relatório final de estágio - planos de aula sobre África
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Universidade Federal de Goiás
Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia
Departamento de História
Relatório Final de
Estágio
Aluno: Douglas César de Almeida
Relatório Final de Estágio
I Identificação
Aluno: Douglas César de Almeida
Escola: Escola Municipal Dalísia Doles
Endereço:
Série/Ano/Turma/Grau: 7 º Série A do Ensino Fundamental
Número de Alunos Matriculados
Número de Alunos Frequentes
Professora da Turma: Divina
Titúlação da Professora
II Desenvolvimento
Antes de iniciarmos a exposição das experiências desenvolvidas durante o
estágio da licenciatura de História, gostaria de prestar meus agradecimentos
aos vários professores que colaboraram de modo fundamental para a execução
desse trabalho. Ao professor Alysson do Departamento de História da UFG,
pelo apoio, pela dedicação e pelo fornecimento de materiais didáticos para a
elaboração dos planos de aula. A Professora Patrícia do CEPAE prestamos
nossos agradecimentos pelo fornecimento de livros didáticos especializados no
tema proposto para as aulas. A Professora Sônia do Departamento de História
que foi a nossa voz em alguns momentos difíceis e conflituosos com os
orientadores de estágio do CEPAE, além do apoio moral e intelectual, pois foi
de grande valia seu conhecimento como professora experiente e também pelo
fornecimento de materiais didáticos. E a Professora Suely do Dalísia Doles
também deixamos aqui por escrito o agradecimento pelo material didático
fornecido.
Iniciar esse trabalho relativo ao estágio realizado ao longo desse ano letivo
com agradecimentos acima, é extremamente pertinente e relevante. Uma das
dificuldades iniciais para a elaboração de material didático e confecção dos
planos de aula refere-se à seleção de bibliografia especializado sobre o tema:
livros didáticos, paradidáticos, científicos, acadêmicos ou artigos de revistas,
etc. O problema é quando o tema é novo, ou em outras palavras, um tema
complexo como o da História da África. Bibliografia especializada sobre o
tema existe sim, mas pelo desleixo historiográfico, se tornou uma raridade
encontrar fontes, e materiais que trabalhem com o tema. Portanto foi preciso
muito tempo para a seleção de matérias didáticos atualizados, e lógico
interessantes, com o objetivo de ajudar na metodologia. Para ensinar crianças
e adolescentes é preciso muito mais do que domínio teórico de um tema. É
preciso de didática, do lúdico, de recursos audiovisuais e etc., para despertar
o interesse e facilitar o processo de aprendizagem. Outro aspecto relevante é
o desconhecimento que existe de história africana pelos alunos, reflexo da
atitude da academia, em desprezar esse campo historiográfico. Alia-se ao
preconceito que confesso, acreditava acontecer em apenas casos isolados,
mas que, se tornou explicito durante minhas aulas. Mudar comportamentos eu
como profissional da educação não creio que tenho esse poder. Mas fazê-los
re-pensar sobre suas atitudes, isso acredito que posso.
Outro problema apontado durante o estágio, que considero irrelevante, foi o
fato da seleção da escola. Nesse ano tive a oportunidade de passar por três
escolas, a saber: a Escola Estadual Waldemar Mundin, o Centro de Estudos
Aplicados à Educação (CEPAE) e a Escola Municipal Dalísia Doles. Comecei o
estágio no Waldemar Mundin, por cerca de um mês, mas fui remanejado para
o CEPAE. Durante a primeira parte do estágio, ou o primeiro período, estava
vinculado ao CEPAE, e inclusive fui o único aluno que teve a oportunidade de
escolher o tema das aulas. Entre Grécia e África, escolhi os africanos. Ao
longo desse primeiro momento foram desenvolvidas no CEPAE as atividades
relacionadas com a observação das aulas, a aula “quebra-gelo”, rebatizada de
aula “quebra-cara”, e a confecção dos planos de aula. Devido ao excesso de
atividades desenvolvidas e a falta de material para a confecção dos planos de
aula, o plano de aula final elaborado ficou com a falta da avaliação (questões
dissertativas ou de múltipla escolha, documentos), etc. De qualquer modo,
durante as férias acadêmicas foi possível concluir os planos de aula, mas fui
impedido de assumir a regência devido a problemas interpessoais com a
orientadora Dailza do CEPAE. Fui novamente remanejado para a Escola Dalísia
Doles, onde pude assumir a regência, mas é lógico claro, e tive que refazer os
planos de aula. Comparando as três escolas em termos de estrutura física,
percebe-se maior integridade do CEPAE e do Dalisia Doles. O Waldemar
Mundim possui condições muito precárias, mas é importante ressaltar que a
escola se encontra em reformas.
A observação das aulas foi uma das primeiras atividades do estágio. Apesar de
tudo considero pessoalmente desnecessário assistir aulas, observando a
professora em sala. É importante ressaltar que todos nós estagiários já
passamos anos e anos assistindo aulas, e a nossa experiência como alunos é
suficiente para que possamos entender o que é uma sala de aula. A confecção
de planos de aula também foi conflitante, pois, mesmo com “boas intenções”
não tínhamos muitas escolhas a não ser seguir o que manda a orientadora de
estágio.
Na aula quebra gelo foi trabalhado o tema da escravidão na sociedade greco-
romana. Na prática as diretrizes da aula foram esboçadas pela professora
orientadora, e cabia ao estagiário a aplicação da aula, que consistia na
explicação do tema e da atividade. Apesar do tempo de aula ser muito curto,
cerca de cinqüenta minutos, foi possível concluir o planejamento. A correção
das atividades também foi produtiva. Verifica-se nos alunos do CEPAE, em
geral, interesse, alto nível de abstração, e ótima escrita. A maioria dos alunos
conseguiu responder às atividades propostas de modo satisfatório.
Por outro lado, a confecção dos planos de aula não foi em nenhum momento
fácil, como a aula quebra gelo, ou observação das aulas. Foi pelo contrário,
conflituoso, já que esbarravam nas opiniões e desejos da própria orientadora.
Seria necessária a confecção de sete aulas, e teoricamente teríamos a
liberdade de escolha das temáticas abordadas (já que a aula é nossa, ao
contrário da aula quebra gelo). A partir do conhecimento pessoal que possuía
sobre História da África, foram pensados os planos de aula assim distribuídos:
� 1ª Aula: O Continente Africano como um todo: as divisões regionais
(geográficas) e a divisões culturais (históricas). Apresentar “as Áfricas”
aos alunos, como a África Negra e África Branca em que o Saara atua
como separação de duas unidades distintas, mas interelacionadas. E
também as regiões do continente: África do Norte, África Ocidental,
África Oriental, África Meridional e a África Central. Na prática
utilizaria uma terceira divisão, para facilitar a compreensão da história
dos povos africanos, relacionando com as grandes bacias hidrográficas
(que são vetores essenciais nas trocas comerciais e culturais) e com as
regiões culturais: África Nilótica, África Nigerina, África do Norte ou
Magreb, África Ocidental, África da Costa Oriental e África Central e
Meridional. A partir da segunda aula seriam trabalhadas estas regiões
específicas.
� 2ª Aula: África Nilótica: O vale do rio Nilo, os Reinos Cristãos da Núbia
e da Etiópia. Estes reinos são uma continuidade do Egito Faraônico,
além de serem cristãos.
� 3ª Aula: África Nigerina: Os vales dos rios Níger e Senegal: os Reinos de
Gana, Mali e Songai. A presença do islamismo nessa região, assim
como, a continuidade desses reinos.
� 4ª Aula: África do Norte: os povos berberes, tuaregues e os mouros.
São povos de culturas muito ricas e estiveram cerca de cinco séculos na
Península Ibérica. Utilizaria também referências de como a cultura
berbere está presente na cultura portuguesa e brasileira, através dos
estudos do folclorista Câmara Cascudo.
� 5ª Aula: África Ocidental: os povos da Guiné: Iorubas, Fon, Daomé e
Bini. Foi dos portos de escravos da região que vieram importantes
contingentes populacionais para o Brasil, ajudando na formação do
povo brasileiro. Seriam trabalhados também com os Retornados,
escravos africanos que habitavam o Brasil no século XIX e retornaram
para a África e hoje são comunidades com costumes brasileiros em
países como Benin, Nigéria, etc.
� 6ª Aula: África da Costa Oriental: as cidades-Estado Suáiles e a
interação com os povos da Arábia, Pérsia, Índia e China. Para elucidar a
chegada dos portugueses e demais europeus na África utilizaria como
fonte histórica trechos de Os Lusíadas de Camões.
� 7ª Aula: África Central e Meridional: os Reinos do Congo e de
Monomotapa. Também se faria uma ponte com a África Lusófona atual
(Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, etc.).
Esse plano de aula foi vetado e por isso não pude dar continuidade à
elaboração deste. O objetivo era excluir alguns estereótipos relegados a
África: “o continente negro”, a “escravidão” e “afropessimismo”; e mostrar a
interação entre a África, o Brasil e também de certo modo Portugal,
direcionando as trocas culturais no Atlântico Sul.
Por ordem da orientadora era necessário produzir um plano de aula dividido
por eixos temáticos. Seria por exemplo comparar a religião de um povo com a
de outro povo da África, e assim por diante. Um dos problemas é a
comparação. Quando se compara a economia, a escravidão, ou a religião dos
gregos com os romanos, ou até mesmo com os egípcios, é fácil, já que existe
vasta bibliografia sobre estes povos. Agora comparar a religião em vários
pontos da África, quando há pouca bibliografia sobre o tema, já é muito
complexo. Pessoalmente acho que quando se compara dois reinos, países ou
povos, sempre há a criação de hierarquias. As pessoas sempre pensam qual é
o melhor e o pior. No entanto o plano de aula foi assim esboçado:
� 1ª Aula – Discussão sobre África: a representação do continente através
da cartografia
� 2ª Aula – Os Impérios, Reinos e Chefias da África Medieval (V-XVI)
� 3ª Aula – Religião: Cristianismo na África
� 4ª Aula – Religião: Islamismo na África
� 5ª Aula – Religião: Religião Tradicional dos Iorubas
� 6ª Aula – A Escravidão e os Quilombos na África
� 7ª Aula – As Culturas Africanas: interpretação do mundo, cosmogonia,
práticas culturais, etc.
Foi a partir da elaboração dos planos de aula que surgiram algumas
discordâncias com a orientadora de estágio. Não concordei em nenhum
momento com a proposta de eixos temáticos, que prejudicaram o andamento
do trabalho. A diversidade das organizações políticas africanas foram
relegadas a uma única aula, o que significava a apenas contextualizar esses
reinos de maneira rápida. A orientadora insistiu muito veemente para que
fosse comparado o cristianismo e o islamismo na África, e pela falta de
tempo, já que estava muito próximo da entrega dos planos de aula finais, não
foi possível modificar. A sétima aula em que os alunos apresentariam
trabalhos sobre os povos africanos específicos com suas organizações
particulares foi também vetada. Na realidade de acordo com a proposta
pedagógica do CEPAE é lícito que as aulas não se resumam a aulas expositivas
tradicionais, sendo necessária também a apresentação de trabalhos, cartazes,
etc. Era uma oportunidade dos alunos pesquisarem por si próprios a riqueza
étnica existente no continente, com povos brilhantes e pouco conhecidos no
Brasil, como os tuaregues, os dogons, os zulus, os mandingas, os uolofs, os
fulanis, etc.
Mesmo com o plano de aula finalizado e aprovado, fui remanejado para outra
escola, no caso, o Dalísia Doles. A professora Divina elogiou muito os planos
de aula, e me indicou o que ela gostaria que fosse reaproveitado. A sala de
aula original do CEPAE era o 1º Ano do Ensino Médio, e no Dalísia Doles passou
para a 7ª Série do Ensino Fundamental (ou 8ª). A professora estava
ministrando o conteúdo de História do Brasil Imperial, e achou pertinente
trabalhar com a África e a escravidão no período. Ela ressaltou a necessidade
de se trabalhar a religião dos escravos africanos, o que foi mantido no plano.
Assim foram refeitos os planos de aula, com a diminuição da carga horária
para seis aulas:
� 1ª Aula: O Continente Africano
� 2ª Aula: Os Impérios, Reinos e Chefias da África Medieval (V-XVI)
� 3ª Aula: A Escravidão na África
� 4ª Aula: A Religião dos Escravos Africanos
� 5ª Aula: A Escravidão no Brasil
� 6ª Aula: A Abolição
Com os planos de aula em mão fui imediatamente colocado em sala, onde
realizei a regência. As aulas foram de certo modo não-lineares, devido a
feriados e eventos, passei algumas semanas para a conclusão destas. Com a
falta de tempo, a professora Divina solicitou que desse apenas as quatro aulas
iniciais, para que o segundo estagiário pudesse assumir a sala de aula, já
praticamente no inicio de novembro.
Um outro aspecto que deve ser observado é a ausência da máquina de Xerox
no colégio Dalísia Doles, em contraparte do CEPAE. Isso significava que teria
que tirar do próprio bolso, os recursos financeiros para a aplicação das aulas.
Não que fosse obrigatório, mas optei pelo investimento, com objetivo de
facilitar na aplicação da aula e divulgar a história africana.
1ª Aula: O Continente Africano – Divisão Regional e Divisão Cultural /
Socioeconômica
A primeira aula foi sem dúvida a que enfrentei o maior número de
dificuldades. Primeiro seria explicado a aula e depois utilizaria transparências
mostrando mapas com as divisões do continente, e se sobrasse tempo, os
alunos preencheriam um mapa mudo da África com o nome dos países. O
primeiro contato que tive com os alunos foi difícil, não no sentido de dominar
a sala de aula, mas pela questão de considerar o conhecimento prévio dos
alunos. Perguntei: “O que vocês sabem sobre a África”. As respostas ouvidas
foram preconceituosas e discriminatórias, como: “o continente azul”, “de
onde vieram os pretos”, entre outros. Expliquei para os alunos que esses
preconceitos nascem justamente porque desconhecem do continente
africano. Utilizei como recursos didáticos, mapas e as transparências. Os
mapas foram eficientes, o mesmo, não acontecendo com as transparências.
Elas se mostraram foscas e com péssima visibilidade, o que de certo modo,
desestimulou os alunos. Passado esse momento, verifiquei que a aula estava
“dada”, e ainda havia muito tempo! Fiquei confuso, e tentei não transparecer
esse sentimento, e falei que iria passar algo no quadro, o que desagradou os
alunos. Então falei para os discentes resolverem as atividades. No geral a
primeira aula foi bastante simples, limitando-se mais a trabalhar com mapas
da África e com as divisões do continente. Foi utilizado material também de
apoio xerografado, mas não foram trabalhados nenhuma questão sobre este. É
importante ressaltar que essa primeira aula foi assim planejada de acordo
com o desejo da professora do Dalísia Doles. O nível de aprendizagem foi
satisfatório, pois nas aulas subseqüentes mostraram dominar o conteúdo com
perguntas orais. Em geral todos os alunos presentes na aula fizeram a
avaliação, que no caso era escrever o nome dos países em um mapa mudo da
África. A aula focalizou muito o aspecto relativo às duas Áfricas: África Branca
e África Negra. Ao final da aula estava nervoso e insatisfeito com essa
primeira aula. Os comentários da professora da turma foram relacionados ao
problema do retroprojetor, que não mais seria utilizado (tinha planos de
utilizar nas outras aulas). A professora do estágio disse que eu possuo carisma,
o que ajuda a controlar uma sala de aula, mas deixou claro que era preciso
que eu me esforçasse, para uma aula melhor.
2ª Aula: Panorama da História da África
A segunda aula, ao contrário da primeira, foi boa. Só não foi excelente devido
a dois fatores: a falta de recursos didáticos (ausência de mapas históricos, o
não uso do retroprojetor, etc.) e a falta de participação dos alunos. O único
recurso utilizado foi o material xerografado e o quadro. A parca participação
dos alunos acredito que seja relacionada ao desconhecimento quase total dos
reinos da África Antiga. Com toda certeza, se o interesse fosse maior,
houvesem mais perguntas, a aula poderia ter tomado rumos mais complexos.
No entanto não houve nenhum problema, a aula seguiu normalmente:
inicialmente escrevi no quadro um resumo das idéias a serem trabalhadas, em
seguida a exposição do tema, e finalizando com a avaliação. Dos trinta alunos
matriculados na sala apenas três entregaram a avaliação, que consistia em
quatro perguntas dissertativas. Muitos justificaram o fato de não terem
resolvido as questões, porque acharam difícil o tema. De fato uma aula
apenas para tantos povos africanos é insuficiente para um aprendizado de
qualidade. As três crianças que fizeram a atividade, todas tiveram resultados
satisfatórios, mas que talvez não seja possível generalizar para toda à sala.
3ª Aula: Escravidão e Quilombos na África
Aula também muito boa, o destaque fica por conta da ampliação do tema e da
intervenção da professora da turma durante à aula. Após a explicação ela
pediu para que fosse feita à leitura do texto para ajudar na fixação do
conteúdo, o que acabou comprometendo a avaliação da aula. Na aula foram
retratados personalidades africanas e brasileiras relacionadas à luta contra a
escravidão: Aqualtune, Ganga Zumba, Jinga e Zumbi. Pode-se perceber o
desconhecimento geral sobre os personagens retratados, devido ao fato dos
alunos ficarem muito silenciosos. A aula foi expositiva por excelência. Gastou-
se uma hora trabalhando com o tema proposto, a escravidão. A aula focalizou
também as guerras dos Jagas contra o Reino do Congo onde surgiram “duas
personagens” femininas, já citadas anteriormente, Aqualtune e Jinga.
Aqualtune é uma princesa do Congo que se tornou escrava e foi transportada
para o Brasil, e é avó de Zumbi. Jinga a rainha de Matamba, reino próximo ao
Congo, durante a fundação de Luanda, guerreou contra os portugueses e
impediu a penetração destes para o interior de Angola. Necessariamente estas
histórias não estavam no plano de aula e foram incoporadas com o objetivo de
que não sobrasse tempo para os alunos. Não foi possível avaliação, e muito
menos à retomada do tema na aula seguinte, devido aos feriados e recessos
que ocorreram na escola, e o trabalho de outros estagiários.
4ª Aula: A Religiosidade dos Escravos Africanos
A aula também foi muito boa, onde foi possível seguir totalmente o plano de
aula. A avaliação foi agora “forçada” pela professora da turma, já que valia
“nota”, ou seja, cerca de um ponto e meio. Apesar de tudo, muitos alunos
não fizeram. O tema sobre a religiosidade africana é muito complicado, pois
ela é extremamente dotada de preconceitos. Na prática deveria ser
trabalhada com mais profundidade, com o objetivo de mudar a concepção
negativa das religiões africanas e afro-brasileiras. Em relação à avaliação
pode-se notar cola generalizada, os alunos copiam errado do quadro e
também dos colegas. Abaixo relaciono os resultados da correção de cada
questão:
1) Os alunos conseguiram identificar os orixás com a cultura negra
africana, com o candomblé. Porém em relação aos vodus não
aconteceu o mesmo. Os vodus ainda são associados a fetiches, aos
“bonecos vodus” e aos zumbis; há ainda associação com bruxaria.
2) Conseguiram identificar no texto o que são os calundus, porém alguns
copiaram de forma incompleta ou deixaram mal-feitos.
3) Em geral todos sabem que há uma associação do culto aos orixás com
bruxaria, mas no entanto não explicaram o porquê. É devido a
perseguição católica às religiões pagãs.
4) Grande parte escolheu um orixá, outros recusaram-se a responder e
duas alunas responderam assim: Eu não me identifico com nenhum
deles porque eu acredito e me identifico com Jesus Cristo, que é meu
único deus. Eu não acredito nisso.
5) Muitos não responderam. Os que responderam o fizeram de modo
bastante claro, mas não chegaram a associar tanto Ogum ao país de Ire,
e que assim sendo o transnacionalismo religioso existente na baía de
Benin.
III – Conclusão
Após um longo ano de estudos, preparação e regência das aulas elaboradas,
pode-se chegar a algumas conclusões. A elaboração de material didático é
uma tarefa complicada, porque é preciso gastar muito tempo pesquisando
textos, imagens e recursos educacionais. A maioria desses textos é de difícil
acesso, ou é necessário tirar do próprio bolso recursos financeiros para
adquiri-los. Em relação à História da África, recém-incorporada nos currículos
de história nacional, talvez seja ainda mais complicado. Verifica-se que os
alunos não valorizam muito a matéria de história, pois a maioria não realizou
as atividades propostas, desinterresadamente (sem valer “pontos”). A
preparação de aulas é muito mais complexa do que propriamente a regência.
Talvez uma das tarefas mais complicadas dos professores é justamente
pesquisar materiais, selecionar, recortar, criar, modificar, adaptar, traduzir,
etc. Dominar uma sala de aula com adolescentes é muito mais fácil, do que
com crianças. É necessário estar o tempo todo chamando o aluno, “preste
atenção”, porque estes se desligam muito rápido. A rotina escolar é às vezes
baseada na coerção e até uso da violência psicológica, não importando a
idade. Este aspecto me deixou bastante preocupado, e não é esse tipo de
educador que adoto como modelo. O desafio para nós historiadores é cativar
os nossos alunos com o nosso objeto de estudo, e todos os professores devem
estar cientes dessa responsabilidade.
Planos de Aulas
Planos de Aulas
CEPAE
1ª Aula
I – Tema:
As Representações do Continente Africano – A Cartografia
II – Objetivos:
II.a – Geral:
Analisar o continente africano, seu multiculturalismo, suas múltiplas
interações com o mundo e a representação e o imaginário sobre ele.
II.b – Específicos:
Localizar no mapa o continente africano.
Contrapor a projeção de Mercator (periferia) e de Peters (centralidade) e
analisar o mapa como uma representação gráfica.
Descrever o quadro natural do continente africano.
Diferenciar as duas “Áfricas”: África Negra e África Branca.
Problematizar conceitos de topônimos como Sudão, Guiné, Etiópia, Abissínia.
Analisar a “centralidade” geográfica do continente africano no mundo e
entender que ele não foi isolado do contato com outros continentes.
Conceituar afro-pessimismo.
III – Metodologia:
1º Passo: Ir construindo no quadro a África como ela é: o berço da
humanidade (da espécie humana), berço também de civilizações autócnes
como o Egito, Cuxe, Axum, Garamantes, Númidas, Nok. Estes reinos serão
apenas citados, elucidando que já desde o mundo antigo a África apresenta
civilizações próprias e que eles são praticamente esquecidos pela história e
historiografia.
2º Passo: Utilizar as projeções de Mercator e Peters para explicar como a
África é representada cartograficamente desproporcional. Explicar a projeção
de Mercator no século XVI e de Peters no século XX, onde na projeção de
Mercator a Europa é colocada como centro e em destaque, e a África (como a
América do Sul) são diminuídos. A projeção de Peters realça o tamanho
original dos continentes. Explicar que geograficamente a África é o mais
“central” dos continentes. Explicar o que são mapas suliados, e a hierarquia
dos mapas onde o Norte, ligado a posição superior, se relaciona com o
“paraíso”, e o Sul é relacionado ao “inferno” e está abaixo do centro. Citar o
nome África subsaariana, que explica uma idéia de estar abaixo do Saara.
3º Passo: Assim pela centralidade geográfica da África em relação aos
continentes, explicar que desde o mundo antigo a África esteve inserida nos
contextos da “história mundial”. As invasões e colonização de regiões da
África pelos fenícios, gregos, romanos, vândalos, árabes, persas; relacionam-
se com a presença africana na Europa e Ásia através dos egípcios, axumitas,
mouros, berberes, cartagineses, etc. E explicar que existem relações entre a
África com regiões longínquas como o contato com indianos, chineses, e
malaios.
4º Passo: Descrição física e natural do continente: desertos, savanas,
florestas. Explicar a desertificação do Saara e o Sahel. A existência de “Duas
Áfricas” distintas: a África Branca e a África Negra. Os termos serão
analisados, onde o Saara é um grande obstáculo (nem por isso intransponível)
que irá filtrar os contatos entre o Mediterrâneo e a África ao Sul do Saara.
Analisar a maioria dos termos toponímicos que se referem à África: Guiné,
Sudão, Etiópia, Abissínia. Relacionar que todos significam “terra dos negros” e
são nomes dados por outros povos invasores.
5º Passo: Discutir o conceito de África, que só nasce no século XIX com a
colonização européia da África. Utilizar a frase “os africanos só descobriram
que eram africanos, quando os europeus lhe avisaram”. Analisar que será
construído um discurso negativo da África, como um continente sem história,
onde a barbárie e a selvageria imperam. Explicar que com a descolonização os
africanos começam a discutir a validade das mistificações cientificas que
denegriram o continente.
6º Passo: Explicar a predominância do discurso negativo da África
atualmente, dialogando com os alunos a abordagem da África a partir da
mídia. Pressupõe-se que irá ser abordada a fome, as guerras, a AIDS, o ebola,
etc. De este modo conceituar afro-pessimismo.
7º Passo: Analisar a importância de se estudar a África como ela é, e por quê
hoje ela é obrigatória nos currículos escolares. Relacionar com a construção
da identidade afro-brasileira.
IV – Recursos Didáticos:
Quadro e Giz; Mapas; Texto de Apoio
V – Avaliação:
A avaliação será resolução de exercícios de múltipla escolha. Será proposta
uma pergunta filosófica: se até África é um nome que não foi escolhido pelos
africanos, se você fosse rebatizar o continente a partir dele mesmo, qual
nome você daria?
Atividades
1) A partir da comparação das visões de autores abaixo, responda:
A África não é uma parte histórica do mundo. Não têm movimentos,
progressos a mostrar, movimentos históricos próprios dela. Quer isto dizer
que sua parte setentrional pertence ao mundo europeu ou asiático. Aquilo
que entendemos precisamente pela África é o espírito a-histórico, o espírito
não desenvolvido, ainda envolto em condições de natural e que deve ser aqui
apresentado apenas como no limiar da história do mundo. (Hegel, 1995: 174).
Ao lermos os textos europeus que retratam o Africano (o mesmo sucede,
aliás, se interpretarmos ícones), mesmo os mais descritivos, temos de partir
sempre do princípio de que estamos perante representações, o que é dizer,
perante (re) construções do real. [...] Essa construção faz-se de acordo com
as categorias culturais e mentais de quem viu, ou (e) de quem escreve [...]. A
representação é, aqui, a tradução mental de uma realidade exterior que se
percepcionou e que vai ser evocada — oralmente, por escrito, por um ícone —
estando ausente. (Horta, 1995: 189)
a) Qual a visão de Hegel sobre a África?
Resposta: Hegel afirma a existência de “duas Áfricas”, a setentrional e a
África propriamente dita. A África setentrional é apenas uma extensão do
mundo europeu ou asiático. A África propriamente dita é apenas um
ambiente natural intacto e não possui história.
b) Explique a concepção de representação a partir da afirmação de Horta.
Resposta: Para Horta representação é uma reconstrução do real, e essa
reconstrução é feita de acordo com as concepções culturais e mentais
daquele que o viu, ou a escreve. Assim sendo, uma reconstrução de outra
cultura decodificada na cultura do observador é apenas superficial, e não
corresponde com a realidade.
c) Comparando as duas opiniões dos autores acima, relacione o conceito de
representação de Horta e a concepção de África de Hegel.
Resposta: Hegel analisa a África do ponto de vista da sua cultura européia,
portanto hierarquiza, deturpa e foge da realidade da cultura africana.
2) (ENEM-2007) A identidade negra não surge da tomada de consciência de
uma diferença de pigmentação ou de uma diferença biológica entre
populações negras e brancas e (ou) negras e amarelas. Ela resulta de um longo
processo histórico que começa com o descobrimento, no século XV, do
continente africano e de seus habitantes pelos navegadores portugueses,
descobrimento esse que abriu o caminho às relações mercantilistas com a
África, ao tráfico negreiro, à escravidão e, enfim, à colonização do continente
africano e de seus povos. (K. Munanga. Algumas considerações sobre a
diversidade e a identidade negra no Brasil. In: Diversidade na educação:
reflexões e experiências. Brasília: SEMTEC/MEC, 2003.)
Com relação ao assunto tratado no texto acima, é correto afirmar que:
a) a colonização da África pelos europeus foi simultânea ao descobrimento
desse continente.
b) a existência de lucrativo comércio na África levou os portugueses a
desenvolverem esse continente.
c) o surgimento do tráfico negreiro foi posterior ao início da escravidão no
Brasil.
d) a exploração da África decorreu do movimento de expansão européia
do início da Idade Moderna.
e) a colonização da África antecedeu as relações comerciais entre esse
continente e a Europa.
3) (ENEM-2005) Um professor apresentou os mapas ao lado numa aula
sobre as implicações da formação das fronteiras no continente africano.
Com base na aula e na observação dos mapas, os alunos fizeram três
afirmativas:
I - A brutal diferença entre as fronteiras políticas e as fronteiras étnicas no
continente africano aponta para a artificialidade em uma divisão com objetivo
de atender apenas aos interesses da maior potência capitalista na época da
Descolonização.
II - As fronteiras políticas jogaram a África em uma situação de constante
tensão ao desprezar a diversidade étnica e cultural, acirrando conflitos entre
tribos rivais.
III - As fronteiras artificiais criadas no contexto do colonialismo, após os
processos de independência, fizeram da África um continente marcado por
guerras civis, golpes de estado e conflitos étnicos e religiosos.
(Atualidades/Vestibular 2005, 1º sem, ed. Abril, p. 68).
É verdadeiro apenas o que se afirma em:
a) I. b) II. c) III. d) I e II. e) II e III.
4) (ENEM-2003) Segundo Samuel Huntington (autor do livro, O choque das
civilizações e a recomposição da ordem mundial), o mundo está dividido
em nove “civilizações” conforme o mapa abaixo.
Na opinião do autor, o ideal seria que cada civilização principal tivesse pelo
menos um assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Sabendo-se que apenas EUA, China, Rússia, França e Inglaterra são membros
permanentes do Conselho de Segurança, e analisando o mapa acima se pode
concluir que:
a) atualmente apenas três civilizações possuem membros permanentes no
Conselho de Segurança.
b) o poder no Conselho de Segurança está concentrado em torno de apenas
dois terços das civilizações citadas pelo autor.
c) o poder no Conselho de Segurança está desequilibrado, porque seus
membros pertencem apenas à civilização Ocidental.
d) existe uma concentração de poder, já que apenas um continente está
representado no Conselho de Segurança.
e) o poder está diluído entre as civilizações, de forma que apenas a África não
possui representante no Conselho de Segurança.
5) (ENEM-2002) O continente africano em seu conjunto apresenta 44% de suas
fronteiras apoiadas em meridianos e paralelos; 30% por linhas retas e
arqueadas, e apenas 26% se referem a limites naturais que geralmente
coincidem com os de locais de habitação dos grupos étnicos.
MARTIN, A. R. Fronteiras e Nações. Contexto, São Paulo, 1998.
Diferente do continente americano, onde quase que a totalidade das
fronteiras obedecem a limites naturais, a África apresenta as características
citadas em virtude, principalmente,
a) da sua recente demarcação, que contou com técnicas cartográficas antes
desconhecidas.
b) dos interesses de países europeus preocupados com a partilha dos seus
recursos naturais.
c) das extensas áreas desérticas que dificultam a demarcação dos limites
naturais.
d) da natureza nômade da população africanas, especialmente aquelas
oriundas da África Subsaariana.
e) da grande extensão longitudinal, o que demandaria enormes gastos para
demarcação.
6) (PUC-RJ, 2005)
O amigo da Mafalda muda a posição do globo terrestre e com isso demonstra
para ela que:
I - os países subdesenvolvidos não perderão mais suas idéias para os países
desenvolvidos.
II - a Terra não tem cabeça nem pés e que podemos colocar no globo
terrestre, por convenção, qualquer lugar na parte de "cima".
III - as posições e a distribuição dos países e continentes que dominam a
imaginação mundial podem ser mudadas.
IV - podemos virar o globo de "cabeça para baixo" e “fingir” que nós do
hemisfério sul é que estamos de "cabeça para cima".
a) se somente as afirmativas I e II estão corretas.
b) se somente as afirmativas III e IV estão corretas.
c) se somente as afirmativas I, III e IV estão corretas.
d) se somente as afirmativas II, III e IV estão corretas.
e) se as afirmativas I, II, III e IV estão corretas.
Mapas
Projeções da África: Mercator e Peters Respectivamente
Mapa-múndi na Projeção de Mercator
Criada no século XVI durante as “grandes navegações” prezava principalmente
as distâncias. Observe a proporção entre Europa, América do Sul e África.
Mapa-múndi na Projeção de Peters
Criada em 1973 buscando estimular a “auto-estima” dos países
subdesenvolvidos. A partir deste ponto, notemos o quanto se altera, no
sentido da veracidade, superfícies como as da América do Sul e da África.
2ª Aula
I – Tema:
As Civilizações Africanas
II – Objetivos:
II.a – Geral:
Analisar a diversidade cultural dos Reinos, Impérios e Civilizações Africanas
dos séculos V ao XV.
II.b – Específicos:
Caracterizar o surgimento de civilizações africanas durante o mundo antigo.
Localizar no mapa as Chefias, Reinos e Impérios da África.
Analisar os três reinos sucessivos no vale do Níger: Gana, Mali e Songai.
Identificar os diferentes tipos de organização urbana no golfo da Guiné.
Conceituar o termo banto e interpretar a migração deste grupo lingüístico
pela África.
Descrever os reinos cristãos no vale do Nilo.
Entender as cidades-Estado suaíles e o comércio com o interior do continente
e com o mundo asiático.
III – Metodologia:
Texto base: África, a diversidade num continente e História da África
1º Passo: Continuação da 1ª Aula. Com utilização do mapa, situar os alunos
sobre o continente africano. A Aula será praticamente expositiva, mas
incentivando o dialogo e participação dos alunos.
2º Passo: Analisar o surgimento das primeiras civilizações: Egito, Cuxe
(Kerma, Napata e Meróe), Axum, Cultura Nok. Essas civilizações serão apenas
citadas para exemplificar a variedade de organizações humanas no continente
africano no mundo antigo.
3º Passo: Descrever o Saara como barreira natural, entendido como “filtro”
que dificultará contatos com o mundo mediterrâneo. Explicar a introdução do
camelo e as facilidades advindas com ele. Explicar o desenvolvimento do
comércio transaariano e A Rota dos Carros, a Rota do Sal e a Rota do Ouro.
4º Passo: Descrição das diferentes formas de organização política dentro da
África “Medieval”. Iniciando-se com a exposição dos reinos de Gana, Mali e
Songai, explicando sua ascensão, auge e declínio. Descrever a interação
destes com o mundo muçulmano. Explicar que os reinos e impérios africanos
não são semelhantes aos reinos e impérios ordinários (como o romano, o
espanhól), estes baseados em fronteiras e territórios. Já os reinos africanos
controlam as rotas de comércio.
5º Passo: Descrição das organizações dos povos urbanos do Golfo da Guiné: os
ashantis, os hauças, os iorubás, os edos, o Reino de Daomé. Caracterizar as
diferenças entre essas organizações urbanas: os iorubás estavam concentrados
em cidades-Estado, os ashantis em confederação de cidades, etc.
6º Passo: Explicar o termo banto. Elucidar a migração dos bantos e a
expansão da tecnologia do ferro. Utilização do mapa para facilitar a
explicação. Citar a organização dos reinos bantos: o reino do Kongo e
Monomotapa.
7º Passo: Descrição dos reinos cristãos da Núbia e da Etiópia, no vale do Nilo.
Utilizar a Etiópia como exemplo de um reino autócnes, letrado e com história
escrita, que não foi colonizado por nenhum país europeu. Dentro dele
convivem povos de organização social distinta (nômades, sedentários,
urbanos, rurais), de fenótipos diferentes, de religiões diferentes.
8º Passo: Descrição das cidades-Estado suaíles e sua interação com China,
Índia, Sudeste Asiático, Pérsia e Arábia.
IV – Recursos Didáticos:
Quadro e Giz. Material de Apoio: Texto Anexo com conteúdos específicos
sobre reinos e impérios africanos.
V – Avaliação:
A proposta de avaliação será trabalhos em cartazes sobre povos e etnias
africanas. Em grupo de três alunos irão pesquisar e realizar trabalhos sobre
esse povo. O trabalho será em cartazes e haverá um dia específico para tratar
desse assunto. Eles terão prazo para fazer. O objetivo será mostrar que cada
cultura africana carrega seus códigos e valores simbólicos de representar e
reproduzir o mundo.
Paralelamente os alunos farão um quadro sobre os principais reinos e Impérios
africanos. Os tópicos seriam economia, política, religião, sociedade, cultura,
cosmologia, etc.
Essa proposta de avaliação se deve ao fato de não resumir a história do
continente apenas a reinos, impérios, cidade-Estado, etc. Dentro do
multiculturalismo, os alunos devem ver as culturas dos povos e etnias e seus
símbolos.
Chefia, Reino e Império
Política Economia Religião e Sociedade
África Etíope ou Nilótica
Núbia (VI-XV) Alto Nilo (da 1ª a 6ª Cataratas)
Em cerca de 540, após a destruição do Reino de Meroé por Axum, há a formação dos Reinos Cristãos da Núbia: Nobatia (reino dos nobatas, entre primeira e a terceira catarata, com capital em Pakhoras), Makuria (entre a terceira e a quarta catarata, com capital em Dongola) e Alodia ou Aloa (ao sul da sexta catarata, com capital em Soba). Em 697 há a fusão de Makúria e Nobatia durante o reinado de Mercúrios. No século IX Alodia é anexada e forma-se o Reino da Núbia. Os nômades blêmios são expulsos para o deserto oriental. Em 652 sofre a invasão do Egito Muçulmano que impõem tributos (o Baqt, tributo anual de 400 escravos, além da liberdade religiosa). Em 1170 sofre nova invasão dos Mamelucos Egípcios, que começam a islamização da região, que termina com a prisão do último rei cristão núbio, substituído por um rei muçulmano. Em 1317 as igrejas são transformadas em mesquitas. O cristianismo subsiste até o século XV, quando Sennar sede do Reino Funj se torna o poderoso sultanato da região. O último baluarte cristão, Aloa, sobrevive até cerca de 1500.
Comércio e fortes vínculos culturais com Bizâncio e o Patriarca de Alexandria. Agricultura (Cereais) Algodão Pedras Preciosas, Ouro Ébano Essências Escravos
Cristianismo de Rito Copta (vinculado ao Patriarca de Alexandria) Em 737 os núbios lideram uma cruzada contra o Egito Muçulmano em defesa do patriarca de Alexandria e dos coptas (cristãos egípcios). Utilizam como escrita o alfabeto copta modificado. As cidades são amuralhadas como Faras, Soba, Dongola, etc. Etnias dominantes são os nobatas, os nubas, os blêmios e os beduínos.
Etiópia ou Abissínia (IV-XX) Chifre da África (entre o Mar Vermelho, Planalto Etíope e o Nilo Branco)
Inicialmente colonizada por povos da península arábica, responsável pela formação do Reino de Axum. Em 350 a presença do cristianismo se consolida com a conversão do Négus (“Rei dos Reis”) Ezana, pelo bispo Frumêncio. Os reis etíopes pertencem à Dinastia Salomônica que se declaram descendentes de Salomão e a Rainha de Sabá,
Domínio do comércio no Mar Vermelho e Interior do Corno Africano. Algodão Trigo, Tef
Etiópia desenvolve uma Igreja Nacional com o Abuna (Bispo) de Axum. Apesar de tudo a Etiópia nunca impôs aos súditos o cristianismo, já que outras
iniciada com Menelik. No século XII ascende ao poder a Dinastia Zagué de língua gheez, e durante o reinado de Lalibela, ocorre o apogeu da dinastia. Em 1270 os salomônidas restauram sua dinastia, com a capital em Ankober. A existência do reino etíope cristão origina a Lenda do Prestes João na Europa. O reino subsiste por séculos e inclusive consegue manter a independência do país durante o imperialismo europeu no século XIX.
Café
religiões como o judaísmo (falashas), islamismo e religiões tradicionais conviverem no reino. Desenvolvimento de escrita própria. Na arte destacam-se igrejas e conventos cristãos talhados na rocha. Várias etnias conviveram no reino, destacando o gheez, galas, etc.
África Ocidental ou
Sud
ão O
cide
ntal
(Val
e do
Alto
Níger
e Sen
egal
)
Gana (±700 – 1240) ou Uagadu Entre os Rios Níger e Senegal
A origem do reino remonta a cerca do ano 400. Os primeiros 44 reis seriam berberes até que assume o poder a Dinastia Cissé, de negros, destronando os antigos soberanos. O Gana detinha o monopólio do ouro e do sal, além do controle das rotas do comércio transaariano. O ouro provinha das minas em Wangara, e o sal provinha das salinas de Taghaza e Bilma, na região norte. Em 990 conquistam Audaghost importante cidade, onde se cruzavam as rotas comerciais de ouro e sal do Saara Ocidental. Os almorávidas em 1054 saqueiam Audaghost. Estes centralizam seu governo em Marraquéxi. No ano de 1077 os almorávidas destroem o Reino de Gana. Kumbi Saleh, a capital do reino de Gana, é destruída por volta de 1200. Os sarakoles, etnia dos governantes de Gana, chefiados por Sumanguru fundam o Reino de Sosso.
Riqueza Sal e Ouro, e controle das rotas de caravanas saarianas. Escravos
Gana é tanto o título real, quanto o do país: “O País do Ouro”. A soberania do Gana era exercida entre homens e não em terras. A etnia dominante era constituída pelos soninque ou sarakoles.
Mali (XIII-XV) Nascentes do
Keita chefe de um clã mandinga converte-se ao islamismo, faz uma peregrinação à Meca em 1050 e é
Noz de Cola Escravos
Os Mansas (reis) e a nobreza se convertem ao
Rio Níger e do Rio Senegal
intitulado sultão. Os descendentes de Keita são massacrados pelos sarakoles do Reino de Sosso, e poupam a vida de Sundiata Keita, que ao assumir o título de Mali Djata (literalmente “Príncipe Leão”), reorganiza o governo e derrota Sumanguru, em 1235. O apogeu do Império de Mali ocorre durante os governos de: Mali Djata e de Mansa Musa (1312-1337); com capitais em Niani e Kangaba. Tomboctou se torna sede de uma importante universidade islâmica e o centro cultural sudanês, com inúmeras madrassas, bibliotecas e mesquitas. Os tuaregues se apoderam de Tomboctou em 1435. O império é destruído pelos songai.
Ferro, Cobre, Marfim Sorgo, Milhete, Arroz Africano Algodão Comércio com o Mundo Mediterrâneo
islamismo, no entanto conviviam no Império centenas de povos, culturas e religiões. Os wangara eram notáveis comerciantes, e os griots (contadores de histórias) se encarregavam de contar a história dos legados do passado oralmente. A etnia dominante era dos malinques ou mandingas ou mande.
Songai (XV-XVI) Vale do Rio Níger e Lago Chade
Com sua poderosa cavalaria conquista em 1470 Tomboctou e Djenne. Centralizam seu império na cidade de Gaos, onde reinam a Dinastia muçulmana dos Askias (XV-XVI). A instalação de feitorias portuguesas no litoral da Guiné quebra o monopólio do comércio do ouro no Sahel, enfraquecendo as rotas do comércio transaariano. É destruído pelos marroquinos em 1591, que formam um estado dependente.
Agricultura Pesca Metalurgia Escravos
Rei possuía muitos títulos: sonni, kugha ou kukiae, ásquia. A etnia dominante pertencia aos songai. A Corte assim como os ásquias eram muçulmanos.
África
Ocide
ntal
ou
Sudã
o Ocide
ntal
Hauçás (XII) Próximo ao encontro dos rios Níger e Bênue
Surgimento ± em 1200: formam 7 Reinos Legítimos (Daura, Kano, Katsina, Gobir, Biram, Zegzeg, Rano) e 7 Reinos “Ilegítimos” (Zaria, Djukum, Kebbi, Zamfara). Desenvolvem uma importante história escrita, além de serem muçulmanos. No século XIX a história escrita será destruída pelos fulanis e as jihads na África Ocidental.
Escravos (notavelmente eunucos) para as Cortes árabes
São muçulmanos, no entanto, os hauçás são apenas uma unidade lingüística, e não étnica. Desenvolveram a escrita, mas seus livros foram destruídos pelos fulanis ou peules no século XIX.
Iorubás ou Nagôs (XII)
Carregam algumas características que remetem à antiga Cultura Nok. O surgimento das Cidades-
Azeite de dendê e de palma
A religião tradicional dos iorubas é a crença
Região Ocidental do Delta do Níger
Estado autônomas ocorre ± em cerca do ano 1150. As Cidades-Estado são autônomas: Oyó-Ilê, Oyó, Abeokuta, Eko (atual Lagos), Oshogbo, Ibadan, etc. Porém os iorubas possuem Ifé como centro cultural. O Oni (Rei) de Ifé detém a primazia religiosa sobre as cidades iorubas. Desse modo todos os governantes iam até Ifé para terem a legitimação de seus governos. Isso se deve pela origem mítica, do orixá-rei Odudua, que fundou e governou de Ilê-Ifé. A partir do século XVI o poder da cidade-Estado de Oyó cresce até unificar toda as cidades-Estado ioruba. O alafin (rei de Oió) exerce a soberania temporal dos iorubas e também começa a questionar a legitimidade de Ifé, deificando Xangô, antigo rei oioano, como divindade principal. No século XVII o Império de Oyó dominará grande parte da Nigéria, incluindo o Reino de Daomé. A civilização dos iorubas alcançou grande prosperidade, notavelmente em relação à vida urbana. Censos iorubas de 1850 revelam 10 cidades com mais de 100 mil habitantes.
Artesanato de cobre e ferro Utilização da técnica da cera perdida na fundição de metais. Cerâmica e esculturas de ferro, bronze e terracota. Escravos
nos Orixás. A organização política e religiosa oscila ente o Oni (Chefe Religioso de Ifé) e o Alafin (Chefe Temporal de Oyó). O Ogboni (Senado), porém, tem poderes para derrubar um soberano. O Babalâo também tem destaque na sociedade ioruba: é o adivinho, conselheiro e cobrador de impostos. A arte, principalmente as esculturas atingirão grande desenvolvimento e em estilo naturalista.
Benim Região Oriental do Delta do Níger
O reino possuí uma origem mítica: teria sido fundado por Oranian, um ioruba. A sede é a cidade de Ubini. No século XVI é proibido a escravidão masculina, numa política de estímulo demográfico. O oba mantinha o monopólio na produção e circulação do marfim e da Pimenta.
Tecidos, esculturas em bronze e cobre, óleo de palma e escravos
O chefe político é o oba (rei) e possuí ligações culturais e históricas com Ifé. A etnia do reino de Benim é conhecida como binis ou edo.
Daomé (atual Benin) Oeste dos Estados Iorubas
Caracteriza-se por uma série de cidades-Estado: Alada, Sadô, Adjaxé (atual Porto Novo), etc. Irá tornar-se um reino unificado com sede em Abomey, durante o século XVI, quando passa a enriquecer com o tráfico
Escravos A religião tradicional corresponde a crença nos Vodus, divindades semelhantes aos orixás dos iorubas.
transatlântico de escravos. A etnia é denominada fon ou gegê.
África Central e Meridional
Zimbábue (XIII-XVI) Rios Zambeze e Limpopo
Dezenas de grandes muralhas de pedra (zimbábues) construídas entre 900 até 1600.O mais impressionante é o Grande Zimbábue, que também foi o centro do reino. Comercializavam com os Estados Suaíles da Costa. Pouco se sabe da organização política e religiosa do reino.
Agricultura, Ouro, Cobre, Marfim e Gado Bovino. Possivelmente Escravos
Religião Tradicional Etnicamente é composta por grupos Xonas.
Monomotapa (XV-XVI) Noroeste do Rio Zambeze
Caracteriza-se por chefias unidas por laços de parentesco lideradas pelo Chefe Monomotapa (Mwene Mutapwa, “Senhor das Terras Arrasadas”). Sua soberania era exercida do Kalahari ao Índico. Os portugueses tomaram conhecimento desse reino no Zambeze e estabeleceram comércio com este.
Marfim e Ouro Escravos
Religião Tradicional Etnicamente é composta por grupos Xonas.
Congo Rio Congo ou Zaire ao norte, rio Cuanza ao sul e rio Cuango ao leste
A origem do reino remonta ao inicio do século XV, fundado por chefes “ferreiros”, bons caçadores e guerreiros. Forma-se uma confederação de vários chefes e chefias tradicionais que reconheciam um rei: o Manicongo ou Ntotila, que unia poderes políticos e religiosos. Cidades (banzas) e aldeias (lubatas) pagavam tributos ao Manicongo. A sede do reino era a cidade de M´Banzacongo. Com contato com os portugueses o principal produto de exportação passa a ser escravos, assim como estes se tornam monopólio do Manicongo. Em 1665 iniciam uma revolução antilusitana.
Ferro, Marfim Painço e Sorgo Tecidos de Ráfia Sal Zimbos (Búzios que serviam como moeda) Tanchagem Escravos
Religião Tradicional. Com a chegada dos portugueses é introduzido o cristianismo, e a conversão da corte em 1512. A sociedade caracteriza-se por três estratos: nobreza, camponeses e escravos. A filiação era matrilinear e aceitavam a poligamia. A etnia dominante era dos Muchicongos ou Bakongo.
África da
Suaíles Azania ou Zanj “Os Habitantes da Costa”
Cidades-Estado cosmopolitas que combinavam povos bantos e outros africanos do interior do continente, muçulmanos (árabes e persas), além de indianos e chineses. As principais cidades-
Marfim, Peles Óleo de Coco Ébano, Sândalo
A religião predominante é o islamismo. Os suáiles são povos mestiços notavelmente de
Costa do Oceano Índico
Estado eram Zeila, Socotora, Mogadíscio, Kilwa ou Quiloa, Zanzibar, Sofala, Mombaça, Melinde, Lamu, Pemba, etc. A civilização suaíle desenvolveu-se sem interrupções mais ou menos do século VIII até a chegada dos portugueses em 1498. A principal atividade econômica era o comércio de longa distância com Índia, Arábia, Pérsia e China; além de comércio com o interior do continente.
Escravos Ouro, Ferro
bantos (negros) com árabes e persas. Utilizavam língua própria, o Suaíle, que é inclusive língua franca e de comércio na região. Utilizavam como moeda o metical, penas de aves “recheadas” de ouro em pó.
Atividades
1) Descreva a economia africana antes da chegada dos europeus.
Resposta: Agricultura, pecuária; escravos, ouro, marfim, ébano, especiarias,
ferro, comércio.
2) Faça um mapa da África e localize as chefias, Reinos e Impérios citados
no texto.
Resposta:
3) Existia escravidão na África antes do contato com o homem branco?
Explique.
Resposta: A partir da análise do quadro verifica-se a existência da escravidão
no continente africano antes mesmo do contato com os europeus. O tráfico
de escravos era já um importante item de exportação das organizações
políticas citadas, e muitas delas também forneciam escravos especializados
para outros povos.
4) Cite cinco povos africanos que contribuíram para a formação do povo
brasileiro.
Resposta: Apesar da grande quantidade de povos habitantes do continente
africano, nem todos eles foram vendidos como escravos no Brasil. Cinco
importantes nações são os iorubas, os hauçás, os congoleses, os mandingas, os
fon, etc.
5) Explique a sociedade dos iorubas.
Resposta: A organização política dos iorubas caracteriza-se por uma série de
cidades-Estado autônomas e independentes. Duas cidades se destacam: Ifé,
sede do Oni, e centro cultural dos iorubas, onde os reis nagôs iam para
obterem legitimidade dos seus governos junto ao Oni; e Oyó, sede do Alafin,
se torna o mais importante centro temporal ioruba, formando um vasto
império, que incorporando várias cidades nagôs. O Ogboni é o Senado, ou, o
Conselho de Anciãos, que possui função auxiliar junto aos reis iorubas,
detendo poderes inclusive para depor um soberano. O babalaô é um
importante adivinho, sacerdote e coletor de impostos.
6) Quais as principais religiões dos povos africanos.
Resposta: Apesar da diversidade religiosa dos povos africanos, três religiões
se destacam: as religiões tradicionais características de cada etnia africana, o
cristianismo e o islamismo.
7) Quais as principais riquezas do Reino de Gana? Explique.
Resposta: As principais riquezas do Reino de Gana eram o monopólio real da
circulação do ouro e do sal, e o controle das rotas de comércio transaariano.
8) Relacione os reinos de Benim e Daomé com os iorubas.
Resposta: Os reinos de Benim e Daomé possuem laços históricos com os
iorubas, pois, possivelmente esses reinos foram fundados por povos iorubas e
se diferenciaram ao longo da história. Prova disso é a existência de origens
míticas para os Reinos de Benim e Daomé que se relacionam com a cultura
ioruba.
9) Caracterize as cidades-Estado suaíles.
Resposta: As cidades-Estado suaíles correspondem a um conjunto heterogêneo
de povos, organizações políticas e religiosas ao longo da costa do Oceano
Índico, no leste africano. A cultura suaíle possui uma língua comum,
originada do intercâmbio comercial, religioso e cultural dos povos bantos
africanos com povos árabes e persas islâmicos. A Costa Oriental Africana
praticamente de Mogadíscio, na Somália, a Sofala, em Moçambique, passando
por Melinde, Quiloa, Zanzibar, etc.; caracteriza-se por um grande comércio
marítimo através do Oceano Índico, acompanhando as monções, com regiões
da Ásia Oriental, como a Índia, a China, a Pérsia, a Árabia, a Malásia e a
Indonésia.
3ª Aula
I – Tema:
As Religiões “Universais” na África – O Cristianismo
II – Objetivos:
II.a – Geral:
Analisar o cristianismo na África durante os séculos V ao XV.
II.b – Específicos:
Conceituar o animismo, religião étnica e religião universal.
Caracterizar o cristianismo copta.
Diferenciar o cristianismo do vale do Nilo e o cristianismo católico.
Analisar o cristianismo na África hoje.
Entender a conversão do Reino do Kongo pelos portugueses.
III – Metodologia:
1º Passo: Perguntar aos alunos qual foi o desfecho da civilização egípcia e
criticar como o Egito desaparece da história após Cleópatra e a conquista
romana. Assim a partir da dedução de que o Egito será incorporado ao mundo
romano e o cristianismo irá transformar os egípcios históricos será abordado o
cristianismo copta. Será caracterizado a importância do Egito no Monaquismo
Cenobítico, a atividade dos Missionários egípcios na conversão dos Reinos
Núbios e na Etiópia, o Patriarcado de São Marcos em Alexandria, e o próprio
Egito como terra santa, onde a Sagrada Família buscará refúgio e é o cerne do
credo copta.
2º Passo: Será caracterizado o Cristianismo nos reinos núbios e na Etiópia.
Com a conquista árabe do Egito, o cristianismo copta ficará “isolado” da
cristandade, o que resultará nas lendas do Prestes João.
3º Passo: Leitura de texto de apoio que fale sobre o “fabuloso” Reino do
Prestes João. Problematizar a chegada dos portugueses que trarão a “missão
civilizatória” e católica no litoral. Explicar a conversão do Reino do Kongo no
século XV, explicando a religião original do reino. Após a explicação,
caracterizar o cristianismo hoje na África.
4º Passo: Exibição de imagens da arquitetura cristã na África.
5º Passo: A cruzada etíope em defesa do Patriarcado de São Marcos
IV – Recursos Didáticos:
Retroprojetor - Utilizar imagens das igrejas de pedra da Etiópia, mosteiros
egípcios e ruínas de Igrejas núbias.
Quadro e Giz.
V – Avaliação:
Elaboração de questões dissertativas sobre a aula.
Atividades
1) Observe as palavras ditas por um soba (chefe) africano a um missionário
europeu recém-chegado àquele continente: “Quando vocês chegaram, nós
tínhamos as terras e vocês as Bíblias. Aí vocês nos mandaram fechar os
olhos para rezar e nós fechamos. Quando nós abrimos os olhos novamente,
vocês tinham as terras e nós as Bíblias”.
Analise o significado dessa frase à luz dos problemas que a África vive na
atualidade.
Resposta: A frase do soba africano é pertinente aos problemas vividos pela
África atualmente. Os europeus ao chegarem no continente com supostos
ideais “humanistas”, cristãos e progressistas; escondiam seus reais interesses
com os africanos: a exploração das suas riquezas e subordinando a África às
novas relações econômicas existentes no mundo.
2) Os problemas africanos do presente podem ou não ser considerados uma
herança do passado colonial?
Resposta: Os problemas enfrentados pela África na atualidade são os reflexos
da espoliação do continente ao longo de cerca de cinco séculos. Inicialmente
o continente se inseriu na divisão internacional do trabalho como fornecedora
de mão-de-obra escrava para as Américas. Os melhores braços africanos eram
retirados do continente, o que causou o despovoamento e alteração das
relações sociais e econômicas existentes. No século XIX os europeus
extinguiram o tráfico de escravos, mas a “ciência européia” passa a legitimar
a suposta inferioridade dos povos de tez negra. Ao mesmo tempo a África é
praticamente retalhada na Conferência de Berlim, por menos de dez nações
européias. O continente é conquistado e novamente há uma nova
desorganização produtiva: países auto-suficientes em produção alimentar
passam a adotar forçadamente a monocultura exportadora, voltada para o
mercado europeu. As fronteiras artificiais criadas e recriadas a bel prazer do
conquistador separam povos semelhantes, como a Somália, que é dividida em
três nações, Itália, França e Grã-Bretanha. Novas etnias são “criadas” e
manipuladas aos interesses do conquistador, como os hutus e tutsi nos
Grandes Lagos. A segregação racial chega ao máximo na África do Sul.
Cristianismo na África
Yamoussoukro, Costa do Marfim
Ilha de Moçambique, Moçambique
Maputo, Moçambique
Zanzibar, Tanzânia
Windhoek, Namíbia
Luanda, Angola
Coptas
Nova Santa Maria do Zion, Axum,
Etiópia
Santa Maria do Zion, Etiópia
Asmara, Eritréia
Lalibela, Etiópia
Patriarcado de São Marcos, no
Cairo, Egito
4ª Aula
I – Tema:
As Religiões “Universais” na África – O Islamismo
II – Objetivos:
II.a – Geral:
Analisar o islamismo na África durante os séculos V ao XV.
II.b – Específicos:
Caracterizar o islamismo na África do Norte, na Costa Oriental e na África
Ocidental e suas particularidades.
Comparar o islamismo na África do Norte, na África Ocidental e na Costa
Oriental.
Relacionar a penetração do islamismo nos Reinos de Gana, Mali e Songai.
Diferenciar a religião original de Gana, Mali e Songai.
III – Metodologia:
1º Passo: A Aula será expositiva. Será neste primeiro momento perguntado
aos alunos qual religião é a que mais cresce no Mundo. O islamismo é a
religião que mais cresce no mundo, principalmente nos países africanos hoje.
A partir desse contexto explicar as origens do islamismo na África.
2º Passo: Explicar as mudanças trazidas pelos árabes: o Islamismo e seu
impacto no Norte da África. Analisar que a consolidação e conversão dos
povos do Magreb e Egito, uma nova onda de islamização, a partir de
comerciantes e missionários que cruzarão o Saara e o Nilo, e através do
proselitismo, farão a conversão de muitas realezas, povos e indivíduos no
Sudão. Descrever os contatos de árabes e persas na Costa do Índico levarão o
islamismo para as cidades-Estado suaíles. Será caracterizado o islamismo
nestas regiões em períodos diferentes.
3º Passo: Ler trecho do texto sobre os tuaregues: povo islâmico, mas com
cultura peculiar
4º Passo: Explicar as relações entre os povos islâmicos e os africanos.
5º Passo: Relacionar o islamismo e o cristianismo na África. Descrever a
penetração pacifica dessas religiões e alguns conflitos ao longo da história
africana. Relembrar as cruzadas no século XI e a Guerra Civil no Darfur, Sudão
atual. Relacionar a situação do cristianismo hoje na África (que se concentra
no litoral) e do islamismo (que se concentra no interior, sendo a religião que
mais cresce na África).
6º Passo Exibição de imagens da arquitetura islâmica na África.
7º Passo: Islã penetração pacífica e Islã penetração violenta (jihads, Darfur,
escravização dos infiéis)
IV – Recursos Didáticos:
Quadro e Giz
Retroprojetor - Utilizar imagens das mesquitas do Vale do Níger, e outros
templos religiosos pela África.
V – Avaliação:
Elaboração de questões dissertativas sobre a aula.
Atividades
1) Faça um quadro comparando o islamismo e o cristianismo na África.
Islamismo Cristianismo Região predominante Interior Litoral Principais Norte da África
África Ocidental Costa Oriental da África
Vale do Nilo Litoral Africano, próximo as Capitais construídas pelo imperialismo europeu
Mais cresce na África Maior basílica do Mundo em Yamoussoukro
Particularidade Tuaregues Coptas Templos Mesquitas
Suakin Quiloa Zanzibar
Igreja e Mosteiros Debre Markos Soba Tabennesis Axum Lalibela Debre Birham
Malês
Islamismo na África
Cairo, Egito
Casablanca, Marrocos
Argel, Argélia
Abuja, Nigéria
Mopti, Mali
Bobo Dioulasso, Burkina Fasso
Bamaco, Mali
Djenne, Mali
Falésia de Bandiagara, País Dogon,
Mali
Nairóbi, Quênia
5ª Aula
I – Tema:
A religião iorubá, a crença nos orixás e a crença além fronteira: o
transnacionalismo religioso.
II – Objetivos:
II.a – Geral:
Analisar a religião iorubá e o transnacionalismo étnico dessa religião, e a
geração de várias cidadanias no Golfo da Guiné no século XVI.
II.b – Específicos:
Conceituar transnacionalismo e ou cidadania plurinacional.
Conceituar orixás e vodus dentro das religiões iorubá e fon.
Refletir sobre cidadania plurinacional.
Relacionar cidadania nacional e cidadania transnacional.
III – Metodologia:
Texto base: Textos anexos: “Os Orixás e ”Os Orixás e o transnacionalismo
religioso“.
1º Passo: Perguntar aos alunos o que eles sabem sobre Orixás e Vodus. A
partir das observações dos alunos, ir construindo no quadro tópicos, que serão
relacionados em duas vertentes: uma sobre orixás, Exu, religiões afro-
brasileiras, candomblé, etc; e a outra seria vodu, magia negra, feitiçaria, etc.
2º Passo: A partir das opiniões expressas pelos alunos, iniciar a desconstrução
da assimilação de vodus ao folclore haitiano e o cinema (com filmes de
terror), e também a visão hierárquica da igreja católica associando as
religiões iorubá e fon à bruxaria européia. Explicar que a arte iorubá era
peculiar, pois estava orientada a expressão do desconhecido, dos ancestrais e
do mundo supra-sensível. Citar o exemplo do Exu, que é demonizado, devido
sua representação de um símbolo fálico.
3º Passo: Explicar que os orixás e os vodus são divindades iorubás (nagôs) e
fon (gege). Caracterizar a religião iorubá e fon original, religiões étnicas.
Lembrar os alunos que os iorubás foram chamados pelos europeus de “os
gregos da África”, e identificar as razões para essa assimilação. Utilizar as
imagens de Exu e de Gu, um orixá e um vodu respectivamente, e a sua
representação artística. Construir com os alunos o discurso de demonização,
por se tratarem de imagens que remetem ao desconhecido.
4º Passo: Explicar que a partir do século XVI no Golfo da Guiné surgirá o
fenômeno do transnacionalismo religioso e cidadanias multinacionais.
Descrever que significa a crença nos orixás e vodus, anteriormente
relacionada aos seus povos originais, irá transcender o conceito de etnia.
Leitura de um trecho do texto anexo (4º, 5º e 6º parágrafos).
5º Passo: Explicar a cidadania multinacional e relacioná-la com a cidadania
brasileira. A devoção pessoal em um orixá ou vodu transcendia a própria etnia
(fon, ewe, tapa, nupe). A partir da crença em um orixá, os devotos se
tornavam parte da comunidade desta divindade e com tudo a ela associada:
lugares sagrados, ritos, crendices, etc.
6º Passo: A partir da relação entre orixás e santos católicos (utilizando o
texto anexo) explicar que os africanos vindos como escravos para o Brasil
trazem sua fé, e a partir do sincretismo, das irmandades, e irá originar as
religiões afro-brasileiras, e também afro-americanas. Explicar que a tradição,
a oralidade e as crenças africanas ainda estão presentes e vivas no nosso país.
7º Passo: Após a aula expositiva, ler o primeiro parágrafo do texto. Uma
pergunta filosófica sobre a questão nacional e nacionalista. Analisar a
primeira frase do texto do ponto de vista filosófico. O caso da cidadania
plurinacional e multicultural que apresentamos, é uma pequena contribuição
ao debate que desejamos. Por uma parte, vertical, é dizer, um dialogo com o
profundo e rico passado do continente africano, e por outra, horizontal, é
dizer, uma conversação com todas as culturas do mundo. O objetivo seria que
os alunos reflitam sobre o conceito discutido em sala (transnacionalismo e
relacionem com nacionalismo), e que façam um pequeno texto escrito.
IV – Recursos Didáticos:
Quadro e giz; material de apoio xerografado e imagens sobre arte iorubá,
orixás e vodus.
V – Avaliação:
Serão perguntas reflexivas e filosóficas (em anexo) sobre o tema da aula.
Os orixás e o transnacionalismo pré-colonial
O caso da cidadania plurinacional e multicultural que apresentamos, é uma
pequena contribuição ao debate que desejamos. Por uma parte, vertical, é
dizer, um diálogo com o profundo e rico passado do continente africano, e por
outra, horizontal, é dizer, uma conversação com todas as culturas do mundo.
Em geral, o multiculturalismo e a inclusão parecem característicos dos
chamados “impérios” africanos. Nos antigos impérios de Gana, Mali, Songai,
Kongo, a hegemonia do grupo conquistador nunca implicou a imposição da
religião e da língua.
Mas o caso que mais nos interessa é a dos povos e entidades geopolíticas da
África Ocidental, situados entre o rio Níger a leste e o rio Volta ao oeste, do
século XV ao XIX. Trata-se dos reinos e povos ewe, aja tado, alada, xogbonu,
danxome, oyo, ijebu, ifé, tapa, bini, para citar os mais proeminentes.
Historicamente, estes reinos e os povos que os compõem, se consideram
pertencentes a uma grande família: o ebi; entidades políticas estas que
desenvolveram entre si um sistema sofisticado de hierarquias, senhorios,
fidelidades e obrigações mutuas; dentro dos quais a religião desempenha um
papel fundamental no surgimento e permanência de uma cidadania
multinacional. Assim que haviam sido perturbados pelo comercio atlântico,
teria se desenvolvido estes acontecimentos políticos e culturais nesta parte da
África.
Como bem se sabe, esta é o berço das religiões orixá e vodu que sobreviveram
na América e que, ainda sem missionários ou cruzados, continua sua expansão
hoje fora das comunidades negras da América e Europa. Como exemplo, na
Baía de Benin existem 401 orixás ou vodus, o qual se deve interpretar da
seguinte maneira: 400 simboliza um grande número e 1 simboliza a perpetua
dinâmica característica do panteão, assim dizendo, o principio da criatividade
religiosa. Há vários tipos de orixás e vodus: orixás de família, orixá protetor
de uma cidade ou aldeia (orixá tutelar) e orixá individual. Muito mais tarde
nasceu o vodu de Estado.
Os orixás ou vodus circulam livremente entre os povos que os transferem uns a
outros; e como se sabe, cada deidade (orixá ou vodu), tem sua cidade ou
lugar histórico ou mítico, onde nasceu ou onde Olorum, o deus supremo, lhe
fez surgir. Ogum, deus da metalurgia, da guerra e da tecnologia, nasceu em
Ire, no país dos Ekiti, uma etnia iorubá situada na parte oriental do continuum
dialetal. Oiá, deusa da tempestade, nasceu em Ilé Ira, as margens do rio
Níger, do qual seu nome. Xangô, deus do raio e da justiça, vem de Oyo, no
centro do país iorubá, assim como Exu Elegba, o deus da ambigüidade, da
dualidade, dos encontros e da tradução, o Hermes iorubá, tem como pátria
Ketu, na atual República do Benin. Nanã provém da parte ocidental do país
nagô, parte do atual Togo.
Uma característica básica destas religiões iniciáticas consiste em que cada
individuo se identifica com uma deusa ou um deus que é dono de sua pessoa:
ori (“destino”). Nelas o mais importante é o individuo e sua relação com seu
deus e com todos os que o mesmo deus selecionou e que, portanto, tornam-se
parte de sua família, sem importar o Estado onde residem.
Como parte do processo de iniciação o noviço tem que aprender a historia da
deidade a qual pertence, a língua do lugar onde nasceu a mesma, suas
comidas, maneira de vestir-se e outros costumes. Assim sendo, cada pessoa
iniciada se considera como cidadã do lugar de nascimento de seu orixá ou
vodu. Um adepto de Nanã, ainda que seja nativo de Oyo no centro do país
iorubá, têm que aprender a língua nagô, falada na parte oeste do continuum.
Ifá o deus da sabedoria e da adivinhação, é o orixá mais conhecido e
consultado na área, e como seu lugar de origem é Ilê-Ifé, berço da civilização
iorubá, seus sacerdotes aprendem o iorubá e memorizam os milhares de seus
mitos esotéricos, classificados em 256 odu ou combinações, e as interpretam
a seus eleitos nas distintas línguas da região. Desta maneira, a iniciação
religiosa é uma escola de alteridade, na qual os noviços passam por uma
verdadeira curiosidade pelo estrangeiro. Em suma, o sistema reduz
drasticamente a fidelidade incondicional ao Estado-nação, posto que uma
parte importante da população tem mais de uma cidadania; onde a alteridade
está inscrita na mesma idéia da nação.
Fonte: YAI, Olabiyi Babalola. Religión y Nación Multicultural Un Paradigma
del África Precolonial. In: Arocha, Jaime (Org.). Utopía para los excluídos.
Bogotá: Facultat de Ciencias Humanas UN, 2004. p. 83-85.
Vocabulário
Odu – sistema de adivinhação de Ifé, atributo do deus Ifá. O sistema
geomântico utiliza 16 conchas (que simbolizam os 16 caminhos da vida) que
formam 256 combinações cada qual decorado pelo babalaô, que o recita ao
fiel. .
Continuum – espaço topológico não vazio, separado, conexo e localmente
compacto.
Alteridade – o mesmo que outridade. É a concepção que parte do pressuposto
básico de que todo o homem social interage e interdepende de outros
indivíduos. Assim, como muitos antropólogos e cientistas sociais afirmam, a
existência do "eu-individual" só é permitida mediante um contato com o outro
(que em uma visão expandida se torna o Outro - a própria sociedade diferente
do indivíduo).
Atividades
1) Analise o relato do viajante europeu sobre um Legba (Exu) de Ouidah
(cidade do Benin) em 1743, e do pesquisador Pierre Verger
Eis como apresenta o Legba de Ouidah, onde permaneceu de 1743 a 1765. A
um quarto de légua dos fortes os daomeanos ainda têm um deus Príapo, feito
grosseiramente de terra, com seu principal atributo, que é enorme e
exagerado em relação à proporção do restante do corpo. As mulheres,
sobretudo, vão oferecer-lhes sacrifícios, de acordo com sua devoção e com o
pedido que lhe farão. Esta má estátua encontra-se debaixo do forro de uma
choupana que a abriga da chuva. (Pruneau de Pommegorge, 1743)
Porque os assentamentos de Eshu encontrados na África eram considerados
obscenos e imorais pelos europeus que lá chegaram. Em toda expedição que
era feita à África sempre tinham padres missionários com a finalidade de
catequizar e converter os pagãos africanos. E naturalmente essa catequese
não permitia que continuassem a cultuar seus orixás pagãos..(Pierre Verger,
Notas sobre o culto aos Orixás e Voduns, p. 133).
a) Qual a visão de Pruneau de Pommegorge sobre a religião dos
daomeanos?
Resposta: Pruneau de Pommegorge analisa a religião dos povos de Ouidah de
acordo com a sua concepção religiosa cristã. Assim sendo reprova as crenças
religiosas desses africanos, pois adoram um deus fálico, mau feito, e realiza-
se sacrifícios a este ídolo.
b) Porque a representação de Exu é evocada como “má”?
Resposta: A representação de Exu é evocada como má pelo autor devido sua
representação artística como um símbolo fálico.
2) A partir da leitura do texto, caracterize o que significa
transnacionalismo.
Resposta: Transnacionalismo religioso é um fenômeno cultural existente na
baía de Benin, onde pessoas de diversas origens étnicas ou nacionais possuem
dupla cidadania. Além de ser um cidadão do seu país natal, passa a ser
cidadão da terra de origem do seu orixá ou vodu, que rege a sua vida.
3) Qual orixá você se identificaria? Mas a partir da leitura do texto, é você
quem escolhe seu deus guia?
Resposta: Qualquer orixá poderia ser escolhido ao gosto do aluno. É
importante ressaltar que não é a pessoa que escolhe seu deus guia, mas ao
contrário, os adivinhos babalaô, viajam pelos países e nações da região da
baía de Benin identificando qual é a divindade que zela pelo ori ou destino do
fiel. Assim sendo a escolha da divindade não ocorre de baixo para cima, mas
de cima para baixo.
4) Caracterize a religião iorubá antes da chegada dos europeus e a religião
iorubá após o contato com os europeus.
Resposta: A religião ioruba corresponde a um conjunto de crenças do povo
ioruba, ou seja, é uma religião étnica. Com a chegada dos europeus e a
imposição do tráfico de escravos, a crença nos orixás transcende a própria
etnia ioruba, se estendendo a outras etnias da região, o chamado
transnacionalismo religioso.
5) Acreditava-se, também, que a parte habitável da Etiópia era moradia de
seres monstruosos: "os homens de faces queimadas". [...] A cor negra,
associada à escuridão e ao mal, remetia no inconsciente europeu, ao
inferno e às criaturas das sombras. O Diabo, nos tratados de demonologia,
nos contos moralistas e nas visões das feiticeiras perseguidas pela
Inquisição, era, coincidentemente, quase sempre negro (Del Priore e
Venâncio, 2004: 56).
A partir da afirmação acima, discuta o significado que possuí a palavra
negro, na cultura ocidental. Qual a sua opinião sobre isso.
Resposta: A palavra negro, assim como a palavra branco, possui vários
sentidos na língua portuguesa. Numa concepção física (óptica) branco
significa luz, e o preto, ausência de luz, e incrivelmente, de cor, pois a luz se
dissolve nas cores do espectro visível do arco-íris. Numa concepção religiosa,
mais precisamente cristã, o branco simboliza a luz e o bem. As nuvens do céu
são brancas, assim como os anjos são loiros e luminosos. O negro é a cor das
trevas, da escuridão, e portando do mal. Essas concepções se projetam na cor
de pele das pessoas: branco é bom e negro é ruim. Porém todas essas
afirmações são pseudocientíficas e grosseiras, não correspondendo com a
diversidade biológica do ser humano.
ORIXÁS
NOME SÍMBOLO CORES E ELEMENTO
SANTO CATÓLICO
SAUDAÇÃO
DOMÍNIO
EXU Tridente e bastão
Preto e vermelho Fogo
Santo Antônio e São Benedito
Laroiê! Exu domina as passagens e encruzilhadas. Abre e fecha os caminhos. É o mensageiro dos mortais ante os outros orixás
IANSÃ Chicote e raio
Vermelho e branco Fogo
Santa Bárbara
Epa Hei! Iansã é a rainha das ventanias e temporais. Encoraja os mortais e os protege contra desastres e acidentes
IEMANJÁ Leque e conchas
Azul-claro Água
Nossa Senhora das Candeias
Odó Iyá! O mar é o domínio de Iemanjá, um orixá feminino que promove a harmonia na família.
NANÃ Vassoura de palha e bastão de hastes de palmeira
Branco e azul Água e terra
Sant’Ana Salubá! Os domínios de Nanã são os pântanos e alagados. É a grande-mãe, a mais velha dos orixás e a guardiã do portal entre a vida e a morte.
OBÁ Facão e navalha
Rosa Ar
Santa Catarina
Obá Xirê! Obá é quem fortalece e protege os que buscam o sucesso material
OBALUAIÊ ou OMOLU
Cajado e búzios
Amarelo e preto Terra
São Lázaro Atotô Totô Hum!
Obaluaiê é o senhor dos cemitérios, do interior da terra, das doenças e dos espíritos.
OGUM Espada e instrumentos de ferreiro
Vermelho e verde Fogo
São Jorge Ogum ê! É o senhor da guerra e das artes manuais. Protege, particularmente, os ferreiros e quem trabalha com ferramentas de metal.
OSSAIN Galho com folhas
Verde e branco Terra
São Benedito Euê ô! Os domínios de Ossain são as florestas e plantas em geral. Ossain é o orixá das ervas medicinais, da cura e dos segredos para afastar doenças.
OXALÁ Cajado e caramujo
Branco Ar
Nosso Senhor do Bonfim
Epa Babá!
Seu domínio é o céu. Oxalá é o grande pai celeste, senhor das almas e provedor de progresso e saúde.
OXÓSSI Arco e flechas
Verde Terra
São Sebastião Okê Arô! Oxóssi domina as matas e animais silvestres. É o provedor do sustento e patrocinador das vinganças
OXUM Leque e espelho
Amarelo Água
Nossa Senhora da Conceição
Erieiê ô! Orixá das águas doces, da riqueza, do amor e da fertilidade. Protege os partos e bebês
OXUMARÉ Arco-íris Verde e amarelo
São Bartolomeu
Arô Moboi!
Orixá bissexual. É homem durante seis meses e mulher, nos outros seis. Rege todas as pessoas, coisas e movimentos ambíguos.
XANGÔ Machado de duas lâminas
Marrom Fogo
São Jerônimo Cawô Kabiecilê!
Seus domínios são os raios, os trovões e os meteoritos. Xangô corrige as injustiças, é a voz do povo e representa o orgulho.
1"Orixás," Enciclopédia® Microsoft® Encarta. © 1993-1999 Microsoft Corporation. Todos os direitos reservados.
Escultura em Ferro de Gu Etnia Fon Abomé, República Popular do Benin. Autor: Simon Akati Fonte: MAFRO (s.n.t.). Setor África: Projeto de Atuação Pedagógica e Capacitação de Jovens Monitores.
Escultura de Exu Autor: Pierre Verger Fonte: Livro Orixás
Escultura em Ferro de Exus Salvador – Bahia Escultor: Agnaldo Silva da Costa Fonte: MAFRO (s.n.t.). Setor África: Projeto de Atuação Pedagógica e Capacitação de Jovens Monitores.
Escultura de Eshu-Elegba Foto do livro: Tradition and Change in Yoruba Art E.B. Crocker Art Gallery – Nova Iorque
6ª Aula
I – Tema:
O “tráfico de almas” na África: a escravidão africana, sua re-significação,
Poder e Resistência.
II – Objetivos:
II.a – Geral:
Analisar os conceitos de escravidão e quilombo na África dos séculos XI-XVI.
II.b – Específicos:
Caracterizar a escravidão da África Negra.
Relacionar os diversos tipos de escravidão existentes na África.
Analisar o tráfico e as rotas de tráfico de escravos durante os séculos XI ao
XVI.
Conceituar a origem da palavra quilombo, e o significado deste durante a
Revolta dos Jagas.
Problematizar o novo sentido hierárquico de escravidão que surge na África a
partir do contato com os europeus.
III – Metodologia:
Texto base: Texto anexo “Escravidão desde África e as Mudanças Internas”
1º Passo: Relembrar com os alunos vários tipos de escravidão que eles
conhecem: a escravidão grega e romana; a escravidão entre os indígenas
brasileiros; a escravidão moderna, a escravidão atual e caracterizar como era
a escravidão na África.
2º Passo: Exposição dialogada sobre a escravidão na África. Serão realizadas,
neste momento, duas generalizações: primeiro, de que a escravidão existia na
África, antes do contato com os europeus; e segundo a caracterização da
própria escravidão africana em si, entendida como doméstica, ou como alguns
autores utilizam o termo “servidão doméstica”.
3º Passo: Expor neste momento que existem peculiaridades a escravidão na
África. Citando por exemplo que os mamelucos, milícia escrava de origem
turca ou circassiana era o poder político dominante no Egito; que no reino do
Congo os escravos eram a guarda real do Manicongo, etc.
4º Passo: Exposição para os alunos sobre a utilização de escravos africanos no
Norte da África, Oriente Médio e Índia. Descrever as rotas de tráfico de
escravos africanos, realizado pelos muçulmanos a partir do século XI. Neste
momento será utilizado o mapa mundial (em anexo e xerografado)
representando essas rotas.
5º Passo: Problematizar a chegada dos europeus e a justificativa ideológica
para a nova escravidão africana. Explicar para os alunos que a escravidão irá
transformar as diversas regiões da África: no litoral serão estabelecidas
feitorias e cidades escravocratas, tanto européias quanto africanas; e na
hinterlândia movimentos de defesa e revolta contra estes.Analisar as
conseqüências da escravidão moderna no continente africano: o surgimento
dos Estados costeiros especializados no tráfico de almas, a desagregação de
alguns reinos e o sentimento de insegurança que irá nascer neste momento, já
que qualquer um poderia ser capturado e vendido como escravo.
6º Passo: Exemplificar a reação de alguns povos do interior do continente – os
jagas – e a luta contra o Estado escravocrata do Kongo. Será feita a leitura de
um trecho do texto anexo (dois parágrafos) referente aos jagas.
7º Passo: Analisar o conceito de quilombo na África. Traçar a origem
etimológica da palavra à expansão banto, sua re-significação no século XVI e o
novo sentido americano que irá adotar.
8º Passo: Utilização novamente do mapa para elucidar as diferentes rotas de
tráfico, tomando o devido cuidado na leitura deste, já que é anacrônico.
IV – Recursos Didáticos:
Quadro e Giz
Texto de Apoio Xerografado. Mapa Mundial com as Rotas do Tráfico Africano.
V – Avaliação:
O critério de avaliação será a realização de questões dissertativas sobre o
tema. O objetivo será que os alunos consigam associar quilombos e
escravidão; e relacionar que onde há poder há resistência.
Atividades
1) A escravização dos povos africanos foi legitimada pela Igreja Católica.
Em 1454, o papa Nicolau V assinou a bula Romanus Pontifex, garantindo a
exclusividade dos traficantes portugueses nos negócios da África,
principalmente na escravização e transferência para o reino luso. Entre
1456 e 1481, a Santa Sé reafirmou que o ouro e os escravos eram os
principais produtos do litoral da África e que somente os portugueses
podiam explorar essas mercadorias.
Observe trechos do documento e responda:
Que vai desde o cabo Bojador e do cabo Não, correndo por toda a Guiné,
passando além dela e vai para a plaga meridional, declaramos pelo teor da
presente que também tocou e pertenceu ao mesmo rei D.Afonso e a seus
sucessores e ao infante, com exclusão de quaisquer outros e que
perpetuamente lhe tocam e cabem por direito. (Bula Romanus Pontifex do
Papa Nicolau V 1455)
Nós [...] concedemos livre e ampla licença ao rei Afonso para invadir,
perseguir, capturar, derrotar e submeter todos os sarracenos e quaisquer
pagãos e outros inimigos de Cristo onde quer que estejam e seus reinos [...] e
propriedades e reduzí-los à escravidão perpétua e tomar para si e seus
sucessores seus reinos [...] e propriedades" (Bula "Romanus Pontifex", Papa
Nicolau V, 08 de janeiro de 1455)
a) O que determina a Bula Romanus Pontifex?
Resposta: A bula Romanus Pontifex assinada pelo Papa Nicolau V legitima a
posse das terras africanas e de suas riquezas pelos portugueses, e dá o direito
a estes a invadir, perseguir, capturar, derrotar e submeter os infiéis e os
pagãos à escravidão.
b) Qual a visão da Igreja Católica em relação aos pagãos e aos infiéis?
Resposta: A visão da Igreja Católica legitimada pelo Papa Nicolau V na Bula
Romanus Pontifex, sobre os pagãos e infiéis, consideram-nos inimigos de
Cristo. Assim sendo é legítimo a guerra contra estes, sua escravização e a
espoliação de suas riquezas, terras e reinos.
2) Segundo o psiquiatra negro norte-americano, Frantz Fanon, “o negro
nunca foi tão negro quando a partir do momento em que foi dominado
pelos brancos”. A partir da leitura do texto analise a frase do psiquiatra.
Resposta: A escravidão existia na África antes do contato com os europeus,
assim como em todo mundo, devido às rivalidades entre os diferentes povos
africanos. Com a chegada dos europeus a escravidão africana se transforma
em uma gigantesca empresa lucrativa, tanto para os europeus, quanto para
alguns povos africanos. Para atender a demanda insaciável européia, nações
africanas passaram a explorar o tráfico, se especializando na sua venda.
Assim aumentaram suas guerras com objetivos de conquistar mais escravos,
para revendê-los, acirrando às rivalidades históricas entre as nações
africanas.
3) Primeiro ato oficial foi à implantação da escravidão no Brasil. Através desta
Bula (Dum Diversas) endereçada ao rei de Portugal, Afonso V, o papa Nicolau
diz: "... nós lhe concedemos, por estes presentes documentos, com nossa
Autoridade Apostólica, plena e livre permissão de invadir, buscar, capturar e
subjugar os sarracenos e pagãos e quaisquer outros incrédulos e inimigos de
Cristo, onde quer que estejam, como também seus reinos, ducados,
condados, principados e outras propriedades... e reduzir suas pessoas à
perpétua escravidão, e apropriar e converter em seu uso e proveito e de seus
sucessores, os reis de Portugal, em perpétuo, os supramencionados reinos,
ducados, condados, principados e outras propriedades, possessões e bens
semelhantes...". Em 8 de janeiro de 1554, estes poderes foram estendidos aos
reis da Espanha. No entanto, o papa Urbano VIII, no ano de 1639, no breve
"Comissum Vobis", afirmava que ficava automaticamente expulso da Igreja o
católico quem escravizasse alguém.
Compare as duas bulas papais Dum Diversas e Comissum Vobis e a atitude
da Igreja e de Portugal em relação à escravidão.
Resposta: A bula Dum Diversas autorizava a escravização e dominação dos
povos africanos, e a Comissum Vobis, pelo contrário, abomina tal prática, e a
conseqüência para esses atos de violência é a excomunhão da Igreja Católica.
Portugal apesar de ser uma nação católica utilizou-se inicialmente da
autorização da Igreja para a exploração da África, e mesmo após a proibição
desta, não mudou suas atitudes. Assim Portugal e a Igreja possuem interesses
inicialmente convergentes, que é aproveitado por ambos. Posteriormente os
interesses se tornam divergentes, e a importância da opinião da Igreja se
torna obsoleta para os portugueses.
4) Segundo alguns exegetas a bíblia legitima a escravidão dos povos negros
(supostamente descendentes de Cam), segundo um episódio narrado na
Gênesis:
Despertado que foi Noé do seu vinho, soube o que seu filho mais moço lhe
fizera; e disse: Maldito seja Canaã; servo dos servos será de seus irmãos.
Disse mais: Bendito seja o Senhor, o Deus de Sem; e seja-lhe Canaã por servo.
Alargue Deus a Jafé, e habite Jafé nas tendas de Sem; e seja-lhe Canaã por
servo. (Bíblia, Gênesis 9: 24-27).
Analise o trecho bíblico acima e a opinião da igreja em relação à
escravidão.
Resposta: O trecho bíblico conta a história de Cam, filho de Noé, que é
amaldiçoado pelo pai a ser escravo dos seus irmãos. Numa concepção ao pé da
letra da bíblia, ou fundamentalista, a bíblia autoriza a escravidão dos filhos
de Cam, que exegetas identificam como os povos de língua camita,
habitantes do norte africano, como os cushitas, os egípcios históricos, os
hauçás, os fulanis, etc; que por extensão têm a pele negra.
5) Sendo a instituição da escravatura contrária ao ensinamento islâmico de
igualdade e dignidade do homem, o Profeta proibiu adquirir-se novos
cativos de modo bastante enérgico:
"Deus falou-me dizendo: Existem três classes de homens cujo adversário serei
no Dia do Juízo Final, Primeira, a do homem que estabelece uma aliança com
alguém em Meu nome e a rompe. Segunda, o homem que escraviza um
homem livre o vende e consome o seu preço. Terceira a do homem que
emprega um homem para trabalhar, exige-lhe trabalho bem feito, mas não
lhe paga o salário merecido”. (Al Bukhari, Kitab al-Bai).
E finalmente, há o mandamento categórico de Deus de não somente conceder
a liberdade aos escravos, mas também o de lhes dar uma parte da nossa
riqueza para os reabilitar:“Quanto àqueles dentre vossos escravos ou escravas
que vos peçam a liberdade por escrito, concedei-la, desde que os considereis
dignos dela, e gratificai-os com uma parte dos bens com que Deus vos
agraciou”. (Alcorão Sagrado 24:33).
A partir da leitura dos documentos explique a visão islâmica sobre a
escravidão.
Resposta: A visão do Alcorão Sagrado sobre a escravidão é progressista, pois
incentiva que as pessoas não possuam escravos, ou que não escravizem
outrem. O escravocrata é visto como inimigo do Profeta, e este representa a
voz de Deus, portanto, aos olhos de Alá, a escravidão é errada.
7ª Aula
I – Tema:
A Diversidade Cultural dos Povos e Etnias do Continente Africano
II – Objetivos:
II.a – Geral:
Analisar a diversidade cultural das etnias africanas.
II.b – Específicos:
Localizar geograficamente e historicamente essas etnias no continente.
Traçar aspectos culturais, sociais, econômicos e políticos destas sociedades,
lembrando que na África todas essas perspectivas estão fundidas.
Conceituar etnia.
Valorizar as culturas africanas e suas especificidades.
Dialogar as culturas africanas com a nossa cultura.
Entender as relações culturais entre os povos da África e do Mundo, como
processo de trocas mútuas, e que não existem culturas essenciais, superiores
e definitivas na natureza.
III – Metodologia:
Texto base:
1º Passo: Nesta aula será realizada apresentação de trabalhos sobre culturas
africanas, a partir da pesquisa feita pelos alunos.
2º Passo: Após a apresentação o professor fará uma síntese dos trabalhos.
Serão destacados aspectos positivos, e realçando o que pode ser melhorado
sobre os diversos povos abordados. Será deixada para os alunos uma reflexão
sobre o “Outro”.
IV – Recursos Didáticos:
Quadro e Giz
Mapa do continente africano.
V – Avaliação:
Os critérios de avaliação serão definidos assim como a proposta do trabalho e
dos objetivos da aula.
Planos de Aulas
Dalísia Doles
1ª Aula
I – Tema:
O Continente Africano
II – Objetivos:
II.a – Geral:
Analisar o continente africano: seu multiculturalismo e suas múltiplas
interações com o mundo.
II.b – Específicos:
Localizar no mapa o continente africano.
Descrever o quadro natural do continente africano.
Diferenciar as duas “Áfricas”: África Negra e África Branca.
Problematizar conceitos de topônimos como Sudão, Guiné, Etiópia, Abissínia.
Analisar a “centralidade” geográfica do continente africano no mundo e
entender que ele não foi isolado do contato com outros continentes.
Conceituar afro-pessimismo.
III – Metodologia:
Texto base: Texto Anexo
1º Passo: Ir construindo no quadro a África como ela é: o berço da
humanidade (da espécie humana), berço também de civilizações autócnes
como o Egito, Cuxe, Axum, Garamantes, Númidas, Nok. Estes reinos serão
apenas citados, elucidando que já desde o mundo antigo a África apresenta
civilizações próprias e que eles são praticamente esquecidos pela história e
historiografia.
2º Passo: Assim pela centralidade geográfica da África em relação aos
continentes, explicar que desde o mundo antigo a África esteve inserida nos
contextos da “história mundial”. As invasões e colonização de regiões da
África pelos fenícios, gregos, romanos, vândalos, árabes, persas; relacionam-
se com a presença africana na Europa e Ásia através dos egípcios, axumitas,
mouros, berberes, cartagineses, etc. E explicar que existem relações entre a
África com regiões longínquas como o contato com indianos, chineses, e
malaios.
3º Passo: Descrição física e natural do continente: desertos, savanas,
florestas. Explicar a desertificação do Saara e o Sahel. A existência de “Duas
Áfricas” distintas: a África Branca e a África Negra. Os termos serão
analisados, onde o Saara é um grande obstáculo (nem por isso intransponível)
que irá filtrar os contatos entre o Mediterrâneo e a África ao Sul do Saara.
Analisar a maioria dos termos toponímicos que se referem à África: Guiné,
Sudão, Etiópia, Abissínia. Relacionar que todos significam “terra dos negros” e
são nomes dados por outros povos invasores.
4º Passo: Explicar a predominância do discurso negativo da África
atualmente, dialogando com os alunos a abordagem da África a partir da
mídia. Pressupõe-se que irá ser abordada a fome, as guerras, a AIDS, o ebola,
etc. De este modo conceituar afro-pessimismo.
5º Passo: Analisar a importância de se estudar a África como ela é, e por quê
hoje ela é obrigatória nos currículos escolares. Relacionar com a construção
da identidade afro-brasileira.
IV – Recursos Didáticos:
Transparências e Retroprojetor
Quadro e Giz
Mapas Físico e Político da África, Mapa-Múndi
Material Xerografado de Apoio
V – Avaliação:
Confecção de mapa político da África pelos alunos, identificando o nome dos
países do continente.
África
África, a diversidade num continente
O continente africano é amplamente conhecido pelas suas belezas naturais,
principalmente quando se refere à grandiosa vida selvagem. Porém, o que
encontramos de imenso neste continente é uma enorme diversidade física e
sócio-econômica, pois existe neste espaço desde extensos vales férteis, aonde
a vida parece não ter fim, até desertos gigantes, como é o caso do Saara, o
maior do mundo. O contraste da pobreza e riqueza também é muito visível
por toda sua extensão continental, sendo caracterizado principalmente pelas
péssimas condições de vida em muitos países. O termo “berço da
humanidade” é dado em razão da África abrigar uma das civilizações mais
antigas e intrigantes do globo, os egípcios, que formaram um poderoso
“império” a 4 mil anos atrás. Portanto, toda essa riqueza cultural e natural
existente no continente, torna a África um espaço muito particular.
Em conseqüência a esta diversidade, não é tarefa fácil dividir a África por
regiões devido a sua heterogeneidade ao longo do continente. Porém, pode-se
definir duas formas básicas de classificação regional: as questões físicas
(localização geográfica) e questões humanas (cultura/ocupação)
África: cinco regiões num continente
Ao visualizar um mapa da África, pode-se ver que dividir o mesmo por regiões
a partir da sua localização espacial nos sentidos Norte, Sul, Leste e Oeste é
bem possível. Dessa forma, classifica-se o continente em cinco regiões
distintas quanto a sua posição geográfica: Norte da África, Oeste da África,
África Central, Leste da África e Sul da África.
Norte da África: como o próprio nome já diz, é a área situada ao norte do
continente e que vem a ser banhado pelo Mar Mediterrâneo, em sua maioria,
fazendo parte desta região cinco países. Também não se pode esquecer que
ao sul desta região se encontra o deserto do Saara.
Oeste da África: é uma região muito confusa do ponto de vista político. São
quinze nações que dividem um espaço caracterizado por áreas desérticas
(Saara, ao norte) e florestas tropicais. Em sua economia local, a exploração
de petróleo destaca-se com uma atividade bem atraente para os países.
África Central: caracterizada pelos inúmeros conflitos da década de 90 que
marcaram profundamente a região, a África Central ficou conhecida no mundo
pelos conflitos no Zaire que o transformaram em República Democrática do
Congo. Oito países fazem parte desta região, destacada por grandes florestas
tropicais em razão de estar na latitude 0 do globo.
Leste da África: também conhecida como “Chifre da África”, por sua forma
física do extremo leste africano, é uma área bem diversificada por ter países
bem estruturados e urbanizados, como é o caso do Quênia, e em contraponto
a isto, existe à Somália e Etiópia, nações mergulhadas em problemas gerados
pelas suas guerras civis. Nesta região encontram-se dez países bem distintos,
tantos nos aspectos físicos como humanos. É na divisa entre Uganda, Tanzânia
e Quênia que existe o lago Vitória, que é considerado a nascente do rio Nilo.
Sul da África: o extremo sul africano é representado pelas diferenças
existente ente os onze países no campo sócio-econômico, principalmente,
pois o contraste entre a África do Sul, nação bem desenvolvida, se comparada
aos outros países africanos, em relação aos demais é visivelmente percebido.
Este país exerce um poder centralizador nesta região, onde a economia é seu
ponto forte. Observa-se também uma diversidade natural neste espaço, em
razão de possuir grandes vales férteis e vastos desertos como o Kalahari,
sendo no delta do Okavango (Botsuana) acontece uma das maiores e mais
impressionantes migrações do mundo, a dos gnus.
Aspectos Culturais e Sócio-econômicos
Agora, analisar a África destacando suas características culturais promove
uma divisão bem diferente da anterior. Ao observar o continente africano pela
sua ocupação ao longo dos anos, classifica-se a África em duas regiões: África
“branca” (cultura árabe) e África “negra” (culturas locais).
Isto é possível em virtude da influência que a região norte da África (árabe)
sofreu da ocupação dos povos do Oriente Médio (Ásia) durante os tempos,
tendo como resultado um espaço totalmente adverso da África “negra”, sendo
esta última caracterizada pelas culturas regionais provindas de milenares
tribos africanas. Também é possível destacar a própria cor da pele dos
africanos nessas duas regiões: os descendentes de árabes possuem uma tez
clara, em grande parte, enquanto que os africanos relacionados com as
culturas tribais já têm uma cor mais negra.
Sendo assim, a África vem a ser o resultado de anos de ocupação e influência
das mais diversas culturas do mundo que remodelaram e transformaram seu
continente num espaço diversificado e muitas vezes carente de recursos
econômicos, por outro lado, suas belezas naturais são únicas e, por enquanto,
estão permanentes em todo seu território.
Divisão Física (localização) da África Norte da África Argélia, Egito, Líbia, Marrocos, Saara Ocidental e
Tunísia
Oeste da África Benin, Burkina Faso, Cabo Verde, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Mauritânia, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e Togo
África Central Camarões, Congo, Gabão, Guiné Equatorial, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, São Tomé e Príncipe e Chade
Leste da África Burundi, Dijbuti, Eritréia, Etiópia, Quênia, Ruanda, Somália, Sudão, Tanzânia e Uganda
Sul da África África do Sul, Angola, Botsuana, Lesoto, Madagascar, Malauí, Moçambique, Namíbia, Suazilândia, Zâmbia e Zimbábue
Divisão Cultural e SócioÁfrica “Branca” Argélia, Dijbuti
Marrocos, Mauritânia, Níger, Saara Ocidental, Somália, Sudão e Tunísia.
África “Negra” Benin, Burkina Faso, Cabo Verde, Gâmbia, Gana, Guiné, GuinéSerra Leoa, Togo, Camarões, CoEquatorial, República CentroDemocrática do Congo, São Tomé e Príncipe, Chade, Burundi, Quênia, Ruanda, Tanzânia, Uganda, África do Sul, Angola, Botsuana, Lesoto, Madagascar, Malauí, Moçambique, Namíbia, Suazilândia, Z
Divisão Cultural e Sócio-Econômica da África Argélia, Dijbuti, Egito, Eritréia, Etiópia, Líbia, Mali, Marrocos, Mauritânia, Níger, Saara Ocidental, Somália, Sudão e Tunísia.
Benin, Burkina Faso, Cabo Verde, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Libéria, Nigéria, Senegal, Serra Leoa, Togo, Camarões, Congo, Gabão, Guiné Equatorial, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, São Tomé e Príncipe, Chade, Burundi, Quênia, Ruanda, Tanzânia, Uganda, África do Sul, Angola, Botsuana, Lesoto, Madagascar, Malauí, Moçambique, Namíbia, Suazilândia, Zâmbia e Zimbábue
, Egito, Eritréia, Etiópia, Líbia, Mali, Marrocos, Mauritânia, Níger, Saara Ocidental,
Benin, Burkina Faso, Cabo Verde, Gâmbia, Gana, Bissau, Libéria, Nigéria, Senegal,
ngo, Gabão, Guiné Africana, República
Democrática do Congo, São Tomé e Príncipe, Chade, Burundi, Quênia, Ruanda, Tanzânia, Uganda, África do Sul, Angola, Botsuana, Lesoto, Madagascar, Malauí, Moçambique, Namíbia,
2ª Aula
I – Tema:
As Civilizações Africanas
II – Objetivos:
II.a – Geral:
Analisar a diversidade cultural dos Reinos, Impérios e Civilizações Africanas
dos séculos V ao XV.
II.b – Específicos:
Caracterizar o surgimento de civilizações africanas durante o mundo antigo.
Localizar no mapa as Chefias, Reinos e Impérios da África.
Analisar os três reinos sucessivos no vale do Níger: Gana, Mali e Songai.
Identificar os diferentes tipos de organização urbana no golfo da Guiné.
III – Metodologia:
Texto base: Texto Anexo
1º Passo: Continuação da 1ª Aula. Com utilização do mapa, situar os alunos
sobre o continente africano. A Aula será praticamente expositiva, mas
incentivando o dialogo e participação dos alunos.
2º Passo: Analisar o surgimento das primeiras civilizações: Egito, Cuxe
(Kerma, Napata e Meróe), Axum, Cultura Nok. Essas civilizações serão apenas
citadas para exemplificar a variedade de organizações humanas no continente
africano no mundo antigo.
3º Passo: Descrever o Saara como barreira natural, entendido como “filtro”
que dificultará contatos com o mundo mediterrâneo. Explicar a introdução do
camelo e as facilidades advindas com ele. Explicar o desenvolvimento do
comércio transaariano e A Rota dos Carros, a Rota do Sal e a Rota do Ouro.
4º Passo: Descrição das diferentes formas de organização política dentro da
África “Medieval”. Iniciando-se com a exposição dos reinos de Gana, Mali e
Songai, explicando sua ascensão, auge e declínio. Descrever a interação
destes com o mundo muçulmano. Explicar que os reinos e impérios africanos
não são semelhantes aos reinos e impérios ordinários (como o romano, o
espanhol), estes baseados em fronteiras e territórios. Já os reinos africanos
controlam as rotas de comércio.
5º Passo: Descrição das organizações dos povos urbanos do Golfo da Guiné: os
ashantis, os hauças, os iorubás, os edos, o Reino de Daomé. Caracterizar as
diferenças entre essas organizações urbanas: os iorubás estavam concentrados
em cidades-Estado, os ashantis em confederação de cidades, etc.
6º Passo: Explicar o termo banto. Elucidar a migração dos bantos e a
expansão da tecnologia do ferro. Utilização do mapa para facilitar a
explicação. Citar a organização dos reinos bantos: o reino do Kongo e
Monomotapa.
7º Passo: Descrição dos reinos cristãos da Núbia e da Etiópia, no vale do Nilo.
Utilizar a Etiópia como exemplo de um reino autócnes, letrado e com história
escrita, que não foi colonizado por nenhum país europeu. Dentro dele
convivem povos de organização social distinta (nômades, sedentários,
urbanos, rurais), de fenótipos diferentes, de religiões diferentes.
8º Passo: Descrição das cidades-Estado suaíles e sua interação com China,
Índia, Sudeste Asiático, Pérsia e Arábia.
IV – Recursos Didáticos:
Quadro e Giz.
Material de Apoio: Texto Anexo com conteúdos específicos sobre reinos e
impérios africanos.
V – Avaliação:
Elaboração de Perguntas Dissertativas sobre a aula.
História da África
A teoria mais aceita atualmente sobre a região em que o homem se originou
afirma que a África foi o berço da humanidade. Do continente africano teriam
partido nossos remotos ancestrais para povoar os outros continentes do
planeta.
A África é um continente de 30 milhões de km2, uma área equivalente a 3,5
vezes o tamanho do Brasil. É banhada ao norte pelo mar mediterrâneo, que o
separa da Europa; a oeste, pelo oceano Atlântico; a leste, pelo Mar Vermelho
e pelo oceano Indico. Ao sul, o oceano Atlântico e o Indico se encontram no
lugar onde fica o hoje chamado Cabo da Boa Esperança. Não existem
informações seguras sobre o numero de habitantes africanos antes do ano 1 do
calendário cristão. O historiador e demógrafo inglês Colin McEvedy, um dos
pesquisadores que arrisca números para os anos anteriores, estima que em
2000 a.C. a África tinha aproximadamente 4 milhões de habitantes. Projeções
para o período a partir do século I são mais confiáveis. O demógrafo russo
Vitor Kozlov analisou os números de vinte estudiosos do assunto e chegou à
seguinte estimativa: no ano 1 do nosso calendário a África tinha entre 15 e 20
milhões de habitantes; no ano 600, entre 20 e 25 milhões; no ano 1000, entre
30 e 35 milhões; em 1300, entre 40 e 45 milhões; e em 1500, entre 50 e 55
milhões.
Uma das dificuldades em relação à pesquisa sobre a África desse período é
que, com exceção do norte do continente, são raras as fontes escritas sobre
épocas anteriores aos tempos modernos. As primeiras fontes escritas sobre a
África ao sul do Deserto do Saara só surgiram com o avanço do islâmico na
região a partir da segunda metade do século VII. O que se sabe então é
baseado principalmente em fontes não escritas, como relatos de viajantes,
lendas e tradições transmitidas oralmente e achados arqueológicos.
Duas Áfricas em uma
Em razão das diversidades geográficas do continente e cultural de seus povos,
costuma-se falar em pelo menos duas Áfricas. Ambas são, ao mesmo tempo,
distintas e interligadas. Uma é conhecida por vários nomes como África
Setentrional (por compor a região norte), África Saariana (por abranger o
Deserto do Saara), África Mediterrânea (por seu litoral ser banhado por esse
mar) ou África Muçulmana (pela predominância dessa religião). A outra é
chamada de África Subsaariana (por abranger toda a região abaixo do Saara)
ou Africa Negra (denominação empregada pelos europeus após o século XVI).
A África Saariana, localizada no norte do continente africano, estende-se pela
região que vai do Egito ao Marrocos. Antes do século XV, seus habitantes
assimilaram influências de inúmeras outras civilizações, como a dos fenícios,
gregos, romanos, ibéricos e árabes.
No século XV, o norte da África era habitado por vários povos de diferentes
culturas. Apesar dessas diferenças, todos eles eram fortemente influenciados
pela língua árabe e pela religião islâmica. Esse processo de islamização se
iniciou no século VII, quando todo o norte africano foi conquistado pelos
guerreiros muçulmanos vindos do Deserto da Arábia.
Logo abaixo do Deserto do Saara está a África subsaariana. Essa outra região
corresponde a mais de dois terços do território africano, estendendo-se do
Saara até o atualmente chamado Cabo da Boa Esperança, e do Oceano
Atlântico ao Oceano Indico. Nela existem savanas, extensas florestas
tropicais, o deserto de Calaari ao sul e grandes lagos, especialmente na parte
centro-oriental. Sua população estava dividida em inúmeros grupos étnicos,
que falavam dezenas de línguas e dialetos, tinham modos de vida distintos,
assim como crenças e culturas diferentes. Nessa região, a influência do
islamismo foi menor.
A África Saariana
A África Saariana também costuma ser dividia em duas regiões: a região do
vale do Nilo, e a região que abrange d do oeste do Nilo ao oceano Atlântico.
Os povos que habitavam o Norte da África, com exceção do Egito, eram
chamados pelos gregos antigos, desde o século IV a.C., de líbios. Muitos
grupos desses povos organizavam-se em aldeias como agricultores, tinham leis
baseadas nos costumes e assembléias para tomadas de decisões políticas. Há
informações de que, ainda no século III a.C., da união dessas aldeias surgiram
reinos como o dos Mauri (entre o Atlântico e o Rio Muluya), o dos Masaesilos
(entre o Rio Muluya e Ampsaga) e o dos Massilas (a leste do Rio Ampsaga).
Outros grupos de líbios dedicavam-se ao pastoreio, e se deslocavam de acordo
com as influencias das estações do ano no pasto de seus animais. Esses grupos
formavam confederações, lideradas por conselhos de anciãos ou por chefes
individuais. A união deles também resultou em reinos, mas de curta duração
por causa das contínuas disputas internas.
A língua falada nessa região era o líbio, como mostram inscrições encontradas
nos atuais Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia. No século I, muitos de seus
habitantes eram bilíngües, falando o líbio e o púnico (por influencias dos
cartagineses) ou o líbio e o latim (por influencia dos romanos).
No século VII, o norte da África foi invadido pelos árabes e seus habitantes
convertidos ao islamismo. Os árabes posteriormente passaram a chamar os
povos do norte da África de berberes, nome originário provavelmente de
bavares, grupo étnico bastante combativo durante o final do Império Romano.
Os árabes tinham muito em comum, na língua e nos costumes, com os líbios,
muito mais que qualquer dos conquistadores anteriores. Isso facilitou o rápido
controle da região e o estabelecimento de uma civilização islâmica, que foi
ampliando o contato com os povos subsaarianos.
A África Subsaariana
A maior característica da África subsaariana é sua diversidade geográfica,
étnica e cultural, que se reflete na multiplicidade de grupos humanos. É útil
para o estudo dessa região divida-la em quatro áreas históricas: a África
Ocidental, a África central e meridional, a África Etíope e a África da Costa
Oriental.
A África Ocidental se estende do Oceano Atlântico até o Lago de Chade e do
Deserto do Saara até o Golfo da Guiné. Seu território é banhado por dois
extensos rios, o Senegal e o Níger. Nessa região se desenvolveram os impérios
de Gana, Mali e Songai. Formaram-se ali civilizações urbanas inspiradas
principalmente nos povos das etnias haussa e iorubá. O comércio com os
islâmicos ao norte e inter-regional favoreceu o crescimento de cidades e o
florescimento das artes, principalmente no Golfo da Guiné.
A África central e meridional foi praticamente toda povoada por povos com
língua originária de uma única matriz, o banto. Os bantos inicialmente
habitavam a região dos grandes lagos. Pastores e agricultores, familiarizados
com a utilização do ferro, expandiram-se para o centro do continente e, no
século VI, deslocaram-se, também, para o sul. Fundaram e expandiram reinos
como o de Zimbábue, Monomotapa e Congo. Nessas migrações foram
expulsando os antigos habitantes que não se adaptavam à sua cultura. Entre
os povos forçados a se deslocar para novos territórios estavam os pigmeus e os
de idiomas khoisan, conhecidos hoje como khoi e bosquímanos, todos
caçadores-coletores. Os pigmeus espalharam-se pelas florestas da África
central e os khoi e bosquímanos refugiaram-se em territórios mais áridos,
inclusive no Deserto de Calaari. Séculos depois, foram também perseguidos e
mortos por colonos europeus. Hoje 120 mil pigmeus vivem espalhados pela
África Central, comercializando com s agricultores ou trabalhando para eles.
Já pequenos grupos remanescentes de khoi e bosquímanos, concentrados em
pequena área da África meridional, resistem e ainda sobrevivem da atividade
caçadora-coletora, mantendo a mesma cultura.
Mapa das Cidades da África no Século XVI
A África Etíope havia tipo relevância na Antiguidade, juntamente com o
Egito. Com o contato com as sociedades das costa do Mar Vermelho e do
Mediterrâneo, os etíopes conheceram e adotaram o cristianismo. Formaram
na região o reino de Axum, com monarcas que se declaravam descendentes do
rei Salomão. O reino dos etíopes estendia-se lateralmente pelas margens
orientais do Nilo, atravessava o Mar Vermelho e incorporava territórios do sul
da Arábia. Os persas, no século VI, e os islâmicos, a partir do século VII,
embora com mais moderação, dificultaram as ligações, inclusive comercias,
dos etíopes com seus aliados no Império Bizantino. Os persas, além disso,
forçaram os etíopes a abandonar seus domínios estabelecidos no sul da
Arábia. Barrados ao norte e a leste, os reis etíopes expandiram o reino cristão
de Axum para o sul.
A África da Costa Oriental também foi povoada por povos bantos. Em muitas
ilhas costeiras, inclusive na enorme Madagascar, populações bantas
conviveram com malaios vindos da atual Indonésia. Tanto os bantos quanto os
malaios foram profundamente influenciados pelo mundo árabe-islâmico. As
interações entre a cultura árabe-islâmica e a banta resultaram numa língua e
cultura novas, chamada Suaíle, que se impuseram por toda região. Entre os
séculos XI e XIII, desenvolveu-se uma civilização ao longo da costa em que se
destacavam as cidades de Mogadíscio, Melindi, Mombaça, Zanzibar e Kilwa.
Os Impérios na África Ocidental
Entre os séculos VIII e XV surgiram ao sul do Saara diversos reinos. Entre eles,
os três mais conhecidos foram os de Gana, Mali e Songai, que, por sua
extensão, duração e repercussão, foram chamados de impérios. Esses impérios
surgiram junto aos rios da África ocidental ou então nas encruzilhadas das
rotas de caravanas que trafegavam nos desertos. Eram impérios terrestres que
viviam voltados para o interior do continente. Não desenvolveram a
navegação oceânica nem mantiveram contato com os povos de além-mar. O
intercâmbio econômico e cultural dos impérios da África ocidental era
realizado com os negociantes e viajantes muçulmanos através das rotas de
caravanas que cruzavam o Saara.
O Império de Gana desenvolveu-se na África Ocidental, ao longo da região
situada entre os rios Níger e Senegal. Era conhecido como a região do ouro.
Além disso, mantinha um comércio transaariano com mercadores árabes, que
adquiriam ouro em troca de sal, tecidos, jóias e outros artigos de luxo.
Surgido por volta do século VII, esse império chegou a ter um exército de 200
mil homens, sendo 40 mil arqueiros. Desestruturou-se após 1076, quando,
enfraquecido por disputas internas, foi tomado por um exército de povos do
Saara Ocidental.
O Império de Mali floresceu entre os séculos XII e XIV, também na África
Ocidental. A economia do Mali baseava-se no cultivo do algodão, na produção
de tecidos, na mineração de ouro e no comércio de sal. A cidade de
Tomboctou, entreposto comercial da região, era bastante populosa para a
época, com cerca de 100 mil habitantes. Só para o transporte do sal, eram
usados dezenas de milhares de camelos em caravanas bianuais que
comercializavam o produto. Em Tomboctou existia um grande centro de
estudos semelhante às universidades européias, isso quando as primeiras
universidades estavam apenas nascendo na Europa. Esse centro de estudos era
freqüentado por sábios, pensadores, artistas e estudantes. Assim como Gana,
o Mali manteve intensas relações econômicas e culturais com os povos da
África islâmica. Em meados do século XV, povos songai do reino vizinho e
nômades tuaregues, invadiram o território do Mali causando sua
desagregação.
O Império de Songai surgiu nas terras férteis do alto Níger, no começo do
século XIV. Sua capital era a cidade de Gao, localizada n cruzamento de
grandes rotas de caravana do Saara. À semelhança dos outros dois reinos,
Songai manteve também intenso comércio com as populações islâmicas norte-
africanas. Na administração interna introduziram um serviço público
profissional e nomearam governadores regionais para as províncias. No século
XVI, esse reino foi invadido e conquistado por povos do atual Marrocos.
Os reinos do centro e do sul da África
Nas regiões sul e central do continente africano, existiram também vários
reinos antes da chegada dos primeiros europeus. Essa parte do continente era
coberta por florestas tropicais e extensas savanas, que são áreas formadas por
arbustos, ervas rasteiras e árvores isoladas. Existiam nesse território rios
extensos e caudalosos. Seu clima era muito quente e úmido. Entre os reinos
surgidos nessa parte da África, dois deles se destacaram bastante: o do Congo
e o de Monomotapa.
O reino do Congo englobava regiões onde estão localizados o Congo, o
República Democrática do Congo e partes de Angola e do Gabão. Foi
organizado pelo povo banto na África centro-ocidental a partir do século XIII,
junto à bacia fluvial do Rio Congo, que desemboca no Oceano Atlântico (a
bacio do Rio Congo era a maior do continente). No final do século XV, os
navegadores portugueses chegaram à desembocadura do Rio Congo. Ocuparam
o território litorâneo e fundaram na costa diversas feitorias. Essas feitorias
eram posto de troca e armazéns para estocagem de mercadorias. Com a
construção de fortalezas e a utilização de armas de fogo, os portugueses
recém-chegados revelaram sua força militar. Nessa época, a conversão ao
cristianismo do rei Nzinga Kuvu, da família real e da nobreza coincidiu com o
começo da decadência do reino do Congo, que desapareceu no século XVI.
O reino de Monomotapa surgiu no século XI na África oriental e estendia-se
dos rios Zambeze e Limpopo até o Oceano Índico, nas regiões dos atuais
Zimbábue, Malauí e Moçambique. O nome Monomotapa é derivado do titulo
adotado por seu conquistador Muene Mutapa, que significa “senhor das terras
arrasadas”. O reino era grande produtor de ouro e marfim, que eram trocados
por sedas, pérolas e porcelana provenientes da China, através do Oceano
Índico. Em Monomotapa, situava-se a lendária cidade de Zimbábue, cujas
ruínas monumentais são as mais importantes da África subsaariana. Esse reino
chegou ao fim no século XVI, quando caiu sob o domínio dos conquistadores
portugueses.
Mapa dos Reinos, Impérios e Chefias da África
Atividades
1) Porque a África é conhecida como berço da humanidade?
Resposta: Do continente africano teriam partido nossos remotos ancestrais
para povoar os outros continentes do planeta.
2) Se 11 milhões de africanos foram tirados da África como escravos, qual
o impacto desse ato para a população africana?
Resposta: Se considerarmos que as projeções do demógrafo russo Vitor Kozlov
que a população da África em 1500, oscilava entre 50 e 55 milhões, e que
foram retirados 11 milhões de africanos para trabalhar na América, isso
significa que a África perdeu vinte porcento da sua população original. Esse
fato pode ter gerado uma catástrofe demográfica no continente e suas
principais conseqüências são a desorganização da produção e da base
econômica original.
3) Caracterize as duas Áfricas.
Resposta: Em razão das diversidades geográficas do continente e cultural de
seus povos, costuma-se falar em pelo menos duas Áfricas. Ambas são, ao
mesmo tempo, distintas e interligadas. Uma é conhecida por vários nomes
como África Setentrional (por compor a região norte), África Saariana (por
abranger o Deserto do Saara), África Mediterrânea (por seu litoral ser
banhado por esse mar) ou África Muçulmana (pela predominância dessa
religião). A outra é chamada de África Subsaariana (por abranger toda a
região abaixo do Saara) ou África Negra (denominação empregada pelos
europeus após o século XVI).
4) Quais as principais semelhanças dos Impérios da África Ocidental: Gana,
Mali e Songai?
Resposta: Gana, Mali e Songai, são três impérios sucessivos que surgiram
junto aos rios da África ocidental ou então nas encruzilhadas das rotas de
caravanas que trafegavam nos desertos. Eram impérios terrestres que viviam
voltados para o interior do continente. O intercâmbio econômico e cultural
dos impérios da África ocidental era realizado com os negociantes e viajantes
muçulmanos através das rotas de caravanas que cruzavam o Saara.
5)
6)
7) Qual o principal evento histórico para os povos da África Branca?
Resposta: O evento mais marcante na história da África Branca foi a
conquista árabe no século VII, e a conversão dos povos habitantes da região
ao islamismo.
8)
Resposta:
9) Como é dividida a África Saariana?
Resposta: A África Saariana pode ser dividida em duas: o Vale do Rio Nilo, ou
seja, ao Egito; e o Magreb, região que vai da Líbia ao Marrocos.
10) Como é sub-dividida a África Subsaariana?
Resposta: A África Subsaariana pode ser dividida em: África Ocidental, África
Central e Meridional, África da Costa Oriental e a África Etíope.
11) O que são os bantos?
Resposta: Os bantos são povos com língua originária de uma única matriz. Os
bantos inicialmente habitavam a região dos grandes lagos. Pastores e
agricultores, familiarizados com a utilização do ferro, expandiram-se para o
centro do continente e, no século VI, deslocaram-se, também, para o sul.
Fundaram e expandiram reinos como o de Zimbábue, Monomotapa e Congo.
12) Caracterize a religião e a realeza dos etíopes.
Resposta: Os etíopes conheceram e adotaram o cristianismo com o contato
com as sociedades das costa do Mar Vermelho e do Mediterrâneo. Formaram
na região o reino de Axum, com monarcas que se declaravam descendentes do
rei Salomão.
13) O que é a cultura Suaíle?
Resposta: A cultura e a língua Suaíle originam-se das interações entre a
cultura árabe-islâmica e a banta, que se impuseram por toda região. Entre os
séculos XI e XIII, desenvolveu-se uma civilização ao longo da costa em que se
destacavam as cidades de Mogadíscio, Melindi, Mombaça, Zanzibar e Kilwa.
14) Descreva a cidade de Tomboctou.
Resposta: A cidade de Tomboctou, entreposto comercial da região, era
bastante populosa para a época, com cerca de 100 mil habitantes. Só para o
transporte do sal, eram usados dezenas de milhares de camelos em caravanas
bianuais que comercializavam o produto. Em Tomboctou existia um grande
centro de estudos semelhante às universidades européias, isso quando as
primeiras universidades estavam apenas nascendo na Europa. Esse centro de
estudos era freqüentado por sábios, pensadores, artistas e estudantes.
15) Qual o desfecho do Reino do Congo e do Monomotapa no século XVI?
Resposta: O Reino do Congo e o Reino de Monomotapa no século XVI
assistiram à chegada dos portugueses. Os portugueses iniciaram a instalação
de feitorias, fortes e conquistaram as regiões costeiras destes reinos,
iniciando a colonização destes. No século XIX consolida-se a supremacia
lusitana sobre a região, que correspondem a Angola e Moçambique
atualmente, os dois maiores países lusófonos da África.
3ª Aula
I – Tema:
O “tráfico de almas” na África: a escravidão africana, sua re-significação,
Poder e Resistência.
I – Objetivos:
II.a – Geral:
Analisar os conceitos de escravidão e quilombo na África dos séculos XI-XVI.
II.b – Específicos:
Caracterizar a escravidão da África Negra.
Relacionar os diversos tipos de escravidão existentes na África.
Analisar o tráfico e as rotas de tráfico de escravos durante os séculos XI ao
XVI.
Conceituar a origem da palavra quilombo, e o significado deste durante a
Revolta dos Jagas.
Problematizar o novo sentido hierárquico de escravidão que surge na África a
partir do contato com os europeus.
III – Metodologia:
Texto base: Texto anexo “Escravidão desde África e as Mudanças Internas”
1º Passo: Relembrar com os alunos vários tipos de escravidão que eles
conhecem: a escravidão grega e romana; a escravidão entre os indígenas
brasileiros; a escravidão moderna, a escravidão atual e caracterizar como era
a escravidão na África.
2º Passo: Exposição dialogada sobre a escravidão na África. Serão realizadas,
neste momento, duas generalizações: primeiro, de que a escravidão existia na
África, antes do contato com os europeus; e segundo a caracterização da
própria escravidão africana em si, entendida como doméstica, ou como alguns
autores utilizam o termo “servidão doméstica”.
3º Passo: Expor neste momento que existem peculiaridades a escravidão na
África. Citando por exemplo que os mamelucos, milícia escrava de origem
turca ou circassiana era o poder político dominante no Egito; que no reino do
Congo os escravos eram a guarda real do Manicongo, que os Etíopes
escravizavam povos recém-conquistados, etc.
4º Passo: Exposição para os alunos sobre a utilização de escravos africanos no
Norte da África, Oriente Médio e Índia. Descrever as rotas de tráfico de
escravos africanos, realizado pelos muçulmanos a partir do século XI. Neste
momento será utilizado o mapa mundial (em anexo e xerografado)
representando essas rotas.
5º Passo: Problematizar a chegada dos europeus e a justificativa ideológica
para a nova escravidão africana. Explicar para os alunos que a escravidão irá
transformar as diversas regiões da África: no litoral serão estabelecidas
feitorias e cidades escravocratas, tanto européias quanto africanas; e na
hinterlândia movimentos de defesa e revolta contra estes. Analisar as
conseqüências da escravidão moderna no continente africano: o surgimento
dos Estados costeiros especializados no tráfico de almas, a desagregação de
alguns reinos e o sentimento de insegurança que irá nascer neste momento, já
que qualquer um poderia ser capturado e vendido como escravo.
6º Passo: Exemplificar a reação de alguns povos do interior do continente – os
jagas – e a luta contra o Estado escravocrata do Kongo. Será feita a leitura de
um trecho do texto anexo (dois parágrafos) referente aos jagas.
7º Passo: Analisar o conceito de quilombo na África. Traçar a origem
etimológica da palavra à expansão banto, sua re-significação no século XVI e o
novo sentido americano que irá adotar.
8º Passo: Utilização novamente do mapa para elucidar as diferentes rotas de
tráfico, tomando o devido cuidado na leitura deste, já que é anacrônico.
IV – Recursos Didáticos:
Quadro e Giz
Texto de Apoio Xerografado. Mapa Mundial com as Rotas do Tráfico Africano.
V – Avaliação
O critério de avaliação será a realização de questões dissertativas sobre o
tema. Utilização de documento histórico referente aos Jagas.
Escravidão desde a África e as Mudanças Internas
O historiador norte-americano Paul E. Lovejoy, especialista em história da
escravidão, diz que “A África esteve intimamente ligada a esta história, tanto
como fonte principal de escravos para antigas civilizações, o mundo islâmico,
a Índia e as Américas, quanto como uma das principais regiões onde a
escravidão era comum”.
Você já viu que em muitas sociedades africanas havia diferenças de classes
sociais. As famílias aristocráticas chefiavam o Estado, comandavam o
Exército, detinham privilégios materiais. Por baixo, as famílias de camponeses
e até escravos. É claro que os povos da África não se sentiam “africanos” ou
“negros”. Esses conceitos só surgiram mais tarde, basicamente nos séculos XIX
e XX, na luta contra os europeus que escravizaram e colonizaram o
continente. Para os africanos antigos, o que existiam eram povos diversos,
cada qual com suas próprias culturas, seus próprios sistemas de governo. Esses
povos podiam ser rivais porque disputavam territórios, rotas comerciais,
regiões mineradoras. O resultado você já viu, eram as guerras. Os prisioneiros
de guerra podiam se tornar escravos. Os escravos nas sociedades africanas
dedicavam-se a inúmeras atividades, no trabalho pesado da lavoura e das
minas, no serviço doméstico, e nas obras do Estado, por exemplo. Mas
atenção, amigo leitor, é preciso compreender a escravidão do contexto de
cada sociedade. A escravidão moderna, que os europeus impuseram nas
colônias na América, foi bem diferente da escravidão antiga greco-romana. A
escravidão nos reinos e cidades-Estado africanas também apresentou
características particulares. Na África Antiga, havia escravos que trabalhavam
ao lado de camponeses e artesãos livres, executando o mesmo tipo de tarefas.
Não era incomum que depois de alguns anos os escravos se integrassem à
comunidade dominante. Seus filhos nasciam livres. Certos escravos podiam se
destacar e se tornar importantes administradores de fazendas, palácios e
negócios públicos.
Desde o século XI havia um ativo tráfico (comércio) de escravos que
atravessava o Saara. Os traficantes árabes compravam escravos do sul do
deserto e vendia para as cidades árabes do Norte do continente. De qualquer
modo, o império árabe não costumava utilizar muitos escravos. Em geral, eles
eram utilizados no serviço doméstico das casas e palácios.
A partir do século XV, da nossa era, os europeus começaram a ter contato
direto com os africanos. Entre os séculos XV e XIX, milhões de seres humanos
foram levados de navio pelos traficantes europeus, para trabalharem como
escravos domésticos em nações européias como Espanha, Portugal, Holanda e
Inglaterra (isso era comum nos séculos XV e XVI), e principalmente nas
Américas, dos Estados Unidos ao Brasil. Esse tipo de escravidão foi muito mais
brutal do que a escravidão que existia na própria África.
Como os traficantes europeus conseguiam escravos africanos? A maneira mas
direta eram as expedições que atacavam aldeias próximas do litoral.
Entretanto, a maior parte dos cativos eram fornecidos por traficantes da
própria África, que já tinham experiência de comércio de almas como os
árabes. A demanda (procura) européia era gigantesca. Milhões e milhões de
seres humanos foram comprados e levados até a América. Um volume tão
grande de negócios teria que provocar mudanças importantes na própria
África. Com efeito muitas cidades-Estado e reinos cresceram e enriqueceram
em função do tráfico de escravos. Como por exemplo, a Oió iorubá, o Benin e
o Daomé, Kongo e Ndongo, o reino Ashanti.
Contudo, muitos africanos procuraram resistir à escravização. Além de ações
individuais, houve movimentos de resistência coletiva. No século XVI, por
exemplo, ocorreu a Revolta dos Jagas. Esse grupo migrou do interior da África
com o objetivo de destruir os reinos costeiros que mantinham relações com os
europeus, especialmente o do Kongo.
Os jagas construíram acampamentos fortificados com uma grande
organização. Havia comunidades independentes governadas por diferentes
líderes, exército extenso e preparado e locais para cerimônias religiosas.
Esses acampamentos conhecidos como quilombos, garantiram aos jagas
grande força militar, permitindo equilibrar a luta contra o exército congolês.
Apesar de derrotada, a revolta jaga estimulou as lutas contra a escravização.
Os quilombos criados por eles estimularam a organização de muitas rebeliões
africanas. Também influenciaram as revoltas de escravos ocorridas na
América.
A luta contra os jagas abalou a confiança que os reis do Congo tinham nos
europeus. Apesar de numerosos pedidos, estes não ajudaram seus aliados.
Nos séculos seguintes ocorreu uma intensificação dos movimentos contra a
escravização, especialmente na região correspondente ao atual território de
Serra Leoa, Guiné Bissau e Cabo Verde.
Aumentaram também as rebeliões entre os escravos que trabalhavam na
produção de açúcar. Foram realizadas revoltas na ilha de São Tomé, em 1574,
e em Angola, em 1693.
Esses movimentos de resistência à escravização foram registrados pelas
autoridades européias e são os únicos que chegaram ao conhecimento dos
historiadores. Sua existência, contudo, permite supor que muitos outros
podem ter ocorrido por toda a África. (Texto Adaptado de SCHMIDT, Mario.
Nova História Crítica: Ensino Médio. São Paulo: Nova Geração, 2005. p. 77. &
CABRINI, Conceição. História Temática: diversidade cultural e conflitos. São
Paulo: Scipione, 2004. p.111.)
Mapa das Rotas de Tráfico de Escravos
Documento
O Rito de Iniciação dos Jagas
Para melhor compreender este rito de iniciação deste grupo guerreiro, os
jagas, será melhor dar a palavra a uma testemunha ocular da época, que
a descreve com minúcias:
"A cerimônia de receber os meninos no quilombo pratica-se ainda hoje com
solenidade, e eu, que a presenciei muitas vezes, posso descrevê-la
exatamente.
Quando o chefe do quilombo, que é ordinariamente o comandante militar,
quer conceder este privilégio, determina o dia da função. No intervalo de
tempo precedente à data, os pais, que são sempre numerosos, suplicam
insistentemente a concessão desta graça, persuadidos de que seus filhinhos,
antes da admissão, são abominados pela autora da lei, e só depois de
purificados serão benzidos por ela. O dia é de grande festa, com o concurso
de muitos homens armados e enfeitados o melhor possível. Aparecem na
praça em boa ordem e com muito decoro os cofres em que se conservam os
ossos de algumas pessoas principais e que são guardados nas suas casas por
pessoas qualificadas. Depois aparecem os cofres com os ossos dos antigos
chefes do quilombo e de seus parentes. Todos são colocados sobre montões de
terra, na presença do povo, rodeados por guardas e por uma multidão de
tocadores e de dançadores, que festejam e honram os ossos daqueles
falecidos. Por fim chega o comandante com a sua favorita, chamada
tembanza, ou 'senhora da casa', ambos festejados pela música e pela comitiva
dos seus familiares. Ambos untam os seus corpos e as suas armas e se sentam,
ela à esquerda e ele à direita dos ditos cofres. Então, todos os presentes,
divididos em grupos, fingem uma batalha, acometendo-se furiosamente.
Acabada a batalha e as danças, que são bastante demoradas, até todos
perderem o fôlego, saem, de algumas moitas predispostas, as mães que nelas
estavam escondidas, com os meninos, e, mostrando-se muito preocupadas,
com mil gestos vão ao encontro dos maridos, indicando-lhes o lugar em que
cada menino está escondido. Então eles correm para lá com os arcos
flechados e, descobrindo a criatura, tocam levemente nela com a seta, para
demonstrar que não a consideram como filho, mas como preso de guerra, e
que, portanto, a lei não fica violada. Depois, usando uma perna de galinha
(nunca pude descobrir a razão disso), untam a criança com aquele ungüento
no peito, nos lombos e no braço direito. Dessa maneira, os pequenos são
julgados e purificados e podem ser introduzidos pelas mães no quilombo na
noite seguinte" (Cavazzi, p. 182).
Atividades
1) Existia escravidão e tráfico na África antes da chegada dos europeus?
Explique.
Resposta: Sim, existiam escravidão e tráfico de escravos antes da chegada dos
europeus. A África esteve intimamente ligada a esta história, tanto como
fonte principal de escravos para antigas civilizações, o mundo islâmico, a
Índia e as Américas, quanto como uma das principais regiões onde a
escravidão era comum.
2) Diferencie a escravidão existente na África e a nova forma de
escravidão que irá surgir com a chegada dos portugueses.
Resposta: A escravidão existia na África desde tempos remotos. Ela
caracterizava-se pelo emprego de escravos na agricultura, nos serviços
domésticos e estatais. O tráfico existia desde o século XI através do Saara,
Mar Vermelho e Oceano Índico. Eles eram utilizados no serviço doméstico das
casas e palácios dos povos árabes, indianos, etc.
Com o contato com os europeus no século XV a escravidão africana modifica-
se e torna-se um importante setor do comércio colonial. Entre os séculos XV e
XIX, milhões de seres humanos foram levados de navio pelos traficantes
europeus, para trabalharem como escravos em nações européias e
principalmente nas Américas, dos Estados Unidos ao Brasil. Esse tipo de
escravidão foi muito mais brutal do que a escravidão que existia na própria
África. O comércio de almas se tornou altamente rentável e o sustentáculo
econômico de muitas colônias européias e com apoio da Igreja Católica.
3) Quais as conseqüências do tráfico atlântico para o continente africano?
Resposta: Um volume tão grande de negócios, advindos do tráfico atlântico,
provocou mudanças importantes na própria África. Com efeito, muitas
cidades-Estado e reinos cresceram e enriqueceram em função do tráfico de
escravos. Como por exemplo, a Oió iorubá, o Benin e o Daomé, Kongo e
Ndongo, o reino Ashanti. Com isso surgem novas guerras entre reinos
costeiros escravagistas e povos do interior do continente, acirrando as
rivalidades entre as tribos.
4) Caracterize as principais reações dos povos do interior do continente
africano às cidades portuárias escravocratas do litoral.
Resposta: Com o surgimento de reinos escravagistas no litoral em estreita
aliança com os traficantes europeus, muitos africanos procuraram resistir à
escravização. As principais reações foram ações individuais, movimentos de
resistência coletiva (como a Revolta dos Jagas, guerras em Serra Leoa, Guiné
Bissau e Cabo Verde), rebeliões de escravos (como na ilha de São Tomé, em
1574, e em Angola, em 1693), etc.
5) Qual é a origem dos quilombos?
Resposta: A origem dos quilombos remonta ao século XVI, e foi uma
instituição surgida na África Central durante a Revolta dos Jagas. Esse grupo
migrou do interior da África com o objetivo de destruir os reinos costeiros
que mantinham relações com os europeus, especialmente o do Kongo. Os
quilombos eram construídos pelos jagas e caracterizam-se por acampamentos
fortificados com uma grande organização. Havia comunidades independentes
governadas por diferentes líderes, exército extenso e preparado, e locais
para cerimônias religiosas. Esses acampamentos garantiram aos jagas grande
força militar, permitindo equilibrar a luta contra o exército congolês. Apesar
de derrotada, a revolta jaga estimulou as lutas contra a escravização. Os
quilombos criados por eles estimularam a organização de muitas rebeliões
africanas. Também influenciaram as revoltas de escravos ocorridas na
América.
6) Comparando os dados do mapa e o tráfico de escravos africanos,
responda:
a) Quais regiões receberam o maior número de escravos?
Resposta: As regiões que receberam o maior número de escravos foram o
Brasil e as ilhas do Caribe. O Brasil recebeu cerca de 40% dos escravos
advindos do tráfico, assim como as ilhas do Caribe receberam também cerca
de 40% desse fluxo.
b) Quais as principais regiões africanas fornecedoras de escravos?
Resposta: As principais regiões fornecedoras de escravos da África Negra
foram o Golfo da Guiné, a região dos Grandes Lagos, a bacia do Congo ou
Zaire, a bacia do Zambeze e Madagascar.
4ª Aula
I – Tema:
A religião iorubá e as religiões sincréticas afro-brasileiras.
II – Objetivos:
II.a – Geral:
Analisar a religião iorubá e as religiões afro-brasileiras.
II.b – Específicos:
Conceituar orixás e vodus dentro das religiões iorubá e fon.
Analisar a religião ioruba.
Identificar as diversas manifestações religiosas dos escravos.
III – Metodologia:
Texto base: Textos anexos: “Os Orixás e ”Os Orixás e o transnacionalismo
religioso“.
1º Passo: Perguntar aos alunos o que eles sabem sobre Orixás e Vodus. A
partir das observações dos alunos, ir construindo no quadro tópicos, que serão
relacionados em duas vertentes: uma sobre orixás, Exu, religiões afro-
brasileiras, candomblé, etc; e a outra seria vodu, magia negra, feitiçaria, etc.
2º Passo: A partir das opiniões expressas pelos alunos, iniciar a desconstrução
da assimilação de vodus ao folclore haitiano e o cinema (com filmes de
terror), e também a visão hierárquica da igreja católica associando as
religiões iorubá e fon à bruxaria européia. Explicar que a arte iorubá era
peculiar, pois estava orientada a expressão do desconhecido, dos ancestrais e
do mundo supra-sensível. Citar o exemplo do Exu, que é demonizado, devido
sua representação de um símbolo fálico.
3º Passo: Explicar que os orixás e os vodus são divindades iorubás (nagôs) e
fon (gege). Caracterizar a religião iorubá e fon original, religiões étnicas.
Lembrar os alunos que os iorubás foram chamados pelos europeus de “os
gregos da África”, e identificar as razões para essa assimilação. Utilizar as
imagens de Exu e de Gu, um orixá e um vodu respectivamente, e a sua
representação artística. Construir com os alunos o discurso de demonização,
por se tratarem de imagens que remetem ao desconhecido.
4º Passo: Explicar que a partir do século XVI no Golfo da Guiné surgirá o
fenômeno do transnacionalismo religioso e cidadanias multinacionais.
Descrever que significa a crença nos orixás e vodus, anteriormente
relacionada aos seus povos originais, irá transcender o conceito de etnia.
Leitura de um trecho do texto anexo (4º, 5º e 6º parágrafos).
5º Passo: Explicar a cidadania multinacional e relacioná-la com a cidadania
brasileira. A devoção pessoal em um orixá ou vodu transcendia a própria etnia
(fon, ewe, tapa, nupe). A partir da crença em um orixá, os devotos se
tornavam parte da comunidade desta divindade e com tudo a ela associada:
lugares sagrados, ritos, crendices, etc.
6º Passo: A partir da relação entre orixás e santos católicos (utilizando o
texto anexo) explicar que os africanos vindos como escravos para o Brasil
trazem sua fé, e a partir do sincretismo e das irmandades, e originará as
religiões afro-brasileiras, e também afro-americanas. Explicar que a tradição,
a oralidade e as crenças africanas ainda estão presentes e vivas no nosso país.
7º Passo: Após a aula expositiva, ler o primeiro parágrafo do texto. Uma
pergunta filosófica sobre a questão nacional e nacionalista. Analisar a
primeira frase do texto do ponto de vista filosófico. O caso da cidadania
plurinacional e multicultural que apresentamos, é uma pequena contribuição
ao debate que desejamos. Por uma parte, vertical, é dizer, um dialogo com o
profundo e rico passado do continente africano, e por outra, horizontal, é
dizer, uma conversação com todas as culturas do mundo. O objetivo seria que
os alunos reflitam sobre o conceito discutido em sala (transnacionalismo e
relacionem com nacionalismo), e que façam um pequeno texto escrito.
IV – Recursos Didáticos:
Quadro e Giz.
Material de Apoio Xerografado.
Imagens sobre arte iorubá, orixás e vodus.
V – Avaliação:
Serão perguntas reflexivas e filosóficas (em anexo) sobre o tema da aula.
A Religiosidade dos escravos africanos
A partir do século XVI, os primeiros navios negreiros, chamados tumbeiros,
trouxeram africanos escravizados para trabalhar nas plantações de cana-de-
açúcar e nos engenhos coloniais. Esses indivíduos trouxeram consigo sua
cultura, da qual faziam parte cultos a divindades como os orixás.
Introduzido no Brasil por algumas nações africanas, com diferentes
identidades étnicas, o culto aos orixás expressa essas diferenças na língua em
que é praticado, na forma de tocar os instrumentos de percussão
(atabaques) ou, ainda, nos nomes dados aos orixás.
Por exemplo, essas diferenças aparecem nos tipos de candomblé: o queto e o
angola, praticado nos terreiros da Bahia; o xangô, em Pernambuco; o
batuque, no Rio Grande do Sul; e o angola, em São Paulo. Além disso, há
outras variações de culto, como a umbanda e a quimbanda.
Durante séculos, a realização do culto aos orixás foi proibida no Brasil. No
período colonial, os rituais mágicos, comuns nas religiões africanas, foram
considerados práticas diabólicas ligados à bruxaria. Na verdade, os
colonizadores não admitiam outras formas de expressão religiosa e cultural
além do catolicismo e queriam evitar que se disseminassem na colônia. Apesar
disso, os afro-brasileiros mantiveram suas práticas religiosas, dando a seus
deuses os nomes dos santos católicos. Segundo o antropólogo, etnólogo e
fotógrafo Pierre Verger:
[...] os santos do paraíso católico ajudaram a lograr e a despistar os seus
senhores sobre a natureza das danças que estavam autorizados a realizar, aos
domingos, quando se reagrupavam em batuques por nações de origem [...].
Quando precisavam justificar o sentido dos seus cantos, os escravos
declaravam que louvavam, nas suas línguas, os santos do paraíso. Na verdade,
o que eles pediam era ajuda e proteção aos seus próprios deuses.
(VERGER, Pierre. Orixás: deuses iorubas na África e no Novo Mundo. Salvador:
Corrupio, 1997. p.25).
No século XX, passaram a existir os terreiros de candomblé, que podem ter-se
originado dos calundus. Essa expressão do idioma banto “designava e abrangia
imprecisamente toda sorte de dança coletiva, cantos e músicas acompanhadas
por instrumentos de percussão, invocação aos espíritos, sessão de possessão,
adivinhação e cura mágica”, conforme o antropólogo Vagner Gonçalves da
Silva. Leia seu relato de alguns casos de prática dos calundus:
Em 1765, no Arraial de São Sebastião, o negro Félix foi denunciado por fazer
batuques nos quais “desciam almas”. Em 1777, em Itapecerica, os negros
Roque Angola e Brígida Maria faziam calundus ao som de violas. Utilizavam
água de ervas para se lavarem e diziam que “as almas dos mortos entravam
no corpo dos vivos” e que “o calundu era o melhor modo de dar graças a
Deus”. O negro angola afirmava também ser o “Anjo Angélico e tinha o
“poder do Sumo Pontífice para casar e descasar”. Em 1781, em Campanha, o
negro Antônio, também chamado de “Antônio Calundu”, fazia adivinhações
com um espelho e uma cruz. Já o negro Francisco, em 1782, na cidade de
Mariana, adivinhava e curava fazendo as almas falarem através de um búzio e
um chapéu.
(SILVA, Vagner Gonçalves da. Candomblé e umbanda. São Paulo: Ática, 1994.
p.43-4.)
Nas cerimônias havia sacerdotes e feiticeiros. Misturavam-se elementos da
cultura africana com símbolos da cultura católica, como a presença de
crucifixo e anjos.
No Haiti, na América Central, os africanos escravizados foram obrigados a
praticar o cristianismo. Entretanto, às escondidas, realizavam cultos
africanos, que, misturados aos símbolos e cerimônias da religião católica,
deram origem ao vodu. Essa mescla de religiões chama-se sincretismo.
(CABRINI, Conceição. História Temática: diversidade cultural e conflitos.
São Paulo: Scipione, 2004. p.201-202.).
Vocabulário
Candomblé – religião que tem por princípio a convivência com as forças da
natureza e o culto dos antepassados.
Instrumentos de percussão – instrumento cujo som e obtido por batidas com
as mãos, baquetas, etc; exemplo, bateria, tambor, pandeiro.
Quimbanda – linha de umbanda que mantém a tradição banta.
Umbanda – religião nascida no Rio de Janeiro que apresenta mistura de
elementos bantos, espíritas e cristãos.
Os orixás e o transnacionalismo pré-colonial
Os povos e entidades políticas da África Ocidental, situados entre o rio Níger a
leste e o rio Volta ao oeste, do século XV ao XIX, trata-se dos reinos e povos
ewe, aja tado, alada, xogbonu, danxome, oyo, ijebu, ifé, tapa, bini, etc.
Historicamente, estes reinos e os povos que os compõem, se consideram
pertencentes a uma grande família: o ebi; entidades políticas estas que
desenvolveram entre si um sistema sofisticado de hierarquias, senhorios,
fidelidades e obrigações mutuas; dentro dos quais a religião desempenha um
papel fundamental no surgimento e permanência de uma cidadania
multinacional. Assim que haviam sido perturbados pelo comercio atlântico,
teria se desenvolvido estes acontecimentos políticos e culturais nesta parte da
África.
Como bem se sabe, esta é o berço das religiões orixá e vodu que sobreviveram
na América e que, ainda sem missionários ou cruzados, continua sua expansão
hoje fora das comunidades negras da América e Europa. Como exemplo, na
Baía de Benin existem 401 orixás ou vodus, o qual se deve interpretar da
seguinte maneira: 400 simboliza um grande número e 1 simboliza a perpetua
dinâmica característica do panteão, assim dizendo, o principio da criatividade
religiosa. Há vários tipos de orixás e vodus: orixás de família, orixá protetor
de uma cidade ou aldeia (orixá tutelar) e orixá individual. Muito mais tarde
nasceu o vodu de Estado.
Os orixás ou vodus circulam livremente entre os povos que os transferem uns a
outros; e como se sabe, cada deidade (orixá ou vodu), tem sua cidade ou
lugar histórico ou mítico, onde nasceu ou onde Olorum, o deus supremo, lhe
fez surgir. Ogum, deus da metalurgia, da guerra e da tecnologia, nasceu em
Ire, no país dos Ekiti. Oiá, deusa da tempestade, nasceu em Ilé Ira, as
margens do rio Níger, do qual seu nome. Xangô, deus do raio e da justiça,
vem de Oyo, no centro do país iorubá, assim como Exu Elegba, o deus da
ambigüidade, da dualidade, dos encontros e da tradução, o Hermes iorubá,
tem como pátria Ketu, na atual República do Benin. Nanã provém da parte
ocidental do país nagô, parte do atual Togo.
Uma característica básica destas religiões iniciáticas consiste em que cada
individuo se identifica com uma deusa ou um deus que é dono de sua pessoa:
ori (“destino”). Nelas o mais importante é o individuo e sua relação com seu
deus e com todos os que o mesmo deus selecionou e que, portanto, tornam-se
parte de sua família, sem importar o Estado onde residem.
Como parte do processo de iniciação o noviço tem que aprender a historia da
deidade a qual pertence, a língua do lugar onde nasceu a mesma, suas
comidas, maneira de vestir-se e outros costumes. Assim sendo, cada pessoa
iniciada se considera como cidadã do lugar de nascimento de seu orixá ou
vodu. Um adepto de Nanã, ainda que seja nativo de Oyo no centro do país
iorubá, têm que aprender a língua nagô. Ifá o deus da sabedoria e da
adivinhação, é o orixá mais conhecido e consultado na área, e como seu lugar
de origem é Ilê-Ifé, berço da civilização iorubá, seus sacerdotes aprendem o
iorubá e memorizam os milhares de seus mitos esotéricos, classificados em
256 odu ou combinações, e as interpretam a seus eleitos nas distintas línguas
da região. Desta maneira, a iniciação religiosa é uma escola de alteridade, na
qual os noviços passam por uma verdadeira curiosidade pelo estrangeiro. Em
suma, o sistema reduz drasticamente a fidelidade incondicional ao Estado-
nação, posto que uma parte importante da população tem mais de uma
cidadania; onde a alteridade está inscrita na mesma idéia da nação.
Fonte: YAI, Olabiyi Babalola. Religión y Nación Multicultural Un Paradigma
del África Precolonial. In: Arocha, Jaime (Org.). Utopía para los excluídos.
Bogotá: Facultat de Ciencias Humanas UN, 2004. p. 83-85.
Vocabulário
Odu – sistema de adivinhação de Ifé, atributo do deus Ifá. O sistema
geomântico utiliza 16 conchas (que simbolizam os 16 caminhos da vida) que
formam 256 combinações cada qual decorado pelo babalaô, que o recita ao
fiel. .
Alteridade – o mesmo que outridade. É a concepção que parte do pressuposto
básico de que todo o homem social interage e interdepende de outros
indivíduos. Assim, como muitos antropólogos e cientistas sociais afirmam, a
existência do "eu-individual" só é permitida mediante um contato com o outro
(que em uma visão expandida se torna o Outro - a própria sociedade diferente
do indivíduo).
Mapa dos Reinos Iorubás. Séc. XVI-XVI
Os Orixás
Exu - ele é esse ser não-perfeito, mas que carrega dentro de todo homem as
características, que, por mais que tentemos negar, existem dentro da gente.
Por isso é que eu digo que Exu é o mais humano dos orixás. Aquele que tem
características positivas e negativas e assume isso sem nenhum complexo de
culpa. É como querer explicar os erros e acertos da humanidade. Não têm
explicação, apenas existem. E esse ser polêmico, parecido conosco. Gostaria
de deixar bem claro que Exu não é diabo, não tem chifre e nem rabo. Seu
instrumento é o Ogo (tipo de bengala em forma de falo).
Ogum - filho mítico de Oduduá (orixá fundador da primeira cidade do povo
iorubá, Ile Ifé), é também rei da cidade de Irê, e aquele que nos protege nos
caminhos, com suas facas que cortam o mal. Seu metal é o ferro e é também
o orixá da tecnologia, pois tinha o dom de transformar a matéria prima em
instrumento, como grande ferreiro de sua época. Ele é o que vem na frente,
depois de Exu, e é o que guia as pessoas pelos setes caminhos da vida. Quando
contamos com a presença de Ogum, nunca estamos desamparados. Ogum é
um dos maiores imolés (divindades). Existe um ditado que diz em iorubá:
Ogun Lakaye Osin Imolé,
Ogum o grande imólé
Ogun alada meji,
Ogum que usa duas facas
O fi okan sanko, o fi okan yena.
Uma para cortar e outra para limpar o que cortou (abrindo nossos caminhos).
Por isso devemos pedir a Ogum que nos ajude a vencer todas as nossas guerras
interiores, os perigos das ruas, dos maus pensamentos, na esperança que o
homem perceba que a guerra nunca foi sinal de crescimento, e que sempre a
vencedora seja a Paz.
Oxossi - orixá rei da nação Ketu, deus da caça e da fartura. Seu habitat é a
floresta. Teve várias esposas, mas a sua predileta foi Oxum. A curiosidade e a
observação são características de Oxossi, orixá também da alegria, que gosta
de agir à noite, como os caçadores. Rei da Nação de Ketu a mais importante
por ser a mais completa cultuada no Brasil de cultura ioruba. Oxossi é se não
mais um dos mais cultuados nos terreiros de tradição do Brasil. Seus
instrumentos de culto são o Ofá (arco e flecha), lanças, facas e demais
objetos de caça.
Obaluaiê ou Ómolú - Oba Olu aye (o Rei senhor da terra) um dos médicos do
candomblé tem o domínio das doenças de pele e viroses incorpora ao ritual
ioruba tendo origem em Savalu (antiga Daomé), cobre todo o corpo com
vestimenta de palha. Orixá da vida e da morte. Um Orixá que tem a força da
terra, parece com o pássaro Fênix, Renasce das cinzas.
Ossanhe - orixá que conhece a propriedade das folhas, amigo inseparável de
Oxossi. Vive nas florestas, tem amizade e se comunica com um pássaro
chamado Ogue. Gosta de brincar e é um tipo de caipora ou saci do Brasil. Tem
conhecimento de todos os remédios feitos com princípios ativos das folhas e é
de suma importância no culto do candomblé, pois todos os rituais feitos nessa
religião dependem de folhas. Todos os Orixás têm as suas, e como se diz:
quem não conhece folha não conhece candomblé.
Oxumarê - divindade simbolizada pelo arco-íris e pela serpente que se liga ao
próprio rabo em contínua renovação (ouroboros), este orixá é filho de Nanã e
fiel amigo de Xangô. Grande Babalaô (sacerdote de Ifá), Oxumaré representa
o crescimento e a prosperidade, a mobilidade e a atividade. Ser
tridimensional sofre a mutação entre homem, serpente e arco-íris. Seu
instrumento de culto é uma lança envolvida por uma serpente.
Nanã Buruku - é uma orixá muito antiga e por isso muito respeitada e
reverenciada. É considerada uma das mais antigas divindades das águas. Não
das águas turbulentas de alto mar, como Iemanjá, nem das águas calmas dos
rios, reino de Oxum, mas das águas paradas dos lagos e dos lamacentos
pântanos, que lembram as águas primordiais que Odudua encontrou no
mundo, quando iniciou a criação deste. Seu instrumento de culto é o Ibiri
(cetro de palha da costa, talos de dendezeiro e búzios).
Xangô - foi o terceiro Alafin de Oyó (Rei de Oyó). Filho de Orariam e Torosi - a
filha de Elempê, rei dos tapas - cresceu no país de sua mãe, indo instalar-se,
mais tarde, em Kossô. Em seguida, com seu povo, dirigiu-se para Oyó, onde
estabeleceu a cidade que recebeu o nome de Kossô, conservando assim seu
título de Obá Kossô. Do ponto de vista divino, o orixá permanece filho de
Orariam e tem três divindades como esposa - Oyá, Oxum e Obá. Xangô é viril,
atrevido e justiceiro. De personalidade muito forte, é o senhor dos raios,
castiga os mentirosos, os ladrões e os malfeitores. O seu instrumento de culto
é o Oxê (machado de dupla face).
Iansã ou Oyá - é a divindade dos ventos, das tempestades e do rio Níger, que
em Ioruba chama-se "Odo Oyá". Foi a primeira mulher de Xangô e tinha um
temperamento ardente e impetuoso. Antes de se tornar mulher de Xangô,
Iansã viveu com Ogum. Lamentando não ter filhos, consultou um Babalaô que
a aconselhou fazer oferendas, entre essas um tecido vermelho. Cumprida a
obrigação, tornou-se mãe de nove crianças, o que, em ioruba, se exprime pela
frase "Iyá omo mesan", origem de seu nome Iansã. Seus instrumentos de culto
são uma adaga, que simboliza a sua personalidade guerreira, e o Iruexim
(rabo de búfalo).
Obá - terceira esposa de Xangô, esta divindade é originária do rio Oba, na
Nigéria. Corpulenta e destemida, a grande guerreira dança empunhando, na
mão direita, sua espada e um escudo, que lhe serve para cobrir sua orelha
esquerda, lembrando os fatos relatados em uma famosa lenda, que faz
referência à sua rivalidade com Oxum, na disputa por Xangô. Seus
instrumentos de culto são: o Ada (espada), o escudo e o Ofá (arco e flecha).
Atividades
1) O que são orixás e vodus?
Resposta: Orixás e Vodus são respectivamente as divindades das religiões dos
povos africanos ioruba e fon.
2) O que são calundus?
Resposta: Calundus é uma expressão do idioma banto e designava e abrangia
imprecisamente toda sorte de dança coletiva, cantos e músicas acompanhadas
por instrumentos de percussão, invocação aos espíritos, sessão de possessão,
adivinhação e cura mágica.
3) Por que o culto dos orixás eram proibidos no Brasil? Quais as
justificativas para isso?
Resposta: A realização do culto aos orixás era proibida no Brasil colonial. Os
rituais mágicos, comuns nas religiões africanas, foram considerados práticas
diabólicas ligados à bruxaria. Na verdade, os colonizadores não admitiam
outras formas de expressão religiosa e cultural além do catolicismo e
queriam evitar que se disseminassem na colônia.
4) Leia sobre os orixás e escolha um orixá que você se identifique. Mas a
partir da leitura do texto é você que escolhe seu Deus guia?
Resposta: Os alunos poderiam escolher qualquer orixá aleatório. Uma
característica básica destas religiões iniciáticas consiste em que cada
individuo se identifica com uma deusa ou um deus que é dono de sua pessoa:
ori (“destino”). O babalaô é o adivinho responsável pela leitura do odu e
identificação de qual divindade zela pelo destino do fiel. Assim sendo, mesmo
que goste de Oxossi, meu orixá guardião poderia ser outro, como por
exemplo, Ômolú.
5) Supondo que você habitasse a baía de Benin e cidadão de Oyo, o que
você precisaria fazer após descobrir que o seu deus guia é Ogum?
Explique.
Resposta: Como nativo de Oyo e fosse iniciado pelo babalaô e identificado
que meu deus guardião é Ogum teria que aprender a historia dessa deidade, a
língua do lugar onde ele nasceu, no caso em Ire, no país dos Ekiti; suas
comidas, a sua maneira de vestir-se e outros costumes. Assim sendo além de
ser cidadão oioano, me consideraria também como cidadão de Ire.
6) Explique o que é o ebi.
Resposta: O ebi corresponde a uma grande família, onde reinos e povos como
os ewe, aja tado, alada, xogbonu, danxome, oyo, ijebu, ifé, tapa, bini, etc.,
se consideram pertencentes a ela.
7) Porque na baía de Benin existem 401 deuses (orixás ou vodus)?
Resposta: Na Baía de Benin existem 401 orixás ou vodus, o qual se deve
interpretar da seguinte maneira: 400 simboliza um grande número e 1
simboliza a perpetua dinâmica característica do panteão, assim dizendo, o
principio da criatividade religiosa. Há vários tipos de orixás e vodus: orixás de
família, orixá protetor de uma cidade ou aldeia (orixá tutelar) e orixá
individual. Muito mais tarde nasceu o vodu de Estado.
8) O que significa quando uma pessoa é identificada a Ifá? O que ela deve
fazer?
Resposta: Ifá o deus da sabedoria e da adivinhação, é o orixá mais conhecido
e consultado na área, e como seu lugar de origem é Ilê-Ifé, berço da
civilização iorubá, seus sacerdotes aprendem o iorubá e memorizam os
milhares de seus mitos esotéricos, classificados em 256 odu ou combinações,
e as interpretam a seus eleitos nas distintas línguas da região.
9) Quais os principais tipos de candomblé?
Resposta: Os principais tipos de candomblé são: o queto e o angola, praticado
nos terreiros da Bahia; o xangô, em Pernambuco; o batuque, no Rio Grande
do Sul; e o angola, em São Paulo.
10) Qual a solução utilizada pelos escravos africanos para a manutenção da
sua religião?
Resposta: Para manter sua religião os escravos adotavam os santos do paraíso
católico para ajudar a lograr e a despistar os seus senhores sobre a natureza
das danças que estavam autorizados a realizar, aos domingos, quando se
reagrupavam em batuques por nações de origem. Quando precisavam
justificar o sentido dos seus cantos, os escravos declaravam que louvavam,
nas suas línguas, os santos do paraíso.
11)
5ª Aula
I – Tema:
A Escravidão no Brasil
II – Objetivos:
II.a – Geral:
Analisar a escravidão brasileira do século XIX.
II.b – Específicos:
Entender as diversas formas de dominação utilizadas pelos escravocratas para
a manutenção da escravidão.
Compreender as diversas formas de resistência utilizadas pelos escravos
contra a sociedade escravista.
Identificar os escravos muçulmanos e a sua participação na Revolta dos Malês.
Problematizar a idéia de que apenas brancos possuíam escravos no Brasil.
III – Metodologia:
Textos anexos e livro didático.
1º Passo: A aula será expositiva. Será abordado o tráfico para o Brasil, os
tumbeiros e o mercado de escravos.
2º Passo: Descrever as formas de violência utilizadas pelos senhores de
escravos para a manutenção da escravidão.
3º Passo: Descrever as formas de resistência utilizadas pelos escravos para
driblar a dominação branca: quilombos e revoltas.
4º Passo: Explicar a Revolta dos Malês, escravos islamizados, em 1835 em
Salvador.
5º Passo: Explicar as profissões e o modo de vida dos escravos.
6º Passo: A partir da leitura de um trecho do livro de Machado de Assis,
Memória Póstumas de Brás Cubas, explicar que o escravo era um objeto
cobiçado por todas as pessoas, inclusive ex-escravos.
IV – Recursos Didáticos:
Quadro e Giz.
Livro Didático
Transparências com imagens de Debret, Rugendas e outros viajantes do século
XIX que visitaram o Brasil e retrataram a escravidão.
V – Avaliação:
Utilização de questões do livro didático.
Revolta dos Malês
Na madrugada do dia 24 para 25 de janeiro de 1835 ocorreu em Salvador o
maior levante de escravos urbanos das Américas. Durante as três horas de
batalha cerca de 500 pessoas, libertos ou escravos, saíram às ruas e
percorreram a cidade num esforço de conclamarem a população negra a uma
revolta – definitiva - contra os homens brancos e a instituição da escravidão.
Naquela noite sem lua a escaramuça estava marcada para as cinco horas da
manhã, no entanto, foi antecipada devido a uma denúncia.
O juiz de paz foi averiguar a consistência do conteúdo desta denúncia,
investigando a casa de um dos possíveis envolvidos. Foi nessa casa, onde um
grupo de rebeldes planejava os últimos detalhes do motim, que estes foram
obrigados a antecipar, e desse modo iniciou-se a revolta. Deixando um saldo
de nove mortes pelos rebeldes, e dentro destes, setenta foram mortos pelas
tropas soteropolitanas. Posteriormente quinhentos dos envolvidos foram
delatados, caçados e punidos.
A cidade de Salvador em 1835 possuía uma população de 110 mil habitantes,
dessa população um terço era formado por brancos e 40% era escrava. Vale
ressaltar a desigualdade entre o número da população masculina e feminina,
pois para cada três homens havia uma mulher. A capital baiana passava por
um momento de aprofundamento da crise econômica, causada pela expulsão
dos portugueses, concorrência do açúcar, perca do mercado de tabaco e secas
contínuas. Dessa maneira 90% da população soteropolitana era pobre, o que
afetava principalmente as camadas mais baixas, devido ao aumento do preço
dos alimentos. A crise econômica e social existente na cidade iria ser palco de
uma série de revoltas e motins, entre elas a Revolta dos Malês.
Os Malês
Malês é nome genérico que se dá aos escravos muçulmanos que se
revoltaram na Bahia em 1835. No entanto a revolta não foi realizada apenas
por estes, mas teve a participação de libertos e não conversos. A comunidade
muçulmana baiana possuía certas peculiaridades culturais desafiando a
sociedade tradicional, branca, paternalista e cristã. Através de um complexo
sistema de informações e comunicação o islamismo pôde se espalhar por todo
o Recôncavo Baiano, através do proselitismo. A população marginalizada,
escrava ou pobre via no islamismo uma possibilidade de ascensão dentro da
própria comunidade, além de uma possível “vitória” espiritual contra os
cristãos dominantes.
Apesar da semelhança entre as palavras Malê e Mali, essa similitude é apenas
superficial. A origem do termo Malê segue uma linha evolutiva assim definida:
Mali – Imale – Male. Imale é a palavra ioruba para o termo árabe malam,
“clérigo”, e sofreu influência do país no Alto Níger – o Mali - já islamizado e
centro de uma brilhante civilização que teve seu apogeu nos séculos XIII à XV.
A palavra foi adaptada como malê em português.
Portando malês não se refere necessariamente a escravos e também a povos
malineses. Os malinkés, povos do Mali eram conhecidos aqui no Brasil como
mandingas, e este nome ainda é associado com a feitiçaria. Na realidade a
revolta foi feita pela população nagô ou ioruba, com participações
minoritárias de haussás, nupes, bornus, geges, etc. A população escrava
baiana era constituída principalmente por negros sudaneses, com sua grande
maioria da etnia ioruba. Os malês possuíam uma série de peculiaridades
culturais que terminaram que se fundindo na cultura nascente baiana, como o
uso do abadá (roupas brancas para as devoções pessoais), amuletos com
rezas (com passagens do Alcorão para “fechar o corpo”, e até mesmo com
senhas para quilombos, palavras mágicas rogando proteção dos arcanjos, etc),
uso de anéis de metal branco (prata para casamento e ferro), o tessubá
(terço de 100 contas), etc. Os malês eram em geral além de islâmicos,
alfabetizados, conheciam o árabe e o Alcorão, dedicavam a ensinar,
transmitir e pregar o islamismo na Bahia e também como fonte de renda. Os
clérigos malês foram o cérebro da revolta e os libertos e escravos iorubas
foram as mãos e os alfanjes.
A cultura baiana nasceria de um complexo sincretismo, com a preponderância
da cultura portuguesa elitista e a ioruba dominante no grosso da população. A
expansão do islamismo no Recôncavo Baiano é uma conseqüência da expansão
contemporânea deste na África Ocidental. Em 1804 o xeque fulani Osmâ den
Fodio declara jihad aos pagãos do Níger, terminando assim séculos de
penetração pacífica do Islã no Sudão. A guerra produz milhares de escravos
fulanis e haussás, que são revendidos pelo Califado de Sokoto aos portos de
escravos no Golfo da Guiné. Outro momento foi o surgimento do guerreiro
Afonjá do Império de Oyo ao recusar-se em atacar Ifé, cidade sagrada do país
nagô. Diante da guerra civil e da instabilidade das fronteiras no baixo Níger e
Bênue, o número de escravos cresce e são revendidos para os países
americanos que ainda mantém a escravidão Ao contrário dos escravos
advindos de outras regiões da África, os sudaneses possuíam uma cultura mais
sólida caracterizada por sociedades patrilineares, urbanizadas,
independentes, complexas, e integradas entre si.
As festas aqui, por exemplo, a comilança substituiu a austeridade muçulmana
do Velho Mundo. Apesar de seu número reduzido os malês aceitavam a
participação de mulheres revivendo assim a tradicional família africana e
muçulmana, caracterizada por “grandes famílias”. A casa dos libertos era o
local de encontro para rezar, pregações, refeições coletivas, e as
conspirações; eram “mesquitas privadas”. Aprendiam a ler e escrever em
árabe, decorar o Alcorão, e paralelamente a isto a população branca era
praticamente analfabeta. Seguiam uma vida de muçulmanos como se
estivessem em um país islâmico: trabalhavam a maioria como escravos de
ganho e labutavam nos domingos para na sexta se dedicarem exclusivamente
à oração; não consumiam comida feita por mãos não-muçulmana, para que
deste modo, não acontecer à contaminação espiritual; no Ramadã consumiam
uma dieta especial de inhame, mel e farinha; nunca consumiam carne de
porco; o sacrifício ritual do carneiro seguia o “rito digno” maometano que no
final do processo se pronuncia o Bismika Alla-humma - “Alá O Clemente e
Misericordioso”. Durante o Lailat Al-Minaj a celebração da ascensão do
profeta, em novembro de 1834 as autoridades ordenaram a destruição da
simbólica “mesquita” (na realidade era uma tenda na colônia dos ingleses,
onde se reuniam os malês para rezar e comemorar as festas do calendário
islâmico). Esse acontecimento teria aguçado o sentimento de discriminação e
acelerado a organização da revolta. Toda essa “parafernália”, caracterizada
pelos objetos de devoção a Alá vai ajudar posteriormente as autoridades a
localizar os rebeldes e condená-los. Outros 200 escravos alcagüetes fiéis ao
seu senhor ou ex-senhores também vão colaborar com a “caça aos infiéis”.
Pode-se perceber que existe uma série de “mistérios”, estes caracterizados
principalmente pela falta de informações sobre os planos reais dos malês. A
Revolta aconteceu no dia 25 de janeiro, festa de Nossa Senhora da Guia,
ciclo das festas do Bonfim, e seria um dia ideal já que a população branca se
retiraria para o distrito de Itapagipe. No entanto a data coincide com 25 de
Ramadã de 1250 após Hégira. Essa data é próxima do Lailat al-Qadr, a “Noite
da Glória ou Poder” que naquele ano seria 27 de Ramadã. Nesse dia Alá
aprisiona os djins durante noite, desse modo segundo a crença dos
maometanos, os espíritos do mal e os poderes malignos são nessa noite
neutralizados. Assim segundo a especulação de João José Reis seria uma data
perfeita para o inicio de uma revolta contra os infiéis, já que as forças do mal
estariam conjuradas. O líder Mubakar era o iman ou almani, líder dos malês,
segundo lendas este era invulnerável, e sua identidade é ainda um mistério,
não foi localizado no rol dos culpados.
Conseqüências
Após a devassa e o julgamento quatro envolvidos foram condenados a morte,
três africanos e um liberto, e por falta de carrascos não houve o uso da forca,
terminaram sendo fuzilados. A pena aos escravos (por ser patrimônio de
terceiros) foi à chibatada, variando de 50 a 1200 chibatadas (50 por dia), o
escravo depois era devolvido ao dono, este muitas vezes fez a defesa destes,
e evidentemente muitos escravos morreram decorrentes dos açoites. Tiveram
ainda que andar com armações de ferro em forma de cruz em torno do
pescoço ou correntes nos pés. Os libertos foram deportados para Lagos e
Ouidah. Cerca de 200 africanos abandonaram o país por iniciativa própria,
bancando suas próprias despesas, o Governo sendo responsável pelo
fretamento do navio. Hoje ainda existem importantes comunidades de
descendentes de escravos brasileiros como os Agudás, Tabom e Amarôs na
África Ocidental.
Uma série de leis baianas após 1835 vão dificultar a vida do africano e dos
escravos. A divisão dos trabalhos dos escravos de ganho em capatazias
subordinadas aos juizes de paz, e restrições ao direito de ir e vir dos escravos.
Não obstante em 1844 houve uma suspeita de conspiração malê.
É notável a herança cultural tanto muçulmana e principalmente iorubá na
Bahia, quiçá no Brasil. O hábito dos baianos hoje utilizarem roupa branca na
sexta-feira é resultado de um sincretismo entre Alá muçulmano, Olorum e
Oxalá ioruba, e Jesus cristão; como na Festa do Nosso Senhor do Bonfim. Hoje
o habito de usar roupas brancas no Reveillon se espalha pelo país com o senso
comum de se referir a “paz”, mas podemos associá-la a festa de Iemanjá.
Essas trocas culturais ainda passam despercebidas pelos brasileiros, mas os
escravos malês, iorubas e em geral tiveram que adaptar-se para a
sobrevivência dos seus cultos, crenças, ritos e vida.
Apesar da revolta ter sido minimizado pela historiografia brasileira, ela de
fato teve êxito para os libertos, que foram deportados e assim voltaram para
a África livres, além de assumirem sua religião e ainda até mesmo com
condições financeiras que permitiriam a estes uma vida melhor e de paz. Hoje
essas comunidades, como por exemplo, os Agudás do Benin correspondem a
10% da população do país, e carregam ainda muitos laços de união com o
povo brasileiro.
Referências
(REIS, João José de. Rebelião Escrava no Brasil: a História do Levante dos
Malês.)
Documento
Memória Póstumas de Brás Cubas
Trecho do livro Memória Póstumas de Brás Cubas, do mulato Machado de
Assis. Nesse episódio o autor (antigo senhor de escravo) narra o encontro
com seu alforriado, agora este mesmo, senhor de escravo:
Interrompeu-mas um ajuntamento; era um preto que vergalhava outro na
praça. O outro não se atrevia a fugir; gemia somente estas únicas palavras:
- “Não, perdão, meu senhor; meu senhor, perdão!” Mas o primeiro não fazia
caso, e, a cada súplica, respondia com uma vergalhada nova.
- Toma, diabo! Dizia ele; toma mais perdão, bêbedo!
- Meu senhor! Gemia o outro.
- Cala a boca, besta! Replicava o vergalho.
Parei, olhei... Justos céus! Quem havia de ser o do vergalho? Nada menos que
o meu moleque Prudêncio, - o que meu pai libertara alguns anos antes.
Cheguei-me; ele deteve-se logo e pediu-me a benção; perguntei-lhe se aquele
preto era escravo dele.
- É, sim, nhonhô.
- Fez-te alguma coisa?
- É um vadio e um bêbedo muito grande. Ainda hoje deixei ele na quitanda,
enquanto eu ia lá embaixo na cidade, e ele deixou a quitanda para ir na
venda beber.
- Está bom, perdoa-lhe, disse eu.
- Pois não, nhonhô. Nhonhô manda, não pede. Entra para casa, bêbedo!
(ASSIS, Machado. Memórias Póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ática,
1990.p.83)
Imagens dos viajantes do século XIX.
Jacques-Etienne Arago “Castigo de Escravos” Escrava como mordaça e o colar com ganchos, uma punição para os escravos fugitivos.
Jean-Baptiste Debret “Vendedor de Palmito” (escravo de origem muçulmana).
Jean-Baptiste Debret “O Colar de Ferro, castigo dos negros fugitivos”.
Rugendas “Negro no porão do navio”
Rugendas “Retrato descritivo de escravo vindo do congo, angola
Debret “Aplicação do Castigo de Açoite”
Debret “Escravo no Tronco”
Debret “Negros Serradores”
6ª Aula
I – Tema:
A Abolição da Escravidão no Brasil
II – Objetivos:
II.a – Geral:
Analisar o processo de abolição da escravidão no Brasil durante a segunda metade
do século XIX.
II.b – Específicos:
Relacionar a lei inglesa Bill Aberdeen e a promulgação da lei brasileira Eusébio de
Queirós.
Relacionar a legislação abolicionista e a participação da sociedade na campanha
emancipacionista.
Problematizar a eficácia das leis do Ventre Livre e dos Sexagenários.
Analisar a figura da Princesa Isabel como a “Redentora” dos escravos.
Comparar a abolição da escravidão no Brasil, nos Estados Unidos e no Haiti.
III – Metodologia:
Aula expositiva
1º Passo: Será introduzido o tema da abolição da escravidão. Explicar o motivo
pelo qual ainda existia escravidão no Brasil no século XIX.
2º Passo: Caracterizar a Bill Aberdeen (1845) e as pressões internacionais pelo fim
do tráfico de escravos que culminaram na Lei de 1931 e na Lei Eusébio de Queirós.
Problematizar a existência do tráfico interprovincial no Brasil Império.
3º Passo: Explicar a participação da sociedade no Movimento Emancipacionista que
buscava um prazo para o término da escravidão, e a evolução das reivindicações
para o Movimento Abolicionista, este buscava o término imediato do escravismo.
4º Passo: Caracterizar os políticos e civis na atuação da campanha de abolição:
Joaquim Nabuco, André Rebouças, o Dragão do Mar, os Caifazes, José do
Patrocínio, Luís Gama, Silva Jardim, Machado de Assis, etc.
5º Passo: Explicar a legislação abolicionista:
Lei do Ventre Livre e sua ineficácia.
Lei dos Sexagenários e seu paradoxo.
Lei Áurea e a figura da Princesa Isabel: de heroína a vilã.
6º Passo: Comparar a abolição nos Estados Unidos e Haiti com o Brasil. Nos Estados
Unidos houve uma guerra entre o Norte abolicionista e o Sul escravista. No Haiti
houve a Revolução dos Escravos.
7º Passo: Refletir sobre a questão da indenização: quem deveria ter sido
indenizados, os senhores ou os escravos? Pensar também sobre o abandono dos ex-
escravos à própria sorte e a construção do mito da democracia racial e as políticas
de branqueamento da sociedade brasileira.
IV – Recursos Didáticos:
Quadro e Giz.
V – Avaliação:
Utilização de questões do livro didático.
IV – Recursos Didáticos:
Quadro e Giz
Mapas
V – Avaliação:
Elaboração de Perguntas Dissertativas sobre a aula.
Bibliografia
Didática
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