artigo contabilidade de custos para pequenas empresas

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RESUMO As pequenas empresas são responsáveis por mais de 45% da força de trabalho com carteira assinada e representam cerca de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, mas com o mercado altamente competitivo, segundo o SEBRAE, essas empresas têm uma expectativa de vida muito pequena se não forem geridas de forma correta. Identificamos que dentre as diversas deficiências apresentadas pelos gestores, a contabilidade de custos e seus benefícios são totalmente desconhecidos para a maioria dos administradores e com isso perdem uma ferramenta gerencial fantástica para tomar decisões mais assertivas. A contabilidade de custos e suas ferramentas são bastante versáteis, podendo assim se adaptar aos mais variados tipos de empresas e suas características peculiares e, com isto, auxiliar as pequenas empresas nas elaborações de estratégias eficazes, e assim buscar o crescimento e a perpetuação da empresa no mercado. 1 INTRODUÇÃO O cenário econômico atual se caracteriza por sua extrema competitividade, o que obriga as empresas e seus administradores a adaptarem-se as frequentes mudanças em busca de melhores produtos, serviços e principalmente preços, porém poucos gestores, principalmente das micro e pequenas empresas ou MPE’s (denominação dada pelo SEBRAE), utilizam um sistema

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Page 1: artigo contabilidade de custos para pequenas empresas

RESUMO

As pequenas empresas são responsáveis por mais de 45% da força de trabalho com

carteira assinada e representam cerca de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do

Brasil, mas com o mercado altamente competitivo, segundo o SEBRAE, essas

empresas têm uma expectativa de vida muito pequena se não forem geridas de

forma correta. Identificamos que dentre as diversas deficiências apresentadas pelos

gestores, a contabilidade de custos e seus benefícios são totalmente desconhecidos

para a maioria dos administradores e com isso perdem uma ferramenta gerencial

fantástica para tomar decisões mais assertivas. A contabilidade de custos e suas

ferramentas são bastante versáteis, podendo assim se adaptar aos mais variados

tipos de empresas e suas características peculiares e, com isto, auxiliar as

pequenas empresas nas elaborações de estratégias eficazes, e assim buscar o

crescimento e a perpetuação da empresa no mercado.

1 INTRODUÇÃO

O cenário econômico atual se caracteriza por sua extrema competitividade, o que

obriga as empresas e seus administradores a adaptarem-se as frequentes

mudanças em busca de melhores produtos, serviços e principalmente preços, porém

poucos gestores, principalmente das micro e pequenas empresas ou MPE’s

(denominação dada pelo SEBRAE), utilizam um sistema de custos adequado como

ferramenta gerencial, podendo assim obter uma vantagem em relação aos seus

concorrentes.

Infelizmente muitos pequenos empreendedores ainda acreditam que o contador

serve apenas para abrir empresas e mesurar tributos, erro este que os impossibilita

utilizarem as mais diversificadas ferramentas que a contabilidade pode disponibilizar

para que alcancem resultados mais satisfatórios.

Segundo o SEBRAE, através de dados estatísticos, pelo menos 1/3 das MPE’s não

sobrevivem a dois anos de vida e isto impacta de forma negativa na economia, pois

no Brasil são criados, anualmente, mais de 1,2 milhão de novos empreendimentos

Page 2: artigo contabilidade de custos para pequenas empresas

formais e, desses, mais de 99% são micro e pequenas empresas ou

Empreendedores Individuais.

Os estudos divulgados pelo SEBRAE também nos mostram que as MPE’s são

responsáveis por 20% do PIB, por mais de 45% da força de trabalho com carteira

assinada e se somarmos a isso a ocupação que os empreendedores geram para si

mesmos, pode-se dizer que os micro e pequenos empreendimentos são também

responsáveis por pelo menos dois terços do total de ocupações existentes no setor

privado da economia o que nos traz a certeza de que a sobrevivência desses

empreendimentos é condição fundamental para o desenvolvimento econômico do

país.

A constatação dessa realidade orientou a direção desta pesquisa no sentido de

reproduzir de forma clara alguns conceitos importantes da contabilidade de custos

para o micro e pequeno empreendedor, com o intuito de mudar a visão dos gestores

e consequentemente a forma de gerir e controlar seus negócios através da utilização

dos conceitos aqui apresentados obtendo assim um diferencial perante seus

concorrentes e consequentemente atingir melhores resultados e a continuidade do

empreendimento.

Para SCHIER (2004), a contabilidade de custos exerce duas funções de relevante

importância: auxílio ao controle e auxílio à tomada de decisões. No que se refere ao

controle, a contabilidade de custos fornece dados para o estabelecimento de

padrões, auxilia na confecção dos orçamentos e proporciona o acompanhamento

dos valores orçados com os efetivamente realizados. No que se refere à tomada

de decisão, a contabilidade fornece informações que podem ser determinantes para

a sobrevivência da empresa, pois estão voltadas à sua saúde financeira.

A Contabilidade de custos, quando bem aplicada, é capaz de fornecer um maior

controle de todos os desembolsos feitos pela empresa para a realização de sua

atividade. Um bom administrador em posse desses dados terá uma base para a

tomada de decisão mais assertiva em um mercado extremamente competitivo.

As MPE’s são diversificadas e entendemos que não é possível aplicar um mesmo

sistema para controle de custos de um salão de beleza em uma fábrica de tecidos,

Page 3: artigo contabilidade de custos para pequenas empresas

pois cada uma dessas empresas possui suas peculiaridades, as quais o controle dos

gastos deve ser mensurado de acordo com suas atividades.

Por este motivo, este trabalho traz como objetivo demonstrar de forma clara e

objetiva os conceitos da contabilidade de custos e a eficácia do uso de um sistema

de custeio na formação do preço de venda ou prestação de serviço, auxiliando

assim os gestores dos pequenos negócios na identificação e controle de seus

gastos e nas tomadas de decisões. Como não há um modelo perfeito de sistema de

custeio que se enquadre em todas as empresas, o foco dessa pesquisa e

demonstrar aos donos de MPE’s os aspectos importantes a serem considerados no

momento de definir os preços de seus produtos e como obter maiores benefícios

através da contabilidade de custos.

2 AS MICROS E PEQUENAS EMPRESAS

No Brasil e no mundo, as Micro e Pequenas empresas são responsáveis por uma

grande parcela da economia do país, porém, devido a grande concorrência das

grandes empresas, a forma de gestão sofreu e vem sofrendo alterações para que

consigam se perpetuar, para LEONE (1991), as pequenas empresas existiam antes

mesmo das grandes empresas, mas só no fim da década de 50 que os economistas

passaram a dar uma maior atenção à elas. Já nos anos 70, em todo o mundo, as

preocupações com as pequenas empresas foram intensificadas e atualmente são

analisadas tanto nos aspectos sociais como nos aspectos econômicos.

Para BARBOSA e TEIXEIRA (2003), estudos mostram que as empresas de

pequeno porte tomam suas atitudes de acordo com a sua percepção das reações do

mercado, adaptando os objetivos da empresa e sua estrutura funcional a ele. As

MPE’s concentram sua atenção a criação de novos produtos e serviços e correm

grande riscos ao tentam conquistar novos mercados através de suas estratégias.

Com a sua devida importância na economia e com a necessidade de criar produtos

e serviços diferenciados para competir no mercado, concluímos que a necessidade

de informações precisas que possam auxiliar as pequenas empresas a diminuírem

Page 4: artigo contabilidade de custos para pequenas empresas

seus riscos e consequentemente dar maior segurança a suas estratégias, será de

grande valia, com isso podemos alegar que a contabilidade de custos é essencial

para a tomada de decisões mais assertivas nas empresas de pequeno porte.

3 A CONTABILIDADE DE CUSTOS

À medida que as organizações foram se expandindo, a concorrência foi aumentando

e foi necessário criar métodos de controle e racionalização sobre os custos, servindo

então a contabilidade de custos como um instrumento de gestão.

Sendo um ramo da Contabilidade Geral, a Contabilidade de custos teve sua origem

a partir das publicações do Frei Luca Pacioli, na Itália, por volta de 1496, ele

pressupôs que a melhor forma de avaliação e acompanhamento de um negócio se

daria através de seu patrimônio, constituído pelos bens, somados aos direitos e

subtraído das obrigações. Com a necessidade de averiguação e acompanhamento

dos custos dos diversos fatores que compõem os estoques e produtos, fez-se com

que surgisse a contabilidade de custos. Conforme PADOVESE (2004), o escopo

inicial da contabilidade de custos foi a determinação do custo dos produtos para fins

de avaliação dos estoques industriais e, consequentemente, do custo desses

produtos quando vendidos, para se obter o lucro na venda dos produtos. E

segundo LEONE (2000), a contabilidade de custos é parte integrante da

contabilidade geral.

Para MARTINS (2003), este ramo da contabilidade lida com o custo, seu uso,

controle e planejamento. O custo é definido como os benefícios despendidos para

adquirir bens ou serviços. Os benefícios despendidos são medidos em unidades

monetárias pela redução de ativos ou incorrência em passivos, na época em que os

benefícios são adquiridos.

A contabilidade de custos procura formular estratégias para determinar a utilização

mais eficiente dos recursos financeiros na empresa, e que estão sendo alocados na

produção e formação do preço de venda, a fim de cobrir todos os custos e despesas

e alcançar a margem de lucro esperada pelos administradores.

Page 5: artigo contabilidade de custos para pequenas empresas

BRUNI (2003) destaca que a contabilidade de custos oferece informações precisas

que permitem a tomada de decisão correta. As funções básicas da contabilidade de

custos devem atender três razões primárias:

• Determinação do lucro: empregando dados originários dos registros convencionais

contábeis, ou processando-os de maneira diferente, tornando-os mais úteis à

administração;

• Controle das operações: e demais recursos produtivos, como os estoques, com a

manutenção de padrões e orçamentos, comparações entre previsto e realizado;

• Tomada de decisões: o que envolve produção (o que, quanto, como e quando

fabricar), formação de preços, escolha entre fabricação própria ou terceirizada.

Conforme LEONE (2000), a contabilidade de custos fornece informações para:

• a determinação dos custos dos fatores de produção;

• a determinação dos custos de qualquer natureza;

• a determinação dos custos dos setores de uma organização – adjetivos e

substantivos;

• a redução dos custos dos fatores de produção, de qualquer atividade ou de setores

da organização;

• o controle das operações e das atividades de qualquer organização;

• a administração, quando esta deseja tomar uma decisão, estabelecer planos ou

solucionar problemas especiais;

• o levantamento dos custos dos desperdícios, do tempo ocioso dos operários, da

capacidade ociosa do equipamento, dos produtos danificados, do trabalho

necessário para conserto, dos serviços de garantia de produtos;

• a determinação da época em que se deve desfazer de um equipamento, isto é,

quando as despesas de manutenção e reparos ultrapassam os benefícios advindos

da utilização do equipamento;

• a determinação dos custos de pedidos não satisfeitos;

Page 6: artigo contabilidade de custos para pequenas empresas

• a determinação dos custos dos estoques com a finalidade de ajudar o cálculo do

estoque mínimo, do lote mais econômico de compra, da época da compra;

• o estabelecimento dos orçamentos.

3.1 DEFINIÇÕES DE GASTOS

É muito comum ter dúvidas na classificação dos gastos das empresas, por isso é

necessário entender o que são custos, despesas, desembolsos, investimentos e

perda, então podemos defini-los da seguinte forma:

A) GASTO – “Sacrifício financeiro que a entidade arca para a obtenção de um

produto ou serviço qualquer, sacrifício esse representado por entrega ou

promessa de ativos (normalmente dinheiro)” (MARTINS, 2003).

B) INVESTIMENTO – “Gasto ativado em função de sua vida útil ou de benefícios

atribuíveis a futuros períodos” (MARTINS, 2003).

C) CUSTO – “Gasto relativo a bem ou serviço utilizado na produção de outros

bens ou serviços” (MARTINS, 2003).

Os Custos podem assumir diversas classificações. Eles podem ser diretos, ou

seja, aqueles que podem ser identificados de forma direta no produto e

possibilitam uma forma de medida objetiva, ou indiretos, ou seja, aqueles que

não oferecem uma condição de medida exata, logo são quantificados de forma

estimada e participam do processo de produção. Quanto ao volume de produção,

ainda podemos classificar custos como fixo os que não variam de acordo com a

quantidade produzida e variáveis os que variam de acordo com a quantidade

produzida.

D) DESPESA – “Bem ou serviço consumido diretamente ou indiretamente para a

obtenção de receitas” (MARTINS, 2003).

Page 7: artigo contabilidade de custos para pequenas empresas

As despesas podem ser classificadas como fixas as que não alteram de acordo

com a quantidade de vendas e variáveis as que alteram de acordo com a

quantidade vendida, por exemplo: ICMS, PIS, IPTU e comissões sobre vendas.

E) DESEMBOLSO – “Pagamento resultante da aquisição do bem ou serviço”

(MARTINS, 2003).

F) PERDA – “Bem ou serviço consumidos de forma anormal e involuntária”

(MARTINS, 2003).

Seguindo essas denominações básicas é possível identificar os gastos da empresa

para auxílio dos gestores em seus planejamentos e estratégias, é importante saber

separar custos de perdas para que seja possível separar o que faz parte do

processo produtivo e consequentemente do preço e, em uma eventual necessidade,

indicar onde a empresa deve diminuir seus gastos e melhorar seus resultados.

4 SISTEMAS DE CUSTOS

O conjunto de pessoas, órgãos, procedimentos, conceitos, objetivos, princípios,

critérios de avaliação e de apropriação, fluxos e relatórios com a finalidade de

coletar dados e transformá-los em informações úteis para o gerenciamento das

entidades, são denominados, por LEONE (2000), como sistemas. Os sistemas de

custos possibilitam aos gestores informações operacionais que se combinados com

as demais informações monetárias e físicas da organização resultam em

informações gerenciais que contribuem para definir diretrizes às decisões a serem

tomadas.

Segundo BERNARDI (2004), há uma enorme dependência do processo de custeio

com o sistema de custos, isso porque, as informações físicas e operacionais quando

combinadas com as informações contábeis e financeiras, demonstram o custo do

objeto analisado, obtendo assim o processo de custeio (figura 1).

Page 8: artigo contabilidade de custos para pequenas empresas

Informações Operacionais e

Físicas

Informações Contábeis e Financeiras

Custos

Fonte: Bernardi (2004).

Sistema de custos tem em sua composição três subsistemas, esses são: sistema de

levantamento de informações de custos, sistema de acumulação de custos e

sistema de apropriação de custos ou método de custeio, MOTTA (2000). É

importante ressaltar que um bom sistema de custos é derivado de uma boa definição

de seus subsistemas e das inter-relações entre eles.

4.1 SISTEMAS DE LEVANTAMENTO DE INFORMAÇÕES DE CUSTOS

Esse sistema, também conhecido como Sistemas de Custeamento, segundo

MOTTA (2000), eles são responsáveis pela mensuração monetária das ocorrências

que afetam o patrimônio da empresa, podendo ser a forma de custeamento padrão

ou real, este, ainda, pode ser dividido em histórico ou e mercado.

Para BEULKE e BERTÓ (2001), o custeamento padrão é constituído por objetivos a

serem atingidos, logo é um planejamento para períodos futuros que apresenta

ligação com o sistema orçamentário e de difícil definição em períodos de inflações

instáveis. Já para PADOVESE (2004), o custeamento padrão tem como base de seu

calculo futuros eventos de custos, podendo assim, acontecer ou não na empresa.

O custeamento real, para BEULKE e BERTÓ (2001), é dividido em valores

históricos, valores ocorridos em um determinado período, podendo verificar fatos

passados obtendo dados monetários referente a períodos anteriores, e valores de

mercado, os quais são valores reais atuais ou estimados para o futuro que são

Page 9: artigo contabilidade de custos para pequenas empresas

indispensáveis num período inflacionário para finalidades específicas como definir os

preços.

4.2 SISTEMAS DE IDENTIFICAÇÃO E ACUMULAÇÃO DE CUSTOS

Esse sistema é o responsável pela identificação e acumulação dos custos

dependentes do objeto a ser custeado, esses, de acordo com MOTTA (2000), são

identificados conforme critérios preestabelecidos. Já PEREIRA ET AL. (2001),

complementa que existem duas usuais formas de acumulação de custos e estas

são: por ordem de produção e por processo. Ambos os autores concordam que o

sistema de acumulação por ordem de produção é indicada às empresas que

fabricam produtos especiais, por encomenda ou sob medida, enquanto o sistema de

acumulação de custos por processo é recomendado aos processos de manufatura,

onde todos os produtos finais são idênticos e não existam serviços em separado

com características substancialmente diferentes.

Além dos já citados sistemas de acumulação de custos, para LEONE (2000) existem

diversos sistemas, porém apenas cinco são mais comumente empregados dentre

eles há o sistema de acumulação de custos por responsabilidade ou Sistema por

Componente Operacional, onde sempre haverá um responsável pela administração

de custeio, pois a contabilidade de custos procura a identificação dos custos por

unidade organizacional. Neste sistema, os custos serão identificados com os centros

de responsabilidades ou unidades organizacionais. Outro sistema que o autor

destaca é o Sistema de Custo Provisional, o qual objetiva o planejamento e o

controle de operações e é utilizado no custeio padrão e custeio estimado.

4.3 SISTEMAS DE APROPRIAÇÃO DE CUSTOS OU MÉTODOS DE CUSTEIO

Através dos critérios estabelecidos, os sistemas de apropriação fazem a seleção dos

custos e despesas para a posterior apropriação aos objetos de custeio, conforme

Page 10: artigo contabilidade de custos para pequenas empresas

LEONE (2000), a preocupação dos métodos de custeio é administrar os custos

indiretos buscando alocá-los aos objetos de custeio seguindo critérios diferentes de

acordo com o método utilizado.

Os métodos de custeio são escolhidos de acordo com uma melhor distribuição dos

custos indiretos aos produtos, para MOTTA (2000), os métodos de custeio

representam a parte da contabilidade de custos onde os dados processados geram

as informações necessárias aos gestores.

Existem diversos métodos de custeio e os mais comuns são:

4.3.1 CUSTEIO POR ABSORÇÃO

O Custeio por Absorção não pode ser tido como um princípio contábil na íntegra,

mas um método derivado dele com seu surgimento na contabilidade de custos. Ao

contrário do custeio direto, é aceito para fins de Balanço Patrimonial e

Demonstração de Resultados e em alguns países para Balanço e Lucros Fiscais. É

considerado pela auditoria externa como básico e obrigatório para avaliação de

estoque, apesar de gerar alguns erros, como instrumento gerencial, assim explica

MARTINS (2003). Reafirmando esta ideia do custeio por absorção, CREPALDI

(2002) diz que “é o método derivado da aplicação dos princípios fundamentais de

contabilidade e é, no Brasil, adotado pela legislação comercial e pela legislação

fiscal”.

Conforme MEDEIROS (1994), neste método, os custos são compostos por três

partes: Matéria- Prima, Mão de Obra Direta e Gastos Gerais de Fabricação,

alocados, aos produtos, através de rateio. Para as empresas não

departamentalizadas, o custeio por absorção é dado conforme o esquema

fundamental da contabilidade de custos conforme o quadro abaixo.

Page 11: artigo contabilidade de custos para pequenas empresas

Nas empresas departamentalizadas, a diferença está naqueles custos incorridos nos

departamentos auxiliares, os quais não podem ser alocados diretamente aos

produtos, mas são transferidos para os departamentos produtivos beneficiados.

4.3.2 CUSTEIO VARIÁVEL OU DIRETO

Detalha, LEONE (2000), a distribuição dos custos da seguinte forma, somente os

custos variáveis diretamente inclusos na fabricação do produto serão utilizados no

custeio direto/variável, sendo que os demais custos variáveis de administração e

vendas serão apurados ao custo dos produtos acabados que serão vendidos no

futuro. Os custos indiretos serão considerados como despesas do período.

Para PEREZ JR. (1999), o sistema de custeio direto tem seu fundamento em

separar os custos fixos, os quais não dependem do volume de produção, encarados

assim como necessários para o funcionamento da empresa, e os custos variáveis,

que são proporcionais ao volume de produção, oscilando na razão direta dos

aumentos ou das reduções das quantidades produzidas. Para o autor o Sistema de

Separar os gastos do

períodos entre Custos e Despesas

Separar os Custos em Diretos e Indiretos.

Registrar os Custos Diretos

diretamente aos produtos.

Ratear os Custos Indiretos aos produtos, não identificando cada um, mas

todos.

Dividir pela quantidade

produzida no periodo para obter o custo

unitário.

Produto

Vendido

Não

Sim

Transferir para Estoque de Produtos

Prontos.

Transferir para Custos

dos Produtos Vendidos.

Fim

Início

Esquema Fundamental da Contabilidade de Custos

Fonte: Medeiros (1994).

Page 12: artigo contabilidade de custos para pequenas empresas

custeio direto, também, auxilia nas tomadas de decisões administrativas

relacionadas à fixação de preços, de compra ou fabricação, determinação do mix de

produtos e, ainda, auxilia a determinar o comportamento dos lucros em fase de

oscilações nas vendas o que é observado na relação custo/volume/lucro.

Já MARTINS (2003), oferece alguns argumentos que favorecem o uso do custo

direto como ferramenta para o papel da gerencia, são eles: normalmente os custos

fixos são alocados como encargos base para proporcionar a produção em uma

empresa, e não encargos base de um produto específico; outro argumento seria o

de que os custos fixos sempre são divididos com base em critérios de rateio, que

possuem um, certo, grau de arbitrariedade e finalmente, pode-se dizer que o custo

de um determinado produto sem o uso do custeio direto está sujeito à variação em

função da quantidade de outros bens, e não em relação a seu volume, podendo

causar decisões equivocadas quanto a cortes de produtos lucrativos ou não.

Acrescenta, PADOVESE (2004), outras como a que o lucro não é afetado devido a

mudanças que possam ocorrer no volume de produção, porque acompanham as

vendas; as informações geradas pelo custo-volume-lucro são acessíveis

rapidamente, pois a margem de contribuição já está calculada pelo custeio variável;

o sistema de custeamento direto é muito mais fácil e rápido de ser compreendido

pelos gerentes industriais assim como também torna muito menos burocrática a

localização dos materiais que devem ser utilizados para a fabricação de um produto

e finalmente, ele possibilita clareza no planejamento do lucro e tomada de decisão.

4.3.3 CUSTEIO BASEADO NA ATIVIDADE (ABC – ACTIVITY BASED COSTING)

Conforme KAPLAN e COOPER (1998), o sistema de custeio ABC surgiu na década

de 80 com o objetivo de suprir as necessidades de informações mais exatas sobre

os custos das necessidades de recursos de produtos, serviços, clientes e canais

específicos, neste sistema, os custos indiretos e os que participam do processo

produtivo são direcionados às atividades e processos para serem atribuídos aos

produtos e serviços.

Page 13: artigo contabilidade de custos para pequenas empresas

O Custeio Baseado na Atividade poderia ser tratado como uma evolução dos

sistemas já discutidos, mas sua relação direta com as atividades envolvidas no

processo configura mero aprofundamento do sistema de custeio por absorção. Para

MARTINS (2003), o custeio baseado em atividades é um método que procura

reduzir as distorções provocadas pelo rateio arbitrário dos custos indiretos.

Este sistema tem como fundamento básico a busca do princípio da causa/ação, ou

seja, procura identificar de forma clara, por meio de rastreamento, o agente

causador do custo, para lhe imputar o valor. MARTINS (2003), explica que para

atribuir os custos as atividades e aos produtos é necessário utilizar direcionadores e

que é necessário distinguir dois tipos: os direcionadores de custos de recursos e de

custos de atividades.

Segundo BOISVERT (1999), os recursos consumidos pela empresa são apropriados

às atividades que o consomem. Em seguida, os custos de cada atividade são

apropriados aos objetos de custo que as demandam, assim, o transito dos recursos

pelas atividades para aproximar os recursos de seus objetos de custo, permite

identificar as relações causais entre recursos de seus objetos de custo, não sendo

possível fazê-lo nos sistemas tradicionais, essa pode ser a maior vantagem do

custeio por atividade.

4.3.4 CUSTEIO-ALVO (CUSTO-META)

O custeio-alvo, para PEREZ JR. (1999), se baseia no custo-alvo obtido da subtração

de um preço estimado da margem de lucratividade desejada, como objetivo de

atingir um custo de produção desejado. Para o autor, este, é um método utilizado

para analisar os produtos e os desenhos de processos, onde são envolvidas as

estimativas de um custo-alvo e o desenvolvimento de um produto que atinja o alvo

desejado.

Para WERNKE (2001), o custeio-alvo demonstra uma forte ligação ao ciclo de vida

de um produto, pois, o custo é calculado levando-se em consideração a participação

de mercado e a margem de lucro como requisitos a serem satisfeitos pela área de

Page 14: artigo contabilidade de custos para pequenas empresas

desenvolvimentos de produtos, atingindo, assim, o custo-alvo. Para o autor, o

custeio-alvo pode ser dividido em etapas e estas são: a definição de um custo-alvo

de produto viável; disciplinar o processo de custeio-alvo para garantir que seja

alcançado sempre que for viável e adequar o custo à meta fixada sem sacrifício da

funcionalidade e da qualidade, necessitando utilizar engenharia de valor e outras

técnicas de redução de custos.

4.4 FERRAMENTAS GERENCIAIS DA CONTABILIDADE DE CUSTOS

Existem ferramentas essenciais para a tomada de decisões em uma empresa e a

contabilidade de custos nos fornece algumas. Dentre elas, algumas são mais

comumente utilizadas e essas podem ser facilmente adaptadas e inseridas nas

estratégias das MPE’s.

4.4.1 MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO

Considerando uma indústria, a margem de contribuição consiste na diferença entre o

preço de venda do produto e a soma de seus custos e despesas varáveis, sendo

assim, tem-se a seguinte formula margem de contribuição = preço de venda – custos

variáveis + despesas variáveis [MC = PV - (CV + DV)]. Portanto, a margem de

contribuição é a parte do preço de venda que sobressai aos custos e despesas

variáveis e que proporciona a absorção dos custos fixos e a formação do lucro.

OLIVEIRA (2003).

De acordo com PADOVESE (2004) a margem de contribuição é de suma

importância para decisões que devem ser tomadas a curto prazo, além de

possibilitar muitas análises projetadas para a redução de custos, de preços unitários

de venda de produtos e políticas de incremento de quantidade de vendas.

Page 15: artigo contabilidade de custos para pequenas empresas

4.4.2 MARGEM DE SEGURANÇA

A margem de segurança está relacionada ao ponto de equilíbrio, pois PADOVESE

(2004) a define como o volume ou valor de vendas que ultrapassa as vendas

necessárias para que não se tenha prejuízo e nem lucro.

LEONE (2000, p. 354), diz que:

A margem de segurança, nos estudos de ponto de

equilíbrio, é a diferença entre o que a empresa pode

produzir e comercializar, em termos de quantidade de

produtos, e a quantidade apresentada no ponto de

equilíbrio. Chama-se margem de segurança porque

mostra o espaço que a empresa tem para fazer lucros

após atingir o ponto de equilíbrio

4.4.3 PONTO DE EQUILÍBRIO

De maneira bem popular pode-se dizer que é o momento financeiro em que não há

lucro e nem prejuízo. Mas de acordo com OLIVEIRA (2003) a expressão ponto de

equilíbrio é derivada da tradução do termo Break – Even Point, que faz alusão ao

nível de venda em que o que foi investido retornou para a empresa, ou seja, o total

dos gastos (custos e despesas) é igual ao total das receitas.

4.4.4 GRAU DE ALAVANCAGEM OPERACIONAL

O grau de alavancagem operacional, possui uma origem advinda da filosofia da

física, onde a extremidade de um instrumento serve como força propulsora para que

a outra possua uma força maior, essa é a função de uma alavanca.

Page 16: artigo contabilidade de custos para pequenas empresas

Segundo CREPALDI (2002), alavancagem é o aumento do lucro em paralelo com o

aumento das vendas.

PADOVESE (2004) apresenta a mesma ideia de aumentar o lucro, porém com uma

linguagem mais técnica, portanto, alavancagem operacional é a capacidade de

produzir e vender o máximo que for possível dentro dos determinados custos e

despesas fixas para que se consiga aumentar o lucro. Por isso a alavancagem é

altamente dependente da margem de contribuição.

5 MARK-UP

É o índice que é aplicado sobre gastos de um determinado bem ou serviço com o

objetivo de determinar o preço de venda. Mark-up é uma expressão inglesa que

significa marca acima BRUNI (2003) expõem a finalidade do mark-up como sendo a

de cobrir contas não identificadas no custo como os impostos (ICMS, PIS e

COFINS) e taxas variáveis sobre vendas, despesas administrativas e comerciais

fixas, despesas de vendas fixas, custos indiretos de produção fixos e o lucro

desejado pela empresa. Podendo ser calculado de duas formas, multiplicador que

multiplica os custos variáveis para chegar ao preço de venda que deve ser

estipulado ou divisor, que denota percentualmente o custo variável em relação ao

preço de venda.

PADOVESE (2004, p. 314) ainda lembra que “todos os componentes do mark-up

são determinados por meio de relações percentuais médias sobre os preços de

vendas e, a seguir, aplicados sobre o custo dos produtos”.

6 METODOLOGIA

Este trabalho teve como objetivo verificar e demonstrar os conceitos da

contabilidade de custos e a eficácia do uso de um sistema de custeio na formação

Page 17: artigo contabilidade de custos para pequenas empresas

do preço de venda ou prestação de serviço, sendo utilizado como metodologia

referências bibliográficas e estudos como o do SEBRAE que fala sobre as micros e

pequenas empresas que não sobrevivem ao menos 2 anos no mercado por falta de

planejamento dos empresários.

7 CONDIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo expôs os principais tópicos da contabilidade de custos e dos

sistemas de custeio, os quais podem ser utilizados com instrumentos de apoio à

gestão das micro e pequenas empresas. A alta competitividade do mercado obriga

as empresas a tomarem atitudes que se não forem planejadas de forma correta

podem acarretar grandes problemas como, por exemplo, a morte do negócio, então,

concluirmos que dentre os diversos problemas encontrados atualmente, a falta de

conhecimento técnico para controle dos gastos e despesas da empresa é um dos

mais importantes, pois um gestor não tem como reduzir ou aumentar sua produção

sem saber os gastos que estão envolvidos na atividade fim da empresa ou sem um

devido controle dos gastos durante o processo produtivo, o gestor não tem como

identificar de forma mais assertiva o produto que traz mais lucro ou mais despesas,

e esses são apenas alguns exemplos de situações que obrigam a administração a

tomar algumas atitudes e se a empresa não tiver a disposição as informações

necessárias, a chance de errar é potencializada.

Através da pesquisa realizada foi possível demonstrar os principais conceitos

relacionados à contabilidade de custos com o intuito de explicar de forma simples e

objetiva a relevância das ferramentas de custos para a gestão dos negócios e, com

isso, tentamos quebrar o paradigma de que a contabilidade para as micro e

pequenas empresas é útil apenas para apurar impostos, mostrando assim um

horizonte de possibilidades para enriquecer a gestão empresarial. É importante citar

também, que não existe um sistema de custeio perfeito, sendo assim, o gestor deve

a adaptar os sistemas de custeio para que funcione de forma que atenda as

necessidades da empresa, mas através dos estudos chegamos à conclusão que o

sistema de custeamento direto ou variável é o mais indicado às micro e pequenas

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empresas por ser um sistema de fácil entendimento e que presta auxílio à

administração nas tomadas de decisões, além de ser muito eficiente na apuração

dos gastos da organização.

Concluindo, o sucesso do negócio está nas mãos de seus gestores, então é

necessário ter a disposição todas as informações possíveis para poder planejar

alguma ação e tomar alguma atitude e tudo na empresa gera gastos que se não

forem bem administrados, eles corroem e diminuem a vida útil da empresa no

mercado e é para justamente que isto não aconteça que demonstramos a relevância

da contabilidade de custos e suas ferramentas neste artigo.

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