universidade federal do rio grande do norte … · curso de especializaÇÃo em histÓria e cultura...
Post on 08-Nov-2018
213 Views
Preview:
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DO CERES
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO-
BRASILEIRA
MARILENE PEREIRA DA SILVA MEDEIROS
CAPOEIRA:
DA MARGINALIZAÇÃO À REAFIRMAÇÃO IDENTITÁRIA
CURRAIS NOVOS
2016
MARILENE PEREIRA DA SILVA MEDEIROS
CAPOEIRA:
DA MARGINALIZAÇÃO À REAFIRMAÇÃO IDENTITÁRIA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Departamento de História do Ceres, da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
como requisito parcial para obtenção de Título
de Especialização do Curso de História e
Cultura Africana e Afro-Brasileira.
Orientador: Prof. Dr. Agostinho Jorge de Lima
CURRAIS NOVOS
2016
MARILENE PEREIRA DA SILVA MEDEIROS
CAPOEIRA:
DA MARGINALIZAÇÃO À REAFIRMAÇÃO IDENTITÁRIA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Departamento de História do Ceres, da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
como requisito parcial para obtenção de Título
de Especialização do Curso de História e
Cultura Africana e Afro-Brasileira.
Aprovada em: ___/___/___
BANCA EXAMINADORA:
_______________________________________
PROF. DR. AGOSTINHO JORGE DE LIMA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
(ORIENTADOR)
______________________________________
PROF. DR. ALMIR DE CARVALHO BUENO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
(MEMBRO DA BANCA)
______________________________________
PROF. Esp. MARIA DAS DORES DE MEDEIROS ROCHA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
(MEMBRO DA BANCA)
Dedico à minha família, pois sempre acreditou
no meu potencial e não mediu esforços para a
realização desta conquista que hoje podemos
comemorar juntos.
AGRADECIMENTOS
A gratidão é uma das qualidades mais nobres do ser humano, pois devemos reconhecer as
coisas boas que conquistamos na nossa vida. Portanto, quero agradecer a todos que fizeram
parte desta etapa da minha vida.
Um agradecimento especial a Deus, que me deu força e coragem para trilhar os caminhos os
quais me levaram a realização de mais uma conquista. Através dele consegui superar as
dificuldades do dia a dia: o cansaço, o tempo corrido, as noites mal dormidas, a preocupação
em realizar as tarefas propostas, enfim, tudo isso foi um aprendizado de que é preciso esforço
para conquistar nossos objetivos. “Vamos à presença dele com ações de graças; vamos
aclamá-lo com cânticos de louvor. Pois o Senhor é o grande Deus, o grande Rei acima de
todos os deuses.” Salmos 95:2-3
A família toda minha gratidão, pelo incentivo na busca de novos estudos, pelo apoio nas horas
difíceis e por acreditar que seria possível ir até o fim.
Muito obrigada a comunidade escolar que acreditou no meu potencial e permitiu a realização
de um trabalho diferenciado que tinha como meta a melhoria no processo ensino
aprendizagem dos educandos.
Aos colegas, professores e amigos que contribuíram para novos aprendizados, através das
pesquisas, discussões, experiências de vivência escolar, etc., no qual me possibilitou
crescimento pessoal e profissional, embora próximo de concluir uma carreira profissional na
educação.
Enfim, agradeço a todas as pessoas que me quiseram bem, e que direta ou indiretamente
fizeram parte deste momento tão especial que será lembrado com carinho todos os dias da
minha vida.
EPÍGRAFE
“Procure a sabedoria e aprenda a
escrever os capítulos mais
importantes de sua história nos
momentos mais difíceis e sua
vida.”
Augusto Cury
RESUMO
A capoeira é uma expressão cultural afro-brasileira que mistura jogo, dança e luta.
Atualmente tem considerável relevância, tanto por seu valor cultural e histórico quanto por
seu valor educacional. Diante disso compreende-se que a capoeira é importante na vida de
qualquer ser humano porque proporciona a aquisição de conhecimentos, possibilita sua
aproximação com essa prática cultural, além de trazer benefícios para o corpo e mente
daquele que a pratica. Partindo desse princípio elaborou-se o presente artigo com o objetivo
de estudar a capoeira como cultura afro-brasileira, analisando sua história dos tempos da
escravidão até os dias atuais dando lugar a sua importância e seus valores para a sociedade
como uma de suas representações culturais. Para sua elaboração foram utilizadas pesquisas
variadas sobre a origem e o contexto histórico da capoeira, o processo de marginalização,
contribuição para a construção de identidade, importância no ambiente escolar, a capoeira
como inclusão social e marcas da tradição oral na capoeira. Por fim serão mostrados os
resultados obtidos após a execução de um projeto sobre a inserção da capoeira na escola.
Dessa forma é possível valorizar e manter viva esta prática cultural e acabar com toda e
qualquer forma de discriminação e preconceito em relação à capoeira e demais atividades de
origem africana.
Palavras-chave: Capoeira. Marginalização. Identidade.
ABSTRACT
Capoeira is an Afro-Brazilian cultural expression that mixes game, dance and fight. Currently,
it has considerable importance, as for its cultural and historical value as for its educational
value. Thus, it is understood that Capoeira is important in the life of any human being,
because it provides an increase of knowledge, allows human approximation through its
cultural practice, and brings benefits to the body and mind for their practitioners. From these
principles, it was elaborated this paper with the aim of studying Capoeira as an Afro-Brazilian
culture, examining its history from of slavery time in Brazil until nowadays, showing its
importance and its value to the society as one of its cultural representations. To make this
paper, it was done a research about the origin and historical context of Capoeira, the process
of its marginalization, its contribution to a construction of an identity, its importance in the
school environment, and its role as a social inclusion way and some aspects of oral tradition
present in it. Finally, it will be shown the results obtained after the implementation of a
project about the inclusion of Capoeira in a school. Therefore, it is possible to valorize and
keep alive this cultural practice and stop any kind of discrimination and prejudice against
Capoeira and other activities of African origin.
Keywords: Capoeira. Marginalization. Identity.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................11
2 CAPOEIRA: O QUE É? ..................................................................................................13
2.1 Capoeira no Brasil e no mundo.......................................................................................15
2.2 Origem da capoeira...........................................................................................................17
2.3 Segmentos que praticam capoeira...................................................................................18
2.4 Elementos que compõem a capoeira................................................................................19
2.4.1 A roda ..............................................................................................................................20
2.4.2 O jogo ..............................................................................................................................20
2.4.3 A música .........................................................................................................................20
2.4.4 Os instrumentos ..............................................................................................................21
2.4.5 A dança ...........................................................................................................................21
2.4.6 A luta ..............................................................................................................................21
2.4.7 O uniforme ......................................................................................................................22
2.4.8 O batizado .......................................................................................................................22
2.4.9 O apelido .........................................................................................................................22
2.4.10 Graduação .....................................................................................................................23
3 POR QUE A CAPOEIRA É VISTA COMO UMA ATIVIDADE DE PESSOAS
“NEGRAS”..............................................................................................................................24
3.1 A marginalização da capoeira..........................................................................................24
4 A CAPOEIRA COMO ELEMENTO DA CULTURA POPULAR NEGRA.................27
4.1 Contribuição da capoeira para a construção de identidade.........................................27
5 ACARI TEM CAPOEIRA? ...............................................................................................29
5.1 Formas de atuação dos grupos e mestres .......................................................................29
5.2 Atividades desenvolvidas no município ..........................................................................29
6 IMPORTÂNCIA DA CAPOEIRA NO AMBIENTEESCOLAR....................................30
6.1 A inserção da capoeira no currículo escolar...................................................................30
6.2 Inclusão social pela capoeira............................................................................................33
6.3 Tradição oral afro-brasileira e escola.............................................................................34
7 PROJETO CAPOEIRA NA ESCOLA..............................................................................37
7.1 Contextualização do ambiente escolar............................................................................37
7.2 Semana da consciência negra na escola..........................................................................39
7.3 Projeto Capoeira na Escola..............................................................................................39
7.4 Projeto pedagógico multidisciplinar................................................................................40
7.5 Discussão dos resultados obtidos.....................................................................................42
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................43
REFERÊNCIAS......................................................................................................................44
ANEXOS....................................................................................................................46
11
INTRODUÇÃO
O surgimento da capoeira ainda é um mistério. Quanto às teorias sobre a origem da
capoeira, há três correntes que dividem suas opiniões: afro-brasileira, africana ou brasileira. A
teoria mais aceita entre os pesquisadores é a que identifica a capoeira como manifestação
afro-brasileira, pois ela se desenvolveu aqui no Brasil no período da escravidão, quando o
negro cativo buscava sua identificação cultural frente ao sistema da escravidão em um
ambiente adverso à sua aceitação junto à sociedade dominante.
A partir daí a capoeira tornou-se conhecida em terras brasileiras. Com uma mistura de
luta e dança engloba uma série de símbolos e significados na sua prática tornando-se junção
de costumes de diversas nações, incorporando elementos culturais variados e também
absorvendo características regionais próprias do Brasil.
Ela é praticada nos dias atuais por muitas pessoas, no Brasil e no exterior, num
ambiente ordeiro, disciplinar e saudável. Seus praticantes combinam forma física com um
ótimo estado mental, pois é um exercício que une agilidade, força, flexibilidade e equilíbrio.
De acordo com Lussac (2004), atualmente a capoeira é praticada em vários países e vem
ganhando cada vez mais espaço e abordagens no meio acadêmico, sendo considerável seu
crescimento.
No entanto, ao longo dos tempos, muita coisa aconteceu no mundo da capoeira como
crises, proibições, perseguições, discriminação, preconceito, racismo e luta de classes,
misturados com medo e ignorância por parte daqueles que se sentiam ameaçados com o
fortalecimento dessa cultura afro-brasileira.
Diante disso torna-se necessário um trabalho de conscientização para que a sociedade
entenda a importância e os inúmeros benefícios dessa legitima expressão da cultura brasileira,
rejeitando qualquer forma de prejulgamentos e preconceitos aos praticantes e simpatizantes
dessa arte mundialmente reconhecida.
Partindo desse pressuposto, foi elaborado o presente artigo com o objetivo de mostrar
a capoeira como uma expressão cultural afro-brasileira, sua evolução numa perspectiva
histórica partindo do conceito e origem, compreendendo seu processo de marginalização, as
transformações sociais ocorridas, até sua condição atual de patrimônio que contribui para o
processo de construção de identidade.
O trabalho aborda ainda, a capoeira como saber escolar, fundamentado nos PCNs, na
LDB 9394/1996 , nas leis no 10.639/ 2003 e 11.645/2008, e em autores que discutem a
importância da inserção da capoeira na sala de aula, sua contribuição ao ambiente
12
educacional, a capoeira como inclusão social e a abordagem da capoeira como tradição oral.
Por fim terá relatos sobre a execução de um projeto na Escola Estadual Dr. José Gonçalves de
Medeiros, no município de Acari, envolvendo alunos do 7º ano, cujo tema é a inserção da
capoeira no ambiente escolar, por meio de estratégias didáticas tais como: diagnóstico inicial
dos conhecimentos dos alunos, exibição de vídeos, documentários sobre o contexto histórico
da capoeira, visitas ao grupo de capoeira do município, palestra com o instrutor de capoeira,
práticas de capoeira na escola, pesquisas, questionamentos orais e escritos e trabalhos
artísticos. Dessa forma está sendo possível levar o aluno a conhecer a origem e o percurso
histórico dessa manifestação cultural, participar de práticas corporais que possibilitem o
reconhecimento do corpo como meio de comunicação, de expressão e de atuação nas relações
sociais e valorizar a capoeira desmistificando conceitos equivocados e preconceitos existentes
na sociedade atual.
13
2 CAPOEIRA: O QUE É?
A palavra capoeira é originária do tupi-guarani e refere-se às áreas de mata rasteira do
interior do Brasil. Esse nome foi obtido a partir dos locais que cercavam as grandes
propriedades rurais de base escravocrata, provavelmente porque era praticada entre esses
matos, com os lutadores próximos ao chão, para não serem descobertos pelos seus senhores.
A Capoeira já foi motivo de grande controvérsia entre os estudiosos de sua história,
sobretudo no que se refere ao período compreendido entre o seu surgimento, os primeiros
movimentos, registros sobre sua prática e seu significado.
O termo capoeira não tem um único sentido. Em português, capoeira e seus
derivados, em grande maioria se associam às características de cestos,
gaiolas ou locais para se guardar aves ou indivíduos. Já em Tupy-Guarany, o
termo capoeira significa “mato”, sem qualquer espécie de qualificação
(novo, velho, ralo, encorpado) (ARAÚJO, 1997, p.56).
Diante disso sua história passa a ser investigada por pesquisadores de diferentes áreas
do conhecimento em virtude de haver controvérsias quanto a sua origem. Há diversas
hipóteses que apontam várias interpretações e discursos, causando muitas vezes dúvidas e
gerando mitos quanto ao período compreendido entre o seu surgimento e o início do século
XIX, quando aparecem os primeiros registros com descrições sobre sua prática.
No entanto sabe-se que esta manifestação cultural surgiu no período colonial, quando
o negro foi traficado da África e praticava a capoeira nos terreiros, nas senzalas e ruas, para
lutar, se defender, jogar, brincar e dançar. Essa prática se tornou comum, pois ele se valia do
jogo de agilidade corporal como um instrumento de defesa contra seus opressores.
Portanto foi criada pelos escravos que vieram da África, mas se originou aqui no
Brasil por isso é chamada de Afro-Brasileira. A capoeira era desenvolvida no Brasil
principalmente por descendentes de escravos africanos com alguma influência indígena, é
caracterizada por golpes e movimentos ágeis e complexos, utilizando primariamente chutes e
rasteiras, além de cabeçadas, joelhadas e cotoveladas.
A capoeira é também é caracterizada por movimentos ágeis e harmoniosos, em ritmo
de músicas e aspectos coreografados. Os praticantes desta arte utilizam os pés e as mãos
incorporados a uma malandragem tipicamente brasileira num diálogo rítmico de corpo, mente
e espírito, onde a capoeira torna-se um exercício físico e mental.
Por estar totalmente ligada a história do Brasil, a capoeira foi desenvolvida pelos
negros que chegaram como escravos, submetidos a um regime de trabalho forçado,
14
desenvolveram a capoeira como defesa, praticada em vários lugares, tais como, nos
quilombos, senzalas e matas.
Segundo Areias (apud SANTOS, 1990), na luta desigual contra os brancos, como
forma de proteção natural e a ausência de armas, desenvolveram sua própria arma utilizando a
cultura trazida da África e os movimentos dos animais, era a luta incessante contra a violência
e contra a crueldade sofrida a todo o momento.
A capoeira possui diversas dimensões, como luta, jogo, dança, esporte, brincadeira,
ritual religioso, arte popular, as quais no passado foram utilizadas como uma manifestação
contra o regime escravocrata que suprimia a liberdade de pessoas, e por ser uma prática
popular atual que visa combater preconceitos e discriminações contra os negros, seus
rituais, tambores, manifestações populares e identidades.
A capoeira entendida como jogo é para muitos aquela que mais se aproxima do caráter
lúdico. Porém para (VIEIRA, 1995) o jogo é a própria essência da capoeira.
Há os que entendem a capoeira como uma dança ou um ritual religioso, em razão da
presença de música, dos instrumentos: atabaques, pandeiros e berimbaus, tendo caráter
religioso por ter relação com o candomblé (REGO, 1968; SODRÉ, 1988).
De acordo com (IÓRIO; DARIDO, 2005) a capoeira é entendida como esporte quando
se organiza campeonatos, mas é importante mencionar que esses campeonatos são mais
comuns na capoeira regional.
Para Felícitas (1981), a capoeira pode ser entendida como uma modalidade de luta por
ter sido usada como instrumento utilizado pelos oprimidos na ânsia de liberdade. Os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) classificam como luta tendo em vista que há
técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização de ataque e de defesa
(BRASIL, 1998).
Constituindo-se como um dos elementos da cultura corporal do movimento, a
capoeira traz diversos benefícios aos seus praticantes, tais como a melhoria das estruturas
psicomotoras como lateralidade, equilíbrio, coordenação e velocidade ou tempo de reação
(FREITAS, 2007). Contudo, há quem entenda a capoeira como arte popular, por possuir uma
linguagem própria e complexa, personalizada em cada seguidor e seu mestre e ainda, por
conter nela traços de luta e dança (TAVARES, 2006).
Portanto, a capoeira se tornou não só uma expressão cultural, mas uma verdadeira
exportadora da cultura brasileira para o exterior, pois está presente em diversos de países e ao
longo dos anos tem atraído milhares de adeptos que se envolvem com essa arte.
15
E por ser um símbolo da cultura afro-brasileira, símbolo da miscigenação de etnias e
de resistência à opressão, a capoeira foi declarada pela UNESCO, em 26 de novembro de
2014, como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
2.1 Capoeira no Brasil e no Mundo
A capoeira é uma manifestação cultural afro-brasileira em virtude de ter vindo da
África para o Brasil juntamente com os escravos no século XVI período em que o Brasil era
colônia de Portugal. Essa manifestação cultural é vista como uma mistura de luta, dança,
cultura popular, música e se caracteriza por ter movimentos ágeis e complexos, utilizando os
pés, as mãos, a cabeça os joelhos, os cotovelos, elementos que resultaram como uma arte
marcial brasileira.
Durante a longa viagem para o Brasil os escravos cativos praticavam a capoeira como
forma de resistir aos seus opressores, praticar em segredo a sua arte, ocupar o tempo ocioso e
para tornar o percurso mais agradável.
Durante o século XVI, Portugal enviou esses escravos à força para a América do Sul
através do Atlântico nos navios chamados, com o objetivo de serem escravizados e
produzirem riquezas e Brasil foi o maior receptor dessa migração.
Na época do período colonial a principal atividade econômica era o cultivo da cana-
de-açúcar e os colonos portugueses, donos de grandes fazendas, utilizavam a mão de obra
escrava e o negro vivendo em condições humilhantes e desumanas, era forçado a trabalhar
além de sofrer castigos e punições físicas.
Chegando as terras brasileiras eles começam a prática da capoeira como forma de
resistência a seus opressores passando a praticá-la as escondidas como uma dança ou
manifestação religiosa com o objetivo de lutar pela sua libertação e como um recurso para
sobrevivência. Essa dança se espalhou rapidamente, sendo praticada e treinada nas senzalas
enquanto isso, as fugas e revoltas dos negros aumentaram, ao mesmo tempo em que
foram se fortificando, se organizando e vencendo os Capitães do Mato com o próprio
corpo.
A capoeira é uma prática que remonta ao Brasil colonial, associada aos
escravos africanos e, portanto, ao modelo escravocrata. Tudo leva a crer que
ela não era uma prática originaria da África, mas que foi criada pelos
escravos africanos no Brasil, possivelmente uma recriação de diversos rituais
e danças guerreiras. Estes rituais e as danças foram aos poucos se amoldando
às necessidades e ao novo tipo de socialização que os africanos foram
submetidos no cativeiro. (FERREIRA, 2007 p. 23).
16
Dessa maneira começa a ser praticada também por escravos de diferentes culturas
africanas e aos poucos começa a se propagar por todo o país como instrumento de defesa e de
luta pela sua liberdade. Seu aprendizado ocorre através transmissão oral de geração para
geração como forma de preservar viva a identidade do povo africano em solo brasileiro.
No Brasil os africanos adquirem um pensamento de liberdade contra a opressão dos
colonizadores e percebem a necessidade de aprimorar a prática da capoeira. Como não
possuíam armas para lutar utilizavam a capoeira em forma de dança que para enganar os
senhores de engenho que proibiam os escravos de praticar qualquer tipo de luta. Surge assim a
capoeira disfarçada de dança e como um instrumento importante da resistência cultural dos
escravos brasileiros.
Os escravos praticavam a capoeira nas senzalas e tinha como propósito manter viva
sua cultura, aliviar todo o estresse do trabalho diário e a manter o corpo preparado para a
necessidade de fuga e luta contra a opressão de seus escravizadores.
Diante do exposto percebe-se que nenhuma nação conseguiria viver sob o jugo da
escravidão sem se revoltar e lutar por liberdade. Por isso o negro no Brasil começou a ter
essas reações contra o cativeiro, praticando fugas e revoltas desordenadas, porque sentiu a
necessidade de organizar sua resistência contra o opressor e a planejar essas fugas e a pensar
as formas de lutar e se refugiar em busca da libertação do branco escravocrata.
A prática capoeira teve grande importância no Quilombo de Palmares que devido ao
seu contexto político possibilitou aos negros a resistirem contra as inúmeras tentativas
destrutivas das autoridades locais, dos senhores de fazendas e da corte portuguesa. A
coragem, a rapidez dos gestos, a flexibilidade do corpo, a habilidade dos golpes de pés e mãos
foram instrumentos de defesa dos negros contra a opressão. Zumbi, o líder do Quilombo dos
Palmares, que lutou contra a escravidão dos negros fugidos da escravidão, é considerado o
primeiro Mestre de Capoeira.
Nesse período a capoeira passa a ser vista como uma prática violenta e por isso fica
proibida no Brasil até 1930, por meio de um código penal no governo de Marechal Deodoro
da Fonseca, que determinava que o capoeirista que a praticasse seria preso pela polícia que
recebia as orientações dos poderosos para fazer valer a lei contra os capoeiristas. A cada dia a
perseguição aos capoeiristas se tornou mais intensa tanto pelos senhores de engenho quanto
pelas autoridades e eles tiveram que fugir para não serem castigados.
No entanto a Capoeira sobreviveu a todo o processo de marginalização e em 1937, o
Mestre Bimba, capoeirista brasileiro apresentou a luta para o presidente Getúlio Vargas que
17
apreciou a arte e a transformou em esporte nacional. Nesse período é fundanda a primeira
academia oficial do esporte no Brasil.
A capoeira tem aproximadamente 300 anos de história e é praticada em mais de 150
países. Em cada roda a cultura brasileira é reafirmada. Ela já foi considerada marginal e quase
desapareceu, porém continua sendo difundida porque é uma forma de resistência, é dança, é
luta, é integração, é um modo de vida.
O reconhecimento da capoeira como Patrimônio Cultural e a profissionalização do
capoeirista foi o que elevou a prática a um patamar diferente no Brasil. Antes marginalizada,
agora a capoeira é por autoridades do mundo inteiro.
A partir daí reúne um conjunto de movimentos como agilidade, técnica, força e
começa a ensaiar as rasteiras, os pulos, as cabeçadas que iriam se desenvolver e transformar -
se em capoeira, uma dança mortal que sobrevive até os dias atuais.
Hoje a Capoeira é conhecida como uma expressão cultural que integra cultura,
disciplina, força e ritmo. É vista como um estilo de vida, um estado de espírito, e por isso, é
praticada não só no Brasil, mas em vários países do mundo. Devido as suas características e a
beleza dos movimentos e habilidades nos gestos é respeitada e, por meio sua prática, cidadãos
nos diferentes países têm a oportunidade de aproximar-se dessa cultura afro-brasileira.
2.2 Origem da Capoeira
A capoeira é uma das manifestações culturais mais antigas praticadas no Brasil. É uma
arte riquíssima, pois envolve luta, dança, música, poesia, literatura, história, filosofia de vida.
No entanto há diversas teorias sobre sua origem em ser africana ou brasileira porque não
existem documentos suficientes para comprovar sua origem.
Uma possibilidade é que ela tenha nascido na África e vindo para o Brasil com os
negros escravizados e a outra que tenha sido criada pelos escravos no Brasil. Essas discussões
ocorrem entre pesquisadores, folcloristas, historiadores e africanistas.
No entanto a capoeira é uma combinação de artes marciais africanas e brasileiras,
resultados de várias influências que ocorreram quando os africanos foram trazidos à força
para realizar todo o trabalho escravo no Brasil e pode ter surgido através da integração destes
povos.
Diante disso ela nasceu da necessidade de liberdade de um povo, que a praticava
disfarçada de dança, porque os donos dos escravos não aceitavam toda e qualquer forma de
luta. Esse povo tão sofrido tinha em mente a ânsia de liberdade e usavam golpes de capoeira
para se defender e abater o seu opressor.
18
Entretanto o importante não é abrir uma discussão acerca da origem da capoeira, mas
entender que é uma expressão cultural que se firmou no universo brasileiro como um
instrumento de libertação contra a escravidão de um sistema dominante que tinha interesses
pela colonização em busca de riquezas .
No Brasil a capoeira passa a ser valorizada por meio de dois ícones e dois estilos.
Mestre Pastinha que foi o grande mestre da Capoeira Angola, que possui um ritmo lento,
trabalha com ginga e a malicia dos jogadores. Ele aperfeiçoou a arte centenária dos escravos,
organizou uma escola e estabeleceu um método de ensino com base nas antigas tradições e
Mestre Bimba, o maior capoeirista de todos os tempos, o libertador da capoeira, com a
Capoeira Regional que apresenta os movimentos mais rápidos e ofensivos e golpes giratórios.
Diante do exposto percebe-se a importância da capoeira no Brasil, pois foi
reconhecida em 2008 como Patrimônio Cultural Brasileiro pelo IPHAN (Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), se expandiu por todo o planeta, passou a ser vista
como um símbolo da miscigenação de etnias, pois para sua prática não importa a cor, sexo,
idade ou opulência, ela é um patrimônio que tem como função a inclusão social.
Atualmente a capoeira é praticada em cerca de 160 países, segundo o
IPHAN, principalmente nas Américas e Europa. O fato de ser reconhecida
como um patrimônio cultural imaterial ressalta a sua importância como um
bem fundamental que traduz os valores, símbolos, saberes e práticas dos
africanos na construção de nossa sociedade (GONÇALVES JÚNIOR, 2009).
Portanto a capoeira vem conquistando seu mérito de cultura nacional, estar se
evoluindo a cada dia devido a sua eficácia por meio das técnicas, ensinamentos e valores e do
fortalecimento da autoestima individual e coletiva e contribuição para a construção da
cidadania.
2.3 Segmentos que Praticam Capoeira
Durante muito tempo as artes marciais foram um importante agente de disseminação
da imagem e prestígio dos países nos quais estas se originaram, sendo consideradas parte
fundamental dos seus patrimônios culturais. Como exemplo, a capoeira, reconhecida no
mundo como a arte marcial autenticamente brasileira. E sendo parte do patrimônio cultural
estas artes marciais possuem acentuada importância na construção de uma imagem positiva e
favorável aos interesses dos países no cenário internacional.
Por outro lado, a Capoeira também é percebida como uma prática corporal e atividade
de lazer inserida no cenário e no contexto da modernidade, que oferece uma conduta e
19
proporciona ricas oportunidades de utilização, podendo ser vista como uma proposta cultural
de prática esportiva social. Pode ser entendida como arte, dança, cultura, luta, arte marcial,
jogo, esporte, música, folclore e filosofia, e pode ser encarada como um esporte que propicia
uma elevada integração social.
No entender dos segmentos envolvidos na inclusão da Roda de Capoeira como parte
do Patrimônio Imaterial da Humanidade, esta representa mais um passo na consolidação da
Capoeira como expressão original do povo brasileiro que se oferece aos povos do mundo
como prática, atitude de vida, pensamento, técnica, esporte, prazer, arte e cultura.
Essa atividade se bem organizada e desenvolvida pelos seus responsáveis tem o poder
de reunir vários tipos, bem diferenciados de pessoas de suas diferentes classes sociais, suas
individualidades biológicas, como idade, sexo, deficiências...
Diante disso, percebe-se que a capoeira é também uma forma de inclusão social e que
devemos valorizar cada vez mais essa arte brasileira que resgata nossa história, como também
por comprovarmos que esse esporte nacional pode ainda proporcionar infinitos benefícios
para todo o segmento da sociedade. Em sua formação corporal desenvolve condicionamento
físico progressivo, noções de força, equilíbrio, flexibilidade, ritmo, e em sua formação de
caráter com a sociabilização, resgate a valores humanos e cultura nacional.
A capoeira é uma arte que reflete as características culturais de um grupo começa a
estender-se para fora dele, chegando a outras camadas sociais e a diversos contextos
geográficos. Ela também vai expressar as relações de poder existentes na sociedade. Quem
tem maior poder econômico e social poderá com maior facilidade influir no processo de
mudança, impondo seus valores e visões de mundo.
Ainda considerando os fatores sociais como condicionadores de todo o processo de
mudança, ao analisar a transformação da Capoeira não se pode perder de vista a influência do
Mestre Bimba, por meio dele a Capoeira sofre uma grande transformação, enfatizam-se os
aspectos de luta, são acrescentados novos movimentos, aparece um grupo importante de
praticantes das classes médias e altas e a Capoeira começa a ser praticada dentro da
legalidade.
2.4 Elementos que Compõem a Capoeira
A capoeira é um processo dinâmico, coreográfico, desenvolvido por dois parceiros que
executam movimentos rituais em sintonia com o ritmo que sai do toque do berimbau,
simulando intenções de ataque, defesa e esquiva, ao tempo em que exibe habilidade, força e
autoconfiança, em colaboração com o parceiro do jogo, pretendendo cada qual demonstrar sua
20
superioridade sobre o companheiro. A coreografia ocorre partindo de um movimento básico
denominado gingado, do qual surgem os demais movimentos num desenrolar aparentemente
espontâneo e natural, porém com um objetivo de obrigar o seu parceiro a admitir a sua
inferioridade. Para sua prática são necessários elementos importantes que conduz o praticante
a mostrar o seu conhecimento e desenvolvimento sobre a atividade.
2.4.1 A Roda
É o espaço em que se pratica a capoeira, é um círculo em torno do qual se agacham os
praticantes. Uma boa roda de capoeira acontece quando todos os envolvidos, ainda que
poucos, estiverem participando com vontade, dando corpo ao acompanhamento musical e
aumentando assim a motivação daqueles que jogam. O tamanho da roda pode variar de um
diâmetro de 3 metros até diâmetros superiores a 10 metros, ao mesmo tempo que pode ter
meia dúzia de capoeiristas até mais de uma centena deles. . A roda de capoeira pode se
realizar em praticamente qualquer lugar, em ambientes fechados ou abertos, sobre o cimento,
a terra, a areia, o asfalto, na rua, numa praça, num descampado ou em uma academia. Os
capoeiristas se perfilam na roda de capoeira batendo palma no ritmo do berimbau e cantando a
música enquanto dois capoeiristas jogam capoeira.
É relevante lembrar que quando observamos uma roda de Capoeira com todo o seu
“gingado”, suas acrobacias, seus movimentos rápidos e destreza, utilizadas na sua prática,
inclusive o condicionamento físico e a flexibilidade necessárias, devemos observar toda
beleza destes movimentos e como os dois capoeiristas se compreendem, parecendo conversar
através dos gestos dentro da roda. (FUGIKAWA et al, 2006).
2.4.2 O Jogo
O jogo da capoeira é verdadeiramente um diálogo de corpos. Dois capoeiristas partem
do local onde se encontra o berimbau e iniciam um lento balé de perguntas e respostas
corporais, até que um terceiro compre o jogo e assim desenvolve-se sucessivamente até que
todos entrem na roda. É complexo porque mistura música e movimentação corporal num todo
harmônico. É dança, é canto, é jogo de habilidade e destreza corporal. O jogo entre dois
capoeiristas pode terminar ao comando do capoeirista no berimbau ou quando algum
capoeirista da roda entra entre os dois e inicia um novo jogo com um deles.
2.4.3 A Música
21
A música é um elemento importante da capoeira, mostrando mais uma vez o aspecto
ancestral e primitivo desta manifestação. Ela é uma viagem e suas letras retratam a história de
regiões brasileiras ou africanas, reavivando grandes capoeiristas citados como heróis. Por
meio das musicas de capoeira, são expressos deferentes sentimentos, sentidos, ideais: ódio
paixão, saudade, respeito, agressividade, violência, paz, liberdade, confiança,
desconfiança, devoção, louvor etc. A música é intrínseca à dança e é mais um
componente essencial na capoeira, ela é que impõe o ritmo e determina o estilo
durante a luta. A música é composta de instrumentos e de canções, podendo o ritmo variar de
acordo com o estilo. A parte musical tem ainda músicas que são cantadas e repetidas em coro
por todos na roda.
2.4.4 Os Instrumentos
A Capoeira é a única modalidade de luta marcial que se faz acompanhada por
instrumentos musicais. Isso se deve basicamente às suas origens entre os escravos, que dessa
forma disfarçavam a prática da luta numa espécie de dança, enganando os senhores de
engenho e os capitães-do-mato. No início esse acompanhamento era feito apenas com palmas
e toques de tambores. Posteriormente foi introduzido o Berimbau instrumento composto de
uma haste tensionada por um arame, tendo por caixa de ressonância uma cabaça cortada. Ele é
o instrumento principal da roda, que vai definir o ritmo da música e também do combate de
capoeira. Numa roda de capoeira o conjunto rítmico completo é composto por: três
berimbaus, dois pandeiros; um reco-reco; um agogô e um atabaque.
2.4.5 A Dança
A capoeira é verbalizada como dança na roda, pois os elementos fundamentais da
dança estão presentes nessa luta, onde podemos observar os instrumentos, a música e
o ritmo que é imposto de acordo com as canções entoadas durante a luta, a ginga, os
movimentos dos pés e dos braços, portanto a conotação da dança se faz presente a todo o
momento.
2.4.6 A Luta
A Capoeira é uma luta de defesa e ataque em que os praticantes usam os pés
e a cabeça, sendo as mãos de menor uso. Os europeus acostumados a lutar com as mãos não
tinham a menor chance contra os negros e perdiam fácil. Os senhores de engenhos
proibiram então a prática dessa luta entre os escravos, porém eles disfarçaram a capoeira
22
colocando mimicas e danças acompanhadas de músicas. Tornaram-se várias artes em uma só,
mas principal é a luta. É jogo, é poesia, expressão corporal, filosofia de vida, mas acima de
tudo, uma luta porque nasceu com os escravos como forma de resistir aos seus opressores.
2.4.7 O Uniforme
No tempo em que a capoeira era tratada de forma desumana os capoeiristas tinham que
se disfarçar pra tentar enganar os senhores chamados capitão do mato como também usar um
disfarce pra tentar enganar a policia que os tratava como delinquentes e ficava o tempo todo
em busca dos chamados capoeira da época. Estes usavam calça bem larga com a boca bem
grande pra que os movimentos fossem mais sutis e eficazes na hora da prática da capoeira.
Nos dias atuais o uniforme é utilizado pra tentar organizar ainda mais esta arte e identificar os
grupos com seus devidos nomes e roupas as quais dá uma qualidade ao determinado grupo e
seus mestres e a capoeira ganha organização e notoriedade.
2.4.8 O Batizado
O batizado é uma roda de capoeira solene e festiva, onde alunos novos recebem sua
primeira corda e demais alunos podem passar para graduações superiores. Em algumas
ocasiões, podem-se ver formados e professores recebendo graduações avançadas, momento
considerado honroso para o capoeirista. O batizado inicia ao comando do capoeirista mais
graduado do grupo seja ele mestre, contramestre ou professor. Os alunos jogam com um
capoeirista formado e devem tentar se defender. Normalmente, o jogo termina com a queda
do aluno, momento em que é considerado batizado, mas o capoeirista formado pode julgar a
queda desnecessária.
2.4.9 O Apelido
O apelido é o momento em que o capoeirista recebe ou oficializa seu apelido, ou nome
de capoeira. A maioria dos capoeiristas passa a ser conhecida na comunidade mais pelos seus
respectivos apelidos do que por seus próprios nomes. Apelidos podem surgir de inúmeros
motivos, como uma característica física, uma particular habilidade ou dificuldade, uma ironia,
a cidade de origem, entre outros.
O costume do apelido surgiu na época em que a capoeira era ilegal. Capoeiristas
evitavam dizer seus nomes para evitar problemas com a polícia e se apresentavam a outros
capoeiristas ou nas rodas pelos seus apelidos. Dessa forma, um capoeirista não poderia revelar
23
os nomes dos seus companheiros à polícia, mesmo que fosse preso e torturado. Hoje em dia, o
apelido continua uma forte tradição na capoeira, apesar de não ser mais necessário.
2.4.10 Graduação
O sistema de graduação não tem um sistema padrão aceito pela maioria dos grandes
mestres, variando muito de grupo para grupo. A própria origem do sistema é recente, tendo
partido com a Luta Regional Baiana de Mestre Bimba, na década de 1930. Bimba utilizava
lenços de seda para diferenciar seus alunos entre aluno formado, aluno especializado e mestre.
Alunos novos não possuíam graduação.
Atualmente, o sistema de graduação mais comum é o de cordas de diferentes
colorações amarrados na cintura do jogador. Algumas entidades tentam organizar e unificar a
graduação na capoeira. Apesar de muito difundido com diversas variações, muitos grupos
grandes e influentes utilizam cores diferentes ou mesmo graduações diferentes.
24
3 POR QUE A CAPOEIRA É VISTA COMO UMA ATIVIDADE DE PESSOAS
“NEGRAS”
A Capoeira, ao longo de sua existência, foi encarada pela sociedade como agressiva,
violenta, marginal, praticada por ociosos e vagabundos. Essa rotulação é histórica
perpetuando-se em virtude de alguns praticantes terem feito desta arte uma prática violenta
quando usavam navalha para defender-se de seus adversários.
É um esporte que sofre preconceito ao longo dos anos em vários aspectos. No aspecto
religioso por parte de pessoas mais radicais que a associam ao candomblé ou a umbanda. Com
relação à etnia, por ser de origem negra. E com relação ao esporte, porque muitas pessoas não
consideram como uma a modalidade esportiva.
Sua trajetória histórica foi marcada por um longo processo de discriminação, pois esta
manifestação surgiu de um caldeirão cultural, da mistura de africanos e brasileiros, é oriunda
de “berço escravo” e também por estas razões foi repreendida, seus praticantes insultados e
sofreu contravenção penal, sendo criminalizada.
Sendo assim, os negros marginalizados, passaram a utilizar a capoeira como arma para
saquear, roubar e tentar sobreviver a um sistema de discriminação.
Os capoeiristas, tanto homens como mulheres, eram vistos como vadios e desordeiros, desta
forma, começou o processo de degradação da imagem da capoeira, sendo por vezes cultuada
erroneamente até os dias de hoje. Oliveira observa que “Este universo de valentia, desordem e
prática de capoeira, não estava restrito ao homem; também pertencia às “mulheres valentes”
protagonista do cenário descrito” (OLIVEIRA, 2009, p.121)
Diante disso a visão negativa da capoeira foi muito presente na sociedade que, mesmo
após a abolição da escravatura, ela foi reprimida. Em 1890, o Código Penal criado pelo
governo do Marechal Deodoro da Fonseca proibiu a prática em todo território brasileiro. O
decreto, assim como os antigos dominadores, a consideravam violenta e puniam severamente
quem fosse pego reproduzindo seus movimentos, tornando uma manifestação cultural
marginalizada.
3.1 A Marginalização da Capoeira
Durante muito tempo a capoeira permaneceu à margem da sociedade. Seus praticantes
eram temidos e perseguidos pela polícia e pela população, chegando a ser considerada crime a
partir de 1890 e só foi reconhecida oficialmente como esporte no ano de 1972, pelo Ministério
25
de Educação e Cultura, pois até então a capoeira era considerada uma manifestação ligada ao
crime e à desordem.
A capoeira foi alvo de marginalização quando negros escravos passaram a praticá-la
com o objetivo treinarem seus corpos para a luta contra a opressão dos brancos. A partir disso
ela foi sinônimo de resistência contra a opressão e a luta de um povo que lutava por um
mundo mais justo, por liberdade, pela formação de cidadãos participativos na sociedade em
que vive.
Atraiu pessoas pertencentes às classes sociais menos favorecidas que viviam em
ambientes pobres devido a sua pouca condição social, econômica e política, porque
possibilitava ao praticante extravasar angústias, sofrimentos e emoções em virtude de seu
caráter político e libertador.
Sua prática foi proibida em 1890, sob pena de prisão, através do Decreto nº 487 do
Código Penal de 1890 estabeleceu, no Capítulo XIII, que tratava dos "vadios e capoeiras":
Art.402 - Fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza
corporal, conhecidos pela denominação de capoeiragem, andar em correrias
com armas ou instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal,
provocando tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou
incutindo temor de algum mal: Pena de prisão celular de dois a seis meses.
(BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização, Diversidade e Inclusão. 2014.)
Durante anos a capoeira foi considerada subversiva, sua prática era proibida e
duramente reprimida e devido a essa repressão, a capoeira praticamente se extinguiu. Porém
em 1932, Mestre Bimba fundou a primeira academia de capoeira do Brasil em Salvador
acrescentando movimentos de artes marciais e desenvolvendo um treinamento para a
capoeira, estilo que passou a ser conhecido como Regional. Em contraponto, Mestre Pastinha
pregava a tradição da capoeira com um jogo matreiro, de disfarce e estilo que passou a ser
conhecido como Angola. Da dedicação desses dois grandes mestres, a capoeira deixou de ser
marginalizada, e se espalhou da Bahia para todos os estados brasileiros.
Em 1937, Bimba fundou o centro de Cultura Física e Luta Regional, com alvará da
secretaria da Educação, Saúde e Assistência de Salvador. Seu trabalho obteve aceitação
social, passando a ensinar para as elites econômicas, políticas, militares e universitárias.
Finalmente, em 1940, a capoeira saiu do código Penal brasileiro e deixou definitivamente a
ilegalidade. Começou, então, um longo processo de desmarginalização da capoeira.
Mestre Bimba, revela-se um grande estrategista, que soube articular um
importante movimento que visava a um maior reconhecimento público
e valorização dessa manifestação afro-brasileira, e a sua consequente
26
descriminalização, já que até então, a capoeira ainda constava no Código
Penal Brasileiro. E ele foi responsável, antes de tudo, por uma recriação
importante no universo das manifestações afro-brasileiras, materializado
pela sua capoeira regional. (ABID, 2004, p. 11).
Diante disso há a valorização da capoeira e ela passa a ser praticada por pessoas de
todas as idades e classes sociais. Surgem os dois estilos de capoeira: Angola e a Regional e na
década de 1970 aparece a Capoeira Contemporânea.
Entretanto ainda é possível perceber que a capoeira, em pleno século XXI enfrenta
barreiras e preconceitos por seu caráter religioso, por estar enraizada na cultura africana,
negra e possuir os escravos como precursores, classe menosprezada na época e discriminada
até hoje.
Porém com o passar dos anos a capoeira, como luta brasileira, tornou-se mais
respeitada, foi reconhecida pelas autoridades e divulgada pelo mundo e essa prática continua
exercendo influência nas pessoas das classes mais pobres transformando-a em um excelente
instrumento de mobilização dessas pessoas para a inserção num universo social passando de
marginalizada no passado a elemento da cultura popular negra na atualidade.
27
4 A CAPOEIRA COMO ELEMENTO DA CULTURA POPULAR NEGRA
A capoeira é uma das mais importantes manifestações da cultura popular brasileira,
fundada em nossas tradições culturais, sendo reconhecida e praticada mundialmente por um
número incalculável de pessoas. E sendo um aspecto cultural tanto brasileiro quanto africano,
tem influenciado muito no dia dos afrodescendentes onde vários deles praticam essa
expressão e podem livremente mostrar o quanto eles são importantes na sociedade.
Trazido dos negros escravos, a capoeira é uma expressão cultural afro-brasileira que
mistura luta, dança, cultura popular e música. Foi desenvolvida no Brasil por escravos
africanos e seus descendentes. É caracterizada por golpes e movimentos ágeis e complexos,
utilizando os pés, as mãos, a cabeça, os joelhos, cotovelos e apresenta uma característica que a
distingue da maioria das outras artes marciais que é o fato de ser acompanhada por música.
O papel da capoeira é resgatar os valores culturais de um povo, mas pode ser vista
como um sistema de autodefesa e treinamento físico, destacando-se entre as modalidades
desportivas por ser a única originalmente brasileira e fundamentada em nossas tradições
culturais. Traz dentre as suas características elementos da luta, do jogo e da dança que se
complementam quando praticadas e dançadas ao som de instrumentos musicais como o
berimbau, o pandeiro o atabaque, e também ao som de palmas e de cânticos que contam em
suas letras as histórias e sonhos de um povo.
Hoje em dia, a capoeira se tornou não apenas uma arte ou um aspecto cultural, mas
uma verdadeira exportadora da cultura afro-brasileira, símbolo da miscigenação de etnias,
símbolo de resistência à opressão, a capoeira mudou definitivamente sua imagem e se tornou
fonte de orgulho para o povo brasileiro.
4.1 Contribuição da Capoeira para a Construção de Identidade
A capoeira nasceu da vontade de libertação de um povo sofrido, mas com muito
orgulho de suas origens que conseguiu, a través dos anos, preservar seus rituais, tradições e
existência cultural. Junto com as necessidades e conhecimentos que adquiriram na nova terra,
criaram movimentos de ataque e defesa, junto à destreza que já existia dentro de sua
existência. Desta forma, conseguiam aperfeiçoar seus movimentos, camuflando-os dos
senhores de escravos e capatazes praticando em segredo a sua arte, transmitir a sua cultura e
melhorar o seu moral.
A Capoeira dos negros escravos, marginalizados vem desde a época da escravidão,
contagiando povos das mais distintas nacionalidades e classes sociais. Sua mistura de
28
malandragem com musicalidade proporciona àqueles que a praticam uma indescritível
sensação de liberdade e àqueles que assistem um encanto contagiante.
Há anos foi considerada uma atividade criminosa, mas essa arte passou por diversos
movimentos até ser transformada em símbolo dos movimentos de resistência sociocultural na
qual até os estrangeiros entendem o valor da capoeira para a construção da identidade
brasileira.
Portanto, a capoeira é um elemento da cultura nacional que permanece em constante
mutação, pois hora é esporte, luta, jogo, cultura popular, contudo é um elemento determinante
daquilo que constitui a identidade nacional, mesmo que tenha sido marginalizada e lute contra
o preconceito, ela permanece viva, presente em todos os lugares e reconhecida como
identidade brasileira.
29
5 ACARI TEM CAPOEIRA?
Na cidade de Acari há um grupo de capoeira pertencente à Associação Cultural de
Capoeira Filhos de Jó, a qual foi fundada por Josivan Alves Feitosa conhecido como Mestre
Jó, no ano de 2008 e que contempla grupos das cidades de Cruzeta, São José do Seridó e
Caicó. Atualmente Mestre Jó tem o seu trabalho desenvolvido nos Estados do Pernambuco,
Ceará, Paraíba e o Rio grande do Norte, e com esse trabalho a Associação vem a cada dia
crescendo mais e mais com o objetivo de tirar as crianças das ruas e transformá-las em
cidadãos.
Esse grupo existente é chamado Filhos de Jó, com atendimentos nas zonas urbana e
rural do município. Um atendimento ocorre no municipal clube da cidade nas segundas,
quartas e sextas-feiras às dezesseis horas, outro é realizado no Povoado Gargalheiras, numa
quadra esportiva, nas terças e quintas-feiras a partir das dezessete horas. O trabalho é
realizado pelo mestre Josivan, dono do grupo, com o auxílio de dois monitores graduados e
aptos a desenvolver as atividades teóricas e práticas com os membros do grupo.
5.1 Formas de Atuação dos Grupos e Mestres
O grupo de capoeira Filhos de Jó é bem atuante em Acari e tem se destacado em
virtude do trabalho que desenvolve no município com o intuito de contribuir para a formação
de bons cidadãos, pois estimula o convívio com outras pessoas e o exercício da cooperação,
do respeito e da disciplina.
Realiza encontros diários onde ministra estudos sobre o contexto histórico da capoeira,
a associação a qual pertencem, os Mestres Pastinha e Bimba importantes figuras da capoeira
no Brasil, os elementos essenciais à prática da capoeira, principalmente a musicalidade e o
jogo. Quando solicitado o grupo participa de encontros e de eventos realizados no município,
em escolas, em cidades vizinhas e também em outros estados como Paraíba e Ceará.
Enfim, com esse trabalho desenvolvido no município percebe-se que a capoeira é uma
excelente atividade física e de uma riqueza sem precedentes para ajudar na formação integral
do participante, pois ela atua sobre os aspectos cognitivo, afetivo e psicomotor. Proporciona
satisfação, prazer e aprimora o controle emocional.
5.2 Atividades Desenvolvidas no Município
A população acariense sabe que no dia 20 de novembro comemora-se em todo o Brasil
o Dia Nacional da Consciência Negra, em homenagem à morte de Zumbi, líder do Quilombo
30
dos Palmares. Esta data é uma forma de lembrar o sofrimento dos negros ao longo da história,
desde a época da colonização do Brasil, em busca da garantia dos seus direitos sociais. Assim,
a Prefeitura Municipal de Acari, através da Secretaria de Assistência Social e
Desenvolvimento Comunitário, Secretaria Municipal de Educação, Comissão Pró-Selo
UNICEF e Museu Histórico, realizam todos os anos em praça pública uma extensa
programação alusiva à Semana da Consciência Negra. Dentre as atividades realizadas estão
exposição de artes plásticas, artesanato, gastronomia africana, exposição de louças e
brinquedos, exibição de filmes, exposição dos trabalhos realizados nas escolas, escolha da
miss afro, apresentações culturais etc. E dentro dessa programação não poderia faltar o grupo
de capoeira Filhos de Jó, que através da sua participação sensibiliza a população para a
valorização da história e cultura da população negra e contribui para a disseminação e
manutenção da capoeira, esse riquíssimo patrimônio cultural brasileiro.
31
6 IMPORTÂNCIA DA CAPOEIRA NO AMBIENTE ESCOLAR
A escola não é mais um ambiente fechado ao modelo formal de ensino, ela se abre e
dá oportunidade para manifestação de outros saberes e para educação não-formal, aprendidas
através de manifestações culturais.
Uma dessas manifestações é a capoeira que tem no espaço escolar um leque infinito de
possibilidades. Campos, em entrevista concedida a Revista Praticando Capoeira (2007, p. 27),
coloca que “A Capoeira é fantástica por ser polissêmica, ou seja, tem muitos significados e
muitas possibilidades”. Diante disso ela permite ao professor desenvolver um trabalho
criativo e inovador que desperta e convida o aluno para uma aprendizagem significativa.
A Capoeira oferece uma gama de atividades e conteúdos que podem ser trabalhados
em parceria com o professor de sala de aula. Ela é muito próxima de disciplinas como:
Educação Física, História, Português, Geografia, Artes. Para tanto, é necessário que o
professor planeje suas aulas, de preferência com todo o corpo docente para que o trabalho
escolar possa atingir melhores resultados.
Para tanto é preciso compreender que a capoeira é de suma importância para o
desenvolvimento sócio educacional, pois é um instrumento que conduz o indivíduo ao seu
progresso físico, moral e intelectual e espiritual. Auxilia na aprendizagem facilitando a
assimilação dos conteúdos através da ludicidade, no lugar do tradicionalismo da sala de aula.
A Capoeira é atividade que trabalhada com o corpo inteiro desenvolvendo mente e
espírito. Ela melhora a autoestima das pessoas e colabora para inserção destas na sociedade.
Deve ser tratada sem preconceitos e pode ser desenvolvida em vários ambiente da escola, pois
se aprimora como instrumento educacional e está presente em diversos espaços educacionais.
Portanto ela contribui para o desenvolvimento do educando de forma integral,
realizando a fusão de corpo e mente. Pode ser um instrumento que junto às outras atividades
transforma o espaço escolar em um espaço democrático e prazeroso para o educando e para os
profissionais.
6.1 A inserção da Capoeira no Currículo Escolar
Nos últimos anos, a Capoeira vem passando por um processo de expansão, sua prática
está sendo desenvolvida em diversas instituições da sociedade, como escolas, academias,
clubes, projetos sociais e faculdades. Diante disso reconhece-se seu caráter educacional e
formativo, assim como seu valor nos âmbitos cultural e esportivo.
32
Sua utilização como instrumento pedagógico vem sendo, nas últimas décadas um
recurso de grande valia, pois é uma atividade lúdica e educativa com reconhecimento pelo seu
valor pedagógico e da sua aceitação por parte do público estudantil. Cada aluno possui
inúmeras maneiras de pensar, de jogar, de brincar, de falar, de escutar e de se movimentar, e
na capoeira isto é possível ser notado. Por meio destas diferentes linguagens é que se
expressam no seu cotidiano, no seu convívio familiar e social, construindo sua cultura e
identidade.
Através desta manifestação cultural o professor pode resgatar a história da força do
negro, de forma que demonstre a luta e a determinação que essa etnia teve para conquistar sua
liberdade. Mostrará a capoeira como uma representação da identidade brasileira, sua história
e costumes, bem como os valores éticos e morais por meio de sua prática.
Segundo Accurso, et al (2004) a capoeira se for desenvolvida nos fundamentos e
raízes, por si só é um instrumento de educação, desde que comprometida com as raízes
culturais, com a luta pela liberdade como a de zumbi nos quilombos de palmares no resgate da
identidade cultural.
Portanto sendo a capoeira um esporte rico de cultura e de movimento corporal, se
encaixa perfeitamente nas exigências da educação, fazendo uma integração com outras
disciplinas, principalmente Educação Física. E enquanto manifestação da cultura popular tem
se destacado como um importante referencial para compreender vários aspectos da nossa
história, principalmente os ligados à luta pela emancipação do negro no Brasil escravocrata.
Iório e Darido (2005) enfatizam a importância da capoeira como uma manifestação
cultural a ser ensinada nas escolas, e esclarecem a relevância do ensino da capoeira
nas aulas de educação física por ser um meio de valorizar a nossa cultura, minimizar o
preconceito, reconhecer e respeitar as diferenças étnicas, pautando-se na temática da
pluralidade cultural.
Seus conteúdos são de grande importância dentro do âmbito escolar, é uma excelente
modalidade de ensino para crianças, pois mostra bastante cabível dentro dos ensinamentos
escolares, apresentando características que proporcionam aos seus aprendizes o
desenvolvimento da agilidade, das habilidades motoras e de todas as valências físicas.
Embora a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (2010), tenha a
previsão da obrigatoriedade, não determina a carga horária de nenhuma disciplina. Remete ao
Projeto Político Pedagógico da Escola a forma como tratar as áreas de conhecimento.
Diante disso, percebeu-se a necessidade de inserir a capoeira no currículo escolar por
meio de um projeto educativo devido a preconceitos e discriminações existentes com relação
33
às temáticas que envolvem o afrodescendente e como forma de sensibilizar a comunidade a
uma postura crítica de valorização e preservação da sua história.
A partir desse entendimento, Lemos e Naressi (2010) expõe que o projeto capoeira na
escola procura privilegiar os valores éticos e estéticos dentro da proposta educativa esta
metodologia de ensino estimula os alunos ao aprendizado, considerando a capacidade de
formação de pessoas críticas e conscientes de sua própria história.
Portanto é importante a curricular da capoeira dada sua relevância social e cultural e
também pela sua interferência positiva na vida escolar e social dos educandos. E diante da lei
10.639/03 que obriga o ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Africana, é possível ver
a capoeira sendo inserida no currículo escolar e ensinada nas salas de aula por meio de
práticas e conteúdos que acompanham a trajetória política, social e cultural da História do
Brasil.
6.2 Inclusão Social pela Capoeira
A inclusão social deve ser entendida como um processo, uma construção coletiva, que
busca a superação da discriminação, do preconceito, da intolerância, das desigualdades e dos
conceitos estereotipados. Cada situação vivenciada no dia a dia oferece oportunidades de
realizar atividades que promovam a inclusão.
Com relação à inclusão social da capoeira sabe-se que ela já está impregnada na sua
própria essência, pois a mesma nasceu da luta de um povo oprimido em busca de liberdade e
sempre esteve ligada aos negros que viveram a margem da sociedade e que lutavam por
direitos, valores culturais e afirmação de sua identidade.
Desta forma a capoeira desempenha um papel fundamental para promover inclusão,
igualdade e cidadania, pois é um produto da cultura popular que favorece a aproximação das
pessoas, valorizando-as pelo que elas são e não pelo que elas têm. Contribui, também, para a
construção de espaços democráticos, onde todos tenham direitos e oportunidades iguais; para
a compreensão das relações entre passado, presente e futuro; e, sobretudo, para despertar a
consciência política e a capacidade de afirmação da cidadania e dos direitos humanos
fundamentais.
Ela torna-se fundamental para o ser humano porque possibilita sua inclusão na
sociedade, pois na roda de capoeira participam homens, mulheres independente da origem,
idade, cor, raça, credo, classe social ou grau de instrução. Ela é um instrumento que promove
a inclusão social, uma melhor qualidade de vida e o direito a igualdade e cidadania. Possibilita
34
o interesse pela história, musicalidade e outras atividades que esta prática proporciona,
facilitando o desenvolvimento das diversas formas de inteligência e o convívio social.
No entanto para que a capoeira seja inclusiva ela deve ser cuidadosa em seus métodos
e em suas bases pedagógicas. Deve promover a reflexão e o exercício diário dos valores. Deve
ter como base a afetividade e o estabelecimento de vínculos saudáveis e construtivos que
contribuam para a formação da identidade dos seus praticantes. A capoeira vem ocupando
espaço de destaque nesse contexto e oferecendo contribuições significativas para a inclusão
social (SILVA, 2003).
Quando falamos em inclusão não podemos deixar de falar dos portadores de
necessidades especiais, entre essas, o que é mais importante: a capacidade de acreditar na vida
e de superar limites, dar a volta por cima, desenvolver o seu potencial e alcançar seus
objetivos. Também para essas pessoas, a capoeira tem representado um grande instrumento de
desenvolvimento biológico, psíquico e social. Os portadores de necessidades especiais
conseguem aderir à prática da capoeira, seja realizando movimentos, tocando ou cantando.
É preciso estimular a comunicação, a interação e a participação de todos nas ações que
envolvem a capoeira como elemento vivo de uma comunidade. Aceitação, tolerância e
respeito às diferenças são pilares essenciais para a construção de uma cultura de paz para o
nosso planeta. Na capoeira é necessário que prevaleça o princípio da cooperação acima do da
competição.
Dessa forma o trabalho a ser desenvolvido com a prática da capoeira tem como um
dos seus objetivos a construção e o desenvolvimento de cidadãos conscientes, verdadeiros
líderes comunitários, capazes de promover transformação do seu entorno imediato e do seu
país como um todo. Cidadãos com capacidade de tomar decisões que promovam o bem estar,
a justiça e a inclusão social.
6.3 Tradição Oral Afro-brasileira e Escola
A tradição oral afro-brasileira deve ser entendida enquanto uma tradição que não elege
um tempo áureo ou um tempo de decadência, mas alerta para a necessidade de atentarmos
para um mecanismo que preserva e muda o tempo no tempo, a tradição oral afro-brasileira
pode ser afirmada como presença da herança africana.
Desde quando os negros africanos foram trazidos ao Brasil, eles sofreram a autoridade
repressiva, o ódio racial e o preconceito de classes. Da mesma maneira, toda a sua cultura,
seus conhecimentos e tradições eram abomináveis aos olhos da elite imperial brasileira, que
reprimia e tratava suas práticas como crime.
35
Dessa forma ela se traduz num modo de vida que não se dá apenas na ausência da
escrita ou do conhecimento estabelecido pela mesma. Esse modo de vida foi criado e recriado
nas suas ações e significados, apontando para o poder que negros e mestiços brasileiros, e
talvez todos os povos provenientes de diásporas, tiveram e têm de reconstruir, sobre a
opressão e a dor, uma nova humanidade, o que Gilroy (2001) conceituou como o “sublime”.
No entanto, há a necessidade de interpretação ou tradução da mesma, uma vez que o
seu desenvolvimento não esteve imune ou fora dos processos que marcaram a história da
modernidade. Uma tradição que, embora mantenha uma forte relação com as raízes africanas,
dialoga com tempos, sujeitos e espaços variados, incorporando elementos de culturas
diversas.
A relação entre tradição oral afro-brasileira e escola está marcada por territórios,
lugares, fronteiras e concepções diversas. Mas, nem sempre a diversidade aparece na tessitura
da escola, ou então, o diverso aparece como o mesmo, sob o símbolo da igualdade e da
“prática democrática”. A instituição escolar presa a uma concepção e uma prática pedagógica
que tem privilegiado um racionalismo universalista ocultando as diferentes vozes e sujeitos
que compõem a escola e que forma um todo polifônico e multifacetado.
Porém a forma como a tradição oral afro-brasileira está presente nas escolas é uma
problemática que deve preocupar a todos os interessados na aplicabilidade e no sucesso
das diretrizes traçadas a partir da referida Lei Federal nº 10.639/03, e entendendo que o
professor têm um papel fundamental de trabalhar a temática partindo das experiências vividas
pelos alunos no seu dia a dia. Cavalleiro observa que “Cabe, portanto, ligar essas experiências
ao cotidiano escolar, torná-las reconhecidas por todos os atores envolvidos com o processo de
educação no Brasil, em especial professores (as) e alunos(as)” (CAVALLEIRO, 2006, p. 20).
Contudo a tradição oral afro-brasileira é um importante elemento de diálogo no
desafio de enfrentar uma escola excludente e discriminante, na afirmação de que outros povos
construíram, ao longo da sua trajetória, um modo de ser, de ver e de estar no mundo, a partir
de referenciais históricos e culturais e da memória ancestral preservada ao longo dos anos.
Para Monteiro (1994), a história oral é, ao mesmo tempo, fonte e método que permite
captar a visão própria aos atores históricos na sua diversidade cultural, étnica e linguística. A
história e a tradição oral, assim como os relatos orais sobre as tradições vividas e sobre o
passado de um grupo, são formas de socializar a memória.
Portanto, discutir a tradição oral afro-brasileira e escola fortalece a ideia de que são de
vital importância para o combate ao racismo, ao preconceito racial e ao debate sobre uma
educação multicultural. E torna-se fundamental o diálogo, a pesquisa, a reflexão sobre a
36
história de um povo com uma diversidade cultural, étnica e linguística que necessita ser
preservada e valorizada.
37
7 PROJETO CAPOEIRA NA ESCOLA
A escola é uma instituição que tem por objetivo principal ministrar o ensino. No
entanto ela deve ser um espaço que propicie ao aluno oportunidades para aprender de maneira
siginificativa. Seu papel passa a ter mais significado quando ela se preocupa em desenvolver
projetos que façam interação entre o processo ensino-aprendizagem dentro da escola com a
vivência do aluno no seu cotidiano.
O professor é a pessoa que ensina e deve desempenhar sua função com o objetivo de
proporcionar ao aluno a troca de conhecimentos, a construção de uma aprendizagem
significativa apropriando-se de valores, crenças, culturas, estabelecendo relações com
assuntos, fatos e momentos vivenciados no seu dia a dia para que seja capaz de mudar a
maneira de ver uma nova realidade e tenha responsabilidade com todos a sua volta.
Diante disso, surgem questionamentos sobre que projeto a escola poderá oferecer aos
educandos que possam mudar sua realidade social e tenha um papel relevante na formação
integral dos educandos.
Com a lei 9.394/96 que foi a aprovada, a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) – em vinte
de dezembro de 1996, a educação obteve novas mudanças de grande significado, com ênfase
aos docentes e escolas, para que pudessem estabelecer e estruturar o ensino, mudando de
região para região e de escola para escola respeitando assim suas peculiaridades (SOUZA;
OLIVEIRA, 2001). É importante também ressaltar as características do esporte capoeira, que
embora encarado para muitos como uma luta possui marcadamente aspectos de afiliação de
valores como o de respeito aos colegas.
Partindo desse pressuposto viu-se a necessidade de inserir o estudo da capoeira no
currículo escolar da Escola Estadual Dr. José Gonçalves de Medeiros, no município de Acari,
envolvendo as diversas áreas do conhecimento e contemplando alunos do 7º ano, com faixa
etária de 12 anos de idade, aproximadamente, totalizando três turmas compostas por trinta
alunos cada. O objetivo fundamental da capoeira na escola é ajudar na formação dos alunos a
transformarem-se em seres humanos capazes de lidar com a diferença, com a intolerância,
formando cidadãos livres de preconceitos e tendo atitudes de tolerância para com os demais.
Partindo desse pressuposto surge esse trabalho que justifica-se pela necessidade de
mostrar aos educandos que a capoeira é considerada um Patrimônio Cultural da Humanidade,
mas, assim como outras expressões da cultura negra, ainda sofre preconceito, para que
possam criar um nível de consciência crítica, valorizar e preservar a história dessa arte
brasileira.
38
O intuito é levar esses educandos a compreenderem sobre a origem da capoeira, o
significado dos passos, das vestes, dos instrumentos, da música, a capoeira enquanto
identidade e seu papel social, tendo em vista que é possível inserir a capoeira como prática
esportiva, levando em consideração os objetivos, conteúdos e sugestões de atividades.
Para sua eelaboração foi necessário à pesquisa de fontes históricas com o objetivo de o
professor desenvolver melhor sua prática pedagógica e o aluno compreender a origem da
capoeira, o significado dos passos, das vestes, dos instrumentos, da música. Além disso,
servirá também para consulta e reflexão, porque traz propostas de conteúdos sobre a
expressão cultural brasileira que se manifesta na música, na dança, na brincadeira ou no
esporte.
As fontes utilizadas foram livros didáticos, sites, documentários, Projeto Político
Pedagógico da escola, Lei 10.639, apostilas com fundamentação teórica, pesquisas em
bibliotecas, enfim uma coletânea de fontes que subsidiará o professor no decorrer da
realização do trabalho.
Portanto, a prática da capoeira no currículo escolar tem proporcionado a clientela
oportunidades de conhecer as transformações dessa manifestação cultural ao longo dos anos,
analisar as condições de utilização da capoeira como fator de integração social, do
desenvolvimento da consciência do cidadão e o resgate da sua autoestima.
7.1 Contextualização do Ambiente Escolar
O projeto de inserção da capoeira no currículo escolar será desenvolvido na Escola
Estadual Dr. José Gonçalves de Medeiros, com o objetivo de proporcionar a clientela
conhecimentos sobre a importância da capoeira, levando-os a praticar e valorizar essa
manifestação cultural, como também informar ao docente que a capoeira pode ser mais um
instrumento pedagógico na promoção da formação do indivíduo e que sua utilização no
espaço escolar contribuirá para o resgate histórico-cultural desta prática corporal.
A referida escola está situada a Rua Silvino Adonias Bezerra, Nº 72, no Bairro Ari de
Pinho, na cidade Acari. A escola funciona com uma estrutura bem grande, contendo 11 salas
de aula, cantina, biblioteca, sala de professores, sala de vídeo, laboratório de informática, sala
de AEE, secretaria e pátio. O quadro de pessoal é composto por gestores, professores,
coordenadores, supervisores, secretários, vigia, e pessoal de apoio. Seu funcionamento ocorre
nos turnos da manhã e tarde nos segmentos do Ensino Fundamental e Médio. A escola
trabalha de acordo com o projeto político pedagógico, realiza planejamentos, reuniões,
39
formação continuada, eventos socioculturais e tem a função de proporcionar as melhores
condições possíveis de educação para a comunidade.
7.2 Semana da Consciência Negra na Escola
Em 2003, no dia 9 de Janeiro, a lei 10.639 incluiu o Dia Nacional da Consciência
Negra no calendário escolar. A mesma lei torna obrigatório o ensino sobre diversas áreas da
História e cultura Afro-Brasileira. São abordados temas como a luta dos negros no Brasil,
cultura negra brasileira, o negro na sociedade nacional, inserção do negro no mercado de
trabalho, discriminação, identificação de etnias etc.
O dia da Consciência Negra também põe em pauta a importância de discutir a temática
negra na escola. A inclusão de assuntos ligados à África e ao povo negro na educação formal
é uma das estratégias para reconhecer a presença desse grupo na história do Brasil. Não à toa,
escolas e instituições diversas já reconhecem a importância de trabalhar a cultura negra em
seu dia a dia.
Nesse sentido, a Escola Estadual Dr. José de Medeiros desenvolveu atividades
interdisciplinares tais como palestras, filmes, oficinas de arte, apresentação do grupo de
capoeira do município, produções textuais, exposição dos trabalhos, painel fotográfico,
apresentações culturais no evento realizado pela Secretaria de Educação etc., com o objetivo
de levar os alunos a refletirem sobre a diversidade étnico-cultural para compreenderem que
cada povo possui sua identidade própria, presente nas crenças, costumes, história e
organização social e dessa forma valorizar a cultura negra e contribuir para a diminuição da
discriminação.
7.3 Projeto Capoeira na Escola
O projeto de inclusão da capoeira no currículo escolar busca dar ênfase a questões
culturais de caráter popular, lutando pela cidadania, no combate ao preconceito racial, na
elevação da autoestima do aluno auxiliando na construção de sua identidade social,
buscando reaproximar a escola das culturas populares.
O objetivo principal da capoeira escolar não é a performance dos alunos nem de
querer formar capoeiristas, mas de ajudar na formação de seres humanos capazes de lidar
com a diferença, tornando-se mais livre de preconceitos e mais tolerantes.
O ensino da capoeira representa uma oportunidade para a integração entre diferentes
componentes curriculares como história, educação física, geografia, física, artes plásticas,
40
música e outros, além de mobilizar os setores do desporto, turismo, meio ambiente, saúde,
segurança, para citar alguns.
Freitas (1997) reforça ainda que por meio de jogos e brincadeiras poderá se alcançar
melhor desenvolvimento na coordenação motora, no estímulo visual, na criatividade, na
autoestima além de se melhorar a forma de distribuir tempo e o espaço dentro de algum
movimento que levam ao domínio cognitivo, motor e afetivo-social.
Diante disso foi aplicado um projeto de inserção da capoeira na Escola Estadual Dr.
José Gonçalves de Medeiros, no município de Acari, com o apoio da Associação Cultural de
Capoeira Filhos de Jó. Para sua execução foi realizado um comunicado informal a gestão e
comunidade escolar sobre o desenvolvimento do projeto, realização de visitas ao grupo de
capoeira do município e conversas com o monitor e mestre sobre todo o trabalho por eles
desenvolvido, realização do planejamento bimestral para inclusão do projeto o qual envolverá
as disciplinas de Português, Arte. História e Educação Física.
O projeto está em execução e já foram realizadas diversas atividades tais como:
explicação sobre o trabalho de conclusão de curso, explanação em slides das atividades a
serem realizadas, dinâmicas de perguntas e respostas para diagnosticar os conhecimentos
prévios dos alunos sobre a capoeira, questionamentos orais e escritos, exibição de
documentários sobre o contexto histórico da capoeira, exibição de vídeos sobre a prática da
capoeira e os instrumentos utilizados etc.
Porém algumas atividades serão desenvolvidas no decorrer do projeto como: palestras
com o monitor de capoeira do município, exibição de filmes, visitas ao grupo de capoeira,
novas informações sobre a África com o professor de História, prática de capoeira nas aulas
de Educação Física etc., pois a capoeira é uma forma de desenvolver habilidades no alunado
em diversos aspectos.
Sendo assim no aspecto cognitivo vale ressaltar que a capoeira é um instrumento
riquíssimo em conteúdos a oferecer, como desenvolvimento da lateralidade, noções espaciais,
e tudo que envolve uma compreensão. (OLIVEIRA et al., 2000).
Portanto o projeto está em desenvolvimento, está tendo uma boa aceitação em virtude
de alguns alunos da escola pertencerem ao grupo de capoeira da cidade e devido a
oportunidade de mostrar a Capoeira como conteúdo a ser ensinado como opção de renovação
nas aulas e a possibilidade de oportunizar o desenvolvimento dos alunos como seres que
pensam e possuem sentimentos, desejos, medos, angústias e objetivos a serem alcançados.
7.4 Projeto Pedagógico Multidisciplinar
41
Associar conteúdos históricos e trabalhar em parceria com outras disciplinas é uma
tarefa essencial para o desenvolvimento dessa modalidade dentro das instituições, a
abordagem multidisciplinar é muito importante para uma total e eficaz compreensão do tema
e a Capoeira se relaciona com um grande número de disciplinas, principalmente em Educação
Física.
O PCN de Educação Física, Brasil (1998, p.71 e 72) determina e valoriza a
participação dos alunos em jogos, lutas e esportes dentro do contexto escolar, sejam de forma
recreativa ou competitiva; este documento destaca que: “Num país em que pulsam a capoeira,
o samba, entre outras manifestações, é inconcebível o fato da educação física, ter
desconsiderado essas produções de cultura popular como objeto de ensino e aprendizagem”
Santos e Oliveira (2001), abordam a importância da inclusão da capoeira na Educação
Física Escolar, expondo os vários aspectos que justificam essa inclusão, como por exemplo:
a origem afro-brasileira e toda a sua expressão cultural; o seu surgimento através de uma
luta de classes; o combate a códigos culturais dominantes, entre outros.
Porém cada disciplina contribui com informações próprias do seu campo de
conhecimento. A disciplina de História, tem a competência dos estudos e análises de todo o
contexto social, político, econômico da vida dos povos africanos; a Geografia, pela
importância em se conhecer sobre as regiões de origem na África e os destinos a que foram
levados aqui no Brasil; na disciplina de Artes, pode-se conhecer melhor sobre a música,
indumentária cotidiana, artesanato e a Língua Portuguesa possibilita uma melhor
contextualização sobre o tema através da leitura de textos variados sobre o tema,
questionamentos orais e escritos, exibição de filmes para análises e discussões, leitura de
imagens representadas em livros, revistas, internet. Enfim, é possível uma infinidade de
atividades sendo necessário que exista uma integração entre as disciplinas.
Cabe mencionar ainda, que a capoeira pode ser adotada como mais um recurso
pedagógico para inibir práticas que resultem em preconceito ou atos discriminatórios,
considerados crimes segundo a legislação brasileira.
Portanto é necessário um trabalho de conscientização para que a sociedade entenda a
importância e os inúmeros benefícios dessa legitima expressão da cultura brasileira, rejeitando
qualquer forma de prejulgamentos e preconceitos aos praticantes e simpatizantes dessa arte
mundialmente reconhecida.
O intuito é proporcionar ao educando através de procedimentos metodológicos
diversificados, oportunidades de conhecer as transformações dessa manifestação cultural ao
longo dos anos, analisar as condições de utilização da capoeira como fator de integração
42
social, do desenvolvimento da consciência do cidadão e da melhoria na qualidade da
aprendizagem.
7.5 Discussão dos resultados obtidos
O projeto de inclusão da arte capoeira na escola surgiu da necessidade de oferecer
oportunidades estimuladoras e enriquecedoras aos alunos que precisam de um subsídio a mais
para sentir-se parte fundamental da comunidade escolar. Incluir a prática da capoeira na
escola foi uma oportunidade de dá importância a questões culturais de caráter popular, lutar
pela cidadania, no combate ao preconceito racial, na elevação da autoestima do adolescente,
auxiliar na construção de sua identidade social, buscar reaproximar a escola da família e da
cultura.
Esta proposta teve boa aceitação pela gestão e comunidade escolar e as atividades
propostas dariam enfoque especial na necessidade do educando de ampliar seus horizontes
além de perceber-se como um ser que precisa posicionar-se diante da vida. A metodologia de
ensino da capoeira no espaço escolar visava atender as necessidades dos educandos e da
comunidade, proporcionando uma aprendizagem significativa, envolvendo o maior numero de
alunos possível em atividades de seu interesse, enfocando cultura, recreação, informações,
socialização e comunicação entre outras.
Espera-se por meio dos resultados obtidos abordar a importância da capoeira no
contexto escolar, bem como incentivar, a valorização da cultura afro-brasileira e o
compromisso com processo histórico, buscando promover a igualdade entre as etnias, sem
opressão e discriminação, pela construção de uma sociedade mais justa, livre e democrática,
mostrar a importância da capoeira no desenvolvimento cognitivo, afetivo, social e corporal.
Por fim, é pertinente ressaltar a necessidade da valorização da cultura afro-brasileira
construir um novo sentido, uma nova visão acerca da capoeira, com expectativas educacionais
e formadoras do ser humano como cidadão e desenvolver, de forma crítica, uma metodologia
do ensino da capoeira nas escolas com valores e procedimentos pedagogicamente
estruturados, com o intuito de promoção humana e valorização da cultura afro-brasileira.
43
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo permitiu conhecer o significado real da capoeira, compreender que sua
origem é afro-brasileira, seu contexto histórico, as transformações sociais ocorridas e sua
importância como expressão cultural e patrimônio da humanidade, o processo de
marginalização que perdurou durante anos , sua contribuição para a construção da identidade
histórico-cultural brasileira, a relevância da capoeira no ambiente escolar como forma de
sensibilizar a comunidade escolar para a valorização e preservação da história da capoeira, a
capoeira como inclusão social e marcas da tradição oral da capoeira associada a escola como
forma de combater o racismo e o preconceito.
Por meio desta revisão bibliográfica percebeu-se a importância da prática da capoeira,
pois nela existem inúmeros benefícios, tais como: o desenvolvimento dos aspectos
psicomotores, afetivos e cognitivos além de valorizar nossa própria cultura nacional.
Por fim, é indispensável a conscientização por parte da sociedade que ainda possui
uma visão deturpada do que seja a capoeira, relacionando-as com violência e com
agressividade e considerá-la como cultura e como luta originalmente brasileira,
Pode-se dizer baseado no que foi exposto acima, que a Capoeira é de suma
importância para o desenvolvimento sócio educacional, é um instrumento que conduz o
indivíduo ao seu progresso físico, moral e intelectual e espiritual.
Portanto a experiência vivenciada na realização dessa pesquisa fortalece a ideia de que
as determinações da Lei 10.639/2003 são de vital importância para o combate ao racismo, ao
preconceito racial e ao debate sobre uma educação multicultural. Mais do que isso, demonstra
que tornar as diretrizes da Lei uma realidade pode configurar o caminho para a inclusão da
população negra nos processos históricos do presente/passado.
44
REFERÊNCIAS
ABIB, P. R. J. Capoeira angola: cultura popular o jogo dos saberes na roda . Campinas, 2004
172 p.
ACCURSO, A.S., et al. A capoeira no sapecca. In: Anais do 2º Congresso Brasileiro de
Extensão Universitária. Belo Horizonte: UFMG, 2004.
ARAÚJO, Paulo Coêlho de. Abordagens sócio antropológicas da luta/jogo da Capoeira.
Porto: Publismai, 1997.
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais.
Terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: educação física. Brasília: Ministério da
Educação/Secretaria de Educação Fundamental, 1998. 114p. (PCNs 5ª a 8ª Séries).
CALÇADOS, G. C. A prática da capoeira no ensino formal e no ensino informal.
Monografia (Licenciatura) Curso de Educação Física, Faculdade Governador Ozanam
Coelho, Ubá-MG, 2009.
CAMPOS, H. J. B. C. de. Capoeira na Universidade. Revista Baiana de Educação Física.
Salvador, v. 1, n. 3, 2000.
CAVALLEIRO, Eliane. Introdução. In Orientações e Ações para a Educação das
Relações Étnico-Raciais. Brasília: MEC/SECAD, 2006.
DARIDO, S. C.; RANGEL, A. I. C. (Org.). Educação Física na Escola: implicações para a
prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
FELÍCITAS, B. Danças do Brasil. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1981.
FERREIRA, I. A Capoeira no Rio de Janeiro: 1890-1950. Coleção Capoeira Viva, 2007.
FREITAS, J. L. Capoeira na Educação Física: como ensinar. Curitiba: Progressiva, 2007.
FREITAS, J. L. de. Capoeira infantil: a arte de brincar com o próprio corpo. Curitiba:
Gráfica Expoente, 1997.
FUGIKAWA, C. S. et al. Educação Física: Ensino Médio. Secretaria de Estado educação.
Curitiba, 2ª edição. SEED-PR, –248 p. 2006.
GILROY, P. O Atlântico Negro: modernidade e dupla consciência. São Paulo: Editora 34,
2001.
GONÇALVES JÚNIOR, L. Dialogando sobre a capoeira: possibilidades de intervenção a
LEMOS G. S; NARESSI, A. B. Educação e valores através da capoeira na escola. I
Seminário Nacional de Filosofia e Educação – Confluências. Centro de Educação – CE e do
Centro de Ciências Rurais – CCR, da UFSM, abril de 2004.
LUSSAC, R. M. P. (Mestre Teco). Desenvolvimento psicomotor fundamentado na prática
da capoeira e baseado na experiência e vivência de um mestre da capoeiragem graduado
em educação física. 2004. 450 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em
Psicomotricidade). Universidade Cândido Mendes, Rio de Janeiro, 2004.
45
MEC. História e cultura africana e afro-brasileira na educação infantil/Ministério da
Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. --
Brasília: MEC/SECADI, UFSCar, 2014.144 p.
MONTEIRO, T. P. Comunicação escrita sobre uma pesquisa oral: Educação e
comunicação. Revista FAEEBA: Educação e Contemporaneidade, Salvador. n. 3, p. 111–
123, jan./dez. 1994.
OLIVEIRA, A. L. de; SANTOS, H. S dos; ROCHA, M; A ; OLIVEIRA N. de. Da Educação
Física á uma educação física brasileira: A capoeira como conteúdo. São Paulo. p. 35
(Programa de pesquisa docente). Faculdade de Educação Física. Santo André, 2000.
OLIVEIRA, J. P. e; LEAL, L. A. P. Capoeira identidade e gênero: Ensaios sobre a história
social da capoeira no Brasil. Salvador: UFBA, 2009.
PACIEVITCH, T. Capoeira. Disponível em: <http://www.infoescola.com/artes-
marciais/capoeira>. Acesso em: 10 mar. 2016.
REGO, W. Capoeira Angola: ensaio sócio-etnográfico. Salvador: Itapuã, 1968. Coleção
Baiana.
Revista Praticando Capoeira, nº 42, Palavra do Mestre: Mestre Xaréu. São Paulo, SP:
Editora D+ Ltda, 2007. (27-29). Salvador: Edição do autor, 2006.
SANTOS, L. S. Educação: Educação Física– capoeira. Maringá: UEM, 1990.
SILVA, P. B. G.; SILVÉRIO, V. R. (orgs). De Preto a Afrodescendente - trajetos de
pesquisa sobre relações étnico-raciais no Brasil. São Carlos: Edufscar, 2003.
SODRÉ, M. Santugri. Rio de Janeiro: José Olympio,1988.
TAVARES, L. C. O corpo que ginga, joga e luta: a corporeidade na capoeira.
VIEIRA, L. R. O jogo da capoeira: cultura popular no Brasil. Rio de Janeiro: Sprint, 1995.
46
ANEXOS
Figuras 1, 2 e 3: Evento em Praça Pública no Dia da Consciência Negra.
Fonte: Elaborada pela autora
47
Figuras 4, 5 e 6: Apresentação do Grupo de Capoeira Filhos de Jó na E.E. Dr. José Gonçalves
de Medeiros.
Fonte: Elaborada pela autora
48
Figura 7: Atividades realizadas na E.E. Dr. José Gonçalves de Medeiros referentes ao dia da
Consciência Negra
Fonte: Elaborada pela autora
Figuras 8, 9, 10, 11 e 12: Fotografias a serem utilizadas num Painel Fotográfico na Semana da
Consciência Negra na Escola.
49
50
Fonte: Elaborada pela autora
Figuras 13, 14, 15 e 16: Atividades práticas desenvolvidas no Grupo de Capoeira Filhos de Jó
no Município de Acari.
51
Fonte: Elaborada pela autora
52
Figuras 17 e 18: Atividades desenvolvidas na E. E. Dr. José Gonçalves de Medeiros referentes
ao projeto de Inserção da Capoeira no Ambiente Escolar.
Fonte: Elaborada pela autora
Figuras 17 e 18: Participação no evento “I Acari tem Capoeira”.
53
Fonte: Elaborada pela autora
Figuras 19 e 20: Capacitação com Mestres de Capoeira para os membros do Grupo Filhos de
Jó
54
Fonte: Elaborada pela autora
Figuras 21, 22, 23 e 24: Encerramento em Praça Pública do evento “I Acari tem Capoeira”.
top related