anais do 3o simpósio paranaense de design sustentável

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Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável 2

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A Universidade Estadual de Londrina - UEL, em parceria com a Pró-Reitoria de Extensão e os cursos de Design Gráfico e Design de Moda, têm a satisfação de comunicar que sediará, pela primeira vez no interior do Estado do Paraná, a terceira edição do Simpósio Paranaense de Design Sustentável, o principal evento de divulgação, reflexão e discussão da produção científica em design e sustentabilidade do Estado.

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Local:

Data:

Comissão Organizadora:

Site:

Contato:

Organização e Edição:

Projeto Gráfico:

ISSN:

Universidade Estadual de Londrina - UEL Auditório do CESA - Centro de Estudos Sociais Aplicados. Rodovia Celso Garcia Cid/PR 445, KM 380 - Campus Universitário, Londrina - PR,

15/09/2011, das 8:00h às 12:00 e das 13:30 às 18h.

Prof. MsC. Claudio Pereira Sampaio Profa. Dra. Suzana Barreto Martins

www.sites.google.com/site/progsuel/eventos/3ospds

(43) 3371-4479

Prof. MsC. Claudio Pereira Sampaio

Fernando Cacciolari Menezes

2176-4093

*O CONTEÚDO DOS ARTIGOS É DE INTEIRA E EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE DOS AUTORES.

Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável

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Moda e Sustentabilidade

Design de produto, gráfico,inovação e sustentabilidade

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Moda e artesanato parceria possível para inovaçãoProfa. Dra. Ana Mery Sehbe De Carli

Transformando resíduo em benefício social - Banco de VestuárioProfa. Gilda Eluísa De Ross

Modelo produtivo sustentável: aproveitamento de retraços têxteis na região de LondrinaLílian Lago, Profa. MsC. Ana Luisa Boavista Lustosa Cavalcante

Sustentabilidade no campo de estágio: a utilização de retalhos de renda e o “novo luxo”Larissa Avanço de Souza, Profa. MsC. Lucimar de Fátima Bilmaia Emidio

O Jeans e o Design para o Meio Ambiente: alguns caminhos para a sustentabilidade na modaMariana Dias de Almeida, Profa. Dra. Mônica Moura

Design Brasileiro Contemporâneo e a Sustentabilidade: algumas vertentesProfa. Dra. Mônica Moura, Profa. Dra. Cyntia Malaguti

Mesa de centro em bambu laminado colado e fibra de cocoBruno Perazelli Farias Ramos, Prof. Dr. Marco Antonio dos Reis Pereira, Ivaldo D. Valarelli

Design Sustentável com o BambuCamila Kiyomi Gondo, Prof. Dr. Marco Antonio dos Reis Pereira

Desenvolvimento de mobiliários de bambu laminado colado sob conceitos de EcodesignHugo Hissashi Hayashi Hisamatsu, Prof. Dr. Marco Antonio dos Reis Pereira

Desenvolvimento de mobiliário em bambu laminado sob os conceitos de ecodesignMariana Lourenço, Prof. Dr. Marco Antonio dos Reis Pereira

Sumário

Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável

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Design solidário, extensão e geração de rendaSabrina Antunes Saboya, Prof. Dr. Marco Antonio dos Reis Pereira

Vinicultura sustentável: Desenvolvendo objetos com resíduos de videiraDesiree Fernanda Nascimento Rodrigues, Profa. Dra. Cleuza Bittencourt Ribas Fornasier

Aspectos de sustentabilidade em embalagens de exportaçãoProf. MsC. Claudio Pereira Sampaio, Esp. Aline Horie, Esp. Andressa Lohr Lavanderia Ecotêxtil: proposta de sistema produto-serviço para cuidado com as roupas em um campus universitárioFlora Moura Chaves, Timeni Andrade Gonçalves Pontes, Prof. MsC. Claudio Pereira Sampaio, Profa. Dra. Suzana Barreto Martins

Energia gerada pelo próprio usuário: possível aplicação baseada no FESSFabiano Burgo, Prof. Dr. Dalton Razera

As possíveis contribuições da antropologia para o desenvolvimento de bens e serviços para a sustentabilidadeEsp. Mariana França Ordacowski, Prof. MsC. Claudio Pereira Sampaio

A colaboração no design de abrigos de emergência: relato de uma pesquisa-açãoCarolina Daros, Ivana Marques da Rosa, Prof. Dr. Aguinaldo dos Santos, Prof. Dr. Adriano Heemann

Uma experiência no ensino de design de sistemas orientados à sustentabilidadeProfa. MsC. Jucelia S. Giacomini da Silva

Sumário

Anais do 3° Simpósio Paranaense de Design Sustentável

Design de produto, gráfico,inovação e sustentabilidade

Novos caminhos do design para a sustentabilidade

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Moda e Sustentabilidadehttp://www.centerfabril.com.br/index.php/algodao-cru-2.html

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Moda e artesanato parceria possível para inovação

Profa. Dra. Ana Mery Sehbe De CarliUniversidade de Caxias do Sul - [email protected]

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Introdução

O design de moda atual apresenta diversas parcerias entre designers, artesãos e indústria, que têm apontado para soluções inovadoras. Dentre elas podem ser citadas: - Myrian Melo e Redley: a designer e artesã Myrian Melo, de Minas Gerais, desenvolve criações de patchwork, quilt e bordados para a moda; dá aulas e pesquisa sobre o tema, desenvolvendo um trabalho autoral, que lhe abriu as portas para a prestação de serviço de consultoria a vários segmentos. A marca Redley, por sua vez, surgiu em 1985 com a primeira coleção masculina e com o lançamento do clássico tênis-iate. Em pouco mais de 5 anos, a Redley firmou seu estilo representando, de forma autêntica e inovadora, o desejo de jovens na década de 90. Hoje, a cultura de praia, as paisagens naturais, os esportes, a praticidade e o conforto são elementos que inspiram a marca. Em uma parceria acertada há algumas estações, Mello elabora tecidos aplicando a técnica de patchwork e quilt, e a marca Redley faz a modelagem, corta e monta as peças no tecido trabalhado, com excelente resultado no quesito inovação. - Helen Rödel e 2nd Floor: a designer e artesã Helen Rödel destaca-se entre os designers de moda de sua geração, pela utilização de técnicas manuais, como o crochê e o tricô. Na semana de moda islandesa (2009), a estilista apresentou uma coleção com a marca Rödel, iniciando sua caminhada com moda autoral. Além de produzir suas próprias peças, Rödel tem parceria com a 2nd Floor, marca jovem da Ellus. Na coleção de inverno 2010 da 2nd Floor, para a São Paulo Fashion Week, Rödel foi chamada para desenvolver um acessório de cabeça em crochê, daí surgiram cabeças esculturais de animais como coruja, raposa, morcego. Todas as peças foram feitas com lãs

nobres, como alpaca, ovelha e fios suaves de mohair e angorá. As peças foram estruturadas com maleáveis armações metálicas, que deram forma e permitiram a construção tridimensional. Da própria Rödel ouvimos a importância da interação entre o artesanato e o design de moda para a criação de peças originais:

Penso que as técnicas manuais são o passado, e agora são o futuro. São artes tradicionais e de infinitas possibilidades para qual eu oferto a minha visão. Essa fantástica combinação de uma agulha, fios, mãos e mente presente me encanta sobremaneira e meu esforço em renovar a técnica é, além de realização pessoal e crença, uma vontade sincera de que a técnica se mantenha viva carregando consigo a mudança dos tempos. (RÖDEL, 2010)

Hoje Rödel faz parte do rol de designers que trabalham os novos valores para a moda e, no ínicio de 2011, fez sua estreia no Dragão Fashion Brasil. (USEFASHION, 2011). - Coopa-Roca: é um projeto que busca integrar técnicas artesanais valiosas, das artesãs da Favela da Rocinha (RJ), aos processos industriais. Tetê Leal (2007), coordenadora executiva da Coopa-Roca, diz que o impulso para a criação da cooperativa foi identificar que grande parte das mulheres da Rocinha eram provenientes do Nordeste e dominavam preciosas técnicas artesanais; a seguir foi reconhecer que na moda existe um campo enorme de oportunidades para ampliar o impacto do artesanato associado aos produtos industriais. A Coopa-Roca tem, aproximadamente, cem cooperativadas e desenvolve projetos em moda, design e arte, com parceiros como: Osklen, M. Officer, Irmãos Campana e outros. (DE CARLI, 2009, p.77).

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A produção artesanal da região da Serra gaúcha tem um saber-fazer especializado e de conhecimento ancestral valioso, porém é apegada ao costume, à repetição. Os produtos que estão à venda nas feiras normalmente estão ligados às atividades domésticas e, apesar do primoroso trabalho, não recebem a devida valorização no preço de venda. As carências importantes para o artesanato da região são: atualização, atenção às tendências da moda, parcerias com a indústria e informações que atendam às necessidades do mercado. (2010a)

A Universidade pode ser a mediadora de encontros entre a potencialidade do fazer artesanal e os valores afetivos e emocionais desejados pelo consumidor dos produtos de moda atuais. Os empresários também precisam ser sensibilizados. Em Caxias do Sul, segundo dados da Prefeitura Municipal, existem 2000 artesãos e mais de 15 associações que promovem o artesanato e outros serviços manuais, e 85 clubes de mães cadastrados na Associação de Clubes de Mães de Caxias do Sul (ACMCS), conforme informação da presidente Marlene Panassolo, em 23 de agosto de 2011. Os dados referentes ao artesanato reforçam aqueles em relação às indústrias do setor têxtil e do vestuário, pois ambos são significativos. Os municípios que compõem o Polo de Moda da Serra Gaúcha: Caxias do Sul, Farroupilha, Flores da Cunha, Guaporé, Nova Petrópolis e Carlos Barbosa, são economicamente importantes na região; dados contabilizam 879 empresas atuantes no setor, oportunizando 5.761 postos de trabalho; na sua maioria, são fabricantes de artigos de vestuário. (MINISTERIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2008). Os números acima e as interações possíveis entre artesanato e empresas de moda representam um potencial a ser explorado. Na agenda da sustentabilidade, que ultrapassa fronteiras, a moda, a política e a sociedade constituem juntas

O potencial do contexto geográfico e social Com base na constatação de parcerias bem-sucedidas, entre designers, artesãos e indústria, e sabendo que a região da Serra gaúcha tem um artesanato muito rico, graças à sua colonização, na maior parte italiana e alemã, iniciou-se, em 2010, um projeto de pesquisa na Universidade de Caxias do Sul, que visa à aproximação entre as vertentes criativas do artesanato, delineando inovações para a moda, agora mais à vontade para explorar sua identidade e suas raízes. Depois de um vasto período de supervalorização daquilo que é estrangeiro, daquilo que é internacional no campo da moda, o segmento têxtil da região da Serra gaúcha também volta os olhos para o “seu quintal”, promovendo hibridizações entre tramas manuais trazidas pelos imigrantes europeus e cultivadas por seus descendentes e novidades e tecnologias globais da moda. Na atual globalização é importante que as empresas adquiram o hábito da autorreflexão, buscando a compreensão da sua presença no mercado onde atuam, aprofundando e entendendo sua identidade geográfica afim de explicitá-la. A empresas precisam expressar o espírito do lugar, isto é o genius loci, um caráter ou uma personalidade (MORACE, 2007,p.17). O momento é propício para projetos inovadores contando com a abertura das empresas e a atualização da cultura das tramas, que permaneceu na maior parte inalterada em suas aplicações. Em casa poderemos aproveitar a lição da “estratégia do colibri”, metáfora que Morace (2007,p.19) usa para falar da polinização criativa entre as culturas, que tem sido uma constante nas dinâmicas sociais contemporâneas. De Carli, argumenta a favor de ações conjuntas entre o curso de Design de Moda e os artesãos, apontando para soluções criativas para o artesanato e para a moda:

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um berçário para a economia solidária, que, segundo França Filho (2001), traduz-se por uma florescência de práticas socioeconômicas, visando propor, a partir de iniciativas locais, serviços de um novo tipo, designados sob o termo de “serviços solidários”. Outrora, esses serviços eram produzidos no seio da esfera doméstica e, mais recentemente, envolvem a questão da mediação social nos bairros, e estão vinculados à ideia de melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente local. Da descrição dessas práticas e experiências surge o conceito de economia solidária:

São iniciativas locais portadoras de um caráter novo relativo ao mesmo tempo, ao seu modo de funcionamento e a sua finalidade. Estas experiências reúnem usuários, profissionais e voluntários, preocupados em articular criação de emprego e reforço da coesão social, ou geração de atividades econômicas com fins de produção do chamado liame social (ou dos laços sociais), ou simplesmente geração de atividades econômicas com finalidades sociais. (FRANÇA FILHO, 2001)

Economia solidária e sustentabilidade social andam lado a lado, e alguns trabalhos realizados no Brasil, em diferentes regiões, mostram como essas parcerias podem dar certo. A designer Heloisa Crocco (2010, p.75-79) relata objetivos, princípios e metodologia do Projeto Piracema, que busca a aproximação entre o design e o artesanato, por meio de um conjunto de ações, como: seminários teóricos, trabalhos práticos e vivências criativas, que envolvem designers, artesãos e estudantes. O objetivo é instrumentalizá-los para uma troca de saberes, trazendo para o design o conhecimento da tradição e, para o artesanato, sua ampliação como atividade sustentável.

Crocco diz que as principais preocupações do projeto incluem o aperfeiçoamento da qualidade da produção artesanal, a permanência da tradição e a melhoria das condições sociais dos artesãos, promovendo a inserção competitiva do artesanato no mercado, proporcionando o desenvolvimento sustentável da atividade artesanal, pelo fortalecimento dos pequenos negócios.

Oficina de protótipos: moda vestuário e moda casa

Reconhecendo a potencialidade da região da Serra gaúcha, em desenvolver um trabalho conjunto com a Universidade de Caxias do Sul, empresas privadas, Poder Público (municipal e estadual) e elencando experiências de sucesso no Brasil e no mundo dos projetos de economia solidária, surgiu a Oficina de Protótipos: Moda Vestuário e Moda Casa, em 2010. A intenção do Pró-Moda, sigla que identifica o projeto, é promover oficinas integrando artesãos, designers, professores e acadêmicos do curso de Design de Moda da UCS, para a criação de produtos de moda casa e moda vestuário com valor agregado do artesanato. O bom andamento do projeto deve-se à união de vários segmentos da sociedade, na execução das metas propostas. O primeiro apoiador foi a Secretaria da Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico (SCT) - RS, que aprovou o projeto e integralizou apoio financeiro significativo para a compra dos equipamentos necessários à confecção dos produtos. Outros apoiadores são: o Polo de Moda da Serra Gaúcha, que, além de facilitar o contato direto com as empresas, permite o acesso aos resíduos têxteis do Banco do Vestuário. A Fundação de Assistência Social (FAS), a Coordenadoria da Mulher e a Secretaria do Desenvolvimento Econômico do Trabalho e Ação Social colaboram na divulgação do projeto, na seleção dos artesãos,

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bem como no primeiro encontro dos artesãos para a sensibilização da proposta e para o trabalho em equipe. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), por sua vez, disponibiliza um consultor para palestras sobre o empreendedor individual e sobre a formação de associações e cooperativas, que fortificam e representam a especialidade de grupos. As empresas privadas fornecem a matéria-prima para os protótipos e ainda participam do encontro de teor prático entre artesãos e designers. A meta é desenvolver de oito a quinze peças de moda vestuário e, a mesma quantidade de protótipos de moda casa no final de cada oficina. O objetivo geral da oficina é testar novas práticas para a produção de moda, as quais priorizem a sustentabilidade social e a inclusão, com vistas ao desenvolvimento de metodologias para projetos de economia solidária. Apresenta ainda objetivos específicos que são: a) implantar oficinas experimentais que agreguem artesanato a produtos industriais de moda; b) reutilizar resíduos têxteis em produtos reciclados criativos, integrando artesãos e costureiras ao mercado de trabalho; c) proporcionar aos alunos possibilidades de criação e desenvolvimento de produtos de moda frente aos novos valores de sustentabilidade econômica, ambiental e social; d) registrar o desenvolvimento das oficinas, formando bases de dados e informações para publicação de artigos sobre economia criativa. Em atenção aos objetivos, foram desenvolvidas, até a presente data três oficinas, duas em 2010 e uma no primeiro semestre de 2011. A metodologia de desenvolvimento utilizada e testada em três oportunidades tem demonstrado ser compatível com os objetivos a serem alcançados. São quatorze encontros, de três a quatro horas cada um, que acontecem duas vezes por semana, quando são trabalhados os assuntos de caráter teórico como: identidade cultural da região, composição

e aprimoramento estético, empreendedorismo, trabalho em equipe, associativismo e cooperativismo. Para as atividades práticas de desenvolvimento de protótipos utilizam-se as referências do capítulo Gestão do design, de Treptow (2003, p. 91 a 201) e as do capítulo Projeto de moda de Jones (2005, p.166 a 182). As etapas são: pesquisa de tendência, estado da arte do artesanato na moda, visita para reconhecimento das técnicas artesanais dos imigrantes (museus e mostras), pesquisa e escolha do tema de coleção, materiais, cores, estudo das especialidades artesanais dos oficineiros e sua utilização nas propostas de produto, quadro de coleção, execução e apresentação dos resultados em mostra ou desfile. É necessário lembrar que a relação com o artesão em oficinas e cursos não comporta imposições. O clima de troca e respeito mútuo, reconhecendo os valores de cada um, é condição básica para a interação. Algumas melhorias foram realizadas da primeira para a segunda oficina, e da segunda para a terceira, como a limitação na linha de produtos, diminuição no número de modelos, de tecidos e cores serem trabalhados por coleção. Considerando que o aprendizado da modelagem não é o foco da oficina, a dedicação se volta para as características estético-formais advindas da possibilidade de misturar as tramas artesanais, os bordados e as aplicações aos tecidos ou às malhas da produção industrial. O cronograma das oficinas está descrito no quadro 1. A sequência planejada das aulas teóricas busca dar informações e conhecimentos básicos para o desenvolvimento de coleção, valorizar as técnicas milenares do artesanato, compartilhar saberes, incentivar o trabalho em equipe e, a partir do oitavo encontro, a equipe e os oficineiros trabalham concentrados na execução dos os protótipos.

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Encontro Atividade

Seminário: Dinâmica de integração e motivação da equipe, apresentações e expectativas. Mostra dos trabalhos individuais. Ministrante: psicóloga e assistente social da FAS.

2°Seminário: História e novos rumos do artesanato: crochê, macramé, tricô, aplicações decorativas. Ministrantes: bolsistas

Seminário: Cultura e identidade da região. Ministrante: pesquisadora do curso de Design de Moda Visita ao Museu Municipal ou ao acervo Documenta com foco nos artesanatos dos imigrantes. Monitoria: guia do museu.

5° Palestra – Associativismo, cooperativismo. Empreendedor individual. Ministrante: consultor do SEBRAE

6°Oficina de aprimoramento estético: cor, forma, textura, relevo, composição, harmonia. Tema de coleção. Ministrante: professora de Artes Visuais

Estudo e definição: tema de coleção, grupos de trabalho, artesanatos, propostas de criação individual, cartela de cores, combinações, padronagens. Equipe: designer, professora do curso de moda, bolsistas, técnica de costura.

Estudo e definição: tipo de produto e moldelagem, materiais, cores, mix de produtos. Exercício: desenho de croquis, e definição do quadro de coleção. Equipe identificada no 7º encontro.

9°Modelagem e corte de protótipos: moda casa. Análise das propostas individuais. Elaboração da ficha técnica. Equipe identificada no 7º encontro.

10°Fabricação de protótipos: Moda casa. Avaliação dos modelos em desenvolvimento. Equipe identificada no 7º encontro.

11°Modelagem e corte de protótipos: Moda vestuário. Análise das propostas individuais. Elaboração da ficha técnica. Equipe identificada no 7º encontro.

12°Fabricação de protótipos. Moda Vestuário. Ficha técnica. Avaliação dos modelos em desenvolvimento. Equipe identificada no 7º encontro.

13°Reunião interna de feedback; Apresentação interna da coleção moda vestuário e moda casa. Avaliação. Equipe identificada no 7º encontro.

14°

Reunião de planejamento e organização da apresentação das coleções de moda casa e moda vestuário e definição da entrega dos certificados. Equipe identificada no 7º encontro.

Análise de resultados Terminada a oficina, é importante reunir os artesãos para avaliação. Do ponto de vista dos oficineiros, as manifestações foram positivas em quase todos os aspectos. As vantagens ressaltadas foram a experiência do trabalho em equipe e a troca de conhecimento entre os colegas, os professores e as bolsistas. Os artesãos foram unânimes a respeito da importância das aulas teóricas e apontaram que alguns encontros, como identidade regional, aprimoramento estético e processo criativo, poderiam ser prolongados. Reclamaram da falta de tempo para a aula de custo e formação de preço. É importante também a avaliação dos professores envolvidos e das bolsistas, que salientaram questões que

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precisam ser equacionadas como: a necessidade de uma costureira pilotista, que domine todas as operações de montagem dos protótipos; presença dos professores envolvidos na parte prática da oficina no primeiro dia de aula para as apresentações. Os professores concordam com as sugestões dos oficineiros quanto à necessidade de mais tempo para criação, assim como para aula de custo e formação de preços. Quanto ao planejamento da coleção, será necessário diminuir tipos de matérias-primas, número de cores, reduzindo consequentemente os aviamentos, e privilegiando o artesanato agregado ao protótipo. O tema de coleção deverá ser mais específico, para que a unidade da coleção seja visível. Quanto aos instrumentos de especificação, será necessário elaborar uma ficha técnica simplificada e de fácil entendimento para o artesão. Um problema que preocupou, na oficina desenvolvida de outubro a dezembro de 2010 foi a evasão: iniciaram quinze artesãos e concluíram sete. Creditamos a desistência, em primeiro lugar, à época próxima do Natal, que é um período de trabalho intenso para o artesão; em segundo lugar à dificuldade do artesão para o trabalho em equipe, reafirmando seu hábito para o trabalho individual. Por esse motivo, acreditamos que o encontro com a psicóloga e assistente social possa ser dividido em dois momentos: no início da oficina e depois de transcorridos cinco encontros, quando podem aflorar dificuldades de relacionamento. Para solucionar a questão da evasão, foram realizadas entrevistas individuais no momento da inscrição dos artesãos para a terceira oficina (maio, 2011), buscando o comprometimento dos candidatos em iniciar e terminar o curso. O empenho da equipe do projeto em aprimorar a gestão da Oficina de protótipos é visível tanto nas reuniões sistemáticas de avaliação, como nas medidas corretivas que são prontamente adotadas.

A apresentação para o público da coleção, em desfile ou mostra, que ocorre após o encerramento da oficina, é um momento muito importante, pois eleva a autoestima dos artesãos. Os produtos são o resultado do esforço individual e coletivo. Na primeira oficina o desfile foi realizado no Zarabatana Café no Centro de Cultura Municipal Dr. Henrique Ordovás; o segundo desfile aconteceu na Feria de Natal do Artesão Caxiense, no Largo da Estação, junto a Secretaria de Cultura, e o terceiro deverá acontecer no final de setembro. A entrega de certificados também ocorre em evento especial no termino das oficinas. Os resultados que atendem aos objetivos acima citados foram parcialmente atingidos. O artesanato foi devidamente valorizado como detalhe nos produtos de moda; resíduos têxteis foram utilizados em alguns protótipos; os bolsistas tiveram a oportunidade de crescimento acadêmico, profissional e pessoal na participação em congressos, no desenvolvimento das oficinas e na compreensão das relações de trabalho; relatos de caso foram apresentados em eventos de moda como no Colóquio de Moda de 2009 e 2010, e no IV Simpósio Nacional de Moda e Tecnologia de 2011, e na revista eletrônica Redige, do Senai Cetiqt/RJ, dando publicidade à Oficina de protótipos de moda, como iniciativa de economia criativa. As principais lições aprendidas foram: troca de habilidades artesanais, troca de conhecimento e experiência, enriquecimento pessoal e vivência do trabalho em equipe. Pretende-se, até o encerramento do projeto em junho de 2012, realizar mais duas oficinas.

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ReferênciasCROCCO, Heloisa. Projeto Piracema. In: DE CARLI, A.M.S. e MANFREDINI, M.L. (Org.). Moda em sintonia. Caxias do Sul, RS: EDUCS, 2010.

DALPRA, Patrícia (Org.). DNA Brasil. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2009.

DE CARLI, Ana Mery Sehbe. Sustentabilidade: uma prática no ensino de moda. Revista: DobraS, Barueri, SP: Estação das Letras e Cores, V. 3, nº 6, junho 2009.

Novos valores e novas práticas para o design de moda: parcerias artesanato/indústria. In: COLOQUIO DE MODA, GT – Moda e Sustentabilidade. São Paulo: Fapesp, Universidade Anhembi Morumbi, 2010a.

Moda no terceiro milênio: novas realidades novos valores. In: DE CARLI, A.M.S.; MANFREDINI, M.L. (Org.). Moda em sintonia. Caxias do Sul: Educs, 2010b.

FRANÇA FILHO, Gerauto Carvalho de. Novos arranjos organizacionais possíveis?: o fenômeno da economia solidária em questão. Revista: Organizações & sociedade. v.8, nº20, 2001. Disponível em: <www.revistaoes.ufba.br>. Acesso em: 22 abr. 2011.

JONES, Sue Jenkyn. Fashion design. São Paulo: Cosac Naify, 2005. LEAL, Tetê. Visão que constrói. Agenda Sudameris, Concepção: Thymus Branding e Scriba Comunicação coorporativa, 2007.

MELO, Myriam. Belo Horizonte, ago. 2009. Disponível em: <http://myrianmelo.blogspot.com/2009/08/patchwork-para-verao-2010-redley.html>. Acesso em: 20 abr. 2011.

MELO, Myriam. Belo Horizonte, jan. 2009. Disponível em: <http://myrianmelo.blogspot.com/2009/01/inverno-2009-redley-tem-patchwork.html>. Acesso em: 22 ago. 2011.

MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO (MTE). 23 ago 2011. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/ecosolidaria/ecosolidaria_oque.asp>. Acesso em: 23 ago. 2011.

MORACE, Francesco. A globalização e o futuro brasileiro. In: Cetiqt. IPTM – Instituto de Prospecção Tecnológica e Mercadológica. Globalização da economia têxtil e da confecção brasileira: empresários, governo e academia unidos pelo futuro do setor. Rio de Janeiro: Senai/Cetiqt, 2007.

PREFEITURA MUNICIPAL DE CAXIAS DO SUL. Disponível em: <www.caxias.rs.gov.br/desenv_economico/programas.php?codigo=9>. Acesso em: 22 ago. 2011.

RÖDEL, Helen. Porto Alegre, março 2011. Disponível em: <http://www.helenrodel.com.br/info/sobre-a-estilista/>. Acesso em: 17 abr. 2011.

Porto Alegre, jan. 2010. SPFW. Máscaras de animais em crochet para 2nd floor. Disponível em: <http://www.helenrodel.com.br/projetos/2nd-floor-inverno-2010/>. Acesso em: 15 abr. 2011.

SEBRAE. Porto Alegre, 23 mar. 2005. Designers e artesãos usam tema mala de garupa. Disponívwel em: <www.sebrae-rs.com.br/central-noticias/memorias/designers-artesaos-usam-tema-mala-garupa/2955107.aspx>. Acesso em: 22 abr. 2011

TREPTOW, Doris. Inventando moda: planejamento de coleção. Brusque, SC: D. Treptow, 2003

USEFASHION. Novo Hamburgo, 15 abr. 2011. Disponível em: <www.usefahion.com.br>. categoria noticias nº 95744. Entrevista: Helen Rödel, estilista. Acesso em: 18 abr. 2011.

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Transformando resíduo em benefício socialBanco de VestuárioProfa. Gilda Eluísa De RossUniversidade de Caixias do Sul - [email protected] / [email protected]

Resumo: O Banco de Vestuário é parte integrante do Projeto dos Bancos Sociais, instituído e coordenado pelo Conselho de Cidadania da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs). Com o propósito de TRANSFORMAR DESPERDÍCIO EM BENEFÍCIO SOCIAL, o Banco de Vestuário foi criado com a missão de identificar e recolher excedentes industriais: retalhos, malhas e resíduos em geral e repassá-los principalmente a Clubes de Mães, Grupos de Terceira Idade, Associações de Bairros, Igrejas, Centros Comunitários, que já mantenham serviços de corte e costura para suas comunidades. A sobra de produção poderá então suprir a falta de agasalhos, roupas de cama, colchas, cobertores, artesanatos e outros. A realidade social que teremos daqui a algum tempo depende apenas do que estamos fazendo hoje. Por isso, o Banco de Vestuário não é uma ação isolada, mas uma estrutura organizada e preparada para durar e fazer parte do nosso dia a dia.

Palavras-chave: Design sustentável, Ambiente social, Concepção de artefatos.

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Introdução

A indústria têxtil e de confecções do Rio Grande do Sul é formada por um conjunto de 9.384 empresas que geram 31.963 mil empregos no estado, segundo dados da Rais/Caged do MTE para o ano de 2007 e faturam cerca de R$ 1,2 bilhão anualmente. A cidade de Caxias do Sul, em termos de produção têxtil, possui uma história que atravessa muitas décadas. Iniciando com os imigrantes italianos que aqui começaram a vida ainda no final do séc. XIX, tornando-se ainda mais expressiva no séc. XX. A indústria de confecção, da produção artesanal, passou para a industrial, organizando processos e respeitando os conceitos de qualidade e exigência de produtos que pudessem ter o reconhecimento nacional, seguindo assim a evolução de mercado. Nas últimas décadas, o processo de industrialização e o avanço tecnológico produziram, além de benefícios à sociedade, efeitos colaterais, tais como: concentração de riquezas, desemprego, alto nível de consumo de recursos naturais, grande produção de resíduos, geralmente com destinação inadequada. Esses resíduos constituem fonte de poluição e grande risco à saúde da população. Qual então a melhor forma de preservar a natureza e ao mesmo tempo aproveitar os resíduos aproveitáveis da indústria do vestuário? Como consequência, foi criado o Banco de Vestuário, que atuará como forma de preservação do meio ambiente e geração de emprego e renda.

Desenvolvimento

A história da imigração é normalmente contada pelo viés da agricultura, especialmente pelos parreirais, pela uva e pelo vinho, ou da metalurgia, pela lamparina, pela caneca, pela enxada, enfim, pela transformação do ferro em utensílios domésticos em ferramentas

para o trabalho. Se nossos imigrantes precisavam cultivar a terra para produzir alimentos, necessitavam tanto quanto vestir-se. Para resgatar um pouco nossa história, faz-se necessário lembrar, mesmo que rapidamente, a fundação do primeiro empreendimento fabril em1898, em nosso, hoje, Bairro Galópolis a Cooperativa Tevere quando um grupo de operários italianos, da região de Schio, em represália por uma greve teve que escolher entre a prisão ou a partida para o Brasil. A escolha recaiu no Brasil e aqui iniciaram a “Cooperativa Tevere”, anos mais tarde adquirida por Hércules Galo, quando foram edificadas construções nos moldes das vilas operárias da Inglaterra. Hoje, após ser adquirida em épocas diferentes, por mais duas empresas, em junho de 1999 retornou a forma jurídica inicial, isto é, voltou a pertencer a um grupo de operários com o nome de Cooperativa Textil Galópolis Ltda (Cootegal). Matteo Gianella veio para Caxias do Sul por convite de Hércules Galó e, aqui, após casar com Ermelinda Viero, realizou seu sonho e fundou o Lanifício Gianella (1920). Era auxiliado pela esposa que tingia e bordava as peças (carona e bacheiros) comercializadas no armazém de Abramo Eberle. A partir do desenvolvimento da cidade e região, cada vez mais se torna presente a necessidade de gerenciar resíduos gerados pela indústria. Nesse sentido, não é outro o objetivo do projeto do que coletar resíduos da indústria têxtil e de confecção, dando um encaminhamento adequado e de reaproveitamento do mesmo e, como consequência, processar e produzir produtos de alto valor agregado, contribuindo sobremaneira para a inclusão social de classes menos favorecidas e na difusão de conhecimentos capazes de contribuir para a capacitação de mão de obra qualificada para o setor têxtil. A ideia de que se pode viver bem consumindo menos recursos, e gerando um sentido de comunidade, se opõe completamente

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ao modelo que até agora tinha prevalecido na sociedade industrial. Atualmente, sabe-se que nossos recursos são finitos e que devemos prestar maior atenção ao tratamento de nossos resíduos. Ante a crescente evidência dos problemas que gera nossa forma de vida e produção atuais, a sociedade precisa repensar seu modo de viver, redefinindo a arte de reinventar. A roupa que foi moda em outra época é o meio perfeito para criar uma nova peça. A gestão integrada de design pode organizar uma confecção artesanal para levá-la à autogestão, em comunidades carentes e, muitas vezes, sem instrução. Os resíduos têxteis fazem parte do material que pode ser reutilizado de diversas formas, como meio de gerar renda e, ao mesmo tempo, preservar o meio ambiente. É com esse foco que surge o Banco de Vestuário, o mais novo desafio social do município, que está em fase de desenvolvimento. A ideia é transformar desperdícios gerados pelos setores industriais, comerciais e de serviços em benefício social, promover a sustentabilidade social e a conscientização ambiental, mediante da correta separação de resíduos, apoiar o desenvolvimento de recursos humanos com qualificações específicas adequadas à cadeia têxtil, reaproveitar os resíduos (retalhos de peças, sobras de peças, peças prontas, rebarbas de máquinas), diminuir o resíduo têxtil, promover inclusão social pela capacitação da mão de obra, proporcionar geração de emprego e renda pela capacitação, atribuir valor agregado pela criação, recriação, transformação e reutilização dos produtos, promover a sustentabilidade social e conscientização ambiental mediante correta separação de resíduos, identificar mercados potenciais de maior valor agregado, para os produtos elaborados, a partir do Banco de Vestuário, apoiar o design, a engenharia e o desenvolvimento de novos produtos, apoiar a elaboração de um projeto de marketing regional para a correta separação do resíduo e a destinação dos produtos têxteis e

identificar fornecedores de matéria-prima já existentes na cadeia. Conforme interpretação dada em dicionários da língua portuguesa, resíduos sólidos, gerados em qualquer ambiente, são as sobras de algum processo qualquer e que ocupam um determinado espaço, pelas suas características físicas de possuírem forma rígida. Analisando melhor o conceito de resíduo, há duas definições: a primeira, que resulta em sobras sem proveito, e a segunda, que dá a noção de subproduto. Segundo Leite (1997), gerenciar os resíduos de forma integrada é articular ações normativas, operacionais, financeiras e de planejamento, que uma administração municipal desenvolve, apoiada em critérios sanitários, ambientais e econômicos, para coletar, tratar e dispor o lixo de uma cidade. Para Tchobanoglous et al. (1993), o gerenciamento integrado de resíduos é a expressão utilizada para todas as atividades associadas ao manejo dos resíduos da sociedade. A geração de resíduos sólidos industriais causa preocupações mundiais. O tratamento e a destinação de modo a evitar anos e impactos ambientais é o objetivo de muitos estudos. O reaproveitamento dos resíduos sólidos industriais é uma das alternativas utilizadas para a diminuição e eliminação dos impactos ambientais negativos, provocados pela destinação inadequada dos mesmos. A garantia de promoções continuadas no setor dos resíduos sólidos só ocorrerá com a existência de uma política de gestão e com o compromisso de instituições sociais solidamente firmadas para mantê-la. A participação da sociedade civil é componente indispensável para isso.

Como transformar resíduos em renda

A questão da destinação correta dos resíduos gerados pelas cidades trouxe à tona a necessidade de se promoverem

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ações, em especial na área de resíduos sólidos, pelo reconhecimento de seu potencial de geração de trabalho e renda, sob a ótica da preservação ambiental, reciclagem e inclusão social. Este projeto se justifica primeiramente por tornar possível a geração de renda às classes menos favorecidas; segundo, porque capacita, e isso é uma maneira de inclusão social; terceiro, porque, por meio da correta separação do resíduo, poder-se-ão aproveitar os resíduos têxteis da região, evitando que sejam colocados no lixo seletivo ou mesmo no orgânico. O Banco de Vestuário é um órgão centralizador dos resíduos das indústrias têxteis com possibilidade de aproveitamento. A ação já conta com parceiros, como a prefeitura de Caxias do Sul, por meio do gabinete de sua Primeira Dama e da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), da Fundação Caxias, da Fundação de Assistência Social (FAS), da Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca), da UCS /Curso Design de Moda/, do Senai e do Polo de Moda da Serra gaúcha. Ao ser criado o Banco de Vestuário se está projetando a realização dos sonhos de muitas pessoas, que esperam transformar resíduos de forma criativa, mas que também sonham com a oportunidade de gerar mais renda para si ou para suas famílias. A partir da reutilização e do reaproveitado de resíduos têxteis e de retalhos, podem-se fazer novos produtos com novas características. Os requisitos para que os produtos sejam sustentáveis é que eles sejam cíclicos, solares, seguros, eficazes e socialmente responsáveis. A primeira meta do Banco do Vestuário é utilizar a rede existente, em Caxias do Sul, de Clubes de Mães; para isso, conta-se com a parceria da Associação de Clubes de Mães de Caxias do Sul (ACMCS). A ACMCS, fundada em 8 de maio de 1975, é uma entidade assistencial sem fins lucrativos e sem renda fixa. Atende a

aproximadamente 90 Clubes de Mães, localizados em bairros e distritos de nossa cidade. Considerando que, aproximadamente, 3.000 mulheres donas de casa são associadas desses Clubes de Mães e, sabendo de sua importância na orientação de seus filhos, da influência exercida na família e da contribuição financeira dada para o sustento da mesma, é preocupação constante da ACMCS uma melhor qualificação pessoal e funcional de suas associadas. A maior parte dos clubes é carente e necessita de apoio para a execução de suas atividades. A ACMCS está sempre atenta a novas oportunidades surgidas, aos movimentos sociais, procurando integrar-se aos mesmos quando são significativos e podem proporcionar aos Clubes de Mães e às suas associadas orientação, instrução, formação de mentalidade, que proporcione mudanças na difícil situação econômica em que muitos (as) se encontram. As parcerias com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e com a Universidade de Caxias do Sul (UCS), especialmente o curso de Tecnólogo em Design de Moda vão capacitar associadas dos clubes, e também mulheres em situação de vulnerabilidade social, dando a elas oportunidades de maior inserção social. Por meio do Estúdio de Criação, que é um espaço criado no Campus 8, voltado exclusivamente para as áreas de design, arte, arquitetura e moda, essas criações devem permitir que empresários da indústria tomem conhecimento das pesquisas desenvolvidas. Tais contatos possibilitam que as criações desenvolvidas no projeto sirvam de inspiração ou mesmo protótipos para os produtos industriais. Além do mais deverá servir como uma incubadora do Banco do Vestuário, criando protótipos de produtos com alto valor agregado que serão elaborados pelos Clubes de Mães e camadas menos favorecidas a sociedade. Por meio da Coordenadoria da Mulher, da Secretaria Municipal de Segurança e Proteção Social, se está buscando

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recursos para a criação, dentro do Banco de Vestuário, de cursos de costura industrial. O projeto tem como enfoque maior a capacitação de mulheres que se encontram em estado de extrema pobreza, mulheres que trabalham em pequenas associações e, principalmente, mulheres vítimas de violência, a fim de qualificá-las para atuarem em indústrias de confecção de Caxias do Sul e da região. A geração de renda e o crescimento profissional poderão reforçar a importância das mulheres no cenário econômico, permitindo o aprofundamento da sua autoestima. Além disso, buscar-se-á gerar ocupações produtivas, por intermédio de cooperativas ou micro empresas, com orientações da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico. O Conselho Gestor do Banco de Vestuário deverá ter um responsável em cada entidade parceira. O objetivo é definir políticas e diretrizes do Banco de Vestuário e avaliar sua aplicação. Segue abaixo o posicionamento estratégico de cada agente dentro do contexto estratégico de design e sustentabilidade:

Cada parceiro terá seu papel maior em sua espertise:

1. FUNDAÇÃO CAXIAS:• Gestor administrativa e operacionalmente;• Administrar toda a parte legal e fiscal;• Responsabilizar-se pela movimentação e pelo acompanhamento da entidade beneficiada.

2. FITEMASUL E SINDIVEST:• Sensibilizar o meio empresarial para que haja participação responsável no Banco de Vestuário;• Incentivar as empresas para que ocorra a contratação de pessoas capacitadas pelo Banco de Vestuário;• Buscar máquinas e equipamentos;• Indicar o gestor;• Organizar a gestão técnica.

3. FAS, PREFEITURA E CODECA:• Elaborar projetos para a alocação de recursos;• Indicar pessoas e grupos sociais para capacitação e fortalecimento dos grupos e das associações de bairros;• Envidar esforços para a viabilização do espaço para o funcionamento do Banco de Vestuário.

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4. UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL - UCSNo projeto será responsável por:• Criar novos produtos;• Desenvolver atividades de capacitação específica;• Orientar a triagem.

5. SENAI:No projeto será responsável por:• Capacitar mão de obra: responsável pelo treinamento.

6. POLO DE MODA: • Elaborar e viabilizar projetos para alocar recursos.

O Banco do Vestuário tem como estrutura o quadro a seguir:

Figura 1: Fluxograma do Banco de Vestuário

E, como conseqüência e resultado, pode-se concluir, que este projeto busca soluções e alternativas que minimizem as implicações ambientais que os resíduos fabris provocam ao meio ambiente. Bem como, vai aliar o design, por meio de um projeto sustentável ao ambiente social, com o ambiente de concepção de artefatos e geração de emprego e renda nas comunidades carentes. Referências

LEITE, W.C.A. Estudo da gestão de resíduos sólidos: uma proposta de modelo tomando a unidade de gerenciamento de recursos hídricos (UGRHI – 5) como referência. Tese (Doutorado), Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Carlos, 1997.

TCHOBANOGLOUS, G. THEISEN, H.; VIGIL, S.A. Integrated solid waste management. Mc Graw Hill, 1993.

DAGNINO, RENATO PEIXOTO. Tecnologia social: ferramenta para construir outra sociedade / Renato Dagnino; colaboradores Bagattolli, Carolina ...(et al.). Campinas, SP.: IG/UNICAMP, 2009.

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Modelo produtivo sustentável: aproveitamento de retraços têxteis na região de Londrina

Lílian Lago - Graduada em Design Gráfico Universidade Estadual de Londrina - UEL [email protected]

Profa. MsC. Ana Luisa Boavista Lustosa Cavalcante Universidade Estadual de Londrina - [email protected]

Resumo:Este trabalho tem a intenção de apresentar um modelo produtivo que interligue as empresas confeccionistas e os grupos artesanais de geração de renda para que os retraços têxteis sejam insumos produtivos do trabalho artesanal. Para tal, foi utilizado o método de pesquisa-ação, que contempla o levantamento bibliográfico e a pesquisa social. O modelo contempla a descrição das ações de dentro de cada ciclo de vida e suas interconexões para que estes sejam mais sustentáveis e interligados como engrenagens de uma mesma máquina. A aplicação deste modelo pode integrar indústria, artesanato e design por meio da sustentabilidade.

Palavras-chave: modelo produtivo, ciclo de vida do produto, artesanato conceitual, retraços têxteis.

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Introdução

Os problemas sociais e econômicos do Brasil refletem diretamente nas condições de vida dos brasileiros próximos à linha da pobreza ou abaixo dela. Muitos destes buscam no artesanato uma fonte de geração de renda. Todavia, este não atende às exigências de qualidade impostas pelo mercado e sofre com a concorrência dos produtos manufaturados e importados, em grande parte, vindos de países asiáticos. Segundo Krucken (2009) e Ullmann (2007), o design surge neste contexto como ferramenta para desenvolver as potencialidades de uma região e a comunidade que a habita, propondo estratégias para a inserção da produção desta no mercado, favorecendo o desenvolvimento sustentável do local e sua população. Logo, o intuito deste projeto é apresentar um modelo produtivo para geração de renda na região metropolitana de Londrina a partir dos resíduos têxteis do setor do vestuário.

Revisão de Literatura

O Empoderamento: Segundo Costa (2007) e Horochvski e Meirelles (2007), o termo empoderamento tem origem no inglês, empowerment. Nasceu nos anos 60, com os movimentos de direitos civis em prol do poder negro, como busca pela valoração racial e a cidadania para os negros. Costa (2007) traz como definição para empoderamento a estrutura formal através da qual as pessoas e comunidades detêm controle de suas próprias questões e alcançam o conhecimento de suas capacidades de produção, criação e gestão. O desenvolvimento do conceito de empoderamento tem como participantes os desempoderados, que são os protagonistas do

processo, e os agentes externos, os coadjuvantes, tais como ONGs, instituições e academias. Assim, ressalta-se o trabalho de sensibilização necessário tanto aos agentes externos, os empoderados, quanto aos excluídos, os desempoderados, para alcançar a convergência e desencadear o processo de empoderamento.

Figura 1: Os níveis de igualdade para o empoderamento

Fonte: STROMQUIST apud COSTA, 2007.

O Desenvolvimento sustentável

Cavalcanti (1994) em seu capítulo “Breve Introdução à Economia da Sustentabilidade” define o termo “economia da sustentabilidade” como

É uma forma de exprimir a noção de desenvolvimento econômico como fenômeno cercado por certas limitações físicas que ao homem não é dado elidir. [...] A economia da sustentabilidade, assim, implica consideração do requisito de que os conceitos e métodos usados na ciência econômica devem levar em conta as restrições que a dimensão ambiental impõe à sociedade. Do mesmo modo, a sociedade deve estar de tal modo organizada que sua troca de matéria e energia com a natureza não viole certos postulados.(CAVALCANTI, 1994, p.7-8).

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Entende-se então, que o uso dos recursos naturais deve respeitar o limite de sustentação do ecossistema, assim, o crescimento da economia depende diretamente do compromisso com o meio ambiente. Logo, um modelo econômico sustentável “tem que se basear em fluxos que sejam fechados dentro da sociedade ou ajustados aos ciclos naturais”. (ERIKSSON apud CAVALCANTI, 1994, p.8). Panayotou (1994) afirma estarmos numa transição de economias: saindo de uma economia baseada na ilusão de recursos infindáveis, de aproveitamento máximo dos recursos para uma “economia de uma futura nave espacial chamada Terra”. (Boulding apud Panayotou, p.10). Kazazian (2005) menciona a atual exigência de que todos, igualmente, tenham suas necessidades sanadas por meio das atividades e processos desempenhados pelo homem. Isto implica de criatividade para projetar produtos e serviços que satisfaçam as necessidades humanas com o menor uso de recursos e trabalho.

O design para sustentabilidade

Papanek (1984) afirma que o designer deve ser instruído, já nas escolas, das consequências de seus projetos e produtos, prospectando os cenários futuros partindo reflexão sobre a sua ação no presente. Pois ele pode ser um grande poluidor pela quantidade de lixo que consegue espalhar pelo mundo com projetos mal pensados e desnecessários à sociedade. Manzini e Vezzoli (2008) também apresentando o design para sustentabilidade como alternativa para interferir no modelo produtivo atualPropor o desenvolvimento do design para a sustentabilidade significa, portanto, promover a capacidade do sistema produtivo

de responder à procura social de bem-estar utilizando uma quantidade de recursos ambientais drasticamente inferior aos níveis atualmente praticados. […] Em definitivo, o design para sustentabilidade pode ser reconhecido como uma espécie de design estratégico, ou seja, o projeto de estratégias aplicadas pelas empresas que se impuseram seriamente a prospectiva da sustentabilidade ambiental. (p.23). Para auxiliar neste processo, surge a ecologia industrial, “um sistema de produção e de consumo, organizado de maneira a aproximar-se do funcionamento do sistema natural combinando os tecnociclos e os biociclos entre si”. (Ibidem, p.54).Na prática, intenciona-se proporcionar sistemas que reduzam a zero os seus inputs e outputs, sem criar acúmulos. Para o design para sustentabilidade abordar todas as implicações ambientais, econômicas e sociais da concepção de produtos e serviços em todo o seu ciclo de vida, Manzini e Vezzoli (2008) desenvolveram a metodologia do Lyfe Cycle Design.

Figura 2: Ciclo de Vida do Produto

Segundo a obra, as fases do ciclo de vida do produto de caracterizam como:• Pré-produção: aquisição de recursos, o transporte deles até o

Fonte: adaptado de Manzini e

Vezzoli, 2008.

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local da produção e sua transformação em materiais e energia.•Produção: a transformação dos materiais em produto, montagem e acabamento.• Distribuição: embalagem, transporte e armazenamento do produto.• Uso: o uso/consumo ou o serviço prestado.• Descarte: três opções - reutilização, por meio da recuperação da funcionalidade do produto (na mesma função ou numa diferente); reciclagem (compostagem ou incineração) em anel fechado (os materiais são utilizados na confecção dos mesmos produtos) e anel aberto (os materiais são utilizados em produtos diferentes da sua origem); ou o descarte em lixos urbanos ou no meio ambiente, uma alternativa incorreta. Kazazian (2005) disserta sobre a roda de ecoconcepção, um modelo de concepção orientada idealizado a partir do Life Cycle Design de Manzini e Vezzoli (2008). A partir da implantação da roda da ecoconcepção, as empresas podem visualizar, por exemplo, pontos de intercâmbios de matérias-primas, que podem servir a elas mesmas, ou a outras organizações parceiras em novos ciclos.

Figura 3: Roda de Ecoconcepção

Flusser (2007) discursa sobre o círculo que o homem forma com a natureza – o homem se apropria da natureza, transformando-a em cultura, que um dia irá se tornar lixo e retornará a natureza. Este círculo prova o não-desaparecimento da matéria e a sua transformação em algo novo, mesmo que seja em lixo. Entende-se então, que

[...] as matérias-primas são extraídas da natureza, depois transformadas em produtos acabados para abastecer o mercado, produzindo resíduos que representam sua única devolução para a biosfera. Daí um duplo desequilíbrio: de um lado, o esgotamento dos recursos naturais, de outro, um aumento crescente dos resíduos provenientes do consumo, que são fontes de poluição. (KAZAZIAN, 2005, p.51).

Para desmanchar este ciclo, que está prejudicando os ecossistemas, a ecologia industrial busca soluções no conceito de metabolismo industrial das organizações, para estabelecer uma troca de fluxos, chegando próximo a um sistema fechado.

Figura 4: Solução de reutilização e de valorização do produto

Fonte: MANUAL PROMISE DO PNUMA

1996 e O2 FRANCE apud KAZAZIAN,

2005, p.37.

Fonte: O2 FRANCE apud KAZAZIAN,

2005, p.54.

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Estes conceitos de ciclo de vida do produto, ecologia industrial e metabolismo industrial no âmbito do design e desenvolvimento sustentável que irão nortear o desenvolvimento do modelo produtivo sustentável, objetivo deste trabalho.

O Capital Territorial e os Produtos Locais

Segundo Krucken (2009), o capital territorial contempla características, nos níveis material e imaterial, que façam referência a este território, e levando em conta sua história. O capital proporciona recursos para que a comunidade local produza a partir destes, interligando o produto, o território e a sua forma de produção. No contexto da globalização, principalmente a intensa entrada de produtos importados da Ásia no Brasil também vem a por empecilhos no desenvolvimento de produtos locais.

O APL do Vestuário de Londrina e região

O Sebrae (apud EMÍDIO, 2006, p.79) estima que existam 435 indústrias do vestuário de moda em Londrina e região. Londrina e região produzem cerca de 11 milhões de peças por ano, gerando em média 12 mil empregos e aproximadamente 70% das empresas têm marca própria. (SIVEPAR apud EMÍDIO, 2006, p.80). Entretanto, de acordo com Vezozzo, Correia e Leite (2004) e Emídio (2006), o setor sofre carência de sistemas de gestão (administrativa e de design de moda) para: desenvolver produtos, definir estratégias, orientar o processo, regular o controle de qualidade em todas as etapas, aumentar a produtividade e a sua competitividade no mercado nacional. Reconhecer a importância da gestão responsável do processo, da pesquisa e do desenvolvimento, e da gestão do design de moda, são pontos

fundamentais para o início da mudança e da inserção destes pontos no dia-a-dia da empresa.

Materiais e métodos

O método da pesquisa

A metodologia norteadora deste trabalho é a pesquisa-ação. (THIOLLENT, 2004), considerada dinâmica por contemplar o âmbito da pesquisa científica, com a investigação bibliográfica e a pesquisa social, com o levantamento de dados e a transformação da realidade dos participantes. Seus objetivos são práticos e imediatos, buscando soluções correspondentes ou, ao menos, “fazer progredir a consciência dos participantes no que diz respeito à existência de soluções e de obstáculos.” (Ibidem, p.20). Esta visão de Thiollent (2004) vai de encontro ao pensamento do “design para o mundo real”, de Victor Papanek (1984). Assim, este trabalho será guiado por esta vertente de pensamento dos pesquisadores social e ambientalmente engajados.

Pesquisas qualitativas Pesquisa qualitativa com Pesquisadoras do Departamento de Design da UEL

Esta amostra intencional de entrevistados conta com as pesquisadoras prof.ª M.ª Lucimar de Fátima Bilmaia Emídio e prof.ª M.ª Maria Celeste de Fátima Sanchez, do projeto de pesquisa da UEL “Gestão Integrada e Cultura Organizacional do Design de Moda” e participantes da governança do APL do Vestuário de Londrina. O intuito destas entrevistas foi conhecer a dinâmica de trabalho das empresas do arranjo produtivo local diante do tema sustentabilidade e escoamento dos resíduos têxteis.

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Pesquisa com empresas do APL do Vestuário de Londrina O APL do Vestuário de Londrina e região, hoje, conta com 31 empresas cadastradas na região de Londrina e atuantes em suas ações junto às ações do APL. Destas 31 empresas, cinco responderam sobre o destino de seus resíduos têxteis por e-mail e oito por telefone, totalizando 13 empresas entrevistadas, 42% das empresas. O objetivo destas entrevistas foi saber sobre a destinação dos retraços têxteis da produção.

Considerações sobre as pesquisas qualitativas

Percebe-se, tanto pela fala das pesquisadoras participantes do APL do Vestuário, quanto pelas próprias empresas, que as doações não são acompanhadas ou sistematizadas, elas possuem cunho filantrópico. Elas são uma forma de escoamento deste lixo, para as empresas, mas, que pode servir de insumo produtivo para outros. Os destinos citados são reaproveitamento na própria produção e doação para pessoas informais, instituições e projetos sociais. Os empresários não se utilizam destas ações como fonte de dedução de impostos, marketing sobre responsabilidade socioambiental, ou postura de responsabilidade sócio-ambiental. Estas ações não surtem um retorno na imagem empresa, pois não são ações vistas pelo seu público, estão no anonimato.

Pesquisas quantitativas Pesquisa quantitativa secundária com grupos de geração de trabalho e renda

O projeto de pesquisa IDDS (Indicadores de design para o desenvolvimento sustentável - formação de rede interativa de reciclagem e reaproveitamento na produção artesanal de grupos de geração de trabalho e renda) realizou uma pesquisa de campo

com o intuito de conhecer e mapear a produção artesanal local. Neste trabalho, utilizou-se dos resultados parciais da pesquisa, obtendo dados de 18 artesãos e grupos artesanais.

Considerações sobre as pesquisas quantitativas

Os resultados mostraram as dificuldades do trabalho artesanal – divulgação, comercialização e aquisição de matéria-prima questões que poderiam ser amenizadas com o auxílio do design. Para melhorar este quadro, seria útil trazer aos artesãos conhecimentos sobre plano de negócios, controle de qualidade, gestão sustentável, inovação, novos materiais, novos processos e tendências. E trabalhar, junto a eles, comunicação (identidade visual, embalagem, veículos de comunicação), estratégias de marketing e o desenvolvimento de novos produtos. A questão ambiental abordada nas perguntas mostrou o diminuto conhecimento sobre o assunto, sendo o desenvolvimento sustentável um tópico a ser trabalhado com empenho junto aos artesãos. É necessário integrar à realidade do artesão conhecimentos sobre matérias-primas (natural, renovável e biodegradável), processos de baixo impacto ambiental, análise do ciclo de vida do produto, consumo responsável, uso racional dos recursos naturais e responsabilidade socioambiental.

As vantagens da doação para o empresariado

A doação responsável, além de vantajosa para o artesão que está recebendo insumos para o seu trabalho, também pode ser vantajosa para as empresas confeccionistas, a saber:• Dedução de impostos: auxiliadas por um contador, as empresas podem repassar seu retraços têxteis para instituições

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organizadas que emitam uma declaração comprovante, e concretizarem a dedução de impostos (CHIMENTI; 2008);• Responsabilidade socioambiental, marketing responsável e comunicação verde: manter uma postura ética, ambiental e socialmente, e divulgar a comunidade ações responsáveis agrega valor à imagem da empresa e consequentemente, ao seu produto (SOUZA, DREHER E AMAL, 2007);• Destino viável dos resíduos: diante da nova Lei Nacional de Resíduos Sólidos, a confecção pode dar um destino coerente para seus retraços doando-os para um grupo de geração de renda (BRASIL, CONGRESS0 NACIONAL, 2010).

O Projeto Piloto

Para por em prática o modelo produtivo de aproveitamento dos retraços têxteis, foi realizado um projeto piloto previsto no projeto de pesquisa IDDS que desenvolveu uma linha de produtos junto aos participantes do projeto Empreender do Instituto Milenia. O projeto seguiu as etapas de: sensibilização: design e mercado; caracterização dos resíduos de tecido e processos; geração de ideias; implementação dos produtos e resultados.

O modelo produtivo

Partindo dos conhecimentos provenientes do ciclo de vida do produto (MANZINI E VEZZOLI, 2008), da solução de reutilização e de valorização do produto (O2 FRANCE apud KAZAZIAN, 2005, p.54) e da roda de ecoconcepção (MANUAL PROMISE DO PNUMA, 1996 e O2 FRANCE apud KAZAZIAN, 2005, p.37), foi representado o ciclo de vida ideal, dos produtos do vestuário (as confecções) e dos produtos artesanais (os empreendimentos artesanais), levando em conta os princípios da sustentabilidade para ambos.

Ciclo de vida dos produtos do vestuário

Pré-produção - Na compra de matéria-prima:• Escolher tecidos, malhas e aviamentos de baixo impacto ambiental e que exijam pouca lavagem. Tecidos e malhas que não amassam tanto também são uma boa pedida.• Buscar fornecedores na sua região evita o transporte por longas distâncias.• Pesquisar fornecedores sócio e ambientalmente responsáveis.• Realizar compras maiores de matéria-prima num espaço de tempo mais longo, ao invés de compras pequenas com frequência. Irá baratear os custos com o transporte e conseguir melhores condições de pagamento.• Encaminhar as embalagens descartadas das matérias-primas (caixas de papelão, sacos plásticos etc) às cooperativas de reciclagem.

Produção - Na confecção das peças:• Reduzir o desperdício de material e energia gastos no processo.• Buscar processos de baixo impacto ambiental.• Optar pela produção de peças versáteis, multiuso.• Utilizar softwares especializados para o aproveitamento inteligente do tecido.• Dar um destino adequado aos resíduos da produção. Uma alternativa é repassá-los a grupos artesanais que possam aproveitar este material.• Outra menos comum é a reciclagem do retraço têxtil - o tecido passará pelas etapas de desmanche, limpeza, transformação em polímero, fiação e tecimento, voltando a ser um tecido comum, porém reciclado.• Proporcionar condições de saúde e bem-estar às costureiras, como a ginástica laboral.• Trabalhar com qualidade para ampliar a vida útil da peça.

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Distribuição - No projeto da embalagem, na comercialização e no transporte: • Reduzir os materiais necessários à embalagem (caixas, sacos plásticos).• Escolher embalagens de papel proveniente de madeira certificada ou biopolímeros.• Realizar compras de embalagens maiores num espaço de tempo mais longo, ao invés de compras pequenas com frequência. Irá baratear os custos com o transporte e conseguir melhores condições de pagamento.• Informatizar o sistema de transporte para otimizar seu funcionamento e reduzir custos.

Uso - No uso das peças:• Optar por lavagens com produtos de limpeza de baixo impacto ambiental.• Juntar uma quantidade razoável de roupas para lavá-las.• Secar as peças ao ar livre, evitando o uso de secadoras elétricas.• Juntar uma quantidade razoável de roupas passá-las a ferro.• Seguir as instruções de uso para conservar o produto e manter suas características e funções.

Descarte - O que fazer com a peça?• Customização para dar uma cara nova a sua peça antiga.• Upcycling, transformar sua peça em algo novo.• Vender num brechó.• Trocar em bazares.• Doar para quem precisa.

Ciclo de vida dos produtos artesanais

Pré-produção - Na aquisição da matéria-prima:• Optar por materiais de baixo impacto ambiental e de preferência,

provenientes da sua região.• Buscar por doações de resíduos para utilizá-los como matéria-prima.• Associar-se a outros artesãos para facilitar a negociação de compra de materiais ou recebimento de doações.• Encaminhar as embalagens descartadas das matérias-primas (caixas de papelão, sacos plásticos etc) às cooperativas de reciclagem.

Produção - Na confecção dos produtos:• Reduzir o desperdício de material e energia gastos no processo.• Buscar processos de baixo impacto ambiental.• Optar pela produção de peças versáteis, multiuso.• Dar um destino adequado aos resíduos da produção. Uma alternativa é repassá-los a outros artesãos que possam aproveitar este material.• Respeitar a forma de trabalho de cada artesão, pois o trabalho artesanal não é produção em série.• Trabalhar com qualidade para ampliar a vida útil do produto.

Distribuição - No projeto da embalagem, na comercialização e no transporte:• Reduzir os materiais necessários à embalagem (caixas, sacos plásticos).• Escolher embalagens de papel proveniente de madeira certificada ou biopolímeros.• Tentar produzir suas próprias embalagens. Uma embalagem de papel reciclado artesanalmente irá agregar valor ao seu produto artesanal.• Pensar estrategicamente os pontos de venda para facilitar o transporte da sua produção até lá.

Uso - No uso das peças:• Optar por lavagens com produtos de limpeza de baixo impacto ambiental.

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• Produtos artesanais costumam ter um alto valor emocional associado pelo seu modo de fazer e o seu caráter de produto único, por isso, é interessante seguir as instruções de uso para conservar o produto e manter suas características e funções.

Descarte - O que fazer com o produto?• Customização para dar uma cara nova ao seu produto antigo.• Upcycling, transformar seu produto em algo novo.• Vender num brechó.• Trocar em bazares.• Doar para quem precisa.

A etapa de pré-produção, tanto do ciclo de vida dos produtos de moda quanto dos artesanais, produz resíduos, as embalagens da matéria-prima, que devem ser encaminhados às cooperativas de reciclagem para a reciclagem do papel e do plástico. Esta ação sai destes ciclos de vida para dar origem a outros ciclos, os ciclos de vida do papel e do plástico. A etapa de produção dos produtos de moda também produz resíduos, os retraços têxteis, que podem seguir para dar origem a um novo ciclo, o ciclo do produto artesanal. Se a empresa precisar de orientações para encaminhar estes retraços, ela pode contar com instituições como prefeituras, lares, casas de amparo, ONGs, institutos, e até, projetos de pesquisa e extensão das universidades. A doação pode render à empresa, por meio da emissão de nota comprovante da doação, dedução de impostos, meios de trabalho com marketing responsável e comunicação verde para divulgar sua postura socioambientalmente responsável, e também, destinar de forma mais inteligente seus resíduos, visando, além da obediência a nova Lei dos resíduos sólidos, a consciência do não desperdício de matéria-prima de qualidade.

A produção artesanal também gera seus resíduos que devem ser cuidados tanto quanto os resíduos da produção industrial. Podem ser doados para servir de insumo a outras formas de produção, evitando assim o descarte de um insumo em potencial. O design pode ser um aditivo ao ciclo de vida do artesanato, assim como foi proposto na hipótese deste trabalho. Na fase de pré-produção, ele auxilia com a pesquisa de mercado e tendências, o desenvolvimento de novos produtos e a difusão dos conhecimentos sobre sustentabilidade, mercado, gestão e metodologias de desenvolvimento de novos produtos. E na fase de distribuição, contribui com os projetos de identidade visual, embalagem, ponto de venda e material de divulgação.5 Discussão e ConclusãoA indústria do vestuário, o design (representado pela universidade) e os grupos de geração de renda conseguem formar um círculo produtivo, baseado no metabolismo industrial, transformando o resíduo de um em insumo de outro. O produto artesanal urbano de hoje, o “industrianato”, não possui um alto valor agregado e tem baixa competitividade no mercado. O design entra nesta cadeia produtiva e propõe novos parâmetros: novos públicos, métodos de criação, formas de comunicação e estratégias de mercado, trazendo para os artesãos uma alternativa ao industrianato, o artesanato conceitual. A indústria precisa se mostrar mais engajada diante da sua comunidade. Iniciativas como as das confecções vistas neste trabalho, devem ser propagadas, e não mais encaradas como filantropia esporádica. Devem ser vistas como estratégias, tanto de comunicação sobre a responsabilidade socioambiental e formação de rede de relacionamentos, como uma destinação correta, e acima de tudo, consciente e limpa, dos seus resíduos.

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O artesão, apesar da sua herança cultural de trabalhar muitas vezes sozinho, estando nos centros urbanos, precisa se articular em grupos para obter representatividade e alcançar vantagens. Um artesão teria mais dificuldades em obter contato com uma confecção para receber seus retraços do que uma associação, cooperativa ou grupo, como o Empreender, auxiliado pelo Instituto Milenia, o que lhes proporciona ainda melhores condições, como o suporte para a produção, vendas em feiras e divulgação. Entretanto, o artesão não pode depender desta doação de insumos, pois não há contrato que a regulamente e a intenção é gerar renda e trazer a independência financeira ao artesão. A primeira doação deve ser encarada como talvez a última, e o artesão precisa organizar seus lucros para investir em matéria-prima, caso a doação não se repita. Por fim, este trabalho mostra que é possível se utilizar dos conhecimentos do design e do desenvolvimento sustentável para, ao mesmo tempo, destinar corretamente os retraços têxteis das indústrias do vestuário de Londrina e reaproveitar estes insumos na produção artesanal para a geração de renda.

Referências

Artigos em revistas acadêmicas/capítulos de livros

EMÍDIO, Lucimar de Fátima Bilmaia. A gestão de design como ferramenta estratégica para MPEs do vestuário de moda: um estudo de caso na região de Londrina. 2006. Dissertação (Mestrado em Desenho Industrial) – Universidade Estadual Paulista, Bauru.

Livros, e material não publicados

CHIMENTI, Ricardo Cunha. Direito Tributário. 12. ed. São Paulo: Ed Saraiva, 2008.

FLUSSER, Vilém. O mundo codificado. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

KAZAZIAN, Thierry (Org.). Haverá a Idade das Coisas Leves: design e desenvolvimento sustentável. São Paulo: SENAC, 2005.

KRUCKEN, Lia. Design e território: valorização de identidades e produtos locais. São Paulo: Studio Nobel, 2009.

MANZINI, Ezio; VEZZOLI, Carlo. Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis: os requisitos ambientais dos produtos industriais. São Paulo: Edusp, 2008.

PANAYOTOU, Theodore. Mercados verdes: a economia do desenvolvimento alternativo. Rio de Janeiro: Nórdica, 1994.

PAPANEK, Victor. Design for the real world: human ecologogy and social change. 2. ed. London: Thames and Hudson, 1984.

THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2004.

Textos publicados na internet

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CAVALCANTI, Clóvis. Breve Introdução à Economia da Sustentabilidade. In: Desenvolvimento e Natureza: estudos para uma sociedade sustentável. Recife: Instituto de Pesquisas Sociais, Fundação Joaquim Nabuco, Ministério de Educação, 1994. p. 7-13. Disponível em: <http://sala.clacso.org.ar/gsdl/cgi-bin/library?e=d-000-00---0inpso--00-0-0--0prompt-10---

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Sustentabilidade no campo de estágio: a utilização de retalhos de renda e o ‘novo luxo’ Larissa Avanço de Souza - Graduada em Design de Moda Universidade Estadual de Londrina - [email protected]

Profa. MsC. Lucimar de Fátima Bilmaia EmidioUniversidade Estadual de Londrina - [email protected]

ResumoEste artigo ressalta a importância da conscientização ecológica e de ações sustentáveis por parte das empresas de confecção do vestuário de moda. Apresenta as considerações do novo consumidor em relação ao luxo, aqui relacionado aos produtos do segmento de moda festa. Mostra um estudo de caso, realizado em uma empresa de confecção do referido segmento que tem buscado propor a criação de valores guiados pela sustentabilidade, a partir da customização de retalhos de renda. Busca no uso de retalhos um diferencial sustentável para os processos de criação de vestidos de festa.

Palavras-chave: sustentabilidade, novo luxo, customização.

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Introdução

As considerações sobre a definição de moda convergem para um mesmo limiar conceitual. Envolver o corpo, protegê-lo e, principalmente, fazer com que o usuário se comunique por meio de seu vestuário são as principais funções de uma roupa e, ainda que existam diferentes funções para tal produto, a comunicação é a síntese do produto de moda. Assim sendo, segundo Silva (2001) a moda transpõe para o mundo uma mensagem de seu interlocutor, ela exprime pensamentos e consolida-se como signo. Segundo Schulte e Lopes (2008), a roupa expressa características do indivíduo e do contexto social, portanto, considerando também os pensamentos de Melo e Valença (2009) pode-se entender que, na sociedade contemporânea, as escolhas de consumo dos indivíduos se apresentam como símbolo de status e, no caso da moda festa, a função estética se torna ainda mais relevante e o consumo se faz pelo desejo de exclusividade nas comemorações e nas apresentações públicas. A necessidade psicológica do consumidor torna a compra de uma roupa de festa, geralmente uma vestimenta de pouco uso, ainda mais significativa. A importância da ocasião em que será utilizado o produto proporciona memórias e sentimentos únicos aos clientes, que buscarão peças também únicas e exclusivas para seus momentos festivos. Características estas que segundo Passini, Schemes e Araujo (2009), na roupa de festa, são simbolizadas pela estética do produto, que se diferencia da roupa casual pela utilização de tecidos de alta qualidade e alto valor, por diferença de comprimento (grande parte dos modelos são longos), por maior utilização de mão de obra qualificada e maior número de processos de construção, levando em conta o fino acabamento e a sofisticação do produto. Como diz Valente (2008), no decorrer das mudanças

sócio-contemporâneas o conceito de moda atrelou-se mais fortemente à individualidade do consumidor. Analisando outra vertente da sociedade atual, onde a industrialização e a tecnologia imperam, há indivíduos que almejam algo que os diferencie do massificado. Apoiados em valores e modos de vida pessoais tais indivíduos buscam atingir esse diferencial, levando em consideração a valorização do trabalho humano e de questões sustentáveis. No contexto de uso de roupas de festa, onde tal produto será utilizado para uma comemoração especial e significativa, Valente (2008) enfatiza que a escolha adequada envolve, além da funcionalidade, questões emocionais nas quais a busca por exclusividade passa a ser fator decisivo na compra. Ainda de acordo com a autora, a cultura contemporânea do luxo reordenou novos conceitos, como a individualização, a emocionalização, a democratização e a preocupação social, que fazem com que o produto consumido passe a ser sinônimo de identidade. Esse novo conceito proposto retoma o pensamento do filosofo francês Lipovetsky (2007) sobre a Sociedade do Hiperconsumo: ‘Quando as pessoas compram objetos para viver melhor, mais que para exibir; quando os objetos ao invés de funcionarem necessariamente como símbolos de status, funcionam mais como um serviço à pessoa. Naturalmente, as satisfações sociais de diferenciação permanecem, mas são uma das motivações dentre muitas outras. ’ Reitera-se assim o pensamento analisado por Valente (2008) no qual as “transformações e valorizações do que é raro alteraram as percepções da população e a noção de pertencimento dos cidadãos.”. Este novo cenário das concepções de moda e, principalmente, de consumo compõe o que atualmente é denominado por diversos autores como “luxo plural”, em que cada consumidor tem sua própria definição ou interpretação

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do que pode ser considerado luxo. Definição esta que agrega valores mais pessoais e íntimos, buscando produtos que, além de satisfazerem necessidades de consumo propriamente ditas, alcancem valores emocionais que se interligam diretamente às concepções ideológicas individuais e estejam em concordância com questões sócio-ambientais. Para Manzini e Vezzoli (2008) as questões sociais e ambientais são constituídas a partir de cenários específicos e formam o alicerce para o desenvolvimento sustentável. Assim, o objetivo deste trabalho é apresentar uma reflexão sobre a sustentabilidade a partir de um estudo de caso que mostra no uso de retalhos de renda um diferencial sustentável para os processos de criação de vestidos de festa.

Produtos de luxo e sustentabilidade

No decorrer das mudanças sócio-contemporâneas o conceito de moda atrelou-se mais fortemente à individualidade do consumidor. Apoiados em valores e modos de vida pessoais, tais indivíduos consideram importante a valorização do trabalho humano e as questões de sustentabilidade. A cultura contemporânea do luxo reordenou novos conceitos e sua comunicação não se dá mais apenas pelo caro, mas também pela criatividade e originalidade das peças. Tendo em vista essa nova postura do consumidor, a empresa abordada no item 3, (citada neste trabalho) busca se adequar ao novo paradigma estabelecido, propondo a criação de valores guiados também pela sustentabilidade. O contexto da produção da empresa analisada está inserido no conceito em que Zanella, Balbinot e Pereira (2000) definem como Hand Made ou ‘feito à mão’, que caracteriza o vestuário se não da alta costura, do artesanato do novo luxo.

Busca, no uso de retalhos, um diferencial sustentável para os processos de criação de vestidos de festa. Levando em consideração que o consumidor atual direciona suas necessidades para além da estética, atrelando valores mais subjetivos às suas noções de luxo, é indispensável considerar inúmeras questões, acreditando, como diz Melo e Valença (2010), que a comunicação do luxo não se dá apenas pelo caro e raro, mas também pela criatividade e originalidade. É visível uma nova perspectiva sobre o consumo, desligando-se das idéias de exacerbação e ostentação e voltando-se cada vez mais para valores relacionados às questões intrínsecas ao consumidor. “O cenário descrito até aqui propôs sublinhar a complexidade dos sentidos do luxo contemporâneo, quando se sofistica o cruzamento de diversos aspectos na configuração de novos valores, dentre eles o sócio-ambiental.” (VALENTE, 2008). Tendo em vista essa nova postura do consumidor, as empresas buscam se adequar ao novo paradigma estabelecido, propondo a criação de um novo mercado baseado em tal postura. Pensa-se então a importância de estratégias de venda que busquem agregar não apenas valores materiais aos produtos, mas também uma concepção de estilo de vida. Visando estreitar as relações com seus consumidores, as marcas se adequam às mudanças de abordagem, principalmente às questões de consciência sócio-ambientais. É estabelecido então uma nova diretriz para as empresas do setor: desenvolver produtos guiados pela sustentabilidade que se relacionem com seus consumidores diretamente, sem desvincular seu referencial de luxo. Nesse contexto, o referencial simbólico é consolidado como valor subjetivo e enaltecido pelo pensamento previsto no comportamento de consumo preocupado com as questões ambientais. Percebendo então uma mudança na cultura e no

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comportamento dos consumidores, visualiza-se uma aceitação dessa nova vertente de produtos sustentáveis. Dentro desse contexto, o “novo luxo” encontra-se estruturado em novos valores, o que faz com que as marcas se adéquem a isso, direcionando corretamente sua produção e se comprometendo com as questões ambientais em seu processo produtivo.

Soluções sustentáveis a partir do uso de retalhos de renda: um estudo de caso

O setor de vestuário e confecção apresenta grandes desafios à sustentabilidade, pois produz uma série de impactos ao meio ambiente. Entendendo este fato como um desafio, a empresa Esperanza Moda Feminina percebeu, no uso de retalhos de renda, uma alternativa para estimular a conscientização por meio de seu carro-chefe: a moda festa. A empresa Esperanza Moda Feminina está instalada na cidade de Londrina, estado do Paraná, reconhecido pólo de confecção. Trata-se de uma empresa que trabalha principalmente com o segmento moda festa, atendendo a duas linhas de público: feminino teen e feminino adulto. A empresa possui atendimento direto ao público através de vendas prêt-à-porter e sob medida. Sua estrutura na forma de ateliê conta com 21 funcionários nos seguintes departamentos: criação de produto, modelagem, corte, costura, customização, arremate, passadoria e vendas.Trata-se de um tipo de confecção que, por conta de sua flexibilidade no ritmo de produção, busca soluções sustentáveis no modo de produzir: o uso de retalhos tornou-se um desafio e um fator de extrema importância para os processos de criação de vestidos de festa. A empresa se preocupa em sempre oferecer produtos exclusivos,

com bordados, tingimentos e customizações únicas. A sofisticação no acabamento dos produtos e a utilização de retalhos dos mais variados tipos de materiais, em especial a renda, agregam valor ao produto. A utilização de retalhos é vista como uma estratégia de novo luxo, voltada para questões de sustentabilidade e diminuição de custos, sendo esta uma variável competitiva no mercado do segmento de roupas de festa. Trata-se, além de uma solução, de uma manifestação criativa na customização, que ao ser executada apropria-se não somente do sentido de adaptação e personalização, mas também de questões sustentáveis de valorização simbólica do produto, propiciando um produto singular e exclusivo. Nota-se na empresa uma valorização de determinados materiais, sendo a renda o principal deles, por ser um tecido versátil e pouco efêmero ao considerar sua utilização no segmento moda festa. Ainda que em outros contextos não seja bem aplicada, neste, ela determina grande valor agregado. O significado da palavra renda aparece como ‘... tecido de malhas abertas e contextura geral delicada, cujos fios (de linho, algodão, seda, entre outros) trabalhados à mão ou à máquina, entrelaçam-se formando desenhos e que é usado para guarnecer ou confeccionar peças de vestuário, alfaias, roupas, roupa de cama e mesa, etc.’ (ZANELLA, BALBINOT e PEREIRA, apud FERREIRA, 1986). Devido a sua utilização quase que constante nos produtos da empresa, determinou-se de forma empírica sua aplicação de diversas maneiras. Além de utilizá-la no produto como um todo, o uso parcial da renda recortada em seus desenhos pode ser aplicada como fino acabamento ao produto, conforme mostra a Figura 1:

Figura 1: processo artesanal de aplicação da renda

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Fonte: Empresa Esperanza Moda Feminina (2011).

Detectou-se, portanto, que o processo artesanal de aplicação da renda insere-se facilmente ao processo de design do produto, com o intuito de atribuir processo à atividade, buscando atingir resultados mais singulares e diferenciados. Sua aplicação parcial envolve a execução de recortes em partes específicas da renda, criando retalhos constituídos de arabescos que ampliam o valor agregado no tecido. Essa nova modalidade propõe imprimir novos desenhos e sentidos para o corte nas rendas, elegendo signos que definem o que é proposto no contexto atual de criação. Partindo deste pensamento, é possível atribuir diversos resultados de desenhos, de uma mesma padronagem de renda, como mostrado anteriormente na Figura 1. Essa utilização parcial da renda vislumbra um trabalho criativo com retalhos, que resulta em um produto final com caráter exclusivo, que além de sustentável gera uma nova metodologia para a criação na customização de vestidos moda festa. As mais variadas maneiras de cortar a mesma renda mostram a atemporalidade desse tecido, que dentro de uma confecção pode ser usado em coleções das mais variadas referências.

Considerações finais

Os danos ambientais decorrentes das atuais atividades industriais produtivas exigem um repensar urgente dos métodos de produção e de consumo, a fim de garantir um meio ambiente propício às futuras gerações. Para alcançar a sustentabilidade é necessário, segundo Vezzoli (2008), uma nova maneira de conceber produtos e serviços: o design sustentável é o ato de produzir produtos, serviços e sistemas com um baixo impacto ambiental e uma alta qualidade social, também buscando soluções mais viáveis economicamente. Difundir os conceitos da sustentabilidade, bem como incentivar a prática de ações com enfoque sustentável, não é uma tarefa fácil à nova geração de profissionais ingressantes no mercado de trabalho. No entanto, salienta-se que a atividade de estágio, que viabilizou a realização deste estudo na empresa Esperanza Moda Feminina, possibilitou também evidenciar que a empresa de moda pode, através de seu produto e de seu processo, promover novas soluções sustentáveis para produção e para o consumo. Além disso, salienta-se que a importância do estágio não se resume à integração do aluno ao mercado de trabalho ou ao aprimoramento de suas habilidades no âmbito profissional. Trata-se também de um aspecto relevante na formação da pessoa. Segundo Buriolla (1995), “é o lócus onde a identidade profissional do aluno é gerada, construída e referida; volta-se para o desenvolvimento de uma ação vivenciada, reflexiva e crítica e, por isso, deve ser planejado gradativamente e sistematicamente.” E válido salientar que considerando o envolvimento afetivo do consumidor contemporâneo com os produtos e os novos olhares sobre práticas exercidas na empresa abordada foi

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possível perceber, a partir do estudo de caso apresentado, uma saída para atender questões de sustentabilidade e personalização no desenvolvimento de produtos de luxo. A intenção de atribuir processo à customização de retalhos de renda almeja agregar valor real e simbólico aos produtos, buscando aproximar ainda mais o novo consumidor e o novo luxo, resultando assim, em uma estratégia competitiva de mercado que agrega atributos de consciência sócio-ambiental.

Referências

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Lipovetsky, G. 2007. Felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. São Paulo: Companhia das letras

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Martins, Suzana B. & Castro, Marina Duarte. 2007. Moda sustentável: trajetória da criação, produção e comercialização. In: I Simpósio Brasileiro de Design Sustentável. Curitiba

Melo, Marcela T. & VALENÇA, Lívia A. 2010. A inserção da renda artesanal filé no conceito de novo luxo. In: Encontro de ensino, pesquisa e extensão da faculdade SENAC.

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Valente, S. B. M. 2009. A Cauda Longa do Luxo: A Internet como Mercado (de Nicho). In: Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste. Brasília Valente, S. B. M. 2008. Hiperconsumo, responsabilidade social e novas estratégias comunicacionais: caminhos para um luxo sustentável? In: Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Natal

Zanella, A. V; Balbinot, G. & Pereira, R. S. 2000. A renda que enreda: Analisando o processo de constituir-se rendeira. In: Educação & Sociedade, 71, 7.

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O Jeans e o Design para o Meio Ambiente: alguns caminhos para a sustentabilidade na moda.

Mariana Dias de Almeida - Mestranda em Design - UNESP [email protected]

Profa. Dra. Mônica Moura - UNESP [email protected]

Resumo:O presente trabalho se propõe a averiguar o ciclo de vida do jeans no desenvolvimento de produtos de moda, observando quais são os processos e propostas empregadas que visam o desenvolvimento sustentável. Por sua vez, o design de moda é avaliado a partir das problemáticas provenientes do caráter de efemeridade, da rapidez e agilidade, presentes na indústria e no mercado da moda e são analisados como esses geram e quais são os resultados nos impactos ambientais e sociais. Nesse percurso, toma-se o jeans desde sua gênese até o descarte sob a ótica do design para o meio ambiente (Design for Environment), associado a análise de alguns casos exemplares que buscam soluções sustentáveis para o emprego do jeans. Dessa forma, esse artigo pretende colaborar com os profissionais envolvidos, tanto na área de design quanto no mercado de moda, na busca de soluções viáveis e sustentáveis no emprego do jeans.

Palavras-chave: Design de moda, Design para o meio ambiente, sustentabilidade

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Introdução

O produto de moda passou por grandes alterações nas últimas décadas. A começar pela inserção do design, o emprego da fase projetual à moda trouxe novas discussões sobre o desenvolvimento do produto e sua relação com os indivíduos e o meio em que está inserido, porém algumas implicações têm caracterizado a moda por suas problemáticas, como a efemeridade, rapidez da produção e a obsolescência perceptiva. Assim, uma questão que se tornou pertinente nos últimos anos, vem propondo uma alteração dos paradigmas, que é a sustentabilidade, a qual tem sido discutida amplamente no campo do design, encontrando fortes ecos no design de moda, porém, ainda existem muitos problemas e dialéticas a serem discutidos e resolvidos. O conceito de Design para meio ambiente (Design for environment), propõe novos meios de reflexão nos processos do projeto e suas observações no produto. Um dos pontos desse conceito é o ciclo de vida do produto empregado na moda. No caso deste trabalho, tenderemos para o jeanswear, produto de moda amplamente utilizado por vários indivíduos, e que também tem apresentado sua inclinação para a sustentabilidade. Moda e sustentabilidade

O design de moda contemporâneo vem ofertando novas proposições de produto em decorrência de algumas novas realidades e valores. Uma dessas novas propostas é a sustentabilidade, que foi assimilada à moda através dos produtos ecologicamente corretos, com os quais nos deparamos através dos mais diversos tipos de apelos conscientizadores.

A adoção pela moda do termo sustentável implica alterar paradigmas que, por tempos, têm-na caracterizado. Efemeridade, rapidez e agilidade são parâmetros que permeiam o processo de desenvolvimento do produto, norteando os designers, que, por vezes, procuram responder aos anseios do seu público alvo, desenvolvendo produtos que atendam aos desejos mais implícitos de seu consumidor, instigando-o a consumir a cada lançamento uma nova peça de vestuário. Outra problemática dos produtos de moda é a obsolescência perceptiva, sobre a qual Martins afirma: ‘O sistema moda impõem um ritmo de obsolescência programada muito rápido em que os produtos de moda são descartados muito antes do fim da sua vida potencial’ (2010, p. 81). A minimização de utilização do produto acarreta em impactos ao ambiente. Diante dessa perspectiva, a sustentabilidade, inserida na moda, surge como uma nova postura de se desenvolver produtos, alguns pesquisadores como Proctor e Dougherty tratam este tema como algo que perdurará e evoluirá ao longo do tempo introduzidas em nossas vidas e na transformação da indústria. E como se tornou tendência abordá-la se acredita que esse conceito fique descrente A compilação moda e sustentabilidade ainda tem o crédito da dúvida, pois crê-se em propósitos envolvidos pelo apelo no marketing como afirma Carli:

Assim, as empresas têm dado a visibilidade possível ao seu engajamento com os valores da sustentabilidade, buscando a simpatia dos seus consumidores. Ações marqueteiras, promessas que não podem ser cumpridas e verniz de fachada podem vingar por um tempo, mas não se sustentam no longo prazo. (2010, p.45)

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Para que então a orientação para a eficiência dos produtos de moda seja fidedigna à sustentabilidade, há de se promover as pesquisas acadêmicas e a conscientização das empresas, do qual para Parode, Remus e Visoná (2010), surge agora um novo padrão em que para se estar inserido, deve-se ter uma mudança de postura e adotar a preocupação com o ambiente e com a sociedade, postura que a moda uniu a si, os autores completam:

A moda, pode-se dizer, é um dos principais agentes de criação desse novo padrão, que hoje é seguido por empresas de todos os setores da economia, porém essa faz surgir um grande contrassenso. Como já discutido anteriormente, a moda é estimuladora da efemeridade, da significação dos objetos e da troca rápida desses signos para se manter atualizada na sociedade etc. Por outro lado, a moda está buscando soluções mais sustentáveis e ecorresponsáveis para produzir seus produtos, o que, na prática, significa uma espécie de economia de signos (PARODE; REMUS; VISONÁ, 2010, p.72)

Assim, surge uma forma de desenvolver produtos de moda, que começarão a ser cada vez mais medidos pelas ações que interferem nos sistemas naturais, cujo foco é o impacto que as roupas provocam, seja pelo seu processo fabril , seja pelo simples uso diário. A mudança de paradigmas na moda deve acontecer no todo, ou seja, pequenas mudanças como alteração de matéria-prima do qual é feito o produto não é suficiente para afirmá-lo como sustentável, há a necessidade de mudanças na fase projetual, no processo de fabricação, no tempo de vida do produto e no designer, pois, dele sairá o pensamento do projeto.

Sustentabilidade

A sustentabilidade, no campo do design e na área do design de moda, levou a uma série de reflexões e mudanças, entre elas, a modificação de parâmetros para a criação de novos produtos. Parafraseando Medeiros et. al:

“Foi com o surgimento do conceito de Desenvolvimento Sustentável, nos anos 80, que uma nova base aparece para quebrar os valores radicais ambientais em voga desde então, propondo um novo modo de produção e consumo onde o desenvolvimento industrial pode e deve conviver pacificamente com a natureza.” (2010, p.456)

Segundo Manzini e Vezzoli (2008), o design sustentável compreende atividades que relacionam o tecnicamente possível com o ecologicamente necessário, a partir do desenvolvimento de novas propostas favoráveis às questões sociais e culturais, fato que se configura como objetivo-alvo, isto é, a serem atingidos por meio do desenvolvimento dos mesmos e não apenas e simplesmente um caminho a ser seguido. Para que um projeto seja sustentável, algumas considerações devem ser levadas em consideração, tais como:• Uso de recursos renováveis;• Otimização dos recursos não renováveis;• O não acumulo de lixo que o ecossistema não reutilize; • Possibilidade de que todo indivíduo possa usufruir do espaço ambiental. Reconhecer os impactos gerados no ambiente é mais um ponto favorável, pois, saber que o planeta é finito indica que devemos nos conscientizar sobre os atos nocivos causados por nós. E, sobretudo, ter consciência de que o consumo

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desenfreado é insustentável e só pode culminar em grandes danos para a sociedade e para o ambiente.

Design para meio ambiente no jeanswear

O jeans é o produto de moda que se socializa com os mais diversos indivíduos, transcende as classes sociais, biotipos e gêneros. O jeans, como menciona Catoira (2006), é exemplo de produto que possui design desde seu projeto têxtil, assim, a abordagem a respeito da sustentabilidade não se isentaria de lhe incluir em proposições a fim de viabilizar esse produto amplamente genérico. O Design for Environment (DfE), definido por Fiksel (2009), consiste em um sistema que considera o relacionamento entre o design e o meio, buscando um equilíbrio em que os objetivos sustentáveis otimizam e auxiliam a delimitar o projeto de acordo com ciclo de vida do produto, determinando as etapas pelas quais deve percorrer o produto com o objetivo final de que o desperdício e o impacto nocivo no ambiente sejam minimizados ou anulados. Assim, o DfE podeviabilizar o projeto de um produto jeans que cause menos danos ao meio ambiente, produzindo de modo seguro e sustentável. Pois de acordo com Manzini e Vezzoli, ‘o produto é interpretado em relação aos fluxos - de matéria, energia e emissão – das atividades que o acompanham durante toda a sua vida’ (2008, p.91). Sendo o propósito de novos processos e propostas que estabeleçam as trocas com o ambiente, deve fundamentar-se no ciclo de vida (Life Cycle Design) e que proponha estar presente em todas as fases do produto, atuando como suporte para a fase projetual, auxiliando o designer nas escolhas e nas tomadas de decisões. Sendo o ciclo de vida esquematizado nas seguintes etapas: pré-produção, produção, distribuição, uso e descarte, para um

melhor enquadramento do conceito será analisado cada etapa ao jeanswear. A pré-produção é dada pela extração de matérias-primas que fornecerão subsídios para a concepção do produto. O uso de algodão orgânico pelas empresas têxteis tem sido cada vez mais recorrente, bem como pela construção do denim ( jeans) , porém é nessa etapa que muitos designers de moda fundamentam o produto como sustentável, como afirma Fletcher: ‘os estilistas acreditam que a responsabilidade ambiental é alcançada pela especificação de fibras naturais (especialmente algodão), fazendo produtos mais duráveis’ (apud Lee, 2009, p. 82). Em face desse panorama, Ismael Rocha argumenta em entrevista: ‘Você tem uma grife de jeanswear que lança uma linha feita a partir de algodão orgânico e já se posiciona como “verde”. Ou seja, ela lançou 1% de produtos sustentáveis, enquanto os outros 99% não o são.’ (Estadão, 2009). Na indústria da confecção a etapa de produção possui fatores que podem acarretar em desperdício que vão desde o gasto de energia ao lixo acumulado resultante de restos de tecido e papéis. Os processos de beneficiamento que, no produto agregam valor de venda, também podem contribuir com aspectos negativos à carga ambiental. Como no caso da lavagem de peças jeans são gastos números elevados de água, e após a sua utilização, é geralmente despejada em rios, córregos ou, pior, próximo a nascentes, o que gera graves problemas ambientais e sociais. Há que se destacar que esses descartes de água, provenientes do tratamento de produtos jeans, geralmente, não são tratados visando à diminuição dos efluentes. A etapa de distribuição configura-se a partir do deslocamento da manufatura de produtos para entregas em lugares distantes ou, pode também ocorrer quando as fases produtivas se dividem em diferentes lugares de produção. A

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distribuição implica, também, o uso de transportes para conclusão do produto. Kazazian (2005) expõe sobre a implicância de um par de calças jeans que percorre até 65 mil km para concretização da fabricação, em situação onde as origens e os processos são efetuados em locais distantes e Thorpe acrescenta:

Por exemplo, um par de calça jeans, reúne materiais de todo o mundo. Índigo sintético vindo da Alemanha, pedra-pomes para stone washing vindo da Turquia. Algodão para tecido vem de Benjin [...]. Fibra de poliéster para segmento vem do Japão e o cobre para os prendedores vem da Namíbia e Austrália. Unidos em um par de jeans, estes materiais são depositados em diversas lojas da Europa. O jeans representa ao longo processo no qual matérias-primas [algodão, cobre, poliéster,] perdem sua estrutura original e concentração, o seu potencial, e se espalhou em formas menos úteis ao redor do globo. Nossos atuais sistemas não oferecem nenhuma forma prática de estruturar e concentrar os materiais de bilhões de par de jeans. (2007, p.41, tradução nossa)

A logística, nesses casos, torna-se primordial para evitar o desperdício ou uso excessivo de transporte. A embalagem do produto destinado ao consumidor final, também exige a necessidade de observação, com relação ao tipo de material da embalagem, pois geralmente ela é descartada, gerando lixo desnecessário e várias complicações ambientais. A etapa de uso compreende no cuidado, ao verificar e indicar para o consumidor as instruções de uso da forma mais adequada à manipulação daquele produto. Isso deve ocorrer não só com o produto em si, como também com a embalagem do mesmo, e implica na adoção da inter-relação entre as questões do design gráfico, do design de produto, do design de informação e da conscientização dos preceitos da sustentabilidade. A empresa

e o designer que projetam o produto, sem dúvida, devem ser responsáveis por esse processo, mas devemos lembrar que a educação e o esclarecimento ao consumidor são aspectos essencias, afinal, como indica Martins (2010), o consumidor também é responsável pelo ciclo de vida do produto, apesar de o jeans, ser um produto de uso prolongado, sua manutenção como a lavagem caseira consome um volume de água, que Kazazian exprime por aproximadamente 18 litros de água. A etapa considerada como a final no processo do ciclo de vida diz respeito ao descarte, resultado de uma cena muito comum nos dias de hoje, que é o grande acúmulo de lixo. Fato que pode ser gerado no processo de produção, mas também ocorre junto ao consumidor final. Ainda, outro problema gerado é o descarte da indústria de vestuário. Este pode ser reaproveitado e reutilizado a partir de processos de doação, mesmo perante a possibilidade de um destino equivocado. Por outro lado, o descarte dos produtos de moda ocorrem em aterros e lixões, causando danos ambientais. Porém, problema maior ocorre quando as fábricas de produtos de moda descartam os resíduos do processo produtivo em aterros sem os cuidados ambientais necessários. O denim bem como outros produtos têxteis já podem de ser reutilizados através da reciclagem, uma alternativa eficaz para prosseguir com o ciclo do produto de moda. Conforme apontam Goya e Botelho (2009) se faz cada vez mais necessário a mudança de paradigmas, mediante a proposta de prolongamento da vida útil do produto de moda. Para a mudança desse cenário, faz-se necessário uma mudança radical, para que ocorra um desenvolvimento realmente sustentável (VEZZOLI, 2008), no qual o produto de moda, em todos seus parâmetros, tenha uma produção que não interfira de modo negativo no meio ambiente, conscientizando de que é a sustentabilidade a variável que irá redefinir as etapas

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do processo produtivo (MARTINS, 2010), desenvolvendo novos paradigmas para os produtos de moda.

Estudo de casos.

Alguns casos de produtos de jeans ganharam um maior destaque por suas atitudes inovadoras em face de outras, que pela tendência de abordagem da sustentabilidade, adotam o termo, porém não o conceito. As empresas que trabalham com jeanswear têm como preocupação as contaminações advindas das lavanderias, que podem vir a comprometer afluentes, a proveniência da fibra que originará o tecido. Assim, a primeira empresa a ser retratada é a Éden, que segundo a Folha de São Paulo (2011) baixa seu impacto no ambiente através do processo produtivo beneficiado de elementos naturais e matérias prima orgânicas, mas somente esses parâmetros não garantem a sustentabilidade. Assim, todo o envolvimento bem próximo de todas as etapas confiam ao produto e as práticas sustentáveis. Há um empenho de algumas empresas em desenvolver produtos que respondam à preocupação com o ambiente, de forma que influenciem os indivíduos a se conscientizarem, e estabeleçam uma contribuição positiva do design de moda com a sustentabilidade. A esse respeito os produtos da empresa carioca Tristar são um exemplo que ocorre a partir do desenvolvimento de coleções de peças jeans, a partir da introdução de um tecido orgânico, (oriundo da Alemanha) no Brasil, que não necessita de lavagem. O produto desenvolvido é acondicionado em sacos plásticos que são levados ao freezer, eliminando sujeiras e bactérias, descartando a lavagem convencional. Logo, diminuindo o consumo de água, um dos recursos naturais em estado mais agravante de desperdício e poluição (SHOR, 2011).

Para o desenvolvimento de produtos apoiados nos conceitos sustentáveis, algumas determinações e inovações contribuem para que se consiga atingir o objetivo com êxito, nesse caso, ofertar um produto sustentável que processe todo o ciclo de vida fidedignamente. A empresa norte-americana Levis, posteriormente ao estudo do levantamento do ciclo de vida de alguns de seus produtos, chegou a conclusão de que, além da necessidade de esforços na produção para um produto sustentável, havia etapas do ciclo de vida na produção que eram desconhecidos, tais como: a procedência do algodão utilizado na confecção do tecido, como é o caso dos orgânicos; o tingimento vegetal e a maneira como o consumidor fazia uso da peça adquirida. Para resolver essa questão, buscaram projetos que sanassem essas deficiências. O resultado deu-se em um produto que utiliza menos água em sua lavagem e incita os usuários a terem um maior cuidado com a água e com o produto, como apresenta a jornalista Alana Rany: ‘O jeans padrão utiliza cerca de 42 litros de água no processo de acabamento e, na coleção Water Less, a redução de água chega a 96% em alguns produtos’ (Revista Sustentabilidade, 2011). Para tal feito as mudanças ocorridas na lavanderia é que garantem a inovação. Porém, a proposta deste trabalho é procurar conhecer o grau de impacto da produção, verificando-se realmente todo o processo que gera a redução do volume de água utilizado na produção da peça jeans.

Considerações finais

O produto de moda contemporâneo, em seu segmento jeanswear, bem como em suas prospecções de um futuro próximo, indicam a preocupação com a sustentabilidade. Porém, há uma falta de compreensão do real significado que esse

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aspecto apresenta, bem como a consciência de sua amplitude no desenvolvimento e na produção dos produtos. A inserção de apenas uma parte do processo não verifica como solução dos problemas, ao contrário, essa incompletude confunde ainda mais o mercado consumidor, que é formado por pessoas que devem ser e fazer parte desse processo, e não simplesmente atuarem como receptores de uma demanda. É importante a adoção de um método para desenvolvimento de produtos que não gerem problemas aos seres e ao ambiente, onde o produto e sua produção não se apresentarem como problemas, mas sim como soluções. Cabe ao designer estudar e diagnosticar a melhor forma de minimizar os impactos ambientais, e, que, apoiados no conceito de ciclo de vida, favoreça uma aproximação dos embates na sustentabilidade que demandem no decorrer da vida do produto. As empresas de vestuário necessitam de mais investigações sobre o ciclo de vida de seus produtos, como atuam e interferem no meio ambiente, a exemplo da empresa Levi’s que além da pesquisa soube de maneira simples desenvolver métodos de utilização de menos água, necessitamos de propostas inovadoras, simples ou não, a fim de que produzamos de maneira diferente.

Referências

Botelho, C. de A.; Goya, C. R. y. Ecodesign a partir de resíduos da indústria têxtil. Estudo de caso. In: 5º Congresso Internacional Pesquisa em Design, 2009. Anais, Bauru, 2009.

Carli, A. M. S D. Moda no terceiro milênio: novas realidades, novos valores. In: Moda em sintonia, Caxias do Sul: Educs, 2010, p.80-89.

Catoira, L. A indústria têxtil e a produção de moda. In: Plugados na moda. São Paulo: Editora Anhembi Morumbi, 2006.Dougherty, B. Design gráfico sustentável. São Paulo: Edições Rosari, 2011.

Estadão. Empresas se esforçam para parecer sustentáveis. Disponível em:< http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,empresas-se-esforcam-para-parecer-sustentaveis,356083,0.htm>. Acesso em: 21 de junho de 2011.Fiksel, J. Design for environment: A guide to sustanaible product development. New York: McGraw-Hill eBooks, 2009.

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Kazazian, T. Haverá a idade das coisas leves: design e desenvolvimento sustentável. São Paulo: Ed. Senac São Paulo, 2005.

Lee, M. Eco chic: o guia da moda ética para a consumidora consciente. São Paulo: Larousse do Brasil, 2009.

Manzini, E.; Vezzoli, C. O desenvolvimento de produtos

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sustentáveis: os requisitos ambientais dos produtos industriais. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2005

Martins,S. B. O paradoxo do design sustentável na moda: diretrizes para a sustentabilidade em produtos de moda e vestuário. In: Moda em sintonia, Caxias do Sul: Educs, 2010, p.80-89.

Medeiros, M.C.; Landin, P. C.; Menezes, M.; Paschoarelli L. C. Pesquisa em Ecodesign nos Congressos do P&D Design, 2010, artigo apresentado no 9º P&D, São Paulo, pp.454-467.

Parode,F. P; Remus, B. N.; Visoná, P. Desafios da moda em tempos de crise: reflexões sobre sustentabilidade e consumo. In: Moda em sintonia, Caxias do Sul: Educs, 2010, p.65-74.

Proctor, R. Diseño ecológico: 1000 ejemplos. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2009.

Rany, A. Um jeans para reduzir o consumo de água. Disponível em:< http://www.revistasustentabilidade.com.br/blogs/minha-escolha-o-futuro/um-jeans-para-reduzir-o-consumo-de-agua> Acessado em: 14 abril 2011.

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Thorpe, A.The designer’s atlas of sustainability.Washington: Island Press, 2007.

Vezzoli, C. Cenário do design para uma moda sustentável. In: Design de moda: olhares diversos. São Paulo: Estação das letras e cores, 2008, p.197-205.

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Design de produto, gráfico,inovação e sustentabilidade

http://www.flickr.com/photos/wheatfields/591188814/lightbox/

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Design Brasileiro Contemporâneo e a Sustentabilidade: algumas vertentesProfa. Dra. Mônica Moura. UNESP - [email protected] Profa. Dra. Cyntia Malaguti. SENAC-SP / Centro Universitário de Belas [email protected]

Resumo:Esse artigo tem como proposta apresentar e analisar a relação do design contemporâneo brasileiro e a sustentabilidade a partir dos resultados de seleção dos produtos, sistemas e objetos presentes na exposição “Design, Inovação e Sustentabilidade”. Essa exposição foi desenvolvida sob a curadoria geral de Adélia Borges e foi a principal mostra da Bienal Brasileira de Design 2010, realizada em Curitiba, Paraná. O critério principal e norteador da seleção dos produtos foi o conceito “do berço ao berço” de William McDonough e Michael Braungart e também as relações existentes entre materiais, processos e atitude projetual. Os produtos selecionados para essa exposição possibilitam a obtenção de vários mapeamentos e leituras a respeito do desenvolvimento do design brasileiro e suas relações com a sustentabilidade. Alguns mapeamentos são aqui analisados sob o aspecto dos enfoques conceituais, do desenvolvimento dos produtos, de sua relação com o entorno e com a comunidade e das soluções encontradas.

Palavras-chave: Design Brasileiro, Sustentabilidade, Contemporaneidade

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Exposições, mostras, bienais: alguns aspectos conceituais

A utilização de objetos e do ambiente ao seu redor empregado como recurso para expor, salientar, celebrar, reverenciar, vender e interpretar aspectos da experiência da interação homem-objeto faz parte de nossa cultura. Esses ambientes que comunicam se constituem em uma tipologia de experiência humana e do espaço multidimensional como uma área da prática criativa e projetual crescentemente reconhecida como “design de exposições” ou “design expográfico”, que combina espaço, movimento e memória para facilitar e estimular a comunicação em vários níveis. Seja qual for o tipo de exposição, é inegável seu potencial na transmissão e interpretação de informações, abrangendo audiências e influenciando na compreensão dos temas tratados. Para tanto, o grupo envolvido neste tipo de trabalho procura moldar esta experiência, de modo a garantir que as mensagens e narrativas propostas sejam transmitidas da forma mais convincente e significativa possível (Lorenc, Skolnick e Berger, 2007). As grandes exposições, em especial as de produtos e tecnologia, começaram a ser realizadas a partir de meados do século XIX, destacando, sobretudo, a força direcional, a fascinante diversidade e o surpreendente espetáculo do progresso humano, não apenas para as elites, mas para a população em geral (Lorenc, Skolnick e Berger, 2007). Em alguns casos, inclusive, existem espaços e pavilhões patrocinados pelo governo ou indústrias. Outros destacam, no entanto, o papel das exposições de arte como o espaço de ligação entre novas proposições visuais, concepções de arte e a sociedade; ressaltam assim, seu caráter questionador, construtor de interpretações e, ao mesmo tempo, intencionalmente propositivo.

Uma exposição é uma mostra, uma apresentação geralmente constituída em torno de um assunto, uma proposta, uma temática ou um questionamento. Este direcionamento auxilia a contornar ou a estabelecer um determinado enfoque ou recorte para a seleção, reunião e organização de obras, peças, textos ou objetos de diferentes naturezas. Desse modo, quando expostos à visitação pública, despertam sensações, reflexões, pensamentos, ideias a respeito da temática tratada, explorando manifestações e auxiliando a esclarecer ou a ampliar relações, para a construção de novas questões. Uma exposição de design atende a essas questões, porém diferencia-se pelo fato de reunir e expor objetos presentes em nosso cotidiano quer sejam industrializados, serializados, manufaturados ou conceituais. O que de um lado estabelece um diálogo mais facilitador entre objetos expostos e o público, mas, por outro lado essa proximidade pode criar distanciamentos na medida em que a vivencia cotidiana com esses objetos muitas vezes impossibilita maior apreensão, observação e reflexão a respeito dos mesmos. As exposições de design articulam e comunicam a informação no desenvolvimento de produtos e são fenômenos de complexa visualidade, produto da cultura visual que desvela o produto e onde o usuário assume outro papel, de tomada de consciência a partir dos significados que elabora ao experimentar a exposição. A exposição é considerada como meio de comunicação e um espaço de educação informal (Cossio,Cattani e Curtis, 2011). Nesse contexto, é fundamental identificar-se, inicialmente, quem são os organizadores, o público alvo, o perfil (dimensão, duração) e o objetivo de determinada exposição. Velarde (1989) destaca que uma exposição, de maneira geral, procura atender aos objetivos de: “vender”, persuadir, expor, exibir, informar, agradar e esclarecer ou elucidar determinado assunto. No caso

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de uma exposição de design, o Icograda (on-line) especifica os objetivos de: fornecer um panorama geral da produção dentro de um setor do design, ilustrar e identificar atuais destaques na área, ressaltar as tendências principais do ponto de vista social, cultural e econômico que podem influenciar futuros projetos de design, ou ainda abordar um tema específico escolhido por um Curador ou Comitê Curatorial. Outro aspecto característico do setor é a dinâmica do processo de definição das temáticas abordadas, seja em espaços expositivos convencionais ou não. É comum os detentores de espaços expositivos ou organizadores de exposições temporárias definirem apenas temas ou objetivos gerais, delegando a concepção da exposição em si a um curador ou equipe curatorial, seja para se preservarem de críticas em relação ao enfoque, seleção, disposição ou apresentação do material exposto (procurando evidenciar a diferença entre estes e as feiras, onde os espaços expositivos são comercializados, e aproximar os primeiros do caráter mais cultural), seja para favorecer a construção de narrativas diferentes e, a princípio, autônomas, sobretudo em situações de eventos que se repetem regularmente. Mas evidentemente, tal autonomia tem suas limitações ou condicionantes, pré-estabelecidas pelos organizadores ou patrocinadores da exposição, em seu termo de referência, ou “briefing”. No cenário brasileiro as mostras, exposições e bienais de design, ao lado de prêmios e concursos, têm tido papel muito significativo, uma vez que ajudaram e continuam colaborando no sentido de consolidar e disseminar o campo do design, bem como a indicar, representar e documentar o que vem sendo produzido no país. Em muitos casos, são os resultados dessas mostras e os documentos gerados por elas, sejam visuais, textuais ou sonoros que constituem o registro histórico do design brasileiro.

Por sua vez, uma bienal, reúne, a cada dois anos, o que é considerado como excelência, representativo, significativo e norteador no campo ao qual se destina. Uma bienal geralmente é constituída de mostras, exposições, seminários, debates e outras expressões e manifestações culturais que envolvem a participação do público no sentido de verificar e ajudar a mapear as produções que são desenvolvidas em determinado campo ou área. As bienais de design, em todas as suas edições, foram responsáveis por divulgar designers, produtos, empresas, tanto nacionais quanto internacionais, refletindo a dinâmica do mercado, tendências diferenciadas e novas propostas, sejam elas conceituais, tecnológicas, metodológicas, materiais ou imateriais. Tanto as mostras quanto as exposições e bienais, atuam com curadores ou equipes curatoriais. E o que faz o curador ou uma equipe curadora em uma exposição? O folheto promocional do mestrado em “Curating Contemporary Design” da Universidade de Kingston (on-line), na Inglaterra, define de forma sintética que “curadoria diz respeito a contar estórias onde o conceito curatorial forte conforma a narrativa e explica uma idéia para diferentes clientes em museus, lojas ou na prática do design”. A abordagem de Francielle Filipino dos Santos, entretanto, articula mais claramente as atribuições de uma curadoria.

“É válido dizer que, a atividade da curadoria hoje, compreende desde a seleção de obras dentro de um recorte proposto, de se ter ou não um tema delimitador, a articulação das obras com o espaço da Mostra, o diálogo entre as próprias obras, a problematização de conceitos presentes nos trabalhos, até a montagem da exposição, a manutenção das obras, a elaboração de textos de apresentação e divulgação, a fim de proporcionar

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maior proximidade obras-público. O curador antes de estabelecer um discurso fechado em si mesmo, deve levantar dúvidas, pontuando algumas questões e sugerir outras tantas.” (Santos, 2010, p.2825)

Santos (2010) ressalta que o curador é quem assina a exposição sendo, em última instância, o seu autor. No processo de problematização deve buscar uma (des) conjunção de olhares na seleção e disposição das peças a serem expostas, de modo a apontar questões que gerem “prazer ou dor”. Deve apresentar um pensamento teórico, propiciando uma leitura pedagógica e/ou crítica da mostra, ou diferentes leituras (sempre a sua próprialeitura), entendendo o público não como consumidor, mas como receptor de informação. Nessa situação a exposição torna-se um espaço de reflexão e diálogo com o público. No processo os objetos expostos são transformados em documentos, ou seja, suportes para a informação. Deslocados de seu contexto e justapostos de modo singular evocam lembranças, exemplificam e inspiram comportamentos, propiciam estudos e narrativas. Segundo Adélia Borges, atuar com curadoria é “ é escolher, é tomar conta de uma coisa e escolher, editar dentro de um universo X, é fazer um recorte que resulte numa coisa coerente, numa coisa que tenha um pensamento por trás e que desperte outros pensamentos nas pessoas que entram em contato com a proposta desenvolvida, e isso é diferente de coordenar ou organizar” (Moura: 2010)

“As coisas assim selecionadas, reunidas e expostas ao olhar (no sentido metafórico do termo) adquiriram novos significados e funções, anteriormente não previstos. Essa inflexão é uma das características marcantes do denominado processo de musealização que, grosso modo, é dispositivo de caráter seletivo e político, impregnado

de subjetividades, vinculado a uma intencionalidade representacional e a um jogo de atribuição de valores socioculturais.” (Chagas, 2003. p. 18).

Bienal Brasileira de Design: contexto histórico e político

À luz dessas breves considerações, pode-se melhor compreender as implicações do contexto de realização da Bienal Brasileira de Design de 2010, na configuração da exposição central ‘Design, inovação e sustentabilidade’. Em primeiro lugar, a proposta deu seqüência a uma iniciativa governamental, oriunda do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, no âmbito do Programa Brasileiro do Design, iniciada em 2005, tendo sido precedida por duas Bienais, realizadas respectivamente em 2006, em São Paulo, e em Brasília, em 2008. Embora a iniciativa de se organizar uma Bienal de Design no país não fosse nova, após quase 40 anos da instalação da primeira escola de nível superior em design no país, mais de 15 anos de internacionalização da economia nacional, e 10 de funcionamento do próprio Programa Brasileiro do Design, a situação do país era bem diferente. A começar pelo discurso do então Ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, por ocasião da Bienal de 2006, que associava o design diretamente à dinâmica de mercado, atribuindo a ele papel chave no posicionamento do país no cenário internacional, associado à promoção da Marca Brasil:

“O design tornou-se uma das ferramentas fundamentais na concorrência de mercado. Esse diferencial possibilita agregar valor aos produtos, tornando-os mais atrativos e interessantes comercialmente. O Ministério, conhecedor desse potencial, tem estimulado o desenvolvimento de

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ações para inserção do design nos processos produtivos de empresas brasileiras, elevando o Brasil à condição de centro de excelência na produção de bens e serviços.” (Furlan, in: Bienal Brasileira de Design, catálogo. 2006 p.19)

A parceria com a organização Movimento Brasil Competitivo, da qual participavam algumas das mais importantes empresas do país, e que tinha à frente o presidente da empresa gaúcha Gerdau, transferiu ao MBC a liderança na organização do evento. Esta opção por uma instituição “âncora” ao mesmo tempo viabilizou a realização da iniciativa em dimensões inéditas no país, e marcou o direcionamento proposto, destacando a ligação entre design,inovação e competitividade.

“A grande motivação deste evento fundamenta-se na oportunidade de que a sociedade brasileira possa evoluir, de forma objetiva e intensa, em curto tempo, no resgate e na avaliação de sua capacidade de inovação a partir da estética... A proposta desta I Bienal Brasileira de Design, ao fortalecer o vínculo entre estética e inovação, nos leva a uma reflexão sobre os desafios que esse vínculo estabelece para a competitividade de nosso país.” (Gerdau, in: Bienal Brasileira de Design, catálogo. 2006 p. 10)

Assim, a vinculação do design à inovação, ao desenvolvimento do setor produtivo e à competitividade do país, constituiu-se no fio condutor da organização desta série de Bienais, ainda que no ano de 2010 o tema da sustentabilidade fosse o mote principal. A fala do presidente Lula na apresentação do catálogo da exposição demonstra claramente o propósito de se divulgar o papel do design, junto da indústria, na ‘conquista’ do desenvolvimento sustentável.

“A realização desta Bienal Brasileira de Design 2010

Curitiba – que elegeu a sustentabilidade como seu tema principal – reafirma algumas das características mais promissoras do Brasil que vivemos hoje. Por um lado, ela mostra a criatividade e a grande qualificação técnica dos profissionais e da indústria do nosso país. Por outro, reafirma que a Nação Brasileira não apenas detém um dos mais importantes patrimônios ambientais do planeta, como também é o berço de algumas das soluções mais significativas para a conquista do desenvolvimento sustentável no século XXI.” (Luiz Inácio Lula da Silva, In: Bienal Brasileira de Design, catálogo. 2010 p.9)

A escolha da sede da Federação das Indústrias do Estado do Paraná como área expositiva principal, assim como a fala do então presidente do Conselho Superior do MBC, que continuava a liderar a organização da Bienal em 2010, comprovam este direcionamento:

“Pesquisas têm comprovado resultados excelentes pela utilização do design por pequenas empresas que agregaram valor aos produtos e serviços nos aspectos visual, funcional e ecológico. Com essa prática, abriram novos mercados, aumentaram as vendas, lucros e até mesmo reduziram custo de produção... O design brasileiro tem contribuído para reforçar a marca Brasil.”(Elcio Aníbal de Lucca, In: Bienal Brasileira de Design, catálogo. 2010 p.15)

Assim, o “briefing” recebido pela curadoria da Bienal de 2010, além colocar a sustentabilidade como tema central do evento, pretendia evidenciar a vinculação do design com a inovação, a competitividade do setor produtivo, o desenvolvimento e a promoção da imagem do país. E o fato de eleger a sustentabilidade, em sua vertente política, econômica e social e, também em sua proposta de atuação, traz questões

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implícitas à inovação, afinal deve-se buscar novas formas e maneiras de pensar projetualmente e de produzir nessa nova realidade.

O processo de pesquisa e seleção de produtos

A curadoria geral da Bienal foi da jornalista, escritora e crítica de design, Adélia Borges, que também assinou a curadoria da exposição principal Design, Inovação e Sustentabilidade e da mostra Reinvenção da Matéria. O evento contou também com outras exposições que tiveram curadorias de personagens significativos do design brasileiro. E, ainda abriu espaço para o diálogo com as questões internacionais a respeito do design com o Seminário Internacional Innovation Labs e a exposição de design dinamarquês. A equipe de seleção da exposição principal foi constituída por pesquisadores e profissionais de todas as regiões do país, como forma de se evitar um foco que privilegiasse o eixo sulsudeste, buscando um conjunto mais rico e que melhor espelhasse a situação, assim como diferentes vocações e potencialidades do design nacional. A opção por uma equipe de pesquisa, afinada com o tema da exposição, também foi uma forma de filtrar e ao mesmo tempo acolher projetos cujos autores não percebessem, a priori, a ligação com o assunto. Além disso, a curadoria também contou com a colaboração de consultores em sustentabilidade que auxiliaram na definição das informações a serem fornecidas pelos projetos indicados e dos critérios de seleção, além de participarem do processo de avaliação dos mesmos. Para subsidiar o processo de inscrição de objetos de interesse identificados pelos pesquisadores, foi elaborado um formulário a ser preenchido pelos autores onde, além de um memorial descritivo, deveria ser acrescentada uma

fundamentação capaz de vincular o objeto ao tema do evento, com base no conceito de ciclo de vida do produto, e nas diretrizes principais de sua concepção. Três aspectos principais foram considerados: materiais (matéria-prima, fontes renováveis de recursos, manejo sustentável); processos (técnicas produtivas, redução das sobras, economia de energias naturais, transporte,armazenamento, logística reversa); e atitude projetual (tempo de uso do produto, sistemas de uso compartilhado ou temporário, indução a atitudes ecológicas, relação humana, novos padrões de consumo, novos valores de vida). O conceito de “ciclo de vida” associa-se à ideia de um ciclo físico, que pode ser entendido como a consideração de todos os aspectos ambientais pertinentes, no conjunto de etapas necessárias para que um produto, processo, serviço, instalação ou sistema cumpra sua função de uso, abrangendo todos os estágios sucessivos e encadeados para produção, distribuição, consumo e descarte, desde a extração de recursos naturais ou aquisição de matéria-prima ou até a sua disposição final (Silva, s.d.; Fiksel,1997). O conceito também é conhecido pela expressão “do berço ao túmulo” (cradle to grave), onde o berço é o meio ambiente de onde são extraídos os recursos naturais que serãotransformados e o túmulo é o próprio meio ambiente enquanto destino final dos resíduos de produção e consumo que não foram reusados ou reciclados pelos sistemas produtivos. A proposta de utilização de um formulário baseado no conceito de ciclo de vida tinha um duplo propósito: evitar uma concentração de propostas focadas num único e mesmo aspecto, que não integrassem uma abordagem de ciclo de vida, e auxiliar o autor do projeto indicado, a fundamentar suas características mais relevantes do ponto de vida dos aspectosambientais considerados e impactos minimizados. Oferecia-se a

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ele, assim, uma oportunidade de auto-reflexão e amadurecimento na articulação e aplicação de requisitos de sustentabilidade. Além disso, o formulário subsidiaria o processo de seleção dos projetos que efetivamente participariam da exposição. Ocorreu, no entanto, que os autores dos projetos, mesmo quando orientados pelos pesquisadores, tiveram dificuldade no preenchimento do formulário, deixando muitos itens sem resposta ou com justificativa confusa, dificultando um pouco o processo final, que exigiu, em alguns casos, pesquisa complementar dos consultores. Esse fato também indicou o quanto o assunto sustentabilidade é novo na prática, uma vez que embora o temapertença às raízes do próprio conceito de design, a inclusão e atuação com esse tema na contemporaneidade traz um série de dúvidas e questionamentos para os profissionais da área. Além disso, o processo de interação dinâmico da equipe levou a alguns ciclos de arregimentação, buscando-se um conjunto diverso também quanto aos segmentos de design representados (observou-se, por exemplo, que no primeiro conjunto de produtosanalisado, não havia nenhuma embalagem), e aspectos atendidos, assim como a identificação de iniciativas que apontassem soluções para questões ambientais emergentes como a mobilidade, o consumo de água e energia, a utilização de recursos da biodiversidade brasileira de forma inovadora, entre outros. Fazia parte do briefing ainda, evitar os produtos de caráter mais artesanal, de tal modo que se propiciasse uma reflexão, com o conjunto apresentado, sobre o design em si, e sua articulação com o setor produtivo, e não como uma prática dele descolada, “alternativa”, “à margem”, evitando-se privilegiar as discussões relativas à relação design-artesanato. Sabia-se, no entanto, que a prática, de fato, vem tendo expressiva repercussão, sobretudo nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país e, portanto,

os exemplos mais evidentes deveriam ser selecionados, desdeque tivessem produção seriada, e atendessem à temática e abordagem propostas.

O conjunto exposto

A equipe multidisciplinar que atuou no levantamento, pesquisa e seleção dos produtos partiu do princípio que os objetos, peças e sistemas selecionados deveriam apresentar excelência em design, com o quesito inovação como referência nas novas soluções, propostas e novos olhares, tendo a sustentabilidade como a questão basilar, de grande importância e preocupação. Nesse sentido, se buscou exemplos norteadores onde as soluções encontradas na esfera do design pudessem contribuir de forma significativa e inspiradora para a vida das pessoas em sua relação com o ambiente. Porém é importante ressaltar que nenhum dos produtos expostos era 100% sustentável, mas apontavam soluções e traziam propostas que atendiam a quesitos da sustentabilidade, bem como suscitavam reflexões e a conscientização sobre a sustentabilidade nos nossos dias, indicando caminhos para a ação projetual no presente e em um futuro mais sustentável. Entre as mais de 1000 inscrições recebidas, a exposição final reuniu cerca de 280 produtos vindos de 22 estados brasileiros e do Distrito Federal. Os produtos selecionados foram agrupados não por segmentos produtivos, mas por “núcleos temáticos...explicitando conexões entre díspares que compartilhem o mesmo propósito projetual.” (Borges, 2010. p. 53). Os núcleos foram organizados segundo as seguintes temáticas:• Menos: projetos marcados pela redução

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• Dize-me de onde vens: a questão da certificação da origem• Prata da casa: uso de matérias-primas naturais locais• A que será que se destina: uso de resíduos e do lixo• Liga-desliga: projetos relacionados ao consumo de energia• Gota a gota: projetos relacionados ao consumo de água• Direito de ir e vir: a contribuição do design à questão da mobilidade• Vitrine: a comunicação da sustentabilidade• Novas/velhas atitudes: como o design pode instigar e favorecer novos comportamentos• Originalidade: pesquisas e projetos calcados na inovação• Para uma vida melhor: design para o convívio, a saúde, a segurança, a alegria• Pertencimento: projetos relacionados à questão da identidade cultural O núcleo temático Menos foi constituído por projetos e produtos marcados pela redução do uso da matéria prima ou pelo uso integral do material e dos processos empregados. A denominação Menos foi empregada não como um reducionismo e sim no sentido de indicar a utilização de menor quantidade de material, redução de processos, menor consumo, estímulo ao menos na busca do melhor. Produtos com maior durabilidade, compactação, com possibilidades multifuncionais, utilização de menos espaço e menos combustível no transporte. Como exemplo, podemos citar o mancebo-estante desenvolvido por Pedro Useche intitulado Árvore Generosa. Nele a sustentabilidade se faz presente na economia de materiais e processos, pois em um único painel de Pinus certificado FSC é desenvolvido o cabideiro, que também pode ser uma estante e um cachorro de brinquedo ou peça decorativa, resultando na redução do uso de material e na redução de matéria prima, bem como em poucas sobras. O nome da peça faz referência à literatura infantil (“A Árvore Generosa” de Shel Silverstein, editora Cosacnaify, 12ª edição).

Exemplo de Produto do Núcleo Menos, BBD, 2010.Cartaz informativo do produto Árvore Generosa. Designer: Pedro Useche, SP. Fabricante: Taeda, 2010.

Outro exemplo do núcleo Menos são os painéis de tecido de Renata Meirelles, cuja concepção plástica e gráfica diferenciada, é realizada por meio do emprego da técnica de corte a laser e da costura termoadesiva. Os tecidos são elaborados em diversas possibilidades de composição de camadas, resultando

em diferentes texturas e níveis de transparência ou opacidade, além do que, geram movimento devido à leveza do material. Os resultados são destinados a painéis, divisórias, cortinas, xales. Não há sobras nem descarte, uma vez que o negativo dos recortes é utilizado para a confecção de colares, flores, cintos. Essa designer afirma que integra o artístico e o sustentável, valoriza e desafia os limites da técnica, altera o suporte, trabalha com diferentes dimensões onde os tecidos podem sair do corpo e ir para o espaço, ou vice-e-versa.

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Exemplo de Produto do Núcleo Menos, BBD, 2010.Produtos: painel, colar, xales, tecidos, pulseiras| Designer: Renata Meirelles| Produção: Performa| Fotos: Marie Ange Unbekandt

Dize-me de Onde Vens foi o núcleo destinado a reunir os produtos com certificação de origem, indicando a procedência e a origem das coisas, de como são feitas e atestadas por instituições com selos que informam sobre os materiais e processos empregados, propiciando uma religação com a origem daquilo que se utiliza e se consome. Dessa forma, auxiliam e possibilitam a atitude da conscientização ambiental. Como exemplo, temos o selo

verde FSC que certifica os produtos de origem madeireira e também papéis que utilizam essa madeira e presentes em embalagens.

O núcleo Prata da Casa destaca o Brasil como o país da biodiversidade e aponta a forma de lidar com os materiais de origem brasileira, tais como a diversidade dos tipos e cores das madeiras, a utilização das fibras vegetais, das pedras e do bambu.

Exemplos de Produtos do Núcleo Prata da Casa, BBD, 2010. Banheira de Pedra Sabão. Mesas em Madeira com marchetaria. Poltrona em Fibra de Bananeira. Fotos de Diego Pisante | Agência Clix.

Exemplos de Produtos do Núcleo Dize-me de Onde Vens, BBD, 2010. Selo de Certificação FSC. Caderias em madeira certificada. Embalagens com papel proveniente demadeira certificada. Fotos de Diego Pisante| Agência Clix.

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A Que Será Que Se Destina discute e apresenta o lixo e o descarte como um grande recurso de expansão a partir da reutilização. O poder da transformação aqui torna-se presente a partir de soluções de design. Sacolas plásticas de lixo e madeiras oriundas de demolição viram móveis, objetos e jóias. Sacos de papel utilizados para embalar cimento transformam-se em tijolos destinados a construção civil. Fios de PET geram tapetes e sobras de matérias primas provenientes de confecções assumem nova proposta em tecidos e peças obtidas da colagem de fios e resíduos. Materiais de papelaria, cartões, folders, calendários também são obtidos a partir da reutilização de embalagens e de outros produtos gráficos e de papel.

Exemplos de Produtos do Núcleo Prata da Casa, BBD, 2010. Luminárias de Palha de Trigo. Cadeira em Bambu. Bolsa em Fibra Licuri. Fotos de Diego Pisante| Agência Clix.

Exemplos de Produtos do Núcleo Prata da Casa, BBD, 2010. Bolsa de Couro de Peixe. Sandálias de Junco. Pulseira em Capim Dourado. Fotos de Diego Pisante | Agência Clix.

Exemplos de Produtos do Núcleo A Que Será Que Se Destina, BBD, 2010. Poltrona de Sacolas Plásticas de Lixo. Bancos de Madeira de Demolição. Tijolos deEmbalagens de Cimento. Fotos de Diego Pisante| Agência Clix.

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Exemplos de Produtos do Núcleo A Que Será Que Se Destina, BBD, 2010. Produtos provenientes de PETs: TaPET Broinha e Favo| Design: Claudia Araujo|Produção: Alves Araujo Têxtil| Fotos: Roberto Setton

Exemplos de Produtos do Núcleo A Que Será Que Se Destina, BBD, 2010. Cartões de Visita obtidos a partir da reciclagem de embalagens. Folders, catálogos, calendários e pastas obtidos a partir da reutilização de materiais e produtos gráficos. Fotos de Mônica Moura.

Exemplos de Produtos do Núcleo A Que Será Que Se Destina, BBD, 2010. Produtos provenientes do descarte das indústrias têxteis e de confecção: tecido, roupas, carteiras| Design e Produção: Studio Surface (Anne e Evelise Anicet)|Fotos: Denise Andrade e Juan Guerra

O núcleo Liga-Desliga trata da economia de energia em suas diversas possibilidades: redução do consumo, formas alternativas de energia, tais como a energia solar e eólica, o uso de equipamentos que auxiliam no menor consumo e maior desempenho, o uso de objetos a corda e formas alternativas como a luz de velas associada à eletricidade.

Exemplos de Produtos do Núcleo Liga Desliga, BBD, 2010. LED. Brinquedos a corda. Luminárias que mesclam energia elétrica e luz e velas. Fotos de Diego Pisante | Agência Clix.

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Gota a Gota é o núcleo que apresenta soluções para economia e redução do uso de água, tais como torneiras com reguladores e fechamentos automáticos para uso residencial ou coletivo,equipamentos que propiciam formas de lavagem mais eficientes, máquinas de lavar que reutilizam água no processo de lavagem.

Exemplos de Produtos do Núcleo Liga Desliga, BBD, 2010. Torneira com fechamento automático. Lavadora de alta pressão. Lavadora de roupas com processo de reutilização de água. Fotos de Diego Pisante| Agência Clix.

O Direito de Ir e Vir é o núcleo que tratou as questões da mobilidade, do transporte apresentando veículos e sistemas em soluções conceituais ou reais aplicadas para a melhoria dos deslocamentos e a sustentabilidade presente nesses aspectos. Veículos que utilizam em seu desenvolvimento materiais e tecnologias recicladas, projetos conceituais de carros compartilhados, táxi-bicicleta, patinetes, bicicletas elétricas destinadas a serviços de socorro automobilístico que geram economia de combustível e de tempo e facilitam os deslocamentos e a mobilidade.

Exemplos de Produtos do Núcleo O direito de Ir e Vir, BBD, 2010. Fiat Uno Concept. Patinete Motorizado. Bicicleta Elétrica para Socorro a Automóveis. Fotos de Diego Pisante| Agência Clix.

Vitrine é o núcleo que trata a comunicação da sustentabilidade. O design gráfico aqui é fundamental para a transmissão de valores e o incentivo para a mudança de atitudes e a conscientização sobre os sistemas empregados. Embalagens, superfícies em geral, sistemas produto-usuário, tabelas ambientais atestam a origem dos produtos, catálogos destacam-se com suas proposições que valorizam, incentivam e esclarecem as questões da sustentabilidade.

Exemplos de Produtos do Núcleo Vitrine, BBD, 2010. Catálogo MTV que emprega materiais reciclados provenientes de descarte e lixo na tipografia e ilustrações. Fotosde Diego Pisante| Agência Clix.

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Exemplos de Produtos do Núcleo Vitrine, BBD, 2010. Produto que utiliza a fotografia da natureza para o desenvolvimento de padronagens e estampas: Bermuda | Design: Fazenda de Imagens e Eco-Lógica Artes, Carlos Simas |Produção: Azulay e Cia Blue Man

Novas Velhas/ Atitudes é o núcleo que propõe a discussão e a reflexão sobre o que está além dos processos limpos e renováveis, pois explora os aspectos basilares referentes a mudanças de comportamento e de atitudes com relação ao mundo que nos rodeia e ao ambiente no qual vivemos. Nesse sentido, esse núcleo atua no resgate e na preservação dos comportamentos e ações que já desenvolvemos, mesmo antes da conscientização ambiental, tal como a reciclagem. A questão primordial é, por meio do design, gerar novos tipos de relações entre as pessoas, as pessoas e os objetos, os objetos e o meio. São novas atitudes promulgadas em grande parte do mundo, mas que já desenvolvíamos e não dávamos a devida importância, por esse motivo aqui chamadas de velhas atitudes. Nesse núcleo são enfocadas e exemplificadas práticas e soluções para os problemas que enfrentamos no cotidiano, tais como substitutos para as sacolas plásticas de supermercados, suportes para jardins verticais a partir de fibras de côco, pisos permeáveis que colaboram com o micro-clima das regiões, embalagens únicas de consumo/transporte.

Exemplos de Produtos do Núcleo Novas/Velhas Atitudes, BBD, 2010. Cesta para transporte de compras de supermercado. Embalagem com pega para facilitação do transporte. Pisos permeáveis. Fotos de Diego Pisante| Agência Clix.

O núcleo Originalidade apresenta soluções e produtos de design onde a inovação e a diferenciação são os aspectos de maior importância. Há que se destacar que não é inovação no sentido da novidade e sim no processo de transformação de

Exemplos de Produtos do Núcleo Novas/Velhas Atitudes, BBD, 2010. Casulos de fibra de côco para jardins verticais. Foto de Mônica Moura.

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recursos em soluções adequadas e simples que envolvem desde o uso dos materiais e matérias primas. Matérias como espuma de soja, plástico de amido de batata biodegradável.

Exemplos de Produtos do Núcleo Originalidade, BBD, 2010. Sofá com espuma de soja. Cestas com plástico de batata. Fotos de Diego Pisante| Agência Clix.

Para uma Vida Melhor é um núcleo que apresenta o emprego das questões sociais no e do design. Aqui enfoca-se o sentido da colaboração para a ecologia humana, onde objetos, produtos, serviços devem promover uma melhor relação entre as pessoas, com trocas positivas, a promoção de cooperativas, mais saúde, maior conforto, a aplicação do design universal e o destaque aos produtos que ajudam a usufruir melhor a vida. São exemplos produtos como: berço portátil desmontável, tampas de frascos e garrafas que evitam acidentes domésticos, mobiliário escolar para crianças com paralisia cerebral, entre outros.

Exemplos de Produtos do Núcleo Para uma Vida Melhor, BBD, 2010. Tampas de garrafa e frascos com sistema de proteção. Fotos de Diego Pisante| Agência Clix.

O núcleo Pertencimento atua nas questões da sustentabilidade sob as esferas ambiental, econômica, social e de identidade. Aqui o local, a história, as ações relacionadas ao lugar e aos objetos da cultura material aludem às questões do design e território, ao global, ao local e à identidade. Exemplos são os azulejos com aspectos e referências às cidades e locais onde são desenvolvidos, calçados, produtos para casa, colares que remetem, por meio desuas formas, cores e padrões às questões do resgate da memória e auxiliam a constituir a identidade cultural.

Exemplos de Produtos do Núcleo Para uma Vida Melhor, BBD, 2010. Berço Desmontável. Mobiliário Escolar para crianças com paralisia cerebral. Fotos de Diego Pisante| Agência Clix.

Exemplos de Produtos do Núcleo Pertencimento, BBD, 2010. Azulejos que remetem a cultura local de Minas Gerais. Alpercatas/Alpargatas. Sandálias Artesanais de Pernambuco em couro de bode releitura das sandálias sertanejas. Fotos de Diego Pisante| Agência Clix.

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Exemplos de Produtos do Núcleo Pertencimento, BBD, 2010. Colares que remetem às colchas de retalho. Foto de Diego Pisante| Agência Clix. Painéis, Jogo Americano, Trilho de Mesa| Design e Produção: Claudia Azeredo

Considerações Finais

A Bienal Brasileira de Design na edição de 2010 ficará marcada de forma muito positiva e significativa, especialmente pela proposta central focada na temática da sustentabilidade. Foi a primeira bienal de design no país a eleger esse tema e, dessa forma, colaborou para o mapeamento da produção nacional no aspecto da sustentabilidade, questão central na esfera do design, mas que no decorrer do tempo e perante a dinâmica da industrialização e da sociedade capitalista de consumo foi, aos poucos, esquecida. Agora é retomada em toda a sua força, porém o assunto é rico, intenso e complexo o que gera a necessidade de pensar, refletir e analisar os aspectos, as peculiaridades, as propostas que são desenvolvidas no presente formando bases fundamentais para pensar e produzir no futuro. Esses motivos nos levam a acreditar e inferir que essa edição da bienal constitui-se em referência fundamental para todos os que convivem com o campo do design. Reuniu a história, a produção contemporânea e propôs reflexões sobre o ser humano e suas relações com os objetos, a cidade e o ambiente. Referências fundamentais para todos os que convivem com o campo do design brasileiro e preocupam-se com o ser humano e o meio ambiente. Dessa forma, essa edição da bienal de design contribuiu com todos aqueles que pesquisam, produzem e, também, para com aqueles que se preparam para assumir uma profissão de forma consciente e sustentável.

Exemplos de Produtos do Núcleo Pertencimento, BBD, 2010. Produtos: Tecidos e almofadas que remetem a capital de São Paulo | Design, Produção e Fotos: Julia Fraia

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Mesa de centro em bambu laminado colado e fibra de coco

Bruno Perazelli Farias Ramos - UNESP - Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicaçã[email protected]

Prof. Dr. Marco Antonio dos Reis Pereira - UNESP - [email protected]

Ivaldo D. Valarelli - UNESP - [email protected]

Resumo:A fabricação de produtos sustentáveis exige a busca e pesquisa por novas matérias-primas que venham a contribuir com o ideal de um planeta sustentável aliado a um design belo e funcional, e nesta busca por novos materiais, encontramos no bambu uma ótima alternativa ao consumo de madeira nativa e a devastação das florestas brasileiras. Com o intuito de demonstrar a viabilidade da utilização do bambu como matéria-prima para a construção de mobiliário, foi desenvolvido e confeccionado um protótipo de mesa de centro feito com Bambu Laminado Colado (espécie Dendrocalamus giganteus cultivada no campus da UNESP de Bauru) e placas de aglomerado compostas de fibra de coco e resíduos do processamento do próprio bambu laminado. Com desenho simples e minimalista, a mesa ressalta a textura natural dos materiais utilizados e comprova a possibilidade de desenvolvimento de móveis resistentes e sustentáveis com materiais “ecologicamente corretos”, porém pouco utilizados comercialmente no Brasil.

Palavras-chave: design, bambu laminado colado, fibra de coco, mobiliário, sustentabilidade

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Introdução

O ideal de um planeta sustentável tem sido o foco de muitas pessoas e empresas por todo o mundo, que buscam trabalhar com sistemas produtivos mais limpos e desenvolver produtos sustentáveis, cujo ciclo de vida não prejudique o meio ambiente ou gere demasiados resíduos que não possam ser reaproveitados. Segundo PAPANEK (1995), o designer preocupa-se com o desenvolvimento de produtos e esta atividade exerce uma influência profunda e direta sobre a ecologia. E exatamente por isso foi criado o Ecodesign, pois este permite desenvolver um produto tendo em vista não somente sua forma e função, mas também, renovar os processos de produção e os hábitos comportamentais, visando uma maior sustentabilidade ambiental (BARBERO & COZZO, 2009). O estilo de produção ecologicamente correta, e consequentemente de produtos gerados, demanda a constante busca por novas matérias-primas que venham a satisfazer os critérios do design sustentável. Com esse intuito, foram utilizadas duas matérias-primas distintas e relativamente pouco utilizadas comercialmente no Brasil, com o objetivo de desenvolver um protótipo de mesa de centro que aliasse a beleza de seus materiais a formas simples e lineares, criando um conjunto harmônico e de poucos elementos. Um dos materiais utilizados foi o bambu, na forma de Bambu Laminado Colado (BLaC). Uma planta pouco explorada comercialmente no Brasil, o bambu, é considerado um recurso sustentável e renovável, graças à alta capacidade de geração anual de novos brotos, promoção de ciclagem de nutrientes e rápido crescimento dos colmos (GRECO, 2011). Existem cerca de 1300 espécies de bambu espalhadas pelo planeta. Segundo o International Network of Bamboo and Rattan (INBAR, 1994), a espécie de bambu Dendrocalamus giganteus é uma das 19 espécies recomendadas para introdução e experimentação, pois esta espécie apresenta grande potencial de

utilização na indústria de laminado colado, graças a características como o diâmetro de seus colmos e a espessura de sua parede. Conforme JANSSEN (1988), as propriedades estruturais do bambu, tomadas pelas relações resistência/massa específica e rigidez/massa específica, superam as da madeira e do concreto, podendo ser comparada às do aço, além disso, por se tratar de uma planta tropical, perene, renovável e que produz colmos anualmente sem a necessidade de replantio, o bambu mostra grande potencial agrícola (PEREIRA & BERALDO, 2008).O segundo material utilizado foi o coco, mais especificamente suas fibras extraídas de sua casca fibrosa, formada pelo endocarpo e o epicarpo do fruto. Assim como o bambu, o coqueiro apresenta-se como planta extremamente útil e versátil, da qual pode-se aproveitar todas as suas partes: raiz, caule, folha, inflorescência e fruto, que são utilizadas como alimento, em artesanato, para fins agroindustriais, medicinais, biotecnológicos e ornamentais (SURIANI, 2007). De acordo com SURIANI (2007), da casca retirada do coco se extraem fibras de diversos comprimentos e diâmetros, que apresentam coloração natural marrom-claro a escuro ou marrom avermelhado, e sua superfície permite boa tingibilidade, contudo, com cores que ofereçam boa cobertura. Comparada a outras fibras vegetais, a fibra de coco, apresenta teor mediano de celulose, responsável pela estabilidade e resistência das fibras, entretanto contêm grandes quantidades de lignina, responsável pela flexibilidade, assim como ela apresenta ótima resistência a ação da água e a degradação por microorganismos. Por todos esses fatores, a fibra de coco exibe grande aproveitamento em diversas áreas, como na produção de cordas, esteiras, escovas e vassouras, assim como para combustível de caldeiras, substrato agrícola e matéria-prima para móveis e estofados, entre inúmeros outros. Sendo reciclável, biodegradável e oriundo de fontes renováveis, a fibra de coco certamente é mais uma aliada rumo a sustentabilidade.

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Objetivo

Desenvolver e confeccionar um protótipo de mesa de centro em bambu laminado colado e fibra de coco.

Metodologia

Espécie de bambu Foram utilizados colmos de bambu maduros (4 anos), secos e imunizados, da espécie Dendrocalamus giganteus provenientes da coleção existente no campus da UNESP de Bauru. A Figura 1 mostra moitas desta espécie no campus da Unesp.

Figura 1. Moita de bambu gigante (Dendrocalamus giganteus). Fibra de cocoA Figura 2 mostra o material fibra de coco utilizado.

Figura 2. Material fibra de coco.

Desenvolvimento do produto

Criação do protótipo Será desenvolvido um protótipo de mesa de centro aliando as texturas dos materiais utilizados, com um desenho simples de linhas retas e formas minimalistas, como mostra a Figura 3 com a modelagem virtual do protótipo a ser produzido.

Processamento do bambu Para a obtenção das laminas de bambu, que posteriormente serão coladas para se formar o BLaC, uma série de processos são necessários, como: colheita dos colmos adultos; corte transversal; corte longitudinal; imunização e secagem; separação das ripas manualmente; retirada dos nós e diafragmas e esquadrejamento das ripas, como mostrado em PEREIRA & BERALDO (2008).

Confecção do BLaCApós o processamento do bambu in-natura para a obtenção das laminas, foi iniciado a confecção das peças de BLaC, de acordo

Figura 3. Modelagem virtual da mesa.

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com as necessidades do protótipo. Para o produto desenvolvido, dois tipos diferentes de colagens foram necessários: a colagem de topo e a face-face. Cada um dos dois tipos de colagem foi escolhido dependendo de onde a peça gerada seria utilizada, da quantidade de força que seria aplicada sobre a mesma, o peso final do produto e também se pensando no menor desperdício possível de matéria-prima. A Figura 4 mostra as colagens efetuadas.

Placas de aglomeradoSerão confeccionadas placas de aglomerado com fibra de coco e resíduos de bambu provenientes do processamento dos colmos, para utilização na confecção do protótipo.

Resultados

Placas de aglomerado A Figura 6 mostra as chapas aglomeradas de fibra de coco e resíduos de processamento do bambu confeccionadas e que serão utilizadas no protótipo.

Tendo todas as peças de BLaC e as placas de aglomerado de fibra de coco necessárias para a construção da mesa de centro, o próximo passo foi a utilização de técnicas de marcenaria para o desenvolvimento das peças que compõe a mesa e dos vários encaixes usados para sua montagem (Figura 7).

Figura 7. Encaixes realizados nas peças. Após o acabamento, um vidro foi disposto sobre a parte central do tampo, sobre as placas de fibra de coco, deixando uma superfície lisa, de toque mais agradável e mais fácil limpeza, ao mesmo tempo em que protege o aglomerado e fornece um produto mais refinado. Na Figura 8, temos o protótipo finalizado, com acabamento e adição do vidro.

Figura 4. Colagens das ripas.

A Figura 5 mostra as peças de BLaC que foram produzidas para a confecção da mesa.

Figura 5. Peças necessárias para a confecção do protótipo.

Figura 6. Placa de aglomerado de fibra de coco com bambu finalizadas.

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Figura 8. Protótipo finalizado. Conclusões

Com o desenvolvimento do presente trabalho, foi possível verificar que para o desenvolvimento de um produto sustentável, neste caso um móvel, é necessário o esforço de pesquisa e experimentação que abrange todo o ciclo de vida do produto, para que desta maneira, seja desenvolvida uma cadeia produtiva que não agrida o meio ambiente e que gere produtos duráveis e de qualidade. O uso do BLaC no desenvolvimento do protótipo foi bem sucedido, comprovando sua viabilidade como material renovável para construção de móveis, e gerando uma nova alternativa ao consumo e destruição de nossas florestas nativas. Também podemos destacar a beleza diferenciada que o bambu apresenta, e sua utilização na forma de bambu laminado como uma novidade que só tem a agregar valor ao produto final. Assim como o BLaC, as placas de aglomerado de fibra de coco com bambu também responderam de forma positiva a todas as expectativas, criando peças resistentes, de fácil produção e com baixíssima geração resíduos, além de resultar em peças com belas texturas, que podem variar somente modificando-se a porcentagem dos materiais utilizados em sua fabricação, além da possibilidade de se usar tintas de diversas cores em seu acabamento.

A combinação do aglomerado de fibra de coco com as placas de BLaC criou um móvel de beleza diferenciada e de uso promissor em movelaria, já que os dois materiais tiveram suas texturas e cores ressaltadas graças ao contraste formado entre elas. As formas retas e minimalistas da mesa permitem sua fácil execução, sem necessidade de cortes por demais complexos ou encaixes muito refinados, garantindo rápida produção e facilitando o acabamento. Referências

BARBERO, S.; COZZO B. 2009. Ecodesign. Königswinter: H. F. Ullman.

GRECO, T. M.; CROMBERG, M. 2011. Bambu: cultivo e manejo. Florianópolis: Editora Insular. INBAR 1994. Priority species of bamboo and rattan. New Delhi, India: INBAR – IDRC.

JANSSEN, Jules J. A. 1988. Building with bamboo. London: Intermediate Technology Publications.

PAPANEK, Victor. 1995. Arquitetura e design: ecologia e ética. Lisboa: Edições 70.

PEREIRA, M. A. dos R. & BERALDO, A. L. 2008. Bambu de corpo e alma. Bauru: Canal 6.

SURIANI, L. 2007. Aplicação de fibra de coco na confecção de móveis. Dissertação de graduação, Departamento Acadêmico de Desenho Industrial. Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Curitiba.

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Design Sustentável com o Bambu

Camila Kiyomi Gondo - UNESP- [email protected]

Prof. Dr. Marco Antonio dos Reis Pereira - UNESP - [email protected]

Resumo:Perene, renovável, com rápido crescimento, produção anual de colmos sem a necessidade de replantio e com milhares de aplicações, o bambu é considerado um excelente seqüestrador de carbono atmosférico podendo se tornar uma alternativa ao consumo de madeira nativa e a devastação das nossas florestas. Este trabalho visa a confecção de produtos em bambu para a geração de renda junto a comunidade do assentamento rural Horto de Aimorés em continuidade a projeto de extensão em desenvolvimento na <OMITIDO PARA REVISÃO CEGA> desde o ano 2008. O projeto prevê a confecção de produtos in natura e em bambu laminado colado (BLaC) e a transferência de informações e da tecnologia desenvolvida com bambu para a geração de renda solidaria junto a comunidade. Foram desenvolvidas placas de BLaC com texturas diversas, envolvendo o tingimento, a carbonização e o estudo de formas. As placas confeccionadas têm utilização em revestimentos, componentes de mobiliário e utensílios domésticos.

Palavras-chave: Ecodesign, bambu, desenvolvimento de produtos, geração de renda, sustentabilidade

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Introdução

O desenvolvimento sustentável entende-se como o melhor equilíbrio entre a preservação ambiental, desenvolvimento econômico e social com a intenção de promover a melhoria no padrão de vida como um todo e ao mesmo tempo garantir condições necessárias para gerações futuras. Porém, atualmente o ambiente e a população sofrem problemas devido ao crescimento econômico vigente. Assim, a busca por materiais e fontes energéticas renováveis tem se tornado uma prioridade mundial. Segundo Holmberg (1995, apud MANZINI e VEZZOLI, 2008) a sustentabilidade ambiental é um objetivo a ser atingido, ou seja, nem tudo que apresentar algumas melhorias em temas ambientais pode ser considerado realmente sustentável. Para ser sustentável cada nova proposta apresentada deve responder aos seguintes requisitos gerais:• Basear-se fundamentalmente em recursos renováveis (garantindo ao mesmo tempo a renovação)• Otimizar o emprego dos recursos renováveis (garantindo ao mesmo tempo a renovação)• Não acumular lixo que o ecossistema não seja capaz de renaturalizar (isto é, fazer retornar as substancias minerais originais e, não menos importante, as suas concentrações originais); Agir de modo com que cada indivíduo e cada comunidade das sociedades mais favorecidas permaneçam nos limites de seu espaço ambiental e, que cada indivíduo e comunidade das sociedades menos favorecidas possam efetivamente aproveitar o espaço ambiental ao qual potencialmente têm direito. As pesquisas desenvolvidas atualmente podem ser divididas em dois grandes grupos: o “grupo tecnicista”o qual acredita que a ciência e a tecnologia levarão a sociedade as soluções dos problemas ambientais e, por outro lado, o “grupo

social”, o qual acredita que somente uma radical mudança no modo de vida da sociedade, levara as reais soluções. Dentro deste contexto, o design sustentável, surge como uma proposta conciliadora para ambos, buscando tanto um equilíbrio entre as tecnologias como nas crenças da sociedade contemporânea. Objetivando uma alternativa de fixação de uma nova ética projetual, com a possibilidade de desenvolver outro sistema de significação que objetive o real desenvolvimento e bem estar do cidadão do futuro e não apenas como mais um instrumento de persuasão ao consumo excessivo. (AMARAL, 2004) Racionalidades sociais e ecológicas estão profundamente relacionadas ao design, pois sendo este elo entre os princípios técnico-cientificos e artísticos (HAMAD, 2002) e sendo o homem o principal trans formador do meio ambiente, torna assim impossível o discurso sobre o processo produtivo e seus impactos ambientais, sem discutir também o design. Alem disso, design não esta ligado exclusivamente a relação estético/formal dos objetos, mas atua tambem com as potencialidades da pratica de vida e de uma comunidade, ou seja, seus hábitos e formas de relações com o ambienta em que vive. Enfim, design como processo de criação de novas realidades, que interferem diretamente no modo de vida cotidiana criando assim, segundo a teoria de Peirce (1939-1914 apud SILVEIRA, 2005) uma semiose de novas estéticas, éticas e lógicas, ou seja, novos hábitos e crenças coletivas. Contudo, a inclusão da variável ambiental no design de produtos, obriga o setor produtivo adotar novas metodologias, ferramentas e materiais que colaborem com a inserção ambiental em suas atividades. (BITTENCOURT,2001) Considerando os crescimentos demográficos previstos e tendo como hipótese que é normal a população dos países hoje em desenvolvimento procurar um aumento do bem-estar,

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a necessidade pela eco eficiência das tecnologias aplicadas ao meio de produção se sobressai, e neste item temos um resultado interessante, a condição de sustentabilidade a ser atingida só seria possível se aumentada em pelo menos dez vezes. Em outras palavras, podemos considerar sustentáveis somente aqueles sistemas produtivos e de consumo cujo emprego de recursos ambientais por unidade de serviço prestado seja, pelo menos, 90% inferior ao atualmente aplicado nas sociedades industrialmente mais avançadas. (1993 e 1995, apud MANZINI e VEZZOLI, 2008). Com o crescente desmatamento das florestas tropicais, bem como sobre as áreas de reflorestamento, torna-se cada vez mais necessária a busca por materiais renováveis e soluções alternativas capazes de atenuar este processo. A cultura do bambu, embora seja milenar em nosso planeta, tem sua utilização e pesquisa, em sua maioria, restritos aos países orientais, sendo que ultimamente no ocidente, uma maior atenção vem sendo dedicada a esta cultura. O bambu é uma cultura predominantemente tropical, renovável, perene, de produção anual, de rápido crescimento, com centenas de espécies espalhadas por todo o planeta e com milhares de aplicações além de ser considerado um rápido seqüestrador de carbono atmosférico. De acordo com Manzini e Vezzoli (2008) o efeito estufa é constituído 50% pelo gás carbônico e o restante determinado por outros gases. O tempo de absorção da atmosfera para estes gases superam o século. Do gás carbônico, 80% provêm dos processos de obtenção de energia (petróleo e carvão), 17% através das produções das indústrias e os 3% restantes de desmatamentos florestais. Analisando estes dados entende-se a significativa contribuição que o cultivo do bambu pode exercer na atual realidade. Além de seu caráter ecológico o bambu possui, ainda, características físicas e mecânicas que o tornam apto a

ser utilizado no desenvolvimento de produtos normalmente produzidos com madeira nativa ou de reflorestamento.Embora não se pense no bambu como uma solução exclusiva para os problemas relacionados ao meio ambiente e/ou a diminuição acentuada de nossos recursos florestais, ele pode ser considerado e estudado como uma alternativa ou um material alternativo e de baixo custo a ser explorado. A produção de colmos é rápida, sem a necessidade de replantio, podendo ser imediatamente implementada sua cultura e exploração no campo. O bambu como matéria-prima possui inúmeras vantagens ambientais e é amplamente utilizado para confecção dos mais variados produtos como forma alternativa na geração de trabalho e renda, justamente pela facilidade de aquisição, manejo e processamento. Destaca-se ainda por apresentar uma alternativa aos problemas enfrentados pelos setores florestais nacionais com o déficit de madeira de reflorestamento. Tropical, perene, renovável, o bambu é o recurso natural que menos tempo leva para ser renovado, não havendo nenhuma espécie florestal que possa competir em velocidade de crescimento e aproveitamento por área. (JARAMILLO, 1992) Possui grande potencial agrícola por ser uma cultura tropical, perene, renovável e produzir colmos anualmente sem a necessidade de replantio, é um excelente seqüestrador de carbono, podendo ser utilizado em reflorestamentos, mata ciliar e como protetor e regenerador ambiental, além de poder ser empregado como matéria-prima em diversas aplicações. (PEREIRA e BERALDO, 2008) Os aumentos da escassez e da valorização dos produtos florestais madeireiros contribuem para que sejam direcionadas pesquisas visando o uso do bambu em diversas aplicações visto que respeita vários quesitos de sustentabilidade.

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Objetivos

•Promover o desenvolvimento sustentável através de ações de ecodesign.• Desenvolver e confeccionar placas de revestimento com bambu laminado colado (BLaC)

Metodologia

Espécie de bambu

A espécie a ser utilizada é o bambu gigante (Dendrocalamus Giganteus) existente em plantio experimental na <OMITIDO PARA REVISÃO CEGA>. A Figura 1 mostra uma moita de bambu gigante existente na <OMITIDO PARA REVISÃO CEGA>.

seguintes etapas são necessárias para a confecção de placas em BLaC ( Pereira & Beraldo. 2008):• Colheita: Os bambus são retirados da Área agrícola existente na <OMITIDO PARA REVISÃO CEGA>. São colhidos apenas bambus com acima de 5 anos de idade por possuir características mecânicas e físicas ideais para a produção de BLaC.

• Transporte• Desdobro em serra circular destopadeira: Corte em sentido transversal dos colmos em 90 centímetros.• Desdobro em serra circular refilandeira dupla: Corte em sentido longitudinal para obtenção de ripas ainda com casca.• Tratamento: Os colmos são mergulhados durante 15 minutos em solução de Octaborato.• Secagem: Após o tratamento são depositados no túnel de vento ate atingirem a tava de umidade de 20%.• Remoção dos nós internos e externos das ripas na serra circular.• Beneficiamento final em Plaina de 2 faces para a obtenção das ripas• Colagem lateral: A cola utilizada neste projeto é uma cola de madeira com catalisador (Casco-rez 2590 / Catalisador CL). O tempo de cura da cola é de quatro horas, porém este valor pode variar de acordo com o clima.• Prensagem: Esta é a etapa final e tem como objetivo conter as ripas em suas devidas posições durante a cura da cola. Neste projeto utilizou-se a prensa manual.

Placas de Revestimento

As placas em BLaC tem a função de base das placas de revestimentos finais a serem obtidas.

Figura 1. Moita de bambu da espécie Dendrocalamus Giganteus

Confecção de placas em BLaC

De acordo com a experiência prévia existente no <OMITIDO PARA REVISÃO CEGA>, as

O revestimento será feito através do corte de ripas em seções de 25 x25 mm como mostra a Figura 2.

Figura 2. Peças de bambu após corte na serra de fita.

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Serão confeccionadas três placas de revestimento, todas utilizando uma placa de BLaC como base e quadrados de bambu.

1. Peças de bambu natural, dispostos intercaladamente na placa de base formando textura.2. Peças tingidas com tingidor vinho dispostas intercaladamente formando textura.3. Peças carbonizadas e peças de bambu natural e dispostas intercaladamente.

Primeiro serão cortados os bambus em quadrados de 25mm X 25mm na serra de fita obtendo assim um padrão. Após o corte, as peças serão lixadas utilizando se três gradações diferentes lixa numero 80, 200 e 400, e em seguida são coladas na placa de BLaC . Uma vez seca, será passada a massa de madeira para cobrir o espaço entre os quadrados de bambu.

Resultados

Após a realização do corte das ripas de bambu e o lixamento, as peças foram dispostas intercaladamente de forma que as fibras ficassem no sentido horizontal e vertical e coladas na base de BLaC, como mostra a figura 3.

Figura 3: Disposição e colagem das peças na base

Após a espera da secagem da cola, foi realizada o rejunte entre as peças para obter a face lisa e uniforme, como mostra a figura 4.

Figura 4: Rejunte com massa de madeira Com a massa seca, a placa passou pela desempenadeira, obtendo-se uma superfície lisa e homogênea. Em todas as placas foram passadas uma camada de seladora e uma de verniz.Para o acabamento da placa 2, utilizou-se tingidor vinho , como mostra a figura 5.

Figura 5: Rejunte com massa de madeira

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Peças finaisNas figuras 7, 8 e 9, observa-se as peças finais.

Figura 7: Placa 1 Figura 8: Placa 2

texturas, agregando valor nos produtos produzidos em bambu.A confecção das placas provou que diante dos processos necessários para transformação, das possibilidades de forma e caráter estético, o bambu laminado colado (BLaC) é uma possibilidade tecnicamente viável , podendo se tornar uma alternativa de substituição da madeira na produção artefatos.

Referências

PEREIRA, M. A. dos R. 2001. Bambu: Espécies, Características e Aplicações. Apostila. Departamento de Engenharia Mecânica, Unesp. Bauru

PEREIRA, M.A.dos R. & Beraldo, A.L. 2007. Bambu de corpo e alma. Bauru: Canal 6 editora. 239p.

PEREIRA, M.A.dos R. & Beraldo, A.L. 2008. Bambu de corpo e alma. Bauru: Canal 6 editora. 39p.

MANZINI E. & VEZZOLI C. 2008. Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis: os requisitos ambientais dos produtos industriais. São Paulo: Edusp. 366p.

AMARAL, L. A. O objeto: imagem como signo da promocao social de consume. In: 6º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM DESIGN, 2004, São Paulo: FAAP, 2004.

BITENCOURT, A. C. P. Sistematizacao do reprojeto conceitual de produtos para o meio ambiente. In: 3º CONGRESSO DE GESTAO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO, 2001, Florianopilis: UFSC, 2001

HAMAD, A. F. Presenca do design no desenvolvimento tecnológico da agricultura. Monografia (Trabalho de Conclusao de Curso em Desenho Industrial). UFSC. Florianopolis, SC, 2002.

PEIRCE, C.S. Semiotica. 3 ed. São Paulo: Perspectiva, 2003.

JARAMILLO, Juan C. La guadua em los grandes proyectos de inversión. In: Congresso Mundial de Bambu/ Guadua. Colombia: Pereira 1992

Na placa 3, metade das peças de bambu foram carbonizadas durante duas horas a 140ºC. Pode-se notar a diferença de tonalidade pela figura 6.

Figura 6: Peças carbonizadas

Figura 9: Placa 3

Conclusões

As placas de revestimento produzidas demonstram que é possível criar produtos não só com o bambu in natura, mas também com placas de diversas

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Desenvolvimento de mobiliários de bambu laminado colado sob conceitos de Ecodesign

Hugo Hissashi Hayashi Hisamatsu - UNESP - [email protected]

Prof. Dr Marco Antonio dos Reis Pereira - UNESP - [email protected]

Resumo:Encontra-se o bambu laminado colado como proposta de material empregado em favor do desenvolvimento sustentável, agregando aos produtos valores econômicos, sociais e ecológicos, sendo o bambu uma planta de rápido crescimento, ótimo sequestrador de carbono, além de ser uma fonte de material alternativo renovável, podendo substituir, em alguns casos, o metal e a madeira. O presente trabalho demonstrará a viabilidade do emprego do material e seus processos de produção através da execução de protótipos representados por um sistema modular de mobiliário, seguindo-se, durante o projeto, conceitos de Ecodesign, na tentativa de se reduzir o impacto ambiental dos produtos, considerando-se, assim, além da matéria-prima utilizada, parte do seu ciclo de vida e conceitos de Desmaterialização, empregando-se a menor quantidade possível de material, Design for Assembly (Design para a montagem) e Do-it-yourself (Faça você mesmo), em que o próprio usuário é responsável pela montagem do produto. Assim, têm-se como resultado produtos leves e compactos, com menor volume, e com reduzido emprego de recursos energéticos durante sua logística, distribuição e armazenagem.

Palavras-chave: ecodesign, bambu laminado colado, mobiliário

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Introdução

Recentemente, a humanidade tem se preocupado cada vez mais com questões ambientais decorrentes da maneira como o ser humano interage com o planeta. Dessa forma, o modo como a sociedade lida com temas como a extração da matéria-prima, a emissão de gases nocivos, a geração de refugos industriais e os descartes inadequados de material é repensado.De acordo com Kazazian (2005), a crise do petróleo foi o primeiro sinal econômico do esgotamento dos recursos naturais do planeta, o que já havia sido alertado através da publicação do livro Limits of the Growth (Limites do Crescimento) pelo Clube de Roma, que conclui que no caso de uma generalização dos padrões de consumo dos Estados Unidos em todos os países, chegar-se-ia a uma multiplicação por sete do consumo de recursos naturais disponíveis no planeta. Já de acordo com o WWF (2008), a demanda pelos recursos naturais já excede em 30% da capacidade de regeneração do planeta. Nesse sentido, o Design deve tomar o desenvolvimento de produtos sustentáveis como intrínseco uma vez que, para Manzini e Vezzoli (2005), a função do design industrial liga o tecnicamente possível ao ecologicamente necessário, mantendo e considerando os aspectos sociais e culturais da sociedade. Nesse âmbito, o Design também colabora para o desenvolvimento de produtos mais ecologicamente corretos, como, por exemplo, a aplicação de novos materiais, metodologias e conceitos aplicados em projetos como é o caso do presente trabalho, no qual se demonstra o desenvolvimento de um produto mobiliário sob conceitos de Ecodesign e a aplicação de material alternativo renovável – o bambu laminado colado.

Objetivos

Através de revisão sobre aspectos ligados ao Ecodesign, à sustentabilidade e ao desenvolvimento e história do mobiliário, teve-se como objetivo o projeto de um produto modular e multifuncional, de baixo custo, destinado principalmente a moradores de pequenos espaços como casas populares em que a demanda por tal tipo de produto é maior, empregando-se a tecnologia do bambu laminado colado.

Revisão bibliográfica

Para o desenvolvimento de produtos sustentáveis deve-se considerar que o consumo também sustentável será possível apenas se marcas populares, e não apenas marcas de nicho, se tornarem social e ambientalmente responsáveis, focando-se também na aplicação dessas responsabilidades nos produtos populares e de maior circulação e promovendo uma forma de democratização da sustentabilidade (Kleanthous & Peck 2007; Underwood 2008). Essa generalização de produtos responsáveis deve vir acompanhada de produtos consolidados e de qualidade para incentivar ainda mais o consumo de tais produtos (Gordon 2002; North Venture Partners 2007). Ao falar sobre produtos acessíveis, é importante citar Prahalad (2005), que defende a produção de produtos destinados à baixa-renda. O autor faz importantes observações para que empresas engajem-se para incluir a parcela da população de base de pirâmide como mercado consumidor em potencial, fornecendo os benefícios da globalização com o acesso a produtos e serviços de qualidade de nível global a esses consumidores.

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Dessa forma, esta pesquisa buscou o desenvolvimento de um produto confiável, simples e que fosse potencialmente acessível economicamente na forma de produto popular destinado a moradias de pequenos espaços.

Mobiliário

De acordo com Santos (1995), a história do móvel moderno no Brasil pode ser dividida na fase antes de 1930, na qual se seguia o estilo colonial, cópia e mistura de velhos estilos e a fase após 1930, na qual, impulsionado pela arquitetura moderna, o mobiliário sofreu forte modernização, coincidente com a consolidação da indústria brasileira, o que possibilitou a produção desses produtos em série. Além disso, a influência das manifestações culturais e sociais juntamente com os meios de produção (técnicas e materiais) pode ser observada na habitação. O racionalismo, por exemplo, que no Brasil se consolidou na década de 1950, trouxe consigo mudança na sociedade e na forma de morar, influenciado principalmente pelo cinema (Mendes de Carvalho & Cavalcanti 2009). Santos (1995) cita o início da racionalização do desenho e da produção do móvel no país com a Cama Patente de Celso Martinez Carrera. A simplicidade que caracterizava a cama, entretanto, não era de ordem estética, mas sim relacionada a questões econômicas, valorizando-se a funcionalidade e tornando-a viável industrialmente a um custo acessível, o que foi justamente a causa de seu sucesso. Tal cama foi um ponto marcante do mobiliário brasileiro, já que trouxe mudanças no projeto, execução, construção, comercialização, consumo e do gosto desse tipo de produto. Nesse contexto, pode-se observar a função do design em mobiliário. Segundo Folz (2002), o design é tido como um

campo restrito onde somente os aspectos estéticos do produto são considerados. A falta de conhecimento do que significa o design e a área que ele abrange faz com que as indústrias o considerem fator irrelevante, o que é mais grave nos mobiliários para o consumidor de menor poder aquisitivo. Torna-se necessário, assim, iniciativas do design aplicado em mobiliários populares, uns dos objetivos deste trabalho, inclusive o que Martucci (1990, apud Folz 2002) definiu como alguns princípios básicos para o móvel como respeito às características regionais, à capacidade tecnológica, aos requisitos ambientais e funcionais e à racionalização do produto durante a produção. Quanto ao último princípio, a racionalização, de acordo com o autor, os seguintes princípios devem ser seguidos: modulação, padronização, precisão, normalização, permutabilidade, mecanização, repetitividade, divisibilidade, transportabilidade e flexibilidade. Se tais princípios forem seguidos corretamente, coincidem com os requisitos para o projeto de produtos sustentáveis sem que isso implique em um custo elevado, atingindo, inclusive, o público de baixa renda. Para tanto, é necessário, de acordo com Folz (2002), considerar a acessibilidade econômica e as dimensões da moradia dessa parcela da população, de espaço cada vez mais reduzido, tornando esses produtos mais compactos, versáteis e com características multifuncionais.Ecodesign e sustentabilidade O termo “sustentabilidade”, de acordo com International Institute for Sustainable Development (2007), foi definido pelo relatório “Nosso futuro comum” ou relatório Brundtland, de 1987, englobando juntos os aspectos ambientais, culturais, sociais e econômicas. Kazazian (2005) afirma que o documento envolve alternativas econômicas realistas, integrando, pela primeira vez, esses quatro elementos.

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Assim, surge o conceito de ecoeficiência que, segundo World Business Council for Sustainable Development (2000), se dá através de produtos e serviços com preços competitivos que satisfaçam as necessidades humanas e a qualidade de vida, reduzindo-se os impactos decorrentes da produção. Para tanto, pode-se, ainda de acordo com o autor, utilizar os seguintes elementos para melhorar a Ecoeficiência:• Redução do uso material;• Redução do uso de energia;• Redução da emissão de substâncias tóxicas;• Aumentar a reciclagem;• Aumentar o uso de material renovável;• Estender a durabilidade;• Aumentar a prestação de serviços. Já o Ecodesign, tenta reduzir o impacto ambiental do produto e do processo produtivo através de diversos recursos dentre os quais o Life Cycle Design, que para Manzini e Vezzoli (2008), tem como objetivo a redução de inputs de matéria e energia e outputs de refugos e emissões nas fases de pré-produção, produção, distribuição, uso e descarte, avaliando-se as conseqüências ambientais, econômicas e sociais decorrentes dos processos envolvidos. Além disso, existem técnicas para o desenvolvimento de produtos econômica e ambientalmente sustentáveis que não estão limitados ao material e aos processos mais limpos.Manzini e Vezzoli (2008), apontam, como exemplo, os produtos concentrados, compactos com alta densidade durante o transporte e armazenamento, montáveis no local de uso e mais leves, possuindo a distribuição e armazenamento otimizados.Outro fator que deve ser considerado durante o desenvolvimento é a obsolescência, profundamente relacionada ao descarte, mesmo quando os objetos ainda apresentam boas condições

de uso. Segundo Cooper (1999), a crença de que a duração dos produtos possui um impacto negativo na economia hoje é inconcebível, estando o fator econômico superado pelo oferecimento de serviços de pós-venda como reparo, recondicionamento e atualização deles. Manzini e Vezzoli (2008) afirmam que os bens duráveis, principalmente aqueles sujeitos a obsolescência cultural, devem ser de consumo reduzido, possuir menor impacto durante produção e distribuição e ser constituídos de materiais que possuam vida útil prolongada. Assim, deve-se considerar durante o projeto de um objeto, o impacto ambiental do material, da produção, do uso e do descarte. Para minimizar tais problemas, deve-se considerar a extração da matéria-prima, os benefícios dessa matéria-prima, o meio de produção limpo, a obsolescência do produto, entre outros critérios. Para isso, durante a etapa projetual, podem-se citar conceitos que auxiliem no desenvolvimento de produtos de impacto ambiental reduzido, entre os quais o Design for Assembly, o Do-it-yourself, a Customização, o Design for Upgrade, que serão descritos a seguir.

Design for Assembly e Do-it-yourself

Produtos vendidos desmontados podem possuir vantagens ambientais, já que segundo Manzini e Vezzoli (2008) e Kazazian (2005), além de possuir preço menor, ocupam espaço diminuído durante armazenamento e transporte, otimizando tais processos e resultando em um menor impacto ambiental nessas etapas. Para o desenvolvimento de produtos montáveis surge o conceito de Design for Assembly (Design para a montagem), que de acordo com Appleton e Garside (2000, apud Costa et al., 2005), procura obter o menor número de peças possível, fácil

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manuseamento e montagem, eliminando-se peças desnecessárias. Tal montagem pode ser realizada pelo próprio usuário, tendo-se o nome de “Do-it-yourself” (DIY) ou “Faça você mesmo”. De acordo com Gorini (1998), o conceito DIY surgiu nos Estados Unidos nos anos de 1950, quando se identificou o público feminino como um nicho de mercado para materiais de construção, adaptando-se esses produtos a tal público; com isso, perceberam-se as possibilidades do “Faça você mesmo”. Na Europa, o conceito popularizou-se na década de 70, consolidando-se na França com o nome de bricolage. Atualmente, ainda de acordo com a autora, é crescente a quantidade de mobiliários “Do it yourself” e “Ready to Assemble” (pronto para montar) e que não necessita de montador, o que barateia o custo do produto e aumenta a sua competitividade. Além do fator econômico e ecológico, Kazazian (2005) defende que através do “Do-it-youself” o usuário pode explorar sua criatividade sobre as possibilidades que o objeto fornece. A criatividade e a interação usuário-produto, conforme citou o autor, são fatores importantes a serem considerados e abordados no produto a ser apresentado neste trabalho, valorizando-se também o aspecto emocional, o que evita o seu descarte precoce, sendo interessante abordar o tema da customização e da modularidade, ferramentas que podem ser utilizadas de forma eficiente no Ecodesign e que serão descritos a seguir.

Modularidade e customização

Segundo Godinho e Fernandes (2006), o termo Customização em Massa teve origem com Stanley David com o seu livro “Future Perfect”, onde o fornecimento de produtos customizados não implica em produtos disponibilizados a preços elevados. Os autores descrevem sobre a customabilidade, que representa

a capacidade de se gerar alternativas dentro de um mix de produtos estabelecidos previamente. De acordo com Pelegrini (2005), a demanda de produtos e serviços customizados é crescente, já que os consumidores procuram cada vez mais soluções que atendam às suas necessidades individuais. As empresas, para responder a tal demanda, otimizam os recursos e custos, com grande flexibilidade e agilidade sem perder capacidade e eficiência. Para Lampel e Mintzberg (1996, apud Royer & Fogliatto 2004), a customização é atingida por meio de produção feita sob medida, havendo a entrega de produtos individualizados configurados de acordo com a solicitação dos clientes.Com um produto customizado, que se adeque melhor às necessidades do consumidor, evita-se o descarte precoce dele. Dessa forma, até mesmo a obsolescência e suas consequências ambientais podem ser reduzidas. Outra característica que pode facilitar a substituição de partes dos objetos avariados é a modularização, que também permite uma flexibilização e a melhor adequação às necessidades do usuário, possibilitando, além disso, uma aquisição pelo consumidor aos poucos do produto almejado.Pelegrini (2005) cita Walter Gropius, fundador da Bauhaus, escola alemã de design, que uniu a padronização com o funcionalismo e sistematização da produção industrial, nascendo desse conhecimento, a aplicação dos módulos construtivos Baukasten em construção de edifícios. Para Mikkola (2000, apud Cardozo 2005), a modularização intensifica o aproveitamento dos componentes entre as famílias de produto através de um melhoramento das interfaces das peças.Dessa forma, tratar de produtos em forma de módulos também favorece a customização deles, já que para suportar a customização, desenvolve-se uma plataforma de produto

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que atenda às necessidades e permita uma rápida configuração e alteração dos componentes e módulos, atendendo as especificidades do consumidor, sendo a modularização a prática mais empregada (Salvador et al. 2002, apud Fetterman & Echevest 2010). Além de se poder configurar o produto, o usuário também pode atualizá-lo, substituindo-se apenas as partes envelhecidas. Tal assunto é tratado pelo Design for Upgrade, descrito a seguir.

Design for Upgrade

Como solução para o suprimento das necessidades dos consumidores sem que seja necessária a aquisição de novos produtos e o descarte dos antigos, propõe-se apenas a atualização deles. Assim, Manzini e Vezzoli (2008) afirmam que a atualização ou upgrade deve considerar que quantidade significativa de peças permaneça inalterada, substituindo-se apenas as partes gastas ou envelhecidas. Ainda de acordo com os autores, a atualização dos produtos contribui para o prolongamento da vida útil deles. Produtos sujeitos ao envelhecimento tecnológico, por exemplo, podem permitir a substituição das peças envelhecidas. Para isso, são interessantes produtos intercambiáveis modulares e reconfiguráveis. Barbosa e Roos (2010) definem a diferença, na indústria automobilística, entre Facelift e Design for Upgrade no desenvolvimento de veículos. O Facelift tem por objetivo o interesse de um lançamento de um produto novo e diferenciado, o que possui um caráter negativo no aspecto ambiental já que emprega e explora recursos durante sua produção (inputs), além de gerar maior quantidade de emissões (outputs). Já o Design for Upgrade também pode gerar um interesse dos consumidores de forma semelhante, entretanto com reduzido impacto ambiental, já que promove apenas a atualização do produto sem lançar um novo automóvel

por inteiro, aproveitando a maior parte do veículo como base para tais alterações estéticas ou funcionais. Dessa forma, o Design for Upgrade busca a extensão da vida dos produtos, incentivando o reuso e projetando uma atualização no pós-venda. Os autores citam como exemplo, sem encontrar similar de produto sob o Design for Upgrade na indústria automobilística, o tanque M1 Abrams, que foi desenvolvido em forma de plataforma para comportar atualizações periódicas como sistemas de armamentos, equipamentos e eletrônica. Seus componentes são atualizados, reparados ou substituídos, aumentando o ciclo de vida do produto, sendo também mais viável economicamente do que a aquisição de novos veículos.Embora citem a indústria automobilística, a mesma situação pode ser observada em móveis sujeitos à obsolescência por estilo e o lançamento de novos modelos, promovendo o descarte precoce de produtos em ótimas condições de uso, ou com pequenas avarias ao longo do tempo, o que também pode ser solucionado com o Design for Upgrade. Kazazian (2005) também acredita que um meio possível é favorecer o reparo do produto, manutenção ou atualização, criando-se uma relação afetiva entre usuário e objeto. Segundo o autor, os móveis raramente são consertados, sendo descartados e rapidamente substituídos por novos produtos. Para um produto durável, conceito para a economia leve, outras abordagens podem ser realizadas como a utilização de aparências menos influenciadas por modas passageiras e o uso de materiais resistentes. Quanto aos danos no produto, de acordo com Manzini e Vezzoli (2008), o custo do conserto do é determinante. Atualmente, na maioria dos casos, apenas os produtos de maior valor são reparados, sendo importante padronizar as peças – nesse caso, o tema da modularidade também parece

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ser interessante –, para que a substituição delas seja facilitada. Tal substituição de peças também pode ser aplicada e facilitada durante o Design for Assembly e ao upgrade do produto.

Demais conceitos e material empregado

Outro conceito empregado é a desmaterialização, na qual se reduz significativamente a quantidade material empregada na produção do produto, utilizando-se apenas o que seja realmente necessário para o bom funcionamento dele. Também ligada à desmaterialização, a multifuncionalidade faz com que um produto possa exercer funções de dois ou mais produtos juntos o que, segundo Manzini e Vezzoli (2008) é uma forma de se reduzir a quantidade de material empregado. No caso de móveis, tal conceito já é utilizado, tendo, segundo Folz (2002), sua origem nos pequenos espaços dos trens e navios a vapor, onde o mobiliário devia possuir diferentes funções durante o dia e durante a noite. Quanto ao material empregado, de acordo com Janssen (2000, apud Barelli 2009), o bambu, além de excelente sequestrador de carbono, pode ser utilizado em reflorestamentos e matas ciliares e como regenerador ambiental. Além disso, as propriedades estruturais do bambu superam, em alguns casos, as da madeira e do concreto, podendo ser considerado sustentável por possuir grande potencial agrícola, sendo uma cultura renovável que produz colmos anualmente sem necessidade de replantio. Assim, o bambu apresenta diversas vantagens ecológicas e econômicos, sendo utilizado neste trabalho na forma de Bambu Laminado Colado, cuja técnica será descrita a seguir.

Materiais e métodos

Projeto do móvel

Realizado o levantamento bibliográfico, baseando-se nos conceitos apresentados, elaborou-se uma análise de sistemas análogos aos conceitos apresentados e que foram aplicados no projeto do móvel em bambu a ser apresentado. O mobiliário projetado deveria ser de desenho simples, a exemplo da Cama Patente citada por Santos (1995), e deveria atender bem aos conceitos de Multifuncionalidade, Desmaterialização, Design fo Assembly, Modularização, Customização e Do-it-Yourself, conforme os conceitos de Ecodesign de Kazazian (2005) e Manzini e Vezzoli (2008). Deu-se início ao projeto do mobiliário, seguida da preparação do material, confecção do Bambu Laminado Colado (BLaC) e execução do protótipo. O produto foi devidamente dimensionado e modelado em software de modelagem 3d. Em seguida, o material foi processado para a obtenção do Bambu Laminado Colado e a execução de um protótipo do móvel.

Obtenção do Bambu Laminado Colado (BLaC)

O bambu da espécie Dendrocalamus Giganteus, após colhido e seco, foi seccionado em partes, através de uma serra circular, os quais foram divididos em sentido longitudinal para a obtenção de segmentos como mostrado na Figura 1. Após a secção longitudinal, o diafragma de cada nó que mantêm os segmentos unidos foi rompido, obtendo-se a separação das ripas, retirando-se, em seguida, as irregularidades das peças para a obtenção de ripas planas como mostra a Figura 2. A Figura 3 exibe a obtenção do BLaC obtido através da colagem de ripas sobrepostas e prensadas.

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Figura 1: Secções de bambu e a obtenção de secções para ripas

Figura 2: Obtenção de ripas

Figura 3: Prensagem e obtenção do BLaC

Assim, nas figuras seguintes, demonstra-se o resultado do trabalho, podendo ele ser usado como cavalete, suporte ou local onde se pode guardar e organizar pertences, conforme figura 4. Dobrável, o módulo é bastante versátil e leve, ocupando espaço reduzido quando guardado.

Na figura 5, apresenta-se a aplicação do módulo na forma de cavalete para mesa, outra função que o produto pode possuir.

Resultados e discussões

Mobiliário projetado

O mobiliário deveria partir de uma plataforma sobre a qual o usuário pudesse realizar sua própria customização e melhor uso do produto conforme seu gosto e necessidade. Deveria ainda ser multifuncional e modular conforme a revisão bibliográfica acima.

Figura 4: Módulos do

mobiliário

Figura 5: Cavalete para mesa

Nas figuras 6,7 e 8 observa-se o protótipo confeccionado em BLaC e as propostas de diversos usos.

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Figura 6: Protótipo Figura 7: Proposta de uso como suporte

Figura 8: Proposta de uso como cavalete Conclusões

Ao mobiliário obtido deve-se ainda desenvolver acessórios e mecanismos para serem empregados sobre ele como bolsos que sirvam de recipientes para se guardar objetos e travas para

servir de cavalete. Outros protótipos serão executados para estabelecer modularidade entre peças. Assim, o projeto, ainda em desenvolvimento, foi um exemplo da aplicação da tecnologia do bambu laminado colado (BLaC) e dos conceitos de Customização, Design for Assembly, Modularidade, entre outros conceitos que podem contribuir para o Ecodesign através de um produto simples na forma de plataforma com diversas aplicações e uso, demonstrando as possibilidades de produtos inovadores e viáveis de reduzido impacto ambiental.

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Desenvolvimento de mobiliário em bambu laminado sob os conceitos de ecodesign

Mariana Lourenço - Graduanda em Desenho Industrial - UNESP - [email protected]

Prof. Dr Marco Antonio dos Reis Pereira - UNESP - [email protected]

ResumoÉ grande a necessidade por contínuos estudos de alternativas aos problemas que tangem o sistema produtivo atual. O Bambu como matéria-prima se tornou um assunto de grande relevância, visto que ele respeita a sustentabilidade nos quesitos ambiental, cultural, social e econômico. Para demonstrar a viabilidade do material e aperfeiçoamento sob um viés diferente, foi projetado e confeccionado um protótipo de uma cadeira de Lâminas de Bambu, espécie Dendrocalamus giganteus, cultivada no campus de Unesp. Ao contrário do modo de projeto mais comum, foi utilizada uma estratégia de design para que não houvesse a geração desnecessária de resíduos do material. Este fato costuma acontecer durante o corte de peças, devido ao não aproveitamento total das chapas de bambu laminado colado (BLC) previamente produzidas. Foram utilizadas técnicas como lâminas trançadas e confecção de moldes a quente para as colagens e curvamentos, sem a necessidade da produção das chapas.

Palavras-Chave: Design, bambu laminado, curvamento, mobiliário, sustentabilidade

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Introdução

Um dos temas que mais se discute na atualidade é a adequação de nossos sistemas de produção para que possamos viver em harmonia com o planeta. Todas as áreas do saber estão na corrida contra o tempo, buscando novos conhecimentos para amenizar o prejuízo já existente e evitar que sejam causados novos. O profissional designer possui um importante papel neste equilíbrio, pois muito da produção de coisas que nos auxiliam a viver melhor, mas que em contrapartida também podem fazer mal ao meio ambiente, são projetadas por ele. O pensamento sustentável virou uma máxima dentro de um projeto de design, por isso é muito importante a pesquisa e desenvolvimento de novos materiais, projetos e sistemas. Nesse cenário, o bambu entra com um grande colaborador. Qualidades como regenerar o solo, seqüestrar carbono, ter o crescimento rápido e ser muito versátil fazem dele um ótimo substituto da madeira, a qual tem sua extração como um grande problema ambiental. Tendo em vista estas questões, o presente trabalho teve como objetivo desenvolver um estudo de um modo diferenciado de confecção do Bambu Laminado Colado (BLC), o qual utiliza lâminas paralelamente prensadas e curvadas à quente. Para isso, foi confeccionado um protótipo de uma cadeira de lâminas de bambu, procurando aproveitar as qualidades oferecidas pelo material, dentre elas a flexibilidade, bem como potencializar as características sustentáveis no projeto, pensando-o desde a extração da matéria-prima até seu descarte.

Revisão bibliográfica

Design sustentável Há 2,7 milhões de anos o homem pré-histórico projetou sua primeira ferramenta. Este fato se tornou tão importante para a história, que virou o marco inicial para idade da Pedra. As invenções de artefatos que facilitem de alguma maneira relacionamento do ser humano com seu entorno caminharam junto durante sua evolução, mas foi apenas com a Revolução Industrial no século XVIII que a produção de maneira organizada em larga escala começou a tomar forma. À partir de então, o ser humano se viu na Idade Contemporânea, no entanto, o que parecia o auge de seu desenvolvimento através do sucesso de produção de conhecimento sobre instrumentos, métodos e processos empregados nos diversos ramos industriais, acabou também se tornando motivo de preocupação.

Muitos dos atuais esforços para manter o progresso humano, para atender às necessidades humanas e para realizar as ambições humanas são simplesmente insustentáveis - tanto nas nações ricas quanto nas pobres. Elas retiram demais, e a um ritmo acelerado demais, de uma conta de recursos ambientais já a descoberto, e no futuro não poderão esperar outra coisa que não a insolvência dessa conta. Podem apresentar lucros nos balancetes da geração atual, mas nossos filhos herdarão os prejuízos. Tomamos um capital ambiental emprestado às gerações futuras, sem qualquer intenção ou perspectiva de devolvê-lo. (Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1991, p:8).

Nesta subtração onde a diferença é negativa em termos de recursos naturais, pode-se dizer que um dos responsáveis pela maneira como o desenvolvimento do processo industrial

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se dá atualmente é o designer. Ele ‘tem um papel fundamental na transformação da sociedade, porque trata de novidades que afetam o modo de vida dos consumidores e lida com mudanças previsíveis, seja de produtos e aplicações ou até de serviços’ (Macedo, Fachinetto & Nascimento, 2006). Nota-se que seu trabalho não influência apenas a venda de produtos. O design sustentável pode vir a ser um agente transformador da própria demanda do consumo, e deste modo pode causar mutações na sociedade nos âmbitos social, cultural e econômico. Através do caráter de conscientização acaba influenciando as opiniões e relações entre as pessoas, mudando paradigmas e produzindo sua própria estética. A preocupação deste profissional deve-se estender além do material utilizado ou seu descarte, mas também à responsabilidade social, pois ‘sabemos que o controle do impacto provocado no ambiente pelas atividades humanas depende de três variáveis fundamentais: A população, a procura do bem-estar humano e a ecoeficiência das tecnologias aplicadas.’ (Manzini & Vezzoli, 2008, p:29). A responsabilidade muitas vezes mal interpretada pelo profissional é comentada neste ensaio, no qual a autora diz inquietar-se com o modo como a profissão de designer tem formado suas noções de responsabilidade social. Segundo ela, freqüentemente definido por atos de generosidade ou ambientalismo, a profissão de design, em muitos casos, limita a responsabilidade social em atos de benevolência ou boa vontade. Segue o trecho:

I have always felt a certain unease with the general ways in which the design profession as framed notions of social responsibility. Frequently defined by acts of generosity (i.e., pro bono designs for not-for-profit-agencies) or environmentalism (i.e., the use recycled paper and soy-based inks), the design profession, in many cases, limits social responsibility to acts of benevolent or good will.

(Bush A. apud Heller & Verónique, 2003, p:25) A discussão sobre responsabilidade também pode ser notada no termo Ecodesign. A definição de Fiksel (1996) para o termo diz que ‘projeto para o meio ambiente é a consideração sistemática do desempenho do projeto, com respeito aos objetivos ambientais, de saúde e segurança, ao longo de todo ciclo de vida de um produto ou processo, tornando-os ecoeficientes’. Muitos ainda consideram Ecodesign como uma dentre as várias abordagens que o designer pode fazer em seu trabalho. Entretanto, a preocupação da sustentabilidade refletida no termo deveria torná-lo praticamente um pleonasmo da palavra Design. Neste contexto, é fácil ser induzido ao pensamento de que a produção industrial é a grande causadora dos problemas enfrentados atualmente. Todavia, este tipo de funcionamento produtivo é também observado na natureza, porém de maneira mais eficaz. É o que mostra esta analogia inusitada na qual constataram que ‘as formigas superam, juntas, a biomassa de humanos no planeta e vêm agindo de modo industrial por milhões de anos, sendo extremamente produtivas sem, no entanto, perturbar e colocar em declínio quase todos os ecossistemas da Terra’ Os autores arrematam seu pensamento afirmando que ‘a Natureza não tem um problema de design, as pessoas têm.’ (McDonough & Braungart, 2002, apud Rodrigues & Castillo, 2010) Deve-se adicionar que:

‘O conceito de desenvolvimento sustentável tem, é claro, limites - não limites absolutos, mas limitações impostas pelo estágio atual da tecnologia e da organização social, no tocante aos recursos ambientais, e pela capacidade da biosfera de absorver os efeitos da atividade humana. Mas tanto a tecnologia quanto a organização social podem ser geridas e aprimoradas a fim de proporcionar uma nova era de crescimento econômico. (Comissão

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Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, p.9) Por acreditar nesta visão, este estudo pautou-se em torno do tema sustentabilidade, prevendo discutir a utilização do bambu como material pelo designer. Durante o projeto, partiu-se da estratégia de design no qual todo o ciclo de vida do produto é levado em conta, pois ‘o impacto ambiental não é determinado por um produto e menos ainda por um material que o compõe, mas pelo conjunto de processos que o acompanham durante todo o seu ciclo de vida.’ (Manzini & Vezzoli, 2008, p:289). Deste modo, a estratégia consistiu em projetar-se desde a colheita do material, até seu descarte.

Bambu e sustentabilidade: considerações gerais

‘O bambu se ajusta à idéia de “para todas as pessoas” [...], é uma possível norma planetária no sentido de sua vitalidade unida ao querer humano, pois pode-se facilmente produzi-lo suficientemente para todos e para qualquer das mil coisas que se queira fazer.’ (Farrely, 1984, apud Pereira & Beraldo, 2007, p.154)

‘Historicamente, o bambu tem acompanhado o ser humano fornecendo alimento, abrigo, ferramentas, utensílios e uma infinidade de outros itens. Atualmente, estima-se que contribua para a subsistência de mais de um bilhão de pessoas. Igualmente importante ao lado dos usos tradicionais, tem sido o desenvolvimento de usos industriais do bambu.’ (Sastry, 1999).

‘Sua admirável vitalidade, grande versatilidade, leveza, resistência, facilidade em ser trabalhada com ferramentas simples, sua formidável beleza ao natural ou processado, são qualidades que tem proporcionado ao bambu o mais longo e variado papel na evolução da cultura humana do que qualquer

outra planta’ (Farrely, 1984, apud Pereira & Beraldo, 2007) Apesar de já muito infiltrada na cultura de países orientais, sua inserção cultural no ocidente ainda está em andamento. ‘É inegável o paradoxo de que o Brasil, detentor da maior reserva natural de bambu do mundo (só nos estados do Acre e Amazonas temos aproximadamente 70 mil Km² e 20 mil Km² respectivamente), seja um dos países que menos utiliza este recurso natural.’ (Fialho; Tonholo; Silva, 2005, p. 3) A insuficiência dos recursos naturais é um dado real, ‘em 2004 o déficit de madeira de reflorestamento foi de 11.3 milhões de m3 no Brasil’ (Aguiar, 2004). Tal dado só confirma a realidade atual:

‘poucos duvidam que os problemas ecológicos condicionarão cada vez mais o desenvolvimento, os processos industriais e os assentamentos humanos, sendo já considerado o século XXI como o século do meio ambiente. Assim, a busca por materiais renováveis e fontes energéticas não convencionais tem-se convertido em uma prioridade mundial neste início de século’ (Salame & Viruel, 1995).

Durante esta busca por materiais alternativos que permitissem à natureza um respiro, o bambu acabou recebendo uma enorme atenção. ‘Este material possui características intrínsecas ao desenvolvimento sustentável, constituindo-se por um modelo de produção limpa, localizada e barata, tais características atendem às questões econômicas, ecológicas e sociais hoje emergentes no Brasil’ (Fialho; Tonholo; Silva, 2005). Ao analisar o fator econômico de maneira isolada, pode se afirmar que:

‘é possível a redução de custos dos produtos que utilizam o bambu como matéria-prima, especialmente

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nos casos em que o processamento do bambu represente utilização de energia, considerando que seu processo consome menos energia em relação a outros produtos com a mesma finalidade’ (Fialho; Tonholo; Silva, 2005).

Um outro ponto importante é e a possibilidade da criação de negócios e geração de empregos, visto que este material possui exploração de baixo custo já que a produção de colmos é rápida e sem a necessidade de replantio, podendo ser implementada de imediato sua cultura e exploração no campo. Além do baixo custo de produção, esta gramínea predominantemente tropical possui características físicas ótimas.

‘Pode chegar a até 30m de altura em determinadas espécies, e no entanto, o alcança com mais velocidade que qualquer outra planta, levando um broto a média de 3 a 6 meses. Possui também ótimas características físicas, químicas e mecânicas; flexibilidade; além de ser considerado o “aço vegetal” devido à sua relação dureza-massa específica aparente ser superior ao aço.’ (Pereira & Beraldo, 2007)

Em suma, podemos listar os fatores sustentáveis do bambu nos seguintes pontos:• Capacidade de regeneração do solo, além de evitar erosão• Espécie florestal de melhor aproveitamento por área e renovação por tempo, além de sua velocidade de crescimento permitir a colheita de colmos e brotos a partir do terceiro ou quarto ano, muito antes que qualquer outra árvore• É considerado um ótimo seqüestrador de carbono• Possui facilidade para estabelecimento do plantio, já que não exige tecnologias complexas• Transporte, e conseqüentemente seus gastos energéticos, são

minimizados devido ao peso leve se comparado às madeiras.• Versatilidade no uso, principalmente como matéria-prima agregadora de valor econômico. Compreendem suas aplicações desde moradias, acabamentos, paisagismo, utensílios, fibras para tecidos, alimento, combustível, papel; até aplicações na medicina, farmácia e química.• É um material alternativo à madeira, possibilitando assim evitar a cadeia de problemas que sua extração acarreta - devastação de florestas pela extração, agravamento do efeito estufa causado pela liberação de CO2 das queimas, etc.

Material e Métodos

Espécie de bambu utilizada Foi utilizado o bambu gigante – Dendrocalamus giganteus, o qual é de uso mais freqüente neste tipo de processo devido as suas adequadas dimensões de altura, diâmetro e espessura de parede. Ele é relativamente comum em nosso meio rural e de fácil reprodução e cultivo. Foram plantadas um total de 25 moitas desta espécie no ano de 1995 no Laboratório de Experimentação com Bambu, e desde 2001, obtém-se uma produção média de 225 colmos anualmente, os quais estiveram disponíveis para o projeto. A Figura 1 mostra uma moita de bambu desta espécie.

Figura 1. Moita de bambu gigante

(Dendrocalamus giganteus)

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Adesivo PVA

Na produção da cadeira foi utilizado o adesivo de Cascorez 2590. Ele é composto de acetato de polivinila, conhecido como PVA a base de água e não poluente.

Brainstorming

Existem algumas idéias desenvolvidas por estudiosos que facilitam a fluidez da criatividade. Uma delas, desenvolvida por Osborn (1987), é conhecida como o brainstorming ou “tempestade de idéias”. Algumas de suas etapas serviram como estruturação da fase de criação do objeto. São elas a pesquisa sobre o problema, reunião e análise dos dados, incubação das idéias, fluidez das idéias em sketches, para futuramente haver a verificação das idéias obtidas de maneira mais racional e escolha da idéia final. Durante o processo, foram levados em conta os conceitos de sustentabilidade pesquisados, entre eles o cultivo e manejo adequado do material, o mínimo de desperdício, não utilização de outros materiais poluentes ou que dificultem o descarte, ergonomia e funcionalidade adequada para garantir sua vida-útil longa sem o descarte prematuro.

Processamento para confecção de Lâminas

Para produção da cadeira de lâminas é necessário processamento do bambu, o qual ocorre do modo descrito a seguir (Pereira & Beraldo, 2007).

Desdobro em Serra CircularEste processo se dá na máquina conhecida como destopadeira ou serra circular. Ela é utilizada para cortar o bambu em partes menores facilitando os processos seguintes.

Desdobro em Serra Circular DuplaPara o colmo virar ripas é necessário passar pela serra circular dupla. Nela, o bambu é passado no sentido longitudinal por duas serras separadas na distância que terá a lâmina, também chamada de ripa. É possível tirar, em média, sete ripas, variando de acordo com a distância entre as serras. Retirada dos NósMesmo após o desdobro duplo, o colmo deve ser atirado com força contra o chão para que o impacto rompa a ligação que ainda havia nos nós, liberando as ripas. Na retirada dos resquícios de nós que ficaram nas ripas, bem como a região saliente externa à ele, utiliza-se uma serra circular. Desengrosso nas Quatro FacesPara que a casca e curvatura externa e interna das ripas sejam retiradas, elas passam por uma desengrossadeira composta de duas tupias para cortes laterais, uma para corte interior e uma para corte superior, as quais podem ser reguladas para a obtenção de medidas específicas de largura e espessura. Confecção do protótipo

Após a definição do produto a ser confeccionado e com as lâminas prontas, um protótipo foi executado em laboratório, buscando estudar e resolver aspectos ligados a confecção dos componentes do objeto bem como do desenvolvimento e utilização de moldes curvos.

Resultados

O resultado do braistorming foi a primeira modelagem 3D, vista na Figura 2. A cadeira possui dois perfis curvados idênticos para o acento, e dois perfis curvados idênticos para os pés. Eles são unidos e suportados por barras. (Figura 2)

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Figura 2. Modelagem 3D e região das barras de união.

Um ponto a se destacar é que o acento possui um trançado de lâminas, aproveitando desta maneira a característica interessante de flexibilidade que elas possuem. As horizontais individuais e as verticais duplas, prensadas e curvadas a quente. Alguns ajustes foram feitos, dentre eles a barra de apoio traseira, a espessura dos perfis e barras – que passarem de 2,5cm para 2cm - e o tamanho do acento trançado, o resultado está na Figura 3.

Confecção do protótipo da cadeira

Trançado do assentoA Figura 4 mostra uma simulação para que fosse testada a resistência do assento. O teste foi conduzido com algumas pessoas de pesos diferente, e ele demonstrou suportar as forças aplicadas.

Figura 4. Simulador do acento Confecção de peças e moldes curvosDurante o primeiro teste a idéia era curvar as ripas uma por uma a quente, e depois colá-las a frio com a ajuda de um molde de madeira. Foram utilizados tiras de ferro curvadas no ângulo e medidas necessárias aos perfis projetados. Elas eram superaquecidas com um maçarico a gás por aproximadamente dez minutos para que a lâmina fosse curvada a altas temperaturas.

Figura 3. Modelagem final e desenho técnico

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O processo apresentou problemas, dentre eles o gasto de energia à gás, o tempo de trabalho gastos em todo o processo e a falta de controle sobre o calor, que acarretou na imprecisão nas curvaturas e em eventuais regiões escurecidas.

Uma nova experiência para prensagem e curvamento de lâminas à quente foi adaptada de RAMOS (2010) utilizando-se

dois moldes macho e fêmea feitos de madeira, o qual teria tiras de alumínio em altas temperaturas - esquentado por resistências de chuveiro enroladas numa tira de duratree e ligadas à energia elétrica - na superfície de contato com as lâminas, curvando ao mesmo tempo várias ripas ao invés de uma a uma. Foram feitos quatro moldes até que fossem completamente aperfeiçoados. Optou-se por utilizar esta prensagem apenas para as regiões curvas como pode ser visto na Figura 7. As peças retas foram confeccionadas no processo tradicional de BLaC (Pereira & Beraldo, 2007) e unidas nas peças curvas com encaixe finger joint, como pode ser visto na Figura 8. A Figura 9 mostra as curvas finais obtidas e a Figura 10 à confecção do assento.

Figura 8. BLaC prensado à maneira tradicional e unidos com finger joint

Figura 6. Lâminas

com pouca uniformidade

nas curvaturas.

Figura 5. Curvamento

com maçarico

Figura 7. Ripas retas sendo prensadas e curvadas a quente

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Figura 9. Peças curvas finais

As lâminas únicas horizontais e as duplas verticais do acento e encosto foram prensadas no meio dos perfis. Além disso, antes da última prensagem que corresponde à união do perfil lateral com a extremidade das lâminas horizontais, elas foram umedecidas para permitir que fossem trançadas com mais flexibilidade. A Figura 11 mostra o protótipo final da cadeira.

Conclusão

Primeiramente, pode-se observar várias características positivas com respeito a aspectos ligados a sustentabilidade, principalmente quando comparadas aos métodos e materiais convencionais normalmente utilizados. Outro fator importante diz respeito ao desenvolvimento e pesquisa do processo de confecção artefatos com bambu laminado colado, que pode contribuir para sua futura utilização tanto em mobiliário como em outros objetos. Foi possível constatar resultados referentes à estratégia de design sustentável adotada com a diminuição de impactos

Figura 10. Lâminas horizontais, verticais do assento

Figura 11. Protótipo final

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ambientais na produção. Em contra partida aos métodos tradicionais de produção do BLaC, o qual passam pela fase de confecção de chapas retangulares antes da sua utilização final, foi possível diminuir significativamente o gasto de material pulando essa etapa. Ao optar por um objeto composto apenas por lâminas prensadas somente por uma face a partir de moldes, foi possível utilizar apenas a quantidade desejada do material, diminuindo a quantidade de resíduos. Pode-se notar também que prensagem do acento juntamente aos perfis, além de evitar o uso de parafusos, se apresentou tecnicamente simples e uma ótima solução para união dos conjuntos de peças. O trançado de lâminas demonstrou ser uma estrutura eficaz, visto que não é somente interessante estéticamente, mas também resistente ao peso de uma pessoa de percentil médio. Além disso, o objeto foi projetado sem a utilização de materiais secundários, no qual a produção pode estar ligada a poluição ambiental. Neste caso, seu descarte também é facilitado por ser mono material. A baixa quantidade de emprego de material faz com que o impacto do transporte e logística seja minimizado, já que é um objeto leve. Ademais, por ser similar à madeira, o BLaC permite certa abertura com relação à criação do desenho, além de possibilitar a exploração de uma característica interessante do bambu: a flexibilidade, a qual pôde ser vista nas curvaturas e no trançado das lâminas. O desenho simples permite uma versatilidade de ambientes a ser utilizada, dentre eles sala de jantar, cozinha, quarto, lojas, entre outros. O refinamento possibilitado pelo design e pelos processos envolvidos ajuda-no a eliminar a idéia de rusticidade que o material costuma carregar. Estes fatores fazem com que o objeto seja mais atraente para que sua utilização seja estendida

por mais tempo, evitando assim o consumo de um novo objeto, e conseqüentemente todos os impactos poderiam proporcionar.Pode-se perceber até o presente momento que são muito as possibilidades de exploração do bambu para o design, e com o aprofundamento dos estudos nos seus diversos usos como esse, se afirma um material alternativo muito conveniente.

Agradecimento

Ao orientador Prof. Dr. Marco A. R. Pereira, ao Grupo Taquara e à Mariana S. Basso.

Referências

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Design solidário, extensão e geração de renda

Sabrina Antunes Saboya - Graduanda em Desenho Industrial - UNESP- [email protected]

Prof. Dr Marco Antonio dos Reis Pereira - UNESP - [email protected]

Resumo:O bambu constitui uma fonte de matéria prima altamente renovável e sustentável. Planta tropical, perene e com produção anual de colmos sem necessidade de replantio, possui ainda excelentes características físicas e mecânicas que o habilitam a substituir a madeira de floresta em muitas aplicações. Como parte de um projeto de extensão em desenvolvimento na UNESP de Bauru este trabalho propõe a confecção de produtos em bambu e utiliza o design sustentável como estratégia para a transferência de tecnologia, a capacitação e geração de renda solidária junto a comunidade do assentamento rural Horto de Aimorés. Para tanto se propõe o desenvolvimento de protótipos para uma linha de relógios de mesa ou parede utilizando placas de bambu laminado colado (BLaC) ou bambu in natura, além de outros materiais naturais de modo a agregar valor e gerar produtos e renda através do ecodesign.

Palavras- chave: ecodesign, bambu, geração de renda, extensão universitária.

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Introdução

Nas últimas décadas, a disseminação do conceito de sustentabilidade, não apenas em seus aspectos ambientais, mas também no tocante as suas implicações sociais, juntamente à crescente conscientização acerca do problema ambiental tão latente nos dias correntes têm levado à discussão e à reorientação de novos comportamentos sociais, isto é, à procura por produtos e serviços que motivem a existência de processo produtivos e produtos considerados ambiental e socialmente amigáveis (MANZINI & VEZZOLI, 2008). Segundo Papanek (1992), tal transformação inevitavelmente passa a ser mediada pelas mãos do design, o qual em tempos de produção em massa, nos quais tudo deve ser desenhado e planejado, este se tornou a mais poderosa arma com a qual os homens configuram suas ferramentas, ambientes e por extensão sua própria sociedade e a si mesmos, tanto para o mal quanto para o bem. Nesse sentido, o ecodesign, que vem a fim contribuir para a construção de uma visão de mundo mais aceitável, solidária e de racionalidade não predadora e que busca produzir sem destruir, conceber um objeto do cotidiano, do mais elementar ao mais sutil, tornando seu uso durável e seu fim assimilável, desempenha seu papel guiando-nos rumo ao desenvolvimento sustentável das relações humanas e de uma economia baseada na solidariedade (KAZAZIAN, 2005). Tal premissa do ecodesign é reforçada pelo entendimento de que os problemas ambientais estão intimamente ligados às condições econômicas e sociais e à necessidade de integração desses elementos(MOUSINHO, 2003, apud BARELLI, 2009). Em tal cenário de crescente busca por modos de produção e matérias-primas mais sustentáveis, bem como de escassez de

recursos naturais, a pressão sobre os recursos florestais nativos e de reflorestamento é evidente. Segundo dados do documento The Global Forest Resources Assessment 2010 – Main Report (FAO, 2010), a taxa global de desflorestamento vem mantendo-se alta apesar de sua lenta diminuição. Ao mesmo tempo, a FAO estima que 13 milhões de hectares de florestas do mundo são perdidos a cada ano, principalmente devido ao desmatamento para conversão de florestas em outros usos (ONU, 2011). No cenário nacional a área afetada anualmente pela atividade madeireira na Amazônia, catalisando o desmatamento, é de 10 mil a 20 mil quilômetros quadrados, ademais, graças ao aumento da demanda por madeira nos últimos anos, somando à falta de incentivos financeiros, atualmente fala-se do apagão florestal, que seria a falta de madeira em quantidade suficiente para atender a demanda do mercado em determinado período de tempo (SNIF). Nessa via, aliado ao uso de novas tecnologias, tem-se estimulado o desenvolvimento de materiais alternativos para substituir a madeira, tendo como objetivo a sustentabilidade socioambiental (RIVERO, 2003 apud BERALDO& SZUCS 2010). O bambu, essa planta de uso milenar, ganha, dessa forma, cada vez mais destaque devido suas inúmeras vantagens ambientais, econômicas e sociais, além de versatilidade de uso e aplicação e por seu intrínseco caráter gerador de renda e trabalho. Isso se dá, primeiramente, por se tratar de uma cultura tropical, perene, renovável, com produção anual de colmos sem necessidade de replantio, fato que lhe confere um grande potencial agrícola, além do fato de ser um excelente seqüestrador de carbono. Ademais, o bambu ainda possui ótimas características físicas, mecânicas e químicas que também contribuem para sua extensa gama de aplicações como matéria – prima (PEREIRA & BERALDO, 2007).

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Outro aspecto é o de que sua aplicação em relação ao conceito de ciclo de vida de um produto possuir aspectos positivos não só nas fases de pré- produção, por se tratar de uma matéria- prima de todo renovável, como também na de descarte por ser biodegradável. (BARBERO & COZZO, 2009). Além de tais virtudes ambientais, o bambu pode ser considerado como instrumento de desenvolvimento econômico e social, pois quando sua tecnologia é apropriada por pequenos agricultores rurais, esta pode contribuir para a geração de trabalho e renda, devido ao seu simples manejo e facilidade de transformação e trabalho da matéria- prima através de ferramentas básicas, podendo ser cultivado em pequenas áreas ou naquelas que não se destinem à agricultura convencional (BARELLI, 2009). No que toca o campo do design, principalmente do design sustentável, sua maior contribuição está, portanto, não só na sua versatilidade física e estética, bem como em seu caráter renovável, os quais permitem sua utilização na mais variada série de produtos de acordo com os critérios de sustentabilidade. Nessa área, uma de suas aplicações mais promissoras é na forma de bambu laminado colado (BLaC), pois esta alia a possibilidade de agregação de valor a um grande número de produtos que podem ser confeccionados com esse material , substituindo assim , em muitos casos, a utilização de madeiras convencionais, sendo hoje utilizado desde a produção de chapas, painéis, compensados e móveis, até na construção civil (PEREIRA & BERALDO, 2007). Outro fato importante é o fato de que os resíduos resultantes da fabricação do BLaC são passiveis de serem reutilizados na confecção de chapas de aglomerado. Em tal contexto, dentro do Projeto Bambu existente campus de Bauru da UNESP, surgiu o Projeto de extensão Taquara, formado por alunos de Design e Arquitetura e Urbanismo, o qual

além de promover pesquisas e investigações sobre confecção e aplicação do bambu laminado, ainda soma e promove práticas de geração de renda solidária junto a um grupo já organizado dentro do Assentamento Rural Horto de Aimorés, o Grupo Agroecológico Viverde, através da capacitação de seus membros na cadeia produtiva do bambu e na confecção de produtos artesanais em bambu com valor agregado por meio do emprego de noções estéticas e de design nos produtos, os quais são comercializados em feiras locais e por meio de encomendas pelos próprios assentados. Dessa forma, fazendo uso de todas as potencialidades ambientais, sociais e econômicas do bambu, bem como de seu derivado, o BLaC, o foco do presente projeto é a elaboração de uma proposta de linha de relógios de parede e de mesa em bambu laminado colado em conjunto com outros materiais naturais de custo acessível,no caso, o tecido de chita, como forma de promover a geração de renda solidária para esses membros da comunidade, através de sua futura confecção e comercialização. Para tanto, previu-se a confecção de dois protótipos de relógios em bambu laminado colado e tecido de chita, como forma de se antever a viabilidade de produção e a aceitação comercial de tais produtos.

Metodologia

Etapas de processamento

Primeiramente, foi iniciada a produção das placas de bambu laminado necessárias para a confecção dos protótipos. Para tanto, foram colhidos colmos maduros (quatro anos) da espécie Dendrocalamus giganteus, mais conhecido como bambu gigante, existente em plantio experimental no campus local da UNESP.

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Após a colheita, o colmo segue por uma série de fases de processamento que permitem sua transformação em ripas e posteriormente em placas de bambu laminado colado, de acordo com experiência prévia já desenvolvida pelo Laboratório de Experimentação com Bambu da UNESP de Bauru (PEREIRA & BERALDO, 2007). Resumidamente, os colmos colhidos são cortados transversalmente em serra circular, longitudinalmente em serra circular refiladeira dupla para a obtenção de ripas e finalmente as ripas são laminadas em plaina duas faces, como mostrado na Figura 1.

As ripas obtidas são coladas manualmente com o adesivo Cascorez 2590 / Catalisador CL e prensadas por cerca de quatro horas em prensa manual para obtenção das placas em BLaC como mostra a Figura 2.

As placas em BLaC podem ser processadas e/ou acabadas em equipamentos e processos normais de marcenaria como mostrado nas Figuras 3 e 4.

Figura 3. Uso de desengrossadeira e desempenadeira em placas de BLaC.

Figura 1. Corte transversal, corte longitudinal e laminação das ripas

Figura 2. Colagem, prensagem da ripas e placas em BLaC.

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Figura 4. Corte e lixamento das placas.

Confecção dos Protótipos

Para a confecção dos protótipos, elaborou-se o projeto de cada peça (sketch e desenhos técnicos), seguido do planejamento sobre os tipos de moldes e colagens apropriados para cada produto, como pode ser verificado nas Figuras 5 e 6 nas quais se pode observar as etapas de projeto de cada um dos dois protótipos de relógios de parede.

Figura 5. Rascunho, modelagem em 3D e desenho técnico do protótipo 1.

Figura 6. Rascunho, modelagem em 3D e desenho técnico do protótipo 2. Resultados

Protótipos

A Figura 7 mostra os protótipos de relógio de parede confeccionados em chapa de BLaC e tecido de chita.

Figura7. Protótipos de relógios de parede em BLaC e tecido de chita finalizados.

Da confecção dos protótipos observou-se que as placas de BLaC podem ser trabalhadas normalmente com ferramentas

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e máquinas comuns de marcenaria, demonstrando a viabilidade técnica de sua utilização na confecção de uma linha de relógios. A aplicação do tecido de chita em composição com o bambu se mostrou interessante,uma vez que além de agregar valor ao produto de forma não dispendiosa, ainda possibilita a variação de padrões obtendo-se, dessa forma, relógios diferentes por meio da mudança de estampa. Os protótipos finalizados receberam boa aceitação pelo público consumidor e revelaram- se tecnicamente viáveis e potenciais geradores de renda para o projeto de extensão, uma vez que ambos foram vendidos em uma mostra do projeto ocorrida na UNESP, assim como encomendas para novos relógios dos mesmos modelos foram recebidas.

Projeto de uma linha de relógios

Utilizando a técnica de modelagem em 3D são propostos alguns modelos de relógios de mesa e parede para futura confecção pelo projeto para geração de renda desde que os protótipos se mostraram tecnicamente viáveis. As Figuras 8 e 9 propõe uma linha de relógios de mesa e parede a qual poderá ser confeccionada e comercializada gerando renda para a comunidade participante do projeto de Extensão em desenvolvimento.

Figura 9. Relógios de parede. Conclusão

Os protótipos confeccionados e comercializados mostraram a boa aceitação deste tipo de produto para a geração de renda, mostrando a potencialidade da matéria- prima bambu. A sustentabilidade deve ser pensada não apenas em seus aspectos ambientais, mas também nos sociais. Nesse sentido, buscou-se a conjunção de ações tanto ecológicas, como também socialmente amigáveis representadas, por um lado, pelas características sustentáveis da matéria- prima bambu, e, por outro, por sua aplicabilidade, na forma de bambu laminado colado, em geração de renda solidária.

Figura 8. Relógios de mesa.

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Vinicultura sustentável: Desenvolvendo objetoscom resíduos de videira

Desiree Fernanda Nascimento RodriguesGraduada em Design de Moda - Universidade Estadual de Londrina - [email protected]

Profa. Dra. Cleuza Bittencourt Ribas FornasierUniversidade Estadual de Londrina - [email protected]

ResumoApós a vindima, a colheita da uva, a videira entra em estado de hibernação, na qual é realizada a poda e nesta é produzida uma grande quantidade de resíduos, como troncos, galhos e folhas. Na tentativa de diminuir esses resíduos e desenvolver algo que agregue valor ao vinho, este projeto tem como objetivo, além de pesquisar a cultura vinícola, desenvolver produtos a partir dos resíduos coletados implantando ações sustentáveis com oportunidade de gerar renda e integração entre empresas e comunidade.

Palavras-chave: sustentabilidade, artesanato, vitivinicultura.

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Introdução

A produção de vinhos no Brasil desenvolveu- se a partir do século XIX, quando os imigrantes italianos iniciaram a fabricação da bebida para consumo próprio, principalmente nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Tem-se como base de pesquisa a produção vinícola, sendo que a empresa Dal’ Pizzol de Bento Gonçalves, foi uma das empresas que se dispôs a participar de entrevistas sobre a gestão dos processos realizados na empresa. Por meio da análise operacional foi possível averiguar que durante a poda de inverno há uma grande quantidade de resíduos provenientes das videiras e que normalmente não são aproveitados, tornando-se apenas matéria inutilizada dentro do processo. Baseando-se nos conceitos de sustentabilidade e ampliação do valor emocional dos produtos, o artigo a seguir promove a utilização desses resíduos na confecção de objetos que agreguem valor aos produtos comercializados (vinhos) na empresa em questão. Os resíduos resultantes da poda da vitivinicultura podem ser utilizados na fabricação de papelaria, viabilizando sua aplicação de modo similar à cortiça promovendo assim o desenvolvimento de novos produtos como embalagens, saca-rolhas, chaveiros, entre outros. Fundamentados na gestão/valorização destes resíduos, este projeto tem como intenção fomentar a assimilação de conceitos pertinentes ao design e à sustentabilidade, que visam projetar e produzir objetos, que utilizem o material em questão, de modo artesanal. Para tanto será realizada a capacitação de mão de obra vinda da comunidade do entorno da empresa, promovendo a integração entre os produtores e a os moradores da região.

Valor agregado em produto

Os produtos a serem realizados devem considerar primordialmente o cliente em detrimento de outros componentes relacionados à empresa, suas necessidades e desejos são o elemento norteador de todo o comportamento empresarial. Tem-se então o valor, aqui denominado de preço, dos bens de consumo confeccionados a partir do esforço distendido para produzi-los adicionando os cálculos de lucro. Porém, deve-se considerar que esse não é o único valor levado em consideração pelo consumidor. Ancorado pelas noções de percepção e repertório, a característica de valor agregado sobressai de modo progressivo, principalmente por fazer com que o produto não seja massificado pela concorrência, pela média de preço, e/ou pelas características básicas formais ou funcionais, mas seja reconhecido por algum diferencial, esse diferencial será baseado no design emocional. Este é outro tipo de valor a ser percebido pelo cliente é promovido por meio da disponibilização de interesses secundários, estes compõe um conjunto de fatores que concretizam-se como um atributo de qualidade intangível que somam-se ao comparativo benefício versos preço. KOTLER (1998) aponta uma relação simples de satisfação das expectativas: se o desempenho do produto atender (ou exceder) às expectativas, o cliente ficará satisfeito (ou altamente satisfeito) e se demonstrar-se abaixo das expectativas, resultará na insatisfação do consumidor. Tem-se então o diferencial do produto como algo que, na percepção do consumidor, direciona, impulsiona e justifica a escolha dentre os bens ofertados por divergentes marcas. Para perceber qual tipo de valor agregado deve ser aplicado aos produtos é de extrema importância que se faça

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um reconhecimento detalhado da atuação da empresa, a fim de propor uma estratégia válida a ser aplicada à organização que seja suficientemente válida para atrair o público-alvo consumidor ou comprador.

Metodologias utilizadas no projeto

Foram realizadas pesquisas de campo (entrevistas e relatórios) para verificar as principais características, necessidades e problemas, deste setor produtivo e das empresas visitadas, além do conhecimento de possíveis produtos pertinentes ao contexto vinícola. Com isto, foram apontados possíveis objetos, como embalagens, produtos promocionais (saca-rolhas, chaveiros), ou seja, produtos rentáveis e sustentáveis passíveis de reprodução.Logo, passou a ser realizada a prototipagem a fim de definir a forma/ aplicação e material das embalagens e posteriormente a definição dos modelos finais.

Experimentação e conclusão

Como forma de agregar valor aos produtos propõe-se utilizar os resíduos da poda da videira e unir a comunidade e as empresas nesta produção artesanal, no desenvolvimento de embalagens para os vinhos. Inicialmente foram realizados desenhos das embalagens, com o intuito de formalizar uma base na qual seriam trabalhados os resíduos. Dentre os desenhos selecionaram-se três modelos para serem utilizados: dois em formato de paralelepípedo e um com formato cilíndrico.

Tais suportes seriam desenvolvidos em papelão ou madeira, pois verificou-se a inviabilidade de utilizar os resíduos da videira como única matéria-prima, dado sua instabilidade. Desenvolvidos os protótipos, o trabalho seguinte relaciona-se a aplicação dos resíduos (galhos das videiras) de modo artesanal utilizando-se da mão de obra da comunidade local que trabalharia em parceria com as empresas. Foi analisado dentro da pesquisa que as embalagens em formato de paralelepípedo são viáveis e de fácil aplicação dentro do processo produtivo, porém as embalagens cilíndricas demonstraram maior dificuldade de produção, sendo então descartadas do processo.

Fig. 1 – Modelo de embalagem em paralelepípedo horizontal

Fig. 2 – Modelo de embalagem em paralelepípedo vertical

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Descreve-se abaixo a maneira de se realizar o desenvolvimento da embalagem: 1. Primordialmente através do desenvolvimento de um molde para corte das bases essenciais que podem ser de papelão ou madeira, formando-se assim as laterais, o fundo e a tampa.

Fig. 4 – Moldes utilizados para embalagem confeccionada em madeira

Fig. 5 – Moldes utilizados para embalagem confeccionada em papelão

2. Tendo essa estrutura desenvolvida, parte-se então para a parte de inserção dos resíduos da videira com a utilização de cola específica, que através de experimentações indicou a cola quente de pistola, logo aplica-se esses retraços da cultura da uva de modo a preencher toda superfície escolhida e anteriormente elaborada finalizando a embalagem com a aplicação de de tingidor e verniz.

Fig. 3 –Modelo de embalagem cilíndrica

Fig. 6 – Fotografia do produto finalizado.

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Com isto deu-se a finalização do projeto e subseqüente apresentação em eventos de design e sustentabilidade.

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Aspectos de sustentabilidade em embalagensde exportaçãoProf. MsC. Cláudio Pereira Sampaio -Universidade Estadual de Londrina - [email protected]

Aline Horie - Especialista - Universidade Positivo - [email protected]

Andressa Lohr - Especialista - Universidade Positivo - [email protected]

Resumo:Este artigo analisa, a partir dos conceitos de design para sustentabilidade e life cycle design, os aspectos ambientais relativos a embalagens de eletrodomésticos importados da China, tendo como estudo de caso a embalagem de uma panela elétrica, a qual é vendida em um hipermercado do Paraná. Tais conceitos propõem a melhor utilização dos recursos empregados no design de embalagens, tendo em consideração todo seu ciclo de vida e visando contemplar as questões ambientais. Com o uso de ferramentas qualitativas de avaliação, verificou-se que o objeto de análise apresentou várias deficiências quanto aos aspectos ambientais, e em seguida foram propostas melhorias tanto com foco na embalagem em si quanto no sistema logístico no qual ela se insere. O trabalho é resultado das atividades de pesquisa em design e sustentabilidade desenvolvidos em parceria entre duas instituições brasileiras, a Universidade Estadual de Londrina, que tem um grupo de pesquisa neste tema, e a Universidade Positivo, por meio do curso de Especialização em Ecodesign, que ocorreu no biênio 2009-2010.

Palavras-Chave: design; design de embalagens; embalagens de importação

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Introdução

A globalização, ao incrementar a quantidade de mercadorias movimentadas entre os países, tem induzido ao exacerbado consumo de produtos importados, provenientes principalmente da China. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento (2010), o Brasil representa uma parcela muito pequena da receita de exportação da China, que, em contrapartida, é o segundo país que mais exporta produtos para o Brasil. Neste cenário, uma questão ambientalmente crítica é a da embalagem – cujas funções consistem em facilitar o transporte, conservar o produto, identificar, expor, comunicar e atrair o consumidor (MESTRINER, 2001, p. 3) – mas que despende uma grande quantidade de recursos naturais e energéticos. Nesse contexto, o presente artigo propõe sugestões que abrangem as estratégias do design para a sustentabilidade, aplicadas em embalagens de produtos não-perecíveis provenientes da China, tendo como estudo de caso a embalagem de uma panela elétrica, importada e comercializada por uma rede varejista brasileira. O produto é destinado a classes B e C, portanto, a embalagem analisada encaixa-se na categoria B2C (business to consumer), ou seja, embalagem destinada ao consumidor final.

Life cycle: etapas e estratégias

O conceito de Design do Ciclo de Vida ou Life Cycle Design apresentado por Manzini e Vezzoli (2002), propõe que o produto seja analisado a partir de todo seu ciclo de vida e os requisitos ambientais sejam integrados desde a primeira fase de desenvolvimento ou projeto de um determinado produto, em contraposição a soluções paliativas que visam apenas gerir os impactos causados por determinada etapa. O processo de Ciclo

de Vida é identificado em cinco fases que o compõem: pré-produção; produção; distribuição; uso; e descarte (MANZINI & VEZZOLI, p. 91). Destas etapas, a fase de pré-produção se destaca na idéia de mudança proposta pelo conceito de Life Cycle Design, pois é na pré-produção que são definidas todas as estratégias de design que serão utilizadas na etapa da produção. Portanto, as decisões tomadas nessa fase têm implicação sobre todas as demais. Para atingir os objetivos propostos, os autores apresentam cinco estratégias passiveis de serem adotadas: minimização dos recursos, escolha de recursos e processos de baixo impacto ambiental, otimização da vida dos produtos, extensão da vida dos materiais, e facilidade de desmontagem.

Resultados do estudo

Logística

Devido ao fato de ser um produto importado, é necessária uma complexa cadeia logística que o produto percorre, desde seu momento de fabricação até a chegada a seu destino, o hipermercado. Essa logística inicia com a fabricação da embalagem e seu transporte até o fabricante de eletrodomésticos, por cerca de 100 quilômetros. Após sair das fábricas chinesas, o produto já embalado percorre cerca de 100 quilômetros até o porto de Ningbo, onde embarca de navio e segue uma rota marítima por mais de 22.000 quilômetros, até chegar ao Brasil, onde desembarca no porto de Paranaguá/Paraná, vários dias depois. De Paranaguá, segue por rodovias em caminhões, por cerca de 500 quilômetros, até o centro de distribuição. De lá, segue novamente por via rodoviária até as lojas da rede varejista, percorrendo, em média, mais 20 quilômetros, onde finalmente encontra seu destino nas prateleiras na cidade de Londrina/Paraná. Caso os produtos sejam destinados

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a outras cidades, haverá ainda um trajeto rodoviário extra. Com isso, o produto e, consequentemente, a embalagem, percorrem cerca de 23.000 quilômetros num período de cerca de quinze dias, desde a fabricação da embalagem até o descarte da mesma pelo consumidor.

Embalagem

A composição da embalagem primária do produto é formada, externamente, por papel cartão com uma face revestida e impressa (face externa da embalagem) e uma face Kraft (interna), cortado e dobrado pelo processo de corte e vinco. A impressão é feita em cores, pelo processo offset. As embalagens primárias são transportadas em embalagens secundárias (ou de expedição), feitas em papelão ondulado e seladas com fita adesiva plástica. Estas caixas de papelão medem 90x90x34cm, e em cada caixa cabem 10 produtos embalados. Internamente, a embalagem primária utiliza poliestireno expandido, ou EPS expandido como calço para proteção e acondicionamento do produto. Acompanham ainda um manual impresso em papel sulfite 75g, em duas cores, com as instruções de uso, e o termo de garantia.

Procedimentos metodológicos

Os procedimentos metodológicos incluíram a revisão de literatura, seguida de estudo de caso, no qual foram utilizadas ferramentas qualitativas de avaliação, mais especificamente, a metodologia de listagens, ou Checklist. Esta é uma ferramenta da metodologia MEPSS (Methodology for Product Service Systems), que foi traduzida, juntamente com outras, por Sampaio (2008), para uso por pesquisadores e designers brasileiros. A partir da aplicação do checklist, foi verificado se a embalagem analisada atendia ou não aos critérios ambientais. Os problemas encontrados

foram divididos em dois grupos, segundo abordagem proposta por Sampaio (2009): com foco na embalagem (requerem soluções de ecodesign) e com foco no sistema logístico-PDV-descarte (requerem soluções sistêmicas).

Problemas com foco da embalagem:

• Dimensões do design da embalagem: As dimensões da caixa excedem ao necessário para acondicionar o produto, o que gera desperdício de material (papel cartão e tinta para impressão). Além disso, menos produtos podem ser transportados no contêiner, o que gera mais emissões e gastos de energia.• Uso dos materiais na embalagem: O uso do EPS expandido (isopor) representa um problema ambiental, visto que este é um polímero de difícil degradação que causa grandes impactos ambientais, e não existe coleta seletiva adequada para o EPS expandido. Embora exista a reciclagem para este material, o processo ainda é inviável financeiramente para alguns dos atores da cadeia de reciclagem, como os chamados “carrinheiros”.• Extensão da vida útil da embalagem: A embalagem não foi projetada para ter a sua vida útil estendida, sendo desenhada para o mero acondicionamento do produto no seu transporte e depois ser descartada. Não há a preocupação com o seu pós-uso.• Extensão da vida útil dos materiais: Uma das preocupações básicas na seleção de materiais para embalagens deve ser a adequação do tempo de vida do material ao tempo de uso da embalagem, o que evidentemente não ocorre ao se utilizar um polímero (isopor), em uma embalagem de vida tão curta. Além disso, não há instruções ao consumidor que o ensine a descartar corretamente os componentes da embalagem ou a reutilizar esses materiais.• Facilidade de desmontagem: O uso excessivo de tintas e

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acabamentos representa uma dificuldade para a desmontagem em se tratando da separação dos materiais, pois dificulta a reciclagem do papel, que fica contaminado. O fato de se ter dois materiais com ciclos de vida tão diferentes é outro agravante, pois exige sistemas de separação diferentes. Não basta apenas a separação em si dos materiais ser fácil, é preciso também adequar os sistemas de separação, coleta, transporte e reciclagem. Problemas com foco no sistema:• Limitações econômicas para o design estratégico: Devido às características de baixo custo produtivo na China, existe uma limitação referente ao design estratégico do produto. • Falta de informações para analisar o ciclo de vida do produto: Faltam dados acerca de diversos aspectos do processo, que dificulta uma análise mais aprofundada.• Longas distâncias percorridas pela embalagem: As longas distâncias percorridas afetam as questões ambientais. Os navios mercantes comerciais de grande porte, em que são transportados os produtos, utilizam como combustível o denominado “óleo combustível” ou ainda “óleo pesado”. Trata-se do poluente de mais alto grau, dentre os derivados do petróleo. Isso tem como conseqüência emissões de CO2 na atmosfera além de outros gases poluentes. Outro aspecto diz respeito à possibilidade de interferências indevidas no meio ambiente, como o possível transporte de espécies de peixes exógenas ao local, entre outros fatores.

Soluções propostas:

• Redesenhar e redimensionar a embalagem: Uma embalagem com dimensões menores atenderia à otimização

do transporte, e a fácil identificação do produto na embalagem também pode facilitar a estocagem. Entre as soluções, deve-se desenvolver uma embalagem com uma menor área de impressão e incluir informações educativas a respeito do descarte correto de embalagens. • Eliminar o isopor: A embalagem corretamente desenhada para o produto, em conjunto com o uso do papel ondulado, poderia acomodá-lo e protegê-lo sem a necessidade do isopor. Esta ação se faz fundamental tendo em vista os graves impactos ambientais, já mencionados, que são trazidos por este produto.• Utilização de dobras: Essa proposição visa eliminar a necessidade de cola, priorizando uma embalagem monomaterial, para facilitar a montagem e desmontagem das embalagens, e evitaria o uso da cola, facilitando a reciclagem do material.• Ampliar o ciclo de vida da embalagem ou dos materiais: A embalagem poderia ser projetada para ter um uso posterior, ou, no caso da reciclagem, o próprio hipermercado poderia implantar um sistema de recolhimento das embalagens. É importante que adotem uma postura de incentivo à entrega de embalagens, o que poderia ocorrer através de programas que oferecessem descontos a quem tomasse essa atitude.

DiscussãoUma das principais limitantes encontradas nesse estudo foi a impossibilidade de interferir no design em seu âmbito estratégico. Não é possível alterar a forma do produto, a maneira como ele é embalado, o material utilizado, dentre outras limitações, o que limita o potencial de sustentabilidade do projeto. Essas decisões só são possíveis se a empresa realmente considerar a questão do design e da sustentabilidade como estratégica para a empresa, o que demanda uma profunda mudança na cultura

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interna e nos valores que direcionam o negócio. Outro ponto crítico foi a impossibilidade de se realizar, devido a questões de tempo e recursos, uma analise quantitativa de impacto, como a Análise do Ciclo de Vida – ACV, importante para identificar com mais exatidão os pontos críticos do sistema, o que limita bastante os resultados do estudo.

Referências

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Lavanderia Ecotêxtil: proposta de sistema produto-serviço para cuidado com as roupas em um campus universitárioFlora Moura Chaves - Graduanda em Design de Moda pelaUniversidade Estadual de Londrina - [email protected] Timeni Andrade Gonçalves Pontes - Graduanda em Design de Moda pela Universidade Estadual de Londrina - [email protected]

Prof. MsC. Claudio Pereira de SampaioUniversidade Estadual de Londrina - [email protected]

Profa. Dra. Suzana Barreto MartinsUniversidade Estadual de Londrina - [email protected]

Resumo:O presente artigo apresenta os resultados iniciais de um estudo para aplicação dos conceitos de sistema produto-serviço (PSS) para o cuidado com as roupas em campus universitários, tendo como objeto de estudo o campus de uma universidade brasileira e seu entorno. Para tal, realizou-se uma pesquisa de campo preliminar por meio de observação direta com registro fotográfico, questionários e anotação dos problemas encontrados em lavanderias autônomas pré-existentes que atuam nas proximidades da universidade. Em seguida, a partir da revisão bibliográfica sobre PSS e de uma metodologia específica para esta abordagem, além do estudo de casos propostos em outros estudos, foi elaborada uma proposta conceitual de um sistema, denominado Lavanderia Ecotêxtil.

Palavras-chave: Sistema produto-serviço, Design de ciclo de vida, lavanderia e sustentabilidade.

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Introdução

Conforme Lahaise (2010) o uso do campus universitário pode ser promovido como um laboratório experimental e como modelo de desenvolvimento sustentável para as comunidades exteriores a ele, servindo assim de exemplo de boas práticas e comportamentos ambientais, conforme aponta uma pesquisa conduzida por Dea Jr, Rosa e Sampaio (2010). Além disso, é possível idealizar e realizar um espaço adequado para a construção do conhecimento, para o fortalecimento das relações interpessoais, tornando-se um centro de referência para uma nova relação da sociedade com o meio ambiente. O campus universitário apresenta, ainda, uma gama ampla de necessidades a serem atendidas, e o cuidado com as roupas dos estudantes, professores, servidores e outros é uma das principais, e cuja demanda é diária, e nem sempre atendida com qualidade. Este tipo de serviço, embora apresente grande potencial de inovação social, ambiental e econômica, é ainda sub-explorado, e constitui-se um objeto de estudo bastante interessante sob o ponto de vista da sustentabilidade. Nesse contexto, o design pode assumir um papel bastante relevante, pois, conforme International Council of Societies of Industrial Design – ICSID (2008), “o design tem a missão de tomar conhecimento e avaliar as interconexões estruturais, organizacionais, funcionais, expressivas e econômicas com o objetivo de reforçar a sustentabilidade global e a proteção ambiental”. Assim, o design pode se tornar parte da solução dos problemas ambientais, sócio-éticos e econômicos hoje enfrentados pela sociedade e contribuir na transição para estilos de vida mais sustentáveis, não apenas pelo redesenho de produtos existentes, mas para a promoção de novos estilos de vida intrinsecamente sustentáveis (MANZINI, 1994). A ampliação deste escopo inclui a adoção do pensamento

sistêmico, por meio de abordagens como os sistemas produto-serviço – PSS (product-service system), cujo foco principal é a desmaterialização do consumo de produtos tangíveis, agregando ainda benefícios econômicos. Conforme afirma Brezet (2001), “Serviços eco-eficientes são sistemas de produtos e serviços que são desenvolvidos para causar o mínimo de impacto ambiental com o máximo de valor agregado”.

Metodologia

A partir de um estudo acadêmico desenvolvido por discentes do curso de Design de Moda da Universidade Estadual de Londrina no ano de 2011, sob a orientação da professora <OMITIDO PARA REVISÃO CEGA > e de <OMITIDO PARA REVISÃO CEGA >, foi detectada a oportunidade de desenvolvimento de uma proposta de PSS para lavanderia universitária. Este estudo integra o projeto de pesquisa Ecotêxtil (2011) como estudo de caso. Primeiramente, foram identificadas lavanderias autônomas próximas ao campus e, através de questionários realizados com os prestadores deste tipo de serviço, coletaram-se dados cuja análise qualitativa possibilitou a proposição de melhorias do sistema, buscando eliminar as falhas encontradas. Paralelamente, foram avaliadas as necessidades reais de implementação: falta de espaço nas lavanderias dos apartamentos, que apresentam espaço bastante reduzido, e que são habitados por apenas um ou dois estudantes; falta de tempo por parte dos mesmos para lavar as roupas; falta de experiência e praticidade; e o custo implicado na compra da máquina de lavar e dos insumos para realizar a lavagem, como sabão, amaciante, água sanitária e outros. A fim de prover embasamento teórico e metodológico

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à proposta, foi realizada a revisão bibliográfica sobre sistemas produto-serviço, seus conceitos, princípios, metodologias e ferramentas, apoiando-se em dados coletados na literatura científica (artigos, teses e dissertações, relatórios), tanto em meio impresso quanto eletrônico. Para o desenvolvimento do novo conceito de PSS, foram utilizadas ferramentas de design integrantes da metodologia Methodology for Product Service Systems – MEPSS (2010), proposta por Vezzoli (2007).

Resultados

Para solucionar os problemas mapeados, a proposta de Lavanderia Universitária se estruturou da seguinte forma: Idealizou-se o desenvolvimento de uma cooperativa, visando ao aproveitamento e a organização dos trabalhadores autônomos que já atuam em serviços de limpeza de roupas. Foi definido um foco na qualificação do serviço e na gestão sustentável dos processos e recursos que permeiam todo o sistema, desde a coleta das roupas, transporte, cadastro dos clientes, consumo dos insumos e energia e a devolução das roupas limpas aos proprietários das mesmas. Estabeleceu-se uma base serviço próximo ou mesmo dentro da universidade para que a coleta possa ser feita através de bicicletas planejadas em pontos estratégicos, dividindo o campus da universidade em cinco áreas. As bicicletas seriam adaptadas para triciclos, inspirada no modelo indiano, onde o eixo traseiro seriam alongado com o fim de acoplar uma caixa de fibra de vidro para armazenar as roupas sujas. As vantagens do uso da bicicleta seria a eliminação do impacto ambiental gerado pelo transporte. Além das bicicletas, o estabelecimento também se encontraria disponível para coleta e entrega das roupas durante o horário comercial. O sistema é apresentado de forma simplificada na Figura 1.

Figura 1: esquema simplificado do sistema proposto

Outra solução pensada para o transporte das roupas, eliminando o uso de embalagens descartáveis e fidelização do cliente, é a proposta de um sistema de malas individuais, planejadas para a funcionalidade do armazenamento, disponibilizada através do pagamento de um aluguel-seguro. Ao final do serviço, o cliente poderia devolvê-la, e o valor pago seria retirado desde que a mala estivesse em condição de ser reutilizada. O design da bolsa seria planejado de forma retangular, para melhor encaixe no transporte, confeccionadas em lona publicitária, pensado em planos articulados que dobrem para guardar quando sem uso, havendo ainda uma etiqueta de identificação do cliente feita no momento do cadastro. Para produção das bolsas, seria implantado um projeto de extensão voltado à geração de renda para os integrantes de uma comunidade a ser definida na própria cidade onde a universidade está localizada (Londrina, Paraná). Inspirado

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na cooperativa Cardumes de Mães, coordenada pela rede de desenvolvimento Design Possível (2011), no Estado de São Paulo. O processo de recebimento das roupas no estabelecimento aconteceria na seguinte ordem:

1. Pesagem e registro de entrada na fixa do cliente;2. Padastramento de clientes com nome completo, endereço, telefone e principal ponto de recolhimento e devolução escolhido pelo próprio cliente;3. Separação das roupas em peças coloridas e brancas;4. Destinação aos sacos de nylon numerados, os quais seriam projetados de forma a permitir suficiente movimentação da roupa e bom escoamento da água para uma lavagem eficiente, e que não descorem ou rasguem facilmente. Uma vantagem do uso dos sacos de nylon seria a agilidade e eficiência no processo de separação, possibilitando a lavagem de roupas de vários clientes ao mesmo tempo na mesma máquina.

Para a lavagem das roupas foi proposto o uso de ecobols, produtos que substituem o detergente nas lavagens em máquina. Depois de lavadas e secas, as roupas seriam direcionadas para a passadoria, dobradas e pesadas novamente para que se pudesse efetuar a cobrança do serviço, assim sendo re-armazenadas nas malas e entregues pelo mesmo sistema de coleta. O espaço físico deverá ser planejado como uma linha de produção para redução do tempo gasto com trabalho humano. Seriam aplicados sistemas de energia solar e reaproveitamento da água. O cálculo de máquinas e funcionários utilizados pela lavanderia deverá levar em conta os dados quantitativos de clientes atingidos pela disponibilização do serviço. Um PSS bem sucedido necessita de uma nova infra-estrutura social e humana, bem como uma outra forma de organização voltada para o gerenciamento sustentável. A cooperativa aqui apresentada foi planejada em sua totalidade

desde a identificação da necessidade, aproveitamento de mão-de-obra já existente, os meios de transporte, os meio produtivos, os insumos e o maquinário utilizado, eliminando perda e reduzindo custo de produção, e propondo uma solução eficiente sustentável para limpeza das roupas dos universitários.

Discussão

Apesar da preocupação dos autores em se ater aos princípios de sustentabilidade em todas as decisões relativas ao conceito de sistema proposto, é importante ressaltar que se trata ainda de uma proposta conceitual. O estudo carece de um levantamento quantitativo mais aprofundado, tanto da demanda para este tipo de serviço quanto de dados como consumo de água, energia, resíduos e outros tipos de emissões. Deste modo, uma das ferramentas mais importantes para este tipo de estudo é a Avaliação do Ciclo de Vida – ACV, uma ferramenta de avaliação quantitativa de impactos ambientais de produtos e sistemas. A ACV integra os Sistemas de Gestão Ambiental – SGA’s utilizados por empresas que buscam a certificação ambiental de seus produtos e processos. Ao indicar de forma mais precisa quais as etapas do ciclo de vida do sistema estudado, a ACV permite uma maior precisão nas escolhas das estratégias ambientais mais adequadas ao projeto.

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Projeto Ecotêxtil. Maio de 2011. https://sites.google.com/site/progsuel/projetos/ecotextil

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Energia gerada pelo próprio usuário: possível aplicação baseada no FESS

Fabiano Burgo. Mestrando, Universidade Estadual de Maringá - [email protected]

Dr. Dalton Razera. Universidade Federal do Paraná - [email protected]

Resumo:O foco deste artigo é realizar um breve levantamento de um possível caminho a ser adotado para que os usuários gerem a própria eletricidade a ser utilizada em seus aparelhos eletrônicos, ou ainda para que a mesma possa ser distribuída para outros produtos elétricos ao seu redor. Para tanto é introduzido um conceito diferente de armazenagem e produção de energia que começa a ser adotado em esportes que envolvem alta tecnologia: os discos volantes (flywheel). Traçando um panorama da sociedade atual, no que se refere ao comportamento de seus indivíduos, busca-se listar possíveis soluções para a quebra do paradigma de consumo de energia vinda de uma única fonte - a energia elétrica proveniente das tomadas convencionais. Além disto, busca-se também aliar a idéia de geração de energia a atividades que dependem de movimentos dos usuários

Palavras-chave: disco volante; fontes de energia; energia cinética; reaproveitamento de energia; movimento dos usuários.

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Introdução

A sociedade atual vem vivendo um momento crucial de mudanças para que continue se desenvolvendo como o tem feito nos últimos anos. A evolução que a tecnologia proporcionou ultimamente tem revolucionado a forma como os seres humanos se relacionam com o ambiente e também uns com os outros. Se os olhares forem focados no uso de aparelhos eletrônicos, por exemplo, seria impossível imaginar as pessoas hoje sem acesso a simples comodidades, como aparelhos celulares, smartphones e computadores pessoais. No entanto, esta disponibilidade em larga escala de aparatos que auxiliem nas tarefas do cotidiano também apresenta um lado preocupante: nunca a sociedade apresentou tantos indivíduos com problemas relacionados à simples falta de exercícios físicos regulares. Para utilizar exemplos bem simples, pode-se ver o nível de comodidade que a evolução tecnológica trouxe juntamente com a queda da necessidade do desempenho de atividades físicas também simples: elevadores nos edifícios, vidros elétricos e mecanismos de direção assistida nos veículos, a proliferação de controles à distância para quase todos os aparelhos eletrônicos. Todas estas comodidades fazem com que simples atividades como levantar-se para trocar o canal na televisão sejam evitadas, e substituídas pelo simples clicar de um botão. E nos dias atuais, esta comodidade tem ficado ainda maior, pois o simples toque em uma tela sensível já é o suficiente para desempenhar uma infinidade de tarefas em casas totalmente automatizadas. No entanto, o ser humano não tem suas características naturais desenvolvidas para ficar sem praticar atividades físicas, ele necessita que algumas delas sejam desempenhadas para manter todo seu sistema cardiovascular, circulatório e muscular em funcionamento.

Assim as pessoas, que tanto utilizam as comodidades proporcionadas pela tecnologia no dia a dia, têm que criar situações onde possam praticar atividades físicas e manter seu corpo saudável, podendo estas serem atividades como caminhar, correr, freqüentar academias de ginástica e etc. Surge aí uma oportunidade que pode ser explorada numa tentativa de vincular a necessidade física e biológica dos seres humanos em compensarem a baixa quantidade de atividade física em seu dia a dia e a necessidade cada vez maior de consumo de energia para a manutenção dos aparelhos tidos como indispensáveis por quase todos.

Método e objetivos

Este artigo tem por objetivo fazer uma breve análise de duas situações contíguas que vem acontecendo na sociedade atual: o aumento no consumo (e conseqüentemente demanda) de energia elétrica e a necessidade cada vez maior da busca por modalidades de atividade física que propiciem uma maior qualidade de vida às pessoas. Verificando-se estes dois pontos, busca-se propor algum tipo de proposta que, ao ser mais profundamente analisada e estudada, possa proporcionar um envolvimento entre os mesmos aliando a atividade física a alguma forma de geração e/ou armazenamento de energia que possa vir a ser prontamente utilizada. Malhotra (2001) cita que ‘Quando pouco se sabe a respeito da situação-problema, é desejável começar com a pesquisa exploratória.’ O autor ainda define que um assunto deve ser previamente estudado e analisado para que a partir daí seja possível elaborar uma hipótese, ou ainda classificar e isolar possíveis variáveis. No caso deste artigo, o mesmo propõe uma investigação prévia sobre a viabilidade da oportunidade em unir as duas

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situações expressas anteriormente, objetivando não dar um parecer final sobre a mesma, mas sim indicar possíveis caminhos interessantes de serem seguidos e devidamente estudados. Propõe então uma análise de uma tecnologia de geração/armazenamento de energia com características interessantes já em uso em algumas práticas esportivas, o FESS - Flywheel Energy Storage Systems. Para tanto, é feita uma breve descrição do sistema acompanhado de uma exemplificação de seu emprego. Em seguida é traçado um paralelo com as práticas de atividade física mais comum e, por meio das considerações finais, é proposto um possível encaminhamento para unir ambos.

Demanda por energia e estabelecimentos de atividade física no Brasil

Um paradigma interessante da sociedade atual é que a cada lançamento de novos aparatos eletrônicos que antes não existiam (como tocadores digitais de música, porta retratos digitais e etc.) aumenta a necessidade por consumo de energia elétrica per capita. A Figura 1 ilustra a evolução do consumo de energia nos últimos anos no Brasil.

Figura 1: População e consumo final de energia, total e per capita (IBGE)

Pode-se perceber que nacionalmente o consumo de energia vem crescendo exponencialmente nas últimas décadas, chegando facilmente ao dobro do valor obtido há cerca de 20 anos atrás. Por outro lado, acompanhando o ritmo de crescimento nacional, outro número que vem crescendo bruscamente no Brasil é a quantidade de academias de ginástica. Segundo Gonçalves (2010) ‘[...] de 2007 para cá, o número de academias no Brasil dobrou para 15.551, deixando o País atrás apenas dos Estados Unidos’. O autor cita ainda que grande parcela das inscrições de alunos neste período foi feita por pessoas que nunca haviam freqüentado este tipo de estabelecimento, deixando assim evidente a ampliação da abrangência de tal tipo de prestação de serviços. A estrutura deste tipo de estabelecimento costuma ser bem simples, sendo que, além dos aparelhos próprios para atividade física, geralmente também contam com uma série de aparelhos eletrônicos visando proporcionar um ambiente mais amigável e interessante para professores e usuários, como televisores, aparelhos de som. Além disso, pelo fato de trabalharem além do período convencional, avançando noite afora, devem contar com um sistema de iluminação compatível com as atividades ali desempenhadas. Gonçalves (2010) ainda comenta sobre o aumento de integrantes da Classe C em tais estabelecimentos, assim como o surgimento de empresas e serviços especializados para suprir as exigências e disponibilidade financeira de tal fatia da sociedade. Sobre o assunto, o autor ainda comenta:

Uma combinação entre aumento da renda da população e disseminação de um estilo de vida saudável, aliada à

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definição do Brasil como sede dos dois mais importantes eventos esportivos do mundo está aquecendo negócios ligados a atividades físicas no País.

Cruzando estas duas situações paralelas chega-se à seguinte situação: um aumento no consumo de energia elétrica, oriundo do maior número de aparelhos eletrônicos, e uma busca cada vez maior por academias de ginástica que propiciem atividade física para uma parcela progressivamente maior da população. Dada esta situação, cabe, então, uma colocação interessante: será que a atividade física desempenhada por este número cada vez maior de indivíduos não poderia ser revertida em geração de energia para seu próprio consumo, ou ainda consumo dos vários aparelhos eletrônicos existentes numa academia de ginástica? Não existe atualmente uma iniciativa como esta sendo praticada, tão pouco podem ser encontrados equipamentos que unam a característica de proporcionar exercício físico e gerar/armazenar energia no circuito comercial. No entanto, algumas formas de aproveitamento, armazenamento e conversão de energia cinética em elétrica vem sendo utilizada em algumas modalidades esportivas com sucesso, como é o caso do automobilismo. No tópico a seguir é apresentada uma tecnologia que começa a ser empregada com relativo sucesso: o FESS - Flywheel Energy Storage Systems.

FESS - Flywheel Energy Storage Systems

O disco volante, mais conhecido como flywheel, é uma tecnologia nada nova. Possui uma larga utilização no segmento aeronáutico, onde equipamentos como o giroscópio (Figura 2), que se utiliza de uma massa em rotação montada de forma que seu eixo de rotação possa mudar (UNIVERSITY OF CAMBRIDGE, 2007), são

utilizados para prover informações sobre a inclinação das aeronaves há muitos e muitos anos.

Flywheel energy storage systems (FESS) works by accelerating flywheel to high speed rotation and maintaining the energy in the system as kinetic energy. The energy is converted back by slowing down the flywheel. A typical system consists of a rotor suspended by bearings inside a vaccum chamber to reduce friction, connected to a combined electric motor/generator. (RACHMANTO et al., 2009)

Ghedamsi et al. (___) citam que este sistema de armazenamento de energia apresenta vantagens com relação ao sistema convencional de baterias devido ao fato de possuir uma vida útil muito mais extensa, além de ótima eficiência, além de representarem uma ótima alternativa para o armazenamento de energia em curtos períodos de tempo. O desenvolvimento de tal tecnologia teve um grande crescimento devido a uma contribuição um pouco incomum para as atividades de armazenamento e geração de energia elétrica: o automobilismo. A inserção do KERS - Kinetic Energy Recovery Systems na temporada de 2009 da Fórmula 1, que permitia que a energia

Existe uma série de brinquedos, como os piões, que se utilizam deste princípio, além de aparelhos eletrônicos recentes com sensores de inclinação que se baseiam em tal sistema para funcionarem. No entanto, uma nova abordagem de tal sistema surgiu nos últimos anos: sua aplicação como mecanismo de armazenamento de energia.

Figura 2 - Giroscópio

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da desaceleração dos carros pudesse ser armazenada para depois ser utilizada aumentando a desempenho do mesmo, fez com que vários times dessem início ao seu desenvolvimento seguindo linhas diferentes. Conforme Formula 1 (2011), foram desenvolvidos sistemas que se utilizavam de armazenamento de energia elétrica, outros energia hidráulica ou ainda energia cinética (por meio da flywheel). No entanto, um dos sistemas mais eficientes desenvolvidos foi justamente um sistema híbrido, que se utilizava de uma mistura de energia elétrica e cinética em um mesmo aparelho, caracterizando assim um FESS. O regulamento atual da Fórmula 1 não mais permite o uso deste tipo de equipamento, porém a busca pelo aproveitamento de energia nos veículos somente tem crescido desde então. A energia proveniente da frenagem dos carros tem sido uma das formas de reaproveitamento mais utilizadas, principalmente pelos novos projetos de veículos elétricos e hidráulicos. Mas é na competição automobilística que o FESS encontra seu expoente melhor sucedido atualmente. O Porsche 911 GT3 Hybrid (Figura 3) possui incorporado no seu projeto um sistema FESS baseado no sistema desenvolvido e utilizado anteriormente pela equipe Williams de Fórmula 1.

Conforme Formula 1 Journal (2010), o sistema se utiliza das rodas frontais para funcionar. No eixo dianteiro é disposto um motor/gerador elétrico responsável por duas funções: no momento das freadas e reduções de marcha, quando a potência do motor não se faz necessária ele trabalha como um gerador, enviando energia elétrica para o FESS, fazendo com que o flywheel atinja até 40.000 RPM; no momento em que o piloto aciona o controle na direção do veículo, o FESS passa a transformar a energia cinética acumulada em energia elétrica, que é direcionada novamente para o motor/gerador no eixo dianteiro convertendo-se em um ganho extra de potência para o carro. O esquema de funcionamento é ilustrado na Figura 4.

Figura 4: Sistema FESS do Porsche 911 GT3 Hybrid

Todo o sistema não consome mais espaço do que as baterias convencionais ocupariam, e proporciona um ganho em eficiência e durabilidade para todo o conjunto. As baterias, por sua vez, ficam acondicionadas no assoalho condizente com o espaço originalmente ocupado pelo passageiro na versão de rua do automóvel, como pode ser visto na figura 5.

Figura 3: Porsche 911 GT3 Hybrid

Figura 5: Localização do sistema FESS do Porsche 911 GT3 Hybrid

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O FESS trata-se de um sistema que representa uma alternativa ao mecanismo químico de armazenamento de energia elétrica convencional, podendo substituí-lo em vários casos apresentando uma grande vantagem em eficiência. (Figura 6) A médio e a longo prazos sua eficácia fica ainda mais evidente, pois como boa parte do sistema depende de aspectos

Academias de Ginástica - uma possível aplicação para o FESS

Como dito na introdução, a sociedade atual encontra-se num paradigma que envolve o consumo cada vez maior de energia e a busca dos indivíduos por atividades físicas que venham a contribuir com a manutenção de sua saúde. Visto o exemplo do FESS como mecanismo de armazenamento de energia, pode-se pensar numa leve mudança de foco no processo de acumulação de energia utilizado com sucesso pelo Porsche 911 GT3 Hybrid: por que não utilizar-se dos equipamentos das academias de ginástica que dependem

exclusivamente de força humana para gerar e armazenar energia a ser utilizada nos aparelhos eletrônicos e outros tipos de equipamentos da própria academia (ou dos próprios usuários) que necessitem de energia elétrica para que funcionem? Para se ter uma academia com nível intermediário, o SEBRAE (2010) recomenda que esta conte com cerca de 100 equipamentos considerando desde halteres, esteiras até equipamentos de som e informática. No entanto, dentre todos estes aparelhos, somente uma pequena parcela necessita de energia elétrica para que funcionem: o sistema de som, equipamentos de informática, bebedouros com resfriamento, telefone (se este for um modelo sem fio) e as esteiras. O restante dos equipamentos funciona movido à energia humana. Se forem analisadas a quantidade de energia gasta para movimentar todos estes aparelhos e a energia elétrica necessária para movimentar os que a necessitam, pode-se concluir, em um primeiro momento, que há um grande desperdício de energia gerada internamente; já num segundo momento, é possível constatar que além de haver o desperdício interno de energia há um ‘importe’ de energia externa para movimentar estes aparelhos movidos a eletricidade. Somente para ilustrar toda esta situação, Kazazian (2005) cita que ‘pedalando 10 minutos à velocidade de 25 km/h, gera-se uma energia equivalente a uma hora de luz’. Um sistema FESS que se utilize da energia cinética obtida pelos movimentos de uma série de bicicletas ergométricas em uma academia poderia fornecer energia elétrica para a movimentação das esteiras, por exemplo. E a vantagem é que a energia não precisaria ser imediatamente consumida quando gerada, ela ficaria armazenada no sistema até que fosse necessário utilizá-la.

mecânicos e não químicos para o seu funcionamento, sua durabilidade e os processos e custos de manutenção podem se mostrar muito mais vantajosos do que as baterias químicas comuns.

Figura 6: Descrição da estrutura interna do flywheel do Porsche911 GT3

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Um outro aspecto a ser levado em consideração seria a própria estrutura e instalação elétrica da academia - seria necessário um estudo mais aprofundado sobre a integração do sistema de reaproveitamento de energia com a rede elétrica convencional, fazendo com que os aparelhos possam vir a

utilizar a energia proveniente da mesma sempre que a oriunda do reaproveitamento não esteja disponível. Por último, o envolvimento do usuário com a geração de energia é crucial, sendo que por meio do desenvolvimento de uma interface amigável este pode se tornar até um fator motivacional para o mesmo utilizar o aparelho com tal tecnologia.

Considerações finais e possíveis encaminhamentos

Percebe-se que existem paradigmas a serem quebrados muito evidentes no que se refere ao consumo e geração de energia na sociedade atual. No entanto, começa a surgir uma série de iniciativas que abordam esta questão energética de uma forma diferente, levando em consideração várias outras fontes e formas de energia que não as convencionais. No caso específico deste artigo, é possível ver como uma energia antes desperdiçada, a proveniente da frenagem dos carros de corrida, pôde ser revertida numa vantagem competitiva para o mesmo automóvel. Ou seja, ao invés de ser jogada fora ela é reaproveitada. Além disso, a proposta de substituir um sistema essencialmente químico, como é o caso das baterias convencionais, por um mecanismo como o flywheel demonstra que muito ainda pode ser desenvolvido se pesquisadores e pessoas envolvidas com tais projetos puderem olhar e explorar caminhos diferentes. A aplicação proposta aparentemente mostra-se viável, porém um estudo mais aprofundado e que resulte num teste físico real seria o melhor caminho a ser seguido para explorar a idéia. Além disso, todo um trabalho que forneça subsídios para convencer as pessoas envolvidas da eficácia do sistema deveria ser realizado paralelamente, focando-se também no aspecto da economia financeira que tal sistema poderia vir a proporcionar. O ideal seria que houvesse um levantamento do

A incorporação de tal sistema em alguns aparelhos, como as bicicletas ergométricas (Figura 7), seria extremamente simples, visto que alguns modelos já se utilizam do mecanismo de flywheel para oferecerem a resistência necessária ao movimento do usuário.

Figura 7: Bicicleta ergométrica

Já em outros tipos de equipamentos, como o exemplificado pela Figura 8, a inserção de tal aparato seria mais complexa, devendo levar em consideração até uma mudança nos mecanismos de resistência aos exercícios para incorporar o FESS como um elemento chave para seu funcionamento.

Figura 8: Equipamentos diversos de academia/leg press

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consumo energético dos equipamentos e aparelhos eletro-eletrônicos presentes nas academias, acompanhado da medição teórica da quantidade de energia necessária a ser gerada pelos equipamentos providos do FESS. Assim uma meta técnica de geração e reaproveitamento de energia poderia ser traçada e servir de guia para o desenvolvimento de possíveis aplicações. Recomenda-se, no entanto, que tais análises e desenvolvimentos sejam feitos por equipes multidisciplinares, envolvendo especialmente profissionais da área de engenharia mecânica, eletrônica e elétrica de forma a dar o devido embasamento técnico para qualquer proposta. Estudos mais aprofundados que sigam estas diretrizes poderiam revelar se a melhor saída seria toda uma geração de novos aparelhos de ginástica, ou se simplesmente algum aparato desenvolvido separadamente poderia ser aplicado com um resultado satisfatório. A primeira opção, contudo, parece ser não só a mais viável quanto a mais interessante para promover uma mudança de comportamento tanto em usuários quanto nos empresários. Com a evolução da discussão sobre o desenvolvimento sustentável e o impacto que as atividades humanas acarretam ao meio ambiente, talvez a busca por tornar novamente cíclica a geração e consumo de energia por nós mesmos seja um dos caminhos para um futuro mais sustentável. Resgatar (e aplicar) a Lei de Lavoisier deveria, então, ser uma meta para todos: ‘Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma’.

ReferênciasINSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA ESTATÍSTICA. Balanço energético nacional 2008: ano-base 2007. Rio de Janeiro, Fev. 2009. Disponível em: <http://goo.gl/UDwgv>. Acesso em: fevereiro de 2009.

FORMULA 1 JOURNAL. Technical. Formula 1 is a spec series: part 2 -

porsche 911 gt3 r hybrid. Disponível em: <http://www.formula1journal.com/2010/05/the-orange-and-white-740-factory-supported-porsche-911-gt3-r-hybrid-was-leading-the-24-hours-of-nurburgring-with-2215-h.html>. Acesso em: 18 de julho 2011.

GHEDAMSI, K.; AOUZELLAG, D.; BERKOUK, E. M. Performance analysis of a flywheel energy storage system associated to a variable-speed wind generator. Journal of Electrical Systems, volume 4, issue 2, p.18-28, 2008.

GONÇALVES, G. Brasil só perde para EUA em número de academias. Estadao.com.br - Economia & Negócios, São Paulo, Out. 2010. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100725/not_imp585706,0.php>. Acesso em: 28 de outubro de 2010.

KAZAZIAN, T. Haverá a idade das coisas leves: design e desenvolvimento sustentável. São Paulo: Editora SENAC, 2005.

FORMULA 1. Understanding the sport. Kinectic Energy Recovery Systems (KERS). Disponível em: <http://www.formula1.com/inside_f1/understanding_the_sport/8763.html>. Acesso em 18 de julho 2011.MALHOTRA, N. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 3rd ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

RACHMANTO, B.; NONAMI, K.; KURIYAMA, K. A Study on AMB Flywheel Powered Electric. Journal of System Design and Dynamics, Tóquio, volume 3, issue 4, p. 659-670, 2009.

SEBRAE. Idéias de Negócios: academia de ginástica. São Paulo: SEBRAE, 2010.

UNIVERSITY OF CAMBRIDGE. Department of Engineering. Virtual Gyroscopes. Disponível em: <http://www2.eng.cam.ac.uk/~hemh/gyroscopes/htmlgyroscopes.html>.Cambridge, Out. 2010. Acesso em: 28 de outubro de 2010.

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As possíveis contribuições da antropologia para odesenvolvimento de bens e serviços para a sustentabilidade

Mariana França OrdacowskiEspecialista em Ecodesign, pela Universidade Positivo - UP [email protected]

MsC. Claudio Pereira Sampaio. Universidade estadual de Londrina - [email protected]

Resumo:Através da apresentação de diferentes casos de aproximação entre as disciplinas de Antropologia, Marketing e Design, o objetivo deste artigo é contribuir para a discussão sobre as potencialidades do trabalho colaborativo entre estas disciplinas no desenvolvimento de novas soluções para a sustentabilidade. Uma pergunta servirá de guia para as reflexões apresentadas: qual é a relevância da abordagem antropológica para o desenvolvimento de bens e serviços sustentáveis?

Palavras-chave: antropologia, etnografia, design, marketing, PSS, D4S

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A crise ambiental

Vivemos um momento de transformações profundas e velozes. Entre estas, a chamada crise ambiental merece atenção especial, pois nos últimos vinte cinco anos vem incitando debates e norteando intervenções que afetam os mais diversos campos da atividade humana: ciência, política, economia, cultura, indústria – em âmbitos locais e globais. Esta crise eclode a partir da constatação de que fenômenos ambientais como o efeito estufa e o aquecimento global são causados em parte pela atividade humana. Os chamados fatores antropogênicos incluem as emissões de gases de efeito estufa pela queima de combustível fóssil, desmatamento decorrente da indústria extrativista e agrícola, além da atividade pecuária, também responsável por grande parte das emissões de gás metano. Alem da crise ambiental, merecem atenção as guerras, o agravamento das desigualdades sociais, aumento da pobreza e as epidemias, entre os fenômenos denominados “sociais”. Fatos importantes acompanham estes fenômenos, os mecanismos de mitigação desses malefícios sociais, como a Declaração dos Direitos Humanos, institucionalizado após o fim da II Guerra Mundial. A Conferência de Estocolmo, realizada em 1972, representa um marco importante como chamado para ação, por introduzir a crise ambiental como uma questão de alcance e responsabilidade global.

“As crises sócio-ambientais modernas trazem a marca das sociedades de risco, contestando uma série de valores até então pouco questionados: o progresso, a utilização desenfreada dos recursos naturais, o crescimento econômico continuado, o aumento progressivo do consumo material de algumas sociedades afluentes, em detrimento da maioria do planeta, o agravamento de situações de epidemia, de fome, de guerras, de escassez de água, de desmatamento irrefreável, de mudanças climáticas dramáticas, de violência urbana, de drogadicção e consequente anomia social ...” (Floriani;Knechtel, 2003,p.1)

A conferência abriu o caminho para o surgimento de diversas outras, entre as quais a Eco 92, realizada no Rio de Janeiro em 1992 e na qual o conceito de desenvolvimento sustentável elaborado pela Comissão Brundtland em 1987 foi apresentado como um novo padrão de utilização de recursos, necessário para garantir o suprimento das necessidades das gerações atuais e futuras. Desde então, a noção de desenvolvimento sustentável tem servido como modelo para a elaboração de políticas sócio-ambientais internacionais, com efeitos também nas políticas públicas em nível nacional.

Sustentabilidade

O consenso científico sobre os fatores antropogênicos é apenas recente, e não há um conceito de sustentabilidade universalmente aceito. Em 2005, o modelo interdependente das dimensões sociais, econômicas e ambientais para o desenvolvimento foi introduzido durante o World Summit. Tanto este modelo quanto a definição da Comissão Brundtland são utilizados com maior frequência. Este artigo não pretende discutir os perfis dos posicionamentos políticos e filosóficos perante a sustentabilidade, mas destacar a relevância da abordagem antropológica para o desenvolvimento de bens e serviços orientados para a sustentabilidade na sua definição mais geral, no contexto atual.

Notas sobre o método etnográfico

A Antropologia é uma ciência que ‘construiu-se, historicamente, como o estudo do outro, entendido como outra sociedade, outra cultura, outro grupo social, enfim, aquele que se comporta de forma diferente de mim’(Jaime Jr., 2001, p.69). É uma disciplina que tem como foco o ser humano em suas dimensões biológicas, sociais e culturais, portanto possui um campo

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investigativo bastante abrangente, tradicionalmente dividido em sub-campos: Arqueologia, Antropologia Física ou Biológica, Antropologia Social e Antropologia Cultural. Estas últimas muitas vezes são tomadas como sinônimos, no entanto em grosso modo é possível dizer que a Antropologia Social tem como foco as organizações sociais e políticas, enquanto a Cultural investiga o comportamento humano, os sistemas simbólicos e a religião. O objetivo deste trabalho não será discutir as divergências internas à disciplina, e sim destacar alguns casos de aproximação entre esta área e o universo da produção de bens e serviços. A Antropologia foi instituída como ciência apenas no fim do século XIX, com o surgimento das primeiras sistematizações sobre os rituais, a linguagem e mitos dos povos na época referidos como primitivos. Restritos aos seus gabinetes, os principais autores tinham os relatos de missionários, cronistas, viajantes e relatórios coloniais oficiais como principal fonte de suas pesquisas. No início do século XX as principais críticas que seguiram se referiam as características evolucionistas desses trabalhos, onde a sociedade européia figurava como cronotopo da civilização. Essa perspectiva etnocêntrica serviu aos interesses colonialistas, contribuindo para a justificativa dos seus projetos civilizatórios. No início do século XX o surgimento da etnografia como metodologia investigativa marcou o surgimento da Antropologia moderna. Sob forte influência do pensamento positivista, o trabalho de campo emergiu como uma etapa fundamental da produção do conhecimento antropológico, pois:

Seria indispensável o recurso ao “olhar antropológico”, aquele supostamente desprovido de preconceito, capaz de relativizar, escapando da postura etnocêntrica, isto é, capaz de entender a outra sociedade a partir das razões que seus próprios membros constroem para justificar seus comportamentos. (Jaime Jr., 2001, p.69)

As primeiras etnografias surgiram como resultado do trabalho de campo, também chamado de observação participante, onde o pesquisador vivia durante um determinado período, tradicionalmente meses e anos, entre os nativos de uma determinada localidade, produzindo relatórios etnográficos sobre diferentes aspectos de seus modos de pensar e viver: seus rituais, línguas, normas, hábitos. Os longos períodos em campo seriam necessários para superar a visão etnocêntrica, permitindo ao pesquisador o exercício da relativização. Assim, uma etnografia tradicional deveria compreender e descrever as práticas de uma determinada sociedade em sua totalidade, e a partir de um ponto de vista desprovido de preconceitos. Para tanto, os etnógrafos frequentemente contavam com equipes formadas por assistentes e informantes, estes últimos, usualmente nativos. No entanto seria um erro afirmar que todos os Antropólogos eram etnógrafos. Muitos se dedicaram ao trabalho teórico, para qual as etnografias realizadas por outros pesquisadores serviram como fonte. Outro momento importante no desenvolvimento do método foi a introdução da fotografia como instrumento de pesquisa de campo por alguns pesquisadores, entre eles Margaret Mead e Gregory Bateson (1942) autores da obra The Balinese Character: A photographic Analysis, pioneira da Antropologia Visual. Com o passar dos anos e o desenvolvimento da disciplina, divergências teóricas e epistemológicas se multiplicaram, porém o valor interpretativo da etnografia para Antropologia perdura. Se Inicialmente o foco das pesquisas etnográficas foram as sociedades não-industriais, a partir da segunda metade do século XX, essa situação mudou. O método foi amplamente utilizado nos estudos da Escola de Chicago, desta vez no contexto da sociedade industrial.

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Uma vez aberta a trilha para o estudo de grupos urbanos e seus respectivos sistemas culturais, a etnografia abriu, irreversivelmente, seu espaço de prática. Na cidade, um sem-fim de grupos e uma multiplicidade de temas para serem explorados. Entre eles, o consumo. (Rocha; Barros, 2006, p.39)

As implicações do deslocamento da prática etnográfica para o contexto urbano foram meramente geográficas. Como nota Barros (2006), o caminho foi aberto e o método etnográfico não permaneceu apenas no domínio da Antropologia, ganhando espaço entre as outras Ciências Sociais. O consumo também tornou-se um foco investigativo da Antropologia, desde autores como Edward T. Hall (1966), Marcel Mauss (1974), Mary Douglas e Baron Isherwood (1978), Marshall Sahlins (1979), para citar alguns. No entanto é importante lembrar que nas Ciências Sociais, o consumo, assim como qualquer outro fenômeno pode ser enquadrado, conceitualmente, a partir de diversas perspectivas, muitas vezes divergentes. Nos campos do Design, Marketing e Gestão, o a etnografia se popularizou na medida em que permitiu aos profissionais desses campos acessarem informações por muito tempo ignoradas a respeito do comportamento dos consumidores, das dimensões não declaradas de desejos, sobre as práticas culturais envolvendo bens de consumo. No âmbito da produção acadêmica brasileira sobre a utilização da etnografia no campo do marketing, se destaca o trabalho de Carla Barros (2002), e Everardo Rocha (1985). Carla Barros realizou uma revisão de trabalhos etnográficos em publicações da marketing nos anos 80 e 90. Sua pesquisa reúne diversos exemplos de estudos pertinentes para aqueles com interesse em aprofundar seus conhecimentos a respeito do tema. Já Everardo Rocha focou a dimensão da produção publicitária, analisando os códigos culturais que constroem o sentido na esfera da produção, viabilizando o fenômeno do consumo e as suas práticas (Rocha, 2000, p.18).

A abordagem Antropológica nos campos do Design e Marketing

Atualmente a etnografia goza de uma popularidade de dimensões globais no campo da pesquisa e desenvolvimento de bens e serviços. No Brasil esse fenômeno é mais recente do que na Europa e Estados Unidos.

Ethnography is the current industry buzzword, and it is being used by software developers, mobile-phone makers, store planners and home appliance manufacturers. Called ‘commercial ethnography’, its practitioners aim to create an understanding of a specific market, and then suggest actions or designs based on what they’ve observed and learned. (Whitemeyer, 2006, p.10)

A afirmação é de David Whitemeyer (2006), em seu artigo An old science makes a new impact on interior design, uma publicação da IIDA (Associação Internacional de Design de Interiores), no qual o autor apresenta casos de aproximação entre os campos do design e da antropologia. O primeiro caso que o autor descreve é o trabalho realizado por Eric Laurier (2001), um pesquisador que estudou o comportamento humano em cafés e lanchonetes. Em suas pesquisas, ele acumulou informações detalhadas sobre o comportamento das pessoas ao se sentarem,

1. Tradução livre: A etnografia é a buzzword (buzz, em Inglês, pode ser traduzido formalmente como ‘zumbido’, e informalmente denota um estado ‘alterado’ ou de ‘excitação’. O termo é usado para definir o alarido criado em torno de uma palavra, um conceito, um termo, designando sua popularidade, geralmente efêmera) atual da indústria e está sendo utilizada por desenvolvedores de software, fabricantes de celulares, planejadores de ambientes de varejo e fabricantes de eletrodomésticos. Chamada ‘etnografia comercial’, seus praticantes se empenham em compreender um mercado, para depois sugerir ações ou designs baseados no que observaram e aprenderam.

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beberem, andarem e conversarem em pequenas lanchonetes de bairro. Whitemeyer ressalta como essas informações poderiam ajudar um designer de interiores a realizarem projetos mais amigáveis, dada a importância de conhecer como as pessoas se relacionam com seu ambiente. Durante a década de 60 e 70 a etnografia se popularizou como ferramenta de pesquisa no campo do Design. O urbanista William H. White teria sido um dos responsáveis por essa projeção com seu projeto Street Life. Junto com sua equipe, ele fotografou e filmou o comportamento das pessoas nas ruas de Nova York, em 1969, com a intenção de compreender as dinâmicas e relações das pessoas no ambiente urbano. Suas pesquisas culminaram com a publicação de livros sobre planejamento urbano, City: Rediscovering the Center (1988), e The Social Life of Small Urban Spaces (1980), este último sendo transformado e um documentário homônimo. É importante ressaltar a orientação pragmática do urbanista. Além de trabalhar na Comissão de Planejamento de Nova Iorque durante a pesquisa, ele seguiu uma fecunda carreira como consultor de planejamento para diversas outras cidades nos EUA. Para ele, a prática da observação o permitiu ir além do senso comum, atingindo um grau de honestidade maior do que meras respostas a simples questionários. No campo do design de produtos, Stephen Wilcox, fundador da consultoria Design Science, pioneira no emprego da etnografia como metodologia de pesquisa para o desenvolvimento de produtos, assim como na contratação de pós-doutores em Antropologia Cultural para a análise de usabilidade. A posição de Wilcox (2008) a respeito da etnografia é firme - é uma ciência, e como tal deve ser sustentada por hipóteses e sujeita a comprovação. A Design Science ainda figura entre as principais consultorias em design, e seus clientes são na sua maioria grandes corporações, das mais diversas indústrias

como: saúde, telecomunicações, eletrodomésticos entre outros. Pioneira na área, a Design Science hoje conta com pelo menos meia dúzia de consultorias competidoras. A Entre estas, a IDEO, que em 2006 esteve entre as 15 empresas mais inovadoras em 2006, de acordo com a publicação da Businessweek . Diferente da Design Science, a IDEO não possui a mesma orientação cientificista, apostou na multidisciplinaridade, fugiu do academicismo e atualmente conta com metodologias próprias de trabalho. A IDEO destaca sua orientação ao human-centered design, e declara a busca por ferramentas de pesquisa que contribuam para o mesmo, sem necessariamente favorecer um campo do conhecimento em detrimento de outro. Ainda assim, a empresa atribui um valor significativo aos métodos de observação e testes de usabilidade, os quais incluem muitas características do método etnográfico. A empresa nasceu da confluência de diversas outras empresas especializadas em design, com muitos casos de sucesso no desenvolvimento de produtos na área tecnológica. A IDEO se autodenomina uma empresa de pesquisa e inovação, e seguindo essa orientação atravessou as barreiras disciplinares acadêmicas. As pesquisas de marketing, durante muitos anos, foram baseadas apenas em métodos estatisticamente quantificáveis, dividindo grupos de consumidores em segmentos baseados em critérios demográficos, geográficos e psicográficos. A respeito do comportamento do consumidor, prevaleceram abordagens comportamentais individualistas. O emprego de técnicas como focus groups e pesquisas survey para o compreender o comportamento do consumidor tiveram seus ápices, mas não demorou para que o recurso a metodologias mais empáticas - neste caso, a etnografia - se tornasse uma importante ferramenta para a pesquisa mercadológica.

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“À medida que as dimensões culturais e simbólicas foram ganhando importância cada vez maior na explicação do comportamento do consumidor, os departamentos de marketing das empresas, os institutos de pesquisa de mercado e as agências de publicidade passaram a recorrer ao aporte antropológico, recrutando muitas vezes profissionais com formação em Antropologia – disciplina voltada à análise dos fenômenos socioculturais.” (JÚNIOR,2001,p.68).

Na década de 80 nos Estados Unidos e na Europa, o comportamento do consumidor foi consolidada como disciplina de orientação multidisciplinar nas universidades, fato que contribuiu para a aproximação das áreas. No Brasil, a intensificação do diálogo entre os campos da Antropologia e do Marketing é bem mais recente, e tem se intensificado nos últimos anos.

Comportamento do consumidor

Em seu artigo de título Etnomarketing o Antropólogo Pedro Jaime Júnior (2006) apresenta alguns casos que citados em publicações da área de negócios, que evidenciam essa aproximação no Brasil desde 1999, por parte de algumas empresas. O primeiro destes sobre a Gatorade do Brasil, que estimulou os funcionários da empresa a irem a campo para observar o comportamento dos consumidores da bebida, que na época era comercializada em garrafas de vidro.

Descobriu-se que os consumidores só tomavam a bebida depois que retornavam para casa, uma vez que não a levavam para a academia com medo que a garrafa de vidro se quebrasse nem consumiam na cantina por causa do preço elevado. Essa informação, obtida no trabalho de campo, foi a gênese do lançamento do Gatorade em garrafa plástica. (Jaime Jr.,2006,p.72)

A Revista Exame de 25 de Janeiro de 2006, no artigo entitulado No supermercado, na favela, no bar , usa o termo marketing etnográfico para descrever a prática de observação dos hábitos dos consumidores in loco realizado por executivos de grandes empresas. O artigo traz diversos casos de empresas que apostaram no método para compreender melhor o comportamento de consumidores de baixa renda. Entre estes está o da Procter & Gamble, que em 2003, com a necessidade de atingir metas de vendas globais, reuniu profissionais de diferentes áreas da empresa para conviverem com famílias de renda entre R$400 e R$1200 durante uma semana. Uma das descobertas foi que a área de lavar roupa da maioria das moradias eram descobertas e úmidas, o que orientou a mudança da tradicional embalagem do sabão em pó de papel, para a plástica. Ou o da Kimberly-Klark, que ao observar que consumidores de baixa renda utilizavam predominantemente fraldas de pano, ao passo que as descartáveis eram utilizadas apenas em ocasiões especiais. A empresa lançou então um mini-pacote com duas fraldas, comercializado em algumas regiões específicas do país. No Brasil o surgimento de consultorias especializadas em inovação, comportamento do consumidor e mapeamento de tendências também tem crescido nos últimos anos, dois exemplos são a box1824 e Mandalah. Contando com equipes multidisciplinares, realizam projetos para grandes empresas de diversos setores, em diversos países, a exemplo de algumas consultorias já citadas. Mais do que pesquisas para o desenvolvimento de produtos ou de comportamento do consumidor, essas consultorias estão envolvidas com o incessante trabalho de mapeamento de tendências globais e locais, contando com uma rede de contatos que incluem

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desde especialistas, pesquisadores, até pessoas consideradas disseminadoras ou influenciadoras. A primeira categoria é auto-explicativa, já os pesquisadores não possuem um perfil pré-determinado, geralmente são selecionadas pessoas com boa capacidade de observação e que se assemelham ao público ou universo a ser analisado, sendo os últimos escolhidos com base no capital simbólico e redes relacionais. Trabalhando com essas três categorias de colaboradores ad hoc, essas empresas realizam projetos milionários completamente customizados às necessidades dos seus clientes.

Comportamento do consumidor e sustentabilidade

A crise atual apresenta desafios para todas as esferas da atividade humana. Essa crise eclode da constatação da insustentabilidade do sistema moderno de produção e consumo. Para compreender um pouco melhor a questão do consumo e sustentabilidade, é importante notar a ambivalência do fenômeno, como nota Fábio Feldmann (2003):

De um lado, o consumo abre enormes oportunidades para o atendimento de necessidades individuais, de alimentação, habitação, saneamento, instrução, energia, de bem-estar material, objetivando que as pessoas possa gozar de dignidade, auto-estima, respeito e outros valores fundamentais” (Feldmann, 2003, p.148)

Por outro lado, o sistema produtivo e os padrões de consumo se desenvolveram de forma desigual, em escala global, colocando em risco os recursos naturais do planeta. É justamente esse desenvolvimento desenfreado que culminou com a crise atual. Essa ambivalência revela a complexidade do papel do consumo na vida contemporânea, e reforça a necessidade

de se compreender mais profundamente o as dinâmicas do fenômeno. Essa necessidade é declarada no capítulo 4 da Agenda 21. No documento, constam os seguintes objetivos: (a) Promover padrões de consumo e produção que reduzam as pressões ambientais e atendam às necessidades básicas da humanidade; (b) Desenvolver uma melhor compreensão do papel do consumo e da forma de se implementar padrões de consumo mais sustentáveis (Agenda 21, 1997). A crise ambiental, embora seja um dos assuntos mais prementes do momento, não é universalmente reconhecida. Tampouco o modelo de desenvolvimento sustentável é o dominante. Por um lado assistimos à crescente visibilidade do tema nos últimos anos, o que pode ser interpretado como um sinal positivo de mudança para os ambientalistas . Por outro, acessar a essas informações não é garantia de engajamento da população com a questão. Sendo assim, a possibilidade de acessar informações não necessariamente se traduz em práticas efetivas. Surgem então questões que afligem muitos ambientalistas: porque, mesmo tendo acesso a tanta informação, as pessoas não mudam seus hábitos? O deslocamento do foco da dimensão da produção para a do consumo, no que diz respeito ao desenvolvimento sustentável, é recente, pois a clareza a respeito da interdependência entre os hábitos cotidianos de consumo e impactos ambientais e sociais ainda é um privilégio de poucos. É certo que considerar as dinâmicas geradas pelo consumo na vida contemporânea, o significado individual da circulação de bens, as percepções dos consumidores a respeito das empresas, as construções culturais a respeito da natureza, as construções de identidade a partir do consumo, os contextos políticos globais e locais, as identidades culturais pós-modernas são questões especialmente relevantes para aqueles diretamente envolvidos com o desenvolvimento de bens e serviços sustentáveis, como

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os profissionais de marketing, gestores e designers. No campo da prática, as soluções ainda estão em fase de construção, e a primeira grande dificuldade que temos é compreender que as transformações necessárias se dão em campos, esferas e tempos diferentes (Feldmann, 2003). Alguns atores sociais detem, no entanto, lugares privilegiados nos sistemas de produção e consumo, como as empresas e governos, e como consequência a possibilidade de agir em direção a sustentabilidade em uma escala muito grande. Outros atores importantes nesse cenários são as organizações internacionais, como o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, fundado em 1972. O PNUMA (UNEP, em Inglês) é uma instituição global que apóia diversas iniciativas no contexto do desenvolvimento sustentável, entre eles projetos que engajam governos, o terceiro setor, organizações civis e instituições privadas. O consumo e a produção sustentáveis estão entre as principais áreas de atuação do Programa. A seguir serão apresentadas três iniciativas que se inscrevem nessa área de atividades. O D4S tem como ponto de partida a necessidade de crescimento econômico e competitividade por parte dos países menos desenvolvidos no cenário econômico global. O D4S oferece uma metodologia destinada ao desenvolvimento de inovação para pequenas e médias empresas, como foco em produtos. A proposta do D4S vai além da produção de produtos ecoeficientes, baseadas nos princípios do Ecodesign. Partindo de uma abordagem sistêmica (os três Ps: People, Planet e Profit), que abrange a dimensão social e contempla a satisfação das necessidades dos consumidores como processos relevantes a produção de produtos (D4S, 2008). No capítulo 3 do manual de D4S, onde são apresentados os conceitos sobre inovação de produtos, é reiterada a importância da avaliação da perspectiva do consumidor, entre outras, para o planejamento de design e marketing:

Focar as necessidades e desejos do consumidor é essencial para comercializar um novo produto. Portanto informações sobre análise de mercado, comportamento do consumidor, tendências e cenários futuros, políticas governamentais, interesses ambientais, novas tecnologias e materiais podem ser úteis (D4S, 2008).

Na prática, as principais estratégias do D4S são: o redesign e o benchmarking. Cada uma dessas é apresentada a partir de 10 etapas, nas quais as necessidades e motivações dos consumidores são retomadas em diferentes momentos: na primeira etapa do Redesign, momento de criação da equipe e do planejamento do projeto, para a avaliação das necessidades dos consumidores, e na última, a de implementação e acompanhamento, que envolve a prototipagem e testes de mercado, onde a reação dos consumidores aos produtos é avaliada. Quanto ao benchmarking, a perspectiva do consumidor surge novamente na definição das áreas a serem focadas. Uma segunda iniciativa, como um foco diferente, a inovação social, é o CCSL (Comunidades Criativas para Estilos de vida Sustentáveis). Com o intuito de explorar a inovação social como vetor para o desenvolvimento de inovação tecnológica e produtiva, o projeto de pesquisa possui duas publicações, Creative Communities. People inventing sustainable ways of living (2006), Collaborative Services. Social Innovation and Design for Sustainabilty (2006), sob a coordenação de François Jégou e Ezio Manzini. A primeira é dedicada a exposição casos de soluções criativas, oriundas de comunidades locais européias. Para a pesquisa, foi utilizado o que os pesquisadores chamaram de método quasi etnográfico. Estudantes de design de oito diferentes instituições de ensino foram a campo munidos de câmeras fotográficas e cadernos, realizando entrevistas, testando os serviços e coletando dados para o projeto.

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As características das Comunidades Criativas, como definidas pelo CCSL, são as seguintes: representam rupturas em relação ao seus contextos, são inovações radicais; são fruto da atividade de pessoas excepcionalmente empreendedoras e criativas, com claros objetivos e que buscaram as ferramentas necessárias para atingi-los; são iniciativas firmemente enraizadas em um lugar, otimizam a utilização de recursos, e direta ou indiretamente promovem novas formas de transformação social; por último, fazem parte de redes com comunidades de diferentes localidades que compartilham experiências similares, portanto são ao mesmo tempo locais e cosmopolitas (Manzini, 2006). A partir do conceito de comunidades criativas e serviços colaborativos desenvolvidos, a iniciativa do CCLS advoga por uma re-significação do papel do designer enquanto mediador e facilitador material e principalmente processual. O projeto foi estendido para outras regiões, constituindo uma rede de pesquisadores em instituições de outras regiões como a África e Oriente Médio, e países como Estados Unidos Brasil, Colômbia e China. A perspectiva do trabalho é bastante interessante por desconstruir a ideia de que apenas empresas ou estúdios de design detem o poder material e criativo para solucionar os problemas da humanidade. Ao descentralizar o papel do design, o livro evidencia o potencial de mobilização e criatividade coletivo das pessoas. Os casos contemplados pelo CCLS nas diferentes regiões onde estão presentes revelam as particularidades locais das iniciativas, aumentam a visibilidade de iniciativas locais ao evidenciarem o poder das micro-escolhas de atores externos ao circuito oficial de produção e circulação de produtos, reafirmando assim relevância dessas iniciativas para a construção de novas formas produção e consumo. Outra estratégia recomendada pela UNEP é a dos Sistemas de Produto-Serviço, uma iniciativa que se inscreve na lógica da

desmaterialização, partindo do princípio da mitigação dos impactos ambientais com a redução dos fluxos materiais no sistema de produção e consumo, ao redefinir o conceito de produto. Um Sistema Produto-Serviço pode ser definido como o resultado de uma inovação estratégica, que desloca o foco empresarial da atividade de projetar e vender apenas produtos físicos para oferecer um sistema de produtos e serviços, que em conjunto são capazes de satisfazer as demandas específicas dos clientes (UNEP). Desta forma, a satisfação das necessidades do consumidor é um elemento central para as estratégias de design e negócios, na medida em que o PSS propõe a venda de um conjunto de soluções mutuamente dependentes que satisfaçam plenamente os clientes, em contraposição a bens materiais. Segue uma breve definição das três principais categorias de PSS: (a) serviços que agregam valor ao produto: a empresa oferece serviços complementares a um produto vendido, garantindo sua funcionalidade e manutenção, mediante um contrato com tempo determinado de vigência, ao fim do qual o fornecedor pode se responsabilizar pelo destino do produto; (b) serviços que provêem resultados finais aos consumidores: a compra de um produto é substituída por um mix de serviços orientados a um resultado final, no qual o consumidor não tem o ônus financeiro de aquisição e manutenção do produto ou equipamento, pelo qual a empresa é inteiramente responsável, como proprietária; (c) serviços que provêem plataformas capacitadoras aos consumidores: a empresa oferece o acesso a produtos, ferramentas, oportunidades e outras capacidades, e consumidor paga pelo tempo de uso efetivo do produto, por tempo determinado em contrato. Cada uma dessas categorias possui uma configuração diferente de benefícios para os diferentes stakeholders, e contexto mais ou menos propícios para aplicação. Em todas essas configurações o interesse econômico

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do produtor será o de reduzir a quantidade de recursos utilizados, e de reciclar ou reutilizar os materiais descartados, posto que sua margem de lucro depende diretamente do pagamento por unidade de utilização, e não por um produto. Como proprietário dos equipamentos e produtos referidos, a extensão do ciclo de vida dos produtos se torna também, uma questão de lucro. É justamente a partir dessa convergência de interesses que a otimização do sistema pode ocorrer, potencializando a sua ecoeficiência. Como nota Mont (2002), o crescimento do setor de serviços nos países mais industrializados evidencia a transição para uma economia de serviços, uma mudança motivada principalmente pela busca da diferenciação e competitividade no mercado. A discussão atual é a respeito das potencialidades do PSS também nos países menos industrializados. Os defensores dessa abordagem argumentam que per se o PSS não pode ser classificado como uma solução sustentável, sendo necessária a análise dos casos específicos a única forma de avaliar essa questão. Por outro lado, esses defensores também afirmam que nos países menos industrializados, essa abordagem pode ampliar e facilitar o acesso das pessoas a certas utilidades as quais poderiam não alcançar em uma economia orientada unicamente a manufatura em massa - com o benefício de evitarem seus malefícios. A abordagem do PSS é muito bem resolvida teoricamente, e uma iniciativa que contempla a ambivalência do consumo, mencionada anteriormente. Porém existem desafios e barreiras para sua implementação, entre os maiores, a aceitação cultural do deslocamento de valores do possuir, para a satisfação das necessidades de forma sustentável.

Conclusão

Os casos apresentados ao longo deste artigo evidenciam diferentes aproximações entre os campos Antropologia, Design e Marketing. Há quinze anos, Sherry (1995) discutiu as oportunidades colaborativas entre as disciplinas de Marketing e Antropologia, reconhecendo a contribuição da perspectiva antropológica para o pensamento mercadológico, por um lado, e o empenho de antropólogos mais orientados a aplicação prática. Porém ele também ressaltou a escassez de colaboração teórica e prática entre as disciplinas. Entre os primeiros cases apresentados, a primeira diferença diz respeito a natureza institucional das iniciativas - algumas se situam no campo acadêmico, enquanto outras no setor privado. Outro fator que os diferencia é a finalidade: alguns são trabalhos realizados por consultorias e empresas, outras geradas na academia. Enquanto umas são guiadas pela lógica da maximização de lucros dentro de empresas, outras são mais orientadas a contribuição teórica. Essas aproximações ora são mediadas por pessoas (profissionais da Antropologia) que transitam pelo universo da produção industrial e de mercado, ora pelo instrumento de pesquisa (profissionais de diferentes áreas que declaram realizar pesquisas etnográficas). Já do ponto de vista mercadológico, os cases das empresas Gatorade do Brasil, da Procter & Gamble e Kimberly-Klark descritos apresentam resultados positivos em termos de lucratividade. No capítulo sobre o comportamento do consumidor e sustentabilidade, foram apresentadas algumas propostas oriundas do campo do Design. Em todas elas foi explicitada a necessidade de um conhecimento mais profundo sobre estilos de vida, padrões de consumo, motivações e expectativas a respeito da natureza dos processos decisivos dos consumidores. Estas são questões centrais para o desenvolvimento de produtos e serviços para a

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sustentabilidade, que é um amplo e fértil campo para Antropólogos. Este artigo não fornece respostas a nenhum dos pontos mencionados. Seu objetivo maior é chamar a atenção para um campo específico de investigação, o do comportamento do consumidor, no qual a abordagem Antropológica tem sido privilegiada, e como essa abordagem tem sido utilizada. A este respeito, Pedro Jaime Jr. faz algumas observações importantes:

O antropólogo que atua no campo do marketing torna-se um auxiliar da ordem estabelecida? Estariam esses profissionais transformando-se, eles mesmos, naquilo que Sahlins (1979) denominou de “mercenários do símbolo”? Quais as conseqüências de tal transformação? O conhecimento antropológico passa a ser uma sofisticada arma para a dominação simbólica do consumidor? Ao construírem estratégias de marketing lastreadas em interpretações antropológicas cada vez mais refinadas, não estariam as empresas ludibriando os indivíduos? (Jaime Jr.,2001,p.76)

As questões de limites éticos colocadas pelo autor é um bom exemplo da reflexividade característica da disciplina, e são relevantes não apenas para os antropólogos, mas para quaisquer atores envolvidos no circuito de desenvolvimento, produção e circulação de produtos. A partir dessas questões, Jaime Jr. (2001) enfatiza a importância de se conhecer melhor outras facetas do fenômeno do consumo: como o não-consumo. Já as iniciativas para o desenvolvimento de soluções sustentáveis para a produção e consumo apresentadas, declaradamente chamam por uma abordagem interpretativa para as dimensões simbólicas do consumo, uma tarefa para a qual o antropólogo certamente está preparado. Outras questões surgem ao serem considerados todos os atores sociais, ou stakeholders, envolvidos nessas empreitadas, assim como

os aspectos epistemológicos e metodológicos do trabalho interdisciplinar, importantes para a garantia não apenas da aplicação, mas da produção e reprodução do conhecimento, que aqui, infelizmente, não puderam ser contempladas.

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A colaboração no design de abrigos de emergência: relato de uma pesquisa-açãoCarolina Daros - Mestranda em Design - Universidade Federal do Paraná - [email protected] Ivana Marques da Rosa - Mestranda em Design - Universidade Federal do Paraná - [email protected] Prof. Dr. Aguinaldo dos SantosUniversidade Federal do Paraná - [email protected] Prof. Dr. Adriano HeemannUniversidade Federal do Paraná - [email protected]

Resumo:O presente artigo enfoca o fenômeno da colaboração entre instituições de design no âmbito internacional em temas de relevância global. O artigo reporta um projeto de curta duração que tratou do desenvolvimento de um conceito para abrigo destinado a situação de emergências, desenvolvido entre duas universidades, em projeto demandado por uma ONG. O estudo utilizou o método da pesquisa ação. No artigo, os autores procuram relacionar os problemas e soluções do processo de colaboração, apontando as dificuldades encontradas e os caminhos de solução para o trabalho colaborativo. Os autores apontam diretrizes para a utilização de projetos de curto prazo como estratégia de implementação de programas de colaboração na área de Design.

Palavras-chave: Colaboração, Design, Abrigos de emergência, Desastres Naturais

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Introdução:

A medida que o planeta se torna mais populoso, gradualmente os eventos antes percebidos como naturais passam a ser considerados desastres, causando danos ou diminuindo, de algum modo, o bem estar das pessoas. Conforme UN Habitat (2010), em 2009 foram registrados no mundo 335 desastres naturais significativos, que ocasionaram a morte de mais de 10.000 mil pessoas e afetaram a vida de outras 119 milhões. Diante desse contexto mundial, emerge a importância da criação de habitações instantâneas que possam ser utilizadas em caráter de emergência pelas vítimas desses desastres. A criação de algo novo nesse sentido é o objeto do presente artigo. O desenvolvimento colaborativo de uma habitação instantânea ocorreu no âmbito de um projeto aplicado do núcleo de pesquisa de uma universidade paranaense em parceria com umaa ONG paranaense (FLAMING, 2011). A partir disso, foi estabelecida a equipe de trabalho que contou com diferentes habilidades vindas da arquitetura, engenharia civil, engenharia madeireira e o design de produto e gráfico. Em seguida, foi elaborado um cronograma que definiu os objetivos e as tarefas a serem realizadas. Dessa forma, iniciaram-se as pesquisas e, semanalmente, foram realizadas reuniões informais com parte da equipe para discutir os resultados parciais. Além das reuniões, durante esse período também foram feitos workshops, brainstormings e reuniões agendadas com todos os integrantes da equipe. O resultado alcançado foi a otimização da primeira ideia trazida pelos representantes da ONG, porém sem ser ainda uma solução definitiva, em função do curto prazo e da necessidade de testes de viabilidade. Já nesse primeiro momento percebeu-se uma colaboração espontânea informal. Desta maneira, foram identificados

aspectos positivos e negativos no desenvolvimento do projeto, o que em alguns momentos resultaram da falta de um plano estruturado de colaboração. Aqui, serão relatados a pesquisa ação que norteou o presente artigo e os resultados mais relevantes elencados durante o desenvolvimento do projeto. Além disso, os resultados foram discutidos e as conclusões apresentadas. Para contextualizar a presente pesquisa, aborda-se, brevemente, o conceito de colaboração. Esta pode ser entendida como o trabalho em conjunto por meio de um esforço comum, dependente da relação das pessoas envolvidas, confiança entre elas e dedicação de cada parte para o alcance dos resultados (HEEMANN et al. 2009). Esses autores observam que o fenômeno da colaboração muitas vezes não é compreendido e estabelecido em equipes de projeto, muito embora seja um objeto de amplo interesse em diversas áreas do conhecimento. Nesse sentido, apresentam definições de trabalho colaborativo e premissas para o seu alcance no âmbito do Design. Tendo em vista o crescente interesse das diversas áreas do conhecimento na colaboração, os autores, realizaram um estudo que resultou na proposição de premissas para linhas colaborativas e para técnicas de auxílio ao trabalho colaborativo, considerando as etapas de estabelecimento, manutenção e dissolução. Desse modo, oferecem fundamentos teóricos sobre a colaboração em equipes de projeto. Ações que valorizam e aperfeiçoam as relações das equipes nos estágios de estabelecimento, manutenção e dissolução, constituem as técnicas para o alcance do trabalho colaborativo, conforme segue:Estabelecimento da Colaboração: o estabelecimento é o processo inicial, onde se formará uma equipe conforme os interesses, a integração, a confiança e o comprometimento que envolvem seus integrantes.

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Manutenção da colaboração: cuidar da manutenção das relações de colaboração em equipe é essencial, independente da duração do projeto, já que pequenas falhas poderão causar grandes conseqüências para a equipe. Para tanto, deve-se levar em conta a motivação, a comunicação, a coordenação e a cooperação, de forma que a equipe não perca o espírito de cooperação durante o projeto.Dissolução da colaboração: há que se considerar, no momento da dissolução formal de uma equipe de projeto, uma possível necessidade futura de reestabelecimento da colaboração. Portanto, cada integrante deve permanecer apto a continuar a trabalhar individualmente; deve confiar na equipe que está sendo dissolvida e deve manter contato com os demais por meio de um compartilhamento acessível de informações. A relevância desses três estágios é ressaltada por Heemann et al. (2009) por viabilizar uma configuração cíclica em um contexto de desenvolvimento continuado de projetos, onde uma nova colaboração poderá ser mais facilmente compreendida e alcançada, já que a anterior não chegará a ser totalmente dissolvida.

Pesquisa Ação

A pesquisa ação aqui relatada é baseada, inicialmente, em um conjunto de aspectos de natureza empírica, relativas ao trabalho colaborativo, observados durante uma pesquisa aplicada no âmbito do projeto aqui apresentado no núcleo de pesquisa da universidade. Cumpre ressaltar que, apesar do referido projeto ter ocorrido em grupo, não buscou-se nele seguir qualquer modelo teórico ou procedimento metodológico explícito sobre colaboração. Portanto, a experiência colaborativa ocorreu de uma maneira espontânea.

Resultados

Como na maioria dos casos de pesquisa aplicada, é possível elencar uma ampla gama de descobertas resultantes de uma abordagem empírica. No caso do projeto Bossa Nova, os resultados relevantes obtidos foram classificados em três âmbitos: pessoal, profissional e no que se refere especificamente ao projeto.No âmbito pessoal, houve a possibilidade de conhecer culturas diferentes e novos pontos de vista, considerando que os participantes são oriundos de diferentes países e com diferentes habilidades. Em se tratando do grupo, cumpre observar que as principais dificuldades encontradas durante o projeto referiram-se a dificuldade de expressão dos profissionais em virtude dos diferentes pontos de vista e pela limitação na fluência de idiomas, tendo em vista que o trabalho envolveu os idiomas inglês, alemão e português. Já, no aspecto profissional, foi possível vivenciar o desenvolvimento de pesquisa em novas áreas do conhecimento ainda não exploradas. Para o projeto Bossa Nova, os resultados possibilitaram uma visão mais abrangente sobre as possíveis soluções, a partir da interdisciplinaridade dos profissionais envolvidos. Nesse sentido, uma dificuldade geral foi a divergência de interesses em relação aos objetivos do projeto, realçada ainda mais pelo curto espaço de tempo (60 dias) para o seu desenvolvimento.No que se refere ao projeto, uma das dificuldades foi o desconhecimento de conceitos básicos necessários para o desenvolvimento do projeto interdisciplinar. Isso ocasionou interrupções do raciocínio lógico durante as reuniões, que acarretou em perda de foco nas discussões. Sentiu-se falta, ainda, de planos de trabalho articulados uns com os outros, que

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pontuassem as tarefas e as respectivas metas a serem alcançados com cada uma delas. Contudo, essas mesmas barreiras foram superadas por meio de ações reativas, realizadas a medida que as dificuldades surgiam. Foram realizadas reuniões formais e informais, workshops, desenvolvidos brainstormings; utilizados GoogleDocs, Skype e tradutores on-line. Além disso, a elaboração do relatório do projeto contribuiu para uma visão geral da abordagem do projeto e resultados obtidos. A formalização do cronograma auxiliou para a visualização objetiva das etapas do projeto. Cabe ainda mencionar o papel importante das pessoas que atuaram como mediadores de opiniões divergentes; o esforço para explicações ilustradas e gestuais; a elaboração de maquetes; as apresentações em multi-mídia; as discussões informais; a divisão de tarefas e a insistência em explicações sobre o projeto e seus objetivos.

Possibilidades de resolução de problemas no trabalho colaborativo em design

O presente item relaciona, de modo sintético, as lições aprendidas sobre colaboração durante a experiência empírica. Como pode ser observado no QUADRO 1, a maior parcela dos problemas de colaboração enfrentados pela equipe de projeto foram solucionadas pelos próprios integrantes, de modo intuitivo ou com base na experiência de vivências anteriores. Contudo, as soluções propostas pela equipe de trabalho poderiam ter sido melhor aproveitadas, caso um modelo de colaboração padronizado, baseado em contribuições teóricas já existentes, tivesse sido adotado desde o início do projeto.

QUADRO 1: Comparação de problemas e soluções para o trabalho colaborativo em design

PROBLEMA SOLUÇÃOCORRELAÇÃO

COM AS PREMISSAS

Dificuldade de expressão e

comunicação

Tradutor on-line/dicionárioAulas de inglês/portuguêsExplicações ilustradasExplicações ilustrativasExplicações gestuaisMediadores de opinião

ManutençãoManutençãoManutençãoManutençãoManutençãoEstabelecimento, Manutenção e Dissolução

Divergências de interesse

Mediadores de opiniãoBrainstorming

Estabelecimento, Manutenção e DissoluçãoManutenção

Atraso na definição dos

objetivos

CronogramaDivisão de tarefas

Estabelecimento, Manutenção e Dissolução

Interrupções durante o

projeto pelo desconhecimento

dos conceitos básicos

E-mailSkypeReuniõesGoogleDocsMulti-mídia

Estabelecimento, Manutenção e Dissolução

Interrupções de raciocínio

Mediadores de opinião

Estabelecimento, Manutenção e Dissolução

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Falta de plano de trabalho articulado

WorkshopsDiscussões informaisRelatórioExplicações sobre o projetoMaquete

Estabelecimento e ManutençãoEstabelecimento e Manutenção DissoluçãoEstabelecimento e ManutençãoDissolução

Fonte: Os autores

Tomando como exemplo as soluções referentes à dificuldade de expressão e comunicação, estas podem ser associadas à premissa da manutenção da colaboração. No tocante às divergências de interesse, o brainstorming configura-se como uma solução de manutenção. É possível perceber que a atuação de mediadores de opinião apresenta-se relevante, uma vez que relaciona-se às três premissas. Da mesma forma, as soluções de cronograma, E-mail, Skype e GoogleDocs também podem ser identificadas nas três premissas de colaboração. Contudo, a divisão de tarefas, reuniões, discussões informais, workshops e explicações sobre o projeto caracterizam-se como premissas de estabelecimento e/ou manutenção. Ao passo que, a elaboração de maquete e relatório se restringem a premissa de dissolução.

Discussão

Neste tópico serão relacionados os problemas elencados neste artigo com as soluções tomadas pela equipe de projeto. A dificuldade de expressão foi um dos problemas mais relevantes encontrados. Quando um interlocutor pretendia informar, muitas vezes a mensagem foi interpretada pelo receptor de forma equivocada. Além disso, a falta do domínio da língua estrangeira

dificultou a comunicação. Isto aconteceu, tanto na comunicação oral, quanto na escrita. Como ferramentas de solução, foram utilizados o tradutor on-line; dicionário; aulas de inglês e português; explicações ilustradas e explicações gestuais. Nesse contexto, um melhor entendimento poderia ter ocorrido mais facilmente se houvesse uma preocupação anterior em planejar as atividades realizadas conforme premissas colaborativas. Em muitas ocasiões a solução encontrada foi a interferência de mediadores. Em um caso, a mesma informação assumiu significados diferentes em função do ponto de vista, da formação do profissional ou das interpretações pessoais. Em outro caso, ocorreu a divergência de interesses e dos objetivos em relação ao projeto. As dificuldades diversas acarretaram em atrasos para a definição dos objetivos e tarefas do projeto. O cronograma, que deveria ser uma ferramenta facilitadora do processo, sofreu inúmeras alterações até a definição final dos objetivos do projeto. Outra dificuldade foram as interrupções devido a interrupções do raciocínio lógico durante as reuniões. Isso ocorreu por causa da falta de conhecimento dos conceitos básicos necessários para o desenvolvimento do projeto e sua correta interpretação. Nesse caso, os esclarecimentos ocorreram por E-mails, comunicações por Skype e conversas formais e informais após as reuniões. Os E-mails, em grande parte, continham documentos e links importantes para a maior compreensão das questões do projeto. Nesse sentido, a colaboração foi pautada no o compartilhamento constante de informações.

Conclusão

O presente artigo tratou da colaboração como um fenômeno estabelecido entre pessoas durante o desenvolvimento de um

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projeto de abrigos voltados a pessoas em situação de emergência. Relatou uma pesquisa ação no campo do design, apresentando a relação entre problemas e soluções iniciais fundamentado em uma experiência prática. Essa experiência obtida com este projeto pode ser replicada em pesquisas de design no sentido de potencializar benefícios do trabalho em grupo e minimizar barreiras que podem surgir do desconhecimento sobre aspectos fundamentais da colaboração. Percebe-se que as barreiras encontradas ao longo do projeto decorreram da falta de uma visão inicial e compartilhada do problema de projeto e do respectivo objetivo. Essas duas tarefas básicas, que estão diretamente relacionadas ao estabelecimento da colaboração, influenciam diretamente todas as outras tarefas. Foi a dificuldade para o alcance de um entendimento compartilhado que prejudicou a compreensão do projeto como um todo. O projeto se tornou um processo mais lento e trabalhoso do que o esperado inicialmente pelos membros da equipe. Tendo em vista os diferentes atores, idiomas e a interdisciplinaridade envolvidos no projeto, identificou-se a necessidade de uma maior ênfase na comunicação formal (relatórios, textos explicativos, apresentações sobre o projeto, etc), bem como o compartilhamento dessas informações de forma rápida, para minimizar interpretações equivocadas. Nesse sentido, seria grande valia o uso aprimorado de ferramentas computacionais. Para projetos futuros, recomenda-se a identificação inicial das habilidades e competências de cada integrante e o direcionamento à tarefas compatíveis com as mesmas. Outro fator importante para o estabelecimento de uma equipe colaborativa seria o estabelecimento de uma liderança clara e ativa diante das atividades do projeto.

Finalmente, há que se considerar, de um modo geral, as diferenças de visão de mundo das pessoas que formam uma equipe de projeto. Os resultados do presente artigo apontam, sobretudo, que não existe um roteiro definido a ser seguidor. Existem sim premissas que devem ser consideradas e adaptadas a cada caso em particular.

Referências

FLAMING, F. et al. Bossa Nova Report. Curitiba: Núcleo de Design e Sustenatbilidade da Universidade Federal do Paraná, 2011. Relatório Técnico. NDS-UFPR

HEEMANN, Adriano; LIMA, Patrícia Jorge Vieira de. Premissas para o Alcance do Trabalho Colaborativo em Design. Artigo apresentado no 5. Congresso Internacional de Pesquisa em Design, Bauru, 2009.

UN Habitat. Shelter Projects 2009. Published in 2010. Disponível em: www.disasterassessment.org. Acesso em: 03/05/2011.

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Uma experiência no ensino de design de sistemasorientados à sustentabilidade

Jucelia S. Giacomini Silva - Candidata a Ph.D pela PUC-Rio [email protected]

Resumo:Tendo em vista a necessidade de formação profissional qualificada, crítica e comprometida com o desenvolvimento de novos cenários que busquem redefinir e articular os requisitos sociais, econômicos e ambientais, este artigo busca introduzir reflexões a partir da experiência em sala de aula, relativa ao ensino de sistemas de design orientados à sustentabilidade, em turmas do 7º período do curso de Bacharelado em Design da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Deste modo, o presente artigo busca efetuar uma análise da necessidade de articulação entre a pesquisa e o ensino em Design, pois a inserção dos conceitos socioambientais na prática do Design ainda é vista com cautela pela maioria dos discentes, soando muitas vezes como uma mera reconfiguração mercadológica. Outro importante aspecto observado se caracteriza pelo desconhecimento de diretrizes e ferramentas que viabilizem a inserção desses conceitos no projeto em design, o que acarreta uma visão pouco definida dos resultados passíveis de serem atingidos no projeto e, conseqüentemente, uma indefinição do escopo de atuação do designer. A metodologia da disciplina consistiu no desenvolvimento da solução de um problema (identificado na UTFPR pelos alunos) e o desenvolvimento da solução foi baseado nos requisitos do design de sistemas orientados sustentabilidade. Os conceitos teóricos sobre design e sustentabilidade foram agrupados por tema e tratados em sala de aula a partir da leitura de textos e do diálogo entre os participantes. Após o estudo de cada tema, os requisitos e ferramentas foram aplicados ao problema identificado, tendo em vista o desenvolvimento de uma solução sistêmica. A partir dos resultados obtidos foram identificadas lacunas e oportunidades relevantes para a integração entre o ensino de Design e a sustentabilidade.

Palavra-chave: Ensino, design de sistemas, sustentabilidade, lacunas, oportunidades

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Introdução

Este estudo parte do pressuposto defendido por Jacobi (2006, p.9), que o direcionamento para uma sociedade social e ambientalmente equilibrada é fortalecido na medida em que são desenvolvidas “práticas educativas que pautadas pelo paradigma da complexidade, aportem para a escola e os ambientes pedagógicos, uma atitude reflexiva em torno da problemática ambiental” objetivando assim, formar novas mentalidades que traduzam a nossa relação com o ambiente. Desta forma, um dos passos iniciais para a inserção dos requisitos socioambientais na praxis do Design consiste na disseminação em sala de aula, das teorias que fundamentam as bases do conhecimento da sustentabilidade, de modo crítico e participativo, para que se torne possível obter uma reconstrução da própria teoria. Verifica-se que os temas relativos à sustentabilidade ainda são incipientes nas grades curriculares dos cursos de Design no Brasil, pois sua inclusão como assunto relevante nas disciplinas do conhecimento ainda é muito recente e, devido a estes fatores, seu foco ainda se encontra restrito ao ecodesign e à minimização do impacto ambiental dos processos produtivos (FONTOURA; SAMPAIO, 2007). Deste modo, o caminho a percorrer para a consolidação de uma concepção multidimensional de sustentabilidade ainda é longo e passa por diversas lacunas e dificuldades. Observando-se a realidade em sala de aula é possível verificar que estas dificuldades são encontradas tanto por parte dos discentes, na assimilação, entendimento e elaboração das propostas; quanto por parte dos docentes, que buscam caminhos (nem sempre claros e muitas vezes cambiantes) para o estabelecimento de relações complementares entre o ambiente, a sociedade e o Design. Portanto, a construção de um corpo de conhecimento voltado aos requisitos sociais e ambientais torna-se de fundamental

importância, pois objetiva fortalecer as visões integradoras necessárias, bem como a construção das bases adequadas para o estabelecimento de relações entre ambiente e desenvolvimento. Entretanto, é importante salientar o pensamento de Sauvé (2005, p.320), pois a autora defende que o desenvolvimento sustentável não se caracteriza como um “fim claramente definido”, mas consiste em um caminho a ser percorrido, “cabendo a cada um traçá-lo de acordo com sua conveniência”. Estas ideias servem como um alerta para a educação “a respeito da, para a, na, pela ou em prol da” sustentabilidade (SAUVÉ, 2005, p.317), pois apesar das boas intenções, corre-se o risco de replicar a concepção utilitarista da educação e a representação “recursista” do meio ambiente, adotada pela “educação para o desenvolvimento sustentável” (SAUVÉ, 2005, p.320). Neste caso, trazendo como exemplo as práticas em Design, torna-se necessário evitar as visões reducionistas e hegemônicas que transformam o Design em um gestor de recursos, no qual as atividades humanas são colocadas a serviço de um “desenvolvimento”, que por sua vez utiliza exageradamente e desnecessariamente a linguagem da sustentabilidade. Por outro lado, essa profunda carência de práticas educativas que apontem para propostas pedagógicas centradas na conscientização, na mudança de comportamento, no desenvolvimento de competências, na capacidade de avaliação e participação dos educandos, representa uma grande oportunidade para as instituições de ensino superior em Design, no sentido de investir na formação de sujeitos sintonizados com as necessidades ambientais, econômicas e sócio-éticas, além de apoiar e consolidar o desenvolvimento de metodologias e material didático para um ensino crítico e participativo do Design e dos requisitos sustentáveis (FONTOURA; SAMPAIO, 2007). A partir destas conjecturas, o método de pesquisa

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utilizado no presente artigo constitui-se na revisão crítica da literatura, que foi realizado um estudo teórico-analítico objetivando efetuar a correspondência entre os principais aspectos do Design e da Educação com os requisitos da sustentabilidade. Na sequência são apresentadas as etapas de trabalho utilizadas em sala para ao desenvolvimento da disciplina do curso de Design da UTFPR, as quais foram posteriormente analisadas com os alunos e submetidas a uma reflexão crítica, tendo em vista a busca de novas possibilidades de inclusão de práticas educativas integradoras, voltadas a uma “educação para um futuro viável” conforme defende Sauvé (2005, p.321).

Educação e sustentabilidade

A proposta de “educação para a sustentabilidade” ou “para o desenvolvimento sustentável” faz parte da renovação do discurso abordado em debates internacionais e pode ser observada nas conferências e documentos da United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO) e na Agenda 21 proposta na Rio-92, assim busca ampliar a efetividade da “educação ambiental”, a qual não apresentou os resultados esperados nas últimas décadas, pois não se mostrou capaz de atender à crescente complexidade da crise contemporânea (LIMA, 2003). Segundo o autor, essa abordagem educativa possui como objetivo integralizar as dimensões social, ambiental, econômica e cultural, visto que diversos estudiosos argumentam que a educação ambiental assumiu expressões reducionistas, pois não conseguiu colocar em prática as ações reconhecidas em seu discurso (Vide: Sterling, 2001; Tilbury, 1996; Sauvé, 1997). No entanto, Sauvé (2005) defende que a sustentabilidade diz respeito a uma dimensão essencial da educação que fundamenta o desenvolvimento pessoal e social e não deve ser determinada

apenas como uma “educação para...” ou como uma “ferramenta” para a resolução de problemas do meio ambiente. Entretanto, a autora defende que, mesmo considerando o desenvolvimento sustentável como um importante fenômeno sócio-histórico, é possível ter em vista uma educação que não seja reduzida a esse fator somente, visto que a relação dos indivíduos com o ambiente ainda está longe de ser um consenso em nível global. Similarmente, Jickling (1994, p.2) afirma que “educar para” sugere a formação ou a preparação para a realização de algum objetivo instrumental, ou seja, indica um modo pré-determinado de pensar que o aluno deverá prescrever. Portanto, o autor defende que a educação deve permitir que as pessoas efetuem uma análise crítica do contexto, questionando inclusive o conceito de “desenvolvimento sustentável” e “sustentabilidade” e, para tanto, Jickling (1994, p.6) propõe o termo “educar sobre...”, pois este permite capacitar os alunos a discutir, avaliar e julgar por si próprios, participando inteligente e ativamente da construção do debate direcionado aos princípios da sustentabilidade. Neste sentido, Jacobi (2003) declara que o tema da sustentabilidade envolve um conjunto de atores do universo educativo, o que intensifica o engajamento dos diversos sistemas de conhecimento, a capacitação de profissionais e a comunidade universitária em uma perspectiva interdisciplinar. Desta forma, se o pensar e o fazer sobre o ambiente forem estimulados e vinculados aos valores éticos e ao diálogo entre as diversas áreas do conhecimento, torna-se possível superar o reducionismo e fortalecer a complexa interação entre a sociedade e a natureza (JACOBI, 2003). Para que se torne possível impulsionar as transformações de uma educação que assume um compromisso com a formação de valores de sustentabilidade como parte de um processo coletivo, faz-se necessário repensar as práticas sociais e o papel dos

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professores como mediadores e transmissores do conhecimento. Este reposicionamento é importante para a construção das bases adequadas da compreensão do meio ambiente global e da responsabilidade de cada um, tendo como finalidade construir uma sociedade igualitária e ambientalmente sustentável (JACOBI, 2003). Deste modo, a necessidade da internalização da problemática ambiental e da construção crítica do saber requer o fortalecimento de visões integradoras que estimulem a reflexão em torno das relações indivíduos-natureza, dos riscos ambientais globais e locais e das relações ambiente-desenvolvimento (JACOBI, 2003). Lima (2003, p.116) reafirma esta questão e defende que a construção de uma educação ambiental complexa, capaz de responder a problemas igualmente complexos, implica em ir além de uma “sustentabilidade de mercado” reprodutivista, fragmentária e reducionista. Neste sentido, a aprendizagem, a criação e o exercício de novas concepções e práticas de vida, de educação e de convivência – individual, social e ambiental – se tornarão capazes de concretizar a tão esperada, melhora das relações de cada indivíduo com o mundo, como um novo paradigma de desenvolvimento construído a partir das características de cada contexto.

Sustentabilidade no ensino do Design

Desde que as necessidades sociais e ambientais emergiram nos debates internacionais tem se observado o surgimento de conceitos e teorias associadas ao Design e à necessidade de reconhecer os limites ambientais no projeto de produtos e serviços, tendo em vista uma maior contribuição para o meio ambiente e para a sociedade (SHERWIN, 2004). No entanto ainda existem diversas lacunas na teoria e na prática do Design, pois este tem passado por transformações aleatórias reagindo a

mudanças circunstanciais ou ideológicas, em vez transformar seus fundamentos por meio de uma reavaliação radical de prioridades e necessidades (WHITELEY, 1998). No entanto, em suas origens o Design é a ferramenta por meio da qual o ser humano molda seus ambientes e objetos e, por extensão, a sociedade e a si mesmo (WHITELEY, 1998). Todavia, para desempenhar um papel fundamental na construção de cenários inovadores direcionados para a construção de uma sociedade sustentável o Design necessita de uma revisão de seus conceitos fundamentais e, conforme defende Buchanan (1995), também necessita de contextualização histórica, teórica, pesquisa e crítica, pois na ausência dessas condições as escolas acabam por formar profissionais inabilitados para desenvolver atividades projetuais que incluam os requisitos ambientais, sociais ou culturais da sustentabilidade. Observa-se que desde seu surgimento, as escolas de Design têm sofrido influências das forças sociais dominantes representadas tanto pelas tendências político-didáticas quanto pelo sistema produtivo e, devido a essas interferências externas, muitas vezes as escolas acabam assumindo uma atitude conformista em relação ao processo de formação de uma nova consciência baseada na crítica, na análise e na ação responsável quanto ao futuro (SELLE, 1973). Segundo Santos (2009) o Design como é comumente conhecido originou-se para dar suporte à produção industrial e, sob vários pontos de vista, é um dos fatores centrais no estímulo aos altos níveis de consumo de recursos naturais observados na sociedade atual. A Bauhaus, primeira escola de Design do mundo, foi criada em 1919 para atender as necessidades práticas da nova produção industrial (MARGOLIN, 2005). O primeiro conceito de Design presumia como resultado “(...) um produto industrial passível de produção em série (...) para a (...) satisfação de

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determinadas necessidades de um indivíduo ou grupo” (LÖBACH, 2001 p.16-17), através do binômio forma-função. No modelo formalizado originado na Bauhaus, o Design é visto basicamente como uma questão de funcionalidade utilitária, de materiais, métodos, forma e proporção (WHITELEY, 2008). O autor também afirma que, desde então tem surgido diversos modelos que influenciam o ensino e a prática do Design, no entanto os caracteriza como incoerentes e insuficientes, pois necessitam de uma maior uniformização entre seus conceitos, a fim de permitir que as diversas qualidades e aptidões se complementem ou se confrontem de forma construtiva. O modelo teorizado caracteriza-se como um dos modelos identificados por Whiteley (1998) e representa o produto de um alinhamento com a posição pós-moderna mais extrema que decreta a “fusão” total entre teoria e prática. O modelo politizado é marcado por um pensamento binário e oposicionista e deu origem aos designers radicais dos anos 60, que por sua vez deu lugar aos designers responsáveis dos anos 70, aos “verdes” dos anos 80 e aos designers éticos dos anos 90. Este modelo, embora simplista, redutivo e não muito difundido possui uma grande proporção de consciência social e política. Atualmente o modelo mais comum no ensino do Design é respaldado pelas exigências “profissionais” e realidades de “mercado”, buscando equipar o estudante com aptidões e técnicas que lhe serão úteis no desenvolvimento de trabalhos para empresas e para a indústria. A partir deste modelo originam-se os designers consumistas que tem por objetivo impulsionar a economia por meio do redesign e do styling e neste caso, raramente são verificados questionamentos sobre a necessidade de determinados tipos de produtos ou mesmo sobre seus efeitos ambientais, sociais, morais ou pessoais. O modelo tecnológico

presume que as soluções em tecnologia apresentam-se como as mais apropriadas para as questões relativas ao Design e observa-se uma tendência a esquivar-se de debates ou reflexões críticas das teorias deste modelo de ensino (WHITELEY, 1998). O modelo do “designer valorizado” proposto por Whiteley (1998) apresenta a necessidade de desenvolver um modelo para uma nova categoria de designers, baseado em uma compreensão bem mais aprofundada e bem mais complexa dos valores relativos às responsabilidades sociais, culturais, políticas e ambientais. Este modelo preconiza o potencial de contribuir para uma qualidade de vida melhor e mais sustentável, buscando defender ideais sociais e culturais mais elevados do que o consumismo em curto prazo, com a sua bagagem obrigatória de degradação ambiental. Segundo Lima (2003) esta renovação da educação já está em movimento nos meandros de nossa sociedade por meio de diversas iniciativas alternativas, fragmentada em diversos campos de conhecimento e atividade (incluindo o Design), embora ainda não se categorize em um plano predominante dentro do sistema global.

Princípios pedagógicos do Curso de Bacharelado em Design da UTFPR

Os princípios pedagógicos do curso Bacharelado em Design da UTFPR inserem claramente as os princípios sustentabilidade, conforme apresentado a seguir:

Quadro 1: Missão, Visão e Valores do Curso de Bacharelado em Design da UTFPRFonte: DADIN (2011)

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Missão:

Promover a educação em Design, por meio do ensino, da pesquisa e da extensão, atuando em prol do desenvolvimento de projetos que visem à sustentabilidade (social, cultural, ambiental e econômica).

Visão:

Ser agente de inserção do Design na sociedade como uma atividade fomentadora da ética e do desenvolvimento cultural, social e tecnológico.

Valores:

Entende-se o Design como uma atividade criativa, cujo objetivo é estabelecer qualidades multifacetadas de artefatos, processos, serviços e sistemas, integrados aos ciclos de vida. Além disso, como um mediador na relação entre artefatos e pessoas, e entre estas, um dos agentes promotores do desenvolvimento social, cultural, econômico e tecnológico. Sob este prisma, com base numa abordagem sistêmica, apresentam-se como valores: Cidadania, Ética, Respeito e Solidariedade.

As informações foram coletadas no site do Departamento Acadêmico de Desenho Industrial (DADIN) (2011) e verifica-se que está claramente explicitado nos princípios pedagógicos do curso, que o Design (como área do conhecimento) torna-se o fator central da humanização inovadora das tecnologias, tendo em vista promover o desenvolvimento social, cultural, econômico e tecnológico. Verifica-se que as competências do Design estabelecidas pela UTFPR baseiam-se nas definições do ICSID (2011). Deste modo, o curso assume que o Design é uma atividade envolvendo uma ampla gama de atuações que vai além do desenvolvimento de produtos, podendo atuar em processos, serviços e sistemas. Portanto, o termo “designer” refere-se a um indivíduo que pratica uma profissão intelectual, não se caracterizando apenas como um mero executor de projetos.

A abordagem da sustentabilidade na grade curricular do Curso de Design da UTFPR

De acordo com os princípios pedagógicos assumidos pelo Curso de Design foi observada a Matriz Crricular e a ementa das disciplinas ofertadas, buscando analisar como são efetuadas as abordagens relativas à sustentabilidade. O quadro 2 a seguir, apresenta as disciplinas que compõem a Matriz Curricular do curso de Design da UTFPR, no qual foram sinalizadas na cor verde as disciplinas que, em seu plano de ensino, buscam abranger alguns dos requisitos da sustentabilidade e sua aplicação no processo de design. Em uma análise preliminar é possível verificar que os requisitos da sustentabilidade se encontram inseridos como item de destaque na missão e nos valores do curso, entretanto quando se analisa as disciplinas ofertadas, constata-se que o tema da sustentabilidade começa a ser abordado de modo

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mais específico, a partir do 5º período nas disciplinas de Teoria do Design 2, 3 e 4 que abordam respectivamente, os aspectos culturais, sociais e ambientais. Embora não seja o foco principal das disciplinas de Gestão do Design, Projeto de Sistema de Produto, Projeto de Sistema de Design, estas também abordam o tema em suas respectivas ementas.

1º Período 2º Período 3º Período 4º PeríodoComunicação Oral e Escrita

Tecnologia e Sociedade

História da Técnica e da Tecnologia

História da Arte 1

História da Arte 2

Teoria do Design 1

Psicologia 1 Psicologia 2Teoria da Cor Ilustração 1 Ilustração 2 SemióticaMateriais e Processos de Fabricação 1

Materiais e Processos de Fabricação 2

Materiais e Processos de Fabricação 3

Materiais Expressivos 1

Metodologia da Pesquisa

Processo e Produção Gráfica 1

Processo e Produção Gráfica 2

Processo e Produção Gráfica 3

Computação Gráfica 1

Computação Gráfica 2

Fotografia

Desenho 1 Desenho 2Geometria Descritiva 1

Geometria Descritiva 2

Perspectiva 1 Perspectiva 2

Composição 1 Composição 2 Metodologia de Projeto de Design

Projeto de Sistema Visual

Representação 1 Representação 2 Ergonomia 1 Ergonomia 2

Atividades Complementares5º Período 6º Período 7º Período 8º Período

Fundamentos da Ética

Teoria do Design 2

Teoria do Design 3

Teoria do Design 4

Fundamentos de Estatística

Gestão da ProduçãoGestão Mercadológica

Materiais Expressivos 2

Modelos e Maquetes 1

Modelos e Maquetes 2

Gestão do DesignModelo Digital 1 Modelo Digital 2 Animação AudiovisualFundamentos de Interação

180h de disciplinas optativas disponíveisProjeto de Sistema de Produto

Projeto de Sistema de Design

Ergonomia 3 Metodologia Aplicada ao TC

Trabalho de conclusão de Curso 1

Trabalho de conclusão de Curso 2

Estágio SupervisionadoAtividades Complementares

Quadro 2: Matriz Curricular do Curso de Bacharelado em Design da UTFPR. Fonte: DADIN (2011)

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Observando-se os princípios pedagógicos assumidos pelo Departamento de Design da UTFPR e a Matriz Curricular do curso de Bacharelado em Design, pode-se considerar que a inserção de uma maior interdisciplinaridade e integração dos requisitos da sustentabilidade no ensino em Design, resultaria em uma maior unificação entre as proposições do curso e a prática, integrando esses valores de modo mais coeso. Deste modo, torna-se importante efetuar uma revisão e alinhamento constante dos princípios e práticas pedagógicas, no sentido da ampliar a articulação destes requisitos nos princípios propostos pelo curso. Deste modo, presume-se a construção estratégica de uma educação crítica e integradora com qualidade acadêmica e pertinência socioambiental. Para identificar a percepção e assimilação do tema pelos alunos, será apresentada a seguir a experiência obtida em sala de aula no que se refere ao ensino do tema sustentabilidade na disciplina Teoria do Design 4, na turma do 7º período de Bacharelado em Design.

Procedimentos pedagógicos utilizados na disciplina Teoria do Design 4

Esta disciplina aborda de modo bastante específico a questão da sustentabilidade ambiental aplicada ao Design. A partir desta constatação, verifica-se que a Instituição atribui uma grande importância ao tema, pois este já se encontra inserido na Matriz Curricular do curso. A seguir é apresentada a ementa da disciplina:

Quadro3: Ementa da disciplina Teoria do Design 4 do Curso de Bacharelado em Design da UTFPRFonte: DADIN (2011)

ITEM EMENTA CONTEÚDO

1Teorias e conceitos de design e sustentabilidade

• Sustentabilidade, Desenvolvimento sustentável e Ecodesenvolvimento: histórico, conceitos, princípios.

2

O desenvolvimento e a sustentabilidade de culturas materiais diversa

• Sustentabilidade ambiental, econômica e social: perfis e recursos;• A sociedade sustentável: cenários;• Produção e consumo sustentáveis: eficiência e desmaterialização; • Design para a sustentabilidade: conceitos, princípios, metodologias e ferramentas.

3

Implicações de aspectos culturais e sociais no ciclo de vida dos produtos

• Design do ciclo de vida e estratégias;• Sustentabilidade no Design Gráfico;• Design sustentável e inovação; • Design sustentável e gestão ambiental; • Design de sistemas produto-serviço e a promoção de estilos de vida sustentáveis.

A partir da ementa da disciplina foi elaborado um plano de ensino que compreendeu a participação intensiva dos alunos na construção do conhecimento, buscando trazer para

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discussão em cada aula, um texto relativo ao tema previsto no conteúdo. Como as aulas desta disciplina são semanais, os textos foram divididos em equipes e cada uma delas ficou responsável pelo direcionamento de um diálogo sobre o tema, entretanto a leitura deveria ser efetuada por toda a turma. Os procedimentos pedagógicos utilizados são apresentados no Quadro 4, a seguir.

Aula 1 • Introdução ao conceito de desenvolvimento sustentável e sua aplicação no Design

Aula 2 • Discussão dialógica de texto sobre o tema: Níveis de maturidade do design sustentável na dimensão ambiental• Aula expositiva sobre conceitos e ferramentas: Dimensão ambiental do Design Sustentável. Níveis de atuação

Aula 3 • Discussão dialógica de texto sobre o tema: Estratégias do Ciclo de Vida • Aula expositiva sobre conceitos e ferramentas: Conceito de Life Cycle Design e as principais estratégias para a sustentabilidade

Aula 4 • Discussão dialógica de texto sobre o tema: O conceito de sistemas produto-serviço • Aula expositiva sobre conceitos e ferramentas: Sistemas produto-serviço (PSS)

Aula 5 • Proposta de trabalho: Identificar um problema na UTFPR em que o Design possa contribuir para a melhoria da sustentabilidade• Fichas de trabalho: Análise do problema identificado a partir das ferramentas expostas nas aulas 1, 2, 3 e 4.

Aula 6 • Fichas de trabalho: Orientação em sala para o desenvolvimento das ferramentas de análise do problema identificado

Aula 7 Seminários: Apresentação do problema identificadoAula 8 Seminários: Apresentação do problema identificado

Aula 9 • Discussão dialógica de texto sobre o tema: Critérios de Design e diretrizes para a equidade e a coesão social • Aula expositiva sobre conceitos e ferramentas: Dimensão social do Design Sustentável

Aula 10

• Discussão dialógica do texto: Design de serviços e sustentabilidade • Aula expositiva sobre conceitos e ferramentas: Design de serviços

Aula 11

• Discussão dialógica de texto sobre o tema: Cultura, consumo e identidade e estilos de vida sustentáveis• Aula expositiva sobre conceitos e ferramentas: Cultura, consumo e identidade

Aula 12

• Discussão dialógica de texto sobre o tema: Design e Inovação Social• Aula expositiva sobre conceitos e ferramentas para Inovação Social por meio do Design

Aula 13

• Discussão dialógica de texto sobre o tema: Gestão socioambiental, inovação e inserção do design e da sustentabilidade na estratégia de negócio• Aula expositiva sobre conceitos e ferramentas para inserção do Design e da sustentabilidade na estratégia de negócio

Aula 14

• Proposta de trabalho: Desenvolver a solução do problema identificado na UTFPR por meio do Design de sistemas de produtos e serviços• Fichas de trabalho: desenvolvimento da solução do problema identificado a partir das ferramentas expostas nas aulas 9, 10, 11, 12 e 13

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Aula 15

• Fichas de trabalho: Orientação em sala para o desenvolvimento das ferramentas voltadas para a solução do problema identificado

Aula 16

Seminários: Apresentação da solução do problema e discussão

Aula 17

Seminários: Apresentação da solução do problema e discussão

Quadro 4: Plano de Ensino para a disciplina Teoria do Design 4 – 1º semestre de 2011. Fonte: Autoria Própria A proposta para a discussão em sala baseou-se nas ideias do livro “O Diálogo” de David Bohm (1998), visto que o autor apresenta uma sistematização para a realização do processo de diálogo, que busca a melhoria da comunicação entre os interlocutores; a observação compartilhada da experiência e produção de percepções e idéias novas. Neste sentido, o diálogo ampliaria a percepção do real, propiciando um compartilhamento de ideias e um fecundo crescimento mútuo, entretanto este processo não busca a síntese ou a tomada de decisões, pois estas necessitam ser construídas pelos indivíduos participantes, de modo pessoal. Em nossa cultura o termo “diálogo” é entendido como uma interação verbal, na qual ocorrem discussões e debates e os participantes defendem posições, argumentam, negociam e, eventualmente, chegam a conclusões ou acordos (MARIOTTI, 2011). Entretanto o método dialógico proposto por Bohm (1998) não compreende esse processo, pois se fundamenta em uma atividade cooperativa de reflexão e observação da experiência vivida. No diálogo proposto por Bohm (1998) os indivíduos participantes não estão tentando “vencer” ou fazer com que cada opinião individual prevaleça, pois cada um vence se qualquer

um vencer, assim quando um erro é descoberto da parte de qualquer um, todos ganham, pois a participação é construída “com” o outro e não “contra” o outro, assim em um diálogo todos vencem. Bohm (1998) propõe que o diálogo seja realizado com os participantes dispostos em círculos, minimizando ao máximo a hierarquia e a moderação, deste modo nas aulas, antes da discussão de cada texto a turma se posicionava em círculo e apresentava suas ideias e opiniões a respeito da leitura realizada. Foi proposto que as equipes responsáveis pelo direcionamento do diálogo trouxessem exemplos de casos reais, para ilustrar os benefícios ou as dificuldades de implantação das teorias estudadas. Outra proposição efetuada para as equipes foi que trouxessem questionamentos para que todos pudessem pensar e expor seus interesses e dificuldades. A partir da leitura dos textos e dos conceitos abordados, foram efetuadas aulas expositivas para um melhor entendimento do conteúdo e dos principais requisitos e ferramentas encontrados na literatura. Paralelamente foi lançada uma proposta de trabalho para os alunos desenvolverem durante o semestre letivo, esta proposta foi dividida em duas etapas. Na primeira etapa as equipes deveriam buscar um problema na UTFPR que pudesse ser resolvido a partir da ótica do Design sistêmico e, posteriormente, a solução deveria compreender um sistema de produtos e de serviços baseado em melhorias sociais e ambientais, considerando as relações entre os atores envolvidos em todo o ciclo de vida do sistema. Esta etapa teve a duração de dois meses, pois além de buscar um problema de Design que pudesse ser resolvido, os alunos necessitavam ter a compreensão dos conceitos de sustentabilidade socioambiental, Life Cycle Design (LCD), desenvolvimento de sistemas de produtos e serviços e efetuar uma análise estratégica e um mapeamento do problema com as ferramentas requeridas para efetuar um

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projeto de sistema. Estes conceitos foram discutidos a partir dos textos e também das aulas expositivas. Em uma tentativa de dimensionar de modo mais real o escopo de atuação do Design, nas aulas expositivas foram apresentadas ferramentas práticas para a inserção dos requisitos socioambientais em cada etapa do projeto. Para tanto foram selecionadas ferramentas apresentadas na Methodology for Product Service System – MEPSS) (HALEN et al, 2005) e no compêndio Design for Sustainability – D4S (UNEP, 2007). As ferramentas foram compiladas em fichas de trabalho, que foram utilizadas pelos alunos na identificação e resolução dos diferentes problemas identificados na UTFPR, conforme exemplo apresentado na Figura 1, a seguir.

Figura 1: Exemplo de ferramenta compilada em ficha de trabalho para a análise do problemaFonte: Baseado em Halen et al (2005) e UNEP (2007)

Após a compreensão dos conceitos iniciais da sustentabilidade aplicada ao Design, as equipes buscaram definir o problema. Para tanto foi realizada uma investigação na Universidade para verificar o que poderia ser passível de melhoria por meio do Design e, na sequência, as equipes utilizaram as ferramentas MEPSS e D4S para mapear e analisar o problema que, posteriormente foi apresentado para a turma. Durante a apresentação, cada aluno poderia contribuir com sua opinião enfatizando um ponto positivo do projeto e um ponto passível de melhoria. A segunda etapa de trabalho também teve a duração de dois meses e se consistiu no desenvolvimento da solução do problema apresentado. Para o desenvolvimento de uma solução sistêmica, os alunos necessitavam compreender os conceitos de equidade e coesão social e o modo de aplicação no projeto de Design, bem como os conceitos de Design de serviços e sustentabilidade; cultura, consumo e identidade; gestão sócio-ambiental, inovação e inserção do design e da sustentabilidade na estratégia de negócio e por fim, os conceitos de Design para a inovação social. Estes conceitos também foram divididos em equipes, que apresentaram um tema por aula e, na seqüência os assuntos foram reforçados em aulas expositivas. Conforme o assunto era apresentado, a cada semana os alunos recebiam uma ficha com uma ferramenta referente ao tema para ser aplicada ao projeto, de modo que ao fim da segunda etapa, a construção do sistema de produtos e serviços estivesse concluída. Após a definição conceitual da solução, as equipes efetuaram a apresentação para toda a turma e novamente receberam contribuições enfatizando um ponto positivo do projeto e um ponto passível de melhoria.

Considerações sobre a experiência no ensino de Design e Sustentabilidade na disciplina Teoria do Design 4 – UTFPR

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É importante salientar que esta disciplina foi ministrada de forma consecutiva por três semestres, sendo que os procedimentos pedagógicos foram alterados no decorrer do tempo, a partir das avaliações realizadas pelos alunos em cada semestre. Deste modo, o processo pedagógico utilizado no 1º semestre de 2011 é o resultado das solicitações e necessidades identificadas nos dois semestres anteriores. Verificou-se que a utilização de textos para discussão em sala em um processo de diálogo, em que todos podem expor seus pensamentos, abre espaço para a composição de novas ideias sobre a inserção do conceito de sustentabilidade no Design. Nas aulas iniciais os alunos relataram várias dificuldades e restrições em relação ao tema, entre os principais aspectos citados pela maioria está o fato de que o termo “sustentabilidade” soa de modo superficial e utilitarista, beirando a descrença. Para os alunos de modo geral, a rápida evolução de uma infinidade de produtos e empresas pautadas na “estética da sustentabilidade” gerou uma situação paradoxal, pois a produção denominada “ecologicamente correta” tem gerado um consumismo verde, se contrapondo à sua própria crítica e servindo à reprodução das estruturas sociais e econômicas vigentes. Neste sentido, foi constatado que a percepção inicial da maioria dos alunos em relação ao tema da sustentabilidade era bastante pessimista, pois em vez de benefícios socioambientais observavam um mercantilismo da sustentabilidade, que serve apenas como cosmética para mascarar os impactos que continuam existindo. No decorrer do semestre, a partir da leitura dos textos e exposição das ideias, sempre realizadas com os alunos dispostos em círculo, a turma foi construindo uma percepção de que o termo “sustentabilidade” se refere a algo que pode ser “sustentado”. Assim, no que se refere aos processos de Design ainda temos um longo caminho a percorrer em direção a uma meta a ser atingida,

visto que estamos em um processo de construção de novos modos de vida direcionados a um equilíbrio, que vai muito além das fronteiras do campo do Design, atingindo todas as instâncias sociais, ambientais e econômicas. Deste modo, durante as discussões surgiu o seguinte questionamento: como o design pode efetivamente promover melhorias sociais, ambientais e econômicas se o profissional de Design não é autônomo e, na dimensão real do atual mercado, é um coadjuvante na materialização dos interesses arbitrados no âmbito social? A partir do diálogo estabelecido (que não pretendia chegar a um ponto conclusivo, mas sim levantar ideias) os alunos expuseram opiniões que se referiam ao desenvolvimento de uma consciência crítica e de um perfil ético na profissão, mesmo que as ações orientadas à sustentabilidade ainda estejam longe de ser um movimento de massas, visto que diversos movimentos costumam tender aos extremos, como por exemplo, o idealismo radical ou o mercantilismo exorbitante. As aulas realizadas para o desenvolvimento das ferramentas e para o esclarecimento de dúvidas foram bastante produtivas, pois os alunos puderam visualizar de modo prático, formas de inserção dos requisitos socioambientais no projeto. Nesta etapa, os alunos relataram que em algumas disciplinas anteriores já se enfatizava a importância de incorporar esses requisitos ao projeto, mas as informações eram um tanto quanto vagas e imprecisas e, portanto, os mesmos não tinham uma ideia clara dos passos a serem seguidos para desenvolver um projeto baseado nestes requisitos. Uma das dificuldades encontradas, para a realização dos procedimentos metodológicos descritos, foi a falta de comprometimento da turma com relação à leitura dos textos, pois verificou-se a partir desta experiência de ensino, que em geral os alunos não tem o hábito de praticar a leitura. Por outro

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lado, observa-se que um agravante desta situação é a falta de tempo em conseqüência da dedicação dos alunos a diversas outras disciplinas, estágio, trabalho, etc., portanto, torna-se necessário incentivar a leitura desde as séries iniciais, enfatizando ainda mais essa prática nos cursos de graduação. Devido a esta situação, de maneira geral observou-se que os textos foram lidos principalmente pelas equipes responsáveis pela apresentação e pela condução dos diálogos que, embora ricos em ideias, foram baseados mais nas experiências pessoais do que nos conceitos apresentados nos textos. Assim, este é um item a ser repensado em uma próxima experiência de ensino do referido tema. Outra importante questão se refere à dificuldade apresentada pelos alunos para compreender os conceitos e ferramentas utilizados em um processo de Design, voltado ao desenvolvimento de um sistema de produtos e serviços, com ênfase nos requisitos socioambientais. Visto que os procedimentos de projeto foram considerados por demais complexos, principalmente por diferir bastante do tradicional processo de desenvolvimento de produto e de material gráfico, preponderante nas fases iniciais do curso de Design da UTFPR. Os temas como Design de Serviços, Design de Sistemas produto-Serviço e Equidade e Coesão Social geraram diversas dúvidas a respeito da aplicação, da atuação do profissional de Design, do uso das ferramentas e das possibilidades reais de implementação. Estes temas possuem como característica principal a gestão dos atores envolvidos em todas as etapas do ciclo de vida do produto/serviço e, este fator acarretou muitas dificuldades no desenvolvimento do projeto, pois tradicionalmente os projetos de Design são geridos por uma empresa que centraliza os processos de produção e distribuição. Assim, houve muitas dúvidas e dificuldades durante o desenvolvimento do sistema,

visto que os alunos necessitaram planejar a cooperação entre os atores, envolvendo também os usuários e a comunidade local nas etapas da vida do produto/serviço.

Figura 2: Exemplo de uso da ferramenta de mapeamento do sistema existente. Fonte: Trabalho realizado pelos alunos da disciplina Teoria do Design 4 (1º semestre de 2011)

Mesmo com as dificuldades encontradas, os resultados obtidos pelos alunos no desenvolvimento de soluções para os problemas encontrados foram bastante positivos, visto que a maioria conseguiu atingir os objetivos propostos no início da disciplina, conforme é possível visualizar no exemplo exposto na Figura 2. A maioria das equipes chegou a uma proposição de sistema de produtos e serviços que apresentavam melhorias socioambientais e inseriam a comunidade, os usuários, produtores e fornecedores a partir de análise do problema existente.

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Considerações finais

No ensino superior em Design, observa-se que o sistema de ensino fragmentado em disciplinas se constitui em um empecilho para a implementação de modelos interdisciplinares de educação orientada à sustentabilidade. Outra importante questão diz respeito à insuficiência de recursos humanos capacitados para preencher as especialidades requeridas, bem como de material didático fundamentado nos temas sociais, ambientais, econômicos e culturais da sustentabilidade. Por outro lado, além dos esforços pedagógicos do corpo docente, torna-se necessário que esses resultados sejam conquistados por meio do esforço e interesse do próprio aluno, de modo que este se conscientize que uma atuação mais ativa e politizada permite a construção de uma consciência crítica, fundamentada na teoria e na prática do Design, formando um designer cidadão, capacitado para compreender o amplo sistema de valores, bem como justificar os seus próprios valores, compromissos e crenças. De acordo com a experiência no ensino relatada neste artigo foi possível perceber que a inserção de uma atitude reflexiva em torno da problemática ambiental e do Design, a partir de uma prática dialógica, possibilita uma construção horizontalizada de conhecimento, que permite a cada indivíduo participar da formação do conhecimento individual e coletivo. No entanto, ainda são constatadas grandes dificuldades no que tange ao desenvolvimento de um pensamento sistêmico em projeto, que vá além do tradicional foco do produto e seja orientado para a integração de atores, produtos e serviços. A grande quantidade de informação que envolve um projeto de sistemas, associada à limitação de tempo e à utilização de novas ferramentas (de Design de serviços e de gestão de atores, por exemplo), também dificultam

a proposição de conceitos específicos para o sistema. Assim, verificou-se que, embora os esforços empreendidos pelos alunos fossem direcionados a uma solução sistêmica, por muitas vezes a melhoria recaía no projeto de produto ou no design gráfico. Levando em consideração os resultados atingidos, este esforço em construir valores socioambientais de forma mais democrática e integralizada, pode ser considerado como uma oportunidade para a construção conjunta de princípios como a autonomia, a democracia e a cooperação entre educadores e alunos. Desta forma, como proposição futura para a construção de referências conceituais, pedagógicas e políticas necessárias ao desenvolvimento de uma educação integradora voltada aos princípios da sustentabilidade, faz-se necessário alinhar a pesquisa em Design com o ensino em Design, para formar um profissional que tenha em vista a concretização de um projeto de melhora da relação de cada um com o mundo em função das características de cada contexto em que intervém. Para tanto, é importante desenvolver conjuntamente com o aluno desde os primeiros períodos do curso de graduação, uma reflexão crítica a respeito da inserção de valores e princípios socioambientais no Design, baseada no desenvolvimento de soluções sistêmicas que vão além das atuações comumente estabelecidas.

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