande público sobre a his-tória do protestantismo brasileiro. Desse modo, tem-se a impressão de que o protestantismo tem pouca ou ne-nhuma herança histórica no nosso país, perdendo-se de vista sua rica e importante contribuição na construção

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da nação brasileira. Para as comunidades protestantes, o desconhecimento ou esquecimento de importantes eta-pas e (des)caminhos cria espaço para que se reproduza o velho adágio de que ao esquecermo-nos do passado nos condenamos a repetir os seus erros.

Nesse contexto, a Coleção Perfis Protestantes pre-tende criar um espaço para a recuperação e rememora-ção histórica de modo que tanto a sociedade quanto a Igreja Evangélica brasileiras possam compreender o que singulariza e caracteriza o protestantismo no país na perspectiva de toda a sua trajetória.

A Editora Novos Diálogos, em parceria com a As-sociação Basiléia, buscou profissionais que se dedicam academicamente ao tema a fim de possibilitar o acesso do grande público a esse rico material ainda pouco co-nhecido. A escolha de perfis biográficos e o formato de bolso segue a lógica de que esse gênero literário consa-grado — a biografia — combinado a um formato leve mas não menos embasado na pesquisa histórica — o livro de bolso — têm a capacidade de atrair leitores e leitoras para a fascinante jornada de missionários e mis-sionárias, pastores e pastoras, musicistas, compositores, educadores e educadoras, literatos e outros profissio-nais que assumiram a herança protestante em terras bra-sileiras.

Esperamos que a Coleção Perfis Protestantes ajude a recompor, através de perfis biográficos de pessoas e movimentos da trajetória histórica do protestantismo,

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um panorama amplo de sua implantação, consolidação e desenvolvimento na vida social e cultural de nosso país nos séculos 19 e 20.

Os editores.

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introdução

Quem sabe direito o que uma pessoa é?Antes sendo: julgamento é sempre defeituoso, por-

que o que a gente julga é o passado.Mas, para o escriturado da vida, o julgar não se dis-

pensa; carece? Lei é lei? Loas!Quem julga, já morreu. Viver é muito perigoso,

mesmo.

— João Guimarães Rosa

Ashbel Green Simonton é lembrado por uma pe-quena parcela dos brasileiros como um dos már-

tires ou ícones dos primeiros evangélicos no Brasil. Sua imagem é a de um jovem bonito, elegante, culto, ma-rido carinhoso, de família prestigiada, que resolveu se aventurar em um país absolutamente distinto do seu: o Brasil. Na sua curta vida, passou por privações, perdeu sua esposa no parto da sua única filha, morreu longe da

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família, distante de seu país natal, vítima de uma doença tropical. Em poucos anos, Simonton deixou um legado de pioneirismo: fundou a primeira Igreja Presbiteriana, formou o primeiro seminário evangélico, implantou o primeiro jornal protestante da América Latina. Além disso, converteu fiéis e foi considerado sem máculas, sem polêmicas ou “desvios” de comportamento que pu-dessem questionar a integridade da sua origem evangé-lica e presbiteriana, em especial.

A vida de Simonton tornou-se um exemplo de fiel, pastor e missionário: um modelo inspirador! Tanto prestígio se reflete no número de obras publicadas so-bre ele. Simonton é o presbiteriano mais biografado e é, seguramente, uma das personalidades protestantes mais estudadas no Brasil. Ao menos cinco biografias e inú-meros trechos de livros dedicam a ele um lugar especial até o momento. Se já existem tantos livros, qual o moti-vo de escrever mais um? Levantar mais dados heróicos sobre esse homem singular? Seria ainda o tentador e co-mercial caminho de desconstruir um mito, mostrando fatos pouco lisonjeiros, mazelas e desvios de caráter do personagem a fim de dar a ilusão de, ao “destruir” um mito, se chegar à verdade dos fatos?

Os historiadores têm debatido ultimamente sobre como biografar alguém sem necessariamente endeusar ou, literalmente, construir personagens caricaturados e carregados de defeitos e problemas. Dentre as teorias, muitos historiadores concordam que a melhor maneira

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de conhecer a vida de uma pessoa é mostrar a multiplici-dade de um indivíduo interligada às muitas características da sociedade em que ele viveu. Parte-se do princípio de que todo ser humano carrega consigo várias formas de se relacionar com o mundo e a vida não é um todo linear, coerente, tal como uma trajetória reta. As pessoas agem todo o tempo de forma diferente e não somos — homens e mulheres de carne e osso — iguais a uma personagem de novela: apenas bons ou maus, engraçados ou mal hu-morados, covardes ou corajosos, sinceros ou honestos.

Dessa forma, o objetivo desse perfil biográfico sobre Ashbel Simonton é mostrá-lo com as marcas do seu tem-po e da sociedade em que viveu. Ele viveu em um período de muitas transformações políticas, econômicas, religio-sas, culturais e sociais, tanto na sua terra natal, os Estados Unidos, quanto no Brasil, terra que escolheu — e foi es-colhido — para trabalhar. Como se trata de um livro de história, partiremos do princípio de que Simonton não era um homem sobrenatural e o seu voluntarismo e ab-negação não eram resultado apenas de uma vontade in-dividual, mas de um contexto específico. Diferentemente das biografias já existentes sobre ele, entendemos que sua vida não estava traçada desde o seu nascimento e as suas atitudes não são próprias de alguém que extrapolou o seu tempo. A maior parte de suas ações e realizações estavam em conformidade com seu contexto.

Para escrever esse livro, usamos como fonte de pes-quisa as biografias e perfis biográficos sobre Simonton,

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livros a respeito do contexto norte-americano e brasilei-ro, documentação de outros missionários protestantes contemporâneos, relatórios pastorais, seus sermões e diário. Não tivemos acesso a um importante acervo de cartas e manuscritos disponíveis no Arquivo da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, problema comum a todas as biografias já escritas.

Organizaremos o livro em quatro capítulos. No pri-meiro capítulo, vemos um jovem que, como centenas de norte-americanos dos anos 1850, adotou uma atitude relativamente comum e prestigiada nos Estados Unidos: sair do local de nascimento e partir rumo à aventura e ao desconhecido. Simonton pretendia ser reconhecido e encontrar sentido para sua própria vida, assumindo a tarefa de levar o protestantismo para o exterior. Junto com ele, saíam dos portos norte-americanos centenas de jovens em busca de riqueza, oportunidades, conhe-cimento e aventureiros desejosos de conhecer novos lugares. Tratava-se de um momento de oportunidades infinitas no exterior.

Seu desejo de ser pastor e missionário ocorreu quan-do imensas massas urbanas e rurais norte-americanas confessavam seus pecados em reuniões emocionais que levavam ao comprometimento com uma vida regrada e vigiada pelas autoridades religiosas. Essa fase mostra que ele saiu dos Estados Unidos pensando encontrar um povo amistoso, hospitaleiro e tendo em mente que seria uma espécie de conquistador e venceria facilmente

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tudo e todos. Simonton também chegou ao Brasil em um período de muitas mudanças e se aproveitou de bre-chas em um sistema político-religioso em crise, o final do Império.

No segundo capítulo, conheceremos a capacida-de intelectual e política do missionário presbiteriano frente às autoridades do mundo religioso, econômico e político brasileiro. Simonton procurou construir uma rede de amizades para desenvolver seu trabalho nos dois primeiros anos. Trata-se de um período de experiência: estar em um país desconhecido, viver dificuldades de adaptação ao Brasil, conhecer os muitos limites que a sociedade brasileira impunha à implantação do protes-tantismo, bem como as possibilidades efetivas de início de um trabalho missionário entre os nacionais.

No terceiro capítulo, veremos algumas das realizações desse jovem norte-americano. Aqui será possível visuali-zar as estratégias, planos e realizações de Simonton e de outros missionários bem como as muitas reações da po-pulação brasileira. Os conflitos com a cultura religiosa ca-tólica se tornam evidentes. Veremos também algumas pe-culiaridades da sua biografia nos seus anos mais difíceis, e procuraremos mostrar como ele procurou entender seus conflitos existenciais e profissionais. Nesse capítulo eluci-damos o porquê do subtítulo do livro.

No quarto e último capítulo do livro mostraremos como as gerações posteriores interpretaram Simonton. Procuraremos elucidar porque Simonton foi e ainda é

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considerado um pastor exemplar e um modelo de mis-sionário presbiteriano. Tentaremos juntar alguns frag-mentos e responder a última pergunta que perpassará todo o texto: afinal de contas, o que Simonton represen-ta para os dias de hoje e por quais motivos ele tem sido alvo de lembrança e reflexão?

A escrita do livro foi pendular: ora narrativo, detido na trajetória biográfica de Simonton; ora reflexivo, com questionamentos a respeito dessa mesma trajetória. Optamos por esse caminho para que o leitor conheça não apenas o personagem, mas também as dificuldades que os estudiosos do protestantismo brasileiro têm en-frentado em suas pesquisas. Com isso, queremos deixar claro que ainda existe uma vasta documentação a ser ex-plorada e um grande número de perguntas para serem respondidas. Nosso conhecimento sobre Simonton e sobre o protestantismo brasileiro está ainda em um es-tágio inicial.

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CApítulo 1

em direção Ao Sul do pAíS e do mundo

Ashbel Green Simonton era o filho mais novo de nove irmãos do casal William Simonton e Martha

Snodgrass Simonton. Nasceu em 1833, no próspero es-tado norte-americano da Pensilvânia. Seus avôs tinham ofícios prestigiados nos Estados Unidos. John Simon-ton, seu avô paterno, era um irlandês, criado por um tio e formou-se às duras penas em Medicina. Já o seu avô materno, John Snodgrass, era pastor protestante e um orador eloquente, pregador que “jamais utilizara uma expressão gramaticalmente incorreta no púlpito”. O avô possuía uma voz forte e pregava sem recorrer à leitura dos sermões, habilidade que Ashbel tentou desenvolver anos depois no Brasil, sem muito sucesso. John Snod-grass foi responsável pela orientação religiosa de todos

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os Simontons e da igreja de Hanover, local onde Ashbel passou a infância e parte da juventude.

O pai de Ashbel, William, fora um homem de muita notoriedade. Em primeiro lugar, por seguir o ofício do pai, estudando Medicina na Universidade da Pensilvâ-nia. Era um dos poucos médicos do condado de Dau-phin e percorria longas distâncias a cavalo, junto com seu primo, para atender uma vasta população enferma. Pelos serviços prestados, acabou ganhando fama e foi indicado pelo Partido Whig para ser deputado na Câ-mara Federal norte-americana. William foi eleito em 1839 e exerceu dois mandatos consecutivos, represen-tando os condados de Dauphin e Lebanon, no estado da Pensilvânia. Os dois ofícios, o de médico e de depu-tado, faziam dele um pai prestigiado, respeitado, mas ausente devido às sucessivas viagens para Washington e o exercício da Medicina. Ashbel ficou mais próximo do pai quando ele adoecera, em 1844, acompanhando de perto sua doença nos últimos três anos de vida. Seu pai presenciou os espinhosos debates no Congresso ameri-cano relativos à escravidão, sendo a favor da abolição da escravatura nos Estados Unidos.

A maior presença em sua casa era a de sua mãe, Mar-tha, filha do pastor local, o reverendo James. Tratava-se de uma mulher austera e muito religiosa. Em 1846 os Si-montons ficaram sob sua liderança, depois que William morreu. Ashbel perdeu o pai aos 13 anos, quando ele e seus quatro irmãos mais novos não tinham concluído os