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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ - UFPA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E CIENTÍFICA - IEMCI
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS - MESTRADO
DARLENE TEIXEIRA FERREIRA
TEMAS SOCIOAMBIENTAIS
Contribuições para o Ensino de Ciências Naturais
BELÉM
2011
DARLENE TEIXEIRA FERREIRA
TEMAS SOCIOAMBIENTAIS
Contribuições para o Ensino de Ciências Naturais
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências e Matemáticas do Instituto de Educação Matemática e Científica da Universidade Federal do Pará, para obtenção do título de Mestre em Educação em Ciências e Matemáticas. Área de concentração: Educação em Ciências. Orientadora: Profª. Drª. Nadia Magalhães da Silva Freitas.
BELÉM
2011
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) –
Biblioteca do IEMCI, UFPA
Ferreira, Darlene Teixeira. Temas socioambientais para o ensino de ciências naturais / Darlene Teixeira Ferreira, orientadora Profa. Dra. Nadia Magalhães da Silva Freitas. – 2011.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Pará, Instituto de Educação Matemática e Científica, Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemáticas, Belém, 2011.
1. Ciências – estudo e ensino (ensino médio). 2. Educação ambiental. 3. Desenvolvimento sustentável. I. Freitas, Nadia Magalhães da Silva, orient. II. Título.
DARLENE TEIXEIRA FERREIRA
TEMAS SOCIOAMBIENTAIS Contribuições para o Ensino de Ciências Naturais
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências e Matemáticas do Instituto de Educação Matemática e Científica da Universidade Federal do Pará, para obtenção do título de Mestre em Educação em Ciências e Matemáticas. Área de concentração: Educação em Ciências. Orientadora: Profª. Drª. Nadia Magalhães da Silva Freitas.
Data de Aprovação: 20 de Abril de 2011. Banca Examinadora: Profª. Drª. Nadia Magalhães da Silva Freitas – ORIENTADORA Universidade Federal do Pará – Instituto de Educação Matemática e Científica Profª. Drª. Isabel Cristina Rodrigues de Lucena – Membro Interno Universidade Federal do Pará – Instituto de Educação Matemática e Científica Profª Drª. Maria de Jesus da Conceição Ferreira Fonseca – Membro Externo Universidade do Estado do Pará – Centro de Ciências Sociais e Educação Profª. Dr. Sérgio Cardoso de Moraes – Membro Externo Universidade Federal do Pará – Núcleo de Altos Estudos Amazônicos
Não entendo Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.
Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras.
Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom.
Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender.
É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice.
Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.
Clarice Lispector
À minha mãe Dulcirene Teixeira e às minhas irmãs Deysiane Teixeira e Dilmara Teixeira
AGRADECIMENTOS
A DEUS pela vida, pela família, pelos amigos, pelos amores, pelas dores que me fortalecem, me fazem crescer e aprender que é sempre possível continuar seguindo;
À Professora Doutora Nadia Magalhães da Silva Freitas, da Universidade Federal do Pará – UFPA, pelo carinho, compreensão, paciência e ensinamentos;
À professora Marilena Loureiro que mesmo sem saber me incentivou chegar até aqui;
À minha tia Maria Rosalina que me incentivou e indicou os primeiros caminhos da Academia;
À minha mãe Dulcirene Teixeira e a minha irmã Deysiane Ferreira pelo apoio e carinho;
Aos professores e professoras de Ciências Naturais do Ensino Médio da Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará, pela colaboração na realização da pesquisa;
Aos coordenadores do Ensino Médio da Escola de Aplicação, professor Carlos Chagas (2009) e professor Quaresma (2010) sempre receptivos e prestativos;
À Secretaria Executiva de Educação pela concessão da licença aprimoramento;
Aos meus colegas professores de Ulianópolis, em especial a Aparecida Cassoti, Solange Cristina, Conceição Rosa e Elizabeth Marques, por estarem ao meu lado no começo da minha caminhada docente;
Aos meus colegas professores de Ananindeua: Pery, Luciene, Adcival, Wal, Raquel (in memorian), Sandra, Elisangela por me receberem com carinho e dividirem comigo o pão, a coca-cola e as experiência docentes;
Aos meus colegas professores de Ipixuna do Pará: Leiliane, Raimunda Bonfim, João Allan, Júnior Lemos, Fátima, Oséias; pelo carinho durante a minha estada no município;
À Alice Rosa companheira das tardes em Novo Horizonte (Ipixuna do Pará), pelos conselhos, paciência e amizade; e por ter compartilhado comigo a alegria de ser aprovada no mestrado;
Aos meus colegas da Escola Estadual Pedro Amazonas Pedroso: Márcia, Giovane Passos e Fábio Nunes; pelo carinho, amizade e pela ajuda no primeiro ano do mestrado;
À todos os meus alunos e alunas que nas trocas diárias da sala de aula muito me ensinaram;
Ao João Guilherme pelo amor, carinho, compreensão, paciência, companheirismo e amizade que facilitam minha vida em muitos momentos nos últimos 4 anos;
À Gisele pelo carinho e pelas transcrições de algumas entrevistas;
À Ana Cristina Cristo, à Elinete Raposo, ao Jesus Brabo, ao Marcos Henrique que colaboraram nas elaborações e nos testes das questões;
Aos professores Isabel Lucena, Sérgio Moraes e André Santana, pelas valiosas contribuições na qualificação; e
Aos amigos mais recentes e não menos importantes e presentes: Gerlany Pereira, Manuela Teixeira, Emanuel Nogueira, Neide Ramos e Patrícia Segtowich pela companhia, carinho e amizade.
SUMÁRIO
RESUMO ............................................................................................................. 8 ABSTRACT ........................................................................................................ 9 1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 10 2 O CONTEXTO DO SURGIMENTO DOS TEMAS SOCIOAMBIENTAIS CONTEMPORÂNEOS
2.1 Os caminhos do desenvolvimento: do crescimento econômico ao desenvolvimento sustentável...............................................................................
19
2.2. A emergência do Desenvolvimento Sustentável........................................... 23 2.3 Inserção de temas socioambientais na sala de aula do Ensino Médio.......... 27 3 O ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA UM DESENVOLVIMENTO PAUTADO PELA SUSTENTABILIDADE
3.1 A Educação para o Desenvolvimento Sustentável....................................... 32 3.2 O ensino de Ciências e as múltiplas dimensões da sustentabilidade............ 37 4 METODOLOGIA 4.1 Tipo de pesquisa............................................................................................ 42 4.2 Campo de observação................................................................................... 44 4.3 Sujeitos da pesquisa...................................................................................... 44 4.4 Instrumentos de coleta de dados................................................................... 45 4.5 As dificuldades para a realização da pesquisa.............................................. 47 4.6 Estrutura das questões e dinâmica das entrevistas....................................... 48 4.7 Análise e interpretação dos dados................................................................. 49 5 RESULTADO E DISCUSSÕES........................................................................ 51 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 107 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 113 Apêndice A – 1ª Questão Apêndice B – 2ª Questão Apêndice C – 3ª Questão Apêndice D – 4ª Questão Apêndice E – Termo de Consentimento Livre Esclarecido
8
RESUMO
A introdução de temas socioambientais contemporâneos em sala de aula, em especial nas aulas de Ciências Naturais, no ensino médio, pode significar o surgimento de uma estratégia eficaz para a formação de cidadãos críticos e atuantes na sociedade. Esses temas, aliados aos conteúdos das referidas disciplinas, favorecem uma compreensão mais complexa do estado do nosso planeta, e possibilitam discussões relacionadas à sustentabilidade. Na perspectiva de contribuir para a qualificação do ensino de ciências, realizamos a presente pesquisa com o objetivo de investigar os conhecimentos dos professores de Ciências Naturais sobre as questões socioambientais contemporâneas, buscando destacar sua pertinência, suas inter-relações com o ensino de ciências naturais e, ainda, ressaltando as contribuições dos temas socioambientais contemporâneos para a efetivação do processo de ensino e de aprendizagem, notadamente no campo da educação para a sustentabilidade, entendida como portadora de múltiplas dimensões. A pesquisa se enquadrou na modalidade qualitativa. Adotamos como estratégia metodológica o estudo de caso único (YIN, 2005), tendo como unidade-caso a Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará e como sujeitos de pesquisa, professores do ensino médio. Adotamos a entrevista projetiva e a observação assistemática como instrumentos de coleta de dados. Para interpretação dos dados, utilizamos a análise textual discursiva (MORAES E GALIAZZI, 2007). Os resultados da pesquisa apontaram para discussões ainda elementares dos temas socioambientais em sala de aula. Entretanto, alguns professores já apresentam abordagens que dão indícios que as discussões relativas à sustentabilidade já estão sendo introduzidas em sala de aula. Para a construção dos referencias teóricos utilizamos vários autores, entre eles: Leff (2002), Veiga (2005), Sachs (2007), Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2009), Figueiredo (2004), Gadotti (2008).
Palavras-chave: Ensino de ciências. Temas socioambientais. Educação para a sustentabilidade.
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ABSTRACT
The introduction of social and environmental themes in classroom nowadays, especially in natural science secundary education classes, may mean the arising of a efficient strategy to form critic and acting citizens in society. These themes, along with contents of physics, chemestry and biology promote a more complex comprehension of our planet’s state and create the possibility of discussions related to sustainability.To contribute for the qualification of science teaching, we made this research, which aim is an investigation on natural science teachers’ knowledge about current social and environmental questions and its relations to teaching and learning process, mainly in education for sustainability field, that has multiple dimensions.The research is framed in the qualitative mode. We adopted, as a methodological strategy, a single case study (YIN, 2005) and, as unit case, the Federal University of Pará Aplication School. The researche’s subjects were secondary education school teachers. We adopted the projective interview and assystematic observation as instruments to collect data. To interpret the information we used the discursive textual analysis (MORAES E GALIAZZI, 2007). The research results also pointed to elementary discussions of social and environmental issues in classroom. However, some teachers have already introduced superficial discussions on sustainability during their daily work . The main theoretical references were: Leff (2002), Veiga (2005), Sachs (2007), Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2009), Figueiredo (2004), Gadotti (2008).
Key words: Science teaching. Social and environmental themes. Education for sustainability.
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1 INTRODUÇÃO
Todos os organismos modificam seus ambientes e os seres humanos não
representam exceção. Ademais, ao longo da evolução da espécie Homo sapiens,
evidencia-se ação modificadora desta sobre o meio ambiente. Mas, é a partir do
século XIX, principalmente com a revolução industrial, que as intervenções humanas
na natureza têm assumido contornos de realidade preocupante para toda a
sociedade, dada a aceleração das transformações que elas provocam.
Essa relação entre seres humanos e natureza, ao longo dos tempos, tem se
mostrado impactante para a natureza (SANTOS, 2008), pois segundo Leis (2001),
as ações antrópicas estão acelerando os processos de instabilidades dos sistemas
naturais, ocasionando, conforme denominação do autor, uma desordem global da
biosfera. Diante desse quadro temos que repensar o modelo de relacionamento
entre os seres humanos e os diferentes ambientes naturais.
Em realidade, até há bem pouco tempo, as atividades humanas e seus
efeitos estavam nitidamente restritas às nações, aos setores (energia, agricultura,
comércio etc.) e as amplas áreas de interesse (ambiental, econômica, social etc.).
Inicialmente foram vistas em fragmentos, porém, hoje, o que se observa é que esses
“compartimentos” começaram a se dissolver. Temos em vigência, portanto, várias
crises globais que preocupam a todos. Não são crises isoladas, ou seja, uma crise
ambiental, uma crise do desenvolvimento, uma crise energética, por exemplo, mas
crises que se interligam formando uma só crise. Ao mesmo tempo, os efeitos
negativos dos padrões de acumulação capitalista sobre a qualidade de vida das
populações do mundo e, em particular, as situações de pobreza registradas nos
países em desenvolvimento, não conseguem mais ser ignorados (CMMAD, 1991).
Segundo Leff (2002), estamos vivenciando uma crise civilizatória1, cujo
questionamento está ligado à racionalidade econômica e tecnológica dominantes.
Na mesma linha, podemos referir que essa crise pode ser explicada por
diferentes perspectivas, ou seja, pode ser entendida tanto como consequência da
1 A sociedade atual, caracterizada pelo modo de vida capitalista, e orientada para o consumo – vem tratando os recursos naturais como fonte de matéria-prima para seu consumo e entendendo o ambiente natural como depósito para seus resíduos (BIGLIARD; CRUZ, 2007, p. 128). Deste modo, a crise vivenciada na atualidade é entendida como inerente ao modelo capitalista.
11
pressão exercida pelo crescimento da população sobre os limitados recursos
naturais, quanto ser interpretada como efeito da acumulação de capital e da
maximização do lucro (RATTNER, 2003). Certamente, esta última perspectiva induz
padrões tecnológicos de uso e de ritmo de exploração da natureza, provocando
assim sérios desequilíbrios ambientais (LEFF, 2002).
Dado esse cenário, surgiu a necessidade de se repensar o modelo de
desenvolvimento pautado na exploração exarcebada dos recursos naturais. Na
busca de alternativas para reverter ou minimizar os efeitos da crise socioambiental e
propagar estratégias que integrassem desenvolvimento econômico e proteção
ambiental, em 1983, a Organizações das Nações Unidas (ONU), instituiu a
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), formada por
representantes de governos, Organizações Não-Governamentais (ONGs) e
comunidade científica de vários países (SCOTTO; CARVALHO; GUIMARÃES, 2009;
SACHS, 2007; AFONSO, 2006).
Cabe destacar que essa Comissão realizou, durante quatro anos, estudos
que buscavam relacionar os problemas ambientais e o modelo de desenvolvimento
pautado na exploração crescente dos recursos naturais e, ainda, objetivava propor
um novo caminho. Em 1987, a Comissão concluiu seus trabalhos e divulgou o
documento intitulado Our common future (“Nosso Futuro Comum”). Esse trabalho foi
presidido pela então primeira ministra da Noruega, Gro Harlen Brundtland, razão
pela qual o documento ficou conhecido como Relatório de Brundtland (SCOTTO;
CARVALHO; GUIMARÃES, 2009). O documento apresenta a definição de
desenvolvimento sustentável, como sendo aquele capaz de “[...] satisfazer as
necessidades das gerações presentes, levando em consideração as necessidades
das gerações futuras” (CMMAD, 1991, p. 46).
Passados mais de 20 anos, o conceito2 parece ainda demonstrar vitalidade.
Isso porque não há quem deixe de mencioná-lo ao tratar das questões do
desenvolvimento. Em realidade, mais do que uma ideia-força, o desenvolvimento
sustentável representa um imperativo ético, ou seja, “[...] implica reconhecermos a
interdependência entre as necessidades humanas e o ambiente natural”, pois não
2 Embora o conceito de “desenvolvimento sustentável” seja frequentemente empregado, principalmente no campo discursivo atual, isto não significa dizer que há consenso em torno do mesmo.
12
“[...] é possível proteger o meio ambiente e deixar metade da raça humana na
pobreza, assim como não é possível assegurar o desenvolvimento em longo prazo
de um planeta cujos recursos foram esgotados” (CUÉLLAR, 2010, p.19). Entretanto,
há quem acredite que a transição para o desenvolvimento sustentável é muito
dispendiosa, como se não fosse mais oneroso corrigir do que prevenir ou, ainda,
como se tudo pudesse ser consertado (VOLNEY, 2010).
Avaliamos, portanto, que os modos de vida das gerações atuais não devem
comprometer os padrões de vida, muito menos o meio ambiente das gerações
futuras. Trata-se da necessidade premente de incorporar esse requisito –
desenvolver de forma sustentável. Principalmente porque, em um mundo
crescentemente globalizado, o desenvolvimento deve ocorrer de forma responsável
tanto com as gerações presentes como com as futuras. Como bem observa Veiga
(2005), a ideia de desenvolvimento sustentável implica uma visão de futuro, sobre a
qual a humanidade necessita fundamentar seus objetivos.
Apesar da notoriedade e do alcance do conceito de Desenvolvimento
Sustentável, foi somente em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), conhecida como a Conferência Rio
92, realizada no Rio de Janeiro, que as discussões acerca de estratégias capazes
de interromper ou reverter os efeitos da degradação ambiental foram iniciadas
(AFONSO, 2006). Ainda nesse evento, 173 chefes de estado e de governo
aprovaram o documento intitulado Agenda 21 Global, que preconiza mudança nos
padrões de desenvolvimento para as próximas décadas, ou seja, a perspectiva era
colocar o mundo na rota do desenvolvimento sustentável, um compromisso com as
futuras gerações. Ademais, esse documento representa um compromisso a favor do
equilíbrio ambiental e da justiça social (GADOTTI, 2002).
Os países signatários da Agenda 21 Global, inclusive o Brasil, assumiram o
desafio de incluir nas políticas públicas de seus países, as noções de
sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável (NOVAES; RIBAS; NOVAES,
2000). Com a indicação dos possíveis caminhos rumo ao desenvolvimento
sustentável pela Agenda 21, constatamos que
[...] a resposta aos nossos problemas de sustentabilidade está na diferenciação entre crescimento e desenvolvimento, em que crescimento é a mera acumulação de riqueza e desenvolvimento é a melhoria de qualidade de vida (TOLBA, 2010, p. 43).
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Na mesma linha, o Relatório Nosso Futuro Comum alerta que tratar apenas das
questões ambientais seria ocultar os reais problemas do meio ambiente. Isso porque
não existe nenhum campo que esteja dissociado das ações, das aspirações e das
necessidades humanas (COMISSÃO, 1991), daí a necessidade de considerar todas
as dimensões envolvidas em questões relacionadas ao meio ambiente.
No âmbito educacional, a Agenda 21, em seu capítulo 36, destaca a
educação como principal instrumento para fomentar o Desenvolvimento Sustentável.
Segundo o documento o
[...] ensino tem fundamental importância na promoção do desenvolvimento sustentável e para aumentar a capacidade do povo para abordar questões de meio ambiente e desenvolvimento [...]. O ensino é também fundamental para conferir consciência ambiental e ética, valores e atitudes, técnicas e comportamentos em consonância com o desenvolvimento sustentável e que favoreçam a participação pública efetiva nas tomadas de decisões (CONFERÊNCIA, 1997, p. 533-534).
Para reforçar ainda mais o papel da educação na busca da sustentabilidade
planetária, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura
(UNESCO) lançou a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável
(DEDS), instituída em dezembro de 2002 pela Assembléia Geral das Nações
Unidas, compreendendo o período de 2005-2014. Para Gadotti (2008), a DEDS
representa uma oportunidade de mudança nos currículos dos sistemas formais de
ensino e se constitui ainda em um meio de realização do que foi proposto no
capítulo 36 da Agenda 21 Global.
Um caminho factível para efetivar os objetivos da década é aproximar o
ambiente natural do currículo escolar, buscando abordá-lo em todas as suas
dimensões, ou seja, dando um enfoque interdisciplinar, uma vez que
A problemática ambiental na qual confluem processos naturais e sociais de diferentes ordens de materialidade que não pode ser compreendida em sua complexidade nem resolvida com eficácia sem o concurso e integração de campos muito diversos do saber (LEFF, 2002, p. 60).
É a integração das diferentes áreas do conhecimento que permitirá a compreensão
da crise socioambiental em todos os seus aspectos, uma vez que existem múltiplas
dimensões que devem ser abordadas na tentativa de minimizar os efeitos dessa
crise que vem afetando variados setores da sociedade. O caráter interdisciplinar
também é destacado no capítulo 36 da Agenda 21, isto é,
Para ser eficaz, o ensino sobre meio ambiente e desenvolvimento deve abordar a dinâmica do desenvolvimento do meio físico/biológico e do socio-econômico e do desenvolvimento humano [...], deve integra-se em todas as
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disciplinas e empregar métodos formais e informais e meios efetivos de comunicação (CONFERÊNCIA, 1997, p. 534).
A pluralidade metodológica, aliada aos conhecimentos produzidos a partir da
integração das diferentes disciplinas, favorecerá o entendimento da dinâmica
socioambiental vigente. Além do mais,
O intercâmbio de idéias, que gera um processo interdisciplinar, faz com que surjam perguntas a partir de uma especialidade para outras; esses questionamentos não só apresentam inquietações sobre o potencial aplicativo dos conhecimentos dessas disciplinas, mas também podem levar a reformular problemas teóricos e práticos que não surgem do desenvolvimento interno dos paradigmas das ciências e do saber disciplinar atual, induzindo assim um desenvolvimento do conhecimento ambiental (LEFF, 2002, p. 96).
Portanto, são as inquietações produzidas a partir do diálogo entre as distintas áreas
do conhecimento que contribuem para os avanços do conhecimento sobre o
funcionamento do meio ambiente. Esse diálogo pode ainda favorecer a
disseminação do ambiente como ponto de partida para as discussões nas várias
disciplinas, possibilitando, assim, um maior desenvolvimento dos conhecimentos
relativos às questões socioambientais. Certamente, com a intenção/ação de pautar o
ensino pela perspectiva da educação para a sustentabilidade.
Para Souza (2006), ambientalizar o currículo requer bem mais do que ações
pontuais realizadas em datas específicas. Significa perceber a escola como espaço
privilegiado para a realização de discussões acerca da crise em que nos
encontramos, trazendo para sala de aula questões como o consumismo, a exclusão
social e a degradação ambiental, entre outras. Tais aspectos, de certo, estão
relacionados ao modelo insustentável de desenvolvimento vigente na sociedade
contemporânea.
Ademais, o currículo escolar enquanto instrumento de compreensão do
mundo “[...] deve deixar de ser um ajuntamento de informações desconectadas e se
transformar em um projeto curricular coletivo, mediador de uma determinada
intencionalidade educativa e social” (SOUZA, 2006, p. 111). Assim, contribuindo de
maneira significativa para a construção do caminho rumo à sustentabilidade, pois
com a emergência da crise socioambiental ou mais precisamente, da crise
civilizatória, é impossível pensar em educação escolar desconectada da realidade,
na qual discussões relativas ao ambiente não encontram espaço. É fundamental
também que o currículo seja construído na coletividade, buscando atender as
expectativas dos educandos.
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Neste ponto, cabe destacar que partilhamos da concepção de Brandão (2008,
p. 136) sobre a sustentabilidade, qual seja:
Opõem-se a tudo o que sugere desequilíbrio, competição, conflito, ganância, individualismo, domínio, destruição, expropriação e conquistas materiais indevidas e desequilibradas, em termos de mudança e transformação da sociedade ou do ambiente. Assim, em seu sentido mais generoso e amplo, a sustentabilidade significa uma nova maneira igualitária, livre, justa, inclusiva e solidária de as pessoas se unirem para construírem os seus mundos de vida social, ao mesmo tempo em que lidam, manejam ou transformam sustentavelmente os ambientes naturais onde vivem e de que dependem para viver e conviver.
Entendemos, portanto, que abordar questões relacionadas à sustentabilidade é
fundamental no processo educativo, independentemente do nível de ensino e, ainda,
dos diferentes espaços de educação (formal/não-formal). Concordamos com
Meadows (2010, p. 25), ao afirmar o seguinte:
[...] o que chamamos de problemas (erosão do solo, desmatamento, mudança climática, perda de solos agricultáveis e contaminação de águas subterrâneas) na verdade não é o problema, mas um sintoma [...] nosso problema é o crescimento físico em um mundo finito [...] desde que o planeta começou a crescer industrialmente e populacionalmente, temos esses sintomas cada vez mais intensos [...].
Apesar do reconhecimento que não possuímos problemas ambientais e sim
sintomas, tornou-se usual nos referirmos aos sinais de desequilíbrios dos
ecossistemas como problemas, que a cada dia ganham mais destaque. Estes sinais
não podem ser ignorados nas discussões relacionadas à melhoria da qualidade de
vida e das questões referentes à sustentabilidade. Sendo assim, não podemos
conceber uma educação que não considere o atual contexto planetário. Logo, é
fundamental que se inclua temas relacionados aos “sintomas do meio ambiente”,
comumente chamados de temas socioambientais, no processo educativo.
Assim, os temas socioambientais, ao serem incluídos nas discussões em
sala de aula, possibilitam a contextualização do ensino, o que auxilia na
compreensão e, ainda, incorpora sentido ao que é ensinado, favorecendo ainda uma
percepção mais abrangente das consequências das ações antrópicas sobre a
biosfera. Portanto, o espaço escolar se constitui poderoso meio de difusão dos
princípios do desenvolvimento sustentável, na medida em que os professores
podem aliar o ensino de conteúdos das suas disciplinas às discussões referentes às
questões sociais, econômicas, ambientais, políticas, éticas, entre outras,
colaborando, assim, com a formação de cidadãos críticos e conscientes da
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gravidade e do caráter dos problemas socioambientais (global/local), bem como com
a preparação dos mesmos para participarem na tomada de decisões adequadas.
No tocante ao ensino de Ciências Naturais – Química, Física e Biologia –
tem-se ainda uma percepção maior da importância do cotidiano na sala de aula,
uma vez que os processo naturais são explicados por essas ciências. Portanto, a
aliança entre os conteúdos e o contexto socioambiental favoreceria o processo de
ensino e de aprendizagem, posto que o conhecimento científico apresenta papel
fundamental na resolução dos problemas socioambientais. Ademais, a educação em
ciências “[...] é um requisito fundamental da democracia e também do
desenvolvimento sustentável” (UNESCO, 2003, p. 34).
Hoje, mais do que nunca, a ciência e suas aplicações são indispensáveis
para o desenvolvimento. Todos os níveis do governo e do setor privado devem dar
maior apoio à construção de uma capacidade científica e tecnológica adequada e
uniformemente distribuída. Certamente, a educação apropriada e programas de
pesquisa, no conjunto, constituem-se base indispensável para um desenvolvimento
saudável em termos econômicos, sociais, culturais e ambientais (UNESCO, 2003).
Diante do exposto, sentimos a necessidade de realizar uma pesquisa que
nos oportunizasse contribuir para o conhecimento e o desvelamento dos desafios
que envolvem a Educação para o Desenvolvimento Sustentável, notadamente no
campo da compreensão, dos discursos mediadores e dos aspectos constitutivos da
sustentabilidade, precisamente envolvendo os temas socioambientais
contemporâneos. Ademais, interessava-nos saber como esses temas são
abordados no âmbito das Ciências Naturais.
A justificativa para escolha do ensino médio como foco para a realização da
pesquisa teve como referência a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LBD), Lei 9394/96 (BRASIL, 2003), que apresenta entre as finalidades do ensino
médio a necessidade do “[...] aprimoramento do educando como pessoa humana,
incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do
pensamento crítico” (BRASIL, 2003, p. 18). Para Maldaner, Zanon e Auth (2006) a
compreensão do ensino médio como parte da formação básica é recente, e, durante
sua trajetória sempre esteve ligado a um caráter propedêutico, sendo entendido,
muitas vezes, apenas como uma etapa preparatória para a universidade; essa visão
limitada resultou na elaboração de programas de ensino baseados na lógica
disciplinar, na qual os conteúdos serviam mais para excluir os adolescentes do
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sistema educacional do que para incluí-los no contexto sociocultural, finalidade
última da educação escolar.
Além do mais, ainda de acordo Maldaner, Zanon e Auth (2006), é no ensino
médio que estão os maiores problemas da educação nas Ciências da Natureza e
também em outras, como nas Ciências Sociais e Humanas, por várias razões, entre
elas: a) não se compreende o papel das disciplinas das diversas áreas do
conhecimento humano, quase sempre entendidas como uma sequência de
conteúdos desconexos e sem relação com o contexto em que vivem os
adolescentes; e b) a faixa etária normal dos estudantes dessa etapa da educação
básica é 14-16 anos, período que não é visto como especial na
formação/constituição do ser humano contemporâneo.
Precisamos, então, passar a entender o ensino médio como uma etapa que
precisa, para além de apresentar conceitos e definições, possuir a responsabilidade
de preparar educandos para saber lidar com as constantes mudanças no contexto
em que estão inseridos. Inclusive, capazes de pensar nas consequências dessas
mudanças e na melhor forma de lidar com elas. Sendo assim, as questões
norteadoras da pesquisa ora apresentada, pautaram-se nas seguintes indagações:
(1) como se apresentam os conhecimentos dos professores relativos aos temas
socioambientais contemporâneos, no que tange a sua pertinência e suas inter-relações
com o ensino de ciências? E, (2) como os professores estão abordando essas
temáticas em sala de aula? É fato que convivemos cotidianamente com notícias
divulgadas pelos meios de comunicação sobre queimadas, perda da biodiversidade,
poluição em larga escala, pobreza, fome, violência, entre outros temas tão presentes
na rotina dos cidadãos do século XXI. E, que por isso mesmo, não podem ser
deixados à margem do processo educativo.
Nossas hipóteses são que os professores de Ciências Naturais, atuantes no
ensino médio, possuem conhecimentos acerca de temas socioambientais, porém
esses conhecimentos não são suficientes para uma abordagem que contemple as
múltiplas dimensões relacionadas à questão da sustentabilidade. E, em função
dessa condição, não estabelecessem relações profícuas entre os conteúdos das
suas disciplinas e os referidos temas.
A pesquisa ora relatada teve por objetivos: a) investigar os conhecimentos
dos professores de Ciências Naturais sobre as questões socioambientais
contemporâneas; b) verificar a pertinência desses conhecimentos e suas inter-
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relações com o ensino de ciências naturais e c) ressaltar as contribuições dos temas
socioambientais contemporâneos para a efetivação do processo de ensino e de
aprendizagem voltados à educação para a sustentabilidade, em seus múltiplos
aspectos.
O texto deste trabalho está organizado em cinco capítulos, além desta
Introdução. No Capítulo 2, intitulado “O contexto do surgimento dos temas
socioambientais contemporâneos”, destacamos os caminhos do desenvolvimento,
ou seja, do crescimento econômico ao desenvolvimento sustentável. Enfatizamos as
diferentes formas de entender o desenvolvimento, destacando que este foi, durante
muito tempo, compreendido como sinônimo de crescimento econômico.
Ressaltamos o surgimento de um novo modelo de desenvolvimento: o sustentável,
pautado pela ideia de exploração racional dos recursos naturais. Além do mais,
apontamos a importância da inclusão de temas socioambientais contemporâneos na
educação escolar, em especial no ensino de ciências naturais. No Capítulo 3,
intitulado “O ensino de ciências naturais e suas contribuições para um
desenvolvimento pautado pela sustentabilidade” enfatizamos a importância da
educação para efetivação de ações sustentáveis, notadamente o papel do ensino
das ciências naturais na educação para o desenvolvimento sustentável. No Capítulo
4, abordamos os aspectos metodológicos desta pesquisa, com o objetivo de
fundamentar as escolhas realizadas. As análises e as discussões são apresentadas
no Capítulo 5 por meio de quatro metatextos, elaborados a partir das interlocuções
empíricas e teóricas, a saber: (1) A floresta, seus povos e contextos
socioambientais: aportes para o ensino de ciências; (2) Biodiversidade no contexto
do ensino de ciências naturais: múltiplos debates pertinentes; (3) O ensino de
ciências e as imbricações com o tema bem-estar humano e (4) Ensino de ciências e
cidadania: perspectivas para o consumo sustentável. E por fim, no Capítulo 6,
tecemos as considerações finais, ressaltando a pertinência do trabalho e os
elementos mais significativos das discussões empreendidas.
19
2 O CONTEXTO DO SURGIMENTO DOS TEMAS SOCIOAMBIENTAIS CONTEMPORÂNEOS
2.1 OS CAMINHOS DO DESENVOLVIMENTO: DO CRESCIMENTO ECONÔMICO AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Nas últimas décadas do século XX, como resultado de um modelo de
produção pautado no uso irracional dos recursos naturais, surgiram os primeiros
sinais da degradação ambiental como sintoma de uma crise de civilização, marcada
pelo modelo de modernidade regido pelo predomínio do desenvolvimento da razão
tecnológica sobre a organização da natureza (LEFF, 2001). Essa crise, também
denominada de crise ambiental “[...] é antes de tudo uma crise antrópica, vale dizer,
de uma crise derivada de atividades humana” (SOFFIATI, 2005, p. 44). No entanto,
é válido ressalta que
Ocorreram crises planetárias não-antrópicas na história da terra e crises antrópicas não-planetárias na história da humanidade; entrementes, é a primeira vez, [...] que se constituiu uma crise ambiental oriunda das atividades exercidas por uma só espécie – no caso, a nossa – que assume um caráter global (SOFFIATI, 2005, p. 47).
O cenário da crise atual foi montado a partir da crença que a industrialização seria
uma panaceia, pois era entendida como sinônimo de desenvolvimento e, com isso, a
modernização da sociedade apareceria como consequência. A modernização pode
ser entendida, de acordo com Guimarães (2007), como um processo de
transposição de estruturas tradicionais, por meio da criação de novas formas de
produção e que possui como característica a urbanização, a industrialização, o
desenvolvimento tecnológico de sistemas de comunicação e transporte.
Segundo Penteado (2007), a ideia de que a industrialização gerava
desenvolvimento teve início com a revolução industrial, pois a partir daí uma nova
forma de produção foi apresentada e começou a se propagar pelos países ricos da
América do Norte e da Europa. Esses países conheceram uma produtividade sem
precedentes, e passaram a ser conhecidos como “países desenvolvidos”. De acordo
ainda com Penteado (2007, p. 19),
Após o término da Segunda Guerra Mundial, os países industrializados expandiram sua forma de organização empresarial rumo aos países pobres do Planeta, apresentando-se como exemplo de organização a ser seguida para vencer os problemas da pobreza, do atraso, do subdesenvolvimento.
20
Assim, os países que possuíam economia de base agrária passaram a buscar na
industrialização a solução para todos os seus problemas. Porém, esses países, por
possuírem condições históricas diferentes daquelas apresentadas pelos países
desenvolvidos, começaram a participar do processo produtivo de outras formas,
quais sejam: fornecendo matéria-prima e mão-de-obra, uma vez que não dispunham
de tecnologia e nem de know-how (PENTEADO, 2007). Consequentemente, os
resultados do processo de industrialização foram diferentes daqueles alcançados a
princípio pelos países ricos.
Com o tempo, as experiências das populações de regiões industrializadas
começaram a apontar que nem tudo produzido a partir da industrialização era
benefício, uma vez que a tão esperada melhoria na qualidade de vida foi substituída
por inúmeros inconvenientes, tais como poluições insalubres e até mesmo
desastrosas, como as ocorridas em Minamata, Seveso, Three Mile Island e
Tchernobyl3 (SACHS, 2007). Constatou-se que no modelo de desenvolvimento
pautado na industrialização prevalecem os interesses privados (econômicos) frente
aos bens coletivos (meio ambiente), o que ocasiona fortes impactos ambientais
(GUIMARÃES, 2007).
A atuação desastrosa da espécie humana pautava-se na crença de “[...] que
o crescimento econômico não tinha limites e que o desenvolvimento significava
dominar a natureza e os homens” (BERNADES; FERREIRA, 2007, p. 17). Mas, a
partir da percepção da existência de limites para o crescimento e da impossibilidade
3 Em Minamata, no Japão, em maio de 1956, uma indústria química japonesa lançou mercúrio em sua forma orgânica (metilmercúrio) no mar. Como conseqüência, a fauna marinha foi contaminada causando intoxicação humana, pois as comunidades mantinham como base da dieta principal peixes e frutos do mar. Os habitantes contaminados apresentaram sintomas de uma enfermidade que ficou conhecida como “Doença de Minamata”, cujas alterações estavam ligadas ao sistema nervoso. Em Seveso, na Itália, em julho de 1976, ocorreu o superaquecimento de um reator de dioxina (produto químico muito venenoso) em uma fábrica e o veneno foi liberado no meio ambiente, provocando contaminação e morte de animais. Não há casos de mortes entre humanos relacionadas diretamente ao desastre, mas os integrantes das famílias que moravam nas áreas atingidas, principalmente as crianças, passaram a apresentar sintomas de intoxicação. Na Pensilvânia, em março de 1979, na usina norte americana de Three Mile Island houve falha no funcionamento de um reator provocando a liberação de gases radioativos. Na Ucrânia, em 1986, operadores da usina nuclear de Tchernobyl realizaram um experimento com a intenção de verificar o comportamento de um reator nuclear, quando utilizado com baixos níveis de energia. No entanto, para a realização do experimento as regras de segurança deixaram de ser seguidas. Como consequência houve a explosão de um reator rico em um elemento químico de grande poder radioativo – o Césio137. Na ocasião muitos óbitos e anomalias começaram a ser registrados.
21
de controlar a natureza, surgiu à necessidade de discutir a associação construída
entre os conceitos de desenvolvimento e crescimento econômico, uma vez que essa
ideia foi destituída pelo fato de nem todos os países que alcançaram o crescimento
econômico conseguirem se desenvolver socialmente, oferecendo qualidade de vida
à totalidade da sua população.
A palavra desenvolvimento foi emprestada da biologia. O termo foi adotado
para explicar as transformações ocorridas no organismo dos seres vivos ao longo do
seu ciclo de vida. A partir dos estudos de Darwin (2004), a palavra desenvolvimento
passou a significar passagem de uma forma para outra mais aperfeiçoada, assim
desenvolvimento e evolução passam a ter o mesmo significado. No final do século
XIX, o termo começou a ser utilizado de forma mais ampla, ganhando espaço na
área social, passando a ser usado para designar um processo gradual de mudança
social (FISCHER, 2002). Assim, a percepção de que crescimento econômico não
significava transformações sociais, resultou na distinção entre os termos crescimento
e desenvolvimento.
Com a assimilação do termo desenvolvimento para o âmbito social,
inúmeras discussões foram iniciadas no intuito de esclarecer ou definir o que
significa desenvolver no âmbito social. De acordo com Veiga (2005), existem três
tipos básicos de resposta à indagação “o que é desenvolvimento?”. O
desenvolvimento pode ser entendido como: a) sinônimo de crescimento econômico;
b) como ilusão, crença, mito, ou manipulação ideológica, ou ainda, c) como um
conceito complexo e abrangente. O autor ressalta que as duas primeiras respostas
são consideradas mais simples e que a associação entre desenvolvimento e
crescimento econômico é a ideia mais usada. As correntes que utilizam das
respostas simples usam o termo “desenvolvimento econômico” em vez de
“desenvolvimento”, o que indica o fato de acreditarem que os termos podem ser
considerados como sinônimos.
Os que consideram a explicação como complexa e abrangente, entendem
que o desenvolvimento nada tem de fantasioso, e que o tratamento comparativo
entre desenvolvimento e crescimento econômico deve ser desconsiderado. Para
Veiga (2005), a complexidade e a abrangência que caracterizam a terceira resposta
podem ser considerados o “caminho do meio”, difícil de ser traçado, mas desafiador.
A abertura desse caminho começou quando o Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD), na tentativa de corrigir as imprecisões provocadas
22
pela utilização do Produto Nacional Bruto (PNB), como critério de verificação de
desenvolvimento, lançou em 1990, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH),
baseando-se na definição de desenvolvimento como um processo de ampliação do
campo de oportunidades oferecidas à população de um país, ou seja,
Nesta nova compreensão de desenvolvimento, os recursos econômicos de que dispõe o indivíduo são um fator importante de acesso às oportunidades, porém, somam-se a ele: a saúde, a longevidade e a educação a qual possibilita o acesso ao conhecimento já produzido pela humanidade (PENTEADO, 2007, p. 35-36).
A criação do IDH passou a evitar que apenas a opulência econômica, verificada por
meio do PNB, fosse utilizada como critério de medição de desenvolvimento. Para
Barbieri (2009, p. 28),
O PNB é uma boa medida do desempenho econômico de um país e reflete muito bem o seu crescimento econômico globalmente considerado. No entanto, ele apresenta-se deficiente para indicar a qualidade de vida da população e os danos ambientais.
Um exemplo disso, segundo Penteado (2007), é que na década de 80 o Brasil
chegou a ser considerado a oitava economia do mundo, no entanto, a sociedade se
apresentava cada vez mais pobre e cada dia com mais problemas sociais. Isso
ocorreu porque os critérios utilizados levavam em consideração apenas o PNB total
de cada país, desconsiderando o tamanho da população e a forma como os
recursos eram distribuídos. Com a adoção do IDH, vários critérios começaram a ser
considerados para definir o nível de desenvolvimento dos países. De acordo com
Barbieri (2009, p. 29),
O IDH utiliza medidas que traduzem melhor a distribuição dos benefícios do esforço coletivo, a saber: 1) indicador de longevidade expresso pela esperança de vida ao nascer; 2) indicador do nível educacional obtido através das taxas de alfabetização da população adulta e das matrículas escolares nos níveis de ensino básico, médio e superior; e 3) indicador do padrão de vida representado pelo PIB per capita ajustado ao custo de vida do país ou região (Paridade do Poder de Compra – PPC).
Veiga (2005) ressalta que, até o início dos anos de 1960, não se sentia a
necessidade de diferenciar os termos crescimento econômico e desenvolvimento,
pois as nações que haviam investidos no processo de industrialização tornaram-se
ricas, enquanto as nações em que a industrialização estava começando ou nem
havia iniciado, permaneciam pobres, o que levou a forte associação entre os termos.
Veiga (2005) afirma também que as discussões ainda não foram finalizadas.
No entanto, após a constatação que nem todo processo de crescimento econômico
gera automaticamente desenvolvimento, houve um grande avanço nas discussões
23
principalmente depois que a ONU passou a adotar outros critérios, além daqueles
associados à renda per carpita ou à renda do trabalhador, para verificar o índice de
desenvolvimento. Certamente porque
[...] os objetivos do desenvolvimento vão bem além da mera multiplicação da riqueza material. [...] O crescimento é uma condição necessária, mas de forma alguma suficiente [...], para se alcançar a meta de uma vida melhor, mais feliz e mais completa para todos (SACHS, 2008, p. 13).
Ademais, Guimarães (2007) ressalta que com a emergência das questões
ambientais no contexto mundial, as relações entre o modelo de desenvolvimento
pautado na industrialização e na utilização dos recursos naturais, como se estes
fossem ilimitados, vem sendo questionadas, pois se verificou a crescente
degradação do meio ambiente. Assim, nasceu a necessidade de se repensar o
modelo de industrialização adotado até então e discutir um novo modelo de
desenvolvimento que pudesse conciliar crescimento econômico, desenvolvimento e
respeito aos limites do meio ambiente.
2.2 A EMERGÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
A crise ambiental se tornou evidente nos anos 1960, com o surgimento da
consciência ambiental estimulada pelo lançamento da obra Primavera Silenciosa, de
Rachel Carson, em 1962 (LEFF, 2001). Mas foi somente no início da década de
1970, que as consequências danosas das intervenções humanas, no funcionamento
da biosfera, começaram a ser divulgadas mais amplamente (JOLLIVET; PAVÉ,
2002; SACHS, 2007), principalmente depois da Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, em 1972. Essa
conferência, segundo Afonso (2006, p. 20), é “[...] considerada um marco histórico
na discussão das questões ambientais porque foi a primeira reunião voltada à
discussão dos aspectos políticos, sociais e econômicos dos problemas ambientais”.
E foi também durante esse evento que, de acordo com Leff (2001, p.16), “[...] foram
assinalados os limites da racionalidade econômica e os desafios da degradação
ambiental ao projeto civilizatório da modernidade”.
Para Loureiro (2000, p. 24),
As causas da degradação ambiental e da crise na relação sociedade/natureza não emergem apenas de fatores conjunturais ou do instinto perverso da humanidade, e as conseqüências de tal degradação
24
não são conseqüências apenas do uso indevido dos recursos naturais; são sim, de um conjunto de variáveis interconexas, derivadas das categorias: capitalismo/ modernidade/ industrialismo/ urbanização/ tecnocracia.
A Conferência de Estocolmo deu início ao debate teórico e político para “[...]
valorizar a natureza e internalizar as “externalidades socioambientais” ao sistema
econômico” (LEFF, 2001, p. 16). Segundo Barbieri (2009), durante as discussões na
Conferência ficou evidente a necessidade de criação de novos instrumentos para
tratar os problemas de caráter planetário. Partindo desta constatação, foi criado no
âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), o Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (PNUMA). Ainda na tentativa de promover um novo modelo
de desenvolvimento foram lançadas propostas denominadas estratégias do
ecodesenvolvimento, termo utilizado pela primeira vez por Maurice Srong, em 1973,
para caracterizar uma concepção alternativa de política de desenvolvimento. Porém,
coube a Ignacy Sachs a formulação dos princípios básicos dessa nova visão do
desenvolvimento4 (BRÜSEKE, 2003)
No entanto, a proposta de ecodesenvolvimento teve seu potencial crítico e
transformador dissolvido pelas estratégias de resistência à mudança da ordem
econômica, impulsionando a busca por um novo conceito capaz de ecologizar a
economia, por meio da eliminação da contradição entre crescimento econômico e
preservação da natureza (LEFF, 2001). Assim, de acordo com Sachs (2008, p. 36),
“[...] desde os anos 70, a atenção dada a problemática ambiental levou a uma ampla
reconceitualização do desenvolvimento, em termos de ecodesenvolvimento,
recentemente renomeado de desenvolvimento sustentável”.
Em 1983, foi criada a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CMMAD), com os seguintes objetivos:
Propor estratégias ambientais de longo prazo para obter um desenvolvimento sustentável por volta do ano 2000 e daí em diante; recomendar maneiras para que a preocupação com o meio ambiente se traduza em maior cooperação entre os países em desenvolvimento e entre os países em estágios diferentes de desenvolvimento econômico e social e leve à consecução de objetivos comuns e interligados que considerem as inter-relações de pessoas, recursos, meio ambiente e desenvolvimento; considerar meios e maneiras pelos quais a comunidade internacional possa
4 Sachs elaborou seis aspectos que deveriam nortear os caminhos desse desenvolvimento, segundo Brüseke (2003, p. 31) são eles: “a) a satisfação das necessidades básicas; b) solidariedade com as gerações futuras; c) a participação da população envolvida; d) a preservação dos recursos naturais e do meio ambiente em geral; e) elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança social e respeito a outras culturas, e f) programas de educação”.
25
lidar mais eficientemente com as preocupações de cunho ambiental; e ajudar a definir noções comuns relativas a questões ambientais de longo prazo e os esforços necessários para tratar com êxito os problemas da proteção e da melhoria do meio ambiente (CMMAD, 1991, xi).
Após três anos de estudos, deliberações e audiências públicas, a Comissão divulgou
em 1987, as conclusões no documento intitulado Nosso Futuro Comum, também
conhecido como Informe Bruntland (LEFF, 2001). Segundo Afonso (2006, p. 23), as
“[...] análises então divulgadas foram desenvolvidas a partir de eixos temáticos como
energia, indústria, segurança alimentar, urbanização e relações econômicas
internacionais apresentando as preocupações e os desafios a enfrentar”.
De acordo com Leff (2001, p. 19),
Nosso Futuro Comum reconhece as disparidades entre as nações e a forma como se acentuam com a crise da dívida dos países do Terceiro Mundo. Busca entretanto um terreno comum onde propor uma política de consenso, capaz de dissolver as diferentes visões e interesses de países, povos e classes sociais, que plasmam o campo conflitivo do desenvolvimento. Assim começou a configurar-se uma estratégia política para a sustentabilidade ecológica do processo de globalização e como condição para sobrevivência do gênero humano, através do esforço compartilhado de todas as nações do orbe.
Afonso (2006) destaca, ainda, que o ponto principal do relatório Nosso Futuro
Comum é a formulação do conceito de desenvolvimento sustentável, considerado
pela Comissão como o caminho para o equacionamento problemas ambientais, uma
vez que destaca a necessidade de utilizar os recursos naturais de forma
parcimoniosa e com respeito as gerações futuras.
Para Sachs (2008, p. 36),
O desenvolvimento sustentável obedece ao duplo imperativo ético da solidariedade com as gerações presentes e futuras, e exige a explicitação de critérios de sustentabilidade social e ambiental e de viabilidade econômica. Estritamente falando, apenas as soluções que considerem estes três elementos, isto é, que promovam o crescimento econômico com impactos positivos em termos sociais e ambientais, merecem a denominação de desenvolvimento.
Após a divulgação das conclusões da CMMAD, todos os chefes de Estado do
planeta foram convocados a participar da Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada em 1992, no Rio de Janeiro. Durante
esse evento, com o objetivo de regulamentar o processo de desenvolvimento
pautado nos princípios da sustentabilidade, foi elaborado e aprovado um programa
global que ficou conhecido como Agenda 21 Global. Segundo Afonso (2006, p. 27),
a Agenda 21 Global é um
26
Roteiro de ação que estabelece as metas a serem atingidas no século XXI, visando direcionar as transformações da vida social na direção da sustentabilidade. Estabelece um protocolo de intenções e ações a serem implantadas pelos governos nacionais e agências de desenvolvimento, abarcando temas que vão de energia nuclear ao desmatamento, da administração de recursos a questões éticas.
A partir de então, uma “[...] política para a mudança global que busca dissolver as
contradições entre meio ambiente e desenvolvimento, começou a ser prefigurada”
(LEFF, 2001, p. 20). Foi também durante esse evento que o “[...] discurso do
desenvolvimento sustentável começou a ser legitimado, oficializado e difundido
(LEFF, 2001, p. 16), por isso “[...] esta conferência é considerada um marco nos
esforços internacionais em direção à sustentabilidade” (AFONSO, 2006, p. 27).
Para verificar os avanços alcançados, em 2002, a ONU realizou em
Johanesburgo, África do Sul, uma nova conferência internacional intitulada “Cúpula
Mundial do Desenvolvimento Sustentável”, conhecida como Rio +10, para avaliar se
o mundo conseguiu caminhar rumo a sustentabilidade, isto após dez anos da Rio 92.
Como resultados dessa conferência foram produzidos dois documentos, quais
sejam: Declaração Política e Plano de Implementação, cujas intenções da Rio 92
foram ratificadas e a interdependência entre crescimento econômico, justiça social e
proteção ambiental foi renovada (AFONSO, 2006).
De acordo ainda com Afonso (2006, p. 30), durante o encontro “[...] foram
ainda estabelecidos como objetivos principais a erradicação da pobreza, a mudança
nos padrões insustentáveis de produção e consumo e proteção dos recursos
naturais”. Conforme Sachs (2008), o conceito de Desenvolvimento Sustentável foi
sendo refinado ao longo dos encontros realizados, cujos temas tratavam de
questões relacionadas ao meio ambiente e ao desenvolvimento. Se, a princípio a
preocupação era apenas aliar desenvolvimento e respeito à natureza, com as
discussões realizadas durante três décadas – 1972 (Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente – Estocolmo) a 2002 (Cúpula sobre Desenvolvimento
Sustentável – Johanesburgo), o conceito passou a considerar outras dimensões
além da ecológica. Para Sachs (2008, p.37),
Podemos resumir a evolução da ideia de desenvolvimento, no último meio século, apontando para a sua complexificação, representada pela adição de sucessivos adjetivos – econômico, social, político, cultural, sustentável – e, o que é mais importante, pelas novas problemáticas.
A partir da percepção da necessidade de incorporar diferentes dimensões, foram
assim qualificadas as cinco dimensões, a saber:
27
Social, fundamental por motivos tanto intrínsecos quanto instrumentais, por causa da perspectiva de disrupção social que paira de forma ameaçadora sobre muito lugares problemáticos do nosso planeta; Ambiental, com suas dimensões [...]; Territorial, relacionado à distribuição espacial dos recursos, das populações e das atividades; Econômico, sendo a viabilidade econômica a conditio sine qua non para que as coisas aconteçam; Político, a governança democrática é um valor fundador e um instrumento necessário para fazer as coisas acontecerem; a liberdade faz toda a diferença (SACHS, 2008, p. 15-16).
Para Afonso (2006), a sustentabilidade precisa ser entendida como um processo
contínuo que necessita da participação de todos os setores da sociedade para que
seja alcançado. Isso porque “Nenhum aspecto da vida é deixado à margem do
desenvolvimento sustentável, assim como o desenvolvimento que seja cada vez
mais sustentável repercutirá em todas as facetas da vida” (UNESCO, 2005, p. 41).
Assim, não podemos pensar em uma educação que não priorize discussões
relacionadas aos processos que culminaram nos problemas ambientais que ora se
apresentam e alteram a vida da população em todo o planeta. No tocante ao ensino
de ciências essas discussões são ainda muito mais viáveis. Mesmo porque foi o
desenvolvimento científico e tecnológico que possibilitou a criação de máquinas que
aumentaram a produção e, consequentemente, a utilização de recursos naturais,
que ao serem retirados da natureza começaram a ocasionar desequilíbrios nos
ecossistemas, interferindo diretamente na qualidade de vida da população.
2.3 INSERÇÃO DE TEMAS SOCIOAMBIENTAIS NA SALA DE AULA DO ENSINO MÉDIO
A introdução de temas socioambientais contemporâneos em sala de aula, em
especial nas aulas de Ciências Naturais- Química, Física e Biologia, no ensino
médio, pode significar o surgimento de uma estratégia eficaz para a formação de
cidadãos críticos e atuantes na sociedade. Esses temas, aliados aos conteúdos das
referidas disciplinas, favorecem uma compreensão mais complexa do estado do
nosso planeta, e possibilitam discussões relacionadas à sustentabilidade. Ademais,
as questões socioambientais representam, ultimamente, motivo de preocupação
para todas as sociedades. E, discutir essas questões permite apresentar aos
estudantes o poder do conhecimento científico, uma vez que todos os problemas
ambientais estão associados, de forma direta ou indireta, à busca do crescimento
econômico, a todo custo, sem a preocupação necessária com os recursos naturais.
28
A busca desse crescimento só foi possível com a criação das indústrias, que
surgiram a partir do desenvolvimento científico. Como resultado do intenso
processo de industrialização surgiu a crise ambiental. De acordo com Leff (2002, p.
60)
[...] a crise ambiental problematiza os paradigmas estabelecidos do conhecimento e demanda novas metodologias capazes de orientar um processo de reconstrução do saber que permita realizar uma análise integrada da realidade.
Além do mais, discussões relacionadas às causas e às consequências da
crise ambiental desviam o ensino das Ciências Naturais do caminho mais
comumente utilizado, ou seja, que reside no “[...] enfoque abstrato, quantitativo,
rigoroso, que suscita no dia-a-dia da sala de aula, um caráter demasiadamente
acadêmico e distante das experiências dos alunos [...]” (PINHEIRO; MATOS;
BAZZO, 2007, p. 151). Certamente, dificultando a percepção da importância dessas
disciplinas pelos estudantes. Esse desvio possibilita o encaminhamento do ensino
de Ciências Naturais por uma via mais interessante e próxima da realidade do
educando.
Além disso, temos a considerar que a disseminação dos conhecimentos
produzidos pela ciência não ocorre exclusivamente no ambiente escolar e nem é
exclusividade de nenhuma camada da sociedade (DELIZOICOV; ANGOTTI;
PERNABUNCO, 2009). Logo, os estudantes têm acesso a esses temas em
diferentes ambientes e de diversas formas, cabendo aos professores utilizar os
conhecimentos prévios apresentados em sala de aula para aprofundar as
discussões. Amaral (2007, p. 113) afirma que
O processo de complexidade dos temas ambientais na sociedade obriga a reorientação dos temas escolares, pois necessitam de uma dinâmica pedagógica interdisciplinar de abordagem crítico-social e histórica. Essa postura metodológico-pedagógica estabelece uma nova ética entre o sujeito e o seu meio, porque a ele também é imputada a responsabilidade da ação, da prevenção e da solução de problemas ambientais, já que é visto como parte integrante do meio ambiente e não mais como seu dominador.
Ao incluir temáticas que possibilitem discussões relacionadas às questões referentes
à sustentabilidade, em seus múltiplos aspectos, a escola estará contribuindo para
uma leitura mais crítica das informações divulgadas pelos meios de comunicação,
pois a escola
[...] está inserida neste mundo em mudança. É na tensão entre as possibilidades e os riscos criados pelo conhecimento das Ciências Naturais
29
e sua tecnologia que vivemos no mundo contemporâneo (DELIZOICOV; ANGOTTI; PERNABUNCO, 2009, p. 127)
Assim, a inserção desses temas nas salas de aula, do ensino médio, contribui para
que os objetivos estabelecidos para essa etapa da educação básica sejam
alcançados, pois proporcionam reflexões críticas acerca de temáticas que
constantemente ganham manchetes em noticiários. Os Parâmetros Curriculares
Nacional para o Ensino Médio (PCNEM) apresentam entre seus objetivos,
A formação da pessoa, de maneira a desenvolver valores e competências necessárias à integração de seu projeto individual ao projeto da sociedade em que se situa; o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; a preparação e orientação básica para a sua integração ao mundo do trabalho, com as competências que garantam seu aprimoramento profissional e permitam acompanhar as mudanças que caracterizam a produção no nosso tempo; o desenvolvimento das competências para continuar aprendendo, de forma autônoma e crítica em níveis mais complexos de estudo (BRASIL, 1999, p. 23).
Essa preocupação com a formação mais completa do estudante do ensino médio só
foi possível através de inúmeras reformas na legislação educacional. Foi somente
com a Lei 9394/96 (BRASIL, 2003), que de acordo com Pinheiro, Silveira, Bazzo
(2007, p. 78), o “[...] ensino médio deixou de ter como prioridade a preparação para
o nível superior ou para a formação profissional” e recebeu incumbências mais
amplas. Os PCNEM destacam também que é nessa etapa da educação básica que
importantes características devem ser desenvolvidas nos estudantes, a saber:
[...] capacidade de abstração, do desenvolvimento sistêmico, ao contrário da compreensão parcial e fragmentada dos fenômenos, da criatividade, da curiosidade, da capacidade de pensar múltiplas alternativas para a solução de um problema, ou seja, do desenvolvimento do pensamento divergente, da capacidade de trabalhar em equipe, da disposição para procurar e aceitar críticas, da disposição para o risco, do desenvolvimento do pensamento crítico, do saber comunicar-se, da capacidade de buscar conhecimento (BRASIL, 1999, p. 27).
Sendo assim, temos no ensino médio a oportunidade de favorecer, o
desenvolvimento de todas essas capacidades por meio de discussões que façam os
alunos perceberem, por exemplo, a dualidade benefícios/maléficos, pois é muito
comum tornar evidente os benefícios alcançados pelo desenvolvimento científico,
mas é incomum ressaltar todos os prejuízos que podem decorrer desse
desenvolvimento. Pensa-se na evolução dos meios de comunicação, na produção
de novos aparelhos eletroeletrônicos, mas deixam-se de lado, por exemplo, as
poluições dos rios, dos mares, do ar, do solo provocadas por produtos químicos
30
utilizados e descartados no processo de produção. No entanto, essa percepção só
será possível se o estudante tiver acesso a uma educação científica de qualidade,
que possibilite a realização de discussões sobre as implicações da ciência e do
modelo de desenvolvimento para a sociedade.
Carvalho Filho (2009, p. 99) destaca que há [...] razões adicionais para reforçar a tese de que uma formação científica é cada vez mais necessária. A sociedade atual é constantemente exposta a produtos, processos e serviços intensivos em conteúdo científico-tecnológico. Vários deles podem afetar a saúde e o meio ambiente.
Assim, discussões sobre a associação entre os conteúdos disciplinares e os
fenômenos relacionados à crise ambiental possibilitará aos educandos perceber que
há uma finalidade maior nos conceitos e definições, apresentados durante as aulas
de ciências naturais. Desse modo, serão capazes de compreender que a
memorização e a repetição não são objetivos dessas disciplinas, e que, na verdade,
elas servem para auxiliar na compreensão do funcionamento do mundo, tornando-o
mais inteligível. A ausência de compreensão dos reais objetivos das ciências
naturais deve-se muito à forma como elas são apresentadas, o que gera uma visão
distorcida. Para Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2009, p. 122),
A visão das Ciências Naturais como um conjunto hierarquizado de informações cria uma sequência rígida e fragmentada de ensino, a qual posterga sempre a possibilidade de compreensão e explicação da realidade e a oportunidade de intervenção nela para momentos posteriores da aprendizagem.
Morin (2003) afirma que essa compartimentalização dos saberes e a incapacidade
de articulação entre eles encontram-se entre os problemas mais graves do ensino,
pois a aptidão para contextualizar e integrar é qualidade fundamental da mente
humana e precisa ser desenvolvida e não atrofiada. A utilização de temáticas
socioambientais durantes as aulas, além de favorecer a contextualização e a
integração, colaboram também para a transformação da aprendizagem em um
processo prazeroso para os estudantes, o que é de fundamental importância, pois
de acordo com Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2009, p. 122)
[...] o aluno é, na verdade, o sujeito da sua aprendizagem; é quem realiza a ação, e não alguém que sofre ou recebe uma ação. Não há como ensinar alguém que não quer aprender, uma vez que a aprendizagem é um processo interno que ocorre como resultado da ação de um sujeito.
Cabe, então, ao professor mediar o processo de aprendizagem utilizando-se de
temas que possuam significados, respaldados na realidade, e despertem a atenção
31
dos alunos para que os mesmos possam apreender as informações apresentadas
pelos professores transformando-as em conhecimentos. Assim, mais do que tornar
os conteúdos mais interessantes para os alunos, há também a efetivação da
aprendizagem. Ainda, para Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2009, p. 154)
Partir de temas significativos e apresentar os conhecimentos como processuais, históricos, portadores de procedimentos é resultado de ações e possibilita ações e explicações, tornando seu aprendizado uma forma de conquista pessoal e coletiva de uma vida melhor. Uma vez que o ponto de partida e de chegada é o mundo em que a vida se dá, o conhecimento científico aparece como uma das formas – nem a única nem a mais importante, mas indispensável na atualidade – de atuar e explicar criticamente. Só faz sentido em sua relação com os conhecimentos tanto da cultura prevalecente como das outras disciplinas escolares.
É inegável a necessidade de inserir discussões acerca de temas socioambientais no
ensino de ciências naturais, pois, assim, os alunos serão capazes de perceber, por
exemplo, as relações entre o contexto da crise ambiental e o estilo de vida que
prevalece na sociedade, entre outros aspectos. A partir dessa percepção, os
educandos poderão realizar novas discussões e debates na tentativa de sugerir
estratégias que possam minimizar os efeitos da crise ou mudar o curso da história,
construída até aqui. Mas, para que isso ocorra, é fundamental que todo o processo
educativo seja reorientado para uma perspectiva que tenha na sustentabilidade seu
ponto de partida.
32
3 O ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA UM DESENVOLVIMENTO PAUTADO PELA SUSTENTABILIDADE
3.1 A EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
A Educação é um instrumento eficaz no processo de construção de um
mundo sustentável. Por acreditar nisso, a ONU lançou a Década da Educação para
o Desenvolvimento Sustentável (DEDS), com a finalidade de reorientar o processo
educacional para a formação de cidadãos conscientes e atuantes na sociedade. No
tocante ao ensino de Ciências, a Educação para o Desenvolvimento Sustentável
pode contribuir para as discussões e as reflexões sobre as implicações do processo
de desenvolvimento vigente, notadamente relacionadas às questões
socioambientais contemporâneas.
A educação ganhou destaque no capítulo 36 da Agenda 21 Global, como
instrumento fundamental para a promoção do desenvolvimento sustentável, pois
proporciona um melhor entendimento do funcionamento do meio ambiente e dos
problemas decorrentes do desenvolvimento. De acordo com a UNESCO (2005), há
consenso acerca do papel que a educação desempenha no processo de mudanças
consideradas necessárias para minimizar os efeitos da crise ambiental, atualmente
entendida como crise civilizatória. A partir desse reconhecimento, em dezembro de
2002, a Cúpula de Johanesburgo propôs a DEDS e a Assembléia Geral das Nações
Unidas, na sua 57º sessão, proclamou-a para o período de 2005 a 2014.
A Década, de acordo com Werthein (2005, p. 9), é “[...] um conjunto de
parcerias que procura reunir uma grande diversidade de interesses e preocupações.
É um instrumento de mobilização, difusão e informação”. De acordo com o
documento da UNESCO (2005), o objetivo da Década é ressaltar a importância de
ações combinadas para garantir os padrões do desenvolvimento sustentável,
assegurando qualidade de vida para as gerações presentes e futuras. Essa
qualidade de vida pode ser em grande parte garantida por meio da educação. Isso
porque a “[...] educação nos habilita como indivíduo e como comunidades a
compreendermos a nós mesmos e aos outros e as nossas ligações com o meio
ambiente social e natural de modo mais amplo” (UNESCO, 2005, p. 43).
33
A Educação para o Desenvolvimento Sustentável, segundo Gadotti (2008),
foi tratada pela primeira vez durante uma Conferência realizada em Tbilisi, na
Rússia, em 1977. Mas somente em 1997, em Tessalônica, durante a Conferência
Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade, Educação e Conscientização
Pública para a Sustentabilidade, é que o tema ganhou destaque. Então, evidencia-
se as discussões acerca da importância de se incluir o conceito de sustentabilidade
no processo de reorientação da educação formal.
Lima (2005) destaca que em todo o histórico da crise ambiental, a educação
aliada a outros meios, a saber: político, econômico, ético, científico e técnico,
sempre foi lembrada como um instrumento capaz de fornecer respostas positivas à
problemática ambiental. Na mesma linha, temos que com “[...] a educação, confere-
se consciência ambiental e ética, valores e atitudes, técnicas e comportamentos, em
consonância com o desenvolvimento sustentável [...]” (TENERELLI et al., 2006, p.
112). Sendo assim, os sistemas educacionais podem contribuir de forma significativa
nesse processo de compreensão das relações entre o meio ambiente social e
natural. Para D’Ambrosio (2007, p.17),
Através dos sistemas educacionais as sociedades transmitem e inculcam valores que servem de apoio às normas vigentes e aos estilos de comportamento, sobre os quais se apóia a estrutura de poder. Embora para muitos possa parecer um paradoxo, nesses mesmos sistemas educacionais estão embutidos os instrumentos intelectuais que permitem a crítica contestação do poder, eventualmente a sua modificação. Juntamente com a transmissão de valores, um sistema educacional tem como meta o desenvolvimento da capacidade crítica e de contestação.
Com o desenvolvimento da capacidade de contestação, os educandos poderão
começar a questionar a forma como os recursos naturais estão sendo explorados e
a pensar alternativas viáveis de produção pautada no respeito ao meio ambiente.
Segundo Figueiredo (2006), a escola possui papel de destaque na divulgação,
discussão e levantamento de problemas de diversas ordens, incluindo os
relacionadas à sustentabilidade, assim
A promoção de uma educação para a sustentabilidade, adequada nas suas diversas vertentes, é um contributo fundamental para se atingirem as metas pretendidas no que respeita à sustentabilidade na Terra (FIGUEIREDO; ALMEIDA; CÉSAR, 2004, p. 332).
Nesse âmbito, D’Ambrosio (2007) ressalta que os sistemas educacionais só poderão
contribuir para formação de cidadãos contestadores, se a ação educativa for
realizada de maneira holística, por meio da elaboração de currículo dinâmico, capaz
de romper com propostas centradas nos conteúdos. A DEDS, de acordo com
34
Gadotti (2008, p. 33), “[...] se constitui numa grande oportunidade para a renovação
dos currículos dos sistemas formais de educação”. Um currículo dinâmico
proporciona uma interação muito maior entre os atores envolvidos no processo
ensino e aprendizagem, pois viabiliza discussões de questões atuais pelas quais há
uma grande chance dos alunos demonstrarem interesse. Além do mais,
Tornar a aprendizagem dos conhecimentos científicos em sala de aula num desafio prazeroso é conseguir que seja significativa para todos, tanto para o professor quanto para o conjunto dos alunos que compõem a turma. É transformá-la em um projeto coletivo, em que a aventura da busca do novo, do desconhecido, de sua potencialidade, de seus riscos e limites seja a oportunidade para o exercício e o aprendizado das relações sociais e dos valores (DELIZOICOV; ANGOTTI; PERNAMBUCO, 2009, p. 153).
Porém, há uma série de dificuldades a serem superadas para a elaboração de um
currículo que seja mais próximo dos educandos, como destaca D’Ambrosio (2007,
p.18), qual seja:
O ponto crítico é a passagem de um modelo de currículo cartesiano, centrado em conteúdos que são escolhidos e organizados previamente à prática educativa, para um modelo de currículo dinâmico, que reflete o momento sócio-cultural e priorizam o entendimento global de fatos e fenômenos. O currículo dinâmico é contextualizado no sentido amplo. O currículo cartesiano tradicional, responde aos componentes objetivos, conteúdos e métodos. Mas, esses componentes adotam definições obsoletas de objetivos conservadores, respondendo a prioridades da sociedade do momento em que o currículo foi concebido. Consequentemente, os conteúdos respondem a esses objetivos obsoletos, que, muito provavelmente, foram importantes em determinado momento histórico. Mas, agora são ancorados em argumentos insustentáveis, transmitindo com métodos que pouco tem a ver com o dia-a-dia dos alunos.
A elaboração de um currículo dinâmico é uma alternativa para uma aproximação
satisfatória entre estudantes e a escola, pois permite que uma maior variedade de
conhecimentos seja abordada. De acordo com Jacobi (2008, p 138), “[...] vive-se
numa sociedade que demanda aprendizagens contínuas e complexas; uma
sociedade em que foram multiplicados os contextos de aprendizagem [...]”. Portanto,
não é eficaz um currículo estanque. Para Amaral (2007, p. 113), o “[...] processo de
complexidade dos temas ambientais na sociedade obriga uma reorientação dos
temas escolares, pois necessitam de uma dinâmica pedagógica interdisciplinar de
abordagem crítico-social e histórica”. Além do mais, como salienta Jacobi (2008, p.
133),
Refletir sobre a complexidade ambiental abre um estimulante espaço para compreender a gestação de novos atores sociais que se mobilizam para a apropriação da natureza, para um processo educativo articulado e compromissado com a sustentabilidade e a participação, apoiado numa
35
lógica que privilegia o diálogo e a interdependência de diferentes áreas de saber.
Figueiredo (2006) também aponta a estrutura disciplinarizada e estanque da escola
como um desafio a ser enfrentado, ressaltando ainda que essa estrutura foi
construída com base nas necessidades do século XIX, período em que
predominavam os saberes magistrais, considerados válidos e imutáveis. Esse
modelo se manteve durante todo o século XX, impondo-se aos educandos, sem, no
entanto, corresponder às suas expectativas, ou seja, sem fornecer respostas a seus
questionamentos. Por isso, a escola do século XXI precisa apresentar
características atrativas, ou seja, necessita
[...] despertar o interesse dos indivíduos para conceitos fundamentais e verificar quais são as suas ideias sobre o assunto em estudo, e, após os envolver em atividades de explicações dos fenômenos naturais, torná-los capazes de aplicar os conhecimentos adquiridos em novas situações [...] (KRASILCHIK; MARANDINO, 2007, p. 40).
A distância entre os conteúdos e a realidade ocasiona também o distanciamento
entre alunos e escola fazendo com que os conteúdos escolares passem a ser
percebidos como desinteressantes. Assim, a escola começa a ser entendida como
um lugar que não possui nenhuma relação com o contexto dos educandos. É
preciso modificar essa imagem transformando a escola em um ambiente no qual as
temáticas contemporâneas sejam exploradas e relacionadas ao contexto de vida dos
educandos. Como ressalta Penteado (2007, p. 16),
A escola é, sem sombra de dúvida, o local ideal para se promover este processo. As disciplinas escolares são os recursos didáticos através dos quais os conhecimentos científicos de que a sociedade já dispõe são colocados ao alcance dos alunos. As aulas são o espaço ideal de trabalho com os conhecimentos e onde se desencadeiam experiências e vivências formadoras de consciências mais vigorosas porque alimentadas no saber.
Deste modo, na sala de aula o professor precisa estimular o debate de temas atuais.
A crise ambiental e os problemas socioambientais são exemplos de temas que
deveriam ser incorporados aos conteúdos escolares, na tentativa de aproximar os
conteúdos escolares da realidade vivida, pois possuem várias possibilidades de
trabalho pedagógico e permitem inúmeras discussões acerca da sustentabilidade.
Krasilchik e Marandino (2007, p. 9) afirmam que “[...] tais mudanças na
escola levam obrigatoriamente a transformações metodológicas [...] e ampliação do
escopo dos temas curriculares [...]”. Por sua vez, “[...] a dimensão ambiental na
prática educativa não pode ser encarada como mais uma disciplina do currículo ou
36
um tipo especial de educação, mas uma das dimensões da educação geral”
(AMARAL, 2007, p. 113). Assim, a
[...] educação para o desenvolvimento sustentável não deve ser vista como “uma disciplina a mais” a ser adicionada a um currículo sobrecarregado, mas como uma abordagem holística ou um planejamento global “de toda a escola”, em que o desenvolvimento sustentável seja visto como um contexto para alcançar os objetivos da educação e não uma prioridade em competição com as demais disciplinas (UNESCO, 2005, p. 61).
Portanto, temos que concordar com Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2009, p. 33)
quando afirmam que “[...] o conhecimento disponível, oriundo de pesquisas em
educação e em ensino de ciências, acena para a necessidade de mudanças, às
vezes bruscas, na atuação do professor dessa área [...]”. Nessa perspectiva, a
escola passaria a ter uma maior relação com o mundo, e a sala de aula se tornaria
um lugar mais interessante. Para Figueiredo (2006, p. 3), é preciso
Fazer da sala de aula um palco onde as ideias mais actuais e pertinentes sejam discutidas, reflectidas e criticadas. Só assim a escola dará um contributo real na formação de cidadãos esclarecidos, críticos e interventivos dando especial significado aos conteúdos que tem de veicular.
Assim, a sala de aula transforma-se em espaço de trocas reais, no qual alunos e
professores são capazes de dialogar sobre o mesmo mundo, um mundo mais
próximo e mais condizente com a realidade que se pretende desvelar. Para
Delizoicov, Angotti, Pernambuco (2009) é fundamental trazer o mundo externo para
dentro da escola, possibilitando o acesso a novas formas de compreendê-lo,
apresentando temas significativos e tornando a aprendizagem uma conquista
pessoal e coletiva para uma vida melhor.
Com a emergência da crise ecológica planetária, é impossível se pensar
numa educação que não seja voltada para a questão da sustentabilidade, uma vez
que a educação pode ser considerada um instrumento poderoso, que pode auxiliar
no processo de reversão da crise em que o planeta se encontra. Neste sentido,
A educação para o desenvolvimento sustentável é um esforço vital e eterno que desafia indivíduos, instituições e sociedades a olhar para o dia de amanhã como um dia que pertence a todos nós ou não pertencerá a ninguém (UNESCO, 2005, p. 25).
A educação para o desenvolvimento sustentável deve colaborar para a
promoção de valores como: a) respeito da dignidade e dos direitos humanos; b)
respeito aos direitos das gerações futuras e o compromisso em relação à
responsabilidade intergeracional; c) respeito aos ecossistemas da Terra e d) respeito
a diversidade cultural e ao compromisso de criar local e globalmente uma cultura de
37
tolerância, de não-violência e de paz (UNESCO, 2005). Já em 1997, Sauvé (1997)
entendia que a educação para o desenvolvimento sustentável poderia também
promover o uso criativo e efetivo do potencial humano, viabilizando o crescimento
econômico com impactos ambientais reduzidos.
3.2 O ENSINO DE CIÊNCIAS E AS MÚLTIPLAS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE
O avanço da ciência e da tecnologia deve ser considerado o
empreendimento mais admirável da espécie humana (MENON, 1992). No contexto
da DEDS, a ciência também foi enfatizada, pois de acordo com a UNESCO (2005, p.
47), o “[...] papel da ciência e tecnologia merece ser destacado já que a ciência
fornece às pessoas meios para entender o mundo e seu papel nele”. De fato, as
ciências naturais contribuem para a elaboração de conhecimentos científicos que
colaboram com o desenvolvimento da sociedade. No entanto, esse mesmo
conhecimento que gera desenvolvimento contribui também para a degradação
ambiental. Neste sentido,
O programa Educação para o Desenvolvimento Sustentável deve fornecer uma compreensão científica do que seja sustentabilidade, junto com a compreensão dos valores, princípios e estilos de vida que conduzirão ao processo de transição para o desenvolvimento sustentável (UNESCO, 2005, p. 47).
É certo que devemos valorizar o papel do conhecimento científico, pois é por meio
destes conhecimentos que a ciência progride e contribui para o processo de
desenvolvimento. Ora, se o conhecimento científico contribuiu de forma significativa
para o processo de desenvolvimento, pautado no crescimento econômico, com foco
na industrialização, ele também poderá contribuir de forma satisfatória para um
desenvolvimento pautado no uso sustentável dos recursos naturais, assumindo,
assim, este novo paradigma. Ademais, deve-se considerar que “[...] a aplicação
errônea da ciência e da tecnologia pode anular os esforços simultâneos de proteger
o meio ambiente e prover as necessidades pessoais e econômicas da população”
(UNESCO, 2005, p. 48).
No tocante ao ensino de ciências, inúmeras modificações foram realizadas
desde sua inclusão no currículo escolar, na tentativa de atender às necessidades
38
dos diferentes contextos históricos. Sucessivos projetos e reformas educacionais, de
acordo com Krasilchik e Marandino (2007), foram realizados com o intuito de
transformar o ensino de ciências e incluir mudanças resultantes de fatores políticos e
econômicos. Ao longo de sua trajetória, o ensino de ciências passou de uma fase de
apresentação de uma ciência neutra, para uma visão mais ampla, interdisciplinar,
marcada pelo contexto das pesquisas científicas e suas consequências sociais,
políticas e culturais.
A interação entre desenvolvimento científico e o desenvolvimento econômico
e tecnológico culminou na elaboração de um movimento pedagógico intitulado
“Ciência, Tecnologia e Sociedade”. Esse movimento passou a ser percebido nas
últimas décadas, pois como afirma Menon (1992, p. 123), o
[...] mundo material que observamos ao nosso redor é uma manifestação visível disso – um resultado direto do intenso progresso científico em larga escala e da aplicação cada vez mais rápida do conhecimento e das descobertas resultantes, obtidas por meio do desenvolvimento da tecnologia.
Segundo a UNESCO (2003), a ciência e a tecnologia podem contribuir de forma
significativa com a sociedade na busca do desenvolvimento econômico sustentável,
pois podem propiciar entre outras coisas: (a) a melhoria da qualidade de vida; (b) a
promoção de um cuidado para com o meio ambiente e os recursos naturais; (c) o
aumento do nível educacional e cultural da população, entre outros benefícios. Se
não há dúvidas sobre a importância da ciência e da tecnologia para o
desenvolvimento econômico e social do país, é preciso reconhecer que para que
isso se efetive é necessário que a educação científica seja de qualidade nas
escolas; que os profissionais da área sejam qualificados e que haja integração entre
a produção científica e a produção industrial (UNESCO, 2005).
Inúmeras são as contribuições que o conhecimento científico pode oferecer
a sociedade. No entanto, Krasilchik e Marandino (2007) ressaltam que apesar das
transformações realizadas no currículo de ciência na tentativa de fornecer uma visão
ampliada da realidade, ainda existem inúmeros cursos e programas que enfatizam a
memorização de vocabulário e definições, apresentando uma imagem distorcida da
ciência, impedindo que as interações entre ciência, tecnologia e sociedade sejam
percebidas. As autoras destacam ainda que é preciso reconhecer que há a
necessidade de apreender os vocábulos básicos relacionados a ciência, mas acima
39
de tudo é necessário provocar nos estudantes a curiosidade, com o intuito de tornar
mais evidente o papel que a ciência tem nas suas vidas.
Outro aspecto interessante a ser considerado entre as características do
ensino de ciências, apontado por Krasilchik e Marandino (2007), é a constante
oscilação entre os objetivos do ensino que vai desde uma preocupação acadêmica,
voltada para os conteúdos e conceitos até uma mais utilitária, sendo que a finalidade
maior é a formação do cidadão. Apesar da oscilação entre os objetivos do ensino de
ciências, Krasilchik e Marandino (2007) afirmam que há certo consenso entre
professores e pesquisadores, da área de educação em ciências de que o ensino
desta área tem como uma de suas principais funções a formação do cidadão
cientificamente alfabetizado, capaz não só de identificar os vocábulos da ciência,
mas também ter a compreensão dos conceitos e saber utilizá-los para encarar
desafios e refletir sobre o seu dia-dia.
Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2009, p. 34) ressaltam que para que isso
ocorra o “[...] trabalho docente precisa ser direcionado para sua apropriação crítica
pelos alunos, de modo que efetivamente se incorpore no universo das
representações sociais e se constitua como cultura”. Para Figueiredo (2006), a
sociedade moderna exige que escolas e professores de ciências ensinem não só a
ciência escolar, mas também eduquem os alunos para exercerem uma cidadania
planetária que promova o desenvolvimento de forma sustentável da sociedade.
Mesmo porque a
Educação e desenvolvimento são dois processos sociais pensados articuladamente, um remetendo ao outro [...]. Ambos nascem, ou são inventados, no interior daquilo que denominamos normalmente de modernidade. A educação, tal como a conhecemos hoje, e o desenvolvimento, tal como o concebemos hodiernamente, são frutos da sociedade moderna (NASCIMENTO, 2001, p. 96).
A escola, segundo Krasilchik e Marandino (2007, p. 31), “[...] possui papel
fundamental para instrumentalizar os indivíduos sobre os conhecimentos científicos
básicos”. É nesse espaço especialmente dedicado a socialização do conhecimento
que os educandos devem ter acesso livre às informações e às discussões sobre os
assuntos da contemporaneidade.
De acordo ainda com Krasilchik e Marandino (2007, p. 32), a “[...]
socialização do conhecimento é uma prática social que implica processos de
tradução e recontextualização, a fim de tornar os saberes produzidos acessíveis
para os indivíduos”. Isso porque cada área do conhecimento possui particularidades
40
que nem sempre estão acessíveis a todos. Nesse sentido, as palavras mediação e
diálogo tornam-se chaves no processo de divulgação da ciência (KRASILCHIK;
MARANDINO, 2007). De certo é a interação entre o professor e os alunos que
tornará o processo de socialização viável, contribuindo ainda para que os objetivos
do ensino médio sejam alcançados.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNS) (1999, p. 207-208), Os objetivos do ensino médio em cada área do conhecimento devem envolver, de forma combinada, o desenvolvimento de conhecimentos práticos, contextualizados, que respondam às necessidades da vida contemporânea, e o desenvolvimento de conhecimentos mais amplos e abstratos, que correspondam a uma cultura geral e uma visão de mundo. Para a área das Ciências da Natureza, Matemática e Tecnologias, isto é particularmente verdadeiro, pois a crescente valorização do conhecimento e da capacidade de inovar demanda cidadãos capazes de aprender continuamente, para o que é essencial uma formação geral e não apenas um treinamento específico.
Entendemos, portanto, que os professores de ciências naturais podem levar os
cenários produzidos pela crise ecológica para sala de aula, buscando situar suas
práticas educativas nesse contexto, fornecendo informações que contribuam para
construção de conhecimentos.
De acordo com Nicolai-Hernández e Carvalho (2006), a incorporação de
temas controversos, como os conflitos socioambientais, em atividade de ensino tem
sido considerada como caminho de grande significado. Isso porque, além de
promover conhecimentos acerca dos conteúdos, dos processos e da natureza da
ciência e da tecnologia, proporcionam também o desenvolvimento de potencialidade
cognitiva, social, moral, ética e política dos alunos. Se assim não o for, a escola em
vez de contribuir para a formação educandos contestadores, vai afastá-los cada vez
mais, por não apresentar conteúdos condizentes com a realidade em que estão
inseridos.
Para Krasilchik e Marandino (2007, p. 40),
O conhecimento e as informações são a base para analisar as questões controversas que incluem conflitos de interpretações e decisões, dependentes de valores pessoais e sociais. Preparar o cidadão para pensar sobre questões que permitem várias respostas – muitas vezes conflitantes – demanda que ele seja alfabetizado em ciências.
A UNESCO (2005, p. 47) afirma que o Programa EDS “[...] deve fornecer uma
compreensão científica do que seja sustentabilidade, junto com a compreensão dos
valores, princípios e estilos de vida que conduzirão ao processo de transição para o
desenvolvimento sustentável”. Portanto, cabe ao ensino de ciências naturais
41
propiciar essa compreensão. Como destaca UNESCO (2005), o ensino de ciências é
fundamental para a população ter a capacidade de usufruir dos conhecimentos
científicos, para despertar vocações, para a plena realização do ser humano e de
sua integração social. E, ainda contribui para a constituição de uma população
cientificamente preparada, capaz de exercer sua cidadania e favorecer a
produtividade, melhorando com isso sua qualidade de vida. Pedrosa destaca (2010,
p. 356) ainda que,
A educação em ciências, tal como a educação em geral, deve orientar-se para o desenvolvimento de competências, incluindo as necessárias para compreender problemas de sustentabilidade que actualmente se colocam, tanto a nível local como global, um requisito essencial para se poder ponderar percursos de resolução e/ou contribuir com actuações efectivas para os resolver ou mitigar. Embora tal orientação requeira contributos diversos, a sua concretização não é possível à revelia dos professores e a sua efectivação depende fortemente do seu empenho e envolvimento, os quais, por seu turno, requerem a conjugação de diversos factores, incluindo oportunidades de formação que estimulem o acesso a informação e recursos relevantes.
De acordo com os PCNs (BRASIL, 1999, p. 203), as “[...] ciências naturais no ensino
médio devem produzir conhecimentos efetivos, de significado próprio, não somente
propedêutico”. Sendo assim, o Programa EDS (UNESCO, 2005) pode contribuir de
maneira significativa com a construção desses conhecimentos efetivos no ensino
médio, pois o Programa reconhece a necessidade de se reexaminar a política
educacional, na tentativa de encontrar um novo caminho para educação básica e
superior. Um caminho que reoriente a prática docente e contribua para a aquisição
da capacidade de aprender continuamente, enfocando a aquisição de
conhecimentos, competências, perspectivas e valores relacionados com a
sustentabilidade.
42
4 METODOLOGIA
4.1 TIPO DE PESQUISA
A pesquisa ora apresentada insere-se na modalidade qualitativa. De acordo
com Minayo (2008), esse tipo de abordagem favorece a compreensão da realidade e
possibilita o aprofundamento no mundo dos significados, sem a preocupação de
quantificar sujeitos e opiniões. Para a referida autora, é o tipo de enquadramento
mais apropriado quando se pretende trabalhar com o universo de significados, de
aspirações, das crenças e valores. A pesquisa qualitativa pode também ser
entendida, segundo Richardson et al. (2009), como uma tentativa de compreender
de maneira mais detalhada os significados e as situações apresentadas pelos
entrevistados. Por possuir essas propriedades, Godoy (2005) ressalta que esse tipo
de pesquisa ocupa lugar de destaque dentre as várias possibilidades de estudos dos
fenômenos que envolvem as complexas relações sociais estabelecidas em diversas
ambiências.
Como estratégia metodológica, adotamos o estudo de caso. Segundo Yin
(2005, p. 32), um “[...] estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um
fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto de vida real, especialmente
quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”.
Outra característica dos estudos de caso, de acordo com Gil (2009), é a
oportunidade de realização de um estudo exaustivo que proporciona um
conhecimento amplo e detalhado de um ou poucos objetos, com a finalidade de
apresentar uma visão global de um problema ou identificar possíveis fatores que
influenciam um determinado contexto.
Entre as características de uma pesquisa que indicam a possibilidade de
realização de um estudo de caso, temos: a) quando se colocam questões do tipo
“como” e “por que”; b) quando o pesquisador tem pouco controle sobre os
acontecimentos; e c) quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos
inseridos em algum contexto da vida real (YIN, 2005). Ainda para Yin (2005), a
necessidade de se realizar um estudo de caso, emerge do desejo de compreender
fenômenos sociais complexos, sem que as características holísticas e significativas
43
da vida real sejam dissipadas, uma vez que a estratégia examina os acontecimentos
contemporâneos, sem manipular comportamentos relevantes.
Definida a estratégia metodológica como sendo a de um estudo de caso, a
próxima etapa foi a seleção da unidade-caso. De acordo com Gil (2009), a unidade-
caso, em sua acepção clássica, referia-se a um indivíduo num contexto definido. No
entanto, esse conceito foi ampliado e passou a ser entendido como um conjunto de
indivíduos em um determinado contexto, ou seja, pode ser uma família ou qualquer
outro grupo social.
Ademais, outro aspecto fundamental a ser considerado é a definição do
número de casos que deverão ser envolvidos na pesquisa, uma vez que o estudo de
caso pode ser constituído tanto de um único, quanto de múltiplos casos (GIL, 2009;
YIN, 2005). Neste contexto, deparamo-nos com a seguinte questão: como definir o
universo da nossa pesquisa, uma vez que há um número muito grande de escolas
de ensino médio? Optamos, então, por realizar um estudo de caso único. Yin (2005)
aponta que o estudo de caso único pode ser realizado em diversas situações, a
saber: a) quando o caso é considerado decisivo; b) quando o caso é considerado
raro ou extremo; c) quando o caso é representativo ou típico; d) quando o caso é
revelador e; e) quando o caso é longitudinal. Assim, a pesquisa ora apresentada foi
classificada como um estudo de caso único representativo ou típico.
No estudo de caso único representativo ou típico, de acordo com Yin (2005,
p. 63), o
[...] objetivo é capturar as circunstâncias e condições de uma situação lugar-comum ou do dia-a-dia. O estudo de caso pode representar um “projeto” típico entre muitos projetos diferentes, uma empresa de manufatura considerada típica entre muitas outras empresas de manufatura no mesmo setor industrial, um bairro urbano típico, ou uma escola representativa, como exemplos. Parte-se do principio de que as lições que se aprendem desses casos fornecem muitas informações sobre as experiências da pessoa ou instituição usual.
Nesse contexto, procuramos adotar como unidade-caso uma escola com
características diferenciadas, que justificassem a tipificação do estudo como o de
caso único, como apresentado na seção subsequente.
44
4.2 CAMPO DE OBSERVAÇÃO
O campo selecionado para a realização da pesquisa constitui-se na Escola
de Aplicação da Universidade Federal do Pará (UFPA). A mesma possui
características que a distinguem de outras instituições de ensino básico, como: a)
estrutura administrativa própria; b) serve de campo de estágios, proporcionando a
produção, sistematização e a socialização dos conhecimentos através do ensino, da
pesquisa e da extensão; c) configura-se como espaço de formação profissional e
inovação pedagógica na educação básica; d) oferece condições para que os
estudantes de licenciatura atuem como veículo de integração entre a educação
superior e a educação básica (UFPA, 2009).
De posse dos conhecimentos dessas características, justifica-se, então, a
escolha da Escola de Aplicação como campo de estudo da pesquisa, e, ainda, como
sendo um estudo de caso único. Isso porque a Escola de Aplicação, de acordo com
o seu Regimento (UFPA, 2009) é um espaço educativo preocupado não só com o
ensino, mas também com a pesquisa e a extensão, mantendo diálogo aberto e
frequente com a UFPA, o que favorece a realização de práticas pedagógicas
inovadoras. Certamente contribuindo para a disseminação do conhecimento
produzido no âmbito da Universidade, para o espaço na educação básica.
4.3 SUJEITOS DA PESQUISA
O primeiro passo para a seleção dos sujeitos foi definir qual tipo de
amostragem deverá ser utilizada, uma vez que existem dois grandes tipos de
amostras: probabilísticas5 e as não-probabilísticas6 (GIL, 1999; DESLANDES, 2008;
RICHARDSON, 2009). A ideia de amostragem, para Deslandes (2008), não é
indicada para algumas pesquisas qualitativas, pois em alguns casos a pesquisa não
5 Segundo Richardson et al. (2009), nas amostras probabilísticas todos os sujeitos têm a mesma probabilidade de ser escolhido, e podem ser classificadas como aleatórias ou ao acaso. 6 Neste caso, de acordo Richardson et al. (2009), os sujeitos são escolhidos com base em determinados critérios, e as amostras são classificadas pelo autor como acidentais, intencionais ou de seleção racional.
45
trata dos sujeitos em si, mas das suas representações, conhecimentos, práticas,
comportamentos e atitudes, o que impossibilita a definição de uma amostra que
seria representativa da totalidade.
No entanto, para a realização desta pesquisa consideramos necessário
definir uma amostra não-probabílistica intencional ou de seleção racional, pois nesse
tipo de amostra os elementos que a constituem se relacionam intencionalmente com
as características estabelecidas no plano e nas hipóteses formuladas pelo
pesquisador (RICHARDSON et al., 2009). Sendo assim, amostragem da pesquisa
constituiu-se por cinco professores de Ciências Naturais, assim distribuídos: um de
Química, dois de Física e dois de Biologia, atuantes no ensino médio da Escola de
Aplicação.
4.4 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
A presente pesquisa apoiou-se em duas fontes de evidências, a saber: a
pesquisa de campo e a observação assistemática (direta). Tais fontes permitiram a
apreensão de um conjunto de dados e informações. Minayo (2008, p. 61) ressalta
que “[...] o trabalho de campo permite a aproximação do pesquisador da realidade
sobre a qual formulou uma pergunta” e “[...] também estabelecer uma interação com
os “atores” que conformam a realidade [...]”. Dentre as diferentes formas de
abordagem técnica na pesquisa de campo, optamos pela entrevista.
As entrevistas apresentam formatos diferentes e podem ser escolhidas de
acordo com os objetivos do estudo. Optamos pelas entrevistas semi-estruturadas,
pois nesse tipo de entrevistas as questões são formuladas com o intuito de “[...]
permitir que o sujeito discorra e verbalize seus pensamentos, tendências e reflexões
sobre os temas apresentados” (ROSA; ARNOLDI, 2006, p. 30).
Para fomentar as respostas dos professores e professoras, optamos pela
elaboração de questões a partir de textos e trechos de textos, o que caracteriza uma
entrevista projetiva. Nesse tipo de entrevista, de acordo com Minayo (2008), vários
dispositivos visuais, como filmes, vídeos, pinturas, gravuras, fotos, contos, redações
de outras pessoas podem ser utilizados com a finalidade de estimular o informante
ou entrevistado a discorrer sobre o que vê ou lê.
46
A elaboração das questões teve início com a seleção de textos relacionados
a problemas socioambientais contemporâneos. Em seguida foram selecionados
alguns fragmentos desses textos que serviram de orientação para a formulação das
questões. Para a escolha dos textos e elaboração das questões contamos com a
participação de alguns membros do Grupo de Pesquisa “Educação, Ciência e
Sustentabilidade na Amazônia”, ainda em construção na Plataforma Lattes (CNPq).
Assim, a construção das questões baseou-se em um episódio de uma história em
quadrinhos e em cinco fragmentos de textos.
Com a conclusão da etapa de elaboração, partimos para a etapa de teste.
Solicitamos, então, que alguns professores da educação básica respondessem às
questões com o intuito de verificar a viabilidade das mesmas. Moreira e Caleffe
(2006) destacam que é recomendável que os participantes da etapa de teste das
questões sejam da mesma categoria do público alvo, que se identifiquem com o
trabalho e, principalmente, que estejam dispostos a colaborar, realizando
comentários francos e críticos. As críticas e sugestões apresentadas pelos
participantes da etapa de teste foram acolhidas e algumas questões passaram por
modificações até serem consideradas prontas para serem aplicadas.
O passo seguinte foi a entrada no campo de pesquisa. Esta etapa consistiu
na execução de alguns procedimentos, a saber: (1) contato com a direção e com a
Coordenação do Ensino Médio da Escola de Aplicação, para apresentação dos
objetivos, da metodologia da pesquisa e da justificativa para escolha da Escola, bem
como solicitação de autorização para a realização da pesquisa; (2) agendamento de
uma reunião com o corpo técnico responsável pelo ensino médio e com os
professores e professoras de Ciências Naturais – Química, Física e Biologia –
atuantes no ensino médio da Instituição, objetivando apresentar a pesquisa e
convidá-los para participar. Para Rosa e Arnoldi (2006), a apresentação da pesquisa
é um protocolo importante nas pesquisas qualitativas, pois os entrevistados passam
a ter conhecimento sobre todos os procedimentos que serão adotados durante a
coleta de dados.
Depois da reunião de apresentação do projeto, iniciamos o contato individual
com os professores que concordaram em participar da pesquisa. Nessa etapa
novamente explicávamos os procedimentos que seriam adotados no momento das
entrevistas. A partir do momento que o professor aceitava participar da pesquisa era
agendada uma nova visita para o início das entrevistas. Antes da primeira entrevista
47
o professor recebia o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE), conforme
consta no Apêndice E. Tais procedimentos se constituíram articulações necessárias
à interação entre pesquisadora e os sujeitos de pesquisa. Após a assinatura do
termo iniciava-se a entrevista.
Para Minayo (2008) durante as entrevistas é fundamental que se utilize
instrumentos adequados para registro de falas e debates, uma vez que é o registro
fiel das falas que irá permitir uma boa compreensão da lógica interna do grupo ou da
coletividade estudada. Desse modo os registros das entrevistas foram realizados de
três formas: gravação, anotações das falas e registro da linguagem não verbal
(posturas, expressão etc.). Segundo Cruz Neto (2004, p. 63) o “[...] registro visual
amplia o conhecimento do estudo”.
No momento das entrevistas realizamos observações assistemáticas ou
diretas. Essas observações são consideradas mais livres, pois não há a
necessidade de fichas ou listas de registros (RICHARDSON et al., 2009), e podem
ser realizadas ao longo da visita de campo, incluindo aquelas ocasiões durante as
quais estão sendo coletadas outras evidências, como as evidências provenientes de
entrevista (YIN, 2005).
Para o registro das observações realizadas, recorremos ao caderno de
anotações. Segundo Rosa e Arnoldi (2006), o pesquisador/entrevistador pode anotar
“[...] com fidedignidade suas interpretações, pontos críticos, significados
identificados, análise de gestos e posicionamentos corporais efetivados pelo
entrevistado [...]”. Todas as impressões, dificuldades, facilidades, sentimentos,
intenções foram anotadas, uma vez que estas informações poderiam ser úteis no
processo de análise e de interpretação dos dados.
4.5 AS DIFICULDADES PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA
Quando começamos a pensar no projeto de pesquisa, não contávamos com
possíveis dificuldades que encontraríamos para o desenvolvimento da mesma.
Porém, muitos pontos tiveram que ser alterados logo no começo da pesquisa. Os
primeiros indícios que encontraríamos dificuldades na coleta de dados foram
observados na realização da primeira reunião com os professores de Ciências
48
Naturais do ensino médio, pois houve dificuldades de reuni-los para a apresentação
da proposta da pesquisa.
Até então, pensávamos em realizar também a técnica do grupo focal para
coletar os dados. Conforme Trentini e Gonçalves (2000), a dinâmica dos grupos
focais está voltada para um determinado foco que consiste no tema de pesquisa em
questão, o qual é discutido pelo grupo nas suas mais diversificadas dimensões
possíveis, dentro de um processo de interação e participação dos envolvidos.
No entanto, percebemos que essa estratégia seria inviável pela falta de
disponibilidade de tempo dos professores. Até tentamos organizar horários,
juntamente com os professores que demonstraram interesse em participar da
pesquisa, mas não obtivemos êxito. Resolvemos, então, definir uma nova estratégia
para coleta de dados. Optamos assim, pela entrevista projetiva que deveria ser
realizada individualmente com data e hora marcadas com cada um dos professores.
Mesmo realizando entrevistas projetivas, ainda encontramos algumas
dificuldades, pois alguns professores, que a princípio haviam concordado em
participar, quando tiveram contato com a primeira questão da pesquisa disseram
que não podiam mais colaborar. A maioria alegando falta de tempo. Entre os
professores que concordaram e permaneceram até o final da coleta de dados,
também encontramos algumas dificuldades, pois, às vezes, os professores
agendavam a entrevista, mas no dia e na hora combinada não podiam responder à
questão.
4.6 ESTRUTURA DAS QUESTÕES E DINÂMICA DAS ENTREVISTAS
Para alcançarmos os objetivos da pesquisa solicitamos que os professores
respondessem a quatro questões referentes aos temas socioambientais
contemporâneos. Para cada questão elaborada, pensamos em um tema que
pudesse ser discutido de forma ampla. Outro aspecto importante a ser ressaltado é
que pela própria complexidade que envolve as temáticas socioambientais, as
questões não apresentavam abordagens isoladas, não existindo portanto, limites
fixos entre as temáticas que poderiam ser tratadas, em resposta às questões, ou
49
seja, todas elas permitiam que um amplo espectro de abordagens pudessem ser
realizadas.
Para a elaboração da primeira questão utilizamos um episódio de uma
história em quadrinhos, no qual inúmeras discussões poderiam ser realizadas, entre
elas as queimadas (APÊNDICE A); na segunda questão, procuramos enfocar a
biodiversidade e suas diferentes dimensões, por meio de dois fragmentos de textos,
sendo que o primeiro questionava a utilidade da biodiversidade e o segundo
ressaltava as consequências da perda da biodiversidade (APÊNDICE B); na terceira
questão, demos ênfase ao tema bem-estar na sociedade contemporânea, utilizando
um texto que interroga a capacidade das sociedades reorientarem os processos
produtivos e destaca que as soluções não são somente técnicas ou científicas
(APÊNDICE C).
Enfim, a quarta questão apresenta dois trechos de textos relacionados ao
consumo. O primeiro aponta o consumo e o aumento da população como dois dos
pilares da crise ambiental; já o segundo, afirma que o nosso modo de vida é imposto
pela máquina publicitária das grandes corporações, no entanto não somos
necessariamente determinados por elas (APÊNDICE D). Após a realização das
entrevistas, utilizando os textos como estratégia de motivação e levantamento de
conhecimentos, o professor era questionado acerca de como realizava a abordagem
dos temas socioambientais em sala e de que forma ele relacionava esses temas,
assim como as temáticas associadas a eles, aos conteúdos da sua disciplina.
4.7 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Embora a análise e a interpretação de dados sejam conceitualmente
distintas, apresentam-se como processos estreitamente relacionados. É o
tratamento dos dados que nos permite verificar com clareza os resultados obtidos a
partir do estudo realizado. De acordo com Minayo (2008, p. 27), o “[...] tratamento do
material nos conduz a uma busca da lógica peculiar e interna do grupo que estamos
analisando, sendo esta a construção fundamental do pesquisador”. Para Moraes
(2007, p. 110) “[...] uma boa análise conduz o pesquisador a expressar suas próprias
50
construções e convicções sobre os fenômenos que investiga”. Gomes (2008, p. 79)
destaca que “a análise e a interpretação dentro de uma perspectiva de pesquisa
qualitativa não tem como finalidade contar opiniões ou pessoas”. O autor ressalta
ainda, que o foco é a exploração do conjunto de opiniões e representações sociais.
Assim, após a realização das entrevistas, as falas dos professores foram
transcritas e analisadas por meio da análise textual discursiva, que segundo Moraes
e Galiazzi (2007, p. 7), “[...] corresponde a uma metodologia de análise de dados e
informações de natureza qualitativa com a finalidade de produzir novas
compreensões sobre os fenômenos e discursos”. De acordo com Moraes (2007), os
textos submetidos à análise são denominados corpus, que representam as várias
vozes que se manifestam sobre o fenômeno investigado. É do corpus que são
retiradas, durante a análise dos dados, as estruturas que serão utilizadas na
elaboração de um novo texto, denominado de metatexto, este, possui a função de
apresentar os resultados das análises.
Na elaboração dos metatextos são utilizadas interlocuções empíricas, ou
seja, falas e citações de alguns trechos das entrevistas e, ainda, interlocuções
teóricas, que são diálogos que tratam da temática em pauta. Para Moraes (2007, p.
100), “[...] tanto as interlocuções empíricas quanto as teóricas são formas de
validação dos produtos das análises”. Assim, optamos pela produção de metatextos
que pudessem expressar, em linhas gerais, a forma como alguns professores de
Ciências Naturais, que atuam no ensino médio da Escola de Aplicação, estão
discutindo os temas socioambientais contemporâneos em sala de aula.
Os professores entrevistados foram identificados por letras, em ordem
alfabética, conforme entrada no processo de entrevista. Neste ponto, temos a
elucidar que a análise e a discussão das falas dos entrevistados não obedeceram à
ordem de identificação dos mesmos. Isso porque partirmos de uma abordagem
inicial, relativa às temáticas elencadas e, na sequência, agregamos as falas dos
professores concernentes às discussões processadas.
51
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Optamos por apresentar os resultados e as discussões a partir de quatro
metatextos elaborados com base nas respostas dos professores e nos referenciais
teóricos relacionados às temáticas. Além disso, procuramos indicar, sempre que
possível, as conexões que poderiam ser feitas entre as temáticas e os conteúdos,
mas que não foram citadas pelos professores. Assim, temos quatro subseções neste
capítulo, a saber: (1) A floresta, seus povos e contextos socioambientais: aportes
para o ensino de ciências; (2) Biodiversidade no contexto do ensino de ciências
naturais: múltiplos debates pertinentes; (3) O ensino de ciências e as imbricações
com o tema bem-estar humano e, por fim, (4) Ensino de ciências e cidadania:
perspectivas para o consumo sustentável.
5.1 A FLORESTA, SEUS POVOS E CONTEXTOS SOCIOAMBIENTAIS: APORTES
PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS
A primeira questão apresentada aos professores focalizava aspectos
relacionados às queimadas. Trata-se de uma questão, como as demais, que
possibilita ao professor apresentar, de acordo com os seus conhecimentos, uma
variedade de abordagens relacionadas aos problemas socioambientais
contemporâneos. A questão em tela apóia-se num episódio retirado de uma revista
em quadrinhos elaborada por Maurício de Sousa, intitulado Papa-Capim em
“Remédio na Floresta” (Apêndice A). No episódio, o Pajé, acostumado a curar
pessoas e animais, depara-se com uma situação inesperada. Ao se dirigir a uma
região da floresta onde existia a erva que precisava para realizar mais uma cura, ele
encontra a floresta em chamas. As imagens e as falas indicam que o fogo foi
colocado por fazendeiros com o objetivo de expandir a criação de gado. Com base
nesse enredo, o professor é solicitado a discorrer sobre a seguinte questão:
supondo que você possa utilizar a história em quadrinhos, apresente as várias
possibilidades de temáticas que podem ser abordadas.
52
Entre as temáticas enfatizadas pelos professores destacamos as seguintes:
(1) conhecimentos dos povos da floresta; (2) perda da biodiversidade; (3) uso do
espaço (amazônico); (4) relação entre o conhecimento científico e o conhecimento
popular. Cabe destacar, neste ponto, que a questão de pesquisa, baseada na
história em quadrinhos, não apresenta referência a localização da comunidade
indígena. No entanto, todos os professores remeteram suas respostas e suas
observações à região amazônica, ou seja, do lugar de onde estão falando. Por sua
vez, as discussões realizadas a seguir, quando pertinente, foram igualmente
dirigidas ao contexto amazônico.
5.1.1 Conhecimentos dos povos da floresta
O conhecimento adquirido por povos indígenas, a partir de séculos de
experiências diretas e de contato com o meio ambiente, constitui o conhecimento
ecológico tradicional (MARQUES, 2001). De fato, a população indígena apresenta
um abrangente conhecimento sobre os aspectos ecológicos que envolvem a
natureza. Isso é reconhecido pelo Professor A, em uma das suas falas, ou seja, a
importância dos conhecimentos sobre os recursos, sobre a biodiversidade e sobre a
variedade de práticas de cura associadas a esses recursos naturais. De acordo esse
professor, a questão permite explorar “[...] a variedade de tratamento que existe [e]
que o Pajé [...] conhece; [bem como] os conhecimentos [sobre] os recursos [da]
biodiversidade”. Nesse contexto, temos a ressaltar que não houve referência à
diversidade cultural desses povos.
Depreendemos que a relação que o Pajé estabelece com os recursos
naturais é determinada pela sua cultura, pelo seu modo de vida. Como afirmam
Younés e Garay (2006, p. 64), a “[...] percepção do meio ambiente é fortemente
específica da cultura. Ela depende de crenças, ideias, experiências, tradições
culturais e contextos socioeconômicos”. De acordo com Uetela (2006), muitos
desses fatores contribuem para a construção dos conhecimentos, os quais são
difundidos, geração após geração, ao longo do tempo, pelo atributo da oralidade ou
53
mesmo da participação direta nas experiências cotidianas, produzindo, assim, o que
chamamos de conhecimento tradicional.
É importante que seja reconhecido que a relação que os povos indígenas
estabelecem com os recursos naturais permitem aos mesmos construir uma série de
conhecimentos, baseados nas suas experiências e observações. Esses
conhecimentos acumulados, ao longo de muitas gerações, podem contribuir de
forma significativa para a construção de novos saberes. Muitas pesquisas, efetuadas
na região Amazônica, por exemplo, utilizam os conhecimentos dessas populações
como base de dados, como destaca Gonçalves (2008, p. 39), a saber: “[...] qualquer
engenheiro florestal, zoólogo, botânico, geógrafo ou geólogo sabe o quanto depende
do conhecimento dessas populações para realizar suas pesquisas, para identificar
espécies animais e vegetais [...]”.
Neste ponto, destacamos que é igualmente importante apreender que o
contato com outras formas de conhecimento pode ser prejudicial às populações
tradicionais, uma vez que esse contato pode diminuir a maior riqueza dessas
populações, qual seja: a riqueza cultural. Como afirmam Sayago e Bursztyn (2006,
p.100-101),
A riqueza cultural e a consistência social das sociedades tradicionais residem na sua escala, seu sistema de valores e sua visão não mercantil do mundo. [...] a chegada da lógica mercantil ao campo do saber tradicional representa um elemento desestabilizador. Aquilo que dá força à tradição – suas práticas sustentáveis – revela-se uma fragilidade, quando confrontada com a lógica do mercado [...].
De fato, a lógica mercantil configura-se como um risco à cultura ecológica.
Em geral (ou originalmente), a cultura ecológica dessas populações é pautada por
uma relação harmoniosa com os recursos naturais. A propósito, Lima e Pozzobon
(2005) denominam cultura ecológica a diversidade de formas como os grupos
sociais se relacionam com o meio ambiente, bem como suas práticas econômicas.
O Professor E também manifesta preocupação quando diz o seguinte: “[...]
os remédios que são tirados dos vegetais aí, no caso, foram queimados e o pajé não
tem mais como produzir os remédios dele, quer dizer, a fonte de substâncias
químicas para produzir os medicamentos foi simplesmente queimada”. Nesse
contexto, destacamos que o uso de plantas para fins medicinais é um dos costumes
que se confunde com a história do próprio homem. Inclusive, essa prática tem
contribuído para indicar plantas que possuem atividades biológicas (KAPLAN E
FIGUEIREDO, 2006). Para Sayago e Bursztyn (2006), a produção de fármacos em
54
escala industrial, a partir do conhecimento de uso por comunidades tradicionais, é
um exemplo da transformação da lógica de apropriação, ou seja, o valor de uso
passa a ter valor de troca.
De acordo ainda com Sayago e Bursztyn (2006, p. 93), os conhecimentos
tradicionais “[...] são habitualmente transformados em objetos de pesquisa, como
realidades a serem entendidas e saberes locais a serem apreendidos”. No caso dos
conhecimentos indígenas, Gonçalves (2008, p. 139) ressalta que “[...] populações
indígenas são portadoras de um acervo cultural extremamente rico, assim como um
enorme conhecimento a respeito da biodiversidade das florestas [...]”. Esse autor
destaca ainda que inventariar o patrimônio natural sem partir da cultura dessas
populações é como procurar agulha no palheiro.
Para Younés e Garay (2006), as diferentes maneiras das sociedades
tradicionais utilizarem seus recursos naturais, ou seja, como fonte de alimento,
fibras, combustíveis, medicamentos etc., precisam ser documentadas,
principalmente quando se trata de práticas que envolvem o manejo sustentável de
recursos. Trata-se, entre outros aspectos, de empreender para o “[...]
aprofundamento das teorias sobre a sustentabilidade dos recursos naturais e a
equidade social” (SIMONIAN, 2000, p. 16). Certamente, possibilitando que o
conhecimento produzido ao longo das diversas gerações seja compilado e
divulgado, segundo suas características e aplicabilidade.
A Professora D faz a seguinte indagação “[...] quem está desmatando?” “O
chamado homem branco!”, responde ela. Em seguida ela questiona como vai ficar o
pajé se a floresta for toda destruída, uma vez que para exercer sua função social na
tribo ele precisa dos recursos oferecidos pela floresta. E conclui: “Eu acho que ele
vai se sentir um inútil”. As considerações da Professora D têm procedência, pois
devemos considerar o conteúdo da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos
dos Povos Indígenas, quanto aos seguintes aspectos: os “[...] povos e pessoas
indígenas têm direito a não sofrer assimilação forçada ou a destruição de sua cultura
(NAÇÕES UNIDAS, 2009, p. 17), e ainda possuem o “[...] direito aos seus
medicamentos tradicionais e a manter suas práticas de saúde, incluindo a
conservação de suas plantas, animais e minerais [...]” (NAÇÕES UNIDAS, 2009, p.
24).
Ademais, a destruição da floresta, além de ocasionar perda da
biodiversidade, provoca também, segundo Gonçalves (2008, p. 40), extinção do “[...]
55
primeiro e grande recurso que a Amazônia dispõe: o seu patrimônio cultural; esse
patrimônio cultural [...] se confunde com a enorme riqueza das florestas, dos seus
ecossistemas [...]”. Temos que reconhecer que os povos indígenas dependem dos
recursos naturais, não só por uma questão de sobrevivência física, mas também
para preservar sua identidade cultural e sua organização social (LAURIOLA, 2001;
MATHIAS, 2006). Por outro lado, assinalamos que nenhum professor mencionou o
fato de que os povos indígenas, ao longo da história do Brasil, foram afetados (e
ainda o são) na sua forma de vida e, consequentemente, no seu modo de
relacionamento com os recursos naturais.
Assinalamos, neste ponto, que as falas dos professores remetem à imagem
dos índios do período de colonização. Imagem que aos poucos está sendo
desconstruída pela interação das populações indígenas com outras populações
humanas. Em alguns casos, esse contato diminuiu a sustentabilidade ecológica
dessas populações. Lima e Pozzobon (2005, p. 45) entendem sustentabilidade
ecológica como “[...] a capacidade de uma dada população de ocupar uma
determinada área e explorar seus recursos naturais sem ameaçar, ao longo do
tempo, a integridade ecológica do meio ambiente”.
Segundo ainda Lima e Pozzobon (2005, p. 50),
A categoria “índio” não está necessariamente associada à sustentabilidade, nem a de “branco” associada à insustentabilidade, embora se atribua às sociedades indígenas a herança da sustentabilidade e à população branca o papel oposto. É importante atentar para a cristalização de “estereótipos socioambientais” que atribuem valores ecológicos positivos ou negativos à diversidade social da Amazônia.
Além do mais, destacamos que nenhum dos professores enfatizou a
existência de práticas insustentáveis adotadas pelos povos da floresta – como se
todos eles continuassem convivendo de forma harmoniosa com a natureza, pois no
caso dos indígenas, como destaca Simonian (2000, p. 15), “[...] nem tudo tem sido
harmonia nas relações entre essas populações e os recursos naturais em seus
próprios contextos sociais [...]. Isto porque, segundo a mesma autora, essas
populações têm eventualmente impactado o ambiente, notadamente quando se
evidencia o aumento das pressões demográficas.
Consideramos que a inclusão de discussões relacionadas aos
conhecimentos dos povos da floresta, nas aulas de ciências naturais, constitui-se
excelente oportunidade de aproximar questões relacionadas á sustentabilidade e ao
desenvolvimento. Isso porque o conhecimento popular oriundo dessas populações é
56
a base de desenvolvimento do conhecimento científico apresentado nas salas de
aula. Ademais, problematizar os contextos socioambientais relativos a esse grupo
contribui para uma educação pautada nos princípios da sustentabilidade, pois
segundo Figueiredo (2006), a escola possui papel de destaque na divulgação,
discussão e levantamento de problemas de diversas ordens, incluindo as
relacionadas à sustentabilidade. Assim, a “[...] promoção de uma educação para a
sustentabilidade, adequada nas suas diversas vertentes, é um contributo
fundamental para se atingirem as metas pretendidas no que respeita à
sustentabilidade na Terra” (FIGUEIREDO; ALMEIDA; CÉSAR, 2004, p. 332).
Também observamos que, nas falas dos professores, não há referência ao
papel da ciência e da tecnologia no processo de desenvolvimento sustentável,
aspecto importante que poderia ser discutido em sala de aula, uma vez que segundo
Becker (2008, p. 278), a “[...] ciência e a tecnologia podem e devem contribuir para
vencer o desafio da utilização social e econômica sustentável do patrimônio natural
e cultural da Amazônia em benefício das populações regionais do país, hoje e no
futuro [...]”. Destacamos, neste ponto, que o requisito fundamental para a efetivação
de uma educação pautada pela preocupação com a sustentabilidade reside no
rompimento com o caráter disciplinar predominante nas escolas, pois o tema
sustentabilidade pressupõe um tratamento interdisciplinar.
5.1.2 Perda da biodiversidade
São várias as causas da perda da biodiversidade. Nesse âmbito,
destacamos a seguinte abordagem apresentada pelo Professor A: “[...] as
queimadas, [podem provocar] destruição da nossa biodiversidade que é um tema
que a gente pode tratar aqui [...]”. Na continuidade da sua fala, o professor faz
referência ao desconhecimento humano sobre os recursos da floresta, referindo-se
aqui a Amazônia, a saber: “[...] as consequências de tudo isso [é] a destruição dessa
nossa biodiversidade [...] alguns recursos, na verdade, muitos recursos [da]
Amazônia [...] estão ameaçados, estão sendo destruídos, inclusive coisas que a
gente nem conhece ainda [...]”.
57
De certo, a abordagem do Professor A é pertinente e encontra respaldo nas
observações de McGrath (1997), quando este destaca que a importância da
biodiversidade é geralmente justificada em termos de três questões. Enfatizamos
aquela que apresenta relação com a abordagem do professor, ou seja, os valores
econômicos e sociais da biodiversidade, que enfoca os potenciais econômicos de
espécies, que ainda não foram identificadas e que podem conter, por exemplo, a
cura do câncer.
Ademais, os professores não fazem referência ao fato do Brasil ser um dos
últimos redutos de floresta tropical do mundo, argumento para protegê-las cada vez
mais. E, a despeito desse fato, o que se verifica é uma acelerada perda da cobertura
vegetal, principalmente para a expansão agropecuária. Por outro lado, o Professor A
ao perceber que o acervo de produtos naturais começa a desaparecer, antes
mesmo de serem conhecidos, encontra apoio na ressalva de Kaplan e Figueiredo
(2006) quando estes afirmam que as nossas florestas constituem-se território
quimicamente desconhecido.
O Professor A refere o seguinte: “[...] e agora você vê aqui a queimada, a
destruição [da floresta], a poluição, e isso causa a destruição da fauna e da flora que
compõem a biodiversidade da Amazônia”. De fato, as ressalvas do professor
procedem, pois o “[...] fogo tem se tornado um dos maiores riscos ambientais para a
Amazônia” (ALMEIDA E RODRIGUES, 2006, p. 154). Isso porque toda riqueza
acumulada nas nossas florestas está sendo transformada em pastos ou em áreas de
monocultura, mediante prática de corte e de queima. Na mesma linha, estão as
ponderações de Viana (2006, p. 24), quais sejam: o “[...] Brasil possui uma posição
ímpar num mundo onde o verde vem sendo substituído pelo cinza”. Em realidade, se
nada for feito para conter as queimadas, continuaremos perdendo a oportunidade de
conhecer novas espécies.
As observações do Professor A também encontram base nas seguintes
considerações de Viana (2006, p. 25):
[...] nossas florestas possuem enorme potencial para produzir madeira, cipós, plantas medicinais, essências aromáticas, frutos e tantas outras riquezas. Salvo alguns sistemas de manejo inventados pelos índios, extrativistas e caboclos, nós nunca soubemos aproveitar esse potencial. Temos tratado nossos bosques como se fossem garimpos.
De fato, a humanidade, ao longo dos tempos, tem pilhado a natureza.
Precisamos reverter esse quadro e para isso podemos estabelecer alianças na
58
tentativa de viabilizar o bom uso dos nossos recursos naturais, valorizando a floresta
em pé. Nesse sentido, a UNESCO (2005, p. 47) afirma que o Programa EDS deve
contribuir para “[...] uma compreensão científica do que seja sustentabilidade, junto
com a compreensão dos valores, princípios e estilos de vida que conduzirão ao
processo de transição para o desenvolvimento sustentável”.
Assim sendo, cabe ao ensino de ciências naturais colaborar para essa
compreensão. Como bem destaca Pedrosa (2010, p. 356),
A educação em ciências, tal como a educação em geral, deve orientar-se para o desenvolvimento de competências, incluindo as necessárias para compreender problemas de sustentabilidade que actualmente se colocam, tanto a nível local como global, um requisito essencial para se poder ponderar percursos de resolução e/ou contribuir com actuações efectivas para os resolver ou mitigar. Embora tal orientação requeira contributos diversos, a sua concretização não é possível à revelia dos professores e a sua efectivação depende fortemente do seu empenho e envolvimento, os quais, por seu turno, requerem a conjugação de diversos factores, incluindo oportunidades de formação que estimulem o acesso a informação e recursos relevantes.
Ademais, consideramos que o ensino de ciências tem papel fundamental na
formação de cidadãos, capazes de compreender as múltiplas dimensões
relacionadas à sustentabilidade planetária e, a partir disto, pensar em soluções
adequadas para minimizar os impactos provocados pela crise socioambiental
vigente.
5.1.3 Uso do espaço (amazônico)
Com o surgimento do homem na Terra, mesmo em tempos remotos, o
ambiente começou a ser alterado. É bem verdade que inicialmente as
transformações eram, praticamente, diminutas. Mas, é a partir da primeira revolução
industrial que o homem começa a intensificar a retirada de recursos dispostos na
natureza, a fim de prover as indústrias de matéria-prima. Outros eventos também
contribuíram, ou vêm contribuindo para o incremento desse processo, a saber:
crescimento populacional, aumento de consumo de alimentos e bens materiais etc.
Além disso, o avanço científico e tecnológico dinamizou o processo de exploração
de recursos naturais.
59
Nesse contexto, o Professor B avalia que a “[...] instalação de indústrias,
pastos para gado, construção de hidrelétricas e a devastação da floresta para a
produção de madeira, sem um estudo detalhado das consequências, estão trazendo
prejuízos incalculáveis, agora e para o futuro”. Depreendemos que as observações
do referido Professor fundamentam-se nos já proclamados prejuízos decorrentes da
implementação de políticas públicas de desenvolvimento do tipo top-down, ou seja,
aquelas que tendem a se operar com o isolamento das comunidades e dos
cidadãos, isto é, dos seus próprios beneficiários, notadamente na Amazônia – são
modelos de políticas públicas que têm um formato centralizado e altamente
dependente, no que diz respeito à tomada de decisões, logo, não se evidência a
participação comunitária (FORUM, 2003).
No caso da Amazônia, possuir grandes extensões de terra, afastadas dos
grandes centros comerciais, tornava suas terras mais baratas, atraindo assim,
investimentos que necessitavam de grandes áreas como a pecuária extensiva. No
entanto, há uma grande contradição nessa atividade, pois se por um lado a pecuária
aparece como atividade economicamente mais viável do ponto de vista capitalista de
curto prazo, de outro é um desastre ecológico e sociocultural, pois o desmatamento
destrói as bases naturais de sobrevivência das populações (GONÇALVES, 2009).
As florestas passaram, então, a ser tratadas pelos police makers como um entrave
que precisava ser removido para a expansão da agropecuária (VIANA, 2006).
Assim, a remoção da vegetação para a abertura de áreas para a implantação de
projetos agropecuários começou a transformar o cenário da região Amazônica, tanto
no aspecto social, quanto no ambiental.
Lima e Pozzobon (2005, p. 63) afirmam que os "[...] projetos agropecuários
financiados pelo governo militar representavam o primeiro movimento de um
processo contínuo de formação de extensos domínios privados no interior da
Amazônia, trazendo graves consequências sociais e ambientais para a região”. De
fato, o desenvolvimento da Amazônia, nas últimas décadas, tem sido alicerçado na
agroindústria da soja, da pecuária e na instalação de indústrias exportadoras da
Zona Franca de Manaus, que se fixaram na região para produzir mercadorias -
motocicletas, produtos eletrônicos etc. – empreendimentos totalmente dissociados
do contexto socioambiental e cultural do amazônida. De acordo com Viana (2006),
desconsideraram, assim, a possibilidade de implantação de indústrias que
60
utilizassem produtos da floresta, a exemplo da castanha, madeira, borracha, palmito
e óleos medicinais, entre outros, como matéria-prima.
O Professor A destaca a importância de discutir questões relacionadas à
sustentabilidade com os estudantes do ensino médio, como podemos constatar nas
seguintes afirmações sobre projetos (ditos) sustentáveis:
[...] projetos sustentáveis para a Amazônia é um ponto importante para se tratar e aí. Eu diria, mais assim, em termos do ensino médio. Dá pra se trabalhar com alunos do ensino médio aqui esse conhecimento realmente dos interesses da indústria farmacêutica na Amazônia, e por último o socioambientalismo que eu acho que [está] incluído [...]. [...] pensar em desenvolvimento sustentável [para] Amazônia, [é pensar em] projetos que versem sobre este tema e que tenham realmente um compromisso socioambiental e não simplesmente uma propaganda, para promoção de algum grupo, promoção de alguma indústria, de alguma empresa enfim acho que basicamente seriam os assuntos que eu poderia tratar aqui [...].
Então, problematizar as questões que envolvem as dimensões da sustentabilidade é
possibilitar a ampliação da visão dos estudantes quanto aos temas socioambientais.
Segundo Figueiredo (2006), a sociedade moderna exige que as escolas e os
professores de ciências ensinem não só a ciência escolar, mas também eduquem os
alunos para exercerem uma cidadania planetária que promova o desenvolvimento
de forma sustentável da sociedade. Mas, para que isso ocorra precisamos romper
com a visão de um ensino de ciências preocupado apenas com a memorização de
conceitos e de definições. Consideramos que o ideal é que o professor, possuindo
conhecimentos atuais e pertinentes sobre a situação planetária, seja capaz de
relacionar os conteúdos da sua disciplina com os eventos provocados pela crise
socioambiental vigente.
5.1.4 A relação entre conhecimento científico e conhecimento popular
As falas dos professores reconhecem a existência de outros saberes além
dos conhecimentos científicos. O Professor C afirma que ressalta durante as suas
aulas a existência de outros conhecimentos, além dos científicos, da seguinte forma:
“[...] destacando que o conhecimento científico, o saber científico é apenas um tipo
de conhecimento, existem outros tipos de conhecimentos, entre eles o
conhecimento, por exemplo, dos povos da floresta, o conhecimento dos ribeirinhos
[...]”. É fato que há outras formas de conhecimento e que o professor está
61
contribuindo para a compreensão de que existem diferentes modos de ler e de se
relacionar com o mundo. E, ainda, que o conhecimento científico é apenas uma
dessas formas.
Por sua vez, a Professor D relata o seguinte:
[...] eu faço aqueles parênteses [...] não é que o conhecimento biológico valide o conhecimento popular, [eu digo] que eles têm a mesma importância, que nós ainda não descobrimos ou então nos esquecemos. O que a gente observa que [está] acontecendo: tudo aquilo que foi rejeitado pela ciência quando ela atingiu o seu auge, [e] desprezou todos os conhecimentos populares, ela [está] tentando resgatar [...].
É interessante perceber a preocupação desses professores em destacar as
várias formas de produção de conhecimentos, pois em geral o que prevalece nas
instituições de ensino formal (escolas, universidades etc.) é a hegemonia do
conhecimento científico, uma vez que este “[...] tem sido a base das grandes
transformações da humanidade” (UETELA, 2006, p. 101).
De acordo com Sayago e Bursztyn (2006), a partir da revolução industrial
houve um acentuado distanciamento entre as diferentes formas de conhecimento,
ou seja, os produzidos pela sociedade industrial e os produzidos pelas sociedades
tradicionais, em decorrência do papel que a ciência passou a assumir na
modernidade. Assim, segundo esses autores, os saberes acumulados ao longo de
muitas gerações passaram a ser desconsiderados por não possuírem status
científico e serem considerados frágeis diante da ciência institucionalizada. Por outro
lado, Hissa (2008) observa que ao desconsiderar outros saberes a ciência perde
saber.
Neste ponto, destacamos que o avanço da ciência e da tecnologia deve ser
considerado o empreendimento mais admirável da espécie humana na atualidade
(Menon, 1992) e, no contexto da DEDS, a ciência também foi enfatizada: o “[...]
papel da ciência e tecnologia merece ser destacado já que a ciência fornece às
pessoas meios para entender o mundo e seu papel nele” (UNESCO, 2005, p. 47).
De fato, as ciências naturais contribuem para a elaboração de conhecimentos
científicos que colaboram com o desenvolvimento da sociedade. No entanto, esse
mesmo conhecimento que gera desenvolvimento contribui também para a
degradação ambiental. Nesse sentido, o “[...] Programa Educação para o
Desenvolvimento Sustentável deve fornecer uma compreensão científica do que
seja sustentabilidade, junto com a compreensão dos valores, princípios e estilos de
62
vida que conduzirão ao processo de transição para o desenvolvimento sustentável
(UNESCO, 2005, p. 47).
É certo que devemos valorizar o papel do conhecimento científico, pois é por
meio destes conhecimentos que a ciência progride e contribui para o processo de
desenvolvimento, em seus múltiplos aspectos. Ora, se o conhecimento científico
contribuiu, de forma significativa, para o processo de desenvolvimento, este,
pautado no crescimento econômico com foco na industrialização, ele também
poderá contribuir de forma satisfatória para um desenvolvimento pautado no uso
sustentável dos recursos naturais, assumindo, assim, esse novo paradigma.
Em relação às conexões que fazem entre o tema e os conteúdos das suas
disciplinas os professores afirmam fazer diferentes abordagens. O Professor A não
faz nenhuma referência direta sobre os conteúdos com os quais procura relacionar
as queimadas, retomando apenas alguns aspectos relacionados às questões mais
amplas como podemos observar em sua fala:
Pois é, e a questão do desconhecimento humano, a respeito desses recursos que as florestas oferecem, o que nós estávamos conversando, as conseqüências dessa expansão da agropecuária na Amazônia, é um problema que preocupa e os desenhos, essas ilustrações, elas funcionariam muito bem para mostrar essa realidade [...].
Entendemos que a insuficiência de conhecimento acerca das riquezas existentes na
nossa região, juntamente com a expansão da agropecuária, constituem-se
problemas que precisam ser superados. Consideramos que o ensino de ciências
pode se constituir instrumento eficaz na divulgação da importância das nossas
riquezas e suas inter-relações com a manutenção da vida no nosso planeta, bem
como propiciar uma visão crítica sobre o uso das nossas terras. Quando
questionado se realiza esse tipo de abordagem em sala de aula, o Professor A diz:
Com certeza, pra mim acredito que seja até mais fácil, por ser biólogo, inclusive, ter uma pós-graduação em Educação, versando sobre essa questão realmente das relações amazônicas, das relações é que ocorrem entre os seres vivos na Amazônia e então conhecer um pouquinho dessa realidade dá para estabelecer, nas minhas aulas, essa contextualização desses conteúdos com a realidade amazônica.
O referido Professor reforça assim a crença de que questões relacionadas ao meio
ambiente são questões que devem ser abordadas somente em aulas de biologia e
geografia, uma vez que essas disciplinas possuem uma base teórica muito voltada à
constituição do meio natural, esquecendo-se da necessidade de tratar as questões
63
ambientais de maneira interdisciplinar, inclusive, como preconiza os PCNs (BRASIL,
1999).
Várias são as possibilidades de discussão em sala de aula, isso porque os
impactos provocados pelas queimadas incluem perda da biodiversidade, diminuição
da diversidade genética, redução da ciclagem da água, poluição atmosférica,
alteração das precipitações e, ainda, contribuem com o aquecimento global, fatos
que incidem diretamente sobre os seres vivos, colaborando fortemente para, por
exemplo, a extinção das espécies. Ademais, temos que considerar as perdas
incidentes sobre os grupos humanos.
O Professor B apresenta de forma mais direta as relações entre os
conteúdos e as questões que podem ser exploradas no episódio da revista em
quadrinho apresentada, como podemos perceber na sua fala:
Hoje mesmo nos tivemos uma aula de termodinâmica na qual nós estamos trabalhando a 2ª Lei da Termodinâmica e, inclusive, eu fui questionado por um aluno sobre a questão dos combustíveis, sobre a questão do álcool ou da gasolina. E falei que o governo deveria investir mais na questão do álcool, por quê? Porque ele agride menos o ambiente.
O Professor B tem razão ao afirmar que o álcool agride menos o ambiente, pois de
acordo com Bispo (2010) a gasolina é um combustível fóssil, derivada do petróleo,
que emite dióxido de carbono (CO2), e ao ser queimado nos motores contribui
enormemente para o aquecimento global. O etanol, o álcool combustível, ao
contrário, é um combustível renovável, feito de cana-de-açúcar. Embora o etanol
também emita CO2 na sua queima, os canaviais absorvem esse gás no processo de
fotossíntese. Por isso, do ponto de vista do aquecimento global7, o álcool é
considerado um combustível limpo.
Interessante que o professor destaca que os próprios alunos já apresentam
curiosidade acerca de questões divulgadas frequentemente pela mídia. O Professor
B destaca ainda que procura contextualizar e relacionar questões econômicas e
ecológicas como demonstra em sua fala:
[...] eu expliquei para eles [que o álcool] tem mais poder de explosão, ele gera mais potência num motor de um carro, mas em compensação ele queima mais e ai o que o governo faz para incentivar o uso do álcool? Ele barateia, ele coloca mais baixo que gasolina, só que mesmo sendo mais baixo devido ele consumir mais, não chega a compensar, então deveria haver mais uma preocupação com aspectos ecológicos por parte do governo de incentivar mais o uso do álcool como combustível e ai, com certeza, teríamos uma melhor qualidade no ar.
7 No entanto, do ponto de vista da biodiversidade há inúmeras perdas, pois a monocultura é uma das causas da perda da bodiversidade.
64
A preocupação com a qualidade do ar, apontada pelo Professor B, também tem
espaço na Agenda 21 Global, que em seu artigo 9º, destaca a necessidade de
promover um desenvolvimento sustentável também no setor de transporte, uma vez
que este exerce um papel essencial no desenvolvimento econômico e social, ao
mesmo tempo em que contribui, de forma crescente, para a emissão de gases
poluentes na atmosfera.
O Professor C afirma fazer a seguinte abordagem:
A gente aborda a questão da queimada quando a gente fala, por exemplo, em termo conceitual, quando a gente estuda calor. Então, quando a gente estuda a questão do calor, a gente busca abordar além do conceitual, o conceito relativo ao calor, mas o procedimental também [...] dessa relação, por exemplo, do calor gerado pelas queimadas e que relação esse calor gerado pelas queimadas trás para as questões ambientais. Tanto locais onde a queimada [está] ocorrendo, quanto global. A questão do clima, a questão das marés, a questão das chuvas, além dos problemas que ela causa também pra vida, tanto animal quanto vegetal da região, da área ali.
De acordo com Ribeiro (2004), os fenômenos térmicos estão presentes no nosso
dia-dia, o que facilita a formulação de explicações pautadas nas sensações e
experiências do cotidiano. Assim, é importante ressalta que a iniciativa do Professor
de relacionar o conteúdo com o tema em pauta constitui-se em uma estratégia eficaz
de ensino, uma vez que as queimadas e suas implicações são frequentemente
noticiadas.
O Professor D não apresenta, especificamente, como poderia abordar os
conteúdos que estão presentes na história em quadrinhos. Entretanto, muitos
enfoques poderiam ser realizados, a exemplo da diminuição da variabilidade
genética; da exposição direta do solo pela destruição da cobertura vegetal, que sem
proteção passa a perder rapidamente seus nutrientes; da erosão que contribui com o
assoreamento dos rios que passam a transbordar durante o inverno. Além disso, o
Professor poderia destacar que o desmatamento, quando realizado com a utilização
do fogo, ocasiona a destruição dos microrganismos presentes no solo, os quais são
responsáveis pela decomposição da matéria orgânica, alterando assim os ciclos
biogeoquímicos, e que durante as queimadas há liberação de gases que podem
prejudicar a saúde humana, causando sérios problemas respiratórios.
O Professor E afirma que faz a seguinte abordagem:
Olha sempre quando eu estou falando de fatores que afetam a velocidade das reações químicas, eu cito exemplos de combustões, inclusive a questão da combustão faz parte do conteúdo da prova do Prise II e eles perguntam, indagam sobre as queimadas da floresta se são sempre criminosas ou não, se podem ser naturais e quando eu estou explicando energia de ativação,
65
eu mostro que para iniciar uma combustão tem que ter uma faísca, que a energia de ativação, essa faísca, pode ser natural, ou pode ser através do homem, para o homem é mais simples, basta jogar um cigarro, ou queimar propositalmente um pequeno combustível ali para alastrar o fogo. Na verdade, ele [está] mostrando, ali, a Energia de Ativação, dando início a uma combustão, como também um raio pode queimar material orgânico.
Como podemos observar em sua fala, o Professor E destaca o interesse dos alunos
pelas causas e consequências das queimadas. Acreditamos que esse interesse está
relacionado à veiculação, realizada pelos meios de comunicação, de notícias sobre
as queimadas e seus impactos aos ecossistemas. O Professor E destaca ainda que:
Não necessariamente a combustão da floresta é feita através do homem, tem as combustões naturais e as criminosas. O que são as criminosas? São aquelas em que os homens trabalham transformando a floresta em campo de pastagem, mas não tem como deixar de abordar isso ai, em termoquímica, aliás, em cinética química quando se fala em energia de ativação tem que citar combustão e no início da combustão entra a energia de ativação [...]. E aqui na região norte não dá para não [...] deixar de falar em combustão, alias no Brasil todinho, tão queimando o Brasil todo, não é só a floresta Amazônia, não.
Outros aspectos ressaltados pelo Professor E diz respeito à origem das queimadas,
pois muitas vezes elas são associadas somente a ação antrópica, deixando de lado
a existência de queimadas que ocorrem em decorrência da ação da própria
natureza, denominada, por isso, de queimadas naturais ocasionadas por descargas
elétricas.
Destacamos que o Professor E apresenta, de forma satisfatória, as relações
que estabelece em sala de aula entre os seus conteúdos e as temáticas, presentes
na questão. Entretanto, quando questionado sobre como enfoca a questão dos
princípios ativos das plantas (um das abordagens possíveis da questão), apresenta
uma visão fragmentada do conhecimento, certamente em decorrência da sua
formação. Segundo ele:
Não, não, eu não posso falar isso em sala de aula porque já seria mais uma bioquímica, o professor que se preocupa em mostrar o princípio ativo dos vegetais na fabricação dos medicamentos é o professor de bioquímica, e eu não leciono essa matéria não. [...] quase tudo é extraído de vegetal, quase tudo é de principio ativo, mas eu não cito não, porque eu não trabalho com bioquímica.
O professor, por meio da sua fala, retrata a fragmentação do conhecimento que
além de ser disciplinar (química), fragmenta-se ainda mais no interior das próprias
disciplinas, em decorrência dessas divisões que ocorrem na escola. Acerca dessa
postura, Carvalho (2004, p. 128) destaca que no
[...] mundo vivido, os aspectos tomados isoladamente pelas disciplinas estão permanentemente relacionados, como trama de um só tecido. Ao
66
puxar apenas um fio, tratando-o como fato único e isolado, cada área especializada do conhecimento não apenas perde a visão de conjunto, como também pode esgarçar irremediavelmente essa trama em que tudo está imbricado.
Assim, precisamos aceitar a existência da inadequação, que de acordo com Morin
(2004, p. 13) é
[...] cada vez mais ampla, profunda e grave entre os saberes separados, fragmentados, compartimentados entre disciplinas e por outro lado, realidades ou problemas cada vez mais polidisciplinares, transversais, multidimensionais, transnacionais, globais, planetários.
Além do mais, a visão limitada fornecida pelas disciplinas não favorece a
compreensão das diversas dimensões presentes nas questões ambientais, isso
porque os “[...] problemas ambientais ultrapassam a especialização do saber”
(CARVALHO, 2004, p.129). No entanto, as análises das falas dos professores
apontam, na maioria das vezes, para um tratamento unidirecional das temáticas,
deixando de lado a multidimensionalidade que caracteriza as questões
socioambientais.
67
5.2 BIODIVERSIDADE NO CONTEXTO DO ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS:
MÚLTIPLOS DEBATES PERTINENTES
A segunda questão de pesquisa relacionava-se à biodiversidade. A referida
questão estava alicerçada em dois trechos de texto (APENDICE B, QUADRO 1 e
QUADRO 2). O primeiro trecho de autoria de Escobar (2009) destaca uma visão
utilitarista da biodiversidade (APENDICE B; QUADRO 1) . Nesse caso, todo valor da
biodiversidade é reduzido a valor de mercado.
Quadro 1 – Texto 1 gerador da discussão.
Já, o segundo trecho, de Woodruff (2001), ressalta as consequências da
perda da biodiversidade ((APENDICE B; QUADRO 2). O autor atribui a perda de
biodiversidade a alguns fatores. Entre eles, a condição humana contemporânea, o
crescimento populacional e a desigualdade na distribuição da riqueza. Portanto, os
fatores por ele elencados dizem respeito a diferentes esferas da sociedade: social,
econômica, política, cultural e científica.
Quadro 2 – Texto 2 gerador da discussão
As questões desencadeadoras das discussões buscavam problematizar o
enfoque dado à questão da biodiversidade pelo autor Herton Escobar (2009), além
O Brasil se orgulha de ter a maior biodiversidade do planeta. Somadas as riquezas biológicas da Amazônia, cerrado, mata atlântica, pantanal e caatinga, o País abriga mais espécies de plantas, animais, fungos e bactérias do que qualquer outro. Ótimo. Mas e daí? Para que serve essa biodiversidade? Quanto dessa riqueza biológica está sendo convertida em riqueza econômica e desenvolvimento para o País - além de render belas fotografias? (ESCOBAR, 2009).
Tanto a comunidade científica nacional e internacional quanto governos e entidades não-governamentais ambientalistas vêm alertando para a perda da diversidade biológica em todo o mundo, e, particularmente nas regiões tropicais, indicando ainda que, a degradação biótica que está afetando o planeta encontra raízes na condição humana contemporânea, agravada pelo crescimento explosivo da população humana e pela distribuição desigual da riqueza - a perda da diversidade biológica envolve aspectos sociais, econômicos, políticos, culturais e científicos (WOODRUFF, 2001).
68
de discutir as similaridades e/ou contrastes presentes nos dois textos. Ademais,
buscamos apreender os conhecimentos que os professores apresentam/revelam
acerca das múltiplas dimensões que envolvem a questão da biodiversidade. Temos
a destacar que consideramos importante apresentar uma questão relacionada à
biodiversidade, pois a temática ganha cada vez mais espaço nas discussões
relacionadas às questões ambientais.
Em realidade,
O mundo vive um processo de degradação ambiental sem precedentes, afetando o conjunto dos componentes da biosfera e representando uma ameaça à existência e a perpetuação das diferentes formas de vida. Dentre os problemas ambientais globais que despontam desde a década de 1980, destaca-se a perda acelerada de diversidade biológica e genética (ALBAGLI, 2006, p. 113).
Essa perda acelerada da biodiversidade está em grande parte relacionada às
ações antrópicas. É válido ressaltar que a atual destruição da biodiversidade é
causada principalmente por ações humanas predatórias ao meio ambiente, as quais
se acentuaram, sobremaneira, desde o estabelecimento das modernas sociedades
industriais (ALBAGLI, 2001). Na mesma linha, podemos referir que a “[...] evolução e
a extinção das espécies são fenômenos naturais. No entanto, a interferência
humana vem acelerando a perda da biodiversidade nos ecossistemas” (MENDINÇA-
HAGLER; MINARÉ; LEGENBACH, 2006, p.137). O decréscimo no número de
espécies é resultante de uma série de fatores, entre eles a industrialização, a
poluição, o crescimento populacional, a urbanização (FERREIRA, 2001; YOUNÉS,
2001) e, ainda, a perda e fragmentação dos habitats, a introdução de espécies
exóticas, as mudanças climáticas, a exploração de espécies e a homogeneização
(DIAS, 2005; NOVACEK; CLELAND, 2001; VEIGA, 1999).
Neste ponto, temos a ressaltar que a preocupação com a biodiversidade
começou a ganhar maior espaço com a instituição da Convenção sobre a
Diversidade Biológica (CDB), lançada em 1992 no Rio de Janeiro. De acordo com
Albagli (2006), o texto da CDB começou a ser elaborado em 1987, mas sua versão
final só foi aprovada em 22 de maio de 1992, em Nairobi, Quênia, e sua abertura
para adesão só ocorreu em 5 de junho de 1992, durante a Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) realizada no Rio de
Janeiro passando a vigorar em 29 de dezembro de 1993. Em seu texto estabelecia
um novo regime global e uma nova postura relativa à conservação dos recursos
genéticos e biológicos. Os objetivos estabelecidos pela CDB são os seguintes:
69
[...] a conservação da diversidade biológica, a utilização sustentável de seus componentes e a repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos, mediante, inclusive, o acesso adequado aos recursos genéticos e a transferência adequada de tecnologias pertinentes, levando em conta todos os direitos sobre tais recursos e tecnologias, e mediante financiamento adequado (BRASIL, 1992, p. 9).
A educação é apontada no texto da CDB como instrumento capaz de promover a
conscientização pública, contribuindo para que os objetivos sejam alcançados. No
artigo 13 fica estabelecido que as partes contratantes devem
[...] promover e estimular a compreensão da importância da conservação da diversidade biológica e das medidas necessárias a esse fim, sua divulgação pelos meios de comunicação, e a inclusão desses temas nos programas educacionais; e b) Cooperar, conforme o caso, com outros Estados e organizações internacionais na elaboração de programas educacionais de conscientização pública no que concerne à conservação e à utilização sustentável da diversidade biológica (BRASIL, 1992, p. 14).
Para reforçar as intenções da CDB, a Assembléia Geral da ONU declarou 2010 o
Ano Internacional da Biodiversidade, com o propósito de aumentar a consciência
sobre a importância da preservação da biodiversidade em todo o mundo. De acordo
com a UNESCO (2010), essa celebração proporciona a oportunidade para
evidenciar a importância da biodiversidade para nossa qualidade de vida,
proporcionar reflexões sobre os esforços já empreendidos para salvaguardar a
biodiversidade até o momento, reconhecendo as organizações atuantes;
promovendo e dinamizando as iniciativas de trabalho para reduzir a perda da
biodiversidade.
Ao entrar em contato com a questão os Professores tiveram a oportunidade
de apresentar seus conhecimentos sobre a temática e relatar as formas como
discutem e relacionam a biodiversidade com os conteúdos das suas disciplinas.
Acerca do Texto 1, o Professor A ressalta que considera interessante o autor
destacar o orgulho do Brasil por possuir a maior biodiversidade do planeta. Mas,
critica quando o mesmo questiona a utilidade da biodiversidade. O Professor A diz:
“Ai eu vou criticá-lo, por que na verdade é melhor que esteja aqui, do que esteja em
outro lugar, não é?”
É interessante notar que a princípio o Professor A parece demonstrar
indignação pelo fato do autor questionar a utilidade da biodiversidade. No entanto,
ele acaba demonstrando que na verdade não está questionando a visão utilitarista
apresentada, e sim defendendo a existência da biodiversidade como produto a ser
explorado para gerar riqueza, como pode ser atestado na fala que se segue, qual
70
seja: “[...] É melhor que seja no Brasil ainda que a gente ainda não saiba como
utilizar isso”.
É importante destacar que
O Brasil é considerado um dos maiores em megadiversidade, em termos mundiais, tanto em diversidade de espécies quanto em níveis de endemismo (espécies presentes apenas ou quase somente em determinados locais). Dispomos da maior faixa contínua de florestas tropicais, que são consideradas os ecossistemas mais ricos em biodiversidade. A Amazônia, em particular, é detentora da maior diversidade biológica e da maior riqueza florestal do planeta (ALBAGLI, 2006, p. 123).
A visão utilitarista sobre biodiversidade é muito comum. Em geral, associa-se a
biodiversidade com a oportunidade de gerar riquezas econômicas. Segundo essa
visão, desconsidera-se o valor intrínseco da biodiversidade. Para McGrath (1997) a
importância da biodiversidade é também justificada em termos da ética planetária,
esta, fundamentada na compreensão de que o ser humano representa somente uma
das milhões de espécies que residem no planeta e, portanto, não tem o direito de
privar a existência de outras espécies.
Não obstante a isso, é compreensível tal posicionamento, posto que os
organismos vivos contribuem para uma grande variedade de serviços ambientais,
como a regulação da composição gasosa da atmosfera, proteção de zonas
costeiras, regulação de ciclos hidrológicos e do clima, geração e conservação de
solos férteis, dispersão e decomposição de resíduos, polinização de várias
plantações e a absorção de poluentes (MYERS, 1996). Por sua vez, Dias (2005)
destaca que a biodiversidade, juntamente com os fatores abióticos, é responsável
pela manutenção do equilíbrio e estabilidade dos ecossistemas, bem como fonte
inestimável de recursos econômicos potencialmente exploráveis. Portanto, além de
seu valor intrínseco, a diversidade biológica possui valores ecológicos, genéticos,
sociais, econômicos, científicos, educacionais, culturais, recreativos e estéticos.
Ainda o Professor A, em uma fala posterior, destaca que “[...] precisamos
aprender a valorizar nossa diversidade biológica e usá-la de forma sustentável”.
Com essa fala o referido Professor apresenta um novo direcionamento ao seu
entendimento sobre biodiversidade. Agora é possível perceber que ele concorda
com o uso, porém que seja de forma sustentável. De fato, “[...] a conservação
biológica e o uso sustentável de seus componentes são cruciais para a manutenção
da estabilidade global” (YOUNÉS, 2001, p. 36).
71
O Professor B observa que “[...] nós temos uma grande quantidade de riqueza
de biodiversidade, mas não estamos conseguindo transformar essa riqueza em
benefícios para os brasileiros”. Na mesma linha de pensamento, temos também a
abordagem do Professor E, em relação ao Texto 1, a saber: “[...] [está] querendo
dizer que tem muito, mas não é explorado, e tendo muito e não sendo explorado não
gera riqueza”. Nesse âmbito, temos a considerar que a importância da
biodiversidade, no Brasil, está relacionada a aspectos econômicos, como podemos
avaliar nos dados trazidos por Dias (2005), a saber: (1) o setor da agroindústria
responde por cerca de 40% do PIB brasileiro; (2) o setor florestal responde por 4%
do PIB; e (3) o setor pesqueiro responde por 1% do PIB – os produtos da
biodiversidade, por exemplo, respondem por mais de 30% das exportações
brasileiras.
Em realidade, nossa biodiversidade pode ser considerada como um recurso
chave - o capital biológico (ODALIA-RÍMOLI, 2000). Mas, temos a ponderar que a
proteção à biodiversidade é condição fundamental para a sobrevivência humana.
Isso porque, como já abordado anteriormente, os demais seres vivos colaboram
para uma grande variedade de serviços ambientais e que, em última análise, o
desenvolvimento e a evolução da espécie humana dependem, efetivamente, do
papel que desempenha a biodiversidade.
O Professor C refere que o “[...] primeiro texto destaca realmente a questão
econômica [...] mas só por esse trecho não deixa claro que tipo de utilização dessa
biodiversidade o autor [está] propondo”. A partir daí o Professor C apresenta duas
possibilidades:
Ele poderia [propor] [...] algo como um uso, por exemplo, turístico da região, então as pessoas visitariam a região, nessa visita trabalhassem no sentido de tentar preservar e conservar. E, essa visita geraria renda para a população, esse tipo de coisa. Por outro lado, ele poderia [pensar] [...], simplesmente, na exploração direta, por exemplo, da madeira, dos animais [...].
Observamos, então, que o Professor reconhece que há formas distintas de usá-la,
citando como exemplo o turismo, que de acordo com a sua fala indica ser
ecoturismo ou turismo sustentável.
De fato, a atividade turística, notadamente o ecoturismo, vem ganhando
espaço considerável na vida das pessoas, transformando-se mais do que uma
atividade de lazer, um empreendimento econômico pautado pela perspectiva da
sustentabilidade. Segundo Seabra (2007), alguns países como México, Quênia,
72
Tunísia e Marrocos têm no ecoturismo um importante recurso para reduzir os
problemas sociais que devastam seus territórios, como desemprego e a pobreza.
Apesar da existência de formas sustentáveis de utilização da biodiversidade,
inclusive com geração der riqueza econômica, o que prevalece no trato com a
biodiversidade são atividades que propiciam lucro imediato, mas que também a
aniquila.
Reunimos, a seguir, todas as falas relativas ao texto 2. Assim sendo, o
Professor E faz as seguintes observações:
Já aqui [apontando para o segundo texto], ele [está] preocupado com a extinção, ele reconhece o valor, sabe! Mostra bem claro ai [que] é importante a biodiversidade, e [está] preocupado com a degradação [...], por que ele envolve esses aspectos [...]: sociais, econômicos, políticos culturais e científicos, a diferença aqui é bem significativa.
Apesar de reconhecer que o texto 2 apresenta uma abordagem diferenciada em
relação à biodiversidade, o referido Professor não acrescenta novas informações,
além da apresentada no texto, carecendo, certamente, de elementos de base para
empreender numa discussão. É comum que as pessoas, mesmo aquelas ligadas ao
ensino, abordem a biodiversidade considerando apenas o aspecto ecológico, em
detrimento de outros. No entanto, é de fundamental importância que a
biodiversidade possa ser discutida em suas múltiplas dimensões, pois como destaca
Albagli (2006, p. 113), a “[...] biodiversidade coloca-se como questão ao mesmo
tempo urgente, do ponto de vista ecológico, e estratégica, do ponto de vista
econômico, político e social”.
O Professor A diz concordar com o fato de diferentes aspectos (social,
econômico, político, cultural e científico) também serem considerados quando
falamos em perda de biodiversidade. No entanto, quando começa a explicar cada
um desses aspectos não observamos coerência em suas falas. Para exemplificar as
possibilidades de discussão relativas ao texto apresentado, podemos referir que com
a destruição dos ecossistemas muitos modos de vida são alterados e, por vezes,
muitas comunidades são obrigadas a abrir mão de suas atividades econômicas e
culturais que são, em geral, pautadas no uso sustentável dos recursos naturais.
Certamente, a mudança na perspectiva dessas comunidades no trato com a
biodiversidade pode ocasionar transtornos, inclusive, desencadeando sérios
problemas sociais e culturais.
73
Os Professores B e D também não apresentaram comentários coerentes
para os múltiplos aspectos implicados na perda da biodiversidade, enquanto que o
Professor C buscou explicar esses aspectos utilizando o exemplo da usina
hidrelétrica de Belo Monte, dizendo o seguinte:
Em muitas situações, como é o caso atual de Belo Monte, o que se destaca como argumento que justificaria este projeto é o econômico e o político. Ao que parece, as outras dimensões como a social e a cultural, não estariam sendo devidamente consideradas.
Ao consultarmos o Relatório de Impactos Ambientais (RIMA) do Aproveitamento
Hidrelétrico (AHE) de Belo Monte (BRASIL, 2009), evidenciamos que teoricamente
existem preocupações acerca dos aspectos que envolvem as dimensões social,
econômica, social, ecológica, cultural etc., notadamente no que se refere às
populações que serão atingidas pelo empreendimento. Todavia, por mais que todos
os cuidados sejam tomados, os impactos serão inevitáveis e um número
considerável de famílias que habitam as proximidades do Rio Xingu sofrerão
impactos de toda ordem. O próprio RIMA (BRASIL, 2009) reconhece que serão
inúmeras as mudanças, a saber: nas paisagens, no comportamento das águas dos
rios Xingu e dos igarapés, na fauna e na vegetação. Essas alterações incidirão
diretamente sobre a biodiversidade existente na área da construção da usina,
transformando ainda mais o modo de vida dos moradores das regiões afetadas, pois
quem vive de pesca, por exemplo, terá imensos prejuízos.
O Professor E também tenta explicar os múltiplos aspectos que estão
relacionados à perda de biodiversidade. Mas, logo no início demonstra dificuldades e
diz: “Essa é mais complexa, por que tem que comentar cada um deles”. E continua
tentando fornecer explicações para cada um dos aspectos começando pelo
biológico, ou seja,
[...] no aspecto biológico, talvez seja a mais significativa perda, pois quando você destrói uma região e mata os microrganismos ali existentes vai tirar a oportunidade de gerações futuras conhecerem, porque vão estar em
extinção.
Na verdade, entendemos que não há uma hierarquia no significado das perdas,
sejam elas biológicas, econômicas, sociais e/ou culturais. Isso porque os aspectos
que envolvem a perda de biodiversidade estão interligados. Mas, um aspecto
interessante na fala do Professor E é que ele relacionou biodiversidade aos
microrganismos, fato não muito comum quando se fala em biodiversidade. Em geral,
quando se pensa em biodiversidade considera-se mais os integrantes da fauna e da
74
flora, esquecendo-se desses seres microscópicos que dividem com os
macrorganismos a responsabilidade pela manutenção da vida na Terra. Assim, é
válido ressaltar que todos os ecossistemas existentes no planeta Terra dependem
diretamente da ação de microrganismo para o seu funcionamento e manutenção.
São esses seres microscópicos que realizam as atividades fundamentais, das quais
todos os organismos superiores dependem, cabendo destacar a produção primária,
a produção de oxigênio pela fotossíntese, a decomposição de matéria orgânica e a
ciclagem de nutrientes (COUTINHO; OLIVEIRA; MANFIO, 2001).
Em seguida, o Professor E tenta explicar os aspectos sociais, mas encontra
dificuldades, passando então a explicar o aspecto econômico. Quanto a esse
aspecto o Professor E levanta a discussão sobre a biopirataria, tipificando-a como
uma atividade econômica muito rentável, mas não para o Brasil, e sim para os
países que exploram nossa biodiversidade. Em realidade, trata-se de uma ilicitude.
O Professor afirma que na “[...] parte econômica, [...], o Brasil [está] caminhando na
contra mão [...], a gente vê quase todo dia na televisão reportagem, mais
reportagem envolvendo a polícia federal prendendo exportação ilegal animais aqui
da nossa fauna [...]”. É válido ressaltar que a
[...] biopirataria consiste não só na apropriação indevida de recursos diversos da fauna e da flora, mas também [...] [na] monopolização dos conhecimentos das populações tradicionais no que se refere ao uso desses recursos (KAGEYAMA, 2010, p. 28).
Ademais, a “[...] existência da biopirataria está diretamente vinculada à não
existência de um controle e regulação do acesso e repartição dos benefícios da
biodiversidade” (KAGEYAMA, 2010, p. 28). Para tentar minimizar essa falta de
controle e regulação, em 2006, a então Ministra Marina Silva propôs a inclusão nos
temas prioritários da COP 88, de um Regime Internacional de Acesso a Recursos
Genéticos e Repartição de Benefícios. De acordo ainda com Kageyama (2010) foi
somente a partir dessa data que essa questão passou a fazer parte da pauta da
8 A Conferência das Partes (COP) é o órgão supremo decisório no âmbito da Convenção sobre Diversidade Biológica - CDB. As reuniões da COP são realizadas a cada dois anos. Trata-se de reunião de grande porte que conta com a participação de delegações oficiais dos 188 membros da Convenção sobre Diversidade Biológica (187 países e um bloco regional), observadores de países não-parte, representantes dos principais organismos internacionais (incluindo os órgãos das Nações Unidas), organizações acadêmicas, organizações não-governamentais, organizações empresariais, lideranças indígenas, imprensa e demais observadores.
75
Convenção da Biodiversidade, reforçando a necessidade de considerar e respeitar
as Leis de Acesso e Repartição de Benefícios.
O Professor E destaca assim, que a nossa riqueza biológica não está
produzindo benefícios para o povo brasileiro, e sim para os países que utilizando
seu status de centro de referência em pesquisa e levam nossas riquezas e os
conhecimentos produzidos pelos povos da floresta, apropriando-se dessas riquezas
e desses conhecimentos de maneira indevida. De fato, Shiva (2001) afirma que o
empobrecimento de vários povos e países do hemisfério sul, assim como a
diminuição da biodiversidade são consequências da não repartição do conhecimento
tecnológico, do sistema mundial de patentes e da biopirataria.
No aspecto político, o Professor E ressalta apenas o combate a biopirataria.
Destacamos que a CDB tem seu alicerce em três grandes objetivos, a saber: 1)
conservação da biodiversidade; 2) uso sustentável dos recursos dessa
biodiversidade e 3) repartição justa e equitativa dos benefícios advindos do uso
dessa biodiversidade. Esses objetivos, segundo Kageyama (2010, p. 29), “[...]
deveriam formar um tripé que equilibraria a atuação dos governos quanto à gestão
da biodiversidade”. No entanto, o mesmo, no final da questão afirma: “Na parte
cultural e científica, aqui eu não sei fazer essa relação”. Isso reflete a dificuldade do
Professor E (e dos outros também) em perceber as relações existentes entre as
dimensões apontadas pelo autor do Texto 2. Também aponta para a visão
fragmentada relativa à biodiversidade.
Inúmeras são as possibilidades de discussão que envolvem as múltiplas
dimensões da biodiversidade. Para exemplificar, podemos abordar a questão dos
manguezais (ecossistemas comuns na região norte) que são frequentemente
invadidos para a construção de moradias. A destruição desse ecossistema gera uma
série de transtornos a população do entorno que, em geral, tem como modo de vida
a extração do caranguejo. Com a destruição dos mangais perde-se a fonte de renda
(dimensões econômica e social), o modo de vida tende a se alterar (dimensões
social e cultural), no ambiente (localidade) pode incidir uma série de desequilíbrios
(dimensões ambiental, econômico e social) e, provavelmente, espécies, antes
mesmo de serem conhecidas, podem ser destruídas (dimensões social, econômica,
ambiental e científica).
Outra questão levantada neste trabalho de pesquisa foi como os professores
abordavam a questão da biodiversidade na sala de aula. Nesse contexto, o
76
Professor A afirmou que trata a temática biodiversidade em diferentes conteúdos,
porém não especificou em quais, mas destacou o seguinte:
Eu sempre trabalho a questão das múltiplas dimensões da biodiversidade, a questão do socioambientalismo, a questão de mostrar a falta de políticas públicas, a falta de cumprimento das leis, porque nos temos leis, elas existem, agora estão em vigor, mas a impunidade é muito grande.
Ressalta também que apresenta suas vivências. A perspectiva é chamar atenção
sobre a necessidade de discutir questões relacionadas ao meio ambiente. Assim
sendo, temos a seguinte fala do Professor A:
[...] pessoas do Rio Grande do Sul, Paraná, quer dizer que vem [para] cá mesmo com aquela visão de explorador. [...]. Então, eu comento com os meus alunos essas questões sociais, econômicas [...], o poder do sul, em ter o conhecimento, em ter a questão financeira ao seu favor e vim explorar na Amazônia, no Pará, no Maranhão. Enfim, então mostrar essas múltiplas visões da questão do que está envolvido por trás disso, da importância da gente ter uma educação de qualidade, uma formação realmente qualificada para gente não ser vítima disso tudo e poder contribuir realmente para a melhoria do nosso país.
Aspecto importante a ser abordado quando tratamos do tema biodiversidade
é, por exemplo, a destruição da floresta, decorrente da atividade madeireira, com
perda intensiva da biodiversidade, isto porque as altas taxas de extinção nas regiões
tropicais do globo são provocadas, principalmente, pela superexploração da madeira
e pela transformação das florestas em pastagem (KAGEYAMA; LEPSCH-CUNHA,
2001). Não podemos perder a oportunidade de contextualizar, a partir desse fato,
discutindo, por exemplo, a destruição dos ecossistemas, os desequilíbrios
ambientais, as inter-relações entre as diferentes espécies de seres vivos, a redução
do número de indivíduos de uma mesma espécie e a diminui a variabilidade
genética, entre outros aspectos.
O Professor B diz que procura explorar as questões relacionadas à
biodiversidade durante as suas aulas da seguinte forma: [...] eu sempre falo que nos
devemos conhecer e preservar o planeta que temos [...] sempre que posso
[relaciono] todos os aspectos da física [...] com a sustentabilidade. Quando
questionado sobre como ele relaciona os conteúdos da sua disciplina com a
biodiversidade o Professor B disse que não se lembrava das relações que fazia em
sala de aula. Perguntamos então se ele percebia relação entre os conteúdos de
Física e a biodiversidade. Segundo ele, o efeito estufa é um dos temas trabalhados
na disciplina e que pode ser relacionado à biodiversidade. Então, o Professor B
destaca o seguinte:
77
[...] a questão do efeito estufa é uma questão que está diretamente relacionado ao aquecimento global e isso ai inevitavelmente vai influenciar na sobrevivência de certos fungos, bactérias e até nossa mesma. A questão da poluição ambiental de rios e de mares também é um aspecto que a gente trabalha sempre comenta esse detalhe.
Percebemos, então, que o referido professor consegue estabelecer relações entre o
aumento do efeito estufa, responsável pelo aquecimento global, com a perda da
diversidade biológica. Sabemos que a Terra já passou por outras fases de
aquecimento seguido de resfriamento, porém o que contribui para as discussões
acerca do aquecimento global atualmente é a velocidade com que o fenômeno vem
ocorrendo, isto, atribuído a ação humana. Como confirma Joly (2007, p. 169),
No passado geológico o aquecimento e o resfriamento do planeta se deram de forma gradativa no decorrer de milhares de anos, dando tempo para que ao longo de centenas de gerações de plantas e animais os mecanismos do processo evolutivo atuassem. O homem, entretanto, modificou completamente este cenário.
E entre as consequências dessas modificações, provocadas pelo comportamento da
espécie humana, temos a diminuição no número de espécies. Um exemplo disso é a
morte dos corais em decorrência do aquecimento global. Segundo Flannery (2007),
o aumento da temperatura ocasiona descoramento dos corais que se tornam
brancos; esse branqueamento9 acontece sempre que a temperatura no mar se
eleva, porém se esse aumento for temporário os corais se recuperam lentamente.
No entanto, se for frequente os corais não resistem e morrem.
Com a morte dos corais, outras espécies ficam ameaçadas. Segundo Brugger
et al (2009), a morte dos corais ocasiona a morte de algas responsáveis pela
fotossíntese e produção primária nos oceanos, além da extinção de plantas e
animais que dependem dos corais para obter alimento e refúgio de predadores.
Outro exemplo de grupo de animais que correm sérios riscos são os anfíbios. Vários
motivos contribuem para a sua extinção, entre eles, segundo Silveira (2006),
encontra-se um fungo (Batrachochytrium dendrobatid), cuja proliferação tem sido
9 Um aumento relativamente pequeno da temperatura das águas superficiais pode provocar a ocorrência do branqueamento que é um processo relacionado à perda, pelos corais, das algas fotossintetizadoras - as zooxantelas, que estão presentes no tecido dos corais e que participam de uma cooperação vital que beneficia ambos os organismos. As zooxantelas, além de dar a cor ao coral, produzem componentes orgânicos que lhes serve de alimento e, em contrapartida, o coral provê abrigo para as algas e lhes fornece elementos químicos necessários à sua sobrevivência. Distúrbios ambientais podem interromper esta delicada simbiose, causando dissociação entre as algas e os corais. Neste caso o coral perde a sua cor, exibindo o seu esqueleto calcário, originalmente branco (BRASIL, 2005, p. 10).
78
favorecida pelo aquecimento global. Esse fungo10 ataca a pele dos anfíbios
provocando a morte do animal.
Já o Professor C destaca o seguinte
[...] em algumas temáticas da Física a gente faz essa discussão, mas a gente relaciona mais com questões dos problemas causados, [por] um projeto de geração de energia, via construção de lagos [...] é dito que a energia elétrica ou hidroelétrica é uma energia limpa, mas ela é uma energia limpa a partir da sua produção [...].
De fato, é importante tratar das implicações da construção de usina hidrelétrica,
notadamente no campo social e ambiental. Na continuidade da sua fala afirma que a
produção da energia por meio de hidrelétricas ocasiona vários problemas ambientais
e sociais na área de instalação das usinas hidrelétricas, destacando, ainda, o
aspecto cultural. Vejamos:
[...] as pessoas que moram nessas regiões e que são donos dessa região por direito, às vezes tem que sair do local e ir para locais estranhos ao local que habitavam perdendo aquela questão cultural que mantinham com o local porque as regiões são inundadas (PROFESSOR C).
Outro aspecto interessante ressaltado pelo Professor C, diz respeito ao aspecto
biológico relacionados à perda de biodiversidade, quando da construção de
hidrelétrica, ou seja, na “[...] formação dos lagos muito do vegetal, muito dos animais
são perdidos”. De fato, uma das consequências mais graves da perda de animais é
o desequilíbrio nas cadeias alimentares. Com o desaparecimento de uma
determinada espécie, muitas outras são perdidas e outras aumentam sua população
gerando novos desequilíbrios.
Destacamos também que na introdução de questões relacionadas à geração
de energia, por meio de hidrelétricas, o Professor C utiliza notícias publicadas nos
jornais, como elemento de motivação e contextualização a realidade local. Esse
professor refere ter o cuidado de explorar e discutir todos os impactos causados nos
processos de construção de uma usina hidrelétrica. Além da preocupação em
abordar os impactos, consideramos que o professor, antes de apresentar o material
que ira fomentar as discussões em sala de aula, deve proceder a uma análise crítica
do material que está usando.
10 Pesquisadores sugerem que o fungo produza toxinas letais ou que a infecção promova um funcionamento anormal da pele. Como a homeostase hídrica e gasosa dos anfíbios é realizada por esse órgão que é extremamente permeável, a infecção pode levá-los à morte (GOMES, 2006).
79
Todos os aspectos apontados pelo Professor C são discutidos nos RIMAs.
Ultimamente, as discussões mais frequentes sobre usinas estão voltadas para o
Aproveitamento Hidrelétrico de Belo Monte. No caso específico dessa Usina, os
impactos observados são os seguintes (BRASIL, 2009): a) aumento da população e
ocupação desordenada do solo; b) mudança nas paisagens; c) pressões sobre as
terras indígenas; d) perda de vegetação e de ambientes naturais. Todas essas
alterações na região de instalação da usina afetam diretamente todas as espécies
de seres vivos que habitam a área, com perdas significativas de biodiversidade.
Portanto, as observações realizadas pelo Professor C, em relação aos danos
causados pela construção de hidrelétrica, notadamente no âmbito da biodiversidade,
mostraram-se apropriadas.
O Professor D afirma que trabalha com questões relacionadas à
biodiversidade. Ele diz: “De forma geral, eu procuro tratar em todos os conteúdos.
Mas, eu trato especificamente mais na ecologia”. Na segunda parte da fala do
Professor, a seguir apresentada, fica evidente sua preocupação com a definição de
biodiversidade, e com as espécies que habitam a Amazônia, local de inserção dos
entrevistados.
Então, quando a gente chega estudar ecologia, eu procuro [...] falar da biodiversidade, [...] eu procuro que eles vejam qual é o significado do termo biodiversidade e [...] com eles procuro identificar, no caso especificamente da floresta amazônica, que biodiversidade é essa, e quem faz parte dessa biodiversidade.
Consideramos importante conhecer a definição de biodiversidade e a indicação dos
seus integrantes, mas isso, por si só, não é suficiente. Entendemos que vários
outros aspectos podem ser explorados ao tratarmos da biodiversidade. Seria válido
também o Professor enfatizar que toda a nossa riqueza biológica está gravemente
ameaçada, por exemplo, pela monocultura da soja, pela superexploração de
espécies maderáveis, pela expropriação dos conhecimentos dos povos tradicionais
e a não de repartir dos benefícios derivados desses conhecimentos.
Ainda na segunda parte da fala, o Professor D diz que
[...] sempre procurar abordar de que forma essa biodiversidade [...] está sendo degradada, e por que [está] sendo degradada. Quais são os motivos? E isso a gente vê quais são os motivos, quando a gente chega lá pros impactos ambientais. Então lá [para] os impactos ambientais, [discutimos] que impactos ambientais contribuem ou levam a degradação dessa biodiversidade.
80
Analisando a fala do professor podemos constatar que há preocupação em discutir
as causas da destruição da biodiversidade, no entanto, surge uma preocupação
quando o Professor diz: “[...] quando chega lá para os problemas ambientais [...]”. Ao
que parece o Professor trabalha de forma fragmentada, primeiro ele apresenta as
características relacionadas à diversidade biológica e só depois começa a realizar
conexões entre os conteúdos, o tema e a degradação ambiental, o que não favorece
o entendimento mais amplo da temática.
Por sua vez, o Professor E afirma que aborda questões relacionadas à
biodiversidade em sala de aula. E, para exemplificar, refere que com a divulgação
dos benefícios do biodiesel, as discussões acerca dos impactos da produção dos
diferentes tipos de combustíveis não podem ser deixadas de lado. O Professor E
destaca ainda que procura sempre que possível enfatizar os prejuízos causados
pelos combustíveis fósseis e os benefícios do biodiesel. De acordo com Bermann
(2008, p. 22-23) a
[...] utilização do biodiesel representa um ganho ambiental significativo no que se refere à redução das emissões. Isso porque boa parte do gás carbônico emitido na queima do combustível é absorvida durante o crescimento da cultura da matéria-prima para sua produção.
Por outro lado, o Professor E reconhece que um dos problemas do biodiesel é a
necessidade de grandes áreas para plantio, e ressalta que grandes áreas podem ser
devastadas com objetivo de plantar matéria-prima para a produção de biodiesel,
como podemos constatar em sua fala: “[...] eles vão vender a madeira [extraída] e
vão plantar mamona, outros vegetais para se extrair óleo para preparar biodiesel”.
Reconhece, portanto, que novas áreas podem ser devastadas para a plantação de
matéria-prima, porém não explicita os prejuízos ambientais que podem se causados
com a destruição de novas áreas de floresta, além de não referir abordagens
relacionadas ao tipo de emissões produzidas a partir do uso do biodiesel, pois
apesar de serem pouco divulgadas elas existem, e podem também ocasionar
prejuízos ao meio ambiente, entre outras questões.
Bermann (2008) afirma que apesar do consenso de que a expansão do cultivo
de plantas para a produção de biocombustíveis deve ser dar em áreas disponíveis,
degradadas ou já desflorestadas. Mas, como tais áreas necessitam de investimentos
para serem adaptadas/recuperadas para o plantio, as empresas acabam por optar
pelo que se constitui vantagem econômica para as mesmas, ou seja, o
81
desmatamento de novas áreas. Certamente contribuindo para a perda de
biodiversidade.
Ainda, segundo Bermann (2008), o biodiesel promove a redução das
principais emissões associadas ao diesel derivado do petróleo, como por exemplo, o
óxido de enxofre. A redução é proporcional à quantidade misturada com o óleo
diesel. No entanto, o biodiesel aumenta as emissões de óxidos de nitrogênio, que
quando reagem na atmosfera, principalmente na presença de luz solar, formam um
conjunto de gases agressivos denominados oxidantes fotoquímicos – entre eles o
ozônio. O ozônio, mesmo com concentração baixa, quando depositado nas camadas
mais baixas da atmosfera exerce ação nociva sobre os vegetais, animais, materiais
e ao homem, a saber:
Nas plantas, o ozônio age como inibidor da fotossíntese, produzindo lesões características nas folhas. No homem, o ozônio provoca danos na estrutura pulmonar, reduzindo sua capacidade e diminuindo a resistência às infecções deste órgão, causando ainda o agravamento das doenças respiratórias, aumentando a incidência de tosse, asma, irritações no trato respiratório superior e nos olhos (BERMANN, 2008, p. 23).
Depreendemos, portanto, que ao introduzir qualquer tema, em sua sala de aula, o
professor deve possuir conhecimentos pertinentes e abrangentes para promover
discussões que contemplem a complexidade das questões socioambientais,
fornecendo aos estudantes uma visão complexa do tema em pauta. Mas, para que
isso seja possível, o professor deve compreender que precisa romper com o caráter
disciplinar e buscar conhecer novos caminhos, adotando a interdisciplinaridade na
sua prática docente.
O Professor B, em uma de suas falas, apresenta suas impressões sobre a
riqueza existente na nossa biodiversidade, a saber:
A nossa riqueza, a nossa identidade é a nossa biodiversidade, conhecida internacionalmente e ela não está sendo cuidada. Ai eu fico preocupado com relação ao futuro dos nossos jovens, nossos filhos o que é que eles vão herdar ou será que eles vão nos culpar, por não termos preservado [essa] riqueza.
O referido Professor enfatiza a necessidade de cuidarmos da nossa biodiversidade
para as gerações futuras, logo, reconhece que a geração presente deve se
responsabilizar pelos cuidados com o nosso maior patrimônio natural. Mesmo
porque dele depende a continuação da vida. Além do mais, introduzir questões
relacionadas à biodiversidade aproxima os jovens da percepção da importância de
preservamos e conservamos essa riqueza. Isso porque, a
82
[...] história da biodiversidade também é emocionante e inspiradora: trata-se da história da vida e dos sistemas que a sustentam. Se quisermos motivar os habitantes de todo o mundo para que adotem medidas de proteção à biodiversidade necessitamos ajudá-los a descobrir as incríveis conexões que existem entre as pessoas e o mundo que as rodeia, aumentando a consciência sobre as dramáticas conseqüências da perda da biodiversidade, assim como os enormes benefícios que alcançaremos se a conservarmos e a utilizarmos de forma sustentável (UNESCO, 2010, p. 6).
Assim, consideramos que quanto mais conexões os professores de ciências naturais
forem capazes de estabelecer, quanto mais relações entre os seus conteúdos e
temas como a biodiversidade forem realizadas, por exemplo, mais eficaz será o
processo de ensino e de aprendizagem, sensibilizando os estudantes para a
necessidade de desenvolvermos sustentavelmente.
De um modo geral, podemos referir que os professores, sujeitos da nossa
pesquisa, apresentam conhecimentos relacionados à biodiversidade. Todavia,
avaliamos que as inter-relações dos aspectos que envolvem a questão da
biodiversidade, expressas pelos professores, são ainda muito embrionárias e, de
certo, não se apresentam como prioridade. Acreditamos que a tendência é que os
professores passem a buscar mais informações e novos conhecimentos, para que
possam estabelecer novas conexões entre os temas socioambientais
contemporâneos e os conteúdos da sua disciplina, com a finalidade de fazer o
educando compreender as transformações que estão ocorrendo em nosso planeta,
entre elas a perda crescente da biodiversidade.
Temos a acrescentar que discutir biodiversidade nas aulas de Ciências
Naturais, tanto no ensino fundamental como no médio, possibilita múltiplas
abordagens, inclusive com enfoque as questões locais. A diversidade biológica pode
ser tratada nos conteúdos de Química, de Física e de Biologia. Em química, por
exemplo, os Professores ao tratarem dos aspectos que envolvem a poluição ar, do
solo e dos rios, podem também destacar a influência desse processo na perda da
biodiversidade. Podem ainda, por exemplo, ao tratarem das reações químicas que
ocorrem na atmosfera, enfatizar o papel das chuvas ácidas na devastação de
grandes áreas de florestas, o que contribui para a perda da biodiversidade.
Os professores de Física, ao abordarem questões relacionadas à
termodinâmica, como a produção de energia por hidroelétricas, podem discutir os
custos socioambientais de tais empreendimentos, apresentando as consequências
da instalação desse tipo de empreendimento para a população local, destacando
83
que com a destruição dos ecossistemas, além da perda da biodiversidade, há uma
série de impactos sociais, culturais, econômicos e políticos.
Por sua vez, os professores de biologia podem discutir o papel da evolução
no surgimento dessa imensa variedade biológica. E, ainda, favorecer a
compreensão que a “[...] biodiversidade é resultado de um processo evolutivo
ocorrido em escala de tempo de magnitude muitas vezes superior à da civilização e
através de processos naturais impossíveis de se reproduzir por meios tecnológicos
[...]” (RODRIGUES, 2001, p. 133). E, por isso, precisamos pensar estratégias
sustentáveis para diminuir a velocidade com que a biodiversidade vem sendo
atingida pelas ações nocivas da espécie humana.
Além do mais, ao relacionar os conteúdos das suas disciplinas aos aspectos
que envolvem a biodiversidade, os professores ampliarão a percepção dos alunos,
deixando de abordar somente o aspecto biológico, por exemplo, e apresentando
outros aspectos possibilitando assim uma visão integral das temáticas
socioambientais em sala de aula. Segundo Dias (2006, p. 187), a “[...] diversidade
biológica possui, além de seu valor intrínseco, valor ecológico, genético, social,
econômico, científico, educacional, cultural, recreativo e estético”. Assim, a
perspectiva educacional avança para formação cidadã, pois possibilita ao aluno
discutir questões que se constituem temas contemporâneos para os quais temos
que, enquanto sociedade, refletir e tomar decisões para garantir a sustentabilidade
socioambiental.
84
5.3 O ENSINO DE CIÊNCIAS E AS IMBRICAÇÕES COM O TEMA BEM-ESTAR
HUMANO
A visão contemporânea de bem-estar associa-o, na maioria das vezes, ao
acúmulo de bens materiais, evidenciando-se, então, pressão sobre os recursos
naturais, base do processo produtivo. De fato,
[...] desde a Revolução Industrial, o crescimento fenomenal da produção de bens materiais tornou-se possível por meio da exploração predatória do capital natural, cuja base de sustentação da vida (ar, água, sol, floresta) foi devastada sem suscitar nenhum tipo de preocupação. As próprias condições que asseguram a continuidade da vida em nosso planeta estão ameaçadas [...] pelo aquecimento global da atmosfera, devido principalmente a um consumo excessivo de combustíveis fósseis e à destruição maciça das florestas. A negligência com a qual nos desembaraçamos dos nossos dejetos constitui, além disso, uma das principais causas de desequilíbrio ambiental (SACHS, 2007, p. 201-202).
Por sua vez, os desequilíbrios ambientais são os principais responsáveis pela
diminuição da qualidade de vida e, consequentemente, do bem-estar humano, tão
almejado atualmente. A percepção da existência de relações entre destruição dos
ecossistemas e a diminuição do bem-estar fomentou o início das discussões
relacionadas ao tema.
Em 2000, o Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, solicitou uma
avaliação dos ecossistemas do planeta. Como resultado dessa solicitação foi
elaborado um Relatório intitulado “Millennium Ecosystem Assessment” (Avaliação
Ecossistêmica do Milênio). A perspectiva era avaliar as consequências que as
mudanças nos ecossistemas trazem para o bem-estar humano e as bases
científicas necessárias para melhorar a preservação e o uso sustentável desses
ecossistemas e, ainda, sua contribuição para o bem-estar humano (MILLENNIUM,
2005).
O Relatório informa que todos os habitantes do mundo dependem
completamente dos ecossistemas da Terra e dos seus serviços, tais como
alimentação, água, manejo de doenças, a regulação do clima, satisfação, alegria e
prazer estético (Millennium, 2005). No entanto, os ecossitemas sofrem constantes e
crescentes agressões em decorrência do modo de vida adotado pelas sociedades
contemporâneas. Nesse relatório consta ainda que
Ao longo dos últimos 50 anos, o homem modificou os ecossistemas mais rápida e extensivamente que em qualquer período comparável de tempo na história humana, em grande parte para atender rapidamente à crescente
85
demanda por alimentos, água potável, madeira, fibras e combustível. Essa transformação do planeta contribuiu para importantes ganhos líquidos de bem-estar humano e econômico de desenvolvimento. Mas nem todas as regiões e grupos de pessoas se beneficiaram deste processo, na verdade, muitos têm sido prejudicados. Além disso, os custos associados a esses ganhos só agora estão se tornando aparentes (Millennium, 2005, p.1)
Nesse contexto, consideramos que as discussões que relacionam a destruição dos
ecossistemas com aumento do bem-estar para uns, e diminuição deste para outros
(e no futuro para todos), não podem ficar à margem do processo educativo. Por isso
apresentamos aos professores uma questão com o tema em pauta. Para fomentar
as discussões utilizamos um trecho de texto de Lená (2008) (Apêndice C), cuja
principal indagação é como as populações podem obter aumento de bem-estar sem
destruir a base de reprodução dos recursos renováveis, interrogando ainda sobre a
possibilidade de reorientar o processo produtivo, ressaltando que para isso as
soluções não são somente técnicas ou científicas, mas também políticas, sociais e
culturais. Após a leitura do texto os professores foram convidados a discorrer
primeiramente sobre suas concepções de bem-estar.
Para o Professor A, “[...] o indivíduo necessita, para ter bem-estar, de
estabilidade financeira, de saúde, de educação de qualidade e pública [...] é uma
série de fatores que acabam de alguma forma, psicologicamente ou fisicamente,
afetando o indivíduo e não permitindo que ele tenha esse bem-estar”. Enquanto,
para o Professor B, bem-estar é “[...] viver bem consigo mesmo e com as demais
coisas que nos cercam [...] existe muita individualidade e ganância no mundo em
que vivemos”. Consideramos que o Professor A pensa a questão do bem-estar
como individual e não coletiva. Certamente, a perspectiva individual contribui para o
cenário atual, no qual o meio ambiente é tido como fonte inesgotável de recursos.
Temos que reconhecer que a atual sociedade, com a hegemonia da política
neoliberal, privatista e individualista, centraliza-se na disposição egocêntrica, em
detrimento da coletivista. Já o Professor B apóia-se numa visão mais transcendental
de bem-estar, ressaltando o individualismo e a ambição humana.
Quando perguntamos ao Professor C sobre sua concepção de bem-estar,
ele destacou “Bem-estar, para mim, envolve condições adequadas de moradia,
alimentação, saúde, lazer etc. para todos os habitantes do planeta [...]”. Aqui o
Professor C, assim como o Professor A, relaciona o bem-estar a aspectos como
habitação, alimentação, saúde e lazer. Mas, o interessante é ele destacar que esses
86
benefícios devem ser oferecidos a todos os habitantes do planeta, o que aponta
para a concepção de uma solidariedade planetária. O Professor C afirma ainda que
Ao que parece, esta não é uma concepção predominante, uma vez que, tanto nos países ditos desenvolvidos [...] como naqueles ditos em desenvolvimento, temos uma parcela considerável de habitantes que ostentam um padrão de vida que envolve, por exemplo, um alto consumo de energia e de matéria-prima, em detrimento de uma parcela bem maior que mantém um padrão de consumo que não chega a suprir suas necessidades básicas de sobrevivência.
Destacamos que o Professor C apresenta considerações pertinentes acerca das
desigualdades relacionadas aos padrões de consumo, que estão diretamente
relacionados à questão da distribuição de renda. Para Freitas (2007), a iniquidade
na distribuição de renda, entre os países e dentro dos países, possui relação direta
com o crescimento econômico, que além da degradação ambiental trouxe também
uma distribuição de renda desigual.
Um exemplo disso é que no Brasil, conforme Moran (2008), a população da
região Sudeste apresenta padrões superiores à média nacional, aproximando-se de
diversos países desenvolvidos, com setores altamente industrializados, mercados de
exportação e metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo. Todavia, as zonas rurais
do Nordeste brasileiro possuem níveis de pobreza só encontrados nas regiões mais
pobres da África. Além do mais, de acordo com Millennium (2005), os efeitos nocivos
da degradação dos ecossistemas são mais acentuados entre pobres e em geral são
responsáveis pelos conflitos sociais.
O Professor D apresenta uma concepção mais elaborada sobre bem-estar:
Bem-estar é o equilíbrio bio-psico-social em que o indivíduo se encontra, ou seja, o bem-estar implica em o indivíduo apresentar-se bem fisicamente (não apresentar doenças), psicologicamente (ausência de tensões, preocupações, estresse, etc) e socialmente que significa ter opções de lazer, ter moradia digna, alimentação saudável, segurança pública, dentre outros fatores.
A concepção de bem-estar apresentada pelo professor condiz com a definição de
saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS, 1946), segundo a qual saúde é um
estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na
ausência de doença ou de enfermidade. No entanto, consideramos a mesma
adequada também para definir bem-estar, pois não há bem-estar sem o equilíbrio
entre os aspectos biológico, psicológico e social.
Ainda para o Professor D “[...] essa concepção não se adequa à sociedade
atual, principalmente àquela constituída por populações ditas de periferia [...]”. O
87
professor enfatiza, assim, a ausência de condições para uma vida digna de uma
grande parcela da população, certamente aquelas pessoas que abandonam as
cidades pequenas e migram para os grandes centros urbanos.
O Professor E foi o único que fez referência ao meio ambiente, a saber: o “[...]
bem-estar da comunidade em geral depende de alimentação, vestuário, lazer,
higiene, para você se sentir bem você tem que ter tudo isso. O problema é que para
gerar isso tem que perturbar o meio ambiente”. Apesar do professor ressaltar que na
busca de uma melhor qualidade de vida perturbamos o meio ambiente, o mesmo
não faz nenhuma associação entre a alteração do meio ambiente e a diminuição da
nossa qualidade de vida. O direito da coletividade a um ambiente ecologicamente
equilibrado, essencial à qualidade de vida, está garantido na norma que emana do
art. 225, da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 2004).
O bem-estar humano deve ser entendido como portador de múltiplos
componentes. Para tal, temos que considerar a necessidade de material básico para
uma boa vida, como meios de subsistência seguros e adequados; alimentos
suficientes; moradia; vestuário; acesso aos bens, à saúde. Também, um ambiente
saudável, como ar limpo e acesso à água potável, boas relações sociais, incluindo a
coesão social, o respeito mútuo e a capacidade de ajudar os outros. Outras
condições são igualmente requeridas como segurança e liberdade de escolha e de
ação (MILLENNIUM, 2005).
O papel da educação também é destacado quando se deseja alcançar o
bem-estar, pois a
liberdade de escolha e de ação é influenciada por outros componentes do bem-estar (bem como por outros factores, nomeadamente na educação) e também é uma condição prévia para realização de outros componentes do bem-estar, especialmente no que respeita à equidade e justiça (MILLENIUM, 2005, p.5).
Ainda de acordo com Millennium (2005), os ecossistemas oferecem serviços básicos
como: ciclagem de nutrientes, formação do solo e produção primária; serviços de
provisões como: alimentos, água doce, madeira, fibras e combustíveis; realizam
serviços de controle como: clima, enchentes, doenças e purificação da água; além
de prestarem serviços culturais: estéticos, espirituais, educacionais e de lazer. No
entanto, todos esses serviços oferecidos gratuitamente pela natureza, por meio dos
seus ecossistemas, estão seriamente ameaçados em decorrência das pressões
88
humanas exercidas sobre os diferentes ambientes da biosfera, com o intuito de
manter os padrões insustentáveis de desenvolvimento e de consumo.
Feita essas considerações, destacamos que numa etapa subsequente os
professores foram solicitados a refletir se as sociedades contemporâneas possuem
tempo suficiente para redirecionar o processo produtivo, visto que essa mudança
caracteriza uma alternativa para minimizar os impactos ambientais, que atualmente
conformam a crise ambiental. Sobre essa possibilidade, o Professor A faz o seguinte
comentário:
Eu acho que as mudanças são muito lentas, se nós tivéssemos com ações e políticas públicas também voltadas para esse fim, acredito que teríamos condições de mudar. Eu acredito na capacidade da Terra de superar a destruição ambiental, mas, necessariamente, nos teríamos de ter ações mais enérgicas, desde agora, para que a gente pudesse realmente efetivar isso.
O referido Professor mostra-se otimista, uma vez que acredita na possibilidade de
reverter os impactos causados pelo modelo de produção adotado, mas reconhece
que as mudanças são lentas e ressalta a necessidade de políticas públicas que
direcionem as alterações necessárias. Para Moran (2008), o quadro para o futuro é
repleto de indícios de tempestades destrutivas, frequentes fenômenos climáticos
com secas em certos lugares e precipitações atmosféricas e inundações em outros.
Moran (2008, p. 222) ressalta ainda que em “[...] virtude de nossa imensa população,
e da demora em realizar mudanças nos nossos padrões de produção e consumo,
podemos esperar que as coisas fiquem ainda piores antes que possamos começar a
recuperar o planeta no grau que precisamos”.
Para o Professor B, “[...] é quase que inevitável não degradar”, mas ele
também ressalta, assim como o Professor A, que o desenvolvimento de políticas
públicas que incentivem a reutilização de material pode minimizar os impactos da
produção. Segundo o Professor B “[...] é a maneira que a gente vê de desenvolver
sem degradar totalmente, ou seja, uma renovação dos produtos”. Infelizmente, ao
invés de reutilizarmos os materiais já retirados da natureza, o que verificamos,
ultimamente, é a produção cada vez mais acentuada de produtos planejados para
durarem cada vez menos. Isso, para que as pessoas consumam cada vez mais.
De fato, segundo Zacarias (2009), na década de 1950, os eletrodomésticos
eram produzidos em metal e suas partes eram parafusadas ou soldadas, com o
passar dos anos, essas máquinas tornaram-se frágeis, sendo a maioria delas feitas
de plástico com suas partes coladas. Assim, além dos impactos provocados pela
89
extração de matéria-prima, temos ainda os impactos causados pelo descarte do
produto já utilizado, que muitas vezes não se mostra adequado.
O Professor B destaca ainda que
[...] um dos maiores desafios do homem hoje é desenvolver sem degradar, então nós temos que tentar. Sabemos que a maioria das nossas riquezas não é renovável, então nós temos que buscar alternativas de sustentabilidade [...].
As alternativas sustentáveis podem viabilizar um desenvolvimento que respeite o
funcionamento dos ecossistemas, colaborando para a manutenção da base que
sustenta o bem-estar da população humana e da sobrevivência de todas as
espécies que habitam a biosfera.
O Professor B acredita que para que isso ocorra é necessário, “[...] construir
uma nova política, novos costumes, novos hábitos para gente desenvolver sem
degradar muito a natureza [...]”, considera ainda que essas mudanças são
necessárias para a nossa sobrevivência e que precisamos eliminar a ganância e a
falta de ética para termos um futuro melhor procurando associar “[...] qualidade de
vida - bem-estar - desenvolvimento tecnológico - natureza”. O referido Professor
enfatiza, assim, a necessidade de reordenar o nosso modo de vida, que deve deixar
de lado a percepção da infinitude dos recursos naturais e adotar a noção que os
recursos naturais são finitos e que, por isso, precisamos usá-los com cautela,
pensando no direito das gerações futuras em usufruir dos mesmos recursos das
gerações presentes.
O Professor E tenta exemplificar a questão da produção utilizando a
agricultura e faz as seguintes indagações: “[...] como é que eu não [vou] devastar a
mata e plantar o meu arroz, o meu feijão, só de subsistência? [...]”. O professor
parece questionar a viabilidade da agricultura de subsistência. No entanto, ele
deveria considerar que os impactos provocados por esse tipo de prática agrícola é
bem menos prejudicial aos ecossistemas do que a agricultura intensiva. Segundo
Moran (2008), apesar de ter representado uma fonte de riqueza para as populações
humanas, permitindo o sustendo de bilhões de pessoas, a agricultura intensiva
ocasionou a destruição da capacidade de funcionamento do mundo biológico e a
sobrevivência das espécies do planeta. De fato, “[...] muitos serviços dos
ecossistemas foram degradados como consequência das ações tomadas para
aumentar a oferta de outros serviços, tais como alimento” (MILLENNIUM, 2005, p.
1).
90
O Professor E afirma ainda que
[...] a gente tem que ser partidário do bem-estar em termos ecologicamente corretos, mas temos que ter a consciência que pra isso vai ter que ter progresso, e progresso sem destruição do meio ambiente, esse binômio não existe [...].
A fala do referido Professor destaca sua descrença no desenvolvimento sustentável.
De fato, atualmente, o desenvolvimento sustentável inexiste, mas temos que ter em
mente que a noção de desenvolvimento sustentável representa uma visão de futuro,
sobre a qual a humanidade precisa fundamentar seus objetivos (VEIGA, 2005).
Na concepção do mesmo Professor, bem-estar associa-se fortemente a
destruição dos ecossistemas, como podemos perceber no seguinte trecho de sua
fala: “[...] a gente vai ter que fazer o quê? Destruir menos e abrir mão de um pouco
do bem-estar”. Podemos constatar que o Professor E acredita que o bem-estar está
associado ao consumo de bens e serviços que, por sua vez, provocam a destruição
dos ecossistemas, em decorrência da retirada de recursos naturais. E, para proteger
o meio ambiente devemos abrir mão do nosso bem-estar. Podemos avaliar que essa
ideia está associada ao fato de pensarmos em consumo apenas de bens materiais.
Porém, Boff (2006) ressalta que o consumo precisa satisfazer as necessidades
humanas, no entanto, os seres humanos não podem se comportar apenas como
produtores e consumidores de bens materiais, pois há outras necessidades
caracterizadas como imateriais.
O Professor E, em nenhum momento faz referência ao valor intrínseco do
meio ambiente, entendido como valor de algo em si e por si, independentemente de
sua utilidade para alguém; esquece-se que espécie humana, embora protegida, em
certa medida, contra mudanças ambientais pela cultura e pela tecnologia, depende
fundamentalmente dos serviços dos ecossistemas (MILLENNIUM, 2005). Além do
mais, existem evidências que as alterações provocadas nos ecossitemas causam
mudanças que resultam em graves consequências para o bem-estar humano como,
por exemplo, o aparecimento de doenças, diminuição na qualidade da água,
mudanças no clima regional.
Quando os professores foram questionados sobre como abordam as
questões relacionadas ao bem-estar em sala de aula, obtivemos uma diversidade de
respostas. O Professor A diz o seguinte:
[...] normalmente a gente trabalha no segundo ano do ensino médio com a ecologia [...] a degradação ambiental e os meios de produção, as exigências
91
do mercado consumidor de hoje [...] tudo isso afeta grandemente o planeta [e] a sua capacidade de suporte.
A abordagem apresentada pelo professor é pertinente, pois segundo Moran (2008,
p. 215),
[...] as estimativas mais recentes calculam que seriam necessários dois novos planetas para sustentar o mundo de acordo com os padrões do mundo industrializado, três se a população dobrar e doze se dobrarem os padrões de consumo.
Essas estimativas têm preocupado a todos nós. Outros aspectos poderiam ser
destacados pelo referido Professor, principalmente porque estão relacionados
diretamente ao bem-estar humano. Trata-se das consequências do aquecimento
global para a saúde humana, ou seja, o aumento da temperatura aumenta a
incidência de doenças tropicais (MERENGO, 2006).
O Professor A ressalta ainda que
[...] nós não nos preocupamos inicialmente com o meio ambiente, a gente acreditava na capacidade de superação do ambiente e [que] os oceanos seriam capazes de absorver todos os poluentes que se lançam nos rios e nos mares [...] se começou a despertar para a questão ambiental [...] quando o problema já estava bem avançado.
Ao citar a capacidade dos oceanos de absorver resíduos, o citado Professor chama
atenção para um grave problema ambiental que, como os demais, afetam
diretamente a qualidade de vida de muitas populações, sejam humanas ou não.
De acordo com Carmago (2006), durante muito tempo acreditou-se que a
grandeza dos oceanos seria capaz de anular os efeitos das agressões humanas aos
ecossistemas aquáticos. Entre essas agressões temos o crescente lançamento de
resíduos da atividade humana, como por exemplo, o conteúdo das fossas e
tubulações de esgoto doméstico, os dejetos industriais, os fertilizantes e as
substâncias químicas usadas na agricultura e na pecuária. Todos esses elementos
são ricos em nutrientes básicos, compostos de nitrogênio, carbono, ferro e fósforo,
que alteram a composição química dos mares. A intensidade e a frequência dessas
agressões acabou anulando a capacidade de auto-regeneração dos oceanos e
como consequência observamos a proliferação de algas e bactérias que, em
excesso, consomem boa parte do oxigênio da água, sufocam os corais,
comprometem a cadeia alimentar dos oceanos e, por extensão, a sobrevivência dos
animais.
Apesar do Professor B afirmar que sempre que possível aborda questões
relacionadas ao bem-estar, apresenta uma resposta inconsistente com a perspectiva
92
discussiva atinente ao tema. Já o Professor D declara que nunca trabalhou com o
tema em sala de aula e complementa: “[...] foi a primeira vez que eu vi assim nesse
termo, bem-estar [...]”, e ressalta que em decorrência da sua experiência profissional
colaborou para a elaboração da resposta da questão em pauta, como podemos
verificar na seguinte fala: “[...] bem-estar só me veio na cabeça quando eu lecionava
Fundamentos de Assistência a Saúde, que dizia o que é saúde? Saúde é o completo
bem-estar físico, social e mental”. E afirma que: “[...] nunca havia pensado nesse
aspecto”, ou seja, no aspecto que relaciona bem-estar e a crise ambiental resultante
da destruição dos ecossistemas.
Por sua vez, o Professor E descreve da seguinte forma a abordagem que
realiza em sala de aula:
[...] quando eu [estou] falando em chuva ácida, na sala, comumente eu cito a Albrás. Aqui na Albrás, Alunorte, o ácido sulfúrico entra no processo, mas não aparece como produto, milagrosamente ele desaparece, quimicamente o que acontece é o seguinte, ele se decompõe durante o processo, libera para o meio ambiente dióxido de enxofre, que reage com o oxigênio, que reage com água que forma ácido sulfúrico, e chove. Toda vez que você vai a Albrás alguém lhe explica que o ácido sulfúrico é totalmente consumido, que não é jogado na natureza, a pessoa que explica isso não entende de química, é uma pessoa que foi treinada para atender os visitantes, e mostrar o bonito da coisa, eles mostram o cinturão verde ao redor da Albrás que realmente existe, o problema é que a chuva ácida que se forma na Albrás, não chove lá, ela é levada para chover em Belém, Abaetetuba e ai nas hortas de Abaetetuba já começam a aparecer plantações de alface com as folhas todas amareladas, o coitado do produtor da horta não sabe o que foi, uma chuva ácida numa horta mata tudo de uma porrada só, não escapa um pezinho, porque o ácido desidrata a planta, ele retira a água da planta.
O Professor E apresenta uma abordagem muito boa acerca das chuvas ácidas, pois
ao invés de apenas expor os conceitos e as definições ele realiza associações com
acontecimentos que ocorrem na localidade. Mas não há referência a questão do
bem-estar. No entanto, o Professor não indica abordar aspectos econômicos,
culturais e sociais relacionados com o problema ambiental. Segundo Maia et al
(2004, p. 44), a
[...] chuva ácida já vem sendo bastante abordada e tem sido usada para introduzir os conceitos de acidez e basicidade no Ensino Médio, em uma tentativa de aproximar a Química do cotidiano do aluno. Considerado tema transversal [...] o meio ambiente passou a ser utilizado como tema de estudo para o ensino de várias disciplinas, principalmente a Química. Os conteúdos relacionados com o assunto são de grande interesse e permitem ao aluno conhecer e entender as transformações que ocorrem em seu meio, desenvolvendo o senso crítico da necessidade da conservação e preservação do meio ambiente.
93
Muitas relações podem ser estabelecidas dependo dos conhecimentos dos
professores e de suas percepções sobre o processo de ensino e de aprendizagem.
Além do mais, temos a considerar o que destaca Goldemberg (2009, p. 152), ou
seja, as “[...] preocupações mais recentes com o meio ambiente estão ajudando
nesse sentido: a qualidade do ar, das águas, desastres naturais e até o aquecimento
da Terra são tão discutidos na imprensa escrita, no rádio e na televisão”. Essas
discussões facilitam, em certa medida, a vida dos professores.
Notamos, por meio das análises dessa questão, que o bem-estar é
geralmente associado aos recursos materiais e ao equilíbrio físico e psicológico. A
qualidade do meio ambiente não foi citada por nenhum professor como condição
necessária para a obtenção do bem-estar, fato que consideramos preocupante. Isso
porque os professores poderiam atuar como multiplicadores de informações capazes
de chamar atenção dos jovens estudantes para a necessidade de preservação dos
ecossistemas, enfatizando que deles depende a nossa existência.
Entendemos que uma das formas de introduzir aspectos relacionados ao
bem-estar em sala de aula é apresentando as consequências do consumo
exagerado de bens e produtos, pois como afirma Moran (2008, p. 323) a
[...] solução para esses problemas ambientais encontra-se dentro de nós e está intimamente ligada a nossas escolhas. A solução deve começar com o indivíduo e com o compromisso de resistir às forças do consumismo global em favor de uma concepção que vê o planeta como nosso lar – hoje correndo risco por causa das políticas que não dão valor aos bens e serviços ambientais.
Consideramos, assim, que introduzir a tema bem-estar no ensino de ciências
colabora para sensibilização dos educandos acerca da necessidade de preservar os
ecossistemas, dado que os mesmos são responsáveis pelo fornecimento de uma
ampla variedade de bens e produtos que influenciam diretamente na qualidade de
vida e, consequentemente, no bem-estar da população humana.
94
5.4 ENSINO DE CIÊNCIAS E CIDADANIA: PERSPECTIVAS PARA O CONSUMO
SUSTENTÁVEL.
Nas últimas décadas do século XX, os ecossistemas começaram a sofrer
sérios desequilíbrios. Isso porque o modelo de desenvolvimento vigente tem se
pautado pela exploração exacerbada dos recursos naturais. Certamente, revelando
a insustentabilidade do modelo. Nesse contexto, emerge a crise ambiental e com ela
a necessidade de repensarmos o nosso modo de vida.
A partir da percepção da existência de uma crise ambiental, inúmeras
discussões começaram a ocorrer na tentativa de encontrar soluções para minimizar
os impactos no ambiente. Não há consenso sobre o real fator responsável pela crise
ambiental, uma vez que ela é determinada por um conjunto de fatores, como
destaca Portilho (2005, p. 24), a saber:
[...] não existe uma crise ambiental única, mas uma pluralidade de formas de definição e problematização da mesma e uma disputa por proposições e tentativas de soluções em diferentes setores sociais.
Ultimamente, há uma variedade de fatores que podem ser responsabilizados pelo
surgimento dessa crise que afeta todos os setores da sociedade. Entre esses fatores
encontramos o consumo. Segundo Mello (2009, p. 111), o “[...] consumo é a
interação primordial entre os seres vivos e o ambiente, seja pela utilização do solo
como substrato e fonte de nutrientes, seja pelo uso de reservas de combustíveis
fósseis como fonte de energia”. Todos os seres vivos interagem e alteram o
ambiente, mediante utilização dos recursos disponíveis. No entanto, a espécie
humana, ainda de acordo com Mello (2009), desde o início de sua existência,
sempre interferiu no ambiente e, contemporaneamente, influencia, praticamente,
todos os sistemas físicos, químicos e biológicos do planeta.
A questão do consumo, de acordo com Zacarias (2009, p. 119), “[...] vem
sendo pauta de estudos de diversos autores no mundo contemporâneo”. E, há
várias explicações, entre elas, segundo o mesmo autor, a “[...] tese de que o fator
organizador da sociedade contemporânea encontra-se na esfera do consumo e não
da produção”. Considerando, então, esse pressuposto, procuramos levantar os
conhecimentos dos professores e as formas de abordagens do tema consumo,
durante as aulas de ciências naturais.
95
Para motivar as discussões sobre as temáticas relacionadas ao consumo
apresentamos dois trechos de texto (Apêndice D). No primeiro, Cunha (2007) aponta
o consumismo e o aumento da densidade demográfica como dois dos pilares que
configuram a crise ambiental, enfatizando a criação de falsas necessidades como
estímulo para o consumo; no segundo texto, Gadotti (2007) ressalta que apesar do
nosso modo de vida ser fortemente influenciado pela publicidade, não somos
necessariamente determinados por ela. Após a apresentação dos textos, os
professores foram convidados a apresentar suas concepções sobre o tema em
pauta.
Perguntamos aos professores suas percepções acerca das implicações do
consumo, do consumismo e do crescimento populacional para a atual crise
ambiental. O Professor A ressalta que “[...] o crescimento populacional global resulta
diretamente no aumento das exigências de consumo [...]” e, ainda, “[...] que
devemos ser conscientes do papel do marketing, da propaganda, das facilidades de
compra, o financiamento e/ou parcelamento [...]. Para o referido Professor, tudo isso
“[...] ilude as pessoas quanto ‘as falsas necessidades’ de consumo e [...] contribui
para a ampliação da crise ambiental global”.
De fato, o crescimento populacional e o consumo são considerados
estressores ambientais. Isso porque provocam uma série de desequilíbrios
ambientais. Rosa, York e Dietz (2007) apontam, por exemplo, as mudanças
climáticas como consequência deste binômio e afirmam que o impacto desses dois
estressores ambientais chega a ser tão profundo, que pode ultrapassar qualquer
possível benefício ambientaI decorrente da modernização industrial e do
desenvolvimento da tecnologia.
O Professor A enfatiza a questão da facilidade de aquisição de produtos.
Isso porque encontramos uma infinidade de formas que estimulam o consumo,
tornando os bens materiais cada vez mais acessíveis. Além disso, como afirma
Moran (2008, p. 233), a “[...] indústria é particularmente efetiva em convencer os
muitos jovens da importância de consumir o que veem sendo anunciado, e exigir
isso de seus pais como maneira de expressão de amor e afeição”.
Para o Professor B, o aumento da população faz aumentar também o
consumo o que implica em maior produção sem, no entanto, respeitar os limites do
meio ambiente. Além do mais, segundo o mesmo Professor, a “[...] explosão
populacional não é acompanhada pelo planejamento das cidades e aí acontece um
96
desrespeito aos limites ambientais”. Essa ausência de respeito ao meio ambiente
ocorre principalmente nas grandes e médias cidades, pois de acordo com Dias
(2002), o espaço urbano exerce grande atração sobre as pessoas, transformando-se
no local preferencial para a vida em sociedade. Esta atratividade faz com que a taxa
de urbanização do planeta já ultrapasse os 50%.
O Professor C afirma que “[...] tanto o aumento da população, quanto o
consumismo desenfreado vão influenciar no consumo, vão agravar os problemas
ambientais [...]”. No entanto, no complemento de sua fala, o mesmo professor
destaca que, em sua opinião, “[...] o consumismo de forma irresponsável, consumir
por consumir [...] é que afeta mais os problemas ambientais que já existem [...].
Moran (2005, p. 225) afirma que na realidade
[...] enquanto os que atualmente consomem o grosso dos recursos mundiais não abrirem mão, de maneira pública e convincente, de seus padrões de consumo, não podemos esperar reverter o que é na atualidade uma ameaça a todos, o consumismo global.
Segundo Zacarias ( 2009, p. 135),
[...] os países ricos (menos de 20% da população planetária) são responsáveis por cerca de 80% do consumo privado mundial, enquanto os pobres (cerca de 35% da população da Terra) representam apenas 2% do total de consumo privado. Vale dizer que se a América Latina, a Ásia e a África tivessem o mesmo padrão de consumo dos países ricos, seriam necessários mais dois planetas Terra para atender a essa demanda.
A fala do Professor C condiz com o argumento apresentado por Sachs (2007).
Segundo o referido autor, o argumento demográfico ocupou um lugar importante no
debate, do final dos anos 1960 e do início dos anos 1970 do século XX, como sendo
o responsável pela crise ambiental. No entanto, foi contestado por três reflexões. A
principal delas afirma que a limitação dos números de consumidores não reduziria
de forma considerável a pressão exercida sobre os recursos naturais, isso porque o
que deve ser levado em consideração é o estilo de vida, os modelos de consumo e
as tecnologias, uma vez que nem todos os habitantes do nosso planeta têm a
possibilidade de usufruir dos bens produzidos a partir dos recursos naturais.
Constata-se, assim, que o problema não pode ser atribuído à quantidade de
pessoas, mas à intensidade crescente com a qual uma pequena parcela da
população mundial passou a utilizar os produtos oriundos do processo de
industrialização.
O consumo também é apontado como responsável pela crise ambiental,
pelo Professor D, pois para ele:
97
O aumento da população leva a um maior consumo de produtos industrializados e estes, em sua maioria, utilizam a matéria-prima para a sua produção. Os bens de consumo como: equipamentos eletrônicos de última geração, eletrodoméstico, roupas e calçados são constituídos por minerais (tirados da natureza) ou então por animais e vegetais. Estes últimos já são criados e plantados para esse fim e, portanto, precisa-se de mais espaço para plantar capim para sustentar bois, cabras, ovelhas etc, bem como de espaço para plantar vegetais destinados a confecção de tecidos [...].
Pertinente a observação do Professor. Segundo Moran (2008), cada vez mais, terras
arborizadas são transformadas em pastagens para alimentar animais do topo da
cadeia alimentar, e que o aumento da renda em diversas regiões do mundo em
desenvolvimento determina também o aumento de dietas baseadas em proteína
animal, o que, por outro lado, colabora com a crescente incidência de doenças
cardíacas. Pagamos um preço alto pela intensificação da agricultura, ou seja, lagoas
e bosques desaparecem, a água se torna eutrófica quando poluída por pesticidas e
fertilizantes, a biodiversidade declina, as propriedades rurais diminuem em
quantidade e aumentam em expansão.
Conforme o Professor E, o “[...] binômio crescimento da população e
consumo é uma coisa trivial, quanto mais habitantes mais consumo, não tem como
dissociar”. No entanto, é importante salientar que não é toda população que tem
acesso aos bens de consumo, ou seja, os impactos ao meio ambiente estão
associados à riqueza e à tecnologia, que estão disponíveis para uma pequena
parcela da população. Assim,
Um bebê nascido nos Estados Unidos representa duas vezes mais impactos destruidores dos ecossistemas da Terra e dos serviços ambientais correspondentes do que um bebê sueco, três vezes mais do que um italiano, treze vezes mais do que um brasileiro, trinta e cinco vezes mais do que um indiano, cento e quarenta vezes mais do que um bebê nascido em Bangladesh ou no Quênia e duzentas e oitenta vezes mais do que um bebê que nasce no Tchad, em Ruanda, no Haiti ou no Nepal (EHRLICH; EHRLICH, 1990 apud SACHS, 2007, p. 205).
O Professor E comenta ainda o papel que a publicidade possui na determinação do
comportamento das pessoas, pois segundo ele “[...] as agências de publicidades
fazem crescer o consumo de maneira até desnecessária [...], e exemplifica “[...]
muitas meninas [...] tem em casa roupas muito novas, que não usam mais porque
lançaram uma da moda [...]”. O professor faz uma abordagem interessante, pois é
inegável o papel que a publicidade desempenha na sociedade atual, mas como
ressalta Gadotti (2007), não podemos ser determinados por ela, cabendo aos
professores abrirem espaço para discussões que proporcione aos alunos à
98
percepção das diversas dimensões envolvidas no consumo, ressaltando, inclusive, a
necessidade de realizar um consumo que seja responsável. Segundo Boff (2006, p.
57), o consumo torna-se “[...] responsável quando o consumidor se dá conta das
consequências de seu estilo de vida e do padrão de consumo que pratica”. O
consumo responsável, de acordo ainda com Boff (2006, p.57), é uma
[...] opção pela simplicidade voluntária e por um estilo consciente contido, que não se submete aos reclamos do desejo nem às solicitações da propaganda. Este consumo é livre e realmente humano por ser fruto não do instinto, mas de uma liberdade que se exerce pensando nos outros [...].
Outro aspecto importante é que os professores apontam a educação como
instrumento eficaz no combate ao consumismo desenfreado. O Professor A
reconhece o papel da educação na promoção do consumo sustentável quando
afirma que “[...] precisamos garantir um ensino público de qualidade [...] para tratar
essa questão da cidadania, para que o individuo tenha uma consciência dessa
questão do consumo desenfreado, das necessidades que não existem”. O referido
professor reconhece que as discussões em sala de aula podem contribuir para a
formação de cidadãos críticos e capazes de reconhecer suas reais necessidades.
O Professor C declara o seguinte:
Acredito que esta reação poderia vir através da educação. As pessoas não se preocupam com coisas que elas não entendem ou desconhecem. É necessário ter consciência das implicações decorrentes de uma troca de produto que poderia ser usado por pelo menos cinco anos, depois de um ano. Se não tiver uma visão crítica sobre estas implicações continuarão consumindo na medida do seu poder aquisitivo e não das verdadeiras necessidades.
O Professor em questão destaca um aspecto interessante, uma vez que nem
sempre as pessoas são orientadas a refletirem sobre suas reais necessidade de
consumo. Em geral, não percebem que são induzidas a comprar novos produtos
mesmo que possuam o mesmo produto em bom estado de conservação. Mészáros
(2006) destaca que a diminuição do tempo de uso dos produtos é uma técnica
intrínseca ao próprio capital, sendo necessária a sua reprodução. Para que isso
ocorra, as empresas investem na diminuição da qualidade dos produtos como
eletrodomésticos, eletrônicos, entre outros, para que possuam resistência e
durabilidade menores.
Para o Professor D
A forma mais adequada é investir, de fato, numa educação de qualidade: analítica, crítica, reflexiva, cidadã. Talvez, assim, consigamos que crianças, adolescentes e jovens tomem consciência de sua realidade, não [se]
99
deixem envolver pela máquina publicitária e consigam realizar uma análise crítica para perceberem que intenção há por traz dessa publicidade.
Nesse processo, o ensino de ciências naturais pode colaborar de forma significativa,
proporcionando conhecimentos individuais e socialmente relevantes para que cada
estudante (cidadão) possa gerir a sua vida cotidiana e se integrar de maneira crítica,
reflexiva e autônoma à sociedade (UNESCO, 2005).
No segundo momento da entrevista, os professores foram questionados se
abordam questões relacionadas ao consumo e suas consequências em sala durante
as suas aulas. Todos os professores afirmaram que sim, no entanto, as abordagens
são diferenciadas e muitas vezes restritas a alguns conteúdos das disciplinas.
Assim, o Professor B ao responder a questão exemplifica:
[...] posso dar um exemplo: a questão do motor de um carro. Muitas vezes, [...] na cidade, não precisamos ter um motor com uma potência muito alta, mas têm pessoas que gostam, e esse gostar não leva em consideração [que] aumentar a potência do motor, aumenta a injeção, a emissão de poluentes no ambiente e sai degradando tudo – é uma sequência lógica, isso aumenta a potência do motor, aumenta a emissão de produtos que vão comprometer o ambiente [...].
De fato, as preocupações do referido professor procedem. Isso porque segundo
Feldmann (2005, p. 150), ultimamente “[...] há um enorme questionamento sobre a
indústria automobilística, em razão do peso que o setor de transporte individual traz
para as emissões de gases de efeito estufa”. O Professor B destaca ainda que
procura apresentar reflexões como essas em sala de aula, para despertar em seus
alunos a noção de que nem sempre compramos por necessidade, pois há outros
fatores relacionados ao poder de consumo. Um exemplo disso é o automóvel, como
destaca o mesmo Feldmann (2005, p. 151), a saber:
O símbolo maior do fenômeno de consumo no mundo talvez seja o automóvel. Esta indústria trouxe as mais radicais transformações pelas quais passamos. O processo de industrialização, tal como conhecemos hoje, se iniciou no começo do século 20 com a implantação da linha de montagem por Henry Ford [...]. Na disputa por mercado, no começo do século, a General Motors introduziu a obsolescência planejada, ao permitir que o consumidor pudesse escolher a cor do seu automóvel e mudar de ano a ano o modelo. Neste instante o automóvel deixou de ser meio de transporte, passando a criar e atender a outras demandas como status e afirmação social, enfim, transformou-se em objeto de poder, amparado pela indústria da publicidade.
Destacamos ainda que o Professor B ressalta a importância de sensibilizar os seus
alunos para as questões ambientais, pois segundo ele são “[...] os jovens que vão
administrar o planeta e por isso precisam estar preparados adequadamente, que
tenham ética e preocupação com a sobrevivência do planeta”. Além do mais, por
100
lecionar a disciplina Física, o professor colabora para uma nova percepção, nos
termos de Carvalho (2009, p.74), ou seja, é “[...] preciso que o estudante consiga ver
sentido no conjunto de questões feitas pelo professor e, principalmente compreenda
a Física como uma forma diferente de pensar e falar sobre o mundo [...]”.
O Professor D também diz que aborda a questão do consumo na sala de
aula. Como confirma a seguinte fala: “Eu trabalho sim! Eu sou muito contra esse
consumismo exagerado daqueles que são chamados de supérfluos. Eu sempre falo
dos MP’s [uma abreviação de MPEG, ou seja, Moving Picture Experts Group] da
vida: MP1, MP2, MP3, não sei nem quantos são”. O mesmo professor afirma ainda
que discute a questão da produção de um tipo diferenciado de lixo, o lixo tecnológico
e reclama a ausência de informações sobre como proceder no descarte do material.
Para esse professor “[...] além da gente consumir exageradamente, você não tem
onde jogar. Aonde que a gente vai jogar?” O questionamento do professor é
plausível, pois no Brasil apesar de existir uma legislação que direciona o descarte
desses produtos, não há divulgação adequada.
O referido professor também apresenta a questão da obsolência dos
produtos tecnológicos quando ressalta o seguinte “[...] você compra um celular hoje,
daqui a dois meses você já tem outro celular [...] então você vai jogar isso no
ambiente”. Reclama também da falta de orientação ao consumidor quanto ao
destino final do lixo tecnológico, pois segundo ele “[...] não tem nada que nos
oriente, nem eu sei onde eu vou jogar um monitor ou coisas do computador. Onde
eu jogo uma CPU [Central Process Unit], eu não sei onde jogar”. Em verdade, o lixo
tecnológico configura-se como um dos principais problemas socioambientais deste
século. São vários os prejuízos ambientais gerados no momento de descarte de
determinados produtos tecnológicos como, por exemplo, forno de microondas,
pilhas, lâmpadas e computadores. Esses produtos podem provocar a contaminação
do ar, da água e do solo, por meio de substâncias tóxicas, colocando em risco a
saúde humana e o equilíbrio de diversos ecossistemas.
O mesmo Professor D afirma realizar a seguinte orientação em sala de aula:
“[...] eu sempre relaciono assim [...] evitar o máximo possível adquirir só porque é
[um celular] de última geração, só porque tem uma função que não tinha no outro e
agora tem”. Para Campbell (2001), nem todas as novas invenções são destinadas
para atender às necessidades existentes, mas sim para atender novas
necessidades. Essa estratégia de tornar o produto ultrapassado, em um período
101
curto de tempo, é provocada pela dinâmica capitalista que, segundo Souza (2005),
incentiva o processo de obsolescência planejada que pode atender necessidades de
curto prazo. Mas, é uma forma de manipulação e criação de insatisfação. Portanto, é
indesejável às condições do país, pois acumulamos muito lixo tecnológico,
ameaçando o futuro do planeta.
O Professor A assegura trabalhar em apenas alguns momentos quando há
relação entre a temática consumo e conteúdos que devem ser tratados, como
podemos evidenciar em sua fala a seguir:
[...] eu não vou dizer que sempre estou tratando disso porque existem uns conteúdos assim, bem específicos, que tem que trabalhar, mas sempre que eu trabalho, por exemplo, no segundo ano, essa questão da ecologia, necessariamente passa por isso.
Apesar de afirmar que insere temáticas socioambientais contemporâneas, sempre
que possível, o professor destaca que realiza abordagens somente nos conteúdos
de ecologia, por considerar os outros conteúdos “[...] bem específicos [...]”,
demonstrando sua dificuldade em realizar abordagens interdisciplinares. Segundo
Mello (2009, p. 132),
Parece que o caminho está no estreitamento nas relações entre os diferentes corpos de conhecimento e o estabelecimento de uma ciência verdadeiramente multidisciplinar, na qual o conhecimento e o entendimento da realidade não se encontrem segmentados e fragmentados. Problemas complexos como os com que somos contemporaneamente confrontados demandam soluções criativas e inovadoras.
Entendemos que há uma série de possibilidades no trato dessa temática, como por
exemplo, as consequências do alto consumo de energia. Isso porque a produção de
energia em larga escala, causa sérios impactos, provocados pelo aumento do
consumo de energia elétrica. Conforme Silva e Carvalho (2006), o tema eletricidade,
presente nos conteúdos do ensino médio, merece atenção, pois se reveste de
inúmeros condicionantes que não são passíveis de consenso entre diferentes
grupos da sociedade. Ademais, fomenta uma série de discussões que devem ser
incorporadas em qualquer análise sobre os processos de produção e utilização de
energia elétrica em nossa sociedade. Assim,
[...] uma discussão sobre o tema “produção de energia elétrica em larga escala” deve considerar que a utilização da mesma base de recurso natural por diferentes grupos sociais, que possuem diferentes intenções e necessidades econômicas, sociais e políticas, conduz a um conflito de natureza sócio-ambiental. Tendo em vista que esta temática, produção de energia elétrica em larga escala, está entre os conteúdos do ensino da Física a ser desenvolvido no nível médio da escola formal, podemos inferir que um trabalho com esse tema pode possibilitar ao professor de Física a oportunidade de enriquecer as aulas com a exploração de outros aspectos,
102
além dos técnicos, tais como sociais, ambientais e políticos (SILVA E CARVALHO, 2006, p. 48).
De acordo com Portilho (2005), as práticas de consumo precisam ser analisadas
segundo uma nova redefinição daquilo que é tradicionalmente visto como terreno da
cidadania, da política e das relações de poder a serem transformadas. Assim, a
concepção de cidadania exige uma aplicação e um aprofundamento, que inclua o
conjunto de práticas sociais e culturais. A Índia constitui-se exemplo importante de
como as práticas sociais e culturais podem se refletir no modo de vida da população.
Segundo Moran (2008, p. 231),
A Índia tem uma sociedade com religiões fortemente antimaterialistas. O hinduísmo e o budismo defendem uma vida em que a natureza é valorizada, em que a ligação humana com todas as coisas vivas é intima e profundamente sentida. Assim, se a sociedade indiana for capaz de preservar seus valores e religiões tradicionais como limitações efetivas sobre a conduta dos seus cidadãos, poderemos ver a Índia como um líder de um “Novo Mundo Biocêntrico”.
Para Canclini (1996), as mudanças tecnológicas e comunicacionais fizeram irromper
as massas populares alterando profundamente a maneira de consumir e as
possibilidades e as formas de exercer a cidadania, uma vez que no mundo
globalizado, até a atividade política foi submetida às regras do mercado. Sendo
assim, segundo o referido autor, o exercício da cidadania, núcleo das relações
sociais, não pode ser desvinculado do consumo.
O Professor E declara trabalhar com a temática consumo. Segundo ele, “[...]
dentro da físico-química existem vários capítulos que envolvem consumo. Consumo
de energia elétrica, em eletroquímica, aí eu falo das hidrelétricas, das termoelétricas,
da energia nuclear, que é consumida também e que tem a ver com química [...]”. O
professor continua:
Mas quando a gente aplica à eletroquímica que fala da pilha de combustível, que é uma pilha que reage hidrogênio com oxigênio para produzir água, é uma pilha que tem como produto a água, então o consumo dos carros movidos a hidrogênio também é aconselhável [...] isso é o consumo de um bem que é totalmente antipoluente [...].
Consideramos que ao destacar a importância do uso de automóveis movidos a
hidrogênio, o professor pode relacionar os benefícios do hidrogênio, bem como as
implicações ambientais do uso de combustíveis fósseis, ultimamente muito
utilizados. Moran (2008) aponta que uma das saídas para tentarmos reverte a crise
ambiental é nos desfazermos o mais rápido possível dos combustíveis fósseis, pois
além de serem recursos não renováveis, tornando-se cada vez mais caros e
103
escassos, são responsáveis pela maior parte do aquecimento global. Já o
hidrogênio, segundo Pinto (2010), apresenta várias vantagens, entre elas a grande
diversidade de fontes para sua geração - sejam renováveis ou não renováveis – e o
baixo impacto ambiental, pela sua conversão em eletricidade, pois gera apenas
água.
Tolmasquim (2004) afirma que mudanças significativas estão sendo
apresentadas no setor de transportes. Veículos híbridos (associação de motores a
explosão e elétrico com um sistema de armazenamento de energia elétrica) estão
sendo considerados etapa intermediária para a entrada no mercado de veículos
movidos a hidrogênio. As principais montadoras já estão comercializando modelos
híbridos e trabalhando seriamente no desenvolvimento dos modelos a hidrogênio,
cujas células de energia fazem a conversão de energia. Entretanto, Pinto (2010)
ressalta, também, que existem desvantagens no uso de hidrogênio quando utilizado
para a produção de energia, uma delas reside no fato de que o hidrogênio não existe
disponível na natureza, sendo necessário produzi-lo a partir de um insumo, além do
mais, dependendo do insumo utilizado, são gerados gases de efeito estufa e/ou
poluentes.
O Professor E destaca ainda que no capítulo relativo a pilhas procura discutir
a questões relacionadas à poluição ambiental, realizando a seguinte abordagem:
“[eu digo que] a gente tem [que ter] muito cuidado nas compras das pilhas, porque
as pilhas antigas possuem amônia e são mais poluentes, do que as pilhas alcalinas,
as quais não têm como produto a amônia”. O citado professor diz ainda que orienta
seus alunos: “[...]quando eu dou eletroquímica [...] falo: [...] deem preferência às
pilhas alcalinas [...] elas sendo alcalina não produzem amônia e a amônia é um
poluente, juntamente com os [outros] resíduos da pilha”.
De acordo Bocchi et al (2000, p. 6),
Do ponto de vista ambiental, as pilhas alcalinas representam menor risco, já que não contêm metais tóxicos, como mercúrio, chumbo e cádmio. Devido a isso, há uma tendência mundial em se mudar para elas, já detectada em outros países como Estados Unidos, Alemanha e Argentina, onde ocupam cerca de 70% do mercado.
O Professor E ressalta ainda a iniciativa de algumas empresas, a saber:
[...] agora eles já estão com cuidado, e a mídia também já está tratando disso para que no descarte, as pilhas e baterias sejam devolvidas nos recipientes adequados que as lojas já estão dispondo; hoje você já encontra loja de baterias com o espaço adequado para você colocar sua bateria velha.
104
Em realidade, não se trata de mérito das empresas, uma vez que a Política Nacional
de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei 12. 305 de 02 de agosto de 2010, estabelece a
obrigatoriedade de implementação da logística reversa aos fabricantes,
importadores, distribuidores e comerciantes de alguns produtos entre eles as pilhas
e as baterias. A logística reversa é um
[...] instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada (BRASIL, 2010, p.10).
Para Reis (2006), a melhor alternativa para controlar o acúmulo do lixo tecnológico é
a reciclagem, pois esses materiais, quando descartados de forma incorreta, como no
caso do descarte em lixo comum podem causar diversos danos, isto é, desde a
contaminação do solo e de lençóis freáticos até a contaminação de seres humanos.
Embora a fala do Professor E aponte para a realização de conexões entre os
conteúdos da sua disciplina e as questões relacionadas ao consumo, percebe-se
ainda a ausência de problematização que favoreça uma abordagem capaz de
suscitar discussões sobre as implicações socioambientais do consumo não
sustentável. Abordagem necessária, pois
Diante da complexidade e da rápida evolução do conhecimento científico, pode parecer ambição inalcançável tornar a formação científica um direito universal, e desenvolver um currículo para as ciências na educação básica, capaz de contribuir para o enfrentamento de problemas da sociedade contemporânea, como exclusão econômica, individualismo consumista, desrespeito humano e ameaça ambiental (MENEZES, 2009, p. 184).
A análise da questão permite-nos depreender que os docentes possuem
conhecimentos relevantes sobre o tema em questão, mas precisam apresentar mais
argumentos para fundamentar seus discursos, uma vez que como professores de
ciências naturais do ensino médio podem utilizar temáticas como estas para
ressaltar a importância dos aspectos relacionados ao desenvolvimento,
notadamente aquele que se propõe sustentável. Ademais, como destaca Mello
(2009, p. 131)
A imensa maioria das pessoas não consegue associar de maneira direta as suas opções e escolhas de consumo com as mudanças em larga escala que estão ocorrendo no planeta e isso é algo que deve ser motivo de preocupação. É possível que o caminho esteja na educação das atuais e futuras gerações para o desenvolvimento e consolidação de uma nova cultura na qual o consumo não desempenhe um papel central e seja apenas um dos fatores relacionados com a satisfação das nossas necessidades e aspirações. Contudo, é necessário e cada vez mais urgente o investimento intensivo de tempo, energia e recursos nesse processo de mudança.
105
Assim, ao aliar temas socioambientais aos conteúdos das disciplinas, os professores
podem realizar discussões sobre o papel desses temas na sociedade, discutindo
ainda as possibilidades produzidas pela ciência e pela tecnologia para a melhoria da
qualidade de vida, contribuindo ainda para o desenvolvimento de uma apreensão
mais crítica da realidade. A EDS pode cumprir esse papel, discutindo novos
caminhos, mas também apresentar e problematizar as consequências deletérias do
processo de desenvolvimento. Além do mais, temos na inclusão de temas atuais a
oportunidade de, segundo Zancan (2009, p. 122), demonstrar que
O conceito de que as teorias estão sendo sempre desafiadas deve perpassar o ensino de ciências e estimular jovens a repensar o conhecimento existente. Por isso, os professores devem estar conscientes de que a ciência não é um conjunto de conhecimentos prontos, mas uma forma de como se vê o mundo para transformá-lo.
Portanto, ao discutir temas socioambientais em sala de aula o professor estará
aproximando o currículo escolar do contexto dos educandos, contribuindo para a
formação de cidadãos conscientes. De acordo com Figueiredo, Almeida e César
(2005), são as práticas em sala de aula que vão influenciar as perspectivas que os
alunos têm não só sobre o mundo, mas também acerca das questões relacionadas à
sustentabilidade e à ciência. Para isso, é necessário o desenvolvimento de
metodologias que promovam a discussão, possibilitando o confronto com as pré-
concepções dos alunos e a reflexão sobre as questões em discussão, na
perspectiva de adotarmos uma abordagem eficaz acerca dos assuntos relacionados
às questões socioambientais.
Ao professor cabe a tarefa de gerenciar o currículo e viabilizar metodologias
que envolvam questões ambientais, pois como observa Amaral (2007, p. 113),
O processo de complexidade dos temas ambientais na sociedade obriga a reorientação dos temas escolares, pois necessitam de uma dinâmica pedagógica interdisciplinar de abordagem crítico-social e histórica. Essa postura metodológico-pedagógica estabelece uma nova ética entre o sujeito e o seu meio, porque a ele também é imputada a responsabilidade da ação, da prevenção e da solução de problemas ambientais, já que é visto como parte integrante do meio ambiente e não mais como seu dominador.
Esse tipo de abordagem é de fundamental importância, mas só poderá ser realizada
se o professor imbuir-se, plenamente, do seu papel social. Segundo Figueiredo
(2006), são as concepções e as crenças dos professores, construídas socialmente,
que vão balizar e influenciar sua prática docente.
106
Assim, se o professor considerar válido a ideia de discutir temas
socioambientais poderá favorecer as discussões em sala de aula. No entanto, é
importante salientar que para realizar essas discussões os professores devem
possuir conhecimentos consistentes e multirreferenciados sobre as temáticas, para
empreender em discussões qualificadas, colaborando, inclusive, com a
institucionalização do conceito de sustentabilidade, tão necessária na atualidade.
Para Figueiredo (2006, p. 17),
A questão que se levanta é se [...] a sociedade se pode dar ao luxo de ter professores com concepções sobre sustentabilidade e educação para a sustentabilidade pobres, ingênuas e afastadas de uma perspectiva sistêmica e holística.
Certamente, professores com essas características pouco podem contribuir para as
transformações necessárias ao ensino de ciências. Para Bevilacqua (2009), a
melhoria na qualidade do ensino de ciências está condicionada a uma mudança no
olhar sobre a ciência, pois a mesma precisa passar a ser mais valorizada, precisa
passar a ser entendida como uma ferramenta importante para uma leitura de mundo
mais crítica e reflexiva.
Consideramos que isso só será possível se os professores de ciências se
imbuírem do seu destacado papel na sociedade – formadores de cidadãos que
possam pensar o mundo em sua totalidade. Mas, para que isso ocorra, precisamos
viabilizar mudanças nas nossas salas de aula, precisamos pensar cada vez mais
estratégias que viabilizem um ensino mais interdisciplinar, além de favorecer uma
compreensão holística dos eventos que nos cercam. Ademais, temos que valorizar a
formação continuada de professores, processo que favorece as dinâmicas de
atualização e aprofundamento, tão importantes ao fazer docente.
107
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A crise socioambiental está intimamente relacionada com o processo de
industrialização. A revolução industrial inaugurou uma nova maneira de se relacionar
com os recursos naturais. A produção em pequena escala foi aos poucos sendo
substituída por uma intensa produção pautada na exploração crescente dos
recursos naturais. Como consequência desse novo modelo de produção, nas últimas
décadas do século XX, começamos a perceber os sintomas de uma crise
socioambiental, que tem incidido em todos os setores da sociedade e afetado todos
os organismos que habitam a biosfera.
De posse da experiência que o modelo de desenvolvimento adotado não era
(e ainda não o é) o melhor e nem o mais viável, em meados do século XX, inúmeras
discussões começaram a ser fomentadas com o objetivo de se pensar em um novo
modelo, que passasse a respeitar os limites ambientais. Surge, assim, o
ecodesenvolvimento, que mais tarde foi substituído pelo termo desenvolvimento
sustentável, pautando-se na ideia de desenvolver respeitando os direitos das
gerações futuras de usufruírem das mesmas condições ambientais que as gerações
presentes. A ideia de desenvolvimento passou, então, a ser propagada com ênfase
nos aspectos: econômicos, ecológicos e sociais. Mais tarde, outros aspectos
passaram a ser incluídos nas discussões relacionadas à sustentabilidade, a saber:
ético, cultural, político, entre outros. Para reforçar a necessidade de se pensar de
acordo com os princípios do desenvolvimento sustentável, a UNESCO lançou em
2005 a DEDS, para difundir em todos os níveis de ensino os princípios do
desenvolvimento sustentável.
Diante desse cenário, configurado nas últimas décadas do século XX,
consideramos que é impensável um ensino que não incorpore as questões
relacionadas às consequências do processo de desenvolvimento vigente. É
fundamental fornecer aos estudantes um panorama das condições atuais do nosso
planeta, procurando fomentar em sala de aula discussões relacionadas à crise
socioambiental, com o objetivo de formar cidadãos capazes de entender e refletir
acerca das causas e das consequências da crise que ora se configura e, ainda,
preparados para lidar com os problemas relacionados à crise.
108
No tocante ao ensino de ciências, propriamente dito, discutir questões
relacionadas à crise socioambiental, abordando aspectos relacionadas às múltiplas
dimensões da sustentabilidade, é de fundamental importância. Isso porque, além de
aproximar os conteúdos escolares das discussões hodiernas, contribui ainda para
fomentar ideias acerca de como reverter à situação planetária. Ademais, colabora
também para o desenvolvimento de habilidades e competências que permitem uma
melhor compreensão do mundo em que vivemos. Como destaca Menezes (2009, p.
185), as
[...] ciências da natureza devem ser tratadas em associação com as questões existenciais e sociais das ciências humanas, até porque não se compreenderiam as próprias transformações econômicas e as revoluções industriais sem tratar do desenvolvimento da termodinâmica, da pasteurização ou dos semicondutores.
Consideramos que a associação entre as diversas áreas do conhecimento possibilita
um melhor entendimento do funcionamento mundo. Certamente, contribuindo para a
formação jovens que sejam críticos e reflexivos diante dos problemas que são
cotidianamente apresentados. Problemas decorrentes, em grande parte, do modelo
de desenvolvimento que não reconhece a finitude dos recursos naturais.
Urge, portanto, a necessidade de repensar a educação, em especial o ensino
de ciências, pois o mesmo possui a responsabilidade de viabilizar uma melhor leitura
de mundo. Mas, para que isso ocorra, os professores devem estar preparados para,
de posse dos conhecimentos das questões colocadas pela crise ambiental, serem
capazes de motivar discussões em sala de aula que possibilitem o enfoque para
além dos conteúdos das disciplinas, incorporando as leituras do campo social.
Com a realização da presente pesquisa evidenciamos que os professores que
atuam no Ensino Médio da Escola de Aplicação da UFPA possuem conhecimentos
pertinentes acerca das temáticas socioambientais contemporâneas. Tais
conhecimentos parecem ser introduzidos durante as suas aulas, como forma de
exemplificar ou de aproximar seus conteúdos do cenário socioambiental atual. No
entanto, é válido ressaltar que, em geral, os professores apresentam visões
fragmentadas sobre algumas temáticas, enfatizando na maioria das vezes apenas o
aspecto ambiental, apresentando dificuldades de abordar questões sociais, éticas,
culturais, políticas e econômicas, relacionadas às mesmas.
Por outro lado, os professores reconhecem a importância dos
conhecimentos das populações tradicionais, acerca dos recursos, da biodiversidade
109
e das variedades de práticas desenvolvidas por essas populações. No entanto, não
houve referência às perdas culturais decorrentes da destruição do ambiente
habitado por populações tradicionais, no caso da questão uma comunidade
indígena. Além do mais, percebemos que a imagem que os professores têm sobre
os indígenas é aquele da época da colonização, ou seja, aquela vinculada a
intervenções de baixo ou nenhum impacto sobre a natureza. Em nenhum momento
fizeram referência ao fato de que muitas comunidades indígenas já não apresentam
uma relação interativa com a natureza, que favoreça a preservação dos recursos
naturais.
Com relação à biodiversidade, os professores reconhecem que precisamos
aprender a nos relacionar com a nossa biodiversidade de forma sustentável. No
entanto, não evidenciamos referência ao valor intrínseco da biodiversidade,
porquanto, atribuem à mesma “valor de mercadoria”. Em geral, acreditam que
somente explorando a biodiversidade podemos gerar riqueza. As abordagens
apresentadas sugerem que a temática é discutida de maneira disciplinar, enfocando
apenas o aspecto biológico, em detrimento dos aspectos social, econômico, político
e cultural, tão importantes a valorização dos bens biológicos.
No que diz respeito às questões que envolvem o bem-estar e sua vinculação
com o ensino de ciências, temos a considerar, inicialmente, que para alguns, o bem-
estar tem relação direta com bens materiais, enquanto para outros prevalecem
aspectos não-materiais. Por sua vez, parte dos professores atribui sentido individual,
outra aponta para o caráter coletivo. De maneira geral, os professores entendem
bem-estar como estabilidade financeira, saúde, educação de qualidade, viver bem
consigo mesmo, superar a ganância e a individualidade, condições adequadas de
moradia, alimentação, lazer e equilíbrio biopsicossocial.
Temos a destacar que somente um dos professores estabeleceu relação
entre equilíbrio da natureza e bem-estar, nos seguintes termos: “para obtermos bem-
estar precisamos destruir o meio ambiente”. Em realidade, os seres humanos são
dependentes dos recursos. Isso porque são os ecossistemas que fornecem os
serviços básicos como ciclagem de nutrientes, serviços de provisões (água,
alimentos, madeira, fibras etc), entre outros.
Neste ponto, destacamos que está em vigência, o que os pesquisadores
denominam de "paradoxo ecológico" ou “paradoxo ambientalista”, ou seja, o bem-
estar humano melhora apesar da piora nos serviços do ecossistema
110
(BEARDSLELEY, 2010). Certamente, contrariando a crença geral de que a
degradação global dos ecossistemas ameaça o bem-estar humano. A justificativa
está organizada, em quatro hipóteses, a saber:
1. Critical dimensions of human well-being have not been captured adequately, and human well-being is actually declining. Measures of well-being that suggest it has increased are wrong or incomplete. 2. Provisioning ecosystem services, such as food production, are most significant for human well-being; therefore, if food production per capita increases, human well-being will also increased, regardless of declines in other services. 3. Technology and social innovation have decoupled human well-being from the state of ecosystems to the extent that human well-being is now less dependent on ecosystem services. 4.There is a time lag after ecosystem service degradation before human well-being is negatively affect. Loss of human well-being caused by current declines in services has therefore not yet occurred to a measurable extent (RAUDSEPP-HEARNE et al., 2010, p.578).
De todo o modo, a questão que se coloca é: os seres humanos serão capazes de se
adaptarem à crescente degradação do meio ambiente? Entendemos que a questão
passa pela gestão dos recursos naturais, que precisa se pautar pelas perspectivas
da sustentabilidade, para que possamos dar continuidade aos ganhos do bem-estar
humano. E a educação, em geral, e o ensino de ciências, em particular, podem
colaborar para a necessária institucionalização do pressuposto da sustentabilidade
em todos os âmbitos da sociedade.
No que se refere à temática consumo, os professores atribuem papel desta
na configuração da crise ambiental. Além do mais, destacam o papel da mídia na
difusão de valores que favorecem um consumo pautado mais nas necessidades do
ter do que do ser. Por outro lado, ressaltam que a educação pode colaborar de
forma significativa para a promoção de um consumo que seja consciente e
responsável.
Ressaltamos ainda que das discussões realizadas no presente trabalho, a
questão das queimadas (e suas conseqüências) e da biodiversidade foram as mais
se mostraram pertinentes. Entendemos que essas questões estão mais presentes
na realidade cotidiana dos professores, mesmo porque, frequentemente,
independentemente do veículo de comunicação, noticia-se a destruição dos
ecossistemas. Por outro lado, as questões relacionadas ao bem-estar são mais
comumente associadas aos aspectos físicos e biológicos do corpo humano,
enquanto o tema consumo, apesar de já ser associado há algum tempo com a crise
111
ambiental, só recentemente começou a ganhar maior destaque como fator
responsável pela crise ambiental vigente.
Quanto à associação entre os conteúdos de suas disciplinas e as temáticas
socioambientais apresentadas nas questões, todos os professores afirmaram fazer
algum tipo de relação, uns com mais frequência do que outros. Todavia,
consideramos que o mais importante é que todos os professores participantes da
pesquisa já apresentam indícios de inclusão das temáticas socioambientais em sala,
durante as suas aulas. Acreditamos que a tendência é que os professores utilizem
cada vez mais essas abordagens, pois aqueles alunos, cientes dos acontecimentos
locais e globais relativos às temáticas socioambientais, tendem a levar esses temas
para sala de aula e solicitar do professor explicações.
Reconhecemos também que a introdução de temas socioambientais nas
disciplinas de Ciências Naturais, na educação básica, representa um desafio, pois
em geral os professores são formados numa perspectiva disciplinar, o que dificulta a
realização de abordagens interdisciplinares. No entanto, é indispensável que os
professores passem a perceber a importância das discussões relacionadas aos
temas socioambientais contemporâneos. Mesmo porque os jovens educandos
precisam estar preparados para atuarem de forma crítica na sociedade. E isso só
será possível se os mesmo possuírem conhecimentos pertinentes e
multirreferenciados sobre o contexto em que estão inseridos.
O ideal seria que todos os professores estivessem preparado para oferecer
explicações complexas, holísticas que favorecessem a compreensão das inter-
relações entre os componentes da biosfera. Ademais, que os mesmos fizessem os
alunos perceberem, por exemplo, que a destruição de uma dada espécie pode se
relacionar diretamente com o desaparecimento de outra, que os resíduos eliminados
em uma cidade vão provocar prejuízos em outras localidades, que o ar poluído não
depende da existência de indústria poluente na nossa cidade, ou seja, que os
problemas ambientais não respeitam limites geográficos, isto é, podem ser também
globalizados. E, que todos esses problemas não estão relacionados a uma única
dimensão – são multidimensionais, incidem no meio ambiente, mas também afetam
o campo social, econômico, ético e político.
Mas, para tal perspectiva se materialize, os professores precisam romper
com a visão disciplinar e investir numa educação interdisciplinar. Acreditamos que,
sem esse rompimento, tratar de questões relacionadas à sustentabilidade é inviável,
112
uma vez que a mesma pressupõe uma infinidade de abordagens, que somente uma
disciplina não suporta. Consideramos ainda, conforme Menezes (2009, p. 185) que
“[...] memorizar substâncias, reações, espécies e músculos ou treinar-se para aplicar
fórmulas físicas são saberes que se tornam estéreis se não associados a contextos
e práticas reais [...]”. Por isso, é cada dia mais necessário que a escola, por meio
seus professores, aproxime o mundo contemporâneo das disciplinas escolares,
colaborando ainda para despertar o senso de pertencimento de todos, em especial
dos jovens, à Terra.
Entendemos que ao ensino de ciências naturais cabe promover abordagens
relativas aos temas socioambientais. Precisamos educar os jovens estudantes para
entenderem o mundo que os cerca. Ademais, vivemos em uma era planetária
marcada por toda a sorte de problemas socioambientais. Deixar esses problemas
fora da sala de aula é perder uma excelente oportunidade de constituir jovens
cidadãos, que possam exigir e colaborar para as transformações que se fazem
necessárias para a sociedade, na perspectiva de garantirmos um futuro previsível
para a humanidade.
113
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WOODRUFF, David S. Declines of Biomes and Biotas and the future of evolution. PNAS, USA, v. 98, n. 10, p. 5471-5476, 2001.
YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2005. 212 p.
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ZACARIAS, Rachel. “Sociedade de Consumo”, ideologia do consumo e as iniqüidades socioambientais dos atuais padrões de produção e consumo. In: LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo; LAYRARGUES, Philippe Pomier; CASTRO, Ronaldo Souza (Org.). Repensar a Educação Ambiental: um olhar crítico. São Paulo: Cortez, 2009. p. 119 – 139.
ZACAN, Glaci Therezinha. Educação para a transformação. In: WERTHEIN, Jorge; CUNHA, Célio da (Org.). Ensino de Ciências e desenvolvimento: o que pensam os cientistas. 2. ed. Brasília, DF: UNESCO; Instituto Sangari, 2009. p. 121-124.
Apêndices
APÊNDICE A
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Instituto de Educação Matemática e Científica
Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Científica TEMAS SOCIOAMBIENTAIS
Texto Gerador da Discussão 1
Por Maurício de Sousa
Questão Norteadora:
1 – Supondo que você possa utilizar a história em quadrinhos acima mostrada, apresente as várias possibilidades de temáticas que podem ser abordadas.
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APÊNDICE B
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Instituto de Educação Matemática e Científica
Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Científica TEMAS SOCIOAMBIENTAIS
Texto Gerador da Discussão 1 “O Brasil se orgulha de ter a maior biodiversidade do planeta. Somadas as riquezas biológicas da Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Caatinga, o país abriga mais espécies de plantas, animais, fungos e bactérias do que qualquer outro. Ótimo. Mas e daí? Para que serve essa biodiversidade? Quanto dessa riqueza biológica está sendo convertida em riqueza econômica e desenvolvimento para o País - além de render belas fotografias?” (ESCOBAR, 2009)11 Texto Gerador da Discussão 2 Tanto a comunidade científica nacional e internacional quanto governos e entidades não-governamentais ambientalistas vêm alertando para a perda da diversidade biológica em todo o mundo, e, particularmente nas regiões tropicais, indicando ainda que, a degradação biótica que está afetando o planeta encontra raízes na condição humana contemporânea, agravada pelo crescimento explosivo da população humana e pela distribuição desigual da riqueza - a perda da diversidade biológica envolve aspectos sociais, econômicos, políticos, culturais e científicos (WOODRUFF, 2001)12.
Questões Norteadoras:
1 – Qual a sua percepção sobre o enfoque dado a questão da biodiversidade pelo autor Herton Escobar (Texto 1)?
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11 ESCOBAR, Herton. Brasil desperdiça potencial econômico da biodiversidade. Jornal Estadão. São Paulo, 12 jul. 2009. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090712/not_imp401480,0.phpl>. Acesso em: 17 ago. 2009.
12 WOODRUFF, David S. Declines of Biomes and Biotas and the Future of Evolution. PNAS, USA, v. 98, n. 10, p. 5471-5476, 2001.
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2 – Você pode identificar similaridades e/ou contrastes nos dois textos? Comente!
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3 – Qual o seu entendimento/avaliação sobre a afirmação constante no seguinte trecho: “a perda da diversidade biológica envolve aspectos sociais, econômicos, políticos, culturais e científicos” (Texto 2).
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APÊNDICE C
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Instituto de Educação Matemática e Científica
Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Científica TEMAS SOCIOAMBIENTAIS
Texto gerador da discussão
“A questão, hoje mundial, de saber ‘como obter aumento do bem-estar das populações sem destruir a base de reprodução dos recursos renováveis’ levanta uma série de interrogações sobre a capacidade das sociedades contemporâneas de reorientar todo o processo produtivo a tempo. A complexidade da questão decorre da percepção cada vez mais clara de que as soluções não são tão-somente técnicas ou científicas – embora a contribuição da ciência e da tecnologia seja importante – mais essencialmente políticas, sociais e culturais” (LÉNA, 2008, p. 77)13.
Questões norteadoras:
1 – Qual a sua concepção sobre bem-estar? Você considera que a sua concepção predomina na atual sociedade? Comente! ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 13 LENÁ, Philippe. Entre a economia e a ética. In: CAPOZZOLI, Ulisses. Amazônia: destinos. v. 3. São Paulo: Duetto Editorial, 2008. p. 76-83.
______________________________________________________________________________________________________________________________________________ 2 – Qual a sua avaliação sobre “[...] a capacidade das sociedades contemporâneas de reorientar todo o processo produtivo a tempo”? Na sua percepção, quais seriam as implicações dessa ação? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3 – Qual a sua análise sobre o trecho “[...] as soluções não são tão-somente técnicas ou científicas – embora a contribuição da ciência e da tecnologia seja importante – mais essencialmente políticas, sociais e culturais”? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
APÊNDICE D
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Instituto de Educação Matemática e Científica
Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Científica TEMAS SOCIOAMBIENTAIS
Texto gerador da discussão 1
“Um dos dos pilares da crise ambiental atual é o consumismo desenfreado. O outro é a quantidade de gente por aqui [...] o excesso de gente somado ao consumismo são as causas principais da crise ambiental que presenciamos. Atualmente criam-se falsas necessidades, tudo para estimular o consumo, este deus supremo da sociedade atual” (CUNHA, 2008)14.
Texto Gerador da Discussão 2
“O modo de vida é imposto pelas máquinas de publicidade das grandes corporações, mas não necessariamente somos determinados por elas” (GADOTTI, 2007, p. 21) 15.
Questões norteadoras: 1 – Qual a sua análise sobre o trecho “[...] o excesso de gente somado ao consumismo são as causas principais da crise ambiental que presenciamos”, ou seja, na sua percepção, quais as implicações desses aspectos: consumismo (e também consumo) e crescimento populacional para a atual crise ambiental.
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14 CUNHA, Rogério Grassetto Teixeira da. Consumo supérfluo. 2008. Revista Virtual P@rtes. Disponível em: http://www.partes.com.br/socioambiental/consumosuperfluo.asp. Acesso em: 24 ago. 2009.
15 GADOTTI, Moacir. Educar para a sustentabilidade: uma contribuição à década da educação para o desenvolvimento sustentável. São Paulo: Editora e Livraria Instituto, 2007. 127 p.
2 – Você concorda com o autor quando ele afirma que “criam-se falsas necessidades”? Você pode identificar produtos criados em função dessas “falsas necessidades”? Argumente (caso sua resposta seja positiva)!
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3 – Sobre a questão do consumismo, de acordo com o que trata os textos em discussão, convido você a argumentar sobre os possíveis caminhos para que se possa promover a necessária reação aos apelos sedutores da máquina publicitária, no estímulo excessivo ao consumo.
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APÊNDICE E TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado (a), como voluntário (a), a participar da pesquisa intitulada “Temas Socioambientais: Contribuições para o Ensino de Ciências Naturais”. Os objetivos da pesquisa são: a) investigar os conhecimentos dos professores de Ciências Naturais sobre as questões socioambientais contemporâneas; b) verificar a pertinência desses conhecimentos e suas inter-relações com o ensino de ciências naturais e c) ressaltar as contribuições dos temas socioambientais contemporâneos para a efetivação do processo de ensino e de aprendizagem voltados à educação para a sustentabilidade, em seus múltiplos aspectos. Como procedimento metodológico será utilizada a técnica da entrevista, mediante aplicação de um formulário com questões abertas, a partir de textos geradores. Para a presente proposta de pesquisa aponta-se como provável “risco de desconforto”, o constrangimento em responder algumas das questões no momento da entrevista, assim como o tempo a ser disponibilizado para responder as mesmas (em média 120 minutos). Entretanto, você poderá a qualquer momento se recusar em continuar a responder as questões formuladas e participar da pesquisa como um todo. Cabe mencionar que a sua identidade será tratada com padrões profissionais de sigilo. Seu nome ou informação que indique a sua identificação não será liberado sem a sua permissão. Você não será identificado (a) em nenhuma publicação que possa resultar deste estudo. Ademais, a sua participação nesta pesquisa não acarretará custos para você e, desta forma, não caberá nenhuma compensação financeira. Os benefícios da presente pesquisa estão relacionados ao conhecimento e ao desvelamento dos desafios que envolvem a Educação para o Desenvolvimento sustentável, notadamente no campo da compreensão, dos discursos mediadores e dos aspectos constitutivos da Sustentabilidade, e sua articulação com a Ciência, Tecnologia e Sociedade na construção do conhecimento científico. Eu, ___________________________________ fui informado (a) dos objetivos e da metodologia a ser adotada na pesquisa, de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que em qualquer momento poderei solicitar novas informações e modificar minha decisão se assim o desejar. A mestranda-pesquisadora do Programa de Pós-graduação em educação em Ciências e Matemática, da Universidade Federal do Pará, Darlene Teixeira Ferreira me garantiu que todos os dados desta pesquisa serão confidenciais. Em caso de dúvidas, poderei entrar em contato com a mesma pelo telefone ____________. Declaro que concordo em participar do estudo em questão. Recebi uma cópia deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e me foi dada à oportunidade de ler e esclarecer minhas dúvidas.
Nome do participante:
Assinatura do participante:
Data:
Nome do pesquisador:
Endereço do programa de mestrado:
Telefone do pesquisador
e-mail do pesquisador
Assinatura do pesquisador
Data:
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