análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

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INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA ESPECIALIZAÇÃO EM TRANSPORTE DE CARGA FERROVIÁRIO PATRICK GUEDES PEDRONI ANÁLISE DE FALHAS DAS FRATURAS DE TRILHOS: O CASO DA FERROVIA DO AÇO Rio de Janeiro 2008

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Page 1: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

ESPECIALIZAÇÃO EM TRANSPORTE DE CARGA FERROVIÁRIO

PATRICK GUEDES PEDRONI

ANÁLISE DE FALHAS DAS FRATURAS DE TRILHOS: O CASO D A FERROVIA

DO AÇO

Rio de Janeiro

2008

Page 2: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

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INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

PATRICK GUEDES PEDRONI

ANÁLISE DE FALHAS DAS FRATURAS DE TRILHOS:

O CASO DA FERROVIA DO AÇO

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Transporte Ferroviário de

Carga do Instituto Militar de Engenharia – IME.

Orientador: Prof. D.Sc. Marcelo Sucena

Tutor: Engenheiro Cristiano Gomes Jorge

Rio de Janeiro

2008

Page 3: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

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INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

PATRICK GUEDES PEDRONI

ANÁLISE DE FALHAS DAS FRATURAS DE TRILHOS: O CASO D A FERROVIA

DO AÇO

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Transporte de Carga

Ferroviário do Instituto Militar de Engenharia.

Aprovada em 03 de setembro de 2008, pela seguinte Banca Examinadora:

_______________________________________________________________

Prof. D.Sc. Marcelo Prado Sucena

_______________________________________________________________

Prof. D. Sc. Maria Cristina de Fogliatti Sinay

_______________________________________________________________

Prof. D. Sc. Vânia Gouveia Barcelos Campos

Rio de Janeiro

2008

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia à minha esposa Renata, à minha família e aos meus

amigos, que sempre me apóiam em quaisquer desafios e sonhos que busco.

Page 5: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todas as pessoas que contribuíram direta ou indiretamente na

superação desse desafio de cursar esta especialização sem deixar as atividades

profissionais de lado.

Em especial agradeço aos companheiros da Gerência de Via Permanente de Bom

Jardim de Minas, pelo aprendizado profissional proporcionado pelos grandes

ferroviários que lá trabalham e pelo excelente clima de trabalho propiciado. Cito aqui

os nomes do Engenheiro Cícero Tristão e dos supervisores Jorge Francisco, Vinício

Cortez e Francisco Castilho, querendo, na verdade, agradecer a toda equipe.

Agradeço ainda aos professores do curso de especialização em transporte de

cargas do Instituto Militar de Engenharia, em especial aos coordenadores Silveira

Lopes e Manoel Mendes e também aos colegas de turma pelo ambiente de estudos

saudável onde houve foi possível agregar aprendizado e muitas experiências

profissionais.

Por último, porém não menos importante, agradeço ao meu orientador Marcelo

Sucena pela ótima ajuda na condução do trabalho e preciosas e rápidas

interferências e ao meu tutor Cristiano Jorge pelo direcionamento,

A todos o meu muito obrigado!

Page 6: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

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CITAÇÃO

“Vale a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena!”

Trecho do poema “Mar Português”

Fernando Pessoa

Page 7: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

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LISTA DE SIGLAS

• FMEA = AMFE - Failure Modes & Effects Analysis

• AMFE = FMEA – Análise de Modos de Falha e Efeitos

• FMECA - Failure Mode, Effects, and Criticality Analysis

• HAZOP - Hazard and Operability Studies - Análise de Operabilidade de

Perigos

• AAF – Análise de Árvore de Falhas

• CCO – Centro de Controle de Operações

• VP – Via Permanente

• EE – Eletro-eletrônica

• APR – Análise Preliminar de Risco.

Page 8: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mapa de distribuição das linhas da MRS – FONTE: MRS Logística

Figura 2: Vista da conicidade e do friso das rodas em contato com o trilho. Figura 3: Partes componentes de um truque ferroviário. Fonte: Rosa-2008

Figura 4: Corte transversal de seção da Via Permanente mostrando elementos da infra e da superestrutura. Figura 5: Partes componentes do trilho ferroviário. Figura 6: Pregos e tirefond

Figura 7: Representação do carregamento dos trilhos e reação do lastro – Fonte: DUVAL 2001

Figura 8: Demonstrativo das regiões das agulha, transição e jacaré. Figura 9: Demonstração da distância denominada bitola. Figura 10: Ilustração do nivelamento transversal – FONTE: Vidon – 2006

Figura 11: Esquema demonstrativo dos pontos notáveis de uma curva e as respectivas superelevações – Fonte: Vidon 2006. Figura 12: Ilustração da medida de alinhamento transversal e alinhamento – FONTE: VIDON 2006

Figura 13: Empeno causado pela falta de nivelamento transversal em uma tangente. Figura 14: Ilustração esquemática do empeno. Figura 15: Planos de direção dos defeitos nos trilhos. Figura 16: Trinca vertical no boleto. FONTE: MRS Logística

Figura 17: Trinca horizontal no boleto do trilho. FONTE MRS Logística. Figura 18: Patinado em trilho. FONTE: MRS Logística

Figura 19: Separação do boleto da alma. FONTE: MRS Logística. Figura 20: Trinca na alma: FONTE MRS Logística. Figura 21: Trinca transversal . FONTE: MRS Logística. Figura 22: Trincas transversais múltiplas. FONTE MRS Logística

Figura 23: Trinca nos furos. FONTE MRS Logística

Figura 24: Fratura em solda elétrica. FONTE: MRS Logística

Figura 25: Trinca em solda aluminotérmica. FONTE MRS Logística

Figura 26: Trinca entre a alma e o patim. FONTE: MRS Logística

Figura 27: Cracks na superfície do trilho: FONTE: MRS Logística. Figura 28: Fissuração no canto da bitola. FONTE: MRS Logística

Figura 29: Escamação de Boleto. FONTE: MRS Logística

Figura 30: Estilhaçamento do canto da bitola. FONTE: MRS Logística

Figura 31: Despedaçamento do canto da bitola. FONTE: MRS Logística

Figura 32: Estrutura da árvore de falhas. FONTE: Helman(1995). Figura 33: Símbolos de Eventos da FTA. Fonte: Helman (1995). Figura 34: Símbolos das portas lógicas. FONTE: Helman (1995). Figura 35: Diagrama de Ishikawa proposto tendo como efeito a fratura de trilhos

Figura 36: Árvore de falhas proposta para evento de Fratura de trilhos

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Número de fraturas de trilhos nas gerências de via permanente da malha da MRS Logística no ano de 2007. FONTE: Sistema de Anomalias de trilhos da Malha Ferroviária

Tabela 2: Levantamento de custos por fratura de trilho na GVPOJ em 2007. FONTE: MRS Logística 2007

Tabela 3: Demonstrativo do tipo de classificação segundo a ABNT. Tabela 4: Lista com as duas primeiras letras representativas dos tipos e Subtipos de vagões segundo a ABNT. Tabela 5: Lista com a terceira letra da classificação representando o peso máximo do vagão para cada bitola segundo a ABNT. Tabela 6: Ordem de numeração dos vagões segundo a ABNT. Tabela 7: Tipos de perfis de trilhos e suas respectivas massas. Tabela 8: Bitola utilizada nas principais ferrovias brasileiras. Tabela 9: : Número de fraturas da GVPOJ em 2007 – Fonte MRS Logística

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Demonstrativo de crescimento da produção da MRS - FONTE: MRS Logística 2008

Gráfico 2: Divisão entre os tipos de fraturas da GVPOJ em 2007

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LISTA DE FOTOS

Foto 1: Truque ferroviário – Fonte: Amsted Maxion 2008. Foto 2: Vista do painel de controle do CCO da MRS. FONTE: MRS Logístiva. Foto 3: Corte da Ferrovia do Aço. FONTE: MRS Logística. Foto 4: Acumulo de água e bolsão no lastro – FONTE: MRS 2008. Foto 5: Bueiro com saída parcialmente obstruída. Foto 6: Viaduto da Ferrovia do Aço. FONTE: MRS Logística. Foto 7: Frota carregada com TLS’s – Fonte VIDON 2006. Foto 8: Corrida de Solda Aluminotérmica. FONTE: MRS Logística

Foto 9: Máquina realizando solda elétrica. FONTE: VIDON 2006. Foto 10: Fixação elástica com placa de apoio e grampo Pandrol.: FONTE: MRS Logística. Foto 11: Socadora de lastro modelo 09-3X da Plasser utilizada pela MRS – Fonte MRS Logística. Foto 12: Vista da Região do Jacaré de uma linha sendo montada. Foto 13: Visão da região das agulhas em linha sendo montada. Foto 14: Veículo de Controle de Linha – Fonte: MRS Logística.

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SUMÁRIO:

DEDICATÓRIA ........................................................................................................... 4

AGRADECIMENTOS ................................................................................................. 5

CITAÇÃO.................................................................................................................... 6

LISTA DE FIGURAS ................................................................................................... 8

LISTA DE GRÁFICOS .............................................................................................. 10

LISTA DE FOTOS .................................................................................................... 11

RESUMO .................................................................................................................. 15

ABSTRACT .............................................................................................................. 16

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 17

2. OBJETIVO ......................................................................................................... 18

3. JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 19

4. HISTÓRICO ....................................................................................................... 20

4.1. DA FERROVIA ............................................................................................ 20

4.2. DA MRS ...................................................................................................... 21

4.3. DA FERROVIA DO AÇO ............................................................................. 23

5. COMPONENTES DA FERROVIA TÍPICA ......................................................... 25

5.1. MATERIAL RODANTE ................................................................................ 25

5.1.1 CARACTERÍSTICAS ............................................................................ 25

5.1.2 CLASSIFICAÇÃO DO MATERIAL RODANTE...................................... 28

5.1.3 LOCOMOTIVAS .................................................................................... 28

5.1.3.1 Locomotivas a Vapor ...................................................................... 28

5.1.3.2 Locomotivas Elétricas .................................................................... 29

5.1.3.3 Locomotivas Diesel-Eletricas ......................................................... 29

5.1.4 VAGÕES ............................................................................................... 30

5.2. SINALIZAÇÃO ............................................................................................. 35

5.3. CENTRO DE CONTROLE DA OPERAÇÃO – CCO ................................... 35

5.4. VIA PERMANENTE ..................................................................................... 36

5.4.1 CARACTERÍSTICAS ............................................................................ 36

5.4.2 INFRA-ESTRUTURA ............................................................................ 37

5.4.2.1 TERRAPLANAGEM ....................................................................... 37

5.4.2.2 SUB-LASTRO ................................................................................ 38

5.4.2.3 DRENAGEM ................................................................................... 39

Page 13: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

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5.4.2.4 OBRAS DE ARTE ESPECIAIS ...................................................... 40

5.4.3 SUPERESTRUTURA ............................................................................ 41

5.4.3.1 TRILHOS ........................................................................................ 41

5.4.3.2 FIXAÇÕES ..................................................................................... 46

5.4.3.3 DORMENTES ................................................................................ 50

5.4.3.4 LASTRO ......................................................................................... 51

5.4.3.5 SISTEMA DE MUDANÇA DE VIA .................................................. 52

5.4.4 GEOMETRIA DE LINHA ....................................................................... 55

5.4.4.1 BITOLA........................................................................................... 56

5.4.4.1 NIVELAMENTO TRANSVERSAL .................................................. 57

5.4.4.2 NIVELAMENTO LONGITUDINAL .................................................. 59

5.4.4.3 ALINHAMENTO ............................................................................. 59

5.4.4.4 DEFEITOS DE GEOMETRIA DE VIA ............................................ 60

5.4.4.5 VEÍCULO DE CONTROLE DE LINHA ........................................... 61

6. ANOMALIAS EM TRILHOS: AS FRATURAS .................................................... 63

6.1. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À DIREÇÃO ................................................... 64

6.2. CLASSIFICAÇÃO DAS ANOMALIAS .......................................................... 65

6.3. PREVENÇÃO AS ANOMALIAS .................................................................. 74

7. METODOLOGIAS DE ANÁLISE DE FALHAS ................................................... 76

7.1. ANÁLISE DE ÁRVORE DE FALHAS - FAILURE TREE ANALYSIS (FTA) . 76

7.1.1 ETAPAS DA FTA .................................................................................. 77

7.1.2 ESTRUTURA DA ÁRVORE DE FALHAS ............................................. 77

7.1.3 CONSTRUÇÃO DA ÁRVORE DE FALHAS.......................................... 78

7.2. ANÁLISE DE MODOS DE FALHAS E EFEITOS - FAILURE MODES & EFFECTS ANALYSIS (FMEA) .............................................................................. 81

7.3. ANÁLISE DE MODOS DE FALHAS E EFEITOS CRÍTICOS - FAILURE MODES & EFFECTS AND CRITICAL ANALYSIS (FMECA). ............................... 82

7.4. ANÁLISE DE OPERABILIDADE DE PERIGOS - HAZARD AND OPERABILITY STUDIES (HAZOP) ....................................................................... 82

8. INVESTIGAÇÃO DAS FRATURAS NA FERROVIA DO AÇO ........................... 83

8.1. MANUTENÇÃO DE VIA PERMANENTE .................................................... 83

8.2. APLICAÇÃO DE METODOLOGIA DE ÁRVORE DE FALHAS PARA AS FRATURAS ........................................................................................................... 85

9. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ............................................................ 89

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14

10. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 91

Page 15: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

15

RESUMO

O transporte ferroviário de cargas crescerá 57% até 2015, quando atingirá a marca

de 765 milhões de toneladas movimentadas. O crescimento da carga transportada

faz com que a necessidade de segurança e alta disponibilidade das ferrovias

também cresçam.

Esse trabalho analisa as falhas das fraturas de trilhos ferroviários ocorridas nas

linhas da MRS Logística, sendo utilizado para este estudo, anomalias ocorridas na

Ferrovia do Aço, mais especificamente, no trecho compreendido entre o Km 3+000 e

o Km 292+000, que tem sua manutenção sob responsabilidade da Gerência de Via

Permanente de Bom Jardim de Minas.

Foi utilizada a metodologia de Análise de Árvore de Falhas (AAF) para a

identificação, avaliação e resposta das ocorrências. Por intermédio da checagem

dos cortes mínimos, que servem para formar combinações de falhas dos

componentes que impactam no sistema, foi analisada a sua vulnerabilidade

estrutural, destacando-se os pontos críticos pelos cortes de menor ordem, ou seja,

aqueles que reduzem a confiabilidade do sistema como um todo.

O trabalho seguiu a seguinte metodologia para se atingir os objetivos propostos:

revisão sobre os subsistemas que constituem um sistema ferroviário típico,

descrição dos tipos de anomalias de trilhos, a sinopse sobre as metodologias de

análise de falhas, investigação das fraturas com aplicação da Análise da Árvore de

Falhas e, por fim, análise dos resultados obtidos.

Palavras-chave: Ferrovia, Trilho, Ferrovia do Aço, Árvore de Falhas, Fraturas.

Page 16: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

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ABSTRACT

Brazilians heavy haul railroads production is projected to grow 57% by 2015. The

boost in tonnage transported is also increasing the need for safety and high

availability of the railroads.

This study examines the failure of fractures of rail tracks that occurred on MRS

Logistica Heavy Haul Railroad. Abnormalities occurred in the Iron Ore Railroad,

specifically, in the track segment between Km 3 +000 and km 292 +000, were the

focus of this study.

The methodology Failure Tree Analysis (FTA) was used for the identification,

assessment and response of the events. By checking the minimum cuts, which serve

to form combinations of failures of components that impact on the system, was

examined its structural vulnerability, highlighting the critical points for cuts of lesser

order or those that reduce the reliability of system as a whole.

This paper will present a review of the subsystems that constitute a typical rail

system, description of the types of anomalies of paths, the synopsis on the

methodologies of analysis of faults, fractures to investigate the application of the

Failure Tree Analysis and, finally, analysis of the results.

Key words: Railroad, Rail, Failure Tree Analysis, Cracks and Fractures.

Page 17: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

17

1. INTRODUÇÃO

A Ferrovia do Aço, desde a concepção de seu projeto que data do início da década

de 70 do século XX, período de grande crescimento do País denominado “Milagre

Brasileiro”, tem números vultosos ligados a ela.

No inicio, os números da Ferrovia do Aço eram relacionados ao tamanho da ferrovia,

extensão das linhas, quantidade e extensão de pontes, túneis e viadutos. Estes

números foram muitas vezes chamados de megalomaníacos.

Já no período de obras, durante a construção, os números eram relacionados à data

de término e custos das obras das obras, nesta época eram tratados como

“faraônicos”.

Atualmente, a Ferrovia do Aço continua tendo números intimamente ligados a ela,

entretanto, atualmente os números são referentes aos recordes de produção de

transportes que são superados mensalmente.

Diante da crescente necessidade de melhorar a qualidade de produtos e serviços,

vinculando-se ao incremento da satisfação dos clientes, vários métodos e técnicas

foram popularizadas, pois várias delas visam o aperfeiçoamento da confiabilidade de

produtos e processos, aumentando-se a probabilidade de um componente poder

desempenhar as suas funções sem interrupções.

Mas, consciente de que todo sistema, tal como o ferroviário, é passível falhar,

necessita-se focalizar os esforços das equipes de manutenção quanto à

continuidade da sua operação, vislumbrando-se a segurança e a qualidade de forma

concomitante. Entretanto, a simples análise das partes desse sistema é um tanto

restrita, pois não se objetiva tão somente o funcionamento isolado de cada

subsistema. O entendimento da complexidade do sistema, principalmente quanto à

interação entre os componentes que o estruturam, é de fundamental importância

para uma análise mais eficaz.

Para sistemas complexos, a visão reducionista, isto é, a análise das partes em

detrimento do todo, é um tanto perigosa, pois deixa-se de avaliar várias perspectivas

importantes para o processo produtivo, como por exemplo, a visão ambiental.

Page 18: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

18

Um sistema complexo não pode ser avaliado em partes isoladas do todo, pois a

influência dessas pode provocar diversas ocorrências de difíceis diagnósticos,

possibilitando, inclusive, a degradação do nível de serviço, ou em casos extremos, a

paralisação de todo complexo.

Este trabalho buscará trabalhar na análise de valores relacionados à manutenção, e

com este foco, buscará levantar e analisar a principal causa que afeta a não

disponibilidade da Via Permanente para a circulação ferroviária. Tal análise adotará

para a compreensão do subsistema Via Permanente, por uma visão holística, uma

técnica difundida no meio científico.

2. OBJETIVO

O objetivo principal deste estudo é análise das causas que contribuem para a

ocorrência de fraturas de trilhos nos trilhos ferroviários. Como estudo de caso, serão

avaliadas as falhas ocorridas no trecho sob responsabilidade da equipe da Gerência

de Via Permanente de Bom Jardim de Minas, que faz a manutenção do entre o Km

3+000 ao Km 292+000 da Ferrovia do Aço.

Para atingir este objetivo, será utilizada a Análise de Árvore de Falhas, que é uma

das metodologias de análise sistêmica de falhas, utilizada e difundida no meio

acadêmico e corporativo. Foram descritas as principais características de outras

técnicas para ratificar a escolha da primeira:

Após o término deste estudo, pretende-se subsidiar os tomadores de decisão da

MRS com informações mais consistentes sobre as reais causas de falhas de trilhos,

especificamente as causadas por fraturas, podendo-se dessa forma, intervir nos

processos de manutenção da Via Permanente com soluções ou medidas que

contribuam para a diminuição das ocorrências indesejáveis e dos custos associados.

Page 19: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

19

3. JUSTIFICATIVA

De toda extensão da MRS, a Gerência de Via Permanente de Bom Jardim de Minas

(GVPOJ) participou com aproximadamente 25% de todos os registros de falhas por

fraturas de trilhos ocorridas em 2007, na MRS, conforme expõe a Tabela 01 a

seguir.

Gerência Tipo de Fratura

TOTAL % Solda Campo Solda Elétrica Trilho

Bom Jardim 126 25 75 226 25%

Minas Gerais 14 19 165 198 22%

Francisco Bernardino 40 8 52 100 11%

Volta Redonda 65 11 93 169 19%

Vale do Paraíba 46 2 24 72 8%

São Paulo 17 10 48 75 8%

Rio de Janeiro - - 1 1 0%

Total Global 350 79 481 910 100%

Tabela 1: Número de fraturas de trilhos nas gerências de via permanente da malha da MRS Logística no ano de 2007. FONTE: Sistema de Anomalias de trilhos da Malha Ferroviária

A fratura de trilhos é um dos fatores que mais trazem riscos para as operações

ferroviárias, pois podem ser causa única ou a principal para acidentes de grandes

proporções.

Além disso, o número de fraturas ocorridas na GVPOJ e, conseqüente, os impactos

operacionais gerados, podem causar graves problemas na produção da Companhia.

Tomando-se esse cenário, avaliou-se que o estudo em questão é financeiramente

viável, haja vista que as fraturas de trilhos são responsáveis por diversos custos

adicionais e prejuízos à empresa. Alguns desses custos estão elencados na Tabela

02, onde forma registradas as ocorrências na GVPOJ em 2007.

Page 20: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

20

Ressalta-se que não foram considerados alguns custos que também podem ser

advindos das fraturas, dentre eles os acidentes ferroviários e as ações emergenciais

de atendimento.

ÍTEM Unidade Quantidade Custo Unitário Custo Total

Solda Aluminotérmica KLK Kit 2 173,00 346,00

Mão de Obra para solda por

solda 1 296,76 296,76

Trem Hora Parado THP 2,3 3.250,00 7.475,00

Atendimento equipe

Eletroeletrônica H/h 2,91 25,56 74,38

Valor por fratura 8.192,14

Ano de 2007 – GVPOJ R$ 226 8.192,14 1.851.423,64

Tabela 2: Levantamento de custos por fratura de trilho na GVP OJ em 2007. FONTE: MRS Logística 2007

4. HISTÓRICO

4.1. DA FERROVIA

No ano de 1803, o engenheiro inglês Richard Trevithick construiu uma máquina a

vapor que atingia velocidade máxima de 5 Km/h, e em 1814, o inventor inglês Jorge

Stephenson apresentou uma máquina a vapor chamada “The Rocket”. Esta

máquina, em 1825, realizou a primeira viagem comercial, percorrendo 25

quilômetros entre as cidades de Stokton e Darlington, a uma velocidade de 25 Km/h.

Page 21: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

21

A partir de 1840 houve uma grande expansão da ferrovia na Inglaterra, contribuindo

sensivelmente para a consolidação tecnológica e avanço da revolução Industrial

naquele país.

No Brasil o governo imperial, interessado no sucesso da Inglaterra como potência

mundial, criou no ano de 1835, uma lei de incentivo à construção de estradas de

ferro. Estas ferrovias deveriam ligar o Rio de Janeiro, que era a sede do governo

imperial, às províncias de São Paulo, Minas Gerias, Rio Grande do Sul e Bahia.

Entretanto, apesar das diversas vantagens oferecidas pelo império, os empresários

não se interessaram por esta empreitada onerosa e de grande risco. Apenas em

1852, Irineu Evangelista de Souza, mais tarde Barão de Mauá, iniciou a construção

da ferrovia que ligaria porto do Rio de Janeiro a raiz da serra de Petrópolis. A

primeira ferrovia Brasileira foi então inaugurada em 30 de abril de 1854, com 14,5

Km de extensão, percorrida inicialmente com velocidade média de 38 km/h.

As estradas de ferro se expandiram pelo país até a década de 1950 quando a rede

nacional contava com mais de 37.000 km. Em 1957 foi criada a Rede Ferroviária

Federal S.A – RFFSA.

Já na década de 1990 o Governo Federal decidiu pela desestatização do setor

ferroviário brasileiro, realizando leilões para a concessão do transporte de cargas em

suas vias, onde finalmente, em 2006, a RFFSA foi liquidada pelo governo.

4.2. DA MRS LOGÍSTICA

O edital de privatização da malha ferroviária da região sudeste foi publicado em julho

de 1996 pelo Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com o intuito

de continuar o Plano Nacional de Desestatização (PND) onde, desde 1992, havia

sido incluída a Rede Ferroviária Federal (RFFSA).

Segundo o PND, o processo de privatização seria efetuado pela passagem para o

setor privado, mediante processo licitatório na modalidade de leilão, com o

arrendamento dos bens operacionais e a concessão dos serviços de transporte

ferroviário de cargas.

Page 22: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

22

Neste processo a malha da RFFSA foi dividida em regionais, sendo que a Malha

Regional Sudeste era constituída da fusão das antigas Superintendências Regionais

SR3, com sede em Juiz de Fora, que era formada a partir das linhas da antiga

Estrada de Ferro Central do Brasil e da SR4, com sede em São Paulo, que originou-

se a partir da antiga Estrada de Ferro Santos-Jundiaí. Ambas eram constituídas de

bitola larga (1,60m) e somadas suas extensões acumulavam 1.674 Km de linhas que

passavam pelos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo (Figura 1).

Figura 1: Mapa de distribuição das linhas da MRS – FONTE: MRS Logística

Para a disputa do leilão da Malha Regional Sudeste, criou-se um consórcio

denominado MRS Logística entre as empresas Companhia Siderúrgica Nacional

(CSN), Minerações Brasileiras Reunidas (MBR), Usiminas, Ferteco, Ultrafértil,

Cosigua, Fundação Caemi, Grupo Celato, que em 20 de setembro de 1996,

arrematou pelo lance de R$ 888,9 milhões , equivalente a US$ 871,5 milhões. Em 1º

Page 23: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

23

de dezembro de 1996 iniciou-se a operação da malha Regional Sudeste pela MRS

Logística S.A..

Desde 1997 a MRS busca inovação e excelência operacional para alcançar

resultados crescentes de produção. A seguir está o gráfico da evolução do

transporte anual de cargas e a projeção do plano de expansão do transporte até o

ano de 2012.

Gráfico 1: Demonstrativo de crescimento da produção da MRS - FONTE: MRS Logística 2008

4.3. DA FERROVIA DO AÇO

Durante o chamado “Milagre Brasileiro”, no início da década de 70 do século 20, foi

apresentado pelo extinto Departamento Nacional de Estradas de Ferro (DNEF) o

projeto da chamada Ferrovia do Aço. Tal como foi apresentado, o projeto era

extremamente ambicioso e buscaria fazer a ligação ferroviária das cidades de Belo

Horizonte ao Rio de Janeiro e a São Paulo através de 834 Km de linhas duplas,

eletrificadas e com raio mínimo de 900 metros e inclinação máxima de 1%, por onde

seriam transportados cargas e passageiros.

Produção da MRS Plano de Negócios

145

Page 24: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

24

Segundo este projeto, a ferrovia começaria em Belo Horizonte a uma altitude de

800m acima do nível do mar, cortaria a Serra do Espinhaço e subiria até sua cota

máxima de 1.124m em Bom Jardim de Minas e a partir daí, faria a descida do

desnível de 700m da Serra do Mantiqueira. Para realizar este trajeto de regiões

montanhosas e geologia complexa, seria necessária a construção de 197 túneis,

com extensão total de 97,4 Km, e ainda 129 pontes e viadutos que se estenderiam

por 41,97 Km da ferrovia.

Já em 30 de abril de 1975, iniciaram-se as obras em Itutinga-MG, com promessa do

governo que estas obras estariam concluídas em dezembro de 1977. No início de

1978 a ferrovia estaria atendendo ao fluxo esperado de 28,5 milhões de toneladas

ao ano, passando a ser conhecida como a “Ferrovia dos 1000 dias”.

Entretanto, o plano de construção em 1000 dias logo foi deixado de lado, pois no

início de 1976, com o surto inflacionário causado pelo aumento de preços do

petróleo, o Governo Federal cortou as verbas destinadas às obras, desacelerando a

construção. Em meados de novembro do mesmo ano as obras foram paralisadas,

sendo que, até então, o trecho entre Belo Horizonte e Jeceaba, com 102 Km de

extensão e 40% da infra-estrutura concluída, acabou sendo abandonada. Assim, a

partir do projeto original, passou a extensão de 304,6 Km, com redução da

quantidade de túneis para 72.

Segundo reportagem da Revista Ferroviária publicada em maio de 1989, em 1978 a

RFFSA anunciou que, por intermédio de estudos, avaliara que a obra da ferrovia era

inviável economicamente e a mesma não passava de uma obra ”megalomaníaca ou

faraônica”. Este estudo sugeria que as obras fossem abandonadas em favor da

duplicação da Linha do Centro.

Em 1980 reiniciaram as obras com prazo de conclusão para 1983. Devido a falta de

recursos, os serviços não se estenderam por muito tempo, sendo paralisada

novamente.

Em Julho de 1983 o então Ministro dos Transportes deferiu a seguinte sentença “A

Ferrovia do Aço ficará pronta quando o Brasil puder”; com isso cortou todas as

verbas as obras destinadas e decretou o fim da ENGEFER, empresa estatal

responsável pela fiscalização das obras.

Page 25: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

25

Em Fevereiro de 1987 entra em cena a iniciativa privada para a viabilização da

construção da ferrovia, assim empresas lideradas pela MBR (Minerações Brasileiras

Reunidas), comprometeram-se com o desembolso de cerca de US$ 70 milhões.

Apesar deste aporte financeiro ao orçamento, os recursos não seriam suficientes

para a eletrificação da ferrovia e lançamento da linha dupla. Desta forma, o novo

projeto preconizava que a Ferrovia do Aço passaria a ser singela, com sistema de

tração diesel elétrica, descartando-se a construção do ramal no sentido a São Paulo.

Finalmente, em 30 de maio de 1989, o então presidente da república José Sarney,

inaugura a Ferrovia do Aço, com 320 Km de extensão, 70 Túneis e 92 Viadutos. Em

seu discurso de inauguração o Presidente afirma que as obras consumiram um total

de US$ 9 milhões/Km de ferrovia o que totalizou US$ 2,88 bilhões.

Hoje, a Ferrovia do Aço é operada pela MRS Logística e estende suas linhas por

353 quilômetros, tendo seu trecho compreendido entre o pátio de Saudade, no

município de Barra Mansa – RJ, e o pátio de Otávio Dalpieve, também denominado

P1-03 no município de Itabirito – MG. Esse trecho é responsável pelo principal fluxo

de transporte da MRS.

5. COMPONENTES DA FERROVIA TÍPICA

5.1. MATERIAL RODANTE

5.1.1 CARACTERÍSTICAS

Uma das mais importantes características de uma ferrovia é seu desempenho

energético devido ao baixo atrito entre as rodas dos veículos e os trilhos ferroviários,

ambos de aço. O contato metal-metal favorece o baixo atrito e faz com que o gasto

energético por unidade de transportada seja mais eficiente que o modal rodoviário,

por exemplo.

Outra característica importante é a mobilidade direcional dos veículos ferroviários,

ou seja, a existência de dois graus de liberdade, facilitando sobremaneira o controle

operacional, mas de certa forma, limitando a acessibilidade ao sistema ferroviário.

Page 26: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

26

O Material rodante ferroviário é caracterizado também pela utilização de rodas

cônicas, que permitem a inscrição destes veículos em curvas diminuindo a

possibilidade de descarrilamento. Estas rodas possuem frisos que não permitem o

total deslocamento horizontal dos veículos.

Figura 2: Vista da conicidade e do friso das rodas em contato com o trilho.

Os veículos ferroviários são dotados de apoios denominados “Truques”, que se

constitui em uma estrutura de dois eixos paralelos apoiados em duas laterais e uma

travessa central, sendo que os eixos são solidários as rodas e não permitem uma

rolagem diferente entre as rodas.

BRINA (1982) define Truque como Pequeno veículo giratório, de base rígida, sobre

o qual se apóiam as estruturas (caixas) dos carros, vagões e locomotivas. Os

truques possuem um estrado para receber as caixas (as caixas se encaixam sobre

os truques por meio de pivôs ou piões) e são montados elasticamente sobre os

rodeiros.

Page 27: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

27

Foto 1: Truque ferroviário – Fonte: Amsted Maxion 2 008.

A próxima figura mostra os componentes do truque ferroviário.

Figura 3: Partes componentes de um truque ferroviár io. Fonte: Rosa-2008

Page 28: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

28

5.1.2 CLASSIFICAÇÃO DO MATERIAL RODANTE

O material rodante de uma ferrovia pode ser classificado segundo sua capacidade

de tracionar outros veículos. Os veículos que possuem tração própria são

denominados locomotivas ou carros motores e os veículos que são tracionados são

chamados de carros, no caso de transporte de passageiros, ou vagões, destinados

ao transporte de cargas.

5.1.3 LOCOMOTIVAS

Conforme descrito anteriormente, locomotivas são um tipo de veículo ferroviário

responsável pelo tracionamento de outros veículos. A tração utilizada para o

transporte de cargas é exclusivamente realizada por locomotivas, sendo que os

carros automotrizes não são utilizados para este fim.

Segundo BRINA(1988) as locomotivas podem ser classificadas em diversos

critérios, dentre eles estão:

a) Relação ao motor primário:

a. Locomotiva a motor térmico

i. Motor a combustão externa (vapor)

ii. Motor a combustão interna (diesel)

iii. Turbina a gás

iv. Termonuclear

b. Locomotiva Elétrica

5.1.3.1 Locomotivas a Vapor

São as locomotivas com força de propulsão gerada por um motor a vapor. São

compostas por três partes principais: A Caldeira que utiliza a energia do combustível

(carvão, óleo ou madeira) e gera o vapor, a Máquina Térmica que transforma a

Page 29: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

29

energia do vapor em trabalho mecânico e a Carroceria que compõe a locomotiva,

integrando as partes e responsável pelo acoplamento com o restante da

composição.

O vagão reboque, também chamado de tender é obrigatoriamente acoplado à

locomotiva e tem a função de servir de reservatório de água e do combustível para a

caldeira.

No Brasil as locomotivas a vapor continuam em operação em alguns trens turísticos

entre eles o trem que liga as cidades mineiras de São João Del Rei à Tiradentes e o

que liga as cidades gaúchas de Bento Gonçalves à Carlos Barbosa.

5.1.3.2 Locomotivas Elétricas

São locomotivas com força de propulsão gerada por motores elétricos de tração.

Estes motores são alimentados por fontes externas, por intermédio de mecanismos

chamados pantógrafos que podem fazer a ligação física entre a fonte externa (rede

aérea ou de sapatas ligadas a um terceiro trilho) e os motores de tração.

A alimentação pode ser em corrente contínua, em tensões elétricas variando de 600

a 3 kV, ou em corrente alternada em 25 kV ou 50 kV, para locomotivas de maior

potência. No caso de alimentação em corrente alternada, além de haver

rebaixamento de tensão, são empregados retificadores que objetivam a retificação

da corrente elétrica para alimentação dos motores de tração.

5.1.3.3 Locomotivas Diesel-Eletricas

São as locomotivas mais utilizadas no transporte de cargas no país. São

constituídas de um motor Diesel, acoplado a um gerador ou alternador, que

alimentam motores movidos a eletricidade, responsáveis pela força de tração Esses

motores são denominados Motores de Tração.

Page 30: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

30

Esta combinação de motores diesel e elétricos permite que as locomotivas Diesel-

Elétricas desenvolvam toda sua potência em regimes de baixa velocidade da

composição, independente da rotação do motor de tração que, sendo elétrico, tem

seu torque máximo em baixas rotações.

Atualmente todas as locomotivas da MRS Logística são do tipo Diesel-Elétrica,

sendo que a atual frota conta com a maioria de motores de tração que trabalham

com Corrente Contínua e algumas poucas que trabalham com tecnologia de motores

de tração com Corrente Alternada.

Foto 01: Locomotiva Diesel-Elétrica modelo GE C-38 - Fonte: MRS Logística.

5.1.4 VAGÕES

Conforme já citado, vagões são veículos ferroviários responsáveis pelo transporte de

cargas e que não possuem tração própria. Sua locomoção se dá pelo tracionamento

de uma locomotiva.

Page 31: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

31

Segundo ROSA (2008), a classificação dos vagões é feita seguindo três critérios:

• Tipo de carga a ser transportada;

• Tipo de terminal de carga e descarga;

• Tipo de proteção exigida pelo cliente final.

Já a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT classifica os vagões

segundo uma codificação que indica as características do vagão. Esta numeração é

composta de três letras, seis números e um dígito verificador.

Letra

Letra 3ª Letra

Dígito

Dígito

Dígito

Dígito

Dígito

Dígito

Check-

Digit

X1 X2 X3 N1 N2 N3 N4 N5 N6 N7

Tipo Sub-

tipo

Peso

Máximo Numeração única — Indica o proprietário

Tabela 3: Demonstrativo do tipo de classificação se gundo a ABNT.

As duas primeiras letras da classificação representam o tipo e o subtipo do vagão e

a terceira letra representa o seu peso máximo de tara mais lotação de acordo com a

bitola.

Nos quadros a seguir demostra-se o critério de letras utilizado para a classificação

disposta pela ABNT.

Page 32: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

32

Categoria de vagão, e características especiais por categoria

Tipo /

Subtipo Característica

Tipo /

Subtipo Característica

A Gaiola H Hopper

AC

Gaiola com cobertura, estrado e

estrutura metálica (inclui réguas de

madeira)

HF Hopper fechado convencional

AM Gaiola com cobertura, de madeira HP Hopper fechado com proteção anti-

corrosiva

AR Gaiola para animais de raça HE Hopper tanque (center-flow) com

proteção anti-corrosiva

AV Gaiola para aves HT Hopper tanque (center-flow)

convencional

AD Gaiola descoberta HA Hopper aberto

AQ Gaiola - Outros tipos HQ Hopper - Outros tipos

C Caboose I Isotérmico

CC Caboose convencional IC Isotérmico convencional

CB Caboose com compartimento para

bagagens IF Isotérmico frigorífico

CQ Caboose - Outros tipos IQ Isotérmico - Outros tipos

F Fechado P Plataforma

FR Fechado convencional - Caixa

metálica com revestimento PM

Plataforma convencional com piso

de madeira

FS Fechado convencional - Caixa

metálica sem revestimento PE

Plataforma convencional com piso

metálico

FM Fechado convencional - Caixa de

madeira ou mista PD

Plataforma convencional com

dispositivo para containers

FE Fechado com escotilhas PC Plataforma para containers

FH

Fechado com escotilhas - Fundo

em lombo de camelo ou

Tremonhas (Hopper)

PR Plataforma com estrado rebaixado

FF

Fechado com escotilhas - Portas

tipo ”plug” e fundo móvel “drop-

bottom”

PT Plataforma para auto-trem

Page 33: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

33

FP

Fechado com escotilhas - Portas

basculantes - Fundo em lombo de

camelo - Proteção anti-corrosiva

PG Plataforma para piggy-back

FL Fechado com laterais corrediças

(all door) PP

Plataforma com cabeceira

(bulkhead)

FV Fechado ventilado PB Plataforma para bobinas

FQ Fechado - Outros tipos PA Plataforma com 2 pavimentos para

automóveis

G Gôndola PQ Plataforma - Outros tipos

GD Gôndola para descarga em virador

(car dumper) Q Qualquer

GP Gôndola de bordas fixas e portas

laterais QQ Qualquer - Qualquer (Outros tipos)

GF Gôndola de bordas fixas e fundo

móvel (drop-bottom) T Tanque

GM Gôndola de bordas fixas e

cobertura móvel TC Tanque convencional

GT Gôndola de bordas tombantes TS Tanque com serpentinas para

aquecimento

GS Gôndola de semi-bordas tombantes TP Tanque para produtos

pulverulentos (em pó)

GH

Gôndola de bordas basculantes ou

semi-tombantes - Fundo em lombo

de camelo

TF Tanque para fertilizantes

GC

Gôndola de bordas basculantes ou

semi-tombantes - Fundo em lombo

de camelo - Cobertura móvel

TA Tanque para ácidos ou outros

líquidos corrosivos

GB Gôndola basculante TG Tanque para gás liquefeito de

petróleo

GQ Gôndola - Outros tipos TQ Tanque - Outros tipos

Tabela 4: Lista com as duas primeiras letras repres entativas dos tipos e Subtipos de vagões segundo a ABNT.

Page 34: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

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Classificação segundo a lotação do Vagão

Peso máximo admissível por eixo Bitola Métrica Bitola 1,60 m

30,0 t A -

47,0 t B P

64,5 t C Q

80,0 t D R

100,0 t E S

119,5 t F T

143,0 t G U

+ de 143,0 t H -

Tabela 5: Lista com a terceira letra da classificaç ão representando o peso máximo do vagão para cada bitola segundo a ABNT.

Já a numeração dos vagões segue uma seqüência de números de acordo com o

proprietário do mesmo.

Numeração

Proprietário Faixa Numérica Primeiro Dígito

Particular 000.001 a 099.999 0

EFVM 100.000 a 299.999 1 e 2

Fepasa 300.000 a 599.999 3, 4 e 5

RFFSA 600.000 a 999.999 6, 7, 8 e 9

Tabela 6: Ordem de numeração dos vagões segundo a A BNT.

Page 35: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

35

5.2. SINALIZAÇÃO

Segundo o Regulamento de Operações Ferroviárias da MRS Logística, sinalização é

“o conjunto de meios compostos por sinais luminosos, acústicos, manuais e placas

contendo inscrições de letras, algarismos ou símbolos, caracterizando situações

para as quais se exigem cumprimento de regulamentos e chamando a atenção para

os operadores de trens, equipes de manutenção e colaboradores e geral, em favor

da segurança, economia e flexibilidade do tráfego ferroviário”

A sinalização faz a interface entre a localização do trem na malha e o CCO, assim

as ordens passadas pelo CCO chegam a malha e em trechos sinalizados, realizam

as movimentações das chaves de máquinas e a alteração de aspectos de sinais,

que são o meio de comunicação visual entre os maquinistas e os operadores de

trens.

5.3. CENTRO DE CONTROLE DA OPERAÇÃO – CCO

Trata-se da instalação física onde é controlada e executada toda a circulação de

trens na malha da MRS Logística e das ferrovias de intercâmbio.

Esta circulação é feita pelos despachadores, que são funcionários responsáveis pelo

planejamento, programação, execução e controle da circulação, que é dada pela

comunicação, por sinalização ou rádio, aos maquinistas de acordo com as

necessidades de circulação.

Estas ordens são chamadas de licenciamento, que são autorizações de

movimentação em trechos sinalizados ou não sinalizados, para um determinado

trem , com prefixo definido de acordo com o sentido de movimento estabelecido

desde a origem até o destino.

Portanto o CCO utiliza-se dos ativos da empresa tais como Via Permanente,

sinalização e material rodante para realizar o transporte propriamente dito com o

auxílio dos maquinistas e das estações de carga e descarga.

Page 36: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

36

Foto 2: Vista do painel de controle do CCO da MRS. FONTE: MRS Logístiva.

5.4. VIA PERMANENTE

5.4.1 CARACTERÍSTICAS

A ferrovia como um todo tem como característica principal, a existência de dois

trilhos de aço, sobre os quais o trem se desloca, paralelos e instalados

permanentemente sobre um leito.

Dentro desta definição existem algumas variações quanto a tipos de estrutura das

ferrovias, do tipo e dimensões dos trilhos, do material das rodas, do leito ferroviário,

das formas de propulsão etc..

Considerando-se os enormes pesos e forças atuantes sobre os trilhos, chega-se à

conclusão de que cada elemento da via permanente tem que ser cuidadosamente

projetado para operação e manutenção, de modo a desempenhar o papel que lhe é

atribuído sob as mais adversas condições como as intempéries, ação de vândalos,

deslocamento dos trilhos em função do tráfego normal de trens dentre outros.

Page 37: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

37

5.4.2 INFRA-ESTRUTURA

Como definição de infra-estrutura, BRINA (1979) cita o seguinte:“... a infra-estrutura

das estradas é constituída pela terraplenagem e todas as obras abaixo do greide de

terraplenagem. A superfície final de terraplenagem chama-se leito ou plataforma da

estrada”.

Portanto, pode-se na prática, definir como infra-estrutura da via permanente como a

soma dos elementos da terraplanagem, drenagem e obras de arte correntes e as

obras de arte especiais. E esta tem a função de absorver às cargas provenientes da

passagem dos veículos pela superestrutura e repassar ao solo.

5.4.2.1 TERRAPLANAGEM

A terraplanagem é a movimentação do solo por intermédio de cortes e aterros, de

forma que o solo atenda a determinadas características específicas de um projeto.

Estes cortes e aterros são formados pela composição de várias camadas de solo

sobrepostas, de forma a suportar as cargas provenientes das camadas superiores e

solicitações da linha férrea.

Figura 4: Corte transversal de seção da Via Permanente mostrando elementos da infra e da superestrutura.

lastro sublastro Infra-estrutura (solo)

trilhos dormente

Talude do corte Saia do aterro fixação

Page 38: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

38

Foto 3: Corte da Ferrovia do Aço. FONTE: MRS Logística.

5.4.2.2 SUB-LASTRO

Tem como função principal evitar o bombeamento dos finos do solo e também

diminuir a altura de lastro necessário, evitando assim o maior custo da construção

da ferrovia, pois o custo do sub-lastro é menor que o custo do lastro.

Segundo Porto (2004), o bombeamento dos finos é um processo auto-alimentado

que consiste no endurecimento do lastro e posterior ruptura devido à secagem de

lama proveniente do solo bombeada pelo tráfego. Ocorre na presença deste solo

fino, água retida e super-solicitação.

Este bombeamento é o principal causador dos bolsões de lama que ocorrem no

lastro e estes bolsões, por conseguinte, é o principal causador de anomalias de

nivelamento transversal e vertical.

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39

Foto 4: Acumulo de água e bolsão no lastro – FONTE: MRS 2008.

5.4.2.3 DRENAGEM

Os elementos de drenagem são as estruturas responsáveis por retirar e encaminhar

as águas que precipitam sobre a superestrutura e infra-estrutura. Essas estruturas

são formadas canaletas, bueiros, galerias, drenos profundos, drenos superficiais.

Estes elementos devem ser constantemente inspecionados e sempre que

necessário devem ser limpos e desobstruídos, pois a obstrução de um destes

elementos pode ocasionar o colapso ou ruptura de um aterro.

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40

Foto 5: Bueiro com saída parcialmente obstruída.

5.4.2.4 OBRAS DE ARTE ESPECIAIS

São as obras advindas de projetos únicos, ou seja, não tem um padrão pré

determinado, segundo SUCENA (2002),

“Os projetos especiais utilizados para construção de passagens superiores e

inferiores como também para muros de arrimo, são aqueles que fogem das

características de um projeto tipo, ou seja, de um padrão, determinando formas de

intervenção da manutenção diferenciadas, considerando-se as suas características

técnicas peculiares”.

Desta forma, as principais obras de arte especiais da ferrovia são as pontes,

viadutos, túneis e muros de contenção.

Page 41: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

41

Foto 6: Viaduto da Ferrovia do Aço. FONTE: MRS Logística.

5.4.3 SUPERESTRUTURA

A superestrutura ferroviária é composta por quatro elementos distintos que

interagem de forma a passar as forças exercidas pelas rodas para a infra-estrutura

ferroviária e também servirem de pista de rolamento e guia para o material rodante

que por ela trafega.

Os quatro elementos considerados da superestrutura são os trilhos, fixações,

dormentes e lastro.

5.4.3.1 TRILHOS

Trilhos são elementos responsáveis pelo contato entre as rodas dos veículos

ferroviários e a via permanente. Também são utilizados para transmitir as tensões

causadas pelo peso destes veículos nos dormentes. Os trilhos são presos aos

dormentes com auxílio de placas de apoio e fixações.

Os trilhos são utilizados desde a criação das ferrovias e evoluíram continuamente

através de alterações dos formatos, dimensões, utilização de diferentes tipos de aço,

Page 42: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

42

tratamentos metalúrgicos. Sua geometria atual, predominante em quase todo o

mundo, é o tipo Vignole (nome do Engenheiro inglês que o idealizou).

Com o passar do tempo vêm ganhando durabilidade e capacidade de suportar

maiores cargas por eixo dos veículos ferroviários, havendo um evolução dos perfis

de trilhos, que são as seções longitudinais.

A seguir está uma tabela que mostra os tipos de trilhos fabricados no Brasil pela

CSN e suas respectivas massas.

Tipo de Perfil de Trilho Massa (Kg/m)

TR - 37 37,10

TR - 45 44,64

TR - 50 50,35

TR - 57 56,90

TR - 68 67,56

Tabela 7: Tipos de perfis de trilhos e suas respect ivas massas 1.

O trilho é dividido segundo suas partes e funcionalidades e é composto de Boleto,

Alma e Patim.

• Boleto: Parte responsável pelo contato entre a roda ferroviário e o trilho

• Alma: Parte responsável pela ligação entre o boleto e o patim.

• Patim: É a base do trilho, responsável pelo contato entre o trilho e a placa de

apoio, responsável por passar a tensão dos trilhos para as placas.

1 Fonte: Catálogo da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) – 1980.

Page 43: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

43

����

�����

�����

Figura 5: Partes componentes do trilho ferroviário.

a) TRILHOS CURTOS

São os trilhos conforme saem da siderúrgica, normalmente possuem o comprimento

de 12 a 20 metros e são unidos através de talas de junção.

b) TRILHOS LONGOS SOLDADOS

Segundo BRINA (1979) o Trilho Longo Soldado (TLS), também denominado trilho

contínuo, é aquele em que a folga na junta é insuficiente para permitir a dilatação,

gerando, conseqüentemente, tensões internas; além disto, caracteriza-se por um

comprimento tal que, em uma parte central de seu comprimento, existe uma

extensão fixa que não se dilata, em um estado de tensão interna máxima.

Os trilhos provenientes das siderúrgicas são os trilhos unidos uns aos outros através

de soldas elétricas, também chamadas flash-button, ou através de soldas

aluminotérmicas.

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44

Atualmente na MRS os trilhos curtos são comprados no exterior são levados ao

Estaleiro de Soldas de Barra do Piraí-RJ, onde são soldados eletricamente através

de uma máquina Schalatter, em barras de 240 metros de comprimento.

As vantagens da utilização de trilhos longos soldados é a não utilização de talas de

junção e conseqüentemente criação de juntas.

Foto 7: Frota carregada com TLS’s – Fonte VIDON 2006.

c) SOLDAS ALUMINOTÉRMICAS

É a união por soldagem de duas barras de trilho pelos seus topos, por processo de

reação química, a quente, utilizando-se óxido de ferro granular e pó de alumínio.

Trata-se de um procedimento de campo onde os operadores executam os

procedimentos de preparação e alinhamento dos trilhos, montagem e vedação das

formas, preparação e corrida da porção de solda, rebarba e esmerilhamento dos

excessos de soldas nos trilhos.

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45

Foto 8: Corrida de Solda Aluminotérmica. FONTE: MRS Logística

d) SOLDAS ELÉTRICAS

Trata-se, mais comumente, de um processo de soldagem com equipamento

estacionário em estaleiro. Consiste em se elevar a temperatura das pontas dos

trilhos a um nível tal, de modo que seja possível uni-los por pressão e por fusão.

Emprega-se uma corrente de baixa tensão e forte intensidade e é criado um arco

voltaico entre as duas pontas de trilho, elevando a temperatura e promovendo a

fusão.

Foto 9: Máquina realizando solda elétrica. FONTE: VIDON 2006.

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46

5.4.3.2 FIXAÇÕES

São as estruturas de ligação do trilho ao dormente que estabelecem determinada

forma de vínculo estrutural entre os dois componentes. Além de fixar o trilho ao

dormente, deverá garantir a bitola e adequar à transferência dos esforços dinâmicos

e estáticos exercidos pelo material rodante sobre a via permanente.

Existem diversos tipos de fixações dos trilhos nos dormentes, mas podemos separar

estas fixações em dois tipos, fixações rígidas ou fixações elásticas.

a) FIXAÇÕES RIGIDAS

São fixações que não tem deformação no momento da passagem das composições

ferroviárias. Tem como principal desvantagem a dificuldade e baixa produtividade da

mão de obra na instalação desta fixação.

Um dos tipos de fixação rígida é o Tirefão, que BRINA – 1978 definem como um tipo

de dispositivo de fixação do trilho ao dormente de madeira. É considerado um tipo

de fixação rígida, ou seja, não é capaz de absorver choques e vibrações. Trata-se

de uma espécie de parafuso de rosca soberba, em cuja cabeça se pode adaptar

uma chave especial, por meio da qual o tirefão é aparafusado ao dormente, em furo

previamente preparado. A cabeça do tirefão tem uma base alargada, em forma de

aba de chapéu, cuja face inferior tem a mesma inclinação do patim do trilho.

Outro exemplo de fixações rígidas, mas pouco utilizada no Brasil é a utilização de

pregos ferroviários.

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47

Figura 6: Pregos e tirefond

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b) FIXAÇÕES ELÁSTICAS

São fixações que tem pequena deformação no momento da passagem da

composição ferroviária, ou seja é capaz de absorver choques e vibrações. A grande

vantagem da utilização da fixação elástica é facilidade de aplicação e por

conseqüência a alta produtividade da mão de obra no momento da aplicação das

barras de trilho.

Exemplo de fixação elástica é a desenvolvida pela empresa PANDROL, que

consiste em um tipo de dispositivo de fixação do trilho ao dormente de origem

inglesa e consiste de uma peça metálica, em forma de uma haste encurvada com tal

geometria, que faz um papel de mola, encaixada em placa de apoio própria, e que

se fixa, sob pressão, sobre o patim do trilho.

c) PLACAS DE APOIO

São elementos intermediários entre os trilhos e os dormentes. Nas linhas onde

existe a fixação elástica, estas placas são parafusadas nos dormentes pelos

tirefonds e a fixação dos trilhos nas placas se dá pelos grampos elásticos, facilitando

assim a manutenção dos trilhos.

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49

Foto 10: Fixação elástica com placa de apoio e grampo Pandrol.: FONTE: MRS Logística.

Page 50: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

50

5.4.3.3 DORMENTES

Os dormentes são os elementos que tem função de receber as cargas provocadas

nos trilhos pela passagem dos veículos ferroviários e transmiti-las ao lastro.

Estruturalmente os dormentes são vigas que recebem as duas cargas concentradas

verticais transmitidas pelos trilhos e as distribuem em duas áreas sobre o lastro,

assim, o lastro atua com duas seções de cargas distribuídas de reação à ação do

carregamento exercido pelos trilhos.

Além de atuar como vigas, os dormentes são os principais responsáveis pela fixação

e correto posicionamento dos trilhos e, por conseguinte, manutenção da bitola,

permitindo assim as funções de guia e de pista de rolamento da linha.

Para atender aos requisitos das solicitações impostas pela passagem os trens, o

principal material usado como dormente tem sido a madeira, entretanto, com as

pressões e demandas ambientais e por conseqüência aumento dos custos, outros

materiais vem ganhando terreno, como o concreto, aço e materiais plásticos.

Segundo BRINA , para o cumprimento das finalidades a que se destina, será

necessário que os dormentes:

• Forneçam dimensões de superfície de apoio suficiente para a taxa de trabalho

no lastro não ultrapasse um certo limite;

Figura 7: Representação do carregamento dos trilhos e reação do lastro – Fonte: DUVAL 2001

Dormentes Trilho

Page 51: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

51

• Tenham espessura suficiente para ter a rigidez necessária, permitindo alguma

elasticidade;

• Tenham suficiente resistência a esforços;

• Permitam com certa facilidade, o nivelamento e socaria do lastro, na sua

base;

• Se oponham eficazmente aos deslocamentos longitudinais e transversais da

via permanente;

• Permitam boa fixação dos trilhos, isto é, uma fixação firme, sem ser

excessivamente rígida;

5.4.3.4 LASTRO

É o elemento ferroviário situado entre o sub-lastro e os dormentes. É responsável

pela drenagem da água precipitada sobre a superestrutura, pela distribuição das

tensões recebidas dos dormentes ao sub-lastro, pela diminuição das irregularidades

do sub-lastro para nivelamento dos dormentes e também pelo travamento dos

dormentes nos sentidos transversal, longitudinal.

Podem ser formados por diversos materiais, sendo o melhor o lastro formado por

pedra britada, com granulometria uniforme a partir de rochas duras.

Suas principais funções são:

• Distribuir uniformemente sobre a infra-estrutura as cargas que recebe dos

dormentes de maneira que não seja superada a tensão admissível das

camadas inferiores do solo.

• Estabilizar a via verticalmente, lateralmente e longitudinalmente, através da

ação de forças de suporte e de ancoragem nos dormentes, evitando

movimentações demasiadas.

• Amortizar, através de sua estrutura semi-elástica, as ações dinâmicas das

cargas dos trens.

• Prover a drenagem, permitindo a liberação das águas das chuvas, e

garantindo a proteção da umidade tanto a plataforma quanto os dormentes.

Page 52: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

52

• Permitir a recuperação geométrica da linha mediante operações de

alinhamento e nivelamento, com socaria do lastro.

Para as atividades de nivelamento e socaria do lastro são utilizados equipamentos

de grande porte que conseguem movimentar a grade.

Foto 11: Socadora de lastro modelo 09-3X da Plasser utilizada pela MRS – Fonte MRS Logística.

a) SISTEMA DE MUDANÇA DE VIA

É a estrutura ferroviária responsável pelo desvio de uma linha de movimento para

outra linha em um ponto comum a estas linhas. É composto pela Região das

Agulhas, Região de Transição e Região do Jacaré. BRINA (1979) fornece as

seguintes definições para AMV, Jacarés e Agulhas:

b) APARELHO DE MUDANÇA DE VIA (AMV)

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53

A sujeição do veículo ferroviário aos trilhos, através do encaixe do friso da roda com

o boleto, faz com que, quando se deseja passar os veículos de uma linha para outra

ou para um desvio, haja necessidade de um dispositivo que permita que o friso da

roda tenha passagem livre. O aparelho de mudança de via, constituído por um

conjunto de componentes, cria essa possibilidade, formando “canais” por onde os

frisos passam, cruzando os trilhos a serem atravessados.

Figura 8: Demonstrativo das regiões das agulha, transição e jacaré.

c) JACARÉ ou CORAÇÃO

Parte principal de um AMV e que, praticamente, o caracteriza. É constituído pela

ponta, pelas patas de lebre (pontas externas e laterais, dobradas em forma de

patas), garganta (parte interna no centro do jacaré). O jacaré é caracterizado pelo

ângulo do coração, que é o ângulo formado pelas duas peças que encaminham as

rodas para a direção de uma ou outra linha.

Região das Agulhas Região de Transição

Região do Jacaré

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54

d) AGULHA

Uma das partes principais dos aparelhos de mudança de via (AMV’s), posicionada,

sempre em dupla, uma em cada extremidade do AMV. São peças de aço,

afuniladas, de modo que suas extremidades na parte anterior se adaptem

perfeitamente aos trilhos de encosto, de um lado ou de outro da fila de trilhos, de

acordo com a direção que deve tomar o veículo. Na extremidade posterior, as

agulhas são ligadas aos trilhos de enlace ou de ligação por meio de talas flexíveis,

formando uma articulação. As agulhas são peças móveis e necessariamente

paralelas entre si. São ligadas ao aparelho de acionamento por uma barra rígida

metálica denominada tirante das agulhas. O aparelho de acionamento coloca as

agulhas em posição de passagem pela linha direta ou em posição de passagem pela

linha de desvio. A parte afunilada das agulhas chama-se ponta e a parte posterior

coice.

Foto 12: Vista da Região do Jacaré de uma linha sendo montada.

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55

Foto 13: Visão da região das agulhas em linha sendo montada.

5.4.4 GEOMETRIA DE LINHA

A geometria da via ferroviária tem condições impostas muito mais restritivas que a

geometria de rodovias, estas restrições são importas por alguns fatores entre eles:

• Característica do material rodante (rodas solidárias, paralelismo dos eixos)

• Tamanho e peso das composições

• Atrito entre as rodas e os trilhos.

Estas características fazem com que as linhas tenham limitações severas de raio

mínimo vertical e horizontal, declividade máxima de rampas, concordância entre

rampas e alinhamento e nivelamento dos trilhos.

Mesmo assim, em relação ao traçado as características geométricas que buscam a

melhor adaptação às variadas formas da superfície do terreno são as formas

básicas de curvas e tangentes (retas), tanto em planimetria quanto em altimetria.

Page 56: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

56

A geometria de via é a medição de definidos parâmetros geométricos do traçado da

via, estes parâmetros são:

• Bitola

• Nivelamento Transversal

• Nivelamento Longitudinal

• Alinhamento

• Curvatura

5.4.4.1 BITOLA

Segundo BRINA (1979), que faz a seguinte definição:

A bitola da via é a distância entre trilhos medida entre boletos, 12 a 15 milímetros

abaixo do plano de rodagem (plano formado pelas faces superiores dos trilhos).

Figura 9: Demonstração da distância denominada bito la.

Nas linhas da MRS é utilizada a medida de 1600 mm, que também é chamada de

bitola larga, mas no Brasil utilizam-se ainda outras bitolas, tais como a bitola métrica,

com medida de 1000 mm, bitola Standard com 1435 mm e bitolas estreitas com

distâncias entre as faces dos trilhos menores que 1 metro.

A tabela a seguir mostra a bitola das diversas ferrovias do país.

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Empresa Medida Bitola

MRS Logística 1600 mm

EFVM 1000 mm

EFC 1600 mm

ALL 1000 mm

Brasil Ferrovias (ALL) 1600 mm

FCA 1000 mm

Estrada de Ferro do Amapá 1435 mm

Tabela 8: Bitola utilizada nas principais ferrovias brasileiras.

5.4.4.1 NIVELAMENTO TRANSVERSAL

É a condição na qual as duas filas do trilho devem estar na mesma cota segundo um

corte transversal à linha.

Existem situações onde o nivelamento transversal é propositalmente desrespeitado,

inserindo-se uma diferença entre o nível dos trilhos num mesmo ponto, estes pontos

são sempre nas curvas.

Figura 10: Ilustração do nivelamento transversal – FONTE: Vidon – 2006

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58

a) SUPERELEVAÇÃO

É a diferença entre as alturas dos trilhos em uma curva. Normalmente o trilho

externo da curva é elevado para facilitar a inscrição do rodeiro na curva, melhorando

o conforto, diminuindo a atuação das forças centrípetas e assim diminuindo o

desgaste das rodas e possibilidade de tombamento dos veículos ferroviários, seu

valor definido em função do raio da curva e da velocidade máxima dos trens naquela

curva,

A superelevação “S” é constante no espaço compreendido na curva circular, já nos

trechos de curva espiral as diferenças aumentam e diminuem de forma que este

desnivelamento vá de zero em seu início até o valor de superelevação da curva

circular.

Figura 11: Esquema demonstrativo dos pontos notáveis de uma curva e as respectivas superelevações – Fonte: Vidon 2006.

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59

5.4.4.2 NIVELAMENTO LONGITUDINAL

É a condição a qual uma única fila do trilho deve estar na mesma cota em diferentes

pontos determinados da via no sentido longitudinal, ou seja, a comparação de cotas

no alinhamento longitudinal se dá sempre no mesmo trilho e não comparando as

duas filas de trilhos como no alinhamento transversal.

5.4.4.3 ALINHAMENTO

É a distância da flecha entre dois pontos consecutivos e com distância conhecida

entre ambos de um mesmo trilho. Como o nivelamento transversal, o alinhamento é

uma medida que considera os pontos ligados na mesma fila de trilhos.

Figura 12: Ilustração da medida de alinhamento transversal e alinhamento – FONTE: VIDON 2006

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60

5.4.4.4 DEFEITOS DE GEOMETRIA DE VIA

a) EMPENO OU TORÇÃO

É um parâmetro geométrico de extrema importância sob o aspecto de segurança,

tendo em vista a rigidez do truque. O valor do empeno deverá estar sempre referido

a uma base de medição ou ser expresso por unidade de comprimento (MAIA,1978).

É o defeito de geometria formado pela diferença de nivelamento transversal entre

dois pontos. Pode ocorrer em tangente, curva espiral ou circular e são os defeitos de

Via Permanente mais mal entendidos.

O empeno também denominado Warp ocorre fora da espiral devido à perda aleatória

do nivelamento transversal, acontece em uma curva circular ou em tangente. Já a

Torção ou Twist é um defeito provocado, aparece pela inserção de superelevação

na espiral, portanto só acontece na entrada ou na saída de uma espiral.

Entretanto para o truque não há diferença alguma entre o Twist e o Warp, pois os

dois eventos geram o mesmo efeito.

Figura 13: Empeno causado pela falta de nivelamento transversal em uma tangente.

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61

Para o cálculo do desnivelamento considera-se quatro pontos sobre o boleto dos

trilhos, dois sobre cada trilho, formando um retângulo, define-se como empeno, a

distância vertical de um dos pontos ao plano formado pelos outros três.

No Track Star da MRS, utiliza-se uma base de medição de 20m para o empeno e

base de medição de 10m para a torção. A base de 20m indica a potencialidade de

instabilidade para dois truques de um mesmo vagão, enquanto que a de 10m

focaliza a questão para os dois truques mais próximos de vagões consecutivos em

uma composição.

Figura 14: Ilustração esquemática do empeno.

5.4.4.5 VEÍCULO DE CONTROLE DE LINHA

O veículo de controle de linhas da MRS, também conhecido como “Track-Star” é

responsável pela medição periódica de parâmetros estabelecidos para a geometria

da via permanente.

Dentre os parâmetros levantados e apontados pelo TEV estão:

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• Alinhamento Vertical

• Alinhamento Horizontal

• Bitola descarregada

• Bitola Carregada

• Desgaste da área de boleto

• Ângulo de ataque

Foto 14: Veículo de Controle de Linha – Fonte: MRS Logística.

Os relatórios gerados pelo Track-Star são de grande importância para a manutenção

da via permanente, pois de acordo com os parâmetros medidos em sua passagem

pelas linhas, pode-se saber o nível de qualidade da geometria da linha e também a

situação de desgaste dos trilhos e qualidade da fixação da linha.

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6. ANOMALIAS EM TRILHOS: AS FRATURAS

Anomalias em trilhos são mudanças, esperadas ou não, nas características do

material constituinte do trilho, que proporcionam a ocorrência de falhas que podem

influenciar no desempenho do trilho.

A principal e mais grave anomalia de um trilho ferroviário é a fratura. Ela é

caracterizada como a ruptura completa entre duas faces do trilho, anteriormente

ligadas. No entanto, uma fratura normalmente é advinda do crescimento de trincas e

defeitos internos do metal constituinte dos trilhos. Estas trincas evoluem, e por

conseqüência, levam ao colapso a estrutura do trilho, seccionando este em duas ou

mais partes.

As fraturas normalmente são ocasionadas pelo desenvolvimento ou crescimento de

uma anomalia interna, podendo ser antecipada pela atuação de um ou mais fatores

externos, tal como a existência de rodas calejadas no material rodante.

O desenvolvimento das trincas e defeitos internos nos trilhos deve ser observado

antes da falha do material, ou seja, previamente à fratura. Para se detectar este

evento existem técnicas que podem ser uma simples inspeção visual ou com a

utilização de modernos aparelhos de ultra-som que detectam, não somente as

trincas aparentes, como também os defeitos internos, estes os quais os que não

podem ser visualizados apenas com a visão.

As fraturas em trilhos podem ser classificadas em três partes: fraturas nos trilhos,

fraturas em soldas aluminotérmicas e fraturas em soldas elétricas.

Cabe observar que este estudo classifcará as anomalias e defeitos dos trilhos

baseando-se nos procedimentos operacionais da MRS Logística S.A.

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64

6.1. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À DIREÇÃO

As anomalias de trilhos podem desenvolver-se em apenas uma direção ou também

em direções diversas. Para melhor entendimento das direções seguidas pelas

fraturas, neste trabalho utilizar-se-á a terminologia mais comumente utilizada na

MRS Logística, sendo as direções seguidas pelos planos horizontal, vertical e

transversal conforme mostra a figura a seguir.

Plano Horizontal

Plano Vertical Plano Transversal

Figura 15: Planos de direção dos defeitos nos trilhos.

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65

6.2. CLASSIFICAÇÃO DAS ANOMALIAS

Conforme descrito anteriormente, a classificação dos defeitos expostos a seguir se baseará no manual de Procedimentos Operacionais da MRS Logística S.A., de 24/03/2008, denominado PO-SEE-0001.01.00.

Neste trabalho serão utilizas as seguintes definições em português:

• TRINCA VERTICAL NO BOLETO (VERTICAL SPLIT HEAD - VSH): É uma fratura no plano vertical que se desenvolve de modo progressivo e longitudinalmente ao centro do boleto, conforme exposta a figura a seguir, podendo atingir mais de 2m ao longo do comprimento do trilho. O crescimento desta trinca é relativamente rápido até que ela aflore em algum ponto da extensão do trilho.

Figura 16: Trinca vertical no boleto. FONTE: MRS Logística

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• TRINCA HORIZONTAL NO BOLETO (HORIZONTAL SPLIT HEAD – HSH): É uma fratura no plano horizontal que se desenvolve de modo progressivo, longitudinalmente e paralelamente ao topo do boleto, se distanciando da superfície de rolamento em no mínimo 1/3 da altura do boleto. Pode atingir mais de 20cm ao longo do trilho. O seu crescimento, ao longo do seu comprimento, é relativamente rápido, podendo, pois, mudar sua orientação para o plano transversal.

Figura 17: Trinca horizontal no boleto do trilho. FONTE MRS Logística.

• TRINCA DE PATINAÇÃO DE RODA (ENGINE BURN FRACTURE – EBF): É uma fratura no plano transversal provocada pela patinação de roda que se desenvolve logo abaixo da marca de patinação. Ela se encaminha em direção à alma do trilho e no sentido da parte externa do boleto.

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Figura 18: Patinado em trilho. FONTE: MRS Logística

• SEPARAÇÃO BOLETO ALMA (HEAD & WEB SEPARATION – HWS): É uma fratura no filamento boleto/alma que se desenvolve inicialmente no plano horizontal de modo progressivo, podendo atingir até 25 cm de extensão, e então, se encaminhar para baixo em direção ao patim.

Figura 19: Separação do boleto da alma. FONTE: MRS Logística.

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• TRINCA NA ALMA (HORIZONTAL SPLIT WEB – HSW): É uma fratura no plano horizontal que se desenvolve de modo progressivo e longitudinalmente, no meio da alma.

Figura 20: Trinca na alma: FONTE MRS Logística.

• TRINCA TRANSVERSAL (TRANSVERSE DEFECT – TD): É uma fratura no plano transversal, de modo progressivo, que se desenvolve somente na seção transversal do trilho. Inicia-se a partir de um ponto, núcleo ou imperfeição no interior do boleto ou do patim, podendo ser originada também pela má manipulação do trilho, principalmente na carga ou descarga, crescendo de forma circular, exibindo anéis de crescimento até atingir substancial porção do boleto ou da alma. Seu crescimento inicial é relativamente lento até atingir 20 a 25% do boleto evoluindo rapidamente a partir deste estágio.

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Figura 21: Trinca transversal . FONTE: MRS Logística.

• TRINCAS TRANSVERSAIS MÚLTIPLAS (TRANSVERSE DEFECT – TDX): São trincas no plano transversal, de modo progressivo, que se desenvolve somente na seção transversal do trilho, sendo consideradas múltiplas quando estiverem dentro de uma mesma barra de 12m.

Figura 22: Trincas transversais múltiplas. FONTE MRS Logística

• TRINCA NOS FUROS (BOLD HOLE CRACK - BHC): São trincas que ocorrem no plano longitudinal, que se iniciam nos furos, se propagando diagonalmente para o boleto, patim ou em direção ao outro furo.

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Figura 23: Trinca nos furos. FONTE MRS Logística

• TRINCA EM SOLDA ELÉTRICA (DEFECTIVE WELD PLANT CRACKS OUT - DWPCO): É uma trinca que se desenvolve no plano transversal ou horizontal, a partir de algum defeito interno da solda (Inclusão, incrustação e ou colapso de material).

Figura 24: Fratura em solda elétrica. FONTE: MRS Logística

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• TRINCA EM SOLDA ALUMINOTÉRMICA (DEFECTIVE WELD FIELD CRACKS OUT – DWFCO): É uma trinca que se desenvolve no plano transversal ou horizontal, a partir de algum defeito interno da solda (Inclusão, incrustação e ou colapso de material).

Figura 25: Trinca em solda aluminotérmica. FONTE MRS Logística

• SEPARAÇÃO ALMA PATIM (WEB & FOOT SEPARATION – WFS): É uma

fratura no filamento alma/patim, que se desenvolve no plano horizontal de modo progressivo, podendo atingir até 25 cm de extensão e então se encaminhar para cima, em direção a alma.

Figura 26: Trinca entre a alma e o patim. FONTE: MRS Logística

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• DEFEITOS DE FADIGA DE CONTATO (Rolling Contact Fatigue – RCF): São considerados como defeitos superficiais, geralmente provenientes de colapso ou fadiga de material e do patinado proveniente de anomalia externa. Os principais são:

Cracking: Pequenas fissuras na superfície do trilho (crack’s)

Figura 27: Cracks na superfície do trilho: FONTE: MRS Logística.

Head-Checks: Fissuração no canto da bitola

Figura 28: Fissuração no canto da bitola. FONTE: MRS Logística

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73

Flaking: Escamação de Boleto

Figura 29: Escamação de Boleto. FONTE: MRS Logística

Spalling: Estilhaçamento do canto da bitola

Figura 30: Estilhaçamento do canto da bitola. FONTE: MRS Logística

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74

Shelling: Despedaçamento do canto da bitola

Figura 31: Despedaçamento do canto da bitola. FONTE: MRS Logística

• SIDERÚRGICOS: São os defeitos oriundos do processo de manufatura do

trilho. As causas podem ser bolhas, ligas mal realizadas, entre outras. Estes

defeitos normalmente são internos e de difícil visualização a olho nu.

Entretanto, é possível perceber estas anomalias por intermédio de

equipamentos e ensaios, tais como ensaios de dureza e ultra-som.

6.3. PREVENÇÃO AS ANOMALIAS

Como prevenção aos defeitos ressaltados anteriormente podem-se tomar algumas providências, pois a malha ferroviária, e por conseqüência os trilhos, são os ativos de maior valor para a ferrovia, pois são de elevado custo de aquisição.

Algumas medidas que podem contribuir para o não aparecimento das trincas e conseqüentemente das fraturas são:

• Controle das fissuras com aparelho de ultra-som;

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75

• Melhoria da qualidade das soldas aluminotérmicas (inclusive com uso de cadinhos de solda descartáveis);

• Controle dos procedimentos operacionais das soldas aluminotérmicas;

• Controle da temperatura neutra nos procedimentos de solda e assentamento de TLS

• Controle dos procedimentos de instalação das barras de TLS;

Destacadas as formas das fraturas, o próximo capítulo destacará a técnica

denominada Árvore de Falhas que será a ferramenta que buscará as causas básicas

para a fratura de trilhos.

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7. METODOLOGIAS DE ANÁLISE DE FALHAS

7.1. ANÁLISE DE ÁRVORE DE FALHAS - FAILURE TREE ANALYSIS (FTA)

A análise de Árvore de Falhas (AAF), traduzida do inglês Failure Tree Analysis

(FTA), segundo SIMÕES FILHO (2006), foi primeiramente desenvolvida por

solicitação da Força Aérea Americana para avaliação do sistema de controle do

Míssil Balístico Minuteman, por H.A.Watson, funcionáriom dos Laboratórios Bell

Telephone, em 1961.

Consiste em uma técnica gráfica que apresenta diversas combinações das falhas

humanas e do material, com impacto em um determinado sistema. HERMAN (1995)

define a FTA como “método sistemático e padronizado, capaz de fornecer bases

objetivas para funções diversas tais como a análise de modos comuns de falhas em

sistemas, justificação de alterações em sistemas e demonstração de atendimento a

requisitos regulamentares e ou contratuais”.

Tem-se na utilização da FTA uma ferramenta para:

• Auxiliar a análise e identificação das falhas de um sistema, pois estabelece

um método padronizado de análise;

• Apontar aspectos mais relevantes de um sistema em relação a uma falha

particular;

• Melhorar a compreensão do tomador de decisão quanto ao comportamento

do sistema.

• Melhoria de um produto ou processo já em operação a partir da identificação

das causas das falhas e possibilidade de posterior bloqueio.

Sendo assim, a construção da Árvore de Falhas se dá pela elaboração do modelo

gráfico que representa os encadeamentos dos diferentes eventos que podem dar

como resultado o Evento de Topo. A análise deve ser conduzida até atingir os

eventos ou causas básicas e cuja análise não é possível detalhar ou aprofundar.

Page 77: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

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Estas causas básicas são consideradas os limites últimos e são denominados “limite

de resolução da árvore”

Depois de obtidos os conjuntos de eventos que constituem o limite da árvore de

falhas e identificadas às causas básicas, deverá ser elaborado um plano de ação

visando a diminuição das ocorrências ou exclusão destas causas.

7.1.1 ETAPAS DA FTA

Com relação às etapas da FTA, HELMAN (1995) dividiu a estruturação dessa técnica nas seguintes etapas:

• Etapa 1 - Definição do sistema, suas fronteiras e interfaces e diagrama de

blocos funcional;

• Etapa 2 - Definição do evento topo da FTA;

• Etapa 3 - Construção da FTA;

• Etapa 4 - Levantamento dos dados de falhas dos eventos;

• Etapa 5 - Determinação dos cortes mínimos;

• Etapa 6 - Avaliação qualitativa das FTA;

• Etapa 7 - Avaliação quantitativa das FTA;

• Etapa 8 - Avaliação da importância dos cortes mínimos;

• Etapa 9 - Análise dos resultados obtidos;

• Etapa10 - Conclusões.

7.1.2 ESTRUTURA DA ÁRVORE DE FALHAS

A árvore de falhas apresenta uma lógica em que o evento indesejado, ou a falha,

aparece no topo ligado aos eventos mais básicos por meio de símbolos de eventos e

portas lógicas. A árvore finaliza com os eventos considerados como causas básicas

ou fundamentais.

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78

Figura 32: Estrutura da árvore de falhas. FONTE: Helman(1995).

7.1.3 CONSTRUÇÃO DA ÁRVORE DE FALHAS

O diagrama de causa e efeito, também chamado de diagrama de Ishikawa, segundo

Helman (1995), normalmente é utilizado como primeiro passo para elaborar uma

árvore de falhas. Embora o diagrama consiga fazer a ligação entre as causas e os

efeitos, ele não fornece a relação operacional entre as mesmas. Estas relações são

dadas pelos caminhos das portas lógicas e símbolos, conforme figuras a seguir.

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SÍMBOLO SIGNIFICADO

Eventos que sãosaídas de portas

lógicas

RETÂNGULO

Eventos associadosa falhas básicas ou

primárias

CÍRCULO

Eventos nãorealizados(omitidos)

DIAMANTE

Parâmetro associadoa um evento que deve

ser monitorado

CASA

Evento condicional:usado em janelas de

inibição

OVAL

Indica a conexãocom outro evento

TRIÂNGULO

SÍMBOLOS DE EVENTOS

Figura 33: Símbolos de Eventos da FTA. Fonte: Helman (1995).

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SÍMBOLO NOME RELAÇÃO CAUSAL

Evento de saída que só ocorre se todos osde entrada ocorrerem

Evento de saída ocorrese pelo menos um dos

de entrada ocorrer

Evento de entrada sóconduz ao de saída seo condicional ocorrer

Evento de saída ocorrese os de entrada

ocorrerem na ordem da esquerda para a

direita

Evento de saída ocorrese um, mas não ambos,dos de entrada ocorrer

Evento de saída ocorrese M em N dos de entrada ocorrerem

M em N

SÍMBOLOS DE PORTAS LÓGICAS

E

OU

INIBIÇÃO (CONDICIONAL)

E DE PRIORIDADE

OU EXCLUSIVA

m

n

Figura 34: Símbolos das portas lógicas. FONTE: Helman (1995).

Page 81: análise de falhas das fraturas de trilhos: o caso da ferrovia do aço

81

7.2. ANÁLISE DE MODOS DE FALHAS E EFEITOS - FAILURE MODES & EFFECTS ANALYSIS (FMEA)

A técnica denominada FMEA (Failure Mode and Effect Analysis) objetiva a avaliação

e minimização dos riscos por meio da análise das possíveis falhas, determinando a

causa, o efeito e o risco de cada tipo de falha, além de propostas de melhoria para

aumentar a confiabilidade. O objetivo básico desta ferramenta é a redução das

chances do produto ou processo falhar durante sua operação, ou seja, busca-se

aumentar a confiabilidade.

SUCENA (2002) trata o termo Confiabilidade como à probabilidade de que uma

unidade observada satisfaça as exigências necessárias à finalidade de uso, sem a

ocorrência de falhas, de acordo com os limites preestabelecidos em projeto,

mantendo suas características técnicas por um período determinado.

A confiabilidade, como dimensão de qualidade, tem se tornado cada vez mais

importante para as empresas, pois a falha, mesmo que rapidamente reparada,

causa, no mínimo, a paralisação de algum tipo de serviço ou produto, ocasionando,

quase sempre, custos adicionais e insatisfação dos clientes internos ou externos das

empresas.

As principais aplicações da FMEA segundo HELMAN (2005) são:

• Diminuir a probabilidade da ocorrência de falhas em projetos de novos produtos ou

processos;

• Diminuir a probabilidade de falhas potenciais, ou seja, que ainda não tenham

ocorrido, em produtos/processos já em operação;

• Aumentar a confiabilidade de produtos ou processos já em operação por meio da

análise das falhas que já ocorreram;

• Diminuir os riscos conhecidos.

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82

7.3. ANÁLISE DE MODOS DE FALHAS E EFEITOS CRÍTICOS - FAILURE MODES & EFFECTS AND CRITICAL ANALYSIS (FMECA).

A Análise da Criticidade e dos Modos de Falha (Failure Modes an Criticality Analysis

- FMECA), assim com a FMEA, se preocupa com a análise detalhada dos

componentes críticos de um sistema, buscando-se a decomposição dos sistemas

em modos de falha simples, conseqüências e medidas, de forma quantitativa e

qualitativa, com o objetivo de identificar os modos de falhas e seus potenciais efeitos

críticos.

Tanto a FMEA como a FMECA são bastante eficientes quando aplicadas a sistemas

mais simples e de falhas mais singelas porém, quando a complexidade é maior,

recomenda-se o uso de outras técnicas, como por exemplo, a Análise de Árvore de

Falhas – AAF.

7.4. ANÁLISE DE OPERABILIDADE DE PERIGOS - HAZARD A ND OPERABILITY STUDIES (HAZOP)

A Análise de Operabilidade de Perigos (Hazard And Operability Studies - HAZOP) é

definida como o estudo de identificação de perigos e operabilidade. É uma técnica

de análise qualitativa desenvolvida com o intuito de examinar as linhas de processo,

identificando perigos e prevenindo problemas. Porém, atualmente, a metodologia é

aplicada também para equipamentos do processo e até para sistemas.

Esta técnica é indicada para a implantação de novos processos na fase de projeto

ou nas modificações de processos existentes. Geralmente, neste tipo de estudo, são

detectados mais problemas operacionais do que identificados como perigosos. Este

não é um ponto negativo da metodologia, muito pelo contrário, aumenta sua

importância, pois a diminuição dos riscos está muito ligada à eliminação de

problemas operacionais.

A eliminação dos problemas operacionais recai numa conseqüente diminuição do

erro humano, decrescendo assim o nível de risco. Entretanto, é impossível eliminar

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qualquer perigo que seja sem antes ter conhecimento do mesmo, sendo justamente

este risco que pode ser detectado pelo HAZOP.

8. INVESTIGAÇÃO DAS FRATURAS NA FERROVIA DO AÇO

8.1. MANUTENÇÃO DE VIA PERMANENTE

Segundo SUCENA (2002), manutenção é uma atividade estratégica que contribui

para a melhoria dos níveis de performance de qualquer sistema disponível para

operação, garantindo qualidade, segurança e preservação do meio ambiente de

acordo com padrões pré-estabelecidos. Buscam-se, com esta, melhores resultados

da produtividade do sistema com qualidade da operação a custos competitivos.

Baseada neste conceito, atualmente a Gerência de Via Permanente de Bom Jardim

de Minas – (GVPOJ), que é responsável pela manutenção da via permanente no

trecho entre o Km 3+000 e o Km 292+000 da Ferrovia do Aço – (FA), busca a

manutenção de forma a garantir a maior disponibilidade e segurança da VP,

causando o menor impacto a circulação dos trens. Todavia, o fator que gera a maior

interrupção da disponibilidade da malha sob a responsabilidade da GVPOJ é a

fratura de trilhos onde no ano de 2007, ocorreram 226 fraturas. A classificação

quanto aos tipos de fratura é mostrada na tabela 9 e no gráfico 2 a seguir:

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Tipo de Fratura Total %

Solda Aluminotérmica 126 56%

Solda Elétrica 25 11%

Trilho 75 33%

Soma 226 100%

Tabela 9: : Número de fraturas da GVPOJ em 2007 – Fonte MRS Logística

56%

11%

33%

Solda Aluminotérmica Solda Elétrica Trilho

Gráfico 2: Divisão entre os tipos de fraturas da GVPOJ em 2007

Esta tabela e gráfico mostram que atualmente a fratura em soldas aluminotérmicas é

o principal tipo de anomalia de trilhos na GVPOJ. Esta simples verificação auxilia na

decisão do corpo gerencial da empresa de realizar a análise das causas dessas

fraturas e estabelecer planos para prevenir as causas que ocasionam este tipo de

fratura.

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8.2. APLICAÇÃO DE METODOLOGIA DE ÁRVORE DE FALHAS P ARA AS FRATURAS

Conforme descrito no capítulo anterior, a análise de falhas por meio de metodologia

de árvore de falhas se dá a partir do estabelecimento do “evento topo”, buscando-se

os eventos subseqüentes até se encontrar o(s) evento(s) básico(s).

Neste estudo, tomar-se-á como “evento topo” a fratura de trilhos e também,

seguindo-se a construção da árvore de falhas com a estruturação de um diagrama

conhecido como Diagrama de Ishikawa.

O diagrama de Ishikawa, também conhecido como diagrama de “Causa e Efeito”, ou

ainda como diagrama “Espinha de Peixe”, é uma ferramenta gráfica utilizada para o

gerenciamento e controle de qualidade de processos e produtos. Foi inicialmente

proposto em 1943 pelo engenheiro químico japonês Kaoru Ishikawa.

Ishikawa estrutura hierarquicamente as causas de determinado problema ou

oportunidade de melhoria, bem como seus efeitos sobre a qualidade dos produtos.

Permite também estruturar qualquer sistema que necessite de visualização de forma

gráfica e sintética.

As figuras abaixo são o desenvolvimento do diagrama de Ishikawa para a fratura de

trilhos e a proposta de árvore de falhas, onde o evento topo é a fratura de trilhos.

Pode-se notar que a árvore de falhas proposta apontou um total de vinte e seis

causas que podem únicas ou contribuitórias,ou seja, esses eventos podem ocorrer

simultaneamente ou em separado pois todos são de mesma ordem, isso significa

que possuem o mesmo grau de criticidade.

Salienta-se ainda que na árvore de falhas obtida na análise de fratura de trilhos há

uma porta "OU EXCLUSIVA" logo abaixo do evento topo, significando que o evento

de saída ocorrerá se um, mas não mais que um eventos ocorrer. Isso significa que a

fratura ocorrerá, mas existirá uma segregação com relação aos tipos de fraturas: em

solda aluminotérmica, em solda elétrica e em trilho.

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Outro ponto importante a destacar na árvore de falhas resultante da análise da

fratura de trilhos é a utilização do elemento gráfico “SAÍDA CONDICIONAL”. Este

objeto gráfico foi empregado quando ocorrem fraturas por fadiga, tanto em soldas

quanto em trilho, devendo ser obedecida a condição de passagem de carga de

trens.

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ESTRUTURA DO TRILHO MANUTENÇÃO

OPERAÇÃO MANUTENÇÃO

FABRICAÇÃO DO TRILHO

MEIO AMBIENTE

FRATURAS

Tipo de Trilho-Elevado desgaste

Tipo de Trilho-Fadiga elevada Carga por eixo

Problemas de solda, alinhamento, esmerilhamento

Soldagem - porção de solda inadequada

Soldagem- inclusão de materiais externos

Baixa dureza do trilho - Desgaste Vertical ou Perda da área do Boleto

Tensões Residuais - Fraturas

Problemas MetalúrgicosProlemas Internos (Vazios)

Frequência de Lubrificação - excesso de desgaste

Limpeza de lastro - aumento de rigidez da via

Esmerilhamento -inadequado

Intervalos de Inspeção - falta da manutenção adequada

Transporte, Carga/ Descarga de Trilhos inadequados

Falta de alívio de tensão

Soldas indequadas ou mal executadas

Superelevação Inadequada

Socaria e nivelamentos Inadequados

Dormentação ruim/faltanteTrilho Fadigado-Alta MTBT

Propagação de defeitos internos por Fadiga/Desgaste

Tráfego Unidirecional

Contato Roda Trilho

Patinação - Lubrificação excessiva

Patinação- Rampa acentuada

Roda calejada (material rodante)

Chuva/Ventos fortes-Resfriamento Rápido-Soldas

Ambiente Agressivo-Alta corrosão

Região com presença de água

Variação de temperatura intensaFlambagens e Fraturas

Figura 35: Diagrama de Ishikawa proposto tendo como efeito a fratura de trilhos

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Figura 36: Árvore de falhas proposta para evento de Fratura de trilhos

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9. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Como citado ao longo deste trabalho, as fraturas de trilhos são

anomalias prejudiciais ao sistema Via Permanente e, conseqüentemente,

a ferrovia como um todo. Esta anomalia deve ser combatida de forma que seja

eliminada, ou no mínimo, diminuída drasticamente.

Mas esta não é uma tarefa fácil, pois conforme a árvore de falhas resultante deste

trabalho, exposta na figura 36, os trilhos estão sujeitos a diversos fatores que o

degradam, principalmente devido ao tráfego ferroviário.

Atualmente, o grande dilema do setor ferroviário é: "Como manter os equipamentos

e materiais e ao mesmo tempo aumentar a disponibilidade dos ativos para o

transporte de cargas". A resposta é complexa, mas sem dúvida passa pela melhoria

da confiabilidade dos elementos dos sistemas.

A análise de falhas de fraturas de trilhos, objeto deste trabalho, foi calcada na

técnica Árvore de Falhas. Indentificaram-se vinte e seis falhas básicas, ou seja,

àquelas que proporcionam o acontecimento da falha topo. Cabe destacar que todas

apresentaram a mesma ordem, isto é, elas têm o mesmo grau de criticidade, e

devido a isso, se qualquer uma dessas vinte e seis falhas básicas ocorrerem, o

evento topo também acontecerá.

Pela análise da árvore de falhas avaliou-se que, na verdade, as fraturas de trilhos

podem ser distinguidas segundo o tipo de ocorrência, sendo fraturas em trilho, em

solda aluminotérmica ou em solda elétrica. Isso foi representado pela porta lógica

“ou exclusiva” logo após a falha topo, responsável pela segregação dos eventos.

Analisando ainda a árvore de falhas, conclui-se que as fraturas causadas por fadiga,

poderão ocorrer se, e somente se, a condição de alto tráfego for obedecida. Esta

condição é utilizada para os três tipos de fraturas existentes e é representada pelo

elemento gráfico de “saída condicional”.

A análise da árvore de falhas retratou também que as fraturas de trilhos são

anomalias que possuem várias falhas básicas, e por este motivo, trata-se de uma

falha de difícil manutenção preventiva. Por isso mesmo, e também pela possibilidade

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de prejuízos operacionais e ambientais, faz-se necessária a continuidade deste

estudo para aumentar o nível de conhecimentos sobre este fenômeno.

Sendo assim, recomenda-se para desenvolvimento do estudo deste tema a

hierarquização das falhas básicas apresentadas, com posterior análise quantitativa

dos índices de criticidade de cada nível hierárquico. Este índice poderá indicar as

maiores possibilidades de falhas, auxiliando as tomadas de decisões da manutenção

de Via Permanente sobre em qual componente deve-se intervir prioritariamente.

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10. BIBLIOGRAFIA

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