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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE PSICOLOGIA E FONOAUDIOLOGIA
Pós Graduação Psicologia da Saúde
JULIANA IZABEL POLYDORO
USO DE BENZODIAZEPÍNICOS EM MULHERES IDOSAS
SÃO BERNARDO DO CAMPO
2008
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JULIANA IZABEL POLYDORO
USO DE BENZODIAZEPÍNICOS EM MULHERES IDOSAS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós � Graduação em Psicologia da Saúde Stricto Sensu, da Universidade Metodista de São Paulo � UMESP para obtenção do
título de Mestre em Psicologia da Saúde
Orientação: Prof. Dr. Renato Teodoro Ramos
SÃO BERNARDO DO CAMPO
2008
Sumário
1. Resumo
2. Abstract
1. Introdução 7
2. Objetivos 14
3. Método 14
3.1. Sujeitos 14
3.2. Ambiente 15
3.3. Instrumentos de avaliação 15
3.3.1. Questionário de Características Gerais 15
3.3.2. Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) de Spielberger 15
3.3.3. Inventário de Depressão de Beck (BDI � Beck Depression 15
Inventory)
3.3.4. Escala de Severidade de Fadiga (FSS) 16
3.3.5. Escala de Fobia Social (Liebowitz Social Anxiety Scale 16
Liebowitz, 1987)
3.3.6. Escala de Esquiva e Desconforto Social (Watson E Friend, 1969) 16
3.3.7. Escala de Medo da Avaliação Negativa (Watson e Friend, 1969) 16
3.3.8. Short Alcohol Dependence Data (SAAD) (Raistrick e Davidson, 16
1983)
3.4. Procedimento 17
3.5. Tratamento dos dados 17
4. Resultados18
4.1. Dados sócio � demográficos 18
4.2. Resultados gerais dos instrumentos 19
4.3. Resultado da comparação entre homens e mulheres 19
dos instrumentos e do padrão de uso de calmantes
4.4. Resultado da comparação entre homens e mulheres 22
com relação ao uso de álcool
4.5. Resultados dos instrumentos dentro do grupo de mulheres 22
4.6. Resultados gerais das escalas de ansiedade social 24
4.7. Resultados dos instrumentos de ansiedade social 24
e fadiga dentro do grupo de mulheres
4.8. Resultados de fatores associados à ansiedade 26
e depressão dentro do grupo de mulheres
5. Discussão 29
6. Conclusão 37
7. Referências bibliográficas 38
Anexos 42
Anexo A- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 43
Anexo B - Questionário de Características Gerais 45
Anexo C- Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) de Spielberger 46
Anexo D - Inventário de Depressão de Beck (BDI �Beck Depression Inventory) 47
Anexo E - Escala de Severidade de Fadiga (FSS)48
Anexo F � Escala de Fobia Social (Liebowitz Social Anxiety Scale 49
Liebowitz, 1987)
Anexo G � Escala de Esquiva e Desconforto Social (Watson e Friend, 1969) 50
Anexo H � Escala de Medo da Avaliação Negativa (Watson e Friend, 1969) 51
Anexo I � Short Alcohol Dependence Data (SAAD) (Raistrick e Davidson, 52
1983)
1. INTRODUÇÃO
O envelhecimento da população vem ocorrendo de forma contínua e gradual no Brasil. O
país que era considerado uma jovem nação com mais ou menos 3 milhões de indivíduos com
idade acima de 60 anos em 1960, hoje conta com 13 milhões de indivíduos idosos, o que
representa 8% da população brasileira (ALMEIDA, 1999). Esta mudança na pirâmide etária com
o aumento da expectativa de vida, vêm ocorrendo devido à diversos fatores, tais como a redução
da fecundidade e da mortalidade infantil, e também à políticas públicas de vacinação e
saneamento básico (NOBREGA; KARNIKOWSI, 2005). Estima-se que esta população deverá
atingir 32 milhões em 2025 (LOYOLA FILHO; et al., 2005). Este crescimento no número de
indivíduos idosos, mostra que a sociedade deve atentar-se para a melhora da qualidade de vida, o
que demanda um novo olhar para a chamada terceira idade, pois eles têm necessidades e
prioridades diferentes, principalmente na área da saúde.
O envelhecimento faz parte do processo natural do desenvolvimento humano e à partir do
momento que nascemos nossas células começam a envelhecer. A velhice, portanto, é mais uma
etapa da vida, que como as outras é marcada por transformações psicológicas, físicas e sociais.
Ao chegar à idade de mais ou menos 60 anos, é chegado também para a maioria dos idosos, o
momento da aposentadoria, da saída do mercado de trabalho, o que leva à alterações em toda a
vida cotidiana, familiar, e social (OLIVEIRA; et al., 2006). Em conjunto aparecem as mudanças
físicas, que abrangem principalmente alterações psicomotoras, e cognitivas que afetam também
os indivíduos em termos de sua saúde mental e psicológica.
O envelhecimento traz consigo uma série de mudanças, e as principais dizem respeito á
saúde física e mental. Dentre as principais doenças estão os problemas cardiovasculares,
neoplasias, diabetes, e transtornos mentais, como a demência, que afeta 5 % dos indivíduos com
65 anos de idade ou mais e 20 % dos com 80 anos ou mais, a depressão que atinge 5% a 35 %
dos idosos e transtornos psiquiátricos gerais (ALMEIDA, 1999)
Isto posto, podemos prever um crescimento da demanda por serviços de saúde e por
medicação para a população idosa, principalmente porque a maioria das doenças que atingem os
idosos são crônicas e degenerativas (MOSEGUI; et al., 1999). Um estudo no serviço de
emergência psiquiátrica da Santa Casa de São Paulo, revelou que 7,3% dos atendimentos
envolveram pacientes idosos, uma taxa que corresponde, aproximadamente, à população de
idosos existente no Brasil de acordo com o último censo (ALMEIDA, 1999).
Como vimos, com o avanço da idade existe o início e a progressão de uma série de
doenças físicas e mentais. Nosso estudo pretende coletar dados que se referem, principalmente a
duas classes de sintomas mentais que são a ansiedade e a depressão.
De acordo com o Manual Estatístico de Transtornos Mentais (DSM � IV, 1994), o
diagnóstico de depressão é realizado se em pelo menos duas semanas o indivíduo apresentar
sintomas de humor deprimido na maior parte do dia, falta de interesse ou prazer na maioria das
atividades que realiza, perda ou ganho de peso sem motivo aparente, insônia ou hipersonia,
agitação ou retardo psicomotor, fadiga, indecisão, dificuldade de concentração, pensamentos de
morte ou tentativa de suicídio. A depressão é um transtorno freqüente em idosos, de acordo com
Almeida (1999) que encontrou uma prevalência de depressão em 31,3 % dos pacientes idosos
avaliados. Deve-se considerar também o fato de que a depressão está ligada à maiores taxas de
morbidade e mortalidade nessa faixa etária, considerando que 50% dos suicídios em idosos
estavam ligados à essa doença (ALMEIDA, 1999). Levando em consideração as dificuldades
enfrentadas pelos indivíduos no processo de envelhecimento como as perdas progressivas de
recursos físicos, mentais e sociais, e a possibilidade de que a velhice incite sentimentos de
impotência e fragilidade, pode-se presumir que muitos indivíduos encarem a velhice de forma
negativa, tendo uma visão pessimista com relação ao futuro e o sentimento de fracasso que ocorre
devido às próprias limitações impostas pela idade (OLIVEIRA; et al., 2006). Toda essa visão
negativa pode facilmente desencadear processos depressivos no idoso.
A associação entre sintomas depressivos e ansiosos é comum em outras faixas etárias, e
torna-se mais freqüente entre indivíduos idosos, sugerindo que os dois são componentes de um
processo de estresse psicológico geral (GORENSTEIN; ANDRADE, 1998).
A ansiedade, tanto no idoso quanto no jovem, é caracterizada por sintomas físicos
(taquicardia, palpitações, boca seca, hiperventilação, sudorese), alterações comportamentais
(agitação, insônia, reação exagerada a estímulos, medos) e fenômenos cognitivos (nervosismo,
apreensão, preocupação, irritabilidade e distraibilidade) (RAMOS, 2000). O diagnóstico de
ansiedade é muitas vezes complexo, o indivíduo pode procurar atendimento por sintomas físicos
como opressão precordial, falta de ar e sensação de morte iminente que podem ser confundidos
com um quadro de angina ou mesmo infarto agudo do miocárdio que podem ser na realidade uma
crise de ansiedade ou de pânico. Os sintomas ansiosos normalmente não ocorrem de forma
isolada, pode existir comorbidade com outras doenças como, por exemplo, a depressão. Assim, é
possível perceber a importância de se determinar o quanto os sintomas ansiosos afetam a vida do
idoso e se existem outras doenças relacionadas ao quadro de ansiedade (ALMEIDA, 1999).
A ansiedade ocorre muitas vezes devido à uma visão distorcida com relação ao futuro, na
qual o indivíduo acredita que algo muito ruim ou ameaçador poderá acontecer. Especificamente
com a população idosa, as limitações ligadas à velhice podem ser consideradas como algo
ameaçador para o seu futuro, com o sentimento de não saber o que poderá ocorrer com o seu
corpo, com a sua saúde e mesmo com suas relações sociais, financeiras e familiares (OLIVEIRA;
et al., 2006).
Algumas pesquisas mostram como a ansiedade ocorre na população idosa. A prevalência
de transtornos ansiosos, incluindo o de ansiedade generalizada, entre idosos atendidos em um
pronto socorro de saúde mental foi de 15,4% (ALMEIDA, 1999). Xavier; et al., (2001) estudaram
uma população de idosos com mais de 80 anos e constataram que 10,6% apresentavam
transtorno de ansiedade generalizada e a maioria estava associada com sintomas depressivos.
Tendo em vista esta alta prevalência de transtornos depressivos e ansiosos na população
idosa e considerando o fato de que para o alívio destes sintomas são largamente utilizados
calmantes (entendo-se por calmantes medicamentos benzodiazepínicos que são utilizados
somente por prescrição médica), iremos estudar, nesta dissertação, o uso deste tipo de
medicamento pela população idosa.
Como vimos anteriormente, ocorre um aumento no número de doenças crônicas com o
avanço da idade, e conseqüentemente o consumo de medicamentos e a procura pelos serviços de
saúde crescem proporcionalmente (MOSEGUI; et al., 1999; LOYOLA FILHO; et al., 2005;
NOBREGA; KARNIKOWSKI, 2005). Em conjunto com as demais doenças, as doenças
neurológicas e psiquiátricas também aumentam nos idosos tornando o uso de benzodiazepínicos
mais freqüente, tanto na comunidade como em instituições geriátricas varia de 21,3% a 62,2%
(CRUZ; et al., 2006).
De acordo com o estudo de Almeida; Coutinho; Pepe, (1994) realizado em uma região
administrativa da cidade do Rio de Janeiro, a utilização de medicamentos psicotrópicos tende a
aumentar com a idade assim como o consumo de ansiolíticos (85,23%), destacando-se o
diazepam (65,4%), seguido pelo bromazepam (21,4%), pelo lorazepam (5,3%).
Os medicamentos ansiolíticos são os chamados calmantes, tranqüilizantes ou sedativos,
que agem sobre o sistema nervoso central, exercendo uma ação seletiva sobre a ansiedade
(CARVALHO; DIMENSTEIN, 2003). São utilizados principalmente como ansiolíticos e
hipnóticos, além de possuir ação miorrelaxante e anticonvulsivante (SILVA; et al., 2005)
A história da psicofarmacologia iniciou-se nos anos 1960. O meprobamato, os sais de
lítio, a clopromazina e os diversos neurolépticos que a seguiram, os inibidores da
monoaminoxidase (IMAO), os antidepressivos tricíclicos, o clordiazepóxido e os derivados
benzodiazepínios diminuíram significativamente o número de internações psiquiátricas e o tempo
de permanência dos pacientes psiquiátricos nos hospitais. Além disso, permitiram que pacientes
com história de diversas internações regressassem a seus lares e pudessem continuar seus
tratamentos em ambulatórios (ALMEIDA; COUTINHO; PEPE, 1994). Além da elevada eficácia
terapêutica, os benzodiazepínicos apresentaram baixos riscos de intoxicação e dependência,
fatores estes que propiciaram uma rápida aderência da classe médica a esses medicamentos
(ORLANDO; NOTO, 2005).
Os benzodiazepínicos estão entre as drogas mais prescritas no mundo. São os mais
utilizados entre as substâncias psicoativas, vindo depois do álcool e do tabaco (CARVALHO;
DIMENSTEIN, 2003). Estima-se que o consumo de benzodiazepínicos dobra a cada cinco anos
(SILVA; et al., 2005).
O consumo crescente de benzodiazepínicos pode estar associado a períodos
particularmente turbulentos que caracterizam as últimas décadas da humanidade. A diminuição
progressiva da resistência das pessoas para tolerar tanto estresse, a introdução profusa de novas
drogas e a pressão comercial crescente por parte da indústria farmacêutica ou, ainda, hábitos de
prescrição inadequada por parte dos médicos podem ter contribuído para o aumento da procura
pelos benzodiazepínicos ( AUCHEWSKI; et al., 2004). Com relação aos aspectos psicológicos,
as pessoas podem recorrer a calmantes, na esperança de escapar das pressões sociais, familiares
ou do trabalho ou torná-las, ao menos, toleráveis (CARVALHO; DIMENSTEIN, 2004).
Deve-se ressaltar que existem benefícios na utilização de calmantes. Em um estudo
italiano, os efeitos colaterais dos benzodiazepínicos em idosos não interferiram nos escores dos
testes de qualidade de vida, sugerindo que o efeito benéfico do uso de benzodiazepínico é mais
importante para a qualidade de vida dos idosos, mesmo que existam os efeitos colaterais
(GELATTI, et al., 2006). Portanto, o uso em doses e por tempo adequado de medicamentos
ansiolíticos deve ser baseado, como em qualquer tratamento, num balanço entre os benefícios de
sua ação terapêutica e sua tolerabilidade a curto e longo prazo.
Com relação às indicações na prática médica, há uma concordância geral de que os
benzodiazepínicos devem ser usados no tratamento da ansiedade em curto prazo, não devendo
exceder de dois a quatro meses, exceto em casos muito especiais. No entanto, o que se vê na
prática é a continuidade de um uso que vai além de uma finalidade específica, e com um tempo
indeterminado, em que o medicamento passa a ocupar um lugar fundamental e imprescindível na
vida de muitos indivíduos. Isso ocorre porque o medicamento, ao eliminar os sintomas da
ansiedade, passa a ser visto como a maneira mais fácil e rápida de enfrentar os problemas do
cotidiano (CARVALHO; DIMENSTEIN, 2003).
Os medicamentos calmantes possuem diversos benefícios, como já ressaltamos, no
tratamento da ansiedade, e como esta geralmente ocorre junto com a depressão, os
benzodiazepínicos também são prescritos na maior parte dos casos de transtornos depressivos.
Devido à larga utilização, existem muitos estudos acerca deste tipo de medicação devido aos
riscos de dependência física e psicológica que o consumo à longo prazo pode propiciar, a
dificuldade de interrupção do uso, além dos efeitos colaterais que podem prejudicar a vida
cotidiana principalmente de idosos.
Com relação à dependência e à dificuldade de retirada, sintomas de abstinência podem
ocorrer mesmo com o uso de doses terapêuticas por períodos prolongados. Nos casos de consumo
abusivo, pode ocorrer desenvolvimento de tolerância, síndrome de abstinência (SILVA; et al.,
2005). No estudo de Almeida (1999) no pronto-socorro de saúde mental da Santa Casa de São
Paulo observou-se que os problemas de saúde mais freqüentes entre os indivíduos atendidos
foram abuso ou dependência de sedativos (2,6%). A maior dificuldade para a retirada da
medicação, pode ocorrer devido à confusão existente entre os sintomas dos efeitos adversos, dos
efeitos da dependência, e de várias disfunções próprias da idade. As maiorias dos médicos e
pacientes acreditam ser mais fácil prosseguir com o uso do medicamento do que enfrentar os
transtornos da retirada (CRUZ et al., 2006).
A maior parte dos efeitos colaterais ocorre devido à depressão do sistema nervoso central,
que se apresenta com sintomas de sonolência, sedação, fadiga, visão turva, diminuição da
atividade psicomotora, dificuldade de memória, comprometimento intelectual, desinibição
paradoxal, tolerância, dependência e potencialização do efeito depressor pela interação com
outras drogas depressoras, como o álcool ( AUCHEWSKI; et al., 2004). Isto faz com que o
desempenho de tarefas que exigem maior habilidade, vigilância e reflexos rápidos fique
comprometido (CARVALHO; DIMENSTEIN, 2003).
Todos estes riscos se potencializam com relação à população idosa. O consumo elevado
de medicamentos acarreta riscos à saúde, sendo diversos os fatores que concorrem para isso.
Num aspecto mais geral, destacam-se as modificações na farmacocinética de vários
medicamentos em virtude de alterações fisiológicas associadas ao envelhecimento (LOYOLA
FILHO; et al., 2005). O uso contínuo de benzodiazepínicos pode levar freqüentemente a sedação
excessiva, tremores, lentidão psicomotora, comprometimento cognitivo (como amnésia e
diminuição da atenção (MENDONÇA; CARVALHO, 2005a). Devido a todos esses efeitos
colaterais, e principalmente os que afetam as funções cognitivas e psicomotoras é que estudos
demonstram um aumento das taxas de acidentes, quedas e fraturas entre os usuários de
benzodiazepínicos (SILVA; et al., 2005). Este é um sério problema, pois 3,5% das quedas
costumam resultar em lesões graves, o que para a população com mais de 60 anos resulta na
redução da independência, seja pelo receio que geram de novos acidentes, seja pelas lesões
incapacitantes, ou a difícil recuperação (COUTINHO; et al., 1999).
Outro aspecto a ser observado é de que muitas vezes a prescrição de calmantes ocorre em
conjunto com a prescrição de outros medicamentos, pois na população idosa é comum que
diferentes doenças ocorram simultaneamente (LOYOLA FILHO; et al., 2005). Pode-se observar
que os médicos que receitam mais medicamentos são também aqueles que receitam os
benzodiazepínicos e que tendem a prolongar o seu período de uso (HUF; LOPES; ROZENFELD,
2000). O número de medicamentos que são utilizados são indicadores de uma condição médica
geral e o uso e o período de tratamento se relacionam com a gravidade e cronicidade dos
sintomas (HUF; LOPES; ROZENFELD, 2000). Existe uma série de fatores que contribuem para
a utilização de múltiplos medicamentos, além das diversas doenças e da combinação de sintomas
dos indivíduos de idade avançada, o fácil acesso a medicações, a baixa freqüência de uso de
recursos não farmacológicos para o manejo de problemas médicos e as características de
pacientes e médicos (ALMEIDA, et al., 1999). Em um estudo sobre idosos que utilizam um
serviço de saúde mental, observou-se que 40% dos entrevistados utilizavam pelo menos três
medicações por dia e 10% pelo menos cinco, que se compunham de ansiolíticos, antidepressivos,
medicamentos para hipertensão, hipnóticos, neurolépticos, e que o uso não se referia à um
tratamento de curto prazo, e sim por um período prolongado (ALMEIDA, et al., 1999). O estudo
mostrou que a prescrição inadequada de calmantes e antidepressivos é muito comum em pessoas
idosas que vão frequentemente ao médico (MORT; APARASU, 2000), e se configura como um
problema devido à probabilidade de ocorrência de reações adversas e interações medicamentosas
(LOYOLA FILHO; et al., 2005).
A literatura nacional e internacional é unânime em afirmar a posição de destaque das
mulheres em relação ao consumo desses medicamentos (CARVALHO; DIMENSTEIN, 2004).
Duas pesquisas realizadas em diferentes partes dos nos Estados Unidos, mostraram que o gênero
influencia na utilização de medicamentos com prescrição médica, sendo que as mulheres fazem
maior uso desse tipo de medicamento (CHRISCHILLES; et al., 1992; WASTILA; RITTER;
STRICKLER, 2004). Um estudo realizado por Mellinger; Balter; Uhlenhuth, (1984) em um
ambulatório médico para pacientes idosos, os indivíduos que utilizaram medicamentos
ansiolíticos a longo prazo eram predominantemente mulheres e que raramente procuram outras
formas de tratamento para a doença mental. Como podemos ver, alguns estudos sugerem que
dentre os idosos, as mulheres devem ser melhor observadas com relação ao consumo de
calmantes.
O objetivo desta dissertação é investigar o padrão de uso de medicamentos ansiolíticos
por parte da população idosa, avaliando as possíveis diferenças entre homens e mulheres,
correlacionar com os escores obtidos nos testes de ansiedade e depressão, e avaliar suas possíveis
conseqüências. Para isso, optou-se por avaliar uma amostra obtida a partir de indivíduos idosos
identificados em suas famílias, ou seja, fora de ambientes hospitalares ou asilares. Como estas
pessoas foram contatadas a partir de parentes próximos que cursavam ensino superior na região
do ABC paulista, espera-se que os resultados obtidos ajudem a estimar a dimensão dos problemas
envolvendo a saúde mental e física desta população específica.
2. OBJETIVOS
Descrever o padrão de uso de medicamentos ansiolíticos em mulheres de 65 anos
ou mais;
Comparar esse padrão com aquele apresentado por indivíduos do sexo masculino
da mesma faixa etária;
Procurar estabelecer correlações entre o uso de calmantes e características como:
sintomas ansiosos e depressivos, ansiedade social, consumo de outros medicamentos, uso
de álcool, problemas com sono, e ocorrência de tonturas e quedas.
3. MÉTODO
3.1. Sujeitos
O grupo de estudo foi constituído por indivíduos 61 indivíduos com 65 anos ou mais,
sendo 39 do sexo feminino e 22 do sexo masculino, que não estavam sob tratamento psiquiátrico,
que não tinham diagnóstico psiquiátrico anterior (transtornos de eixo I do DSM-IV), e que não
estavam institucionalizados. Foram selecionados os indivíduos capazes de responder aos
questionários auto-aplicáveis. Os indivíduos foram selecionados à partir do contato com
estudante universitários, que foram orientados sobre como identificar essas características
descritas acima.
3.2. Ambiente
Foram utilizados questionários auto- aplicáveis, enviados para a residência dos
voluntários.
3.3. Instrumentos de Avaliação
3.3.1. Questionário de Características Gerais
Questionário elaborado pelos autores, visando obter dados gerais, tais como: idade, sexo,
escolaridade, fonte de renda, condições de moradia, tratamentos médicos, uso de medicamentos,
uso específico de calmantes e a forma de obtenção destes, uso de álcool, condições físicas
relacionadas à equilíbrio, quedas e tonturas, e hábitos da vida diária, tais como: atividades físicas,
alimentação, e sono. (ANEXO B)
3.3.2. Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) de Spielberger
Questionário auto-aplicável com duas sub-escalas que visam avaliar: 1) Ansiedade-traço,
definida como propensão geral e persistente à ansiedade e 2) Ansiedade-estado, definida como
estados ansiosos transitórios.Cada escala consiste de 20 afirmações a serem respondidas através
de uma escala de 4 pontos. Não foi adotada uma nota de corte de forma que o escore de cada
escala será utilizado para testes de correlação com outros instrumentos de avaliação.
(SPIELBERGER et al., 1979). (ANEXO C)
3.3.3. Inventário de Depressão de Beck (BDI � Beck Depression Inventory)
Esse inventário é composto por uma escala de auto-relato contendo 21 itens, tendo cada
um deles 4 alternativas, subentendendo graus crescentes de gravidade da depressão, com escores
de 0 a 3 de acordo com a intensidade dos sintomas. Novamente, não foi adotada uma nota de
corte. (CUNHA, 2001). (ANEXO D)
3.3.4. Escala de Severidade de Fadiga (FSS)
Escala de 9 itens que visa obter informações sobre fatores associados intensidade dos
sintomas de fadiga e seu impacto na vida cotidiana (MENDES et al., 2000).(ANEXO E)
3.3.5. Escala de Fobia Social (Liebowitz Social Anxiety Scale � Liebowitz, 1987)
Instrumento com 24 situações fobicossociais que resultam em um escore total, um escore
para ansiedade de desempenho e um para ansiedade social. Cada item é avaliado segundo duas
escalas, uma para medo ou ansiedade (0 � nenhuma a 3 � profunda) e uma para esquiva (0 �
nunca a 3 � geralmente). (GORENSTEIN et al, 2000). (ANEXO F)
3.3.6. Escala de Esquiva e Desconforto Social (Watson E Friend, 1969)
Instrumento contendo 28 questões relacionadas ao convívio social, com alternativas de
verdadeiro ou falso. Para a correção utiliza-se um gabarito de respostas, no qual soma-se um
ponto para cada item que estiver de acordo com o gabarito. O escore final é obtido através da
soma desses pontos. (GORENSTEIN et al, 2000). (ANEXO G)
3.3.7. Escala de Medo da Avaliação Negativa (Watson e Friend, 1969)
Instrumento contendo 30 questões relacionadas à pensamentos que o indivíduo sobre ele
mesmo e sobre outras pessoas em situações de convívio social. Com alternativas de verdadeiro ou
falso. Para a correção utiliza-se um gabarito de respostas, no qual soma-se um ponto para cada
item que estiver de acordo com o gabarito. O escore final é obtido através da soma desses pontos.
(GORENSTEIN et al, 2000). (ANEXO H)
3.3.8. Short Alcohol Dependence Data (SAAD) (Raistrick e Davidson, 1983)
Instrumento contendo 15 questões relacionadas ao consumo de álcool. Cada questão
contêm as opções: Nunca (0 pontos), Poucas vezes (1 ponto), Muitas Vezes (2 pontos), Sempre
(3 pontos). O escore final é obtido através da somas da pontuação das questões. (GORENSTEIN
et al, 2000). (ANEXO I)
3.4. � Procedimento
Uma vez que os estudantes universitários identificavam os sujeitos com as características
necessárias, enviávamos uma caderno contendo os questionários auto-aplicáveis para que fossem
respondidos. Após preenchidos os questionários foram devolvidos e entregues. Dos 225 cadernos
de questionários enviados, apenas 61 indivíduos responderam de forma adequada, compondo-se
dessa forma a amostra.
3.5 - Tratamento dos dados
As comparações entre grupos de indivíduos quanto ao gênero foram feitas através de
testes de média ( T student). As comparações entre as variáveis categoriais, foram feitas por
testes não paramétricos ( Qui � quadrado e Teste Exato de Fisher).
4. RESULTADOS
4.1. Dados sócio - demográficos
Foram estudados 61 indivíduos com idade variando de 65 a 93 anos (média ± desvio
padrão = 70,54 ± 6,11 anos), sendo 39 mulheres (63,9%). A tabela 1 mostra o nível de
escolaridade dos indivíduos estudados enquanto as condições de habitação e fonte de renda são
apresentadas nas tabelas 2 e 3.
Tabela 1: nível de escolaridade
Freqüência Porcentagem
Nunca estudou 3 4,9
Alfabetizado 6 9,8
Primeiro grau (1ª a 4ª série) 26 42,6
Primeiro grau (5ª a 8ª série) 11 18,0
Segundo grau 12 19,7
Superior incompleto 3 4,9
Total 61 100,0
Tabela 2: condições de habitação
Freqüência Porcentagem
Mora sozinho 10 16,4
Mora apenas com cônjuge 9 14,8
Mora com cônjuge e filhos 26 42,6
Mora apenas com filhos ou
outro familiar 15 24,6
Não respondeu 1 1,6
Total 61 100,0
Tabela 3: fonte de renda
Freqüência Porcentagem
Sustenta-se apenas com
salário 8 13,1
Sustenta-se apenas com
aposentadoria 29 47,5
Sustenta-se com o próprio
salário mais a aposentadoria 8 13,1
Sustenta-se apenas com ajuda
de familiares 5 8,2
Sustenta-se com a
aposentadoria e ajuda de
familiares
11 18,0
Total 61 100,0
4.2. Resultados gerais dos instrumentos
Com relação aos instrumentos IDATE � traço, IDATE � estado e Inventário de depressão
de Beck, não foram adotadas notas de corte, já que as escalas foram a forma encontrada para o
levantamento de sintomas, e não para um estudo diagnóstico. Considerando dados de literatura
para as escalas IDATE traço e IDATE estado, 20 a 40 pontos indicam baixa ansiedade, 40 a 60
pontos média, e 60 a 80 alta ansiedade. (CHAVES, 1994). Já para os resultados de escore do
Inventário de Depressão de Beck o padrão no Brasil é ao redor de 8,0 (GORENSTEIN;
ANDRADE, 1998). Embora os valores encontrados não sejam indicativos de níveis patológicos
de ansiedade ou depressão, um estudo de correlação entre esses sintomas mostrou uma correlação
positiva significativa (teste de Pearson) entre IDATE traço e Inventário de depressão de Beck (p
< 0,001) e entre IDATE estado e Inventário de depressão de Beck (p = 0,020). A tabela 4 mostra
os escores gerais da amostra obtidos nos instrumentos IDATE � estado, IDATE � traço, e
Inventário de depressão de Beck.
Tabela 4: escores das escalas IDATE � traço, IDATE � estado, Inventário de
depressão de Beck para toda amostra
Idate-estado 39,74 ± 12,01
Idate-traço 44,21 ± 10,02
Inventário de depressão de Beck 11,91 ± 8,24
4.3. Resultado da comparação entre homens e mulheres dos instrumentos e do padrão de uso de
calmantes
Comparando-se homens e mulheres, não se observaram diferenças entre os escores de
ansiedade e depressão (tabela 5) embora o uso de calmantes seja significativamente mais
freqüente em indivíduos do sexo feminino (Tabela 6).
Tabela 5: Comparação entre homens e mulheres ( teste T)
Sexo
feminino masculino
Idate-estado 38,36 ± 12,62 42,18 ± 10,67 t = -1,198; df = 59; p=0,236
Idate-traço 44,56 ± 11,04 43,59 ± 8,09 t = 0,362; df = 59; p= 0,719
Inventário de
depressão de
Beck
12,21 ± 7,9 11,23 ± 9,14 t = 0,403; df = 52; p= 0,688
Tabela 6: Comparação entre homens e mulheres quanto ao uso de calmantes
Sexo
feminino masculino
Nunca ou raramente usou
calmantes
21
19
Uso freqüente ou diário de
calmantes
18 3
Teste exato de Fisher = 0,012, p = 0,009
4.4. Resultado da comparação entre homens e mulheres com relação ao uso de álcool
Investigou-se o quanto indivíduos do sexo masculino poderiam fazer uso de álcool no
lugar de calmantes. Embora quatro homens tenham relatado já ter tido problemas com álcool,
não se observou diferenças entre homens e mulheres quanto aos escores da escala de consumo de
álcool SADD, que reflete os padrões atuais de uso:
Tabela 7: Comparação entre homens e mulheres quanto ao uso de álcool (teste T)
Sexo
feminino masculino
Score SADD 2,13 ± 5,18 2,54 ± 6,27 t = -0,280; df = 59; p = 0,781
4.5. Resultados dos instrumentos dentro do grupo de mulheres
À partir da observação de que homens e mulheres têm escores comparáveis de ansiedade
e depressão, mas que as mulheres usam mais calmantes, investigou-se apenas dentro do grupo de
mulheres, os seguintes detalhes do padrão de uso de calmantes:
Tabela 8: Comparação entre o grupo de mulheres quanto ao uso de calmantes
(teste T)
Nunca usou ou
raramente usou
(n=21)
Uso freqüente ou
diário (n = 18)
Idate-estado 35,48 ± 6,77 41,72 ± 16,73 t= -1,570; df=37; p = 0,125
Idate-traço 41,9 ± 16,73 47,67 ± 12,16 t = -1,661; df =37; p =0,105
Inventário de
depressão de
Beck
11,5 ± 6,31 13,06 ± 9,59 t= -0,593; df = 35; p= 0,557
As mulheres que usam calmantes têm níveis semelhantes de sintomas ansiosos e
depressivos em relação às que não usam calmantes. Uma possibilidade a ser considerada é a de
que estas mulheres apresentem níveis comparáveis de ansiedade apenas porque estão usando
calmantes. Todas as mulheres estavam sob algum tipo de tratamento ou acompanhamento
médico. Entre as 18 mulheres que declararam uso freqüente de calmantes, apenas duas relataram
obter a medicação sem prescrição médica.
Os estudos da tabela 9, sugerem que a probabilidade de prescrição de calmantes aumenta,
quanto maior o uso de medicamentos combinados.
Tabela 9: comparação entre o grupo de mulheres com relação ao uso de
medicamentos combinados
Nunca usou ou
raramente usou
( N = 21)
Uso freqüente
ou diário
( N=18)
Total
Não está usando medicamentos 5 1 6
Hipertensão 4 0 4
Diabetes 1 1 2
Antidepressivos 0 1 1
Vitaminas 2 3 5
Colesterol 1 0 1
Anti-inflamatórios 2 1 3
Associação de vários
medicamentos 6 11 17
Total 21 18 39
Entre as mulheres que se usam calmantes, quatro de consideraram dependentes e 13
declararam que usam apenas por prescrição médica (1 pessoa não respondeu a esta pergunta).
4.6. Resultados gerais das escalas de ansiedade social
Investigando-se fatores possivelmente associados ao uso mais freqüente de calmantes em
mulheres idosas, comparamos os escores para as escalas ligadas a ansiedade social. Uma primeira
comparação não revelou diferenças entre homens e mulheres (tabela 10).
Tabela 10: comparação entre homens e mulheres com relação às escalas de
ansiedade social ( teste T)
Sexo masculino
(N = 22)
feminino
(N= 39)
Fobia social de
desempenho 24,86 ± 14,36 27,73 ± 13,89 T = 0,748; df= 56; p = 0,458
Ansiedade social 21,9 ± 11,95 19,19 ± 10,91 T = - 0,866; df =55; p = 0;390
Esquiva e
desconforto social 8,55 ± 7,06 11,56 ± 7,16 T = 1,537; df= 57; p=0,130
Medo de avaliação
negativa 10,52 ± 6,29 13,46 ± 7,41 T= 1,539; df = 58; p = 0,129
4.7. Resultados dos instrumentos de ansiedade social e fadiga dentro do grupo de mulheres
A seguir, investigou-se apenas o grupo de mulheres, e também não se observou diferenças
entre aquelas que usam e as que não usam calmantes quanto a presença de fadiga e de sintomas
ligados a ansiedade social (Tabela 11).
Tabela 11: Comparação entre o grupo de mulheres com relação à presença de
fadiga e sintomas ligados à ansiedade social (teste T)
Uso de calmantes
Nunca usou ou
raramente usou
( N = 21)
Uso freqüente
ou diário
( N=18)
Severidade de fadiga
36,24 ± 14,78 38,94 ± 14,97 T = -0,567; df = 37; p = 0,574
Fobia social total
44,33 ± 22,66 53,62 ± 24,92 T = -1,184; df = 35; p = 0,245
Fobia social de desempenho
25,66 ± 1,43 30,44 ± 14,46 T = -1,036; df = 35; p = 0,307
Ansiedade social
16,76 ± 9,7 22,37 ± 11,89 T = -1,582; df = 35; p = 0,123
Esquiva e desconforto social
10,48 ± 6,04 12,83 ± 8,28 T = -1,025; df = 37; p = 0,312
Medo de avaliação
negativa 13,05 ± 7,43 13,94 ± 7,58 T = -0,372; df = 37; p = 0,712
4.8. Resultados de fatores associados à ansiedade e depressão dentro do grupo de mulheres
Mostraremos a seguir, a comparação somente entre as mulheres de outros fatores
potencialmente associados aos sintomas de ansiedade e depressão e ao uso de calmantes.
Tabela 12: Comparação entre o grupo de mulheres com relação ao sono
Uso de calmantes Nunca usou ou raramente
usou (N = 21) Uso freqüente ou diário
( N = 18) Sem queixas de insônia
7 5
Com queixas de insônia
14 12
Total
21 17
Teste exato de Fisher p=1,000
Tabela 13: Comparação entre o grupo de mulheres com relação ao número de
quedas
Uso de calmantes Nunca usou ou raramente
usou (N = 21) Uso freqüente ou diário
( N = 18) Nunca sofreu quedas
12 4
Pelo menos uma queda no último ano
8 11
Total 20 15
Teste exato de Fisher p=0,087
Tabela 14: Comparação entre o grupo de mulheres com relação à problemas de
tontura
Uso de calmantes Nunca usou ou raramente
usou (N = 21) Uso freqüente ou diário
( N = 18) Nunca sentiu tonturas
14 2
Trata ou já tratou tonturas
5 13
Total 19 15
Teste exato de Fisher p=0,001
De acordo com as tabelas 13 e 14, observamos diferença significativa com relação ao
número de quedas e tonturas. As mulheres que usam calmantes apresentam um número maior de
quedas e de tonturas do que as que não fazem uso desse tipo de medicação.
5. DISCUSSÃO
Os resultados obtidos neste estudo sugerem que os indivíduos idosos avaliados não
apresentaram, de forma geral, sintomas ansiosos ou depressivos intensos a ponto de sugerir a
ocorrência de transtornos afetivos ou ansiosos. Deve-se levar em conta as principais
características da amostra estudada composta por pessoas ativas avaliadas fora do contexto
hospitalar ou asilar e que, portanto, mantinham contato regular com seus familiares. Este estudo
em particular não comparou diretamente os escores das escalas de ansiedade e depressão de
indivíduos idosos e jovens, porém, utilizou a mesma amostra estudada por Souza, (2007);
Mellero, (2007). Nestes trabalhos, não foram observadas diferenças significativas nas
comparações entre indivíduos jovens (18 a 25 anos) e idosos em relação aos escores das escalas
de IDATE e Beck.
Esta observação sugere que o aparecimento de sintomas ansiosos ou depressivos em
indivíduos idosos não deve ser aceito como normal ou próprio da idade. Da mesma forma do que
se propõe para pessoas de qualquer idade, a ocorrência de tensão exagerada, angústia, desânimo
ou perda de prazer em viver deve ser considerada como um problema de saúde a ser abordado.
Dentro da nossa amostra de pessoas sem indícios claros de transtornos afetivos, chamou a
atenção o fato de que uma proporção significativa de mulheres fazia uso regular de calmantes. O
termo calmante aqui se refere (como citado na introdução) a medicamentos usados com a
intenção de se obter relaxamento, sonolência ou alívio da tensão ou ansiedade e são constituídos
principalmente pelo grupo dos benzodiazepínicos. A prescrição, uso e comercialização desta
classe de psicofármacos obedece a uma legislação rígida mas, na prática, observa-se que muitas
pessoas conseguem obtê-los sem recomendação médica. Esta falta de controle sobre o acesso a
estas substâncias favorece o seu uso indevido com os riscos inerentes à auto-medicação. O
potencial dos benzodiazepínicos para induzir dependência pode levar à perpetuação de seu
consumo além dos limites adequados, com efeitos significativos sobre o funcionamento cognitivo
e emocional, especialmente em pessoas idosas.
Como os escores nas escalas de ansiedade e depressão não mostraram diferenças entre as
mulheres que usam e as que não usam calmantes, podemos pensar em ao menos duas hipóteses
principais para explicar este achado. Em primeiro lugar, é possível que as mulheres que estejam
tomando calmantes sejam realmente mais ansiosas do que as demais e que tenham seus sintomas
ansiosos controlados pela medicação. Neste caso, o uso da medicação seria plenamente
justificado por sua indicação clínica. Alternativamente, é possível que estes calmantes não sejam
realmente necessários e que sejam usados por motivos não ligados a patologias médicas ou
psiquiátricas, mas talvez por outras razões, tais como, dificuldades familiares e sociais, para
alívio de sintomas de outras doenças ou até devido a uma dependência já instalada. Na primeira
hipótese, caso as mulheres que usavam calmantes fossem realmente mais ansiosas que as demais,
seriam esperados alguns indícios de traços de personalidade ligados à ansiedade, na escala de
ansiedade traço, desenhada especificamente para detectar tendências de longo prazo. De fato, as
diversas comparações feitas entre homens e mulheres e mesmo dentro do grupo de mulheres
idosas não mostrou indícios de diferenças quanto à ocorrência de diversas manifestações de
ansiedade.
O maior consumo de calmantes por mulheres idosas, pode ser observado em diversos
estudos já realizados com esta população. Pesquisas sugerem que o gênero influencia na
utilização de medicamentos com prescrição médica, com as mulheres fazendo uso
significativamente maior deste tipo de medicamento do que os homens (WASTILA; RITTER;
STRICKLER, 2004; NOTO et al., 2002). Em um estudo envolvendo idosos da cidade de Bambuí
(MG), realizado por Loyola Filho; et al., (2005) as mulheres apresentaram a maior presença de
condições médicas crônicas e de utilização dos serviços de saúde, o que também pôde ser
observado em uma investigação realizada no pronto-socorro de saúde mental da Santa Casa de
São Paulo, em que notou-se a presença desproporcionalmente grande de mulheres idosas
atendidas nesse serviço (ALMEIDA, 1999). Uma pesquisa no município de São Paulo mostrou
dois perfis de usuários crônicos de benzodiazepínicos, um deles foi composto por idosos que
procuravam o efeito hipnótico da medicação e outro composto por indivíduos de meia idade do
sexo feminino que buscavam o efeito ansiolítico (ORLANDO; NOTO, 2005). Um estudo com
idosos em um centro de convivência na cidade do Rio de Janeiro, sugeriu que o uso de
benzodiazepínicos era a principal forma de se abordar problemas sociais ou familiares que
surgiam no contexto do atendimento médico de mulheres idosas (HUF; LOPES; ROZENFELD,
2000). Nos Estados Unidos, foi realizado um estudo pela Universidade de Iowa com idosos,
segundo o qual as mulheres com mais de 65 anos usavam 10% mais medicamentos com
prescrição do que os homens. Ainda nesta mesma investigação, observou-se que o consumo de
medicamentos com prescrição aumentava de acordo com a idade, com um alto índice de
utilização de calmantes por idosos, principalmente entre aqueles com sintomas depressivos,
dificuldades físicas, hospitalizações e uma pobre auto-percepção sobre a sua saúde
(CHRISCHILLES et al., 1992). Podemos observar, portanto que de acordo com esses artigos
existe um maior consumo e prescrição de calmantes para mulheres idosas. Pretendemos discorrer
agora sobre algumas hipóteses já descritas em literatura, que poderiam explicar esse fenômeno.
A probabilidade de uma mulher receber a prescrição de benzodiazepínicos ou
antidepressivos é 55% maior do que a do homem, e essa diferenciação pode ocorrer devido ao
tipo de especialista escolhido, à natureza do diagnóstico recebido (WASTILA, 1998), e ao fato de
as mulheres perceberem melhor a doença, especialmente a doença mental (CAFFERATA;
MEYERS, 1990). Segundo Almeida (1999), mulheres ficam mais vulneráveis ao
desenvolvimento de transtornos mentais na velhice devido à viuvez, ao isolamento social e à
privação de estrogênio.
Mulheres parecem ter maior facilidade em relatar seus problemas pessoais e familiares,
bem como a característica de se queixar mais com os médicos sobre problemas emocionais e
sociais (LOYOLA FILHO; et al., 2005), o que poderia induzir os médicos a tentarem aliviar o
sofrimento das pacientes com a prescrição de calmantes. Existem estudos sugerindo que as
usuárias crônicas de calmantes são as que se queixam de diversos sintomas e tomam um elevado
número de medicamentos. Entre estas queixas encontramos depressão, que referem sintomas de
vontade de chorar, barulho na cabeça, dor de cabeça (MENDONÇA; CARVALHO, 2005b),
insônia, problemas familiares, sociais (MENDONÇA; CARVALHO, 2005a), relações cotidianas,
em casa, no trabalho e na comunidade (CARVALHO; DIMENSTEIN, 2004), nervosismo,
dificuldade financeira, marido alcoolista, e problemas em geral com o cônjuge (CARVALHO;
DIMENSTEIN, 2003). Em um estudo sobre o consumo de psicofármacos em uma região
administrativa da cidade do Rio de Janeiro, Almeida; Coutinho; Pepe, (1994) relataram que as
mulheres têm uma melhor percepção dos sintomas das doenças, procuram ajuda e são menos
resistentes ao consumo de medicamentos. Por outro lado as mulheres sofrem mais
freqüentemente de distúrbios psiquiátricos, e também de problemas circulatórios e doenças
músculo-esqueléticas, para as quais a prescrição de benzodiazepínicos é comum.
Nosso estudo de fato mostrou uma relação significativa entre o uso de múltiplos
medicamentos para diferentes tipos de problemas de saúde e o uso de calmantes nas mulheres
idosas. Carvalho e Dimenstein (2004) em sua pesquisa com dezessete mulheres que
freqüentavam um centro de saúde no Rio Grande do Norte, estabeleceram uma correlação entre o
uso de medicamentos e mulheres idosas com hipertensão. Em sua amostra, as autoras
encontraram evidências de que os médicos que assistiam estas pacientes prescreviam calmantes
como um recurso para o controle da pressão arterial, devido à importância deste estado emocional
na gênese destes sintomas.
Outra possibilidade a ser considerada na discussão de nossos resultados é a de que
mulheres com diferentes problemas de saúde consultem uma quantidade maior de médicos de
diferentes especialidades com um aumento do risco de distorções dos padrões de prescrição de
medicamentos (MENDONÇA; CARVALHO, 2005a).
Um achado interessante, relatado por outros autores, é de que as mulheres possuíam um
grande conhecimento acerca dos calmantes utilizados, existindo inclusive uma divulgação desses
conhecimentos através da rede social (MENDONÇA; CARVALHO, 2005b). Presume-se também
que o contato freqüente com médicos psiquiatras, devido à necessidade da obtenção de receitas,
faça com que estas mulheres tenham maior conhecimento sobre os motivos que possam justificar
a prescrição de calmantes (MENDONÇA; CARVALHO, 2005a).
O uso de calmantes sem indicação médica precisa, deve ser analisado também em relação
aos seus aspectos psicológicos, culturais e sociais. As exigências pessoais em relação saúde e
sensação de bem estar físico podem ser influenciadas pela valorização de �um corpo controlado e
disciplinado� (MENDONÇA; CARVALHO, 2005a). As demandas por certo estado de perfeição
mudam com o avançar da idade, mas o indivíduo idoso conta com as mesmas referências que os
mais jovens sobre como se comportar ou agir. As alterações hormonais, psicomotoras e
fisiológicas próprias do envelhecimento podem pressionar especialmente as mulheres caso estas
não ajustem suas expectativas às características peculiares de sua idade. À medida que a
população envelhece, torna-se necessário um trabalho de maior impacto cultural em relação às
expectativas de desempenho físico e emocional.
Problemas psicológicos e familiares são classicamente abordados via psicoterapia que
pode ser caracterizada como um processo orientado de aprendizado e mudança. O avançar da
idade muda esta perspectiva e podem sobrar poucas opções ou pouco tempo para se resolver
problemas que se cristalizaram ao longo da vida. Tomar calmantes em vez de se mudar
radicalmente o estilo de vida pode ser a única opção percebida por estas pessoas. Pareceu existir
também a questão de uma certa fragilidade emocional associada a sentimentos de inutilidade ou
incapacidade que podem afetar o funcionamento do indivíduo idoso dentro do contexto social ou
familiar. De acordo com Carvalho e Dimenstein (2004), a maioria das mulheres utiliza a
medicação como o único recurso para o enfrentamento de seus problemas emocionais, quando
submetidas à forte tensão, o medicamento entra como única forma de alívio, e como uma
estratégia para manter um comportamento equilibrado, sem descobrir outras formas de lidar com
os problemas que as perturbam. O medicamento aparece, portanto, como solução para o
desequilíbrio emocional das mulheres (embora este conceito de desequilíbrio não seja claramente
definido), e a maior parte das mulheres refere-se ao medicamento de forma positiva, confirmando
que este trouxe o alívio para os sintomas (CARVALHO; DIMENSTEIN, 2003).
Quando os problemas emocionais são vistos de uma forma restrita apenas às suas
manifestações somáticas o medicamento pode ser visto como uma solução rápida, prática e
eficiente. Deixa-se de considerar o aspecto individual, subjetivo, e a vivência de cada uma das
mulheres, não levando em consideração que esses sofrimentos e angústias podem gerar
problemas de saúde. O profissional médico tem a percepção da existência e da importância dessas
queixas, mas a sua prática não se amplia à contemplação desses aspectos (CARVALHO;
DIMENSTEIN, 2003). Médicos revelaram em entrevistas que têm consciência de que a
medicação é apenas um fator paliativo, não resolvendo o problema como um todo, mas pôde-se
observar que o que predomina em sua prática cotidiana é a prescrição. A psicoterapia é indicada,
de forma unânime, mas apenas quando a medicação começa a apresentar limitações com relação
ao alívio de sintomas (CARVALHO; DIMENSTEIN, 2003). Pode existir também falha de
comunicação entre paciente e médico, e a dificuldade dos próprios médicos em lidar com
problemas que extrapolam a esfera física (CARVALHO; DIMENSTEIN, 2003). Devemos
atentar para a possibilidade de que os médicos prescrevam calmantes não só para tentar aliviar os
sintomas dos pacientes, mas também para amenizar as suas próprias limitações em lidar com
problemas emocionais, isso faz com que se desconsidere os aspectos subjetivos dos pacientes, e
embora a classe médica tenha consciência disso, a indicação para a psicoterapia acaba ocorrendo
pouco, o que pode ser justificado pelos altos custos necessidade de um tempo maior para se obter
resultados do processo psicoterápico. Mas observando-se atentamente podemos perceber ao
analisarmos este e outros estudos, que se faz necessário o aumento de indicações para tratamentos
que combinem o uso de calmantes e a psicoterapia, para que essas mulheres não sejam
consumidoras eternas de ansiolíticos e antidepressivos, para que a medicação seja utilizada da
forma correta, prescrita com cuidado, e com prazo para ser retirada.
A relevância desse tipo de investigação também está no fato de haver risco de
dependência deste tipo de medicação. De acordo com Mendonça e Carvalho (2005a) a indicação
inicial do medicamento pode ocorrer por algum evento na vida, mas perde o significado na
medida em que o uso se prolonga, indicando uma tendência à dependência da medicação. O
organismo do idoso apresenta alterações fisiológicas que influenciam na farmacocinética e
sensibilidade à determinados medicamentos. Por exemplo, benzodiazepíncos de longa duração
são contra indicados, diazepam e flurazepam, pois possuem meia vida longa em idosos e estão
associados com sedação durante o dia e aumento do risco de quedas e fraturas ósseas
(NOBREGA; KARNIKOWSKI, 2005).
Existe também um outro tipo de impacto negativo com relação ao consumo de calmantes,
que são os efeitos adversos graves como quedas, fraturas de bacia, distúrbios cognitivos,
acidentes de carro, confusão mental e sonolência (CRUZ et al., 2006). Como observamos em
nossos resultados, existe uma incidência significativa da ocorrência de episódios de tontura e de
quedas. Diversos estudos mostram que existe um aumento do número de quedas na população
idosa que faz uso de medicamentos psicoativos. Em um estudo realizado em Campo Belo (MG)
verificou-se que 17% dos idosos que sofreram quedas nos últimos 12 meses estavam fazendo uso
de benzodiazepínicos (CHAIMOWICZ; FERREIRA; MIGUEL, 2000). Tanto em outros países
como no Brasil observa-se esta relação estreita, muitas vezes devido às próprias propriedades dos
medicamentos, que tem uma atividade sedativa e é responsável por alterações psicomotoras
(COUTINHO; SILVA, 2002).
A maior parte dos estudos cita que a prescrição dos medicamentos foram realizadas pelo
clínico geral, o que pode gerar certa dúvida com relação ao diagnóstico e tratamento de distúrbios
psiquiátricos (ALMEIDA; COUTINHO; PEPE, 1994). Em uma clínica de cuidados primários
italiana, os pacientes, que têm entre 65 e 85 anos, e que fazem uso de benzodiazepínicos,
recebiam receita de um clínico geral, faziam uso dos medicamentos prescritos por um tempo
extensamente considerável (BALESTRIERI et al., 2005). Um estudo realizado com idosos na
cidade de Tatuí, em São Paulo, sugere que os usuários de benzodiazepínicos desconhecem os
riscos da utilização deste medicamento, e mantêm o consumo somente pedindo uma nova receita
ao clínico (CRUZ et al., 2006)
Algumas medidas preventivas com relação à prescrição de medicação para o idoso,
considerar o estado clínico geral do paciente, diminuir o número de medicações combinadas,
evitar os medicamentos impróprios, usar racionalmente a prescrição de medicamentos para que
os efeitos colaterais e principalmente o risco aumentado de quedas e fraturas que prejudicam
sensivelmente a qualidade de vida do idoso (NOBREGA; KARNIKOWSKI, 2005). Diversos
estudos sugerem que deve-se melhorar a educação médica a respeito do aconselhamento do
paciente, do monitoramento do uso (CRUZ, et al., 2006). Sugerimos especialmente que seria
interessante se houvesse um processo de conscientização da classe médica, ressaltando-se o
quanto é importante a atuação multiprofissional junto à esses pacientes, e principalmente a
indicação de psicoterapia, que em conjunto com a medicação pode trazer um alívio maior dos
sintomas e auxiliar para que o uso de calmantes seja feito por um tempo menor e que a retirada
seja um pouco menos difícil.
Neste cenário a melhor formação e atualização não só da classe médica, mas também dos
profissionais da saúde em geral, como enfermeiros, psicólogos, agentes comunitários e
farmacêuticos é importante, pois todos são responsáveis por alertar sobre os riscos e monitorar o
uso desses medicamentos (ORLANDO; NOTO, 2005). Salientando que a difusão de
informações científicas adquire um importante papel na atualização do conhecimento, numa área
em que muitas mudanças, tanto nos critérios diagnósticos quanto no arsenal terapêutico, têm
ocorrido em um curto intervalo de tempo (ALMEIDA; COUTINHO; PEPE, 1994).
Este estudo, porém possui algumas limitações. Uma delas diz respeito aos instrumentos
empregados, pois apesar de ter sido feito um levantamento sócio � demográfico, não
conseguimos correlacionar diretamente os dados levantados com os escores obtidos nas escalas
de ansiedade e depressão, esses dados apenas serviram para caracterizar a amostra. Outro ponto
que pode ser discutível é a própria característica da amostra, pois foi composta por indivíduos
não institucionalizados e que não apresentavam nenhum diagnóstico psiquiátrico. Por outro lado
a vantagem desse tipo de seleção de amostra é oferecer um pequeno retrato sobre os idosos de
classe média, que é uma população pouco estudada.
O objetivo desta dissertação foi basicamente o de explorar padrões de comportamento
ligados ao padrão de uso de calmantes em mulheres idosas, relacionar ao consumo dos homens
idosos, a sintomas de ansiedade e depressão, portanto, não foi possível se identificar mecanismos
específicos ligados ao sofrimento de origem psicológica ou social. Com base no levantamento
realizado neste estudo, abrem-se possibilidades para futuras investigações e pesquisas com a
população idosa, relacionando o uso de medicamentos com características sócio�demográficas,
de convivência social e familiar, de crenças culturais e religiosas e principalmente podemos
considerar um tipo de pesquisa que relacione o alto consumo de calmantes por mulheres idosas
com os sintomas da menopausa e a pós-menopausa. Ressaltando que a relevância principal deste
tipo de estudo está ligada ao risco que o consumo de benzodiazepínicos apresenta principalmente
para a população idosa, devido a grande possibilidade de dependência, e aos efeitos colaterais
principalmente àqueles relacionados a ocorrência de quedas e fraturas, que se apresentam como
um problema sério para a população de mais de 65 anos, devido às condições médicas gerais. De
qualquer forma a consistência destes achados indica a necessidade de novos estudos sobre os
padrões de assistência à saúde na população idosa.
6. CONCLUSÃO
Mulheres idosas usam medicamentos ansiolíticos mais freqüentemente do que homens na
mesma faixa etária;
Mulheres que usam e que não usam medicamentos ansiolíticos não diferem entre si
quanto a presença de sintomas ansiosos ou depressivos;
O uso de medicamentos ansiolíticos em mulheres idosas está relacionado com o uso de
múltiplos medicamentos para diferentes patologias de origem não psiquiátrica;
Mulheres que usam medicamentos ansiolíticos apresentam uma ocorrência maior de
quedas e traumatismos;
Os resultados deste estudo sugerem que mulheres idosas usem medicamentos ansiolíticos
de forma inadequada, ou seja, por outras razões que não o tratamento da ansiedade. Este
uso expõe esta população a riscos de intercorrências clínicas e pode evitar que estas
pessoas busquem tratamentos mais adequados para problemas de ordem psicológica ou
social
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ANEXO A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
1 � Dados de identificação do sujeito da pesquisa ou responsável:
NOME: N° IDENTIDADE: DATA DE NASCIMENTO: SEXO: ( ) M ( ) F ENDEREÇO: RESPONSÁVEL: 2 � Dados sobre a pesquisa científica:
TÍTULO DA PESQUISA: �Ansiedade e Depressão no Idoso�. PESQUISADOR RESPONSÁVEL: Juliana Izabel Polydoro. AVALIAÇÃO DE RISCO DA PESQUISA (probabilidade de que o indivíduo sofra algum dano
como conseqüência imediata ou tardia): ( X ) Sem risco ( ) Risco mínimo ( ) Risco baixo ( ) Risco médio ( ) Risco maior DURAÇÃO DA PESQUISA: 15 Minutos. 3 � Breve descrição do objetivo e procedimento que serão realizados durante a pesquisa:
Este projeto visa avaliar a influência de sintomas ansiosos e depressivos sobre o desencadeamento de evolução de problemas de saúde e de comportamentos peculiares ao
processo de envelhecimento. Espera-se ainda poder apontar possíveis estratégias preventivas e
terapêuticas centradas na abordagem da ansiedade e do uso de álcool e calmantes, capazes de
melhorar o padrão de vida de indivíduos idosos. Aplicação de um Questionário de Características
Gerais, de um Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) de Spielberger, Escala de Fobia Social, Escala de Esquiva e Desconforto Social, Escala de Medo da Avaliação Negativa,
Inventário de Depressão de Beck, Short Alcohol Dependence Data (SADD). 4 � Esclarecimento dados pelo pesquisador sobre garantias do sujeito da pesquisa:
Acesso a qualquer tempo às informações sobre procedimentos, riscos e benefícios
relacionados à pesquisa, inclusive para eventuais dúvidas. Liberdade de retirar seu consentimento a qualquer momento e de deixar de participar do
estudo, sem que isto traga prejuízo à comunidade da assistência. Salvaguarda da confiabilidade, sigilo e privacidade. Viabilidade de indenização por eventuais danos à saúde decorrentes da pesquisa.
5 � Consentimento pós-esclarecido:
Declaro que, após convenientemente esclarecido pelo pesquisador e ter entendido o que me foi explicado, consinto em participar deste presente protocolo de pesquisa.
São Bernardo do Campo, de de 2007.
________________________________________ ______________________
Assinatura do sujeito da pesquisa ou responsável Assinatura do pesquisador
Eu, RG.:
declaro ter sido informado pelo pesquisador à respeito dos objetivos da pesquisa,
Intitulada: ANSIEDADE E DEPRESSÃO NO IDOSO.
Declaro ter tido todas as minhas dúvidas adequadamente respondidas, estando claro que minha
participação no estudo é totalmente voluntária, podendo desistir de participar a qualquer
momento sem que isto traga qualquer prejuízo ao acompanhamento clínico que estou realizando.
Declaro ter sido informado que o procedimento não trará qualquer risco para minha saúde, pois o
estudo consistirá de respostas a uma série de questionários nos quais não serei identificado.
Em seguida assino meu consentimento.
Assinatura:
Assinatura do Pesquisador:
São Bernardo do Campo, de de 2007.
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