artigo - fatores motivacionais de adolescentes para a prática orientada do voleibol - versão final

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FATORES MOTIVACIONAIS DE ADOLESCENTES PARA A INICIAÇÃO E A PERMANÊNCIA NA PRÁTICA ORIENTADA DO VOLEIBOL Leandro Pereira da Silva 1 Fernando Guilherme Priess 2 RESUMO O voleibol é uma modalidade esportiva bastante popular que possui vários adeptos no Brasil e no mundo. Diante dessa realidade, o presente estudo teve como objetivo analisar os principais fatores motivacionais de adolescentes para a iniciação e a permanência na prática orientada do voleibol. Procurou-se averiguar os motivos da escolha da modalidade, os objetivos pretendidos na iniciação e as condições que dão motivação para os adolescentes continuarem no meio esportivo. A amostra foi constituída por 66 adolescentes, com idade de 10 a 19 anos, praticantes de voleibol que frequentam programas de treinamento da modalidade no município de Foz do Iguaçu, sendo 42 participantes do gênero masculino e 24 do feminino. Os resultados obtidos por meio de uma pesquisa de campo mostraram que a indicação de amigos, com 50,0% dos apontamentos, prevalece entre os fatores de influência para o ingresso dos adolescentes no esporte. Os objetivos com a iniciação da prática orientada mais evidentes foram tornar-se um atleta profissional, com 50,0% das indicações, e aprender as regras e os fundamentos do esporte/desenvolver habilidades, com 39,3%. Quanto à permanência, destacou-se amizade e bom relacionamento com o professor, apontado por 34,1% dos adolescentes como o fator motivacional mais importante. O estudo servirá de suporte para profissionais da Educação Física Escolar, técnicos, atletas e estudiosos da área que frequentemente lidam com desafios envolvendo a motivação dos praticantes. Palavras-chave: Voleibol Adolescentes Fatores motivacionais. INTRODUÇÃO O voleibol é um esporte coletivo praticado em muitos países por pessoas das mais diversas etnias, classes sociais, religiões e faixas etárias. Na maioria dos casos de iniciação no esporte, a prática é orientada para o público adolescente. Os professores que ensinam os fundamentos técnicos e táticos do voleibol para iniciantes realizam um trabalho que requer paciência e compreensão, pois a execução eficaz dos movimentos específicos da modalidade exige habilidades motoras refinadas de seus jogadores. Devido a essa exigência, o aprendizado do desporto torna-se 1 Acadêmico do Curso de Educação Física da Faculdade União das Américas UNIAMÉRICA. 2 Professor Orientador do Trabalho de Conclusão de Curso de Educação Física da Faculdade União das Américas UNIAMÉRICA.

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Page 1: Artigo - Fatores motivacionais de adolescentes para a prática orientada do voleibol - versão final

FATORES MOTIVACIONAIS DE ADOLESCENTES PARA A INICIAÇÃO E A

PERMANÊNCIA NA PRÁTICA ORIENTADA DO VOLEIBOL

Leandro Pereira da Silva1

Fernando Guilherme Priess2

RESUMO

O voleibol é uma modalidade esportiva bastante popular que possui vários adeptos no Brasil e no mundo. Diante dessa realidade, o presente estudo teve como objetivo analisar os principais fatores motivacionais de adolescentes para a iniciação e a permanência na prática orientada do voleibol. Procurou-se averiguar os motivos da escolha da modalidade, os objetivos pretendidos na iniciação e as condições que dão motivação para os adolescentes continuarem no meio esportivo. A amostra foi constituída por 66 adolescentes, com idade de 10 a 19 anos, praticantes de voleibol que frequentam programas de treinamento da modalidade no município de Foz do Iguaçu, sendo 42 participantes do gênero masculino e 24 do feminino. Os resultados obtidos por meio de uma pesquisa de campo mostraram que a indicação de amigos, com 50,0% dos apontamentos, prevalece entre os fatores de influência para o ingresso dos adolescentes no esporte. Os objetivos com a iniciação da prática orientada mais evidentes foram tornar-se um atleta profissional, com 50,0% das indicações, e aprender as regras e os fundamentos do esporte/desenvolver habilidades, com 39,3%. Quanto à permanência, destacou-se amizade e bom relacionamento com o professor, apontado por 34,1% dos adolescentes como o fator motivacional mais importante. O estudo servirá de suporte para profissionais da Educação Física Escolar, técnicos, atletas e estudiosos da área que frequentemente lidam com desafios envolvendo a motivação dos praticantes.

Palavras-chave: Voleibol – Adolescentes – Fatores motivacionais.

INTRODUÇÃO

O voleibol é um esporte coletivo praticado em muitos países por pessoas das

mais diversas etnias, classes sociais, religiões e faixas etárias. Na maioria dos casos de

iniciação no esporte, a prática é orientada para o público adolescente.

Os professores que ensinam os fundamentos técnicos e táticos do voleibol para

iniciantes realizam um trabalho que requer paciência e compreensão, pois a execução

eficaz dos movimentos específicos da modalidade exige habilidades motoras refinadas

de seus jogadores. Devido a essa exigência, o aprendizado do desporto torna-se

1 Acadêmico do Curso de Educação Física da Faculdade União das Américas – UNIAMÉRICA.

2 Professor Orientador do Trabalho de Conclusão de Curso de Educação Física da Faculdade

União das Américas – UNIAMÉRICA.

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complexo em suas peculiaridades. Apesar de apresentar essa dificuldade, o voleibol atrai

muitos adolescentes de características físicas e motoras variadas, mesmo sendo mais

evidentes indivíduos altos e ágeis praticando a modalidade.

Atualmente, adolescentes de todos os perfis começam a treinar voleibol com a

orientação de um profissional de Educação Física. Muitos iniciam a prática com

assiduidade e permanecem treinando durante um longo período. Entretanto, são normais

os casos de abnegação por parte de inúmeros praticantes.

Diante dos fatos descritos, a questão problema que motivou o estudo partiu da

seguinte indagação: quais são os principais motivos e fatores que influenciam os jovens a

ingressarem e permanecerem na prática orientada da modalidade voleibol?

Com base na problemática do estudo, o principal objetivo da pesquisa foi

identificar os fatores motivacionais que influenciam adolescentes a iniciar e permanecer

na prática orientada do voleibol. Para isso, procurou-se analisar os diferentes motivos

para a escolha da modalidade, os objetivos com a iniciação da prática e as condições

que favorecem a permanência dos adolescentes no esporte.

Na atualidade, muitos adolescentes são motivados a ingressar em alguma

modalidade esportiva. Contudo, há diferentes fatores motivacionais que justificam a

iniciação da prática do voleibol por esse público. A prática orientada por um profissional

de Educação Física capacitado é acompanhada de vários métodos científicos e

empíricos que podem satisfazer as necessidades e anseios físicos, psíquicos e sociais do

indivíduo praticante desse esporte. Os adolescentes começam a treinar voleibol porque

querem ou precisam de algo que o esporte pode oferecer, através da prática, para sua

satisfação pessoal. Conhecer os objetivos dos adolescentes que escolhe o voleibol como

atividade física para alguma finalidade é fundamental para que os professores dessa

modalidade adotem métodos e condutas adequadas para atingir as metas da

aprendizagem desportiva com eficiência.

A compreensão desses fatores é importante para os professores que trabalham

com treinamento desportivo, pois, de acordo com Knijnik, Greguol e Sileno (2001, p. 9),

“os técnicos/professores devem assumir uma postura crítica e científica sobre o seu

trabalho, e que este deve levar em conta as necessidades e desejos específicos dos

indivíduos”. Por isso, as atividades que os professores aplicam nos treinamentos devem

reforçar os fatores motivacionais que levaram os adolescentes ao início da prática, e

dessa forma justificar a permanência dos mesmos no esporte.

O presente estudo da linha de pesquisa do Treinamento Esportivo fornece

informações e dados importantes que servirão de subsídios para os profissionais da

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Educação Física Escolar, técnicos, atletas e estudiosos da área que frequentemente

lidam com desafios envolvendo a motivação dos praticantes.

A pesquisa se deu através de um estudo de campo. Este tipo de pesquisa se

adequou ao estudo, sendo desenvolvida por meio de entrevistas com o grupo estudado

para captar as explicações e interpretações do que ocorre no grupo. A pesquisa de

campo tem importância para a sociedade acadêmica, uma vez que os próprios

pesquisadores têm uma experiência direta com a situação do estudo (GIL, 2002, p. 53).

Foram convidados para participar da pesquisa adolescentes que praticam voleibol

com orientação de um profissional de Educação Física em programas de treinamento

desportivo, desenvolvidos em escolas, clubes esportivos e centros de convivência do

município de Foz do Iguaçu. Dentre os participantes, encontram-se praticantes que

frequentam escolinhas de iniciação e atletas que entraram recentemente na atividade

profissional da modalidade.

Participaram da pesquisa 42 meninos e 24 meninas, que se encontram na faixa

etária de 10 a 19 anos de idade, totalizando 66 indivíduos participantes.

Como instrumento de coleta de dados, aplicou-se um questionário elaborado

pelos autores da pesquisa e validado por três professores universitários.

O questionário é composto por vinte e uma questões, fechadas e abertas, para

atender os diferentes objetivos do estudo. São eles: conhecer as características e perfil

dos adolescentes, as características das práticas dos treinos e fatores motivacionais que

influenciam na escolha e permanência na modalidade.

Como procedimento, realizou-se, junto à Secretaria Municipal de Esportes e Lazer

e à Secretaria da Educação do município de Foz do Iguaçu, um levantamento sobre os

locais que oferecem programas de prática do voleibol. Com a autorização dos

professores e a cooperação dos adolescentes, cada participante respondeu,

individualmente, ao questionário. Após a coleta das respostas de todos os participantes,

os dados e informações foram classificados, analisados e apresentados por meio de

tabelas, representados através de frequência relativa e valores percentuais, para uma

melhor visualização e análise dos mesmos.

1. VOLEIBOL: HISTÓRIA E EVOLUÇÃO

O Voleibol foi inventado pelo americano William G. Morgan, em Massachusetts,

no ano de 1895. Na época, o basquetebol era o esporte mais praticado pelos sócios da

Associação Cristã de Moços (ACM). Esse esporte exigia muito esforço físico dos

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jogadores, dificultando a prática por pessoas com idade mais avançada. Então, Morgan

idealizou um esporte menos fatigante em que não havia a necessidade de contato físico

entre os jogadores, diminuindo o risco de lesões. Ele colocou uma rede, semelhante à de

tênis, a uma altura de 1,98 metros, onde o objetivo principal era jogar, com as mãos, uma

câmera de bola de basquetebol de um lado para o outro sobre a rede (FIGUEIREDO;

MOURA, 2003, p. 227).

Vieira e Freitas (2007, p. 12) expõem que esse esporte ficou conhecido como

mintonette. Os mesmos autores dizem que com a ajuda de Frank Wood e John Lynch,

Morgan elaborou dez regras para o novo esporte. Os diretores e sócios da ACM

aprovaram o mintonette que passou a ser chamado de voleibol.

Segundo os autores Freitas e Barreto (2008, p. 262), a palavra voleibol, nos

Estados Unidos volleyball, surgiu a partir da associação da palavra francesa volée

(voada) com a palavra inglesa ball (bola), e significa “rebater a bola”.

Darido e Souza (2007, p. 72) relatam que o voleibol era praticado em quadras e o

número de jogadores era indefinido, desde que a quantidade fosse igual para as duas

equipes.

No início do século XX, o voleibol começou a ser praticado fora dos Estados

Unidos. Chegou primeiro no Canadá e, em 1908, na China e no Japão. Em 1910, o

esporte já estava sendo praticado nas Filipinas, na Índia, no México e em alguns países

da Europa (VIEIRA; FREITAS, 2007, p. 12).

A Federação Internacional de Voleibol (FIBV) foi fundada em Paris no ano de

1947 por representantes da Tchecoslováquia, Polônia e França (MARCHI JÚNIOR, 2002,

p. 106).

Segundo Bojikian, citado por Agnello (2009, p.13), o voleibol chegou ao Brasil por

volta de 1917. Em 1938 foi criada a Federação do Rio de Janeiro e em 1942 foi criada a

Federação Paulista de Voleibol. A Confederação Sul-americana de Voleibol, fundada em

1946, organizou o 1º Campeonato da América do Sul no ano de 1951, vencido pelas

equipes brasileiras tanto no masculino como no feminino. Três anos depois, de acordo

com Santini (2007, p. 19), foi fundada a Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) que

regulamenta e fiscaliza o voleibol no Brasil.

Durante todos esses anos o voleibol evoluiu em todos os aspectos. Aos poucos

foram criadas novas regras e novos fundamentos técnicos e táticos que tornaram o

esporte mais adequado e atrativo.

Do esporte inicial idealizado por Morgan, a evolução foi sempre crescente e para melhor, as regras foram se modificando e se adaptando às exigências dos atletas, público, patrocinadores e,

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principalmente, televisão, até chegarem ao Voleibol atual, que é o que se pratica em todo o mundo, e que no Brasil é o 2º (segundo) esporte em popularidade e em número de praticantes na escola (LEMOS, 2004, p. 5).

No Brasil, o voleibol tornou-se mais popular a partir de 1984 devido à conquista da

medalha de prata da modalidade nos jogos Olímpicos de Los Angeles pela equipe

masculina. Nos anos seguintes, o Brasil conquistou mais títulos de competições

internacionais graças ao trabalho realizado por todos os profissionais da modalidade, da

iniciação ao alto nível, que revelaram e ainda revelam atletas de grande desempenho.

Agnello (2009, p. 14) afirma que o voleibol,

nos últimos anos, foi o esporte que mais se desenvolveu em nosso país, possivelmente em virtude das conquistas internacionais de nossas seleções, espaço na mídia, notoriedade, o surgimento de novos ídolos e sucesso, que trouxeram ao conhecimento do público suas características de jogo, fatores esses que atraíram o marketing esportivo e investidores, aliados também ao processo de popularização que foi desencadeado pela Confederação Brasileira e Federações tornando-o dessa forma, uma modalidade em destaque.

O voleibol brasileiro se destaca em decorrência do planejamento e do trabalho

realizado com equipes que tiveram sucesso conquistando competições de alto nível no

âmbito mundial. Dados da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) mostram que a

seleção brasileira masculina já conquistou duas medalhas de ouro em Olimpíadas, nove

títulos da Liga Mundial, três medalhas de ouro em jogos Pan-Americanos e outros títulos

internacionais. Na gestão de Bernardo Rezende (Bernardinho) como técnico da seleção

masculina, o Brasil ganhou grande status no voleibol mundial. A equipe frequentemente

se destaca nas competições que participa e é considerada uma das melhores seleções

do mundo. A seleção feminina também é um exemplo de sucesso. A equipe conquistou

uma medalha de ouro em Olimpíadas, três medalhas de ouro em jogos Pan-Americanos

e oito títulos World Grand Prix.

No Brasil, existem competições oficiais que são disputadas por clubes com

equipes de diversas categorias, organizadas pela CBV e pelas Federações, como a

Super Liga e as competições regionais. De acordo com as informações da direção geral

da Faculdade União das Américas e da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, Foz do

Iguaçu teve uma equipe representante na Super Liga 2008/2009. A participação da

Uniamérica nessa competição oportunizou maior reconhecimento do esporte no

município.

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Atualmente, Foz do Iguaçu compete, com equipes formadas por jovens jogadores,

na Copa Oeste do Paraná, nos Jogos da Juventude e em outras competições a nível

estadual. Essas competições objetivam descobrir futuros atletas que iniciaram a prática

desse esporte na escola ou em alguma instituição que oferece treinamentos esportivos

orientados por profissionais da área.

2. VOLEIBOL: PARTICULARIDADES E A PRÁTICA ORIENTADA

O voleibol é um esporte que necessita de diferentes posturas e demandas

técnicas e físicas e, que exige extrema habilidade de seus jogadores. Durante um rali, os

jogadores precisam estar preparados para reagir às mudanças constantes e rápidas na

trajetória da bola. Isto torna o voleibol uma atividade com desafios permanentes e únicos,

pois os jogadores não têm momentos de descontração ou relaxamento durante o rali

(MÜLLER, 2009, p. 45).

Anfilo, citado por Agnello (2009, p. 14), destaca algumas diferenças do voleibol

em relação a outros esportes coletivos onde o jogador pode reter a bola e pensar antes

de agir. O limite de três toques por equipe requer dos jogadores habilidades afinadas

para a execução eficiente dos fundamentos específicos da modalidade e a troca de

passes caracteriza o voleibol como um esporte de cooperação, uma vez que os

fundamentos coletivos se sobrepõem às habilidades individuais. Ou seja, os jogadores

são dependentes uns dos outros para executarem suas habilidades.

Como não é necessário contato físico entre os jogadores para disputar a bola, o

voleibol sempre atraiu muitos adeptos do sexo feminino. Darido e Souza (2007, p. 74)

afirmam que “essa falta de agressividade por parte dos jogadores e a sutileza necessária

para jogar bem o voleibol fizeram com que [...] esse esporte fosse associado a

homossexualismo”.

Atualmente, sabe-se que junto à delicadeza nos movimentos, a força, a

resistência, a velocidade, o equilíbrio, a coordenação motora e a flexibilidade são

valências físicas que se desenvolvem com a prática do voleibol e contribuem para que os

praticantes joguem adequadamente (SANTINI, 2007, p. 20).

A genética também pode ser favorável aos praticantes. Um atributo biótipo que

contribui no desempenho dos praticantes é a altura. Jogadores altos são requeridos por

treinadores de iniciação e de alto rendimento devido à predisposição em efetuarem

fundamentos de ataque e bloqueio com mais eficiência. Provavelmente, esse fator

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genético é o que desmotiva muitas crianças e adolescentes de estatura baixa a

procurarem a prática orientada do voleibol.

De acordo com Rizola, citado por Agnello (2009, p. 14), o voleibol como atividade

orientada por um profissional de Educação Física se desenvolveu a partir de teorias da

ciência do Treinamento Esportivo a partir da época que o esporte deixou de ser apenas

uma prática recreativa e se tornou competição regulamentada.

Os treinadores e praticantes iniciantes da modalidade precisam ter paciência e

persistência para que o aprendizado seja bem sucedido. Os fundamentos do voleibol são

mais complexos comparados aos de outros esportes e, por isso, requer repetitivos treinos

específicos e correções imediatas para a fixação da aprendizagem. Bizzocchi, citado por

Müller (2009, p. 47), ressalta que:

A maior complexidade do aprendizado do voleibol reside no fato de envolver habilidades não naturais ou construídas. Este fator complexo limita a evolução do aprendiz por este não conseguir executar os gestos fundamentais do jogo, aumentando a frustração e a possível falta de motivação.

A orientação no voleibol é realizada com métodos utilizados de acordo com a

finalidade da prática do esporte, uma vez que o voleibol de iniciação tem finalidades

diferentes do voleibol de alto rendimento. Tenroller e Merino (2006, p. 46) definem que

“método é a forma como se desenvolve a prática do ensino. Pelos métodos adotados,

então, podemos esperar um determinado resultado do processo de ensino”.

Müller (2009, p. 95) acredita que o principal objetivo da iniciação do voleibol é

fazer com que o aprendiz aprecie e entenda o jogo. O gosto pelo voleibol é fundamental

para a permanência do aprendiz na prática orientada, sendo a maior motivação para a

melhoria de suas habilidades. E esse gosto também pode transformar iniciantes em

praticantes fiéis ao esporte que tendem a levar uma vida saudável com a prática da

atividade física.

A metodologia recreativa é um subsídio para o desenvolvimento do adolescente

no aprendizado do esporte e, também, para a permanência do mesmo em sua prática

orientada. Essa afirmação é fundamentada através do ponto de vista de que exercícios

lúdicos possibilitam o desenvolvimento da criatividade, da comunicação, da competência

motriz e do autoconceito positivo (ALMEIDA, 2008, p. 15).

Com fundamentação no pensamento de Müller (2009, p. 83), pode-se afirmar que

essas capacidades cognitivas são consideradas fundamentais para o desenvolvimento do

jogador. Um aprendiz cognitivamente amadurecido apresenta melhores condições para a

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aprendizagem técnica e tática e, assim, a própria evolução de suas habilidades torna-se

um fator de motivação para permanência prática do voleibol.

3. PSICOLOGIA DO ESPORTE: A MOTIVAÇÃO COMO OBJETO DE ESTUDO

Este estudo envolve a Psicologia do Esporte, área da Ciência do Esporte que

estuda todas as ações dos sujeitos envolvidos no contexto do esporte e a aplicação

desse conhecimento (SAMULSKI, 2002, p. 3).

A Psicologia do Esporte começou a ganhar destaque no Brasil na década de 1990

quando alguns psicólogos atuaram em algumas seleções de futebol. O esporte se tornou

um dos principais fenômenos do século XX pelo fato de ser um espaço privilegiado para

quem pratica, assiste e investe. Com a conquista da importância do esporte no ponto de

vista do espetáculo como do político, os aprimoramentos físicos, técnicos e táticos

tornaram-se prioridade para os técnicos e equipes esportivas. Surgiu então a

preocupação em conhecer os atletas nos aspectos físicos e psicológicos para que os

treinamentos fossem planejados para aproveitar ao máximo o potencial dos atletas

(RUBIO, 2000, p. 9).

Os autores Weinberg e Gould citados por Rubio (2000, p. 15) definem a

Psicologia do Esporte como “o estudo científico de pessoas no contexto do esporte ou

exercício”. Também acreditam que a Psicologia do Esporte é importante para os

profissionais do esporte e do exercício, pois identifica princípios e padrões que podem ser

utilizados para ajudar adultos, jovens e crianças que participam dessas atividades a

melhorarem suas performances.

Nitsch, citado por Samulski (2002, p. 3), complementa que a função da Psicologia

do Esporte é descrever, explicar e prognosticar as ações esportivas, com o fim de

desenvolver e aplicar programas de intervenção, com base nos princípios éticos. O autor

ainda ressalta que é a Psicologia do Esporte que analisa os processos psíquicos básicos

do indivíduo praticante do esporte. A motivação, principal aspecto a ser analisado neste

estudo, faz parte desses processos. São os fatores relacionados à motivação que

induzem qualquer indivíduo iniciar e permanecer no esporte, possibilitando aos

profissionais realizar estudos em outras áreas da Ciência do Esporte.

A definição da palavra motivação é apresentada por muitos autores que

realizaram estudos para a ciência da Psicologia. No contexto da Psicologia do Esporte,

para Cratty, citado por Paim (2003, p. 1), a motivação é os fatores e processos que levam

o indivíduo à ação ou à renúncia em diversas situações.

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Moreno et al (2006, p. 1) cita as palavras que têm como referência a motivação:

necessidade, desejo, esforço, motivo, tendência, aspiração e meta. Esses são os

possíveis processos que levam os indivíduos ao universo desportivo.

Finalizando o conceito, Santos e Araújo (2008, p. 129) compreendem que “a

motivação conjuga-se no verbo precisar. Precisão é alvo. O que se precisa atingir. A

motivação reside na intenção”.

Nessa perspectiva, a Psicologia do Esporte classifica a motivação dos indivíduos

praticantes de alguma modalidade esportiva como extrínseca e intrínseca. Para Pereira

(2009, p. 10) “a motivação para a prática esportiva depende da interação entre a

personalidade (por ex. motivos e necessidades) e fatores do meio ambiente (por ex.

desafios e influências sociais)”.

4. INGRESSO E PERMANÊNCIA DE ADOLESCENTES NO VOLEIBOL

Para a análise dos fatores que motivam os adolescentes a iniciar a prática

orientada do voleibol, é fundamental que se faça a identificação dos indivíduos que estão

nessa fase. Dessa forma, pode-se dizer que adolescente é o indivíduo que está em uma

fase do desenvolvimento humano conhecida como adolescência. Essa fase é classificada

dentro de um limite etário:

[...] a Organização Mundial de Saúde define adolescência como a fase do desenvolvimento compreendida entre os 10 e os 19 anos, critério adotado, no Brasil, pelo Ministério da Saúde e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (TRAVERSO-YÉPEZ; PINHEIRO, 2002, p. 137).

Bocardi (2003, p. 29) afirma que a adolescência é uma fase evolutiva na vida do

indivíduo que o leva a um processo de transição da infância para a idade adulta, onde

ocorrem diversas transformações de aspecto físico, psicológico e social, todas

interligadas, não podendo ser subdivididas. A característica principal do adolescente é o

seu desenvolvimento biopsicossocial, levando em consideração os fatores raça e

ambiente.

Considerando as fases do desenvolvimento humano, valências físicas como

agilidade e força, necessárias para um desempenho adequado no voleibol, se

desenvolvem na adolescência. É nessa fase que o ser humano realça a precisão e a

habilidade de desempenho em jogos e movimentos relacionados aos esportes

(ANDRADE; LUFT; ROLIM, 2004, p. 1).

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Explica-se o presente estudo envolvendo designadamente o público adolescente

pela diferença dos objetivos desses indivíduos com a prática desportiva em relação aos

objetivos de crianças e adultos. De acordo com Daunis (2000, p. 53) “a adolescência

apresenta características, comportamentos e tarefas específicas próprias”.

Quanto à iniciação desportiva, Machado, Piccoli e Scalon (2005, p.1) justificam

que os adolescentes apresentam grande necessidade de se movimentarem devido à

vontade de conhecerem o mundo e por quererem encontrar seus lugares e funções na

sociedade. Por isso, o esporte também é uma maneira dos jovens alcançarem esse

desejo.

E de acordo com Lawther, citado por Paim (2001, p.1), é das características dos

adolescentes o desejo de experimentar novos desafios para testar suas potencialidades.

Um assunto importante a ser discutido é a causa da escolha do voleibol como

prática esportiva. Alguns fatores podem ter grande influência na escolha advinda do

adolescente, como, por exemplo, o simples fato de gostar da modalidade e a influência

dos amigos. Entretanto, um fator que deve ser evidenciado é o esporte na mídia, uma vez

que os meios de comunicação e informação são grandes influenciadores do pensamento

e escolhas da sociedade.

Valporto (2007, p. 5) faz uma reflexão sobre o voleibol como instrumento da mídia:

O interesse cada vez maior pela atividade esportiva, seja ela de lazer ou de competição, tem feito do esporte uma das indústrias que mais crescem no mundo. Mais do que a luta pela vitória ou pela superação de marcas, o esporte é hoje um entretenimento para o público de todas as idades. A interação entre os atletas, os torcedores e a mídia cria uma atmosfera especial, atraente e sedutora, na qual histórias de sucesso e fracasso comovem, emocionam e interagem um país inteiro. [...] O voleibol é hoje o segundo esporte na preferência do torcedor brasileiro.

Alguns estudiosos apresentam seus resultados dividindo os fatores motivacionais

em três categorias (competência desportiva, saúde e amizade/lazer), pois utilizaram o

Inventário de Motivação para a Prática Desportiva, de Gaya e Cardoso (1998). Manter a

saúde, desenvolver habilidades e fazer novas amizades são exemplos de fatores

motivacionais de adolescentes que praticam o voleibol.

Paim (2003, p. 1) mostra com os resultados de sua pesquisa que os fatores

motivacionais mais relevantes para o ingresso de adolescentes no voleibol são: excitação

e desafios (participar de competições), afiliação (estar com os amigos, fazer novos

amigos) e desenvolver habilidades.

Entretanto, os resultados da pesquisa de Melo (2010, p. 35) mostram que os

fatores que mais influenciam os adolescentes a iniciar a prática de esportes estão

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relacionados à saúde. Os adolescentes ingressam no esporte principalmente para

exercitar-se, manter a saúde, desenvolver a musculatura, ter bom aspecto, manter o

corpo em forma e emagrecer.

Mas, em um mesmo programa de iniciação ao voleibol, pode haver jovens que

ingressaram no esporte por fatores distintos. Outros fatores como tornar-se um atleta

profissional, fazer algo nas horas vagas e ficar em forma também são objetivos de vários

praticantes.

A prática orientada do voleibol pode proporcionar aos jovens a oportunidade de

realização de todas as finalidades supracitadas. Mesmo assim, é comum ver

adolescentes desistindo do esporte.

Estudos sobre motivação nos esportes mostram que o fator “divertir-se” tem

grande relevância na permanência do adolescente no desporto. No estudo de Paim

(2003, p. 1), 100,0% dos adolescentes entrevistados afirmaram que praticam o voleibol

para ter alegria.

O estudo realizado por Souza e Oliveira Filho (2008, p. 7) com crianças e

adolescentes de 7 a 14 anos de idade aponta o divertimento como o principal fator

motivacional dos participantes para o início e a permanência na prática orientada do

voleibol.

Scalan, citado por Machado, Piccoli e Scalon (2005, p.1), chegou à conclusão,

através de seus estudos, que a diversão é o principal fator a ser compreendido pelos

professores para aumentar a motivação no esporte e também aponta esse fator como

principal responsável pela participação de crianças e adolescentes nos programas de

orientação desportiva.

De acordo com Interdonato et al (2008, p. 65), a diversão proporcionada na

prática do voleibol é fundamental para o processo de motivação e permanência no

esporte:

[...] ressalta-se a necessidade de que os treinadores busquem tornar o momento da prática esportiva sempre uma experiência livre de pressões, que atenda às necessidades dos jovens. O excesso de cobranças e a falta de divertimento podem ser fatores que predisponham os atletas ao abandono precoce do esporte. Criar um ambiente atraente, no qual os momentos de descontração e a possibilidade de experimentar e desenvolver suas potencialidades se façam presentes, pode ser uma boa estratégia para que os treinadores consigam melhorar a aderência de crianças e adolescentes na prática esportiva.

Contudo, em um mesmo programa de iniciação ao voleibol podem surgir

adolescentes que aderiram ao esporte por fatores distintos. É de suma importância os

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professores estarem cientes dos objetivos dos jovens que ingressam no voleibol. Dessa

forma, as atividades de ensino e treinamento poderão ser planejadas e adaptadas para

atender as necessidades dos praticantes e mantê-los motivados a permanecer na prática

do esporte.

5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Participaram desse estudo 66 adolescentes praticantes do voleibol, sendo 63,6%

do gênero masculino e 36,3% do gênero feminino. Em relação à idade, 63,6% do total de

adolescentes participantes situam-se na faixa etária de 14 a 16 anos; 22,7% têm entre 10

e 13 anos de idade e; 13,6% situam-se na maior faixa etária: 17 a 19 anos.

Quanto ao tempo de prática, evidenciou-se que 45,4% dos participantes do estudo

praticam o voleibol há um período correspondente a até 6 meses.

Referente à frequência dos treinos da modalidade, a maioria dos adolescentes,

62,1%, treina três vezes por semana.

O voleibol é a preferência esportiva de 78,7% dos adolescentes. Outros 19,6%

preferem outro esporte como, por exemplo, o futebol e o futsal, que juntos, foram citados

por 13,6% dos participantes. Apenas 1,5% dos participantes não forneceram informação

sobre sua preferência esportiva.

Na literatura consultada, não foram encontrados estudos que apresentam uma

investigação sobre as causas e motivos que levam os jovens a escolherem o voleibol

dentre várias opções de prática esportiva. Acredita-se que uma averiguação sobre esse

assunto é indispensável para o presente estudo.

Na tabela 1 está apresentada a classificação, por gênero, de motivos que levam

os adolescentes a optarem pelo voleibol como prática esportiva orientada. Observou-se

que o principal fator que motivou os participantes a entrarem em uma “escolinha” de

voleibol foi a indicação de amigos. Totalizam 50,0% dos participantes os adolescentes

que começaram a treinar porque os amigos os convenceram. Em uma comparação entre

os gêneros, nota-se uma semelhança: 50,0% dos meninos e 50,0% das meninas

apontaram esse fator. Nenhum adolescente do gênero masculino apontou os fatores

indicação dos pais, voleibol na mídia e indicação médica de uma atividade física como

motivadores para a iniciação na modalidade. Este último e a indicação do professor da

modalidade ou professor de escola foram os dois fatores não apontados por nenhum

adolescente do gênero feminino.

Page 13: Artigo - Fatores motivacionais de adolescentes para a prática orientada do voleibol - versão final

13

Constatou-se que não houve diferenças significativas dos resultados através de

uma comparação entre os gêneros. As informações gerais sobre os motivos da escolha

da modalidade podem ser visualizadas melhor na tabela 1.

Tabela 1 – Fatores de influência para a escolha do voleibol por adolescentes classificados por gênero

FATORES DE INFLUÊNCIA PARA A ESCOLHA DO VOLEIBOL COMO PRÁTICA ESPORTIVA ORIENTADA

Masculino Feminino Geral

N % N % N %

Indicação de amigos

Indicação do professor da modalidade ou professor da escola

Indicação dos pais

O voleibol na mídia

Afinidade com a modalidade/gostar do jogo

Indicação médica de uma atividade física

Outros

Resposta incoerente/sem resposta

21

4

0

0

8

0

1

8

50,0

9,5

0,0

0,0

19,4

0,0

2,3

19,4

12

0

1

1

5

0

0

5

50,0

0,0

4,1

4,1

20,8

0,0

0,0

20,8

33

4

1

1

13

0

1

13

50,0

6,0

1,5

1,5

19,4

0,0

1,5

19,6

SILVA E PRIESS (2012)

A tabela 2 é referente aos objetivos dos adolescentes com o início da prática

orientada do voleibol. É importante lembrar que alguns participantes marcaram mais de

um objetivo, pois, no questionário, a questão referente permitia a múltipla escolha.

Desse modo, o objetivo tornar-se um atleta profissional foi o mais relevante para

os adolescentes, sendo que, a metade, 50,0% dos participantes tem esse objetivo com a

prática do voleibol. Logo em seguida, se destacou o objetivo aprender as regras e os

fundamentos do esporte/desenvolver habilidades marcado por 39,3%, seguido de manter

a saúde e qualidade de vida marcado por 34,8% dos adolescentes.

Weiss, citado por Knijnik, Greguol e Sileno (2001, p. 10), descreve vários estudos

realizados com adolescentes referentes à motivação para a prática esportiva. Em todos

Page 14: Artigo - Fatores motivacionais de adolescentes para a prática orientada do voleibol - versão final

14

os estudos, as principais variáveis de fatores motivacionais que se destacam são:

competência, afiliação, competição e diversão.

Os objetivos mais importantes para adolescentes que participaram do presente

estudo se enquadram na primeira variável supracitada. São eles: tornar-se um atleta

profissional e aprender as regras e os fundamentos do esporte/desenvolver habilidades

que condizem à competência desportiva.

O presente estudo apresenta uma semelhança com a pesquisa de Paim (2003,

p.1) onde os resultados dizem que os adolescentes começam a treinar principalmente

para superar desafios como, por exemplo, vencer e desenvolver habilidades. É

semelhante também com o estudo de Campos, Vigário e Lürdof (2011, p. 313) que

concluem que a busca pelo aperfeiçoamento técnico é o fator que mais motiva os jovens

atletas de voleibol.

No entanto, esses resultados são diferentes dos encontrados por Interdonato et al

(2008, p. 65) e Melo (2010, p. 35) onde os objetivos relacionados à saúde são

apresentados como os mais importantes para os adolescentes ingressarem no esporte.

No presente estudo, o objetivo de manter a saúde e qualidade de vida não foi o mais

atido pelos participantes, sendo apenas o terceiro objetivo mais evidente entre eles.

Os fatores menos atidos como uns dos objetivos dos adolescentes com a prática

da modalidade foram: buscar autoafirmação/ganhar reconhecimento através do esporte,

com 9,0% dos apontamentos, e satisfazer a vontade dos pais, que é um dos objetivos de

apenas 1,5% dos participantes. Essas informações coincidem com os resultados de um

estudo sobre motivação para a prática do desporto escolar. Nesse estudo, Veigas et al

(2009, p.16) diz que os participantes apontaram “ser conhecido”, “ter a sensação de ser

importante” e “pretexto para sair de casa” como os fatores motivacionais menos

importantes.

A fim de obter resultados mais fidedignos através de uma análise delineada,

utilizou-se o gênero dos participantes como variável na Tabela 2. Observou-se que não

houve diferença significativa entre meninos e meninas na ordem de seus principais

objetivos com a iniciação no voleibol.

É interessante notar que o fator divertir-se/ter uma atividade de lazer está

integrado aos objetivos de 30,3% dos participantes, não sendo o fator de grande

destaque nos resultados da pesquisa. Isso contraria alguns autores da literatura

consultada que apresentaram o divertimento como o fator de principal destaque nos

estudos.

Todos os objetivos dos adolescentes com a iniciação no voleibol podem ser

visualizados melhor na tabela 2.

Page 15: Artigo - Fatores motivacionais de adolescentes para a prática orientada do voleibol - versão final

15

Tabela 2 – Objetivos dos adolescentes com a iniciação na prática orientada do voleibol classificados por gênero

OBJETIVOS COM A INICIAÇÃO NA PRÁTICA ORIENTADA DO VOLEIBOL

Masculino Feminino Geral

N % NN % % %

Tornar-se um atleta profissional

Aprender as regras e os fundamentos do esporte/desenvolver habilidades

Manter a saúde e a qualidade de vida

Divertir-se/ter uma atividade de lazer

Fazer novas amizades/estar com os amigos

Melhorar a estética

Participar de competições

Buscar autoafirmação/ganhar reconhecimento através do esporte

Ocupar o tempo livre

Satisfazer a vontade dos pais

Outros

22

18

15

15

14

9

11

6

5

1

0

52,3

42,8

35,7

35,7

33,3

21,4

26,1

14,2

11,9

2,3

0,0

11

8

8

5

7

6

4

0

5

0

0

45,8

33,3

33,3

20,8

29,1

25,0

16,6

0,0

20,8

0,0

0,0

33

26

23

20

21

15

15

6

10

1

0

50,0

39,3

34,8

30,3

31,8

22,7

22,7

9,0

15,1

1,5

0,0

SILVA E PRIESS (2012)

Quanto à motivação para permanecer frequentando os treinos, cada participante

enumerou os fatores de acordo com o grau de importância que cada um tem em sua

motivação para a prática da modalidade. Primeiramente, constatou-se que 25

participantes responderam a questão referente à tabela de forma incoerente ou,

simplesmente, não responderam. Foram 41 participantes que responderam a questão de

forma possível de ser analisada. E, para melhor leitura e compreensão dos resultados da

tabela, o valor total de 100,0% equivale a 41 (número de participantes que responderam

corretamente). Desse modo, a tabela 3 apresenta o grau de importância de cada fator

Page 16: Artigo - Fatores motivacionais de adolescentes para a prática orientada do voleibol - versão final

16

motivacional para a permanência no voleibol. Notou-se que o fator amizade e bom

relacionamento com o professor apareceu com mais marcações na posição número 1.

Para 34,1% dos participantes, esse fator é o maior contribuinte na motivação para

continuar frequentando os treinos de voleibol.

Observou-se através dos resultados que o fator mais disposto como segundo

mais importante para a motivação dos adolescentes na atividade esportiva foi estar com

os amigos/clima de amizade entre os participantes, marcado por 24,3% dos participantes.

Os resultados são similares com os da pesquisa de Souza e Oliveira Filho (2008,

p. 7), que constatou que os fatores motivacionais que mais influencia na motivação de

crianças e adolescentes é o fato de gostarem do professor e conhecerem pessoas novas.

Por fim, prevaleceu como terceiro mais importante o fator motivacional

elogios/reconhecimento/incentivos por parte do professor e praticantes, apontado por

21,9% dos participantes.

Tabela 3 – Fatores motivacionais de adolescentes para a permanência na prática orientada do voleibol classificados por grau de importância

FATORES MOTIVACIONAIS PARA A PERMANÊNCIA NA MODALIDADE

Classificação de Importância

1º mais importante

2º mais importante

3º mais importante

N % N % N %

Amizade e bom relacionamento com o professor

Tipos de exercícios que são aplicados

Participação/vitória em competições

Amistosos

Atividades recreativas nos treinos

Estar com os amigos/clima de amizade entre os participantes

Elogios/reconhecimento/incentivos por parte do professor e praticantes

14

4

11

0

3

8

1

34,1

9,7

26,8

0,0

7,3

19,5

2,4

7

6

5

4

1

10

8

17,0

14,6

12,1

9,7

2,4

24,3

19,5

3

7

7

8

4

3

9

7,3

17,0

17,0

19,5

9,7

7,3

21,9

SILVA E PRIESS (2012)

Page 17: Artigo - Fatores motivacionais de adolescentes para a prática orientada do voleibol - versão final

17

Segundo Pikunas, citado por Paim (2003, p. 1) os adolescentes gostam dos riscos

e das emoções das competições, buscando no esporte fugir ao tédio, às ansiedades ou

simplesmente à rotina dos trabalhos e deveres cotidianos. Considerando essa afirmação,

é interessante ressaltar a evidência do fator participação/vitória em competições com

26,8% dos apontamentos na primeira posição.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através do presente estudo, observou-se que o voleibol é uma atividade física

procurada por muitos adolescentes do município de Foz do Iguaçu. Os professores da

modalidade incentivam a prática oferecendo ambiente agradável para a realização e

permitindo o ingresso dos jovens sem descriminação. No entanto, o atendimento ainda é

escasso, pois, fora do ambiente escolar, a prática orientada da modalidade é

desenvolvida em poucas instituições. Devido a esse fato, encontraram-se dificuldades em

realizar o estudo com uma amostra mais ampla.

Com os resultados obtidos conclui-se que os próprios praticantes são os principais

responsáveis por atrair novos adeptos para a prática orientada do voleibol, considerando

que 50,0% dos participantes desse estudo entraram em um programa de treinamento por

conta da indicação de amigos. Os resultados surpreendem quando se pressupõe que a

maioria dos indivíduos escolhe a modalidade por gostar do jogo. Na literatura consultada,

não há estudos que identificam esses fatores. Sugere-se a realização de novos estudos

sobre os agentes internos e externos que influenciam na escolha das modalidades

esportivas dos públicos praticantes.

Os objetivos mais visados pelos adolescentes, de ambos os gêneros, com a

iniciação na modalidade, foram tornar-se atleta profissional e aprender as regras e os

fundamentos do esporte/desenvolver habilidades. Constatou-se que há semelhança com

os resultados obtidos por Paim (2003) e Campos, Vigário e Lürdof (2011). Os resultados

mostraram que as principais intenções em realizar as atividades do esporte não derivam

da preocupação com qualidade de vida. Diferente dos resultados obtidos por Interdonato

et al (2008) e Melo (2010), que destacam a busca pela saúde como o principal objetivo

de adolescentes que dão inicio à prática esportiva.

Quanto à permanência na prática orientada do voleibol, observou-se que amizade

e bom relacionamento com o professor foi o fator que mais influenciou os adolescentes a

continuarem frequentando os treinos. O professor também está relacionado direta ou

indiretamente aos outros fatores motivacionais em destaque, classificados como segundo

Page 18: Artigo - Fatores motivacionais de adolescentes para a prática orientada do voleibol - versão final

18

e terceiro mais importantes. Sendo assim, ressalta-se que é importante que os

professores se preocupem com condutas de bom atendimento aos seus alunos/atletas. O

professor deve exercer seu papel de motivador a todo instante.

Percebeu-se uma diferença em relação aos principais objetivos com a iniciação e

os principais fatores motivacionais da permanência. Os objetivos que se destacaram

apresentam aspecto de competência desportiva, enquanto os fatores motivacionais para

permanência de maior destaque são de aspecto afetivo.

De modo geral, conclui-se, então, que os fatores motivacionais de maior influência

para a prática orientada do voleibol ainda são uma incógnita. O estudo mostrou suas

limitações, uma vez que não se pode atribuir total fiabilidade às informações obtidas e a

amostra não foi expressivamente ampla.

Portanto, sugerem-se novos estudos sobre o tema. E para melhor compreensão,

serão de grande contribuição científica estudos comparativos que analisem esses fatores

em diferentes variáveis: idade, classe econômica, etnia e outras.

Os profissionais da Educação Física Escolar e do Treinamento Esportivo precisam

compreender os fatores motivacionais a fim de adotarem métodos e condutas que

atraiam e atenham novos adeptos para as modalidades esportivas.

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