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A Semana Nacional de Ciência eTecnologia deste ano, organizadapelo Ministério da Ciência e Tecno-logia (MCT), que acontece entre 20a 26 de outubro, escolheu como te-ma “Evolução e Diversidade”, tendocomo pano de fundo a comemora-ção dos 150 anos da teoria da evolu-ção por meio da seleção natural deautoria do naturalista inglês CharlesDarwin. Animados por esse contex-to, um grupo de pesquisadores estárefazendo o caminho que Darwinpercorreu em solo brasileiro, espe-cialmente no Rio de Janeiro, onde ocientista permaneceu mais tem-po, ao todo 93 dias, em 1832. AUniversidade Federal do Rio de Ja-neiro (UFRJ), Fiocruz, Jardim Bo-tânico, Museu Nacional e Universi-dade Federal Fluminense (UFF),
são algumas das instituições envol-vidas no projeto que deve resultar napublicação de um livro com trechosde diários, artigos e cartas de Darwinque fazem referência ao Brasil. Outra idéia é colocar marcos, comoplacas e painéis, nos pontos maisimportantes do trajeto da excursãoe em alguns locais importantes nosquais ele esteve no Rio e em Salva-dor. “Queremos fazer folders sobreo trajeto inteiro. Possivelmente se-rão produzidos também documen-tários para a TV. A idéia é produzirum roteiro científico-turístico”,disse Ildeu de Castro Moreira, dire-tor do Departamento de Populari-zação da Ciência e Tecnologia doMCT. A equipe usa como referên-cia os relatos de Darwin feitos emseus cadernos de anotação, no seu
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UM NATURALISTA
NA AMAZÔNIA
A imagem de Darwin é tão forte
que eclipsou a contribuição
fundamental de outro pesquisador,
Alfred Wallace, do qual se fala
pouco. As comemorações que
estão sendo organizadas pelo
Ministério da Ciência e Tecnologia
também vão mostrar os trabalhos
de Wallace, que permaneceu na
Amazônia durante quatro anos. Os
conhecimentos que ele adquiriu na
imensa floresta também foram
decisivos em sua trajetória
científica. Uma das coisas que ele
destacou foi o “encontro com
homens em seu estado natural –
com selvagens absolutamente
não contaminados”, registrou.
Na opinião de Ildeu de Castro
Moreira, o estudo da distribuição
geográfica dos animais na
Amazônia foi um ponto de partida
essencial para Wallace chegar à
idéia da seleção natural, de forma
independente. A proposta foi
apresentada em reunião da
Sociedade Lineana de Londres,
em 1-º de julho de 1858, trazendo
trabalhos de Darwin e de Wallace.
Dois livros, um com os textos dele
sobre o Brasil, pela editora da
Fiocruz, e outro sobre as
palmeiras da Amazônia, pela
editora da Universidade Federal
do Amazonas, serão publicados
este ano.
Enseada de Botafogo, Rio de Janeiro, por Conrad Martens
Fotos: Reprodução do livro “Aventuras e descobertas de Darwin a bordo do Beagle”. Jorge Zahar, 2004
ORIGEM DAS ESPÉCIES
PESQUISADORES RECUPERAM PASSAGEMDE CHARLES DARWIN PELO BRASIL
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Durante sua permanência no paísreuniu grande número de insetos,cuja variedade e análises sobre estra-tégias de ataque lhe chamaram aatenção para a disputa pelo ambien-te e para a lei do mais forte. “Não res-ta dúvida que a extraordinária biodi-versidade de nossa natureza tropical,o exame de fósseis pré-históricos naArgentina, o estudo da geologia daAmérica do Sul e a análise de ani-mais em ilhas isoladas, como em Ga-lápagos [Equador], foram fatoresdecisivos que levaram Darwin a sequestionar sobre a origem das espé-cies e a buscar uma hipótese que aexplicasse”, ressalta Moreira. Na in-trodução da Origem das espécies Dar-win escreveu: “Quando eu estava abordo do H.M.S. Beagle, como na-turalista, fiquei muito impressiona-do com certos fatos na distribuiçãodos habitantes da América do Sul ecom as relações geológicas dos habi-tantes presentes com os do passado,naquele continente. Esses fatos, meparecia, poderiam lançar algumaluz sobre a origem das espécies –aquele mistério dos mistérios, comofoi chamado por um de nossos maio-res filósofos”. O projeto prevê ainda a mobilizaçãode cientistas e historiadores para de-baterem sobre os aspectos geológi-cos, biológicos e sociais observadospor Charles Darwin no Brasil. Cha-ma atenção em seus diários as refe-rências que faz aos brasileiros: des-prezíveis e miseráveis – e o horror emrelação às condições a que eram sub-metidos os escravos. “Dou graças aDeus e espero nunca mais visitar umpaís de escravos”, disse ele.
Patrícia Mariuzzo
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livro sobre a viagem no H.M.S.Beagle, navio da missão explorató-ria inglesa, em cartas e mapas daépoca. Segundo Moreira, já foramidentificados vários locais e fazen-das pelos quais o naturalista passouna excursão até Macaé. “Duas dasfazendas estão de pé e são muito bo-nitas: a de Itaocaia, entre Niterói eMarica, e a de Campos Novos, emCabo Frio. Estamos também ma-peando as excursões, passeios e visi-tas feitas por Darwin na cidade doRio de Janeiro: Centro, Botafogo,Flamengo, Praia Vermelha, SantaTeresa, Corcovado, Igreja da Penha,Palácio de São Cristóvão, Lagoa,
Ipanema, Leblon, Jardim Botânico,Horto”, conta.
DESAFIOS Darwin não é muito explí-cito ao se referir ao nome de muitoslugares, em especial dos locais nosquais se hospedou. Essa é a principaldificuldade na análise desse mate-rial. A grafia dos nomes está tambémfreqüentemente incorreta já que elenão sabia português. Por outro lado,é freqüente a mudança no nome doslugares, daí a necessidade de utilizaros mapas da época. Já os nomes daspessoas que interagiram com eleeram, geralmente, grafados de for-ma reduzida e erradamente.
BIOGRAFIA
Charles Darwin nasceu em 1809, na
Inglaterra, filho de uma rica família
aristocrata. Mesmo contra o desejo de
seu pai estudou história natural e
geologia. Em 1831, foi aceito no navio
de investigação H.M.S. Beagle, que
partiu da Inglaterra com o objetivo de
descrever a cartografia do mundo e
apontar os recursos naturais que
poderiam ser aproveitados comercialmente. A viagem lhe deu a chance de
recolher uma ampla variedade de fósseis e organismos vivos, além de observar
diversas formações rochosas em diferentes continentes. Essas observações
culminaram na elaboração da teoria da evolução das espécies, publicada,
pela primeira vez, em 1858, no livro Origem das espécies. Em sua autobiografia
ele destaca a viagem como o acontecimento mais importante de sua vida:
“Nessa viagem tive a primeira formação ou educação verdadeira de minha
mente. (…) As glórias das vegetações dos trópicos erguem-se hoje em minha
lembrança de maneira mais vívida do que qualquer outra coisa”, escreveu.
No ano que vem, batizado de Ano de Darwin, estão previstas comemorações,
em várias partes do mundo, referentes aos 200 anos de seu nascimento.
Darwin,desenhode GeorgeRichmond,1840
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