analise ergonomica escritorios informatizados
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SULESCOLA DE ENGENHARIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE PRODUO
IDENTIFICAO DOS ITENS DE DEMANDA ERGONMICA EMESCRITRIO INFORMATIZADO
JLIO CARLOS DE SOUZA VAN DER LINDEN
Porto Alegre, 1999
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SULESCOLA DE ENGENHARIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE PRODUO
IDENTIFICAO DOS ITENS DE DEMANDA ERGONMICA EMESCRITRIO INFORMATIZADO
JLIO CARLOS DE SOUZA VAN DER LINDEN
Orientadores:Lia Buarque de Macedo Guimares, PhD
Flvio Sanson Fogliatto, PhD
Banca Examinadora:Beatriz Fedrizzi, PhD
Fernando Gonalves Amaral, Dr.Miguel Aloysio Sattler, PhD
Neri do Santos, Dr.
Trabalho de Concluso do Curso de Mestrado Profissionalizante em Engenhariaapresentado ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo como requisito
parcial obteno do ttulo de Mestre em Engenharia - Profissionalizante
Porto Alegre, 1999
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Dedico este trabalho aos meus pais, Myrtis e Carlos, e aos meus filhos, Liana,
Gabriela e Leo.
Agradeo a todos aqueles que com sua amizade contriburam para a realizao
deste projeto de vida, especialmente a Anamaria de Moraes, Andria Leal,
lvaro Augusto de Salles, Carlos Dcio do Amaral, Geisel Soares Tavares,
Gustavo van der Linden, Lia Buarque de Macedo Guimares, Lidiston Pereira
da Silva, Myriam Ciarlini, Marcelo Moutinho,Patrcia Miranda de Oliveira,
Roberto van der Linden, Tatiana Pastre, Tlio Madruga e Rosa Alice de Salles.
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Sumrio
LISTA DE FIGURAS...............................................................................................................................IX
LISTA DE TABELAS ............................................................................................................................... X
LISTA DE QUADROS.............................................................................................................................XI
RESUMO...............................................................................................................................................XIII
ABSTRACT............................................................................................................................................ XV
CAPTULO 1INTRODUO ................................................................................................................... 1
CAPTULO 2O ESCRITRIO.................................................................................................................7
VISES A RESPEITO DO ESCRITRIO ............................................................................................................8EVOLUO DO ESCRITRIO......................................................................................................................10TIPOLOGIA DO ESCRITRIO ......................................................................................................................11O ESCRITRIO ATUAL ..............................................................................................................................13O ESCRITRIO NO BRASIL ........................................................................................................................14TENDNCIAS NO PROJETO DE ESCRITRIOS ...............................................................................................14TENDNCIAS NO MOBILIRIO PARA ESCRITRIO........................................................................................16TIPOLOGIA DO TRABALHADOR EM ESCRITRIO .........................................................................................18FATORES QUE AFETAM O TRABALHO EM ESCRITRIO ................................................................................19
PRODUTIVIDADE EM ESCRITRIO INFORMATIZADO....................................................................................22CONSIDERAES FINAIS...........................................................................................................................23
CAPTULO 3O TRABALHO COMPUTADORIZADO......................................................................... 25
MODELO CONCEITUAL DO TRABALHO COMPUTADORIZADO .......................................................................26TIPOLOGIA DO TRABALHO COMPUTADORIZADO ........................................................................................27POSTO DE TRABALHO EM ESCRITRIO INFORMATIZADO.............................................................................29CONSTRANGIMENTOS NO TRABALHO COM USO DE COMPUTADOR...............................................................32RECOMENDAES ERGONMICAS PARA TRABALHO COMPUTADORIZADO ...................................................36
CAPTULO 4O PROJETO DO ESCRITRIO ...................................................................................... 41
LAYOUT DO ESCRITRIO .........................................................................................................................42MTODOS PARA PROJETO DE ESCRITRIO .................................................................................................44
CAPTULO 5 ENFOQUE MACROERGONMICO.............................................................................. 53
MACROERGONOMIA ................................................................................................................................54DESIGN MACROERGONMICO..................................................................................................................56
CAPTULO 6 ESTUDO DE CASO........................................................................................................... 67
PLANEJAMENTO ......................................................................................................................................67LEVANTAMENTO INICIAL .........................................................................................................................68DESCRIO DOS SETORES ANALISADOS ....................................................................................................71MTODO DE LEVANTAMENTO DE DADOS ..................................................................................................85ENTREVISTAS..........................................................................................................................................86QUESTIONRIOS......................................................................................................................................91CONSIDERAES GERAIS SOBRE O ESTUDO DE CASO..................................................................................95
CAPTULO 7 RESULTADOS E DISCUSSO ....................................................................................... 97
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ANLISE DOS DADOS............................................................................................................................... 98ANLISE CONJUNTA DA DEMANDA......................................................................................................... 108DISCUSSO DOS RESULTADOS ................................................................................................................ 113CONSIDERAES FINAIS ........................................................................................................................ 121
CAPTULO 8CONCLUSES E RECOMENDAES........................................................................ 123
RECOMENDAES ................................................................................................................................. 124REFERNCIAS..................................................................................................................................... 126
ANEXO 1 QUESTIONRIO SOBRE CADEIRA................................................................................. 132
ANEXO 2MODELO DE QUESTIONRIO RELATIVO AOS ITENS DE DEMANDAERGONMICA..................................................................................................................................... 135
ANEXO 3 MODELO DE QUESTIONRIO RELATIVO CADEIRA ............ ..... ...... ...... ...... ...... .... 138
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Lista de figuras
Figura 1Modelo conceitual do trabalho computadorizado (fonte: Smith & Sainfort, apud Smith, 1997)......27Figura 2Aspectos interrelacionados do posto de trabalho (fonte Kroemer,1993).........................................29Figura 3 Setor de Expedio de Departamento de Recursos Humanos:localizao em relao ao espao da
empresa..............................................................................................................................................72Figura 4 Setor de Expedio: arranjo fsico ................................................................................................ 73Figura 5Departamento de Recursos Humanos: arranjo fsico ..................................................................... 78Figura 6Setor de Administrao de Pessoal: arranjo fsico ......................................................................... 80Figura 7 Setor de Servios Gerais: arranjo fsico ........................................................................................ 82Figura 8Setor de Desenvolvimento Organizacional: arranjo fsico ............................................................. 84Figura 9 Escala para resposta do questionrio............................................................................................. 92Figura 10Expedio: grau de satisfao com os itens de demanda ergonmica (IDEs).......... ...... ...... ...... ... 99Figura 11RH Setor de Administrao de Pessoal: grau de satisfao com os itens de demanda ergonmica
(IDEs) .............................................................................................................................................. 102Figura 12RH Setor de Servios Gerais: grau de satisfao com os itens de demanda ergonmica (IDEs). 105Figura 13RH Setor de Desenvolvimento Organizacional: grau de satisfao com os itens de demanda
ergonmica (IDEs)............................................................................................................................ 107Figura 14Expedio, Administrao de Pessoal,Servios Gerais e Desenvolvimento Organizacional: mdias
por setor dos IDEs ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ..... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ..... 109Figura 15 Administrao de Pessoal e Desenvolvimento Organizacional: grau de satisfao por setor (mdia
e intervalo de confiana a 95%)......................................................................................................... 111Figura 16 Administrao de Pessoal e Desenvolvimento Organizacional: grau de satisfao por faixa etria
(mdia e intervalo de confiana a 95%) ............................................................................................. 113Figura 17 Administrao de Pessoal, Desenvolvimento Organizacional. Expedio e Servios Gerais:
importncia das caractersticas da cadeira por setor (mdia e intervalo de confiana a 95%)....... ...... .. 133Figura 18 Administrao de Pessoal e Desenvolvimento Organizacional: mdia da importncia das
caractersticas da cadeira por setor..................................................................................................... 134
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Lista de tabelas
Tabela 1Matriz da Qualidade utilizada na metodologia DM (Fogliatto & Guimares, 1999).......... ...... ...... . 63Tabela 2Escala utilizada na avaliao estratgica dos itens de demanda ergonmica listados na matriz da
qualidade.......................................................................................................... .................................. 63Tabela 3Escala utilizada na avaliao competitiva dos itens de demanda ergonmica listados na matriz da
qualidade.......................................................................................................... .................................. 64Tabela 4Escala utilizada na avaliao da relao entre Itens de Demanda Ergonmica e Itens de Design na
matriz da qualidade............................................................................................................................. 65Tabela 5 Administrao de Pessoal, Servios Gerais e Desenvolvimento Organizacional: itens de demanda
ergonmica......................................................................................................................................... 88Tabela 6 Expedio: itens de demanda ergonmica por respondente........................................................... 89Tabela 7 Pesos a serem atribubos por ordem de meno............................................................................ 89Tabela 8 Expedio: itens de demanda ergonmica por respondente ponderados......... ...... ...... ...... ...... ...... .. 90Tabela 9 Expedio: itens de demanda ergonmica ordenados.................................................................... 91Tabela 10Setor de Expedio: itens de demanda ergonmica (IDEs) mdias e desvios padro........ ...... ...... 98Tabela 11Expedio: resultados da anlise de varincia fator nico (legenda: SQ = soma dos quadrados;
GDL = grau de liberdade; MQ = mdia dos quadrados; p = poder do teste)........ ...... ...... ...... ...... ...... .... 99Tabela 12RH Setor de Expedio: itens de demanda ergonmica (IDEs) ordenados e grupos homogneos100Tabela 13RH Setor de Administrao de Pessoal: itens de demanda ergonmica (IDEs)...... ...... ...... ...... .. 101Tabela 14RH Setor de Administrao de Pessoal: resultados da anlise de varincia fator nico (legenda: SQ
= soma dos quadrados; GDL = grau de liberdade;MQ = mdia dos quadrados; p = poder do teste) ..... 102Tabela 15RH Setor de Administrao de Pessoal: itens de demanda ergonmica (IDEs) ordenados e grupos
homogneos...................................................................................................................................... 103Tabela 16RH Setor de Servios Gerais: itens de demana ergonmica (IDEs) ...... ..... ...... ...... ...... ...... ...... .. 104Tabela 17RH Setor de Servios Gerais: resultados da anlise de varincia fator nico (legenda: SQ = soma
dos quadrados; GDL = grau de liberdade;MQ = mdia dos quadrados; p = poder do teste) ...... ...... ..... 105Tabela 18RH Setor de Desenvolvimento Organizacional: itens de demanda ergonmica (IDEs) ...... ...... .. 106Tabela 19RH Setor de Desenvolvimento Organizacional: resultados da anlise de varincia fator nico
(legenda: SQ = soma dos quadrados; GDL = grau de liberdade;MQ = mdia dos quadrados; p = poder doteste) ................................................................................................................................................ 107
Tabela 20RH Setor de Desenvolvimento Organizacional: itens de demanda ergonmica (IDEs) ordenados egrupos homogneos .......................................................................................................................... 108
Tabela 21 Administrao de Pessoal e Desenvolvimento Organizacional: Grau de satisfao por setor-resultados da anlise de varincia - tipo III (legenda: SQ = soma dos quadrados; GDL = grau deliberdade;MQ = mdia dos quadrados; p = poder do teste)................................................................. 110
Tabela 22 Administrao de Pessoal e Desenvolvimento Organizacional: Grau de satisfao dos usurios (*:significativamente diferente a 95% de confiana) .............................................................................. 112
Tabela 23 Administrao de Pessoal e Desenvolvimento Organizacional: Grau de satisfao por faixa etria -resultados da anlise de varincia - tipo III (legenda: SQ = soma dos quadrados; GDL = grau deliberdade;MQ = mdia dos quadrados; p = poder do teste)................................................................. 113
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Lista de quadros
Quadro 1 Quadro de categorizao de problemas (segundo Moraes & MontAlvo, 1998)..........................71Quadro 2Setor de Expedio: caracterizao do grupo (legenda: F= feminino; M= masculino; 2 e 3
referem-se a 2 e 3 graus completos, respectivamente; e 3i refere-se a 3 grau incompleto).................76Quadro 3Setor de Expedio: tipologia do trabalho computadorizado........................................................77Quadro 4 RH Setor de Administrao de Pessoal: caracterizao do grupo (legenda: F= feminino; M=
masculino; 2 e 3 referem-se a 2 e 3 graus completos, respectivamente; e 3i refere-se a 3 grauincompleto).........................................................................................................................................81
Quadro 5 RH Setor de Administrao de Pessoal: tipologia do trabalho computadorizado ...... ...... ...... ...... .. 81Quadro 6RH Setor de Servios Gerais: caracterizao do grupo (legenda: F= feminino; M= masculino; 2 e
3 referem-se a 2 e 3 graus completos, respectivamente; e 3i refere-se a 3 grau incompleto; nd refere-se a informao no declarada)............................................................................................................ 83
Quadro 7 RH Setor de Servios Gerais: tipologia do trabalho computadorizado..........................................83Quadro 8RH Setor de Desenvolvimento Organizacional: caracterizao do grupo (legenda: F= feminino; 2
e 3 referem-se a 2 e 3 graus completos, respectivamente; e 3i refere-se a 3 grau incompleto, ndrefere-se a informao no declarada).................................................................................................. 85
Quadro 9RH Setor de Desenvolvimento Organizacional: tipologia do trabalho computadorizado...............85Quadro 10 Itens de demanda ergonmica agrupados por categoria ............................................................. 92Quadro 11Expedio: agrupamento dos IDEs ......................................................................................... 100
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Resumo
Esta dissertao aborda a utilizao do Design Macroergonmico (DM) para a
determinao da demanda ergonmica de usurios de escritrio informatizado. O DM um
mtodo desenvolvido para auxiliar no projeto ergonmico de produtos e de postos de
trabalho, que tem como bases a macroergonomia e ergonomia participativa. Ao longo de
um estudo de caso realizado em setores administrativos de uma empresa industrial do setor
qumico, o DM permitiu que fossem coletadas e analisadas as demandas dos usurios de
diferentes espaos de trabalho em escritrio informatizado.
Os resultados obtidos demonstraram que o Design Macroergonmico uma ferramenta
sensvel s diferenas entre as demandas de usurios que realizam diferentes tarefas em um
mesmo ambiente. Por fim, foi possvel confirmar que o DM pode ser utilizado como uma
ferramenta adequada a projetos que exijam a customizao do posto de trabalho.
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Abstract
This dissertation describes the macroergonomic approach used for establishing the
ergonomic needs of computerized office users. Macroergonomic Design methodology
(DM), developed for products and workstation design, was applied in four office sections
of a chemical industry.
DM showed to be sensitive to the differences among offices needs depending on the type
of work performed. The participatory character of DM ensures that design solutions are
user centered .
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Captulo 1Introduo
H um trabalhador sentado numa cadeira diante da tela e do teclado de um
terminal de computador. Ele tem dor nas costas. O ergonomista sabe muito
sobre as costas. Ele pode ajudar a conceber assentos melhor adaptados. Esse
trabalhador tambm tem dor de cabea. A tela reflete a luz e no tem bom
contraste. O ergonomista sabe muitas coisas sobre os olhos e a viso. Ele pode
ajudar a conceber telas menos ofuscantes. Esse trabalhador est cansado. H
mais de quatro horas ele est diante do seu monitor, e ele no mais to jovem.
O ergonomista sabe muitas coisas sobre os efeitos da durao do trabalho
sobre o organismo humano. Ele pode ajudar a organizar melhor os horrios e
as pausas. Esse trabalhador no est sentado sem fazer nada, ele tem uma
atividade. Ele interpreta informaes que aparecem sobre a tela, ele resolve
problemas. s vezes ele erra. O ergonomista sabe muitas coisas sobre o
raciocnio do trabalhador. Ele pode ajudar a apresentar melhor as
informaes, a formular melhor os problemas e a conceber uma melhor
formao. Esse trabalhador acha o seu trabalho muito repetitivo e muito
isolado. O ergonomista sabe certas coisas sobre o interesse das tarefas e sobreas comunicaes no interior de uma equipe. Ele pode ajudar a conceber uma
organizao mais satisfatria, e portanto, mais eficaz. (Montmollin, 1996)
A utilizao do computador nos primrdios de seu desenvolvimento no anos 40 e 50 era um
campo para iniciados, estando restrita a ambientes de laboratrio, em condies ambientais
determinadas pelas necessidades da mquina (temperatura e umidade extremamente
controladas). Hoje, com a disseminao dos microcomputadores, a informtica atinge todosos setores de nossa sociedade, mesmo aqueles onde a modernidade tarda a chegar, como o
meio rural. Os setores industrial e de servios lideram o uso da informtica, alterando
profundamente o perfil de seus trabalhadores, ao exigir deles novas competncias.
No escritrio, em particular, a presena do computador, como o novo amigo inseparvel
do homem neste quase sculo 21(Gomes, 1998) apresenta desafios que ocupam, ou
deveriam ocupar, todos aqueles que esto envolvidos com o planejamento e projeto dosespaos e instalaes de trabalho. As questes que a implantao de postos de trabalho
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informatizados trouxe para o ambiente organizacional, alterando as relaes interpessoais,
transformam o escritrio em um enorme campo de estudo (Grandjean, 1987; Moraes et al.,
1994; Santos et al., 1999). A despeito de toda a pesquisa j existente, muitas questes ainda
se encontram sem soluo adequada, enquanto que outras surgem com o desenvolvimento
das novas tecnologias que, inadvertidamente, submetem os seus usurios a novos
constrangimentos, de natureza fsica e cognitiva (Grandjean, 1987; Nagamachi, 1996
Smith, 1997;.Lima, 1998).
Com isso, se de um lado, o uso da informtica tem produzido ganhos de eficincia na
realizao de inmeras tarefas, especialmente as repetitivas, por outro lado tem cobrado
pesados tributos sade fsica e mental dos trabalhadores, que comprometem a mdio e
longo prazo o seu desempenho. Pouca ateno foi dada s relaes entre a tecnologia e o
ser humano no momento em que, a partir dos anos 70, a informtica comeou a ser
introduzida no ambiente organizacional como uma soluo para problemas organizacionais
(Wilson, 1988). Atualmente, o trabalho com o computador um dos principais
responsveis pelas doenas ocupacionais nos EUA (Mogensen, 1999). Isso se deve
ocorrncia de diversas novas patologias que tm sido associadas informatizao dos
ambientes de trabalho, dentre elas a Sndrome do Tnel do Carpo (patologia do membro
superior causada por uma compresso do nervo mediano no tnel do carpo), o estresse
psicolgico e a Computer Vision Syndrome(CVS, conjunto de patologias provocado pela
excessiva interao com o monitor) (Sellers,1995; Smith, 1997, About, 1999).
Em uma poca de crise econmica, em que a necessidade de reduzir custos e a carncia de
empregos so alguns dos principais desafios para a sociedade e para as empresas, existe a
tendncia de menosprezar os chamados fatores humanos, com srios efeitos nas relaes de
trabalho (Baldry, 1997). De fato, a experincia mostra que as pessoas tendem a se adaptar acondies desfavorveis, diante de questes maiores como a manuteno do emprego. O
grande problema que essa adaptao no ocorre de maneira incua: a produtividade do
trabalhador afetada negativamente por esse processo a mdio e longo prazo e a sua vida
til pode ser seriamente comprometida, com altos custos pessoais e sociais. medida em
que cada vez um maior nmero de pessoas est passando mais tempo diante do
computador, tornando o trabalho mais sedentrio especialmente nos escritrios, a tendncia
atual tem sido o aumento de problemas ergonmicos (Springer, 1993).
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Por outro lado, a falta de uma efetiva conscincia por parte de profissionais, como
arquitetos (Martin et al., 1995) e analistas de organizao, mtodos e sistemas, do papel
que o ergonomista pode cumprir na concepo do espao de trabalho, contribui para
retardar a soluo do problema. Geralmente, esses profissionais se regem, no campo do
domnio da ergonomia, por regras a respeito de espaos, dimenses, condies ambientais,
etc. Para alguns, a ergonomia ainda confundida com especificaes de mobilirios
(Springer, 1993). Na realidade, a ergonomia no envolve apenas a especificao de
equipamentos antropomtrica e biomecanicamente adequados ou da determinao estanque
de fatores climticos e ambientais, como tem sido demonstrado por diversos autores
(Santos & Fialho, 1997; Vink, 1997; Moraes & MontAlvo, 1998; Talmasky & Santos,
1998). A introduo das novas tecnologias no espao organizacional vista pela
ergonomia, particularmente pela abordagem macroergonmica (Brown, 1995; Nagamachi,
1996), como o foco ao qual devem ser dirigidos os esforos iniciais, no intuito de prever e
eliminar possveis disfunes que venham a acarretar em constrangimentos para os seus
usurios. O impacto psicossocial das mudanas no ambiente de trabalho considerado pelo
ergonomista, que deve tratar a questo a partir de um enfoque sistmico.
Portanto, a concepo de espaos de trabalho a partir de consideraes puramente estticas
ou funcionais ir futuramente penalizar os seus usurios (Martin et al., 1995). Tambm as
empresas so penalizadas com a gerao de custos na correo dos aspectos no previstos
em projeto e de custos de demandas trabalhistas. Freqentemente, ou quase sempre, a ao
do ergonomista se d por conta de notificaes das Delegacias Regionais do Ministrio do
Trabalho ou de aes promovidas por funcionrios, como se pode ver em Mario (1997).
Mesmo a aplicao de princpios ergonmicos no uma garantia de sucesso em um
projeto: intervenes realizadas sob um enfoque pontual podem se traduzir em novasdemandas e em frustraes com relao ao trabalho do ergonomista. Freqentemente isso
ocorre quando o conhecimento da realidade dos trabalhadores substitudo pela aplicao
acrtica de conhecimentos acumulados. Essa utilizao, comum por parte de projetistas, de
normas, recomendaes, listas de verificao e guias de referncia, de maneira objetiva,
traduz a crena de que o conhecimento da natureza humana e das organizaes permite a
padronizao integral de solues de layout, de arquitetura e de designde equipamentos.
Raros so os que adotam na prtica, mesmo nas anlises ditas ergonmicas, a escuta da voz
do usurio, muito provavelmente por falta de metodologias e ferramentas adequadas.
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Os guias de referncia ergonmicos, que a cada dia so publicados em jornais dirios e na
Internet, com o intuito de facilitar o projeto e o uso de postos de trabalho informatizados (o
captulo 3 traz uma pequena lista de referncias nesse sentido), seguramente podem ajudar
a prevenir ms posturas, contribuindo para a preservao da sade do trabalhador. Alm
disso, permitem a adoo daquelas posturas e arranjos fsicos que maximizam a velocidade
com que os trabalhadores podem trabalhar, resultando em incrementos na produtividade
(Resnick, 1997). Tambm o uso de listas de verificao e protocolos para avaliao de
postos de trabalho existentes contribui para uma anlise sistemtica, permitindo verificar a
efetividade de melhorias realizadas. Porm, o uso dessas ferramentas atravs de abordagens
micro-orientadas (ou seja, focalizadas no posto de trabalho) pode resultar na adoo de
solues inadequadas ou incompletas, potencializando perdas e insatisfao quanto ao
trabalho do ergonomista.
A ergonomia reconhece e defende que as demandas para um posto de trabalho qualquer
dependem, no apenas das caractersticas individuais dos trabalhadores, tambm do tipo de
trabalho realizado e todo mtodo proposto para interveno ergonmica considera a anlise
da tarefa (Wisner 1987; Santos & Fialho, 1997; Moraes & MontAlvo, 1998). Contudo, a
maioria dos mtodos adotados para avaliao ergonmica ou para projeto no incorpora
ferramentas que permitam identificar essas diferenas. Dessa forma, ao no considerar a
percepo e a viso dos trabalhadores sobre o seu prprio trabalho, o uso de ferramentas
no-participativas e micro-orientadas tende gerao de solues rgidas e a aumentar o
uso de solues de compromisso. Tambm importante considerar nos projetos do espao
de trabalho que as pessoas gostam de espaos que possam considerar como seus e
alterar; rejeitam um ambiente estranho, construdo de acordo com distribuies
minuciosas de metros quadrados para modelo padronizado de humanidade, embora em
condio mais durvel e assptica (Sommer, 1973).
Portanto, uma necessidade real, para a qualificao das intervenes ergonmicas, o uso
de ferramentas que permitam, de forma rpida e efetiva, a identificao da demanda do
usurio, a partir de seu conhecimento a respeito do prprio trabalho. Esta lacuna pode vir a
ser preenchida com o uso do mtodo de Design Macroergonmico (DM), desenvolvido por
Fogliatto & Guimares (1999) para a identificao da demanda ergonmica de usurios de
produtos e de postos de trabalho. Esses autores, que definem demanda ergonmicacomo
as manifestaes do usurio quanto s questes ergonmicas envolvidas com os produtos
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que manuseia e com os postos de trabalho onde executa as suas tarefas, desenvolveram
um mtodo que incorpora ferramentas estatsticas de anlise de dados e tomada de deciso
a uma abordagem macroergonmica e participativa.
O DM permite discriminar as diferentes demandas dos usurios em funo das suas
atividades, a partir de estratgias de coleta de informao que privilegiam a sua opinio. A
aplicao de ferramentas estatsticas possibilita a priorizao das demandas e o
estabelecimento de relaes entre essas e as suas possveis solues. A estrutura aberta do
DM permite que ele seja uma ferramenta participativa. At o momento, o DM foi utilizado
com sucesso em projetos de postos de trabalho (Guimares et al, 1998; Fogliatto &
Guimares, 1999; Krug, 1999). Na presente dissertao, o DM foi aplicado para a
identificao e anlise da demanda de usurios de escritrio informatizado em uma
empresa industrial, no municpio de Gravata (rea metropolitana de Porto Alegre, RS).
O objetivo desta dissertao avaliar se o DM permite definir parmetros de projeto de
acordo com as necessidades do usurio que extrapolam as dimenses mais reduzidas de um
posto de trabalho podendo ser aplicado a um espao de trabalho, sendo formuladas as
seguintes hipteses:
as demandas ergonmicas para um posto de trabalho em um escritrio informatizado
dependem do tipo de trabalho realizado, alm das caractersticas individuais dos
trabalhadores;
os mtodos de projeto e diagnose em uso por arquitetos e projetistas em geral no so
sensveis s diferenas entre usurios;
com o uso de uma ferramenta adequada, o Design Macroergonmico (DM), possvel
identificar as diferenas nas demandas determinadas pela natureza dos trabalhosrealizados; e
o DM sensvel a questes que transcendem o espao microergonmico do posto de
trabalho, podendo ser utilizado como ferramenta para projeto de espaos de trabalho (que
prev os postos mais a organizao de trabalho).
Para atingir os objetivos do presente trabalho necessrio contemplar duas questes
principais:
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1. caracterizao de mtodos usualmente adotados para desenvolvimento de projetos de
escritrios e de postos de trabalho informatizados;
2. aplicao da metodologia de Design Macroergonmico em espaos de trabalho
informatizados.
Esta dissertao est estruturada em sete captulos, alm desta introduo. No captulo 2,
so apresentadas as diversas vises sobre o escritrio a partir de disciplinas envolvidas no
seu projeto, as mudanas decorrentes do surgimento do escritrio informatizado e as
tendncias atuais para o projeto de escritrio.
O trabalho no ambiente computadorizado, o foco do captulo 3. Nesse captulo so
apresentados os diversos tipos de trabalho computadorizado e os constrangimentos
decorrentes do uso do computador.
O captulo 4 trata dos mtodos utilizados para projeto de escritrio. So descritos alguns
mtodos utilizados por ergonomistas, arquitetos e analistas de sistemas, organizao e
mtodos, que consideram diferentes facetas do problema.
O captulo 5 descreve a abordagem utilizada no presente trabalho, a macroergonomia, eapresenta o mtodo de Design Macroergonmico (DM), que est sendo proposto como uma
ferramenta adequada necessidade de incorporar a demanda do usurio etapa inicial do
desenvolvimento de projetos.
O mtodo de Design Macroergonmico aplicado para a identificao da demanda de
usurios de escritrio informatizado em uma empresa do setor qumico da Grande Porto
Alegre. O captulo 6 apresenta o estudo de caso, com a descrio do trabalho realizado, ascondies fsicas e ambientais. So apresentadas, tambm, as estratgias utilizadas para a
coleta de dados e os critrios para o processamento inicial.
A anlise estatstica dos dados e a discusso dos resultados apresentada no captulo 7. O
captulo 8 trata das concluses a que se chegou no presente trabalho e recomendaes para
pesquisas posteriores.
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A organizao das mesas, sua proximidade ou afastamento podem indicar sobre a
permisso ou proibio de conversas no ambiente .
A aparncia do escritrio, portanto, sinaliza para os ocupantes o seu status e qual deve ser o
comportamento apropriado. Por exemplo, o uso de um mobilrio velho e sem manuteno
interpretado pelos trabalhadores como uma falta de interesse da empresa pelo seu bem-estar
(Crozier, apudBaldry, 1997; Belmonte 1998).
O uso do espao representa uma escolha estratgica com bases funcionais. As diversas
configuraes refletem o grau de interao e de autonomia desejado ou autorizado. A
evoluo do escritrio fechado para o escritrio aberto, em meados dos anos 50
correspondeu no apenas necessidade de flexibilizar o uso do espao, como divulgado,
mas tambm a uma inteno de permitir um maior controle dos gerentes sobre os
trabalhadores (Aronoff, apudBaldry, 1997).
O efeito do ambiente sobre o trabalho tem sido comprovado por pesquisas conduzidas a
partir de vrias perspectivas (Grandjean, 1998, Belmonte, 1998). inegvel que o ambiente
afeta o desempenho do trabalhador, contudo, segundo Sommer (1973), no existe uma
relao simples entre elementos ambientais isolados e o comportamento humanocomplexo. Os fatores psicossociais interagem com os demais fatores de forma que a
percepo das mudanas ambientais no pode ser considerada como uma reao linear; ou
seja, a melhoria do ambiente no se traduz necessariamente em melhoria de desempenho,
dependendo de como a inteno da empresa melhorar o ambiente fsico percebida pelos
seus trabalhadores (Sommer, 1973).
Segundo Brill & Parker (1988), o projeto fsico do escritrio, englobando o layout e o posto
de trabalho, afeta a produtividade da empresa e a qualidade de vida dos seus empregados.
Atravs de uma pesquisa ao longo de seis anos, englobando 70 empresas e cerca de 5000
trabalhadores, segundo o autor, ficou demonstrado que o desempenho e a satisfao no
trabalho, alm do conforto na comunicao, so afetados por mudanas no projeto do
escritrio.
Belmonte (1998), em pesquisa sobre motivao e satisfao em ambiente de trabalho
administrativo, demonstrou que a melhoria das questes fsicas est associada
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principalmente ao sentimento de satisfao. A melhoria do mobilirio e da ambincia fsica
(rudo, iluminao e temperatura) reflete-se positivamente na satisfao do trabalhador e na
sua disposio para o trabalho.
Evol uo do esc ri tri o
Em fins do sculo XIX, foram construdos no Estados Unidos os primeiros edifcios
projetados especificamente para o setor administrativo (Amaral, 1988). Como conseqncia
do enorme crescimento da indstria americana, se tornou necessria a existncia de reas
administrativas separadas das reas fabris, e isso se tornou possvel naquele momento
graas evoluo dos meios de comunicao. O desenvolvimento dos correios e a inveno
do telgrafo e do telefone contriburam significativamente para o estabelecimento do
escritrio como uma tipologia funcionalmente especializada de trabalho. Em 1885 foi
construdo o edifcio da Companhia de Seguros Home, em Chicago, que considerado o
primeiro arranha-cu destinado a fins administrativos, (Amaral, 1988). A partir de ento, e
por todo o sculo XX, os edifcios de escritrio substituram as igrejas e palcios como as
mais importantes e significativas estruturas urbanas (Baldry, 1997). Este fato reflete a
importncia que o trabalho administrativo passou a ter para as sociedades modernas: a
partir dos anos 50, os colarinhos brancos(trabalhadores administrativos) superaramnumericamente os operrios da indstria e da agricultura nos EUA, caracterizando um
marco histrico.
O surgimento das grandes corporaes comerciais e industriais, acompanhado do aumento
da estrutura administrativa do estado a partir do ps-guerra, na maioria das naes
industrializadas, trouxe significativas mudanas na concepo dos escritrios. Dessa forma,
o escritrio evoluiu como um reflexo das transformaes nas relaes estabelecidas emcada sociedade entre o capital e o trabalho, de acordo com o estgio tecnolgico do
momento.
O aumento nos custos da construo e no aluguel de escritrios levou necessidade de
reduzir o espao disponvel para cada trabalhador. Isto gerou a tendncia ao uso de sistemas
de mobilirio que maximizem a utilizao do espao, sem prejuzo para a privacidade e que
propiciem, mesmo assim, um aumento de produtividade (Richter, 1988; Bell, 1997)
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Mesmo com as grandes mudanas tecnolgicas vividas no ltimo sculo, com o
desenvolvimento das comunicaes (teletipo e telefone), e hoje a informtica, as atividades
bsicas do trabalho em escritrio continuam as mesmas: dirigir, atender, reunir, participar e
concentrar (Escritrio, 1987). Dessa forma, sempre existe alguma estrutura hierrquica,
com a presena de pessoas que decidem, estabelecem as prioridades e sintetizam a ao da
empresa. Tambm esto ainda presentes, em algum grau, a necessidade de atender a quem
vem de fora (real ou virtualmente) e a necessidade de realizar reunies e de desenvolver
atividades que exigem concentrao e privacidade.
Tipolog ia do escr i tr io
possvel estabelecer uma tipologia do escritrio, mesmo que de uma forma incompleta,
desde que se reconhea que na realidade alguns tipos convivem no mesmo ambiente.
Acompanhando a evoluo do escritrio, pode-se propor os seguintes tipos, encontrveis
em nossos ambientes organizacionais: escritrio fechado, escritrio aberto (open office),
escritrio panormico (Brolandschaft), escritrio eletrnico e escritrio integrado.
O escritrio fechado
A forma mais tradicional de organizao espacial do trabalho administrativo, o escritrio
fechado caracteriza-se pela localizao das pessoas e grupos em espaos relativamente
reduzidos. Nesses ambientes, o grau de privacidade atinge o mximo, com a existncia de
barreiras visuais e acsticas efetivas.
O escritrio aberto
O conceito de escritrio aberto (open office) foi desenvolvido no EUA como conseqncia
do crescimento das organizaes e da aplicao de princpios administrativos influenciados
pelo taylorismo. Originalmente, tratava-se da concentrao em um mesmo espao de
pessoas que realizavam uma mesma atividade, como datilografia. Posteriormente, evoluiu
para a organizao de todo o trabalho administrativo como uma linha de produo
(Baldry,1997).
O escritrio aberto se caracteriza por grandes reas sem divisrias, nas quais as mesas so
organizadas em filas paralelas e orientadas na mesma direo. Ao redor dessas reas ficam
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pequenas salas com janelas, onde so localizadas as chefias. Este tipo de configurao
oferece inmeras vantagens para a empresa, tanto com relao organizao do trabalho,
quanto pela racionalizao do uso do espao (Manning, apudBaldry, 1997; Amaral, 1988).
Os trabalhos de superviso, no escritrio aberto, so facilitados pela viso direta que os
gerentes tm de todos os subordinados. Alm disso, as perdas de tempo so reduzidas pelo
fato de que cada um pode ver quando o outro est em sua mesa, evitando deslocamentos
desnecessrios (Manning, apudBaldry, 1997).
Para os trabalhadores, pesquisas indicam que o escritrio aberto produz a impresso,
desagradvel, de que esto sendo vigiados a todo momento, o que gera uma sensao de
perda de segurana (Baldry, 1997). Esses ambientes tambm do aos trabalhadores uma
viso mais clara de sua posio na empresa, gerando um sentimento de insignificncia
(Oldham & Brass, apudBaldry, 1997). De fato, enquanto os chefes tm salas privativas, os
trabalhadores no dispem de qualquer privacidade visual ou acstica. A padronizao dos
equipamentos torna o espao ainda mais impessoal.
O escritrio panormico
O escritrio panormico (Brolandschaft) foi desenvolvido nos anos 60 na Alemanha, em
uma poca de pleno emprego e de valorizao da qualidade de vida e da democracia no
trabalho. No seu conceito original, inclua grande nfase na participao dos usurios no
planejamento das tarefas e do espao necessrio para a sua realizao (Browne, apud
Baldry,1997).
As caractersticas mais marcantes do escritrio panormico so o amplo espao disponvel
para cada trabalhador, a alta qualidade do mobilirio, o uso de plantas e de objetos dedecorao para enriquecer o ambiente e a configurao do arranjo fsico. O layout do
escritrio panormico abandonou a organizao rgida em filas e buscou outras solues
adequadas a cada situao, como organizao em ilhas de trabalho. Outra grande
preocupao se relaciona com a privacidade, que traduzida pelo uso de painis e pisos
com materiais que absorvem parcialmente o rudo (Baldry, 1997).
Com as mudanas ocorridas no cenrio mundial na dcada de 70, o conceito do escritrio
panormico foi distorcido, perdendo a sua essncia scio-tcnica. Restaram apenas as
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solues formais, como o uso de carpetes e de plantas, alm do agrupamento de estaes de
trabalho. Os princpios que embasavam o escritrio panormico no resistiram nova
realidade dos anos 80, que no estimulava o investimento no que pareciam luxos
desnecessrios(Baldry, 1997). A descaracterizao do escritrio panormico levou-o a ser
confundido com o escritrio aberto.
O escritrio eletrnico
Nos anos 80, o desenvolvimento das tecnologias de informao ofereceu uma resposta aos
crescentes custos associados ao trabalho em escritrio, ento agravados pela crise
energtica. Alm de auxiliar no incremento de produtividade do trabalho administrativo, a
informtica passou a ser usada para gerenciar o consumo de energia nas edificaes. Osnveis de temperatura, ventilao e iluminao nos escritrios dos chamados edifcios
inteligentes passaram a ser controlados por um sistema central, sem a possibilidade de
interferncia dos usurios (Baldry, 1997).
O escritrio integrado
A incorporao de redes informatizadas deu origem a um novo tipo de escritrio, no qual a
realizao das atividades no est mais condicionada a um espao fsico determinado. Otrabalhador pode realizar a sua atividade em um outro posto de trabalho que no o seu,
como tambm podem ser realizadas reunies ou outros tipos de trabalhos colaborativos sem
que haja a necessidade de deslocamentos ou ,sequer, a presena no mesmo ambiente fsico
(Baldry, 1997).
O escr i tr io atual
A funo do escritrio, hoje, continua essencialmente a mesma, mas a forma como essa
funo realizada tem sofrido grandes alteraes ao longo dos tempos, e talvez nenhuma
tenha sido to grande como a promovida pela introduo da microinformtica. As cinco
atividades bsicas passaram a ser realizadas com a utilizao de ferramentas que
intermediam as relaes entre o trabalhador, a tarefa e a organizao.
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O novo sistema em implantao reduz as distncias e o tempo entre as pessoas. Ao mesmo
tempo, se torna cada vez menos necessrio ter postos de trabalho particulares, pelo fato de
o computador permitir realizar a tarefa virtualmente a partir de qualquer lugar.
O escritrio atual reune vrias das tipologias que ao longo dos tempos foram surgindo em
conseqncia das novas teorias administrativas e da inovao tecnolgica. Portanto,
comum encontrar ambientes configurados como escritrio aberto, com seus recursos de
gerenciados a partir de um controle central como escritorio eletrnicoe com seus
funcionrios comunicando-se atravs de redes informatizadas como no escritrio
integrado.
O escr i tr io no B rasi l
No Brasil, o projeto do escritrio associou os conceitos trazidos do exterior atravs de
modernas teorias de administrao a uma tradio burocrtica originada do perodo
colonial. Essa tradio ligava o trabalho administrativo aquisio de umstatus
diferenciado, um quase-ttulo de nobreza. Disso decorre a excessiva valorizao dada no
nosso pas aos smbolos indicadores destatuse poder (Amaral, 1988). Anos atrs, o uso de
uma lmina de vidro sobre a mesa era um sinal destatuspara funcionrios de escritriobrasileiros, permitindo diferenciar-se dos demais e personalizar a sua mesa (O Escritrio,
1988).
A adoo de uma verso distorcida do escritrio panormico, permitiu no Brasil o
estabelecimento de um sofisticado sistema de vigilncia, baseado na autocensura dos
trabalhadores. Porm, essa mudana no feita sem protestos, especialmente por parte de
trabalhadores com maior poder de barganha, como funcionrios pblicos (Borges, 1999b).
Tendnc ias no pro jeto de esc ritrios
A questo de para onde vai o escritrio do futuro tem preocupado pesquisadores e
indstrias, especialmente as de mobilirio. No final dos anos 80, a Escriba, indstria de
mveis para escritrio, lanou no Brasil o concurso Como ser o escritrio daqui a 25
anos, no ano 2012, refletindo a necessidade de discutir o tema.
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As grandes mudanas provocadas pelas tecnologias da informao tornam cada vez mais
difcil uma resposta definitiva para o que ser o escritrio no futuro. Tambm as mudanas
nas relaes de trabalho, aliadas a novas prticas gerenciais, produziram uma verdadeira
revoluo na concepo dos espaos de trabalho. O escritrio esttico, rgido, com sua
configurao delineada para longo tempo est em extino, junto com muitas prticas e
costumes administrativos.
Em diversos ramos de servios, como auditoria e consultoria, parte significativa das
atividades j pode ser realizada fora do escritrio, que deixa de ser o local de trabalho,
sendo substitudo por trabalho em casa ou por escritrios mveis. Algumas empresas, por
conta disso, estimam que podem reduzir os postos de trabalho a 30% do nmero de
funcionrios (Orgatec, 1997). Nessa situao, deixa de existir o posto de trabalho
individual, particular, e surge o posto compartilhado, que utilizado por qualquer
funcionrio, conforme a sua necessidade (Casciani, 1999; Borges, 1999; Orgatec, 1997).
Segundo Lipton (1998), talvez o escritrio do futuro seja uma combinao de um espao
fsico permanente e um espao virtual - em outras palavras, um espao de trabalho que
oferece total flexibilidade, onde possvel dar suporte em telecomunicaes e hotelaria
(onde mltiplos funcionrios compartilham uma mesa e a estrutura do escritrio) e oescritrio convencional onde os trabalhadores se renem.
Tambm o prprio conceito do trabalho est em mutao, com a incorporao da
criatividade como um atributo necessrio a todas profisses (Masi, 1999). Com isso, surge
a necessidade de criar ambientes mais favorveis ao pensamento criativo, o que inclui
espaos adequados para encontros informais (Borges, 1999).
As empresas mais modernas e dinmicas tendem a adotar com progressiva freqncia duas
opes de organizao de trabalho. A primeira, o escritrio flexvel, em sentido amplo, no
qual no s o mobilirio pode ser ajustado a cada usurio e a cada arranjo fsico, como
tambm as condies ambientais podem ser alteradas conforme as necessidades das pessoas
e do momento. Outra tendncia o escritrio residencial, com um nmero a cada dia maior
de pessoas que trabalham em suas prprias casas, pelo menos durante uma parte
significativa de seu tempo (Orgatec, 1997).
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O escritrio virtual est cada vez mais presente, permitindo o trabalho distncia. Mas, de
qualquer forma, o escritrio fsico continuar existindo por muito tempo ainda,
principalmente para permitir reunies (Lipton, 1998) e para manter o vnculo entre as
pessoas e a organizao (Orgatec, 1997). O trabalho mais rotineiro tende a ser feito em
casa, deixando-se a ida aos escritrios para reunies e outras atividades em grupo.
Provavelmente, o escritrio continuar gerando demandas para o trabalho do ergonomista,
medida em que novas tecnologias venham a ser incorporadas s suas atividades. A
utilizao do computador no posto de trabalho revolucionou o conceito de trabalho mas
imps novos constrangimentos fsicos e mentais ao trabalhador (o captulo 3 aborda essa
questo em detalhe).
A nfase na flexibilidade e padronizao dos escritrios, alm das prticas associadas aos
programas de qualidade, como os 5S, tendem a criar contrapartidas indesejveis, na forma
de constrangimentos psicossociais, segundo Baldry (1997). A diminuio dostatusdo
trabalhador administrativo uma tendncia em alguns setores, resultando em perda na auto-
estima e motivao do trabalhador (Baldry, 1997).
Em resumo, as principais tendncias que h muito vm sendo predominantes no projeto deescritrios so:
reduo do espao utilizado por funcionrio (em razo do alto custo da rea construda
nos grandes centros);
uso de espaos multifuncionais, que permitem a realizao de diferentes tarefas como
trabalho individual ou coletivo;
uso de espao compartilhado; eliminao do papel no ambiente de trabalho; e
eliminao ou reduo do controle individual sobre as condies ambientais
(temperatura, ventilao e iluminao).
Tendnc ias n o m ob ilirio par a escr itrio
As indstrias de mobilirio tm trabalhado, nos ltimos anos, no sentido de oferecer sempresas opes que atendam as mais diversas tendncias de organizao de trabalho e de
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configurao dos escritrios. As feiras internacionais dedicadas ao mobilirio de escritrio,
como a Orgatec, que se realiza a cada dois anos em Colnia (Alemanha), a Feira
Internacional de Mveis para Escritrio (EIMU) em Milo (Itlia) e a Neocom de Chicago
(EUA), tm refletido sobre as possibilidades que a tecnologia oferece e as necessidades que
as novas formas de trabalho cobram. (Orgatec, 1997; Rodrigues, 1997; Casciani, 1999).
A flexibilidade, entendida como possibilidade de mltiplos objetivos, usos mltiplos e
espaos mutantes (Sommer, 1971), o parmetro determinante para qualquer proposta
que deseje atender s inmeras demandas atuais. Existe uma grande preocupao pelo
atendimento das necessidades individuais e das necessidades especficas de cada tipo de
trabalho e de cada ambiente de trabalho (Casciani, 1999).
Dentre as vrias tipologias experimentais propostas para o mvel de escritrio do futuro,
algumas esto sendo referncia para a indstria de mobilirio, segundo Casciani (1999):
mveis capazes de garantir a economia de espao;
sistemas de mveis personalizados e regulveis; e
estaes de trabalho multimdia, conectadas em rede e caracterizadas por uma
componibilidade modular, permitindo passar da configurao individual quela de usocoletivo.
Outra importante tendncia que se pode observar hoje, a busca ao atendimento das
necessidades ergonmicas do usurio, de maneira a prevenir problemas de sade e garantir
um trabalho mais eficiente (Borges, 1999b). Basta folhear publicaes brasileiras
destinadas a designers, arquitetos e designers de interiores (como ArcDesign e
PROJETO/DESIGN), para perceber a nfase dada ergonomia nos anncios de indstriasde mobilirio. Durante muito tempo essa questo era vista apenas como a possibilidade de
se fazer alguns ajustes dimensionais nas cadeiras e, eventualmente, em algum suporte para
teclado ou monitor. Hoje, a viso mais abrangente, com a preocupao no
desenvolvimento de produtos que no apenas sejam flexveis mas que estimulem a
alternncia de postura, conforme a necessidade de cada momento (Casciani, 1999; Borges,
1999b).
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Tipolog ia do trabalhador em escr i tr io
Brill et al. (1984) e Brill & Parker (1988) definem 5 tipos principais de trabalhador em
escritrio: gerente/nvel mdio, profissional/geral, profissional/digitao, secretria(o)/geral
e escriturrio/digitador. A seguir esses tipos so apresentados atravs de uma breve
descrio de suas atividades tpicas e de suas necessidades bsicas.
Gerente/nvel mdio
Dedica grande parte do seu tempo na participao em reunies agendadas fora do posto de
trabalho. No seu posto, participa de reunies (agendadas ou no) com grupos de at trs
visitantes. O tempo remanescente dedicado a curtos perodos de concentrao, preparando
e revisando documentos, e a conversas telefnicas. Diversas reunies e conversastelefnicas so de natureza confidencial. O seu trabalho requer facilidade de acesso a
arquivos e materiais de referncia. As necessidades de seu posto de trabalho incluem o mais
altograu de enclausuramento, com alto controle de rudo e privacidade para conferncias.
Sempre que possvel, deve ter uma sala privativa, ou no mnimo um espao delimitado por
painis altos.
Profissional/geral
Dedica a maior parte do seu tempo anlise e/ou produo de relatrios. Altera longos
perodos de intensa concentrao (lendo, escrevendo, calculando, digitando, pensando, etc.)
com reunies freqentes, curtas e informais na prpria mesa; e longas conversas telefnicas
enquanto revisa materiais e toma notas. Freqentemente trabalha com muitos documentos
ao mesmo tempo. O seu trabalho requer facilidade de acesso a documentos, manuais, livros
e informaes fixadas em painis. O seu posto de trabalho requer um alto grau de
enclausuramento, com controle moderado do rudo e razovel privacidade para reunies.
Profissional/digitao
Dedica muito tempo a avaliar, sintetizar ou coordenar dados e/ou informaes, usando uma
ou mais telas e teclados. Alterna longos perodos de concentrao mental e visual na tela,
com reunies informais. Comparativamente, realiza poucas conversas telefnicas. O seu
trabalho requer fcil acesso a suprimentos, a inmeros documentos, impresses, manuais e
livros. O seu posto de trabalho requer alto grau de enclausuramento, com um razovel
controle dos rudos e privacidade para conversas. Deve prover, tambm, alguma forma de
preveno contra interrupes.
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Secretria(o)/geral
Dedica a maior parte de seu tempo realizao de mltiplas tarefas que aliviam os seus
superiores de detalhes administrativos, incluindo: efetuar e receber ligaes; ler, selecionar
e despachar documentos e correspondncias; digitar; utilizar e manter os arquivos; compilarou verificar informaes, ou fazer clculos; e receber e direcionar visitantes. Diversas
tarefas requerem perodos de intensa concentrao. O trabalho requer fcil acesso aos
suprimentos. O seu posto de trabalho requer um grau moderado de enclausuramento pois
deve permitir fcil acesso dos trabalhadores de apoio (office boys, contnuos)
Escriturrio/digitador
Dedica muito do seu tempo digitando ao mesmo tempo em que l a partir de um ou mais
documento(s)-fonte. Alterna perodos moderados de digitao com intensa concentrao
mental e visual, com outras atividades como reviso de cpias, conferncias com os autores
ou os supervisores, etc.O seu trabalho requer fcil acesso aos suprimentos (formulrios,
papis, disquetes), equipamentos perifricos (impressoras) e alguns manuais. O posto de
trabalho requer um grau moderado de enclausuramento.
Fatores que afetam o trabalho em esc r i tr io
Segundo Brill et al. (1984), os fatores que afetam a satisfao e a qualidade no trabalho em
escritrio so: espao de trabalho, condies ambientais, infra-estrutura de projeto e de
gerenciamento e construtos psicofsicos. Tais fatores so discutidos a seguir.
Espao de trabalho:
Envolve as caractersticas fsicas do espao de trabalho e seu envoltrio imediato:
enclausuramento fsico, rea, arranjo, mobilirio e janelas.
Enclausuramento Fsico
Refere-se natureza e configurao das barreiras fsicas que separam os espaos de
trabalho dos funcionrios de outras reas no escritrio reas como espaos de trabalho
comunitrios (ou compartilhados), circulaes, depsitos e salas de reunio.
rea
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Refere-se rea de pavimento disponvel para cada indivduo em seu prprio espao de
trabalho. Atende a propsitos funcionais, na medida em que o tamanho do espao de
trabalho parcialmente determinado pelas necessidades da tarefa e destatus, onde as
pessoas de nvel mais alto recebem mais espao mesmo que no seja necessrio para sua
tarefa.
Arranjo
O arranjo fsico de elementos no interior de um grande ambiente opera em trs nveis no
escritrio: (i) edifcio,inclui o nmero e a localizao de pavimentos e o arranjo geral dos
principais elemento no envoltrio do prdio; (ii) pavimento,espaos de trabalho de grupos
ou de indivduos localizados em funo de determinadas idias sobre projeto, trabalho,
fluxo de trabalho e status; e (iii) espao de trabalho individual,organizado de acordo comidias sobre projeto, apoio s tarefas, comportamento e status; determinado pelas condies
fsicas do mobilirio, equipamentos, paredes e divisrias.
Mobilirio
Mobilirio pode ser definido simplesmente como objetos mveis para uso e ornamento
(Brill et al.1984). Mobilirio de escritrio tem tambm as seguintes caractersticas: (i)
projetado para atender a tarefas que podem ser realizadas pelos trabalhadores de escritrio;
(ii) smbolo de status para a pessoa aquinhoada pelo mobilirio, comunicando o seu status
para os demais atravs do nmero, tipo, qualidade, idade e arranjo do mobilirio; (iii)
insinuao para o comportamento, atravs de sugestes, permisses ou proibies de certas
atividades; (iv) elemento arquitetnico em escritrios, organizando e definindo o espao,
p.ex., pondo arquivos em fila para funcionar como um divisor de espao; e (v) elemento
esttico, proporcionando prazer atravs da forma, construo, materiais e acabamentos.
Janelas
As janelas tm muitas funes nos escritrios, apesar de muitas delas no serem geralmente
compreendidas. Estas funes incluem proporcionar: luz do dia; viso do ambiente externo;
ventilao, se as janelas abrem; luz do sol; uma dinmica e interessante adio ao panorama
do ambiente do escritrio; um meio para perceber as mudanas do tempo e das estaes;
alvio visual na forma de objetos distantes que proporcionam um contraste com o trabalho
enclausurado, encontrado em escritrios; e uma fonte passiva de calor solar.
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Condies ambientais
Facetas do ambiente que so sentidas, e que so providas e controladas por subsistemas
construtivos especficos: temperatura e qualidade do ar, iluminao e rudo.
Construtos psicofsicos:
Correspondem a fenmenos mais complexos, que so afetados por diversos aspectos do
ambiente simultaneamente e se manifestam atravs de um estado mental ou um conjunto de
comportamentos. Compreendem os aspectos relativos privacidade, comunicao,
acessibilidade, conforto, personalizao, comunicao destatuse aparncia
Privacidade
um conceito psicolgico, correspondente ao controle sobre a interao e comunicao
com outros e ao controle sobre quem tem acesso ao espao de trabalho.
Comunicao
a transferncia de informaes entre duas ou mais pessoas. Pode ocorrer atravs de
diferentes canais, como conversao face-a-face ou telefnica, correspondncia fsica ou
eletrnica, etc.
Acessibilidade
Refere-se a como as pessoas acham o caminho para onde desejam ir. Inclui informaes
grficas, informaes verbais e informaes arquitetnicas
Conforto
Este item focaliza a componente do conforto que o ambiente fsico pode afetar.
Personalizao
A personalizao ocorre quando as pessoas fazem (ou provocam que sejam feitas, sob seu
controle) qualquer mudana em um ambiente onde o objetivo dessas mudanas expressar
algo importante para o usurio ou fazer uma melhor adaptao entre as necessidades do
usurio e a capacidade do ambiente em atend-lo.
Comunicao de status
o processo atravs do qual a posio de uma pessoa na organizao indicada pela
natureza de seu espao de trabalho.
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Aparncia
o resultado direto do julgamento de muitos fatores: as caractersticas arquitetnicas; a
qualidade da luz; as cores e materiais; o estilo, condio e qualidade da moblia; o grau
como so arrumados e organizados; sua distino; seu grau de manuteno e limpeza; eonde h toques pessoais que demonstram que os ocupantes definem o seu cenrio.
Infra-estrutura de projeto e de gerenciamento
Refere-se queles aspectos relacionados com a poltica de projeto e uso do ambiente
participao, flexibilidade e ocupao.:
Participao
A participao ocorre quando as pessoas so envolvidas no processo de projeto e de
deciso sobre o ambiente que utilizam.
Flexibilidade
Os escritrios devem ter a capacidade de responder efetivamente s situaes de mudana
com apropriadas mudanas fsicas.
Ocupao
Refere-se ao nmero de indivduos cujo posto de trabalho est em uma sala, sendo a sala
definida pela existncia de quatro paredes, do piso ao teto.
Produ t iv idade em escr i tr io inform at izado
O papel do escritrio, como espao fsico, prover as condies necessrias para que as
atividades sejam realizadas de forma produtiva. Durante muito tempo, contudo, foi muito
difcil medir a produtividade em escritrios atravs de critrios como os usados pela
indstria. Para alguns, seria impossvel medir a produtividade de um escritrio, pois isso
envolve a produo de informao, com atividades com pensar, pesquisar, discutir e
processar a informao (Hedge, 1998). As atividade rotineiras, como as de processamentos
de dados, so passveis de medio atravs de indicadores como nmero de documentos
processados. Contudo, quando o trabalho administrativo torna-se menos rotineiro, diminui
a confiabilidade de qualquer indicador de produtividade (Wilson, 1988).
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Hoje, o uso da tecnologia de informao permite, em algumas situaes, uma medida direta
da produo do trabalho com o controle atravs desoftwares das atividades realizadas, do
tempo gasto e dos erros cometidos na sua realizao (Baldry, 1997; Hedge, 1998). Com
isso, torna-se possvel o estabelecimento de padres de desempenho que passam a ser
cobrados dos funcionrios, gerando novos estressores para aqueles que tm o seu trabalho
monitorizado. Porm, o uso dessas tecnologias tambm pode contribuir para a
desenvolvimento de ferramentas que incluam aspectos ergonmicos na avaliao da
produtividade.
Hedge (1998) desenvolveu um modelo de produtividade no escritrio baseado na adaptao
dos princpios defendidos por Taylor, Gilbreth e Ford, a um conceito de ciclo de vida do
trabalhador e a recursos desoftwareque permitem quantificar o trabalho realizado no
escritrio levando em conta aspectos ergonmicos. Considerando o trabalhador como um
ativo da empresa, esse modelo estabelece que todas as atividades que possam encurtar a sua
vida produtiva so indesejveis e devem ser penalizadas em uma anlise da tarefa. A base
para a avaliao da produtividade do trabalho realizado a medida de trs componentes:
proficincia, ritmo e postura. O modelo permite quantificar o resultado de um trabalho
com relao a esses trs componentes em termos de um ndice de risco de prejuzo, que
funo do desempenho efetivo e de um fator de postura dado pela postura ideal e pela
postura observada, que pode ser avaliada pelo mtodo RULA (McAtamney &
Corlett,1993).
Con sid eraes fin ais
O escritrio sofreu grande transformaes desde os escriturrios florentinos da Renascena
at os consultores virtuais aos quais comeamos a nos acostumar. Ao longo deste trajetono apenas as tarefas mudaram quanto sua execuo, como principalmente a interao
entre o trabalhador e o seu ambiente se transformou radicalmente.
Hoje, dois tipos de escritrio se tornam comuns: o virtual, que utiliza os recursos da
tecnologia, como os computadores portteis (notebooks e laptops) e telefones celulares, no
tem local fixo de trabalho; e aquele em que o trabalhador realiza as suas tarefas sentado
diante de uma tela e conectado a um mouse e um telefone (sendo controlado por um
software). Entre esses dois extremos, situam-se outras formas de escritrio com maiores ou
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menores recursos tecnolgicos e maior ou menor autonomia e responsabilidade para o
trabalhador.
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Captulo 3O trabalho computadorizado
Os problemas de conforto visual para os operadores de computadores so
muito especficos e distintos dos problemas convencionais de proteo solar em
escritrios.(Evans, 1995)
O trabalho com a intermediao do computador um fenmeno caracterstico dos ltimos
vinte anos do nosso sculo, tendo alterado de maneira definitiva a forma como o homempassou a viver e a perceber o seu trabalho. A associao do computador com novas prticas
gerenciais tem grande potencial para o aumento de competitividade das atividades
industriais e das operaes em escritrios. Tambm a integrao do computador linha
telefnica contribui para a transformao da natureza do trabalho em empresas de todos os
portes, em todos os setores da economia (Silva et al.1998). Ao reunir em um nico local
diversas funes que anteriormente estavam distribudas, o trabalho informatizado permite
uma maior concentrao do trabalhador em suas tarefas, reduzindo perdas comodeslocamentos at um arquivo para recuperar ou guardar informaes.
As novas tecnologias de informao podem propiciar os seguintes benefcios econmicos
s empresas, segundo Smith & Carayon (1995): reduo nos custos de produo atravs do
uso mais eficiente dos equipamentos, diminuio da fora de trabalho, uso de mo-de-obra
mais barata (menos qualificada), melhoria da qualidade dos produtos ou servios, aumento
do tempo produtivo, flexibilizao do sistema produtivo de forma a atender s necessidades
dos clientes, e reduo dos custos de seguro, pela reduo de riscos de acidente.
Contudo, a forma como so dimensionadas as tarefas e os postos de trabalho
informatizados, especialmente no trabalho em escritrios, tem resultado em enormes
constrangimentos fsicos e psquicos que com o passar do tempo vm provocando queixas
por parte dos usurios (Moraes, et al., 1994).
Inmeros dispositivos tm sido desenvolvidos com o intuito de minimizar ou eliminar os
efeitos negativos do uso do computador. Teclados que consideram a postura natural das
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mos, cadeiras especiais para trabalho com computador, suportes para monitores, mesas
com superfcies regulveis, filtros para tela, e outros dispositivos encontram-se, hoje,
disponveis no mercado (Santos et al.,1999).
Diante da necessidade de melhor compreender suas caractersticas, este captulo engloba
diversos aspectos relacionados ao trabalho computadorizado. Nesse contexto, entende-se o
trabalho computadorizado como a realizao de atividades mediadas pelo computador. O
modelo conceitual do trabalho computadorizado e a caracterizao dos diversos tipos
bsicos de trabalho computadorizado so os primeiros aspectos abordados. A seguir, faz-se
uma discusso sobre o posto de trabalho informatizado, seguida da descrio dos principais
constrangimentos psicofsicos associados informatizao do trabalho. O captulo se
encerra com as recomendaes ergonmicas provenientes da legislao e com comentrios
sobre o uso de mobilirio ergonmico.
Modelo con cei tua l do t rabalho com putador izado
A interao entre o trabalhador e o computador dependem de diversas condies que em
conjunto afetam a sua sade e segurana. Smith & Sainfort (apudSmith, 1997) propuseram
um modelo conceitual para o trabalho computadorizado envolvendo aspectos individuais,tecnolgicos, relativos tarefa, ambientais e organizacionais (figura 1).
Os aspectos individuais correspondem s caractersticas fsicas, de percepo, de
personalidade e de comportamento do usurio. Dos aspectos individuais decorre a maneira
como o indivduo se relaciona com os demais aspectos. A tecnologia afeta o indivduo
atravs das exigncias de habilidade e conhecimentos para o seu uso efetivo. A tarefa afeta
o indivduo atravs de exigncias de habilidade e conhecimentos. Em conjunto, tecnologia
e tarefa definem as demandas cognitivas e fsicas. Por seu lado, o ambiente afeta o conforto
e o nimo. Finalmente, a estrutura organizacional define a natureza das relaes de trabalho
(Smith & Sainfort,1989, apudSmith, 1997).
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AMBIENTE
SocialFsico
RudoIluminao
Qualidade do ar
TAREFA
Presso de trabalho
Contedo
Controle
INDIVDUO
Personalidade
Dados demogrficosIdade e Sexo
Condio de sadeCompetncia
TECNOLOGIA
Concepo
Requisitos de habilidade
Confiabilidade
ORGANIZAO
Treinamento
Superviso
Carga de trabalho
Participao
Fi gura 1Modelo conceitual do trabalho computadorizado (fonte: Smith & Sainfort, apud Smith,1997)
Tipologia do t rabalho com putador izado
Segundo Grandjean (1987), dentre o grande nmero de diferentes atividades realizadas emestaes de trabalho informatizadas, pode-se distinguir cinco tipos predominantes, em
funo dos modos de interao com o terminal de vdeo (VDT):
trabalho de entrada de dados,
aquisio de dados;
conversao ou interao comunicativa;
processamento de texto;
INDIVDUO
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projeto assistido por computador (Computer Aided Design, CAD) e manufatura
assistida por computador (Computer Aided Manufacture, CAM).
A cada tipo de interao corresponde um envolvimento do operador com o terminal de
vdeo e o teclado. No trabalho de entrada de dados, a atividade caracteriza-se por um uso
contnuo do teclado e a viso dirigida para o documento-fonte, gerando posturas rgidas,
agravadas pelo nvel de repetitividade e monotonia. Em muitos casos utilizam apenas a
mo direita, com uma altssima freqncia de toques (8.000 a 12.000 por hora).
O trabalho de aquisio de dados envolve a coleta de dados no computador e leitura a partir
da tela. A ateno do operador dirigida quase todo o tempo tela, com pequenos desvios
para o teclado e documentos. Tipicamente, envolve o trabalho de atendimento e
fornecimento de informao por telefone.
Atividades de conversao ou comunicao interativa envolvem simultaneamente entrada e
aquisio de dados. Nessas atividades, o operador introduz dados e aguarda o
processamento, mantendo-se um dilogo entre o computador e o operador que, em muitas
oportunidades, toma decises. A viso do operador dirigida igualmente para o vdeo e
para o documento-fonte. O teclado operado com ambas as mos e a freqncia de toques baixa. Um exemplo tpico o servio de reservas de passagens areas.
As atividades de processamento de texto compreendem a entrada de textos, recuperao de
textos, controle de erros no texto, correes e formatao do texto. Nestas atividades, o
teclado utilizado como uma mquina de escrever e o monitor observado durante grande
parte do perodo de trabalho.
O uso de computador para atividades de projeto e engenharia (CADe CAM) apresenta
caractersticas prprias. Alm das interfaces tpicas, monitor de vdeo e teclado, pode ser
utilizada uma mesa digitalizadora, ativada por uma caneta, ou o mouse. Em funo da
natureza do projeto, se mecnico ou eltrico por exemplo, existe uma grande variabilidade
quanto ao tempo dedicado a cada uma das interfaces (van der Heiden et al, apud
Grandjean, 1987).
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Posto d e trabalho em escr i tr io inform at izado
Segundo Kroemer (1993), o bom desempenho de um posto de trabalho depende da correta
avaliao de uma srie da fatores interrelacionados. As condies do posto de trabalho,
incluindo mobilirio, equipamentos e ambiente afetam a interao entre a tarefa, a postura
adotada e as atividades realizadas (figura 2).
Postura detrabalho
Usurio
Bemestar dousurio
Projeto do posto de trabalho
Mobilirio
Equipamento
Ambiente Atividadesdo
trabalho
Tarefa
SADA
Desem enho
Fi gura 2Aspectos interrelacionados do posto de trabalho (fonte Kroemer,1993)
Os termos posto de trabalho e estao de trabalhoso utilizados de forma geral como
sinnimos referindo-se dimenso do indivduo, enquanto que o termo espao de
trabalhodefine o nvel do ambiente onde so realizadas as atividades. Para Menezes
(1978), a estao de trabalho "o espao formado pelo conjunto de dispositivos de
informao e de controles, acrescido do espao gerado pelo deslocamento do operador ou
de seus membros na execuo da tarefa".
Smith & Kearny (1994), por outro lado estabelecem distines entre ambiente de
trabalho,lugar de trabalho,rea de trabalho e espao de trabalho, conforme as
definies a seguir:
Desempenho
Bemestar dousurio
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ambiente de trabalho(work environment) um termo genrico aplicado a um lugar de
qualquer tamanho, onde ocorre trabalho;
lugar de trabalho (workplace) uma rea ampla onde muitas pessoas ou grupos
trabalham;
rea de trabalho (work area) uma rea reduzida, freqentemente incluindo espaos
para reunies e equipamentos comuns, onde um reduzido grupo trabalha; e
espao de trabalho (workspace) a rea individual onde uma pessoa trabalha.
Por outro lado, Stramler (1993) distinguelocal de trabalho, espao de trabalho e estao
de trabalho:
local de trabalho (work site) corresponde s instalaes ou outras localizaes
operadas ou controladas por um empregador e aonde um indivduo ou grupo
trabalham;
espao de trabalho (workspace= workplace) corresponde a aquela regio menor
dentro do local de trabalho (work site) onde um indivduo ou grupo trabalha
normalmente; e
estao de trabalho(workstation) uma localizao individual dentro de um espao
de trabalho onde a instrumentao ou equipamento est localizado e onde um indivduo
pode permanecer por longos perodos de tempo para atuar no controle, monitoramento,
processamento ou outras funes.
Nesta dissertao sero usados os termos posto de trabalho,paraa dimenso do indivduo,
e espao de trabalho, para a dimenso do grupo, correspondendo respectivamente s
definies de workstation e workspace conforme Stramler (1993).
Consideraes da ergonomia sobre o posto de trabalho informatizado
Grandjean (1987), Iida (1993) e Santos et al(1995) observam que a grande transformao
ocorrida com a introduo do trabalho computadorizado se refere ao maior tempo dedicado
a atividades estticas no posto de trabalho, em relao ao que anteriormente se dedicava no
escritrio tradicional. Atividades que j eram repetitivas tiveram esse carter agravado,
inclusive com o monitoramento remoto. Outras atividades mais dinmicas esto, em muitoscasos, sendo realizadas cada vez mais diante do computador. Os recursos de correio
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eletrnico, ICQ (software de comunicao), Intranet e outras formas de comunicao
corporativa, esto cada dia mais substituindo a necessidade de contato pessoal para troca de
informaes e mesmo para a tomada de decises. Dessa forma, os deslocamentos nos
escritrios tendem a se reduzir, principalmente naqueles com estruturas administrativas
autoritrias (onde o funcionrio precisa de uma justificativa para deixar o seu posto de
trabalho).
O maior tempo dedicado realizao de atividades adotando posturas estticas, leva ao
aumento da importncia de um bom posto de trabalho para a sade do trabalhador.
Enquanto em um trabalho dinmico a inadequao do mobilirio e do ambiente podem ser
compensadas por constantes trocas de posio e deslocamentos, em um trabalho esttico
no existe como fugir aos efeitos do constrangimentos fsicos e ambientais (Grandjean,
1987).
Um reflexo do reconhecimento da importncia do posto de trabalho para o trabalho
informatizado, o sem-nmero de solues que so propostas para construir o "posto de
trabalho ergonmico". Freqentemente so publicados anncios, mesmo em revistas
especializadas em design e arquitetura, onde se faz referncia a mobilirio ergonomtrico,
revelando que a tendncia a se preocupar com a ergonomia ainda no superou por inteiro aignorncia sobre o tema. Em muitos casos o equvoco no est apenas no uso de um termo
inexistente (provavelmente uma confuso entre ergonmicoe ergomtrico), mas tambm
no atendimento inadequado dos requisitos ergonmicos. Grande nmero de fabricantes
utiliza a ergonomia como ferramenta de marketing, porm poucos podem ser considerados
produtos ergonmicos (Moraes, 1993).
O mito da postura corretaUm dos mitos correntes na tendncia a buscar solues ergonmicas para os problemas do
trabalho a existncia de uma postura correta, para a qual os produtos (cadeiras, mesas e
acessrios) deveriam ser projetados. Esse mito decorre da suposio de que o trabalho
esttico deva ser realizado com a adoo de uma mesma postura, tida como saudvel. Essa
suposio decorre das teorias publicadas em 1884 por Staffel, que defendia a manuteno
da posio perpendicular do tronco como a forma correta de sentar. Suas idias foram
repetidas por anos na literatura sem maiores crticas, at que estudos realizados a partir dosanos 60 demonstraram a inexistncia de uma postura correta vlida para longos perodos de
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tempo (Kroemer, 1993). Atualmente prevalece a convico de que o mobilirio deve
permitir diferentes posturas em funo das caractersticas fsicas dos indivduos, de suas
preferncias e da natureza da atividade (Kroemer, 1993; Grandjean, 1998)
Da tendncia atual para o trabalho esttico por longo tempo diante do computador e da
convico atual da inexistncia de uma postura correta que garanta o trabalho esttico e
saudvel, pode-se inferir que o posto de trabalho informatizado deve garantir a alternncia
de postura e, sempre que a tecnologia permitir, deve induzir a troca de posturas.
Const rangimentos1no t raba lho com uso de comp utador
O computador, como uma ferramenta que expande a capacidade de memorizao e deprocessamento do homem, deveria contribuir para uma maior qualidade de vida e satisfao
no trabalho. Porm, as formas como as tecnologias so introduzidas no ambiente
organizacional, traduzem antes interesses econmicos que preocupaes humansticas,
refletindo efetivamente as contradies de nossa sociedade capitalista (Lima, 1998). A
presso por resultados em termos de produtividade econmica leva ao fato corriqueiro de as
novas tecnologias serem introduzidas nas organizaes com o mnimo de adaptao aos
seus usurios, os trabalhadores. Trata-se com frequncia de "importao da qualidade"(Oliveira, 1996), com a presuno de que vivel implantar diretamente um conjunto de
tcnicas escolhidas pelo empresrio a partir de um sucesso exterior. No se leva em conta
nessa avaliao estratgica as especificidades locais.
No caso da informatizao do trabalho, a adaptao implica em fatores psicossociais,
cognitivos, culturais e ambientais. Cada um desses fatores contribui isoladamente e em
conjunto para o sucesso ou fracasso da nova tecnologia. Por vezes, o atendimento
inadequado de um ou mais desses fatores resulta em constrangimentos para o trabalhador
(Smith, 1997).
Dependendo da intensidade de uso, o computador vem sendo apontado como responsvel
por uma srie de doenas ocupacionais. Os mais conhecidos efeitos nocivos do uso
inadequado de computadores so os distrbios osteomusculares relacionados ao trabalho
1
Os constrangimentos, segundo Moraes & MontAlvo, decorrem das atitudes implicadas no trabalho, doambiente fsico e social, e exigem do trabalhador gastos de diversas naturezas (fsica, mental, emocional eafetiva), acarretando desgastes e custos para o indivduo.
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(DORT) que incorporam, entre outras doenas do trabalho, as leses por esforos
repetitivos (LER). Contudo, em funo das atividades exercidas, um grande conjunto de
problemas de sade podem ocorrer, causando tambm distrbios visuais e psquicos. Na
realidade, o termo DORT deveria ser traduzido como distrbios relacionados ao trabalho, j
que outros problemas que no de ordem osteomuscular, mas cognitiva, mental e/ou
psquica tambm esto envolvidos no trabalho.
Os constrangimentos posturais, relacionados ao trabalho de digitadores em centros de
transcrio de dados so por demais divulgados e esto confirmados por inmeras
pesquisas (Moraes et al., 1994; Moura et al., 1994). O impacto desse problema no setor
produtivo de tal importncia, que a sua preveno constitui o cerne da Norma
Regulamentadora 17 (NR 17). Disso decorre uma certa confuso, explicvel pela
abordagem microergonmica, de que o atendimento aos aspectos ligados diretamente
postura por si s resolveriam a questo ergonmica em escritrio.
Menos divulgados, so os impactos provocados por fatores trmicos no ambiente de
trabalho informatizado. Pesquisas indicam que a qualidade do projeto trmico afeta
diretamente a carga mental, podendo comprometer a concentrao e o rendimento nas
atividades intelectuais (Silva et al, 1998). Tambm contribui para o aumento ou a reduoda hiperemia (irritabilidade dos olhos), que um problema caracterstico de trabalho
contnuo com leitura, agravado pela leitura em telas.
Atualmente tem merecido grande relevncia o conjunto de problemas nos olhos e na viso
relacionados ao trabalho com terminais de vdeo, que compem a sndrome denominada
Computer Vision Syndrome(CVS), na terminologia da American Optometrist Association
(Abou