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ANÁLISE NUMÉRICA DE DESLOCAMENTOS HORIZONTAIS EM CORTINA DE ESTACA SECANTE Rio de Janeiro FEVEREIRO DE 2018 Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientadores: Alessandra Conde de Freitas Eduardo Vidal Cabral

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ANÁLISE NUMÉRICA DE DESLOCAMENTOS

HORIZONTAIS EM CORTINA DE ESTACA

SECANTE

Rio de Janeiro

FEVEREIRO DE 2018

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Civil da Escola Politécnica da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientadores:

Alessandra Conde de Freitas

Eduardo Vidal Cabral

ANÁLISE NUMÉRICA DE DESLOCAMENTOS HORIZONTAIS EM CORTINA

DE ESTACA SECANTE

Enzo Cosenza Zucchi

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO

RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinado por:

_____________________________________

Prof. Alessandra Conde de Freitas.

_____________________________________

Eng. Eduardo Vidal Cabral.

_____________________________________

Engª. Ana Cláudia de Mattos Telles.

_____________________________________

Prof. Bruno Lima

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

FEVEREIRO de 2018

i

Zucchi, Enzo Cosenza

Análise de deslocamentos horizontais em cortina de estaca

secante através de modelagem numérica bidimensional pelo

método dos elementos finitos / Enzo Cosenza Zucchi – Rio de

Janeiro: UFRJ/ ESCOLA POLITÉCNICA, 2018.

VI, 90p.: il.: 29,7 cm.

Orientador: Alessandra Conde de Freitas e Eduardo Vidal

Cabral

Projeto de Graduação – UFRJ/POLI/Curso de Engenharia

Civil, 2018.

Referências Bibliográficas: p. 79

1. Introdução 2. Revisão bibliográfica 3. Estudo de caso 4.

Análise numérica 5. Análise analítica e resumo dos resultados 6.

Conclusão 7. Referências bibliográficas

ii

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus por me permitir ter saúde e perseverança para

ultrapassar todos os obstáculos nessa trajetória acadêmica.

Agradeço a minha mãe, Lia que é meu maior exemplo de vida. Obrigado por

sempre se empenhar para dar o melhor para seus filhos. Graças a você pude realizar

muitos sonhos, inclusive concluir minha formação em engenharia. Agradeço também,

por sempre me apoiar e por diversos conselhos nos momentos difíceis. Dedico esse

trabalho e todo meu esforço durante essa fase acadêmica a você.

Agradeço também, a minha irmã, Carla, que sempre foi muito solícita a me

ajudar, até no que não estava ao seu alcance. Obrigado pela ajuda nos estudos e pelos

momentos de descontração e lazer.

Agradeço a minha namorada, Renata, por sempre se mostrar compreensiva nos

dias em que não pude dar atenção devido aos períodos de provas, pelas diversas vezes

que me ajudou, pelos momentos de descontração e principalmente pelo seu amor.

Agradeço aos meus amigos de faculdade por cada reunião de Skype pré-prova

tornando o estudo muito mais interessante e produtível, por cada resenha ocorrida nos

nossos poucos intervalos. Sem vocês com certeza a faculdade não teria sido tão boa.

Agradeço à minha orientadora Alessandra, por todo seu tempo dedicado a me

auxiliar e por suas ótimas aulas e conselhos. Obrigado por me incluir em seus projetos

de vida, com toda certeza foi muito enriquecedor intelectualmente e humanamente para

mim.

Agradeço também, a meu co-orientador Eduardo Cabral, por me ajudar nessa

fase de conclusão de curso. Obrigado por me permitir trabalhar junto a você. Com

certeza foi uma experiência incrível. Agradeço também, a confiança para uso de

informações que permitiram a realizar esse trabalho. Obrigada por disponibilizar grande

parte de seu tempo a me orientar, pela biblioteca emprestada e por ajudar na utilização

do programa Plaxis 2D.

iii

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

Análise numérica de deslocamentos horizontais em cortina de

estaca secante

Enzo Cosenza Zucchi

Fevereiro / 2018

Orientadores: Alessandra Conde Freitas e Eduardo Vidal Cabral

Curso: Engenharia Civil

Este trabalho apresenta análises dos deslocamentos horizontais de uma estrutura de

contenção ocorridos durante a execução de uma escavação instrumentada com

inclinômetros. A estrutura responsável por conter o solo é composta por estacas

secantes com armadura em perfil metálico. A obra consiste na construção de uma

edificação comercial com um nível de subsolo com pé direito elevado

O estudo trata da avalição dos resultados obtidos com o programa Plaxis 2D que utiliza

o método dos elementos finitos para análise de problemas geotécnicos. Os resultados

foram comparados com os dados obtidos pela instrumentação instalada na obra. Além

disso, serão verificados tanto o dimensionamento da ficha (parte da estrutura enterrada),

como, também, o momento fletor máximo atuante na cortina.

Palavras – Chave: Deslocamento horizontal, escavação, modelagem numérica,

Plaxis 2D

iv

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the Engenieer degree.

Numerical analysis of horizontal displacements of secant pile curtain

walls

Enzo Cosenza Zucchi

February / 2018

Advisor: Alessandra Conde Freitas and Eduardo Vidal Cabral

Course: Civil Engineering

The following work presents the analysis of the horizontal displacement of a retaining

structure that occurred during an excavation instrumented with inclinometers. The

structure responsible for retaining the soil is compounded by secant pile walls reinforced

with metal profile. The work consists in the construction of a commercial building that

has a high ceiling subsoil level.

This study evaluates the results obtained with Plaxis 2D, which is a software that utilizes

the finite element method (FEM) to analyze geotechnical problems. The results were

compared to the data obtained by the instruments installed in the construction itself.

Moreover, the dimensions of the buried part will be verified, as well as the maximum

bending moment induced in the curtain.

Keywords: Horizontal displacement, excavation, numerical modeling, Plaxis 2D

v

SUMÁRIO

1. Introdução .......................................................................................................................... 1

1.1. Considerações iniciais............................................................................................ 1

1.2. Objetivo do estudo ................................................................................................... 3

1.3. Estrutura do trabalho .............................................................................................. 3

2. Revisão bibliográfica ....................................................................................................... 5

2.1. Cortina de estacas secantes ................................................................................. 5

2.1.1. Aplicabilidade .................................................................................................... 5

2.1.2. Técnica de construção .................................................................................... 6

2.2. Ensaio de campo – SPT .......................................................................................... 9

2.2.1. Caracterização do ensaio ............................................................................. 10

2.2.2. Realização do ensaio .................................................................................... 13

2.3. Instrumentação – Inclinômetro ........................................................................... 14

2.4. Empuxo de terra ..................................................................................................... 16

2.4.1. Empuxo passivo x empuxo ativo ............................................................... 17

2.4.2. Teoria de Coulomb ......................................................................................... 18

2.4.3. Teoria de Rankine .......................................................................................... 20

2.5. Método analítico para cálculo da escavação – Dimensionamento de ficha

21

2.6. Método dos elementos finitos ............................................................................ 24

2.7. Ferramenta numérica – Plaxis 2D ...................................................................... 26

2.7.1. Entrada de dados (Input) .............................................................................. 27

2.7.2. Cálculo (Calculation) ..................................................................................... 28

2.7.3. Saída (Output) ................................................................................................. 28

2.7.4. Saída gráfica (Curves) ................................................................................... 28

2.8. Modelos Constitutivos .......................................................................................... 29

2.8.1. Elástico Linear ................................................................................................ 29

2.8.2. Mohr-Coulomb ................................................................................................ 30

2.8.3. Hardening-Soil ................................................................................................ 31

3. Estudo de caso ............................................................................................................... 33

3.1. Apresentação da obra ........................................................................................... 33

3.2. Sondagens associadas ao ensaio SPT ............................................................ 38

3.3. Instrumentação Geotécnica ................................................................................ 39

3.4. Seção estudada ...................................................................................................... 42

4. Análise numérica ............................................................................................................ 43

4.1. Parâmetros utilizados ........................................................................................... 43

4.1.1. Fator de correlação dos valores de Nspt ................................................... 43

vi

4.1.2. Módulo de elasticidade do solo .................................................................. 44

4.1.3. Ângulo de atrito e dilatância do solo ........................................................ 45

4.1.4. Resistência não drenada e coesão ............................................................ 46

4.1.5. Estimativa dos demais parâmetros do solo ............................................ 46

4.2. Modelagem do perfil Geotécnico ....................................................................... 47

4.3. Modelagem da cortina de estacas secantes ................................................... 49

4.4. Análise no Plaxis 2D .............................................................................................. 52

5. Análise analítica e resumo dos resultados ............................................................. 63

5.1. Hipótese 1 ..................................................................................................................... 65

5.2. Hipótese 2 ..................................................................................................................... 70

5.3. Resumo das análises ................................................................................................ 75

6. Conclusão ........................................................................................................................ 77

7. Referencias bibliográfica ............................................................................................. 79

1

1. Introdução

1.1. Considerações iniciais

Este trabalho foi desenvolvido com base no caso real de uma obra para

construção de um edifício comercial, localizado na zona oeste da cidade do Rio de

Janeiro, durante o ano de 2015. O empreendimento possui um nível de subsolo com

elevado pé-direito (4,15 a 5m). Desta forma, para os procedimentos de escavação, se

mostrou necessário executar uma contenção da massa de solo de montante, conforme

apresentado na Figura 1.1.

Figura 1.1. Escavação da obra em estudo (Sigma 1 Consultoria & Projetos, 2015).

O projeto de contenção prevê a implantação de um sistema composto por

estacas secantes e escavação de alívio na retroárea da cortina em todo o perímetro

escavado. Todos os dados e documentos utilizados nesse estudo foram fornecidos pela

Sigma 1 Consultoria & Projetos, empresa responsável pelos projetos de fundação e

contenção do empreendimento objeto deste estudo.

2

No que tange o controle de desempenho da obra, foram instalados oito

inclinômetros no interior das estacas de contenção, com monitoramento por meio de

leituras periódicas de acordo com o avanço da obra.

Conforme descrito por GERSCOVICH et al. (2016), nos centros urbanos, a falta

de espaço, a proximidade dos vizinhos e a presença de condutos de serviços impedem,

na maioria das vezes, o taludamento do terreno natural, tornando necessário o projeto

da estrutura de contenção. Em situações desta natureza, caso existam edificações

próximas, deve-se tomar os cuidados cabíveis para evitar recalques ou movimentos que

afetem a estabilidade ou a integridade das obras vizinhas.

Desta forma, a previsão de deslocamentos horizontais ocasionados por uma

escavação profunda é um aspecto importante do projeto no caso de obras urbanas,

principalmente se nas proximidades da obra existirem construções antigas, ou obras

tombadas pelo patrimônio histórico.

GERSCOVICH et al. (2016) ressaltam que rupturas que podem ocorrer em obras

de escavações podem ser graves, podendo resultar, inclusive, em mortes dos

trabalhadores e o comprometimento da estabilidade das estruturas vizinhas. Evitar as

rupturas é o problema principal. Estas podem resultar de vários fatores: tensões

excessivas do sistema de suporte, se aproximando da resistência dos materiais

envolvidos como, por exemplo, esforços de flexão na cortina excedendo os valores

resistentes, esforços nas estroncas superando a carga limite de flambagem, ficha

insuficiente, resistência ao cisalhamento do solo no fundo da escavação incapaz de

resistir à estabilidade à ruptura global, possibilidade de liquefação do solo (fenômeno da

areia movediça), ruptura hidráulica quando da ocorrência de elevadas poropressões

sem possibilidade de drenagem, etc. Muitas são, portanto, as análises geotécnicas

necessárias à garantia da estabilidade da escavação.

Atualmente, os métodos numéricos consistem em ferramentas úteis na avaliação

do comportamento deste tipo de obra. Porém, em algumas situações, não se dispõe do

conhecimento dos parâmetros geotécnicos necessários a uma modelagem adequada

do comportamento do solo. Por este motivo, é sempre conveniente a estimativa dos

recalques nos vizinhos através de métodos empíricos, que tiveram origem no

acompanhamento dos deslocamentos horizontais de obras. A instrumentação dos

deslocamentos verticais em estruturas vizinhas associados aos deslocamentos

horizontais na própria cortina, permitiu a formação do banco de dados que norteia

grande parte dos métodos empíricos disponíveis para dimensionamento de cortinas.

3

1.2. Objetivo do estudo

O presente trabalho busca avaliar o desempenho de uma cortina em balanço de

estacas secantes, utilizada para contenção de escavação em terreno

predominantemente arenoso, a partir dos seus deslocamentos horizontais. Serão

comparados os valores adquiridos com base na análise numérica, realizada com o

programa Plaxis 2D, e os obtidos por meio de instrumentação. Com o objetivo de

reproduzir o comportamento dos materiais geotécnicos que compõem o subsolo, serão

utilizados dois modelos constitutivos, Mohr-Coulomb e Hardening-Soil. Serão

comparados os resultados obtidos nas modelagens numéricas com a instrumentação

de campo, para uma seção representativa da escavação. Com intuito de validar os

modelos numéricos, o comprimento de ficha (estrutura enterrada) da cortina será

dimensionado analiticamente, como também serão calculados os momentos fletores

máximos baseado em método difundido para cortina em balanço.

1.3. Estrutura do trabalho

O presente trabalho foi dividido em sete capítulos, organizados da seguinte

forma:

No capítulo 1 é apresentada a introdução do trabalho, abordando considerações

iniciais sobre a obra, objetivo do estudo e a divisão dos capítulos.

O capítulo 2 aborda a revisão bibliográfica necessária para embasar o estudo. É

apresentado o conceito de cortina de estacas secantes, sua aplicação e método

construtivo. Além disso, este capítulo aborda os ensaios de campo utilizados para

obtenção dos parâmetros geotécnicos necessários ao caso estudado e a

instrumentação utilizada para monitoramento do comportamento da escavação em

termos de deslocamentos. Por fim, as principais informações a respeito do método

analítico para dimensionamento de cortinas em balanço, do método dos elementos

finitos e o programa numérico Plaxis 2D são apresentados.

O capítulo 3 trata do estudo de caso, onde são apresentados todos os dados

disponíveis da obra. São abordados os ensaios de campo (sondagem de simples

reconhecimento associada ao SPT), a instrumentação geotécnica, e a seção escolhida

para análise dos deslocamentos.

No capítulo 4 são apresentadas as análises numéricas. Procurou-se dar ênfase

aos deslocamentos horizontais obtidos. Neste capítulo são abordadas as correlações

4

utilizadas para a obtenção de parâmetros geotécnicos, modelagem geotécnica e da

cortina, e os resultados obtidos através do Plaxis 2D.

O quinto capítulo é designado a uma solução analítica para cortinas em balanço

com o objetivo de estimar o comprimento da ficha e compará-lo ao utilizado em Projeto.

Adicionalmente é estimado analiticamente o momento fletor máximo atuante na cortina

de estacas secantes.

O capítulo 6 apresenta o resumo dos dados obtidos de todas as análises.

No capítulo 7 são feitas as considerações finais do trabalho e sugestões para

trabalhos futuros.

No capítulo 8 encontram-se as referências bibliográficas utilizadas no presente

trabalho.

5

2. Revisão bibliográfica

2.1. Cortina de estacas secantes

A necessidade de otimizar o uso dos terrenos, é cada vez mais usual a utilização

de subsolos como pavimentos de empreendimentos, sejam estes residenciais ou

comerciais. É sempre uma preocupação estabilizar de forma segura a massa de solo

durante e após a escavação. Desta forma, existem hoje inúmeras soluções de

contenção, sendo a cortina de estacas secantes um exemplo destas. Esta técnica utiliza

estacas que se sobrepõem parcialmente, formando uma parede de concreto moldada

in loco executada com auxílio de perfuratriz por processo rotativo. A parede final é

composta por estacas secantes entre si, que são dividias entre estacas primárias e

estacas secundárias. As primárias são as primeiras a serem executas, recebem

armadura apenas para resistir a fissuração. Já as secundarias são as últimas a serem

executadas, responsáveis por fechar os espaços deixados entre as primarias, recebem

a armadura principal. A Figura 2.1 mostra um croqui de uma parede de estacas

secantes.

Figura 2.1. Croquis de estacas secantes (LAN GEOTECNIA E FUNDAÇÕES, 2018).

2.1.1. Aplicabilidade

A cortina de estacas secantes começou a ganhar espaço no mercado de

contenções, pelo fato de apresentar grande versatilidade se comparada às técnicas

tradicionais, pois não necessita de utilização de fluido estabilizante em sua execução e

nem de equipamento auxiliar. Pode ser uma alternativa para casos onde outras opções

de contenção sejam inviáveis, tenham custo mais elevado, ou ainda tenham

características executivas que não são aceitáveis em determinadas ocasiões.

As estacas formam uma estrutura rígida com elevada resistência ao empuxo

horizontal provocado pelo solo e pela água e, além disso, a cortina é praticamente

impermeável. A cortina de estacas pode ser construída em locais de dimensões

6

reduzidas e junto a estruturas já existentes. A técnica de perfuração para as estacas

secantes permite a construção das paredes em condições de terreno difíceis, solos de

alta resistência e variabilidade entre camadas.

Devido ao crescente número de escavações em meios urbanos densamente

ocupados, a preocupação com a diminuição de incidência de vibrações e ruídos tem

ocupado cada vez mais o cenário da construção civil. As estacas secantes,

caracterizadas por emitirem baixo ruído e vibração têm sido cada vez mais utilizadas

como alternativa para as contenções. Sob o ponto de vista econômico, a solução em

estacas secantes é uma alternativa às paredes de diafragma, para construções até dois

níveis de subsolo convencionais.

2.1.2. Técnica de construção

O método para execução das estacas secantes é uma derivação da técnica de

construção das estacas de hélice contínua que são usadas desde 1990. Utiliza-se o

mesmo equipamento para perfuração, porém adaptado com novos acessórios. O

procedimento executivo apresenta 5 fases distintas: construção da mureta guia,

perfuração das estacas primárias, concretagem, perfuração das estacas secundárias

(ou de fechamento), lançamento da armadura ou perfil metálico, como será melhor

detalhado a seguir.

1) Construção da mureta guia:

Sua execução consiste na escavação de uma vala, onde são posicionadas as

fôrmas de polietileno (isopor) que receberão o concreto. Elas servem para

delinear o muro de contenção a ser executado, e como guia das estacas. Para

ilustrar, segue abaixo a Figura 2.2.

7

Figura 2.2. Forma de isopor e mureta guia (LAN GEOTECNIA E FUNDAÇÕES, 2018).

2) Perfuração das estacas primárias:

Nesta etapa, uma perfuratriz hidráulica é utilizada para abertura de um pré-furo

para instalação da camisa metálica. As camisas são instaladas para execução

das estacas primárias e ajudam a garantir a verticalidade da perfuração.

Uma perfuratriz hidráulica (Figura 2.3) é utilizada sobre a camisa metálica para

realizar a perfuração definitiva. O equipamento é semelhante ao empregado na

execução de estacas hélice contínua, com o diferencial de possuir cabeçote de

dupla rotação, capaz de girar a hélice em sentido horário e o tubo de

revestimento no sentido oposto. A ponta do tubo é confeccionada em vídea

(material utilizado na confecção de brocas e equipamentos de corte), para

permitir o recorte das peças de concreto.

8

Figura 2.3. Perfuratriz hidráulica (CLG FUNDAÇÕES, 2018).

3) Concretagem:

O bombeamento do concreto é feito simultaneamente à retirada do trado e,

assim, pode-se girar o tubo em sentido anti-horário, o que favorece a retirada do

material e diminui o atrito deste com o solo. A saída do concreto se dá por uma

válvula existente na lateral da ponteira da hélice.

4) Perfuração das estacas secundárias ou de fechamento:

Antes da perfuração das estacas secundárias deve-se remover a camisa

metálica da estaca primária já executada. Para essa tarefa pode-se utilizar um

extrator hidráulico. As estacas secundárias sempre devem cortar as estacas

primárias de forma a eliminar falhas e garantir estanqueidade. Para que a

perfuratriz consiga fazer esse corte lateral, é necessário que as estacas sejam

executadas com concreto com slump alto, com características especiais de

plasticidade e trabalhabilidade.

9

5) Lançamento da armadura ou perfil metálico:

Geralmente as estacas primárias possuem armação somente para fissuração,

sendo preenchidas com concreto ou argamassa, enquanto as secundárias

devem receber a armação principal necessária para suportar a solicitação de

empuxos. As estacas receberão a armação após o término do processo de

concretagem, e como a cortina trabalhará a flexão, devem ser armadas em todo

o seu comprimento. A armação pode ser composta por barras verticais e estribos

soldados (Gaiola) ou pelo emprego de perfis laminados de aço.

Por fim, para completar a construção da cortina de estacas secantes, a execução

das estacas primárias e secundárias é repetida alternadamente até que se complete

todo o perímetro da escavação. A Figura 2.4, apresenta sequência executiva

recomendada para a realização da cortina.

Figura 2.4. Sequência executiva recomendável (ABEF, 2004).

2.2. Ensaio de campo – SPT

O Standard Penetration Test (SPT) é a mais popular e econômica ferramenta de

investigação geotécnica. Ele serve como indicativo da densidade de solos granulares e

é aplicado também na identificação da consistência de solos coesivos. Além disso, é

possível obter amostras representativas coletadas a cada metro de profundidade.

10

2.2.1. Caracterização do ensaio

Segundo a norma NBR 6484 da ABNT, a sondagem de simples reconhecimento

com SPT é feita com avanços a cada metro devendo ser executada à trado helicoidal

até atingir o nível d’água. Após atingir o nível d’água é permitida a utilização do trépano

de lavagem para facilitar o avanço. Para garantir a estabilidade do furo escavado são

usados tubos de aço como revestimento.

O ensaio tem por finalidade:

a) A determinação dos tipos de solo e suas respectivas profundidades de

ocorrência;

b) A posição do nível d’água;

c) Os índices de resistência (Nspt) a cada metro.

A aparelhagem-padrão utilizada no ensaio consiste de:

a) torre com roldana; b) tubos de revestimento; c) composição de perfuração ou

cravação; d) trado-concha ou cavadeira; e) trado helicoidal; f) trépano de lavagem; g)

amostrador-padrão; h) cabeças de bateria; i) martelo padronizado para a cravação do

amostrador; j) balde para esgotar o furo; k) medidor de nível-d ’água; l) metro de balcão;

m) recipientes para amostras; n) bomba d’água centrífuga motorizada; o) caixa d’água

ou tambor com divisória interna para decantação; p) ferramentas gerais necessárias à

operação da aparelhagem.

Na Figura 2.5, pode-se ver alguns detalhes do equipamento utilizado para realização

do ensaio.

11

Figura 2.5. Equipamento de sondagem (SCHNAID & ODEBRECHT, 2012).

A seguir será feita uma breve descrição dos principais elementos do sistema.

a) Torre com roldana

A torre pode ter, opcionalmente, guincho motorizado ou sarilho, para auxílio nas

manobras com hastes ou tubos de revestimento.

A roldana da torre deve estar sempre suficientemente lubrificada para reduzir ao

máximo o atrito no seu eixo.

b) Tubos de revestimento

Os tubos de revestimento devem ser de aço, com diâmetro nominal interno de 63,5

(Dext = 76,1 mm ± 5 mm e Dint = 68,8 mm ± 5 mm), podendo ser emendados por luvas,

com comprimentos de 1,00 m e/ou 2,00 m.

12

c) Composição de perfuração

A composição de perfuração e de cravação do amostrador-padrão deve ser constituída

de hastes de aço com diâmetro nominal interno 25 e peso teórico de 32 N/m (3.2 kg por

metro linear), acopladas por roscas e luvas em bom estado, devidamente atarraxado,

formando um conjunto retilíneo, em segmentos de 1,00 m e/ou 2,00 m.

d) Trado – concha

O trado-concha deve ter diâmetro de (100 ± 10) mm.

e) Trado helicoidal

A diferença entre o diâmetro do trado helicoidal (diâmetro mínimo de 56 mm) e o

diâmetro interno do tubo de revestimento deve estar compreendida entre 5 mm e 7 mm,

a fim de permitir sua operação por dentro do tubo de revestimento e, mesmo com algum

desgaste, ainda permitir abertura de furo com diâmetro mínimo de 56 mm, para que o

amostrador-padrão desça livre dentro da perfuração.

f) Trépano de lavagem

O trépano deve ser constituído de aço, com diâmetro nominal 25, terminada em bisel e

dotada de duas saídas laterais para água. A largura da lâmina do trépano deve

apresentar uma folga de 3 mm a 5 mm em relação ao diâmetro interno do tubo de

revestimento utilizado. A distância entre os orifícios de saída da água e a extremidade

em forma de bisel deve ser no mínimo de 200 mm e no máximo de 300 mm.

g) Amostrador-padrão

O amostrador-padrão a ser utilizado na execução do ensaio é dividido de 3 partes:

sapata, corpo e cabeça.

A sapata ou bico, devendo ser de aço temperado e estar isenta de trincas,

amassamentos, ondulações, denteações, rebordos ou qualquer tipo de deformação que

altere a seção.

O corpo devendo ser perfeitamente retilíneo, isento de amassamentos, ondulações,

denteamentos, estriamentos, rebordos ou qualquer deformação que altere a seção e

rugosidade superficial, podendo ou não ser bipartido longitudinalmente.

13

A cabeça, devendo ter dois orifícios laterais para saída da água e do ar, bem como

devendo conter interiormente uma válvula constituída por esfera de aço recoberta de

material inoxidável.

h) Cabeça de bater

A cabeça de bater da composição de cravação, que vai receber o impacto direto do

martelo, deve ser constituída por tarugo de aço de (83 ± 5) mm de diâmetro, (90 ± 5)

mm de altura e massa nominal entre 3,5 kg e 4,5 kg.

i) Martelo padronizado

O martelo padronizado, para cravação dos tubos de revestimento e da composição de

hastes com amostrador, deve consistir em uma massa de ferro de forma prismática ou

cilíndrica, tendo encaixado, na parte inferior, um coxim de madeira dura (peroba rosa ou

equivalente), perfazendo um total de 65 kg.

2.2.2. Realização do ensaio

De acordo com a NBR 6484, o ensaio é realizado a cada metro. Consiste na

cravação de um amostrador padrão através de golpes exercidos por um martelo

padronizado. O martelo deve ser erguido a uma altura de 75 cm, marcada na haste-

guia, por meio de uma corda e solto em queda livre para efetuar o golpe. O número de

golpes necessários para cravar o amostrador são contados separadamente em 1os, 2os

e 3os 15 cm, totalizando 45 cm. Na prática, é registrado o número de golpes empregados

para uma penetração imediatamente superior a 15 cm, registrando-se o comprimento

penetrado. Em seguida, é contado o número adicional de golpes até a penetração total

ultrapassar 30 cm. Finalmente, o número de golpes adicionais para a cravação atingir

45 cm ou, com o último golpe, ultrapassar este valor. O índice de resistência Nspt, será

dado pela soma dos golpes necessários para cravar os últimos 30 cm.

Após a realização do ensaio, o avanço para o metro seguinte deve ser feito com

trado helicoidal (acima do nível d’água) ou com o trépano de lavagem (abaixo do nível

d’água). É válido ressaltar que com a impossibilidade de avanço com o trado também é

permitido utilizar o trépano.

Devido a presença de solos muito resistentes, ocorre a impossibilidade de

cravação e/ou avanço da perfuração. Segundo a Norma NBR 6484, item 6.3.12, a

14

cravação do amostrador-padrão é interrompida antes dos 45 cm de penetração sempre

que:

a) em qualquer dos três segmentos de 15 cm, o número de golpes ultrapassar 30;

b) um total de 50 golpes tiver sido aplicado durante toda a cravação; e

c) não se observar avanço do amostrador-padrão durante a aplicação de cinco golpes

sucessivos do martelo

E após a retirada da composição com o amostrador, deve em seguida ser

executado o ensaio de avanço da perfuração por circulação de água. O ensaio deve ter

duração de 30 min, devendo-se anotar os avanços do trépano obtidos em cada período

de 10 min. A sondagem deve ser dada por encerrada quando, o avanço da perfuração

por circulação de água (trepano de lavagem) for inferior a 50 mm em cada período de

10 min ou quando, após a realização de quatro ensaios consecutivos, não for alcançada

a profundidade de execução do SPT.

2.3. Instrumentação – Inclinômetro

O inclinômetro é o principal instrumento para a medição de deslocamentos

horizontais. É composto por uma haste cilíndrica, com duas ou quatro rodas distribuídas

nas laterais e com um sensor de inclinação instalado no seu interior. As rodas se

encaixam em ranhuras dentro de um tubo (Figura 2.6) de PVC ou alumínio que é

cravado no terreno até uma profundidade onde não se espera haver deslocamentos.

São medidos então os deslocamentos em duas direções ortogonais ao longo do

comprimento do tubo, essas leituras são feitas geralmente de meio em meio metro.

Existem os inclinômetros fixo e removível. No fixo, são colocados os sensores

espalhados ao longo do tubo com espaçamento solicitado pelo projetista, sendo mais

usado em locais de difícil acesso ou em casos que necessitem o monitoramento em

tempo real. No removível, um sensor é introduzido até o final do tubo e à medida que

vai sendo puxado de volta, vai sendo medida a inclinação do tubo em intervalos iguais

geralmente de 0,5 metro. Podem ser instalados inclinômetros com o tubo enterrado

verticalmente ou horizontalmente.

15

Figura 2.6. Tubo de acesso do inclinômetro (WYDE, 2018)

O inclinômetro pode ser usado para medir movimentos laterais e transversais do

solo, sendo muito usado para controle de estabilidade de cortinas e taludes. Como o

objetivo do inclinômetro é medir o deslocamento horizontal do tubo em relação à posição

inicial, é necessário fazer a primeira medição assim que o tubo for instalado. Somando

o deslocamento de cada segmento do tubo, calcula-se através da equação (1) o

deslocamento total de cada ponto ao longo do tubo em relação a um eixo vertical

imaginário que passa pela base do tubo como mostrado na Figura 2.7. Com isso, deve-

se comparar com os valores iniciais medidos imediatamente após a instalação do tubo,

para se obter os valores reais do deslocamento.

𝛿ℎ = 𝐿 × ∑ sin 𝜃 (1)

onde:

δh = deslocamento horizontal;

L = distância entre medidas;

θ = leitura do inclinômetro.

16

Figura 2.7. Inclinômetro – Cálculo de deslocamento (UFBA – GEOTECNIA, 2018).

Os inclinômetros são equipamentos robustos, porém podem sofrer perturbações.

Alguns cuidados devem ser tomados para evitar o vandalismo dos tubos de acesso:

(i) Colocação de tampa na extremidade do tubo de acesso;

(ii) Construção de uma caixa de proteção chaveada no entorno do tubo;

(iii) Atenção na execução das perfurações subhorizontais dos grampos para

evitar os danos nos tubos verticais dos inclinômetros.

2.4. Empuxo de terra

Empuxo de terra é a ação horizontal produzida por um maciço de solo sobre as

obras com ele em contato (GERSCOVICH, 2010). Essa ação é causada pelo peso

próprio do solo, por cargas aplicadas no solo ou carregamento externo.

Determinar o valor do empuxo de terra é de suma importância para a análise e

projeto geotécnicos como muros de arrimo, cortinas, escavação de subsolos, entre

outros. A distribuição de tensões e o consequente valor do empuxo dependem da

interação solo/estrutura mais especificamente da magnitude e sentido do deslocamento

da estrutura. O empuxo sobre a contenção provoca deslocamentos horizontais que por

sua vez modificam o valor e a distribuição do empuxo, ao longo das fases construtivas

da obra.

17

2.4.1. Empuxo passivo x empuxo ativo

O empuxo ativo ocorre quando as forças exercidas pelo solo sobre as estruturas

são de natureza ativa, ou seja, quando o solo “empurra” a estrutura, que reage,

tendendo a afastar-se do maciço. Por outro lado, quando a estrutura é “empurrada”

contra o solo, a força exercida pela estrutura sobre o solo é de natureza passiva.

(GERSCOVICH, 2010).

Em determinadas obras, a interação solo-estrutura pode englobar

simultaneamente empuxos passivo e ativo. É o caso da Figura 2.8, onde se representa

uma cortina em balanço. As pressões ao lado esquerdo da cortina são de origem ativas,

pois estão “empurrando” a estrutura. Já as pressões do lado direito ocorrem devido à

cortina “empurrar” o solo com um movimento de rotação.

Figura 2.8. Diagrama de tensão horizontal hipotético - Contenção em balanço

18

2.4.2. Teoria de Coulomb

Para Coulomb o empuxo de terra baseia-se na teoria de equilíbrio limite podendo

considerar a existência de atrito entre o solo e o muro. Esta teoria tem como objetivo

estabelecer o equilíbrio das superfícies potenciais de ruptura planas, as cunhas, através

de tentativas. A Figura 2.9 mostra que ao variar o ângulo é possível obter diferentes

cunhas. A cunha que corresponde ao valor do maior empuxo chama-se cunha crítica.

W é o peso da massa de solo;

é o ângulo de inclinação da superfície de ruptura;

δ é o ângulo de atrito solo-muro

Ea é a reação do muro ao empuxo ativo;

φ' é o ângulo entre a resultante ao cisalhamento R e a normal à superfície de ruptura.

Figura 2.9. Método de Coulomb – determinação da cunha crítica (BECKER, 2016)

Em resumo são consideradas as seguintes hipóteses:

Solo homogêneo e isotrópico;

A ruptura ocorre ao longo de uma superfície planar;

Pode existir atrito solo-muro;

Uma pequena deformação da parede é suficiente para mobilizar o estado limite.

Para solos não coesivos, a determinação do coeficiente de empuxo ativo e

passivo, devem considerar a inclinação do terrapleno (), a inclinação do tardoz em

relação a horizontal (α) e a inclinação do empuxo de terra (), conforme apresentado na

Figura 2.10.

.

19

α é a inclinação da parede do muro em contato com o terreno;

é o ângulo de inclinação da superfície de ruptura;

δ é o ângulo de atrito solo-muro;

β é o ângulo de inclinação do terreno adjacente;

φ’ é o ângulo entre a resultante ao cisalhamento R e a normal à superfície de ruptura.

Figura 2.10. Método de Coulomb para o caso de empuxo ativo (a) e passivo (b),

(GERSCOVICH, 2010).

As Equações abaixo apresentam os valores de coeficiente de empuxo ativo e

passivo obtido pelo método de Coulomb.

𝐾𝑎 =sin²(𝛼 + 𝜑)

sin²(𝛼) × sin(𝛼 − 𝛿) [1 + √sin(𝜑 + 𝛿) × sin(𝜑 − 𝛽)sin(𝛼 − 𝛿) × sin(𝛼 + 𝛽)

]

2

(2)

𝐾𝑝 =

sin²(𝛼 − 𝜑)

sin²(𝛼) × sin(𝛼 + 𝛿) [1 − √sin(𝜑 + 𝛿) × sin(𝜑 + 𝛽)sin(𝛼 + 𝛿) × sin(𝛼 + 𝛽)

]

2

(3)

Para solos coesivos a teoria de Coulomb também é válida, e deve-se considerar

a parcela de adesão solo-muro “cw”. Próximos a superfície desenvolvem-se trincas de

tração a uma profundidade Zo, segundo a equação abaixo:

𝑍𝑜 =

2𝑐

𝛾√𝐾𝑎

(4)

20

Figura 2.11. Método de Coulomb para solos coesivos (GERSCOVICH, 2010)

Dessa forma, a cunha crítica passa a ter um formato trapezoidal ao invés de

triangular, Figura 2.11. As forças atuantes devido a coesão são:

Força de adesão do solo ao elemento de contenção, 𝐶𝑤 = 𝑐𝑤 × 𝐸𝐵

Força no plano de ruptura, 𝐶 = 𝑐 × 𝐵𝐶

2.4.3. Teoria de Rankine

A teoria de Rankine para determinar o empuxo de terra sobre um elemento de

contenção tem como filosofia básica a teoria de equilíbrio plástico. Qualquer estrutura

em contato com o solo, ao sofrer deslocamento, mobiliza os estados limites de

plastificação em todo no maciço, formando infinitas superfícies planas potenciais de

ruptura. A teoria baseia-se nas seguintes hipóteses:

Solo isotrópico e homogêneo;

A ruptura ocorre em todos os pontos do maciço simultaneamente;

Ausência do atrito solo/estrutura;

Os empuxos de terra atuam paralelamente à superfície do terreno;

A elemento de contenção em contato com o solo é vertical.

Através da Teoria de Rankine calcula-se o empuxo ativo e passivo numa

estrutura com paramento vertical. A integração das tensões horizontais ao longo da

altura da estrutura de contenção nos fornece o valor do empuxo. As tensões horizontais

são calculadas através do sistema de equações utilizadas para o maciço.

A determinação do coeficiente de empuxo ativo e passivo para solos granulares

é feita através da seguinte expressão:

21

𝐾𝑎 =

𝜎`ℎ𝑎

𝜎`𝑣𝑜=

1 − sin 𝜑

1 + sin 𝜑= tan ²(45 −

𝜑′

2) (5)

𝐾𝑝 =

𝜎`ℎ𝑝

𝜎`𝑣𝑜=

1 + sin 𝜑

1 − sin 𝜑= tan ²(45 +

𝜑′

2)

(6)

Onde:

𝜎`ℎ𝑎 é tensão horizontal efetiva no estado ativa;

𝜎`ℎ𝑝 é tensão horizontal efetiva no estado passivo;

𝜎`𝑣𝑜 é tensão vertical efetiva.

Para solos não coesivos, o cálculo das tensões horizontais que darão origem

aos empuxos é usado as equações abaixo.

𝜎`ℎ𝑎 = 𝜎`𝑣 × 𝐾𝑎 (7)

𝜎`ℎ𝑝 = 𝜎`𝑣 × 𝐾𝑝 (8)

Essa teoria pode ser estendida para solos coesivos modificando as equações

acima pelas abaixo:

𝜎`ℎ𝑎 = 𝜎`𝑣 × 𝐾𝑎 − 2 × 𝑐` × √𝐾𝑎 (9)

𝜎`ℎ𝑝 = 𝜎`𝑣 × 𝐾𝑝 + 2 × 𝑐` × √𝐾𝑝 (10)

2.5. Método analítico para cálculo da escavação – Dimensionamento de ficha

Conforme descrito por GERSCOVICH et al. (2016), as cortinas em balanço

podem ser utilizadas em casos de escavações de pequena profundidade ou em etapas

iniciais de uma escavação profunda. Admite-se que a cortina sofra uma rotação sob o

efeito do empuxo ativo atuante no trecho livre. Consequentemente o empuxo passivo é

mobilizado à frente do trecho enterrado até o ponto de rotação. Abaixo deste ponto, as

condições de empuxo são invertidas como mostra a Figura 2.12. Sendo assim, é

possível estabelecer o diagrama resultante de empuxos ativo e passivo segundo a

Teoria de Rankine, vista no item 2.4.3 deste trabalho.

22

Figura 2.12. Tipo de deslocamento da cortina em balanço (GERSCOVICH et al. 2016)

Para garantir a estabilidade da estrutura de contenção é necessário determinar

o comprimento da cortina que ficará enterrada, chamado de ficha. Existem alguns

métodos analíticos para cálculo de valor da ficha, entre eles o método convencional e o

método simplificado.

Figura 2.13. Diagrama de empuxos resultantes – Cortina em balanço (GERSCOVICH et al.

2016).

23

Dado que o subsolo da obra estudado é composto basicamente por uma matriz

arenosa, as análises apresentadas posteriormente no capítulo 4 se darão em condições

drenadas.

A cortina em balanço sofre uma rotação sob o efeito do empuxo ativo que resulta

na formação de zonas ativa e passiva, como indicadas na Figura 2.12. Como resultado,

surge uma distribuição de empuxos não linear (Figura 2.14a), a qual é simplificada para

uma distribuição linear (Figura 2.14b). Existem duas alternativas de cálculo: o método

convencional, que considera o diagrama simplificado com base nas equações de

Rankine, e o método simplificado que substitui o empuxo passivo na base da ficha por

uma força equivalente.

Figura 2.14. Distribuição de empuxos em cortina em balanço (a) provável distribuição

de empuxos (b) diagrama simplificado para cálculo (solo granular sem água) (GERSCOVICH et

al. 2016).

O método simplificado é apenas uma alternativa ao método convencional, capaz

de tratar a cortina em balanço de uma forma algébrica mais simples. Para simplificar, o

diagrama RPQ (Figura 2.13) abaixo do ponto de rotação é substituído por uma

resultante P, como mostra a Figura 2.15. Embora não sejam respeitadas as equações

de equilíbrio como no método convencional, os resultados são bastante próximos.

Assim, neste trabalho só será abordado o método simplificado que apresenta resultados

bastante próximos do convencional, porém com menos esforços matemáticos.

24

Figura 2.15. Esquema de cálculo – Método simplificado (GERSCOVICH et al. 2016).

A seguir será mostrado a sequência de cálculo utilizada pelo método.

1) Determinação da profundidade Z1, tal que o momento devido a resultante do

diagrama de tensões ativas seja a metade do momento devido a resultante das

tensões passivas.

𝑅𝑎 × 𝑦𝑎 =

𝑅𝑝 × 𝑦𝑝

2

(11)

2) Aumentar o valor encontrado de Z1 em 15% para garantir a mobilização dos

esforços passivos próximos ao pé da cortina. Essa região do diagrama é

denominada de contra-passivo.

3) Determinar a profundidade na qual ocorre cortante nulo, Z2. Neste ponto é

possível determinar o momento máximo.

2.6. Método dos elementos finitos

O método dos elementos finitos (MEF) é uma ferramenta numérica muito

utilizada na prática atual da engenharia devido à sua capacidade de simular problemas

reais. Originalmente desenvolvido para resolver problemas de cunho estrutural, o MEF

recebeu modificações de forma a permitir o uso em outras áreas. Segundo POTTS

25

&ZDRAVKOVIC (1999), vem sendo cada vez mais comum o uso do método para análise

de problemas geotécnicos.

O MEF utiliza aproximações baseadas no método dos deslocamentos, método

de equilíbrio e método misto. As incógnitas principais são os deslocamentos, no método

dos deslocamentos, enquanto que no método de equilíbrio as incógnitas são as tensões.

Já o método misto apresenta como incógnitas tanto os deslocamentos quanto as

tensões.

Para resolver um problema através do Método dos Elementos Finitos, cujas

incógnitas são os deslocamentos, os seguintes procedimentos devem ser executados:

1. Discretização do meio contínuo. Nesta etapa, o domínio (o meio contínuo) é

dividido em subdomínios denominados elementos finitos, conectados entre si

através de um número finito de pontos, os nós. A discretização é o processo de

divisão do meio mediante o uso de linhas e superfícies imaginárias, obtendo-se

um número finito de elementos. No caso de uma análise bidimensional, são

formados elementos triangulares ou quadriláteros, conforme representado na

Figura 2.16.

Figura 2.16. Exemplo de malha de elementos finitos.

26

2. Seleção do modelo de deslocamentos. Um conjunto de funções é escolhido

para definir o campo de deslocamentos de cada elemento. Normalmente são

utilizadas funções do tipo polinomial.

3. Cálculo da matriz de rigidez. Através de uma função de interpolação é possível

relacionar o valor da variável em cada nó envolvido no problema com a

geometria e propriedades do elemento, dando origem ao sistema de equações,

também escrito de forma matricial. A matriz de rigidez pode ser obtida a partir do

princípio dos trabalhos virtuais, onde as forças atuantes no meio são convertidas

em forças nodais equivalentes. Dessa forma, é criada uma relação de equilíbrio

entre a matriz de rigidez, o vetor de deslocamentos nodais e o vetor de forças

nodais. A matriz de rigidez de cada elemento é associada, formando assim um

sistema global.

4. Cálculo das incógnitas do problema. Com as relações de equilíbrio já

estabelecidas é possível calcular os deslocamentos. No caso de problemas

lineares, os deslocamentos são calculados usando o método de Gauss. Em

problemas não lineares, a solução é obtida após uma sequência de etapas, nas

quais ocorrem alterações na matriz de rigidez e/ou do vetor de forças. A partir

do campo de deslocamentos nodais é obtido o estado de deformações em cada

elemento. Estas deformações juntamente com as deformações iniciais e os

modelos constitutivos de cada material permitem definir o estado de tensões no

elemento e no seu contorno.

2.7. Ferramenta numérica – Plaxis 2D

O Plaxis 2D é um programa de elementos finitos desenvolvido para análises de

deformações, estabilidade e fluxo de lençol freático em problemas geotécnicos.

Começou a ser desenvolvido em 1987, na Universidade Técnica da Delf (Holanda) e

desde então, vem sofrendo atualizações de forma a buscar abranger os mais variados

problemas geotécnicos. O programa funciona na plataforma Windows, sendo dividido

em quatro subprogramas que interagem entre si: Input, Calculation, Output e o Curves.

27

2.7.1. Entrada de dados (Input)

No Input, segundo BRINKGREVE (2002), são definidos os dados do problema

como geometria de estudo, disposição dos elementos, propriedade dos materiais,

modelo de comportamento do solo e as condições de contorno. As malhas de elementos

finitos são geradas automaticamente pelo PLAXIS, considerando as restrições impostas

pela geometria do problema, ocorrência de diferentes materiais, posição do nível d’água,

etc. São compostas de elementos triangulares isoparamétricos de seis ou quinze nós,

conforme a Figura 2.17.

Figura 2.17. Posição dos nós e pontos de tensão no solo (Plaxis 2016).

Nesse subprograma é possível definir o modelo de análise a ser feito, isto é,

estado plano de deformação ou axissimétrico. O estado plano de deformação é usado

quando é possível considerar a geometria de forma bidimensional, com a terceira

dimensão significativamente maior que as demais, como por exemplo uma escavação

muito longa. Para problemas que apresentam um eixo de simetria axial, deve-se optar

pelo modelo axissimétrico.

Figura 2.18. Exemplo de estado plano de deformação (esquerda) e axissimétrico (direita),

(Plaxis 2016).

28

2.7.2. Cálculo (Calculation)

O programa Plaxis realiza cálculos de elementos finitos considerando apenas a

análise de deformações que podem ser: Plastic (plástica), Consolidation

(adensamento), Dynamic Analysis (dinâmica) e Phi-c Reduction (estabilidade – fator de

segurança). Neste último tipo de análise, o programa compara a resistência ao

cisalhamento do solo com as tensões cisalhantes mobilizadas. O subprograma permite

definir as etapas construtivas dividido em fases. Em cada fase é permitido adicionar ou

remover carregamentos e/ou matérias, simular período de adensamento, calcular o fator

de segurança e simular o rebaixamento do lençol freático.

2.7.3. Saída (Output)

O Output é o subprograma que fornece os resultados calculados pelo Plaxis.

Nele podem ser visualizadas as deformações e tensões para cada ponto gerado

anteriormente pela malha.

As deformações nos nós podem ser visualizadas como deslocamentos verticais,

horizontais e totais em cada fase. Assim como as deformações, as tensões podem ser

visualizadas em termos de tensões totais, efetivas e cisalhantes.

O programa possui uma interface gráfica agradável que permite configurar de

maneiras diferentes os resultados gráficos mostrados, podendo escolher cores, setas

direcionais e isocurvas. É válido mencionar que o Programa Plaxis utiliza uma

conversão de sinal contrária ao usual na Geotecnia, com compressão sendo negativo e

tração positiva.

2.7.4. Saída gráfica (Curves)

O Curves permite selecionar pontos da malha para criar curvas relacionando

diversas informações, como por exemplo, um gráfico tensão versus deformação,

excesso de poropressão versus tempo, deslocamento horizontal versus profundidade.

As curvas podem ser geradas para as diferentes fases da construção.

29

2.8. Modelos Constitutivos

O programa PLAXIS possui cinco modelos constitutivos representativos do

comportamento tensão-deformação dos materiais envolvidos em um dado problema

geotécnico. São eles: modelo elástico linear, modelo elastoplástico de Mohr-Coulomb,

modelo hiperbólico (Hardening-Soil), modelo para solos moles (Soft Soil) e modelo para

rochas (Jointed Rock).

O presente trabalho abordará os modelos Mohr-Coulomb e Hardening-Soil para

representar os materiais usados para modelar o solo. Na cortina de estacas secantes

será usado o modelo elástico linear. Sendo assim, será feita uma breve apresentação

desses modelos.

2.8.1. Elástico Linear

Segundo BRINKGREVE (2002), o modelo elástico linear que representa a Lei de

Hooke é muito limitado para simular o comportamento de solos, visto que este possui

comportamento não linear. Entretanto, pode ser usado para a modelagem de estruturas.

Os materiais do tipo elástico linear possuem módulo de elasticidade constante,

independentemente do estado de tensões ao qual está sendo submetido. Neste modelo

os módulos cisalhante e volumétrico são relacionados ao módulo de elasticidade e

coeficiente de Poisson, através das expressões abaixo:

𝐺 =

𝐸

2 × (1 + 𝑣)

(12)

𝐾 =

𝐸

3 × (1 − 2𝑣)

(13)

onde:

G é o módulo cisalhante;

K é o módulo volumétrico;

E é o módulo de elasticidade;

υ é o coeficiente de Poisson.

30

2.8.2. Mohr-Coulomb

O modelo de Mohr-Coulomb está inserido na categoria de modelos

elastoplásticos perfeitos. Nesta categoria as deformações são decompostas em duas

parcelas, uma elástica e outra plástica (Equação 14). No comportamento elástico, o

material recupera todas as deformações, enquanto que ao atingir a plasticidade, uma

parcela da deformação é irreversível, como é mostrado na Figura 2.19. Além disso,

possui um critério de ruptura, no qual o material se comporta como linear elástico até

atingir a condição de ruptura, definida pela envoltória de resistência de Mohr-Coulomb.

휀 = 휀𝑒 + 휀𝑝 (14)

onde:

휀 é a deformação total;

휀𝑒 é a parcela de deformação elástica;

휀𝑝 é a parcela de deformação plástica.

Figura 2.19. Modelo linear elástico perfeitamente plástico (PLAXIS 2016).

Para realizar a análise por Mohr-Coulomb são necessários alguns parâmetros.

São eles:

Módulo de elasticidade - “E”;

Coeficiente de Poisson - “υ”;

Coesão - “c”;

Ângulo de atrito - “φ”;

Ângulo de dilatância - “ψ”.

31

2.8.3. Hardening-Soil

BRINKGREVE (2002) que, em contraste com o modelo de Mohr-Coulomb, a

superfície de plastificação não é fixa no espaço de tensões principais podendo ser

expandida devido à deformação plástica. O modelo apresenta dois tipos de

endurecimento: por cisalhamento e por compressão. O endurecimento por cisalhamento

é usado em modelos de deformações plásticas irreversíveis causadas por um

carregamento primário desviatório. Por outro lado, o endurecimento por compressão é

usado para modelar situações de deformações plásticas irreversíveis devido à

compressão primária em um carregamento oedométrico e isotrópico.

O modelo Hardening-Soil é usado para simular o comportamento de diferentes

tipos de solo, moles e rígidos (SCHANZ, 1998). Quando submetido a um carregamento

primário desviatório, o solo apresenta um decréscimo de rigidez e desenvolve

deformações plásticas irreversíveis. No caso especial de ensaio triaxial drenado, é

observada a relação entre deformação axial e tensão desviatória se aproximando de

uma hipérbole. O modelo Hardening-Soil difere do modelo hiperbólico descrito por

DUNCAM & CHANG (1970), visto que ele usa a teoria da plasticidade em vez da teoria

da elasticidade, inclui a dilatância do solo, e introduz uma função de plastificação.

Abaixo seguem algumas características básicas do modelo Hardening-Soil:

Rigidez de acordo com o nível de tensões – Parâmetro de entrada “m”;

Deformações plásticas devido a um carregamento primário desviatório -

Parâmetro de entrada “E50”;

Deformações plásticas devido à compressão primária - Parâmetro de

entrada “Eoed”;

Comportamento elástico no descarregamento e no recarregamento -

Parâmetro de entrada “Eur”;

Critério de ruptura de acordo com o modelo de Mohr-Coulomb - Parâmetros

de entrada “c, φ e ψ”.

Em um ensaio triaxial drenado, a relação hiperbólica entre as deformações e

tensões desviadoras “q”, ilustrada na Figura 2.20 é descrita pela equação (15).

32

휀 =

1

2𝐸50.

𝑞

1 −𝑞

𝑞𝑎

(15)

Onde:

𝑞𝑎 é o valor da assíntota da resistência ao cisalhamento.

O parâmetro 𝐸50 é o modulo de Young correspondente, para uma determinada tensão

confinante σ3, e é obtido pela equação 16:

𝐸50 = 𝐸50

𝑟𝑒𝑓(

𝑐. cos 𝜑 − 𝜎3′ . sin 𝜑

𝑐. cos 𝜑 − 𝑝𝑟𝑒𝑓 . sin 𝜑)

𝑚

(16)

Onde:

𝐸50𝑟𝑒𝑓

é o modulo de Young correspondente a 50% da tensão de ruptura, para uma tensão

confinante de referência 𝑝𝑟𝑒𝑓 = 100 𝑘𝑃𝑎 .

BRINKGREVE (2002) indica valores de “m” distintos para argilas e areias. Para

areais o autor recomenda adotar m = 0,5 enquanto que para argilas m = 1,0.

Figura 2.20. Relação hiperbólica em um ensaio triaxial drenado (BRINKGREVE, 2002).

33

3. Estudo de caso

3.1. Apresentação da obra

O caso utilizado para análise de deslocamento horizontal de cortina de estacas

secantes através de modelagem numérica pelo programa Plaxis 2D trata-se da

construção de um empreendimento comercial com um nível de subsolo com elevado

pé-direito ocorrida durante o ano de 2015, na Zona oeste da cidade do Rio de Janeiro

(Figura 3.1).

Como pode ser visto na Figura 3.2, o trecho em estudo para este trabalho possui

cerca de 24,80 m de extensão por 10,72 m de largura. O presente estudo irá se limitar

a apenas uma das paredes da escavação na qual é indicada na Figura 3.3. Sua escolha

ocorreu devido a aproximação da instrumentação (inclinômetro 1) e da sondagem (SP-

02), buscando ser o mais representativo possível.

Figura 3.1. Área da escavação – Visão geral

34

Fig

ura

3.2

. Á

rea tota

l de

pro

jeto

da e

sca

va

ção

(S

igm

a 1

Con

sultoria

& P

roje

tos, 2

01

5)

35

Figura 3.3. Seção do estudo, (Adaptado, Sigma 1 Consultoria & Projetos, 2015).

Foram escavados pouco mais de 4 metros de profundidade de solo, quase em

sua totalidade arenoso. Como forma de contenção da massa de solo, estacas secantes

foram utilizadas no perímetro de toda a escavação. As estacas possuem um diâmetro

de 42 cm e 12 metros de comprimento, dos quais 7,85 metros são de ficha.

Existem outras seções da escavação cujos balanços são maiores,

principalmente junto aos chamados “poços ingleses”, que são dispositivos de drenagem

tipo “canaletas” adjacentes à parede de contenção, no piso do subsolo. Nestas regiões,

a escavação atinge cerca de 5,8 m.

A execução da escavação ocorreu em 4 fases como mostrado na Figura 3.4. Ao

término de cada fase eram medidos os deslocamentos horizontais com o inclinômetro.

Abaixo seguem as etapas realizadas.

36

Fase 1:

Execução das estacas-secantes em toda a periferia da obra e instalação

dos inclinômetros;

Execução da viga de coroamento;

Leitura zero do inclinômetro;

Fase 2:

Escavação de alívio na retroárea do limite do subsolo;

Escavação do subsolo até aproximadamente o nível d’água;

Leitura do inclinômetro;

Fase 3:

Instalação e acionamento do rebaixamento do nível d’água;

Escavação até a camada de argila;

Leitura do inclinômetro;

Fase 4:

Escavação de até a cota determinada/nivelamento;

Leitura do inclinômetro;

Na Figura 3.5 pode-se observar a parede da escavação composta pelas estacas

secantes. Alguns elementos também podem ser observados, como por exemplo, a viga

de coroamento, o sistema de rebaixamento, e o poço inglês.

37

Figura 3.4. Croquis das fases executivas.

38

Figura 3.5. Solução de contenção (adaptado, Sigma 1 Consultoria & Projetos, 2015).

3.2. Sondagens associadas ao ensaio SPT

Foram realizadas sondagens de simples reconhecimento associadas ao SPT

distribuídas ao longo da área de escavação de forma que representassem todo o

subsolo, como mostra a Figura 3.6. Sendo assim, foi possível a determinação do perfil

estratigráfico a ser utilizado no estudo do projeto.

Figura 3.6. Planta de Localização dos furos de sondagem (adaptado, Sigma 1

Consultoria & Projetos, 2015).

De acordo com a sondagem SP-02 (sondagem mais próxima à seção estudada),

disponível no Anexo I, é possível notar que o subsolo a ser escavado é composto em

sua grande maioria por solo arenoso com nível d’água a aproximadamente 2,9 metros

39

abaixo do nível do terreno original (cota +3,2m). Assim que a escavação se aproximou

do lençol, foi acionado o sistema de rebaixamento de forma a rebaixar o nível d’água

para aproximadamente 4,65 metros de profundidade em relação ao nível do terreno

original. É válido ressaltar que todas as camadas de argilas presentes estão abaixo do

lençol freático, sendo assim, apresentando um comportamento não drenado. Na tabela

3.1 encontra-se a descrição das camadas de solo de acordo com a sondagem SP-02

Tabela 3.1. Descrição das camadas.

Camadas Descrição Nspt médio Cota (m)

Espessura (m)

1 Aterro 7 +3,2 a +0,4 2,8

2 Areia fina 9 +0,4 a -0,7 1,1

3 Argila muito mole 0 -0,7 a -1,45 0,8

4 Areia fina 10 -1,45 a -3,8 2,4

5 Areia média 21 -3,8 a -4,8 1,0

6 Areia média 33 -4,8 a -12,8 8,0

7 Areia média 23 -12,8 a -13,8 1,0

8 Areia média 17 -13,8 a -14,8 1,0

9 Argila média 6 -14,8 a -16,8 2,0

10 Argila arenosa 14 -16,8 a -19,5 2,7

11 Areia média 30 -19,5 a -21,5 2,0

12 Argila arenosa 15 -21,5 a -27,25 5,8

3.3. Instrumentação Geotécnica

Neste item serão apresentados os dados obtidos a partir da instrumentação

utilizada durante a obra com finalidade de monitorar as deformações geradas pela

escavação.

Os tubos guias dos inclinômetros foram instalados no interior de estacas

selecionadas previamente a realização da cortina, com o intuito de possibilitarem a

medida de deslocamento horizontal da cortina devido ao empuxo da massa de solo e

da água. No estudo em questão foi analisado o inclinômetro 1, representativo da seção

estudada.

Nas Figuras 3.7 e 3.8 são apresentadas as curvas de deslocamentos horizontais

versus profundidade obtidas com base na instrumentação.

40

Figura 3.7. Resultado da inclinometria Direção principal AA, (Sigma 1 Consultoria & Projetos,

2015).

41

Figura 3.8. Resultado da inclinometria Direção secundária BB, (Sigma 1 Consultoria &

Projetos, 2015).

A direção principal AA é a direção perpendicular à parede da escavação. Pode-

se notar que foram efetuadas as medições conforme ocorreu o avanço de fases da

escavação, assim como mostrado na Figura 3.7. Ao concluir a escavação foi efetuado

um último registro e o inclinômetro constatou um deslocamento máximo de

aproximadamente 21 mm no primeiro meio metro de profundidade. Cabe mencionar,

que o deslocamento no sentido BB foi considerável e incomum para esse caso. Isso

pode ter ocorrido pela incorreta instalação do tubo guia, de forma que os eixos AA e BB

não ficaram exatamente na posição correta.

42

3.4. Seção estudada

A seção escolhida para análise da instrumentação e da previsão de

deslocamento horizontal através da modelagem numérica é mostrada na Figura 3.9.

Conforme mencionado anteriormente, sua escolha ocorreu devido à proximidade da

instrumentação (inclinômetro 1) e da sondagem (SP-02) ao trecho estudado.

Figura 3.9. Perfil estratigráfico da seção.

43

4. Análise numérica

Neste capítulo serão apresentadas as análises numéricas feitas no programa

Plaxis 2D com objetivo de estimar os deslocamentos horizontais em cada fase da

escavação. Foram usados dois modelos constitutivos, Mohr-Coulomb e Hardening-Soil,

para posteriormente serem comparados com o resultado da instrumentação.

Cabe ressaltar que no Plaxis 2D é preciso inserir alguns parâmetros do solo que

devem ser estimados de acordo com a experiência e conhecimento do engenheiro ou

através de correlações sugeridas pela literatura, caso não seja possível a realização de

ensaios em laboratório.

4.1. Parâmetros utilizados

As características do subsolo necessárias às análises foram obtidas através de

correlações com ensaio SPT (Standard Penetration Test) presentes na literatura.

Schnaid & Odebrecht (2012) destacam que é sempre desejável comparar os valores de

parâmetros estimados empiricamente por meio das medidas de NSPT com aqueles

obtidos por meio de outros ensaios (de campo ou laboratório), porém, no atual trabalho,

não pode ser feita tal comparação entre ensaios devido à ausência de ensaios

auxiliares.

4.1.1. Fator de correlação dos valores de Nspt

Com o objetivo de tornar comparável o número de golpes, NSPT em diferentes

países, foi necessário padronizar os resultados obtidos no ensaio SPT.

Pesquisas desenvolvidas por Palacios (1977) e Schmertmann & Palacios (1979)

mostraram que o número de golpes no ensaio, NSPT, é inversamente proporcional à

energia que chega ao topo da composição de hastes, para um número de golpes N até

50. A ISSMFE (1989) estabeleceu 60% da energia potencial teórica (E* = 474 J) como

a referência internacional. Então, havendo a realização do ensaio SPT, o valor de NSPT

deve ser convertido para N60, através da expressão (17).

𝑁60 = 𝑁𝑠𝑝𝑡 ×

𝐸

𝐸60

(17)

44

onde:

E é a energia real aplicada ao amostrador, correspondente a NSPT;

E60 é a energia corresponde a 60% da energia potencial teórica.

A única maneira confiável de quantificar as perdas de energia SPT é por medição

da energia real entregue ao amostrador. Os valores de N60 são atribuídos de acordo

com os fatores de correção médios C relatados por Décourt et al. (1989).

Tabela 4.1. Fatores de correção médios C, DÉCOURT et al. (1989).

País C

Argentina 0,75

Brasil 1,2

China 1

Colômbia 0,83

Japão 1,27

Paraguai 1,2

U.K 0,92

U.S.A 1,05

Venezuela 0,72

Pesquisas mais recentes com base em medidas reais de energia nos martelos

SPT usados principalmente no Brasil (por exemplo, BELINCANTA,1998;

CAVALCANTE, 2002; ODEBRECHT, 2003) indicam a expressão abaixo:

𝑁60 = 1,37 × 𝑁𝑠𝑝𝑡 (18)

4.1.2. Módulo de elasticidade do solo

Para a estimativa do módulo de elasticidade do solo, foram utilizadas duas

correlações. São elas:

a) De acordo com SCHNAID (2000) para solos argilosos 𝐸 = 2,0 × 𝑁60. Com

isso,

𝐸 = 2,74 × 𝑁𝑠𝑝𝑡 (em MPa) (19)

45

b) De acordo com FREITAS et al. (2012), o módulo de elasticidade de areias

sedimentares pode ser estimado de acordo com a expressão (20).

𝐸 = 8000 × 𝑁600,8 (20)

Substituindo a expressão (18) na expressão (20), o módulo de elasticidade do solo é

calculado conforme expressão (21) abaixo.

𝐸 = 8000 × (1,37 × 𝑁𝑠𝑝𝑡)0,8 ≈ 10291 × 𝑁𝑠𝑝𝑡0,8 (kN/m²) (21)

Para o modelo constitutivo de Mohr-Coulomb foram definidos o 𝐸 = 𝐸′.

Já para o modelo Hardening-Soil, são usados 3 diferentes módulos de elasticidade,

E50, Eoed e Eur. Foram definidos com a seguinte relação: 𝐸50 = 𝐸𝑜𝑒𝑑 = 𝐸; 𝐸𝑢𝑟 = 3 × 𝐸.

4.1.3. Ângulo de atrito e dilatância do solo

Para o ângulo de atrito efetivo, a correlação para areias, equação (22), foi

obtida de KULHAWY & MAYNE (1990).

𝜑′ = tan−1 [𝑁60

12,2 + 20,3𝜎′𝑣𝑜𝑝𝑎

]

0,34

(22)

Onde:

𝜑′ é o ângulo de atrito do ensaio de compressão triaxial;

𝜎′𝑣𝑜 é a tensão efetiva vertical no centro da camada;

𝑝𝑎 é uma tensão de referência aproximadamente igual a 100 kPa;

𝑁60 é o NSPT corrigido para 60% da energia teórica de queda livre.

No caso dos solos argilosos por apresentarem comportamento não drenado

apresentarão 𝜑 =0.

O ângulo de dilatância será adotado segundo a proposta do manual do Plaxis,

BRINKGREVE et al. (2002): para argilas ψ= 0º e para areias com ψ= 0º para φ ≤ 30º,

para φ > 30º adotar ψ = φ - 30 º.

46

4.1.4. Resistência não drenada e coesão

Para as camadas de areia, adotou-se a coesão como 0 kPa. Para as camadas

de argila utilizou-se o comportamento não drenado com c = Su. Os solos argilosos, cujo

comportamento é não drenado, o valor de Su foi utilizado da equação (23), obtida de

KULHAWY & MAYNE (1990):

𝑆𝑢

𝑝𝑟𝑒𝑓= 0,06 × 𝑁60 (23)

onde:

𝑝𝑟𝑒𝑓 é a tensão de referencia igual a 100 kPa.

Sugerido pelo projetista, no caso da lente de argila mole foi adotado uma

resistência não drenada de 10 kPa, já para o aterro uma coesão de 5 kPa.

4.1.5. Estimativa dos demais parâmetros do solo

Na análise foram considerados para peso específico do solo os valores

correspondentes à sua classificação, disponível no boletim de sondagem, de acordo

com a Tabela 4.2 abaixo.

Tabela 4.2. Peso específico do solo (Adaptado de BUDHU, 2015).

Nspt Descrição γ (kN/m³)

0 - 4 Muito fofa 11 - 13

4 - 10 Fofa 14 - 16

10 - 30 Média 17 - 19

30 - 50 Compacta 20 - 21

> 50 Muito compacta > 21

Como sugestão, BARATA (1983), utilizou para areias e aterro um coeficiente de

Poisson igual 0,3, pois para solos de compressibilidade rápida, é aceitável utilizar este

valor. Para as camadas de argila saturada foi utilizado, υ = 0,499. Abaixo segue Tabela

4.3 sugerida por BARATA (1983).

47

Tabela 4.3. Sugestões de coeficiente de Poisson. BARATA (1983).

Tipo de solo Valor de υ

Argilas saturadas 0,5

Argilas não saturadas 0,1 - 0,3

Areias argilosas 0,2 - 0,3

Siltes 0,3 - 0,35

Areias 0,2 - 0,4

4.2. Modelagem do perfil Geotécnico

A escavação foi modelada no eixo de simetria, considerando o estado plano de

deformações. O subsolo foi dividido em camadas da mesma forma que o relatório do

ensaio SPT apresentou. Esta discretização do subsolo permitiu utilizar para cada

camada diferentes parâmetros. Desta forma, se obteve um perfil geotécnico modelado

mais representativo. Os valores dos parâmetros geotécnicos foram obtidos com base

em correlações, usando o NSPT, disponíveis na literatura. A Figura 4.1 apresenta a

organização do subsolo modelado no Plaxis cujos parâmetros são mostrados na Tabela

4.4. Nesta tabela, as camadas 3, 9, 10 e 12 são representadas pela resistência não

drenada, Su, as demais são representadas pela coesão, c.

Tabela 4.4. Parâmetros do solo utilizados nas análises.

Parâmetros Camadas

Espes. (m)

γunsat (kN/m³)

γsat (kN/m³)

Φ (°)

Ψ (°)

Su c

(kPa)

E50 (Mpa)

Eoed (Mpa)

Eur (Mpa)

1 2,8 17 18 30,0 0,0 5 33 33 98

2 1,1 19 20 38,9 8,9 0 60 60 179

3 0,8 13 15 0 0 10 3 3 9

4

13,4

19 20 38,3 8,3 0 65 65 195

5 20 21 44,3 14,3 0 118 118 353

6 20 21 46,0 16,0 0 169 169 506

7 20 21 40,3 10,3 0 126 126 379

8 19 20 37,1 7,1 0 99 99 298

9 4,7

17 18 0 0 49 16 16 49

10 19 20 0 0 115 32 32 96

11 2,0 20 21 40,5 10,5 0 156 156 469

12 5,8 19 20 0 0 123 34 34 101

Aterro Argila mole Areia Argila arenosa média à rija

48

É observado que por meio das correlações adotadas, alguns valores de ângulos de

atrito (φ) foram bastante elevados. Porém, por se tratar de uma análise afastada da

ruptura, tal parâmetro não tem grande influência no resultado. Nesse caso, o modulo de

elasticidade é imperativo.

Figura 4.1. Discretização da malha por elementos finitos - camadas modeladas no Plaxis 2D.

49

4.3. Modelagem da cortina de estacas secantes

A seção real da cortina é composta por perfil metálico W 250 x 32,7

inserido de forma centralizada nas estacas secantes primárias e nas estacas

secundárias (fechamento) são usados gaiolas para evitar fissuração. As estacas

têm o comprimento de 12 metros e 42 cm de diâmetro, como pode ser visto nas

Figuras 4.2 e 4.3.

Figura 4.2. Detalhamento das estacas secantes, (Sigma 1 Consultoria & Projetos).

50

Figura 4.3. Vista superior esquemática da cortina, (Sigma 1 Consultoria & Projetos).

As Tabelas 4.5 e 4.6 contêm as principais características do perfil metálico e da

estaca secante. Os dados do perfil metálico foram obtidos do catálogo de estacas da

Gerdau e os dados da estaca secante advieram do projeto de contenção fornecido pela

empresa Sigma1 Consultorias & Projetos.

Para o cálculo do módulo de elasticidade secante do concreto utilizou-se a

expressão da NBR 6118/ 2014, como na equação (24), abaixo:

𝐸𝑐𝑖 = 𝛼𝑒 × 5600 × √𝑓𝑐𝑘

(24)

𝐸𝑠 = 𝐸𝑐𝑖 × 𝛼𝑖 (25)

Substituindo a equação (24) na equação (25), temos a equação (26)

𝐸𝑠 = 𝛼𝑖 × 𝛼𝑒 × 5600 × √𝑓𝑐𝑘 (26)

Onde:

𝛼𝑒 é igual a 1 para granito e gnaisse;

𝑓𝑐𝑘 é a resistência característica à compressão do concreto;

𝛼𝑖 = 0,8 + 0,2 ×𝑓𝑐𝑘

80≤ 1,0 .

Tabela 4.5. Dados do perfil metálico.

Propriedade do perfil de aço W250 x 32,7*1

Mesa bf (mm) 146

Altura d (mm) 258

tw (mm) 6,1

tf (mm) 9,1

Eaço (MPa) 2,10 x 105

Ix (mm4) 4,94 x 107

A(mm²) 4,21 x 103

EI (kN.m²) 1,04 x 104

1 bf é a largura da mesa do perfil metálico; d é a altura do perfil metálico; tw é a espessura da alma; tf é a

espessura da mesa; Eaço é a modulo de elasticidade do aço;A é a área da seção transversal do perfil

metálico; Ix é o momento de inercia em x.

51

EA (kN) 8,84 x 105

Tabela 4.6. Dados da estaca secante.

Propriedades da estaca de concreto*2

Diâmetro (mm) 420

fck (MPa) 20

Es (MPa) 19158

γ(kN/m³) 25

I (mm4) 1,53 x 109

A (mm²) 1,39 x 105

EI (kN.m²) 2,93 x 104

EA (kN) 2,65 x 106

Os resultados do cálculo da rigidez à flexão equivalente para o conjunto perfil

metálico - estaca secante são apresentados na Tabela 4.7. O desenvolvimento dos

cálculos para estimativa dos parâmetros equivalentes está disponível no Anexo II.

Tabela 4.7. Dados de entrada no Plaxis para a cortina.

Seção Homogênea

α(Eaço/Econc) 10,96

Eaço (Mpa) 2,10 x 105

EIeq (kNm²/m) 3,96 x 104

EAeq (kN/m) 3,54 x 106

Foi adotada a sugestão de GOUW (2014) e BRINKGREVE et al. (2002) em

adicionar elementos de interface à estaca e estende-los um pouco além do comprimento

da ficha, de forma a evitar problemas de integração com essa mudança abrupta de

rigidez

2 Es é o modulo de elasticidade do concreto; γ é o peso específico do concreto; I momento de inércia da

estaca; A é a área da seção transversal da estaca.

52

4.4. Análise no Plaxis 2D

As análises numéricas a seguir consideraram a modelagem da escavação como

descrito no item 4.2. O subsolo foi modelado conforme o item 4.1, de acordo com os

parâmetros definidos na Tabela 4.4. Para a contenção em cortina, foi utilizada a rigidez

equivalente do perfil vista no item 4.3 e apresentada na Tabela 4.7.

A simulação da escavação modelada no Plaxis consistiu em 4 fases, como

mostram as Figuras 4.5 e 4.6.

Figura 4.5. Fases de cálculo da escavação.

1) Ativação do elemento de placa e sua interface, simulando a cortina de

estaca secante;

2) Desativar o solo da escavação de alívio e da escavação principal até o nível

d’água;

3) Rebaixamento do nível d’água e desativar 1 metro de solo;

4) Desativação do último trecho, nivelamento.

53

Figura 4.6. Representação das fases (a) fase 1, (b) fase 2, (c) fase 3, (d) fase 4.

Adotou-se o nível d’água horizontal, na profundidade de 2,9 metros durante o

processo de cálculo das fases 1 e 2. Já durante as fases 3 e 4, foi simulado o

rebaixamento do lençol freático dentro da região da escavação como mostrado nas

Figuras 4.6 e 4.7. No caso em estudo é provável que ocorra um fluxo estacionário,

porém de forma a simplificar o modelo, foram consideradas as pressões hidrostáticas.

54

Figura 4.7. Nível d’água natural e rebaixado.

Definida a geometria do problema, os parâmetros dos materiais e as fases

executivas, é possível realizar as análises do problema através do método dos

elementos finitos utilizando o software Plaxis 2D.

Foram feitas análises numéricas para estimativa dos deslocamentos horizontais

em todas as etapas da escavação (fase 2,3 e 4) usando os dois modelos constitutivos

abordados nesse trabalho, Mohr-Coulomb e Hardening-Soil.

No caso da análise com modelo constitutivo Mohr-Coulomb foram usados os

parâmetros de ruptura c, φ, ψ e para o módulo de elasticidade constante foi adotado o

E’=E50 para cada camada. O modelo constitutivo Hardening-Soil difere do Mohr-

Coulomb, pois leva em consideração que o módulo de elasticidade sofre variação

conforme o solo é carregado, descarregado e recarregado. Para isso, são introduzidos

3 valores de módulo de elasticidade, E50, Eoed e Eur. Abaixo seguem exemplos de janelas

de entrada de parâmetros do programa Plaxis para os modelos constitutivos em questão

(Figura 4.8).

55

Figura 4.8. Exemplo de entrada de parâmetros MC e HS no Plaxis 2016.

As figuras 4.9 a 4.11 mostram os deslocamentos horizontais da cortina obtidos

na análise numérica (Plaxis) confrontados com os valores medidos no campo.

56

Figura 4.9. Fase 2 - Deslocamentos horizontais x leituras do inclinômetro 1.

Figura 4.10. Fase 3 - Deslocamentos horizontais x leituras do inclinômetro 1.

57

Figura 4.11. Fase 4 - Deslocamentos horizontais x leituras do inclinômetro 1.

Em termos de deslocamentos horizontais, o Plaxis previu de maneira satisfatória

os deslocamentos da obra no trecho avaliado. No entanto, é válido ressaltar que os

deslocamentos calculados pelo Plaxis nas fases 3 e 4, tanto para o modelo de Mohr-

Coulomb quanto para o modelo Hardening-Soil, subestimaram os valores medidos em

campo. Já na fase 2, os resultados ficaram muito próximo dos reais.

Observando os gráficos e os dados da Tabela 4.8, o modelo constitutivo

Hardening-Soil após o término completo da escavação (fase 4) forneceu resultados que

melhor se aproximam das medições feitas no campo, tendo uma diferença percentual

na profundidade de 0,5m de aproximadamente 3,5%. Já o modelo constitutivo Mohr-

Coulomb apresentou um erro maior, da ordem de 13%. Como era previsto, o modelo

Hardening-Soil se mostrou mais apropriado para modelagem de problemas de

escavação, visto que considera o descarregamento no modulo de elasticidade. Além

disso, o Plaxis previu razoavelmente as profundidades nas quais os deslocamentos e

rotações da parede foram próximos de zero.

58

Tabela 4.8. Deslocamentos horizontais e erros percentuais

Fase 4

Profundidade (m)

Inclinômetro (mm)

Mohr-Coulomb (mm)

Hardening-Soil (mm)

MC Erro (%)

HS Erro (%)

0,50 -21,1 -18,4 -20,4 13,0 3,4

1,00 -19,5 -16,7 -18,5 14,4 5,0

1,50 -18,0 -15,0 -16,7 16,5 7,3

2,00 -16,5 -13,4 -14,9 18,9 10,0

2,50 -15,0 -11,7 -13,0 22,0 13,5

3,00 -13,5 -10,0 -11,1 25,6 17,5

3,50 -11,9 -8,4 -9,3 29,5 21,9

4,00 -10,3 -6,7 -7,4 35,0 28,3

Além dos deslocamentos, os momentos fletores da cortina também foram

avaliados. Nas fases analisadas o Plaxis apresenta perfis de momentos fletores

condizentes com uma escavação em balanço, como ilustrado pelas figuras 4.12 a 4.14.

Figura 4.12. Fase 2 - Momentos fletores atuantes na cortina.

59

Figura 4.13. Fase 3 - Momentos fletores atuantes na cortina.

Figura 4.14. Fase 4 - Momentos fletores atuantes na cortina.

60

O modelo constitutivo Mohr-Coulomb apresentou valores máximos de momento

fletor menores e ponto de atuação ligeiramente acima, em torno de 20 cm, quando

comparados ao modelo Hardening-Soil. As tabelas 4.9 a 4.11, apresentam os valores

de momentos fletores máximos seguidos da diferença percentual entre ambos os

modelos.

Tabela 4.9. Fase 2 – Valores do Momento fletor máximo.

Fase 2

Profundidade (m)

Mohr-Coulomb (kN.m)

Hardening-Soil (kN.m)

Diferença %

5,14 -10,92 -13,88 21,3

Tabela 4.10. Fase 3 – Valores do Momento fletor máximo.

Fase 3

Profundidade (m)

Mohr-Coulomb (kN.m)

Hardening-Soil (kN.m)

Diferença %

5,34 -35,892 - 19,9

5,53 - -44,78

Tabela 4.11. Fase 4 – Valores do Momento fletor máximo.

Profundidade (m)

Mohr-Coulomb (kN.m)

Hardening-Soil (kN.m)

Diferença (%)

5,53 -44,092 - 15,8

5,73 - -52,37

Para mensurar a importância da escavação de alívio, uma análise de

sensibilidade foi realizada para mesmo caso de estudo apenas para um dos modelos

constitutivos, Hardening-Soil. Nesta análise foi desconsiderada a escavação no tardoz

da cortina. Os resultados são apresentados abaixo nas Figuras 4.15 e 4.16.

61

Figura 4.15. Deslocamento horizontal da cortina sem escavação de alívio.

Figura 4.16. Momentos fletores atuantes na cortina sem a escavação da cortina.

62

Tabela 4.12. Análise de sensibilidade – Escavação de alívio

Com escavação de

alívio Sem escavação

de alívio Aumento

(%)

Deslocamento máximo

-22 -34 54

Momento Fletor máximo

-52 -75 43

É notório a influência da escavação de alívio nos resultados tanto para momento

fletor quanto para deslocamento horizontal. Sem a realização da escavação, a cortina

teria um deslocamento horizontal máximo 54,1% maior e um aumento no momento fletor

máximo atuante em 43,2%.

63

5. Análise analítica e resumo dos resultados

Neste capítulo será abordada a análise analítica para calcular a ficha e o

momento fletor máximo da cortina de contenção abordada no estudo de caso. Foram

feitas algumas simplificações no perfil geotécnico buscando facilitar os cálculos e os

diagramas. Além disso, serão calculados para duas hipóteses extremas, são elas:

1) Considerando a escavação de alívio como infinita;

2) Desconsiderando a escavação de alívio.

É valido ressaltar que a escavação de alívio se enquadra entre essas duas

hipóteses. Existe um método para cálculo de empuxo para consideração da escavação

de alivio no tardoz do elemento de contenção (Figura 5.1). Porém, o estudo simplificado

nas análises analíticas, que tem como objetivo apenas validar em ordem de grandeza

das análises numéricas, não abordará tal método.

Figura 5.1. Diagrama de empuxo ativo em escavação em banqueta (GERSCOVICH et al.

(2016).

A seguir serão apresentados os parâmetros do solo de cada camada (Tabela

5.1) e o perfil estratigráfico adotado (Figura 5.2).

64

Tabela 5.1. Parâmetros do solo.

γunsat

(kN/m³) γsat

(kN/m³) c

(kPa) φ (°) Ka Kp

17 18,5 5 30,0 0,33 3,00

19 20 0 38,9 0,23 4,38

Figura 5.2 Perfil geotécnico simplificado.

65

5.1. Hipótese 1

Nesta hipótese foi considerado que a escavação de alívio é infinita. Sendo assim,

serão desconsiderados 1,2 metros de aterro iniciais nos cálculos de tensões horizontais.

Primeiramente, é necessário calcular as pressões horizontais ativas e passivas

utilizando a Teoria de Rankine.

Ponto P0

𝑃𝑜 = −2 × 5 × √0,333 = −5,77 𝑘𝑃𝑎

Cálculo da profundidade da trinca:

𝑃𝑧 = 17 × 𝑍𝑡𝑟𝑖𝑛𝑐𝑎 × 0,333 − 2 × 5 × √0,333 = 0

𝑍𝑡𝑟𝑖𝑛𝑐𝑎 =5,77

17 × 0,333= 1,02 𝑚

Como este ponto se encontra no nível do terreno e o aterro apresenta certa

coesão, no primeiro metro ocorreram tensões de tração. Como o solo não tem

resistência a esse tipo de solicitação, este trecho foi desconsiderado.

Ponto P1

Este ponto está a uma profundidade de 1,6 metros. É a fronteira entre a camada

de aterro com a camada de areia. Por ser uma fronteira, terá uma descontinuidade no

diagrama de tensões horizontais. Sendo assim, esse ponto foi divido em 𝑃1′ e 𝑃1

′′. 𝑃1′ é

calculado levando em consideração os parâmetros do aterro como “Ka” e “c”. Já o ponto

𝑃1′′ está associado aos parâmetros da areia.

𝑃1′ = 17 × 1,6 × 0,333 − 2 × 5 × √0,333 = 3,29 𝑘𝑃𝑎

𝑃1′′ = 17 × 1,6 × 0,23 = 6,256 𝑘𝑃𝑎

Ponto P2

O Ponto P2 está na profundidade do fundo da escavação (1,6 + 1,35). Como o

solo em questão é uma areia e não tem coesão, neste ponto só terá empuxo ativo. Além

disso, pelo fato do nível d’água ter sido rebaixado dentro da escavação do Ponto P1 para

o P2 gerou uma pressão horizontal devido a água (1,35 × 10 = 13,5).

𝑃2 = [17 × 1,6 + (20 − 10) × 1,35] × 0,23 + 13,5 = 22,86 𝑘𝑃𝑎

66

Ponto PA

Nesta profundidade é onde as tensões horizontais ativas se igualam com as

tensões horizontais passivas, sendo um ponto de tensões nulas.

𝑃𝐴 = 0

[17 × 1,6 + (20 − 10) × 1,35 + (20 − 10)𝑎] × 0,23 + 13,5 − [(20 − 10) × 4,38𝑎] = 0

22,86 = 41,5𝑎

𝑎 = 0,551 𝑚

Ponto PD

No ponto D é onde o empuxo ativo se iguala ao empuxo passivo, caracterizando

um ponto de cortante nulo. Neste ponto é onde ocorre o momento fletor máximo atuante

na cortina. A profundidade do fundo da escavação até este ponto é nomeada de Z2 e a

distância entre o ponto A e o ponto D é chamada de y. Com isso, é possível determinar

a profundidade Z2.

Empuxo ativo acumulado do trecho do P0 até PD

𝑅𝑎,𝐷 = 3,29 ×0,58

2+ (6,256 + 22,86) ×

1,35

2+ 22,86 ×

0,551

2= 26,90 𝑘𝑁

Empuxo ativo acumulado do trecho do P0 até PD

𝑅𝑝,𝐷 = 41,5 × 𝑦 ×𝑦

2=

41,5𝑦2

2

Igualando as resultantes dos empuxos passivo e ativo, obtemos o valor de y.

𝑅𝑎,𝐷 = 𝑅𝑝,𝐷

26,90 =41,5𝑦2

2

𝑦 = 1,138 𝑚

Portanto, a profundidade de onde ocorre cortante nulo vale:

𝑍2 = 𝑎 + 𝑦 = 0,551 + 1,138 = 1,689 𝑚

67

Abaixo é mostrado o diagrama de tensões horizontais (Figura 5.3) e os

empuxos com seus respectivos braços de alavanca (Figura 5.4), resultado dos

cálculos efetuados acima.

Figura 5.3 Diagrama de tensões horizontais - Alívio infinito.

68

Figura 5.4 Empuxo ativo e passivo sobre cortina – Alívio infinito.

Segundo o método simplificado apresentado no tópico 2.5, o cálculo do momento

na base da estaca deve respeitar a seguinte equação:

𝑀𝑎 =𝑀𝑝

2

69

Momento causado pelo empuxo ativo:

𝑀𝑎 = 3,29 ×0,58

2× (

0,58

3+ 1,35 + 𝑍1) + (22,86 − 6,25) ×

1,35

2× (

1,35

3+ 𝑍1) + 6,25

× 1,35 × (1,35

2+ 𝑍1) + 22,86 ×

0,551

2× (

2 × 0,551

3+ 𝑍1 − 0,551) =

𝑀𝑎 = 11,14 + 26,87𝑍1

Momento causado pelo empuxo passivo:

𝑀𝑝 = 41,5 ×(𝑍1 − 𝑎)3

6

𝑀𝑝 = 41,5 ×(𝑍1 − 0,551)3

6

Obedecendo a igualdade proposta pelo método, temos:

11,14 + 26,87𝑍1 =1

2× 41,5 ×

(𝑍1 − 0,551)3

6

11,14 + 26,87𝑍1 = 3,46𝑍13 − 5,71𝑍1

2 + 3,149𝑍1 − 0,578

Portanto, 𝑍1 = 3,73 𝑚

Majorando o valor de 𝑍1 em 15 % temos 𝑍1 = 4,3 𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜𝑠

Cálculo de momento máximo:

Momento devido ao empuxo ativo no Ponto D

𝑀𝑎 = 3,29 ×0,58

2× (

0,58

3+ 1,35 + 𝑍2) + (22,86 − 6,25) ×

1,35

2× (

1,35

3+ 𝑍2) + 6,25

× 1,35 × (1,35

2+ 𝑍2) + 22,86 ×

0,551

2× (

2 × 0,551

3+ 1,138) =

𝑀𝑎 = 56,47 𝑘𝑁. 𝑚

Momento devido ao empuxo passivo no Ponto D

𝑀𝑝 = 41,5 ×(1,138)3

6= 10,19 𝑘𝑁. 𝑚

Portanto o momento máximo é:

𝑀𝑚á𝑥 = 𝑀𝑎 + 𝑀𝑝 = 10,19 − 56,47 = 46,28 𝑘𝑁. 𝑚

70

5.2. Hipótese 2

Nesta hipótese será considerado que não existe escavação de alívio. Com isso,

segue o mesmo roteiro feito na hipótese 1.

Primeiramente, é necessário calcular as pressões horizontais ativas e passivas

utilizando a Teoria de Rankine.

Ponto P0

𝑃𝑜 = −2 × 5 × √0,333 = −5,77 𝑘𝑃𝑎

Cálculo da profundidade da trinca:

𝑃𝑧 = 17 × 𝑍𝑡𝑟𝑖𝑛𝑐𝑎 × 0,333 − 2 × 5 × √0,333 = 0

𝑍𝑡𝑟𝑖𝑛𝑐𝑎 =5,77

17 × 0,333= 1,02 𝑚

Como este ponto se encontra no nível do terreno e o aterro apresenta certa

coesão, no primeiro metro ocorreram tensões de tração. Como o solo não tem

resistência à tração, este trecho foi desconsiderado.

Ponto P1

Este ponto está a uma profundidade de 2,8 metros. É a fronteira entre a camada

de aterro com a camada de areia. Por ser uma fronteira, terá uma descontinuidade no

diagrama de tensões horizontais. Sendo assim, esse ponto foi divido em 𝑃1′ e 𝑃1

′′. 𝑃1′ é

calculado levando em consideração os parâmetros do aterro como “ka” e “c”. Já o ponto

𝑃1′′ está associado aos parâmetros da areia.

𝑃1′ = 17 × 2,8 × 0,333 − 2 × 5 × √0,333 = 10,1 𝑘𝑃𝑎

𝑃1′′ = 17 × 2,8 × 0,23 = 10,95 𝑘𝑃𝑎

Ponto P2

O Ponto P2 está na profundidade do fundo da escavação (2,8 + 1,35). Como o

solo em questão é uma areia e não tem coesão, neste ponto só terá empuxo ativo. Além

disso, pelo fato do nível d’água ter sido rebaixado dentro da escavação do Ponto P1 para

o P2 gerou uma pressão horizontal devido a água (1,35 × 10 = 13,5).

𝑃2 = [17 × 2,8 + (20 − 10) × 1,35] × 0,23 + 13,5 = 27,553 𝑘𝑃𝑎

71

Ponto PA

Nesta profundidade é onde as tensões horizontais ativas se igualam com as

tensões horizontais passivas, sendo um ponto de tensões nulas.

𝑃𝐴 = 0

[17 × 2,8 + (20 − 10) × 1,35 + (20 − 10)𝑎] × 0,23 + 13,5 − [(20 − 10) × 4,38𝑎] = 0

27,553 = 41,5𝑎

𝑎 = 0,664 𝑚

Ponto PD

No ponto D é onde o empuxo ativo se iguala ao empuxo passivo, caracterizando

um ponto de cortante nulo. Neste ponto é onde ocorre o momento fletor máximo atuante

na cortina. A profundidade do fundo da escavação até este ponto é nomeada de Z2 e a

distância entre o ponto A e o ponto D e chamada de y. Com isso, é possível determinar

a profundidade Z2.

Empuxo ativo acumulado do trecho do P0 até PD

𝑅𝑎,𝐷 = 10,1 ×1,78

2+ (10,95 + 27,553) ×

1,35

2+ 27,553 ×

0,664

2= 44,12 𝑘𝑁

Empuxo ativo acumulado do trecho do P0 até PD

𝑅𝑝,𝐷 = 41,5 × 𝑦 ×𝑦

2=

41,5𝑦2

2

Igualando as resultantes dos empuxos passivo e ativo, obtemos o valor de y.

𝑅𝑎,𝐷 = 𝑅𝑝,𝐷

44,12 =41,5𝑦2

2

𝑦 = 1,458 𝑚

Portanto, a profundidade de onde ocorre cortante nulo vale:

𝑍2 = 𝑎 + 𝑦 = 0,664 + 1,458 = 2,12 𝑚

72

Abaixo é mostrado o diagrama de tensões horizontais (Figura 5.5) e os

empuxos com seus respectivos braços de alavanca (Figura 5.6), resultado dos

cálculos efetuados acima.

Figura 5.5 Diagrama de tensões horizontais – Sem alívio.

73

Figura 5.6 Empuxo ativo e passivo sobre cortina – Sem alívio.

Segundo o método simplificado apresentado no tópico 2.5, o cálculo do momento

na base da estaca deve respeitar a seguinte equação:

𝑀𝑎 =𝑀𝑝

2

74

Momento causado pelo empuxo ativo:

𝑀𝑎 = 10,1 ×1,78

2× (

1,78

3+ 1,35 + 𝑍1) + (27,553 − 10,95) ×

1,35

2× (

1,35

3+ 𝑍1) + 10,95

× 1,35 × (1,35

2+ 𝑍1) + 27,553 ×

0,664

2× (

2 × 0,664

3+ 𝑍1 − 0,664) =

𝑀𝑎 = 30,46 + 44,1 𝑍1

Momento causado pelo empuxo passivo:

𝑀𝑝 = 41,5 ×(𝑍1 − 𝑎)3

6

𝑀𝑝 = 41,5 ×(𝑍1 − 0,664)3

6

Obedecendo a igualdade proposta pelo método temos:

30,46 + 44,1 𝑍1 =1

2× 41,5 ×

(𝑍1 − 0,664)3

6

30,46 + 44,1 𝑍1 = 3,46𝑍13 − 6,889 𝑍1

2 + 4,57 𝑍1 − 1,013

Portanto, 𝑍1 = 4,78 𝑚

Majorando o valor de 𝑍1 em 15 % temos 𝑍1 = 5,5 𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜𝑠

Cálculo de momento máximo:

Momento devido ao empuxo ativo no Ponto D

𝑀𝑎 = 10,1 ×1,78

2× (

1,78

3+ 1,35 + 𝑍2) + (27,553 − 10,95) ×

1,35

2× (

1,35

3+ 𝑍2) + 10,95

× 1,35 × (1,35

2+ 𝑍2) + 27,553 ×

0,664

2× (

2 × 0,664

3+ 1,458) =

𝑀𝑎 = 126,68 𝑘𝑁. 𝑚

Momento devido ao empuxo passivo no Ponto D

𝑀𝑝 = 41,5 ×(1,458)3

6= 21,44 𝑘𝑁. 𝑚

Portanto o momento máximo é:

𝑀𝑚á𝑥 = 𝑀𝑎 + 𝑀𝑝 = −21,44 + 126,68 = 105,24 𝑘𝑁. 𝑚

75

5.3. Resumo das análises

Neste item, serão resumidos todos os resultados obtidos pelas analises até então

realizadas. Com isso, facilitará a comparação dos dados obtidos pelos diferentes

métodos. As tabelas 6.1 e 6.2 contém os resultados obtidos pelo método numérico. Já

na tabela 6.3, os valores resultantes do método analítico.

Tabela 6.1. Quadro de resumo análise numérica – Mohr-Coulomb

Fases Momento Máx.

(kN.m)

Deslocamento Máx. (mm)

Ficha (m)

Fase 2 -10,98 -3,3 7,85

Fase 3 -35,89 -14,4 7,85

Fase 4 -44,09 -18,5 7,85

Tabela 6.2. Quadro de resumo análise numérica – Hardening-Soil

Fases Momento Máx.

(kN.m)

Deslocamento Máx. (mm)

Ficha (m)

Fase 2 -13,88 -3,9 7,85

Fase 3 -44,78 -16,7 7,85

Fase 4 – C/alívio

-52,37 -20,4 7,85

Fase 4 – S/alívio

-75,00 -31,3 7,85

Tabela 6.3. Quadro de resumo análise analítica

Momento Máx. (kN.m)

Z2 (m)

Ficha, Z1 (m)

Hipótese 1 -46,28 1,69 4,3

Hipótese 2 (S/ alívio)

-105,24 2,12 5,5

Os deslocamentos horizontais advindos das análises numéricas se mostraram

bastante próximos aos resultados reais obtidos pela instrumentação, tanto para o

modelo de constitutivo Mohr-Coulomb quanto para o Hardening-Soil.

As análises analíticas das hipóteses limites 1 e 2, apontaram resultados mínimos

e máximos para o problema. Pelo fato da escavação de alívio se enquadrar entre as

76

hipóteses, é esperado que os resultados sejam intermediários aos valores limites

obtidos. As análises confirmaram as expectativas. Além disso, como esperado, o

resultado obtido pelo método analítico foi superior aos adquiridos no programa Plaxis

2D que leva em consideração a rigidez do elemento estrutural de contenção.

A respeito dos valores encontrados de ficha através do método analítico (4,3 e

5,5 m), é valido ressaltar que a diferença em relação ao valor utilizado no projeto e

adotado na modelagem numérica (7,85 m) é devido à padronização feita pelo projetista.

Existiam áreas com profundidades maiores de escavação, sendo assim, foi preferível

adotar o mesmo comprimento para todas as estacas, de modo a evitar-se problemas

executivos.

77

6. Conclusão

Há diversas soluções de estruturas de contenção. Cada uma possui

características peculiares que dão suporte para a tomada de decisão. É imprescindível

que o projetista tenha conhecimento das diversas opções disponíveis, de modo que

possa atender tanto os requisitos de projeto quanto as restrições observadas em campo,

escolhendo uma solução técnica e economicamente viável. No caso, o método

escolhido foi uma cortina de estacas secantes.

O estudo foi possível em função dos dados obtidos a partir dos ensaios de campo

realizados, bem como da instrumentação de campo instalada para o monitoramento da

obra. Dessa forma, avaliar se as considerações feitas em projeto foram próximas da

realidade.

A análise numérica da obra através do Plaxis 2D foi feita de acordo com as etapas

executivas. A avaliação do desempenho da cortina, em termos de deslocamentos

horizontais, foi feita comparando-se os valores obtidos pelo modelo numérico com os

obtidos a partir da instrumentação de campo. Além disso, foi feita uma análise analítica

para cálculo do comprimento de ficha, verificação do momento fletor máximo e posição

de ocorrência do mesmo.

Os parâmetros utilizados na análise numérica foram estimados através da

interpretação de ensaios de campo e que por meios de correlações foram obtidos. É

importante frisar que se invista nas fases investigativas, pois uma boa campanha de

ensaios gera um conhecimento melhor do problema e possibilita uma análise mais fiel.

Assim como um monitoramento adequado durante a execução possibilita ajustar

premissas de projeto.

Os deslocamentos horizontais obtidos com a modelagem no Programa Plaxis 2D

foram muito próximos aos encontrados em campo com base na instrumentação. Sendo

assim, confirmada a eficácia desta ferramenta nos projetos geotécnicos de escavações

com contenção, principalmente quando o projeto requer o uso de geometrias

complexas, que dificultariam as estimativas através de métodos de cálculos analíticos.

Além disso, foi constatado que o modelo Hardening-Soil apresenta resultados

ligeiramente mais próximos dos medidos pela instrumentação, sendo uma melhor opção

para comportamento de solos no caso de escavações.

O recurso de escavação de alívio na retroárea da contenção, também

denominado de escavação temporária em banqueta, teve como objetivo reduzir os

esforços solicitantes sobre a cortina e consequentemente os deslocamentos horizontais.

Foi possível observar que caso não fosse adotado a técnica de escavação de alívio na

78

retroárea, teria um aumento de cerca de 50% no deslocamento máximo horizontal da

cortina e de 40% em relação ao momento fletor máximo, apontando, portanto, a eficácia

desta técnica na seção analisada.

Os resultados limites das análises analíticas confirmaram que o momento fletor

máximo obtidos atrás do método numérico, pelo fato de estarem dentro no intervalo

estimado nas hipóteses 1 e 2, são coerentes.

Finalmente, considerando a real geometria da escavação de alívio, seria

bastante interessante, servindo como sugestão para trabalhos futuros, a realização de

uma análise analítica mais fidedigna, a fim de comparar com rigor a diferença entre os

métodos analíticos e numéricos. Também seria pertinente um estudo acerca da bacia

de recalque formada devido a escavação, tendo em vista a presença de estruturas na

vizinhança.

79

7. Referencias bibliográfica

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ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2001. NBR 6484: Solos

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São Paulo, São Paulo, 1985.

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BUDHU, Muni (2015). Fundações e estruturas de contenção. 1a Edição: LTC, Rio de

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(Doutorado em Engenharia Civil) – COPPE, Universidade Federal do Rio de Janeiro,

Rio de Janeiro, 2002.

80

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<http://www.brafil3.com.br/servidor/cglconstrucoes/conteudo/servicos_6.asp> Acesso

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FREITAS, A.C.; Pacheco, M. ; Danziger, B.R., 2012, Estimating Young Moduli in Sands

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GERSCOVICH, Denise; DANZIGER, Bernadete Ragoni; Saramago, Robson (2016).

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81

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descontínua: um caso de obra contemplando instrumentação, modelagem numérica e

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SCHNAID, F.; ODEBRECHT, E, 2012. Ensaios de campo e sua aplicação à engenharia

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TERZAGHI, karl; PECK, Ralph B. MESRI, Gholamreza. Soil Mechanics in Engineering

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<http://www.geotecnia.ufba.br/?vai=Extens%E3o/Instrumenta%E7%E3o/Inclinometro>

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http://wyde.com.br/servicos/instrumentacao-e-monitoramento-geotecnico/inclinometro-

instalacao-e-leitura >Acesso em: 03 Fev. 2018.

82

ANEXO I

Primeira folha do boletim de Sondagem SPT-02

83

Segunda folha do boletim de Sondagem SPT-02

84

ANEXO II

Desenvolvimento de cálculo para Seção Homogeneizada

Relação dos módulos de elasticidades (α):

𝛼 =𝐸𝐴ç𝑜

𝐸𝐶𝑜𝑛𝑐=

210000

19159= 10,96

Elemento em concreto:

𝐴𝑐 =𝐴𝑐𝑜𝑛𝑐𝑟𝑒𝑡𝑜

𝛼=

0,13854

10,96= 0,01264 𝑚4 = 1,26 × 10−2 𝑚4

𝐼𝑜 =𝐼𝑐𝑜𝑛𝑐𝑟𝑒𝑡𝑜

𝛼=

1,53 × 10−3

10,96= 1,39 × 10−4 𝑚4

Elemento em aço:

𝐴𝑐 = 4,21 × 10−3 𝑚2

𝐼𝑜 = 𝐼𝑎ç𝑜 = 4,94 × 10−5 𝑚4

Cálculo do momento de inércia equivalente:

𝐼𝑒𝑞 = (∑ 𝐼𝑜) + (∑ 𝐴 × 𝑦`2) − (𝐴𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 × 𝑦`𝑠𝑢𝑝2 )

Onde:

y` é a distância do centro de gravidade do elemento até a extremidade

y`sup é a distância do centro de gravidade do conjunto até a extremidade

Com isso, temos a tabela abaixo.

A(m²) y'(m) Ay' Ay'² Io(m4)

Elem. Aço 4,21 x 10-3 0,21 8,84 x 10-4 1,86 x 10-4 4,94 x 10-5

Elem. concreto 1,26 x 10-2 0,21 2,65 x 10-3 5,57 x 10-4 1,39 x 10-4

Total 1,68 x 10-2

3,54 x 10-3 7,43 x 10-4 1,89 x 10-4

Portanto,

𝑦`𝑠𝑢𝑝 =∑ 𝐴𝑦`

𝐴𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙=

3,54 × 10−3

1,68 × 10−2= 0,21 𝑚

𝐼𝑒𝑞 = (1,89 × 10−4) + (3,54 × 10−3) − (1,68 × 10−2 × 0,212) = 1,89 × 10−4 𝑚4

𝐸𝐼𝑒𝑞 = 2,1 × 108 × 1,89 × 10−4 = 3,969 × 104 𝑘𝑁𝑚²/𝑚

𝐸𝐴𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 2,1 × 108 × 1,68 × 10−2 = 3,54 × 106 𝑘𝑁𝑚²/𝑚

85

ANEXO III

Deslocamento horizontal da estaca HS – Fase 4

86

Deslocamento horizontal da estaca MC – Fase 4

87

Deformação da malha HS – Fase 4

88

Deformação da malha MC – Fase 4

89

Momento Fletor na estaca HS – Fase 4

90

Momento Fletor na estaca MC – Fase 4